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pode ser uma solução

Por Karen Kornilovicz

Achamada “fuga de cérebros”, movimento no qual profissionais qualificados não exercem suas habilidades em seu país de origem, mas no exterior, não é uma realidade apenas do Brasil. Ela está ocorrendo em todo o mundo.

A pandemia acelerou o processo de transformação digital e também a adoção do trabalho remoto, o que contribuiu para o aumento do assédio exterior a profissionais experientes – e até mesmo de recémformados, principalmente no setor de TI – atraídos pelas facilidades de expatriação promovida por diversos países e por salários mais elevados pagos em euro ou em dólar. Pelos registros da Fragomen, a maior e mais antiga empresa de imigração do mundo, a maior demanda por profissionais brasileiros no exterior se dá nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Desenvolvedores latino-americanos ganham, em média, 2,2 vezes mais trabalhando para empresas de fora do que para companhias de seus próprios países. Apesar dos esforços do governo e das empresas para atrair jovens para a profissão, há um gap enorme entre o número de desenvolvedores de software formados nas universidades brasileiras e o volume requerido pela indústria.

Na área de TI, segundo pesquisa do Boston Consulting Group, 92% dos profissionais brasileiros consultados pelo levantamento desejam trabalhar fora ou já estão trabalhando. O país é o quinto no ranking de maiores desejosos de trabalhar no exterior, logo atrás de Tunísia e Catar. "Nós estamos investindo muito na formação de mão de obra, mas os cientistas de dados e os analistas de sistemas estão indo embora do país atraídos pelas multinacionais. Software é muito estratégico para trazer valor agregado. O Brasil precisa parar de exportar cérebros e investir na sua permanência para o fortalecimento da economia digital”, defende Ruben Delgado, presidente do Softex.

Nunca tantos brasileiros decidiram deixar o país. Há, atualmente, mais de 3 milhões de brasileiros vivendo, de forma regular, no exterior. Esse número é três vezes maior do que o número de estrangeiros com registro formal no Brasil. A maior parcela de brasileiros está nos Estados Unidos, cerca de 600 mil. Em Portugal, são quase 300 mil, um terço do total de estrangeiros que vivem lá.

Internacionalizar para reter talentos

Embora o intercâmbio de conhecimento seja sempre positivo, a queda no número de profissionais qualificados impacta a produção científica e tecnológica de um país, o seu desenvolvimento e também a sua economia.

Uma forma encontrada por muitas organizações para manter seus talentos tem sido a expansão para o exterior. Ao se internacionalizar, as empresas e instituições criam novas oportunidades de trabalho e de crescimento para os profissionais locais, o que ajuda a reter talentos e a diminuir a fuga de cérebros. Fundada há sete anos como uma empresa focada em treinamento de agilidade para o mercado B2C, a Agile expandiu sua atuação também para o segmento de consultoria e transformação digital, incluindo o desenvolvimento de aplicativos e de produtos digitais.

“Atendemos muitos clientes internacionais com faturamento acima de R$ 1 bilhão e isso acabou por alavancar nossa presença global, em especial na Europa. Em outubro do ano passado, inauguramos nosso escritório em Portugal que atuará como um hub de negócios para o continente”, explica Ivan Santos, CEO & Founder da Agile.

“Temos crescido cerca de 80% anualmente e, além de Portugal e Estados Unidos, estamos analisando nossa entrada em mais um mercado, provavelmente na Europa aproveitando nosso escritório em Lisboa. Para nós, a expansão internacional é não apenas uma oportunidade para atender (nearshore e offshore) nossos clientes, como também reter nossos talentos, um asset extremamente importante para nós”, complementa Ivan.

Após dez anos de atividades no mercado brasileiro, a Liax Tecnologia, especializada em outsourcing de TI, participou pela primeira vez de um evento internacional no ano passado: a Web Summit, em Portugal. “Atuamos com grandes clientes em grandes projetos por meio de relações longevas. Acreditamos que a proximidade cultural, linguística e de valores que o Brasil mantém com Portugal nos ajudarão a acelerar e a reduzir os obstáculos de uma operação na Europa, um processo naturalmente difícil”, avalia Petterson Paula, CEO e CTO da Liax Tecnologia, acrescentando que mais do que apenas uma oportunidade de negócios, a companhia vislumbra a internacionalização como uma forma de reduzir a fuga de cérebros. É importante ressaltar que a internacionalização não é a única solução para o problema da fuga de cérebros. É necessário, também, investir em políticas públicas que valorizem e incentivem a educação para a formação de novos talentos para o setor de TI, bem como a pesquisa e a inovação, para que os profissionais locais possam desenvolver suas habilidades e encontrar boas oportunidades de trabalho dentro de seu país de origem.

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