T1851 revista de seguros abril maio junho de 2010 ocr

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Mercado muda estratégia para conhecer melhor e dar mais visibilidade e proteção ao segurado --

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". E__,.MAIS:~.~ ENTREVISTA EXCLUSIVA COM OSUPERINTENDENTE DA SUSEP, PAULO DOS SANTOS,

"· . • . SOBRE METAS, PLANOS EPERSPECTIVAS PARA OFUTURO DO SETOR ~

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SUMÁRIO

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Paulo dos Santos, da Susep, diz que nas camadas mais pobres surge um nicho espetacular para seguradoras e corretores de seguros

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Mercado quer conhecer melhor o consumidor para desenhar produtos que atendam suas necessidades e alavanquem as vendas

26 a cifra que será aportado no País, o mercado de seguros já se movimenta de olho nas possibilidades que serão abertas pela Copa de 20 14 e Jogos Olímpicos de 2016

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Líderes globais da indústria do seguro se reúnem em Zurich e demonstram preocupação com os indicadores macroeconômicos mundiais

Com a crise na Europa, Brasil perde investimentos, mas mantém projeções de crescimento, puxadas pelo alto consumo interno

fndia dá exemplo de comercialização de produtos para pessoas de baixa renda e CNSeg lança fi/mete que fala da importância do seguro

Estudos baseados na longevidade e mortalidade dos brasileiros garantem precificação justa para os ramos de Vida e Previdência

Seguro de vida individual é o maior mercado a ser explorado no País ejá atrai olhares de investidores internacionais

ANS analisa a adoção de uma nova metodologia de reajuste para os planos e de um novo cálculo de mensalidade para idosos

E MAIS... • 4 - AO LEITOR 16- SEGURO GARANTIA • 18 - ENERGIA • 29 - FUNENSEG 32 - INSTITUCIONAL • 37 - BIBLIOTECA • 40 - SOLIDARIEDADE • 42 - OPINIÃO

CNSeg Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização

PftESIOEHTE Jorge Hiiãrio Gouvêa V~eira 1' VlCE-PRESIDEHTE Patrick Antônio Claude de Lanagoiti Lucas VICE-PftESIDENTES NATOS Jayme Brasil Garfinkel, Mareio Senia de Aiaujo Coliolano, Marco Antonio Rossi Ricardo José da Costa Rores VICE-PRESIDENTES Alrtooio Cássio dos Santos Nitton Motina DIRETORES Alexandre Malucelli, Antonio Eduardo Marquez de Rgueiredo Tnndade, Luis Emilio Maurette, Mário José Gonzaga f'lltrelli, Paulo Miguei Marraccini, Pedro Cláudio de Medeiros B. Bulcáo, Pedro Pereira de Freitas e Pedru Punn Junior CONVIDADOS Luiz Tavares Pereira Fiho e Renato Gamf'lS Martins RIJo

CONSB.JKl ASCAL Efetivos Haydewaldo Roberto Chamber1ain da Costa laénio Pereira dos Santos

CONSB.HEIROS- SINDICATOS João Gilberto Possiede e Júlio César Rosa

Elito<a-<:hefe: Ángela Cunha (Mib/RJ12.555)

REVISTA DE SBiUROS

Lúcio Alrtooio Marques

Órgão de divulgação do mercado segurador PUBUCAÇÃO INTEGRANTE 00 CONVENIO DE IMP!!ENSAOO MERCOSUL- COP!!EME. Em conjunto com SIDEMA (Serviço lnfoomativo do Mercado Segurador da República Argentina), El PRODUCTOR (PUblicação da Associação de Agentes e Produtores de Seguro da República Oriental do Uruguru) e Jornal dos Seguros (Publicação do Sindicato dos Corretores de Seguros e de Gapttalização do EstrOO de São Paulo).

Coordenação Editorial: VIA TEXTO AG. DE COMUNICAÇÃO viatexto@viatexto.com.br 21 • 2262.5215

SUplentes

José Mana Souza Teixeira Costa e Luiz Sadao Shibutani OOHS8Jfll SUPERIOfl PftESIDEHTE Jorge Hiiãrio Gouvêa Vieira CONSB.HEIROS Pcacio Rosa de Queiroz Rlho, Alrtooio Cássio dos Santos, caros dos Santos, ~erico Baroglio, f11!ncisco caiuby V~igal , Jayme Brasil Garfinkel, Jorge Estácio da SiM!, José castro Aiaújo Rudge, José Roberto Marmo Loureiro, Luis Emilio Maurette, Mareio Serôa de Aiaujo Coliolaro, Marco Antonio Rossi, Mário José Gonzaga Petrelli, Nittoo Motina, Patricl< Antôllio Cláude de Larragoiti ll.o:as, Pedro Pereira de Freitas, Pedro Punn Junior, Ricardo José da Costa Rores eThierry Marc Cláude Cláudoo CONSB.HEIROS NOTÁVEIS Alberto Oswaldo Cootinentino de Alaújo Eduardo Baptista Vianna, João Eli~o Ferraz de campos e José Américo Peón de Sá

CONSELHO EDITORIAl Ángela Cunha, Hélio Portocarrero de castro, Leonardo Laginstra, Luiz PeregnnoFemandes Vieira da Cunha, Neival Rodngues Frerras, Solange Beatnz Palheiro Mendes

Jornalista Responsavel: Vania Mell()(lOIO - MTB I4.850 Assisten1e de produção: MarceloMell()(lOto Colaboradores: Adriana Simões, Altamiro Júnior, Luciana Conti, Denise Bueno, Márcia Alves, Fernanda Thurter, Sônia Araripe, Jorge Clapp e Rose Scherer

Fotografia: Cláudia Mara Proje1D Gráfico: Jo Acs/Mozart Acs DlP: MORE-AI

3 Abril - Maio -Junho 2070 - Revista de Seguros - n° 873

REDAÇÃO ECORRESI'DNDfiictA: Assessoria de Comunicação Social- CNSeg Adriana Beltrão, Claudia Mara e Vagner Ricardo. Rua Senador Dantas, 74112' andar, Centro - Rio de Janeiro, RJ -cEP 20031 -201 Telex: (021) 34505-DFNES Fax: (21) 2510.7839Tet. (21) 2510.7777 www.viver.;eguro.org.br E-maM: cnseg@cnseg.org.br Escritório CNSeg/Brasilia SCN/Ouadra1illloco C- Ed. BrasiliaTrade Center- sala 1607 Gráfica:Walpnnt Distrtbuição: Serviços Gerais/CNSeg Periodi<:idade:Tnmestral Cin:utação: 5 mil exemplares As matérias e artigos assinados são de responsabilidade tios autores. As matérias PlJblicaitas nesta edição podem ser reproduzidas se idenffficada a fonte. Dfsbibuição Gratuita


AO LEITOR

Os bons ventos que embalam o setor ÂNGElA CUNHA, EDITORA

indústria brasileira de seguros segue os passos da economia e vive uma de suas melhores fases. Cresce a olhos vistos, indiferente aos sacolejos provocados pela crise econômica mundial, que teve eu período mais crítico no ano passado, e que ainda afeta países europeus, como a Espanha, Portugal e Grécia. Em 2009, o mercado segurador evoluiu quase 15% em relação a 2008, que também terminou com resultado positivo de 14o/o sobre o ano anterior. As perspectivas para 2010 continuam sendo otimistas, acompanhando a tendência de crescimento da economia. Acrescenta-se a este cenário o inegável aprimoramento dos profissionais do mercado e das atividades técnicas e operacionais do seguro. Isso, no entanto, não livra o mercado de ter de enfrentar antigos e novos desafios. Incluindo nesse rol a reforma da lei do seguro, visando a sua modernização; a regulamentação do microsseguro, que vai permitir que milhões de pessoas de baixa renda - que hoje já desfrutam de maior poder de compra tenham acesso também à proteção do seguro; a busca pela excelência na relação com o consumidor; e a criação de uma seguradora estatal, a Empresa Brasileira de Seguros (EBS), para seguro de garantia de obras de infraestrutura previstas pelo PAC e pelos projetos de realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos em 2016. Questões que estão na agenda de prioridades do novo presidente da CNSeg, Jorge Hilário Gouvêa Vieira. Assim que assumiu o comando da entidade, em abril, Jorge Hilário propôs ações voltadas para o fortalecimento do mercado segurador perante o Governo e a sociedade e para "redescobrir" o consumidor. Ele acredita que uma pesquisa mais aprofundada sobre esse personagem possa responder por que o seguro ainda precisar ser oferecido ao invés de procurado pelas pessoas. Nesta edição, entre outros assuntos, as bandeiras levantadas pela nova gestão da CNSeg, a posição da entidade frente a EBS, a conquista de tábuas biométricas brasileiras, os efeitos da crise mundial, os planos da nova diretoria da Agencia Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e as oportunidades que se descortinam com os eventos esportivos internacionais a acontecerem no País daqui a alguns anos. O leitor vai conhecer ainda o trabalho que vem sendo desenvolvido para dar ao segurado o tratamento vip que ele merece. Afinal, é a peça principal da engrenagem que move a indústria do seguro. Boa leitura! e

k O mercado tem novos e antigos desafios, que vão da reforma da lei do seguro ao combate à criação de uma seguradora estatal

DESTAQUE

Mercado se mobiliza contra a criação da EBS ~ CNSeg rechaça a criação da Empresa Brasileira de Seguros (EBS) , uma seguradora estatal proposta pelo Governo, e reúne argumentos jurídicos e técnicos para refutar a motivação das autoridades, que é calcada na suposta falta de capacidade do mercado de assumir os riscos dos grandes projetos de infraestrutura previstos para o País. Além da alegação de inconstitucionalidade da iniciativa, a Confederação quer comprovar que os recursos ofertados pelas seguradoras e resseguradoras aqui instaladas são mais do que suficientes para garantir proteção financeira aos grandes projetos em execução ou em processo de licitação. Outro forte argumento contra a criação da seguradora estatal é o fato de a indústria de seguros ter registrado um crescimento a taxas três vezes superiores ao Produto Interno Bruto (PIB) na última década- o que demonstra a solidez e o dinamismo do setor e comprova sua capacidade de atender à demanda que se anuncia. e

4 Abril- Maio -Junho 2010 - Revista de Seguros - n°873


ENTREVISTA I PAULO DOS SANTOS

OS SEGUROS POPULARES TERÃO INFLUÊNCIA CRESCENTE NOS RESULTADOS DO MERCADO

Economist~ Paulo dos Santos avisa que a Susep sempre adotará as medidas necessárias, ainda que firmes, para manter a saúde do setor

AlTAM IRO J úNIOR

mercado de seguros deve continuar crescendo a taxas de dois dígitos nos próximos anos, puxado pela expansão da economia e o consequente aumento do emprego e da renda da população. Nesse cenário, os seguros populares e os microsseguros terão influência crescente no resultado do mercado e serão um nicho espetacular para seguradoras e corretores de seguros. A previsão é do titular da Superintendência de Seguros Privados (Susep), o economista Paulo dos Santos, formado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, com cursos de especialização na área de Gestão Empresarial, na Fundação Getulio Vargas (FGV). Funcionário de carreira do Banco Central há 32 anos, Paulo dos Santos entrou para o mundo dos seguros em abril de 2008, quando passou a

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fazer parte da diretoria da Susep, cuidando da área de Administração e Finanças. Exatos dois anos depois, em abril deste ano, foi nomeado para comandar a Susep, em substituição a Armando Vergílio dos Santos, que deixou a instituição para se dedicar à carreira política. Nesta entrevista, o titular da Susep afirma que uma das metas de sua gestão é estreitar a comunicação com o mercado e diz que o Projeto de Lei 3555/04 de autoria do deputado José Eduardo Cardozo (PT/SP) - que muda as regras do setor de seguros - é uma ideia nobre, mas "precisa de diversos aperfeiçoamentos". Argumenta que o Brasil já tem mais empresas operando no resseguro do que seguradoras, o que indica que o País tem capacidade para assumir os riscos que serão demandados pelas novas obras de infraestrutura, previstas para os próximos anos. •

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ENTREVISTA

"Não foram poucas as pessoas que subiram na escala social, saindo da classe D para a C. Esses cidadãos adquiriram bens que precisam ser garantidos pelo seguro, para que o sonho não se desfaça diante de um infortúnio qualquer"

Revista de Seguros - O senhor acaba de assumir o comando da Susep. Quais são as metas principais para sua gestão? Paulo dos Santos - A meta principal é fortalecer o órgão regulador, as operadoras e corretores e os consumidores. A Susep agirá sempre que necessário para manter a equidade entre os atores do mercado. Para tanto, apostamos no diálogo franco, aberto e direto. Contudo, sempre que for preciso, vamos adotar as medidas necessárias, ainda que firmes, para manter a saúde do setor. Quais os principais projetos da Susep para o setor de seguros no Brasil? !:~ Em primeiro lugar, vamos investir sempre no aprimoramento da qualidade do atendimento prestado ao consumidor. Na Susep, estamos buscando agilizar as soluções de problemas e minimizar o tempo de atendimento ao segurado. Como disse antes, também vamos direcionar o nosso foco para a aproximação com o mercado, através do diálogo. A sinergia nas ações adotadas pela Susep e pelo setor privado é um dos pilares que sustentam o crescimento do setor. Outro ponto importante é o processo de adequação do mercado às boas práticas recomendadas pelos organismos internacionais. Como o Sr. avalia o mercado brasileiro de seguros hoje? Ele mantém nos próximos anos o ritmo de crescimento atual, sempre na casa dos dois dígitos? !:10 mercado vem crescendo acima do PIB brasileiro. Entre 2007 e 2009, a receita apurada nos mercados de seguros, capitalização, previdência aberta e resseguros registraram um incremento de 50%. Somente no ano passado, essas receitas somaram algo em torno de R$ 100 bilhões. Essa tendência deve ser mantida nos próximos anos. Quais segmentos dentro do setor de seguros devem crescer mais nos próximos anos? ~ São muitos os segmentos que devem crescer. No topo da pirâmide, que englobam os grandes riscos, temos as obras do PAC, os investimentos do setor privado e os eventos esportivos tais como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, que formam 6 Abril Maio Junho 2010 - RevistadeSeguros n°873

um cenário bastante promissor para o mercado de seguros. Mas há também a recuperação do poder de compra da população de baixa renda. Não foram poucas as pessoas que subiram um patamar na escala social, saindo da classe D para a C. Esses cidadãos puderam realizar antigos sonhos e adquirir bens que, até então, estavam fora do seu alcance. E esses bens precisam ser garantidos pelo seguro, para que o sonho não se desfaça diante de um infortúnio qualquer. Desse contexto surge, entre as camadas mais pobres da população, um nicho espetacular para seguradoras e corretores de seguros. Os seguros populares e, mais adiante, o microsseguro terão influência crescente nos resultados do mercado e é preciso estar atento a essa realidade.

Qual sua opinião sobre Projeto de Lei 3555/04 do deputado José Eduardo Cardozo (PTISP), que propõe atualização das normas sobre seguros, reunindo-as em uma lei específica? !:IA ideia é nobre, mas o projeto precisa de diversos aperfeiçoamentos. Deveria haver regras gerais e não específicas, sob o risco de engessar o mercado ou o seu desenvolvimento. O projeto dá tratamento uniforme para produtos muito diferentes entre si.


As regras de solvência vão entrar em um novo estágio, agora para os riscos de crédito, após a implementação das regras nos riscos de subscrição nos últimos anos. Como está a agenda? As seguradoras estão preparadas? :>As discussões ainda estão sendo conduzidas internamente. Mas, antes da implementação, o assunto será debatido através de audiência pública. Portanto, as companhias de seguros já vêm participando da discussão e continuarão participando. Posso antecipar que não haverá grandes surpresas.

Como está o trabalho da Comissão Especial Permanente que foi criada em março? Qual a agenda de trabalho e principais objetivos? :> Foi realizada uma primeira reunião, em março. Agora, estamos na fase de elaboração do regimento interno. Essa Comissão é muito importante para o mercado, pois irá propor ações de ordem técnica e jurídica com o objetivo de aperfeiçoar a regulamentação, bem como as práticas de governança corporativa das empresas supervisionadas. Como estão as discussões para o microsseguro. O que esperar para 2010? :> Neste momento, estamos acompanhando as experiências realizadas pelas seguradoras em áreas carentes. Pretendemos também aprofundar a discussão das regras inerentes ao microsseguro. Qual sua opinião sobre a criação de uma seguradora estatal para o mercado de crédito e garantias? :>A Susep ainda não participa das discussões acerca da possível criação dessa empresa. Então, não há como emitir opinião sobre a proposta.

Como o Sr. avalia os dois anos de abertura do mercado de resseguros, completados em abril, e a entrada da Susep na regulação e fiscalização do setor? :> Estamos indo bem. Até o dia 31 de maio, foram autorizadas a operar no Brasil 86 resseguradoras e 32 corretoras de resseguros. Isso significa que já temos mais empresas operando no resseguro (118) do que seguradoras em atividade (116). Das 86 resseguradoras, 22 são admitidas; 58, eventuais; e seis, locais. O modelo aprovado pela Susep, a partir de um diálogo com o setor privado, vem se mostrando adequado frente às necessidades do mercado. O mercado brasileiro de resseguros tem capacidade para atender a todos os riscos que vão surgir com os novos projetos de infraestrutura? :> O mercado de resseguros vai bem. Eu não tenho dúvidas de que o mercado tem total capacidade para atender a todos os consumidores. Temos seguradoras fortes e canais de distribuição prontos para atender a população. Além disso, se for preciso, será feito o repasse dos excedentes para o mercado internacional. As 86 resseguradoras e 32 corretoras de resseguros autorizadas a operar no Brasil estão aptas a realizar esse trabalho.

Ainda há espaço para consolidação no setor de seguros? Podemos ver mais fusões e aquisições como nos últimos anos? :> O mercado é dinâmico. Tudo é possíveL•

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'tA sinergia nas ações adotadas pela Susep e o setor privado é um dos pilares do cresci menta do setor. Também é importante o processo de adequação do mercado às boas práticas recomendadas pelos organismos internacionais"


CONSUMO E CRESCIMENTO

Se or se reinv nta par O aumento do poder de compra, os investimentos e as obras d

LUC IANA CONTI

despeito do crescimento que o mercado de seguros brasileiro vem registrando nos últimos anos - uma alta de 68% entre 2004 e 2009, índice muito superior aos 26% da inflação acumulada no período - o setor ainda não conseguiu alcançar a mesma fatia na composição do Produto Interno Bruto (PIB), observada em países não só da Europa, América do Norte e Ásia, como também em alguns vizinhos da América do Sul. Enquanto no Brasil os seguros representam 3,5% do PIB, no Chile, por exemplo, a participação do setor chega a 6% . "O mercado de seguros brasileiro ainda está muito distante das pessoas", avalia o presidente da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), Jorge Hilário Gouvêa Vieira.

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• Jayme Garfinkel: "Só o crescimento da economia já alavanca este mercado (de garantia das obras). As empresas estão estruturadas para encarar o desafio de conquistar novos espaços na economia"

Conquistar o consumidor e transformálo em 'embaixador' do mercado, de forma a contribuir para a promoção de um crescimento sustentado, tem sido a tônica das preocupações das lideranças do setor. Desde o início de março, quando foi realizada a I Conferência Interativa de Proteção do Consumidor de Seguros, o mercado vem promovendo várias ações com o intuito de melhorar cada vez mais as relações entre seus agentes e os consumidores de seguros (veja Box). Aproveitar a boa conjuntura econômica para realizar seu potencial de crescimento é um dos maiores desafios vividos hoje pelo mercado. "O aumento do poder de compra, viabilizado via aumento da renda, da massa salarial e de crédito, os novos investimentos realizados para atender essa demanda maior, e as obras de infraestrutura tornaram-se um aliado de primeira hora para o seguro ampliar sua atuação em todas as direções", avalia Gouvêa Vieira.

CNSeg cria plano de ação de proteção ao consumidor

• Solange Beatriz: "Calculamos chegar em 2015 com 60 milhões de associados. Em um cenário otimista, esse número pode chegara 83 milhões"

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~ As comemorações do mercado pelos 20 anos do Código de Defesa do Consumidor foram iniciadas em março com a "I Conferência Interativa de Proteção do Consumidor de Seguros", que resultou no compromisso da CNSeg de criar um plano de ação de proteção do consumidor. "Queremos crescer como mercado, mas não podemos nos tornar campeões de reclamações. Como indústria, temos que explicar nossos produtos de forma clara e simples", diz a presidente do Comitê de Relações do Consumo da CNSeg, Maria Helena Darcy de Oliveira, membro da Comissão de Ouvidoria e ombudsman do Grupo lcatu Hartford, lembrando que o princípio do mercado de seguros é o contrato de boa fé.

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Abril - Mato - Junho 20 7O - Revista de Seguros - n• 873

ACNSeg assumiu como compromisso propor adaptações das práticas comerciais do mercado de seguros, como a simplificação dos contratos, para permitir ao consumidor a compreensão do produto que ele deseja comprar. Osucesso desta iniciativa depende do esforço das empresas, dos órgãos reguladores e da defesa do consumidor para transformar o "segurês" em português. As federações, por sua vez, comprometeramse a promover a cultura de relacionamento harmônico com o consumidor. Para isso, vão editar manuais de boas práticas, veicular campanhas de esclarecimento e oferecer cursos de educação financeira para consumidores e de treinamento para jornalistas e Judiciário. Oseminário "A


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ais consumidores

nfraestrutura são aliados do mercado para ampliar sua atuação

As projeções de crescimento do mercado, segundo ele, estão entre as mais positivas de toda a economia este ano. Os índices variam de pouco mais de 10%, pelas contas da Susep (Superintendência de Seguros Privados), até cerca de 20% ou mais, pelas estimativas do próprio mercado. Um resultado excelente, já que as previsões de crescimento do PIB estão em aproximadamente 7%. Este quadro leva o superintendente da autarquia, Paulo dos Santos, a acreditar que, nos próximos dez anos, o setor abocanhe uma fatia de 10% a 12% do PIB. "As necessidades das obras do PAC 2 e os investimentos para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 solidificam as empresas seguradoras e fortalecem as operações de seguro e resseguro", diz. Mas ainda há obstáculos a vencer, segundo ele, pelo fato de o seguro não ser difundido como uma necessidade para garantir a saúde do patrimônio do brasileiro.

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Daniela Meireles

• Lauro Vieira: '~ garantia estendida é um exemplo de como o mercado está fazendo esforço para criar novos produtos e se beneficiar com o aumento do crédito e, portanto, do consumo"

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Arquivo CNSeg

Ouvidoria e o Cenário de Facilitação de Diálogos e Solução de Conflitos", promovido pela CNSeg, é parte deste esforço. Ao todo foram organizadas seis palestras, sendo que duas delas ainda serão proferidas. Veja a programação: "Sistema de manejo de conflitos e o ambiente empresarial" Dia 8 de julho, na CNSeg, no Rio Palestrante: Gabriela Asmar Debatedora: Maria Helena Darcy (Grupo lcatu) Mediadora: Luciana Galvão de Oliveira (BrasiiPrev Seguros e Previdência) "Arbitragem e o Seguro no Brasil" Dia 12 de agosto, na CNSeg, no Rio Palestrante: Pedro Batista Martins Debatedora: Maria Elena Bidino (CNSeg) Mediador: Sergio Mello (Pellon & Associados)

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- Revista de Seguros - no 873

• Maria Helena Darcy de Oliveira: "Queremos crescer como mercado, mas não podemos nos tornar campeões de reclamações. Como indústria, temos que conseguir explicar nossos produtos de forma clara e simples"


CONSUMO E CRESCIMENTO

Pesquisa revela confiança do segurado "Não é nem uma questão de preço, mas justamente pela cultura do brasileiro passar longe da contratação de seguros", diz Paulo dos Santos. Ele, no entanto, acredita que o mercado tenha hoje mais capacidade de atender os consumidores porque as seguradoras estão investindo em novos produtos, dedicados a situações específicas em que os clientes estejam envolvidos. "O consumidor deve confirmar suas reais necessidades na contratação de um seguro, inclusive para evitar gastos desnecessários e excessivos. Mas, antes, devemos difundir a importância de segurar nossos bens e garantir um futuro para nossos filhos", pondera. ce ár o Para ocupar este novo espaço no mercado, o setor está se reinventando, segundo o consultor da Escola Nacional de Seguros (Funenseg), Lauro Vieira de Faria. Ele destaca que, nos últimos cinco anos, o mercado ficou bem mais competitivo com as mudanças de posicionamento das empresas e fusões que têm ocorrido no setor de seguros. A reformulação da CNSeg é, para ele, mais um sinal deste esforço de modernização do setor. "Há uma mudança no mercado, que está entendendo que tem que partir para conquistar o consumidor e ofertar novos produtos. Com o crescimento da economia, o consumidor pode tgastar mais com bens e seguros, mas também está mais consciente de seus direitos", diz. Lauro Vieira cita a garantia estendida dos eletrodomésticos como exemplo do esforço do mercado para criar novos produtos e se beneficiar do aumento do crédito e do consumo. Esta carteira, que saiu do zero em 2004, já registrava no ano passado um volume de negócios de R$ 1,25 bilhão, ultrapassando os resultados do seguro residencial. "Enquanto o Brasil não alargar sua base até os patamares dos países desenvolvidos, o mercado de seguro tem muito a crescer", diz o consultor.

~ Odesafio de conquistar novos consumidores para produtos que o brasileiro não tem tradição de comprar fez com que o mercado de seguros investisse nos C!l Arquivo IBRC últimos anos na melhoria de sua relação com o cliente. Este esforço traduziu-se recentemente no resultado de uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Relações com o Cliente 0BRC), em parceria com a Revista Exame, em que o setor apareceu em segundo lugar na avaliação do consumidor, em um ranking ....}.,,__ composto por 15 segmentos - o primeiro lugar ficou com o setor de cosméticos. "O que percebemos é que no mercado de seguros há um nivelamento por cima no atendimento ao cliente", diz Alexandre Diogo, • Alexandre Diogo: presidente do IBCR. "Além de o setor ter Osegundo lugar conquistado pelo setor foi ficado bem entre as garantido pela boa pontuação das empresas, segundo a finalistas, nenhuma avaliação dos entrevistados. Cinco delas - Porto Seguro, de suas empresas Brasil Veículos, SuiAmérica Seguros, Mapfre Seguros e que participaram Bradesco Seguros - ficaram entre as 100 melhores de da pesquisa ficou um universo de 500 empresas. Apesquisa, divulgada entre as 50 piores" em abril, foi realizada em duas etapas. Durante oito meses, foram ouvidas 3.000 pessoas, em 150 cidades brasileiras. "Destas cinco empresas de seguros, três aparecem entre as 25 melhor avaliadas. Além de o setor ter ficado bem entre as finalistas, nenhuma de suas empresas que participaram da pesquisa ficou entre as 50 piores", explica Diogo. Oresultado animou o presidente da Comissão de Ouvidoria da CNSeg (Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização), Mario Teixeira de Almeida Rossi, ouvidor da Mapfre Vera Cruz Seguradora. "Achei excelente a pesquisa por ela ser um reconhecimento ao esforço que as seguradoras têm feito para melhorar seu atendimento. Isso é muito importante, mas temos que estar sempre aperfeiçoando nossos serviços", diz. Oinvestimento no atendimento ao cliente tem sido grande. As ouvidorias são um exemplo porque • Mario de Almeida representam uma segunda e independente instância Rossi: "Achei para o atendimento ao cliente. "Aação das ouvidorias excelente a reduziu o atrito dos segurados com a seguradora por pesquisa por ela ser ser um canal exclusivo para reclamações, que dá uma um reconhecimento resposta ao cliente em no máximo 30 dias. Além disso, ao esforço que as há o compromisso das empresas de aceitar as decisões seguradoras têm da ouvidoria", explica. Elas servem também como um feito para melhorar feedback dos serviç0s prestados pelas empresas para seu atendimento" orientar ações que visem a melhoria de sua relação com os clientes. "t comum os problemas aparecerem por dúvidas em relação a valores ou a contratos", conta Mário Rossi. Hoje, por seus cálculos, 35 grupos seguradores têm ouvidorias. Juntos, eles representam 90% da receita de prêmio do mercado.

10 Abril- Mato -Junho 2010 - Revista de Seguros - n°873


C!l Arquivo Pessoal

Os seguros gerais, por outro lado, tamca de produtos mais baratos. "Isso não é bém exemplificam o impulso que o novo fácil por causa dos altos custos na saúde e cenário econômico dá ao setor. A fatia deste da alta regulamentação do setor, mas estamercado pode crescer, segundo o diretormos preocupados em modelar produtos com presidente da FenSeg (Federação Nacional preços menores", ressalta Beatriz. de Seguros Gerais), Jayme Garfinkel, já que Hoje, 82% da população coberta por planos de saúde ganha mais de cinco saláalguns produtos têm bastante potencial de comercialização, como os de garantia das rios mínimos. Este esforço de buscar novos obras. "Só o crescimento da economia já alaassociados aliado ao crescimento da econovanca este mercado", diz. Ele acredita que mia e à inclusão de novos consumidores no as empresas de seguros estejam bastante mercado provoca bons prognósticos. "Calcuestruturadas para encarar o desafio de conlamos chegar em 2015 com 60 milhões de quistar estes novos associados. Em um espaços na economia. cenário otimista, esse O desafio da saúde Este é o caso da número pode chegar a complementar, que 83 milhões", diz Beaprevidência privada que tem lançado produtos triz. Este número é muiatende a 25°/o dos cujo público-alvo é a to expressivo, se consibrasileiros, é população de baixa renderado que, em 1997, conquistar da, como os VGBLs quando se discutia a (Vida Gerador de Beneregulamentação dos plaa população das fício Livre), Saúde e nos, havia 40 milhões classes C e O, que Educação. "Temos cresde consumidores e hoje, estão chegando ao cido quatro vezes mais 13 anos depois, há 45 do que o PIB e tudo mercado de consumo milhões. indica que nos próxiNo segmento da mos cinco anos este ritmo de crescimento capitalização, Rita Batista, presidente da dobrará", aposta o vice-presidente da FerraComissão de Produtos e Coordenação da Previ (Federação Nacional da Previdência FenaCap (Federação Nacional de CapitalizaPrivada e Vida), Renato Russo. Ele destaca ção), destaca o esforço para melhorar o posiainda, como tarefa de seu setor, a abertura cionamento dos produtos, que deixaram de de novos canais de venda para atingir o novo ser poupança apenas das camadas de menor consumidor que está entrando no mercado. renda. "Hoje o público de capitalização é muito heterogêneo", afirma. Isto abre muiProdutos modelados tas possibilidades para um mercado que Para o setor de saúde complementar, esperava crescer 15% este ano e já registrou que já atende a 25% dos brasileiros, o desaum aumento de 20,4o/o no primeiro quadrifio maior é a conquista da população das mestre, em relação ao mesmo período de classes C e D, que estão chegando ao mer2009. Ela, no entanto, toma o cuidado de cado de consumo. A diretora-executiva da ressaltar que este resultado pode ser fruto FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde das oportunidades de negócios criadas pela Suplementar), Solange Beatriz Mendes, desCopa do Mundo. "Ainda é cedo para sabermos se este ritmo se mantém ou se, no taca as dificuldades de ajustar os preços dos planos ao poder aquisitivo deste novo consegundo semestre, se aproxima de nossa sumidor ou, mesmo, de associados em busprojeção inicial", pondera. •

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Abnl- M01o- Junho 2010 - Revista de Seguros - n•B73

• Rita Batista: "O mercado lançou vários produtos específicos com o apeiQ da Copa. Por isso, ainda é cedo para saber se o ritmo se mantém ou se, no segundo semestre, se aproximada projeção inicial"

C!l Arquivo FenaPrevi

• Renato Russo: "Temos crescido quatro vezes mais do que o PIB e podemos desenhar uma curva que indica que nos próximos cinco anos este ritmo de crescimento dobrará"


NEGOCIOS ESPORTIVOS

Eventos impulsionarão toda a indústria do seguro Expectativa de oportunidades movimenta governos de vários países D EN ISE BUENO

s negócios que poderão ser gerados para o Brasil com a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 têm movimentado o vai-e-vem de executivos e membros dos governos entre vários países. Em junho, por exemplo, cerca de 700 empresários brasileiros e alemães se reuniram em Munique, na Alemanha, para debater as promissoras oportunidades que se anunciam para os dois países, durante o 28° Encontro Econômico Brasil-Alemanha. Diariamente se tem notícia de um novo fundo de investimentos criado por bancos brasileiros para atender à demanda dos estrangeiros interessados em aplicar seus recursos no Brasil. Ninguém sabe ao certo o volume de negócios, nem de investimentos, para que se possa ter uma ideia do quanto a indústria de seguros será beneficiada por esses eventos. "É difícil mensurar, pois há muito o que fazer para preparar o País para as duas competições", afirmou Joaquim Levy, secretário da Fazenda do Estado do Rio de Janeiro, durante o Seminário de Infraestrutura promovido pelos jornais Valor Econômico e Financiai Times, no Rio de Janeiro, em maio.

• Maracanã: o edital de licitação de modernização prevê a implementação de estrutura de energia solar e sistema de captação da água da chuva

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• Fernando Pereira: "Estão todos olhando para o Brasil e interessados em ofertar produtos e serviços para atender à demanda de seguros e garantir a conclusão das obras"

"As expectativas brasileiras para os próximos anos movimentarão a indústria de seguros em todos os segmentos" Marco Antonio Rossi

Taxa de investimentos A expectativa é de que a taxa de investimentos chegue a 21,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos quatro anos. Estudo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) prevê investimentos de R$ 310 bilhões para infraestrutura no período de 2011 a 2014. Os alemães querem ficar com boa parte disso. Segundo estimativas de Adilson Primo, responsável pela iniciativa "Win Win 20142016" e vice-presidente da Câmara Brasil Alemanha, dos US$ 50 bilhões estimados em 72

investimentos para os jogos esportivos, 40% podem vir da Alemanha, que desenvolveu grande experiência em jogos por sediar a Copa em 2006. O que o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, agradeceu. "Embora significativo o crescimento de 130% nos investimentos alemães no Brasil em 2009, este número pode crescer muito mais com as centenas de projetos que temos no País". Nem mesmo a renúncia imediata do presidente da Alemanha, Horst Koehler, no dia 31 de maio, tirou o ritmo do encontro BrasilAlemanha 2010. "Fiz questão de vir a este encontro, apesar de ser um dia inusitado na vida política do país, para dar a clara noção a todos de quanto o Brasil é importante para o governo da Alemanha", disse Guido Wester-

Abril Maio -Junho 2010 - Revista de Seguros n"873


welle, Ministro de Relações Exteriores da Alemanha. Guido encerrou o primeiro dia de um encontro marcado por dezenas de palestras com membros dos governos e empresários dos dois países. "O Brasil cada dia tem mais peso na mesa de negociações internacionais e queremos estar junto com todos vocês nas oportunidades de d e senvolvimento utilizadas para o bem dos nossos povos, seja na construção de estádios, de ferrovias, da arquitetura da segurança e na formação de profissionais", disse.

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Indústria de seguros E a indústria internacional de seguros não fica de fora de tantas expectativas. "Isso movimentará a indústria de seguros em todos os segmentos", diz Marco Antonio Rossi, presidente da Bradesco Seguros e Previdência e também da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi). "Se considerarmos a geração de emprego que as obras trarão, imagine o volume de seguro saúde, de vida e de previdência, só para citar a área de benefícios", acrescenta Patrick Larragoiti, presidente do conselho da SulAmérica Seguros e 1° vice-presidente da CNSeg. Enquanto as seguradoras brasileiras vislumbram o segmento de massificados, as estrangeiras se organizam para conquistar os seguros de grandes riscos. Octávio Bromatti, diretor de riscos patrimoniais da Mapfre, arrisca uma tímida projeção de valores em seguros: R$ 1 bilhão. Mas seus colegas apostam que será mais do que isso. Porém, não

ousam estimar um valor. Citam como exemplo a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, que movimentou valores acima de US$ 5 bilhões considerando-se todos os seguros. "Há excesso de liquidez no mercado e muitas obras paradas em vários países à espera da retomada do ritmo do financiamento. Por isso, o Brasil atrai a atenção das resseguradoras", disse Franco Ciamberlano, diretor executivo da Swiss Re, responsável por riscos de engenharia em vários países da Europa. Apólices básicas A alemã Allianz fechou um dos primeiros contratos ligados a Copa 2014, com o seguro de responsabilidade civil das obras de uma prestadora de serviços contratada pelo consórcio que irá reformar o Mineirão, em Belo Horizonte. Em junho, negociava apólices de riscos de garantia, responsabilidade civil e riscos de engenharia para cinco dos 12 estádios. "Estas três são as apólices básicas para os estádios. E depois temos muitas outras coberturas dependendo do projeto, como para risco de contaminação, de lucro cessante e de responsabilidade civil dos executivos, entre outras", diz Angelo Colombo, diretor da Allianz. As oportunidades são infinitas, afirmam os executivos de todas as partes do mundo. "Estão todos olhando para o Brasil e interessados em ofertar produtos e serviços para atender à demanda de seguros e, assim, garantir que as obras ficarão prontas dentro do prazo, mesmo com a ocorrência de acidentes", disse Fernando Pereira, vice-presidente e CCO da Aon Brasil, que atendeu centenas de clientes no "Brazilian Room", sala criada no evento RIMS 2010 (semelhante à Associação Brasileira de Gerência de Riscos- ABGR), realizado em Boston em maio. Eles queriam saber mais sobre o País escolhido para sediar a Copa e as Olimpíadas, que também é um forte candidato a ser a quinta maior economia do mundo nos próximos anos.e

13 Abril-Mato Junho 2010 - RevistadeSeguros -n•B73

· Angelo Colombo:

"Riscos de garantia, de engenharia e responsabilidade civil são as apólices básicas para os estádios. E ainda há muitas outras coberturas dependendo do projeto"

"Se considerarmos a geração de emprego que as obras trarão, imagine o volume de seguro saúde, vida e previdência, só para citar a área de benefícios" Patrick larragoiti


NEGÓCIOS ESPORTIVOS

Copa Verde :> Se depender dos brasileiros, das regras da Federação Internacional de Futebol (Fifa) e dos alemães, a Copa de 2014 no Brasil será um marco na história da produção de um evento sustentável. Nas recomendações da Fifa, contidas em uma cartilha, a sustentabilidade, expressa como "Green goal", está em um dos tópicos do primeiro capítulo. São padrões mínimos que devem ser levados em conta na construção ou reforma dos estádios para reduzir o impacto ambiental. Na lista, temos a utilização de fontes de energia renováveis, relatórios de impacto ambiental, neutralização de carbono e oferta de transportes menos poluentes, entre outras exigências. Mas os planos dos investidores e do governo brasileiro visam ir além das metas da Fifa. Os empresários ligados ao Green Building ("construção verde") criaram o Projeto 'Copa Verde ' para estimular a construção de uma infraestrutura não só para a Copa, mas para deixar um legado, ao que tudo indica, para esta que será a quinta maior economia do mundo, após os eventos esportivos. Critérios ecológicos Os ministros do Esporte, Orlando Silva, e do Meio Ambiente, lzabella Teixeira, firmaram um acordo em maio deste ano para incorporar critérios ecológicos na organização da Copa do Mundo de 2014. A meta é que seja a mais verde da história. O compromisso visa agilizar a concessão de licenças ambientais para os projetos que tenham um estudo embasado na proteção ambiental, priorizar meios de transporte mais limpos e promover o uso de produtos orgânicos. Os financiamentos terão de ter a certificação ambiental 'Liderança de Design em Energia e Meio Ambiente' (LEED), um sistema que mede a eficiência e o impacto ambiental, normalmente usado para edifícios tradicionais. Para conseguir financiamentos externos com o apoio do BNDES, de onde virão os recursos para a maioria das obras, há regras claras. Oprojeto tem de ter funcionalidade, boa acessibilidade, grande eficiência, baixo impacto ambiental, versatilidade e baixo custo de manutenção. Estes são os itens prioritáriqs para os financiadores. Oprojeto 'Copa Verde' sugere a construção de ecoarenas, assim como o Allianz Arena, um dos projetos mais sustentáveis no mundo, localizado em Munique. Além da tecnologia, os alemães pretendem ser responsáveis por algo próximo a 40% dos US$ 50 bilhões previstos para os projetos de infraestrutura para a Copa e para as Olimpíadas no Brasil. Oestádio Allianz Arena tem sistemas de coleta seletiva de lixo e captação de água da chuva para irrigar o gramado e para uso nas instalações sanitárias. Em três estádios, Kaiserslautern, Dortmund e Nuremberg, foram instaladas placas de captação de energia solar. A cobertura foi feita por painéis solares, que reduzem o consumo de energia elétrica. Energia para vender Oprimeiro estádio movido totalmente a energia solar fica em Taiwan, na cidade de Kaohsiung, com inauguração em julho deste

14 Abril- MGIO -Junho 2010

• A/lianz Arena: um dos projetos mais sustentáveis no mundo, localizado em Munique, na Alemanha

ano. Os 8.844 paineis vão produzir eletricidade suficiente para acender as 3.300 luzes do estádio e fazer funcionar as gigantescas telas onde o torcedor poderá ver detalhes do que se passa no gramado. A ideia, inclusive, é que sobre energia para vender. Oque seria uma boa iniciativa para o Brasil adotar. Entre as sugestões do que pode ser feito nos estádios do Brasil temos alimentos sem embalagens e copos reutilizáveis. Oarquiteto Ralf Franz Amann, diretor da GMP Artchitects do Brasil, que vem trabalhando com projetos sustentáveis para alguns dos estádios brasileiros, falou para empresários alemães dentro do Allianz Arena, onde foi realizado o segundo dia do encontro Brasil-Alemanha, patrocinado pela seguradora alemã. OMaracanã, no Rio de Janeiro, é um dos que poderá virar uma moderna ecoarena. Oedital de licitação de modernização prevê a implementação de estrutura de energia solar e sistema de captação da água da chuva, que seria tratada e reaproveitada na irrigação do gramado e nos banheiros e vestiários. Em Manaus, há muita disposição para ter um estádio verde. As ações vão desde a ventilação natural do local, para evitar o uso de ar condicionado, até a neutralização das emissões de gases, que causam o efeito estufa, gerados pela construção.

Adeptos do ciclismo Outro exemplo de sustentabilidade na realização da Copa na Alemanha que pode ser copiada pelos brasileiros é o estímulo do uso de bicicleta. t possível ir de bike a qualquer lugar no país. Há estacionamentos gratuitos próximos aos estádios e vagões de trens especiais para os ciclistas que podem percorrer o país inteiro de bicicleta com segurança. Além de ser uma planície, há pistas laterais nas rodovias e nas linhas de trens para os adeptos do ciclismo. Ganha o mundo com a redução de C02 e o país ao ter uma população mais saudável. Para que a 'Copa Verde' se torne realidade e não o que os americanos chamam de "green wash", ou seja, maquiagem verde, será preciso o empenho de todos: governo, empresários e sociedade. Qualquer pessoa pode dar sugestões no site www.copaverde.com.br.

- Revista de Seguros - n°873


Seguro e previdência são para resolver aborrecimentos e não para ser mais um. Só uma seguradora que tem o compromisso de trazer mais transparência e agilidade pode afirmar isso para você, corretor de seguros, e seus clientes. Preocupar-se com a saúde, a família, o futuro e o patrimônio é absolutamente normal. O que não é normal é você e seus clientes precisarem de uma seguradora e isso virar um aborrecimento. Esta é a diferença quando você trabalha com a SulAmérica. Você conta com 114 anos de experiência de quem procura fazer tudo de um jeito cada vez mais rápido, claro e fácil . A SulAmérica se preocupa com tudo para você e os segurados não terem que se chatear com nada. E você está convidado a fazer parte desta nova maneira de fazer as coisas. A gente acredita que agilidade e transparência são a combinação perfeita para evitar aborrecimentos. SulAmérica Seguros e Previdência. Se aborrecer pra quê?

sul a merica.com.br/seaborrecerpraque

SulAmérica associada ao

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SEGURO GARANTIA

CNSeg rechaça ideia de criação da seguradora estatal Mercado alega inconstitucionalidade da iniciativa, uma vez que seguro é considerado atividade privada

• Jorge Hilário, presidente da Confederação, apresenta argumentos contrários à criação da EBS e sugere que Governo invista em infraestrutura

Confederação Nacional de Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg) é frontalmente contrária à criação de uma seguradora estatal, e tem sólidos argumentos para demover o Governo da ideia de criar a Empresa Brasileira de Seguros (EBS) . No plano jurídico, o mais relevante argumento é de que a seguradora estatal fere a Constituição, o que significa que seu funcionamento pode ser barrado por meio de Adin ao Supremo Tribunal Federal (STF). "A Constituição diz que seguro é uma atividade privada e também há a Lei 5627, que impede que o estado tenha controle em atividade de seguro", afirma o presidente da CNSeg, Jorge Hilário Gouvêa Vieira. No plano técnico, o motivo é que o mercado segurador tem capacidade para oferecer proteção financeira a todos os grandes projetos em execução ou em fase de licitação na área de infraestrutura. "Há farta capacidade de recursos ofertados pelas seguradoras e resseguradoras no Brasil e no exterior", acrescenta ele, refutando o argumento do Governo que motiva a criação da EBS, o de suposta dificuldade de capacidade do mercado.

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"A indústria de seguros cresceu a taxas três vezes superiores ao PIB na última década. Isso mostra que é uma indústria dinâmica e com capacidade de atender à demanda de um país que se prepara para estar entre as cinco maiores economias do mundo"

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Retrocesso A entidade reuniu pareceres jurídicos e técnicos para provar ao Governo ser um retrocesso a iniciativa de se querer ter uma seguradora estatal. "A indústria de seguros cresceu a taxas três vezes superiores ao Produto Interno Bruto (PIB) na última década. Isso mostra que é uma indústria dinâmica e com capacidade de atender à demanda de um país que se prepara para estar entre as cinco maiores economias do mundo". O anúncio do Governo causou espanto em todas as partes do mundo, uma vez que com a quebra do monopólio estatal, há dois anos, 118 companhias, sendo 86 resseguradoras e 32 brokers, investiram na abertura de escritório no Brasil. Eles vieram para disputar os contratos de seguros do País, que é o mercado mais importante da América Latina e o preferido dos investidores que olham para o grupo que compõe o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). "Essas companhias

representam mais de 90% da capacidade mundial de resseguro. Não faz sentido agora o Governo querer competir também", desabava Jorge Hilário A ideia original do governo era criar uma seguradora estatal para atender às necessidades de seguro garantia por parte das construtoras brasileiras. Grande parte delas tem obras cujos valores ultrapassam o limite de risco de crédito, inviabilizando a emissão de mais garantias por parte de seguradoras e de resseguradoras. "Este é um tipo de problema que ocorre em todo o mundo e o setor privado tem resolvido bem esta questão", argumenta.

Minuta da MP A preocupação do setor privado com a intenção do Governo de atuar em seguro ficou muito maior ao vazar para todo o mercado uma cópia da minuta da medida provisória que criará a seguradora. A minuta diz que a seguradora atuará em vários segmentos e não apenas em seguro garantia, como havia sido divulgado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. No texto da minuta, o Governo mostra interesse em atuar em diversas frentes: seguros habitacionais para baixa renda, seguro de crédito à exportação, compra de maquinário agrícola e micro, pequenas e médias empresas; seguros de crédito garantia ou engenharia em projetos de infraestrutura e de construção naval. "Não há um relato de caso em que o segurado tenha ficado sem cobertura de risco de engenharia ou de incêndio para pequenas e médias empresas, um setor totalmente atendido pelas seguradoras. Em seguro habitacional, um setor em que há uma imensa concorrência, faz menos sentido ainda a interferência do Governo", acrescenta. Para a CNSeg, o Governo deve estimular a concorrência da indústria de seguros e focarse em áreas prioritárias para a atuação estatal. "Não faz sentido o Governo usar o dinheiro para abrir uma seguradora para concorrer com a iniciativa privada num momento em que é preciso tantos recursos para aprimorar a infraestrutura do País para sediar dois mundiais esportivos", diz Jorge Hilário. •

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"Não faz sentido o Governo usar o dinheiro para abrir uma seguradora para concorrer com a iniciativa privada num momento em que é preciso tantos recursos para aprimorar a infraestrutura do País para sediar dois mundiais esportivos"


ENERGIA

A eficiência energética no

A matriz brasileira é uma das mais limpas do mundo, mas os desafios são C!J

SôNIA ARARIPE

iante dos desafios dos próximos anos, com a expansão esperada do consumo, nunca o debate sobre a geração de energia no Brasil foi tão intenso. Apesar de o Brasil contar com uma das matrizes consideradas mais limpas do mundo, especialistas advertem que os desafios são tão gigantescos quanto as potencialidades. As hidrelétricas e o etano!, mais recentemente, permitiram que a matriz energética brasileira se transformasse em case por ser uma das mais limpas do planeta, com cerca de 45% de energia renovável. Para o consultor David Zylberstajn, da DZ Consultoria e ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustívies (ANP), o drama é manter o perfil de matriz limpa com o consumo crescente, pois tem sempre alguém defendendo o uso de óleo diesel ou de carvão por causa dos riscos de desabastecimento. As termelétricas movidas a diesel ou a carvão, lembra o especialista, vão exatamente na direção contrária da economia de baixo carbono. Na opinião de David Zylberstajn, as hidrelétricas são uma boa opção para a geração de energia, desde que respeitem o meio ambiente e a lógica econômica. "No projeto de Belo Monte, ainda não está claro até agora a questão de sua viabilidade econômica e dos subsídios envolvidos". Os biocombustíveis também são uma boa alternativa, ·mas o consultor 1lembra que a ideia de fazer inclusão social através da mamona e cultura familiar não deu certo. "Este não é um projeto para pequenas escalas", diz David.

Fotos: Divulgação

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Aumento do consumo Na avaliação de Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o País não pode abrir mão da usina de Belo Monte, uma vez que o consumo de energia elétrica tende a aumentar. Ele ressalta que, do ponto de vista ambiental, o projeto é bom, pois a área a ser alagada pela usina foi reduzida em 2/3, quando comparada ao projeto original de 30 anos atrás. "O erro se deu na condução do processo de licitação por

· Adriano Pires: "No Brasil, o setor de energia precisa de menos politização, menos ideologia, mais pragmatismo e mais investimento privado"

· David Zylberstajn: "No projeto de Belo Monte, ainda não está claro até agora a questão de sua viabilidade econômica e dos subsídios envolvidos"

18 Abnl Mato-Junho 2010 - Revistade Seguros - n°873

parte do governo, que o transformou numa peça política ao colocar um teto de R$ 83,00/MWh. Com este preço, a taxa dç retorno virou patriótica, as estatais passaram a ter o risco da obra e o contribuinte irá pagar a conta", afirma. A sugestão do diretor do CBIE é a de que o Brasil, como um país continental com tantas opções de geração, pode e deve aproveitar suas características regionais: energia gerada pelo carvão e eólica no Sul; bagaço de cana, gás


centro do debate tão grandes quanto o cresçimento previsto menos politização, menos ideologia, mais pragmatismo e mais investimento privado", sugere.

• Pedro Sara: "Nos próximos 20 anos, deveríamos investir em sistemas inteligentes, na rede de distribuição com tarifas diferenciadas, por hora do dia"

• José

Goldemberg:

natural e as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) no Sudeste e Centro-Oeste; eólica e carvão no Nordeste; e gás natural na Amazônia. Com a experiência de quem estuda o tema há anos, Adriano Pires critica o que chama de excesso de influência política no debate. "A política energética deveria estar baseada numa nova visão de mundo, de mudança de paradigma em função das discussões sobre o clima e a segurança energética. No Brasil, o setor precisa de

'~ experiência internacional mostra que se poderia economizar muito mais, sem abrir mão dos confortos que a civilização moderna nos oferece"

Projetos na ADlazônia A atual política energética tem sido alvo também de críticas das Organizações NãoGovernamentais (ONGs). O cootdenador de Infraestrutura Sustentável da Rede WWF na Amazônia, Pedro Bara, lamenta não só a licitação de Belo Monte, mas também o destaque dado para a construção de grandes projetos na região amazônica. "Estes reservatórios relativamente pequenos estão a grandes distâncias dos centros de consumo. Isso aumenta muito o risco de o sistema elétrico brasileiro não gerar a energia necessária, em caso de eventos climáticos extremos, ou de não ter como transportá-la por milhares de quilômetros". Pedro Bara recomenda que nos próximos 10 anos haja mais investimentos em eficiência energética, gerenciamento de demanda e diversificação da matriz, para dar maior ênfase às pequenas centrais hidrelétricas, à energia eólica e ao potencial da biomassa. "E nos próximos 20 anos, os investimentos deveriam ser voltados para os sistemas inteligentes e as redes de distribuição com tarifas diferenciadas, por hora do dia, e os incentivos ao consumo de carros elétricos", sugere o ecologista. O ex-secretário de Energia do Estado de São Paulo, o professor da USP, José Goldemberg, lamenta que o novo Plano Decenal de Expansão da Energia 2019, divulgado pelo governo em maio, não dê a importância devida ao papel da eficiência energética. O documento prevê uma economia de 5%, em 2019; e de 1%, em 2010. "A experiência internacional mostra que poderíamos economizar muito mais, sem abrir mão dos confortos que a civilização moderna nos oferece", reforça Goldemberg. E cita o caso da União Europeia, que estaria consumindo 50% a mais de energia, se não tivessem sido adotadas sérias medidas de conservação energética - como o uso de geladeiras mais eficientes e de automóveis com maior autonomia por litro de combustível. •

19 Abril Maio-Junho 2010 - RevistadeSeguros -n 873


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NO MUNDO

Indicadores macroeconom1cos preocupam os líderes mundiais A

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O cenário de crise fará com que, até 2030, cerca de 60°/o do PIB do planeta fiquem concentrados nas nações em desenvolvimento DENISE BUENO

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• Oswaldo Mario Pego de Amo rim Azevedo (vice-presidente da SuiAmérica), Patrick Larragoiti (presidente do Conselho de Administração da SuiAmérica), Marco Antonio Rossi (presidente do Grupo Bradesco de Seguros e Previdência), Rui Manuel Leão Martinho (presidente do Conselho de Administração da Companhia Seguros Tranquilidade) e Jorge Nasser (diretor de marketing da Bradesco Seguros e Previdência)

re?ula~entação, . a i~fl~ção/deflação:

a cnse sao as pnnc1pa1s preocupaçoes dos líderes globais da indústria de seguros, segundo pesquisa realizada pela Geneva Association. O resultado representa a opinião de aproximadamente 30 CEOs de companhias, sendo dois brasileiros - Patrick • Patrick Larragoiti, presidente da SulAmérica, e Marco Larragoiti: "Em Antonio Rossi, presidente da Bradesco Segu2008 e 2009, por ros -, que estiveram no 37° encontro mundial exemplo, a carteira realizado em Zurich, Suíça, entre os dias 2 e 5 de transporte foi de junho. fortemente impactada pela A pesquisa visa orientar os trabalhos da redução de entidade, dedicada a estudos econômicos comércio entre os sobre a indústria de seguros, responsável por países" mais de US$ 18,7 trilhões em ativos (equivalente a 11% dos ativos financeiros globais) para os próxiOitenta e sete por cento mos anos. A crise financeira, que dedos líderes mundiais verá ter reflexos até acreditam que a 2012, fez os indicaimplementação de dores macroeconômicos mundiais se normas para evitar riscos tornarem a princisistêmicos terá um pal preocupação dos relevante impacto na líderes mundiais, com 79% das resindústria de seguros postas da pesquisa. 20 Abril · Moro - Junlw 2010 - Revista de Seguros · no 873

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Obstáculos transformados em oportunidades :> A crise na Europa tem tirado o sono de muitos seguradores. Afinal, a indústria de seguros depende da boa performance da economia para poder ter sucesso e crescer. A incerteza sobre a profundidade dos problemas financeiros dos bancos tem gerado certa volatilidade nos mercados acionários, o que tem exigido dos governos uma ação rápida para conter a inflação em alguns países e a deflação, em outros, sendo este o principal temor dos CEOs mundiais da indústria de seguros entrevistados pela Geneva Association. Tanto nos EUA como nos países da Europa os governos estão endividados, em função do socorro que prestaram a instituições financeiras. Um desdobramento desta situação agora é que os bancos detentores de títulos dos governos sofrem com a desvalorização dos papéis e precisam reconhecer essa perda de valor. Resultado: queda no lucro pela redução do ganho financeiro, rebaixamento de rating pelas agências de riscos, regulamentação mais severa por parte dos órgãos reguladores levando a uma necessidade de aportes de capital e, consequentemente, demissões como uma forma de economia de custos. Este cenário fará com que, até 2030, algo próximo de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) do planeta fique ,. concentrado nas nações em

desenvolvimento, tendo o Brasil na liderança, seguido pela China e fndia, segundo previsões da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne 34 países ricos. Ou seja, uma reacomodação do poder econômico, segundo revela o estudo "Perspectivas sobre o desenvolvimento mundial 201 0: riqueza em transformação" . A perspectiva é de que o Brasil crescerá até 8%, a fndia, 9%; e a China apresentará evolução do PIB na casa dos dois dígitos. Enquanto isso, vários países da Europa apresentarão estagnação ou queda no volume de riquezas. Isso faz com que o Brasil ganhe representatividade nas mesas de negociação, como tem acontecido no setor de seguros. Entre os dez conselheiros da Geneva Association, um é brasileiro: Patrick Larragoiti. Também será no Brasil a reunião anual da entidade em 2011. Eis aqui uma grande chance de transformar em oportunidades os desafios da crise mundial.

A Ásia foi citada como principal destino dos investimentos por mais de 48% dos participantes da pesquisa, principalmente pelos europeus e americanos

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Abril-Maio Junho 2010 - RevistadeSeguros -n°873


NO MUNDO C!J

Arquivo Bradesco

Eles acompanham de perto os efeitos da inflação ou deflação nos países para poderem gerenciar o risco que isto pode trazer para o negócio de seus clientes e, consequentemente, para as empresas que representam. "Em 2008 e 2009, por exemplo, a carteira de transporte foi fortemente irnpactada pela redução de comércio entre os países", comentou Larragoiti.

Riscos sistêmicos A regulamentação é outra grande preocupação dos líderes mundiais. Oitenta e sete por cento acreditam que a implementação de normas para evitar riscos sistêmicos terá um relevante impacto na indústria de seguros. "A regulamentação é importante e deve acontecer, mas tem de ser correta", defendeu Nikolaus Bomhard, presidente do conselho da Geneva Association e também da Munich Re, maior resseguradora do mundo, durante almoço com um grupo restrito de jornalistas. Patrick Larragoiti, único brasileiro a fazer parte do conselho da Geneva Association, explica que uma das lutas da associação é mostrar aos órgãos reguladores que manter a atividade de seguro regulada por um órgão especializado traz mais segurança ao sistema do que ter a indústria controlada por uma autoridade monetária, preocupada com bancos, fundos e mercado acionário. A Solvência 11, regras de capital baseado em risco em curso na Europa, é a principal e mais importante mudança que acontecerá na indústria em termos de regulamentação nos próximos três anos, segundo 78% dos executivos. Em g~ral, os líderes veem o projeto como positivo, opinião demonstrada em 56% das respostas. As respostas tiveram ressalvas que expressam a preocupação dos líderes com regras de adequação de capital que possam surpreender a todos antes mesmo de ser implementada a Solvência 11, prevista para o final de 2012.

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· Marco Antonio Rossi: "Nossa regulamentação se mostrou sólida ao passo que fomos o último país a entrar na crise financeira e o primeiro a sair"

O segmento de previdência e investimentos lidera o ranking de prioridades, para 19% dos executivos, seguido por vida, com 16%, e seguro saúde com 12%

Regras severas Michael Diekmann, também membro do conselho e presidente mundial da Allianz, diz que a regulamentação do mercado financeiro deve realmente ser rígida e global, mas adverte que não se pode colo---22

4bnl Mmo Junho 2010 · Revista de Seguros r 873

car tudo debaixo do mesmo guarda-chuva. Para Stefan Lippe, presidente da Swiss Re e também membro do conselho da Geneva Association, a indústria de seguros tem regras rígidas, que serão ainda mais severas quando for finalizado o projeto das regras de Solvência 11. A questão final da pesquisa aos líderes mundiais foi sobre as oportunidades de negócios para os próximos três anos. A Ásia foi citada como principal destino dos investimentos por mais de 48% dos participantes da pesquisa, principalmente pelos europeus e americanos. Em termos de produtos, a variedade apontada pelos CEOs é grande. O segmento de previdência e investimentos lidera o ranking de prioridades, para 19% dos executivos, seguido por vida, com 16%, e seguro saúde com 12%. Com base nesta pesquisa, a entidade preparou os debates realizados durante dois dias em Zurich. "O que pudemos ver aqui é que o Brasil está num momento totalmente diferente das maiores economias do mundo. Estamos crescendo a uma taxa de dois dígitos por ano e nossa regulamentação se mostrou sólida ao passo que fomos o último país a entrar na crise financeira e o primeiro a sair", diz Rossi.

Produtos massificados Em termos de mercado, Rossi enfatiza a tendência de produtos massificados perseguida pelo grupo Bradesco. "Temos convicção que o Brasil tem espaço para crescer em todos os segmentos, de grandes riscos a seguros simplificados, como o funeral, por exemplo". Atuar em microsseguro é um grande alvo do Bradesco, principalmente por ter a grande vantagem de usar a rede de distribuição do banco para reduzir os custos com logística, que neste nicho de negócio é vital para viabilizar a carteira de negócios. No final do almoço com jornalistas, Nikolaus Bomhard informou que aguarda todos no encontro anual da Geneva Association de 2011, que acontecerá no Rio de Janeiro. "Espero ver todos vocês lá, num dia ensolarado", disse ele, na reunião realizada num dia chuvoso nas montanhas suíças.•


ECONOMIA

Ritmo de crescimento segue acelerado, apesar da crise Consumo deverá sustentar o País, já que os investimentos tendem a ser reduzidos ela segunda vez em dois anos, o Brasil se depara com uma crise externa em pleno ciclo de crescimento. Em setembro de 2008, a turbulência provocada pela quebra do banco americano Lehman Brothers desacelerou bruscamente o País. Quando o pior havia passado, enfim, no fim de 2009, a situação fiscal da Grécia sacudiu a União Europeia e trouxe novas incertezas. Em um mundo conectado, é certo que os efeitos chegarão aqui. Mas, desta vez, poucos apostam numa forte pisada no freio. Como desdobramentos da turbulência na Grécia, países como a Alemanha, França, Hungria, Portugal e Espanha - que também estão em apuros, em maior ou menor grau - cortam despesas para reduzir seus déficits. No Brasil, porém, indicadores seguem resistentes ao impacto externo. Segundo o Banco Central (BC), as previsões do mercado para o Produto Interno Bruto (PIB), em 2010, avançaram de 6,06%, no início de maio, para 7,06%, na terceira semana de junho. Impressiona o fato de que isso tenha ocorrido enquanto o mundo acompanhava, com ceticismo, ao longo do mês, medidas anunciadas por governos europeus para cortar gastos públicos. "A crise encontra o Brasil em momento de queda recorde no desemprego, renda em alta, o que aquece o consumo e leva a economia à forte expansão", diz o economista chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa.

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• Armfnio Fraga: "Impossível quantificar, mas as empresas europeias devem reduzir os investimentos, enquanto não passara turbulência por lá"

Impacto da crise O consumo, portanto, importante força na composição do PIB, é o que sustentará o País, já que os investimentos outro componente relevante - devem sofrer impacto da crise. Segundo a pesqui-

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sa do BC, as expectativas para entrada de recursos de empresas estrangeiras para investimento em produção (Investimetlto Estrangeiro Direto, ou IED), este ano, caíram de US$ 38 bilhões, no início de maio, para US$ 35 bilhões na terceira semana de junho. "Impossível quantificar, mas as empresas europeias devem reduzir investimentos enquanto não passar a turbulência", prevê o sócio da Gávea Investimentos e ex-presidente do BC, Armínio Fraga. "Essas empresas respondem por parte significativa do IED e terão dificuldades de levantar recursos nos bancos europeus", completa o economista Armando Castelar, também da Gávea.


ECONOMIA A tese de que o Brasil despontará como porto seguro para investidores estrangeiros ao longo da turbulência, garantindo elevado fluxo de capital para o mercado financeiro, é vista com reservas. A incerteza pode ser conferida na volatilidade da Bolsa de Valores de São Paulo. Até 21 de junho, o Ibovespa, principal índice do pregão nacional, caiu 5,4% no ano. "Se ficar claro que a crise será aguda, investidores devem trazer dinheiro para cá. Se, ao contrário, ficar claro que os governos europeus administrarão a crise ao longo do tempo, o capital não deve vir", diz Armando Castelar. Já para Newton Rosa, o Brasil será alvo de capitais, caso a crise se torne sistêmica.

Cotação do dólar A incerteza na entrada de capitais se traduz na cotação do dólar. "Caso entre menos capital no País, o dólar deverá subir", diz Newton Rosa, lembrando que a tendência ainda não está clara. Nos boletins do BC, a expectativa para a moeda americana em dezembro se manteve em R$ 1,80. Quem também perde caso a crise piore, e a cotação suba, são os que planejam viajar para o exterior. Isso porque a passagem, a hospedagem e o seguro de viagem, cotados em dólar, ficarão mais caros em real. Se a cotação subir, o dólar reforça o

temor de inflação por aqui -já que a variação aumenta os custos das empresas importadoras de bens e insumos, que são repassados aos preços. No entanto, outra força pode neutralizar o efeito. "Se a economia mundial desacelerar, as commodities (itens cotados no mercado internacional, como minério de ferro e soja), que vinham subindo, voltam a cair", diz Newton Rosa.

Consumo aquecido Ainda assim, diante do consumo interno aquecido, é esperado que o BC puxará as rédeas dos juros para segurar a inflação. A tendência de alta da Selic é explícita na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), publicada em junho. Na ocasião, o BC havia aumentado os juros de 9,5% para 10,25% ao ano. O BC informou que também está atento aos desdobramentos da crise europeia. Se os juros segurarem o consumo, segmentos do setor segurador serão atingidos. Isso porque a compra de um carro, um eletrodoméstico ou uma casa são momentos em que o consumidor avalia contratar uma apólice. A inibição ao consumo, porém, virá em momento de renda e emprego em alta. Com isso, em vez de comprar, as pessoas podem poupar - o que se traduz em oportunidade nos segmentos vida, previdência e capitalização. •

País expande mais do que a capacidade instalada :> Consumo aquecido e commodities em alta jogaram sobre o Banco Central peso extra na missão de deixar a inflação no trilho - a meta para o ano é 4,5%, com teto de 5,5% no IPCA (fndice de Preços ao Consumidor Amplo, do IBGE). Tarefa difícil: entre o início de maio e a terceira semana de junho, o mercado elevou as expectativas para 201 Ode 5,42% para 5,61 %. A inflação sobe porque o País vem se expandindo - e consumindo - além do que permite sua capacidade instalada. Especialistas creem que o Brasil possa crescer na casa dos 6,5% este ano e de 5% nos próximos, sem gerar inflação. O PIB do

primeiro trimestre cresceu 9%, na comparação com igual período de 2009 - o melhor desempenho em 15 anos. A retomada dos preços das commodities, no início do ano, interfere na inflação. A Vale, maior produtora de minério de ferro do mundo, por exemplo, impôs em junho o segundo reajuste no ano, de 30% (o anterior foi de 90%). A alta do minério se dissemina na economia a partir do aço, usado largamente na indústria, principalmente na de bens de consumo, como eletrodomésticos e automóveis. Osetor repassa a alta dos custos para os preços - e traz nova pressão para a inflação.

24 Abril-Ma/o-Junho 2010 - RevistadeSeguros -n°873

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• Newton Rosa: ·~ crise encontra o Brasil em momento de queda recorde no desemprego, renda em alta, o que aquece o consumo e leva a economia à forte expansão"

C!J Sebastião Jacinto Jr

• Armando Castelar: "Se ficar claro que a crise europeia será aguda, os investidores devem trazer dinheiro para cá. Caso contrário, o capital não deve vir"


MICROSSEGUROS • Kamesh Goya:

Índia revoluciona mercado com apólices a US$ 1 Produtos para pessoas de baixa renda oferecidos no país alcançaram mais de 2 milhões de indianos em dois anos VANIA MEzzONATO

'~ primeira lição para se chegar a apólices tão baratas é eliminar burocracia e baratear o custo de divulgação"

Oportunidade de negócios Na Índia, cerca de 70% da população não têm acesso a nenhum produto financeiro. "É uma imensa oportunidade de negócios, tanto na Índia quando em outros países emergentes", disse Kamesh Goyal. Ele informou que 1atender às pessoas das camadas mais baixas da população requer uma série de adaptações no modelo de negócios de uma seguradora tradicional. "A primeira lição para se chegar a apólices tão baratas é eliminar burocracia e baratear o custo de divulgação". Também merece atenção a forma de contato com o público-alvo dos produtos de microsseguros. Na Índia, 80% da população vivem em áreas rurais, o índice de analfabetismo é altíssimo e muitas pessoas não têm sequer documento de identificação. "Para chegar até elas, tivemos que encontrar canais alternativos, como parcerias com associações de classes, organizações não-governamentais, cooperativas agrícolas e instituições que já trabalham com o microcrédito", explicou. A seguradora também criou métodos inovadores para falar com essas pessoas: em vez de panfletos e explicações complexas, os vendedores usam dinâmicas interativas, como peças de teatro e um jogo de pedrinhas que simulam a mensalidade e o prêmio. Aqui no Brasil, o mercado de microsseguros ainda não está regulamentado, mas as seguradoras brasileiras já estão de olho nesse segmento. "O microsseguro representa não apenas um negócio, mas uma oportunidade de inclusão social", afirmou Max Thiermann, presidente da Allianz Seguros, na abertura do evento. •

m exemplo que vem do longínquo continente asiático pode ensinar ao Brasil o caminho das pedras para se alcançar a população de baixa renda com produtos de microsseguros, desenhados especificamente para suas necessidades. Um dos países mais pobres do mundo, a Índia já deu os primeiros passos na comercialização desses produtos, com mensalidades que custam apenas US$ 1, em média. As apólices de microsseguros já alcançaram um número expressivo de indianos, que conheceram a proteção do seguro pela primeira vez quando o ciclone Nisha devastou a Costa Sul daquele país, levando mais de 50 mil pessoas a perderem tudo o que tinham. Cerca de 14.500 famílias atingidas pelo ciclone puderam recomeçar suas vidas quando receberam, juntas, cerca de US$ 800 mil em indenização da Bajaj Allianz, uma das companhias pioneiras no mundo em operações de microsseguros. O relato foi feito pelo indiano Kamesh Goyal, country manager da Bajaj Allianz, seguradora da Índia, em palestra no V Fórum Internacional de Seguros para Jornalistas, organizado pela Allianz Seguros, em São Paulo, no dia 22 de junho. Segundo ele, a companhia já comercializou no segmento de microsseguros mais de 2,1 milhões ~ Três pessoas encontram-se casualmente numa de apólices de Vida e 34 birosca. Uma delas lamenta a morte da sogra uma mil apólices de Saúde. No semana antes, mas consola-se por ter feito um enterro ano passado, o mercado digno, por causa do seguro. A segunda, que não segurador indiano faturou contava com a proteção, diz ter sido obrigada a correr US$ 50 bilhões - a Bajaj uma lista para enterrar o sogro há um mês e admite Allianz representou US$ 3 que a morte inesperada ainda causa aperto financeiro para toda a família. O protagonista, então, destaca a bilhões do mercado, US$ importância do seguro e lembra que seu valor equivale 50 milhões em produtos ao custo de "uma cerveja e um salgado" por semana. Ou seja, é acessível a todos. Este é o enredo de microsseguros. A de um curta-metragem que fala da importância do seguro para a população de baixa renda. O empresa pretende dobrar filme é um dos chamarizes para o avanço do microsseguro entre os moradores da comunidade do esse valor nos próximos Dona Marta, escolhida para abrigar o projeto-piloto "Estou Seguro" , idealizado pela CNSeg . dois anos.

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No Brasil, curta-metragem ressalta o baixo custo dos microsseguros

25 Abril· Ma1o- Junho 2010 - Revista de Seguros no 873


TÁBUA BIOMÉTRICA

Finalmente, o Brasil tem a seu próprio instrumento Um marco na história do mercado segurador, nova tábua biométrica promoverá a precificação mais justa dos produtos de vida e previdência para os brasileiros MÁRCIA ALVES

ão logo foi lançada, em março último, a nova tábua biométrica nacional ganhou espaço de destaque nos principais jornais e revistas do País. A inédita exposição de um assunto geralmente restrito aos profissionais atuários demonstra claramente a importância que o seguro e a previdência vêm conquistando na vida dos brasileiros. Hoje, ambos os segmentos somam um público de 33 milhões de consumidores. Desenvolvida com base no histórico de mortalidade e sobrevivência do grupo de consumidores de seguros de vida e previdência, a nova tábua, denominada de Experiência do Mercado Segurador Brasileiro (BREMS), é tida como um marco na história do mercado segurador brasileiro, por ser a primeira genuinamehte nacional. Até então, para precificar os seguros de vida e os planos de previdência, o mercado utilizava a série de tábuas Annuity Table (AT) e outras similares, que tinham como referência a expectativa de vida dos norte-americanos. A BR-EMS consumiu dois anos de trabalho do Laboratório de Matemática Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LabMA/UFRJ), sob a coordenação da Comissão Atuarial da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi) e regulamentação da Superintendência de Seguros Privados (Susep) . A equipe traba-

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• Jair Lacerda: "Já havíamos percebido redução no índice de mortalidade. Mas, como não tínhamos uma tábua que refletisse nossa realidade, não sabíamos se a diminuição era efeito de melhor subscrição"

A!Jnl Wo•" Junho 20 1O - Revista de Seguros c ·R l

Muitas dúvidas e um processo inédito :> A tarefa de construir uma tábua biométrica nacional, partindo do marco zero, foi difícil até mesmo para a experiente equipe do LabMAIUFRJ, composta pelos professoresdoutores Ricardo Frischtak, Milton Ramirez e Mario de Oliveira, além de outros dois profissionais do IBGE, Kaizô Beltrão e Sonoe Sugahara, e mais 22 pessoas, entre graduandos, pós-graduandos, estagiários e técnicos. Segundo Mario de Oliveira, os 434 milhões de registros recebidos contemplavam o ingresso e saída de indivíduos dos contratos, em cada uma das empresas, separados por ano, cobertura e plano. Tudo isso disposto em 361 arquivos de 27 gigabytes. O trabalho


• Evento da FenaPrevi em São Paulo apresenta aos profissionais do seguro a nova tábua biométrica brasileira

lhou na depuração de 434 milhões de registros fornecidos por 23 seguradoras, referentes aos anos de 2004, 2005 e 2006, que foram consolidados em 33 milhões de CPFs - 19 milhões do sexo masculino e 13 milhões do sexo feminino ! O resultado aponta para uma expectativa de vida dos consumidores de seguros e previdência maior do que a média dos brasileiros. Para homens, a BR-EMS apurou uma expectativa de vida de 81,9 anos, enquanto que os dados do IBGE (Instituto Brasileira de Geografia e estatística) indicam o limite de 69,1 anos, resultando numa diferença de 12,8 anos. Entre as mulheres, a nova tábua apresenta uma expectativa de vida de 87,2 anos, 10,5 anos a mais do que aponta o IBGE.

Defasage01 Não é novidade que os brasileiros estão vivendo mais. Como atuário e presidente da Comissão Atuarial da FenaPrevi, Jair Lacerda conta que já havia percebido certa reducomeçou pelo cruzamento de todos os CPFs, eliminando duplicidades. Jair Lacerda, que acompanhou todo o trabalho, relata que os desafios foram muitos. Em carteiras com grandes quantidades de registros, como a do seguro prestamista, ou grupos de determinada faixa etária, a equipe construiu micro-tábuas, comparando-as com os dados do IBGE e das tábuas americanas. Os registros que apresentavam grandes diferenças sinalizavam incorreções e, portanto, eram eliminados. Outro complicador foram os CPFs femininos, que até 2004 não eram muito consistentes, já que naquela época era permitido à esposa utilizar o CPF do marido. "Como saber se aquele óbito realmente correspondia ao de uma mulher?", questiona Jair Lacerda. Essa dúvida surgiu algum tempo depois do trabalho em curso, quando vários

dados já haviam sido depurados. "Vimos que a mortalidade feminina estava muito baixa, então retomamos a análise de toda a base de dados. Imaginem o trabalho". Mário de Oliveira comenta que, além da necessidade de espaço para armazenamento de dados brutos, cujo tamanho supera 1,5 terabytes, também era preciso ter a certeza da consistência dos óbitos. Foi então que uma ajuda providencial resolveu a questão. Apedido da UFRJ, o Ministério da Previdência Social permitiu o acesso aos dados do Cadastro Nacional de Informações (CNIS) e do Sistema de Controle de Óbitos (Sisobi). "Essa fonte foi determinante para o sucesso do projeto e aumentou substancialmente o número de óbitos de nossa base, corrigindo os subregistros", diz. Segundo o professor, esse tipo de processo é inédito em todo o mundo na construção de tábuas.

27 Abril- Maia -Junho 20 70 - Revista de Seguros - n°873

• Ricardo Frischtak: professor-doutor e representante do LabMA/UFRJ, instituição responsável pela tabulação dos dados e criação do instrumento nacional


TÁBUA BIOMÉTRICA

Na faixa dos 40 anos, a taxa de mortalidade da tábua brasileira é menor do que as taxas até então praticadas, o que deve resultar em redução de custos das apólices

No passado, as pessoas se aposentavam aos 50 anos e recebiam o benefício por mais 20, hoje podem se aposentar aos 65 e usufruir do benefício pelos mesmos 20 anos

ção no índice de mortalidade no volume de sinistros. "Mas, como não tínhamos uma tábua que refletisse a nossa realidade, não havia a certeza se essa diminuição era efeito, por exemplo, de melhor subscrição", diz. Segundo ele, nem mesmo a AT 2000 era muito precisa. Esta tábua de sobrevivência em uso nos últimos 10 anos era resultado de ajustes na AT83, esta sim desenvolvida por meio de um trabalho de apuração, porém há muito tempo. E até mesmo a CS02001, outra tábua norte-americana mais recente, apresenta taxa de mortalidade menor do que a BR-EMS. Percebendo essa defasagem, nos últimos tempos algumas companhias já adotavam uma AT2000 'suavizada', com um redutor da taxa de mortalidade em torno de 10%. "Para nossa felicidade, vimos que estávamos certos, já que esse cálculo ficou próximo ao da nova tábua biométrica", diz Jair Lacerda. Embora a BR-EMS tenha demonstrado uma expectativa de vida maior do que a AT2000, ele explica que isso não significa que o brasileiro vive mais do que o norteamericano. A diferença está na base de dados utilizada na construção de cada tábua. "A AT2000 considera uma população de expostos maior e mais distribuída do que a nossa. No Brasil, os indivíduos das classes A e B consomem seguros e previdência", explica. Impactos Considerando a maior longevidade da população, a expectativa do setor é que haja redução no preço do seguro de vida. Segundo Jair Lacerda, na faixa dos 40 anos a taxa de mortalidade da tábua brasileira é menor do que as taxas até então praticadas, o que deve resultar em redução de custos das apólices. Mas ele explica que, por enquanto, não é possível definir o percentual exato para esta e outras faixas etárias. "Cada seguradora tem os seus custos, então dependerá do modelo de distribuição adotado. Além disso, no curto prazo a redução não será grande". Já em relação à previdência, embora a imprensa tenha alardeado um aumento do tempo de contribuição, ele esclarece que a mudança não é tão significativa. Além do mais, a nova tábua será aplicada apenas aos novos planos.

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Se no passado as pessoas se aposentavam aos 50 anos e recebiam o benefício por mais 20 anos, hoje, com a maior longevidade, podem se aposentar aos 65 anos e ter pela frente os mesmos 20 anos para usufruir do benefício. O que muda é a data de entrada na aposentadoria, que será mais tardia porque o participante viverá mais também. Novas tábuas O presidente da FenaPrevi, Marco Antonio Rossi, ressaltou que o novo padrão de referencia trará maior eficiência à indústria de vida e previdência. Para Jair Lacerda, o mercado ganha uma ferramenta poderosa, capaz de promover o equilíbrio das operações, mitigando os riscos de longevidade e preservando a solvência do sistema. Ele espera que no próximo semestre a Susep já tenha aprovado alguns novos produtos com base na nova tábua. Mas as maiores inovações ficarão para o futuro . Segundo o coordenador do projeto, professor Mario de Oliveira, um protocolo proposto pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e aprovado pelas empresas participantes, deverá ampliar a base de dados com informações sobre região de residência e renda, além de dados sobre mortalidade causada pelo tabagismo. Ele acrescenta que a próxima etapa do projeto incluirá a construção de uma tábua de invalidez, cujas informações já integram a base de dados do órgão dos anos de 2004 a 2008 e estão em fase de processamento. "Estamos aguardando apenas os dados de 2009", afirma. O corretor de seguros Paulo Meinberg está otimista em relação à entrada de novos produtos com base na nova tábua. "Gradativamente, com as revisões que estão programadas, o mercado poderá desenvolver produtos mais adequados ao perfil do segurado, permitindo a tarifação em função da região, sexo, profissão e até hábitos pessoais, como a prática de exercícios ou consumo de bebidas", diz. Para ele, ter uma tábua nacional demonstra que o mercado de seguros de pessoas está maduro, mais desenvolvido e adequado à realidade do País.e

Abrtl- Maio - Junho 2010 - Revista de Seguros - n"873


FUNENSEG

Curso oferece mão de obra qualificada parao mercado Objetivo é desenvolver talentos comprometidos com a gestão do negócio JORGE CLAPP

á anos, a Escola Nacional de Seguros - Funenseg tem tido atuação decisiva na formação de mão de obra qualificada em todos os níveis, ajudando a reduzir os efeitos de um dos principais gargalos que ainda atingem o mercado brasileiro. Com a abertura no resseguro, esse problema voltou a preocupar o setor. Porém, mais uma vez, a instituição agiu rapidamente e passou a oferecer alternativas, como o curso MBA Executivo em Seguros e Resseguro. O objetivo do curso é desenvolver talentos de profissionais comprometidos com uma atuação de alto desempenho na gestão de seguros e resseguro. A ideia é que, dessa forma, os participantes possam adquirir habilidades e competências destinadas a conquistar o êxito das organizações no novo ambiente em que se inserem as empresas atuantes no setor.

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Gestão das empresas O curso oferece aos participantes o conhecimento necessário para enfrentar as grandes transformações que estão ocorrendo na gestão das empresas e a percepção de que a globalização da economia exige das organizações irrestrito comprometimento com a eficiência, competitividade, rentabilidade e crescimento sustentável. Além disso, propicia o aprimoramento dos conhecimentos sobre as diversas abordagens gerenciais, por meio do instrumental

necessano para implantação de técnicas avançadas de gestão de seguros'e resseguro e assegura o domínio da teoria e das técnicas, processos e ferramentas da gestão de riscos e seguros, com ênfase na realidade brasileira. Aulas em módulos Para participar desse curso o interessado deve ter concluído o Terceiro Grau, seja como bacharelado, tecnólogo ou politécnico. Ao todo são 444 horas de aula divididas em cinco módulos. O curso começa dia 10 de agosto, no Rio de Janeiro, e o pagamento pode ser dividido em 16 parcelas de R$ 625,00. As aulas serão realizadas às terças e quintas, das 18h30 às 21h45, e as inscrições podem ser feitas na Unidade Regional Rio de Janeiro (Rua Senador Dantas, 74 - Térreo Centro) . O diretor de Ensino e Produtos da Escola, Nelson Le Cocq, afirma que a instituição tem um diferencial importante em comparação a outras escolas de negócio: o fato de ter "brotado no seio do próprio mercado de seguros e previdência". Esse detalhe permite à escola se posicionar estrategicamente como ofertante de cursos de alto nível na área do ensino superior. "Adequamos a estrutura dos cursos para contemplar a dinâmica do setor. Não apenas fornecemos os aspectos teóricos, mas também levamos à prática aquelas disciplinas que traduzem as técnicas e instrumentos gerais da administração das empresas de seguros e de previdência", comenta.•

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C!J

Daniela Meireles

• Nelson Le Cocq:

''Adequamos a estrutura dos cursos para contemplar a dinâmica do setor"


VIDA E PREVIDÊNCIA

• Encontro no Sul discute a ampliação do comércio de apólices individuais do ramo Vida

O brasileiro não compra seguro de vida Para Nilton Molina, este mercado é o maior a ser explorado no País, fato que tem chamado a atenção de investidores estrangeiros ROSE SCHERER

Mais de 75% das pessoas . entrevistadas ' para uma pesquisa afirmaram ter algum tipo de seguro, mas não sabem qual e nem quais suas coberturas

percentual de participação do seguro de vida individual no Produto Interno Bruto (PIB) nacional representa hoje apenas 0,04% . Segundo o vice-presidente da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg) e presidente do Conselho de Administração da Mongeral Aegon, Nilton Molina, o consumidor brasileiro não compra seguro de vida. "Não existe no Brasil, hoje, outro mercado tão grande a ser explorado quanto este, e os investidores internacionais já estão de olho nesta possibilidade". A afirmação foi feita em Porto Alegre, no último dia 13 de maio, durante uma palestra no almoço do Sindicato das Seguradoras do Rio Grande do Sul - Sindseg-RS.

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Com um histórico de mais de 30 anos de participação em todos os movimentos institucionais e de aperfeiçoamento da previdência pública e privada no Brasil, Nilton Molina citou uma pesquisa em que mais de 75% das pessoas entrevistadas admitiram ter seguro, mas não sabem qual e nem suas coberturas. A maioria declarou que adquiriu o produto em bancos, no comércio de varejo, em farmácias, postos de gasolina, entre outros, e apenas uma minoria comprou diretamente com um corretor de seguros. Segundo Nilton Molina, as apólices individuais de seguro de vida são o que há de mais nobre no mercado internacional, destacando que o segurado pode vendê-la, resgatá-la ou dar como garantia em empréstimos. No Brasil, o volume de prêmios em apólices individuais correspondeu a apenas R$ 800 milhões, frente a um

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Entre a ,., preocupaçao e o desprezo pela morte

faturamento de R$ 100 bilhões do setor em 2009. De acordo com Molina, isso se deve ao modelo atual de previdência e seguro saúde no País.

Cultura da imprevidência No Brasil, o trabalhador conta com a previdência social do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) , além do atendimento de saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Nos Estados Unidos, por exemplo, o trabalhador tem um plano de previdência social, em que ele contribui com 5% de seu salário por um período de 40 a 45 anos, podendo se aposentar após os 67 anos. E o seguro saúde é individual, contratado pelo segurado. "O trabalhador americano sabe que tem que ser previdente, enquanto no Brasil a cultura é ser imprevidente", destaca o palestrante. Nilton Molina avalia que o País não escapará de uma reforma radical da previdência social, que se tornará inviável sem ferir "direitos adquiridos". O especialista acredita que a nova geração já poderá ser incluída num modelo similar ao americano. Mesmo assim, acrescentou, o País ainda levará uns 50 anos para encerrar o modelo atual. "A Grécia e a Espanha já estão promovendo suas reformas e este é o caminho. Temos um mercado onde há tudo por fazer, e depende de nós entendermos esse processo e fazermos o dever de casa", alerta aos seguradores. •

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· O presidente do Sindseg-RS, Julio . Cesar Rosa, Nilton Molina e Miguel Junqueira Pereira, membro do Conselho de Administração da Seguradora Líder-DPVAT

No Brasil, o volume de prêmios em apólices individuais foi de apenas R$ 800 milhões, frente a um faturamento de R$ 100 bilhões do setor em 2009

Abril- Mato- Junho 2010 - Revista de Seguros - n°873

:>"Vivemos em uma sociedade que, ao mesmo tempo, se preocupa e despreza a morte". A observação foi feita pelo presidente do Clube de Seguros de Vida e Benefícios (CVG/RS), Sérgi9 Rangel, que faz coro com outras autoridades sobre a necessidade de o mercado de seguros evoluir em relação às abordagens individuais para a comercialização de seguros de vida. "As considerações de Molina comprovam e demonstram a baixa participação deste tipo de proteção frente ao PIB em nosso País", declara. Para ele, é um problema de oferta. Tudo passa pelo profissional de vendas, que deveria ser o corretor de seguros, mas que na prática termina sendo seus prepostos, agenciadores, correspondentes, balconistas de lojas, caixas de banco, operadoras de telemarketing, entre outros. Rangel admite ainda que, no modelo atual de distribuição, esse pessoal não é devidamente treinado e nem possui habilidades suficientes para tratar sobre temas impactantes. "Talvez o nosso mercado tenha perdido muito tempo comercializando produtos simplificados, os chamados seguros de vida em grupo, deixando de lado o seguro de vida individual", reflete. Além disso, o presidente do CVG/RS diz que a sociedade não está preparada para falar em morte. Segundo ele, as pessoas se preocupam com segurança e saúde e negligenciam pensar no futuro, na falta que fará para sua família ou pessoas próximas. "Não gostamos disso. Na verdade, consideramos que quem vai morrer é o outro e não nós. A análise sobre a morte e o morrer são realidades profundamente incômodas para as pessoas, o que torna a abordagem delicada para a venda", diz Rangel.


• A solenidade de posse da nova diretoria da CNSeg reuniu representantes de todo o mercado segurador, políticos (como a vereadora Andréa Gouvêa Vieira e o senador Francisco Dornelles), dirigentes dos órgãos de fiscalização (Paulo dos Santos, superintendente da Susep; e Fausto Pereira dos Santos, diretor-presidente da ANS); o presidente da Fenacor, Armando Vergílio dos Santos Junior; o presidente da Funenseg, Robert Bittar, além de presidentes de Sindicatos de Seguradoras e de Corretores de Seguros. O secretário-adjunto de Políticas Econômicas do Ministério da Fazenda, Diogo Henrique de Oliveira, representou o Governo Federal na cerimônia

O presidente da CNSeg assume o comando da entidade di reei o na ndo o foco de sua atuação para a relação com o consumidor

As bandeiras da nova administração 15

de abril de 2010. O advogado Jorge Hilário Gouvêa Vieira assumiu a presidência da CNSeg, levantando duas grandes bandeiras: mostrar ao governo a importância do mercado de seguros na promoção do crescimento sustentável do País e promover ações em prol dos consumidores. O fato de o seguro ainda ser um produto vendido - e não comprado -, na opinião de Jorge Hilário, demonstra como o setor ainda é desconhecido por parcela importante da sociedade. Ele ressaltou o potencial do mercado, que hoje representa 3,5% do PIB, mas dobrará de tamanho nos próximos anos, e

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disse que sua confiança era fruto das oportunidades que surgirão com as obras de infraestrutura para a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil e dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Intitulando-se o arauto das empresas do mercado segurador, o presidente da CNSeg ressaltou , também, que as empresas precisam atender aos interesses e às necessidades dos clientes e oferecer o melhor produto e o melhor atendimento. E apontou ainda como prioridade a qualificação da mão de obra do setor. Veja na página ao lado os principais trechos de seu discurso:

Abnl Mato-Junho 2010 - RevistadeSeguros -n 873


Federações

"Temos que consolidar as organizações da CNSeg/FENASEG em busca da homogeneização das ações de competência da Confederação e de suas Federações associadas, reincorporando os sindicatos na função de representantes regionais dos interesses do mercado".

de seguros. O mercado deseja caminhar ao seu encontro. Buscar seus interesses e necessidades. Oferecer o melhor produto e o melhor atendimento. Desenvolver seguros de pequeno e médio porte que interessem ao consumidor de baixa renda, o microsseguro". Governo

Central de Serviços "É imperioso transformar a Central

de Serviços da CNSeg em efetiva prestadora de apoio às suas filiadas, mediante a criação e uso de bases de dados a lhes serem oferecidas para fortalecimento de suas análises, referências e decisões, proporcionandolhes o uso de processos e sistemas de natureza técnico-atuarial, administrativocontábil e tecnológico, no sentido comunitário da redução de ônus diretos e indiretos sobre suas ações, visando o aumento da eficiência e, consequentemente, a melhoria da produtividade". Convênios

"Devemos continuar a estabelecer convênios com a Escola Nacional de Seguros, universidades e demais centros de ensino e pesquisas para ações de desenvolvimento do conhecimento e uso político, social e econômico do Seguro e da Previdência". Órgãos reguladores

Em seu discurso de posse, Jorge Hilário ressaltou a amplitude do campo de ação do mercado segurador brasileiro

"Devemos aumentar aparceria com os órgãos reguladores do mercado, revendo normas e procedimentos técnicos e administrativos, na busca da redução do custo dos encargos e serviços que alcançam, sobretudo, operadoras pequenas e médias, agravando mais que o racional econômico e comercial de suas operações, provocando, assim, indesejável concentração do mercado. Em última análise, transferindo o ônus da ineficiência para o bolso do consumidor". Consumidor

"Precisamos aprofundar o redescobrimento do consumidor

"Precisamos mostrar ao Govemo e ao consumidor o que somos: promotores do desenvolvimento, agentes do progresso, partícipes do futuro. Isto, não só na condição cpmpulsória de investidores institucionais ou patrocinadores da manutenção do equilibrio patrimonial e pessoal dos indivíduos e organizações, mas também, e principalmente, como agentes disponíveis do Govemo para gerenciamento dos grandes riscos catastróficos nacionais" Gestão de riscos

"Devemos oferecer apoio concreto à gestão dos riscos do agronegócio, dos riscos financeiros, dos riscos ambientais, através do desenvolvimento do Seguro Rural, dos Seguros de Crédito e de Garantia, dos Seguros Ambientais, substituindo a Administração Pública na análise, na subscrição e na fiscalização desses riscos, medindo previamente seus prováveis alcances e ressarcindo seus reais efeitos". Profissionais do mercado

"...uma menção especial a todos aqueles que trabalham no mercado. Há longo tempo convivo com eles e sei do orgulho que sentem por fazer parte de uma atividade que tem como matéria-prima o futuro; o apego que têm à sua missão de agentes transformadores. É gente que está à frente de seu tempo e consciente da sua modernidade e dinamismo, características básicas dos jovens de ontem, de hoje e de amanhã. É com essa gente que contamos para o bem-estar do País". •

33 Abril Mmo -Junho 2010 · Revista de Seguros · n°873


ANS: planos terão novo C!J Arquivo ANS

modelo de reajuste Uma Câmara Técnica, integrada pela ANS e representantes das operadoras e dos consumidores, vai definir o modelo FERNANDA THURLER

• Mauricio Ceschin: sob seu comando, a ANS analisa propostas e projetos que buscam garantir mais qualidade ao serviço prestado pelas operadoras e a defesa dos diretos dos clientes

Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) parece estar inaugurando uma nova fase no que diz respeito à defesa dos interesses do consumidor. Sob a gestão do médico gastroenterologista Mauricio Ceschin (que assumiu a presidência há pouco menos de dois meses), a agenda de trabalho na agência vem sendo pautada por propostas e projetos que buscam garantir mais qualidade ao serviço prestado pelas operadoras dos planos de saúde, assim como defender os diretos dos clientes. Entre eles, já estão em análise pelo órgão regu-

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lador aqueles sobre a adoção de uma nova metodologia de reajuste para os planos de saú-. de e de um novo cálculo de mensalidade para planos dos idosos. Para a definição do novo modelo de reajuste que deverá ser adotado a partir de 2011 foi criada uma Câmara Técnica, integrada por membros da ANS e representantes de entidades de defesa do consumidor, das operadoras, dos prestadores de serviços e de demais partes atuantes no setor. A primeira reunião, realizada no início de junho, teve por objetivo analisar o cenário atual do setor e de outros mercados e propor um método de trabalho para os próxi-

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mos meses. Na ocasião, foi estabelecida como prioridade a definição de um índice diversificado que contemple a heterogeneidade do mercado e que, principalmente, esteja associado à qualidade dos serviços. Uma das propostas é que a empresa com melhor atendimento tenha um reajuste maior em relação àquela que não atingiu o mesmo padrão de eficiência. De acordo com o diretor de Normas e Habilitação de Produtos, Alfredo Cardoso, a agência não tem uma posição fechada sobre o assunto e a expectativa é que os membros da Câmara Técnica contribuam com propostas que se somem aos estudos que a ANS vem desenvolvendo. A segunda reunião da Câmara está marcada para o início de agosto, quando serão analisadas as propostas formuladas por seus integrantes.

Custeio futuro Quanto à mudança no método de cálculo das mensalidades dos planos de saúde dos idosos, o presidente da ANS, Maurício Ceschin, anunciou recentemente a proposta de criação de

uma espécie de capitalização, na qual parte do valor pago atualmente pelos usuários mais jovens seria utilizada para o custeio do plano no futuro. O objetivo é fazer com que eles não paguem mensalidades tão altas. Uma vez criado, o novo modelo seria opcional (a agência tem a preocupação de não afastar os mais jovens do serviço) e valeria, pelo menos inicialmente, apenas para os planos contratados a partir de janeiro de 1999, quando a ANS passou a regular a prestação de serviços de planos de saúde. Cerca de três milhões de pessoas com mais de 60 anos têm planos novos e poderiam ser beneficiados com a alteração em estudo. A análise da proposta poderá ser feita através de uma Câmara Técnica (com a participação de representantes das operadoras, dos órgãos de defesa do consumidor e dos médicos) ou através de consulta pública. Na avaliação do presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Márcio Serôa de Araújo Coriolano, propostas como a de um reajuste que incentive a eficiência das empresas, a competição no mercado, a qualidade do serviço e a segurança do consumidor são razoáveis. "Resta saber, e aí é que reside a maior dificuldade, qual a forma de operacionalização que está sendo cogitada para um modelo que está longe de ser trivial", diz ele. Nesse particular, acrescente, o entendimento é de que não há como importar um modelo de reajuste inspirado naqueles da indústria elétrica e da petroquímica, apenas para citar alguns modelos adotados internacionalmente. "É óbvio que qualquer operadora de serviços deve ser avaliada efetivamente pelo serviço que ela produz, mas desde que tenha capacidade de exercer amplamente a sua 'eficiência'".

Sistema equilibrado Segundo o executivo, não há como comparar a eficiência de uma concessionária de serviços cuja gestão operacional tem como foco as perdas de energia - desde a fonte de distribuição até o consumidor -, com uma empresa de saúde suplementar que não tem ingerência na sobre-utilização dos serviços dos consumidores de saúde. "Em primeiro lugar, a falha conforme o primeiro modelo é devida à concessioná-

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Arquivo FenaSaúde

• Márcio Coriolano: "Resta saber, e aí é que reside a maior dificuldade, qual a forma de operacionafização que está sendo cogitada para um modelo que está longe de ser trivial"


SAÚDE ria, enquanto a segunda - a utilização desmesurada dos serviços - é devida ao prestador médico e ao próprio consumidor", argumenta. "É preciso aprofundar o debate e haver coerência com um sistema equilibrado, onde todos têm a sua responsabilidade: o médico, o hospital, a indústria de medicamentos, a indústria de materiais médicos, e as operadoras de saúde". Márcio Serôa de Araújo Coriolano também destaca a questão dos contratos que se tor-

"É importante ressaltar, no entanto, que a ampliação de coberturas representa custos extras para que as operadoras de saúde mantenham seu padrão de qualidade" Antonio Jorge Kropf

naram deficitários em função da regra de reajuste vigente "há muitos anos e que não acompanha a evolução dos custos médico-hospitalares". "É mais um contra-senso. Em todo o mundo os custos médicos crescem muito acima da inflação de preços, e, aqui no Brasil, querem decretar que cresçam conforme o IPCA. A nova administração da ANS está debatendo a revisão do modelo em Câmara Técnica e ainda faltam muitas definições."•

Entidades combatem o aumento no preço das mensalidades :> Nem bem assumiu a presidência da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) , Mauricio Ceschin já se encontra no "olho do furacão" provocado pela grita geral dos órgãos de defesa do consumidor e das operadoras contra as novas regras para os planos de saúde, em vigor desde o início de junho. Por determinação da agência, as empresas estão obrigadas a incluir na cobertura básica 70 novos procedimentos médicos e odontológicos e a ampliar o limite de consultas em algumas especialidades (como com fonoaudiólogos, nutricionistas e psicólogos) . A mudança beneficia 44 milhões de usuários de planos firmados a partir do dia 2 de janeiro de 1999 data de instituição da lei que regulamenta o setor de saúde suplementar. A ANS garante que a medida não terá grande peso nos custos das operadoras, não havendo razão para maior impacto no preço das mensalidades, sendo que o aumento das despesas poderá ser repassado, principalmente no caso dos contratos de grupos. A argumentação da agência é corroborada pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que em declaração recente classificou como "secundária" a questão de um possível aumento no valor das mensalidades em razão do impacto nos custos referentes à incorporação dos novos procedimentos médicos e odontológicos. Secundária ou não, a perspectiva de elevação no preço dos contratos, por causa da ampliação dos serviços garantidos pela cobertura mínima dos planos, vem sendo combatida pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (ldec), na defesa de que o valor dos aprimoramentos da medicina deve ser considerado na fixação do preço inicial das coberturas. De todo modo, o reajuste só poderá ser aplicado com base no índice a ser divulgado em maio de 2011 . E é exatamente

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este o motivo maior da insatisfação das empresas do setor de saúde suplementar. Prejuízos ao setor Sob a argumentação de que as novas regras resultarão em prejuízos ao setor, uma vez que as operadoras são obrigadas a antecipar os gastos com a oferta dos novos serviços, a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) defende a antecipação do reajuste da mensalidade. Com este propósito, a entidade deu entrada em uma ação na Justiça do Rio de Janeiro no final de maio. As empresas alegam que a antecipação do reajuste se faz necessária principalmente em razão do alto custo de alguns procedimentos médicos e odontológicos, entre eles, o transplante de medula óssea alogênico (doação de parente ou banco de medula), o exame PET-Scan (detecta câncer em estágio inicial ou avançado) e a colocação de coroa e bloco dentário. "É importante ressaltar, no entanto, que assim como os novos procedimentos tecnológicos incorporados anualmente pela medicina, a ampliação de coberturas - muitas delas de alta complexidade - representa custos extras para que as operadoras de saúde mantenham seu padrão de qualidade", afirma Antonio Jorge Kropf, diretor técnico da Amil. Ele avalia que, por se tratar de novos procedimentos, os dados estatísticos existentes são insuficientes para prever o impacto direto que ampliação do rol de procedimentos irá ocasionar sobre os custos médicos assistenciais das operadoras de saúde. Oexecutivo reconhece, entretanto, a importância das novas regras. "Os novos procedimentos médicos e odontológicos que estão sendo cobertos desde o início de junho segundo determinação da ANS vão contribuir para o aperfeiçoamento do atendimento aos beneficiários de planos de saúde."

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BIBLIOTECA I LETÍCIA LEITE

As questões judiciais • qu~ perme1am as relações de consumo Vinte anos após a promulgação do Código de Defesa do Consumidor, ainda há resistência a sua completa aplicação izem que para compreender a vida é preciso olhar pra trás. O livro "Da defesa do consumidor em juízo por danos causados em acidentes de consumo" dispõe de um breve e importante relato histórico do consumismo antigo ao moderno, facilitando a compreensão do porque o direito do consumidor desperta um sentimento excêntrico na humanidade. O autor, Nehemias Domingos de Melo, explica: As relações de consumo passam pela origem e desenvolvimento do homem. O primeiro relato de acidente de consumo é bíblico: em Gênesis 1:29, Adão foi avisado por Deus que morreria no dia em que comesse o fruto da árvore do conhecimento. Tanto Eva quanto Adão desfrutaram do fruto proibido, contrariando nada mais nada menos que Deus! Nos primeiros capítulos, o autor deixa claro qual o papel e a atuação de consumidores físicos e jurídicos, fornecedores, produtos e serviços dentro das relações de consumo. Melo aborda a responsabilidade do fornecedor, tanto na ótica do produto quanto do serviço, e seleciona jurisprudências relacionadas ao tema abordado. Por exemplo, uma decisão que condenou uma empresa-ré ao custeio do tratamento médico de uma autora infectada pelo vírus HIV. A autora obteve sucesso no pleito de indenização por danos morais e materiais da empresa fabricante de preservativos. Ao final, o autor trata da defesa do consumidor em juízo e ressalta o foro privilegiado para o consumidor. Previsto no Código de Defesa do Consumidor a regra garante que o foro aconteça no domicílio do consumidor. "Imaginem a dificuldade de um consumidor de Pernambuco propor uma ação de ressarcimento de

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:l RESENHA: DA DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO POR DANOS CAUSADOS EM ACIDENTE DE CONSUMO

Nehemias Domingos de Melo

AUTOR:

EDITORA:

Atlas 201 O

danos contra um fornecedor de produto ou serviço situado em Porto Alegre". Melo também traz uma importante crítica sobre a justiça gratuita. Ele convida o Poder Judiciário a abandonar o mundo do "faz de conta", para que o benefício da justiça gratuita não seja estendido apenas aos miseráveis, mas sim a todo aquele cuja situação econômica não lhe permita pagar custas processuais e honorários de advogados. Independente de ter bens, ou do grau de escolaridade, qualquer de nós poderá num dado momento ter dano causado e indisponibilidade financeira. Para Melo temos uma das legislações mais avançadas do mundo, mesmo assim já se passaram duas décadas da promulgação do Código de Defesa do Consumidor e a incompreensão quanto as suas demandas e sua completa aplicação continuam resistindo. As causas originamse de uma rejeição ideológica ao conteúdo das leis e principalmente à falta de eficácia na interpretação. "A interpretação é que vai fazer surgir a aplicação da lei". Melo ainda lembra que o princípio da isonomia não traduz apenas a garantia de que somos iguais perante a lei, mas que esta igualdade deve ser compreendida de modo a tratar desigualmente os desiguais na exata medida das desigualdades, mormente no que tange as relações de consumo. A obra é um importante guia para advogados, defensores, promotores e magistrados e também para jornalistas que recebem denúncias diárias de consumidores vítimas de danos. Um completo universo dos acidentes de consumo é destrinchado em cada capítulo da obra. Boa leitura! •

LETÍCIA LEITE- é jornalista formada pela PUC-PR e responsável pela produção de pautas da RIC TV, afiliada da Rede Record de Televisão no Paraná 37 Abril- Maw- Junho 2010 - Revista de Seguros - n°873



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SOLIDARIEDADE

A cidadania que ultrapassa fronteiras Empresários e seguradoras vão além de suas obrigações e exercitam a solidariedade ao ajudar as vítimas de catástrofes C!! Divulgação

MÁRCIA ALVES

urante as enchentes que arrasaram Santa Catarina, em 2008, provocando a morte de mais de 130 pessoas e desabrigando outras quase 6 mil, o gesto de uma empresária se tornou um grande exemplo de solidariedade. Sonia Hess, presidente da Dudalina, maior camisaria da América Latina, não titubeou em suspender as atividades de uma das filiais no pequeno município de Luiz Alves, durante os 48 dias em que a empresa emprestou o seu gerador para manter funcionando o único hospital da cidade. A decisão causou uma grande perda financeira à Dudalina, pois muitas encomendas de final de ano deixaram de ser entregues, mas Sonia Hess não se arrepende. "Não se pode pensar em prejuízos num momento desses", diz ela, que também se preocupou com os colaboradores. "Uma funcionária perdeu o bebê e a casa com tudo. Providenciamos uma nova casa, mobiliada, e oferecemos tratamento psicológico para ela e outros que sofreram perdas", relata. Mesmo sem intenção, a atitude solidária de Sonia Hess acabou associada à imagem da empresa. "Hoje eu vejo que cuidar de pessoas dá um retorno fantástico", admite. Os números da solidariedade no Brasil não são precisos, mas a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que o País possua um contingente de 42 milhões de pessoas dedicadas ao voluntariado. José Francisco de Miranda Fontana, corretor de seguros de 84 anos, que na década de 40 atuou como inspetor do IRB, ainda hoje recorda um episódio que ocorreu durante sua visita a uma fábrica de bonecas, destruída por

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• Sonia Hess: nas enchentes de 2008, a empresária suspendeu por 48 dias as atividades de uma filial da empresa, em Santa Catarina, para emprestar o gerador de energia ao único hospital da cidade

• São Luiz do Paraitinga: o pequeno município paulista de 12 mil habitantes, que ficou completamente submerso pelas fortes chuvas do início deste ano e perdeu parte de seu patrimônio histórico

um incêndio. No local, uma senhora lhe disse que ele deveria ser um homem muito infeliz, pois estava sempre presente em tragédias. Fontana respondeu que, ao contrário, ele era feliz porque estava sempre em locais onde havia a esperança, já que o seguro cobriria todos os prejuízos. Recursos para recome~ar Algumas seguradoras também se engajaram em movimentos de solidariedade ao oferecer às vítimas de catástrofes muito além do devido pagamento de sinistros. A Santander Seguradora, por exemplo, teve uma atuação marcante no sinistro de São Luiz do Paraitinga, pequeno município paulista de pouco de mais de 12 mil habitantes, que ficou completamente submerso depois de atingido pelas fortes chuvas do início deste ano. No dia seguinte à tragédia, antes mesmo

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• Chile: o país foi atingido por um dos maiores terremotos de sua história, que vitimou mais de 700 pessoas, causou prejuízos da ordem de US$ 30 bilhões e destruiu parte da infraestrutura do país

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Arquivo Zurich

de ser acionada por algum dos seus 150 segurados na cidade, a companhia enviou ao local uma equipe de peritos e supervisores para atender as vítimas. José Carlos da Silva, da área de Negócios Globais, conta que apesar da dificuldade de localizar os clientes, que haviam abandonado seus lares, a companhia conseguiu indenizar mais de 50 pessoas, nos dois primeiros dias. "Muitos ainda tentavam salvar o pouco que lhes restara e se emocionaram diante da notícia de que podiam contar com aquele recurso para recomeçar", relata. Segundo ele, a Santander também prestou ajuda de assistência domiciliar, por meio de profissionais especializados, inclusive aos não-segurados. "Cuidar do cliente é ir além do aspecto meramente comercial, oferecendo mais do que ele espera, principalmente no momento do sinistro", diz José Carlos.

Ajuda ao Chile No terremoto do Chile, que vitimou mais de 700 pessoas e causou prejuízos da ordem de US$ 30 bilhões, a ajuda brasileira chegou por meio da Zurich Seguros. André Lopes, gerente de sinistros, foi um dos que integrou a equipe de especialistas de toda a América Latina enviada por meio do Zurich HelpPoint. Em tendas e containeres a seguradora improvisou o atendimento às vítimas, priorizando o pagamento imediato de indenização aos clientes pessoa física. André Lopes conta que o grupo ajudou, inclusive, a viabilizar um casamento para 500 convidados, em um hotel destruído, 15 dias após a tragédia. "Colocamos à disposição do segurado profissionais de sinistros e peritos em catástrofes vindos dos Estados Unidos

para restabelecer as atividade do hotel e realizar o evento na data marcada", diz. Além disso, segundo ele, a Zurich ainda entregou ao hotel segurado o primeiro cheque de adiantamento no valor deUS$ 1 milhão, 13 dias após o terremoto. A empresa também realizou uma campanha mundial de ajuda às vítimas, que arrecadou US$ 200 mil, somando a contribuição de US$ 13 mil dos funcionários da empresa no Brasil. "O grupo Zurich tem consciência do seu papel perante a sociedade e está presente quando o cliente precisa", afirma.

Imagem positiva O desespero no rosto dos familiares das vítimas do acidente da TAM, em julho de 2007, é algo que ainda hoje comove Antonio Trindade, diretor executivo da ltaú Unibanco. Na época, como profissional da Unibanco ele participou das negociações de acordo das indenizações, que se tornaram célebres diante da rapidez com que foram concluídas. "Não esperamos a conclusão dos relatórios para agir. Essa iniciativa transformou a vida de muitas famílias, que puderam garantir o futuro dos seus dependentes", diz. Segundo ele, a companhia também designou uma equipe de médicos e psicólogos para prestar auxílio aos parentes das vítimas. Outro caso famoso em que a atuação da ltaú Unibanco fez a diferença ocorreu também em 2007, mas no início do ano, com o desabamento nas obras da Linha 4 do metrô paulista. Trindade conta que a primeira atitude da empresa foi prestar amparo aos familiares das pessoas desaparecidas, além de providenciar hotel, recursos, roupas e remédios aos moradores do entorno, que tiveram suas casas interditadas. "Todos que tiveram de abandonar suas residências foram indenizados, o que reverteu à companhia uma imagem positiva, sólida e proativa", afirma.e

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• José Carlos da Silva: o executivo da Santander Seguros conta que, no dia seguinte à enchente em São Luiz do Paraitinga, a companhia enviou ao local uma equipe de peritos e supervisores para atender ás vítimas


OPINIÃO I ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

Seguros - quem

contrata conhece? A penetração do seguro no Brasil ainda é muito baixa, mas esse é o melhor dos mundos para quem se dispuser a conhecer o segurado CNSeg quer descobrir quem é o segurado brasileicidade de destruição da poupança, não permitiu que a ro. A ação, mais do que louvável, é necessária, ou atividade se desenvolvesse, aproveitando a competitivimesmo fundamental, já que conhecer o cliente é dade gerada pela desregulamentação do mercado. a alma do negócio. Durante muitas décadas, praticamenO grande salto veio com a estabilidade da moeda. A te até a entrada em vigor do Plano Real, as apólices brapartir de 1994 verifica-se um crescimento consistente da sileiras eram, na maioria dos ramos, cópias de apólices participação do setor no PIB brasileiro, atingindo atualestrangeiras, adaptadas para o Brasil pelas tarifas únicas mente algo próximo de 3,5% de seu total. do IRB, de acordo com o que seus técnicos imaginavam Mas isto não quer dizer que o cidadão médio brasique eram as necessidades de cobertura da população. leiro saiba o que é seguro, ou seja, que ele saiba como Contratos desenhados em gabinetes longe da realifunciona a apólice que ele está contratando. Quais suas dade das ruas, estes seguros eram caros e cobriam poucaracterísticas, clausulados e princípios atuariais. Quase co, além de serem escritos numa ninguém ouviu falar em mutualinguagem incompreensível para lismo e por isso se tem como a maioria dos segurados. definitivo que quem paga o Quase ninguém ouviu falar O resultado prático era sinistro é a seguradora. Raraem mutualismo e por isso uma contribuição de menos de mente cai a ficha de que o prêse tem como definitivo que 1% para o PIB nacional. Seguro mio serve para isso. era visto como despesa, como Pior ainda, a maioria não lê quem paga o sinistro é a algo inevitável, mas quase inúa apólice que contrata. Nem os seguradora. Raramente cai til, o que fazia com que a conseguros de automóveis, indisa ficha de que o prêmio tratação das apólices, invariavelpensáveis pelo menos para mente, fosse feita de forma pouquem tem veículos com até três serve para 1sso co profissional, desconsiderananos de idade, é conhecido em do a importância da ferramenta todos os seus detalhes. Pelo concomo mecanismo de proteção trário, poucos sabem que ele é patrimonial. composto por três coberturas O começd da mudança se diferentes, com características deu na segunda metade da décadiferentes, que permitem a adeda de 1980, com a famosa Circuquação de cada capital ao potenlar 22, que introduziu os descial real de risco. contos comerciais nos seguros O resultado disso é que, de incêndio e lucros cessantes. comparada com outros países Quase ao mesmo tempo, o segulatinos, a penetração do seguro ro de automóvel, que até então na nossa sociedade é muito baiera visto como um produto xa. Se por um lado esse dado é menor, adquiriu importância, transformando-se rapidaruim, por outro é o melhor dos mundos para quem se mente numa das principais carteiras do mercado. dispuser a conhecer o segurado e a contar para ele o que Mas o processo inflacionário, com sua enorme capaé e como funciona o instituto do seguro.e

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ANTONIO PENTEADO MENDONÇA - Jornalista e especialista em seguros e previdência

42 Abril-Maio-Junho 2010 - RevistodeSeguros -n°873


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