Maio/Junho 2017
Notícias da Paz CONSELHO PORTUGUÊS PARA A PAZ E COOPERAÇÃO
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Agostinho Santos, Construir a Paz. Pintura ( tinta da china e aguarela sobre papel), 2017
os primeiros meses de 2017, o Conselho Português para a Paz e Cooperação desenvolveu um vasto conjunto de actividades sensibilizando para a Paz, como os Concertos pela Paz no Porto, Vila Nova de Gaia e Lisboa, as iniciativas em torno do Desporto e pela Paz organizadas pelo recém criado Movimento dos Municípios pela Paz, os debates de educação para a Paz em diversas escolas, os colóquios e debates sobre a perigosa situação internacional e as iniciativas de solidariedade com
os povos e países vítimas de agressão, de que são exemplo a Síria, a Palestina o Saara Ocidental ou a Venezuela. Entretanto, estão em preparação outros Concertos pela Paz em Viana do Castelo e Coimbra, novas iniciativas da campanha Sim à Paz! Não à NATO!, as participações nas manifestações do 25 de Abril e do 1.º de Maio, a sensibilização de artistas para a defesa da Paz, de que também é exemplo a preparação de uma exposição sobre a Paz, a publicação do livro do CPPC, Décadas de Luta pela Paz, e as iniciativas previstas com escolas, sindicatos, colectividades e autarquias. Esta actividade em torno da Paz e contra as guerras de agressão assume cada vez maior importância tendo em conta que estamos a viver um momento internacional de grandes perigos, com cada vez maior desrespeito dos princípios da Carta das Nações Unidas e do Direito Internacional, em que se multiplicam ingerências, agressões, chantagens e ameaças numa perigosa escalada que percorre os diversos continentes. Apoiados numa agressiva campanha pelos grandes meios de comunicação social internacional, os Estados Unidos da América e a União Europeia procuram condicionar os povos na afirmação do direito soberano de escolherem o seu caminho. Usando, se necessário, a provocação, a mentira e a proliferação de apoios diversos a quem esteja disponível para se colocar a seu lado, os EUA não olham a meios para impor a sua posição, recorrendo à intervenção directa, como acaba de acontecer na Síria, com bombardeamentos que são proibidos pela Carta da ONU, ou indirecta, como se vê na Europa para onde enviou, nos últimos meses, milhares de militares e material bélico para reforçar a NATO, colocado estrategicamente junto das fronteiras da Federação Russa, e insistindo com os países membros da NATO para que reforcem os seus orçamentos militares para 2% do PIB. Por isso, mais do que nunca, impõe-se o reforço da luta pela Paz, apelando a todos para que se juntem ao CPPC na defesa deste bem precioso, fundamental para o progresso e desenvolvimento da humanidade.
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Intensa actividade do CPPC
Paz e solidariedade
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em sido particularmente intensa a actividade do CPPC nos últimos meses: em múltiplas tomadas de posição, debates, conferências, iniciativas culturais e eventos desportivos, organizados em nome próprio, em parceria ou marcando presença enquanto convidado, o CPPC levou mais longe a afirmação dos valores da paz, da amizade e da cooperação, do desanuviamento e do desarmamento, do respeito pela Carta das nações Unidas e pelo Direito Internacional, pela soberania dos países e da solidariedade com os povos que se batem pelo seu direito à emancipação nacional e ao progresso social. Pelo papel estruturante na vida do CPPC, assume particular relevância a realização, em Março, de uma Assembleia da Paz, onde foram aprovados o relatório de actividades e as contas de gestão, relativos a 2016, e se travou um rico debate sobre a actualidade internacional e as perspectivas de reforço do movimento da paz, em Portugal, na Europa e no mundo. Em seguida realizouse um almoço-convívio, importante contributo para o estreitamento dos laços de fraternidade entre os activistas da paz. Os concertos pela paz foram outra forma de fazer chegar mais longe as causas e valores do CPPC neste período. A 31 de Março, em Gaia, e em Lisboa, no dia 22 de Abril (realizado já após o fecho desta edição do Notícias da Paz), realizaram-se mais dois concertos, estando marcado outro para Maio, em Viana do Castelo. Em Gaia, o concerto decorreu no Centro Paroquial de Mafamude e contou com a presença de mais de 350 pessoas. Tendo o apoio da Câmara Municipal de Gaia e da Federação das Coletividades do concelho, o Concerto pela Paz abriu com um trio instrumental da Escola de Música de Perosinho, a que se seguiram a dança das crianças do Ginasiano Escola de Dança, a orquestra de guitarras do Conservatório de Música de Gaia, a poesia por quatro artistas da Ilha Mágica, o grupo de flautas transversais da Academia de Música de Vilar do Paraíso e, por fim, o Ensemble
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vocal Lígia Castro, que juntou em palco mais de 70 coralistas. O Concerto pela Paz foi apresentado por Olga Dias, e contou com a intervenção da presidente da Direcção Nacional do CPPC, Ilda Figueiredo. À entrada do recinto estavam expostos trabalhos de alunos da escola básica de Santa Marinha sobre a paz e a exposição do CPPC Décadas de luta pela Paz. Desporto e debate No dia 6 de Abril realizou-se em Gondomar a iniciativa Desporto pela Paz, assinalando o Dia Internacional do Desporto ao serviço do Desenvolvimento e da Paz, declarado pela ONU. Envolvendo escolas, associações, municípios e o CPPC, o evento foi promovido no âmbito do Movimento Municípios pela Paz. Já em Março, o CPPC marcara presença, em Ourém, na 6.ª Corrida e Marcha pela Paz, promovidas pela autarquia. O núcleo do Seixal representou o CPPC na 10.ª edição do Encontro Intercultural Saberes e Sabores, promovido pela Câmara Municipal do Seixal, que teve lugar de 9 a 13 de Março no Pavilhão Municipal do Alto do Moinho.
Realizado sob o mote do Ano Internacional do Entendimento Global, a iniciativa teve como tema Paz, Democracia e Cidadania. O CPPC esteve presente com uma banca, na qual se distribuiu o Notícias da Paz. O CPPC promoveu e participou ainda em muitas iniciativas de debate, com realce para o realizado a 20 de Fevereiro na Casa do Alentejo sobre A administração Trump, a situação nos EUA e suas repercussões na situação internacional, em que participaram Ilda Figueiredo, o jornalista José Goulão e o Major-General Pedro Pezarat Correia; a sessão de solidariedade com os Povos da Venezuela e da América Latina, realizada no início de Março no mesmo local; o colóquio internacional O sindicalismo e o trabalho em África, promovido pelo Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto e pela CGTP-IN; e a tertúlia realizada no Teatro Maria Matos após a peça Tudo o Que é Sólido Dissolve-se no Ar, da autoria de Cláudia Dias, sobre os refugiados e o problema palestiniano. O CPPC esteve igualmente presente no encontro entre activistas e organizações solidárias com o povo brasileiro e a presidente Dilma Roussef, em Lisboa.
Cimeira de Bruxelas é novo salto belicista
Dissolução da NATO é exigência de paz
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m vésperas da Cimeira da NATO em Bruxelas, na qual se pretende dar um novo salto belicista a este bloco político-militar de cariz agressivo, o movimento da paz português e mundial prepara-se para dar firme combate ao militarismo e à guerra e afirmar os valores da paz e da soberania como essenciais ao desenvolvimento e ao progresso social e, também, à própria sobrevivência da Humanidade. Para Bruxelas, está marcada uma grande manifestação para o próximo dia 25 de Maio, durante a cimeira da NATO. Em Portugal, estão previstas acções a 24, em Lisboa, e 25, no Porto – pela dissolução da NATO, pela paz. Em Março, as organizações da Europa membros do Conselho Mundial da Paz editaram um apelo «Contra a Cimeira da NATO de Bruxelas de 2017», no qual denunciam a sua expansão para o Leste da Europa, reforçando a presença militar dos EUA no continente, e a multiplicação das suas parcerias estratégicas em todo o mundo. A «vasta rede de bases militares estrangeiras, as esquadras navais, os sistemas anti-míssil e de vigilância global que os EUA e os seus aliados da NATO espalharam pela Europa e por todo o mundo» revelam os seus objectivos ofensivos. Os EUA, a NATO e os seus aliados, acrescentam ainda, «não cessam de aumentar as suas actividades militares e de
expandir as suas bases desde o Mar Cáspio ao Ártico, cada vez mais próximo da Federação Russa, e na região da Ásia-Pacífico, cada vez mais próximo da China». Corrida aos armamentos As organizações da região Europa do CMP, da qual o CPPC é coordenador, denunciam ainda que os membros da NATO, com particular realce para os EUA, são responsáveis pela maioria das despesas militares no mundo e pela corrida a cada vez mais sofisticados armamentos, incluindo armas nucleares e a instalação do sistema anti-míssil, servindo os interesses do seu complexo militar-industrial. Os números oficiais aí estão, a dar razão a estes alertas. Nesta cimeira estará em destaque um objectivo antigo dos EUA: o aumento dos orçamentos militares dos países membros da NATO, enfatizado pela administração Trump, que anunciou entretanto um aumento nas despesas militares dos EUA de 54 mil milhões de dólares. Este objectivo foi já apoiado por todos os governos dos países europeus membros da NATO nas cimeiras de Gales (Setembro de 2014) e Varsóvia (Julho de 2016), utilizando o pretexto da chamada guerra ao terrorismo e da alegada ameaça russa. O propósito real é uma ainda maior militarização da União Europeia e do seu intervencionismo belicista, assumindo plenamente o seu papel de pilar europeu da NATO. Os movimentos da paz europeus lembram que este aumento dos gastos militares surge na altura em que na maioria dos países que integram a NATO os direitos e rendimentos dos trabalhadores e dos povos estarem a ser colocados em causa e prejudicados.
As forças da paz têm uma palavra a dizer! As organizações europeias membros do Conselho Mundial da Paz realçam que as forças da paz e os povos «têm uma palavra a dizer», apelando à realização de acções nos diversos países com as seguintes exigências centrais: - Não ao aumento das despesas militares para a guerra, o dinheiro deve ser utilizado para o progresso social e a paz; - A retirada de todas as forças da NATO envolvidas em agressões e ocupações militares; - O fim da chantagem, desestabilização e das guerras de agressão contra estados soberanos e os povos; - O apoio aos refugiados, vítimas das guerras que a NATO promove e apoia; - O encerramento das bases militares em território estrangeiro e o desmantelamento do sistema antimíssil dos EUA e NATO; - A abolição das armas nucleares e das armas de destruição massiva e o desarmamento geral; - A oposição ao alargamento da NATO, nomeadamente aos países nórdicos, aos Balcãs, ao Leste da Europa e a Chipre; - A dissolução da NATO; - O respeito pelos princípios da Carta das Nações Unidas, pela soberania e igualdade de povos e Estados.
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CPPC promoveu sessão em Lisboa
Esclarecer e mobilizar contra o militarismo e a guerra
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CPPC promoveu uma sessão pública no dia 1 de Abril, na sede nacional da CGTP-IN, em Lisboa, na qual participaram vários dos seus dirigentes e activistas, representantes de outras organizações nacionais e membros de movimentos da paz estrangeiros, no caso, Antoine Bageut, da INTAL, da Bélgica, Marco Pondrelli, do Fórum Contra a Guerra, e Berenice Galli, da plataforma «Não à Guerra! Não à NATO», ambos de Itália. Com eles na mesa da sessão encontrava-se Ilda Figueiredo, presidente da Direcção Nacional do CPPC. Coube precisamente a Ilda Figueiredo abrir o debate, com os habituais agradecimentos e com o enquadramento do
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tema: a natureza e percurso da NATO, o seu reforço e alargamento, os perigos actuais que representa, nomeadamente com o seu cerco à Rússia, e as acções previstas para contestar a cimeira de Bruxelas e os seus objectivos. A dirigente do CPPC manifestou ainda a sua confiança na capacidade de os povos, e os seus movimentos da paz, travarem o caminho para a guerra que os EUA, a NATO e a UE têm vindo a trilhar. O representante da INTAL traçou um retrato profundo da realidade do seu país, que recentemente renovou o seu compromisso com a NATO (que se encontra sediada em Bruxelas), decidindo-se a aumentar consideravelmente os gastos com
armamento, ao mesmo tempo que impôs cortes nas despesas sociais. Exemplo disto é a intenção do governo belga de comprar 34 novos aviões de caça, drones e outros equipamentos militares, revelou Antoine Bageut, que acusa o governo de estar a fazer face a uma «lista de compras da NATO». O activista belga fez saber que se prevê uma grande mobilização popular nas manifestações marcadas para finais de Maio na capital do país. Milhões para a guerra Já Berenice Galli contou a história da plataforma que representa, nascida em Outubro do ano passado e que já conta
com muitas adesões em todo o país. Entre os objectivos da plataforma «Não à Guerra! Não à NATO» contam-se a dissolução da NATO, a saída de Itália da organização e o fim das armas nucleares no país. O facto de a Constituição italiana, no seu artigo 11.º, consagrar o repúdio do país pela guerra, é para a activista um importante apoio para os defensores da paz. Informando da recolha, em poucos meses, de milhares de assinaturas para uma petição com as exigências atrás mencionadas, Berenice Galli revelou outra vertente da acção da plataforma: a acção junto das autoridades locais e regionais para que se manifestem em favor da aplicação e cumprimento, por parte do Estado italiano, do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. A adesão da região Toscana é de uma grande importância para o reforço da pressão que urge fazer sobre o governo. Marco Pondrelli, do Fórum Contra a Guerra, guardou o seu contributo quase para o fim da sessão e optou por denunciar os oito milhões de euros diários que a Itália gasta com a NATO, contrastando com as verbas retiradas em áreas como a saúde ou a educação. O activista italiano rejeitou as teses da NATO e dos seus aliados, que apontam à «ameaça russa», e as que tendem a pôr em pé de igualdade todos os grandes países do mundo, independentemente da natureza da sua política externa e do seu grau de envolvimento nas acções de militarização e guerra em curso no mundo: o inimigo principal é o imperialismo norte-americano e a NATO, garantiu. Pelo CPPC intervieram ainda Frederico Carvalho, Maurício Miguel e Gustavo Carneiro, de cujos discursos damos nota nestas páginas.
Sessão do CPPC pela paz e a dissolução da NATO. Lisboa, 1 de Abril
UE, braço europeu da NATO «A UE leva a cabo actualmente 15 acções militares e outras ditas “civis”, para além do conjunto de mecanismos e organizações entretanto criadas para conduzirem um processo que até agora nunca ganhou autonomia face às grandes potências que a dominam – decorrente de contradições entre estas –, já que nunca – até agora, insisto – quiseram abdicar da sua soberania sobre uma área tão sensível e estratégica, o que também é revelador da confiança que existe entre elas. «O momento justifica aqui uma curiosa citação histórica, recordando o então primeiro-ministro português e hoje Secretário-geral da ONU, António Guterres afirmou então esperar que a UE no contexto da política externa e de
segurança europeia, passo a citar, “seja um dia o pilar europeu da NATO, e que a Europa, enquanto unidade política, esteja em condições de intervir em crises internacionais de maior dimensão”. Fim de citação. «A UE percorreu o caminho vaticinado e defendido por Guterres, mesmo que a militarização da UE seja em si um atentado contra a Carta da ONU e o Direito Internacional, instrumentalizando-os, manietando-os e subalternizandoos a seu favor. A UE assumiu o conceito estratégico da NATO – liderada pelos EUA – com o objectivo de acção externa ofensiva (...)». Maurício Miguel
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Paz e estabilidade na Península da Coreia e no mundo
Reduz-se o limiar nuclear «Nos últimos anos, a NATO vem reforçando a sua presença militar na Europa de Leste, em especial nos países bálticos e na Polónia. Foram criadas novas bases militares e outras instalações; exercícios militares conjuntos envolvendo tropas de vários estados membros da NATO ocorrem nas imediações das fronteiras da Federação Russa. Vários países da Europa de Leste aderiram à NATO desde a queda da União Soviética. Tais desenvolvimentos levam ao aumento das tensões entre as duas grandes potências nucleares e são, portanto, um mau presságio para o futuro da paz mundial. Neste contexto, é importante salientar que foi estabelecido fora de qualquer dúvida razoável que a expansão da NATO para a Europa Oriental viola compromissos assumidos durante as negociações sobre a reunificação alemã. (…) «As principais potências nucleares não chegaram a um acordo eficaz sobre o respeito, nem da letra nem do espírito, do Tratado de Não-Proliferação Nuclear de 1970. É disso sinal a decisão da Casa Branca de investir mais de um milhão de milhões de dólares americanos no chamado “programa de revitalização atómica”, com o objectivo de desenvolver e ensaiar bombas atómicas mais inteligentes, de maior precisão, menores e mais difícil detecção. Isto, de facto, reduzirá perigosamente o chamado “limiar nuclear”, ou seja, as circunstâncias em que alguns considerariam “aceitável” empregar armas nucleares num possível teatro de guerra ou mesmo contra alvos não militares.» Frederico Carvalho
NATO deu a mão ao fascismo «O Portugal da PIDE, das torturas, do Campo de Concentração do Tarrafal, da censura, da miséria e do obscurantismo; o Portugal de Salazar, o Portugal fascista e colonialista, foi um dos 12 países que, em Abril de 1949, constituíram a Organização do Tratado do Atlântico Norte/ /NATO. Este facto, para além de por si só deitar por terra a apresentação da NATO como organização de defesa do Mundo Livre, terá muito possivelmente permitido à ditadura fascista portuguesa sobreviver por mais duas décadas e meia. «A história não se escreve com base em ses, mas é certo que ela teria sido bem diferente se os governos norte-americano e britânico não tivessem – como
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efectivamente fizeram – sustentado internacionalmente a ditadura fascista portuguesa no novo contexto da Guerra Fria. Não será seguramente um acaso o facto de este alinhamento internacional se ter feito acompanhar, no interior do País, por um novo incremento da mais aberta e despudorada repressão contra os sectores mais combativos e consequentes da oposição democrática e contra qualquer expressão de protesto ou contestação. (…) «[A] luta pela dissolução da NATO é, também em Portugal, tão antiga quanto a própria NATO.» Gustavo Carneiro
O agravamento recente da tensão militar na Península da Coreia, face ao reforço da presença militar norte-americana na região e as ameaças de intervenção directa contra a República Popular Democrática da Coreia (RPDC), configura uma séria ameaça à paz e à segurança internacionais, prontamente denunciada pelo CPPC. No comunicado que emitiu a esse propósito, o CPPC lembrava a destruição do norte da Coreia pelas bombas dos EUA, entre 1950 e 1953, a significativa presença militar norte-americana na Coreia do Sul, no Japão e no Pacífico desde então e as constantes ameaças à RPDC, muito anteriores ao início do programa nuclear norte-coreano – frequentemente apresentado como razão para a escalada. Ora, não faz qualquer sentido falar do justo objectivo de desnuclearização da Península da Coreia de forma unilateral, apontando apenas a uma das partes e, sobretudo, não se pode deixar de fora desta exigência o país que detém dos maiores arsenais nucleares do mundo, que promove a sua modernização e instalação fora do seu território e reafirma na sua doutrina militar a possibilidade da sua utilização num primeiro ataque: os Estados Unidos da América. Assim, a única exigência que serve verdadeiramente a causa da paz é aquela que o CPPC sempre defendeu: o desmantelamento geral, simultâneo e controlado de todos os arsenais nucleares existentes no mundo, que, naquela sensível região do globo, deverá ser acompanhado por outras medidas, que dêem reais garantias de não agressão dos EUA à RPDC, evitando assim o que aconteceu ao Iraque, à Líbia e à Síria.
Seis anos de guerra e resistência
Tensão aumenta na Síria
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a madrugada de 7 de Abril abriu-se uma nova fase da guerra na Síria, marcada pela assumida agressão directa dos EUA contra este país do Médio Oriente, cujas consequências são ainda difíceis de medir. Num comunicado emitido no próprio dia 7, a propósito do bombardeamento dos EUA contra uma base militar síria, a Direcção Nacional do CPPC chamava a atenção para a fragilidade dos argumentos utilizados pela administração norte-americana para justificar o ataque: os autores da utilização de armas químicas na província de Idlib, que vitimaram perto de uma centena de pessoas, não eram ainda conhecidos, mas os EUA e os seus aliados apressaram-se a responsabilizar o governo sírio. No texto, o CPPC lembrava que as autoridades sírias não só rejeitaram de imediato qualquer responsabilidade pelo acto como desmantelaram, anos antes, o seu arsenal químico, numa acção monitorizada por instâncias internacionais. O mesmo não se pode dizer dos diversos grupos terroristas que operam no país, que não só possuem esse tipo de armamento como inclusivamente já o utilizaram noutras ocasiões. Assim, lia-se ainda no comunicado, a agressão dos EUA só servia a quem, como os grupos islâmicos ligados à Al-Qaeda ou ao Estado Islâmico, combate no terreno o governo legítimo da Síria – cujo derrube é um objectivo assumido igualmente pelos EUA, as potên-
cias da UE, Israel, a Turquia e a Arábia Saudita, por exemplo. Não por acaso, sublinha ainda o CPPC, a ofensiva de forças do Estado Islâmico logo a seguir ao primeiro ataque norteamericano comprova que objectivos serve a acção militar dos EUA. De notar, ainda, que dias antes da utilização de armas químicas em Idlib e do bombardeamento norte-americano na Síria, os EUA tinham sido responsáveis directos pela morte de 200 civis em Mossul, no Iraque, sem que tal crime tivesse motivado qualquer acção ou represália por parte da chamada «comunidade internacional». Seis anos de resistência Há seis anos que a República Árabe da Síria e o seu povo enfrentam – e resistem – a uma cruel agressão, perpetrada por grupos terroristas (como a Frente Al-Nusra, filial da Al-Qaeda, e o Estado Islâmico) treinados, financiados e armados pelos EUA, França, Reino Unido, Israel, Turquia, Arábia Saudita e Qatar. A guerra movida contra a Síria visa não só derrubar o seu governo, mas destruir o seu Estado, incluindo a sua tradição secular, laica e de liberdade religiosa, onde diversas confissões desde há muito convivem pacificamente. Graças a esta guerra centenas de milhares de pessoas morreram e ficaram feridas, milhões fugiram em busca de refúgio e segurança e impor-
tantes infra-estruturas sociais ficaram destruídas. Longe de ser uma «guerra civil», a situação actual da Síria está relacionada com o objectivo dos EUA de se manterem como potência hegemónica a nível global e de imporem o seu domínio sobre o Médio Oriente. A agressão à Síria é, assim, a continuidade das guerras movidas, por exemplo, contra o Iraque ou a Líbia. Como outras, esta guerra trava-se também no plano mediático: os que noutros países são terroristas são apresentados na Síria como «rebeldes»; qualquer morte na Síria é imediatamente imputada ao governo e às forças que o apoiam, mesmo sem qualquer investigação – quando esta responsabiliza os terroristas, o assunto é imediatamente esquecido. As nuances de linguagem são igualmente reveladoras: na Síria, o governo era acusado de «cercar» Alepo, que se encontrava nas mãos da «oposição»; no Iraque, o exército «libertava», Mossul, controlado pelos «terroristas». A mesma receita foi aplicada na Líbia, no Iraque e na Jugoslávia, para não ir mais atrás na história. Ao CPPC e a todos quantos defendem a paz e a soberania dos Estados cabe a responsabilidade de alargar o esclarecimento e a denúncia da agressão àquele país, pugnando pelo cumprimento do direito internacional e pelo direito do povo sírio a soberanamente decidir do seu destino, sem ingerências.
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Solidariedade com a Venezuela
Organizações e movimentos defendem soberania
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obilizados pelo CPPC, movimentos e organizações nacionais subscreveram um apelo de Solidariedade com a Revolução Bolivariana e o povo venezuelano, no qual se destaca as manobras de desestabilização em curso, internas e externas, contra este país latino-americano e se denuncia as «campanhas de desinformação nos meios de comunicação dominantes à escala internacional», com as quais se pretende apagar os «inegáveis avanços e conquistas populares nos domínios político, económico, social e cultural alcançadas nos últimos 18 anos». As organizações subscritoras recordam que as «mesmas forças retrógradas internas que, em 2002, protagonizaram o golpe de Estado para afastar o Presidente Hugo Chávez e derrubar a ordem constitucional» continuam, hoje, a compactuar
com os «interesses e objectivos dos EUA e da sua política de ingerência e desesta-
Décadas de luta pela paz O CPPC lançou um livro intitulado Décadas de Luta pela Paz, que refere a acção em prol da solidariedade aos povos, do repúdio pelas guerras de agressão e de exigência do desarmamento, da dissolução dos blocos político-militares e do fim das bases militares estrangeiras, assumido a defesa e valorização da Constituição da República Portuguesa e da Carta das Nações Unidas. Como se lê na Introdução, mais do que um livro de história, este Décadas de Luta pela Paz assume-se como mais um instrumento de intervenção do CPPC em prol daqueles que são os seus objectivos e causas: a defesa da paz, do desarmamento, da solidariedade e cooperação com os povos do mundo. Se ele contribuir de alguma forma para dar o devido relevo a esta importante e cada vez mais premente acção e servir para despertar mais consciências para a sua necessidade, então terá cumprido plenamente o seu objectivo.»
bilização». O boicote económico, a especulação cambial, a sabotagem e desorganização de serviços e redes de abastecimento configura uma verdadeira «guerra económica». A ela junta-se a pressão e ingerência externa dos EUA. É perante estas graves circunstâncias e reconhecendo a gravidade dos propósitos desestabilizadores que atentam contra a soberania e independência da República Bolivariana da Venezuela, que as organizações subscritoras do apelo «reafirmam o direito do povo venezuelano a decidir soberanamente sobre o seu destino em condições de paz e livre de quaisquer ingerências e pressões externas». A solidariedade à revolução bolivariana e ao povo venezuelano e o repúdio pelas constantes tentativas de subverter a ordem constitucional bolivariana e derrubar o governo legítimo do país são outras das causas que unem os promotores do apelo.
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