Capítulo
1
– Eu realmente não estou gostando destas coisas de couro. Vishous desviou o olhar dos computadores. Butch O’Neal estava na sala de estar do Buraco com uma peça de couro nas coxas e no traseiro. – Não servem em você? – V. perguntou ao colega de quarto. – Não é isso. Sem querer ofender, mas estou parecendo um daqueles esquisitos do Village People. Butch levantou os braços grandes e girou, com o peito nu refletindo a luz. – Sabe... olha só. – Servem pra luta, não precisam estar na moda. – Os kilts também, mas você não me vê por aí usando aquilo. – E ainda bem, né? Você tem as pernas tortas demais para usar saia. Butch mostrou-se entediado. – Pega aqui ó. Bem que eu gostaria, V. pensou. Fazendo uma careta, ele apanhou seu saco de tabaco turco. Enquanto pegava um papel para enrolar o fumo, organizava o tabaco e produzia uma cigarrilha, fez o que passava muito tempo fazendo: lembrou-se de que Butch estava num bom relacionamento com o amor de sua vida e que, mesmo que não estivesse, o cara não jogava naquele time.
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Quando V. acendeu a cigarrilha, tentou não olhar para o tira, mas não conseguiu. Maldita visão periférica. Não tinha como escapar. Cara, ele era um maluco pervertido. Principalmente levando em conta a situação em que estavam. Nos últimos nove meses, ele havia se aproximado mais de Butch do que de qualquer outra pessoa que conhecera naqueles trezentos anos de vida. Morava com o cara, embebedava-se e malhava com ele. Havia passado pela morte, pela vida, por sorte e azar com ele. Mudara as leis da natureza para fazer o cara deixar de ser humano e se transformar em vampiro, e depois o curou quando ele se meteu com os inimigos da raça. Também havia proposto a ele que se tornasse membro da Irmandade... e o apoiou quando ele se envolveu com sua shellan. Enquanto Butch caminhava, tentando se acostumar com as peças de couro, V. viu as sete letras que estavam tatuadas em suas costas em estilo anglo-saxônico: Marissa. V. havia feito os dois As, que ficaram muito bem, apesar de ele estar, naquele momento, tremendo feito louco. – É – Butch disse. – Não sei se vou conseguir usar isto. Depois da cerimônia de união, V. deixou o Buraco naquele dia para que o casal feliz pudesse ter um pouco de privacidade. Atravessou o quintal e se trancou em um quarto de hóspedes da casa principal com três garrafas de vodca Grey Goose. Ficou bastante alterado, bem fora da realidade, mas não conseguiu atingir seu objetivo de embebedar-se até desmaiar. A verdade o havia deixado consciente, infelizmente: V. estava ligado a seu amigo de um modo que complicava as coisas e que, apesar disso, não mudava coisa alguma. Butch sabia o que estava acontecendo. Afinal, eles eram melhores amigos, e o cara o conhecia melhor do que ninguém. E Marissa sabia disso porque não era boba. E a Irmandade também sabia, porque aqueles centenários bocós não deixavam seus membros guardarem segredos. Todos aceitavam bem a situação. Mas não ele. Não conseguia tolerar as emoções. Nem a si mesmo.
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– Você vai experimentar o resto? – Perguntou com um suspiro. – Ou vai reclamar mais um pouco da calça? – Não me enche a paciência. – Mas é meu passatempo favorito. – Pode parar – Butch caminhou até um dos sofás e pegou uma das peças peitorais. Ao acertar as alças nos ombros largos, o couro se ajustou perfeitamente a seu corpo. – Caramba, como você fez para que isso servisse tão bem? – Eu tirei suas medidas, está lembrado? Butch afivelou os cintos, inclinou-se e deslizou o dedo pela tampa de uma caixa preta. Prolongou o toque sobre o brasão dourado da Irmandade da Adaga Negra, passando os dedos sobre os caracteres no Antigo Idioma que formavam a frase Dhestroyer, descendente de Wrath, filho de Wrath. O novo nome de Butch. A antiga e nobre linhagem de Butch. – Oh, por favor, abra isso – V. livrou-se da cigarrilha, preparou outro fumo e o acendeu novamente. Era bom saber que vampiros não desenvolviam câncer. Ultimamente ele vinha fumando como uma chaminé. – Vá em frente. – Ainda não consigo acreditar. – Abra essa droga. – Não consigo mesmo... – Abre. Logo – a essa altura, estava quase pulando da cadeira, de tão ansioso. O tira acionou o mecanismo de tranca dourado e levantou a tampa. Sobre a almofada de cetim vermelho havia quatro adagas de lâminas negras, letais. – Meu Deus do céu... são lindas. – Obrigado – V. disse com um suspiro. – Sei cozinhar também. Os olhos castanhos do tira atravessaram a sala. – Você fez isto para mim? – Foi, mas não é nada demais. Eu faço para todos nós – V. ergueu a mão direita, coberta por uma luva. – Sou bom na forja, você sabe. – V... obrigado. – Tudo bem. Como eu disse, sou o cara das lâminas. Faço isso o tempo todo.
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É... só que talvez não com tanto afinco. Por Butch, ele havia passado os últimos quatro dias preparando aquilo. As maratonas de dezesseis horas diárias com o aço fizeram suas costas doerem e os olhos arderem, mas estava determinado a terminar cada uma das peças, deixando-as à altura do homem que as usaria. Mas ainda não estavam boas o suficiente. O tira pegou uma das adagas e, enquanto as analisava, desviou o olhar. – Jesus, veja isto – ele começou a manusear a arma de um lado a outro diante do peito. – Nunca tinha segurado nada tão leve. E o cabo. Deus... perfeito. Aquele elogio deixou V. mais honrado do que qualquer outro. E isso o fez se irritar muito. – É, bom, precisam ser assim, não é? – Ele apagou a cigarrilha em um cinzeiro, amassando a ponta brilhante. – Não faz sentido você sair por aí com um conjunto de facas Ginsu. – Obrigado. – Não por isso. – V., é sério... – Vá se danar – ao perceber que não haveria reação, ele olhou para a frente. Droga. Butch estava em pé bem na frente dele, com os olhos castanhos intensos, mostrando que sabia de algo que V. gostaria que ele não soubesse. V. olhou para seu isqueiro. – Deixa quieto, tira, são só facas. A ponta preta da adaga subiu sob o queixo de V. e ele ergueu a cabeça. Ao ser forçado a olhar para Butch, V. ficou tenso. E tremeu. Com a arma unindo os dois, Butch disse: – São lindas. V. fechou os olhos, repreendendo-se. Depois, inclinou-se sobre a lâmina, de modo a atingir seu pescoço. Controlando-se na reação pela dor, ele a manteve ali, usando aquilo para se lembrar de que era uma maldita aberração, e que aberrações merecem se ferir.
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– Vishous, olhe para mim. – Me deixe em paz. – Vem me fazer lhe deixar em paz. Por um momento, V. quase partiu para cima do cara, preparado para acertar-lhe um murro bem na cara. Mas, então, Butch disse: – Só estou agradecendo a você por ter feito algo legal. Nada de mais. Nada de mais? V. abriu os olhos e sentiu que eles brilhavam. – Isso é bobagem. Por motivos que você bem conhece. Butch retirou a lâmina e, ao afastar o braço, V. sentiu o sangue escorrer pelo pescoço. Era quente... e suave como um beijo. – Não diga que sente muito – V. sussurrou baixinho. – Posso me tornar violento. – Mas eu sinto. – Não há motivos para isso – cara, ele não conseguiria mais viver com Butch. Com Butch e Marissa. Lembrar-se o tempo todo do que não podia ter e do que não devia querer o deixava arrasado. E só Deus sabia como ele já estava mal. Quando tinha sido a última vez em que dormira o dia todo? Há semanas e semanas.. Butch colocou a adaga com a lâmina para baixo na bainha que estava em seu peito. – Não quero que você sofra... – Chega desse assunto – levando o dedo indicador até a garganta, V. limpou o sangue escorrido que a adaga produzira. Enquanto lambia o sangue, a porta secreta para o túnel abriu-se e o aroma do oceano invadiu o Buraco. Marissa entrou, elegante como sempre. Com os cabelos louros e compridos e o rosto perfeitamente desenhado, ela era conhecida como a bela da espécie, e até V., que não se sentia atraído, demonstrava sua admiração. – Olá, meninos... – Marissa parou e olhou para Butch. – Caramba... meu Deus... olhe só essa calça. Butch fez uma careta. – Pois é, eu sei. É... – Pode vir aqui? – Ela começou a descer o corredor que levava ao quarto deles. – Preciso de você aqui um minuto. Ou dez.
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O odor de acasalamento de Butch foi sentido, e V. sabia muito bem que o corpo do cara estava se enrijecendo para o sexo. – Linda, pode ficar comigo pelo tempo que quiser. Enquanto o tira saía da sala de estar, olhou para trás. – Adorei essa calça de couro. Pode dizer ao Fritz que quero cinquenta delas. Sozinho, Vishous inclinou-se sobre o rádio e o ajustou à faixa Music is My Savior, do MIMS. Enquanto o rap tocava, pensou sobre como já usara aquele mesmo artifício para afastar os pensamentos das pessoas. Agora que suas visões haviam desaparecido e que toda aquela história de ler mentes havia acabado? Usou as batidas para não escutar seu colega de quarto fazendo amor. V. esfregou o rosto. Precisava mesmo sair dali. Durante um tempo, tentou fazer o casal sair, mas Marissa insistia em dizer que o Buraco era “confortável” e que gostava de viver ali. Mas só podia ser mentira. Metade da sala de estar era ocupada pela mesa de pebolim. A televisão ficava ligada na ESPN, sem som, o dia inteiro, e o rap pesado não parava de tocar. A geladeira era uma zona de guerra, com restos de comida em decomposição, de Taco Bell a Arby’s. Vodca e uísque eram as únicas bebidas na casa. Para ler, só Sports Illustrated e... Bem, edições antigas da Sports Illustrated. Pois é, não havia muito o que fazer. O local era meio sala de reunião, meio vestiário. Com decoração de Derek Jeter.* E quanto a Butch? Quando V. sugeriu a mudança, o tira lançou um olhar para o sofá, balançou a cabeça uma vez e foi para a cozinha para pegar mais Lagavulin. V. se recusava a pensar que eles tinham permanecido porque se preocupavam com ele ou qualquer coisa assim. Só imaginar aquilo o deixava maluco.
* Jogador estadunidense de beisebol, atualmente capitão do New York Yankees.
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Pôs-se de pé. Se uma separação precisava ocorrer, ele daria o primeiro passo. O problema era que não ter Butch por perto o tempo todo era... Inimaginável. Melhor a tortura que sofria agora a um exílio. Conferiu o relógio e pensou que deveria entrar no túnel e se dirigir para a casa principal. Apesar de o restante da Irmandade da Adaga Negra viver naquela mansão enorme ao lado, havia muitos quartos extras. Talvez ele devesse simplesmente checar um deles. E ficar ali alguns dias. Aquela ideia o deixou enjoado. Ao sair, sentiu o odor que exalava do quarto de Butch e Marissa. Pensando no que estava acontecendo ali dentro, sentiu o sangue ferver e ficou vermelho de vergonha. Praguejando, aproximou-se de sua jaqueta de couro e pegou o celular. Enquanto discava, sentiu o peito quente, mas pelo menos estava fazendo algo contra aquela obsessão que sentia. Quando uma mulher respondeu, V. disse: – Ao pôr do sol. Esta noite. Você sabe o que deve vestir e precisa estar com os cabelos presos. O que me diz? A resposta foi um ronronado submisso: – Sim, meu dhono. V. desligou e jogou o telefone em cima da mesa, observando-o bater em um de seus quatro teclados. A submissa que ele havia escolhido para aquela noite gostava de coisas mais pesadas. E ele daria o que ela queria. Caramba, era mesmo um pervertido. Totalmente. Um tarado sem jeito... que era conhecido na raça pelo que era. Cara, era um absurdo, no entanto, os gostos e vontades das mulheres sempre foram bizarros. E a reputação dele não era mais importante para ele do que para as submissas. Só importava o fato de ele ter voluntárias para o que precisava sexualmente. O que era dito sobre ele, o que as fêmeas precisavam acreditar a respeito dele, era bobagem. Ao descer para o túnel, na direção da mansão, ficou irritado. Graças ao esquema de rotação idiota que a Irmandade havia adotado, ele não podia ir a campo naquela noite, e odiava isso. Preferia estar caçando e matando os mortos-vivos assassinos que perseguiam a raça a ficar à toa. Mas havia maneiras de mudar as coisas. Era para isso que restrições e pessoas dispostas existiam.
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Phury entrou na cozinha ampla da mansão e parou de repente, como se deparasse com uma cena grotesca. Seus pés paralisaram, a respiração parou e o coração disparou. Foi pego antes que pudesse dar meia-volta. Bella, a shellan de seu irmão gêmeo, olhou para frente e, sorrindo, disse: – Oi. – Olá – vá embora. Agora. Deus, ela tinha um cheiro bom. Ela balançou a faca que estava em sua mão acima do peru assado no qual trabalhava. – Quer que eu faça um sanduíche também? – O quê? – Ele respondeu como se fosse um tolo. – Um sanduíche – ela direcionou a lâmina para o pão e para o frasco quase vazio de maionese e também para a alface e os tomates. – Você deve estar com fome. Não comeu muito na última refeição. – É... não, não estou com fome... – seu estômago o desmentiu, roncando como se houvesse uma fera ali dentro. Desgraçado. Bella balançou a cabeça e voltou sua atenção para o peito de peru. – Pegue um prato e sente-se. Certo, aquilo era a última coisa de que ele precisava. Seria melhor ser enterrado vivo que se sentar sozinho na cozinha com Bella enquanto ela lhe preparava os alimentos com suas belas mãos. – Phury... – ela disse sem olhar para cima. – Prato. Cadeira. Agora. Ele obedeceu porque, apesar de ser descendente de uma linhagem de guerreiros, um membro da Irmandade e de ter cem quilos a mais do que ela, era fraco quando tinha de enfrentá-la. A shellan de seu irmão. A shellan grávida de seu irmão... não era alguém a quem Phury pudesse desobedecer. Depois de colocar um prato ao lado do dela, ele se sentou do outro lado da bancada de granito e disse a si mesmo que não devia olhar para as mãos dela. Ficaria bem desde que não olhasse para os dedos compridos e elegantes que ela tinha, com unhas curtas e a forma como... Droga.
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– Eu juro – ela disse enquanto fatiava mais carne. – Zsadist quer que eu fique grande como um balão. Se ele passar mais treze meses me dizendo para comer, não vou mais caber na piscina. Mal consigo colocar minha calça. – Você está muito bem – caramba, ela era perfeita, com o cabelo escuro e comprido, os olhos azuis e o corpo esguio e alto. O bebê que ela carregava não ficava evidente por baixo da camiseta larga, mas a gravidez estava óbvia em sua pele brilhante e na maneira com que ela sempre levava a mão ao baixo ventre. Sua gravidez também se evidenciava pela ansiedade nos olhos de Z. sempre que ele estava perto dela. Como a gravidez das vampiras traziam alto risco de morte para o bebê ou para a mãe, estar grávida podia tanto ser uma bênção como uma maldição para o hellren que se relacionava com sua companheira. – Você está bem? – Phury perguntou. Afinal, Z. não era o único a se preocupar com ela. – Sim, muito bem. Fico cansada, mas não é tão ruim – ela lambeu as pontas dos dedos e então pegou o frasco de maionese. A faca fez um barulho enquanto ela raspava o interior do frasco, como se uma moeda estivesse sendo chacoalhada ali dentro. – Z. está me deixando maluca. Ele tem se recusado a se alimentar. Phury se lembrou do gosto do sangue dela e olhou em outra direção quando suas presas se alongaram. O sentimento dele por ela não era nobre, nem um pouco, e como um macho que sempre se orgulhou de sua natureza honrável, não conseguia equilibrar as emoções e seus princípios. E o que ele sentia não era recíproco. Ela o havia alimentado uma única vez porque ele necessitara desesperadamente e porque ela era uma fêmea de valor. Não porque ela desejava alimentá-lo ou porque o desejava. Não, tudo aquilo era de seu irmão. Desde a noite em que ela conhecera Z., ele a havia cativado, e o destino fez que ela fosse a única a salvá-lo do inferno no qual ele havia sido trancado. Phury podia ter salvado o corpo de Z. daquele século de escravidão de sangue, mas Bella havia ressuscitado seu espírito. E aquele era, logicamente, apenas mais um motivo para amá-la.
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Droga, desejou ter um pouco de fumaça vermelha em seu corpo. Deixara suas coisas no andar de cima. – Como você está? – Ela perguntou ao entregar-lhe fatias finas de peito de peru, entremeadas com folhas de alface. – Aquela nova prótese ainda está incomodando? – Está um pouco melhor, obrigado – a tecnologia naquela época era anos-luz mais avançada do que havia sido um século antes, mas pensando em todas as lutas pelas quais já passara, a parte inferior perdida de sua perna era uma questão constante de gerenciamento. Perna perdida... sim, ele a havia perdido, isso mesmo. Precisou abrir mão dela para tirar Z. daquela maldita Ama. O sacrifício tinha valido a pena. Assim como o sacrifício de sua felicidade valia por Z. estar com a fêmea que os dois amavam. Bella cobriu os sanduíches com pão e escorregou o prato pelo granito. – Aqui está. – É bem do que preciso – ele se deliciou naquele momento, afundando os dentes da frente no sanduíche, com o pão macio cedendo como se fosse carne. Enquanto se alimentava, sentiu uma leve mistura de tristeza e alegria por ela ter preparado aquele alimento para seu estômago, por ter feito aquilo com amor. – Ótimo. Fico feliz – ela deu uma mordida em seu próprio sanduíche. – Então... quero perguntar algo a você desde ontem. – É mesmo? O que é? – Tenho trabalhado no Abrigo com Marissa, como você sabe. É uma ótima organização, repleta de pessoas maravilhosas... – ele fez uma longa pausa, como se estivesse se preparando. – Então, uma nova assistente social chegou para aconselhar as fêmeas e seus bebês – ela pigarreou. Limpou a boca com um guardanapo de papel. – Ela é ótima. Atenciosa, engraçada. Eu estava pensando que talvez... Oh, Deus. – Obrigado, mas não... – Ela é muito gentil. – Não, obrigado – arrepiado, ele começou a comer com pressa. – Phury... eu sei que não é da minha conta, mas por que você decidiu se tornar celibatário?
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Droga. Vamos logo com esse sanduíche. – Podemos mudar de assunto? – É por causa de Z., certo? Por isso nunca esteve com uma fêmea. É seu sacrifício a ele e ao passado dele. – Bella... por favor... – Você tem mais de duzentos anos, já está na hora de começar a pensar em você. Z. nunca será totalmente normal, e ninguém sabe disso melhor do que nós dois. Mas ele está mais estável agora. E vai melhorar cada vez mais. Verdade, desde que Bella não morresse em decorrência da gravidez. Ela precisava passar bem pelo parto, e por enquanto seu irmão gêmeo não estava livre. E, consequentemente, Phury também não estava. – Por favor, permita que eu apresente você... – Não – Phury ficou em pé e ruminava como uma vaca. As boas maneiras à mesa eram muito importantes, mas aquela conversa precisava terminar antes que a cabeça dele estourasse. – Phury... – Não quero uma fêmea em minha vida. – Você seria um ótimo hellren. Phury... Ele limpou a boca com um pano de prato e disse no Antigo Idioma: – Obrigado por esta refeição feita por mãos boas. Tenha uma noite abençoada, Bella, amada parceira de meu irmão gêmeo, Zsadist. Sentindo-se mal por não ter ajudado a limpar a mesa, mas acreditando ser melhor sair do que ter um aneurisma, ele atravessou a porta para a sala de estar. Ao passar por mais da metade da longa mesa, ficou sem energia, puxou uma cadeira vazia e se sentou. Cara, seu coração saltava. Ao olhar para frente, viu Vishous em pé do outro lado da mesa, olhando para ele. – Meu Deus! – Está um pouco tenso, meu Irmão – com um metro e oitenta de altura e descendente do grande guerreiro conhecido apenas como Bloodletter, V. era um macho maciço. Com as íris brancas cor de gelo de contornos azuis, o cabelo negro azeviche e rosto bem desenhado, ele podia ser considerado
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belo. Mas o cavanhaque e as tatuagens em suas têmporas faziam ele parecer malvado. – Não estou tenso. Nem um pouco – Phury passou as mãos na mesa lustrosa, pensando na fumaça que ia acender assim que entrasse em seu quarto. – Na verdade, ia procurar você. – É mesmo? – Wrath não gostou do clima na reunião de hoje de manhã – dizer aquilo era pouco. V. e o rei acabaram discutido em algumas questões e não era só esse o ponto. – Ele nos tirou de campo hoje. Disse que precisamos de um tempo. V. arqueou as sobrancelhas, ficando com a expressão mais inteligente do que uma série de Einsteins. O ar de gênio não estava apenas na aparência. Ele falava dezesseis idiomas, criava jogos de computador e conseguia recitar os vinte volumes das Crônicas. O Irmão deixava Stephen Hawking no chinelo – Todos nós? – V. perguntou. – Sim. Eu estava indo para o ZeroSum. Quer ir comigo? – Tenho um compromisso particular. Ah, sim. A vida sexual nada convencional de V. Cara, ele e Vishous eram muito diferentes no que dizia respeito a sexo: ele não conhecia nada, mas Vishous havia explorado tudo e, na maioria dos casos, de modo extremo... o caminho não trilhado e a rodovia. E essa não era a única diferença entre eles. Pensando bem, os dois não tinham coisa alguma em comum. – Phury? Ele meneou a cabeça, prestando atenção. – Desculpe... o que foi? – Eu disse que sonhei com você certa vez. Muitos anos atrás. Oh, Deus. Por que ele não tinha ido diretamente para seu quarto? Podia estar fumando agora. – Como assim? V. alisou o cavanhaque. – Vi você em pé em uma estrada em um campo nevado. Era um dia de tempestade... sim, muitos raios e trovões. Mas quando você pegou uma nuvem do céu e a envolveu bem num poço, a chuva parou de cair.
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– Que poético – e que alívio. A maior parte das visões de V. era muito assustadora. – Mas não faz sentido. – Tudo o que vejo tem sentido e você sabe. – É bem alegórico, então. Como se envolve um poço? – Phury franziu a testa. – E por que me contou isso agora? V. baixou as sobrancelhas escuras sobre os olhos que pareciam espelhos. – Deus... eu... não sei. Só precisava dizer isso – com um terrível palavrão, ele foi para a cozinha. – Bella ainda está lá? – Como você sabia que ela estava... – Você sempre fica arrasado quando a vê.
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