N.º 77 Distribuição Gratuita 2.º trimestre de 2020
notícias
RESPOSTAS À PANDEMIA A Missão Continua
Síria
SAÚDE MENTAL, DESCONSTRUIR UM TABU Senegal
UMA PARCERIA DE VARIADOS PROJETOS AGORA TAMBÉM EM
FORMATO DIGITAL
N.º 77 Distribuição Gratuita 2.º trimestre de 2020
notícias
RESPOSTAS À PANDEMIA A Missão Continua
Síria
SAÚDE MENTAL, DESCONSTRUIR UM TABU Senegal
UMA PARCERIA DE VARIADOS PROJETOS AGORA TAMBÉM EM
FORMATO DIGITAL
04 | O que são os PIPOL? 06 | AMI – 31 anos em Missão com Organizações Locais
07 | Índia 08 | Senegal 10 | Guiné-Bissau – Testemunho 12 | Síria
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14 | Sri Lanka 15 | Uganda 16 | Respostas à pandemia
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– A missão continua
19 | Breves Mecenato, Internacional, Nacional
22 | Agenda + Loja AMI 23 | Informações 02 |
SUMÁRIO + EDITORIAL
OS PARCEIROS LOCAIS E A NOVA PANDEMIA:
A AÇÃO GLOBAL DA AMI CONTINUA! Desde 1989 na Índia, a ação da AMI a nível internacional, alicerça-se no financiamento de projetos apresentados por ONG locais de todas as regiões geográficas: da Ásia a África, da Oceânia à América do Norte/ Central/ do Sul, até à Europa Ocidental e Oriental e ao Médio-Oriente. Esta ação continua até hoje, há mais de 30 anos, estendeu-se a muitas dezenas de países e financiou centenas de projetos com algumas dezenas de milhões de euros… As razões desta opção tomada pela AMI, embora continuando a sua intervenção internacional e nacional com equipas próprias, tanto em projetos de emergência como em projetos de desenvolvimento, deveu-se e deve-se a várias condicionantes e premissas essenciais, das quais destacaria apenas três: 1. O melhor conhecimento das reais necessidades pelos parceiros locais assim como das realidades vividas pelas suas comunidades, daí advindo uma maior eficiência com menores custos e melhores resultados na execução dos projetos, desde que devidamente acompanhados e tecnicamente capacitados. Para tal, os técnicos da AMI mantêm com os nossos parceiros uma estreita colaboração, acordada por ambas as partes e uma avaliação intercalar e final dos projetos, de forma a promover a sustentabilidade dos mesmos e das organizações que os implementam. 2. O reforço da Cidadania e da Democracia pela ação direta dos nossos parceiros locais junto das suas comunidades com as quais trabalham em grande simbiose, confiança e transparência, tentando dar respostas práticas e concretas às suas aspirações e necessidades reais tanto na área da saúde, preventiva e curativa, da higiene, saneamento, água potável, educação, alimentação, emprego (microcrédito) e agricultura… 3. O estabelecimento de uma rede global de parcerias credíveis para a AMI que nos facilitam e ajudam na resposta e efetiva concretização das nossas missões de emergência, sejam elas levadas a cabo na sequência de conflitos, terramotos, inundações, tsunami, secas... ou epidemias/pandemias…: do Paquistão ao Nepal, do Chile a Moçambique, da Guiné à Etiópia, do Afeganistão à Índia, do Bangladesh ao Uganda…
Fernando de La Vieter Nobre Presidente e Fundador da AMI E é nessa sequência que a AMI mantém uma ação global na luta contra a Pandemia Covid-19. Em Portugal, reforçámos a nossa ação social direta junto das populações mais vulneráveis que há décadas apoiamos, seja nos nossos Centros Sociais (Centros Porta Amiga), nos nossos Abrigos, no serviço de apoio domiciliário ou com as nossas Equipas de Rua… Não só reforçámos todas essas ações, como também desenvolvemos novas intervenções, apoiando com financiamento e equipamentos, o Hospital de Santa Maria em Lisboa, o Hospital de Setúbal… Implementámos uma ação notável com a operação “Os Amigos são para as ocasiões” com a entrega ao domicílio de cabazes alimentares, por voluntários, aos nossos beneficiários mais vulneráveis no Continente e Regiões Autónomas… No Mundo, a pedido de alguns parceiros, aceitámos que canalizassem as verbas disponíveis para projetos em curso para financiamento de projetos de sensibilização e mitigação (África, Ásia, América do Sul) na luta contra a Covid-19. Graças aos nossos parceiros locais, projetos concretos já estão financiados e em curso na Índia, no Senegal e no Sri Lanka. Assim sendo, a AMI continua a sua Missão Humanitária a nível Global, agindo, mudando e integrando no sentido de todos, em conjunto, conseguirmos uma sociedade Humana mais atuante, interativa, solidária e ética para o bem-estar e dignidade de todos e a Harmonia tão indispensável para as gerações vindouras. Não, o Mundo nunca mais voltará a ser o mesmo mas, desde que vencido o medo e com Solidariedade Ativa, vamos construir o tal Mundo Melhor com que sonhamos (eu sonho há décadas!). A Cidadania Global Solidária, que a AMI defende e através da qual atua desde sempre e com todas as suas forças, não permitirá que o Caos se instale, que o Medo nos paralise e que as Trevas vençam. NUNCA. | 03
Os Projetos Internacionais em Parceria com Organizações Locais (PIPOL) são o principal eixo de ação da AMI em contexto humanitário e de desenvolvimento no espectro da sua intervenção internacional. A primeira intervenção da AMI no mundo, adotando esta metodologia de projeto, na altura designada por “microprojeto”, foi em 1989 na Índia. Tratava-se de pequenos financiamentos anuais que a DGVIII da então CEE atribuía a ONG que tivessem mais de um certo montante em projetos de desenvolvimento financiados durante mais de 3 anos. Os mesmos deviam ser utilizados como estratégia de envolvimento das populações locais e de organizações locais da sociedade civil, com uma componente que garantisse a sustentabilidade dos projetos. Os resultados deste tipo de projeto foram de tal modo bem sucedidos que, independentemente de ter terminado a linha de financiamento da CEE, levaram a AMI a adotar este tipo de estratégia, na convicção de que a prosperidade dos projetos depende da vontade das populações locais se organizarem e criarem as suas próprias redes de desenvolvimento e sustentabilidade. Os PIPOL consistem fundamentalmente na criação de parcerias de atuação conjunta com organizações sem fins lucrativos num determinado território, cujos projetos são financiados pela AMI. Numa primeira fase, a identificação de necessidades de uma região e respetivas comunidades são o propulsor deste tipo de atuação, que encontra ao nível local o conhecimento do terreno. Por outro lado, a familiaridade com os contextos sociais, políticos, culturais e religiosos regionais facilita o reconhecimento de problemáticas e as possíveis respostas mais adequadas aos recursos disponíveis. O objetivo último desta tipologia de intervenção é o de fortalecer o papel das Organizações da Sociedade Civil (OSC), através da conceção de projetos de Cooperação para o Desenvolvimento e Ação Humanitária em diversas áreas, nomeadamente no acesso à saúde e à educação, sensibilização, mitigação do risco de catástrofe, saneamento básico, segurança alimentar, promoção dos Direitos Humanos, preservação ambiental e empreendedorismo. A AMI procura dinamizar, juntamente com as entidades locais, a implementação de projetos que, num 04 |
processo de criação conjunto, garantam a sustentabilidade a médio-longo prazo das ações e a independência dos parceiros na procura de formas de financiamento alternativas. Ambas as partes são membros ativos de todas as fases de composição de um projeto, desde o seu desenho, identificação de problemáticas, implementação, monitorização e avaliação de resultados. Neste sentido, a dinâmica dos parceiros locais é o fator determinante na garantia de sucesso de implementação de uma ação específica e dos seus efeitos positivos para as comunidades que se espera beneficiem da mesma.
Até hoje já foram desenvolvidos 225 projetos em África, Ásia, América Latina e Médio Oriente. Atualmente, estão a decorrer 11 Projetos Internacionais em Parceria com Organizações Locais em países como o Bangladesh, Índia, Sri Lanka, Zimbabué, Síria, Uganda, Níger, Senegal, Colômbia, Venezuela e Chile. A AMI prevê aprofundar, no âmbito desta linha de intervenção, um segundo tipo de projetos a que chamou os Projetos de Gestão Partilhada (PGP) até ao final de 2020. Esta estratégia prevê um acompanhamento mais reforçado das Organizações da Sociedade Civil, nomeadamente ao nível do envio de voluntários expatriados nas regiões de implementação para a formação de elementos dos PIPOL em diferentes áreas, desde a saúde, ao ciclo de projeto ou gestão de projeto.
© Alfredo Cunha
O QUE SÃO OS PIPOL?
AMI
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AMI
© Alfredo Cunha
HÁ 31 ANOS EM MISSÃO COM ORGANIZAÇÕES LOCAIS A AMI tem dedicado 31 dos seus 35 anos de história a intervir no terreno em parceria com organizações locais, reconhecendo a sua importância no conhecimento dos “palcos” onde atua, seja no campo humanitário ou do desenvolvimento. O mundo vive em constante mudança e imprevisibilidade: guerras e conflitos armados despoletam num tiro silencioso e catástrofes climáticas subvertem as leis da sobrevivência de inúmeras populações do mundo, particularmente as que vivem em mais frágeis circunstâncias. Nestes casos, o recomeço é sempre um processo doloroso, em que canalizar recursos e meios para reconstruir uma nova vida se torna um processo complexo e um esforço hercúleo, que muitas vezes depende e carece de algum tipo de intervenção internacional. Desde 1984 que a AMI procura estar na linha da frente, empenhada em contribuir para a melhoria das condições de vida das populações mais frágeis e isoladas em já 83 países . Reconhecendo que o reforço dos meios de subsistência das comunidades em que a AMI intervém, depende fortemente do seu contexto socio-económico, cultural e religioso, as missões exploratórias da AMI tornaram-se, ao longo dos anos, oportunidades de aprendizagem com ONG que atuam no contexto local e instrumentos de trabalho fundamentais para a implementação de projetos. Desta forma, as perceções dos contextos vividos em áreas específicas do globo foram sendo amplificadas e por sua vez, as intervenções e ações desenvolvidas foram otimizadas, aproveitando o conhecimento, os recursos e meios locais como forma de garantir a sustentabilidade dos projetos e fortalecer as economias locais.
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O primeiro projeto internacional em parceria com a sociedade civil local da AMI ocorreu nos arredores de Calcultá (Bengala Ocidental), na Índia, em 1989, como resultado do reconhecimento da missão exploratória da AMI, de que a perspetiva da Friend’s Society in Social Service (FSSS), uma organização local dedicada ao apoio social e humanitário, viria a constituir uma mais valia para a construção de um projeto que se afirmasse do ponto de vista comunitário e democrático, privilegiando a participação de todos os stakeholders (comunidades locais, ONG locais e AMI). As parcerias estabelecidas são determinadas pela relevância dos projetos apresentados e meios disponíveis para a sua implementação e só são aprovadas após uma missão exploratória ao terreno. A relação custo/eficácia destes projetos, que se viriam a tornar a principal estratégia de implementação de projetos adotada pela AMI, relevou-se extremamente positiva para os países de intervenção e uma partilha de experiências e de saber muito enriquecedora para todas as partes interessadas, tendo sido implementados até hoje em 54 países, de cinco continentes.
AMI
ÍNDIA
LUGAR DE REENCONTROS A Índia é um país de uma extraordinária complexidade social, cultural e religiosa, com uma população de mais de mil milhões e meio de habitantes. Embora seja a décima maior economia do mundo, a Índia é um país onde imperam as desigualdades sociais e onde a pobreza extrema, de acordo com o Banco Mundial, ainda é uma realidade para 13,4% da população. A falta de acesso a saneamento básico e a parca distribuição de unidades de saúde em diversas regiões do país, são alguns dos grandes desafios com maior impacto no quotidiano da população indiana. Ao longo dos últimos 31 anos, a AMI tem cooperado com organizações da sociedade civil indiana, mais precisamente no Bengala Ocidental. O ano de 1989 simbolizou o início de parcerias com organizações locais em contexto internacional, dando origem à tipologia de projetos de cooperação que se viria a transformar no conceito de PIPOL (Projetos Internacionais em parceria com organizações locais). Por esta data, a AMI estabeleceu contacto com a Friend’s Society in Social Service (FSSS), uma organização não-governamental sediada em Bhawanipur, Bengala Ocidental, iniciando, assim, uma relação de cooperação que durou cerca de uma década. Este primeiro projeto decorreu até 1993, e consistiu na construção de 30 poços de água potável, de aviários para a exploração em cooperativa, de latrinas comunitárias e ainda de 25 habitações para a população mais vulnerável da região. Os primeiros passos percorridos pela AMI no segundo país com maior densidade populacional do mundo são dados nestas circunstâncias, mas este seria o início de uma longa jornada de cooperação para o desenvolvimento no sul da Ásia. Em 2004, o terramoto que teve como epicentro a costa de Sumatra, na Indonésia, desencadeou um tsunami de proporções gigantescas e avassaladoras, assolando as regiões costeiras de países como a Tailândia, o Sri Lanka e a Índia. A AMI regressou à Índia, reativando a sua parceria com a FSSS, financiando três abrigos, assim como o seu abastecimento
e o de outras 67 destas unidades, contribuindo para a subsistência de 735 famílias (cerca de 3.000 pessoas), nomeadamente 325 camponeses, 210 pescadores e ainda 200 alunos de diversas escolas, mais precisamente nas Ilhas de Andaman e Nicobar. O último projeto feito em parceria com esta organização, foi uma missão humanitária no Nepal, em resposta ao terramoto que arrasou aquele país em 2015. A AMI procurou sempre que os projetos contribuíssem para os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (e mais tarde, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), pelo que foi também uma das prioridades desta parceria, garantir o melhor acesso possível a água potável ao maior número de pessoas no seio das comunidades locais. Pretendeu-se com este projeto dar ênfase à participação comunitária e à promoção da igualdade de género, trazendo as mulheres para o seio do diálogo e da mobilização. Foi aliás com esta premissa que a AMI voltou a atuar no Bengala Ocidental, contactada que foi por uma organização criada por uma jovem que participava como voluntária na FSSS. As monções que sazonalmente dominam o horizonte climático do país, provocando cheias e danos irreversíveis de norte a sul, levaram a AMI a reforçar em 2018, a cooperação e o investimento no norte do país, desta vez no distrito de Howrah. O projeto “SAMPURNA - Gestão e Preparação de Desastres”, numa união de esforços com a ONG Kalikata Bidhan Manab Bikash Samity (KBMBS), resultou da necessidade de colmatar o risco de desastre face aos danos materiais e humanos causados pelas cheias. Assim, esta colaboração terá a duração de três anos, prevendo a formação da população de 30 aldeias das comunidades de Amta I, Amta II e Udaynarayapur para a gestão e mitigação de desastres climáticos. Além disso, a capacitação de agentes de comunicação, a criação de espaços de sensibilização e campanhas de reutilização de materiais fazem também parte das medidas adotadas para este efeito. Não só organizaram reuniões de grupo de suporte, como desenvolveram 169 sessões em espaços de sensibilização, abordando temas que englobam as alterações climáticas e os procedimentos de atuação e preparação em caso de catástrofe natural. Em 2019, a subida do nível dos rios fez com que o distrito de Howrah voltasse a sofrer grandes estragos, nomeadamente a queda de uma ponte em Ghoraberia. Em resposta a um apelo da organização parceira, a AMI financiou a reconstrução da ponte, a compra de alimentos que foram distribuídos a 1.350 famílias da região afetada e ainda a aquisição de 120 lonas que foram entregues a 120 famílias para reforçar a cobertura dos telhados rudimentares de suas casas.
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SENEGAL
UMA PARCERIA DE VARIADOS PROJETOS
SAÚDE, ACESSO A ÁGUA E FORMAÇÃO A primeira intervenção da AMI no Senegal ocorreu em parceria com a ONG local APROSOR, na região de Thiès, na comune rural de Méouane. O projeto desenvolvido, denominado Werle (Dar a saúde em língua Wolof), permitiu a construção de um posto de saúde para prestação de cuidados de saúde primários e a formação de matronas (parteiras) e agentes de saúde comunitários. Esta intervenção foi complementada com o financiamento de uma unidade de moagem de milho, da construção de um armazém de venda de cereais para sustentabilidade do Posto de Saúde e, ainda, de uma sala de aulas para raparigas de Ndeukou, uma área rural adjacente a Méouane. Em 1998 e 1999, a cooperação com a APROSOR foi reforçada com um novo projeto na comunidade de Thilmakha, em Yeo, desenvolvido nos mesmos moldes que a intervenção em Thiés. Também foi desenhado um novo projeto, “Promotion socio-économique des femmes de quatre communautés rurales du Sénegal”, para a construção e equipamento de um posto de saúde em Santhe Thylla e Swekhaye, a reabilitação de poços em Packy Mbadatt e Yew e a construção de uma cooperativa de apoio à mulher rural em Réfane. A parceria da AMI com a APROSOR intensificou-se nos anos seguintes e em 2004 teve início o Programa de Reforço do Processo de Paz em Casamança. Desde então e até hoje foi desenvolvido um conjunto de projetos a médio prazo em diversas partes do país, desde a reabilitação de património histórico e religioso à reparação e aquisição de equipamentos de unidades de saúde, como ambulâncias, reabilitação de equipamentos da Maternidade Rural em Reo Mao, oferta de matérias primas ao Atelier de Tinturaria das Mulheres de Réfane e oferta de equipamentos informáticos a instituições do ensino secundário. Para além de todas 08 |
© Alfredo Cunha
A AMI chegou ao Senegal em 1996 numa lógica de estabelecer parcerias com organizações locais e assim prestar-lhes apoio técnico-financeiro em distintas áreas de intervenção. A capital Dakar, a região de Thiès, e mais precisamente a commune rural de Réfane e Méouane, e ainda a Casamança, têm sido algumas das regiões onde a AMI tem trabalhado na implementação de projetos de desenvolvimento.
Projeto de água e saneamento que visou a recuperação de um poço de água potável em 2008.
estas iniciativas, entre 2009 e 2011, a AMI apostou na construção e extensão de uma série de centros de saúde nas regiões de Parba, Mbambey, Neorane, Goye Kuli, entre outras regiões, considerando o acesso à saúde como um fator chave para a melhoria da qualidade de vida dos locais. No total foram construídos, reabilitados ou extendidos 12 postos de saúde e reabilitados poços de água em Pachy, Mbaddat e Yew. AVENTURA SOLIDÁRIA Em 2001, a boa cimentação da relação entre a AMI e a APROSOR levaram a AMI a pensar numa nova forma de parceria: A Aventura Solidária tem por objetivo proporcionar a um grupo de “aventureiros” a oportunidade de ir ao terreno, participar e cofinanciar um projeto de desenvolvimento concreto por um período de 10 dias. Ao mesmo tempo, e o Senegal tinha todas as condições para tal, este tipo de programa procura, não só estabelecer pontes entre culturas, mas contribuir para a fixação de populações que de outra forma se iriam juntar a tantos outros deslocados para as grandes cidades e posteriormente aos migrantes que procuram melhores condições de vida.
AMI
Inauguração de posto de saúde a 29 de setembro de 2004, com a presença do Presidente da República do Senegal, Abdoulaye Wade.
SEGURANÇA ALIMENTAR E PRODUÇÃO DE BIOGÁS E FERTILIZANTES Entre 2017 e 2020, uma nova parceria foi estabelecida no Senegal, desta vez com a Union Régionale des Associations Paysannes de Diourbel (URAPD) que, em conjunto com a AMI, decidiu implementar o Projeto de Luta contra a Insegurança Alimentar, para garantir a 100 explorações familiares em dezoito aldeias do departamento de Bambey a valorização da sua produção e aprimorar as mesmas através da implementação de práticas agroecológicas (biodigestores e fertilizantes orgânicos). Esta região é marcada pelo desprovimento de riqueza do solo, o que resulta em mínguas produções agrícolas, o que contribuiu para o crescimento dos fluxos de migração para os grandes centros urbanos e até para fora do país, particularmente de mulheres e crianças. O acompanhamento efetuado a este cenário de insegurança, entre 2011 e 2016, permitiu obter dados sobre a tipologia da agricultura familiar na zona, verficando-se que 42% das explorações familiares estão em situação de insegurança, 56% estão em situação intermédia e apenas 2% se encontram em situação de segurança e prosperidade. Na fase final deste projeto, até julho de 2020, espera-se que as explorações familiares acompanhadas pela URAPD, não só tenham acesso a fatores de produção e implementem práticas agroecológicas, mas também que a produção local seja valorizada e as suas práticas reproduzidas e disseminadas.
EMPOWERMENT DAS MULHERES Em 2018, a AMI começou também a trabalhar com a Association Rurale de Lutte contre le Sida (ARLS) num projeto de “Promoção da Saúde Reprodutiva das
Demonstração de dança folclore senegalesa em junho de 2008.
Mulheres e Jovens em Meio Rural”. A ARLS desenvolve há mais de vinte anos intervenções com o intuito de informar e sensibilizar populações rurais para a prevenção do VIH/SIDA. Esta ONG, para além de um grupo de teatro, gere uma rádio comunitária, a “GINDIKU FM” e um fundo cooperativo de poupança e crédito. Estes foram alguns dos mecanismos encontrados para melhor chegar às populações e também contribuir para a redução da precariedade e dependência económica, das quais as mulheres são geralmente as maiores vítimas. Foi implementado em quatro comunas de Thiénaba onde estão concentradas as atividades junto de sete OCB (Organizações Comunitárias de Base). Foram determinadas estas áreas de intervenção por serem zonas marcadas por práticas tradicionais que constituem fatores de risco e vulneravilidade para jovens e mulheres em idade reprodutiva. Face a isto e de forma duradoura, o projeto teve como objetivo influenciar comportamentos das populações com vista à redução de casos de cancro de colo do útero e da mama, bem como evitar a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis. A ligação e os métodos de colaboração que a AMI tem cimentado ao longo dos últimos 23 anos com organizações locais no Senegal têm-se revelado extremamente frutuosos na contribuição para a melhoria da qualidade de vida das comunidades locais. Um acesso mais equitativo à saúde, a oportunidades e conhecimento, bem como à proteção dos meios de subsistência das populações locais são objetivos fundamentais a longo prazo da AMI e das ONG com as quais a Fundação colabora no Senegal.
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GUINÉ-BISSAU
TESTEMUNHO Não é qualquer pessoa que pode ir fazer voluntariado para África. Ou melhor: até se pode dar bem com certo tipo de situações como reconstruir uma escola em São Tomé ou qualquer coisa esteticamente mais apelativa. Mas o quotidiano desgastante de uma realidade como na Guiné-Bissau, por exemplo, nada tem de glamoroso e acaba por entrar na cabeça de muitos. O calor, a chuva, o racionamento da luz e da comida, o trabalho burocrático à luz de querosene para que as contas sejam contas, nada tem a ver com aquelas reportagens de TV em que crianças sorridentes posam ao lado de figuras públicas por minutos antes de se irem. Não. É um quotidiano desgastante e quase tão pobre como o local (o “quase” faz toda a diferença) em que o espírito de missão tem de se sobrepor à pergunta que se coloca na cabeça de muitos: mas o que é que estou aqui a fazer? E não é salvar o mundo. É passar saber. Na minha opinião, que estive em muitas missões da AMI, é ajudar a salvar o mundo. Mas cabe a cada um avaliar. Lembro-me dos fanados. Foi algo que fui ver em 2014. Aquilo que aqui em Portugal se chama excisão genital feminina. Também fui cheio de ideias sobre o assunto. Mas chegado à Guiné eis a realidade. O costume é organizarem-se fanados com 600 meninas para serem excisadas com a mesma lâmina em cerimónias que duravam semanas e que serviam para as iniciar na vida adulta e ensiná-las a ser “mulheres”. No momento em que começou a haver uma proibição do governo de Bissau, os pais decidiram excisar as bebés logo após o nascimento. É que se para “nós” a excisão em bebés é um atentado aos Direitos Humanos, aqueles pais estão longe de ser monstros fanáticos religiosos que estão conscientemente a fazer mal às suas meninas. Pelo contrário. O mais perverso é que a excisão em bebés tinha começado a acontecer exatamente para contornar a proibição dos fanados tradicionais – em que para além de excisadas, havia todo um ritual que servia para as ensinar a viver em sociedade, a cozinhar, a tratar dos velhos, a fazer os trabalhos domésticos, cuidar do marido. Não me vou alongar nas questões médicas horríveis que podem advir da mutilação genital de bebés-recém-nascidos.
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Luís Pedro Nunes É preciso que se perceba que aquelas famílias não o fazem por maldade, crueldade. Mas porque lhes querem bem. Querem que elas venham a casar, que não sejam “sujas” – coisa que temem que aconteça se não forem fanadas. E são fanadas porque é tradição e o imã diz que têm que ser porque está no Alcorão. Tal como os meninos são circuncisados. Os pais querem tão bem às suas meninas que temem que se não forem fanadas irão contra a palavra do Profeta. Mesmo que haja quem conteste com veemência esta leitura do Corão. Temem que se as suas meninas não forem fanadas serão “sujas”, não poderão cozinhar para um marido, cuidar dos velhos e poderão até matar os filhos durante o parto, resultando que nenhum homem quererá casar com elas. Crença que está fortemente enraizada. E um pai está disposto a ir para a cadeia pelo bem da sua filha. A sua mulher é fanada. A sua mãe foi fanada. Como é que pode permitir que a sua filha não o seja? Que será dela se não for fanada? Mas para as meninas esta não é uma questão ritualística e simbólica, apenas. ONG que trabalham com Direitos Humanos no leste, junto das tabancas na zona mais “pesada” do país, tinham, então consciência de que não se tratava só de uma questão de mudar as mentalidades. Era lutar contra a Lei de Deus. E isso não era fácil. No centro do país, uma outra ONG faz outro tipo de trabalho para mudar mentalidades e ali o tema já é discutido mais abertamente. Pelo menos é o que parece. Durante as férias de Verão, é a própria escola que cede as instalações para o “Clube das Meninas Excisadas e não Excisadas”. O objetivo é quebrar barreiras entre as miúdas. Sim, existem barreiras entre os dois “grupos”. Mas desta forma: há que mostrar às meninas que foram fanadas que as não excisadas não são “sujas” e não podem ser ostracizadas e mesmo insultadas (“blufos”). E por outro lado, tentar logo de início incutir em todas que a tradição pode
Fotografias © Alfredo Cunha
AMI
Desde 1987 que a AMI está presente na Guiné-Bissau, tendo desenvolvido missões de emergência, missões de desenvolvimento com expatriados e projetos internacionais em parceria com organizações locais nas regiões de Lugadjole/Boé, Quinara/Buba e Bolama. O acesso à saúde, educação, higiene e saneamento básico, segurança alimentar, associativismo e comunicações são as áreas de intervenção em que a AMI tem trabalhado, em conjunto com autoridades e organizações locais e internacionais, de modo a contribuir para a criação de condições para a melhoria da qualidade de vida das comunidades.
passar sem a “faca”. É mais tentar integrar as meninas não excisadas numa “normalidade”. É que para além de todos os preconceitos vindos da questão religiosa e sexual, há que ter em conta que as meninas não fanadas não fizeram a “passagem” para o mundo dos adultos que a cerimónia de semanas as deve preparar. E para isso há estas atividades em que reproduzem o que é ensinado no fanado. Ou seja: têm de ser as meninas excisadas a aceitar as não excisadas (a que chamam “sujas”). Há um professor de religião (Corão), há uma filha de uma fanateca para falar do ritual (sexualidade), uma professora de croché, uma professora de danças tradicionais. Tudo isto já tinha antes sido tentado numa prática nacional que não pegara a que se tinha chamado “fanado alternativo” e que visava convencer nas tabancas de que era possível fazer a cerimónia com as meninas sem as “cortar”. Mas se os imanes dizem que está no Corão...
Das 110 meninas que frequentam o Clube das Meninas Excisadas e não Excisadas só 23 é que não “foram cortadas”. E essencialmente por questões religiosas: não são muçulmanas. A dinamizadora do Clube consegue colocar todas as classes a cantar a música que compôs. “Tradição é bonita, maneira de guardar não é difícil, vamos abandonar a excisão e dar voz à nossa razão. Vamos gritar com força porque deixamos a faca”. Uma das meninas mais ativas a cantar é Fatumata Iafa, de 13 anos, excisada. E diz-nos, perentória: “Devem deixar de fanar porque não é bom para a saúde”. É órfã. Diz que não irá fanar as filhas quando as tiver.
Por muito que achemos que o nosso “dever” fosse o chegar e impor a nossa visão do mundo isso não é possível. Nem desejável dado que iríamos ser rejeitados. A AMI ajuda outras ONG a desenvolver capacidades para agir localmente. Sem o nosso olhar espantado, chocado, que muitas vezes não resolve nada. É no terreno, onde a AMI sempre esteve, ao perceber as subtis texturas da realidade, que esta se poderá modificar. Se possível. Mesmo que percamos a esperança tantas vezes eu sei que a AMI vai lá estar. Para além de mim e dos meus humores.
Luís Pedro Nunes
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SÍRIA
SAÚDE MENTAL, DESCONSTRUIR UM TABU A primavera árabe trouxe à população síria a esperança de um futuro democrático para o seu país. Em 2011, os sírios de Deera ocuparam as ruas da cidade em demonstrações pacíficas de resistência ao governo de Bashar Al-Asad. Rapidamente, a tensão entre o governo sírio e a oposição despoletou uma guerra civil sem precedentes, que nos últimos oito anos atingiu violentamente a população e obliterou parte do património histórico e cultural do país. Quase meio milhão de pessoas morreu no decorrer deste conflito sem um cessar fogo à vista. A instabilidade da região abriu a porta a milícias como o Daesh (ISIS), impondo um clima de terror, opressão e violência, que levou ao agravamento da insegurança vivida no país. São cerca de 4 milhões os refugiados sírios em campos de acolhimento nos países vizinhos (Turquia, Líbano e Jordânia). A procura de segurança, estabilidade e paz é o objetivo que leva a que muitos milhões de pessoas abandonem em desespero a Síria na esperança de conseguir chegar à Europa, mas mesmo esse trajeto não está livre de incerteza e de perigo. Para além daqueles que conseguiram sair do seu país, houve os que ficaram, por falta de meios ou recursos económicos. Houve quem ficasse por amor à bandeira, na esperança de dias de paz. Houve quem quisesse ficar para lutar, para manter unida a sua família e preservar as suas casas. Muitos não conseguiram. Na Síria, existem atualmente 6.2 milhões de pessoas, incluindo 2.5 milhões de crianças internamente deslocadas. Há famílias deslocadas pela segunda e terceira vez. As pessoas movem-se para zonas do país onde lhes possa ser assegurado o mínimo de serenidade, acesso a bens comunitários, abrigo, cuidados de saúde e educação. O CONFLITO E A SAÚDE MENTAL Neste contexto, em fevereiro de 2018, a AMI decidiu estabelecer uma parceria com a ONG Syrian Relief and Development (SRD), uma organização sem fins lucrativos síria criada em 2011, com o objetivo de promover junto da sociedade civil, respostas e serviços no sector da Saúde Mental e Psicossocial. 12 |
Nos primeiros anos de conflito, a SRD identificou que a depressão, o medo, o pânico e o stress pós-traumático se tornaram na realidade generalizada de uma guerra que não poupou ninguém. Embora o estigma e as restrições sociais fossem obstáculos que demovessem aqueles que precisavam de obter cuidados de saúde mental, a SRD procurou garantir que diversas comunidades no norte da Síria tivessem conhecimento dos meios disponíveis para o tratamento de doenças do foro psicológico e emocional, nomeadamente a pessoas internamente deslocadas, por serem consideradas especialmente vulneráveis a este tipo de patologias. Foi detetado pela SRD que determinados grupos alvo sofriam de uma disconexão sociocultural face ao ambiente em que se encontravam, devido a múltiplas deslocações forçadas dentro do país e por se concentrarem fundamentalmente na satisfação de necessidades básicas, em detrimento da manutenção da sua saúde mental. Assim, a SRD mobilizou 60 agentes comunitários, providenciando-lhes formação para a sinalização e orientação de pessoas com possíveis perturbações traumáticas, nas províncias de Aleppo e de Idlib. Mais de 3000 pessoas foram sinalizadas e encaminhadas para serviços públicos. No entanto “verificámos ao estabelecer a ligação entre as pessoas e os serviços disponíveis que a falta de conhecimento e o estigma relativamente à saúde mental não eram os únicos obstáculos. Foi necessário garantir um suporte comunitário continuado, de modo a assegurar que os beneficiários tivessem conhecimento das respostas psicossociais disponíveis e assim facilitar o seu tratamento e recuperação”, explica Essam Abdely, coordenador do projeto.
AMI SUPORTE COMUNITÁRIO A segunda fase do projeto, que se desenvolverá até julho de 2020, foi implementada de acordo com a análise dos resultados obtidos na primeira fase. Se numa fase inicial, pessoas com patologias psicológicas, mentais e neurológicas não recorriam aos serviços pelas razões anteriormente referidas, numa segunda fase verificou-se que o acompanhamento continuado dos pacientes carecia de uma intervenção intersectorial e recursos para este efeito, já que os serviços se encontravam sobrecarregados. Assim, 40 agentes comunitários que já colaboravam na primeira fase do projeto foram capacitados para prestar “follow up sessions” aos doentes diagnosticados, no seio das suas comunidades, em particular a pessoas que apresentassem risco de suicídio. Paralelamente, foi necessário mapear as respostas disponíveis para fazer face às necessidades dos pacientes com MNS (Mental, Neurological, Substance Use), promovendo a integração e criação de sistemas de referenciação eficazes e networks entre sectores na área da saúde. Segundo Ahmad Hendawi, agente comunitário ou MHSSP (Mental Health Psycosocial Supporter) da SRD, na segunda fase do projeto “procurámos melhorar o sistema de mapeamento dos serviços e sectores disponíveis aos beneficiários, otimizando o seu acesso a referenciação, medicação, consultas e exames, através da expansão da distribuição dos serviços nas regiões de Jerablus, Azas e Albab“.
Os agentes comunitários, em conjunto com técnicos e profissionais de saúde na área de saúde mental reconheceram ainda a necessidade de focar os seus esforços no acompanhamento a mulheres grávidas e na fase de puerpério, uma vez que se manifestavam diversos casos de extrema vulnerabilidade psicológica, sentimentos de insegurança e stress pós traumático (por motivos de guerra, perda do progenitor, carência de um núcleo familiar alargado, falta de meios económicos, recursos parcos, etc.).
Assim, esta fase do projeto contemplou uma subcomponente designada “Thinking Healthy”. Este programa formou 12 parteiras para intervirem junto das mulheres e encorajarem-nas a expor os seus receios, medos, distúrbios emocionais e psicológicos, relacionados com o facto de terem de atender às necessidades
dos recém-nascidos num clima de guerra. “Thinking Healthy” consiste num programa de três passos que visa promover o pensamento saudável e a expressão de sentimentos negativos associados à gravidez, através de dinâmicas focalizadas para cada caso. Ahmad Hendawi salienta que “as parteiras são fundamentais neste processo de acompanhamento de mulheres grávidas ou em pós-parto, pois são elas que conseguem a proximidade e confiança necessárias para aprofundar questões relacionadas com a ligação mãe/bebé, com o ambiente que rodeia as mães, assim como a pressão associada a esta fase das suas vidas”. De acordo com o coordenador de projeto, Essam Abdely, “esta intervenção está a ter um impacto muito positivo no terreno, nesta matéria relacionada com o bem-estar psicológico e emocional e o modo como as pessoas podem chegar aos serviços e vice-versa (…)”, reforçando ainda que, “o apoio da AMI influenciou significativamente o desenvolvimento deste projeto”. Reconhece ainda que “este é um trabalho que exige continuidade, amplificação, e que ainda carece de inúmeros recursos. Queremos continuar a chegar às pessoas cuja saúde mental e psicológica se encontra comprometida e conseguir garantir o seu bem-estar e consciência emocionais”.
Ultimamente, face à situação que o mundo vive, uma pandemia em que todos os meios disponíveis estão a ser canalizados para combater a Covid-19 e evitar o seu contágio, na Síria, esta é uma batalha acrescida. A SRD está a direcionar as suas mensagens de sensibilização, através dos agentes comunitários, às populações do norte para promover medidas de prevenção face ao novo coronavírus.
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SRI LANKA
O Sri Lanka é um país insular situado no oceano índico, na ponta sul da Índia. Com uma população de aproximadamente 21 milhões de habitantes, esta ilha é um estado independente onde se falam duas línguas oficiais (Cingalês e Tamil) e onde coabitam três religiões (Hinduismo, Islamismo e Catolicismo) com uma rica e predominante tradição budista que remonta a 29aC. No decorrer de uma desgastante guerra civil que começou em 1983 e só viu o fim 25 anos mais tarde, a história do Sri Lanka foi mais uma vez tragicamente marcada em 2004, desta vez pela natureza. 26 de dezembro de 2004: Vários sismos sucessivos, seguidos de um violento tsunami ocorreram no sudeste asiático, devastaram onze países banhados pelo pacífico, causando milhares de mortos, desaparecidos e deslocados. O governo do Sri Lanka foi o primeiro a decretar o estado de emergência e a apelar à ajuda internacional. Dois dias depois, a AMI chegou a Colombo, capital do Sri Lanka, com o objetivo de realizar uma missão exploratória e de preparar a chegada da equipa expatriada, em resposta ao pedido de ajuda do estado cingalês. Instalada no sul do país, a equipa da AMI começou a operar em pleno, prestando apoio a campos de deslocados num raio de 30 km de Beruwala, em Sathgama, montando uma operação médico-sanitária de emergência. Esta intervenção de emergência, acabaria por durar até janeiro de 2006, não só pela gravidade da situação como pela generosidade dos portugueses que apoiaram a intervenção da AMI. Esta solidariedade levou a que, paralelamente à missão de emergência fossem estabelecidos contactos para preparar projetos a médio e longo prazo de reabilitação de estruturas médicas e sociais, tendo permitido a ajuda da AMI manter-se por mais 10 anos através de projetos em parceria com organizações locais. Para o efeito, a AMI estabeleceu parcerias com várias organizações internacionais como a Planet Finance e a Asian Human Rights Commission e locais em diferentes zonas do País: Don Bosco Boys Home, St. Vincent's e St. Francis Boys Home no Sul, a Sri Lanka Portuguese Burgher Foundation (no apoio à Comunidade “Burgher”) na costa Este da Ilha e o Centre for Society and Religion na capital, Colombo. 14 |
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CRESCER COM A COMUNIDADE
Dos projetos desenvolvidos pela AMI no Sri Lanka, destacam-se a parceria com o orfanato St. Vincent's Home que acolhia cerca de 200 crianças; a expansão do orfanato D. Bosco Boys Home, aumentando a capacidade de acolhimento da estrutura para 160 crianças; a parceria com o Centre for Society and Religion, cuja missão consiste em promover o diálogo inter-religioso e intercultural; e a criação da Sri Lanka Portuguese Burgher Foundation (SLPBF), em 2005, com o objetivo de apoiar a comunidade Burgher e promover as relações culturais entre Portugal e o Sri Lanka. Atualmente, está a decorrer um projeto na área educativa, em parceria com a Burgher Cultural Union (BCU)1, que visa o apoio a famílias em situação de carência económica, através da capacitação de jovens para a integração no mercado laboral, reforçando o nível de escolaridade da comunidade. Face ao cenário atual e às decisões governamentais para mitigar a propagação da Covid-19, no país, a BCU pediu que o financiamento do projeto fosse redirecionado para apoiar as famílias com bens essenciais para que possam permanecer na segurança das suas casas; e a SLPBF pediu apoio para manter os seus colaboradores, visto que foram obrigados a fechar temporariamente.
A comunidade Burgher é composta por descendentes de portugueses e holandeses das ex-colónias que chegaram ao antigo Ceilão nos séculos XVI e XVII. Em Batticaloa, predomina a herança cultural portuguesa, ainda vísivel no folclore da comunidade e no crioulo português, que os mais velhos ainda conhecem, bem como nos nomes de origem portuguesa.
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A partir de 2017, a AMI assumiu uma nova lógica de financiamento dos projetos da Comunidade Burgher, atribuindo a gestão dos mesmos à SLPBF.
UGANDA
SOBRE O TALK2ME O Talk2Me é um projeto ímpar que trata uma das questões que mais afeta a vida da população jovem no Uganda, sendo também um dos temas mais difíceis de abordar. O assunto da saúde sexual e reprodutiva tem sido abordado por alguns parceiros que têm tentado educar a comunidade nos centros de saúde, mas pensemos no seguinte: quantos jovens visitam os centros de saúde por questões como esta? Definitivamente muito poucos. A melhor abordagem foi adotada pelo Talk2Me, primeiro por ter apostado numa formação intensa a uma equipa de jovens, que garantisse a transferência de conhecimento aos seus pares e à comunidade em geral. A formação destes jovens incluiu técnicos de terreno, agentes comunitários e um grupo de educadores, conhecidos como “amigos informados”. Foi promovido o envolvimento constante dos jovens da comunidade em programas como “Youth Talks” e encontros nos quais as temáticas relacionadas com a saúde sexual e reprodutiva, como a gravidez na adolescência, o abandono escolar, a interrupção voluntária da gravidez, o abuso de drogas, os casamentos precoces e comportamentos de risco que afetam negativamente a sua vida, foram dramatizados através de poemas e canções, como meio de difundir a informação. A participação de toda a comunidade em programas de sensibilização sobre tópicos que já eram abordados , ainda que pouco, sobre saúde sexual e reprodutiva, e a utilização do sistema de referenciação criado para as pessoas poderem aceder ao centro de saúde por questões de saúde reprodutiva, foi algo que raramente se tinha feito antes. O Talk2Me mudou, de facto, a forma como as pessoas pensam, incluindo a minha, e os seus comportamentos relativamente à
procura de serviços de saúde reprodutiva e complicações associadas, como doenças sexualmente transmissíveis. Muitos casais também passaram a ir juntos ao centro de saúde a consultas de planeamento familiar e cuidados pré-natais. Muito teria a dizer sobre o trabalho desenvolvido pelo projeto Talk2Me no campo de Omugo, pese embora alguns desafios que afetaram o desenvolvimento tranquilo dos projetos, como a falta de espaços adequados para jovens, que permitissem recolher e partilhar informação, desenvolver jogos que mobilizassem os jovens e promovessem a disseminação da mensagem por um maior número de pessoas. Este projeto beneficiou amplamente os jovens com complicações na área da saúde sexual e reprodutiva, mas também a comunidade em geral. A pouca atenção dada aos casos já referenciados nos centros de saúde desmotiva as pessoas a recorrerem aos serviços. Este seria um ponto que eu assinalaria no caso de estar prevista uma nova fase do Talk2Me, ou seja, a necessidade de delinear uma estratégia que atraia para as nossas sessões adolescentes grávidas e pessoas com dependências, ter um técnico no centro de saúde atribuído aos casos referenciados pelo Talk2Me, e distribuir alguns kits com preservativos, medicamentos contracetivos e kits de teste. Seria extremamente positivo. Amaguru Gloria Técnica de terreno no projeto Talk2Me
O projeto Talk2Me, cofinanciado pela AMI e pelo Instituto Camões, é implementado em parceria com a organização local CEFORD – Community Empowerment for Rural Development, sediada no Uganda. Este é um projeto de ação humanitária que procura apoiar o acolhimento a refugiados em Arua, no Rhino Settlement (um dos maiores campos de refugiados do país), promovendo e sensibilizando jovens para o exercício de boas práticas na área da Saúde Sexual e Reprodutiva (SSR), contribuindo para a redução de complicações nesta matéria. Embora a primeira fase deste projeto tenha terminado em fevereiro de 2020, uma segunda fase está prevista para o decorrer deste ano. A implementação do Talk2Me contou ainda com o apoio da Microsoft, das Casinhas de Lisboa e dos Meos.
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© Alfredo Cunha
AMI
RESPOSTAS À PANDEMIA
A MISSÃO CONTINUA A propagação da Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus ou SARS-COV-2 chegou a cerca de 200 países e territórios em todo o mundo, o que provocou um cenário de emergência internacional, levando 1/3 da população mundial ao isolamento. A Covid-19 (Coronavirus Disease) é a doença provocada por um tipo de coronavírus, que se subdivide em diversas estirpes que maioritariamente provocam patologias em animais. São apenas conhecidas sete tipologias deste vírus que causam doença a seres humanos, como é o caso do SARS-CoV e do MERSCoV, que em 2002 e 2012 causaram surtos epidémicos em diversos continentes. O novo coronavírus emergiu em finais do ano passado, na cidade de Wuhan e disseminou-se amplamente por toda a China, gerando uma série de redes de transmissão globais. A Organização Mundial de Saúde viu-se obrigada a declarar uma crise sanitária global e a apelar aos Estados para a adoção de medidas de prevenção urgentes. As primeiras infeções identificadas terão supostamente tido origem num mercado de animais exóticos em Wuhan, onde este tipo de comercialização é comum, embora ilegal de acordo com a legislação chinesa. O contágio da Covid-19, de pessoa para pessoa, é feito através de gotículas provenientes de tosse ou espirros de uma pessoa infetada. O peso destas gotículas leva a que as mesmas possam permanecer em superfícies ou fiquem impregnadas nas mãos em caso de contacto físico. Uma vez no organismo, o vírus serve-se das células como transmissor e condutor, podendo levar à inflamação das vias respiratórias superiores e inferiores (como é o caso dos brônquios e dos pulmões). Febre, tosse e dificuldades respiratórias são os principais sintomas desta doença, embora existam inúmeros casos assintomáticos, o que provoca uma ameaça agravada à propagação, por falta de recognição de sintomatologia. Atualmente, países como Itália, Espanha, Reino Unido, França, China, Irão e Estados Unidos são os mais afetados por esta patologia, ainda relativamente desconhecida para a comunidade médica e científica internacional. A corrida a uma vacina está a levar ao desenvolvimento, por parte de farmacêuticas, comunidades científicas e laboratórios, de testes clínicos experimentais. Segundo a Organização Mundial de Saúde, considera-se a possibilidade de que esta vacina possa combinar antibióticos e retrovirais já uti-
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lizados para mitigar doenças como a Malária, HIV, Ébola, Influenza ou Zika, embora não hajam ainda evidências conclusivas desta convergência. Em Portugal, o Estado de Emergência foi declarado, pela primeira vez, dia 21 de março e renovado no dia 2 de abril como medida extraordinária de resposta à propagação do vírus, não obstante o número de casos de infetados já ter chegado aos 23.392, à data de redação deste artigo. Os grupos populacionais de risco são específicamente pessoas com mais de 60 anos e/ou portadores de doenças crónicas, nomeadamente diabéticos e pessoas com problemas do foro oncológico, cardiovascular ou hipertensivo. De forma a conter a disseminação da epidemia, foi desenvolvido em Portugal um Plano Nacional de Resposta e Preparação para a Doença do Novo Coronavirus com diferentes etapas de impugnação e de recuperação (1: Contenção; 2: Contenção Alargada; 3: Mitigação). Atualmente, encontramo-nos na fase de Mitigação, cuja finalidade passa pela aplicação de medidas de reclusão obrigatória à sociedade civil na fase de incubação da doença, salvo exceções ligadas a questões laborais e manutenção de serviços mínimos e essenciais. Paralelamente, estas medidas pretendem facilitar a identificação de cadeias de transmissão (em ambientes fechados e abertos) como estratégia para travar a morbimortalidade da doença, atendendo a um conjunto de medidas preventivas.
AMI
Ciente das suas responsabilidades e da sua vocação na área da Ajuda Humanitária, a Assistência Médica Internacional (AMI) continua a garantir todo o apoio à população vulnerável que recorre aos seus serviços, e até o reforçou, tendo definido medidas de contingência claras e preventivas em todas as suas infraestruturas em Portugal para a defesa e proteção da saúde tanto dos beneficiários como dos seus colaboradores. Além disso, tratando-se de uma pandemia, a AMI assume igualmente a sua responsabilidade para com os parceiros internacionais que, infelizmente em alguns casos, já enfrentam as graves consequências da epidemia no seu país. Assim, em Portugal mantêm-se os atendimentos de acompanhamento social, o serviço de apoio domiciliário, e as equipas de rua de atendimento à população em situação de sem-abrigo permanecem ativas e em estreita colaboração com as instituições que trabalham em rede no apoio a esta população. O serviço de refeitório foi reduzido presencialmente, respei-
De modo a expandir os meios de resposta em Portugal e garantir que os beneficiários da AMI permanecem em isolamento nas suas casas, como populações vulnerabilizadas e em situação de risco que são, nomeadamente idosos, pessoas em situação de sem abrigo, famílias monoparentais e portadores de doenças crónicas, a AMI lançou a campanha “Os AMIgos são para as Ocasiões”. Esta campanha pretende por um lado angariar fundos para compra de cabazes de produtos alimentares e de higiene base e por outro recrutar voluntários para a sua distribuição aos beneficiários dos equipamentos da AMI, cumprindo as normas de prevenção e segurança da Direção-Geral de Saúde e da Organização Mundial de Saúde.
tando todas as normas de segurança, privilegiando-se a entrega de refeições para levar. Já a distribuição alimentar é feita com os protocolos de contingência em vigor, sendo momento também para a promoção da sensibilização dos beneficiários para os cuidados a ter para se protegerem do contágio. Os Abrigos Noturnos de Lisboa e Porto passaram a estar abertos 24 horas por dia, uma vez que os residentes têm as suas saídas limitadas face às medidas impostas pelo Estado de Emergência. A AMI envidou ainda todos os esforços para dar resposta aos vários apelos de estruturas de saúde e outros grupos que se mobilizaram para encontrar soluções de combate à Covid-19. Ao Hospital de São Bernardo, em Setúbal, foram doadas duas tendas para apoiar as instalações na triagem de utentes suspeitos/infetados com Covid-19 e complementar os serviços prestados. Em resposta a um apelo da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, a AMI atribuiu um donativo de €20.000 para a compra de álcool e equipamento de proteção individual (EPI) para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Relativamente à intervenção da AMI a nível internacional , a Fundação mantém todos os apoios atribuídos às organizações e associações locais, tendo aceite redirecionar os esforços ou atribuir um apoio adicional, a pedido de alguns dos parceiros, para deter a propagação da Covid-19 nas regiões onde os projetos estão implementados, nomeadamente na Índia, no Senegal e no Sri Lanka. Na Guiné-Bissau, foi doado equipamento de proteção individual ao Centro de Saúde de Bolama. Os esforços da AMI continuarão a ser canalizados na luta contra a propagação da pandemia, assim como na resposta àqueles que com a instituição têm contado para melhorar as suas condições de vida no que toca à sua dignidade e garantia dos seus direitos fundamentais. NB: À data do fecho da revista, Portugal ainda estava em Estado de Emergência.
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No sÉc. XIiI, D.Dinis foi o impulsionador da plantação do Pinhal de Leiria. após o incêndio de 2017 que destruiu 80% do mesmo, chegou a noSsa vez de aSsumir este compromiSso e ajudar a reflorestar Portugal.
BREVES Mecenato_
Rastreios Oftalmológicos nos CPA Vinte e sete crianças dos Centros Porta Amiga de Gaia e de Coimbra foram alvo de avaliações em consulta de oftalmologia no decorrer de 2019, tendo sido atribuídos 12 pares de óculos àquelas que apresentaram resultados de miopia ou astigmatismo. A Vision For Life Foundation – Essilor e a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, no âmbito do programa Vision as Needed, criaram uma unidade móvel de saúde visual (VAN), equipada com um gabinete de oftalmologia, para a realização de ações de rastreio, consultas de oftalmologia e oferta de óculos. Esta iniciativa é destinada a crianças e jovens com necessidade de diagnóstico em caso de miopia e astigmatismo. Estas intervenções contaram com a colaboração da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia e do Centro Hospitalar de Gaia. Momentaneamente suspenso devido à pandemia pela Covid-19, prevê-se que o projeto seja retomado assim que a propagação pelo novo coronavirus já não constitua perigo para a população, nomeadamente crianças e jovens.
“Os AMIgos são para as ocasiões” vão à Auchan A parceria da AMI com a Auchan no âmbito do projeto “Os AMIgos são para as Ocasiões” arrancou simbolicamente no Dia Mundial da Saúde. A aquisição dos cabazes alimentares nas lojas Auchan é reembolsada pela Empresa. Por outro lado, nas superfícies da Auchan é concedido atendimento prioritário aos voluntários da AMI devidamente credenciados para esta causa. A entrega dos bens é feita à porta de cada beneficiário, de acordo com as normas e recomendações da Direção Geral da Saúde, de modo a evitar o contacto físico no decorrer do processo de entrega.
“Os AMIgos são para as ocasiões” vão receber MEOS A preocupação em contribuir para a mitigação da propagação do Coronavírus (Covid-19) em populações de risco acrescido, levou à iniciativa da AMI “Os AMIgos são para as Ocasiões”. Este projeto pretende reforçar o apoio aos idosos e outros grupos de risco acrescido, como doentes oncológicos, pessoas que vivem com VIH, diabéticos, familias monoparentais e outros casos em situação de isolamento social. A MEO prontificou-se de imediato a apoiar: na troca de 300 pontos Meo, 7 euros revertem a favor deste projeto, que procura fomentar o distanciamento social e proteger as populações de risco, através da distribuição de alimentos e bens essenciais aos beneficiários sinalizados pela AMI.
Vamos todos ser Dinis “Vamos todos ser Dinis” é o mote da próxima intervenção no âmbito do Programa de Reflorestação Ecoética, agendada para os dias 20 e 21 de novembro de 2020. Está prevista a reabilitação de 100.000 m2 de terreno deflagrado pelos incêndios de 2017 no Pinhal de Leiria. Será lançada uma campanha de recolha de fundos para este fim, bem como de mobilização de voluntários que se disponibilizem para a plantação de árvores autóctones no terreno atribuído pelo Instituto de Conservação da Natureza (ICN). O aumento da área vegetal em Portugal, prevenção dos impactos associados à introdução de espécies invasoras, preservação dos solos, proteção das reservas de água subterrâneas, melhoria da qualidade ambiental das áreas intervencionadas e a mitigação do risco de incêndio são alguns dos objetivos fundamentais desta iniciativa que procura garantir parte da reabilitação ambiental desta região.
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Internacional_ Venezuela_
Haja saúde para as comunidades portuguesas Chile_
Saúde Respiratória para os mais jovens O projeto desenvolvido pela Fundación Chilena Auxílio Maltés, em parceria com a AMI, concluiu a sua primeira etapa em dezembro de 2019, com a reabilitação de uma área hospitalar dedicada à promoção de cuidados especiais necessários para jovens com doenças respiratórias. A segunda etapa pretende agora garantir meios de deslocação de pacientes menores e seus acompanhantes a consultas e tratamentos. Este hospital, localizado na capital Santiago, pretende chegar a 8.872 atendimentos por ano. O projeto abrange os familiares destes pacientes, num total de 35.488 pessoas, como beneficiários indiretos e, ainda, as comunidades em que os pacientes se inserem, estimando-se alcançar um total de 250.000 pessoas.
A Associação de Médicos de Origem Luso-Venezuelana (ASOMELUVE) e a AMI uniram-se para desenvolver a “Rede Portuguesa de Assistência Médica e de Solidariedade para a Venezuela”, uma iniciativa que decorreu até dezembro 2019. Este projeto chegou a 261 pessoas, no decorrer do ano de 2019 (141 homens, 109 mulheres e 11 crianças), através da prestação direta de cuidados, nomeadamente consultas, procedimentos ambulatórios de diagnóstico, realização de exames e acesso a medicamentos. O Presidente da ASOMELUVE, Dr. Adérito de Sousa, afirma que foi feito “um grande esforço para administrar adequadamente os recursos atribuídos de forma equitativa e razoável, apoiando os casos mais dramáticos do ponto de vista humanitário e de maior necessidade socio-económica”.
Bangladesh_
Mais enfermeiros em Jessore A AMI coopera desde 2009 com a DHARA – Development of Health and Agriculture Rehabilitation Advancement, uma ONG sediada em Jessore, no sudoeste do Bangladesh. O atual projeto, desenvolvido em parceria na área da saúde, teve início em maio de 2019 e consiste na construção de um centro de formação para enfermeiros. Pretende também, e uma vez pronto, criar uma oferta formativa gratuita para uma turma de 50 alunos, que ao nível prático exercerão funções na área da saúde primária e de enfermagem aos utentes do Hospital Geral Dr. Fernando Nobre, um dos primeiros projetos implementados pela DHARA em 2009 em parceria com a AMI. Os diplomas e curricula atribuídos serão acreditados pelas autoridades de saúde da região.
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Zimbabué_
Todos são Capazes No Zimbabué, a AMI e a Ruvarashe Trust, uma ONG sediada em Mutemwa, uniram forças para concretizar um projeto iniciado em outubro de 2018, com o intuito de criar mecanismos de geração de rendimentos para pessoas portadoras de deficiência e para os seus agregados familiares. Atenuar situações de pobreza extrema, capacitando o público alvo a criar meios de subsistência, foi o grande foco desta iniciativa que decorreu até abril deste ano. As atividades dinamizadas pelas pessoas abrangidas por este projeto passaram pela capacitação e financiamento de pequenos negócios como criação de galinhas, de cabras, atividades de costura e de arranjo de sapatos. Uma iniciativa anterior da organização, também ela apoiada pela AMI, que já abrangera 186 pessoas com grande sucesso, levou a esta segunda fase de apoio a mais 164 pessoas, perfazendo um total de 350 beneficiários diretos.
BREVES Nacional_
Sustentabilidade Ambiental e Integração social vencem Prémio Já são conhecidos os vencedores da 10ª edição do Linka-te aos Outros, uma linha de financiamento para projetos desenvolvidos por jovens a frequentar a escola entre o 7º e o 12º anos. Os 5 projetos vencedores evidenciam-se pela promoção de atividades de voluntariado nas áreas de sustentabilidade ambiental e integração social de jovens e idosos. Após a avaliação de todas as candidaturas, tendo em conta critérios de implementação, progresso e impacto, o júri designou 5 projetos de diferentes pontos do país, para receber um financiamento total de 9.800 euros. Mais precisamente: • “Ligações improváveis” – Música, Valores e Horta” – Agrupamento de Escolas de Santo António – Barreiro • “Rumo à nossa melhor versão”, alunos do 11º ano da Escola Secundária D. Maria II – Braga • “Educação para a Cidadania Global” – EB dos 2º e 3º Ciclos Dr. Horácio Bento de Gouveia – Funchal • “Partilha de saberes intergerações” – EB 2,3 Júlio Brandão – Vila Nova de Famalicão • “Redes para a Inclusão” – Agrupamento de Escolas do Vale da Amoreira – Moita.
Formação de Voluntários Internacionais A Ação Humanitária e a Cooperação para o Desenvolvimento têm uma importância crescente no contexto internacional. A preparação adequada e especializada dos profissionais que atuam nestas áreas, levou a AMI a promover formações direcionadas a voluntários, de forma a fornecer-lhes ferramentas para a sua integração em projetos internacionais. A próxima formação está prevista para 9 e 10 de novembro, em Lisboa, e terá como temas de abordagem as Assimetrias Mundiais e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a introdução à Gestão de Ciclo de Projeto e a Saúde Tropical, entre outros temas.
Os AMIgos são para as Ocasiões O combate à propagação do novo coronavírus levou a AMI a lançar o projeto “Os AMIgos são para as Ocasiões”, uma campanha de recolha de fundos e recrutamento de voluntários que visa a distribuição alimentar e de bens fundamentais a beneficiários sinalizados pelos equipamentos sociais da AMI considerados população de risco. O objetivo desta iniciativa é garantir que estas populações possam permanecer na segurança das suas casas, assegurando o seu acesso a bens essenciais. Este projeto conta com o apoio de dezenas de voluntários em todo o país, e de vários parceiros empresariais.
“Agir Sem Desperdício” em balanço O programa de educação alimentar “Agir Sem Desperdício Alimentar” é o resultado de uma parceria entre a AMI e a Fundação Ageas que tem como fim a promoção de uma alimentação saudável junto da população adulta e sénior dos Centros Porta Amiga da AMI. O projeto pretende, através da realização de um ciclo de três workshops temáticos, capacitar para a preparação de refeições económicas, saudáveis, completas e sem desperdício; contribuir para a melhoria dos hábitos alimentares, com impacto positivo na saúde. Desde 2019, ano em que iniciou este projeto, já foram desenvolvidas 17 sessões em quatro dos nove Centros Porta Amiga e foram alcançadas cerca de
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AGENDA AMI 21 E 22 DE NOVEMBRO
9 E 10 DE NOVEMBRO
• Ação de Reflorestação no Pinhal de Leiria
• Formação de voluntários internacionais
LOJA AMI
PORTES DE ENVIO
A Loja AMI dispõe de vários artigos que podem ser adquiridos no site ami.org.pt/loja Ao comprar qualquer um dos artigos da loja AMI estará a contribuir para a realização dos nossos projetos e missões. Pode também fazer a sua escolha, preencher e enviar-nos o cupão abaixo, junto com o cheque no valor total dos artigos acrescido das despesas de envio indicadas.
"Histórias que contei aos meus filhos"
"Toda a esperança do mundo"
Livro 12.50€
Livro 39.90€
Encomenda
90€
Portugal Continental
5€
Grátis
Portugal Ilhas
25€
20€
Europa
30€
15€
Resto Mundo
35€
17,50€
"Guiné tem magia"
90€
"Humanidade"
Livro 10€
Livro 20€
[MAIS ARTIGOS EM WWW.AMI.ORG.PT]
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INFORMAÇÕES
VOLUNTARIADO Quando a AMI nasceu, em 1984, o sonho era grande e as dificuldades imensas, mas a AMI cresceu e os anos passaram a uma velocidade inacreditável… E nada disto seria possível sem a coragem e o altruísmo de todos os voluntários que nos acompanham. Em missões internacionais, os voluntários podem assumir funções de coordenação de projeto, chefia de missão ou de especialista em áreas técnicas relevantes, integrando projetos de curta ou longa duração, em função do seu perfil e das necessidades existentes no terreno. Em Portugal, a AMI conta com voluntários das áreas da saúde, educação, ciências sociais, jurídicas e indiferenciados que ajudam a prestar serviços aos beneficiários dos equipamentos sociais, aos quais, de outra forma, não teriam acesso.
NECESSIDADES ATUAIS DE VOLUNTARIADO Pediatra
MISSÃO DA AMI EM MADAGÁSCAR
Enfermeiro/a Médico/a
CPA GAIA
CPA OLAIAS
Nutricionista Psiquiatras Cabeleireiro
CPA PORTO CPA CASCAIS
CPA PORTO
CPA ALMADA CPA ALMADA CPA GAIA
ABRIGO DO PORTO CPA PORTO CPA OLAIAS
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[FICHA DE CANDIDATURA ONLINE]
Este número da AMI Notícias foi editado com o especial apoio da revista VISÃO (Distribuição), COMPANHIA DAS CORES (Design), LIDERGRAF (Impressão e Acabamento) e CTT – Correios de Portugal Autorizada a reprodução dos textos desde que citada a fonte. AMI Fundação de Assistência Médica Internacional R. José do Patrocínio, 49 – Marvila, 1959-003 Lisboa ami.org.pt | fundacao.ami@ami.org.pt Ficha Técnica Publicação Trimestral Diretor Fernando Nobre Diretora Editorial Luísa Nemésio Edição Ana Ferreira Redação Marina Bertolami Fotografias AMI, Alfredo Cunha, CEFORD, Greenpeace Espanha, Joana Santos e SRD. Colaboram neste número: Ana Barros e Pedro Silva Paginação Companhia das Cores - Ana Gil Tiragem 56.000 exemplares Depósito Legal DL378104/14
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