Jornal Contexto - Edição 32 (Outubro - Dezembro/2011). Multitemática.

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Foto: Daniel Nascimento

Contexto jorlabcontexto.ufs@gmail.com

Ano 9-Nº 32

Jornal Laboratório da graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe

Mobilidade urbana exige atenção a motos, bicicletas e poluentes Trânsito da Grande Aracaju precisa de mais espaço para bicicletas, mais educação dos motoneiros e menos poluição dos veículos automotores (p. 4 e 5)

Comunicação Campanha contra a baixaria na mídia completa uma década de enfrentamentos

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Saúde Compradores compulsivos demoram a perceber que são vítimas de um vício e precisam de tratamento

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Justiça Embora pouco conhecida, Lei Maria da Penha melhora atenção às mulheres agredidas

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Práticas alternativas vencem preconceito e ganham espaço no SUS Foto: André Teixeira

Foto: Tatiane Melo

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História & Sociedade

Universidade

Sincretismo religioso em dia de festa não garante práticas ecumênicas ao 9 longo do ano

Maioria dos universitários vive alheia à militância estudantil e às disputas políticas na UFS 15

Cultura

Universidade

Há dez anos uma rua rouba a cena do teatro sergipano e conquista palco e público

Processo de inclusão de alunos especiais enfrenta barreiras por falta de pessoal especializado 14

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Educação Cresce a oferta de idiomas estrangeiros em Aracaju, além de inglês e espanhol, incluindo o japonês 7

Cidadania Saúde Equoterapia ajuda a reabilitar pessoas com deficiências físicas, sensoriais e mentais 12

Poucos hotéis da capital oferecem acessibilidade a turistas com necessidades especiais 13


Opinião

outubro-dezembro/2011

Editorial

Para onde vamos? “Mobilidade urbana” virou mais uma dessas expressões da moda, que todo muito repete sem saber muito bem o que significa, embora possa intuir. Ela sinaliza uma preocupação das grandes regiões metropolitanas de todo o mundo com as consequências do crescimento vertiginoso no deslocamento de pessoas e veículos, sem a correspondente expansão dos espaços de circulação: ruas, avenidas, viadutos, calçadas, praças e caminhos alternativos como ciclovias, ferrovias, metrô e monotrilho. Embora ainda faça parte da grande maioria dos municípios brasileiros que têm menos de um milhão de habitantes, Aracaju já começa a sentir os efeitos de uma capital cuja região metropolitana vem crescendo sem planejamento urbano, com livre expansão do setor imobiliário e permissividade no transporte individual motorizado. Basta olhar os exuberantes anúncios de apartamentos que chegam a ter quatro vagas de garagem e o número de acidentes envolvendo motocicletas e motonetas, para se ter noção do tamanho do problema que está se desenhando. Isto sem contar os efeitos no ar que respiramos, por mais que haja tecnologias antipoluição para veículos automotores. Três matérias desta edição do Contexto (pg. 4 e 5) mostram apenas a ponta do iceberg dessa questão, sinalizando que possuir a “terceira maior malha cicloviária” do país não é suficiente para transformar a bicicleta e um meio de transporte incorporado às atividades cotidianas, e não apenas para lazer de fim de semana. A começar pela ausência de bicicletários em pontos de grande concentração de pessoas, como escolas, universidades e áreas comerciais. Trata-se, portanto, de uma questão fundamental para a tão alardeada “qualidade de vida” e para o exercício da cidadania, focos também de outras reportagens desta edição. Como o direito de não se expor à “baixaria na mídia” (pg.3); de ter acesso à diversidade cultural de graça ou a baixo custo (p.10); de usufruir de tratamentos alternativos na rede do Sistema Único de Saúde (p.11). Ainda falando em direitos, o Contexto mostra que o crescente esforço de inclusão de pessoas com deficiências físicas, mentais e sensoriais ainda enfrenta barreiras na rede hoteleira e na própria Universidade, embora uma iniciativa social ofereça esperança por meio da equoterapia (pgs. 12 a 14). Enquanto isso, a maioria dos universitários abre mão de participar das decisões políticas que são tomadas em seu nome pela militância (p.15), mas as mulheres agredidas encontram alento e proteção na Lei Maria da Penha (p.16). Veja também: a mudança de frequência nos bares (p.6) e na procura por idiomas estrangeiros (p.7); os rumos da fotografia sergipana (p.8); o confronto entre sincretismo e ecumenismo religioso (p.9); e os dilemas dos compradores compulsivos (p.12). Boa leitura!

Contexto

Contexto

ConteXtando

Reduzir a maioridade penal é a solução? Julie Melo Braga

A redução da maioridade penal é um tema recorrente na sociedade brasileira e rico na argumentação dos dois lados, a favor e contra. A discussão sobre o assunto vem sendo fomentada pela apresentação de propostas de emenda constitucional (PECs) por parte de legisladores favoráveis, enquanto outros setores da sociedade civil buscam combater sua aprovação. Em julho deste ano, o deputado federal André Moura (PSC/SE) apresentou a PEC nº 57/2011, propondo alterar o artigo 228 da Constituição Federal, que passaria a ter a seguinte redação: São penalmente imputáveis os maiores de 16 anos de idade”. A PEC 57 também acrescenta o seguinte parágrafo: “§ 1º A imputabilidade penal do maior de 16 (dezesseis) anos será

determinada por intermédio de perícia e decisão judicial, proferida em cada caso com fundamento nos fatores psicossociais e culturais do agente”. No entanto, segundo Danival Falcão, presidente do Conselho Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA-SE), a partir da implantação do ECA, em 1990, crianças e adolescentes são considerados pessoas em desenvolvimento e sujeitos de direitos. Para ele, a sociedade se precipita ao procurar combater o problema sem identificar as causas, sendo o Estado o responsável pela recuperação de adolescentes em conflito com a lei. O ConteXtando desta edição ouviu posições favoráveis e contrárias. E você, leitor(a), de que lado está? Por quê?

SIM

NÃO

“Não acredito na eficácia das medidas socioeducativas. Afinal, seja um delito de furto, seja um genocídio, o menor de idade, terá, no máximo, uma punição de três anos de internação. Não há outra solução em pequeno e médio prazos para a prevenção do crime. Os problemas sociais devem ser corrigidos com mais urgência ainda, mas são programas em longo prazo. Enquanto isso, a parte distinta da sociedade não pode ser submetida ao medo constante que assola as vítimas em geral, principalmente quando se sabe da inimputabilidade do seu algoz.” - Luiz Carlos dos Anjos Silva Júnior, estudante do curso de Direito da Unit. “Com o crescimento absurdo dos meios educacionais e de comunicação em massa, nada justifica que um adolescente de 16 anos não tenha possibilidade de distinguir o lícito do ilícito. Isto é, com a certeza do confortável manto da impunidade, os menores continuam conscientemente a dirigir sua conduta, na imensa maioria das vezes, ao ato delituoso.” - Leonardo Vilanova, estudante do curso de Direito da Unit. “Sou a favor, pois os jovens têm que responder inteiramente por seus atos, como cidadãos adultos. A nossa legislação é muito tolerante com os infratores e não intimida os que pretendem transgredir a lei. Se os jovens de 16 anos têm o discernimento para votar, eles devem ter também idade suficiente para responder diante da Justiça por seus crimes. Não seríamos os pioneiros na redução, não é nada revolucionário mas, com certeza será algo que intimidará os jovens agressores. No meu tempo, shopping era lugar seguro, de lazer com minha família. Hoje, se você nao ficar esperto, leva cadeirada na praça de alimentação.” - Sérgio Rafael Oliveira, estudante do curso de Engenharia de Produção da UFS. “Sou a favor. Não que essa medida seja a solução para reduzir a criminalidade no Brasil, associação que muitas vezes a mídia tenta forçosamente fazer, mas simplesmente porque um adolescente de 16 anos, sobretudo considerando o estágio da nossa sociedade atual, possui toda a condição intelectual para discernir entre o que é certo ou errado e assumir os seus próprios atos.” - Lucas Fontes, estudante do curso de Direito da Unit.

Universidade Federal de Sergipe

Jornal Laboratório do curso de Jornalismo

Campus Prof. José Aloísio de Campos Av. Marechal Rondon, s/n, São Cristóvão - SE

Coordenação editorial: Profª. Drª. Sonia Aguiar

Reitor: Prof. Dr. Josué Modesto dos Passos Subrinho Vice-reitor: Prof. Dr. Angelo Roberto Antoniolli

Departamento de Comunicação Social (DCOS)

Pró-Reitor de Graduação: Prof. Dr. Paulo Heimar Souto

Fones: (79) 2105-6921 (chefia) (79) 2105-6919 (secretaria)

Diretor do CECH: Prof. Dr. Jonatas Silva Meneses

Chefe: Prof. Dr. Fernando Luiz Barroso

E-mail: dcos@ufs.br

“Acho que, mesmo havendo tal redução, o adolescente infrator estaria sujeito a um sistema penitenciário defasado. Apenas deve-se cogitar uma redução da idade penal quando houver uma reestruturação no sistema judiciário. Ou, talvez, considerar um ponto importante: os recursos destinados para as instituições de ressocialização para menores de idade, que se encontram também problemáticas.” - Ana Rita Souza, aluna do curso de Letras da UFS. “Um resultado mais efetivo para a redução dos crimes seria uma política educativa mais eficiente e de maior qualidade. Se o governo investisse mais na qualificação dos professores e em escolas públicas mais estruturadas, acredito que a mudança de uma realidade social perigosa para uma realidade mais agradável viria a acontecer. Mesmo que isso demore alguns anos, acho que daria resultados significativos.” - Caroline Machado, aluna do curso de Psicologia da UFS. “A prisão de menores de 18 anos não impede que crimes sejam cometidos, nem sua reincidência. O problema real é de base, como condições sociais e de estruturação familiar. O suporte aos menores é mais frutificável que sua repreensão drástica, porque os induz a seguir as regras sociais; quadro mais difícil de se estimular em adultos, uma vez que seus pensamentos e orientações já foram formados e consolidados. Esse período, antecedente aos 18 anos, é justamente o período de formação pessoal, onde toda fisiologia amuderece, interferindo diretamente nos comportamentos, o que pode, de certo modo, ‘perturbar’ adolescentes sem apoio emocional e social.” - Ana Caroline Ferreira, estudante de Medicina da UFS. “Essa não seria uma medida eficaz para a diminuição da criminalidade no país. O importante é garantir aos adolescentes o acesso à educação gratuita e de qualidade, além de saúde, moradia, emprego etc, para que os jovens não vejam a criminalidade como única solução para os problemas sociais que enfrentam. Esses jovens infratores, como são chamados, são vítimas também, dada a condição social em que se encontram.” - Tânia Viana, pósgraduanda em Antropologia na UFS. Versão digital: http://issuu.com/contextoufs/docs/contexto32

Edição concluída em dezembro de 2011

Equipe Contexto:

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Adler Berbert Oliveira Andrea de Cerqueira Wanderley Anne Samara Torres do N. Santos Antônio André Teixeira Bruna Santos Guimaraes Catarina Menezes Schneider Daniel Nascimento Cunha Daniele Melo Elaine Cristina Brandao Casado Eloy Santos Vieira Erivaldo Francisco dos Santos Junior Igor Bezerra de Almeida Jose Leidivaldo Oliveira Jovaldo Rodrigues de Oliveira Junior

Julie Melo Braga Larissa Regina Santos do Nascimento Lohan Miranda Montes Lorena Larissa Carvalho Barbosa Lucas Peixoto Lima Mairon Hothon do Nascimento Torres Maria Luiza de Oliveira Alves Bastos Mariana Oliveira Viana Monique Cristine Garcez Barros Morgana Borges Brota Nara Melo Barreto Tatianne Santos Melo Taylane Cruz Santos Silva Verlane Santos Estacio

Leia e passe adiante!

Leia e passe adiante! Impressão: Global Print Editora Ltda. Tel (31) 31981100 Tiragem: 1.000 exemplares


Contexto

Baixaria na mídia: você também consome Eloy Vieira e Monique Garcez eloy.jor@gmail.com; moniquegarcez91@gmail.com;

Fonte: divulgação

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á 10 anos, a luta contra a “baixaria”, prática muito comum na mídia, tem ganhado espaço no debate público. Um grande exemplo disso é a campanha “Quem financia a baixaria é contra a cidadania”, que surgiu em 2002, após as discussões geradas na VII Conferência Nacional de Direitos Humanos, realizada em Maio do mesmo ano, e desde então atua no sentido de denunciar emissoras e anunciantes de televisão que desrespeitam os princípios éticos dos cidadãos. Desde 2004 o ‘Dia Nacional de Combate a baixaria na TV’ tem fomentado discussões acerca do assunto, e, em geral, a data se dá no mês de outubro. A campanha foi criada pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, com a ajuda de mais de 80 entidades da sociedade civil distribuídas em 17 Estados do Brasil e já realizou diversas intervenções em programas televisivos que feriram os direitos humanos através dos conteúdos veiculados durante suas programações. É a partir desta campanha que a sociedade civil ganhou espaço aqui no país, uma vez que não há nenhum órgão para a intermediação entre os meios de comunicação e as audiências. A Constituição brasileira garante ao cidadão que a mídia deve estar comprometida com educação, cultura e informação, sempre levando em conta os valores éticos e sociais vigentes. Porém, diariamente é possível visualizar o desrespeito e o descaso com os direitos do cidadão. Muitos meios de comunicação afirmam que veiculam esse tipo conteúdo impróprio porque o ‘povo gosta’, já a população alega que consome a “baixaria” porque não tem opção. Mas afinal, o que é “baixaria” e como pode-

mos explicar sua utilização pela mídia? Segundo Paulo Victor Melo, representante em Sergipe do Coletivo Intervozes, instituição que luta pela democratização da comunicação em todo o país, “baixaria” é tudo aquilo que é veiculado e viola os direitos humanos. Uma definição semelhante a esta é apresentada pelo jornalista e mestre em Comunicação Midiática e professor da Unisalesiano em Araçatuba (SP) Carlos Henrique Demarchi. Para ele, a “baixaria” corresponde às situações em que os limites éticos, morais e estéticos são desrespeitados pelos meios de comunicação. Ele informa que os casos mais comuns são exposição das pessoas ao ridículo, exploração abusiva de crianças e adolescentes e apologia ao crime. Ainda na mesma linha, Guga Oliveira, editor-chefe do jornal sergipano Super Popular, afirma que “baixaria” é o mesmo que sensacionalismo, ou seja, seria a exploração além do conteúdo tido popular. Qual o objetivo desta prática? Em geral, a veiculação de conteúdos de baixa qualidade tem basicamente um objetivo: agregar audiência. Este tipo de conteúdo é considerado estratégico, pois permite que o máximo de pessoas, mesmo sem alfabetização ou qualquer tipo de letramento, possam consumir o conteúdo sem muita criticidade. “A máxima do censo comum diz que o povo gosta desse tipo de conteúdo. Se apenas esse conteúdo é oferecido para o povo, é isso que vai ser consumido”, avalia Paulo Victor. Em meio a essa discussão, Guga Oliveira abre espaço para distinguir os termos ‘popular’ e ‘sensacionalista’, por estarem intrinsecamente ligados ao tema em questão. Para ele muitas vezes esses dois conceitos se confundem porque estão ligados às classes mais baixas. “Os jornais populares são uma tendência no mundo todo, no Brasil e em Sergipe também, e eles devem servir ao povo, formando um público-leitor”. Quando questionado sobre as manchetes chamativas e outros artifícios utilizados pelo jornal, o editor defende que tudo é feito pensando em atrair e chamar atenção do público-leitor. “Uma de nossas últimas edições vendeu mais de 50 mil exemplares nas bancas, e se não houver algo atraente, esse jornal sobra nos pontos de venda”, constata. O pesquisador paulista Henrique Demarchi lembra que o cenário da Comunicação no Brasil favorece a proliferação deste tipo de conteúdo e o descumprimento da Constituição. Para ele, a ausência do Estado e o monopólio da mídia são os maiores problemas. “Faltam mecanismos de fiscalização mais efetivos de controle sobre o que é veiculado pela mídia. Outro problema é o fato de haver a concentra-

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Comunicação

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ção dos meios de comunicação nas mãos de poucas famílias, inclusive políticos que são concessionários de canais televisivos”. Mobilização No Brasil há diversos órgãos e instituições que atuam no combate a “baixaria”. Dentre eles estão o Conselho de Psicologia, o Sindicato dos Jornalistas e a Associação Brasileira de Rádios Comunitárias. Além disso, já existiram alguns movimentos que trabalharam com a questão da qualidade da programação televisiva, como a ONG Midiativa, o grupo ‘O Amanhã dos Nossos Filhos’ (OANF), o Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação (FNDC) e a organização não governamental TVER, que foi o ponto de partida da campanha “Quem financia a baixaria é contra a cidadania”. Além da campanha, esta articulação entre a sociedade civil organizada e o poder político resultou também no projeto de lei nº 1600/2003, do deputado Orlando Fantazzini, então filiado ao PT-SP. Com ele, os objetivos da campanha deveriam ser concretizados com um “Código de Ética para a Programação Televisiva Brasileira”. O objetivo deste projeto era oferecer alternativas de informação, cultura e lazer aos telespectadores, com isenção, pluralidade, responsabilidade, interesse público e Direitos Humanos, contudo, o projeto encontra-se arquivado na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. Dentre algumas das principais ações realizadas pela campanha, houve o caso do programa ‘Tardes Quentes’, da emissora RedeTV!. Este conteúdo recebeu, por conta de uma ação civil pública, intervenções por reproduzir cenas que agredi-

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am os princípios éticos dos cidadãos. Na época de exibição do ‘Tardes Quentes’, o programa foi retirado do ar durante um mês, e em seu lugar foram exibidas diversas programações educativas que foram produzidas por entidades da sociedade civil, apoiadas pelo Ministério Público Federal. O programa que substituiu o ‘Tardes Quentes, apresentado por João Kleber, recebeu o nome de ‘Direitos de Resposta’, e veiculou discussões sobre temáticas ligadas aos Direitos Humanos. Mas essa não foi a única ação realizada pela campanha, que em 2004 conseguiu intervir em programas policialescos como Cidade Alerta (TV Record) e Brasil Urgente (TV Bandeirantes), que, por determinação da justiça, desobedeciam aos critérios da classificação indicativa e deveriam ser exibidos somente depois das 22 horas. Outro exemplo foi o Programa Domingo Legal (SBT) que foi tirado do ar devido a uma falsa entrevista a membros do PCC em 2005. Em Sergipe, segundo Paulo Victor, a discussão sobre os Direitos Humanos e suas relações com a mídia foram incorporadas à Semana pela Democratização da Comunicação, realizada entre 17 e 20 de Outubro, mas até o fechamento desta matéria o ‘Dia Nacional de Combate à Baixaria na TV’ ainda não tinha data certa. C

Saiba mais: http://portal.mj.gov.br/sedh/pndh3/pndh3.pdf http://oexpressobandeirante.com/?p=1342 http://www.proconferencia.com.br http://www.fndc.org.br http://www.eticanatv.org.br

XVII Ranking da baixaria na TV

Arte: Monique Garcez

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Denúncias realizadas entre os meses de maio e dezembro de 2010


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Meio ambiente

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Contexto

A silenciosa morte que chega pelo ar Saiba como a poluição adoece e mata milhões de pessoas todos os anos Foto: André Teixeira

André Teixeira

antoidrex@gmail.com

Melecas pretas. Eis o resultado do primeiro dia do repórter ao andar pelas ruas de São Paulo em maio de 2009. Dois dias depois maior susto: 3000 mortos estampavam matéria de quarto de página no jornal O Estadão. Foi essa a média de mortos na capital paulista no ano anterior devido a problemas respiratórios ocasionados pela poluição atmosférica. Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, dióxido de enxofre, monóxido de carbono, óxido de azoto, material particulado e demais poluentes emitidos por veículos movidos a combustível fóssil contaminam a atmosfera e matam milhões de pessoas sem encostar um para-choques sequer em suas vítimas. Por poluição atmosférica entende-se que seja qualquer contaminação do ar por meio de desperdícios gasoso, líquido ou sólido que ameace a saúde humana, animal ou vegetal, além provocar danos materiais ao ecossistema. Pode reduzir a visibilidade do tráfego rodoviário, provocar chuvas ácidas, inversões térmicas e outras anomalias de ordem natural. A OMS divulgou em setembro de 2011 um relatório onde informa que a má qualidade do ar é responsável pela morte prematura de pelo menos dois milhões de seres humanos todos os anos nas grandes metrópoles. Da madeira ao CO2 e ao enxofre “Os registros da história indicam que na fase pré-industrial a poluição do ar se dava na queima de madeira e carvão em cidades com grande concentração populacional, piorando gradativamente do início da Revolução Industrial até os dias de hoje”, diz a professora de História Eudorica Luciana. “Os benefícios e o progresso dela advindos não significaram o mesmo para o meio ambiente. Na maioria das vezes suas evoluções repercutiram reveses ambientais em todas as partes do mundo”, acrescenta. Pelo elevado número de mortos, alguns incidentes ambientais envolvendo poluição atmosférica se destacam na história. Em 1930, na Bélgica, no período de dois dias cerca de 60 moradores do vale de Meuse morreram devido a ausência de ventos e da não dispersão dos poluentes das fábricas locais. Na Pensilvânia, EUA, uma inversão térmica nos anos 1940 fez o mesmo na cidade de Donora, onde ocorreram 20 mortes em curto espaço de tempo. No inverno de 1952, em Londres, 4.000 pessoas morreram. A indústria e os aquecedores domésticos à base da queima de carvão foram a causa. No ano de 1984 , o pior: um acidente na fábrica de pesticida pertencente à norte americana Union Carbide vazou aproximadamente 40 toneladas de gases letais, ocasionando a morte de 7.500 pessoas na

Inspeção obrigatória de poluentes veiculares em Sergipe só a partir de abril de 2012

cidade indiana de Bhopal. Estima-se que desde o acidente outras 16.000 pessoas tenham morrido em decorrência dele. No Brasil, a cidade paulista de Cubatão entre os anos 1970 e 80 lançava mil toneladas diárias de poluentes no ar, além de outras tantas nos rios e terras da região. Mundialmente conhecida nos anos 1980 como “Vale da Morte”, Cubatão foi sem dúvida o caso mais emblemático da poluição industrial nacional. Isso representou a morte e má qualidade de vida de milhares de pessoas nos mais de 30 anos de desenvolvimento industrial da região. Qualidade do ar em Sergipe No dia a dia a poluição que mata devagar, aos poucos vai se descortinando e encontrando seus índices. No Brasil, segundo o relatório da OMS de 2011, o ar de Belo Horizonte mata mais de um por dia (389/ano). O de São Paulo mata treze (4.745/ano) . O Rio de Janeiro continua lindo, mas a qualidade do seu ar é quase duas vezes pior que a da capital paulista. As vítimas desse assassino invisível, na grande maioria das vezes não sabe o

que os atingiu. Além de milhares de internações, há o prejuízo de bilhões de reais aos cofres públicos. Segundo informações fornecidas pela Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe, entre os anos de 2005 e 2008 o número de óbitos relacionados a doenças respiratórias chega 2.649. Mas esse número não pode ser atribuído exclusivamente aos poluentes veiculares, pois não há como efetuar tal medição. Os problemas gerados pela poluição são muitos. Além dos diretamente propiciados à saúde humana, prejudica ecossistemas através das mudanças climáticas, afeta a estrutura dos prédios e do patrimônio histórico das cidades, provoca chuva ácida, que mata plantas e animais. Aracaju possuía, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) até setembro de 2011, 134.986 automóveis movidos a gasolina ou etanol, e outros 35.888 veículos a diesel, entre caminhões, ônibus, camionetas, etc. Um detalhe importante: por determinação do Conama a inspeção veicular, exame que mede a quantidade de poluentes e material particulado emitido pelos veículos,

sob responsabilidade dos Detrans - que é obrigatória há anos em outros estados, será obrigatória em Sergipe a partir do mês de abril de 2012. Segundo Adema a qualidade do ar em Aracaju é boa. A amostragem refere-se ao entorno de 1000 metros da Estação de Coleta da Qualidade do Ar no Distrito Industrial de Aracaju. O gerente de fiscalização ambiental da Adema, Augusto Leão, informou que apenas a partir de 2012, quando serão adquiridos quatro HI-VOLs (equipamento para aferição da qualidade do ar), poderá ser melhorada a pesquisa quanto ao impacto ambiental provocado pelos poluentes veiculares e industriais na capital. Quanto aos poluentes contidos no combustível, o enxofre é o que causa maior preocupação. Nos anos 1970/80, o índice de enxofre contido no diesel cujo ideal é de 15 partes por milhão, chegou a 13.000 ppm. O diesel vendido hoje nos postos comuns contém 1800 ppm. O plano da Agência Nacional do Petróleo, que regula a quantidade do componente no combustível, é começar a fornecer o ‘diesel urbano’. Benjamim Reis, Subgerente de Projetos de Atividades da Cadeia do Petróleo da Adema informou que quatro postos piloto serão implantados em Sergipe, com fornecimento do diesel S10, que contem apenas 10 ppm de enxofre. Sobre a qualidade do ar em Aracaju o biólogo Clóvis Franco, professor da UFS, informou-nos que é insuficiente e imprecisa a aferição atual devido ao local e ao número de equipamentos utilizados. “O uso do diesel de má qualidade associado ao péssimo estado de manutenção do transporte coletivo e de veículos particulares” além da “falta de fiscalização por parte do Poder Público” permitem a indiscriminada emissão de substâncias cancerígenas na atmosfera. De uma forma geral “as medidas tomadas hoje são as que deveriam ter sido tomadas há 100 anos.” Professor Clóvis vê a situação atual como sem esperança. “Não estou sendo apocalíptico e sim pragmático e realista.” Ele compara a situação atual a um avião caindo com o motor parado e como solução tentam alimentar o piloto. “São enérgicas as medidas a serem tomadas. O fornecimento de combustíveis alternativos ou com menores níveis de poluentes são medidas insuficientes”. O professor cita o cientista e ambientalista inglês James Lovelock para definir bem a situação: ‘Somos perigosamente ignorantes de nossa própria ignorância, e poucas vezes tentamos ver as coisas como um todo.’ C Para saber mais:

www.recursosnaturais-se.blogspot.com www.who.int/es/index/html www.adema.se.gov.br


Contexto

Transportes

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Obstáculos no trajeto das bicicletas Jovaldo Rodrigues jovaldo.junior@gmail.com

Morgana Brota

morganaborgesbrota@gmail.com

N

uma cidade como Aracaju, onde o trânsito vem se tornando cada vez mais intenso, elevar a bicicleta ao status de meio de transporte parece ser uma tendência crescente. E um olhar mais atento não deixa escapar: os ciclistas urbanos estão ali, muitas vezes espremidos entre um carro e uma calçada, mas definitivamente dispostos a ocupar um espaço que também é deles por direito. Essa empreitada, no entanto, não é fácil, e usar a bicicleta diariamente se configura num verdadeiro desafio, mesmo com os 58 km que foram adicionados à malha cicloviária de Aracaju nos últimos 8 anos, tornando-a a terceira maior do Brasil. De acordo Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT), Aracaju possui uma malha cicloviária de 70 quilômetros de extensão, distribuídos por mais de 10 bairros da capital. A SMTT estima que uma média de 40 mil pessoas utilize esse espaço. O estudante de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Epifânio Júnior, 24, é uma delas. “Vou tanto para a UFS como para o trabalho. Gosto da bicicleta pela facilidade de locomoção pelo trânsito”, afirma. No entanto, mesmo que as ciclovias sejam rotas para o ciclista pedalar sem maiores dificuldades, já que não há confronto direto com veículos motorizados, ainda é

possível encontrar algumas dificuldades. Obstáculos para os ciclistas urbanos realmente não faltam, e a violência no trânsito é um dos mais difíceis de superar. “A maioria dos condutores não respeita o ciclista e, quando não há uma ciclovia por perto, fica bastante difícil pedalar entre os carros”, afirma a designer Monique Alves, que há pouco mais de um ano resolveu adotar a bicicleta como meio de transporte. “Só não uso para ir ao trabalho porque o escritório fica no outro lado da rua da minha casa”, afirma Monique. Outro agravante na rotina dos ciclistas urbanos é a falta de locais para estacionamento de bicicletas. Atualmente, Aracaju conta com um bicicletário na praça Fausto Cardoso e outro na General Valadão, que juntos têm capacidade para abrigar 40 bicicletas. Também há 30 paraciclos no Centro da cidade. Mesmo assim o número é insuficiente e muitos ciclistas não os consideram confiáveis. “A questão da segurança é preponderante. Já dei uma boa olhada nos bicicletários do Centro e definitivamente não deixaria minha magrela ali. E o mesmo vale para a UFS, que nem conta com um bicicletário, na verdade”, afirma Adson Rocha, graduando de Administração. Apesar desses obstáculos o estudante é um ciclista urbano fervoroso e não dispensa o uso diário da sua bicicleta para cumprir o expediente no emprego. Como Adson trabalha em horário comercial e, geralmente, volta para casa na hora do almoço, usa

Foto: Morgana Brota

a bicicleta quatro vezes ao dia, e a maior parte do seu trajeto é na movimentada avenida Barão de Maruim. “A violência no trânsito assusta, mas nunca me impediu de usar a bicicleta como meio de transporte”, afirma. Esclarecimentos De acordo com Fabrício Lacerda, coordenador de ciclomobilidade da SMTT, esses problemas não estão sendo ignorados pela prefeitura, que já trabalha para solucioná-los. A respeito da falta de interligação entre as ciclovias, o coordenador explica que há projetos para conectá-las. “A planta da cidade prevê esse tipo de construção, mas é um projeto futuro que levará tempo. Não é para este ano”, admite Lacerda. Já sobre a questão da falta de bicicletários, o coordenador diz que também há planos da prefeitura para a construção de novos estacionamentos. “Hoje existem, sim, estudos para novas instalações, como paraciclos em prédios públicos, por exemplo. Ainda há muita coisa a ser feita, o poder público sabe que existe essa demanda e está consciente desse papel”, acrescenta. A arquiteta e urbanista Emanuele Car-

Adson pedala diariamente

valho, gestora do Departamento de Divisão de Projetos da UFS (Dipro), assegura que a universidade também possui planos para a construção de bicicletários. “A ideia já existe. Por enquanto, não sabemos onde serão colocados, mas temos conhecimento que há essa necessidade”, esclarece. Emanuele diz ainda que estudantes já se manifestaram sobre a questão, mas admite que por ora a Dipro está dando prioridade aos trabalhos já iniciados, como o estacionamento para motocicletas. Em relação ao prazo para quando esse planejamento terá inicio, a arquiteta declara que a avaliação do projeto ocorrerá a partir do momento que as obras atuais na UFS forem concluídas. C

Aracaju cresce em duas rodas Lorene Vieira

lore_vieir@hotmail.com

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om muita propaganda e pagamentos facilitados, andar sobre duas rodas vem se tornando cada vez mais acessível para os sergipanos, principalmente em veículos com menos de 50 cilindradas (cc). As chamadas motonetas são vendidas até em supermercados. Segundo Ana Paula Feitosa, gerente de uma grande revendedora, as saídas de motonetas superaram, proporcionalmente, as vendas de motos. “Não precisa emplacar, nem usar capacete e, por isso, não tem como identificar em caso de roubo, só pelo chassi”, explicou. Na loja em que ela trabalha, a primeira leva de motonetas foi vendida em apenas uma semana. “Foram 20 motonetas e já temos mais de 20 propostas para a nova leva. Muitos que vêm comprar, com 14, 15 anos, já saem pilotando sem saber direito. Recomendamos o uso de capacete, mas sabemos que não há exigência legal”, afirmou. A quantidade de motociclistas nas ruas e a ausência de legislação específica vêm complicando o trânsito das cidades, em especial o da capital, por onde circulam atualmente 215 mil veículos, dos quais 50 mil são motos, segundo o assessor de comunicação da Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito de Aracaju (SMTT), Jairo Alves. “Cerca de mil veículos entram por mês somente na capi-

tal, ‘apertando’ assim o trânsito”, alertou. vingou. Segundo o presidente da Câmara, Além disso, acidentes envolvendo moto- Emannuel Nascimento, o projeto de lei ciclistas ocuparam a segunda posição en- que registraria e licenciaria os ciclomototre os registrados em todo o estado pelo res foi inicialmente aprovado, mas acabou Departamento de Trânsito de Sergipe (De- revogado em maio deste ano. O processo tran-SE), no primeiro semestre de 2011. de discussões, contudo, ainda está aberto. Para Alves, contabilizar o número des- “Revogamos para rediscutir, pois as taxas Foto: Lorene Vieira que são cobrases ciclomotores das para emplaem circulação camento e regisatualmente é tro são caras e os impossível, mas compradores são o seu impacconsumidores de to na circulabaixo poder aquição de veículos sitivo”, declarou. em Aracaju é Para Emanincontestável. nuel Nascimen“Existe relato, é importante ção direta entre que haja um planúmero de innejamento urbaserção de motono em Aracaju netas no mercapara os próximos do e o problema anos. “Os órgãos sobre o espaço municipais estão no trânsito aradiscutindo essa cajuano. Elas Motonetas invadem mercado aracajuano questão. O Plano são causadoras de Mobilidade Urde muitos problemas, pois, normalmente, os comprado- bana já está sendo elaborado pela SMTT res desses veículos são jovens inexperien- e a Câmara está esperando para que seja aprovado até o final deste ano”, afirmou. tes”, declarou. O assessor de comunicação SMTT, Em 2009, a Câmara Municipal de Aracaju (CMA) teve em mãos um projeto que Jairo Alves, afirma que muitas ruas da criava uma legislação específica, porém não capital não podem sofrer mudanças es-

truturais. “Algumas ruas têm de ter preservadas as suas estruturas históricas e, neste aspecto, não há como modificar”. Porém, algumas mudanças já estão sendo providenciadas. “Estamos proibindo estacionamento completo ou só de uma via, para que algumas ruas fiquem livres”. Educação permanente Segundo Alves, a SMTT instituiu um comitê formado por vários membros da sociedade para discutir esses problemas e apresentar formas de aliviar o “afogamento” do trânsito. “O Comitê de Segurança Viária, que atua em várias cidades por todo o mundo, é uma solicitação da Organização das Nações Unidas (ONU) para diminuir mortes em acidentes nas ruas. Em Aracaju, cerca de 40 entidades participam do comitê gestor, que funciona desde março e atua, por exemplo, em escolas e no trânsito, e disseminam a ideia de conscientizar motoristas e motoqueiros”, afirmou. O vereador Emannuel Nascimento defende a educação permanente para o planejamento urbano através da lei de sua autoria que incentiva o respeito ao Código Nacional de Trânsito, em vigor desde 2010. Para o presidente da Câmara Municipal de Aracaju, este é o primeiro passo para reorganização do tráfego da capital. “Não há outra forma a não ser a orientação no trânsito”, afirmou. C


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Comportamento

outubro-dezembro/2011

Contexto

Bares de Aracaju faturam mais com a transmissão de jogos e lutas Andréa Cerqueira

andreacerqueira20@yahoo.com.br

Elaine Casado

elaine-casado@hotmail.com

T

orcedor que se preze acompanha de perto a saga de 38 rodadas do seu time em busca do título do Brasileirão. Assistir até os jogos realizados “fora de casa”, mesmo que por meio da televisão, é obrigação para os que se dizem aficionados por um clube. E já não é só de futebol que vive o brasileiro. A nova onda é vibrar e torcer também pelas lutas livres, ou arte marciais mistas, antigamente conhecido como vale-tudo, cujo campeonato mais famoso é o UFC, sigla em inglês de Ultimate Fighting Championship. Em Aracaju, assistir futebol, lutas ou qualquer outro esporte em bares já virou hábito, fato que vem contribuindo para alavancar a receita dos estabelecimentos. Os proprietários se animam com esse público, trocam as televisões por telões e criam promoções para os dias de futebol. O Última Sessão, bar localizado na Avenida Beira Mar, bairro Treze de Julho por exemplo, foi criado com essa ideia, segundo o gerente Paulo César Medeiros. “Como meu pai sempre prezou pelo ambiente familiar, o bar nasceu com o objetivo de exibir as partidas de futebol para as famílias que gostam de se reunir para torcer. Por isso, nossa renda é 100% em cima da exibição de jogos”, afirma. Gibaldo Bernardes, gerente do Brandy’s Bar, na Praça da Imprensa, fronteira entre os bairros Treze de Julho e São José, também usufrui dessa tendência. “O pessoal vem mais aqui para apreciar uma boa cerveja, conversar e sair do estresse cotidiano. E nada melhor para desestressar do que uma partida de futebol”, avalia. O Brandy’s atinge seu maior movimento às quartas, aos sábados e aos domingos, com a exibição de jogos de futebol. Segundo o gerente, nestes dias o movimento do bar cresce em torno de 30%. Foto: Elaine Casado

Paulo Medeiros, gerente do Última Sessão

A vez das torcedoras Comprar o um pacote de pay per view e assistir aos jogos sozinho em casa, já não anima qualquer torcedor. Vários preferem levar a euforia das arquibancadas para os bares, onde o ambiente é de diversão e paz, sem confrontos de torcidas.

No Vila Botequim, no bairro Garcia, a frequência de mulheres em dias de competições, seja ao lado de seus companheiros ou de amigas, já chegou à casa dos 60%, segundo o gerente Nelson Brito. No Última Sessão, que exibe simultaneamente várias partidas em diferentes telões, o percentual de mulheres durante a semana gira em torno de 20%, mas costuma aumentar nos dias

assinatura em casa e o UFC só passa em canal fechado, venho para o bar para poder acompanhar a luta”, diz. No último campeonato realizado no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, em agosto de 2011, a presença feminina foi massiva em vários bares da cidade. Bruna Azevedo, estudante de Administração, de 24 anos, que não perde um jogo do Corinthians em um bar, diz que só não

coisas”, diz. Para a estudante de enfermangem, Larissa Cristina, 22, a reação dos homens ao gosto feminino por lutas é de espanto. “Eles geralmente se assustam quando uma mulher diz que gosta de luta, ainda mais quando de fato gosta e conhece bem. E quando é uma menina com carinha de delicada e do nada diz que adora luta... Ninguém espera mesmo!”, conta.

Foto: Andrea Cerqueira

A ciência explica Quem estuda o assunto vê a forma como as mulheres assistem às lutas e futebol como uma forma de adoração ao símbolo masculino. É um gosto que pode ser definido pelas regras (ou falta de) e pelo culto ao corpo de um lutador. “Os homens valorizam a força e a capacidade técnica de um esporte praticado por homens e exaltam atributos vinculados à beleza quando são praticados pelo sexo feminino. Em uma sociedade de espetáculo do corpo, uma competição como o UFC, desperta nas mulheres o gosto pela competição e também por quem compete. São corpos bem torneados e sem pelos, em que a possibilidade de sangue e excitação é muito maior”, analisa o professor Felipe Quintão, do Centro de Educação Física e Desporte da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em entrevista à Revista Criativa na edição de Agosto deste ano. Já na análise da psicóloga Alexandra Camila Blanco, o crescente interesse pelas lutaslivres e jogos de futebol pelas mulheres reflete a busca por ações semelhantes aos dos homens, o que nem sempre evidencia a igualdade entre homens e mulheres perante a sociedade. “Hoje, é normal que homens e mulheres assistam a esportes juntos, uma vez que com a revolução feminina, elas buscam uma posição de igualdade com os homens. No entanto, esta atitude nem sempre é saudável, pois homens e mulheres têm pensamentos e comportamento diferenciados. Se acreditamos sermos iguais não teremos o direito de questinar comportamentos que não nos agradem, analisa Alexandra. C

Vila Botequim, um dos bares com alto índice feminino

de jogos. Na avaliação do gerente, Paulo César Medeiros, “o público feminino vem crescendo justamente por oferecermos essa diversidade”. Para a “flamenguista roxa” Anne Graziele Mota, 21, estudante de Administração, o bom mesmo é ver seu time do coração acompanhada das amigas e do namorado. “Prefiro assistir o Mengão fora de casa, pois a emoção é maior e posso gritar mais do que na minha casa”, comenta. Já a estudante de Direito Ivanir Santana, de 21 anos, diz que frequenta bares tanto para conversar com amigos quanto pelo futebol, pois acha melhor assistir os jogos em locais abertos. Além disso, considera que o ambiente do bar “propicia mais envolvimento emocional com o time e a própria torcida”. A universitária afirma que a paixão pelo futebol é vem desde os 06 anos, quando seus pais a levavam para assistir as partidas no estádio. Mas com o passar do tempo, a prática foi ficando perigosa, principalmente nas concentrações pós-jogos de futebol. Sua família optou, então, por assinar um pacote de canais de esporte. “Nós trouxemos o estádio para casa, agora fazemos uma mini concentração em todos os jogos do nosso time em casa, o que também não significa dizer que eu não vá mais aos bares assistir os jogos. Digamos que eu posso escolher onde assistir”, afirma Ivanir.

assistiu o UFC lá porque tinha aula no dia seguinte. “Mesmo vendo em casa, adorei”, admite. Na opinião do estudante de Ciências Contábeis Kayran Lopes, de 20 anos, as mulheres decidem ver os jogos de futebol no bar como desculpa para beber. “Não que recrimino, mas é só para isso mesmo. No caso do UFC, elas assistem porque estão gostando cada vez mais de esportes violentos, e também estão praticando. Elas estão adquirindo o gosto masculino pelas

Foto: Andrea Cerqueira

O fênomeno das lutas-livres Para Jackson Rodrigo dos Santos, 26, bancário, o que mais interessa assistir são os campeonatos de lutas livres. “Como não tenho TV por

Villa Botequim recebe grande público feminino nos fins de semana


Contexto

Educação e Esportes ´

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Aracaju amplia oferta de idiomas Ilustração: Lucas Peixoto

Adler Berbert adlerberbert@hotmail.com

Igor de Almeida

igordealmeida@hotmail.com.br

J

á escutou alguma vez a expressão alemã “guten morgen”? Consegue pronunciar a palavra norueguesa “unnskyldning”? Sabe o que significa “grazie mille” no italiano? Quando o assunto é língua estrangeira o bom e velho inglês sempre resolve os nossos problemas. Muitos também já se garantem no espanhol e até mesmo no francês. No entanto, basta mudar o idioma para que simples expressões como ‘bom dia’, ‘desculpa’ e ‘muito obrigado’ virem verdadeiras incógnitas. Foi-se o tempo em que saber apenas inglês ou francês era sinônimo de diferencial. O fortalecimento do Mercosul e a emergência de novos países no cenário mundial chamou a atenção para outras culturas e idiomas. Seguindo essa tendência de globalização, o mercado de trabalho torna-se cada vez mais exigente na avaliação das qualificações profissionais dos candidatos, e saber se comunicar em outros idiomas conta bastante na hora de conseguir uma vaga. Mas se você ficou preocupado em iniciar imediatamente a aprendizagem de uma dessas línguas é melhor ter calma. Achar escolas ou até mesmo professores particulares que ensinem idiomas não tão comuns em Sergipe pode exigir paciência, embora aos poucos essa realidade venha se modificando. Em Aracaju, turmas de italiano e de japonês já estão sendo ofertadas nas escolas da rede Wizard. O curso do idioma nipônico tem uma média de duração de dois anos, enquanto o de italiano prolonga-se por dois anos e meio. Nos dois casos o aluno ainda tem a opção de escolher por aulas particulares ou em grupo.

que a gramática de inglês e que são bem diferentes da gramática do português. Por isso é que o aluno tem que estudar de verdade”, explica. Um desafio e tanto para quem vai aprender um idioma com quatro casos gramaticais, três gêneros, verbos com prefixos separáveis e palavras com 20 letras ou mais.

Falando à distância

A vez do alemão

Com um pouco mais de destaque que as outras, o alemão vem se tornando uma opção mais acessível para aqueles que querem fugir do eixo tradicional. A língua de Goethe, Hegel, Weber e outros tantos pensadores tem conquistado cada vez mais adeptos no Brasil e no mundo. Segundo a revista Deutschland, já são cerca de 70 mil alunos matriculados em mais de 120 escolas oficiais de alemão espalhadas pelo globo. Só na América Latina são 34. Magdalena Brendel e Julie Staudenmaier são professoras de alemão na capital sergipana. Germânicas autênticas, elas começaram ministrando aulas particulares, mas perceberam no aumento da procura pelo idioma uma oportunidade de montar um negócio próprio. Hoje, elas dirigem a primeira e única escola do estado voltada exclusivamente para o ensino da língua, que atende, em média, 60 alunos, “o que já é muito”, ressalta Magdalena. Ela também revela a principal dificuldade dentro de sala para quem quer aprender alemão: a gramática “O alemão tem alguns aspectos particulares que são mais difíceis

Se nenhuma dessas opções anteriores lhe agrada, o jeito é correr para a internet e procurar sites que fornecem esse tipo de ensino. As opções de interatividade, ferramentas e preços são variadas, e o leque de idiomas disponíveis vai desde os mais comuns, como o inglês e o espanhol, chegando aos menos disseminados, como russo, árabe e hebraico. Essa foi a alternativa encontrada pela professora Cíntia Menezes. Fluente em espanhol e inglês, e com conhecimentos básicos em italiano, ela decidiu aprender norueguês por uma questão de satisfação pessoal. Como não encontrou escolas ou professores que ensinassem o idioma, resolveu então optar pelo autodidatismo. Além de utilizar o livro com áudio da série ‘Teach Yourself Norwegian’, Cíntia incluiu nas suas rotinas de estudo o site Livemocha, uma rede social internacional de ensino de idiomas na qual usuários podem trocar informações e ter acesso a ferramentas audiovisuais. “Com a Internet fica fácil praticar o idioma. O Livemocha é bastante dinâmico e ajuda a manter a disciplina”, afirma.

Inglês para vários fins

Além de toda essa oferta de línguas estrangeiras pouco usuais, os cursos de idiomas agora oferecem turmas de inglês para fins específicos. Quem, por exemplo, planeja viajar para fora do Brasil e precisa de dicas básicas de conversação imediata, ou participa de reuniões de negócios em que necessita entender termos específicos do ramo, já existem sa-

las de aula que se adequam ao seu interesse. Em Aracaju, as ofertas são variadas, mas o grande destaque são as turmas de inglês para concursos públicos. Com duração média de um ano, os cursos são voltados para leitura e interpretação de textos que irão ajudar o candidato na hora da resolução das questões da prova. O auxiliar de escritório Pedro Alves, que prestará dois concursos públicos este ano, confirma o benefício da temática especializada: “é muito melhor entrarmos em um curso focado nas nossas necessidades, com um professor capaz de te ajudar da melhor forma possível”. Duas outras modalidades também se destacam: a de “Business” (Negócios) e a “May I Help You?” (Posso ajudar?), do FISK. A primeira, oferecido pelo Inlingua, com três anos de duração, foca-se em adultos que desejem desenvolver suas habilidades no idioma americano para negócios ou para comunicação no ambiente de trabalho. As aulas preparam os alunos para, por exemplo, apresentações orais, efetuar negociações, escrever emails, entre outros benefícios. A segunda foi criada pelo Centro de Ensino FISK, de olho na visibilidade que a Copa do Mundo de 2014 dará ao Brasil. A escola de idiomas, que atua no país em regime de franquia, lança a novidade no intuito de preparar os profissionais da área de turismo (taxistas, hoteleiros, guias, etc.) para receber turistas estrangeiros. “Os principais diferenciais dessa modalidade são: conversação imediata, frases situacionais e vocabulário temático”, explica a professora do curso Raquel Rodrigues. Diante de tantas opções, o mais importante a ser feito, antes de se matricular, é pesquisar o que melhor lhe favorece e se encaixa no seu perfil. Analise as vantagens e desvantagens dos cursos , a qualidade do material disponível, e a metodologia aplicada. Depois disso, é C só começar a praticar. “Good luck!”.

Gíria esportiva:dê um drible nisso Lucas Peixoto

lucas.jornalista@hotmail.com

V

ocê consegue entender todos os termos de uma narração esportiva? Se sua resposta for sim, parabéns. Você faz parte de um seleto grupo de conhecedores da área. Na maioria dos casos, os espectadores não conseguem compreender muitos termos e jargões das várias modalidades esportivas. Até porque há também diferenças regionais. O drible entre as pernas, por exemplo, é “caneta” no sul do Brasil e “tabacada” em algumas partes do interior da Bahia. Jogar a bola por cima do adversário chama-se “chapéu” ou “cuia” no Nordeste. Mas no Rio Grande do Sul é entendida como “gauchinha” e no Sudeste pode ser uma “chaleira”. A utilização de metáforas e gírias serve como uma maneira de prender a atenção da audiência e envolvê-la na partida. No basquete existe, por exemplo, a “cesta de chuá”, que significa uma bola que caiu na rede sem tocar em parte nenhuma da tabela. Já no vôlei há o famoso “rally”, espécie de “troca de passes” entre os jogadores até que o lance seja finalizado com um ponto. Esses dois termos não sofrem variações regionais, diferentemente do futebol, que é um esporte mais popular. Os diferentes termos técnicos e jargões

são disseminados, sobretudo, pelos repórteres e narradores esportivos, cuja forma de mostrar um jogo de futebol, basquete ou vôlei varia de acordo com cada mídia. Para quem trabalha em rádio, a utilização de jargões é muito mais recorrente. Reconhecida como “teatro para cegos”, a transmissão radiofônica trabalha com criação de imagens mentais e valorização dos lances para dar vida à narração. No caso da TV, muitos momentos não precisam ser narrados nem supervalorizados, pois o telespectador está visualizando o lance com seus próprios olhos. Rádio x Televisão Segundo o locutor esportivo e narrador da Liberdade AM de Sergipe Antônio Barbosa existem diferenças de estilo nas transmissões de rádio e televisão. No primeiro, cabe ao narrador citar o nome do atleta que domina a bola, posicionamento no campo ou na quadra, além de falar sobre o adversário que ele tem à frente, se conseguiu se livrar ou não, os chutes para o gol ou arremesso para as cestas, etc. “Quando a bola sai do campo, o locutor de rádio precisa dizer por onde foi que ela saiu, e quem a botou pra fora, para que o ouvinte fique absolutamente por dentro do assunto. Já na televisão, não precisa nada disso. Nesse caso, o narrador de televisão se limita a identificar para o telespectador o atleta que faz

a jogada, porque quem está assistindo sabe, logicamente, o posicionamento dos jogadores e da bola”, explica Barbosa, que já narrou três Copas do Mundo e cinco Copas América.

Impedimento Outro grande desafio da narração esportiva é fazer com que o telespectador entenda o incompreensível “impedimento”. Para falar sobre este controverso lance, a equipe do Contexto conversou com o árbitro sergipano da CBF – Confederação Brasileira de Futebol Antônio Hora Filho. Para ele, o impedimento não é um bicho de sete cabeças. Trata-se, basicamente, de uma irregularidade cometida quando o jogador recebe a bola à frente do penúltimo defensor adversário – contando com o goleiro. O impedimento é algo complexo principalmente para o bandeirinha, e exige bastante atenção ao lance. “O assistente deve estar alinhado ao penúltimo defensor e imaginando uma linha que se origina em sua posição e que vai se estendendo até a linha lateral do lado contrário do campo. O complicado é ‘fotografar na mente’ o momento exato do passe e marcar a possível irregularidade”, explica Hora Filho. Contexto selecionou alguns termos de três modalidades esportivas: futebol, vôlei e basquete, com suas linguagens técnicas e jargões clássicos. Teste o seu vocabulário esportivo.

Ilustração: Lucas Peixoto


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História e Sociedade

outubro-dezembro/2010

Contexto

Era uma vez um dos maiores eventos da fotografia no Brasil... Daniel Nascimento dnemo@globomail.com

N

a passagem da década de 1980 para a 90, a fotografia em Sergipe vivia seu grande momento, com a realização frequente de inúmeras atividades. Eram exposições, mostras, salões, oficinas e workshops que se espalhavam por variados espaços não só de Aracaju como também de outros municípios. “Era um movimento muito forte. Tinha exposição em todos os espaços: as galerias eram ocupadas, além delas, os correios, os bancos”, lembra Benedito Santos, fotografo, modelo, ator e diretor de artes visuais da Galeria Álvaro Santos conhecido como Benedito Letrado. Em 1989 nascia o primeiro Salão de Fotografia da Galeria Álvaro Santos (GAAS). Dois anos depois veio a 1ª Semana Sergipana de Fotografia, promovida pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), e organizada por iniciativa da professora e fotógrafa Eliane Veloso. Bons

tempos

Fotos: Daniel Nascimento

Benedito Letrado

aqueles A Semana teve sete edições, das quais cinco sob o comando da professora Eliane, que teve que se aposentar precocemente devido a um problema de visão. As duas últimas edições tiveram como responsável a fotógrafa e historiadora Naide Barboza, que havia conhecido sua antecessora anos antes, em uma semana de fotografia de Ouro Preto (MG). Elas trabalharam juntas desde a 1ª Semana. “Eliane veio da Fundação Joaquim Nabuco para trabalhar na UFS. Foi durante esse período que fundamos a Semana. Na época eu trabalhava na antiga Secretaria Municipal de Cultura, que virou a Funcaju”, conta Naide. Além das exposições, eram realizados oficinas e minicursos durante a Semana. “Tinha estética, fotografia básica, luz e sombra, história da fotografia, fotografia de book e tantas outras. A gente ia com o pessoal das oficinas fotografava e ainda montava um mostra no fim da semana. Era uma correria só”, brinca Benedito. “A cidade se envolvia. Era uma proposta de aglutinar toda a população, mas foto-

Convite da última Semana Sergipana de Fotografia

grafar era um hobby elitista. Era muito caro ser fotógrafo naquela época”, lembra Benedito Santos, que montou muitas exposições de grandes nomes da fotografia brasileira, como Valter Firmo, Ângela Magalhães, Rosa Gauditano, Araquém Alcântara, entre outros. Os diversos eventos da semana, além trazer para o público sergipano um pouco do que acontecia no cenário nacional, revelava talentos locais. Alguns desses ficaram conhecidos em todo o país e fora dele, como é o caso de Marcio Garcez, que fez sua primeira exposição individual durante a Semana. Amigos da fotografia A Semana Sergipana de Fotografia ganhou repercussão tão grande que passou a participar do circuito nacional. Juntamente com eventos em outros estados, formava uma espécie de preliminar para a Semana Nacional de Fotografia. “Vinha gente de todo lugar para ver e participar. Mais ou menos uns três meses antes a galeria (Álvaro Santos) me cedia e eu passava a trabalhar só para a Semana. Foi por causa da Semana que surgiu a Asafoto”, conta Benedito Santos, referindo-se à Associação Sergipana de Amantes da Fotografia. A Asafoto foi criada por Marcio Garcez, junto com outros fotógrafos, como Gorete Nascimento e Nilma Sucupira (já falecido), com o objetivo de reunir e intensificar as ações de fotografia no estado. Depois de problemas internos, a associação encerrou suas atividades no final da década de 1990. Retomada Com o fim da Semana, em 1998, a fotografia sergipana passou dez anos “hibernando”. Eventos significativos só voltaram a acontecer em 2010, de uma forma ainda tímida, depois do surgimento de novos coletivos de fotografia, como o Trotamundos. Criado em 2009 e formado por Alejandro Zambrana, Ana Lira, Arnon Gonçalves, Marcel Hora e Zak Moreira, este grupo é hoje o mais importante do estado e vem realizando diversas atividades, como cursos, palestras e exposições. O Coletivo começou com o projeto ‘quem faz a foto?’, uma oficina oferecida pelo grupo no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Jael Patrício de Lima, na Zona Norte da capital, que resultou numa exposição na Sociedade Semear. No ano seguinte, com o apoio da Prefeitura Municipal de Aracaju, o projeto foi repetido durante as comemorações do

aniversário da cidade. Vários projetos vieram em seguida, mas o que consagrou o grupo foi o ‘Conversando Fotografia’, evento mensal cujo objetivo é “agregar profissionais, amadores e interessados em discutir caminhos para o desenvolvimento da fotografia em Sergipe”. Foram vários os nomes que já passaram pelo espaço. Ainda em 2010, fotógrafos como Jorge Henrique, Jairo Andrade e Oliver Garcia debateram seu trabalho e a fotografia sergipana no auditório do Espaço EMES. O projeto sofreu algumas mudanças mas ainda é realizado e atrai cada vez mais amantes da fotografia. Em 2011, o Conversando passou a ser realizado no auditório da Sociedade Semear e passou a ser aberto por uma pequena exposição do artista convidado. O Trotamundos foi inserido como representante em Sergipe no Catálogo da Rede de Produtores Culturais da Fotografia do Brasil. A lista foi lançada durante no ultimo ‘Paraty em Foco’, encontro internacional de fotografia realizado na cidade de Paraty-RJ em setembro de 2011. De volta à academia Paralelamente a essa movimentação, o Departamento de Comunicação Social da UFS vem realizando algumas atividades na área. Em 2009, promoveu a 1ª Mostra UFS de Fotografia Universitária, montada a partir da produção fotográfica dos aluno-

das disciplinas fotografia e Iluminação e Fotojornalismo I. A exposição foi incorporada ao calendário anual de atividades do Departamento acadêmico da Universidade e é passou a ser realizada no fim da cada ano. Desde então a fotografia vem ganhando no espaço acadêmico uma importância, semelhante à que tinha na década de 1990. Em novembro de 2010, os alunos de Comunicação, com o apoio das professoras Mª Beatriz Colucci e Renata Voss, realizaram um encontro com os fotógrafos Jairo Andrade e Alejandro Zambrana, que representava o Trotamundos, para conversar sobre a fotografia no estado. No evento, que lotou o auditório do departamento de Geografia da UFS, Zambrana aproveitou para contar um pouco sobre as atividades do Coletivo e um pouco sobre o seu trabalho autoral. Em 2011, uma parceria entre a turma de Fotojornalismo II e Fotografia Publicitária I resultou na montagem da exposição “A cidade, os seres e o ambiente”, que integrou as atividades de abertura do 1ª Encontro Interdisciplinar de Comunicação Ambiental (EICA). C Saiba mais: Trotamundos: http://goo.gl/e9CQC Eica: http://goo.gl/o4IXb

Conversando fotografia


Contexto

História & Sociedade ‘

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Limites do sincretismo religioso Festa da padroeira de Aracaju põe em xeque as práticas inter-religiosas Foto: André Texeira

José Leidivaldo e Júnior Santos joseleidivaldo@gmail.com; jrjuniorkd@yahoo.com.br

Todo dia 8 de dezembro são realizadas em Aracaju festas em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, considerada pelos católicos como a padroeira da Cidade, e a Oxum, orixá de devoção dos seguidores do Candomblé. As celebrações, que acontecem em diversos pontos da capital, têm sua maior concentração na Catedral Metropolitana, no Centro, onde os adeptos das duas vertentes de fé se reúnem em uma só homenagem. Mas esta não é a única celebração em comum entre os dois grupos religiosos. Em 17 de janeiro, por exemplo, cultua-se ao mesmo tempo o Senhor do Bonfim e Oxalá; no dia 2 de fevereiro, é a vez de Nossa Senhora dos Navegantes e Iemanjá, entre outros que acontecem no decorrer do ano. Esse sincretismo religioso tem sido alvo de várias pesquisas acadêmicas, ora justificado como uma convivência pacífica, ora como uma forma de escamotear os conflitos entre negros e brancos no processo de formação da sociedade brasileira. Rainer Souza, Mestre em História pela Universidade Federal de Goiás, está entre os que consideram que o respeito e a tolerância entre as religiões são originários do processo de colonização do Brasil. Para ele, os portugueses, de origem católica, reagiam passivamente, em sua grande maioria, às manifestações religiosas africanas. “Ao manterem suas tradições religiosas, muitas nações africanas alimentavam as antigas rivalidades contra outros grupos de negros atingidos pela escravidão. Com a preservação desta hostilidade, a organização de fugas e levantes nas fazendas poderia diminuir sensivelmente”, afirma Souza em artigo publicado no site Brasil Escola. Já o antropólogo da Universidade Federal de Alagoas, José Maria Tenório, discorda de tal aceitação passiva dos católicos para com a religião africana. Em artigo publicado no site do Itaú Cultural, ele afirma que os colonizadores portugueses viam as danças e rituais africanos como feitiçaria que deveria ser reprimida, o que levava os devotos do Candomblé a “acender uma vela para o orixá e rezar para um santo”. Os dois pesquisadores concordam é que a religião de origem africana, que até então era frequentada somente por negros, passou a estabelecer um diálogo com pessoas brancas, que se declaravam de origem católica, como aponta o professor doutor da Universidade de São Paulo (USP), José Reginaldo Prandi. Segundo ele, o fato de escravos também participarem de celebrações católicas, mesmo reconhecendo a sua fé nos orixás uma série de trocas e incorporações entre as religiões. Rainer Souza concorda e complementa: “Nesse sentido, ao mesmo tempo em que podemos ver a presença de equivalências e proximidades entre os cultos africanos e as outras religiões estabelecidas no Brasil, também temos uma série de particularidades que definem várias diferenças. Por fim, o sincretismo religioso acabou articulando uma experiência cultural própria”.

Para Católicos, Nossa Senhora da Conceição; para candomblecistas, Oxum: todos juntos no dia 8 de dezembro em Aracaju

Cada qual no seu culto Em Aracaju, 8 de dezembro representa um dos poucos momentos em que as duas religiões se aproximam e festejam suas respectivas divindades, Nossa Senhora da Conceição e Oxum. Embora não seja reconhecida nem pelo calendário católico, nem pelo Estado brasileiro (que é laico), Oxum é um dos orixás mais queridas das religiões afro. Segundo a mitologia africana, é ela que reina sobre a água doce dos rios, que é dona do ouro, símbolo da riqueza, e que comanda o amor, a intimidade, a beleza e a diplomacia. As oferendas a Oxum são feitas na Orla de Atalaia desde as primeiras horas do dia oito. Já para os católicos, venerar a Imaculada Conceição significa lembrar umas das muitas faces da Virgem Maria, mãe de Cristo. Missas e procissões são realizadas e homenagens são prestadas durante todo o dia nas igrejas, capelas e templos católicos. Fiéis se aglomeram para fazer preces e orações. Assim como acontece em Salvador, por ocasião da Lavagem do Bonfim, os aracajuanos se aglomeram desde cedo na Catedral Metropolitana da capital para comemorar. Durante todo o dia, missas e procissões marcam as homenagens dos católicos à santa, enquanto adeptos do candomblé se reúnem em frente à igreja para fazer suas homenagens. Eles dão banhos de ervas nos devotos, com objetivo de abrir caminhos e trazer boas energias. Segundo Marcelo Conceição Santos e Fabiano Santos, estudantes concludentes de Teologia do Seminário Maior Nossa

Senhora da Conceição, a Igreja Católica não reconhece a devoção de qualquer divindade pagã. “Respeitamos o passado religioso de todas as pessoas, mas a prática de adoração a deuses e entidades estranhos aos dogmas católicos para nós é inconcebível”, ressalta Fabiano Santos. Santos e entidades Filha de Mãe Marizete, uma das mães de santo mais antigas e respeitadas de Aracaju, Jussara Lessa, afirma que a relação entre os adeptos do Candomblé e a os católicos é bastante harmoniosa. “Geralmente quem é do Candomblé, também é batizado na Igreja Católica e não fazemos qualquer tipo de restrição aqui”, assegura Jussara. Situado no bairro América, zona oeste da cidade, o terreiro de Mãe Marizete recebe diariamente várias pessoas para consultas ou algum tipo de apelo para amor, negócios e doenças. “O trabalho que desenvolvemos aqui é idêntico ao de outras religiões, inclusive com muito amor e sinceridade. Mas por conta do preconceito velado, por setores do catolicismo ou da sociedade, muita gente prefere o anonimato”, revela a filha de santo. Para Marcelo Santos, há uma diferença clara entre os santos católicos e as entidades do candomblé: “enquanto os primeiros são venerados pelas graças

alcançadas de Deus em suas vidas, esses últimos têm o poder de operar milagres”. Ainda de acordo com o seminarista, há outra diferenciação nas relações da Igreja com outras religiões: “O diálogo ecumênico entre católicos e evangélicos se dá em virtude dos princípios da fé: único Deus e Cristo como salvador. Já com essas religiões pagãs o que há são práticas inter-religiosas, por possuírem elementos desconhecidos à fé cristã”, destaca Santos. C

Fabiano Santos defende dogmas católicos


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Cultura

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Contexto

Casa Rua da Cultura em cena Verlane Est[acio

verlane_estacio@mail. com

Taylane Cruz

cinha-16@hotmail.com

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om o objetivo de reunir espetáculos teatrais e fomentar manifestações culturais, a Companhia de Teatro Stultífera Navis deu início, há dez anos, ao projeto Rua da Cultura. Uma iniciativa sem fins lucrativos que surgiu, primeiramente, para suplantar o olhar desleixado que se tinha da cultura sergipana, além de ocupar os espaços públicos com música, apresentações de grupos folclóricos, peças teatrais e qualquer outra manifestação que democratizasse o acesso do público à cultura local. Um projeto que deu certo. Tão certo que, há cinco anos, sob a direção de Lindemberg Monteiro e de uma equipe de voluntários, todos parte da Companhia, surgiu a Casa Rua da Cultura, que funciona na praça Camerino, no Centro. Um dos segredos é a divulgação de boca em boca, utilizada para dar visibilidade aos projetos da Casa. A equipe responsável pela comunicação (formada por artistas da companhia) realiza panfletagens e elabora estratégias de divulgação em redes sociais e através do popular. “Através das redes sociais, conseguimos ampliar nossa divulgação para um público cada vez maior. Também pedimos que as pessoas indiquem nosso trabalho para os amigos e os convidem para prestigiar nossas apresentações. Estas são as principais ações que fazem com que as pessoas prestigiem os espetáculos”, contou uma das integrantes da assessoria de comunicação e também atriz, Anne Samara Torres.

Criada em janeiro de 2007, com a ideia inicial de ser a sede da Companhia Teatral Stultífera Navis, a Casa Rua da Cultura cresceu e ampliou sua área de atuação. De sede, passou a ser um espaço de aprendizado e vem se transformando ao longo dos anos em um pólo difusor da cena cultural de Aracaju. Mantida como Ponto de Cultura pelo Ministério da Cultura, e com o apoio da Prefeitura Municipal de Aracaju, através da Fundação Municipal de Cultura e Turismo (Funcaju), a Casa, durante seus cinco anos de existência, tem recebido um público diversificado e gradativo. Segundo Lindemberg Monteiro, o público é o principal ator. “Recebemos aqui crianças, jovens e adultos de todas as classes interessados em teatro, música e circo. Já que partimos do pressuposto de que todos têm direito à cultura, não

é viável restringi-la a um grupo, a um gueto. É preciso que as portas se abram e que as pessoas tenham acesso livre”, declarou. Projetos A companhia Stultífera Navis iniciou suas apresentações em 2002, no Teatro Atheneu, com o espetáculo ‘Almanaque’. Foi quando seus integrantes perceberam a necessidade de construir e fortalecer a produção cultural sergipana. Para estruturar tal ideia, transformram a Rua Vila Cristina (onde fica o teatro) na Rua da Cultura, que passou a reunir artistas das mais diversas áreas culturais. Tempos depois, a Rua da Cultura ocupou o centro histórico da cidade e, de lá pra cá, vem transformando a área dos mercados centrais, todas as segundas-feiras, em sinônimo de arte e cultura.

Para ampliar e democratizar o acesso ao teatro, a casa criou o projeto ‘Temporada’. A intenção é criar uma agenda de apresentações em que diversas peças teatrais são mantidas em cartaz por quatro meses, a um preço acessível. O público conta ainda com o “Cabaret Convida”, projeto que promove mensalmente a apresentação de uma banda local após os espetáculos teatrais. Oficinas de dança, teatro, bateria e circo também integram as atividades e fazem parte do projeto ‘Acesso’, iniciativa da casa que pretende ofertar cursos para quaisquer interessados pela arte e pela cultura. Ainda a serviço da cultura sergipana, os integrantes da companhia levam diversão e humor aos seus adeptos, através do programa ‘Rua da Cultura’, veiculado aos sábados, das 14h às 16 h, pela rádio Aperipê FM. “As atividades desenvolvidas proporcionam maior contato do público com a diversidade e as manifestações culturais existentes. Isso acaba contribuindo para a formação de plateia, tendo em vista que o público que frequenta as salas de teatro ainda é restrito. Essa realidade precisa ser modificada, pois o teatro, além de ser sinônimo de entretenimento, é também uma forma de promover o aprendizado”, avalia Ícaro Olavo Alves, aluno da oficina de teatro que se tornou oficineiro. A Casa, que também apoia apresentações de outros grupos, mantém de outubro a dezembro de cada ano oito peças em cartaz, um feito considerado inovador. “A Casa é a única no país a receber tantos espetáculos em temporada de uma só vez. Entendemos isso como uma forte preocupação e dedicação à cultura no estado de Sergipe”, destaca o coordenador. C

Ilma Fontes e sua resistência ao ordinário Foto: Anne Samara Torres

Anne Samara Torres

annesamara_15@yahoo.com.br

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édica, jornalista, editora, poetisa, escritora, roteirista, produtora cultural, diretora de cinema e, principalmente, uma provocadora social. Esta é Ilma Fontes, fundadora e editora do mais antigo periódico alternativo de Aracaju e atualmente curadora do Espaço Cultural da Assembléia Legislativa de Sergipe (Alese). É aí que ela desenvolve, desde 2003, um trabalho de pesquisa e exposição das obras de diversos artistas sergipanos. Reconhecida por sua tragetória na cena cultural sergipana, Ilma Fontes já publicou livros e roteiros de cinema, produziu diversos longas e curta-metragens, foi presidente da Fundação Municipal de Cultura e Turismo, fundadora do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Entretenimento e Diversão - SATED/SE e membro fundadora da Casa do Poeta de Aracaju. Também dirigiu o Complexo Cultural Lourival Baptista e participou em incontáveis júris de Teatro, Música, Poesia, Literatura, Fotografia e Cinema por todo o Brasil. Natural de Aracaju, mas com descendência holandesa e portuguesa, ela tem sido uma incansável defensora da igualdade e da liberdade de expressão,

seja na imprensa, seja na arte. Aos 64 anos, essa mulher que foi casada 12 vezes, mas se orgulha de nunca ter se tornado dependente, descreve-se como uma “transformadora de costumes” e não se furta a relembrar alguns de seus momentos de ousadia da juventude. “Eu lembro de uma vez, quando era jovem, em que fui à praia usando um biquíni que comprei no Rio de Janeiro. Ele cobria quase toda a barriga e metade das coxas, mas mesmo assim teve pais tirando seus filhos da praia para que eles não vissem aquilo. Na época em que passei a usar calça jeans baixaram até portaria na universidade para me impedir de entrar lá vestida daquele jeito”, conta ela. Resistência Ilma Fontes chegou a pensar em entrar para o MR-8 (grupo radical de esquerda que atuou na ditadura militar), mas descobriu que sua revolução seria feita com palavras e não com armas. Então fundou, há 20 anos, “O Capital: jornal de resistência ao ordinário” e nunca mais parou de contribuir para o desenvolvimento da cena sociocultural sergipana. Uma de suas principais iniciativas

Ilma Fontes em sua casa

nesse campo foi o “Prêmio Capital”, criado para homenagear artistas e colaboradores da arte que influenciam o comportamento ou o modo de pensar da sociedade sergipana, seja inovando ou resgatando os hábitos culturais do estado. Em sua sétima edição, em outubro de 2011, a premiação abrangeu 30 categorias, cujos contemplados foram escolhidos por um grupo de 15 jurados, composto por profissionais da cultura local e de mais nove estados do Brasil e também por votação popular via internet.

Na avaliação de Ivo Adnil, atual presidente do SATED/SE, Ilma Fontes sempre esteve na trincheira das questões polêmicas que envolveram a cultura sergipana. “Muito autêntica e politizada creio que foi muito incompreendida por seus pares por conta da sua forte personalidade e atitude. A sua contribuição tem sido importante ainda em nossos dias quando ela consegue levar até para o meio político a suavidade da arte”, completa Adnil. C


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O poder das bolinhas, agulhas e plantas SUS de Sergipe já oferece atendimentos de medicina complementar e alternativa Mairon Hothon: maironhothon@gmail.com Mariana Viana: marioliveiraviana@hotmail.com

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á quase dez anos a Organização Mundial da Saúde (OMS), vem desenvolvendo uma estratégia global para facilitar à integração das práticas de medicina complementar e alternativa (MCA), como a homeopatia, a acupuntura e a fitoterapia, nos sistemas de saúde nacionais. No Brasil, algumas dessas práticas são consideradas especialidades médicas regulamentadas pelo Ministério da Saúde (MS) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), sendo oferecidas em algumas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS). Na rede municipal de Aracaju, a homeopatia e a acupuntura estão disponíveis apenas no Centro de Especialidades Médicas (Cemar), no conjunto Augusto Franco, zona sul da capital. Já a fitoterapia é oferecida como prática complementar e integrativa em cinco Unidades de Saúde da Família (USF). Medicamento ou placebo? Entre as práticas de MCA, a homeopatia é a mais disseminada no Brasil. Quem diria que o método de tantas diluições e dinamizações para tratar sintomas através da “lei dos semelhantes”, criado no século XVIII pelo médico alemão Samuel Hahnemann, fosse atingir tamanhas proporções e curar tantas pessoas no século XXI. A homeopatia é reconhecida como especialidade médica no Brasil desde 1980 e foi incluída no SUS em 2006. Muito ainda precisa ser feito para melhor implementação da prática na saúde pública. “É preciso que os médicos da rede pública encaminhem mais pacientes para a homeopatia, que haja uma parceria maior entre as especialidades médicas”, diz o homeopata Agnaldo Santos, que além de atuar em consultório particular, é médico de Saúde da Família no Cemar. O médico ressalta que a homeopatia necessita de mais divulgação para ser popularizada, o que pode ser feito através de palestras e campanhas de conscientização. Muitos alopatas alegam que os efeitos homeopáticos não passam de placebo (melhoria dos sintomas derivada apenas da disposição psicológica do paciente para a cura). Controvérsias à parte, a homeopatia trouxe qualidade de vida para Nadja Melo, de 40 anos. “Nunca imaginei que aquelas bolinhas docinhas fossem fazer tanto efeito. Hoje minhas duas filhas são tratadas com homeopatia, seja para cólica, enxaqueca ou ansiedade. Ela tem a resposta certa para cada sintoma.” Diagnóstico e tratamento “O médico, para poder diagnosticar, precisa ouvir, e desta forma acolher o paciente” afirma o médico Agnaldo Santos, que atua há 20 anos nesta prática. Dife-

rente da alopatia, a homeopatia considera toda a conjuntura física e mental do paciente para diagnosticá-lo. Para isto é fundamental uma eficiente anamnese, conversa que o médico tem com o paciente no início da consulta para entender quais males físicos e psicológicos estão gerando os sintomas descritos, o que contribui para o diagnóstico. O princípio da homeopatia é o da “lei dos semelhantes”, que consiste em tratar uma doença com substâncias que produzem numa pessoa saudável, os sintomas semelhantes aos que a pessoa doente apresenta. Estas substâncias são encontradas em reduzidas quantidades nos rémedios homeopáticos, que ainda assim passam por diversas diluições e potencializações É neste processo meticuloso de fabricação que está a cura pela homeopatia. Os remédios tanto podem ser líquidos quanto sólidos, neste último caso em formato de glóbulos adocicados ou tabletes (sem açúcar). Na chamada “homeopatia unicista” podem também ser ministrados em porções trituradas e embaladas em papéis dobrados. Foto: www.portaldosmisterios.com

Homeopatia: bolinhas adocicadas de fácil absorção

Homeopatia x alopatia Como em toda a medicina, a homeopatia tem seus limites. A depender do quadro do paciente, se faz necessário substituir a medicação homeopática por outra mais convencional, a fim de minimizar a dor do paciente. Os homeopatas afirmam poder auxiliar no tratamento tanto para as dores agudas quanto das crônicas, se não exclusivamente, pelo menos com os medicamentos homeopáticos associados com os alopáticos. Em casos de acidentes, quando o tratamento tem que ser imediato, é imprescindível a utilização de medicamentos alopáticos e posteriormente, em processo de recuperação, caso o paciente queira, pode-se aliar ambas as medicações. Antes dos processos cirúrgicos, os homeopatas recomendam que os pacientes tomem uma medicação homeopática para minimizar o sangramento durante o ato cirúrgico e, posteriormente, para auxiliar no processo de cicatrização. Tanto nesses casos quanto nos de lesões graves, os médicos não consideram a hipótese de eliminar totalmente os remédios alopáticos.

Foto: AAN / Daniel Nascimento

Tratamento das agulhas é oferecido no Cemar de Aracaju

Sem medo das agulhas A acupuntura é outro tratamento médico alternativo também disponível no SUS. No entanto, apesar de reconhecida pelo CFM em sua resolução nº 60, de 1985, a prática ainda não foi regulamentada por Lei Federal, o que permite que seja exercida por qualquer pessoa que faça algum curso de especialização, mesmo sem formação médica. Vinculada à medicina oriental, a acupuntura considera o corpo como um grande circuito elétrico de pontos de energia chamados de meridianos, que quando estimulados atuam no combate aos sintomas das doenças e no equilíbrio do organismo. A técnica consiste, comumente, na aplicação de agulhas, da espessura de um fio de cabelo, em pontos específicos do corpo a fim de equilibrar e harmonizar a pessoa. Ela também pode ser aplicada com ventosas e moxa, ou com eletroacupuntura, utilizada em tratamentos estéticos que têm efeito regulador em rugas, enrijecimento muscular e redução de gorduras localizadas. “A acupuntura é um tratamento que não utiliza medicamentos, curando a pessoa como um todo, tratando o estado físico e emocional”, afirma a médica Eliete Wolf, que atua há mais de dez anos em Sergipe, onde ainda há poucos profissionais de saúde adeptos a tipo de tratamento. Ela explica que esta abordagem pode ser realizada em qualquer idade, salvo em casos de pessoas que tenham algum problema grave de coagulação sanguínea ou no primeiro trimestre de gestação de mulheres que não se submetiam a essa prática antes de engravidarem. Como em qualquer outro tratamento, pode acontecer de algum paciente não responder bem à acupuntura, mas esta não apresenta efeitos colaterais, garante a acupunturista. Wolf ressalta ainda que a especialidade só não cura em casos graves, mas serve como importante auxiliar no tratamento de várias doenças. Um exemplo prático deste tratamento vem da cabeleireira Loirane Firme, 58, que faz acompanhamento há quatro anos recomendado por seu médico reumatologista, o qual diagnosticou o quadro de LER/DORT (Lesão por Esforço Repeti-

tivo/ Distúrbio Osteo-muscular Relacionado ao Trabalho). “Antes eu tinha até enxaqueca e precisava tomar vários remédios, mas agora me sinto bem melhor. Na primeira vez, aquelas agulhinhas davam um choquinho, depois passava. Hoje quando estou aqui no consultório relaxo e até durmo. Um tratamento muito bom, Eu recomendo”, diz Loirane. Caminhos da fitoterapia A fitoterapia, tratamento de doenças com o uso de plantas e ervas medicinais, é a mais antiga das MCAs: calcula-se que seja anterior ao ano 2.000 a.C., caracterizando-se como uma prática que continua viva até hoje. Com forte herança da cultura popular, por ter seu conhecimento transmitido oralmente pelos povos, a fitoterapia é uma prática médica e farmacêutica autorizada pela Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, aprovada por meio do Decreto nº 5.813, de 2006, que estabelece as diretrizes e linhas prioritárias para o seu desenvolvimento e acesso seguro. O professor do departamento de Bioquímica da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Charles Estevam, explica que essa medicina natural, apesar de antiga ainda é muito pouco explorada. “Existem poucos laboratórios e indústrias do ramo que queiram estudar e desenvolver técnicas desta área médica. Em Sergipe, por exemplo, há apenas uma disciplina no curso de Farmácia e pesquisas [isoladas] em núcleos das universidades”, diz. Estevam diz que a prática, conhecida como medicina caseira, já é considerada científica, servindo como coadjuvante nos tratamentos médicos de maior complexidade e como cura para os males mais simples e se não coletados de forma correta podem provocar efeitos adversos, por isso da importância de orientações de profissionais da saúde. Segundo ele, muitas plantas encontradas em nossa região podem ser cultivadas em casa, para tratar problemas corriqueiros, como as com efeitos anti-inflamatórios, anti-cicatrizantes e problemas digestivos. Além disso, podem ser utilizadas das crianças aos idosos. Em Aracaju, as cinco USFs que oferecem a fitoterapia são as do conjunto Orlando Dantas, Sol Nascente, Médici e nos bairros Aloque e Jabotiana, todas fiscalizadas pela Vigilância Sanitária. A Secretaria da Saúde espera que com os dados do 1º Censo das Práticas Integrativas, realizado em setembro de 2011, nas 43 Unidades de Saúde, possa pleitear recursos específicos para esta especialidade médica junto ao MS. Onde Encontrar: Homeopatia e Acupuntura: Cemar (Rua: Maria Nazareth Barros Santos, sn, Conj. A. Franco - Tel: 3179-3004 Fitoterapia:http://aracaju.se.gov.br/ userfiles/relacao_unidade.pdf


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Saúde

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Contexto

Quando comprar se torna uma doença Assinatura repórter

email@provedor

Assinatura repórter

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ntrar em uma loja e comprar tudo o que se vê pela frente, sem se preocupar com o saldo do cartão, é o desejo de muitos. Porém, esse comportamento é um indício do que os psicólogos caracterizam como Oneomania, termo atribuído a viciados em compras. Apesar de ser um transtorno recente, os shopaholics, como são conhecidos, tem tornado cada vez mais comum, independente da idade, sexo ou classe social. Segundo Cybele Rabelo, professora de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), as pessoas que apresentam esse distúrbio são impulsivas e submetem-se ao consumismo como defesa, ou seja, se apegam ao ato de comprar para compensar uma carência afetiva ou de autoestima , e supostamente preenchem um vazio existencial quando compram. “Mas isso é um engano inconsciente”, afirma a professora. Carla Pereira, gerente de uma loja de roupas unissex em Aracaju, observa que esse crescimento é o reflexo da sociedade que se importa cada vez mais com a beleza. “Tem virado rotina uma pessoa entrar na loja procurando uma blusa e sair com mais três peças de roupas. Elas querem sentir-se bonitas, felizes, e o jeito que têm encontrado para refletir esse estado de espírito é através das compras”, diz. Porém, a vendedora destaca que esse não é mais um comportamento exclusivamente feminino. Consumista assumido, o estudante, Michel Barbosa, 23 anos, é um dos exemplos dessa nova geração de

homens preocupados com a boa aparência. Apesar de nunca ter saído para comprar como forma de relaxamento, admite que já comprou objetos que não utilizou. Na maioria das vezes, porém, o estudante garante que usa tudo o que compra. “Principalmente quando vou viajar ou para uma festa, gosto de comprar roupas”, afirma. O vício por comprar “Sentia um êxtase absoluto”, descreve L.M., 21 anos, ao lembrar-se dos momentos em que recebia a sacola de compras das mãos do vendedor. “Antes de comprar eu sentia muita ansiedade. Aos poucos, essa sensação ia acabando e eu começava a me sentir culpado, frustrado e irresponsável. A culpa me deixava tão deprimido que eu precisava me dar um presente. Era um ciclo vicioso”, relembra o jovem. O autoengano nem sempre é perceptível. L.M., por exemplo, só descobriu que era viciado em comprar durante sessões de terapia na qual tratava de outro problema. “O vício por compras não foi o motivo para eu procurar a terapia. Durante as sessões eu sempre falava que me sentia um pouco compulsivo por comprar, foi então que descobri a doença”, conta. A doença A linha que divide um desejo normal e o vício é muito tênue. Segundo a psiquiatra Helena Ávila, para distinguir esses dois comportamentos é preciso fazer algumas indagações: comprou alguma coisa porque precisava? Utilizou alguma

vez o que comprou ou só guardou? Não conseguiu frear o desejo e comprou mesmo endividado? Antes de comprar, fica ansioso e vem aquele pensamento compulsivo? Se as respostas forem positivas, talvez seja um indício da doença. A doença pode ser comparada ao vício de drogas devido à forma como ela se apresenta. Ansiedade, culpa e crise de abstinência são sintomas presentes no compulsivo. A partir do momento que comprar torna-se um vício, a pessoa sente-se refém da sua própria vontade. Tratamento “Foram dois anos de muito autocontrole e substituição de pensamentos. Eu também evitava ir aos shoppings e quando passava por lojas, virava o rosto”, declara L.M. Segundo a psiquiatra Helena Ávila, o sofrimento de L.M ao tentar combater a doença é recorrente, pois é preciso frear aquilo que lhe dava mais prazer. No início da compulsão, o mais comum é alguém próximo ao viciado perceber que há algo fora do normal. Porém, com o passar do tempo e do aumento da gravidade da doença, a pessoa consegue perceber que precisa de ajuda. “A pessoa que tem esse vício não sai da realidade, por isso consegue perceber que está fora de controle”, explica a psiquiatra. A não aceitação da doença também é uma fase normal, já que muitos pacientes só veem isso como uma forma de estar bem consigo mesmo. Durante o tratamento, além do acompanhamento psicológico, algumas vezes são usados medicamentos para controlar a ansie-

dade extrema causada pela doença. Existe a cura? Segundo a psiquiatra, para haver uma recuperação da doença, é preciso muita persistência e força de vontade do paciente. “O tratamento é bastante doloroso e o paciente precisa, principalmente, do apoio da família para continuar”, explica. Ela acrescenta que muitas vezes os psiquiatras tratam a doença de forma pontual, ou seja, só veem a compulsão e não o que está além dela. Depois de dois anos de tratamento, L.M. diz que encara a situação com bom humor e prefere não conversar muito sobre o assunto, pois recorda o quão complicado foram aqueles anos de tratamento. “Apesar de estar controlado, percebo que não me curei completamente da doença, mas ainda assim, quando eu estou mal me presenteio. Só que ao invés de 30 presentes numa tarde, me dou apenas dois.”, finaliza.

Foto Divulgação (Site Not 1)

Equoterapia reabilita deficientes

Tatianne Melo

tatinhaa_live@hotmail.com

Meu filho evoluiu muito depois que iniciou o tratamento equoterapêutico. An-tes, o corpo dele era tão mole que parecia que não tinha osso. Agora, ele tem equilí-brio, consegue ficar sentado. Agradeço muito a Deus”. O depoimento da mãe de Fábio Cardoso, portador da paralisia cerebral, relata bem o benefício que a Equoterapia traz aos seus pacientes. A equoterapia é um método terapêutico que utiliza o cavalo como instrumento para reabilitação, o trabalho é realizado através de uma equipe profissional multidisciplinar formada por pedagogo, assistente social, psicólogo, fisioterapeuta, equitador, quatro auxiliares-guia e coordenador. De acordo com a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE), os profissionais são obrigados a fazer um curso básico ou avançado para aprender a manejar com o cavalo e para saber também quais os procedimentos a serem tomados com cada criança em casa situação. Fundado há quase 19 anos, o único Centro de Equoterapia de Aracaju, localizado no Parque da Cidade, favorece mais de 100 crianças, adolescentes e adultos

porta-doras de deficiências físicas, sensoriais e mentais. Muitas pessoas ainda não sabem da existência de um local que pratica equoterapia no estado. “Na direção anterior tinha pouca divulgação, as mães ficavam sabendo do centro apenas através de outras mães. Até mesmo médicos não sabiam que aqui existia”, relata o coordenador geral da Associação Sergipana de equoterapia (ASE), Alcyr Gaspar. O tratamento se divide em três: hipoterapia (o paciente não tem condi-ções de guiar o cavalo sozinho, precisa de um profissional em montaria dupla); equitação terapêutica (o paciente tem condições de conduzir o cavalo sozinho, precisa somente da ajuda de um profissional na lateral); hipismo adaptado (o paciente pratica alguns exercícios de hipismo).

Ao longo das sessões terapia, constatam-se nos pacientes melhorias na coorFoto: Tatianne Melo denação motora, no equilíbrio corporal, na autoconfiança, na auto-estima, entre ou-tros. “O nosso objetivo maior é melhorar o difícil comportamento das crianças. O vín-culo com animal é a melhor maneira de socializar eles”, conta a fisioterapeuta da ASE Wilsonita Ubirajara. Por dia a ASE recebe 20 crianças em cinco turnos com início às 7h30. A Equoterapia é um tratamento complementar, a terapia ocorre apenas uma vez por semana pela manhã, com duração de trinta minutos. À tarde não funciona, devido à falta de condições financeiras para pagar mais funcionários. Para entrar no Centro de Equoterapia os pré-requisitos exigidos são um relatório

dos médicos que acompanha o deficiente, uma foto, o preenchimento de uma ficha e depois uma avaliação dos profissionais da instituição. O tratamento é contra-indicado para pessoas com obesidade (risco a segurança), epilepsia (não controlada), processo inflamatório no reumatismo, escoliose (acima de trinta graus) e alergia a pelo de cavalo. A ASE é uma associação filantrópica que vive à custa de doações de empresas, e da mensalidade simbólica no valor de R$ 35,00 que é cobrada aos pacientes. “Na realidade, um tratamento desse fora do estado custa em torno de R$300,00. Nós temos gente que vem de Penedo em Alagoas somente para fazer a terapia aqui”, informa Alcyr Gaspar. Algumas mães sentem a falta de subsídio do governo de Sergipe. “O estado precisa ajudar mais o Centro para suprir as dificuldades financeiras. Aqui não é brincadeira, é como se fosse um hospital, faz parte do tratamento da criança. Até pensei em juntar as mães para procuramos o governador, alguém mais influente para pedir ajuda”, desabafa Jane Barreto, mãe de um paciente autista. C


Contexto

Cidadania ‘

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Acessibilidade: um problema social Grande parte dos hotéis de Sergipe ainda causam transtornos aos turistas especiais Larissa Nascimento e Lorena Barbosa

Foto:Larissa Nascimento

larissaregina17@gmail.com e lorenalarissa@hotmai.com

Banheiro adaptado para deficientes físicos em hotel da capital.

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oje o Brasil se prepara para dois eventos esportivos de extrema importância: a Copa que ocorrerá em meados de 2014 e as Olimpíadas que acontecerão em 2016. Por esses motivos o país finalmente decidiu pôr em prática algo que já estava previsto na constituição desde 1988. Porém o que se percebe é a falta de capacitação tanto na estrutura física quanto na postura dos profissionais para atender adequadamente os portadores de necessidades especiais. A declaração de Salamanca afirma que todos têm direito igualmente a lazer, independentemente de seu nível social e intelectual, e que os órgãos competentes têm a obrigação de garantir para que todas as necessidades pessoais e coletivas sejam supridas. Teoricamente esta declaração feita pela Unesco, que foi inserida na Constituição Brasileira em 1994, respeita e oferece suporte àqueles indivíduos portadores de deficiência mental e/ ou física. Porém, na prática encaramos uma realidade completamente distorcida e adaptada a favor dos hotéis que se auto-intitulam cem por cento acessíveis. No entanto, o estado de Sergipe, que possui grande parte da sua economia voltada para o turismo, se encaixa no “perfil brasileiro de hotelaria”, ou seja, o estado que possui inúmeros hotéis, a maioria deles localizados no principal ponto turístico da capital, a Orla de Atalaia. Estes, porém não possuem sequer o mínimo de estrutura necessária para a locomoção de pessoas com mobilidade ou capacidade intelectual limitada. Segundo Gean de Paula Santos, adepto do movimento de acessibilidade e membro do Conselho Municipal de Defesa e de Direitos da Pessoa com Deficiência, o turismo em Sergipe ainda encontrase mal estruturado quando nos referimos à acessibilidade. “O que acontece

no turismo de Sergipe é que ele não está envolvido com cidadania, a grande maioria é turismo de negócio. Se fosse ligado à cidadania, inclusão social da pessoa com deficiência, aí sim todas as piscinas, todos os equipamentos usados dentro dos hotéis seriam adaptados. Mas eles só visam o lucro real, não estão pensando no conforto do cliente portador de alguma deficiência”, diz ele. Os obstáculos no caminho dos “turistas especiais” ainda se faz presente apesar dos sinais de crescimento do mercado voluntário voltado a esse público. Para Lourdes Moreira, assistente social da Secretaria de Turismo e membro do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência, os empresários do ramo estão envolvidos em oferecer serviços diferenciados para esse quadrante de mercado. Mas para Gorette Medeiros, Presidente do Conselho Municipal de Defesa e de Direitos da Pessoa com Deficiência, isso não funciona na prática. “Nós fomos visitar alguns hotéis da capital para saber a acessibilidade que eles possuem e percebemos que a grande maioria não está cem por cento preparada, há muito a ser feito ainda”, afirma. Soluções e problemas Por outro lado, Michel Guidoni, gerente geral de um hotel da capital, garante atender plenamente às necessidades das pessoas com deficiência. “Hoje o nosso hotel é totalmente acessível, possui rampas de acesso, todas as áreas sociais possuem banheiros adequados para deficientes, para cadeirantes principalmente, com portas largas e de correr, barras de segurança, vasos adaptados. Também temos dois apartamentos que são totalmente adaptados, a nossa área de lazer conta com a piscina e uma academia que o cadeirante consegue chegar até lá sem obstáculos”,

afirma. Porém, quando perguntado se o hotel oferece as mesmas facilidades nas dependências destinadas ao lazer, o gerente afirma que infelizmente essas áreas não são adaptadas, contradizendo a declaração inicial de que o hotel estaria cem por cento adaptado. A falta de treinamento e de estrutura dos espaços afins ainda é realidade na maioria dos estabelecimentos e inibe a vontade dos “turistas especiais” de conhecer o mundo não adaptado. É o que nos conta o cadeirante Oscar Lindo Wanderley Romero, 22 anos, publicitário argentino radicado em Aracaju, para quem a falta de acessibilidade existe tanto no setor privado quanto público. “É notório que os setores privados possuem uma maior acessibilidade em seus locais. Na capital os locais mais importantes não possuem acessos adequados. A tão conhecida Orla de Atalaia, por exemplo, deve possuir talvez cinco rampas para acesso da calçada, sendo que a maioria ou tem um carro parado ou está toda quebrada ou nem existe mais”, desabafa ele. O publicitário faz ainda um comparativo com outros lugares que já visitou, deixando evidente o quanto ainda somos carentes no que diz respeito ao turismo e às atividades destinadas a essa parcela da população em nosso estado. “Tenho a chance de sempre estar fora do país, lugares como França, Argentina, Inglaterra, Madri,

entre alguns outros, e o que pude notar é que tanto o setor privado quanto o público respeitam os portadores de necessidades especiais. Na França, por exemplo, escolho onde sentar em um restaurante, pois o local é pensado para todos, não é como no Brasil, que por muitas vezes tive que sentar em locais não preferíveis, pois era o único local reservado para deficiente”, conta ele. Segundo Gorette Medeiros, a lei não tem sido cumprida por todos os estabelecimentos por que não esta sendo regulamentada. “Precisa partir do próprio Estado e do município essa iniciativa, só assim poderemos dar capacidade a essas pessoas de inserir no mercado do turismo, só que infelizmente nós não temos ainda esse quadro em nosso estado”, complementa. Já Lourdes Moreira finaliza afirmando que se as autoridades governamentais e ligadas as entidades turísticas começarem a respeitar e dar acessibilidade as pessoas com deficiência, a sociedade também começaria a seguir esse exemplo. “Todo trabalho social de mudança, até de pensar, de cultura, é um processo lento, mas eu vejo perspectivas de mudança e para isso precisamos ter um trabalho em conjunto: governos, empresários e comunidade. A comunidade precisa entender que a pessoa com deficiência também é capaz de usufruir dos atrativos turísticos. É um trabalho de sensibilização e acreditamos no alcance de melhorias”.

Socorro/SP: Referência em acessibilidade Foto:Divulgação

Tirolesa para portadores de deficiência física.

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ocorro, a 132 quilômetros de São Paulo, tem quase duzentos anos e hoje é um exemplo de cidade acessível. Os hotéis, restaurantes, farmácias, parques e o comércio são totalmente adequados às normas de acessibilidade. O Parque dos Sonhos, por exemplo, oferece diversas atividades para o turista portador de alguma deficiência, garantindo assim bem-estar e diversão para seus visitantes. “Socorro passou dois anos para ser construída e hoje oferece de tudo para pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, da caminhada ao rapel. Os avanços

que acontecem nessa cidade estão sendo um espelho para tornar o turismo mais s. acessível para o deficiente, por isso foi convidada pelo comitê responsável pela organização de eventos esportivos no Brasil afim de trabalhar a acessibilidade dos hotéis”, explica Gorette Medeiro Socorro oferece atividades como escalada, rapel, rafting, arvorismo, entre outras destinadas a pessoas portadoras de qualquer tipo de deficiência física ou mental. Saiba mais: http://www.estanciadesocorro.com.br/socorro_acessivel/


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Universidade sem barreiras Portadores de necessidades especiais ainda sonham com acessibilidade plena na UFS Nara Barrteto narabarreto1@hotmail.com

Três anos após adotar o sistema de contas, inclusive para portadores de necessidades especiais (PNEs), a Universidade Federal de Sergipe (UFS) ainda está se adequando à presença desses alunos. O número de concorrentes com algum tipo de deficiência vem é crescendo a cada edição do vestibular. Mas a Universidade está pronta para recebê-los? Considera-se PNE quem apresenta, em caráter permanente, perdas ou reduções de sua estrutura ou função anatômica, fisiológica, psicológica ou mental, que geram incapacidade para certas atividades, tendo-se em vista o padrão considerado normal para o ser humano. Para ingressar na UFS como cotista nessa modalidade, o candidato deve se autointitular como PNE no ato de inscrição no Processo Seletivo (PS). Pelo PS Em 2011, ingressaram 35 pessoas. Para 2012, estão inscritas 144, distribuídas entre 46 cursos de todos os campi da Universidade (São Cristóvão, Laranjeiras, Itabaiana e Lagarto). A graduação mais procurada, pelo terceiro ano consecutivo, é Medicina. Para atender a necessidades especiais, a Universidade realiza uma ação articulada junto ao Ministério da Educação (MEC) através do Programa Acessibilidade na Educação Superior (Incluir), que visa garantir o pleno acesso desses alunos à vida acadêmica das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes). A meta é eliminar barreiras comportamentais, pedagógicas, arquitetônicas e de comunicação. De acordo com o coordenador do Departamento de Assistência Pedagógica (Deape), Paulo Heimar, as ações têm como objetivo dar um suporte aos alunos logo após a matrícula. “A Coordenação de Concurso Vestibular (CCV) encaminha os dados dos PNEs aprovados ao Deape, que entra em contato com os estudantes”, explica Heimar. Atualmente cinco alunos são acompanhados pelo departamento: dois deficientes visuais (graduandos em Letras e Música no campus de São Cristóvão) e três deficientes auditivos (graduandos em Educação Física e Pedagogia no campus de São Cristóvão, e Sistemas de Informação no campus Alberto Carvalho, em Itabaiana). O suporte está relacionado à contratação de acompanhantes e de intérpretes, que trabalham sob o monitoramento do Deape. “Todos possuem intérpretes. Para o deficiente visual, nós contratamos bolsistas para auxiliar no deslocamento dentro do campus e levar os textos do aluno até a biblioteca para transcrevê-los para Braile, através de um programa de computador”, afirma o coordenador do departamento. Mas isso não quer dizer que esses são os únicos casos na Universidade. Segundo Paulo Heimar, há alunos PNEs que não solicitam apoio ao Deape por não encontrar empecilhos para seguir na graduação. Há ainda casos eventuais que também são de responsabilidade do Departamento. “Tem alunos com grande perda visual, alunos com esclerose múltipla e até alunos que, em virtude de acidente vascular cerebral (AVC), necessitam de auxílio”, informa.

Universidade para todos Os alunos especiais na UFS estão matriculados em diversos cursos. No campus Alberto de Carvalho, em Itabaiana, a aluna Lívia Marita Bispo de Oliveira é a única aluna com necessidade de atendimento especial. Portadora de deficiência auditiva, a estudante do 3° período de Sistemas de Informação conta que o receio em concorrer ao vestibular foi inevitável, mas logo superado. “No início os professores ficavam um pouco tensos porque não sabiam como se comunicar comigo”, diz. Foto: arquivo pessoal

Lívia é a única estudante com deficiência auditiva no campus de Itabaiana

Para ela, o maior obstáculo aque enfrentou desde o ingresso na Universidadeestá relacionado aos intérpretes, ausentes nas primeiras aulas, e a contante troca desses acompanhantes. Em contrapartida, Lívia conta com ajuda dos professores e dos colegas para minimizar as dificuldades. “Há muitos estudantes que sabem Libras (Linguagem Brasileira de Sinais). Não têm preconceito, fui recebida muito bem”, afirma. A realidade não é diferente no campus de São Cristóvão. Aluno do 4° período em Educação Física, Higo Déda afirma que a falta de intérprete dificultava a sua aprendizagem, comprometendo o seu desenvolvimento nas disciplinas. “Eu copiava tudo que o professor passava em sala e depois estudava sozinho em casa”, revela. De acordo com ele, a receptividade foi boa. “No início muitas pessoas queriam me ajudar, mas os professores ficavam meio sem jeito”, diz, revelando também que apesar disso, a relação com os colegas acabava ao sair da sala de aula, pois ele não era chamado para as atividades extra curriculares da turma, como festas. Percalços A maior queixa dos PNEs na UFS é em relação à falta intérpretes e acompanhantes, fundamentais como apoio durante as aulas e para os deslocamentos no campus. Os únicos prérequisitos para exercer a função é possuir ensino superior completo e dominar a Libras.

Formada em Química pela UFS, Analu Barbosa acompanha Higo Déda, graduando em Educação Física. Segundo ela, quando surgiu a oportunidade de ser intérprete, o medo foi inevitável, mas superado nos primeiros dias de trabalho. “Me perguntava se daria certo, daí resolvi arriscar. Mas acho maravilhoso. Estou adorando descobrir coisas. Eu me descobri como intérprete”, comemora. Além disso, o bom relacionamento entre os dois torna o convívio mais fácil. Eles até criam sinais próprios para as atividades do curso. “Higo é quase meu irmão. Temos a mesma idade, trocamos experiências”, afirma. Mas nem tudo são flores. Entre os obstáculos está o preconceito de alguns colegas com os PNEs e de alguns professores em relação aos intérpretes. “Eu faço um trabalho de formiguinha, vou explicando de um por um o nosso papel”, declara Analu. Ela defende ressaltando que os professores docentes devem chamar a atenção e cobrar aos alunos PNEs da mesma maneira com que chamam a atenção e tratam os outros alunos. Afinal, eles são iguais. Na opinião do coordenador do Deape, a própria sociedade ainda é excludente, pois o ingresso na universidade dos PNEs ainda é pequeno. “Apesar das informações têm chegado com mais facilidade aos alunos do ensino médio através de palestras e pela Semana de Graduação da UFS, ainda sobram vagas para os alunos especiais”, afirma. Buscando minimizar ações preconceituosas, a Pró-Reitoria de Graduação (Posgrad) promove oficinas de conscientização para professores de toda a Universidade. “O problema é que apenas um pequeno número de professores participa. Vamos voltar a fazer ainda em 2011, em todos os centros e em todos os campi”, promete o Pró-Reitor Sandro Holanda. Além da fala As quatro graduações que preenchem o seu currículo - Ciências da Computação (Unifacs), Designer Gráfico (Ucsal), Pedagogia (FSBA) e Libras (UFSC) - além de pós-graduação em metodologia de ensino superior e mestrado em Foto: Nara Barreto

Higfo e Analu: companehirismo além da sala de aula.

Educação, já mostram o potencial da professora do departamento de Educação Larissa Rebouças. Natural de Salvador (Bahia), Larissa já nasceu com surdez profunda, mas esse diferencial não a impediu de fazer concurso e ser aprovada em primeiro lugar para professora assistente do departamento de Educação, em 2010. Atualmente ela é a única docente da UFS portadora de necessidade especial. Segundo ela, após a sua aprovação a maior dificuldade está em conseguir intérprete. “Até o agora [outubro] não tenho intérprete. Ministro aula sozinha para 83 alunos ouvintes, sem monitor, sem apoio, sem nada. Ensino através do alfabeto manual”, lamenta. De acordo com Paulo Heimar, em virtude do Governo Federal não ter autorizado até o momento a realização de concurso público para os cargos de intérprete e leitor, a contratação Foto: arquivo pessoal

Larissa Rebouças: quatro graduações e muita força de vontade

desses profissionais é feita por meio de um contrato. “No caso da professora Larissa, a contratação está em fase de licitação”, informa. Além disso, ao começar a trabalhar Larissa constatou que o seu departamento estava pouco preparado para lidar com uma professora surda. “Fico frustrada quando falo oral com professores e alunos e não me entendem”, desabafa. Para divulgar a importância e potencializar o interesse em relação à apredizagem da Libras, Larissa tem realizado eventos, como seminários e o I Workshop de Libras, que reuniu cerca de 100 alunos, distribuídos entre os níveis básico e intermediário. Ela também é a idealizadora do Grupo de Pesquisa de Estudos Surdos de Sergipe (GPESSE), que é composto por ouvintes e portadores de necessecidades especiais que se reunem frequentemente para discutir sobre surdez. C


Contexto

Política

outubro-dezembro/2011

Crise na política universitária?

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Pesquisa aponta que mais de 90% dos estudantes não se interessam Foto: Maluh Bastos

Maluh Bastos maluh_91@hotmail.com

Lohan Montes lestrange_@hotmail.com

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penas 5,8% dos estudantes das universidades brasileiras participam periodicamente de movimentos estudantis, segundo uma pesquisa realizada em julho de 2011 pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Nacionais de Ensino (Andifes), através do Fórum de Pró-Reitores de Assuntos Estudantis das Instituições Federais (Fonaprace). Mas esses dados não desanimam as correntes políticas que atuam na Universidade Federal de Sergipe (UFS), que continuam tentando arrebanhar mais alunos e fortificar seus respectivos grupos. De acordo com o pró-reitor de Assuntos Estudantis da instituição, Mário Resende, o movimento estudantil (ME) é importante por ser uma espécie de ‘movimento social’, com a diferença de se cons-tituir por um grupo de estudantes que acredita em uma bandeira política e por ela luta. “No Brasil, o ME remonta ao século XIX, quando os estudantes contestaram a escravidão e em parte foram importantes para a implantação da República”, explica o pró-reitor. Além disso, segundo Resende, com organização da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1937, os MEs estiveram ainda mais presentes na história do Brasil. “Os movimentos são extremamente importantes no processo de formação política da vida estudantil e cidadã”, opina. “Particularmente em um país cuja tradição de militância partidária não é forte como o nosso, é através do movimento que os estudantes aprendem a entender os meandros das lutas políticas que ocorrem a nível macro”, acrescenta. Porém, os dados da pesquisa da Fonaprace comprovam que o desinteresse pelo assunto ainda é forte. Ressalte-se que, de acordo com a mesma pesquisa, no Nordeste, cerca de 61,21% dos estudantes nunca participaram de nenhum movimento estudantil. Para Resende, esta é uma questão problemática. “Ora, se mais de 90% dos discentes não observam ser importante participar das decisões políticas, conforme aponta a pesquisa do Fonaprace, o que esperar desses cidadãos na condução e renovação política do país?”, questiona. Dificuldades Fazendo jus à pesquisa divulgada, as opiniões dos estudantes da UFS são, em sua maioria, bastante negativas quando questionados sobre o assunto, por motivos diversos. “Eles ligam mais para interesses políticos e pessoais, do que para a Universidade”, diza Ana Caroline Carmo, aluna do curso de Letras. Matheus Oliveira, do 4º período de Relações Internacionais, acha que a intenção é boa, mas não suficiente. Ele, que já participou de eventos políticos quando era estudante do Ensino Médio, concorda com Ana Caroline. “O que vejo

Símbolo da UNE no DCE passa despercebido por alguns estudantes da UFS

na realidade da universidade são movimentos que partem de um ideal saudável – o de representar as demandas estudantis –, mas, em geral, tendem a se deixar guiar por deturpações ideológico-partidárias”, frisa. Para Lays Vanessa, estudante de Ciências Sociais, a política estudantil é apenas um reflexo do que acontece dentro da sociedade, da qual a universidade faz parte. Há grupos, alianças e pensamentos políticos que não fogem à lógica da política municipal, estadual ou federal. “É a forma que os estudantes encontram de serem representados em diversas instâncias da universidade e em ambientes fora dela”, salienta. Carla Santos, estudante do curso de Geografia, considera que “geralmente todos prezam por qualidade e assistên-

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União Nacional dos Estudantes (UNE) é a principal entidade do movimento estudantil brasileiro e representa os estudantes do ensino superior. Foi fundada em 1937, no I Congresso Nacional dos Estudantes, com o objetivo de discutir temas políticos e sociais. A UNE hoje lidera as principais reivindicações estudantis. Sua principal luta é por uma reforma universitária que garanta qualidade de ensino, democratize o acesso e garanta a permanência dos jovens na Universidade.

cia estudantil, mas cada corrente política universitária tem ligação com algum partido político, logo, não é totalmente livre, porque segue determinadas regras dessas correntes”. Grupos na UFS Dentro da pequena porcentagem dos interessados, alguns grupos políticos estudantis se destacam. Na UFS, dentre todas as correntes políticas existentes, duas delas vêm disputando acirradamente o comando do Diretório Central dos Estudantes (DCE), chamando a atenção dos alunos com suas propostas e enfrentamentos. O grupo Integração, que está à frente do DCE desde 2008, é hoje conduzido pelo presidente Fernando Carvalho. Para

José Serra (PSDB) e Lindberg Farias (PT) são duas personalidades políticas atuais importantes que já passaram pelo movimento estudantil. Lindberg, por exemplo, foi quem liderou os estudantes da União no movimento dos “Caras pintadas” em 1992. Serra, por sua vez, representou a UNE na época do Golpe Militar e teve que buscar exílio fora do país. Hoje, Lindberg é senador do Rio de Janeiro, enquanto José Serra é exgovernador de São Paulo.

ele, a Integração visa contemplar todos os estudantes da Universidade na busca por um caminho em comum. “Nossa maior diretriz hoje é representar os 27.800 estudantes da UFS e os que virão, dentro de um ponto de vista mais democrático possível”, frisa Fernando. Do outro lado, existe o grupo ‘Da luta não me retiro’, que faz oposição à Integração. “A nossa vontade é mostrar para o conjunto dos alunos que existe uma outra forma de movimento na Universidade”, explica Pedro Alves, militante do Coletivo Nacional Barricadas Abrem Caminhos que compõe o grupo “Da luta não me retiro”. Mesmo diante de uma sociedade desacreditada em política e alheia à dinâmica estudantil, estes movimentos permanecem e se fortificam dentro da UFS. Através de uma votação que ocorre de quatro em quatro anos e que convoca todos os estudantes, sem exceção, são eleitos representantes para ser ‘a voz’ do corpo discente da Universidade, no comando do DCE. São estas eleições que as correntes disputam, por meio de suas chapas políticas. “As chapas universitárias estão dentro do que compõe o ME”, sintetiza Mário Resende. Apesar dos constantes embates de ideologias, as chapas têm, sim, um ponto em comum: defendem a pró-atividade e participação direta de todos os estudantes - os mais de 90% que a pesquisa da Fonaprace aponta - na vida política da universidade. “Temos que mostrar para eles e para o povo que há pessoas sérias que estão se movimentando para mudar algo”, afirma Pedro Alves, da chapa da oposição. Fernando Carvalho, da Integração, também explica que estudantes devem participar e destaca a importância do voto. “Apesar de não votar ser uma decisão que considero política, nosso trabalho é convocar o estudante para participar cada vez mais do movimento estudantil”, pontua. C


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Justiça ´

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Contexto

Fui agredida, o que fazer?

Guia de sobrevivência com base na Lei Maria da Penha Foto: Daniele Melo

Daniele Melo

danimelo.jor@gmail.com

Mãos geladas. Olhar desconfiado. Passos firmes. No rosto, a expressão de sofrimento aos poucos dá lugar a uma aceno de esperança. As mãos agora ajudam a contar os detalhes, e o medo vai perdendo espaço para a confiança de que, a partir desse momento, um pesadelo deixará de ser real. Tensão e alívio se misturam nos olhares daquelas mulheres que buscam ajuda, que buscam a libertação de uma situação que aflige milhares delas todos os dias: a violência de seus parceiros. Elas vão chegando aos poucos na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), com marcas físicas ou psicológicas, confiantes ou não, algumas às vezes chegam desnorteadas, sem saber o que fazer, sem saber como agir. Mas o que fazer quando se é agredida? Qual deve ser a primeira ação dessa mulher? “O primeiro passo é procurar a delegacia mais próxima, de preferência que venha para a Delegacia de Proteção à Mulher, porque aqui nós temos um atendimento especializado de acolhimento. Quando ela chegar na Delegacia, um boletim de ocorrência (B.O.) será registrado. Esta é a primeira ação para que o inquérito policial seja aberto, as investigações comecem e as medidas necessárias sejam tomadas”, explica a delegada Thaís Lemos Santiago, diretora do Departamento de Atendimento aos Grupos Vulneráveis (DAGV), onde funciona a Delegacia Especializada. Razões do medo A mulher agredida não deve se calar diante do medo. Muitas acreditam que uma injúria, uma ofensa, uma ameaça não são enquadradas como tipos de violência, desconhecendo as formas de agressão que são abrangidas pela Lei Maria da Penha (n° 11.340, de 7 de agosto de 2006). A violência contra mulher pode ser classificada em cinco tipos: física (lesa a saúde e a integridade física), psicológica (danos à psique da mulher), moral (danos à honra), patrimonial (danos aos bens/patrimônios da mulher) e sexual (quando é forçada a ter relações com o agressor). Ao contrário do que a maioria acredita, a violência psicológica, apesar de não deixar sinais físicos, é considerada umas das piores agressões contra a mulher. “A agressão psicológica é aquela que não deixa marcas externas e provoca um verdadeiro estrago no emocional nessa mulher, deixandoa psicologicamente deprimida. Ocorre quando o homem ameaça, humilha, chantageia, quando ele tem aquela vigilância constante sobre essa mulher, como se fosse uma perseguição, todos esses atos que venham impedir a liberdade de ir e vir da mulher, que venha humilhá-la, desprezála, diminuí-la, tudo isso é violência psicológica” explica a delegada Thaís Santiago. As agressões geralmente começam com uma injúria, um xingamento, depois uma ameaça, uma agressão física e podem resultar até em homicídio. Assim, a partir do momento em que a mulher não reclama, não exige o fim daquele comportamento de seu parceiro, um ciclo de

Entrada do Departamento de Atendimento aos Grupos Vulneráveis

violência se inicia. “Tem cinco anos que eu não quero mais ele, sempre foi muito grosso, falava alto comigo, gritava, e depois aquela mão ameaçando me bater, batia e batia sem pena. Eu não imaginava que ia chegar a esse ponto. No último domingo ele tentou me matar e fiquei desesperada, eu não aguentava mais sofrer na mão dele”, relata A.S.M.T., de 32 anos, que aguardava a ser atendida na Delegacia. Segundo uma das funcionárias do DAGV, que trabalha na área há mais de vinte anos, os principais fatores inibem a mulher de chegar até a delegacia são a dependência financeira em relação ao agressor e o medo de ser morta por ele. “O que eu vejo é que a maioria das mulheres que chegam aqui dependem financeiramente do agressor, e geralmente também têm filhos com ele. Isso cria um medo, tanto de que a vida dela seja ameaçada, quanto em relação à vida dos filhos. Esse medo foi inibido um pouco pela Lei Maria Penha, que traz medidas de proteção” explica a funcionária. Proteção e abrigo Depois que a mulher presta depoimento e o boletim de ocorrência é materializado, inicia-se o processo de investigação que vai apurar tudo que foi relatado pela mulher. Caso ela esteja com medo de voltar para casa ou não tenha outro local para ficar enquanto o processo é encaminhado ao judiciário, a Lei Maria da Penha prevê medidas protetoras, que visam assegurar a vida da mulher que está denunciando a violência. “Quando mulher está com medo de voltar para o antigo lar conjugal, nós representamos por uma medida protetiva (pede o afastamento do agressor) que é encaminhada ao judiciário. Em seguida, a mulher é acompanhada pela Polícia para retirar do lar os seus filhos e seus bens, e em seguida é conduzida para a Casa Abrigo, onde permanecerá enquanto o agressor ainda estiver em casa. Assim que a medida protetiva for deferida pelo judiciário, o agressor é retira-

do do lar e a vítima pode retornar em segurança para sua casa”, esclarece a diretora do DAGV. Antes que a mulher saia da delegacia e seja levada para o Abrigo, outras medidas são tomadas, pois na maioria dos casos, depois da denúncia ficam pendentes questões como guarda dos filhos, pensão, entre outras. “Tudo é encaminhado a partir daqui. Depois do boletim de ocorrência, a mulher é conduzida aos Conselhos de Serviço Social, para ter acompanhamento sóciopsicológico paralelo ao acompanhamento policial, e é encaminhada também para a Defensoria Pública, para as questões de partilha de bens, guarda de filhos, pensão alimentícia, que nós não resolvemos aqui, por se tratarem de questões cíveis”, detalha Thaís Santiago. O mais importante é dar o primeiro passo, é dizer não à violência contra a mulher, e denunciar o agressor, não admitindo nenhuma forma de agressão. “Todo tipo de agressão é grave, principalmente a que não deixa marcas, que encaramos com muito mais gravidade porque destrói o emocional da mulher, destrói a autoestima, destrói até mesmo a convivência com o restante dos familiares. É muito complicado. A mulher não pode se colocar nesse papel de sem importância e se subestimar”, alerta a delegada. Outra questão delicada são os reflexos da violência no seio da família, principalmente em relação aos filhos que presenciam essas agressões e podem, no futuro, se tornarem reprodutores. “O que a gente reforça é que os atos de violência que são vividos em casa futuramente vão ser reproduzidos pelos filhos. Então, se a mãe acha que é uma bobagem tentar barrar esse comportamento do pai agressor e denunciar, não é bobagem, pois aquele comportamento violento sendo visualizado pelos filhos está sendo aprendido, e um dia essas crianças que são vítimas serão autores de violência. Os atos se reproduzem. Por isso é muito importante denunciar para que os agressores não fiquem impunes e que essa violência tenha um fim”, avalia a diretora do DAGV. C

Saiba mais: Lei Maria da Penha http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm Campanha Ponto Final na Violência contra as Mulheres http://www.campanhapontofinal.com.br/index.php.


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