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O DEUS QUE SE REVELA AO HOMEM 1SM 3.1-4 "O jovem
Samuel
servia ao SENHOR,
perante Eli. Naqueles dias, a palavra do SENHOR era mui rara; as visões não eram frequentes. Certo dia, estando deitado no lugar costumado o sacerdote Eli, cujos olhos já começavam a escurecer-se, a ponto de não poder ver, e tendo-se deitado também Samuel, no templo do SENHOR, em que estava a arca, antes que a lâmpada de Deus se apagasse, o SENHOR chamou o menino: Samuel, Samuel! Este respondeu: Eis-me aqui! ".
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Edição - 2020
Transcrição, revisão e estilização: José Antônio Corrêa
Igreja Evangélica Batista de Viradouro Rua São João, 910 Bairro Centro 14740-000 Viradouro, SP Contato pelo Telefone: (0xx17) 3392 -1296
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Capa: José Antônio Corrêa
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO ......................................... 004
I.
A
ESCASSEZ
DE
QUALQUER
MANIFESTAÇÃO DIVINA ........................ 010 II. FALTA DE PERCEPÇÃO DA PRESENÇA DE DIVINA ............................................... 034 III. SUBMISSÃO À PALAVRA DE DEUS .. .................................................................. 059 IV. PORTA-VOZ DA MENSAGEM DIVINA .................................................................. 077
CONCLUSÃO .......................................... 125
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INTRODUÇÃO O presente texto da Palavra de Deus nos fala de um tempo de transição, chamado nas Escrituras de “Período dos Juízes”. Este período foi caracterizado por altos e baixos, na vida do povo de Deus.
Normalmente, nesse período da história bíblica, por um tempo o povo entrava em queda espiritual, e em consequência disso, a nação era subjugada por seus inimigos; Deus levantava um “juiz”, um “libertador” que por sua vez libertava a nação; novamente vinha a frouxidão espiritual, a apostasia e começava tudo de novo.
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Podemos dizer que foi um período cíclico que envolvia apostasia e derrota diante dos inimigos. O povo clamava, e Deus os libertava
dos
seus
inimigos;
consequentemente vinha um período de descanso e paz. Porém depois de um tempo de descanso paz, tudo se repetia novamente!
Um texto que caracteriza muito bem os acontecimentos deste período é o texto de Jz 2.16-19: “16 Suscitou o SENHOR juízes, que os livraram da mão dos que os pilharam. 17 Contudo, não obedeceram aos seus juízes; antes, se prostituíram após outros deuses e os adoraram. Depressa se desviaram do caminho por onde andaram seus pais na obediência dos mandamentos do SENHOR; e não fizeram como eles. 18 Quando o
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SENHOR lhes suscitava juízes, o SENHOR era com o juiz e os livrava da mão dos seus inimigos,
todos
os
dias
daquele
juiz;
porquanto o SENHOR se compadecia deles ante os seus gemidos, por causa dos que os apertavam e oprimiam. 19 Sucedia, porém, que, falecendo o juiz, reincidiam e se tornavam piores do que seus pais, seguindo após outros deuses, servindo-os e adorandoos eles; nada deixavam das suas obras, nem da obstinação dos seus caminhos”.
Neste clima de altos e baixos, de vitorias e derrotas, de escravidão e libertação, de aflição e paz, nasceu Samuel, que foi designado por Deus para ser ao mesmo tempo juiz, profeta e sacerdote. Com ele se encerrou o período chamado de “Governo
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Teocrático”, período em que Deus através de seus profetas, era o governante da nação.
Foi nesse tempo, que os filhos de Israel, descontentes com a situação que estavam atravessando, e em razão da perversão dos filhos de Samuel, o que desenhava um futuro incerto para a nação, pediram um rei, 1Sm 8.1-7, “1 Tendo Samuel envelhecido, constituiu seus filhos por juízes sobre Israel. 2 O primogênito chamava-se Joel, e o segundo, Abias; e foram juízes em Berseba. 3 Porém seus filhos não andaram pelos caminhos dele; antes, se inclinaram à avareza, e aceitaram subornos, e perverteram o direito. 4 Então,
os
anciãos
todos
de
Israel
se
congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, 5
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e lhe disseram: Vê, já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que nos governe, como o têm todas as nações. 6 Porém esta palavra não agradou a Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos governe. Então, Samuel orou ao SENHOR. 7 Disse o SENHOR a Samuel: Atende à voz do povo em tudo quanto te diz, pois não te rejeitou a ti, mas a mim, para eu não reinar sobre ele”.
Saul foi, então, escolhido, e ungido como primeiro rei de Israel!
O episódio de nossa palavra desta noite, nos mostra o início da vida profética de Samuel, bem como suas dificuldades em se relacionar
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com o Senhor, devido a sua pouca idade e experiĂŞncia de vida.
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I.A ESCASSEZ DE QUALQUER MANIFESTAÇÃO DIVINA Graças a Deus que vivemos um tempo em que podemos chegar à presença de Deus, derramar nossa alma perante ele, conversar, dialogar, a qualquer hora, e sem precisar de nenhum intermediário – “19 Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, 20 pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne”, Hb 10.19-20.
Porém,
pense
um
pouco!
Imagine
se
vivêssemos um tempo como os dias de Samuel, onde o Senhor não se manifestava costumeiramente, deixando seu povo viver
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uma vida estéril, sem a Palavra de Deus e sem qualquer ação do Espírito Santo?
Quero considerar inicialmente duas frases importantes que aparecem no texto: a) “... a Palavra do SENHOR era mui rara...”, numa outra versão temos: “era de grande valia”. Só sabemos o valor de algo precioso, quando não o temos ou o perdemos, ou ainda quando esse bem se torna muito raro para nós. Já vimos que este é um dos períodos do Velho Testamento em que Deus não levantou nenhum profeta para trazer ao seu povo exortações ou revelações através de sua Palavra.
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Embora vivamos num tempo onde a Palavra de Deus e as manifestações de seu Espírito Santo são abundantes, haverá de chegar um tempo em que, mesmo ficando a “Palavra Escrita” nas mãos dos homens, já não haverá mais a presença do Espírito de Deus.
-
Esse
fato
se
dará
por
ocasião
do
“Arrebatamento da Igreja”, descrito por Paulo aos Tessalonicenses, 1Ts 4.16-17, “16 Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; 17 depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o
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encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor”.
- Se hoje, como filhos de Deus somos depositários, templos do Espírito Santo, provando as manifestações de seu poder, certamente quando subirmos através do arrebatamento,
o
Espírito
Santo
subirá
conosco. Ele não mais estará na terra, uma vez que foi enviado por Jesus para estar “em nós”, somente enquanto estivermos nesse mundo como igreja de Cristo, Jo 14.17, “16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, 17 O Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o
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conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós”.
Veja que somente os verdadeiros filhos de Deus foram qualificados para receber o Espírito Santo, uma vez que o “mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece”. Em outras palavras os filhos das trevas, os ímpios, não podem ter a presença do Espírito em suas vidas, porque sem o novo nascimento, jamais terão a capacidade de “vê-lo”, prová-lo, ou ainda “conhecê-lo”. A expressão “habita em vós”, tem a ver com o Espírito Santo fixando residência em nosso corpo. O verbo “habitar” no texto vem da palavra grega “memo”, significando “morar”, “residir”, “permanecer”, “ficar”. Paulo fala aos
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coríntios que somos “santuários do Espírito Santo” – “Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos”, 1Co 6.19. A
palavra
“santuário”
que
aparece
no
presente texto era usada nas Escrituras, para ser referir ao tabernáculo no deserto, e ao templo de Jerusalém, e mais especificamente ao “santo dos santos” ou “lugar santo”, um compartimento interior, tanto no tabernáculo, como no tempo, onde se manifestava a presença de Deus.
Hoje Deus não se manifesta mais em templos feitos pelas mãos dos homens, mas sim, em cada um de seus filhos – “Nós o ouvimos
16
declarar:
Eu
destruirei
este
santuário
edificado por mãos humanas e, em três dias, construirei outro, não por mãos humanas”, Mc 14.58.
Embora essas palavras do texto de Marcos, fossem proferidas por testemunhas falsas contra Jesus, escolhidas pelo Sinédrio, tais palavras expressavam a verdade. O templo de Jerusalém seria destruído alguns anos depois, mas novo templo não seria de pedras, construído por homens, mas por Deus nos corações daqueles que obedecem a sua Palavra.
Paulo reconheceu e afirmou essa verdade quando discursou no Areópago diante dos atenienses – “24 O Deus que fez o mundo e
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tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. 25 Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais”, At 17.24-25.
O certo é que hoje somos depositários tanto do Espírito, como também da Palavra de Deus, que são interiorizados naqueles que servem a Cristo – “Filhinhos, eu vos escrevi, porque conheceis o Pai. Pais, eu vos escrevi, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o Maligno”, 1Jo 2.14. Embora esse texto fale da Palavra de Deus interiorizada nos jovens - “Jovens... a palavra
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de Deus permanece em vós”, sabemos que esse princípio se aplica a todos os filhos de Deus. b) “... as visões não eram frequentes...”. Temos aqui outra frase que expressa muito bem
o
que
acontecia
daquele
tempo.
Sabemos que uma das maneiras de Deus se comunicar com seu povo. é também através das visões – “E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões”, Jl 2.28.
O uso de visões foi o recurso usado por Deus em muitas ocasiões na história da revelação:
19
- Na vida de Abraão, Gn 15.1, “Depois destes acontecimentos, veio a palavra do SENHOR a Abrão, numa visão, e disse: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo grande”.
A palavra visão na língua hebraica é: “machazeh”, cujo significado é “estado de êxtase”, “Algo visto através de um sonho, ou em transe, e usado por Deus para comunicar uma
mensagem
ou
uma
revelação
ao
homem”. Ou seja, se trata de uma situação em que o homem entra numa dimensão espiritual de êxtase provocada por Deus, para lhe dar uma experiência extra-sensorial.
No caso de Abraão, a Palavra de Deus lhe foi dada
através
de
uma
visão,
ou
uma
20
experiência sobrenatural, e nessa visão Deus lhe comunicou, o ele seria para Abraão a partir de então – “eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo grande”. Duas coisas foram ditas a Abraão: Deus seria o seu protetor,
e
ao
mesmo
tempo,
Abraão
receberia grandes bênçãos da parte do Senhor. - Na revelação a Isaías, Is 2.1, “Palavra que, em visão, veio a Isaías, filho de Amoz, a respeito de Judá e Jerusalém”.
Aqui, o profeta Isaías recebe em visão, revelações acerca de acontecimentos futuros a respeito de Judá, e da cidade de Jerusalém. O teor da visão era que, embora a nação estivesse vivendo no pecado e apostasia, que
21
culminaria com o cativeiro babilônico, haveria de chegar um tempo de restauração, Is 2.2-5, “2 Nos últimos dias, acontecerá que o
monte
da
Casa
do
SENHOR
será
estabelecido no cimo dos montes e se elevará sobre os outeiros, e para ele afluirão todos os povos. 3 Irão muitas nações e dirão: Vinde, e subamos ao monte do SENHOR e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e a palavra do SENHOR, de Jerusalém. 4 Ele julgará entre os povos e corrigirá muitas nações; estas converterão as suas espadas em relhas de arados e suas lanças, em podadeiras; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão
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mais a guerra. 5 Vinde, ó casa de Jacó, e andemos na luz do SENHOR”.
Nesse tempo de restauração revelado a Isaías, muitos voltariam para adorar ao Senhor e receber seus ensinos preciosos – “subamos ao monte do SENHOR e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas”. Seria também um tempo de grande paz, onde as armas de guerra seriam transformadas em instrumentos agrícolas, e os conflitos bélicos cessariam – “converterão as suas espadas em relhas de arados e suas lanças, em podadeiras; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra”. Por isso o profeta conclama o
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povo para vir “à casa de Jacó, e andar na luz do SENHOR”.
- Visões que seriam dadas aos jovens, foram preditas por Joel, Jl 2.28, “E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões”. Sabemos que a predição profética de Joel foi cumprida em Atos 2: “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas
profetizarão,
vossos
jovens
terão
visões, e sonharão vossos velhos”, At 2.17.
O recebimento dessas visões estava ligado à vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes
24
– “1 Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; 2 de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam
assentados.
3
E
apareceram,
distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. 4 Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem”, At 2.1-4.
Seria uma das manifestações comuns a partir da
chegada
do
Espírito
prometido,
experimentadas por Paulo – “Se é necessário que me glorie, ainda que não convém, passarei às visões e revelações do Senhor”, 1Co 12.1; muito frequente na vida de João a Ilha de Patmos – “Assim, nesta visão,
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contemplei que os cavalos e os seus cavaleiros tinham couraças cor de fogo, de jacinto e de enxofre. A cabeça dos cavalos era como cabeça de leão, e de sua boca saía fogo, fumaça e enxofre”, Ap 9.17. - Detalhando a visão de Pedro, At 10.9-16, “9 No dia seguinte, indo eles de caminho e estando já perto da cidade, subiu Pedro ao eirado, por volta da hora sexta, a fim de orar. 10 Estando com fome, quis comer; mas, enquanto
lhe
preparavam
a
comida,
sobreveio-lhe um êxtase; 11 então, viu o céu aberto e descendo um objeto como se fosse um grande lençol, o qual era baixado à terra pelas quatro pontas, 12 contendo toda sorte de quadrúpedes, répteis da terra e aves do céu. 13 E ouviu-se uma voz que se dirigia a
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ele: Levanta-te, Pedro! Mata e come. 14 Mas Pedro replicou: De modo nenhum, Senhor! Porque jamais comi coisa alguma comum e imunda. 15 Segunda vez, a voz lhe falou: Ao que Deus purificou não consideres comum. 16 Sucedeu isto por três vezes, e, logo, aquele objeto foi recolhido ao céu”.
O teor dessa visão concedida a Pedro envolvia o fato de que ele seria enviado para pregar o evangelho a Cornélio, um gentio, e Pedro, um judeu de tradição, jamais iria abrir sua boca para falar da Palavra de Deus a um gentio, uma vez que os gentios eram vistos pelos judeus como inferiores, incircuncisos, pagãos, imundos.
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Em razão disso, na visão dos judeus, os gentios eram rejeitados por Deus e distantes de suas promessas. O judeus normalmente utilizavam a palavra “incircuncisos” para se referirem ao gentios – “Vem, pois, esta bemaventurança
exclusivamente
sobre
os
circuncisos
ou
sobre
os
também
incircuncisos? Visto que dizemos: a fé foi imputada a Abraão para justiça”, Rm 4.9. Observe que a palavra “incircuncisos” no texto é uma alusão clara aos gentios, ou seja, todos não descendentes de Abraão. A palavra grega é “akrobustia” – “aquele que não
havia
pertencente
sido ao
circuncidado”,
judaísmo”,
“a
“não
condição
daqueles no quais os desejos corruptos arraizados
na
carne
não
foram
ainda
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extintos”. Isso descrevia muito bem o conceito que os judeus tinham dos gentios!
Porém, Deus queria a salvação dos gentios, e levou Pedro a ter uma visão do que seria sua missão na casa de Cornélio e de seus familiares e convidados. Já estando na casa de Cornélio Pedro expressou o teor de sua visão – “34 Então, falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; 35 pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável”, At 10.34-35.
O resultado da visão e obediência de Pedro, não poderia ser outro a não ser a salvação de muitas almas e o derramamento do Espírito Santo sobre os gentios – “44 Ainda Pedro
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falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. 45 E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo; 46 pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus. Então, perguntou Pedro: 47 Porventura, pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo? 48 E ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Então, lhe pediram que permanecesse com eles por alguns dias”, At 10.44-48.
- Da mesma forma como vai acontecer com a Palavra Escrita de Deus que ficará “sem a vida do Espírito Santo”, por ocasião do
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Arrebatamento, as visões também serão extintas, uma vez que as visões de Deus, somente podem ser concedidas pelo seu Espírito, e como já vimos o Espírito Santo naquele dia, subirá com a igreja de Cristo.
Haverá naqueles dias outro tipo de visão, que certamente será muito frequente após o arrebatamento, “a visão satânica”, uma vez que, Satanás e seus demônios, estarão agindo como nunca sobre a terra. Sabemos pela Palavra de Deus, que enquanto a igreja estiver na terra, o diabo não terá força total “E, agora, sabeis o que o detém, para que ele seja revelado somente em ocasião própria”, 2Ts 2.6.
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Quem é que o “detém”? Com certeza é a ação da igreja e do Espírito Santo! A ação do Espírito Santo no crente e na vida da igreja de Cristo é hoje a grande barreira que o diabo encontra
para
impulsionar
seus
planos
maléficos. Porém, com a retirada da igreja e do Espírito, ele entrará com carga total, 1Ts 2.3-4, “3 Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, 4 o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se
no
santuário
de
Deus,
ostentando-se como se fosse o próprio Deus”.
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Mt 24.20-22, “20 Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno, nem no sábado; 21 porque
nesse
tempo
haverá
grande
tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais”.
Vamos
valorizar
a
abundância
das
manifestações de Deus através de seu Espírito e de sua Palavra!
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II.FALTA DE PERCEPÇÃO DA PRESENÇA DE DIVINA No texto, observamos que Samuel, ainda uma criança, ouvia a voz de Deus o chamando,
porém,
devido
a
sua
inexperiência, não pode entender que aquela voz era a voz do Senhor, que desejava se comunicar com ele. Por três vezes Deus chamou por Samuel, até que obedecendo a orientação de Eli, ele disse: “fala que o teu servo ouve”. Só então, Deus lhe transmitiu a palavra profética.
A falta de percepção da presença e das manifestações do Senhor ocorre quando nossos ouvidos espirituais não estão “em acordo”, “afinados”, com o mover do Espírito
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Santo. Muitas vezes Deus está falando e nós não temos capacidade para discernir, ou ouvir a sua voz. Era isso que acontecia com o povo nos dias de Isaías, e também com muitas pessoas durante o ministério de Cristo, Is 6.9, “Então, disse ele: Vai e dize a este povo: Ouvi, ouvi e não entendais; vede, vede, mas não percebais”. Mt 13.13-15, “13 Por isso, lhes falo por parábolas; porque, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem. 14 De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías: Ouvireis com os ouvidos e de nenhum modo entendereis; vereis com os olhos e de nenhum modo percebereis. 15 Porque o coração deste povo está endurecido, de mal
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grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados”.
Observe que até podemos ouvir a voz de Deus, mas, se não tivermos os ouvidos espirituais atentos, bem abertos, não seremos capazes de discernir o que Deus está falando – “Ouvireis com os ouvidos e de nenhum modo entendereis; vereis com os olhos, e de nenhum modo percebereis”. Isso acontece quando
nosso
coração
está
fechado,
empedernido, endurecido – “o coração deste povo está endurecido”.
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Normalmente a voz de Deus pela sua Palavra, obedece a uma sequência natural, até que chegue ao nosso coração:
a) Ver com olhos. Não somente com os olhos físicos, mas principalmente com os olhos espirituais. João em sua primeira carta nos disse: “... o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos”, 1Jo 1.1, e Paulo escrevendo aos efésios afirmou: “iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes
qual
é
a
esperança do seu
chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos”, Ef 1.18.
Isso significa que só podemos absorver a Palavra
de
entendimento.
Deus Olhar
com com
os
olhos
do
os
olhos
do
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entendimento, é enxergar além do natural, percebendo o falar de Deus através da fé – “Abraão, vosso pai, alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se”, Jo 8.56.
Abraão viveu há aproximadamente dois mil anos antes de Jesus vir ao mundo, mas através de sua fé pode enxergar a vinda do Messias e alegrar-se por isso – “alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se”. Pelos olhos da fé, Abraão também creu naquilo que era impossível aos olhos humanos – “18 Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações, segundo lhe fora dito: Assim será a tua descendência. 19 E, sem enfraquecer na fé, embora levasse em conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de cem anos, e a idade avançada de
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Sara, 20 não duvidou, por incredulidade, da promessa
de
Deus;
mas,
pela
fé,
se
fortaleceu, dando glória a Deus, 21 estando plenamente convicto de que ele era poderoso para cumprir o que prometera”, Rm 4.18-21. Observe
a
expressão:
“creu
contra
a
esperança!”. Pelos olhos humanos, jamais ele com a idade avançada, e sua mulher Sara com o seu ventre “amortecido”, poderiam gerar filhos. Mas, ele creu, e através de sua fé, veio a “ser pai de muitas nações”, segundo o que Deus lhe havia dito. Em outras palavras, seus olhos espirituais, associados à sua fé, ficaram bem abertos, aguardando o tempo de Deus!
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Muitos de nós podemos ser atingidos com um fenômeno muito comum nos filhos de Deus, que é a “cegueira espiritual”. O cego espiritual é aquele que não consegue enxergar o que acontece no reino espiritual, a sua volta. A visão espiritual desse tipo de crente está comprometida, porque o foco de sua visão está apenas nas coisas materiais, nos valores mundanos, no materialismo, e por essa razão só conseguem enxergar as coisas sob a ótica mundana. Tal crente vive apenas em função dos valores transitórios, e por isso, perde a comunhão e presença de Deus em sua vida.
b) Ouvir com os ouvidos. O texto tem a ver com
“ouvidos
espirituais”.
Novamente
fazemos alusão a João em sua primeira carta – “o que temos ouvido”, 1Jo 1.1. Há uma
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expressão no livro de Jó que chama a nossa atenção: “os meus ouvidos o ouviram e entenderam”, Jo 13.1. Ouvir com os ouvidos espirituais é escutar além da audição física! Ouvir a Deus de maneira correta nos trará o favor do Senhor – “34 Feliz o homem que me dá ouvidos, velando dia a dia às minhas portas, esperando às ombreiras da minha entrada. 35 Porque o que me acha, acha a vida e alcança favor do SENHOR”, Pv 8.3435.
Observe no texto de Provérbios que o homem que ouve a Deus, é feliz – “feliz é o homem que me dá ouvidos”. Quando aprendemos a ouvir
Deus,
o
encontramos
e
ainda
alcançamos o seu favor – “... o que me acha, acha a vida e alcança favor do SENHOR”. A
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palavra “favor” vem do termo hebraico “ratsown”,
significando
“aceitação”,
“boa
vontade”, “deleite”. Alcançar o favor do Senhor nos levará a sua presença para desfrutarmos de todas as suas benesses.
c) Entender com o coração. Temos aqui outro aspecto imprescindível para podermos nos aprofundar no conhecimento de Deus e de sua Palavra. Entender com o coração tem a ver com um entendimento mais profundo, e está muito além daquilo que possamos captar pela nossa razão – “Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”, Mc 7.6.
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Observe que o povo dos dias de Isaías, até sabia como honrar a Deus com os lábios – “Este povo me honra com os lábios”. Porém tinham o coração distante, faltava-lhes um envolvimento sincero! Nosso entendimento e nossas palavras, podem não agradar ao Senhor, mas quando temos um coração envolvido, sincero, verdadeiro, obediente, com certeza chegaremos ao coração de Deus – “Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração”, Jr 29.13.
É por isso que Ezequiel profetizando sobre um tempo de restauração, falou de uma troca de coração – “26 Eu lhes darei um coração novo e porei em vocês um espírito novo. Tirarei de vocês o coração de pedra,
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desobediente, e lhes darei um coração bondoso, obediente. 27 Porei o meu Espírito dentro de vocês e farei com que obedeçam às
minhas
leis
e
cumpram
todos
os
mandamentos que lhes dei”, Ez 36.36-37 (BLH). No dizer de Ezequiel, o coração de “pedra”, “empedernido”, endurecido, “desobediente”, “rebelde”, seria substituído por um coração “novo”, quebrantado, sensível à voz do Espírito de Deus. Esse novo coração, teria a capacidade para obedecer a Deus e seus mandamentos – “... Porei o meu Espírito dentro de vocês e farei com que obedeçam às
minhas
leis
e
cumpram
mandamentos que lhes dei”.
todos
os
44
d) Se converter. Todo esse caminho na busca de Deus – “ver”, “ouvir”, “entender com o coração”, objetiva a conversão de nossa alma. Novamente cito João: “1 o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida, 3 o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós,
igualmente,
mantenhais
comunhão
conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo”, 1Jo 1.1,3. Observe que quando “vemos”, “ouvimos” e “entendemos com o coração” em nossa busca ao “Verbo da Vida” – Cristo Jesus, sofremos uma transformação, entramos para a comunhão dos santos – “mantenhais
45
comunhão conosco”, e ainda, nos tornamos participantes da comunhão com Deus – “nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo”.
Nenhum pecador poderá ser admitido na comunhão dos santos e ter a comunhão com Deus
sem
passar
pelo
processo
da
conversão – “19 Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados, 20 a fim de que, da presença do Senhor, venham tempos de refrigério, e que envie ele o Cristo, que já vos foi designado, Jesus”, At 3.19-20.
Observe que após o arrependimento e conversão, vem a paz de Deus que excede todo o entendimento – “a fim de que, da
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presença do Senhor, venham tempos de refrigério”. A palavra “refrigério”, vem do termo
grego
“anapsuxis”,
cujo
sentido
principal é “alívio”, “repouso”, “suavidade”. Estávamos sob o peso do pecado e sem paz. Porém, com nossa conversão a Cristo, veio o alívio, pois nossa sobrecarga foi tirada, e fomos invadidos por uma paz interior, ou seja, chegam “os tempos de refrigério” na presença do Senhor.
e) Ser salvo. Com certeza, todo esse processo nos levará à salvação de nossa alma, e à posse da vida eterna! A salvação ocorre quando entendemos e cremos que Cristo Jesus veio ao mundo para nos redimir de nossos pecados – “no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos
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pecados, segundo a riqueza da sua graça”, Ef 1.7.
O sangue derramado foi o preço de nossa salvação, pago por Cristo na cruz – “Porque fostes comprados por preço” (1Co 6.20). Veja o que Pedro fala: “18 sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, 19 mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo”, 1Pe 1.18-19.
Para que o pecador alcance a vida eterna, precisa
passar
por
todos
os
passos
mencionados – “ver”, “ouvir”, “entender com o coração” e “converter”. Todos esses passos
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são necessários para chegarmos à verdade principal que nos garante vida eterna - “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida”, Jo 5.24.
Votando ao texto de Samuel, percebemos que ele não discerniu a voz de Deus por uma simples razão que aparece claramente no texto, ou seja, sua imaturidade, e falta de experiência. Veja o que diz o texto: “Porém Samuel ainda não conhecia o SENHOR, e ainda não lhe tinha sido manifestada a palavra do SENHOR”, v.7.
Dois pontos são aqui importantes ainda destacar aqui:
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a) O primeiro está relacionado ao verbo “conhecer”. Temos aqui a palavra hebraica “yada”, que tem o sentido de “percepção”, “conhecer
por
experiência”,
“estar
familiarizado”, “fazer a si mesmo conhecido”, “revelar a si mesmo”. Esta palavra envolve tanto o conhecimento que temos de Deus pela sua Palavra, como também o ato dele se revelar a nós.
Muitas vezes erramos pelo fato de não conhecermos
a
Deus,
e
não
termos
intimidade com ele - “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento...”, Os 4.6. Conhecer a Deus na intimidade nos levará a viver uma vida abundante! O verbo “conhecer” no texto de Oséias é a palavra
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hebraica “da„ath”, que significa “percepção”, “habilidade”, “discernimento”, “compreensão”, “sabedoria”.
O conhecimento de Deus, não é conseguido mediante o estudo de sua pessoa, ou por ouvir falar dele! Somente podemos conhecêlo pela “experiência”, pela “sabedoria”. Para conhecê-lo precisamos buscá-lo de todo o nosso coração – “1 Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. 2 A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?”, Sl 42.12.
b) O Segundo ponto está relacionado à frase: “... ainda não lhe tinha sido manifestada a
51
Palavra do Senhor”. A ausência de revelação do
Espírito Santo
nos
tornará
também
incapazes de reconhecer a voz de Deus, quando ele fala conosco.
A
falta
de
revelação
em
nosso
relacionamento com Deus também dificultará a sua comunicação conosco. Isso nos mostra o fato de que precisamos “treinar” nossa percepção, através da Palavra de Deus, para desfrutarmos de uma comunicação perfeita com nosso Deus.
Um dos exemplos clássicos da falta de percepção espiritual para entender a Palavra de
Deus,
mercenário,
está
em
Balaão,
o
profeta
52
Nm 22.22-31, “21 Então, Balaão levantou-se pela manhã, albardou a sua jumenta e partiu com os príncipes de Moabe. 22 Acendeu-se a ira de Deus, porque ele se foi; e o Anjo do SENHOR
pôs-se-lhe
adversário. Ora,
no
Balaão
caminho
por
ia caminhando,
montado na sua jumenta, e dois de seus servos, com ele. 23 Viu, pois, a jumenta o Anjo do SENHOR parado no caminho, com a sua espada desembainhada na mão; pelo que se desviou a jumenta do caminho, indo pelo campo; então, Balaão espancou a jumenta para fazê-la tornar ao caminho. 24 Mas o Anjo do SENHOR pôs-se numa vereda entre as vinhas, havendo muro de um e outro lado. 25 Vendo, pois, a jumenta o Anjo do SENHOR,
coseu-se
contra
o
muro
e
comprimiu contra este o pé de Balaão; por
53
isso, tornou a espancá-la. 26 Então, o Anjo do SENHOR passou mais adiante e pôs-se num lugar estreito, onde não havia caminho para se desviar nem para a direita, nem para a esquerda. 27 Vendo a jumenta o Anjo do SENHOR, deixou-se cair debaixo de Balaão; acendeu-se a ira de Balaão, e espancou a jumenta com a vara. 28 Então, o SENHOR fez falar a jumenta, a qual disse a Balaão: Que te fiz eu, que me espancaste já três vezes? 29 Respondeu Balaão à jumenta: Porque zombaste de mim; tivera eu uma espada na mão e, agora, te mataria. 30 Replicou a jumenta a Balaão: Porventura, não sou a tua jumenta, em que toda a tua vida cavalgaste até hoje? Acaso, tem sido o meu costume fazer assim contigo? Ele respondeu: Não 31 Então, o SENHOR abriu os olhos a
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Balaão, ele viu o Anjo do SENHOR, que estava no caminho, com a sua espada desembainhada na mão; pelo que inclinou a cabeça e prostrou-se com o rosto em terra”.
Dois pontos são importantes na experiência de Balaão:
a)
Enquanto
o
profeta,
pela
sua
insensibilidade, não pode ver o anjo de Deus que se interpunha no seu caminho, a jumenta, animal irracional, pode vê-lo. Que maneira esquisita de Deus tratar com a nossa percepção espiritual, onde um mulo pode enxergar melhor do que nós! Precisamos aprender a olhar para além dos sentidos, além do mundo físico ao nosso redor.
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b) Ao invés de Deus falar diretamente com o profeta, usou do improvável, colocando suas palavras na boca de uma jumenta. Quando os nossos ouvidos espirituais não são afinados para ouvir a voz de Deus, ele se fará ouvir por meios não muito convencionais. Em outras palavras, “pedras clamarão”, “animais alçarão sua voz”, etc. Modo muito triste de Deus se dirigir a nós!
Para
absorvemos
o
melhor
de
Deus,
precisamos aprender a ouvir sua voz. Muitas vezes é no silêncio, na quietude de nosso coração que Deus fala conosco e nos tornamos capazes de ouvi-lo.
Termino essa seção, lembrando aqui do episódio na vida do profeta Elias, quando ele
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fugia da rainha Jezabel ao ser ameaçado de morte. Ele foi para o monte Horeb, refugiouse ali, esperando pelas instruções de Deus. Observamos que Deus não se manifestou a Elias através dos sons da natureza, como terremoto, um forte vento, um fogo, mas sim, num suave silêncio de uma brisa que acaricia o rosto. Muitas vezes é no silêncio de nosso quarto que experimentamos o mover de Deus com maior intensidade!
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III.SUBMISSÃO À PALAVRA DE DEUS Creio que a maior dificuldade de Samuel em reconhecer a voz de Deus, tenha sido a sua inexperiência, e a sua pouca idade. Sabemos que ele ainda não tinha ouvido Deus falar por nenhuma vez. Porém tão logo ele reconheceu a voz do Senhor, se colocou em submissão a sua vontade soberana. É isso que nos sugere a expressão usada por ele, seguindo a instrução de Eli, o sumo-sacerdote: “Eis-me aqui, fala que o teu servo ouve!”.
Não devemos apenas nos tornar perceptíveis à voz de Deus, mas também estar dispostos a obedecê-lo incondicionalmente pela sua Palavra. É certo que, para o verdadeiro filho
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de Deus não pode haver outro caminho a não ser o caminho da submissão e obediência a Deus.
Devido
a
nossa
condição
de
regenerados, somos chamados por Pedro de “filhos da obediência” – “Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância”, 1Pe 1.14.
Temos na Palavra de Deus alguns exemplos de vidas que se colocaram em submissão e obediência a Deus e foram grandemente abençoadas: a) Isaías, Is 6.8, “Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim”. Ao ouvir a voz de Deus,
59
Isaías não teve dúvidas, mas colocou-se inteiramente ao serviço de Deus.
Lendo atenciosamente o texto de Isaías no capítulo seis nos primeiros versículos, iremos perceber
que
ele
teve
uma
tremenda
experiência, onde ele viu ao Senhor em toda a sua glória, o convocando ao ministério profético. Mas, antes dele ouvir a voz de Deus, e se colocar a disposição para o seu chamado, ele foi tremendamente impactado através de sua visão: - Viu Deus assentado sobre o trono – “eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono”, v.1. Essa visão ocorreu no ano em que morreu o rei Uzias, que tinha sido um bom rei! Portanto, agora o trono estava vazio, o que
60
trazia desesperança e insegurança! Pensem nas consequências de um trono sem o seu rei!
Porém é nesse momento de instabilidade que Isaías vê numa visão, um trono que jamais estará vazio – o trono de Deus. Naquele momento de incertezas, Deus lhe deu uma certeza. Isaías disse: “… Eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono…”. O trono poderia estar vazio na terra de Israel, mas, o trono de Deus, o trono celestial, cheio de glória, e eterno, nunca ficará vazio. - Viu a presença do Senhor – “as abas de suas vestes enchiam o templo”, v.1.
61
Ao ter a visão das vestes do Senhor enchendo o templo, tal experiência trouxe ao profeta a comprovação de que Deus estava presente com toda a sua glória e poder naquele lugar. Apesar enfrentarmos aflições e lutas
tremendas
no
presente
mundo,
podemos ter a certeza de que a presença do Senhor nos encherá. Mesmo estando vivendo em meio ao caos e desordem, provocados pela morte do rei, pelo trono vazio, a proteção e a presença do Senhor estavam disponíveis a Isaías, para trazer-lhe segurança e conforto.
Podemos ter a certeza, da presença viva e constante de Deus em nossas vidas, em quaisquer
momentos
que
estivermos
passando. Devemos sempre nos lembrar da promessa do Senhor Jesus: “… E eis que
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estou
convosco
todos
os
dias
até
à
consumação do século”, Mt 21.20. “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei”, Hb 13.5. - Viu a santidade de Deus – “Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos”, vs.2-3.
Observe que os serafins cobriam os seus rostos e pés. Eles assim o faziam em razão da santidade do Senhor, de sua glória manifestando naquele lugar, e também por
63
temor e respeito diante da presença do Senhor.
Estamos vivendo um tempo em que o respeito e a reverência na presença do Senhor se tornaram algo muito raro! Pessoas chamam Deus de “você”, blasfemam e ofendem o nome do Senhor. Tais indivíduos se esquecem de que o temor ao Senhor é o princípio da verdadeira sabedoria – “O temor do SENHOR é o princípio da ciência; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução”, Pv 1.7. Observe que aqueles que desprezam o temor ao Senhor, a sabedoria e a instrução são chamados de loucos. Na língua hebraica temos a palavra “„eviyl”, significando “idiota”, “insensato”, “tolo”, “biruta”.
64
Podemos ver que até mesmo em nossos cultos a reverência a Deus foi perdida, e sua santidade
não
reverenciada.
é
mais
reconhecida
Precisamos
voltar
e aos
costumes primitivos da igreja para restaurar o devido temor a Deus, sabendo que quando há temor no meio do povo de Deus os milagres acontecem – “Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos”, At 2.43.
Voltando ao texto, percebemos que os serafins vistos por Isaías são seres que estão constantemente
adorando
ao
Senhor
dizendo: “santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos, toda a terra está cheia da sua glória…”. Com isso estão declarando a santidade
do
Senhor.
Numa
época
de
65
decadência espiritual e moral foi muito importante para Isaías observar a Deus em toda a sua glória e santidade!
Assim também haveremos de ver ao Senhor naquele dia em que estivermos em sua presença, quando os seres celestiais o estarão louvando eternamente, declarando a sua santidade – “E os quatro seres viventes, tendo cada um deles, respectivamente, seis asas, estão cheios de olhos, ao redor e por dentro; não têm descanso, nem de dia nem de noite, proclamando: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir”, Ap 4.8.
- Viu que seus pecados eram repulsivos a Deus - Então, disse eu: ai de mim! Estou
66
perdido!
Porque
sou
homem
de lábios
impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios. Então, um dos serafins voou para mim, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; 7 com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniquidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado”, v.5-7.
Ao contemplar Deus e todo o seu resplendor e glória, Isaías caiu em si e disse: “5 … Ai de mim, Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros… os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos exércitos!” Ele teve consciência do quanto era pecador, clamando pela misericórdia de Deus. O certo é: Quando tomarmos contado com a glória e a presença de Deus, certamente iremos reconhecer o
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quanto
somos
miseráveis
e
pecadores,
carecendo da misericórdia e benignidade do Senhor.
Um daqueles serafins tomou uma brasa do altar com uma tenaz, um tipo de alicate, e com aquela brasa tocou a boca do Profeta, e removeu o seu pecado. Esta brasa tem a ver com o fogo purificador do Espírito de Deus. O fogo nas escrituras é símbolo de purificação “… tudo o que pode suportar o fogo fareis passar pelo fogo, para que fique limpo…”, Nm 31.23. É por essa razão que João Batista se referindo à vinda do Espírito Santo, que seria dado por Jesus, falou de um batismo com “fogo” – “Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas
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sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”, Mt 3.11.
Na sequência, o texto nos diz que o profeta ouviu a voz do Senhor dizendo: “Eis que a brasa tocou os teus lábios, e a tua iniquidade foi tirada, e purificado o teu pecado”, v.7. O que notamos aqui é Deus vindo encontro do pecador para purificá-lo com sua graça!
Devemos lembrar
que
no processo de
salvação, não foi o homem que saiu em busca de Deus, mas foi Deus que veio ao encontro do homem, uma vez que ele estava em Cristo, quando este veio ao mundo – “18 Ora,
tudo
provém
de
Deus,
que
nos
reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo
69
e nos deu o ministério da reconciliação, 19 a saber,
que
reconciliando imputando
Deus consigo aos
estava
em
o
mundo,
não
as
suas
homens
Cristo
transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação”, 2Co 5.18-19.
Através do seu sangue, nossas iniquidades foram removidas e os nossos pecados foram purificados – “muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo”, Hb 9.14.
Quando teve os seus pecados removidos, Isaías se colocou a disposição para ouvir Deus, e se submeter a sua vontade –
70
“Senhor, eis-me aqui, envia-me a mim”. Quando
temos
profunda
com
susceptíveis dispostos
ao a
uma
experiência
Deus, seu
nos
chamado,
obedecê-lo
de
mais
tornamos estando maneira
incondicional. b) Maria, Lc 1.38, “Então, disse Maria: Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra. E o anjo se ausentou dela”.
Sabemos que Maria passaria por uma experiência que iria mudar a sua vida para sempre, uma vez que ficaria grávida sem ter marido. Tal fato seria para ela um grande problema, uma vez que, de acordo com os padrões de sua época, ela poderia ser punida
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com a morte por apedrejamento. E, ainda, como explicar essa gravidez sobrenatural ao seu noivo José, esperando que ele não pensasse em uma traição?
Vimos que a consequência inicial seria o rompimento de seu noivado, uma vez que José, mesmo sendo um homem piedoso, tentou deixá-la, sem fazer qualquer alarde – “Mas José, seu esposo, sendo justo e não a querendo
infamar,
resolveu
deixá-la
secretamente”, Mt 1.19.
José só não seguiu em frente com seu plano, porque recebeu a revelação de um anjo da parte de Deus, que veio acalmar seu coração – “Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe apareceu, em sonho, um anjo do
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Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo”, Mt 1.20.
No entanto, mesmo Maria tendo corrido todos os riscos possíveis, não olhou para as circunstâncias, e se colocou à disposição e submissão ao Senhor - “Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim conforme a tua palavra”. A palavra “serva” na língua grega é “doule”, que significa “escrava”, “criada”, “serva”. Ao se declarar “serva do Senhor”, Maria estava se colocando diante de Deus como alguém cuja
vontade
estava
sendo
totalmente
subjugada. Para ela, servir a Deus e cumprir
73
sua Palavra, estava acima de todos e quaisquer projetos de sua vida!
Quando nos disponibilizamos para cumprir nossa missão como servos do Senhor, nossa vontade é automaticamente subjugada. Das escrituras podemos citar o exemplo do servo que tinha as orelhas furadas. Isso acontecia quando o escravo recebia carta de alforria, mas
mesmo
assim,
desejava
continuar
servindo a seu senhor - “2 Se comprares um escravo hebreu, seis anos servirá; mas, ao sétimo, sairá forro, de graça. 3 Se entrou solteiro, sozinho sairá; se era homem casado, com ele sairá sua mulher. 4 Se o seu senhor lhe der mulher, e ela der à luz filhos e filhas, a mulher e seus filhos serão do seu senhor, e ele sairá sozinho. 5 Porém, se o escravo
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expressamente disser: Eu amo meu senhor, minha mulher e meus filhos, não quero sair forro. 6 Então, o seu senhor o levará aos juízes, e o fará chegar à porta ou à ombreira, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre”, Êx 21.26.
Ao tomar a atitude de permanecer na casa de seu senhor, mesmo estando livre e podendo ir embora, o servo tinha sua orelha furada perante os juízes. A partir de então, aquele servo deveria servir ao seu senhor pelo resto de sua vida! Tal homem não poderia mais deixar de ser escravo, pois havia optado por esta condição por livre e espontânea vontade, porque declarara: “não quero sair forro”!
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Precisamos entender que somos para Deus, como servos com a orelha furada! Não precisamos servir a Deus se não quisermos! Porém, quando fazemos a opção para ser servos de livre e
espontânea vontade,
devemos saber que nossa orelha foi furada pelo Único Senhor. Esse era o entendimento de Davi no salmo 40 – “Sacrifício e oferta não quiseste;
as
minhas
orelhas
furaste;
holocausto e expiação pelo pecado não reclamaste”, Sl 40.6.
Agora, em nossa obediência e submissão ao Senhor, devemos agora agradá-lo, vivendo uma vida fervorosa e cheia do Espírito Santo - “No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor”, Rm 12.11.
76
c) Saulo de Tarso, At 22.6-11, “6 Ora, aconteceu que, indo de caminho e já perto de Damasco,
quase
ao
meio-dia,
repentinamente, grande luz do céu brilhou ao redor de mim. 7 Então, caí por terra, ouvindo uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? 8 Perguntei: quem és tu, Senhor? Ao que me respondeu: Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem tu persegues. 9 Os que estavam comigo viram a luz, sem, contudo, perceberem o sentido da voz de quem falava comigo. 10 Então, perguntei: que farei, Senhor? E o Senhor me disse: Levantate, entra em Damasco, pois ali te dirão acerca de tudo o que te é ordenado fazer. 11 Tendo ficado cego por causa do fulgor daquela luz,
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guiado pela mão dos que estavam comigo, cheguei a Damasco”.
Saulo de Tarso estava indo para Damasco, capital da Síria, com o objetivo de perseguir e prender os cristãos, quando teve um encontro com o Senhor no meio do caminho, em que Jesus lhe perguntou: “Saulo, Saulo, por que me persegues”, At 9.4. Diante da voz que ouviu,
Saulo
perguntou:
“Quem
és
tu,
Senhor”, At 9.5. Jesus lhe respondeu: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues”, At 9.5.
Jesus, então, deu algumas instruções a Saulo que
foram
obedecidas
imediatamente:
“levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer... Então, se levantou Saulo da terra e, abrindo os olhos, nada podia
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ver. E, guiando-o pela mão, levaram-no para Damasco”, At 9.6, 8.
No texto de Atos 22, a submissão de Saulo é claramente expressa em uma de pergunta dirigida a Jesus: “que farei, Senhor?”. Dali em diante, Saulo recebeu o nome de Paulo, e ele seria um homem obediente a Deus pelo resto de sua vida!
Mais tarde, Paulo fala de sua postura e obediência ao Senhor, quando escreveu aos gálatas relatando o teor sua missão recebida da parte de Deus - “15 Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve 16 revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei
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carne e sangue, 17 nem subi a Jerusalém para os que já eram apóstolos antes de mim, mas parti para as regiões da Arábia e voltei, outra vez, para Damasco”, Gl 1.15-17. Observe as expressões: “me chamou pela sua graça... para que eu o pregasse entre os gentios... não consultei carne e sangue... mas parti para as regiões da Arábia e voltei, outra vez, para Damasco”. Ou seja, Paulo agora estava obedecendo ao seu chamado, e cumprindo as orientações necessárias para poder fazê-lo com eficiência.
Somente podemos cumprir nosso chamado quando estamos dispostos a servir a Deus sem quaisquer questionamentos – “Quanto a vós outros, servos, obedecei a vosso senhor
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segundo a carne com temor e tremor, na sinceridade do vosso coração, como a Cristo”, Ef 6.5.
Embora esse texto da carta aos efésios esteja tratando de “servos” no sentido físico, literal, sabemos que o mesmo princípio se aplica no reino espiritual! Jamais podemos servir a Deus tentando “... agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo, de coração, a vontade de Deus, servindo de boa vontade, como ao Senhor e não como a homens”, Ef 6.6-7.
Poderíamos encontrar na Palavra de Deus muitos outros exemplos de vidas que foram submissas à vontade do Senhor, quando tiveram uma experiência com Ele. Porém o
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que queremos destacar é a nossa própria experiência. A pergunta que fazemos é a seguinte: Temos nós
nos submetido
à
vontade do Senhor? Ou estamos vivendo segundo a nossa própria vontade?
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IV.PORTA-VOZ DA MENSAGEM DIVINA A primeira mensagem de Deus transmitida a Samuel era uma mensagem até certo ponto difícil de ser transmitida, uma vez que envolvia a casa de Eli, o sumo-sacerdote. Em virtude da negligência de Eli na educação de seus filhos, Deus decidiu julgar sua casa, e o responsável para comunicar a Eli de que sua casa seria julgada foi Samuel, 1Sm 3.11-14, “11 Disse o SENHOR a Samuel: Eis que vou fazer uma coisa em Israel, a qual todo o que a ouvir lhe tinirão ambos os ouvidos. 12 Naquele dia, suscitarei contra Eli tudo quanto tenho falado com respeito à sua casa; começarei e o cumprirei.
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13 Porque já lhe disse que julgarei a sua casa para sempre, pela iniquidade que ele bem conhecia, porque seus filhos se fizeram execráveis, e ele os não repreendeu. 14 Portanto, jurei à casa de Eli que nunca lhe será
expiada
a
iniquidade,
nem
com
sacrifício, nem com oferta de manjares”.
Devemos levar em conta que Samuel, era ainda muito jovem para uma incumbência e responsabilidade tão grande, uma vez que, seria o responsável para comunicar a Palavra de Deus ao Sumo-Sacerdote, principal líder religioso da nação, ao qual ele servia. Pense ainda sobre o fato de que a palavra que Samuel deveria transmitir, não era uma palavra “agradável”, mas sim, uma palavra que traria “juízo e condenação”.
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Porém, quando Deus ordena sua Palavra, não importa quem seja o porta-voz, e quem seja o receptor! Devemos obedecer, pois Deus
irá
garantir
o
seu
cumprimento!
Certamente, Deus zela pelo cumprimento de sua Palavra - “Disse-me o SENHOR: Viste bem, porque eu velo sobre a minha palavra para cumpri-la”, Jr 1.12.
Observe também, que Deus está quebrando todos os protocolos, ao levantar uma criança inexperiente, e não um profeta qualificado e reconhecido, para ser o transmissor de sua mensagem ao principal líder religioso da nação.
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Em outras ocasiões da história bíblica, podemos
também
observar
que
Deus
levantou pessoas inexperientes e, até mesmo incapazes, como pregadores de sua Palavra a povos e nações: a) Jeremias, Jr 1.6-7, “6 Então, lhe disse eu: ah! SENHOR Deus! Eis que não sei falar, porque não passo de uma criança. 7 Mas o SENHOR me disse: Não digas: Não passo de uma criança; porque a todos a quem eu te enviar irás; e tudo quanto eu te mandar falarás”.
Veja que, em seus argumentos com relação ao seu chamado profético, Jeremias coloca diante de Deus sua principal dificuldade para a missão recebida – “não sei falar, porque
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não passo de uma criança”. Tal dificuldade era de fato real! Porém seus argumentos, e desculpas não foram aceitos pelo Senhor. Pelo contrário, Deus lhe disse – “Não digas: Não passo de uma criança; porque a todos a quem eu te enviar irás; e tudo quanto eu te mandar falarás”.
Podemos entender que o chamado de Jeremias,
não
foi
em
razão
de
sua
capacidade, uma vez que de fato, ele era incapaz de ser profeta de Deus! Porém quando Deus chama, ele capacita e vai à frente daquele que recebeu a missão – “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo
87
quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele volo conceda”, Jo 15.16. O termo “designei” vem da palavra grega “tithemi”,
que
tem
o
significado
de
“estabelecer”, “colocar”, “fazer algo para si mesmo, ou para o uso de alguém”. Jesus nos escolheu para frutificar no ministério, e sabemos que no exercício do ministério, as dificuldades certamente irão surgir! Porém, quando estivermos diante delas, podemos utilizar o grande recurso oferecido, que é a oração e o poder em nome de Jesus – “... a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda”.
Quando usamos o nome de Jesus com sabedoria
e
discernimento
as
coisas
88
acontecem – “Então, regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome”, Lc 10.17.
O presente texto está relacionado à missão dos setenta discípulos enviados pelo Senhor para levar o evangelho às cidades de aldeias em Israel. No exercício da missão recebida, eles puderem comprovar o poder que há no nome de Jesus – “... os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome”.
Mais tarde o Senhor reiterou aos seus escolhidos
o
poder
de
seu
nome
ao
comissioná-los pouco antes de sua ascensão aos céus – “15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.
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16 Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado. 17 Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: em meu nome, expelirão demônios; falarão
novas
línguas;
18
pegarão
em
serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados”, Mc 16.15-18.
Há poder no nome de Jesus! b) Amós, 7.14-15, “14 Respondeu Amós e disse a Amazias: Eu não sou profeta, nem discípulo de profeta, mas boieiro e colhedor de sicômoros. 15 Mas o SENHOR me tirou de após o gado e o SENHOR me disse: Vai e profetiza ao meu povo de Israel”.
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Amós era um cuidador de gado e um trabalhador rural, portanto, um homem do campo,
rústico,
sem
qualquer
instrução
especial, sem o berço de uma família tradicional, ou de qualquer linhagem profética. Observe no texto que ele mesmo, não se considerava um profeta – “não sou profeta, nem discípulo de profeta”. Porém, Deus o chamou para ser porta voz de sua mensagem à nação de Israel.
Ao receber o ministério dado pelo Senhor, Amós foi audacioso para denunciar os abusos sociais praticados pela nação de Israel, num tempo de grande opressão, onde os ricos oprimiam impiedosamente os pobres. Em sua
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pregação
ele
chamou
o
povo
ao
arrependimento, e à volta aos princípios de justiça ignorados e esquecidos.
Embora Amós tenha sido desprezado e perseguido em razão de seu ministério recebido do Senhor, ele não desistiu, nem desanimou, mas levou a cabo a missão a ele confiada. Um exemplo de sua ousadia é o uso de uma linguagem bem forte para se referir às mulheres dos ricaços que viviam na luxúria – “Ouvi esta palavra, vacas de Basã, que estais no monte de Samaria, oprimis os pobres, esmagais os necessitados e dizeis a vosso marido: Dá cá, e bebamos”, Am 4.1.
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Algo que podemos observar é atualidade do livro de Amós! A mensagem desse livro tem muito a ver com a sociedade na qual estamos inseridos hoje, onde reina a injustiça social, e opressão aos menos favorecidos. Veja como o teor de sua mensagem é atualíssimo: “4 Ouvi isto, vós que tendes gana contra o necessitado e destruís os miseráveis da terra, 5 dizendo: Quando passará a Festa da Lua Nova, para vendermos os cereais? E o sábado, para abrirmos os celeiros de trigo, diminuindo o efa, e aumentando o siclo, e procedendo
dolosamente
com
balanças
enganadoras, 6 para comprarmos os pobres por dinheiro e os necessitados por um par de sandálias e vendermos o refugo do trigo? 7 Jurou o SENHOR pela glória de Jacó: Eu não
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me esquecerei de todas as suas obras, para sempre”, Am 8.4-7.
Temos hoje convivido com os enganadores e opressores que compram a consciência do pobre com dinheiro adquirido através de corrupção. Principalmente em época de eleição, aparecem os famigerados candidatos que
oferecem
ao
pobre
um
“par
de
sandálias”, o “refugo do trigo”, para conquistar o tão cobiçado voto! Porém o juízo do Senhor, cedo ou tarde, virá contra tais indivíduos: “Jurou o SENHOR pela glória de Jacó: Eu não me esquecerei de todas as suas obras, para sempre”, v.7.
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Com certeza a mensagem proferida por Amós, tem muito a ver com o nosso tempo! Podemos afirmar que o chamado dele ao ministério profético, é a prova que não é preciso ter grande instrução, nem um cargo importante para fazer a obra de Deus, mas disposição para atender e cumprir o chamado divino.
c) Jefté, Jz 11.1, “Era, então, Jefté, o gileadita, homem valente, porém filho de uma prostituta; Gileade gerara a Jefté”.
Jefté tinha tudo para ser um rejeitado, pois era um Zé Ninguém, vivendo à margem da sociedade. Sua linhagem familiar e seu pedigree não era lá dos muito bons! Sua estirpe foi definida numa frase do texto:
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“homem
valente,
porém
filho
de
uma
prostituta”. Na verdade, ele havia herdado um péssimo e vergonhoso legado, e por isso, foi rejeitado pelos seus meio irmãos, e ainda, expulso de sua própria casa – “Também a mulher de Gileade lhe deu filhos, os quais, quando já grandes, expulsaram Jefté e lhe disseram: Não herdarás em casa de nosso pai, porque és filho doutra mulher”, Jz 11.2.
Observemos que o seu pai terreno sequer o defendeu, e nem ficou de seu lado! Porém, Deus que é rico em misericórdia, e bondade o acolheu! Em sua acolhida, Deus o chamou, e o capacitou, e ele foi usado de uma forma tremenda e maravilhosa – “Então, o Espírito do
SENHOR
veio
sobre
Jefté;
e,
atravessando este por Gileade e Manassés,
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passou até Mispa de Gileade e de Mispa de Gileade passou contra os filhos de Amom. Assim, Jefté foi de encontro aos filhos de Amom, a combater contra eles; e o SENHOR os entregou nas mãos de Jefté”, Jz 11.29, 32.
Poderíamos citar outros exemplos bíblicos, mas achamos
que
os
já
citados,
são
suficientes para nos mostrar e provar que o Senhor escolhe e envia a quem quer. Porém, uma coisa é certa: Ele capacita os seus escolhidos,
quando
estão
dispostos
a
obedecê-lo de maneira incondicional.
Como servos de Deus, fomos colocados neste mundo como pregadores de sua Palavra, não importando quem sejam os ouvintes! Nossa missão é: 7 ... à medida que
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seguirdes, pregai que está próximo o reino dos céus. 8 Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça recebestes, de graça dai”, Mt 10.7-8.
Alguns textos sobre o comissionamento de Deus:
a) A ordem do Senhor a Paulo em Corinto, At 18.9-10, “9 Teve Paulo durante a noite uma visão em que o Senhor lhe disse: Não temas; pelo contrário, fala e não te cales; 10 porquanto eu estou contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito povo nesta cidade”.
Se olharmos os versos anteriores, vamos perceber que Paulo estava encontrando
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resistência à pregação da Palavra na cidade de Corinto, onde muitos judeus o perseguiam e até mesmo o ameaçavam de morte. Por esta razão o Apóstolo queria deixar de pregar a Palavra de Deus naquela cidade e região, indo para outros lugares, na intensão de levar o evangelho somente aos gentios.
Porém foi neste clima de insatisfação, que numa visão noturna, o Senhor falou com ele, e ele ouvindo a voz de Deus, permaneceu naquela cidade pregando por um ano e seis meses, com resultados extraordinários.
É necessário destacar no texto a fala de encorajamento do Senhor: “Não temas; pelo contrário, fala e não te cales, porquanto estou contigo”. Quando estamos em obediência ao
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chamado de Deus, Não precisamos temer qualquer oposição, uma vez que o Senhor prometeu
estar
conosco
em
qualquer
situação.
b) Conselho de Paulo a Timóteo, seu filho na fé, 1Tm 4.2, “prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina”.
O jovem Timóteo estava sendo preparado por Paulo para ser um dos continuadores de seu ministério. Seu apelo na carta a Timóteo é veemente: “... prega a Palavra, insta a tempo e fora de tempo”. Paulo tinha convicção de que a pregação da Palavra de Deus iria garantir o sucesso de seu discípulo na
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conquista de almas, bem como o ensino da verdadeira doutrina. Merece destaque no texto a palavra “insta”, do grego “ephistemi”, que significa “colocar-se a disposição”, “estar de prontidão”. No dizer de Pedro precisamos estar “... sempre preparados para responder a todo aquele que vos (nos) pedir razão da esperança que há em vós (nós)”, 1Pe 3.15.
Devemos ser crentes comprometidos com a pregação da Palavra de Deus, conscientes de que ele nos deu um ministério a cumprir. É através da pregação da Palavra de Deus, que os homens terão seus pecados expostos, e serão
convocados
e
coagidos
ao
arrependimento. Somente através de uma
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reposta por parte do homem ao amor de Deus, é que ele poderá ser alcançado pela salvação oferecida por Cristo no Calvário.
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CONCLUSÃO Para
ouvirmos
a
Deus
e
termos
um
entendimento mais profundo de sua Palavra, dependemos da ação do Espírito Santo em nosso íntimo. Posso afirmar que quanto mais tempo nos dedicamos à oração e meditação na Palavra de Deus, quanto mais tempo orarmos no Espírito Santo, com certeza, mais sensíveis nos tornaremos à voz de Deus.
Deus é uma fonte inesgotável de bênçãos, porém
para
precisamos
desfrutarmos ansiar
por
dessa ela!
fonte
Devemos
desenvolver um coração como o coração de Davi, quando andava errante no deserto de Judá, fugindo de seus inimigos – “Ó Deus, tu és
o
meu
Deus
forte;
eu
te
busco
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ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água”, Sl 63.1.
Vimos no presente livreto que a Palavra de Deus “era muito rara” nos dias de Samuel, porém
Deus
escolheu um
menino, um
adolescente e não um profeta, ou sacerdote, para se relacionar com ele e comunicar sua Palavra. É certo que Deus somente fala, a quem está disposto a ouvi-lo e obedecer. Deus
não
atende,
e
nem
estabelece
intimidade com aquele que não está disposto a buscá-lo em obediência e submissão.
Precisamos ter sensibilidade espiritual, bem como ter “os olhos que enxergam além do natural”, “aprender a escutar com ouvidos
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bem abertos e sensíveis”, “abrir o coração e alma, para entender o sobrenatural de Deus”, e estarmos dispostos ao quebrantamento e arrependimento. Deus somente agirá em nós, quando
essas
virtudes
estiverem
bem
desenvolvidas!
Vimos o padrão da obediência e submissão requeridas pelo Senhor, nos exemplos de Isaias, Maria e Paulo, que tiveram que pagar um preço muito alto para serem usados por Deus. Isaías presenciou a santidade e a glória de Deus, enxergando seu estado de miserabilidade; Maria não levou em contra sua reputação, nem a pena de morte por deixar-se engravidar sem ter marido; Paulo deixou tudo o que tinha de mais valor – “Sim, deveras considero tudo como perda, por
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causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo”, Fp 3.8.
Todos esses personagens bíblicos, e outros que poderíamos lembrar, demonstraram o verdadeiro amor e entrega a Deus de maneira incondicional, muitos deles pagando um preço muito elevado, sem nunca receberem qualquer recompensa no presente mundo, pelo contrário, apenas sofreram vergonha e escárnio – “32 E que mais direi? Certamente, me faltará o tempo necessário para referir o que há a respeito de Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté, de Davi, de Samuel e dos profetas, 33 os quais, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça,
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obtiveram promessas, fecharam a boca de leões, 34 extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram
força,
fizeram-se
guerra,
puseram
em
poderosos
fuga
em
exércitos de
estrangeiros. 35 Mulheres receberam, pela ressurreição, os seus mortos. Alguns foram torturados, não aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição; 36 outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões. 37 Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados 38 (homens dos quais o mundo não era digno),
errantes
pelos
desertos,
pelos
montes, pelas covas, pelos antros da terra. 39
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Ora,
todos
testemunho
estes por
que
sua
fé
obtiveram não
bom
obtiveram,
contudo, a concretização da promessa, 40 por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados”, Hb 11.32-40.
Por fim, devemos lembrar que Deus escolhe para sua obra na terra os improváveis, os esquisitos, os sem valor, para cumprir seus propósitos redentivos. Ela chama desde um Amós, um trabalhador rural e sem qualquer preparo material; chama um Jefté, sem qualquer tradição familiar, um filho bastardo; chama um Jeremias, ainda criança, e sem qualquer condição para pregar sua Palavra. Porém, através desses homens incapazes, Deus cumpre seu propósito soberano.
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Todos esses fatos nos mostram que não podemos dar desculpas e tentar fugir do chamado divino. Deus não nos chama para o ministério
porque
somos
suficientemente
capazes para cumpri-lo, mas porque ele, e somente ele, é que nos tornará capacitados e em condições para sermos usados em sua obra. Devemos lembrar que somos apenas “instrumentos”, e não “agentes”, quando estamos cumprindo nosso chamado, pois é Deus, “... quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”, Fp 2.13!