28 | ECONOMIA
SEGUNDA, 11 DE JANEIRO DE 2016
AGRONEGÓCIO É O FUTURO
As cápsulas podem ajudar o produtor a sair dessa dominância das commodities, modelo que não cobre mais o custo de produção
Mercado de café em cápsulas cresce forte no Brasil. Expectativa é de uma expansão ainda maior nos próximos dez anos
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JULIO ROCHA PRESIDENTE DA FAES
Cafés especiais para diminuir a dependência das commodities Com mais valor agregado, produtores ficam menos expostos às variações do mercado PATRIK CAMPOREZ
pmacao@redegazeta.com.br
O aumento da demanda mundial por cafés especiais e de alta qualidade pode ser uma excelente oportunidade para os produtores capixabas agregarem valor aos grãos e tornar a cafeicultura capixaba menos dependentes do mercado internacional de commodities. É no que acredita o presidente da Federação da Agricultura do Espírito Santo (Faes), Júlio da Silva Rocha. A procura por cafés de alta qualidade é motivada, sobretudo, pela mudança brusca do perfil de consumo. A demanda por café em monodoses seja na forma de expressos, sachês ou cápsulas -, por exemplo, cresce acentuadamente. Hoje, o mercado das cápsulas responde por apenas 0,6% do café consumido no país, mas a expectativa é representar entre 20% e 30% em dez anos. Os números são de um estudo recente da Associação Brasileira da Indústria de Café, a Abic, que revelou também que as cápsulas ampliaram seu volume em 2014, sobre 2013, em
PLENA EXPANSÃO
0,6%
do mercado É o tamanho do mercado de cápsulas hoje em todo o Brasil.
30%
do mercado Até 2026, essa deve ser a fatia das cápsulas no mercado nacional. Os dados são da Abic.
52,4%. O aumento das cafeterias e das butiques de café são fatores que também têm acelerado o consumo dos grãos diferenciados, ajudando a manter o mercado de cápsulas no Brasil em forte crescimento. Em 2008, esse nicho era responsável pela movimentação anual de R$ 20 milhões, montante que encerrou 2013 em R$ 204 milhões. Nesse cenário, a pergunta que fica é: como o produtor pode aproveitar esse momento para dar maior rentabilidade à sua produção? No Estado, milhares de agricultores já comercializam com gigantes desse mercado, como a Nestlé. A multinacional inaugurou
em Montes Claros, Norte de Minas Gerais, a primeira unidade fabril fora da Europa com a tecnologia para a fabricação de cápsulas Nescafé Dolce Gusto. Com um investimento de R$ 220 milhões, a fábrica iniciou, há um mês, as operações com café de origem 100% brasileira. Boa parte das cápsulas é feita com café do Espírito Santo. Mas também já existe produção, de monodoses, exclusivamente capixaba. Várias empresas já estão de olho nesse mercado no Estado. É o caso do Meridiano, que lançou, no fim de 2014, sua linha Cápsulas. Um ano depois, em plena recessão, a empresa viu as vendas crescerem 100%. “Como trata-se de um novo perfil de consumo, nos surpreendemos com o tamanho da demanda”, afirmou Cleverson Hercílio Pancieri, diretor do Meridiano. A empresa familiar, que está sob o comando dos Pancieri há 40 anos e atua em outros três estados (MG, RJ e BA), foi a primeira a fabricar o produto no mercado capixaba. Para garantir a produção, o Meridiano investiu em um
novo torrador. A máquina, com tecnologia de ponta, é uma das poucas unidades no Brasil. As novas cápsulas passam por todos os procedimentos dos cafés especiais, com cafés provenientes das montanhas capixabas, afirma Pancieri. “Acompanhamos a tendência de mercado e decidimos apostar nas cápsulas, principalmente pelapraticidade.Jáplanejamos novas ações e investimentos para 2016”, adiantou. O Meridiano também
investiu em uma loja virtual para a venda dos produtos para todo o Brasil. CAUTELA Por outro lado, o presidente da Faes pondera que o aumento da demanda por cafés especiais deve ser visto com cautela. Segundo ele, há duas interpretações antagônicas com relação a essa “modernidade”. A primeira, que é positiva, é a possibilidade de agregar valor ao café. “Isso incentiva a produção mais sustentável, valorizando a segurança alimentar. As cápsulas também podem ajudar o produtor a sair dessa dominância das commodities, um modelo que não cobre mais o custo de produção”. Júlio ressalta, porém, que preocupa a tendência, por parte da indústria de processamento, de alegar que o Espírito Santo não contacomumavariedade suficientemente grande de grãos, com características diferenciadas em termos de paladar, acidez e cheiro. “Isso não é verdade. Fazem isso para provocar uma achatamento do mercado e pagar menos pelo produtor. Aliás, toda época de colheita arranjam um pretexto para tentar importar café”, alerta.
INVESTIMENTO
R$ 220 milhões
É o tamanho do investimento da Nestlé em uma fábrica de Minas.
Potencial para todos os tamanhos O potencial do mercado de cafés em cápsulas tem atraído investimentos não só de grandes companhias. Empresas de pequeno e médio porte passaram a enxergar no segmento uma forma de consolidar suas marcas e ganhar uma fatia do mercado. Atualmente existem mais de 60 empresas que investem nesse tipo de café, chamado de monodose. Há um ano, esse número não passava de oito, segundo a (Abic). Ainda segundo o estudo da Abic, enquanto as vendas dos cafés tradicionais em pó ampliaram 4,7% em 2013, os cafés em cápsulas ganharam 36,5% em vendas.
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