Revista Movimento Médico - N 03

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Nova diretoria do Cremepe avalia

um ano de gestĂŁo

Artesanato pernambucano: diversidade encantadora


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Premiações máximas na categoria Megafundos: • CAIXA FAC Executivo • Caixa FAC Personal


N° 03· Ano OI • Dez2004 - Jan/Fev 2005

Editorial ocê sabia que Josué de Castro foi deputado federal por Pernambuco? O terceiro número da revista Movimento Médico traz, na reportagem de capa, um perfil do médico que notabilizou-se pela luta que empreendeu contra a fome. Sua obra mais famosa, A Geografia da Fome, está hoje em livrarias de vários países e é fonte de pesquisa para profissionais de diferentes áreas. No espaço dedicado às entidades médicas, o Cremepe faz um balanço do primeiro ano da nova gestão. Como destaques, entre outras conquistas, a criação do Ceac, Centro de Estudos Avançados; a implantação da Ouvidoria; o lançamento do Programa de Humanização da Saúde e a edição de uma cartilha sobre o tema; a produção de um programa de TV sobre educação médica continuada; a aprovação pela Assembléia Legislativa de uma lei que regulamenta a relação entre médicos e seguradoras de planos de saúde; e, ainda, a participação nas negociações com a secretaria estadual de Saúde, que resultaram em melhorias salariais para a categoria médica que trabalha na rede hospitalar pública. Os detalhes dessas negociações estão no espaço do Sindicato dos Médicos. A Sociedade de Medicina (Somepe) traz uma entrevista com Yolanda Simões Dantas, viúva do médico Zédantas, parceiro de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Movimento Médico traz também uma reportagem sobre o valor histórico dos fortes do Recife, o do Brum e o das Cinco Pontas, e traça para o leitor um roteiro da riqueza do artesanato pernambucano. Da Zona da Mata ao Sertão, você vai conhecer a beleza do nosso artesanato. A rota começa pelas bordadeiras de Passira, mostra o artesanato de barro de Tracunhaém, as redes de Tacaratu, os santos de Ibimirim, até chegar a Petrolina para enfocar o mistério das carrancas que protegem o rio São Francisco.

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Capa: Josué de Castro exercendo a profISSão de médico. Foto: Álbum de Família

EXPEDIENTE Conselho Editorial Cremepe

Presidente: Ricardo Paiva Vice-presidente: Carlos Vital Assessoria de Imprensa: Joane Ferreira - DRT/PE 2699 Simepe

Presidente: André Longo Vice: Mário Fernando Lins Assessoria. de Imprensa: Chico Carlos - DRT/PE 1268 Somepe Presidente: Jane Lemos Vice: Bento Bezerra Coordenação: Sirleide Lira Assessoria de Imprensa: Elisabeth Porto - DRT/PE 1068 Fecem

Presidente: Eduardo Montezuma Assessoria de Imprensa: Mônica Holanda

APMR Presidente: Adriana Marques Vice: Marizon Armstrong Trauma Coordenação: João Veiga e Fernando Spencer

DA Medicina/UPE Coordenação: Giliate Cardoso Coelho Neto e Rafaela Alves Pacheco

Redação, publicidade, administração e correspondência: Rua Conselheiro Portela, 203, Espinheiro, CEP 52.020­ 030 - Recife, PE Fone: 813241.5744 Edição Geral: VERBO Assessoria de Comunicação. Fone 81 3221 .0786. verbo@verbo.com.br. Jornalistas responsáveis Beto Rezende e Lula Porteia Projeto Gráfico/Arte Final: Luiz Arrais - DRT/PE 3054 Tiragem: 15.000 exemplares Impressão: Intergraf Coordenador Editorial: José Brasiliense Holanda Cavalcanti Filho Todos os direitos reservados. Copyright © 2004 Conselho Regional de Medicina ­ Seção Pernambuco


Sumário

4 Entrevista Mozart Sales, eleito vereador pelo PT, fala de política e do SUS

6

capa _ Josué de Castro, o exemplo de um pemambucano singular

Seções

10

Científica Editorial

01

Opiniãol cartas

03

Entrevista

04

capa

06

Científica

10

Agenda -­ ---­

11

História

12

Cremepe

16

29

Simepe

25

Zédantas

Somepe

29

Médico e compositor, ele foi o grande parceiro de Gonzagão

Trauma

33

APMR

35

Cultura em Foco

36

36

Última página

40

Cultura em foco

-----­

Os prós e os contras da medicina desportiva

12 História Fortes de Pernambuco guardam em seu interior muito da nossa história

A riqueza e o valor cultural do artesanato pernambucano


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Opinião

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Abdon Murad*

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Exame de ordem para médicos: sou contra

á muito tempo me posicionei contra o Projeto de Lei N° 840, do deputado federal Elimar Damasceno (Prona-SP), que objetivava implantar, no Brasil, o exame de ordem como condição prévia para o exercício da medicina. Uma espécie de selo de qualidade do médico. Este projeto de lei, recentemente, não foi aprovado pela Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara Federal, que se baseou no Relatório do dep. Isaias Silvestre (pSB-MG). Sempre fui contra esta proposta por achá-la injusta e por encará-la como uma tentativa de atacar o efeito, e não as causas. O efeito é o médico mal formado. As causas são as fàculdades de medicina de baixo padrão, que não têm condições de formar profissionais para atender e tratar adequa­ damente a população. No Brasil existem, atualmente, 121 escolas médicas, boa parte delas sem a me­ nor condição de existir. Deste contingente, saem, por ano, 12.000 médicos, boa parte deles sem ter chance de cursar uma residência médica, já que apenas 70% dos médicos recém-formados têm acesso à tão importante pás-graduação, especializando­ se em alguma área da medicina. Poucas fàculdades particulares têm o compromisso em oferecer a residência aos seus formandos, justamente elas, que nem sempre formam bons médicos. Essa enorme quantidade de novos médicos, a cada ano despejados no mercado pelas fàculdades de medicina, é desneces­ sária, uma vez que no Brasil temos mais médicos do que é preconizado pela Orga­ nização Mundial de Saúde (OMS).

É verdade que a distribuição desses médi­ cos não é bem feita, por fàlta de condições de serem absorvidos por um grande número de municípios no Brasil afora, que não oferecem condições de trabalho e de atendimento digno para que o médico exerça seu trabalho. Existe, assim, uma concentração de profissionais médicos nos grandes centros, principalmente, na região Sudeste.Como já disse, sempre fui contra a idéia de ser implantado o exame de ordem para a medicina, apesar de tudo o que citei anteriormente. Explico o porquê: acho injusto que os governos permitam e fàcilitem a existência de fàculdades de medicina que não têm condições de formar bons profissionais, esti­ mulando, assim, jovens ávidos por se tornarem médicos a nelas ingressarem e, após seis anos, lhes seja dito, depois de uma prova, que eles não vão poder ser médicos. Dessa maneira, o Ministério da Educa­ ção, MEC, estaria tratando o efeito, e não a causa, que são escolas médicas sem condi­ ções de existirem. Lembro que não existem bacharéis em medicina. Ou se é médico, ou não se é nada, em relação à medicina. O MEC precisa, urgentemente, fechar as fàculdades ruins e estimular, inclusive com injeção de recursos financeiros de maior aporte, as boas fàculdades públicas, muitas com grandes problemas de ordem financeira. É necessário, também, que num prazo de dez anos, não seja permitida a abertura de novas fàculdades de medicina no Brasil. *Abdon Murad - Cirurgião, presidente do Conselho Regional de Medicina do Maranhão, 30 vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (licenciado) e membro da Comissão Nacional de Implantação da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos

cartas Quero dar meus parabéns pela bela reportagem que a revista Movimento Médico fez com o Convento de Santo Antônio, em 19arassu. Trata­ se de uma preocupação de uma revista de classe com a cultura pernambucana.

Rita de Cássia Sobrei.ra Casa FOrte Recife-PE revista Movimento Médico traz, no fim da edição, histórias engraçadas escritas pelo humorista Apolo Albuquerq ue. Gostaria de saber como proceder para enviar histórias para o referido colunista. A

Alberto de Barros e Silva Bairro do Cordeiro & cifl-PE NOIa da ROOaçao: O senhor Alberto de Barros e Silva deve enviar suas sugestões de histórias para o seguinte endereço: imprcnsa@cremepe.org.br. Outras pessoas que também estiverem interessadas em cooperar com a coluna de Apolo Albuquerque devem proceder da mesma maneira. Mas é necessário fazer uma ressalva: a editoria da revista Movimento Médico tem o direito de fuzer uma triagem do material recebido para publicar o que estiver de acordo com a linha editorial da revista, Atenciosamente, Verbo - Assessoria de Comunicação


ENTREVISTA

Mozart Sales

Vereador petista fala dos seus planos para a Câmara Municipal A Câmara Municipal do Recife passou por uma grande renovação na eleição deste ano. Entre os novos vereadores, está Mozart Sales, do Partido dos Trabalhadores (PT). Eleito com 8.470 votos, Mozart atuava como assessor especial do ministro Humberto Costa. Foi secretário geral do Sindicato dos Médicos de Pemambuco em 2000; gerente do Distrito Sanitário VI na gestão de João Paulo; e ex-coordenador geral da Denem (Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina). Nesta entrevista a Beta Rezende, Chico Carlos e José Brasiliense, Mozart Sales fala do Ato Médico, do SUS e também de política , ao avalíar a provável candidatura de Humberto Costa em 2006. Confira

Vereah: o que o sen1xr m da rgisIação 00 Ato Médm? A legislação que regulamenta a profissão médica é de 1958. Conse­ qüentemente, ela não acompuiliou a evolução do aprendizado e tarnCém da; núcJea; de ~ que a categoria vem se colcx:ando na; última; ana; com a sua especialização, com seus rama; tcx:l.os. Então, hqje, um médico flli'l se fOrmar, ele pxle fàzer desde um procedimento simples até uma neura:irurgia, que ele não está habilitado a:fàzer. Então, é precro que se avance na regulamentação da categoria, e que se ~ cada vez mais demarcar a; ~a; de atuação flli'l que a; propria; ó~ de controle e fiscalização do exerácio p~ona1 do Cremepe tenham condiç&s de entendere percel:ITas ~dades que a; própria; médica; têm.

ha;pitris BaIão de Lucena, HR.eoPAM deAreai<> ~da ~ooIlUlllidJio. Camosen1xr vê f$l questão da Gestão PJem, já que PernambJoo tti um da; ú1tirool estada; a 00erir eS3e sisreIm? Em breve,

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Primeiro, eu queria fàzer uma correção. É que o HR não está !1($1 pmla, pelo 4 Movimento Médico

mena; em princípio. Está o Barão de Lucena, o PAM de Areias e a gestão do HC, que é diferente da gerência. &lo ~ três unidades que estão colcx:adas na mula, aWn como alguns ha>pitais iEquiátrica; como o Ulisses Pernambucano, na làmarineira, e tarnCém o esptÇO do Otávio de Freitas, onde se traI::elha a questão da; doentes mentais. &il. questão da Gestão Plena e da municipilização do serviço são funda­ mentais flli'l a estrutl.mlÇão de uma rede de atenÇio à ~úde do Recife.

Recik lqe esIá in1frligcrl> COOl váms cidades da Região Metxqxitana.Jablmio, 0litxIa, PauIisIa, tOOo muito póxirm. O sen1xr m que seria urm l:m SIiIa egm cidades trahdharem axYuntamente no

Drdasnlde? Sem dúvida Ibr exempb: a questão da urgência e emergência. Nó:; tema; na região norte do Recife mais de um milhão de ~ que não têm um serviço de médio e grande porte com resolutividade flli'l atender as vítimas de trauma, urgência eemergência ~ região. E todas elas v€m flli'l dentro do Recife, flli'l a; grandes ha;pitais. Para que nó:; ~ traffilhar

a questão da superlotação das urgências e emergências na capital, é prec:ro que agente trahllhe a definição e a construÇio de um pólo, de um cinturão de urgência e emergência na Reg1ão Metropolitana, fundamentalmente n~ áreas da região Norte, que vai de Itamaracá até Olinda

A luta médi:a em nívd h:al e nacind daamrirattiretrImda. Médm tmivado, princiJlUtrenre em relação às outras carreirns. O sen1xr amrlita que pua vakmar o ~ é ~ aIgurm altemativano futuro da ~? Acho que sim A carreira SUS é algo que não poderema; conVÍ\.er muito tempo sem ~. Até porque nó:; estama; ~do por um procero de municipilização e limitações importas pela Lei de Respornillilidade Fd Em bro.e, a; muniápia; não vão ser mais capv.es de as grandes entidades e mantê-Ias do ponto de vista da; recursa; humana;, dentro da; limites da LRE É preciso que se crie um Rmdo Nacional de 1i-ansferencia de ~

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Humana;. A estadualização das unidades federais e, agora, amunicipilização ~ unidades


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Humberto Costa é um nome forte para 2006

vão levar a uma quantidade de encarga; e condições de receOOnento; e gasta; com o setor muito imIXrtmte. Se não houver uma JX>lítica nacional que dê conta de reestaOClecer uma transferênáa de recursa; tma garantir a murúcipilização do ~rviço, em bre\.e o; município; vão estar asfixiac:ia;, e não vão dar conta desre pr<XeS9J. Eu acho que vamo; vivenáar ($l. discussão, até JX>rque o; funcionários federais tiveram o último concurso federal há 20 anO). Muita; estão em vias de ~ apa;entar. \J,ú necessitar uma subitituição desses pro~onais já em 2005. E ainda há toda a questão da interiorização do profis5ionalmédico;afixaçãodopro~nal

no interior; a rrxfuoria das condições de t:rahUho; a oferta da melhoria de uma carreira médica, corno acontece, JX>r exemplo, no Ministério Público, onde o pro~onal iniciante fica 00) lugares mais distantes, e dqris vem ascendendo na

int.erere; de funambuco e de tOOo o Nordeste, ~m deDmr de ver o raís como wn tooo. Ele tem assegurado recursa; imJX>r­ tantes de financiamento da saúde do Estado. Saiu de R$ 769 rnilhêx:'s em 2002 (o teto financeiro do Estado) tma algo em tomo de ~ R$ 900 milhêx:'s em 2004. I~ é wn incremento imJX>rtante. Do ponto de vista da; convênia;, furnm 94 municípia; atendida; em 2003 com mais de 222 convênia; reaIiz.a.da;, com wn montante de R$ 75 milhêx:'s no Estado. I~ carreira, melhorando a sua remW1eração. R-ecisarna; trahUhar nim aí e fàzer wn tem mostrado a prioridade e o concurso que ~ ser unificado e com entendimento que o ministro tem da Buxo de recursa; vindo de esfera federal. necessidade e do resgate da importânáa de ~ remW1eração, corno acontece com o Pernambuco no cenário nordestino. Prcwarna Saúde da Farnilia em alguns Durante muita; ana;, funambuco &:ou estada;, é feita através de wn fundo. aquém do Ceaci eda Bahia na t:ransferênáa Achama; que JXXle ~r criado wn fundo da de recursa; federais na área da saúde, mesma funna e wn concurso urúficado. mesmo tendo p5h e situaçfu; imJX>rtantes n($l. área de convênio. ~ vai dar uma grande contribuição tma a Do ponto de vista político, reúne trxIas ~lidificação do SUS as credenciais tma o cargo. Acho que o lllÍrmtro HurnOO1o Ca;ta enfrmta Hwnberto está maduro o suficiente tma graOOes des!fo; e r:nuitas ''friturns'' ID compreender o es(llÇO que ~ ocuçer. Ministério. Como o senhoc vê ~ Sem dúvida, m wn nome imIXrtmte tma p:6"hdação dti; ~ émlocado IX*> Jrdfito Pernambuco, em 2006. A candidatura de JOO Pau10 a::mo candidato naturnl a Hwnberto tem wn JX>nto de vista importante no cenário estadual e m o ~ Com mstante carinho. O ministro nome das esquerdas tma o Governo do Hwnb:rto tem uma carreirn expIe.%iva, Estado. O ministro será wn candidato com a ocu~ de carga; importantes, e furte, contará com o apio do presidente tem ~ rmado na ciefCsl intransigente do; LUa e de tOOo o prqjeto de esquerda. Movimento Médico 5


Médico pernambucano teve sua obra comparada a mestres do nível de Freud e Copérnico Nathalia Duprat*

om uma trajetória que atravessou o mundo in­ teiro, Josué de Castro tentou mudar a sociedade. Sua vida inteira foi dedicada a estudar, pesquisar e combater a fome, em todos os seus aspectos: social, econô­ mico, político. Sua luta atravessou oceanos; seus livros foram traduzidos em mais de 25 países; sua compe­ tência lhe rendeu comparações com Copérnico, Einstein e Freud. Josué de Castro, pernambucano, filho de reti­ rantes nordestinos, alcançou o posto de maior intelectualidade brasileira do século xx, tendo sido indicado duas vezes para o Prêmio Nobel da Paz e uma para o de medicina. Após 31 anos de sua morte, seu trabalho social já foi discutido milhares de vezes através das gerações. O que poucos sabem, porém, é quem foi o J osué, médico dedicado, que fez de sua profissão a base para o grande homem que transformaria sólidos conceitos da humanidade.

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INFÂNCIA - Acostumado à liber­ dade das ruas do bairro da Madalena, no Recife, o menino Josué de Castro teve algumas dificuldades de adap­

tação nos colégios em que estudou. Garoto pobre, de gênio difícil, deu trabalho aos professores do Ginásio Pernambucano e do Colégio Chateau­ briand . Com um histórico escolar conturbado, ninguém imaginava que o filho de Manuel Apolônio de Castro e Dona Moça, aos 15 anos de idade, entraria para o curso de medicina apenas para satisfàzer a vontade dos pais e se tornaria, pouco tempo depois, um dos profissionais mais requisitados do Rio de Janeiro. "Falsificaram-me a idade para que eu pudesse entrar na faculdade". A confissão, do próprio Josué de Castro, denuncia a pouca idade com que trilhou os primeiros caminhos da me­ dicina. Segundo relatam seus diários ­ ainda inéditos - naquela época, o jovem estudante de medicina era extremamente vaidoso e, para de­ monstrar erudição, saía à rua com o mais grosso de seus livros de estudos debaixo do braço. Em 1929, com 21 anos incompletos, formou-se pela Fa­ culdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil (atual UFRJ), tendo iniciado o curso na Bahia. No dia da sua colação de grau, entretanto, ele não compareceu: horas

losué de Castro e o

espetáculo do mundo

6 Movimento Médico



antes da cerimônia, embarcou para o México para participar da posse do novo presidente, Pascual Ortiz Rubio, ex-embaixador no Brasil. Pediu aos colegas que respondessem por ele. "Eram 480 . Ninguém reparou", afirmou. Ao retornar de sua viagem, em 1930, Josué de Castro iniciou então sua carreira de médico. Ainda sem especialidade, ele não sabia que, por uma eventualidade do destino, acabaria direcionando sua profissão para uma área em que se tornaria um verdadeiro mestre. "Eu, na realidade, queria ser psiquiatra, mas o Ulhoa Cintra [outro médico] tinha dois aparelhos de metabolismo. Vendeu­ me um. Resolvi fazer nutrição". A decisão mudou toda sua visão médica daí por diante e o levou a escrever, anos mais tarde, sua mais famosa obra: Geografia da Fome. Paralelamente aos estudos da biologia (a qual se dedicou por toda a vida), Josué de Castro abriu um consultório no Recife, sendo o pioneiro em doenças da nutrição ­ que, naquela época, misturava-se ainda com endocrinologia. "Um só livro, O Tratado de Umber, figurava na biblioteca. As doenças da nutrição eram cinco: obesidade, magreza, diabete, gota e reumatismo. Como era coisa nova, consegui ter uma boa clientela, apesar de minha cara de menino, que, às vezes, assustava os

clientes", contou Josué. Após adquirir alguma experiência como médico no Recife, Josué de Cas­ tro retornou ao Rio de Janeiro, em 1936. Lá, abriu consultório de cli­ nico e especialista em doenças da nutrição, on­ de atuou até 1955 ­ primeiramente na Av. Rio Branco, com vista para a Baía de Guana­ bara e, mais tarde, na rua do Carmo. Segundo sua filha Anna Maria de Castro, J osué era muito querido por seus pacientes, e mantinha uma relação familiar com a maioria deles. Muita gente importante daquela época se consultava com o médico. Um de seus pacientes mais famosos foi o ex­ presidente Getúlio Vargas, que confiava sua saúde e de toda a familia aos cuidados do pernambucano, reconhecido pela grande sensibilidade para diagnósticos precisos. "Em um momento em que eu estava muito doente, cercada de especialistas de diferentes áreas, foi ele quem conseguIU diagnosticar uma endocadite infecciosa - coisa difícil naquele tempo", revela Anna Maria. Dedicado aos estudos daquele que

Acima, imagens do filme O Drama da Fome , que aborda a pobreza nos mangues do Recife

8 MOVimento MédiCO

Médico pernambucano era muito querido pelos seus pacientes, com os quais mantinha ótima relação, entre eles, o ex-presidente Getúlio Vargas


considerava o maior mal da humani­ dade, a fome, e com o acúmulo de cargos que exerceu ao longo dos anos, J osué de Castro aos poucos foi abandonando a medicina exercida no consultório. Cada vez mais, ele dese­ java escrever sobre o objeto de suas pesquisas científicas e atuar no comba­ te às mazelas sociais causadas pela falta de alimentação de boa parte da população. Anna Maria relembra: ''Alimento, ainda hoje, passados muitos anos, uma profunda e sentida sensação de tristeza, quando recordo suas claras e entusiasmadas explana­ ções feitas, quase todas às noites, em torno da mesa em que realizávamos nossas refeições. Discorria sobre suas descobertas, sobre suas propostas que, acreditava, poderiam solucionar parte dos problemas mais agudos da

sociedade", conta Anna Maria. Catedrático, geógrafo, deputado federal por dois mandatos pelo Estado de Pernambuco, escritor, crítico de cinema, embaixador do Brasil na ONU e membro de diver­ sas academias e associações em todo o País, o médico J osué de Castro teria orgulho das inovações conquistadas na área a qual dedicou toda sua vida. "Como sempre, acreditou que o caminho para a solução dos problemas da desigualdade, da fome e da miséria viria pelo desenvolvimento da ciência e da técnica; creio que ele estaria muito satisfeito com os avanços alcançados na medicina, inclusive com a valorização de uma relação sempre carinhosa com os pacientes, tão importante até hoje

para a cura de todas as doenças", disse Anna Maria. Em relação à fome, porém, o intelectual não teria tantos motivos de alegria. Quando morreu, exilado em Paris, em 24 de setembro de 1973, Josué de Castro ocupou os noticiários e jornais de todo o mundo. Admirado por gente como Jean-Paul Sartre, Jorge Amado, Darcy Ribeiro e Einstein, ele deixou para a humanidade a lição de que não existem fronteiras sociais ou culturais que não possam ser ultrapassadas no sentido de tornar a vida melhor. Foi dessa maneira que se tornou o tal homem interessado no espetáculo do mundo, segundo suas próprias palavras.

*Nathalia Duprat é jornalista

A Biblioteca e o acelVo de Josué de castro ara imortalizar e proteger toda a obra deixada pelo mito pernambucano, o Centro Josué de Castro, no Recife, está erguendo um museu em seu nome. O Memorial Josué de Castro pretende disponibilizar ao público um grande acervo do intelectual e funcionar como um espaço de estudos, pesquisas e formação. Ao total, serão expostos documentos raros, correspondências trocadas com diversas personalidades, fotografias, slides, fitas cinematográficas, artigos e discursos, além de sua biblioteca particular (com cerca de 5 mil livros e 600 periódicos) e objetos de uso pessoal. O prédio onde funcionará o Memorial Josué de Castro está sendo construído no bairro da Boa Vista e encontra-se em fase de acabamento. Aprovado pela Lei Rouanet de Incentivo à Cultura, o projeto é financiado através da captação de recursos e, até agora, já recebeu apoio financeiro da Infi-aero, do Ministério de Ciência e Tecnologia e de uma emenda parlamentar (2002), de autoria do deputado Fernando Ferro (PT-PE). A previsão é de que seja inaugurado no primeiro semestre de 2005 (ND).

P


Antes da prática de exercícios, é necessário consultar um médico

A medicina a selViço de

atletas e não-atletas

Ricardo Moraes* , especial para Movimento Médico uem não gosta de bater uma "pelaclinha" no fun­ de-semana e depois colo­ car a conversa em dia com os amigos? Aparentemen­ te, isso é bom. Mas, em ~ouns casos, se não for controlado por um médico, há o risco de infàrto do coração. Afora esses "peladeiros", ainela existem os próprios adetas que, em busca de aperfeiçoamento qualitativo em seus esportes, treinam até a exaustão, oca­ sionando problemas sérios em joelhos, tornozelos, ombros e cotovelos. Esses são alguns exemplos práticos examinados pela medicina esportiva. Trata-se de uma especialielade ela me­ dicina voltada para o cuidado de adetas competitivos e amadores. Desde a formação e condicionamento 10 !V1ovimento Médico

nsico-técnico, até, se necessário, a assistência e recuperação de trauma­ tismos resultantes de jogos e compe­ tições, buscando sempre a melhoria ela qualielade de viela. O setor foi regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina em 1939, por meio de lei Federal insti­ tuindo inicialmente o médico especia­ lizado em educação flsica. Segundo a Socieelade Brasileira de Medicina Es­ portiva (SBME), essa é uma elas especialidades médicas mais antigas, uma vez que há relatos de 1.550 a.c. do uso clínico ela ativielade flsica e do exercício flsico. Na antiga Grécia, por exemplo, foi construído próximo a Atenas um hospital que, entre outros setores, contava com ginásio de esportes.

O trabalho do médico especialista no esporte consiste basicamente em reali7..ar exames médicos, bioquímicos, antropométricos (medidas corporais), fisiológicos, entre outros, objetivando elaborar um planejamento de treina­ mento específico para caela adeta. O profissional tem atuação multidis­ ciplinar, em conjunto com várias áreas: fisioterapia, fisiologia, endocrinologia, ortopedia, traumatologia, psicologia, nutrição, biomedicina, fisiatria, etc. No Brasil, o médico, depois de fonnado, pode cursar cerca de um ano de especialização ou aproximaclamente 400 horas/aula nas escolas de educação flsica, onde estuela a restauração dos músculos, ossos, consolidação de fraturas, além da correção de efeitos flsicos através do esporte.


o setor foi regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina em 1939

Em Pernambuco, segundo o ortopedista e especialista em medicina esportiva Marcelo Salazar, já foram realizados três cursos voltados para o setor, em77, 93 e 2000, sendo o último promovido pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM) em parceria com a Escola Superior de Educação Física (ESEF) da Universidade de Per­ nambuco (UPE). "O resultado foi a çolocação no mercado local de apro­ ximadamente 50 médicos especializa­ dos na área", informa. Marcelo Salazar, 56 anos, fàz parte Os exercícios físicos devem ter acompanhamento da diretoria do Hospital das Clínicas de Apesar de ter importância re­ doenças como artrose, artrite, Pernambuco (HC). Ele disse que nos cursos os médicos aprenderam, na conhecida para atletas, a medicina fibromialgia, hipertensão arterial, obesi­ teoria e na prática, fisiologia do exer­ esportiva ainda busca valorização do dade. Se não cuidadas a tempo, podem cício, cardiologia esportiva, trau­ profissional médico, pois poucos es­ levar à degeneração dos músculos e, até matologia, doenças degenerativas, no­ portes apostam em médicos espe­ mesmo, à morte. O médico reitera o perigo dos ções de doping, composição corporal de cializados. O futebol é um deles. Nos atletas e prática esportiva para três grandes clubes de Pernambuco, "peladeiros" de fim-de-semana, alguns existem médicos do esporte traba­ deles obesos e de idade avançada, terem deficientes. lhando: no Sport, Stemberg Vascon­ angina e até mesmo infarto. "Trata-se celos, João Marílton e Hamilton de um perigo real, porque o coração Crócia, no Santa Cruz, Ednardo Pittj não está condicionado para a prática esportiva", alerta. e no Náutico, Fábio Couto. Salazar, que também é presidente O tratamento varia de acordo com a da Sociedade Pernambucana de Medi­ gravidade da lesão e inclui remédios, cina Esportiva (Sopeme), ressalta a im­ fisioterapia e, nos casos mais graves, portância do acompanhamento médico procedimentos cirúrgicos que estão em atletas profissionais ou amadores. cada vez menos invasivos. Para ele, o "Tudo deve ser feito buscando o bem­ importante é prevenir contra as lesões, estar das pessoas, sempre direcionando respeitando os limites do corpo e o trabalho para a prevenção de males controlando a intensidade do exercício. que possam vir a acometê-las", explica. Espera-se que a pessoa não exagere e Ele cita, entre outros problemas pare a atividade ao menor sinal de dor. ocasionados em joelhos, tornozelos, ombros e cotovelos de atletas por causa da sobrecarga de exercícios ((JVeruse) , • Ricardo Moraes é jomalista Esforço físico deve

ser moderado MOVimento M édiCO I I


o

s fortes constnúdos nos séculos XVII e XVIII por holandeses e por­ tugueses para defesa da terra e das águas, com o intuito de bloquear a entrada de inimigos, tornaram-se, tempos depois, atração 12 Movimento Médico

turística em Pernambuco. "Visitar o Forte das Cinco Pontas no Recife é fazer uma viagem no tempo. Além de apreciar a beleza de suas ruínas, lá você vai encontrar o Museu da Cidade do Recife que guarda a história do município através de fotos

de suas pontes, casarios, igrejas e monumentos. Um passeio fascinante para qualquer pessoa interessada no passado", diz o historiador Flávio Cabral, professor do colégio Liceu. O Forte das Cinco Pontas foi constnúdo todo de taipa, em 1630,


pelos holandeses, com dois objetivos: defender o porto e garantir o domínio das chamadas "Cacimbas de Ambró­ sio Machadd'. Por isso, os portugue­ ses o apelidaram de "Forte das Cacim­ bas". Toda a região que envolvia o porto do Recife era pobre em água

potável. A maioria das cacimbas tinha água salobra e os habitantes recorriam à Olinda. Uma exceção a este quadro eram as cacimbas de Ambrósio Machado, que forneciam água de boa qualidade. Com a chegada de Mauri­ cio de N assau, o forte, chamado na

época de Frederick Henrich, foi totalmente reformado. O Forte das Cinco Pontas foi a última fortaleza a ser conquistada pelas tropas luso-brasileiras. Lá, fo­ ram elaborados os termos de renclição das tropas holandesas. Posteriormente,

Movimento Médico 13


o Forte das Cinco Pontas abriga o Museu da Cidade do Recife, que reĂşne importante acervo cultural

14 Movimento MĂŠdico


foi transfonnado em quartel e prisão. Após as sucessivas reformas a que foi submetida, a fortificação adquiriu seu visual atual, que conserva o traçado regular e apenas quatro pontas, perdendo assim seu design original em forma de pentágono, que o tomou conhecido como o Forte das Cinco Pontas. Atualmente, o local funciona como Centro Turístico e abriga o Museu da Cidade do Recife e o Teatro do Forte. A fortaleza fica no Largo das Cinco Pontas, em São José. Outro forte também aberto à visitação é o Forte do Brum, localizado no Recife Antigo. O Forte do Brum foi construído em 1629, para proteger a entrada do Porto do Recife. O Brum abrigou os refugiados da Revolução Pernambucana de 1817. Hoje, funciona como um museu militar que exibe armas, canhões, fotos e até o esqueleto de um soldado da época da invasão holandesa. O lugar também abriga a Capela de São João Batista. *Etiene Bahé é jomalista Forte das Cinco Pontas Local: Largo das Cinco Pontas s/n, bairro de São José, Recife Horário de visitas: de 3a a 6a , das 9h às 18h; aos sábados, domingos, das 13h às Ilh. A entrada custa R$ 1,00. e-mails:museudacidadedorecife@bol.com.br museudacidadedorecife@hotmail .com.br Forte do Brum Local: Praça Comunidade Luso-Brasileira s/n, Recife Antigo Horário de visitas: de 3a a 6a , das 9h às 16h30; aos sábados. domingos e feriados. das 13h30 às Ilh. A entrada custa R$ 2,00. e-mail: fortedobrum@yahoo.com.br

Em Olinda,

Fortim do Queijo é atração utras cidades pernambucanas também possuem suas fortalezas. O Forte de São Francisco, também chamado de "Fortim do Queijo", construído no final do século XVI, em estilo colonial, fica localizado na avenida Beira­ Mar, no Largo do Fortim, no bairro do Farol, em Olinda. Sua arquitetura simples e rústica atrai turistas e curiosos. Em Paulista, está aberto à visitação o Forte de Pau Amarelo, erguido em 1729 e reconstruído no século XIX. É conhecido também por Forte de Nossa Senhora dos Prazeres. Já na Ilha de Itamaracá você vai encontrar o Forte Orange, construído pelos holandeses, em 1631, em defesa da Ilha, e reconstruído pelos portugueses, em 1654, para proteger a cidade vizinha, Igarassu. Lá dentro existe um museu com peças holandesas e portuguesas, encontradas nas escavações. A Universidade Federal de Pernambuco tem realizado importantes descobertas na área. O Forte de Tamandaré, utilizado para aprisionar revoltosos antes de serem enviados para Fernando de Noronha, durante a Guerra dos Cabanos, foi construído no final do século XVII, como defesa da barra, visto que o Porto de Tamandaré era um local movimentado na Capitania de Pernambuco. O forte está sob jurisdição da Marinha, desde 1978. O Cabo de Santo Agostinho também abriga uma fortaleza. O Forte Castelo Mar, antes conhecido como Forte Nazaré, foi levantado com pedras de granito em 1631, por luso-brasileiros, para servir de lugar estratégico de defesa do porto. Você não pode deixar de conhecer também o Forte de Nossa Senhora dos Remédios, localizado na privilegiada Ilha de Fernando de Noronha. A principal defesa da Ilha foi erguida em 1737, sobre ruínas de um antigo reduto holandês de 1629. A fortaleza foi usada como presídio e quartel, e hoje proporciona aos turistas uma das mais belas vistas da Baía de Santo Antônio, da VIla dos Remédios e das praias próximas ao Morro do Pico (EB).

O

Movimento Médjco 15


CREMEPE

A nova gestão movimenta todos os setores do Conselho

Joane Ferreira*

o completar um ano à frente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco, a atual diretoria mostra que, com umao e trabalho, pode-se desenvolver novas atividades em beneficio, não só dos médicos, mas também da população. Nesse período, o Cremepe também pautou sua atuação na luta por melhores salários e condições dignas de trabalho para a classe médica pernambucana.

A

DIGNIDADE MÉDICA - O Movimento conseguiu realizar im­ 16 !v1<Nlmento Médico

portantes conquistas, como o esforço empreendido pelo Cremepe em conjunto com as entidades médicas do Estado, no sentido de conseguir a aprovação, pela Assembléia Legis­ lativa) da lei que criou a Câmara Arbitral. Essa Câmara funciona para regulamentar a relação entre médicos e operadoras) com a determinação de valores para pagamentos de honorários médicos inseridos na Classificação Brasileira Hierar­ quizada de Procedimentos Médicos, a CBHPM. Atualmente) um pro­ jeto-de-Iei, baseado no que foi aprovado em Pernambuco) está tra­

mitando, em caráter de urgência) no Congresso NacionaL

CEAC - O Centro de Estudos Avançados do Cremepe trabalha com o objetivo de realizar pesquisas e estudos sobre a qualidade de vida e mercado de trabalho do médico e a relação médico-paciente. Um dos principais projetos do Centro é o Programa de Humanização da Saúde - que está sendo levado, numa primeira etapa para os hospitais Oswaldo Cruz) Restauração, São Marcos) U nimed, Correia Picanço) Getúlio Vargas, Clínicas e lmip.


a infra-estrutura até o aten­ dimento no Cremepe. O serviço atende durante quatro dias da semana na sede do Conselho pelo telefone 0800­ 99-57-44. Para a sociedade, o atendimento é feito às terças e quartas-feiras, das nove da manhã ao meio-dia. Já os mé­ dicos são atendidos às se­ gundas e quintas-feiras, de uma às quatro da tarde.

E dentro do Programa de Hu­ manização da Saúde também foi distribuída, entre os profissionais de saúde do Estado, uma cartilha para promover a reflexão sobre a necessi­ dade de uma maior aproximação entre pacientes e profissionais de saúde.

OUVIDORIA - A Ouvidoria do Cremepe atende os médicos e a so­ ciedade com o objetivo de receber críticas, sugestões e denúncias, desde

COMUNICAÇÃO - O Cremepe, em parceria com as demais entidades médicas do Estado, lançou a Revista Movimento Médico. Com 40 páginas e tiragem de 15.000 exemplares, a publicação tem distribuição trimestral e substituiu o antigo Jornal Cremepe. Na televisão, além do "Conversando com o Cremepe", já está no ar o programa de educação Momento médica continuada Médico. JURiDICO - A assessona jurídica do Cremepe, recebe, instrui e acompanha os Processos Éticos até a fàse de julgamento em plenário e seus posteriores encaminhamentos. Numa parceria com o departamento

De Outubro de 2003 a Outubro de 2004 Sindicâncias Total 658 - Em andamento = > 363 - Apreciadas pelo plenário = > 250 - Concluídas atualmente para serem apreciadas = > 45

Solicitação para emissão de parecer jurídico Total: 332

Núcleo de Conciliação Total: 08

Carta Precatória

Processo Ético-Profissional (PEP)

Total: 16

Total: 197 - Andamento = > 167 - Julgados = > 30

Solicitação de Parecer das Câmaras Técnicas Total: 09

jurídico, a nossa reportagem fez um levantamento dos números de processos no período de outubro de 2003 a outubro de 2004. Confira os dados na tabela em destaque.

FISCALIZAÇÃO - Esse depar­ tamento do Cremepe, que tem a função de fiscalizar as condições de funcionamento de todas as empresas de assistência médico-hospitalar, bem como das condições de trabalho do médico, tem aumentado a quantidade de fiscalizações. As visitas são, na maioria das vezes, feitas sem aviso prévio, facilitando aos fiscais observarem a real situação do hospital ou clínica visitado. Em todo o Estado, o Cremepe tem realizado vistorias contando com o apoio das delegacias (Petrolina, Caruaru e Arcoverde) e das novas representações (Palmares, Gara­ nhuns, Ouricuri, Salgueiro, Serra Talhada, Vitória de Santo An­ tão\Gravatá, Afogados da Ingazeira e Limoreiro). Confira a quantidade de fiscalizações realizadas pelo Cremepe no penodo de outubro de 2003 a outubro de 2004. Área Metropolitana = > 122 Interior = > 21 Delegacia de Arcoverde = > 04 Delegacia de Petrolina = > 08 Representação de Limoeiro = > 12 Representação de Ouricuri = > 05 CONSELHO FEDERAL - Em julho, o Cremepe realizou a eleição para a escolha dos membros repreMovimento Médico 17


CREMEPE

de Medicina; Casa de Apoio à Criança Cardiopata e para o Programa "A Arte na Medicina às vezes cura, de vez em quando alivia, mas sempre consola".

sentantes do Estado no CFM ­ Conselho Federal de Medicina. Os eleitos foram Roberto Tenório e Silvia da Costa Carvalho (foto acima) da Chapa 1 - Dignidade Médica - e ocuparão as funções de Delegado Eleitor Titular e Suplente, respectivamente, na gestão 2004/2009.

EVENTOS Feira do Bem - Com três edições

A Feira do Bem já está consolídada

18 Movimento Médico

realizadas, a Feira do Bem se consolida, atraindo cada vez maIS pessoas, beneficiando as entidades sociais apoiadas pelo Cremepe: Associação dos Portadores de Doenças de Chagas; Associação Pernambucana Amigos do Peito; Centro Interdisciplinar de Apoio à Criança Cardiopata; Associação Pernambucana de Apoio aos Doen­ tes de Fígado; Grupo de Ajuda à Criança Carente com Câncer; Pro­ gramas de Humanização dos DAIs

Ampliação do Projeto Médico Cultural - O Cremepe, em parceria com a Caixa Econômica Federal, trouxe de volta o Projeto Médico Cultural. O evento tem o objetivo de promover a interação entre as entidades médicas, seus associados, familiares e estudantes de medicina, além de contribuir com a huma­ nização da medicina. Vários temas foram apresentados durante este ano, entre eles o show poético-mu­ sical A Bossa Nova e outras Bossas, o musical Música é Vida, o espetáculo Poesia ao Vivo e a peça O Ano do Coelho. Em setembro, foi realizado o IV Encontro Cultural de Pacientes de Pernambuco e, por último, em outubro, o 8° Encontro Médico Cultural de Pernambuco. Corrida de São Lucas - No mês de outubro, para comemorar o Dia do Médico, o Programa de Huma­ nização da Saúde realizou a Corrida Saúde Humanizada, na avenida Boa VIagem. Dezenas de pessoas parti-


A Corrida de São Lucas atrai u dezenas de pessoas, entre médicos e o público em geral em 2004 a Medalha de Honra à Ética e à Dignidade Professor Fernando Figueira, para home­ nagear médicos que tenham pauta­ do sua vida profissional com base na ética e na dignidade. Os home­ nageados foram Fernando Rego Barros, Luiz Fernando Salazar de Oliveira e Adriano Ernesto de Oliveira (in memorian).

Capacitação - Os funcionários

ciparam - entre médicos e público em geral. No masculino, o campeão geral foi Alcides Barbosa, e entre os médicos o vencedor foi o ortopedista e triatleta Maurício César Vieira. As mulheres vencedoras foram Risonete dos Santos e a médica Nanci Cristina Lucena. Também foi premiado, com uma menção honrosa, o médico de 61 anos Silvio Célio Ferreira, que também participou da corrida. No mesmo dia, também foi realizada uma caminhada para as crianças e para os adultos menos dispostos. O presidente do Cremepe, Ricardo Paiva, ficou animado com a ampla participação das pessoas neste pri­ meiro ano do evento e prometeu,

para o ano que vem, a Corrida Saúde Humanizada, com maiores proporções. 'Já que conseguimos trazer muitos participantes esse ano, na próxima edição da corrida preten­ demos colocar um trio elétrico na avenida para atrair cada vez malS participantes", previu Paiva.

e novos conselheiros do Cremepe participaram de capacitações e reuniões de integração. Para os conselheiros, o departamento jurídico apresentou no Hotel Casa Grande, em Gravará, como são realizados os processos em tri.mite na casa, novos processos e o passo­ a-passo até o julgamento. Na ocaSlao, foi realizada uma simulação de um julgamento. Os funcionários passaram um final de semana no Hotel Campestre, em Aldeia, para avaliar, junto com a diretoria do Conselho, o trabalho de cada departamento, e como os serviços podem ser desbu­ rocratizados. *Joane FerTeira é Assessora de Imprensa do

Medalha - O Cremepe lançou

Cremepe

Opinião A grande preocupação da atual gestão do Cremepe é dar uma conotação permanente às ações que são desenvolvidas em prol da categoria médica. Para o presidente do Conselho, Ricardo Paiva, "é importante que os colegas enviem críticas e sugestões, de forma efetiva, sobre o Cremepe. Essa é a contribuição mais significante que a categoria pode oferecer no sentido de fortalecer o caráter democrático da nossa gestão". Movimento Médico 19


CREMEPE

I

I

Crianças têm contato com a arte no Castelinho (abaixo)

Cerca de 600 . ­ cnanças sao beneficiadas com as aulas do projeto

A arte de humanizar

a medicina

Nathalia Duprat* médico americano Hun­ ter Patch Adams viu seu nome ficar conhecido em todo o mundo quando, em 1998, virou personagem de um filme ("O amor é contagioso"), que contava seus métodos pouco conven­ cionais de tratamento. Através de brin­ cadeiras e diversão, ele diSb-ala os pacientes, tentando dirrúnuir a ansie­ dade trazida pela doença. Seu trabalho ganhou projeção e, há mais de 30 anos, ele desempenha suas atividades de "médico-palhaço", levando a vários países o conceito de terapia, bem-estar e artes associado à medicina. Quando esteve no Recife, há cerca de dois anos, Patch Adams conheceu de perto um projeto que, antes mesmo do seu próprio sucesso nas telas do cinema, já acreditava na arte como uma forma

O

20 MOVimento Médico

de humanização do tratamento médico: a "Escolinha de Iniciação Musical e Artes". Desenvolvido pela Faculdade de Ciências Médicas (Universidade de Pernambuco/ UPE), o trabalho ofere­ ce às crianças e adolescentes portadores de câncer e cardiopatias do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) oportunidades de aprenderem a arte em suas variadas expressões. Com o tempo, o projeto - que começou em 1998, inicialmente numa sala do Hospital ­ alcançou resultados dignos de um verdadeiro conto de fadas. Funcionando em um castelo de verdade (financiado exclusivamente pela sociedade pernambucana - que até hoje mantém o projeto com doações), a Escolinha oferece aulas de percussão, bateria, flauta, violino, violão, teclado, canto, desenho, pintura, escultura,


A Escolinha de iniciação musical e artes funciona no Hospital Oswaldo Cruz

fotografia, dança e teatro. O médico Paulo Barreto Campello, coordenador do projeto, explica que as aulas têm como finalidade não só ajudar no processo de cura, alívio e consolo, mas também propiciar aos enfermos - em sua maioria, carentes - oportunidades de ingressar em uma futura profissão. "Encaminhamos muitos dos pacientes ao Conservatório de Música e às escolas de dança, incentivando o ta­ lento que eles revelam aqui", afirma. Geovane Quirino é um desses exemplos. Passando por um sofrido tratamento de osseosarcoma (tumor nos ossos), ele chegou ao Castelinho e logo se dedicou às aulas de pintura. Com o tempo, o adolescente passou a aparecer sempre com o cabelo pintado de diferentes cores. Questionado sobre o porquê das constantes mudanças, ele explicou: ']\ntes eu via a vida em preto e branco, agora vejo tudo colorido". Hoje, com 29 anos de idade, já curado da doença, continua pintando profis­ sionalmente e participando dos pro­ jetos do HUOC. LEVEZA - O local nem de longe tem oclima da doença no ar. Decorado com pinturas feitas pelas próprias crianças, o castelo mantém o lado lúdico e a esperança de dias sempre melhores. Como muitos dos pacientes vêm de cidades do interior e não têm condições de ir e voltar todos os dias, alguns ficam hospedados com os pais no NACC (Núcleo de Apoio à Criança com Câncer) e encontram no Castelinho alguns momentos de descontração e leveza para aliviar a dor trazida pela doença. Socorro Ricarti é uma dessas mães. Ela veio de Princesa

A música é importante aliada no tratamento

Isabel, interior da Paratôa, em busca de melhores condições de tratamento para a leucemia da filha Camila, de apenas 9 anos. "Sem o Castelinho, não sei como nós duas aguentariamos. Porque quando a vejo pintando e brincando com as outras crianças, sei que ela está feliz e consigo relaxar um pouco", emociona-se Socorro. Cerca de 600 crianças e adolescentes são beneficiadas pela Escolinha de Iniciação Musical e Artes. O projeto funciona exclusi­ vamente com a ajuda de voluntários e com o apoio do GAC (Grupo de Ajuda à Criança Carente com Câncer), Centro Interdisciplinar de Apoio à Criança Cardiopata (CIACC) e Instituto de Apoio à Universidade de Pernambuco (IAUPE). Ninguém

recebe nada. O que move todos os envolvidos é apenas a vontade de ajudar. "O maior retorno que temos aqui é poder observar não apenas as respostas científicas, mas o brilho do sorriso e o olhar de cada uma das crianças", enfàtiza Paulo Barreto CampeIlo, enquanto dedilhava algumas notas no violão, acompanhado pelo som da bateria de um dos adolescentes da Escolinha. Assim como tantos outros que já passaram por lá, Sandro José dos Santos, de apenas 16 anos (em tratamento de um tumor no baço), sonha em aprender os raps dos ídolos, Racionais MC ' s, e continuar tocando quando já estiver completamente curado. *Nathalia Duprat é jomalista

Crianças doentes têm acesso ao computador

Movimento Médico 21


CREMEPE

Ato médico: em defesa da

saúde do povo brasileiro

Aprovar o PL nO 25/02 (Lei do Ato Médico) é, antes de tudo, um ato de cidadania Edson de Oliveira Andrade*

M

uitas bobagens têm sido propaladas acerca do projeto de lei que regu­ lamenta os atos médicos. As mais recentes foram publicadas no jornal O Globo pelo médico Aloysio Campos da Paz Júnior, da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. Antes de mais nada, é preciso esclarecer que todas as profissões da área da saúde têm sua regulamentação em lei, exceto a medicina. Isso, em tese, deve-se ao fàto de todo mundo saber O que o médico fàz, e os legisladores nunca se preocuparam com a matéria. No entanto, justamente devido à evolução do conhecimento científico e à complexidade cada vez maior da atenção à saúde, tal legislação hoje é necessária. O projeto de lei diz, em cinco artigos, que só o médico, ressalvado o odontólogo, tem a competência profis­ sional para diagnosticar as doenças e prescrever o tratamento para os doen­ tes. Nada além do óbvio. A atenção à saúde é obrigatoriamente praticada por equipe multiprofissional, pois ninguém a realiza sozinho. Cada profissão tem sua atribuição definida em lei e ne­ nhum outro profissional diagnostica doenças e indica o respectivo trata­ mento. O psicólogo fàz a avaliação psicológica; o fisioterapeuta, a avaliação cinésio-funcional; o enfermeiro, a de enfermagem, e todos assistem seus pa­ cientes de acordo com suas capacidades e com absoluta autonomia dentro das prerrogativas estabelecidas em suas leis. Dizer que todos os profissionais se subordinariam aos médicos após a

22 Movimento MédiCO

aprovação da lei do ato médico é uma aleivosia. Só por desconhecimento ou má-fé pode-se disseminar a inverdade que, para ir ao dentista ou a um psicólogo, a pessoa precisaria antes do aval de um médico. Propagam tais inverdades aqueles interessados na não­ regulamentação da medicina, que preferem manter uma área cinzenta de interfàce entre as profissões, abrindo caminho para o exercício ilegal da profissão e o charlatanismo. Quando o projeto de lei prevê que só o médico pode chefiar serviços médicos, não precOIÚza a subordinação de outros profissionais ao mesmo. Significa que os serviços de cirurgia, ginecologia, cardiologia e tantos outros, onde se praticam atos médicos, têm que ter um responsável técnico médico, que responda por eles. Estes são os responsáveis perante os Conselhos de Medicina, e são interpelados quando ocorrem denúncias envolvendo médi­ cos. Os serviços de enfermagem, de nutrição, de fonoaudiologia, entre ou­ tros, são e serão sempre dirigidos pelos respectivos profissionais, como rezam as leis de cada um. Os médicos não querem, e nem podem, chefiá-los. Da mesma forma, a direção geral de uma instituição de saúde, ou uma secretaria, ou um ministério, que não requerem fOlmação médica específica, poderão ser dirigidos por qualquer profissional (os dois últimos ministros da Saúde são economistas), desde que tenham médi­ cos respondendo pelos atos médicos, como exige a legislação atual . N o calor dos debates que vêm acontecendo, ainda longe dos olhos e

ouvidos da população brasileira, a principal interessada, o que a lei do ato médico vai coibir, de verdade, é a tentativa deliberada de promover uma assistência à saúde sem médicos habi­ litados, mais barata por certo, mas com riscos à vida dos pacientes e aos profis­ sionais que se an1scam a substituí-los. As chamadas Casas de Parto são exemplos destas ações. Criadas para acompanhar os partos ditos normais e "humanizar" a parição, estas, sim, retro­ cedem ao século passado na assistência à gestante. As complicações de um parto, quando acontecem, são de tal ordem dramáticas que se o médico não estiver presente e com recursos adequados, não há tempo para salvar as vidas da mãe e da criança. Mas não são as únicas aberrações. O Programa Saúde da Família também precisa ser revisto quanto à composição de equipes sem médicos para atendimento à população. E ainda são muitas as secretarias e postos de saúde sem diretor médico pelo Brasil afora. Uma instituição de saúde sem um responsável técnico médico funciona ao arrepio da lei. Conceber uma medicina sem médicos não é um debate acadêmico. É a aplicação acrítica do receituário neoliberal do Banco Mundial. Desvirtuar o conceito de equipe é essencial para aviar esta receita. Ao


invés de reunir os saberes e práticas de cada profissional em benefício da população, misturam-se estes ingre­ dientes em receitas práticas capazes de serem aplicadas por qualquer um de seus membros. Em breve, teríamos profissionais de saúde "multifunção", que sabem um pouco de enfennagem, de nutrição, de medicina, etc., o suficiente apenas para implementar uma assistência à saúde de segunda para gente de segunda. Fato etica­ mente inaceitável. Some-se a tudo isso a crônica escassez de recursos para a saúde e teremos um retrato fiel do que vem ocorrendo. Disso, aliás, o médico Aloysio Campos da Paz não pode se queixar. Há muitos anos, e há vários governos, a Rede Sarah é beneficiada com um aporte de recursos diferen­ ciado, à parte dos demais hospitais do Ministério da Saúde. Pelo site oficial do Ministério, podemos ver que em 2003, a Rede Sarah recebeu, sozinha, 245 milhões de reais, contra 207 rrúlhões para todos os hospitais pró­ prios. Sem dúvida, este é um fator determinante para a excelência dos serviços prestados pela Rede - e que bom seria se todos os gestores da saúde no país tivessem o mesmo tratamento. É preciso deter este iceberg, cuja parte submersa revela uma perspectiva cruel e sombria para a saúde pública brasileira. A regulamentação em lei dos atos médicos constitui apenas um primeiro passo, mas que ajuda ao ex­ plicitar as ações que só este profissional pode executar, devidamente habilitado, fiscalizado e capaz de assumir os riscos pelas decisões que venha a tomar. Te­ mos consciência de que nenhum profissional atua sozinho na assistência à saúde, mas temos também a certeza de que não se faz saúde sem médicos. Aprovar o PL nO 25/02 (Lei do Ato Médico) é, antes de tudo, um ato de cidadania. Um gesto de respeito às pessoas.

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-Edson de Oliveira Andrade é Presidente do Conselho Federal de Medicina

Cremepe lança campanha contra exercício ilegal da medicina visa O para

Cremepe lançou uma campanha de conscientização que alertar os médicos e não médicos que o exerácio ilegal da medicina é crime. O alerta também vai os estudantes: o exercício da profissão sem o acompanhamento de um médico também é ilegal. Para exercer a profissão, O médico deve ser inscrito no Conselho Regional de Medicina do seu Estado. A campanha também vai ser levada para todas as secretarias de Saúde dos muniápios de Pernambuco. A fiscalização será intensificada e o Conselho, trabalhando em conjunto com o Ministério Público, denunciará o exerácio ilegal da medicina para que haja aplicação das penalidades previstas na lei. As denúncias contra o exercício ilegal da medicina também podem ser feitas pelo telefone 0800-99-57-44.

ESTUDANTE IEXERCENDO MEDICINA:

NÃO ÉLEGAL. É CRIME.

Art.17 • podarílo exercar lagalmente a mediciaa, am qualquer dos seus ramos ou especialidades, após opréViO registro de seus diplomes, certificados ou cartas no Ministério da Educaçlo e Cultura, e o de sua Inscrlçlo no Conselho Regional de Medicina, sob cuja jurlsdlçlo se achar o local de sua atl.ldade. Art. 18 • Aos profissionais registrados de acordo com esta lei será entregue uma carteira profissional, que os habilitará ao exercício da medicina em todo oPaIs. (... 1. Art. 20 • Todo aquele que mediante anúncios. placas, cartDes ou outros meios quaisquer se propusar ao exerclclo da Medicina. em qualquer dos ramos ou especialidades, fica suJeito às penalidades apllcivels ao exercício Ilegal da proflsslo, se nlo estlvar davldamente registrado.

Art.282 • Exercer, ainda que a gratuito. a proflsslo de médico, dentista, ou farmacêutico',

autorlzaçao legal ou excedendo·lhe os limites· pena: detençio de sais meses adois anos.

Art. 284· Exercer ocurandeirismo:

I· prescrevendo, ministrando ou aplicando, habHualmente, qualquer substlncia;

11· usando gestos, palavras ou qualquer outro melo;

111· fazendo diagnósticos· pena: detançlo de seis meses adois anos.

Parigrafo único· 5e o crime é praticado mediante qualquer remuneraçao, o agente fica também suJeito

multa.

CREMEPE Conselho Regional de Medicina de Pernambuco

MOIimento Médico 23


i

CREMEPE

'

Notas

de "Inferno" de Dante Alighieri - foi lançada em novembro de 2004.

Jorge Wanderley

Medalha Femando Figueira A medalha de honra à ética e à dignidade Professor Fernando FIgueira, criada pela atual diretoria do Cremepe, foi entregue neste ano de 2004 aos médicos Fernando Rego Barros, Luiz Fernando Salazar de Oliveira e Adriano Ernesto de Oliveira (in memorian). Na foto os agraciados com a m~ Dr. Fernando, o irmão do Dr. Adriano Ernesto e o Dr. Luiz Fernando.

N a próxima edição, a Movimento Médico vai estar publicando um poema de Jorge Wanderley, em sua homenagem. Falecido em 1999 Jorge era pernambucano - se formou em medicina, no Recife, e em letras no Rio de Janeiro. Jorge é considerado wn dos maiores ícones da tradução brasileira. Sua última contribuição para a literatura brasileira - a tradução

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE PERNAMBUCO - CREMEPE

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/t.

PERNAMBUCO - CREMEPE PUBLICAÇÃO DE PENALIDADES PÚBLICAS

PUBLICAÇÃO DE PENALIDADES PÚBLICAS Ref Processo Ético Profissional nO 0.7/99 Ref Processo Ético Profissional n. ° 16/98 CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE PERNAMBUCO - CREMEPE EDITAL DE APLICAÇÃO DE PENALIDADE DE CENSURA PÚBLICA EM PUBLICAÇÃO OFICIAL PENA DISCIPLINAR APLICADA À MÉDICA ORA. MARIAjOSÉ RAMOS DE OLIVEIRA - CREMEPE n.o 10..297

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE PERNAMBUCO - CREMEPE, no uso de suas atnbuições que lhe confere a Lei nO3.268/57, regulamentado pelo Decreto nO 44.0.45/58, e em conformidade com o Acórdão proferido pelo Conselho Federal de Medicina - CF/\I1, no Sessão de julgamento do Processo Ético Profissional n.o 16/98, realizado em 12 de junho de 20.0.3, vem aplicar à médica ORA. MARIA JOSÉ RAMOS DE OLIVEIRA - CREMEPE n.o 10.297, o peno de CENSURA PÚBLICA EM PUBLICAÇÃO OFICIAL. previsto no letra "C' do art 22, do Lei 3.268/57, por ter o mesmo cometido os infrações previstos nos arts. 29D, 3 1° e 57°, todos do Código de Ético Médico.

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE PERNAMBUCO - CREMEPE EDITAL DE APLICAÇÃO DE PENALIDADE DE CENSURA PÚBLICA EM PUBLICAÇÃO OFICIAL PENA DISCIPLINAR APLICADA À MÉDICA ORA. GILMA CAVALCANTI BARROS - CREMEPE n.o 3.557

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE PERNAMBUCO - CREMEPE, no uso de suas atribuições que lhe confere o Lei n.o 3.268/57, regulamentado pelo Decreto n.o 44.0.45/58, e em conformidade com o Acórdão proferido nos autos do PEP n.o 0.7/99, julgado em Sessõo Plenória do Tribunal Regional de Ética Médica, realizado em 14 de julho de 20.0.4, vem aplicar à médica ORA. GILMA CAVALCANTI BARROS ­ CREMEPE n.o 3.557, o peno de CENSURA PÚBLICA EM PUBLICAÇÃO OFICIAL. previsto no letra "C' do art. 22. do Lei 3.268/57, por ter o mesmo cometido os infrações previstos nos arts. 2°, 29D e 69D do Código de ÉtiCO Médico.

Ricardo de Albuquerque Poiva Presidente do CREMEPE Ricardo de Albuquerque Paiva Presidente do CREMEPE CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE

24 /\llovimento Médico


SIMEPE

Médicos aprovam proposta do Governo

o processo de negoçiação com o Governo do Estado durou mais

de noventa dias

Chico Carlos*

Campanha Salarial 2004 dos méclicos da rede pú­ blica estadual chegou ao final. O processo de negociação durou mais de noventa dias desde a entrega da Pauta de Reivincli­ cações, além de várias reuniões com os representantes do Governo do Estado e com o próprio governador Jarbas Vasconcelos. Em Assembléia Geral, no dia 20 de outubro, no auclitório da na Sociedade de Meclicina de Pernam­ buco, na Boa Vista, os méclicos que atuam nas emergências públicas acei­ taram a proposta de aumento salarial feita pelo Governo do Estado. A partir de novembro, diaristas e plantonistas começaram a receber o salário-base de R$ 1.259,00 Os plantonistas terão, ainda, urna gratificação de R$ 600,00. Com o acordo, os méclicos garantiram

A

o mesmo salário-base para toda a classe, independentemente do local de trabalho do profissional. "Entendemos que o valor não é o ideal para a categorial. Todavia, entendemos que é o ínclice máximo que o Governo pode conceder. É o começo da reestrutura­ ção da nossa classe", argumentou o presidente do Sinclicato dos Méclicos de Pernambuco (Simepe), André Longo. Apesar de ter fechado o acordo com o Governo, o SIMEPE assegura que a luta não foi encerrada com o reajuste dos salários. De acordo com o presidente da entidade, a categoria pretende batalhar, agora, por melhores conclições de trabalho nas unidades públicas. Os méclicos querem, ainda, mudanças na gestão da Secretaria de Saúde do Estado (SES). "Há muitos

problemas na condução da secretaria estadual e, por isso, nós queremos alterar a forma de gerenciamento de pessoal. Uma das nossas batalhas será modificar as regras para pagamento das gratificações de produtividade e de desempenho", declarou. Vale ressaltar que os ortopeclistas e neurocirurgiões decidiram, em reuniões diferentes, acatar a posição aprovada na Assem­ bléia Geral dos Méclicos da Rede Pública Estadual, na qual a maioria aceitou o aumento oferecido pelo Governo Jarbas. Por cliscordarem do valor apresentado, muitos ameaçavam continuar com o movimento demis­ sionário e marcaram reuniões, com o objetivo de avaliar a situação, mas, de acordo com o Sinclicato dos Méclicos, eles usaram o bom senso e desistiram de prosseguir com o movimento. Movimento Médico 25


SIMEPE

o

Simepe informa também à categoria que, a partir do vencimento dos salários do mês de novembro, começou a vigorar a nova remu­ neração dos profissionais médicos, com aumento salarial, resultado de negociação com a participação do Cremepe junto ao Governo do Estado.

A tabela com os novos salários da categoria está à disposição da categoria no site do Sinclicato: www.simepe.org.br Ressalte-se, ainda, que a proposta aprovada em Assembléia Geral da categoria inclui ganhos imediatos com a Lei que reestruturará a carreira

médica de todos os profissionais méclicos de simbologia SM (SM 1 passa a ser SM2, SM2 para SM3 e SM3 para a nova SM4) garantindo-se a manutenção dos qüinqüênios adquiridos. *Chico Carlos

é jornalista

De olho na notícia

Vitória de Mozart Sales Das mais comemoradas a vitória do médico e legista Mozart Sales, eleito com 8.470 votos, para a Câmara de Vereadores do Recife. A candidatura de Mozart Sales, ex-assessor do ministro da Saúde, Humberto Costa, foi construída desde o movimento estudantil na UPE, passando pela Associação Pernambucana de Médicos Residentes, depois pelo Sindicato dos Médicos e Prefeitura da Cidade do Recife, onde atuou como gerente do Distrito Sanitário VI. Os profissionais de saúde, os mo­ vimentos popular e estudantil estão confiantes em projetos e ações que possam, verdadeiramente, melhorar a qualidade de vida da população do Recife. Boa sorte e muito sucesso na Casa de José Mariano!

Defensoria Médica em Caruana Avançar no projeto de interio­ rização.O Sindicato dos Médicos colocou à disposição dos médicos sindicalizados de Caruaru a Defen­ soria Médica, com o objetivo de am­ pliar o atendimento na área jurídica em vários aspectos. O atendimento está sendo realizado aos sábados, sempre a cada 15 dias. Maiores informações na Diretoria Sindical de Base de Caruaru - (81) 3723.5918 ou 9122. 2920. Os advogados Élio Wanderley de Siqueira, Luiz Dias Pereira da Costa Neto, Mirza 26 MOVImento MédiCO

Pedrosa Porto,Vinicius de Negreiros Calado e José Diógenes C. de Souza Junior integram a Defensoria Médica do SIMEPE, que cuida basicamente de consultoria jurídica, conselho profis­ sional, administração pública, relações de trabalho, esfera cível e criminal.

Simepe ganha novos e-mails Ficou mais fácil falar com o SIMEPE via internet. Com o objetivo de avançar na dinâmica de trabalho implantada pelo Simepe e, ao mesmo tempo, descentralizar a comunicação via Internet, hoje uma realidade em toda a rede mundial de computação, foram criados novos e-mails pelo webmaster Milson Marins. Os e-mails já estão recebendo e enviando mensagens. Fale diretamente com o setor que você dese­ ja. Quem quiser se comunicar pode enviar para estes endereços eletrônicos: presidencia@simepe.org.brj vicepresidencia@simepe.org.brj secretaria@simepe.org.brj financeiro@simepe.org.brj petrolina@simepe.org.brj caruaru@simepe.org.brj arcoverde@simepe.org.brj institucional@simepe.org.brj defensoria@simepe.org.brj imprensa@simepe.org.brj administrativo@simepe.org.brj gerencia@simepe.org.brj assistencia@simepe.org.brj recepcao@simepe.com.br.

Prêmio Simepe 2004 O Sindicato dos Méclicos entregou a

aluna Vanessa Nascimento Monteiro

de Silva, concluinte do curso de

medicina/2004, da Universidade de

Pernambuco (UPE) o "Prêmio

SIMEPE de Participação Coletiva",

pelo seu reconhecido trabalho pelas

causas estudantis de medicina. O

prêmio foi entregue pelo diretor de

assuntos jurídicos do SIMEPE,

Railton Bezerra de Melo. Parabéns

,Vanessa! Votos de sucessos em sua

carreira profissional.

Eleição/Corpo Clínico Com base na determinação da

Resolução 1481/97, do Conselho

Federal de Medicina (CFM), foi

realizada, no dia 17 de agosto

passado, a eleição do Diretor Clí­

nico que vai representar o corpo

clínico do Hospital de Câncer de

Pernambuco (HCP) junto à dire­

toria administrativa. Na oportuni­

dade, foram eleitos os médicos

Antônio Marcelo Gonçalves de

Souza para diretor clínico e Felipe

Rinald Barbosa Lorenzato para

vice, respectivamente. Os colegas

médicos assinaram a ata de posse na

diretoria executiva do HCP Boa

sorte aos colegas neste novo desafio!


outras modalidades de atividade diagnós­ tica de outras profissões, como o diagnós­ tico fisiológico, diagnóstico psicológico ou qualquer outra modalidade de diag­ nóstico que a lei atribua a outra profissão. O projeto de lei que define o ato médico tem por objetivo regulamentar os atos médicos, fortalecendo o conceito de equipe de saúde e respeitando as esferas de competência de cada profissional. Jamais em nenhuma linha encontraremos violações de direitos adquiridos, arrogân­ cia ou prepotência de outros membros da equipe. Ninguém trabalha pela saúde da população sozinho e muito menos sem a presença do médico. O cargo de direção e chefia relacio­ nados diretamente aos atos médios de­ projeto de lei do ato médico já está vem ser exercidos exclusivamente por na Comissão de Assuntos Sociais do Senado médicos. Ressaltamos que não há nada de novo nisso; as leis que regulamentam as Fernando Henrique Cabral* outras profissões da saúde sempre real­ çam este quesito, inclusive garantindo as ecentemente, surgiram alguns nonnatizadora das suas atividades, com chefias de enfermagem, nutrição etc. movimentos e intervenções contrá­ regras c!aras". U ma direção administrativa, uma secre­ rias à Lei do Ato Médico. Em virtude Por iniciativa da Comissão Nacional taria ou até mesmo o ministro da saúde disso, se fàzem necessários esclarecimentos em Defesa do Ato Médico, já foram podem ser cargos exercidos por profissio­ para a opinião pública em geral. O Projeto realizados debates com outros conselhos nais não médicos, desde que, em respeito de Lei do Ato Médico (pLS25/2002), que profissionais da área da saúde e discus­ à lei, haja um responsável técnico médico está na Comissão de Assuntos Sociais sões com a classe médica e com os estu­ para responder pelas questões técnicas e (CAS) do Senado para discussão do dantes de medicina. No ano passado, a éticas que envolveram aquela instância mérito, objetiva apenas regulamentar os Comissão lançou uma campanha voltada administrativa. atos médicos, fortalecendo o conceito de para o médico e para a sociedade, infor­ Reforçamos que nenhuma novidade equipe de saúde e atendendo de fonna mando-os sobre a importância da apro­ ocorre neste item, uma vez que, em digna a população. De acordo com o vação da lei do ato médico. Na verdade, passado recente do nosso pais, os titulares projeto, que tem apenas cinco artigos, o este projeto de lei pretende tão somente da pauta de Saúde (foram duas gestões) médico deve ter em vista a promoção da que os médicos sejam dirigidos em suas foram economistas, assim como, atual­ saúde, prevenção, diagnóstico e tratamento tarefas privativas. mente, o ministro da Fazenda, Antônio de doenças e reabilitação dos doentes. Nem todo diagnóstico é diagnóstico Palocci, é médico. Ressaltamos que o mé­ Ao apresentar seu relatório, o senador médico. No entanto, nenhuma outra dico é tecnicamente definido com o ser TIão VJaCla declarou a existência de um profissão da área de Saúde, à exceção de . humano pessoalmente apto, capacitado e vácuo legal, por não haver legislação odontologia, possui a prerrogativa de legalmente habilitado para atuar na sobre a matéria e ordenamento das diagnosticar doenças. Todas as demais, sociedade como agente profissional da atividades médicas: "Hoje, são 14 em suas leis, participam da assistência à medicina, assegurando, dessa forma, o profissões em práticas que envolvem a saúde de modo e maneira bem especí­ direito de praticar todos os atos que a saúde. A questão interdisciplinar tem ficos, sem qualquer referência ao diag­ legislação permite e / ou obriga. trazido polêmicas e disputas de mercado. nostico de doenças. O diagnóstico mé­ Não parece justo que médicos não dico, procedimento profissional típico da * Fernando Henrique Cabral é diretor de tenham direito de ter uma lei medicina, não deve ser confundido com imprensa do Sindicato dos Médicos/PE

Em d doAto M 'dico

o

R

Movimento Médico 27


SIMEPE

A autonomia

das perícias

médico-legais

,

Medicina legal foi instituída

oficialmente no Brasil em 1856

Railton Bezerra de Melo*

o Brasil, pode-se dizer que a Medicina Legal institucionaliwu-se em 1856, e já surgiu de forma equivocada, pois junto à Secretaria de Thlícia da Corte, criou-se a Assessoria Médico-Legal, com dois lugares efetivos. Infelizmente, constatamos, através da história, que a medicina legal nasceu nas delegacias de polícia. Esta forma equivocada de colocar a medicina legal dentro do aparelho policial resultou em ingerências indevidas durante a ditadura militar. É diRcil acreditar que o cidadão possa confiar, quando vítima da violên­ cia policial, numa perícia feita pela própria polícia. Infelizmente, as nossas repartições médico-legais continuam a ser meros apêndices de órgãos policiais, onde os legistas se subordinam à autoridade policial, deixando fluir a falsa idéia de que a legisperícia é parte integrante da atividade policial. Na maioria dos países não existe mais esta vinculação. No nosso continente, apenas o Brasil e o Equador insistem neste modelo anacrônico. Nos demais países da América Latina, a perícia médico­ legal ora está ligada ao executivo, através

N

28 MOVimento Médico

dos ministérios da Justiça e da Saúde, ora diretamente ao]udiciário. Após a Constituinte Cidadã (1988), alguns estados, como Amapá, Pará. e Rio Grande do Sul passaram, principalmen­ te o segundo, a usufruir de uma autono­ mia administrativa e financeira. As experiências têm sido promissoras, pas­ saram a existir mais recursos, e estes estão sendo aplicados de forma mais inteligente. Em Pernambuco, o modelo é misto, ou melhor, mal definido. Enquanto não respondemos administra­ tivamente à Policia Civil, as nossas fichas funcionais estão ali lotadas e até a nossa carteira de identificação é assinada pelo chefe desta corporação. Um elemento facilitador da evolução do lÚvel cientifico das perícias médicas é o convênio de cooperação técnica entre os órgãos periciais e as universidades públicas. A USP de Ribeirão Preto vem apresentando uma experiência que deixou todos esperançosos em dias melhores para a medicina legal. Naquela cidade, existe uma cooperação estreita entre o IML e a universidade estadual, levando a uma melhor capacitação

técnica e cientifica dos peritos, e à produção de convênios com órgãos de desenvolvimento nacional e internacio­ nal, gerando recursos para aquisição de equipamentos de última geração. Estes fatos propiciaram a produção de traba­ lhos científicos de lÚvel internacional, como os estudos de Toxicologia Crimi­ nal e de Patologia, esta última no tocante ao diagnóstico diferencial entre as lesões produzidas em vida e aquelas produzi­ das após a morte, colocando a atividade pericial, ali desenvolvida, entre as me­ lhores do mundo. Não se assustem os colegas que pre­ conizam que a vinculação da medicina legal com a policia pode gerar melhores condições salariais ou de trabalho. A história tem demonstrado o inverso, e não precisamos de muleta quando temos condições de caminhar. A autonomia da perícia médica-legal, mais que beneficio para uma classe de profissionais, deve ser considerada um anseio por uma sociedade mais justa e democrática.

* Railton Bezerra de Melo é Professor da UPE, Médico Legista do IMUPE e Presidente da APEMOL


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­

Zé Dantas era tão importante na música popular brasileira que foi aplaudido até pelos presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubistschek Elizabeth Porto* Zedanlas (O) em falo hislórica com seu parceiro maior, Luiz Gonzaga

,

ZEDANTAS

Talento e criatividade de um artista do Sertao

'51 todo mundo eu dô psiu, siu, siu, siu perguntando por meu bem, siu, siu, siu Tendo o cora{4fJ vazio Vtvo assim a dá psiu Sabiá vem cá também Tem pena deu sabi4 diz porfavor sabi4 Tu quifala aos passarinJws onde anda A~" meu amo. ... uem não conhece esses versos, tão nordestinos, com erros de português propositais, da música "Sabiá", que foi o grande sucesso na voz do cantor Luiz Gonzaga, e depois relembrada, por outros artistas famosos como Geraldo Azevedo e Elba Ramalho? Quem, das gerações das décadas de 50 e 60, não se lembra de Ivon Cwy cantando Farinhada? E de Cintura Filia, Xote das Meninas, Acauã, Derramaro o

Gai, interpretadas pelo rei do baião? Seu autor foi o médico José de Souza Dantas FIlho, pernambucano, conhe­ cido como Zédantas, compositor e parceiro de Gonzagão. Era tão importante na música po­ pular brasileira que foi aplaudido até pelos presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubistschek. Recentemente, o cantor Caetano Veloso gravou A Volta da Asa Branca. "Zédantas era um ótimo letrista. Fico vendo que isso foi uma dádiva na minha vida. A vida ter me proporcionado esse mestre", disse o ministro da Coltwa, compo­ sitor e cantor Gilberto Gil, em entre­ vista ao Diana de Pernambuco . Infeliz­ mente, Zédantas morreu precocemen­ te em 11 de março de 1962, vítima de insuficiência renal, mas sua obra mu­ sical continua viva. O médico José Dantas nasceu em 27 de fevereiro de 1921, em Carnafba,

interior de Pernambuco. Foi nesse sertão pernambucano, na fà.zenda dos seus pais, José de Souza Dantas, e Josefina Alves de Siqueira Dantas, que começou sua paixão pela poesia, o folclore nordestino e, principalmente, o xaxado dos cangaceiros e o baião. Aos nove anos de idade foi para o Recife, onde estudou nos colégios Marista, Nóbrega. e Americano Ba­ tista. Nessa época, começou a escrever para os jornais dos colégios. Foram surgindo suas primeiras composições e crônicas. Seu pai, José Dantas, fazendeiro e comerciante bem sucedido, só queria ver o filho formado em medicina. Zédantas recebia do pai uma mesada ótima para que não tivesse nenhuma dificuldade financeira. Tomou-se estudante de medicina no irúcio da década de 40, desejando ser um excelente médico, porém, sem deixar de escrever suas poeSlaS e MOVimento Médico 29


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Viúva diz que compositor não tem o reconhecimento merecido músicas, sempre esconc:lido do seu pai, que não queria que ele tivesse nenhum envolvimento com a vida artistica. Ainda estudante de Mec:licina, come­ çou a escrever e apresentar vários pro­ gramas na Rádio Jornal do Commércio. Formou-se em mec:licina em 1949 e um ano depois foi morar no Rio de Janeiro para fàzer residência médica no Hospital dos Servidores do Estado (na época o maior hospital da América Latina). Em seguida, fez concurso público para trabalhar no HSE e teve boa classificação. Especializou-se em obstetricia. Era um médico muito dec:li­ cado aos seus pacientes. No seu apartamento, em Boa VIa­ gem, a viúva do compositor, Iolanda Simões, concedeu entrevista a revista Movimento Médico. Ela fala com carinho do marido e da relação dele com Luiz Gonzaga. Como fui que Zédantas conheceu o cantor Luiz Gonzaga? Ele era estudante de Mec:licina. No final do curso, em 1947, participando de um encontro com boêmios e artistas no Grande Hotel, no Recife, Zedantas foi apresentado a Luiz Gonzaga, que ficou impressionado com as suas com­ posições. No dia seguinte, o rei do baião foi procurar o Zé, nascendo então uma grande amizade e uma excelente parcena. Foi o começo do sucesso de Zédantas? Sim. Muitos cantores encomen­ davam baiões aos compositores. Até Carlos Galhardo gravou do meu marido 'Y\j Meu Bem". E, segundo a gravadora RCA VIctor, '1\ Dança da Moda", baião de Zédantas e Luiz 30 Movimento Médico

lo/anda Simões, viúva do composftor e médico Zedanlas

Gonzaga, foi o c:lisco mais venc:lido na época. Qual foi a primeira música gravada em disco?

Foi "Vem Morena", gravada em 1950. O Zé ficou muito emocionado quando ouviu a música pela primeira vez no c:lisco. Como a senhora o conheceu? Quando era muito jovem fui lecio­ nar em Serra Talhada, pertinho da fa­ zenda de Zédantas. Todas as moças da cidade eram Bis dele e loucas para na­ morar com ele. Ele era muito bonito e tinha fama de namorador. Eu tinha medo de conhecê-lo porque temia ficar apaixonada. Ele era colega da minha irmã. Um dia, ele resolveu fazer uma visita a minha casa. Meu pai fez uma festa para Zédantas, porque ele já era conhecido nos programas da rac:lio Jornal do Commércio. Eu tinha chegado da praia, e quando olhei para ele, c:lisse para mim mesma: 'estou perc:lida'. Fiquei apaixonada. Foi amor fulminante. Sofri muito quando ele foi para o outro lado da vida.

no Rio de Janeiro. Tivemos três filhos: Sandra (Juíza de Direito), Mônica (arquiteta, falecida num acidente de carro) e José Dantas Neto, que é médi­ co otorrino e ,como o pai , estudou no Recife. Depois de formado, foi morar no Rio de Janeiro ,onde reside até hoje. No Rio de Janeiro, Zédantas tra­ OOlhou em rádios também? Sim. Trabalhava em emissoras de rác:lios e fazia jingles para políticos. Seu marido era bem remunerado como artista? Era remunerado muito mais como compositor do que como médico. Só com as músicas "Farinhada", cantada por Ivon Cwy, e o Xote das Meninas, em 1954, o Zé permaneceu nas paradas de sucesso durante seis meses. Se eu re­ cebesse a pensão dele apenas como méc:lico, não teria tido uma vida financeira tão tranqüila com meus filhos, quando ele morreu. Dos meus familiares, recebi muito carinho e amor.

É verdade que Zédantas foi prestigiado pdos presidentes Getúlio

Vargas e Juscelino Kubitschek? Quando casou com de?

É verdade. O presidente Getúlio Casamos em 1954 e fomos morar Vargas, no segundo encontro com


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Zédantas, apertou sua mão e exclamou: 'Como vai, Zédantas?'. E o presidente Juscelino Kubitschek convidou Zédan­ tas várias vezes para encontros de lazer no seu apartamento.

Depois que fui morar no Rio seu marido se afastou do Sertão? Não. Ele nunca se esqueceu de suas raízes. Sempre que podia viajava para o Sertão, visitava Camatoo e ficava na fàzenda Brejinho, no Riacho do Navio (nome de uma música), seu refugio, onde era recebido com carinho por vaqueiros e moradores. Quando vinha do Rio para o Sertão, car­ regava wn gravador imenso para registrar todas histórias, contos e aboios do sertanejo. Ele era enamorado do folclore nor­ destino. Gostava das festas juninas e até mesmo do cheiro do mato.

A população de Carnalht rec0­ nhece a importância de Zédantas? Desde 1978 existe wn busto do Zé em bronze feito pelo escultor João Batista, por iniciativa do tenente João Lira. Anualmente, há festa do poeta em homenagem ao meu marido. A senhora poderia mIar sobre o argumento cinematográfico escrito por Zédantas?

~doavô?

Recentemente, a rrúnha neta Ma­ tina Elali cantou na televisão os baiões "Sabiá" e o "Xote das Meninas". Ela pretende reviver a obra do avô.

Vito", "Paulo Monso", "Vozes da Seca", "Noites Brasileiras", '1\.lgodão", "Farinhada", '1\.cauã", "São João na Roça', "Xote Miudinho", "Letra I", ''Derramaro o Gai" ( êxito em discos de Luiz Gonzaga, Carmélia Alves e Luiz Vieira), "Vou Casá Já", "Riacho do Navio", "Lenda de SãoJoão", '1\. B C do Sertão", '1\. Volta da "Mané e Zabé", "Cintura Fina", "Forró em Caruaru", "Siri Jogando Bola" e "O Circo" e "Vem

O argumento cinematográfico de

Ele também tinha algum poema preferido? O poema preferido era "O Can­ gaceiro".

A sua neta, a cantora Marina EIali, que participou do programa Fama, da TI Globo, pretende relembrar os

Músicas mais fàmosas N a bagagem musical de Zédantas são destaques: "O Xote das Meninas" (gravada, por Chico Buarque) '1\. Dança da

Luiz Gonzaga enco­ mendava músicas para Zédantas compor? Sim. Muitas vezes Luiz Gonzaga telefonava para o Zé cobrando wna música sobre um determinado assunto. Imediatamente, o Zé atendia o seu pedido. Posso citar como exemplo a composição Paulo Afonso, que foi pedida por telefone. Zédantas dizia que "Luiz Gonzaga, com sua voz de tenor nasaleno, completava o que ele queria dizer ao povo nas suas .­ " composlçoes.

Qual das suas músicas Zédantas gostava mais? ''Acauã''. Nessa composição ele não aceitou parceria. É somente dele.

na cabeça dos outros a gente só aprende a cortar cabelo".

Zedantas foi comentado por vários intelectuais. Lembro-me que o médico e escritor Pedro Bloch elogiou os diálogos do argumento, dizendo que traduziam a alma do Nordeste. Ele disse ainda que "wna das coisas de Zédantas que me ficaram da leitura é esta: Você vive pensando com a cabeça dos outros, seu! E Zédantas arremata:

Inéditas Zédantas deixou algumas músicas inéditas. Uma delas, Riacho do Imbuzeiro, foi gravada recentemente por Dominguinhos. Ainda estão guardadas com Iolanda as músicas "O Cachorro Canindé", "Calango", "Xô Saudade", "Quando Anoitece", "Zabelê", '1\. Dona do Baião" e "Fulô Ingrata", entre outras.

*Elizabeth Porto é jomalista

Movimento Médico 31


Medalha São Lucas é outorgada

Congressos médicos em Petrolina

o XXXVII Congresso Médico Estadual de

Pernambuco e o VIII Congresso Médico do Vale do São Francisco foram realizados, com êxito ,de 4 a 6 de novembro, em Petrolina. Mais de 190 médicos de todas as especialidades participaram desses eventos, patrocinados pela Sociedade de Medicina de Pernambuco, com apoio das entidades médicas do Estado e outras instituições . O prefeito de Petrolina, Fernando Bezerra Coelho, participou do coquetel de abertura dos congressos, entre presenças ilustres da área de saúde e da politica. A diretoria da SOMEPE, cfuigida pela psiquiatra Jane Lemos, os presidentes dos Congressos Estadual, Mário Fernando Lins, e do Vale de São Francisco, Luis Antônio Vasconcelos, trabalharam ativamente para a participação de profissionais de elevado ruvel científico, durante os Agraciados com a Medalha São Lucas, no Dia do Médico, da eventos, e também para que todos os participantes esquerda para a direita: Gentil Porto, Vera Lúcia Lins de Moraes e tivessem uma excelente recepção, e pudessem Roberto Moreira Nunes da Silva. desfrutar das belezas e do conforto de Petrolina.

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Programa de ensino é sucesso na UPE desde 1990 o programa funciona no can1pus de Santo Amaro,

no Recife

Elizabeth de Souza Amorim*

As ações do PEPEAV envolvem alunos de medicina, enfermagem e educação fisica

m virtude da preocupação da UPE com as carac­ terísticas epidemiológicas das vítimas de trauma no nosso Pais, e em especial no Estado de Pernambuco, foi criado em 1990 o PEPEAV - Programa de Ensino e Pesquisa em Emergências, Acidentes e VIOlências da UPE, Foram definidos alguns aspectos para que fosse possível trabalhar com norteadores que atendessem às necessidades identificadas àquela época. Tmha-se por objetivo contribuir com a diminuição da morbi­ mortalidade por agravos externos, através de uma melhor qualificação profissional.

E

VImos trabalhando no sentido de personalizar o ensino de emergência na Universidade, desenvolvendo também ações de pós-graduação e de extensão. As ações do PEPEAV envolvem alunos de graduação em medicina e educação flsica e, mais recentemente, alunos de enfer­ magem. Também são desenvolvidos trabalhos nos cursos de pós-graduação em medicina, enfermagem, odontologia e engenharia de segurança. As ações não são restritas ao campus da UPE. São promovidas atividades com alunos e residentes de medicina e de enfermagem de outras universidades, e até de outros países. lbrém, nossa maior atividade é exatamente com a capacitação de profissionais de diversas categorias, pois

atendemos uma demanda relativamente alta, que chega a, aproximadamente, mil e quinhentos profissionais ao ano. O PEPEAV funciona no Campus Santo Amaro, no prédio da Faculdade de Enfermagem. Para o desenvolvimento de suas atividades ,contamos com profissionais de diversas categorias, e temos uma parcena efetiva e fundamental com o Corpo de Bombeiros de Pernambuco. A Coordenação do PEPEAV é exercida pelos professores Jacques Pincovsky de Oliveira Lima e Elizabeth de Souza Amorim. *Elizabeth da Silva Amorim é professora da

Faculdade de Enfermagem, Medicina e

Educação Física da UPE

Movimento Médico 33


TRAUMA

Violência: das ações às falácias João Veiga* uitos estudos já foram feitos. Já conhecemos o suficiente da nossa violência. O que falta é ação governamental para inclusão social de todos os brasileiros. A corrupção institucional e a opção do governo em ser agiotado em bilhões de dólares anuais pelos ban­ cos são as maiores causas de violência no nosso País. O resto são problemas pontuais. O Judiciário, com a sua moro­ sidade e distanciamento dos seus pares da sociedade, promove uma justiça discriminatória.

M

N o nosso Estado, um pobre, Jovem, negro e sem emprego que comete um delito criminal como assalto a mão armada, terá em média de quatro a seis anos de vida para continuar com os mesmos delitos e agravá-los, pois já foi julgado, e neste tempo será executada a sua sentença de morte. Se for punido com a reclusão oficial nas nossas penitenciárias, recebe como condenação um apren­ dizado intensivo de violência e desrespeito pelo estado de direito nestes estabelecimentos oficiais de

ressocialização em sistema fechado . Sugiro aos governos que implantem escolas de qualidade e de tempo integral para as crianças de cinco a 14 anos, viabilize centros de convivência e ensino técnico para jovens até 20 anos, policiamento comunitário, saneamento básico em áreas de baixa renda. Em 05 anos, teremos menores índices de criminalidade e de vio­ lência nestas comunidades carentes e melhor qualidade de vida para todos. O resto é falácia. "João Veiga é médico traumatologista

..".,. ((O Njlrrjl.L não é apenas umafesta

no coração e no Lar". rE tam6ém a reafirmação áa nossa atituáe Cristã perante a vida. "". Peúz 1Vata{J ff'e{iz jlno Novo! fi P.stamos Sempre com Vocês!!/...

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34 Movimento Médico

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APMR

Residentes elegem nova diretoria da APMR A Associação dos Residentes Méd icos esclarece questões a respeito dos residentes

APMR (Associação Pernambucana dos Médicos Residentes) se constitui uma entidade representativa e legítima dos médicos inseridos em uma moclalidade de pós-graduação em medicina. Educação, trabalho e treinamento prático supervisionado regem os pilares de uma plataforma deno­ minada de "Residência Médica". Criada em 1967, a APMR sempre desempenhou função não só de representação, mas, também, de liderança em todo País em momentos importantes de nossa política, como, por exemplo, no período da ditadura militar.Vale destacar que, em setembro deste ano, 600 médicos residentes do Estado de Pernambuco elegeram seus representantes para o período de 2004-2005. A nova diretoria é composta pelos médicos residentes: Danilo Souza (anestesia-IMIP) ThiagoMilet(cirurgia-geral-HR) Ubiracé Fernando Elihimas J r. (clínica médica-HAM) Eline Gomes (infectologia-HC) Mônica Reis (pediatria -HR) Ricardo Tomaz (oftalmologiaFAV) Jesus Gandara (clínica-médica­ HUOC) Filipe César Lins Mendes (anestesia- HGV) (anestesia­ Aumério Chagas IMIP)

A

Foram aprovadas as propostas que serão defendidas pela nova gestão da APMR. São elas: 1- Representar os residentes na Comissão Estadual de Residência Médica (CERM); 2- Participar das vistorias e diligências efetuadas nos hospitais ouvindo e defendendo a posição dos médicos residentes; 3- Representar o Estado de Pernambuco no Congresso N aciona! de Médicos Residentes; 4- Discutir os temas de relevância para a categoria como Ato médico e Dignidade Médica; 5- Defender o residente como bolsista de pós-graduação em me­ dicina; 6- Continuar a contestação judi­ cial que compreende nossa atividade como assalariada e, por isso, desconta o INSS indevidamente; 7- Contribuição do Imposto de Renda como contribuinte individual e por isso fàcultativa, permitindo direito de escolha pela contribuição pelo valor mínimo, como ocorre nos bolsistas de Mestrado e Doutorado. e não pelo máximo obrigatório da situação atual; A sede da APMR funciona no Sindicato dos Médicos de Pernam­ buco. Telefone: 3221-2455; e-mail: aprnrpernambuco@bol.com.br.

Movimento MédiCO 35


A magia do artesanato popular Entre os mestres da arte popular, destaca-se J.Borges, que mantém seu atelier em Bezerros, no Agreste Maria Alice Amorim*

rimeiro, as mãos: é assim, pelo fazer manual, que se engendra uma crônica de costumes com artefàtos e objetos de uso cotidiano. E foi assim, com a inteli­ gência das mãos, que tudo começou no mundo e no artesanato, este desde o princípio vinculado aos hábitos de deter­ minada comunidade. Não é diferente em Pernambuco, onde so­ bressaem, no fabrico artesanal e na arte popular, trdÇOS culturais que apontam para um mosaico antropológico de riqueza sempre desconcertante. Conhecido pela variedade de manifestações das culturds trddicionais, o território pernambucano oferece cor, volume, texturd, e charme, muito charme, no que produz artesanalmente. Entre Jjtoral, Mata, Agreste e Sertão, a e>..vberância dos variados trabalhos manuais é um futo e, às vezes, um segredo a ser desvendado. Em Petrolina, terra sertaneja, o talento de Ana das Car­ rancas é incontestável desde os anos 60, quando, também no mundo da cerãmica popular, já se destacavam, em Caruaru, as habilidades artisticas de Manuel Eudócio, Zé Caboclo, Zé Rodrigues, Ernestina, Jjderados por VltalinO Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino, um dos ícones da cerãmica popular brasileira. Na mesma época, destacavam-se, em Ti-acunhaém, Antônia Leão, Líclia Vieira e Severino, José Antônio, Zezmho, Severina; em Goiana, Doca e Zé do Carmo. Ainda hoje, nessas cidades representativas das quatro principais divisões geográficas do estado, a produção artesanal de esculturds e louça de barro significa, a um tempo, trdclição, fazer artistico e ganho de vida. O Alto do Moura, em Caruaru, recebeu da U nesco o título de maior centro das artes figUl-ativas das Américas, e vale a pena ser visitado. Lá, é possível conferir a quantidade e qualidade do que é feito por diversos núcleos fàmiliares : os Vitalino, os

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Rodrigues, os Caboclo, os Galdino. Em Goiana, Zé do Carmo tem atelier próximo ao famoso restaurante Buraco da Gia, onde exibe esculturas em barro e pintura a óleo. N a mesma cidade, uma associação de artesãos reúne a produção local em cerâmica e palha. Em Tracu­ nhaém, é na própria casa que se faz, se exibe e se comercializa a louça de barro e as esculturas. Há, ainda, no centro, um espaço onde os artistas partilham os instrumentos de trabalho e o forno para queima das peças. Cada um expõe e vende as próprias criações. No Sertão, o Centro de Alie e Cultura Ana das Car­ rancas e a Casa do Ariesão oferecem, em Petrolina, mostra significativa do que se faz em barro, madeira, tecido. Se a carranca de barro tornou-se um símbolo de Ana e de Petrolina, as carrancas de madeira - que imortali­ zaram um baiano, o mestre Guarany ­ sempre estiveram vinculadas a cidades ribeirinhas, como Floresta, no sertão do Moxotó, e, evidentemente, ao imagi­ nário petrolinense, em pleno sertão do São Francisco, cujo rio, o Velho Chico, sempre foi pródigo em inspirar histórias de maus espíritos que naufragam em­ barcações. Aí é que entram as carrancas, na proa dos barcos, para afugentá-los, e daí é que saem as carrancas como ex­ pressão artística regional. Rock San­ teiro, de Petrolina, começou da forma mais convencional possível - esculpin­ do carrancas - para, em seguida, tornar­ se um destaque no mundo da arte sacra. Em Floresta, a mestra Zefinha Paulino de Souza disseminou o gosto pela escul­ tura, que se repete não só em carrancas,

também em estatuária de tradição cató­ lica, de modo que hoje a localidade é um importante pólo de produção de santos esculpidos na imburana. É usando a mesma imburana que outra expressão clássica de arte popular e artesanato sobressai: a xilogravura, ou gravura escavada na madeira, muito presente na capa dos folhetos de lite­ ratura de cordel. Em Pernambuco, destacam-se quatro localidades e gran­ des nomes de xilógrafos. Mais e mais conhecida por obra do artista José Francisco Borges, ou J. Borges, de fuma internacional, a familia Borges mantém atelier em Bezerros, na BR 232, e ofere­ ce, pelas gravuras, um diálogo visual com o cotidiano da vida de pobre, com o cotidiano da vida no campo. Constrói fabulações a partir do imaginário pre­ sente nas histórias do cordel, tanto quanto os outros xilogravuristas espa­ lhados pelo Agreste e Mata Norte. José Soares da Silva, ou Dila, vive em Caruaru. É um grande tabulador, sobretudo no reino do cangaço, um exí­ mio desenhista e um grande inovador na gravura popular: trabalha com ma­ deira e com borracha de sola de sapato. José Costa Leite, paraibano radicado em Pernambuco, está em Condado há cinco décadas, onde faz as incon­ fundíveis gravuras de diabo, lampião, violeiros, mulher "atirada". Marcelo Soares, filho do poeta-repórter José So­ ares, tem um traço arredondado e vive mesmo é no mundo do cordel, em Tim­ baúba. Uma característica comum a estes gravadores é que todos eles - Bor­ ges, Dila, Costa leite, Marcelo - criam

'"""-_ Os 25 Polos de Artesanato de Pernambuco

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Das mãos do artista surgem trabalhos surpreendentes

A vibração das cores dos boízinhos do mestre Manuel

Eudócio

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xiJogravuras para ilustrar a capa de folhetos da própria autoria. São poetas de letra e voz, quicé, goiva e formão. Nhô G.bcx:lo, de Águas Belas, foi outro grande artista da madeira. Muitos outros há, vivos, prcx:luzindo e vendendo: José AJves, Benedito santeiro, Daniel santeiro, Heleno de 1Iacunhaém, Marcos Paulo e Carlos Fernando de Sertânia. Monwnentais são as esculturas em granito de Fàzenda Nova, representando temas tão familiares: rendeira, I:ru1da de pífuno, can­ gaceiro etc. O mestre Zezinho, ou José Fàustino da Costa, fàz e vende estátuas de granito na região. Artesanato em COillO e metal éem Cachoeirinha: arreio, sela, gibão, chicote, ootas, tudo o que wn vaqueiro encourado precisa pra arnansar o gado. Passira e Salgadinho são fumosas no oordado de agulha; Th:;ão e Pesqueira, na renascença; Belo Jardim, na técnica do labiri.nto; Orobá, na renda /Tivolité; Camaragibe e Lagoa do Carro, na

tapeçaria; TImbaúba e Tacaratu nas redes de dormir tecidas em tear artesanal; Olinela, Carpina, Aliança, Glória do Goitá, na feitura de oonecos de mamulengo. Se a produção do artesanato em Per­ nambuco é espalhada pelo estado, para se conhecer e adquirir alguma peça não é inclispensável percorrê-lo. Há, por exemplo, em Bezerros, na BR 232, wn centro de vendas, como há, também, no Recite, a Casa da Cultura, o Mercado de São José, e, na rua do Bom Jesus, o espaço cultural Paranambuco. Em Olinela, há o Mercado da Ribeira e o Alto da Sé. Todos estes locais oferecem wn pouco da variedade do nosso artesanato earte popular, alguns com a devida catalogação: local e nome do artista, material e técnica utili­ zados. \hle a pena apreciar esse mosaico antropológico de riqueza sempre des­ concertante! -Maria Alice Amorim é jomalista


~u as décadas de 40 e 50, a boernla do Recife contava com um personagem bas­ tante interessante. Era Hugo da Peixa. Rico, boa gente, cheio de amigos, adorava as noites recifen­ ses. O "expediente" começava no fio­ zinho da tarde. Geralmente ali no antigo Bar Savoy, na Avenida Gua­ rarapes, centro da cidade. Com o pas­ sar dos tempos, os amigos começaram a se preocupar porque o colega estava bebendo muito. Tinha se tornado co­ mum fàlar coisas desconexas. E eles se perguntavam: "Será que não seria mais prudente a gente interná-lo r" . Essa era a indagação que mais persistia nas conversas quando Hugo da Peixa estava ausente. N uma tarde de verão, com o calor beirando os 30 graus, os amigos combinaram mais uma rodada de cerveja no Savoy. O último a chegar foi exatamente ele. Ao sentar-se e beber a primeira cerveja, com uma avidez invejável, um dos amigos notou que o braço direito de Hugo da Peixa estava arranhado, com um leve sangramento. Ao ser questionado sobre o que teria sido aquilo, Hugo disse com a maior pureza possível: "Foi a ponta da asa de um avião que deu um trisca no meu braço ali na Dantas Barreto". E os amigos não tiveram mais nenhuma dúvida, pegaram o colega à força e foram direto interná-lo. No dia se­ guinte, os jornais locais estampavam nas manchetes principais: '1\.vião fàz pouso forçado na Dantas Barreto e fere nove".

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cidadão era conhecido pelo excesso de apetite. Certo dia, sentado à mesa de um restaurante

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bastante conceituado pelo bom tempero que oferecia, pediu, em voz alta, almoço para três . O gesto chamou atenção da clientela, que não era pouca. Em seguida, ainda não satisfeito, pediu, num tom mais elevado, que o triplo pedido fosse repetido. O futo chamou a atenção de todo mundo. E o guloso devorou tudo com muita rapidez e tran­ qüilidade. Como sobremesa, o pedido também em voz alta: "Uma lata de doce de banana, outra de goiaba, um quilo de queijo de manteiga e outro de coalho". E aí nenhum cliente quis arredar o pé. Todos queriam ver como ia terminar a comilança. Depois de devorar a sobremesa, aconteceu o inevitável: o cidadão começou a passar mal. E foi aquele corre-corre. Tem algum médico aquir - gritavam uns. O do­ no do restaurante ficou arrasado. "Meu Deus, se esse homem morrer aqui dentro vai ser tão difícil explicar tudo e eu vou perder meu restauran­ te". Como não havia mesmo médico no recinto, o jeito foi improvisar, antes da chegada da ambulância, os primeiros socorros ali mesmo. Desabotoaram o cinto, a camisa e começaram a abaná-lo. O dono do restaurante se aproximou e disse baixinho ao ouvido do guloso: "O senhor quer um chazinhor". E a resposta foi bastante coerente: "Só se for com bolacha". Apolo Albuquerque se despede hoje com uma pérola filosófica do grande Millor: "Só quem pode dizer que dinheiro não traz felicidade é o caixa de banco!". Movimento Médico 39


Ronaldo Correia de Brito

De médico e escritor louco

todo mundo em um pouco

Nunca sei o que pensam ao me perguntarem o que é ser um médico escritor. Ou um escritor médico

meu editor ensinou-me a fugir da pergunta "você é um regionalista?", como o diabo foge da cruz. Esqueci de perguntar a ele como se evita uma outra pergunta que me fàzem em todas as entrevistas, conferências, seITÚ­ nários e eventos afins: - "Como você consegue ser médico e escritor?" Titubeio, me engasgo, e termino referindo que alguns dos escritores brasileiros mais importantes também foram médicos. Cito Guimarães Rosa, Jorge de Lima, Pedro Nava, Moacir Scliar, mesmo que isto não garanta que sou igual a eles. Quando perco a paciência, minto que Érico Verissimo também era médico. Era? E Alphonsus de Guimarães, Cruz e Souza, Manuel Bandeira e até Machado de Assis. Invento que Paulo Coelho desistiu de medicina no primeiro ano, porque tinha tonturas com o cheiro de formol. Resultado: virou curandeiro de auto­ ajuda. Mas, se a platéia é culta, empurro um Tchekhov no juízo dela, e ainda

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esnobo falando do seu teatro. - "Vocês Sheldon. Os médicos de seus romances leram Tio Vânia! E Ar três irmãs! Que esbanjam glamour. Sheldon nos trata magnífica parceria o texto de Tchekhov bem. A maioria dos autores não tem com a encenação de Stanislavski!" É piedade de nós. suficiente. O perguntador chato cala na É assim desde o tempo do teatro de hora. commedia deltarte, nascido na Itália. Não Quando percebo que desejam tirar estou esnobando vocês, juro. A comédia uma casquinha nos médicos, não dou era feita por atores populares, que por menos. Digo que têm razão. Os viajavam em carroças, se apresentando escritores sempre maltrataram os escu­ nas feiras das cidades. Parecida com Iápios. O maior detrator foi Flaubert. nossos circos mambembes. Entre os Em segundo lugar vem Dostoievski. O personagens havia um médico, 11 dottore, pai dele era médico e criou-o numa que deu origem ao Doutor Penico enfermaria de hospital. É mesmo para Branco, da brincadeira do Cavalo odiar tudo o que lembre medicina. Marinho. Os artistas italianos Como se não bastasse, ainda era vingaram-se dos médicos, criando um epiléptico. tipo presunçoso, que de tão arrogante só Nunca SeI o que pensam ao me mexe a cabeça e os olhos. Nenhum autor perguntarem o que é ser um médico clássico nos retratou tão mal. escritor. Ou um escritor médico. Acú­ Será que merecemos! Não sei. mulo de divisas! Quando preencho Também não tenho resposta para a fichas de hotel, escrevo sempre a pro­ pergunta "como você consegue ser fissão de médico. Dá mais prestígio. médico e escritor!" Isto deve inquietar as Escritor é vago. Imaginam logo que pessoas. Talvez porque existam muitos vivemos de cara para cima, inventando escritores méclicos. Pelo menos, as besteiras. Médico é sério. Duvidam? acadeITÚas de letras estão cheias deles. Então leiam os romances de Sidney Abarrotadas. Por que será? Ronaldo Correia de Brito nasceu no Ceará e reside no Recife. É médico formado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) . Escreveu o livro de contos Faco , editado pela Cosac&Naify. Dramaturgo, é autor das peças Baile do Menino Deus, Bandeira de São João e Arlequim, encenadas e editadas. Assina a coluna "Entremez", na revista Continente.

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