Revista Movimento Medico nº 16

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CONTRATO IMPRESSO ESPECIAL DR/PE CREMEPE Nº 4065.010.73.9 CORREIOS

Revista das entidades médicas de Pernambuco – Ano VII – Nº 16 –Mai/Jun/Jul 2010

Novo Código de Ética Médica O que muda na relação médico/paciente

Transplantes: a procura por doação de órgãos Entrevista com o novo presidente do Sindicato dos Médicos/PE Poço da Panela, bairro que ainda conserva ar bucólico



Nº 16• Ano 07 • Mai/Jun/Jul 2010

Editorial

A

revista Movimento Médico traz na capa um destaque todo especial para o novo Código de Ética Médica, que começou a vigorar no dia 13 de abril deste ano. É nosso dever mostrar para a categoria médica e para a população em geral que o Cremepe apoia integralmente a nova edição do Código que rege a nossa profississão e estabelece normas e critérios na relação médico/paciente. O objetivo é tornar essa relação mais humana, um clamor dos médicos e de toda a sociedade. Esse foco do novo Código é uma bandeira de luta histórica do Cremepe. Sempre pautamos nossa agenda por uma medicina mais humanizada e, consequentemente, mais próxima do paciente. Foram vários os congressos e encontros realizados pelo Cremepe com o objetivo de discutir as formas de melhorar a relação médico/paciente e torná-la mais uma humana e mais próxima. O novo Códio de Ética Médica do Brasil já está sendo considerado, nacional e internacionalmente, como um dos mais avançados do mundo. Na reportagem, você vai conhecer os pontos principais e a opinião de especialistas sobre o novo Código. Movimento Médico traz também uma reportagem especial sobre o transplante de órgãos em Pernambuco, como está a fila de espera, o que fazer para salvar mais vidas e quais as dificuldades para se conseguir um órgão. Veja também uma entrevista com o novo presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco, o médico-pediatra Sílvio Rodrigues, que foi eleito em chapa única para um mandato de dois anos.

Capa: Reprodução da pintura The Doctor, de Samuel Luke Fildes, 1891

EXPEDIENTE Cremepe Presidente: André Longo Vice-presidente: Helena Carneiro Leão Assessoria de Comunicação: Mayra Rossiter - DRT/PE 4081 Estagiários: Maria Eduarda Vaz e Anderson Barretto Webdesigner: Luiz Henrique Simepe Presidente: Silvio Rodrigues Vice: Mário Jorge Lobo Assessoria de Imprensa: Chico Carlos - DRT/PE 1268 Ampe Presidente: Jane Lemos Vice: Silvia Carvalho Coordenação Editorial: Sirleide Lira Assessoria de Imprensa: Elizabeth Porto - DRT/PE 1068 Fecem Presidente: Carlos Japhet APMR Coordenação: Maria Aléssio (HC) e Marieta Carvalho (Cisam) Redação, publicidade, administração e correspondência: Rua Conselheiro Portela, 203, Espinheiro, CEP 52.020-030 - Recife, PE Fone: 81 2123 5777 www.cremepe.org.br Projeto Gráfico/Arte Final: Luiz Arrais - DRT/PE 3054 Tiragem: 15.000 exemplares Impressão: CCS Gráfica e Editora

E, para descontrair, um passeio pelas ruas de um dos bairros mais bucólicos do Recife, o Poço da Panela, e uma radiografia do seu cotidiano, que nos remete à vida pacata de uma cidadezinha do Interior.

Coordenação Editorial: André Longo Conselho Editorial: André Longo e Ricardo Paiva. Todos os direitos reservados.

Errata: Na edição passada nós publicamos que o valor da consulta pediátrica paga aos médicos pelo plano de saúde Assefaz era de R$ 38,00. O

Copyright © 2010- Conselho Regional de Medicina Seção Pernambuco

valor correto é R$ 42,00.

Todos os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.

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Fotos: Hans Manteuffel

Sumário

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Capa O novo Código de Ética Médica propõe novas discussões sobre a profissão

12 Patrimônio Bairro do Poço da Panela tenta manter clima bucólico em meio ao caos urbano

Seções Editorial

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Opinião

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Entrevista

4

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Capa

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Cremepe

11

Patrimônio

12

Notícias do CFM

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Cremepe

18

Simepe

26

Fecem

33

Ampe

34

Diretórios

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APMR

39

Academia

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Transplantes: uma corrida não só contra o tempo, mas também à procura de doadores

Divukgação

Científica

34 Ampe Especialista comenta os distúrbios do sono e suas consequências na saúde

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Opinião Luiz Domingues*

O novo Código de Ética Reprodução

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ntrou em vigor o novo Código de Ética Médica, no dia 13 de abril, delineado pelo desenvolvimento científico e tecnológico, com o reconhecimento das grandes mudanças que envolveram o homem, nas últimas décadas. No entanto, também é tempo em que o cidadão tem mais acesso à informação e consciência de seus direitos e deveres. O novo Código vem contribuir para nortear um equilíbrio dessas transformações, exigindo da sociedade, sobretudo dos médicos, gestores, pesquisadores e professores, o compromisso com a qualificação das relações sociais e com o ensino médico. No seu conteúdo, o Código oferece o compromisso voluntário, assumido individual e coletivamente com o exercício da medicina. "Evidentemente que os códigos não eliminam a possibilidade da falha, do erro. Mas oferecem ao profissional e ao paciente a indicação de uma boa conduta, amparada por princípios éticos da autonomia, da beneficência, da não maleficência, da justiça, da dignidade, da veracidade e da honestidade", como comentado por Roberto d’Avila, presidente do CFM. Durante dois anos a Comissão Nacional de Revisão do Código de Ética Médica analisou 2515 sugestões encaminhadas por médicos, instituições e pela sociedade, que resultaram no novo Código, aprovado na IV Conferência Nacional de Ética Médica, em agosto de 2009, em São Paulo. Ocorreram mudanças na forma e foram introduzidos novos artigos, definidos em: 25 princípios fundamentais do exercício da medicina, dez normas diceológicas (direitos dos médicos), 118 normas deontológicas (deveres dos médicos) e cinco disposições gerais. Mantém regras tradicionais da profissão, como a proibição do caráter mercantilista na prática médica, o direito e o dever do médico de apontar falhas em normas, contratos e práticas ilícitas nas instituições de saúde, as omissões, faltas ou abandono de plantões... Os novos artigos ressaltam a relação médico/paciente com a questão da ortotanásia, que está sendo utilizada com a expressão “Cuidados Paliativos”, visando aliviar o sofrimento do paciente e evitar o cruel e desnecessário prolongamento da morte, naturalmente com o consentimento esclarecido do paciente e da família (representante legal). Assim ressalta

a importância da autonomia do paciente favorecendo a um melhor diálogo. Na era "genômica", a terapia genética contemplada pelos artigos 15 e 16 sobre a Responsabilidade Profissional, refere-se à proibição de criar embriões com a finalidade da escolha de sexo ou eugenia. Já a terapia gênica está prevista como forma de tratar doenças, com grandes expectativas de desenvolvimento. Outros artigos tratam da relação do médico com a indústria, com a publicidade, com a pesquisa e com a questão da segunda opinião, a que o paciente tem direito e o médico a favorecer esse entendimento. Este Código de Ética é abrangente, humanitário, compatível com as possibilidades desse novo mundo e que certamente auxiliará a classe médica na prática da medicina, pelo menos, nos próximos dez anos. O Código tem sido reconhecido, nacional e internacionalmente como um dos melhores códigos de ética que regem o profissional médico. *Secretário-geral do Cremepe

Veja reportagem sobre o assunto na pág. 7.

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CAPA ENTREVISTA SÍLVIO RODRIGUES Presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco

Divulgação

"Defendemos a saúde como uma atividade essencial"

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médico pediatra Sílvio Rodrigues, 42 anos, foi eleito em chapa única para presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) pelos próximos dois anos. Ele se formou em medicina pela Universidade de Pernambuco (UPE), em 1992, no Recife. Hoje é plantonista da UTI Pediátrica do Hospital da Restauração (HR), além de pertencer à equipe pediátrica da Unidade da Criança do Hospital Memorial São José. No Instituto de Medicina Integral Profº Fernando Figueira (IMIP), é médico diarista da UTI Pediátrica e coordenador da UTI de Oncologia Pediátrica. Participou do movimento estudantil entre 1986 e 1992, construindo histórias de lutas em defesa da UPE e dos estudantes de medicina. Há oito anos integra a diretoria do Simepe, sendo os dois últimos como vicepresidente, onde lutou por melhores salários, condições de trabalho para os médicos e saúde digna para a população do Estado.

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Quais são os seus planos para os próximos dois anos à frente da presidência do Simepe? A próxima gestão terá a responsabilidade de encaminhar no estado as lutas nacionais como a carreira de estado nos serviços públicos, adoção plena da CBHPM com reajuste anual (PL 39/07), fixação do piso nacional dos médicos em 7 mil reais com reajuste anual pelo INPC. No estado, prosseguiremos com a campanha de valorização do médico e de defesa da saúde pública nos municípios, valorizando os salários, lutando por criação de carreiras públicas estatutárias e PCCV. No Governo do Estado e nas cidades onde já houve negociação, iremos cobrar o cumprimento do termo de compromisso ratificado entre as entidades médicas e a gestão. O Simepe tem hoje cerca de sete mil associados. Há um projeto para filiar mais médicos ao sindicato? O motivo principal para associação do médico ao Simepe é resultante das lutas vitoriosas no estado e nos municípios. Daremos continuidade e ampliaremos as campanhas, na Região Metropolitana e no interior do estado. Por outro lado, pretendemos incrementar os benefícios do PROBEM e ampliar as ações da Defensoria Médica do Simepe que são os carros-chefes na associação dos médicos. Como o senhor vê a política de saúde da Prefeitura do Recife? No pacto firmado através de termo de compromisso com a Prefeitura do Recife, Simepe e Cremepe em junho de 2009, encaminhamos vários problemas referentes à estrutura física, recursos humanos, gestão e assistência. Em fevereiro deste ano os médicos estavam insatisfeitos pelo não cumprimento destes itens. Espero que retomemos os debates com a Secretaria de Saúde para a melhoria da atenção à saúde. A participação nas decisões pelo controle social é fundamental para essa evolução. Os médicos do Recife estão satisfeitos com os salários pagos pela prefeitura?

O movimento médico nacional encampa uma luta por um piso nacional e por uma Carreira de Estado no Congresso. Esse piso e a carreira são a nossa referência atual. Logicamente que tivemos um movimento recente (2009) vitorioso no Recife e em outros municípios como Caruaru, Petrolina, Cabo de Santo Agostinho e Jaboatão, onde houve, no mínimo, uma equiparação ao salário do estado e a assinatura de um termo de compromisso que deu início à formação de grupos liderados pelos médicos e PCR para discutir a situação da saúde na cidade. Acreditamos que com a resolução desses pontos apontados no termo, uma grande parte dos problemas na saúde do Recife seja resolvida. Como está a situação dos postos de saúde da Região Metropolitana? O Simepe, unificado às entidades médicas, começou no final de 2009 e início de 2010 campanhas em vários municípios da Região Metropolitana como Olinda, Camaragibe, entre outros. O que se viu foi uma rede extremamente sucateada, várias delas denunciadas ao Ministério Público. São unidades de saúde com estruturas precárias, algumas passíveis até de interdição por falta de condições de trabalho, contratos precarizados e SPAs e unidades de saúde da família desfalcadas. Qual a sua opinião sobre o trabalho feito pelo Samu? Sem dúvida a criação do SAMU pelo Ministério da Saúde em 2003 foi um grande salto na qualidade do atendimento de urgência e de inclusão social para população mais carente que sofria na hora deste atendimento e com o transporte e transferência para as unidades de referência. Os problemas atuais do SAMU são vários: sucateamento das unidades móveis, aparelhos de reanimação incompletos ou quebrados, contratos das equipes em vários municípios precários e baixos salários, além do problema crônico referentes à regulação dos atendimentos de urgência.

"Vamos prosseguir com a campanha de valorização do médico e de defesa da saúde pública nos municípios, valorizando os salários, lutando por criação de carreiras públicas estatutárias e PCCV" Como o senhor vê a superlotação das emergências públicas, principalmente a do Hospital da Restauração? Sabemos que as causas da superlotação nos grandes hospitais do estado são multifatoriais. Vários pontos para resolução deste problema estão no termo de compromisso firmado com o estado. A intervenção do governo do estado no Hospital do Câncer de Pernambuco foi renovada por mais um ano. o senhor acha necessário? A intervenção aconteceu no início de 2007 com apoio das entidades médicas e do corpo funcional em um momento que o Hospital do Câncer estava em uma crise estrutural e financeira séria. Defendemos que a intervenção tem que ter um prazo para terminar. Acreditamos que está na hora de discutirmos de forma transparente e democrática com o seu coletivo a forma de administração e o futuro da instituição como referência em oncologia no estado. O Governador Eduardo Campos afirmou que 2010 será o ano da saúde. Como o senhor analisa a decisão dele de transferir a administração do Hospital Miguel Arraes e das UPAs da Região Metropolitana para as Organizações Sociais (OS)? Manteremos a posição contrária à iniciativa do Governo Estadual de terceirizar as unidades e hospitais públicos. Defendemos a saúde como atividade essencial e a carreira estatutária através de concurso público em todos os níveis, fundamental para resolução dos problemas no estado. Movimento Médico 5

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O novo Código Vigente desde o mês de abril, entre outros avanços, conjunto de normas torna a relação médico/paciente mais humana Marcionila Teixeira* | Fotos: Marcos Michael

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de Ética Médica Dra. Maria das Neves (Nevinha), coordenadora da Emergência Cardiológica do Procape

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CAPA

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s tumores no cérebro e na coluna não permitem que Marilene de Oliveira, 49 anos, passe os dias sem fortes dores. Assim, entre medicações que aliviam o sofrimento e o sorriso companheiro do filho, a dona de casa vai levando a vida internada no espaço de cuidados paliativos Saber Cuidar, no Hospital do Câncer, no bairro de Santo Amaro, no Recife. Marilene escolheu uma das camas da unidade para passar seus dias porque nesse momento essa tem sido a opção mais confortável. “Aqui, se sinto dor, logo peço uma ajuda”, conta. A dona de casa sabe que não há mais possibilidade de cura para a própria doença. Sabe também que tem o direito de opinar sobre como pretende passar suas próximas horas, dias, meses ou anos de vida que ainda lhe restam. Entre outros avanços, o novo Código de Ética Médica, que entrou em vigor no último dia 13 de abril, reforça o direito de pessoas como Marilene de Oliveira. “Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos apropriados”, diz um trecho do capítulo I, que versa sobre princípios fundamentais. Geraldo Pereira, da Academia Pernambucana de Medicina, destaca esse respeito à opinião do paciente como um dos maiores avanços do atual código. Para ele, trata-se da morte no tempo certo, ou ortoeutanásia. “Na prática, já acontece, mas não estava referendada pelo Conselho Federal de Medicina como está agora, o que dá outro peso ao assunto. Disse certa vez o papa Pio 12: ‘De nada serve para a vida eterna o prolongamento da dor’”, cita. Uma relação médico paciente mais humana. Essa é a tônica do código novo, que traz um conjunto de normas que regem o exercício da atividade no Brasil. É como se o doente ganhasse mais voz ativa nas decisões sobre a própria saúde. Isso não significa dizer que o profissional vai deixar de lado a solução correta do ponto de vista téc-

Espaço interno de uma Emergência pública do Estado

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A paciente Marilene de Oliveira optou por continuar se tratando no setor de cuidados paliativos do Hospital do Câncer, onde tem medicação contra dor e a companhia do filho

A escolha pelo serviço público

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nico em uma situação de emergência. “Nesse caso, ele tem que salvar vidas e nunca abandonar o paciente mesmo que ele não aceite o procedimento de forma absoluta”, ressalta Helena Carneiro Leão, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe). O respeito entre médico e paciente não passa somente pelo dever do profissional de comunicar sobre as possibilidades terapêuticas e ouvir do doente seu consentimento sobre qualquer procedimento a ser realizado. Passa também pela letra legível nas receitas, atestados e prontuários médicos. A agente comunitária de saúde Edilene de Lima, 37, sabe o quanto uma letra ilegível de um médico pode atrapalhar até mesmo no andamento de todo um serviço de saúde. “Trabalhava em um posto de saúde da Região Metropolitana do Re-

médica Maria das Neves Dantas, 43 anos, fez uma escolha. Não uma escolha comum aos profissionais da sua área, mas é dela, sem arrependimentos até agora. Por conta disso, costuma dizer que ganha menos que a maioria dos colegas e não está preocupada em viajar para a Europa. Mas quem disse que não está feliz? Conhecida como Nevinha nos corredores da emergência cardiológica do Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape), sob a coordenação dela há quatro anos, a médica fala que é apaixonada pelo serviço público e trabalha, em média, oito horas por dia. “Sempre tive um grande amor e compaixão pelo paciente que está sofrendo agudamente. Não sei negar atendimento a quem está com dor e pedindo socorro”. Uma consulta de Nevinha dura, em média, uma hora e pode aumentar de tempo a depender do estado de saúde do paciente. Coordenar uma emergência como ela faz também implica em encarar problemas como falta de médicos ao plantão. “Se algum médico faltar, pode ter certeza que alguém vai trabalhar por ele. A maioria dos profissionais não deixa o barco afundar”, destaca, elogiando a equipe que, segundo ela, falta muito pouco ao serviço, a não ser por motivo de doença. Além disso, Nevinha se reúne constantemente com a equipe de médicos para discutir as condutas em determinados casos clínicos e para avaliarem, em conjunto, o trabalho desenvolvido no Procape.

cife que tinha um médico conhecido por sua letra ilegível. Os pacientes já sabiam disso e procuravam direto a auxiliar dele, que decifrava os garranchos”, lembra. O resultado é que o comportamento do profissional virou chacota na equipe.

Farmácias - E o que diz o documento sobre a relação do médico com as farmácias? Na realidade, o código veda essa situação. Além disso, o profissional não pode participar de propaganda e é obrigatório incluir o número do Conselho Regional de Medicina em anúncios próprios. É vedado ao médico “exercer a profissão com interação ou dependência de farmácia, indústria farmacêutica, óptica ou qualquer organização destinada à fabricação, manipulação, promoção ou

comercialização de produtos de prescrição médica, qualquer que seja a natureza”, reza o artigo 68. Para o advogado Nilzardo Carneiro Leão, que participou do grupo regional que revisou o código, o documento aprovado no ano passado está adequado aos avanços científicos e tecnológicos da medicina. “Ele inova em textos legais um código de vigência anterior à Constituição Federal e se adequa a novas realidades, novos avanços científicos, um novo tempo”, destaca. Nesse aspecto, entram os artigos que tratam sobre transplante de órgãos ou de tecidos, esterilização, fecundação artificial, abortamento, manipulação ou terapia genética. O médico, por exemplo, não deve realizar a procriação Movimento Médico 9

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CAPA CAPA medicamente assistida com os objetivos de criar seres humanos geneticamente modificados, criar embriões com finalidade de escolha de sexo, eugenia ou para originar híbridos. O médico também não pode intervir, sob a luz do novo código, sobre o genoma humano com vista à sua modificação, exceto na terapia gênica, excluindo-se qualquer ação em células germinativas que resulte na modificação genética da descendência. “É a garantia da dignidade das gerações presentes e futuras”, ressalta Helena Carneiro Leão.

Plantão médico - No capítulo que trata da responsabilidade profissional, um aspecto polêmico é a falta ao plantão. A partir de agora, o código rege essa situação com mais rigor. É vedado ao médico “afastar-se das atividades profissionais, mesmo temporariamente, sem deixar outro médico encarregado do atendimento de seus pacientes internados ou em estado grave”, diz o artigo 8º. Também está proibido “deixar de comparecer ao plantão em horário preestabelecido ou abandoná-lo sem a presença de substituto, salvo por justo impedimento”. A grande novidade é que, a partir de agora, a direção técnica do estabelecimento deve providenciar a substituição do médico faltoso, sob pena de também estar praticando falta grave. Baixa remuneração, falta de infraestrutura de atendimento e excesso de trabalho são alguns dos aspectos citados quando o assunto é plantão, principalmente nas grandes emergências. “No mercado de trabalho, os estudantes se deparam com todas as distorções da prática médica. Dessa forma, eles acabam naturalizando as práticas ruins. A carreira de estado é uma coisa importantíssima para acabar com essas distorções”, destaca Oscar Coutinho, coordenador do curso de medicina da Universidade Federal de Pernambuco. Para o médico César Lyra, 37, cinco deles atuando como plantonista na emergência do Hospital da Restauração, “os atrasos e as faltas não acontecem com frequência no setor privado porque o chefe está lá cobrando e anotando tudo. Isso se chama gerenciamento”.

Veja as principais mudanças no Código de Ética Médica 1 - LETRA LEGÍVEL A receita e o atestado médico têm de ser legíveis e devem ter a identificação do médico

10 - RECEITA SEM EXAME O médico não pode receitar sem ver o paciente, seja por meio de veículo de comunicação ou internet

2 - DIREITO DE ESCOLHA O médico deve apresentar todas as possibilidades terapêuticas – cientificamente reconhecidas – e aceitar a escolha do paciente

11 - RELAÇÕES COM FARMÁCIAS O médico não pode ter relação com o comércio e a farmácia

3 - CONSENTIMENTO ESCLARECIDO O paciente precisa dar o consentimento a qualquer procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte 4 - ABANDONO DE PACIENTE O médico não pode abandonar seu paciente 5 - PACIENTES SEM PERSPECTIVA DE CURA O médico deve evitar procedimentos desnecessários nesses pacientes. Em caso de doenças incuráveis, deve oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis, levando sempre em conta a opção do paciente 6 - PRONTUÁRIO MÉDICO O paciente tem direito a receber a cópia do prontuário médico 7 - SEGUNDA OPINIÃO O paciente tem direito a uma segunda opinião e a ser encaminhado a outro médico 8 - ANÚNCIOS PROFISSIONAIS É obrigatório incluir o número do CRM em anúncios dessa natureza 9 - PARTICIPAÇÃO EM PROPAGANDA O médico não pode participar de propaganda

12 - SIGILO MÉDICO O sigilo médico deve ser preservado, mesmo após a morte do paciente 13-CONDIÇÕES DE TRABALHO O médico pode recusar a exercer medicina em locais inadequados 14 - DENÚNCIA DE TORTURA O médico é obrigado a denunciar tortura, isso vale para atendimento de possíveis vítimas de violência doméstica, por exemplo 15 - DESCONTOS E CONSÓRCIOS O médico não pode estar vinculado a cartões de descontos e consórcios, em especial na área de cirurgia plástica 16 - FALTA EM PLANTÃO Abandonar plantão é falta grave 17 - MANIPULAÇÃO GENÉTICA O médico não pode participar de manipulação genética 18 - SEXAGEM A escolha do sexo do bebê é vedada na reprodução assistida 19 - MÉTODOS CONTRACEPTIVOS O paciente tem direito de decidir sobre os métodos contraceptivos que deseja usar Fonte: Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe)

*Jornalista

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CIENTÍFICA

Meningite Muitos significados e palavra capaz de provocar arrepios Jaílson de Barros Correia*

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-e-n-i-n-g-i-t-e. Apenas nove letras e quatro sílabas. Uma miríade de significados, mas sem dúvida, uma palavra capaz de provocar arrepios. E não é à toa. Poucas doenças têm a capacidade de surgir e evoluir de forma tão rápida e fulminante, quase sem aviso prévio. É ainda capaz de produzir surtos e epidemias e, como se não bastasse, muitos de nós albergamos os agentes (meningococos) em nossa garganta, onde vivem pacatamente e não devem ser incomodados. Portanto, mais que arrepios, a meningite pode provocar o medo desenfreado e a histeria coletiva. A julgar por episódios em que o pânico fez dissipar a racionalidade, não seria exagero falar em meningofobia. Fenômeno antigo, mas que tem antídoto eficaz: a informação. O propósito deste artigo é portanto prestar informações sobre a doença e discutir brevemente as boas notícias relativas à introdução de duas novas vacinas no Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Brasil. A meningite pode ser definida como uma inflamação das meninges, que são as delicadas membranas que recobrem o tecido nervoso. Esta inflamação pode ser causada por grande número de agentes: desde vírus e bactérias até mesmo parasitas e fungos. É importante dizer que a gravidade e a contagiosidade da meningite variam enormemente de acordo com a sua etiologia (causa). Por exemplo, via de regra as meningites causadas por vírus não são trasmitidas diretamente de pessoa para pessoa, e levam a quadros mais leves, que às vezes até dispensam o internamento. No outro extremo, as meningites tuberculosa, por fungos e parasitas são mais raras, costumam acometer indivíduos imunodeprimidos (com defesas baixas) e surgem mais insidiosamente (lentamente). Como é difícil diferenciar quadros agudos de meningites virais das bacterianas, é imprescindível que o paciente com sintomas seja avaliado por um médico. Caso haja suspeita, o médico poderá solicitar o estudo do líquor, que é um exame seguro, com poucas contraindicações, e de extrema utilidade no diagnóstico das meningites. Mas como ocorrem os sintomas e quando suspeitar? Normalmente, as meninges são resguardadas por uma verdadeira rede de proteção, a barreira hemato-encefálica. Só ocorre a invasão de agentes infecciosos quando esta barreira está comprometida, ou quando os agentes são particularmente virulentos, como no caso de algumas cepas de bactérias encapsuladas. A resposta inflamatória à presença do agente infeccioso provoca edema (inchaço) e irritação do encéfalo e das raízes dos nervos. Assim, além da febre, há dor de cabeça, vômitos e pode haver rigidez de nuca (dor que impede o indivíduo de mover amplamente o pescoço, como quando tenta encostar o queixo no esterno). Pode ainda haver sensibilidade à luz (fotofobia), sonolência e/ou irritabilidade.

Em casos mais graves, pode haver convulsões, hemiparesias (paralisias de um lado do corpo), paralisias de nervos cranianos e coma. Casos de meningite bacteriana podem estar acompanhados de grave envolvimento sistêmico, com choque (taquicardia, pulsos finos, sudorese fria, hipotensão). Dores pelo corpo (mialgias) podem preceder o choque e devem servir de alerta. Independentemente de haver sintomas de rigidez de nuca, o rápido surgimento de manchas arroxeadas (purpúricas) na pele, em presença de febre, deve ser tratado como uma emergência médica pela possibilidade da forma sistêmica da infecção pelo meningococo (meningococcemia). Caracteristicamente, são lesões purpúricas que não desaparecem à vitropressão (quando se observa a lesão através de um objeto transparente, como um copo de vidro, pressionado sobre a mancha). Em recém-nascidos e lactentes jovens, o quadro clínico da meningite é inespecífico e o diagnóstico deve ser lembrado em qualquer doença febril que repercuta sobre o estado geral do bebê. Nesta faixa etária, são comuns os agentes reacionados à colonização do canal de parto, como por exemplo Escherichia coli, Streptococcus agalactiae e Listeria monocytogenes. A partir daí, considerando a era após a introdução da vacina antihemófilo, dois agentes passam a responder pela maioria dos casos: o meningococo e o pneumococo. O meningococo (Neisseria meningitidis) é uma bactéria que vive exclusivamente no hospedeiro humano. Portanto, cerca de dez por cento da população adulta carreia o meningococo na orofaringe por algum tempo, sem que isso cause qualquer dano. A doença ocorre quando uma cepa mais virulenta encontra um indivíduo susceptível, e pode se manifestar com meningite, com o sem a forma sistêmica descrita acima (meningococcemia). Há vários sorogrupos de meningococos, como o B, C, A, Y, X e W135, mas no Brasil, os principais são o B e o C. A vacina a ser introduzida no PNI é a anti-meningocócica C. É uma vacina segura e eficaz. Entretanto, é preciso não esquecer que não oferece proteção para o sorogrupo B, que ainda ocorre no Brasil. A vacina para o sorogrupo B só está recomendada em casos de surtos. O pneumococo (Streptococcus pyogenes) é um dos principais agentes causadores de pneumonia bacteriana adquirida na comunidade em qualquer faixa etária. Além disso, pode provocar uma forma de meningite particularmente grave, que com frequência deixa graves sequelas neurológicas nos sobreviventes. O Brasil introduziu recentemente uma vacina também eficaz e segura, que apresenta cobertura para 10 dos mais importantes sorotipos do pneumococo. Em conclusão, pouco mais de dois séculos após Gaspar Viesseux descrever pela primeira vez, em plena Genebra de 1805, um surto do que ele chamou de “febre cerebral”, hoje temos razão para comemoração. A introdução ao PNI no Brasil de duas vacinas contra formas de meningite bacteriana deve ser motivo de esperança no controle desta doença devastadora. Esperança sim, mas sem baixar a guarda! Como vimos, há ainda tipos importantes de meningite sem prevenção efetiva, e é preciso monitorar o que vai ocorrer após a introdução das vacinas, além de investir no treinamento para o reconhecimento precoce e adequado manejo das formas graves. *Diretor de Pesquisa do IMIP

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PATRIMÔNIO

Um nostálgico recanto recifense O Poço da Panela, apesar das mudanças que vem passando nos últimos anos, mantém o clima interiorano que lhe é característico Mariana Oliveira*| Fotos: Hans Manteuffel

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uas ruas são calçadas com pedras irregulares, seu casario antigo harmoniza-se com a riqueza natural da área às margens do rio Capibaribe, seus moradores conhecem os vizinhos, conversam nas soleiras das portas no fim da tarde, compram alguns artigos numa pequena mercearia, jogam pelada num campo improvisado e passeiam pelos recantos do local. O ar nostálgico e bucólico atrai há anos muitos artistas,

escritores e famílias que buscam encontrar no bairro do Poço da Panela, incrustado em plena cidade, o clima interiorano. Situada entre Casa Forte, Monteiro e Santana, a localidade abrange uma área de cerca de 90 hectares e reúne uma população de pouco mais de quatro mil pessoas. A região, que começou a ser habitada no final do século 18, vem passando por algumas mudanças nos últimos anos, mas ainda preserva a aura do passado

Conta-se que a história do bairro teve início quando uma epidemia de febre atingiu uma grande parcela da população recifense, por volta de 1746. Na busca da cura, eram recomendados banhos terapêuticos no rio Capibaribe, sendo os trechos localizados entre o Poço da Panela e Apipucos ideais para a prática. Naquele período, o local era habitado por palhoças de lavadeiras que ali trabalhavam para garantir seu sustento. Gravemente enferma, um mulher,

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tegia a fonte. Daí a localidade terminou batizada como Poço da Panela. Nesses primeiros anos, o bairro já chamava a atenção e demonstrava sua vocação de reduto cultural do Recife. “É raro encontrar margens mais risonhas do que as do Capibaribe, quando se o sobe em canoas até o povoado do Poço da Panela”, escreveu em seu diário, em 1817, o françês Louis François de Tollenare. Segundo o historiador Leonardo Dantas Silva, o viajante inglês Henry Koster registrou a mais antiga notícia da presença de um piano em terras pernambucanas, durante um novenário de Nossa Senhora da Saúde, em 1810. “Esse antigo balneário da aristocracia recifense tem sua vida retratada em romances de Mário Sette, Os Azevedos do Poço, em suas festas registradas em partituras de compositores do século 19, como Francisco Libânio Colás, e também no imaginário popular, que não esqueceu a luta de José Mariano em favor da libertação dos cativos da raça negra”, destaca o historiador. O abolicionista, que viveu no bairro, foi o fundador do Clube do Cupim, instituição que lutava pela libertação dos escravos. Em 1938, o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano ergueu, nas proximidades da igreja, um busto de José Mariano e um escravo com grilhões rompidos, em homenagem a sua luta.

Largo da Igreja de N. Sra. da Saúde, no Poço, considerado uma Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural

esposa de um rico coronel com terras na região, começou a tratar-se com os banhos terapêuticos e prometeu a Nossa Senhora que se conseguisse se curar doaria um terreno para a construção de uma capela. Curada, ela cumpriu sua promessa e ergueu, a poucos metros do rio, uma capela em homenagem à Nossa Senhora da Saúde. O templo se tornou uma paróquia por volta de 1820 e assim permaneceu por quase um século até que a matriz de Casa Forte fosse cons-

truída e se tornasse a sede religiosa da região. Porém, o nome que batiza o bairro não tem relação com os banhos terapêuticos. Durante muito tempo, o povoado não contava com uma boa fonte de água potável. Até que uma nascente foi encontrada e um poço escavado, garantindo o abastecimento da população. Para dar sustentação às bordas, foi colocada uma parede de barro, sem fundo, que se assemelhava muito a uma panela e pro-

Modernização – Com o passar dos anos, o Poço da Panela mudou, acompanhando o progresso da cidade, mas, segundo Leonardo Dantas Silva, o processo de descaracterização mais perceptível começou a acontecer quando se desenvolveu o interesse imobiliário por essa região. “Isso só vai acontecer por volta de 1975, quando as barragens do Carpina foram inauguradas e tornaram-se fundamentais na prevenção de enchentes na cidade. Antes as pessoas não se arriscavam a viver às margens do Capibaribe. Mas com o problema das cheias resolvido, começou a procura por essas regiões. A construção de condomínios e edifícios há muito vem descaracterizando o bairro, que é um verdadeiro Santuário”, explica. Movimento Médico 13

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PATRIMÔNIO A tradição interiorana de conversar na soleira das portas sobrevive no bairro

Busto do abolicionista José Mariano e de um escravo, erguido no ano de 1938

O Poço da Panela faz parte da Área de Reestruturação Urbana, que compreende 12 bairros da cidade, e é regida, desde 2001, por uma legislação urbanística especial, com destaque para os terrenos próximos ao rio Capibaribe. Os empreendimentos imobiliários nessas áreas não podem exceder oito andares e devem manter 60% do solo natural livre de qualquer construção. Dentro do próprio bairro, a área localizada no entorno da igreja é considerada uma Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico Cultural – ZEPH, cujos parâmetros são ainda mais restritivos. Para o ex-vereador Luiz Helvécio, atualmente atuando na ONG Terra Viva, o bairro não está passando por um processo de descaracterização, mas está faltando um maior cuidado com a localidade. “Creio que deveria ser ampliada a área da ZEPH do Poço da Panela para ser restringido o potencial construtivo numa área maior. Deveria ser feito também um novo estudo nos imóveis na área, de forma a ser verifica-

A despeito das recentes mudanças que vêm acontecendo, o encantamento dos moradores com o bairro permanece intacto da a situação dos Imóveis Especiais de Preservação (IEP), ampliando a relação de imóveis classificados como tal e que devem ter suas características originais preservadas”, opina. Entre as polêmicas mais recentes envolvendo o bairro, está a possível construção de um supermercado na localidade. Luiz Helvécio, quando ainda estava na Câmara de Vereadores do Recife, liderou um movimento contrário ao projeto. Os moradores também demonstram preocupação. É o caso de Andréa Massa, proprietária de uma

academia de ginástica no bairro há sete anos e que há três fez da localidade também sua casa. “Penso que deve haver um equilíbrio entre o que já existe concretamente realizado com o que está por vir. Quanto ao supermercado, desde que não interfira na estrutura que temos, mantendo as ruas e casas do jeito que são, tudo bem. Mas sou completamente contra se precisar mexer na estrutura do bairro para isso acontecer”, pondera a empresária e moradora que está sempre ajudando e participando das iniciativas da Associação dos Moradores e Amigos do Poço da Panela – AMAPP. Criada há 10 anos, a associação tem como objetivo a preservação da identidade do bairro e o desenvolvimento de ações e projetos para a melhoria da qualidade de vida da população e para a preservação do meio ambiente. Segundo o presidente da AMAPP, Alcides Tedesco, uma das últimas conquistas do bairro foi a inauguração da Praça Professor Rui Antunes (em janeiro deste ano), projeto que existia

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desde os anos 1990 e que só saiu do papel a partir de uma parceria entre a Associação, o governo municipal e a Chesf. O terreno de 1.578,87m², na esquina entre a Estrada Real do Poço e Rua Médico Mário Guimarães, abriga agora uma quadra poliesportiva, a Academia Nossa Senhora da Saúde e uma área infantil, chamada de Pequeno Príncipe.

Amor incondicional – A despeito das mudanças que vem acontecendo, o encantamento dos moradores com o bairro parece permanecer intacto. O Poço da Panela continua congregando famílias, artistas, escritores e intelectuais que fazem pulsar sua vocação cultural. É o caso da escritora e poeta Luzilá Gonçalves, que vive há 40 anos no Poço. Para ela, o Recife está perdendo seus bairros, as pessoas não se conhecem, nem trocam pratos de bolo com os vizinhos, ou frequentam a mesma feira. Lá, essas práticas ainda ocorrem naturalmente. “Eu sou encantada com as marcas do passado, a harmonia do conjunto, a pureza do ar, a vegetação. Gosto de sentir a quase presença do poeta Olegário Mariano ao lado da Igreja. Do poeta Maciel Monteiro, e de Dona

A recém-inaugurada Praça Professor Rui Antunes

Olegarinha, que escondia escravos em sua casa, ainda milagrosamente de pé, ao lado da igreja”. O clima descrito pela escritora parece atrair outros artistas que instalam no poço seus ateliês e buscam nesse clima bucólico inspiração para seus trabalhos. Há também aquelas figuras apaixonadas pelo Poço e que, mesmo que não vivam por lá, estabelecem uma relação toda especial com a localidade. É o caso do

escritor e jornalista Samarone Lima, que já não mora no Poço, mas continua a frequentá-lo e a preservar as amizades construídas. Sua paixão é tanta que seu casamento foi celebrado ali, no largo da igreja, tendo como ponto de apoio apenas a famosa bodega ou mercearia do seu Vital – figura folclórica, que mora no bairro desde 1964, e há mais de 40 anos abriu sua venda, ponto de encontro dos moradores até hoje.

A Bodega/Mercearia do Seu Vital há quarenta anos é ponto de encontro dos moradores

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PATRIMÔNIO

Praticamente na frente da recéminaugurada Praça Professor Rui Antunes, na Estrada Real do Poço, está a casa de Silvana Antunes, nora do jurista que dá nome a praça. Ela mora no bairro desde 1994, quando seu sogro faleceu e deixou para família não apenas o imóvel, mas uma vasta biblioteca, com títulos de áreas diversas, instalada num casarão an-

pudessem receber os moradores e os visitantes que se aventuram em passeios no fim da tarde. A empresária e moradora preocupou-se em levar para o interior de seu estabelecimento o clima bucólico e nostálgico do bairro, utilizando mobiliário antigo na decoração. “Estamos recebendo muitos clientes que ficam encantados com as grandes janelas do casarão abertas dando possibilidade deles avistarem a rua”, diz Silvana, destacando que o objetivo é transformar o lugar num espaço cultural movimentado, com exposições e apresentações musicais. Na parte superior do casarão, já está funcionando o Silvana Antunes acabou ateliê da artista Valéria Macêdo, de inaugurar a Creperia Marias de Mila, toda que ministra cursos de arte. decorada dentro do clima Para Silvana Antunes, só bucólico do bairro um empreendimento assim poderia dialogar com o estigo, que fica ao lado de sua casa. Silvana pírito do bairro. “É muito agradável tem dado continuidade à tradição da viver aqui, é tranquilo, ainda parece família com o Poço e acaba de inaugurar que estamos numa cidade do interior”, a creperia Marias de Mila, bem próxima conclui, destacando a característica a sua casa, no número 558, ao lado do do Poço da Panela que mais apaixona ateliê Poço das Artes, do artista Jobson tanto os seus moradores quanto os seus admiradores. Figueredo, no largo da igreja. Segundo ela, a ideia da creperia surgiu pela falta de opções na região que *Jornalista e editora da revista Continente

Circulando pelo Poço Num passeio pelo Poço da Panela, o visitante pode encontrar alguns lugares atrativos, seja para comer ou para apreciar trabalhos artísticos. BARES E RESTAURANTES Bar/Bodega do Seu Vital Est. Real do Poço, em frente à igreja Bar da Beata II Rua Marechal Bittencourt,185-A Fone: 3268.0478 Chez Georges Av. 17 de Agosto, 1.483 (Acesso pela Est. Real do Poço da Panela). Fone: 3226-1879 Creperia Marias de Mila Est. Real do Poço, 558. Fone: 3269.3957 Real Botequim Av. Dezessete de Agosto, 1761 Fone: 3269.2930

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Thaal Cuisine Rua Marquês de Tamandaré, 203 Fone: 3034.0770 ATELIÊS Astrobelo Produções Rua Luís Guimarães, 126 Ateliê Augusto Ferrer Est. Real do Poço, 546. Fone: 9966.7107 Ateliê Fernando Guerra Rua dos Arcos, 253. Fone: 3441.4284 Ateliê do Poço Rua Antônio Vitrúvio, 113. Fone: 9136.3305

Ateliê dos Arcos – Joelson Gomes Rua dos Arcos, 260. Fone: 3441.9746 Ateliê Valéria Macêdo Est. Real do Poço, 558. Fone: 8836.2002 Poço Cultural - Ateliê Jobson Figueredo Est. Real do Poço, 568, Fone: 3304. 0139 DIVERSOS Academia Salute Rua Luiz Guimarães, 235. Fone: 3267.0652 Editora Bagaço Rua dos Arcos, 150. Fone: 3205.0132 Pescadero Rua dos Arcos, 1.745. Fone: 3268-0020.

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CFM Conselho Federal de Medicina

Notícias do CFM Carlos Vital, de Brasília*

Carreira de Estado é discutida em Florianópolis A proposta de criação de uma carreira de Estado para médicos figurou entre os principais temas do I Encontro Nacional dos Conselhos de Medicina de 2010, promovido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) entre os dias 3 e 5 de março, em Florianóplois. Essa proposta tramita na Câmara dos Deputados como um projeto de emenda constitucional apresentado pelos deputados Eleuses Paiva (DEM-SP) e Ronaldo Caiado (DEMGO). Paiva, que também participou da reunião, disse que tem trabalhado para que a PEC ganhe caráter de urgência para votação e defendeu que os profissionais – por meio de suas entidades representativas – atuem de forma articulada para sensibilizar os parlamentares.

Temas do Enem são definidos A Comissão Organizadora do XII Encontro Nacional de Entidades Médicas (Enem) aprovou em março os três eixos temáticos que orientarão a agenda dos debates previstos para ocorrer em julho, em Brasília. Os temas refletem as principais reivindicações e anseios do movimento médico nacional. São questões ligadas à formação profissional, ao mercado de trabalho e a políticas públicas para o setor, que poderão embasar mudanças estruturais no futuro. A importância da carreira médica no SUS, a situação dos médicos conveniados a planos de saúde, o financiamento e a gestão do sistema de saúde também merecerão a atenção do Enem.

MS assume compromissos com entidades médicas Durante audiência realizada em seu gabinete em 17 de março, em Brasília, o ministro José Gomes Temporão acatou duas reivindicações de representantes

de entidades médicas –CFM, Associação Médica Brasileira (AMB) e Federação Nacional dos Médicos (Fenam). O primeiro compromisso assumido pelo ministro foi o de convidar representantes das entidades médicas para participar de dois grupos de trabalho que cuidará de definir os critérios e os parâmetros para a criação de uma carreira nacional de médicos do Sistema Único de Saúde (SUS). O outro foi o de incluir representantes das entidades médicas nos grupos que estabelecem os protocolos e as diretrizes assistenciais para o SUS.

Parecer do CFM sobre prontuário de paciente falecido O parecer CFM nº 6/10, emitido recentemente, reafirma que o direito ao sigilo, garantido por lei ao paciente vivo, tem efeitos projetados para além da morte. Assim, o prontuário médico de paciente falecido não deve ser liberado aos parentes. A liberação do prontuário só deve ocorrer por decisão judicial ou por requisição dos Conselhos de Medicina (Federal ou Regionais). “Os direitos da personalidade são intransmissíveis, não cabendo cogitar, portanto, a transmissão sucessória de um direito personalíssimo como a intimidade e a vida privada”, defendeu o relator do parecer, conselheiro federal Renato Fonseca.

Comissões vão elaborar regras de publicidade A Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos (CODAME) do CFM reuniu-se em 31 de março com representantes de CODAMEs regionais para discutir regras de publicidade médica, identificação profissional e nomenclatura de procedimentos e instrumentos. As CODAMEs vão agora trabalhar em uma proposta de Resolução, que deve ser concluída

até novembro. O coordenador dos trabalhos, conselheiro federal Emmanuel Fortes, acredita que em peças publicitárias a medicina deve deixar de ser tratada como um fim e também que os pacientes devem sempre ter acesso a informações precisas sobre os profissionais que os atendem, como nome, número de registro e especialidade, em carimbos, jalecos, placas de identificação, propagandas etc.

CFM fiscalizará processo de revalidação de diplomas O Conselho Federal de Medicina anunciou que pretende acompanhar a execução do projeto piloto que pretende abrir espaço para a implantação de um sistema nacional para revalidação dos diplomas de médico obtidos no exterior. O CFM quer que sejam cumpridos todos os critérios estabelecidos na Portaria Interministerial 865/2009 dos ministérios da Saúde e da Educação. A entidade é contrária à revalidação automática de diplomas que beneficia algumas nacionalidades ou que é estabelecida em convênio.

Senado aprova reajuste anual O Senado aprovou, em fevereiro, um projeto que prevê reajuste anual para os médicos que atuam em saúde suplementar. Emenda do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) ao PLS 276/04 estabelece que o reajuste seja realizado dentro de 90 dias a contar do início de cada ano calendário. Caso se ultrapasse esse período, o índice será estabelecido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Agora, o projeto será discutido na Câmara dos Deputados.

Resolução que trata de cirurgia bariátrica é atualizada O CFM atualizou as normas para o tratamento cirúrgico da obesidade mórbida. Dentre as mudanças, está a previsão de que o paciente deve apresentar obesidade mórbida por dois anos para, então, ser submetido à cirurgia bariátrica; pela norma antiga, eram necessários cinco anos. A resolução que trata do tema, 1.942/10, foi publicada no Diário Oficial da União no dia 12 fevereiro. *Vice-Presidente do CFM

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Transplante: o tempo é um aliado para salvar vidas Tânia Passos* | Fotos: Hans Manteuffel

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ma corrida não só contra o tempo. Mas também contra a distância entre a descoberta de um potencial doador de órgãos e a efetiva doação. Enquanto na Espanha o número de doações chega a 34 por milhão de pessoas, no Brasil, no ano passado, essa conta foi de apenas 8,7 doações por milhão. Ao contrário do que se possa imaginar, o gargalo não está na resistência das famílias em doar os órgãos. Isso também. Mas principalmente, na ausência de diagnósticos para identificar potenciais doadores. De acordo com o Ministério da Saúde, pelo menos 10% das mortes nas Unidades de Tratamento Intensivo

(UTI) são de morte encefálica. Desse universo, uma média de 30% a 50% não têm a confirmação da morte encefálica a tempo de se fazer a captação dos órgãos. Em Pernambuco, a Central de Transplantes, a primeira do Nordeste, começou a funcionar em 1995. De lá pra cá já se vão 15 anos. No primeiro ano foram feitos 100 transplantes. No ano passado, 1076. Parece muito, mas a lista de espera é três vezes maior. A estratégia para reduzir essa distância tem pelo menos duas frentes: capacitar as pessoas e buscar a profissionalização dessa área, que compreende desde o diagnóstico até a abordagem correta junto às famílias. Para o diretor

da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), Joel de Andrade, 45 anos, médico intensivista, e à frente da ABTO há 5 anos, de todos os componentes que envolvem a logística do sistema de transplante, a mais frágil é a coordenação hospitalar, que se traduz nas comissões intra-hospitalares de transplantes (CIHDOTT). São essas comissões que devem funcionar dentro dos hospitais com a missão de identificar os potenciais doadores. O problema é que esses profissionais acumulam outras funções e não recebem nenhum tipo de remuneração para atuar nas comissões. “Além das adversidades das condições de traba-

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públicos e 23 em hospitais privados, somente oito funcionam efetivamente. “O ideal seria ter profissionais com dedicação exclusiva. Mas não é o que acontece na prática”, explicou Zilda Cavalcanti, presidente da Central de Transplante do Estado. Segundo ela, a central disponibiliza pessoal nas principais emergências do Estado: Hospital da Restauração, Osvaldo Cruz, Hospital Getúlio Vargas e Hospital Agamenon Magalhães. São enfermeiros, assistentes sociais ou auxiliares de enfermagem. O trabalho deles é chamar a atenção dos médicos sobre a necessidade do diagnóstico. “Nem sempre o médico quer ouvir que precisa fazer o diagnóstico de morte encefálica. O trabalho dos membros da comissão é sensibilizar

para que isso possa ser feito”, afirmou Zilda. Para fazer o diagnóstico são necessários dois encefalogramas com intervalo de seis horas cada. O exame deve ser acompanhado por um neuro e um neurocirurgião e ainda apresentar um método gráfico para confirmar a morte. “Na maioria dos casos o paciente em coma no grau 3, que é indicativo da morte encefálica, morre sem que o diagnóstico seja feito”, revelou Zilda. Além da predisposição do médico há, nesses casos, a interferência da família. “A família quer acreditar em um milagre até o fim. Cabe ao profissional ter a certeza que o paciente já sofreu morte encefálica para que o paciente possa vir a ser um doador”. A outra etapa, ela explica, é trabalhar a acessibilidade junto à família.

Curso promovido pela Central de Transplantes de PE estimula profissionais a lidar com as famílias na hora de pedir a doação de órgãos

lho, há uma certa dificuldade na hora de dar o diagnóstico. A maior parte dos médicos que estão nas emergências não completou a residência médica”, alertou o presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), André Longo. Segundo o diretor da ABTO, uma portaria ministerial garante a presença das coordenações hospitalares, mas não prevê como função a ser remunerada. “Não adianta só capacitá-los. A intenção é profissionalizar essa área. O profissional precisa atuar como parte de um trabalho e não apenas por boa vontade”, alertou Joel de Andrade. Das 49 comissões constituídas no Estado, sendo 26 em hospitais

A diferença do fazer Mesmo sem uma remuneração específica, há os profissionais que fazem a diferença na hora de salvar vidas. Um número ainda pequeno diante do tamanho da necessidade, mas de uma grandeza ímpar. Claro, que não se ensina boa vontade. Ou se tem ou não. Mas é possível tornar melhor a boa intenção. Nos cursos de capacitação, os profissionais que integram as comissões hospitalares aprendem com a experiência dos outros como agir, por exemplo, na hora de abordar uma família que perdeu um ente querido, e que pode se tornar um doador. Em um curso promovido pela Central

de Transplantes, a enfermeira Priscila Fukunaga, 30 anos, coordenadora de enfermagem do serviço de captação de órgãos e tecidos dos hospitais ligados à Santa Casa, em São Paulo, trouxe a sua experiência de oito anos para repassar aos profissionais daqui. “O profissional precisa ser honesto e transparente. O que for falado na entrevista com os familiares tem que ser cumprido”, afirmou. O mais importante antes de qualquer abordagem é conhecer o histórico do paciente e ter absoluta certeza do diagnóstico de morte encefálica antes de pedir a doação. A enfermeira Movimento Médico 19

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CAPA CREMEPE Conselho Regional de Medicina/PE sar muito a forma como ela foi aten1995 2000 2005 2010* dida no hospital. Coração 4 4 7 2 “Cerca de 30% das Fígado 0 5 48 16 famílias se recusam Rim 58 85 98 37 a fazer a doação. Ou Córnea 48 203 391 50 porque não tiveram Medula 0 23 96 13 uma boa acolhida Total 110 320 640 118 ou uma abordagem equivocada ou sim* Janeiro/fevereiro de 2010 plesmente porque também orienta que a família precisa são contrários à doação”, explicou se sentir acolhida e nesse caso, vai pe- Priscila Fukunaga. Se houver recusa, Os números do transplante em Pernambuco

não adianta insistir. “O nosso papel não é convencer as famílias, mas explicar sobre a importância da doação que irá salvar outras vidas”, ressaltou. Um dos maiores equívocos na recusa da doação de órgãos por parte dos familiares, segundo o presidente do Cremepe, André Longo, é o mito de que o médico vai apressar a morte do paciente. “Infelizmente esse mito ainda persiste. É difícil para qualquer família que sabe que o coração ainda bate acreditar que a pessoa está

Uma vida que renasce

Recuperado, Charles Albuquerque ajuda em campanha de doação de órgãos

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m 1985, um desmaio foi o sinal de alerta de que algo não estava bem. Depois o inchaço, resultado da perda de proteína e pressão alta. Um dos rins não estava funcionando. O professor de história e pesquisador, Charles Albuquerque, 34 anos, tinha na época apenas 9 anos de idade. E passou de 1985 a 2004 sob tratamento intensivo. Uma vida limitada. Mas nunca parou de estudar e de sonhar. Somente a partir de 2004, teve que enfrentar a hemodiálise. Era a falência do órgão e a entrada para a lista de espera por uma doação. O sonho da pós-graduação na Suécia foi adiado. “Consegui uma bolsa de estudo para uma pós-graduação na Suécia, mas por causa da minha doença o meu visto foi negado”, contou. Durante quatro anos Charles viu seu corpo definhar. “A

pessoa fica muito debilitada. Em um dia fica preso à máquina e no outro mal consegue se mover”. A vida dele começou a mudar às 5h do dia 24 de outubro de 2007 quando recebeu a ligação da Central de Transplantes. Ele estava concorrendo a um rim com outros quatro pacientes. Os exames iriam definir quem ficaria com o órgão.“Eles disseram para eu ficar em jejum e ir para o hospital fazer os exames. Minhas pernas tremiam de tão nervoso que fiquei. É uma emoção muito forte. Só quem faz hemodiálise pode ter uma idéia do que isso representa”, afirmou. A angústia se prolongou até o início da tarde quando teve a confirmação que receberia o rim. Dois anos depois e gozando de plena saúde, Charles lembra das dificuldades que passou. Espalha as fotos do seu corpo franzino e exibe o sorriso de quem deixou para

trás os momentos ruins. Da experiência que teve, o aprendizado ele dedica para ajudar outras pessoas que hoje se encontram na mesma situação que um dia esteve. É voluntário na Central de Transplantes. Um velho conhecido. Mais do que isso, um amigo. “Eu ligo todos os dias para cá e pergunto se precisam de ajuda. Quando é para dar uma palestra eles me chamam. Eu me sinto muito bem em poder ajudar”, disse sorrindo. O sorriso, aliás, parece ser a marca registrada desse professor que agradece todos os dias pela vida que renasceu. Só por um momento seus olhos marejaram ao lembrar da mãe, que morreu há dois meses vítima de um câncer. “O sonho dela era que eu conseguisse o transplante antes dela morrer. E graças a Deus ela pôde partir em paz e me deixando bem”, afirmou. Charles trabalha atualmente como pesquisador e consultor de uma empresa particular. “Minha vida agora é viajar. Esta semana vou à Bahia fazer um trabalho por lá”, contou. Outra luta dele é para conseguir nos coletivos a gratuidade dos pacientes renais crônicos. “Existe a lei 12.115 que não vem sendo cumprida pelas empresas e a gente quer chamar atenção das autoridades e do Ministério Público para fazer valer a lei”, ressaltou.

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Momento de exibição do filme "Pela vida, pelo tempo", durante a Caravana 2009

O presidente da ABTO, Joel de Andrade

morta”, ressaltou. Quanto mais preparados estiverem os profissionais de saúde, maiores são as chances. O médico Reginaldo Boni, responsável pela coordenação das comissões hospitalares da Santa Casa de São Paulo, revelou que houve um aumento de 50% nas doações dos 22 hospitais que integram a rede da Santa Casa, com a inclusão de um médico em cada uma das comissões com dedicação exclusiva, a partir de 2006. “É diferente você ter um profissional com dedicação exclusiva nessa função. Ainda mais sendo um médico que tem condições de falar em pé de igualdade”, afirmou. Em Pernambuco os hospitais ainda não dispõem de médicos com dedicação exclusiva nas comissões hospitalares. Mas alguns passos começam a ser dados. Um curso promovido pela ABTO, no mês passado, reuniu médicos intensivistas de todas as comissões hospitalares do Estado. “Quando a gente faz esse tipo de ação, percebe que há um aumento no número de doações. Assim como as campanhas também ajudam”, afirmou Zilda Cavalcanti. A luta é transformar o que é “ocasional” em regra. Criar uma sistemática com a profissionalização. “Quando a pessoa age apenas com o coração, mais cedo ou mais tarde isso acaba. Quando a ação é movida pelo dever profissional ela ocorre independente do estado de espírito. Passa a ser um trabalho sistemático. É o que queremos”, afirmou Joel Andrade, da ABTO, remunerado na função que exerce há 5 anos. *Jornalista

Caravana 2010 vai ao agreste A

Caravana Cremepe-Simepe 2010 pega a estrada novamente e parte rumo ao Agreste pernambucano. Com o objetivo de aproximar o médico do interior com o da capital, promover a cidadania da população e fiscalizar a prática da medicina em regiões mais afastadas do estado, a Caravana vem ultrapassando expectativas desde 2005, ano da sua fundação. Buscando a melhoria de vida da população, a Caravana já teve a dinâmica modificada várias vezes, sempre guiada pelas necessidades observadas no cotidiano de cada região. “No começo, a proposta do projeto era outra, mas vimos que os problemas iam muito além do que nós pensávamos e fomos nos adequando a isso”, disse Ricardo Paiva, coordenador geral da Caravana. Neste ano, 40 municípios serão visitados pelos Caravaneiros (responsáveis pela prática da ação), onde será exibido o filme “Pela Vida, Pelo Tempo”, produzido em 2008, pela Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Conselho Federal de Medicina (CFM), Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) e Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe). Além disso, pesquisas serão realizadas pelos agentes espalhados na cidade e a população terá acesso a debates. Para Paiva, a iniciativa é muito importante para elevar a auto-estima da população, que, antes, vivia sem nenhuma perspectiva de vida. “Hoje nós colhemos os frutos da Caravana e isso é muito gratificante para todos os que fazem parte dela”, afirmou. Veja todos os detalhes da caravana acessando o site: www.cremepe.org.br

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Fotos: Assessoria Imprensa Cremepe

CAPA CREMEPE Conselho Regional de Medicina/PE ETAPA PERNAMBUCO

Pré-Enem discute temas de relevância para médicos de todo o País

Da esq. para a dir., Carlos Medeiros, presidente da Apemol, Jane Lemos, presidente da Ampe, o então presidente do Simepe, Antonio Jordão, o presidente do Cremepe, André Longo, o vice-presidente do CFM, Carlos Vital, e Mário Fernando Lins, secretário-geral da Fenam

I

ntegrantes do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) e Associação Médica de Pernambuco (AMPE), além de representantes de entidades nacionais, como o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, colocaram em discussão, no Recife, assuntos de extrema relevância para médicos de todo o País durante o Pré-Enem, realizado nos dias 25 e 26 de março. A noite de abertura do evento foi marcada pelas palestras do deputado federal Paulo Rubem Santiago (PDTPE), e do professor do curso de Gestão e Saúde Pública da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), Aragon Dasso Júnior. O professor fez um breve histórico da Constituição Brasileira de 1988 e a sua importância na conquista dos direitos humanos, principalmente, à saúde. Para ele, esse direito está sendo negado à população devido ao modelo ultrali-

beral da economia que favorece as Organizações Sociais (OSs), por exemplo. "A saúde vem sendo privatizada nos últimos anos de forma mascarada e dissimulada", afirmou Aragon Júnior. Para ele, enquanto houver a saúde suplematar, que trata a saúde como um serviço, "o inimigo estará consumindo o sistema", disparou. Já o deputado Paulo Rubem ressaltou a importância dos movimentos sindicais no processo de conquista dos direitos. A questão da alta carga tributária aplicada no Brasil foi o tema mais explorado por Rubem. Na opinião dele, "os impostos só servem para financiar a concentração de renda no País". Outro assunto abordado foi a “Formação Médica”. Para a professora da Universidade de Pernambuco (UPE) e conselheira do Cremepe, Valdecira de Lucena, “os modelos propostos são imediatistas, com muito discurso e pouca operacionalidade". Na opinião dela, “o Brasil continua sem rumo na saúde”.

Já o ex-presidente da Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM), Guido de Araújo, avaliou que “em Pernambuco não houve proliferação de escolas médicas como no resto do Brasil”. O presidente do Cremepe, André Longo, atribuiu a conquista apontada por Araújo como “resultado do trabalho das entidades médicas do Estado”. O tema “Mercado de Trabalho e Remuneração” também entrou na pauta de discussões do Pré-Enem. Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS), Lista de Procedimentos Médicos, Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM) e condições de trabalho foram exaustivamente discutidos pelos participantes. “Defendemos reajuste anual dos salários, condições de trabalho e educação médica continuada”, afirmou o Secretário-geral da Fenam, Mário Fernando Lins. Ele também cobrou a aprovação do Projeto de Lei 3734/08, que fixa em R$ 7 mil o piso salarial dos médicos.

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I ENCONTRO REGIONAL DE BIOÉTICA

Cremepe celebra os 50 anos do IMIP

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Cremepe deu início, no dia 25 de março, às comemorações dos 50 anos do Instituto de Medicina Integral Profº Fernando Figueira (Imip) com a abertura do I Encontro Regional de Bioética, no auditório Alice Figueira, no Imip. A mesa de trabalho foi composta pelo presidente do Cremepe, André Longo, pelo presidente em exercício do Imip, Bertoldo Kruse e pelo coordenador do Comitê de Estudo de Ética e Pesquisa do Imip, José Eulálio Cabral. Em sua fala inicial, Longo destacou os avanços nas discussões no campo da bioética nas últimas décadas e o trabalho de revisão do Código de Ética Médica. As exposições iniciais sobre o tema “Vida – Aspectos Legais” ficaram a cargo do professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), advogado e membro do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco, Nilzardo Carneiro Leão, que abordou o sentido amplo da vida, desde a sua concepção, pela ótica do Direito. Carneiro Leão ressaltou, ainda, o papel do médico nesse processo e condenou veementemente o aborto. “O compromisso do médico é com a vida, e não com a morte”, afirmou. Dando continuidade ao evento, o presidente da Sociedade de Bioética (Regional de Pernambuco) e integrante da Câmara Técnica de Bioética do Cremepe, Josimário Silva, abordou o tema “Bebês mal formados e prematuro extremo: dilemas éticos de vida e morte”. Em seguida, o presidente da Fe-

deração Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e Coordenador da Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia do Cremepe, Olímpio Moraes, falou sobre “Aborto: implicações éticas, médicas e sociais”. E finalizando a programação da manhã, a palestra do professor da Universidade de Pernambuco (UPE) e integrante da Câmara Técnica de Bioética do Cremepe, Aurélio Molina, sobre "Embriões Excedentários". As atividades da tarde foram iniciadas com a palestra do 1º vice-presidente do Conselho Federal de Medicina e Conselheiro Federal do Cremepe, Carlos Vital, intitulada de "O Novo Código de Ética Médica: uma visão da autonomia". Durante a palestra, ele fez um resgate histórico da ética na medicina e afirmou que “o novo Código marca a entrada da medicina no século 21”.

Em seguida, foi a vez do ex-presidente da Sociedade Brasileira de Bioética (2005-2007) e professor de Clínica Médica e Bioética da Universidade Estadual de Londrina, José Eduardo de Siqueira. Com o tema "Cuidados Paliativos e autodeterminação", ele abordou questões referentes à autonomia do ser humano, à ética na relação médico/paciente e aos avanços da tecnociência. “Nós estamos formando médicos especialistas em tratar doenças. Temos que formar médicos especializados em tratar pessoas e não somente enfermidades”, afirmou. O tema "Obstinação terapêutica e implicações éticas" ficou sob a responsabilidade do preceptor da Residência de Clínica Médica do HR e integrante da diretoria da Sociedade de Terapia Intensiva de Pernambuco (Sotipe), Odin Barbosa. Em sua fala, ele abordou vários temas, como a dificuldade de aceitação da morte e os princípios da boiética. "Muitas vezes a obstinação terapêutica traz muito sofrimento e dor aos pacientes terminais, principalmente, os que estão nas UTIs", avaliou Barbosa. A última palestra do evento foi proferida pela fundadora da Academia Nacional de Cuidados Paliativos e integrante da Câmara Técnica de Terminalidade da Vida e Cuidados Paliativos do CFM, Maria Goretti Maciel. Ela abordou a Legislação brasileira e suas implicações na terminalidade da vida. “Nós precisamos reconhecer que a pessoa com enfermidade terminal tem o direito à assistência adequada”, afirmou.

Da esq. para a dir., José Eulálio Cabral e Bertoldo Kruse, do Imip e o presidente do Cremepe, André Longo

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Fotos: Divulgação

CREMEPE Conselho Regional de Medicina/PE

AGENDÃO

Assessoria de Comunicação do Cremepe

dor do Estado, Eduardo Campos, em anunciar um projeto de ampliação do curso de medicina da Universidade de Pernambuco (UPE) para o Agreste do Estado. “Apoiamos esse movimento de interiorização do ensino médico e avaliamos como um sinal de que é possível transformar a medicina do interior e atender aos anseios de toda a população daquela região”, avaliou Longo.

A presidente da AMPE, Jane Lemos, e o presidente do Cremepe, André Longo, ladeados pelo diretor da FCM, Marcelo Azevedo, e pela vice-diretora, Maria Helena Kovacs

FCM completa 60 anos e homenageia as entidades médicas de Pernambuco

Falso médico é flagrado no município de Mirandiba, Sertão do Estado

A diretoria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco (FCM-UPE), na ocasião da comemoração dos 60 anos da instituição, homenageou o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) e a Associação Médica de Pernambuco (AMPE). Durante a solenidade, realizada na própria faculdade, o presidente do Cremepe, André Longo, recebeu uma placa comemorativa do diretor da instituição, Marcelo Azevedo, e da vice-diretora, Maria Helena Kovacs. Em seu discurso, André Longo, que é ex-aluno da FCM, destacou a importância da instituição para a medicina pernambucana. “Nesses 60 anos, a FCM já formou mais de sete mil médicos. Para mim, é uma alegria enorme receber essa homenagem em nome do Cremepe e fortalecer a parceria na educação médica”.

O Cremepe, com apoio da Polícia Federal, flagrou um falso médico em plena atividade no dia 23 de março no município de Mirandiba, Sertão de Pernambuco, a 476 quilômetros do Recife. Ademir Guerreiro Barbosa foi autuado por exercício ilegal da medicina enquanto prestava atendimento a pacientes na Unidade Mista Municipal Ana Alves de Carvalho. O Cremepe abriu sindicância para apurar o caso. Além dele, outros dois nomes são suspeitos de atuar como médicos plantonistas na mesma unidade de saúde, ambos sem o registro no Conselho. O Cremepe levou, ainda, o caso ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) para responsabilizar os gestores municipais pelo mau uso de dinheiro público.

Cremepe aprova curso de medicina em Garanhuns O presidente do Cremepe, André Longo, elogiou a atitude do governa-

Cremepe suspende interdição ética no Dom Malan Dois dias após decretar a interdição ética no Hospital Dom Malan, em Petrolina, o Cremepe decidiu suspender a decisão tendo em vista a ação por parte da prefeitura que corrigiu as irregularidades apontadas na unidade de saúde, garantindo assim, uma assistência digna à população e o exercício ético da medicina. “A intervenção foi uma medida extrema, mas se mostrou eficaz no sentido de mobilizar a prefeitura a corrigir rapidamente as deficiências”, afirmou o presidente do Cremepe, André Longo. No dia da interdição, 5 de abril, os fiscais do Cremepe apontaram inúmeras deficiências no hospital tais como redução do número de pediatras nos plantões; falta de material básico como álcool, luvas e seringas; diminuição de leitos de pediatria e UTI sem ventiladores mecânicos, monitores, além de número insuficiente de bombas de infusão.

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Posição do Cremepe sobre o Projeto da Tamarineira Desde que surgiram especulações sobre o futuro do espaço onde está instalado o Hospital Psiquiátrico Ulysses Pernambucano, no bairro da Tamarineira, o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco vem se posicionando em defesa do hospital e da preservação do meio ambiente. É tanto que em duas edições da revista Movimento Médico (a anterior e a de número nove), que representa as entidades médicas de Pernambuco, já foi explanada a nossa posição favorável à manutenção do patrimônio histórico e ambiental do Estado. Com a divulgação no dia 22 de fevereiro pela imprensa de que o Hospital da Tamarineira vai deixar de existir naquele local para dar lugar à construção de um shopping center e à instalação de um parque de lazer aberto ao público, nos dirigimos à sociedade pernambucana para colocar os seguintes pontos: 1 – O Cremepe não abre mão de acompanhar todo o processo de transferência dos pacientes que estão internados atualmente e que merecem ser tratados com dignidade e respeito. 2 – O Cremepe também quer participar das discussões que vão definir o espaço para onde os pacientes do Hospital Ulysses Pernambuco serão transferidos. 3 – Com o objetivo de manter nossa coerência na luta pela preservação do meio ambiente, ficaremos atentos para impedir que exista devastação daquela área verde, que é de fundamental importância para o bem estar da população recifense. 4 – Em relação ao prédio do hospital, considerado uma referência na psiquiatria pernambucana, nosso intuito é também o de evitar que haja qualquer dano ao patrimônio histórico e arquitetônico do Estado de Pernambuco.

Vista aérea do Hospital da Tamarineira

Uma parte dos mantimentos foi levada de avião no mês de fevereiro. Outra parte – cujo prazo de validade estava perto do vencimento – foi doada às cidades pernambucanas em estado de emergência por causa da seca. A iniciativa dos pernambucanos fez parte da ajuda humanitária oferecida pelo Brasil aos sobreviventes do terremoto que devastou o país matando mais de 220 mil pessoas no dia 12 de janeiro.

Convênio firmando entre Cremepe e FCM-UPE Apoiar as atividades especializadas desenvolvidas pelo projeto Escolinha de Iniciação Musical e Artes do Hospital Oswaldo Cruz (HUOC). Esse é o objetivo do convênio firmado entre o Cremepe e a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco (FCM-UPE). Com a doação de R$ 20 mil, o Conselho espera colaborar apoiando oficinas de atividades artísticas para a humanização da medicina e contribuindo com a ação terapêutica destinada a crianças e adolescentes que fazem tratamento no HUOC.

Cremepe lança novo portal O site do Cremepe está de cara nova. O canal de comunicação entre a entidade, o médico e a sociedade está mais moderno, bonito e atrativo. Todo seu conteúdo foi revisado e atualizado, buscando atender melhor as necessidades dos internautas. As notícias, os acontecimentos e os eventos da área da saúde continuam sendo a prioridade do portal. Além disso, vídeos e áudios foram adicionados ao site para que o visitante fique por dentro de tudo que diz respeito ao Cremepe. Acesse e confira: www.cremepe.org.br

Pernambucanos doaram 350 toneladas de mantimentos às vítimas do Haiti Durante dois meses de campanha em Pernambuco, o Comitê de Solidariedade ao Haiti arrecadou 350 toneladas de donativos não perecíveis. Movimento Médico 25

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SIMEPE Sindicato dos Médicos de Pernambuco

Posse festiva do novo presidente do Simepe

O novo presidente do Simepe (o 4º da esq. para a dir.,) ao lado de amigos e diretores

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solenidade de posse da nova diretoria (biênio 2010/2012) do Sindicato dos Médicos de Pernambuco foi realizada no dia 21 de abril, às 21h, na Usina Dois Irmãos, Praça Farias Neves, Apipucos/Recife. Em grande estilo e com o espaço superlotado, a festividade começou com a apresentação do “Balé Arco-Íris do Sonho”, integrado por crianças portadoras de deficiências do Centro de Reabilitação e Valorização da Criança (CERVAC), localizado no Morro da Conceição/Casa Amarela. A apresentação contagiante do grupo formado há quatro anos transformou a noite num show de simplicidade e emoção. Vale salientar que a CERVAC existe desde 1988 e atende a 250 crianças. Em seguida, o cerimonial compôs a mesa com os representantes do Simepe, Governo do Estado, Fenam, CFM, Ministério das Relações Institucionais, OAB-PE, Cremepe e AMPE. Ao lado os convidados de honra: Fenam, reitoria da UFPE, reitoria da UPE, AMBL, Sindicato dos Médicos de Alagoas e do Conselho Estadual de Saúde. Registradas as presenças de dirigentes de entidades sindicais, de cooperativas e associações médicas, além de organizações não governamentais, parlamentares e convidados especiais.

Balanço de gestão – O presidente do Simepe, Antonio Jordão, saudou os convidados e apresentou o balanço de gestão, pautando seu discurso nas ações realizadas durante seu mandato à frente da entidade médica. Jordão comentou

Giovanni Chamberlain

Classe médica e outras entidades de destaque prestigiaram o evento

também sobre planejamento, concurso público, resgate da cidadania, carreira médica, remuneração, direitos e SUS. Fez ainda questão de ressaltar a importância do trabalho unificado com as entidades médicas, a relação próxima com a sociedade e os movimentos sociais. Por fim, agradeceu aos familiares, funcionários e diretores do Simepe, bem como a categoria médica. Logo depois, o secretário-geral da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Mário Fernando Lins, analisou a conjuntura, o SUS, as tentativas de privatização da rede pública de saúde, além das lutas empreendidas por melhores condições de trabalho, remuneração e dignidade. Ressaltou que a entidade nacional tem por meta uma atuação eminentemente política, haja vista a sua representatividade no seio da categoria médica brasileira. “A Fenam sente um imenso orgulho por estar presente nessa festa. Aproveitamos esse momento para desejar sucesso e grandes realizações a todos os membros da diretoria que hoje toma posse”, declarou. A solenidade prosseguiu com a assinatura do termo de transmissão de posse pelo novo presidente eleito Silvio Rodrigues que foi homenageado com um vídeo simbólico, marcado por sua

história de lutas e compromissos com o movimento médico. (Veja as fotos do discursso e da posse no site www.simepe. org.br)

Financiamento e trabalho médico - Em seu discurso, Sílvio Rodrigues, fez uma avaliação da conjuntura nacional, questionando as políticas públicas de saúde, o financiamento indefinido, além da situação crônica dos hospitais públicos, caracterizados pela superlotação, falta de medicações e equipamentos, ausência de leitos de UTI, equipes incompletas e dificuldade na regulação dos leitos. Na esfera municipal, apontou para a precarização do trabalho médico, os problemas na atenção básica, nos serviços de pronto atendimento, nas maternidades e no SAMU. “Lutaremos por uma política que defenda o interesse público. A união tem papel central, estratégico na saúde. Mas, para efetivamente desempenhar esse papel tem que ser reformado em torno da esfera pública, tornando-se um Estado para todos os brasileiros”, frisou. Destacou que a mobilização ampla e a capacidade de negociação são importantes nestas vitórias e não será diferente nesta gestão “Participação e Luta", que chega ao Simepe.

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Homenagens, prêmios e inauguração de mural Fotos: Assessoria Imprensa Simepe

Chico Carlos*

Da esq. para a dir., Assuero Gomes, diretor do Simepe, Vera Lopes, vereadora, André Longo, presidente do Cremepe, o então presidente do Simepe, Antonio Jordão e a vicepresidente do Cremepe, Helena Carneiro Leão

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rês eventos em noite única. A sexta-feira, 26 de março, vai ficar na história do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) quando foram realizados os eventos da entrega da “Medalha de Honra ao Mérito Professora Naíde Teodósio”, da premiação dos Concursos de Poesia e Fotografia, e a tão esperada inauguração do mural “Tributo a Gaudí”. A mesa foi composta por Antonio Jordão e André Longo, a representante da Associação Médica/PE, Helena Carneiro Leão, , a vereadora Vera Lopes e o diretor do Simepe, Assuero Gomes. Jordão saudou todos os presentes destacando, principalmente, a importância dos eventos como parte do calendário oficial da entidade médica. Em seguida fez um resgate histórico de Naíde Teodósio, que não arrefeceu da luta, tornando exemplo de dignidade e referência para todas as mulheres.

Medalhas e satisfação – Neste ano, a “Medalha de Honra ao Mérito Professora Naíde Teodósio” homenageou as médicas – Maria das Graças Carlos de Araújo – da saúde da família, e Maria Ângela Rocha, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC). Ambas receberam as medalhas das mãos das diretoras do Simepe, Claudia Beatriz e Carla Bezerra. Em seguida, foram presenteadas com um buquê de flores pelo então presidente do Simepe, Antônio

Jordão. Esta foi a quarta edição do prêmio, que homenageia personalidades femininas dedicadas e atuantes no serviço prestado à população e no envolvimento das causas sociais. Na ocasião, as médicas agradeceram a homenagem. Bastante emocionada, Maria das Graças explicou que o segredo de executar bem sua profissão e através dela ajudar as pessoas, é o amor àquilo que faz. Já Maria Ângela afirmou ser um orgulho receber a homenagem em função do reconhecimento de seu trabalho. “Hoje tenho certeza e me alegro, pois acredito ter acertado mais vezes que errado”, afirmou.

Premiação e mural – A segunda edição dos concursos de poesia e fotografia teve como vencedores os médicos Luiz Carlos Albuquerque, Arthur Bruno Medeiros, Helder Vinicios Medeiros, Ronaldo Figueira e Ana Cláudia Longo. As fotografias e poesias classificadas já estão disponíveis em nosso site. Clique e confira: www.simepe.org.br. Para finalizar a noite, o diretor de Imprensa Assuero Gomes promoveu inauguração do mural “Tributo a Gaudí”. Este mural de 60 metros quadrados, se encontra no pátio interno do Simepe e tem estruturas em mosaico com azulejos antigos inspirado na obra do mestre catalão Antoni Gaudí. *Assessor de Imprensa do Simepe

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Creative Commons

SIMEPE Sindicato dos Médicos de Pernambuco

Entre a loucura do asilo e a loucura das ruas Antonio Jordão*

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processo de reforma psiquiátrica é complexo e profundo. Precisa articular e compartilhar todas as políticas públicas sociais: saúde, assistência social, previdência, educação, lazer e cultura, trabalho e emprego, e notadamente a família, quando houver. Precisa envolver de fato a sociedade. Pessoas não são números. Nossos doentes oscilam entre duas loucuras: a loucura do asilo e a loucura do abandono nas ruas. As masmorras e a morte intrahospitalar por desassistência, desafeto e inanição é genocídio. Crime doloso de lesa humanidade. A retirada dos doentes do hospital também não pode ser criminosa. A reinclusão social é necessária. Porém precisa ser monitorada, caso a caso, qual o destino e quem dará o apoio a cada paciente. Responsabilidade com nomes. Que pessoa da família receberá o paciente e dele cuidará. Quem assegurará o suporte financeiro assistencial/ previdenciário. Qual a residência terapêutica. A qual CAPS estará vinculado e qual o leito que o receberá de volta em

eventual intercorrência. Os nomes dos profissionais que lhe darão cuidados. Que instância de lazer, cultura e ocupação lhe permitirá o retorno ao convívio social e lhe proporcionará a auto-estima de sentir-se importante e valorizado. E quem fiscalizará tudo isto? Para que a lógica da rehumanização não seja substituída pela lógica economicista de simplesmente cortar ainda mais custos impondo outro abandono. A rede psicossocial não pode ser apenas figura de retórica. Depois de montada, precisa ser mostrada. A Assembleia Legislativa pode ter papel de destaque neste acompanhamento e evidenciação. As Câmaras de Vereadores também. A partir do trabalho efetivo dos conselhos de saúde, utilizando-se de estatísticas e planilhas mensais com duas bases: a primeira, o número de leitos desativados nos últimos anos, e os em vistas de desativação; a segunda, os serviços extra-hospitalares implantados, atualmente em funcionamento ideal e os que colapsaram no meio do caminho. Aspectos esses devidamente

acompanhados pelos respectivos dados financeiros – recursos estes que vem sofrendo redução – e pela obrigatória auditoria (controle e avaliação), hoje inexistente em relação aos CAPS, SRTs, ambulatórios e programas específicos. A Assistência Social não pode resumir-se aos benefícios pecuniários previstos na LOAS e pagos pela Previdência Social. Entendemos que é muito mais. E que as ações a ela atribuídas devem ter instâncias de coordenação e articulação com saúde, previdência, cultura e lazer, habitação. E tudo sob a fiscalização do Ministério Público, consoante a Lei Federal 8742, entre outras. Necessário lembrar o papel da estratégia saúde da família. Certamente não é o de responder pela saúde mental. Pode participar em sentido amplo de controle de seu território, porém, jamais fará o papel do psiquiatra. É importante lembrar porque alguns problemas não resolvidos na saúde acabam sendo repassados à absurdamente sobrecarregada estratégia saúde da família. E isto é inaceitável. O trabalho dos profissionais nos

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Sobre o fechamento dos hospitais psiquiátricos O Ulysses Pernambucano, um dos hospitais ameaçados de extinção

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CAPS, SRTs, e outros dessa nova rede é diferenciado. Envolve não só o paciente, mas seus familiares, ou afins; reuniões; outros atores, como assistentes sociais, educadores , artistas. A reinserção social é multifacetária e demanda acompanhamento. Não é uma atividade eletiva convencional, mas um processo complexo. Porisso, podemos dizer que não faltam psiquiatras no mercado, o que falta é a condição adequada para este trabalho diferenciado. Por outro lado, os leitos para agravamento e agudizações sempre existirão. Esperamos que na proporção necessária. Visitar os atuais hospitais psiquiátricos agora. E depois visitar os doentes em suas casas e espaços de recuperação. Ver antes e depois. Nos parece ser a honrosa tarefa do momento. Fazer a coisa certa dá muito trabalho, não tenhamos dúvida, mas dá resultados maravilhosos. Precisa de planejamento, recursos e, sobretudo, decisão política. *Antônio Jordão é ex-presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco

polêmica envolvendo o fechamento dos hospitais psiquiátricos de Pernambuco foi discutida no dia 9 de março, em reunião plenária na Assembléia Legislativa, que reuniu os representantes das instituições públicas e privadas do setor de saúde do Recife e representantes da Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco. A audiência foi solicitada pelo deputado Antônio Moraes, questionando a medida do Governo Federal de encerrar as atividades dos centros psiquiátricos e devolver os pacientes para suas famílias. Na ocasião, estavam presentes o então presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), Antônio Jordão, e a diretora da entidade, Tilma Belfort. O cenário da saúde mental no Estado expõe preocupação. Muitos hospitais psiquiátricos já fecharam as portas, como por exemplo, o Dom Vidal, Casa de Saúde São José e Hospital Psiquiátrico de Paulista. Este parece ser também o destino do Hospital Psiquiátrico Alberto Maia, onde não são mais realizados novos internamentos, dos hospitais da Tamarineira e Nossa Senhora das Graças, em Aldeia. De acordo com Antônio Jordão, o fechamento desses hospitais complica ainda mais a precariedade no sistema. “É dever do Estado assegurar a saúde do cidadão, e principalmente daqueles que são por inteiro dependentes.

Lavar as mãos só vai levar ao caos. Fechar não irá resolver, é necessário investimento e seriedade ao tratar de um assunto tão importante” ressaltou. O deputado Antônio Moraes (PSDB) indagou sobre a ajuda financeira que essas famílias receberão, no valor de um salário mínimo, achando a verba inviável para o tratamento do doente no domicílio, uma vez que o governo gasta em média vinte e sete reais por dia com os pacientes, além do alto custo dos medicamentos. Da mesma opinião, compartilha Tilma Belfort, ao relatar que muitas famílias não estão preparadas e não sabem como proceder no momento das crises do portador da doença mental. “Alguns pacientes são abandonados pelas famílias, o que será deles?” questiona a diretora do Simepe. A respeito das questões que visam extinguir o Hospital da Tamarineira, o então presidente do Simepe se posicionou em consonância com as outras entidades médicas do Estado, veementemente contra esta medida. “A defesa intransigente do cuidado da saúde de nossos doentes psiquiátricos, de nossas crianças e da população em geral, requer que seja revertida tal desapropriação com fins mercantilistas, inclusive tendo em vista a imensa área verde, que oxigena um grande entorno do terreno”, concluiu Antônio Jordão. Movimento Médico 29

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Fotos: Assessoria Imprensa Simepe

SIMEPE Sindicato dos Médicos de Pernambuco

A mesa de debate foi composta por representantes do Simepe, Cremepe, Câmara de Vereadores do Recife e Secretarias de Saúde do Estado e do Município e de comunidades da capital

Falta de leitos nas UTIs em discussão O encontro foi na Câmara de Vereadores do Recife Sérgio Augusto*

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realização da audiência pública sobre a falta de leitos nas UTIs dos hospitais recifenses e o exame das causas dessa falha no atendimento de saúde inaugurou o debate público em torno da questão. Realizada no Plenarinho da Câmara do Recife, a iniciativa foi da médica e vereadora Vera Lopes (PPS), que chamou a atenção para o crescimento do número de motociclistas acidentados, fato que ultimamente vem exigindo um maior número de leitos nas UTIs, o que não vem acontecendo. A audiência reuniu representantes do Cremepe, Simepe, secretarias de saúde do Estado e do Recife, a vereadora de Jaboatão, Edna Mathias, o presidente do PPS estadual, Marcelo Gadelha e representantes de diversas comunidades da capital.

Traduzindo o que a classe médica e atendente vem exigindo, Vera Lopes, ao abrir a audiência, adiantou que esse é o passo inicial para que seja criada uma frente social e parlamentar para criar políticas públicas de saúde para ampliar a capacidade de atendimento das UTIs, desde os casos neonatais até os atendimentos a adultos. Ao mesmo tempo, tal frente deverá propor soluções para diminuir os acidentes de motos na cidade, a partir da educação e prevenção.

Direito e cidadania - O então presidente do Simepe, Antônio Jordão, lembrou que a Constituição de 1988 garante que a saúde é um pleno direito dos cidadãos. “Portanto, garantir a saúde não é uma caridade, mas sim uma obrigação pública. No caso das UTIs, o que foi feito até agora foi um

dimensionamento para menos. Em Pernambuco, deveríamos ter 1.200 leitos de UTIs, mas temos apenas 500”. Em seguida, Jordão revelou que em Petrolina, por exemplo, não há nem dois leitos de UTI. “Precisamos acabar com esse faz-de-conta!”, desabafou. Pelo Cremepe, o médico José Carlos Alencar reforçou que saúde pública tem que ser tratada pelo poder público (numa posição oposta ao que os poderes municipal e estadual vem fazendo ao conceder a gestão das UPAs a entidades sociais). Também referiu-se ao flagelo dos acidentes de motos como fator que exige o aumento de leitos; e disse que, nesse ano eleitoral, a sociedade deve eleger pessoas comprometidas com a saúde e as políticas públicas. *Jornalista

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Encontro em Maceió discute relação entre médicos e mídia O

Sindicato dos Médicos de Alagoas realizou nos dias 25 e 26 de março o I Encontro Médico-Mídia da Região Nordeste. O evento reuniu assessores de imprensa de sindicatos médicos, dirigentes sindicais, jornalistas e estudantes de medicina e de jornalismo, com o objetivo de integração, auxiliando os profissionais de saúde no seu relacionamento com a mídia, simplificando o trabalho da imprensa e ajudando os jornalistas a entenderem melhor o setor de saúde. O evento aconteceu na sede da entidade – rua Teonilo Gama, Trapiche da Barra, em Maceió/AL e foi aberto com palestra da jornalista e professora universitária Silvia Falcão, que falou sobre “O papel das assessorias de imprensa e o embate Sindicato X Governo”. Na sexta-feira (26), segundo dia do evento, a participação do jornalista Chico Carlos, assessor de imprensa do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), que dividiu a mesa com o diretor da entidade médica pernambucana, José Tenório. Eles comentaram so-

os jornalistas Marco Aurélio Melo, repórter da TV Pajuçara/Record, e Odilon Rios, de O JORNAL. Eles deram sequencia às discussões sobre comunicação sindical, papel da mídia, o trabalho dos jornalistas, geração de pautas, entre outros. Este é o primeiro evento regional oriundo do Seminário Nacional Médico/Mídia, que a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) realiza desde 2005.

O assessor de imprensa do Simepe, Chico Carlos

bre a crise na saúde de Pernambuco, o relacionamento com a Mídia (aspectos positivos e negativos), estratégias de comunicação do Simepe, além de temas relacionados com o SUS e as Organizações Sociais. No período da tarde, os palestrantes foram o secretário de Comunicação da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Waldir Cardoso, o presidente do Sinmed/AL, Wellington Galvão, e

Insegurança atormenta médicos da Policlínica Amaury Coutinho

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édicos plantonistas da Policlínica Amaury Coutinho, na Campina do Barreto, denunciaram ao Simepe que, durante atendimento a uma paciente, com a entrada de seis acompanhantes, houve agressões aos funcionários e usuários, provocando revolta, desentendimento e tumulto. A confusão se generalizou com a chegada de viaturas da Polícia Militar, inclusive com a formação de barrica-

da, além de depredações no comércio local. Assustados com o clima de terror e sitiados naquela unidade do Recife, os médicos encaminharam ofícios à Prefeitura do Recife, Conselho Regional de Medicina, Ministério Público Estadual, Secretaria de Saúde do Recife e Secretaria de Defesa Social.

Garantias – Os médicos cobraram medidas que possam garantir condições

Médico/Mídia Nacional – Nos dias 15 e 16 de abril, a FENAM realizou no Rio de Janeiro, o V Seminário Nacional Médico/Mídia. O evento debateu temas relacionados à ética, papel e importância da mídia, meio ambiente, novas tecnologias, entre outros. O Sinmed foi representado pelo presidente Wellington Galvão, pela diretora Edilma Barbosa e pelos integrantes da Assessoria de Comunicação. Fonte: Ascom Sinmed, com informações complementares da Assessoria de Imprensa do Simepe

mínimas necessárias para o exercício profissional e atendimento da população com segurança e tranquilidade. A categoria não descarta a possibilidade de apenas trabalhar nos próximos plantões mediante essas reivindicações atendidas. Não é a primeira vez que fatos como esses acontecem nessa unidade de saúde da Prefeitura do Recife. Histórias de ameaças e perseguições aos médicos e outros profissionais de saúde se tornaram rotineiras. Na policlínica Amaury Coutinho/Campina do Barreto não existe controle da entrada e saída de pacientes e acompanhantes, a insegurança é total, além da falta de medicamentos e equipamentos. Vale salientar que a unidade é referência no tratamento de dependentes químicos, violência contra a mulher, à criança e o adolescente. Movimento Médico 31

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SIMEPE Sindicato dos Médicos de Pernambuco

O direito à informação como direito fundamental do paciente O Código de Ética traz princípios e regras que devem ser observadas pelos médicos Vinicius de Negreiros Calado*

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Código de Ética Médica – CEM – vigente desde 13 de abril de 2010 – trouxe uma nítida preocupação com a autonomia do paciente, contextualizando o exercício da sua vontade com recebimento de informações adequadas e claras, na mesma linha principiológica do Código de Defesa do Consumidor – CDC e das decisões do Superior Tribunal de Justiça – STJ. Nas relações de consumo, e a relação médico-paciente é hoje tida como tal, a acepção de informação ganha contornos principiológicos que a envolvem, fazendo com que este ato (informar) seja complexo e seu sentido seja construído na prática social (contextual). Nas palavras de Cláudia Lima Marques: “nestes momentos informar é mais do que cumprir com o dever anexo de informação: é cooperar e ter cuidado com o parceiro contratual, evitando os danos morais e agindo com lealdade (pois é o fornecedor que detém a informação) e boa fé.” Mesmo antes da vigência do novo CEM já havia certo consenso na dou-

trina de que em qualquer atividade médica deveria-se realizar o dever de informar, documentando-se , solicitando ao paciente que assinasse um termo de consentimento para a realização do ato onde constem todas as informações prestadas, o assim chamado "termo de consentimento informado" ou “termo de consentimento livre e esclarecido”. No tocante a abrangência do conteúdo informacional na relação médico-paciente, a partir deste direito básico à informação, mesmo os autores de manuais fazem questão de referir-se a peculiar atividade médica: “Ademais, o médico deve sempre cumprir o disposto no art. 6º, inciso III, do Código de Defesa do Consumidor, informando o paciente sobre os procedimentos viáveis, as conseqüências e opções de tratamento, bem como as vantagens e desvantagens dos

possíveis tratamentos e medicamentos que lhe serão ministrados.” Ou seja, os olhares já estavam voltados para a atividade médica, exigindo dos seus operadores um grau de profissionalismo cada vez mais acurado, e agora irão mais além, dadas as vedações categóricas advindas do novo CEM em seu artigo 22 que veda ao médico “deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte” e em seu artigo 24, que veda-o “deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem estar, bem como exercer sua autoridade para limitá-lo”, tendo ainda o paciente o direito de decidir livremente (art. 31), após informação pormenorizada (art. 34).

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Esta obrigação de bem informar do médico é justamente o cerne da questão fático-jurídica implicada, pois se liga fortemente a qualidade da interação discursiva entre enunciador (médico) e receptor (paciente). Em outras palavras, se o que foi dito, foi compreendido por quem deveria do modo como o enunciador esperava que fosse. Logo, esta comunicação deve ter instrumentos que permitam a checagem do dito e do compreendido como forma de aferir a conclusão do processo comunicacional, incorrendo o médico em responsabilidade civil acaso exista falha neste processo. Esta também é a lição que vem do professor da Universidade de Évora, Dr. João Vaz Rodrigues, para quem o dever de respeitar o paciente possui tríplice escopo, quais sejam, o de informar, confirmar e, por fim, obter o consentimento . Relevante para o campo da aplicação prática é a observação de Brunello Stancioli, em sua dissertação de mestrado: “primeiramente, a informação deve ser fornecida, preferencialmente, de forma oral. A oralidade da comunicação, em regra, facilita o entendimento do paciente /.../ É certo que o registro gráfico do consentimento informado deve ser feito (por vários motivos, inclusive para efeitos probatórios), mas o medium comunicativo deve ser, sempre que possível, oral.” Dito de outra forma, o uso do instrumento escrito não dispensa o diálogo com o paciente, o que, de fato, ocorre mais frequentemente , e sendo discursivo o processo que visa a atender a tríplice finalidade do dever (informar, confirmar e obter o consentimento) seria este impossível de ser realizado por simples entrega de documento escrito , muito menos por formulários . Em suma, o CEM agasalhando doutrina e jurisprudência sobre a matéria, consagra o direito fundamental do paciente à informação, trazendo princípios e regras que devem ser observadas pelos médicos nas relações com paciente e familiares, preservando-se assim sua autonomia. *Advogado do Simepe, professor universitário, mestrando pela UNICAP

Cooperativismo Médico

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m 23 de março de 2010, às 19h, na sede da FECEM, foi realizada a Assembleia Geral Ordinária, que contou com a presença de representantes das Cooperativas associadas, advogados e departamento contábil para apresentação do relatório da gestão e prestação de contas / 2009. Foram abordados inúmeros assuntos entre eles, a eleição dos membros do Conselho Fiscal, a participação ativa em reunião do Ramo Saúde em PE, CONFEMED – Confederação Brasileira de Cooperativas Médicas, Congresso Médico Estadual de PE e na Comissão Estadual de Honorários Médicos (CEHM). Atualmente congrega cinco Cooperativas: Copepe, Copego, Coopecir, Coopeclin e Coopecárdio, somando aproximadamente 1.700 médicos qualificados nas suas mais diversas especialidades: pediatria, toco-ginecologia, cirurgia, especialidades clínicas diversas e cardiologia. Os nossos cooperados estão aptos a proporcionarem segurança e credibilidade aos usuários e maior excelência no atendimento. Agradecemos a todos os colaboradores pelo companheirismo e dedicação prestados à Federação.

Analíria Moraes Pimentel (Copepe) Sirleide de Oliveira Costa Lira (Coopeclin) Mauro Pedro Chaves Sefer (Coopecir) Carlos Japhet da Matta Albuquerque (Coopecárdio)

Conselho de Administração Diretora Presidente Aspásia Pires

Endereço: Av. Gov. Agamenon Magalhães, 4.775 – Empresarial Thomas Edison, 14º andar, salas 1402 e 1404, Ilha do Leite – Recife/PE. CEP: 50.070-160

Diretor Administrativo Amaro Gusmão Guedes Diretor Financeiro Pedro Geraldo de Sousa Passos Conselho de Presidentes Aspásia Pires (Copego)

Conselho Fiscal: Titulares Alexandre Jorge de Queiroz e Silva (Coopeclin) Mauro Pedro Chaves Sefer (Coopecir) Walmir Leonardo Pinheiro da Silva (Copepe) Conselho Fiscal: Suplentes Maria de Lourdes Carneiro David de Souza (Coopecárdio) Antônio Barreto de Miranda (Coopecir) George Meira Trigueiro (Copego). Delegados Catorze das Cooperativas filiadas. Contato/Informações: Fone: (81) 2125-7461 Fone/Fax: (81) 2125-7460 E-mail: Fecem.pe@ig.com.br Site: www.fecem.com.br

Errata: Na edição anterior no final da matéria sobre o encontro das Cooperativas foi escrito Dra. Sirleide Lira como Coordenadora. Na verdade, Dra. Sirleide é presidente da Coopeclin.

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Fotos: Reprodução

AMPE Associação Médica de Pernambuco

Cuide bem do seu sono Elizabeth Porto*

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insônia atinge mais o sexo feminino, atualmente, devido ao excesso de responsabilidades que muitas mulheres, hoje, enfrentam. Além disso, um terço da humanidade tem distúrbios do sono, porém, a maioria das pessoas que sofrem desse problema, não procura o médico. Quem garante isto é o cirurgião de cabeça e pescoço, Dr. Jorge Pinho, lembrando que a apneia merece cuidado especial porque pode provocar hipertensão e até matar o portador dessa doença, quando está dormindo. Jorge Pinho informa que todos os distúrbios do sono têm tratamento especializado. Nesta entrevista ele fala sobre os procedimentos contra o ronco, a apneia, o terror noturno, o fuso horário (jet-lag) e a narcolepsia.

O ronco é um distúrbio perigoso? Tradicionalmente, aceitava-se o roncar durante o sono como uma fatalidade intratável e como algo banal, humorístico, inocente e inócuo. Mas é preciso entender a sua complexidade. O médico francês Christian Guilleminault diagnosticou a Síndrome da Hiper- Resistência das Vias Aéreas Superiores que é uma alerta de que a pessoa está saindo do ronco e fazendo esforço nas vias respiratórias e, possivelmente, terá apneia do sono. É aí que surge o perigo do ronco.

E a cirurgia contra o ronco é satisfatória? A cirurgia a laser para o ronco é provavelmente o método mais eficaz. O procedimento é chamado também de uvulopalatoplastia LAUP e é feito com anestesia local. Fatores anatômicos como obesidade, queixo pequeno, mordida estreita, céu da boca (palato) em formato de ogiva, amígdalas e adenóides aumentadas, em suma tudo que estreite a passagem do ar e facilite o contato entre as paredes da garganta provoca o ronco que ocorre mais nos homens.

Como é o tratamento do ronco? O tratamento do ronco pode ser bastante simples. Para os casos iniciais, a mudança de posição pode ser suficiente. Uma bola de tênis costurada nas costas do pijama força a pessoa a deitar de lado. Pode ser qualquer objeto que impeça de dormir de barriga para cima, a posição que mais causa ronco. Elevar a cabeceira, com tacos sob os pés da cama soma-se ao efeito da posição. Evitar álcool e refeições lautas antes de dormir pode resolver o problema por algum tempo.

E a injeção contra o ronco é favorável? A injeção roncoplástica é recomendável. É um procedimento que só serve para alguns tipos de ronco. O médico é que determina se o paciente pode usar esse tratamento. O senhor poderia falar sobre as apneias ? Apneias são interrupções da respiração por mais de 10 segundos. Durante o sono, um pequeno número de apneias, geralmente de 7 a 20 por noite, pode aparecer em indivíduos normais. Quando ocorrem com frequência maior que cinco apneias por

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hora, ou 30 apnéias por noite, são consideradas anormais. Os malefícios da doença decorrem da soma de apneias ao longo de anos. O risco de morrer durante uma única apneia é pequeno, porque após 20 ou 30 segundos ocorre o despertar e a respiração retorna. Quais os sintomas de quem sofre de apneia? Roncar no sono e sonolência diurna. O ronco indica a obstrução da garganta e a sonolência é consequência dos múltiplos despertares para voltar a respirar. A tendência, ao longo do dia, será de adormecer em qualquer situação monótona. Mesmo quem dorme mais de oito horas tenderá a cochilar durante o dia se permanecer quieto. Por mais que descanse, a recuperação nunca é suficiente. Como o processo da doença se desenvolve em anos ou décadas, as pessoas acostumam-se a essa sonolência excessiva e passam a considerá-la "normal". Outros sintomas da apneia são redução da memória, déficit de atenção, dor de cabeça pela manhã, sono agitado, boca seca ao acordar, pressão alta, falta de ar, levantar para urinar ou urinar na cama, disfunção sexual e depressão. Há tratamento eficaz para apneia? O tratamento das apneias do sono varia conforme o caso. Depende da causa, da idade, da gravidade, da aceitação e da adesão às medidas propostas. Pode-se usar aparelhos, cirurgias e medicamentos. Quem sofre de apneias deve evitar qualquer relaxante muscular como o álcool ou medicamentos sedativos, calmantes e antialérgicos. O tratamento mais eficaz é a Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas CPAP que tem maior comprovação científica para a síndrome das apneias obstrutivas do sono. O aparelho de CPAP consiste em uma turbina que, girando a uma rotação controlada, gera pressão positiva com alto fluxo. A pressão é transmitida à faringe através de uma máscara de silicone colocada sobre o nariz. E as cirurgias para apneias? Antes da popularização do CPAP, o

Um terço da humanidade tem dificuldades de sono, porém, a maioria das pessoaas que sofrem com o problema, não procuram o médico especializado tratamento das apneias do sono era cirúrgico ou medicamentoso. Nos últimos anos, as evidências sobre a eficácia do CPAP se impuseram, levando a menor indicação de cirurgia e medicamentos. Apesar de novas drogas estarem em desenvolvimento pela indústria farmacêutica, não existe um medicamento específico para apnéias. A indústria abandonou as caríssimas pesquisas sobre a eficácia das drogas já existentes, em busca de alguma que pudesse tratar apneias. Hoje, reservase o tratamento com medicações para os casos leves ou para quem não aceita CPAP nem cirurgia. O que é terror noturno? É diferente do pesadelo? Os terrores noturnos (também chamados de terrores do sono) são momentos assustadores em que a pessoa grita, chora e até pula da cama enquanto, ainda, está totalmente adormecida. Esses episódios podem ser muito desagradáveis para quem estiver próximo da vítima do terror do sono que pode até ferir alguém. A pessoa pode acordar somente depois de ter ocorrido o incidente e não se lembrar de nada. Não é um pesadelo. Os terrores noturnos ocorrem no sono não-REM, enquanto os pesadelos (também chamados de ataques de ansiedade no sonho) ocorrem no REM, e o corpo não se move. No pesadelo a pessoa não tem amnésia. E o tratamento para o terror no sono? O tratamento também deve ter como objetivo proteger o paciente de possíveis danos. É um distúrbio do sono muito complicado. Agressão a outras pessoas pode ser evitada deixando o

indivíduo dormir sozinho e dispositivos eletrônicos podem ser usados para despertar o paciente com um alarme de som alto quando o movimento do corpo indicativo de um episódio de terror noturno ocorrer. Psicoterapia a longo prazo frequentemente é necessária. Técnicas de hipnose e biofeedback também podem ajudar. Certas drogas psicoativas tais como os antidepressivos tricíclicos e benzodiazepinas podem ser usados para o controle a curto prazo do terror noturno. A mudança de fuso horário pode prejudicar o sono? A síndrome de mudança rápida de fuso horário ("jet-lag") é um mal-estar em algumas pessoas, comum depois de longos vôos internacionais e, apesar de não se saber o motivo, ocorre mais em quem viaja para Ásia.Quem sofre mais com jet-lag são os idosos. Percebemos que esse problema acontece mais com quem se esconde do sol. O sol é muito bom para o cérebro a fim de orientar para onde está indo. As pessoas que são vítimas do jet-leg têm fadiga, insônia, dor de cabeça, irritabilidade e sintomas intestinais. Para evitar que isso aconteça, o viajante quando estiver dentro do avião deve acordar a cada duas horas e colocar o ponteiro do relógio no horário do lugar que está indo visitar. Não dormir na mesma hora que chegar no País, que ficará hospedado, e procurar sempre relaxar para se adaptar ao novo local. Na sua opinião, qual o distúrbio do sono mais difícil de ser tratado? É a Anarcolepsia, que é um distúrbio do sono conhecido há muito tempo. Foi descrito por Gelineau em 1881 e até hoje desconhece-se sua causa. Têm pessoas que não conseguem nem fazer sexo. Caracteriza-se por sonolência excessiva associada a cataplexia e outros fenômenos do sono REM tais como paralisia do sono e alucinações hipnagógicas. A sonolência é muito intensa, incapacitante. Cochilos diurnos recorrentes ou sono involuntário acontecem diariamente em qualquer situação. *Jornalista

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AMPE Associação Médica de Pernambuco

Varizes, mitos e verdades Prof. Anacleto de Carvalho*

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a era da história (3.000 a.C.), as veias são mencionadas pela primeira vez no ano de 1500 a.C. Foi escrito em papiro e descoberto pelo egipitólogo alemão Eber (1878). Citação verificada no código de Hammurabi – rei da Assíria – no ano de 1790 a.C. Na medicina Helênica, Hipocrátes, pertencente à escola de Cos, no seu “Corpus Hipocraticum” – 87 livros escritos ou ditados – 460 – 375 a.C. escreveu: incisões nas veias não cicatrizavam, punções múltiplas provocavam trombose, as flebites obstruíam as veias e reconhecia a compressão como “Terapia Magna” e atribuía, humildemente, esses conhecimentos aos Escitas (povo que viveu 1.000 anos a.C.). Ainda na medicina Helênica com Aristóteles 384 – 322 a.C., aparece a primeira representação gráfica ou plástica de uma veia, em membro inferior (IV século a.C.). Trata-se de uma perna com uma variz pertencente ao arconte Lysimachides. Encontra-se no museu arqueológico de Atenas, na cidade de Acrópoles, um santuário religioso e curativo. Foi descoberto por Köert em 1893. Herófilo de Alexandria 335 – 280 a.C. pai da anatomia, descreveu as veias como seis vezes mais fracas que as artérias e o seu sistema foi chamado de Prensa de Herófilo. Os progressos foram acumulando ainda na era Helênica quando surge o livro “Vidas Paralelas”, escrito por Plutarco 155 – 86 a.C. referindo a primeira descrição de uma cirurgia venosa. O paciente chamavase Caio Marius, simplesmente, Cônsul e General do Império Romano, portador de varizes em membros inferiores (bilateral). O cirurgião desconhecido. A anestesia não existia e o instrumental cirúrgico era o cautério – ferro quente. Relata o autor que o primeiro membro foi operado e o paciente não reclamou e não externou

nenhum sofrimento. Entusiasmado com o aparente sucesso e diante de uma autoridade romana, tão diferenciada, o cirurgião, de pronto, propôs a segunda intervenção, naquele mesmo ato. O paciente respondeu, simplesmente: “A dor não vale a cura”. Inúmeros comportamentos médicos empregados ainda hoje remontam da medicina da Idade Média (até o século X), como Galeno (130 a 200 a.C.), Aetio de Amida, Paulo Egina, Avicena, Albucasis, Guy de Chauliac e outros. Na idade moderna, o universo médico se ilumina como se fosse o sol nascente com Ambroise Parré (1500 a 1590). O cirurgião dos príncipes e o príncipe dos cirurgiões, Leonardo da Vinci – (1452

* Angiologista e membro da Diretoria da AMPE

– 1519), Miguel Servet e tantos outros. Lembrando apenas Mayo, Keller e Babcok (1905 – 1907) marcam esta longa história com a “Flebo Extração” ainda praticada nos tempos atuais, com inúmeras variantes, e Robert Müller (1960) preconiza, finalmente, a Microcirurgia também chamada, atualmente, de cirurgia Minimamente Invasiva, nascendo assim a Flebologia Estética. Todas as veias tortuosas e dilatadas patologicamente são chamadas de varizes. As varizes constituem uma entidade que desagrada profundamente as mulheres, de modo particular. Há mudanças de comportamento em relação a maneira de vestir além de postura retrativas. A sintomatologia pertinente a varizes nos membros inferiores são: dor, edema, sensação de peso, fadiga, dormência, formigamento, queimor, cãimbra, prurido, pernas inquietas, manchas equimóticas, hipercromia, vergonha das varizes e alterações comportamentais. Os portadores de varizes são atormentados por inúmeras informações não verdadeiras, constituindo os mitos e são transferidas de geração a geração. Entre eles, os que mais se destacam são: cruzar as pernas, sapato alto, subir escadas, vestimentos apertados e atividade física.

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Entre as verdades destacamos principalmente: – As origens das varizes são: herança, hormônio e posição de pé (antropológica) – As varizes não se curam, são melhoradas e administradas – Para resultados terapêuticos confiáveis, precisa-se de um bom diagnóstico e uma programação minunciosa para tratar cada tipo de veia varicosa. – Outras patologias relacionadas com as artérias, linfáticas, músculos, tendões, articulações, ossos, coluna e nervos podem ter sintomas semelhantes aos das varizes. Inúmeros são os tratamentos atualmente praticados: medicamentoso, fisioterapêutico, escleroterapia química com liquido e espuma (técnica de Air Block), erroneamente chamado de “espuminha”, radiofrequência e Laser. O maior destaque, atualmente, para tratamento de varizes está no uso do Laser. É um tratamento que veio para ficar. Existem dois tipos de Laser: Endolaser utilizado nas veias de

grande calibre (safenas, perfurante e tributárias grandes) e Laser Transdérmico (veias telangiectásicas). Algumas das vantagens do Laser: não causa lesão linfática e nervosa e constitui um procedimento minimamente invasivo, a sintomatologia pós-operatória é mínima, não havendo necessidade de uso de analgésico, não provoca hematoma e manchas na pele. A recuperação pós-operatória é mais rápida. O Laser Transdérmico é usado para as veias telangiectásica e complemento de tratamento esclerosante tradicional. Uma das principais utilizações desta arma terapêutica, lembramos os pacientes portadores de fobias ao uso de agulha e seringas. Entre os tratamentos de varizes de maior destaque utilizados, atualmente, citamos a Terapia Complexa Combinada que pode ser realizada em regime hospitalar ou ambulatorial, com redução substancial do tempo do tratamento. Utilizam-se vários procedimentos no mesmo momento operatório

com benefícios estéticos e de rapidez. As varizes não devem ser tratadas apenas como estéticas, pois elas complicam com hipercromia, erosão cutânea, flebite, trombose, hemorragia, eczema, edema, indurácio e ulceração além de ser um elemento coadjuvante das linfangites. O Vein View também chamado de Fleboscópio é um equipamento auxiliar de grande relevância no diagnóstico e de apoio tático durante o tratamento, nos dias atuais. Para finalizar, gostaria de lembrar que Albucasis (936 d.C.) foi o maior cirurgião islâmico cujo trabalho influenciou o tratamento das varizes por centenas de anos, idealizou os ganchos usados na avulsão de veias e retiradas de pontos, usou a ligadura e contenção no tratamento das varizes sangrantes e praticou a fleboextração na coxa como o “Stripring” de Mayo realizado em 1905, e aconselhava a ter precaução na cirurgia para não cair em “mãos vulgares e sem experiência”.

Médicos recebem Medalha Maciel Monteiro A

Associação Médica de Pernambuco – AMPE comemorou no dia 6 de abril, deste ano, o 169º de sua fundação. Na noite de festa do seu aniversário, a AMPE homenageou com a outorga Medalha do Mérito Maciel Monteiro o cirurgião Luiz Antônio Wanderley Domingues, a reumatologista Ângela Luzia Branco Pinto Duarte e o pediatra Fernando José Rodrigues Soares de Azevedo (foto ao lado). O prêmio é dado aos profissionais que se destacam na Medicina respeitando os princípios do Código da Ética Médica. O orador do evento foi o médico Francisco Atanásio Morais Neto que proferiu discurso descontraído e marcante, homenageando os contemplados da noite na AMPE. Por sua vez, representando os medalhados falou o médico Fernando Azevedo, transmitindo muita emoção na presença do público que lotou o auditório da Associação. Além da solenidade das medalhas, a AMPE contemplou com o prêmio Diva Montenegro as acadêmicas Marília Ávila Acioly, da Universidade Federal de Pernambuco e Juliana Fernanda Holanda Bezerra, da Faculdade de Ciências Médicas que se destacaram na pesquisa científica. Marília foi laureada pelo trabalho Correlações/ Radiologia/ Anatomia Patológica nas Lesões Mamárias Provavelmente Malignas

e Juliana com o estudo da Leucemia Linfóide Aguda do Adulto e do Idoso por Geoprocessamento. A AMPE também parabenizou os 50 anos de atividades do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira - IMIP e a médica Suedi Dias de Albuquerque pelo seu desempenho na Associação Médica de Pernambuco - Regional de Caruaru. A solenidade do evento foi encerrada pela presidente da AMPE, médica Jane Lemos, descerrando a placa com o nome dos homenageados. Em seguida , medalhados e convidados participaram de um excelente coquetel com o som musical do grupo Class.

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DIRETÓRIOS

A arte de tornar privado aquilo que é público Diretório Acadêmico de Medicina Umberto Câmara Neto – Damuc (UFPE)

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o primeiro olhar, nada mudou. De um dicionário antigo (1952) filantropia significa: “Caridade; benfeitoria; dedicação humana”; de um mais recente (2002): “Sentimento que leva os homens a ajudar aos outros; amor à humanidade”. Porém, no mundo da política, tudo está se transformando; é bem verdade que nem sempre pra melhor. Até 1935, a filantropia se dava informalmente – ajudava-se o outro sem nenhum reconhecimento Estatal, ou por real amor à humanidade ou por um interesse objetivo de reconhecimento. A partir dessa data, a segunda motivação ganhou cada vez mais espaço e foi instituído o título de Entidade de Utilidade Pública para as organizações que atendiam aos “interesses da coletividade”. Esse título facilitava a angariação de doações da sociedade civil e era concedido sem nenhum rigor formal (não muito diferente do que ocorre hoje); as relações político/pessoais ditavam as regras e o setor privado tomava posse de um volume cada vez maior de recursos públicos. Desde então, o título de Instituição Filantrópica vem sendo cada vez mais desejado. Aumentaram-se as benesses: os prêmios vão de isenções fiscais até financiamentos públicos a fundo perdido enquanto a regulamentação praticamente não se alterou. Ser filantrópico virou o sonho das instituições privadas: hospitais, instituições de ensino e prestadoras de serviço em geral iniciaram uma corrida em busca desse título; quem ficou para traz foi o conceito de filantropia visto nos dicionários. Aqui muitos são os exemplos de Instituições “filantrópicas”: A Unicap e suas mensalidades irrisórias; o mais rico hospital pernambucano – Real

Hospital Português; o IMIP e seus 3300 reais de mensalidade da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS); dentre outros riquíssimos hospitais privados. Hoje, fica cada vez mais difícil acreditar que algo privado prestará, em larga escala, serviços verdadeiramente públicos sem ganhar nada em troca. É difícil acreditar na parte do “sem fins lucrativos”. Apesar disso, a cada dia a saúde do nosso Estado vem sendo entregue a essas Instituições; os hospitais verdadeiramente públicos vão de mal a pior; os investimentos já têm endereço certo enquanto os nossos hospitais estatais nunca entram na lista; a administração pública já ganhou nome de ultrapassada; tudo conflui cuidadosamente para uma única foz. Enquanto estudantes de Medicina da UFPE, olhamos para a nossa própria casa e nos perguntamos: quantos professores nossos deixaram o HC para compor o serviço de um Hospital Filantrópico? E quantos só fingem que ainda estão no serviço? Aonde foi parar aquele antigo centro de referência? E nossas Residências Médicas que estão sendo fechadas? Qual impacto o HC tem na Saúde Pública e qual impacto nosso serviço pode ter? E a conclusão a que chegamos é de que na Saúde Pública, a filantropia perde o lirismo conceitual e se distorce em uma manobra política essencialmente antagônica ao conteúdo semântico encontrado nos velhos ou novos dicionários.

Organizações Sociais – Sob o recorrente argumento de que a administração pública está fadada ao fracasso, a partir de FHC, uma onda privatizante cobriu quase todo o Brasil. Essa onda chegou inclusive aos grandes marcos da Constituição Cidadã de 88, a saúde e a educação, porém esbarrou na oposição e nas pressões populares que temiam o retrocesso das suas conquistas. Perseverantes, entretanto, o setor privado e o governo encontraram uma saída – outra fantasia foi costurada a exemplo das instituições filantrópicas: As Organizações Sociais - “Se não podemos privatizar diretamente a estrutura física, privatizemos então a gestão!” Antes de falar propriamente das OSs, vale desmistificar o argumento fonte de toda essa onda privatizante. Pensemos na administração pública que é fundamental para se continuar ganhando dinheiro no Brasil: o setor financeiro público (Caixa Econômica, Banco Central, Banco do Brasil, etc.); setores do judiciário (diversos tribunais, supremos, procuradorias); o fisco – Receita Federal; a Polícia Federal; etc. Sem contar a Petrobrás, de administração primordialmente pública, e a antiga Vale do Rio Doce, vendida a preço irrisório numa época de crescimento exponencial dos lucros. Todas essas instituições são fundamentais para a engrenagem do sistema, todas possuem administração pública, todas possuem um funcionamento de referência inclu-

Lucro

Público

Recurso

Privado

Serviço

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APMR sive para instituições privadas, ou seja, o que é do interesse funciona e o que não é, está condenado à venda Dentro do grupo de fadados à privatização está a Saúde, para isso, então, criou-se a fórmula: tenha boa relação com o poder executivo para receber o título de OS; funde uma Instituição sem fins lucrativos; vencida a licitação, drene do Estado o maior volume de recursos, estrutura física e de funcionários públicos (você não vai querer investir!); faça um bom Contrato de Gestão: restrinja ao máximo seus atendimentos – você não vai querer cuidar de pacientes de risco, esses são prejuízo certo; explore seu funcionário, economize no atendimento, o que importa é atingir as metas do Contrato de Gestão, e se alguém reclamar é só demitir; essa história de plano de carreira já ficou pra trás!; Nas Agências Reguladoras só entra gente da sua confiança, e se não for, compre a confiança, e não esqueça: nada de usuário na regulação – esses são pedra no sapato. Pronto! Essa é a fórmula da OS, no mais é lucrar, angariar mais e mais recursos, investir em propaganda e fazer com que a administração pública vá de mal a pior, só assim você conseguirá outras instituições. No nosso Estado, alguns já seguem essa fórmula. Os três hospitais e as UPAs construídos pelo governo serão administrados por OSs. O Miguel Arraes já é do IMIP, e a fórmula foi seguida ao pé da letra: excelentes relações com o PSB, partido do governador; título de OS na mão; não entraram com um centavo e “Abracadabra, faça-se a mágica!” em suas mãos o mais novo hospital do Estado! O Contrato de Gestão é restritivo – mínimo de paciente de risco ou de emergência direta – esse continuará superlotando os velhos hospitais públicos. A Agência Reguladora é uma farsa – o mínimo de participação popular. E o resto da história vocês já conhecem: continuarão sugando, a cada dia, mais e mais dinheiro público, e rumo à administração de novos serviços de saúde. E tudo isso sem fins lucrativos!

Residente valorizado

Maria M. Alessio*

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m abril tivemos um alegre despertar dos residentes de Pernambuco e do Brasil. No dia 14, os residentes do País paralisaram suas atividades por 24 horas como marco do início da Campanha de Valorização do Médico Residente, lançada em março pela Associação Nacional dos Médicos Residentes, a ANMR. Em Pernambuco, mais de 300 residentes de praticamente todos os hospitais que abrigam programas de residência foram às ruas demonstrar insatisfação com a remuneração paga atualmente pelas 60h semanais. No mesmo dia da paralisação, Gerson Salvador, presidente da ANMR, esteve em Brasília reunido com autoridades para discutir as pautas de reivindicações que, alem do reajuste imediato das bolsas, incluem a proposta de uma data base de reajuste anual, a criação da 13ª bolsa e a expansão para 6 meses de licença maternidade para a residente. Aos residentes médicos, se uniram residentes da mais variadas áreas de saúde, que compartilham a mesma fonte financiadora para suas bolsas. As semanas que se seguem ao ato serão de expectativa em relação às negociações em nível central e de mobilizações constantes localmente, o que Pernambuco demonstrou poder fazer com tranquilidade. Além disso, os residentes puderam dar-se conta da força que têm e da sua capacidade de mobilização. No entanto,

é preciso não deixar essa energia acumulada na manifestação dissipar-se, mas que cada residente possa canalizá-la para a luta por melhorias no seu programa de residência em cada serviço de saúde desse estado e estar sempre atento aos anseios e necessidades inerentes ao residente: melhores condições de trabalho, de ensino e de vida, sempre! Ao longo de todo o ano de 2009 e ainda em 2010, a Associação Pernambucana de Médicos Residentes (APMR) trabalhou no sentido de construir instrumentos que viabilizassem a comunicação com os residentes e entre eles – o que se concretizou na forma da caminhada de cerca de 400 residentes ao longo da Avenida Agamenon Magalhães na manhã do dia 14 de abril. A lista de discussões da APMR já conta com cerca de 200 residentes e cresce a cada dia, assim como os acessos ao site da associação. Ainda este semestre deve ocorrer eleição de nova diretoria da APMR, assim como diversas outras atividades envolvendo os residentes e seus interesses, locais e nacionais. Junte-se a esta entidade que cresce e se fortalece a cada dia e luta por um segmento nada desprezível da mão de obra do nosso sistema de saúde; conheça o site www.apmr. org.br e inscreva-se na lista de discussões a_p_m_r@yahoogrupos.com.br. Por representar tão variados programas de residência, a participação de cada um torna-se fundamental para construir uma APMR cada vez mais representativa! *Presidente da APMR

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Academia Pernambucana de Medicina

A importância da integração das entidades médicas Juntas, representam uma enorme força de persuasão para o exercício correto da Medicina Edmundo Machado Ferraz*

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ive-se um momento de exercício profissional extremamente difícil. As péssimas condições de trabalho, o aviltamento do salário do médico, as promessas nunca cumpridas de recursos adequados para o SUS, o bloqueio parlamentar à emenda nº 29, os obstáculos públicos e privados à criação da Carreira de Estado. Carreira necessária para que o médico possa atender com dignidade às necessidades dos pacientes, apoiado por laboratório, planejamento do atendimento escalonado por nível de complexidade da doença do paciente, uma atenção primária de saúde interligada com outros Centros de Atendimento à Saúde e Hospitais Públicos de Ensino e instituições assim pertencentes ao Estado. Enquanto isso, a saúde permanece como o principal problema do país, como apontam as últimas pesquisas de opinião pública. Contudo a Saúde e a Educação continuam longe de serem consideradas prioridades, permanecendo o investimento público em saúde em 3,5% do PIB brasileiro, que ultrapassou 1 trilhão de dólares americanos e a educação, única esperança de atingirmos o desenvolvimento, com apenas 4% do PIB. Alguns progressos foram feitos como as iniciativas recentes da criação em Pernambuco de dois novos Hospitais e várias Unidades de Pronto Atendimento (UPA) estrategicamente localizadas, passando o atendimento médico a contar com um mínimo de hierarquização. Alguns percalços, entretanto, permanecem. As OS e OSCIPS não estão sujeitas a fiscalização dos Conselhos de Saúde, não submetem suas contas a essa instância e muito menos ao Tribunal de Contas do Estado, e os planos de cargos e salários são inexistentes e na contramão do que propõe a Associação Médica Brasileira e todas as Entidades Médicas. E aí chegamos à importância da Integração das Entidades Médicas incluindo a Academia Pernambucana de Medicina (APM). A Academia Pernambucana de Medicina, a Casa de Fernando Figueira, exemplo maior de todo pensamento médico social, precursor de quase tudo isso de bom,

quando poucos cogitavam sequer desses assuntos. A passagem de Fernando Figueira pela Secretaria de Saúde do Estado foi um exemplo de premonição, ainda na década de 70, após a criação do IMIP. Criou a Fundação Amaury de Medeiros (FUSAM), como órgão executor da política de saúde. Traçou com seus colaboradores o Plano Estadual de Saúde, instrumento de gestão baseado no perfil epidemiológico dos problemas do Estado, passando a Secretaria a ser o órgão regulador e de controle do Estado sobre a prestação do serviço de saúde através das DIRES (Diretorias Regionais de Saúde) para o acompanhamento regional das ações executadas pela FUSAM. Não satisfeito, criou ainda o HEMOPE, o CISAM e a Academia Pernambucana de Medicina. A Academia, então, formada por médicos ilustres, que se destacaram no seu campo de conhecimento e inspirado no seu Patrono, foi fundada com o objetivo de continuar a estudar, discutir, ponderar e sobretudo participar da discussão dos problemas de saúde em nosso país e em Pernambuco. No alvorecer do século XXI, com a velocidade da incorporação de novos conhecimentos, sentimos, particularmente na gestão atual do presidente, Geraldo Pereira, a necessidade de participar da organização de uma reflexão e ação integrada de nossas Entidades Médicas em defesa do Sistema Único de Saúde, que atende 145 milhões de brasileiros, o qual aos 22 anos de criação passa por uma crise de identidade ocasionada por insuficiência de recursos, má gestão e falta de adequação de sua política aos tempos atuais. Consideramos assim da maior importância a integração de pensamentos e ações das Entidades Médicas. Isoladamente nada conseguiremos. Juntos representamos uma enorme força de persuasão com nosso compromisso com o exercício correto da Medicina, particularmente para os pacientes mais necessitados do Sistema Único de Saúde. * Membro da Academia Pernambucana de Medicina

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