Boletim Informativo Online da Paróquia São Roque "Igreja Viva e Peregrina" Outubro 2020

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Maria, a Pobre de Deus

Outubro 2020 / Covid-19

Para nós católicos, depois de Deus, Maria é a pessoa mais importante na vida da Igreja. Ela está presente no coração das pessoas que a procuram como “Mãe” e “Senhora”. Faz parte do cotidiano das pessoas e tem seu lugar nas casas mais humildes até nas suntuosas Catedrais a Ela dedicadas. Sinal desta presença é a variedade de nomes com os quais é invocada, seja a partir da Sagrada Escritura, da doutrina da Igreja e da fé das pessoas simples. Um dos nomes que a devoção popular deu a Maria é “Aparecida” por ter surgido das águas. Observa-se o cristão atento que este nome não partiu dos grandes pensadores da Igreja, mas da fé genuína de pessoas simples que pescaram sua imagem barrenta no Rio Paraíba do Sul em 1717. Era uma imagem tosca que, por acaso, apareceu na rede de três pescadores. E isto, em dois momentos e lugares diferentes: primeiramente o corpo da imagem e, posteriormente, a cabeça! Uma grande coincidência! Os pescadores reconheceram que se tratava da imagem de Nossa Senhora da Conceição. Coincidência ainda maior foi a grande quantidade de peixes que entrou na rede, após tantas tentativas frustradas! Eis o milagre! Para alguns é “coincidência”, um simples “acaso”. Para os pescadores, porém, era Graça e Bênção Divina, que requeria gratidão pela grande pesca e pelo achado da imagem de modo tão extraordinário. É a fé que enxerga o “milagre”. Não é a ciência e o conhecimento, pois estes enxergam como que “de fora”. Os que têm fé, porém, o reconhecem a partir “de dentro”. Quem fala de milagre é a fé e não a Ciência. Os pescadores eram Domingos Martins Garcia, João Alves e Felipe Pedroso. Diz a história que foi João Alves quem resgatou a imagem da Santa. No entanto foi Felipe Pedroso, talvez o mais religioso dos três, quem viu, primeiramente, naquela coincidência, a “maravilha” de Deus! A pesca foi abundante e fez como o outro Felipe do Evangelho que levou Natanael a conhecer Jesus de Nazaré dizendo: “Encontramos Jesus, o filho de José, de Nazaré, aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, bem como os Profetas” (Jo 1,45). Felipe, no Evangelho de João, é o discípulo entusiasmado por Jesus e quer sempre levar mais um a conhecer o Mestre! E Felipe Pedroso fez a mesma coisa! Guardou a imagem da Santa em sua casa e, à semelhança de seu xará bíblico, foi contando a história do aparecimento da Imagem. Tornou-se seu discípulo missionário e à semelhança de Maria, por ocasião da sua visita à Isabel, proclamava: “O Senhor fez em nós maravilhas. Santo é seu nome” (cf Lc 1,49). Passados seis anos, a imagem foi passada a Atanásio Pedroso que lhe fez um pequeno oratório. Foram seis anos de catequese e de repetidas narrações do “grande milagre” de Nossa Senhora da Conceição Aparecida! Assim começou o itinerário que levou àquilo que hoje é a Basílica Nacional de Aparecida. A imagem era rústica, típica do artesanato do Brasil colonial da época. Era réplica de imagens comuns de argila que os santeiros modelavam para o uso dos devotos. Mas, o que valia para aqueles homens era a experiência vivida. A imagem da Santa tornou-se, assim, o Evangelho de Deus, a Grande Notícia das Maravilhas do Senhor! Um nome novo lhe foi dado: “Aparecida” porque surgiu das águas! “Senhora Aparecida” porque é a Mãe que protege os pequenos. Seu primeiro oratório foi, por assim dizer, o barco dos pescadores e, depois, a casa de Felipe Pedroso. Mais tarde, ganhou um pequeno nicho próprio; um “abrigo” na casa de Atanásio Pedroso. A Santa não possuía nem coroa nem manto! O importante era a sua presença perto das pessoas. A Santa fazia parte do parentesco daquela gente; tornou-se a Santa Mãe dos pobres. Não precisava de andor e de enfeites especiais. O que valia era a sua pertença ao cotidiano das pessoas. Entre os mais chegados ficou conhecida como “Aparecida”!

Edição Especial nº 23

Ninguém, nessa época, pensava em coroa de ouro, broche e manto bordado! Esses ornamentos vieram muitos anos depois e foram introduzidos por autoridades civis. A trajetória iniciada pelos pescadores, especialmente por Felipe Pedroso, não tinha como meta aquilo que é o Santuário Nacional hoje, ou a Basílica Velha, ou a primeira Capela Paroquial erguida para a Santa. Sua intenção era bem mais modesta: simplesmente rezar perante a Santa, agradecer e contar as maravilhas de Deus. Foi como aquela semente do Evangelho, que “embora a menor de todas as sementes, cresceu e se tornou um arbusto onde pássaros do céu vêm fazer ninhos em seus ramos” (Mt 13,32). Cultivamos em nosso inconsciente coletivo a figura de Nossa Senhora da Conceição Aparecida vestida de manto azul, ricamente bordado e prendido por um broche, e coroa de ouro na cabeça. Não estamos acostumados a olhar a Santa sem coroa e sem manto. Até achamos a imagem “incompleta” sem esses ornamentos! O manto bonito e a coroa de ouro, às vezes, nos impedem de ver a Santa na sua pobreza, como a pobre de Deus! É salutar e providencial que, de tempo em tempo, acontece no Santuário, a cerimônia da troca do manto de Nossa Senhora. Assim, possamos ver Maria de modo diferente, mais singela e verdadeiramente pobre. Aí, as palavras que Ela pronunciou por ocasião de sua visita à Isabel se tornam mais iluminadoras: “O Senhor olhou para a humildade de sua serva” (Lc 1,48). Pe. Daniel Balzan - Pároco


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