Revista Movimento Médico N18

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MÉDICO

Nº 18 • Ano 08 • Jan/Fev/Mar 2011

Editorial

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HANS MANTEUFFEL

décima oitava edição da revista Movimento Médico traz como matéria de capa uma reportagem especial sobre a atenção básica à saúde e um levantamento detalhado do funcionamento do Programa de Saúde da Família, PSF. De acordo com o presidente do Cremepe, o médico cardiologista André Longo, a atenção básica à saúde e o PSF têm que deixar de ser prioridade apenas nos discursos dos teóricos do sistema para ser a efetiva prioridade dos três níveis de governo, dentro de um novo pacto federativo que garanta carreira e piso salarial adequados para atrair e fixar profissionais nesta estratégia para, enfim, qualificar sua necessária expansão como política pública essencial. O leitor vai ter acesso também ao que pensa o novo secretário de Saúde de Pernambuco, o médico Antônio Carlos Figueira, ex-presidente do IMIP, sobre temas de fundamental importância para a sociedade, como o funcionamento do SUS, a aprovação da EC-29, a parceria que deve existir entre gestores estaduais e prefeitos dos municípios pernambucanos no sentido de melhorar a assistência à saúde da população, entre outros. A psiquiatra Jane Lemos, presidente da Associação Médica de Pernambuco – AMPE, faz uma abordagem concisa, objetiva e clara sobre a depressão, um mal que cada vez mais atinge jovens e adultos de ambos os sexos. E que pode levar uma pessoa acometida desse mal a cometer atos extremos contra a própria vida. Segundo Jane Lemos, o risco de suicídio deve ser sempre cuidadosamente avaliado num paciente depressivo para que sejam adotadas intervenções terapêuticas preventivas. Movimento Médico foi também a Bezerros, no Agreste, fazer um passeio cultural pela xilogravura de Jota Borges, um dos artistas populares de Pernambuco mais conhecidos fora do Estado. Uma boa leitura para todos.

Capa: Ilustração de Zenival

EXPEDIENTE CREMEPE Presidente: André Longo Vice-presidente: Helena Carneiro Leão Assessoria de Comunicação: Mayra Rossiter - DRT/PE 4081 Estagiários: Maria Eduarda Vaz e Isabela Alves Webdesigner: Michel Filipe SIMEPE Presidente: Silvio Rodrigues Vice: Mário Jorge Lobo Assessoria de Imprensa: Chico Carlos - DRT/PE 1268 AMPE Presidente: Jane Lemos Vice: Silvia Carvalho Coordenação Editorial: Sirleide Lira Assessoria de Imprensa: Elizabeth Porto - DRT/PE 1068 FECEM Presidente: Aspásia Pires APMR Coordenação: Maria Aléssio (HC) e Marieta Carvalho (Cisam) DA/UPE Presidente: Marcílio Oliveira Vice: Artur Lins Tenório Redação, publicidade, administração e correspondência: Rua Conselheiro Portela, 203, Espinheiro, CEP 52.020-030 - Recife, PE Fone: 81 2123 5777 www.cremepe.org.br Projeto Gráfico/Arte Final: Luiz Arrais - DRT/PE 3054 Tiragem: 15.000 exemplares Impressão: CCS Gráfica e Editora Coordenação Editorial: André Longo Conselho Editorial: André Longo e Ricardo Paiva.

Reportagem mostra como funciona o Programa de Saúde da Família

Todos os direitos reservados. Copyright © 2011 - Conselho Regional de Medicina Seção Pernambuco Todos os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.

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FOTOS: HANS MANTEUFFEL

Sumário

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Capa

Um perfil do programa que veio para cuidar da família

16 Patrimônio J. Borges, o mais ilustre filho de Bezerros, aos 76 anos continua fazendo suas xilogravuras

Editorial

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Opinião

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Entrevista

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Capa

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Científica

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Patrimônio

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Notícias do CFM

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Cremepe

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Simepe

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APMR

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Ampe

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Diretórios

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APMR

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Academia

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

Seções

24 Cremepe Começam reformas em ritmo acelerado para ampliar e modernizar a sede do Conselho

28 Simepe/Ampe Entidades representativas da classe médica comemoram aniversário

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Opinião André Longo*

Novo ano, novos projetos persistem vários gargalos, e há muito que fazer para organizar e qualificar o sistema em busca da atenção plena das necessidades da população. A expansão não planejada de serviços de urgência, ainda em curso, num cenário de pleno emprego para os médicos, tem gerado preocupante migração profissional e, de forma i r re sp o n sável , a lgun s ge sto re s desativaram serviços municipais. A atenção básica e o PSF precisam de cuidado especial dos três poderes federativos para sua atuação e expansão com qualidade. No Brasil, o anúncio por parte da presidente Dilma Rousseff de que reunirá governadores para

tratar do tema saúde prioritariamente, renova nossa esperança de que aquelas promessas dos palanques eleitorais possam tornar-se realidade nas gestões públicas e se efetivem verdadeiramente em ações de governo. Assim possamos trilhar caminhos de convergências nestes próximos anos. Estamos dispostos a colaborar, cientes dos desafios e responsabilidades que nos impõem os dias atuais e do papel institucional que nos cabe desempenhar para buscar garantir em Pernambuco e no Brasil o exercício ético da medicina a serviço da cidadania. *Presidente do Cremepe MICHEL FILIPE

O

ano de 2011 é o início da segunda década deste novo século. Começaram novos mandatos nos estados e no Governo Federal. Tempo para reflexões e esperança em melhorias na área da saúde que, a despeito de avanços, ainda é avaliada pelo povo brasileiro, em recentes pesquisas do Ibope e Datafolha, como a de pior desempenho no governo. Esta última década foi marcada por intensa atividade de luta das entidades médicas locais e nacionais em busca de valorização para nossa profissão e dias melhores para a saúde de nosso povo. Defendemos os princípios do SUS e a necessidade de mais recursos para o setor com a regulamentação da Emenda Constitucional 29, que garante financiamento regular em padrões mínimos para o setor. Tal emenda aguarda vontade política para a aprovação no Congresso Nacional desde 2000. Conseguimos ao lado da AMPE e, fundamentalmente, do nosso SIMEPE, implementar através de lei a carreira médica no Estado de Pernambuco e na capital. Com grande mobilização dos médicos, obtivemos expressivos aumentos salariais, ainda aquém do merecido, mas acima da inflação, garantindo uma recuperação salarial no setor público que se irradiou pelo Estado, inclusive repercutindo positivamente na remuneração do setor privado. Em Pernambuco, observamos que apesar dos expressivos aumentos de investimentos governamentais para reagir ao caos instalado na saúde, inclusive com construção de vários novos equipamentos públicos, ainda

Sede do Cremepe, no Recife

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ENTREVISTA

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ANTÔNIO CARLOS FIGUEIRA Secretário de Saúde de Pernambuco

"O objetivo final de nosso trabalho é fortalecer o SUS"

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o dia 2 de janeiro deste ano, o médico Antônio Carlos dos Santos Figueira assumiu a Secretaria Estadual de Saúde a convite do Governador Eduardo Campos. Com a chegada dele à SES, o setor voltou a ser comandado por um profissional da área de saúde. Aos 50 anos de idade, Antônio Carlos Figueira renunciou à presidência do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP) e da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS) para assumir um novo desafio na sua vida prossional. Leia abaixo a entrevista que o novo secretário de Saúde de Pernambuco concedeu à revista Movimento Médico, onde ele fala dos investimentos no setor, da importância do SUS para a população pobre e da necessidade da aprovação da EC-29, uma bandeira de luta das entidades médicas.

Como novo secretário de Saúde do Estado, qual a sua prioridade número um? A prioridade número um é atender bem a população usuária do SUS. No entanto, a priorização ocorrerá em várias frentes, porque, no SUS, se não houver um conjunto de ações, integrando municípios, Estado, Governo Federal e também os setores privado e filantrópico, os resultados não aparecerão. Por exemplo: se não houver vigilância, controle e mobilização social contra a dengue, a rede hospitalar estará sempre sobrecarregada. Se a rede dos municípios, através de PSFs e policlínicas, não absorver os pacientes de baixa complexidade, as grandes emergências deixarão de cumprir seu papel, que é o de priorizar os pacientes mais graves, como vítimas de acidentes de trânsito, violência, hemorragias digestivas, queimaduras e acidentes vasculares cerebrais. Então, a missão da Secretaria Estadual de Saúde é articular com os municípios e apoiá-los na implantação de redes mais resolutivas e regionalizadas, le-

vando ao paciente o atendimento mais rápido e próximo da sua casa. Também estamos reestruturando o perfil dos nossos 32 hospitais, de modo a otimizar os serviços e concentrar esforços. O objetivo final de todo o trabalho é fortalecer o SUS, ampliar a oferta de leitos, exames, consultas, cirurgias e atendimentos de emergência; prosseguir melhorando os indicadores de mortalidade materno-infantil; reduzir a incidência das doenças de notificação compulsória, caso de dengue, leptospirose, meningite e as DSTs e ainda implantar ferramentas mais modernas que facilitem a gestão da rede. Nossa missão é fazer uma aproximação entre a necessidade do paciente e o que o SUS oferece.

Como o senhor vê a luta das entidades médicas pela aprovação da EC-29? Essa é uma luta muito justa e encampada por todos nós que militamos na saúde pública. Hoje, pela Emenda Constitucional 29, os estados devem destinar 12% das receitas próprias para a saúde. Os municípios, por sua vez,

devem destinar 15% de sua receita para a área. No entanto, Pernambuco fechou 2010 gastando mais de 17% do orçamento próprio com saúde. Essa é uma demonstração inequívoca de que saúde é uma prioridade do governador Eduardo Campos.Em contrapartida, o Governo Federal ainda não definiu a parcela que a União deve separar de suas receitas para o setor. A regulamentação da EC-29 será importante para definir o papel de cada ente federativo no financiamento do sistema de saúde e também premiar os estados, a exemplo de Pernambuco, que não só cumprem essa meta, como a ultrapassam. O subfinanciamento é uma questão nevrálgica que precisa ser enfrentada se almejarmos avançar na ampliação e melhoria dos serviços públicos. O setor público no Brasil representa 40% dos gastos com saúde, enquanto, na Europa, esse percentual chega a quase 80%. Lógico que esse não é um problema fácil, haja vista o caso dos EUA, o país mais rico do mundo, mas que se nega a oferecer assistência médica integral a 40 milhões de americanos. É preciso ressaltar que não basta só gastar

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mais – é preciso gastar com qualidade e eficiência.

Como o senhor avalia o Programa de Saúde da Família?

No ano de 2010, um total de 18,2% dos investimentos feitos na Saúde de Pernambuco foi proveniente do Ministério da Saúde, o que representou um valor de R$ 43,7 milhões.

Quanto o Governo do Estado investe por mês na Saúde de Pernambuco?

Haverá alguma mudança na estratégia de combate ao crack e a dengue em Pernambuco?

De acordo com o balanço de 2010, foram gastos, mensalmente, R$ 221,9 milhões na saúde pública do Estado. Desse valor mensal, R$ 140 milhões tiveram origem no Tesouro Estadual, portanto, de receitas próprias do Estado. Os outros R$ 81,9 milhões foram

O crack é hoje uma epidemia em todo o Brasil, não só em Pernambuco. E precisa de ações integradas por diversas secretarias de Estado, prefeituras e sociedade civil. Nessa linha, o Governo de Pernambuco lançou, no ano passado, o Plano Estadual de Enfrentamento ao

AGÊNCIA BRASIL/DIVULGAÇÃO

O Programa de Saúde da Família é fundamental dentro do SUS. Sem dúvida, o PSF foi um dos programas que mais colaboraram para a vertiginosa redução da mortalidade infantil no País, que já foi de 47,1 mortes em menores de 1 ano para cada mil nascidos vivos, em 1990,e hoje é de 19 por mil nascidos vivos. São 59% de queda em 20 anos, o que é muito significativo. Isso, sem dúvida, é um mérito do SUS, através não só do PSF, mas

No entanto, esse número nem sempre representa uma assistência eficiente. Por isso, é preciso apoiar os municípios, fortalecer o programa e buscar maior resolutividade, com integração às outras redes de atenção.

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É preciso realizar ações integradas entre as secretarias de Estado, prefeituras e sociedade civil para o combate ao crack”

também do programa de vacinação, da vigilância das doenças e assistência integral à população. O PSF é a porta de entrada do SUS e é o eixo central que deve nortear as políticas públicas. Não é eficiente montar hospitais modernos, de alta complexidade, se não houver o suporte da rede de atenção primária. As equipes de Saúde da Família conhecem a realidade do bairro, fazem buscas ativas nos domicílios, ajudam a controlar doenças e fatores de risco como hipertensão, diabetes e obesidade. Hoje, em Pernambuco, segundo o dado mais atualizado, temos 1.874 Equipes de Saúde da Família, o que representa uma cobertura de 73,35% da população.

provenientes dos convênios e do Sistema Único de Saúde (fonte federal). Os números mostram uma tendência já de alguns anos: o crescimento do investimento estadual em saúde, e a retração do percentual de recursos da União no SUS. Na área de investimentos, que representa a criação de novos serviços, compra de novos aparelhos e construção de unidades, ou seja, sem contar com os gastos de custeio, o Governo de Pernambuco aplicou, em 2010, R$ 250 milhões na saúde. Essa é a mais alta cifra da história do Estado.

Qual é a participação do Ministério da Saúde nos investimentos da Saúde?

Crack, que integra todas as secretarias estaduais. Na Saúde, estamos atuando em apoio aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) e também através do programa Consultórios de Rua. Nesse programa, a Secretaria de Saúde disponibilizou cinco veículos especializados, que chamamos consultórios de rua, para os municípios de Olinda, Recife, Cabo, Paulista e Jaboatão, para que possam acolher os usuários que estão nas ruas, aconselhando-os e encaminhando-os a um centro de referência. No que diz respeito à dengue, lançamos, no início de fevereiro (03/02), o Plano Estadual de Enfrentamento da Dengue, que prevê ações em quatro

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pernambucana e nordestina. A importância do HCP é facilmente traduzida nos números: atende cerca de mil pacientes por dia em suas dependências, assistindo 80% dos portadores de câncer que se tratam no SUS de Pernambuco. Em 2007, a unidade estava prestes a fechar as portas. De lá para cá, com intervenção do Governo do Estado, numa decisão corajosa e arrojada de Eduardo Campos, o hospital ampliou serviços e modernizou seu parque tecnológico. A cada mês, o Estado repassa R$ 865 mil à unidade, complementando sua receita.

Muitos secretários falam em estabelecer parcerias com os prefeitos no

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eixos principais: vigilância, com a notificação rápida e ampliação da oferta dos exames laboratoriais; assistência, com a ampliação de leitos e capacitação dos médicos para o manejo clínico do paciente e comunicação e mobilização social, por meio da divulgação de materiais de campanha e conscientização da população. São ações que integram não só a Secretaria de Saúde, mas outras secretarias, prefeituras e instituições governamentais e do setor privado. Para essas ações, que serão desenvolvidas durante todo o ano, em caráter permanente, estão sendo investidos cerca de R$ 5 milhões. Mas o mais importante de tudo é a adesão

fundamental para o cumprimento do principio da Universalidade. No entanto, existem alguns problemas, por exemplo, derivados do pequeno porte da maioria dos municípios brasileiros, que afeta a racionalidade de escala e compromete a eficiência do sistema de saúde em termos de resolutividade e qualidade. Para superação desta dificuldade torna-se necessário priorizar a regionalização e reforçar o papel coordenador da gestão estadual do SUS com ênfase na formatação de redes de atenção. A construção de redes de atenção integradas e resolutivas implica numa permanente ação articulada entre o Estado e Municípios com a definição clara dos seus papéis

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O Programa de Saúde da Família é a porta de entrada do SUS e é o eixo central que deve nortear as políticas públicas”

da população, já que 90% dos focos de dengue estão dentro dos domicílios. Então, estamos reforçando a mensagem para que as pessoas não deixem água acumulada nos vasos de planta, pneus, garrafas e também evitem o acúmulo de lixo em casa.

Sobre o Hospital do Câncer de Pernambuco, que está sob intervenção do Governo Estadual desde a gestão passada. Haverá alguma mudança? O Estado continuará investindo para sanear a unidade, pois é um centro de referência que, há mais de 50 anos, presta relevantes serviços à população

sentido de desenvolver uma relação que ajude o governador a melhorar assistência à saúde da população. Como o senhor avalia essa questão? O SUS, pela sua própria concepção de sistema com gestão colegiada entre os três níveis de governo (Federal, estadual e municipal) não alcança resultados exitosos quando apenas um dos gestores se compromete com sua implantação. É necessário o desenvolvimento de relações interfederativas mais harmônicas e produtivas no SUS. Ao longo das duas décadas de construção do SUS, a municipalização da saúde tem se mostrado muito vantajosa e tem exercido um papel

e responsabilidades, criando mecanismos que garantam o desenvolvimento de suas ações, com empoderamento técnico-científico e financeiro, especialmente dos municípios, e ainda garantam o acompanhamento e monitoramento das ações pactuadas entre os entes federados Há necessidade de introduzir novas práticas de gestão nas relações interfederativas, no sentido de reforçar as ações cooperativas e qualificar o processo de descentralização, nesse sentido o fortalecimento das instancias de pactuação (tanto CGR quanto CIB) é fundamental para o desenvolvimento dessas relações mais harmônicas e produtivas no SUS.

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CAPA

A médica Maria Simone Gomes de Freitas, do PSF do Morro da Conceição

Uma estratégia fundamental O PSF é um programa baseado em equipes multiprofissionais para atuar em conjunto em determinada comunidade Texto: Mariana Oliveira* | Fotos: Hans Manteuffel 8 | MOVIMENTO MÉDICO

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tuando no Programa de Saúde da Família eu passei por algumas situações emocionantes. Um dia recebi um senhor de idade deprimido, com várias queixas. Comecei a fazer um exame clínico bem detalhado nele. No final, esse senhor estava chorando. Eu perguntei o que havia, se estava sentindo alguma dor e ele respondeu que não. Disse que estava emocionado, pois nunca ninguém tinha lhe examinado dessa maneira. Ele se sentiu gente pela primeira vez”. Esse depoimento da médica de família Alexina Witt consegue resumir bem o espírito e o papel primordial da

atenção básica à saúde dentro da escala de complexidade do SUS. Provavelmente, esse paciente foi atendido diversas vezes em pronto-socorros e hospitais de alta complexidade, em situações de estresse ou em corredores lotados – fatores que, muitas vezes, impossibilitam o profissional da saúde de prestar um atendimento mais humanizado. Ele nunca havia sido acolhido, nunca havia sido escutado e examinado em sua plenitude, em nenhum outro serviço. Foi dentro do Programa de Saúde da Família que esse senhor teve a possibilidade de ser tratado de forma mais humana e não

como um órgão adoecido que precisa de um medicamento para restabelecer suas funções. “Nós somos responsáveis pela gestão do cuidado das pessoas. Não é recomendável esfacelar o ser humano e tratar apenas o órgão com problema. A saúde é entendida como uma coisa maior, que englobaria o ser humano na sua complexidade”, diz a médica Rafaela Pacheco, que está concluindo a residência em Medicina da Família e Comunidade da UPE e atua na Unidade de Saúde da Família do Morro da Conceição. O Programa de Saúde da Família (PSF), ou Estratégia de Saúde da Família

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CAPA (ESF), é um dos serviços vinculados à Atenção Primária à Saúde (APS) do SUS, baseado em equipes multiprofissionais compostas por, no mínimo, um médico generalista ou de família, um enfermeiro, um técnico de enfermagem e entre quatro e seis agentes comunitários de saúde, que devem se responsabilizar pela atenção integral e contínua à saúde de cerca de 800 famílias (em média 3450 pessoas), residentes em um território definido. A equipe pode e deve ser complementada por uma equipe de saúde bucal, composta por um dentista e um auxiliar. O PSF surgiu no Brasil em 1994 com o intuito de superar o modelo assistencial biologista e tecnicista até então hegemônico. Esses núcleos de atendimento seriam a porta de entrada da população no sistema e tentariam dar maior resolutividade aos problemas mais frequentes, sejam eles simples ou complexos, sobretudo em sua fase inicial. Dessa forma, a atenção secundária e terciária ficariam desafogadas para atender aqueles pacientes em situações de fato mais críticas.

DIRETRIZES Uma das primeiras premissas do PSF é a ideia de estar junto, de estar próximo e conhecer em detalhes o paciente, sua vida e sua família. Quanto mais perto a equipe estiver da comunidade, mais facilmente poderá solucionar os problemas daquelas pessoas e promover a saúde. “A melhor abordagem é sempre aquela mais próxima da casa da pessoa, pois é possível ter uma maior resolutividade através da proximidade”, explica Dra. Rafaela. Dentro dessa perspectiva, uma dor de cabeça não vai ser resolvida por um neurologista, já que o desconforto pode estar sendo gerado por um problema de visão, de estresse... “Nós vamos analisar a situação de D. Maria e vamos restabelecer seu bem estar. Nós vamos tentar fazer com que D. Maria não volte a ter essa dor de cabeça. Se ela for sedentária, estiver estressada, vamos fazer a ponte com a Academia da Cidade, por exemplo, para que D. Maria comece a se exercitar. Nosso dia a dia se dá na promoção do bem estar, sempre numa abordagem preventiva”, resume Dra. Rafaela. O acolhimento é um dos pontos fundamentais dentro da rotina de uma

Agente de saúde subindo as escadarias do morro da Conceição

Unidade de Saúde da Família (USF). É nesse momento que os profissionais recebem aquelas pessoas que se dirigem ao posto e fazem uma escuta qualificada, analisando os riscos e a vulnerabilidade, para, a partir daí, dar os encaminhamentos necessários. Outra premissa fundamental para os médicos de família é a questão da longitudinalidade. Diferentemente do atendimento emergencial, os médicos de família acompanham seus pacientes ao longo do tempo. “Meu primeiro paciente no Vale das Pedreiras foi um recém-nascido. Eu o acompanhei durante quase 14 anos. Nesse período de tempo, nós só perdemos duas crianças de menos de um ano”, destaca a Dra. Alexina Witt. De fato, pesquisas aponta que a resolutividade dos casos podem chegar a 90% na atenção básica à saúde. Além do acolhimento e das consultas, cabe à equipe da USF manter uma relação intensa com a comunidade, trabalhando temas de interesse. Uma das

práticas comuns é formação de grupos de hipertensos, de diabéticos, de idosos, de jovens, de fumantes... “O PSF já deixou de ser programa de saúde, hoje já é considerado uma estratégia de saúde. Cabe às equipes agir como gerente desse cuidado ao usuário se fazendo valer de atividades individuais e coletivas de saúde, e se preocupando com todo o contexto que isso traz levando em conta as características epidemiológicas que o diagnóstico de sua comunidade apresenta e sempre numa visão que valorize uma atuação preventiva”, explica Dr. Carlos Eduardo Gomes de Melo, especialista em Medicina de Família e Comunidade, supervisor do Programa de Residência Médica em MFC da UPE, e componente da USF do Alto do Pascal.

CRESCIMENTO E DIFICULDADES Pouco mais de 15 anos após o início da implantação das primeiras Unidades de Saúde da Família no Brasil, números do Ministério da Saúde, referentes

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Posto de Saúde da Família do Morro da Conceição

“É preciso acabar com essa ideia de que eu vou ao PSF bater receita, fazer medicina de quinta categoria” Dra. Rafaela Pacheco, médica da família ao ano de 2009, apontam a existência de 30.328 equipes, chegando a 5.251 municípios, cobrindo 50,7% da população, o equivalente a 96,1 milhões de pessoas. Em Pernambuco, segundo dados da Secretaria de Saúde estadual, de outubro de 2010, havia 1874 equipes que conseguem cobrir 73,35% da população. Na última década, houve um aumento constante no número de equipes de saúde da família no Estado. Em 2001, existiam 1044 equipes, cobrindo 44,97% da população. Na cidade do Re-

cife, segundo a Secretaria de Saúde municipal, existem, hoje, 260 equipes de PSF em atividade, distribuídas nos seis distritos, e 126 equipes de saúde bucal. Apesar da constante expansão no âmbito nacional, estadual e municipal, a situação ainda não é a ideal. É preciso que a rede cresça ainda mais, chegue a outras localidades, mas é preciso fundamentalmente criar condições favoráveis (sejam elas físicas, estruturais e até mesmo salariais) para as unidades que já existem possam de fato seguir a cartilha do que é preconizado no Programa, oferecendo uma atenção integral ao paciente, para além do tratamento da doença. Com o objetivo de fazer um retrato das Unidades de Saúde da Família no Recife, a partir da expansão iniciada no ano 2000, o Cremepe reuniu um grupo de médicos fiscais (entre eles José Carlos Barbosa de Alencar, Otávio Valença e Polyanna Neves) para visitar e avaliar as unidades, dando um foco especial à

atenção básica, que muitas vezes é deixada em segundo plano em virtude das denúncias envolvendo os grandes hospitais e a assistência médica secundária e terciária. “Os principais problemas são estrutura física inadequada, com vários problemas de infiltração, e insuficiência de recursos humanos. Na maioria das unidades funciona mais de uma equipe. É comum ter unidades com três equipes. Há várias áreas descobertas. Em algumas unidades não é possível atendimento em dia de chuva por conta de inundação da unidade. A média de famílias por agente de saúde é maior que 200, quando o preconizado é em torno de 150”, detalha a médica fiscal Polyanna Neves. Segundo ela, outro problema é o número excessivo de famílias atendidas por cada equipe. Na maioria das unidades visitadas a média é de 1200 famílias por equipe, um número acima do recomendado pela OMS. Dra. Alexina Witt, que atualmente está no USF da Vila dos Milagres, no Ibura, contabiliza o atendimento a cerca de 1500 famílias, quando o ideal seria pouco mais da metade deste número. Outro ponto que geralmente atrapalha é o fato de nem todas as unidades terem a mesma estrutura e o mesmo padrão de atendimento. “O número de equipes por unidade física também é um problema. É raro ter uma equipe por unidade física. Vale salientar que a maioria das unidades físicas não é suficiente para abranger todos os requisitos de uma USF (sala de curativo, sala de procedimento, sala de nebulização, depósito de material de limpeza)”, detalha Dra. Polyanna Diniz. Segundo ela, quase a totalidade das USFs do Recife funcionam em casas alugadas, sem infraestrutura para uma unidade de saúde - “um amontoado de salas em um local comum”. Pessoas vinculadas a um determinado posto que não funciona bem, muitas vezes, vão tentar o atendimento em um núcleo mais organizado e atuante. “Temos um problema de pessoas de áreas que estão descobertas de postos que vêm para cá. A gente tem um horário limitado, mas mesmo assim há uma migração. Precisamos fazer uma gestão do tempo”, diz Dra. Rafaela Pacheco. Além da sobrecarga e das dificuldades de infraestrutura, os médicos de

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CAPA saúde da família também encontram barreiras quando solicitam exames ou encaminham seus pacientes para a assistência secundária e terciária. As consultas com especialistas e os exames terminam demorando muito, atrapalhando o processo. A falta de integração entre a própria equipe, com disputa de poder entre médicos, enfermeiros e agentes de saúde, também é algo preocupante. Se há uma disputa interna entre os integrantes, se cada um realiza suas tarefas sem discutir, debater e pensar em conjunto a estratégia de saúde da família vai fracassar. “A equipe precisa funcionar, todos têm que ter voz. O médico precisa ouvir o agente de saúde, o enfermeiro e juntos discutir e planejar suas ações. Na equipe que atuei no Vale das Pedreiras, em Camaragibe, houve uma interação muito boa. Muitas vezes tive que ouvir a opinião dos meus parceiros e até colocar em prática condutas que eu não achava que eram as melhores, mas que os outros tinham acordado em maioria”, lembra Dra. Alexina, reforçando que os médicos precisam valorizar os outros profissionais que fazem parte da equipe. Talvez uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo programa hoje seja justamente a formação desses profissionais. Tanto a médica Alexina Witt, que fez parte dos primeiros grupos de PSF, em 1994, quanto a médica residente Rafaela Pacheco, percebem a necessidade de formar melhor os médicos que estão atuando dentro do Programa. “O PSF não é para qualquer um. A importância de uma boa seleção, o médico precisa ter perfil, não pode ser do nada, porque não está fazendo nada. O PSF não é para qualquer pessoa. Tem que haver um compromisso com a proposta”, afirma categoricamente Dra. Alexina. Boa parte dos profissionais que compõe a rede não tem residência ou especialização na área de medicina da família, alguns são recém-formados, outros já estão aposentados e resolvem ingressar no PSF. Segundo Dra. Rafaela Pacheco, receber novatos e veteranos não seria um problema. O importante é que esses profissionais sejam contaminados pelo espírito do programa. É preciso também combater o preconceito que nasce dentro das

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Estoque de remédios de um PSF Abaixo, à esquerda: enfermeira Edjaneide Maria da Silva, do PSF do Morro da Conceição, vacinando uma criança

próprias escolas de medicina, onde alguns professores ameaçam os alunos: “Estudem, ou vocês vão acabar num PSF”. “É preciso acabar com essa ideia de que eu vou ao PSF bater receita, fazer uma medicina de quinta categoria. Nós, na USF do Morro da Conceição, matamos um dragão por dia. Trabalhamos com medicina de ponta, com a chamada tecnologia leve. Uma coisa é você fazer um PSF de qualquer jeito, outra coisa do jeito que a gente faz”, desabafa Dra. Rafaela.

AÇÕES Tanto os Governos como a sociedade precisam reconhecer o papel central dos profissionais engajados no Programa de Saúde da Família e valorizar a especialidade de Medicina de Família e Comunidade. Mas segundo o Dr. Carlos Eduardo Gomes de Melo, é fundamental incentivar mudanças no processo de formação das faculdades de Medicina, que ainda está centrado nas especialidades e sofrendo grande

influência do mercado de trabalho, fazendo com que os novos médicos optem por trabalhar em áreas mais valorizadas pela iniciativa privada. Atentando para a necessidade de qualificação dos profissionais, a Secretaria de Saúde do Recife pretende investir fortemente na formação daquelas equipes que já estão atuando na rede. Segundo a diretora geral de Atenção à Saúde, Bernadete Perez Coelho, devem ser formadas mais 10 ou 15 equipes, mas o foco do trabalho da Secretaria na área em 2011 será qualificar o atendimento e os integrantes das equipes. “Há dois anos a gente lançou o modelo Recife em Defesa da Vida, que coloca a atenção básica como coordenadora a ordenadora do sistema. Formamos também um grupo dos apoiadores institucionais para ajudar as equipes”, conta. Foi dentro dessa perspectiva de melhoria do atendimento que começaram a funcionar, no ano passado, as equipes de NASF (Núcleo de Apoio a Saúde da Família), composta por profissionais em áreas diversas, tais como farmácia, nutrição, terapia ocupacional, que atuam apoiando e subsidiando as equipes de saúde da família, e o Núcleo de Práticas Integrativas (NAPI), que leva yoga, homeopatia, acupuntura e outras terapias aos postos Segundo Bernadete Perez Coelho, a Secretaria de Saúde conseguiu, de dois anos para cá, normatizar os vínculos empregatícios dos médicos, através de concursos e do PCCV, uma solicitação antiga da categoria. Com esse avanço, será possível despertar o interesse dos profissionais pela área e para a residência em Medicina de Saúde da Família. “O movimento médico traz à tona a criação de um Plano de Carreira, Cargos e Vencimentos (PCCV) para o SUS que contemplaria um bom salário mínimo profissional o que passaria com certeza a ser um grande atrativo e consequentemente um aliado importante para o engrossamento das fileiras na Atenção Primária”, pontua Dr. Carlos Gomes de Melo. Foi a intransigência, por exemplo, da prefeitura de Camaragibe em negociar questões salariais com os médicos e com seu sindicato que levou a médica Alexian Witt a deixar sua equipe e migrar para o programa no Recife. No final

Os médicos, além das dificuldades, encontram barreiras quando solicitam exames ou mandam pacientes para a assistência secundária e terciária de 2010, devido aos impasses, 21 médicos pediram demissão, no município. Hoje das 43 equipes da cidade, quase a metade está sem médicos. Segundo os profissionais, situações como essa reforçam a necessidade de haver uma maior articulação entre municípios e estados com o SUS para que o Programa de Saúde da Família não seja conduzido sempre a partir de interesses políticos e mude a cada quatro anos com a troca de prefeito. O SUS precisa firmar parcerias com as universidades para garantir mais vagas em residências e especializações para que os médicos que venham a se engajar no Programa estejam devidamente qualificados. “A atenção básica e o PSF têm que deixar de ser prioridade apenas nos discursos dos teóricos do sistema para ser a efetiva prioridade dos gestores dos três níveis de governo, dentro de um novo pacto federativo que garanta carreira e piso salarial adequados para atrair e fixar profissionais nesta estratégia para, enfim, qualificar sua necessária expansão como política pública essencial”, afirma o presidente do Cremepe, André Longo. Apesar dos problemas, uma coisa é certa: através do PSF, a população tem hoje um atendimento muito melhor do que tinha há alguns anos. “As pessoas estavam abandonadas antes do SUS. Um indigente, um morador de rua não tinha condições de receber atendimento. Hoje nós temos uma série de problemas. São desafios. Mas, em termos de PSF, a gente sabe que atualmente conseguimos garantir um atendimento muito melhor do que antes do Programa existir”, resume Dra. Rafaela Pacheco.

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DIVULGAÇÃO

Depressão na prática clínica e sua relevância social Pesquisas apontam que 25% das pessoas apresentam um ou mais transtornos mentais ou de comportamento Jane Lemos*

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saúde física, mental e social são intimamente interligadas e interindepedentes tornando-se cada vez mais evidente que a saúde mental é fundamental para o bem estar geral do indivíduo, família e sociedade. Desta forma, os transtornos mentais e do comportamento são universais observando-se em pessoas de ambos os sexos, faixa etária, em países desenvolvidos ou não, diferentes sociedades, entre ricos e pobres e zonas urbanas ou rurais. Pesquisas em países desenvolvidos ou em desenvolvimento apontam que mais de 25% das pessoas apresentam

um ou mais transtornos mentais e do comportamento, durante a vida inteira (Regier e al.1988;Welles e al. 1989, Almeida Filho e al. 1997 apud OMS) e estudos epidemiológicos no contexto da atenção primária realizados pela Organização Mundial de Saúde em 14 locais demonstram uma proporção de cerca de 24% de transtornos mentais, sendo mais comuns depressão (10,4%), ansiedade generalizada (7,9%) dependência do álcool (2,7).Ademais, esses transtornos têm grande impacto em múltiplos aspectos sobre o individuo, família e sociedade inclusive do ponto de vista econômico social.

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Entre os transtornos mentais e do comportamento a depressão constituise um pesado encargo para a sociedade, em quarto lugar entre as principais causas de ônus entre todas as doenças (2000, OMS). Dados epidemiológicos apontam para prevalência de Depressão Maior de 17,7% e Distimia 2,5% - (NCS, 2000) e estudos na cidade de São Paulo demonstram a prevalência de Depressão de 16,50% a 18% da população ao longo da vida. (Andrade e cols., 2002) Apesar da sua importância, lamentavelmente, o tema é ainda impregnado de estigma e preconceito, o que dificulta sua abordagem, como, aliás, os demais transtornos mentais, sendo de nossa responsabilidade desmistificá-los esclarecendo e ressaltando a relevância médico social e conduta adequada. Define-se “transtorno”, pela Classificação Internacional das Doenças – CID 10, como um conjunto de sintomas ou comportamentos, clinicamente reconhecido, associado, na maioria dos casos, a sofrimento ou interferência em área importante do indivíduo. A Depressão está inserida no grupo Transtornos do Humor (Afetivos) da CID 10. Entenda-se por vida afetiva ou afetos a dimensão psíquica que dá cor, brilho e calor às vivências humanas e humor ou estado de ânimo como o tônus afetivo, o estado emocional basal. Os Transtornos do humor (afetos)-CID 10 tem como sintoma básico alterações do humor, ou seja, alegrias e tristezas patológicas. Etimologicamente, depressão significa “rebaixamento do estado do espírito de pessoas padecendo de alguma doença.” Como estado afetivo normal a depressão se caracteriza pela tristeza como resposta universal às situações de perda, derrota e adversidades, tendo, portanto caráter adaptativo e de alerta, como exemplo temos as reações de luto. Nestes casos a superação ocorre com o passar do tempo e tudo volta ao normal sem qualquer intervenção terapêutica. Encontra-se também a depressão como sintoma em várias situações de doenças clinicas ou psiquiátricas e cujo tratamento envolve a patologia central. A Depressão integrante do grupo - Transtornos do Humor (Afetivos) da CID10 tem como sintomatologia - humor deprimido, falta de prazer (anedonia) e de interesse até mesmo por atividades habituais, cansaço fácil,

concentração e atenção diminuídas, atividade reduzida, apetite diminuído, perda ou ganho de peso, alterações do sono, diminuição da sexualidade, pessimismo, baixa da autoestima, sentimento de culpa, inutilidade, ruína, idéias autodestrutivas e risco de suicídio. Nos casos graves, além do risco de suicídio pode haver atividade delirante por exemplo de ruína e destruição. O quadro clínico varia de acordo com a intensidade da depressão (leve, moderado e grave). O suicídio constitui uma importante questão de saúde pública no mundo inteiro e embora seja um fenômeno multifatorial, entre as principais causas se encontra a depressão. O risco de suicídio deve então ser sempre cuidadosamente avaliado num paciente depressivo para que sejam adotadas intervenções terapêuticas preventivas. Muitos pacientes são atendidos em serviços de emergências em decorrências de tentativas de suicídio sob forma de intoxicação exógena, traumatismos, queimaduras, ferimentos por arma de fogo ou branca e acidentes automobilísticos. Depreende-se, portanto, a necessidade dos médicos e demais profissionais de saúde estarem devidamente preparados para lidar adequadamente com essas situações com abordagem e encaminhamento para tratamento especializado. O diagnóstico da depressão é eminentemente clínico e deve sempre ser avaliada a existência ou não de risco suicídio para adoção de conduta mais adequada. Ante uma depressão leve pode-se tentar uma acompanhamento psicoterápico, numa atitude de escuta, clima de segurança e confiança, buscando identificar e trabalhar possíveis fatores desencadeantes e visando elevar a autoestima. Algumas vezes se faz necessário uso de antidepressivo em pequenas dosagens. Quando se identifica um quadro clínico de moderada à grave intensidade se impõe o tratamento medicamentoso, com antidepressivo em doses adequadas, às vezes associados a ansiolíticos e hipnóticos nos casos de muita ansiedade e insônia. Hoje, os antidepressivos mais utilizados são os inibidores seletivos da serotonina, da noradrenalina, da dopamina ou os duais (ISRS e ISRN) embora também se use com eficácia e eficiência os antidepressivos tricíclicos.

“O risco de suicídio deve ser sempre cuidadosamente avaliado num paciente depressivo para que sejam adotadas intervenções terapêuticas preventivas” Quando a depressão é diagnosticada no grupo do Transtorno afetivo bipolar deve-se associar um estabilizador do humor como o Carbonato de Lítio ou um dos convulsivantes utilizados como estabilizadores. É de suma importância a adesão ao tratamento, sendo imprescindível uma boa aliança terapêutica. Em caso de risco de suicídio, deve haver conscientização dos familiares, vigilância permanente e rigorosa, visita constante ao médico e algumas vezes internação, de preferência num hospitalar geral, com acompanhante devidamente treinado. Além dos psicofármacos e do fortalecimento da aliança terapêutica, cabe a indicação de psicoterapia, sendo as mais indicadas Terapia Cognitiva Comportamental – TCC e a Terapia Interpessoal. A associação de psicofarmacoterapia e psicoterapia tem se mostrado mais eficaz. Ressalte-se que nos casos refratários há tratamento e quando há iminente risco de suicídio cabe a indicação da Eletroconvusloterapia - ECT, realizada dentro de parâmetros técnicos recomendáveis com resultados comprovadamente reconhecidos. Neste caso, nós profissionais de saúde mental temos o dever e o compromisso ético de desmistificar esse método terapêutico informando adequadamente o seu funcionamento e os resultados, tendo em vista o preconceito e estigma que o envolve. *Jane Lemos é psiquiatra – especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria –, presidente da Associação Médica de Pernambuco e conselheira do Cremepe.

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PATRIMÔNIO

O universo imaginário de O xilogravurista de Bezerros, Patrimônio Vivo de Pernambuco, continua talhando na madeira a cultura nordestina Mariana Oliveira* | Fotos: Hans Manteuffel

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relógio marcava pontualmente 8h, de uma típica manhã de janeiro, quando eu e o fotógrafo Hans Manteuffel entramos no carro em direção a Bezerros, município do Agreste pernambucano, localizado a 107 km do Recife. Pouco depois das 9h30, as primeiras construções da cidade começaram a aparecer às margens da BR-232. Não andamos muito até avistar, do lado esquerdo da pista, o Memorial J. Borges. Ainda do lado de fora, foi possível observar os traços e o estilo marcante do artista nos muros e paredes do local, apresentando ao visitante o universo particular que ele irá conhecer. Entramos na ampla sala que funciona como espaço expositivo e comercial do Memorial, e, ao fundo, num outro ambiente, avistamos um senhor sentado, talhando a madeira, junto com um menino de aproximadamente 10 anos, que trabalhava numa peça similar. Assim, fomos apresentados a J. Borges e ao seu filho caçula, Baccaro (nome escolhido para homenagear um velho amigo de Olinda, Giuseppe Baccaro). José Francisco Borges nasceu em Bezerros, em 1935, filho de um agricultor e de uma dona de casa. Ainda jovem, com apenas oito anos, começou a trabalhar na roça com o pai. Depois, atuou na lida da cana, virou pedreiro, carpinteiro, até descobrir o verdadeiro talento que tinha. Segundo ele, tudo começou informalmente, quase como um bico, no início da década de 1960. Nos fins de semana, o jovem do interior aproveitava os dias livres para circular nas feiras da cidade e vender cordéis. Como ele também escrevia os folhetos, decidiu tentar ilustrar uma de suas novas histórias (O encontro de dois vaqueiros no sertão de Petrolina). Sem a tutoria de ninguém, mas com certo entendimento de todo o processo, criou a matriz que usaria para fazer a xilogravura e ilustrar sua obra. O resultado deu certo. Depois dessa experiência feliz, não parou mais. Ilustrava, ele mesmo, todos os cordéis que escrevia. Com o tempo, essa nova atividade foi ganhando fama na região e outros cordelistas passaram a solicitar a J. Borges xilogravuras para adornar suas histórias. O artista passou cerca de cinco anos trabalhando exclusivamente na ilustração de cordéis, até que um grupo de pintores cariocas, residentes em Olinda, descobriu o mestre e lhe encomendou uma série de trabalhos maiores. “Quando eu já tinha feito uns 15 trabalhos para eles, Ivan Marqueti me falou que o único interesse dele era divulgar minha obra e pediu para mostrar a Ariano Suassuna. Quando ele viu, ficou muito entusiasmado e começou a me divulgar, e meu nome começou a ser mais conhecido”, recorda Borges. No primeiro fim de semana depois de Ariano afirmar que J.Borges era o melhor xilogravurista do Nordeste, muita gente seguiu para Bezerros à procura do artista e de suas obras. A partir daí, segundo ele, começou a “revolução”. Suas xilogravuras foram levadas para lojas, galerias e institutos culturais. “No ano passado, Ariano teve aqui

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PATRIMÔNIO e disse que eu era o melhor do mundo. Ele dá um ponto tão grande a mim que só vendo”, diz. Em 2005, recebeu um reconhecimento importante. J. Borges foi alçado à “categoria” de Patrimônio Vivo de Pernambuco, junto com outros 11 nomes relevantes para a cultura local. Ele recebeu o título das mãos do artista plástico Francisco Brennand e, desde então, tem direito à pensão vitalícia mensal.

A XILO BORGIANA As características e a força expressiva que encantaram o ex-secretário de cultura do Estado permanecem vivas até os dias de hoje. Seja nas pequenas matrizes para ilustrar cordéis, ou nas maiores que dão origem a painéis, J. Borges mantém os temas vinculados à cultura nordestina. “Nossa região é muito rica culturalmente. Eu trabalho só em cima do Nordeste, tanto escrevendo cordel quanto fazendo a xilo”. Em relação ao traço, segundo o pesquisador Jeovah Franklin, J.Borges faria parte da chamada Escola de Caruaru, diferenciando-se da também tradicional xilogravura desenvolvida em Juazeiro do Norte (CE) e em seus arredores. A tradição cearense mantém quase toda a matriz em alto relevo, só retirando a massa de impressão nas áreas necessárias. “Eles encontram dificuldade de impressão devido à impossibilidade de destacar em cada figura a massa a receber tinta”, explica o especialista em artigo, publicado na revista Continente. Já no núcleo caruaruense, as figuras são mais chapadas e limpas. “Lembram as figuras em destaque usadas pela publicidade. Por estar mais próxima ao litoral, pode-se explicar isso também pelo grau maior de permeabilização à cultura mais industrializada”, detalha Franklin. Foi com essas características que, em 1976, ele desenvolveu uma de suas gravuras mais famosas, feita para ilustrar um cordel que havia escrito: A chegada da prostituta no céu. O folheto chegou a vender mais de 100 mil cópias e foi adaptado para o teatro. Segundo Borges, sua inspiração vem naturalmente, a partir da sua observação do cotidiano ou mesmo de tradições e histórias da região, como o Cangaço. Ao longo de sua carreira alguns temas são recorrentes, mas nunca iguais. Ele explica: “É igual a um carro.

Acima: a cada ano, o artista constrói um novo espaço, ampliando o seu Memorial Ao lado: atualmente, as xilogravuras coloridas são as preferidas pelo público

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referência à tradição carnavalesca de Bezerros, famosa nacionalmente (Ver box na próxima página).

FAMA INTERNACIONAL

As montadoras vão e lançam um modelo novo de um carro, mas mudam umas coisinhas, os faróis, e assim vai, é assim com as minha xilogravuras”. Atualmente, parte de sua produção é também encomendada. As pessoas lhe passam um mote e, a partir dele, Borges desenvolve a xilo. Quem quiser ficar com uma matriz grande terá que pagar em média R$ 2 mil, uma pequena pode chegar até mil. Porém, as reproduções têm um preço mais baixo: a grande sai por R$ 60 e a pequena por R$ 30. Apesar de preferir as xilogravuras em preto e branco, o artista conseguiu desenvolver bem um método de produzir as gravuras coloridas. O introdutor das cores nas xilogravuras foi Dila, mas sua experiência não deu certo. Foi essa primeira tentativa que animou Borges a também buscar uma solução para colorir seus trabalhos, ainda na década de 1980. Naquela época, 80% das xilos que fazia eram em P&B e 20% em cores. Hoje, quando se prepara para ir a uma feira ou evento leva cerca de 300 cópias coloridas e apenas 50 em duas cores. Toda a sua produção é feita no Memorial J. Borges. Anteriormente, ele mantinha um ateliê alguns quilômetros

à frente, também na BR-232, porém o espaço começou a ficar pequeno e ele adquiriu um novo terreno para abrigar não só seu ateliê, mas também sua casa e funcionar como uma loja/museu. A empreitada deu tão certo que o plano arquitetônico do espaço foi mudando desde então. Borges conta que por causa da necessidade de ampliar o ambiente foi fazendo alguns “puxadinhos”. “Todo ano eu faço um cômodo”, revela. A rotina de trabalho vai, geralmente, de segundo a sexta-feira. Ele se levanta com os primeiros raios de sol, e, às 6h30, já está a postos, trabalhando no Memorial. A parada para o almoço vai das 11h às 14h e o expediente é encerrado às 17h. Nos finais de semana, J. Borges aproveita para escapar para um sítio que possui a 10 km da cidade, mas nos meses de férias (janeiro e julho), quando o movimento aumenta sensivelmente, ele fica em seu Memorial para atender clientes e admiradores. “Fevereiro deste ano vai ser um mês negativo. Mas em março, no domingo de carnaval, aqui é uma loucura. O povo vem ver os papangus e para o carro até aqui. O movimento esquenta muito no Memorial, recebemos muitos turistas”, conta, fazendo

J. Borges é considerado hoje o artista popular de maior projeção internacional. Foi em seu ateliê que numa tarde como outra qualquer recebeu o jornalista americano Larry Rother –conhecido por escrever que o então presidente Luís Inácio Lula da Silva tinha problemas com álcool. “Eu estava fechando, eram umas 17h, quando vejo aquele gringo correndo, pedindo para eu esperar. Ele entrou, conversamos. Ele é um cara gente boa. Perguntou se eu queria que ele levasse meu trabalho para os EUA. Foi quem me descobriu e quem me abriu o caminho para os EUA. Lá, eles preferem as gravuras bem grandes e coloridas”, conta Borges. Com a fama internacional, vieram também muitos convites para dar oficinas, participar de feiras e exposições em várias partes do mundo. Borges, com seu jeito simples, adora contar as peripécias que viveu nessas aventuras fora do Brasil. Para a decepção de alguns intelectuais de esquerda, ele é categórico ao afirmar que prefere os EUA à França. Para justificar essa opinião, ele apresenta fatos. Segundo Borges, sua primeira viagem à França, em 2000, foi traumática. “Eu sofri muito. Na primeira vez que eu fui, me deram um dinheiro e me jogaram lá no hotel em Paris, sozinho, sem saber falar nada de francês e inglês. Não tinha ninguém para me ajudar a montar meu espaço”, lembra. Em 2005, no Ano do Brasil na França, recebeu outro convite, desta vez para ir a Marselha. Inicialmente, J. Borges recusou, mas após a promessa de que haveria uma pessoa falando português a sua disposição dia e noite, ele aceitou e dessa vez tudo deu certo. “Eu não gosto de muito luxo, eu gosto de acolhimento, não gosto de ser desprezado num lugar estranho”, pontua. Já nos EUA, J. Borges acredita que sempre foi muito bem acolhido. “Na primeira vez que eu fui lá, colocaram música nordestina no carro, eles usavam blusas com a bandeira do Brasil. Colocavam filmes brasileiros para eu ver. Queriam que eu me sentisse realmente em casa”, lembra. A única coisa que ele não conseguiu se acostumar foi com a

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J. Borges exibe uma cópia xilográfica de um de seus trabalhos, em preto e branco

pontualidade. “Eu estava lá trabalhando quando dava a hora, eles mandavam eu parar. Eu queria terminar mas eles não deixavam. Eu tinha que largar a ferramenta na hora certa. Lá é duro. Eles marcavam de me pegar às 10h, 9h59 eu ia para a porta”.

A FAMÍLIA BORGES O artista J. Borges casou, ficou viúvo, casou outra vez e é pai de 18 filhos, cinco deles adotivos. Hoje, 10 estão vivos. Borges sempre tentou batizar seus filhos com nomes que homenageassem personagens e amigos que tenham tido um importante papel em sua vida (Ariano, referência Ariano Suassuna; Ivan Marqueti, homenagem ao homem que lhe descobriu; o já citado Baccaro...). “O único nome dos meus irmãos que eu não sei quem meu pai quis homenagear é George. Preciso perguntar a ele isso”, afirma o primogênito Manassés, que recebeu esse nome graças a um cordel cujos personagens principais se chamavam Manassés e Marili (nome de sua irmã). O filho mais velho diz que aprendeu a arte da xilogravura observando, ainda criança, o trabalho do pai. “Ele não pegou nossa mão e foi ensinando. Ele tinha muita encomenda, ai fazia os desenhos e pedia para a gente ir ajudando talhando a madeira. Se tem uma coisa que meu pai me ensinou foi a dar valor às coisas. Para receber

alguma coisa, a gente tinha que trabalhar”, recorda. Atualmente, Manassés mantém uma loja/ateliê também às margens da BR-232, onde desenvolve e vende seus trabalhos e os da sua esposa, Rosângela Borges, que pinta quadros naïf. Um pouco mais adiante, na Casa de Cultura Serra Negra, outros filhos do afamado J. Borges desenvolvem suas obras e ge-

renciam uma pequena gráfica. A primeira impressão é de que a arte está impregnada na família Borges há anos, mas não foi bem assim. “Sou filho do sítio. Meu pai era agricultor e minha mãe dona de casa. Só depois que eu comecei que as pessoas da família foram entrando nesse ramo. Quem despertou primeiro para a arte na família fui eu. Depois disso, entraram meus irmãos, filhos, sobrinhos, primos. Os Borges não têm a arte no sangue. Eles têm a tradição que começou comigo e foi sendo transferida aos outros”, conta J. Borges, já ao final de nossa conversa. O sol já estava a pino quando deixamos o Memorial. Não por falta de assunto, pois a conversa fluía naturalmente, pontuada pela gargalhada contagiante do artista. J. Borges precisava se preparar para almoçar e retornar ao trabalho logo mais às 14h.

Bezerros, terra dos papangus

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ocalizada no agreste pernambucano, a cidade de Bezerros, terra natal de J. Borges, se destaca pelo seu casario antigo, monumentos, o parque ecológico Serra Negra, o polo gastronômico do povoado de Encruzilhada de São João e o “Carnaval dos Papangus”, considerado um dos melhores do Estado. No domingo dos festejos momescos acontece o grande concurso de papangu (foto) que escolhe os melhores mascarados nas categorias individual, grupo, dupla e tradicional. Fabricadas por artesãos locais, nas mais de 30 oficinas espalhadas pela cidade, as máscaras, confeccionadas em papel jornal e goma, são verdadeiras obras de arte e remetem muito às máscaras do Carnaval de Veneza, na Itália. Segundo a tra-

dição, a brincadeira começou como artifício dos marmanjos para driblar a vigilância das esposas e brincar o carnaval anonimamente. Durante o desfile, para reabastecer-se, comiam angu de milho, às vezes, exageradamente. Daí, a origem do nome “papangu”. A folia concentra-se na rua 15 de Novembro, no centro da cidade.

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CFM Conselho Federal de Medicina

Notícias do CFM Carlos Vital*, de Brasília

Reprodução assistida

Revalidação

Mudanças nas regras de reprodução assistida foram publicadas no início do mês de janeiro. Entre os destaques está a permissão para a realização de procedimentos com material biológico criopreservado post-mortem e a possibilidade de mais pessoas fazerem uso das técnicas, independente do estado civil ou orientação sexual. A Resolução CFM 1.957/10 pode ser acessada no site da entidade, através do menu Legislação/Processo.

O CFM declarou, em nota oficial, apoio ao projeto piloto de revalidação de diploma de médico expedido por universidades estrangeiras, dos ministérios da Educação e Saúde. Em documento, publicado dia 7 de janeiro, a entidade reiterou a importância da iniciativa como processo certificador da aptidão ao exercício da medicina. Os ajustes e adequação desse projeto às suas exatas finalidades poderão ser feitos pelo MEC.

Defensor dativo

Residência

O médico declarado revel em processo-ético profissional no âmbito dos conselhos federal e regionais de Medicina terá direito a um defensor dativo para fazer sua defesa e acompanhar todos os atos a serem praticados até o final do processo. É o que diz a Resolução CFM 1.961/2011, aprovada em janeiro. Considera-se revel o médico que citado para apresentar defesa prévia deixa de fazê-lo no prazo legal. A nomeação, as atribuições e a remuneração do defensor dativo estão reguladas no texto, que pode ser consultado no site do CFM.

Algumas adequações devem ser realizadas na Medida Provisória (MP) 521/10, que altera a lei sobre as atividades do médico residente. Em alguns casos, os ganhos oferecidos em termos de uma bolsa atualizada foram subtraídos pela falta de previsão legal do auxílio moradia. Temos a perspectiva de que, por meio de normas regulamentares, essas questões sejam corrigidas em um grupo de trabalho já constituído no MEC, com participação dos residentes. Outros aspectos do documento atenderam às reivindicações da categoria: o novo valor de R$ 2.388,06 da bolsaauxílio e a possibilidade de prorrogação do período de licença-maternidade.

Médicos contra a dengue Recentemente, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, visitou o CFM. Na ocasião, a entidade divulgou uma nota de apoio às iniciativas do governo no combate e na prevenção à dengue. Já temos o primeiro resultado concreto dessa parceria: há um banner no Portal Médico, do CFM, que dá acesso a textos e documentos técnicos, úteis a médicos e outros profissionais da saúde. Os conselhos regionais também receberam os banners (em dois tamanhos) e podem fazer parte desse movimento.

de 1989 poderão regulamentar a situação junto aos conselhos regionais de medicina, desde que comprovem esse direito de acordo com os critérios vigentes à época. O pedido de registro de especialista deverá ser dirigido ao CRM onde o médico estiver inscrito, bem como toda a documentação hábil. Os requisitos podem ser conferidos na Resolução CFM 1.960/2010.

Assuntos políticos na rede Twitter, Facebook e blogs serão instrumentos adicionais na articulação dirigida pela Comissão de Assuntos Políticos (CAP), que integra lideranças médicas do CFM, Associação Médica Brasileira (AMB) e Federação Nacional dos Médicos (Fenam). A ideia é utilizar as redes sociais para estabelecer contato com parlamentares, médicos e outras entidades, além de aproveitar as novas tecnologias de comunicação para manter a equipe atualizada.

Fiscalização A inspeção de estabelecimentos de saúde, como consultórios e clínicas, poderá ser agilizada, com a implantação de um formulário eletrônico de fiscalização. Nele, os profissionais informariam dados como materiais, equipamentos e instalações do ambiente de atendimento. A ação está sendo estudada pela Comissão de Fiscalização do CFM.

Comissão de Comunicação

Direito adquirido

Foi aprovada pelo plenário do CFM a criação da Comissão de Comunicação, que ficará responsável por dar suporte às ações nesta área. A composição é a mesma validada durante o I Fórum de Comunicação, realizado em Brasília, em julho passado. A primeira reunião do grupo está agendada para o dia 4 de fevereiro, em Brasília. Na oportunidade, devem ser iniciadas as discussões em torno das campanhas previstas para 2011.

Médicos que não registraram títulos de especialista anteriores a 15 de abril

*Vice-Presidente do CFM.

Hotsite destaca 1º ano Já está no ar o hotsite lançado em comemoração ao primeiro ano de atividades da gestão 2009-2014 do CFM. Na página eletrônica, poderá ser encontrada a síntese das principais realizações que marcaram a atuação dos novos conselheiros. Acompanhe: www. balancodegestao.cfm.org.br.

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CREMEPE Conselho Regional de Medicina/PE

Cremepe agiliza julgamentos FOTOS: DIVULGAÇÃO

Metas foram cumpridas pelo setor judicante

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ano de 2010 foi marcado pela agilidade no Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe). No campo jurídico ainda mais, já que, de acordo com um relatório divulgado pelo Conselho, 379 sindicâncias foram concluídas somente no ano passado. Outro número que chamou a atenção entre 2008 e 2010 foi o de julgamentos: 156. Um total duas vezes maior do que o registrado entre 2006 e 2008, quando 70 sentenças foram emitidas pelo Cremepe. Para o presidente do Cremepe, André Longo, a maior celeridade nos

De acordo com relatório divulgado pelo Conselho, 379 sindicâncias foram concluídas em 2010 processos é resultado de uma profissionalização no setor responsável da entidade e de uma sensibilização maior por parte dos conselheiros. Para a corregedora Sílvia Carvalho, essa agilida-

de também se deve à “participação ativa dos conselheiros e ao compromisso do corpo de funcionários”. Outro fator ressaltado por eles foi o cumprimento das metas estabelecidas pelo setor judicante no ano passado. De acordo com um levantamento histórico feito pelo Cremepe, entre 1962 e 2008, dos 735 processos instaurados, 67% foram contra médicos do setor público e 33% da rede privada. A maioria deles clínicos e obstetras das emergências dos grandes hospitais públicos e também os que administram serviços de saúde (secretarias e hospitais). Mais uma constatação de que as condições precárias nas quais esses profissionais atuam influenciam negativamente na assistência médica prestada à população. Por outro lado, o número relativamente alto de processos e julgamentos não chega a preocupar o Conselho. Isso se levada em consideração a quantidade de profissionais ativos no Estado (12.800) e os milhares de procedimentos médicos realizados em Pernambuco, desde consultas de rotina até cirurgias mais complexas. Mas, segundo André Longo, o ideal seria que não houvesse infração por parte dos médicos. “Já que existem, precisamos julgar o mais rápido possível, prezando pela qualidade”, afirmou.

Novo médico integra equipe de fiscalização do Cremepe O cirurgião Silvio Vasconcelos é o mais novo médico fiscal do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe). Concursado, ele assumiu o cargo na primeira semana de fevereiro deste ano. Na foto, Vasconcelos é o segundo da esquerda para a direita, ao lado dos colegas médicos fiscais do Cremepe, José Carlos Alencar (chefe da equipe), Otávio Valença e Polyana Neves.

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Fórum discute abertura de escolas médicas em PE As diretorias das entidades médicas de Pernambuco - Cremepe, Simepe e Ampe - estão reuniram-se com representantes dos diretórios acadêmicos de medicina da UFPE, UPE e FPS, em 16 de dezembro, durante o II Fórum das Entidades Representativas Médicas e Estudantis - “Abertura de Novas Escolas Médicas” – Uma Visão Crítica do Tema. O evento foi realizado na sede da Associação Médica de Pernambuco. Os participantes demonstraram preocupação com a real necessidade de mais médicos no Estado e com a qualidade da formação oferecida pelas escolas já existentes. O primeiro palestrante foi o médico e assessor de relações internacionais da UPE, Guido Correia de Araújo, que falou sobre o regimento para abertura de novas escolas. Em seguida, foi a vez do médico e superintendente-adjunto de Ensino, Pesquisa e Extensão do Imip, Fernando Menezes. Segundo ele, “não há dúvidas que precisamos de mais médicos, principalmente, com o número de UPAs que o governo pretende inaugurar em 2011”. “Algumas escolas médicas no Brasil não têm as mínimas condições para funcionar. Outras precisam de atenção, investimentos e acompanhamento para se qualificar”, concluiu o presidente do Cremepe, André Longo.

Avaliação de cursos de medicina Um debate sobre a necessidade de avaliação dos cursos de medicina marcou o encerramento do Fórum Nacional das Entidades Médicas, no dia 10 de dezembro, em Aracaju (SE). Há uma percepção de unanimidade no que refere à importância de implementação desse processo. No entanto, ainda há divergências com relação ao formato dessa avaliação: se ao longo do processo de formação ou se apenas após a saída da universidade, por meio de um exame semelhante ao aplicado pela OAB. “Atingimos a maturidade nesta discussão da avaliação do ensino médico. Precisamos agora implementar um processo contínuo de avaliação nas escolas com a coordenação do MEC e participação da sociedade médica e civil organizada”, afirmou o presidente do Cremepe, André Longo.

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CREMEPE Conselho Regional de Medicina/PE

Reforma na sede do Cremepe começa em ritmo acelerado Valor da obra de ampliação e modernização é de R$ 4,8 milhões

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s obras para a construção do anexo do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) estão a todo vapor. No início de janeiro, a construtora Pottencial começou a fazer a limpeza do terreno. A antiga casa do anexo foi derrubada e novas salas já estão sendo construídas. Também será reformado o prédio original, onde atualmente funciona o Conselho. A ordem de serviço para início da obra foi assinada no dia 29 de dezembro de 2010 pelo presidente do Cremepe, André Longo. Com custo estimado em R$ 4,8 milhões, o projeto abrigará em uma

área de aproximadamente 1.600m² um prédio de dois andares e uma ampla área de estacionamento. No primeiro andar, ficarão os departamentos de processos e fiscalização, além da assessoria jurídica e corregedoria. Já no andar seguinte, estarão as câmaras de julgamento e o plenário com capacidade para 140 pessoas. O prédio original continuará em pleno funcionamento com a toda a parte administrativa da entidade, diretoria, departamento de imprensa e biblioteca. “O projeto inicial é de 1997, mas de lá pra cá já sofreu muitas alterações”,

afirmou o corregedor-adjunto Roberto Tenório, um dos integrantes da comissão de reforma. Também fazem parte do grupo os conselheiros Mário Fernando Lins, Valdecira Lilioso e Jane Lemos. Segundo Tenório, a grande preocupação da equipe é fazer com que o Cremepe possa prestar um melhor atendimento à sociedade. “A demanda do Conselho cresceu muito nos últimos 12 anos, exigindo de nós uma estrutura maior e mais moderna, capaz de atender com proficiência a população de Pernambuco”, afirmou Tenório. Por ser uma entidade pública federal, o Cremepe realizou licitação com três construtoras, sendo apenas uma vitoriosa, a Pottencial. A empresa ficará responsável pela obra, que tem duração prevista de um ano. O projeto é da arquiteta Silvia Rangel e o engenheiro responsável por acompanhar todas as etapas é José Antônio Romaguera. “Essa obra só foi possível graças ao apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM), que financiou todo o projeto e já assumiu bancar parte dos equipamentos e móveis necessários”, destacou Tenório.

Exames gratuitos para a população no Dia do Médico P

ara celebrar o Dia do Médico (18/10), as entidades de Pernambuco - Cremepe, Simepe e Ampe – promoveram durante todo o mês de outubro passado homenagens, entregas de medalhas, manifestações, assembleias e programações culturais. Das 8h às 18h, duas equipes médicas estiveram no 2º Jardim da Avenida Boa

Viagem, na Zona Sul da cidade, e no Parque da Jaqueira, na Zona Norte, onde realizaram cerca de mil exames gratuitos de glicose e aferição de pressão arterial. A população também recebeu panfletos de orientação sobre

doenças como hanseníase, diabetes e dengue. “Escolhemos uma data importante para reafirmar o compromisso do médico e da medicina com a população”, afirmou o presidente do Cremepe, André Longo.

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Conselho participa de audiência no TJPE

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presidente e a vice-presidente do Cremepe, André Longo e Helena Carneiro Leão, estiveram no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), no dia 17 de dezembro passado, reunidos com o desembargador e presidente do TJPE, José Fernandes de Lemos. Os representantes do Conselho levaram para discussão, questões referentes ao funcionamento dos Institutos de Medi-

cina Legal (IMLs) e apontaram a falta de estrutura adequada para a realização de perícias, especialmente no interior do Estado. Ficou estabelecido que o Cremepe fará um relatório com todas as dificuldades encontradas durante as fiscalizações e encaminhará ao TJPE para que sejam tomadas as providências necessárias no sentido de garantir o exercício ético da medicina.

Comissão de Ações Sociais do CFM discute o crack O presidente do Cremepe e conselheiro federal suplente, André Longo, coordenou a primeira reunião de trabalho da Comissão de Ações Sociais do Conselho Federal de Medicina (CFM), no dia 02 de fevereiro, em Brasília. Integrado por conselheiros federais, representante da Secretaria Nacional de Política sobre Drogas da Presidência da República (SENAD), Kátia Chagas, do conselheiro do Cremepe, Ricardo Paiva, da organização não-governamental Movimento Humanos Direitos (MHuD), padre Ricardo Rezende, e da jornalista Jô Mazzarollo, o grupo foi criado para possibilitar a atuação do Conselho na esfera social. O primeiro encontro da Comissão foi pautado pela preocupação com o enfrentamento ao crack, droga considerada um problema de saúde pública.

Encontro com formandos da UFPE

André Longo recebe homenagem da Alepe

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Assembleia Legislativa de Pernambuco concedeu, no dia 16 de agosto de 2010, o Título de Cidadão Pernambucano ao presidente do Cremepe, André Longo. Após 23 anos morando em Pernambuco e prestando serviços ao povo daqui, o médico cardiologista recebeu o título emocionado. “Foi uma honra receber esse título no dia do meu aniversário”, afirmou. Longo nasceu em Patos, no interior da Paraíba. Na foto, o presidente do Cremepe exibe o título recebido, ladeado pelos deputados Terezinha Nunes, autora do projeto, e Antonio Moraes.

O Cremepe recebeu, no dia 17 de dezembro, duas turmas de formandos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Cerca de 70 jovens médicos participaram de uma aula com o 1º secretário do Cremepe, Luiz Antônio Wanderley Domingues, e com o diretor-conselheiro da entidade, Ricardo Paiva, que falaram sobre o papel do médico na sociedade, a ética no dia a dia do profissional, a importância do correto preenchimento do prontuário e da relação do médico com o paciente. O encontro acontece desde fundação do Conselho e visa aproximar o Cremepe com os futuros médicos do Estado.

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CREMEPE Conselho Regional de Medicina/PE

AGENDÃO

Assessoria de Comunicação do Cremepe

pe de fiscais identificou o falso médico João Antônio Ravache de Alencar Rodrigues, que atuava há pelo menos um mês em plantões na Unidade Mista de Trindade, no município de Trindade. No dia anterior, a mesma equipe flagrou Anestaldo Costalonga de Souza, de 32 anos, em plena atividade no Hospital Municipal José Pinto Saraiva, no município de Exu. O acusado foi autuado por exercício ilegal da medicina e levado à delegacia da polícia do município. O Cremepe abriu sindicância para apurar os dois casos.

Nova sede da Sociedade de Medicina de Caruaru

Câmaras Técnicas do Cremepe se reúnem em Caruaru

Foi reinaugurada, na noite do dia 16 de dezembro, a nova sede da Sociedade de Medicina de Caruaru, no bairro de Maria Gorete. A solenidade contou com a presença dos presidentes do Simepe, Silvio Rodrigues, do Cremepe, André Longo, da Ampe, Jane Lemos, além de representantes da sociedade caruaruense, médicos e convidados. Na ocasião, foram entregues novas salas, auditório, biblioteca, quadra de esportes e parque infantil. A nova delegacia do Cremepe em Caruaru está em pleno funcionamento desde o início de janeiro.

Cremepe na luta pela notificação da violência A coordenadora de Prevenção aos Acidentes e Violência da Prefeitura da Cidade do Recife, Carmelita Maia, compareceu à plenária geral do Cremepe, no dia 06 de dezembro, para discutir sobre o manual de notificação da violência e sua distribuição. A proposta é conscientizar os médicos sobre a importância de notificar os casos. O processo de notificação da violência é simples e segue os mesmos procedimentos da dengue, AIDS ou qualquer outra doença. “Pode ser feita por fax, por e-mail e até por telefone”, afirmou a médica Carmelita.

Comissões do Cremepe discutem ética na medicina No dia 25 de novembro, integrantes da Comissão de Ética do Cremepe promoveram um encontro visando o apri-

moramento do exercício da medicina. O evento foi realizado na Associação Médica de Pernambuco, na Boa Vista. A primeira palestrante da noite foi a vice-presidente do Cremepe, Helena Carneiro Leão, que falou sobre os “Aspectos Relevantes do Novo Código de Ética”. Em seguida, foi a vez da coordenadora das Comissões de Ética do Cremepe (CEMs), Sirleide Lira. Ela abordou o conceito, a importância e as finalidades das CEMs.

Dois casos de exercício ilegal da medicina em apenas 24 horas Dois casos de exercício ilegal de medicina em apenas 24 horas no Sertão de Pernambuco. Esse foi o balanço da ação conjunta entre o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) e o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), com apoio da Polícia Federal. No dia 18 de novembro, a equi-

O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco promoveu, no dia 5 de novembro, o III Encontro das Câmaras Técnicas do Cremepe, em Caruaru, Agreste de Pernambuco. Simultaneamente ao evento, houve o II Encontro das Delegacias e Representações do Cremepe e o II Simpósio – Saúde: Desafios e Perspectivas do Século XXI. Ao final do dia, foi entregue a Medalha de Honra ao Mérito Fernando Figueira aos médicos Maria Auxiliadora Martins Vieira da Rocha, Alberto Magno Santos Bagetti e Joaquim Antas Florentino e concedido o Prêmio Antônio Carlos Escobar à Orquestra Criança Cidadã dos Meninos do Coque.

Mobilização nacional em defesa da saúde Lideranças médicas de todo o país, representantes de mais de 350 mil mé-

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Cremepe participa de Seminário Nacional sobre Crack Representantes de entidades médicas nacionais e estaduais, Ministério da Saúde, Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), Secretaria de Relações Institucionais (SRI), médicos, convidados e especialistas participaram, no dia 25 de novembro, do I Fórum Nacional sobre Aspectos Médicos e Sociais Relacionados ao Uso do Crack, promovido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). O principal aspecto ressaltado na abertura do fórum foi a importância de se empreender esforços conjuntos para enfrentar esse tipo de problema. O presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, destacou a atuação conjunta das entidades médicas nacionais – CFM, Associação Médica Brasileira (AMB) e Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Ricardo Paiva, ex-presidente do Cremepe e coordenadorgeral do evento, avaliou ser “primordial a elaboração de uma rede integrada, composta por equipes capacitadas para diagnosticar, encaminhar, tratar e acompanhar o usuário de droga”.

dade Henriques e José Nivaldo. Os três, a partir de agora, fazem parte do grupo de 116 médicos agraciados com a homenagem.

Adotada padronização proposta pelo CFM O Cremepe decidiu adotar o design do novo logotipo proposto pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) a todos os Conselhos Regionais. Com linhas mais suaves e modernas, a nova identidade visual, já em vigor no site e nos outros veículos de comunicação do Cremepe e do CFM. A marca foi definida após um criterioso processo de desenvolvimento e está sendo adotada gradualmente pelos Conselhos de Medicina de todo o país.

Cremepe entra no mundo do Twitter

dicos, se dirigiram no dia 26 de outubro a Brasília para uma das principais atividades cívicas e políticas voltadas para a categoria: a Mobilização Nacional pela Valorização do Médico e da Assistência em Saúde no Brasil. Cerca de 300 profissionais apresentaram suas reivindicações a parlamentares, ao Ministério da Saúde e à sociedade. Entre os temas, destacaram-se: a necessidade de mais recursos para o SUS, a urgente regulação apropriada e efetiva na saúde suplementar e a implementação de condições de trabalho e remuneração em prol do bom desempenho da medicina nos aspectos técnico e ético. O ato fez parte das comemorações do Dia do Médico. Os médicos de Pernambuco, organizados pela Ampe, Cremepe e Simepe, participaram da mobilização. “Nós precisamos fazer com que a Saúde entre na pauta de discussão para garantirmos mais financiamento, qualidade no SUS e assistência de qualidade à população”, disse o presidente do Cremepe, André Longo.

Médicos são homenageados com a Medalha São Lucas

O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) está sempre conectado às novidades, por isso, não poderia deixar de aderir à nova ferramenta de comunicação: o Twitter. Criado para deixar os médicos de Pernambuco e do Brasil ainda mais ligados às notícias sobre saúde, o @imprensacremepe chegou para ficar e nele podem ser encontradas informações que interessam a todos os profissionais da área.

Posição das entidades médicas sobre a CPMF

No dia 19 de outubro foi o esperado momento da entrega da Medalha São Lucas, patrono dos médicos desde o século 15, na sede da Associação Médica de Pernambuco (Ampe). A condecoração é entregue anualmente, desde 1969, a médicos que têm sua trajetória profissional reconhecida, servindo como exemplo para os demais profissionais. Em 2010, a Medalha foi entregue aos médicos Ângela Rocha, Gustavo Trin-

“A princípio não somos favoráveis à CPMF, que inclusive foi desvirtuada de sua finalidade e depois extinta. Defendemos há 10 anos a Regulamentação da Emenda Constitucional 29, que poderá aumentar os recursos da saúde dos 60 bilhões atuais para cerca de 110 bilhões de reais/ano. Esta é a verdadeira prioridade que saudamos ser colocada em pauta pelos novos governantes. Não podemos permitir que o debate de ter ou não a CPMF prevaleça sobre a verdadeira prioridade que é a regulamentação da EC 29”, diz a nota das entidades enviada à imprensa.

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SIMEPE Sindicato dos Médicos de Pernambuco

Simepe 80 anos História feita em defesa do médico Uma entidade que se conserva jovem e continua pulsando em seus ideais

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Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) chega em 2011 com disposição, entusiasmo e determinado para comemorar 80 anos. Completar 80 anos é antes de tudo prestar contas ao tempo, acender os passos do passado e iluminar o futuro. Uma entidade médica que se conserva jovem e pulsando em seus ideais nesta idade é algo raro e especial. Médicos e médicas que passaram pelo chão de Pernambuco têm sua parcela de glória nesta data. São 80 anos, são 80 pedaços, são passos encharcados de suor, são 80 gotas de sangue, são 80 gritos no ar, são 80 arremates e 80 partidas, são 80 chegadas e muita saudade. Vidas que se foram e vidas que virão. São médicos e médicas que em luta e em emoções fizeram também a vida de outros tantos, e nelas influenciaram para o bem a vida de centenas de milhares.

História e conquistas Enumerar conquistas, derrotas e vitórias em tão poucas linhas e por tantos anos é tarefa inglória, pois a ronda o perigo da omissão e do esquecimento, à fragilidade de nossa memória e de nossos arquivos emocionais. A imortalidade devemos sim, aos nossos atos quando feitos com amor e pelo amor. Foi assim, no vislumbre profético de formação da entidade de uma das classes mais laborativas e pujantes de Pernambuco, que às 20h do dia 14 de outubro de 1931, partindo de uma comissão formada na Associação Médica de PE, um grupo de 33 médicos liderados pelos médicos – Barros Lima, Edgar Altino, Ageu Magalhães, Geraldo de Andrade e Jorge Lobo - fundou o Sindicato dos Médicos de Pernambuco, tendo como seu primeiro presidente o professor João Marques. Hoje, esse “jovem combativo”, ao invés de deitar nos louros da fama que as conquistas poderiam lhe proporcionar, não descansa. É símbolo de luta para todo o país, e segue se renovando sempre, para se manter fiel ao conceito original de sua fundação: Lutar sempre pelos médicos do estado para que possam exercer dignamente sua nobre profissão, em locais dignos e com o merecido reconhecimento por toda a sociedade, proporcionando o que a medicina possa oferecer de melhor para os pacientes, de todas as classes sociais, sem distinção.

Rebeldia e mobilização Do Simepe sempre partiu o brado de rebeldia e indignação contra os que usam e abusam do poder. Realizamos assembleias, atos públicos, manifestações, paralisações, que mantiveram o movimento médico ativo, coeso e mobilizado. Podemos afirmar, com certeza, que o saldo foi positivo nas negociações com o Estado e as prefeituras do Recife, Petrolina, Caruaru, Cabo, Olinda e Jaboatão dos Guararapes. A mobilização para a implementação da CBHPM – Classificação Brasileira Hierarquizada e Procedimentos Médicos está em pauta. A nossa história é, principalmente, uma história de gente. Ou seja, de médicos e médicas, que, ao longo desses 80 anos, sempre estiveram junto à sua entidade de classe e, em todos os momentos lutando pela valorização do servidor médico e do serviço público; concurso e carreira públicos; condições de trabalho, remuneração e em ação com o Cremepe e AMPE.

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Nas campanhas memoráveis, por melhorias nas condições de trabalho, de salário, registradas nas décadas de 80, 90 e 2000, estivemos em sintonia com a classe médica e a sociedade, cobrando atendimento de qualidade à população. Enfim, estamos fazendo um sindicato amplo, ágil e plural, sempre em

busca de respostas rápidas aos desafios que surgem diariamente. Nos setores administrativo, financeiro, jurídico, comunicação e tecnologia., introduzimos mudanças estruturadoras e necessárias. Caro colega médico pernambucano, você pode ter orgulho de seu sindicato: forte, transparente, combativo e

sempre ao seu lado. Preparado para os próximos 80 anos. Venha celebrar conosco durante todo 2011, seja bem vindo, a casa é nossa! Assuero Gomes (médico) e Chico Carlos (jornalista)

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Entidades médicas festejam

Destas encruzilhadas que acontecem raramente quando os caminhos do tempo se cruzam, são lugares e momentos, presos nos espaços de nossas vidas, que nos permitem celebrar com alegria a caminhada de organizações humanas, as quais fazemos parte. Neste ano de 2011 a Associação Médica de Pernambuco completa gloriosos 170 anos, constituindo-se assim, uma das mais antigas do país. Foi e é casa de grandes nomes da medicina e de lá saíram ideias e ideais que foram base e fermento para que Pernambuco galgasse a posição de destaque que detém hoje nesta área de atividade humana, uma das mais nobres e essenciais, a arte médica. Sociedade de Medicina de Pernambuco (1841); Instituto Médico Pernambucano (1874); Associação Médico-Farmacêutica Pernambucana (1887); Sociedade de Medicina de Pernambuco (1897), atualmente Associação Médica de Pernambuco, inaugurada em 4 de abril de 1841 na sede do Liceu Pernambucano, que funcionava nas dependências do Convento do Carmo do Recife, por Antonio Peregrino Maciel Monteiro, seu primeiro presidente, que era doutor em medicina e bacharel em letras e ciências, destacandose pelos cargos políticos que ocupou. Hoje presidida pela psiquiatra Dra. Jane Lemos, se prepara para a edição de livro comemorativo da data, além de várias celebrações durante todo o transcurso do ano. Outra entidade que aniversaria é o Sindicato dos Médicos de Pernambuco, SIMEPE, que completa 80 anos, em plena atividade em prol dos médicos e médicas do estado,

para que assegurando condições de trabalho dignas e salário justo a população possa ter uma medicina de qualidade, acessível a todos os cidadãos, independentemente de condição social, raça, credo, gênero, idade ou qualquer outra forma de diferença. Foi assim, que de uma das classes mais laborativas e pujantes de Pernambuco, que às 20h do dia 14 de outubro de 1931, partindo de uma comissão formada na Associação Médica de PE, um grupo de 33 médicos liderados pelos médicos – Barros Lima, Edgar Altino, Ageu Magalhães, Geraldo de Andrade e Jorge Lobo - fundou o Sindicato dos Médicos de Pernambuco, tendo como seu primeiro presidente o professor João Marques. Hoje presidida pelo colega pediatra Sílvio Rodrigues, continua no seu mister mantendo uma atitude firme na defesa dos ideais originais e conseguindo progredir no diálogo constante e produtivo com as organizações, entidades e instituições que atuam na saúde. Outras duas entidades ligadas aos médicos também comemoram idade nova neste ano, a Unimed Recife com seus 40 anos, presidida pela Dra. Maria de Lourdes C. Araújo e a Unicred Recife, 18 anos, presidida pelo colega pediatra Dr. Floriano Quintas, das quais falarei em próximos artigos. Este ano de 2011 é um ano de comemorar e de se refletir mais ainda sobre a saúde do nosso povo. Assuero Gomes Médico e escritor

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SIMEPE Sindicato dos Médicos de Pernambuco

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Descaso, entrega de cargos e impasse em Camaragibe

Mobilização e luta pautaram o movimento dos médicos. Mas, as negociações travaram devido à intransigência da Prefeitura

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á cerca de aproximadamente um ano, os médicos vinculados a rede municipal de saúde de Camaragibe, preocupados e indignados com a situação da saúde pública municipal, resolveram procurar o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), para que o mesmo pudesse intermediar soluções junto à prefeitura. O Simepe já apresentava em sua história várias negociações exitosas em muitos municípios - Recife, Olinda, Caruaru, Jaboatão, Petrolina, Cabo de Santo Agostinho, assim como com o Governo do Estado. A gravidade da situação exigia uma construção conjunta entre trabalhadores e gestão. Na rede municipal de saúde, encontramos escalas de plantão desfalcadas, principalmente, nos CEMEC`s, como também na Maternidade, PSF`s sem médicos, além de possuírem uma estrutura física extremamente precária ocorrendo inclusive falta d’ água de forma corriqueira em algumas unidades, falta de medicações nas urgências e emergências assim como também de materiais, as ambulâncias que além de sucateadas servem para outros fins que

não o transporte de pacientes . Os funcionários de Camaragibe, além de conviverem com esta realidade, enfrentam situações absurdas como o desconto de seus vencimentos quando se encontram afastados de suas atividades para tratamento de saúde, ou mesmo quando as funcionárias públicas municipais entram em licença maternidade, sendo isto uma grave infração aos direitos trabalhistas conquistados com muito esforço e luta.

Negociações As tentativas de negociação do Sindicato durante quase 12 meses, com o prefeito João Lemos, não avançaram. Foram várias reuniões, que contaram com a participação de alguns secretários municipais, de médicos do município e de representantes do Simepe. Esbarramos na falta de autonomia dos secretários municipais para que pudéssemos chegar às decisões finais. O prefeito João Lemos, que por sinal é médico, se fez presente em apenas dois encontros, no início das negociações se ausentando posteriormente. O processo travou.

O município de Camaragibe possui atualmente cerca de 140 médicos em seu quadro de funcionários - número este já deficitário, sendo apenas uma minoria concursada. Alguns médicos possuem contratos que vêm sendo renovados por vários anos, outros nem contrato possuem “trabalham por empenho”. Portanto, diante dessa realidade caótica, cerca de 30 médicos em uma atitude heroíca e de honradez pediram exoneração - demissão de seus vínculos. O Simepe formalizou todas estas denúncias nas instâncias competentes, Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público Estadual (MPPE), Superintência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE/PE), como também no Cremepe. Estaremos sempre estará ao lado do médico, sobretudo aqueles que honram a profissão com dignidade e caráter, e sempre buscará o caminho do diálogo, para que de fato possamos construir uma saúde pública eficiente. Fernando Henrique Cabral.Nefrologista infantil. Diretor jurídico do SIMEPE.

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Neonatologistas denunciam o Centro Amaury de Medeiros

A situação da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e Unidade de Cuidado Intermediário (UCI) para recém-nascidos do Centro de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), no Recife, está em crise. Em janeiro deste ano, um grupo de neonatologistas esteve reunido no Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), com diretores da entidade e do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), para relatar os problemas enfrentados diariamente pelo corpo clínico do hospital. Na ocasião, os médicos colocaram a falta de leitos e as escalas de plantões incompletas como os maiores problemas da unidade de saúde. Eles afirma-

horas da admissão de gestantes de alto risco em trabalho de parto e de novos bebês. “A situação não é de agora. Solicitamos uma reunião com a Secretaria Estadual de Saúde e a Secretaria de Ciência e Tecnologia, para expor a situação do Cisam e discutir uma solução para os desfalques nos plantões e falta de leitos”, afirmou Silvio Rodrigues, presidente do Simepe.

ram que há uma necessidade urgente de mais profissionais para dar conta da demanda. Segundo o diretor do Cremepe, José Carlos Alencar, o ideal seria no mínimo 5 plantonistas por plantão para amenizar o cenário de imediato, porém, a longo prazo o melhor é a realização de um concurso público para suprir a necessidade. Para o diretor do Simepe, Tadeu Calheiros, a carência de recursos humanos e escalas incompletas são problemas sérios na unidade. “Os médicos ficam submetidos à sobrecarga de trabalho”, pontuou. Além da escassez de profissionais, a situação vem se agravando ainda mais. De acordo com os médicos, os leitos do Cisam atingiram lotação máxima várias vezes, e nessas ocasiões foi preciso solicitar, à Central de Regulação Médica *Ronaldo Cunha Dias é médico cirurgião, e o Ronaldo,o cartunista, são a do Estado, suspensão por 24 mesma pessoa. É gaúcho de Vacaria,onde atua como médico há 30 anos.

Por dentro da notícia Médicos de Olinda Em reunião com os secretários da Fazenda e Administração e da Saúde, João Alberto Faria e Tereza Miranda, respectivamente, ficou encaminhado: Reajuste salarial – em janeiro de 2011, com retroativo ao mês de setembro. PCCV - em até 90 dias os médicos já estarão devidamente enquadrados em seus níveis. Concurso Público - em fase de licitação, com previsão para junho de 2011,com 100 vagas para médicos. Os médicos interessados em acompanhar a progressão do PCCV devem se dirigir à Secretaria de Administração - Av. Santos Dumont, 170 – Varadouro, das 8h às 13h, e procurar por Cristina Zirpoli (Gerência). Em relação aos descontos nas remunerações durante o movimento da categoria, os interessados devem ir à Secretária Municipal de Saúde/Gerência de Gestão de Pessoas (Sra. Luci Martins) - Rua do Sol, 311 – Carmo/Olinda.

Ambulatório dos Correios Encaminhada ao Simepe e à SRTE/PE denúncia contra a empresa Bioplast Serviços Médicos S/S Ltda, terceirizada da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), pelo não pagamento de 13º salário, atrasos salariais e irregularidades trabalhistas (INSS e FGTS). Os médicos vinculados à Bioplast deverão verificar com a Previdência Social a situação do recolhimento do INSS e FGTS (certidões) para que o Sindicato tome as devidas providências em caso de irregularidades.

Humor

Produtividade de Ouricuri Em reunião com o secretário estadual de Saúde, Antônio Carlos Figueira, foi cobrado o pagamento da produtividade dos médicos de Ouricuri que não está sendo efetuado desde a publicação de portaria. A SES ficou de regularizar a pendência o mais breve possível.

Médicos de Petrolina Após reivindicação dos médicos da rede municipal, a Prefeitura de Petrolina efetuou o pagamento do 13° salário da categoria e já sinalizou em depositar o salário referente ao mês de dezembro. A categoria esteve reunida por várias vezes com representantes do Simepe denunciando o de scaso do governo municipal. Por sua vez, a Secretaria Municipal de Saúde garantiu, através de ofício, que até a primeira quinzena de fevereiro, todas as pendências (atrasos salarias) estariam solucionadas. O correto é que o salário seja depositado na conta do servidor até o 5° dia útil do mês, o que não vem ocorrendo em Petrolina. Porém, o atraso do salário não é o único problema para os servidores. Durante as assembleias, os médicos fizeram uma avaliação do movimento naquela região e afirmaram que parte do Termo de Compromisso de 2009 não foi cumprida. A gestão municipal precisa honrar os compromissos com os médicos. *Lembrete: a Contribuição Sindical (Imposto Sindical) é tributo federal obrigatório. O médico que presta serviço em regime de CLT na rede pública ou privada deve quitar o referido tributo até o dia 28.02.2011, sob pena de desconto único de 1/30 sobre o salário do mês de março de 2011.

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Geriatria e prevenção de doenças José Tenório de Cerqueira Filho* “Quanto mais envelhecemos, mais precisamos de ter o que fazer. Mais vale morrer do que arrastarmos na ociosidade de uma velhice insípida: trabalhar é viver.” Voltaire.

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ntre os vários ramos da medicina, temos a medicina geriátrica, que foca o estudo, a prevenção e o tratamento de doenças e da incapacidade em idades avançadas, devendo-se ainda diferenciar do termo gerontologia, que é o estudo do envelhecimento em si. Até 2025, o Brasil será o sexto país do mundo com o maior número de pessoas idosas. Pelo menos segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Daí o alerta ao governo brasileiro para a necessidade de se criar, o mais rápido possível, políticas sociais que preparem a sociedade para esta realidade. Embora seja importante frisar que Brasília foi a primeira localidade a criar uma Subse-

cretaria para Assuntos do Idoso, além de instituir o Estatuto do Idoso. Em relação a Pernambuco, verifica-se que o Recife é a terceira capital do Brasil em números relativos de idosos. De acordo com a cronologia, considera-se idoso o individuo que tem 60 anos

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SIMEPE Sindicato dos Médicos de Pernambuco de idade ou mais em países em desenvolvimento, já em países desenvolvidos que tem 65 anos de idade ou mais. E em relação aos mais idosos aqueles que possuem 80/85 anos de idade ou mais.

Pontos de vista O envelhecimento pode ser explicado de forma simplista sendo o processo pelo qual o jovem se transforma em idoso ou do ponto de vista biológico em que ocorrem fenômenos que levam á redução da capacidade de adaptação decorrentes de sobrecargas funcionais. Um outro ponto importante é diferenciar o termo Senescência (envelhecimento normal) de Senilidade (envelhecimento patológico). Podemos afirmar que o envelhecimento é um fenômeno biológico, psicológico e social que atinge o ser humano na plenitude de sua existência, modificando sua relação com o tempo, com o mundo e com sua própria história. A modificação da relação do idoso com o tempo se caracteriza por um encurtamento do futuro. O relacionamento do idoso com o mundo se caracteriza pelas dificuldades adaptativas, tanto emocionais quanto fisiológicas. No rela-

Contribuições obrigatórias e esclarecimentos

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este começo de ano, chegam às mãos dos médicos, carnês e boletos bancários das entidades representativas da categoria. Por conta da agitação diária da jornada de trabalho os colegas, involuntariamente, ficam sem explicações sobre uma série de contribuições que às vezes precisam pagar. O Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) esclarece sobre as contribuições consideradas obrigatórias para os profissionais médicos. Leiam atentamente as explicações de cada uma. Estamos à disposição dos colegas para eventuais esclarecimentos. Agradecemos à compreensão de todos.

O que é o imposto Sindical? É um imposto anual, obrigatório por decreto lei previsto na Constituição Federal e na CLT (artigos 578 e 580), destinado a custear o Sindicato. É descontado anualmente, a partir de março em cada vínculo de trabalho e corresponde a um

599 da CLT prevê – “Para os profissionais liberais, a penalidade consistirá na suspensão do exercício profissional, até a necessária quitação, e será aplicada pelos órgãos públicos ou autárquicos disciplinares das respectivas profissões mediante comunicação das autoridades fiscalizadoras”.

O que é a Contribuição Social? dia de trabalho, ou seja, 1/30 do salário mensal. Pagam esse imposto todos os médicos inscritos no Cremepe, sindicalizados ou não, o celetista, o estatutário e o autônomo exclusivo, ou que trabalha em convênios. Este ano, o valor dessa contribuição é de R$ 150,00. Estão isentos os que estiverem aposentados, desempregados ou convocados para o Serviço Militar, bem como os que cancelaram seu registro no Cremepe. A estes, mediante requerimento à comprovação, será concedida a isenção pela entidade sindical. O artigo

É uma contribuição paga pelo médico associado ao Sindicato para gozar dos benefícios do Probem (Programa de Benefícios ao Médico Associado). Esta taxa no valor de R$ 600,00 pode ser paga em parcela única no valor de R$ 570,00 ou em parcelas mensais de R$ 50,00 por débito em conta corrente ou por desconto em contracheque, este último apenas para os médicos que têm vínculo na Fusam, Secretaria Estadual de Saúde, IMIP, Fesp/UPE e Prefeitura do Recife. A Contribuição Social é paga pelo médico que, espontaneamente, é nosso filiado.

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FECEM cionamento com sua história o idoso pode atribuir novos significados a fatos antigos através da experiência de vida adquirida. A geriatria objetiva a manutenção da Saúde em idades avançadas, a funcionalidade, prevenção de doenças bem como a sua detecção e tratamento precoce, o máximo grau de independência do idoso e cuidado e apoio durante doenças terminais, além de tratamentos seguros. A idade aconselhada para que alguém procure um geriatra é aos 30 anos. Em relação ao médico geriatra é importante que se diga que existem poucos cursos em nosso país, sendo a maioria no eixo Sul e Sudeste. Portanto, há um hiato negativo nas demais regiões, o que gera uma situação de penúria, no trato destes idosos, implicando na necessidade urgente de uma política adequada por parte dos Governos (Federal, Estadual e Municipal), tendo em vista a falta de pelo menos 5.000 geriatras no país.

Cooperativismo médico terá plano estratégico Reajuste de honorários médicos nos contratos de planos de saúde O presidente da Agência Nacional de Saúde-ANS, Maurício Ceschin, declarou que os médicos devem exigir inserção de cláusula, que garanta o reajuste de honorários, em contratos firmados com operadoras de planos de saúde, como determina a Resolução Normativa de ANS 71/2004. Esse assunto foi discutido, durante encontro, com a Associação Médica Brasileira-AMB, em agosto do ano passado. O Projeto de Lei nº 6964/2010 que trata dos planos e seguros privados de assistência à saúde, também foi analisado durante a reunião da AMB. Ele está sob relatório do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados.

* Médico infectologista e geriatra.

O O que é a Taxa Assistencial? É uma taxa cobrada quando da homologação de Dissídio Coletivo da rede privada pelo Tribunal Regional do Trabalho – TRT - e de ganhos de lutas salariais da rede pública estadual e municipal (aprovada em assembléia geral, inclusive com a estipulação do valor a ser descontado do médico). Na rede privada equivale à aplicação do percentual de 5% (cinco por cento) sobre a remuneração bruta de cada vínculo empregatício do médico. *Cláusula 49. (Contribuição Confederativa) e prevista no inciso IV do artigo 8 da Constituição Federal. Outros esclarecimentos e informações ligue para o Simepe (81) 3322.7095 A Diretoria

III Fórum Nacional de Cooperativismo Médico debateu, no ano passado, a elaboração de um plano estratégico entre as entidades e os segmentos da área, para enfrentar os desafios relativos ao cooperativismo médico brasileiro. O Fórum realizado no Conselho Federal de Medicina discutiu também, entre outros assuntos, o trabalho precário da categoria, a alta tributação e a defasagem dos honorários médicos. Entre as medidas propostas constam o alinhamento das entidades médicas com o segmento cooperativista para definição de ações conjuntas, o apoio a projetos que tratam do reajuste anual dos médicos e a construção de um ambiente político que propicie resultados na representação das políticas públicas sociais e encaminhamentos tributários. A Comissão de Cooperativismo Médico do CFM, coordenada pelo conselheiro e tesoureiro Hiran Gallo, fará reuniões para consolidação das propostas. “O sistema cooperativista será o quarto elemento a compor a atuação das entidades médicas nacionais CFM, AMB e Fenam”, garantiu Gallo.

RF critica normativa da ANS O CFM criticou a normativa da Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS que estabeleceu prazos máximos de atendimento aos clientes de planos de saúde. A decisão da ANS determina que as operadoras têm de três a 21 dias para providenciar resposta à demanda gerada pelos segurados. Na opinião do plenário do CFM, a medida é uma afronta aos médicos. Para o conselheiro federal Cláudio Balduino Franzen, a ANS não tem competência para estabelecer regras desse tipo. “É uma interferência direta ao trabalho do médico”. Franzen disse, ainda, que a decisão da ANS desconsidera questões importantes e que têm sido questionadas pelos médicos, como o déficit nos horários.“A baixa remuneração das operadoras provocou o descredenciamento de muitos profissionais, fato que gerou o aumento de demanda para os médicos que permaneceram”,afirma o conselheiro. Ele lembrou também a prerrogativa do médico de definir seu cronograma de trabalho em função de sua avaliação de diagnóstico e riscos.

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AMPE: 170 anos

Associação festeja existência com relevante contribuição à Medicina

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a Associação Médica de Percias médicas na província de Pernambunambuco -AMPE, antiga Soco, e dar à classe médica a posição que lhe ciedade de Medicina de Perera assinalada pela nobreza de sua profisnambuco, de marcante trajesão”. Finalidade esta que permanece com tória histórica, completa 170 anos em ampliação: promover o aperfeiçoamento abril deste ano. Este grandioso evento não da cultura médico-científica, congregar pode passar despercebido, principalmen- médicos e suas entidades representativas te, pela categoria médica. na defesa geral da categoria no terreno Para que todos possam dimensionar a científico, ético, econômico e cultural, importância, dessa associação para a Me- além de contribuir com a política de dicina de Pernambuco, durante os seus saúde e a qualidade do sistema médico 170 anos de atividades, apresentamos, assistencial do Estado. abaixo, uma breve retrospectiva histórica. A título de ilustração histórica citamos A Associação Médica de Pernambuco que a então Sociedade de Medicina logo foi fundada em 4 de abril de 1841 como nos seus primórdios exerceu a função de Sociedade de Medicina de Pernambuco consultoria do governo provincial em aspor Antonio Peregrino Maciel Monteiro, suntos relacionados à saúde pública com com sede no Liceu Pernambucano, nas contribuições importantes nesta área. dependências do Convento do Carmo Posteriormente teve iniciativas como a do Recife. Maciel Monteiro, seu primeiro criação da Maternidade do Hospital Pedro Presidente, era doutor em medicina e II (1880) da Liga Pernambucana conbacharel em letras e ciêntra a Tuberculose (1890), cias, destacando-se pelos realizou o primeiro Concargos políticos que ocugresso Médico (1909), o pou entre os quais depuprimeiro Jornal de Medicitado em várias legislações, na de Pernambuco – Annaes Ministro dos Negócios Exde Medicina de Pernambuco teriores e Conselheiro do (1844-1874) depois o JorImperador Pedro II. nal Annaes da Sociedade de A entidade em seu priMedicina em 1898 que cirmeiro estatuto tinha por culou algum tempo e em finalidade “promover os 1905 foi criado por José progressos da medicina e Otávio de Freitas o Jornal de todos os ramos das ciên- Antonio Peregrino Maciel Monteiro Medicina de Pernambuco que

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AMPE Associação Médica de Pernambuco na atualidade continua sendo publicado. Esta entidade também foi berço de importantes entidades médicas (Sindicato dos Médicos, Cooperativas, etc.) e de ensino (Faculdade de Medicina do Recife) tendo sido palco de memoráveis eventos científico-culturais além de relevantes contribuições à comunidade e à medicina de Pernambuco. Ressalte-se que o Sindicato dos Médicos de Pernambuco completa 80 anos e com toda pujança indispensável ao seu papel vive uma das melhores fases de sua história lutando galhardamente pelos médicos e pela medicina, não apenas pernambucana, mas, brasileira, integrada a um movimento estadual e nacional. No que se refere ao ensino médico no Brasil não podemos deixar de ressaltar que a história do ensino médico em Pernambuco tem uma estreita e importante relação com a associação, tendo no seu então Presidente (1914/1916) José Otávio de Freitas, um dos seus grandes baluartes. A luta pela criação desta Faculdade atravessou anos tendo como um dos seus batalhadores o médico José Otavio de Freitas também um dos seus mestres pioneiros (Microbiologia), seu primeiro Diretor e quem proferiu a aula inaugural em 16 de julho de 1920. Ao longo de sua existência, por razões diversas, esta entidade teve várias mudanças de nome: Sociedade de Medicina de Pernambuco (1841); Instituto Médico Pernambucano (1874); Associação Médica Farmacêutica Pernambucana (1887) Sociedade de Medicina de Pernambuco (1897) e finalmente Associação Médica de Pernambuco em 2005 em função do atual Código Civil Brasileiro. Em que pese as mudanças de nomes, a história e o presente tem mostrado e certamente o futuro também o fará que nossa entidade continua viva preservando seu passado memorável e vivendo o presente em toda sua plenitude, acompanhando e se adaptando as transformações da nossa sociedade - resultante do enorme avanço tecnológico e cientifico - que pela sua importância já é considerado por alguns como “O Novo Renascimento.” Entre tantos fatos a destacar, vale mencionar a outorga da Medalha de Honra ao Mérito Maciel Monteiro, criada em 1972, que, ao mesmo tempo em que homenageia o seu fundador destaca, anualmente três médicos que são escolhidos pela sua atuação baseada nos

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preceitos técnicos, éticos e humanísticos. A outorga é realizada em solenidade no dia 4 de abril, aniversário da entidade. A outra Medalha de Honra ao Mérito recebe o nome do Patrono dos Médicos – São Lucas, tendo sido criada pela AMPE, o CREMEPE e o SIMEPE, também como forma de homenagear três médicos no dia do Médico. Na atualidade a Associação Médica de Pernambuco mostra toda sua pujança, engajada com as demais entidades médicas nacionais e estaduais na luta pelas grandes bandeiras da categoria médica entre as quais podemos citar - implantação da CBHPM - Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos como balizadora dos honorários médicos, aprovação do Projeto da CBHPM, do Ato Médico, da Regulamentação da Emenda 29, na luta pelo fortalecimento do SUS, melhoria da qualidade do ensino, ampliação de vagas da Residência Médica, implantação de um amplo programa de educação continuada para todos os médicos e movimento efetivo e articulado contra a abertura indiscriminada de escolas médicas. Continuamente esta associação, irmanada com as demais entida-

des, em prol de melhoria da assistência à saúde articula-se com os gestores das três esferas de governo, contribuindo com a gestão e participando também efetivamente do controle social. Ao longo de sua história a AMPE têm encontrado estratégias para enfrentar as adversidades, os obstáculos e mais do que sobreviver, viver em toda sua plenitude e cumprir seu papel na comunidade médica pernambucana. É importante ressaltar que união, o espírito de luta, a integração, os objetivos e metas definidos tem sido a marca destas últimas gestões. Não se pode deixar de assinalar o trabalho de equipe desenvolvido por sua diretoria. Como disse Fela Moscovici, em seu livro Equipes que dão certo: “Há uma grande diferença entre pessoas trabalhando juntas num projeto e todas elas apenas trabalhando no mesmo tempo”. Este parece ser a mola propulsora para manter a AMPE ativa e em franca expansão. Finalizando, registramos a programação preliminar para comemoração dos 170 anos e conclamamos todos a compartilharem deste momento tão significativo para nossa entidade vivendo o presente, preservando o passado e olhando para

o futuro.

PROGRAMAÇÃO 170 ANOS Jane Lemos/Presidente da Ampe A Diretoria da Associação formou várias comissões, para elaborar a programação comemorativa, que iniciará com uma Missa de Ação de Graças, no dia 4 de abril, dia do aniversário da AMPE. Na sequência, em 12 de abril, haverá uma Solenidade Magna nos salões do Teatro Santa Isabel com apresentação da Orquestra de Câmara da UFPE, atos teatrais montados pelo TAP e outorga da Medalha Maciel Monteiro - 170 anos. Um coquetel oferecido aos convidados encerrará as comemorações. Durante o ano de 2011 será, ainda, publicado o livro Associação Médica de Pernambuco - Edição 170 anos e criado o Comitê de Acadêmico, resgatando o papel da antiga Sociedade dos Internos. Também, terá evento cientifico comemorativo. Todos estão convidados a participar, efetivamente, das comemorações.

AMPE INFORMA MEDALHA SÃO LUCAS

MÉRITO SINDICAL

FÓRUM EM ARACAJU

Os médicos Gustavo Antônio da Trindade Meira Henriques, José Nivaldo Barbosa de Souza e Maria Ângela Wanderley Rocha foram agraciados com a Medalha do Mérito São Lucas no dia 19 de outubro, do ano passado, na AMPE quando também foi comemorado o DIA DO MÉDICO. Uma linda festa foi realizada, promovida pela AMPE, CREMEPE E SIMEPE.

A AMPE participou da solenidade da outorga da 12ª edição da Comenda do Mérito Sindical.

A presidente da AMPE, Jane Lemos participou do Fórum Nacional das Entidades Médicas, organizado pelo Conselho Federal de Medicina-CFM, Associação Médica Brasileira-AMB e Federação Nacional dos Médicos-Fenam, realizado de 8 a 10 de dezembro, em Aracaju.

HONORÁRIOS Membros da Associação Médica de Pernambuco participaram da reunião da Comissão Estadual de Honorários Médicos, na sede da AMPE, realizada no dia 21 de outubro do ano passado

DELEGADOS A Assembléia Geral e Ordinária de Delegados da Associação Médica Brasileira – AMB foi realizada em Florianópolis, no dia 22 de outubro do ano passado, com participação do delegado da AMPE, médico Flávio Pabst.

ENCONTROS EM CARUARU O III Encontro das Câmaras Técnicas do CREMEPE, realizado em Caruaru, no dia 5 de novembro último teve participação ativa da presidente da AMPE, médica Jane Lemos. Na ocasião, também foram realizados o II Encontro das Delegacias e Representações do CREMEPE e o II Simpósio – Saúde: Desafios e Perspectivas do Século XXI.

ASSEMBLÉIA EXTRAORDINÁRIA O CREMEPE, A AMPE E O SIMEPE participaram da Assembléia Geral Extraordinária realizada na reunião da Comissão Estadual de Honorários Médicos, em 15 de dezembro do ano passado.

FÓRUM DEBATE CRACK

APOIO DA AMPE

O aumento dos usuários de crack no País, proporcionou a realização do I Fórum Nacional sobre Aspectos Médicos e Sociais relacionados ao uso dessa droga perigosa. A presidente da AMPE, Jane Lemos, participou do evento que aconteceu em Brasília, no dia 25 de novembro do ano passado.

A AMPE apoiou o II Fórum das Entidades Representativas Médicas e Estudantis – “Abertura de Novas Escolas Médicas” – Uma Visão Crítica do Tema, realizado em 16 de dezembro último, na sede da Associação. Os participantes mostraram preocupação com a qualidade da formação oferecida pelas escolas já existentes.

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AMPE Associação Médica de Pernambuco

Parto traumático prejudica relação mãe-bebê Elizabeth Porto*

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maioria das mulheres deseja ser mãe mas, em pleno século XXI, o parto, mesmo com toda evolução da Medicina, ainda, pode ser traumático. O Programa de Saúde Mental da Mulher, da Universidade Federal de Pernambuco, coordenado pelo psiquiatra Amaury Cantilino realizou uma pesquisa em 2008 com 400 mulheres, com idades de 15 a 44 anos que pariram entre duas e seis semanas e constatou que 5,2%, dessas pacientes, sofreram estresse pós-traumático relacionado ao parto. Para Cantilino, o parto traumático é pouco conhecido e não é discutido pelos profissionais de saúde, mesmo sendo um problema que pode trazer conseqüências negativas para a vida conjugal e reprodutiva da mulher, e para a relação mãe-bebê. A psiquiatra Carla Fonseca Zambaldi que participou, também, dessa pesquisa revela que os veículos de informação para profissionais de saúde, realmente, não têm abordado este tema. “Acredito que um dos motivos é que o parto passou a ser reconhecido como um acontecimento traumático apenas em 1994, quando a Associação Americana de Psiquiatria lançou a quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-IV). No DSM-IV, o conceito de evento traumático ficou mais amplo”, afirma Carla. Há estudos sobre esse problema na Europa, Estados Unidos, Austrália e Nigéria, mas não existe nenhum Latino Americano. “O Programa de Saúde Mental da Mulher da UFPE está em fase de coleta de dados para uma pesquisa na área e espero que com os resultados este tema possa ser mais divulgado e discutido em nosso meio”, acredita a médica. O parto traumático é definido como um acontecimento inesperado que ocorre durante

o trabalho de parto ou no momento do parto que envolve a temida lesão física ou morte da mulher ou do recém-nascido. É um momento que a mulher experimenta medo intenso, desamparo, perda de controle e horror. As mulheres que sofrem cesariana de urgência, que passam por outro procedimento obstétrico de urgência ou tem seu recém-nascido extraído com o uso de fórceps ou vácuo podem considerar o parto como traumático. È importante lembrar que um atendimento ruim pelos profissionais de saúde às parturientes, nas maternidades também provoca o parto traumático. “Há relato de mulheres afirmando que foram

atendidas pelas equipes de saúde, na hora do parto, de maneira mecânica, fria, arrogante, e sem empatia”, diz Cantilino revelando que as mulheres mal atendidas nas maternidades temem pela própria vida e pela vida do bebê que está para nascer. “A falta de reconhecimento destes transtornos pelos profissionais de saúde que assistem as mulheres no periparto pode trazer prejuízos para as mesmas e cronificar o seu sofrimento psíquico”, afirma a psiquiatra Carla Zambaldi. “As vezes a equipe de saúde considera um parto de sucesso, quando não há complicações com a mãe e recém-nascido sem dar importância de como foi a percepção

Os psiquiatras Amaury Cantilino e Carla Zambaldi.

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da mulher em relação ao parto”, diz o psiquiatra.

TRANSTORNO O psiquiatra explica que quando algumas mulheres sofrem parto traumático passam a apresentar no pós-parto recordações aflitivas do parto através de imagens, idéias, sonhos ou emoções. Além disso, procuram evitar pessoas, lugares e pensamentos que as façam relembrar o parto. “Associado a este quadro, elas também apresentam tensão e entorpecimento afetivo, que chamamos de Transtorno do Estresse Pós-Traumático – TEPT. É observado que durante o dia as mulheres apresentam flashbacks do parto traumático e à noite têm pesadelos. O problema passa como um filme na mente das mulheres”, adverte o médico. Há relatos de mulheres que sentiram raiva, ansiedade e depressão no pós-parto.

Ficaram emocionalmente distante do filho recém-nascido, evitaram falar com outras mães e crianças e tiveram medo de ter outro filho. “A equipe que assiste a mulher no pós-parto se identificar que ela viveu uma situação traumática pode encaminhála para avaliação psiquiátrica. Não há nenhum ambulatório específico para atender esta situação, mas qualquer psiquiatra é habilitado para avaliá-la e conduzir seu tratamento”, revela Zambaldi.

CUIDADOS A psiquiatra Carla Zambaldi afirma que um dos fatores que impede o parto traumático de uma mulher é o bom atendimento na maternidade.“É importante para a mulher receber informações da equipe de saúde do seu quadro e dos procedimentos que serão realizados, que ela seja ouvida por estes profissionais e possa participar das decisões a serem tomadas

Médico de família Gustavo Correia Lima

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que é e o que representa o médico de família? É o clínico geral que, como generalista, atende e responde a todos os questionamentos de um grupo de famílias. É aquele que tem capacitação técnica, ética e total confiança, por estar ao lado da família nos momentos de fuga da normalidade de um de seus componentes. Ele é muito mais, é o amigo de todas as horas e o que oferece todos os recursos para o bem estar do paciente, com a preocupação que vai além do tecnicismo, garantindo o humanismo. Fazer referência à posição de destaque do clínico geral na atual fase do desenvolvimento tecnológico da medicina é um dever de justiça. Caracterizam-no a vivência e o conhecimento do ser humano como um todo, agindo como um conciliador entre o psíquico e o somático, graças a sua perspicácia e o alto grau de confiabilidade, fundamentos da verdadeira medicina. O passar dos anos permite um convívio muito personalizado com o seu paciente e, sempre o ouvindo com serenidade, faz criar a empatia tão necessária para o sucesso de sua atuação. Talvez não seja exagero afirmar que, o relacionamento médico-paciente,

passa a ser um ato de amor. O vivenciar a cada dia, a cada hora as dificuldades do seu paciente, até nos momentos tão necessários de lazer para o descanso médico, fornecendo seu telefone, seu celular, justifica a afirmação. É responsabilidade do médico de família ouvir atentamente, valorizando detalhe por detalhe da narrativa e em seguida inquirir com perguntas complementares para a conclusão final de seu raciocínio clínico. Em seguida, vem o contato direto com o paciente examinando-o integralmente, da cabeça aos pés. Fazendo-se necessário, solicita exames complementares laboratoriais e de imagens. Concluindo, encaminha, também se necessário, ao especialista de sua confiança, possibilitando o posterior contato com o mesmo para conclusão diagnóstica. Seria ele o ma-

O médico Gustavo Correia Lima

quanto ao seu parto. A presença de um acompanhante na sala de parto também é um fator primordial de suporte emocional para a mulher. No pós-parto, deve sempre ser perguntado a mulher como ela está emocionalmente e como ela considera que foi seu parto, para que sejam identificadas aquelas que se sentiram traumatizadas e possam ser encaminhadas para serviços de saúde mental. O Programa de Saúde Mental da Mulher faz parte do curso de Pós-graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento da Universidade Federal de Pernambuco. Atualmente, tem 11 pesquisadores coordenados pelo médico Amaury Cantilino. É um grupo de pesquisadores que atua em particularidades psicológicas e psiquiátricas ligadas às mulheres. *Jornalista.

estro da orquestra dos diversos solistas (especialistas). Por sua postura mais amigável, mais acessível, equaciona melhor as decisões, partindo sempre de atitudes mais simples e menos agressivas para as mais complexas, conseguindo muitas vezes definições diagnósticas melhor aceitas por seu cliente. Não é incomum você ouvir algumas expressões de pacientes tais como: “somente com sua presença já melhorei; agora vou ficar bom; chegou o santo”, frutos da confiabilidade e da existência bem forte do calor humano que seu médico transpira. A frieza de alguns superespecialistas por vezes agride a sensibilidade e a fragilidade temporária por que passa o paciente. Fica a certeza do quanto é poderosa a solidariedade e o saber aquietar aquele que se sente desprotegido. Sabemos e concordamos da ansiedade de parte da classe médica, pressionada pelo corre-corre do dia a dia, imposto pela má remuneração, que exige que assuma várias atividades a fim de conseguir um padrão médio de sobrevivência sócio-econômica. Isso provoca, algumas vezes, ação negativa no seu desempenho. Fica a esperança e o desejo de que o ensino médico se humanize cada vez mais e forme generalistas conscientizados da grandeza de nossa profissão: servir com desprendimento e amor.

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DIRETÓRIOS

Perspectivas quanto à formação médica no estado de Pernambuco FOTOS: DIVULGAÇÃO

O atual quadro da saúde em todo o país nos leva a refletir

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bservando o atual quadro em que se encontra a saúde em todo o Brasil e principalmente em nosso estado, nos leva a refletir acerca do projeto de saúde que necessitamos. Várias ideias surgem e vários são os nomes que surgem rm nossa memória como Octávio de Freitas, Salomão Kelner, Amaury de Medeiros, Waldemir Miranda, Luiz Tavares e, principalmente, o professor Fernando Figueira, médico pediatra que iniciou suas atividades em prol da saúde ainda quando estudante da Faculdade de Medicina do Recife, ampliando sua atuação quando retornou de São Paulo como professor livre docente na UFPE e posteriormente professor titular e diretor da Faculdade de Ciências Médicas de Pernambuco. Em 1960, o professor Figueira construiu o IMIP, instituição que assiste a população e contribui enormemente para a formação de profissionais em saúde, principalmente em saúde da mulher e da criança. Outro grande desafio da sua trajetória, talvez seja o maior, quando secretário estadual de saúde no período

de 1971 a 1975, no qual entregou ao estado o Hospital da Restauração, Cisam, Hemope, CEON-HUOC, etc. Mas o professor Fernando Figueira não criou apenas centros de assistência, ele pensava muito além. Ele acreditava que era função do estado a assistência e a formação de recursos humanos. Todos os hospitais eram comprometidos com a formação do estudante de saúde. Naquele ano esses hospitais faziam parte da antiga FESP, hoje UPE, instituição pública estadual que tem como bandeira o ensino, a pesquisa e a assistência de qualidade. A nomeação do médico Antonio Carlos Figueira nos deixa bastante ansiosos, não só pela continuidade de expansão dos serviços de saúde, compromisso do governador Eduardo Campos, mas também por um olhar que provavelmente será dado à formação médica e à valorização da classe. *Diretório Acadêmico de Medicina Josué de Castro – UPE

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APMR

Tranquilidade perigosa Somos tratados com direitos de estudante e deveres de profissional

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ovo ano se inicia, e desafios nos incitam a sair do marasmo. A tão disputada residência médica é uma experiência ímpar, uma verdadeira imersão em mares de conhecimento, de onde emergem, alguns anos após, profissionais tecnicamente preparados, sobretudo no tocante às suas “praias”. Entretanto, a cansativa rotina de 60 horas semanais leva a um distanciamento dos demais assuntos. Aqui, o famoso bordão “Existe vida além da medicina” às vezes parece não encontrar espaço; para muitos, sua aplicação simplesmente tem de ser postergada. Mesmo nas atividades relativas à residência, os entraves que surgem acabam não sendo resolvidos, sempre pelos mesmos motivos: falta de tempo e alta rotatividade dos participantes dos programas de residência. Assim, entra ano, sai ano, e muitas mudanças que deveriam ocorrer acabam sendo deixadas para um “eterno depois”. Da infraestrutura precária nos hospitais à falta de apoio pedagógico adequado, passando pelo desrespeito aos limites de carga horária e baixa remuneração, as dificuldades se amontoam até o limiar do insustentável. Consequentemente, em levantes cíclicos, os residentes mostram sua indignação e sua importância para o funcionamento do sistema de saúde, fazendo uso daquela que parece ser a única ferramenta que nos torna “perceptíveis”: a interrupção das atividades. A nossa força de trabalho deve ser utilizada respeitando um projeto pedagógico, pois o treinamento em serviço é o que caracteriza esta modalidade de curso de pós-graduação; isso faz do residente um híbrido de estudante e profissional. Infelizmente, tornou-se lugar comum em muitos espaços de discussão da residência médica a distorção des-

sa peculiaridade; somos tratados com direitos de estudante e deveres de profissional. Saturados com tantos problemas, em agosto de 2010, mais uma vez, os residentes do Brasil paralisaram suas atividades. Durante breve período, tivemos mais olhos do que o habitual a nos enxergar. As feridas da residência, há muito expostas, puderam finalmente ser examinadas com a atenção que mereciam. Ao final, algumas delas foram sanadas. Outras, apenas encobertas, continuam lá, latejando e clamando por solução. Agora, tudo aparenta voltar ao “normal”, em parte porque a rotina novamente abre sua gigantesca cavidade orofaríngea, como se quisesse engolir os residentes todos de uma só vez. Contudo, há outra razão para a calmaria, e esta é preocupante: com as pequenas conquistas que tivemos na paralisação, grande número de residentes passou a se sentir satisfeito – ou menos insatisfeito – com a situação da residência médica, o que diminui o interesse coletivo da luta pelos outros progressos que precisam ser feitos. Não podemos ficar inertes e deixar que o tempo nos conduza ao longo da residência. Somos residentes e precisamos lutar ativamente para determinarmos os rumos desta que é uma das fases mais importantes de nossas vidas. A residência precisa de nós tanto quanto nós dela. Associação Pernambucana de Médicos Residentes Vander Weyden Batista de Sousa – Presidente Sérgio Falcão Durão – Diretor Administrativo Financeiro Diego Lins Guedes – Diretor de Imprensa

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APM Academia Pernambucana de Medicina

Ivan Cavalcanti, acadêmico do ano Saudação proferida quando do 40º aniversário da Academia Pernambucana de Medicina DIVULGAÇÃO

Rostand Paraíso*

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s qualidades do Dr. Ivan de Lima Cavalcanti, como clínico e cardiologista de renome, são já sobejamente conhecidas e fazem-no altamente merecedor do título que hoje lhe é concedido, de Acadêmico do Ano da Academia Pernambucana de Medicina. Peço permissão ao seleto auditório para, quebrando o protocolo, fazer uma brincadeirinha com o nosso homenageado de hoje. Fomos colegas da turma de Medicina de 1953 (já lá se vão 57 anos!). Do 4º para o 5º ano nos tornamos amigos, trabalhando em enfermarias próximas no Hospital Pedro II. Passamos a compartilhar alguns hábitos e, a partir daí, com a crescente intimidade, comecei a identificar suas muitas qualidades. Entre elas, uma inteligência privilegiada, uma curiosidade insaciável e um senso de humor muito especial, às vezes irônico e mordaz, que não perdia, no entanto, aquela candura que o tornava, já naquela época, tão querido e admirado. Começou a ficar claro para mim a razão do seu apelido, um dos mais merecidos que conheci. Nunca satisfeito com o que sabia, sempre procurando se superar, perfeccionista ao extremo,

o apelido, MAIS-QUE-PERFEITO, caía-lhe como uma luva. Foi, com justiça, laureado de nossa turma. Fizemos juntos, em fins de semana inesquecíveis, deliciosas pescarias e o MAIS-QUE-PERFEITO, fazendo jus ao apelido, tinha a tábua das marés à mão, conhecia os ventos que traziam peixe, identificava as nuvens que prenunciavam mau tempo e estava informado, mais até do que os pescadores nativos, sobre os melhores pesqueiros. Fruto de cuidadoso treinamento tornou-se perito na confecção de complicadas armações, de variados tipos de nós, e sabia, como ninguém, escolher anzóis, chumbadas e iscas. Num pôquer dominical, onde fomos também companheiros, era dono de uma impressionante fleuma, sabendo a hora exata para os blefes e fazendo as apostas de acordo com o cálculo das probabilidades. MQP tinha tudo para ser um chato, mas não o era. Muito pelo contrário, suas manias nos divertiam e sua conversa, ágil e inteligente, nos deleitava. Noutra fase, compartilhamos da sinuca do Country Club. E ali estava ele, conhecendo, melhor do que ninguém, as regras da sinuca inglesa – que traduziu para o português –, sabendo a altura

correta das tabelas e o tamanho oficial das caçapas, esmerando-se, fruto de extenuante treinamento, nos efeitos e nas arrastadas de bolas. Com seu taco importado, tornou-se, em memorável noite, disputando com os maiores ases da modalidade, campeão de sinuca do The British Country Club. Houve tempo em que se dedicou à culinária, ele mesmo preparando pratos requintados, selecionando vinhos de safras especiais e convidando, para esses agradáveis jantares, sempre o mesmo grupo de amigos, do qual, com muita honra, sempre fiz parte. Ao adquirir um computador, já o encontrei mestre no assunto, inteiramente familiarizado com os megabytes, modens, mouses e tantas outras coisas, agora dominando soberbamente o mundo dos note-books, dos blackberrys e dos IPads. Ninguém o supera nos conhecimentos de informática. MQP é uma figura singular, de muitos e fiéis amigos. Inteligência múltipla, insaciável na busca de conhecimentos, perfeccionista nos mínimos detalhes. Ivan Cavalcanti: vá ser perfeito assim no raio que o parta... *Rostand Paraíso é membro da Academia Pernambucana de Medicina e da Academia Pernambucana de Letras

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revista do cremepe 18 a ultima 11-2-2011.indd 40

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