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Um ix>m sambP®"ioulo doido

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Autommsno niundo

Autommsno niundo

(ou) A fmportancia da gor<i' coco na cultura brasileira

Qmaisimportante em materia

que aconteceu este ano de j de culture no Brasil(salvo erro histdrico ou omissao de dtica) foi a mostra que a Funda9ao Bienal de SSo Paulo organizou no PavilhSo do Parque Ibirapuera em Janei ro. O ti'tulo, Tradifao eRuptura(que, obviamente, nSo foi criado por um jornalista), pode ser enganoso, mas ali estiveram 1,333 obras (e o mimero, em si, nao tern importancia), sintetizando toda a histdria da arte no Brasil durante cinco seculos.

E o que a revista Veja chamou de "mais ambicioso e abrangente sambaenredo jd montado sobre a produgSo arti'stica do Pai's", acertadamente.

Um samba do crioulo dpido, por certo, mas como nao poderia deixar de ser, que incluiu a arte indigena prdcabralina, os pintores holandeses, os escultores do barroco espontaneo e aparentemente desinformado de Mi nes, OS mestres da .Missao Francesa, OS artistes da Semana da Arte Modema e os grandes nomes das Bienais, com umas arqueoldgicas, relicarios, mdveis entalhados ou simph'ssimos, antevendo Bauhaus, prataria, pintura, o escambau, como diria um mineiro.

Realmente, ndo faltou ao trem da arte a fotografia, o desenho industrial ou a arquitetura, E se os puristas po- dem indicar ausencias lamentaveis ou sentidas, isto significa apenas que exposigdes como esta poderiam ser organizadas as dezenas, com o mesmo sentido e sucesso. Acontece que esta foi a primeira, com um resultado correto: nunca houve uma panoramica tSo perfeita sobre a arte brasileira. Quantos de n6s conhecemos a obra de Frei Agostinho da Piedade ou vimos de perto um trabalho autentico do Aleijadinho? Quern ja viu um original de Debret e teve a oportunidade de observer um ex-voto que nos leilCes europeus alcanqa pregos inacreditaveis, como alguns que, recentemente, permitiram a reconstru1^0 da ermida de Nossa Senhora da Pena?

Nao serd, por certo, a melhor brasiliana reunivel. Mas 6 tao boa que ate atraiu othares e atengoes estrangeiras. E nos, pobres colonizados, sabemos bem, por triste experiencia, 0 quanto a pobre mde gentil dormiu, enquanto era espoliada em tenebrosas transagOes, como diz a letra do samba-enredo que, em boa hora, Chico Buarque fez para redimir o chamado samba do crioulo doido.

Melhor, certamente, e que e uma exposigdo facil de ser vista e admirada e entendida. Ela nio 6 intelectual, cerebiina, nd^o foi montada a partir de uma tese academica. Na verdade, ...como diz o JoSo Maurino (autor da iddia, um dos membros do Conselho de Arte e Cultura da FundagSo Bie nal), a exposigSo "d uma feira", mon tada para quern n5o sabe, nSo leu, nSo estudou sobre arte mas tem um pouco de sensibilidade e olhos para ver.

Nao tenho noti'cia mais detalhada do esforgo que foi reunir tudo aquilo, mas di para imaginar, pela origem e preciosidade. Mas o que mais entusiasma, pelo menos a este pobre escriba, d que houve coisas niuica vis tas pelo chamado grande pdblico e que estavam ciosamente guardadas pelos seus possuidores,fora das vistas e do conhecimento. Basta dizer que, no total, 22 pessoas e instituigOes foram chamadas a ceder trabalhos para a mostra. Sem ganho.

Museu da Oidcara do Cdu,Museu do Agude:dois bons exemplos do legado de ^ymtodo de Castro Maya,introdutor ^gordura decoco no Brasil m prato cultural da melhor qualidade d ir passear na Floresta da Tijuca, no Rio. Que pouca gente sabe mas foi plantada por um certo Major Archer, mais oito escravos, quando ali deixou de ser uma enorme fazenda de cha e cafe. Pois encravada na floresta fica a antiga casa de campo do milionario Raymundo de Castro Maya.

Na ddcada de 40 ele foi convidado a reformer o Parque Nacional da Ti juca, entSo em quase complete abandono. Trabalhou quatro anos, fez um trabalho admiravel e ganhou, do Presidente Getulio Vargas, seu pagamento: um cruzeiro, de ouro.

Sua casa de campo na Estrada do Agude, 764 (Alto da Boa Vista) foi transformada, por ele mesmo, num museu, parte da Fundagao Raymun do de Castro Maia. 0 chamado Mu seu do Agude, numa area de mais de 150 mil metros.

Mesmo assim, podemos vet ainda, agora que o Museu reabriu, originais de Frans Post e de Taunay, o incri'vel di'ptico fncendio e Restauragao do Recolhimento de Nossa Senhora do Parto de JoSo Francisco Muzzi e um aparelho completissimo de porcelana da Companhia das Indias, mai's os azulejos Portugueses, al4m dos azulejos franceses trazidos de Alcantara, no Maranhao, e de 67 esculturas em barro da primeira fase de Mestre Vitalino.

Havendo tempo (e nSo convem almogar na Floresta porque os dois restaurantes sSo fraqutssimos, tanto o que funciona na antiga casa de escra vos do Major quanto o que funciona na villa de Taunay),complete a visita indo ao outro museu Castro Maya,o da Chacara do Ceu,em Santa Teresa. La,onde ele morava,estao,por exemplo, alguns dos melhores quadros de Portinaii e toda a sdrie de ilustragoes que fez para o Dom Quixote.

Morto em 1968 o patrono, os govemos da cidade nSo cuidaram, como deviam.doincrivel patrimonio.O mu seu esteve fechado por 121ongosanos e a umidade colou nas molduras a maior colegSo existente de originals de Debret:quase

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nhos, que vi muitas vezes na galeiia que Castro Maya fez construir especialmente para conserva-los e exibi los.

Pena que nSo possamos fazer a vi sita saboreando um dos maiores tesouros que Castro Maya escondia sob uma porta de ferto no tetrago de entrada: os vinhos de sua adega excepcional, ja degustados, merecidamente, pela equipe de restauradores, a sombra de obras de Mestre Valentim, Dali, Picasso, Matisse, Modigliani.* oce pode nSo ter medo de Virginia Woolf, por exemJ plo. Mas de avUo...sei nSo.

.Nao se avexe, no entanto, pois esta longe de ser minoria. Como voce, ha muitos que tem vergonha de admidr. Outros, porem, mais desinibidos, nSo se acanham em confessar que preferem o trem, o automovel e at6 mesmo o onibus. E claro que os nost^gicos do "Orient Express" e dos transatlanticos de luxo constituem uma raga em extingao, "stricto sensu". DivagagOes a parte, ao se fa- ' lai em respeito pelo mais pesado que o ar, logo nos acode a doce figura do samfaista e boemio — com perdSo do pleonasmo —, Giro Monteiro, que, obrigado a ir a S£o Paulo todas as semanas para cumprir um contrato radiofonico, fez do notumo da Central a sua "ponte terrestre".

Os ufanistas, entretanto, nSo vejam na preferencia pelos vei'culos que n3o ousam desariar as leis da gravldade qualquer range de mi vontade com o invento do genial patriclo San tos Dumont. Hi razdes mais prosaicas: o ptego das passagens aireas i que anda pela bora da moite, como, de resto, tudo o mais neste pafs da inflagSo. Mas nos bons tempos do "FormigSo", como o Giro era conhecido na roda, era medo mesmo. Dai' ele chamar o Vera Gruz de "aviSo dos covardes".

Para seu console, todavia, muita gente famosa padecia e padece do mesmo mal. 0 poetinha Vinicius de Morals que o diga,la de cima. Embora nos dias de hoje possamos citar alguns aerofobos ilustres, como Tom Jobim e Jorge Amado, a verdade i que tambim existem os recordistas do ar, que passam mais tempo num aviao do que em terra firme. Entre eles, a palma cabe sem favor a Alfre do Machado,PDG da Record, editora de tantas celebridades - inclusiye do prdprio baiano Amado e da EricaJong, autora do "best-seller" erdticoanali'tico dos anos 70:"Fear of Fly ing", que muita gente leu nSo necessariamente preocupada em veneer o medo de voar.

...e boa viagem - "V6o 2025 com destino a Nova lorque, embarque imediato, portio mimero 2". A voz grave e afetada da locutora ressoa no espago frio da sala de espera do aeroporto. Os passageiros se organizam em fila, respondendo a chamada, mas ninguim deixa transparecer o que Ihe vai no fundo d'alma: uma apreensSo indefinida, um temor generalizado.

Aquele que nunca teve medo de voar que atire a primeira pedra! Todos nds, senio o tempo todo, pelo menos de vez em quando, sentimonos inseguros. Segundo uma pesquisa da Air Ganada, 27% dos passageiros tern medo. Outra pesquisa feita pela Boeing revela que 25 milhOes de americanos sofrem de fobia de aviSo.

Em contrapartida, em outros paises, as estatistlcas-nio dizem grande coisa; Sabe-se apenas que o aviio i o meio de transporte que causa mais panico a maioria das pessoas e que esse medo foi batizado pelos psiquiatras de Complexo de Icaro. Trata-sei de uma fobia, um receio irracional, absurdo, heranga dos temores infantis. Nas grandes capitals, mais de mil avides decolam e aterrissam diariamente. Apesar desse ndmero apreciavel e alentador, muitos viajantes em* barcam apavorados e enfrentam os ceus como se estivessem se despedindodavida.

Muitos passageiros tem um comportamento semelhante: mal o apareIho decola, esticam as pemas para a frente, afundam o coipo na poltrona, seguram com forga os bragos do assento e sjudam o piloto a levan* tar voo.

Angdstia — passageira clandestina - A angustia, depois de ter sido ignorada por muito tempo, i hoje cuidadosamente estudada. Os espedalistas da medicina aeroniutica dis* tinguem, essencialmente, dois comportamentos, espides de reagio de defesa do passageiro. Um adota o iso- pedla*Mm ® primeira que o ar Prf/i. • ^ P®*®™ os que padecem da fobia do mais pesado H 0"-PaqmatraseDsic4Sl.p., ^ lamento.afivelaamdscaraenSofala

Participa de tudo, fala e bebe muito e se identifica pela sihdrome da ja- ditn propriamente

° medo que existe pelo vizinT^'^ de tr ^P'o^ocada pelo "mn recinto%^^^'™°^ confinados

® agonia da esno tembdm

® viajante sabe ®

®3mpainha T 1^° aeronave parar u ® a 'magtna o petiaft ® cdrebro asteina neurov! ^ ® exdtar o ritmos respiratdrio e cardiaco acelerados.

•m^riiata: estfttt, ^ 'l^mse mSoB unudas.

Se voce conhece todos esses sintomas, por que n£o venc?r de uma vez a fobia?

Terapias para veneer o medoDe um modo geral, psiquiatras, neuropsiquiatras e psicdlogos sSo taxativos: d perfeitamente possivel ven eer esse maldito medo. Duas escolas se confrontam: a psicandlise e a terapia comportamental. A segunda tdcnica oferece resultados muito bons (mais de 80% de exito). "Nio piecisamos saber o porque da fobia", diz o Dr. Gerard Apfeldorfer."O objetivo da terapia i dessensibilizar os que tem medo pelo descondicionamento de suas reagdes em situagdes que 0 provocam."

0 bio-feedback i outra ttoiica de relaxamento que recorte ao uso de aparelhagem eletronica. Trata-se simplesmente de colocar o espfrito a escuta do coipo. Gragas a dispositivos ligados ao pacdente, pode-se captar fenomenos psicoldgicos geralmente inconscientes.

A ultima novidade em mat^ria de terapia mental 6 a sofrologia, tem4dio precioso contra a angustia, maa de efeitos um tanto demorados. Conselhos priticos para adquirir autocotttrole — Voce pode adquirir um autocontrole de emergencia sem precisar apelar para os tranqiiilizantes. Uma boa maneira de manter-se calmo 6 prever com bastante antecedenda a bora da partida, para poder cumprir sem afobagSo as formalidades de embaique. Se necessario, para relaxar, tome uma dose de ui'sque, nada mais. Encher a cara realmente nSo d a solugSo. A bordo, uma vez acomodado, proctire oontrolar-se fisicamente.

Outro exercido eficaz: o mon6logo interior. Assuma uma atitude positiva. Em vez de pensar que o aparelho vai cair, mentalize:"Dez horas de voo em vez de uma semana de navio, d fantdstico. Ganho cinco dias de fdrias!"

Por outro lado,como o medo costuma aumentar com a inatividade, faga alguma co^, nem que seja tried ou palavras cruzadas. if

Alberto Lopes

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