Revista Mais Contexto -3

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Escola Sem Partido ou Lei da Mordaça

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os desdobramentos da inclusão do programa e os questionamentos em torno da doutrinação

Precarização do ensino de Filosofia e sociologia no ensino médio reincorporadas em 2008, disciplinas podem não ser mais obrigatórias nas escolas. Como isso implica no desenvolvimento da população?

Redução de 45% no orçamento das universidades federais medida preocupa a comunidade acadêmica e reforça a discussão entorno da economia brasileira.


EXPEDIENTE UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Campus Prof. José Aloísio de Campos Av. Marechal Rondon, s/n, São Cristóvão – SE

Reitor: Prof. Dr. Angelo Roberto Antonielli Vice-reitor: Prof. Dr. André Maurício Conceição de Souza

Pró-reitor de Graduação: Prof. Dr. Jonatas Silva Meneses Diretora do Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH): Profª. Drª. Iara Maria Campelo Lima

REVISTA LABORATORIAL DO CURSO DE JORNALISMO Chefe do Departamento de Comunicação Social (DCOS): Prof. Dr. Diogo Cavalcanti Velasco Núcleo de Jornalismo: Prof. Dr. Vitor José Braga Mota Gomes

Telefone: (79) 2105-6919/ 2105-6923 | E-mail: dcos.ufs@ gmail.com Coordenação Editorial: Profª. Drª. Michele Amorim Becker

Coordenação Projeto Gráfico: Prof. Dr. Vitor José Braga Mota Gomes

EQUIPE EDIÇÃO 3 Gestão e editoria geral: Josafá Neto e Grace Carvalho Projeto Gráfico e layout: Matheus Brito

Reportagem: Agatha Cristie Silva, Alice Silva, Alisson Bruno Castro, André Luiz Oliveira, Aucicláudia Santana, Beatriz Souza, Denner Mauricio Perazzo, Ellen Cristina Santos, Fagner Honorato, Fátima Cristine Silva, Felipe de Oliveira, Flávio Henrique Ferreira, Grace Carvalho, Francielle Santos, Gustavo Caio Monteiro, Ícaro Novaes, Íris de Oliveira, Ítala Marquise Resende, Jamile Oliveira, Jennifer Cristina dos Santos, John Wesley Soares, Josafá Bonifácio da Silva Neto, José Victor Siqueira, Julia Gois, Kamille Ramos, Lucivânia dos Santos, Luiz Matheus Meneses, Luiz Sérgio Santos, Mariana Correia, Marília Santos, Mirian de Jesus, Nathália Santos, Rodrigo de Macêdo, Sheila Milena Dias, Taís Cristina Santos, Ullisses Machado e Yago Santos Capa: Elisa Lemos

Diagramação e preparação dos arquivos: Andréia Fontes e Maria Izabel Costa Edição de imagens: Juliana Teixeira

Revisão geral: Rafael Amorim, Luis Matheus e Vitor Braga

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ECONOMIA

Ciência com Fronteiras Programa de intercâmbio congela bolsas de pesquisa no exterior e prejudica internacionalização do conhecimento no Brasil Josafá Neto

josafa.neto@hotmail.com

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afael Calixto, 33, deixou o Brasil há dois anos com o objetivo de concretizar o sonho da pós-graduação em Farmácia, nos Estados Unidos. O sergipano radicado em São Paulo foi selecionado para cursar o doutorado na área na Auburn University, no Alabama, através do Programa Ciência Sem Fronteiras. No entanto, após o segundo ano de estudos no exterior, ele passou a conhecer os efeitos do corte no orçamento do programa de intercâmbio do Governo Federal e viu a sua permanência fora do país virar um pesadelo. Hoje, segundo dados do Ministério da Educação, quase três mil alunos com bolsa de doutorado estão estudando fora do Brasil. No caso de Rafael, ele foi um dos 23 bolsistas de doutorado pleno que tiveram o parecer de renovação rejeitado no primeiro semestre deste ano pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). “Fiquei surpreso quando vi a resposta sobre a manutenção da minha bolsa. Enviei meu pedido de reconsideração, mas a avaliação do mérito demorou a sair. Foram quase três meses de espera e angústia,” explica o aluno. Nesse período, com a interrupção da bolsa, Rafael temeu retornar ao Brasil, sem concluir a pesquisa em farmacologia bioquímica. “Foram dois anos de preparação e muito esforço para conquistar a bolsa. Confesso que perdi algumas noites sem dormir nessa incerteza, mas minha situação foi revista,” afirma. Segundo ele, o pedido de reconsideração foi aceito às vésperas do início do terceiro do ano do doutorado.

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Casos como o de Rafael surgem em meio à discussão sobre o fim do programa. Isto porque, em julho deste ano, o MEC decidiu encerrar as bolsas para graduação. O argumento do Governo é que quase 80% dos recursos do projeto são voltados à área e o corte se tornou necessário diante da crise financeira que atualmente afeta o país. Somente no ano passado, o programa de intercâmbio custou quase R$ 4 bilhões aos cofres públicos, segundo dados do Ministério. Esse montante, desde a implantação do projeto no início de 2011, era destinado de forma majoritária à graduação. Sendo que cada aluno no exterior, anualmente, custava aproximadamente R$ 100 mil à União.

A UFS Em cincos anos, mais de 70 mil estudantes deixaram o país através do Ciência Sem Fronteiras. Cerca de 500 deles foram enviados pela Universidade Federal de Sergipe, de acordo com o coordenador de Assuntos Internacionais da Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa, Israel Barnabé. Além do EUA, Portugal, França, Canadá e Espanha foram os destinos mais procurados no exterior pelos alunos de graduação da UFS. “O último edital do programa aqui na UFS foi lançado no final de 2014. Enviamos quase 200 estudantes à época, especialmente nas áreas de engenharia. É uma troca de experiência interessante porque ao tempo que os estudantes ampliam o conhecimento lá fora, trazem novas experiências aqui para Universidade,” explica o coordenador. No sétimo período do curso de Engenharia de Produção da UFS,

“FIQUEI SURPRESO QUANDO VI A RESPOSTA SOBRE A MANUTENÇÃO DA MINHA BOLSA. ENVIEI MEU PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO, MAS A AVALIAÇÃO DO MÉRITO DEMOROU A SAIR. FORAM QUASE TRÊS MESES DE ESPERA E ANGÚSTIA” Rafael Calixto Renan Melo, 24, conta que a experiência na Lublin University of Technology, na Polônia, influenciou na escolha da área que pretende atuar no mercado de trabalho. “Conheci um sistema de controle de ambiente de gestão que eles estavam desenvolvendo por lá, que me atraiu muito. Vou investir nisso já agora a partir do meu TCC”, narra o estudante. INTERNACIONALIZAÇÃO Com a redução de investimentos do programa, o Brasil ficou mais distante de alçar o status de país desenvolvido por meio da internacionalização do conhecimento. Enquanto os norte-americanos destinam 2,8% do PIB (Produto Interno Bruto) na área de ciência e tecnologia, o governo brasileiro aplica aproximadamente a metade no setor, 1,5%, de acordo com os indicadores do extinto Ministério de Ciência e Tecnologia. Enquanto isso, a China anunciou que até 2020 destinará 2,5% do PIB no se-

tor. Hoje, são 2,2%. Já a União Europeia se comprometeu a chegar aos 3%, até o final de 2020. Para o sociólogo e professor da UFS, Rodoval Ramalho, apesar da relevância científica e social do programa, o encerramento para graduação está atrelado à gestão inadequada como política de educação. “O próprio Governo admitiu usar recursos de outras áreas para manutenção do projeto. Então, é algo que precisa ser revisto, sem acabar com a sua finalidade,” pontua. Em nota, por meio da assessoria de imprensa, a Associação Brasileira de Ciência (ABC) defendeu que o programa seja aprimorado, a partir da incorporação de indicadores de qualidade tanto na seleção quanto na manutenção de bolsas no exterior. “A ABC se posiciona em defesa do incentivo à pesquisa e inovação com a utilização de métricas de qualidade a fim de aprimorar a internacionalização do conhecimento”, informa a nota.

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ECONOMIA

Redução no orçamento do Ensino Superior preocupa comunidade acadêmica Mariana Pimentel

maricorreiaufs@gmail.com

crise político-econômica e várias medidas tomadas ainda na administração da gestão de Dilma Rousseff estão sendo reavaliadas no atual governo de Michel Temer. Um exemplo é o Projeto de Lei Orçamentária Anual para 2017. De acordo com informações divulgadas no portal do Ministério da Educação (MEC), o governo anterior cortou 60% do orçamento de 2016 para investimentos nas universidades e institutos. Com isso, o volume caiu de R$ 1,9 bilhão para R$ 787 milhões. Nos institutos, a redução foi de R$ 724 milhões para R$ 296 milhões. PLANEJAMENTO De acordo com Geovânia Moura,

Mariana Pimentel

Recursos para investimento serão os mais atingidos pelos cortes. A inauguração da Didática VII provavelmente será adiada, de acordo com a coordenação orçamentária.

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M AGOSTO DESTE ANO, O GOVERNO FEDERAL ANUNCIOU QUE O PROJETO DE LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL (PLOA) PARA 2017 SOFRERÁ UM CORTE DE 20% NA ÁREA DE EDUCAÇÃO, EM COMPARAÇÃO COM O ANO DE 2016. O COMUNICADO FOI ALVO DE DIVERSAS CRÍTICAS, PRINCIPALMENTE VINDAS DAS ENTIDADES DE CLASSE PRESENTES NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO. ALGUMAS UNIVERSIDADES JÁ APONTAM QUAIS SETORES SERÃO MAIS ATINGIDOS COM OS CORTES. NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE (UFS), O PLOA AINDA NÃO ESTÁ CONCLUÍDO. Nos últimos meses de 2016, o Brasil vem passando por uma

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ECONOMIA

ENTENDA A PEC 241 •

coordenadora de programação orçamentária da UFS, o PLOA ainda está em fase de elaboração e ainda não tem valores definidos. “O que propomos é de acordo com o que é necessário para suprir a demanda atual, somado ao que os setores da universidade avaliam como necessidade de implementação e ainda, com a inflação atual”. A coordenadora afirma que a inauguração da Didática VII está prevista para o próximo ano, o que implica em aumento de gastos de custeio, relativos a energia e água, por exemplo. Mesmo assim, ela afirma que o PLOA ainda passará por reajustes que diminuirão o orçamento. “Setores como a Assistência Estudantil, por exemplo, que consideramos de imensa importância, pois é o que garante a permanência de muitos estudantes, sofrerão corte no orçamento. A ampliação e expansão do Restaurante Universitário provavelmente serão adiadas”, afirma. Rosalvo Ferreira, coordenador geral da Pró Reitoria de Planejamento (PROPLAN), alega que o PLOA 2017 ainda não pode ser divulgado, por não se tratarem de dados definitivos. MOBILIZAÇÕES EM CURSO No dia 29 de setembro aconteceu o chamado “Dia nacional de luta, mobilização e paralisação contra os ataques a Educação”. As categorias sindicais do serviço público, os movimentos sociais e estudantis, paralisaram suas atividades em conjunto para afirmar o posicionamento contrário à PEC 241, o PLP 257 (PLC 54), contra as reformas da previdência, do ensino médio e o projeto Escola sem partido. Em Sergipe, a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Sergipe (ADUFS), o Sindicato Número 3, 2016.1

dos Trabalhadores Técnico-administrativos da UFS (SINTUFS) e Sindicato Nacional dos Servidores Federais (SINASEFE/SE) construíram o dia de mobilizações em conjunto. Em nota, a ADUFS afirma que os cortes na educação são parte de um movimento de ajuste fiscal que está sendo empreendido pelo governo federal e que sobrecai nos setores sociais. “O atual governo alardeia que no Brasil há excesso de gastos públicos, mas não evidencia que mais de 40% do orçamento federal é destinado ao pagamento dos juros e amortização da dívida, privilegiando empresas e banqueiros”, afirma. A direção do sindicato afirma ainda que nos últimos dois anos, os cortes na educação ultrapassaram 13 bilhões de reais e novas reduções são previstas para 2017, e que isso é feito para beneficiar os credores da dívida pública. “O impacto nas universidades e institutos federais poderá levar algumas dessas instituições ao colapso por impossibilidade de honrar seus compromissos financeiros”, continua. A direção da ADUFS, eleita recentemente, aponta que as agências de fomento realizaram cortes de bolsas como os destinados aos programas de pós-graduação, de Iniciação Científica/ Docência/ Tecnológica e Editais, ocorrendo o mesmo em escala estadual e municipal. De acordo com o sindicato, isto indica que um projeto democrático de educação está cada vez mais longe, pois as medidas estão sendo propostas e algumas já implementadas rapidamente. O SINASEFE nacionalmente tem uma posição contrária aos diversos cortes que na Educação Federal. Guthierre Ferreira, dirigente da seção sindical do Instituto Federal de Sergipe (IFS), diz que a PEC 241 e

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A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241/2016 pretende limitar os gastos públicos federais por 20 anos. O limite de gastos anuais não recebe investimento e o acréscimo se limita apenas a correção da inflação anual.

Estas questões se aplicam às áreas de saúde e educação e tem início previsto para o ano de 2018.

o PLP 257 (PLC 54) reduzirão com o passar dos anos os aportes financeiros que os institutos recebem. “Acabamos de realizar um processo de expansão e sem investimentos reais todo esse processo encontra-se ameaçado. A reitoria do IFS em nenhum momento convocou os servidores ou o sindicato para debater o planejamento financeiro ou tem a prática de debater democraticamente soluções para os problemas que passamos em relação aos cortes”, completa. Guthierre declara que o sindicato nacional está construindo espaços, inclusive com a participação dos alunos, para barrar as medidas e cortes do Governo. Lucas Gama, presidente do SINTUFS, declara que o sindicato se posiciona contrariamente à política de austeridade fiscal em curso, protagonizada pelo presidente Michel Temer que vem impactando o orçamento destinado às universidades federais. “Na atualidade, as mais de 60 instituições de ensino superior públicas já enfrentam enormes dificuldades para a promoção do ensino, da pesquisa e da extensão, além das dificuldades para a gestão de pessoal e oferta de assistência estudantil, frente aos parcos recursos financeiros disponibilizados”, diz. O presidente aponta que a situação deve se agravar no ano de 2017. “Temer optou em subtrair mais de

40% dos recursos de investimento e, aproximadamente,18% dos recursos de custeio, essa medida se enquadra dentro da lógica do governo federal que deseja imputar ao serviço público (vide a PEC 241/16) a responsabilidade pela crise.” Para ele, a prioridade do Governo Federal é o superávit primário (resultado positivo de todas as receitas e despesas) e o pagamento de juros e amortizações da dívida pública do governo.

PLC 54 O antigo PLP 257 passou por modificações e agora tramita com o nome de Projeto de Lei Complementar (PLC) 54, que propõe o alongamento das dívidas de Estados e do Distrito Federal com a União por 20 anos. Zeca Oliveira, bancário e estudante de economia da UFS afirma que este acordo não diminui a bola de neve. “Sergipe, por exemplo, fez um acordo com a União em 1997. Na época, assumiu uma dívida de R$ 398 milhões parcelada para 360 meses. Quase vinte anos e mais de 200 prestações depois, o débito nominal (incluindo os juros) aumentou para aproximadamente R$ 850 milhões, segundo a Secretaria do Estado da Fazenda. E o PLP 257/16 não muda em nada esse mecanismo que deixa as dívidas impagáveis”, conclui.

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CULTURA

Ensino de Artes nas escolas transforma vidas e pensamentos DANÇA, MÚSICA, TEATRO, FOTOGRAFIA E OUTRAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS MUDAM REALIDADES DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES E CONTRIBUEM PARA SUAS FORMAÇÕES Por Cláudia Santana e Marcos Pereira Foto: Cláudia Santana

Concentração e disciplina: nas aulas de balé do Parque dos Faróis, os alunos ensaiam duas vezes por semana

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ara mim, arte é uma coisa inerente ao ser humano, portanto, sempre haverá pessoas se expressando”. Isso é o que pensa Tiago Oliveira, fotógrafo, que teve a oportunidade de ministrar uma oficina de fotografia a uma turma de jovens e adultos na escola Otília de Araújo Macedo, no bairro 18 do Forte, em Aracaju. Os alunos, com idade entre 18 e 30 anos,

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faziam parte do Projovem e não tinham noção alguma de fotografia. “Nossas ideias de oficinas são sempre no intuito de contribuir para uma abertura de consciência de pessoas que normalmente são marginalizadas. Essa oficina aconteceu no 18 do Forte, que é uma região muito violenta. Como foi uma oficina de fotografia documental, exigiu que o pessoal ficasse atento

a própria realidade. Se colocarmos 18 do Forte no Google, vai aparecer imagens produzidas pela mídia de assassinatos e coisas ligadas a violência e tráfico de drogas. A ideia era eles fazerem imagens da comunidade a partir de seus próprios pontos de vista”, explicou Tiago. Mesmo enfrentando dificuldades como a falta de equipamento (as fotos eram feitas pelo celular), estes alunos conseguiram fazer arte.

Afinal, o que é Arte? A professora Daiana Teixeira, formada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) com pós-graduação em Didática e Metodologia do Ensino Superior, explica que arte é uma linguagem, uma forma de comunicação e de expressão da pessoa. “Através dela podemos expressar emoções, sensações, sentimentos, seja através das Artes Visuais, da Dança, da MúNúmero 3, 2016.1


CULTURA Foto: Marcos Pereira

sica ou do Teatro. Ela permite que venhamos a externar todo e qualquer pensamento das formas mais variadas”, esclarece. Quando se trata da formação dos indivíduos a escola exerce um papel fundamental, é praticamente lá que tudo começa. Dos primeiros passos, como aprender a ler e escrever, adquirir conhecimento de várias áreas até como relacionar-se com o outro. Por a escola desempenhar o papel de formar diversos aspectos enquanto indivíduos, a professora ressalta a importância do ensino das artes na escola desde as séries iniciais. Não só como uma disciplina mais voltada a teoria, mas em suas diversas modalidades. “As Artes terão papel fundamental nessa formação, para que possamos crescer como pessoas que saibam se comunicar e expressar de maneiras diversas, ao mesmo tempo será desenvolvido também o respeito pela expressão do outro, o respeito às diversidades, ao que lhe é estranho ou diferente. A arte é essencial na formação de qualquer pessoa,” assegura Daiana. E acrescenta que a importância de estudá-la está no que diz respeito ao desenvolvimento de áreas específicas do sujeito. “O autoconhecimento, a criatividade, relações com o outro e com a sociedade, reconhecimento e valorização de sua cultura e sua história. Elas fazem com que o sujeito se descubra e descubra o mundo, que o reconstrua, que o reinterprete, e o recrie.” O fotógrafo Tiago também vê no estudo das artes um caminho para a boa formação do indivíduo. “Acredito que quando desde criança alguém tenha contato e dialogue com as artes, há uma tendência da sociedade em ser mais livre em pensamento e em sentimento. A sociedade que se expressa individualmente e coletivamente é uma sociedade forte, que não vai se deixar ser dominada”, diz ele. Arte e Educação Em Campo do Brito, o Centro Educacional Nossa Senhora da Boa Número 3, 2016.1

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CULTURA

O projeto Arte na Escola atende atualmente quase mil crianças e adolescentes de Nossa Senhora do Socorro, sendo

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Hora (CENSBH) no que se refere ao ensino das artes, oferece aulas de balé para alunos que tenham de quatro a dez anos. As aulas funcionam como uma atividade extra classe opcional. Na hora da matrícula os pais podem escolher matricular seu filho também no balé ou em modalidades esportivas. Fora isso, a disciplina de artes que faz parte das disciplinas obrigatórias para todos os alunos, lida com a arte de forma mais geral. Clícia Menezes, coordenadora pedagógica da escola, conta que a professora de artes trabalha conteúdos relacionados à música, por exemplo, mas sempre relacionado à teoria. Algo mais prático acontece nas aulas de educação física, onde a professora reserva algumas aulas para praticar alguns gêneros de dança. Ela aponta que um dos fatores que dificulta implementar outras disciplinas específicas para modalidades de artes é encontrar professores especializados, principalmente nas redondezas.

A coordenadora acredita que o desenvolvimento de atividades artísticas ajuda na aprendizagem, comportamento, sociabilidade, além de estimular os alunos a estudarem e se dedicarem mais. “A educação não é só o português, a matemática, calcular, aprender a ler e escrever, mas é uma questão de envolver a dança, a música...”, afirma Clícia convicta. “A vida é uma festa”, “Eu tenho Talento”, “Um mundo chamado Brasil” é como foram intitulados eventos já realizados pela escola para estimular e trabalhar o lado artístico e cultural com os alunos. Nesses eventos, que são abertos ao público, tanto professores quanto alunos fazem diversos tipos de apresentações, desde de dançar, cantar, interpretar. Como são realizados apenas de dois em dois anos, a coordenadora comenta que os alunos sentem falta no ano em que não tem. Ela salienta que através desses eventos são revelados e despertados “novos

talentos”.

Mudança através da dança Em meio a tantos talentos, alguns já descobertos e outros ainda não, alunos e professores do município de Nossa Senhora do Socorro tem uma conquista a comemorar: o ensino das artes na cidade agora é lei. Nascido em 2006, o projeto “Arte na Escola” é assegurado pela Lei municipal 1.143. Foi proposto pela professora Anúbia Melo, que sempre trabalhou com dança em escolas particulares e, depois de tornar-se servidora do município, resolveu levar sua experiência até escolas públicas. O projeto começou tímido, ofertando aulas de balé clássico e jazz para 20 alunos de uma escola no conjunto João Alves Filho, que apresentava elevados índices de violência. No segundo ano já haviam 200 alunos matriculados, hoje são mais de 900 meninos e meninas de quase todos os bairros da cidade que aprendem dança liNúmero 3, 2016.1


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Foto: Cláudia Santana

o trezentos deles só no conjunto Parque dos Faróis

vre, dança contemporânea, teatro e outras expressões artísticas. “Se esses meninos não pudessem conhecer a dança, hoje eles não seriam bailarinos. O adolescente é criminoso porque isso foi ofertado e oportunizado a ele. O que falta a esses jovens é oportunidade”, enfatiza Anúbia. Beatriz Dias já fazia aulas de dança desde pequena, mas no projeto “Arte na Escola” dança balé desde os doze anos de idade. Hoje, aos dezoito, se inspira naquelas que lhe ensinaram e seu sonho é ser professora de dança. Aluna do curso de Dança na UFS, ela diz que se não fosse motivada pelo projeto que despertou nela uma vontade maior de estudar e se dedicar, não estaria no curso hoje. “Disciplina, compromisso e muito do que as nossas professoras passam para a gente, porque não é só um contato de professora e aluno, aqui a gente é praticamente uma família. Uma mãe que fala para o filho. Eu aprendi muito com Número 3, 2016.1

elas duas, com a Anúbia e Miriam”, é assim que Beatriz resume o papel e a importância que o projeto, e, sobretudo a dança, tem na sua vida. Com relação aos estudos na universidade ela diz que muitos acham que dança é apenas dançar, e estão errados. Há anatomia e muitas outras áreas que precisam ser estudadas e que podem levá-la também a outras profissões. A bailarina, que faz parte do corpo de baile na turma de balé do projeto, foi crescendo junto com o projeto e conta que no começo tudo era mais escasso. Haviam poucas turmas e o “Arte na escola” atendia apenas aos bairros João Alves e Parque dos Faróis. Atualmente o projeto ainda não conta com muita estrutura, mas já está presente em quase todas as comunidades de Nossa Senhora do Socorro. Fernando Mendonça também presenciou os primeiros passos do projeto, entrou no balé em 2010, mas não seguiu em frente por causa das ofensas que sofria. “Fiquei

só uns seis meses porque eu era o único menino aqui, aí começou o preconceito e como eu só tinha dez anos eu não sabia o que eu queria e saí”, relembra ele. Quatro anos depois o jovem foi assistir a um espetáculo de balé e se apaixonou, ali ele viu que era aquilo que queria. Em março de 2015 ele voltou a participar das aulas de balé e seu talento chamou a atenção da professora Mírian, que começou a exigir mais dele e trabalhar para desenvolver todo seu potencial. Com a ajuda da professora e sua força de vontade, Fernando ganhou uma bolsa em uma academia de balé em Aracaju e foi se aperfeiçoando. Hoje, aos dezessete anos, além de estar concluindo o ensino médio, ele passou em uma audição e aguarda para começar os estudos em uma das maiores escolas de dança do país, a Petite Danse, no Rio de Janeiro. Ele revela que a arte lhe deu outra visão de mundo, lhe propor-

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Foto: Cláudia Santana

cionou conhecer coisas novas. “A arte dá outra visão para a cultura porque ninguém olha para ela. Se você disser assim: ‘eu quero ser médico’ todo mundo vai te apoiar, mas se disser eu quero ser bailarino, a primeira coisa que a pessoa perguntar é: vai dar dinheiro? A gente não vive só disso não, a gente vive de amor, de orgulho, eu danço porque eu gosto muito”, afirma enfaticamente. Beatriz e Fernando agora são as inspirações dos outros alunos. “Os pequeninhos querem chegar no corpo de baile, então para eles a gente é o espelho. A gente fica sempre incentivando, chamando, insistindo para eles continuarem e ter a mesma oportunidade que a gente teve”, revela Beatriz. Um desses alunos que segue os passos dos colegas mais velhos e tem como meta entrar para o corpo de baile é Lohrran Morais. Um dos recém chegados ao projeto, tomou gosto pelo balé depois de ver uma apresentação das irmãs. Decidiu que também queria dançar balé e não pensou duas vezes. “Eu estava jogando bola, mas não deu para mim. Troquei o futebol pelo balé”, diverte-se ele contando. Os pais, que agora tem todos os filhos dançando, ficaram felizes e mandaram o filho se esforçar mais. Um ponto desagradável que Lohrran tem que lidar é o preconceito dos colegas que ficam com piadas e ironias, mas ele garante que nem se importa. Lohrran é um dos 300 adolescentes participantes do programa só no conjunto Parque dos Faróis. “É muito emocionante e gratificante ter uma resposta positiva desses meninos. Também quebramos muitos tabus como o de que balé é só pra menina. Aqui temos meninos fazendo, e meninos da periferia, que é um agravante a mais, porque balé clássico é de rico, de quem tem dinheiro pra pagar aula”, diz Anúbia. Mírian Francisco, professora de balé no projeto, fala como a arte mudou a vida destes meninos e

Fernando, que agora serve de inspiração para seus colegas, a partir do ano que vem, fará parte de uma das maiores escolas de dança do Brasil

meninas. “Essa região do Parque dos Faróis tem um alto índice de criminalidade e eles deixam de estar nas ruas para passarem a manhã ou a tarde toda com a gente. Temos exemplos de meninos que não queriam nem estudar e hoje já cursam dança na UFS”, diz Mírian. A professora explica que o projeto começou atendendo somente alunos matriculados em escolas do município, mas devido a procura, também foram abertas vagas para estudantes oriundos de escolas

estaduais e particulares. “Como não temos um número suficiente de professores fica difícil de atingir todas as comunidades. Desde o ano passado conseguimos contrato com estagiários do curso de Dança da UFS. Cada professor e cada estagiário pega duas ou três comunidades para dar aula, desse jeito conseguiremos crescer mais”, revela Mírian com bastante expectativa. “A minha infância foi muito sofrida e muito pobre, tive oportunidade de estudar balé clássico

porque alguém me oportunizou. A minha obrigação hoje é passar um pouco do que eu sei, proporcionar a eles um conhecimento que não vão ter na televisão nem na sala de aula. A educação é a ferramenta mais eficiente para transformar o homem”, finaliza Anúbia. As Artes Cênicas O estudante do curso de Licenciatura em Teatro, Cláudio Farias da Paixão, é bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Número 3, 2016.1


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Foto: Marcos Pereira

à Docência (Pibid) e atualmente ministra a disciplina de Artes Cênicas no Colégio Estadual Professor João Costa, em Aracaju. Sobre sua experiência, ele diz que o Teatro ajuda a tornar os alunos pessoas mais sensíveis e mais críticas. “Tive experiência em duas escolas em que Artes Cênicas como disciplina obrigatória fluía muito bem e eu via que para os alunos era algo diferente, pois sai do convencional e burocrático. A arte vem pra formar opinião, nos tornar sensíveis ao mundo”, relata. Na visão de Cláudio, o Teatro ajuda os alunos em diversos aspectos. “Ajuda a perder a timidez, a ter um olhar diferente pra vida em sociedade. Não aprendem simplesmente a decorar um texto e sim a interpretar melhor, o que ajuda em disciplinas como Português. A educação está falida e o teatro vem oferecer este novo método de ensinar e educar”. O professor explica que os mais tímidos rejeitam as aulas no início, mas acabam se rendendo as máscaras e figurinos utilizados em aula.

Com o sonho de ser professora de Dança, Beatriz se divide entre faculdade e ensaios do projeto

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Projetos incentivam a leitura e a produção literária infantil ARACAJU E ITABAIANA POSSUEM PROJETOS EM BIBLIOTECAS E ESCOLAS MUNICIPAIS DESTINADOS A CRIANÇAS E ADOLESCENTES Nathália Gomes

nathgomeslima@gmail.com

Taís Cristina

taiscristina.ufs@gmail.com

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er, assim como escrever, é um dos primeiros passos que a criança aprende no processo da alfabetização. É através da leitura que se conhece as palavras e como muito se diz, “quem lê conhece o mundo”. Conhece também o Sítio do Pica-Pau Amarelo, a história dos Três Porquinhos, a corrida e a disputa entre a lebre e a tartaruga... Quem lê viaja o mundo sem sair de casa; as histórias escritas nas páginas dos livros florescem na imaginação do leitor. Entretanto, o hábito da leitura, principalmente de livros impressos, está tornando-se algo cada vez mais escasso, tanto pela facilidade de se ler um livro pela internet, como por outros meios de distração mais atrativos como, por exemplo, computador e celular com acesso às redes sociais. E a leitura infantil, será que também foi prejudicada com a chegada da chamada “era digital”? A resposta é sim! “Muitas crianças preferem estar jogando no smartphone ou no tablet do que ouvindo ou lendo uma historinha. Mas tudo depende da maneira como essa história é contada e também do tipo de leitura”, conta a professora de redação e literatura Inez Resende. Para ela, mesmo celular e tablet sendo mais atrativos para uma criança do que um livro, outros fatores também influenciam, principalmente o hábito de impor o que a criança deve ler, não a deixando livre para escolher sobre o que quer ler, como também pela maneira que as histórias são contadas para as crianças. “Para fazer uma crian-

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ça gostar de ler, o primeiro passo é saber contar uma história para ela; é transmitir emoção, é encenar, é dar som às palavras para que ela se interesse e queira saber como a história irá terminar”, diz Inez. É importante e é dever tanto dos pais como dos educadores, não deixar que as crianças percam o costume de ler, de abrir um livro, sentir o seu cheiro e viajar nas histórias, pois como diz Voltarie, “a leitura engrandece a alma”. A Biblioteca Infantil Aglaé Fontes tem muitos projetos e eventos dire-

cionados ao público infantil. Aberta para visitação de crianças acompanhadas dos seus responsáveis ou grupos escolares, a biblioteca se mantém como importante ambiente da disseminação da prática literária. Já em Itabaiana, uma escola municipal possui um projeto de incentivo a leitura e a produção literária infanto-juvenil. Criado há cerca de cinco anos, o projeto teve no ano passado o seu maior fruto: a publicação de um livro com contos e poesias escritas pelos participantes do projeto.

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Biblioteca Infantil Aglaé Fontes Espaço da Biblioteca para a contagem de histórias pelos educadores

Área de convivío da Biblioteca Infantil Aglaé Fontes

No bairro Treze de Julho, zona sul da capital sergipana, localiza-se a Biblioteca Epifânio Dória, um prédio que chama atenção pelo seu tamanho. Ao seu lado está uma construção bem menor e mais modesta. É a Biblioteca Infantil Aglaé Fontes. Criada em 29 de outubro de 1979 ainda como anexo da Epifânio Dória, a biblioteca recebeu o nome de sua primeira diretora, a lagartense professora de música e artes Aglaé Fontes. Desde então a biblioteca tem sido um dos principais espaços públicos de acesso à leitura aos pequenos cidadãos do Estado. Ao entrar, você encontra um ambiente colorido, cheio de ilustrações que remetem à infância e espaços Número 3, 2016.1

aconchegantes para que crianças se sintam confortáveis e a vontade para apreciar uma boa historinha. Atividades como contação de histórias, rodas de leitura, teatros de fantoches e oficinas literárias são oferecidas diariamente para atrair crianças ao mágico universo de um livro. Sem falar na disponibilidade do acervo infanto-juvenil que conta com cerca de nove mil exemplares. Mesmo com tantos atrativos, não é fácil despertar em uma criança a vontade de ler. A atual diretora da Biblioteca, Cláudia Stocker, fala sobre as dificuldades de se formar um leitor desde cedo e sobre a importância, antes de tudo, do incentivo dos pais em casa. “A formação de leitores tem que começar dentro

de casa. Desde pequeno a criança já tem que estar em contato com os livros, com a contação de histórias, com pais leitores. Ela tem que ficar próxima dos livros para que possa estar desenvolvendo esse hábito”, conta. Entretanto, Claudia sabe o quanto é difícil para as crianças estarem envoltas de literatura no ambiente doméstico, tanto pela falta de incentivo familiar quanto pelo fato de livros não serem tão acessíveis na hora da compra. Para ela, aí entra o importante papel da escola e da biblioteca ajudando a suprir essa necessidade. “A biblioteca pública tem esse papel: disponibilizar o acervo para a comunidade. Nós sabemos que o livro é caro, então

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CULTURA

nem todo mundo tem acesso à leitura e aqui você tem isso de graça”, afirma a diretora. Uma das atividades que Claudia destaca na biblioteca é o encontro com escritores. Eles são chamados para conversar com as crianças, relatar como é a produção de um livro servindo de inspiração para os pequenos que se sentem estimulados a também escreverem suas próprias histórias. Ela fala sobre crianças que frequentavam a biblioteca e a partir das atividades se sentiram encorajados a escrever e conseguiram publicar seus livros. A Biblioteca Infantil Aglaé Fontes também tem um projeto chamado “Leitores Destaques”, na qual premiam os leitores mais assíduos, aqueles que utilizam mais o acervo. Todo fim de ano, o projeto premia de cinco a dez leitores que se destacaram por utilizar a biblioteca. Para Cláudia a premiação é importante, pois estimula as crianças na arte e literatura. “Crianças que já foram leitores destaques várias vezes e participaram das atividades daqui, hoje fazem parte de grupos de teatro, estão desenvolvendo outras coisas também relacionadas com a

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leitura. Aqui é um espaço multicultural, a gente trabalha o livro com o teatro, a música e a dança”, reforça. Após conversarmos numa salinha, Claudia nos mostrou todo o ambiente da biblioteca, cada cantinho cuidadosamente decorado e planejado e para qual atividade cada espaço era destinado. Ela nos mostrou o acervo, que apesar de extenso, precisa de constante atualização para ser sempre atrativo às crianças. “A gente não tem orçamento para compra de livros, então nosso acervo é formado basicamente por doações e a doação nem sempre é aquilo que necessitamos. Tem muita coisa boa, tem muito livro que recebemos, livro novo, lançamento e tudo mais, mas se pudéssemos comprar, direcionar um pouco mais o acervo seria o ideal”. Entretanto, Claudia reforça que a biblioteca tem uma seção só de livros infantis de escritores sergipanos e recebem doações a cada lançamento. Há também a gibiteca, segundo Cláudia, única biblioteca pública com gibiteca no Estado, que conta com um acervo de quatro mil exemplares, entre eles, clás-

sicas historinhas da década de 60 até os dias atuais. Além de todas as atividades relatadas que são administradas diariamente, Claudia fala sobre a programação especial para outubro. Por ser um mês conhecido como “mês das crianças”, as atividades para o período já foram todas planejadas e o agendamento para grupos escolares e instituições infantis que são o público mais frequente, já está quase esgotado. “Eles procuram muito essas datas de outubro e abril, então a gente vai ter aqui crianças todos os dias de manhã e à tarde. Geralmente nesses meses, mais de 1.500 crianças passam por aqui”, relata Claudia.

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CULTURA

Jovens Escritores de Itabaiana

Participantes do programa de Jovens Escritos de Itabaiana

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Em uma escola municipal de Itabaiana, no agreste sergipano, localizada na periferia do município, no bairro considerado o mais violento e perigoso da cidade serrana, há esperança, luz e muita leitura. Foi criado há cerca de cinco anos, na Escola Municipal Benedito Figueiredo, pela professora Inez Resende, “Inezinha”, como é chamada carinhosamente por seus alunos, um projeto de incentivo à leitura e à produção literária infanto-juvenil. Desse projeto, floresceu no ano passado um livro com contos e poesias escritos pelas crianças participantes do projeto, intitulado I Seleta de Jovens Escritores de Itabaiana. “Já estamos trabalhando para a II Seleta, provavelmente sairá ano que vem”, conta a idealizadora. O projeto teve início com a contação de histórias. “Eu contava histórias para os meus alunos, mas vi que eles não davam muita importância; então comecei a encenar, levar fantoches, os deixei escolherem qual historinha queriam ouvir. Então, vi que isso despertou o interesse e a dedicação deles”, relata Inez. O projeto criado por “Inezinha”

enfrenta algumas dificuldades. Como a escola se localiza no bairro mais violento de Itabaiana, Inez tem um trabalho redobrado; além de incentivar os alunos a ler, ela também os incentiva, desde pequenos, a seguir o caminho do bem e da honestidade, já que muitas crianças da localidade estão desde cedo envolvidas com o tráfico de drogas e com assaltos. É uma realidade triste e chocante. “Eu gostava de levar as crianças para ler na quadra, mas não posso mais fazer Inez afirma que conseguiu despertar nas crianças, através da contação de histórias, a vontade de ler e de escrever. Hoje eles escrevem sobre o que gostam, seja vivências próprias ou histórias inventadas, o que vale é o ditado popular: “eles tomaram gosto pela coisa”. O resultado do esforço e da dedicação da professora e dos seus alunos foi o livro I Seleta de Jovens Escritores de Itabaiana, lançado no ano passado. O livro reúne textos de participantes do projeto; a maioria já é pré-adolescente, mas estão com Inez desde a fase de contação de histórias, onde tudo começou.

Lançado na Bienal do livro de Itabaiana, a I Seleta foi um sucesso. “Os meninos ficaram felizes por vender os livros e usar o dinheiro para ajudar em casa”, diz Inez, que tem muitos planos para o futuro de seu projeto. Ela pretende lançar em 2017 o segundo livro, que já está em produção, com textos de novos participantes. A iniciativa de Inez deixa uma lição para a sociedade: nunca se pode deixar de acreditar nas crianças e nos seus talentos, e o mais importante: em qualquer árvore podemos colher bons frutos. Não importa se o bairro é violento e cercado por drogas, lá sempre vai haver pessoas que estão apenas a espera de uma oportunidade para brilhar, para mostrar que pode ser um escritor, um bom leitor e que pode ser motivo de orgulho. isso, pois alguns rapazes já ocuparam a quadra para usar drogas”, conta a professora, que já viu alguns ex-alunos serem assassinados por envolvimento com tráfico de drogas e assaltos. “É triste a realidade da maioria das crianças, mas a gente faz nossa parte através da educação”.

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SAÚDE

Vegetarianismo, orgânicos, mais saúde JULIA FREITAS

Os novos hábitos alimentares dos brasileiros O Mercado do Augusto Franco é um dos locais indicados pelo aplicativo do Idec onde o consumidor pode comprar alimentos orgânicos diretamente dos produtores

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uscando uma maior produtividade de alimentos no mundo, a chamada “Revolução Verde”, que começou após a Segunda Guerra Mundial, prometia, além de uma produtividade maior, alimentos mais saudáveis para a população. Entretanto, áreas inteiras foram desapropriadas para monocultivos, muitas vezes de transgênicos, sempre utilizando agrotóxicos, produzidos pelas mesmas indústrias de guerra que produziam o “gás da morte” nazista e o “agente laranja” americano.

No Brasil, os agrotóxicos passaram a ser utilizados de forma mais ampla a partir da década de 1970. E mesmo com tantos estudos mostrando o quanto essas substâncias são nocivas para os organismos vivos (sejam para as próprias plantas ou para os animais em geral, incluindo o ser humano), desde 2009, o Brasil é considerado o campeão mundial na pulverização dessas substâncias nas lavouras, sejam elas de soja, feijão, batata, tomate, morango, pimentão etc.. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),

em 2009, de 3.130 amostras de alimentos coletados pela agência, em 26 estados brasileiros, 29% apresentavam uma quantidade de agrotóxicos acima do permitido. Como no caso do pimentão, que chegou a 80% de substâncias tóxicas, incluindo 18 substâncias proibidas no Brasil e em outros países. O consumo e/ou contato com essas substâncias através dos alimentos, da água ou até mesmo do ar, podem gerar uma série de prejuízos à saúde. Como, por exemplo, danos ao sistema nervoso central, redução da imunidade biológica,

danos à memória, até mesmo em crianças, e a morte, como já ocorreu com diversos produtores rurais.

MUDANÇA DE HÁBITOS Orgânicos, integrais, “zero lactose”, “zero adição de açúcares”... A cada dia que passa, esses termos se tornam cada vez mais comuns no vocabulário dos brasileiros, nas prateleiras dos supermercados, mas, principalmente, na alimentação de uma parcela da população brasileira preocupada com o que ingerem. Número 3, 2016.1


SAÚDE

Julia Freitas

julia.freitasgois@gmail.com

Seja através de programas de televisão, sobretudo os programas de culinária e de saúde, ou da internet e revistas, cada vez mais recebemos informações sobre os benefícios de uma alimentação saudável e dos perigos dos agrotóxicos. Isso vem transformando os hábitos alimentares dos brasileiros, como mostrou uma pesquisa realizada pela Proteste - Associação de Consumidores, em 2015. Segundo a pesquisa, as pessoas estão levando a sério o ditado “você é o que come”, principalmente as mulheres e aqueles que possuem maior escolaridade. Dos 760 participantes da pesquisa, 48% comeram menos proteína de origem animal no ano anterior, e destes, 89% a substituíram por alguma proteína de origem vegetal, como a soja. Os entrevistados desse estudo revelaram ainda que se preocupam com a quantidade de agrotóxicos utilizados na agricultura e de hormônios na criação de animais para abate. Por isso, 94% estariam dispostos a consumir mais produtos orgânicos ou pagar mais caro por alimentos mais saudáveis, além de diminuírem o consumo de carnes nas refeições semanais. Algumas pessoas passaram a não só diminuir o consumo de carnes nas refeições, mas também excluí-la de forma definitiva, como é o caso da Tanise Carvalho. Gaúcha de Esteio, ela conta que se tornou vegetariana após assistir um documentário que mostrava o quanto o consumo de carnes afeta o meio ambiente. “Me senti hipócrita por não tolerar um papel no chão e, ao mesmo tempo, ser cega aos malefícios que eu mesma causava através da minha alimentação. Desde então, nunca mais comi nenhum tipo de carne”, comenta. Entretanto, os alimentos produzidos em grande escala e que

utilizam agrotóxicos continuam aparecendo em maior quantidade nas feiras e supermercados, e com preços mais baixos do que os orgânicos e saudáveis. Esse fator faz com que muitas pessoas ainda consumam esses alimentos, mesmo tendo, ao menos, uma noção dos riscos que eles trazem. Para a comerciária Dulcinéa de Lacerda, “se houvesse uma demanda maior e, consequentemente, um barateamento dos produtos livres de agrotóxicos, eu iria consumi-los de forma mais frequente”.

MERCADO DE ALIMENTOS Segundo o OrganicsNet, projeto da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), o mercado brasileiro de produtos orgânicos vem crescendo nos últimos anos com taxas superiores à média global. Em 2015, o crescimento foi de 25% e, em 2016, a expectativa real é de um crescimento de 30%. Superando as médias globais de 5% e 11% nos últimos anos, mesmo o país representando apenas 1% da produção e consumo desses alimentos. Se essa expectativa de crescimento se confirmar, o faturamento brasileiro deve ultrapassar a marca de R$ 3 bilhões neste ano. Segundo Ming Liu, coordenador executivo do Organics Brasil, o crescimento do mercado de orgânicos no país vem sendo impulsionado pelos consumidores que buscam alimentos sem agrotóxicos ou mais sustentáveis, mas esbarra na organização da cadeia produtiva e do sistema de certificação. Em 2014, a ONU passou a destacar as vantagens socioeconômicas da agricultura familiar. Se em 2004, o setor movimentava US$ 29 bilhões, em 2013, o faturamento desse mercado cresceu quase 250%, chegando a um valor estimado em US$ 72 bilhões.

O SIMPLES E DIÁRIO ATO DE SE ALIMENTAR TORNOU-SE UM ATO POLÍTICO

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Contexto

Interface do aplicativo “Mapa de Feiras Orgânicas”, do IDEC.

Feira na mão

Em março de 2016, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) lançou um aplicativo em parceria com a campanha “Brasil Saudável e Sustentável”, do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), para mapearem as feiras de produtos orgânicos existentes no país. Ao contrário do site homônimo (“Mapa de Feiras Orgânicas”), lançado em 2012, o novo aplicativo identifica os pontos de venda próximos ao local em que o usuário está no momento e permite traçar rotas até a feira escolhida. Além de reunir receitas saudáveis e sustentáveis. Ana Paula Bortoletto, nutricionista e pesquisadora do Idec, afirma que o objetivo do aplicativo é facilitar o contato entre os consumidores e os produtores de produtos orgânicos. Ainda segundo ela, “a atualização dos dados do mapa é feita de forma colaborativa. Produtores e consumidores podem cadastrar novas feiras ou atualizar informações dos locais já existentes para nos ajudar a manter as informações sempre em dia”. O aplicativo é gratuito e já está disponível para aparelhos que utilizam a plataforma Android.

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SAÚDE

Gravidez na adolescência e evasão escolar Kamille Perez Pereira Ramos

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entro de um quarto cor de rosa, com pôsteres de banda e ursinho de pelúcia, Vitória mostra, alisando a barriga enorme, as roupinhas do bebê que vai nascer daqui a três meses. Ela, que tem apenas 16 anos, está grávida do primeiro filho, e, por causa da gestação, largou os estudos e dedica-se exclusivamente a maternidade.

“Não foi uma coisa que eu planejei, mas tudo se torna mais difícil quando você está grávida. As pessoas no colégio e na rua me olham torto, uns ficam com pena, outros me julgam, fora o trabalho que dá para andar com essa barriga enorme. Achei melhor parar de estudar, mas assim que eu puder voltar, voltarei.” Conta a adolescente ao ser questionada pelos motivos que a fizeram desistir do colégio.

Vitória é só mais uma na estimativa feita pelo Movimento Todos pela Educação, em 2015. Segundo a pesquisa, de quatro adolescentes grávidas, apenas uma conclui o ensino básico. A gravidez na adolescência é um dos principais fatores de evasão escolar. Na maioria dos casos, as adolescentes deixam a escola em busca de trabalho e novas formas de sustento. As garotas, depois que se afastam para cuidar do bebê, encontram muitas dificul-

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dades para retomar os estudos e acabam desistindo.

De acordo com a assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde de Aracaju, os anos de 2012 e 2015 foram os que tiveram mais grávidas abaixo dos 19 anos na capital. Exatamente 1540 e 1533, respectivamente, meninas deram à luz. Em 2016, o índice diminuiu, foi para 961 grávidas. Para a assessoria, a diminuição se deve aos programas e projetos sociais que estão sendo desenvolvidos nas escolas para conscientizar as adolescentes. Para a mãe da Vitória, um dos fatores que provocaram a gravidez precoce foi a desobediência. Segundo ela, a filha deixou-se influenciar pelo namorado. “Ela sempre soube como evitar isso, aprende na escola, na televisão e até aqui em casa. Aí conheceu esse menino, que agora não está ‘nem aí’ para ela, e quando foi ver, estava grávida. Nós (a mãe e o pai) só soubemos do namoro quando ela disse que estava esperando um bebê, foi um choque! Mas quando já tá feito, né? Temos que apoiar e cuidar.” A adolescente mora com os pais e o irmão mais novo de apenas 03 anos. Conheceu o pai do filho que está esperando através de amigos

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SAÚDE

“NÃO FOI UMA COISA QUE EU PLANEJEI, MAS TUDO SE TORNA MAIS DIFÍCIL QUANDO VOCÊ ESTÁ GRÁVIDA[...]”

em comum, e, com menos de um mês de namoro, resolveu fazer sexo sem preservativo. O também adolescente de 16 anos sugeriu o aborto, mas como Vitória se negou, ele desapareceu. “Eu não ia arriscar minha vida com um aborto, tenho medo dessas coisas. Graças a Deus meus pais estão me ajudando nessa. Eu vou cuidar do meu filho sozinha, ele não precisa de um pai que não presta”, desabafa a adolescente.

De acordo com Juliana, o apoio paterno é “essencial desde a descoberta”. Ela engravidou aos 18 anos, quando tinha acabado de ingressar na faculdade e conseguido um estágio na área. “Eu tive a oportunidade de seguir firme com meu curso, mas, claro, num ritmo diferente. Me atrasei um pouco e hoje em dia a rotina tem sido bem mais puxada pelo fato de estar “correndo contra o tempo” pra conseguir me formar com o menor atraso possível.” Hoje a rotina de Juliana é outra, as prioridades mudaram e a responsabilidade triplicou. Ela deixa a filha na escolinha e conta com a ajuda da sogra desde o nascimento da menina. “Quando me adaptei e passei a ter confiança em mim mesma como mãe, pude agradecer tranquila por tudo ter dado cer-

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to. As prioridades foram trocadas de lugar, mas eu nunca aceitaria/ aceito vitimizar o que aconteceu. Qualquer mulher consegue e mesmo com as dificuldades, que surgem para qualquer pessoa, com um suporte familiar tudo se encaixa.” Para Larissa a realidade foi outra. Ela atualmente tem 23 anos, mas engravidou aos 17. Sem o apoio da família e do pai da criança, a jovem abandonou os estudos e ainda não conseguiu concluir o ensino médio. “Logo que engravidei tive que me virar para sustentar meu filho. Até hoje, mesmo ele com sete anos, não consegui terminar. Trabalho de manhã e de tarde, à noite cuido do Arthur . Ele é a coisa mais importante da minha vida, mas eu abri mão de tudo por causa dele. O que eu quero dizer para as meninas jovens é que o melhor é concluir os estudos. Elas tem que tomar muito cuidado para não engravidar, porque filho é uma coisa séria e é para o resto da vida.” A equipe de reportagem da Revista Mais Contexto procurou a Secretaria de Educação de Aracaju para falar sobre os programas de conscientização desenvolvidos nas escolas públicas, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

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SAÚDE

Setembro Amarelo, Outubro Rosa e o Novembro Azul

CAMPANHAS EDUCATIVAS ADOTAM MESES DO ANO PARA REFORÇAR A IMPORTÂNCIA DA CONSCIENTIZAÇÃO DA POPULAÇÃO NA PREVENÇÃO DE DOENÇAS QUE MAIS CAUSAM MORTES NO PAÍS

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SAÚDE

Por Beatriz Bomfim e Francielle Santos

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lertar a população sobre a importância da prevenção de doenças tem sido a proposta de diversas ONGs e instituições. Elas buscam através de campanhas educativas levar informação para as diversas camadas da sociedade, promovendo ações em espaços públicos e privados, como escolas, hospitais e empresas. Nos últimos anos, tornou-se cada vez mais importante e recorrente o desenvolvimento desses tipos de ações informativas relacionadas à saúde, que tiveram seu pontapé inicial ainda nos anos de 1970, com a campanha de vacinação contra a poliomielite, com o Zé Gotinha, e hoje, traz inúmeros trabalhos realizados com o foco na prevenção de doenças. Atualmente, no Brasil, três campanhas têm chamado atenção pela importância do seu cunho e por se tratar de um problema com índices alarmantes. O Setembro Amarelo, uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, o Outubro Rosa, que fala sobre a prevenção do câncer de mama e o Novembro Azul, que traz um alerta sobre uma das doenças que mais mata no país, o câncer de próstata. A cor e o mês de cada campanha não foi escolhido de forma aleatória. Trazendo como ícone a cor amarela, que representa a cha-

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ma da vida e da esperança, o mês de Setembro foi escolhido por ser o período com maior incidência de suicídios no mundo e também porque o dia 10 é marcado como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. A campanha teve início em 2014 com o objetivo de alertar a população a respeito da realidade do suicídio no Brasil e no mundo e de informar suas maneiras de prevenção e tratamento da doença. Uma das principais estratégias de comunicação adotadas pelos coordenadores da campanha são as intervenções em locais públicos e privados, como escolas, hospitais e empresas para a promoção de debates e discussões sobre o tema. Segundo a psicóloga Alessandra de Araújo, é um equívoco pensar que quem se mata não procura algum tipo de ajuda, principalmente no seio familiar. É por isso que o desenvolvimento de campanhas de prevenção tem caráter tão importante. “A principal motivação do suicídio é, na maioria das vezes, acabar com a dor, como se tirar a própria vida resolvesse os problemas com os quais não conseguem lidar. A campanha vem informar que a ciência psicológica e médica tem hoje total condição de ajudar, a desenvolver habilidades para a resolução dos transtornos de humor, entre outros dramas que a pessoa não tenha sozinha capacidade de

resolver”, explica Araújo. A psicóloga explicou ainda que um dos agravantes para o aumento do número de suicídios é a resistência de algumas pessoas em procurar ajuda especializada, como psicólogos ou psiquiatras, seja por vergonha ou mesmo por falta de informação. Pensando nisso, o Ministério da Saúde, em parceria com ONGs, e os conselhos de medicina, psicologia e enfermagem se juntaram para promover ações com cartilhas informativas e sites especializados voltados especificamente para este assunto. Em Aracaju, a Liga de Saúde Mental, em parceria com outras instituições promoveram uma série de ações, entre elas, palestras, encontros e passeatas, como a 2ª Caminhada pela Vida, que ocorreu no último dia 11 de setembro, e trazia o tema “Diga sim à vida!”. A programação incluiu também caminhadas pelo calçadão da 13 de Julho, onde participantes do projeto distribuíram rosas amarelas com folheto de alerta com os sinais de risco do suicídio, e a realização da conferência “Espiritualidade e qualidade de vida em pacientes com comportamentos suicidários e parassuicidários”, ministrada pela médica especialista em saúde mental e atenção psicossocial Juliana Leal Maia, que finalizou a programação da campanha.

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SAÚDE

Saúde da mulher e a prevenção do câncer de mama no Outubro Rosa Escolhido para ser o mês voltado à saúde da mulher, Outubro Rosa é considerada como uma das principais campanhas de saúde voltada para a prevenção do câncer de mama. Em todo o país, diversos setores da saúde promovem eventos de conscientização sobre a importância da realização do autoexame da mama, por meio do qual a própria mulher faz uma série de toques no seio a procura de possíveis nódulos ou protuberâncias que podem ser ou não um indicativo do câncer. Em Sergipe, a principal instituição responsável pelas campanhas do Outubro Rosa é a Associação de Amigos da Oncologia (AMO), que dentre as atividades previstas na programação, os destaques desta edição ficam por conta do projeto “Olhares sobre a luta”, idealizado pela agência Base Propaganda, e do Ensaio Fotográfico “Pintaram Tudo de Vida”, do fotógrafo e maquiador Anderson Adler. As fotos e telas de quatro pacientes da associação que estão lutando contra o câncer de mama em diferentes estágios da doença foram expostas ao público do Shopping Jardins durante todo o mês de outubro. Elas se apresentavam com um dos símbolos da campanha: os

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turbantes, criados a partir de telas doadas por artistas sergipanos, exibindo as variadas utilidades dos lenços e passando uma mensagem de superação e de beleza. A atividade também contou com a participação das responsáveis pelo projeto “Por Mais Turbantes Nas Ruas”, que realizaram oficinas e ensinaram algumas amarrações de lenços. O público que passava pelo local pode contribuir com a instituição comprando, além das telas e turbantes, as camisas do Outubro Rosa e outros artigos da AMO. Com o apoio da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas, a AMO promoveu também a Caminhada das Vitoriosas, que aconteceu no último dia 6 de outubro. A concentração e saída ocorreu às 8h, na sede da instituição, com destino ao Calçadão das ruas João Pessoa com São Cristóvão. A Caminhada contou com a participação de pacientes da oncologia e de representantes de organizações sociais e teve como objetivo sensibilizar a sociedade sergipana sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama com roupas e acessórios com a cor-símbolo da campanha, o rosa.

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SAÚDE

Novembro Azul busca conscientização na saúde do homem Além das campanhas de prevenção ao suicídio e ao câncer de mama, outra doença que recentemente despertou atenção da sociedade brasileira foi o câncer de próstata. Com uma estimativa de cerca de 69 mil novos casos no último ano, a doença vem sendo considerada pela comunidade médica como o segundo tipo de câncer mais prevalente na sociedade brasileira, seguido pelo câncer de mama feminina (57 mil), cólon e reto (33 mil), pulmão (27 mil), e estômago (20 mil). Nos últimos anos, o número de pacientes com câncer de próstata ganhou números alarmantes, chamando atenção de diversos setores da sociedade para a importância da conscientização do exame e do tratamento dessa doença que é considerada uma das que mais ceifam vidas no país. O problema se tornou ainda mais grave pelo fato de os homens demoram a procurar um médico, seja para fazer exames de rotina ou mesmo para enfermidades mais evidentes. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), as mulheres tendem a buscar mais serviços para realização de exames de rotina e prevenção, enquanto os homens tendem a procurar mais serviços de saúde por motivo de doença. Segundo a psicóloga Geo-

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vanna Santana, a falta de interesse em buscar ajuda especializada pode estar associado à própria socialização dos homens, em que o cuidado não é visto como uma prática masculina, e estes só procuram ajuda médica quando não há mais escapatórias disponíveis. “Enfatizar a importância dos cuidados em saúde torna-se indispensável para a população masculina e motiva o Ministério da Saúde e as Secretarias a desenvolverem projetos interventivos que motivem os homens a buscarem serviços de saúde”, comenta Santana. Visando reduzir a incidência desse tipo de câncer, o Ministério da Saúde propôs a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer, e a implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), que vão trabalhar por meio de ações contínuas levar informação à população quanto aos fatores de risco que podem levar ao desenvolvimento de doenças. Desta forma, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) vem compondo, junto às Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, programas nacionais de controle do câncer que visam à promoção à saúde e intervenção eficaz para detecção precoce do câncer. Em Aracaju, o mês de novembro tem sido usado para intensificar os

cuidados preventivos junto à população masculina, além de possibilitar aos homens maiores informações sobre o câncer de próstata e seus exames preventivos. Neste contexto criou-se a Campanha Novembro Azul empreendida pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, que surgiu com objetivo de conscientizar a população masculina sobre o câncer de próstata, visando a diminuir a alta taxa de mortalidade provocada pela doença. Durante todo o mês são realizados eventos com promoção de informações e divulgação de cuidados, propondo-se a fazer com que os homens mantenham uma alimentação saudável, pratiquem atividade física regularmente, cuidem-se sexualmente, previnam-se contra violência e acidentes, e que não deixem de procurar assistência médica. A psicóloga salienta ainda que a Campanha Novembro Azul não foi criada para obrigar os homens a realizar o PSA ou toque retal, mas que consiste apenas em uma proposta de esclarecimento, que pretende informar sobre cuidados em saúde, inclusive sobre fatores de riscos e a importância da detecção precoce do câncer de próstata, estimulando-os ao autocuidado.

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CULTURA

Sergipe realiza projetos voltados para a educação patrimonial Menor estado do Brasil possui duas cidades históricas e 23 bens protegidos em âmbito federal. Fagner Honorato

Anderson Schneider/IPHAN

Email: fagnerhonorato@hotmail.com

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atrimônio é um conjunto de bens deixados pelos nossos antepassados. Um lugar, um monumento ou uma manifestação popular. Seja material, que é algo tangível, como por exemplo, uma obra de arte ou uma velha construção, seja imaterial, aquilo que não podemos tocar, como uma receita de bolo ou uma dança, ou arqueológico, que são indícios ou vestígios de civilizações e culturas passadas deixado ao longo do tempo, sendo muito importante para a cultura e a economia de uma sociedade.

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Praça São Francisco. São Cristovão - SE

Quando o patrimônio é trabalhado no âmbito da educação, ele passa a ser denominado como Educação Patrimonial, uma relação que foi totalmente fundida no sentido de preservar a memória de um povo. Segundo o Iphan, Sergipe possui duas cidades históricas, Laranjeiras e São Cristóvão, e 23 bens protegidos em âmbito federal, distribuídos em nove municípios: Divina Pastora, Nossa Senhora do Socorro, Santo Amaro das Brotas, Tomar do Geru, Riachuelo, Itaporanga D’Ajuda e Estância. Mas, é no centro histórico de

São Cristóvão onde está localizado o único testemunho dos 60 anos de união entre Portugal e Espanha do período colonial no Brasil, também conhecida com a Praça São Francisco. Fundada em 1607, junto com a cidade, a Praça é um patrimônio protegido em nível estadual e nacional e designado Patrimônio da Humanidade, em 2010, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), pelo seu valor como documento histórico paisagístico, urbanístico e sociocultural.

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Acervo da DPHAC

CULTURA

Romaria reúne milhares de fiéis

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odos os anos a procissão do Senhor dos Passos, que também ocorre em São Cristóvão, reúne milhares de pessoas de todo o Brasil, alguns usando túnicas roxas e crucifico, outros de pés descalços, pagando alguma promessa demonstrando a sua fé, mudando o completamente o aspecto da cidade formado uma nova paisagem cultural totalmente voltada para a festa. Esse novo cenário acabou sendo contemplado como patrimônio cultural e aprovado como bem imaterial sergipano pelo Conselho Estadual de Cultura, em 2010. É nesta época em que a bolachinha de goma, uma receita feita à base de goma seca e farinha de mandioca, considerada um patrimônio material, aumenta o seu número de vendas gerando um bom dinheiro para as doceiras de São Cristóvão, e aí onde enxergamos a

importância do patrimônio para a economia de uma cidade. A paisagem cultural, ou seja expressões das atividades humanas, nasceu no âmbito da geografia e ainda é um tema pouco discutido. Quando olhamos a Praça Fausto Cardoso conhecida também como a praça dos três poderes nós enxergamos uma paisagem cultural devido às edificações que estão em torno, que são o Palácio Museu Olímpio Campos, o Palácio Fausto Cardoso, a Ponte do Imperador, a Delegacia da Receita Federal e a própria praça com os seus coretos e suas esculturas e também as palmeiras imperiais, estas consideradas como patrimônio natural. Tudo isso junto forma uma paisagem cultural e pode vir a se tornar um patrimônio a depender do seu significado histórico para a comunidade que dela usufriu.

Esse novo cenário acabou sendo contemplado como patrimônio cultural e aprovado como bem imaterial sergipano

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Praça Fausto Cardoso conhecida também como a praça dos três poderes

O que Sergipe está fazendo pela educação patrimonial? Por ser considerado um estado onde a cultura é imensamente presente na sua população, podemos afirmar que a educação patrimonial é indispensável para que a história dos sergipanos não se apague. Para isso, o Estado vem trabalhando em atividades voltadas para educação patrimonial através da Diretoria do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de, que criou em 2015 o programa “Preserva Sergipe” e, integrado a ele, o Projeto de Educação Patrimonial “Uni Uni Vê, Venha, Venha Conhecer”, que contempla os 75 municípios sergipanos. A primeira etapa do projeto foi realizada em agosto deste ano, tendo como público alvo inicialmente os estudantes do ensino médio, e em seguida, promo_verá etapas voltadas também para os alunos do ensino fundamental. Esse projeto trata basicamente sobre noções e conceitos de forma clara do que é patrimônio cultural. “Muitos estudantes não sabem ou nunca ouviram falar. Até conhecem a palavra patrimônio, mas nunca fizeram a ligação de patrimônio com a cultura”, afirma o diretor do DPHAC da Secult, Marcos Paulo. Projetos para o ensino infantil ainda não foram desenvolvidos pelas instituições competentes (DPHAC e Secretaria da Educação), e segundo o diretor, é obrigação do Estado trabalhar em projetos paras as crianças relacionadas a educação patrimonial seja através de atividades ou de forma lúdica.

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EDUCAÇÃO

OS PREPARATIVOS PARA O ENEM E A EXPECTATIVA ENVOLVENDO AS ESCOLAS SERGIPANAS

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EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO (ENEM) FOI CRIADO EM 1999 PELO GOVERNO FEDERAL PARA AVALIAR OS ESTUDANTES DAS REDES PÚBLICA E PRIVADA DE ENSINO, E SE DESTACA PRINCIPALMENTE, POR USAR AS NOTAS DAS PROVAS COMO CRITÉRIO PARA O INGRESSO NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR EM TODO O PAÍS. AO MESMO TEMPO, OS RESULTADOS DAS PROVAS AJUDAM O GOVERNO A PLANEJAR SUAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS, ASSIM COMO CONTRIBUEM NA ANÁLISE DO DESEMPENHO DOS ALUNOS QUE PARTICIPAM DO EXAME. EM VIRTUDE DISSO, A UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE (UFS) ADOTOU OS RESULTADOS DO EXAME NACIONAL DESDE 2013 E ADERIU AO SISTEMA DE SELEÇÃO UNIFICADA (SISU) A PARTIR DE 2014. Rede privada de ensino

Desde a criação do Exame, as escolas particulares se destacam com médias superiores às alcançadas pela rede pública de ensino, um cenário observado nas principais cidades brasileiras, inclusive em Aracaju. Segundo dados do Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (INEP), das vinte escolas sergipana mais bem colocadas no Enem 2015, apenas uma não faz parte da rede particular de ensino, tendo o Colégio Master conquistado por sete vezes a melhor média geral entre as instituições de ensino do Estado. De acordo com Fernando Monteiro, supervisor pedagógico do Master, o colégio possui a clara percepção de que a construção do conhecimento parte do princípio da capacidade de despertar o interesse do aluno para este fim. “Sem o encantamento do aluno não há interesse pela produção de ideias”, disse ele. Explica ainda, que ao longo do

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André Oliveira e Luiz Sérgio andremelomail@yahoo.com.br sergio_teles_simoes@hotmail.com ano vários projetos são desenvolvidos no sentido de reforçar a preparação do aluno para o Enem, como as oficinas de redação e as aulas de revisão, que trabalham um único tema através de abordagens diversas e interdisciplinares. Além disso, o Master entende que preparar o aluno não se restringe apenas ao âmbito pedagógico, e investe em outras práticas complementares que se mostram fundamentais no processo de aprendizado. Por este motivo, os estudantes contam com um setor de psicologia que promove encontros de orientação profissional, bem como a realização de aulas de yoga que trabalham a prevenção da ansiedade e estresse decorrentes do processo preparatório para o Enem. Na opinião do supervisor, o colégio historicamente possui resultados expressivos no Enem, e em regra, o aluno que ingressa no Master vem estimulado a buscar resultados expressivos. “Cabe a nós, trabalhar o aluno, utilizando mecanismos de aferição das fragilidades e forças destes estudantes para uma maior eficiência dos seus resultados”, concluiu Fernando Monteiro. Da mesma forma, o Colégio da rede privada Lavoisier se destacou no Enem 2015, conseguindo a décima segunda melhor média entre as escolas sergipanas. A coordenadora pedagógica da escola, Marta Rodrigues, explica que o suporte que os professores têm dado aos alunos, contribui para os bons resultados no exame. Segundo ela, mesmo durante o primeiro ano do ensino médio, a escola procura incentivar os seus alunos a participar do processo seletivo como uma forma deles se familiarizarem com as provas.

As questões são contextualizadas no formato do Enem com o objetivo de dar segurança e proporcionar uma rápida adaptação ao conteúdo exigido, completa a coordenadora. Todos os esforços que envolvem a preparação para o Enem se tornam pouco, diante da ansiedade de fazer uma boa prova e conquistar o espaço desejado, afirma a estudante Ana Carolina, 17 anos, aluna do 3º ano. Nesse sentido, a escola busca trabalhar o emocional dos seus alunos. “Levamos mensagens motivacionais para que eles saibam como enfrentar este desafio, pois o fato de participar do Enem não é garantia de aprovação. Se não for agora, no próximo ano deve tentar novamente, explica Rodrigues. Rede pública

Apesar de a rede particular de ensino obter as melhores médias do Enem e dominar o ranking entre as instituições sergipanas, algumas escolas públicas merecem destaque. De acordo com o resultado do Enem 2015 divulgado pelo Ministério da Educação, o Colégio de Aplicação da UFS (Codap) alcançou a oitava melhor média entre as escolas sergipanas, sendo a primeira entre as escolas públicas do Estado. O colégio que pertence a rede pública federal de ensino, baseia sua metodologia em fatores que visam a formação crítica, contextualizada e socialmente referenciada dos seus alunos, e de

acordo com a diretora da escola, Marília Menezes, estes aspectos pedagógicos se voltam para o pleno desenvolvimento de uma vida cidadã e não somente para o momento de preparação do Enem. A partir do ensino fundamental o aluno é incentivado a adquirir este perfil em sua formação, fazendo com que ele tenha êxito nas avaliações do Enem, visto que o Exame Nacional exige habilidades que o colégio trabalha durante o período letivo. “Não é uma preparação exclusiva para o Enem, é apenas um aspecto da formação do ensino médio que é desenvolvido pelo Colégio de Aplicação”, afirma Marília Menezes. Além destes aspectos pedagógicos, a escola oferece ações que procuram ajudar os alunos a diminuir a ansiedade que antecede as provas, principalmente nas turmas dos 3º anos. De acordo com a diretora, o colégio evita o assunto Enem de forma exaustiva, e devido a isso, eles começam a achar que não estão preparados para o exame, mas no final acabam se surpreendendo com os próprios resultados. Para ajudar neste processo a instituição de ensino conta com o trabalho de Número 2, 2016.1


EDUCAÇÃO

APESAR DE AS ESCOLAS DA REDE PÚBLICA ATHENEU E CODAP SE DESTACAREM NO ENEM, A REDE PARTICULAR DOMINA O RANKING DAS MÉDIAS POR ESCOLA.

psicólogos que estão sempre alertando os alunos que apesar de ser o principal meio de acesso ao ensino superior, o Enem não é o único. Referência em ensino público

Para se destacar entre as instituições de ensino de Sergipe, o Colégio de Aplicação tem uma preocupação com corpo docente enquanto um aspecto fundamental para atingir tais resultados. Conforme explica Marília Menezes, a maioria dos professores do colégio são mestres, doutores e pós-doutores, com dedicação exclusiva ao Codap, possibilitando melhor acompanhamento ao aluno e a escola. “São professores que investem em novas metodologias de ensino, repercutindo de maneira positiva entre os alunos”, completa a diretora. Yuri Guilherme, 16 anos, estudante do Colégio, disse que a última greve que afetou a escola quase tirou a sua esperança em conseguir um bom desempenho no Enem. Segundo ele, ficou difícil conciliar o período na escola e o tempo necessário para se preparar para as provas do Enem, mesmo assim, ele não perde as expectativas. “Eu estou preparado porque sempre proNúmero 2, 2016.1

curei resolver as questões das provas passadas. O colégio tem dado um suporte maior depois da greve, com os professores se disponibilizando para acelerar o processo e trazer dúvidas do primeiro e segundo ano, completa o estudante. Além disso, o fato de haver um setor técnico e pedagógico ampliado, permite que na escola exista a prática de acompanhar de perto todas as turmas, diminuindo a disparidade. Da mesma forma, o envolvimento antecipado dos alunos em iniciação científica e o ingresso em atividades de pesquisa, contribuem para acelerar a rotina de conhecimento das turmas. Como afirma Marilia Menezes, o objetivo do Colégio de Aplicação não é competir com outras escolas. A boa colocação no ranking do Enem é resultado das práticas pedagógicas que são realizadas na escola. “Quando se fala em educação pública não quer dizer que somos superiores. O papel do Codap é ser referência e construir oportunidades de diálogo com a rede para avançarmos juntos e construirmos boas escolas públicas. É satisfatório uma boa colocação, mas não é bom que sejamos os únicos, é interessante que todos consigamos subir”, finalizou a diretora. Outra escola pública a se destacar no ranking é o Colégio Estadual Atheneu Sergipense, que no Enem 2015 conseguiu alcançar um índi-

ce de aprovação de 83%, conforme dados da Secretaria de Educação do Estado (SEED). Segundo o diretor da escola, Daniel Lemos, a unidade exibiu a melhor média geral entre os colégios públicos estaduais no exame de 2015. Ele explica que critérios socioeconômicos e técnicos foram utilizados na análise dos resultados das médias, com o objetivo de contextualizar o cenário do ensino escolar no Brasil, visto que antes, o ranking geral desconsiderava as particularidades das escolas e terminava por não demonstrar a realidade do Enem. “É complicado comparar o aluno considerado classe média baixa com o de classe alta, o segundo tem acesso a ferramentas que auxiliam no processo de conhecimento, possui um intenso acompanhamento pedagógico, psicológico e de saúde que certamente influenciam no resultado do Enem”, afirma Lemos. Os alunos do Atheneu estão inseridos no sistema integral de ensino, com isso, passam os turnos da manhã e tarde na escola. Nesse período, eles cursam as disciplinas que compõem a base nacional, adicionadas a outras disciplinas que servem de suporte, é o caso das oficinas de interpretação de textos, matemática e literatura. Além disso, constantemente é feito exercícios de redação e simulados de forma que o professor possa acompanhar a evolução de cada aluno dando as dicas necessárias. Para o diretor do colégio são ações que ajudam o aluno a compreender melhor os assuntos e contribuem para que ele desenvolva um olhar diferenciado em relação a cada tema. Caroline Menezes de 17 anos, aluna do Atheneu, espera ansiosa

pela sua participação no Enem. Para ela, existem dificuldades no ensino público, porém, o Atheneu oferece para os alunos uma boa estrutura de ensino e uma equipe de professores capacitada. “O meu objetivo é conseguir entrar na Universidade e para isso é necessário ultrapassar barreiras”, disse a estudante. Realidades opostas

Por outro lado, a maioria das escolas pertencentes à rede pública de ensino, apresenta um baixo índice de alunos aprovados no Enem. Apesar disso, a professora do Colégio Estadual Nelson Mandela, Adriana Côrtes, mostra confiança nos seus alunos. Ela avalia que a prova requer muita paciência devido ao grande número de textos que acaba levando o estudante a ter dificuldades em responder todas as questões. Adriana enxerga na falta do hábito de leitura dos seus alunos, o principal obstáculo para obter sucesso na prova. “Se o indivíduo se desenvolve tendo a leitura como hábito diário, ele está preparado para as provas como a do Enem, que exige uma capacidade de compreensão e expressão textual maior na modalidade escrita. Ler e escrever são hábitos essenciais a um bom estudante, a um bom profissional e a um cidadão pleno. Infelizmente nossa cultura não estimula leitores habituais”, analisou Adriana. Eline Gonzaga, 17 anos, estudante do Colégio Estadual Ministro Petrônio Portela, acredita que o êxito na prova depende muito do aluno. Sendo assim, não fará diferença ser de escola pública ou privada, porque de qualquer forma o preparo e a dedicação serão o mesmo, disse. Contudo, a aluna enfatiza a dificuldade de se estudar em uma escola pública. “Na maioria das escolas, o ensino médio não é apropriado, é totalmente fraco por conta da falta de professores em algumas matérias, sem contar com as greves constantes, o que atrapalha ainda mais o ano letivo”, desabafa.

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EDUCAÇÃO

IDEB 2015

RESULTADOS OBTIDOS REVELAM DEFICIÊNCIAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA EM SERGIPE

E

stabelecer metas e alcançar resultados no papel tem sido parâmetros das gestões governamentais no Brasil [nacional, estadual e municipal] para se avaliar a educação básica. E enquanto os alunos da rede pública são treinados desde o início do ensino fundamental para apresentar bons resultados nas provas específicas, os números evidenciados pelos principais medidores de níveis de educação – o Inep e o Ideb – são frustrantes. No seu último levantamento, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) mostra que o Brasil e Sergipe não alcançam as metas estipuladas para o ensino básico, e como reflexo disso, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) reforça, em números, que os mesmos alunos chegam à transição para o ensino superior com deficiência no aprendizado.

AVALIADORES DE EDUCAÇÃO No último dia 8 de setembro, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) disponibilizou os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2015. O objetivo do Ideb é mensurar o desempenho do sistema educacional brasileiro a partir da combinação entre a proficiência obtida pelos estudantes em avaliações externas de larga escala (Prova Brasil e Saeb) e a taxa de aprovação, que tem influência na eficiência do flu-

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xo escolar, ou seja, na progressão dos estudantes entre etapas/anos. Segundo o Inep, o cálculo do Ideb obedece a uma fórmula bastante simples: as notas das provas de língua portuguesa e matemática são padronizadas em uma escala de zero a dez. Depois, a média dessas duas notas é multiplicada pela média das taxas de aprovação das séries da etapa, que, em percentual, varia de zero a cem. Um Ideb baixo é facilmente explicado pela combinação de resultados insatisfatórios na taxa de aprovação e/ou no desempenho na Prova Brasil. Levando em consideração a forma de cálculo, para elevar o Ideb, as redes de ensino e as escolas precisam melhorar as duas dimensões do indicador simultaneamente, uma vez que, se um sistema de ensino retiver seus alunos para obter resultados de melhor qualidade no Saeb ou Prova Brasil, o fator fluxo será prejudicado, indicando a necessidade de melhoria do sistema. Se, ao contrário, o sistema apressar a aprovação de alunos com baixo desempenho, o resultado das avaliações indicará igualmente a necessidade de melhoria do sistema. As metas bienais de qualidade a serem atingidas foram calculadas pelo Inep considerando o estágio de desenvolvimento educacional que a unidade considerada (escola, município e estado) estava em 2005. Assim, propôs-se uma trajetória para cada unidade. A lógica é a de que cada instância evolua de forma a contribuir para que o Brasil atinja o patamar educacional da média dos países da Organização

para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em termos numéricos, isso significa progredir da média nacional 3,8, registrada em 2005, na primeira fase do ensino fundamental, para um Ideb igual a 6,0, em 2022, ano do bicentenário da Independência.

OS RESULTADOS De acordo com os dados apresentados no resumo técnico do Ideb, elaborado pelas diretorias de estatísticas educacionais e de avaliação da educação básica do Inep, considerando o desempenho de todas as redes de ensino, os resultados do Ideb mostram que o país segue melhorando seu desempenho nos anos iniciais do ensino fundamental, alcançando em 2015, um índice igual a 5,5. Superando a meta proposta em 0,3 ponto. O estado do Ceará superou a meta proposta para 2015 em 1,4 ponto. Enquanto Sergipe alcançou 4,4 pontos, em 2013, e manteve a nota em 2015; 0,2 ponto a menos que a meta. Analisando somente os dados da rede pública, o Ideb do Brasil é 0,2 ponto inferior. Apesar disso, o País superou a meta proposta e atingiu 5,3 em 2015. O que representa um aumento de 1,7 ponto no Ideb da rede pública entre 2005 e 2015. Mais uma vez o Ceará merece destaque, a rede pública do estado apresentou a melhor evolução nesse mesmo período, passando de 2,8 em 2005, para 5,7 em 2015, ritmo de crescimento quatro vezes superior à média nacional. Com exceção dos estados do Amapá, Sergipe,

Rio de Janeiro e Distrito Federal, as demais unidades da federação alcançaram suas metas. Sergipe registrou a nota 3,8 em 2013, e aumentou para 4,1, em 2015; ainda abaixo da meta 4,2. Os resultados mostram uma evolução positiva para a rede estadual de ensino, superando a meta proposta e atingindo um valor igual a 5,8 em 2015. As redes estaduais de Sergipe, Maranhão, Alagoas e Distrito Federal não conseguiram atingir a meta proposta para 2015. Sergipe conseguiu nota 4,3, superando a nota alcançada em 2013 (4,1), mas ainda abaixo da meta (4,4). Por outro lado, as redes estaduais de Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Paraná já alcançaram a meta proposta para o Brasil em 2021. A rede municipal corresponde a mais de 80% da matrícula pública nos anos iniciais do ensino fundamental. Neste caso, são mais de 5.000 sistemas de ensino responsáveis pela oferta desta etapa de escolarização. É possível observar melhoria em todo o território brasileiro, ressaltando as regiões Sul e Sudeste. Nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, destacam-se os estados de Goiás e, mais uma vez, o Ceará. A rede privada participa com 17,5% das matrículas nos anos iniciais do ensino fundamental no Brasil, mas, apesar de apresentar um Ideb 1,5 ponto superior ao observado na rede pública, ainda não alcançou a meta proposta para 2015. Isso aconteceu em 13 das 27 unidades da federação. Para Sergipe a meta era 6,5, contudo, a nota Número 3, 2016.1


EDUCAÇÃO

Sheila Milena

sheila.milena.jor@gmail.com

Ícaro Novaes

icaro.p.novaes@hotmail.com

atingida em 2015 foi 6,2. Os resultados do Ideb apresentados mostram que apesar do País ter melhorado seu desempenho nos anos iniciais do ensino fundamental, alcançando em 2015 um índice igual a 4,5, a meta proposta não foi atingida. Das 27 unidades da Federação, 26 estados tiveram o Ideb de 2015 superior ao de 2013, mas apenas 5 alcançaram a meta proposta: Mato Grosso, Ceará, Pernambuco, Amazonas e Goiás. A meta para Sergipe era 4,3, o estado alcançou apenas 3,5; 0,3 ponto a menos que em 2013. Na maioria dos estados, o desempenho registrado nos anos finais do ensino fundamental não foi suficiente para alcançar a meta de 2015. Apenas onze estados tiveram desempenho superior à média nacional, dentre eles, destaca-se mais uma vez o Ceará, único estado da região nordeste, e Amazonas e Acre, da região norte. Considerando o desempenho de todas as escolas públicas, 28,6% dos municípios alcançaram a meta proposta para 2015. Destaca-se novamente o Ceará com índice superior a 80% das escolas alcançando a meta proposta. Com índices inferiores a meta do Ideb nos anos finais do ensino fundamental para 50% das escolas públicas, aparecem 22 estados, incluindo Sergipe. O Ideb registrado nos últimos anos do ensino fundamental na rede pública dos municípios evoluiu em todo o território brasileiro, mas com velocidade inferior ao que se observa nos anos iniciais. Número 3, 2016.1

Os municípios dos estados de Goiás, São Paulo, Ceará, Mato Grosso e Minas Gerais lideram o processo de melhoria, evidenciando que o bom desempenho nos anos iniciais tem reflexo nos anos finais. O secretário de Estado da Educação de Sergipe, Jorge Carvalho, reconhece que o aprendizado deficiente nos anos iniciais do ensino fundamental reflete no desempenho insatisfatório nos anos finais e no ensino médio. “A nota do Ideb cai nos últimos anos do aluno na escola, mas ele tem origem nos anos iniciais. É a questão da alfabetização na idade certa. O aluno do ensino fundamental entra na escola aos 6 anos de idade. O ideal é que até os 9 anos ele já tenha dominado os códigos do letramento e do numeramento. Ou seja, o ideal é que até os nove anos de idade o aluno tenha aprendido a ler, escrever, somar, subtrair, multiplicar e dividir. Quando a escola não consegue fazer isso com eficácia, o problema vai se manifestar nas séries finais, quando ele começa a ter mais necessidade de dominar os códigos da linguagem e do raciocínio, e não dispõe das ferramentas básicas para esse domínio. Por isso, ele termina caindo o padrão de rendimento”, disse o secretário. Oito estados apresentam desempenho superior à média nacional e em apenas 6 estados as redes estaduais atingiram a meta intermediária proposta. A meta da rede estadual em Sergipe era 4,1 e o estado alcançou apenas 2,9; 0,2 ponto a mais que em 2013. A proporção de municípios em

cada unidade da federação em que a rede municipal conseguiu alcançar a meta proposta para o Ideb nos anos finais do ensino fundamental em 2015 é quase 43% menor que a mesma proporção observada para os anos iniciais do ensino fundamental. Apenas no Ceará 83% rede municipal atingiu a meta proposta. O desempenho das escolas municipais nos anos finais do ensino fundamental revela grande disparidade regional. Nas regiões Norte e Nordeste cerca de 40% das escolas municipais não alcançaram um Ideb de 3,5. Na região Centro-Oeste essa proporção é igual a 5%. Na região sudeste 7,8% das escolas municipais registraram um Ideb de até 3,4, sendo maior a concentração de escolas nessa condição no Rio de Janeiro. No sul, 8,3% das escolas estão com Ideb menor ou igual a 3,4; e em Santa Catarina, por outro lado, observa-se que quase 27% das escolas têm Ideb igual ou superior a 5,5. A diferença no desempenho no Ideb entre a rede privada e a rede pública é maior nos anos finais (1,9 ponto) quando comparada com os anos iniciais do ensino fundamental (1,5 ponto). Em apenas dois estados, o desempenho observado em 2015 foi inferior ao obtido em 2013, entretanto, assim como naquele ano, o conjunto das escolas particulares não atingiu a meta nacional para o grupo. Em Sergipe, a meta era 6,7 e o estado atingiu 5,4; 0,1 ponto a menos que em 2013. Os resultados do ensino médio, diferentemente do ensino funda-

mental, foram obtidos a partir de uma amostra de escolas e, por isso, a análise apresentada não pode ser feita com as desagregações feitas para a rede pública de ensino fundamental. O avanço do Ideb no ensino médio é mais lento do que o observado no ensino fundamental. O único estado do Nordeste a superar a meta foi Pernambuco. Sergipe tinha uma meta de 4,2, e ficou com um ponto a menos do que esperado e a mesma nota de 2013, 3,2. A rede estadual participa com mais de 97% da matrícula na rede pública, evidenciando que o ensino médio é predominantemente de responsabilidade dos governos estaduais e do Distrito Federal. Apesar de o resultado ter aumentado, a meta estabelecida para 2015 não foi atingida. Em cinco estados, foi registrada a queda no Ideb em relação ano de 2013. Sergipe foi o único estado do Nordeste que reduziu a nota da última avaliação. A meta era 3,7 e o estado atingiu apenas 2,6, 0,2 ponto a menos que em 2013. Apenas Piauí e Pernambuco superaram a meta. A rede privada participa com 13% das matrículas no ensino médio e alcançou em 2015 um desempenho 1,8 ponto superior ao obtido pela rede estadual, ou seja, Ideb igual a 5,3. O resultado, entretanto é menor do que o registrado em 2013. A meta para Sergipe era 6,3 e o estado obteve 4,9; 0,1 ponto a mais que o resultado de 2013. Da região nordeste apenas Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte e Ceará não reduziram a nota da última avaliação.

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EDUCAÇÃO

Mural de aprendizagem de letras e sinais da Escola Gaspar Lourenço

Falta de acessibilidade na estrutura escolar pode desestimular alunos com deficiência Mesmo tendo aumentado o número de pessoas com deficiências nas escolas da rede pública estadual, ainda é precária a questão acessibilidade

Fotos e texto: Lucivânia Santos luh.sts23@gmail.com

O

número de estudantes com deficiência matriculados nas escolas públicas vem crescendo e junto com ele a preocupação com a acessibilidade na estrutura escolar. Um levantamento feito em 2015 pelo portal QEdu, com base no Censo Escolar/Inep, mostra que das 350 escolas públicas no Estado, 198 escolas ainda não tem acessibilidade e as demais têm apenas sanitários acessíveis, mas isso não significa dizer que elas sejam 100% adaptadas às necessidades de seus alunos. O Colégio Estadual Dr. Milton Dortas, localizado na cidade de Simão Dias, a 115 km da Capital -

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passou por reformas para adaptação no início de 2014 – é uma das escolas referência na cidade por ter praticamente 100% de acessibilidade. Sérgio Barreto Santana, 25, é cadeirante e está concluindo o ensino médio. Já há quatro anos estudando nesse colégio ele revela que não enfrenta nenhuma dificuldade. “Não tenho do que reclamar, o colégio supre todas as minhas necessidades”, afirma. Com rampas, corrimão, piso tátil, banheiro adaptado e quadra poliesportiva acessível, o prédio inclui não só os deficientes físicos, mas também os que têm baixa visão ou são cegos. “Meu colégio é um sonho”, declara Sérgio. O Colégio

Dr. Milton Dortas é um dos poucos que estão seguindo os padrões da Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT). De acordo com a Associação, deve existir pelo menos uma rota acessível interligando o acesso de alunos às áreas administrativas, de prática esportiva, recreação e alimentação, salas de aula, laboratórios, bibliotecas, centros de leitura e demais ambientes pedagógicos, ou seja, todos estes ambientes devem ser acessíveis. Embora haja vários colégios passando por reformas para adaptação, há sempre aqueles que são deixados para “depois”. Este ano foi inaugurada a Escola Armindo Guaraná, no Rosa Elze, São Cristóvão.

Localizada à 25 km de Aracaju, ela recebeu as adaptações acessíveis, ao contrário de outras que ficam no centro da cidade, como a Escola Estadual Luiz Guimarães, que passou por uma reforma em 2006, onde foi construída apenas uma rampa na entrada que ainda dificulta a entrada do cadeirante sozinho, que acaba precisando da ajuda de uma segunda pessoa, falta também um banheiro adaptado com barras. De acordo com a coordenadora da Escola Luis Guimarães, Fabiana Andréia Silva, além de rampa e banheiro, o bebedouro e as mesas de estudo são acessíveis. “Os alunos que têm algum tipo de deficiência maior, como não temos a sala de Número 3, 2016.1


EDUCAÇÃO

recursos, então eles ficam um período aqui e outro no Gaspar. Lá eles devem ter algum tipo de material para os deficientes visuais, auditivos, nós não temos”, afirma a coordenadora. A escola tem apenas dois alunos, ambos com deficiência intelectual. Segundo a coordenadora, durante seus quase três anos de gestão, não chegou nenhum aluno com deficiência física. “A gente tem mais a questão da aprendizagem intelectual mesmo”, pondera Fabiana. Assim como a colégio anterior, o Padre Gaspar Lourenço é um dos mais antigos e conhecidos da cidade. Logo o mais procurado. Porém, deixa a desejar na questão da acessibilidade. Segundo o diretor da escola, Ildson Alves, há anos o prédio não passa por nenhuma reforma. “De dois em dois meses vem gente aqui para fazer anotações do que precisa para reformar, mas até agora, nada”, explica. Com a criação do Programa Federal Escola Acessível, é dever do Estado disponibilizar verbas para as escolas poderem passar por reformas de acessibilidade, porém, o diretor do colégio diz que não recebe essa verba. “A gente reforma por conta própria. O diretor é quem pega uma ‘verbinha’ e manda fazer o telhado, forrar o banheiro, colocar câmera nas salas, mas é com o dinheirinho que tem”, conta. A escola tem somente três rampas improvisadas consideradas ruins que foram feitas em 2005 e até o momento não mudaram; um banheiro adaptado, mas que, atualmente, é usado como depósito para guardar materiais; um bebedouro acessível a cadeirantes, uma biblioteca e uma salinha de recursos pedagógicos. A quadra poliesportiva é inacessível a cadeirantes pelo fato de não haver rampas e os matos ao redor impossibilitarem a locomoção. Segundo Ildson, a escola precisa não só de uma reforma de adaptação, mas de uma reforma geral. “Em 2013, logo após eu assumir a diretoria, disseram que fariam uma Número 3, 2016.1

reforma na quadra. Fui na Secretaria informar que ela estava na relação para ser reformada, mas até agora, nada”, explana o diretor.

RECURSOS PEDAGÓGICOS A sala de recursos do Gaspar Lourenço é o local onde o colégio recebe os deficientes tanto os matriculados na instituição quanto alunos vindos de outras escolas. É nela que o aluno com deficiência intelectual tem contato com as letras, aprendem a ler, escrever, como utilizar computador e conhecem outras línguas, como a libras, por exemplo. Atualmente não tem alunos com deficiência física, nem visual, mas caso chegue alguns, poderão encontrar diversos obstáculos enquanto não houver a reforma prometida. De acordo com o diretor Ildson Alves, os maiores obstáculos que os alunos com deficiência encontram na escola é a falta de rampas. No entanto, esses problemas na estrutura física da instituição acabam prejudicando aqueles que sonham em estudar, chagar a faculdade e ter uma profissão. O presidente da Associação de Deficientes Motores de Sergipe - ADMSE, Antônio Fonseca, acredita que essa precariedade pode acabar desestimulando os alunos. “Esse fato traduz em uma situação real da Comunidade com Deficiência, que é uma das maiores semi-alfabetizada”, afirma o presidente da associação. Na tentativa de obter mais informações sobre esses problemas nas escolas, a equipe do Contexto entrou em contato com a Assessoria de Comunicação da Secretaria Estadual da Educação, mas a mesma não deu respostas até o fechamento da matéria. Entretanto, de acordo com notícia publicada em agosto deste ano no Portal FaxAju, 70 escolas em 32 municípios sergipanos passarão por reformas e serão adaptadas até o final de 2018. Serão nos seguintes lugares:

DEA – Aracaju DRE 1 – Indiaroba, Estância, Itabaianinha, Tomar do Geru, Umbaúba DRE 2 – Boquim, Riachão dos Dantas, Lagarto, Tobias Barreto, Poço Verde DRE 3 – Itabaiana, Malhador, São Miguel do Aleixo, Ribeirópolis DRE 4 – Capela DRE 5 – Divina Pastora DRE 6 – Japoatã, Neópolis, Santana do São Francisco, Propriá, Ilha das Flores, Cedro de São João, Malhada dos Bois, São Francisco DRE 8 – Nossa Senhora do Socorro, Santo Amaro das Brotas, Riachuelo, Itaporanga D’Ajuda, São Cristóvão DRE 9 – Nossa Senhora da Glória, Feira Nova

Veja agora um mapeamento com algumas das escolas reformadas que tem acessibilidade

- Escola Especial João Cardoso do N. Júnior – Aracaju - Escola Estadual Professora Ofenísia Soares Freire - Aracaju - Armindo guaraná – São Cristóvão - Manuel dos Passos - São Cristóvão - Colégio Leonardo Gomes de Carvalho Leite – Cristinápolis - Colégio Benedito Barreto do Nascimento - Umbaúba - Escola Estadual Dionísio Machado Indiaroba - Colégio estadual Dr. Milton Dortas – Simão Dias

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EDUCAÇÃO

Alunos em momento de Lazer no Instituto Social Micael

A pedagogia que valoriza o lado humano Ellen Cristina Moreira

ellencristina.2@hotmail.com

O

S MUROS BRANCO E AZUL DO INSTITUTO SOCIAL MICAEL ESCONDEM O ENORME ESPAÇO ABERTO E VERDE QUE ABRIGA A ESCOLA MICAEL DE ARACAJU E QUE ENSINA 22 CRIANÇAS, EM TEMPO INTEGRAL, ATRAVÉS DA PEDAGOGIA WALDORF. ESTA FORMA DE ENSINO, ORIGINOU-SE NA ALEMANHA EM 1919, TENDO COMO PRECURSOR RUDOLF STEINER, QUE INICIOU OS ESTUDOS DOS FILHOS DE OPERÁRIOS DA FÁBRICA DE CIGARROS WALDORF-ASTÓRIA, A QUAL ORIGINOU O NOME. A pedagogia é centrada na Antroposofia, a filosofia que trata do homem em seus níveis físico, anímico, espiritual, e a sua relação e responsabilidade com a sociedade e a natureza. No período da Segunda Guerra Mundial, várias escolas foram fechadas pelo nazismo, mas

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após o fim da guerra, o ensino foi retomado. Atualmente, existe no mundo mais de mil escolas que adotam a pedagogia Waldorf, que vão desde o infantil até o ensino superior. Há 25 escolas no Brasil, sem contar aquelas que integram o ensino infantil e que simpatizam com esse tipo de educação. Em sergipe, algumas escolas primárias possuem inspiração Waldorf, e duas delas possuem vínculos com o Instituto Social Micael. O Instituto oferece um curso de pós-graduação para quem deseja aprender a pedagogia Waldorf e, posteriormente, lecionar em escolas que a possuem como método. São quatro anos de duração, com 1600 horas no total, divididos em 16 módulos. A metodologia Waldorf exige uma formação mais longa e o professor tem que desenvolver algumas habilidades, o que não

ocorre em algumas formações de pedagogia e licenciatura.

O INSTITUTO E SEUS ENSINAMENTOS Essa nova abordagem não leva apenas em conta a formação cognitiva do saber e mais racional, mas também a evolução de percepções que o professor irá vivenciar dentro do ambiente escolar. O currículo da pedagogia trabalha o potencial da criança em suas modalidades, conforme as respectivas idades. Essas capacidades envolvem o lado volitivo, cognitivo e emocional, que devem ocorrer de forma equilibrada na criança para que haja uma boa construção do seu espaço social. Além de matérias comuns a grade de pedagogia, há também atividades relacionadas a cerâmica, arte têxtil, carpintaria, giz, aquarela, flauta e canto. Os alunos que procuram o curso vêm de vários locais, principalmente da Bahia. Há outras formações menores após a pós-graduação, que são aperfeiçoamentos dos programas cotidianos ensinados: conhecer mais a essência do ser humano, as dificuldades escolares, os transtornos que estão presentes no ambiente escolar, a dinâmica com os pais. A família necessita estar presente nesse ambiente e é essencial o professor interagir com eles. Se

o professor souber a estrutura familiar da criança, ele ajudará no aprimoramento da criança em uma situação específica. Por possuir o olhar bem individualizado, a pedagogia Waldorf dá plena capacidade de desenvolver a capacidade de cada um. Segundo o presidente do conselho do Instituto Paulo Doirado Dias Filho, a pedagogia Waldorf respeita o ritmo biológico de cada criança e somente com a dentição permanente completa é que estará mais apta para a alfabetização. Até completar sete anos, a pessoa ainda está desenvolvendo o sistema imunológico e o neurológico, que ajuda na precisão fina. É tempo de experimentação. “A criança vira uma refém, objeto de experiência quando entra em contato tão cedo com a alfabetização. O risco disso é a escola se tornar excludente, fazendo um processo de seleção. Algumas crianças irão responder mais rápido e outras não a certas questões impostas, mas isso não quer dizer que as que não respondem mais rápido não saibam, apenas não está no momento dela ou não está sendo respeitado o seu ritmo, a sua individualidade”, afirma Paulo. Com esse método, que produz competição entre os alunos, a tendência é essa criança possuir sérios Número 2, 2016.1


EDUCAÇÃO problemas ligados, por exemplo, a auto-estima, ou até mesmo ser vítima de bullying, gerando uma exclusão dos processos do dia-a-dia dentro da sala de aula. Se o professor não souber defrontar esse tipo de situação poderá até reforçar o afastamento do pequeno quanto a escola, criando aversão ao local e trazendo consequências futuras maiores.

A ESCOLA WALDORF O Instituto Social Micael existe há 18 anos, entretanto, a Escola Mical de Aracaju tem menos tempo, apenas seis anos. Ela educa crianças de dois a seis anos, respeitando sempre a individualidade de cada. Justamente por isso, não possui farda, deixando a criança livre para exercer sua liberdade de expressão única. Além disso, o movimento é muito valorizado na pedagogia waldorf. De acordo com a coordenadora pedagógica da escola, Maria Aparecida do Nascimento Dias, o movimento aumenta o campo físico e social da criança, o que a faz experimentar músculos e exercitar toda sua corporalidade que sentada não conseguiria. “O ser humano sofre metamorfoses. Quem não se movimenta agora não irá se movimentar mais velho, internamente” complementa. As aulas na escola ocorrem tanto dentro da sala, que simula uma casa, com cozinha, quarto e banheiro, quanto fora do ambiente fechado, ao ar livre. A sala de aula deve imitar a respiração, porque é algo ainda em amadurecimento na criança, que só estará completa aos nove anos de idade. Logo, para consolidar bem essa natureza, essa expansão e contração é refletida no ambiente em que estará aprendendo. Uma criança que fica só em sala de aula, isso irá repercutir na sua capacidade cognitiva. Ela, em liberdade, está estudando o inteiro, então cabe a escola aproveitar essa energia e movimento para levar os conteúdos para o currículo. “A brincadeira da criança é um retrato da vida real. Precisamos valorizar o mundo deles, que, muitas vezes invadimos com o mundo adulto”, explica a pedagoga. Apesar de muitos considerarem a pedagogia Waldorf como alternativa, ela segue toda a grade imposta pelo Ministério da Educação (MEC), o que não compromete o aprendizado da criança. Também Número 2, 2016.1

“ APESAR DE MUITOS CONSIDERAREM A PEDAGOGIA WALDORF COMO ALTERNATIVA, ELA SEGUE TODA A GRADE IMPOSTA PELO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (MEC), O QUE NÃO COMPROMETE O APRENDIZADO DA CRIANÇA. TAMBÉM NÃO POSSUI NENHUM VÍNCULO COM O GOVERNO, SENDO UMA ENTIDADE SEM FINS .” não possui nenhum vínculo com o governo, sendo uma entidade sem fins lucrativos. A Escola Municipal de Educação Infantil Dr. José Calumby Filho, inaugurada em julho e localizada no bairro 17 de março, que residem, principalmente, pessoas de baixa renda, é a primeira instituição educacional pública no Nordeste que adota a pedagogia Waldorf. A iniciativa da implantação da metodologia se deu por um grupo de professores da rede pública que observaram a importância desse tipo de ensino para as crianças em

formação. O professor Bruno Prado, que trabalha com a pedagogia Waldorf, evidencia a importância desse método. O curso específico ajuda os professores a entenderem e mergulharem no mundo da criança, vivenciando o que eles irão aprender, para que possam ter paciência e saibam passar o conteúdo. Ele ressalta também o alto grau de socialização da criança e até mudança de comportamento de um pequeno que era agressivo ou tímido. A participação dos pais no ambiente escolar é sempre presente,

pois é necessário que eles participem da educação do filho. Eles são convidados a aprender, a observar, seja com a leitura relacionada a pedagogia waldorf ou o fazer também. Isso auxilia-os compreenderem os filhos sobre a ótica da antroposofia, que embasa a pedagogia. Para André Teixeira, que possui uma filha que estuda na Escola São Rafael, que também adota a pedagogia Waldorf, a escola valoriza a individualidade da sua filha e suas diferenças, além de poder participar ativamente da formação educacional dela.

Ambiente de estudo que simula uma casa: com cozinha, quarto e banheiro.

“AS AULAS NA ESCOLA OCORREM TANTO DENTRO DA SALA, QUE SIMULA UMA CASA, COM COZINHA, QUARTO E BANHEIRO, QUANTO FORA DO AMBIENTE FECHADO, AO AR LIVRE. A SALA DE AULA DEVE IMITAR A RESPIRAÇÃO, PORQUE É ALGO AINDA EM AMADURECIMENTO NA CRIANÇA, QUE SÓ ESTARÁ COMPLETA AOS NOVE ANOS DE IDADE” 33


EDUCAÇÃO

A PRECARIEDADE DO ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS NAS ESCOLAS

Denner Perazzo

dennermauricio@hotmail.com

P

esquisa global de proficiência em inglês, realizada pela empresa de educação EF Education Frist, revela que o Brasil ocupa a 38ª colocação de um ranking de 70 países que não têm esta língua como nativa. Apesar da baixa colocação, o Brasil é um dos países com maiores números de estudantes do idioma, contabilizando 57 milhões de alunos no ensino básico, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), de 2011. Mas, o problema começa desde a escola regular, onde o ensino-aprendizagem é precário e pouco motiva o aluno a se interessar por alguma língua estrangeira, refletindo na preferência dos alunos aos cursos em escolas privadas, evidenciando ainda mais a problemática. Desde quando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) foi criada, em 1961, as Línguas Estrangeiras sempre foram desprestigiadas ou deixadas de lado. Desde então, a LDB já passou por duas reformas, em 1971 e 1996, mas, mesmo assim, a principal mudança

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foi a obrigatoriedade do ensino, na década de 90. Isso, muito provavelmente, influenciou na precariedade do ensino-aprendizagem e na formação dos professores, em escolas públicas e privadas, resultando na não aptidão dos alunos em ouvir, falar, ler e escrever, habilidades necessárias para o entendimento básico em alguma LE. LDB A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) é responsável pela regulamentação da estrutura da educação no país, tendo sua primeira versão em 1961 e a última em 1996. Também o faz em relação aos materiais didáticos, oferecendo a escolas públicas acesso aos livros, por exemplo, através do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Trinta e cinco anos as separam, mas houve apenas uma mudança significativa nesse tempo, provando que as LE’s ainda são vistas com pouca relevância nos planos pedagógicos. Exemplo disto, é que só a partir de 2011 a língua inglesa foi contemplada no PNLD, ignorando qualquer outra língua que venha a ser ensinada, como o espanhol, que continua sem material didático. Não só os alunos, mas, também

os professores querem algum tipo de mudança de pensamento que procure a valorização do ensino das LE’s. Autran Kevinlyn da Silva Amorim é licenciado em Letras e Espanhol, pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), trabalha como instrutor de leitura e letramento no Projeto Mais Educação, no Colégio Estadual Professor Leão Magno Brasil e, para ele, o método de ensino tem que ser readaptado e mudanças realizadas, para que mude o cenário da baixa proficiência dos alunos brasileiros: “Na minha visão, tanto quando fui aluno e agora como professor, percebi que os principais problemas na aprendizagem de uma LE, são a estrutura e recepção. Eu venho de uma formação totalmente funcionalista, ou seja, voltada para uso da língua no dia a dia, para inseri-la dentro do seu cotidiano. Então, quando você tem uma formação dessa e encontra uma realidade completamente ímpar da escola, há um choque. O professor tem que adaptar seu conhecimento com a estrutura que ele tem na escola, porque, muitas vezes, a cultura de ensino de LE’s passa por uma camada muito homogênea, ou

seja, ela vem de uma forma há muito tempo, sem grandes alterações” explica o professor.. RECLAMAÇÕES DE TODOS OS LADOS Não estando em lados opostos, professores e alunos sofrem com os mesmos problemas apresentados na educação brasileira, e o ensino de LE’s não fuge à regra. Sergipe, por exemplo, possui a sexta pior rede estadual de ensino fundamental e a terceira pior escola privada do Brasil, segundo dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), de 2015. Procurados diversas vezes durante a apuração dos dados desta reportagem, nem o atual Secretário de Estado da Educação, Jorge Carvalho, e nem a Secretaria de Educação do Estado (Seed) se pronunciaram sobre os assuntos aqui abordados. Com a realidade, o professor tem vários desafios, chegando na escola com uma formação, encontra uma estrutura completamente diferente da dele e lidando com um material para trabalhar que não dialoga nem com o aluno, nem com ele, fazendo com que passe por um processo de readaptação de ensino, além, claro, da baixa remuneração. Número 3, 2016.1


EDUCAÇÃO

Novos professores, com novas formações e habilidades, enfrentam estes problemas. Como nos conta Lívia Cristina Nascimento Santos, formada em Letras Português-Inglês pela UFS, professora de uma escola regular e curso de línguas, para ela os problemas são vários: “Para mim, os principais problemas no processo de aprendizagem no ensino regular é que a quantidade de alunos é muito grande, o foco do material didático adotado não é para que ele seja fluente em uma LE e a carga horária que é bastante reduzida. No caso, sempre é uma hora, duas no máximo, a depender da escola. E essas coisas não ajudam em nada, para que os alunos desenvolvam as habilidades que levem eles a fluência. [...] Então, os próprios alunos sabem que não vão aprender a língua de fato na escola e muitos deles só veem aula de uma língua estrangeira feita para você brincar, ouvir música, fazer dinâmica, assistir um filme, não dando o mesmo valor que dão para as disciplinas de matemática, história, por exemplo. Muito pelo contrário, é como se não tivesse importância, como se ninguém reprovasse em uma LE”, comenta Santos. Já para o professor Autran Amorim, o docente também é responsável pelo incentivo ao aluno, fazendo com que o mesmo se exponha a língua, através de músicas, filmes, leituras, não limitando o aprendizado a sala de aula: “Eu creio que a dificuldade existe, mas percebi que o que move os alunos é o incentivo. Se o professor incentivar, mostrando que esse conhecimento está mais próximo do cotidiano dele, essas barreiras vão cair. Por mais que exista essa dificuldade de conhecer outras línguas e culturas, o professor tem dupla função: desfazer o esteriótipo das culturas, seja ela hispanoamericaNúmero 3, 2016.1

na ou inglesa, por exemplo, para depois ensinar realmente a sua importância”, explica o professor. “O ensino é um tanto escasso, tínhamos o espanhol como matéria optativa e nenhum material didático para o estudo da mesma. O inglês sim tinha livros e feiras de aprofundamento, porém era ensinado apenas a gramática”, relata Macksiely Santos Costa, 19, que estudou todo o ensino regular em colégio público, terminado-o recentemente. Esta é a realidade da sala de aula, que não ajuda o professor, muito menos o aluno. O ensino de LE’s já conta com a sua carga horária bastante reduzida, tendo um papel marginal na grade curricular, resumindo-se a uma ou duas horas na semana, dependendo da escola, somando-se a problemas como a falta de domínio das habilidades orais e fluência na língua dos professores (segundo estudo encomendado pelo British Council, instituição pública do Reino Unido, e realizado pelo Instituto Plano CDE, em 2015, apenas 33% dos professores de escolas públicas têm certificado de proficiência em inglês, por exemplo), material didático resumido a giz, lousa e livro, resultando, para Macksiely, que o ensino-aprendizagem presente hoje nos colégios não seja suficiente para o aluno se interessar mais pelas LE’s: “Como falei, o ensino era apenas o gramatical, algo que acaba tornando chato pra o aluno, pois muitas vezes não entendíamos os significados das palavras que eram expostas. Desde o fundamental o que mais estudamos foram as regras do verbo to be [risos]. Da parte do professor, ouvir os alunos sobre o que eles gostariam de aprender, usar de diversos meios educativos pra incentivar a aprendizagem, como por exemplo, filmes, músicas,

etc. A diversidade de procedimentos instrutores, juntamente com a realidade dos jovens é o que faz despertar neles o desejo de aprender mais. Então, em pouco tempo, o aluno percebe que para conseguir a fluência em outro idioma, terá que recorrer a um curso de línguas. Devido a estes problemas apresentados no ensino-aprendizagem das escolas, os que têm alguma condição, recorrem a estes cursos particulares, trazendo consigo um aprendizado gramatical, mas não um aprendizado didático. Um conhecimento inato, que eles veem na tv, ouvem na rádio, ou seja, um conhecimento surpeficial, nada que leve a embasar a aprendizagem na sala de aula. Problemas evidenciados pelo professor Lauro Iane de Morais, que leciona no curso de idiomas Yázigi: “Os principais problemas são falta de conhecimento prévio, tanto em língua materna quanto na língua estrangeira, falta de exposição à língua ou mesmo quando há contato contínuo com a língua a ser aprendida, a falta de conscientização por parte do aluno de como esse contato colabora e se relaciona com sua aprendizagem, materiais didáticos mal escritos e, finalmente, falta de dedicação ao estudo por parte dos alunos. No geral os alunos de colégio público possuem menos base gramatical que os alunos de colégio particular. Outro fator a ser considerado é a classe social dos que são abarcados no curso em que trabalho, ou seja, classes A e B. Os alunos de colégio público que estudam lá, no geral, o fazem através de extremo esforço familiar ou bolsas e isso faz com que se dediquem mais”. TECNOLOGIA COMO ALIADA Um grande debate que há no meio é sobre a readequação da

forma de ensino dos professores, que é mais gramatical, adaptando as metodologias à tecnologia, inserindo nela outras unidades linguísticas, como fotografias, músicas, vídeos, laboratórios, computadores, conversação, etc. Os educadores, hoje, têm de buscar se alfabetizarem de uma forma digital, estando atentos às novas tecnologias, em falar a língua dos alunos, tornando o diálogo menos anacrônico. As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), ajudam na sala de aula, dando uma dinâmica, da mesma forma que dá ao aluno autonomia para buscar meios, desenvolvendo a língua e acelerando o processo de aprendizagem. Entretanto, o grande receio dos professores é criar a dependência a tecnologia, associando a qualidade da aula ao uso ou não desta ferramenta, deixando de ser um auxílio, tornando-se uma muleta. Porém, este é um processo que não se efetiva da forma que deveria. Como sabemos, nossa realidade é muito precária na maioria das escolas, resumindo o ensino-aprendizagem ao quadro, ao giz e ao livro didático, gerando a escassez dos instrumentos metodológicos e das ferramentas educacionais, limitando a construção de conhecimento do aluno. Embora, segundo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), feito em 2015, o Brasil utilizou 17,2% dos investimentos na educação, sendo o terceiro país (em um grupo de trinta e oito) que mais realizou investimentos nesta área nos últimos anos, levando a conclusão de que a má qualidade de como este dinheiro é investido e aplicado pelos gestores públicos, se tornando um dos principais fatores que levam a realidade atual.

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EDUCAÇÃO

Educação fora do seu tempo: um panorama nacional PESSOAS ACIMA DOS CINQUENTA ANOS QUEBRAM TABUS E MOSTRAM QUE NUNCA É TARDE PARA ESTUDAR, PORÉM APOIO DOS ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS AINDA É UM PROBLEMA Yago de Andrade yagusandrade@gmail.com

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visão de que pessoas com idade mais avançada são incapazes de realizar tarefas básicas do cotidiano, considerando-as como pessoas frágeis tem sido superada a cada dia. Ainda assim, ano a ano eles precisam lutar para obter o seu espaço, buscando se mostrar ativos e integrantes em uma sociedade que pouco lhes dá visibilidade. Segundo dados de uma pesquisa realizada pelo Data Popular para o Instituto de Longevidade Mongeral Aegon e divulgada em abril deste ano, atualmente o Brasil conta com mais 47 milhões de pessoas com mais de 50 anos, e a previsão é que esse número chegue aos 96 milhões em 2045. Por isso, é necessário que haja um processo de integração dessas pessoas na sociedade, com investimentos principalmente por parte dos órgãos governamentais que pouco se dedicam a essa faixa etária, começado por um dos seus principais pilares: a educação. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2014 apontam que taxa de analfabetismo no Brasil está em 8,3 %, o que equivale a 13,2 milhões de analfabetos, mas este número é mais agravante quando verificamos as taxas em idades mais avançadas. Só para se ter ideia, enquanto apenas 1% da população entre 15 e 19 anos não sabia ler/escrever no pe-

ríodo da pesquisa, 9,2 % das pessoas entre 40 e 59 anos também não possuía esse conhecimento. A gravidade do problema se intensifica quando verificamos a população acima dos 60 anos, onde os dados do Pnad apontam que o analfabetismo atinge quase 24% dessa faixa etária. A dificuldade em atingir a população com idade mais elevada é também uma triste realidade do menor estado da federação. Os dados do Pnad apontam que 17,1% dos sergipanos acima dos 15 anos são alfabetizados, sendo que estes números chegam aos 46,19% no que diz respeito àqueles que já passaram dos 60 anos. Programas governamentais Buscando diminuir estes índices, o Governo Federal criou em 2003 o Programa Brasil Alfabetizado (PBA), que é voltado especialmente para a alfabetização de jovens, adultos e idosos. Segundo o Ministério da Educação (MEC), o Programa contempla todo o território nacional, com atendimento prioritário a municípios que possuem alta taxa de analfabetismo, sendo que 90% destes fazem parte da região Nordeste. Segundo o MEC, o Programa já atendeu mais de 14 milhões de pessoas desde a sua implantação, porém, o que se verifica é que desde 2013 ele vem diminuindo o seu alcance. Naquele ano, cerca de 1,1

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EDUCAÇÃO

milhão de estudantes estavam sendo atendidos, em 2014 o número de vagas caiu para 718.961 e, em 2015, com execução em 2016, o número chegou a pouco mais de 10% do registrado em 2013. O ciclo atual em execução, iniciado no ano passado, conta com 191 entidades executoras, com 17.445 turmas ativadas; 167.971 alfabetizandos, 17.088 alfabetizadores, 2.902 coordenadores e 105 tradutores e intérpretes de Libras. Em Sergipe, o Programa foi implantado em 2007 e, segundo o Sistema Brasil Alfabetizado, até o ano de 2013 foram atendidos 215.823 mil jovens, adultos e idosos que iniciaram seu processo de alfabetização, porém, não está em execução desde junho de 2014, quando se encerrou o ciclo referente ao ano de 2012. No início deste ano o Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Educação (SEED), anunciou uma nova meta para o Programa: alfabetizar nos próximos três anos 66 mil sergipanos acima de 25 anos. Nomeado Programa Sergipe Alfabetiza Mais (AMA), ele sequer saiu do papel. Segundo a chefe do Serviço de Educação de Jovens e Adultos (SEJA), Aldjane Moura, já existem cerca de 20 mil pessoas matriculadas para o atual ciclo, porém, o mesmo ainda não pode ser executado por conta de entraves no âmbito federal. “Nos dois últimos anos, em Sergipe, o Programa não foi executado. Toda equipe trabalhou em função do cadastramento de pessoas e contratação de alfabetizadores, mas na hora de efetuar, o governo federal disse que não iria mais liberar a verba, o que ocorreu justamente no período do impeachment. Enquanto isso as pessoas tem que ficar aguardando a liberação, infelizmente, já que o estado não tem verba para manter o serviço”, explicou. A atual gestão do Ministério da Educação, liderada pelo pernambucano Mendonça Filho, justifica que isso é uma conseqüência da má administração do antigo governo, que deixou dívidas na ordem de R$ 138 milhões, referentes aos programas Brasil Alfabetizado, Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem) e Educação de Jovens e Adultos (EJA). A promessa do governo liderado Número 2, 2016.1

pelo peemedebista Michel Temer é que no próximo ano o número de vagas aumente, passando de 168 mil para 250 mil alfabetizandos. O anúncio foi feito pelo ministro no dia 15 de setembro, após uma conferência em São Paulo. A previsão é que os novos cadastros sejam feitos a partir de novembro deste ano. Ensino de Jovens e Adultos (EJA) Após passarem pelo processo de alfabetização, a maioria das pessoas que tem interesse em dar continuidade aos estudos buscam o serviço de Educação de Jovens e Adultos (EJA), seja ele presencial ou à distância. Os dados do MEC apontam que em 2015, cerca de 3,4 milhões de alunos estavam frequentando as salas de aula destinadas à EJA. Em 2007, esse número era de 4,9 milhões, uma redução de aproximadamente 30% no número de alunos (veja o gráfico ao lado).

Segundo dados preliminares do Censo Escolar 2016, divulgados no dia 29 de setembro, através do Diário Oficial da União, Sergipe recebeu este ano 620 matrículas na EJA presencial, sendo 570 do nível fundamental e 50 de nível médio das redes estaduais e municipais de ensino. Este número representa uma queda 8,5% no número de matrículas quando comparado com os dados de 2015. No âmbito estadual, o último levantamento da SEED referente a maio de 2015, detalha que Sergipe possui ao todo 109 escolas da rede que dispõem do serviço, atendendo quase 17 mil alunos nos níveis fundamental e médio, sendo a maioria jovens com idade entre 16 e 30 anos. A presença de alguém acima da faixa etária de 50 anos ainda é pouco encontrada nas turmas. Para a chefe do Serviço de Educação de Jovens e Adultos (SEJA), Aldjane Moura, uma das causas desse afastamento das pessoas com faixas etárias mais elevadas é o despreparo dos professores para atender esse público. “Às vezes o professor não é estimulante para que esse aluno esteja em sala de aula. Muitas pessoas passam dez anos longe dos estudos e quando retornam não encontram algo que a estimule a continuar ali. É necessário que o professor seja capacitado para dar aula para os dois públicos no mesmo ambiente, ou seja, despertar interesse tanto em um

jovem de dezoito anos, quanto uma pessoa com idade mais avançada”, acredita. Aos 51 anos, Maria Angelita de Souza está próxima de concluir o ensino médio. Depois de um tempo afastada dos estudos por conta de problemas familiares, em 2012 ela resolveu que era hora de retornar à sala de aula, e segundo ela, o apoio da família foi fundamental. “O apoio da família, principalmente dos filhos, foi a maior motivação que tive para voltar a estudar, sempre me apoiaram. Eu nunca ia desistir, só tirei férias prolongadas”. Ela explica que nunca passou por situações de preconceito por conta da sua idade, pelo contrário, sempre teve o apoio e respeito de todos. “A maioria dos alunos são mais jovens, isso no começou me intimidou, mas por ser bastante comunicativa, aos poucos fui me familiarizando e socializando. Todo mundo se respeita, principalmente os mais novos com relação aos mais velhos. Adoro ser chamada de ‘tia’”, contou. Cursando atualmente o 2° ano do ensino médio, ela já traça planos para o futuro e um deles é estar nos próximos anos no ensino superior. “Voltar a estudar e concluir o Ensino Médio é uma realização, e entrar na faculdade é a concretização disso tudo. Gostaria muito de cursar Gastronomia, me sinto bem cozinhando e meus filhos me apoiam muito para isso”, destacou.

ENSINO SUPERIOR O sonho da dona Maria Angelita a cada ano passa a ser realidade de muitos que assim como ela iniciaram ou deram continuidade aos estudos com uma idade “acima do normal”. Na Universidade Federal de Sergipe (UFS), por exemplo, 95 estudantes já passaram dos sessenta anos e a tendência é que esse número aumente cada vez mais. Na UFS, os alunos acima dessa faixa etária recebem o suporte do Núcleo de Pesquisa e Ações da Terceira Idade (Nupati), que desde sua implantação, em 1998, através da Portaria nº. 748/GR busca incluir pessoas da terceira idade nas atividades acadêmicas, favorecendo o desenvolvimento de habilidades científicas, culturais, políticas e afetivas, valorizando-os como cidadãos atuantes e participativos na sociedade.

Dona Maria Hortência Santos é uma das que compõem a estatística acima. Aos 62 anos ela enfrenta a sua terceira graduação, buscando agora se formar em Museologia. Professora aposentada, ela explica que a sua entrada no curso foi principalmente para motivar o seu filho, Gabriel, a tentar adentrar à universidade. “Quando ele terminou o segundo grau estava com 17 anos e não tinha uma perspectiva de futuro, por isso eu o incentivei a estudar, mostrando que se eu que já estava numa idade mais avançada podia ser aprovada num vestibular, ele também poderia. Deu certo, este ano está se formando em Administração e logo mais estarei concluindo meu curso também”, comemora. Com uma alegria contagiante e uma vitalidade de causar inveja a muitos jovens, dona Maria Hortência conta que não se sente intimidada em estar numa sala de aula rodeada por pessoas com idades diferentes da dela, pelo contrário, segundo ela, essa tem sido uma experiência bastante prazerosa. “Eu não me acho diferente, para mim é tudo uma coisa só, eles tem muito carinho comigo, e é um respeito mútuo. Eu gosto desta molecada, dessa ‘malandragem’ do jovem, é muito bom, faz a gente viver cada vez mais”.

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EDUCAÇÃO

O passado, o presente e o futuro da Filosofia e da Sociologia no ensino básico REINCORPORADAS EM 2008, DISCIPLINAS PODEM NÃO SER MAIS OBRIGATÓRIAS Jamile Oliveira e Ullisses Machado

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ove anos após serem reincorporadas ao currículo do ensino básico, em junho de 2008, com a entrada em vigor da Lei nº 11.684, medida que tornou obrigatório o ensino das duas disciplinas nas três séries do ensino médio, após terem sido banidas do currículo em 1971 e substituídas por educação moral e cívica, as disciplinas de filosofia e sociologia são por outra vez colocadas em risco. “Não dá para deixar esse trabalho para fazer depois, quando o estudante chegar à universidade”. Essas eram as palavras da presidente do Conselho Nacional de Educação Clélia Brandão Alvarenga Craveiro em 2008, com o restabelecimento da obrigatoriedade das disciplinas de Filosofia e Sociologia no ensino médio quando, segundo ela, a escola brasileira, de um modo geral, carecia muito de uma dimensão crítica e analítica. Clélia apontara que essas disciplinas apresentam temas que são extremamente importantes do ponto de vista da cultura escolar e também proporcionam uma metodologia muito mais intensiva em relação ao aspecto de refletir e tomar decisões a partir de uma análise da realidade. “Para construir a cidadania, o cidadão precisa estar preparado para enfrentar a complexidade deste mundo. Uma das exigências é que ele tenha capacidade de selecionar informações e refletir sobre o que acontece no mundo”, justifica. O Parecer nº 8/2008 do CNE ainda criou a chamada segunda licenciatura, voltada especificamente para o atendimento de professores que estão lecionando disciplinas para as quais não têm a graduação específica, que era o Programa Emergencial de Segunda Licenciatura para Professores em exercício na educação básica pública, a ser coordenado pelo MEC

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em regime de colaboração com os sistemas de ensino. No entanto, pouco mais de oito anos depois desse implemento, o baque: a imposição de uma medida provisória que prevê a diminuição do conteúdo obrigatório para privilegiar cinco áreas de concentração: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional. Disciplinas como artes, educação física, filosofia e sociologia tendem a ser postas em segundo plano.

FILOSOFIA Como um possível resultado dessa realocação de importância dessas matérias na formação do indivíduo, o professor do Departamento de Filosofia da UFS (Universidade Federal de Sergipe) Romero Júnior Venâncio Silva, 48 anos, fala de uma desumanização da ciência e do conhecimento. “A prioridade tecnocrata do governo de achar que a licenciatura não tem valor, isso de certa forma é a concepção que o governo tem de escola pública. Não me surpreende, visto o Ministro da Educação que temos”, afirma o professor. Ele critica o fato de o Ministro não ser da área da educação. “Mais uma vez, temos um politiqueiro no Ministério. Essa é uma coisa que lembra só a ditadura

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ARQUIVO PESSOAL

EDUCAÇÃO

Professor Romero Venâncio, defensor da permanência das discplinas na escola militar, onde coronéis e politiqueiros poderiam se encontrar na Educação”, lamenta Romero. O professor explica que isso esvazia a ideia de ciências humanas devido ao seu papel reflexivo na história do saber e que isso não pode ser perdido. Outro grave problema no nosso país era a designação de professores que não são especialistas nessas áreas para leciona-las. Segundo Romero, Lula tentou em boa parte do seu segundo mandato solucionar essa prática. “Abriu-se concurso especificamente para professor de Filosofia. Aqui, inclusive, foi, se não me engano, no primeiro mandato do governo Déda que foi aberto pela primeira vez um concurso específico só para formados em Filo-

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sofia”, afirma. Sobre a MP, ele foi categórico. “Eu nem caracterizei ela como reforma. Diria que é uma contrarreforma. Porque subtrai e limita mais que amplia e, acima de tudo, o governo tem uma clara visão que prioriza uma coisa mitológica chamada mercado”, aponta. Diz ainda que esse projeto é completamente nefasto e que terá um impacto violento nas licenciaturas, que, segundo ele, vinham tentando se reequilibrar nas universidades principalmente depois do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid). O programa oferece bolsas de iniciação à docência aos alunos de cursos presenciais que se dediquem ao estágio nas escolas públicas e que, quando graduados, se comprometam com o exercício do magistério na rede pública e tem como objetivo antecipar o vínculo entre os futuros mestres e as salas de aula da rede pública. Com essa iniciativa, o Pibid faz uma articulação entre a educação superior (por meio das licenciaturas), a escola e os sistemas estaduais e municipais. “Foi o primeiro e único programa na história da universidade brasileira que foi unicamente voltado para as licenciaturas. Com todos os seus limites, foi o melhor projeto que tivemos”, diz Romero ao alertar:. “Com esse projeto do governo, acaba-se o Pibid, limita-se a licenciatura e se quebra essa relação entre universidade e escola pública, que para mim será o mais atingido junto ao licenciado que perderá sua única perspectiva de trabalho”.

SOCIOLOGIA O professor do Departamento de Ciências Sociais da UFS e professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PGS) Marcelo Alario Ennes, 50 anos, teme o fim da sua disciplina. “A reforma do ensino médio vai afetar decisivamente o ensino da sociologia no ensino médio porque acaba-se com a obrigatoriedade do ensino da sociologia e por questões culturais, sociais e políticas, o fim da obrigatoriedade vai significar na prática a sua extinção”. Ele aponta que o próprio responsável pela Secretaria de Estado da Educação (SEED) já deu seu parecer. “Por vários motivos alegados, que são os de receita, de economia. O secretário do estado já declarou que é favorável à reforma sob a alegação de que ela representa uma diminuição de custos na educação, o que obviamente é um grande equívoco” Marcelo acredita que o problema da educação em Sergipe, que se estende a outros estados, tem um

motivo alternativo. “É muito mais associado à gestão. Se levarmos em consideração que cargos de diretor, coordenação e mesmo a lotação de professores obedecem à lógica de favorecimento, política, e menos de projetos pedagógicos, vemos um grande golpe a qualquer projeto de educação”, e justifica: “Porque não há a mínima possibilidade de continuidade, comprometimento, envolvimento por parte dessas pessoas, dos professores e gestores com as escolas. Sou plenamente contra essa reforma e também a Medida Provisória que envolve outros fatores igualmente graves. Quanto ao frequente emprego de profissionais que não são específicos da área, ele teme pela limitação do conteúdo passado aos alunos. “É uma situação curiosa, porque temos de um lado um grande número de professores na área que saem da universidade, o que não justifica a existência de professores de outras áreas no ensino da sociologia. Isso tem a

“ESSA É UMA COISA QUE LEMBRA SÓ A DITADURA MILITAR, ONDE CORONÉIS E POLITIQUEIROS PODERIAM SE ENCONTRAR NA EDUCAÇÃO” Romério Venâncio

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EDUCAÇÃO

“EM NOME DE UMA NÃO DOUTRINAÇÃO, SE IMPLEMENTA UM PROJETO QUE É, SIM, PORTADOR DE POSTURAS POLÍTICAS E IDEOLÓGICAS” Marcelo Ennes ARQUIVO PESSOAL

Professor Marcelo Ennes questiona o corte das disciplinas como forma de reduzir despesas na educação

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ver com questões de ordem operacional, econômica, e traz prejuízo enorme, pois muitas vezes o ensino acaba se reduzindo ao livro didático”. Em relação a uma articulação contra a reforma, Marcelo reitera a necessidade de união entre os representantes das disciplinas afetadas para a efetividade do movimento. “Aqui na universidade ainda estamos no começo de uma mobilização envolvendo os professores e alguns alunos do curso de ciências sociais e pensamos que seria adequado trabalhar em conjunto com outros professores e alunos das outras áreas que vão ser afetadas pela reforma do ensino médio, como artes, educação física e filosofia”. O professor atenta para um possível ideal oculto dessa reforma, dizendo que existe uma questão ideológica nesse projeto, mas que, porém, ela não é explicitada. “E é aí que reside o maior problema, porque em nome de uma não doutrinação, se implementa um projeto que é, sim, portador de posturas políticas e ideológicas”, afirma. “Quando o governo federal retoma a ordem e o progresso como slogan do seu governo e muito do que está acontecendo gira em torno desse slogan. Essa ideia de uma urgência, de uma ordem como se vivêssemos em um caos, como se sociologia no ensino médio e políticas afirmativas ou de inclusão significassem algum caos, quer se passar como a única possível”. Marcelo afirma que essas disciplinas são essenciais e fundamentais para gerar a autonomia do indivíduo no sentido mais pleno e que ao retirá-las, diminui-se ainda

mais a possibilidade de se criar essa autonomia e a possibilidade das pessoas identificarem doutrinação, ideologia, partidarização onde se diz que não há, de se fazer uma leitura além da aparência, além daquilo que é dito. “É necessário olhar por trás do discurso, entender as entrelinhas. Retirar isso da educação constitui um atentado na formação intelectual dessa geração e das gerações futuras”, alerta. Partindo para uma contextualização histórica, ele compara o momento com a ditadura, quando a sociologia foi excluída do ensino médio tão logo o regime fora implementado. “Esse período de ausência teve um impacto profundo na consciência, na visão de mundo e na autonomia do pensamento e isso é evidenciado pela nossa dependência aos formadores de opinião”, diz Marcelo. Acerca das possíveis consequências a longo prazo, Marcelo teme pelo pior. “Nos projetando através desta perspectiva, teremos um quadro ainda mais grave, porque não tivemos tempo de formar uma geração de pessoas que tiveram aula de sociologia. Hoje pelo menos sabem falar de Marx, Durkheim, Weber e de alguns temas com os quais tiveram contato no ensino médio”, relata o professor, para então finalizar. “A interrupção disso vai significar uma nova fase de uma consciência amputada, carente de autonomia. Acho que só tende a piorar e a ser negativo se pensarmos que nosso país será melhor na medida que as pessoas sejam mais autônomas, capazes de decidir por conta própria e assim por diante. É uma questão de patrimônio cultural”. Número 3, 2016.1


SEGURANÇA

SEGURANÇA NAS ESCOLAS Jennifer Cristina

jenhjornalismo@gmail.com

A escola é o local onde as crianças passam a maior parte do tempo. Sendo assim, é necessário e, extremamente importante, que esse ambiente garanta a segurança. delas.

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os últimos anos, quando ouvimos falar sobre segurança no âmbito escolar, logo pensamos em atos violentos contra funcionários e alunos, mas esquecemos de considerar a violência enquanto fator externo, a que ocorre além dos portões da escola, aquela que acontece dentro de casa, do lado da escola, nas ruas do bairro e que acabam adentrando o estabelecimento de ensino. Em Sergipe, por exemplo, temos várias escolas inseridas em áreas cuja criminalidade é elevada, esse fator acaba influenciando o crescimento de ações criminosas também dentro das instituições. Observa-se que as crianças e adolescentes estão cometendo cada vez mais atos infracionais caracterizados por agressões verbais, físicas, pichações, bullyings, e furtos sem justificativa ou causa aparente. Não é raro perceber que as escolas do nosso estado convivem com problemas de pichações e de-

Número 2, 2016.1

predações, vindas muitas vezes dos próprios alunos. Segundo dados sobre a violência escolar da Polícia Militar de Sergipe, as razões que levam a esses atos de violência, são as vulneráveis situações sociais, as discriminações e a falta de trabalho ou perspectiva de futuro, aliadas à farta oferta de drogas lícitas e ilícitas no entorno da escola. Esses são fatores determinantes para a instabilidade, que resulta na violência em sala de aula, nos pátios, nas quadras e nos demais ambientes escolares.

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SEGURANÇA PROGRAMAS DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA Estes comportamentos têm despertado cada vez mais os olhares das autoridades competentes, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de Sergipe (SSP), mantém um Núcleo de Prevenção e Reinserção Social que é responsável por palestras em instituições públicas e privadas. O objetivo do projeto é alertar as famílias, os estudantes e a própria sociedade acerca do uso e abuso de drogas lícitas e ilícitas, a violência dentro e fora das famílias e suas consequências, o núcleo é responsável ainda por conduzir jovens infratores a ressocialização. Segundo o Agente de Polícia Judiciária e coordenador do Projeto, Givaldo Nascimento, a criança ou o adolescente, vítimas de violência, tem a tendência de reproduzi-la. É preciso que os pais e educadores se atentem para as mudanças bruscas de comportamento como, falta de atenção, baixa autoestima, variação

de humor e agressividade. Ele acredita que, embora a violência ocorra dentro das escolas, não é gerada pela escola em si, mas também por fatores externos, como famílias desestruturadas, narcotráfico, conflitos sociais e etc. “É necessário identificar os tipos de violência às quais crianças e adolescentes estão expostos, para melhor compreender seus reflexos no ambiente escolar”, afirma. O Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD), da Polícia Militar de Sergipe, é responsável por palestras e educação voltada à erradicação das drogas, já a Guarda Municipal de Aracaju também realiza palestras e peças de teatro contra os diversos tipos de violência e o uso de entorpecentes, as ações integradas tem como objetivo combater a crescente onda de insegurança que se abateu sobre o estado de Sergipe e consequentemente chegou às instituições de ensino.

Alternativas para minimizar a violência nas escolas Recentemente uma reunião entre a Secretaria de Estado de Educação (SEED), o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica de Sergipe (SINTESE) a Guarda Municipal de Aracaju, as polícias Civil e Militar e representante dos conselhos tutelares da cidade, discutiram a questão da violência nas escolas, com formação de uma comissão, responsável por criar um protocolo de ação. A intenção do documento é definir a ação dos policiais, por exemplo, em caso de roubo ou furto, identificação de pontos de drogas nos arredores da escola, dentre outros crimes, ele deverá conter atribuições de como agir em caso de violência ou atos da mesma natureza. SEGURANÇA COMUNITÁRIA ESCOLAR O policiamento comunitário escolar é um processo que trabalha em parceria preventiva com a comunidade escolar para identifi-

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car, priorizar e resolver problemas existentes. Esse tipo de protocolo é utilizado no Distrito Federal e tem sido referência, para o Soldado Moises Estácio da 5ª seção da Polícia Militar de Sergipe, especialista em policiamento comunitário escolar, o policiamento escolar deveria ser implantado em todo estado, mas a polícia ainda conta com problemas maiores, como a falta de estrutura e efetivo. Segundo Estácio, “é preciso identificar e classificar os tipos de manifestações violentas que ocorrem nas escolas”, ele aponta três tipos: a violência “na” escola, a violência “dentro” da escola e a violência “da” escola. “Não há dados específicos sobre assaltos e violência dentro das salas de aula, mas as escolas estão em situação grave, assim como todo o estado. Temos pontos de gravidade máxima como o bairro, Santos Dumont, no bairro Jetimana e também no bairro Santa Maria. A violência é interna e externa”, afirmou. Número 2, 2016.1


SEGURANÇA

Vítimas da violência da escola

A professora Deise Anunciada, entende que “a violência externa é um fator que foge ao controle da escola. Mas, não podemos isolar a unidade educacional. O aluno agride muito o professor, que tem que entender que a relação dele com o aluno tem que ser solidária, de respeito”. Muitos casos de violência contra docentes invadiram os noticiários nos últimos anos, um caso que chocou a população, alunos e docentes, foi o do professor de biologia Cristhian Almeida Gomes, ele foi alvejado com cinco tiros de arma de fogo, o autor dos disparos um aluno, menor, descontente com uma nota baixa. to que fica no Eduardo Gomes, São Cristóvão.

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O professor sobreviveu, mas as sequelas ele carregará para sempre. O fato ocorreu no ano de 2014, na escola estadual professora Olga Barreto que fica no Eduardo Gomes, São Cristóvão. O resultado disso é a crescente quantidade de afastamento dos professores das atividades de sala de aula e a transferência para setores burocráticos ou de suporte pedagógico onde não há contato direto com aluno. Muitos professores estão sendo diagnosticados com problemas psicológicos, que dificultam o trabalho dentro da própria escola

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SEGURANÇA

Ressocialização de menores em conflito com a lei: as origens da violência e o compromisso da sociedade Alisson Castro e Víctor Siqueira

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B viveu desde pequeno em um bairro periférico de Aracaju. Foi fruto de uma relação instável, na qual logo após o parto, sua mãe se viu sozinha, abandonada pelo namorado e com uma criança recémnascida nos braços. Foi entregue aos cuidados de sua avó materna, que lhe criou até a pré-adolescência. Depois de um tempo, chegou a morar com a mãe. No entanto, não foi o afeto materno que encontrou no seu novo abrigo: foi de encontro à mão pesada que descia sobre ele pelos motivos mais banais. As

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Imagem de pintura surras e humilhações eram rotineiras e um dia, em especial, marcou tanto sua face quanto sua alma. Aquela que o colocou nesse mundo que já mostrava aos seus pequenos olhos um tom de crueldade latente aplicou-lhe uma surra em frente a todos os colegas da escola em que estudava. Desde então, só via a mãe nas ocasiões em que ela o visitava nas instituições de medidas protetivas por onde passou. A escola já não lhe fornecia perspectiva, já que o ambiente era desfavorável e tinha dificuldade para aprender os assuntos. O resultado foi o mesmo

de tantas outras crianças: a evasão.

A prática constante de furto levou TB a ser internado no Centro de Atendimento ao Menor (Cenam). Foi em uma visita de sua mãe ao local que a última esperança de uma convivência entre os dois desabou: enquanto a senhora visitava o filho, seu companheiro, padrasto de TB*, foi assassinado. No raciocínio da mulher, a culpa era do adolescente. Acreditava que, se não estivesse sozinho, estaria vivo. As visitas se tornaram cada vez mais raras, até que o garoto sentisse novamente a sensação de ser deixado por sua mãe.

Após terminar de cumprir a medida, TB recebeu um convite para participar do Egressos, programa que oferece cursos profissionalizantes para ex-internos. Insatisfeito e deprimido, tentou suicídio, mas sem sucesso. Influenciado por más companhias, cometeu ato infracional análogo a homicídio em Aracaju. Voltou ao Cenam e reacendeu toda a questão envolvendo as medidas socioeducativas, redução de maioridade penal e, principalmente, demonstrou as fragilidades na vida das crianças em relação ao ambiente familiar, escolar e social. Número 2, 2016.1


SEGURANÇA

VÍCTOR SIQUEIRA

Faltam juízes. Os que estão lotados no interior ficam sobrecarregados por ter que lidar com vários assuntos diferentes. Faltam também assistentes sociais e outros profissionais que poderiam ajudar a diminuir a demanda aqui. Além disso, a pressão é que os meninos permaneçam aqui, como se tudo fosse se resolver escondendo eles. Carlos Viana Diretor de Operações do Cenam

a no prédio do Cenam. Embora o grupo de adolescentes qu cometeram atos infracionais análogos a homicídio seja de apenas 1%, de acordo com a Unicef, existem muitas semelhanças entre eles e os que estão internados na instituição por infrações mais leves. A grande maioria enfrentava dificuldades no âmbito escolar, vivia em áreas de risco social elevado e lidava com um círculo familiar desequilibrado. Em quase todos os casos, os jovens chegam às unidades sem frequentar colégios e com um nível extremamente baixo de escolaridade, apresentando um atraso de 3 ou 4 anos de sala de aula. Número 2, 2016.1

Unidades de medidas socioeducativas Quatro unidades são responsáveis por distribuir as medidas socioeducativas para adolescentes infratores no estado de Sergipe: A Unidade Socioeducativa de Internação Provisória (Usip), onde ficarão abrigados por, no máximo, 45 dias até receberem o resultado de seu julgamento; o Centro de Atendimento ao Menor (Cenam), local que vai abrigá-los após a sentença de regime fechado e aplicar as medidas socioeducativas; Unidade Feminina Socioeducativa Senado-

ra Maria do Carmo (Unifem) e a Comunidade de Ação Socioeducativa São Francisco de Assis (Case).

As duas primeiras, principais unidades de acolhimento, reúnem condições precárias de aplicação das medidas, estruturas defasadas e superlotação, dificultando a ação dos agentes e propiciando conflitos internos, tentativas de fuga e rebeliões. A Usip tem capacidade para receber 45 adolescentes, mas, atualmente, atende 160 internos. O problema, segundo Carlos Viana, diretor de operações do Cenam, é que muitos adolescentes são en-

caminhados para o local por falta de condições técnicas nas prefeituras do interior e por conta das pressões sociais da sociedade e da mídia em relação às crianças.

A estrutura da separação dos jovens é feita a partir de critérios de ato infracional, compensação física e idade. Porém, a superlotação inviabiliza a divisão adequada e, por vezes, só acontece de acordo com um dos requisitos. Estes problemas institucionais atuam como barreiras para a ressocialização, educação e oportunidades de emprego e, consequentemente,

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SEGURANÇA

geração de renda. Júlio Reis, coordenador pedagógico do Cenam há 16 anos, elenca o estímulo do consumismo, propaganda, falta de educação de qualidade e ausência de pelo menos um dos pais como possíveis causas para que jovens cometam atos infracionais. “São todos homens aí!”

A sentença do intertítulo foi proferida por um agente, logo depois de testemunhar uma tentativa de homicídio dentro do Cenam. Três pré-adolescentes, entre 13 e 14 anos, tentaram contra a vida de um outro garoto da mesma faixa etária. Não obtiveram êxito graças a ação rápida dos agentes.

A superlotação e a falta de espaço físico onde o centro se encontra impedem até que ele cumpra suas obrigações como, por exemplo, a separação entre os adolescentes de acordo com a gravidade do ato infracional cometido. O distanciamento é providenciado, mas não abrange a todos. Uma nova área está sendo construída para alojar aqueles que cometeram atos infracionais relacionados à violência sexual. “Não basta a boa fé dos gestores, é preciso investimento”, afirma o coordenador da unidade. Além de tentar construir uma nova relação com os adolescentes, o Centro começa a implantar um novo sistema pedagógico, que agora adotará aulas multisseriadas, onde os professores traba-

lham, na mesma sala de aula, com várias séries simultaneamente. O sistema é um esforço para diminuir a disparidade de nível escolar dos garotos internados. Além das disciplinas do currículo obrigatório brasileiro, tem aulas de música e oficinas de artes plásticas.

Todas as medidas estão sendo adotadas, mas de maneira incipiente. A expectativa é que tudo possa funcionar plenamente na nova unidade do Cenam que está sendo construída em Nossa Senhora do Socorro. As obras começaram em novembro de 2015 e a previsão de entrega ultrapassa 390 dias. Só a educação salva

Vinculada à Secretaria de Estado da Inclusão, Assistência e do Desenvolvimento Social, a Fundação Renascer tem a missão de “executar as ações de prevenção e as medidas de proteção e socioeducativas com eficiência, eficácia e efetividade, garantindo os direitos previstos em lei e contribuindo para o retorno da criança e adolescente

ao convívio familiar e comunitário como protagonista de sua história”. Partindo deste princípio, toma a iniciativa de criar programas que possam agir como instrumento de inclusão social no que diz respeito ao desenvolvimento educacional e oportunidades de trabalho. Por meio do programa de Egressos, que está no seu quinto ano, a Fundação oferece, através de convênios com empresas, órgãos públicos e privados e instituições de ensino técnico, uma base para que, ao fim do cumprimento das medidas socioeducativas nos centros, o jovem possa ser inserido novamente na sociedade, através de cursos profissionalizantes e prática profissional. Este ano, duas turmas com cerca de 40 alunos cada foram iniciadas. O programa Jovem Aprendiz contempla os menores em conflito com a lei. Os adolescentes são divididos em turmas e recebem uma bolsa de meio salário mínimo, que serve como estímulo para que continuem o curso. Sheila Lara, coordenadora do Egressos, destaca a eficácia da educação para mudar o destino das

VÍCTOR SIQUEIRA

Até agosto de 2016, 247 menores foram apreendidos em flagrante por cometer ato infracional. Outros 168 foram apreendidos por ordem judicial, de acordo com dados da Coordenadoria de Estatística e Análise Criminal (CEAcrim). O número assusta e causa dificuldades ao funcionamento do Cenam, que sofre do mesmo problema do Usip: poderia receber apenas 55

meninos, mas atende 144. “Esses jovens muitas vezes possuem rixas, normalmente relacionadas a torcidas organizadas ou bairros, então tentamos separá-los para que não ocorram incidentes”, comenta Júlio. No entanto, o local não dispõe das condições necessárias para que a separação ocorra.

Imagem interna do prédio do Cenam.

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SEGURANÇA

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crianças e adolescentes. “Apenas 25% dos que aceitaram participar reincidiu ou desistiu no percurso. Levando em consideração que estar no Egressos não é obrigatório, é um número bastante satisfatório e nos mostra que o programa dá certo”.

O trabalho de ressocialização dos adolescentes é bastante complexo devido a realidade de evasão escolar vivenciada pela grande maioria dos que chegam ao programa de egressos. “ Muitos se interessam pelo programa, a família olha como uma ótima oportunidade para modificar a trajetória de vida desses garotos. Sempre conversamos com eles para que voltem à escola. O curso profissionalizante não garante emprego, ainda mais com um baixo nível de escolaridade”, explica Sheila. No programa, inclusive, os adolescentes em conflito com a lei têm prioridade nas matrículas escolares e na emissão de documento,

justamente para facilitar a recolo-

cação deles na esfera escolar. Eles ainda recebem visitas periódicas dos assistentes sociais para que sejam feitas avaliações de desempenho e comprometimento. O programa de egressos é o último de estágio de ressocialização ligado diretamente com o governo. Depois dele, os garotos estão completamente livres e sem vínculos oficiais com o Cenam. Nova Vida?

BR é mais um adolescente que está se preparando para deixar o Centro. Diferente da maioria dos garotos, possui um nível de renda superior. Morava com a avó em um bairro considerado de risco social. No entanto, possuía condições financeiras para se manter bem. Chegou ao Cenam depois de ter virado notícia no estado: participou de ato infracional análogo a latrocínio. Segundo ele, não premeditou a ação. Se envolveu com más amizades no bairro e queria assaltar o homem para conseguir dinheiro a fim de ir a uma festa. Depois de ser encontrado pela polícia, foi encaminhado aos cenNúmero 2, 2016.1

Imagem externa do Cenam.

tros de medida socioeducativa.

Ele conta que passou por inúmeras dificuldades, mas no Centro converteu-se ao protestantismo e diz que isso mudou sua vida. BR abandonou sua paixão pelo futebol e hoje não torce por time nenhum. “Gerava muita confusão por aqui”, explica. Começou a participar das aulas multisseriadas, tinha evadido da escola na sexta série e também das aulas de música. Criou afeto pelos instrumentos, sobretudo os de sopro. “Não tinha expectativas. Só queria fumar e andar de moto com meus amigos”, afirma. BR sairá do centro em novembro e irá ao encontro de sua mãe, que vive no exterior. Está entusiasmado para conhecer um outro país e quem sabe ser um músico profissional por lá. “Pretendo continuar os estudos de música”, confessa. BR é uma exceção. Na regra, muitos dos garotos voltarão aos seus bairros cheios de conflitos sociais e tensões, talvez renegados pela família como na história que abriu essa reportagem. “A ressocialização não é um trabalho que pertence apenas a nós aqui do Centro. Precisa ser um esforço de toda a sociedade”, finaliza Júlio Reis, coordenador pedagógico do Cenam.

Não usamos mais algemas nos garotos, salvo algumas exceções. Não fazemos mais com que andem de cabeça baixa. Esse adolescente que cumpre medida socioeducativa é um sujeito de direito. Ele só perde o direito de ir e vir, mas todos os outros devem ser garantidos. Júlio Reis Coordenador Pedagógico do Cenam

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POLÍTICA

Trabalhadores pela educação pública, gratuita e de qualidade Marília Souza

mariliass2058@gmail.com

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m conjunto com movimentos sociais, sindicatos discutem projetos de lei e de emenda constitucional que trazem a educação como tema central, a PEC 241 e o PLP 257 (PLC 54). Essas entidades representativas, a exemplo do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Sergipe (SINTESE), do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN), da Federação de Sindicatos de Trabalhadores em Educação das Universidades Brasileiras (Fasubra) e do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe) apresentam suas análises de como esses projetos afetam as categorias e os beneficiários pelo direito à educação. Além dos setores se apresentarem contra a PEC e o PL, há também o destaque para as questões contrárias às reformas trabalhistas e da previdência. Esses profissionais também se uniram pela campanha “Escola Sem Mordaça”, em resposta ao programa apresentado pelo Senador Magno Malta (PR-ES) chamado “Escola Sem Partido”. Através de paralisações e mobilizações, os setores da educação e seus apoiadores tentam chamar a atenção para a situação precária da classe. Os professores municipais paralisaram suas atividades nos dias 21 e 22 de setembro, após indicação do SINTESE. Já os professores da Universidade Federal de Sergipe e do Instituto Federal de Sergipe se uniram em paralisação no dia 29 de setembro, também com indicação de seu sindicato, o ANDES. Trabalhadores federais Segundo a revista informativa do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos da Educação da UFS, de agosto de 2016, o PL 257 e a PEC 241 “ameaçam retirar direitos históricos”. O folheto informativo do mês de setembro distribuído pelo SINTESE atribui

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aos projetos uma representação da “retirada de direitos dos trabalhadores e o desmonte da educação pública”. Já o site da ADUFS, em nota sobre a paralisação nacional escrita em setembro, afirma que os projetos “produzem efeitos nefastos para o serviço público”. A vice presidente da ADUFS, Acácia Maria dos Santos Melo, informou que a mobilização dos professores da Universidade Federal de Sergipe também se pauta na PEC, PL e, principalmente, na Reforma da Previdência. Acácia explicou que a rede federal não paralisou no dia 22 de setembro junto com a rede municipal e estadual. Na Universidade foi feita uma assembleia e a paralisação aconteceu no dia 29 em conjunto com o Sintufs e o IFS, que também seguiram em caminhada até o Ministério da Fazenda de Sergipe. Acácia também acredita que a mobilização será conjunta, pois esses fatores não atingem apenas os trabalhadores federais. “Tem uma mobilização geral de todos os servidores públicos e de todas as categorias em relação a essa PEC. Porque não atinge só federais, atinge estadual, municipal e a previdência como um todo”, afirma.

Rede Municipal Em greve desde 24 de agosto, os professores da rede municipal de Poço Verde, cidade sergipana localizada a cerca de 160 km da capital Aracaju, estão recebendo seu salário de forma parcelada. Os atrasos começaram no mês de abril e já no mês de julho o pagamento não aconteceu. Foi então que os professores buscaram seus direitos através do SINTESE. A explicação dada pela prefeitura e pela secretaria de educação do município é de que o dinheiro do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) não é suficiente para pagar todos os professores. A professora de Português, Andreza Rabelo Oliveira, de 31 anos de idade e 18 de profissão, conta que segundo os cálculos feito pelos professores e pelo sindicato, apresentados durante sessão na Câmara Municipal no dia 20 de setembro, o dinheiro destinado ao município pagaria os educadores. A suspeita é que o dinheiro, que seria prioritariamente para a remuneração, estaria sendo aplicado em outras funções da educação, como pagamentos de funcionários e da gasolina do transporte de alunos. Desta vez, a greve foi o último meio que a categoria encontrou, visto que outras mobilizações já aconteceram em Poço Verde. “Já nos mobilizamos em 2003 pelo plano de carreira e sobre a garantia do piso salarial. Não havia uma greve por tanto tempo, geralmente eram paralisações e conseguíamos sensibilizar os gestores, dessa vez nem a greve sensibilizou”, lembra a professora. Número 3, 2016.1


IMARÍLIA SOUZA

POLÍTICA

Caminhada unificada do SINTESE no Centro de Aracaju Número 3, 2016.1

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POLÍTICA

Andreza conta que a situação deixa os professores abalados psicologicamente pela perda da estabilidade financeira. Além da rede municipal, a professora também atua na rede estadual, mas se solidariza com os outros educadores que não possuem outro vínculo ou fonte de renda. Outro fator preocupante é o aumento do número de pedidos de transferências de alunos para colégios de outros municípios. Mas Andreza reconhece o fato de que os estudantes de Poço Verde apoiam a luta dos professores. Mesmo desestimulada pela desvalorização, Andreza tem esperança em uma mudança no país. “Eu não quero acreditar e não quero deixar o pessimismo tomar conta de mim, achando que nunca mais Poço Verde vai melhorar, como em geral, eu espero de verdade que a

nicípio infelizmente, na pessoa de Jorge Eduardo, não reconhece os direitos dos professores”, afirma Ari. O município de São Cristóvão, localizado há 25 km da capital, também aderiu a paralisação indicada pelo SINTESE, com panfletagem em frente a Universidade Federal de Sergipe no dia 21 e participação da caminhada unificada no centro de Aracaju realizada no dia 22 de setembro. Tanto São Cristóvão quanto Poço Verde terão novos gestores em 2017. PL 257 e PEC 241 Dois projetos em tramitação na Câmara dos Deputados e do Senado que se apresentam como alternativa para o equilíbrio das contas do país e a salvação para a crise financeira são destaques para a categoria. Apesar das discussões tomarem mais fôlego após o pro-

Não havia uma greve por tanto tempo, geralmente eram paralisações e conseguíamos sensibilizar os gestores, dessa vez nem a greve sensibilizou Andreza Rabelo Oliveira Professora educação volte a ser valorizada”, comenta. A situação do município de São Cristóvão não é diferente, os professores também reclamam da distribuição do dinheiro do FUNDEB. Além disso, de acordo com o professor Ari Lúcio, os educadores reivindicam a regência reduzida arbitrariamente pelo prefeito Jorge Eduardo (PSB). “Nós chegamos com números na mesa, provamos que o município é auto suficiente para pagar o salário do professor, o piso nacional do professor. O mu-

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cesso de impeachment de Dilma Roussef e a posse de seu vice Michel Temer, o PLC 257 faz parte do pacote de ajuste fiscal apresentado ainda pelo governo da presidenta. O Projeto de Lei Complementar 257, segundo o texto original, trata de refinanciamento de dívidas dos estados e do Distrito Federal, limita o crescimento de dívidas dos estados e a criação de leis que prevejam esse aumento, eleva as alíquotas (tributo) de contribuição previdenciária para 14%, podendo chegar a

28% em um período de três anos, entre outras medidas que garantam o equilíbrio fiscal. Dentre as críticas apresentadas, a suspensão de concursos públicos e o congelamento de salários são as mais eloquentes entre a categoria dos trabalhadores da educação, além de afirmarem que o PLC é um retrocesso para todos os trabalhadores e servidores públicos do país. A Proposta de Emenda Constitucional 241 tem como proposta a instituição de um novo regime fiscal. O que significa estabelecer um limite fixo de despesas primárias para os setores dos Poderes Executivos, Judiciários e Legislativo, além do Tribunal de Contas da União, Ministério Público da União e da Defensoria Pública da União. Dentro desses gastos, será considerada irregular a contrata-

ção de pessoas para cargos e funções e a realização de concursos públicos que ultrapassem o limite de gastos estabelecido previamente. Entende-se por gastos primários as despesas anuais com, por exemplo, saúde, segurança, previdência ou educação. O texto propõe que os gastos sejam baseados nos do ano anterior, como forma de termômetro para o ano seguinte. A maior preocupação dos trabalhadores da educação com a PEC seria a proposta de congelamento dessas despesas por pelo menos 20 anos, o que sucatearia ainda mais os serviços de educação e não traria uma perspectiva para os novos trabalhadores do setor, visto que as contratações seriam vetadas para atender o limite de gasto proposto.

Escola sem Mordaça e Reformas O programa “Escola Sem Partido” já existe desde 2004 e traz como proposta a inibição do uso das aulas para difusão de determinadas correntes políticas e ideológicas por parte dos professores. Sua justificativa é de que o projeto seria uma forma de “prevenir a prática da doutrinação política e ideológica nas escolas, e a usurpação do direito dos pais a que seus filhos recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções”. Em resposta ao programa, surgiu a Frente Nacional Escola Sem Mordaça. De acordo com a Frente, o projeto seria uma forma de censurar o modo de ensino e retirar a autonomia dos professores em sala de aula. O projeto também motivou mobilizações de rua realizadas por professores, estudantes e movimentos sociais no Dia Nacional dos Estudantes (11 de agosto) por diversas cidades do Brasil. Além da luta por autonomia em sala de aula, os profissionais da educação entendem que a Reforma Trabalhista e da Previdência significam mais um retrocesso no país. A Reforma da Previdência foi justificada pelo aumento da população idosa e a diminuição dos contribuintes no Brasil. As principais alterações são a idade para a aposentadoria (65 anos para homens e mulheres), aumento de tempo de contribuição de 15 para 25 anos e a extinção gradual das aposentadorias especiais. A Reforma Trabalhista prevê uma maior flexibilização através de acordos entre empregados e empregadores, e a justificativa é a atualização das regras da CLT que vigora desde 1940. A flexibilização pode ser aplicada na jornada de trabalho, salário mínimo para meio expediente, adicionais, auxílios, décimos terceiro e férias, além de licença e até horários de almoço. Número 3, 2016.1


EDUCAÇÃO

Paulo Freire é um anônimo em escola que o homenageia Matheus Brito

luimatheusbrito@gmail.com

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á noves anos, Igor Maciel e Tiago Profiro, ambos com 18 anos, estudam na mesma escola no Bairro Industrial, zona norte de Aracaju. O local onde os meninos cursam o terceiro ano do ensino médio mudou de nome em janeiro de 2016. O Governo do Estado de Sergipe modificou o nome do antigo Colégio Estadual Castelo Branco para Colégio Estadual Professor Paulo Freire. A mudança aconteceu após a Comissão da Verdade Es-

Número 2, 2016.1

tadual - responsável por investigar violações aos direitos humanos durante o Regime Militar - pedir ao governo que retirasse o nome de presidentes ditadores de instituições da rede de ensino pública. Para Igor e Tiago, tanto Paulo Freire quanto Castelo Branco são figuras desconhecidas. O novo nome não significou que os alunos distinguissem o pedagogo e o ditador. “Seria bom se houvesse uma comparação entre os nomes Paulo Freire e Cas-

telo Branco”, afirmou Igor. A falta de diálogo entre a diretoria e os alunos fez com que os eles não entendessem o motivo da mudança. “De repente, a gente se deparou com uma placa na frente da escola”, disse Tiago. Durante o processo, o diretor do Colégio Estadual Professor Paulo Freire, Marcos Aurélio Silva, reuniu os alunos no auditório numa tentativa de explicar a homenagem ao pensador. Depois de nove meses, a perda da identidade do colégio é o principal

problema que os alunos apontam. “Até hoje, a gente se distrai e fala Castelo Branco”, disse Tiago. Para Karla da Piedade, também do terceiro ano do ensino médio, nenhum aluno gostou da mudança. Não se trata, diz ela, do fato do antigo nome ser de um ditador, mas do imaginário que os alunos e a comunidade possuíam da escola. “Todo mundo gostava da abreviação [CCB] (...) Minha mãe estudou aqui, minha tia estudou aqui. Eu estudo com os professores que ensinaram

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EDUCAÇÃO

Medida do governo pode contrariar ideias de Freire à minha mãe”. Em 2016, o antigo Castelo Branco completa 46 anos de funcionamento. Na turma de Karla, que estuda há 8 anos no Paulo Freire, as professoras de Português e História passaram um documentário sobre a vida do pedagogo para que os alunos o conhecessem. Mesmo assim, Karla acredita que a contextualização do papel histórico do pedagogo e do ex-presidente ditador e fica a desejar. Segundo os alunos, a mudança foi tão repentina que alguns precisaram comprar outra farda em pouco tempo de uso. O modelo e as cores da farda da escola não foram modificados. Ainda hoje os 1.357 alunos do Colégio Paulo Freire podem usar a farda antiga ou nova. De acordo com o diretor Marcos Aurélio, que também é bacharel em Geografia, a Secretaria de Estado da Educação e o governo não consultaram a escola. Para ela, a recepção da comunidade foi mais positiva que outras escolas. O antigo Colégio Costa e Silva, no bairro Getúlio Vargas, transformou-se em Colégio Estadual Professor João Costa - ex-professor do Departamento de Letras da Universidade Federal de Sergipe - por causa da mobilização dos estudantes para o novo nome coincidir com o antigo apelido - “Costão”. A referência cultural dos nomes dessas escolas, disse o diretor, é que se perdeu. “Algumas pessoas ainda questionam a mudança”. Segundo Aurélio, a escolha do nome Paulo Freire para a escola do Bairro Industrial foi adequada pelo fato do pedagogo ser uma figura que atuou regional e nacionalmente. A biblioteca da escola, ainda de acordo com o diretor, vai abrigar um memorial em homenagem ao pernambucano.

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Apesar da mudança, o nome de Paulo Freire pode não corresponder à identidade da comunidade adjacente ao colégio no Bairro Industrial. Para a professora do Departamento de Educação da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Marizete Lucini, Paulo Freire é um nome que merece ser lembrado na educação. No entanto, diz ela, a forma como a mudança ocorreu contraria a “prática freudiana” pelo fato do autor defender a “diologicidade” - um método dialógico de ensino - e uma pedagogia situada de empoderamento. O método dialógico, segundo a professora, é uma forma de selar o relacionamento entre os sujeitos. “O diálogo implica alguém que ouça e alguém que também fale”. Para Marizete, é preciso ouvir e pensar as pessoas como sujeitos históricos que vivenciam e experimentam uma determinada realidade. Por isso, impor um nome aos alunos e à comunidade do Bairro Industrial não seria uma forma justa de reconhecer a importância do pedagogo. “Acho que ele não gostaria de ter o nome em uma escola que os sujeitos que compõem essa escola não foram consultados”. A professora Marizete Lucini já realizou pesquisas nos anos 2000 para compreender a influência do pensamento freiriano na educação desenvolvida em áreas rurais e hoje oferta disciplinas como Ensino de História e Educação de Jovens e Adultos para os alunos do curso de Pedagogia da UFS. Em uma de suas experiências, a professora observou a criação de uma escola chamada Paulo Freire num assentamento sem terra no sudoeste do Paraná. Os estudantes desta escola

estudaram a vida do pedagogo e a representou numa peça, segundo a professora. “Eles sabiam quem era Paulo Freire, eles tinham prioridade para falar de Paulo Freire, eles tinham admiração pelo patrono da escola”. O fato da disciplina de História no ensino básico não priorizar personagens brasileiros, de acordo com Marizete, é uma das causas da falta de reconhecimento de uma identidade nacional. “A História acaba negando o homem comum”. As narrativas dessa disciplina são mais eurocêntricas, concentram-se no grandes marcos europeus e privilegiam pouco os personagens brasileiros, afirma. As narrativas deveriam contemplar “todas as pessoas que tiveram um papel determinante e todas as pessoas comuns”, afirma. Marizete também questiona a legitimidade dos nomes que são dados às escolas. Para ela, pessoas que tiveram um papel importante no desenvolvimento de uma escola e de uma comunidade são esquecidas. A terceira escola que teve o nome modificado em Aracaju, por exemplo, foi o antigo Colégio Estadual Pres. Emílio Garrastazu Médici que se tornou Colégio Estadual Nelson Mandela. O nome da escola é importante, afirma a professora, porque é a primeira maneira pela qual os estudantes se apropriam do local. “É a primeira identificação possível”. Quando os alunos não se reconhecem no nome, a “escola passa a ser do outro”, diz. O distanciamento dos alunos, professores, pais e comunidades da escola pode causar abandono. “A escola não pertence a ninguém. É como se ela fosse dos profesNúmero 2, 2016.1


EDUCAÇÃO

sores, do Estado”, afirma. A causa dessa distanciamento, indica a professora, é a falta de valorização da memória e da história. A partir do momento que o aluno conhece a história do local onde estuda, uma relação de pertencimento pode ser criada. PATRONO As homenagens a Paulo Freire já duram algum tempo em Sergipe. Em janeiro de 2012, ele se tornou Patrono da Educação Sergipana. A deputada estadual Ana Lúcia (PT) foi a responsável pelo projeto de Lei 7.382. Segundo a lei estadual, instituições de ensino podem desenvolver atividades relacionadas à obra de Freire na semana do dia 19 de setembro - data de nascimento do pensador. Segundo os alunos do Colégio Paulo Freire, nenhuma atividade relacionada à data de nascimento do pedagogo foi reali-

zada. Se estivesse vivo, Freire completaria 95 anos. Ainda em 2012, a ex-presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 12.612 que tornava-o Patrono da Educação Brasileira. Porém, o reconhecimento à obra de Freire não é válido para algumas camadas da sociedade brasileira. Nos primeiros protestos contra a ex-presidente Dilma Rousseff em 2015, alguns manifestantes erguiam cartazes com frases como “basta de Paulo Freire” e o associavam a uma “doutrinação marxista”. Para a professora Marizete Lucini, esta é uma associação equivocada porque o autor nunca se denominou marxista. A principal inspiração das obras de Freira foi o existencialismo, afirma. Por outro lado. o perfil na página Wikipedia do autor consta o marxismo como uma de suas escolas. A contribuição do pensador ultrapassa a área da educação, segundo Marizete, e

tange temas como a humanização. De acordo com outra professora do Departamento de Educação da UFS, Sônia Meira, Freire também não era marxista, mas existencialista. Uma das marcas do existencialismo de Freire está, para ela, no prefácio do livro “Pedagogia do Oprimido”, escrito em 1968 enquanto ele estava no exílio no Chile. O principal livro de Freire - “Pedagogia do Oprimido” - só foi publicado no Brasil em 1974. Um levantamento do professor da London School of Economis Elliott Green na plataforma de leitura acadêmica Google Schoolar constatou que “Pedagogia do Oprimido” é a terceira obra mais citada em trabalhos de Ciências Humanas no mundo. A pesquisa registrou 72.359 citações à obra. O livro do pedagogo brasileiro só ficou atrás do número de citações do filósofo norte-americano Thomas Kuhn (81.311) e do so-

ciólogo também norte-americano Everett Rogers (72.780). De acordo com Marizete, a objeção às ideias de Freire resulta da interpretação de movimentos como o Escola Sem Partido. Depois de ler o conteúdo do site do projeto, a professora se diz assustada. O que mais choca, para ela, são frases que exigem a expulsão da obra do pedagogo pernambucano das escolas brasileiras. “O que a gente tem visto em movimentos mais fascistas que têm surgido, entre eles o Escola Sem Partido, é a homofobia, a violência, o combate à diversidade, a negação de direitos”. Ela diz não compreender as críticas ao autor, uma vez que ele não foi um guerreiro revolucionário, mas apenas pensou a educação. A professora Sônia Meire acredita que o projeto Escola Sem Partido almeja o controle da fala do educador. “Se você quiser matar uma sociedade, você mata pela fala”, afirma.

Método representa período histórico

O primeiro livro de Freire - “Educação e atualidade brasileira” - foi publicado em 1959 pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde foi professor. Por meio de projetos de extensão da UFPE, as primeiras experiências com o método Paulo Freire aconteceram em municípios do interior daquele estado na década de 1960. Freire reunia grupos de alunos para aplicar o método na alfabetização de jovens e adultos que viviam no campo. Assim como Freire, a professora Sônia Meire trabalhou com o método na educação de jovens e adultos que viviam em zonas rurais do interior da Bahia e Sergipe. Segundo Sônia, o Método Paulo Freire não deve ser compreendido como um método de alfabetização, mas como um “caminho” para uma educação crítica. A principal diferença, para ela, é que o método freiriano seria capaz de ampliar o conhecimento do indivíduo. O método surgiu da necessidade de construir uma educação libertária que colabore com a liberdade do sujeito, afirma Sônia. Conforme o raciocínio do pedagogo, nós viveríamos numa sociedade que nos oprime e teríamos dificuldade de reconhecer o que nos oprime. Número 53 2, 2016.1

Por isso, todo processo de educação, para Paulo Freire, deve problematizar a realidade. A problematização da realidade, para Sônia, é a construção de perguntas sobre a existência de um grupo social. A partir das perguntas, os indivíduos construiriam respostas para solucionar os problemas. Círculo de cultura foi um dos conceitos criados por Freire que serviria para os membros de uma comunidade trocarem experiências. “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”. O resultado das conversas entre integrantes de uma comunidade criaria as “palavras-geradoras”, outro conceito-chave para compreender a obra do patrono da educação. Durante esse processo, métodos de silabação, diz a professora Sônia, tornam-se descartáveis porque as pessoas aprenderiam a escrever com o próprio ato da escrita. Sônia Meira acredita que as teorias de Paulo Freire não são mais revolucionárias hoje, mas foram para a época da criação. “Ela não dá conta de pensar a revolução”. O conceito de cultura criado por Freire é, para Sônia, limitado porque não se baseia na realidade dos indivíduos, mas na subjetividade. Categorias

como classe e trabalho não foram aprofundadas por Freire, afirma Sônia. Na década de 1980, a professora Sônia Meire trabalhava com o Método Paulo Freire na militância, quando era aluna do curso de Pedagogia da UFS. Ela participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Sergipe. Os professores do curso naquela época, segundo ela, eram conservadores e quase não trabalhavam com as ideias de Freire. Uma das explicações para isso era a influência do Regime Militar no ensino superior brasileiro. Para Sônia, que concluiu a graduação em 1986, as universidades e as escolas não valorizam o pensamento freiriano como deveriam. Para a professora Marizete Lucini, o método foi criado e aplicado para atender a um determinado período histórico na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Por isso, a replicação dos conceitos criados por ele - como palavra-geradora - não teria o mesmo êxito. “O método é historicamente situado”. Ainda assim as ideias existencialistas de Freire servem para pensar o processo de educação, compreender e empoderar os sujeitos, afirma Marizete. Número 2, 2015.1 53


POLÍTICA

O ENSINO SUPERIOR PÚBLICO ENTRE AVANÇOS E RETROCESSOS AO MESMO TEMPO EM QUE OS POLÍTICOS OFICIALMENTE DEFENDEM A EDUCAÇÃO COMO PRINCIPAL FATOR DE CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DE UM PAÍS, A PARTIR DE 2014, É POSSÍVEL IDENTIFICAR QUE OS INVESTIMENTOS NESTE SETOR TEM SIDO CARACTERIZADO POR CORTES Rodrigo S. Macêdo comunaju@gmail.com

A

PÓS UM PERÍODO POSITIVO – DE 2010 ATÉ 2014 NO QUE DIZ RESPEITO AOS INVESTIMENTOS NO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO, DUAS MEDIDAS NEGATIVAS SURPREENDERAM DISCENTES, DOCENTES E TRABALHADORES DAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR (IFES). EM 2015, QUANDO A PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF (PT) DEFINE O SLOGAN “PÁTRIA EDU-

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CADORA” PARA CONDUZIR SEU SEGUNDO MANDATO PRESIDENCIAL, O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (MEC) PERDEU 10% DO ORÇAMENTO EM COMPARAÇÃO AO ANO ANTERIOR. NESTE ANO, O ENTÃO PRESIDENTE MICHEL TEMER (PMDB) JÁ ANUNCIOU QUE HAVERÁ CORTES AVALIADOS EM ATÉ 45% NOS INVESTIMENTOS DESTINADOS ÀS UNIVERSIDADES PÚBLICAS.

PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (2014/2024) A Emenda Constitucional nº 50/2009 altera a condição do Plano Nacional de Educação (PNE), que deixa de ser uma simples disposição transitória da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996) e passa a configurar enquanto uma exigência constitucional com periodicidade decenal. O PNE estabelece metas e estratégias

que contemplam desde a educação básica até a superior. Ao todo, são 20 metas divididas em quatro grupos, de modo que as três metas – 12, 13 e 14 -, que tratam especificamente do ensino superior, estão dispostas no quarto grupo. Essas metas tratam da necessidade de assegurar a qualidade da oferta e expansão de novas matrículas, elevar a qualidade da educação superior e ampliar a proporção de mestres e doutores do Número 2, 2016.1


POLÍTICA

“AO INVÉS DE FINANCIAR A EDUCAÇÃO PÚBLICA, O GOVERNO DÁ O DINHEIRO PARA A INICIATIVA PRIVADA OFERTAR VAGAS VIA PROGRAMAS EDUCACIONAIS E BOLSAS. ISSO NA VERDADE É A PRIVATIZAÇÃO DO ENSINO E O PNE SACRAMENTA ISSO”

corpo docente em efetivo exercício, além de elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu. Em relação ao PNE, um aspecto deste acaba aproximando os coletivos e movimentos estudantis que atuam na Universidade Federal de Sergipe (UFS), no âmbito de uma análise geral: o acesso à educação. Porém, segundo dirigentes de entidades do movimento estudantil, o Plano abre alguns precedentes para a atuação da iniciativa privada e omite, nas metas relacionadas ao ensino superior, alguns debates pertinentes para a área. Além disso, existe a contradição ainda sem resposta sobre como garantir as metas determinadas pelo Plano quando o governo Michel Temer, através do MEC, prevê cortes de até 45% dos recursos previstos para investimentos nas universidades públicas em 2017. “Diante do cenário que nós vivemos, o próprio PNE ficou comprometido nos avanços que têm. Pois o Plano coloca metas para a ampliação do acesso à Educação, mas não se discute o caráter político da Educação, o caráter crítico da Educação, não discute principalmente a democratização da Educação Pública, além de dialogar e atender os interesses do setor privado em detrimento do ensino no setor púNúmero 2, 2016.1

blico”, contesta a União da Juventude Comunista (UJC). A UJC visualiza um movimento contraditório quando relaciona o investimento dos 10% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2020 e os cortes no orçamento das universidades federais. “Se não bastasse isto, as metas de ampliação de investimento gradual de 10% do PIB (o que poderíamos chamar de um avanço) foram enterradas com os cortes, ainda no governo Dilma e agora no governo Temer com a PEC 241 que congela os gastos públicos em 20 anos. De que adianta fazer um plano que não será cumprido?”, questiona. A Assembleia Nacional dos Estudantes Livres (ANEL) apresenta uma crítica no âmbito conceitual de educação, de maneira que a educação que o PNE discute e disputa está em oposição direta à concepção de educação defendida nas principais mobilizações, pelos movimentos de luta da área, que é uma educação pública, gratuita e de qualidade. Além de questionar o fato do Plano projetar o investimento de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2020 e a não-garantia de que tais investimentos sejam destinados à educação pública, que é inclusive o setor que necessita de investimentos significativos. A ANEL afirma que o PNE permite que o financiamento público

contemple a participação da iniciativa privada, o que legitima a participação de empresas de capital privado nos rumos da educação do país. “Ao invés de financiar diretamente a educação pública, o governo dá o dinheiro para a iniciativa privada ofertar vagas via programas educacionais e bolsas. Isso na verdade é a privatização do ensino e o PNE sacramenta isso”, contesta Iargo Sousa, estudante de Jornalismo e representante da Anel/Sergipe. Para Alisson Santana, representante do Alicerce e estudante de Jornalismo, o principal problema do PNE está na sua forma de financiamento, que não está claro nem garantido no texto e a forma antidemocrática pela qual se realizou o processo de construção. Segundo o estudante, o plano desconsiderou todo o acúmulo de resoluções debatidas em fóruns, encontros, etc., das entidades educacionais do país, que têm uma relação estreita da realidade da educação do Brasil, para dar voz ao modelo de educação importado que se baseia na participação do setor privado. “Políticas anteriores como o Prouni e Fies se basearam em parcerias com o setor privado. Depois desses programas, o maior conglomerado de educação do mundo é brasileiro, o Krotton-Anhanguera”, aponta.

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POLÍTICA

CENÁRIO ATUAL Os coletivos e movimentos estudantis da Universidade Federal de Sergipe (UFS) não visualizam um cenário positivo e progressista na área da educação, e acreditam que o momento é de retrocesso estrutural e político para as IFES. Para o Diretório Central dos estudantes (DCE/UFS), a política de ajuste fiscal em 2014, em resposta à crise econômica, foi na oportunidade a decisão política determinante em direção ao enfraquecimento da educação pública no país. “A ameaça e corte às bolsas de pesquisa, o corte do programa perma-

nência, o fim do FIES e ameaça de fim do PROUNI, a venda do petróleo nacional (que impossibilita que aqueles 75% dos royalties sejam direcionados à educação), etc. são alguns exemplos de medidas antipopulares que expressam os rumos que a educação tem tomado diante da política adotada pelo governo”, afirma o DCE. A ANEL prevê, dado a concretização do impeachment da presidente Dilma Rousseff, processos políticos que terminam na privatização das instituições federais de ensino superior, mas, ao mesmo tempo, aposta nas mobilizações dos estudantes e dos

trabalhadores da educação de um modo geral. “Ao mesmo tempo há resistência por parte de servidores, professores e estudantes. As ocupações das escolas secundaristas ainda ronda a memória dos estudantes. E lutando contra os ataques a juventude e os trabalhadores têm como tarefa apresentar para o conjunto da população um projeto alternativo para educação”, declara Iargo, representante da Anel em Sergipe. A UJC afirma ser contra entender a educação como “política de governo” por acreditar que nesta perspectiva os avanços serão suprimidos pelos retrocessos em um

jogo de interesses políticos. Esta entidade vinculada a juventude do Partido Comunista Brasileiro (PCB), defende o “Movimento Por uma Universidade Popular (MUP)” enquanto construção de uma alternativa educacional superior em oposição ao que está consolidado atualmente. “O MUP se coloca enquanto um projeto autônomo dos segmentos da educação, de construção e ação desses segmentos para além da espera pelo governo e Estado de políticas públicas. É colocar os estudantes e professores como atores principais na ação de levar a educação para a população’, defende a UJC.

As mobilizações como respostas ao retrocesso Após os anúncios de cortes do orçamento das IFES, ocorreu um dos maiores períodos de greve das universidades federais, onde o movimento estudantil atuou construindo as mobilizações ao lado dos professores e também seus próprios espaços de atividades e debates, onde a educação passou a ser objeto de leituras críticas e intervenções visuais. A UJC, por exemplo, participou das assembleias estudantis, da Marcha à Brasília, vigílias no MEC, etc. “Utilizamos todos os espaços possíveis para fazer a disputa da consciência do estudante da necessidade de se mobilizar e lutar contra os cortes, nas campanhas para o DCE, nas passadas em salas, rodas de conversa. E mais importante falamos da necessidade de unificar os segmentos da educação superior (professores, técnicos, estudantes e terceirizados) na luta contra os cortes”, afirma a UJC. “Em todo país temos partido das reivindicações mais elementares que se expressam no

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“TEMOS PARTIDO DAS REIVINDICAÇÕES QUE SE EXPRESSAM NO COTIDIANO DOS ESTUDANTES, COMO A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL, CONTRATAÇÃO DE PROFESSORES, MELHORES CONDIÇÕES NOS LABORATÓRIOS, MAIS DEMOCRACIA, ETC.” cotidiano dos estudantes, como a assistência estudantil, contratação de professores, melhores condições nos laboratórios, mais democracia, etc”, defende Sousa, da Anel. A entidade busca apontar os problemas enfrentados no dia a dia das universidades como reflexo da política de cortes no orçamento das IFES e o processo de privatização. “Portanto, para

superar cada um desses problemas, é preciso lutar por um outro projeto para educação superior pública”, conclui O DCE, por sua vez, destaca ter começado a gestão em meio a um processo político conturbado do país, que resultou no afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT), eleita democraticamente. E pontua o início das mobilizações: “Com os

diversos cortes que aconteciam, logo no início da gestão demos continuidade à luta contra a portaria 46, que reduzia abruptamente as bolsas e cursos beneficiados pelo PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), indo até Brasília e construindo um ato em frente ao Ministério da Educação, culminando algumas semanas depois na revogação dessa portaria”, diz. O Diretório também destaca a centralidade de suas intervenções e mobilizações no “Fora Temer”, participando da construção dos atos dentro e fora da universidade, pautando a defesa da educação e demonstrando desacordo em relação aos cortes no setor. A equipe da revista Mais Contexto entrou em contato por meio de rede social com a Juventude Conservadora de Sergipe (JCS), que construiu chapa para a última eleição do DCE e que vem organizando debates e intervenções visuais na UFS, mas não obteve resposta até o fechamento do texto. Número 2, 2016.1


POLÍTICA

O Programa Escola Sem Partido tem partido PROFESSORES A FAVOR E CONTRA O PROJETO DISCUTEM O QUE ESTÁ EM JOGO NA EDUCAÇÃO Alice Santos

alicejor@outlook.com

“P

Iris Brito Lopes

irisbritolopes@gmail.com

or uma lei contra o abuso da liberdade de ensinar” é o principal lema do Programa Escola Sem Partido, proposta de lei que prevê a fixação de cartazes em sala de aula com regulamentações sobre a conduta profissional dos professores, com o objetivo de combater “a contaminação político-ideológica” das escolas brasileiras, do ensino básico ao superior.

Apesar de o movimento Escola Sem Partido (ESP) ter sido criado em 2004 pelo advogado Miguel Nagib, as discussões em torno do assunto se acirraram em março de 2016, quando o deputado Izalci Ferreira (PMDB/DF) apresentou à Câmara dos Deputados um Projeto de Lei (PL) para inclusão do programa entre as diretrizes e bases da educação nacional. Em maio do mesmo ano, foi a vez de proposta similar chegar ao Senado Federal por meio do senador Magno Malta (PR/ES). Desde então, projetos de lei têm sido criados também em instâncias estaduais e municipais. O estado de Alagoas foi o primeiro a aprovar um PL inspirado no ESP em abril de 2016, mas que, em julho, obteve parecer de inconstitucional pela Advocacia Geral da União (AGU). Em Sergipe, ainda não há tramitação de projeto de lei a respeito do programa, o que não demora a ocorrer, de acordo com Leonardo Lisboa, professor do ensino fundamental e membro do Instituto Liberal de Sergipe (Ilise), defensor do projeto. “Sinceramente, não vai demorar muito para um vereador encabeçar, porque é só pegar o projeto, mudar algumas coisas e levar para a câmara”, afirma. O principal canal de comunicação do Movimento Escola Sem Partido é o site homônimo alimentado periodicamente com relatos de casos de doutrinação apresentados por pais e alunos, identificação e

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objetivos do projeto, artigos e instruções de como identificar um professor doutrinador. Utilizando como base jurídica a Constituição Federal e a Convenção Americana dos Direitos Humanos, o movimento parte do pressuposto de que há na educação brasileira a figura de professores “doutrinadores” que utilizam o seu espaço em sala de aula para difundir entre os alunos suas ideologias político-partidárias e religiosas. É nesse sentido que reivindica a “neutralidade ideológica” e o respeito dos professores às convicções morais dos pais dos alunos. O conceito de ideologia permeia todos os argumentos, tanto de um lado quanto de outro. Enquanto os entusiastas do programa acusam professores de doutrinação ideológica, opositores defendem o reconhecimento de todo discurso como ideológico, bem como da escola como local de disputa de ideias. “É impossível pensarmos qualquer relação social - e a escola faz parte das relações sociais promovidas pelos seres humanos - desconectada de qualquer discussão ideológica”, declara Christian Lindberg Lopes do Nascimento, professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Sergipe. Shirley Silveira, professora do Departamento de Direito da UFS, concorda que todo posicionamento é ideológico. “O ESP impõe

uma vertente ideológica, porque ele também é uma ideologia. Ele diz que eles querem retirar a doutrinação ideológica e a discussão política da sala de aula, mas esse posicionamento já é uma ideologia”, ressalta. O ESP afirma a existência de uma ideologia dominante nas escolas e universidades. Leonardo Lisboa acredita que os ambientes de ensino adotam apenas um viés político e reivindica a apresentação de diversas visões sobre um mesmo ponto para que os alunos escolham com o qual concordam. “Em várias coisas, principalmente nas Ciências Sociais e Humanas nas universidades brasileiras, os professores se valem apenas de um lado. Aí eu tenho que dar nome aos bois: é sempre a teoria marxista. É sempre o lado esquerdo da história”, pontua. A afirmação de qual corrente política predomina nas escolas também se torna uma disputa. Tanto para Christian, quanto para Shirley, o projeto carece de uma comprovação empírica de que há doutrinação marxista para que a ideia se sustente. “Falar sem elementos, sem dados, só deprecia a proposta deles. Não vejo nenhum elemento concreto de que a universidade é marxista”, diz Shirley. Para Leonardo, a doutrinação esquerdista está evidente e dispensa pesquisas ou dados. “Não tem como fundamentar isso. Basta olhar ao redor. Vá em qualquer escola do Ensino Médio, pare qualquer aluno aqui da universidade, da área de Humanas, e pergunte sobre o capitalismo que ele vai defini-lo como um regime cruel”, instiga. Isabel Serra, estudante de En-

genharia de Produção da UFS, também defensora do projeto, complementa. “É só pegar a bibliografia do curso de Humanas ou ir na biblioteca que dá pra perceber a grande quantidade de livros de pensadores esquerdistas e poucos ou ausentes teóricos liberais ou conservadores”. Segundo a professora de Direito, seria bom que eles fizessem uma pesquisa para comprovar se há realmente doutrinação marxista, porque pelo senso comum não dá. “Hoje, praticamente não tem marxistas na Sociologia. Na Filosofia também não. Ao contrário, o marxismo tem sido rechaçado das universidades nos últimos anos”, retruca Shirley. Com o intuito de comprovar a instrumentalização do ensino, o site do programa apresenta a sessão “Corpo de delito” com vídeos e prints de textos com posicionamentos de estudantes e professores em ambientes escolares. Afirmar que os estudantes seguem uma só linha de pensamento graças aos posicionamentos dos professores, ainda que eles não sejam comprovados, faz parte do “reconhecimento da vulnerabilidade do educando como parte mais fraca na relação de aprendizado”, previsto no inciso V do artigo 2º do anteprojeto de lei federal do Escola Sem Partido. Para Leonardo, isso acontece porque os estudantes são coagidos pelos professores e não conseguem nadar contra a maré. “O professor que diz que não tem doutrinação nas escolas, das duas uma: ou ele é ignorante ou ele doutrina. E ninguém vai assumir que doutrina”, dispara.

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POLÍTICA

O que cabe à escola O papel da escola também é ponto de divergência entre as argumentações sobre o ESP. De acordo com o artigo 205 da Constituição Federal, “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Mesmo assim, o ESP defende que as aulas obedeçam estritamente o conteúdo programático, como explica Leonardo. “Você vê vários slogans de escolas ‘formando cidadãos para a vida’ e não é assim. Professor é para ensinar a disciplina. A escola não pode ensinar religião, moral, política; ficar responsável por tudo. Devemos separar. Religião fica com a igreja, moral com a família e por aí vai”. O professor Christian argumenta que ao proibir posicionamentos em sala de aula o projeto não leva em consideração as relações humanas existentes e isso reflete diretamente na concepção de escola adotada. “É uma visão de uma educação estritamente utilitarista e tecnicista que visa preparar o indivíduo apenas para o mercado de trabalho, onde o aluno vai na escola apenas absorver o conteúdo. Não é essa a concepção de escola que está na legislação brasileira”. “Essa é uma postura cartesiana”, declara Shirley. Para ela, não é possível dissociar o conhecimento técnico do político. “A segunda guerra mundial foi um exemplo disso. Os físicos fizeram uma bomba que se decidiu matar milhares de pessoas”, continua. “O ESP quando estabelece um currículo cartesiano que não permite a discussão política faz outro tipo de política. Não é porque

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É só pegar a bibliografia do curso de Humanas ou ir na biblioteca que dá pra perceber a grande quantidade de livros de pensadores esquerdistas e poucos ou ausentes teóricos liberais ou conservadores. Isabel Serra Professora eu não discuto abertamente que eu nao tô discutindo”. É o caso do tratamento dado à ideologia de gênero. O artigo 3º do anteprojeto de lei, determina que “o Poder Público não se imiscuirá na orientação sexual dos alunos nem permitirá qualquer prática capaz de comprometer o desenvolvimento de sua personalidade em harmonia com a respectiva identidade biológica de sexo, sendo vedada, especialmente, a aplicação dos postulados da teoria ou ideologia de gênero”. A retirada da discussão, como afirmam os contrários ao projeto, é uma tomada de partido. O inciso IV do artigo 3º da Constituição Federal constitui como objetivo fundamental da República “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. “A partir do momento que você proíbe a discussão de alguns temas em sala de aula, você está estabelecendo preconceitos”, afirma Shirley. Miguel Nagib, autor do programa, em entrevista à revista Época, defende que “em sala de aula, pro-

fessores têm liberdade de ensinar, mas não têm liberdade de expressão”, apesar de defender o pluralismo de ideias. Segundo Shirley, a Constituição não limita os locais onde a liberdade de expressão deve ser praticada e o ESP impede a pluralidade de ideias ao proibir posicionamentos em sala de aula. A prerrogativa de exclusividade da educação moral pertencente à família dos alunos tem como respaldo o artigo 12, IV da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, onde consta: “Os pais e, quando for o caso, os tutores, têm direito a que seus filhos e pupilos recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com suas próprias convicções”. Isabel explica que o ESP é contra a imposição por parte da escola de valores que vão de encontro ao que os pais ensinam em casa. “Os pais ensinam determinados valores em casa e quando as crianças chegam na escola aprendem a questionar aquilo que deveriam respeitar até o momento que eles possam ter um raciocínio próprio”, detalha. Leonardo concorda e defende que a educação principal, de valo-

res morais não deve ser responsabilidade do Estado. “O Estado, na minha opinião, não tem poder algum, competência nenhuma de se envolver nessa seara. O Estado é incompetente em diversas áreas, na saúde, na educação, na segurança, na economia, porque seria competente na educação? O projeto diz isso, que o pai, a família, é o responsável pela educação moral, civil e de valores dos filhos”. Para demonstrar a intenção desse ponto do projeto, os defensores adotam como exemplo a utilização dos valores cristãos como referências morais para prática do cuidado com o outro e a não prática “do mal”.”Uma das grandes falácias da educação é o multiculturalismo. Uma cultura é superior à outra e ponto. Quem nega isso é ignorante ou cego que não quer ver a realidade. Se uma cultura é melhor que outra, ela deve ser divulgada para que as pessoas possam tomá-la como referência”, complementa Leonardo. E quando os pais têm valores morais diferentes, como a escola se posiciona? Para Shirley, não é possível impor à escola uma só convicNúmero 3, 2016.1


POLÍTICA

A gente sempre discutia essas ideias do ESP, mas elas ficavam lá no canto. Hoje, com o crescimento do conservadorismo no Brasil, elas têm tomado força, o que é algo extremamente perigoso e preocupante. Shirley Silveira Professora ção moral. Além do mais, também não é possível negar que toda escola tem um posicionamento. “Se eles acreditam que a escola deve educar de acordo com os valores morais dos pais, então, arrumem uma escola que seja concernente com suas convicções morais”. A professora destaca que o estabelecimento de uma visão moral única vai de encontro ao que a Constituição fala sobre o pluralismo. “Isso que é uma doutrinação, estabelecer uma linha só de educação. A gente tem que aperfeiçoar o pluralismo que já foi conquistado, com a pluralidade de religiões, por exemplo”, explica. Christian reforça o artigo 205 da Constituição, no qual se estabelece que a educação é dever do Estado e da família. “Existem relações morais que acontecem em casa que conflitam com os interesses coletivos, que, no fundo, é a discussão entre o público e o privado. Quando o Projeto Escola Sem Partido diz que tem que respeitar as convicções morais da família, restringe uma discussão moral ao âmbito privado e isso fere qualquer noção de sociedade”. Número 3, 2016.1

Forças políticas em ação O Escola Sem Partido ganha força e notoriedade num momento específico da política brasileira. Sob o governo do presidente Michel Temer, entram em votação projetos que atingem direta e indiretamente a educação, como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 55 - a antiga PEC 241 - que prevê o congelamento dos gastos públicos durante 20 anos, e a Medida Provisória (MP) 746, que propõe uma reforma no Ensino Médio. “A gente sempre discutia essas ideias do ESP, mas elas ficavam lá no canto. Hoje, com o crescimento do conservadorismo no Brasil, elas têm tomado força, o que é algo extremamente perigoso e preocupante”, alerta Shirley. É por conta da instabilidade política do país que Shirley avalia que a aprovação do projeto de lei não depende apenas da legalidade. “Se tiver uma conjuntura favorável

a esse projeto, pode ser que o Supremo não declare inconstitucional. Depende muito da pressão da opinião pública e da correlação de forças, porque a gente não pode negar toda a negociação que há entre o judiciário, o executivo e o legislativo”. Na consulta pública feita pelo Senado, até 28 de outubro o projeto recebeu aproximadamente 198 mil votos contrários e 184 mil a favor. “Pode ser que, ao chegarem ao Supremo, os projetos caiam. Mas é preciso estarmos vigilantes”, finaliza Shirley. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal (STF) é o responsável por fazer o controle de constitucionalidade dos projetos de lei quando eles já estão em vigência. Juízes também podem avaliar a constitucionalidade de leis em execução. Mas isso não inviabiliza que os cidadãos discutam a constitucio-

nalidade dos projetos, como fez a Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, ao encaminhar ao Congresso Nacional, ao ministro da educação e a outros órgãos, uma nota técnica que julga o ESP inconstitucional. A nota contrapõe aspectos do PL bem como, a partir do conceito de ideologia proposto por John B. Thompson (“os modos pelos quais o significado (ou a significação) contribui para manter as relações de dominação”), explica que não há uma ideologia neutra. No texto, a procuradora elenca que há a necessidade de se publicizar que não há um compromisso entre o que propõe o ESP com os princípios presentes na constituição. Ao contrário, há uma vontade de subverter as lutas emancipatórias que já foram conquistadas em prol de uma formação social mais justa e livre de discriminações.

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MEIO AMBIENTE

A educação que floresce, frutifica e dá sombra Instituto Canto Vivo, ONG Sergipana que trabalha há 15 anos com a conscientização ambiental, acredita na educação como mecanismo de mudança do meio ambiente.

Gustavo Monteiro

Yasmin de Morais

ufs.gustavo@gmail.com

“N

ão adianta reflorestar uma área inteira que foi desmatada; sem educação, as pessoas vão lá e derrubam tudo novamente. É pela educação que o mundo muda”, confidenciou às pressas Cristiane Nogueira, fundadora do Instituto Canto Vivo, durante uma ação que tinha como finalidade arrecadar recursos para projetos de educação ambiental em escolas públicas. A ideia aparentemente simples, a de doar cinco peças de roupa – que depois seriam colocadas à venda em um bazar – e receber em troca uma muda de planta conquistou muitos adeptos, um número infinitamente maior do que o dos voluntários da ONG. Mas, o foco do instituto nem sempre foi esse. Criado em 2001, a ideia principal era devolver aves silvestres ao seu habitat natural. O que foi percebido, entretanto, foi que, justamente pela falta de árvores, as aves morriam muito rápido ou eram facilmente capturadas mais uma vez. A Canto Vivo voltou assim as atenções para o reflorestamento.

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Mudas disponíveis para troca durante o bazar

Durante esses quinze anos de existência da ONG, mesmo com tantas informações veiculadas por diversos meios de comunicação, o desmatamento da mata atlântica não estagnou. De acordo com dados de pesquisa realizada pela fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) entre 2014 e 2015 houve desmatamento de 18.433 hectares (ha), ou 184 Km², de remanescentes florestais nos 17 Estados da Mata Atlântica no período do estudo. Apesar dos números terem diminuído em estados recordes de desmatamento, como Piauí e Bahia, eles ainda são bastante elevados. De acordo com os voluntários da Canto Vivo, essa realidade que poderia desestimular a organização sergipana, só inspira novos projetos nas áreas de preservação da mata e reflorestamento, coleta de sementes para doação e produção de mudas, reutilização e reciclagem do lixo, conscientização das novas gerações com workshops e palestras, e desenvolvimento de alternativas para a “inclusão verde”, tentativa de gerar trabalhos que respeitem o meio ambiente em áreas de exclusão social. Filha de um casal que fazia parte do grupo de idealizadores do projeto, Anna Caroline, 21 anos, diz ter despertado para a causa somente aos 16. “O que mexeu muito comigo

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MEIO AMBIENTE

YASMIN DE MORAIS

As plantas são cultivadas na sede da instituição, que fica na Avenida Beira Mar

era ver tanta gente de fora do país, voluntários que se envolviam, e eu como filha não fazia nada.”, lembrou ela que, desde então, entrou de cabeça no projeto. Uma das mais envolvidas na atividade da troca de roupas por plantas em prol da educação infantil, Carol diz acreditar muito no potencial de mudança das crianças. “É muito difícil mudar a visão da sociedade que nós temos agora. Sim é possível, mas é muito complicado, porque ela já tem os seus conceitos formados e o que é prioridade. Então, trabalhar com crianças se torna bem mais fácil, porque elas estão abertas para receber informações, e é muito mais fácil que elas sejam multiplicadoras. Todo conhecimento que elas recebem, levam logo para a casa”, defendeu. Prova vida dessa tese é Maria Vitória Monteiro, de 7 anos, que apesar de nunca ter participado de nenhuma oficina do Instituto Canto Vivo, desde que ouviu falar sobre a preservação do meio ambiente na sua escola, não parou de questionar as pessoas de sua casa. “Sempre digo pra o meu irmão desligar a luz do quarto dele. Ele sempre sai e deixa ligada! É desperdício!”, reclamou a menina. DAS ÁRVORES AOS SMARTPHONES O próximo passo da ONG surgiu da reflexão sobre um problema de

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monitoramento. Os participantes do projeto não sabiam quantas das mais de um milhão de sementes que foram distribuídas realmente viraram árvore e estavam capturando gás carbônico. A ideia de criar um aplicativo de celular pareceu bastante criativa. Com ele será possível cadastrar as árvores plantadas com as sementes do Canto Vivo, e elas vão servir para compensar a ‘pegada de carbono’ do usuário. “No projeto está assim: a partir do momento que o usuário baixa o aplicativo ele faz um cadastro com as informações do seu dia-a-dia, a forma que se locomove... é tipo uma calculadora de carbono, uma medição da quantidade de carbono que é gasta a partir de todas as atividades diárias. Depois ele vai ter acesso a tutoriais, tudo sobre sustentabilidade. O extra é a possibilidade de plantar a árvore,

tirar a foto, marcar no GPS a localização e fazer a monitoria da planta, para que ela possa produzir crédito de carbono para ele, que depois será utilizado para compensar a sua pegada de carbono. O excesso ele poderá usar como troca de produtos, ou mesmo vender na bolsa de valores”, explica Carol, a idealizadora. De acordo com ela, o aplicativo, que tem previsão de lançamento para junho do ano que vem, também permitirá desconto em produtos que ajudem na sustentabilidade por meio de parcerias firmadas pelo Canto Vivo, como a compra de bicicletas em lojas amigas do projeto, por exemplo. Quando questionada se ainda dá tempo de salvar o meio ambiente, a ativista foi categórica: “Claro que eu acredito! Senão não faria tudo o que faço”.

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COMPORTAMENTO

CYBER BULLYING MODO ON Mirian Santos de Jesus hello_mirian@hotmail.com

A

s redes sociais são famosas por publicar memes criativos em tempo real sobre os mais diversos acontecimentos do país. O humor desses produtos é garantido, todos os dias milhares de páginas no Facebook, Instagram, grupos no Whatsapp e contas do Twitter espalham gargalhadas nas telas virtuais, mas a que preço? No mês de setembro deste ano o casal de jornalistas globais, William Bonner e Fátima Bernardes anunciaram que estavam se divorciando e o país inteiro deleitou-se com memes engraçados sobre a separação do casal. Julgamentos e piadas de vários gêneros foram propagados, tweets antigos foram manipulados e, mais uma vez, humor foi confundido com falta de respeito. Entretanto, podemos dizer que casos como esse na verdade não chegam nem perto de algumas barbaridades que a Rede é capaz de abrigar. Através da exposição de brigas de colégios, fotos e víde-

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os íntimos vazados, comentários racistas e preconceituosos e humilhações de todos os tipos que configuram o Cyberbullying, são cometidos na internet todos os dias. Na era da tecnologia da informação o bullying que antes era uma prática comum somente na vida ‘’real’’, migrou também para o espaço virtual. Revestido de infinidade, o Cyberbullying é muito mais poderoso do que o bullying. De acordo com a psicóloga Catiele Reis, aquele pode ser ainda mais nocivo que o bullying porque neste último o ataque é presencial, sendo mais fácil identificar os agressores e tomar as medidas cabíveis, já no cyberbullying impera o anonimato, característica peculiar que faz com que não haja um perfil único e através da tecnologia garante o não julgamento e exposição de quem pratica. Escrever ou falar de forma errada, estar fora dos padrões de beleza, ter opiniões diferentes, se vestir

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COMPORTAMENTO

de forma exagerada, estar acima ou abaixo do peso, entre outras situações, são situações que levam pessoas a tornarem-se motivos de chacota na internet. É difícil traçar um perfil único para uma pessoa que pratica cyberbulling, mas alguns artigos relatam que os agressores geralmente são aqueles que querem ser os populares da turma e veem nas humilhações oportunidades de sentir-se superior e poderoso, explica Catiele. As milhares de visualizações em um vídeo hoje em dia tem mais valor do que a integridade do ser humano, um dos primeiros casos de cyberbullying do mundo foi o do adolescente de 14 anos canadense chamado Ghyslain Raza, após imitar um personagem de Star Wars em um vídeo, Raza recebeu até incentivos para cometer suicídio. Apenas 10 anos depois Ghyslain falou sobre o caso, hoje ele promove atividades para ajudar vítimas de cyberbullying.

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Segundo a psicóloga Catiele Reis, quando agredida a vítima tende a retrair-se e se tornar ainda mais vulnerável a ataques desse tipo. Além disso, ela fica mais suscetível a transtornos psicológicos tais como transtornos de ansiedade, com destaque ao transtorno de pânico, depressão, anorexia e/ou bulimia (nos casos que a agressão seja referente ao peso), fobia escolar, problemas de socialização e em casos extremos pode levar ao suicídio. Em maio deste ano uma adolescente de 16 anos teve o estupro coletivo que sofreu divulgado na internet, além de sofrer a violência física, um vídeo de 40 segundos foi publicado no Twitter, deixando a prática gravada para sempre em locais inimagináveis. Nesse caso vemos o machismo aliado a mais sórdida violência, falta de ética e amor, uma humilhação latente disponibilizada ao mundo como horror gratuito, mas para os autores do vídeo era entretenimento, humor.

Quem escapa do cyberbullying? Blogueiras famosas, celebridades e personagens carismáticos não estão livres desse tipo de humilhação e ofensa. Qualquer coisa “fora do lugar” é motivo para que virais que os ridicularizam circulem aos montes. O Cyberbullying é uma prática comum no cotidiano do “maravilhoso mundo da internet”, ele pode surgir a partir de qualquer lugar e circunstância. De acordo com pesquisa realizada pela Safernet, no ano de 2009, com 2525 alunos e 966 educadores das redes pública e privada dos Estados do Rio de

Janeiro, Paraíba, Pará e São Paulo, 36% dos alunos tem um amigo que sofreu Cyberbullying, 26% sabem de casos de cyberbullying em sua escola e 60% dos jovens que sofreram cyberbullying são meninos. Entre 2009 e 2016 a tecnologia e o acesso a ela aumentou, apesar de não haver pesquisas recentes acessíveis sobre o assunto na internet, sabemos que o número de casos de cyberbullying tende a aumentar concomitante a expansão da Rede. O assédio, a falta de privacidade e a humilhação continuam disponíveis e o pior, disfarçadas de bom humor.

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COMPORTAMENTO

Cresce o número de famílias brasileiras adeptas a proposta de ensino domiciliar Grace Carvalho

gracea.carvalho@gmail.com

O

período que corresponde ao Brasil colônia foi marcado, de acordo com a professora Silvana Bretas, do Departamento de Educação da Universidade Federal de Sergipe (DED/UFS), por uma quase total inexistência de escolas para população, de modo geral. “Existiam os colégios dos jesuítas, mas, apesar de serem obras educacionais merecedoras de atenção histórica, não representaram uma força genuína de ação educativa para um país colonizado, cuja metrópole desenvolveu como estratégia de domínio levar a população para todo o território nacional”, explica. A modernização do Estado, proposta na época do Brasil Imperial pela Reforma Pombalina – série de medidas políticas e administrativas, sob a influência de princípios iluministas, tomadas por Sebastião José de Carvalho, mais conhecido como Marquês de Pombal –, deu início a uma sutil e limitada política de implantação das aulas régias,

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ou seja, do ensino básico de letras e humanidades, a primeira forma de sistema público de ensino no país. Segundo Bretas, a educação doméstica foi em Sergipe um fator muito importante para o ensino das primeiras letras, em primeiro plano para os filhos das classes mais favorecidas da sociedade, tendo, posteriormente, se popularizado nas fazendas e nos pequenos povoados. Ela subsistiu como principal meio de educar os filhos até meados de 1960 quando houve uma ampliação nas redes de grupos escolares e quando o ensino se tornou obrigatório através da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1961. Com o fortalecimento das instituições de ensino e com a obrigatoriedade de matricular os filhos na escola, o ensino domiciliar passou despercebido por muito tempo. O que levou, portanto, o seu significativo crescimento nos últimos anos? Ainda é possível imaginar, no Brasil, um modelo de ensino, alternativo à escola, onde crianças

e adolescentes sejam educados em casa e pelos próprios familiares? As famílias Oliveira e Abadie mostram que sim. Deitado, Calvin, o cachorro da família Oliveira, observa as crianças estudarem enquanto a entrevista transcorre. Atentos aos filhos, Rachel e Alauli, casados há 16 anos, orientam e tiram as dúvidas que surgem no decorrer da tarde. Em determinado momento, Sophia, 7 anos, solicita a atenção do progenitor na tarefa de matemática. Eles, que também são pais de Julia, 9 anos, Lorena, 4 anos, Lucas, 3 anos e Helena, 1 ano, escolheram educar os filhos através do Homeschooling – também conhecido como ensino doméstico ou domiciliar. Engana-se, porém, quem acredita que o Homescholing se limita ou se resume a uma simples mudança da sala de aula para sala de uma residência, da transferência da competência de ensinar do professor para os pais ou responsáveis. Equivoca-se também quem acredita que as famílias que resolvem adotar o

ensino domiciliar não tem afeição ou interesse pelo conhecimento; ao contrário, a maioria destas famílias, cientes de que podem oferecer uma educação com mais qualidade, baseada em um currículo mais adequado, optam por elas mesmas oferecem educação aos seus filhos ou encarregados. Legalizado e bastante difundido em países como os Estados Unidos, o ensino doméstico ganhou um relevante número de adeptos no país. De acordo com a Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned), a família Oliveira é uma das 55 famílias que educam seus filhos através do Homeschooling no estado de Sergipe; no Brasil, aproximadamente 3200 praticam o ensino domiciliar, nove vezes o número de famílias que utilizavam o método em 2011. Estima-se que essa quantidade seja ainda maior, ao levar em consideração que muitas pessoas têm receio de expor sua condição de homeschooler. Para Rita de Cácia Santos Souza, também professora do DepartaNúmero 3, 2016.1


COMPORTAMENTO

mento de Educação da UFS (DED/ UFS), dentro de uma perspectiva de política educacional, há certa resistência e uma série de questionamentos em relação ao ensino domiciliar, especialmente porque a legislação brasileira diz que toda criança deve estar matriculada no ensino regular. Segundo ela, como a educação regular ainda não está completamente clara e como ela ainda não oferece aos alunos a educação no formato que deveria ofertar, tudo que foge deste formato é ainda mais questionável. “Se dentro daquilo que se vem há anos trabalhando e produzindo ainda não se chegou ao desejado de uma educação para todos e de qualidade, como pensar numa educação especializada ou como pensar numa educação domiciliar para uma família que opta em dar a própria formação aos seus filhos?”, questiona. “Enquanto proposta em si, eu não vejo nenhum problema. Eu tenho o receio deste aluno não estar em uma escola e não receber uma educação adequada em casa. Se uma criança ou adolescente tiver esse suporte em casa, eu não vejo obstáculo”, confidencia a professora. Entre as razões para o progressivo aumento, o professor José Rodorval Ramalho, do Departamento de Ciências Sociais da UFS (DCS/ UFS), aponta uma crescente convicção, por parte dos genitores, de que é possível procurar condições para uma maior dedicação aos filhos, visto o valor da presença dos pais na formação destes. Outro aspecto, não menos relevante, é o descontentamento dos pais com o modelo pedagógico, curricular e ético das escolas, sejam elas públicas ou particulares. A inquietação de Raquel Oliveira com a escola foi um dos motivos que a levou a se formar em pedagogia pela Universidade de Campinas (Unicamp) e, junto ao seu esposo, adotar o ensino doméstico como modo de educar seus filhos. Essa inquietação, segundo ela, vai desde o formato e os métodos da educação formal até à “lacuna” que fica quando o aluno sai da escola. Alauli ainda acrescenta que, segundo sua percepção, não é o melhor e nem o Número 3, 2016.1

mais adequado, a doutrinação e os objetivos do ensino formal como razões para aderirem ao ensino domiciliar. De acordo com ele, a escola atende ao mercado. “Isso tudo é um modelo que também passa um estilo de vida: um estilo de vida de competição, de pressão, de consumo, de individualismo e de um sucesso profissional acima de tudo”, alega. Para Raquel, era inadmissível um bebê ter que ir para creche quando ela mesma podia cuidar; para isso, parou de trabalhar e ficou cuidando da casa. Ela acrescenta que, com o passar do tempo, começou a perceber que aquilo que as crianças aprendiam na escola eles também estavam ensinando. “Começamos a nos preparar e vimos que para nossa família o melhor modelo seria ficar em casa”, afirma a dona de casa. Quanto às problemáticas do ensino infantil, a senhora Oliveira salienta os prejuízos da idade precoce em que as crianças são retiradas de casa e inseridas na escola. Isso gera, em sua opinião, uma perda no convívio familiar, o que, consequentemente, prejudica a formação da base e do caráter dos filhos. O excesso de conteúdo é outro problema. “A criança não tem mais tempo de brincar, de ser criança, do ócio, de usar a sua imaginação”, justifica. Assim como Raquel e Alauli, que conheceram o homeschooling através de filmes e da internet, Camila e Gustavo Abadie, de 35 e 34 anos, respectivamente, casados há 11 anos, tiveram contato com o homeschooling através de um blog. Naturais do Rio Grande do Sul, eles são pais de Chloe, 10 anos, Benjamin, 5 anos, Nathaniel, 3 anos, e Philomena, de 4 meses. Camila afirma que o que antes era uma curiosidade passou a ser uma necessidade no momento em que sua primogênita, que já no segundo ano do ensino fundamental lia e escrevia com facilidade, foi impedida de progredir, pois, segundo as novas políticas educacionais, nenhum aluno deve ser deixado para trás. “Assim, minha filha estava cada vez mais frustrada, desestimulada e desinteressada. Percebi

que se continuasse a submetê-la àquela rotina vazia, se não fizesse algo concreto por ela, em pouquíssimo tempo todo o seu interesse pelos estudos e pelo conhecimento morreria. Eu não poderia arriscar assim a inteligência da minha filha. Foi aí que o homeschooling tornou-se uma realidade em nossas vidas”, relata.

Polêmicas Algumas polêmicas permeiam o ensino doméstico. A primeira é quanto à regulamentação do método. Embora a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) determinem o regimento da escola, a Constituição Federal Brasileira de 1988 não menciona o ensino domiciliar. Em razão disto, de forma errônea e precipitada, algumas pessoas interpretam e divulgam que o método é proibido no país; esses equívocos, segundo Camila, partem de quem não estudou o assunto a fundo desde uma perspectiva jurídica. “O que a Constituição diz sobre educação é que ela é um dever do Estado e da família, ou seja, também é obrigação da família prover educação para as crianças, e isso não só em termos morais, comportamentais, mas em termos de instrução acadêmica efetiva. O que vinha acontecendo em nosso país é que os pais simplesmente terceirizavam a educação das crianças e agora, em contrapartida, há pais que querem assumir a sua responsabilidade”, esclarece. Ela informa que há, no momento, um recurso em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF) aguardando julgamento. Camila crê que a justiça será a favor do ensino doméstico, “uma vez que o direito ao homeschooling é, conforme a Rio Principles, um direito humano respeitado e exercido nos países mais desenvolvidos do mundo. Em uma época de tanta exaltação da diversidade como a nossa, seria um contrassenso proibir os pais de ensinar os próprios filhos”, reintera. Existe ainda a crítica quanto à sociabilidade das crianças que utilizam o método, pois alguns profissionais, como psicopedagogos,

defendem que o ensino doméstico priva as crianças do convívio com outras da mesma idade. Camila, em contraponto, alega que “a criança homeschooler não é um prisioneiro em cárcere privado. Ela vai à biblioteca, ao museu, ao parque, ao clube, faz aulas particulares de esportes ou música, visita parentes e amigos, enfim, tem uma vida absolutamente normal, relacionando-se com muitas pessoas e, melhor ainda, de diferentes faixas etárias, o que garante a ela uma maior segurança emocional, por causa do vínculo mais forte com os pais, e uma maior desenvoltura social, por causa da diversidade de pessoas e de circunstâncias vividas”. Ela ainda argumenta que a infância, embora seja uma fase significativa, é uma zona de passagem, ou seja, não é um fim em si mesmo. O destaque demasiado que se dá ao conteúdo da sociabilidade, sempre vista na lógica da convivência com pares da mesma idade, “é a expressão de uma mentalidade que infantiliza a criança, restringindo a sua interação àqueles que compartilham da mesma faixa etária, ilhando-a do resto da vida e do senso de crescimento, de desenvolvimento, de aprimoramento. A escola “fatia” a vida e “enclausura” as crianças num ambiente artificial, que não é o ambiente da vida comum, onde todas as idades estão misturadas e onde a vida adulta autônoma e responsável é o ápice”, salienta. É importante ressaltar, segundo Ramalho, que a educação doméstica “é uma opção e não um ideal para ser obrigatoriamente universalizado, pois nem todas as famílias podem praticar esse tipo de educação”. O que uma família precisa, então, para aderir ao método? Disposição para estudar, é o que propõe Camila Abadie. “Todos nós, pais, mães, avós, tios, tias, somos frutos desse mesmo sistema de ensino que ano após ano apresenta resultados cada vez piores nos rankings internacionais, ou seja, para realizar algo superior ao que a escola oferece é preciso estar disposto a rever a própria caminhada, corrigir os próprios erros e preencher as próprias lacunas”, opina Camila.

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COMPORTAMENTO

A arte de educar através de toques e sinais SERÁ QUE O ENSINO SUPERIOR REALMENTE PREPARA OS PROFESSORES PARA LIDAR COM ALUNOS QUE POSSUEM ALGUMA DEFICIÊNCIA?

Itála Marquise

S

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egundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE) de 2010, 6,2% da população brasileira tem algum tipo de deficiência. Além disso, a pesquisa aponta os quatro tipos mais recorrentes que são: visual, auditiva, física e intelectual. Apesar dos números apresentarem a importância de manter a inclusão em instituições públicas e privadas, os professores enfrentam desafios diários no sentido de tornar eficaz a inclusão do aluno com deficiência na escola regular. O ensino em LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais, por exemplo, foi inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores em nível médio e superior por meio de um Decreto Presidencial assinado pelo

então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 24 de abril de 2002, mas que só entrou em vigor em 22 de dezembro de 2005. Na Universidade Federal de Sergipe, o curso surge em 2014 nomeado de Curso de Licenciatura em Letras – LIBRAS. Em entrevista, professores da Universidade Federal de Sergipe comentaram sobre os seus interesses pessoais a respeito da disciplina e dos avanços ao longo dos anos do curso no estado de Sergipe. A professora Raquel Pereira de Lima, natural do Rio Grande do Norte, despertou seu interesse pela língua de sinais ao tomar ciência de que quando terminasse a graduação, ela teria alunos surdos nas salas de aulas. Questionada em relação a ser docente nesta disciplina ela respondeu que ensinar LIBRAS é fazer

parte do processo de inclusão. “É importante fomentar na cabeça de cada aluno a importância da acessibilidade e o respeito mútuo. Após cada aula tenho sentido que estou fazendo o meu dever de forma adequada. Tenho aprendido muito por meio da troca com alunos das licenciaturas e cursos em geral”, comentou. Segundo Raquel Lima, se considerarmos que o curso entrou em vigor há pouco tempo, podemos perceber a transformação, pois muitos cursos de extensão e pós-graduações em libras têm surgido e isso faz com que se difunda mais as questões relacionadas à língua de sinais e o sujeito surdo. Ainda de acordo com Raquel, mesmo com os avanços apresentados durante esses anos o ensino precisa ser melhorado. Para ela, falta Número 2, 2016.1


COMPORTAMENTO

um estudo aprofundado da cultura e da comunidade surda. Ela ressalta o direito dos alunos em aprenderem e se comunicar em sua língua materna e as medidas que deveriam ser tomadas para mudar a situação. “Já está na lei a obrigação do ensino de libras na educação básica ao ensino superior, mas ainda faltam profissionais para atender essa demanda, assim como concursos que convoquem tais profissionais”, explicou a professora. Disse ainda que para reverter esse quadro é necessário reivindicar os direitos dos alunos em aprender libras por meio de ações políticas como também de efetivar a atuação dos profissionais envolvidos nesse contexto. Almir dos Santos, professor em LIBRAS, conta que o progresso ocorre devido aos cursos de formação de docentes, tradutores e intérpretes promovidos pelo Centro de Apoio ao Surdo (CAS) e a inclusão do curso no ensino superior. Para ele, a mudança começaria a partir do surgimento de cursos gratuitos e de escolas bilíngues. Dados do IBGE revelam ainda que no Brasil existem 6.585.308 pessoas com deficiência visual. Deste total, 582.624 pessoas são Número 2, 2016.1

cegas e 6.056.684 tem baixa visão. O número representa 3,5% dos brasileiros, ou seja, a deficiência com maior incidência na população do país. Entre essas pessoas está o estudante Leiz Conceição de Jesus, que estudou no Centro de Apoio Pedagógico (CAP) e atualmente cursa fisioterapia na UFS. Para Leiz, o aprendizado foi bastante complicado, embora tenha contato com a técnica desde criança ele não conseguia entender o alfabeto em Braille que é composto por 63 sinais. O primeiro ano foi o mais difícil e, de acordo com ele, sua tarefa era memorizar e apalpar cada ponto Braille. Porém, com o decorrer das aulas, auxílio dos professores e por ser um aluno esforçado, hoje ele é apto para qualquer leitura em Braille. Conforme Leiz, o ensino adaptado foi ótimo pois seus professores dominavam e ministravam o conteúdo perfeitamente, sempre dispostos a tirar suas dúvidas. Ele também ressalta a importância de procurar um lugar especializado e que o aluno desempenhe exercícios diários para que haja um resultado satisfatório.

Curso de LIBRAS teve seu início na UFS em 2014

Alunos e professores comprovam o caráter inclusivo

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COMPORTAMENTO

EDUCATRANS É OPORTUNIDADE PARA TRANSEXUAIS E TRAVESTIS ENTRAREM NO ENSINO SUPERIOR PROJETO ESTIMULA A ENTRADA DE TRAVESTIS E PESSOAS TRANS NO ENSINO SUPERIOR ATRAVÉS DE UM CURSO PRÉVESTIBULAR GRATUITO Felipe Goettenauer fgoettenauer@gmail.com

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debate sobre opressões às minorias está cada vez mais frequente em nosso cotidiano, seja nos debates políticos ou nos discursos de movimentos sociais. Notícias veiculadas todos os dias escancaram a violência sofrida por esses grupos, mostrando inúmeros casos de agressões verbais, físicas e, muitas vezes, até assassinatos. Um dos grupos que sofrem esse tipo de opressão são as pessoas transexuais e travestis. Segundo a organização não governamental (ONG) Transgender Europe (TGEU), rede europeia de organizações que apoiam os direitos humanos da população transgênera, o Brasil é o país que mais mata transexuais e travestis no mundo. Entre 2008 e 2014, foram registradas 604 mortes no país. Além disso, devido às diversas opressões, preconceito e nenhum amparo do Estado, os transexuais e travestis têm expectativa de vida de 35 anos. Tendo em vista todos estes dados e problemáticas, surgiu, no dia 13 de fevereiro de 2014, a ONG Amosertrans. A organização tem como objetivo debater as demandas das pessoas Trans, expandindo o debate e alcançando outros ambientes. A visibilidade, a despatologização e a empregabilidade são alguns dos assuntos debatidos e levados a concretizar ações e projetos. Dentre as ações que a Amosertrans realiza, estão a I e II Semana da Visibilidade Trans/Aracaju e o Educa Trans, além de ter feito parte da organização e implantação do ambulatório Trans, na cidade de Lagarto, e realizar reuniões, palestras, debates, projetos e ações sobre assuntos pertinentes às pessoas Trans.

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COMPORTAMENTO Geovana Soares, militante transfeminista e aluna do Educatrans

EducaTrans O Educa Trans é um projeto que visa estimular a entrada de travestis e pessoas Trans no ensino superior através de um curso pré-vestibular gratuito. Segundo a ONG, a ideia surgiu em uma reunião da Amosertrans, onde a discussão se dava em torno do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), sobre a portaria do uso do nome social. “Durante o debate, surgiu a ideia de inscrever as pessoas Trans no Enem. Uma campanha foi feita para inscrevê-las, e com isso surgiu a ideia de fazer um grupo de estudos, o Educa Trans. O projeto foi posto na página da Amosertrans no facebook, e assim ganhou apoiadores e voluntários. O Educa Trans tomou forma e amadurecimento a partir dessa iniciativa”, afirma a ONG. A idealizadora do projeto, Linda Brasil, faz parte da organização e é ativista dos direitos transgênero, além de ter sido candidata à vereadora de Aracaju nas eleições de 2016. Linda teve grande apoio da população, sendo a 26º candidata mais votada, porém não conseguiu se eleger devido ao coeficiente eleitoral. A ativista afirma que tanto a ONG quanto o Educa Trans têm uma grande importância no auxílio às pessoas Trans e travestis. “O Educa Trans é uma oportunidade para que se consiga uma melhor qualidade de vida através da qualificação profissional que o ensino superior proporciona”. Devido à marginalização sofrida pela sociedade, muitas não têm a oportunidade de adentrar no ensino superior e acabam procurando ganhar dinheiro de forma não ideal, como a prostituição. O projeto está em sua segunda edição e teve início no começo de julho.

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Foto: EducaTrans/ Divulgação

O QUE É UMA PESSOA TRANS? Uma pessoa trans é alguém que tem uma identidade de gênero diferente daquela esperada pela sociedade em função do seu sexo biológico ou do sexo que foi atribuído a esta pessoa em seu nascimento.

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