Revista de Seguros Ano 90 nº 893

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ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DO MERCADO SEGURADOR

ANO 90 Nº893 ABRIL/MAIO/JUNHO DE 2015

INVESTIR EM INFRAESTRUTURA É A NOVA APOSTA PARA O CRESCIMENTO GOVERNO QUER O SETOR DE SEGUROS NA LINHA DE FRENTE DOS INVESTIDORES

Certificação Profissional da CNseg vai ajudar a abrir novas portas para o mercado, afirma o presidente Marco Antonio Rossi, em entrevista à Revista de Seguros


SUMÁRIO

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ENTREVISTA

DESAFIOS & OPORTUNIDADES

Marco Antonio Rossi fala sobre a Certificação da CNseg, que pretende acelerar o progresso profissional dos colaboradores do setor.

O pacote de concessões em infraestrutura anunciado pelo Governo pode contar com o setor de seguros no rol de investidores.

PRÊMIO INOVAÇÃO A 5ª edição do Prêmio, um nova rodada de incentivo à inovação, tem um número maior de concorrentes, acirrando a disputa final.

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SEGURO RURAL

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Além do Plano de Subvenção ao Seguro, anunciado em junho, Governo fixou em 60% o nível mínimo de cobertura sobre a produtividade estimada.

SAÚDE SUPLEMENTAR

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Pressionadas pela alta dos custos, operadoras cobram mudança de paradigma do modelo de assistência médica e hospitalar.

NOVA SEDE

A Escola Nacional de Seguros inaugura no segundo semestre a nova unidade da capital paulista, que reunirá todas as atividades administrativas e acadêmicas.

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SE LIGA!

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Promovida pela CNseg no âmbito do PNAT, campanha pretende ajudar as pessoas a mudarem seu conceito de dirigibilidade.

CAPITALIZAÇÃO

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Reservas batem recorde num momento desfavorável da economia, e bom desempenho confirma a confiança dos consumidores nos produtos.

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E Mais... 4 – Editorial; 14 – Mediação; 22 – Microsseguros; 32 – Emissões de GEE; 34 – Artigo; 36 – Estudos CNseg; EXPEDIENTE REVISTA DE SEGUROS Órgão de divulgação do mercado segurador CONSELHO EDITORIAL Ângela Cunha, Luiz Peregrino Fernandes Vieira da Cunha, José Cechin, José Ismar Alves Tôrres, Neival Rodrigues Freitas, Solange Beatriz Palheiro Mendes.

VICE-PRESIDENTES Mário José Gonzaga Petrelli Patrick Antônio Claude de Larragoiti Lucas

DIRETORES Acacio Rosa de Queiroz Filho, Alexandre Malucelli, Alfredo Lalia Neto, Edson Luis Franco, Francisco Alves de Souza, João Francisco Silveira Borges da Costa, Jorge Hilário Gouvêa Vieira, Luiz Eduardo Loureiro Veloso, Marcelo Augusto Dutra Labuto, Nilton Molina, Pedro Cláudio de Medeiros B. Bulcão, Pedro Pereira de Freitas, Thierry Marc Claude Claudon, William Alan Yates, Wilson Toneto.

DIRETOR NATO Luiz Tavares Pereira Filho

DIRETORA EXECUTIVA Solange Beatriz Palheiro Mendes

PRESIDENTE Marco Antonio Rossi 1º VICE-PRESIDENTE Jayme Brasil Garfinkel VICE-PRESIDENTES NATOS Marcio Serôa de Araujo Coriolano, Marco Antônio da Silva Barros, Osvaldo do Nascimento e Paulo Miguel Marraccini

Editora-chefe Ângela Cunha (MTb/RJ12.555) Coordenação Editorial VIA TEXTO AG. DE COMUNICAÇÃO viatexto@viatexto.com.br 21 - 2262.5215 Jornalista Responsável Vania Mezzonato – MTb 14.850 Revisão Cláudia Mara Colaboradores Bianca Rocha, Cezar Faccioli, Fernanda Thurler, Gabriel Oliven, João Maurício Rodrigues, Larissa Moraes, Marcia Alves e Maria Luisa Barros.

Fotografia Douglas Asarian, arquivo CNseg, divulgação das empresas, Shutterstock, Agência Brasil Projeto Gráfico Tapioca Comunicação Redação e Correspondência Superintendência de Comunicação – CNseg Adriana Beltrão, Claudia Mara, Rodolfo Campos e Vagner Ricardo. Rua Senador Dantas, 74/12º andar, Centro Rio de Janeiro/RJ CEP. 20031-205 Tel. (21) 2510.7777 www.cnseg.org.br E-mail: cnseg@cnseg.org.br Escritório CNseg/Brasília SCN/Quadra1/Bloco C Ed. Brasília Trade Center – sala 1607 Gráfica: Walprint Distribuição: Serviços Gerais/CNseg Periodicidade: Trimestral Circulação: 5 mil exemplares DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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EDITORIAL

INVESTIMENTO REQUER REGRAS CLARAS ÂNGELA CUNHA, Editora Executiva

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pesar da conjuntura bastante complexa e adversa, o viés do mercado segurador parece muito promissor. Essa é a impressão da matéria de capa desta edição, “Desafios e Oportunidades”, que trata da exortação do Governo para que as seguradoras se tornem players mais ativos na área de infraestrutura. O aceno para que o mercado segurador amplie seus investimentos visando reduzir os gaps logísticos partiu do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para quem os investidores institucionais — incluindo-se aí o seguro — devem ser os protagonistas do crescimento. Porém, a participação crescente dos investidores institucionais está condicionada a um marco regulatório que não coloque em riscos as reservas acumuladas pelas seguradoras para proteger os bens segurados e repô-los, quando da ocorrência de sinistros. Ou seja, regras claras para remunerar os capitais aplicados nos fundos para infraestrutura. O fato é que há um cenário positivo não só para os investimentos em títulos atrelados à infraestrutura, mas também para a criação de produtos mais robustos para amparar os riscos dos empreendimentos em rodovias, portos, ferrovias, aeroportos, exploração e produção de petróleo e gás. A retomada dos negócios de grandes riscos representa não só capitais segurados vultosos, mas também a movimentação de milhões de prêmios, sem falar em desafios e acuidade na área de subscrição.

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DESTAQUE Fora a infraestrutura, algo que ajuda o Brasil a continuar no foco das seguradoras estrangeiras (leia a reportagem ‘Fusão e Aquisição’ nas págs. 14 e 15), por ser o País a porta de entrada para a consolidação dos grupos internacionais na América Latina, outras ações paralelas colaboram para reforçar as perspectivas positivas. Como por exemplo a iniciativa da CNseg de promover a certificação dos profissionais do mercado, o CPC. Como ocorre em mercados maduros de seguros, a certificação é um passaporte para ter profissionais mais bem preparados para contribuir para o crescimento de seguros e os desafios futuros, explica o presidente da CNseg, Marco Antonio Rossi, na entrevista desta edição. O primeiro exame ocorrerá em outubro pela Escola Nacional de Seguros. O Prêmio Inovação, aquele que reúne as principais soluções inovadoras voltadas para o mercado, chega à 5ª edição, com modificações que acirram a disputa pelas primeiras colocações. Esta edição traz ainda matéria sobre os impactos da chamada inflação médica no segmento de Saúde Suplementar, o recorde nas reservas técnicas acumuladas pelo segmento, superior a R$ 30 bilhões, e a boa notícia no Seguro Rural, com a promessa de pagamento da safra anterior, ainda que sinalize com menos recursos para novos negócios. Boa leitura!

Executivos de mercado, autoridades de supervisão e stakeholders, entre outros participantes, terão uma oportunidade de debater os temas mais sensíveis, estratégicos e palpitantes da indústria de seguros em setembro, quando será realizada a 7ª Conseguro, de 15 a 17 de setembro, no World Trade Center de São Paulo. A inovação importante nesta edição do evento será a incorporação de quatro outros tradicionais eventos do setor para ampliar a discussão sobre as dúvidas para o crescimento sustentado. O 4º Encontro Nacional de Atuários - ENA, por exemplo, quer identificar os principais fatores que podem afetar os resultados das seguradoras; a 5ª Conferência de Proteção do Consumidor de Seguros, as inovações no campo da relação de consumo; o IX Seminário de Controles Internos & Compliance, se sua empresa está preparada para identificar e mitigar seus riscos; ao passo que o Seminário de Riscos Especiais visa listar os prejuízos potenciais causados pelas mudanças climáticas. Os temas de debate falam direto ao futuro do mercado, incluindose aí as megatendências do setor, as novas oportunidades e riscos, como o da longevidade.


ENTREVISTA

UM DIPLOMA PARA RECONHECER MÉRITOS E COMPETÊNCIAS Divulgação

Por MÁRCIA ALVES

Vale registrar que no Brasil a certificação profissional era uma demanda dos próprios colaboradores, que almejavam um diploma que os equiparasse aos melhores profissionais do mundo. Marco Antonio Rossi

P

rofissionais que reúnam as competências para exercer posições de liderança no mercado segurador poderão ter seus méritos reconhecidos pela Certificação Profissional CNseg - CPC. A diplomação foi criada pela Confederação com o objetivo de acelerar o progresso profissional dos colaboradores do setor e de sistematizar o conhecimento específico em seguros. A CPC iniciará nas capitais de São Paulo e Rio de

Janeiro, onde os candidatos serão submetidos a exame aplicado pela Escola Nacional de Seguros, no dia 21 de outubro. A avaliação será abrangente e envolverá conhecimentos específicos em cinco disciplinas, que compreendem desde os princípios técnicos, legais e normativos de Danos e de Pessoas, além de Previdência Complementar Aberta, Saúde Suplementar e Capitalização, Ética, Controles

Internos, entre outros. Segundo o presidente da CNseg, Marco Antonio Rossi, a CPC foi estruturada em torno de competências, em vez de funções específicas, não apenas para reconhecer as habilidades dos profissionais brasileiros, como também para elevá-los ao patamar de mercados desenvolvidos, onde a certificação profissional é utilizada para identificar competências e alavancar carreiras.

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ENTREVISTA A seguir, Marco Rossi explica por que a CPC será um marco na qualificação do setor de seguros. Por que a CNseg assumiu a missão de certificar os profissionais do mercado segurador? Primeiramente, porque é nosso compromisso institucional estimular e oferecer meios para elevar a qualificação dos profissionais do setor de seguros. Diante da dinâmica e complexidade do seguro, o conhecimento e a prática serão os principais instrumentos para enfrentarmos as demandas do futuro. Nosso foco é aprimorar as qualificações dos recursos humanos do setor, não apenas para que as empresas de seguros obtenham melhor desempenho em sua atividade, como também para reconhecer formalmente a capacidade e o mérito de profissionais talentosos. Como a CPC poderá alinhar o País a mercados mais desenvolvidos? O mercado de seguros brasileiro não teria avançado tanto nos últimos anos se não contasse com profissionais bem preparados e com excelente nível de conhecimento. Inclusive, no âmbito da formação e qualificação profissional o setor evoluiu bastante, com ampla oferta de cursos, desde técnicos até os de nível superior, incluindo os de pós-graduação e mestrado. Porém, faltava a essa importante força de trabalho o reconhecimento de seu mérito e competência, por meio de uma certificação profissional em nível com os profissionais de mercados amadurecidos. No Reino Unido, por exemplo, o mercado de seguros dispõe de um órgão, o Chartered Insurance Institute - CII, com a finalida-

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de exclusiva de certificar os profissionais em vários níveis de competência e em atividades gerais e específicas. Também os Estados Unidos possuem várias entidades, entre elas, o The Institutes, que oferece programas de formação e certificação profissional reconhecidos em todo o mundo. Vale registrar que no Brasil a certificação profissional era uma demanda dos próprios colaboradores, que almejavam um diploma que os equiparasse aos melhores do mundo. O que muda na vida do profissional que obtiver a CPC? O primeiro ganho será seu próprio desenvolvimento pessoal, seguido do reconhecimento, tanto em sua empresa, como também no mercado. Um profissional certificado terá mais chances de empregabilidade e condições de ascender na carreira. Em outros países, a certificação é como passaporte para os que aspiram ingressar no mercado de seguros. Para os profissionais que já atuam na área e desejam galgar novos cargos, a certificação não apenas os prepara como valida seus conhecimentos. A CPC poderá amenizar o problema da falta de mão de obra qualificada? Não diria que falta mão de obra qualificada. Talvez, em segmentos específicos, como o de Resseguro, onde a oferta é maior que a procura, em virtude do pouco tempo de existência do mercado aberto. Mas, sob outro ponto de vista, considero que a demanda por profissionais qualificados está aquecida. Recentemente, uma consultoria de recrutamento mapeou os ramos que tendem a remunerar melhor os seus profissionais


Divulgação

neste ano, destacando o seguro entre as atividades mais valorizadas, com aumentos salariais de até 17%, enquanto as perspectivas econômicas indicam baixo crescimento. Portanto, a CPC seria um instrumento essencial para estimular o aperfeiçoamento profissional e, ainda, atrair novos talentos para o setor. Então, atrair novos talentos é um dos propósitos? Sim, porque a CPC não é voltada apenas aos profissionais que atuam no setor de seguros. Outros profissionais que tenham alguma afinidade, interesse ou atuem indiretamente no mercado, por meio de prestação de serviços, por exemplo, também poderão obter a certificação. Gerentes de riscos, advogados, peritos, corretores de seguros e outras categorias são candidatos naturais à certificação. Muitos detêm conhecimento e prática, mas não o reconhecimento devido. Para estes, a CPC representará uma conquista e a validação de sua capacidade, abrindo novas portas no mercado. A CPC poderia substituir, futuramente, a certificação técnica ou os propósitos são distintos? Sim, os propósitos são distintos e, portanto, uma não substituirá a outra. A certificação técnica foi criada pelo órgão regulador no intuito de aperfeiçoar a capacidade técnica dos profissionais do setor. Para tanto, a autarquia editou um conjunto de normas - a Resolução CNSP nº 115/2004 e a Circular Susep nº 290/2005 -, que uniformizou as condições mínimas para a certificação técnica de profissionais que atuam nas áreas de Regulação e Liquidação

constituído por questões de múltipla escolha em cinco disciplinas, com pesos diferenciados. O candidato deverá atingir a média global de sete, de acordo com a grade e pesos estabelecidos.

Muitos detêm conhecimento e prática, mas não o reconhecimento devido. Para estes, a CPC representará uma conquista e a validação de sua capacidade, abrindo novas portas no mercado. Marco Antonio Rossi

de Sinistros de Auto e Residencial, Atendimento ao Público, Controles Internos e Venda Direta. Inclusive, a CNseg é uma entidade certificadora técnica, desde 2008, e a FenaPrevi, desde 2007. Qual o público-alvo e quais os critérios para se obter a certificação? A CPC é destinada a profissionais que atuem ou queiram atuar no mercado de seguros, com potencial para desempenhar cargos superiores nas empresas e instituições do mercado. Para obter a certificação profissional, os candidatos devem ser aprovados em exame presencial. No caso da CPC, o nível de conhecimento exigido é amplo, abrangendo o segmento de Seguros Gerais, Capitalização, Previdência Complementar Aberta e Saúde Suplementar. Já o exame será

Como os candidatos poderão se preparar o exame do CPC? Para facilitar os estudos, a Escola Nacional de Seguros disponibilizará gratuitamente material de apoio baseado em publicações sobre os assuntos abordados. A bibliografia recomendada contempla a legislação vigente, como resoluções e circulares da Susep, leis e decretos e publicações atualizadas. Como os interessados podem ser inscrever? O primeiro exame será realizado no dia 21 de outubro, nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. O exame será presencial, na parte da manhã, em local a ser confirmado. A taxa de inscrição será de R$ 200,00 (para pessoas físicas), com desconto para inscrições feitas pelas empresas empregadoras. As inscrições podem ser realizadas pelos próprios profissionais ou por suas respectivas empresas, entre os dias 17 de agosto e 18 de setembro, pelo site da Escola. O Programa CPC atingirá outros estados? Sim, este é um objetivo. Em 2016, a CNseg e a Escola Nacional de Seguros já se organizam para o lançamento do curso preparatório (opcional), primeiramente em formato presencial e, posteriormente, em formato EaD (ensino a distância). Disponibilidade de tempo e dificuldade de deslocamento não serão empecilhos para quem deseja obter a certificação profissional.

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DESAFIOS & OPORTUNIDADES Arquivo CNseg

Principais lideranças do mercado segurador mundial prestigiaram encontro de Londres

INFRAESTRUTURA NA MIRA DAS SEGURADORAS Por FERNANDA THURLER

Decisão do mercado de se tornar parceiro dos investimentos vai depender da qualidade dos projetos e de detalhes que garantam a redução dos riscos.

O

O pacote de concessões em infraestrutura anunciado pelo Governo no início de junho poderá contar com o setor de seguros como um novo player no rol de investidores. Tudo vai depender da melhoria da qualidade dos projetos e de minúcias que levem à redução dos riscos do investimento, segundo afirma o presidente da FenaPrevi, Osvaldo do Nascimento. Para ele, os estudos de factibilidade dos projetos de infraestrutura não são suficientemente completos, o que compromete a remuneração do capital, tornando-os pouco atrativos para os investidores privados.

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Junto com fundos de pensão, as seguradoras são os maiores investidores institucionais do País, respondendo por ativos de R$ 460 bilhões – valores referentes ao primeiro trimestre deste ano e que representam uma evolução de 20% em relação ao mesmo período de 2014. Hoje mais de 90% dos recursos estão aplicados em títulos públicos do Governo Federal e o restante está em ações e títulos privados. De acordo com o executivo, do ponto de vista regulatório, não existem restrições à mudança no portfólio de aplicações, de modo que o

setor de seguros possa contribuir, crescentemente, na condição de investidor institucional, para eliminar os gaps na infraestrutura do País. “Mas tem que haver maior garantia de retorno. As seguradoras têm como principal missão entregar aos clientes aquilo que eles adquirem: se compram uma apólice de seguro ou investem em previdência, querem o retorno compatível com o risco assumido. Então, a indústria de seguros vai investir em projetos de infraestrutura à medida que forem compatíveis com suas necessidades de remuneração do capital”, pondera. APOSTA DO GOVERNO A proposta do setor de investir em projetos de longo prazo está em linha com o pensamento do Governo de Dilma Rousseff e contempla os planos do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de incentivar o desenvolvimento do seguro para sua utilização como instrumento de auxílio à política macroeconômica. Para tentar recolocar a economia brasileira nos eixos, o ministro


negocia a aprovação das medidas de ajuste fiscal no Congresso e está envolvido na modelagem de um novo programa de concessões de rodovias, portos, aeroportos, telecomunicações, energia e outros projetos de infraestrutura. Com recursos estimados em R$ 611 bilhões, os investimentos na área de infraestrutura são a grande aposta do Governo para a retomada do crescimento econômico a partir de 2016. O primeiro passo foi dado no início de junho com o lançamento do Programa de Investimento em Logística - PIL, que vai mobilizar R$ 198,4 bilhões na concessão de estradas, portos e ferrovias e aeroportos. O BNDES deverá participar como financiador do pacote de novas concessões, mas o ministro vem sinalizando claramente a necessidade de financiamentos privados para cumprir a agenda de investimentos. “O papel do Governo para estimular o crescimento é criar condições para o setor privado cumprir seu papel de desenvolver a economia”, declara Levy. ENCONTRO EM LONDRES

Arquivo CNseg

No encontro realizado no início de maio, em Londres, sobre oportunidades na

infraestrutura brasileira, o ministro direcionou sua mensagem não aos investidores estrangeiros e às lideranças do mercado segurador brasileiro e executivos de alguns dos principais bancos nacionais presentes à reunião.

Participaram do encontro cerca de 60 pessoas, entre eles, o embaixador do Reino Unido no Brasil, Alexis Ellis, o embaixador do Brasil no Reino Unido, Roberto Jaguaribe, e o presidente do Lloyd’s em Londres, John Nelson.

“O mundo está buscando títulos de infraestrutura, e os investidores institucionais têm essa oportunidade de alocar uma quantidade enorme de recursos nessa classe de ativos para ajudar a acelerar a recuperação da economia brasileira. Projetos bem planejados, apoiados por uma legislação regulatória apropriada, podem tornar esses títulos muito atrativos”, disse o ministro na ocasião.

CONTRIBUIÇÃO ESSENCIAL

Presente no encontro, o presidente da FenaPrevi, que representou o presidente da CNseg, Marco Antonio Rossi (que não pode participar por motivo de força maior), avalia que as propostas apresentadas foram animadoras. “O ministro fez um discurso otimista sobre o Brasil, garantiu que o País é um destino confiável para a aplicações de longo prazo. Argumentou ainda que o Governo trabalha para dar condições ao setor privado para investir no País, com o esforço de simplificar o sistema tributário, reorganizar o panorama fiscal e estimular investimentos por meio de concessões”, diz Osvaldo do Nascimento.

O papel do Governo para estimular o crescimento econômico é o de criar as condições necessárias para o setor privado cumprir seu papel de desenvolver a economia. Joaquim Levy

A maior participação no financiamento dos projetos de longo prazo pelo setor privado, especialmente do mercado de capitais e em particular das seguradoras, também é defendida pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Durante palestra num seminário sobre crédito internacional em maio, no Ministério do Planejamento, ele disse que a contribuição das seguradoras é essencial, principalmente na elaboração dos projetos de infraestrutura e logística, com a criação de mecanismos para garantir maior proteção aos debenturistas durante a fase de construção das obras. Como nessa etapa existem mais riscos envolvidos, Coutinho propõe que haja uma cobertura de liquidez para o debenturista durante eventual período de interrupção e algum tipo de suporte de liquidez para que o projeto se complete. A ideia seria “desenhar apólices mais adequadas ao tipo de risco da fase de construção de projetos”. Mas Osvaldo do Nascimento ressalta que o problema central da atração dos investidores e financiadores privados está na qualidade dos projetos. “Não é o caso de atrair o investimento para depois pensar no desenvolvimento dos projetos. É preciso priorizar a qualificação dos técnicos responsáveis pelos projetos, que devem ser economicamente viáveis, com custos compatíveis que garantam o retorno financeiro proposto”, afirma. No passado, alguns projetos de infraestrutura foram iniciados sem a conclusão do projeto executivo, o que exigiu do investidor desembolsos além do previsto inicialmente.

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DESAFIOS & OPORTUNIDADES Arquivo CNseg

ria: para as garantias de concorrência, o limite passaria de 1% para 5%; para o caso de obras comuns, de 5% para 30%; e para as obras de alta complexidade, de 10% para 45%. A lei ainda não foi modificada, mas a instituição do Regime Diferenciado de Compras - RDC, em 2011, vem possibilitando o ajuste de alguns contratos. No mercado norte-americano, as garantias chegam a 100% do risco e, na Europa, a 30.

PROJETOS BEM ELABORADOS

Comitiva em Londres (da esq./para dir.): Alexandre Malucelli (J Malucelli Seguradora), Alfredo Lalia Neto (HSBC Seguros), Marco Barros (FenaCap), Roberto Westenberger (Susep), Solange Beatriz Palheiro Mendes (CNseg), Marcio Serôa Coriolano (FenaSaúde), Osvaldo do Nascimento (FenaPrevi), Paulo Marraccini (FenSeg), João Francisco Borges da Costa (HDI Seguros), Vinícius Albernaz (Bradesco Seguros), Maria Elena Bidino (CNseg) e Yael Chen (Lloyd’s de Londres)

“E isso também se aplica à elaboração dos contratos de garantia. Como é que as seguradoras vão garantir algo que não foi devidamente quantificado?”, questiona o executivo, acrescentando que todos esperam do Governo a definição de uma “agenda de mitigação de riscos” relacionados aos projetos. “No caso dos seguros, isso se aplica a seu papel de investidor institucional e também de formulador do contrato de garantida das obras de infraestrutura licitadas pelo poder público”, complementa. No que depender do ministro da Fazenda, não há motivos para maiores apreensões por parte do setor. “O Governo vai mitigar riscos da participação do setor de seguro e isso reflete o nível de sofisticação que nossa economia já tem”, afirmou o ministro Levy, por ocasião do lançamento do PIL. Isso por que, no caso dos contratos de Garantia, principal modalidade utilizada na licitação de obras públicas, a companhia de seguros atua como fiadora e

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responde pelo pagamento do credor em caso de impossibilidade ou insolvência. Ou seja, o risco da seguradora está na inadimplência contratual do tomador. O presidente da Comissão de Crédito e Garantia da FenSeg e diretor do Grupo Segurador BBMapfre Gerais, Rogério Vergara, declarou ao jornal Valor Econômico que os limites de garantias para as coberturas nas licitações e contratos da Administração Pública (Lei nº 8.666/93) são desencorajadores. “A garantia hoje existente é pouca para os riscos envolvidos nos projetos e isso gera certo desinteresse das seguradoras em participar de grandes obras licitadas”, pondera o executivo, acrescentando que esse percentual não é suficiente nem para cobrir as multas por quebra contratual. A proposta de equiparação da lei aos limites já praticados no mercado (nos contratos com o setor privado, os percentuais de garantia variam entre 40% e 60%) foi encaminhada ao Congresso Nacional por meio de Medida Provisó-

A falta de qualidade dos projetos de infraestrutura no Brasil também é considerada pelo Banco Mundial - BIRD, como um dos obstáculos ao financiamento das obras. Durante o seminário sobre Financiamento para o Desenvolvimento, promovido pelo Ministério do Planejamento, em maio, a diretora da instituição para o Brasil, Deborah Wetzel, afirmou que existe um grande volume de recursos à procura de ativos de longo prazo que assegurem um ganho regular, mas esses valores buscam projetos bem elaborados, que reduzam os riscos do investimento. Justamente para reduzir os riscos na construção, o Ministério da Fazenda firmou recentemente um convênio de US$ 1,5 milhão com o BIRD, para apoiar estudos e ações destinados a impulsionar o investimento privado em infraestrutura no Brasil. Segundo a Fazenda, a proposta é desenvolver ações para ampliar o acesso ao mercado global de debêntures de infraestrutura (título privado com rendimentos atrelados a projetos na área). A pasta anunciou ainda que está sendo estudado o estímulo a outros instrumentos privados de captação de recursos, seja em moeda local ou estrangeira. Os estudos analisarão as melhores práticas internacionais e buscarão meios de diminuir os riscos dos projetos, inclusive com mudanças no marco regulatório (legislação que regula os contratos).


INTERESSE ESTRANGEIRO FenaPrevi

ESTRANGEIRAS ESTÃO DE OLHO NO MERCADO BRASILEIRO Novos players consideram Brasil estratégico para consolidação dos negócios na América Latina.

C A grande questão das companhias estrangeiras é como viabilizar a distribuição no País. Osvaldo do Nascimento

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om um nível de evolução nos negócios acima do crescimento do PIB nos últimos anos (mais de 10%), o setor de seguros não só chamou a atenção do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, durante o evento realizado, em Londres, para a apresentação das oportunidades de investimentos de longo prazo no Brasil. Presentes na plateia como investidores institucionais, as seguradoras e as resseguradoras estrangeiras demonstraram particular interesse pelo mercado segurador brasileiro, informa o presidente da FenaPrevi, Osvaldo do Nascimento.

Roberto Westenberger, que estava presente ao evento”, disse. O executivo ressaltou ainda que a apresentação dos projetos em estudo para a melhor adequação das regras ao desenvolvimento do mercado foi importante para a percepção, por parte dos investidores, de que a autarquia vem atuando no marco regulatório de forma muito parecida aos órgãos de regulação da Europa.

Os questionamentos específicos sobre a indústria partiram tanto dos grandes competidores internacionais que já operam no País, quanto de novos players, para os quais a entrada no mercado brasileiro pode representar a consolidação dos negócios na América Latina. No primeiro caso, segundo o executivo, estão as resseguradoras que têm expectativa de aumentar sua participação no setor, atualmente restrita a 20%.

Na sua opinião, os grandes players do mercado internacional aparentaram não ter dúvidas sobre a potência que é o Brasil no que diz respeito à geração de negócios, especialmente no mercado de seguros. O maior questionamento sobre a alocação dos recursos, pondera ele, fica por conta da condução da política econômica e sobre as possibilidades de efetivação do ajuste fiscal e, por conseguinte, do equilíbrio dos gastos públicos. “Mas, nesse ponto, a explanação do ministro Levy foi irretocável e tudo vai depender da perseverança do País em perseguir suas metas”.

MARCO REGULATÓRIO

AMPLIANDO NEGÓCIOS

O presidente da FenaPrevi revela que, na ocasião, as perguntas em quase sua totalidade se referiram ao marco regulatório do setor. “Questões que foram respondidas de forma satisfatória pelo superintendente da Susep,

Uma vez que o Brasil continua oferecendo oportunidades atraentes de crescimento a longo prazo, avalia o executivo, é natural que participantes estrangeiros de destaque continuem demonstrando interesse em entrar


DESEMPENHO DO MERCADO EXPLICA INTERESSE

Carolina Braga/CNC

Juliana Serapio: “É importante encontrar diferenciais no atendimento para tornar, por exemplo, a relação empresa e cliente mais fortalecida.”

O entusiasmo das empresas internacionais com o mercado brasileiro é explicado pelos números: a despeito dos prognósticos de desaceleração do consumo e do quadro recessivo, o mercado de seguros continua mantendo o crescimento na casa dos dois dígitos e registrou 16,2% (dados da CNseg) somente nos primeiros três meses deste ano, em comparação a igual período de 2014. No trimestre, a economia brasileira teve queda de 0,2%, puxada pelo desempenho negativo do setor de serviços e da indústria e pelo recuo do consumo das famílias e dos investimentos, segundo o IBGE. O presidente da FenaCap, Marcos Barros, diz que o bom desempenho do setor pode ser

ou ampliar seus negócios por aqui. E quanto à indústria de seguros, a interpretação dos investidores é que o setor ainda não atingiu o patamar de outros mercados e, por isso, tem pela frente muito espaço para crescer.

explicado, entre outros fatores, pela maior familiarização do brasileiro com os produtos da indústria de seguros. “O aumento da renda levou as pessoas a se preocuparem mais com a prevenção do patrimônio e a formação de poupança”. Segundo ele, as pessoas não deixam de demandar segurança. Ao contrário, no momento de crise econômica, aumenta o conceito de necessidade de proteção. “Isso sem falar nos esforços da indústria na busca por novas soluções de serviços e produtos”, acrescenta. A opinião é partilhada pela economista Juliana Serapio, da Confederação Nacional do Comércio - CNC. “É importante encontrar diferenciais no atendi-

operam com previdência, foi levantada essa questão da necessidade de criar condições do ponto de vista regulatório, para que os

mento para tornar, por exemplo, a relação empresa e cliente mais fortalecida. Num cenário de constantes mudanças, as reações do varejo devem ser cada vez mais rápidas e os modelos de negócio, construídos com base em processos flexíveis”. Para a economista, os principais motivadores do desaquecimento do consumo são a desaceleração do mercado de trabalho, as altas taxas de juros ao consumidor e o comprometimento do orçamento das famílias com o reajuste das tarifas e a inflação. “As condições de consumo no Brasil estão muito deterioradas e essa é a perspectiva geral para todas as classes sociais. O ano será muito fraco para o varejo”, analisa.

grupos internacionais possam aumentar seus investimentos no setor”. (FT)

No caso das seguradoras, os principais desafios podem ser a concentração mercadológica, complexidades na distribuição e modelos de corretagem. “A grande questão das companhias estrangeiras é como viabilizar a distribuição no País”, explica. Mas, também nesse ponto, Nascimento volta a lembrar que o Brasil vem buscando ativamente incorporar os desenvolvimentos globais à regulamentação local. “Podemos chegar a um marco regulatório que melhore a distribuição por canais eletrônicos, via corretores ou agência. Como estávamos tratando com seguradoras do ramo Vida, que

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FUSÃO E AQUISIÇÃO

Apesar do cenário conservador, aprovação da lei que autoriza participação de estrangeiros no capital de empresas da área de saúde deve impulsionar o setor de seguros.

AMBIENTE DE RISCO A expectativa de desaceleração do mercado de fusões e aquisições Divulgação KPMG

SOLVÊNCIA DO MERCADO DESPERTA APETITE DE INVESTIDORES

fiquem abaixo do nível de recuperação observado depois da significativa queda de 2012, quando o número de operações foi um pouco mais da metade do registrado no ano anterior: 16 contra 31, em 2011.

A

abertura do setor de saúde ao investimento estrangeiro poderá representar um significativo impulso ao movimento de fusão e aquisição de empresas no setor de seguros. A avaliação é da sócia líder de Seguros da KPMG no Brasil, Luciene Teixeira Magalhães, que trabalha este ano com um cenário mais conservador no que diz respeito às atividades de fusão e aquisição entre as empresas de seguros, a não ser pelos desdobramentos da aprovação em janeiro passado da Lei 13.097, que autorizou a participação de investidores estrangeiros no capital (inclusive o controle) de empresas da área de saúde em diversos setores, como hospitais e clínicas. De acordo com levantamento realizado pela KPMG, no primeiro trimestre de 2015 foram registradas apenas duas operações, contra um total de 21 transações realizadas em 2014, e outras 20, em 2013. Com isso, a previsão é que as atividades de fusões e aquisições no setor este ano

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O Brasil continua sendo foco de investimentos de empresas estrangeiras, que identificam nesse momento ‘uma janela’ para a realização de bons negócios a preços competitivos. Luís Motta


Divulgação KPMG

em 2015 não diz respeito apenas à indústria de seguros e engloba, em menor ou maior grau, os demais setores da economia, afirma Luís Motta, também sócio líder da área na KPMG. “O ambiente no Brasil para as transações é de maior risco. Com a incerteza sobre às perspectivas macroeconômicas e regulatórias, o investidor assume uma posição de mais cautela na avaliação de negócios de aprimoramento de valor. Quanto maior o risco, menor o preço ofertado e maior o retorno desejado”, avalia. O executivo adverte, no entanto, que o cenário não é de ruptura – e que alguns aspectos da conjuntura econômica do País são favoráveis, como, por exemplo, o ajuste fiscal proposto pelo Governo, visando ao corte das próprias despesas e ao aumento da arrecadação pela elevação de impostos e outras receitas. Principalmente no que diz respeito à maior atração do capital internacional, argumenta Luís Motta. “O Brasil continua sendo um foco de investimentos de empresas estrangeiras, que identificam nesse momento ‘uma janela’ para a realização de bons negócios a preços competitivos”. Luciene Magalhães reitera que o mercado brasileiro de seguros continua oferecendo oportunidades atraentes de crescimento a longo prazo, de forma que participantes estrangeiros de destaque vêm demonstrando interesse em entrar ou ampliar seus negócios por aqui. “O setor de seguros no Brasil vem apresentando um crescimento consistente e significativo nos últimos dez anos, sempre acima do crescimento do PIB. Apesar das pressões

econômicas ao longo dos últimos anos sobre outros segmentos da economia, o seguro ainda não foi afetado de maneira significativa”. Ela destaca que, apesar de ter ganhado nos últimos anos maior relevância na formação do PIB Brasileiro, a participação do setor ainda é pouco representativa se comparada à observada em economias, como as do Chile, Portugal, Bélgica e Estados Unidos. “Mas, do ponto de vista do investidor internacional, o fato é considerado positivo, porque revela uma oportunidade relevante de crescimento e fortalecimento”, analisa. EVOLUÇÃO DOS PREÇOS A esse fator, soma-se ainda o retorno positivo obtido pelos compradores no longo prazo, como demonstra a análise da evolução dos preços das ações das seguradoras envolvidas em uma fusão ou aquisição na última década. “Trata-se de um mercado solvente, bem regulado, com oferta de produtos sofisticados, que de fato resguardam o patrimônio de quem busca proteção”, afirma. Na avaliação da executiva, os principais desafios aos novos entrantes podem ser: concentração mercadológica, complexidades na distribuição e modelos de corretagem. “Pois no aspecto regulamentar, o Brasil busca ativamente se moldar e incorporar os desenvolvimentos globais na regulamentação local”, pondera Luciene Magalhães. Com relação ao impacto sobre o setor de seguros da abertura do capital das empresas da área de saúde ao investimento estrangeiro, a sócia da KPMG prefere não fazer projeções financeiras. Mas garante que a medida

O setor de seguros no Brasil vem crescendo de forma consistente nos últimos dez anos, acima do PIB. Apesar das pressões econômicas, o setor ainda não foi afetado de maneira significativa. Luciene Magalhães

beneficiará de forma significativa as operações de fusão e aquisição de companhias de seguros. “O mercado brasileiro precisa desse aporte de recursos, tanto na saúde pública como na privada, e o investidor estrangeiro tem apetite para realizar investimentos nos volumes demandados. Agora, o que de fato vai representar para o setor de seguros em termos de consolidação do crescimento vai depender de como essas transações serão configuradas. Mas o mercado traz boas práticas e algumas seguradoras já fazem negócios com esses players”. (FT)

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FRANQUIAS

Divulgação ABF

CRISE PASSA AO LARGO DO SETOR DE FRANCHISING

A natureza de rede e a constante capacitação técnica e motivacional de franchising ajudam o setor a atravessar bem o atual cenário. Cristina Franco

Na década de 2003 a 2013, o número de franquias aumentou 398% e intensificaram-se as parcerias com o mercado segurador.

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indústria de franchising no Brasil vem crescendo em níveis superiores à evolução do PIB: a expectativa é crescer entre 7,5% e 9%, com previsão de aumento de marcas de 8% e de expansão de novas unidades de 9% a 10%. Segundo o relatório Focus, divulgado pelo Banco Central no início de junho, economistas do mercado financeiro trabalham com uma retração da economia de 1,3% este ano, o que será o pior resultado em 25 anos, se confirmada. Mas, a contar dos resultados apurados no primeiro trimestre deste ano, a crise econômica vem passando ao largo das atividades de franquia realizadas no País. Foram R$ 31,3 bilhões de faturamento entre janeiro e março, contra R$ 28,7 bilhões do mesmo período de 2014. RESILIÊNCIA DO SETOR Na avaliação de Cristina Franco, presidente da Associação Brasileira de Franchising -ABF, os números são um forte indicativo da resiliência do setor, que, mesmo num período mais difícil, conseguiu ter bom desempenho. “A natureza de rede e a constante capacitação técnica e motivacional de franchising ajuda-

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ram o setor a atravessar bem o atual cenário”, diz ela. A executiva atribui tal desempenho à abertura de novas lojas (mesmo em ritmo menor), à manutenção em níveis relevantes do emprego e da renda e às mudanças comportamentais observadas no Brasil de alguns anos para cá, como melhor qualificação profissional, a necessidade de se alimentar fora do lar e a maior presença da mulher no mercado de trabalho. “Certas conquistas da estabilidade econômica não devem regredir. E não podemos esquecer que o Brasil continua forte em áreas como o agronegócio e, onde há renda, há espaço para franchising”, ressalta Cristina. Atualmente 128.809 empresas operam no Brasil pelo sistema. Mas nem sempre foi assim. Em apenas uma década, o número de franquias saltou 398%, passando de 56 mil para 114 mil (período de 2003 a 2013). Desde então, intensificaram-se as parcerias com o mercado segurador. PROTEÇÃO DO SEGURO Segundo o diretor presidente da ABF Rio, Beto Filho, como um negócio que envolve diversos riscos, o sistema


de franquias espera compartilhar ou minimizar sua exposição a eles, contratando a proteção de um seguro. “O setor espera que o mercado segurador acompanhe seu crescimento, oferecendo cada vez mais soluções de seguros que se adaptem às especificidades de franchising”, afirma. O executivo explica que a demanda do produto seguro pelo setor se diferencia entre franqueados e franqueador. Os donos de franquias contratam seguros relativos a pequenas e médias empresas, como incêndio, roubo e danos elétricos, protegendo seu ponto comercial de prejuízos inesperados. Já os franqueadores, detentores da marca e do conhecimento que são repassados aos franqueados, também contratam os seguros empresariais básicos, além de alguns de responsabilidade civil e de proteções financeiras. “O seguro contratado varia de acordo com o porte da operação, uma vez que no mercado de franquias há também multinacionais e empresas de capital aberto”, diz Beto Filho. Ele destaca ainda alguns acordos de operação firmados entre franqueados e seguradoras para a formatação de contratos específicos para redes. “A marca estende a cobertura a seus franqueados à medida que eles ingressam na rede”.

“Outros prestadores de serviços do mercado de seguros, como TI, poderiam adotar este modelo para acelerar sua expansão”, acrescenta Beto Filho. SEGMENTOS EM EXPANSÃO De acordo com a Pesquisa de Desempenho Trimestral de Franchising da ABF, os segmentos de franchising que mais cresceram no período foram: Alimentação e Esporte; Saúde, Beleza e Lazer, ambos com uma expansão do faturamento da ordem de 14%; Comunicação, Informática e Eletrônicos, com 11%. Nos três primeiros meses do ano, foram abertas 3,7% novas lojas e fechadas 1,1%, ficando o mercado com um saldo positivo de 2,5% de novas unidades. Em número de lojas, os segmentos que mais cresceram foram Acessórios Pessoais e Calçados (14%) e Comunicação, Informática e Eletrônicos (13%).

O diretor de inteligência de mercado da ABF, Claudio Tieghi, explica que em um momento menos favorável economicamente, segmentos mais tradicionais como Alimentação e Esporte; e Saúde, Beleza e Lazer tendem a se fortalecer, pois refletem mudanças comportamentais da sociedade mais consolidadas, como o bem-estar e as facilidades cotidianas. Já os segmentos de Comunicação, Informática e Eletrônicos refletem a crescente digitalização da sociedade, gerando oportunidades na venda de produtos, consultoria, assistência técnica e outros serviços. “Numericamente, embora o shopping seja fundamental para o mercado de franquias, a loja de rua vem ganhando importância. Notamos também que há um grande espaço para o crescimento de operações de e-commerce e/ou multicanal no mercado de franchising”, conclui. (FT)

Na sua avaliação, a franquia pode ser uma maneira eficiente de se acelerar a expansão de corretoras de seguros a um custo competitivo e mantendo uma maior unidade na prestação de serviço.

Divulgação ABF-Rio

Na outra ponta da parceria, estão as empresas de corretagem, que vêm ampliando sua atuação por meio do sistema de franchising. Beto Filho lembra que, dada à regulamentação do setor de seguros, não há franquias no Brasil que operem como seguradoras. Mas há corretoras de seguros que optaram por crescer via franquias e estão se expandindo com velocidade.

Beto Filho: “O setor espera que o mercado segurador acompanhe seu crescimento, oferecendo soluções de seguros que se adaptem às especificidades de franchising.”

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ENERGIA

Divulgação JLT

UM NOVO CICLO DE NEGÓCIOS PARA GRANDES RISCOS A retomada dos investimentos na área de exploração de petróleo e gás leva mercado a se preparar para oferecer seguros adequados aos riscos do setor.

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A próxima rodada de leilões vai oferecer blocos exploratórios em dez bacias sedimentadas, divididas entre onshore e offshore. Luiz Eduardo Duque Dutra

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realização da 13ª rodada de concessão de áreas de exploração e produção de petróleo e gás, que prevê o leilão de 266 blocos e a arrecadação de até R$ 2,5 bilhões em bônus de assinatura, inaugura um novo ciclo de negócios para a carteira de Grandes Riscos do setor de seguros. O evento faz parte do Plano Nacional de Energia e deverá ocorrer em outubro, conforme anunciou no início de junho o ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga. A expectativa é de que haja grande movimentação de recursos pela indústria de petróleo e gás, principalmente em razão dos investimentos estrangeiros, o que representará um significativo aumento da demanda pelos contratos de proteção aos riscos das operadoras. Desde a fase de licitações da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível - ANP, até o desenvolvimento dos poços de petróleo e gás (182 localizados em bacias terrestres e 84 em bacias marítimas), as empresas buscarão alternativas para o gerenciamento e mitigação de seus riscos operacionais e financeiros. Quanto mais remoto e desafiador o projeto, maiores os investimentos e os riscos envolvidos. Pelas estimativas do mercado, o volume dos contratos com as companhias envolvidas

com a exploração e produção de óleo pode chegar a U$ 600 milhões. CAPACIDADE LOCAL De acordo com Adriano Oka, vice-presidente de Marine da JLT Re Brasil, esse é o limite estimado de capacidade disponível no mercado nacional para atender à demanda de seguros de Riscos de Petróleo. “Internacionalmente, esse valor é muito maior e pode chegar a U$ 8 bilhões, dependendo do tipo de risco. Em geral, as seguradoras não devem garantir sozinhas esses investimentos, pois o montante a ser segurado deve ultrapassar a capacidade local”, afirma o executivo. Nada mal para um segmento de mercado que vem registrando queda no volume de prêmios arrecadados em razão da crise econômica internacional, que derrubou os preços do petróleo, e da paralisação dos contratos da Petrobras, às voltas com problemas financeiros e a investigação de processos por corrupção. “A próxima rodada de leilões vai oferecer 266 blocos exploratórios em dez bacias sedimentadas, divididas entre onshore e offshore. Além da grande aposta em bacias do Norte e do Nordeste, temos também pequenas bacias no Sul que podem se revelar grandes produtoras com até 400


metros de camada de óleo”, ressalta Luis Eduardo Duque Dutra, assessor especial da Diretoria da ANP. COBERTURAS ADEQUADAS De acordo com o presidente da Comissão de Risco de Crédito da FenSeg e diretor do Grupo Segurador BBMapfre, Rogério Vergara, o setor está preparado para atender à demanda gerada pela retomada dos investimentos na área da exploração nacional de petróleo e gás, com a oferta de seguros adequados aos riscos dos empreendimentos. “O mercado tem os instrumentos necessários para apoiar esses projetos, tanto na etapa de construção como na de operação”, assegura. Ele enfatiza ainda que o setor tem a experiência necessária para garantir que possíveis danos, muitas vezes inerentes à etapa de construção, sejam reparados na velocidade adequada, evitando problemas de geração de caixa decorrentes da interrupção do projeto e que comprometem a remuneração do agente financeiro.

O mercado tem os instrumentos necessários para apoiar esses projetos, tanto na etapa de construção como na de operação. Rogério Vergara

Outra boa nova para as companhias especializadas no segmento de Riscos de Petróleo foi o anúncio pelo ministro Eduardo Braga de que, a pedido da

indústria petrolífera, o Governo também estuda flexibilizar as regras de conteúdo local. Uma das alternativas avaliadas é reduzir o peso da proposta de conteúdo nacional no lance ofertado pelas companhias no leilão. Outra ideia é reduzir a punição às petroleiras com relação ao descumprimento do índice de nacionalização. Entre outros, a construção de plataformas aliada à exigência do conteúdo nacional foi um dos motivos apontados pelas seguradoras para as dificuldades contratuais referentes aos leilões de 2010 e 2011, devido à falta de infraestrutura e até à demora na modernização e construção de estaleiros. E como o mercado de seguros para o setor de petróleo ainda é muito concentrado na Petrobras, que responde sozinha por cerca de 40% dos prêmios do segmento no País, as apólices de risco de construção de plataformas e navios plataformas são um importante nicho de negócios para as seguradoras. (FT)

Divulgação JLT

Nesse aspecto, Carlos Frederico Ferreira, diretor presidente da Austral Resseguradora, ressalta a necessidade de alguns ajustes referentes à regulamentação, para que a oferta se adeque à demanda. “Principalmente no que diz respeito à cobertura para abandono de poço exigida pela ANP”, afirma em referência à publicação pela Susep ano passado da Circular 477 em substituição à Circular 232, que inclui o novo seguro Garantia Financeira contra Abandono do Poço. PRODUTO SOB MEDIDA Os riscos são grandes, uma vez que envolvem contrato de longo prazo e tecnologia ainda em desenvolvimento. “Mas, por isso mesmo, corretores, clientes, seguradoras e Susep estão em conversações para fazer um produto sob medida para as necessidades dos envolvidos”, informa Adriano Oka.

Adriano Oka: “Em geral, as seguradoras não devem garantir sozinhas esses investimentos, pois o montante a ser segurado deve ultrapassar a capacidade local.”

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PRÊMIO INOVAÇÃO

NOVA RODADA DE INCENTIVO À INOVAÇÃO Por LARISSA MORAIS

Prêmio Antônio Carlos de Almeida Braga chega à 5ª edição com novidades e aumento do número de concorrentes, o que acirra a disputa. riado para fomentar a busca C de soluções inovadoras no mercado segurador, o Prêmio

Antônio Carlos de Almeida Braga de Inovação em Seguros chega à 5ª edição renovando as próprias regras. A principal mudança é o aumento do número de finalistas que participarão da segunda etapa de avaliação dos projetos, o que acirra a disputa pelas primeiras colocações. Também há novidades na composição do júri e nos valores dos prêmios, que tiveram um aumento significativo. As inscrições tiveram início dia 30 de abril e vão até 30 de setembro. “Todas as edições tiveram novidades em sua estrutura e regulamento, desde a divisão em categorias, em 2012, até o reposicionamento para um maior foco em inovação e a criação da segunda etapa de julgamento, em 2014. O trabalho da Gerência Executiva do Prêmio é não só fazê-lo acontecer. É também observar, ao longo do processo, o que funciona e o que pode e deve ser aperfeiçoado, pensando em soluções e colocando-as em prática”, afirmou a diretora executiva da CNseg, Solange Beatriz Palheiros Mendes. Na 5ª edição, o número de finalistas vai aumentar de três para

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cinco em cada uma das três categorias (Produtos e Serviços, Processos e Comunicação). Eles serão selecionados numa primeira etapa de julgamento e terão que defender seus projetos perante o júri de sua categoria. A necessidade de apresentação dos projetos foi uma novidade da edição passada que deu certo. “Essa fase de apresentação mostrou-se extremamente importante para um conhecimento mais detalhado dos trabalhos participantes. Antes, era apenas classificatória. Com a mudança, a disputa será maior, pois nem todos da final ficarão entre os vencedores”, explicou Solange Beatriz. As apresentações acontecerão entre os dias 25 e 27 de novembro, em um dia para cada categoria. JÚRI MAIS NUMEROSO Outra novidade foi o aumento no valor dos prêmios oferecidos aos vencedores. Os primeiros colocados em cada categoria receberão R$ 30 mil; os segundos colocados, R$ 15 mil, e os terceiros, R$ 10 mil. No ano passado, as quantias foram de R$ 20 mil, R$ 10 mil e R$ 5 mil. Os valores são, sem dúvida, um atrativo, mas para Solange Beatriz o que mais

move as pessoas a entrar na disputa é o reconhecimento do setor, dentro e fora da empresa em que atuam. Para a próxima edição, o júri foi ampliado de cinco para nove jurados, três por categoria. Os oito que já asseguraram sua participação foram Antonio Penteado Mendonça, Bruno Miragem, Helio Portocarrero, Joaquim Falcão, Mariana Meirelles, Nadja Sampaio e Sergio Besserman Vianna. Para as defesas, na segunda etapa, os jurados serão divididos em grupos, conforme suas áreas de atuação. “Esse foi mais um passo na direção do aprimoramento das avaliações”, explicou Solange Beatriz. No ano passado, 78 projetos foram inscritos, número mais de 40% superior ao de 2013. Ainda segundo Solange Beatriz, a expectativa é que, mais uma vez, a quantidade de inscritos seja recorde, e a qualidade dos trabalhos surpreenda positivamente. Em relação ao público, o objetivo é atrair colaboradores de empresas que nunca participaram. “Queremos chegar cada vez mais aos corretores de seguros e resseguros, e


ampliar a participação dos colaboradores das entidades do setor, que foram incluídos em 2014 na lista dos que podem se inscrever”, contou. MAIS PARTICIPANTES O perfil dos participantes é bem diversificado e vem se renovando a cada edição. Entre os inscritos, há desde altos executivos e profissionais de nível gerencial até colaboradores de entidades do setor e corretoras de seguros e resseguros, e corretores autônomos de diferentes regiões do País. Para a surpresa dos organizadores, surgiram interessados entre prestadores de serviços de companhias seguradoras. “Isso mostra o quanto o Prêmio vem se disseminando; sobre esses pedidos, vamos avaliar caso a caso”, disse Solange. Cada autor poderá inscrever apenas um trabalho por categoria. As regras completas, com o detalhamento da formatação dos projetos, entre outros aspectos importantes, estão no endereço http://www. premioseguro.com.br/2015/. Além de elementos prétextuais (capa, resumo e apresentação), os projetos deverão conter planos de negócios que detalhem justificativa, contexto, público atingido, ações realizadas, resultados e plano de monitoramento do projeto. O anúncio dos finalistas será feito em 18 de novembro e, a cerimônia de premiação está marcada para 17 de dezembro.

DIRIGENTES COMEMORAM A INICIATIVA Mais que nunca, precisamos ser inovadores para atender, com qualidade e eficiência, às diferentes demandas de todos os segmentos da sociedade. O melhor de tudo é o caráter democrático da premiação, pois abre oportunidade para todos que tenham desenvolvido um projeto inovador. Fico feliz também pela abertura do Prêmio para a participação dos corretores de seguros. A categoria se esforça e investe bastante para oferecer inovações que favoreçam o mercado como um todo e, particularmente, crie um cenário ainda mais favorável para o consumidor. Armando Vergílio, presidente da Federação Nacional dos Corretores de Seguros -Fenacor

O Prêmio é de grande importância para o mercado não só por reconhecer o trabalho dos securitários e corretores, mas por incentivar os profissionais a buscar novas soluções, como uma comunicação mais eficaz, soluções sustentáveis, negócios que consigam atender à real necessidade dos clientes, entre outros. Além disso, Antônio Carlos de Almeida Braga é uma referência para todos nós. Augusto Frederico Costa Rosa de Matos, presidente do Sindicato das Seguradoras nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e do Distrito Federal - Sindseg MG/GO/MT/DF

O Prêmio estimula a produção intelectual desse segmento. Os cases apresentados valem como uma interessante amostra da capacidade criativa e adaptativa das empresas e seus colaboradores e da aplicação de princípios de sustentabilidade à atividade securitária. Esta grande iniciativa da CNseg permite que sejam conhecidas e apresentadas a público as melhorias da relação com os segurados, agregando assim maior percepção de valor e utilidade aos seguros. O crescimento progressivo das inscrições demonstra a importância dos temas, que tenderão a ocupar cada vez mais espaço no dia a dia da atividade de seguros. Dilmo Bantim Moreira, presidente do Clube Vida em Grupo São Paulo - CVG-SP

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PRÊMIO INOVAÇÃO O Prêmio identifica e estimula novos talentos no mercado segurador, muitas vezes ocultos, e ainda divulga formas, por meio dos cases selecionados, de aprimoramento ao atendimento das necessidades do consumidor de seguros. Cada processo pode ser sempre melhorado, portanto encontramos aqui uma forma de estimular a criatividade em prol das necessidades de melhoria visando oportunidades de negócios e fortalecimento das empresas mediante a crise Estela de Moura Rey, presidente do Clube Vida em Grupo Rio Grande do Sul CVG-RS

A criação desse Prêmio representou um marco no mercado de seguros. Hoje, no ambiente interno das empresas, nota-se claramente a ansiedade dos empregados em apresentar suas inovadoras ideias e grupos se reúnem para discutir exaustivamente a melhor forma de apresentá-las. Dentre as ideias selecionadas, muitas são descartadas embora sejam excelentes, pois não resistem ao crivo da sustentabilidade. Francisco Alves de Souza, presidente do Sindicato Nacional das Entidades Abertas de Previdência Complementar Sinapp

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O Prêmio é mais uma brilhante iniciativa da CNseg para integrar o setor e estimular o aprimoramento contínuo. O crescimento do número de inscrições ano a ano demonstra o interesse de todos os integrantes do mercado segurador brasileiro pela inovação. O resultado é a criação de novos produtos, melhoria na formatação e oferta das modalidades já consolidadas, representando ganho de performance para o setor e, consequentemente, benefício para toda a sociedade, dada a relação muito próxima que existe entre os seguros e a qualidade de vida das pessoas. João Gilberto Possiede, presidente do Sindicato das Empresas nos Estados do Paraná e Mato Grosso do Sul – Sindseg – PR/MS


O Prêmio oferece o espaço que o mercado precisava para mostrar a produção de ideias da indústria de seguros, ao mesmo tempo que estimula os profissionais a acreditarem em seus projetos. É uma iniciativa bastante positiva, visto que o setor precisa de constante aperfeiçoamento, além de ser uma forma de fazer os profissionais acreditarem no seu potencial, oferecendo-lhes a oportunidade de se tornarem protagonistas de uma mudança importante dentro da área em que atuam. João Giuseppe Esmeraldo, presidente do Sindicato das Empresas nos Estados da Bahia, Sergipe e Tocantins – Sindseg-BA/SE/TO

O Prêmio Antônio Carlos de Almeida Braga tem importância ímpar no meio securitário, haja vista suas características de estimular a busca constante das melhores práticas no intuito de alcançar as satisfações plenas dos operadores e consumidores de seguros. Julio Cesar Rosa, presidente do Sindicato das Empresas no Estado do Rio Grande do Sul – Sindseg - RS

Se a meta do mercado de seguros é manter-se em crescimento, não existe outro caminho que não seja o do conhecimento. Para reagir aos enormes desafios que o futuro impõe, é necessário abrir espaço para boas ideias e soluções que permitam ao setor atingir o grau de prosperidade que almeja. A iniciativa do Prêmio é louvável, pois estimula a criatividade e reconhece novas formas de pensar a atividade. A premiação é um importante instrumento para inspirar a busca de talentos e para valorizar as práticas que farão a diferença no desenvolvimento do seguro. Luis López Vázquez, presidente da Associação Paulista dos Técnicos de Seguros - APTS

O CVG-RJ tem acompanhado a expressiva contribuição que os trabalhos apresentados nesta premiação pioneira têm oferecido ao setor. Dos jovens aos mais experientes profissionais, o legado que eles disponibilizam para o desenvolvimento do segmento é inquestionável. Parabenizo a direção da CNseg e seu corpo técnico, e a organização do evento, pela iniciativa relevante que tem levado reconhecimento e destaque a todos aqueles que se dedicam e emprestam os seus estudos, pesquisas e experiências ao seguro. Marcello Hollanda, presidente do Clube Vida em Grupo Rio de Janeiro - CVG-RJ

O Prêmio é um fomentador da criatividade para o setor de seguros brasileiro. Dá oportunidade a todos que desejam ver suas ideias divulgadas e dá visibilidade ao mercado de seguros com alternativas e soluções que podem ser implementadas nas operadoras. Mauro Cesar Batista, presidente do Sindicato das Empresas no Estado de São Paulo Sindseg - SP

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PRÊMIO INOVAÇÃO

Todo incentivo às mais diversas possibilidades de fomentarmos a cultura do seguro é muito bemvindo, e o Prêmio cumpre muito bem esse papel. A cada ano, vemos um número maior de projetos inscritos e isso mostra uma parte do que foi desenvolvida, ao longo de um ano, e reforça o que já sabemos: que o mercado é repleto de ações, iniciativas e projetos inovadores. Mucio Novaes, presidente do Sindicato das Empresas no Norte e Nordeste Sindseg - NNE

O Prêmio é sim uma iniciativa que permeia de forma exemplar e única as melhores ideias do mercado de seguros, na intenção de ampliar as boas práticas para toda cadeia produtiva, principalmente na influência do comportamento humano - fato este que dá a importância do engajamento de todos nós. Um sucesso de práticas sustentáveis para toda a humanidade. Paulo Lückmann, presidente do Sindicato das Empresas no Estado de Santa Catarina - Sindseg SC

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Na condição de dirigente de uma instituição de ensino, sou entusiasta de ações que proporcionam o surgimento de soluções inovadoras, estimulam o desenvolvimento dos profissionais do nosso setor e, consequentemente, das empresas em que atuam. O Prêmio vem cumprindo esse propósito de trazer nova luz às questões mais prementes da nossa indústria, com foco na criatividade e sustentabilidade dentro do ambiente de negócios. Nossa admiração e total apoio a esta iniciativa, aproveitando para parabenizar a CNseg pelo sucesso do Prêmio ao longo dos últimos anos. Renato Campos, diretor executivo da Escola Nacional de Seguros - ENS

A inovação é, sem dúvida, um dos caminhos para o desenvolvimento do Brasil, pois aumenta a competitividade entre as empresas nacionais e, por consequência, do País em relação às outras nações. Nesse sentido, o Prêmio é extremamente importante, pois inclui o setor de seguros nessa esfera, premiando empresas e pessoas que tiveram sucesso nessa área. Um dos setores que mais têm crescido no País nos últimos anos, o mercado de seguros precisa estar na vanguarda de iniciativas como essa. Lidamos com o conceito de proteção, e a melhor forma de proteger é inovando. Roberto Santos, presidente do Sindicato das Empresas nos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo – Sindseg – RJ/ES


Ag. Brasil

SEGURO RURAL

APOSTA NA PROTEÇÃO PARA FOMENTAR A SAFRA AGRÍCOLA Por GABRIEL OLIVEN

Plano de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural para este ano terá R$ 668 milhões em caixa.

A Queremos um seguro com credibilidade na praça. Os seguros de 2014 não vão impactar na safra de 2015. Kátia Abreu

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salvação vem literalmente da lavoura. Na contramão da crise econômica, o setor agropecuário colhe fartos indicadores de crescimento e tem sido um dos únicos a registrar ganhos reais de produtividade no Brasil. Daí a atenção especial que o Governo destinou ao lançamento do Plano Safra 2015/2016, anunciado no começo de junho. Os recursos disponíveis para financiar as operações de custeio, investimento e comercialização da agricultura empresarial alcançam R$ 187,7 bilhões, o que representa 20% a mais que na safra anterior. Neste cenário, o Governo chegou a anunciar que o Seguro Rural teria prioridade estratégica, como um dos pilares da política agrícola. No entanto, o orçamento real para a safra será menor que o previsto, em função do atraso no repasse das subvenções oficiais.

A proteção contra intempéries climáticas e fatores econômicos adversos deve ser uma das apostas do Governo para fomentar a safra. O orçamento do Plano de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural - PSR é de R$ 668 milhões para este ano – mas deste total R$ 300 milhões serão destinados a pagamentos da safra anterior. Em 2014, o anúncio do Plano Agrícola e Pecuário contemplava R$ 700 milhões em subsídios, mas somente R$ 400 milhões foram devidamente orçados pelo Governo e chegaram, de fato, a ser liberados para o ano-safra. O restante ainda não foi disponibilizado às seguradoras. Este ano, dos R$ 668 milhões orçados, apenas a produção de trigo absorveu R$ 90 milhões e outras culturas de inverno (cevada, canela e triticale), cerca de R$ 2 milhões, restando para a safra de verão R$ 276 milhões.


BB Mapfre

MAIS AUTONOMIA O Governo, no entanto, tem outras fichas para incentivar o seguro Rural. Uma delas é a padronização das apólices, medida que começou este ano, quando foi fixado em 60% o nível mínimo de cobertura oferecida pelas seguradoras na safra 2015/2016, sobre a produtividade estimada dos produtos de multirriscos para grãos. O plano prevê ainda a criação do Sistema Integrado de Informações do Seguro Rural - SIS-Rural, e a formação de grupos de produtores para negociação com as seguradoras. Segundo a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, o objetivo é melhorar a transparência na negociação com o mercado segurador. Pelo novo formato, o produtor rural terá mais autonomia para escolher a empresa com quem contratará a apólice. “O Sistema Integrado de Informações vai acabar com a dificuldade da transparência, o que era usado como argumento para não baixar o custo do seguro. Queremos mudar essa realidade. Esse plano mostra que o ajuste econômico não se dá apenas com cortes, mas também com investimentos”, afirmou a ministra, ao lado da presidente Dilma Rousseff, ao discursar durante solenidade oficial no Palácio do Planalto. PROTEÇÃO DA SAFRA O fato é que, desde a criação do PSR, em 2005, o seguro Rural tem sido

para soja, trigo, milho, maçã e uva), além de cobertura pecuária e florestal.

A contratação de uma apólice é fator de segurança para o produtor, além de estimular a geração de empregos e de renda no campo. Glaucio Toyama

Mesmo com o ritmo de crescimento, o mercado ainda tem um vasto potencial a ser explorado. Na safra 2013/2014, apenas 13,8% (ou 9,6 milhões de hectares) da extensão de terra destinada à agropecuária, de um total de 69,2 milhões de hectares, estavam cobertos pelo seguro Rural. Aí reside a importância da subvenção governamental como fator de incentivo à demanda pelo seguro agrícola e ao desenvolvimento de novos produtos. FERRAMENTA ESSENCIAL

uma ferramenta eficaz na proteção da safra, atraindo o interesse cada vez maior de produtores – e também de seguradoras. A abertura do mercado de resseguros, dois anos mais tarde, contribuiu para esta expansão. Hoje, a principal demanda dos produtores diz respeito a fatores climáticos, como secas, geadas e granizos. “Na safra 2013/2014, o seguro agrícola registrou mais de R$ 14 bilhões em importância segurada, contra menos de R$ 3 bilhões há oito anos. Esse volume mostra a solidez do mercado. A contratação de uma apólice é fator de segurança para o produtor, além de estimular a geração de empregos e de renda no campo”, afirma Gláucio Toyama, diretor técnico de Seguros Rurais do Grupo Segurador BB Mapfre. Os seguros agrícolas oferecidos pelo grupo englobam mais de 70 tipos de cultivos, entre grãos e frutas (com destaque

Segundo Joaquim César Neto, vice-presidente da Comissão de Seguro Rural da FenSeg e gerente da área de seguro Rural da Porto Seguro, o Governo tem papel fundamental na consolidação do mercado. “O subsídio ao produtor é peça-chave para reduzir o custo do seguro. Mas é preciso ajustar o ritmo de repasses governamentais ao da venda de apólices. O atraso no empenho dos recursos às empresas seguradoras pode inibir o crescimento do seguro Rural”, alerta. O executivo, porém, é otimista quanto às perspectivas do seguro Rural. “O mercado segurador está pronto para atender ao aumento da atividade agropecuária no País. Hoje, nove seguradoras trabalham com o produto e várias já manifestaram desejo de ingressar neste segmento. O seguro é uma ferramenta essencial na lavoura”, arremata.

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SEGURO RURAL

Divulgação FenSeg

crédito

O acerto das dívidas com as seguradoras já está na pauta do Governo. Para resolver as pendências relativas à safra 2014/2015, o Ministério da Agricultura pretende receber crédito suplementar de R$ 300 milhões do Ministério da Fazenda. Somados aos Restos a Pagar previstos no Orçamento de 2014, que aguarda repasse de R$ 390 milhões, o problema deve ser solucionado este ano. “Não queremos deixar mais Restos a Pagar, pois isso gera insegurança no mercado. Queremos um seguro com credibilidade na praça. Os seguros de 2014 não vão impactar na safra de 2015”, garante a ministra Kátia Abreu.

O subsídio ao produtor é peçachave para reduzir o custo do seguro. Mas é preciso ajustar o ritmo de repasses governamentais com a venda de apólices. Joaquim Cesar

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SOJA IMPULSIONA EXPANSÃO DA AGRICULTURA As projeções otimistas para a atividade agropecuária – e o seguro Rural, em particular – estão fincadas em solo fértil. Dados do IBGE mostram um quadro revelador. No primeiro trimestre do ano, enquanto o Produto Interno Bruto - PIB, nacional recuou 0,2%, a agricultura registrou expansão de 4,7%, puxada pela soja. Já a indústria encolheu 0,3% no período e os serviços, 0,7%. O Governo estima que, nos próximos 10 anos, a safra agrícola aumentará em 60 milhões de toneladas e a produção de carnes (bovina, suína e de aves), em 8 milhões de toneladas. Daí a expectativa do mercado com o anúncio do Plano Safra 2015/2016 e da subvenção ao seguro Rural. O subsídio é um ingrediente básico para baixar o custo do seguro, protegendo a lavoura e a renda de pequenos e médios produtores. Esse instrumento está amparado em legislação federal que remonta à década passada. Em 2003, foi sancionada a Lei 10.823, que autorizou o Governo a instituir subsídio para a contratação do seguro Rural. A lei foi regulamentada pelo Decreto 5.121/04, que estabeleceu o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural - PSR. O principal objetivo do PSR é promover a universalização do acesso ao seguro Rural, como instrumento para estabilidade da renda agropecuária. Paralelamente, ele deve induzir o uso de tecnologias

adequadas e modernizar a gestão do agronegócio. O mercado segurador apostou na ideia e não parou de crescer desde então. Em 2005, a área segurada não passava de 68,1 mil hectares em todo o País. Em 2013, já eram quase 10 milhões de hectares. O número de produtores atendidos saltou de 849 para 65.556 no período, totalizando mais de 100 mil apólices contratadas. O volume total segurado chega hoje a R$ 16,8 bilhões, com destaque para a Região Sul, que concentra 60% das apólices. O seguro Rural atende a mais de 30 atividades e culturas distintas, com ênfase em soja, milho, uva e trigo. As seguradoras trabalham com uma ampla gama de produtos, sendo que há a predominância das coberturas contra as adversidades climáticas. A apólice pode oferecer tanto uma cobertura ampla, o chamado seguro multirrisco, quanto o risco nomeado, que restringe a cobertura a um ou mais itens. Essas condições são estabelecidas entre os corretores de seguro e os clientes, de maneira individual. A subvenção econômica concedida pelo Ministério da Agricultura pode ser pleiteada por qualquer pessoa física ou empresa que cultive ou produza espécies contempladas no Programa. Ela permite ainda a complementação dos valores por subvenções concedidas por meio de estados e municípios.


SAÚDE SUPLEMENTAR

O compartilhamento de risco atrelado a metas de performance é um caminho para tentar equilibrar o sistemas. Denizar Vianna

AUMENTO DOS CUSTOS, UM DESAFIO AO CRESCIMENTO Por JOÃO MAURÍCIO RODRIGUES

A ANS não regula os prestadores de serviços e mercado defende uma maior ação do Governo para equilibrar os gastos do setor.

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ressionadas por custos crescentes e sem condições de repassá-los na íntegra, as operadoras de saúde, o único elo da cadeia de Saúde Suplementar a ter preços controlados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, cobram uma mudança de paradigma do modelo de assistência médica e hospitalar. E deixam claro que os números exuberantes do setor cerca de 50 milhões de beneficiários de planos médico-hospitalares, perto de 25% da população brasileira – já não são mais suficientes para dar conta do aperto da margem das empresas. O Governo brasileiro, caso repita o que fez os Estados Unidos, poderia ser o fiel da balança, usando seu poder de grande comprador para barganhar preços e custos menores dos demais players da cadeia de Saúde Suplementar, garantindo o equilíbrio do sistema. “Estamos fazendo a nossa parte, cortando despesas, aumentando a eficiência dos processos administrativos e absorvendo alguns gastos por exigência da ANS, como é o caso da implantação das ouvidorias. Mas as outras partes da cadeia produtiva têm que

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fazer o mesmo”, adverte o presidente da FenaSaúde, Marcio Coriolano. O único elo da cadeia produtiva do setor regulado é o das operadoras, ressalta o executivo, acrescentando que a ANS não regula os prestadores de serviços de saúde, o distribuidor de medicamentos, os serviços de diagnósticos e os fabricantes de materiais. Em consequência, defende uma maior ação do Governo para equilibrar o setor. “Só o Governo tem o poder de compra e pode nos ajudar a obter preços menores de medicamentos, acelerar a implantação de uma instância que avalie o custo-benefício de importação de equipamentos e materiais, além de incentivar os hospitais a mudar o paradigma de remuneração”, afirma. Na sua avaliação, nos Estados Unidos essa questão só avançou porque o Governo é um grande comprador e incentivou os prestadores a mudar o paradigma de remuneração. Coriolano informa que entre 2008 e 2012, época da recessão dos Estados Unidos, o governo americano implantou novos modelos de remuneração de prestado-


Divulgação

Aqui no Brasil paga-se pela quantidade de procedimentos realizados, o que só provoca aumento da despesa. Marcio Coriolano

res de serviços, para derrubar preços e custos. “Aqui no Brasil paga-se pela quantidade de procedimentos realizados, o que só provoca aumento da despesa”, observa. CUSTO MÉDICO O aumento de custos no Brasil intensificou a partir da edição da Lei 9.656, de 1998, época em que todas as operadoras foram obrigadas a dar cobertura para todas as doenças previstas pela Organização Mundial de Saúde - OMS, o que elevou o custo médico e a frequência das despesas. O dirigente observa que o Governo exige que as operadoras façam uma gestão para reduzir custos, mas a própria legislação não dá instrumentos para que a ANS possa fazer questionamentos de ato médico, por exemplo. “O problema relacionado às órteses e próteses já vinha sendo denunciado pelas operadoras há mais de cinco anos e ninguém fazia nada. Foi preciso que uma CPI fosse criada para que a população tomasse conhecimento”. Professor associado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade

do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Denizar Vianna avalia que o desperdício no uso de tecnologias diagnósticas e terapêuticas é o grande vilão da Saúde Suplementar. “A tecnologia em saúde deve ser indicada para o paciente certo, na hora certa, no local certo”, explica. Para ele, o problema ocorre devido à baixa capacidade de resolubilidade de médicos, além do uso excessivo de tecnologias médicas pelos hospitais, por representar a maior margem de contribuição para prestadores e, infelizmente, fraudes de alguns provedores. Marcio Coriolano adverte que as operadoras tentam fazer a melhor gestão possível, mas os custos não são formados por ela. “Queremos mudar o sistema, mas encontramos resistência dos prestadores. Não são as operadoras que formam o preço de consulta, exames nem tampouco a frequência de pessoas doentes”, acrescenta. Na visão do executivo, está acontecendo um ciclo muito grande da valorização da atividade de prestação de serviços na saúde privada. O resultado, segundo ele, é que a taxa de lucratividade dos prestadores tem

aumentado muito. “Nesse cenário, esse setor não quer ceder para negociar a redução do preço. É por isso que se cria esse ambiente de certo desconforto”, esclarece. FATORES DE ALTA Economista do Instituto de Ensino e Pesquisa - Insper, Paulo Furquim de Azevedo entende que existem quatro grupos principais de fatores que fazem com que os custos e preços subam. O primeiro é o envelhecimento da população e a modificação do tipo de doença, que levam a uma intensidade maior de internações por pessoas. “Este fator explica pouco do crescimento recente, por se tratar de mudanças lentas, mas permitem prognosticar um elevado crescimento dos custos nas próximas décadas”. O segundo fator é o crescimento da renda, que permite que as pessoas possam ter acesso a uma assistência à saúde de melhor qualidade. “Estes dois primeiros fatores são positivos, reflexos da melhoria das condições de vida da população, e não devem ser vistos como um problema”.

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SAÚDE SUPLEMENTAR Algumas vezes, a demora em um procedimento, por necessidade de autorização junto à operadora, pode implicar custos bastante elevados. Furquim de Azevedo

O terceiro é a inovação tecnológica, que adiciona novos procedimentos e exames, sem necessariamente substituir os antigos, explica Furquim de Azevedo. No entanto, ele assinala que a inovação é bastante positiva, pois está associada a uma melhoria da qualidade, mas há perdas relevantes no modo como as novas tecnologias são incorporadas ao sistema de saúde. A inovação tecnológica está associada ao último fator relevante apontado pelo representante do Insper: a ineficiência de operação do sistema, que acontece pelas falhas de mercado de incentivos inadequados, derivadas da informação assimétrica entre médicos, hospitais, pacientes e operadoras de saúde. “O problema decorre do descolamento entre aquele que decide quais procedimentos adotar e aqueles que sofrem as consequências da decisão (quem paga pelos procedimentos). Isso leva a dois tipos de problema: over-use (internações e consultas cujo custo é superior ao benefício gerado) e over-treatment (excesso de procedimentos em uma internação)”. MEDIDAS SUSTENTÁVEIS As projeções no incremento da sinistralidade das operadoras de planos de saúde e os consequentes repasses para as fontes pagadoras (empregadores e pessoa física) tornam o sistema de Saúde Suplementar insustentável no longo prazo, na opinião de Denizar Vianna, que também é Consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID. Segundo ele, a sugestão para o setor pode ser resumida em “cinco Is”: Informação, Indicadores, Incentivos, Integração e Inovação. O especialista explica que o sistema de Saúde Suplementar iniciou há algum

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tempo um processo de consolidação para ganhos de escala, via fusões e aquisições entre operadoras de planos de saúde, hospitais e laboratórios de métodos diagnósticos. “Algumas operadoras optaram por modelos verticalizados na tentativa de controlar a prestação do serviço, principalmente os hospitais. Na operação propriamente dita, há clara orientação das operadoras de planos de saúde para gerenciar o fluxo do usuário na rede, principalmente o doente crônico”, explica ele. Denizar Viana destaca que há iniciativas de compra centralizada para melhor negociação de preço, uso de segunda opinião médica para minimizar o desperdício e direcionamento para grupos médicos com acordos prévios. Na sua avaliação, a relação entre fonte pagadora e prestador de serviço só vai evoluir para um ganha-ganha se houver alinhamento de incentivos. “O compartilhamento de risco atrelado a metas de performance é um caminho para tentar equilibrar o sistema, caso contrário, continuaremos assistindo a esse quadro em que quem paga a conta não quer pagar, quem oferece o serviço extrapola o uso de tecnologias desnecessárias e o paciente não está educado e informado para tomar decisões corretas”, adverte. O economista do Insper explica ainda que, a maior parte das empresas tem se esforçado com medidas de monitoramento e controle, mas que, muitas vezes, são ineficazes. “Deve haver coordenação entre todos esses elementos para que o sistema funcione eficientemente. Algumas vezes, a demora em um procedimento, por necessidade de autorização junto à operadora, pode implicar em custos bastante elevados”, afirma Paulo Furquim de Azevedo.


SEMINÁRIO DEBATE O TEMA Marcio Coriolano sugere que o Brasil siga o exemplo que deu certo nos Estados Unidos e implante um sistema de capitalização em que as pessoas jovens paguem por uma caderneta de poupança específica para a saúde. O objetivo é que possam pagar um plano de saúde quando forem mais idosas.

poupança não vir acompanhada de uma franquia associada. “Lá o segurado paga uma parte pequena das despesas, mas suficiente para que exerça um poder de fiscalização das despesas que são cobradas pelos hospitais, médicos e laboratórios”. Coriolano destaca que a inflação médica em dois programas financiados pelo governo dos Estados Unidos é a mais baixa

Segundo o dirigente, naquele país é raro uma caderneta de

exatamente porque os usuários têm que pagar uma franquia e podem negociar preços. O Medicare (programa de assistência médica para crianças) tem custo de 2,2% ao ano; e o Medicaid (programa de assistência médica para idosos e pobres) chega a 1% ao ano. Os dois programas são administrados pelo governo americano.

Crescimento acumulado em público per capita e os gastos de saúde privada nos Estados Unidos 120%

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O gráfico indica que entre 2007 e 2013 o gasto per capita do Seguro Saúde nos EUA cresceu 29%. Isso equivale a uma taxa anual de 4,3% ao ano. No mesmo período, a inflação média de preços da economia americana (IPC US) foi de 12,55%, o que corresponde a uma taxa anual de 2% ao ano. Ou seja, a “inflação” médica americana foi duas vezes a inflação geral.

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CAMPANHA ‘SE LIGA!’

AÇÕES EDUCATIVAS BUSCAM REDUZIR MORTES NO TRÂNSITO Por MARIA LUISA BARROS

A campanha Se Liga!, promovida pela CNseg no âmbito do PNAT, pretende ajudar as pessoas a mudarem seu conceito de dirigibilidade. “

S

e beber, não dirija. Se dirigir, não beba!” Ao que parece, grande parte dos motoristas brasileiros já aprenderam essa lição. No entanto, muitas outras ainda devem ser decoradas até que possamos eliminar de vez a pecha de que “o motorista brasileiro ou é um alegre louco ou um frio sádico”, imputada a nós pelo escritor francês Albert Camus, em sua visita ao Brasil em 1949. E a lição da vez no processo de aprendizagem de uma direção mais segura é sobre o perigoso hábito de usar o celular ao volante. A estimativa é que 25% dos acidentes do País sejam causados por motoristas que estão falando ou enviando mensagens de texto enquanto dirigem. O alerta vem sendo feito por meio de várias campanhas no âmbito do Programa Nacional de Apoio ao Trânsito PNAT, promovidas desde o início deste ano pela CNseg e com o apoio do Observatório Nacional de Segurança Viária - ONSV. Batizado com a expressão popular ‘Se liga!’, o PNAT prevê

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várias ações no campo educativo, exatamente para conscientizar e levar as pessoas a mudarem seu conceito de dirigibilidade, especialmente no que se refere à percepção dos riscos. DIREÇÃO PERIGOSA “Uma simples distração de 10 segundos no trânsito pode ser fatal. O trânsito no Brasil ainda mata mais

do que muita guerra”, observa Marco Antonio Barros, superintendente geral da Central de Serviços e Proteção ao Seguro da CNseg – Ceser, e presidente da FenaCap, referindo-se aos fatores que induzem a uma direção perigosa, em especial ao mau hábito de dirigir e usar o celular ao mesmo tempo. “Falar ao celular, comer, beber, acender e fumar um cigarro são ações que distarem a atenção e resultam num extenso período de direção às cegas: 150 ou 200 metros, durante o qual o motorista não vê o que está acontecendo à sua frente ou ao redor”, alerta. Segundo o executivo, o objetivo do programa é justamente fazer com que as pessoas percebam que algumas atitudes são absolutamente contrárias à prática de uma direção segura e colocam em risco não somente quem está no volante, mas todos em volta. De abrangência nacional, a campa-


nha também vem sendo direcionada regionalmente para a maior adequação às diferentes realidades do País. Para isso, conta com folders educativos, jogo virtual e simuladores que mostram o que pode ocasionar uma colisão a 15 km/hora, além de um filme ilustrativo sobre os riscos do uso do celular pelo condutor do veículo. FATORES DE RISCO O programa engloba ações educativas e de alertas sobre os demais fatores de risco que podem causar acidentes, como: ingestão de álcool; alta velocidade; falta de uso de cinto de segurança e de cadeiras especiais para crianças; a falta de cuidados com itens do carro, como luz de alerta e freios; manutenção de pneus, entre outros. “É sabido que 72% de todos os acidentes são causados por falha humana. O objetivo é ter uma sociedade mais racional no que diz respeito ao trânsito”, destaca Marco Barros. As estatísticas sobre registros de mortes nas ruas e estradas nacionais atestam a atualidade da observação do escritor francês - os acidentes de trânsito estão entre as principais causas de morte no País, concorrendo com agressões e doenças hipertensivas. Somente na década de 2001 a 2012, o número de pessoas mortas em acidentes de trânsito no Brasil

cresceu 48,7%: foram 453.779 vítimas no período, revela pesquisa do Observatório Nacional de Segurança Viária. Mas do mesmo instituto também vem uma boa notícia: as mortes no trânsito em 2013 caíram quase 6% em comparação a 2012. Foram 42.266 mortes contra 44.812, respectivamente. No mais recente estudo divulgado em seu site no final de maio, o ONSV classifica esse bom resultado como uma conquista de toda a sociedade: cidadãos, poder público e iniciativa privada.

Uma simples distração de 10 segundos no trânsito pode ser fatal. O trânsito no Brasil ainda mata mais do que muita guerra. Marco Barros

DÉCADA DE AÇÃO Os dados foram contabilizados com base nas estatísticas do Portal da Saúde - Departamento de Informática do Ministério da Saúde – DataSus, sobre o total de óbitos no País, que inclui todas as causas de mortes. Nos primeiros anos da Década de Ação para Segurança no Trânsito, 2011 e 2012, houve um aumento de 3,6% no País (43.256 e 44.812 respectivamente). Em 2013, a redução foi de 5,6%, representando a manutenção da vida de 2.554 pessoas. “A redução não significa que estamos nos trilhos em relação à meta proposta, pois precisamos de uma série de pelo menos três anos para confirmar a tendência de queda. Apenas o resultado positivo de 2013 não é suficiente para isso”, analisa o diretor presidente do Observatório, José Aurelio Ramalho. Os dados de 2014 só devem ser anunciados no próximo ano. Entre os estados, Rondônia teve a queda mais expressiva: 19%. Também na Região Norte está o 2º estado com a maior redução: Acre, com 18%. No Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro a redução foi de 12%. São Paulo registrou queda de 6%. Já entre os estados que tiveram aumento no número de mortes, o Mato Grosso lidera a lista com quase 5% a mais que o ano anterior.

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Douglas Asarian

ESCOLA

A

Escola Nacional de Seguros está prestes a estrear novo endereço em São Paulo. No segundo semestre, o prédio adquirido pela instituição em 2013 abrirá as portas na Rua Augusta, 1.600, no bairro Consolação, para receber os alunos que hoje estão distribuídos em três unidades (uma em Bela Vista e duas na Avenida Paulista), que serão desativadas após a inauguração da nova instalação. O prédio conta com nove andares (do 2º ao 10º pavimento), totalmente reformados para concentrar, em um só espaço, todas as atividades administrativas e acadêmicas (ensinos técnico e superior) da Instituição na capital paulista. Os números da estrutura impressionam: nos 4,5 mil metros quadrados de área poderão ser acomodados, simultaneamente, mais de 1.200 alunos, em 28 salas de aula, laboratório de informática, biblioteca e auditório.

FÁCIL ACESSO O imóvel tem localização privilegiada, a meia quadra da Avenida Paulista e da estação Consolação do metrô, o que garante fácil deslocamento para os demais bairros da cidade. Além disso, possui um edifício-garagem anexo, com 126 vagas terceirizadas. O investimento total da instituição com aquisição e reforma do imóvel foi de R$ 30 milhões. Na avaliação do diretor executivo da Escola, Renato Campos, a instalação proporcionará mais segurança e conforto ao corpo docente e alunos e, portanto, é um passo fundamental para a expansão da Entidade na maior cidade do País e capital do estado que concentra mais de 50% da produção do mercado de seguros.

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Prédio novo: são nove andares totalmente reformados, com 28 salas de aula, biblioteca, estações para estudo individual e auditório para 160 pessoas

ESCOLA TERÁ NOVO ENDEREÇO EM SÃO PAULO Por BIANCA ROCHA

A Escola Nacional de Seguros vai inaugurar novas instalações na capital paulista, que reunirão todas as atividades administrativas e acadêmicas. “A estrutura que será inaugurada em breve representa um verdadeiro salto de qualidade e nos permitirá crescer de forma sustentável no principal centro de negócios do Brasil. O investimento feito é diretamente proporcional à importância dessa região para o mercado de seguros e para a Escola”.

CONCENTRAÇÃO O diretor destaca que, dos mais de 15 mil alunos atendidos anualmente pela Instituição em todo o Brasil, metade é administrada pela Unidade São Paulo. Para o novo endereço, serão transferidas quatro turmas de MBAs em andamento hoje, além da Graduação em Ad-

ministração com linha de formação em Seguros e Previdência e do Curso para Habilitação de Corretores de Seguros. A nova sede abrigará, ainda, palestras, seminários e cursos de curta duração ligados ao segmento de seguros. “Trata-se de um espaço modernizado para garantir mais interação entre professores. Eles estarão concentrados em um só local, o que vai gerar ganhos acadêmicos enormes. Para os alunos, será a oportunidade de estudar em um ambiente altamente aparelhado e com todas as facilidades para um aprendizado seguro e eficiente”, conclui Renato Campos.


CAPITALIZAÇÃO CAPITALIZACÃO

RESERVAS BATEM RECORDE E ANIMAM EXPECTATIVAS Por CEZAR FACCIOLI

O objetivo dos produtos, tanto aqui, quanto no exterior, é fazer com que as famílias tenham uma reserva financeira.

Divulgação

Marco Barros

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Bom desempenho ocorre em momento desfavorável da economia e confirma a confiança dos consumidores nos produtos do segmento.

O

cenário mais complexo no plano econômico não tem impedido a trajetória de alta e de seguidos recordes nas reservas técnicas acumuladas pelo segmento de Capitalização. No primeiro trimestre, o montante acumulado soma R$ 30,2 bilhões, alta de 10,6% sobre o mesmo período do ano passado. O resultado reflete a confiança crescente dos consumidores nas quatro modalidades de produtos, sobretudo em um período em que as mais tradicionais aplicações financeiras convivem com o aumento dos saques. “Essa marca histórica significa que os portadores de títulos de capitalização estão mantendo suas economias guardadas por mais tempo”, comemora o presidente da FenaCap, Marco Antonio Barros. A desaceleração existe, mas é mais suave e desigual entre as modalidades de produtos. O segredo da Capitalização para manter a atratividade nesse contexto desfavorável se desdobra em vários

fatores. Além do estímulo dos sorteios, que incentiva a permanência nos planos, existe uma carência para quem quer resgatar o valor antes do prazo. Para Marco Antonio Barros, a carência é um fator positivo, pois o mecanismo faz com que as pessoas assumam o compromisso de economizar. “Além disso, o título de capitalização é um instrumento muito simples e de fácil aquisição, que dispensa burocracia, não exige comprovantes de renda e residência e tem um tíquete médio baixo, da ordem de R$ 28”, argumenta. A evolução recente das taxas de juros não afetou a rentabilidade dos títulos de capitalização nem a atratividade dos produtos. Os títulos da modalidade Tradicional, carrochefe do setor, garante ao cliente a devolução de 100% do valor guardado ao fim do prazo de vigência do plano. Além disso, o portador participa de sorteios de prêmios ao longo de todo o período de vigência do título.


SOLUÇÕES DE NEGÓCIOS Para atender a perfis variados de clientes, as empresas de Capitalização estão transformando os títulos em soluções de negócios. É o caso da solução de Garantia de Aluguel, que substitui a figura do fiador nas transações de aluguéis comerciais e residenciais. Crescem produtos que oferecem soluções de filantropia, como os da modalidade Popular com cessão de direito de resgate, no qual o cliente doa o valor do resgate para alguma entidade beneficiária desses recursos. Destaque ainda para os produtos de solução para fidelizar clientes (nos quais se encaixam os produtos da modalidade Incentivo), quando uma empresa compra uma série fechada e cede aos seus clientes o direito aos sorteios. Outra inovação é a diversificação dos canais de distribuição, por meio dos call-centers e das vendas online. Marco Barros mostra-se cauteloso ao analisar se, com os níveis atuais de reservas líquidas acima de R$ 30 bilhões, o segmento atingiu uma dimensão compatível com o peso da economia brasileira. “O produto de Capitalização na sua essência é um instrumento de acumulação de recursos, e o brasileiro tem pouca cultura de juntar dinheiro”, comenta. A mesma cautela ele adota quando explica se os exemplos internacionais,

de mercados mais desenvolvidos, autorizam supor que o segmento, como proporção do PIB, tem muito a evoluir. “O objetivo dos produtos, tanto aqui, quanto no exterior, é fazer com que as famílias tenham uma reserva financeira”, compara.

Num cenário de ajuste fiscal e redução nos níveis de emprego e renda, os títulos são uma boa opção para se formar um ‘pé de meia’ DISCIPLINA PARA ECONOMIZAR O recente repique inflacionário, com as taxas anuais superando o teto da meta fixado pelo Governo, influiu no comportamento dos investidores na maior parte das aplicações financeiras. Sobre esse fenômeno, Barros mostra-se otimista quanto às perspectivas do segmento. “Esta situação é relativamente recente e naturalmente influi na decisão dos consumidores, que tendem a ficar mais

cautelosos e a formar reservas para o caso de emergências financeiras. Isso favorece a Capitalização, que é um instrumento que ajuda a construir a disciplina para economizar, contando ainda com o incentivo dos sorteios”, argumenta. Na atual conjuntura econômica, de esforço fiscal adicional e redução provável nos níveis de emprego e renda da maioria da população, os títulos de capitalização acabam sendo uma solução para auxiliar as pessoas e as famílias a formarem reservas, notadamente com o produto Tradicional, na avaliação do presidente da FenaCap. “Nesses momentos de oscilação da economia, as pessoas tendem a ser mais cautelosas e a se defender contra imprevistos”, explica. O ano de 2015 será de ajustes e melhoria dos indicadores, na avaliação de Marco Barros, acrescentando que, nesse contexto, a expectativa do segmento é repetir o desempenho de 2014, período em que foi registrado um crescimento de 4,3%. “Há muito espaço para crescer, especialmente pelo avanço da educação financeira e das iniciativas que estimulam o consumo consciente”, conclui.

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ARTIGO

ARBITRAGEM E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GLORIA FARIA, Superintendente Jurídica da CNseg

É primordial para o Judiciário poder contar com mais rigor na aplicação da arbitragem, estendida agora à área pública, para a composição de conflitos.

A Arquivo CNseg

provada no Congresso Nacional e sancionada pela Presidência da República, a nova Lei de Arbitragem nº 13.129, de 26 de maio de 2015, veio enriquecer a Lei anterior nº 9.307/1996, que tratava do assunto. Com quase duas décadas de vigência, a lei anterior já não atendia plenamente às necessidades das formas e do alcance que os contratos tomaram para atender ao desenvolvimento econômico, tecnológico e social e os negócios deles derivados.

O texto aprovado no Congresso Nacional e remetido à Presidência da República vedava a aplicação da arbitragem aos contratos de adesão, mas recebeu veto total. 40 • REVISTA DE SEGUROS

Destaco apenas dois pontos que acredito ser de maior interesse para o setor, ambos permitindo, em tempos de notória necessidade de cuidados extras, quer pela diminuição de investimentos quer pela multiplicação das normas de vigilância e acauteladoras de comportamento e processos, uma oxigenação e facilitação no fechamento de contratos entre Governo e iniciativa privada. O novo texto legal, já em seu art. 1º veio facultar à administração pública a utilização da “arbitragem para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis”, destacando apenas que, no caso do contrato ter como parte a administração pública, a arbitragem “será sempre de direito e respeitará o princípio da publicidade”. Debaixo do beneplácito do artigo, alocam-se todos os

seguros de grandes riscos que protegem obras de vulto e outros projetos públicos. Até mesmo o Judiciário, pela manifestação do ministro Luiz Felipe Salomão, mostrou-se satisfeito com a nova aplicação, declarando no jornal Valor Econômico que “a expectativa é de que isso vai atingir contratos de grande envergadura e que podem atrair bastante investimento estrangeiro”. O segundo ponto é a manutenção do texto do §2º do art. 4º da Lei 9307/1996, que permite a cláusula compromissória de arbitragem nos contratos de adesão “se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição...”. Vale ressaltar que o texto aprovado no Congresso Nacional e remetido à Presidência da República vedava a aplicação da arbitragem aos contratos de adesão, mas recebeu veto total. É primordial para o Judiciário poder contar com mais rigor na aplicação da arbitragem, estendida agora à área pública, para a composição de conflitos, aliando-se à mediação, conciliação e moderação, que seguem se desenvolvendo e aperfeiçoando sua atuação na esfera da iniciativa privada.


ESTUDO CNSEG

A CAPACIDADE DE SE BENEFICIAR DAS ADVERSIDADES de de crescer mesmo num momento econômico adverso como o atual?

Por NÚCLEO DE ESTUDOS E PROJETOS

Os mercados de seguro de países em desenvolvimento, como o Brasil, têm uma componente antifrágil em sua natureza.

Certamente esta pergunta possui diversas facetas, difíceis de serem devidamente analisadas num curto texto. Mas pode-se afirmar que os mercados de seguro de países em desenvolvimento, como o Brasil, têm uma componente antifrágil em sua natureza. Isso porque, mesmo tendo passado por numerosas adversidades financeiras, o mercado segurador mundial, que apresentou uma desaceleração em seu crescimento, avançou e se recriou ao longo do tempo. Evoluiu na busca de pilares sólidos de solvência que ofereçam segurança para a sociedade e que o tornem um dos grandes investidores na estrutura econômica estabelecida. SUSTENTABILIDADE DO NEGÓCIO

O

escritor Nassim Taleb afirma que ‘antifrágil’ é aquele que tem capacidade de se beneficiar das adversidades. Trazendo esse conceito para o nosso setor, a relação do mercado segurador com a economia seria antifrágil? Teria o mercado segurador, especialmente o brasileiro, a capacida-

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Um exemplo recente é a crise financeira internacional de 2008, que inspirou grandes projetos do setor na procura da melhor estimativa de capital requerido para solvência, levando-se em consideração os riscos aos quais uma seguradora está sujeita. Esses projetos têm por finalidade intrínseca promover o uso, nas empresas, das melhores práticas de governança e compliance, além de garantir a sustentabilidade do negócio frente a volatilidades.


Em se tratando de turbulência financeira, o Brasil, com histórico recente de estabilidade econômica, demonstra a capacidade do mercado segurador ao longo dos anos, por meio de seu crescimento significativo. Ilustrativamente, este mercado – que inclui seguradoras, EAPC’s, sociedades de capitalização e todas as operadoras de saúde – alcançou R$ 327 bilhões em arrecadação no último ano, com um crescimento médio anual desde 2008 de 14% em termos nominais, ou 8% em termos reais. O grande volume das provisões técnicas, geradas a partir do montante arrecadado, faz com que este mercado se torne um dos grandes acumuladores de poupança interna, capaz de auxiliar no desenvolvimento nacional, por meio de investimentos diretos e indiretos. Em 2014, o total de investimentos realizados pelo mercado segurador, computando-se o patrimônio líquido e as provisões técnicas, chegou a quase R$ 700 bilhões. Frisa-se que grande parte destes investimentos é feito em títulos de emissão do Tesouro Nacional, mecanismo utilizado para financiar projetos do Estado. PILARES DE CRESCIMENTO Diante desse cenário, aponta-se a seguinte questão: estaria o mercado segurador dependente do bom desempenho econômico do País ou será um dos grandes agentes responsáveis por sustentar os pilares de crescimento nacional?

Sua função anticíclica, no sentido de estabelecer o equilíbrio econômico de um país deve ser destacada. Para que uma economia se mantenha aquecida em meio a uma dificuldade financeira, o nível de consumo deve ser minimamente afetado. Entretanto, as prioridades da população nesse momento se alteram, de forma que a perda de um bem material não impulsiona a reposição deste bem, a não ser que este esteja segurado.

O Brasil com histórico recente de estabilidade econômica, demonstra a capacidade do mercado segurador ao longo dos anos, através de seu crescimento significativo Como retorno direto à sociedade, apenas em 2014, o setor pagou em sinistros, indenizações, sorteios e resgates de capitalização e benefícios de planos de caráter previdenciário o montante de R$ 167,1 bilhões e em resgates de provisões de caráter previdenciário R$ 40,3 bilhões, no País.

Como se observa, a amplitude do setor beneficia diretamente milhares de segurados que, avessos aos riscos, encontram no seguro a garantia à sua proteção, de sua família e da sociedade por preservar condições de sustento e o próprio patrimônio. Como consequência, a paz e a ordem pública são preservadas e a máquina econômica continua a girar. EXPOSIÇÕES A RISCOS Diante do alcance que a atividade seguradora oferece para a segurança econômica e social de um país, em momentos de grandes exposições aos riscos, o mercado se depara com uma oportunidade desafiadora de acelerar o amadurecimento e incentivar uma mudança cultural do corpo social, a fim de possibilitar o crescimento do índice de penetração do seguro, ou seja, o grau do seu consumo pela população. As estatísticas apontam que este fenômeno está acontecendo no Brasil. Ao comparar-se o total de 123% de crescimento na arrecadação do mercado segurador no período de 2008 a 2014, em comparação com o crescimento da economia brasileira de 78% neste mesmo período, vê-se um crescimento a passos largos. Diante das evidências apontadas, sobressai a característica antifrágil do setor, influenciando positivamente a economia, e despertando, no corpo social, a consciência para a capacidade deste mercado em ajudá-lo.

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BIBLIOTECA

UM GUIA PARA A EXCELÊNCIA NAS VENDAS Por JOSÉ FERNANDO BARON Especialista em Gestão Estratégica da Informação pela UFMG

Livro ensina como gerar bons resultados para os negócios quando ninguém está comprando

N

ão, este não é mais um livro com instruções milagrosas de como arrancar vendas. Tom Hopkins, o autor, um dos mais bem-sucedidos vendedores imobiliários que os Estados Unidos já conheceram, não conseguiu sua fortuna com passes de mágica. O que ele colocou nas páginas deste livro foi o caminho das pedras do seu sucesso, como ele se tornou um dos milionários mais jovens (aos 27 anos) da indústria imobiliária americana. Como conseguiu vender 365 imóveis num único ano.

VENDAS EM TEMPOS DE CRISE Autor: Tom Hopkins Editora Best Business Ano: 2015 / Nº Páginas: 286

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Com um verdadeiro passo a passo de como obter sucesso em vendas, Tom nos mostra como as nossas atitudes “pró-vendas” nos levarão a concretizar os negócios no dia a dia, sempre independentemente da situação do mercado, assim como nossas atitudes “anti-vendas” nos levarão ao fracasso. De forma clara e bastante didática – sua empresa de treinamento em vendas, a Tom Hopkins International é conhecida mundialmente – ele passeia pelas técnicas de vendas, demonstrando porque negligenciá-las pode significar perda de negócios, às vezes não a curto prazo, mas a médio e longo prazo, tornando-nos mais suscetíveis ao impacto quando chegam as crises, da mesma forma que as utilizando corretamente continuaremos a ter sucesso, independentemente dos humores do mercado. Às vezes, uma venda forçada significará várias vendas perdidas no futuro.

Quando uma crise chega, as compras de empresas, famílias e pessoas imediatamente diminuem, tornando o ‘bolo’ de recursos para se comprar menor. Porém, aqueles que dele querem comer (vendedores que precisam vender em troca destes recursos) continuam do mesmo tamanho. Logo, o bolo será insuficiente para todos, daí alguns conseguirem uma fatia maior em detrimento de outros que sequer pegarão um pequeno pedaço. O segredo do sucesso na crise é ficar entre os que comem os maiores pedaços. E é exatamente o que Tom nos ensina neste interessante livro. Dividido em 12 capítulos, aborda os assuntos de forma clara, didática e objetiva, desde uma abordagem sobre a profissão de vendas – gerente comercial, gerente de relacionamento, consultor de vendas, profissional de vendas, não importa a denominação, todos somos vendedores – os tipos de vendedores, as técnicas de vendas, aprofundando os assuntos com exemplos da vida real, vividos por ele quando atuava como vendedor ou de colegas e colaboradores, nos mais diversos ramos de negócios. Se você é um vendedor experiente provavelmente encontrará nas páginas deste livro as razões para aquela venda perdida, aquela dificuldade enfrentada noutra negociação, enfim, identificará diversos eventos de sua vida profissional retratados e explicados. Se você ainda é iniciante nesta apaixonante profissão, aprenderá como agir para obter o sucesso esperado. Após a leitura, você compreenderá exatamente o que é o mercado, quais as forças que agem sobre ele, como ele reage a cada tipo de estímulo e como são tomadas as decisões, quando e porquê. É um livro rápido, você o lerá em pouco tempo, mas não se iluda, você voltará às suas páginas diversas vezes. É como um livro de cabeceira, consultá-lo poderá se tornar uma rotina, uma salutar e profícua rotina.


OPINIÃO

É HORA DE TER PACIÊNCIA Arquivo CNseg

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA, jornalista e especialista em Seguros e Previdência

O

Brasil vive uma crise. A inflação atinge 8% ao ano, o desemprego sobe, a indústria está em recessão e o comércio sente o momento. Na contramão do País, no primeiro trimestre do ano o setor de seguros cresceu em patamares significativos. Mas é uma leitura delicada. Para depurar os números é necessário levar em conta como se dá o faturamento da atividade. Em média, os prêmios são parcelados, seu pagamento não acontece à vista, mas ao longo do tempo, num determinado número de meses. Sob esta ótica, a maior parte dos prêmios do primeiro trimestre diz respeito a seguros fechados em 2014. O real impacto da crise sobre a atividade só será mensurável no final do segundo trimestre. Além disso, é importante descontar a inflação do período. Mesmo assim, o setor de seguros deve apresentar um desempenho positivo, bem acima da média da economia. Seguros é um setor de apoio, que serve para garantir a manutenção da capacidade de atuação e do patrimônio nacional. É uma ferramenta de proteção social, ou seja, se a sociedade cresce, o setor cresce com ela; se há uma crise, ele encolhe. Só que esta verdade, como a maioria dos fatos da vida, é relativa. Ninguém discute que em 2015 as seguradoras

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Apesar das dificuldades econômicas, o setor de seguros deve apresentar um desempenho positivo, bem acima da média da economia. Ainda que grandes economistas prevejam um 2016 tão difícil quanto 2015, depois dele virão 2017, 2018 e assim por diante. Agora é o momento certo para planejar o futuro. Antonio Penteado Mendonça

venderão menos apólices para carros zero quilômetro. Não tem como ser diferente. Ao longo do ano a indústria automobilística venderá menos veículos que em 2014. Então, as seguradoras também venderão menos seguros nesta carteira. De outro lado, uma grande parte dos veículos que estavam segurados no ano passado terá seus seguros renovados este ano. Somados aos seguros novos que serão contratados, teremos um resultado geral positivo, o que não significa que todas as companhias manterão a produção e que todos os corretores continuarão crescendo.

Este é o ponto que é preciso focar. Em época de vacas magras é fundamental se conhecer o cenário e ser o mais cauteloso possível. Não é hora de grandes invenções, nem de grandes tacadas, pelo menos em campos saturados, como é o caso do seguro de veículos. O que fazer? O Brasil é maior do que a crise. Ainda que grandes economistas prevejam um 2016 tão difícil quanto 2015, depois dele virão 2017, 2018 e assim por diante. Agora é o momento certo para planejar o futuro. O país tem poucos seguros por habitante. A penetração dos produtos ainda é restrita basicamente à classe média e as apólices contratadas mal cobrem 25% da frota de veículos. No campo dos seguros patrimoniais, mais de 18 milhões de residências não são seguradas. A maioria das empresas ou não tem seguro ou tem garantias insuficientes. O agronegócio necessita de apólices modernas. Há espaço para os produtos de pessoas se desenvolverem bem mais. Há demanda por outros tipos de cobertura. Enfim, passada a crise, o setor tem condições de retomar o ritmo de crescimento acelerado que foi sua marca nos últimos 20 anos. A paciência é uma virtude. É só aguardar o momento certo.


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