Mãos na Terra - Elisabete da Cruz

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Elisabete da Cruz

ilustrações

Marcelo Alonso

mãos na terra

1ª Edição 2017 Alfenas - MG

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© 2017 Cria Mineira Empreendimentos Ltda – Todos os direitos reservados. Rua Dirce Moura Leite, 118 - Alfenas - MG -37130-762 – Brasil contato@criaeditora.com.br ISBN 978-85-65377-32-4 Impresso no Brasil

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C961m Cruz, Elisabete da; Mãos na Terra / Elisabete da Cruz [ilustração Marcelo Alonso]. - 1. ed. - Alfenas, MG : Cria Editora, 2017. 32p. ISBN 978-85-65377-32-4 1. Ficção infantojuvenil brasileira. I. Cruz, Elisabete da. II. Alonso, Marcelo. II. Título. 17-39703 10/01/2017

CDD 028.5 CDU 087.5


cria editora .com.br Direção geral: Nádia Alonso Direção editorial: Marcelo R. Alonso Revisão: Samuel Swerts

Cria Mineira Empreendimentos Ltda. Rua Dirce Moura Leite, 118 - Alfenas - MG +55 35 3292.4859

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Imagine alguém alto, magro, cabelos amarelos quase um ouro puro; apesar das bochechas rosadas de sol, percebia-se uma pele de tom claro que às vezes se misturava com o brilho do sol. Olhos arregalados, um bom par de orelhas e um nariz que quase desaparecia em cima de sua boca carnuda de contornos em formato de coração. Preferia a camisa xadrez engomada e nunca dispensava um lenço no pescoço para completar sua elegância indiscutível. Usava um casaco estranho, cheio de quadrados de tecidos coloridos alinhavados em volta dos bolsos enormes usados para carregar sementes. Calça jeans dobrada na barra e surrada, quase sempre suja de terra por conta do próprio ofício, botas de couro de cano curto e um exuberante chapéu de palha para completar o figurino. Apesar de simpático, mantinha, na maioria das vezes em que estava sozinho, um ar sério para espantar os corvos e pássaros que apareciam por lá atrás de sua exuberante plantação, que ficava no alto de uma fazenda cercada por muiiiiitassss árvores de diferentes tamanhos e tonalidades. As mais altas tinham caules finos e casca rugosa utilizadas para fazer papel e carvão. De suas folhas espessas se extraía um óleo medicinal e ainda eram usadas para se fazer chás e inalações. Se tinham perfume????

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Ahhhh…. este se espalhava na brisa da manhã com as gotas de orvalho. Godoberto era seu nome, escolhido por um grupo de crianças que foram aprender sobre alfabetização ecológica e ecossistemas. A visita começava com a importância dos cuidados com os animais; o que eles nos oferecem, como vivem, do que se alimentam… além de estimular a autonomia e responsabilidade, sendo sua horta um dos pontos mais esperados da visita. Quando retornavam ao colégio para dar continuidade ao aprendizado, não faltavam manifestações de carinho para ele, através de desenhos, fotos, e-mails e até outros “godobertinhos”, confeccionados com roupas usadas e muita criatividade. — Esta criançada não é mole não! – dizia o matuto.

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Morava lá há tanto tempo… tanto tempo… que já nem se lembrava mais de onde tinha vindo. Só sabia que aquele lugar era muito especial e ele o tinha como seu lar. Descia de seu pedestal cedinho, antes do próprio sol e ficava ali esperando o espetáculo do seu despertar. Uma boa xícara de café passado no coador de pano, adoçado com rapaduras ou açúcar mascavo, e lá estava ele pronto para cumprimentar todos seus vizinhos. — Bom-dia, Dona Galileia! Não se esqueça de botar para secar as cascas de seus ovos. Vou triturá-las e colocar nos pés das frutas para ajudar na fertilização do solo. Em troca teremos neste ano frutos vigorosos. — Como vai, Dona Ovelhã, deve estar ansiosa pelo verão para fazer uma tosa, não é mesmo? Peça para o Cowboy, o veterinário, guardar um novelo para aquecer os jecas-tatus que nascerão no inverno. — Bufana, minha amiga, se sobrar um leitinho hoje, separe para fazermos um queijo daqueles. — E como vai a família, Senhor Coelheto? Parabéns pelos novos filhotes! — Porcoto, Porcota e Porquitos, que bom vê-los tão felizes em sua nova casa!!

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Simpatia não lhe faltava… e disposição também. Carregava tudo que podia para alimentar os animais. Capim, frutas, flores... e eles lhe retribuíam com tudo que produziam. Nada se desperdiçava naquele lugar. A manhã só acabava depois de oferecer aquele bom-dia a toda vizinhança, Dona Cabrilda, Senhor Burrico, Vacaleia e tantos outros amigos que adoravam receber as crianças. Até mesmo Seu Emu, primo da simpática Dona Ema, também gostava; apesar de não abandonar a cara feia enquanto chocava seus enormes ovos verde-azulados.

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Tudo preparado… lá ia ele para seu cantinho preferido. A Horta. Cada canteiro era preparado cuidadosamente com adubos orgânicos produzidos lá mesmo. Uma tradição que começou lá atrás, com seu bisavô, que ensinou para seu avô, que ensinou para seu pai, que ensinou Godoberto e hoje tornou-se seu maior tesouro. Os tanques recebiam os frutos, as folhas secas e as sementes que caiam das árvores. Quando se decompunham, misturavam-se na terra, que se encarregava de aproveitar todos seus nutrientes. Pronto… perfeita para ser utilizada no plantio. Afofava a terra, cavava os pequenos buraquinhos, deitava a sementinha e a cobria de forma carinhosa. A água jorrava de seu enorme regador de alumínio para alimentá-la e dar-lhe a certeza de bons frutos.

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Elisabete da Cruz é paulistana, educadora por vocação e pedagoga por formação. Especializou-se em educação transdisciplinar para poder integrar a arte e a sustentabilidade aos projetos que realiza e que são dedicados a quem mais ama: as crianças. Também atua como produtora cultural, além de dirigir uma empresa de consultoria pedagógica. Acredita na literatura como semente de transformação e por isso, atualmente, se dedica à carreira de autora para dividir suas experiências e espalhar suas histórias.


Marcelo Alonso nasceu em Piracicaba–SP. É

ilustrador e designer, formado pela Universidade Estadual Paulista – Bauru (Unesp). Seu envolvimento com a arte começou ainda na infância. Aos oito anos de idade, já pintava telas e fazia esculturas em giz. Depois que se formou, passou um longo período trabalhando como diretor de comunicação e arte em empresas de tecnologia e ensino à distância. A volta para o universo dos desenhos aconteceu em 2010, quando recebeu o convite para ilustrar o livro infantojuvenil “Guerra e Paz”, inspirado na obra de Candido Portinari. Desde então, vem desenvolvendo novas técnicas de ilustração, dando cores e vida a histórias e personagens.




Godoberto sentou se embaixo do pé de manga e, de repente, uma fruta madura caiu em sua cabeça. No susto, deu um pulo que chacoalhou suas ideias e pensou em como poderia ajudar as crianças a descobrir os sabores de uma alimentação nutritiva. Com certeza foram experiências inesquecíveis, e a visita à fazendinha fez toda a diferença. E você? Quer contribuir com o Godô? Então comece colocando suas mãos na terra.

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