Revista de Seguros - Nº 874

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SUMÁRIO

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RELAÇÕES DE CONSUMO Consumidor ganha espaço e importância nas relações comerciais e mercado segurador investe na adequação de produtos e serviços

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‘ESTOU SEGURO’ Moradores da comunidade Santa Marta conquistam proteção do seguro com produtos sob medida para suas necessidades

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FRAUDES Sinistros com crimes comprovados fizeram seguradoras negarem R$ 230 milhões em pagamentos, em 2009

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AGÊNCIA ESTATAL Governo recua, desiste de criar seguradora estatal, e negocia com mercado a criação de uma agência para gerir fundos garantidores

VIDA E PREVIDÊNCIA Produtos mais sofisticados e acessíveis alavancam crescimento do setor, que precisa agora conquistar público de baixa renda

CAPITALIZAÇÃO FenaCap desenvolve plano de comunicação para ampliar entendimento sobre os títulos e viabilizar a expansão do setor

SAÚDE Operadoras de planos terão manual para avaliar indicadores de qualidade dos serviços prestados e satisfação dos beneficiários

REDES SOCIAIS Para chegar mais perto do público, as seguradoras investem nas comunidades virtuais como aliadas na divulgação de seus produtos

E MAIS... 4 - AO LEITOR 5 - ENTREVISTA 30 - SINISTROS

34 - AUTOMÓVEL

PRESIDENTE Jorge Hilário Gouvêa Vieira 1º VICE-PRESIDENTE Patrick Antônio Claude de Larragoiti Lucas VICE-PRESIDENTES NATOS Jayme Brasil Garfinkel, Marcio Serôa de Araujo Coriolano, Marco Antonio Rossi Ricardo José da Costa Flores VICE-PRESIDENTES Antonio Cássio dos Santos Nilton Molina DIRETORES Alexandre Malucelli, Antonio Eduardo Marquez de Figueiredo Trindade, Luis Emilio Maurette, Mário José Gonzaga Petrelli, Paulo Miguel Marraccini, Pedro Cláudio de Medeiros B. Bulcão, Pedro Pereira de Freitas e Pedro Purm Junior CONVIDADOS Luiz Tavares Pereira Filho e Renato Campos Martins Filho

16 - FUNDOS DE PENSÃO 28 - MEIO AMBIENTE 38 - ASSOCIAÇÃO DE GENEBRA 40 - BIBLIOTECA 41 - FUNENSEG 42 - OPINIÃO

CONSELHO FISCAL Efetivos Haydewaldo Roberto Chamberlain da Costa Laênio Pereira dos Santos Lúcio Antonio Marques Suplentes José Maria Souza Teixeira Costa e Luiz Sadao Shibutani CONSELHO SUPERIOR PRESIDENTE Jorge Hilário Gouvêa Vieira CONSELHEIROS Acacio Rosa de Queiroz Filho, Antonio Cássio dos Santos, Carlos dos Santos, Federico Baroglio, Francisco Caiuby Vidigal, Jayme Brasil Garfinkel, Jorge Estácio da Silva, José Castro Araújo Rudge, José Roberto Marmo Loureiro, Luis Emilio Maurette, Marcio Serôa de Araujo Coriolano, Marco Antonio Rossi, Mário José Gonzaga Petrelli, Nilton Molina, Patrick Antônio Claude de Larragoiti Lucas, Pedro Pereira de Freitas, Pedro Purm Junior, Ricardo José da Costa Flores e Thierry Marc Claude Claudon CONSELHEIROS NOTÁVEIS Alberto Oswaldo Continentino de Araújo Eduardo Baptista Vianna, João Elisio Ferraz de Campos e José Américo Peón de Sá

CONSELHEIROS – SINDICATOS João Gilberto Possiede e Júlio César Rosa REVISTA DE SEGUROS Órgão de divulgação do mercado segurador PUBLICAÇÃO INTEGRANTE DO CONVENIO DE IMPRENSADO MERCOSUL – COPREME. Em conjunto com SIDEMA (Serviço Informativo do Mercado Segurador da República Argentina), EL PRODUCTOR (Publicação da Associação de Agentes e Produtores de Seguro da República Oriental do Uruguai) e Jomal dos Seguros (Publicação do Sindicato dos Corretores de Seguros e de Capitalização do Estado de São Paulo). CONSELHO EDITORIAL Ângela Cunha, Hélio Portocarrero de Castro, Leonardo Laginestra, Luiz Peregrino, Fernandes Vieira da Cunha, Neival Rodrigues Freitas, Solange Beatriz Palheiro Mendes

Editora-chefe: Ângela Cunha (MTb/RJ12.555) Coordenação Editorial: VIA TEXTO AG. DE COMUNICAÇÃO viatexto@viatexto.com.br 21 - 2262.5215 Jornalista Responsavel: Vania Mezzonato – MTB 14.850 Assistente de produção: Marcelo Mezzonato Colaboradores: Antonio Penteado Mendonça, Carmen Lucia Nery, Christophe Courbage, Denise Bueno, Eduardo de Freitas Leite, Fernanda Thurler, Francisco Alves Filho, Lenir Camimura, Márcia Alves, Márcia Gomes, Sergio Torres, Sônia Araripe, Vagner Ricardo, Viviane Barreto Fotografia: Cláudia Mara Projeto Gráfico: Jo Acs/Mozart Acs DTP: MORE-AI

3 Julho - Agosto - Setembro 2010 - Revista de Seguros - nº 874

REDAÇÃO E CORRESPONDÊNCIA: Assessoria de Comunicação Social – CNSeg Adriana Beltrão, Claudia Mara e Vagner Ricardo. Rua Senador Dantas, 74/12º andar, Centro - Rio de Janeiro, RJ –CEP 20031-201 Telex: (021) 34505-DFNES Fax: (21) 2510.7839 – Tel. (21) 2510.7777 www.viverseguro.org.br E-mail: cnseg@cnseg.org.br Escritório CNSeg/Brasília – SCN/Quadra1/Bloco C – Ed. Brasília – Trade Center – sala 1607 Gráfica: Walprint Distribuição: Serviços Gerais/CNSeg Periodicidade: Trimestral Circulação: 5 mil exemplares As matérias e artigos assinados são de responsabilidade dos autores. As matérias publicadas nesta edição podem ser reproduzidas se identificada a fonte. Distribuição Gratuita


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AO LEITOR

A hora e a vez do consumidor brasileiro ÂNGELA CUNHA, EDITORA

Ações pontuais do mercado segurador mostram disposição do setor em dialogar, se aproximar e melhorar o relacionamento com os clientes do seguro

A

s últimas duas décadas foram marcadas por grandes conquistas para o mercado segurador brasileiro. O fim da tutela do Estado na fixação de preços do seguro; o término da estagnação do setor, que se viu livre das amarras da inflação; a adesão às inovações tecnológicas, que reduziram a burocracia e agilizaram o serviço; e o crescimento contínuo do setor, mesmo no período agudo da crise internacional, são algumas das conquistas obtidas. Nenhuma, porém, foi tão significativa e reverenciada como a que ora ganha impulso e corpo, injetando ânimo no mercado que avança a olhos vistos, mas que ainda precisava encaixar uma peça vital em seu quebra-cabeça para poder prosseguir, de forma perene, sua trajetória de desenvolvimento. Estamos falando do consumidor, figura que passou a ter voz, a partir de setembro de 1990, com a criação do Código de Defesa do Consumidor. Bom lembrar que o setor de seguros foi um dos primeiros a se adaptar às novas regras. Mas as relações de consumo se sofisticaram com o tempo, passando a exigir muito mais que ajustes de termos de contrato. Olhar o consumidor além das aparências e reconhecer nele a motivação de todas as suas ações, colocando-o no seu devido lugar nas relações intrínsecas do seguro, é uma aquisição inestimável do mercado segurador. A realização de duas conferências num espaço de seis meses, em que o assunto foi debatido sem reservas, além de outras ações pontuais, mostra a disposição do setor de cada vez mais dialogar, se aproximar e melhorar seu relacionamento com o consumidor. Não por acaso, o consumidor é presença, direta ou indireta nas matérias apresentadas nesta edição. Fio condutor de temas tão variados, como sinistros, redes sociais, segurança ambiental, seguro vendido em favela e fraude, entre outros. O leitor vai se deparar ainda com outro bom motivo que leva o mercado a comemorar. Em vez de seguradora estatal, o Governo decidiu criar a Agência Gestora de Fundos Garantidores (AGFG), nome sugerido pela CNSeg. A forte e rápida reação do mercado segurador, seguida de negociações, levou as autoridades competentes a reconhecerem tal medida como desnecessária e despropositada, diante da atestada capacidade e expertise do setor privado na oferta de seguro garantia para infraestrutura e grandes obras. A reportagem traça um breve histórico do caso, que mobilizou a imprensa nacional durante semanas. Boa leitura! l

DESTAQUE

V Fotos: Arquivo RS

Novos executivos: CNSeg e FenaSaúde ‹ Solange Beatriz Palheiro Mendes deixou o cargo de diretora executiva da FenaSaúde para assumir o mesmo posto na CNSeg. Empossada no dia 4 de outubro, ela será responsável por executar o plano estratégico da entidade, respondendo por tarefas como a coordenação das atividades das superintendências e das comissões técnicas; e a reestruturação de cargos e salários, tendo em vista a adoção de uma gestão profissional da CNSeg. José Cechin assumiu o cargo de diretor executivo da FenaSaúde, sucedendo Solange Beatriz. l 4 Julho - Agosto - Setembro 2010 - Revista de Seguros - nº 874


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ENTREVISTA | LUIS MIGUEL SANTACREU

Analista da Consultoria Austin Rating, de São Paulo, Luis Miguel Santacreu fala sobre as perspectivas econômicas para o Brasil face às eleições presidenciais e aos grandes eventos que serão realizados no País nos próximos anos e que exigem investimentos pesados em infraestrutura – além de destacar o papel do mercado de seguros brasileiro neste contexto

FRANCISCO ALVES FILHO

S

eja quem for o vencedor da eleição presidencial, um dos maiores desafios que terá pela frente já está identificado – promover as reformas: tributária, fiscal, previdenciária, trabalhista e do sistema financeiro. “É disso o que Brasil precisa para consolidar seu desenvolvimento”, diz Luis Miguel Santacreu, acrescentando que esse assunto estará no alto da agenda do próximo presidente – e a troca de governo não deve acarretar mudanças bruscas no encaminhamento da economia. “Há um consenso não só entre os economistas do PT, mas também do PSDB e até os mais conservadores, de que o Estado deve puxar o desenvolvimento”, observa. Isso torna muito parecidos os dois primeiros colocados nas pesquisas de intenção de voto. Ele avalia que a continuidade da estabilidade econômica faz da recente ascensão das Classes C e D algo sustentável, o que cria um grande mercado para novas iniciativas do mercado segurador, como os microsseguros. “É preciso aprender a lidar com esse novo cliente, ele é estratégico”, define. Nesta entrevista, Santacreu ainda aborda a preparação do País para a Copa de 2014 e para a Olimpíada de 2016, para os quais as seguradoras estão se movimentando. l

Revista de Seguros – A troca de presidente pode trazer mudanças substanciais para os rumos do Brasil? Luis Miguel Santacreu – O perfil de Dilma Rousseff é de continuidade. Claro que pode haver singularidades dela e de sua equipe. Mas as alianças feitas reduzem o espaço para mudanças e indicam certo continuísmo. Se por um lado essa continuidade anula a ameaça de haver uma ruptura institucional, digamos, por outro lado pode gerar certa acomodação. Vimos no segundo governo Lula a dificuldade para se fazer as grandes reformas que o Brasil precisa: tributária, fiscal, previdenciária, trabalhista e do sistema financeiro. Qual é a base de apoio parlamentar para enfrentar esses desafios? Se olharmos Dilma e José Serra, há muita proximidade nessa discussão. A diferença talvez seja a forma de gestão e o modo de fazer. Até mesmo Marina Silva está nesse caso. O sr. acredita que essas reformas serão feitas no próximo governo? ‹ Acho que sim. Do contrário, não solucionaremos as distorções da carga tributária, manteremos o desafio

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V Arquivo Austin Rating

O BRASIL PRECISA DE REFORMAS PARA CONSOLIDAR O DESENVOLVIMENTO


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ENTREVISTA

A despeito do potencial gigantesco e de ser a oitava economia mundial, o Brasil ainda está na adolescência em termos de seguros. O setor tenderá a um maior crescimento nos próximos anos, algo na casa dos dois dígitos anuais

gigantesco na previdência, a grande informalidade, o déficit da educação... Assim não criamos horizontes, que outros países já têm, e que garantem a sustentabilidade das finanças públicas. O Brasil não pode se iludir achando que as contas públicas estão bem. Nosso desafio de crescimento é muito grande, principalmente no que diz respeito à distribuição de renda e à melhoria da situação financeira da maioria das pessoas. Isso passa por uma saúde melhor, uma educação melhor. Para que as pessoas possam pagar por produtos e serviços precisam ter renda e emprego.

desafio da balança de pagamentos, que mostra cifras de déficit da balança comercial. Isso pode gerar uma reviravolta da política cambial, no sentido de revalorizar o dólar, podendo levar a uma redução da atividade econômica. O cenário para 2011 não será tão bom, mas fica descartada uma reversão abrupta do quadro como aconteceu em 2008. Assim, as projeções para crédito e seguros ficam mais fáceis de ser feitas. É possível configurar um planejamento das seguradoras para estratégias de atuação, novos produtos e consolidação no setor.

É correta a definição de que Dilma Roussef representa a participação maior do Estado na economia e José Serra tem perfil mais privatista? ‹ Ficamos muitos anos sem investimentos e por isso há um consenso não só entre os economistas do PT, mas também do PSDB e até dos mais conservadores, de que, diante desse quadro, o Estado deve puxar o desenvolvimento. O exemplo mais atual é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiando grandes grupos econômicos que participam do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Seja Dilma ou Serra, temos uma agenda de infraestrutura a ser cumprida, já que o Brasil se comprometeu com o mundo por conta da Copa e da Olimpíada. O Estado vai direcionar os investimentos. Nesse ponto, Dilma e Serra se aproximam. Marina faz uma crítica ao modelo de desenvolvimento que não leva em conta o meio ambiente. É positivo ela colocar essa discussão, mas parece que ainda não foi assimilado por aqui.

É um cenário propício para a expansão do setor de seguros? ‹ O setor ainda tem muito espaço para crescer. Há uma relação entre crescimento de crédito e crescimento de seguros. Por esse parâmetro, vemos que este é um produto que ainda tem muito a ser explorado. Seja pelo lado da oferta ou da demanda. Vamos lembrar que o seguro participa com 3,4% no PIB do Brasil, enquanto em economias maduras está em torno de 8%. A despeito do potencial gigantesco e de ser a oitava economia mundial, o nosso País ainda está na adolescência em termos de seguros. O setor tenderá a ter um maior crescimento ao longo dos próximos anos. É algo que deve estar nos dois dígitos anuais, alguns falam em até 15%.

O cenário econômico vai continuar tão favorável? ‹ O ano praticamente está definido, o quadro eleitoral desestimula mudanças, a candidata do governo está à frente e deve ganhar. A inflação está se estabilizando, o que desmotiva o Banco Central a elevar os juros. Nesse contexto, podemos dizer que o ano está garantido. Para 2011, temos o

A ascensão das Classes C e D é definitiva? Esse tipo de cliente veio para ficar? ‹ Como o quadro de macroeconomia é sustentável, muitas pessoas passam a ter empregabilidade e previsibilidade de emprego e renda. Os bancos têm moldado o crédito de acordo com o bolso do consumidor. Estão esticando os prazos, por exemplo. Além disso, se os juros caírem, a prestação fica mais barata. Os microsseguros devem seguir essa linha: acomodar-se nas necessidades de consumo dessas classes. Falo sobre a criatividade de oferecer novos produtos. As empresas estão preparando a casa para atender à demanda de seguros e ao bolso desse novo consumidor. Segurar eletrodomésticos de linha branca, móveis,

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computadores, até chegar aos automóveis. A lei dos microsseguros deverá ser aprovada em breve, dando condições operacionais para os ofertantes irem a campo, com atrativos fiscais para popularizar esse tipo de seguro. Sem isso é difícil, já que esse é um produto ainda visto como supérfluo e as pessoas ainda têm certo preconceito, pois acham que não é preciso fazer seguro, que não há risco.

As empresas de seguro já sabem lidar com os clientes das Classes C e D? ‹ É um aprendizado. No caso do crédito, os bancos estão aprendendo a trabalhar agora. No caso do seguro a abordagem é mais complexa. Então, há todo um trabalho de educação financeira, que deve ser feito com todo cuidado para não ferir a ética e ficar ‘empurrando’ produtos aos clientes. As seguradoras terão de criar internamente seus quadros e treinar pessoas que saibam operar esse público. É preciso qualificar o corretor ou a pessoa que opera dentro do ambiente do banco para vender esse produto para pessoas de outra classe social. Pode-se dizer que vai ser criado um método puramente brasileiro para se relacionar com esse cliente? ‹ O Brasil tem uma urbanização forte, ao contrário da China e da Índia, que são países com uma fatia rural muito grande. A maioria da população brasileira vive em grandes metrópoles ou em cidades médias e grandes. Essa cultura urbana já existe e facilita a venda dos produtos e torna mais assimilável a cultura dos negócios e dos investimentos. Por outro lado, temos um déficit educacional, de saúde, desigualdade de renda, que dificultam a sedimentação desta cultura. O sr. acredita que esse aprendizado vai demorar? ‹ Já foram feitos vários estudos de mercado, os anseios dessas classes foram mapeados. O que está faltando é uma entrada mais visível dos grandes conglomerados nesse segmento. Percebe-se o movimento dos bancos, mas essa

segmentação ainda não é percebida no âmbito das agências. O que temos é aquela figura do corretor vendendo seguro saúde ou de automóveis. Nos microsseguros, essa iniciativa passa por instalação de agências de banco em regiões mais carentes, mas as iniciativas ainda são pequenas. É preciso ter outro tipo de profissional, que fale a língua dessas pessoas, já que explicar o seguro é uma coisa complicada, tem uma papelada que deve ser entendida. Talvez isso passe a ser visível a partir da aprovação da lei.

Este pode ser considerado um mercado estratégico? ‹ Não tenho a menor dúvida. Essa modalidade permite o chamado cross selling, ou seja, a mesma base que serve como uma espécie de supermercado de produtos bancários. Os bancos e seguradoras devem estar criando plataformas comerciais voltadas para esse público. Isso não ficará no âmbito das agências bancárias, talvez haja uma revolução no âmbito das corretoras. O outro lado da moeda são os megasseguros. Estamos preparados para a Copa e a Olimpíada? ‹ Esse é um ponto crucial. O setor está às voltas com a proposta da seguradora estatal que o governo quer criar. Agora parece que a ideia é estruturar uma espécie de agência, essa discussão passa também pela aprovação de uma lei. O ideal seria que isso fosse equacionado rapidamente, já que o déficit de infraestrutura é brutal. Precisamos de aeroportos, estradas, estádios de futebol... Com a quebra do monopólio, o setor se sente habilitado a fazer o resseguro dessas obras e as seguradoras têm knowhow para atender essa demanda. Por uma questão de calendário, dessa vez o Brasil vai ter que se planejar. Este é um grande desafio, mas através desses eventos esportivos, temos a chance de resolver questões estruturais da nossa economia que ficaram parados por mais de 25 anos. O mercado brasileiro de bancos e financeiras de seguro é sofisticado e está preparado para ser acionado rapidamente.l

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Por uma questão de calendário, dessa vez o Brasil vai ter que se planejar. Este é um grande desafio, mas através desses eventos esportivos, temos a chance de resolver questões estruturais da nossa economia que ficaram parados


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RELAÇÕES DE CONSUMO

O mercado de seguro Com o propósito de melhorar sua relação com os consumido re transparência de contratos e n V Fotos: Marcelo Magnani

• Mario de Almeida Rossi: “As reclamações (na Ouvidoria) são transformadas em recomendações de mudanças nos processos, contratos e produtos”

MÁRCIA ALVES

V

• Pedro Bulcão: é preciso ser extremamente didático com o consumidor de baixa renda

inte anos depois da promulgação da lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor (CDC), o Brasil é outro país. Junto com a estabilização econômica, vieram o celular, a Internet, a banda larga, o comércio eletrônico e, a mais significativa mudança social, a ascensão de 30 milhões de brasileiros à Classe C. Nesse espaço de tempo, as relações de consumo evoluíram e o consumidor, protegido pela lei e por entidades governamentais e civis, se tornou cada vez mais exigente e passou a ser o centro das atenções. Do lado das empresas, as mudanças também foram profundas. Além da adequação de produtos e serviços à nova demanda por mais qualidade e eficiência, a satisfação do cliente tornou-se um diferencial importante em meio à concorrência. “Se há 20 anos o eixo que movia o mundo tinha foco no capital e no trabalho, hoje a relação é o capital e o consumo”, diz a direto-

ra do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), ligado ao Ministério da Justiça, Juliana Pereira da Silva. A advogada especialista em Direito do Consumidor, Angélica Carlini, relaciona o consumo com a identidade social, construída em cada indivíduo, conforme as opções por produtos ou serviços. “Na sociedade moderna, faz diferença a marca de roupa que se escolhe, o restaurante que se frequenta ou os lugares para onde se viaja”, explica. Carlini prevê que, nos próximos 20 anos, a sociedade continuará consumista, porém, novos atores ocuparão esse cenário. No elenco ela inclui, além dos meios eletrônicos e das redes sociais, os canais de comunicação, que deverão ser criados e incentivados pelas empresas com o intuito de evitar conflitos. Canais do futuro Se o propósito do mercado de seguros é estabelecer uma relação de proximidade com o consumidor, não pode deixar passar as oportuni-

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o na Era do Consumidor do res, o setor investe em ações de simplificação da linguagem, e novos canais de comunicação. Agenda de compromissos Nessa agenda do futuro, o mercado de seguros tem sido exemplar na implantação de medidas de esclarecimento e de proteção ao consumidor. Prova disso são as ouvidorias independentes criadas pelas seguradoras, bem antes de os bancos adotarem esse modelo. “Apesar de ser visto como conservador, o setor de seguros sempre esteve na vanguarda”, diz Maria Helena Darcy de Oliveira, presidente do Comitê de Relações de Consumo da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg) e ombudsman do Grupo Icatu. Regulamentadas desde 2004, as ouvidorias se tornaram o canal mais procurado pelos segurados para reclamar. Em 2009, das 22.612 reclamações, 68% foram recebidas diretamente pelas ouvidorias e o restante encaminhadas por outros órgãos – Susep (17%), Procon (13%) e Bacen (2%). “As reclamações são transformadas em dades que os canais virtuais oferecem. A orientação é do consultor em comunicação digital, Junior Wn. Uma pesquisa da Nielsen revela que 92% dos nascidos após 1992 – conhecidos como a geração Y – pertencem a alguma rede social. Por isso, segundo ele, o setor deve ficar atento às tendências, como a de tempo real para respostas (twitter), geolocalização (celular com GPS), realidade aumentada (integração entre celular e computador), cloudcomputing (acesso remoto), convergência digital (iPhone versus iPad) e outras. Embora estes canais sejam um meio eficiente de comunicação com o consumidor, Junior Wn diz que as empresas devem estar preparadas para usá-los. Ele diz que o velho modelo “eu falo, você escuta”’ não existe mais. Por isso, sua orientação é para que o setor de seguros esteja preparado para escutar o segurado e também para lhe dar poder, como fez a Fiat, por exemplo, que construiu um carro a partir de sugestões de consumidores. “O consumidor quer ser ouvido”, diz. 9

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• João Otávio de Noronha (à direita Renato Campos, diretor da Funenseg): “A diferença econômica não pode ser considerada em contrato, pois os acionistas não podem ser penalizados”


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RELAÇÕES DE CONSUMO • Ministro Marco Aurelio Mendes de Farias Mello, do STF (à direita José Américo Peón de Sá, assessor da presidência da CNSeg), contribuiu para o debate com a palestra sobre "Segurança jurídica: transparência e ética”

recomendações de mudanças nos processos, contratos e produtos”, explica o presidente da Comissão de Ouvidoria da CNSeg, Mario de Almeida Rossi. Para ele, o sucesso do modelo está na isenção e autonomia, na proximidade com o cliente e no fortalecimento da cultura de relacionamento e excelência dos serviços prestados. “As ouvidorias e os serviços de atendimento ao cliente são instrumentos importantes para viabilizar a harmonização dos conflitos de consumo”, diz a assistente da Diretoria de Atendimento do Procon-SP, Valéria Cunha. Ela reconhece a eficiência desses canais, mas aponta falhas no Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) das seguradoras. Embora o seguro prestamista lidere o ranking, com mais de 1,5 mil demandas entre janeiro e julho deste ano, é o seguro de automóvel, com apenas 200 demandas no período, que apresenta o menor nível de solução. “O problema pode estar na deficiência de informações prestadas pelas seguradoras”, supõe. Não por acaso, esse é um dos principais compromissos assumidos pela “Carta da 1ª Conferência Interativa de Proteção do Consumidor de Seguro”, formulada em março deste ano e divulgada na segunda edição do evento, realizado nos dias 10 e 11 de setembro último, em São Paulo (SP). Melhorar a comunicação com o segurado, para que não reste dúvidas sobre os seus direitos e deveres, e tornar os contratos de seguros mais compreensíveis, substituindo a linguagem abstrata pelo texto claro e objetivo, são as metas da entidade, juntamente com suas federadas. Os novos segurados Mas essas ações não pretendem atingir apenas os consumidores que reclamam. Conforme a carta de intenções do setor, “os clien-

Federações em sintonia com mudanças de comportamento ‹ A 2ª Conferência Interativa de Proteção do Consumidor de Seguro, cuja data coincidiu com as comemorações pelos 20 anos do CDC, demonstrou que o setor está alinhado no propósito de melhorar a relação com o consumidor.

Seguros Gerais Na ocasião, a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg) lançou o Guia de Boas Práticas do seguro de automóvel – o primeiro de uma série que englobará todos os seguros de massa –, que explica desde as coberturas do contrato até como é feita a regulação de sinistros. “Antes não tínhamos como esclarecer ao segurado, por exemplo, sobre a escolha da oficina. O guia concretiza essa ação”, diz o presidente da FenSeg, Jayme Brasil Garfinkel. Capitalização No caso da Federação Nacional de Capitalização (FenaCap), que lançou um guia semelhante em 2008, o maior desafio futuro será melhorar a imagem do produto, que ainda não está muito clara para muitos consumidores, conforme uma pesquisa realizada no ano passado. Para alguns, a

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capitalização é uma poupança com acumulação, para outros, uma loteria, e para um grupo menor, um investimento. “A capitalização é um grande negócio, com 110 milhões de títulos vendidos. Mas o consumidor precisa entender que esse é um produto de acumulação de recursos pelo qual ele pode concorrer a milhões”, diz o vice-presidente da FenaCap, Natanael Aparecido Castro. Segundo ele, a entidade pretende colocar em prática um plano de ação para esclarecer o seu público.

• Natanael Aparecido Castro: “O consumidor precisa entender que esse é um produto de acumulação de recursos pelo qual ele pode concorrer a milhões”


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tes insatisfeitos e não esclarecidos são os que, por não entender o conteúdo, dizem que é uma indústria das ‘letrinhas miúdas’”. Tornar o seguro mais compreensível é uma iniciativa que visa também aumentar o número de segurados no País, que hoje está em torno de 37 milhões de pessoas. A quantidade é razoável, mas aquém do seu potencial. Estima-se que apenas os microsseguros, que têm como público-alvo os consumidores das Classes D e E, possam arrebanhar uma fatia de 100

Saúde Em matéria de proteção ao consumidor a área de saúde suplementar está bem cotada. Além de ser regulado pelo CDC, o serviço foi alvo da Lei 9.656/98 e de todas as inúmeras regulamentações que dela resultaram. As exigências impostas às operadoras abrangem desde coberturas, carências e reajustes até a constituição de provisões e padronização de contratos e produtos. De acordo com Marcio Serôa Coriolano, presidente da Federação Nacional de Saúde (FenaSaúde), atualmente as cláusulas de contratos são autorizadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) antes de serem aplicadas. “Em termos de contrato temos mais a ensinar do que aprender”,

• Osvaldo Nascimento: “Com um único modelo de cálculo de cota, hoje é possível comparar os planos e identificar sua rentabilidade”

diz. Além prover manuais e guias contratuais aos clientes, as operadoras também estão se adequando à Notificação de Investigação Preliminar (NIP), que determina o prazo de cinco dias para resolução de conflitos. “Sei que existe uma insatisfação popular em relação aos planos de saúde, mas isso não nos assusta e também não nos tira do eixo”, afirma Coriolano. “Investimos cada vez mais em informações que esclareçam ao consumidor o que pode ou não ser contratado”, acrescenta. Previdência e Vida A julgar pelo seu bom desempenho, a previdência conseguiu se descolar da imagem negativa dos montepios do passado. Hoje, o segmento comemora a marca de R$ 200 bilhões em reservas e espera na próxima década chegar a R$ 1 trilhão. Embora a previdência não acumule reclamações, sua entidade representativa, a FenaPrevi, tem interesse em simplificar contratos e produtos para conquistar cada vez mais beneficiários. Osvaldo Nascimento, presidente da FenaPrevi, conta que, apesar das dificuldades, a padronização de contratos foi concluída, resultando em melhoria da precificação. “Com um único modelo de cálculo de cota, hoje é possível comparar os planos e identificar sua rentabilidade”, diz.

milhões de novos segurados. “Esse consumidor que agora está conquistando bens e sentido a necessidade de protegê-los precisa de um atendimento especial, pois não sabe nada ou quase nada sobre seguros”, diz o superintendente da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Paulo dos Santos. Para ele, a simplificação da linguagem na oferta de produtos e também de coberturas são essenciais. “Se eles não compreenderem ou forem mal atendidos, virarão as costas e nunca mais voltarão”, adverte. Mas, esse não é o único risco. Segundo Pedro Bulcão, diretor da seguradora Sinaf, especializada em seguros populares, é preciso ser extremamente didático com o consumidor de baixa renda. Ele observa que a Justiça brasileira ainda é assistencialista e para proteger esse consumidor costuma conceder sentenças por dano moral em valores que superam em muitas vezes os seus rendimentos. “Sou o rei da hipossuficiência, disso eu entendo”, diz. O ministro do Superior Tribunal de Justiça, João Otávio de Noronha, admite que o Judiciário tem dificuldade em compreender a seleção de risco, sobretudo nos casos de doença preexistente ou na segregação por idade ou profissão nos seguros de vida. Ele – que se destaca dos seus pares devido ao conhecimento que adquiriu sobre seguro nos tempos que atuou como conselheiro de administração na seguradora Aliança do Brasil – observa a tendência entre os juízes de comparar ricos com pobres. “A diferença econômica não pode ser considerada em contrato, pois os acionistas não podem ser penalizados”, diz. l

‹ A 2ª Conferência Interativa de Proteção

do Consumidor de Seguros, que aconteceu em São Paulo, nos dias 10 e 11 de setembro, reuniu 150 participantes. No discurso de abertura, o presidente da CNSeg, Jorge Hilário Gouvêa Vieira, disse que o setor vive uma nova era, marcada pelo respeito e intercâmbio mais eficaz com o consumidor e a qualidade no atendimento. Para conhecer a íntegra da programação e o discurso do presidente acesse o portal Viver Seguro (www.viverseguro.org.br) e click nos links “Eventos” e “Destaques”, respectivamente.

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‘ESTOU SEGURO’

A vida planejada com mais segurança Pesquisa na comunidade Santa Marta, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, mostra que o acesso a bens de consumo aumentou, mas persistem as dificuldades com a saúde e as finanças SERGIO TORRES

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edo de deixar os filhos sem condições de sobrevivência. Com essa explicação simples, a humilde auxiliar de uma firma de limpeza explicou a razão por que, aos 53 anos de idade, decidiu fazer uma apólice de seguros que permitisse aos seus parentes mais próximos um apoio financeiro no caso de morte inesperada dela, que é chefe da família. Haidê de Oliveira Prado aderiu ao projeto “Estou Seguro”, instalado em julho deste ano na comunidade em que vive desde que nasceu, a Santa Marta, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro. Desenvolvido pela CNSeg, com o apoio da Organização Internacional do Trabalho (OIT), e executado pelo Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), o projeto oferece opções de seguros à população de baixa renda. “Na verdade, esse projeto bateu na minha porta. É bem possível que, se não fosse assim, jamais eu faria um

• Ricardo Pires, na ‘Casa do Seguro’: um dos quatro prepostos selecionados na comunidade para trabalhar com o corretor que coordena o projeto

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• Morro Dona Marta: pesquisa socioeconômica aponta 1.390 domicílios na comunidade, que abriga, segundo estimativas, 6.500 pessoas

V Fotos: Cláudia Mara

Minha primeira apólice

seguro. Era uma coisa da qual já ouvira falar, mas me parecia muito longe da minha realidade”, disse ela. Mas, se tanta coisa bate na porta de quem mora ali, por que a adesão à proposta apresentada pelos representantes do projeto que têm percorrido a Santa Marta? Qual a razão de Haidê ter decidido adquirir sua apólice por cerca de R$ 15 por mês? “É o medo. Não tenho dinheiro guardado. E se eu morrer? O que vai ser dos meus três filhos, o que será dos meus dois netinhos? Por isso eu me interessei”, explica ela, que adquiriu o seguro quando representantes das seguradoras envolvidas no projeto percorreram a Santa Marta, em agosto. Vida planejada Ricardo Pires é um dos quatro prepostos da comunidade selecionados para trabalhar como auxiliares de Emílio Rodrigues Gomes – corretor oficial do projeto. Eles percorrem a comunidade, esclarecendo dúvidas dos interessados, falando sobre as vantagens de uma vida planejada com mais segurança e apresentando os produtos já oferecidos por oito das 23 empresas que aderiram ao projeto “Estou Seguro”. Além da Sinaf, disponibilizam produtos na comunidade Santa Marta as seguradoras Capemisa, Mapfre, SulAmérica, Mongeral-Aegon, ACE, Excelsior e Bradesco Vida e Previdência, Bradesco Auto Re e Zurich Seguros. Há ofertas de

‹ A dona de casa Geci Ribeiro de Almeida, de 55 anos, foi a primeira pessoa da comunidade a aderir ao projeto, com a aquisição de apólice em 15 de julho. Ela paga R$ 27 por mês pelos seguros de vida e funeral. “Se morrer ou acontecer qualquer outra coisa ruim comigo, não vou dar trabalho para minha família. Desde o dia em que fiz o seguro, me senti bem mais aliviada”, disse ela, moradora da comunidade há 40 anos, mãe de sete filhos e casada com um pedreiro autônomo. Separada, a servente Elisângela Ribeiro, 34, tinha uma coberturas por morte (natural grande preocupação quando e acidental), funeral, invalidez aderiu ao “Estou Seguro”: os cinco filhos menores – permanente total ede idade parcial, o caçula tem 4; a mais por velha,aci16. invalidez funcional “Meusoufilhos estão crescendo e dente doença, assistência nunca se sabe o dia de amanhã. emergencial em caso de morte Pode acontecer alguma coisa também docom cônjuge, desemcomigo ou eles. Fiz seguro • Geci Ribeiro de Almeida: prego, adicional indenizatório por morte natural e por morte emacidental. caso deMas, vítima crime, “ Se morrer ou acontecer graçasde ao bom qualquer outra coisa ruim cesta básica locação equi- comigo, não vou dar Deus, ainda enão preciseide usar”, brincou ela, que recebe um pamentos especiais. trabalho para minha salário de R$ 900 e pagaGomes R$ Emílio Rodrigues família” 13,50 disse quemensalmente os clientespelos da comuprodutos que adquiriu. nidade optaram pelos seguros A preocupação com os filhos de foivida e assistência funeral. também o motivo da adesão “Odafuneral o primeiro liscopeiraéMaria das Doresdados ta Santos na preferência deles, mas Maurício, 63. Ela fez o quando seguro seguro se paratrata a filhadeMiriam e de pretende o vida, o queincluir estálogo atraindo mais adolescente Igor, 16, seu filho é a cobertura por morte acimais novo. Maria das está dental, afirmou o Dores corretor, segurada por morte (acidental ou acrescentando que o valor natural), assistência desemprego médio dos produtos vendidos e assistência funeral. “É sempre atébom agora é deo R$ 30 Meu mensais. • Maria das Dores: “ É garantir futuro. “Omarido contato tem71 sido muito pes- sempre bom garantir o já tem anos”, soal. Os prepostos procuram futuro” observou.

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‘ESTOU SEGURO’ amigos, parentes e vizinhos, para informar sobre os produtos”, comenta. A Santa Marta é a primeira favela do Rio de Janeiro a ser considerada pacificada pelo governo fluminense, que ali instalou, há quase dois anos, uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), que acabou com a venda de drogas, que era tradicional na comunidade. O local hoje é percorrido com tranquilidade por moradores e visitantes. Perfil socioeconômico A população da Santa Marta é estimada em cerca de 6.500 pessoas. Antes da implantação do projeto, foi realizado um levantamento do perfil socioeconômico dos habitantes, relata o economista Manuel Thedim, diretorexecutivo do IETS. “Em agosto, foi feita a apuração dos dados da pesquisa socioeconômica. A Santa Marta tem 1.390 domicílios e já visitamos 550 deles, o que é altamente representativo. Voltaremos em outubro, para novas pesquisas”, anunciou. Da pesquisa na Santa Marta participaram dois grupos de dez pessoas. O primeiro, com idades variando entre 25 e 53 anos. O segundo, dos 35 aos 60 anos. Ficou evidente, para os pesquisadores, que o acesso a bens de consumo aumentou e a qualidade de vida dos mais pobres melhorou, embora persistam as dificuldades na área de saúde e de ordem financeira.

Filmes e programas de rádio divulgam o projeto ‹ Para transmitir aos habitantes da Santa Marta as

informações relacionadas aos seguros, os organizadores do projeto criaram filmetes, programas de rádio, peças de teatro e até um concurso de samba com canções alusivas ao tema previsto no regulamento do concurso: os seguros e seus conceitos. Um curta-metragem com três minutos de duração foi passado na comunidade e a rádio comunitária mantida pela associação de moradores já transmitiu oito novelas de dois minutos, cada uma, sobre o assunto. Os representantes das seguradoras que visitaram a Santa Marta no dia 13 de agosto tiveram a oportunidade de assistir a uma peça teatral, encenada no acesso ao Plano Inclinado, na base do morro. O tema era o seguro residencial. Cinco atores da comunidade, de forma bemhumorada, falaram da necessidade de o lar ser protegido de um incêndio, por exemplo, entre outras proteções oferecidas pelo seguro.

Outra conclusão da pesquisa é que essas adversidades e imprevistos são resolvidos de maneira improvisada, daí a constatação de que a oferta de seguros a pessoas que ganham pouco, mas apresentam melhorias na qualidade de vida, tende a se tornar viável. Hoje, essa população não costuma planejar o futuro. Mais à frente, essa condição poderá mudar, avaliam os pesquisadores. Instalado na casa 7 da Rua Sol Nascente, na parte média da favela, o posto foi reformado pela CNSeg e pelas seguradoras participantes do projeto. Em breve, novas seguradoras começarão a oferecer seus produtos aos moradores da Santa Marta, entre eles, o pagamento de dias parados por doença e acidente. O cliente receberá diárias pelo período em que estiver incapacitado para o trabalho. “Estes produtos significam inclusão financeira, o que faz a diferença nas populações de baixa renda, pois melhora a qualidade de vida das pessoas. Nosso interesse é o desenvolvimento. Um dos fatores que melhora o desenvolvimento dessas comunidades é ter acesso a serviços”, avalia o executivo do IETS. A recente pesquisa qualitativa realizada pelo IETS na Santa Marta e na favela Chapéu Mangueira (bairro do Leme, na zona sul do Rio), também beneficiada por UPP, na tentativa de aferir a possibilidade da aquisição de seguros pela população de renda mais baixa, concluiu haver potencial para a ampliação da demanda.l Samba vencedor do concurso Samba: Seguro com Bom Clima Autores: Grupo Bom Clima Não nasci em berço de ouro (Refrão) Mas estou com tudo em cima Estou seguro Mané No pagode do Bom Clima Estou com seguro feito, querendo zoar curtir Vou pegar minha viola só quero me divertir Se a casa pegar fogo, a família toda sofre Mas isto tá resolvido deixa que o seguro cobre (Refrão) Minha sogra é impossível, mas que velhinha danada Com quase 80 anos, ainda bate uma pelada Mas eu sou macaco velho, fiz um seguro pra ela Se a coroa bate as botas vai ter festa na favela (Refrão) Santa Marta, zona sul, Rio de Janeiro no Brasil Comunidade visitada, até o Michael Jackson viu Já sofremos acidentes eu não quero nem lembrar É melhor prevenir para não remediar (Refrão)

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Se você tá de maldade e quer bancar o espertinho O seguro tem fiscal que vai te marcar juntinho Se o barraco pegar fogo sem nenhuma explicação Você não recebe a grana e ainda pode ir pra prisão (Refrão) Quem mora no Santa Marta e nunca se banhou na minha? Não nasci em berço de ouro Mas estou com tudo em cima Santa Marta terra boa, uma birosca em cada esquina Não nasci em berço de ouro Mas estou com tudo em cima O seguro é baratinho, que você nem imagina Não nasci em berço de ouro Mas estou com tudo em cima Se você é bom amigo não se meta com a vizinha Não nasci em berço de ouro Mas estou com tudo em cima Cuidado com a vela acessa pra não pegar na cortinha Não nasci em berço de ouro Mas estou com tudo em cima Hoje você vai de bonde até o pico da colina Não nasci em berço de ouro Mas estou com tudo em cima


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FRAUDES

Relatório anual da CNSeg revela que os pagamentos negados por fraudes no ano passado somaram R$ 230 milhões

V Arquivo CNSeg

Crime atinge 1,2% dos sinistros • Renato Pita : “Combater a fraude é agir a favor do bom segurado e da sociedade em geral. A redução deste tipo de crime pode representar o acesso de novas parcelas da sociedade aos produtos do seguro”

VAGNER RICARDO

O estudo é realizado desde 2004 por amostragem, porque os números de sinistros avisados, fraudes e prêmios ganhos são parciais, visto que não englobam as entis seguradoras negaram o pagamento de R$ 230 dades de previdência, de capitalização e operadoras de milhões em indenizações no ano passado, em virtusaúde. Além disso, descarta informações consideradas não de de fraudes comprovadas. Este montante repredisponíveis ou inconsistentes. senta um aumento de 5,1% sobre os números registrados Para Renato Pita, os indicadores da pesquisa auxiliam em 2008 e equivale a 1,2% do total dos sinistros de 2009 o mercado a balizar suas iniciativas de combate à fraude, (R$ 18,9 bilhões) e a 0,7% das receitas (R$ 31,2 bilhões) a aferir os resultados das ações já implementadas e a avaobtidas pelos grupos participantes da pesquisa – responsáliar seus resultados em relação às demais seguradoras. “O veis por 79% dos prêmios do último exercício. Os númeSQF também é importante na conscientização do poder ros constam da sétima edição do relatório "Sistema de público, do Judiciário, dos órgãos de defesa do consumiQuantificação da Fraude” (SQF), feito anualmente pela dor, dos corretores, da sociedade em geral e das próprias Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, seguradoras sobre o impacto deste crime na indústria de Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitaseguros”, acredita. lização (CNSeg) para atender à ação institucional da entiA grande variação entre sinistros suspeitos (R$ 2,10 dade de combater e quantificar a fraude. bilhões), sinistros com fraudes detectadas (R$ 280 Segundo o superintendente da Central de Serviços, milhões) e os pagamentos negados por fraudes (R$ 230 Renato Pita, em 2009, os maiores indicadores de fraudes milhões) chama a atenção e gera dúvicomprovadas ocorreram nos ramos de das se os filtros do mercado estão muiVida (2,1% dos sinistros), de Automóvel to rigorosos. “Com base na experiência, (1,2% dos sinistros) e de Transportes podemos dizer que a diferença entre (0,9% dos sinistros). A soma dos sinissinistros suspeitos e fraudes comprovatros comprovadamente fraudulentos das pode ser devida à dificuldade do nestes três ramos atingiu R$ 198 mimercado em comprovar os ilícitos, pelo lhões (88% de todas as fraudes comprorigor em apontar os sinistros suspeitos vadas no ano passado). Em valores ou por ambos os fatores”, afirma Pita. absolutos, o ramo de Automóvel apreEsta diferença pode indicar uma sentou o maior volume de sinistros necessidade de o mercado rever os crinegados por comprovação de fraude térios e, simultaneamente, implementar (cerca de R$ 120 milhões), seguido Vida, Automóvel instrumentos mais eficazes para compelos ramos de Vida (R$ 72,8 milhões) e Transportes provar os ilícitos, de forma transparene do DPVAT (R$ 17,5 milhões). te e ética. “Combater a fraude é agir a Apesar do aumento do valor de concentraram favor do bom segurado e da sociedade fraudes comprovadas, Pita diz que não é 88% dos sinistros em geral. A redução deste tipo de crime possível afirmar que exista um aumento fraudulentos pode representar o acesso de novas parda incidência de fraudes, pois além do celas da sociedade aos produtos do crescimento do mercado, tem havido um em 2009 seguro”, conclui Pita.l controle mais efetivo das fraudes.

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FUNDOS DE PENSÃO

Longevidade pode comprometer solvência dos fundos

O aumento da expectativa de vida impõe soluções urgentes para cobrir os custos das aposentadorias futuras e longas V Arquivo Swiss Re

CARMEN LUCIA NERY

O

• Rolf Steiner: “Vamos realizar uma pesquisa com os principais fundos brasileiros para identificar suas necessidades na administração dos riscos da longevidade”

aumento crescente da expectativa de vida da população em todo o mundo, aliado à queda nas taxas de natalidade, pode comprometer a solvência dos fundos de pensão. É o que revela estudo divulgado no final de agosto pela Swiss Re, maior resseguradora do mundo, que alertou sobre a complexidade do financiamento ao aumento da longevidade e sobre a necessidade de se encontrar soluções urgentes que enfrentem este desafio. Estas soluções deverão criar novas oportunidades para o mercado segurador e ressegurador ligadas à proteção contra os riscos da longevidade. Nos últimos anos, a expectativa de vida aumentou substancialmente e esta é uma tendência que deve continuar. O estudo mostra, por exemplo, que em 1990, uma mulher britânica de 60 anos tinha expectativa de vida de 84 anos; número que saltou para mais de 88 anos em 2010, e deverá ser superior a 90 até 2030. No Brasil pessoas acima de 65 anos representavam 4% da população em 1970; 7% em 2010 e este percentual deve subir para 18% em 2050. Ao mesmo tempo a queda nas taxas de natalidade faz com que haja menos pessoas

economicamente ativas para financiar as aposentadorias dos que vivem mais. E mais, o relatório adverte que subestimar a expectativa de vida em apenas um ano pode aumentar em até 5% os passivos de um plano de aposentadorias. Riscos da longevidade Diante deste quadro, os fundos de pensão podem não ter capacidade para cobrir os custos das aposentadorias futuras e longas. Segundo Rolf Steiner, vice-presidente sênior das Operações no Brasil e Cone Sul da Swiss Re, os fundos de pensão sofreram em nível mundial a redução de seus ativos para cobrir as aposentadorias em função da crise financeira global. “O índice de insuficiência dos fundos de pensão em nível mundial já atinge 26%. No Brasil ainda não há este risco, mas vamos realizar uma pesquisa com os principais fundos brasileiros para identificar suas necessidades na administração dos riscos da longevidade”, diz Steiner. Ele observa que esta pode ser uma boa oportunidade para o mercado ressegurador. Hoje, boa parte do portfólio das seguradoras e resseguradoras está concentrada nos seguros de vida, cujo principal risco é a mortalidade. A diversificação para produtos relacio-

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16_17_fundos de pensão.qxd:Layout 1 10/7/10 9:25 PM Page 2

trole completo sobre sua estratégia de investimento. O que é terceirizado é o risco.

nados à longevidade é uma excelente estratégia de mitigação de riscos. A Swiss Re já começou a se mobilizar neste sentido e está estruturando uma nova linha de produtos exclusivos para endereçar questões ligadas à proteção da longevidade. A empresa já fechou o primeiro contrato de cobertura do risco de longevidade com o fundo de pensão do governo do Condado de Berkshire, no Reino Unido. O contrato, no valor de 1,7 bilhão de francos suíços (US$ 1,6 bilhão), prevê que o risco de longevidade dos 11.000 pensionistas de planos de benefício definido do fundo passa a ser assumido pela resseguradora até que morra o último indivíduo. Pelo contrato, o fundo de pensão paga prêmios regulares para a Swiss Re de acordo com um calendário fixo. A Swiss Re assegura o pagamento dos benefícios para os pensionistas, cujo custo depende de quanto tempo os aposentados vivem. O resultado líquido é que o fundo continua a honrar os pagamentos de pensões aos seus pensionistas, mas qualquer desvio futuro, positivo ou negativo, devido à incerteza da longevidade, é absorvido pela Swiss Re. Além disso, o fundo continua a deter a propriedade legal de seus ativos e con-

Desafios da previdência Para o presidente do IRB-Brasil Re, esta é de fato uma oportunidade para as resseguradoras e a empresa já está estruturando produtos que contemplem a proteção do risco da longevidade que devem ser lançados já no próximo ano em parceira com outras empresas do segmento. “O risco existe e este é um problema mundial. O aumento da longevidade é uma boa notícia, mas para a previdência é um desafio”, diz Leonardo Paixão, presidente do IRB e ex-titular da Secretaria de Previdência Complementar. Ele observa que este tipo de produto vai exigir um grande volume de capital, pois os fundos têm um grande contingente de pensionistas. Serão necessárias também algumas definições regulatórias. Isso porque está em discussão se uma resseguradora poderia assumir diretamente uma carteira de um fundo de pensão ou se teria que haver a intermediação de uma seguradora. Renda vitalícia Embora considere que o aumento da longevidade é um fato, Nilton Molina, presidente do Conselho de Administração da Mongeral Seguros e Previdência, minimiza a questão. Ele diz que esta preocupação surgiu nos EUA desde o início dos anos 70 quando a maior parte das carteiras dos fundos e das seguradoras era baseada em planos de benefício definido, que pagam uma renda definida vitalícia. A consequência foi a criação de planos de contribuição definida, cujo risco é do segurado. “Uma solução que vem sendo discutida é a repactuação das rendas a cada cinco anos, o que poria fim à dicotomia que existe hoje em que 100% do risco são da seguradora ou do segurado. Mas no cenário atual, uma seguradora ou um fundo com carteira equilibrada, entre planos de benefício definido, planos de contribuição definida e vida, tem uma cobertura técnica garantida. É claro que se os novos produtos de proteção à longevidade oferecerem uma cobertura de risco a um preço confortável, pode ser uma opção a ser considerada”, conclui Molina. l

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V Arquivo IRB-Brasil Re

• Leonardo Paixão: “O risco existe e este é um problema mundial. O aumento da longevidade é uma boa notícia, mas para a previdência é um desafio”

V Arquivo CNSeg

• Nilton Molina: “Uma solução que vem sendo discutida é a repactuação das rendas a cada cinco anos, o que poria fim à dicotomia que existe hoje em que 100% do risco são da seguradora ou do segurado”


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AGÊNCIA ESTATAL

A AGFG será constituída como empresa pública e ficará responsável pela gestão de dois fundos garantidores CARMEN LUCIA NERY

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forte reação do mercado segurador privado conseguiu reverter a tentativa do governo de criar uma seguradora estatal, a Empresa Brasileira de Seguros (EBS). Diante da mobilização do setor, liderada pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), o governo recuou e decidiu negociar com o mercado uma solução de consenso que resultou na proposta de criação da Agência Brasileira de Garantias (ABG), ou Agência Gestora de Fundos Garantidores, nome sugerido pela CNSeg na última reunião, realizada no final de agosto, para fechar a proposta. “Sugerimos este nome para deixar claro que a empresa será apenas uma gestora de fundos. Esta é uma grande vitória do setor, porque ficou evidente que não há necessidade de se criar uma seguradora estatal. O mercado segurador privado, junto com o segmento de resseguro, tem total capacidade de atender às demandas do País”, reitera José Américo Peón de Sá, assessor da presidência da CNSeg. Empresa pública A AGFG será constituída como uma empresa pública e ficará responsável pela gestão de dois fundos garantidores dedicados a garantir operações de comércio exterior e de projetos de infraestrutura e de grande vulto. A principal mudança é que a agência não terá atribuições de uma seguradora, que emite apólices e poderia vir a disputar outros ramos com o mercado. Outro fato a comemorar é que os fundos somente serão utilizados caso o setor privado não tenha capacidade ou interesse. Além disso, a Agência será subor-

V Arquivo CNSeg

Agência é fruto de consenso entre mercado e governo • José Américo Peón de Sá: ”Esta é uma grande vitória do setor, porque ficou evidente que não há necessidade de se criar uma seguradora estatal”

dinada às regras da Superintendência de Seguros Privados (Susep), que na proposta original de criação da Empresa Brasileira de Seguros (EBS), sequer havia sido consultada. Para o presidente da Confederação, Jorge Hilário Gouvêa Vieira, a criação da agência de garantias, no lugar da estatal de seguros, mostra o bom nível de diálogo, o desprendimento e a maturidade com que o governo e o mercado segurador resolvem seus impasses. Com isso, o mercado privado assegura a posição exclusiva de oferecer coberturas para os riscos tradicionais e dos mais variados portes, confirmando a convicção do setor de que este é o modelo mais adequado ao País, tendo em vista que o mercado tem efetiva capacidade financeira de atender à demanda atual e futura de coberturas solicitadas, liberando o Estado para tarefas chave. "De quebra, amplia-se também a disponibilidade de recursos para que as empreiteiras ofereçam as contrapartidas exigidas para as coberturas de grandes obras de infraestrutura. Já os recursos dos fundos garantidores poderão funcionar como uma espécie de linha stand by, se necessário. Este mecanismo permitirá também que existam salvaguardas para outros ramos estratégicos que demandem contrapartidas financeiras para a contratação do seguro, como as áreas de saneamento básico, habitação, comércio exterior, por exemplo. Depois do susto estatal, estamos de volta ao livre mercado", diz Jorge Hilário. A reação do setor Mas não foi uma luta fácil. A ideia de criação de uma seguradora estatal surpreendeu o mercado segurador, em maio, quando passou a circular uma minuta de medida provisória propondo a criação da EBS. Mais surpreenden-

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V Arquivo CNSeg

V Arquivo SulAmérica

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• Jorge Hilário: "Amplia-se também a disponibilidade de recursos para que as empreiteiras ofereçam as contrapartidas exigidas para as coberturas de grandes obras de infraestrutura"

Cronologia dos fatos e a repercussão na imprensa ‹ A possibilidade de o governo criar mais uma estatal

também repercutiu fortemente na imprensa. O tema chegou à mídia em junho por meio de uma matéria publicada no jornal Valor Econômico, sobre a unificação dos fundos garantidores, o Eximbank e a EBS. A CNSeg e demais lideranças do setor iniciaram a reação contra a medida. Em julho o assunto voltou com força total aos meios de comunicação e a revista Veja cunhou o termo “segurobrás”, em nota do colunista Lauro Jardim, que gerou forte repercussão nos demais veículos. Em 13 de julho, manchete de O Globo alerta que o governo estaria criando a 12ª estatal. Com a repercussão nos principais jornais, rádios e telejornais – inclusive no Jornal Nacional – o governo recua e abre canal para o diálogo com o mercado. Em 14 de julho, jornais publicam o recuo do governo, mas ainda há impasse em relação à criação da EBS. No final de semana, revistas semanais e jornal O Estado de São Paulo preparam reportagens especiais, muito favoráveis ao mercado segurador. Em 20 de julho, CNSeg e o ministro Guido Mantega finalmente reúnem-se no Ministério da Fazenda e fixam uma prazo de 15 dias para apresentação de uma proposta em conjunto, na forma de um projeto de lei. A partir daí, representantes das seguradoras e técnicos do Ministério discutem propostas alternativas à criação da EBS. Em reunião no final de agosto, é fechada a proposta final de criação da Agência Gestora de Fundos Garantidores (AGFG), por meio de um projeto de lei que será encaminhado ao Congresso Nacional.

• Thomaz Menezes: "A criação da ABG é positiva para o mercado, pois vai ampliar a oferta de capacidade, principalmente para a garantia de obras de infraestrutura, numa parceria público-privada”

te ainda eram os argumentos do governo de que o setor não tinha capacidade para atender às demandas para o seguro garantia das grandes obras de infraestrutura, sobretudo do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). E mais, a MP abria a possibilidade de o governo atuar em ramos já amplamente atendidos pelo mercado, como seguro imobiliário, seguro garantia e seguro habitacional para pessoas de baixa renda, além de projetos de infraestrutura, energia, indústria naval e MPMEs (capital de giro), entre outros. De imediato, a CNSeg procurou denunciar o conflito de interesses que haveria no fato de o governo ser, ao mesmo tempo, segurado e segurador de seus próprios empreendimentos, mostrando que o mercado privado é melhor fiscal das obras do governo do que o próprio governo – que também não poderia operar em ramos já plenamente cobertos e consolidados pela iniciativa privada. Para provar que não há necessidade de intervenção federal nestes segmentos, o setor mostrou a força de seu desempenho: um volume de prêmios de R$109 bilhões em 2009, que deverá atingir R$ 150 bilhões em 2012. Portanto, com todas as condições de oferecer as garantias para as obras de infraestrutura do País dentro do cronograma do PAC, sem que haja necessidade de intervenção pública. Vale lembrar ainda o retrocesso que seria a criação de uma estatal de seguros, diante da quebra do monopólio estatal do resseguro, há dois anos, que permitiu ao Brasil acesso à capacidade global de recursos, garantindo assim que não haja dificuldades para segurar obras e empreendimentos de qualquer magnitude. Desde a abertura do resseguro, 118 companhias já aportaram no País incluindo os maiores players globais, que por meio da Associação das Empresas de Resseguros

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AGÊNCIA ESTATAL

Risco comercial O fundo garantidor de comércio exterior vai garantir o risco comercial em operações de crédito às exportações com prazo total superior a dois anos; o risco político e extraordinário em operações de crédito ao comércio exterior de qualquer prazo; e o risco de descumprimento de obrigações contratuais referentes a operações de exportação de bens ou serviços. Já o fundo de infraestrutura poderá oferecer, direta ou indiretamente, cobertura para risco de crédito, risco de performance, risco de descumprimento de obrigações contratuais e risco de engenharia. Uma das principais conquistas do setor é que o fundo poderá oferecer cobertura de forma direta apenas quando não houver aceitação, total ou parcial, destes riscos por sociedades seguradoras ou resseguradoras privadas. Outro ponto positivo é que o fundo só poderá oferecer cobertura de forma indireta, quando suplementar operações de seguros e resseguros vinculadas aos riscos já citados, desde que a parcela de responsabilidade a ser retida por seguradoras e resseguradoras não seja inferior a 20% da responsabilidade total da operação. Na última reunião realizada entre representantes da CNSeg e técnicos no Ministério da Fazen-

• Alexandre Malucelli: “Queremos mostrar ao governo que o setor privado quer participar e que estas operações são tão boas que podemos dobrar nossa participação nestes projetos”

Belo Monte e Jirau: apólices fechadas durante a crise ‹ Em meio à crise que se instalou com a tentativa do

governo de criar uma seguradora estatal, foi fechado um dos maiores negócios envolvendo seguro na área de infraestrutura, jogando por terra o argumento oficial da falta de capacidade do setor privado para atender as demandas do governo no segmento. A J. Malucelli é líder do consórcio responsável pelo seguro da Usina de Belo Monte com coparticipação da Itaú Seguros e da Fator Seguradora. O contrato conta ainda com a participação de um pool de 15 resseguradoras como a J. Malucelli Re e a Munich Re. A transação no valor de R$ 1 bilhão foi fechada no período em que se discutia a criação da estatal de seguros, na maior

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Rio Xingu

A nova proposta Segundo o texto da minuta de projeto de lei que será encaminhado ao Congresso prevendo a criação da Agência (conforme informação do Governo na última reunião com o setor), a União fica autorizada a participar na qualidade de cotista do fundo garantidor de comércio exterior, no limite total de R$ 2 bilhões; e do fundo garantidor para cobertura de riscos em operações de projetos de infraestrutura e de grande vulto, no limite de R$ 11 bilhões. "A proposta de criação da Agência Gestora de Fundos Garantidores é positiva para o mercado segurador, pois tem o intuito de ampliar a oferta de capacidade, principalmente para o segmento de garantia de obras de infraestrutura, numa parceria público-privada. Também consideramos positivo o fato de que esta Agência estará subordinada às regras da Susep", afirma Thomaz Cabral de Menezes, presidente da SulAmérica, representando o sentimento de alívio de todo o setor. O projeto de lei também prevê que a Agência Especial de Financiamento Industrial (Finame) será substituída pela Agência de Crédito à Exportação do Brasil S/A (Eximbrasil), que está sendo criada para apoio ao comércio exterior brasileiro.

V Arquivo J.Malucelli

(Aber) manifestaram sua preocupação e a necessidade de continuar confiando na estabilidade das regras do governo brasileiro.

Belo Monte


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prova da capacidade do setor privado mesmo diante de todas as incertezas que cercavam Belo Monte. Segundo Alexandre Malucelli, o projeto de Belo Monte embora não seja complexo como obra de engenharia, é desafiador pela sua magnitude. O sucesso da operação vem do fato de que a empresa vinha trabalhando há muito tempo, acompanhando o projeto há mais de um ano e primeiro entendendo o modelo financeiro. “Em quatro meses montamos o pool de seguradoras e emitimos a apólice em nome do grupo. Belo Monte foi cercado de polêmicas, mas o projeto foi conduzido com maestria pelos empreendedores como a Eletrobras, com um gerenciamento de risco muito bem feito. O resseguro foi colocado com facilidade porque todas as vulnerabilidades de risco foram mitigadas”, analisa Malucelli. A transação foi fechada com a concessionária Norte Energia para o seguro da concessão. O projeto exigirá ainda seguro garantia para o fornecimento de equipamentos pelos fabricantes e para a construção da obra, a cargo das construtoras. As duas modalidades são avaliadas em mais R$ 2,4 bilhões, elevando o valor total de seguros para Belo Monte para R$ 3,4 bilhões. Na mesma ocasião, a Liberty Seguros emitiu apólice de seguro no valor de US$ 1,1 milhão para cobrir, durante dois anos e dez meses, o transporte de 18 turbinas da China e da Coreia para a Usina Hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira, no Estado de Rondônia. O transporte das turbinas terá um roteiro desafiador. Os equipamentos serão embarcados em Xangai e serão descarregados em Manaus. De lá percorrerão trechos terrestres e em barcaças até a entrega final na Ilha do Padre, em Porto Velho (RO), onde acontecem, as obras. Serão 36 viagens que foram desenhadas nos mínimos detalhes. A Liberty assumiu 100% do risco, no seguro e resseguro. “A operação demonstra nossa capacidade e compromisso com os grandes riscos no mercado brasileiro”, diz Paul Conely, diretor da divisão de riscos especiais da seguradora.

ira de Ma o Ri

Jirau

da, o setor sugeriu que esta parcela suba para 40%. “Queremos mostrar ao governo que o setor privado quer participar e que estas operações são tão boas que podemos dobrar nossa participação nestes projetos”, diz Alexandre Malucelli, presidente da J. Malucelli e diretor da CNSeg, um dos executivos que particiaparam ativamente das negociações com o Ministério da Fazenda. Coberturas do fundo Poderão se beneficiar das coberturas do fundo, projetos de infraestrutura constantes do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC – ou de programas estratégicos definidos em ato do poder executivo; projetos de financiamento à construção naval; operações de crédito para o setor de aviação civil; e projetos resultantes de parcerias público-privadas. A Agência também poderá explorar concessão de garantias em áreas de interesse social do governo, no âmbito de programas ou instituições oficiais, em operações de crédito habitacional; crédito ao comércio exterior com prazo superior a dois anos; crédito para aquisição de máquinas e implementos agrícolas; crédito a microempreendedores individuais, autônomos, micro, pequenas e médias empresas; e crédito em operações a estudantes. Segundo Malucelli, apesar da abertura para estes tipos de ramos, há duas grandes conquistas na solução negociada com a Fazenda, que reparam dois aspectos equivocados da proposta original. O primeiro é que o governo vai atuar com garantias nas áreas de interesse social somente porque são áreas em que o mercado privado não tem interesse de atuar. Mas o setor conseguiu além disso fixar que se o mercado no futuro quiser atender estas áreas poderá fazê-lo. A segunda vitória é que os fundos garantidores que já existiam e já competiam com o setor privado, agora vão atuar como uma garantia reserva que só poderá ser usada se o mercado não tiver capacidade ou interesse. Estudos atuariais Para o governo a solução também foi satisfatória pois vai resolver os problemas que haviam em relação aos fundos garantidores. Ao contrário de uma agência, a seguradora não poderia gerir os fundos, a menos que o capital fosse totalmente integralizado à empresa. Além disso os fundos não poderiam ser alavancados. Agora com a Agência é possível realizar estudos atuariais e até obter algum nível de alavancagem. “O desfecho foi extremamente positivo para o setor e mostrou o papel e as funções de uma entidade de classe atuante. Do lado do governo mostrou a sensibilidade de sentar à mesa e alinhar com o mercado um modelo único”, comemora Malucelli. l

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VIDA E PREVIDÊNCIA

Crescimento impõe novos desafios ao setor Para manter os resultados, segmento precisa conquistar mais consumidores, especialmente os de baixa renda MÁRCIA ALVES

O

s números são dignos de comemoração. Em julho, a previdência privada aberta superou a marca histórica de R$ 200 bilhões em ativos e no acumulado do ano o seguro de pessoas atingiu R$ 8,7 bilhões em prêmios. Para o presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), Marco Antonio Rossi, esse bom desempenho não se deve apenas à estabilização econômica ou ao aumento de renda da população, mas também à modernização da atividade, que resultou no desenvolvimento de produtos mais sofisticados e acessíveis. O executivo esteve recentemente na Argentina justamente para explicar o sucesso desses produtos. “Antes importávamos modelos estrangeiros de previdência, agora exportamos. Isso mostra que estamos no caminho certo”, disse Rossi, durante a abertura do V Fórum Nacional de Seguro de Vida e Previdência Privada, realizado em São Paulo (SP) pela FenaPrevi, nos dias 15 e 16 de setembro. O evento, que reuniu uma plateia de quase 500 executivos, contou com a participação de diversos especialistas em nove painéis. Apesar do tom otimista, o dirigente preferiu não festejar. “Sabemos que o volume de ativos ainda é pequeno diante do potencial do setor. Se as oportunidades são grandes, os desafios são ainda maiores”, disse. E são mesmo, a começar pelo microsseguros, que requer, além da regulamentação, a criação de

• Paulo dos Santos defende que informação é o motor de venda para as classes baixas

• Presidente da FenaPrevi, Marco Antonio Rossi discursa durante evento em São Paulo, observado pela mesa de abertura

• Delfin Neto: desejo das pessoas motiva o crescimento

produtos mais simples e adequados ao público de baixa renda. Oferecer proteção aos brasileiros mais longevos é outra preocupação trazida pelo aumento da expectativa de vida no País. E, como se não bastasse, o mercado de seguros ainda tem pela frente algumas metas, como continuar aperfeiçoando a comunicação com o consumidor e ampliar os seus canais de distribuição. Educação financeira A necessidade de permanecer investindo na qualidade e eficiência da relação com o consumidor foi destacada pelo presidente da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), Jorge Hilário Gouveia Vieira. “É preciso traduzir a linguagem do seguro e criar produtos

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V Fotos: Pedro Mena

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• Thomaz Menezes: educação financeira deve ter foco na autoestima dos indivíduos

que atendam o consumidor de baixa renda”, disse. O superintendente da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Paulo dos Santos, afirmou que essa é também uma preocupação do órgão. “Se bem informado, esse público consumidor priorizará o seguro entre os seus investimentos”, disse. Os economistas Delfim Neto e Marcos Lisboa, que participaram do painel sobre as perspectivas macroeconômicas, concordaram que o maior desafio do setor é educar a sociedade a pensar no futuro e adquirir o hábito de poupar. "As pessoas têm desejos e é isso que motiva o crescimento", disse Delfim.

• Marcos Lisboa: maior desafio é educar população a pensar no futuro

• Maria Helena Darcy: “Temos que abandonar o ‘segurês’”

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Para Renato Russo, vice-presidente da FenaPrevi, o consumo consciente e ético são os fundamentos básicos para a formação de poupança. Thomaz Luiz Cabral de Menezes, presidente da SulAmérica, um dos participantes do painel sobre as análises do cenário macroeconômico, sugeriu que a educação financeira deva ter como foco a autoestima dos indivíduos, que os motiva a se preocupar com a proteção da própria vida e dos bens adquiridos. Este é também um viés do microsseguros, que tem importante função social, segundo Antonio Cássio dos Santos, presidente da Mapfre. “Nada nos


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VIDA E PREVIDÊNCIA acontece se perdermos o carro numa enchente. Mas, se for o carrinho de um pipoqueiro, então uma família poderá ser destruída”, comparou. Mudanças necessárias Paralelamente à educação da sociedade, a necessidade de melhor preparo do corretor de seguros no atendimento ao consumidor cada vez mais exigente, assunto de um dos painéis, foi apontada por Maria Helena Darcy de Oliveira, do Comitê de Relações de Consumo da CNSeg. A executiva ain-

da tocou em outro ponto fundamental, a utilização de linguagem técnica do setor. “Temos de abandonar o segurês”, orientou. Essa observação foi confirmada em pesquisa interativa com plateia do evento, em que 78% responderam que o consumidor de seguros não tem perfeito entendimento dos produtos de seguros. Melhorar a comunicação com o consumidor, conhecer suas necessidades e oferecer produtos adequados, inclusive aos mais longevos, são desafios que as resseguradoras estão dispostas a ajudar o mercado a enfrentar. l

A nova cara do Brasil ‹ Um estudo da Kantar Wordpanel, realizado

sob encomenda da FenaPrevi, foi apresentado por Christine Guimarães Thomaz Pereira no painel que abordou as tendências de consumo. A partir de uma base de dados de 8,2 mil domicílios, amostra que representa 81% da população domiciliar brasileira e 91% do potencial de consumo residencial do País, a pesquisa demonstrou que o número de famílias que planeja poupar parte de sua renda cresceu de 29% para 44%, de 2008 para 2009. Apesar desse resultado, a penetração dos planos de previdência ainda é baixa: apenas 4% das famílias compram os produtos. Ao contrário do seguro de vida, que está presente em 18% dos lares da Classe AB, em 6% da Classe C e 2% da Classe DE. As famílias da Classe AB são as maiores compradoras de previdência (10%), mas a Classe C também adquire o produto (4%). Na apuração por faixa etária, a pesquisa detectou que os investimentos em previdência são maiores entre os indivíduos de 40 a 49 anos.

O País está mais velho, mais disposto a poupar e usa cada vez mais a Internet. Esta nova “cara” foi revelada por algumas pesquisas apresentadas durante o fórum

Geração Y Os canais de compra do futuro foram objeto de estudo da ATKearney, cujos resultados foram apresentados pelo consultor João Leandro Bueno, no painel “Distribuição – Inovação e Tecnologia”. O estudo comprovou que a classe de baixa renda é a mais numerosa: 42% da população. Contudo, 70% dos ativos financeiros permanecem em mãos dos indivíduos das classes altas, que representam apenas 3% da população. Esse público mais abastado, segundo a pesquisa, prefere produtos mais sofisticados, opta pelo canal de varejo que apresenta maior capilaridade e gosta de receber recomendações ou conselhos em relação a produtos. Diante desse resultado, Bueno concluiu que os bancos ainda terão predominância entre os demais canais de distribuição na venda de previdência. Entretanto, o consultor prevê que os canais virtuais terão

grande impacto na forma de venda de seguro e previdência, por serem os preferidos da geração Y, “o grande público do mercado segurador no futuro”, que hoje representa 36% da população brasileira. Entre esses chamados “nativos digitais”, 51% da faixa etária de 25 a 34 anos utilizam a Internet. De acordo com a pesquisa, os indivíduos da geração Y são imediatistas, infiéis às marcas, realizam múltiplas tarefas e desejam atendimento rápido, entre outros.

Canais virtuais Na mesma linha, uma pesquisa da Accenture em seis países, apresentada por Raphael de Carvalho, mostrou a tendência de migração de serviços para os negócios móveis. Entre os mais comuns está o ato de “tomar emprestada” temporariamente a capacidade de processamento da rede na Internet, quando o computador pessoal não dispõe de espaço suficiente. Para Silas Devai Junior, da IBM, os equipamentos digitais – Internet, PC, celular, GPS, MP3 etc. – estão mudando a maneira como vivemos. Por isso, “querendo ou não”, ele afirma, “o setor de seguros terá de se adequar aos canais virtuais, porque o consumidor está pedindo para migrar”, acrescenta. Por isso, sua dica ao setor de seguros é que invista na integração de canais, o que, fatalmente, também mudará os modelos de negócios. Ele também falou sobre os novos formatos de serviços na Internet que visam agregar valor, como é o caso dos sites de comparação de produtos ou de descontos online. Ambas as inovações permitirão às empresas incorporar funções de negócios mais inteligentes, capazes de interagir com o cliente. Para Silas, o varejo já saiu na frente na adesão aos canais virtuais, mas o seguro deverá embarcar agora, na segunda onda. “Os canais virtuais e as redes sociais são o caminho sem volta no futuro do seguro e da previdência”, afirmou.

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CAPITALIZAÇÃO

Plano de comunicação para ampliar entendimento sobre títulos O objetivo é viabilizar a expansão do segmento informando melhor o consumidor sobre as reais características do produto FERNANDA THURLER

N

o início de setembro, a diretoria da Federação Nacional de Capitalização (FenaCap) deu sinal verde para a implementação de um novo plano de comunicação institucional com a quase exclusiva missão de melhorar o entendimento do público sobre os títulos de capitalização. O momento não poderia ser mais oportuno: a economia brasileira deverá atingir em 2010 seu maior índice de crescimento nos últimos 24 anos, conforme projeção realizada pelo Relatório Focus do Banco Central (BC) e pelo Ministério da Fazenda, de uma expansão de 6,5% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Confirmado o prognóstico, a expectativa no setor de capitalização é de um aumento ainda maior na venda de títulos – que já vem registrando uma curva ascendente. Nos cinco primeiros meses deste ano, o faturamento do setor foi de R$ 4,7 bilhões (22% sobre o montante registrado no mesmo período de 2009). A conjuntura é favorável e numa análise simples a marca histórica de faturamento médio mensal de R$ 1 bilhão pode até ser interpretada como um forte indicador de que os produtos e o “modus operandi” na sua comercialização atendem plenamente as necessidades dos clientes. Mas não é bem assim. Essa avaliação positiva do “boom” nas vendas não resiste a um olhar mais atento, principalmente por parte da Comissão de Comunicação da FenaCap. Um dos segmen-

tos do setor de seguros que mais registram ruídos na comunicação com os clientes, a capitalização está sendo submetida a mudanças estruturais no que diz respeito à apresentação e à comercialização dos títulos.

A pesquisa identificou a comercialização como importante componente na consolidação da imagem do produto, mas sem um argumento comum de vendas

Expansão do segmento O novo Plano Diretor de Comunicação objetiva viabilizar a expansão do segmento a partir de um reposicionamento e da melhor elucidação das reais características do produto capitalização. A meta, segundo informa a presidente da Comissão de Comunicação, Olinda Campos, é fortalecer e qualificar institucionalmente a imagem da FenaCap como associação representativa das empresas de capitalização, no intuito de esclarecer e reposicionar a categoria frente aos principais públicos – órgãos reguladores, jornalistas, formadores de opinião e força de venda. As várias ações estratégicas para consolidar uma imagem estruturada e favorável não passam, porém, por mudanças no formato institucional dos títulos, hoje comercializados dentro das modalidades Tradicional, Popular, Compra Programada e Incentivo. E

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V Arquivo Pessoal

justamente nesse ponto se concentra o maior desafio em atingir o objetivo proposto pelo plano, uma vez que, de acordo com uma pesquisa qualitativa realizada a pedido da FenaCap, a diversidade dos títulos de capitalização e a variedade de motivadores de compra dificultam o posicionamento do produto. Informação unificada Conforme o mesmo estudo, a falta de informação sobre os títulos e seus diferentes tipos contribuiu para a disseminação de uma série de preconceitos, comprometendo o desenvolvimento das vendas. Segundo Olinda Campos, as ações propostas no novo plano (elaborado pela empresa de consultoria Llorente & Cuenca) pretendem exatamente unificar a informação sobre os objetivos e características particulares do produto. Na análise da Comissão, não foi a falta de informação propriamente dita, mas a inexistência de um discurso único, a maior responsável pela cristalização da ideia de que o pro-

• Olinda Campos: “Foi definida uma linha de comunicação unificada para atingir de forma consistente e integrada a todos os públicos estratégicos”

Plano tático ‹ Etapa A: definição de posicionamento geral (para a entidade) e

específico (para cada modalidade de título de capitalização), além de mensagem unificada que fará parte da comunicação integrada de todas as empresas de capitalização; ‹ Etapa B: definição de estratégia para aproximação e relacionamento

com os públicos de interesse; ‹ Etapa C: aplicação da nova comunicação – palavras-chaves – nas

empresas; ‹ Etapa D: gerenciamento do relacionamento com equipes de venda.

duto capitalização não tem uma identidade clara, havendo, por conseguinte, percepções distintas sobre seu posicionamento. Verdadeira “radiografia” do setor, a pesquisa qualitativa gerou informações sobre os diversos públicos agentes no mercado de capitalização (desde os clientes a seus executivos, passando por profissionais de vendas, órgãos de defesa do consumidor, jornalistas e demais formadores de opinião), utilizadas como base principal na concepção do plano. “Foi definida uma linha de comunicação unificada para atingir de forma consistente e integrada a todos os públicos estratégicos”, diz Olinda Campos. Isto posto, a Comissão partiu para o “dever de casa” e vem colocando em prática ações específicas para corrigir o que a presidente da Comissão classifica como “vícios de mercado” e para ampliar o fluxo de informações sobre o produto. Entre elas, programas de treinamento visando o melhor preparo dos profissionais que vendem o produto. Argumentação de vendas A pesquisa identificou a comercialização como um importante componente na consolidação da imagem do produto, atestando, no entanto, a inexistência de uma linha comum e homogênea na argumentação de vendas dos títulos em suas categorias, com cada player utilizando modelos próprios de convencimento na operação. Resultado: inúmeras críticas sobre o emprego do modelo de operação casada por parte de gerentes de banco e de desconhecimento sobre o produto por parte dos vendedores da rede não bancária (casas lotéricas, agências de correios, corretoras e imobiliárias). “Pretendemos encerrar esse ciclo, alinhando o discurso e unificando o posicionamento institucional do setor. E para isso estão sendo realizadas várias ações nas empresas para explicitar as reais características e vantagens da capitalização. Ou seja, demonstrando para a força de venda que o produto é bom, oferece vantagens e dispensa, no ato da venda, o uso de quaisquer outros argumentos. Isso tudo sempre incentivando o treinamento e a conscientização da força de venda pelas empresas”, diz Olinda Campos.l

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MEIO AMBIENTE

Acidentes suscitam discussõe s A ANP e outros órgãos do governo preparam o Plano Nacional de Conting ê V Arquivo Ibrada

SÔNIA ARARIPE

O

• Flávia Frangetto: “Os planos de prevenção de risco são imprescindíveis e, atrelados a eles, medidas mitigadoras de eventuais impactos negativos”

V Arquivo SOS Mata Atlântica

• Mário Mantovani: “Há toda uma preocupação com a segurança, e precisamos estar atentos para monitorar de perto estas atividades de exploração”

s graves acidentes ambientais ocorridos recentemente no Golfo do México (Estados Unidos) e na China, além dos problemas de segurança descobertos em plataformas de petróleo na Bacia de Campos, suscitaram novos debates sobre os sistemas brasileiros de proteção ambiental e sua eficácia. Afinal, a legislação e todo arcabouço ambiental do País garantem segurança ou não? A Revista de Seguros ouviu alguns renomados especialistas nesta área. Em coro, eles advertem que o sinal amarelo foi aceso e que a exploração de petróleo nos campos do pré-sal torna a discussão ainda mais urgente. A exploração do óleo em águas ultraprofundas significa riscos muito maiores. O governo já está estudando de que forma pode contribuir para este debate. De acordo com a assessoria de imprensa da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), especialistas estão preparando sua contribuição para o Plano Nacional de Contingência a ser elaborado pela Agência, em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente e o Comando da Marinha, para eventuais acidentes ocorridos em plataformas offshore de exploração e produção de petróleo. O trabalho está sendo coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente. O plano tem como objetivos integrar os diagnósticos dos diversos órgãos do governo e coordenar os esforços para conter os danos provocados por eventual acidente. O plano deverá ficar pronto até o fim de setembro,

segundo previsão da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

Ação humana A jurista Flávia Frangetto, presidente do Instituto Brasileiro do Direito Ambiental, lembra que os acidentes são diferentes das catástrofes naturais, uma vez que decorrerem de atividades tipicamente humanas. A especialista diz que, ao explorar os recursos ambientais para sua própria sobrevivência, o homem deve administrar todo e qualquer risco de impactos negativos que possam advir dessas intervenções. Na hipótese dos acidentes tecnológicos em geral, o sinal já está vermelho, uma vez que danos ao meio ambiente têm de ser terminantemente evitados. “Por isso, são imprescindíveis os planos de prevenção de riscos e, atrelados a eles, medidas mitigadoras de eventuais impactos negativos, como de contenção e, em termos de ressarcimentos ou restaurações, os contratos de seguros de riscos”, frisa Flávia Frangetto.

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e s sobre segurança ambiental g ência, de olho nas explor ações da camada do pré-sal

Legislação ambiental ‹ A questão ambiental é objeto de regulação nos âmbitos federal,

estaduais e municipais. O site do Ministério do Meio Ambiente (www.mma.gov.br) é uma boa fonte de consulta para as leis federais e as resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). São exemplos de previsões fundamentais os dispositivos da Constituição Federal, como o art. 225; a Lei 6.938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente); a Lei 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), mas há uma série de outras, dependendo do escopo e abrangência da questão ambiental. Para quem quiser estudar um pouco mais sobre o tema, os especialistas recomendam “Direito Ambiental Brasileiro”, de Paulo Affonso Leme Machado, da Malheiros Editores. Recentemente também foi lançado pela Campus-Elsevier “Constitucionais do Direito Ambiental Brasileiro”, da pesquisadora e professora Norma Sueli Padilha.

Com a experiência de quem lida com o tema no dia a dia, a jurista avalia que, infelizmente, o Brasil ainda não tem estrutura para enfrentar e punir os responsáveis pelos acidentes ambientais com eficiência. “É como se a natureza sangrasse e não tivéssemos sequer curativos adequados. A tecnologia ajuda, porém, não basta. Para gerenciar as crises ambientais, é preciso multiplicar o zelo com o meio ambiente, em atenção à própria vida saudável na Terra”, adverte.

Pré-sal O engenheiro e consultor João Cabral, com 43 anos de experiência no setor de engenharia de materiais, membro vitalício da ABM (Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração), chama a atenção para o fato de a exploração do pré-sal requerer ainda mais cuidados. “A legislação ambiental brasileira é boa, porém, com os novos desafios da exploração em águas profundas e nas camadas do pré-sal, o mais importante é

Golfo do México: acidente que causou vazamento de petróleo no mar por mais de três meses acendeu a luz de alerta nos quatro cantos do mundo

que as leis sejam atualizadas em relação às novas tecnologias e aos novos materiais desenvolvidos para este novo desafio”, afirma. As Organizações Não-Governamentais (ONGs), que acompanham de perto o tema, estão também atentas. “Não é só uma questão de leis, mas de participação ativa da sociedade civil nesta discussão. Não podemos correr riscos tão graves sem sermos ouvidos”, destaca o presidente da SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani. Além do pré-sal, o ambientalista lembra que tem sido intensificada a exploração de óleo e gás na Amazônia. “Há toda uma preocupação com a segurança, e precisamos estar atentos para monitorar de perto estas atividades de exploração de petróleo”, diz. Mário Mantovani torce para que a prevenção seja ainda mais valorizada e não haja preocupação apenas com as punições. Mas defende o rigor contra grupos que desrespeitem as leis e as normas. “A natureza, por muitos anos, foi devastada sem que ninguém a defendesse. Agora não é mais assim”, destaca.

Evolução das leis Flávia Frangetto defende que, assim como a sociedade evolui, a legislação também precisa de evolução, devendo ser revista periodicamente. O mais razoável, reitera ela, é que se busque Justiça e bom senso. “Do jeito que as normas estão dispostas hoje no Brasil, há confusões de organização e interpretação no processo de subsunção do fato à norma, acarretando sua ineficácia. Mas os princípios que as norteiam seriam suficientes para isolar os padrões de qualidade ambiental em um patamar seguro”, diz. Na sua avaliação, seria magnífico se novos instrumentos jurídicos fomentassem a conservação pela lógica da premiação. Ou seja, quem protegesse seria premiado, em um movimento parecido com a sistemática de pagamento por serviços ambientais. “Assim, quem observa o lado bonito da natureza e se esforça para protegê-la seria reconhecido por esse ato em benefício da coletividade”.l

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VArquivo Liberty

SINISTROS

• Destruído pelo fogo: supermercado Condor Raia foi reconstruído em 126 dias e manteve o emprego dos 350 colaboradores

O socorro financeiro que chega na hora certa Seguradoras investem para tornar os termos do contrato mais compreensíveis para os consumidores DENISE BUENO

“Ao transferir o risco para suas seguradoras, as empresas aliviam a pressão sobre elas, liberando o dinheiro necessário para o giro de seu negócio” Antonio Penteado

S

eguro é uma das poucas coisas que se paga e ao mesmo tempo não se quer usar. E, quando precisa usar, a primeira palavra que o cliente encontra pela frente é sinistro. Traduzido do latim, esse substantivo em português remete a algo macabro. Para a indústria de seguros, no entanto, esse termo técnico, usado para dizer que o cliente sofreu uma perda, significa a razão de ser do setor. “O departamento de sinistro até mudou de nome. Agora chama-se Diretoria de Atendimento”, informa Luiz Francisco Minarelli, diretor da Liberty. Esta sutil mudança revela o amadurecimento do setor num momento em que tem projeções de crescimento na casa dos dois dígitos pelos próximos dez anos. Para crescer de forma sustentável, as seguradoras investem para aprimorar o relacionamento com o cliente, tornando os termos técnicos mais simples e, portanto, de maior compreensão do público em geral.

Momentos difíceis Dizer que as companhias de seguros tiveram sinistros da ordem de R$ 11,2 bilhões no primeiro semestre deste ano não quer dizer muita coisa para as pessoas. Mas se informar que este foi o valor que as seguradoras pagaram, pelas perdas de seus clientes, é muito mais compreensivo. Receber uma indenização é uma ajuda e tanto em momentos difíceis. “Ao transferir o risco para suas seguradoras, as empresas aliviam a pressão sobre elas, liberando o dinheiro necessário para o giro de seu negócio”, diz Antonio Penteado Mendonça, consultor e advogado especializado em seguros. Realmente é verdade. O incêndio que destruiu o centro de distribuição do Ponto Frio (uma das maiores empresas varejistas do Brasil), no início deste ano, é um exemplo. O depósito localizado em São Paulo estava lotado para abastecer o comércio, que vem registrando recordes consecutivos de vendas. Se o grupo não tivesse cobertura do seguro, com certeza perderia uma boa fatia neste competitivo mercado. Afinal, o crescimento

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do PIB brasileiro no primeiro semestre de 2010 ultrapassou 8%, embalado pelo desejo de consumo de eletroeletrônicos e de bens móveis. A primeira ação da seguradora que detinha a apólice foi adiantar 40% do valor do seguro para que o grupo pudesse rapidamente minimizar as perdas. Entre elas, restabelecer o fluxo de trabalho em outro local e assim manter o abastecimento do comércio com mercadorias. Com isso, várias outras perdas foram controladas, sem impacto para o valor da ação do grupo na bolsa de valores. Outro exemplo é o incêndio que destruiu em março o hipermercado Condor Raia, em Paranaguá (PR). Ele foi reconstruído em 126 dias e reinaugurado dia 29 de julho, graças ao rápido atendimento prestado pela seguradora. O novo empreendimento contou com investimento de R$ 20 milhões e manteve os 325 colaboradores da época do acidente. “Nossa preocupação acabou no momento em que a seguradora Liberty iniciou o levantamento dos prejuízos. Sentimos total confiança na reposição dos bens no menor prazo possível, da forma que havia se comprometido na assinatura do contrato”, afirmou Wanclei Benedito Said, diretor administrativo e financeiro do Condor Raia.

Aprimorando produtos Ninguém melhor do que as pessoas envolvidas em um processo de pagamento de indenização para ajudar a aprimorar os produtos. Luiz Teófilo Mansur Assad, da corretora Corresur, ajudou o Porto de Navegantes (Portonave), a desenvolver o programa de seguros. “Levantamos muitas probabilidades de acidentes e perdas e fizemos um programa de seguro com coberturas para os mais remotos imprevistos. Alguns deles tiveram de ser criados e a seguradora foi muito solícita. Graças a este trabalho feito a quatro mãos, o porto está em operação hoje, mesmo depois de dois acidentes”, conta. O primeiro acionamento da apólice foi com as enchentes no Sul do Brasil no ano passado. O excesso de chuva causou a interdição do canal de acesso dos navios. Com isso, o porto ficou paralisado e foi indenizado pela perda de receita. Neste ano, o “sinistro” assustou. A câmara frigorífica, avaliada em R$ 40 milhões, pegou fogo e teve perda total. Além de indenizar a empresa para reconstruir o frigorífico, a empresa também indenizou os clientes com mercadorias armazenadas na câma-

ra, segundo informa Laur Diuri, diretor de sinistros da Allianz, a seguradora do Portonave. Numa experiência contrária, há o exemplo da British Petroleum. A operadora da plataforma que explodiu no Golfo do México em abril deste ano perdeu mais de 80% de seu valor de mercado e enfrenta centenas de processos de acionistas querendo compensações pela perda que tiveram com a desvalorização das ações. O acidente é considerado a maior catástrofe ambiental da história. A petrolífera tinha apenas o seguro da plataforma, avaliada em US$ 750 milhões. O grupo contou com a sorte e não comprou seguro com valor suficiente para indenizar perdas causadas a terceiros e também para limpar e recuperar o estrago ao meio ambiente, com custos estimados em US$ 20 bilhões.

Grandes sinistros podem provocar mais que perdas físicas. Papel das seguradoras é evitar que o problema se alastre

Operação de resgate Mas não são só grandes riscos que contam com atenção máxima das seguradoras. Todas as apólices envolvem uma gama enorme de serviços. Abelardo Guimarães, presidente da subcomissão de sinistros da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), cita o exemplo da última catástrofe natural ocorrida no Sul do país, onde as cidades de Itajaí, Blumenau e Joinville foram castigadas pelas chuvas. Para minorar as perdas dos segurados e da população local, as seguradoras montaram uma verdadeira operação de resgate na região, com reboques, carretas, serviços de lavagem, despachantes entre outros prestadores essenciais para facilitar e agilizar o pagamento da indenização. “Neste evento, a indústria de seguros, somente com apólices de automóvel, arcou com R$ 22 milhões em indenizações, não incluso aí todo o custo suportado na operação de resgate acima mencionada”, conta Abelardo Guimarães, que também é superintendente de sinistros da Bradesco Auto RE. As seguradoras também estão se antecipando à ligação do cliente. Em casos de catástrofes, como vendavais no Sul e inundações em estados do Nordeste em junho deste ano, a maioria das seguradoras mandou equipes para atender os clientes no local. “Nosso pessoal monitora diariamente os eventos climáticos. Se há uma ocorrência, a central de atendimento passa a ligar para os clientes localizados num raio de 50 quilômetros para prestar atendimento”, conta Gilberto Abreu, superintendente de seguros do Santander. l

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SAÚDE V Arquivo FenaSaúde

• Solange Beatriz: “Provavelmente, esta avaliação é mais eficiente, inclusive, do que o programa de qualificação da ANS, já que trará um ganho efetivo para os processos internos de gestão da operadora"

V Fernando Meireles

• Maria Manuela dos Santos: chancela do produto pela JCI traz visibilidade internacional à iniciativa do CBA

Operadoras terão manual de padrão de qualidade Uma iniciativa pioneira, o manual estabelece parâmetros para a avaliação abrangente do benefício LENIR CAMIMURA

A

qualidade assistencial e de gestão de um plano de saúde já pode ser medida. Com uma iniciativa pioneira, o Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA) lançou o Manual de Padrões de Acreditação para Operadoras, estabelecendo parâmetros para a avaliação abrangente do benefício. Entende-se por acreditação a implantação de um sistema de qualidade que atenda aos padrões definidos por empresas certificadoras e que comprovem o engajamento da organização em garantir atendimento aos beneficiários, dentro de um padrão que refli-

ta as melhores e mais seguras práticas assistenciais e preventivas. A acreditação em saúde não é algo novo. Os prestadores de serviço, como hospitais e laboratórios, por exemplo, já possuem um modelo internacionalmente reconhecido de avaliação da qualidade de seus serviços. Há, no mundo, apenas uma entidade que trabalha com estes padrões: a Associação Americana de Controle e Avaliação de Planos de Saúde. Assim, para atender a esta demanda de mercado e inspirado no trabalho da Associação Americana, o CBA desenvolveu o Manual de Padrões para Operadoras. Segundo a superintendente do CBA, Maria Manue-

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V Arquivo Amil-Brasil

la dos Santos, o trabalho contou com o apoio da Joint Comission International (JCI), que chancela o produto, trazendo visibilidade internacional à iniciativa. Avaliação de conformidade Com validade de três anos, o manual apresenta os padrões para avaliação de conformidade baseado em sete funções: direito dos beneficiários e familiares; adequação dos serviços para os beneficiários; gerenciamento de Plano de Saúde; gerenciamento e melhoria da qualidade; seleção e educação da rede de provedores e de serviços; educação em saúde de beneficiários e familiares; e gerenciamento da informação e comunicação. Além disso, a operadora é avaliada de acordo com indicadores de qualidade e pela pesquisa de satisfação de beneficiários. De acordo com Maria Manuela, nesta primeira edição foram estabelecidos 30 indicadores, que são um mix entre os itens já exigidos pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e outros de desempenho assistencial. Por enquanto, conforme explicou a superintendente, não há dados suficientes para aumentar o número de indicadores. Ela afirmou que o tempo para que uma operadora se adeque às exigências da acreditação está estimado em um ano e meio, mas este período depende do engajamento das empresas para entrar em conformidade aos padrões de qualidade. “Pressupomos que as operadoras já trabalhem assim, buscando níveis de qualidade satisfatórios; por isso, o que deve sofrer modificação serão a cultura da empresa e a forma de gerenciar, que deverá ser modernizada”. Ganho efetivo Para a diretora da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Solange Beatriz Palheiro Mendes, o processo de acreditação é positivo e deve trazer mais consistência e melhor padrão de operação. “Provavelmente, esta avaliação é mais eficiente, inclusive, do que o programa de qualificação da ANS, já que trará um ganho efetivo para os processos internos de gestão da operadora. E, ainda, não estará vinculado aos

momentos da regulamentação”. A acreditação de operadoras está em debate na ANS, que deve construir uma resolução normativa para regular a verificação da qualidade. No momento, a Agência ainda está estudando os padrões que podem ser implantados. Espera-se que, a partir desta iniciativa de mercado, promovida pelo CBA/JCI, a ANS acelere o processo de discussão e apresente a norma regulatória. O CBA/JCI garante que está pronto para se adaptar como for necessário às exigências do órgão. A previsão é que, dentro de um ano, entre oito a dez operadoras já estejam se preparando para alcançar a certificação. Para outorgar a certificação das operadoras, o CBA/JCI instalou um Comitê de Acreditação de Planos de Saúde. Atualmente com nove integrantes – podendo chegar até a 14 –, o comitê é formado por um grupo de experts que representam áreas de atuação distintas – hospitais, médicos, operadoras e beneficiários. Análise da qualidade O comitê tem como atribuição adotar, rever e aprovar os padrões para análise da qualidade dos serviços prestados por planos de saúde; examinar a conformidade dos planos aos padrões fixados; aprovar diretrizes para programas de educação, estudos, pesquisas e publicações; e aprovar e adotar manuais de padrões internacionais. Para o diretor técnico nacional da AmilBrasil e representante da FenaSaúde no Comitê, Antonio Jorge Kropf, a operadoradora que for acreditada dará uma demonstração clara, baseada em critérios internacionais, de que oferece um atendimento com qualidade e segurança aos seus beneficiários. Já para a advogada Maria Stella Gergori, que participa como especialista no segmento dos consumidores, a acreditação favorece o estímulo à concorrência entre as operadoras, uma vez que pode ser encarada como um diferencial de mercado. “Na medida em que o Brasil começa a ter operadoras certificadas, o setor passa a ter uma visibilidade melhor sobre a assistência à Saúde, atendendo a uma demanda de qualidade e segurança exigidas em todos os países”. l

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• Antonio Jorge Kropf: operadora acreditada dará clara demonstração de que oferece atendimento com qualidade e segurança

V Arquivo pessoal

• Maria Stella Gergori: “Na medida em que o Brasil começa a ter operadoras certificadas, o setor passa a ter uma visibilidade melhor sobre a assistência à Saúde, atendendo a uma demanda de qualidade e segurança exigidas em todos os países”


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INSTITUCIONAL AUTOMÓVEL

FenSeg lança Guia de Boas Práticas O objetivo é dar transparência à relação das seguradoras com os consumidores e também com os corretores de seguros VIVIANE BARRETO

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V Arquivo FenSeg

• Jayme Garfinkel: “A transparência é sempre o melhor caminho para o crescimento”

ornar o mercado ainda mais transparente para o consumidor. Essa é uma das razões que levaram a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg) a lançar o Guia de Boas Práticas de Seguro de Automóvel durante a 2ª Conferência Interativa de Proteção do Consumidor de Seguros, realizada em setembro, na cidade de São Paulo. O guia vem complementar o Código de Ética, da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), em prática desde 2006. Os princípios da ética, da boa-fé, dos bons costumes, da livre concorrência e da iniciativa privada estão entre os temas abordados no guia. A relação com os segurados é outro item descrito. Nele, é recomendado às seguradoras que prestem serviços de qualidade, com eficiência e de forma cuidadosa, buscando sempre alternativas de aprimorálos, e que mantenham serviço de atendimento ao cliente com informações atualizadas sobre as etapas de aceitação, emissão, cobrança e regulação de sinistros. Intermediação de produtos A relação com os corretores também é um dos tópicos trabalhados pela FenSeg no guia. Para tornar cada vez mais profissional e transparente a intermediação na comercialização de seus produtos, uma das recomendações dadas às seguradoras é a de disponibilizar as respostas aos questio-

namentos dos corretores no tempo mais curto possível, respeitando o prazo máximo de cinco dias úteis, depois de recebido o questionamento. O presidente da FenSeg, Jayme Brasil Garfinkel, afirma que tanto o Código de Ética quanto o Guia de Boas Práticas mostram ao consumidor, de forma clara e precisa, como é a atuação das seguradoras no mercado. “A transparência é sempre o melhor caminho para o crescimento”, acredita. Um crescimento comemorado pelo setor nos últimos tempos. Ano passado, o segmento de seguro de automóvel faturou R$ 17,3 bilhões – R$ 2 bilhões a mais que em 2008 e quase R$ 4 bilhões a mais que em 2007. Para este ano, a expectativa é ainda melhor. Jayme Garfinkel lembra que o mercado de seguros está em constante alta, com índices superiores aos observados pelo Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. “Estamos tão bem quanto à economia do nosso País”, compara. Práticas fraudulentas Apesar dos bons resultados, as seguradoras amargam uma triste e constante realidade. O ramo de seguros de automóvel é alvo permanente de fraudes e de tentativas de obtenção de vantagens ilícitas através da manipulação ou falsificação de informações. Para diminuir o número de práticas fraudulentas, o Guia de Boas Práticas da FenSeg traz alguns conselhos para as seguradoras. Uma das sugestões é a de utilizar todos os sistemas disponíveis da Central de Serviços da CNSeg que, através de cruzamento de

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V Arquivo RS

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• Veículos no trânsito: a frota circulante brasileira gira em torno de 40 milhões de automóveis, mas apenas 30% são segurados

dados, permite identificar várias situações que podem contribuir na correta aceitação e precificação de um seguro – assim como combater fraudes tanto no momento da aceitação quanto na regulação do sinistro. O seguro de automóvel é um dos principais produtos de varejo do mercado de seguros e continua na liderança do setor. O sucesso se deve principalmente à liberdade tarifária, ao estabelecimento de estrutura mínima dos contratos de seguro e à livre concorrência das seguradoras. Frota circulante Apesar da liderança da carteira de automóveis, ainda é baixo o número de veículos

segurados no País. A frota circulante gira em torno de 40 milhões, sendo apenas 12 milhões com seguro – o correspondente a 30%. Jayme Garfinkel explica que a frota circulante no Brasil é muito antiga, o que ajuda a manter em baixa o número de veículos segurados. “Para carros velhos, às vezes, não vale a pena o consumidor fazer um seguro porque o prêmio (preço do seguro) sai caro, quando comparado ao valor do automóvel”. Distribuído a todas as seguradoras associadas à FenSeg, o Guia de Boas Práticas de Seguro de Automóvel está disponível na página da federação, no portal www.viverseguro.org.br, para que consumidores e corretores também possam ter acesso ao conteúdo.l

Os princípios da ética, da boa-fé, dos bons costumes, da livre concorrência e da iniciativa privada estão entre os temas abordados no guia

Preocupações com o meio ambiente ‹ Sempre com o intuito de oferecer os melhores serviços aos consumidores, e com isso, fazer com que a atividade de seguro seja reconhecida pela sociedade brasileira como um segmento eficiente e com credibilidade, a FenSeg destaca no guia recomendações para uma boa relação entre as seguradoras e os órgãos de Defesa do Consumidor. Entre as dicas estão: manter um relacionamento constante com estes órgãos para fornecer dados técnicos sobre os contratos de seguro e sinistros reclamados; e atuar em parcerias com os órgãos de Defesa do Consumidor para dar

informações a segurados e ao público em geral sobre os diferentes contratos de seguros existentes no mercado nacional. O meio ambiente também é assunto do guia. O presidente da federação afirma que as seguradoras, como todos os setores da sociedade, estão atentas às ameaças que o planeta vem sofrendo. Por isso, alerta que seguradoras devem orientar seus clientes, por meio de campanhas, informações na apólice ou mensagens nas centrais de atendimento. As empresas também devem fazer constar entre seus prestadores de serviços, compradores de sucatas e oficinas comprometidas com a preservação do meio ambiente.

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REDES SOCIAIS

Ferramentas atingem ¾ dos u O Brasil sai na frente com 86% dos inter n

V Arquivo Vayon

DENISE BUENO

• Wladimir Chinchio: muitas empresas ainda avaliam como usar as novas ferramentas

V Arquivo Porto Seguro

• Rafael Caetano: para a Porto Seguro, canais de atendimento para estreitar relação com o cliente

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consumidor vem ganhando cada dia mais poder. Agora ele tem uma nova arma para exigir seus direitos e mostrar a sua força: as redes sociais. Estatísticas divulgadas em julho mostram que, em 2009, pessoas de todo o mundo passaram 110 bilhões de minutos em sites de redes sociais e blogs, o que representa 22% do tempo usado online. Com aumento de 24% no número de usuários em relação ao ano anterior, pode-se afirmar que agora ¾ dos usuários de Internet do mundo usam redes sociais e blogs. O Brasil está à frente no uso dessas ferramentas, com 86% dos internautas dentro de alguma rede social. A audiência na Internet brasileira foi de 67,5 milhões de pessoas em 2009 e a estimativa é chegar ao final de 2010 com 73,7 milhões, segundo pesquisa do Ibope/Nielsen apresentada em evento do Interactive Advertising Bureau Brasil (IAB). “O brasileiro passa em média cinco horas por mês nesses sites, enquanto que a média mundial é de seis horas. Por isso investimos nas redes sociais”, diz Ariane Landim, superintendente de marketing da Allianz. Estratégia específica Com tantas pessoas conectadas, o que fazer se um dia sua empresa chegar a ser um dos assuntos mais comentados do microblog? E se o tom dos internautas for ao estilo “Cala a boca, Galvão”? Poucas seguradoras sabem responder a esta questão, por enquanto, apesar de a maioria estar atenta ao assunto. “É

preciso estar preparado para lidar com o poder que as redes sociais dão aos consumidores. Não dá para ficar fora deste ambiente”, recomenda Junior Wn, diretor da Al Comunicação Digital. Segundo o consultor Francisco Galiza, já existe consenso sobre a necessidade de as áreas comerciais e de marketing prepararem uma estratégia específica para as redes sociais. “Isso é fato, embora eu acredite que ainda há dúvidas sobre o que se deve fazer exatamente para atingir este público”, diz. A pesquisa “Redes sociais no mercado de seguros”, realizada pela Vayon, entrevistou 31 seguradoras, 49 corretoras (pessoas jurídicas) e 111 corretores (pessoas físicas), entre 7 e 24 de junho de 2010, e constatou: entre as seguradoras, apenas sete possuem perfil no Twitter, quatro no Orkut e quatro no Facebook – e duas tinham blog. “Muitas ainda estão avaliando as formas de usar essas poderosas ferramentas”, informa Wladimir Chinchio, consultor da Vayon. Aliadas da divulgação As seguradoras usam as redes sociais como aliadas na divulgação de produtos, campanhas de vendas, sorteios e informações de mercado. A Escola Nacional de Seguros – Funenseg (veja pág. 41) tem no Twitter um grande aliado para divulgar seus cursos. A companhia Porto Seguro está presente nas redes sociais desde o final de 2008. “Enxergamos nessas ferramentas a possibilidade de oferecer novos canais de atendimento, estreitando ainda mais o relacionamento com

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usuários de Internet no mundo

er nautas dentro de alguma comunidade virtual

nossos clientes”, diz Rafael Caetano, gerente de canais eletrônicos. Uma das ações da seguradora é fomentar a gentileza no trânsito, com a campanha Trânsito Gentil. Até agosto, a Porto Seguro contabilizava 3.120 seguidores no Twitter, além de estar presente no Orkut, Facebook, Youtube, Drimo e Linkedln. A Aliança do Brasil, do grupo BB Seguros, informou que fechou a venda do primeiro seguro em que a captura da oportunidade do negócio ocorreu via Twitter – mas não é esse o objetivo. “Nossa preocupação é fomentar a discussão sobre seguros, conscientizar o internauta sobre a importância dos produtos para sua vida. Além de munir o usuário da rede com informações sobre bem-estar e qualidade de vida”, comenta Paulo Bonzanini, diretor comercial da Aliança. Canal de comunicação Como o próprio nome diz, trata-se de uma rede de relacionamento e não de venda de produto. Em algumas seguradoras, os principais executivos usam o Twitter para abrir um canal de comunicação com os internautas, como Marco Antonio Rossi, presidente da Bradesco Seguros e Previdência, Fábio Luchetti, vice-presidente da Porto Seguro, e mais recentemente Patrick Larragoiti, presidente do Conselho de Administração da SulAmérica. O Twitter da SulAmérica começou em janeiro de 2010 e até fim de agosto já contava com 1.350 seguidores. “Somos a terceira seguradora em número de seguidores no Twitter hoje”, conta Solange Guimarães, executiva de comunicação do grupo. A rede social é usada

para divulgar diariamente informações sobre produtos, serviços, dicas de saúde, ações sociais e de relação com investidores. A Allianz é uma das seguradoras que vem apostando nas mídias sociais. Em razão da proximidade do grupo com o futebol, por ter o estádio Allianz Arena como uma das principais armas de marketing mundial, a seguradora alemã investiu no patrocínio do ‘Bola Social Soccer’, um game online onde é possível criar um time, treinar e jogar contra outros usuários nas mídias Facebook ou Orkut. Resultado: a Allianz é o patrocinador mais escolhido entre os três disponíveis no jogo. Foram mais de 4 milhões de acessos em cinco meses. “É um retorno surpreendente, que nos ajuda a aproximar do consumidor e trabalhar na popularização da imagem do grupo”, diz Ariane Landim. Identificando reclamações Além da divulgação da marca, a Allianz procura monitorar o que se fala de seguros para ter ideias de ações que possam ajudar na divulgação do seguro. Ela contratou um serviço, onde descobriu que é citada no microblog cerca de 300 vezes por mês. “Por meio do Twitter podemos identificar reclamações que podem virar um problema”, diz a executiva. Daniela Valadares, gerente de comunicação corporativa da Zurich Brasil já reservou investimentos para as redes sociais, com estreia marcada para 2011. “Esse é um mundo novo, cheio de possibilidades, e a empresa tem todo o interesse de estabelecer mais este canal com seu público”, diz. l

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V Arquivo pessoal

• Francisco Galiza: áreas comerciais e de marketing devem preparar estratégias específicas para o ambiente online

A audiência na Internet brasileira foi de 67,5 milhões de pessoas em 2009 e a estimativa é chegar ao final de 2010 com 73,7 milhões, segundo pesquisa


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ASSOCIAÇÃO DE GENEBRA | CHRISTOPHE COURBAGE

V Arquivo Pessoal

Pesquisa científica, o futuro do seguro Associação de Genebra, entidade internacional voltada para o estudo do seguro no contexto econômico, com sede na Suíça, retorna à Revista de Seguros, em coluna fixa, para a divulgação de suas atividades

N

o início dos anos 70, a pesquisa sobre aspectos econômicos de risco e seguro ainda não estava muito desenvolvida. As questões de seguro foram tratadas, originalmente, pela matemática atuarial e pelo direito. Com o crescimento econômico estável, a função do seguro emergiu como um componente-chave desse processo. Beneficiados pelos avanços da teoria financeira e da teoria de decisões, os pesquisadores pontuaram questões mais focadas nos aspectos econômicos do seguro e gestão de risco. Hoje o segmento é foco de publicações, artigos científicos, cursos e licenciaturas nas melhores universidades. O setor de seguros tem muito a ganhar com a pesquisa científica – que pode ajudar na tomada de decisão ao fornecer modelos altamente sofisticados de avaliação e prevenção de risco e ajudar na identificação de novos riscos. Pesquisa e educação, interligadas, são um investimento para o futuro. Os países da OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, sigla em inglês) podem aumentar sua produtividade, se as pessoas tiverem educação superior – pois as tendências apontam para uma carência de profissionais de seguro e o treinamento de pessoal neste setor torna-se imprescindível. Economias desenvolvidas são caracterizadas por uma crescente interdependência de riscos e atividades – causando sensações de vulnerabilidade e um crescente desejo por proteção. Neste aspecto, o papel do seguro será cada vez mais importante. Em seus programas de pesquisa, a Geneva Association pontuou uma série de orientações que merecem análise direta e investimento em pesquisa acadêmica. Os itens a seguir ilustram algumas das áreas consideradas prioritárias. l Área financeira, solvência e contabilidade A abordagem financeira do setor de seguros experimen-

tou progressos significativos nas áreas de solvência e contabilidade. A recente crise financeira revelou falhas no sistema de fiscalização e gerou demandas para regulamentar novamente os setores financeiros, incluindo a indústria de seguros. Assuntos legais e de regulamentação O crash ocorrido em setembro de 2008 expôs a qualidade e a eficácia da regulamentação dos serviços financeiros existentes – que precisa ser revista. À parte a crise, questões legais de responsabilidade também são de extrema importância, em especial nas áreas médica e ambiental, onde o preço da cobertura de seguro para riscos de responsabilidade explodiram nos últimos anos. l

l Risco em grande escala e seguro Mudança climática, catástrofes naturais e pandemias. A crescente interdependência de atividades humanas pode causar impactos financeiros relevantes. Qual é o papel do seguro ao administrar tais riscos? Como modelar, medir e gerir estes riscos de efeito cascata? Quais são as dificuldades teóricas e empíricas? Como melhorar os mecanismos de gestão de risco relacionados a eventos naturais e outros riscos catastróficos?

Envelhecimento/demografia As tendências demográficas atuais – levando-se em conta o aumento da expectativa de vida – anunciam importantes mudanças na gestão do risco de vida e na decisão do seguro. É preciso reestruturar os mecanismos públicos e privados que financiam os sistemas de previdência e saúde, para estimular o benefício inovador, sem gerar custos desnecessários, mas melhorando a qualidade dos serviços. São estas questões, que estão desafiando a indústria de seguros mundial, que são o objeto desta coluna regular da Associação de Genebra.l l

CHRISTOPHE COURBAGE - Chefe de Pesquisa, Saúde e Envelhecimento e Estudos Econômicos do Seguro

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BIBLIOTECA | EDUARDO DE FREITAS LEITE

V Arquivo Pessoal

Uma visão das últimas décadas do resseguro A obra é uma coletânea de artigos extraídos da Revista do IRB, desde 1940, para comemorar os 70 anos do instituto

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o primeiro parágrafo do prefácio do livro Clássicos do Resseguro, é informado que, em 2008, dois excelentes técnicos do IRB-Brasil Re, profundos conhecedores e estudiosos da área de seguro e resseguro, Roberto Luiz Martins de Castro e Antonio Salvador Dutra, sugeriram à Escola Nacional de Seguros – Funenseg, publicar uma coletânea de artigos que seriam pesquisados e extraídos da Revista do IRB, desde o seu lançamento, em 1940, objetivando comemorar os 70 anos do instituto, bem como marcar a abertura do mercado brasileiro de resseguro à iniciativa privada. A sugestão acima foi aceita e, com competência e profundo conhecimento que possuem da área do seguro e do resseguro, Roberto Castro e Antonio Dutra iniciaram os trabalhos da pesquisa, resgatando e selecionando os artigos que comporiam a coletânea. A obra final demonstra que os pesquisadores realizaram o trabalho com extrema dedicação e afinco. Com a maestria de ambos, o livro ficou composto por 73 artigos clássicos. Os artigos que o compõem contemplam todos os ramos e tipos de seguro e resseguro, bem como a interação com outras áreas do conhecimento e técnicas necessárias ao desenvolvimento, aperfeiçoamento e crescimento constantes deste mercado. Foram selecionados artigos de autores brasileiros e estrangeiros. No prefácio do livro temos a indicação de alguns autores que demonstram o grande conhecimento e capacidade, conforme se segue: ”foram resgatadas verdadeiras preciosidades escritas por mestres do seguro e do resseguro brasileiro, com David Campista

“Os artigos contemplam todos os ramos do mercado e a interação com outras áreas do conhecimento” Eduardo de Freitas Leite

‹ RESENHA: CLÁSSICOS DO RESSEGURO COORDENAÇÃO: Roberto Luiz Martins de Castro e Antonio Salvador Dutra EDIÇÃO: Abril 2010 Escola Nacional de Seguros – Funenseg e IRB-Brasil Re. Rio de Janeiro 568 páginas

Filho, Ângelo Mário Cerne, J.J. de Souza Mendes, Paulo Pereira Ferreira, Adyr Pecego Messina, Marcos Portela Sollero, Luiz Mendonça, Jose Sollero Filho e Pedro Alvim”. No entanto, a leitura de todos os autores que integram o livro – e que emprestaram seus profundos conhecimentos à escrita dos artigos selecionados – é de grande valia. Para que se possa ter visão da importância deste trabalho de pesquisa, o primeiro artigo a compor a coletânea é a conferência escrita pelo magnífico Prof. Gilberto Freyre – sociólogo, antropólogo (1900/1987) –, intitulado “O Seguro na Formação Social Brasileira”, que foi por ele proferida em 14 de maio de 1954, nas comemorações do Dia Continental do Seguro. A coletânea, concluímos, é um instrumento muito importante para os profissionais que já atuam na área, para aqueles que estão chegando ao mercado e também para estudiosos e pesquisadores. Sua leitura é agradável e seus artigos podem ser dissecados com tranquilidade, captando as ideias, as dicas, ampliando desta forma os conhecimentos abordados nos artigos selecionados. l

EDUARDO DE FREITAS LEITE – Analista de Resseguro/Mestre em Economia Empresarial pela UCAM

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FUNENSEG

Escola adere às redes sociais Twitter, Flickr e Orkut são usados para uma aproximação maior com os alunos MÁRCIA GOMES

Estamos usando essas ferramentas no contato permanente com nossos alunos”, explica.

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eguindo uma tendência mundial, a Escola Nacional de Seguros aderiu às redes sociais. Orkut, Twitter e Flickr, canais até pouco tempo inexistentes, agora são utilizados pela instituição para garantir uma aproximação ainda maior com seus alunos. Informações sobre cursos técnicos, de habilitação de corretores e do MBA Executivo em Seguros e Resseguro são alguns dos temas postados nas redes sociais. Com um monitoramento constante, a Escola ainda utiliza os canais para esclarecer dúvidas dos alunos, divulgar o calendário de inscrições e provas e estimular discussões sobre temas ligados ao mercado de seguros. Henrique Berardinelli, responsável pela Superintendência Comercial da Escola, onde está alocada a área de Comunicação, ressalta a importância da participação nas mídias sociais. “Hoje nenhuma empresa pode abrir mão de participar das redes sociais, seja para divulgar seus produtos ou interagir com seus clientes, esclarecendo dúvidas ou simplesmente ouvindo sugestões.

“Essa nova forma de interação constante com os alunos exige um planejamento sistemático. Um bom trabalho nas redes sociais fortalece a imagem da Escola junto ao mercado” Henrique Berardinelli

Oportunidades Para atender a essa nova demanda a Escola também lançou um blog, que será conduzido pelo personagem Eduardo Rollos, que pretende mostrar como é o dia a dia de um jovem em busca das oportunidades que o mercado reserva. Em pouco mais de oito meses de atuação nas plataformas de mídias sociais, já foram registrados números que impressionam: 522 seguidores no Twitter (www.twitter.com/funenseg) e 2.500 participantes na comunidade oficial do Orkut (Funenseg Moderador). “Essa nova forma de interação constante com os alunos exige um planejamento sistemático. Um bom trabalho nas redes sociais fortalece a imagem da Escola junto ao mercado”, acrescenta Henrique Berardinelli. Acompanhe a Escola nos endereços: Orkut (Funenseg - Oficial), Twitter (http://twitter.com/ Funenseg) e Flickr (www.flickr. com/funenseg).l

Tudo Sobre Seguros ‹ Depois de um período de testes, o setor de seguros acaba de ganhar mais um aliado na internet: o portal www.tudosobreseguros.org.br. Desenvolvido pela Escola Nacional de Seguros, tem o intuito de esclarecer todas as dúvidas dos consumidores de seguros, previdência e capitalização. O portal traz informações do mercado, como estatísticas, pesquisas e estudos; apresenta as diversas modalidades de seguros para pessoas físicas e empresas; traz um glossário com o significado dos termos usados nos contratos e ainda um mapa com as opções de seguros indicadas para cada etapa da vida – com coberturas que vão desde a infância até a terceira idade.

O portal recebe diariamente cerca de 500 visitas de consumidores e corretores de seguros. Lauro Faria, assessor da Diretoria Executiva da Escola e coordenador do projeto, explica a importância do site: “À medida que o consumidor compreende o mercado de seguros, ele passa a perceber a necessidade de contratar uma apólice. O portal tem esse caráter informativo e educativo”, explica.

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OPINIÃO | ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

V Arquivo Pessoal

O mercado de seguros depois das eleições Dentro do cenário atual, independentemente de quem vença as eleições, o mercado de seguros continuará crescendo

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E este desenho é muito positivo, sob todos os aspectos. Brasil se aproxima da maior eleição de sua históCom o enriquecimento da sociedade, as demandas por ria. Nela serão eleitos deputados estaduais, depuseguros aumentam na mesma proporção da aquisição de tados federais, dois senadores por Estado, um bens e dos investimentos produtivos necessários para governador por Estado e um presidente da República, atender às necessidades da população. todos acompanhados do respectivo vice ou suplente. Além disso, a possibilidade da obtenção de signifiVença quem vencer, estas eleições modificarão bascativos ganhos patrimoniais tem como consequência tante a realidade política nacional. É sempre bom não direta o desejo de protegê-los, o que implica na contrataesquecer que está em jogo muito mais do que a Presidênção de novas apólices. cia da República. Dada a divisão dos poderes, a eleição Neste cenário, independentemente de quem vença a dos deputados e senadores tem peso tão ou mais consiseleição presidencial, não há razão para a atividade segutente do que a eleição do próximo ocupante do Palácio radora não crescer substancialdo Planalto. Compete a eles mente, aproximando-se dos fazer as leis e aprovar os atos de padrões dos países latinos mais gestão do presidente. Em outras Com o enriquecimento desenvolvidos. palavras, o poder do Congresso da sociedade, as É evidente que estes Nacional é capaz de turbinar ou demandas por seguros ganhos não são uma festa gratuidesestabilizar a gestão do Executa. Pelo contrário, as principais tivo, dependendo do viés da aumentam na mesma incertezas continuam vivas e bancada majoritária. proporção da aquisição exigindo muita atenção, estudo O Brasil que entra nesta de bens e dos e profissionalismo. O projeto de eleição é uma nação mais maduuma lei de seguros, a abertura ra, mais equilibrada e numa investimentos do resseguro, a consolidação dos situação econômico-financeira produtivos grandes conglomerados finaninédita na história. Apesar de necessários para ceiros como os principais todas as desigualdades ainda players da atividade, o desenvolexistentes, as diferenças entre os atender às vimento de novos produtos, os mais ricos e os mais pobres necessidades da microsseguros, os seguros popudiminuíram. As Classes C e D população lares e os canais de distribuição passaram a fazer parte da econodesafiam a competência de mia formal. A Classe B está solitodos os envolvidos. dificada. O país atravessa uma Mas o sucesso não depende fase raramente feliz em relação diretamente de nenhum cargo às reservas externas. E uma público. Pelo contrário, é a hora grande quantidade de obras e e a vez do mercado. Vença quem projetos assegura a continuidade vencer, se não houver uma ruptura brusca e completado ciclo por mais um bom tempo. mente inesperada, o setor de seguros continuará crescenDentro deste quadro é possível fazer um desenho do do e de forma rápida.l futuro da atividade seguradora? Surpreendentemente, é. ANTONIO PENTEADO MENDONÇA - Jornalista e especialista em seguros e previdência

42 Julho - Agosto - Setembro 2010 - Revista de Seguros - nº 874


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