Quando um lugar se torna corpo?

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“As plantas nos fazem compreender assim que a imersão não é uma simples determinação espacial: estar imerso não se reduz a se encontrar dentro de alguma coisa que nos rodeia e que nos penetra. A imersão (...) é em primeiro lugar uma ação de compenetração recíproca entre sujeito e ambiente, corpo e espaço, vida e meio; uma impossibilidade de os distinguir física e espacialmente: para que haja imersão, sujeito e ambiente devem se interpenetrar ativamente, caso contrário, falaríamos simplesmente de justaposição ou de contiguidade entre dois corpos que se tocam em suas extremidades. O sujeito e o ambiente agem um sobre o outro e se definem a partir dessa ação recíproca.” (COCCIA, 2018)


Quando um lugar se torna corpo? Atelier de Tópicos Especiais em Desenho I Ensino Remoto de Emergência - Instituto de Artes - UFRGS estágio de docência entre 14 e 28 de outubro de 2021 Ao longo de cinco encontros, realizados virtualmente no contexto da proposta de estágio de docência Quando um lugar se torna corpo? junto aos participantes do Atelier de Tópicos Especiais em Desenho I, sob a orientação do Prof. Flávio Gonçalves, somos inspirados a transformar o espaço da nossa mesa de trabalho em suporte para a construção de um desenho. A ideia é experimentar uma relação tátil e sensorial, de proximidade, com esse lugar habitual de estudo e pesquisa, e incorporar ao desenho outros corpos conviventes, demarcando sua fisicalidade e suas sombras. Marcar, friccionar texturas, contornar objetos, sombras, projetar prolongamentos, sobreposições, deformações, fissuras, apagamentos, ausências, posicionar o corpo no espaço do desenho e desenhar com o corpo e com o lugar. A proposta de experimentação coletiva da noção corpolugar como possibilidade de instaurar um processo de trabalho na temporalidade dos encontros, além da contínua documentação do processo, compartilhamento de ideias e noções geradoras da pesquisa de doutorado campo-contra-campo da experiência estabelecendo relações com leituras de textos e germinações artísticas de referência, foi antecedida pela fabricação dos materiais de inscrição e animada pela participação do artista visual Ali Khodr sobre sua relação com a prática do desenho. Como um rastro desta experiência, organizamos a documentação na forma de uma publicação digital a partir da relação singular de cada um com sua mesa de trabalho, transformada em superfície e suporte para uma experimentação imersiva de desenho como contato, construído por apagamentos, marcas e presenças, pela passagem do tempo, objetos de convívio, interrupções, acidentes e formas de inscrição. Assim, delimita-se um campo corpóreo e mnemônico do desenho, um território horizontal de ação e atração, em processo de transformação, fenomênico e que se abre para um pensamento acerca da questão da experiência.

corpolugar, articulação que busca constituir temporalidades e materialidades da relação entre corpo e lugar, propondo uma aproximação ao conceito de autopoiesis (MATURANA e VARELA, 1995), apropriado pelo pensamento filosófico de Deleuze e Guattari (KASTRUP, 2008), e transformado no conceito de simpoiesis por Donna Haraway (HARAWAY, 2016).


Referências bibliográficas BENJAMIN, Walter. Experiência e pobreza. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras escolhidas. Vol.1. 3ª ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987. 114-119p. COCCIA, Emanuele. Ao ar livre: ontologia da atmosfera. In: A vida das plantas: uma metafísica da mistura. Florianópolis: Cultura e Barbárie,2018.39-56p. GONÇALVES, Flávio. Um percurso para o olhar: o desenho e a terra. Revista Porto Arte, Vol.13, Nº 23, Porto Alegre: Programa de PósGraduação em Artes Visuais, Instituto de Artes da UFRGS, 2005. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/PortoArte/article/view/27917 HARAWAY, Donna. Sympoiesis. In: Staying with the trouble: making kin in the Chthulucene. Londres: Duke University Press, 2016. 58-98p. INGOLD, Tim. Texturas de superfície: o solo e a página. In: Conexões: Deleuze e Cosmopolíticas e Ecologias Radicais e Nova Terra e… Campinas: ALB/ClimaCom, 2019. Disponível em: http://climacom. mudancasclimaticas.net.br/livros-principal/conexoes/ KASTRUP,Virgínia. Autopoiesis e subjetividade: sobre o uso da noção de autopoiese por G. Deleuze e F. Guattari. In: Políticas da cognição. Porto Alegre: Sulina, 2008. 46p. MARGULIS, Lynn; SAGAN, Dorion; GUERRERO, Ricardo; RICO. Propriocepção: quando o ambiente se torna o corpo. Cadernos Selvagem 7. Biosfera: Dante Editora, 2020. Disnponível em: http:// selvagemciclo.com.br/cadernos/ MATURANA, Humberto. VARELA, Francisco. A organização dos seres vivos. In: A árvore do conhecimento: as bases biológicas do entendimento humano. São Paulo: Editoral Py II, 1995. 70-84p. PELBART, Peter Pál. Por uma arte de instaurar modos de existência. In: O avesso do niilismo: cartografias do esgotamento. São Paulo: n-1 edições, 2013.



Experimento #1:

Fabricação giz pastel (Mattricaria) # Pigmentos minerais: coletar terra argilosa e argilas de diferentes tipos de solo; pó xadrez (https://pt.wikipedia.org/ wiki/Minerio_de_ferro)

base (pó de giz branco ralado, peneirado e talco) pigmento água sabão de coco ralado

pó xadrez

# Sabão de coco ralado fino # Água filtrada # Talco (https://pt.wikipedia. org/wiki/Talco) # Pó de giz - gesso/gipsita (https://pt.wikipedia.org/wiki/ Gesso) ou carbonato de cálcio # Peneira # Espátula ou cartão de banco # Base de vidro, azulejo, pia da cozinha Receita base: Misturar uma medida de talco com três medidas do giz branco triturado

fuligem do fogão a lenha

Modo de fazer: Numa base de vidro ou azulejo, misturar pigmento (peneirado) com um pouco de água e acrescentar base até formar um creme firme que não grude nas mãos. No processo, acrescentar um pouco de sabão de coco ralado fino. Secagem 48h Fonte: Tutorial Giz Pastel Colorido com Pigmentos Naturais Mattricaria - minutagem 23:07 até 31:00: https://youtu.be/ wLiNyDQssbo?t=1387

argila do solo da painera


Experi`mento #2: pó xadrez água pó de giz branco ralado

Recursos Materiais de inscrição: - habituais e usuais, como canetas, grafite, carvão... - artesanais como pastel seco/ oleoso (experimentação com pigmentos naturais e minerais, como terras, argilas, urucum, cúrcuma, páprica, cacau, café, erva mate, óxido de ferro); Borrachas; Aglutinantes: fitas adesivas, cola, pó de giz (gesso) ou carbonato de cálcio; Superfícies de inscrição:papéis disponíveis, embalagens, caixas de papelão, sacos de papel kraft...


Experimento #3: pó de giz branco ralado água pó xadrez


Experimento #4: pó de giz branco ralado e peneirado fuligem água

Oficina de Materiais e seus Processos Constitutivos Fórmula: - três partes de giz branco triturado e peneirado; - sete partes de pigmento preto em pó; - água. O fixador presente no giz branco ao se misturar com o pigmento garante consistência à mistura, tornando essa fórmula fácil e de preparo rápido. Procedimento: Misturar de forma homogênea o pó de giz e o pigmento preto. Adicionar a água em quantidade mínima e misturar até formar uma pasta firme e pouco úmida. Colocar sobre um papel mataborrão ou equivalente porção suficiente para uma unidade de cada vez; Enrolar em bastões de tamanho e espessura que melhor se adaptar ao uso Deixar secar na sombra por pelo menos 24hs sobre o papel mata-borrão ou papel jornal. Obs.: É importante que a quantidade de água adicionada à mistura seja a mínima possível, a fim de garantir que o bastão não fique quebradiço quando seco.





Adriana Carvalho






Adriana Carvalho, desenho, papel kraft A3, grafite, lápis de cor, colagem, giz pastel branco, out2021.




Alice Sperb









Amanda Soares






Estou aqui, Amanda Soares, desenho, cartolina, argila, carvão, 78x79cm, out2021.




Bruna Barros









Camila Leichter


04-18out2021



26out2021



14nov2021



16nov2021






Mesa de trabalho (det), Camila Leichter, desenho-caderno, giz pastel e grafite sobre papel offset, 4out-22nov2021.



Enzo Triska de Oliveira Koch









Gabriela Cruz






Gabriela Cruz, caderno de desenho, colagem, papel ofício, papel de embalagem, carvão, giz pastel, canetas esferográficas, lápis 6B, out2021.




Jaque Vaz











Jaque Vaz, desenho, carvão e cera de vela sobre papel sulfite, 120x60cm, out2021.



Leandro Marino Vieira Andrade

























Mariana Lemmertz














Objetos e tempo sobre a mesa, Mariana Lemmertz, desenho, carvão, grafite, tinta acrílica e nanquim sobre papel, 120x70cm, out2021.




Renan Leandro







Thainá Gabriela dos Santos





Valentina Bortolini Gomes









Victória Carvalho Dias














Quando o lugar se torna corpo? Atelier de Tópicos Especiais em Desenho l Prof. Flávio Gonçalves - Estágio de docência Camila Leichter UFRGS - Instituto de Artes Outubro/Novembro 2021


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