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Dentro
da
saúde suplementar
Custos médico-hospitalares crescem em ritmo mais acelerado que o da inflação
Edição Setembro/17
Um dos maiores desafios para a sustentabilidade do mercado de saúde suplementar é o aumento progressivo dos custos médico-hospitalares per capita, sempre superior à inflação dos preços ao consumidor. Entre 2015 e 2016, a variação da despesa assistencial per capita foi de 19,2%, cerca de 2,8 vezes superior ao IPCA.
2015/
2016 PERÍODO AVALIADO
19,2% 2,8 VARIAÇÃO da despesa assistencial per capita
SUPERIOR AO IPCA
Gastos com saúde crescem em um ritmo mais acelerado que o da inflação de preços ao consumidor no Brasil e em outros países No último ano, a espiral “inflacionária” da saúde suplementar foi alimentada, entre outros fatores, pelo aumento na frequência de utilização dos serviços de assistência médica1. Trata-se do maior percentual já registrado. Essa escalada onera, em última instância, os contratantes individuais, as empresas e dificulta o equilíbrio econômico-financeiro das operadoras de planos e seguros de saúde. Analisando um período mais longo, a série a partir do ano de 2008, assinala para um acúmulo de 179,3% nas despesas assistenciais per capita na saúde suplementar, enquanto a variação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foi de 72,5% no mesmo período (Gráfico 1 - Gráfico 1a). 1
Não considera os beneficiários e operadoras de planos exclusivamente odontológicos.
Despesa assistencial per capita na Saúde Suplementar, Índice de reajuste ANS e IPCA Ano
Beneficiários1
Reajuste ANS
IPCA2
Despesa assistencial per capita (R$)3
Despesa assistencial per capita ∆(%)
2008
40,7
5,5
6,0
1.170,4
9,6
2009
42,0
6,8
4,6
1.274,4
8,9
2010
44,1
6,7
5,5
1.337,4
4,9
2011
45,7
7,7
6,4
1.483,4
10,9
2012
47,1
7,9
5,7
1.675,0
12,9
2013
48,7
9,0
6,1
1.844,3
10,1
2014
50,0
9,7
7,0
2.103,3
14,0
2015
49,8
13,6
9,7
2.384,7
13,4
2016
48,2
13,6
7,0
2.841,8
19,2
20174
47,2
13,6
4,4
3.268,6
15,0
131,9
72,5
∆ (%) Acumulado 2008 - 2017
15,90
179,3
Fontes: ANS - Sistema de informações de beneficiários - SIB/ANS/MS - Tabnet. IBGE - Índice de reajuste ANS - disponível em http://www.ans.gov.br/. IBGE - Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor IPCA. Extraído em jul/17. Notas: 1Considera a média de beneficiários em 12 meses. 2IPCA - Variação do índice médio de cada ano compreendido entre os meses de abril e maio. 3Considera apenas as operadoras médico-hospitalares. 4IPCA e Despesa assistencial per capita projetadas para 2017.
Despesa assistencial per capita na Saúde Suplementar, Índice de reajuste ANS e IPCA
GRÁFICO 1
Variação acumulada 2008/2017*
Despesa assistencial per capita Reajustes ANS
179,3
131,9
IPCA 72,5
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Fontes: ANS - Sistema de informações de beneficiários - SIB/ANS/MS Tabnet. IBGE - Índice de reajuste ANS disponível em http://www.ans.gov.br/. IBGE - Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor IPCA. Extraído em jul/17. Notas: 1IPCA - Variação do índice médio de cada ano compreendido entre os meses de abril e maio. 2 Considera apenas as operadoras médico-hospitalares. 3IPCA e Despesa assistencial per capita projetadas para 2017.
Gastos crescentes das operadoras não fecham a conta O índice de reajuste definido pela ANS para este ano (13,55%) não é suficiente para cobrir as despesas assistenciais das operadoras. As despesas com exame ressonância magnética, por exemplo, ilustram melhor esta situação. Observou-se variação média de 20% no preço, passando de R$ 485 em setembro de 2015, para R$ 581, no mesmo mês de 2016, ao mesmo tempo que aumentou o número de exames realizados: 8,8% no ano passado, na comparação com 2015. Nesse caso, o aumento da despesa com esse exame foi da ordem de 30,4%. Trata-se, portanto, de uma relação com a quantidade utilizada e não somente com a variação de preço.
Não devem ser comparados É importante esclarecer que índices gerais de preços não são comparáveis com a variação da despesa assistencial per capita e com o índice de reajuste divulgado pela ANS. Isso porque os índices de preços são números que agregam e representam os preços de determinada cesta de produtos pesquisados em uma determinada região em momentos distintos do tempo. Esses índices medem, portanto, apenas a variação média dos preços dos produtos de uma determinada cesta (Gráfico 2). Os diversos índices de preços foram desenvolvidos ao longo do tempo, com finalidades e metodologias diferentes, por isso, qualquer comparação pode levar a conclusões equivocadas nas análises dos indicadores.
GRÁFICO
IPC e IPC Saúde, IPCA e IPCA Saúde e IGP DI Variação acumulada - 2008/2017*
2
IPC Saúde IPCA Saúde IGP-DI IPCA
99,8% 89,3% 72,8% 72,5% 68,1%
IPC
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Fontes: FIPE: IPC - Índice de Preços ao Consumidor e IPC Saúde. IBGE: IPCA - Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor - IPCA e IPCA Saúde. IBRE/FGV: Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna. Extraído em jul/17. Notas: Variação do índice médio de cada ano compreendido entre os meses de abril e maio, exceto IPCA Saúde, que considera a variação em doze meses terminados em dezembro de cada ano. *Ano de 2017 projetado, sujeito a revisão.
Planos de saúde têm alta superior à inflação Diferentemente dos índices que medem apenas a variação do nível de preços. A variação da despesa assistencial per capita é resultado de uma combinação da frequência de utilização dos serviços de saúde e do preço dos produtos e serviços prestados, caracterizando-se como um índice de valor. O índice de reajuste divulgado pela ANS, por exemplo, é composto pela variação da frequência de utilização de serviços médico-hospitalares, serviços de apoio diagnóstico terapêutico, medicamentos, da incorporação de novas tecnologias e pela variação dos demais custos de saúde. A evolução dos custos em saúde superior aos demais índices que medem a inflação da economia é um fenômeno mundial, num contexto de crescente participação dos gastos em saúde no orçamento das famílias, empregadores e governos.
GRÁFICO 3
IPCA Saúde e subitens Variação acumulada - 2008/2017* Plano de Saúde
120,3% 113,7%
Serviços médicos e dentários Serviços laboratoriais e hospitalares
88,4% 86,9%
Saúde e cuidados pessoais
72,5% 66,7% 65,7%
IPCA Higiene Pessoal Produtos farmacêuticos e óticos Fontes: IBGE - Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor - IPCA Saúde. Extraído em jul/17.
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Notas: *Ano de 2017 projetado, sujeito a revisão.
No Brasil, o gasto per capita em saúde cresce de forma mais acentuada do que em muitos países desenvolvidos Entre 2004 e 2014, a variação acumulada no Brasil foi de 80,2%, maior do que no Japão, 57,9%; Estados Unidos, 47,6%; Canadá, 43,6%; França, 38,0% e Reino Unido, 31,9% (Gráfico 6). Esse aumento está associado, principalmente, à crescente incorporação tecnológica sem a devida avaliação de custo-efetividade. Além disso, o aumento na utilização de exames, consultas e procedimentos de alta complexidade, alterações demográficas e o desperdício dos recursos, contribuem para esse cenário. Novos medicamentos, equipamentos de imagem e diagnóstico são redesenhados e ofertados no mercado com frequência. Essas novas tecnologias podem desempenhar um papel significativo no aumento da longevidade e na melhoria da qualidade de vida. Entretanto, são muitas vezes caras, e há escassez de evidência do custo-efetividade que auxilie o médico e o paciente na tomada de decisão. A decisão de utilizar tecnologias é baseada, muitas vezes, na experiência do passado de um médico. Além disso, a atual estrutura de pagamento Fee for Service (FFS) incentiva a utilização, em alguns casos desnecessária, dessas novas tecnologias.
GRÁFICO 4
Gasto em saúde per capita PPC US$* – 2004-2014
80,2%
57,9% 47,6% 43,6% 38,0% 31,9%
Brasil Japão Estados Unidos Canadá França Reino Unido
Fontes: Organização Mundial da Saúde (OMS). Extraído em jul/17.
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Notas: *Paridade do Poder de Compra - US$.
Historicamente, os gastos com saúde crescem em um ritmo mais acelerado que o da inflação de preços ao consumidor A despesa assistencial per capita na saúde suplementar acumula alta de 179,3%, entre 2008 e 20171, enquanto o índice de inflação ao consumidor amplo (IPCA) cresceu 72,5% (Gráfico 5). Cabe ressaltar que a variação da despesa assistencial per capita muito acima dos índices de inflação não vem sendo integralmente compensada nos reajustes das mensalidades dos planos individuais ou familiares, o que explica a tendência de crescimento dos índices de sinistralidade nesse tipo de contratação, especialmente das operadoras médico-hospitalares.
GRÁFICO 5
Variação da Despesa assistencial per capita na Saúde Suplementar e IPCA Anual e acumulada - 2008/2017*
IPCA DA per capita IPCA acumulado DA per capita acumulado
179,3%
72,5%
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
Fontes: ANS - Sistema de informações de beneficiários - SIB/ ANS/MS - Tabnet. Índice de reajuste ANS - disponível em http://www. ans.gov.br/. IBGE - Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor IPCA. Extraído em jul/17. Notas: 1IPCA Acumulado considera a variação do índice médio de cada ano compreendido entre os meses de abril e maio. 2Despesa assistencial per capita considera apenas as operadoras médico-hospitalares. *IPCA e Despesa assistencial per capita projetadas para 2017, sujeito a revisão.
Nos EUA, entre 2008 e 2017, a despesa per capita com saúde aumentou 37,2%, e o índice de inflação ao consumidor cresceu 13,8%, segundo o National Center for Health Statistics (NCHS) e o U.S. Bureau of the Census (Gráfico 6). Em 2009, ainda sob os efeitos da crise econômica, a variação da despesa com saúde per capita foi de 3,3%. Trata-se da menor taxa verificada desde o início da série, em 1960, desde então, nota-se uma redução no ritmo de crescimento dos gastos em saúde. Nesse cenário, dois fatores podem ser apontados para explicar essa redução: os desdobramentos da crise econômica de 2008 e a coparticipação, em que o cliente assume parte do risco pelos serviços médico-hospitalares prestados, tornando-o mais responsável na utilização e na fiscalização dos gastos com assistência à saúde.
GRÁFICO
EUA - Variação do gasto assistencial per capita (NHE) e CPI (Consumer price index)
6
Anual e variação acumulada 2008-2017*
CPI NHE per capita CPI acumulado NHE per capita acumulado
37,1%
Fontes: NHE: Centers for Medicare & Medicaid Services, Office of the Actuary, National Health Statistics Group; U.S. Department of Commerce, Bureau of Economic Analysis; and U.S. Bureau of the Census. CPI: U.S. Bureau of Labor Statistics - Division of Consumer Prices and Price Indexes.
13,8%
*CPI e NHE projetados para 2017.
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
O gráfico 7 mostra a taxa de inflação (Consumer Price Index – CPI) e a variação do gasto em saúde per capita nos Estados Unidos, entre 1960 e 2017. Nota-se que os gastos superaram em muito a taxa de inflação em todos os anos, exceto em dois – 2008 e 2011. Um dos principais impulsionadores dos gastos com saúde é a incorporação de novas tecnologias, mais caras e com significativo hiato entre a evidência científica e o resultado de sua incorporação na prática. Estima-se que desde 1960, a incorporação de novas tecnologias foi responsável pela expansão entre 27% e 48% do gasto com saúde nos Estados Unidos (SMITH et al., 2009).
EUA - Variação do gasto em saúde per capita (NHE) e CPI (Consumer price index)
GRÁFICO 7
Variação acumulada 2008-2017* Consumer Price Index
2016
2014
2012
2010
2008
2006
2004
2002
2000
1998
1996
1994
1992
1990
1988
1986
1984
1982
1980
1978
1976
1974
1972
1970
1968
1966
1964
1962
1960
National Health Expenditures (per capita)
Fontes: NHE: Centers for Medicare & Medicaid Services, Office of the Actuary, National Health Statistics Group; U.S. Department of Commerce, Bureau of Economic Analysis; and U.S. Bureau of the Census. CPI: U.S. Bureau of Labor Statistics - Division of Consumer Prices and Price Indexes. *CPI e NHE projetados para 2017.
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