Revista Movimento Médico - N 08

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CONTRATO

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Revista das entidades médicas de .... rn'. ...

Caravana do Cremepe

em novo giro pelo

Interior

- Entrevista exclusiva com osec rio de Saúde Jorge Gomes Abeleza hi do Mosteiro Aluta da

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IMIP


N° 08 • Ano 03 • Mai/Jun/Jul 2007

Editorial oitava edição da revista Movimento Médico traz uma entrevista com o secretário estadual de Saúde, o médico Jorge Gomes. Ele fala, entre outros temas, sobre o projeto do governo do Estado de construir três hospitais na região Metropolitana do Recife para desafogar as grandes emergências dos Hospitais Agamenon Magalhães, Barão de Lucena, Getúlio Vargas, Otávio de Freitas e, principalmente, a emergência do Hospital da Restauração, uma das mais movimentadas do Nordeste. O secretário fala também sobre a política salarial para a classe médica que trabalha para o estado. Movimento Médico vai abordar ainda o problema do Hospital do Câncer, causado pela crise financeira que se arrasta há vários anos, e as dificuldades enfrentadas pelo Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco. Inaugurado no ano passado, o Procape precisa de socorro urgente por parte dos governos Federal e Estadual. E sem esquecer dos problemas na área de saúde no interior, Movimento Médico cobra as providências para suprir a falta de médjcos no Hospital de Limoeiro, no Agreste. Essa carência de profissionajs tem atingido principalmente os plantões de fim de semana. Na reportagem especial de capa, o dia-a-dia do médico, as dificul­ dades de uma das profissões mais almejadas, o corre-corre, os plantões cansativos e intermináveis e a queL'Ca contra os baixos salários. E o leitor vai conhecer também os detaUles da beleza histórica do Mosteiro de São Bento, em Olinda, e se deliciar com as piadas Irre­ verentes do humorista Apolo Albuquerque.

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Capa: Foto de Hans Manteuffel

EXPEDIENTE Cremepe Presidente: Carlos Vital Vice-presidente: André Longo Assessoria de Comunicação: Joane Ferreira - DRT/PE 2699 Estagiário: Rafael Negrão Simepe Presidente: Mário Fernando Lins Vice: Antônio Jordão Assessoria de Imprensa: Ch ico Carlos - DRT/PE 1268 Ampe Presidente: Jane Lemos Vice: Silvia Carvalho Assessoria de Imprensa: Elisabeth POrto - DRT/PE 1068 Coordenadora: Sirleide Lira Fecem Presidente: Assuero Gomes Assessoria de Imprensa: Evelyne Oliveira - DRT/PE 3456

APMR Presidente: Vitor Hugo Lima Barreto Vice: Washington Luis Silva Cruz

Trauma Coordenação: João Veiga e Fernando Spencer Damuc/UFPE Coordenação: Thiago Cézar Saraiva e Thaís Fernanda Lima da Silva DA/UPE Presidente: Alexandre Wagner Silva Dantas Vice-Presidente: Larissa Muniz Falcão Redação, publicidade, administração e correspondência: Rua Conselheiro Portela, 203 , Espinheiro, CEP 52.020-030 - Recife, PE Fone: 81 3241.5744 Projeto Gráfico/Arte Final: Luiz Arrais - DRT/PE 3054 Tiragem: 15.000 exemplares Impressão: (ia Editora de Pernambuco· CEPE Coordenação Editorial: André Longo Conselho Editorial: Carlos Vital, Mário Fernando Lins e Ricardo Paiva Todos os direitos reservados. Copyright © 2007 - Conselho Regional de Medicina Seção Pernambuco

o Procape foi inaugurado em junho de 2006


Sumário

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3 Opinião As doenças do coração e as dificuldades enfrentadas pelo Procape

4 Entrevista Secretário Jorge Gomes fala da construção de 3 novos hospitais na Região Metropolitana

Seções

7

Editorial

01

Opinião

03

Entrevista

04

Capa

07

Patrimônio

10

Patrimônio

Científica

14

Mosteiro de São Bento: para ver e apreciar

Cremepe

16

Simepe

22

14

APMR

27

Científica

Ampe

28

A política de saúde pública para os índios

História da Medicina Pemambucana 32

Capa A batalha dos médicos no dla-a-dia da profissão

10

16

Diretórios

34

Cremepe

Fecem

35

Caravana em nova incursão pelo Interior pemambucano

Cultura em Foco

36

Humor

39

,

Ultima página

40

20 Simepe A homenagem do sindicato às mulheres


Opinião André Longo*

Um só coração e

muitos contrastes

á muito tempo a me­ dicina se desfez de um antigo equívoco: O de que apenas os rICOS mor­ rIam de infarto do miocárdio! As doenças graves do coração, entre elas os infartos, atingem igualmente po­ bres, ricos e estão na liderança das estatísticas de morte em Pernam­ buco, no Brasil e no mundo. Muito se fala e se escreve sobre as doenças que acometem o coração, seus mitos e verdades e a necessidade de prevenção: quem já não teve al­ guém próximo ou querido que se foi vitimado por um infarto, muitas vezes ainda jovem? O dever de se levantar o debate sobre como tem sido o contraste do atendimento público (Sistema Único de Saúde) e privado (Convênios), em cardiologia, em Pernambuco, é o que me motiva a escrever este artigo. Como cardiologista, do S US, e atualmente na vice-presidência do CREMEPE, preocupa-me a falta de assistência à população usuária do SUS. A situação é grave e precisa de correção de rumos, quando comparada, em núme ros , à assistência prestada àqueles que têm convênio com planos de saúde. Em Pernambuco, 90% da popu­ lação é usuária do SUS, o que repre­ senta mais de 7 milhões de pessoas. Desse contingente, apenas 10% têm condições de ter um plano de saúde. As diferenças começam no acesso aos consultórios médicos e vão desde os exames mais simples aos medica­

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mentos. Vejam como exemplo, o caso de se tentar marcar uma consulta, fazer um teste ergométrico, um eco­ cardiograma, ou acessar um medica­ mento para reduzir colesterol, no âmbito do atendimento SUS, em um local de referência como o Centro José Ermírio de Moraes, da Prefei­ tura do Recife. Certamente o pacien­ te terá enormes dificuldades e ficará meses à espera de ser atendido. E sse retardo muitas vezes significa falta de um diagnóstico ou agravamento de uma condição já existente. As diferenças continuam quando se é acometido de uma emergência cardíaca, situação muito comum en­ tre os mais pobres que não têm aces­ so aos consultórios, exames simples e medicamentos. Existem dezenas de unidades de emergências para quem tem plano de saúde, inclusive algumas em cidades pólos, como Arcoverde., Caruaru, Serra Ta­ lhada, entre outras. Já quem sofre um infarto do miocárdio e depende do SUS tem, exclusivamente, as unidades cardiológicas localizadas, no Recife, o Hospital Agamenon Magalhães (HAM) e o recém inau­ gurado Procape. O Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco levou anos para ser concluído e recebeu investimentos públicos maciços. Passados dez me­ ses da sua inauguração, o Procape continua, de modo paradoxal e ina­ ceitável, sem seu credenciamento junto ao SUS e sem receber apoios dos governos federal e estadual.

Tudo isso dificulta sua viabilidade financeira e estrutural para oferecer um atendimento de qualidade à população. O HAM e o Procape e suas equipes de cardiologistas, mui­ tas vezes incompletas, por constantes pedidos de demissão provocados por baixos salários e precárias condições de trabalho, prestam relevantes serviços à população. A oferta de leitos no setor privado da cardiologia em Pernambuco che­ ga a ser 14 vezes maior que na rede pública. O que caracteriza a ausência na atenção pública de saúde para tamanha demanda, obtendo-se como resultado superlotação constante, atendimento em condições inade­ quadas, e, em muitos casos, agravos ou mortes possivelmente evitáveis. Urge por parte dos gestores públicos de saúde medidas eficazes para sanar esta situação inaceitável. U ma observação mais profunda destas mazelas do sistema resultará necessariamente em garantia de acesso a atenção básica e de média complexidade em Cardiologia (con­ sultas, acompanhamentos, exames e medicamentos) e descentralização desse atendimento cardiológico de emergência no SUS. Tal responsa­ bilidade deve ser compartilhada por meio de vontade política dos gestores dos municípios, do estado e da união, em nome da garantia essencial da saúde, que passa por um só coração, sem tantos contrastes.


JORGE GOMES

Asaúde em Pernambuco o secretário de Saúde de Pernambuco, o médico Jorge Gomes, de 61 anos, é natural de Carua ru, no Agreste, fOI vIce-governador do Estado na 3 a gestão do governador Miguel Arraes (1995/1998) , Deputado Federal e Estad ual. Nesta entrevista a Movimento Médico, ele trata de temas de interesse da classe médica e também da população em geral, como a construção de 3 novos hospitais, os problemas do Procape e do Hospita l do Câncer e a polít ica salaria l para os médicos que t rabalha m no Govern o do Estado

passada, o então

uma articulação torte com os municí­

candidato Eduardo Campos prometeu a construção de três hospitais na RMR O que há de concreto nesse projeto? Vai dar para construir os três hospitais em quatro anos?

pios, fàzendo com que cada um cum­ pra seu papel dentro do Sistema Único de Saúde. No caso do HR, por exem­ plo, cerca de 80% das pessoas que en­ tram na Emergência da unidade rece­ bem alta com menos de 24 horas. Ou

mos investir em capacitação, em me­ lhoria salarial, sempre com diálogo estreito com as entidades represen­

seja, são pessoas que não deveriam es­ tar ali, mas sim, em postos de saúde ou

tativas, como o Cremepe e Sindicato dos Médicos.

Na campanha

Sim. O governador Eduardo Cam­ pos estabeleceu essa linha de ação, que será a construção de três hospitais para desafogar as grandes emergências da Região Metropolitana do Recife, prin­ cipalmente, o hospital da Restauração. Assim que nós iniciamos nossa tarefa à frente da Secretaria Estadual de Saúde,

O governo está definindo uma no­

já nos primeiros dias, visitamos o ter­ reno de Paulista, depois Olinda surgiu com uma segunda opção. Atualmente, estamos estudando a viabilid ade técni­

Grande Recife? Os três hospitais serão construídos em pontos estratégicos e deverão evitar

ca dos terrenos disponíveis e esperamos iniciar a construção da primeira uni­ dade ainda este ano.

a migração dos pacientes do Interior para os hospitais da capital, tornando mais rápido e eficiente o atendimento de emergência para a população e, con­ seqüentemente, reduzindo esse proble­ ma da sobrecarga não só no Hospital da Restauração, mas nos grandes hospitais do Recife. Vamos investir também nos hospitais regionais para

ra atendimentos de emergência, cirur­ gia geral e outras especialidades.

Historicamente, o Hospital da Res­ tauração é o mais criticado no que diz respeito aos atendimentos na sua emer­ gência (superlotada, gente em corre­ dores...). Isso está perto de ter um fim?

que possam melhorar os seus aten­ dimentos, evitando transferências inde­ vidas e melhorando o atendimento ao usuário do SUS.

Posso afirmar que estamos traba­

O governo tem em estudo algum projeto para definir a política salarial dos médicos que trabalham para o Estado?

lhando para mudar essa realidade. E o primeiro passo está sendo estabelecer

A politica salarial do governo como um todo é feita pela Secretaria de Ad­

4 Movimento Médico

só dos médicos, mas de todos os pro­ fissionais de saúde da rede estadual. Va­

policlinicas.

Na sua avaliação, a construção des­ ses hospitais vai acabar definitivamente com o problema da superlotação nas emergências dos hospitais públicos do

A proposta é construir os hospitais em Paulista, Jaboatão e Moreno. Qual será a capacidade de cada um? A capacidade será de cerca de 150 leitos e será voltada, principalmente, pa­

ministração. Mas, é claro que nós te­ mos total interesse na valorização, não

va política de nomeações para as gerên­

cias regionais de educação que passarão por critérios técnicos, desprezando as­ sim as indicações políticas. Na área de saúde as entidades médicas - Cremepe e Simepe - defendem que essa mesma política seja adotada para ocupação dos cargos nas gerências regionais de saúde. Como o senhor vê essa questão? Essa é uma questão muito impor­ tante, em que pela primeira vez o Es­ tado de Pernambuco está permitindo uma seleção pública para cargos que também são públicos. A Saúde e a Educação estão atravessando esse momento, com um decreto sancionado pelo Governador Eduardo Campo, em que a nossa intenção é valorizar o pro­ fissional do serviço público e fazer a so­ ciedade participar dessa escolha. Essa é a missão da comissão formada por di­ versas entidades de referência para a Saúde, e que deverá entrar em hm­ cionamento brevemente.

Como o governo vai fazer para recuperar o Hospital do Câncer de


bem articulada com os municípios e conseguimos evitar a entrada da doença em nosso Estado. Nossa barreira se deu a partir de uma busca ativa em 23 municípios do interior do Estado, mui­ tos deles fronteiriços aos municípios baianos que nos preocupavam, e onde imunizamos 80,58% de todas as pes­ soas de 11 a 49 anos. Distribuímos, além disso, folders, cartazes e manuais clínicos para os profissionais de saúde, que também foram convidados a parti­ cipar de oficinas de capacitação sobre o sarampo. Tudo isso faz com que nossa barreira tenha sido e ainda seja eficaz contra essa doença, que não ocorre há mais de 6 anos no nosso Estado.

o Governo do Estado tem alguma

Pernambuco e acabar com o déficit financeiro daquela unidade de saúde? O Hospital do Câncer de Pernam­ buco não deixará de atender os pacien­ tes em nossa gestão. Esse é um compro­ misso que assumimos publicamente e que estamos trabalhando para que seja realizado com sucesso. Instituímos um Grupo de Trabalho que elaborou um estudo que mostra as principais di­ ficuldades da unidade e aponta medidas para tornar a unidade hospitalar mais eficiente e equilibrada financeiramente. Em paralelo, o governador Eduardo Campos determinou, no início de março, o adiantamento com recursos do Tesouro Estadual de recursos do SUS, que só seriam liberados pelo Ministério de Saúde no final desse mês.

Qual O apoio que a Secretaria Estadual de Saúde está dando para o bom funcionamento do Procape?

Também estamos preocupados com a situação do Procape. A unidade foi inaugurada na gestão passada, sem estar credenciada ao SUS e, inclusive, encontramos aqui um parecer contrário do Ministério da Saúde ao creden­ ciamento do Procape. Estivemos com o governador em Brasília, e a partir de nossas conversas com o Ministério, conseguimos a garantia da contratua­ Iização da unidade, o que deverá acon­ tecer em breve. O hospital também será contemplado com o aumento do teto financeiro para a Saúde, que ob­ tivemos. E, como ação emergencial, enviamos medicamentos e materiais hospitalares que estão garantindo o atendimento normal do Procape.

proposta nova no combate à dengue? Em relação à dengue, já estamos nos mobilizando para controlar os casos da doença, principalmente nessa época do ano, em que há uma grande quan­ tidade de precipitação de chuva. Em relação ao ano passado, registramos uma leve diminuição no número de casos, mas mesmo assim, não estamos descuidando e, entre os dias 26 e 31 de março, fizemos uma Semana de Mo­ bilização contra a Dengue, envolvendo dezenas de parceiros públicos e pri­ vados, focando nossas ações princi­ palmente em 50 municípios de maior risco. Além da campanha pontual, estamos trabalhando permanente­ mente, realizando as atividades que nos cabem dentro do SUS, que são a coordenação e supervisão das ações dos municípios.

Quanto o governo investe em saúde - por mês - no estado de Pernambuco?

E qual a verba que o SUS destina ao

estado na mesma área? O Estado investe, com recw-sos do

Como estão sendo montadas as barreiras em Pernambuco para evitar a entrada do sarampo? FIzemos uma campanha eficiente,

Tesouro, aproximadamente R$ 60 milhões por mês. E, o Fundo Nacional de Saúde, repassa para Pernambuco cerca de R$ 54 milhões por mês. Movimento MédiCO 5


Heróis de to

s

Como é o cotidiano de quem precisa exercer uma profissão que hoje é uma das mais arriscadas Marcionila Teixeira*

apacitados para servir bem à população, agora são os médicos que precisam de socorro. As más condições salariais que levam os profissionais a assumirem até cinco empregos, aliadas à desvalorização do trabalho numa área que exige atualização constante, estão pondo os sonhos de muitos jo­ . . vens que quenam seguIr a carreua numa gaveta. Neto e filho de médicos, o cirur­

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gião Cuido Corrêa de Araújo Júnior tem nove anos de formação, mas hoje vê um quadro pessimista na profissão que almejou tanto quanto se us pa­ rentes. "Ser médico atualmente é um 6 Movimento Médico

desafio maior que era no passado. De forma geral, a situação está ruim para a categoria. Seja nos convê nios, que li­ mitam alguns procedimentos, interfe­ rindo na conduta do profissional junto ao paciente, ou na medicina -pública, que carece de ince ntivo em todos os aspectos, como na remuneração ou no investimento em infra-estrutura ", desabafa. Cuido Corrêa, assim como 43,8% da classe médica, precisa se desd obrar em três ou quatro atividades, de acor­ do com dados do Conselho Federal de Medicina (CFM). O especialista em cirurgia abdominal acumula três em­ pregos, plantões e um consultório

particular. "Se eu não trabalhar de se­ gunda a segunda-feira, minhas duas filhas vão estudar em escola púbuca e eu não vou poder manter um padrão mínimo de classe média como meus pais me ofereceram . Mesmo com to­ das essas atividades, minha renda mensal fica em torno de R$ 5 mil", critica. Nos momentos de maior an­ gústia, o cirurgião lem bra da ado­ lescência, quando chegou a montar uma banda de músicos . "Somente me mantenho na medicina porque gosto de ajudar as pessoas", sintetiza. Segundo o CFM, hoje são 11 .027 médicos em atividade em Pernam­ buco. N o Nordeste, 79,6% trabalham


A médica Maria das Graças Oliveira Silva, que trabalha na prefeitura de Olinda

no setor público e majoritariamente no próprio estado (73,9%). No caso de Pernambuco, o profissional ligado à rede pública estadual recebe cerca de 10 salários minimos por mês. Nas prefeituras, o fantasma da bai­ xa remuneração se repete. Em Olinda, por exemplo, um médico chega a receber menos de R$ 1 mil de salário. "Tenho 22 anos de prefeitura, atendo 80 pacientes por semana e não recebo R$ 1 mil no fina] do mês", queixa-se a médica Maria das Graças Oliveira Silva, 55 anos. A crise em Olinda chegou ao pon­ to de 53 médicos elaborarem suas car­ tas demissionais. O movimento so­

mente foi cancelado porque o Sin­ dicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) chegou a firmar um acordo com a Prefeitura de Olinda para reajustar os salários de plantonistas efetivos e com contratos temporários. No entanto, a proposta de médicos diaristas, como é o caso de Maria Oli­ veira, ainda está em debate. Os pro­ fissionais querem R$ 1.260, o que sig­ nifica quase R$ 200 a mais que o ofe­ recido pela prefeitura. Quando se fala em interior do es­ tado, a situação se agrava para a classe médica. Ainda existe carência de pro­ grama adequado de interiorização do médico, o que resulta em um quadro

que se repete em todas as regiões do Brasil. No Nordeste, no entanto, a situação é mais grave, já que 80% dos médicos residem nas capitais, segundo oCFM. Aprovada desde 2000, a emenda constitucional 29, que prevê um mí­ nimo de recursos para a saúde, não foi até então regulamentada e, portanto, não é cumprida. Outro dado que aponta o descaso com a saúde pública e com o médico é o que se refere a in­ vestimentos do país na área. Segundo o Departamento Nacional de Au­ ditoria do Sistema Único de Saúde (Denasus), o Brasil estará investindo esse ano no setor aproximadamente Movimento Médico 7


Na contramão dos colegas de profissão, a médica e capitã de mar e guerra Sônia de Souza Marques (foto) pode se dar ao prazer de ter apenas um emprego

8 !vlovlmento Médico

R$ 159,2 bilhões, o que significa R$ 391 per capita. O valor é bem inferior ao que a Argentina, por exemplo, já investia há dez anos: U$ 823. As queixas quanto às condições para se exercer a Medicina também são comuns a un.iversitários. Amanda Benemérita, 24 anos, está no último período de Medicina e critica as con­ dições de estágio oferecidas em alguns hospitais do Recife. "Não é um pro­ blema generalizado, mas em geral a rede pública não tem boas condições de assistência ao estudante. Não temos direito a auxílio-transporte, à alimen­ tação, a uma biblioteca ou mesmo acesso à internet", enumera. A Classificação Brasileira Hierar­ quizada de Procedimentos Médicos (CBHPM), tabela que prevê hono­ rários médicos, já existe há cinco anos, mas sua fiscalização também não é cumprida. Pernambuco, inclusive, é

um dos poucos estados brasileiros que tem lei aprovada na Assembléia Le­ gislativa obrigando o cumprimento da tabela. Os convên.ios recebem todos os anos autorização do Governo Federal para conceder aumentos, porém as ci­ fras não estão sendo repassadas para os médicos. U ma consulta neste setor custa em média R$ 35 para o médico, quando deveria custar R$ 250, de acordo com a inflação. A pesquisa realizada pelo CFM com os médicos nordestinos confirma a insatisfàção. No caso do Nord este, as queLxas são superiores às regis­ tradas em outras regiões do país. Ao todo, 42% dos entrevistados se dis­ seram nada ou pouco favoráveis aos convên.ios, quando a média nacional é de 39,9%. Avaliado em ge ral de forma positiva, segundo pesquisas do CFM,


o especialista em cirurgia abdominal, Guido Corrêa, que já formou uma banda musical na adolescência, acumula três em­ pregos, plantões e um consultório particular

o Programa de Saúde da Familia (PSF) também enfrenta problemas em Pernambuco. Apesar da remuneração base ultrapassar os salários pagos pelos municípios e chegar a cerca de R$ 2,5 mil, a infra-estrutura dos locais, em geral situados em bairros violentos ou carentes, deixa a desejar. "Temos muitos problemas e o prin­ cipal deles é a demanda. A minha área de atendimento prevê quase 7 mil pessoas", contabiliza a médica Salete Aragão Fonseca, 56 anos. Apesar dos percalços, que incluem desde assas­ sinatos de jovens da comunidade a discussões com pacientes mais exal­ tados, Salete diz que não troca o PSF por um consultório particular. "Me sinto bem fazendo esse trabalho. Me identifiquei com a população", confessa.

Na contramão dos colegas, a médica e capitão de mar e guerra Sônia de Souza IVlarques pode se dar o prazer de ter apenas um emprego. Ela também optou pela carreira militar e hoje é diretora do Hospital Naval do Recife. Além da segurança e da boa remuneração ganha no cargo conquis­ tado, Sônia tem tempo para dedicar a ela e à própria família . "Ser médico-militar te dá tranqüi­ lidade financeira e chances de apri­ moramento dentro e fora da corporação. Se eu cumpro bem meus deveres, meus direitos também são sempre atendidos. Até poderia ter um plantão por fora, mas preferi me dedicar à filha de 12 anos e aos meus finais de semana e feriados", ressalta. *Marcionila Teixeira é jornalista

Movimento Médico 9



A imponência do Mosteiro de São Bento, com seu estilo barroco

história do Mosteiro de São Bento de Olinda te­ ve início numa época em que o Brasil ainda dava . . . os pnmetroS passos para vu-ar uma na­ ção. Séculos depois da primeira missa celebrada no local, suas grossas pare­ des ainda guardam a imponência de um dos monumentos mais admirados da cidade histórica. O ponto de partida dessa trajetória foi no ano de 1592, quando o então donatário de Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho, solicitou à Or­ dem de São Bento, em Portugal, que enviasse à capitania alguns religiosos beneditinos para a formação de uma nova igreja. Em troca, concederia far­ tas doações em bens territoriais, além de um sem fim de regalias e isenções. O pedido foi acatado e, no final da­ quele século, surgiu uma nova ordem religiosa - a segunda beneditina em terras brasileiras -, situada nas proxi­ midades do Varadouro da Galeota, na

A

cidade vizinha de Olinda. Estava en­ tão de pé o suntuoso templo, batizado inicialmente de Mosteiro do Patriarca São Bento da VIla de Olinda, onde fu­ turamente (1827) funcionaria a pri­ meira escola de Direito do Brasil. A vida do prédio, entretanto, não seria longa. No dia 25 de novembro de 1632, dois anos após aportarem em terras brasileiras, os invasores holan­ deses deflagraram um incêndio que destruiu o mosteiro. De suas riquezas, apenas o arquivo pôde ser totalmente recuperado. Em 1654, deram início a uma série de restaurações e a antiga construção voltou a funcionar. l\1as em meados do século XVIII, os mon­ ges beneditinos decidiram demolir o antigo templo para dar lugar a uma outra edificação. Em 1761, surgia um novo prédio, agora em estilo barroco, decorado se­ melhante ao Mosteiro de Tibães, em Portugal. O corpo da igTeja foi amplia­ do e foram erguidos outras tribunas,

um novo frontispício e a torre do cam­ panário, onde está, até hoje, o carrilhão de sinos mais sonoro da cidade. Com o passar dos anos, porém, diversas modi­ ficações foram feitas no templo, resul­ tando num estilo que hoje se aproxima do neoclássico. No centro da fachada em cantaria - projetada pelo arquiteto Francisco N uno Soares - um brasão identifica a congregação beneditina.

IGREJA - Considerada uma das mais belas catedrais de Olinda e do Estado de Pernambuco, a Igreja Aba­ cial do Mosteiro de São Bento guarda em seu interior dezenas de obras de arte. São objetos, esculturas e pinturas sacras, decorando cada espaço do lo­ cal, mágico em sua natureza. Do acer­ vo, destacam-se diversas imagens do século XVIII, retratando Santa Ger­ trudes, Sant ' Ana Mestra, São VIcente Ferrer e São Caetano. A grande riqueza da catedral, en­ tretanto, é o altar-mor trabalhado em Movimento Médico I I


ouro. Sua magnitude e beleza logo chamam a ate nção de todos que visi­ tam o local. D o trono principal, uma imagem do patriarca São Bento, escul­ pida em madeira e revestida em ouro, contempla o coro dos monges e a en­ trada da nave. Considerado uma das mais belas heranças do barroco brasi­ leiro, o alta r-mor da igreja do Mos­ teiro de São Bento de Olinda ganhou grande notoriedad e na mídia em 2001, quando foi restaurado e des­ montado para ser exposto em Nova York (mais detalhes a seguir). L ocalizada atrás do altar-mor, a sa­ cristia do templo (construída em 1783) acompanha a imponência do lo­ caI. A ampla sala - forrada por imen­ sos painéis assinados pelo pintor J osé E loy da Conceição, ilustrando a vida de São Bento - abriga uma notória coleção de arte, entre pi nturas, espe­ lhos de cristal, obras talhadas em jaca­ randá e um grande lavabo em már­ more, vindo de Portugal. Em se u altar, uma imagem seiscentista do Senhor Morto, do escultor beneditino Frei Domingos da Conceição e Silva, re­ pousa taciturno. Também merece destaque a ca­ pela-mor da igreja. Construída em 1779, possui um majestoso retábu lo em ouro, um camarim profundo e tri­ bunas com alfenas em talhas dou­ radas. Entre as diversas imagens que ornam o espaço, constam pinturas que retratam São Bento, São Gregól;o Magno e Santa Escolástica, todas confeccionadas em Olinda, no final do séc ulo XVI II. Atualmente a igreja encontra-se em processo de restauração. Segundo Dom Bento, monge benediti no que vive há 31 anos no Mosteiro - onde 22 outros monges moram hoje - a na­ ve e o coro do templo em breve serão renovados e novas alas serão cons­ truídas. H á ainda a perspectiva de realização de um projeto, em parceria com a Prefeitura de Olinda, para a 12 Movimento Médico

Dom Bento mora há 31 anos no Mosteiro de São Bento

abertura ao público de um antigo tLl­ nel que liga o local à Igreja dos Milagres. Desde o mês de agosto sob a dire­ ção do Abade Dom Felipe (vindo do mosteiro beneditino do Rio de Ja­ neiro), a igreja abre suas portas dia­ riamente aos fiéis. Ao lado da catedral, uma pequena loja vende lembranças aos turistas que visitam o lugar. Mas a impressão que se tem ao deixar o gran­ de pátio que rodeia o templo é de que as maiores recordações que se podem

levar dali são mesmo a beleza e a paz que parecem emanar do local. *Nathalia Duprat é jomalista.

SERViÇO Rua de São Bento, s/no, Varadouro. Fone: (81) 3429-3288 Visitas: Todos os dias, das 9h às I I h e das 14h às 17h. Missas: De segunda a sábado às 06:30; Domingo às 10h e 18h


De Olinda para o

mundo

Em 23 de janeiro de 2001, uma parceria entre a Brasil Connects: Cultura & Ecologia, o Instituto do Patrimônio

Histórico

e Artístico

Nacional [Iphan) e a Ordem Bene­ ditina do Mosteiro de São Bento de Olinda deu início a um projeto de res­ tauração do altar-mor da Igreja Aba­ cial do Mosteiro, que seria empres­ tado, em seguida, ao Museu Gug­ genheim de Nova Iorque. Confiada ao Laboratório de Pes­ quisa, Conservação e Restauração de Documentos e Obras de Arte [La­ borarte), do Instituto de Documen­ tação da Fundação Joaquim Nabuco, do Recife, a tarefa envolveu uma equipe interdisciplinar, formada por trinta pessoas, entre especialistas, técnicos e auxiliares. O trabalhou du­ rou sete meses para ser concluído. Para a viabilização da viagem aos Estados Unidos, a peça - que tem 14m de altura por oito de largura e pe­ sa cerca de 12 toneladas - foi des­ montada em 54 partes e embalada de forma a se adequar às condições de temperatura e umidade do trajeto [realizado em duas partes). Segurado em cerca de R$ 20 milhões, o altar­ mor da Igreja do Mosteiro de São Ben­ to de Olinda ficou exposto de outubro de 2001 a abril de 2002, como parte da mostra Brazil, body and soul. Atualmente outra obra da igreja ­ um retábulo de Cristo do século XVI, confeccionado por monges portu ­ gueses - está sendo preparada para seguir viagem. Ouando a restauração tiver terminado, a peça será embar­ cada para a Inglaterra e, em seguida, será exposta também em museus da Finlândia e da Espan ha.

Movimento Médico 13


índios sendo atendidos dentro da aldeia pelo médico sanitarista Douglas Rodrigues

Políticas Públicas e a Saúde Indígena Douglas Rodrigues1 Sofia Mendonça2

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questão da sa úde indígena está mergulhada em uma intersecção de várias políticas pú­ blicas: a política de saúde indígena, a política indigenista, a política nacional de saúde e o Sistema Único de Saúde (SUS), a política de educação e a política de educação indígena, cujos objetos e direções em alguns aspectos são opostos ou contraditórios. A política indigenista ao longo das últimas décadas passou por um esvaziamento e fragmentação da qual ainda não se recupe­ rou. Não está claro neste momento qual é, de fato, a política do governo com relação aos povos indígenas. Tampouco existe uma articulação entre as diferentes políticas setoriais relacionadas aos povos indígenas, o que leva a uma dis­ persão do movimento indígena e, conseqüentemente, de suas propostas e reivindicações. Houve uma luta intensa nas últimas décadas para a construção do que hoje é conhe­

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cida como política de saúde para os povos indígenas. Vários foram os fóruns e cenários desta luta. A formulação desta política específica caminhou junto com a própria cons­ trução do Sistema Único de Saúde, no contexto do que ficou conhecido como Movimento da Reforma Sanitária em nosso país e, portanto, tem como referência os mesmos princípios: a universalidade, integralidade e principalmente a eqüidade, embora enquanto subsistema proponha espa­ ços de gestão, territorialidade e formas de atenção dife­ renciadas em fu nção das especificidades sócio-culturais, epidemiológicas e territoriais. O desenho atual da política de sa úde indígena, en­ tretanto, apresenta lacunas e distorções estruturais que in­ telferem drasticamente no desempenho dos Distritos Sani­ tários Especiais Indígenas refletindo a precariedade e frag­ mentação da atenção à saúde daqueles povos e a falta de


A alegria da índia ao ser entrevistada pela médica sanitarista Sofia Mendonça

qualificação profissional dos índios e não índios que atuam nos serviços de saúde indígena. Ainda que em proces­ so de implementação, o subsistema de atenção à saúde dos povos indígenas no Brasil começa a revelar, a partir das informações que têm sido geradas, um quadro sanitário bastante precário, característico da exclusão social em que VIVem esses povos. Embora a ação do Ministério da Saúde, na função de gestor da saúde indígena, exigisse que a implantação do subsistema de atenção à saúde dos Povos Indígenas fosse enfrentada com uma intervenção organizada a partir do âmbito federal\ que articulasse os diferentes níveis de gestão, o processo ficou truncado. Os Distritos Sanitá­ rios Especiais Indígenas que deveriam ser as unidades gestoras do subsis­ tema, conforme reiteradas delibera­ ções das II, III e IV Conferências Na­ cionais de Saúde Indigena, permane­ cem sem autonomia, atrelados às coor­ denações regionais da Funasa, uma instituição extremamente burocrati­ zada e centralizadora, deslocada dos espaços formais de articulação e ne­ gociação do SUS' e mesmo nas dife­ rentes instâncias do próprio Minis­ tério da Saúde. Tampouco os Distritos têm uma estrutura própria para o desenvolvimento da atenção básica de

saúde no nível das áreas indígenas, pois estas tem sido realizadas de forma terceirizada por associações indígenas, ONGs, Prefeituras e Universidades, mediante convênios e portarias que têm se revelado mecanismos de gestão inadequados para garantir a qualidade e a continuidade das ações. Na reali­ dade esta política ainda não se consoli­ dou, é extremamente vulnerável e está à mercê do jogo politico, dos interesses corporativos do Ministério da Saúde, da Funasa e do movimento munici­ palista da saúde, além dos interesses politicos, econômicos e fundiários que permeiam a questão indígena em nosso país. No contexto da Política de Saúde Indígena não está formulada a política de recursos humanos. Ao contrário, o que vemos na maioria dos Distritos, contratados como consultores ou por meio de convênios, é um trabalhador com precários vínculos empregatícios, desmotivado, pouco capacitado, sem o necessário período de adaptação ao campo e uma alta rotatividade. Tam­ pouco existe um projeto politico peda­ gógico que se coloque como referência para a formação desses trabalhadores. É preciso superar os investimentos nos treinamentos emergenciais, que não conferem ao trabalhador, ao indi­ víduo, possibilidades de se constituir

como sujeito e como cidadão e que não o habilita a sobreviver num mundo do trabalho cujas transformações são ga­ lopantes, exigindo cada vez mais aces­ so a bens culturais e educacionais. Mesmo diante deste contexto comple­ xo e heterogêneo entendemos que é possível deflagrar processos de forma­ ção profissional quando se tem decisão politica e se prioriza a dimensão peda­ gógica do trabalho. É preciso uma gTande mobilização de atores sociais e institucionais para garantir a constru­ ção de uma política de recursos hu­ manos específica para a saúde indí­ gena. É necessária uma aliança entre os gestores, centros formadores e uni­ versidades, como espaços de mediação entre o mundo do trabalho e o mundo da educação, para implementar o pro­ cesso de formação dos trabalhadores em saúde indígena. I - Médico sanitarista, Especialista em Economia da Saúde e Coordenador Geral do Projeto Xingu, UNIFESP. 2 - Médica sanitarista, Mestre em Antropologia e Coordenadora da Formação de RH do Projeto Xingu / UNIFESP. 3 - De acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seus artigos 22, 23 I e a Lei nO. 9.836 de 23/ I 1/99 - que institui o subsistema de atenção à saúde indígena. 4 - Espaços formais de interlocução, pactuação e negociação do SUS como a CIB - Comissão Bipartite e ClT - Comissão Tripartite.

MOVimento Médico 15


RE E E Conselho Regional de Meclicina/PE

Caravana do Cremepe de novo na estrada Caravana saiu do Recife no dia 26 de março e visitou várias cidades da Zona da Mata Norte

Médico é • novo vlce­ reitor da UPE

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o secretário de Saúde, Jorge Gomes, assistiu à saída da Caravana

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terceira versão da Ca­ ravana do Conselho Re­ gional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) saiu do Recife no dia 26 de março e percorreu várias cidades da Zona da Mata Norte. O objetivo é identificar, com exatidão, indicadores que com­ põem o índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de cada município: renda, educação e expectativa de vida. Com o diagnóstico pronto, é possível elaborar propostas que atendam às necessidades da população. N esta primeira fase, a Caravana percorreu os municípios de Camu­ tanga, Condado, Ferreiros, Itambé, Lagoa de Itaenga) Macaparana, Tracunhaém, Lagoa do Carro, Vicên­ cia e São VICente Férrer. De acordo com o médico Carlos Vital, presidente do Cremepe, até maio serão visitadas 42 cidades. "Este ano, também fare­ mos investigações sobre a saúde do trabalhador, inclusive sobre o uso de agrotóxicos nas plantações" - disse o presidente do Crempe. O projeto é uma iniciativa do Cen­ tro de Estudos Avançados do Cre­ mere, Ceac, com apoio do Sindicato dos Médicos de Pernambuco e Secre­

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taria Estadual de Saúde. Em 2005 e 2006, a Caravana esteve em 104 municípios. As atividades, previamente agen­ dadas, são compostas de entrevistas e reuniões com prefeitos, secretários de saúde, diretores e funcionários de hos­ pitais, Conselhos Tutelares) conselhei­ ros municipais de saúde, Ministério Público, Jud iciário, além de repre­ sentantes dos moradores. É aplicado um questionário, onde os moradores respondem sobre escolaridade, renda e condições de vida em geral. N a segu nda fase, de 09 a 13 de abril, a Caravana teve compromisso nos municípios de AgTestina, Ala­ goinha, Alcinho, Barra de Guabiraba, Cachoeirinha, Camocim de São Félix, Cupira, Ibirajuba, Panelas, São Joaquim do Monte e Tacainlbó. Na terceira fase, ainda em abril, de 23 a 27, em Bom Jardim, Casinhas, Cumaru, João Alfredo, Machados, Orobó, Salgadinho, Santa Maria do Cambucá, Vertente do Lério e Vertentes. N a quarta e última fase, de 07 a 11 de maio, estão incluídos Araripina, Bodocó, Cedro, Exu, Granito, Ipubi, Moreilândia, Serrita, Trindade e Verdejante.

médico Regi.naldo Inojosa,. 48 anos, tomou posse como VJ.CC­ reitor da Universidade de Pernam­ buco (UPE). In~iosa fez parte da chapa encabeçada pelo engenheiro civil Carlos Calado, 54, que foi eleita em setembro de 2006, tendo concor­ rido com mais duas chapas. Inojosa e Calado, que contaram com o apoio das entidades médicas do Estado - Cremepe, Sindicato dos Médicos e Associação Médica de Per­ nambuco - vão conduzir a instituição até 2010 e uma das novidades será a reitoria itinerante. "Iremos ao encontro da comu­ nidade acadêmica, dentro de um mo­ delo de gestão descentralizado. Espero que sejamos capazes de inovar, pro­ du zir conhecimento, aprofundar a interiorização, atender às expectativas e, principalmente, que a população de Pernambuco se sinta satisfeita com sua universidade pública", ressaltou o médico. A idéia é a cada trimestre levar a equipe gestor.! às unidades do interior: Nazaré da Mata, Caruaru e Gara­ nhuns, no Agreste, Salguciro e Petro­ lina, no Sertão.

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Criada a scola , Superior de Etica Médica Novas relações entre médicos e pacientes são um dos desafios da nova escola Joane Ferreira* om o objetivo de promo­ ver cursos e conferências sobre ética médica para profissionais e estudan­ tes, e o intercâmbio com comitês de ética médica em pesquisa, faculdades e hospitais, o Cremepe criou a Escola de Ética Médica (ESEM). É a segunda do país, a primeira está em Minas gerais. A Escola, prevista na resolução número 3/2005, editada no fim do ano passado, vai hmcionar na sede do Cremepe, na Rua Con­ selheiro Portela, 203, no ESpinheiro. A ESEM será dirigida pelo presidente do Conselho, Carlos Vital, e pelos conselheiros Dirceu de Lavor e Horácio Fittipaldi. Para o coordenador de programas sociais do Cremepe, Ricardo Paiva, "a ESEM chega para interagir e, através de pesquisas e estudos, colaborar com a ética e a bioética no ramo da me­

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dicina". Na opinião de Carlos Vital, viveremos uma nova era, "com novos desafios e novas relações médico-paciente, cuidando da ética entre os homens".

José Geraldo de Freitas Drummond, diretor da Escola de Ética Médica do Conselho Regional de Minas Gerais

LANÇAMENTO - O convidado para fazer a palestra de lançamento da ESEM foi o diretor da Escola de Ética Médica do Conselho Regional de Minas Gerais, José Geraldo de Freitas Drummond(foto). Na ocasião, ele fa­ lou sobre os princípios da ética e como é desenvolvido o trabalho numa escola de ética médica. '1\ Escola é um órgão dentro do conselho regional que tem finalidade pedagógica, educativa. Além da função de fiscalizar o exercício profissional e de julgar médicos, os conselhos têm uma outra função que é zelar pela ética", enfatizou. '1\ posição que o Cremepe assume de criar uma

ESEM, assim como Minas Gerais, é pioneira. É fazer com que os médicos e :hJturos médicos apresentem valores como existiam antigamente, de solida­ riedade, honradez, lealdade e cuidado com o paciente". Para Drummond, o papel da Es­ cola de Ética Médica é também de reflexão para situações difíceis. "Quando o médico tiver que tomar uma decisão sobre o destino de um paciente, por exemplo, é importante que o profissional saiba decidir junto com o paciente, que respeite e que te­ nha fundamentação filosófica para poder ser consciente das escolhas" ­ concluiu.

* Da Assessoria de Comunicação do Cremepe

presidente do Cremepe, Carlos Vital, e do Simepe, Mário Fernando, acompanharam o anúncio do pacote de medidas para a saúde - feito pelo governador Eduardo Campos, junto ao secretário de Saúde, Jorge Gomes ­ que inclui a liberação de R$ 58,8 milhões de reais para os hospitais públicos de Pernambuco. Na ocasião também foi anunciada a intervenção do governo no Hospital do Câncer.

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Representantes do Cremepe com o Governador Eduardo Campos e o Secretário Jorge Gomes

Decreto muda escolha de nomes para Geres e Hemope Governador destaca ação pioneira no Estado

m decreto assinado pelo go­ vernador Eduardo Campos, no fim de fevereiro, é o responsável pela mudança na escolha dos nomes para dirigir a Primeira Gerência Regional de Saúde(Geres) e o Hemope. Esta­ rão habilitados a concorrer às vagas os profissionais da área de saúde ativos e aposentados que pertençam aos qua­ dros da Secretaria Estadual de Saúde. A escolha vai ser determinada por uma comissão técnica formada por dois representantes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), dois da Universidade de Pernambuco (UPE), dois do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe)

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e quatro da Secretaria de Saúde. Após a escolha, duas listas triplíces serão enca­ minhadas ao governador, que indicará os gestores, com base nos currículos. Essa seleção pública é apenas para o preenchimento dos cargos comis­ sionados de gerente da Primeird Ge­ res, que engloba as ações da Região Metropolitana do Recife e os muni­ cípios de Goiana, Chã Grande, Vitória de Santo Antão, Pombos e o arquipé­ lago de Fernando de Noronha, e tam­ bém para o cargo de presidente da Fundação de Hematologia e Hemote­ rapia de Pernambuco (Hemope). Para o presidente do Cremepe, Carlos Vital, levar em consideração o

caráter técnico dessas indicações "se constitui num avanço político dentro da estrutura funcional do governo". E o governador Eduardo Campos falou sobre essa medida: "A nossa intenção é de tornar esse critério universal. Es­ tamos só começando uma ação pio­ neira no estado". A comunicação da assinatura do decreto foi feita pelo go­ vernador ao presidente do Cremepe, Carlos Vital, ao vice André Longo, e ao Coordenador de Projetos Sociais do Cremepe, Ricardo Paiva, numa reunião no Palácio do Campo das Princesas, com a presença do se­ cretário estadual de Saúde, o médico Jorge Gomes.


Projetos do Cremepe são levados à

Presidência da República presidente do Cremepe, Carlos Vital, seu vice, André Longo, o presidente do Simepe, Mário Fer­ nando Lins e o coordenador de Pro­ jetos Sociais do Conselho, Ricardo Paiva, estiveram reunidos com o assessor da presidência da Repú­ blica, Swedenberguer Barbosa. O objetivo foi pedir apoio para os projetos sociais do Conselho. Um deles foi a Caravana do Cre­ mepe, que tem encontrado situação de miséria, alta taxa de analfabetis­ mo, mortalidade e prostituição infan­ til na maioria dos municípios por

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Representantes do Cremepe e Simepe, no Palácio da Alvorada, com Swedenberguer e Salete Hallak, do Movimento Humanos Direitos

onde tem passado. Na ocasião, foi entregue ao representante do Gover­ no Federal o programa para tentar diminuir as taxas de mortalidade infantil, o "Pacto Pernambuco + 5". Swedenberguer, que elogiou a ini­

ciativa - inédita entre os conselhos de medicina - enviou os projetos do Cremepe para os ministérios da Saú­ de, Educação e Secretaria Nacional de Direitos Humanos.

jurídicos CARAVANA DO CREMEPE Parabéns pelo trabalho inédito realizado com tanto profissionausmo e responsabilidade. O alto índice de suícidio, violência contra a mulher, abuso de crianças, municípios aban­ donados e tantos outros absurdos tão próximos de nós. Que soluções os poderes públicos poderão iniciar e que ajuda poderíamos contribuir para erradicar tamanha violência? Volun­ tariado? É muito importante/gratifi­ cante saber que o Conselho tem uma nova fisionomia. Hoje, orgulho-me de ser um membro dele. Parabéns! Socorro Lira, por e-mai!o

CONGRATULAÇÕES Parabéns pela revista de vocês, muito bem escrita, bonita e com pautas chamativas. Ana Paula Gomes Vasconcelos, por e-mai!.paulagv@bol.com.br

PUBUCAÇÃO DE PENAS PÚBUCAS Re( Processo Ético Profissional nO02/0 I EDITAIS DE APUCAÇÃO DE PENAUDADE DE CENSURA PÚBUCA EM PUBUCAÇÃO OFICIAL PENA DISCIPUNAR APUCADA AO MÉDICO DR. AMÉRiCO VESPÚClO CARNEJRO LEJCHT - CREMEPE n. o 2.204 CONSElJ-IO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE PERNAMBUCO - CREMEP[ no uso de suas atribuições que lhe confere a Lei nO3268)57. regulamentada pelo Decreto n.o 44.045/58. e em conformkkxJe com o acórdão proferioo na sessão de j~mento 00 processo étko-pro(issional n.o 02/01 , realizoc!a em I 1/0512006, vem afiicor 00 médico DR. AMÉRiCO VESPÚClO CARNEJRO LEJCHT - CREMEPE n. o 2.204. o pena de CENSURA PÚBUCA EM PUBUCAÇÃO OFICIAL prewsto na letra "c", 00 ort 22, do Lei 3.268/57, por ter o mesmo cometido o infração prevista no art. 29 do Cód~ de Ético Médico. Recife, 16 de outubro de 2006. Re( Processo Ético Pro(issional n. o 31/00 PENA DISClPUNARAPUCADA AO MÉDICO DR. SEBASTIÃOALVES DE SOUZA NETO - CREMEPE nO 8.827 CONSElJ-IO REGIONAL DE MEDICINA 00 ESTADO DE PERNNv1BUCO - CREMEP[ no uso de suas atribuições que lhe confere a Lei n. o 3.268)57, regulamentado pelo Decreto n. 044045/58. e em conformidade com o acórdão proferido na sessõo de julgJmento do processo étko-pro(issional n. o 31/00, oriundo do 4° Câmara do Tribunal Superior de Ético Médico do Conselho Federal de Medicina, realizado em 08/12/2005, vem aplicor 00 médico DR. SEBASTIÃO ALVES DE SOUZA NETO - CREMEPE nO 8.827, o pena de CENSURA PÚBUCA EM PUBLICAÇÃO OFICIAL prevista na letra "c", 00 ort 22. do Lei 3. 268/57, por ter o mesmo cometido o In(ração prevista nos orts I 7, 30 e 142 do Código de Ético Nédico.

Recife, 07 de fevereiro de 2007

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Entidades médicas na realização da Semana em homenagem à mulher

I Semana da Mulher

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esultado positivo. Assim podemos definir a I Se­ mana da Mulher, promo­ vida pelo Sindicato dos MédicoslPE, no período de O1 a 08 de março deste ano. O evento, uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, foi realizado no auditório do sindicato (av. João de Barros, 587 ­ Boa Vista) e teve como público alvo médicos, estudantes de medicina e au­ toridades do segmento. A programação foi iniciada no dia O1/03, às 20h, com o pronunciamento do presidente do Simepe, Mário Fer­ nando Lins. Ele fez um breve histó­ rico da luta feminina e disse que para conquistar um espaço de qualidade na sociedade a mulher contin ua lutando e superando preconceitos. Em seguida foram realizadas as palestras: "Ci­ dadania: Direito ou Conquista? Ações em Defesa da Mulher" com o médico Ricardo Paiva, conselheiro do Cre­ mepe; "Programa de Saúde da Fa­

20 Movimento Médico

mília (PSF) - No Atendimento à Mulher Vítima de Violência" com os médicos residentes Vitor Hugo Lima Barreto e Cláudia Gomes, atuantes na Unidade de Saúde da Prefeitura do Recife da comunidade de San Martin. Por fim tivemos a palestra sobre (~L\ Visão Policial Quanto à Mulher Vio­ lentada", ministrada da delegada Cláudia Molina. Comentários e informações foram relatados à platéia sobre a atual conjun­ tura da violência contra a mu­ lher, além de uma avaliação crítica sobre a impunidade. No sábado, dia 03, houve a apresentação da peça Menina Abusada, de autoria do grupo teatral Roda Mundo, às 09h, no Parque da Jaqueira/Recife. O enfoque Plincipal do espetá­ culo de teatro popular é o combate à exploração sexual de Clianças e adolescentes. Desde agosto de 2005 vem sendo

apresentado em locais públicos, escolas, faculdades e em cidades do sertão com bastante sucesso. Na quinta-feira, dia 8, a Diretoria do Simepe prestou singela home­ nagem à médica Maria Fernanda Almeida Lins Ghersmam (foto abaixo), com a entrega da medalha Naíde Teodósio. A médica Carla Be­


zerra fez um breve relato da história de vida da colega home­ nageada, que seguiu a tradição do pai e interessou-se por crianças com problemas motores. Em 1979, fundou com duas arrugas assistentes sociais o Guri - Grupo Universitário de Reabilitação Infantil e mantém até hoje compromisso e dedicação. Para quem não sabe a médica e professora da UFPE Naíde Teodósio, que dá nome a medalha, foi reconhecida por sua luta contra a fome e contribuição dada aos programas de erradicação da miséria e à pesquisa científica no campo da nutrição. Foram realizadas as palestras: "Visão e Ação do Médico na Questão da Violência Contra a Mulher" com o presidente da Federação das Cooperativas Mé­ dicas (Fecem) Assuero Gomes; "O Dever do Poder Público com a Mulher Violentada", coorde­ nada pela presidente da Asso­ ciação de Defesa dos Usuários dos Planos e Sistemas de Saúde (Aduseps) a médica René Pa­ triota; "O Atendimento Médico a Mulher Vítima de Violência", ministrada pela gerente de aten­ dimento a Saúde da Mu­ Iher/PCR, Benita Spinelli e, finalmente, a palestra enfocando "A mulher e a Violência - Uma Visão Holística", com a presi­ dente da Associação Médica de Pernambuco (AMP), Jane Lemos. Ficou constatado que no Bra­ sil, em geral, as mulheres tra­ balham mais e têm um grau de escolaridade maior do que os ho­ mens, mas são menos remu­ neradas. Além disso, as meninas são as principais vítimas da exploração sexual e do trabalho infantil doméstico.

Médicos fazem avaliação positiva de seminário

Evento discutIu temas polêmicos e importantes para o movimento médico sindical

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Sindicato dos Médicos de . Pernambuco (Simepe) promo­ veu, em janeiro, o seminário "Sindicalismo e os seus Desafios". O objetivo do evento, realizado no Hotel Jangadeiro (Av. Boa Viagem, 3114 ­ Boa Viagem), foi a discussão de temas que servirão como eixo estruturador para as ações futuras do Simepe. O encontro teve como público­ alvo os médicos!integrantes da atual diretoria do sindicato. No primeiro dia do evento, os participantes deba­ teram dois temas polêmicos: "Pers­ pectivas para o Brasil: o Estado, a EconorrUa e o Sindicato" (rrUnistrado pelo professor de Ciências Políticas da UFPE, Adriano Oliveira) e "A Reforma Sindical: Onde Estamos? Para Onde Vamos?" (explanado pelo dirigente da Executiva Nacional da

CUT e do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Solaney Magalhães) . Resultando em uma discussão bas­ tante acalorada. Já no segundo dia o debate foi sobre as "Políticas Públicas de Saúde: Eficácia, o Desafio do SUS" e a "Política Salarial: Qual o Ca­ minho a Seguir?" . Para realizar essas palestras foram convidados o auditor do Sistema Único de Saúde - SUS Carlos Alberto Rodrigues, a sani­ tarista Dra. Gerda Rodrigues e o médico Mário Jorge Lobo. Na avaliação geral dos partici­ pantes, o encontro foi bastante pro­ veitoso, bem como produtivo por ter colocado em debate preocupações, reflexões e propostas de temas im­ portantes para o movimento médico sindical. Movimento Médico 21


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Asaúde na emergência

Crise se alastra em Pernambuco e em todo o país

Fernando Henrique Cabral*

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á há algum tempo que o Sindicato dos Médicos de Pernambuco -

Simepe - e outras entidades médicas do estado vêm so licitando por parte do governo estadual a realização de con­ curso público no âmbito da sa úde en­ tre outras reinvidicações. A situação vivenciada por todos é caótica, isto é, independentemente da posição em que nos encontremos, seja como tra­ balhador da saúde seja como usuário. Infelizmente esse quadro se espalha por todo o país, não sendo wna par­ ticularidade do nosso estado. Assusta­ me, pois parece faltar sensibilidade aos nossos gestores. Como podemos busca r soluções diante de situações como a falta de médicos psiquiatras na emergência do Hospital Ulisses Pernambucano ­ hospital de referência para todo o es­ tado na área de psiquiatria; será que os 22 Movimento Médico

problemas decorrentes de esca la de plantão se limitam ao Hospital Re­ gi.onal de Limoeiro ficando fechado por falta de plantonista no fim de se­ mana? Com os médicos sofrendo ameaças! Hospital esse que atende a mais de trinta cidades naquela regi.ão. Recentemente, recebemos infor­ mações que, no município de Nazaré da Mata a situação é de falta de plan­ tonistas sendo que o hospital público se encontra fechado em reforma há cinco anos! Como justificar o funcio­ namento do setor de hemodiálise do Hospital Barão de Lucena? Por que os médicos concursados do Pronto Socorro Cardiológi.co de Pernambuco (Procape) estão pedindo demissão? As emergências em geral dos grandes hospitais da regi.ão se encontram SLl­ perlotadas, faltam medicamentos e materiais, trabalhamos de forma

inadequada. Faltam principalmente médicos, assim como também outros profissionais de saúde, no estacio­ namento dos nossos grandes hospitais é comum a presença das ambulâncias dos municípios do interior. Precisa-se de soluções e alternativas para evitar o caos que estamos vivendo nas emer­ gências e urgências da rede pública de saúde do nosso estado. Poderia aqui abl~r um espaço espe­ cífico para falarmos da enorme crise vivida pelo Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), onde citamos, sobretudo, a falta de condições de tra­ balho e de remuneração a todos os profissionais que lá trabalham ­ alguns passando por extrema dificul­ dade financeira. Como pode um hos­ pital que é responsável por 50% do atendimento aos pacientes com câncer no nosso E stado, sendo considerado


patrimônio do povo pernambucano acabar o mês com R$ 900 mil nega­ tivos em suas contas? Como manter esse hospital aberto? Reconhecemos a necessidade urgente de uma definição clara de política pública de saúde para os pacientes oncológicos do Estado de Pernambuco posto que esta situação não tem como perdurar. Pois é, governador do Estado de Pernambuco, Eduardo Campos e secretário estadual de Saúde, colega médico - Jorge Gomes, desejamos sim assegurar um espaço para apro­ fundarmos essa problemática, até por­ que entendemos que a solução desse impasse não é apenas o concurso pú­ blico, ou seja, um mero ato adminis­ trativo. No entanto, é necessário discutirmos a carreira médica como carreira de Estado - já existente entre outras categorias profissionais não sen­ do necessário explicitarmos. É preciso que o Estado e ai citamos federação, estados e os municípios assuma a

responsabilidade que a Constituição Brasileira lhe outorga com relação à saúde. Possuímos atores que tentam de forma brava fazer valer o controle social do Sistema Único de Saúde (SUS) - os usuários e os trabalhadores deste sistema. Porém, é preciso que nós - os atores - possamos efetivamente ser ouvidos e isto esperamos de vocês novos gestores sentarmos na mesma mesa para buscarmos soluções. Na realidade, o processo de des­ centralização da gestão do sistema de saúde no Brasil, coloca-nos possibili­ dades e desafios que devem ser assumidos de forma solidária pelos governos municipal, estadual e fede­ ral. A pluralidade de contextos viven­ ciados por municípios e regiões exige que sejam traçadas políticas públicas capazes de responder adequadamente às diferentes necessidades advindas dessa diversidade. Com isso, o papel de cada gestor é determinante na su­ peração dos desafios e na consolidação

de um sistema de saúde comprome­ tido com as necessidades específicas de cada localidade brasileira. A gestão pública, como instru­ mento de ação política, deve buscar sempre a construção de uma socieda­ de mais eqüitativa e democrática. Acreditamos que a solução para pro­ blemas dessa magnitude exige deter­ minação e, sobretudo vontade política, pensamos inclusive que é fundamental que o gestor público tenha arguta sen­ sibilidade para que possamos avançar. A melhoria da saúde pública em nosso estado requer que gestores, traba­ lhadores e usuários do SUS possam sentar-se à mesa para pactuar as ações necessárias, pois acreditamos que sem essa medida não conseguiremos con­ solidar o S US que queremos e que merecemos. Afinal de contas para ou­ vir O coração do nosso povo não é preciso estetoscópio, basta coração.

* Diretor de Imprensa e Divulgação do Simepe

Entidades pedem S.O.S para o Procape Servidores, alunos e professores da Universidade de Pemambuco [UPE] realizaram ato público em defesa do Pronto Socorro Cardiológico [Procape] e do Hospital Universitário Oswaldo Cruz [Huoc], ambos vinculados à instituição. Amanifestação contou com apoio de entidades médicas do Estado, como Simepe, Cremepe eAMPE, visando denunciar os problemas pelos quais as unidades de saúde estão passando etambém traçar as ações que as entidades pretendem realizar, a partir de agora, para cobrar

providências ao govemo estadual. Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos, Mário Femando Lins, desde a sua inauguração, em junho de 2006, o Procape só recebeu R$ 3,5 milhões do governo estadual, quando o custeio mensal é de R$ 2,5 milhões. Ele também lembrou que, até agora, não foi feito convênio com o Ministério da Saúde para que receba verbas do Sistema Único de Saúde [SUS] e, caso a situação não mude, a instituição poderá fechar a qualquer momento.

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"Doutores da Fé": um exemplo

de amor e solidariedade Mesmo com religiões diferentes, o objetivo é levar conforto a quem precisa *Débora Lobo

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é. Esse é o principal instrumento de trabalho do gTUpO de Serviço de Assistência Religiosa do Hospital Barão de Lucena. As religiões são di­ ferentes, mas o objetivo é um só: levar conforto e esperança àqueles que pas­ sam por momentos dificeis no hospital. A "Capela rua" trabalha para proporcio­ nar um alívio da dor, O que nem sempre é conseguido através dos remédios. Conhecidos também como "Dou­ tores da F é", o gTUpO, que é um ramo do Serviço de Humanização do Barão de Lucena, foi criado pela coorde­ nadora do gTupO de Humanização do HBL e presidente da Sociedade Per­ nambucana de Pediatria, a médica Va­ léria Maria Bezerra da Silva. São mais de 60 voluntários, divididos em três segmentos: os espíritas, os católicos e os evangélicos. Mas, para eles, o tra­ balho independe da crença de cada pa­ ciente. O importante mesmo é levar o confOlto espiritual não só para os do­ entes, como também para funcioná­ 24 Movimento Médico

rios, familiares e acompanhantes. Uma prova disso é o símbolo do gru­ po, que é um arco-ms. A equipe se formou há dois anos, mas já traz muitos resultados positivos. "Não sabemos ao certo quantos pessoas são atenrudas, mas o que vale é a qualidade dos nossos serviços", disse um dos membros da religião espírita Dr. José Ivan Sobral. Para ele, o trabalho é bastante gratificante. "É muito válido trabalhar no grupo e saber que estamos ajudando essas pessoas de alguma forma", contou. O trabalho deles consiste em visitas diárias às

enfermarias, atendimentos individuais, realização de cultos e missas, entre outros. Além russo, há os plantões, que também são reali.zados diariamente, nos turnos manhã, tarde e noite. O grupo destaca que a assistência religiosa não é uma forma de cateq ui­ zar as pessoas, mas sim um aten­ dimento psicoreligioso. "Temos o cui­ dado de não destacar a religião à qual pertencemos. Não queremos impor nada a ninguém. O importante é leva r a palavra de Deus", explicou Ivan. Nas datas festivas, é co mum a prática de cultos ecumênicos, a fim de inte­ grar todas as religiões. E como o trabalho dos "Doutores da Fé" é voluntário, qualquer pessoa maior de 18 anos pode partici par. Para isso, é necessário fuzer um curso pre­ paratório, para aprenderem as normas do hospital, como lavar corretamente as mãos e qual a melhor maneira de abordar um paciente. Além disso, é indispensável a pontualidade, o com­ prometimento, a paciência e a boa vontade do bom voluntário. A equipe espírita é composta por Dr. Ivan Sobral e Valtônia Ferreira; a católica por Maria Dulce Calábria e a evangélica por Josenilda Maria de Santana e Edna Lopes.

* Débora

Lobo é estudante de jornalismo da

Unicap.

o que é?

o PROSEM - Programa de Benefícios para o Médico do

SIMEPE visa oferecer aos médicos associados uma série de vantagens e benetrclos adquiridos através de uma ampla rede de parceiras.


De olho na notícia

Crise do Hospital do Câncer em debate O

presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal do Recife, Mozart Sales, realizou em março, rewlÍão pública para discutir a crise em que se encontra o Hospital do Câncer de Pernambuco (HCP). O encontro solicitado pelo Simepe foi realizado no Plenarinho da Casa de José Mariano - rua Santa Isabel - Par­ que Treze de Maio, Recife, visando debater/avaliar com representantes do Governo estadual, entidades médicas, funcionários e profissionais de saúde propostas que viabilizem o en1Tenta­ mento da crise instalada naquela institui­ ção filantrópica/pública de saúde. Há wn déficit operacional de R$ 600 mil por mês e a dívida acumulada é de R$ 31 milhões. A situação já levou o H CP a transferir os casos mais urgentes que necessitam de quimioterapia para outros hospitais, devido à falta de medicamentos quimioterápicos. O Simepe foi representado pe­ los médicos Mário Fernando Lins (presidente) e José Brasiliense Fi­ lho (diretor de base). Intervenção - No dia 11 de abril o governador Eduardo Campos nomeou o médico Francisco Saboya na função de Interventor do Hos­ pital do Câncer de Pernambuco.

CLASSIMÉDlCO oSindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) criou o "ClassiMédico", uma espécie de classificados onde hospitais, prefeituras e entidades relacionadas com a medicina poderão anunciar oportunidades de emprego para os profissionais da categoria. Quem estiver interessado em divulgar as vagas deve, obrigatoriamente, informar os seguintes quesitos: nome da instituição; endereço; telefone para contato; número de vagas por especialidade; remuneração (bruta e líquida) e regime de trabalho (plantão, ambulatório ou PSF). Para obter outros detalhes sobre o "ClassiMédico" entre em contato com o Simepe pelo telefone (81) 3316-2400 ou pelo e-mail (imprensa@simepe.org.br) CASA PRÓPRIA A Petros, administradora do SIMEPREV fechou um Convênio Habitacional com a Caixa Econômica Federal para oferecer condições especiais aos seus participantes. Agora, quem é Participante do SIMEPREV tem acesso a juros abaixo do mercado na aquisição da casa própria. Aredução da taxa varia de 0,5% a 2% ao ano, dependendo da linha de financiamento a ser utilizada. Para utilizar o Convênio Habitacional, o Participante só precisa acessar o Portal Petros www.petros.com.br , preencher matrícula e senha e imprimir a "Carta de Apresentação" com a qual será possível agendar o atendimento na Caixa Econômica. Para obter informações mais específicas sobre o programa, o interessado pode ligar diretamente para o número disponibilizado pela Caixa exclusivamente para os Participantes da Petros: 0800 5742112. ATIVIDADE-MEIO A Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por unanimidade, negou provimento ao recurso especial nO 51?633 interposto pelo Conselho Regional de Enfermagem (COREM-PE). Nos termos do voto do ministro-relator Teori Albino Zavascki, os ministros Denise Arruda e Luiz Fux votaram favoráveis. Oministro Teori Albino afirma que as turmas que compõem ala Seção daquela Corte têm se manifestado no sentido de que é a atividade básica de empresa que determina sua vinculação a Conselho profissional e, em se tratando de instituição hospitalar ou clínica médica, os serviços de enfermagem não constituem atividade fim, mas atividade-meio. OGRUPO UNIDAS! GREMES Foi celebrado contrato que reajusta os valores das consultas médicas. Ovalor atual de R$ 33,60 passou para R$ 36,00 no período de 10 de janeiro a 30 de abril/200? Ficou acordado também que a partir de 10 de maio, o valor será de R$ 38,00. Além disso, houve um reajuste de 2,17% nos honorários médicos.Solicitamos aos colegas que não assinem contratos com as empresas de planos de saúde, sem a devida orientação e avaliação da CEHM. TROCA DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE SUPLEMENTAR - TISS Informamos aos médicos que os prazos para a aplicação das exigências do TISS, objeto de análise das entidades médicas locais e nacionais, foram prorrogados pela RN/ANS 138 de novembro 2006 para: 31/05/07 Grupo 1, 30/11/2007 para o grupo 3 e 30/11/2008 para ogrupo 2. Maiores detalhes no site da ANS (www.ans.gov.br). Antes dessas datas não deverá haver nenhuma imposição para adoção do TISS


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Assalto aos

médicos

Inflação corrói cada vez mais gastos da categoria

Antônio Jordão*

ão estamos nos referindo aos assaltos à mão armada a clinicas e consultórios, nem ao assassinato do psiquiatra Antônio Carlos Escobar ao tentar evitar assalto a um outro ci­ dadão num veículo à sua frente, o que motivou, em Pernambuco, a criação pela sociedade civil do lACE, para posicionar-se diante a violência des­ controlada. Ou o assalto e morte do colega Paulo Meira no honroso exer­ cício da profissão. Os médicos e de­ mais profissionais da saúde, como muitos brasileiros, vêm sendo surru­ piados em sua remuneração, e preca­ rizados em seus empregos e atividades profissionais (ex) liberais. Depois do confisco de Fernando Collor, O plano real fez a conversão da URV para o real, prejudicando a po­ pulação. A que serviu? Quem se beneficiou? As privatizações, além de crime de lesa pátria, trouxe a todos nós custos altos crescentes (luz, telefonia, água e outros nunca foram tão caros) em um ambiente de decantada "esta­ bilidade financeira". A saúde no plano real teve des­ cumprida, desde o início, a norma constitucional de 30% do orçamento da seguridade social destinados ao

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26 l\I1ovimento Médico

setor. Para investir míseros U$ 100,00 per capta, o Governo tirou dinheiro do FAT e aprovou mais um imposto: a CPMF, inicialmente "provisó\;a" e hoje "permanente". Nem isso adian­ tou : o dinheiro da saúde chega pela porta da frente e sai pela dos fundos. Para remediar o financiamento, foi aprovada a Emenda constitucional 29, em 2000, e até o momento não re­ gulamentada. Os Médicos fecham consultórios: a inflação da saúde, particular, é maior que 10%. Nem esta inflação, nem a do Governo, é reposta pelos convênios nos pagamentos aos médicos. Água, luz, telefone, salários dos funcionários, impostos (CIM, CRM, Alvará, Bom­ beiros, ISS, muitas vezes em bitributa­ ção...). Quando é obriga­ do a abrir um CNP] para prestar serviços, o médico não tem acesso ao SIM­ PLES, esbarra na Contribuição Social­ que o governo FHC aumentou para 3% e o governo Lula por MP tentou elevar

para 7%, sendo barrada no Con­ gresso; e no Imposto de Renda, os últimos governos além de criarem as aliquotas de 25% e 27,5%, manti­ veram congelada por muitos anos a tabela de descontos. A tabela de remuneração das consultas e procedimentos médicos (CBHPM), ficou congelada por muitos anos. Reconhecida pelo pró­ prio Ministério da Saúde como um dos instrumentos de classificação mais avançados do mundo, chegou­ se a anunciá-Ia como substituta da desatualizada tabela SUS, mas, na semana seguinte, o MS voltou atrás! ] á para as Operadoras de Planos de Saúde, os governos sempre garanti­ ram a essas empresas atravessadoras do trabalho médico, o direito de todo ano aumentar o preço dos seus pla­ nos. Aos médicos, executores do tra­ balho, a União até hoje nega qual­ quer recom posição remunerativa. Só Pernambuco aprovou lei re­ gulatória, infelizmente descu mpri­ da. A agência reguladora da área, a ANS, criada pelo governo e que de­ veria ser fator de equilíbrio, tem tido postura anti-médica e de massacre aos usuá rios. O projeto de piso nacional salarial dos médicos foi duas vezes aprovado pelo Congresso e vetado por Itamar Franco e FHC, e a atualização da re­ gulamentação da profissão médica não sai. A aprovação do projeto do Ato Médico é necessária para definir os limites da medicina. Nos países estrutura­ dos minimamente, ca­ pitalistas ou socialistas, a medicina é uma das primeiras profissões a serem regulamenta­ das, por óbvio inte­ resse social. *Vice-presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco.


esidentes

APMR: sob nova direção Vitor Hugo üma Barreto*

Residência constitUi programa de ensino para os profissionais de saúde com excelência compro­ vada. Apesar de sua importância, perpetuam-se as dificuldades desde sua criação. Centradas principal­ mente nos hospitais públicos os resi­ dentes não adquirem uma compre­ ensão da rede de serviço municipal ou estadual, não contribuindo para a resolução dos problemas destas. A remuneração não é condizente com a responsabilidade nem com o mo­ mento de vida pessoal do residente, inviabilizando muitas vezes uma independência financeira e dedicação exclusiva ao programa. A distribuição desigual de vagas no Brasil e por especialidades con­ tinua em desacordo com a neces­ sidade do Sistema Único de Saúde, que deixa a desejar em seu papel formador de pessoal. Atualmente os investimentos públicos em PR estão praticamente paralisados, já que o sistema público não tem o retorno de seus investimentos, pois os egressos dos programas priorizam o setor pri­ vado como campo de trabalho. Vale ressaltar os diversos proble­

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mas estruturais específicos de cada serviço relacionados a infraestrutura física e qualificação de preceptoria. Apesar da existência de programas em várias áreas de saúde não há in­ tegração na resolução de saúde in­ dividual ou coletiva, cuja complexi­ dade de compreensão cresce dado ao avanço e velocidade da atual cons­ trução do conhecimento. As comissões estaduais e na­ cional(CNRM) de residência não conseguem realizar a devida regula­ mentação conseqüente ao grande nú­ mero de programas. Além do que a metodologia avaliativa utilizada in­ centiva os serviços à resoluções imediatistas e intimida os residentes a falar por temerem ter seus pro­ gramas descredenciados. A lenta desintegração dos PR contribui para o aumento dos pro­ gramas de especialização oferecidos pelas sociedades de especialidades, que atuam basicamente sobre a ló­ gica do mercado em detrimento às necessidades da população. Os residentes não devem, assim, centralizar suas demandas apenas no reajuste de bolsas que acaba sendo

menos oneroso para o Estado do que arcar com melhoras físicas e peda­ gógicas. Corre-se o risco de ser coni­ vente com a precarização do serviço público e do próprio ensino. Diante deste cenário a APMR tem centrado sua atuação em três eixos principais. Mediante as queixas apresentadas a diretoria constitui uma agenda de oficinas de avaliação onde residentes, preceptores e coor­ denadores atuam em conjunto para melhoria dos programas . Local­ mente, temos discutido com a APRESC (Associação PE de Residentes em Saúde Coletiva) e CORIS (Coletivo de Residência Integrada em Saúde) a regulamen­ tação das residências multiprofissio­ nais. Além de um movimento nacio­ nal de reestruturação da CNRM. o Os desafios são muitos, porém a importância dos PR na construção de um sistema público de saúde ga­ rante a motivação para a atual diretoria enfrentar. ·Presidente da Associação Pernambucana de Residência Médica (APMR).

Movimento Médico 27


Associação Médica de Pernambuco

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Cadeira de

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é aprovada na UFPE

Em boa parte do mundo, nas últimas décadas, houve um grande interesse e um progresso muito importante na área da dor Elizabeth Porto*

dor continua sendo uma das grandes preocupações da humanidade. Ninguém deseja ter dor - uma ex­ periência universal absolutamente irre­ verente e imprevisível-, que acompanha homens e mulheres desde os primórdios da vida na Terra. Hoje, se configura em importante problema de saúde pública. O seu alívio é um direito humano básico e negligenciá-lo é inaceitável. Diante de tanta importância no combate à dor e da escassez de profissionais especiw...ados foi aprovada, na Universidade Federal de Pernambuco por iniciativa dos mé­ dicos Dirceu de Lavôr Sales e Joselene Tenório, a primeira cadeira de trata­ mento da dor no curso de Medicina, que contou em sua primeira turma com o expressivo número de 61 alunos e uma enorme receptividade. O professor e médico clínico, com formação no tratamento da dor, Dir­ ceu Lavôr garante que os governantes do pais, até agora, não atentaram para a importância da questão da dor, como um grave problema de saúde pública, e portanto, não criaram condições para ampliação do atendimento do paciente com dor nos hospitais públicos do

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país. "Entre os vários aspectos refe­ rentes à questão, um que nos chama atenção, é o fato de a grande parte dos médicos chegar ao mercado de traba­ lho, com pouquíssimas noções sobre o tratamento da dor, devido o precário ensino oferecido a respeito, durante O seu curso universitário", diz Dirceu. Em Pernambuco não existem cursos de Pós-graduação no Tratamento da dor. Por conta disso, o Instituto de Pesquisa, Ensino e Saúde dirigido pe­ los médicos Dirceu Lavôr e Elba \Vanderley, realizou um curso de Pós­ Graduação no Tratamento da Dor, durante dois anos, com excelente participação dos médicos. Dirceu Lavôr que também é acu­ punturista e homeopata, informa que em boa parte do mundo, nas últimas décadas, houve um grande interesse e um progTesso muito importante na área da dor. Os motivos são variados: au­ mento, em geral, na sobrevida das pes­ soas e em relação aos traumas e às doenças. 'Y\. acupuntura é uma das téc­ nicas mais importantes no tratamento contra a dor", revela Lavôr. A Organização Mundial da Saúde, citando como exemplo dados sobre o

câncer, mostra números aproximados de 10 a 17 milhões de novos casos, anualmente, no mundo. Desses, apro­ ximadamente, 50% irão a óbito e 70% dos pacientes sofrerão dores crônicas, 70% dor moderada a severa e 30% terrível.

RELATÓRIO A OMS garante que, se devida­ mente tratados, mais de 90% dos pa­ cientes terão as dores controladas. O re­ latório da OMS, porém, indica atendi­ mento inadequado aos pacientes. Os motivos são vários. Entre os mais inl­ portantes estão o desconhecimento dos profissionais de saúde no tratamento da dor, a inexistência de uma política para dor e a dificuldade na obtenção de me­ djcamentos opiódes, como por exemplo a morfina, e receios e mito sobre o uso por parte dos médicos, do paciente e da família. "Nitidamente, o que se verifica é uma grande precariedade global de educação em saúde com respeito à dor", lembra o médico Dirceu. Em Pernambuco, a situação não é diferente do que ocorre no resto do pais. Na saúde pública, os hospitais MOVimento Médico 29


"O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente..." Femando Pessoa

Oswaldo Cruz, das Clú1Ícas e Barão de Lucena têm ambulatórios de tratamen­ to da dor mas com poucos profissionais para atender à população. "O que cha­ ma a atenção é que nenhuma dessas conquistas surgi.u de iniciativas oficiais ou por vontade dos nossos gestores de saúde, mas da vontade de alguns cole­ gas, que na maioria das vezes tiveram que enfrentar uma série de impedimen­ tos e incompreensões", critica Lavôr.

BRASIL Transpondo os dados mundiais para o Brasil, teríamos, hoje, aproxima­ damente, 50 núlhões de pessoas com dores crônicas, seguramente uma quei­ xa, refletindo uma das maiores preva­ lências de doença em nosso país. O sofrimento causado pela dor não tratada adequadamente, especialmente a dor crônica causada pelo câncer, é considerado pela Organização M un­ dial da Saúde um problema de saúde pública. Muitos esforços têm sido fei­ tos em todo o mundo pela Sociedade Internacional Para Estudo da Dor ­ lASP que funciona como órgão con­ 30 Movimento MédiCO

sultor da OMS, no que se refere à política da dor. "No Brasil temos a Sociedade Brasileira Para Estudo da Dor - SBED, que juntamente com o governo trabalha para a criação e esta­ belecimento de programas educativos e ações específicas para o alívio da dor cond uzidos por especialistas na área", afirmou Dirceu.

PERNAMBUCO SEM DOR O Ministério da Saúde no Brasil instituiu há dois anos, mediante Por­ taria no Sistema Único de Saúde ­ SUS, o Programa Nacional de Assis­ tência à Dor e Cuidados Pa]jativos, criando também os Centros de Refe­ rência em Tratamento da Dor Crônica, com o objetivo de assegurar aos por­ tadores desse tipo de dor todos os direitos de cidadania, de defesa de sua dignidade, de seu bem-estar, direito à vida e acesso ao tratamento. O professor Dirceu destaca que a boa assistência à dor resulta na racio­ nalização do uso de medicamentos e de visitas ao SUS, na redução das inca­ pacidades e absenteísmo decorrentes da

dor. Proporciona ainda diminuição dos gastos relacionados às repercussões psicossociais e econônúcas, decorrentes da inadequada abordagem dos pa­ cientes com dor. Preocupado com a quantidade li­ I1Útada de médicos com formação no tratamento da dor, bem como da inexis­ tência de uma política voltada para o tratamento da dor crônica no Estado, o Cremepe elaborou o Programa Per­ nambuco Sem Dor, baseado em um projeto maior, O Brasil sem Dor, que será entregue ao governador de Per­ nambuco Eduardo Campos. O projeto pretende ser mais do que uma oferta básica de medicamentos pa­ ra o tratamento da dor, e sim um programa alicerçado em medidas es­ truturadoras, voltadas para a capa­ citação profissional, criação de serviços especializados, política de medica­ mentos e descentralização do atendi­ mento, com o objetivo de modificar a precária situação vivida até o presente momento. *Jornalista


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Depressão

Puerperal

Assunto é profundo e, muitas vezes, de dmcil comprovação Jane Lemos*

gravidez e o parto representam momentos significativos para a mulher. São períodos de grandes trans­ formações globais em seu organismo (todos os sistemas fisiológicos), no psi­ quismo e em seu papel sócio-familiar. É importante ressaltar que enquanto a sociedade, e, mais diretamente a fàmilia, espera manifestações de alegria e felicidade pela maternidade, esta se reveste de grande vulnerabilidade para o surgimento de transtornos emocio­ nais, especialmente os do humor. Historicamente, o puerpério é reco­ nhecido como um momento crítico e de alto risco emocional (Esquirol, 1845; Marcé, 1858; Paffenbarger, 1961; Kendell et al, 1987) e, por isso, as chances da mulher adoecer emo­ cionalmente são maiores do que em outras épocas. Ultimamente, os transtornos do humor no pós-parto têm sido bastante estudados constituindo um espectro que incluem a Disforia do Pós-parto ("Baby Blues" ou "l\1a­ ternity Blues"), Depressão Pós-parto (Depressão Maior) e a Psicose Pós­ parto. Estudos recentes acrescentam os transtornos de ansiedade como Pânico, Obsessivo Compulsivo e Es­ tresse Pós-Traumático. li Disforia do Pós-parto é um transtorno do humor transitório que surge nos primeiros dias após o parto, com pico no 5° dia, acometendo 50 à

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80% das puérperas, desaparecendo es­ pontaneamente em cerca de dez dias. Os principais sintomas são irrita­ bilidade, choro, flutuações do humor e estranheza do bebê. São insuficientes para prejuízo funcional e repercussões sobre a criança. li Depressão Pós-parto acomete 10 a 20%, sendo 26% entre adolescentes, constituindo um quadro mais severo de transtorno do humor preenchendo os critérios da DSM - IV e CID 10, definido como Depressão Maior. Os sintomas surgem nos primeiros trinta dias após o parto, destacando-se: fa­ diga, alterações da concentração, do apetite e do sono, tristeza, falta de inte­ resse ou prazer por atividades habituais, baixa auto-estima, sentimentos de de­ sesperança, culpa e de perda de con­ trole, podendo chegar à idéia de sui­ cídio. Em geral se prolongam por três à seis meses e em casos mais graves dois anos. Este transtorno resulta da inte­ ração de fatores biopsicosociais, de­ vendo-se atentar para antecedentes de risco, entre os quais: história prévia de depressão individual e/ou familiar, condição de mãe solteira, gravidez indesejada, falta de suporte socio­ familiar, falta de companheiro, con­ flitos no relacionamento etc. Esta patologia, pela sua prevalência, pelo nível de sofrimento, risco de suicídio, repercussões no ambiente fa­ miliar e interferências no relaciona­

mento mãe-filho com consequencias precoces e tardias sobre o bebê, cons­ titui-se num problema de saúde pú­ blica. Deve-se assinalar a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado. Lamentavelmente estas situações são subdiagnosticadas e subtratadas como apontam muitas pes­ quisas sobre o tema. O tratamento adequado requer o uso de antidepres­ sivos envolvendo derivados triciclicos (Ex. Nortiptilina) ou inibidores da re­ captação da serotoruna (Ex. Sertralina) baseando-se numa relação custo bene­ ficio, aliados às intervenções psico­ terá picas e sociais. Torna-se indispensável uma atenção especial dos médicos e demais pro­ fissionais de saúde que acompanham a mulher durante a gestação, parto e puerpério para que estratégias psicos­ sociais sejam adotadas como medidas profiláticas. Esta atitude constitui um imperativo técnico e ético. Finalizando, as Psicoses Puerperais são quadros mais raros, prevalência de 0,1 a 0,2% porém de maior gravidade e riscos para a mãe e para o bebê. Sin­ tomas principais: alterações do humor, déficit de atenção, perplexidade, con­ fusão mental, delirium, idéias deli­ rantes, com risco de suicídio e in­ fanticídio. ;. Psiquiatra - Presidente da Associação Médica de Pernarnbuco.z

MOVimento Médico 3 I


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~HISTÓIW\ DA MEDICINA PERNAMBUCANA -

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Ci urgia pediátrica

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Miguel Doherty* cirúrgica assistidas pelo cirurgião Adaucto Brandão. Ignácio D'Á vila, na época da fundação da Faculdade de Medicina do Recite, foi o indicado para assumir a Cadeira de Clínica Cirúrgica Infantil e Ortopédica, mas, por proble­ mas de saúde, não pôde, sendo ocupada a cadeira por Barros Lima. O evento que marcou a Cirurgia Pe­ diátrica no país veio pelas bondosas mãos e a visão de um comerciante de tecidos português, Manoel de Almeida, que fundou o berço da Cirurgia Pe­ diátáca, o Hospital Infantil, que tomou o seu nome, na Jaqueira, em 9 de junho de 1929, um dos pámeiros hospitais de crianças do país, com os serviços cirúr­ gicos de crianças chefiados pelo ortope­ dista Barros Lima e pelo cirurgião geral José Ignácio D'Ávila Jr., um dos pioneiros Paulo Fonseca Lima. Ambos realizaram surgimento de toda obra estágios em Serviços de Cirurgia da ou instituição é precedido cáança na França, que na época era vin­ por trabalhos e iniciativas culada à Ortopedia, englobando as de­ para atender as primeiras formações externas do corpo humano. necessidades de uma comunidade. Esse Fonseca Lima deixou o Hospital In­ também foi o início da Cirurgia Pe­ fantil por ter de assumir uma usina diátáca. Em pleno começo do século herdada de sua família. Com a transfe­ XX, as cáanças com afecções cirúrgicas rência de Barros Lima da cadeira de eram assistidas por médicos de várias Clínica Cirúrgica Infantil e Ortopédica especialidades cirúrgicas. para a cadeira de la Clínica Cirúrgica da As pámeiras referências remontam Faculdade foi substituído por Ruy aos anais do I Congresso Médico de Neves Baptista. Os Professores Barros Pernambuco, em 2 de abál de 1909, Lima e Ruy Neves Baptista operavam as sobre a visita dos congressistas ao Ser­ crianças cirúrgicas do Serviço, mas viço da Enfermaáa Santa Maáa, no dedicaram-se mais à Ortopedia. Hospital Pedro lI, com 47 leitos de O Hospital Infantil foi o foco ge­ cáanças, sob a chefia de José Ignácio rador dos pioneiros e dos cirurgiões pe­ D'Ávua Tr. e como médicos substitutos, diátácos do Estado e do Nordeste, uma Costa Ribeiro e Eduardo Wanderley, e vez que era o local de ensino da Cadeira participação posteáor de Arsênio Tava­ de Clínica Cirúrgica Infantil e Or­ res, Gustavo Pinto e João Paulo da Silva topédica da Faculdade de Medicina, na Báto. No mesmo conclave houve visita época, a Escola formadora dos médicos ao Instituto de Proteção à Infância des­ do Nordeste. José Ignácio D'Ávila, PdU­ valida na rua Barão de São Bo~ia, antiga lo Fonseca Lima, Barros Lima e Ruy rua do Sebo, chefiado pelo médico alo­ Neves Baptista foram os precursores da pata e homeopata, João Sabino Pinho Cirurgia Pediátáca no Estado, dando Filho, com enfermaáa de C1~anças e sala seqüência à fase dos pioneiros da Ci­

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32 Movimento lv1édico

rurgia Pediátáca. Segue-se uma fecunda fase da Cirurgia Pediátáca, a fase da definição, de suas sedes e dos pioneiros. A sede inicial foi beneficente com o Hospital Infantil Manoel de Almeida através da 2a Clínica Cirúrgica Infantil e Ortopédica, com a saída de Paulo Fon­ seca Lima e substituído por Gilson Machado, como mais velho dos assis­ tentes, pela desistência dos demais, tendo como chefe de clínica, Frederico Carvalheira. Por esse Serviço estagiaram estudantes e médicos de vaáas gerações, Tosé Maáa Schuler, Bueno Vieira de Melo, Bianor da Hora, Basto Lima, Paulo Ferreira, Armando Carvalheira, Miguel Doherty, José Gomes, Genaáo Sales, Gilberto Falbo, Valencio Coelho, Roberto Couceiro, Ricardo Bouwman, Edelson Dourado, Valter Jatobá, Alzira Rocha, Fernando Cruz, Oyama Arruda Frei Caneca, Flavio Pabst, Álvaro Duarte, Antonio e José Pimentel e tantos outros de estados vizinhos que derivaram para outras áreas e cidades e outros que continuaram na Cirurgia Pediátáca. Em 1956, por problemas administrativos, Frederico Carvalheira afastou-se do Serviço, ganhando a chefia da 33 Clínica Cirúrgica Infantil, recém cáada e sem a Ortopedia, assim como a 2a Clínica Cirúrgica Infantu com novos com­ panheiros, Luiz Alberto Araújo, Sal­ vador VJar, Genudo Lima, Jorge Lima. Em 1983, com o falecimento de Gu­ son Machado, houve a fusão das 2" e 3a Clinicas Cirúrgicas cuidando exclusiva­ mente da Cirurgia Pediátáca com a Ci­ rurgia Plástica com José Pimentel e a U ropediatáa com Salvador VJar e a 1a passou a ser exclusivamente da Orto­ pedia, sob a chefia de Fredeáco Rabelo. Deste modo, os pioneiros no tempo e na área beneficente foram Gilson Machado e Fredeáco Carvalheira. Segue-se o pioneirismo na área uni­ versitááa e pávada. Em 1956, Miguel

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Doherty foi convidado para assumir o Em primeiro de janeiro de 1967, lugar de assistente da Faculdade Federal teve início o Programa de Residên.cia de Medicina na Cadeira de Clínica Ci­ Médica de Pediatria com rodízio de 1 rúrgi.ca InfantiJ e Ortopédica pelos Pro­ mês ao ano em Cirurgia Pediátrica e 1 fessores e assistentes das Cadeiras de ano após iniciou-se a Residência de Puericultura e Pediatria e anuência do de Cirurgia Pediátrica em 2 anos da Ortopedia, tendo declinado do convite e UFPE/ IMIP, a 1a do Norte e que só aceitaria se fosse convidado para o Nordeste, encerrada em 1978 com o lugar inicialmente o dr. Frederico Carva­ término do convênio UFPE/ IMIp, lheira. Este não aceitou e sugeriu a Do­ quando o Serviço transferiu-se para o herty que assumisse, tendo este ingyes­ Hospital Infantil e em junho de 1980 sado na Universidade como voluntário. transferiu-se para O Hospital das No ano seguinte, Miguel Doherty Clínicas da UfPE, onde sediou defI­ com Givaldo Cavalcanti Mota e Vald­ nitivamente o Serviço e a Disciplina, mir Lira fundaram o 10 serviço de ur­ com ambulatório e sem leitos e em gência pediátrica do Nordeste, o Pronto março de 1982 foi iniciado o Programa Socorro InfantiJ Nosa Senhora de Fá­ de Cirurgia Ambulatorial em criança, tima, inclusive com o 10 serviço privado passando a ter leitos na área de adultos de Cirurgia Pediátrica. Em 1962, o Pro­ em 1984 e só 2 anos após teve fessor Fernando Figueira, da Pediatria, enfermaria própria. O 30 pioneiro nas na fase das fundações do Hospital Geral áreas universitária e privada foi o prof de Pediatria do IMlp, convidou Miguel Miguel Doherty. Doherty a visitar as obras e o chamou N a área pública previdenciária, em para fundar e chefiar o Serviço de Cirur­ 19 de dezembro de 1968, foi iniciado o gia Pediábica do IMIP, em convênio Serviço de Cirurgia Pediátrica no Hos­ com a Universidade Federal de Per­ pital Agamenon Magalhães com 22 nambuco, o qual foi aceito, após concor­ leitos sob a chefia e iniciativa de Gilberto dância de transferência pelo Professor Hanois Falbo do antigo INAMPS com Ruy Baptista. Em 8 de ablÍl de 1965, apoio de Hindemburg Lemos (Diretor em memorável reunião da Congregação Médico), Zelia Macedo (Diretora Ad­ da Faculdade de Medicina, foi criada a ministrativa) e José Menezes (Supe­ Discipli.na de Clinica Pediátrica Cirúr­ rintendente do Hospital). O grupo gica por proposta do Professor Fer­ inicial foi formado pelos cirurgiões pe­ nando Figueira, após ter sido destacada diátricos Gilberto Falbo e Armando da Clinica Ortopédica pelo Professor Carvalheira, cirurgião plástico e otorino Ruy Baptista atendendo decisão dos João Suassuna, enfermeiras Francisca e Margarete, depois reforçada com os ci­ Professores de Ortopedia do pais. Em 15 de junho de 1965, o Serviço rurgiões Paulo Teixeira, Oyama Arruda, fundado passou a in.iciar seus trabalhos Álvaro Duarte, Gilberto Carvalheira e a no IMIp, após fase de organização com pediatra Cacilda Beltrão. Em janeiro de 1973, o Serviço foi voluntários, leigos e técnicos, após 6 meses do inicio da Pediatria Clínica. O transferido para o Hospital Barão de Lucena, sendo acrescida dos cirurgiões Sef\~ço teve como equipe voluntária inicial o cirurgião Antôn.io Matheus de pediátricos Fernando Cruz, Flavio Lucena, o anestesiologista Valencio Coe­ Pabst, Manoel Canuto, Sampson Sam­ lho, as enfermeiras Terezinha Kummer e paio e Miguel Doherty, cirurgiões Lucia Barreto e equipe de apoio por se­ plásticos Gildo Marçal, José Pimentel e nhoras da comunidade, Dora Rosenblit, Paulo Magalhães e os urologistas Fátima Doherty, Lisbela Cordeiro de Amaury Medeiros, Salvador Vilar, Freitas e as alL'<Í.l.iares Mirtes Grize e Saulo Gondim e Carlos Salgado e em 1975 teve inicio o Programa de Re­ Dulcinéa Oliveira.

sidência em Cirurgia Pediátrica, encerrado em 1990. O 40 pioneiro da Cirurgia PediátlÍca foi Gilberto Falbo na previdência. Esses foram os 4 pioneiros da Cirurgia Pe­ diátrica em Pernambuco. Talvez a 1a tese no pais sobre o tema de Cirurgia Pediátrica tenha sido a do doutoramento de Benedicto Alves de Caf\/alho, em 16 de dezembro de 1925, em Pediatria, "Ligeiras considerações sobre a Mo­ léstia de Hirschsprun~(, da 1a turma da Faculdade de Medicina do Recife. A 1a tese de doutoramento em Pediatria Cirúrgi.ca foi de Miguel Ignácio de An­ drade Lima sobre "Rachianestesia em Cirurgia Infantil", em 28 de março de 1931. A 1a tese de Livre Docência sobre a área na Escola foi feita em 9 de maio de 1933, sobre "Contribuição ao estudo da calcuJose vesical infantil" para Clinica Cirúrgica Infantil e Ortopédica, por Sylvio Marques. Em 29 de dezembro de 1977, foi feito o l a concurso de Livre Docência da Disciplina de Clinica Pediátrica Cirúrgica da UFPE, por Miguel Do­ herty, com a tese "Estudo c1ínico­ cirúrgico da estenose hipertrófica do pi­ loro na criança", e em 1995, Carlos Brandt defendeu a tese para titular "Inervação óxido-nitrérgica dos esMc­ teres gastrointestinais dos seres hu­ manos em desenvolvimento". O 10 Re­ sidente da área no exterior foi Fernando Ram.iro Costa, no Serviço de Everett Koop, Philadelphia, EUA, em 1953/54. Na área associativa, Pernambuco tam­ bém esteve presente na fundação de sua Sociedade Brasileira, com Fernando Cruz, Frederico Carvalheira e Miguel Doherty, e este assumiu a vice-presi­ dência da 1a DiretOlia eleita e, em 1999, foi eleito seu Presidente. Pelo visto, Pernambuco sempre presente e atuante. *Professor aposentado da UFPE Presidente da Academia Nacional de Cirurgia Pediátrica Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Pediátrica

Movimento Médico 33


DIRETÓRIOS ACADÊMICOS

Sucateamento e descompromisso

Estudantes de medicina da UFPE na luta por um ensino público de qualidade

ão éde hoje que as instituições de ensino público, e mais especificamente as universi­ dades federais, solTem um intenso processo de sucateamento. O des­ caso abrange questões de infra-estrutura, de administração e, conseqüentemente, pedagógicas. Na UFPE, percebe-se isso clara­ mente. Atualmente, os cursos da área de ciências exatas são referência nacional, mas a custa de investimento e parcerias com o capital privado, o que, no nosso entendi­ mento, gera sérias distorções na produção do conhecimento, visto que não se prio­ rizam as demandas da sociedade. Na área de saúde, e também nas outras áreas que ainda não estão dominadas pelo setor privado, exala o tal sucateamento da "coisa pública". São constantes as tentativas de in­ tervenção privada nesses espaços ainda pouco permeáveis a esse setor, sendo relevante expor a lastimável interferência danosa da indústria farmacêutica nos nossos espaços de formação. O Curso Médico não fica fora da con­ juntura de Estado mínimo. Somado aos problemas de ordem externa, enITentamos dificuldades internas que vão além da falta de investimentos. São problemas de ordem administrativa e até, muitas vezes, poütico­ ideológicas. A fà lta de rec ursos humanos sensibilizados pelas mudanças propostas nas novas diretrizes cuni.culares para o curso de medicina também acarreta difi­ culdades. Desde o primeiro semestre de 2003 quando foi deflagrada a imple­ mentação da reforma curricular, objetiva-se adequar o projeto poütico-pedagógico do curso às novas di.refJi.zes curriculares para que o perfil do egresso atenda às neces­ sidades do SUS e às reais demandas de saúde da população. A Reforma não tem um fim em si, seu caráter dinâmico pos­ sibilita uma constante melhora na qua­ lidade do Curso Médico da UFPE e de tantas outras faculdades do Brasil.

N

34 Movimento Médico

E nesse ponto, o de renovação do pensamento e das práticas, chave do su­ cesso do novo currículo, que encontramos o maior entrave: o conservadorismo da maioria dos docentes e de alguns cüscentes. Outra barreira é o sistema de depar­ tamentos com independência total de suas práticas, isolados como verdadeiros Feudos. A coordenação do Curso Médico, junto aos estudantes organizados através do Diretório Acadêmico de Medicina - seto­ res que hoje engTenam a Reforma - tentam interferir nesses departamentos, no sentido de cobrança da responsabilidade de nossos professores que pouco ou nada tem de formação e orientação pedagógica. No que tange as questões de infra­ estrutura, o Diretório Acadêmico vem atuando intensamente. Em novembro de 2006, os estudantes do curso realizaramum Ato Público reivindicando melhores condições de salas de aula, biblioteca e segurança. Com rec ursos próprios da UFPE e de uma emenda parlamentar, estão sendo implementadas melhoras na es­ trutura física do curso médico: refiigeração das salas, instalação de novas carteiras, quadros e sistemas de som e multimicüa. Hoje, as instâncias de encontro para discussão e deliberação são esvaziadas de professores. Mas, os poucos que se propõem a encampar essas causas lutam para que o curso esqueça a antiga lógica de fragmentação do ser humano, para formar médicos compromissados com a população e com o SUS. Assim como outras gestões do Damuc (Diretório Acadêmico de Mecücina Um­ berto Câmara Neto) lutaram para mudar o conservadorismo danoso que ainda impera no nosso curso, a Gestão Reencantando continua promovendo essa luta. Os estu­ dantes estão atentos e vigilantes na me­ lhoria do curso neste ano de eleições para os cargos de gestão da UFPE, inclusive as eleições para a coordenação do curso.

UPE -Uma gestão renovada A gestão atual do Diretório Acadêmico de Mecücina Josué de Castro nasceu de um sentimento comum de indignação perante a conjectura administrativa presente até então. Um gTUpO que busca executar os objetivos fundamentais da representação máxima dos estudantes dentro de uma faculdade: Lutar em prol dos mesmos e em defesa de nossa instituição de ensino. Uma gestão que tem o enfoque inicial voltado na sol ução dos problemas internos, discutindo nossas dificuldades e batalhando por verdadeiras mudanças. Dessa maneira, fortalecendo a casa, estaremos mais fortes e organizados para lutar nos problemas externos, que não são poucos e de muita importância. Pregamos o apartidarismo poütico como instituição mas de fendemos que cada aluno desenvolva sua visão poütica e atuação no meio social. Nós da gestão RenovaDA cultivamos com bastante carinho, o objetivo de resgatar o orgulho do estudante de medicina em dizer que faz parte de uma das melhores instituições de ensino do país: a Faculdade de Ciências Mécücas na Universidade de Pernambuco! Queremos também recuperar aspectos humanos do profissional médico como a benevolência e a solidariedade, princípios éticos outrora esquecidos e agora mais do que nunca contemplados; consoantes com a proposta de reforma do ensino médico, in1plementada em nossa faculdade há cinco anos. Queremos trabalhar junto com as instituições representantes dos médicos, como o CREMEPE e SIMEPE, criando deste início com os alunos o sentimento de resgate da dignidade médica, e lutar ao lado delas, pela defesa de melhores condições de atendimento e qualidade de prestação de serviço para a população em geral.


FECEM

Coopeclin festejou 10 anos

de fundação

70 médicos se reuniram para fundar a entidade decididos a fortalecer os interesses da classe Evelynne Oliveira PalaVlO do Presidente

D

ecididos que um dos caminhos para o for­ talecimento dos interes­ ses da classe médica seria a criação de sua cooperativa, 70 médicos se reuniram no dia 02 de Dezembro de 1996 para fundar a Cooperativa das Especialidades CÜ­ nicas, a Coopeclin. A cooperativa completou 10 anos em dezembro de 2006 e prepara-se para o futuro. 'Y\. economia globalizada já con­ firmava a exigência da máxima eficiência e o aumento de produti­ vidade e da alta qualidade em todos os segmentos, fazendo-se necessária à integração e fusão e incorporações entre as cooperativas dos diversos ramos de saúde. Assim, veríamos o maIOr crescimento da nossa sociedade e juntos trabalharíamos conscientes que só unidos cresce­ ríamos", diz o Dr. Alexandre Barreto, presidente da Coopeclin. Os anos foram passando, e apesar das dificuldades, o esforço dos mé­ dicos não foi em vão. "E foi com esforço conjunto e com muito tra­ balho que a Coopeclin cresceu e con­ tinua crescendo nestes 10 anos, onde já temos 450 cooperados", afirma a diretoria da Coopeclin.

relação de convênios etc. Tudo isso dispon ível no seguinte endereço eletrônico: www.copego.com.br. A Copego solicita também aos cooperados para que façam o reca­ dastramento, já que estão sendo co­ lhidas informações para o guia da Fecem .

Copepe Atenta ao movimento pelo res­ gate da dignidade médica, que é uma luta constante das entidades de clas­ se, a Copepe solicita aos médicos que fiquem atentos às contratações dos pediatras pelos hospitais e cünicas, para que o valor da remuneração deste trabalho seja compatível com o de outras especialidades. A DRT vem fazendo um trabalho para que estes serviços contratem individual­ mente os profissionais com todos os direitos trabalhistas. A Copepe lembra também que se aproxima o XXXIII Congresso Bra­ sileiro de Pediatria que será realizado este ano em Recife, onde se espera a prese nça de mais de 5.000 pediab<ls. As inscrições podem ser feitas através da SOPEPE (Sociedade Pernam­ bucana de Pediatria).

Copecir: Copego O s cooperados da Copego já podem acessar O site da cooperativa para verificar seus relatórios. E stão à disposição dos médicos cooperados : extratos, fichas em aberto, tabelas,

Diretoria eleita : Dr. Antônio Barreto de Miranda (Presidente) Dr. Mauro Pedro Chaves Sefer (Diretor financeiro) Dr. Antônio Marco Buarque de Albuquerque.

o cooperativismo passa por um momento de acrisolamento. Por um lado o governo pro­ curando aumentar a estatística de novos empregos formais e sacrificando mais ainda o trabalho cooperativista aumenta a carga tributária sobre ele. Por outro, empresas de saúde travestem-se de cooperativas, e ainda, grupos que exploram o trabalho médico, dá-se o nome de cooperativas. O poder financeiro da maioria da população está esmagado, o que retirou do mundo dos usuá­ rios do sistema suplementar de saúde milhares e milhares de bra­ sileiros, sufocando o asfixiado SUS. É um momento difícil, mas de­ safiante, como o são os momentos difíceis. O cooperativismo é a única maneira justa de partilhar o fruto do trabalho e de promover um verdadeiro relacionamento de forças entre os seres humanos. Nele não há patrões nem empregados, nem exploradores nem explorados, nem tiranos nem ditadores nem escravos. Há que se cuidar do coope­ ratMsmo como se cuida do ama­ nhã, pois o dia nascerá límpido e radiante se afastamos as sombras da noite. Transparência, justiça, demo­ cracia, partilha, ajuda mútua, soli­ dariedade, estas são luzes que dissiparão as trevas e farão brilhar este novo dia. Assuero Gomes Movimento Médico 35


Boi da Macuca: um

estado de espírito

Boi da Macuca surgiu em 1989 durante uma festa de aniversário na fazenda da Macuca, do Zé, que ca rrega o mesmo nome. Um sanfoneiro apareceu para tocar algumas músicas de forró pé-de-serra. O s amigos que estavam na festa ficaram impressionados com a boa música de Benedito - o sa nfoneiro - e resolveram levá-lo para tocar em pleno carnaval de Olinela. Numa casa alugada, fizeram um estandarte onde escreveram Movimento Anárquico Cultural da Macuca. Saú-am então pelas ladeiras do sítio histórico cantando forró, sob os olhares espantados dos outros foliões que não faziam idéia porque aquelas pessoas acompanhavam um sanfoneiro em pleno carnaval. Foi nessa mesma época que surgiu o hino do Boi. "Um mendigo pediu para tocar triângulo. Eu não tinha entendido bem, mas deixei ele à vontade. O cara começou a cantar 'Boi, Boi, Boi, Boi, Vou dei:xar minha burrinha e vou montado no meu boi', e todo mundo foi seguindo", explica Zé "N o carnaval seguinte, todo mundo con hecia a música". Zé confirma que o hino é uma espécie de vassourinhas, "mas quando o pessoal começa a ficar desanimado, o grupo começa a cantar músicas de Luiz Gonzaga."

O

Com quase 20 anos de trajetória, o Movimento Anárquico Cultural da Macuca começou numa brincadeira de alguns amigos e, segundo o seu idealizador, o nlotivo que mantém o Boi da Macuca vivo até hoje "é a cachaça"!

o

Boi da Macuca é uma das atividades culturais mais ricas do Interior


Antes o movimento era restrito aos moradores da região. Aos poucos o Boi foi crescendo e tomou outras proporções. Além do carnaval de Olinda, o Boi se tornou uma das atrações do carnaval do Recife. De acordo com Zé da Macuca, agora a prefeitura do Recife apóia o trabalho do grupo. ''A prefeitura finalmente reconheceu o nosso movimento como multicutural", ressaltou. Ao ser questionado sobre qual é o motivo que mantém o Boi da Macuca vivo há quase 20 anos, o seu fundador não pensa duas vezes: "é a cachaça". É com esse espírito de farra que o mais irreverente grupo folclórico de Pernambuco também promove festas itinerantes em várias cidades pernambucanas. U ma das marcas do Boi da Macuca é a falta de organização intencional. "Somos um grupo anárquico", faz questão de ressaltar Zé da Macuca, geólogo de formação, que decidiu ir morar no mato por influência dos poetas sertanejos. ''A manifestação cultural autêntica tem que ser desorganizada".

o

IDEAUZADOR - José Oliveira Rocha (Zé da Macuca - como gosta de ser chamado) trabalhou durante 12 anos no Grupo João Santos. No início

dos anos 90 saiu da empresa e investiu o dinheiro da indenização na Fazenda Macuca (foto acima), onde mora até hoje. Localizada em Poço Comprido, distrito de Correntes, a 30 km de Garanhuns, a fazenda não conta com energia elétrica por opção de Zé. "Nossa iluminação é feita com candeeiros. A energia elétrica já chegou, mas a magia e a energia das pessoas fluem melhor sem ela", conta. Na fàzenda da Macuca também são realizados concertos de música e apresentações teatrais periodicamente.


A FAZENDA - A sede do Boi da Macuca está localizada no AgTeste pernambucano, mas, segundo Zé, o boi não é um local e sim um estado de espírito. A grande e esperada festa na fazenda é realizada durante o São João. "Todo ano é a mesma folia! O pessoal se instala como pode numa área de camping improvisada e aguarda as atrações que acontecem durante o dia todo", conta Zé. O s artistas populares da região se revezam com bandas de pLfano, trios de forró, bacamarteiros e reisado. "Quem quiser vir será bem vindo", convida Zé da Macuca. "Cobramos somente uma pequena taxa (R$ 5) para limpar a área. Também tem barracas com comida e bebida para dar apoio aos visitantes". O caminho da Macuca ? Zé explica: "saindo de Recife, pega a BR J OJ que vai dar em Palmares. Chegando lá, pega a PE, que eu não lembro o nú­ mero, em direção a Catende. Quando passar de Quipapá e Canhotinho chega em Angelim. Entre na cidade e per­ gunte qual é a estrada que vai bater em Palmeirinha. Seis quilômetros depois é

PARADA - L ocalizada na Rua de Santo Antônio, em Garanhus, a Bu­ dega do M assilon é um a atração a parte e, ao mesmo tempo, comple­ mento do passeio à Fazenda da Ma­ cuca. A parada é quase obrigatória, ou na ida ou na volta. As cachaças temperadas - com dezenas de sabo­ res - são o carro-chefe. "Tem de aba­ caxi, canela, tamarindo, maracujá e

do que o cliente pedir a gente faz", explica M assilon Falcão (foto acima), dono do estabelecimen to é grande amigo de Zé da Macuca. "Na época do Festival de Inverno não tem pra quem quer. É chegando e acabando. As cachaças fazem as pessoas esque­ cerem um pouco do frio , brinca ele. N a rua da Budega do M assilon tam­ bém são realizados eventos perio­ dicamente. "São atrações locais, artis­ tas que estão começando e que tra­ zem sua música aqui pra Budega. É uma opção alternativa e barata em Garanhuns", anuncia.

do nível do mar. É conhecida como cidade das flores ou suíça pernambucana. A cidade é privilegiada não só por sua beleza, como também pela baixa temperatura, que pode chegar a 8°e. Além disso, o município dispõe de boa rede hoteleira, bons serviços de alimentação, bancos, shopping, espaços culturais, centro de convenções, enfim, é uma das mais importantes estações de férias e de repouso do Nordeste brasileiro. Alguns pontos turísticos da Cidade: RELÓGIO DAS FLORES - Éo principal

cartão postal da cidade, localizado na entrada é o único do gênero no Norte­ Nordeste. PARQUE VAN DER LlNDEN - Reserva ecológica em plena zona urbana com lagos, fontes, onde se pode fazer passeios entre as árvores. PARQUE DOS EUCALIPTOS -Área de 8 ha dotada de eucaliptos, ciclovia, pista de cooper, quadras de esportes. CACHOEIRA DE INHUMAS - Cachoeira no Rio Inhumas com piscinas naturais e quedas d'água, a 19 km do centro. POVOADO DE CASTAINHO - Localizado a 3 km do centro, é uma comunidade negra remanescente do Quilombo dos Palmares. CRISTO DO MAGANO -Situado a 3 km do centro, sobre um mirante em forma de fortaleza, bom para respirar o ar puro e admirar o visual serrano.

a fazenda". A Fazenda da M acuca tem ambiente aconchegante e rústico, um convite para quem gosta das coisas simples da vida!

Festival de Inverno de Garanhuns oFestival de Inverno de Garanhuns (FIG] continua a atraindo todo o estado para o evento. Acidade, que fica no Agreste de Pernambuco, promove atrações artísticas sempre no mês de julho. OFIG é voltado para a diversidade cultural, porém com característica de megaevento. Isso porque as atrações do palco principal são locais e nacionais. Cantores como Djavan e Elba Ramalho, Ney Matogrosso, Lulu Santos, entre tantos outros, já estiveram no evento. Além disso, o festival conta com apresentações de peças teatrais, de danças, de oficinas culturais. Omunicípio atrai, nos finais de semana no mês de férias, cerca de 100 mil pessoas de todo o estado. Localizada a 235 km da capital, a cidade pemambucana fica a 850 metros acima 38 Movimento Médico


Apolo Albuquerque

m

casal

decide

passar

o nome do médico indicado para

chegado nenhum jornalista e nem

do

atendê-la era o mesmo de um ex­

ninguém de fora, Jânio pediu ao

Caribe, no mesmo hotel

colega de turma do antigo ginasial,

garçom uma dose de uísque. M as

onde passaram a lua-de­

hoje ensino fundamental. Quando

teve o azar de o seu pedido se atrasar.

mel 20 anos atrás. Por problemas de

entrou no cunsultório tomou aquele

E nesse ínterim, foram hegando os

trabalho, a mulher não pôde viajar

susto com aquele que era tão

convidados do café da manhã e toda

com o marido, del,'(ando para ir uns

bonitinho, paquerado pelas meninas

a imprensa. Quando Jânio estava

dias depois. Chegando ao hotel, o

da turma.... e agora estava acabado!

cercado de repórteres e curiosos, eis

homem foi para seu quarto e viu que

Ruga pra dar e vender. Mas, pensou,

que o garçom abre a roda para en­

havia um computador com acesso à

tinha que levar em conta que já fazia

tregar-lhe a dose de uísque. O que

internet, e então decidiu envia r um e­

mais de trinta anos que não o via e

fez com que o candidato à presi­

mail para ela, mas errou uma letra

que algumas pessoas envelhecem

dência da República lhe desse aquela

se m se dar conta e o enviou a outro

mais do que as outras. Mas o quadro

reprimenda , co m aquele sotaque

endereço. O e-mail foi recebido por

estava tão adverso ao ex-colega que

paulistano carregadíssimo:

uma viúva, que acabara de chegar do

ficou com vergonha de perguntar se

"Eu pedi a você lêité !" .

enterro do seu marido e que ao

era ele mesmo, embora não houveses

conferir seus e-mails desmaiou ins­

dúvida nenhuma da parte dela.

tantaneamente. O filho, ao entrar em

Porém, como as mulheres são mais

Duas loiras estavam tomando um

casa, encontrou sua mãe desmaiada,

curiosas que os homens, ao final da

chopp numa noite de luau em Porto

perto do computador, que na tela

consulta ela não resistiu e, meio sem

de Galinhas, no litoral sul de Per­

poderia se ler:

jeito, perguntou:

nambuco, quando uma perguntou

U

férias

num a

praia

*

"Querida esposa, cheguei bem .

"O senhor estudou no Colégio

Provavelmente se surpreenderá em

Santa Rosar" . Diante da resposta

"Quem você acha que está maI s

receber notícias minhas por e-mail,

afirmativa, ela perguntou se ele não

longe daqui da gente, a lua ou

mas agora tem computador aqui e

se lembrava dela . Ao que o médico

Londresr" .

pode-se enviar mensagens às pessoas

respondeu: "A senhora era profes­

E a outra respondeu:

queridas. Acabo de chegar e já me

sora de quê r".

"Deixe de ser burra, a gente está

certifiquei que já está tudo preparado para você chegar na próxima sexta.

*

para a outra:

vendo Londres daqui?".

*

Tenho muita vontade de lhe ver e es­

N a campanha presidencial de

pero que sua viagem seja tão tranqüila

1960, Jânio Quadros, então can­

Na co ndi ção de consu midor,

como está se ndo a minha. Beijos.

didato da UDN, e que se tornaria

Apolo Albuquerque quer registrar

vitorioso, veio visitar Pernam buco e

aqui em sua coluna que fica revol­

ficou hospedado na casa do então

tado toda vez que vai ao supermer­

governador Cid Sampaio, no Bairro

cado e, nesta época de alerta sobre

do Monteiro, no Recife. Logo cedo

gripe aviá ria, o que mais encontra à

Ao chegar à emergência de um

da manhã, no terraço da mansão,

venda é "Frango Resfriado!"

hospital, uma senhora percebeu que

aproveitando-se do fato de não ter

Obs: Não traga muita roupa, porque aqui faz um calor infernal!

*

Movimento MédiCO 39


Luciano Siqueira

Batismo de fogo no Atheneu

ara o menino de apenas

que duraram até o ftnal da tarde,

escura e camisa branca, um fumo

onze anos, aquilo tudo

quando o governador do Estado,

no ombro esquerdo (sinal de luto

era absolutamente inusi­

Dinarte

tado . E

e mpolgante.

comissão de estudantes no Palácio

pela morte recente do pai) arre­ messa ndo uma pedra num ônibus

Naquela manhã de muito calor, es­ tava difícil mesmo acompanhar a

grande notícia: as tarifas não se­

punha por terra a falsa versão. Daí em diante lutar tornou-se a

chata aula de matemática do pro­

riam aumentadas!

própria razão de viver. E a ação co­

P

fessor carrancudo de sotaque gaú­

Mariz,

rece beu

uma

Potengi . Após as negociações , a

Em meio à alegria geral, uma

letiva uma estratégia de sobrevivên­

cho. O colégio inteiro de repente se

sensação nova, quase indescritível

cia, não apenas pelas bandeiras le­

viu tomando pela rebelião: as tur­

- a descobe rta do primoroso sa bor

vantadas ao longo da vida, mas co­

mas saíram das salas em direção ao

da luta coletiva. E outra, que igual­

mo meio de escamotear a timidez

pátio externo, de onde partiria a

mente marcaria o menino para o

insuperável que permanece impreg­

passeata contra o aumento das ta­

resto da vida: a multidão reunida

nada na alma e no jeito de se r.

rifas de ônibus.

em torno de um objetivo comum é

A massa de estudantes se deslo­ cou inicialmente para a Praça Pe­

ótimo refúgio para os tímidos. Só não protege os mentirosos.

Ficou também o orgulho de ter sido aluno do velho e aguerrido Colégio Estadual de Atheneu Nor­

dro Velho e depois para Grande

Pois ao chegar em casa à noitinha,

te-Riograndense. A lembrança do

Ponto, "o coração da cidade de

dona Oneide angustiada porque o

g rê mio estudantil Colestino Pi­

Natal", como dizia à época. Aos

f!..lho demorara tanto (deveria ter

mentel. Impressões difusas sobre

gritos de "Queremos transporte" e ta rifas" "Abaixo as novas

retornado do colégio por volta do meio-dia), o jeito foi uma história

os líderes daquele movimento. Um deles atendia pelo apelido de Pe­

instalamos a algazarra. A prese nça

mal contada. Por que assim tão

cado. A tênue consciência imatura,

da polícia militar acirrou os ânimos. Ônibus da São Domingos foram apedrejados. A polícia rep nmlU. Ora nos dispersáva mos,

queimado do sol, o corpo suado e suj o? Tinha batido uma pelada com os primos na casa da tia Ivete. Porém, no dia seguinte, na pri­ meira página do Diário de Natal, a

no entanto, não ftxou as idéias que

alcançara êxito. Belo batismo de fogo para quem j amais sairia das

foto de um garoto magrinho, calça

ruas, até hoje.

ora nos co ncentrávamos nova­ mente, em momentos alternativos

o

defendiam - apenas a noção de que aquela luta não fora em vão,

'G,

LUCIANO SIQUEIRA, médico, 58

.~

anos, atualmente é vice-prefeito de

j,

o

Recife. É da direção do PC do B. Iniciou a militância política na Ação Popular - Ap, em I 966, em Pernam­ buco. Foi deputado estadual entre 1982 e 1986 e presidente do Partido em Pernambuco, de 198 I a 2000.

40 Movimento Médico


CREMEPE

Toda terca-fei ra , às 19 horas, na

TV Un iversitária, Canal 11

L Quem se associa ao Clube Mé d ico pod e garantir uma renda m e nsal de at é um ano e m ca so d e acidente ,

f az e ndo um S e guro c om

Auxílio Doença*.

E de qu eb ra, só se

preocupar com as c otsas

boas da v ida.

CNPJ: CLUBE MÉDICO AssistêncIa e PrevidêncIa 60. 530. 938/0001-45;

Cio. de Seguros PrevidêncIa do Sul 92.751.213/0001-73;

Indiana Seguros S/A 61.100.145/0001-59;

Marítima Seguros S/A 61 .383.493/0001-80

00


Redução de danos no consumo

de álcool, fumo eoutras drogas.


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