Revista CREA Bahia Edição 44

Page 1

cr a Revista do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia

A vida no pedal Bicicletas enchem a cidade de colorido e coragem, na disputa pelo espaรงo das ruas

B A H I A

Nยบ 44 > jul.ago.set > 2013


fotos joรฃo alvarez

sumรกrio capa

Conheรงa os projetos que pretendem transformar Salvador em uma cidade de ciclistas Pรกgina 28


10 Consumidor Sonho da casa própria vira pesadelo com atrasos na entrega dos imóveis

18 Acessibilidade

Criação de equipamentos esbarra em burocracia para chegar ao mercado

35 Sanear

Parceria entre Crea e Funasa prevê capacitação técnica de 50 municípios para criação dos planos municipais de saneamento

22 Tilápia Bahia ocupa

4º lugar em produção no País, e meta é crescer ainda mais

veja edição online no site www.creaba.org.br

38 Entrevista Urbanista e ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa fala sobre os desafios da mobilidade urbana


joão alvarez

>correio da possibilidade do Crea me ajudar neste assunto. Por favor, é de grande importância para mim. Obrigado! Marcus Góes Resposta: Você pode acessar, no nosso site, o menu de serviços ao público. Lá, você encontra um submenu com vagas de emprego, onde o profissional pode colocar os dados por especialidade e região escolhida. Aí está o link: http://www.creaba.org.br/Consulta-Vaga.aspx Boa sorte!

Capa

Parabéns a toda a equipe do Crea-BA pelo projeto gráfico e editorial da revista. A matéria de capa da edição nº43, "Ação social e rigor técnico", ficou excelente. A iniciativa de dar vida aos muros com arte e cores, abrindo espaço para a criatividade dos artistas, foi genial. Um abraço! Hendrik Aquino Entrevista

Decepção é a palavra mais apropriada para a entrevista A cidade nunca quis enfrentar os seus dilemas. O entrevistado mostrou desconhecer o que é a população de Salvador, comportando-se como “candidato a vereador de bairro” e sem conhecimento das necessidades da cidade, principalmente sobre transportes (problema mundialmente reconhecido como crônico nas grandes cidades) e, acima de tudo, relegando a compreensão do mais simples cidadão. Eu gostaria de ver uma retratação deste cidadão, que prefiro nem citar o nome, pois como mostrou não saber do poder desta população, deve ser ignorado. Orlando Costa edificações e palco móvel

Sou formado em edificações e gostaria de saber se posso assinar ART de lajes pré-fabricadas acima de 80 m2.. Outra informação: é necessário ter ART e planta para palcos móveis? Wagner de Oliveira Silva Resposta: O Decreto 90.922/85 estabelece que o técnico em edificações poderá projetar e dirigir edificações de até 80 m2 de área construída, que não constituam conjuntos residenciais, bem como realizar reformas, desde que não impliquem estruturas de concreto armado ou metálica e exercer a atividade de desenhista de sua especialidade. As atividades relativas a montagem 4

crea V.4, n. 44, p. 4 - jul/ago/set.2013 - Bahia

Ações sociais mobilizam o Crea-BA

Parcelamento

e desmontagem de palcos móveis precisam ser registradas no Crea-BA por meio da ART (Anotação de Responsabilidade Técnica). Ela deve ser feita por um profissional habilitado (engenheiro civil ou engenheiro mecânico). Atribuições

O tecnólogo pode assinar ART? Fiz faculdade pela FTC da Bahia e moro em Sergipe? Iza Melo Resposta: Caso possua registro no Crea, você poderá emitir ART, especificando os serviços que estejam dentro das atribuições do tecnólogo de segurança do trabalho. Caso o serviço seja realizado no estado de Sergipe, orientamos que busque informações mais específicas naquele estado, pois podem haver divergências entre os procedimentos operacionais de cada regional. Estágio

Sou aluno do 8º semestre de Engenharia Ambiental e não consegui estágio na área ainda, gostaria de saber

Sou cadastrado no Crea-BA desde 2008, porém não utilizo a carteira do Conselho. Preciso fazer o pagamento desses anos e minha carteira vai vencer no dia 14.12.2013. O pagamento pode ser parcelado? Marcus Goes Resposta: Você pode solicitar por e-mail (atendimento@creaba.org.br) ou comparecer ao Crea (no caso de solicitação de parcelamento) para reativar seu registro e obter o boleto para quitação das anuidades em atraso. A renovação da carteira é gratuita. Reiteramos que o parcelamento do débito é possível, mas, nesse caso, você deve comparecer ao Crea. Erramos

A imagem do Sistema Aquífero Urucuia, que ilustrou a matéria Gerenciamento das águas mobiliza especialistas, publicada na edição 41, página 37, da Revista do Crea foi divulgada sem os devidos créditos. A ilustração foi elaborada a partir de um trabalho científico apresentado pelo geólogo e professor Natanael da Silva Barbosa.

Fale conosco Envie a sua mensagem, contendo nome completo, e-mail e telefone, para o endereço eletrônico: revista@creaba.org.br. Reservamo-nos o direito de, sem alterar o conteúdo, resumir e adaptar os textos publicados. Siga o Crea-BA nas redes sociais: www.facebook.com/CreaBa. @CreaBahia. twitter.com/CreaBahia. PARA ANUNCIAR: revista@creaba.org.br. Tel.: (71) 3453-8912/3453-8929. Edição online no site www.creaba.org.br


João Alvarez

>editorial

Salvador de bike

Presidente Marco Amigo Diretoria 2013 1º vice-presidente Leandro de Aragão Correia Fonsêca 2º vice-presidente José B. de Oliveira Júnior 1º diretor administrativo Joseval C. Carqueija 2ª diretor administrativo Antônio Arêas Sobrinho 1° diretor financeiro Jefté Nascimento da Silva 2ª diretora financeira Silvana Marília Ventura 3º diretor financeiro Otoniel Magalhães Morais CÂMARAS ESPECIALIZADAS/ COORDENADORES Agronomia Nilton Sampaio Freire de Mello Engenharia Civil Valter Souza M. Sarmento Engenharia Elétrica Sérvulo de Oliveira Ramos Engenharia de Agrimensura Juci Conceição Pita Engenharia Mecânica Jair Carlos Bertoldi Engenharia Química Paulo Gilberto Silva Geologia e Eng. de Minas Laelson Dourado Ribeiro

cr a

Assessora de Comunicação e Marketing Luciana Kroger Editora/Jornalista responsável Kátia Borges (DRT 5276) Colaboradores Cíntia Ribeiro, Nadja Pacheco, Marcos Fonseca, Ronaldo Brito e Gentil (ilustrações) Revisão Marcos Navarro Projeto gráfico e diagramação Ana Clélia Rebouças Fotos João Alvarez (DRT 1912) Impressão Gráfica Ediouro Tiragem 45 mil exemplares

Trabalhador segue para o trabalho de bicicleta, cena cada vez mais comum no cenário da cidade

“A cidade ideal é onde as pessoas são felizes!”, afirma o entrevistado desta edição, o urbanista e ex-prefeito de Bogotá Enrique Peñalosa. Entre os destaques da sua administração, à frente de uma das metrópoles mais violentas do mundo, está a implantação de 300 km de ciclovias que contribuíram para a urbanização e humanização local. Ainda que alguns classifiquem como incipiente, em Salvador foi dada a largada para a inclusão das bicicletas na vida dos soteropolitanos. A iniciativa da prefeitura municipal, em parceria com um banco privado instalou, cinco estações -nas praças Castro Alves, Piedade, Campo Grande, Porto da Barra e Jardim Apipema. E o projeto prevê mais 40 estações de compartilhamento, até o final deste ano, do Comércio à Orla, onde a prefeitura pretende também recuperar as ciclovias. Pensar a bicicleta como um meio de transporte não é novidade em muitos países e até mesmo em outras capitais brasileiras já é uma realidade incorporada à rotina das cidades. Além dos aspectos práticos, abordados na matéria de capa (melhoria da mobilidade urbana, economia para o usuário, prática de atividade física e preservação do meio ambiente), o uso regular da “magrela” melhora a relação entre as pessoas e com a cidade. Pedalando, é possível fugir dos engarrafamentos e conhecer melhor onde se vive, além de exercitar o corpo e a cidadania, olhando as paisagens e as pessoas nos olhos. Luciana Kroger Assessora de comunicação do Crea-BA

nosso endereço Rua Prof. Aloísio de Carvalho Filho, 402, Engenho Velho de Brotas CEP 40243-620 – Salvador-BA Fone: (71) 3453-8989 Telecrea: (71) 3453-8990 Fax: (71) 3453-8963 e-mail: revista@creaba.org.br www.creaba.org.br *As opiniões emitidas nas matérias e artigos veiculados nesta publicação são de total responsabilidade de seus autores Revista CREA-BA/Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia. - Nº 43 (Abril/Maio/Junho 2013). Salvador: CREA-BA, 2006 - ISSN 16792866 Trimestral 1. Arquitetura. 2. Engenharia. I. Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia

CDU 72:63 (813.8) CDD 720

V.4, n. 43, p. 5 - abr/mai/jun.2013 - Bahia

crea 5


Ensino e exercício profissional

O Crea promoveu o “IV Seminário de Ensino e Exercício Profissional”, no dia 18 de outubro, no auditório da instituição. O encontro discutiu, entre outros temas, procedimentos para autorização, reconhecimento e renovação de cursos técnicos e de engenharia. Segundo o presidente Marco Amigo, a preocupação com a formação e com a prática profissional é uma constante. “Queremos saber que profissionais estamos formando e quais as atribuições que eles estão recebendo”.

fotos João Alvarez

>curtas

Boleto por e-mail

Frota de veículos do Crea-BA: nova identificação visual

Nova frota A presença do Crea-BA ficou mais forte na capital e no interior com a chegada da nova frota de veículos. A aquisição dos automóveis, bem como o incremento da oferta de cursos e palestras, além da contratação de novos funcionários para dinamizar o atendimento aos profissionais da área tecnológica, fazem parte do processo de modernização iniciada pela atual gestão. De acordo com o presidente, engenheiro mecânico Marco Amigo, a nova frota, composta por dez veículos, sendo duas caminhonetes com tração 4x4 e oito automóveis de passeio, atendem ao princípio da eficiência na administração pública.

Marco regulatório O Novo Marco Regulatório da Mineração foi tema de uma mesa-redonda, realizada no dia 1º de novembro, no auditório do Crea-BA. O encontro, que encerrou os trabalhos da “3ª Reunião Ordinária da Coordenadoria de Câmaras Especializadas de Geologia e Engenharia de Minas do Sistema Confea/Crea”, discutiu diferentes aspectos do Projeto de Lei 5.807/2013, atualmente em tramitação no Congresso Nacional. Promovido em parceria com a OAB e com a Mútua-BA, o debate teve o objetivo de trazer a público preocupações em relação à nova legislação, que, embora não tenha contado com as contribuições dos setores sociais envolvidos na cadeia da mineração, está prevista para entrar em votação nas próximas semanas. “Devido à abrangência desta lei, é fundamental que se promova uma ampla discussão com os profissionais e com a sociedade, pois estes serão impactados pelas novas regras, que vão nortear a atividade mineradora no País”, explicou o 2º vice-presidente do Crea, engenheiro de minas José Batista de Oliveira Júnior.

6 crea V.4, n. 44, p. 6 - jul/ago/set.2013 - Bahia

Louos e PDDU O Tribunal de Justiça da Bahia julgou (por 30 votos a dois) no dia 14 de outubro, como inconstitucionais as Leis 8.378 e 8.379, de Ordenamento do Uso e de Ocupação do Solo (Louos), e o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) da Copa, respectivamente, aprovadas em 29 de dezembro de 2011 pela Câmara Municipal de Salvador. A falta de participação popular na discussão da legislação, bem como a inexistência de estudos técnicos, foram os argumentos sustentados pelo

Assim como ocorreu em 2012, este ano, o Crea-BA enviará por e-mail o boleto com a cobrança de anuidades. Para receber a guia de cobrança, o profissional deve estar atualizado no cadastro, o que pode ser feito por meio do site www. creaba.org.br. As empresas que não estiverem atualizadas devem apresentar a alteração contratual na sede do Crea ou nas inspetorias.

Paulo Macedo

Advogado Celson Oliveira representou o Crea

relator do processo, desembargador José Edivaldo Rocha Rotondano. Para o presidente do Crea, Marco Amigo, a decisão é importante. “Representa o entendimento de que a participação da sociedade é essencial à definição do futuro das cidades”.


João Alvarez

Papel social Uma campanha de doação organizada pelo Crea-BA, em parceria com a Mútua e a Universidade Salgado de Oliveira (Universo), arrecadou alimentos não-perecíveis, roupas e brinquedos para a ONG Lar Pérolas de Cristo. A instituição, localizada no bairro Tubarão, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, acolhe meninos e meninas que sofreram abuso sexual. O objetivo da parceria é contribuir para a continuidade do funcionamento do local, que atualmente abriga 120 crianças e adolescentes. Segundo o chefe de gabinete do Crea, engenheiro químico Herbert Oliveira, a iniciativa não termina com a campanha. “Vamos buscar parceiros que possam apoiar a instituição, que tem feito um trabalho exemplar no acolhimento e na recuperação dessas crianças, vítimas da crueldade de adultos. Nosso interesse é estimular programas que ajudem na inserção desses jovens no mercado de trabalho para que eles possam deixar a instituição e construir suas próprias vidas”.

Equipe de fiscalização do Crea-BA em ação nas regiões de Ituberá e Valença

Fiscalização em Ituberá A Fiscalização do Crea-BA realizou uma operação nos empreendimentos de aquicultura das regiões de Ituberá e Valença, entre 16 e 18 de outubro. Empresas que trabalham com a criação de tilápia e camarão foram fiscalizadas. Na ocasião, os fiscais solicitaram as Anotações de Responsabilidade Técnica (ART), além de registros das empresas e dos profissionais e documentos da Comissão Técnica de Gestão Ambiental e do Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais (PPRA). De acordo com o supervisor de fiscalização, Uvirley Borges, o objetivo é orientar os profissionais no atendimento à legislação, visando à qualidade, à segurança e ao bem-estar da população.

Enegep Informação para a indústria Uma das etapas do Plano de Fiscalização de Unidades Industriais, que contempla um conjunto de ações preventivas – palestras, plantão de dúvidas –, desenvolvidas de forma articulada e integrada com as empresas, foi realizada no Complexo Petroquímico de Camaçari, no dia 12 de setembro. Durante a atividade, profissionais e representantes de empresas terceirizadas que atuam no Polo Industrial conheceram diferentes aspectos e a importância do trabalho realizado pelo Crea-BA. Esse foi também o foco da palestra do analista técnico e engenheiro mecânico Pedro Rios, que intercalou informações sobre exercício profissional e sobre o Conselho. A orientação prévia permite que o contratante fique atento aos critérios de admissibilidade das prestadoras de serviços, a exemplo da exigência de Certidões de Acervo Técnico e de Registro e Quitação. Este último é o documento que identifica as atividades que o profissional está habilitado a desempenhar e sua situação cadastral.

O “XXXIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção” (Enegep 2013), apoiado pelo Crea e pela MútuaBA, foi realizado em 8 de outubro. O evento aconteceu no Hotel Pestana e reuniu cerca de 2 mil participantes. Gestão de processos de produção e as parcerias globais para o desenvolvimento sustentável dos sistemas produtivos foi o tema do encontro, que teve como proposta estimular o intercâmbio entre profissionais, pesquisadores, professores e estudantes. V.4, n. 44, p. 7 - jul/ago/set.2013 - Bahia

crea 7


João Alvarez

>curtas

Presidente do Crea-BA, Marco Amigo, fala sobre a importância das FPIs

Seminário da Fiscalização O Crea-BA realizou, entre 2 e 6 de setembro, o seu “9º Seminário de Fiscalização”. O evento, que acontece a cada dois anos, tem o objetivo aproximar os profissionais e alinhar ações, focando a responsabilidade social do Sistema Confea/Crea e Mútua, além de propor o engajamento coletivo para que os serviços aos profissionais e à sociedade sejam otimizados. Representantes dos Creas do Distrito Federal, Tocantins e Paraná também participaram do encontro, que foi realizado no Hotel Bahia Plaza Resort, em Camaçari. O presidente Marco Amigo pediu empenho dos fiscais para que atuem de forma que a sociedade perceba a importância do trabalho da instituição.

8

Nova diretoria A nova diretoria do Sindicato dos Técnicos Industriais da Bahia (SintecBA) para o quadriênio 2013-2016 tomou posse em 15 de agosto, no auditório do Crea-BA. Durante a solenidade, o técnico em segurança do trabalho Marcos Xavier fez palestra sobre a importância dos técnicos no mercado. O presidente do Crea, engenheiro mecânico Marco Amigo, falou sobre a satisfação de acompanhar a evolução do Sindicato, desde a sua fundação até a estruturação atual. “O momento da construção de um sindicato é único. É importante que as entidades não se distanciem dos objetivos comuns e que seja mantido o sentimento de união, fundamental para o trabalho sindical”.

Engenharia pública

Engenharia pública II

Manifestação

A Prefeitura de Barreiras e o Crea-BA discutiram, em uma reunião realizada em 4 de setembro, a implantação de um escritório de engenharia pública no município. A instalação do “Crea Móvel” – estrutura que funcionará como ônibus/ escritório e percorrerá os bairros pobres para atendimento à população com baixo poder aquisitivo – também foi discutida. Para o secretário de Infraestrutura, Maurício Fernandes, que também é inspetor do Crea, a ideia atende às necessidades do município e permite a segurança na construção das habitações. A iniciativa propõe ainda criar um banco de projetos que possa ser utilizado pela população de baixa renda.

Com a proposta de formatar o Projeto de Engenharia Pública para Salvador, foram realizadas reuniões, no último semestre, entre o Crea, a Prefeitura de Salvador e a Ufba. A proposta é oferecer às famílias de baixa renda assistência técnica gratuita para construir, ampliar ou reformar imóveis. Entre as tarefas da gestão municipal estão a criação de projetos de arquitetura, cadastro de imóveis e emissão do Registro de Responsabilidade Técnica (RRT) junto ao Conselho de Arquitetura. A universidade ficou responsável pelo acompanhamento das obras, com projetos de estrutura, hidráulica e elétrica, e na execução do projeto arquitetônico. Cabe ao Crea reduzir o valor da ART para obras populares.

O protesto dos técnicos contra a falta de espaço no Sistema Confea/Crea marcou o encerramento da 70ª Soea e 8º CNP, entre 9 e 14 de setembro, em Gramado (RS). Durante o pronunciamento do presidente do Confea, engenheiro civil José Tadeu da Silva, dezenas de técnicos de vários estados manifestaram insatisfação com o tratamento dado a eles pela gestão do Confea.

crea V.4, n. 44, p. 8 - jul/ago/set.2013 - Bahia


>nononono

AGILIDADE E ECONOMIA PARA SUA OBRA NÃO FICAR PARADA. Conheça o UltraSystem com Tubo Multicamadas, mais uma inovação adotada pela Brasilgás, que oferece, além de economia, mais agilidade para sua construção. Com 50% de redução no tempo de instalação, menor quantidade de conexões e maior durabilidade, o Tubo Multicamadas é a garantia de utilização do que há de melhor em termos de segurança em instalações de gás. A Brasilgás trabalha somente com instaladores qualificados e fornecedores certificados pela ABNT, visando manter a segurança total das obras. Não abra mão da segurança na sua obra, escolha o UltraSystem com Tubo Multicamadas.

Ligue para a Unidade de Apoio ao Cliente e saiba mais: 4003 1616 (capitais e regiões metropolitanas) ou 0800 886 1616 (demais regiões).

www.brasilgas.com.br

V.4, n. 43, p. 3 - abr/mai/jun.2013 - Bahia

crea 9


>habitação

Em defesa do lar, doce lar Atraso na entrega de imóveis comprados na planta predomina entre as reclamações nos órgãos de defesa do consumidor Por Ronaldo Brito fotos joão alvarez

desejo de ter uma casa ampla, mais moderna e com melhor infraestrutura levou o delegado de polícia Alfredo Hinain Mehmeri a comprar um imóvel na planta. Antes de se decidir, pesquisou o mercado, investigou a idoneidade da construtora e acabou optando por um apartamento num desses condomínios que surgiram na Avenida Paralela nos últimos cinco anos. Feito o negócio, vendeu o antigo imóvel, mas pediu ao comprador que lhe desse um tempo para a entrega das chaves. A ideia era mudar do antigo para o novo apartamento um mês depois

10 crea V.4, n. 44, p. 8 - jul/ago/set.2013 - Bahia


O delegado Alfredo Mehmeri teve que acionar a Justiça para conseguir receber o imóvel comprado na planta

da data prometida pela construtora. Tudo dentro dos conformes para evitar surpresas de última hora. O que o delegado não contava era que o sonho da nova casa iria se transformar em caso de polícia. Ou melhor, de Justiça. Passado o prazo previsto para a entrega, nada de a construtora entregar o imóvel. Foram meses e meses de espera, até que chegou o dia de passar o antigo apartamento para o comprador. Para sorte de Mehmeri, o novo proprietário, que morava fora da cidade, propôs que ele alugasse o imóvel até que a construtora lhe entregasse as chaves. Acordo feito, o delegado permaneceu na ex-casa, mas viu o orçamento estourar. Desde então, passou a arcar com um aluguel mensal e com a parcela do financiamento. Mais alguns meses, cansado das promessas de entrega não cumpridas, resolveu acionar a construtora na Justiça. Reclamou danos morais e materiais, baseado no Código de Defesa do Consumidor. “Foi um ano e meio de muito desgaste emocional. Quando você compra um imóvel, prepara-se psicológica e financeiramente para viver aquele momento. Quando isso dá errado, vem a frustração. A gente se desestrutura mesmo”. Em janeiro deste ano, a construtora entregou o imóvel, mas a briga na Justiça continua. A empresa foi condenada a pagar R$ 100 mil a título de indenização pelos danos morais e materiais causados ao cliente. A condenação ocorreu em primeira instância, o que permite à construtora recorrer. Mas o dano foi feito e o delegado espera ser ressarcido dos prejuízos gerados pelo atraso. Histórias como a de Mehmeri, a maioria ainda

sem final feliz, são mais comuns do que se imagina. Segundo a advogada Erika Pontes, especializada em direito do consumidor, o boom imobiliário vivido no Brasil nos últimos anos levou muitos construtores ao banco dos réus e muitos consumidores a amargar prejuízos. Materiais e emocionais. “Os atrasos na entrega chegam perto dos 100%. Rara é a empresa que cumpre o prazo. Aqui no escritório, a média de entrada de processos de consumidores lesados por construtoras é de dez ao mês”. golpe

A funcionária pública Luciana Brandão é uma das consumidoras que engrossam essa estatística. Ela, por sinal, não é a única da família a esperar pela construtora para se livrar do aluguel. “Aqui, fomos três a cair nesse golpe. Cada um adquiriu um apartamento na planta num condomínio no Acupe de Brotas, em 2008, com entrega prevista para 2011, e até hoje ele não foi entregue”. Os compradores de unidades no prédio de Luciana chegaram a criar uma associação V.4, n. 44, p. 9 - jul/ago/set.2013 - Bahia

crea 11


>habitação

para reivindicar na Justiça o direito ao bem adquirido. A obra está pronta. A promessa é que os imóveis sejam entregues até o final do ano, mas as ações continuarão. “Precisamos ser indenizados. Moral e financeiramente. Pagamos aluguéis esses anos todos, nos desgastamos, inclusive emocionalmente, e queremos que nossos direitos sejam respeitados”. Cuidados

De acordo com os órgãos de defesa do consumidor, todas as pessoas que se sentirem lesadas devem buscar seus direitos. Erika Pontes ressalta que os consumidores têm direitos assegurados e, muitas vezes, nem sabem. Um deles, diz a ad12 crea V.3, n. 44, p. 10 - jul/ago/set.2013 - Bahia

vogada, é que, caso a construtora atrase, o saldo devedor seja congelado até o momento da entrega. “No geral, a Justiça tem assegurado que as construtoras paguem aos clientes 1% do valor do imóvel, ao mês, multiplicado pelo número de meses de atraso, mais a cláusula penal, que também é aplicada”. Esse foi o caso do delegado Mehmeri. Os especialistas orientam ainda que o consumidor pesquise bem antes de se decidir pela compra de um imóvel. Antes de fechar negócio, o ideal é procurar informações sobre a construtora, se há precedente em relação a atrasos no prazo de entrega de outros imóveis que ela construiu. Outra orientação importante é não deixar de atentar

Especialista em direito do consumidor, Erika Pontes diz que o boom imobiliário levou muitos construtores ao banco dos réus

para itens básicos como a qualidade da obra, principalmente na fase de acabamentos. Mais uma dica, segundo os órgãos de defesa, é guardar todos os folhetos e material de divulgação do lançamento do imóvel. De acordo com o Proteste, entidade de defesa do consumidor, o primeiro passo em casos de atrasos na entrega das chaves é buscar o diálogo, estabelecer uma negociação com a empresa. Caso não se chegue a um acordo, deve-se acionar judicialmente a construtora. “A Justiça tem sido muito favorável. Há casos em que até o valor do aluguel, pago pelo consumidor após o vencimento do prazo estipulado pela construtora para a entrega do bem, deve ser ressarcido”, explica a advogada Erika Pontes. Segundo a coordenadora do Proteste, Maria Inês Dolci, o consumidor pode até desistir da compra e pedir o seu dinheiro de volta, corrigido devidamente pelo INCC. Mas ela faz um alerta: “Não vale parar de pagar simplesmente porque não recebeu as chaves. A obrigação do comprador não é eliminada pelo atraso do vendedor”. Portanto, é bom lembrar que, para defender seus direitos, é importante continuar pagando em dia. Ademi

Entidade que congrega as empresas que atuam no mercado imobiliário baiano, a Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-BA) contesta os dados. De acordo com o presidente da entidade, Nilson Sarti, os atrasos aconteceram com maior intensidade


«

“Não vale parar de pagar as prestações do imóvel simplesmente porque não recebeu as chaves. A obrigação do comprador não é eliminada pelo atraso do vendedor" Maria Inês Dolci, coordenadora do Proteste

no período em que o setor estava mais aquecido. “Essas situações aconteceram com mais frequência lá atrás, quando a construção civil estava num período muito aquecido. E isso aconteceu porque este crescimento foi em todo o País, o que provocou escassez de material e, sobretudo, de mão de obra, o que impactou

nos prazos de entrega previstos pelas construtoras”. Sarti diz que hoje, com a situação do mercado regularizada, os prazos têm sido cumpridos com muito mais rigor. “É natural que os consumidores se sintam lesados, tanto moral quanto financeiramente, afinal eles apostaram num prazo e se programaram para esse prazo”.

Para o dirigente da Ademi-BA, essas situações nunca acontecem em decorrência de má fé. Até porque, segundo ele, quando isso acontece, os prejuízos maiores recaem sobre os empresários da construção civil. “A perda para as empresas é muito grande. Mas já vencemos esse ciclo, o mercado está entrando na normalidade e os prazos estão sendo cumpridos”. Mas não é isso que mostram os dados dos órgãos que atuam na área de defesa do consumidor. Na Bahia, não há dados compilados, mas em estados como São Paulo, por exemplo, de acordo com o site Reclame Aqui, nos últimos 12 meses, foram registrados quase dez mil reclamações de consumidores a construtoras. Entre os principais motivos estão o atraso na entrega dos bens. E fique atento. As campeãs de reclamações são empresas bastante conhecidas do grande público. Então, não custa ficar atento antes de se decidir só porque a construtora está na mídia. Afinal, como diz o dito popular, prevenir é melhor do que remediar.

MBA É NO INBEC CURSOS COM INSCRIÇÕES ABERTAS EM SALVADOR-BA - MBA EM GERENCIAMENTO DE OBRAS E TECNOLOGIA DA CONSTRUÇÃO - 480h - ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA GEOTÉCNICA: Fundações e Obras de Terra - 480h - ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DIAGNÓSTICA: Patologia e Perícias na Construção Civil - 440h

IN S T I T U T O BR A S

E EDUCA ÇÃO CO OD NT

I

AD A

Realização:

EIR

NU

IL

- ESPECIALIZAÇÃO EM ARQUITETURA HOSPITALAR - 480h

INB

EC

INBEC/BA - INSTITUTO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA Rua Alceu Amoroso Lima, 786 - Ed. Tancredo Neves Trade Center - Sl. 821 - Caminho das Arvores - Salvador - BA Fone: (71) 3012-0076 | Email: salvador@inbec.com.br V.3, n. 42, p. 11 - jan/fev/mar.2013 - Bahia crea 13 Matrículas pela Internet: www.inbec.com.br/ba


>Ciberespaço

A ameaça dos espiões virtuais A fragilidade do tráfego digital no País faz com que usuários tenham que redobrar cuidados ao acessar a internet em casa ou no trabalho Por cíntia Ribeiro > ilustração gentil

divulgação pela imprensa de que a infraestrutura de telecomunicações do Brasil tem sido alvo de espionagem de governos de outros países, sobretudo dos Estados Unidos, revelou a fragilidade de nossas redes – corporativas, institucionais e domésticas. O episódio, deflagrado a partir do vazamento de documentos divulgados por Edward Snowden, ex-técnico da CIA, confirmou o óbvio: as ameaças existentes no ambiente virtual são tão concretas quanto as do mundo real. Gestor de Segurança da Informação e Comunicações da Ufba, Eder Freire explica que a revelação da espionagem trouxe à tona fatos que já vinham sendo discutidos, como a exigência legal, por parte de alguns países, de que as indústrias de telecomunicações que produzem ou operam em seu território mantenham brechas de segurança conhecidas como backdoors (porta dos fundos). A função desses dispositivos é permitir o monitoramento das comunicações sob a justificativa de preservar a segurança nacional. Esse é o caso 14 crea V.3, n. 44, p. 12 - jul/ago/set.2013 - Bahia

dos EUA, com seu Communications Assistance for Law Enforcement Act (CALEA). Outra agravante, segundo Freire, é a ausência, no Brasil, de investimentos em pesquisa e desenvolvimento voltados para as tecnologias de redes e de segurança da informação. “Isso faz com que a infraestrutura nacional de telecomunicações dependa em boa parte do uso de equipamentos e soluções tecnológicas produzidas em outros países, de modo que não há como garantir que um software ou equipamento de rede desenvolvido nos Estados Unidos, por exemplo, esteja 100% livre de qualquer mecanismo de monitoramento”. vulnerabilidade

Da mesma forma que ocorre com a infraestrutura nacional, muitas redes domésticas estão expostas às vulnerabilidades dos equipamentos. Informações recentes indicam a existência de backdoor em roteadores de rede sem fio de uso doméstico, permitindo acesso remoto. Analista de redes e segurança do Ponto de Presença (PoP)

da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa na Bahia (RNP), Italo Valcy da Silva Brito reitera que nenhum sistema é 100% seguro. “Quando foi criada, a internet não foi projetada para atender às demandas e aos perfis de uso que temos atualmente. As medidas de segurança estão sendo adicionadas à medida em que falhas são encontradas”. Membro fundador do Grupo de Resposta a Incidentes de Segurança (CERT.Bahia), Brito explica que o risco para o usuário aumenta em algumas situações. O uso de redes públicas abertas (wi-fi), o fornecimento de informações sensíveis em sites sem criptografia e o armazenamento de informações em equipamentos de terceiros são portas abertas à vulnerabilidade. “É como se os problemas de segurança que temos no mundo real tivessem equivalentes no mundo virtual. Quem estiver atento aos requisitos de segurança em sua rede doméstica, no seu trabalho ou na infraestrutura de sua empresa, estará mais seguro no ambiente virtual”. O especialista concorda que a prin-


cipal fragilidade, no entanto, é a falta de conscientização dos usuários e das organizações acerca dos riscos aos quais estão expostos ao usar recursos tecnológicos sem a devida precaução. “A internet fornece um ambiente fantástico para aprendizado, entretenimento e comunicação, porém a preocupação com a segurança deve estar presente em cada clique, em cada texto submetido. Nas organizações, a segurança da informação precisa ser vista como estratégica para o negócio, com investimentos e prioridade condizentes”. Outra medida para reduzir a fragilidade do tráfego digital é a autonomia no armazenamento de dados. “Não devemos trocar informações críticas ou estratégicas usando sistemas de empresas estrangeiras, como infelizmente acontece em algumas organizações. No ambiente corporativo, deve-se evitar o uso de serviços hospedados em nuvens públicas. Já no ambiente doméstico, tais serviços devem ser usados apenas quando informações sensíveis não são transportadas”. O fator humano

No caso das redes domésticas e de pequenas empresas, há ainda uma agravante: muitas vezes, questões básicas de segurança não são observadas. De acordo com Eder Freire, um exemplo dessa inobservância são a redes sem fio domésticas que não exigem nenhum tipo de autenticação dos seus usuários – as chamadas redes "abertas" – ou que usam mecanismos de autenticação ultrapassados. Muitos usuários mantêm as configurações padrão de senha dos roteadores. Definidas pelos fabricantes, elas podem ser facilmente encontradas na internet. O investimento estratégico em tecnologias e equipamentos de rede confiáveis, V.4, n. 44, p. 13 - jul/ago/set.2013 - Bahia

crea 15


>Ciberespaço

Para ficar mais seguro

1 2 por governo, organizações e provedores brasileiros, ajuda, mas é insuficiente. É necessário que haja um processo contínuo de conscientização e capacitação em segurança da informação nos âmbitos corporativo, institucional e doméstico. Soberania em crise

De acordo com especialistas, para que se garanta plenamente a soberania nacional, é necessário que o Estado tenha total domínio das ferramentas e sistemas de segurança usados. A formulação de políticas de incentivo à indústria nacional, de modo a fomentar a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias próprias e confiáveis, está entre as ações apontadas como fundamentais. “É preciso que o governo, as organizações e os provedores de acesso invistam em equipamentos e tecnologias confiáveis e que possam garantir o tráfego de rede sem que haja interceptação dos dados”. Também é essencial que a confiabilidade dos equipamentos, tecnologias e infraestrutura de rede seja atestada através de um rigoroso processo de homologação por parte das autoridades competentes, como a Anatel. E, quando for o caso, é preciso exigir o fornecimento dos códigos-fonte dos componentes de software existentes para análise de vulnerabilidades. Outra indicação é o aprimoramento do uso da criptografia como recurso 16 crea V.3, n. 44, p. 14 - jul/ago/set.2013 - Bahia

de segurança nas comunicações, de modo a evitar que dados sigilosos possam ser acessados em caso de interceptação indevida. É consenso entre os especialistas que, por questões estratégicas e de soberania, a segurança das redes de comunicações utilizadas privativamente pelas diversas esferas de governo do Brasil deve, necessariamente, ser tratada como segurança de Estado. “De toda forma, independentemente do tratamento que determinado tráfego de dados venha a receber, é imprescindível que a infraestrutura das redes de comunicações brasileiras tenha condições de garantir a disponibilidade, integridade, confidencialidade e autenticidade das informações de todos os seus usuários”, afirma Freire. Segundo o engenheiro, uma série de ações e boas práticas, algumas delas incluídas na cartilha do CERT.BR, devem ser adotadas para atingir maior segurança dos dados. Do ponto de vista corporativo, Italo Valcy da Silva Brito acredita que as organizações devem investir não apenas em ferramentas e infraestrutura para oferecer um ambiente mais seguro, mas precisam também atentar-se ao cumprimento das normas de segurança da informação (ex: família de padrões ISO/IEC 27000) e principalmente investir nas pessoas, que são, na maioria das vezes, o elo mais fraco da corrente.

3 4 5 6 7 8 9 10

Não confie em sites de terceiros para troca de informações corporativas ou sigilosas Nas redes sociais, evite aceitar convites de desconhecidos, restrinja o acesso às suas fotos e dados pessoais e não divulgue sua rotina Navegando, use antivírus e firewall, mantenha aplicativos atualizados, use redes wi-fi seguras (criptografadas) e protegidas por senha Não clique em links ou execute arquivos recebidos por e-mail, redes sociais ou mensagem instantânea Use senhas fortes e diferentes para cada serviço e evite anotá-las em locais visíveis Ao compartilhar recursos em uma rede doméstica, especifique os usuários que devem ter acesso Não dispense a criptografia para proteger informações sigilosas, principalmente em dispositivos de armazenamento portátil Só use software licenciado. Softwares piratas não possuem suporte a atualizações e podem conter malwares Bloqueie a tela de início com senha Não clique em links para endereços desconhecidos e não baixe anexos com extensões incomuns >Saiba Mais www.rnp.br http://certbahia.pop-ba.rnp. br/Cartilhas


V.4, n. 42, p. 15 - jan/fev/mar.2013 - Bahia

crea 17


>acessibilidade

Sonhos eficientes X realidades deficientes

Boas ideias para melhorar a locomoção de pessoas com deficiência ainda esbarram na burocracia e na falta de informação

Por Nadja Pacheco Fotos João alvarez

elhorar a acessibilidade de milhares de pessoas com deficiência é o sonho de muitos profissionais da área tecnológica. No Brasil, entretanto, conseguir esse feito vira pesadelo diante dos entraves burocráticos. Não faltam boa vontade e iniciativa, mas sobram exigências. O engenheiro mecânico Vinícius Dias conhece bem essa realidade. Ele desenvolveu um elevador para auxiliar na locomoção de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, mas o equipamento acabou sendo usado em shows de artistas como Ivete Sangalo e Claudia Leitte. Embora tenha garantido lucro maior com o uso de sua invenção pela indústria do entretenimento, o engenheiro não esconde a frustração. “O que gera um

desconforto grande é o fato de o equipamento não desempenhar o fim social que imaginamos inicialmente. Isso incomoda, porque todos os dias presenciamos inúmeras situações em que os direitos das pessoas com deficiência não são respeitados. Conheço pessoas que desenvolveram produtos fantásticos nessa área e que se deparam com as mesmas barreiras culturais e políticas”. De acordo com dados do Censo 2010, o Brasil possui mais de 45 milhões de pessoas com deficiência. Do total, 700 mil estão na Bahia, o que representa aproximadamente 25% da população. Embora a garantia de acessibilidade esteja inscrita na Lei 10.098/2000, e regulamentada pelo Decreto 5296/2004, na prática, não funciona. Para que uma in-

18 crea V.4, n. 44, p. 16 - jul/ago/set.2013 - Bahia

venção chegue ao mercado, é preciso passar pelo crivo de diversos órgãos, entre eles o Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI, além de instituições ligadas às áreas de fiscalização e controle, como Anvisa e Inmetro. A invenção de Vinícius, por exemplo, ainda não foi sequer patenteada. O único incentivo recebido da esfera pública veio por meio da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, mais especificamente da Superintendência dos Direitos da Pessoa com Deficiência. “A verdade é que somos pequenos frente ao problema como um todo. A luta pela melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência não pode parar, mas confesso que, para mim, a luz no fim do túnel ainda está bem distante”.

Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas com o elevador, o engenheiro continua investindo conhecimento no desenvolvimento de tecnologias voltadas para a reabilitação de pessoas com paraplegia, tetraplegia e hemiplegia (paralisia de metade sagital, esquerda ou direita). Mas confessa que a motivação não é mais a mesma. “Toda e qualquer empresa visa o lucro e, por isso, estamos focando o desenvolvimento de produtos em áreas em que as barreiras são menores”. Tecnologia

Na área da automação residencial, os entraves são outros. Falta de propaganda, escassez de mão de obra qualificada e a ideia de que o serviço é de alto custo são as principais barreiras enfrentadas. Segun-


O engenheiro eletricista Weber dos Anjos e sua criação: software que controla a luz com um toque

dos Anjos, que é empresário do ramo há três anos, o mercado está passando por um importante momento de consolidação. Por outro lado, a falta de divulgação do serviço e a escassez de mão de obra qualificada impedem que o segmento amadureça. “Na Bahia, percebemos um interesse em soluções desse setor, pois muitos projetos já preveem

>

do dados da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside), o crescimento esperado este ano no Brasil, em relação a 2012, é de 35%. O resultado relaciona-se ao aumento do interesse da população por tecnologias voltadas para sustentabilidade, segurança e bem-estar. De acordo com o engenheiro eletricista Weber

O Brasil possui mais de

45 milhões de pessoas com deficiência Do total, 700 mil estão na Bahia, o que representa aproximadamente 25% da população Fonte: Dados do Censo 2010

a existência de sistemas de automação. No entanto, a impressão de que o serviço é um artigo de luxo precisa ser mudada. Outro ponto é a resistência às mudanças e às novas tecnologias, bem como a carência da formação profissional. Um exemplo é a falta de disciplinas relacionadas a esse tema em escolas de nível técnico e superior”. Weber reforça ainda que a qualidade e a quantidade de empresas integradoras de sistemas de automação dependem de uma boa formação e sugere que o assunto seja tratado não somente nas disciplinas de cursos técnicos e superiores, mas também nas publicações e eventos. Sobre o mercado da automação fora do Brasil, o engenheiro explicou que existem duas realidades: a dos Estados Unidos e a da Europa. “O mercado americano, mais focado no entretenimento e no bem-estar, foi responsável pela grande revolução que ocorreu nos últimos anos, com o desenvolvimento dos tablets e smartphones. Esses equipamentos potencializaram os recursos dos sistemas de automação, além de sinalizar que existem inúmeras possibilidades de personalizar cada projeto”. Já a realidade europeia, na opinião de Weber, atua como desenvolvedor de tecnologias voltadas para a redução no consumo energético e alarmes técnicos.

V.4, n. 44, p. 17 - jul/ago/set.2013 - Bahia

crea 19


>acessibilidade “Além disso, o envelhecimento da população europeia desperta a necessidade de desenvolvimento de tecnologias assistivas para a população idosa”, informa, destacando que o ponto comum entre os dois são a expansão de grandes empresas para os países emergentes, como o Brasil, e a criação de protocolos com o objetivo de padronizar as tecnologias de automação residencial. sustentável

Em se tratando de investimentos públicos, Weber argumenta que, embora haja muita propaganda em torno de programas como Minha Casa, Minha Vida, faltam incentivos que garantam o acesso da população às tecnologias de automação residencial voltadas à acessibilidade. Segundo ele, até o momento, os benefícios existentes se limitam a soluções voltadas à sustentabilidade, principalmente as relacionadas ao turismo. “As linhas de crédito direcionadas à modernização de hotéis incen-

«

"Muitos projetos já preveem a existência de sistemas de automação. No entanto, a impressão de que o serviço é um artigo de luxo ainda precisa ser mudada" Weber dos Anjos, engenheiro eletricista

tivam o uso de tecnologias que proporcionam redução no consumo energético. Porém, vemos poucas ações voltadas às pessoas com problemas de locomoção”. Deixar uma residência acessível, de acordo com o engenheiro eletricista, custa de 3% a 8% do valor do imóvel. “Um custo relativamente baixo, se for observada a possibilidade de independência das pessoas com deficiência”. A reportagem tentou contato com a assessoria de comunicação da Secretaria de Ciência e Tecnologia da Bahia para conhecer os investimentos que vêm sendo feitos nessa área para amparar o desenvolvimento tecnológico voltado à questão da acessibilidade, mas não obteve êxito.

18 -- jan/fev/mar.2013 jan/fev/mar.2013 -- Bahia Bahia 20 crea V.4, n. 42, p. 20

Soluções

Para identificar e reduzir as barreiras físicas nas vias públicas, o Crea-BA criou, em 2005, o Grupo de Trabalho de Acessibilidade. Entre os feitos do GT estão a criação da Comissão Permanente de Acessibilidade de Salvador, a elaboração do Ato Normativo do Sistema Confea/Crea nº 08/2006 (que prevê a aplicação das normas com ART nas edificações públicas e/ou coletivas) e a colaboração na criação do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência e da Lei Municipal de Calçadas (8.140/11). A instituição contribuiu ainda na revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) de Salvador, produzindo um

diagnóstico de acessibilidade da região central da cidade e realizando Fiscalizações Preventivas Integradas (FPI) e seminários na capital e no interior. No último semestre, o GT iniciou uma série de vistorias nos pontos de ônibus da capital, começando pelo terminal que fica próximo ao hospital Sarah Kubitschek. Composto por entidades governamentais e não-governamentais, o grupo tem como objetivo observar e fiscalizar o cumprimento da Lei 10.098/2000. De acordo com o coordenador do GT, engenheiro mecânico Antonio Arêas Sobrinho, a avaliação do primeiro ponto vistoriado revelou problemas como rampas íngremes, barreiras na subida e na descida dos veículos, falta de sinalização e piso inadequado. “A correção desses problemas é urgente, pois este ponto está próximo a um local frequentado por pessoas com deficiência”. As reuniões do GT do Crea-BA são mensais e abertas ao público.


V.4, n. 42, p. 19 21 - jan/fev/mar.2013 - Bahia

crea 21


>tilápia

A multiplicação dos peixes Na Bahia, 22 mil toneladas anuais de tilápia colocam o Estado em 4º lugar em produção no País. A meta é multiplicar este número por quatro Por carla bittencourt Fotos João alvarez

22 crea V.4, n. 43, p. 20 - ABR/MAI/JUN.2013 - Bahia


tilápia é o peixe da vez, o mais produzido no Brasil. Está no sashimi dos restaurantes paulistanos e no hambúrguer servido na merenda escolar do Rio Grande do Norte. O óleo, extraído das vísceras, virou biocombustível em uma usina no Ceará, e o couro, feito a partir da pele curtida, é a matéria-prima para bolsas e acessórios exclusivos no Mato Grosso. Na Bahia, 22 mil toneladas anuais de tilápia colocam o estado no quarto lugar em produção no País. A meta, segundo a Bahia Pesca, é multiplicar este número por quatro nos próximos três anos. Um cenário promissor para a engenharia. "Isso demanda a exigência profissional em toda a produção, do projeto ao beneficiamento", situa o engenheiro de pesca José Augusto Queiroz, assessor de relações institucionais do Crea-BA. Este ano, o Brasil sediou a Conferência Mundial da Tilápia, na qual o ministro da Pesca e Aquicultura, Marcelo Crivella, anunciou a produção do pescado como o principal investimento da pasta na área. O País ocupa o quarto lugar entre os produtores do mundo e intenciona chegar ao topo. De acordo com a Infopesca, o valor de mercado é estimado em R$ 1,3 bilhão ao ano. Toda essa aposta tem relação com o sabor delicado do peixe e a qualidade da carne, de pouca gordura e alto rendimento de filé, explica o gerente de aquicultura da Bahia Pesca, Flávio Souza. Mas vão além, relacionando-se a uma série de benefícios, como enumera o gestor da empresa vinculada à Secretaria de Agricultura: "Trata-se de um peixe de rápido crescimento, que aceita grande variedade de alimentos e se adapta a vários meios, com fácil procriação em cativeiro". Natural de água doce, a tilápia responde bem à aclimatação ao ambiente estuarino, de transição entre o rio

e o mar. Na prática, isso se traduz em oportunidades de negócios para empresários e pequenos produtores, que criam a tilápia em tanques escavados ou em tanques-rede. Mas nem tudo é entusiasmo. A criação, em acelerado crescimento, enfrenta dificuldades inerentes a esse tipo de negócio. Pela sua dimensão e complexidade, mas também por ser uma atividade que está em pleno processo de regulamentação. A análise é de André Santos, assessor de comunicação do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema). "Ainda falta assistência técnica na implantação desses empreendimentos, principalmente no que diz respeito à legislação ambiental". A preocupação é para que nenhum criatório seja montado em áreas protegidas. Outras, não menos importantes, são a disposição de resíduos sólidos, a capacitação para o manejo adequado e o investimento em ração de qualidade. Uma ração não balanceada, explica o assessor, implicaria aumento de nitrogênio e fósforo na água, ocasionando processos de eutrofização, fenômeno que desequilibra o ecossistema aquático. "Cuidar disso é essencial para que não se comprometa a qualidade ambiental". Aquicultura familiar

Paulo Afonso, ao norte do Estado, é a maior referência baiana. O clima colabora para fazer do peixe fonte de renda para mais de 500 famílias. Embora resista a temperaturas mais baixas, a tilápia gosta mesmo é de água quente, o que explica o fato de, no Nordeste, os lucros serem expressivos. A média de preço pago aos produtores é de R$ 4,50, o quilo. O padrão é de 800 gramas por peixe. A produção em tanques-rede vem se firmando como alternativa econômica também no semiárido. Um exemplo é a Coopera-

Processo: na fábrica, os peixes são pesados e anestesiados em água gelada. Cortados em filés, são preparados para embalagem

V.4, n. 44, p. 21 - jul/ago/set.2013 - Bahia

crea 23


>tilápia tiva dos Aquicultores de Águas Continentais (Coopecon), parte do Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com Sustentabilidade do Baixo Sul da Bahia. Desde 2010, a Coopecon atua entre os municípios de Ibirapitanga, Ituberá, Igrapiúna, Piraí do Norte e Nilo Peçanha. "O objetivo é fortalecer cada associado através da produção de pescado de água doce, notadamente da tilápia", pontua o coordenador Marcelo Costa. A cooperativa tem apoio da Fundação Odebrecht. Funciona assim: 50 cooperados são estimulados a adotar boas práticas de manejo, com monitoramento da água e da saúde do peixe. Os alevinos (filhotes) crescem e a despesca ocorre em cerca de seis meses. São 60 toneladas de peixe/mês. O público-alvo são os próprios cooperados. "Hoje temos alguns cooperados que, através da produção de tilápia, já integram a classe média rural, com renda de R$ 1.800 por mês". Desde o ano passado, a Coopecon entrou em nova fase, com a inauguração da unidade de beneficiamento de pescados. O engenheiro de pesca responsável por ela, Tiago Augusto Cerqueira, defende: “Temos uma unidade controlada e não há perigo de desequilíbrio ambiental, já que separamos a população e investimos na produção de machos", reitera. Do filé ao sapato

Os cooperados, que vendiam o peixe inteiro, passaram a comercializar o filé da tilápia, matéria-prima principal da indústria. Até o fim do ano, a produção terá 500 novos tanques-rede. A capacidade da indústria, que emprega 42 moradores da região, é trabalhar 7 mil quilos por dia. Os resíduos da industrialização também estão sendo

Funcionário cuida dos alevinos preservados in vitro

24 crea V.4, n. 44, p. 22 - jul/ago/set.2013 - Bahia

transformados em óleo e farinha de peixe. "Esses produtos são destinados à indústria animal e a produção deles acaba agregando mais renda aos cooperados”, conta Costa. Faz parte dos planos, de acordo com o engenheiro Tiago Augusto Cerqueira, a fabricação de linguiça e de sopa de tilápia, além do aproveitamento da pele na produção de calçados. Um equipamento feito à base de canos, torneiras e estruturas de fibra produz os alevinos. Quando os filhotes atingem 20 centímetros de comprimento, são colocados em tanques-rede. Cinquenta mil deles por tanque. É o que acontece no laboratório de incubação artificial da tilápia, desenvolvido pelo engenheiro de pesca da Água Vale, Arleques Teixeira. É ele quem explica que a temperatura elevada da água e os hormônios sintéticos são determinantes para que seja feita a indução sexual. Neste processo, quase 100% das larvas são transformadas em machos. Mas não há desequilíbrio, assegura. “Nós temos aqui um ambiente controlado, por isso estamos trabalhando na produção do peixe”. Meio ambiente

Como ressaltado por André Santos, do Inema, o entusiasmo em torno do mercado não pode deixar de lado a questão ambiental. Isso porque a tilápia é um peixe exótico e sua produção demanda cuidado para que seja, além de lucrativa, uma prática sustentável. Os riscos são comuns aos de trazer de fora qualquer espécie, explica o consultor em piscicultura Jorge Meneses. O primeiro é o de a tilápia, criada em ambientes fechados, escapar. Algo que pode acontecer em uma situação de enxurrada, arrebentação das redes de proteção ou ainda durante a retirada pelo produtor para comercializá-la. Nesse caso, explica o consultor, haveria um aumento de população fora do cativeiro, já que a tilápia se reproduz muito rápido. Mas o risco é pequeno, garante, e, além disso, este não é um peixe predador de outras espécies. Muito se fala também do risco ambiental relacionado ao descarte. Quando restos de tilápia são jogados de qualquer maneira, podem contaminar o lençol freático. "Outro aspecto que pode ser resolvido com uma fiscalização atenta para que produtores impermeabilizem o solo e descartem os restos do peixe em local adequado". Um exemplo para servir de modelo está sendo dado pela Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec). Na cidade de Jaguaribara, foi construída uma usina na qual as vísceras do peixe servem para fabricar biocombustível.


Raio x Produção Os sistemas variam conforme o grau de interferência do criador no ambiente aquícola. São basicamente três

Valor calórico

72 calorias a cada

900 gramas

>Semi-intensivo Acontece em represas e tanques escavados, com uso de tecnologias de criação para aumentar a produtividade. Por exemplo: rações, adubações e monitoramento da água Densidade de estocagem: entre 5.000 e 25.000 alevinos por hectare Troca de água: entre 5% e 10% do volume total Safra: quatro a oito meses Produtividade: 2.500 a 12.000 kg/ha

Tilápia do Nilo As tilápias do gênero Oreochromis incubam os ovos dentro da boca

>Do Egito para o Brasil A tilápia é nativa da África. Um peixe sobre o qual, quatro mil anos atrás, os egípcios já entendiam. As primeiras espécies foram introduzidas no Brasil em 1952, mas apenas em 1971 a tilápia do Nilo chegou aos açudes do Nordeste, trazida pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS).

Foi a tilápia do Nilo, aliás, que colaborou para mudar o conceito que se tinha sobre esse peixe: se os seus antecessores eram pequenos e cheios de espinha, essa era justamente o contrário. Nessa mesma época, companhias hidrelétricas de São Paulo e Minas Gerais começaram a produzir alevinos

Fontes: Ministério da Pesca e o consultor Jorge Meneses (Tecnofish)

>Extensivo Usa nível mínimo de tecnologia em açudes e represas de médio e grande porte. O criador quase não interfere, com uso eventual de fonte de matéria orgânica como alimento e fertilização, como, por exemplo, esterco e restos de alimento Densidade de estocagem: entre 500 a 1.000 alevinos por hectare Troca de água: limitada às chuvas Safra: entre 12 e 18 meses Produtividade: entre 150 e 500 kg/ha

(filhotes) para povoar seus reservatórios. Desde a década de 1980, a criação da tilápia tem sido uma alternativa de trabalho e renda no Brasil. Em 1998, o cultivo teve permissão ambiental, por meio da Portaria 145-N do Ibama. No documento, foram estabelecidas as normas de aquicultura no Brasil.

>Intensivo gestão da produção, com tecnologias mais sofisticadas em tanques-rede. Densidade de estocagem: 25 mil a 100 mil alevinos Troca de água: 10% a 35% do valor total Safra: entre três e seis meses Produtividade: 12.500 a 50 mil kg/ha Fontes: Bahia Pesca e Associação Brasileira de Indústria de Processamento de Tilápia

V.4, n. 44, p. 23 - jul/ago/set.2013 - Bahia

crea 25


>tilápia

Criatório de tilápias: filhotes nascem em pequenos tanques e, quando maiores, vão para as gaiolas nos rios

Desafios de um mercado em expansão A amplitude do mercado deve ser determinada por uma produção atenta, defende o assessor José Augusto Queiroz. Ele coordena a Fiscalização Preventiva Integrada (FPI), ferramenta do sistema Confea/Crea na qual 16 órgãos atuam para assegurar a preservação do Rio São Francisco. O programa compreende os cerca de 70 empreendimentos de tanques-rede para a criação de tilápia na região de Paulo Afonso, Sobradinho e Casa Nova. Na análise do coordenador da FPI, a maior problemática é o licenciamento ambiental desses empreendimentos. Eles estão em Área de Preservação Permanente, o que, de acordo com a legislação estadual, é proibido. "As APP devem ser sempre preservadas, sem qualquer ocorrência impactante, podendo acontecer algumas liberações especiais, o que não é o caso da piscicultura", avalia. "A simples instalação de galpões para armazenamento da ração já é conside26 crea V.4, n. 44, p. 3 - jul/ago/set.2013 - Bahia

rada agressão ambiental, sem contar as vias de acesso aos automóveis". O coordenador da PFI desenha o impasse: logisticamente, a ração não deveria ficar longe demais da água. Mas também não pode ficar à margem do rio. "A fiscalização não pretende inviabilizar a produção de tilápias, na qual a maioria não é de grandes empresários e, sim, de cooperativas que estão na base da aquicultura familiar". Recentemente, foram notificados 19 empreendedores da região de Paulo Afonso e 24 em Casa Nova, no Lago de Sobradinho. Licenciamento

As diretrizes nacionais para a criação da tilápia ainda estão sendo redefinidas. Em setembro deste ano, o licenciamento ambiental foi simplificado com a aprovação da nova resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). A secretária nacional de Planejamento e Ordenamento da Aquicul-

tura, Maria Fernanda Nince, reforça a importância do licenciamento ambiental único e simplificado. “Além de processos mais ágeis, teremos empreendimentos alicerçados na preservação da biodiversidade, na proteção sanitária para as espécies cultivadas e, consequentemente, na saúde do consumidor”. Ao todo, são 900 hectares sob domínio da União para a produção de 210 mil toneladas de pescado por ano. Na Bahia, o edital lançado em julho refere-se a 14 hectares em sete áreas no Rio São Francisco, Baía de Todos-os-Santos e no reservatório da Usina Hidrelétrica de Moxotó. A criação de tilápia divide espaço com a de ostra, em uma estimativa de geração de 120 empregos imediatos, produzindo cerca de cinco mil toneladas de pescado por ano. “O resultado disso é uma melhor qualidade de vida aos aquicultores e seus familiares, como também o aumento da oferta de pescado à população”.


Ascom | Crea-BA

300 Atividades por ano Cursos Presenciais

Com a proposta de oferecer 300 atividades de atualização profissional, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA) lançou em 2013 o Programa de Educação Continuada (PEC). A iniciativa prevê a atualização de cerca de 8 mil profissionais registrados e sócios da Caixa de Assistência de Profissionais do Crea (Mútua) por ano. Palestras, cursos de atualização e pós-graduação nas diversas áreas de conhecimento serão promovidos em Salvador e no interior do Estado. Para dar conta desta meta, o Conselho contará com a parceria de entidades de classe, além de escolas técnicas e universidades de toda a Bahia.

Cursos EAD Agenda de Cursos: Início Curso

Local

Período

06/12 Sistemas de Informações Geográficas com Arcgis Desktop 9.3

Salvador

www.qtcbahia.com.br 6 e 7/12 das 8h30 às 18h30 71 9145 2995 | 71 3453 8942

09/12 Mapeamento e modelagem de processos (BPM – Business Process Management)

Salvador

9 a 11/12 das 8h às 17h

13/12

Sistemas de Informações Geográficas com Arcgis Desktop 9.3

Mais Informações

Barreiras 13 e 14/12 www.qtcbahia.com.br das 8h30 às 18h30 71 9145 2995 | 71 3453 8942

14/12 Mapeamento de APP utilizando as técnicas de Geoprocessamento – uso do software ArcGIS DESKTOP

Salvador

16/12 Gerenciamento de Projetos – da Teoria a Prática

Camaçari 16 a 18/12 das 18h às 22h

16/12 Formação de Auditores Internos da Qualidade (NBR ISO 9001)

Salvador

09/01 Formação de Auditores Internos da Qualidade (NBR ISO 14001)

Salvador

16/01 Formação de Auditores Internos da Qualidade (OHSAS 18001)

Salvador

14/12 das 8h às 16h

www.qtcbahia.com.br

71 9145 2995 | 71 3453 8942

www.qtcbahia.com.br

71 9145 2995 | 71 3453 8942

16 a 18/12 das 8h às 17h

71 9145 2995 | 71 3453 8942

9 a 11/01 das 8h às 17h

71 9145 2995 | 71 3453 8942

16 a 18/01 das 8h às 17h

71 9145 2995 | 71 3453 8942

Programação completa em:

www.creaba.org.br/pec

www.qtcbahia.com.br

71 9145 2995 | 71 3453 8942

71. 3453.8942

www.qtcbahia.com.br

www.qtcbahia.com.br

www.qtcbahia.com.br

V.4, n. 43, p. 3 - abr/mai/jun.2013 - Bahia

crea 27


Capa

Sobre duas rodas A largada foi dada, mas ainda faltam muitas pedaladas para que Salvador se transforme em uma cidade que respeita e valoriza seus ciclistas por ronaldo brito Fotos João alvarez

odos os dias a estudante Aline Valadares cruza as ruas e avenidas movimentadas da orla marítima da cidade que separam sua casa, no bairro da Barra, do Campus da Universidade Federal da Bahia, em Ondina. Desde que começou a estudar na Escola de Comunicação daquela instituição, há dois anos, ela costuma fazer o trajeto em uma bicicleta. O percurso dura aproximadamente 15 minutos. Vez por outra, Aline usa o mesmo meio de transporte para levá-la ao trabalho, no bairro da Federação. O uso da bicicleta, conta, só esbarra na topografia da cidade, que, em bairros como este, conta com ladeiras e pistas estreitas. “A gente

28 crea V.4, n. 44, p. 26 - jul/ago/set.2013 - Bahia

cansa e chega suada ao trabalho. Nesse caso, prefiro ir de transporte público”. A iniciativa de Aline tem se tornado cada vez mais comum na cidade. Apesar das dificuldades de vencer esses trajetos, driblando o trânsito pesado, e muitas vezes perigoso, milhares de baianos enfrentam as inúmeras ladeiras, as ruas esburacadas e os morros íngremes porque veem neste meio de locomoção uma alternativa ao ineficaz sistema público de transporte existente em Salvador. A prática, comum na maioria dos centros urbanos, vai além dos problemas de mobilidade enfrentadas pela maioria das grandes


Aline Valadares vai de bike da Barra, onde mora, ao Campus da Ufba, em Ondina

V.4, n. 41, p. 27 - out/nov/dez.2012 - Bahia

crea 29


Capa

cidades brasileiras. Também ajuda a manter a saúde em dia. Destinos como Curitiba e Porto Alegre já testam equipamentos para transportar as bicicletas em ônibus, assimilando-as como um modal de transporte. “Pra mim, que tenho uma vida corrida, estudando e trabalhando, é uma forma de me exercitar. Ao mesmo tempo, sinto que estou dando uma contribuição para melhorar a qualidade de vida da população, já que a bicicleta é um meio não poluente”, diz Aline. Para evitar acidentes, a universitária segue a cartilha da condução defensiva. Ou melhor, pedalada defensiva. “Mantenho-me sempre no canto direito da pista e sigo o fluxo, nunca pela contramão. Essa é uma forma de me sentir mais segura”. Assim como Aline, muitos baianos têm recorrido a esse meio de transporte, antes restrito ao lazer, para chegar ao trabalho. Para alguns, a alternativa é econômica e menos estressante. Além de, muitas vezes, ser mais rápida e ter custo quase inexistente. “Eu levava cerca de uma hora e meia de ônibus. Depois que comecei a ir de bicicleta, encurtei esse tempo em quase uma hora”, conta o operário da construção civil Agnelo de Souza Santos. Diariamente, ele cruza a movimentada Avenida Paralela a bordo de uma bike que o leva do Bairro da Paz, onde reside, até a Pituba, onde trabalha numa obra há pelo menos um ano. “Passei a economizar o dinheiro do transporte e ainda durmo um pouco mais e consigo chegar mais cedo no batente”. Este meio de transporte, por sinal, tem sido uma alternativa bastante comum para os empregados desse segmento. “Tenho muitos colegas que vêm até de mais longe e não reclamam. A gente consegue driblar os engarrafamentos sem problema, mas é preciso estar atento aos carros e aos ônibus, porque eles não respeitam os ciclistas”. Montar numa magrela e enfrentar o caos e 30 crea V.4, n. 44, p. 28 - jul/ago/set.2013 - Bahia

«

“A questão da mobilidade urbana tem se tornado cada vez mais complexa. Quantos mais modais de transporte tivermos, incluindo a bicicleta, melhor será a qualidade de vida das pessoas nos grandes centros urbanos" Ana Fernandes, urbanista e professora da Ufba

os riscos do pesado tráfego da cidade exigem coragem e força de vontade. Embora este meio de transporte seja comum nas cidades desenvolvidas, pelas bandas de cá, a prática começou a ganhar adeptos mais recentemente. A adesão, no entanto, é inversamente proporcional aos investimentos públicos necessários para que a bicicleta torne-se de fato um modal. Projetos como o Cidade Bicicleta – Mobilidade para todos, anunciado com estardalhaço pelo governo do estado, ainda não saíram do papel. A ideia, segundo os técnicos da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), é criar 220 quilômetros de ciclovias entre Salvador e a vizinha Lauro de Freitas. Hoje, a capital baiana possui apenas 17,5 quilômetros de ciclovias e outros 2,5 de ciclofaixas, aquela velha alternativa de compartilhar as pistas entre carros, ônibus, motocicletas e bicicletas. A iniciativa, segundo a urbanista Ana Fernandes, da Ufba, é louvável, mas não atende à necessidade de um sistema integrado de transportes para a cidade. Dividida em cinco etapas, a um custo total estimado em R$ 40 milhões, a iniciativa da Conder foi momentaneamente abortada em função de não ter surgido nenhuma empresa interessada na licitação aberta para a execução do projeto, conforme nota publicada no Diário Oficial do Estado do dia 22 de novembro de 2012. Através de sua assessoria, o diretor de Equipamentos e Qualificação Urbanística da Conder, Aírton Maia, informou que o órgão está preparando uma nova licitação, com os custos do projeto atualizados, e deverá lançá-la em até 60 dias. Modais

As poucas iniciativas do poder público estão longe de atender à demanda. “A questão da mobilidade urbana tem se tornado cada vez mais complexa. Quanto mais modais tivermos, incluindo a bicicleta,


melhor será a qualidade de vida das pessoas”, opina Ana Fernandes. Para a especialista, a bicicleta contribui bastante porque “é pequena, não polui e evita que as pessoas se tornem sedentárias, além de melhorar a relação com a cidade, que passa a ser de respeito”. Fernandes é favorável à criação das ciclovias e das ciclofaixas, mas não crê que essa alternativa, unicamente, vá resolver os problemas de mobilidade de Salvador. Até porque, na avaliação da especialista, o que tem sido feito nesse âmbito é restrito ao lazer e ao turismo. “Essa política pública de criação de espaços é muito importante, mas não pode se restringir ao uso da bicicleta como lazer ou para atender aos turistas. Ela precisa ser ampliada para atender à população como um todo”. Segundo a urbanista, existem muitas comunidades locais que usam esse meio de transporte para ir ao trabalho ou à escola. Segundo dados da Ufba, cerca de 35% da população baiana se locomove a pé. Isso porque parte significativa dos baianos não consegue

arcar com o alto custo das passagens de ônibus. Para ela, a questão da mobilidade passa pela criação de um sistema integrado de modais que não priorize unicamente o automóvel, como vem sendo feito, com a construção de vias expressas como a Linha Viva e outras.

O alto custo das passagens de ônibus tem levado muitos trabalhadores a optarem pela bicicleta no

Cautela

trajeto de casa

Enquanto o Governo do Estado trava o pé no pedal para melhorar a questão da mobilidade urbana, a Prefeitura de Salvador tenta acelerar com soluções paliativas. A mais recente foi a criação de ciclofaixas em áreas como o Campo Grande, Centro Histórico, Barra e outros pontos da cidade. A iniciativa foi comemorada por ciclistas de ocasião e a população em geral, mas recebida com certa cautela pelos urbanistas, que não veem a ideia, isoladamente, como uma alternativa para que as pessoas troquem o carro pela bike, muito menos uma solução para o grave problema da mobilidade urbana do qual foi acometida a primeira capital do Brasil. Isso porque o projeto, segundo os especia-

ao trabalho

V.4, n. 44, p. 29 - jul/ago/set.2013 - Bahia

crea 31


Capa

listas, atende apenas à classe média alta em função dos requisitos necessários para o uso das bicicletas compartilhadas. “As pessoas precisam ter um celular inteligente para ler o código de barras e cartão de crédito para se cadastrar. Isso é uma limitação para a maioria da população, de modo que a iniciativa, embora louvável, vai atender exclusivamente uma pequena parcela dos moradores e os turistas”. O projeto, batizado de Movimento Salvador Vai de Bike, instalou, com o apoio de uma rede de bancos, cinco estações nas praças Castro Alves, Piedade, Campo Grande, Porto da Barra e Jardim Apipema. A proposta é que, até o final do ano, segundo o secretário municipal de Transportes, José Carlos Aleluia, 40 estações de compartilhamento estejam em funcionamento, do Comércio à Orla, onde a prefeitura pretende recuperar as ciclovias. Para utilizar as bicicletas, é preciso fazer um cadastro no site www.bikesalvador.com e pagar uma taxa de adesão de R$ 10. O acesso pode ser feito via aplicativo, por meio de celular, nas próprias estações de compartilhamento, que disponibilizarão acesso a internet via Wi-Fi, ainda segundo o secretário. “A adesão ao serviço vale por 12 meses e não há cobrança de tarifas diárias ou mensais. O usuário paga um valor extra se ultrapassar o tempo de 40 minutos utilizando a bicicleta (R$ 5 a cada meia hora)”. Vale lembrar que, para ter acesso ao serviço, é preciso ter cartão de crédito. Mobilização

Enquanto o poder público mantém os pés no freio, milhares de baianos se unem em grupos para explorar a cidade a bordo da magrela. É o caso do coletivo Mobicidade, que integra membros de idades e profissões diversas e que faz da bicicleta o meio de transporte para o lazer e para se locomover até o trabalho. Segundo o professor universitário Pablo 32 crea V.4, n. 44, p. 30 - jul/ago/set.2013 - Bahia

Florentino, pedalar em Salvador exige grandes esforços físicos e psicológicos. “Apesar das bicicletas sempre estarem presentes nas ruas, elas foram historicamente negligenciadas pelos poderes públicos e pelas camadas mais abastadas da sociedade baiana. Para estes, a bicicleta (como meio de transporte) sempre esteve associada à pobreza”. Para Pablo, que mantém, juntamente com os integrantes do grupo, um site na internet sobre os mais diversos assuntos ligados às bikes, é possível se locomover de bicicleta pelas ruas da capital. No entanto, afirma o professor, esta é uma tarefa árdua em função das altas velocidades permitidas aos carros e da fiscalização negligente. “Junto com isso, está o despreparo da maioria dos motoristas para compartilhar as pistas”, critica. A Prefeitura Municipal de Salvador está ciente da questão. Tanto que lançou, junto com as ciclofaixas, uma campanha de educação nos meios de comunicação para esclarecer a população, especialmente os motoristas, sobre a necessidade de respeitar o ciclista. Topografia

Para os urbanistas, as ladeiras da cidade não são um impedimento ao uso mais efetivo das bicicletas. Na opinião dos especialistas, estacionamentos nas estações de ônibus e do futuro metrô facilitariam a vida dos ciclistas e incluiriam a bicicleta de vez no que deveria ser um sistema integrado dos modais. Para eles, vias expressas, como as que estão sendo criadas agora, caminham na contramão do que vem sendo feito nas grandes cidades do mundo. “Não adianta investir em grandes vias para privilegiar os automóveis. Isso chega a ser um acinte à população. Na verdade, o que precisamos é de um sistema de transporte que atenda aos reais interesses das pessoas, especialmente as de baixa renda, que, muitas vezes, andam a pé porque

"Salvador Vai de Bike" mantém estações de aluguel em cinco bairros, mas modelo não agrada aos especialistas em mobilidade


não podem pagar a passagem”, alerta o antropólogo Ordep Serra. Para ele, as iniciativas, ainda que incipientes, de fomentar o uso das bicicletas através da criação das ciclofaixas são louváveis, mas não atendem às reais necessidades dos baianos. “É preciso criar soluções que estimulem o uso do transporte individual, mas não os veículos, os automóveis”. Na avaliação de Ordep, a implantação de bicicletários poderia ajudar a minimizar os problemas da imobilidade urbana. “Esses recursos que vêm sendo aplicados na construção de pistas e viadutos poderiam ser investidos em espaços e vias exclusivas para os ciclistas. Isso permitiria que as pessoas adotassem esse meio de transporte para se locomover”. O sobe e desce das ladeiras também não é considerado um entrave ao uso das bikes, como explica Pablo Florentino, do Mobicidade: “A bicicleta é ideal para deslocamentos em torno de seis a sete quilômetros, e muitos deles podem ser realizados no mesmo nível. Na prática, muitos fazem deslocamentos ainda mais longos. Alguns exemplos podem suscitar reflexão: o desnível entre o Parque do Ibirapuera e a Av. Paulista fica em torno de 100 metros e muitos conseguem cumpri-lo”, compara. Florentino destaca a cidade de São Francisco, na Califórnia (EUA), como um exemplo de que a topografia não impede os ciclistas de fazerem grandes percursos. “Lá, a cidade é famosa pelas ladeiras e morros, e o índice de usuários de bicicletas nunca foi diminuído (pelo contrário) por conta de sua geografia. Para a maioria, que não está acostumada, isso pode parecer um obstáculo, mas só num primeiro momento”. Para Florentino, que conhece bem a realidade local, não faltam soluções para equacionar os problemas. “Obviamente, um subsistema de transporte por ascensores, distribuído estrategicamente por todo o muV.4, n. 44, p. 31 - jul/ago/set.2013 - Bahia

crea 33


Capa

Coletivos, como o mobicidade, promovem campanhas que estimulam o ciclismo e o respeito aos ciclistas no trânsito

nicípio e que permitisse a interpenetração da bicicleta, poderia viabilizar ainda mais a bicicleta em Salvador”. Enquanto isso não acontece, Florentino aposta numa solução mais fácil. “As pessoas podem optar por pedalar ou simplesmente empurrar na ladeira, como já fazemos, sem qualquer demérito”. Simples assim. Para quem sonha com Salvador ostentando o título de “Cidade das Bicicletas”, como quer a prefeitura, essa realidade ainda está a muitas pedaladas de distância. Para os ciclistas, a implantação das ciclofaixas é insuficiente. Tanto em qualidade quanto em relação à cobertura, continuidade e atendimento à demanda (volume de ciclistas por sentido e tipo de ciclovia). “Isso faz com que as ciclovias e ciclofaixas atendam parcamente às

necessidades reais dos usuários”, diz Florentino. Até mesmo as ciclovias, em sua maioria, segundo o professor, não atendem aos requisitos mínimos de qualidade. “Raras são aquelas que preservam as medidas mínimas recomendadas de largura por sentido, bem como de sinalização horizontal e vertical, já sacramentadas por manuais técnicos oficiais e pela legislação de trânsito”, diz. Apesar de tantas dificuldades, ciclistas como Aline, Agnelo e Florentino não abrem mão de viver, mesmo que perigosamente, sobre duas rodas. Seja para burlar o trânsito pesado, exercitar-se ou economizar na passagem. Para eles, longe de uma convivência respeitosa e humana entre motoristas e usuários de bicicleta, o prazer de andar livremente por aí não tem preço. Pablo Florentino/Divulgação

34 crea V.4, n. 44, p. 32 - jul/ago/set.2013 - Bahia


>saneamento

A céu aberto Sanear Mais Bahia, convênio entre Crea e Funasa, prevê a elaboração de Planos de Saneamento Básico de 50 municípios Por Cíntia Ribeiro > Foto João Alvarez

Lei 11.445 estabelece que, a partir de 2014, os Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB) serão imprescindíveis para o acesso das prefeituras aos recursos orçamentários da União. Esses recursos estarão lastreados em um plano que deve obedecer a critérios técnicos específicos – a validade dos contratos públicos pressupõe a existência de plano e estudo de viabilidade técnica e econômico-financeira, além de normas de regulação e da designação de entidade de regulação e fiscalização. Outra exigência é que os investimentos sejam compatíveis com os respectivos planos. Com o propósito de auxiliar os municípios no cumprimento à legislação, o Crea-BA e a Superintendência Estadual da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) trabalham na assinatura de um Termo de Cooperação que contribuirá não apenas para a melhoria da saúde, mas das condições ambientais. O objetivo do Sanear Mais Bahia é apoiar tecnicamente 50 municípios baianos com população inferior a 50 mil habitantes na elaboração dos seus PMSB. Além de garantir a formulação das políticas públicas municipal de saneamento, a iniciativa prevê a capacitação de equipes técnicas. Projeto participativo

Possibilitar o cumprimento de prazos e que o projeto sirva de modelo para aplicação em outros municípios estão entre as metas da parceria Crea/ Funasa. Para o presidente do Crea, engenheiro mecânico Marco Amigo, o sucesso da iniciativa depende da soma de experiências. “A expectativa é contribuir para a melhoria da qualidade de vida no Estado”. Amigo explicou ainda que, em-

>271 encontram-se em situação de emergência

diretriz recomenda que as superintendências possam firmar convênios com outros órgãos para assessorá-los. Segundo a engenheira, a oficina de validação, em julho, foi fundamental para a construção das metodologias, com definições específicas sobre a capacitação a ser realizada nos municípios. “O Crea é um parceiro potencial para esse convênio”. Na avaliação do chefe de gabinete do Crea, engenheiro químico Herbert Oliveira, além da questão social, o Sanear Mais Bahia representa a possibilidade de abertura de mercado para os profissionais da área. “Essa inserção profissional é fundamental, principalmente nas cidades do interior, onde as prefeituras sequer têm equipes técnicas. A situação é ainda mais grave nos municípios com população abaixo de 50 mil habitantes, onde, muitas vezes, inexiste a figura do engenheiro contratado. Nosso objetivo é estimular a contratação em diferentes setores”.

>265 possuem Baixo Desenvolvimento

Desafios crônicos

bora o modelo inicial do Termo de Cooperação contemple 50 municípios, nada impede a multiplicação do trabalho. "Além de contribuir com a consolidação de uma nova visão de saneamento, queremos mostrar o quanto a participação dos profissionais é fundamental nesse processo. Não existe desenvolvimento sem a engenharia". De acordo com a superintendente estadual da Funasa na Bahia, engenheira eletricista Glenda Barbosa, desde 2009, a instituição libera verbas para que os municípios possam elaborar seus planos. A nova

Situação dos municípios baianos >30 estão conveniados com a Funasa >Dos 417, 373 possuem população de até 50 mil habitantes

Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano Brasil 2013

Na avaliação do professor titular da Ufba e PHD em saneamento, Luiz Roberto Santos Moraes, a V.4, n. 44, p. 33 - jul/ago/set.2013 - Bahia

crea 35


>saneamento proposta de firmar o termo de cooperação técnica é um meio de enfrentar, ao mesmo tempo, dois desafios: a falta de apoio financeiro e de pessoal qualificado. “A distribuição tributária brasileira penaliza os municípios, que têm a incumbência de prestar serviços públicos, embora a maior parte dos recursos fique com a União”. Além da carência de recursos e pessoal, o especialista diz que o País padece com a falta da cultura de planejamento, priorizando o apagar de incêndios. O desafio, segundo Moraes, é imenso, principalmente no que se refere à negociação política. “Funasa e Crea devem cobrar dos gestores o compromisso na criação de dois comitês imprescindíveis: o executivo (focado na elaboração do plano) e o de coordenação (responsável por avaliar o trabalho elaborado pelo comitê executivo)”. O comprometimento, a continuidade das equipes técnicas e o acesso da população às informações são destacados como prioritários. “É uma oportunidade excepcional para a promoção de um plano participativo, que possibilite o empoderamento da sociedade local”. Fim do jeitinho

De acordo com Moraes, a exigência dos planos, por meio da Lei 11.445, joga por terra o “jeitinho brasileiro” na abordagem do saneamento. Cabe aos prefeitos perceber que o Brasil mudou. “Não há mais espaço para a lógica da falta de planejamento e de associar liberação de verba a favores políticos. A Lei é clara: verba está atrelada a projeto”. 36 crea V.4, n. 44, p. 34 - jul/ago/set.2013 - Bahia

Quantidade de profissionais na Bahia

Nova legislação mobiliza MP, prefeitura e especialistas a vencer desafio da falta de saneamento básico nos munícipios

Nesse sentido, o papel da União dos Prefeitos da Bahia (UPB) é fundamental. Presidente da UPB e prefeita de Cardeal da Silva, Maria Quitéria acredita que “todas as soluções serão bem-vindas na readequação dos municípios à nova legislação. O problema é que as leis estão sendo criadas sem estabelecerem previsão orçamentária. Sobra para o município administrar a conta”. Segundo Quitéria, cidades com menos de 20 mil habitantes encontrarão maiores dificuldades na elaboração do PMSB devido à carência de recursos técnicos e financeiros. Sistemas de abastecimento de água, esgotamento sanitário e de limpeza urbana são apontados pela UPB como os que demandam maior atenção, pois têm relação direta com a qualidade de vida. Outra preocupação da prefeita é que, além de não poderem acessar recursos federais, os municípios sem plano de saneamento

terão o desenvolvimento social totalmente comprometido. “É uma questão de saúde pública. Precisamos conscientizar os gestores sobre a importância da elaboração desses planos”, afirmou em relação à parceria que a UPB quer estabelecer com o Sanear Mais Bahia. Direitos fundamentais

Promotora do Ministério Público Estadual, Luciana Khoury reconhece que a maioria dos municípios não possui recursos financeiros e tampouco equipes técnicas, fundamentais para a realização dos planos de sanea-


mento. “Esse convênio representa a possibilidade de assessorar as cidades de forma qualificada. É também um meio de fazer com que cada plano seja o mais compatível possível com a realidade de cada comunidade”. Outro ponto destacado pela promotora é o fato de que o convênio entre Crea e Funasa colabora para que o MP atinja um de seus objetivos, que é a garantia dos direitos fundamentais. “O MP criou promotorias regionais e uma das metas dessas promotorias é garantir a universalização dos serviços de saneamento”. Dos 417 municípios baianos,

a Embasa afirma que, em 364, a existência do PMSB é condição imprescindível para a assinatura dos Contratos de Programa – que garantem abastecimento de água e esgotamento sanitário. O plano também auxilia no programa de expansão da empresa, tornando mais fácil o planejamento orçamentário dos projetos, obras e controle social, além da busca de recursos para a universalização dos serviços de saneamento. Na avaliação do superintendente de Assuntos Regulatórios da Embasa, Júlio Mota, a iniciativa do Crea e da Funasa ajudará

os titulares dos serviços de saneamento a cumprir a legislação federal até dezembro de 2013. “É de suma importância, considerando que a área de atuação da Funasa se dá em municípios de até 50 mil habitantes, que têm pouca capacidade técnica e financeira”. O superintendente reconhece ainda que todas as regiões demandam a mesma atenção. “O grande desafio é expandir os sistemas para a periferia urbana e zona rural, onde vivem pessoas com menor poder aquisitivo e menor disposição a pagar pelos serviços”. Outro gargalo é ofertar um bom serviço onde os mananciais estão rareando, como no semiárido. Segundo Mota, a empresa auxiliará tecnicamente na formulação dos planos, com informações necessárias ao diagnóstico, no planejamento na logística das oficinas e das equipes que irão a campo. V.4, n. 44, p. 35 - jul/ago/set.2013 - Bahia

crea 37


>entrevista Enrique Pe単alosa > Urbanista

38 crea V.4, n. 44, p. 36 - jul/ago/set.2013 - Bahia


“Democracia é ter mais pedestres nas ruas” Para o ex-prefeito de Bogotá, uma cidade onde os carros estacionam nas calçadas é uma cidade doente

efensor da máxima de que as melhorias urbanas precisam estar focadas no pedestre, Enrique Peñalosa, 58, é um dos maiores especialistas da atualidade em mobilidade urbana. O modelo implantado na capital colombiana no seu governo (1998-2001) recebeu em 2006 o Leão de Ouro, prêmio mais importante da Bienal de Arquitetura de Veneza, e transformou a cidade, uma das mais violentas do mundo, em modelo. Entre suas ações, destacam-se a Rede Bogotá de Ciclovias, que implantou 300 km de área para os ciclistas, e o Sistema de Transporte Transmilênio (inspirado no Bus Rapid Transit – BRT). Este último recebeu o prêmio de qualidade urbana Stockholm Challenge. A urbanização e humanização da cidade também foram consequências da construção, e reconstrução, de

mais de 1.100 parques, além do plantio de 100 mil árvores. Sobre as maiores batalhas da sua gestão, Peñalosa afirma que a ampliação das travessas pedonais (ruas, parques e alamedas para trânsito exclusivo de pedestres) e a remoção dos veículos das calçadas e áreas de estacionamento quase lhe custaram o mandato. Formado em economia e história na Duke University, nos Estados Unidos, fez doutorado em administração pública na França e já atuou como jornalista e consultor nas áreas de políticas urbanas e transportes. Atualmente é presidente do Institute for Transportation and Development Policy – ITDP, organização não-governamental norte-americana que presta assistência técnica no desenvolvimento de meios de transporte sustentáveis na Ásia, África e Américas.

V.4, n. 44, p. 37 - jul/ago/set.2013 - Bahia

Ulisses Dumas/Ag.BAPress/Divulgação

Por nadja pacheco

crea 39


>entrevista Enrique Peñalosa > Urbanista

Salvador é um exemplo de cidade onde parece imperar a desordem. Ausência de infraestrutura, crescimento desordenado, falta de fiscalização e descumprimento das leis são causas ou sintomas? Como seria a cidade ideal? A cidade ideal é onde as pessoas são felizes. Toda sociedade só avança com ordem e cumprimento de normas. Suíça, França, Estados Unidos. Nenhuma cidade se desenvolve sem os princípios democráticos, onde todos são iguais perante a lei. Conserta-se uma cidade através de normas elaboradas pelos congressos e que devem ser cumpridas pelo governo para fazer valer os direitos de pobres e ricos. Acontece uma coisa muito curiosa na América Latina. Se nós cumprimos estritamente as regras, somos chamados de autoritários. Mentira, isso é democracia. Se não se cumpre estritamente as normas, os vulneráveis são os mais prejudicados. Ninguém afirma, por exemplo, que a Suíça não é democrática, porque a polícia daquele país cumpre com rigor a lei, então é preciso corrigir esse equívoco. Salvador é uma cidade com sérios problemas de mobilidade. As pessoas andam nervosas e mal humoradas, e boa parte disso é por causa do trânsito caótico que precisam enfrentar diariamente. Como resolver essa pendência emocional diante de tantos problemas estruturais? As pessoas se comportam do mesmo modo como são tratadas, seja com amigos, colegas de trabalho ou com a própria cidade. Se nós temos uma cidade organizada, limpa e com mobilidade, teremos um comportamento igualmente civilizado. Quem mais necessita de espaço urbano são os pobres. Quando a cidade avança, as pessoas também avançam. Devemos

40 crea V.4, n. 44, p. 38 - jul/ago/set.2013 - Bahia

refletir se autopistas e shoppings são os modelos que queremos ou se preferimos uma cidade para caminhar, com praças, parques e calçadas. Os shoppings são atualmente um dos principais pontos de encontro e entretenimento da população baiana. O senhor não os considera como o modelo ideal para as pessoas relaxarem e se divertirem, por quê? A impressão que tenho é que as pessoas não querem ficar enclausuradas nos shoppings, mas aproveitar os espaços públicos, a brisa e o clima da cidade. Em Madri e em Manhattan, por exemplo, não existem shoppings. É importante que as cidades aprendam com os shoppings (passem a ter um piso bom e uma estrutura boa para que as pessoas caminhem da melhor forma possível) e os shoppings aprendam com a cidade (serem construídos em áreas abertas e organizadas, dando lugar inclusive para a natureza). O senhor implantou várias melhorias em Bogotá, valorizando sempre o pedestre, criando parques, praças e melhorando o transporte público. Com sua larga experiência na área de democratização do espaço para a população, qual o conselho que o senhor daria aos gestores da capital baiana? Quase fui expulso do meu cargo ao retirar os carros das calçadas de Bogotá. Os passeios não são parentes das ruas, mas das praças e parques, são lugares para encontros, brincadeiras, beijos... O que diferencia uma cidade avançada de uma cidade atrasada são os passeios. Em Paris, fica claro que são os carros que estão passando pelo espaço do pedestre. O recurso mais valioso em uma gestão pública é o espaço viário. A distribuição do espaço é uma questão política, e Londres é um

«

"Os problemas de mobilidade urbana estão diretamente ligados a questões de equidade e justiça social. Uma cidade boa é onde ricos e pobres se encontram como iguais nos parques, nas praças, nas quadras e nos eventos, e não trancadas em casa ou em shoppings"


joão alvarez

Além de engarrafar trânsito nas vias, os carros muitas vezes invadem calçadas, roubando espaço dos pedestres

exemplo disso. O passeio é a melhor vacina contra a deterioração urbana. Salvador é uma cidade turística, e a qualidade dos serviços deve atender a isso. Turismo é uma atividade de pedestres. O Estado não tem nenhuma obrigação com os veículos. Acredito que a solução para o problema do transporte está relacionada muito mais com decisões políticas favoráveis à igualdade social. Qual a sua sugestão para a melhoria da mobilidade em Salvador? O metrô é a melhor opção? A solução para a mobilidade só será possível quando soubermos qual a cidade que queremos. Os problemas de mobilidade urbana estão diretamente ligados a questões de equidade e justiça social. Uma cidade boa é onde ricos e pobres se encontram

como iguais nos parques, nas praças, nas quadras e nos eventos, e não trancadas em casa ou em shoppings. Os seres humanos são pedestres. Precisamos caminhar para sermos felizes. Antes de qualquer outra coisa, é preciso ter qualidade para pedestres (esporte, lazer e saúde) e ter contato com a natureza. As calçadas são um elemento importante para mobilidade. O metrô e o VLT são muito caros. A melhor opção ainda é o transporte de superfície. A cidade de Curitiba é um bom exemplo no Brasil, que adotou o BRT como alternativa para a mobilidade urbana. Faixas exclusivas para ônibus resolvem o problema. Até crianças podem identificar isso. Hoje achamos normal ver ônibus engarrafados, mas, se considerarmos que muitos carros conduzem apenas uma pessoa e um ônibus conduz dezenas,

notamos a falta de democracia das vias. A faixa exclusiva para ônibus não é a melhor, mas a única solução. Um exemplo de democracia é ver carros engarrafados e transporte público em alta velocidade. Os governos brasileiros investem cada vez mais na construção de novas vias para “melhorar” a mobilidade urbana. O senhor também acredita nesse caminho? As vias urbanas são como rios venenosos, cercam edifícios, que acabam perdendo o valor porque ninguém quer viver próximo às vias expressas. Em 1900, nos Estados Unidos, ninguém tinha morrido por causa do trânsito. Em 1925, cerca de 200 mil perderam a vida em acidentes, e sete mil eram crianças. No século 20, as cidades começaram a enxergar os erros

V.3, n. 44, p. 39 - jul/ago/set.2013 - Bahia

crea 41


>entrevista Enrique Peñalosa > Urbanista

e a oferecer mais espaço aos pedestres. Essa tendência é vista no mundo todo. Mais espaço para os pedestres e menos espaço para os carros. Vias largas e rápidas não resolvem o problema, pois ter dez carros percorrendo 1 km é como ter dez percorrendo 10 km. É como apagar o fogo com a gasolina. A solução não são mais vias, pois estas destroem as cidades, o melhor caminho ainda é construir avenidas de pedestres (como a Champs Élysées, em Paris) com faixas para carros. Os turistas querem ir para lugares com restaurantes, lojas, cafés, caminhando e não disputando espaço com os veículos. Essa é a diferença entre autopistas e avenidas. Qual foi a transformação provocada pelo uso das bicicletas e pelas melhorias na mobilidade urbana em Bogotá? Em Manhattan e na Holanda, 40% da população usa bicicletas. Bogotá já possui 600 km de ciclovias. Na minha época, foram construídas cerca de 300 km. Seis por cento da população utiliza esse meio de transporte, o que corresponde a 500 mil pessoas por dia. Essa mudança do estilo de vida, além de deixar a cidade mais bonita, favoreceu a segurança das pessoas, com a redução dos índices de violência em Bogotá. Tínhamos um percentual de 82 homicídios por mil habitantes, reduzimos para 16. Construindo respeito à dignidade humana, as pessoas cumprem as regras. Uma boa cidade é onde os ricos se mobilizam em transporte público. Todos são sagrados e todos são iguais. Os cidadãos devem participar das discussões do seu bairro, da sua cidade, mas grandes projetos urbanos dependem do governo. Não pensei duas vezes antes de aplicar os recursos da prefeitura de Bogotá na

42 crea V.4, n. 44, p. 42 - jul/ago/set.2013 - Bahia

«

"O recurso mais valioso em uma gestão pública é o espaço viário. A distribuição do espaço é uma questão política, e Londres é um exemplo disso. O passeio é a melhor vacina contra a deterioração urbana"

melhoria dos passeios, construção de parques e praças e de ciclovias. Os carros podem ficar nos terrenos, próximos à lama, as pessoas não. Existe um incentivo muito grande à compra de veículos no Brasil. Como mudar esse perfil diante do péssimo sistema de transporte coletivo e de tanta propaganda? Não sou contra os carros, mas é preciso usá-los de forma inteligente. É legal que as famílias tenham seu meio de transporte, mas só utilizem quando saírem para passear. Alguns municípios exigem nos prédios carros compartilhados. Na Alemanha, por exemplo, os jovens não têm vontade de comprar carros, eles não acham sexy, pois é um bem que todos têm. Outro ponto a ser destacado é o desperdício de área com a construção de estacionamentos, uma preocupação com os veículos, não com as pessoas. Esses espaços poderiam ser aproveitados na construção de parques. O centro de Londres, há cinco anos, não possui estacionamentos nos prédios comerciais. O transporte público só funcionará se a classe média também

aderir e, para tanto, o governo precisa parar de pensar nos veículos e passar a restringi-los. O transporte massivo aumenta a mobilidade. Os ricos querem o metrô, mas não têm a mínima vontade de usá-lo. Ainda sobre essa questão da mobilidade urbana, qual o desafio que o senhor deixa aos técnicos brasileiros e baianos? O primeiro artigo da Constituição do Brasil diz que todos são iguais perante a lei, portanto um ônibus com 80 passageiros tem direito a 80 vezes mais espaço na rua do que um carro com um passageiro, no entanto a injustiça está no nosso nariz, mas ninguém vê. Há 60 anos, a mulher não podia votar e isso era normal. Hoje vemos que isso é uma aberração. A mesma coisa acontece em relação ao ônibus lotado num engarrafamento, é uma aberração, é algo que precisa ser corrigido. Até uma criança pode perceber que o espaço para o transporte coletivo é escasso. Coloco aqui um desafio para técnicos do Brasil e da Bahia: transformar a BR 324 em uma avenida, mobilizando menos passageiros e mais pedestres.


anĂşncio crea

V.4, n. 44, p. 45 - jul/ago/set.2013 - Bahia

crea 43


>alimentos

Desperdício que gera

fome

Redução das perdas na cadeia alimentar mobiliza os especialistas e a ONU, que promove uma campanha mundial para conscientizar produtores e consumidores Por Ronaldo Brito Fotos joão alvarez

nualmente, um terço dos alimentos produzidos em todo o mundo vai para o lixo. Apenas um quarto do total desperdiçado seria suficiente para acabar com a fome no planeta. A conta vem sendo feita regularmente pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que relaciona desperdício e fome. Em números, significa que 1,3 bilhão de toneladas de comida, o equivalente a pouco mais de US$ 750 bilhões, são jogados fora todos os anos. Enquanto isso, mais de 842 milhões de pessoas são vítimas de fome crônica no mundo, segundo a organização internacional. Mais que reduzir esse prejuízo na indústria mundial, o que preocupa os especialistas é a 44 crea V.4, n. 44, p. 44 - jul/ago/set.2013 - Bahia

questão da sustentabilidade do planeta, haja vista que, pelos cálculos da FAO, para alimentar os cerca de nove bilhões de pessoas estimados para habitar o planeta em 2050, será necessário aumentar a produção mundial de alimentos em 32%. Ninguém precisa ser bom de matemática para concluir que a conta está longe de fechar. Reduzir perdas passou a ser o principal desafio da indústria, do comércio e de produtores agrícolas. As perdas envolvem desde o início do processo produtivo até o consumidor final. Mais do que a preocupação em exterminar a fome no mundo, o que pesa na disposição de mudar esse quadro para os envolvidos na cadeia de produção alimentar é o quanto isso tem gerado de prejuízos. Dados do Instituto Akatu de Consumo Consciente revelam que, somente no Brasil, 39 mil toneladas de comida são jogadas fora diariamente. Se forem consideradas as perdas em toda a cadeia, do produtor ao consumidor, o desperdício pode chegar a 50% de tudo o que é produzido no Brasil, segundo a engenheira de alimentos e diretora do Crea-BA, Silvana Palmeira. “Entende-se por perdas a parte física da pro-

Reduzir perdas e evitar o desperdício são hoje o grande desafio da indústria e do comércio de alimentos


V.4, n. 44, p. 45 - jul/ago/set.2013 - Bahia

crea 45


>alimentos

dução que não é destinada ao consumo em razão de depreciação da qualidade dos produtos, devido à deterioração, causada por amassamentos, cortes, podridão e outros fatores. Os alimentos são desperdiçados quando, em boas condições fisiológicas, são desviados do consumo para o lixo. Nestas condições, o alimento sofre alterações na colheita, no transporte, no mercado atacadista, no varejista e na casa do consumidor final”, explica Silvana, que também é professora da Universidade Estadual de Feira de Santana.

«

“Se forem consideradas as perdas em toda a cadeia, do produtor ao consumidor, o desperdício pode chegar a 50% de tudo o que é produzido no Brasil”

Silvana Palmeira, engenheira de alimentos

Desafios

46 crea V.4, n. 44, p. 46 - jul/ago/set.2013 - Bahia

pela ONU, em outubro último, reduziram significativamente o número de pessoas com fome nos últimos anos. Prevenção

A orientação da ONU é que medidas preventivas continuem sendo adotadas. Nessa campanha mundial, que tem como objetivo principal a redução da fome no mundo, estão sendo conclamados desde agricultores e pescadores até processadores de alimentos, supermercados, governos locais e nacionais, assim como os consumidores. “Temos que fazer mudanças em todos os elos da cadeia alimentar humana para impedir que ocorra o desperdício de alimentos. Em seguida, temos que promover a reutilização e a reciclagem”, declarou o presidente da FAO, na nota pública.

>

Vencer o desafio de reduzir consideravelmente esses números tem custado muito caro aos produtores. Dos agrícolas à indústria. No último relatório divulgado pela FAO, são muitas as razões do desperdício. No caso dos países industrializados, segundo a organização, vão desde o excesso de normas e regras, devido a preocupações sanitárias ou estéticas e, nos países em desenvolvimento, às reduzidas capacidades de armazenamento e de acesso ao mercado. A engenheira de alimentos Marianne Mascarenhas, que atua numa indústria multinacional de produtos alimentícios, explica que todo o processo produtivo segue uma programação para evitar qualquer tipo de desperdício. “As indústrias trabalham com uma programação de tudo o que é fabricado para atender à demanda do mercado, garantindo a qualidade do processo produtivo”. Para evitar excessos, as equipes – que incluem engenheiros de alimentos, engenheiros químicos, nutricionistas e diversos outros profissionais – são tecnicamente treinadas. O aparato, garante a engenheira, permite que a indústria em que trabalha praticamente zere a possibilidade de desperdício. “Nossos processos são ancorados na higiene, na segurança alimentar e na qualidade”. Como se vê, nem tudo está perdido. Os esforços conjuntos entre os diversos setores produtivos, além das políticas públicas voltadas para reduzir a fome no mundo, têm apontado resultados. Tímidos ainda, mas que representam esperança para milhões de pessoas. Países como o Brasil, segundo a última nota oficial divulgada

39 mil toneladas

de comida são jogadas fora diariamente no Brasil Fonte: Instituto Akatu de Consumo Consciente

Para ajudar a reverter esse processo, a FAO criou um manual com medidas destinadas a orientar governos, agricultores, empresas e consumidores a tentar resolver o problema. A ideia é buscar o caminho da sustentabilidade, ao qual devem aderir todos os que participam da cadeia alimentar. Nesse processo, a figura do engenheiro de alimentos é fundamental. De acordo com a professora Silvana Palmeira, este profissional pode contribuir com novas tecnologias de embalagem e de conservação de alimentos que aumentem a “vida de prateleira” dos mais diversos produtos. “Desta forma, vamos evitar que o alimento entre em decomposição e seja descartado”. Tecnologias

De acordo com Silvana Palmeira, o uso de tecnologia é fundamental para reduzir o desperdício, mas ela ressalta que, para que tenha relevância, o aproveitamento deve ser estimulado em estabelecimentos institucionais que tenham grande volume de produção, tais como restaurantes, refei-


tórios industriais, redes de fast-food e refeitórios de hospitais e merenda escolar em instituições educacionais. Desta forma, ressalta a especialista, seria importante oferecer treinamento para os funcionários, seja no armazenamento adequado, que contemple as temperaturas indicadas para cada produto, no manuseio correto dos produtos hortícolas e, finalmente, no aproveitamento propriamente dito, utilizando o que poderia ser descartado na elaboração de outros produtos. A indústria, segundo ela, já utiliza algumas ferramentas importantes para diminuir as perdas. “Normalmente, a indústria compra a matéria-prima na safra, quando a oferta é maior e os preços estão mais baixos. De forma geral, já tem

controle de processos de tal forma que minimize as perdas para ter uma margem de lucro maior”. Como fazemos parte da mesma cadeia alimentar, vale começar a pensar em alternativas domésticas para reduzir perdas. Afinal, como ensina a professora, a redução de perdas deve começar em casa. A dica principal, segundo ela, é comprar apenas aquilo que será utilizado. “O ideal é praticar os 3 Rs (reduzir, reutilizar e reciclar)”. Agindo assim, você pode até dizer aos amigos que está colaborando para o fim da fome no planeta. E não estará mentindo.

A conta da fome no mundo >1,3 bilhão de toneladas de comida, o equivalente a pouco mais de US$ 750 bilhões, são jogadas fora todos os anos 842 milhões de pessoas são vítimas de fome crônica no mundo, >Para alimentar 9 bilhões de pessoas, que devem habitar o planeta em 2050, será necessário aumentar a produção mundial de alimentos em 32% Fonte: Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)

Para a engenheira de alimentos Silvana Palmeira, tecnologia é fundamental no controle das perdas

V.4, n. 42, p. 47 - jan/fev/mar.2013 - Bahia

crea 47


>Artigo Luís Edmundo Campos

O buraco da BR e fenômenos semelhantes Nos últimos meses, virou assunto na cidade o problema ocorrido na BR-324, logo popularizado como "Buraco da BR". Logicamente, este não foi o único, nem o primeiro, e, infelizmente, nem de longe, será o último. Problemas semelhantes já ocorreram em diversos pontos de Salvador, como, por exemplo, na movimentada Avenida Paralela (junto ao supermercado Extra, ao lado do Viaduto do Centro Administrativo da Bahia, logo após o Posto 2, entre outros). Mais recentemente, a mídia divulgou novas ocorrências. Numa avenida localizada no bairro do Uruguai, na Cidade Baixa, onde caiu uma carreta, e junto à igreja do Rio Vermelho, além do surgimento de novo buraco na BR324 e de outros, de grandes dimensões, em diversos outros locais. Este problema está relacionado à fuga do solo para dentro da tubulação, provocada geralmente por danos nas galerias, seja por deterioração do revestimento ou pela quebra deste, comumente causada por obras realizadas nas proximidades. Com o dano ao elemento de drenagem das águas pluviais ou servidas, no caso da tubulação encontrar-se abaixo do nível de água na região, isso

faz com que ocorra a entrada de água para dentro da tubulação, sendo o problema agravado severamente quando o terreno é constituído por areia. O dano é ainda maior com a diminuição da seção de escoamento por assoreamento do terreno e lixo, e transportado para o interior da tubulação/ galeria, fazendo com que uma tubulação, que deveria funcionar sem o preenchimento total da seção, passe a funcionar com plena seção, e carga na parte superior, possibilitando a saída do fluido por possíveis danos, que, após a diminuição do fluxo, faz com que a água retorne para o interior da tubulação, levando consigo parte do solo, provocando, assim, abatimento na superfície ou, até mesmo, o aparecimento do buraco. Muitos dos problemas acima relatados são agravados quando ocorre o estrangulamento a montante, seja por depósitos (reduzindo a área de represamento, também conhecida por pulmão), onde, muitas vezes, por falta de manutenção e depósito irregular, provoca a obstrução total do sistema de drenagem. Outro problema está relacionado com a impermeabilização da cidade, propiciando um maior es-

48 crea V.4, n. 44, p. 48 - jul/ago/set.2013 - Bahia

«

"Roubos de PV (poços de visitas) ou bocas-delobo também geram problemas e favorecem o aparecimento de buracos, pois permitem a entrada do lixo nesses compartimentos, além da possibilidade de graves acidentes"

Paulo Macedo

Luis Edmundo Campos é engenheiro civil, conselheiro do Crea e diretor da Escola Politécnica da Ufba luisedmundocampos@gmail.com

coamento superficial das águas pluviais. Outra forma de ocorrer este tipo de problema é quando acontece o vazamento da tubulação, provocando uma erosão no solo que contorna a tubulação/ galeria, como, por exemplo, o ocorrido no Largo 2 de julho, no qual ocorreu abatimento na superfície, provocando dano na pista como em uma casa. Uma maneira de reduzir o problema passa pela manutenção das tubulações e limpeza constante das galerias, já que o problema não é de fácil detecção e identificação, bem como de grande dificuldade de execução. De modo semelhante ao que ocorre nas drenagens pluviais, as tubulações de esgoto sofrem danos, principalmente, por ligações indevidas por parte da população, geralmente em locais onde não existe o sistema de coleta de águas pluviais. Com a ligação clandestina, a tubulação acaba recebendo contribuições bem superiores ao que foi dimensionado, passando a trabalhar em carga excessiva. Além disso, roubos de PV (poços de visitas) ou bocas-de-lobo são outros pontos que geram problemas, pois permitem a entrada do lixo nesses compartimentos, além da possibilidade de causarem graves acidentes.


>multimídia

livro • cinema • internet • agenda

>livros Valores e referências Em comemoração aos 50 anos da Ferbasa – maior fabricante de ferro ligas do Brasil, e única produtora integrada de ferro cromo das Américas – foi reeditado o livro Protótipo, só encontrado até então em sebos. A obra, escrita pelo engenheiro de minas e empresário José Cargosinho de Carvalho Filho, contém uma mensagem que remete aos valores e referências, convidando o leitor a refletir sobre as escolhas feitas ao longo da vida e que nos definem como seres humanos, em uma trama que mistura ação, amor, intriga e conflito.

>documentário Engenharia ambiental Pioneiro na área, este livro é, na realidade, uma compilação de textos de diversos campos do conhecimento. Voltado para alunos de graduação, e dividido em cinco eixos temáticos, que englobam fundamentos, gestão e impactos, apresenta em linguagem acessível a evolução da engenharia, a partir da nova perspectiva que se abre com a preocupação ambiental que tomou conta do planeta. Conceitos modernos norteiam esta nova visão, que leva em conta a preservação dos ecossistemas.

Engenharia do Impossível Exibido pelo Discovey Chanell, chega às lojas em DVD o documentário Engenharia do Impossível, que mostra como foram feitos alguns dos projetos mais extraordinários do planeta e quais os desafios enfrentados hoje pela engenharia. Pontes na Europa e na África? Um túnel no Estreito de Gilbratar? Quais os limites para a construção de arranha-céus ou de cidades capazes de flutuar nos oceanos? Tecnologia de ponta, gráficos informatizados e o mundo real dos cientistas ajudam a explicar os sonhos tecnológicos.

>internet

fotos divulgação

O protótipo José Corgosinho de Carvalho Filho Edição independente 248 páginas R$ XX

Engenharia ambiental Davi Gasparini Fernandes Cunha/Maria do Carmo Calijuri Editora Campus R$ 149,90

>datas comemorativas

nonononononono

11/12 > Dia do engenheiro, arquiteto e do agrimensor Em 11 de dezembro de 1933, engenheiros, arquitetos e agrimensores tiveram suas profissões regulamentadas pelo Decreto Federal 23.569. A data, considerada histórica para a categoria, inclui todas as áreas da engenharia, e não apenas a civil, e tornouse oficialmente o Dia do Engenheiro, Arquiteto e do Agrimensor. Na mesma data, e no mesmo decreto, foi criado o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea).

Abaixo o desperdício Verdadeiro diário de viagem para estudantes de engenharia de todas as idades e de todas as áreas, o Blog da Engenharia traz tabelas de vagas de estágio e emprego em todo o País, notícias, orientações sobre as disciplinas que compõem os cursos, agenda de eventos e até calculadora. Entre as pesquisas acompanhadas pelo blog, a do estudante Humberto Santos, que estuda o reaproveitamento de resíduos sólidos produzidos pela indústria da construção civil. Outro trabalho contemplado é o dos alunos de engenharia mecânica industrial, que estudam o destino das madeiras dos canteiros. http://www. blogdaengenharia.com.

Periódicos da Capes Considerado uma das mais importantes ferramentas de pesquisa virtual, o Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) reúne o melhor da produção científica internacional. O acervo conta com mais de 35 mil periódicos, 130 bases referenciais e outras 11 dedicadas exclusivamente a patentes. Saiba mais em www.periodicos.capes. gov.br

Estágios & Empregos O Portal Estágios & Empregos do Governo Federal facilita o contato entre bolsistas e exbolsistas do programa Ciência sem Fronteiras e empresas conveniadas. O objetivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação é divulgar oportunidades de vagas, de acordo com os perfis de mão de obra qualificada, colaborando para a colocação de estudantes no mercado. Acesse www. ee.cienciasem fronteiras.gov.br

V.4, n. 44, p. 49 - jul/ago/set.2013 - Bahia

crea 49


Inspetorias Alagoinhas Inspetor chefe: Eng. agrônomo Luiz Cláudio Ramos Cardoso Rua Dantas Bião, s/n, sala 52, Laguna Shopping, Centro. CEP: 48.030-030 Telefax: (75) 3421-5638 creaba.alag@redecreaba.org.br Barreiras Inspetor chefe: Eng. agrônomo Nailton Sousa Almeida Travessa 15 de Novembro, 21, Sandra Regina. CEP: 47.803-130 Tel: (77) 3612-3700 Telefax: (77) 3611-2720 creaba.barreiras@redecreaba.org.br Bom Jesus da Lapa Inspetor chefe: Eng. civil Fábio Lúcio Lustosa de Almeida Av. Duque de Caxias, Ed. Professor Antonio Ferreira Barbosa,493, Centro. CEP: 47.600-000 Tel: (77) 3481-0301 creaba.bjlapa@redecreaba.org.br Brumado Inspetor chefe: Eng. civil André Luís Dias Cardoso Av. Otávio Mangabeira, 210, Centro CEP: 46.100-000 Tel: (77) 3441-3326 creaba.brumado@redecreaba. org.br Camaçari Inspetor chefe: Téc. de Segurança do Trabalho e eletromecânico Fabiano Ribeiro Lopes Avenida Radial A, nº 67, Centro, Edifício Empresarial Pacific Center, salas Q e R, 1º andar. CEP: 42.807-000 Tel:(71) 3621 1456 creaba.camacari@redecreaba. org.br Cruz das Almas Inspetor chefe: Eng. civil Luís Carlos Mendes Santos Rua J. B. da Fonseca, 137, Centro CEP: 44.380-000 Tel: (75) 3621-3324 creaba.cruz@redecreaba.org.br Eunápolis Inspetor chefe: Eng. civil Ezequiel Eliahu Mizrahi

Rua Castro Alves, 374, Salas 02 e 03, Centro. CEP: 45.820-350 Tel: (73) 3281-2806 creaba.eunapolis@redecreaba. org.br Feira de Santana Inspetor chefe: Eng. civil Diógenes Oliveira Senna Rua Prof. Geminiano Costa, 198, Centro. CEP: 44.001-120 Tel: (75) 3623-1524 creaba.fsa@redecreaba.org.br Guanambi Inspetor chefe: Eng. agrimensor Wellington Donato de Carvalho Rua Maria Quitéria, 35, Centro. CEP: 46.430-000 Tel: (77) 3451-1964 creaba.guanambi@redecreaba. org.br Ilhéus Inspetor chefe : Eng. civil Gilvam Coelho Porto Júnior Rua Conselheiro Dantas, 81, Centro. CEP: 45.653-360 Tel: (73) 3634-1158 creaba.ilheus@redecreaba.org.br Irecê Inspetor chefe: Eng. agrônomo Marcelo Dourado Loula Rua Antonio Carlos Magalhães, 59, Centro. CEP: 44.900-000 Tel: (74) 3641-3708 Telefax (74) 3641 - 1957 creaba.irece@redecreaba.org.br Itaberaba Inspetor chefe: Eng. Civil Vanderlino de O. Moura Júnior Praça Flávio Silvany, 130, sala 15, Edf. Empresarial João Almeida Mascarenhas, Centro. CEP: 46.880 - 000 Tel: (75) 3251-3213 creaba.itaberaba@redecreaba. org.br Itabuna Inspetor chefe: Eng. civil Dermivan Barbosa dos Santos Rua Nações Unidas,625, Térreo, Centro. CEP: 45.600-673 Tel: (73) 3211-9343 Fax: (73) 3211-9273 creaba.itabuna@redecreaba.org.br

Jacobina Inspetor chefe: Eng. agrônomo Ernani Macedo Pedreira Rua Duque de Caxias, 400A – Estação CEP: 44.700-000 Tel: (74) 3621-5781 creaba.jacobina@redecreaba. org.br Jequié Inspetor chefe: Eng. civil Deusdete Souza Brito Rua Jornalista Fernando Barreto, 133, Centro. CEP: 45.200-000 Tel: (73) 3525-1293 creaba.jequie@redecreaba.org.br Juazeiro Inspetor chefe: Eng. agrônomo Luciano César Dias Miranda Rua XV de Novembro, 56, Centro CEP:48.905-090 Tel:(74) 3611-8186 Telefax: (74)3611-3303 creaba.juazeiro@redecreaba.org.br Lauro de Freitas Inspetor chefe: Téc. em Seg. do Trabalho Frederico Luís Almeida de Souza Av. Brigadeiro Mário Epighaus, 78 – Business Center – Sala 115, Condomínio Porto 3 – Centro. CEP: 42.700-000 Tel: (71) 3378-7216 Telefax: (71) 3288-2012 creaba.lf@redecreaba.org.br Luís Eduardo Magalhães Inspetor chefe: Eng. agrônomo Paulo Roberto Gouveia Av. JK, Qd. 91, Lote 1, Salas 1 e 3, Centro. CEP: 47.850-000 Tel:(77) 3628-6755 creaba.lem@redecreaba.org.br Paulo Afonso Inspetor chefe: Téc. agropecuário Marcos de Souza Dantas Rua Carlos Berenhauser, 322, térreo, General Dutra. CEP: 48.607-130 Tel:(75) 3281-4887 creaba.pafonso@redecreaba.org.br Ribeira do Pombal Inspetor chefe: Eng. civil Jone Souza Santos

Av. Dep. Antônio Brito, 132, Centro. CEP: 48.400-000 Tel: (75) 3276-3896 creaba.rpombal@redecreaba.org.br Santa Maria da Vitória Inspetor chefe: Eng. Civil José Oliveira Silva Rua Ruy Barbosa, s/nº, Centro. CEP: 47.640-000 Tel: (77) 3483-1090 Telefax: (77) 3483-1110 creaba.smv@redecreaba.org.br Santo Antônio de Jesus Inspetor chefe: Eng. eletricista Leonel Pereira dos Reis Neto Av. Roberto Santos, 88, Ed.Cruzeiro do Sul, salas 103 e 104, Centro. CEP: 44.570-000 Tel: (75) 3631-4404 creaba.saj@redecreaba.org.br Seabra Inspetor chefe: Eng. Civil Francisco Antonio Brito Santana Rua Jacob Guanaes, 565. CEP: 46.900-000 Tel:(75) 3331-1327 creaba.seabra@redecreaba.org.br Teixeira de Freitas Inspetor chefe: Eng. Eletricista Agnaldo Conceição Gomes Alves Av. Presidente Getúlio Vargas, 3421, Centro, Ed. Esmeralda - salas 203 a 205, Centro. CEP: 45.995-006 Tel: (73) 3291-3647 Telefax: (73) 3291-7444 creaba.tfreitas@redecreaba.org.br Valença Inspetora chefe: Engª. sanitarista e ambiental Márcia C. Alves do Lago Rua Dr. Heitor Guedes de Melo,111, Ed. Argeu Farias Passos, Centro CEP: 45.400-000 Tel: (75) 3641-3111 creaba.valenca@redecreaba.org.br Vitória da Conquista Inspetor chefe: Eng. Agrônomo Emanuel Alves Batista Avenida Otávio Santos, 722,Recreio. CEP: 45.020-750 Tel: (77) 3422-1569 Telefax: (77) 3427-8843 creaba.conquista@redecreaba. org.br

horário de atendimento ao público: das 8h às 12h e das 13h às 16h 50 crea V.4, n. 42, p. 50 - jan/fev/mar.2013 - Bahia



INFORMAÇÕES PARA MELHORAR A QUALIDADE DA SUA VIDA.

ACME/2013

! U O D MU

APOIO FLEX Auxílio financeiro aos associados ou dependentes que necessitam de recursos financeiros para custeio de despesas de interesse pessoal ou profissional. AJUDA MÚTUA Auxílio mensal no desemprego temporário ou por falta eventual de serviços ou ainda em casos de invalidez temporária EMPREENDEDORISMO Para utilização em investimentos fixos e capital de giro e colaborar com sua atividade microempreendedora VEÍCULOS Auxílio financeiro reembolsável aos associados ou dependentes que pretendam adquirir veículos a serem utilizados para deslocamentos pessoais ou profissionais. AGROPECUÁRIO Auxílio aos associados na aquisição de itens da atividade agropecuária: máquinas e equipamentos, instalações, motores, geradores, corretivo de solo, animais, insumos e utensílios, minerais, adubos, defensivos, vacinas, medicamentos, rações, sementes, botijão de sêmen, sêmen, mão de obra.

EDUCAÇÃO Linha de crédito destinada a cursos técnicos, aperfeiçoamento, graduação, especialização, extensão, mestrado, doutorado CONSTRUA JÁ Auxílio financeiro ao associado ou dependentes que necessitam de recursos financeiros para construção, reforma ou ampliação de residência ou escritório, pagamento de mão de obra, aquisição de equipamentos, móveis e materiais EQUIPABEM Empréstimo para viabilizar o financiamento aos associados ou dependentes que necessitam adquirir equipamentos, aparelhos eletrônicos, móveis, hardwares e softwares para o desenvolvimento de suas atividades profissionais. FAMÍLIA MAIOR Auxílio mensal para custear as despesas provenientes da gestação ou adoção e despesas provenientes de matrimônio e núpcias. FÉRIAS Auxílio financeiro reembolsável ao associados ou dependentes que necessitam custear despesas provenientes de férias.

BENEFÍCIOS CONCEDIDOS APÓS UM ANO DE ASSOCIAÇÃO

GARANTE SAÚDE Auxílio financeiro aos associados ou dependentes que necessitam de assistência médica, hospitalar, odontológica e/ou aquisição de medicamentos.

U!

MUDO

juros a partir de

0,30% a.m.

+ INPC dos últimos 12 meses

BENEFÍCIOS SOCIAIS AUXÍLIO PECUNIÁRIO Auxílio financeiro mensal ao associado carente de recursos, em evidente necessidade de sobrevivência

PECÚLIO Indenização ao(s) beneficiários(s) em caso de falecimento do associado AUXÍLIO FUNERAL Indenização àquele que custear os respectivos encargos

ASSOCIE-SE! 71 3453-8946 / 3481-8997

-BA


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.