História Ambiental "As aventuras do Morcego Cool"

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As aventuras do morcego Cool Lídia Dias


Ficha técnica

A Mata Nacional do Bussaco constitui um espaço único, devido à sua história, património arquitetónico, religioso e natural, que resulta da permanência dos Carmelitas Descalços no seu “Deserto”.

Título História Ambiental “As aventuras do morcego Cool“

Esta Mata providencia alimento, abrigo e refúgio para mais de 150 espécies de vertebrados e várias centenas de espécies de invertebrados.

Edição Câmara Municipal da Mealhada

Das 35 espécies de mamíferos que ocorrem na Mata, 15 espécies são morcegos com uma grande importância ecológica, devido ao seu impacto positivo na natureza como controladores de pragas.

Design Gráfico Divisão de Comunicação, Eventos e Relações Externas Redação Lídia Dias Revisão de Textos Divisão de Comunicação, Eventos e Relações Externas Ano 2021

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Em Portugal Continental, ocorrem 27 espécies, das quais 15 ocorrem na Mata, representando uma diversidade de morcegos impressionante. O principal objetivo deste livro é divulgar a importância dos morcegos e sensibilizar para a conservação da natureza e, em particular, deste grupo de mamíferos.


história ambiental

As aventuras do morcego Cool

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Há muito, muito tempo, uns homens de coração bondoso plantaram uma Mata encantada na serra do Bussaco e protegeram-na com um muro. É uma Mata cheia de cor e de vida, com muitas árvores e animais. De dia, ouve-se a melodia dos pássaros e, durante a noite, mochos, corujas e morcegos voam à procura de alimento.

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Nesta Mata, há 15 espécies de morcegos. Uns são grandes como uma mão, outros são pequenos como um dedo. Há morcegos pretos, castanhos e ruivos. De dia, dormem em buracos de árvores, casas velhas e grutas. De noite, saem para caçar moscas, mosquitos, melgas, traças e outros insetos.

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Certo dia, o morcego Cool sonhou que não estava na Mata do Bussaco e que voava desesperado à procura de alimento.

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Cool era o morcego mais divertido da colónia, mas andava preocupado, pois não conseguia esquecer o sonho. 7


Curioso como era, decidiu sair da Mata do Bussaco. Os outros morcegos tentaram impedi-lo, mas Cool avançou para o muro, deu um forte impulso e gritou: - A aventura vai começar. Aí vou eu! E pela primeira vez saiu da Mata.

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Depois de algum tempo a voar, entrou numa floresta de árvores todas iguais e com um pequeno charco. Aproximou-se para beber água, quando foi surpreendido por uma rã: - Quache, quache. Vens roubar a minha comida? Assustado, Cool responde: - Desculpa rã, estou esfomeado, não encontro insetos para comer.

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- Como aqui só plantaram eucaliptos não há muitos animais. - Na Mata onde eu vivo, há muitas árvores e animais diferentes. Os lagos têm rãs, sapos, tritões e salamandras que enchem a barriga de insetos. Bem, vou dormir, mas, quando o sol se for, vou procurar outro lugar. Aqui não fico. Não quero morrer à fome.

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Quando anoiteceu, Cool voou para outro lugar. As árvores deram lugar a longas filas de videiras. Como não encontrou nenhum inseto vivo, comeu umas moscas mortas e ficou com dores de barriga. Parou para descansar e, quando ouviu os passos lentos de um ouriço-cacheiro, gritou: - Socorro, ajuda-me, estou a morrer.

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O ouriço tranquilizou-o: - Os humanos andaram a espalhar veneno na vinha e tu comeste moscas envenenadas. Descansa um pouco que isso já passa. Cool resmungou: - Quando estiver melhor, vou procurar outro lugar. Aqui não fico. Não quero morrer envenenado.

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O sol começou a pôr-se e o morcego continuava à procura de insetos quando viu um mocho-galego poisado num poste. Voou rapidamente para não ser caçado, mas a coruja voou atrás dele: - Anda cá que vais ser o meu jantar. - Nem penses. - gritou o morcego enquanto fugia.

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Cool escondeu-se no buraco de um carvalho e a coruja empoleirou-se num ramo. Passadas algumas horas, a coruja, cansada de esperar que a sua presa saísse, decidiu procurar outro animal para comer. Aliviado, Cool saiu e disse: - Aqui não fico. Não quero ser o jantar de ninguém. 15


Cool voou até à cidade. Aproximou-se da luz do candeeiro para comer mosquitos quando foi surpreendido por um gato: - Miau. Olha um ratinho disfarçado com asas. Miau. - Eu não sou um rato e não tenho asas. Sou um morcego e tenho uma membrana nos dedos que me ajuda a voar. - explicou Cool chateado.

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O gato olhou com atenção e lamentou: - Que azarrrrr! Queria caçar um rato, mas aqui só há cães, gatos e pássaros presos em gaiolas. Cool perguntou admirado: - Aqui prendem os animais? - Sim, e se a minha dona te vê também te prende. - Nem pensar, vou já embora. - Aqui não fico. Não quero ficar preso.

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Enquanto voava, começou a ter dificuldade em respirar e a tossir até que PUMMMM bateu contra uma enorme chaminé e caiu em rodopios no chão. - E agora, como vou levantar voo do chão? - perguntou para si próprio. - Cegueta, não vês por onde andas? - ladrou o cão de guarda da fábrica.

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Cool respondeu atordoado: - Posso ser fraco de visão, mas tenho excelente audição. As minhas orelhas são como radares que recebem o eco à medida que me aproximo das coisas, mas fiquei desorientado com o fumo e bati na chaminé. Cool agarrou as garras ao cano, trepou e levantou voo: - Aqui não fico. Não quero morrer intoxicado.

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Cool já estava cansado de viajar e decidiu voltar para a Mata do Bussaco. Quando chegou, foi recebido com grande alegria. Todos se reuniram para ouvir o Cool. Ficaram admirados com as aventuras que ele tinha vivido fora da Mata.

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Começaram a aparecer os primeiros raios de sol, e, antes de se recolherem, Cool alertou: - Amigos, na Mata, não nos falta nada. Temos água e ar puro, muitos insetos para comer, abrigos para dormir e sossego. É aqui que quero ficar, pois é o local ideal para viver.

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Breve caracterização da Mata Nacional do Bussaco

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A Mata Nacional do Bussaco constitui um espaço único, devido à sua história, património arquitetónico, religioso e natural, que resulta da permanência dos Carmelitas Descalços no seu “Deserto”. Esta Mata encontra-se no concelho da Mealhada, ocupa cerca de 105 ha e possui uma das melhores coleções dendrológicas da Europa, com cerca de 250 espécies de árvores e arbustos com exemplares notáveis. A Mata providencia alimento, abrigo e refúgio para 150 espécies de vertebrados, entre as quais, algumas de grande valor conservacionista, como endemismos ibéricos (espécies que só existem em Portugal e Espanha) ou espécies protegidas. A classe dos mamíferos é a mais difícil de observar, mas na Mata residem mais de 35 espécies, entre as quais javalis, raposas, esquilos, ratos-do-campo, musaranhos e 15 espécies de morcegos. 23


Importância dos morcegos

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Estão identificadas mais de 1000 espécies de morcegos distribuídas por quase todo o globo. Este grupo de mamíferos possui uma enorme importância económica e ecológica, funcionando como controladores de pragas de insetos, dispersores de sementes, indicadores de qualidade ambiental, entre outros. Até ao momento, em Portugal Continental, foram identificadas 27 espécies de morcegos e todas estão estritamente protegidas, por se tratar de mamíferos severamente ameaçados, com as populações em declínio e altamente vulneráveis à perseguição direta devido a mito, à destruição dos seus abrigos e à ingestão de pesticidas utilizados na agricultura. Este grupo de vertebrados apresenta elevadas exigências ecológicas e são bastante vulneráveis à falta de alimento e à perda de locais para refúgio e abrigo.

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Características dos morcegos Apesar de possuírem a capacidade de voar, os morcegos pertencem à classe dos mamíferos. As asas de morcegos são formadas por uma membrana alar apoiada, nos ossos dos membros anteriores e posteriores e dedos muito alongados. Estão identificadas mais de mil espécies de morcegos, sendo que variam de cor, tamanho, peso e formato do corpo. Alimentam-se, principalmente, de frutas, insetos, sangue de animais (apenas 3 espécies), peixes, néctar e pólen. Os morcegos que ocorrem em Portugal são todos insetívoros. Durante o voo, utilizam o sistema de eco-localização (emissão de ondas ultra-sónicas através das narinas ou da boca). 26


Embora possuam este recurso, apresentam visão de boa qualidade. Dependendo da espécie, a vida de um morcego vai de 10 a 30 anos de idade. São importantes para o perfeito funcionamento dos ecossistemas, pois atuam na polinização e na distribuição de sementes pelas florestas. Atingem a maturidade sexual (período de reprodução) por volta dos dois anos de idade e as fêmeas raramente têm mais que uma cria por ano. Habitam locais húmidos e escuros, principalmente cavernas e edifícios abandonados. Hibernam durante os meses mais frios do ano e os nascimentos das crias ocorrem entre maio e junho. Muitas atividades dos morcegos são realizadas no final da tarde e à noite. 27


Os morcegos na Mata Nacional do Bussaco

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Atendendo à reduzida área da Mata Nacional do Bussaco (MNB), esta floresta detém uma impressionante riqueza em termos de morcegos, confirmando o importante valor conservacionista deste espaço natural. A existência de árvores grandes e antigas, edifícios antigos, cavernas e grutas espalhados pela MNB permitem o abrigo e refúgio das 15 espécies identificadas. A abundância de vegetação e de água são importantes para a alimentação e atividade geral dos morcegos. Algumas das espécies identificadas estão classificadas no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, com estatuto de conservação Vulnerável em Portugal, e duas delas apresentam-se Criticamente em Perigo, nomeadamente o morcego-rato-grande e o morcego-de-ferradura-mediterrânico.

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As 15 espécies de morcegos identificadas na Mata Nacional do Bussaco - Morcego-de-ferradura-mediterrânico Rhinolophus euryale - Morcego-de-ferradura-grande Rhinolophus ferrumequinum - Morcego-de-ferradura-pequeno Rhinolophus hipposideros - Morcego-rato-grande Myotis myotis - Morcego-de-água Myotis daubentonii - Morcego-negro Barbastella barbastellus - Morcego-rabudo Tadarida teniotis - Morcego-anão Pipistrellus pipistrellus - Morcego-pigmeu Pipistrellus pygmaeus

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- Morcego-orelhudo Plecotus sp. - Morcego de Kuhl Pipistrellus kuhli - Morcego-arborícola-pequeno Nyctalus leisleri - Morcego-arborícola-grande Nyctalus noctula - Morcego-arborícola-gigante Nyctalus lasiopterus - Morcego-hortelão Eptesicus serotinus

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