Este trabalho, além das razões acadêmicas, foi produto de diversas motivações pessoais. Aplicar o conhecimento que obtive ao longo dos anos que passei na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em um projeto que envolve minha cidade natal foi algo recompensador. Deste modo, agradeço primeiramente a meus pais. A eles tenho meu carinho e gratidão eternos por terem me garantido, com seus sacrifícios, os meios materiais e os incentivos para eu poder cursar a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na USP. Agradeço também ao Professor Alexandre Delijaicov, não apenas por suas orientações técnicas, mas principalmente por sua postura e princípios sobre a atuação do profissional Arquiteto e Urbanista dignos de minha admiração. Agradeço às minhas irmãs, e aos meus familiares, especialmente a minha tia Antônia, que tantas vezes me ajudou com grande entusiasmo durante a execução deste trabalho. Agradeço também aos meus amigos queridos que tanto me incentivaram. Especialmente Mariana, Maithy e Marília, que me ajudaram nesta reta final do trabalho. E a Rodrigo, pelo companheirismo e paciência. Por fim, agradeço a todas aquelas pessoas de Socorro que tiveram disponibilidade imensa em colaborar com o trabalho. Destaco aqui Hermenegildo Tardelli Carneiro e Luiz Silva Pinto, do projeto Piracema, pela disponibilização de materiais e acompanhamento durante o percurso de barco pelo Rio do Peixe.
ÍNDICE
UMA INQUIETAÇÃO – UMA VONTADE: A CIDADE E O RIO DAS FORMAS DE ABORDAR O PROBLEMA MEMÓRIA DO ASSENTAMENTO URBANO – A CONSTRUÇÃO DA PAISAGEM FLUVIAL DOS PLANOS DIRETORES A IMAGEM DA CIDADE A CIDADE DOS BAIRROS A CIDADE DO COMÉRCIO E SERVIÇO A CIDADE DOS ESPAÇOS REPRESENTATIVOS A CIDADE DA CULTURA A CIDADE DO LAZER E DO ÓCIO ORLA FLUVIAL – PERCURSO PROPOSTA DE ESTRUTURAÇÃO DO SISTEMA VIÁRIO E TRANSPORTE A REESTRUTURAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS E EQUIPAMENTOS URBANOS A PARTIR DO RIO O PROJETO A REAPROPRIAÇÃO DAS ÁGUAS AS INTERVENÇÕES PROPOSTAS LISTA DE ÁREAS DOS PROGRAMAS ARQUITETÔNICOS PROPOSTOS CORTES GERAIS REFERÊNCIAS
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UMA INQUIETAÇÃO-UMA VONTADE: A CIDADE E O RIO
“Imaginar significa recordar aquilo que a memória escreveu dentro de nós e pô-la em confronto com as exigências e as condições ao nível de sua real complexidade, e por fim restituí-las na simplicidade oblíqua do projeto” (GREGOTTI apud SIZA, 2009) Não há como deixar de lado aqui tudo o que este trabalho representa do ponto de vista emocional. Como o ritual de fechamento de um ciclo que se iniciou quando saí de minha cidade, Socorro, em 2003, para cursar Arquitetura e Urbanismo, na capital de São Paulo. Anos se passaram e agora me sinto pronta para voltar a Socorro, devolver à cidade tudo o que ela me forneceu de experiência, para fincar minhas raízes, reviver minhas memórias. E não há nada melhor que trabalhar sobre o que, a cada retorno, me trouxe uma inquietação. O que fazer para que, no desenvolvimento de Socorro, não sejam abandonadas suas virtudes mais notáveis: seu patrimônio ambiental e cultural. Uma inquietação e uma vontade, porque considero que a inquietação nos faz presentes no mundo e a vontade nos torna capazes de grandes realizações. Diante disto busco um meio para sanar essa inquietação e cumprir essa vontade. Socorro é um Município de 36.686 habitantes (IBGE, 2010) que dista 135 km a nordeste da capital do Estado de São Paulo. É Estância Hidromineral, inserida no Circuito das Águas que inclui os municípios de Lindóia, Águas de Lindóia, Amparo, Monte Alegre do Sul, Jaguariúna e Pedreira. Localizado na divisa com o Estado de Minas Gerais, na Serra da Mantiqueira, o Município de Socorro encontra-se implantado em uma região cujo cenário geomorfológico é extremamente rico. O Planalto Atlântico é caracterizado pelos mares de morros com picos arredondados, conformando vales de rios com corredeiras e quedas d’água e a Serra da Mantiqueira faz, na região, jus a seu nome: de origem na língua tupi, Mantiqueira significa “serra que verte” (Maan = serra e Tiquira= que verte). Os afloramentos de água são abundantes: fontes de águas minerais e nascentes de pequenos e numerosos córregos e ribeirões enriquecem a hidrologia do Município.
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Encostas da Serra da Mantiqueira visíveis a partir da cidade - a Serra de Munhoz e o Pico da Cascavel.
Destacada no mapa ao lado está a área urbana do Município de Socorro segundo o Plano Diretor Estratégico - 2006 FONTE: Prefeitura Municipal da Estância Hidromineral de Socorro (editado pela autora)
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Da topografia no Município, destacam-se os principais divisores de água, as serras que são referências para a população em seus deslocamentos pelo Município e se destacam também em visuais pela paisagem urbana. É na Serra da Mantiqueira onde nascem os principais rios dos estados de São Paulo e de Minas Gerais. Entre esses rios estão o Rio Camanducaia, que atravessa a zona rural do Socorro, e o Rio do Peixe, que corta a área urbana do Município. Estes dois rios estão inseridos em duas importantes Bacias do Estado de São Paulo: a Bacia Hidrográfica do Rio Grande e a Bacia do Rio Tietê. O Rio do Peixe, objeto deste trabalho, nasce no Município de Senador Amaral (MG) e percorre 130 km até desaguar no Rio Mogi-Guaçu no Município de Itapira (SP). O Morro do Cristo como é conhecido, configura-se como principal barreira à expansão urbana, marco na paisagem e mirante turístico.
O RIO DO PEIXE NA HIDROGRAFIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
O RIO DO PEIXE NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MOGI GUAÇU FONTE: www.sigrh.sp.gov.br
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Neste ambiente privilegiado do ponto de vista natural, o Município de Socorro configura-se como Estância Turística procurada por suas fontes de água mineral e suas paisagens rurais. Socorro integra também, desde 2004, com as cidades já citadas, o Consórcio Intermunicipal do Pólo Turístico do Circuito das Águas Paulista, que promove ações conjuntas entre os municípios para o desenvolvimento do turismo da região que tem se firmado como centro para convenções e eventos e para o desenvolvimento do ecoturismo. Mesmo não possuindo historicamente tanta visibilidade e atratividade, se comparado a outros Municípios do Circuito das Águas como Serra Negra e Águas de Lindóia, Socorro tem se estruturado nos últimos anos como principal pólo de “turismo de aventura” (a prática de rafting, voo Livre, rappel, entre outros) e vem atraindo um fluxo de visitantes cada vez maior em sua área rural, aproveitando as corredeiras do Rio do Peixe, suas cachoeiras e os morros da região. O futuro do Município de Socorro é, portanto, delineado por suas potencialidades ambientais. No entanto, é possível notar que estas potencialidades são mais exploradas como um recurso econômico em detrimento de uma apropriação social dos cidadãos.
Prática de canoagem no Rio do Peixe.
Desta forma, o turismo de aventura tem sido acompanhado por uma desordenada ocupação da área periférica da cidade com loteamentos de chácaras e casas de veraneio. Na zona rural difundem-se empreendimentos turísticos como pousadas e hotéis que, apesar da imagem ecológica associada, nem sempre têm em sua implantação o cuidado em relação ao destino de esgotos, ao desvio de cursos d’água e à construção de poços artesianos em áreas de afloramentos de águas minerais. Além disso, identifica-se uma discrepância entre o papel desempenhado pelo turismo nas áreas rurais e urbanas do Município, que se reflete também na diferente relação com a paisagem natural na cidade. Embora o Rio do Peixe seja apropriado como imagem recorrente de identificação de sua população e de seus turistas, na zona urbana, ele passa de protagonista para coadjuvante, e não se configura como elemento referencial na paisagem urbana. As edificações na cidade têm seus acessos e fachadas voltados para as ruas e não para o rio, e este, por sua vez, não é acessível por causa das barreiras construídas e da vegetação densa de suas margens. Além disso, a população associa a imagem do rio com o risco iminente de inundações e não se apropria das poucas áreas atualmente voltadas para o rio, tornando-as, em alguns casos, locais de depósito de lixo.
Vista da Rua 13 de maio. O Rio do Peixe passa atrás das construções do lado esquerdo da foto, porém não há sinal de sua presença.
O Rio do Peixe no trecho da Rua 13 de maio.
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Além do turismo voltado às águas, Socorro é também associado há décadas à confecção e ao comércio de roupas de malha de algodão e tricô. Neste contexto, a Feira Permanente de Malhas e o atual centro comercial, Moda Shopping, desempenham um papel importante ao reunir os fabricantes locais. Este equipamento, no entanto, não colabora para a inversão da situação descrita anteriormente. Implantado no limite da área urbana, ele não estimula os turistas que a frequentam a irem para o centro histórico e cultural da cidade. Com relação ao patrimônio cultural da cidade, assiste-se ao desaparecimento de manifestações culturais tradicionais como as Danças de São Gonçalo, a Catira e as Congadas. Somando-se a isso, Socorro não estabeleceu um processo de tombamento eficiente de seus exemplares de arquitetura do final do século XIX. Sem identificação da população com o patrimônio da cidade, os edifícios históricos foram descaracterizados ou demolidos para a construção, por exemplo, de galpões para abrigar lojas de departamentos no centro da cidade. Na ausência de uma imagem representativa para o turismo também foram incorporadas soluções formais que remetem a tradições culturais de outras regiões e cidades turísticas, com construções como Chalés, e outras que remetem à tradição alemã do Sul do país com construções imitando o Enxaimel.
Moda Shopping
É possível notar que, apesar da existência de equipamentos urbanos destinados à cultura, essas estruturas não são utilizadas para encontros cotidianos, mas sim para eventos dispersos e pontuais.
Feira Permanente de Malhas
Centro Cultural e Turístico de Socorro, que fica fechado nos finais de semana.
Antigo casarão sendo demolido para construção de loja de departamento.
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Como marcos para a cidade tem-se a Praça da Matriz, a Praça do Fórum e da antiga Cadeia (atual Delegacia de Polícia), a Feira Permanente de Malhas, o Mirante do Cristo Redentor, o Recinto de Eventos, o Palácio das Águias na Praça Santos Dumont (antiga Prefeitura Municipal e atual Biblioteca Municipal), o Museu Histórico, o Palacete da Cultura (atual Conservatório de Música),o Horto Municipal, o edifício das antigas estações Ferroviária e Rodoviária, a Usina Velha, o Cine Cavalieri, o Grande Hotel Vergani, a Colônia de Férias dos Funcionários Públicos do Estado, o Balneário dos Funcionários Públicos do Estado e os portais no acesso à Rodovia Capitão Barduíno (em direção a Bragança Paulista) e no acesso à Rodovia Octavio de Oliveira Santos(em direção a Lindóia). Como vias de referências tem-se a Rodovia de Contorno (Rodovia Pompeu Conti) que liga as duas rodovias citadas, a Estrada Municipal do Bairro do Rio do Peixe (Corredor Turístico), a Rua Treze de Maio, a Rua Dr. Campos Salles, a Av. XV de Agosto, a Av. Dr. Rebouças, a Av. Cel. Germano, a Rua Mal. Floriano Peixoto, a Rua Voluntários da Pátria, a Rua Barão de Ibitinga e a Rua Capitão José P. Batista de Araújo (Rua do Expresso).
Portal de saída para Lindóia.
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Os espaços públicos da cidade, por outro lado, preservam ainda o papel de palco privilegiado dos encontros cotidianos, das atividades de lazer e das manifestações culturais, mostrando as potencialidades da atuação nos espaços públicos e equipamentos urbanos da cidade. Desta maneira, esse cenário conduziu à possibilidade da construção de uma rede de espaços públicos e equipamentos urbanos a partir do desenho de um novo papel do Rio do Peixe na malha urbana da cidade, vislumbrando a possibilidade de criar em sua orla fluvial um sentido de lugar apropriado pelos cidadãos.
O uso do espaço público nas manifestações tradicionais Procissão na Rua Padre Antônio Sampaio
Cena de um final de semana em frente à Praça da Matriz.
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DAS FORMAS DE ABORDAR O PROBLEMA
“O ondulado das sebes É em mim que o tenho” Jean Wahl - Poéms (WAHL, apud BACHELARD, 2005, p.31)
Trabalhar com a cidade em que cresci foi, em um primeiro momento, difícil. Essa dificuldade dizia respeito a se desprender da postura da cidade, de sua população, ao abordar o problema. Eu fazia parte daquela realidade, então, como me desprender dela e, além disso, criar consciência crítica sobre ela? Talvez a dificuldade fosse a mesma de se falar da casa da infância. As lembranças de proteção e as fixações de felicidade são constantes. No entanto, a memória afetiva da cidade poderia, e acabou sendo, um elemento enriquecedor nas análises e interpretações durante todo o processo de trabalho. Lembrar porque eu rejeitava um caminho durante o percurso para a escola, recuperar as tentativas no pátio da escola de ver um córrego escondido atrás do muro, resgatar, a partir das memórias de infância, as qualidades de um espaço hoje desvalorizado. Gaston Bachelard, no livro “A poética do espaço” (BACHELARD, 2005), nos fornece uma interessante visão da relação entre memória e espaço: “A memória - coisa estranha!- não registra a duração concreta, a duração no sentido bergsoniano. Não podemos reviver as durações abolidas. Só podemos pensá-las, pensá-las na linha de um tempo abstrato privado de qualquer espessura. É pelo espaço, é no espaço que encontramos os belos fósseis de duração concretizados por longas permanências. O inconsciente permanece nos locais. As lembranças são imóveis, tanto mais sólidas quanto mais bem espacializadas.” (BACHELARD, 2005, p. 29) Tentou-se, então, aproveitar estas qualidades subjetivas do espaço. Meu papel seria o de tornar objetivas as questões não apenas minhas, mas também daqueles que, mesmo não entendendo em um primeiro momento do que se tratava o meu trabalho, perceberam a relevância do tema e tiveram vontade e disponibilidade imensas de colaborar. Assim foram as primeiras experiências do trabalho, o momento de retomar o contato perdido com a cidade e com sua população. Os contornos surgidos deste contato foram revelando uma realidade bastante desafiadora. Comparada à complexidade da escala da metrópole São Paulo, tomada como objeto de estudo durante todo o curso na
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Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, as questões discutidas para Socorro parecem abrir oportunidades imensas. A intenção, portanto, seria a de colaborar com o projeto e as reflexões, para uma forma possível de se estabelecer diretrizes de desenho urbano, principalmente em relação aos espaços públicos de cidades pequenas, no sentido de aproveitar a oportunidade que se tem nessa situação: atuar de maneira mais próxima da população, dadas as escalas menores. No entanto, à medida que o trabalho se desenvolvia crescia também a consciência de que todos os conceitos conhecidos durante a graduação, como, por exemplo, o da “marca da modernização com desenvolvimento do atraso” destacado por Ermínia Maricato (MARICATO, 2003), tomavam formas precisas e reais bem à minha frente e consolidavam a consciência de que o embrião das questões do urbanismo precário da metrópole pudesse estar ali, na pequena cidade. Pensar Socorro, então, se tornava pensar uma cidade pequena no interior do Estado de São Paulo, Brasil. Quantas cidades semelhantes a Socorro existem no Brasil? Dos 5.565 municípios do Brasil, 1.055 são classificados pelo IBGE entre 20.000 e 50.000 habitantes (IBGE, 2009), como o caso de Socorro. Esses municípios possuem a obrigatoriedade de um Plano Diretor de Uso do Solo. Quais as condições em que este foi desenvolvido? E o que pensar das cidades com menos de 20.000 habitantes, que representam a maioria no Brasil (3.921 municípios dos 5.565 totais)? Inúmeras destas , provavelmente a maioria, possuem um rio atravessando seu núcleo urbano. Será o rio referência urbana nestas pequenas cidades? O artigo 182 da Constituição Federal de 1988, regulamentado pelo Estatuto da Cidade (Lei Federal nº 10.257/2001), estabelece a obrigatoriedade de elaboração de Plano Diretor, instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana, para as cidades de mais de vinte mil habitantes e integrantes de áreas de especial interesse turístico. O Plano Diretor deve ser aprovado por lei municipal e tem como principal objetivo garantir o cumprimento da função social da propriedade urbana e, portanto, assegurar aos cidadãos a qualidade de vida, a justiça social e o desenvolvimento das atividades econômicas. O artigo 21 da Constituição Federal de 1988 estabelece que compete à União instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir os critérios de outorga de direitos de seu uso. A Lei Federal nº 9.433/97, instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Do mesmo modo, dispõe-se de políticas estaduais, sendo o Estado de São Paulo o pioneiro na criação do Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos, através da Lei Estadual nº 7.633/91. Entende-se como princípio dos sistemas de gerenciamento de recursos hídricos, estaduais e federal, que a água é um bem de domínio público, recurso limitado, dotado de valor econômico, cujo uso múltiplo deve ser viabilizado, priorizando o consumo humano. Soma-se a isso, a noção da necessidade de uma gestão descentralizada e participativa, significando a integração entre os diferentes usos da água, suas relações com o uso e a ocupação do solo, a integração entre diferentes esferas governamentais (Federal, Estadual e Municipal) e a participação de todos os agentes: sociedade, usuários e governo. Como instrumento para alcance destes objetivos propostos, destacam-se os Planos de Recursos Hídricos, como documentos que consolidam o processo de planejamento prévio da utilização, preservação e recuperação
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dos recursos hídricos, a outorga de direitos de uso, como meio de assegurar e controlar os direitos de uso desses recursos, os sistemas de informações sobre recursos hídricos e a cobrança pelo uso da água, como meio de reconhecer o valor econômico desta e incentivar a racionalização de seu uso. O Sistema Nacional de Recursos Hídricos instituiu também a Bacia Hidrográfica como unidade territorial, colaborando para a gestão descentralizada da água. Decorre do reconhecimento dessas dimensões da integração/articulação institucional, a ligação estrutural que se faz entre o sistema de gestão de recursos hídricos e os instrumentos de planejamento municipal, estes sim com jurisdição sobre funções públicas comuns que extrapolam a esfera dos recursos hídricos propriamente ditos e que influenciam diretamente a paisagem e a regeneração ambiental das cidades. Neste sentido, TUCCI destaca que, mesmo diante deste avanço institucional, “os municípios não desenvolveram capacidade institucional e econômica para administrar o problema, enquanto que Estados e União encontram-se distantes da realidade do problema, o que dificulta implementar uma solução gerencial adequada” (TUCCI, 2001). Propor um projeto para a reestruturação dos espaços públicos e equipamentos urbanos de Socorro no trecho em que o Rio do Peixe atravessa a cidade torna-se, dessa forma, extremamente relevante, considerando uma proposta mais ampla de estruturação da cidade com base na gestão adequada dos recursos hídricos, na atenção às suas potencialidades geomorfológicas e em relação às paisagens da cidade e ao patrimônio histórico e cultural de seu povo. Diante deste objetivo, ao debruçar-se sobre o existente com consciência do papel de minha memória afetiva e da responsabilidade em relação à relevância do tema para a cidade, a postura tomada foi a de “redescobrir a singularidade das coisas evidentes” (SIZA, 2009). O desenvolvimento do trabalho, inicialmente, se deu a partir de três abordagens que abriram as seguintes frentes de atuação: A primeira frente seria a pesquisa e análise para a retomada da memória do assentamento urbano e da construção da paisagem fluvial. A segunda frente seria relacionada à leitura da imagem pública da cidade, com o intuito de converter o Rio do Peixe em uma referência urbana. A terceira frente, mais prática, estaria relacionada ao levantamento das condições da orla do Rio na cidade, expandido também às orlas de seus principais afluentes. Partindo das análises feitas neste primeiro momento, uma área específica foi escolhida para o desenvolvimento de uma proposta de projeto, para que se pudesse atuar de forma prática diante das questões e problemáticas apresentadas.
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MEMÓRIA DO ASSENTAMENTO URBANO - A CONSTRUÇÃO DA PAISAGEM FLUVIAL Este levantamento partiu do estudo dos Planos Diretores do Município dos anos de 1959, 1996 e 2006, de materiais iconográficos e textos descritivos obtidos nos arquivos de algumas famílias da cidade e de materiais disponibilizados por instituições como o Instituto Geográfico e Cartográfico do Estado de São Paulo (IGC). O objetivo principal desta pesquisa foi trabalhar com a natureza do sítio urbano e com suas preexistências para a proposta do novo buscando reconhecer as potencialidades dadas, a partir do respeito a algumas continuidades no território, a espaços configurados e aos equilíbrios existentes. Enriquecedoras, neste momento, foram as leituras dos textos de Murillo Marx “Cidade no Brasil, terra de quem?” e “Nosso chão: do sagrado ao profano”. A descrição de Murillo Marx do nascimento e estruturação das cidades brasileiras originadas das terras doadas à Igreja e a conformação do sítio urbano fortemente regido por seus rituais e suas regras sociais correspondem exatamente às descrições dos textos encontrados nos materiais históricos de Socorro. Desta forma, das fases na urbanização de Socorro destaca-se uma primeira etapa que se inicia com a fundação da aglomeração a partir dos terrenos doados à Igreja Católica, na Praça da Matriz, que guarda até hoje seu papel de espaço público central na cidade, local de atividades sacras, como missas, procissões e de atividades de lazer. A conformação do sítio urbano deixa claro o significado social da Igreja “nas cristas do sítio urbano”, situação privilegiada em relação a qualquer ponto da aglomeração. Encontra-se também no sítio urbano a estrutura usual descrita por Murillo Marx do conjunto formado pela Igreja Matriz, pela Casa de Câmara e Cadeia, bem como pelas capelas de irmandades religiosas.
Ilustração da 1ª ponte de concreto armado do Estado de São Paulo. FONTE: FERRAZ, 1985
Ponte de concreto Av. Dr. Rebouças - situação atual. FONTE: http://www.socorro.tur.br
No primeiro mapa, vê-se a cidade resultante desta primeira fundação, ainda limitada à margem esquerda do Rio do Peixe e do Ribeirão dos Machados. Em 1909, a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro S.A. estendeu seu ramal de Monte Alegre a Socorro e construiu o edifício da Estação Ferroviária. A chegada da estrada de ferro impulsiona as atividades ligadas à economia do café na cidade. Dada sua implantação distante do centro comercial da cidade e do acesso dificultado na época das cheias, a Companhia Mogiana constrói uma ponte sobre o ribeirão e uma avenida resguardada das águas das enchentes, Av. Rebouças. A chegada da ferrovia e a travessia do Ribeirão dos Machados marcam, assim, a segunda fundação da cidade que ultrapassa as barreiras oferecidas pelos corpos d’água principais. Vale destacar a importância da ponte histórica e ainda existente da Av. Dr. Rebouças. Além de ter possibilitado a ligação entre o sítio da antiga cidade e a ferrovia, ela guarda a importância de ter sido a primeira ponte construída em concreto armado no Estado de São Paulo.
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A figura foi obtida pelas descrições encontradas nos textos do “Álbum de Socorro Comemorativo do Centenário da Indepedência” de 1922-1923.
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A fotografia fornecida pelo IGC, datada de 1939, possibilita uma visualização mais clara das duas “fundações” da cidade. Vê-se já consolidados importantes eixos viários. Se compararmos esta foto com a malha urbana atual, podemos observar as continuidades desse território, baseadas nesses caminhos históricos. Dos eixos surgidos na primeira fase da estruturação da cidade, antes da instalação da ferrovia, destacamse a Rua Marechal Floriano Peixoto, a Rua Treze de Maio e a Rua Dr. Campos Salles. Dos eixos surgidos após a instalação da ferrovia destaca-se além da Av. Dr. Rebouças, a Av. Coronel Germano, que ligou a Matriz ao novo cemitério, fazendo a travessia do Rio do Peixe.
SOCORRO 1939 FONTE: Instituto Geográfico e Cartográfico do Estado de São Paulo
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Nos anos seguintes à implantação da Ferrovia os novos eixos além-rio são consolidados e as principais rupturas no processo de urbanização da cidade de Socorro referem-se ao surgimento de um novo ator na criação da paisagem urbana: o loteador de glebas. No mapa “Socorro em 1959”, baseado no relatório para a execução do Plano Diretor de 1959, nota-se a extensão da área classificada como urbana em direção aos bairros atuais do Jardim Araújo, Vila Nova e também Jardim Nossa Senhora Aparecida (“Aparecidinha”). A terceira fase da estruturação da cidade está relacionada à desativação da linha ferroviária, em 1966, e à construção da Rodovia de Contorno (Rodovia Pompeu Conti). Áreas entre o centro urbano consolidado e a rodovia de contorno foram sendo loteadas e novos eixos surgiram para conectar estas áreas a esta rodovia. Dos loteamentos do final da década de 70 destacam-se o Jardim Jussara e o Jardim Orlandi. A desativação da linha ferroviária trouxe a criação de um novo eixo rodoviário sobre o antigo leito ferroviário, a Rua Voluntários da Pátria. Este novo eixo rodoviário consolidou-se como um dos acessos principais da cidade e a ocupação residencial em suas margens, resultante deste processo, acabou sendo precária, mantendo esta condição até hoje. Nos anos posteriores destacam-se a consolidação dos loteamentos residenciais internos à rodovia de contorno, com uma densidade baixa e o surgimento descontrolado de loteamentos para além da rodovia.
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DOS PLANOS DIRETORES Sem necessariamente fazer uma descrição dos Planos Diretores aqui citados, destacam-se algumas observações com o objetivo de dar um panorama geral da natureza dos Planos Municipais já desenvolvidos. PLANO DIRETOR DA ESTÂNCIA DE SOCORRO, 1959 -FAU CPEU Este plano se prestou a uma análise da ocupação urbana bastante detalhada e à proposição coerente em relação ao uso e à ocupação dos solo. Sob alguns aspectos, no entanto, este Plano se dispôs a uma visão distanciada das possibilidades econômicas e técnicas para a efetivação de suas propostas. A principal proposição deste plano que efetivamente marcou o processo de estruturação da cidade foi a Rodovia Pompeu Conti, concluída em 1975. Talvez o maior acerto do plano tenha sido a compreensão da cidade através do potencial ambiental da água. Deixando de lado, obviamente, a proposta de avenidas marginais na cidade, destaca-se aqui a proposta de um parque fluvial e um grande lago na área onde hoje existe o bairro residencial Jardim Golo, loteado na década de 80. PLANO DIRETOR 1996 Pouco há para se comentar deste plano, apenas que ele se serve ao zoneamento precário da cidade. Áreas onde haviam indústrias foram classificadas como industriais, mesmo que a atividade não fosse compatível com as características da área em questão. Como exemplo, tem-se o caso da região do Bairro Pompéia, classificada como área industrial, atividade incompatível com sua vocação turística relacionada às suas fontes de água mineral. PLANO DIRETOR DE 2007 Em relação aos recursos hídricos na área urbana, são previstas áreas para parques ecológicos ao longo de cursos d’água, no entanto, prevalecem os discursos genéricos e incoerentes com a atuação que se vê na cidade em relação à preservação ambiental e à preservação do patrimônio arquitetônico da cidade. Infelizmente, mantém-se a mesma postura em relação zoneamento do uso do solo da cidade que pode ser visto no Plano de 1996. O zoneamento de uso passa a ser, então, apenas um espelho das atividades existentes. O absurdo desta postura é a classificação de todo o morro do Mirante do Cristo como área predominantemente residencial, em uma permissão extremamente irresponsável do poder público para a ocupação urbana de áreas com declividades altas, com uma camada de solo pouco espessa sobre rochas, constituindo um grande perigo de escorregamentos. PLANO DIRETOR DA ESTÂNCIA DE SOCORRO 1959 FONTE: FAU CPEU
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A IMAGEM DA CIDADE Nesta etapa, buscou-se a caracterização da “Imagem Pública da Cidade”, no sentido dado por Kevin Lynch como “áreas consensuais que se pode esperar que surjam da interação de uma única realidade física, de uma cultura comum e de uma natureza fisiológica básica” (LYNCH, 1988, p.8) Essa análise se daria devido à identificação da necessidade de se trabalhar com a construção da identidade, estrutura e significado dos espaços para a construção do lugar, entendendo lugar como o que descreve Ana Fani Carlos: “O lugar é a porção do espaço apropriável para a vida- apropriável através do corpo, dos sentidos, dos passos de seus moradores, - é o bairro, é a praça, é a rua, e nesse sentido poderíamos afirmar que não jamais a metrópole ou a cidade lato sensu a menos que seja a pequena vila ou cidade - vivida, conhecida, reconhecida em todos os cantos (CARLOS, 1996, p. 20 apud. RAMALHO, 2006, p. 137) Identificar a imagem pública da cidade serviria, então, como base para a proposição de um desenho que favoreça a apropriação da orla fluvial como referência de observação e localização na cidade, a recuperação da memória do lugar e a construção coletiva da paisagem. As classificações feitas podem ser vistas nos mapas que seguem e as principais observações a respeito deles são colocadas aqui. A CIDADE DOS BAIRROS Considerando bairros, segundo o conceito de Kevin Lynch, como “partes razoavelmente grandes da cidade na qual o observador “entra” e que são percebidas como possuindo alguma característica comum, identificadora” (LYNCH, 1960, p. 66), partiu-se para a classificação da cidade. Ao analisar a cidade e seus bairros, é possível perceber que o centro histórico, local das duas primeiras fundações da cidade, guardam seu papel como principal área de identificação tanto para os habitantes da zona urbana, como para os habitantes da zona rural que vêm ao centro da cidade para usufruir dos serviços que ela oferece (bancos, comércio, lazer na Praça da Matriz nos finais de semana). É possível, no entanto, verificar o surgimento de um novo centro próximo à saída de Águas de Lindóia. Esse centro concentra equipamentos voltados ao turista como a Feira Permanente de Malhas, o Shopping Center e o Recinto de Eventos. Impulsionando esta descentralização, a Prefeitura Municipal transferiu suas atividades também para essa área, junto à Avenida XV de Agosto e a Rodoviária da cidade foi transferida do edifício da Antiga Estação Ferroviária para uma nova área adjacente à Rodovia Pompeu Conti.
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Mapeados estão também os principais caminhos da cidade, considerados como importantes elementos estruturadores da percepção ambiental e também dos outros elementos da imagem da cidade. Os caminhos relevantes destacam-se por: Concentrar um tipo especial de uso (por exemplo, o comércio nas Ruas 13 e Padre Antônio Sampaio); Ser uma preexistência importante no traçado histórico da cidade (por exemplo a Rua Marechal Floriano Peixoto); Apresentam origem e destino bem claros. A CIDADE DO COMÉRCIO E SERVIÇOS - AS VEIAS PRINCIPAIS Mapeando as principais áreas de comércio e serviços, nota-se a concentração destas atividades na área central da cidade. O novo centro concentra atividades voltadas principalmente aos turistas. A CIDADE DOS ESPAÇOS REPRESENTATIVOS Destacam-se os edifícios que representam marcos na imagem da cidade, ou seja, os elementos cuja principal característica é a singularidade, seja por ser visto a partir de muitos lugares (Igreja Matriz, Morro do Cristo), ou estabelecendo um contraste local com os elementos mais próximos.
Na cidade dos espaços representativos destacam-se também importantes eixos visuais.
A CIDADE DA CULTURA Na cidade da cultura, salienta-se a já citada carência de equipamentos voltados a esse fim na cidade. A cultura eventual concentra-se também no centro da cidade. A CIDADE DO LAZER E DO ÓCIO Na cidade do lazer e do ócio são destacados os clubes, que têm papel relevante na recreação dos jovens, seja pelas danceterias, seja pela prática de esportes. Indica-se também o principal passeio da cidade. Todos os dias a Av. XV de Agosto é tomada por pessoas que caminham, correm e andam de bicicleta em um percurso que se inicia próximo às praças do Fórum e da Delegacia e segue até o Bairro da Pompéia ou até a Feira Permanente de Malhas.
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1. Visão do Rio do Peixe para Morro do Cristo
2. Visão para Morro do Cristo a partir do principal cruzamento 3. Vista para Igreja da Matriz a partir da cidade (Entre as ruas Treze de Maio e Campos Salles) da Av. Cel. Germano
4. Vista para Morro do Cristo a partir da Av. Bernardino 5. Vista para Serra de Minas Gerais de Campos
6. Vista para a torre da Igreja Matriz a partir da Av. Marechal Deodoro
7. Vista da Igreja Matriz a partir de uma das travessas da Rua Treze de Maio
9. Vista do Morro do Cristo a partir da Av. Dr. Rebouças
8. Vista para casa histórica aos pés do Morro do Cristo
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ORLA FLUVIAL - PERCURSO O percurso pelo Rio do Peixe no trecho em que ele atravessa a cidade possiblitou a verifcação as condições de suas margens, do padrão de ocupação existente e a verificação das condições de suas pontes e passarelas.
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PERCURSO NA ORLA FLUVIAL PRINCIPAIS OBSERVAÇÕES - DESENHOS DE ANÁLISE
Trecho navegável - profundidade varia entre 0,50m e 2,00m no mês de Abril e eleva-se aproximadamente 1,50 acima deste nível nos meses de cheias
Necessidade de recuperação das margens que sofrem com erosão e resolver problemas de estruturação de muros e áreas que se elevam sobre o rio.
Oportunidades de criação de áreas contemplativas para o rio. Identificação de um sítio para implantação de um Parque Fluvial
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PROPOSTA DE ESTRUTURAÇÃO Do sistema viário e transporte: Apesar da pequena dimensão da cidade de Socorro, sua população faz o uso intenso do transporte individual sobre pneus. Em contraposição, a proposta do projeto visa privilegiar outras 3 matrizes de locomoção na cidade em um cenário futuro. A primeira dela é o uso da bicicleta. Nos últimos anos, grande parte dos ciclistas deixou de usar esse meio de transporte nos seus deslocamentos cotidianos devido ao intenso fluxo de automóveis e consequente falta de espaço e segurança para as bicicletas. A criação de ciclovias urbanas devolveria a possibilidade de utilização desse meio de transporte, que é adequado à cidade, dada às pequenas distâncias a serem percorridas em seu meio urbano. Além disso, as ciclovias poderiam ser implantadas junto a passeios na orla fluvial, ajudando a consolidar as margens dos rios como espaço de utilização pública. A proposta apresentada a seguir refere-se a uma primeira possibilidade de desenho, a partir da qual se estimularia a criação de novos percursos.
Referência- O Bonde Turístico de Santos- SP FONTE IMAGEM: http://www.baixaki.com.br/perfil/8813/
A segunda matriz de transporte a ser privilegiada visaria à utilização do transporte sobre trilhos movido à eletricidade. Uma linha de bonde, com 6 quilômetros de extensão e paradas que se distanciam de 300 a 500m, percorrendo as áreas urbanas e aproveitando as declividades menores próximas ao rio, serviria de alternativa ao ônibus de motor à combustão, assim como se tornaria um atrativo turístico ao passar pelas ruas históricas da cidade. Para auxiliar a linha de bonde, no acesso às regiões com declividades maiores (caso da maioria dos bairros residenciais mais recentes da cidade) o transporte sobre pneus seria necessário. Ônibus elétricos poderiam ser utilizados, sendo condizente a uma cidade que projeta sua imagem ao turismo ecológico e, obviamente, planeja contribuir para a diminuição da geração de poluição atmosférica. Ainda na matriz do transporte sobre trilhos, considera-se também neste projeto a atual proposta em vias de implantação de reativação da linha de trem ligando a estação de Socorro, primeiramente à estação de Ibitinga, na zona rural do município, e posteriormente à estação de Monte Alegre do Sul. A partir dos percursos propostos do bonde, do trem e da ciclovia, importantes pontos de conexão intermodal seriam criados. Um deles seria a atual estação rodoviária que, conectada à linha de bonde e à ciclovia, garantiria o acesso das pessoas vindas da zona rural de Socorro e de outros municípios ao centro da cidade. Outro ponto importante de integração intermodal seria a conexão da linha ferroviária, do bonde e da ciclovia no centro da cidade anexado à antiga Estação Ferroviária, agora reativada. A terceira matriz de transporte a ser privilegiada seria a fluvial. Propõe-se o passeio fluvial em um percurso de 3,5 km aproveitando a coincidência do trecho navegável com as áreas urbanas centrais, inviável
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apenas durante os períodos de seca no inverno. O passeio partiria da barragem da Sabesp à montante no corredor turístico e seria finalizado em uma área adjacente à Av. XV de Agosto. Também propõe-se uma nova relação da cidade com os automóveis. Atualmente as áreas centrais encontram-se tomadas por carros estacionados que ocupam espaço que deveria ser utilizado para a expansão dos passeios de pedestres. Neste novo cenário proposto, o transporte público, associados a estacionamentos nas bordas das áreas centrais, desafogaria o sistema viário e traria nova qualidade a seus espaços. Vale destacar ainda, que os postos de gasolina nas áreas centrais encontram-se na maioria dos casos muito próximos dos corpos d’água, fazendo lembrar que a implantação deste tipo de equipamento deva ser regulada e que a liberação das áreas centrais do transporte sobre pneus colaboraria também para a transferência de local destes usos.
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A reestruturação dos espaços públicos e equipamentos urbanos a partir do Rio Das análises feita no primeiro semestre de trabalho são identificadas áreas estratégicas para a abertura do rio à cidade, que se distinguem pela variedade de circunstâncias físicas e referências urbanas. ÁREA 1 Caracteriza-se por uma ocupação urbana menos densa incluindo terrenos de chácaras na beira do rio. Há nestas áreas espaços livres suficientes que no tecido da cidade aparecem desconectadas, mas que tem o potencial de integração através da orla do rio. Destaque para a Av. XV de Agosto, principal via utilizada para caminhadas e passeios de bicicleta. É acesso para importantes locais turísticos como para as estradas do Mirante do Cristo e da Pompéia (estrada do Balneário e das fontes de água mineral). Identifica-se nesta área um potencial para a criação de estruturas de lazer e recreação. Um sítio para possível implantação de um parque fluvial (coincidente com o ponto final dos passeios de barco pelo rio) que poderia se estender desde a foz do Córrego do Jardim Araújo através do Rio do peixe até as áreas do Horto Florestal da cidade a jusante ( junto à Rodoviária e ao Recinto de Exposições e Eventos). Importantes também são as áreas livres disponíveis no percurso do Córrego do Jardim Araújo que já foram utilizadas para atividades de lazer e que hoje encontram-se desativadas. Atenção deve ser dada à necessidade de retirada das habitações que se encontram implantadas em áreas de risco no Bairro da Vila Nova, nas margens do Córrego do Barrocão.
Local para possível implantação de um parque fluvial ponto final dos passeios de barco.
Avenida XV de Agosto - principal local dos passeios da cidade
Áreas de lazer desativadas na margem do Córrego do Jardim Araújo
Áreas de lazer desativadas na margem do Córrego do Jardim Araújo R. Andrelino de Souza Pinto - terreno livre junto à foz do Córrego do Jardim Araújo - possibilidade de conexão com Parque Fluvial
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ÁREA 2 Caracteriza-se como uma área de transição entre a área com terrenos disponíveis para um parque fluvial e as áreas de urbanização consolidada e histórica do centro da cidade. Junto a áreas residenciais, os caminhos e aberturas para o Rio do peixe são escassos, poucas são as travessias como pontes e passarelas e os espaços configuram-se com uma imagem de fim, de negação de seu potencial paisagístico. Nestas áreas, o caminho em torno do rio deveria ser consolidado como espaço público, criando uma nova fachada para edificações residenciais. A ciclovia teria um importante papel, aumentando o uso de espaço e ajudando a consolidar o caminho beira-rio como acesso ao centro e ao parque fluvial por parte dos moradores desta área. Novas travessias de pedestres devem ser criadas, principalmente no final de ruas que terminam no rio sem um tratamento adequado. Como área estratégica de intervenção tem-se a Rua Edwiges como ponto de partida principal para os passeios pela Av. XV de Agosto e agora pelo novo passeio por toda a orla do rio. Esta já possui um passeio beirario para o qual se voltam edifícios residenciais. Este passeio encontrou-se durante muito tempo em mau estado de conservação e atualmente há a intenção de se abrir uma via para automóveis, com a justificativa de que a via espantaria a degradação da área. Contraponho a esta idéia a sugestão de que os equipamentos de exercícios de alongamento também propostos pela prefeitura municipal, aliados a outros, como estacionamento de bicicletas, e criação de acesso ao rio com cais para os barcos de passeio, já seriam suficientes para a consolidação da área como referencial importante para os passeios dos pedestres, ciclistas e dos que percorrem o rio de barco.
O Rio do Peixe encontra-se no final desta rua possibilidade de construção de travessias
No bairro do Jardim Gollo, as casas se fecham para os espaços públicos da orla fluvial - possibilidade de novo tratamento: A construção de uma nova fachada
A Rua Edwiges (foto esquerda) e sua localização privilegiada. Destacada está a Praça Matriz
A Rua Edwiges - constraproposta: o acesso das pessoas à margem do Rio do Peixe - o cais
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ÁREA 3 Configura-se como área de urbanização consolidada e histórica no centro da cidade. O espaço disponível na orla é mais escasso e há construções de muros junto ao rio, substituindo os taludes. Alguns dos taludes que restam apresenta-se em condições precárias de estabilização, em alguns casos sendo necessário construções de muros de arrimo. As travessias são consolidadas, mas não garantem o acesso das pessoas à margem do rio. Há áreas com uma vegetação abundante, mas haveria a necessidade de análise de espécies vegetais mais adequadas para a contenção das margens. Nesta área há o potencial de criação de um passeio beira-rio para o qual se abririam os edifícios comerciais do centro da cidade, com terraços em cotas seguras em relação às inundações voltados para o rio com restaurantes, cafés e as tradicionais sorveterias da cidade. O Córrego do Barrocão é outro corpo d’água de grande importância que atravessa a cidade. Dentro da área urbanizada ele possui trechos em que historicamente as construções ocupam completamente suas margens. Em sua passagem pela Rua Treze de Maio, principal via da cidade, o córrego do Barrocão possui um trecho canalizado. Portanto, é necessário um projeto no sentido da reinserção deste córrego na cidade e da abertura de seu encontro com o Rio do Peixe permitindo a criação de espaços de contemplação junto ao passeio fluvial.
As travessias históricas - A Ponte Pênsil substituída na década de 70. FONTE: arquivo Família Oliveira Santos
As travessia atual - passarela em treliça metálica
O Córrego do Barrocão enclausurado pelas construções necessidade de tratamento paisagístico diferenciado.
O Córrego do Barrocão, no trecho em que encontra-se canalizado, chega a passar por debaixo do pátio de um Posto de Gasolina. Considerando a incompatibilidade deste tipo de atividade junto às orlas dos corpos d’água da cidade, estas áreas livres dadas pela retirada dos posto de gasolina, poderiam ser revertidas em espaços de contemplação e o Córrego do Barrocão poderia ser redescoberto no centro da cidade.
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ÁREA 4 – Local do projeto: Foz do Ribeirão dos Machados e eixo viário histórico da Estação Ferroviária A partir dos levantamentos e análises feitas no primeiro semestre de trabalho, tornou-se evidente a importância estratégica de atuação nesta área. Apesar das potencialidades paisagísticas criadas pelo encontro do Rio do Peixe com o Ribeirão dos Machados, seu principal afluente na área urbana do Município, e de historicamente estar relacionada à segunda fundação da cidade, representada pela ponte no eixo da Av. Dr. Rebouças que ligou o primeiro assentamento à Estação Ferroviária, a área 4 se configura como uma urbanidade não consolidada no território da cidade. É possível identificar que a estruturação das quadras adjacentes à Av. Dr. Rebouças, com suas edificações predominantemente formadas por galpões, guarda relação com os antigos armazéns e pequenas fábricas historicamente relacionados à ferrovia. No entanto, considera-se que as atividades desenvolvidas no local não qualificam este espaço cuja relevância se compara à Praça da Matriz, espaço público mais importante da cidade. Pelo contrário, as edificações existentes, como a loja de materiais de construção, o comércio de automóveis e os supermercados, atraem um fluxo pesado de caminhões que não é condizente com a capacidade das vias e pontes existentes, sobrecarregando o trânsito na região, além de não oferecer condições atrativas para o percurso dos pedestres e criar risco à circulação de ciclistas. Nota-se também a potencial conexão dos equipamentos existentes na área 4, como o Cine Cavalieri Orlandi, o Paço Municipal (futura Biblioteca), o Ginásio de Esportes Municipal e o futuro Museu do Trem (atualmente sendo implantado no edifício da antiga estação ferroviária) a partir do redesenho da orla fluvial. Dada a importância deste local no tecido da cidade, identifica-se a possibilidade de se atuar na área para a criação de um espaço representativo da imagem pública de Socorro, tanto para seus habitantes como também um espaço estratégico para a consolidação do turismo urbano no Município. Esta área foi escolhida para o desenvolvimento do projeto de intervenção a seguir.
A configuração atual do eixo da Av. Dr. REbouças - A Ponte Histórica de Concreto Armado.
A potencialidade paisagística da área - Vista para o Morro do Cristo.
Os usos incompatíveis com a importância estratégica da área - O tráfego de caminhões trazido pela loja de materiais de construção.
O supermercado adjacente à Estação. Na foto vê-se também que, sem espaço específico para a circulação do ciclista, este corre riscos no trânsito intenso da avenida
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O PROJETO A Reapropriação das águas – o projeto pensado na interface do uso do solo com os recursos hídricos: Em janeiro de 2011, uma tromba d’água na cabeceira do Ribeirão dos Machados causou uma inundação que há muito tempo não ocorria na cidade. O ribeirão, que normalmente não ultrapassa 1 metro de profundidade, transbordou para o seu leito maior, evidenciando a ocupação desregulada de suas várzeas. O grande volume de água, por conta da retificação do leito do ribeirão, ganhou ainda mais velocidade ao se aproximar de sua foz no Rio do Peixe, destruindo um dos poucos passeios existentes na orla do rio na Avenida Irmãos Picarelli, o que também apontou para a necessidade de se repensar a relação da cidade com seus corpos d’água. Condizente com um planejamento a longo prazo em relação aos recursos hídricos na cidade, o projeto considerou duas cotas de referência em relação ao regime hidrológico dos corpos d’água tratados. A primeira cota diz respeito à cheia do verão de 2010, obtida durante o percurso de barco em abril do mesmo ano, tomando como referência as marcas de umidade nos taludes bem como a posição de objetos como sacolas plásticas, que se acumularam nos galhos das árvores na margem do rio. Tomando como parâmetro o nível das pontes, a cota altimétrica pode ser obtida. Essa cota é relativa a períodos de retorno menores dos fenômenos hidrológicos e, portanto, não é uma cota segura para a implantação de equipamentos permanentes na orla do rio, servindo de referência apenas para a definição das áreas de cais e passeios beira- rio que poderiam ser tomadas ou não pelas águas nos períodos chuvosos. Tornou-se necessário, então, considerar a cota de uma inundação com período de retorno maior. A partir do plano diretor de 1959, foi possível obter a mancha da inundação de 1932 que, sobreposta à malha urbana atual, determinou a implantação dos programas arquitetônicos temporários e definitivos no projeto.
A configuração atual do Ribeirão do Machados - trechos de aterro junto ao leito encobrem os arcos da ponte.
O Ribeirão do Machados - trecho retificado.
A reapropriação das águas - o encontro das águas do Ribeirão dos Machados com o Rio do Peixe: grande lago formado após destruição das margens na inundação de janeiro de 2011.
Passeio contíguo à Av. Irmãos Picarelli destruído após a tromba d’água de janeiro de 2011. Ao fundo, a visão privilegiada para o Morro do Cristo.
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Também pensando a cidade a partir do Sistema de Drenagem Urbana, a liberação de áreas das várzeas na região central e a criação de amplas áreas permeáveis teriam uma grande relevância, pois contribuiriam com a diminuição da carga de poluição difusa na Bacia Hidrográfica, uma vez que esta é resultado do arraste e deposição de poluentes nos eventos de chuvas. Nesse sentido, propõe-se a reapropriação, pelas águas, das áreas de várzea. Essa reapropriação se daria pela transferência dos usos atualmente existentes na Avenida Dr. Rebouças, para a implantação de espaços de utilização pública. Grande parte das áreas a serem desocupadas não trariam ônus ao poder público em relação às desapropriações, pois consistem em ocupação da APP (área de proteção permanente). Com o objetivo de reafirmar o caráter simbólico do encontro das águas e de criar uma imagem representativa, o projeto sugere a reapropriação do espaço através da construção de 2 lagos. O lago principal, no encontro das águas do Rio do Peixe com o Ribeirão dos Machados, recuperaria a imagem do antigo leito do ribeirão, retificado na década de 1980 quando perdeu o meandro que percorria antes de desaguar no Rio do Peixe. Esse lago seria mantido a partir da criação de um vertedouro e de um canal de alimentação que, não estando no leito do Rio do Peixe, não criaria barreiras à piracema dos peixes. O segundo lago proposto seria formado a partir de uma barragem móvel sob a ponte da Rua João Leonardelli (linha ferroviária) e tem como objetivo corrigir a curva acentuada do rio, alagando as cotas mais baixas da margem que atualmente tem sido aterradas para a criação de solo urbano.
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Como consequência dessa reestruturação do rio, pretende-se oferecer à cidade a possibilidade de vincular à sua imagem pública o convívio com as águas urbanas. Cidades vizinhas, como Águas de Lindóia e Serra Negra, podem ser citadas como exemplos em relação ao uso de seus espaços públicos urbanos como atrativos turísticos. Conforme já mencionado, cidade de Socorro, apesar do potencial de seus recursos hídricos e de suas paisagens naturais rurais bastante conhecidas, ainda não firmou um atrativo turístico urbano. O projeto de ocupação da orla do Rio do Peixe e do Ribeirão dos Machados permitiria a constituição desse atrativo “urbanonatural” que, para além de um elemento turístico, encorajaria a população da cidade a repensar sua relação com as águas, superando o pensamento utilitarista sobre esse recurso e dando espaço à ideia de que os recursos hídricos também constituem, de fato, a paisagem urbana.
Praça Ademar de Barros, projeto de Burle Marx ,configura-se como espaço de referência tanto para os habitantes da cidade de Águas de Lindóia- SP, como para os visitantes que podem também se hospedar nos diversos hotéis existentes no em seu entorno.
A implantação geral do conjunto da Praça Adhemar de Barros.
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CROQUI DO CONJUNTO
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AS INTERVENÇÕES PROPOSTAS Recuperação passeio Av. Dr. Rebouças e Praça da Estação: 9692,72m² Proposta de passeio utilizado também para a feira dos produtores agrícolas do Município aos finais de semana. Desobstrução do eixo visual da Av. Dr. Rebouças para o Edifício da Antiga Estação Ferroviária com a retirada do canteiro central. A arborização deverá ser feita nas calçadas dos dois lados da avenida, onde terá utilidade de sombrear o percurso do pedestre. Proposta de Praça da Estação - Sua cota de implantação encontra-se exatamente acima da cota de inundação de 1932 e seu posicionamento libera a visão do conjunto a partir do mirante do Cristo, assim como permite a visão para este e para o novo lago criado no encontro das águas do ribeirão dos machados e do Rio do Peixe.
A feira livre, que ocorre às manhãs de domingo e que ocupa um papel cada vez menor na dinâmica da dinâmica da cidade, passaria a ter um papel central no projeto, incentivando a produção agrícola local.
Referência de ambientação urbana: Hafen City - Hamburgo - Alemanha
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Transferência da Feira Permanente de Malhas para a área de intervenção: Esta transferência para o centro da cidade poderia significar um grande impulso ao turismo na área urbana do Município, além de representar uma solução definitiva em relação ao espaço para esta atividade que atualmente encontra-se implantada irregularmente nas faixas de domínio da Rodovia Pompeu Conti. Propõe, neste trabalho, uma implantação básica deste programa na margem da Av. Dr. Rebouças, criando nesta avenida um passeio coberto ladeado por lojas em uma cota segura em relação às inundações. Baseando-se programa e na distribuição espacial da atual da feira, propõe também uma rua principal paralela à Av. Rebouças, cuja largura (9m) possibilitaria a execução dos serviços de carga e descargas em horários agendados. A fim de garantir a valorização das lojas que não se encontram voltadas para a Av. Rebouças e aproveitar o potencial paisagístico da orla do Ribeirão dos Machados, propõe-se a área de lazer da feira junto a um passeio nas margens do ribeirão. Um terraço acima deste jardim cumpriria a função de espaço gastronômico da feira e um restaurante maior junto a Ponte Histórica valorizaria a nova ambientação urbana desta infra-estrutura. A quantidade de lojas passa, nesta proposta, das 50 lojas atuais para 78 lojas. Criação de uma Estação de Bonde adjacente ao Museu do Trem: Esta estação se configuraria como principal ponto de conexão intermodal na cidade, conformado como uma cobertura sobre o passeio público, não havendo a necessidade de construção de uma plataforma. Junto a esta parada de bonde, propõe também um centro de informações turísticas. Neste centro, os visitantes recém-chegados da rodoviária a partir do bonde, poderiam agendar as atividades de aventura no Município, assim como a estadia em hotéis e pousadas.
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Proposta de Bicicletário Municipal: Um bicicletário reunindo as funções de local para aluguel de bicicletas de passeio, estacionamento diário avulso, estacionamento para clientes mensalistas e manutenção de bicicletas estaria de acordo com a difusão deste meio de locomoção na cidade. Sua implantação adjacente à Rua Mazolini e a ponte da Av. Irmãos Picarelli cumpriria a conexão com o bonde e com o trem, assim como poderia conectar as ciclovias no nível da rua e no nível do passeio beira-rio.
REFERÊNCIA: Union Station Bikestation - Washington DC- EUA IMAGEM :http://www.flickr.com/photos/ beyonddc/3974764249/in/set-72157622378197819
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Piscina Fluvial Pública: Considerando a garantia de qualidade das águas dada pelo seu posicionamento a montante da cidade e pelas atuais obras do sistema de coleta e tratamento de esgotos na cidade, propõe-se um local de banhos nas águas do rio, que atualmente são possíveis apenas na zona rural do Município. Este programa arquitetônico teria relação direta com as atividades esportivas do ginásio de esportes e ofereceria estruturas como duchas ao ar livre, espaços para banhos de sol e vestiários na cota do passeio beirario.
Referência: Piscina Pública de Leça da Palmeira (Arquiteto Álvaro Siza) - Portugal
Referência: Área de Banhos do Fórum em Barcelona - Espanha
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Criação de passeio sobre atual leito retificado do Ribeirão dos Machados: 8.251m² Proposta de criação de acessos à orla do Rio a partir de escadas e rampas nos dois lados da ponte histórica da Estrada de Ferro Mogiana. Terrapleno desenterrando os arcos de estruturação da ponte histórica e criação de passeio em cotas ascendentes a partir do novo leito do Ribeirão. A retificação do Ribeirão dos Machados acarretou a conformação de sua margem esquerda em um talude muito inclinado. Diante disto, propor um talude menos inclinado acarretaria um aterro exagerado, acrescentado ao aterro necessário no leito atual. Propõe-se, desta maneira, buscar um equilíbrio entre cortes e aterros na obra do lago e manter estes taludes que atingem maiores inclinações próximo ao Hotel Vergani. Uma arquibancada poderia ser construída, aproveitando como palco as áreas aterradas do leito do Ribeirão que naturalmente não seriam adequadas à vegetação de maior porte. Estas áreas também estariam aptas a receber em seu subsolo as tubulações dos interceptores de esgoto, que se encontram atualmente em construção na cidade. Recuperação do passeio beira-rio da Av. irmãos Picarelli: 6.126,7m² Criação de dois passeios, um na cota da Av. Irmãos Picarelli (cota do passeio existente) adjacente à ciclovia proposta e outro conformando um cais 50 cm acima da cota de cheia anual do Rio do Peixe com pontos de atracação de barcos e com escadas para acesso das pessoas ao nível d’água para embarque e desembarque nos barcos de passeio. Aponta-se para a necessidade de seleção adequada das espécies vegetais para plantio no cais, nos taludes e no passeio na cota da rua a fim de se garantir a estabilização nas margens.
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Proposta de conjunto voltado à memória local e convivência entre gerações diferentes: O Salão do Encontro. Baseando-se nas ideias existentes no Salão do Encontro- “Centro de Referência Edicacional e de Difusão da Arte Popular”, existente na cidade mineira de Betim- MG, que promove atividades de cultura, lazer e formação para diferentes gerações (WWW.salaodoencontro.org.br), propõe-se neste trabalho a criação de uma área voltada à memória e às tradições da população da cidade. O “Contar Histórias” seria a atividade básica deste centro cultural que poderia possuir atividades voltadas à manutenção da história oral e atividades relacionadas às mídias audiovisuais a serem utilizadas na documentação desta memória viva da cidade. A área de implantação deste programa seria um terreno de chácara existente na margem do Rio do Peixe no qual existe um casarão histórico em boas condições de manutenção. Esta área seria estratégica também do ponto de vista da ligação do Rio do Peixe com o importante eixo viário da Rua Dr. Campos Salles e permitiria a conexão com os edifícios do Cine Cavalieri Orlandi e do edifício histórico do Hotel Socorro através da Travessa Siqueira Campos.
CROQUI: Vista em direção à Rua Dr. Campos Salles a partir da Travessa Siqueira Campos - o novo Restaurante proposto. Ao fundo vê-se o Morro do Cristo.
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Duas novas travessias de pedestres e ciclistas: 376,4m² A fim de manter a continuidade dos passeios e o acesso entre margens distintas. Proposta de novos passeios beira-rio: 17.181,5m² (no interior do perímetro de intervenção). Criando margens em diferentes níveis e áreas para a cirulação de bicletas, além de espaços dotados de equipamentos como estacionamento de bicicletas, bancos, entre outros.
Referência: Canal de Marne au Rhin - Estrasburgo - FRA FONTE: Google Street View
Referência: Passeio ao longo de um canal - Delft- Países Baixos
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CROQUI: O passeio beira-rio proposto - Vista para a ponte da Rua Capitão Barduíno. As fachadas das edificações se voltam para o rio - Cota de usos temporários.
CROQUI: Vista para o passeio da Av. Irmãos Picarelli. Ao fundo vê-se as serras.
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LISTA DE ÁREAS DOS PROGRAMAS ARQUITETÔNICOS PROPOSTOS: FEIRA PERMANENTE DE MALHAS 78 lojas de 30,24m² (8.40m x 3.60m) = 2358,7m² Rua interna- passeio dos usuários e carga e descarga em horários programados: 9m x 123m = 1.107m² Ruas de circulação (largura = 4.2m): 90m² Hall de Entrada principal: 121m² Passeio coberto junto à Av. Dr. Rebouças: 3,60 x 115,2 = 413.26m² Restaurante: 280m² + áreas descobertas Boxes de alimentação (Cafés, lojas de doces, etc): 111m² Terraço alimentação: 422,5m² Lanchonete para Estação de Bonde: 60m² Área coberta usuários lanchonete: 175m² Sanitário para usuários (com áreas de bebedouro, telefones públicos, fraldário,: 121,5m² Vestiário/ Sanitário Funcionários: 50.4m² Administração: 90,7m² Programas complementares: Áreas de descanso (parada na maratona de compras) Caixa eletrônico Área wi-fi Guichês de informações Segurança Almoxarifado/ limpeza Áreas externas – Jardim Ribeirão dos Machados: 12220m² Estacionamento de bicicletas Parque com área para lazer das crianças, bancos, bebedouros, etc CENTRO DE INFORMAÇÕES TURÍSTICAS – 540m² (Área Construída) Recepção e Salão de fotografias: 100m² Agência de atividades turísticas (Agendamento de atividades e hotéis): 45m² Copa/ sanitários/vestiários para funcionários: 38,6m² Administração: 47,6m² Sala de Reunião/ apresentações para pequenos grupos: 54m² Salas de apoio:22m² Circulação: 47,5m²
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ESTAÇÃO DE BONDE –577m² (Área Construída) Área de espera com bancos: 145m² Passeio coberto junto à Av. Dr. Rebouças: 6m x 50m = 300m² Bilheteria/ Administração :79m² Sanitários: 53m² BICICLETÁRIO: 528m² (Área Construída) Àrea externa: Estacionamento externo de bicicletas para 10 bicicletas + cobertura: 105m² Hall de acesso/ recepção/ espera entrada Rua Mazolini: 43,50m² Hall de acesso/ recepção entrada passeio beira-rio: 22,66m² Escritório Administração (com copa para funcionários): 25m² Vestiários: 48,52m² Área de estacionamento para 60 bicicletas: 133,3m² Vagas distribuídas para os diferentes usos: Estacionamento diário/ Estacionamento clientes mensalistas / Estacionamento bicicletas para aluguel Rampas de circulação vertical: 75m² Áreas de circulação e elevadores: 25m² Pátio de manutenção de bicicletas com vestiário funcionários: 50m² PISCINA FLUVIAL PÚBLICA Área de banho: 1.040m² (13m x 80m) – separada do leito do rio por um muro que conforma uma passarela para os banhistas. Passarela: 216m² (3m x 72m) Área para banhos de Sol (com duchas ao ar livre e bancos): 1523m² Vestiários:132,3m² Áreas de apoio salva-vidas e enfermaria: 79m² Administração: 44,5m² Salas de apoio manutenção: 50m² Vestiário para portadores de necessidades especiais: 40m²
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SEDE PROJETO PIRACEMA: 316m² Escritório Administrativo com sala de trabalho, sala de arquivo, sanitário/vestiário e copa: 70m² Pátio para a guarda de barcos e equipamentos: 246m² SALÃO DO ENCONTRO Edifícios mídias audiovisuais: NÍVEL DA RUA –585m² Hall de entrada/ recepção / acesso circualação vertical- 105m² Mezanino (circulação + uso) – 93m² Circulação, escadas e elevador – 62m² Laboratórios de som e imagem/ Salas de aula/ Arquivo – 225m² (80+95+50) (com circulações internas) Administração – 50m² Sanitários- 30m² Área de apoio- 20m² PISO INFERIOR – 720m² Salão de pequenas apresentações/ exposições com acervo de mídia com acesso irrestrito – 450m² Almoxarifado– 15m² Café- 100m² Sanitários – 40m² Hall de acesso, circulação, elevador e escadas – 115m² Casarão da história oral - ~250m² (com áreas de porão) Recepção- aproveitando salão de entrada Pequena secretaria administrativa- aproveitando possível saleta próxima à sala principal Sala contadores de histórias/Oficinas artesãos – fazendo uso dos quartos da antiga residência Sanitários/ Copa –adaptação das estruturas existentes de cozinha e banheiro, com possível necessidade de construção externa de sanitários também par ao público das áreas externas. Áreas externas: Terreiro + pequeno palco- atividades ao ar livre como apresentações teatrais, saraus, projeção de filmes (estrutura desmontável) Rua do Rio – 6m x 56m Pomar-aproveitando área com árvores frutíferas existentes- necessidade de construção de piso permeável para circulação, bancos, estacionamento de bicicletas, sanitário público, bebedouros, etc.
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CORTES GERAIS
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