Abertura da 50ª semana do folclore

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50ª Semana Mineira de Folclore 1966 - 2016

Solenidade de Abertura da 50ª Semana Mineira de Folclore Data: 13/08/2016 - Sábado Horário: 08h30 às 12h00 Centro Cultural Salgado Filho

VEJA OS CONVIDADOS, ARTIGOS E PROGRAMAÇÃO 1 70X100 - 2009 - Autor: Adão Rodrigues "Mineirinhas brincando de roda" - AST,


convidados Frei Chico

Mestre BulĂŠia

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Professor JosĂŠ Moreira


PROGRAMAÇÃO

Abertura 50ª Semana do Folclore Centro Cultural Salgado Filho Data: 13/08/2016 Horário: 9h00 as 12h30 Temática - O Saber fazer a Festa Um bate sobre várias ações integradas com as manifestações de tradição do bairro Cabana/Vista Alegre/Nova Cintra/Nova Gameleira/Madre Gertrudes/Altos dos Pinheiros. Convidados: Frei Chico (Comissão Mineira de Folclore) Mestre Buléia (Arte Quilombo Capoeira) Professor Moreira (Comissão Mineira de Folclore)

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SEMANAS MINEIRA DE FOLCLORE As Semanas Mineiras de Folclore foram instituídas por inspiração da Comissão Mineira de Folclore pelo, então, Governo Magalhães Pinto, no ano de 1965. Mas, há lembrar que essas semanas têm antecedentes. Em primeiro lugar, os fundadores da Comissão Mineira de Folclore participaram das Semanas Nacionais de Folclore criadas pela Comissão Nacional de Folclore. A transformação das Semanas Nacionais de Folclore em Congressos Brasileiros de Folclore foram oportunidade de todas as Comissões Regionais se reunirem em diferentes capitais. Com o recesso desses congressos, alguns membros da Comissão Mineira de Folclore se valeram de instituir a Semana Mineira de Folclore, no ano de 1965. Isso aconteceu em época em que havia uma secretaria de Estado denominada de “Secretaria de Estado do Trabalho e da Cultura Popular”. Vale chamar a atenção para esse nome. No interior dessa secretaria a Cultura Popular se juntava ao Departamento da Habitação Popular. Mari'Stella Tristão narra esse momento: Para quem não conhece os antecedentes, vale a pena esclarecer, que em 1965, durante o governo Magalhães Pinto, a Secretaria de Trabalho e da Cultura popular, então dirigida pelo dr. Jenner José de Araújo promoveu a 1ª Semana de Folclore , instituída pelo Decreto nº 8307 de 13 de maio de 1965 assinado pelo governador do Estado. (...) 4


Nelson de Figueiredo, chefe do Departamento de Cultura Popular daquela Secretaria, o coronel folclorista Saul Martins e a autora desta coluna [Mari'Stella Tristão] compunham a equipe criadora e coordenadora de um programa que foi cumprido na semana de 16 a 22 de agosto, intitulada “1ª Semana Mineira de Folclore” e que constou de conferências proferidas por Aires da Mata Machado, Saul Martins, Edison Carneiro, Espetáculos de danças folclóricas, desle de 2.000 congadeiros, dramatização de episódios relativos à escravatura, exposição de artesanato, inédita em Belo Horizonte, tudo foi feito naquela semana. A promoção culminou com a criação do Museu de Arte Popular pelo Decreto nº 8474 de 2 de junho de 1965 cuja direção foi entregue ao professor Saul Martins. Mari'Stella Tristão informa, em seguida, que as semanas mineiras de folclore continuaram nos anos seguintes promovidas pelo “Conservatório Mineiro de Música” – atual Escola de Música da UFMG. Desse modo a série prosseguiu sem interrupção. Contudo, no ano de 1969, o professor Washington Peluso Albino de Souza , também membro da Comissão Mineira de Folclore, assumiu a direção do Centro de Estudos Mineiros que era nessa época órgão da estrutura suplementar da Reitoria da UFMG. Nessa mesma época a Universidade ensaiava a implantação de programas de Extensão Universitária coordenados pelo Conselho de Extensão – hoje, Pró-Reitoria de Extensão. Surgiu, então a Primeira Semana de Folclore da UFMG com um plano ambiciosíssimo, como tudo que saía da cabeça do professor Washington Peluso Albino. Nessa série inagurada em 1969 a Comissão Mineira era uma das parceiras, juntamente com o Governo do Estado, a Campanha de Defesa do Folclore,o IBECC e as principais unidades da Universidade. Parece que as Semanas Mineira de Folclore e as Semanas de Folclore da UFMG permaneceram juntas até o ano de 1971. 5


Nesse ano, quando o Diretor Executivo do Conselho de Extensão nomeou um de seus assessores para coordenar a III Semana de Folclore da UFMG, a senhora Mari'Stella Tristão como assessora do Departamento de Turismo da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte entendeu promover a Semana Mineira de Folclore sem vínculo com a UFMG. Passou a haver uma divisão do trabalho altamente instigante: O Folclore para o Turismo e o Folclore para chamar a atenção da Universidade sobre o saber popular. Estamos, hoje, realizando a 50ª Semana Mineira de Folclore e esperamos tornar cada vez mais tradicional esse compromisso. Tradicional compreendido como aquilo que se mostra necessário à compreensão do Saber Viver em Minas Gerais.

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ARTIGOS

MATO DA LENHA E CABANA DO PAI TOMÁS de José Moreira de Souza

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Mato da Lenha e Cabana do Pai Tomás José Moreira de Souza

Nem sempre com a devida atenção, venho acompanhando o desenvolvimento da Cabana do Pai Tomás, desde o ano de 1958. Inicialmente apenas como um lugar em cuja conuência da Rua Sararé com Avenida Amazonas se localizava a garagem da linha de ônibus da Viação Eldorado. Posteriormente, no ano de 1963, assisti, também sem a devida atenção, a derrubada dos eucaliptos para ocupação do que seria a favela “União Operário-Estudantil”. A partir dessa data pude conviver com inúmeras festas organizadas pelos moradores desse aglomerado, cuja ocupação atingia também a margem esquerda, onde se localiza atualmente a igreja Deus é Amor. Vi a demanda da população por espaços de lazer, como a criação de um Cinema, um clube de nome “Cabana Clube Danças” na conuência da Rua Independência com a Avenida Amazonas, ao lado da área que abrigava, então, a Escola de Veterinária da UFMG. Percorri a Cabana, nos anos sessenta e assisti missas de Natal na Igreja São Geraldo, vi parques de diversão com barraquinhas instalados na Rua Independência com Rua Frei Gaspar, acompanhei peripécias do desenvolvimento do comércio e o início dos sacolões. Assisti aos efeitos das enchentes ocorridas no nal dos anos 70 e início dos 80 e me espantei com a solidariedade dos moradores para socorrerem as vítimas. Nessa época elaborei um projeto de estudo com o objetivo de compreender o saber viver nessa região com o nome de “União, afeto e violência”. Estudei a Cabana a partir de minha experiência em planejamento urbano, com ênfase nas condições socioeconômicas dos moradores. Contudo, apenas, após aposentado e muito recentemente, tive oportunidade de conviver mais de perto com as condições de Saber Viver na Cabana do Pai Tomás. Atualmente venho elaborando um projeto de estudo com esse nome: Condições do Saber Viver na Cabana”. Recebo contribuições importantes de moradores como Mestre Buléia, capitã Odete, Renata Gomes da Silva entre muitos outros. 8


Tive oportunidade de conviver e ouvir história de muitos moradores que já se foram ou que se mudaram. Homenageio Dona Mariana e seu esposo Geraldo, residentes no Beco Xavier, os quais viveram a saga de migrarem de Ariranha – vale do Rio Doce – e, após peregrinarem por diferentes aglomerados, vieram ter à Cabana onde criaram os lhos mais novos. Acompanho principalmente as oportunidades de desenvolvimento social e testemunho com orgulho, ver aqueles que alcançaram nível universitário, alguns tornando-se engenheiros pós-graduados até o grau de doutor. Advogados, psicólogos, sociólogos, administradores, prossionais de contabilidade professores de fundamental e nível médio sem conta. Enfatizo a tradição de luta pelo trabalho, qualquer que seja a forma de trabalho, às vezes na contramão do que se julga trabalho digno. Peço que se xe este depoimento de Benedito Valadares na obra: Tempos idos e vividos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 218-219. A Cidade Industrial, cuja construção, iniciada em 1938, sendo secretário da Viação o Engenheiro Odilon Dias Pereira, terminou em 1945, com as suas ruas, avenidas e praças vibrando ao apito das locomotivas à porta das fábricas, se desenvolveu de tal maneira, que Belo Horizonte deixou de ser uma “Cidade de funcionários”. ... O plano da Cidade Industrial não se completou; faltou a Cidade Operária, que ia ser construída entre ela e o Instituto João Pinheiro. Havia adquirido e desapropriado o terreno necessário para essa obra modelar, com casas para operários, grupos escolares, ginásios, escolas normais, escolas técnicas, teatros, cinemas, etc. Os Institutos, de acordo com o que me havia prometido o Presidente (Getúlio Vargas), iriam colaborar na sua construção. Com minha saída do governo, o Interventor declarou sem efeito a desapropriação de uma grande parte da área destinada à Cidade Operária. Da ideia lá restou apenas uma creche construída por minha mulher, Odete Valadares com os auxílios 9


que lhe eram enviados e destinados às crianças lhas das operárias que trabalhassem na indústria. E esta mesma foi transformada em Casa das Meninas, que recebe indiferentemente crianças de qualquer parte. A nossa Cabana do Pai Tomás é memória viva da construção da Cidade Operária prometida e não realizada. No mesmo ano em que os eucaliptos foram derrubados – dia da Independência - 1963 – celebrando o dia do trabalhador -, também o Conjunto IAPI foi ocupado pelo movimento operário. Melhor sorte tiveram as casas populares conhecidas como “Bairro JK” na Cidade Jardim Eldorado. No início houve a Pedreira Prado Lopes A Pedreira Prado Lopes é uma das áreas de mais antiga ocupação por famílias de baixa renda na capital. Sua ocupação nessa condição se deu ainda na época de construção da capital, anos antes de sua inauguração. Chegando às obras Abílio Barreto descreve-a com precisão nos primeiros anos da década de 1890. Como ocupação desordenada, a pedreira incomoda as elites governantes em certos momentos. Nos anos 20 com a criação da Vila Concórdia, a Pedreira é lembrada, sem efeito. Nos anos 40, o prefeito Juscelino Kubitschek promete aos trabalhadores da Prado Lopes ocupação da fazenda do Mato da Lenha – atual bairro Salgado Filho e residência no Conjunto São Cristóvão. Os moradores de então não receberam nem uma coisa nem outra. Juntamente com a área da Pedreira Prado Lopes, o Conjunto são Cristóvão demarca a identidade da Lagoinha. Com efeito, sua construção na década de 40 tem como objetivo apontar que a moradia do trabalhador merece atenção do poder público e que a favela deve desaparecer dando lugar a moradias dignas. A fala do prefeito de Belo Horizonte demarca a importância da iniciativa, contrastando a humilhação que era para a cidade a permanência da Pedreira Prado Lopes e o orgulho de um investimento dedicado aos operários.] 10


A atenção que demos à criação do bairro residencial da Pampulha tinha de ser contrabalançada, em respeito à própria função social da Administração, com o estudo e a solução do problema dos bairros populares (...) Em vários anos sucessivos, a dois passos da cidade, se vinham localizando classes de menor capacidade econômica, operários e até mendigos, (...)Nele fomos encontrar 483 casebres e cafuas, em lamentáveis condições de construção , sob qualquer ponto de vista, a abrigar uma população superior a 3.000 pessoas. (...)verdadeira chaga, rasgada em nossa estrutura urbanística e social, (...) Resolvemos então, aproveitar, convenientemente aquela extensão. Vericamos a possibilidade de subdividir aquela área e revender ou aforar toda a gleba sem dúvida valorizada pelas condições naturais e pelos serviços que já haviam atingido. Encarando, porém, o assunto em seus aspectos fundamentais – o econômico, o higiênico e o urbanístico – comparamos as duas soluções possíveis: a primeira seria a de se fazer erguer ali mesmo um novo bairro em condições técnicas satisfatórias; a segunda, promover a aquisição de terrenos fora da cidade para neles localizar os moradores da Pedreira. (...) preferimos resolver o problema com o critério que nos pareceu mais humano e, para esse m, promulgamos o decreto-lei nº 75, de 24 de outubro de 1940. (GUIMARÃES p.214 ) O propósito não se realizou, ao longo de 40 anos a ocupação da área homogênea da Pedreira se multiplicou por mais de 6 vezes e a população acusou um crescimento superior a 3 vezes. Seja como for, o Conjunto São Cristóvão tornou-se um monumento de moradia operária, mesmo que a massa de trabalhadores padrão jamais tenha tido acesso a esse tipo de moradia. Lembre-se também que, à época uma das críticas feitas pelas lideranças operárias era ao padrão vertical da habitação. Argumentava-se que o trabalhador preferia uma casa com quintal, reproduzindo o tipo de residência herdado dos povoados e vilas onde um fragmento do rural é transportado para o espaço urbano. 11


Concórdia A chamada Vila da Concórdia merece atenção especial no interior da Área Pericentral por ser uma das primeiras iniciativas de uma política para famílias de baixa renda. Criada pelo Decreto nº 31 de 6 de setembro de 1928, o parcelamento Vila Concórdia destinava-se às famílias que seriam removidas das favelas do Barro Preto, Barroca e Pedreira Prado Lopes. Como se verá na análise de outras áreas homogêneas, a remoção da Pedreira Prado Lopes foi motivo de diversos projetos de criação de espaços para habitação de baixa renda. O exame da Concórdia favorece a compreensão da pergunta, qual o limite dessa área de se manter ocupada por famílias de baixa renda tantos anos após sua criação? A área homogênea da Concórdia é um excelente exemplo dos critérios de determinação de espaço metropolitano para a população de baixa renda nos anos 20 do século passado, mesmo que o discurso de atenção ao trabalhador permaneça o mesmo quase noventa anos depois. Vale a pena transcrever comentário da imprensa à época da criação da vila: ... a capital mineira tem o indeclinável dever de prestar assistência solícita aos humildes obreiros do seu progresso. (...) A casa será o vínculo do operário à terra em que ele trabalha, a célula fundamental do seu patrimônio, o ambiente indispensável de sua vida econômica. (...) Impõe-se, pois, a criação de vilas inteligentes localizadas em pontos não distanciados do centro da cidade, e dotadas dos recursos indispensáveis de água, luz e notadamente viação, que permita aos seus moradores o contato imediato com os núcleos do trabalho.” (Diário de Minas, 13, set, 1928. p. 2 Quando se fez referência à Pedreira Prado Lopes, aludiu-se ao Salgado Filho, então conhecido como “Mato da Lenha”. A área tem sua ocupação efetiva na segunda metade dos anos 50 quando são nalmente construídas casas populares, conforme promessa declarada na década anterior. Serão as casas populares que hão de conferir a 12


identidade do bairro e favorecer seu adensamento. Intervenções no sistema viário, especialmente com a canalização do ribeirão Arrudas, iniciada na década de 80 e a abertura da avenida Tereza Cristina, na segunda metade da década de 90, favoreceram mudanças de usos e remoção de domicílios acusando impacto na média de moradores por residência – 5,1 em 1982 e 3,9 em 2002; entretanto o impacto maior pode ser notado xando-se no crescimento tímido dos domicílios ocupados em 20 anos. Em 1982 havia 3198 unidades residenciais habitadas, vinte anos houve um acréscimo de 67, equivalendo a 2,1%. A esse crescimento pouco signicativo dos domicílios correspondeu uma diminuição acentuada da população moradora da ordem de 22,7% perceptível pelo tamanho médio da família. A área do Salgado Filho é um bom exemplo dos efeitos de remoção de população de baixa renda como resultado de intervenção no sistema viário de fundo de vale. No caso a avenida Tereza Cristina é também o leito do ribeirão Arrudas. Betânia Várzea do Felicíssimo era o nome original do núcleo que passou a ser conhecido como Betânia. O sub-complexo de campos do Betânia, de todos da macro-unidade Área Pericentral, foi o que mais resistiu a se incorporar ao urbano, persistindo até os anos 80 inúmeras glebas cujo uso predominante era a horticultura. A avenida Úrsula Paulino via principal de articulação do sub-complexo recorda as origens da região e seu vínculo com a antiga Curral Del Rei. Sua continuidade como Via do Minério conrma ainda sua antiga vinculação com a região do Barreiro, do Eixo Industrial, especialmente com a área do Bom Sucesso. Os limites principais do sub-complexo que atuam como barreiras e ao mesmo tempo como vias articuladoras com o metropolitano são o Anel Rodoviário e a avenida Tereza Cristina. A região era até os anos 60 uma extensão do Salgado Filho, tendo começado a se adensar inicialmente com a construção de conjuntos habitacionais e ocupação 13


rarefeita de parcelamentos. O núcleo do Betânia tem como referência a Igreja de São Sebastião localizada na avenida Úrsula Paulino, praça São Sebastião. O nome da igreja xa o vínculo do povoado agrícola com o Barro Preto na segunda década do século XX. Até essa época a Estrada do Cercadinho rmava-se como outra referência. A construção do Conjunto Estrela Dalva e sua ocupação nos anos 70 sinalizou a expansão da área de inuência do Betânia, seguida pelos bairros Palmeiras e Marajó, substituindo antigas fazendas e chácaras. O caso da área do Estrela Dalva deverá merecer analise, posto que, com a abertura da avenida Raja Gabaglia, o seu entrono passou por profundas mudanças de uso tanto residencial quanto comercial e de serviços, sem atenção para problemas de articulação interna e inter-regional. As áreas de nome Conjunto Estrela Dalva, Marajó e Doze de Outubro são as que merecem maior atenção. A que compõe o Doze de Outubro, por exemplo, estava totalmente vazia nos anos 70. Um único setor censitário abrangia as áreas do Doze de Outubro, Buritis e Olhos D'água e nos anos 80 as modicações não justicavam uma maior desdobramento. A área núcleo principal do Betânia designada Betânia / Granjas Reunidas Tiradentes alonga-se pela avenida Úrsula Paulino tendo também como limite a avenida Tereza Cristina. Viu-se que a intervenção viária no bairro Salgado Filho teve como uma das consequências a redução dos domicílios ocupados. No caso do Betânia o efeito foi inexpressivo. Nota-se, portanto, que a área núcleo do Betânia tornou-se atraente para uma população de renda média baixa, ao longo dos 20 anos analisados mudando a homogeneidade característica da baixa renda para outra de renda média baixa. A mudança mais signicativa ocorreu com os domicílios ocupados por famílias com renda entre 5 e 10 salários. Em 1982 existiam 182 domicílios nesse grupo, em 2002 , 780, exibindo um aumento de 4,3 vezes. A área designada como Conjunto Betânia tem como limites principais a avenida Úrsula Paulino e o Anel Rodoviário essa localização privilegiou os serviços e do comércio local que se ampliou para comércio de bairro com alguma repercussão 14


regional. Ao contrário do conjunto Betânia que determina a estrutura espacial de sua área, a do Conjunto Estrela Dalva pela sua amplitude, resulta na absorção do mesmo pelo seu entorno. Tudo isso resulta da articulação dessa área à avenida Raja Gabaglia e da expansão da Zona Sul para além dos seus limites. Como se pôde ver, o sub-complexo do Betânia tem de especíco não apenas sua localização, mas especialmente o ter sido uma das últimas conquistas do espaço rural integrado ao urbano na macro unidade do Pericentro. Notou-se que o principal móvel da conquista foram os conjuntos habitacionais populares, diferenciando-se o do Betânia do Estrela Dalva. Dedicado à um operário qualicado, o conjunto Betânia apresenta-se plenamente integrado à malha urbana e reforça a estrutura da região; de outra parte, o Estrela Dalva ocupado plenamente por uma população de baixa renda torna-se um dos poucos casos de inversão da tendência de ocupação periférica. Desse modo, ao invés de tornar-se um centro estruturador de ocupação por população de baixa renda, no padrão do que vinha acontecendo com a região mais próxima, Jardim América, Salgado Filho e Betânia e Olhos D'Água, a construção da avenida Raja Gabaglia, a subida da encosta do São Bento, extravasa a zona sul e se derrama pelo outro lado competindo com as favelas às quais eram reservadas encostas de elevada declividade. A tudo isso se deve somar a tolerância dos agentes controladores da expansão urbana tanto no plano do município quanto do estado. Gameleira: O último sub-complexo de campos da Área Pericentral é o designado de Gameleira. Ele ao mesmo tempo que aponta para a identidade de uma fazenda escolhida no início do século XX pelo, então, presidente do estado João Pinheiro da Silva para ser fazenda modelo da modernização agrícola de Minas, exibe uma das áreas mais 15


tensionadas pelas intervenções no sistema viário. Já nas duas primeiras décadas do século XX a Gameleira torna-se recortada pela Estrada de Ferro Central do Brasil e a Rede Mineira de Viação, na década de 40 com a criação da Cidade Industrial, a avenida Amazonas torna-se a principal via urbana ligando o Núcleo Central ao novo espaço da produção, o Anel rodoviário no nal de 50 e inicio de 60, a BR 040, na década de 70 e nalmente a Via Urbana Leste Oeste, o Trem Metropolitano e a Avenida Tereza Cristina completam as intervenções nos anos 80. Os momentos iniciais de formação do espaço da Fazenda Gameleira pela sua importância metropolitana xaram denitivamente a identidade desse subcomplexo. Trata-se de uma área do Estado, na qual ele realiza suas intenções de modernização. Como área de reserva, aí se localizarão em diferentes momentos, o Parque de Exposições, o Instituto João Pinheiro e o Centro de Pesquisas Educacionais, o Hospital Júlia Kubitschek e o Galba Veloso, a Fundação Ezequiel Dias, o Quinto Batalhão, o Instituto de Medicina Legal, a Academia de Polícia Civil, o projeto de habitação popular e, nalmente o “Cadeião” e a Expominas. Quando ao povoamento, o sistema ferroviário favoreceu a ocupação por uma população de baixa renda em áreas de baixa declividade das quais a Vila das Oliveiras é a última remanescente. Por outro lado, no início dos anos 60 estabeleceram-se inúmeras favelas das quais a mais expressiva é que cou conhecida como “31 de Março”. A análise destaca duas áreas homogêneas, ambas de formação na década de 60. A primeira é a designada “Coração Eucarístico”, resultante do parcelamento de uma gleba pertencente ao Seminário da arquidiocese de Belo Horizonte o qual se tornou sede da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas. A segunda, contígua à primeira, inaugurou a política habitacional sob diretrizes do BNH voltada para a moradia popular. Uma e outra exibem o contraste da ocupação do subcomplexo do ponto de vista da habitação. O Coração Eucarístico acena inicialmente para uma ocupação horizontal nos moldes da Cidade Jardim e da Cidade Nova, 16


passando a uma intensa verticalização após as duas primeiras décadas de ocupação e à exibilização da Lei de Uso e Ocupação do Solo de Belo Horizonte. Por sua parte, o Dom Cabral é parcelado e tem suas unidades habitacionais construídas tendo em vista a representação da moradia operária pelos arquitetos e urbanistas: lotes com área entre 120 e 180 metros quadrados, ruas estreitas impedindo a circulação de mais de um veículo. Esse mesmo padrão será reproduzido na mesma época no conjunto Vale do Jatobá que será examinado quando se tratar do Eixo Industrial. Apesar de sua vizinhança com o Coração Eucarístico, o Dom Cabral torna-se exemplo de assentamento operário para os moradores da favela 31 de março e se mostra como continuidade do bairro João Pinheiro e Alto dos Pinheiros. Desse modo o Coração Eucarístico tornou-se um espaço urbano elitizado que não acusa na distribuição da renda o tipo de acumulação que favoreceu a aquisição e a manutenção da moradia. Apesar de essa característica estar presente em muitos imóveis da Área Central, no Coração Eucarístico ela se mostra com maior transparência. Como já foi dito, o Dom Cabral contrasta com o Coração Eucarístico tanto do ponto de vista urbanístico quando do sócio-econômico. As mudanças acontecidas no período analisado explicitam esses contrastes. Em primeiro lugar a implantação do conjunto habitacional com a usura característica de espaço para baixa renda dene os limites de crescimento.

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Cabana A contra-face da Pampulha é a Cidade Industrial Juventino Dias. Uma e outra são projeções do Centro Metropolitano pensadas e implantadas na mesma época – a década de 1940. Como se viu, ao longo da estrada de ferro, na Área Central, a partir da estação Central até o Calafate, estabeleceram-se inúmeras indústrias, havendo mesmo ensaios de criação de um Parque Industrial localizado às margens do ribeirão Arrudas entre o Barro Preto e o Calafate. A indústria se mostrava como um símbolo da cidade moderna, da metrópole e não foi sem resistência que o espaço especializado da produção deixou o município de Belo Horizonte para se localizar no distrito de Contagem, então município de Betim. Benedicto Valladares relata a propósito: Toda a gente dizia: “Belo Horizonte é uma cidade de funcionários”. Isto me preocupava; era preciso modicar a sionomia da cidade burocrática. Fazia mister industrializar a cidade a que faltava energia elétrica. A Companhia Bond and Share – que entravou o progresso de diversos Estados – com seus círios mortuários deixava as ruas, avenidas, praças, jardins e parques da linda capital às escuras. Com a colaboração do Secretário Israel Pinheiro, tracei o plano da Cidade Industrial, que deveria ser construída entre as Estradas de Ferro Rede Mineira de Viação e Central do Brasil. Para sua execução era necessário desapropriar a Bond and Share, que não cumpria as cláusulas do contrato com a Prefeitura. Levando o assunto ao Presidente Getúlio Vargas, este obtemperou que o caso poderia suscitar diculdades de ordem internacional. Só havia um recurso: transferir a área necessária à Cidade Industrial para o município de Betim e dar execução ao plano de centrais elétricas já iniciadas de Pai Joaquim, para Uberaba e Araxá, e de Santa Marta para Montes Claros. Não vacilei. Publiquei decreto determinando a transferência e, valendo-me dos serviços prossionais do 18


eciente advogado Heráclito Mourão de Miranda, z a desapropriação. Construí a Usina do Gafanhoto e adquiri a de Betim. E a capital do Estado foi iluminada com o fornecimento de energia à Bond and Share. A Cidade Industrial, cuja construção, iniciada em 1938, sendo Secretário da Viação o Engenheiro Odilon Dias Pereira, terminou em 1945, com suas ruas, avenidas e praças vibrando ao apito das locomotivas à porta das fábricas, se desenvolveu de tal maneira, que Belo Horizonte deixou de ser uma “Cidade dos funcionários”. Esse depoimento do Governador Valadares é da maior importância para esta análise. Em primeiro lugar, a Cidade Industrial demarca um dos instantes em que a capital se torna a Grande Belo Horizonte, ou seja, as funções da metrópole se expandem para além dos limites do município; em segundo lugar, o memorialista registra as diculdades impostas à indústria decorrentes de opções anteriores relacionadas ao fornecimento de energia. Essa coação mostra a forma de submissão da metrópole à conformação de espaço. Pelo Decreto-Lei nº 770, de 20 de março de 1941 cava determinado a área que seria desapropriada: São declarados de utilidade pública, para serem desapropriados ou adquiridos, em juízo ou fora dele, e neles se construir o Parque Industrial, os terrenos e benfeitorias existentes nos imóveis denominados Cachoeira do Ferrugem, Ferrugem ou Olaria, Batista, Córrego do Riacho, Córrego Fundo, Vila São Paulo, Vila Rui Barbosa, Carneiro e outros pertencentes a Avelino Camargos, Francisco Luiz Camargos, Benevenuto Simões Silva, , Dr. Cristiano Guimarães, herdeiros de Joaquim João Pereira, Lemp & Irmão, J. Viana Romanelli, herdeiros de Arminda Maria dos Reis, Antônio Olegário, herdeiros de Ana Geraldina de Abreu, Antônio Basílio e seus sucessores e outros terrenos situados no município de Belo Horizonte e no município de Betim, com área aproximada de 270 hectares”. 19


Valadares acrescenta também mais um aspecto de fundamental importância para compreensão do Eixo Industrial: O plano da Cidade Industrial não se completou; faltou a Cidade Operária, que ia ser construída entre ela e o Instituto João Pinheiro. Havia adquirido e desapropriado o terreno necessário para essa obra modelar, com casas para operários, grupos escolares, ginásios, escolas normais, escolas técnicas, teatro, cinemas, etc. (...) Com minha saída do governo, o Interventor declarou sem efeito a desapropriação de uma grande parte da área destinada á Cidade Operária. Da idéia lá restou apenas uma creche construída por minha mulher, Odete Valladares, com auxílios que lhe eram enviados e destinados às crianças lhas das operárias que trabalhassem na indústria. E esta mesma foi transformada em Casa das Meninas, que recebe indiferentemente crianças de qualquer parte. Desse momento de concepção e criação da Cidade Industrial, merece xar o fracasso do plano da Cidade Operária como aliada necessária à Cidade Industrial. Ao insistir nesse ponto, Valadares passa a limpo a construção de Belo Horizonte que considerou como dignos do seu espaço apenas os funcionários públicos. Note-se que a Cidade Operária seria situada ao longo da Avenida Amazonas limitando com o sub-complexo da Gameleira. Essa área será futuramente ocupada por uma sequencia de favelas, das quais a mais importante é a Cabana do Pai Tomás. Será também lembrada para implantar vilas operárias, quando do “Levantamento da População Favelada de Belo Horizonte” realizado nos últimos meses de 1964 e o ano de 1965. Essa área será também objeto de pequenos ensaios de implantação de conjuntos habitacionais; inicialmente uma pequena área próxima à “Casa das Meninas” será abrigo de moradias construídas pela Magnesita, Cia de Fiação e Tecidos São Geraldo e CEMIG, em seguida erguem-se 12 blocos do Conjunto IAPI, que caram inacabados, sendo posteriormente invadidos pelos operários em 1963. Por último, nos bairros Nova Gameleira e Vila Imperial, são construídos conjuntos com 20


nanciamento do Sistema Financeiro da Habitação. O espaço industrial que foge de Belo Horizonte, certamente desaou a administração local. A compensação veio em 31 de maio de 1952, quando é lançada a pedra fundamental, e a12 de agosto de 1954 com operação do primeiro alto forno, inaugurada a Mannesmann. Sua localização em Belo Horizonte e não na Cidade Industrial não é casual. De açodo com a interpretação de Benedito Valadares era uma compensação de Getúlio Vargas pela construção da Usina de Volta Redonda, era uma forma de saldar uma dívida com os mineiros. Localizada no Barreiro, a siderúrgica obrigará Belo Horizonte a se confrontar com o problema do espaço para os trabalhadores. Na área remanescente à fazenda desapropriada surgirá o Bairro da Indústrias, cujas ruas guardarão a memória da Cidade Industrial, até que vereadores de Belo Horizonte passem a borracha nessas inscrições: avenidas Cicobe – para xar o nome da empresa loteadora - Luzitânia, Rodoviária, Mannesmann, ruas São Geraldo, Itaú, CEMIG, Pastifício Wilma, Magnesita, Estamparia, Metrovick, Fundição Ceres, etc. O Barreiro, pela sua história, transforma-se no principal centro de comércio e serviços do espaço industrial multiplicando sua população em mais de sete vezes, entre 1952 e 1960. De outro lado, ao término da Avenida Amazonas, no limite do município instala-se o “centro” comercial da Cidade Industrial no lugar que focou conhecido como “Barreira”. Essas são as principais consequências da implantação da Cidade Industrial, do lado do município de Belo Horizonte; da parte do distrito de Contagem, a primeira conseqüência é a emancipação do distrito no ano de 1948, a que se segue o parcelamento de amplas áreas tendo em vista a oferta de lotes para o operariado. Dentre eles, o mais importante, nesse primeiro momento foi a Cidade Jardim Eldorado, projeto do urbanista Sérgio Bernardes. Esse projeto, a cargo de uma empresa imobiliária do Rio de Janeiro, a COMPAX, é o primeiro a romper com o modelo xadrez introduzindo a curva de nível na conguração do espaço urbano. Esse 21


modelo torna-se dominante nos principais loteamentos do distrito do Parque Industrial. Como lembrou Benedito Valadares, de seu projeto original da Cidade Operária subsistiu apenas a “Casa das Meninas”. Em torno dessa instituição surgiram as escolas Aarão Reis e Geraldo Jardim Linhares, o Centro Social Emília Massanti, as vilas operárias das fábricas e Conjunto IAPI. Essa área que já teve várias denominações constitui hoje o bairro Madre Gertrudes. Porém a primeira irmã gêmea desse centro de serviços foi a Cabana do Pai Tomás. O que se conhece hoje como Cabana teve dois momentos de formação. O primeiro, logo após a criação da Cidade Industrial e o segundo, no início dos anos 60, no bojo de um conjunto de invasões no interior dos movimentos pela reforma urbana. No “Levantamento da população favelada de Belo Horizonte”, realizado em 1965, os autores registram 351 domicílios e 1.814 moradores na Favela Cabana do Pai Tomás. Esta é a primeira gleba. A segunda tinha o nome de “Operária-Estudantil”e abrigava 656 residências com 3.172 habitantes. A divisão entre a primeira e a segunda é a Rua Independência – nome dado no segundo momento. A formação da Cabana em dois momentos sinaliza também para a luta operária e a oportunidade desse espaço na concepção do operariado. Criada e desenvolvida no interior da luta operária, a Cabana torna-se símbolo de uma ampla área do Eixo Industrial que irá repercutir nas invasões ocorridas quando da Nova Industrialização Mineira com a ocupação do Bairro Jardim Teresópolis, na segunda metade dos anos 70. O padrão Cabana se expande principalmente pelas áreas vizinhas, mostrando-se evidente na área de domínio da CDI – Companhia dos Distritos Industriais – que formaram as áreas homogêneas Vila Divinéia/Favela Sideral, Vila Custodinha/Vila São José/Viaduto da Cidade Industrial, Favela da Nova Gameleira, entre outras. Apesar das diferenças urbanísticas, a Cabana exibe um perl sócio-econômico das 22


famílias bastante semelhante ao do Bairro das Indústrias, diferenciando-se apenas numa maior concentração dos domicílios entre 1 e 2 salários. Em 1982, 97,4% das famílias tinham renda média até 10 salários. Entretanto, o poder de acumulação dos moradores se mostra inferior. No caso do Bairro das Indústrias, os moradores empreendedores continuam residindo no próprio bairro, já na Cabana isso acontece em menor escala. Desse modo, entre 1982 e 2002, enquanto os domicílios com renda superior a 10 salários sobem de 1,8% para 11,5%, no Bairro das Indústrias, na Cabana as famílias com renda superior a 10 salários que representavam 2,6% em 1982 aumentaram sua participação para apenas 8,3% em 2002. Esta é uma constatação da maior importância, mostrando que as favelas surgidas do espaço da indústria foram mais uma contestação à falta de uma política de habitação para o trabalhador do que uma declaração de falta de acesso ao mercado. Até pela escolha do nome é possível notar essa diferença. Finalmente importa uma atenção para a ocupação da área no período de 20 anos. Em 1982, a área já se mostrava totalmente saturada, havia 4.964 domicílios ocupados, superando o limite possível de 4.504 se o padrão do lote fosse de apenas 180 metros quadrados. Pois bem, mesmo com ocupação das áreas vizinhas mencionadas e até mesmo de outras favelas do Eixo Industrial, a Cabana ainda acusou um crescimento dos domicílios da ordem de 17,3%. Isso quer dizer que a área média dos lotes de 106,2 m2 de 1982 foi reduzida para 90,5 m2 em 2002. Cumpre registrar que ao longo desse período expandiu-se também o comércio interno, multiplicando-se sacolões, drogarias, lojas de roupas, móveis e eletrodomésticos, bares, e estabelecimentos de serviços. A ocupação da Cabana de um lado e da área da CDI junto à Casa das Meninas, do outro, pelas indústrias já aludidas, determinarão o padrão dessa área operária: terrenos invadidos e conjuntos habitacionais. Após a construção das moradias pelas indústrias, o governo Federal na gestão de J K construiu o Conjunto IAPI. Esse permaneceu inacabado até o 1 de maio de 1963, quando o movimento operário 23


promoveu sua ocupação. Tratou-se de uma invasão com o propósito de promover a regularização da posse. Os trabalhadores reunidos construíram rede de esgoto, iluminação elétrica e abastecimento de água e pressionaram o Instituto a regularizar a ocupação rmando contrato com os responsáveis. Inaugura-se nesse momento uma nova fase de luta do trabalhador por uma política de habitação fora dos padrões do clientelismo. À mesma época a área vizinha ao conjunto, limitada pela avenida Amazonas aqui designada como Vila Custodinha, foi também ocupada, tendo os responsáveis buscado regularização imediata junto à prefeitura e ao governo do Estado. Durante o período do BNH foi uma das áreas preferidas para conjuntos habitacionais. Em seguida analisa-se a área homogênea do Bairro Madre Gertrudes que já passou por muitos nomes – Vila Imperial, Bairro Magnesita, entre outros. Na designação da Prefeitura, o Madre Gertrudes reúne áreas dos conjuntos, a Vila Imperial e as vilas Operárias. As informações de 1982 apresentam a área homogênea com toda essa complexidade. As de 2002 exibem o Madre Gertrudes à parte as que são denominadas de Vila Divinéia/ Favela Sideral e Vila Custodinha/Vila São José/Viaduto da Cidade Industrial. Essa separação permite compreender um pouco melhor o que se pode chamar de destino dos sem-casa da Cabana. Começando a análise pela área homogênea Madre Gertrudes, nota-se que em 1982 havia 224 domicílios com renda até 3 salários, equivalendo a 26,2% do total; com a reconguração da área os domicílios nessa faixa se reduzem a menos da metade representando 12,5% no ano de 2002. A reconguração teve como objetivo destacar o adensamento das áreas com renda inferior a 3 salários para contrastar com o tipo de ocupação dos conjuntos submetidos à lógica de mercado da habitação determinada pelo SFH. De acordo com essa lógica predominam na área homogênea (em 1982) domicílios com renda superior a 3 salários mínimos – 73,8% do total – com prevalência das faixas de 3 a 5 e de 5 até 10 salários. Fixando nessas duas faixas de renda – de 3 a 5 e de 5 a 10 salários – 24


nota-se que em 2002 as famílias moradoras têm a mesma participação relativa – 45,2% e 46,9% respectivamente. A maior repercussão na nova divisão da área aparece pela comparação entre o inexpressivo decréscimo dos domicílios ocupados, apenas 2% dos existentes em 1982 e uma elevada perda da população – 32,5%. Será essa queda da média de moradores por domicílio – de 4,9 para 3,3 que deverá chamar a atenção para como se daria o crescimento da área do Madre Gertrudes se as que lhe foram retiradas ainda permanecessem. Se a área homogênea do Madre Gertrudes permanecesse idêntica ao que era em1982 contaria em 2002 com 757 domicílios com renda até 3 salários mínimos acréscimo que modicaria a participação da pobreza de 12,5% para 54%. O exame à parte das duas áreas desmembradas deverá corroborar o acerto do desmembramento. A área Vila Divinéia/Favela Sideral teve sua ocupação iniciada nos terrenos da CDI ainda nos anos 60, porém seu maior adensamento como se vê ocorreu nos últimos 20 anos. No ano de 2002, de 1.152 domicílios ocupados, 60% tinham renda média até 3 salários mínimos. A média de moradores por domicílio era um pouco maior do que a do Madre Gertrudes. Apesar da predominância da pobreza a área ainda favorecia a permanência de operários qualicados e de pequenos proprietários garantindo a 25,7% das famílias renda média entre 5 e 15 salários. Embora, a primeira ocupação do que passou a se chamar Vila Custodinha seja contemporânea da ocupação do Conjunto IAPI, seu adensamento aconteceu a partir dos anos 90, derramando-se pela encosta da área do Viaduto da Cidade Industrial. No ano de 2002, havia nessa área 184 domicílios ocupados, sendo que 57,6% com renda até 3 salários. Em razão de sua longa história e pela permanência de antigos moradores explica-se ainda a existência de 3% de famílias com renda superior a 20 salários, discrepando do padrão da área mais coerente com o que já se examinou da Cabana. A média de moradores por residência nessa área mantém-se próxima da que 25


caracterizava o Madre Gertrudes 20 anos antes – 4,6 – evidenciando mais uma vez a diferença de padrão de composição do domicílio dos moradores das áreas desmembradas. A análise de uma parte da região destinada á Cidade Operária permitiu constatar a xação de dois padrões espaciais, o dos movimentos operários representados pela Cabana do pai Tomás e o dos conjuntos habitacionais submetidos às regras do mercado.

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50ÂŞ Semana Mineira de Folclore

Centro Cultural Salgado Filho 28


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