Jornal Contexto 58

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Ed. 58

2017.2

JORNAL CONTEXTO


EDITORIAL

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EQUILÍBRIO

Primeiro o corpo. Não! Primeiro a mente. Não! Primeiro os dois. Ser saudável exige equilíbrio. Os seres humanos, como diz o escritor Woody Allen, são divididos em mente e corpo. A mente abraça todas as nossas aspirações nobres, como a poesia e a filosofia. E o corpo, disse Doantien Sade, é o templo onde a natureza pede para ser reverenciada. O Jornal Contexto, com a ideia de mostrar que ser saudável vai além de uma boa alimentação ou a prática de exercícios físicos, preparou uma série de reportagens para direcionar você a novos olhares no que diz respeito a qualidade de vida. Afinal, alcançar um estado completo de bem-estar físico, mental e social não é fácil. Por isso, as matérias produzidas por nós, alunos do curso de Jornalismo da Universidade Federal Sergipe, mostram que o ambiente de convivência, cuidados com a saúde e uma disposição psicológica para enfrentar a vida são fatores que precisam ser levados em consideração quando pensamos em uma vida saudável. Boa Leitura! Fenanda Roza.

EX PE DIEN TE

Universidade Federal de Sergipe

Telefone (79) 2105-6919 / 2105-6923

Campus Prof. José Aluísio de Campos Av. Marechal Rondon, s/n, São Cristóvão - SE Reitor Prof. Dr. Angelo Roberto Antonielli Vice-Reitora Profª. Drª. Iara Maria Campelo Lima Pró-Reitor de Graduação Prof. Dr. Dilton Cândido Maynard Diretora do CECH Profª. Drª. Ana Maria Leal Chefe do Departamento de Comunicação Social Prof. Dr. Tatiana Guenaga Aneas Núcleo de Jornalismo Prof. Dr. Carlos Eduardo Franciscato

E-mail dcos.ufs@gmail.com Orientação Profª. Drª. Michele Becker Edição Fernanda Roza Direção de Diagramação Letícia Sandes

Gonçalo Oliveira Igor Rocha Letícia Sandes Netto Ribeiro Pedro Neto Thalia Freitas Diagramação Fernanda Santero Gonçalo Oliveira Igor Rocha Isabela Ferreira Letícia Sandes Thalia Freitas

Projeto Gráfico/Layout Matheus Brito

Edição De Imagens Igor Rocha

Capa Igor Rocha

Revisão Geral Fernanda Roza Igor Rocha Letícia Sandes

Reportagens Ana Clara Abreu Fernanda Roza Fernanda Santero


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ÁREAS VERDES DE CONVÍVIO Letícia Sandes leeh1d.sandes@gmail,com

LETÍCIA SANDES

FOTOGRAFANDO O ESPAÇO Marcos Oliveira é publicitário, mas, atualmente, trabalha como fotógrafo. Sua paixão por fotografia surgiu quando participou de uma oficina, desde então, passou a usar a câmera como sua principal aliada. Há um ano, o fotográfo frequenta o Parque das Sementeiras, em Aracaju, lá ele faz muitos trabalhos.“É o lugar onde eu faço sempre ensaios fotográficos, conheço o parque já de cabo a rabo”, conta. O parque é um lugar marcante na vida de Marcos, pois foi lá que ele começou o trabalho no qual participa até hoje, fotografar o grupo de modelos negros Afro-Power. O fotógrafo gosta de usar os espaços públicos de convivência para colocar seu trabalho em prática. Ele diz que a diversidade da natureza é muito linda e isso é o que mais lhe chama a atenção na hora de fotografar. Além de um ótimo lugar para fotografar, Marcos acredita que esse tipo de ambiente é muito importante para o convívio social, isso porque, para ele, as pessoas não têm convivido muito.

Publicitário Marcos Oliveira fotogrando as áreas verdes

LETÍCIA SANDES

Em meio ao caos urbano e ao mun- esse tipo de convívio. do cada vez mais compartimentado em que vivemos, os espaços livres arborizaO JOVEM NA PRAÇA dos são de grande importância. O contato com a natureza, a possibilidade de Não são apenas as crianças que ler mais tranquilamente, se exercitar, necessitam desse contato com áreas relaxar e interagir com mais pessoas, livres arborizadas. Os jovens têm prosão importantes características desse curado as praças e parques públicos tipo de ambiente. Neles, o cidadão ur- como ambiente de refúgio, descanso, bano encontra um refúgio dos padrões lazer e encontro. A estudante Vitória de vida da cidade. Em todas as fases da Duarte, 17, costuma ir ao Parque da vida humana, é muito importante que Sementeira, em Aracaju, três vezes os cidadãos urbanos façam usos desses por semana e, na maioria das vezes lugares. Assim, características como: em que vai, está acompanhada de um espontaneidade, criatividade e senso grupo de amigos. Para ela, o parque de vizinhança serão aguçadas. representa o seu momento de lazer, . Acostumado com a dinâmi- no qual a estudante costuma jogar ca urbana, Carlos Pessoa, 40, médico vôlei com os amigos. A suavidade do oftalmologista, não costumava fre- ambiente, assim como o ar fresco são quentar praças ou parques, preferia se características que fazem com que divertir e interagir com as pessoas nos Vitória busque lugares como esse. ambientes ao qual já está acostumado. “Verde traz saúde. Eu particularmente No entanto, depois que Carlos Junior, quando vejo o parque já me acalmo” seu filho de 1 ano e 10 meses nasceu, os explica. ambientes frequentados pelo médico De acordo com a arquiteta urbacomeçaram a se ampliar. Mesmo não nista Manuela Barros, quando um lusendo um “freguês fiel” de espaços li- gar como esse é projetado, a paisagem vres arborizados, Pessoa acredita que desse ambiente é um fator que se o contato com a natureza desde crian- deve levar em consideração. A arquiça é um fator muito importante para teta explica que as árvores também que seu filho cresça forte e saudável “É têm relação direta com a temperaimportante ele brincar com a natureza, tura do lugar, o que implica conforto se alinhando com o verde, com o lago para os usuários “as árvores, além de e também a possibilidade de estar em conforto estético, proporcionam um um espaço aberto, diferente de um ambiente de sombra” diz apartamento ou um condomínio”, exAssim como Vitória, David Maikplica. son, 20, gosta de frequentar ambien Criança gosta de brincar, cor- tes arborizados pois a “vibe” do lugar rer, estar livre… Conviver em um lugar é bastante agradável. Uma das coisas onde se pode perceber a importância que o jovem mais gosta de fazer no da natureza, do ar fresco, do contato Parque da Sementeira é passear com com a terra, com as árvores e ainda in- a família e amigos. David é frequenteragir com outras pessoas, é muito im- tador do parque há um bom tempo. portante para o desenvolvimento delas. Ele conta que quando era mais jovem Além de criar defesas imunológicas, a costumava ter encontros de um gruinteração que esse tipo de ambiente po chamado Refletir “Tinha palestra e possibilita é um importante fator para essas coisas. Eles traziam a gente para o crescimento como indivíduo social, o parque para refletirmos, fazer brinisso porque, de acordo com o psicólogo cadeiras…”, lembra o rapaz. Jamerson Silva, a sociabilidade é um fa Os jovens da atualidade são tor que constitui o sujeito. muito ligados a cidade e a tecnologia. Carlos Pessoa percebe, princi- Entretanto, a crescente procura por palmente agora, depois de ter um filho, áreas verdes de convívio demonstra a importância de frequentar ambien- que mesmo aqueles acostumados a tes arborizados. Ele diz que pretende le- rotina urbana precisam do seu movar Carlos Junior mais vezes ao parque, mento de fôlego para se manterem um ambiente livre, pois acredita que fortes e saudáveis, não só fisicamente, a criança será mais saudável devido a mas também no seu interior.

Várias pessoas frequentam o Parque da Sementeira todos os dias


MOBILIDADE URBANA

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LETÍCIA SANDES

Sr Felisberto aproveita a sombra das árvores da praça Fausto Cardoso ANTIGO FREQUENTADOR DE PRAÇAS

LETÍCIA SANDES

Desde jovem, Felisberto José dos Santos, 73, mestre de obras aposentado, frequenta praças públicas. Atualmente ele mora no Rio de Janeiro, mas veio a Sergipe visitar os pais que moram em Capela. Perto de sua casa no Rio, tem uma praça, então, todos os dias costuma ir para lá, a menos que esteja chovendo. Quando está nesse ambiente, ele gosta de fazer palavras cruzadas, ler jornal e ver o movimento. Por ser um ambiente bastante frequentado pelo aposentado, ele conhece bem a dinâmica desse espaço. Felisberto explica que na praça que ele frequenta, o pessoal pratica academia, tem aparelhos para ginástica (academias ao ar livre) e muitas árvores. “Tudo ali é um meio onde você procura fazer novas amizades, porque pra conhecer as pessoas, você tem que conviver” conta o idoso. Seu Felisberto José considera as praças lugares de encontro e foi justamente em uma delas que ele conheceu um de seus amigos mais antigos. “Tive uma amizade que durou 50 anos. Nos conhecemos na praça aos 18 anos, mais ou menos, e durou até agora, até a sua

morte”, explica. cia pode ir até ela?”, explica e arquiteta. Além de proporcionar boas amizaAcessibilidade é justamente uma des, a praça tornou-se o refúgio do apo- das preocupações de Seu Felisberto. sentado. Depois que sua esposa faleceu, “Esse tipo de praça é perigoso pra criano hábito de ir a praça só cresceu ainda ça e pra velho também, tem que adapmais. “Pego meu jornal, me sento lá e tar. A criança gosta de correr e os velhos fico lendo. Compro meu pão e vou para podem perder o equilíbrio, tem que ancasa tomar café. Depois que minha dar segurando em alguém” esposa faleceu sou sozinho, não moro O convívio em ambientes livres é com ninguém”, conta. definitivamente cheio de histórias e Como frequentador fiel de praças, questionamentos. Seja numa praça, ou ao visitar a Fausto Cardoso, em Araca- num parque, crianças, jovens, adultos ju, o ex mestre de obras observou que e idosos participam de um círculo de ela acomoda bem, mas tem alguns pro- convívio harmônico. Assim, a mistura blemas na estrutura. “Eu como sou de- de idades, o cultivo de histórias, o forficiente, tenho que andar com cautela talecimento de laços, o ar fresco e todos aqui, porque nesse chão posso cair fa- os benefícios concretos e abstratos que cilmente” explica. uma área verde de convívio pode ofeDe acordo com a urbanista Manue- recer, proporcionam a esses cidadãos la Barros, vários fatores são levados em uma vida mais saudável. conta na hora de projetar um ambiente como esse. Conforto, segurança e acessibilidade são quesitos de extrema importância. “A acessibilidade é muito importante. Quando projetamos áreas livres de convívio, a gente pensa em pequenos espaços, pequenas passarelas, o que direciona o fluxo. Precisamos pensar também em como esses ambientes podem ser acessíveis para pessoas, e também para atendê-las se preciso. Por exemplo, se uma pessoa lá no canto da praça passar mal, como uma ambulân-


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VIDA SAUDÁVEL: UM NOVO NICHO DE MERCADO Fernanda Roza

nandaroza13@gmail.com

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e um lado, pessoas buscando uma vida mais saudável. Do outro, um mercado pronto para atender essa demanda. Alguns empresários, pensando nesse novo perfil de consumidor, têm investido em novas estratégias de negócio. Com isso, a oferta de produtos e serviços ligados a saúde e bem-estar cresceu. Em Aracaju, por exemplo, é comum encontrarmos lojas de produtos saudáveis, academias, clínicas de estética, restaurantes veganos e também marmitas saudáveis. Segundo pesquisa realizada em 2015 pela Euromonitor (provedora global de inteligência estratégica de mercado), o Brasil é o quinto maior mercado de alimentos e bebidas saudáveis do mundo, com vendas de US$ 27,5 bilhões. Não é atoa que alguns empresários sergipanos começaram a investir nesse mercado há muito tempo. É o caso Rosângela Lima, proprietária da Nat & Vida. “A ideia de abrir uma empresa de produtos saudáveis surgiu há 18 anos, quando fiquei desempregada. Eu trabalhava em um banco, daí quando eu sai, meu esposo teve a ideia de montar uma loja voltada para produtos naturais”, conta ela. Além de ervas, a loja Nat & vida

trabalha com produtos naturais diversos (granola, linhaça, chia, etc.). No início, Rosângela teve um pouco de dificuldade em compreender o mercado e o público consumidor. “Antes as pessoas procuravam mais por medicamentos farmacêuticos, restaurantes, produtos de academia, essas coisas. Mas hoje, as pessoas estão procurando muito essa coisa da natureza”, diz. Ainda, conforme a proprietária, a loja não tem um perfil específico de cliente. “Imagino que as pessoas estão se informando mais e buscando o bem estar, logo a procura por produtos saudáveis é crescente”. Luiza Allan, 21, estudante de direito, é frequentadora fiel de lojas de produtos naturais. Para ela, a grande oferta desse tipo de serviço é algo positivo. “Não tenho do que reclamar das lojas de produtos naturais aqui . Em quase todos os bairros tem uma, e eu quero é que tenha mais e mais, pois significa que as pessoas estão cuidando da saúde”, fala. A proprietária da Nat & Vida concorda com Luiza e não se sente prejudicada com a concorrência. “Não me preocupo se tem dez, vinte lojas.. muito pelo contrário, acho isso mui-

to bom, pois é sinal que a consciência das pessoas está aumentando. A concorrência é livre e bonita,” acrescenta. Quando questionada sobre expandir a loja, ela diz que “o futuro a Deus pertence. Mas, espero que as pessoas queiram viver melhor e se alimentar melhor”. Nilton Antonio da Silva, 70, fitoterapeuta e farmacêutico, trabalha há 30 anos na área de produtos naturais. Ele cursou fitoterapia e farmácia justamente para poder investir no ramo. Então, assim que se formou, abriu uma distribuidora, a “Fito Natura”, que já tem mais de 25 anos. Para ele, investir nesse segmento é algo bem vantajoso. Só em Aracaju ele entrega produtos em 14 lojas e comenta: “os produtos naturais não são caros, levando em consideração que para ter uma vida de qualidade é preciso investir. Caro é um remédio que você compra na farmácia por R$50, R$100 e não vê efeito algum”. Já Luiza Allan acha que os preços dos produtos poderiam ser mais acessíveis, porém compreende o porquê eles custam um pouco mais. “A gente tem que entender que eles não estão produzindo o que vendem, eles compram, por isso são mais caros”, conta.

CREDITOS: NAT&VIDAW


ECONOMIA

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BELEZA E BEM-ESTAR Segundo Associação Brasileira de Franchising (ABF), o segmento de Saúde, Beleza e Bem-Estar cresceu 17% no primeiro trimestre de 2017, levando em consideração o mesmo período de 2016. Em Aracaju, uma grande empresa do ramo é a Emagrecentro. Há mais de 31 anos no mercado e com sede em São Paulo, a empresa teve sua filial sergipana aberta em 2013. Viviane Lins, empresária responsável por essa filial, conta que a clínica foi bem recebida pelos aracajuanos. “De lá pra cá, apesar da crise que o Brasil passa, a gente só cresceu. Nós não tivemos problemas em relação a isso, aqui é cheio o ano inteiro”, afirma. O foco da empresa é o emagrecimento, mas ela também trabalha com toda parte facial e corporal. Além disso, recentemente foi aberto o “Espaço Fitness”. Segundo a empresária, a ideia surgiu dos próprios pacientes. “Quando uma pessoa faz atividade física voltada a estética, o resultado é muito melhor, então o espaço fitness foi montado devido as necessidades dos pacientes que não tinham tempo de malhar fora daqui”, explica Viviane. Antes da implantação do “Espaço Fitness”, o Emagrecentro já tinha um público fiel, “a academia, digamos, deu uma alavancada a mais. As pessoas não vem aqui só por conta desse novo espaço, é por conta do resultado (garantia) e porque a pessoa está tendo um bônus, ou seja, não precisa gastar mais, é uma cortesia da empresa”, conta. A clínica atende as classes de A a C, mas o público mais fiel é o da classe B. Viviane explica que o Emagrecentro tem uma tabela de preços diferenciados, o que justifica a clientela. Quando começou, a filial parcelava em até 6 vezes, e quando o número de parcelas aumentou, os serviços tornaram-se mais atrativos e acessíveis para os clientes. A empresária explica, ainda, que os gastos são grandes, mas o lucro compensa. “No ano passado, nós estávamos vendendo em média de 50 a 80 mil e nos últimos meses ultrapassamos 170 mil . O investimento tem dado tão certo que a empresa já tem uma meta para esse ano, alcançar 200 mil reais em vendas mensais”, comenta.

OS: EMAGRECENTRO CREDIT

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A OFERTA DE COMIDAS SAUDÁVEIS Seja por questões de saúde ou por um estilo de vida, as pessoas têm buscado uma alimentação mais equilibrada. Para a economista Roberta Lima, na área de alimentação saudável, o que mais está chamando atenção são os lugares para almoçar. “Como eu moro sozinha, o incentivo para cozinhar é pouco. Então almoço bastante em restaurantes. Daí notei que tem bons restaurantes de comidas vegetarianas e veganas”, afirma. Além desses restaurantes, tem a opção das marmitas. Congeladas, vegetarianas e veganas, elas atendem diversos gostos. De acordo com a economista, além de serem saborosas e saudáveis, o preço é razoável. “Quando

você não tem outra opção, você opta pelo que está perto. No caso da congelada, eu compro um pacote com cinco [refeições], que custa R$ 85, então cada uma fica por R$ 17, o que se aproxima dos restaurantes comuns”, explica. A estudante Luiza Allan, que é vegana há um ano, acha muito legal que os restaurantes tenham começado a vender marmitas veganas, pois os que não tem esse estilo de vida passam a ter novas opções. “É uma maneira de mostrar o veganismo e vegetarianismo para outras pessoas, mostrar que comida vegetariana e vegana é gostosíssima, que não é só salada e verduras (que tem tortas, doces, salgados etc), então é bom porque torna mais acessível”, argumenta. Larissa Valença, 19, estudante de Psicologia, é vegetariana há dois anos. Apesar de alterações na sua alimentação, os gastos são praticamente os mesmos. No entanto, ela explica que quando sai para comer em locais que costumava frequentar antes de se tornar vegetariana, os custos são muito mais altos. “Quando eu saio de casa, eu acho que gasto mais do que antes, porque eu compro coisas que não aproveito tanto. Por exemplo, eu adorava comer numa rede de restaurantes, mas lá não tem muito oferta para veganos, então eu peço o normal e como o que não tem carne. Daí a importância dessa oferta de comida voltada para o nosso estilo de vida, como é o caso das marmitas saudáveis”, complementa ACADEMIA Gian Sante, dono de uma academia em Aracaju, conta que há 22 anos não existiam muitas academias no estado, então ele viu a possibilidade de investir no ramo. A intenção dele era aumentar a renda, embora já trabalhasse como funcionário público há 12 anos. “Mesmo tendo salário certo, não sentia a estabilidade financeira satisfatória e resolvi arriscar. Risco calculado dentro de um planejamento criterioso, muito suor, dedicação, perseverança”, conta. Com o aumento do número de academias, Gian diz que a lucratividade não supre os investimentos. “Os lucros, antes desse boom de abertura de várias academias no estado, eram excelentes, mas agora a situação está bem complicada”, acrescenta. Any Karla, 22, estudante de Engenharia de Petróleo, ao contrário de Gian, acha muito bom o aumento de academias, pois as pessoa tem mais opções. Recentemente, por exemplo, ela está pensando em mudar de academia, ir para uma com a mensalidade mais barata. A estudante malha há dois anos. Embora não se considere totalmente fitness, dedica-se ao o máximo para ter hábitos saudáveis. Segunda ela, dá pra ser saudável sem gastar muito. “Pra ser sincera, uma alimentação que você come muita ‘besteira’ é mais cara que a saudável. A diferença é a facilidade, pois você não precisa preparar as coisas. Eu gosto de me alimentar bem, comida saudável me faz bem”, finaliza.


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FAZENDO A DIFERENÇA: PROJETO ESTRELAS DO MAR

Projeto utiliza o bodyboarding como ferramenta de inclusão social. São atendidas pessoas com e sem deficiência. Gonçalo Oliveira goncalodeon@gmail.com

OXTO ALVES

Voluntários, pais e alunos em momentos de oração.

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rium, na praia de Aruana, em Aracaju. Para muitos, esse representa o primeiro contato com a areia da praia e com a água salgada do mar, um momento que simboliza a liberdade de quem superou seus próprios limites. E para os familiares dos alunos assistidos pelo projeto, é muito gratificante ver seus filhos(as), sobrinhos(as), irmãos(as) e netos(as), antes solitários e retraídos, em momentos de tanta alegria.

hoje recebe tranquilamente a praia como uma segunda casa. Segundo Juliana, a filha não consegue dizer com palavras o quanto gosta do projeto, mas a satisfação fica evidente no seu comportamento. “Ela corre, entra no mar, dá para ver no rosto dela o quanto ela está se divertindo!”, disse a mãe. Histórias de superação como essa se multiplicam a cada novo encontro e servem de inspiração. Com orgulho, Byron relembra algumas delas. “Temos casos de pais que antes tinham

çado pelo Estrelas do Mar, Byron pode dizer que conseguiu realizar seu principal objetivo.

Cerca de 60 voluntários auxiliam o projeto de acordo com suas formações (enfermagem, educação física, psicologia, fisioterapia) ou no desenvolvimento de outras atividades como distribuição de lanches e acompanha-

vergonha de sair na rua com os filhos e hoje sentem orgulho por cada gesto e evolução. Crianças que não falavam, que ficavam em casa sem vontade de sair, e hoje acordam os pais porque querem vir para a aula. São pequenas coisas que nos fazem ver que mesmo diante das limitações, todo mundo é capaz”, ressalta. Hoje, com tudo o que já foi alcan-

mento dos alunos. Eles são capacitados para que compreendam os diversos tipos de deficiências, suas limitações e cuidados. Pedro Vitor Siqueira Barbosa, 27, é um desses voluntários. Há seis anos no projeto, ele conta que ajuda um pouco em tudo e que o amor é a sua principal motivação para estar lá todos os sábados. “Acredito que muitos volun-

“SER” VOLUNTÁRIO

OXTO ALVES

azer da diferença, igualdade. Da limitação, superação. Incluir sem excluir. É assim que o Projeto Estrelas do Mar, criado em 2011, busca ensinar bodyboarding a crianças, jovens e adultos, portadores ou não de necessidades especiais como autismo, paralisia cerebral e síndrome de down. A prática ajuda a desenvolver a coordenação motora e a socialização, assim como a trazer benefícios psicológicos. Além das atividades no mar, também são realizados momentos lúdicos com música e dança; há também a parte de fisioterapia, com o trabalho de alongamento; e por fim, o momento de oração. O projeto foi idealizado pelo policial militar e bodyboarder Byron Silva, que coordena a iniciativa ao lado da esposa Anne, também policial militar. Hoje, o projeto atende 85 alunos, dentre estes, 65 com algum tipo de deficiência e 20 sem nenhuma defiência. Nascido em família humilde, onde convivia diariamente com doze irmãos, dos quais dez foram adotados, Byron aprendeu desde cedo os significados da partilha, do respeito ao próximo e da inclusão. E após uma tragédia que vitimou o primo Ailton Silva, conhecido como Ailton Kostela, com quem mantinha o sonho de criar uma escola de bodyboarding para pessoas carentes, Byron resolveu fazer dos seus princípios, uma causa, da sua dor sua força para continuar. “Era um desafio. Eu sabia da carência de práticas públicas de inserção de pessoas com deficiência no esporte, e busquei com amigos um meio de colocar o projeto em prática. Achei que podíamos fazer algo pelos outros, fazer o bem, com alegria e com esporte”, disse Byron. Hoje, o projeto conta com cerca de 100 participantes, junto com familiares e voluntários, que reúnem-se todas as manhãs de sábado no Bar Sola-

SUPERAÇÃO – DOIS RADICAIS, UM SENTIMENTO Juliana Pio dos Santos, 50, é mãe de Maria Isabela Pio, 13, portadora de autismo. A menina, que antigamente não interagia e demonstrava agitação,

tários vêm participar com o intuito de ensinar algo, de passar algo para os alunos. Mas o que acontece é que nós, voluntários, aprendemos mais do que ensinamos. Questões de humanidade, respeito, carinho, aprender a conviver com as diferenças. É um trabalho que se transforma em amor e volta para você de alguma forma”, conta Pedro. Carla Marcela, 24, decidiu conhecer de perto o Estrelas do Mar antes de se voluntariar e ficou encantada com a iniciativa. “Adorei! É muito bonito o cuidado que eles têm com os alunos, a felicidade deles no mar. São pessoas que normalmente não teriam acesso a esse tipo de diversão, então estão todos de parabéns”, disse. O projeto não recebe apoio financeiro de nenhum órgão estatal ou federal, ou de empresa privada, e se mantém de doações da população e do valor arrecadado com a realização anual da Feijoada do Projeto Estrelas do Mar. Além disso, necessita constantemente de voluntários dispostos a fazerem a diferença. Para participar como aluno, voluntário ou quem desejar colaborar com o projeto é só entrar em contato por meio da página Estrelas do Mar no Facebook ou comparecer ao Bar Solarium durante o horário de realização das atividades. Para alunos e voluntários não é necessário saber utilizar o bodyboard, mas sim ter o desejo de ajudar ao próximo. É assim nas manhãs de sábado, um clima de interação, alegria e disposição toma conta da praia da Aruana, na altura do bar Solarium, na capital sergipana. As ações desenvolvidas pelo projeto são uma opção gratuita de diversão para crianças, adolescentes, adultos e idosos que desejam interagir e experimentar novos desafios no mar.


SAÚDE

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OS IMPACTOS DOS AGROTÓXICOS NA SAÚDE PÚBLICA O uso inadequado de defensivos agrícolas pode causar danos à saúde do produtor e do consumidor. Ana Clara Abreu anaabreu.1316@gmail.com

ANA CLARA

Os processos produtivos agrícolas em Sergipe e, principalmente, no Brasil estão cada vez mais dependentes do uso de agroquímicos na produção. Dessa maneira, o uso intenso e difuso dos agrotóxicos tem causado graves consequências à saúde pública, atingindo produtores rurais, trabalhadores de indústrias de defensivos agrícolas, além de comunidades situadas ao lado das áreas rurais que têm sido impactadas com a dispersão de venenos por meio da ação do vento e, por fim, os consumidores por meio da ingestão e do contato com alimentos contaminados. Segundo a lei dos agrotóxicos, Lei nº 7.802, esses agroquímicos são “produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos”. Esses produtos são classificados de acordo com sua finalidade. Os inseticidas que são destinados para uso em insetos, acaricidas para combate ao ácaro, formicidas para uso em formigas, fungicidas para fungos; herbicida para combater as plantas “invasoras” e entre outras. É importante pontuar que cada substância é destinada exclusivamente para uso em uma dada cultura ou praga. Mas, muitas vezes, por falta de conhecimento ou de orientação técnica, esses agroquímicos são usados de forma incorreta em culturas para as quais eles não estão autorizados, assim causando consequências à saúde humana. Os ingredientes ativos são classificados de acordo com as cores presentes nos rótulos das embalagens, do mais tóxico ao menos tóxicos. Da mesma forma como essas substâncias são classificadas de acordo com a sua taxa de toxidade, os efeitos e os

danos causados à população exposta a esses produtos também são classificados de acordo com o nível de intoxicação, que são a aguda, essa ocorre quando os sintomas surgem rapidamente, pouco tempo após o contato com produtos extremamente ou altamente tóxicos. Já a exposição crônica possui o sintoma tardio, que pode surgir após meses ou anos em que ocorreu a exposição, que foi moderada ou pequena ao produto. As consequências e os primeiros sintomas estão destacados no quadro abaixo. Além do uso intensivo desses produtos, a falta do Equipamento de Produção Individual (EPI) no momento da aplicação também tem contribuído para esses agravantes na saúde dos produtores. Segundo a Anvisa, em 2011 foram registrados mais de oito mil casos de intoxicação por agrotóxicos no Brasil. Foi devido a isso que o Ministério da Saúde decretou que a exposição humana a agrotóxicos é considerada importante problema de saúde pública. Um caso de intoxicação aguda ocorreu com o produtor rural, Raimundo dos Santos de 46 anos, morador da cidade de Salgado, que teve uma forte intoxicação causada por herbicida, o Roundup, que possui como princípio ativo o glifosato. Apesar de trabalhar como produtor desde os 21 anos de idade sempre teve pouco contato com esse tipo de substância, embora a intoxicação tenha ocorrido devido a um descuido, no ano de 2001, após ter emprestado a sua bomba de pulverização para um vizinho, que depois o procurou dizendo que seu aparelho não estava fazendo a aplicação do produto. Assim ao tentar solucionar o problema emergiu o braço dentro do aparelho que estava preenchido com a substância Roundup. Minutos depois começou a apresentar sintomas como tontura, e dentro de algumas horas, começou a inchar, surgiram bolhas de sangue nos pés, entre outros sintomas. Após vários dias internado no Hospital Cirurgia, na capital sergipana, foi diagnosticado por

um médico conhecido da família, que relatou a verdadeira causa da doença, a intoxicação por defensivos agrícolas, pois no momento da emersão do braço no aparelho a substância entrou pelos poros, deixando consequências até os dias atuais. Outro caso de intoxicação, ocorreu na mesma região, na cidade de Lagarto, com o Sr. Elias dos Santos, 39 anos, que desde os 23 anos trabalha como produtor rural em terra “arrendada”, produção em terras privadas através de remuneração. Há mais de 15 anos trabalhando com agroquímicos na produção de tomate, pimentão, laranja, entre outros. Com isso, há cerca de três anos, através do teste de colinesterase, oferecido pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (COHIDRO), foi detectado um elevado índice de veneno no sangue, devido ao contato constante com o produto e a falta de orientação técnica. Após o resultado foi acompanhado durante três meses pela equipe do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST). Diante disso recebeu orientação para evitar o uso desses produtos, mas, infelizmente, por necessidade continua até os dias atuais trabalhando no mesmo local, embora tenha reduzido o contato direto com o produto. Contudo, Sr. Elias sonha em ter um dia sua própria terra e em se tornar um produtor orgânico. Devido ao número de casos de agricultores intoxicados por insumos químicos na região o órgão que é responsável pela saúde do trabalho, o CEREST da cidade de Lagarto, tem atuado para prevenir a intoxicação por agrotóxico. Segundo Alexsandra Oliveira, coordenadora do centro, para prevenção desse tipo de contaminação, estão sendo realizadas desde o ano passado, palestras para orientar e incentivar o uso do Equipamento de Proteção Individual (EPI), assim como instruções para o momento de lavagem da roupa contaminada com o produto, além do descarte dos recipientes. Pois muitas


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vezes em visitas às residências foram encontrados os mesmos recipientes com água para consumo na geladeira, como também usado para guardar alimentos, entre outros. Visto isso a falta de conhecimento das consequências para toda a família é preocupante. Para intensificar ainda mais o cuidado com a saúde do trabalhador, o centro também promove capacitação para agentes comunitários de saúde para que estes possam atuar como intermediários, encaminhando para o CEREST os agricultores ao serem identificados com algum tipo de problema decorrente do trabalho. Em 2017 representantes do CEREST participaram de uma reunião na cidade de Simão Dias-SE, juntamente com o prefeito, secretário de saúde, associações e médicos da família, para que discutissem e fossem instruídos sobre como deveriam agir quando identificassem uma contaminação. Além disso, em parceria com a EMDAGRO realizam capacitações com produtores da região para apresentarem técnicas de manejo orgânico. Importante ressaltar o Fórum de Combate ao Veneno Agrícola em Sergipe (FCVAT), uma organização da sociedade civil, que envolve vários órgãos como Universidades, Secretarias de Agricultura, Embrapa, Emdagro e Ministério do Trabalho. Esses dois últimos atuam na área de fiscalização, assim como um dos órgãos responsáveis pela área da saúde, as Universidades, como a UFS e a UNIT. A coordenadora do FCVAT, Teresa Sena, relata que o uso intensivo desses agroquímicos pode causar graves problemas auditivos, inclusive afirma que existem vários casos no Estado.

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Isso ocorre quando o ser humano sofre uma perda seletiva da audição, em que é possível escutar, mas não consegue entender o que escutou. Contudo, no campo o objetivo do fórum é orientar o pequeno produtor para as práticas alternativas, como a orgânica e agroecológica, assim também oferecer outra possibilidade de renda para o produtor. Sabe-se que os insumos químicos, como já relatado, também impactam na saúde do consumidor, causando vários problemas. Isso ocorre com a atual produtora orgânica, Clenilda Barbosa, de 49 anos, que há algum tempo tem observado problemas ao ingerir algumas frutas convencionais como a pera, o abacaxi e a melancia. Com isso, para comprovar sua suspeita ela fez a experiência de ingerir o mesmo produto orgânico e não apresentou nenhum problema, embora ela não tenha feito exame nenhum para comprovar totalmente os efeitos. Atualmente, preocupada com sua saúde e de toda a família, só ingere produtos orgânicos, livres de agrotóxicos. AGROECOLOGIA COMO ESTRATÉGIA PARA UMA VIDA SAUDÁVEL. A agroecologia pode ser definida como um estudo da agricultura através de uma concepção ecológica, uma ciência que presa pelas questões ambientais, sociais, e culturais do campo. Assim, caracteriza-se como uma prática agrícola que prioriza a preservação dos recursos naturais, respeitando a natureza em todo o seu processo produtivo. Apesar de surgir em 1970, ainda é uma ciência muito nova, principalmente em Sergipe.

Com isso, a agroecologia é uma alternativa que busca reduzir os impactos causados pela agricultura tradicional, principalmente os impactos advindos do uso de agrotóxicos, pois seu uso intensivo para o controle de pragas, doenças e plantas espontâneas, afetam, eliminando os inimigos naturais, trazendo a contaminação dos alimentos e graves problemas de saúde ao produtor. A engenheira agrônoma e especialista na área agroecológica, Glaucia Barretto, explica que um dos benefícios da agroecologia é que o produtor não terá contato com substâncias tóxicas prejudicando a sua saúde e da família, além de começar a buscar uma nova educação alimentar, pois à medida que pensa na sua alimentação, começa a ter uma consciência da qualidade da alimentação do outro. Outro aspecto importante relatado pela agrônoma é que o modelo de produção da agricultura familiar deveria ser o agroecológico, pois o produtor é muito mais valorizado, além de haver uma construção de sensibilização, na qual ele compreende que todo o processo faz parte da natureza. Há também a valorização do seu produto, pois na agroecologia a venda é direta, na qual o próprio produtor comercializa seus produtos, eliminando a figura do atravessador que muitas vezes oprime os agricultores que vendem seus produtos por preços muito baixos. Outra vantagem da venda direta é o ato de confiança que é proporcionado ao consumidor, além do fato de que o produtor vai conseguir uma fiel freguesia, e assim, além da preocupação com a saúde, preocupa-se também com a alimentação dos seus clientes.

SINTOMAS DE INTOXICAÇÃO POR AGROTÓXICOS - Intoxicação Crônica DOR DE CABEÇA NÁUSEAS CONFUSÃO MENTAL CONVULÇÕES CÓLICAS ABDOMINAIS TREMORES ENTRE OUTROS

- INTOXICAÇÃO CRÔNICA VÁRIOS TIPOS DE CANCER PARALISIAS DEPRESSÃO ANEMIA DOENÇAS NO FÍGADO E NOS RINS PROBLEMAS IMUNOLÓGICOS EFEITOS DE REPRODUÇÃO ENTRE OUTROS


SAÚDE

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O CAMINHO ALTERNATIVO PARA A SAÚDE Por Fernanda Santero fernandasantos_1196@outlook.com

Reik e Terapia

A

Organização Mundial da Saúde (OMS), caracteriza a saúde como “um estado completo de bem-estar, físico, mental e social”. Em virtude da crescente demanda da população brasileira, por meios das conferências nacional a saúde, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS) visa ampliar desde do ano de 2006, o atendimento do sistema de Atenção Básica à Saúde utilizando as práticas de medicina tradicional, medicina tradicional chinesa e medicina complementar ou alternativa, aliadas a medicina convencional, com a ampliação. Essas práticas integrativas, de modo geral, são técnicas voltadas para o bem-estar completo do indivíduo de acordo com a OMS, caracterizada como qualquer tratamento ou cura que não tenha fins biomédicos. Desse modo, é importante ressaltar as diferenças entre essas práticas: a terapia alternativa é utilizada para substituição de práticas da medicina moderna, a terapia complementar tem por objetivo associar- se com a moderna. Já a prática integrativa é a utilização do conjunto da medicina moderna junto aos métodos complementares e alternativos. E, por fim, a medicina tradicional absorvida pelas próprias experiências dos indivíduos. A medida foi publicada no Diário Oficial da União, em março de 2017 tornando explícito os tipos de terapias alternativas que seguem as PICS, como a exemplo da musicoterapia, da meditação, da biodança, da naturoterapia, da oesteopatia, do reiki, da arteterapia e da auyrveda que tem por finalidade trazer a saúde e o equilíbrio vital do indivíduo. Neste sentido, acompanhe as experiências reais de pessoas que descobriram nas práticas alternativas e complementares um novo sentido para uma vida mais saúdavel.

ENERGIA DE AMOR QUE TRANSEmocionada, Mariana diz que a FORMA. prática complementar trouxe para A terapia Reiki é uma das iniciati- seu cotidiano a ideia do autoconhecivas do SUS que consiste em promover mento, algo que ela não tinha. E que uma melhor qualidade de vida para o hoje, no seu ponto de vista é o pribrasileiro. Criado pelo monge budista meiro passo para ter uma vida mais Mikao Usai tem por definição a cana- saudável. O terapeuta reikiano explilização do nosso campo energético ca que buscou em sua cliente “ a cura para estimular mecanismos naturais que vem de dentro” por meio do ato para recuperação da saúde, ou seja, de dialogar, no início a paciente tium sistema natural de harmonização nha muitas dificuldades em se expor da energia individual, não somente totalmente ao terapeuta, mas devido o espiritual, mas também o físico e o a sua alta disposição em sempre ouemocional. A própria etimologia da vi-la, mais tarde foi criada uma forte palavra explica bem, Rei (divino) e Ki relação de confiança. (energia vital). O instrumento da fala é imporCom o sotaque ainda forte, a en- tantíssimo para tratamento da degenheira civil Mariana Lobato, que pressão endógena, pois além dos meveio do Rio de Janeiro há nove anos dicamentos o ato de compreensão da por conta de trabalho, diz que o Rei- estrutura familiar e fatores marcanki a encontrou e trouxe para sua vida tes na vida do indivíduo auxiliam na um exercício diário de auto percepção. construção mais equilibrada da vida. “Na verdade, não o procurei, foi o Reiki “ Eu particularmente nunca gostei de que me encontrou, infelizmente em conversar muito e acredito que era um momento de muita dor por cau- justamente pelo medo de ser criticasa do meu histórico de depressão que da ou julgada por ser eu mesma. Você estava a gota d’água”, conta a jovem. descobre que o caminho pelo qual caO diagnóstico da doença foi minhava não era o ideal e então sem descoberto aos 17 anos, categorizada perceber a gente constrói um espaço como endógena, ela dispõe de fato- de consciência e aceitação”, revela a res determinantes constitucionais e engenheira. de origem biológica causada pela auDe modo geral, o reiki é visto sência de serotonina (o hormônio do como uma terapia de “ cura feita com humor), alterando o estado de ânimo as mãos”. No entanto ele é muito mais e não havendo relação direta com a que isso, é a transformação de um ser. história ou experiências do sujeito. A Quem recebe a terapia deve se conspartir daí a carioca enfrentou grandes cientizar que é um ato de permissão dificuldades como insônia, ansiedade, há um novo estilo de vida específico, o perfeccionismo e o stress. sendo mais leve diante das situações Os principais benefícios do Reiki diárias, através da alta percepção de segundo o especialista Vitor Almeida, si mesmo. “Eu particularmente o teé que ele sempre trará mais tranqui- nho como um farol, uma direção a selidade e realizará uma limpeza ener- guir no meu dia a dia”, expressa Vitor gética deixando a paciente mais leve. Almeida. Mariana Lobato foi uma das Como também, é possível encontrar beneficiadas da terapia reiki e conos locais de bloqueios, os chamados fessa, “antes eu tinha necessidade de nós energéticos – sendo capaz de eli- ser aceita, em tudo. E posso afirmar, minar toxinas, equilibrando o fun- feliz, que o reiki representa para mim, cionamento do corpo e o restabele- consciência”. cendo o fluxo da energia vital o Ki.


JORNAL CONTEXTO 58 A TRILHA DA ARTE.

colagem para o sujeito é a capacidade de estruturação do pensamento, pois “ele foca, tem um desejo, produz uma ideia, pensar em um caminho e por fim perpassa suas sensações através das gravuras, o que antes parecia ser vago e complicado”. A intenção do Diego é construí o seu próprio fio condutor instigando ao seguinte questionamento: quem sou eu. Através dos temas tratados, viagens, família, trabalho, amigos, comida. Maia comenta que em seu consultório recebe “crianças e muitos jovens com deficiência, como por exemplo, pessoas com hiperatividade, dislexia, transtorno mental, autistas e para melhores resultados a técnica se utiliza de recursos sustentáveis como pinturas feitas com café solúvel, mandalas construídas com lã e jornal, pintura em tela, biscuit, CDS, mosaico”, como também, dos sons e músicas. No caso do Brito não foi somente a colagem que se tornou algo importante em seu dia a dia, a escrita também. Uma das suas maiores expectativas, ao observar o caderno de colagem era a de conseguir um emprego. Orientado pela arteterapeuta e encorajado pela família hoje ele trabalha como estoquista numa loja e conta com grande satisfação nos olhos, “o pessoal gosta muitos de mim, nunca me chamaram a atenção e tenho uma relação de admiração mútua com o meu patrão”. De acordo com as PICS, arteterapia atua substancialmente na promoção da saúde, com objetivo de gerar no sujeito dedicação e tempo para si mesmo, a liberdade de expressão e também busca sustentar sua autonomia criativa, desenvolvendo tanto seu lado emocional quanto o social. Diego Brito é um exemplo de que o principal objetivo das práticas complementares está se tornando real. “ É algo inusitado, essencial e não abro mão, pois a arterapia veio para se somar tanto na minha vida como na de Diego. Vamos publicar um livro sobre a evolução dele neste processo e estamos ansiosos”, diz a Nielza Maia formada em pedagogia, especializada em psicopedagogia e arteterapia.

FERNANDA SANTERO

AS MENINAS DO SOL NASCENTE

FERNANDA SANTERO

A arte sempre foi vista como um meio de comunicação, pelo qual o indivíduo consegue expressar os seus sentimentos mais profundos. A arteterapia começou a desenvolver-se há mais de 60 anos atrás como uma forma de manifestação da humanidade, e atualmente está sendo usada na saúde, através do ato de ensinar alguém a curar-se através da própria arte. Refere-se de forma mais específica ao ato de ensinar alguém a curar-se através da própria arte. Dessa forma, a função do terapeuta está relacionada com fornecimento de um tema ao sujeito ou ele será convidado a criar sem nenhuma orientação. A medida em que se cria algo, o cliente relaciona com suas próprias experiências resultando na construção de símbolos. O indivíduo passa por um processo de autodescoberta, que é uma parte importante da recuperação, o que resulta numa maior compreensão, aceitação e autoconsciência de si próprio. arteterapia, esse método “é uma modalidade de trabalho terapêutico utilizada pelo sujeito para libertar sua própria criatividade. O Diego Brito, por exemplo, foi um dos beneficiados com o processo terapêutico. Desde a infância ele enfrentar as dificuldades de possuir transtorno mental e foi através da arteterapia que o rapaz encontrou significamente sua criatividade. “Particularmente, com a colagem eu me sinto um homem mais alto confiante, passei a acreditar em mim mesmo e a conquistar coisas que eu não imaginava”, diz Diego. Para fazer a arteterapia não precisa ser necessariamente ser um artista, pois diversos dos seus usuários praticam atividades voltadas a criação e, assim, muitas se realizam bastante neste mundo da arte como relata o rapaz, “ Eu gosto muito da colagem, é algo tão bom. Nas minhas sessões costumo pegar figuras de revista, propor um tema para minha psicopedagoga e fazer a colagem, como por exemplo, o natal, família, temáticas que eu gosto”. A Psicopedagoga, Nielza Maia conta que um dos principais benefícios da

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A utilização das plantas medicinais para o tratamento de doenças é desencadeada pela sociedade desde início da nossa existência. Há mais 60 mil anos as primeiras descobertas foram feitas, sendo a China o lugar com os primeiros registros fitoterápicos catalogados, o primeiro herbário da história. A Fitoterapia significa em grego “ tratamento vegetal” e volta a ganhar espaço na saúde pública, isso porque a medicina tida como alopata (convencional) desencadeou no indivíduo vários efeitos colaterais perante aos medicamentos que nem sempre são positivos. No Bairro Sol Nascente, na Unidade de Saúde da Família Manoel Souza Pereira foram desenvolvidas duas equipes de atendimento com médico, enfermeira, técnico em enfermagem e agente de saúde voltado para fitoterapia. O Herbário, que é uma coleção de plantas dessecadas e organizadas por uma ordem de classificação. Os estudos foram feitos para ampliação da utilização das plantas medicinais para a cura de doenças e discussões acerca das dificuldades enfrentadas pela ampliação das práticas integrativas, na unidade. Otília Silva, hoje com 60 anos afirma que “ ainda sofre com a falta de recursos principalmente para área de produção dos sabonetes e lambedores”. Dessa maneira, as agentes de saúde desenvolvem a terapia integrativa dentro da unidade, mais especificamente elas são responsáveis pela produção e aplicação das ervas. No ano de 2009, esses profissionais, fizeram o curso de especialização em fitoterapia na universidade federal de Sergipe, pelo qual tiveram acesso a palestras e aulas práticas, através do Movimento os planos para o futuro as meninas do Sol Popular de Saúde do Estado de Sergipe (MOPS).

Para Luzinete, “ O curso de Fitoterapia tem como objetivo ser multiplicador, ou seja, ensinar o nosso conhecimento para outras pessoas”. O trabalho desenvolvido no posto tem como fundamentação a terapia comunitária, esta consiste na troca de laços sociais, experiências, apoio emocional, e prevenção de doenças. Flavio Ferreira, professor de matemática, conta que conheceu a fitoterapia pela necessidade de cicatrização rápida. Ao voltar de uma viagem à trabalho, o sujeito sofreu um acidente de moto, sua perna teve um ferimento profundo atingindo o último estágio da pele, e relata “ O médico me disse que as feridas cicatrizaram no período de 60 dias, entretanto, a agente Otília me indicou a babosa como recurso preventivo mais rápido devido ao estado da minha pele, em três semanas já podia notar a melhora ” disse Ferreira. Na medicina natural, a babosa é conhecida pelo seu alto poder cicatrizante, pertencente à família Asphodelaceae, ela pode ser aplicada de forma pura (a geleia) sobre ferimentos, cortes, acnes, queimaduras formando uma camada de proteção e promovendo uma melhor saúde para a pele. Todavia, o seu uso não deve ser prolongado, o intervalo de tempo se faz necessário. Otília ressalta, “o resultado da fitoterapia é um processo lento (a depender do caso), por isso, sempre mencionamos a relevância da medicina convencional. Para a agente comunitária Luzinete, a fitoterapia proporciona uma alternativa para as pessoas que não desejam tomar remédios e buscam uma vida mais saudável. E quando perguntada sobre Nascente dizem que “pretendem cria um projeto fitoterápico e herbário para atender principalmente o povoado carente da região, o alok”.


CULTURA

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A TERAPIA CLANDESTINA DA LITERATURA Creio que uma forma de felicidade é a leitura. Outra forma de felicidade - menor - é a criação poética, ou o que chamamos de criação, mistura de esquecimento e lembrança do que lemos.” (Jorge Luis Borges). Netto Ribeiro albertodesouza.lisboeta@hotmail.com

Moça com livro,do pintor Almeida Junior, 1879

D

ecerto, o tipo de leitura de que fala o escritor argentino no pensamento acima não é a de autoajuda. Borges era defensor dos sonhos e da personagem Sherazade do clássico As mil e uma noites. E para ele, essa literatura, a dos sonhos, proporciona felicidade. De modo que a ficção propõe mil e um contextos e situações humanas, experiências que nos apresentam uma gama de possibilidades e ações em que podemos fazer uso para lidar com os variados problemas do dia a dia. O que os livros com formas prontas e manuais para o bom viver não proporcionam. Sobreviver aos dias, assim como sobreviveu Sherazade, presa no palácio do sultão, contando estórias e criando personagens durante mil e uma noites para escapar da morte. Estamos no segundo mês do ano e os livros de autoajuda já aparecem nos primeiros lugares entre os mais vendidos no Brasil, conforme indica o site Publishnews. Em 2017, os livros “Batalha Espiritual” do Padre Reginaldo Manzotti e “O Homem mais inteligente da história” do ícone da autoajuda no país, o psiquiatra Augusto Cury, ocuparam o primeiro e terceiro lugar nas vendas, respectivamente. Um crescimento que teve influência do período de crise política e financeira em que o país viveu nos últimos anos. O que já previa-se, segundo dados da consultoria GFK, empresa alemã que é referência mundial em estudos de mercado, publicados em site da Veja em 2015, que apontaram a resistência das vendas desses títulos apesar do período turbulento na economia. Esses livros, geralmente fornecem receitas: como ter um casamento blindado, como vencer a ansiedade, sete

passos para ficar rico, o que fazer para encontrar o parceiro perfeito. Uma infinidade de modelos prontos para a resolução de situações que afetam o ser humano - o que é muito atraente. Mas será que resolve? Tendo em vista que o ser humano é um animal complexo e, que o mundo funciona como um tabuleiro de xadrez com infinitas possibilidades? Não seria a literatura - palavra artística - em suas variadas formas, mais eficaz na transformação de um ser ético, ensinando valores de maneira versátil? Qual seria o poder desta manifestação artística na transformação do caráter do homem, na vida das pessoas, e até na saúde mental? Precisaremos recorrer a alguns personagens, da vida real, que convivem, vivem, e sobrevivem da literatura, para entender como ela age, e quais as suas contribuições para o indivíduo. Clarice Lispector dizia que “a solidão é um luxo”. E era nesse luxo bom, mas com um bocado de nervosismo, que a espera para conversar com a primeira personagem se deu. Por telefone, avisou a sua chegada. Gravador e bloquinho de notas na mão, fui ao local combinado. Quando a vi, senti como se estivesse abrindo um livro e quando ela começasse a falar o encantamento seria certo, o próprio fato estético, o momento em que o leitor descobre o livro. Sobre uma das cadeiras do café, a bolsa de Christine Arndt chamava a atenção… CAPÍTULO I, CLARICE ESTAMPADA NA BOLSA “O romance é uma segunda vida.” - Christine Arndt é graduada em Letras

Português/Francês e doutora em Educação pela UFS (Universidade Federal de Sergipe). Também é professora do Departamento de Teatro da instituição e estudiosa da literatura produzida no século XVIII. Além disso, participa de vários grupos de pesquisa entre literatura, filosofia e humanismo. Com toda essa bagagem, sem contar a experiência de estágio que viveu na terra de Victor Hugo e Balzac, grandes escritores da literatura universal, ela está convicta de que o romance nos permite viver uma quantidade de situações e experiências que jamais conseguiríamos fruir durante o curto tempo de vida que temos. Sobre a abertura dessa possibilidade ela explica: “...esquece-se da vida à leitura de um bom romance; todo o universo ao redor daquele que frui da experiência estética da leitura, o universo verdadeiro, cede lugar ao universo fictício. Tal impressão chega a causar na pessoa que lê a sensação de que essa segunda vida, a fictícia, é mais real do que a verdadeira. Nada mais, àquele momento, importa; um mundo novo se revela palavra por palavra, frase por frase, página por página. É nesse sentido que eu atribuo ao romance essa capacidade de proporcionar o ganho de uma segunda vida, que possibilita um mundo completamente novo.” O acesso a essa vivência de “segunda mão”, no mundo fictício, leva o leitor a enxergar situações, imagens, através do olhar das personagens, a partir de suas crenças, dos seus costumes, formas de pensar, de suas condições de vida. Este contato com “a outra vida”, desperta ao mesmo tempo a nossa razão e a nossa emoção, “...porque quando a literatura tem esse papel, que ao meu

ver é uma de suas funções, de nos formar, ela atinge, ao mesmo tempo, necessariamente, nós leitores: nas nossas paixões, porque nos faz sentir coisas; e na nossa razão, porque ela nos ensina sobre essas coisas que nós sentimos”, completa.

“A literatura não vai resolver os nossos problemas, pelo contrário, ela nos dá problemas para resolver”. Para a professora, as funções da literatura vão além de causar um efeito agradável, uma catarse, e nos fazer esquecer dos problemas cotidianos. Conta que no século XVIII os filósofos não ditavam regras fechadas para apresentar aos leitores um meio de atingir uma sociedade mais justa, por exemplo. Eles faziam isso através das personagens de romance, estas, eram o exemplo vivo do pensamento dos autores, e cabia aos leitores tirarem suas conclusões a partir das ações delas. Segundo Christine, na literatura a moral é posta em exercício, em que você opta pela defesa de um ou de outro personagem, de modo que nessa atitude, há transmissão de valores morais, e o caráter do indivíduo está sendo formado. Lembro que na conversa rápida que tivemos no dia anterior - que seria

o da entrevista, mas achamos melhor remarcar por ter sido um dia cheio para nós dois -, a primeira opinião que Christine lançou sobre como a literatura agiria na resolução dos problemas das pessoas, e que interessou-me muito, foi: “A literatura não vai resolver os nossos problemas, pelo contrário, ela nos dá problemas para resolver.” Apresenta situações que provocam a reflexão. Quanto mais desafios, mais preparados para lidar com as variantes da vida, e esses desafios são proporcionados pelas tramas literárias. “Quanto mais bagagem literária a gente têm, no que diz respeito à fruição de romances, contos, novelas, poemas, mais possibilidades de ação a gente têm, por quê? Porque a gente viveu experiências que, talvez, na nossa vida a gente não viveria e essas experiências nos formam”, diz a doutora. Na segunda vida que a literatura nos dá, fornecendo uma gama de experiências que provocam a análise moral através das personagens e, por consequência disso ajuda na construção da personalidade e de um ser mais ético, Christine, também vê nessa função da palavra artística - inserir-nos num novo mundo -, um meio de melhoria na saúde mental e do corpo do indivíduo. Porém, não no sentido da literatura como terapia, o que ela é contrária, mas nesse movimento de análise reiterada das emoções, o que segundo ela, “...leva a um amadurecimento que ajuda na compreensão da vida verdadeira”. A autoajuda direciona-se a resolver os problemas. A literatura ficcional, diferentemente, atua como se fosse um espelho da vida real, que faz o ser enxergar a vida através de uma pluralidade de representações da realidade,


JORNAL CONTEXTO 58 e a partir delas refletir sobre sua vida. Nesse sentido, Christine reafirma que não é o papel da arte da palavra funcionar como terapia, mas ela auxilia terapeuticamente, por assim dizer, quando nos faz pensar o mundo de maneiras diferenciadas. Pensamento que também vale quando o assunto é o ato de escrever. Não é muito difícil ouvir de alguém que, ao passar a escrever começou a sentir-se melhor. Conheço um figuraça na minha misteriosa e literária Lagarto - um jovem headbanger que passou por um período obscuro na vida e agora compõe canções - que recentemente confessou a mim: “Eu consegui sair da minha depressão.” Acredita Christine, que por as dores no papel causa um efeito terapêutico para algumas pessoas. “Pensando em nós mortais isso tem um efeito purificador, muito próximo ao que propõe Aristóteles, quando fala da catarse, que a tragédia gera uma catarse no ser humano”, analisa. O que parece que funcionou com o meu amigo metaleiro em algum nível. Mas para a pesquisadora, existe algo mais importante e que vai além disso no caso dos grandes autores. Comenta que Virgínia Woolf e o poeta Augusto dos Anjos, por exemplo, valiam-se de seus conflitos existenciais em seus textos, mas esse ímpeto não era apenas uma forma de alívio para as dores que sentiam, existia neles um engajamento, uma escolha prévia consciente pela literatura como arte. E esclarece: “Escrever não é para resolver apenas a dor, é uma tomada de posição no mundo.” A conversa estava boa e indo-se para o final, e eu resolvi falar de autoajuda. Não foi de todo ruim. Ela reafirmou que não vê eficácia no imediatismo desse tipo de literatura, e que o caminho é “...problematizar ainda mais as coisas”. E fez uma reflexão relevante acerca do que tem levado à escolha desses títulos: “O sistema capitalista que a gente vive, vende uma ideia de que se a gente quiser, é capaz, então, quando a gente não consegue, fica subentendido, em função do sistema, que não conseguimos por uma incapacidade nossa. E isso tem toda uma razão de ser: fazer com que as pessoas pensem que são capazes para que trabalhem mais,

para que a engrenagem rode, para que o capital cresça, para que alguém possa acumular lucro, e a pessoa passe o tempo inteiro nessa engrenagem sem se questionar.” Nossa personagem, finalmente, proclamou a valorização da literatura em todas as esferas. Elevou o poder da boa leitura: “Quanto mais literatura a gente lê, mais a gente consegue resolver as nossas dores.” Falou de Anna Kariênina... Eu soube de sua defesa à Felicidade Clandestina, num debate em contraponto à autoajuda - não por acaso trazia Clarice Lispector estampada na bolsa. CAPÍTULO II, UMA ENTREVISTA POR OUTRA Precisava de uma fonte diferente. Talvez um artista. Pensava, por caminhos lógicos variados. De repente, recebi uma ligação, corriqueira, mas quando acontece é sempre inusitado Afonso Augustto. Afonso é poeta, músico, e fundador do Sarau da Caixa D’água em Lagarto. Atualmente, apresenta um programa cultural sobre música e poesia numa rádio comunitária da cidade todas às quintas à noite: o Sarau Na Juventude, na Juventude FM. É um programa de entrevista, em que ele, artista, recebe outros artistas. Quando ele me ligou, na quinta, deduzi fácil que queria que eu fosse ao programa, já não havia podido ir numa vez anterior, ia rejeitar, mas num acesso de bom raciocínio e receio de negar novamente, não hesitei: “Será uma entrevista por outra!” Duvido que alguém no mundo tenha conseguido uma fonte tão rápido ao telefone.

“Escrever não é para resolver apenas a dor, é uma tomada de posição no mundo.”

Cumprida a minha parte no programa dele, começamos o papo. Para o músico, a literatura teve um papel crucial no surgimento do evento realizado na “Praça da Caixa D’água”, o motivo principal da festa ter nascido. “A literatura foi a reunião de pessoas, sentimentos, pensamentos e pessoas em comum, ali, havia uma inclusão de todos que faziam, que liam poesia”, diz orgulhoso. O evento poético debaixo da caixa d’água no centro da cidade, serviu de influência para várias manifestações artísticas pelo interior do estado, a exemplo do Sarau do Coreto, realizado em Simão Dias. É evidente que a literatura aproxima, inclui, e tanto o relato do surgimento quanto a percepção do organizador do evento sobre o público que frequenta a festa, ajuda-nos a entender como essa função inclusiva da poesia manifesta-se, ainda que por meio indireto. Segundo Afonso, ali, é um espaço onde os discriminados, os “deslocados”, que curtem um som mais alternativo, acabam encontrando seus pares, e completa citando um trecho de Mais do Mesmo da Legião Urbana para explicar esse sentimento do grupo: “Eu realmente não sabia que eu pensava assim.” A poesia motivou o jovem músico a buscar espaços para expressar-se artisticamente. Antes do Sarau, encontros como o “Ajunta Tudo” e “Gente, Bares & Poesia” eram os pontos de respiro literário dos jovens na cidade. “A gente batizava esses eventos com alguns nomes, mas nada mais eram do que reuniões, onde a galera queria se fazer inclusiva”, me conta. Essa possibilidade da literatura agiu também sobre ele: “Eu sou fruto disso!”, e continua: “Descobri a poesia através do Rock n’ Roll, me chamava primeiro a atenção o que as letras diziam. O ritmo era instigante? Era instigante, mas, sendo assim associado com poesia atraente, que dizia o que eu sentia, era a mistura explosiva que eu precisava para me encontrar”, satisfeito. Sobre a função humanizadora da leitura, o poeta é categórico: “Quem lê, reflete! Quem lê, come! Quem lê, se alimenta! Quem lê, bébe! Quem lê, se coloca no lugar do outro.” Compara o

13 conhecimento com uma peça de brinquedo, em que adicionam-se outras, “agregando”, e construindo nova perspectiva. Nesse “brincar”, trocando as peças, vamos nos tornando melhores, através das experiências, da leitura. Concorda, assim, com a personagem do capítulo anterior. “Eu ainda acho a leitura a melhor maneira de se penetrar na realidade.” Em 2005, Afonso lançou “Labirintos da Percepção”, um livro cheio de influências místicas em parceria com um amigo. Não acredita no escritor que não deseja publicar, para ele engavetar os textos não satisfaz completamente quem escreve, é preciso compartilhar com as pessoas, para se sentir mais confortável. “Tem coisas que a linguagem comum não expressa, aí vem a poesia, as abstrações das palavras, isso traz paz de espírito, diagnóstico de alguns males, então escrever é sim, saudável.”, acrescenta.

“Quem lê, reflete! Quem lê, come! Quem lê, se alimenta! Quem lê, bébe! Quem lê, se coloca no lugar do outro.” Vê a autoajuda como uma ferramenta de adestramento. “É uma pílula pronta essa literatura.” Para o vocalista da Versos e Morfina, esse tipo de leitura apresenta um caminho limitado que diz ser o do bem: “Assim, assado e cozido!”, “Um remédio”, afirma. Suas influências giram em torno de Oscar Wilde, a reclusa Emily Dickinson, The Doors Of Perception - livro sagrado, e até o desavergonhado Charles Bukowski. Pai de uma menina dos olhos vivos, depois da conversa, quis, mas não pode, tomar uma cerveja comigo por motivos de força maior. CAPÍTULO III, A MENINA DO BOQUIM

Povina Cavalcanti, ilustre escritor e conferencista carioca, escreveu Hermes Fontes, Vida e Poesia. Uma obra comovente sobre a personalidade marcante do poeta boquinhense, inclusive, considerado por Povina e por escritores como Monteiro Lobato e Olavo Bilac, um dos maiores poetas do país, que fora injustamente marginalizado. Pouca gente deve saber disso, mas com certeza, Hemilly Souza, sabe. Apaixonada por literatura, a conterrânea de Hermes Fontes, expressa da seguinte forma a sua relação com a literatura: “A literatura em minha vida tornou-se algo, qual não posso viver sem.” Ela, conta que sente uma incompletude, quando não está em contato direto com a leitura, mergulhando num daqueles mundos. “O ato de ler costuma ser uma válvula de escape diário, um ritual que faz-me renovar as forças”, diz Hemilly. Nossa personagem da vez é membro da Roda de leitura Hermes Fontes, projeto idealizado, por uma mulher não menos sensível, a bibliotecária Maria Caitana. Na Roda, que ocorre mensalmente, há apresentação de livros, leitores discutem obras, críticas literárias, recebem escritores e, segundo a nossa menina: “...uma vastidão de coisas maravilhosas que apenas o universo amplo da literatura é capaz de nos dar”. Foi através da leitura que Hemilly conheceu o feminismo, e passou a tomar partido na suas lutas, algo de que se orgulha muito. Entre as leituras preferidas, não poderia faltar Hermes Fontes, mas ela ainda cita nomes como a poetisa Cecília Meireles, Rupi Kaur e Machado de Assis, e exclama: “Minha gratidão a esse vasto universo da literatura!”, paixão que empolga, vindo de uma menina com menos de 18 anos. A cidade da Fonte da Mata, recorte de natureza eternizado na poesia de Hermes, é um exemplo a ser seguido. Ficaria O Menino do Boquim emocionado, em se saber lembrado pelos seus. Por uma profissional dedicada e uma leitora sensível, uma menina do Boquim. “Eu não concebo nenhuma obra separada da vida” dizia o surrealista francês Artoud. Literatura é arte, é vida. Uma forma de felicidade. Clarice diria: clandestina.

An Open Book, do surrealista russo Vladimir Kush


COMUNIDADE

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PROGRAMA VIDA SAUDÁVEL PROMOVERÁ ATIVIDADES NOS CRAS DE ARACAJU FOTO: IGOR ROCHA

As atividades voltadas aos idosos realizadas no Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) beneficiarão 650 idosos na capital sergipana. Dona Maria Nalva (esquerda) ao lado da sua amiga Sônia Maria.

Criado pelo Ministério do Esporte, o programa tem prazo de 2 anos e atenderá 650 idosos na capital sergipana

Igor Rocha imatias96@gmail.com

O

programa Vida Saudável, desenvolvido pela Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social (Snelis) atenderá na cidade de Aracaju 650 idosos a partir deste ano. Com previsão para começar em março, o programa funcionará nas 16 unidades do CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) e terá, além das atividades físicas, atividades educativas, culturais e de lazer, estimulando a convivência social do idoso. Segundo Valdiosmar Vieira, Secretário Adjunto da Assistência Social, o programa estava parado na gestão anterior e foi recuperado agora, com a ajuda do Secretário da Juventude e do Esporte, Jorge Araújo. “Ele já existia quando assumimos a prefeitura só que era um projeto que estava emperrado, sem continuidade. O secretário de esporte, Jorginho, junto com a equipe dele, conseguiu retomar o financiamento do programa”, conta. Ainda segundo Valdiosmar, o pro-

jeto foi modificado para que mais idosos fossem atendidos. “Como cada núcleo pode ter um subnúcleo, para que nenhuma área fique descoberta, nós vamos ter os 10 núcleos que já faziam parte do projeto inicial e vamos desmembrar mais 6 subnúcleos porque assim a gente consegue atender a todos os CRAS”, diz o secretário Mesmo voltado para o idoso, o programa Vida Saudável atenderá também as pessoas que moram nos locais onde ficam os CRAS. “Um dado importante é que apesar de ser prioritariamente para quem tem mais de 60 anos, o projeto tem uma nuance, uma especificidade muito legal porque quem acompanhar esse idoso também poderá participar. Se tem um filho, um neto que vai com o idoso, ele também vai poder participar”, ressalta Valdiosmar. Segundo Marta Lopes, 56, Assistente Social do CRAS do Lamarão, região norte de Aracaju, o programa contribuirá de forma positiva para a qualidade de vida do idoso. “Pelos testemunhos deles, pela atividade que a gente faz, eles se sentem muito bem. Eles dizem que estão bem melhor. Eles falam: Eu estou aqui e não penso em nada dos

problemas de casa...Eu me sinto bem, eu gosto de estar aqui”, conta. É o caso do senhor Antônio Casemiro, 72, que frequenta o CRAS do Lamarão e diz como a atividade física contribuiu para a sua saúde. “Eu não sentia dor nenhuma, só depois que peguei a Chikungnya. A atividade física me ajudou muito. É muito bom porque você entra com uma dor no braço, uma dor na perna, quando você sai, sai bom”. O professor de Educação Física, Josimar Camacho, 31, trabalha com o grupo de idosos a aproximadamente um ano. Ele relata que “nessa faixa etária ocorre um declínio de força muscular, problemas como diabetes, hipertensão. A atividade física contribui para minimizar esses problemas, tanto para melhorar a circulação sanguínea e a respiração, quanto para o fortalecimento muscular, que é um dos grandes problemas nessa faixa etária”. Alternando entre atividades internas e externas, o programa poderá passar por adequações que atendam as características de cada idoso. “As atividades esportivas já vêm com material próprio para ela. Isso foi pensado antes e é claro, como qualquer outro proje-


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to, quando você vai colocar na prática, por semana, no máximo três dias por pode ser identificado coisas que talvez semana.”, diz o secretário. não deem certo ou que precisem ser A psicóloga, Manuela Abreu, 33 adaptadas”, afirma o secretário. anos, conta que a convivência com ouCom 52 idosos, o Centro de Refe- tros idosos é muito importante para rência do Lamarão possui atividades saúde mental do público da terceira voltadas à terceira idade sempre às idade. Com as atividades todos os dias, terças-feiras, no horário da tarde. Com essa interação será mais frequente. a implantação do programa Vida Sau- “Hoje a gente sabe que não é bom para a dável, a unidade terá atividades todos saúde do idoso que fica parado em casa, os dias. “Nos núcleos a ideia que eles só assistindo televisão. Estar em grupo tenham atividade todos os dias. Pode ajuda muito a saúde mental porque não ser todos os dias dentro do CRAS, eles fazem amizade, interagem entre si. mas em outras partes da comunidade. Isso é importante”. Nos subnúcleos é que a gente está penDona Iranildes Alves, 69 anos, sando realmente em alternar dois dias conta que sua vida melhorou cem por

cento desde que começou a frequentar o CRAS, no Lamarão. Ela diz gosta das atividades do CRAS e se sente feliz. “A gente faz passeios na praia, no parque da sementeira. Tem o forró, o carnaval. É muito bom!”. Já a senhora Maria Nalva, 84 anos, lembra com precisão a primeira vez que foi ao CRAS. Era 13 de julho de 1991. Ela relata que não costuma praticar exercícios devido a problemas nas ar-

15

ticulações, mas que vai a todas as reuniões. “Me sinto bem, Ave Maria, acho ótimo. Conheci pessoas que não conhecia. Vou para lugares que antes não conhecia. Desde os 30 anos que eu frequento o grupo de mães. Depois passei a frequentar o grupo de idoso. Aprendi muitas coisas que não sabia e me sinto feliz”. Para Valdiosmar, o foco do programa está relacionado tanto a saúde

física e emocional, quanto no fortalecimento do vínculo familiar e comunitário. “A comunidade, ao ver um grupo de idoso participando de tantas atividades, começa a enxergar-los com outro tipo de olhar, outro tipo de valorização. Com isso, essa pessoa idosa acaba sendo estimulada a melhorar a sua alto-estima. Isso que é importante para gente.”

FOTO: IGOR ROCHA

O QUE SÃO OS CRAS? Os Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) são responsáveis por organizar e oferecer serviços de Proteção Social Básica em áreas de vulnerabilidade e risco social. É responsabilidade do CRAS apoiar ações comunitárias, através de eventos, palestras e campanhas, trabalhando junto com a comunidade para encontrar soluções para problemas como falta de acessibilidade, violência no bairro, trabalho infantil, falta de transporte, etc. Além disso, os CRAS ofertam o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (Paif), Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) e orienta os cidadãos s sobre os benefícios assistenciais como cadastros em Programas Sociais do Governo Federal.

TIPO

1

NÚCLEO

SUBNÚCLEO 2

NÚCLEO

3

SUBNÚCLEO NÚCLEO

4

SUBNÚCLEO NÚCLEO

SUBNÚCLEO 5

NÚCLEO SUBNÚCLEO

6

NÚCLEO SUBNÚCLEO

CENTRO DE REFERÊNCIA (CRAS)

CRAS ANTÔNIO VALENÇA ROLLEMBERG CRAS JARDIM ESPERANÇA CRAS MARIA DINÁ MENEZES CRAS SANTA MARIA CRAS MARIA JOSÉ MENEZES SANTOS CRAS PORTO D’ANTA CRAS PROFESSOR GONÇALO ROLLEMBERG LEITE CRAS ENEDINA BONFIM CRAS TEREZINHA MEIRA CRAS MADRE TEREZA DE CALCUTÁ CRAS JOÃO DE OLIVEIRA SOBRAL CRAS CARLOS HARDMAN

BAIRRO

Valdiosmar Vieira, secretário adjunto da assistência social FOTO: IGOR ROCHA

FAROLÂNDIA

INÁCIO BARBOSA 17 DE MARÇO SANTA MARIA PORTO D’ANTA PORTO D’ANTA JOSÉ CONRADO DE ARAÚJO

FOTO: IGOR ROCHA

O senhor Antônio Casemiro destaca que as atividades físicas são boas para manter uma vida saúdavel

AMÉRICA VENEZA I JABOTIANA SANTOS DUMONT SOLEDADE Dona Iranildes Alves conta que sua vida melhorou cem por cento desde que começou a frequentar o CRAS, no Lamarão


EDUCAÇÃO

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EDUCAÇÃO EM SERGIPE: ENSINO INTEGRAL NA REDE PÚBLICA

N

o primeiro semestre de 2017, começou a ser implantado no Brasil o ensino em tempo integral; no qual o estudante passa aproximadamente oitohoras por dia na escola. Atualmente, o país conta com experiências positivasem seu novo modelo de ensino.Neste ano, por exemplo, o maior número de aprovados no Sisu vem do ensino integral, com aproximadamente 350 alunos sendo contemplados na primeira chamada do Enem. Em Sergipe o Ensino Integral já é realidade. Hoje já são 17 unidades escolares que oferecem esse tipo de ensino. Segundo a Secretaria de Estado da Educação (Seed), até o final 2018 Sergipe terá 42 unidades escolares transformadas em Centro de Excelência com a atuação do ensino em tempo integral. Atualmente, são 3.251 alunos matriculados no ensino médio em regime de tempo integral em Sergipe. Nas unidades de ensino, são distribuídas diariamente três refeições aos estudantes e o cardápio é específico. Os Centros de Excelência abrangem a infraestrutura, alimentação e suporte pedagógico. Este modelo de Educação Integral é a concepção que compreende que se deve garantir o desenvolvimento dos sujeitos em todas as dimensões. Uma das primeiras instituições que começou a trabalhar com esse modelo de educação aqui no estado foi o Instituto Federal de Sergipe (IFS). No IFS, o aluno que sai do nono ano do ensino fundamental pode se matricular no ensino médio de forma integral. Ao se formar, o estudante sai com os diplomas de ensino médio e profissionalizante. O Instituto Federal de Sergipe (IFS) da cidade de Itabaiana trabalha com essa modalidade de ensino desde 2012, combinando o ensino médio regular com o profissionalizante, como explica o diretor do IFS, Lúcio Gama. “O IFS é uma instituição que trabalha com o ensino integral desde 2012, aqui o aluno sai direto para o

mercado de trabalho, pois além do nível médio ele tem uma formação profissionalizante de qualidade”, explica. Nesse modelo de ensino, além de serem aplicados os assuntos problemáticos de um modo diferente, os discentes praticam atividades físicas e fazem suas refeições, tomam banho e descansam na própria instituição. O IFS

grama de Assistência Estudantil. “Nós aqui do campus, não servimos diretamente as refeições diárias aos alunos, mas possuímos a Assistência Estudantil por onde vários alunos obtêm o auxilio alimentação. Nós damos prioridadeaos alunos que estudam no ensino integral, já que eles passam o dia todo na instituição”, esclarece Lucio Gama.

colégio.“No começo foi difícil para me adaptar, dormia nas aulas e chegava muito cansada em casa, mas como passar do tempo fui me acostumando. Demorou um pouco, mas é muito bom. Gosto de ficar na escola o dia todo. Lá, além de estudar, praticamos exercícios físicos. Porém,há sim dias em que chego cansada em casa”, explica.

tem um projeto pedagógico diferenciado. Além da didática em sala de aula, os alunos participam de atividades físicas e visitas a campo; assim como, também há momentos de diversão,onde o aluno pode esquecer um pouco da sala de aula. A instituição possui psicólogo, assistente social e enfermeiros a disposição dos alunos. O IFS de Itabaiana não possui uma cantina para servir as refeições aos alunos, mas possui o Pro-

Qualidade de vida no Ensino Integral Passar o dia todo em uma escola pode ser muito cansativo, masos alunos se acostumam e logo vema mudança tanto na disposição no corpo quanto no aprendizado. A estudante Victória Oliveira do Colégio Atheneu que está ha dois anos no ensino integral demorou um pouco para se acostumar quando se matriculou no

Quem partilha da mesma opinião é o estudante Kauã Oliveira, da Escola Estadual Jornalista Paulo Costa. “Eu participo do programa Mais Educação, no começo eu dormia na sala de aula, o cansaço era muito, mas com o passar do tempo me acostumei. Saio de casa 7 da manhã, tomo café lá, participo de atividades para estimular o aprendizado, almoço e lancho na escola. Passamos o dia todo estudando, mas há mo-

mentos de distração também”, explica. Nos Centros de Excelência, uma das mudanças feita na vida dos alunos foi em relação à alimentação. Boa parte dos estudantes não se alimentava direito, muitos saiam de casa com fome e faziam apenas um lanche para substituir a refeição. Victoria Oliveira fala como foi a mudança dos hábitos alimentares. “Muitas vezes eu não queria comer em casa, acabava comendo besteiras na rua. Assim que comecei a estudar no Atheneu tudo mudou, me dei conta que estava acabando com minha saúde comendo lanche em lugar de almoço. Lá no colégio a gente faz um lanche durante a manhã, almoçamos e lanchamos à tarde. Minha alimentação mudou totalmente e já vi a diferença na minha disposição”, afirma. Leandro Santos Oliveira, do Colégio Estadual Djenal Tavares de Queiroz da cidade de Moita Bonita, está muito otimista em relação ao ensino integral. O colégio vai aderir ao modelo em 2019 e ele que estuda no nono ano não vê à hora disso acontecer. “Estou esperando o colégio aderir ao modelo integral, pois tenho certeza que passando o dia todo na escola minha vida vai mudar. Farei minha alimentação na hora certa, vou praticar atividade física e minha rotina vai mudar, assim como minha qualidade de vida”, diz. O diretor do IFS, Lúcio Gama, fala das mudanças que observa nos alunos ao decorrer do ano na instituição. “Quando os alunos entram aqui, podemos observar que com o passar do tempo eles vão mudando todos os seus hábitos alimentares e projetos para o futuro. Eles recebem o Auxilio Pedagógico, mas as maiorias dos alunos trazem seu almoço de casa, almoçam aqui e tomam banho na instituição. Um exemplo de mudança na qualidade de vida é que os alunos saem daqui com um pensamento de uma qualificação profissional superior, pois eles saem mais preparados e sabendo


JORNAL CONTEXTO 58

AÇÕES DO GOVERNO DO ESTADO

17

COLÉGIOS QUE JÁ ADERIRAM AO ENSINO EM TEMPO INTEGRAL:

Em Sergipe, estão sendo feitas grandes reformas em todas as instituições que vão e que já aderiram ao Ensino Integral. Em todos os Centros de Excelência estão sendo construídas cantinas, refeitórios e espaços para prática de atividades físicas. As imagens abaixo mostram algumas instituições já reformadas:

lho

Unidade Escolar

Município

C. E. José de Carlos Sousa

Aracaju

C. E. Profª Maria Ivana de Carva-

Aracaju

C. E. Vitória de Santa Maria C. E. Djenal Tavares de Queiroz C. E. Nelson Mandela C. E. Leandro Maciel E. E. Atheneu Sergipense C. E. José Rollemberg C. E. Mª das Graças Azevedo Melo C. E. Professor Paulo Freire C. E. Professor João Costa C. E. Francisco Rosa C. E. Professor Gonçalo Rollemberg

Aracaju Aracaju Aracaju Aracaju Aracaju Aracaju Aracaju Aracaju Aracaju Aracaju Aracaju Aracaju

C. E. John Kennedy

Indiaroba

C. E. Arquibaldo Mendonça

Estância

C. E. Senador Walter Franco

Boquim

C. E. Soares Fonseca

Lagarto

C. E. Abelardo

São Miguel do Aleixo

C. E. Miguel das Graças

Capela

C. E. Edelzio Vieira de Melo

Rosário do Catete

C. E. Leandro Maciel

Maruim

C. E. Dr. Alcides

Divina Pastora

C. E. João de Melo Prado

Siriri

C. E. Cel. José J. Barbosa

Cedro de São João

C. E. Manoel Dantas

Propriá

C. E. Joana de Freitas Barbosa

São Cristóvão

C. E. Professor Hamilton Alves Rocha C. E. Dep. Jonas Amaral

Nossa Senhora do Socorro Monte Alegre Canindé de São Francisco


CIÊNCIA E TECNOLOGIA

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ALÉM DOS MUROS PROJETOS DE EXTENSÃO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, CONTRIBUEM COM O APRENDIZADO DOS ALUNOS, COM A QUALIDADE DE VIDA DOS UNIVERSITÁRIOS E COM A COMUNIDADE EXTERNA Por Thalia Freitas Thalia_fas@hotmail.com

FOTO:THALIA FREITAS

E

stabelecer um vínculo entre a porcionar a vivência do ensino, o que universidade e a comunidade ex- contribui com a nossa profissão. Além terna pode ser um desafio, mas a disso, conclui, “essas práticas também extensão, um dos pilares da universi- movimentam a comunidade externa, dade, ajuda a quebrar essas barreiras. pois permite a interação entre a UFS e Isso ocorre na medida que disponibi- o público”. liza projetos que além de auxiliarem a Contudo, mesmo com o projeto comunidade, ainda possibilitam que os aberto para a comunidade externa, na estudantes coloquem em prática aqui- turma em que o bolsista analisou, cerca lo que é aprendido na teoria. de quatro alunos, de um total de 20 não Segundo a Pró-Reitoria de Exten- estudavam na Universidade. são (Proex), foram ofertados 257 proIndependentemente se pertence jetos em 2016. Já no ano posterior, a a Universidade ou não, cada pessoa quantidade de projetos foi reduzida que busca o projeto, tem um motivo. E para 217. Contudo, mesmo com enxuga- isso, pode ter ligação direta ou indiremento na quantidade, o Projeto Nadar, ta com a saúde. Um exemplo disso é o que já tem aproximadamente vinte da agente de limpeza Maria Antônia, anos continua ativo e é um exemplo de 41, Moradora do Bairro América; viu relação que ultrapassa os muros. no projeto um caminho para amenizar Afranio Bastos, professor do Depar- uma “dor interna”. Ela foi diagnosticatamento de Educação Física participou da com depressão, a tristeza era maior da gênese do projeto. Atualmente o co- que a vontade de viver, conta, “estava ordena. Além dele, as aulas de natação muito agitada, a ponto de cometer uma conta com a colaboração de três alunos loucura”. Segundo Maria, o projeto foi de Educação Física (um bolsista e dois muito importante para ela, mesmo ainvoluntários). A prática ocorre nos dias da tomando medicamento, consegue de terça-feira e sexta-feira. Segundo o se sentir esperançosa. professor, “o projeto possui o propósito Com asma (doença que causa inde estimular a prática do esporte, inde- flamação nas vias respiratórias) e uma pendentemente se o aluno sabe ou não vontade imensa de aprender a nadar, nadar” Vinícius de Oliveira, 19, estudante de Além de incentivar o esporte, o Letras, percebeu algumas mudanças. Projeto agrega inserindo os monitores “Venho percebendo alguns resultados na prática da profissão. Afranio Bastos na saúde; no início sentia muito cansadiz,“Tem dois grupos de interesse que ço, mas com as técnicas de respiração temos que entender, o primeiro grupo dentro e fora da água consigo sentir recompreende os alunos da universidade sultados positivos”, e complementa, “à e os moradores do entorno, que vem noite, momento que eu sentia mais aqui para aprender a nadar, treinar, dificuldade para respirar, percebo melhorar a condição física e a saúde. O que melhorou”, afirma. segundo grupo diz respeito aos interesOutro praticante do projeto é ses da própria universidade enquanto Mikkel Pereira, 22, do curso de Enformadora de profissionais. O bolsis- genharia Mecânica. Ele ficou sata passa pela disciplina de natação, e bendo do projeto através de amigos. pratica a didática de ensino, isso fará Ali viu a oportunidade de sair do secom que ele se interesse por entender dentarismo. Assim como Isadora Bispo; os problemas que acontecem com seus 19, aluna de Nutrição. Para ela, a saúde alunos dentro de sua rotina de trabalho, mental é um dos tripés da vida saudáfomentando uma possível pesquisa”. vel, e a prática de exercício em grupo Através do conhecimento teórico contribui para isso. e prático, Micael Veríssimo, 29, bolsisJá o estudante de Educação Física, ta do Projeto Nadar, analisou durante Cleberton Prado, 21, é um exemplo da dois meses uma das quatro turmas do ligação ensino, projeto de extensão e projeto de extensão para elaboração comunidade. Isso porque ele aprendeu do seu Trabalho de Conclusão de Cur- a nadar fazendo aulas no Projeto se so-TCC. Nessa turma em especial, os interessou e atualmente é voluntário. alunos não sabiam nadar. Então, seu Assim ele tem um maior contato com objetivo foi descobrir qual nado (Crawl pessoas da comunidade externa, e ajuou peito) eles tinham mais facilidade da na relação UFS e pessoas dos arrede aprender. Sobre essa experiência, dores. Com relação a saúde o rapaz diz, diz “O projeto está aqui para nos pro- “a vida saudável não é apenas praticar

exercício, tem muita gente aqui que vem para socializar; além da prática de exercício tem a questão da vivência”. OBSERVATÓRIO ALIMENTAR NUTRICIONAL DE SERGIPE

E

O Observatório de Políticas Públicas de Combate à Pobreza e Garantia de Segurança Alimentar e Nutricional de Sergipe (Osanes), criado em 2016 pelas professoras Silvia Voci, Andhressa Fagundes e Danielle Goes vinculadas ao Departamento de Nutrição, também permite a ação compartilhada entre a UFS e a comunidade Externa. Com o propósito de coletar dados sobre a segurança alimentar do Estado de Sergipe, o Observatório agrega no ensino,pesquisa e extensão.

“A alimentação a d e q u a d a abrange todos os processos. Não adianta produzir um alimento cheio de agrotóxico, exaurindo a natureza e poluindo o meio ambiente” Segundo a coordenadora, Silvia Voci, o Osanes que é o primeiro observatório alimentar do Estado tem o objetivo de atender aos três pilares da UFS. Assim, foram apresentados projetos no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), com o objetivo de pesquisa; no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Extensão (Pibix); e também apresentou o projeto para Fapitec, no qual recebeu um financiamento. O Observatório Alimentar e Nutricional, que atua na coleta de dados referentes a segurança alimentar, cres-

ceu. No presente, não é mais um proje- dimensão da gestão, produção, acesso e to de extensão da Universidade, já que consumo. Para a nutricionista Voci, “é um sua ação é contínua. Contudo os traba- tema complexo que envolve vários lados, lhos (base de dados) prosseguem. A co- desde as condições de vida no campo, até ordenadora Silvia conta que “a Reitoria o consumo”, portanto, “se os produtores baixou uma portaria reconhecendo o estão empobrecidos sem direito à terra, observatório como uma estrutura da também estão em condição de inseguuniversidade”, conclui. rança alimentar, afirma. Essa visibilidade, possibilitou que A nutricionista Silvia Voci, questiooutras instituições buscasse o obser- na o que é uma alimentação saudável. “A vatório. “Começamos a ser procurados alimentação adequada abrange todos como espaço de referência. Continua os processos. Não adianta produzir um a nutricionista, “e o primeiro parceiro alimento cheio de agrotóxico, exaurindo que nos procurou foi a Empresa Bra- a natureza e poluindo o meio ambiente. sileira de Pesquisa Agropecuária (Em- Pode até ser uma alimentação saudável brapa). “Eles estavam fazendo uma (verduras, frutas), segundo os nutricionispesquisa sobre o impacto das cisternas tas, mas se ele foi produzido inadequadano semiárido sergipano e alagoano, e mente você não está tendo uma alimenprecisaram de ajuda para avaliar a situ- tação adequada de verdade”. Além disso, ação de segurança alimentar e estado é importante “trazer um olhar por trás danutricional em 2016. Ajudamos a elabo- quele alimento que tem um histórico”, diz. rar os questionários de coleta e disponiO Osanes também foi procurado por bilizando os alunos que fazem parte do municípios como Nossa Senhora do Soobservatório”, explica a coordenadora. corro, Estância e São Cristóvão, para diagO observatório possui atualmente nosticar e indicar orientações referente a cerca de dez alunos voluntários, além segurança alimentar. O último município, dos coordenadores e colaboradores de está sendo campo de pesquisa do mestraoutros departamentos. “Ampliamos os do de Adriana Correia, graduada em Ciêncontatos aqui na universidade para ou- cias da Nutrição, e integrante do Osanes. tras áreas como o direito e a geografia”, “O meu projeto de mestrado é o diagnósrevela Voici. tico da segurança alimentar e nutricional O Osanes trabalha com dados pri- do município de São Cristóvão e eu vou mários e secundários. A base de dados propor um modelo teórico para poder imprimários, aqueles coletados com in- plementar um sistema que vai auxiliar as formações disponibilizada pelo próprio políticas alimentares do município. Então, município, através questionários, se- vou ter um diagnóstico do município e da gundo a coordenadora é mais difícil já sua situação”, explica. que é necessário ter recursos. Os dados A última novidade do Osanes é a criasecundários, são referentes a base de ção do Centro Internacional de Pesquisa, dados já existente (IBGE, Ministério da como explica a coordenadora. “Com o Saúde, Ministério do Desenvolvimento grupo que se reúne periodicamente, reSocial, entre outros). solvemos formular uma proposta de criaSegundo o conselho nacional “A ção do centro que já passou no colegiado Segurança Alimentar e Nutricional, en- do Departamento de Nutrição, foi aprovaquanto estratégia ou conjunto de ações, do e agora encaminhamos para a coordedeve ser intersetorial e participativa, e nação de pesquisa e para coordenação de consiste na realização do direito de to- relações internacionais, para formalizar dos ao acesso regular e permanente a um centro internacional de pesquisa do alimentos de qualidade, em quantida- observatório”. de suficiente, sem comprometer o acesO Observatório, segundo Voci, contriso a outras necessidades essenciais, bui principalmente quando se pensa na tendo como base práticas alimentares dimensão do consumo alimentar, nas espromotoras da saúde, que respeitem a colhas e na promoção de hábitos alimendiversidade cultural e que sejam am- tares. “Quanto a educação de segurança biental, cultural, econômica e social- alimentar e nutricional estamos ajudanmente sustentáveis”. do a sensibilizar e promover autonomia É com direcionamento na promo- para os cidadãos que estão sendo alvo. ção da segurança alimentar e nutri- Nos eventos e nas unidades de saúde buscional, e no Direito Humano à alimen- camos proporcionar direcionamentos patação adequada que, além da base ras as pessoas”, conclui a coordenadora do de dados, a estrutura se preocupa na Osanes.


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