Guerra e Paz - Eraldo Miranda

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Eraldo Miranda

Ilustrações: Marcelo Alonso

Livro inspirado nos painéis “Guerra” e “Paz” de

Candido Portinari

cria editora .com.br



2ª edição - 2016 Alfenas - MG


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São Francisco de Assis - 1944 Painel de azulejos 750 x 2120cm (painel) (irregular) 15 x 15cm (azulejos) Igreja de São Francisco de Assis da Pampulha, Belo Horizonte,MG.


Conversas, Pinturas e Desenhos Conheci pessoalmente a obra de Portinari quando ainda era adolescente e fui passear em Belo Horizonte (MG). Nessa época, tive o privilégio de conhecer o complexo da Pampulha, onde estão algumas das obras mais impressionantes do pintor. A pintura interna da igreja, o desenho dos azulejos no lado externo – mais a arquitetura de Oscar Niemeyer – tudo isso me impressionou muito. Tanto que até hoje eu não me esqueço do impacto de estar diante de tamanha beleza. Desde então, sempre que eu vejo alguma coisa sobre Portinari, tudo remete imediatamente à minha juventude. Até que, há pouco tempo, minha relação com Portinari passou a ter outra dimensão. Em meados de 2009, conheci o filho dele, João Portinari, que me surpreendeu muito por causa de uma frase que ele disse na minha casa: “Todas as coisas que meu pai fez para pintura equivalem exatamente ao que você fez para a música”. E isso me deixou ainda mais próximo de tudo que envolvia o nome Portinari. Depois disso, minha amizade com João ficou muito próxima, e ele me convidou para participar do projeto “Guerra e Paz”, que tinha como objetivo trazer para o Brasil os gigantescos painéis que Portinari fez para a sede das Nações Unidas (ONU), em Nova Iork. A intenção de João era, além de restaurar os painéis no Rio de Janeiro, fazer uma espécie de turnê – nacional e internacional – com “Guerra” e “Paz”. Fiquei muito feliz quando João perguntou se eu gostaria de fazer um show em cada cidade por onde os painéis passassem. “É claro!”- respondi, entusiasmado com a ideia. A primeira etapa do projeto “Guerra e Paz” começou em dezembro de 2010. Foi organizado um grande evento no Brasil para receber as obras. E, como eu estava convidado para fazer uma apresentação com minha banda no evento, pensei: “Por que não fazer uma música para Portinari?”. Foi quando recebi a melodia feita por um guitarrista amigo meu chamado Ricardo Vogt, que imediatamente me fez remeter aos painéis “Guerra” e “Paz”. Decidi então que faria uma letra para Portinari. E disso tudo saiu “Conversas, Pinturas e Desenhos”, que foi tocada pela primeira vez no dia 21 de dezembro de 2010, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com os painéis “Guerra” e “Paz” ao fundo. Enfim, tudo isso me deixou muito feliz. E hoje eu fico muito contente em saber que a obra de Portinari está cada vez mais presente no imaginário das pessoas. É muito gratificante para mim também neste momento fazer parte deste projeto “Guerra e Paz”, pois toda iniciativa voltada para incentivar o público infantojuvenil à leitura é digna dos mais belos elogios.

Milton Nascimento

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Quando abríamos os olhos para o passado, num tempo em que as lembranças nos contavam histórias, existiu certa Mão Contadora de Histórias. Mas como poderia mão contar histórias? Esta Mão, ao toque de cores, contava o céu e a terra, o dia e a noite, a criança e o homem, não com palavras escritas ou faladas, mas com tintas que ganhavam uma infinidade de formas em palavras declamadas pela poesia, cantadas pela música, pois a vida e o movimento estavam nela. E, para perceber e ouvir essas inesquecíveis histórias, bastava ter dois corações despertos nos olhos, e todas as imagens ganhavam vida em cores, pois era assim que a Mão Contadora de Histórias fazia os homens se lembrarem de que eram homens.

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E, certa tarde de outono, a Mão Contadora de Histórias estava contemplando o pôr do sol, que pintava o céu de infinitas formas, quando um grupo de Pequeninas Mãos, que ali próximas brincavam de inventar mundos com areia, pararam de brincar e, sabendo que aquela Mão sabia contar histórias, aproximaramse, e, sorridentes, pediram em coro: – Oi, Mão Contadora de Histórias. Conte uma bela história. Sabemos que elas são bem coloridas e especiais!

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A Mão Contadora de Histórias, ao ver tantos sorrisos daquelas doces Mãozinhas, não resistiu, abriu um longo sorriso e respondeu: – Ah! Isso alegra meu coração, pois tenho uma história aqui comigo muito especial e desejo que o mundo a conheça. Mas só contarei se prometerem que irão contar para todos os seus amigos, e que seus amigos contarão para outros amigos, para que esta história sempre fique colorida na memória de todos!

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As Pequenas Mãos, ansiosas pela história, concordaram com muitos sorrisos, e a Mão Contadora de Histórias, após um suspirar, iniciou: – Certa vez, as Mãos Gélidas da Guerra, sem olhos e sem coração, cobertas por luvas da solidão, da fome, da tristeza e da intolerância, decidiram sair pelos caminhos do mundo para pintar o terror na vida dos homens. Montaram em seus famintos cavalos, que se alimentavam de ódio, e tomaram um longo caminho. Mas não foram sós, não, adoráveis Mãozinhas. Logo atrás, a passos largos, seguiam-nas, livres, terríveis feras que alimentavam o terror e o medo no coração dos homens.


Não demoraram as frias Mãos da Guerra a encontrar uma imensa plantação de trigos dourados, que dançavam ao beijar do vento numa terra fértil. E, num simples tocar de dedos famintos por miséria, as cores douradas dos trigos se transformaram em ervas cobertas de cores espinhentas, numa terra deserta de alma. Já os homens, que ali sorriam e cantavam a colheita e a fartura, caíram de joelhos, a banhar a terra com suas lágrimas.

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Ao verem que naquela terra nada mais nasceria para o sustento, as insensíveis Mãos da Guerra, para o desespero dos homens, seguiram seu caminho de terror. Logo adiante, viram uma grande festa de unidade e alegria. Sem demora, lançaram sobre aquelas pessoas as cores da solidão e da angústia, e tudo virou divisão: o homem se distanciou da mulher, os amigos partiram para sempre, a mãe não encontrava mais seu filho e o filho não encontrava mais a mãe. E, no lugar da música e do sorriso, ouviam-se gritos de desolação, para alegria das perversas Mãos da Guerra. Alegria, não, já que as Mãos da Guerra não sorriam e não sabiam expressar tal sentimento, pois não tinham coração e muito menos olhos para ver o milagre da vida.


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Eraldo Miranda nasceu na pequenina cidade paulista de Alumínio. De origem humilde, ainda na infância foi viver na cidade de Tatuí, onde iniciou seus estudos básicos. Os amigos, as brincadeiras populares e as rodas de histórias iriam marcar sua infância pelas ruas da acolhedora cidade de Tatuí, o que iria influenciá-lo no futuro. Aos quinze anos, retorna para Alumínito para viver com seus tios; depois, com seus pais, que viriam a residir nessa cidade novamente; e, por fim, com amigos, até começar a viver só. Ao longo dessas fases, os amigos, os professores, a grande empresa que movimenta a cidade o influenciaram, porém o que iria mudar totalmente sua vida seria o teatro, a dança, as crianças e muitos livros e incontáveis tempos de leituras. A partir daí, Eraldo Miranda despertaria para a arte de contar histórias e para a literatura, que o levariam a partir e viver, em 2001, na cidade de Guarulhos–SP, onde reside até os dias atuais. Hoje viaja pelo território nacional para divulgar seus livros em palestras para pais, crianças e educadores.

Marcelo Alonso nasceu em Piracicaba – SP. É ilustrador e designer, formado pela Universidade Estadual Paulista - Bauru (Unesp). Seu envolvimento com a arte começou ainda na infância. Aos oito anos de idade, já pintava telas e fazia esculturas em giz. Depois que se formou, passou um longo período trabalhando como diretor de comunicação e arte em empresas de tecnologia e ensino à distância. A volta para o universo dos desenhos aconteceu em 2010, quando recebeu o convite para ilustrar este livro (“Guerra e Paz”). Desde então, vem desenvolvendo novas técnicas de ilustração, dando cores e vida a histórias e personagens.

Eraldo Miranda e Nina Alonso


Candido Portinari e João Candido Portinari

Candido Portinari nasceu na cidade paulista de Brodowski em 30 de dezembro de 1903. Filho de imigrantes italianos que vieram para o Brasil para trabalhar em fazendas de café, o menino Candinho, ainda na infância, entre brinquedos e brincadeiras de seu tempo, descobriu sua vocação para no futuro contar histórias com pincéis e tinta. Não demorou o menino de olhos azuis de Brodowski a deixar sua amada família para ganhar o mundo. E, aos quinze anos, com o coração partido, decidiu, com o incentivo de sua família e amigos, partir de sua terra natal para viver no Rio de Janeiro para estudar e aperfeiçoar sua arte. Na cidade maravilhosa, sua arte e seu talento iriam logo aparecer e, a partir daí, sua vida foi tomando caminhos que o levariam a morar em Paris. Todos os esforços e sacrifícios levariam Portinari a ser reconhecido como um dos artistas mais prestigiados do país e a ser o pintor brasileiro mais conhecido internacionalmente. Portinari pintou quase cinco mil obras, dentre elas os painéis “Guerra” e “Paz”, o que selaria de vez sua arte como uma das mais expressivas de todos os tempos. Estes painéis foram presenteados pelo governo brasileiro à ONU, com sede em Nova Iorque, em 1957, o que foi e é motivo de orgulho para nosso país. No inesquecível dia 6 de fevereiro de 1962, Candido Portinari faleceu no Rio de Janeiro, deixando, através de suas obras, um grande patrimônio para pensar o homem, sonhar a paz e viver dias melhores.

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Créditos das Obras

Crédito das imagens:

Imagens do acervo do Projeto Portinari

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Guerra 1952-1956 Painel a óleo/madeira compensada 1400 x 1058cm (aproximadas) (irregular) Rio de Janeiro, RJ Assinada e datada no canto inferior esquerdo “PORTINARI RIO 1952 1956”.


Crédito dos direitos autorais:

Reprodução autorizada por João Candido Portinari

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Paz 1952-1956 Painel a óleo/madeira compensada 1400 x 953cm (aproximadas) (irregular) Rio de Janeiro, RJ Assinada e datada no canto inferior esquerdo “PORTINARI RIO 1952-1956”.

Escala real


Mãos Entrelaçadas - c.1955

Desenho a grafite e crayon colorido/papel 10 x 10cm Rio de Janeiro, RJ Sem assinatura e sem data.

Menino Chorando - 05/1956

Mulher com Filho Morto - [1955] Desenho a crayon, crayon colorido e sanguínea/papel 40.5 x 29.5cm Capri, ITA Assinada na dedicatória na metade inferior à direita “Para a Chiara lembrança dos bons passeios que nos proporcionou e a amizade de Portinari. Capri V- 1956”. Sem data.

Paz - 06/1955 Desenho a grafite, crayon, sanguínea e lápis de cor/papel 51 x 36.5cm Rio de Janeiro, RJ Assinada no canto inferior esquerdo “Portinari” Datada na inscrição no canto inferior esquerdo “paz VI 55”

Desenho a grafite, crayon e crayon colorido/papel 30.5 x 21cm (aproximadas) Capri, ITA Assinada e datada na dedicatória na metade inferior à direita “Para Marina afetuosamente, Portinari Capri V-956” 30

Dança de Roda - 06/1955

Desenho a grafite, crayon, crayon colorido, sanguínea e sépia/cartão 35.5 x 35.5cm (aproximadas) Rio de Janeiro, RJ Assinada no canto inferior esquerdo “Portinari” Datada na inscrição no canto inferior esquerdo “Paz O.N.U. VI-55”

Papa-Vento - c.1956 Desenho a grafite e pastel/papel 27 x 24.5cm (aproximadas) Rio de Janeiro, RJ Assinada na metade inferior à direita “Portinari”. Sem data.

Meninos no Balanço - c.1955 Desenho a grafite e lápis de cor/papel 25 x 24.5cm (aproximadas) Rio de Janeiro, RJ Assinada na metade inferior à direita “Portinari”. Sem data.

Cavalo - 1956 Desenho a grafite e pastel/cartão 33 x 17cm (aproximadas) Rio de Janeiro, RJ Assinada no canto inferior esquerdo “Portinari” Datada na inscrição na metade inferior “Paz 56, O.N.U.”


Mãe -[1955]

Pintura a óleo/madeira compensada 160 x 110cm Rio de Janeiro, RJ Assinada na metade inferior à esquerda “PORTINARI”. Sem data.

Mulher Chorando - [1955]

Pintura a óleo/madeira compensada 160 x 110cm Rio de Janeiro, RJ Assinada e datada na metade inferior à esquerda “PORTINARI 56”. Inscrição na metade inferior à esquerda “‘GUERRA’ O.N.U. N.Y”

Mulheres Chorando

Sofrimento de Mãe - 1955 Desenho a grafite, crayon e lápis de cor/papel pardo 32.5 x 23cm (aproximadas) Rio de Janeiro, RJ Assinada e datada no canto inferior direito “Portinari 955” Inscrição na metade inferior à direita “Estudo para o mural ‘Guerra’ para a O.N.U.”

Mulher -c.1955

Desenho a grafite e lápis de cor/papel 44 x 22cm Rio de Janeiro, RJ Assinada no canto inferior direito “Portinari”. Sem data Inscrição no canto inferior direito “guerra ON.U. NY”

Feras -[1955]

Pintura a óleo/madeira compensada 150 x 220cm Rio de Janeiro, RJ Sem assinatura e sem data.

Mulher Chorando - c.1955

Pintura a óleo/ madeira compensada 161 x 111cm Rio de Janeiro, RJ Assinatura estampada no canto inferior direito “PORTINARI *”. Sem data.

1956-58 - Pintura a óleo/ madeira compensada 160 x 110cm - Rio de Janeiro, RJ Assinada e datada na metade inferior à direita “PORTINARI 56 58”

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Mulher Ajoelhada com Filho Morto -[1955]

Pintura a óleo/madeira compensada 130 x 200cm Rio de Janeiro, RJ Sem assinatura e sem data.

Mulher com Filho Morto - [1955]

Pintura a óleo/madeira compensada 158 x 118cm Rio de Janeiro, RJ Assinada e datada na margem direita “PORTINARI 56-58 [sic]”




Enfim, tudo isso me deixou muito feliz. E hoje eu fico muito contente em saber que a obra de Portinari está cada vez mais presente no imaginário das pessoas. É muito gratificante para mim também neste momento fazer parte deste projeto “Guerra e Paz”, pois toda iniciativa voltada para incentivar o público infantojuvenil à leitura é digna dos mais belos elogios.

Milton Nascimento

cria editora .com.br


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