Revista de Administração de Empresas ®
PESQUISA E CONHECIMENTO
Artigos Representações do trabalho: estudo sobre confinamento na indústria petrolífera Denise Medeiros Ribeiro Salles e Isabel de Sá Affonso da Costa
Ajustamento intercultural de executivos japoneses expatriados no Brasil: um estudo empírico Edson Keyso de Miranda Kubo e Beatriz Maria Braga
Paradoxo de inovação no cluster do vinho: o caso da Região Demarcada do Douro VOLUME 53 - NÚMERO 3 - MAIO/JUNHO 2013
Ligia Inhan, João Ferreira, Carla Marques e João Rebelo
Legitimidade, governança corporativa e desempenho: análise das empresas da BM&F BOVESPA Luciano Rossoni e Clóvis L. Machado-da-Silva (in memoriam)
Percepción sobre el desarrollo sostenible de las Mype en el Perú Martín Nelson Hernani Merino e Antonieta Hamann Pastorino
Análisis del credit scoring Rosa Puertas Medina e Maria Luisa Martí Selva
Pensata The five information technology blind spots of economists Eric van Heck
Resenha Vida, o reality show
FGV-EAESP
IS SN 0034-7590
R$ 45,00
Isleide Fontenelle
Indicações Bibliográficas Rotinas organizacionais Eduardo Loebel
Desastres e logística humanitária Renata de Oliveira Silva
VOLUME 53 - NÚMERO 3 - MAIO/JUNHO 2013
www.fgv.br/rae
RAE-Revista de Administração de Empresas® ISSN 0034-7590 www.fgv.br/rae
Comitê de Política Editorial Carlos Osmar Bertero, Eduardo Diniz, Flávio Carvalho de Vasconcelos, Francisco Aranha, Maria José Tonelli, Maria Tereza Leme Fleury, Thomaz Wood Jr. EDITOR CHEFE Eduardo Diniz Editor adjunto Felipe Zambaldi Corpo Editorial Científico Alexandre de Pádua Carrieri (UFMG – Belo Horizonte – MG, Brasil), Alexandre Di Miceli da Silveira (FEA-USP – São Paulo – SP, Brasil), Allan Claudius Queiroz Barbosa (UFMG – Belo Horizonte – MG, Brasil), Álvaro B. Cyrino (FDC – Belo Horizonte – MG, Brasil), Ana Cristina Braga Martes (FGV-EAESP – São Paulo – SP, Brasil), Ana Paula Paes de Paula (UFMG – Belo Horizonte – MG, Brasil), André Lucirton Costa (FEARP-USP – Ribeirão Preto – SP, Brasil), André Luiz Samartini (FGV-EAESP – São Paulo – SP, Brasil), Andre Ofenhejm Mascarenhas (Centro Universitário da FEI – São Paulo – SP, Brasil), Arnaldo José França Mazzei Nogueira (FEA-USP – São Paulo – SP, Brasil), Anielson Barbosa da Silva (UFPB – João Pessoa – PB, Brasil), Antonio Domingos Padula (UFRGS – Porto Alegre – RS, Brasil), Antonio Moreira de Carvalho Neto (PUC Minas – Belo Horizonte – MG, Brasil), Aureliano Angel Bressan (UFMG – Belo Horizonte – MG, Brasil), Bento Alves da Costa Filho (Banco do Brasil – Brasília – DF, Brasil), Carlos L. 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Fontenelle (FGV-EAESP – São Paulo – SP, Brasil), Jairo Eduardo Borges-Andrade (UNB – Brasília – DF, Brasil), Janete Lara de Oliveira Bertucci (UFMG – Belo Horizonte – MG, Brasil), Janette Brunstein (Mackenzie – São Paulo – SP, Brasil), Joanília Neide de Sales Cia (FEA-USP – São Paulo – SP, Brasil), João Amaro de Matos (Universidade Nova de Lisboa – Lisboa, Portugal), João Luiz Becker (UFRGS – Porto Alegre – RS, Brasil), João Luiz Passador (FEARP-USP – Ribeirão Preto – SP, Brasil), Jorge Ferreira da Silva (PUC-Rio – Rio de Janeiro – RJ, Brasil), Jorge Manoel Teixeira Carneiro (PUC- Rio – Rio de Janeiro – RJ, Brasil), José Antônio Gomes Pinho (UFBA – Salvador – BA, Brasil), José Carlos Barbieri (FGV-EAESP – São Paulo – SP, Brasil), José Henrique de Faria (UFPR – Curitiba – PR, Brasil), José Mauro C. 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Rochman (FGV-EAESP – São Paulo – SP, Brasil), Richard Saito (FGV-EAESP – São Paulo – SP, Brasil), Robinson Moreira Tenório (UFBA – Salvador – BA, Brasil), Rodrigo Bandeira-de-Mello (FGV-EAESP – São Paulo – SP, Brasil), Rodrigo Ladeira (UNIFACS – Salvador – BA, Brasil), Rogério Hermida Quintella (UFBA – Salvador – BA, Brasil), Salomão Alencar de Farias (UFPE – Recife – PE, Brasil), Sandro Márcio da Silva (PUC-Minas – Belo Horizonte – MG, Brasil), Sérgio Bulgacov (UFPR – Curitiba – PR, Brasil), Sérgio Giovanetti Lazzarini (INSPER – São Paulo – SP, Brasil), Sonia Maria Fleury (FGV-EBAPE – Rio de Janeiro – RJ, Brasil), Suzane Strehlau (Centro Universitário da FEI – SP, Brasil), Tales Andreassi (FGV-EAESP – São Paulo – SP, Brasil), Wilson Toshiro Nakamura (Mackenzie – São Paulo – SP, Brasil) Editora de Livros
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A RAE - Revista de Administração de Empresas adota a Licença de Atribuição (BY) do Creative Commons (http://creativecommons.org/licenses/by/3.0) em todos os trabalhos publicados, exceto, quando houver indicação específica de detentores de direitos autorais.
EDITORIAL
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a busca constante pelo aperfeiçoamento de seus processos editoriais e pela melhoria da qualidade dos artigos que publica, com o objetivo de contribuir com a comunidade acadêmica de Administração de Empresas, a RAE tem desenvolvido vários estudos sobre seu acervo cinquentenário. O último deles, disponibilizado na íntegra em www.fgv.br/rae, é sobre a meia-vida dos artigos publicados na revista entre 1997 e 2002. A meia-vida de um artigo diz respeito ao tempo decorrido para que ele receba metade de todas as citações que terá ao longo de toda a sua existência. É claro que é um conceito baseado em uma estimativa, pois, em teoria, um artigo pode continuar a receber citações indefinidamente. Na prática, entretanto, a maioria dos artigos começa a receber citações a partir do ano de sua publicação (ano zero), e, se for um artigo realmente relevante, a comunidade o reconhecerá como tal, aumentando gradativamente o número de citações, até atingir um pico, em um determinado ano, a partir do qual esse número começa a declinar, ano a ano, até passar a ser citado apenas episodicamente. Como os critérios de avaliação da relevância dos pesquisadores e dos periódicos são construídos com base no que se convencionou chamar de “impacto”, ou seja, sua capacidade de ser citado por outros, entender o conceito de meia-vida de artigos é essencial. Particularmente porque, hoje, uma das medidas mais importantes dessa relevância está associada ao conceito de “fator de impacto”, em especial àquele calculado por uma empresa que mantém em sua base alguns dos periódicos reconhecidos como referências entre as várias áreas do conhecimento. Interessante notar que a meia-vida de artigos das áreas de Ciências Sociais é significativamente maior do que a daqueles das áreas conhecidas como hard sciences. Física, Engenharias e áreas biológicas possuem, em geral, meia-vida abaixo dos cinco anos. Áreas de Ciências Sociais possuem, por sua vez, meia-vida acima de oito anos. Isso significa que os artigos das áreas que possuem meia-vida mais longa só ficam “maduros” e atingem seu pico de citações mais tarde. Entretanto, o cálculo do fator de impacto de todas as áreas, hard ou soft sciences, tem como base a mesma “janela de tempo”. O resultado é que as áreas hard possuem, invariavelmente, fator de impacto maior do que as áreas soft. Isso quer dizer que, independente da sua importância, a forma de cálculo as favorece. O cálculo da meia-vida dos artigos da RAE comprova o perfil da área em que está inserida, pois ficou em 8,25 anos, na média, para o período analisado. Por isso, também, só foi calculada a meia-vida para artigos publicados até 2002, pois os mais recentes ainda não teriam atingido a sua “maturidade” em termos de citações. Esse cenário, entretanto, pode estar mudando. Um outro índice é o percentual de artigos citados no ano de sua publicação, que indica a velocidade com que os artigos são incorporados por outros pesquisadores em seus trabalhos. Dos 45 artigos publicados pela RAE em 2012, 18% foram citados no mesmo ano. Para fazermos uma comparação, em 2002, apenas 8% dos artigos publicados foram citados no
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mesmo ano. Há três fenômenos que podem ajudar a explicar essa mudança. Em primeiro lugar, a adoção do acesso aberto e imediato ao conteúdo dos artigos publicados pela RAE, política adotada a partir de 2004. Em segundo lugar, a política de diversos periódicos, inclusive da RAE, de demandar que os artigos incluam referências recentes (normalmente, dos últimos cinco anos) em sua revisão de literatura. Também pode estar contribuindo para a mudança a pressão por publicação a que os autores têm sido submetidos, o que induz à constante atualização em um ambiente acadêmico cada vez mais competitivo. Futuramente, poderemos avaliar o impacto dessas mudanças no cálculo da meia-vida dos artigos da RAE. Pretendemos voltar a analisar esses cálculos no futuro, para permitir que pesquisadores façam estudos mais aprofundados sobre o efeito de políticas científicas sobre o comportamento dos pesquisadores e o seu resultado no impacto dos periódicos. Saberemos, então, se a meia-vida dos artigos da área de Ciências Sociais terá se tornado mais comparável a outras áreas acadêmicas com mais tradição nas métricas científicas. Nesta edição da RAE, publicamos seis artigos inéditos. “Representações do trabalho: estudo sobre confinamento na indústria petrolífera” é um artigo exploratório sobre a influência do sistema de trabalho confinado nas representações do contexto organizacional e nos comportamentos sociais dentro e fora do ambiente de trabalho. “Ajustamento intercultural de executivos japoneses expatriados no Brasil: um estudo empírico” verifica o ajustamento intercultural de executivos vindos do Japão, por meio de pesquisa qualitativa com 37 profissionais em 21 empresas de diversos setores no Brasil. “Paradoxo de inovação no cluster do vinho: o caso da Região Demarcada do Douro” investiga a problemática da inovação no âmbito do cluster de uma região vitivinícola europeia tradicional, caracterizada pelo chamado modelo vitivinícola do terroir. “Legitimidade, governança corporativa e desempenho: análise das empresas da BM&F Bovespa” avalia como a legitimidade, em especial por meio da adesão ao Novo Mercado, condiciona o valor das empresas listadas na Bovespa. “Percepción sobre el desarrollo sostenible de las mype en el Perú” apresenta um levantamento da percepção de estudantes de graduação em relação a atividades de responsabilidade social implementadas por micro e pequenas empresas no Peru. “Análisis del credit scoring” aborda a capacidade de previsão de três modelos de credit scoring, sendo dois paramétricos e um não paramétrico. Completam esta edição a pensata “The five information technology blind spots of economists”, assinada pelo professor da Erasmus University de Rotterdam, Eric van Heck; uma resenha da professora Isleide Fontenelle sobre o livro “Rituais de sofrimento”; e as indicações bibliográficas sobre “Rotinas organizacionais” e “Desastres e logística humanitária”. Tenham uma boa leitura! Eduardo Diniz Editor chefe
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MAIO/JUNHO 2013
SUMÁRIO ARTIGOS
230 REPRESENTAÇÕES DO TRABALHO: ESTUDO SOBRE CONFINAMENTO NA INDÚSTRIA PETROLÍFERA Estudo exploratório sobre a influência do sistema de trabalho confinado nas representações do contexto organizacional e nos comportamentos sociais dentro e fora do ambiente de trabalho. Denise Medeiros Ribeiro Salles e Isabel de Sá Affonso da Costa
243 AJUSTAMENTO INTERCULTURAL DE EXECUTIVOS JAPONESES EXPATRIADOS NO BRASIL: UM ESTUDO EMPÍRICO Verificação sobre o ajustamento intercultural de executivos japoneses expatriados, por meio de pesquisa qualitativa com 37 executivos japoneses expatriados em 21 empresas de diversos setores no Brasil. Edson Keyso de Miranda Kubo e Beatriz Maria Braga
256 PARADOXO DE INOVAÇÃO NO CLUSTER DO VINHO: O CASO DA REGIÃO DEMARCADA DO DOURO Investigação sobre a problemática da inovação no âmbito do cluster de uma região vitivinícola europeia tradicional, caracterizada pelo chamado modelo do terroir. Ligia Inhan, João Ferreira, Carla Marques e João Rebelo
272 LEGITIMIDADE, GOVERNANÇA CORPORATIVA E DESEMPENHO: ANÁLISE DAS EMPRESAS DA BM&F BOVESPA Avaliação de como a legitimidade, em especial por meio da adesão ao Novo Mercado, condiciona o valor das empresas listadas na Bovespa. Luciano Rossoni e Clóvis L. Machado-da-Silva (in memoriam)
290 PERCEPÇÃO A RESPEITO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DAS MPEs NO PERU Levantamento da percepção de estudantes de graduação em relação a atividades de responsabilidade social implementadas por micro e
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pequenas empresas no Peru. Martín Nelson Hernani Merino e Antonieta Hamann Pastorino
303 ANÁLISE DO CREDIT SCORING Análise da capacidade de previsão de três modelos de credit scoring, sendo dois paramétricos e um não paramétrico. Rosa Puertas Medina e Maria Luisa Martí Selva
PENSATA
316 CINCO PONTOS CEGOS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO PARA OS ECONOMISTAS Reflexão sobre o papel das teorias econômicas na explicação e previsão de eventos da economia, com particular enfoque na participação da tecnologia da informação nessas teorias. Eric van Heck
RESENHA
324 VIDA, O REALITY SHOW Isleide Fontenelle
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
326 ROTINAS ORGANIZACIONAIS Eduardo Loebel
327 DESASTRES E LOGÍSTICA HUMANITÁRIA Renata de Oliveira Silva
I SSN 0 0 3 4 -7 5 9 0
Deadline: August 31 2013
MAY/JUNE 2013
CONTENTS ARTICLES
230 REPRESENTATIONS OF WORK: A STUDY ON THE CONFINED WORK SYSTEM IN THE OIL INDUSTRY Exploratory study about the influence of the confined labor system on the organizational context representations and on social behaviors inside and outside the workplace. Denise Medeiros Ribeiro Salles and Isabel de Sá Affonso da Costa
243 INTERCULTURAL ADJUSTMENT OF JAPANESE EXPATRIATE EXECUTIVES IN BRAZIL: AN EMPIRICAL STUDY Examination of the intercultural adjustment of expatriate Japanese executives by means of a qualitative research with 37 expatriate Japanese executives in 21 companies from various sectors in Brazil. Edson Keyso de Miranda Kubo and Beatriz Maria Braga
256 AN INNOVATION PARADOX IN WINE CLUSTER: THE CASE OF DOURO REGION (PORTUGAL) Investigation on the innovation issue within the cluster of a traditional European viticulture and enology region, characterized by the so-called terroir model. Ligia Inhan, João Ferreira, Carla
implemented by micro and small firms in Peru. Martín Nelson Hernani Merino and Antonieta Hamann Pastorino
303 CREDIT SCORING ANALYSIS Analysis of the predictive ability of three credit scoring models, two of them parametric and is the other nonparametric. Rosa Puertas Medina and Maria Luisa Martí Selva
ESSAYS
316 THE FIVE INFORMATION TECHNOLOGY BLIND SPOTS OF ECONOMISTS Reflection on the role of economic theories in explaining and predicting economic events, with emphasis on the part which information technology takes in these theories. Eric van Heck
REVIEW
Marques and João Rebelo
324 LIFE, THE REALITY SHOW 272 LEGITIMACY, CORPORATE GOVERNANCE AND PERFORMANCE IN BM&F BOVESPA Evaluation of the way how legitimacy, particularly by means of adherence to the New Market Index, conditions the value of companies listed on Bovespa. Luciano Rossoni and Clóvis L. Machado-da-Silva (in memoriam)
290 PERCEPTION ABOUT SUSTAINABLE DEVELOPMENT OF SME IN PERU Survey of undergraduate students’ perceptions regarding social responsibility activities
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Isleide Fontenelle
BOOK RECOMMENDATION
326 ORGANIZATIONAL ROUTINES Eduardo Loebel
327 DISASTERS AND HUMANITARIAN LOGISTICS Renata de Oliveira Silva
I SSN 0 0 3 4 -7 5 9 0
CALL FOR PAPERS SOCIAL BUSINESSES Deadline: November 30 2013 Guest Editors: Edgard Barki (FGV-EAESP), Graziella Comini (FEA-USP), Stuart Hart (Cornell University), Sudhanshu Rai (Copenhagen Business School), Ann L Cunliffe (Leeds University Business School)
PURPOSE OF THE SPECIAL ISSUE New organizations and partnerships are created worldwide with the aim of solving social and environmental problems and addressing issues such as poverty, inequality, and the well-being of people. Concepts such as civil society, social businesses, inclusive businesses, social entrepreneurship, the third sector, and business for the base of the pyramid, appear as possible solutions. These are becoming important social phenomena requiring further research. Many questions arise when discussing this subject, such as: What types of organizations make up this sector? Are there differences between social businesses and traditional ones? What are the main challenges and opportunities for these organizations? How can social impact be evaluated? What is the relationship between social businesses, private sector businesses, government, and communities? What is the role of the many actors: accelerators, investors, incubators? With these questions in mind, this special issue seeks to provide a space for discussion about (1) the organizational knowledge needed for this field, (2) the role of networks, (3) the importance of innovation and new business and management models.
THEMES AND TOPICS The guest editors welcome submissions related, but not limited to, the following issues: • Empirical and theoretical studies of the social business field. • An examination of the challenges, key issues and developments in the field. • New business and management models. • The role of the different actors: entrepreneurs, accelerators, incubators, impact investors, small businesses, large companies, and government. • The importance of partnerships and networks in the field. • Social impact evaluation. • The role of technology and of innovation. • Challenges and opportunities of the field.
SUBMISSION OF PAPERS Papers submitted must not have been published, accepted for publication, or presently be under consideration for publication elsewhere. To be eligible for review the paper must be set up according to the RAE’s guidelines (available at www.fgv.br/rae/sgp). The papers must be written in English. The submission must be made through the Publication Administration System at www.fgv.br/rae/sgp. Suitable papers will be subjected to a blind review. Please address questions to Edgard Barki (edgard.barki@fgv.br).
MAYO/JUNIO 2013
SUMARIO ARTÍCULOS
230 REPRESENTACIONES DEL TRABAJO: UN ESTUDIO SOBRE EL RÉGIMEN DE CONFINAMIENTO EN LA INDUSTRIA PETROLÍFERA Estudio exploratorio sobre la influencia del sistema de trabajo confinado en las representaciones del contexto organizacional y en los comportamientos sociales dentro y fuera del ambiente de trabajo. Denise Medeiros Ribeiro Salles y Isabel de Sá Affonso da Costa
243 AJUSTE INTERCULTURAL DE EJECUTIVOS JAPONESES EXPATRIADOS EN BRASIL: UN ESTUDIO EMPÍRICO Verificación sobre el ajuste intercultural de ejecutivos japoneses expatriados, por medio de investigación cualitativa con 37 ejecutivos japoneses expatriados en 21 empresas de diversos sectores en Brasil. Edson Keyso de Miranda Kubo y Beatriz Maria Braga
256 UNA PARADOJA DE LA INNOVACIÓN EN EL CLÚSTER DE VINO: EL CASO DE LA REGIÓN DE DOURO (PORTUGAL) Investigación sobre la problemática da innovación en el ámbito del clúster de una región vitivinícola europea tradicional, caracterizada por el llamado modelo del terroir. Ligia Inhan, João Ferreira, Carla Marques y João Rebelo
272 LEGITIMIDAD, GOBIERNO CORPORATIVO Y DESEMPEÑO: ANÁLISIS DE LAS EMPRESAS DE LA BM&F BOVESPA Evaluación de cómo la legitimidad, en especial por medio de la adhesión al Nuevo Mercado, condiciona el valor de las empresas listadas en la Bovespa. Luciano Rossoni y Clóvis L. Machado-
responsabilidad social implementadas por micro y pequeñas empresas en Perú. Martín Nelson Hernani Merino y Antonieta Hamann Pastorino
303 ANÁLISIS DEL CREDIT SCORING Análisis de la capacidad de previsión de tres modelos de credit scoring dos paramétricos y uno no paramétrico. Rosa Puertas Medina y Maria Luisa Martí Selva
PENSATA
316 LOS CINCO PUNTOS CIEGOS DE LA TECNOLOGÍA DE LA INFORMACIÓN PARA ECONOMISTAS Reflexión sobre el papel de las teorías económicas en la explicación y previsión de eventos de la economía, con particular enfoque en la participación de la tecnología de la información en esas teorías. Eric van Heck
RESEÑA
324 VIDA, EL REALITY SHOW Isleide Fontenelle
RECOMENDACIONES BIBLIOGRÁFICAS
da-Silva (in memoriam)
326 RUTINAS ORGANIZACIONALES 290 PERCEPCIÓN SOBRE EL DESARROLLO SOSTENIBLE DE LAS MYPE EN EL PERÚ Relevamiento de la percepción de estudiantes de graduación en relación a actividades de
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R A E S ã o P a u l o v. 5 3 n . 3 m a i o / j u n . 2 0 13
Eduardo Loebel
327 DESASTRES Y LOGÍSTICA HUMANITARIA Renata de Oliveira Silva
I SSN 0 0 3 4 -7 5 9 0
Acesse o acervo histórico da RAE desde sua primeira edição, em 1961. pacto ator de Im 3 Primeiro F .2 JCR: 0 1 da RAE no
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artigos Recebido em 21.10.2011. Aprovado em 01.11.2012 Avaliado pelo sistema double blind review Editor Científico: Anielson Barbosa da Silva
REPRESENTAÇÕES DO TRABALHO: ESTUDO SOBRE CONFINAMENTO NA INDÚSTRIA PETROLÍFERA REPRESENTATIONS OF WORK: A STUDY ON THE CONFINED WORK SYSTEM IN THE OIL INDUSTRY REPRESENTACIONES DEL TRABAJO: UN ESTUDIO SOBRE EL RÉGIMEN DE CONFINAMIENTO EN LA INDUSTRIA PETROLÍFERA
RESUMO
Este artigo explora a influência do sistema de trabalho confinado nas representações do contexto organizacional e nos comportamentos sociais, dentro e fora do trabalho. O confinamento pode ser referido como uma vivência total no local de trabalho que estabeleceria, para o trabalhador, uma rotina de vida profissional e pessoal diferenciada. O estudo, embasado na Teoria das Representações Sociais de Moscovici e no pensamento de Bourdieu, explorou como os trabalhadores confinados constroem significados e representações do seu trabalho em ambientes conside-
rados de alto risco, por meio dos métodos de evocação de palavras e análise dos discursos. Foram realizadas 40 entrevistas em duas empresas de grande porte do ramo petrolífero, com sedes nas cidades do Rio de Janeiro e Duque de Caxias (RJ). Os resultados confirmaram a influência dos ambientes de trabalho confinados na formação de crenças e na consolidação de comportamentos específicos, baseados em mecanismos de defesa que visam manter a estabilidade psicológica do trabalhador, imprescindível à sobrevivência nesse tipo de ambiente.
PALAVRAS-CHAVE Trabalho confinado, representações sociais, fachadas, habitus, comportamento.
Denise Medeiros Ribeiro Salles denisesalles@id.uff.br Professora do Programa de Pós-Graduação em Administração do Departamento de Administração, Universidade Federal Fluminense – Niterói – RJ, Brasil Isabel de Sá Affonso da Costa isabel.costa@estacio.br Professora do Programa de Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial, Universidade Estácio de Sá – Rio de Janeiro – RJ, Brasil
Abstract This article explores the influence of the confined work system on the organizational environment representations and social behaviors, inside and outside the workplace. Confinement may be referred to as a total experience in the workplace, imposing special work and life regimes over workers. The study, based on Bourdieu´s and on Moscovici’s Social Representations Theory, explored how confined workers construct meanings and representations of their work through free evocation and discourse analysis. Forty interviews were conducted in two large companies in the oil industry, with head offices in the cities of Rio de Janeiro and Duque de Caxias (RJ). The results presented confirmed the influence of confined work environments in the formation of beliefs and the consolidation of specific behaviors, based on defense mechanisms designed to maintain psychological stability of workers, essential to survival in such environments. keywords Confined work system, social representations, façades, habitus, behavior. Resumen Este artículo explora la influencia del sistema de trabajo confinado en las representaciones del contexto organizacional y en los comportamientos sociales, dentro y fuera del trabajo. El confinamiento puede ser referido como una vivencia total en el lugar de trabajo que establecería, para el trabajador, una rutina de vida profesional y personal diferenciada. El estudio, basado en la Teoría de las Representaciones Sociales de Moscovici y en el pensamiento de Bourdieu, exploró cómo los trabajadores confinados construyen significados y representaciones de su trabajo en ambientes considerados de alto riesgo, por medio de los métodos de evocación de palabras y análisis de los discursos. Fueron realizadas 40 entrevistas en dos empresas de gran porte del ramo petrolífero, con sedes en las ciudades de Rio de Janeiro y Duque de Caxias (RJ). Los resultados confirmaron la influencia de los ambientes de trabajo confinados en la formación de creencias y en la consolidación de comportamientos específicos, basados en mecanismos de defensa destinados a mantener la estabilidad psicológica del trabajador, imprescindible para la supervivencia en ese tipo de ambiente. Palabras clave Trabajo confinado, representaciones sociales, fachadas, habitus, comportamiento.
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INTRODUÇÃO O contexto produtivo contemporâneo, caracterizado pela compressão do tempo, faz surgir uma nova sintaxe de desempenho à qual os trabalhadores são obrigados a se adaptar. Um dos mais significativos desafios para a organização e para o trabalhador é o enfrentamento sistemático das descontinuidades e rupturas que obrigam: a organização, a rever continuamente suas formas de organizar o trabalho; o trabalhador, a uma tentativa contínua para transpor a cognição para a ação, para ajustar-se física, psicológica, intelectual e socialmente, de modo a permanecer inserido no mundo do trabalho (POTTER e EDWARDS, 1999). A flexibilização dos contextos produtivos e o imperativo da adaptação imediata indicam a necessidade de revisões conceituais sobre as representações do trabalho nos tempos atuais (CHANLAT, 1993; SENNETT, 2005). Nas últimas décadas, as ciências sociais e psicológicas passaram a envidar maiores esforços buscando compreender os fenômenos interativos indivíduo-organização, pois as crenças que permeiam a dinâmica organizacional são baseadas em promessas implícitas ou explícitas que, no decorrer do tempo, tomam a forma de esquemas mentais relativamente estáveis. Parte desses estudos refere-se aos processos cognitivos, que têm importante papel nas ciências do comportamento. Especial atenção é dada às representações mentais, denominadas frameworks ou esquemas, que facilitam e modelam a atenção, a memória e outras atividades conscientes. O processo de elaboração das representações não leva em consideração apenas o indivíduo isolado mas também as respostas que manifestam tendências do grupo ao qual o indivíduo pertence ou é afiliado. Além disso, as representações devem ser analisadas por meio da articulação de seus elementos afetivos, mentais, sociais, cognitivos, linguísticos e comunicativos às relações sociais que afetam as próprias representações e à realidade material e social sobre a qual elas intervêm – ou seja, as representações do trabalho devem ser remetidas às condições sociais de trabalho que as possibilitaram (SALLES, 2009). Sob esse enfoque, o indivíduo é visto, simultaneamente, como um ser influenciador e influenciado pelo ambiente (CABLE e outros, 2006). Dependendo da força da apropriação do homem pelo ambiente, a dificuldade em sobrepujar as imposições do meio torna-se um fato relevante, mostrando a incoerência
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do discurso sobre o trabalhador contemporâneo, que destaca a inovação e a criatividade como fatores inerentes ao trabalho (GEORGE e ZHOU, 2007). O ambiente organizacional onde repousa o interesse deste estudo é aquele no qual a organização do trabalho possui a especificidade da alternância de espaços e de tempos, ou seja, trabalhos confinados durante períodos ininterruptos. Exemplos desse sistema de trabalho podem ser encontrados nas empresas petrolíferas – foco de interesse deste estudo – e também nas atividades pesqueiras, de mineração e outras, sempre que, no ambiente organizacional, os indivíduos levem uma vida fechada e formalmente administrada, separados dos outros ambientes sociais por um determinado período (GOFFMAN, 1992, 2005). O trabalho confinado pode ser referido como uma vivência total no local de trabalho, que estabeleceria, para o trabalhador, uma rotina de vida profissional e pessoal diferenciada da maioria das pessoas. Este artigo apresenta resultados de pesquisa realizada em duas empresas de grande porte do ramo petrolífero, com sedes nas cidades do Rio de Janeiro e de Duque de Caxias (RJ). O objetivo foi explorar a influência do sistema de trabalho confinado nas representações do ambiente organizacional e nos comportamentos sociais, dentro e fora do trabalho. Os caminhos que nortearam este estudo basearam-se em uma análise dos processos de transformação do mundo do trabalho, bem como das mudanças ocorridas nas formas de interação entre o indivíduo e o ambiente organizacional. Foram enfocadas as produções das realidades organizacionais, por meio de suas representações, e as transformações e construções de condutas e comportamentos individuais e sociais. Verificaram-se seus efeitos, na percepção dos trabalhadores, sobre a importância de suas atividades, identificando-se os possíveis fatores responsáveis por tais mudanças e produções.
AS REPRESENTAÇÕES DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL O ambiente nunca é neutro nem livre de valor, mas influenciado pela cultura. Ele transmite, continuamente, significados e mensagens, e representa uma parte essencial da ação humana (MOSER e UZZELL, 2003). O ambiente não é apenas um construto social; ele é real e é utilizado para atribuir significado, promover
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identidade, localizar o indivíduo socialmente, culturalmente e economicamente (CARNELL, FARMER, PARKES, 2005). Determinadas especificidades ambientais tornam possíveis algumas condutas, enquanto inviabilizam outras. Necessário se faz, então, entender os motivos pelos quais os indivíduos reagem às condições constringentes do ambiente, dos espaços e dos tempos dentro dos quais operacionalizam suas ações laborais; a avaliação e percepção que os indivíduos têm desses ambientes influenciarão seus modos de atuação, condutas e comportamentos (SALLES, 2009). O entendimento das causas do comportamento pauta-se na relativa contribuição dos atributos pessoais e situacionais, na relação pessoa-ambiente. Uma hipótese que atravessa o tempo refere-se ao fato de as organizações tenderem à homogeneidade da personalidade: convergência entre um grupo de pessoas com atributos relacionados e um grupo de atributos relacionados ao ambiente, segundo Schneider, Smith e Goldstein (2000). As características principais dos indivíduos na organização tendem a tornar-se restritas, em função da crescente homogeneização de valores, atitudes e personalidades; valores motivam as ações e são elos entre características individuais e comportamentos (GIBERSON, RESICK, DICKSON, 2005). Simon (1965) afirmou que a racionalidade humana é inevitavelmente limitada e que todo ambiente ou contexto, mesmo os relativamente empobrecidos, contém mais estímulos do que o observador humano pode reconhecer ou processar. O espaço da atividade organizacional é povoado por processos cognitivos, assim como é afetado pela relação entre indivíduo, organização e ambiente contextual (DEJOURS, 2002). Essa compreensão é abrangente, sendo necessário explorar a natureza das atividades organizacionais que, em conjugação com suas estruturas, informam os níveis de relacionamento social que as organizações mantêm com os ambientes externos. Quando essas estruturas reduzem as possibilidades de relacionamento com o ambiente social, pode-se contextualizá-las como instituições totais, conforme denominação de Goffman (1992). Estas podem ser definidas como locais de residência e trabalho, onde um grande número de indivíduos leva uma vida fechada e formalmente administrada, separados dos outros ambientes sociais por um determinado período. Segundo esse autor, as limitações relativas às entradas e saídas do ambiente, geralmente, são indicadas pela estruturação do espaço físico. De acordo com a categorização das instituições
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totais feitas por Goffman (1992), há tipos que se caracterizam pela adequação à realização das atividades, geralmente peculiares. Em outras palavras, há certos tipos de atividades que estruturalmente demandam um ambiente de confinamento que acarreta o afastamento físico do ambiente social maior. Os indivíduos convivem, de maneira simultânea, em contextos e ambientes diversos. O trabalho organizado em ambiente de confinamento promove o rompimento entre as diversas esferas da vida e, durante um determinado período, suas principais demandas ocorrem em um único lugar, passando a organização a ser a principal supridora de suas necessidades. Tal fato pode levá-los a tentarem ajustamentos e adequações ao ambiente, que têm, entre suas principais consequências, a influência sobre seus comportamentos sociais. O afastamento do trabalhador dos demais ambientes sociais pode provocar o que Goffman (1992) denominou “destreinamento”, ou seja, a dificuldade, mesmo que temporária, de enfrentar alguns aspectos de sua vida social mais ampla. A experiência em uma organização total pode gerar uma espécie de tensão entre o mundo doméstico – ou o mundo social fora da organização – e o mundo institucional, representando o exercício de poder organizacional, por meio da utilização da tensão persistente como força estratégica no controle dos trabalhadores. Disso, podem decorrer mudanças nas crenças que os indivíduos têm sobre si próprios e sobre o ambiente organizacional, gerando a percepção de “perdas de papéis” no seu mundo social, em virtude das barreiras de tempo e espaço do ambiente confinado. Pode-se supor, de acordo com Salles (2009), que o estresse gerado por determinados ambientes de trabalho tem influência tanto na vida organizacional quanto na vida social: na vida organizacional, em relação aos resultados e produtividade; na vida social, nos relacionamentos afetivos e nos comportamentos sociais. Estudos relativos aos impactos da relação entre o indivíduo e o ambiente espacial e temporal têm tido uma importante contribuição da Teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI, 1984, 2001, 2005), que enfoca a relação das construções simbólicas com as realidades sociais. Essa teoria pressupõe que os indivíduos e os grupos são construtores ativos de representações sobre objetos sociais relevantes, elaborados com base em diversas crenças que circulam nas sociedades (JASPARS e FRASER, 1984). As representações inseridas nas dimensões espaciais e tem-
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porais intervêm como uma referência na construção, pelo indivíduo, de sua própria identidade. Segundo Porter, Steers e Mowday (2005), os indivíduos que se mantêm como membros da organização ao longo do tempo fazem maiores investimentos psicológicos, gastam capital emocional na organização, pois possuem um significativo capital social investido na construção de relacionamentos.
As representações humanas: ações e comportamentos Toda instituição possui uma tendência ao “fechamento”, à absorção do tempo e interesse de seus participantes, fornecendo-lhes a percepção de um mundo particular (GOFFMAN, 1992). Certos ambientes institucionais funcionam como “fachadas” sociais, em termos das expectativas estereotipadas abstratas que fornecem (GOFFMAN, 2005). Fachadas são os equipamentos expressivos, de tipos padronizados, intencionais ou inconscientemente empregados pelo indivíduo durante sua representação. A fachada torna-se uma “representação coletiva” e um fato, por direito próprio. Assim, ambientes de trabalho sujeitos a alternâncias de tempos e espaços são propícios a serem levados pelos atores para outros cenários da vida cotidiana. Um importante aspecto do processo de socialização é a tendência que os atores têm de oferecer a seus observadores uma impressão idealizada, inclusive para eles próprios, das realidades que estão representando (GOFFMAN, 2005). Quando o indivíduo se apresenta diante dos outros, seu comportamento e seu desempenho tenderão a incorporar e a exemplificar os valores oficialmente reconhecidos pela sociedade ou pelo contexto no qual está inserido (Schneider, Smith, Goldstein, 2000). Assim, a representação de um indivíduo ou de um grupo em uma região de fachada pode ser vista como um esforço para aparentar que sua atividade mantém e incorpora certos padrões de comportamento e de valores compartilhados, em conformidade com os padrões aceitos no ambiente (HEWLIN, 2003). Segundo Bourdieu (2005), a realidade é uma representação, instituída por meio de simbolizações cuja construção depende, profundamente, do conhecimento e do reconhecimento. A dinâmica social ocorre no interior de um espaço social, chamado, por ele, de “campo”, que é um segmento do social cujos agentes – indivíduos e grupos – têm disposições ou localizações específicas, a que Bourdieu denominou habitus. Este
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é delimitado por valores ou tipos de capital, que lhe dão sustentação (THIRY-CHERQUES, 2006). Para Bourdieu (2007), as disposições no campo, socialmente constituídas, possuem uma capacidade geradora, pois orientam as ações que, quando naturalizadas, adquirem legitimação. O fato de a individualidade ser socialmente produzida é uma verdade reconhecida (BAUMAN, 2008). Nesse caso, o sujeito é considerado tanto como inserido na estrutura quanto como força estruturante de um campo. A concepção de estrutura de Bourdieu é dinâmica, representando um conjunto de relações históricas, sendo produto e produtora de ações, condicionada e condicionante. Deriva da conjunção entre as estruturas mentais e as estruturas objetivas – o mundo dos objetos – dos agentes sociais. O mundo dos objetos, instituído ou tornado inteligível pelos agentes, consiste, relativamente à Teoria das Representações Sociais proposta por Moscovici (1984, 2001), ao fenômeno da objetivação dos conceitos, à sua transformação em objetos concretos. Ainda segundo Bourdieu (2005), o agente social é um operador prático de construções de objetos. Tanto a percepção quanto as condutas de indivíduos e grupos são constituídas segundo as estruturas do que é percebido, pensado e julgado razoável, dentro do campo em que estão inseridos. Isso, porém, não transforma o sujeito em um agente meramente passivo, pois ele pode, dentro de certos limites, transgredir, ter liberdade em relação às suas condutas, podendo expor sua criatividade e sua capacidade de improvisação (SALLES, 2009). A dominação social ocorre quando os esquemas de pensamento tornam-se naturalizados, determinados pelo posicionamento dos atores no campo. Dessa forma, o pensamento dominante é confirmado pelo mundo social, cuja base de sustentação não é tornada consciente; há relação de dominação social. O mundo social possui divisões arbitrárias que, sendo naturalizadas, adquirem legitimação (BOURDIEU, 2007). Para o referido autor, os indivíduos ou grupos dominados aplicam àquilo que os domina esquemas que são produtos da própria dominação, ou seja, seus pensamentos e percepções passam a ser estruturados de acordo com as estruturas da relação de dominação – submissão, reconhecimento da dominação, entre outras. O poder não pode ser exercido sem a colaboração dos que a ele se subordinam, porque o constroem como poder (BOURDIEU, 2005). Essa construção não é um ato intelectual consciente, mas resultante
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de um poder inscrito na forma de esquemas de percepção e de disposições que tornam os indivíduos sensíveis a certas manifestações simbólicas do poder, a esquemas de representações que lhes permitem a afiliação a um determinado contexto ou ambiente social. No contexto organizacional, tal afiliação possibilita o compartilhamento de valores, comportamentos e atributos, geradores de processos de identificação indivíduo-organização.
As representações sociais do mundo do trabalho e suas influências nos comportamentos Segundo a Teoria das Representações Sociais, os indivíduos, para darem sentido às suas ações, produzem representações que conferem significados ao mundo. Transferida para o contexto organizacional, essa abordagem implica o reconhecimento de que as organizações são, em primeira instância, um conjunto de representações formais e informais dos esforços dos indivíduos na coordenação de suas atividades, refletidos em seus comportamentos e na busca da satisfação de seus interesses. A Teoria das Representações Sociais explica os processos de constituição simbólica, nos quais sujeitos sociais lutam para dar sentido ao ambiente, entendê-lo e nele encontrar seu lugar, por meio de uma identidade social (GUARESCHI e JOVCHELOVITCH, 2003; JOVCHELOVITCH, 2008; MOSCOVICI, 1984, 2001). A representação social é definida como um sistema de valores, ideias e práticas, com uma dupla função: primeiro, estabelecer uma ordem que possibilitará às pessoas orientar-se em seu mundo material e social e controlá-lo; e, em segundo lugar, possibilitar que a comunicação seja possível entre os membros de uma comunidade, fornecendo-lhes um código para nomear e classificar, sem ambiguidade, os vários aspectos de seu mundo e da sua história individual e social (MOSCOVICI, 2005, p. 123).
A familiarização é sempre um processo construtivo de ancoragem e objetivação, em que o não familiar passa a ocupar um lugar dentro do mundo familiar. As reações dos indivíduos aos acontecimentos, suas respostas aos estímulos, estão relacionadas às definições comuns a todos os membros da comunidade à qual eles pertencem (JODELET, 1984; MINAYO, 2002). As representações são mecanismos de inserção
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do indivíduo no mundo em que vive. Essa perspectiva mostra a força do desconforto psicológico experimentado pelos sujeitos quando em situações em que há falta de referências e de identidades com as quais poderão se reconhecer como parte do grupo social. A submissão ao status quo pressupõe a existência de uma força ideológica que guia pensamentos e ações. Essa força é tanto mais poderosa quanto mais eficazes forem os mecanismos que possibilitam a introjeção de valores e de crenças do ambiente, pelo indivíduo. Por essa perspectiva, quanto mais fortes forem os valores organizacionais, mais totalizantes as referências valorativas do indivíduo e maior a adesão aos interesses da organização. Assim, organizações “fechadas”, que restringem o acesso dos indivíduos a outras fontes de discurso que não os organizacionais, buscam uma forma de controle que visa garantir a adesão dos membros da organização aos seus valores, canalizando suas disposições aos interesses produtivos (FREITAS, 1999). Considera-se, assim, que as representações sociais perpassam determinado grupo social como algo anterior e habitual, que se reproduz a partir das estruturas e das próprias categorias de pensamento do coletivo ou dos grupos. A análise das representações sociais desloca-se, assim, do indivíduo para os fenômenos produzidos pelas construções particulares da realidade organizacional. Neste estudo, os seus elementos motivadores foram os fenômenos particulares produzidos pelas representações do ambiente de confinamento.
METODOLOGIA Este estudo refere-se às influências exercidas pela organização do trabalho em regime de confinamento nas representações do contexto organizacional e nos comportamentos sociais, dentro e fora do ambiente de trabalho. A investigação, de caráter exploratório e com finalidades compreensivas e interpretativas, teve como base a Teoria das Representações Sociais, cujos métodos de coleta e análise das informações pautaram-se na evocação livre e na análise do discurso. Conforme assinalam Spink e Lima (2000), qualquer fenômeno social pode ser interpretado à luz das regularidades com que é apresentado, e, por ser circunstancial, o discurso é construído e reconstruído com base em recursos interpretativos particulares e dentro de contextos específicos (GILL, 2003).
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A intenção de tais escolhas metodológicas foi possibilitar a emergência de significados da esfera simbólica e do desvelamento de intencionalidades de trabalhadores submetidos a atividades arriscadas, em ambientes reclusos e com periodicidades não inferiores a 15 dias ininterruptos. Por privilegiar a linguagem verbal no sentido do encadeamento de ideias na produção de sentidos (SPINK, 2003), a pesquisa foi realizada por meio da evocação dos conteúdos e de entrevistas semiestruturadas, direcionadas para a natureza temática e para os objetivos deste estudo. A pesquisa foi realizada em duas organizações brasileiras de grande porte, atuando na exploração, transporte, refino e produção de energia e de petróleo, com sedes na região do Grande Rio, aqui denominadas Organização 1 e Organização 2. Em cada uma das organizações, foram compostos dois grupos de entrevistados: um grupo de trabalhadores confinados e um grupo de trabalhadores não confinados, denominado grupo de controle. A composição dos grupos obedeceu ao critério de pertencimento ao quadro organizacional (não foram considerados trabalhadores terceirizados). Para a composição dos grupos de sujeitos da pesquisa, foi usado o critério da acessibilidade. Estipulou-se o número de 10 sujeitos para cada categoria: grupo confinado e grupo de controle, nas duas empresas, totalizando 40 entrevistados. Para os grupos de trabalhadores confinados, o tempo mínimo de confinamento no mesmo ambiente foi estabelecido em cinco anos. Para os grupos de controle, o tempo mínimo de trabalho foi, também, de cinco anos. O intuito foi controlar os fatores que se pretendia observar (experiência com o confinamento vs nenhuma experiência com confinamento). Os grupos de controle participaram da primeira etapa da pesquisa, da qual emergiram dimensões de significado comparadas às dos grupos confinados. Para os grupos confinados, alvo do estudo, seguiu-se uma segunda etapa de pesquisa, em que as dimensões de significado foram aprofundadas, por meio de entrevistas e posterior análise de discurso. Dessa forma, as categorias de análise dos discursos dos entrevistados emergiram do próprio campo, na primeira etapa da pesquisa. O tempo médio de trabalho dos grupos confinados foi de 18,8 anos. No caso dos grupos de controle, esse tempo foi de 15,6 anos. Todos os sujeitos, nos dois grupos, eram do sexo masculino. Tal fato deve-se ao reduzido número de mulheres nos ambientes estudados, comparativamente ao número de homens.
As entrevistas foram realizadas nos períodos de folga dos empregados, em virtude de serem trabalhos localizados em ambientes de risco. Essa opção foi, possivelmente, um limitador do número de sujeitos envolvidos, mas a autenticidade dos relatos dos sujeitos, desprovidos de grande parte das censuras por estarem fora do ambiente organizacional e por terem garantido seu anonimato, teve importância crucial no estudo. Todas as entrevistas foram realizadas por meio do contato direto entre a entrevistadora e os entrevistados, entendendo-se que o caráter da pesquisa exigia esse tipo de interação. Essa preocupação determinou, por sua vez, a limitação geográfica do estudo, tendo sido as entrevistas realizadas na região do Grande Rio, localidade na qual os domicílios dos entrevistados estavam estabelecidos. Essa restrição reforçou o caráter circunscrito do conhecimento gerado. O delineamento da pesquisa não buscou uma amostra representativa que visasse a generalização para outros grupos sociais, inclusive aqueles relativos a trabalhos em ambientes de mesma natureza, pela estrita localização dos objetos do estudo. Os dados foram coletados por meio da utilização do método de evocação livre, com a determinação prévia de cinco indutores, denominados objetos sociais: o local de trabalho; a empresa; a importância da atividade para a empresa; estar no local de trabalho; estar fora do local de trabalho. Esses objetos sociais geraram expressões indutoras (frases provocativas), com o intuito de provocar a emersão de significados por meio das palavras manifestadas pelos entrevistados. Os resultados obtidos foram comparados entre os grupos, por segmento, promovendo-se análise qualitativa dos resultados, à luz do referencial teórico utilizado.
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ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Análise dos dados Foram quatro as palavras evocadas pelos entrevistados, para cada uma das expressões indutoras. As palavras evocadas pelos sujeitos, componentes do núcleo central das representações, foram: •
Para o grupo confinado Expressão indutora 1: confinamento; trabalho
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Expressão indutora 2: estabilidade; grandeza Expressão indutora 3: eficiência; relevância; segurança Expressão indutora 4: prisão Expressão indutora 5: liberdade Para o grupo de controle Expressão indutora 1: refino; trabalho; petróleo Expressão indutora 2: liderança; orgulho; estabilidade Expressão indutora 3: competência; cooperação; segurança Expressão indutora 4: companheirismo; estresse Expressão indutora 5: descanso
A primeira expressão indutora relacionava-se ao objeto social “local de trabalho”. No grupo confinado, emergiram conteúdos relativos a “confinamento” e “trabalho”; no grupo de controle, os conteúdos emergentes foram “refino”, “trabalho” e “petróleo”. O conteúdo “trabalho” esteve presente nos dois grupos, indicando a objetividade do significado do local de trabalho. No entanto, no grupo confinado, a palavra “confinamento” emergiu com relevância, indicando uma qualidade representativa do ambiente de trabalho. A segunda expressão indutora relacionava-se ao objeto social “empresa”. Os conteúdos emergentes indicativos das representações sociais em relação à expressão “empresa” foram, para o grupo confinado: “estabilidade” e “grandeza”; para o grupo de controle: “liderança”, “orgulho” e “estabilidade”. Mais uma vez, o mesmo conteúdo emergiu nos dois grupos, no caso “estabilidade”. Essa representação referia-se à solidez das empresas no mercado, sendo geradoras de reconhecimento de sua importância no cenário nacional. Permite-se inferir que a empresa, em ambos os grupos, mostra-se repleta de significado simbólico para os trabalhadores, ao passo que o local de trabalho é o espaço da objetivação, onde a “vida real” acontece. A terceira expressão indutora relacionava-se ao objeto social “importância da minha atividade para a empresa”. Os conteúdos emergentes no grupo confinado foram: “eficiência”, “relevância” e “segurança”; no grupo de controle, foram: “competência”, “cooperação” e “segurança”. Novamente, uma mesma representação apareceu nos dois grupos: aquela referente à segurança. A responsabilidade pela segurança foi um fator determinante na percepção dos resultados do trabalho, tendo em vista os ambientes de risco em que os trabalhadores sujeitos da pesquisa operavam.
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Além disso, outros fatores relativos aos resultados emergiram, tais como: eficiência e relevância (grupo confinado) e competência e cooperação (grupo de controle), indicando a percepção da qualidade do trabalho executado por eles na empresa. A quarta expressão indutora relacionava-se ao objeto social “estar no local de trabalho”. Um único conteúdo emergiu no grupo confinado, sugerindo ser o núcleo central da representação social relativa ao objeto em causa: “prisão”; no grupo de controle, emergiram os conteúdos “companheirismo” e “estresse”, corroborando achados dos estudos de Chen e outros (2004), que identificaram fontes de estresse ocupacional em trabalhadores offshore da indústria de óleo e gás. Infere-se, no caso do grupo confinado, a presença de um elemento fortemente marcado por seu valor simbólico: a prisão como representação social da vida no ambiente confinado e com tempo determinado, indicativa da “totalidade” do ambiente de trabalho e do esforço psicológico necessário para a permanência nesse ambiente. As representações relativas ao objeto social do grupo de controle permitem a visualização de um ambiente que, embora estressante, é aparentemente menos árduo e marcado pelo importante espaço do relacionamento interpessoal. Não houve a presença de representações convergentes entre os dois grupos. A quinta expressão indutora relacionava-se ao objeto social “estar fora do local de trabalho”. Enquanto, para o grupo de controle, a representação desse objeto social esteve pautada no período de descanso do trabalho, o seu significado para o grupo confinado teve, mais uma vez, a força simbólica e subjetiva do ambiente de trabalho como ente aprisionador de seus corpos e de suas vidas sociais. Tal fato indicou que, “do lado de fora” do ambiente de trabalho, o que existe é a “liberdade”. Também no caso dessa expressão indutora, as representações dos dois grupos não foram convergentes. Esses resultados indicam que a estruturação do tempo e do espaço do trabalho no regime de confinamento produz representações diferenciadas do ambiente de trabalho. Com o objetivo de verificar a pertinência, a abrangência e a profundidade das categorias emergentes da evocação dos conteúdos, foram analisadas as relações existentes entre as representações relativas ao ambiente e à organização do trabalho e à percepção de valores, comportamentos e resultados do trabalho do grupo confinado, por meio de entrevistas semiestruturadas.
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As principais percepções identificadas nessa etapa, demonstradas no texto em forma de crenças, foram destacadas por meio da regularidade com que as categorias subjacentes se apresentavam nos discursos do grupo confinado, bem como pela emergência de novas categorias. Visando facilitar a análise e a interpretação dos discursos emergentes das entrevistas, destacaram-se categorias inerentes ao interesse do estudo, e verificou-se a abrangência e a repetição das respostas do grupo que exerce seu trabalho em ambiente confinado.
Interpretação dos resultados De acordo com a relação explicitada entre as categorias estabelecidas e as representações decorrentes (Quadro 1), procedeu-se à análise dos seguintes resultados:
Quadro 1 – Representações dos grupos confinados, por categorias Categoria Local de trabalho Empresa
Representações Confinamento Trabalho Estabilidade Grandeza
Importância da atividade para a empresa
Eficiência Relevância Segurança
Estar no local de trabalho
Prisão
Estar fora do local de trabalho
Liberdade
A categoria “Local de trabalho” teve como principais representações o confinamento e o trabalho. Verificou-se a ênfase na questão da pressão sofrida naquele ambiente, gerando alto nível de estresse, conforme apontado por Dejours (2002). Relatos sugerem que os trabalhadores passam, ao longo do tempo, por um desgaste mental significativo, ocasionando, para alguns, a ultrapassagem de limites razoáveis no que se refere à demonstração do seu estado emocional. Dando sustentação ao proposto por Goffman (1992), o confinamento é sugerido como um regime de trabalho que ocasiona uma mudança na rotina da vida social do indivíduo, pois ele se estende, em alguns casos, para a vida fora daquele ambiente. Há uma espécie
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de desajustamento ao mundo “além” espaço confinado, uma vez que o trabalhador transita, em última instância, entre dois espaços com códigos, lógicas, posturas e atitudes que, na prática, pouco se comunicam. A dificuldade da transição entre esses dois mundos e a carga psicológica que essa transição impõe é revelada quando os entrevistados destacam que, dias antes de embarcar, já começam a “pensar como no trabalho”. O trabalho no ambiente confinado é compreendido pelos sujeitos como fonte de superação de desafios diários, tanto no que se refere à própria atividade quanto à rotina de isolamento pela qual eles passam, sistematicamente. O enfrentamento dos desafios demanda uma condição psicológica específica, que vai além das condições técnicas dos trabalhadores. Tal fato sugere que as empresas deveriam investir em técnicas e ferramentas gerenciais que pudessem indicar alguma previsibilidade quanto ao potencial psicológico desses indivíduos, nos processos de gestão de pessoas. A categoria “Empresa” teve como principais representações a estabilidade e a grandeza por sua solidez perante o mercado e reconhecimento de sua importância no cenário nacional. Notou-se que conteúdos mais subjetivos e indicativos da presença de valores compartilhados emergiram dessa indução. Essa categoria, apesar de ter inscrita em seu contexto a categoria anterior, é percebida e representada pelos trabalhadores como um ente superior, alheio às intempéries do trabalho, que detém qualidades que, de certa forma, também são suas, pois, por meio de seus esforços e comprometimentos, esse ente fomenta o imaginário social no qual estão inseridos, determinado pelas forças do campo (BOURDIEU, 2005). As empresas, para os confinados, representam aquilo que se encontra além do ambiente perturbador; no entanto, esse ambiente, apesar de impor condições árduas de sobrevivência, possibilita o alcance das metas empresariais e transforma o sacrifício em valor para os atores que nele atuam, corroborando achados da pesquisa de Anderson, Cooper-Thomas e Vianen (2004). A grandeza representada indica a importância e o valor das empresas no imaginário de seus empregados, e a suposição de que o mesmo ocorre em relação à sociedade. As empresas, por meio dos discursos, aparecem como impulsionadoras do “patriotismo” que reveste o compromisso dos trabalhadores com a missão das empresas e com o “bem do País”. O seguinte relato de um entrevistado do grupo confinado indica a relevância dessa percepção: “O funcionário da empresa, ele
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por si só, ele já é muito patriota. Ele veste mesmo a camisa, não só da empresa, como tem que se enrolar na bandeira da nação”. A influência de políticas governamentais também se faz presente na construção desse imaginário coletivo, representado pela grandiosidade dos valores organizacionais e de seus colaboradores, destacando-se aqueles que “dão seu sangue” pela empresa, os mais “sacrificados”, ou seja, os que precisam, pelo bem da produção e de tudo que dela decorre, doar seu tempo, sua liberdade e sua vida às empresas e ao País. A categoria “Importância da minha atividade para a empresa” teve, como principais representações, a eficiência, a relevância e a segurança. A eficiência relaciona-se às técnicas e aos procedimentos que devem ser seguidos à risca nesse tipo de trabalho. A relevância destaca o reconhecimento de que o trabalho executado no ambiente de confinamento é parte indissociável da atividade-fim das empresas. Se assim não ocorresse, a produção e a contribuição das empresas para o desenvolvimento do País não se viabilizariam. A segurança pressupõe a necessidade tanto de capacidade técnica específica quanto de equilíbrio psicológico, nem sempre fácil de ser conseguido e mantido no ambiente confinado. A categoria “Estar no local de trabalho” teve como principal representação a prisão. Essa representação, baseada no pensamento de Goffman (1992), possui um forte significado na relação entre os trabalhadores e as empresas, pois, apesar de essas últimas tentarem implantar condições ambientais que minimizem o estresse provocado pelo confinamento, ainda não se mostraram totalmente capazes de reduzir o impacto que o regime de trabalho provoca nos trabalhadores. De acordo com os relatos obtidos nas entrevistas, as empresas mantêm a expectativa de possíveis retornos ao ambiente de trabalho, mesmo durante os períodos de folga. A totalidade da empresa, de acordo com Goffman (1992), segue com os trabalhadores para além dos limites do ambiente confinado, gerando neles a percepção de que os próprios equipamentos utilizados durante todo o período de confinamento fazem parte de seus corpos. Trechos de seus discursos demonstram a sensação de falta de seus capacetes quando estão nas ruas, durante suas folgas. Isso decorre da formação de fortes hábitos, especialmente aqueles relacionados à segurança, que se tornam aparentes por meio do seu comportamento. A obrigatoriedade da interação interpessoal em espaço físico delimitado durante um período foi um
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fator apontado pelos sujeitos como um desafio importante a ser enfrentado. Conforme expuseram, os conflitos porventura surgidos no contexto do trabalho precisam, necessariamente, ser resolvidos no curto prazo, ao preço de arriscarem sua segurança e a produtividade da empresa. Além disso, a convivência forçada demanda a resolução rápida dos problemas de ordem comportamental, pois o afastamento físico entre as pessoas é praticamente impossível. Aos desafios internos impostos a esses trabalhadores, são acrescentados desafios externos, especialmente aqueles relacionados às influências que suas famílias sofrem com o regime e a natureza do trabalho executado. As diferentes dinâmicas de tempo, vivenciadas pelo trabalhador e por sua família, estabelecem modelos de relacionamento familiar e de exercício da responsabilidade pelo lar, cujos papéis são, na maioria das vezes, ambíguos. Nos períodos de folga do trabalhador, o tempo de sua família é regido por horários que não são compartilhados com ele. Além disso, quem fica no lar precisa também se ocupar do papel de quem está fora. Quando há o retorno, a troca de papéis não é facilmente estabelecida, gerando conflitos que, em muitas situações, determinam a dissolução da união. No que tange à percepção do tempo de trabalho pelos trabalhadores confinados, há relatos sobre a ansiedade experimentada durante o período de confinamento. Segundo eles, há uma espécie de “curva de humor” que afeta a “curva de eficiência”, no seguinte sentido: na chegada ao local de trabalho e durante os próximos dois ou três dias, há dificuldade na imersão nas tarefas e atividades, pois ainda se encontram sob o impacto do período de folga. Os dias subsequentes são marcados pela melhoria do humor, bem como pelo aumento do comprometimento com suas atividades. A “descida da ladeira”, segundo eles, começa em torno do sétimo dia de trabalho. Por volta do décimo segundo dia, a ansiedade volta, pela expectativa de retornar para casa. De modo análogo, o processo é experimentado também durante o período de folga. No retorno ao lar, a adaptação ao ambiente demanda em torno de dois a três dias. Após esse período, o contato familiar e social melhora, e o desconforto pela expectativa do retorno ao local de trabalho começa a ser sentido próximo de três dias antes do término da folga. Um entrevistado relatou que percebia mudanças no seu tom de voz e nos termos utilizados na sua comunicação com a fa-
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mília, no período próximo ao seu retorno ao trabalho. Essas mudanças refletiam os comportamentos que ele demonstrava no exercício do seu trabalho. Outro fator relevante, associado à representação “prisão”, é o risco. Todos os entrevistados mostraram forte preocupação com esse fator, que se relaciona com a representação “segurança”, inerente à importância de suas atividades nas empresas. O destaque da segurança relaciona-se ao ambiente altamente perigoso no qual esses trabalhadores exercem suas atividades, vivem e estabelecem vínculos interpessoais durante duas semanas. Esses vínculos parecem ser fortalecidos também em função da necessidade de cooperação entre todos, não somente por causa da produtividade exigida. São relevantes as questões de sobrevivência física e emocional. O risco é parte integrante e indissociável de suas atividades e está presente no próprio ambiente onde habitam durante o período de confinamento. O risco é o terceiro elemento relevante, além do tempo e do espaço, do contexto onde o trabalho se desenvolve. O risco, apesar de perturbador, é elemento agregador, integrador, pois demanda a união em prol de sua minimização. Sua presença constante possibilita a percepção de igualdade entre os indivíduos naquele ambiente, tendo em vista que todos, independentemente do tipo de atividade e de posicionamento hierárquico na organização, estão à sua mercê, gerando representações coletivas alinhadas aos modelos produtivos das empresas (JASPARS e FRASER, 1984). Torna-se compreensível, portanto, o estabelecimento, pelos trabalhadores, de mecanismos de defesa, sociais e psicológicos, visando à sua permanência no ambiente. A autovalorização de suas missões nas empresas reflete a forte presença desses mecanismos, transformando o contexto em terreno fértil para a assimilação dos valores organizacionais e a consequente identificação com as empresas. Quando eles constroem representações de suas empresas relacionadas à grandeza, a parte que lhes cabe nessa representação é também considerada. A categoria “Estar fora do local de trabalho” teve como principal representação a liberdade. Essa representação apareceu com um significado ambíguo: se, por um lado, simbolizou a possibilidade de se vivenciarem ambientes que permitem seu livre trânsito e a autonomia para a tomada de decisão sobre suas necessidades e desejos, por outro lado, apareceu como um mecanismo de defesa contra o desconforto psicológico causado pelo retorno ao ambiente confinado.
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Os aspectos positivos do confinamento apareceram nos mesmos discursos em que relataram a repulsa à “prisão” do ambiente confinado. Quando expressaram a importância da “liberdade” possibilitada pela saída do ambiente confinado, o fizeram interpondo, em seus discursos, os fatores positivos de seus regimes de trabalho, como em um processo de preparação para a angústia do retorno ao confinamento. A aparente combinação entre conceitos antagônicos – prisão e liberdade – é relevante e significativa. A mistura de sentimentos, capturados nos seus discursos e nas formas não verbais de suas expressões, indica a necessidade de solução desses conflitos. Como a solução não é possível pela via organizacional, o recurso psicológico é plenamente utilizado. Esse fato revela aspectos importantes para a gestão do trabalho em tais ambientes, especialmente aqueles relacionados à adequação dos perfis dos trabalhadores às características ambientais, à qualidade de vida nos ambientes interno e externo e à relação dessas variáveis com a produtividade.
CONCLUSÕES As análises e interpretações realizadas neste estudo permitiram reflexões e inferências, não propriamente conclusivas, no sentido estrito do termo. A exploração realizada na busca da compreensão dos fenômenos estudados partiu de suposições pautadas mais na observação do pesquisador do que na confirmação de teorias já desenvolvidas sobre o tema, decorrendo daí o caráter exploratório do estudo. A base conceitual sobre a qual o estudo se desenvolveu foi formada, essencialmente, pelos pensamentos de Moscovici, Bourdieu e Goffman, buscando-se os significados das percepções dos sujeitos da pesquisa sobre suas relações com os ambientes organizacionais, por meio das representações sociais construídas. A Teoria das Representações Sociais, central neste estudo, por ter sido importante para a sua delimitação metodológica, possibilitou que se verificassem, à luz dos discursos dos sujeitos, as crenças e os comportamentos decorrentes de suas representações. Estas foram construídas na vivência e na experimentação do ambiente específico de trabalho e estabelecidas no contrato psicológico, consolidado e justificado ao longo do tempo. Esse contrato comporta as crenças dos trabalhadores sobre um acordo tácito definido com
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a organização, cuja natureza pressupõe um processo de troca, determinante da força da conjugação dos valores individuais com os valores organizacionais. As promessas implícitas ou explícitas sobre as quais se baseiam os contratos psicológicos, no decorrer do tempo, estabilizam-se na forma de modelos mentais, com base nos quais as representações são construídas. O contrato psicológico inferido por meio dos discursos relaciona-se mais fortemente com as empresas do que com os ambientes de trabalho propriamente ditos, loci das pressões sofridas pelo tipo de atividade e pelo regime de confinamento do tempo e do espaço. A influência dos ambientes de trabalho na formação de crenças e comportamentos dos trabalhadores foi o principal elemento motivador deste estudo. A especificidade do trabalho em regime de confinamento mostrou similaridade com o que Goffman (1992) preconizou sobre as organizações totais, onde um grande número de indivíduos leva uma vida fechada e formalmente administrada, separados de outros ambientes sociais por determinado período. O funcionamento dos ambientes confinados como fachadas sociais, que levam às representações coletivas e às dificuldades no enfrentamento de alguns aspectos da vida social fora daqueles ambientes, pode ser constatado por meio dos discursos. Foi relatada a existência de tensões constantes entre o mundo doméstico e o mundo institucional, o que, para Goffman (2005), pode significar o exercício do poder organizacional, realizado por meio da promoção persistente de formas estratégicas de controle dos trabalhadores. Disso decorrem mudanças nas crenças que os indivíduos têm sobre si próprios e sobre o ambiente organizacional, gerando a percepção de “perda de papéis” no seu mundo social, em função das barreiras impostas pelo espaço e pelo tempo. Os relatos apresentados apontam para a formação de crenças aderentes a essa análise de Goffman. Os ambientes de trabalho confinados, pela pressão que exercem nos indivíduos, precisam ser reconhecidos e interpretados por estes como ambientes de contornos definidos e familiares. As simbolizações permitem essa “familiaridade” com tais contextos, sob a forma de abstração, necessária à permanência e à continuidade das atividades e da produção. A transformação dos conceitos em objetos, por meio das representações, é operada pelo agente social: o trabalhador. Dá-se, assim, o encontro dos pensamentos de Moscovici e Bourdieu, para quem essas representações
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são construções de um mundo inteligível, instituído pelas estruturas mentais e que existe porque foi pensado com base em estruturas objetivas. A naturalização desses pensamentos leva ao que Bourdieu (2007) denominou dominação social. As crenças retiradas dos discursos dos sujeitos indicam uma naturalização de conceitos e de percepções, contribuindo, para isso, o tempo de permanência dos entrevistados no ambiente confinado. A representação do espaço onde o trabalho se desenvolve simboliza a privação da liberdade, indicada pela palavra “prisão”. Aquele é o local do sacrifício, onde a contribuição dos trabalhadores em prol do compromisso com a organização se efetiva e em relação ao qual a construção do significado é feita sobre uma base mais objetiva e realista. Apesar da existência de mecanismos de defesa, verificados em seus discursos, pode-se inferir que eles ocorrem mais em função da necessidade de sobrevivência ao ambiente do que por uma idealização daquele local. A apresentação do indivíduo como alguém capaz de se colocar diante das imposições sociais o torna agente ativo na interação, logo agente transformador, embora também transformado pelo processo de estruturação do campo (BOURDIEU, 2007). Uma contribuição relevante desta pesquisa foi a constatação da capacidade do indivíduo em ultrapassar obstáculos de modo consciente, sem a completa submissão aos mecanismos que possibilitam a introjeção de valores e crenças do ambiente – achado esse que encontrou respaldo em teorias que formaram a base conceitual do estudo. Este estudo, apesar das limitações explicitadas, ampliou a compreensão sobre os fenômenos instigadores da pesquisa ao jogar mais luz nos caminhos propostos pelas teorias, possibilitando a imersão nos relatos de experiências vividas pelos sujeitos. Possibilitou, ainda, verificar a capacidade de adaptação e de superação de obstáculos pelos trabalhadores que operam em regime de confinamento, confirmando a presença do indivíduo na estruturação de seus ambientes sociais, apesar de ser, também, por eles estruturado. O estudo faz reflexões sobre as implicações da organização do trabalho no comportamento organizacional, em um ambiente peculiar, que agrega duas importantes dimensões: risco e confinamento. Sua contribuição pauta-se, especialmente, em apresentar resultados que são escassamente verificados na literatura nacional e internacional. No Brasil, apesar do
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forte posicionamento da indústria petrolífera, pouco se contribui cientificamente sobre o assunto do comportamento organizacional naquele ambiente. Deste estudo, decorre a necessidade de se explorarem, por meio de outros estudos, relações entre dimensões ainda pouco analisadas, como a relação da organização dos ambientes confinados e a capacidade produtiva dos empregados, entre outras. Futuros estudos poderão aprofundar os achados desta pesquisa.
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artigos Recebido em 16.02.2011. Aprovado em 21.01.2013 Avaliado pelo sistema double blind review Editor Científico: André Ofenhejm Mascarenhas
AJUSTAMENTO INTERCULTURAL DE EXECUTIVOS JAPONESES EXPATRIADOS NO BRASIL: UM ESTUDO EMPÍRICO INTERCULTURAL ADJUSTMENT OF JAPANESE EXPATRIATE EXECUTIVES IN BRAZIL: AN EMPIRICAL STUDY AJUSTE INTERCULTURAL DE EJECUTIVOS JAPONESES EXPATRIADOS EN BRASIL: UN ESTUDIO EMPÍRICO
RESUMO
O ajustamento intercultural tem sido considerado fator determinante do sucesso em missões internacionais e o conceito-chave do modelo de ajustamento internacional de Black, Mendenhall e Oddou (1991a). O objetivo deste artigo é analisar o ajustamento intercultural de executivos japoneses expatriados. Realizou-se uma pesquisa qualitativa com 37 executivos japoneses expatriados, em 21 empresas de diversos setores no Brasil. Apesar de a literatura considerar os expatriados japoneses exemplos de sucesso,
devido às baixas taxas de falhas em missões internacionais, os resultados mostram que eles não se ajustam, pois recebem pouco ou nenhum treinamento intercultural, permanecem distantes dos locais, além de acumularem estresse no trabalho e não poderem falhar. Este artigo contribui para o melhor entendimento do construto do ajustamento intercultural e reforça a necessidade de rever o modelo de Black, Mendenhall e Oddou (1991a) para outras nacionalidades.
PALAVRAS-CHAVE Expatriação, ajustamento intercultural, expatriados japoneses, missão internacional, gestão internacional de pessoas.
Edson Keyso de Miranda Kubo edsonkubo@gvmail.br Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade Municipal de São Caetano do Sul – São Caetano do Sul – SP, Brasil Beatriz Maria Braga beatriz.braga@fgv.br Professora da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getulio Vargas – São Paulo – SP, Brasil
Abstract Intercultural adjustment has been considered a determinant factor of success in international assignments and the key concept of the model of international adjustment from Black, Mendenhall and Oddou (1991a). The objective of this article is to analyze how intercultural adjustment occurs among Japanese expatriate executives. A qualitative research was conducted with 37 Japanese expatriate executives in Brazil from 21 different subsidiaries in various sectors. Although the literature considers Japanese expatriates as examples of success due to their low failure rates in international assignments, the results shows that they do not adjust, because they receive little or neither intercultural training, keep distance from locals, and feel a lot of stress on work and cannot fail. This article contributes to a better understanding of the construct of intercultural adjustment and emphasizes the need to revise the model of Black, Mendenhall and Oddou (1991a) for other nationalities. keywords Expatriation, intercultural adjustment, japanese expatriates, international assignment, international human resource management. Resumen El ajuste intercultural ha sido considerado un factor determinante del éxito en misiones internacionales y el concepto clave del modelo de ajuste internacional de Black, Mendenhall y Oddou (1991a). El objetivo de este artículo es analizar el ajuste intercultural de ejecutivos japoneses expatriados. Se realizó una investigación cualitativa con 37 ejecutivos japoneses expatriados, en 21 empresas de diversos sectores en Brasil. A pesar de que la literatura considera a los expatriados japoneses como ejemplos de éxito, debido a las bajas tasas de fallas en misiones internacionales, los resultados muestran que ellos no se ajustan, pues reciben poco o ningún entrenamiento intercultural, permanecen distantes de los lugares, además de acumular estrés en el trabajo sin poder fallar. Este artículo contribuye a una mejor comprensión del constructo del ajuste intercultural y refuerza la necesidad de rever el modelo de Black, Mendenhall y Oddou (1991a) para las otras nacionalidades. Palabras clave Expatriación, ajuste intercultural, expatriados japoneses, misión internacional, gestión internacional de personas.
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INTRODUÇÃO Em Gestão Internacional de Pessoas (GIP), os temas da expatriação e do ajustamento têm sido objeto de grande número de pesquisas nas últimas décadas. Pressuposto fundamental é o de que o ajustamento do expatriado é essencial para que a designação internacional seja bem-sucedida, o que terá impacto direto sobre o desempenho da subsidiária e a organização (BJORKMAN e STAHL, 2006; HOMEM e TOLFO, 2008). Nos estudos de expatriação, o modelo de ajustamento internacional de Black, Mendenhall e Oddou (1991a) tem sido a principal referência para pesquisas empíricas sobre ajustamento e políticas de expatriação, sendo amplamente utilizado para formulação de políticas de staffing (STAHL e CALIGIURI, 2005). De acordo com esse modelo, cabe ao expatriado desenvolver sua familiaridade e conforto com os vários aspectos do ambiente intercultural do país anfitrião, pois, sem esse ajustamento, não há como se obter sucesso na expatriação. E a falha na expatriação, tradicionalmente conceituada na literatura como a volta prematura do expatriado (TUNG, 1987), representa, para a empresa, um custo elevado não apenas em termos financeiros mas também em termos do conhecimento e rede de relacionamento adquiridos pelo indivíduo (LEE, 2007). No entanto, o caso dos japoneses parece contradizer o pressuposto de que o ajustamento intercultural é necessário para que o expatriado seja bem-sucedido. Isso porque, por um lado, pesquisas apontam que as estratégias de expatriação das empresas multinacionais japonesas (EMJ) apresentam taxas menores de falhas quando comparadas com as das multinacionais americanas, e são apresentadas mundialmente como casos de sucesso (TUNGLI e PEIPERL, 2009). Por outro lado, algumas pesquisas mostram que os japoneses não estão preocupados com o ajustamento ao país anfitrião, não convivem com os “locais”, como se referem aos nativos do país anfitrião (HOMEM e TOLFO, 2008, p. 206), e não se preocupam em assimilar aspectos da cultura organizacional da subsidiária (JAPAN OVERSEAS ENTERPRISES ASSOCIATION, 2007). Este artigo analisa o ajustamento intercultural dos executivos expatriados japoneses no Brasil – se e como o expatriado se ajusta – fornecendo subsídios para a compreensão do fenômeno do ajustamento e complementando o entendimento atual sobre o tema, em grande parte, fundamentado em pesquisas com expatriados norte-americanos (YAMAZAKI e KAYES, 2007).
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AJUSTAMENTO INTERCULTURAL DOS EXPATRIADOS: O MODELO DE BLACK, MENDENHALL E ODDOU (1991a) Entende-se por expatriado o executivo enviado por uma multinacional para viver e trabalhar em um país estrangeiro por período superior a um ano (CALIGIURI, 2000). O ajustamento intercultural dos expatriados tem sido definido de diversas maneiras (ANDREASON, 2003; AYCAN, 1997; Black, Mendenhall, Oddou, 1991b; NICHOLSON e IMAIZUMI, 1993). A proposição de Oberg (1960) define ajustamento intercultural como o grau de conforto psicológico com vários aspectos do país anfitrião. De acordo com Winkelman (1994), o conforto psicológico é a sensação de bem-estar que propicia autoestima e satisfação em relação à vida. Sem o conforto psicológico, a pessoa experimenta uma deterioração no seu senso de bem-estar, o que resulta em manifestações patológicas tais como desordem emocional, irritabilidade e hostilidade. No caso da expatriação, a falta de conforto psicológico traria mau ajustamento, que seria a causa principal das falhas ocorridas. Grande parte dos estudos sobre o ajustamento na expatriação toma por base teórica o modelo internacional de Black, Mendenhall e Oddou (1991a), que propõe que o ajustamento deveria ocorrer em dois momentos: o antecipado, ainda no país de origem, e o ajustamento no país anfitrião. O ajustamento antecipado é composto de fatores anteriores à expatriação que facilitariam o ajustamento no país anfitrião, tais como a seleção de candidatos com base em competências interculturais (e não apenas nas competências técnicas) e a preparação em geral do candidato antes de sua partida, por meio de treinamentos interculturais e fornecimento de informações sobre o país anfitrião. Os autores propõem que o ajustamento no país anfitrião seja formado por três componentes; dessa maneira, os expatriados precisam atender às dimensões de ajustamento geral (conforto com vários aspectos do ambiente geral do país anfitrião, tais como costumes, vida cotidiana etc.), ajustamento interacional (conforto e familiaridade no relacionamento com os locais) e ajustamento no trabalho (conforto em relação ao trabalho desenvolvido com os locais). Segundo os autores, o ajustamento nessas três dimensões seria fundamental para que o expatriado pudesse desempenhar bem suas funções e ser bem-sucedido em sua missão internacional.
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O modelo prevê alguns outros fatores que também influenciam as dimensões do ajustamento: i.
fatores individuais, como a autoeficácia do expatriado, ao manifestar suas habilidades de persistir na exibição de comportamentos aprendidos no país anfitrião para receber feedback dos locais; a habilidade de desenvolver relacionamento com locais; e habilidades cognitivas que permitam ao expatriado perceber corretamente o ambiente local e seus atores; ii. o trabalho em si, que deveria ser claramente definido, com um grau de autonomia que permita ao expatriado a compreensão de seus papéis gerenciais e poder decisório para adaptar as funções e condições do trabalho local de acordo com suas expectativas. Ainda em relação ao trabalho, deve-se observar a novidade da função (grau de diferença entre o trabalho local e o trabalho anterior do expatriado) e o conflito da função (choques de demandas entre a matriz e a subsidiária no que tange o trabalho do expatriado), que estariam negativamente associados ao ajustamento no trabalho; iii. a cultura organizacional, que contempla a diferença entre a cultura organizacional da subsidiária e a cultura da matriz (novidade da cultura), o apoio
dos colegas e superiores no país anfitrião (apoio social) e a ajuda logística, que se refere ao suporte quanto à moradia, compras, escolas etc; iv. a socialização na empresa local, que seria baseada em táticas institucionais (conteúdo preparado pela instituição) ou táticas individuais (atitude individual em aprender e inovar em suas funções no trabalho) e v. os itens não relacionados ao trabalho, que seriam a novidade da cultura local e o ajustamento da família, em especial o cônjuge. O modelo está sintetizado na Figura 1 a seguir: Shaffer, Harrison e Gilley (1999), Stroh, Dennis e Cramer (1994), Shay e Baack (2006) são alguns dos estudos que testaram e validaram o modelo de Black, Mendenhall e Oddou (1991a), acrescentando variáveis como a habilidade em falar línguas estrangeiras e a vontade do expatriado de completar a missão. Outros estudos, no entanto, como Aycan (1997), Andreason (2003) e Harrison e Shaffer (2005), obtiveram diferentes graus de confirmação das relações propostas. Esses estudos, de maneira geral, partem do pressuposto de que, sem o ajustamento do expatriado, não haveria sucesso na expatriação. O caso dos expatriados japoneses parece singular,
Figura 1 – O modelo de ajustamento internacional
Ajustamento antecipado (no país de origem)
Ajustamento dentro do país anfitrião
Fatores individuais Dimensões de ajustamento - Ajustamento no trabalho - Ajustamento interacional
Fatores do trabalho
- Ajustamento geral
Fatores da cultura organizacional Fatores não relacionados ao trabalho
Fonte: Adaptado de BLACK, MENDENHALL, ODDOU, 1991a.
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pois, embora citados internacionalmente como casos de sucesso em staffing, devido às menores taxas de falha em expatriação (HARZING, 1995; SANCHEZ, SPECTOR, COOPER, 2000; SCULLION e BREWSTER, 2001; TOH e DENISI, 2005; TUNG, 1982), pouco se sabe sobre seu ajustamento ou os determinantes de seu sucesso. Ademais, embora sejam considerados casos de sucesso, resultados de pesquisas sugerem que o ajustamento não é uma preocupação nem determinante para o sucesso da expatriação. Em uma pesquisa realizada pela Japan Overseas Enterprises Association, os resultados apontaram que os japoneses parecem se preocupar mais com a administração de pessoal e com as relações de trabalho locais (64,2%) do que com o seu ajustamento intercultural no país anfitrião (24,1%) (JAPAN..., 2007). Pesquisas também têm demonstrado que elementos importantes do modelo de Black, Mendenhall e Oddou (1991a), como a novidade cultural, a adaptação do cônjuge e o ajustamento geral, não são determinantes na efetividade dos expatriados japoneses (TUNGLI e PEIPERL, 2009; NICHOLSON e IMAIZUMI, 1993; STEINING e HAMMER, 1992; AMANTE, 1993; WONG, 1996). Como fatores relevantes para a permanência dos expatriados japoneses, esses estudos apontam a cultura nacional e o background cultural (STEINING e HAMMER, 1992); a necessidade do ajustamento cultural entre matriz e subsidiária (WONG, 1996); e o sentimento de lealdade para com a organização, elementos que garantem o comprometimento com a designação ainda no país de origem e privilegiam o ajustamento no trabalho no país anfitrião (AMANTE, 1993). Vale destacar que o conceito de sucesso em expatriação tem sido objeto de questionamento, dado que o expatriado pode permanecer até o final da designação, mas não ter um bom desempenho. Ademais, a permanência até o final pode resultar em altos custos pessoais, em termos da carreira (especialmente quando a repatriação não é bem feita, por exemplo), estresse ou problemas com a família. Para o expatriado, o sucesso em expatriação tem sido mais associado à possibilidade de desenvolvimento da carreira internacional e à oportunidade de aprendizado em termos de competências interculturais (Stahl e outros, 2009). No entanto, a pesquisa em torno desse tema ainda é escassa e a operacionalização do conceito como a taxa de retorno prematura tem sido a mais utilizada (TUNGLI e PEIPERL, 2009). O estudo aprofundado do processo de ajustamento dos expatriados japoneses parece ser, portanto, opor-
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tuno e relevante, como já recomendado por Yamazaki e Kayes (2007), para que seja possível avançar em relação ao modelo de ajustamento internacional de Black, Mendenhall e Oddou (1991a) e colaborar para as políticas de GIP focadas em expatriação, e é essa a contribuição que este artigo pretende fazer.
METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo-analítico, e a abordagem qualitativa de pesquisa foi escolhida porque, segundo Godoy (1995, p. 63), “quando o estudo é de caráter descritivo e o que se busca é o entendimento do fenômeno como um todo, na sua complexidade, é possível que uma análise qualitativa seja a mais indicada”. Nesse caso, como a maior parte dos estudos conduzidos sobre o tema até o momento tem sido quantitativa (NICHOLSON e IMAIZUMI, 1993; CALIGIURI, 2000; LEE, 2007; TUNGLI e PEIPERL, 2009), e como o caso dos expatriados japoneses parece ser singular, requerendo, portanto, uma análise mais abrangente e, ao mesmo tempo, mais aprofundada, a abordagem qualitativa parece ser mais adequada. Conforme mencionado, o objetivo da pesquisa foi investigar como se configura o ajustamento dos expatriados japoneses no Brasil, ou seja, buscou-se levantar as suas percepções (problemas, desafios, pontos positivos/gostos) sobre a sua vivência da expatriação, desde o momento em que souberam que seriam expatriados até a experiência no país anfitrião, com o trabalho e os seus colegas de trabalho, com vida pessoal e a família, e as pessoas do País, de modo geral. O modelo de Black, Mendenhall e Oddou (1991a) foi utilizado como base de fundamentação teórica para a pesquisa e para a construção do roteiro das entrevistas, conforme detalhado adiante. Como forma de aproximação dos sujeitos da pesquisa, foi contatada a Câmara do Comércio e Indústria Japonesa do Brasil (CCIJB), que forneceu a lista de 40 empresas associadas convidadas a participar, tendo 21 empresas aceitado colaborar com a pesquisa. Elas pertencem a diversos setores de atividade, como automotivo, metalomecânico, eletroeletrônico, têxtil, alimentício, químico, construção civil e serviços. Dentro de cada empresa, todos os expatriados foram convidados para participar da pesquisa, entre os quais 37 aceitaram o convite. As entrevistas semiestruturadas constituíram o
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método de coleta de dados. O roteiro das entrevistas foi elaborado com base no modelo de Black, Mendenhall e Oddou (1991a), portanto foram formuladas perguntas abertas sobre os fatores que influenciam e os fatores que compõem, após o ajustamento antecipado, as três dimensões do ajustamento no país anfitrião, o ajustamento geral, no trabalho e interacional. A operacionalização das dimensões do ajustamento seguiu o que já foi feito em pesquisas quantitativas anteriores, como Black (1988) e Shaffer, Harrison e Gilley (1999). Um exemplo das perguntas do roteiro é apresentada no Quadro 1 a seguir: Cada entrevista durou, em média, uma hora e meia. Todas as entrevistas foram realizadas em japonês, pois muitos expatriados não falam português e falam pouco o inglês, e traduzidas e transcritas para o português. Os dados demográficos dos entrevistados estão apresentados na Tabela 1 a seguir. Pode-se observar que a seleção de entrevistados incluiu expatriados com características bem distintas, o que, a princípio, promoveria a obtenção de dados em maior diversidade. A técnica de análise de dados adotada nesta pesquisa é a análise de conteúdo. Para auxiliar a análise das entrevistas, utilizou-se o software Atlas.ti 5.2 como apoio a três processos: codificação, microanálise dos dados e identificação e validação das categorias. Inicialmente, os segmentos de dados (citações, falas) dos entrevistados foram analisados e codificados. Esses códigos são significados inferidos nos dados e referem-se ao tema ou ideia que a citação represen-
Tabela 1 – Dados demográficos dos entrevistados Dados
N. de expatriados
Tempo no Brasil: < 1 ano 1-3 anos 3-5 anos > 5 anos
6 20 5 6
Faixa etária: 20-30 30-40 40-50 >50
3 13 11 10
Família: Com esposa e filhos Somente esposa Sozinho
11 11 15
Experiência em expatriação: Nenhuma 1-3 anos 3-5 anos >5 anos
18 4 3 12
Cargo: Presidente Diretor Assessor diretoria/corporativo Gerente Coordenador executivo
9 9 16 2 1
Quadro 1 – Exemplos de perguntas do roteiro Dimensão/fator do modelo de Black, Mendenhall e Oddou (1991a)
Perguntas do roteiro
Ajustamento antecipado
- Como o sr. reagiu quando soube que seria expatriado para o Brasil? E a sua família? - O sr. recebeu algum tipo de treinamento antes de vir? De que modo esse treinamento o ajudou?
Ajustamento geral (dentro do país anfitrião)
- Do que o sr. gosta/não gosta no país? (vida cotidiana, relações humanas etc.)
Ajustamento no trabalho
- Como é trabalhar com os brasileiros? Que condições facilitam/dificultam o seu trabalho?
Ajustamento interacional
- Como tem sido a sua experiência em fazer amizade com os brasileiros?
Fatores que influenciam o ajustamento
- Como a sua família tem reagido à experiência de morar no Brasil? - Que tipo de apoio o sr. recebe da sua empresa?
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ta. Posteriormente, esses códigos foram organizados, quantificados e reunidos em torno de categorias. A quantificação na análise de conteúdo é a contagem da frequência de um determinado tema, que pode indicar a importância desse código ou tema em relação aos demais (DELLAGNELO e SILVA, 2005). No caso deste estudo, as frequências foram levantadas pelo software, e as mais significativas são mencionadas na apresentação dos resultados.
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Com base na análise dos dados, sete categorias foram formadas: ajustamento antecipado, ajustamento geral, ajustamento interacional, ajustamento no trabalho, cultura organizacional, ajustamento da família e sentidos do ajustamento. Como pode ser observado, as categorias formadas correspondem, em grande medida, às dimensões e fatores do modelo de Black, Mendenhall e Oddou (1991a), o que era esperado, dado que o modelo serviu como base para a elaboração do roteiro de entrevistas.
A análise de conteúdo foi realizada separadamente para os grupos de expatriados sozinhos, com famílias e por cargos, mas não se observaram diferenças significativas para esses casos. Os entrevistados estão identificados como P1, P2, P3 e assim por diante. As categorias e os temas que as compõem são apresentados no Quadro 2.
Ajustamento antecipado No que tange à categoria ajustamento antecipado, três temas foram encontrados: seleção com base em competências técnicas, pouco treinamento intercultural pré-partida e atitude positiva para expatriação. A seleção para a expatriação é baseada, em geral, no critério de competência técnica do trabalho, e não nas competências interculturais, critério recomendado por Black, Mendenhall e Oddou (1991a). Quando notificado pela empresa sobre a missão internacional, o expatriado japonês não questiona a decisão da matriz e aceita de imediato o destino, as condições impostas em termos de benefícios e o tempo da missão. Em geral, a atitude positiva do expatriado japonês diante da designação internacional deve-se apenas
Quadro 2 – Categorias e temas obtidos na análise de conteúdo Categorias
Temas
Ajustamento antecipado
- Seleção com base em competências técnicas - Pouco treinamento intercultural pré-partida - Atitude positiva para expatriação
Ajustamento geral
- Apreciação da vida em geral no Brasil - Conveniente ambiente nipônico no Brasil
Ajustamento interacional
- Pouco relacionamento com os locais - Dificuldade de comunicação com os locais
Ajustamento no trabalho
- Dificuldade para trabalhar com os locais - Preocupação em ser aceito pelos locais - Relevância dos nikkeys - Aumento da responsabilidade do cargo no Brasil - Muita pressão e estresse
Cultura organizacional
- Necessidade de implantação da cultura da matriz - Bom apoio organizacional
Ajustamento da família
- Dificuldade de comunicação com os locais - Separação entre vida pessoal e trabalho
Sentidos de ajustamento
- Não fazem mudanças pessoais - Seguir comandos da matriz - Permanecer até o final da designação
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ao comprometimento com a matriz. Os entrevistados não veem a expatriação como vantajosa em termos do desenvolvimento da carreira, porque relataram que a elite gerencial e a inovação estão na matriz; a expatriação pode significar ficar desalinhado ou desatualizado. Há pouco treinamento intercultural para os candidatos à expatriação, além de esse treinamento ser irregular e o seu conteúdo ser genérico e pouco focado em línguas. Seguem algumas citações representativas do ajustamento antecipado do expatriado japonês no Brasil: Como é longe... Não sabia nada sobre o Brasil, não sabia se a minha família iria compreender a situação... Mas depois encarei como uma chance e vi de um modo positivo essa missão. (P10) Eu participei uma vez de um treinamento na empresa e o treinamento também focava em países de língua inglesa... Acho que há partes desse treinamento que foram úteis... (P9) Não houve nenhuma negociação em termos de benefícios antes de eu vir... Isso é impensável, pois eu sou um empregado... No Japão esse tipo de negociação é impensável. (P6)
Ajustamento geral Em relação à categoria ajustamento geral, encontraram-se dois temas, que são a apreciação da vida em geral e o conveniente ambiente nipônico no Brasil. Em relação ao primeiro tema, as falas convergem para dois aspectos positivos, o povo brasileiro e os aspectos relacionados ao País. O povo brasileiro é visto como acolhedor e solidário e, por isso, supõe-se que o expatriado japonês se sinta confortável no Brasil. Os expatriados japoneses não se sentem discriminados e têm facilidade na construção de um relacionamento de confiança com o povo brasileiro, como exemplifica a fala a seguir: Eu penso que as relações humanas no Brasil são boas, pois não se vê uma discriminação contra orientais e há uma boa impressão sobre os japoneses, há um relacionamento de confiança. (P18)
P14). Ressaltam, também, que há, no Brasil, um ambiente nipônico formado pela sociedade de descendentes de japoneses (nikkey) que facilita a vida do expatriado e de sua família, conforme afirma P19, entre outros: A influência da sociedade nikkey é grande. Do ponto de vista particular, há muitos restaurantes, produtos alimentícios, vegetais do Japão. Graças aos nikkeys, não há no Brasil discriminação contra os japoneses, não sinto que haja discriminação, sinto até que os japoneses não são vistos como estrangeiros. Sou grato à sociedade nikkey.
Ajustamento interacional Em relação ao ajustamento interacional, a análise encontrou dois temas, que são o pouco relacionamento e a dificuldade de comunicação com locais. A maioria relatou que tem pouco relacionamento com os locais, pois não há oportunidades de interação fora do local de trabalho. Entre aqueles que relataram maior interação e facilidade de comunicação com locais (apenas quatro citações), estão os que praticam esportes como capoeira, futebol e aulas de samba. Muitas vezes, há, até mesmo, a orientação da matriz para que o expatriado mantenha certa distância em relação aos locais, pois a aproximação poderia comprometer a qualidade da gestão. A aproximação é permitida apenas para alavancar negociações e a comunicação com outros parceiros de negócios, conforme afirma P13: No caso da vida privada, há algum intercâmbio, mas não muito... Às vezes sou convidado por fornecedores para ir a alguma churrascaria, casamento, e quando tenho condições participo... Imagine se eu rejeitar todos esses convites e ficar só com os japoneses.. Acho que o trabalho... não fluirá bem... Do outro lado, não significa que devemos ficar no mesmo nível dos locais, curtir com eles, ir beber com os locais, pois nós somos representantes do Japão e ganhamos mais e estamos numa posição superior com responsabilidades, então devemos manter uma certa distância... Esse é um assunto meio delicado... (P13)
Ajustamento no trabalho
Em relação aos aspectos do País, há expatriados que apreciam a culinária brasileira, a natureza e o pensamento generalizado de aproveitar a vida (P3;
Quanto ao ajustamento no trabalho, observou-se a existência de cinco temas principais: dificuldade para trabalhar com os locais, relevância dos nikkeys,
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preocupação em ser aceito pelos locais, aumento da responsabilidade do cargo e muita pressão e estresse. Pode-se afirmar que essa categoria constitui a dimensão central do ajustamento do expatriado japonês no Brasil, pois é a categoria que contempla o maior número de citações, especialmente em relação ao aspecto “dificuldade para trabalhar com os locais”, mencionado por quase todos os expatriados. As dificuldades para trabalhar com os locais são inúmeras, desde diferenças na forma de trabalhar até uma comunicação difícil, dado que muitos dos expatriados não falam português e os brasileiros não falam japonês; e todos, em geral, falam mal o inglês. Quanto à forma de trabalhar, foram apontadas diferenças como a falta de disponibilidade para trabalhar mais horas quando necessário, a falta de planejamento, que resulta em tudo ficar para a “última hora”, a falta de assumir a responsabilidade pelos erros, a dificuldade de cumprimento de prazos, a falta de organização e a falta de lógica em alguns procedimentos, que resulta em retrabalho, por parte dos locais. Nesse contexto, os nikkeys que falam a língua japonesa assumem um relevante papel e são, muitas vezes, promovidos a gerentes ou trabalham como assessores dos expatriados. Além de ajudar na comunicação com os locais, têm o papel de facilitar a supervisão e o controle dos negócios e a difusão da cultura organizacional japonesa. O relato abaixo ilustra o papel deles: A língua utilizada internamente nesta empresa é o inglês, isso porque o japonês não consegue falar logo de imediato a língua. Agora, no departamento de produção, a maior parte dos funcionários é constituída de nikkeys. Os nikkeys trabalham seriamente e também entendem o senso do japonês. A parede entre nikkeys e japoneses é menor que a parede entre nikkeys e os brasileiros não nikkeys. Como a maioria dos funcionários da produção é de nikkeys, torna-se possível comunicar-se em japonês para o trabalho, e isso é uma vantagem. (P19)
Observa-se a grande preocupação dos expatriados em serem aceitos pelos locais. Todos, sem exceção, se preocupam em demonstrar esforço e dedicação ao trabalho, em permanecer mais tempo na empresa do que os locais, para que, assim, possam se legitimar na empresa. Um dos relatos (P13) ressalta que eles se sentem “vigiados”, pelos locais, quanto às suas folgas, atividades e postura, e sentem que o fato de estarem
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aqui para contribuir para a gestão da empresa, com um alto salário, implica mais responsabilidades perante os locais. Um outro dado observado foi que, no Brasil, todos os entrevistados são executivos e, muitas vezes, estão em posições hierárquicas superiores às que ocupavam no Japão, o que significou o aumento do conteúdo do cargo e de suas responsabilidades. Os expatriados são responsáveis, aqui, por mais atribuições, tais como formação e treinamento de equipes, além da comunicação com a matriz. Todos eles se reconhecem como paipu (YAGI, 2009). O paipu é a pronúncia japonesa para pipe (cano), que metaforicamente descreve a atribuição de relatar o que acontece e passar constantemente dados sobre a subsidiária para a matriz no Japão. A pressão da matriz e as dificuldades no trabalho configuram as principais fontes de estresse e de desânimo para o expatriado japonês no Brasil. A lentidão, as falhas de comunicação, a falta de objetividade e a assimetria de informações geram um sentimento de frustração que se prolonga durante a estadia e, em muitos casos, leva a depressões intermitentes. Por conta dessas dificuldades, muitos se queixam e dizem que o estresse é tão grande que têm vontade de voltar para casa. A atitude em relação ao estresse com o qual se defrontam é a de suportar, a de aguentar até o fim, pois não se sentem à vontade para reclamar com a matriz ou solicitar o retorno prematuro, como demonstra a fala abaixo: Estou sem a família, estou sozinho aqui, então venho para a empresa e aqui sou um tipo de conselheiro da fábrica [...] e na minha vida particular tudo acontece de modo repetitivo... Eu fico com os outros quatro expatriados do Japão e às vezes alguns deles dizem algo desagradável, e isso cansa, isso vira estresse e aí eu tenho vontade de voltar ao Japão... (P21)
Para os que estão sem as famílias, a solidão no Brasil leva a um sentimento de nostalgia, que é compensado pelos resultados do trabalho, pois poderão ser usufruídos pela família que está no Japão, conforme relata P6: Toda a minha família está no Japão... Não tenho família aqui e também não tenho como cuidar da minha família... Só espero que eles possam aproveitar os frutos do meu trabalho... É a única coisa que me consola... (P6)
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Cultura organizacional A categoria cultura organizacional contemplou dois temas principais, que são a necessidade de implementação da cultura japonesa e o bom apoio organizacional. Em termos de políticas organizacionais, os expatriados japoneses relataram que se ajustam ao que é estritamente necessário no Brasil, tal como a estratégia de vendas e atendimento ao cliente. Os clientes são brasileiros, e as estratégias de vendas, por exemplo, devem ser adequadas ao ambiente local, por isso há um mix da cultura organizacional do Brasil e do Japão, conforme relatou um dos expatriados entrevistados. Na prática, porém, valores e práticas administrativas, tal como tomada de decisão, seguem o modo japonês, e os expatriados japoneses, em geral, esforçam-se para transmitir conhecimentos, know-how e a forma de pensar da matriz para os locais. Não obstante, sentem que a sincronia entre a cultura da matriz e a da subsidiária é difícil de ser alcançada. A empresa aqui implanta a cultura da matriz do Japão e isso tem gerado estresse em brasileiros e em mim também. Há muitas perguntas por parte da matriz, pois o controle toma como base o modo de gerenciamento do Japão. (P15)
Outro fator relevante da cultura organizacional é o apoio organizacional à vida do expatriado no exterior. A empresa se esforça por propiciar conforto (algumas trazem até produtos alimentícios) e segurança para os expatriados, e todos têm a garantia da manutenção de seus empregos quando voltarem ao Japão (emprego vitalício). Isso confere tranquilidade ao expatriado para que se dedique a sua missão no Brasil.
Ajustamento da família Dentro da categoria ajustamento da família, o principal tema que emergiu dos relatos foi o das dificuldades da família, sendo a principal delas a comunicação com os locais, muito embora a interação seja restrita e haja dificuldade na mobilidade, pois muitas esposas não dirigem no Brasil, devido à questão da segurança. Aqui, também, a sociedade nikkey aparece como um importante apoio à vida das famílias desses expatriados no Brasil, que resulta em uma “tranquilidade” para os expatriados japoneses se engajarem no trabalho. Vale lembrar que o Brasil é o país que possui a maior colônia japonesa e de seus descendentes do mundo
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(MONTOYA, 2011). Além disso, o grande número de expatriados propicia a formação de uma comunidade que ameniza as dificuldades da adaptação e do cotidiano, principalmente das esposas. Observou-se, também, que os entrevistados procuram separar bem o trabalho e a vida pessoal, não deixando que os problemas familiares interfiram no desempenho do trabalho, conforme relata P10: “Bom, trabalho é trabalho, vida particular é vida particular... Com certeza, surgem problemas no trabalho, mas isso não tem jeito, e eu separo muito bem uma coisa da outra”.
Sentidos do ajustamento Quanto aos sentidos que atribuem ao ajustamento, três temas surgiram: a crença de que não passam por mudanças pessoais significativas, a necessidade de obedecer aos comandos da matriz e a necessidade de permanecer até o final da designação. Os entrevistados não acreditam que passem, em geral, por mudanças pessoais significativas, a não ser pela necessidade de desenvolver a tolerância e a paciência para lidar com as diferentes formas de trabalhar, a pressão da matriz e o estresse cotidiano. Na verdade, pensam mais no ajustamento organizacional, em seguir os comandos da matriz, a fim de aproximar as culturas entre a subsidiária e a matriz e mitigar os efeitos de um possível choque cultural para os expatriados. E “ajustar-se” também significa a necessidade de “ficar até o fim”. Para o expatriado japonês, desistir da missão internacional é desistir do Japão, pois a cultura da vergonha (BENEDICT, 1946) não permitirá ao expatriado ser aceito novamente na matriz como um membro da organização, e deixar a empresa ainda é algo culturalmente malvisto, como mostram, entre outros, P12 e P8, respectivamente: “Quando você deixa uma empresa e tenta ir para outra, os japoneses sempre acabam pensando que você saiu da outra empresa porque ninguém te queria lá, porque não servia... O japonês pensa assim...” (P12). Na minha opinião, penso que na cultura do Japão há essa coisa de sair casa e ir para fora lutar. Há esse hábito de que o homem deve sair de casa e a esposa deve proteger o lar... Veja, no século XX houve muitas guerras e o Japão sempre ganhou, mas perdeu a Segunda Grande Guerra... A questão de suportar os desafios e o orgulho fazem parte da cultura do Japão e é para vencer que se vai para
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a guerra. Muito embora não esteja em uma guerra, eu estou batalhando e, se eu fugir, então eu perdi. Quem foge perde e há a mentalidade de que é preferível morrer, suicidar-se, a vergonha de perder é profunda, a cultura da vergonha, a vergonha de fugir do combate... (P8)
A seguir, os resultados obtidos são discutidos no contexto da literatura revisitada.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A análise dos relatos sugere que o expatriado japonês vivencia um dilema, pois, embora tenha facilidades como o suporte operacional para a vida cotidiana, a promessa de emprego vitalício e uma cultura organizacional semelhante à da matriz, à qual já está acostumado, por outro lado, como essa é uma condição temporária, sabe que não deve se aproximar muito dos locais e que não pode voltar para casa antecipadamente, caso não se acostume no país anfitrião, e sabe que a experiência internacional não terá impacto positivo para o desenvolvimento da sua carreira. Portanto, não faz questão de desenvolver as habilidades pessoais do modelo de Black, Mendenhall e Oddou (1991a), ou seja, a autoeficácia, a habilidade de se relacionar com os outros e a habilidade de perceber corretamente o ambiente à sua volta; não faz questão de aprender a língua local ou mesmo de se ajustar ao país em que vive. Dessa maneira, não atinge o ajustamento geral e interacional do modelo de Black, Mendenhall e Oddou (1991a), mas permanece até o final da designação. E, para o expatriado, sucesso na missão internacional significa ficar até o fim e desempenhar o trabalho da forma como a matriz espera. Essa condição organizacional tem respaldo e é reforçada por uma cultura nacional que se reflete, também, nas regras do mercado de trabalho, ou seja, no entendimento de que quem “desiste” não é merecedor de uma nova oportunidade. Portanto, permanecer até o final é a melhor, senão a única, solução possível. A falta de interesse em torno do ajustamento na vida pessoal, ou seja, em termos do ajustamento geral e interacional, fica evidente quando se observa que, embora declarem gostar do Brasil e do povo brasileiro, os entrevistados demonstraram não fazer esforço para se integrar ao cotidiano e às pessoas do País, a começar pelo fato de que, ainda que alguns estejam
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morando aqui há algum tempo, não aprenderam o português. Não priorizam a amizade com os locais e preferem a comida japonesa. Esse “insulamento” também foi observado por Nicholson e Imaizumi (1993) e, aqui, é facilitado pela existência de uma grande colônia japonesa. Com base nos resultados obtidos, uma síntese dos fatores que poderiam promover ou dificultar o ajustamento, de acordo com o modelo de Black, Mendenhall e Oddou (1991a), foi elaborada e é apresentada no Quadro 3. Há mais fatores dificultadores, em termos organizacionais e individuais, do que facilitadores ao ajustamento intercultural do expatriado japonês no Brasil. No entanto, não parece haver ações das empresas direcionadas a melhorar ou amenizar a situação dos expatriados, a não ser pelo suporte operacional relativo à moradia, carros e medidas ocasionais, como apoio à alimentação, por exemplo. E, embora a recomendação genérica de oferecer aos expatriados treinamentos interculturais apareça na literatura como solução ideal (THOMAS e LAZAROVA, 2006), isso também não acontece. Com base nos resultados apresentados, é possível analisar o caso dos expatriados japoneses à luz do modelo de Black, Mendenhall e Oddou (1991a). Pode-se dizer que o ajustamento no trabalho para esses expatriados se sobrepõe, em termos de importância, ao ajustamento interacional e geral. Fatores como a força da cultura organizacional da matriz, que inclui desde o apoio organizacional durante a estadia no Brasil até o emprego vitalício na volta ao Japão, e o auxílio dos nikkeys na gestão da subsidiária determinam certo grau de ajustamento no trabalho, que parece suplantar a necessidade de ajustamento interacional e geral. Esses resultados são diferentes dos encontrados por Shay e Baack (2006), por exemplo, que afirmam que, sem o ajustamento geral, não pode haver o ajustamento no trabalho. Portanto, os resultados sugerem que os fatores que influenciam o ajustamento no modelo de Black, Mendenhall e Oddou (1991a) – novidade cultural, apoio organizacional, características individuais e ajustamento da família – podem ter pesos diferentes quando se analisam pessoas de nacionalidades diferentes. E, embora tenha sido proposto como um modelo universal pela literatura, outros autores também têm apontado limitações em sua aplicabilidade e o etnocentrismo em seus pressupostos, uma vez que foi fortemente fundamentado em pesquisas com ex-
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patriados norte-americanos (FLORKOWSKI e FOGEL, 1999; SCULLION e BREWSTER, 2001).
CONSIDERAÇÕES FINAIS Em resposta à pergunta desta pesquisa, pode-se dizer, de início, que o expatriado japonês não se ajusta, mas convive. O ajustamento geral e o ajustamento interacional não são priorizados, por não serem tão relevantes quanto o trabalho. Mesmo sem ajustar-se no trabalho, devido ao estresse oriundo das diferenças culturais do trabalho em relação aos locais, o trabalho é obrigação e tem que ser feito em qualquer lugar. A efetividade do expatriado japonês repousa na sua preocupação em se ajustar não com o ambiente local, mas com as expectativas da matriz quanto à permanência no país hospedeiro e término da missão. O que determina a efetividade do desempenho do expatriado japonês não está relacionado ao ajuste ao ambiente brasileiro, mas, sim, a fatores culturais relacionados ao Japão, como a obrigação em demonstrar lealdade à empresa. Desistir da missão no Brasil é o
mesmo que desistir do Japão, envergonhando a empresa e a si próprio perante a matriz. Em vez de passar por isso, é preferível tolerar as dificuldades até o fim. Assim, o estudo dos expatriados japoneses contribui para a literatura sobre expatriação e ajustamento, no sentido de destacar a importância da nacionalidade e background cultural do expatriado e do fator apoio organizacional, que reflete a responsabilidade da organização perante a efetividade do expatriado em sua missão. Os resultados também sugerem que as dimensões e fatores do ajustamento do modelo de Black, Mendenhall e Oddou (1991a) podem ter pesos diferentes para as diferentes nacionalidades e que, além disso, comprometimento e desempenho no trabalho não estão necessariamente correlacionados com ajustamento e satisfação com a missão. Também contribui para reforçar a necessidade do questionamento do conceito do sucesso em expatriação, ao apontar que os expatriados japoneses adotam a perspectiva organizacional para a sua definição pessoal de sucesso para a missão, ou seja, diferentemente de outros expatriados, que veem a carreira internacional como uma oportunidade de aprendizado em termos de competências interculturais
Quadro 3 – Fatores facilitadores e dificultadores do ajustamento do expatriado japonês no Brasil Fatores que influenciam o ajustamento
Individuais
Relacionados ao trabalho
Facilitadores
Dificultadores
- Alto grau de autocontrole, que ajuda a lidar com o estresse;
- Baixo grau de autoeficácia, não se preocupa em aprender novos comportamentos; - Baixo grau de habilidade de relacionamento; - Baixo grau de habilidade de percepção, pois tende a perceber o ambiente local com valores japoneses; - Restrita autonomia na função, alinhamento constante com a matriz; - Novidade da função, aumento do conteúdo e responsabilidade do cargo; - Alto grau de conflito na função (entre subsidiária e matriz, principalmente); - Muitas diferenças na forma de trabalhar em relação aos brasileiros;
- Alta clareza da função exercida; - Suporte dos nikkeys;
Cultura organizacional
- Apoio logístico da empresa para moradia e importação de produtos japoneses; - Cultura organizacional, por imposição, semelhante à da matriz, que “neutraliza” efeitos da novidade da cultura organizacional da subsidiária;
- Pouco treinamento intercultural;
Não relacionados ao trabalho
- Ambiente brasileiro percebido como favorável; - Sociedade nikkey, que ajuda a família, inclusive.
- Comunidade japonesa, que, ao mesmo tempo que ajuda, acaba segregando.
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artigos AJUSTAMENTO INTERCULTURAL DE EXECUTIVOS JAPONESES EXPATRIADOS NO BRASIL: UM ESTUDO EMPÍRICO
e de desenvolvimento (STAHL e outros, 2009), para os japoneses, a expatriação é vista apenas como um dever para com a organização e um modo de prover a família; portanto, o sucesso é desempenhar bem o trabalho e permanecer até o fim, não importando a que custo, em termos de sofrimento e estresse pessoal. Em termos de limitações da análise, a seleção de entrevistados poderia ter contemplado funcionários brasileiros, nikkeys ou não, que lidassem diretamente com os expatriados, para aprofundar a análise do seu comportamento em missão internacional. Seria interessante a inclusão de expatriados do sexo feminino, para verificar se há diferenças no ajustamento dentro do país anfitrião. Como pesquisas futuras, sugere-se aprofundar o estudo sobre o ajustamento em outros contextos e com expatriados de outras nacionalidades que não a norte-americana, para se verificar se o caso dos japoneses é único ou se haveria outros casos de expatriados em que o ajustamento não seria tão importante para o bom desempenho. Sugere-se, também, que as pesquisas se estendam aos colegas de trabalho locais, para se verificarem as percepções sobre o desempenho dos expatriados, que dariam outra perspectiva, inclusive, sobre o tema do sucesso na expatriação.
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artigos Recebido em 03.12.2011. Aprovado em 06.11.2012 Avaliado pelo sistema double blind review Editor Científico: Paulo B. Tigre
PARADOXO DE INOVAÇÃO NO CLUSTER DO VINHO: O CASO DA REGIÃO DEMARCADA DO DOURO AN INNOVATION PARADOX IN WINE CLUSTER: THE CASE OF DOURO REGION (PORTUGAL) UNA PARADOJA DE LA INNOVACIÓN EN EL CLÚSTER DE VINO: EL CASO DE LA REGIÓN DE DOURO (PORTUGAL) RESUMO
Este artigo tem por principal objetivo analisar a problemática da inovação no âmbito do cluster de uma região vitivinícola europeia tradicional (Região Demarcada do Douro – Portugal), caracterizada pelo chamado modelo vitivinícola do terroir, uma estrutura econômica suportada por um elevado número de viticultores, pequenas e médias empresas vinícolas e elevada regulação ao longo de toda a cadeia produtiva, em que, claramente, emerge a questão da tradição versus inovação. A pesquisa utilizou o método Grounded Theory, e os resul-
tados evidenciam uma concordância de as empresas permanecerem numa região tradicional, cuja legislação dificulta as inovações radicais, mas que, concomitantemente, assegura os valores da qualidade. Verifica-se uma transferência de valores tradicionais de um produto específico, o vinho do Porto, para os novos produtos lançados recentemente no mercado; e, simultaneamente, uma transferência do valor agregado do vinho do Porto para o valor do vínculo da família com o processo produtivo e com as terras da Região Demarcada do Douro.
PALAVRAS-CHAVE Cluster de vinho, inovação, redes, valores intrínsecos, Região Demarcada do Douro. Ligia Inhan ligia.inhan@gmail.com Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégia e Desenvolvimento, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ – Brasil João Ferreira jjmf@ubi.pt Professor do Departamento de Gestão e Economia e Centro de Investigação em Ciências Empresariais, Universidade da Beira Interior – Covilhã, Portugal. Carla Marques smarques@utad.pt Professora do Departamento de Economia Sociologia e Gestão, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – Vila Real, Portugal. João Rebelo jrebelo@utad.pt Professor do Departamento de Economia Sociologia e Gestão, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – Vila Real, Portugal.
Abstract This paper aims firstly to examine the innovation within the cluster of a traditional European wine region (Region of the Douro - Portugal), characterized by the so-called model of terroir in wine, an economic structure supported by a large number of growers, small and medium-sized wineries and high regulation throughout the productive chain, which clearly emerges the question of tradition versus innovation. This research used grounded theory method and the results show that traditional companies remain in a region whose legislation hinders the radical innovations, but at the same time, ensures quality values. There is a transfer of traditional values of a specific product, the port wine, for new products recently launched in the market, and simultaneously a transfer of value-added of the port wine to the value of family ties with the production process and with the land of the Douro Region. keywords Wine cluster, innovation, networks, intrinsic values, Douro region. Resumen Este artículo tiene como principal objetivo analizar la problemática de la innovación en el ámbito del clúster de una región vitivinícola europea tradicional (Región Demarcada del Duero – Portugal), caracterizada por el chamado modelo vitivinícola del terroir, una estructura económica soportada por un elevado número de viticultores, pequeñas y medias empresas vinícolas y elevada regulación a lo largo de toda la cadena productiva en que, claramente, emerge la cuestión de la tradición versus innovación. La investigación utilizó el método Grounded Theory y los resultados evidencian la concordancia de las empresas de permanecer en una región tradicional cuya legislación dificulta las innovaciones radicales pero que, concomitantemente, asegura los valores de la calidad. Se verifica una transferencia de valores tradicionales de un producto específico, el vino de Oporto, a los nuevos productos lanzados recientemente en el mercado y, simultáneamente, una transferencia del valor agregado del vino de Oporto al valor del vínculo de la familia con el proceso productivo y con las tierras de la Región Demarcada del Duero. Palabras clave Clúster de vino, innovación, redes, valores intrínsecos, Duero, Portugal.
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Ligia Inhan
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INTRODUÇÃO A Região Demarcada do Douro (RDD) é a mais antiga região demarcada de vinhos do mundo e destaca seus produtos pela qualidade, devido à tradição associada ao processo produtivo, iniciado no século XII, e ao controle rigoroso do órgão regulador, o Instituto do Vinho do Douro e do Porto (IVDP) (REBELO, CORREIA, CALDAS, 2007; REBELO e CALDAS, no prelo). Embora o mercado competitivo de vinhos pressione as empresas para o desenvolvimento de inovações de produtos, ao mesmo tempo, as empresas que estão dentro de um cluster são limitadas pelo próprio controle de qualidade proveniente da tradição dos métodos produtivos e das normas dos institutos reguladores, em todos os níveis: regional, nacional e internacional (FORT, PEYROUX, TEMRI, 2006). Clusters centrados em terroir, cujas características da região produtora têm relação direta com as especificidades do solo, clima, história ou know-how local (RIBEIRO e SANTOS, 2008), apresentam algumas especificidades quanto ao conhecimento gerado, tácito ou codificado. O primeiro está relacionado à tradição do processo produtivo, aliado às características intangíveis do terroir. O segundo tem relação com o aprimoramento do processo produtivo, que permite o desenvolvimento de novas técnicas, mais eficazes que o método artesanal. O crescimento da indústria do vinho nos países do Novo Mundo abriu um campo de pesquisa sobre inovação. Dessa forma, clusters como os da Califórnia, Austrália, Argentina, Canadá, Chile e Portugal têm sido sistematicamente classificados segundo a orientação das empresas para o mercado interno ou externo; tamanho da maioria das empresas; marketing e educação para a internacionalização (REBELO e CALDAS, no prelo). Levantam-se, ainda, algumas questões sobre a necessidade de inovar e as limitações impostas pela segurança de se fazer parte de um cluster: quais as vantagens percebidas pelos empresários de estar dentro de um cluster de vinhos, tal como a Região do Douro? Os empresários percebem alguma restrição à inovação de produtos, devido ao ambiente do cluster? Que tipo de negociação é feita para possibilitar a inovação pela criação de produtos diferentes? Este artigo equaciona as vantagens e as restrições percebidas pelos empresários quanto a potenciais inovações no cluster de vinhos. O método qualitativo Grounded Theory foi a metodologia adotada. Esse
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método busca examinar com detalhes alguns acontecimentos ou mitos sobre os quais pouco se sabe, a fim de construir novas teorias ou sintetizá-las (GLASER e STRAUSS, 1965; 1967). Para tanto, é necessário ter flexibilidade no que se refere à liberdade de investigar em profundidade o fenômeno. Foi feita uma revisão da literatura, no que se refere aos clusters de vinho e a sua relação com as inovações, e foram levantados dados acerca da RDD, com o objetivo de apresentar o campo da pesquisa. Os resultados estão relacionados à percepção da RDD, que, embora tenha alto grau de interferência regulatória, torna compensadora a permanência dos empresários nessa região, pela notoriedade que os produtos alcançam no mercado internacional, possibilitada pela própria regulamentação. O artigo apresenta-se estruturado desse modo: a primeira seção apresenta os conceitos de cluster e cluster de vinhos, referenciando a tradição versus inovação; a segunda seção apresenta a especificidade do cluster da RDD; a terceira seção relata o estudo de caso da RDD, a metodologia adotada e a análise dos resultados; e a quarta seção salienta alguns pontos importantes desses resultados.
FORMAÇÃO DE CLUSTER DE VINHO Considera-se cluster uma localização geográfica com performance econômica diferenciada e determinada por um ambiente institucional, onde ocorre grande parte das operações produtivas de uma organização. Esse fato atrai empresários, pesquisadores e governos com políticas e investimentos focados nos arranjos produtivos locais, tais como instituições financeiras, compostas de bancos tradicionais, comerciais, capital venture, private equity e rede de Angels, que reúnem uma série de clusters de empresas com forte sinergia entre si (PORTER, 2003; TIGRE, 2006; SÖLVELL, 2008). Além desses, as instituições de pesquisa e educacionais, públicas ou privadas, beneficiam as empresas pela partilha do conhecimento gerado. Tais instituições permitem um fluxo de conhecimento mais fácil e capacitam ações coletivas organizadas no seu interior, com significante impacto nos ativos disponíveis que estão sendo implantados (BIRIESCU, 2010; SEDOGLAVICH, 2010; SÖLVELL, 2008). Assim, clusters não podem ser entendidos simplesmente como redução de custo de produção, mas também como melhoria das relações de troca
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artigos PARADOXO DE INOVAÇÃO NO CLUSTER DO VINHO: O CASO DA REGIÃO DEMARCADA DO DOURO
e transparência dos mercados locais. O impacto do conhecimento de spillovers serve para acumular informação de uma única empresa e, ainda, para melhorar a base de dados das múltiplas indústrias locais. Ademais, a especialização das instituições, pela facilidade de treinamento em investimentos de infraestruturas, permite potencializar as complementaridades a serem realizadas (DELGADO, PORTER, STERN, 2010; MUHR e REBELO, 2011; PORTER, 2003). Relativamente à transferência de informação dentro do cluster, a literatura da geografia econômica e da economia evolucionária faz distinção entre conhecimento tácito e formas de conhecimento codificado. O primeiro é mais difícil de ser partilhado pela escrita ou pela forma simbólica, porque é fortemente contextualizado em tendências específicas e mais comumente transmitido por meio da interação face a face (WOLFE e GETLER 2006; TIGRE, 2006). Consequentemente, aquelas empresas que dependem de inovação pela transmissão desse tipo de conhecimento e aplicação tenderão a serem mais próximas espacialmente de seus consumidores, fornecedores e competidores. Por outro lado, aquelas firmas cujas formas de conhecimento codificado são relativamente mais importantes serão menos constrangidas espacialmente. Clusters de vinho do tipo terroir possuem laços fortes com ambos os tipos de conhecimento, embora o conhecimento sintético domine o cultivo das uvas na cadeia produtiva (WOLFE e GETLER, 2006). Do crescimento da indústria de vinho nos países do Novo Mundo, emergiu um novo grupo de pesquisa sistemática da inovação (TOUZARD, 2010). O pioneiro na análise sobre cluster foi Porter (1998), que analisou o cluster de vinho da Califórnia. A seguir, foram feitos estudos na indústria de vinhos da Austrália (ALYWARD, 2004; 2006), Argentina (MCDERMOTT, 2007), Canadá (WOLF, DAVIS, LUCAS, 2005) e Chile (GWYNNE, 2008). O cluster californiano não tem uma forte orientação para a exportação, centrando sua eficiência na relação entre produtores e vinicultores, juntamente com as instituições que fornecem insumos, serviços e conhecimentos – habilidades e tecnologia; também é relevante sua conexão com clusters da agricultura, alimentos e turismo. No caso do sul da Austrália, há forte existência de ambas as conexões entre a natureza inovativa do cluster e a sua orientação para exportação e entre firmas, organizações industriais e centros de pesquisa. Já na Argentina, o cluster de Mendoza é marcadamente um caso de inovação impelida pelas pequenas e médias empresas locais, auxiliadas por
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uma organização institucional adequada em torno da exportação. O cluster de vinho do Canadá apresenta alguns graus de inovação, mas tem fraca conexão com os centros de pesquisa do país, então a inovação não é usada para encorajar as exportações. O cluster chileno assume que o marketing, a educação e a internacionalização são fortes para alimentar as ligações entre os agentes e para desenvolver a orientação exportadora (REBELO e CALDAS, no prelo). Os clusters existentes em Portugal sofreram com a globalização, porque ela abriu caminho para a homogeneização dos produtos pelas grandes empresas, o que ocasionou o desaparecimento de uma parcela significativa de pequenas empresas regionais (COELHO e RASTOIN, 2006; REBELO, CORREIA, CALDAS, 2007). Associada a esse acontecimento, desde o início do século XXI, ocorreu uma forte tendência de fusões, aquisições e joint ventures de empresas produtoras regionais e multinacionais (COELHO e RASTOIN, 2006; LOPES, 2005). No entanto, as empresas de vinho, antes disso, eram estruturadas na base familiar. Embora houvesse autonomia de tomadas de decisão, as informações eram assimétricas e havia conflitos derivados da relação dos acionistas e dirigentes. A remoção dos aspectos do antigo regime para o novo permitiu limitar as disfunções potenciais de gerenciamento (COELHO e RASTOIN, 2006). Logo, correu-se o risco de se perder a conexão entre os valores tradicionais arraigados das empresas de pequeno porte. Mas, em Portugal, isso não implicou o total desaparecimento do kwon-how acumulado pela experiência, mas uma adaptação, possibilitando a manutenção de alguns valores tradicionais. Além da substituição da base familiar, essa nova dinâmica causou o aumento da aplicação da tecnologia nos processos produtivos e consequente redução dos métodos tradicionais (COELHO e RASTOIN, 2006). Assim, a inovação tornou-se um paradoxo para os produtores do Velho Mundo. Por um lado, ocorreu uma forte segmentação, pelas grandes especificidades e pela diversidade de marcas (MONTAIGNE e CADOT, 2006; BERNABÉU, OLMEDA, DÍAZ, 2005). Por outro lado, a própria inovação é transgressão à tradição (PESQUEUX, 2010), e o vinho é um produto ancorado nas formas tradicionais de produção, de modo que tal atributo tornou-se um dos seus sustentáculos de percepção de qualidade (COELHO e RASTOIN, 2006; RIBEIRO e SANTOS, 2008). Assim, o território do cluster de vinho assume um duplo efeito sobre seus participantes: possibilita
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Carla Marques
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o compartilhamento com as externalidades comuns a todos os clusters e incorpora o valor da tradição local. Logo, o território é mais do que um espaço de localização da produção. Além de agregar informação, aprendizado, fonte de inovação, de construção de fontes específicas à base de uma coordenação lógica de cooperação vertical e horizontal, ele também alia o terroir, que se classifica pela ênfase de uma localização geográfica distinta do restante dos outros locais, destacando os conceitos de genuinidade e unicidade. Portanto, o território é um fator de performance econômica, de competitividade com outras regiões e entre outros mercados externos, e também de especificidade (FORT, PEYROUX, TEMRI, 2006; REBELO e CALDAS, no prelo; RIBEIRO e SANTOS, 2008).
Inovação versus tradição A Organização Europeia de Comércio e Desenvolvimento (OECD) (1995) considera quatro tipos de inovação: inovação em produto (a qual envolve um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado); inovação em processos (a qual envolve um novo ou significante melhoramento na produção ou método de distribuição); inovação em marketing (a qual envolve um novo método de marketing, incluindo significativas mudanças em design de produto ou embalagem, reposicionamento de produto, preço e promoção); inovação organizacional (que introduz um novo método nas práticas de negócio interno ou externo à empresa). Percebe-se que esses tipos de inovação podem ser inéditos para a organização, para a indústria ou para o mundo. Sendo um dos principais vetores pelos quais se constrói a rede de negócios do cluster baseado no terroir (REBELO e CALDAS, no prelo), a inovação também pode ser a causa da falência de muitas empresas, devido às especificidades relacionadas à tradição. Nesse paradoxo de inovação e tradição em que se encontram as empresas de vinho, há que se considerar a importante contribuição das especificações de Gaynor (2002), que orienta os tipos de inovação viáveis e desejáveis e os que não o são. Novas tecnologias podem melhorar a performance do produto, mas também podem modificá-lo de tal maneira que o consumidor perca a sua conexão. Ademais, diante da grande quantidade de marcas diferentes e de tipos de vinhos, nem todos de qualidade, tornando imprescindível o reconhecimento das distinções. As vantagens da diferenciação tornam-se
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prementes e aparecem nas características intrínsecas e extrínsecas do produto (BERNABÉU, OLMEDA, DÍAZ, 2005). A complexidade da inovação aumenta devido à sua interferência nos valores inerentes agregados ao terroir, construídos ao longo dos séculos. Logo, existe, de fato, um risco ao realizá-la, se não se considerarem as características da construção dos valores intrínsicos e extrínsicos do vinho. Nesse sentido, a inovação é mais que um dilema. Conhecendo profundamente seus consumidores ex ante, as inovações das empresas do cluster de vinho não podem ultrapassar as fronteiras regulatórias, que, por fim, sustentam os valores intrínsecos. Assim, seria prudente que mantivessem os mesmos produtos com a qualidade advinda da tradição. Diferentemente das empresas de base tecnológica, os dilemas encontrados pelas grandes empresas decorrem da falta de sustentação no mercado competitivo depois que efetivaram uma inovação radical ou destrutiva, porque, de fato, desconheciam as consequências das suas inovações, tanto para o público consumidor quanto para os órgãos reguladores. Ao fazê-lo, criam um mercado desconhecido, cujo conhecimento dos valores do consumidor se efetiva ex post, mas somente sobrevivem se assim o fizerem (CHRISTENSEN, 1997). Logo, ao lado da indispensável inovação, a necessidade de resguardar e também promover a afirmação da identidade do lugar, da região e dos processos produtivos tradicionais, a fim de evitar perdas e danos à cultura local no contexto globalizado, gerou políticas de desenvolvimento e pesquisa desde o início dos anos 1990 (ROCA e OLIVEIRA-ROCA, 2007). A partir de 2007, a União Europeia (UE) criou regras para formalizar os clusters no âmbito internacional, cujo valor já havia sido identificado pela sua tradição (CONSELHO UE, 2007). Os produtores que se submetessem às regras para obter o certificado de origem deveriam adequar o seu controle de qualidade e inovações. Portanto, os tipos de inovação limitaram-se muito mais a incrementais do que radicais, e restringiram-se mais a inovações de gerenciamento e marketing do que ao lançamento de novos produtos (GARCIA-PARPET, 2008; FORT, PEYROUX, TEMRI, 2006). No entanto, apesar de a importância das indicações de origem do vinho ser acentuada pela característica do controle de qualidade decorrente das regulamentações de níveis internacional, nacional e regional, essas restrições não ocorrem com os países produtores do Novo Mundo. Enquanto, no Velho Mundo, existe uma complexa rede de regulação sobre a produção e oferta de vinho; no
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outro, não existem tais limitações, e a oferta fica restrita à saúde do consumidor, ou seja, determinada pela demanda (GARCIA-PARPET, 2008; GRANT, DOLLERY, HEARFIELD, 2009).
CLUSTER DA RDD A RDD inicia-se a 100 km da cidade do Porto e estende-se até a fronteira com a Espanha. Possui uma área de 250 mil hectares, com aproximadamente 85 mil vinhedos, ocupando de 17% a 18% da terra (BRITO, 2006; REBELO e CALDAS, no prelo; REBELO, CORREIA, CALDAS, 2007). Associado às características físicas da região, seu terroir está acrescido da carga histórica da mais antiga região demarcada do mundo e tombada, pela Unesco, como patrimônio histórico cultural, sendo capaz de promover uma imagem de excelência em seus produtos (QUATERNAIRE PORTUGAL, 2007; MUHR e REBELO, 2011). Todos os tipos de vinho existentes na RDD estão registrados no IVDP, organismo central de jurisdição (BRITO, 2006; IVV, 2009b; REBELO e CALDAS, no prelo), cuja tarefa consiste em controlar a qualidade e quantidade da produção e regulamentar o processo produtivo. Seguindo a complexa nomenclatura adotada na RDD, no IVDP, encontram-se registados 163 agentes (80 produtores engarrafadores, 44 comerciantes de vinho generoso, 34 comerciantes de vinho do Porto e quatro comerciantes de vinho generoso e vinho do Porto) na Denominação de Origem (DO) Porto e 632 na DO Douro (252 viticultores engarrafadores, 19 produtores, dois produtores e armazenistas, 60 produtores engarrafadores, 214 produtores armazenistas engarrafadores, nove armazenistas e 76 armazenistas engarrafadores). Alguns destes têm, simultaneamente, mais do que um estatuto e integram as duas DOs. Em termos de concentração do mercado, a fatia de mercado das maiores empresas comerciais de vinho do Porto (cerca de oito empresas) aumentou, respectivamente, de 49% e 73%, em 1991, para 67% e 84%, em 2006. Esses indicadores permitem inferir que o setor comercial do vinho do Porto é caracterizado por grupos estratégicos, com o poder de mercado das empresas dominantes mitigado pelas empresas da faixa concorrencial, sendo estas médias e micro empresas (QUATERNAIRE PORTUGAL, 2007). Em contraste com o vinho do Porto, a estrutura produtiva dos vinhos do Douro é fortemente ato-
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mizada, predominando as médias e microempresas. Nas últimas duas décadas, com a perda acentuada da fatia de mercado das cooperativas, os vitivinicultores, além de na reconversão das vinhas, investiram em unidades de vinificação, em atividades de marketing, na diferenciação do produto e na procura de nichos de mercado para vinhos premium. A implementação dessas iniciativas foi potencializada pelo conhecimento proporcionado pelas instituições de P&D e, ao mesmo tempo, pela entrada de uma nova geração de jovens enólogos e empresários capazes de criarem uma verdadeira simbiose entre viticultura, tecnologia, produção de vinho e marketing (QUARTERNAIRE PORTUGAL, 2007). As elevadas pontuações, expressas nos rankings, alcançadas em concursos e revistas internacionais da especialidade traduzem o reconhecimento público da elevada qualidade dos vinhos DO Douro (MUHR e REBELO, 2011). Diante da informação encontrada, as empresas selecionadas para análise empírica enquadram-se nesse grupo.
MÉTODO Embora haja restrições à inovação, sabe-se que empresas portuguesas de vinho têm buscado inovar pelo produto. Para se entender como isso ocorre, é necessário que haja uma flexibilidade e uma liberdade para explorar o fenômeno em profundidade, desenvolvendo-se, em primeiro lugar, uma teoria e, em segundo lugar, ajudando a pesquisa a permanecer em foco durante esse projeto. Logo, um levantamento sobre essas inovações e como foram feitas poderá mostrar o grau de inovação dessas empresas, suas possibilidades, suas redes de contato, seu suporte financeiro, bem como as verdadeiras restrições encontradas na RDD. Em função dessas especificidades da pesquisa, o método qualitativo se fez mais adequado. A pesquisa focou o processo de inovação que ocorre dentro das empresas do cluster de vinho da RDD, e sua análise foi de maneira única, a fim de explorar questões de acordo com os processos adotados e os fatores que possibilitaram tal êxito. Os empresários ou os CEOs responsáveis forneceram suas percepções, tomadas de decisão e ações que levaram à inovação. Fica claro que a pesquisa analisou múltiplos casos, visto que existe possível similaridade de resultados ou resultados constrastantes (YIN, 1989).
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Como se propõe questionar a dificuldade de inovar pelo produto em contraste com a permanência da empresa no cluster da RDD por um longo período, então a restrição do número de sujeitos coincidiu com o número de empresas que lançaram produtos inovadores no mercado. Ao se compararem as atitudes dos sujeitos, poderá ser descoberta a combinação entre eles e se ressaltará algum tipo de generalização. Esse tipo de comparação, denominada Grounded Theory, tem como primeiro procedimento a formulação de categorias que clareiam os dados do primeiro nível de abordagem, a fim de converter em uma análise descritiva (GLASER e STRAUSS, 1965; 1967). Em um segundo nível, tenta-se demonstrar a saturação dessas categorias de modo a enfatizar sua relevância teórica, identificando, assim, uma redução de dados e criando várias identificações entre as categorias; e, em um terceiro nível de análise, desenvolvem-se essas categorias dentro de um sistema analítico geral, aplicável além dos elementos da pesquisa (EISENHARDT e GRAEBNER, 2007; SEDOGLAVICH, 2010; RAGIN, 1987). Existem três passos nesse tipo de estratégia metodológica: 1) o investigador deverá sublinhar as similaridades entre os membros do grupo estudado com algum recurso em comum ou alguma característica de interesse; 2) as similaridades identificadas mostrarão a causalidade relevante para o fenômeno a ser estudado; 3) identificada a causalidade, o investigador formulará uma explicação geral (RAGIN, 1987). Assim, identificados os três passos descritos e com base no modelo metodológico de Sedoglavich (2010) de desenvolvimento de uma teoria prévia via revisão da literatura, coleta dos dados empíricos e análise e discussão dos resultados, foi desenvolvida esta pesquisa.
empresas, instituições de investigação e entidades governamentais. Gaynor (2002) apresenta, além dessas, mais cinco tipos de inovações. As inovações descontínuas, que provocam a destruição do conhecimento gerado pela antiga tecnologia, pelo fato de não mais ser necessária. A inovação arquitetural, quando reconfigura um sistema de componentes pelo seu design e, dessa maneira, constitui um novo produto, processo ou serviço. A inovação radical, cuja introdução de novos produtos ou serviços provoca significante mudança em uma indústria inteira e tende a criar novos valores. Finalmente, a inovação destrutiva, que traz uma nova proposição de valor e rebaixa o desempenho dos produtos atuais, no momento em que eles são introduzidos. Considerou-se que a inovação do produto deve ocorrer, prioritariamente, ao longo da cadeia produtiva do vinho (vitivinicultura), mais do que nos outros processos. Esse fato revela-se, por um lado, pela rigidez das normas que garantem os valores intrínsecos da tradição da RDD no setor produtivo e, por outro, pelo domínio dos fatores de produção das empresas vitivinicultoras, conforme a literatura. Assim, considerou-se prioritária a seleção das empresas vitivinicultoras que estão mais aptas a inovar o produto, além dos processos e marketing. A Figura 1 inclui informação quantitativa das empresas vinicultoras da RDD. A seleção das empresas foi feita com base no Anuário do IVDP (IVV, 2009b).
Figura 1 – Seleção das empresas vinicultoras (IVV, IP, 2009b)
Seleção das empresas
Seleção das empresas Foram levadas em consideração as definições de Gaynor (2002) para classificar as inovações das empresas. A importância dessa classificação tem o objetivo de determinar as questões envolvidas em cada categoria, que são inovação em serviço, processo, produto, componente e/ou material. Ao que parece, existem, de fato, vários tipos de inovação que ocorreram nas empresas pesquisadas, desde a incremental, que se refere somente a uma melhoria dos produtos, processos, serviços e/ou sistemas atuais, até a sistêmica, cujos processos envolvem interdisciplinaridade entre
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Total de agentes da RDD (1359) Domínio dos fatores de produção Empresas Vinicultoras (90) e Viniculturas-engarrafadoras (259) Inovação pelo produto, processos e marketing Fabricantes dos três produtos DOP Porto, DOP Douro e IGP Duriense (94) (IVV, IP, 2009b)
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Entrevistas A pesquisa dividiu-se em duas fases: na primeira, todas as empresas selecionadas foram convidadas a responder a um questionário com perguntas de múltipla escolha, a fim de averiguar quais foram as que inovaram pelo produto, processo e marketing. Nessa fase, foi utilizada a ferramenta de pesquisa, disponível e gratuita na internet, SurveyMonkeytm. Na segunda fase, foi utilizada a ferramenta de correio eletrônico, para enviar o arquivo anexado do questionário, no formato de texto no aplicativo Microsoft Word 2007tm, diretamente para os endereços eletrônicos dos respondentes selecionados das empresas que efetivamente produziam os três tipos de vinhos, no período da entrevista. No entanto, o Anuário estava desatualizado, e foram encontrados muitos erros de endereço de correio eletrônico, portanto optou-se por estender a todas as empresas produtoras de qualquer tipo de vinho, conforme a Figura 2 abaixo.
Análise dos resultados Apresentação das proposições primárias para a elaboração do questionário da primeira fase 1. Embora haja inovação de produto, os empresários percebem restrições para a sua efetivação, devido a sua concordância com as normas e controle de qualidade como fatores de permanência no cluster da RDD; 2. A percepção dos empresários sobre a permanência no cluster da RDD é uma vantagem que está associada à tradição da qualidade do produto. Para elaboração do questionário da primeira fase, foram aprofundadas as proposições elecandas para
este estudo. Assim, a primeira proposição secundária levantada foi: P1: a maior parte das inovações das empresas vinicultoras da RDD é restrita aos processos. e: P2: a rigidez da legislação vigente é causa fundamental para que as empresas não consigam inovar pelo produto.
A seguir, são apresentados os dados coletados.
Características das empresas percebidas na primeira fase Na coleta das respostas obtidas pelos 27 empresários, duas informações chamaram a atenção e deveriam ser aprofundadas na fase seguinte: a alta produção do vinho DOP Douro em relação ao vinho do Porto e as inovações de produto alegadas pelos produtores (Gráficos 1 e 2). A primeira questão decorreu da informação de que a RDD é uma região notadamente produtora do vinho do Porto. No entanto, os dados apresentados no Gráfico 1 demonstram uma possível concentração de produtores do vinho do Porto em poucas empresas com alta produtividade, ou alguma distorção referente à legislação dos vinhos que facilite mais a produção de um do que de outro. Dessa forma, considerou-se relevante que a seleção das empresas para a próxima etapa ficasse restrita às que produzissem os três tipos de vinho. A segunda questão foi decorrente dos dados apresentados no Gráfico 2. As empresas da RDD afirmaram a efetivação de algum tipo de inovação, principalmente, pelo produto. Ademais, foi encontrada uma
Figura 2 – Seleção das empresas na primeira fase 323
Total das empresas Vinicultoras e Vinicultoras-Engarrafadoras
27
Total de respondentes
4
de 8 empresas do primeiro grupo (94) produziam 3 tipos de vinho Uma delas não completou o questionário
262
3
de 16 empresas do segundo grupo produziam 3 tipos de vinho (229)
6
Empresas - total finalizado
3
Empresas efetivamente participaram da segunda fase
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Gráfico 1 – Tipos de vinhos fabricados Tipos de vinhos 30 26 25 20
17
15 10
10
7
5 0 DOP Porto
DOP Douro
IGP Duriense
Outro (especifique)
Outros: Vinhos regionais, de mesa sem IGP, DOP Tejo, DOP Colares, DOP Vinhos verdes, Dão, Bairrada, licor de uva, azeite
Gráfico 2 – Tipos de inovação apontadas pelos empresários Tipos de inovação 10
5
0
20
15
19 19 7 17 6 2 Lançamento de novo produto Introdução de novos processos e procedimentos no processo produtivo Introdução de novos processos e procedimentos no processo administrativo Nova rotulagem/embalagem/redesign de marca Inovação de marketing Inovação social
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provável relação direta da inovação de produto com as demais inovações. De fato, todas as empresas que marcaram inovação de produto também marcaram inovação de processos e redesign de marca, exceto duas, que não marcaram inovação nesse último item, mas marcaram inovação de marketing. As demais inovações poderiam estar ligadas à inovação de produto, mas não necessariamente. Quanto às inovações administrativas e sociais, estas tiveram pouca atenção dos empresários, talvez devido ao tipo de empresa pesquisada. De dois agentes que não inovaram, um alegou restrição quanto à legislação. Assim, as duas proposições secundárias apresentadas foram revistas para a próxima etapa da pesquisa, a fim de possibilitar o entendimento dos processos de escolha dos empresários e as restrições percebidas, para estabelecer as conexões necessárias com as proposições principais. Logo: P1a: as inovações de produto são inovações para as empresas e não inovações para o mercado; P2a: as demais inovações em processos e procedimentos no processo produtivo e rotulagem/ embalagem/redesign de marca são decorrentes da inovação de produto; P3a: existe uma relação direta entre a rigidez da legislação do vinho do Porto e a sua baixa produção, em contraste com o vinho DOP Douro.
Resultado da segunda fase Foram selecionadas, para a segunda fase da pesquisa, três empresas vinicultoras engarrafadoras que afirmaram que inovaram a partir de 2005 e que produziam três tipos principais de vinho permitidos na RDD. Elas foram estudadas utilizando-se o método qualitativo Grounded Theory. Além das entrevistas formais, também foi agregado o conteúdo dos sites das empresas na internet, a fim de coletar dados novos e corroborar as afirmações obtidas dos entrevistados. Foi utilizado o software Atlas Ti, que é uma aplicação informática de análise qualitativa de dados, textuais ou visuais (também conhecida por CAQDAS – Computer-Assisted Qualitative Data Analysis Software).
As empresas A empresa A é pequena, tem estrutura familiar e está estabelecida na RDD desde 1870; somente a partir de 1994, começou a produzir e engarrafar os próprios
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vinhos. Os ascendentes transformavam as uvas em vinho e vendiam a granel para uma grande empresa, por consignação. Atualmente, ainda vendem metade dessa produção para essa companhia; a outra metade atende a toda Europa e a um mercado residual: EUA, Canadá, Japão e Austrália (WINEDOURO, 2009). Foi a única empresa que alegou não ter inovado no produto. A empresa B é também pequena e foi fundada, de fato, em 1991. As atividades no trato com a videira têm origem nos avós dos proprietários, há mais de 100 anos. Na década de 1970, os pais herdaram os vinhedos, onde se localiza a fábrica atual, e, a partir de 1980, eles começaram efetivamente a aumentar o interesse pela vinicultura. Na década seguinte, construíram a adega e passaram também a engarrafar seus próprios vinhos (QUEVEDO, 2011). Ela introduziu, em seu processo produtivo, a fabricação do vinho do Porto Rosé. É uma empresa que atende aos mercados dos seguintes países: Portugal, Espanha, França, Malta, Suíça, Alemanha, Polônia, Holanda, Bélgica, Inglaterra, Dinamarca, Noruega, EUA, Hong Kong. A empresa C, também reconhecidamente pequena empresa, possui duas quintas e está há quatro gerações na mesma família. Uma das quintas tem uma área de 13 ha e enfatiza-se a produção artesanal, utilizando as principais uvas do vinho do Porto. Tem foco importante no agroturismo, investindo na aquisição de imóveis centenários de familiares e desenvolvendo pacotes turísticos que incluem provas de vinho e participação dos turistas no processo da “pisa” (processo que consiste em espremer as uvas com os próprios pés), feito em lagares de tradicionais (QUINTA DOS MARROCOS, s.d.). Sua inovação pelo produto consiste em melhorar a qualidade dos vinhos já existentes. Sua estratégia de negócios concentra-se nos seguintes países europeus: Holanda, Dinamarca, Bélgica, Suíça e França.
Estabelecimento da rede de negócios da RDD A inovação é uma das alavancas para que as empresas se associem de modo a buscar a melhor solução para um problema por meio de contatos com a rede de negócios, assim as características dos clusters surgem conforme o grau de inovação das empresas. Um cluster necessita de um grupo de empresas de variado porte (3-3), que atendam aos mercados local e global (7-3; 11-3), associado a órgãos governamentais (16-3), que auxiliem tanto na P&D quanto no seu financia-
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mento (3-2). Além disso, todo esse emaranhado de agentes econômico-institucionais possibilita o aparecimento de spillovers (5-2) dinâmico do conhecimento e de spin-offs (1-2). Como pode ser visto, todos esses elementos aparecem nas ações dos agentes econômicos da RDD. A Figura 3 permite visualizar a malha de ligações existente na RDD, em coerência com as citações dos empresários.
Tipos de inovação efetivadas Dois agentes afirmaram que efetivaram inovações e um afirmou que não inseriu nada novo no mercado. Mas, quando se comparam os produtos desses agentes, verifica-se uma similaridade entre eles. Parece que, em qualquer das realizações desses agentes estudados, houve investimento empreendedor, cujas circunstâncias afetaram diretamente a dinâmica da empresa, construindo um novo aprendizado, por meio de uma nova forma de fabricar produtos. Para os empresários, esses acontecimentos internos, mas modificadores, são percebidos como inovações; mas, para o mercado, houve pouca diferença, exceto pelo aumento da oferta de produtos similares. Logo, existem vários tipos de inovação que ocorreram nas empresas pesquisadas, desde a incremental,
que se refere somente a uma melhoria dos produtos, processos, serviços e/ou sistemas atuais, até a sistêmica, cujos processos envolvem interdisciplinaridade entre empresas, instituições de P&D e entidades governamentais. Pelo estudo das inovações efetivadas, foi possível identificar o nicho de mercado de cada empresa. A empresa A está focada na diferenciação do produto, a empresa B focou o marketing, com seu novo produto, e a empresa C está focada em um novo tipo de mercado, o enoturismo. A empresa A demonstrou que o foco no seu mercado acontece por meio de produtos biológicos. Com esse enfoque, buscou inovar de maneira sistêmica, conforme classificação de Gaynor (2002), tanto para atender às normas internacionais quanto para atender à preferência europeia por essa qualidade no vinho. Além de mecanizar parte da vindima, também qualificou funcionários e os próprios proprietários que lidam diretamente com sistemas de informática. O seu produto não é novo para o mercado, no entanto precisou efetuar uma grande mudança em todo o processo produtivo, desencadeando outras inovações importantes para a empresa. A ligação com a rede de negócios da RDD é forte, pois conhece os meandros da legislação do IVDP e
Figura 3 – Conexões da RDD e as citações dos empresários
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do vinho do Porto. Isso se justifica porque trabalhou durante 13 anos no setor. A atitude da sua transferência para o setor privado parece caracterizar um spin-off. No entanto, esse procedimento se deu de modo diferente do encontrado em Bünstorf, Fritsch e Medrano (2010) e Tigre (2006). Para esses autores, a migração de profissionais qualificados ocorre, mas criando-se novas empresas com atividades similares, e não entre setores diferentes. Dessa forma, parece ser uma característica específica do cluster da RDD produzir esse tipo de spin-off. Porém, esse cluster também produz spillover do conhecimento, na medida em que esse empresário cursa Economia na UTAD, buscando aumentar sua bagagem de conhecimentos e contribuir com a sua experiência. A circulação de conhecimento gerado por esse agente apresenta-se, conforme afirmam Delgado, Porter e Stern (2010), quando a empresa A se utiliza e se beneficia do conhecimento desse agente, a fim de aumentar a sua competitividade por qualidade. De igual modo, a empresa B tem seu atuante como um spillover do conhecimento, todas as vezes
que esse agente ministra palestras em instituições de ensino, bem como atualiza o blog da empresa com informações ricas em detalhes do consumo e produção do vinho. O seu objetivo é inovar pela criação de um novo nicho de mercado jovem, o qual poderá tornar-se consumidor de vinhos e também de um produto específico, o vinho do Porto Rosé. Mas, assim como a empresa A, esse empresário também não criou nada novo para o mercado. Percebe-se que existe uma queda no consumo de vinhos do Porto, principalmente porque a geração de consumidores tradicionais está em vias de envelhecimento, o que tem provocado queda das vendas a longo prazo (QUATERNAIRE PORTUGAL, 2007). Embora o seu objetivo esteja claro, a sua atitude inovadora por meio do blog parece ser isolada. Estudos recentes indicam o amadorismo presente na gestão do marketing, o que dificulta uma mudança de comportamento tão grande como quer essa empresa (QUATERNAIRE PORTUGAL, 2007; SEQUEIRA e DINIZ, 2010). No entanto, a empresa se expressa de maneira totalmente vinculada à rede de negócios da RDD,
Figura 4 – Valores intrínsecos da RDD e algumas amostras dos valores associados
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não somente informando em seu blog o que acontece na região e no país, no que se refere ao vinho, mas também buscando atuar no mercado interno, pelo enoturismo. Esse procedimento tem tido uma atenção especial pelo empresário, disponibilizando rotas turísticas e roteiros para se chegar à sua quinta. A empresa C focou quase exclusivamente o mercado externo, principalmente, pelo enoturismo. Com um mercado unicamente europeu, seus vinhos vendidos nesses países servem como chamariz para uma visita a suas instalações. O seu produto também não é novo para o mercado, houve somente um aumento de qualidade nos produtos existentes. Em seu site na internet, existe uma gama de informações referentes ao processo produtivo, à história e à tradição das suas quintas e imóveis históricos recém-adquiridos pelo proprietário. Os valores intrínsecos percebidos por essa empresa estão associados ao processo produtivo, feito ainda de modo artesanal, bem como à valorização dos solos e das castas. O vínculo da família com o processo produtivo e com as terras da RDD, que perduram por mais de 100 anos, é ressaltado na internet. As duas outras empresas, por terem mecanizado sua produção, visando à expansão do mercado, pro-
curam ressaltar não o processo produtivo tradicional, mas sim as castas e o solo, mas fazem vínculo entre a relação histórica da família com o processo produtivo e com o tempo de permanência nas terras da região pela empresa, como é o caso da empresa C. A atitude de transferência do vínculo da tradição para a família e sua relação histórica com a região e com o processo produtivo, tradicional ou moderno, agregado ao conhecimento científico, não encontra respaldo nos estudos de Marques (2010), Sequeira e Diniz (2010) e Quaternaire Portugal (2007). Ou a tradição e a qualidade se dão na forma do produto vinho do Porto ou se dão por meio do terroir. Nos estudos de Magalhães (2000), o reconhecimento do produto vinho do Porto torna-se mais evidente no exterior do que no próprio país. Outra associação é a percepção, dentro do país, do vínculo desse tipo de vinho com um público mais idoso, distante das danceterias e dos sons ruidosos, próprios da juventude. Além disso, a produção e a valorização dos demais tipos de vinho têm crescido em volume e em importância não só no mercado internacional mas também no mercado interno (QUATERNAIRE PORTUGAL, 2007; REBELO e CALDAS, no prelo) e, dessa forma,
Figura 5 – Vantagens explicitadas na RDD
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não faz sentido, para esses empresários, enfatizar o vínculo dos valores intrínsecos da RDD somente com o vinho do Porto. Isso parece explicar por que há maior volume desses vinhos em relação ao vinho do Porto, como evidenciado anteriormente, no Gráfico 2. A Figura 4 apresenta as relações dos valores intrínsecos da RDD e sua construção pelos empresários. A relação da inovação com a tradição surge justamente da conexão entre a modernização industrial e aplicação de conhececimento científico lado a lado com a produção artesanal (empresa C) (15-1) e nos valores tradicionais da família (18-1) e sua relação histórica com a região (empresas A e B) (18-2). Logo, os valores intrínsecos (35-0) que as três empresas têm em comum são: a) valores intangíveis: a família e sua relação histórica com a região e com o processo produtivo, agregado ao conhecimento científico; b) valores tangíveis: as castas e o solo (4-3). Para todas as empresas, a principal e única vantagem apontada é o reconhecimento mundial da notoriedade da região, conquistada pelo prestígio alcançado da tradição da qualidade (Figura 5). Existem, de fato, um diferencial competitivo (4-2), a criação de spillovers (5-2) e spin-offs (1-2) por meio dos órgãos
institucionais (16-3), financiamento disponível (3-2) e a forte presença do mercado internacional (11-3). Esse último é o mais importante objetivo, pelo qual se justificam todas as inovações ocorridas, mesmo que sejam restritas às empresas. Também para Sequeira e Diniz (2010), a expansão do mercado internacional está sendo percebida como uma oportunidade gerada pela tradição da região, dada pelo vinho do Porto e estendida aos demais produtos (QUATERNAIRE PORTUGAL, 2007). No que se refere às desvantagens, os empresários ressaltam aquilo que os incomoda no mercado interno (Figura 6). A legislação foi apontada por duas empresas como um empecilho (17:3). A legislação, mais especificamente a do vinho do Porto, continua com alto grau de rigidez, o que entrava as inovações radicais, necessárias ao setor (QUATERNAIRE PORTUGAL, 2007; REBELO e CALDAS, no prelo; REBELO, CORREIA, CALDAS, 2007). Também foram ressaltadas a falta de coesão empresarial no sentido horizontal e a falta de liderança das associações (17-5). O mercado interno também foi considerado uma desvantagem, não só por causa da concorrência dos demais vinhos de outras regiões mas também pela competitividade por preços (7-3).
Figura 6 – Desvantagens explicitadas na RDD
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No entanto, embora o ideal para o desenvolvimento econômico da região e do país seja a criação de inovações radicais e turbulentas, conforme Gaynor (2002) afirma, os produtores submetem-se às regras rígidas com o fim de manter o respaldo da qualidade protegida pela legislação, em todos os níveis institucionais (GARCIA-PARPET, 2008; FORT, PEYROUX, TEMRI, 2006). Passa a entender-se o motivo pelo qual as empresas não insistem na liberação das normas para desenvolver esse tipo de inovação. Dessa forma, a concorrência pelos preços parece ser o principal desestimulante de todas as empresas participantes do mercado interno, já que enfatizam a diferenciação do produto. Segundo Sequeira e Diniz (2010), existe, de fato, um preço pouco atrativo no mercado interno, e os custos de produção estão em ascendência na RDD.
CONCLUSÃO Este estudo veio demonstrar a percepção dos empresários sobre a inovação, sobre a tradição e como essas empresas estão associadas à história da região. Tais vinculações são determinantes para o reconhecimento da unicidade da RDD, com implicações para a competitividade do cluster. Embora a RDD componha-se pelas mesmas características dos demais clusters de vinho, possui algumas especificidades relativas à sua história, à sua legislação e à inerente comercialização com o mercado internacional. Existe um valor intrínseco da região, o qual os empresários identificam e ressaltam nos meios de comunicação disponíveis. A inovação, embora delimitada pela regulamentação em todos os níveis e pelo consumidor especializado, ocorre de maneira incremental e sistêmica. Em graus diferentes, as empresas são alteradas pelo conhecimento gerado pela inovação e, do mesmo modo, permitem manter o valor agregado da tradição. Sem se colocarem em causa as conclusões extraídas da investigação, estamos cientes de que o trabalho tem limitações. A principal delas foi a impossibilidade de as entrevistas serem realizadas in loco. Para sugestões de futuros estudos, existe a possibilidade de se pesquisar, tanto quantitativamente quanto qualitativamente, a ocorrência de spin-offs e spillovers dinâmicos. Um estudo mais aprofundado sobre o manejo dos valores intrínsecos feito pelos empresários também pode encontrar pistas sobre a força do valor agregado
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do vinho do Porto sobre os demais vinhos e quanto dessa força pode ser estendida sem descaracterizar a região, única produtora desse tipo de vinho.
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artigos Recebido em 06.12.2011. Aprovado em 05.10.2012 Avaliado pelo sistema double blind review Editor Científico: Rafael Goldszmidt
LEGITIMIDADE, GOVERNANÇA CORPORATIVA E DESEMPENHO: ANÁLISE DAS EMPRESAS DA BM&F BOVESPA LEGITIMACY, CORPORATE GOVERNANCE AND PERFORMANCE IN BM&F Bovespa LEGITIMIDAD, GOBIERNO CORPORATIVO Y DESEMPEÑO: ANÁLISIS DE LAS EMPRESAS DE LA BM&F BOVESPA
RESUMO
Neste artigo, avaliamos como a legitimidade condiciona o valor de mercado das empresas listadas na BM&F Bovespa. Especificamente, analisamos como a adesão ao Novo Mercado modera o efeito da legitimidade no valor da empresa. Para tanto, investigamos 348 organizações, entre os anos de 2002 e 2007, o que gerou um total de 1.357 observações. Verificamos que a adesão ao Novo Mercado, o prestígio dos conselheiros e a reputação da empresa afetam significativamente o valor de mercado. Quando seccionadas as organizações de acordo com o nível de governança, verificamos que
as origens cultural-cognitivas e normativas da legitimidade afetaram significativamente o valor de mercado nos grupos com menor grau de governança, enquanto que entre as empresas do Novo Mercado a influência não foi significativa. Diante desses resultados, podemos concluir que a legitimidade é um importante fator de explicação da variabilidade do desempenho de empresas de capital aberto, em que a presença em listagens diferenciadas de governança condicionou a influência das demais origens da legitimidade no valor de mercado.
PALAVRAS-CHAVE Desempenho, governança corporativa, legitimidade, valor de mercado, bolsa de valores.
Luciano Rossoni lrossoni@gmail.com Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração, Unigranrio – Rio de Janeiro – RJ, Brasil, e Pesquisador do Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas Sociais – Curitiba – PR, Brasil. Clovis L. Machado-da-Silva (in memoriam)
Abstract This paper assesses how legitimacy conditions the market value of companies listed on the BM&F Bovespa. We specifically analyze how joining the Novo Mercado moderates the effect of legitimacy on company value. For such, 348 organizations were investigated between 2002 and 2007, which generated a total of 1357 observations. Adherence to the Novo Mercado, the prestige of board members and company reputation significantly affect market value. When the organizations are divided in accordance with the level of governance, cultural-cognitive origins and legitimacy standards are seen to significantly affect market value in groups with a lower degree of governance, whereas among Novo Mercado companies, the influence was not as significant. In face of these results, legitimacy is shown to be an important factor in explaining variability in the performance of publicly traded companies and the presence in differentiated listings of governance conditioned the influence of other origins of legitimacy in market value. keywords Performance, corporate governance, legitimacy, market value, stock exchange. Resumen En este artículo, evaluamos cómo la legitimidad condiciona el valor de mercado de las empresas listadas en la BM&F Bovespa. Específicamente, analizamos cómo la adhesión al nuevo mercado modera el efecto de la legitimidad en el valor de la empresa. Para ello, investigamos 348 organizaciones, entre los años 2002 y 2007, lo que generó un total de 1.357 observaciones. Verificamos que la adhesión al nuevo mercado, el prestigio de los consejeros y la reputación de la empresa afectan significativamente el valor de mercado. Al seccionar las organizaciones de acuerdo con el nivel de gobierno, verificamos que los orígenes cultural-cognitivo y normativo de la legitimidad afectaron significativamente el valor de mercado en los grupos con menor grado de gobierno, mientras que entre las empresas del nuevo mercado esa influencia no fue significativa. Ante dichos resultados, podemos concluir que la legitimidad es un importante factor de explicación de la variabilidad del desempeño de empresas de capital abierto, en que la presencia en listados diferenciados de gobierno condicionó la influencia de los demás orígenes de la legitimidad en el valor de mercado. Palabras clave Desempeño, gobierno corporativo, legitimidad, valor de mercado, bolsa de valores.
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INTRODUÇÃO No campo de estudo da estratégia, explicações acerca do desempenho das organizações tendem a dar primazia ora aos aspectos ligados à posição de uma empresa no setor, uma visão microeconômica, ora às questões acerca de como as organizações combinam seus recursos, uma visão baseada em recursos. No entanto, tanto uma perspectiva quanto outra tendem a enfatizar os elementos relacionados à dimensão racional-utilitária, em detrimento dos aspectos sociais que envolvem a atividade empresarial. Ora, se as organizações fazem parte de um sistema social mais amplo, cujas atitudes são avaliadas com base em um conjunto de crenças, valores e pressupostos, é provável que o julgamento, a aceitação e a credibilidade dessas organizações perante seus diversos stakeholders condicionem a capacidade de elas adquirirem recursos. Sendo assim, partindo de uma perspectiva organizacional e sociológica da estratégia (KIRSCHBAUM e GUARIDO FILHO, 2011; RUEF, 2003), entendemos que o desempenho das organizações não seja somente resultado de uma combinação de recursos em contextos econômicos determinados, mas também condicionado pela capacidade de validarem suas atitudes perante suas audiências, tendo como base critérios legitimamente aceitos na sociedade. Em poucas palavras, enfatizamos, neste estudo, que aquelas organizações que incorporam elementos legítimados no ambiente tendem a ser vistas como legítimas (MEYER e ROWAN, 1977), o que, por sua vez, as leva a gozar de maiores chances de sobrevivência e de angariar recursos (PARSONS, 1956; PFEFFER e SALANCIK, 1978). Com base em tais apontamentos sobre a relação entre legitimidade e desempenho, escolhemos um campo de pesquisa com os elementos necessários para se fazer uma investigação que envolvesse o caráter multifacetado da legitimidade organizacional. Por isso, escolhemos pesquisar o mercado acionário brasileiro. Como alguns autores apontam (CARVALHO e PENNACCHI, 2012; LA PORTA e outros, 1998), mercados emergentes e de tradição legal francesa, como é o caso do Brasil, tendem a apresentar pouca proteção aos investidores, abrindo espaço para várias assimetrias. Diante dos riscos e incertezas emanados da baixa segurança do ambiente legal, pressupomos que os investidores pautam suas decisões em outros artefatos legitimados no mercado de capitais (ROSSONI e MACHADO-DA-SILVA, 2010), como listagens diferenciadas (CARVALHO e PENNACCHI, 2012), con-
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selho de administração (HIGGINS e GULATI, 2006) e reputação (ROBERTS e DOWLING, 2002). Em face do exposto, o objetivo deste artigo é avaliar como as diferentes origens da legitimidade organizacional (formal regulatória, cultural-cognitiva e normativa) condicionam o desempenho das empresas listadas na BM&F Bovespa, com base no seu valor de mercado. Para tanto, em primeiro lugar, consideramos como uma das origens da legitimidade a participação em listagens diferenciadas de governança no Brasil: o Novo Mercado da BM&F Bovespa. Enquadramos a participação nessas listagens como de natureza formal regulatória da legitimidade (SCOTT, 1995), pois ela está diretamente atrelada ao aval e ao controle normativo de uma organização externa sobre as demais, garantindo-lhes status diferenciado (CAPRON e GUILLÉN, 2009; FISS, 2008). Como consequência, esperamos que organizações que aderiram a tais listagens tenham melhor desempenho, já que estão associadas diretamente a melhores práticas de governança corporativa (AGUILERA e JACKSON, 2003). Em termos empíricos, outros estudos já avaliaram a relação entre níveis diferenciados e valor de mercado (CARVALHO e PENNACCHI, 2012; LAMEIRA, NESS JUNIOR, MACEDO-SOARES, 2007; PROCIANOY e VERDI, 2009; SILVEIRA, BARROS, FAMÁ, 2006; SILVEIRA e outros, 2010); no entanto alguns deles fundiram, em uma única variável, o Novo Mercado e o Nível 2, tal como nenhum deles incorporou dados mais recentes, em especial do ano de 2007, que apresentou o maior volume de ofertas públicas de ações no Novo Mercado. Ademais, também contribuímos com as áreas de estratégia e finanças, proporcionando uma explicação alternativa para a relação entre governança e desempenho, com base no institucionalismo organizacional (FISS, 2008) e na sociologia das finanças (CARRUTHERS e KIM, 2011; GRÜN, 2004). Em segundo lugar, consideramos como uma das origens da legitimidade cultural-cognitiva a posição do conselho de administração em relação às demais empresas, com base no board interlocking. Mesmo não sendo novidade que os conselhos de administração são peças fundamentais na gestão corporativa (COHEN e DEAN, 2005; DAVIS, 1996; HIGGINS e GULATI, 2006) e que sua estrutura e processo apresentam efeitos significativos no valor de mercado (BLACK, CARVALHO, GORGA, 2012; BLACK e KIM, 2012; WINTOKI, LINCK, NETTER, 2012), pouco deles se ativeram a analisar, no contexto brasileiro, os efeitos de seu entrelaçamento por meio de conselheiros ligados a múltiplas organiza-
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ções (SANTOS e SILVEIRA, 2007; SANTOS, SILVEIRA, BARROS, 2012). Raros, também, são os estudos que consideraram tal entrelaçamento com base em métodos e teorias relacionais, comumente associadas a análise de redes sociais (MENDES-DA-SILVA e outros, 2008; MENDES-DA-SILVA, 2011). Em face desses limites, além de propor uma justificativa teórica dos efeitos do board interlocking no valor de mercado pautando-se na legitimidade do conselho (DAVIS, 1996; HIGGINS e GULATI, 2006; MIZRUCHI, 1996), avaliamos e comparamos a influência dos indicadores de redes em termos de sua abertura (lacunas estruturais) e de seu fechamento (coeficiente de agrupamento) no valor de mercado, tanto no Mercado Tradicional quanto nos mercados diferenciados. Adicionalmente, também como elemento cultural-cognitivo, testamos o efeito, no valor de mercado, da maior presença das empresas de capital aberto em listagens diferenciadas (densidade) como proxy da institucionalização das práticas de governança. Com esta análise, buscamos aproximar a literatura de estratégia e finanças do arcabouço analítico da ecologia populacional (HANNAN e CARROL, 1992) e do institucionalismo organizacional (ROSSONI e MACHADO-DA-SILVA, 2010; RUEF e SCOTT, 1998) Em terceiro lugar, como origem da legitimidade normativa, que é derivada das normas e valores presentes no ambiente societário das organizações (ALDRICH e FIOL, 1994; RUEF e SCOTT, 1998), incorporamos, pioneiramente no Brasil, os efeitos da reputação das empresas de capital aberto no valor de mercado, indo ao encontro de estudos internacionais como os de Fombrun e Shanley (1990) e Roberts e Dowling (2002). Por fim, além de avaliar o efeito direto das origens da legitimidade no valor de mercado, também investigamos sistematicamente como esses efeitos variam entre os diferentes níveis de governança da BM&F Bovespa. Mais que isso, buscamos explicar, sob uma ótica institucional (FLIGSTEIN e CHOO, 2005; GORGA, 2004; ROSSONI e MACHADO-DA-SILVA, 2010), as razões pelas quais a presença das empresas no Novo Mercado – proxy da legitimidade formal regulatória – moderam a influência das demais origens da legitimidade no valor de mercado. Baseando-se na premissa de que os mercados de capitais, em especial nos países emergentes, apresentam características idiossincráticas (BLACK, CARVALHO, GORGA, 2012), argumentamos que fazer parte de listagens diferenciadas serve como mecanismo de salva-guardas aos investidores, principalmente em ambientes de pouca proteção legal (CARVALHO e PENNACCHI, 2012).
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Como consequência, as demais origens da legitimidade, que poderiam sustentar maior valorização das ações das empresas listadas na bolsa, perdem ou reduzem seu efeito quando presentes nessas listagens, em especial no valor de mercado. Pelo contrário, entre organizações presentes no Mercado Tradicional, com pouca proteção aos investidores, defendemos que seus efeitos são maiores. Para tanto, dividimos este estudo em mais quatro seções além desta breve introdução. Na primeira delas, delineamos o quadro teórico e as hipóteses. Na sequência, detalhamos os procedimentos metodológicos e as variáveis, cujos resultados são apresentados na seção seguinte. Por fim, discutimos os resultados, e concluímos o estudo apontando algumas implicações teóricas e práticas, assim como sugerimos estudos futuros.
Teoria e Hipóteses sobre Legimidade e Desempenho No escopo do institucionalismo organizacional, a legitimidade vem sendo referenciada como o conceito mais importante (DEEPHOUSE e SUCHMAN, 2008; SCOTT, 1995; SUCHMAN, 1995). Isso porque, como primeiramente apontaram Parsons (1956) e Pfeffer e Salancik (1978), desde que as organizações usam recursos do ambiente, a sociedade constantemente avalia se suas atitudes são apropriadas e se seus produtos ou resultados são socialmente úteis, perante critérios legitimamente definidos. Dessa forma, a legitimidade organizacional é consequência da interpretação das atitudes com base em sua comparação com valores socialmente legítimos. Em face de tais apontamentos, entendemos que “legitimidade é a percepção ou pressuposição generalizada de que as ações de uma entidade são desejáveis ou apropriadas dentro de algum sistema socialmente construído de normas, valores, crenças e definições” (SUCHMAN, 1995, p. 574). O problema elementar é que a legitimidade dessas entidades não é diretamente acessível. Por causa disso, convencionalmente, busca-se avaliar se uma organização é legítima ou não com base em seu vínculo com objetos e origens. Por objeto organizacional entendemos, por exemplo, aqueles atos, práticas, procedimentos, estrutura, que podem ser avaliados em termos de sua legitimidade (COHEN e DEAN, 2005; DEEDS, MANG, FRANDSEN, 2004; DEEPHOUSE e SUCHMAN, 2008; GALASKIEWICZ,
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1985; HIGGINS e GULLATI, 2006). Sendo assim, um objeto é considerado legítimo se ele faz referência a uma origem tida como legítima. Por sua vez, origens da legitimidade são as diferentes audiências internas e externas que observam as organizações, como o estado, a sociedade e a mídia, que atribuem algum tipo de avaliação em face de algum aspecto da vida social (MEYER e SCOTT, 1983; RUEF e SCOTT, 1998). Todavia, elas devem manter como referência sua congruência com “sistemas socialmente construído de normas, valores, crenças e definições” (SUCHMAN, 1995, p. 574, tradução nossa), e não com a simples opinião de um estrato social em particular. Como consequência para as organizações, o grau em que elas estão relacionadas com origens e objetos considerados legítimos no ambiente reduz a turbulência e mantém a estabilidade, o que pode promover maiores chance de sucesso e sobrevivência (MEYER e ROWAN, 1977). Isso ocorre porque, ao incorporar elementos legitimados em sua estrutura, as organizações aumentam o compromisso dos participantes internos (funcionários, unidades etc.), assim como de seus constituintes externos (stockholders, público, estado, parceiros etc.), protegendo a organização de ter sua conduta questionada (DEEPHOUSE e SUCHMAN, 2008). Assim, diante desses apontamentos, derivamos o seguinte pressuposto: organizações tidas como legítimas tendem a ter maior possibilidade de sobrevivência e maior capacidade de angariar recursos, o que resulta em melhor desempenho. O desempenho organizacional, por sua vez, é condicionado por aspectos ligados à natureza da organização em si (ALDRICH e RUEF, 2006), mas também pela própria diferenciação da legitimidade organizacional em três dimensões (SCOTT e outros, 2000): formal-regulatória, normativa e cultural-cognitiva, podendo cada uma delas afetar, de diferentes formas, o desempenho (RUEF e SCOTT, 1998).
Legitimidade formal regulatória De modo geral, a base da legitimidade formal regulatória está na conformidade com as regras: organizações legítimas são aquelas legalmente estabelecidas ou de acordo com as leis, regimentos, regulamentos, regras, padrões e expectativas criadas por governos, agências reguladoras, associações profissionais e organizações influentes (SCOTT, 1995; SCOTT e outros, 2000). No presente artigo, avaliamos o aspecto formal regulatório da legitimidade por meio da adoção de
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práticas de governança corporativa, que são “todo o conjunto de meios jurídicos, culturais e arranjos institucionais que determina o que as empresas de capital aberto podem fazer, quem pode controlá-las, como seu controle é exercido, e como os riscos e retornos das atividades das quais são responsáveis são alocadas” (BLAIR, 1995, p. 3, tradução nossa). Por conta das peculiaridades do mercado acionário nacional, tais práticas de governança foram institucionalizadas no País de modo singular, resultando em uma forma própria de governança: os mercados diferenciados, cujo nível maior de exigência é o Novo Mercado, possuindo outros dois com menor grau de exigência, os níveis 2 e 1. Inspirada na experiência alemã (o neuer markt), em 11 de dezembro de 2000, a Bolsa de Valores de São Paulo (hoje BM&F Bovespa) criou uma listagem separada de organizações, denominada Novo Mercado (RIBEIRO NETO e FAMÁ, 2002). Segundo Ribeiro Neto e Famá (2002, p. 35), o “Novo Mercado da Bovespa é uma seção destinada à negociação de companhias que se submetam [voluntariamente] a exigências mais avançadas em termos de direitos dos acionistas investidores e melhores práticas de governança corporativa”. Como aponta a Bovespa (2009), “essas regras [...] ampliam os direitos dos acionistas, melhoram a qualidade das informações usualmente prestadas pelas companhias, bem como a dispersão acionária e, ao determinar a resolução dos conflitos societários por meio de uma Câmara de Arbitragem, oferecem aos investidores a segurança de uma alternativa mais ágil e especializada”. A criação de mercados alternativos destaca-se como um importante mecanismo para garantir que o conteúdo normativo das práticas de governança corporativa seja incorporado pelas organizações de capital aberto (FISS, 2008; ROSSONI e MACHADO-DA-SILVA, 2010). Além de possuir o caráter coercitivo das obrigações formais, a adesão a mercados diferenciados pode ser vista como fator que suporta e habilita a atuação das organizações de capital de aberto, já que ela garante maior grau de confiança do mercado, simplesmente por submetê-las ao conteúdo de uma regra aceita como legítima (CAPRON e GUILLÉN, 2009). No caso específico do mercado de ações brasileiro, a adesão ao Novo Mercado aufere maior credibilidade dessas organizações perante investidores, já que existe a crença disseminada de que organizações que fazem parte desse mercado são mais bem gerenciadas, mais transparentes e mais confiáveis (RIBEIRO NETO e FAMÁ, 2002), o que tem impacto no valor de mer-
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cado de suas ações (SILVEIRA, 2006). Sendo assim, esperamos que as organizações que se adequam aos padrões formais de legitimidade, especificamente a adesão ao Novo Mercado, tenham maior desempenho em termos de valor de mercado, o que nos leva à seguinte hipótese: H1: Empresas que fazem parte do Novo Mercado da BM&F Bovespa apresentam maior valor de mercado.
Legitimidade cultural-cognitiva A legitimidade cultural-cognitiva deriva da conformidade a modelos e padrões socialmente aceitos no ambiente organizacional (RUEF e SCOTT, 1998; SCOTT, 1995). Tais padrões são tomados como certos, cujas características são vistas como parte da realidade, ausente de julgamento, absolutamente necessárias ou inevitáveis (ALDRICH e RUEF, 2006; HANNAN e CARROL, 1992; SCOTT, 1995). O modelo cognitivo prevalecente prescreve a visão de mundo e como as ações são feitas. Assim, as organizações são legítimas por seguirem tais padrões. A legitimidade cognitiva indica qual é o jogo, a realidade socialmente construída pela maior parte dos participantes (ALDRICH e FIOL, 1994). Há algumas formas de se avaliar a legitimidade cultural-cognitiva, ressaltando-se que, não necessariamente, elas captam sua lógica processual e interpretativa. Uma delas é a densidade de determinada forma organizacional (número de adotantes), que, na perspectiva da ecologia populacional, representa a natureza tida como certa (take-for-granted) da legitimidade (HANNAN e CARROL, 1992). Tal proposição, basicamente, deriva de Meyer e Rowan (1977), que apontam que a aquiescência a estruturas amplamente aceitas de alto valor cerimonial torna a posição de uma organização mais favorável. No caso do mercado acionário, supõe-se que, quanto maior o grau de adoção a práticas de governança corporativa (maior densidade), maior o grau de institucionalização de tal prática, já que esse processo aponta para a aceitação de um modelo socialmente desejado, portanto legítimo (MEYER e ROWAN, 1977). Outra forma de se ver a legitimidade cultural-cognitiva é por meio da própria legitimidade, prestígio ou reputação dos conselheiros de administração (COHEN e DEAN, 2005; HIGGINS e GULATI, 2006). Como apontam Certo e Hodge (2007) e Higgins e Gulati (2006), a qualidade, o prestígio e a certificação dos conselheiros são indícios de sua legitimidade, já
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que o mercado toma como certo que bons executivos melhoram os resultados da organização, o que é comprovado por esses estudos. Entre as formas de avaliar a legitimidade originada do conselho, seguimos Mizruchi (1996), avaliando-a por meio da estrutura de relações, conhecida como board interlocking. Esses estudos partem da premissa de que bons conselheiros tendem a participar de maior número de organizações, tal como de diferentes grupos de organizações, sendo a centralidade e a posição desses conselheiros na rede indício de seu prestígio como executivo. Assim, aqueles conselheiros mais bem posicionados na rede tendem a ter maior capacidade de receber informação, recursos e conhecimento, por meio do seu acesso privilegiado a diferentes grupos não conectados entre si, ou seja, maior proporção de lacunas estruturais (BURT, 1992). Com efeito, aqueles conselheiros com maiores lacunas estruturais (structural holes) tendem a ser valorizados pelo mercado e investidores, já que sua presença no conselho de determinada organização aponta para a legitimidade de sua gestão (COHEN e DEAN, 2005; DAVIS, 1996; HIGGINS e GULATI, 2006). Entendemos, portanto, que aquelas organizações que apresentam maior parcela de lacunas estruturais, por meio de seus conselheiros, tendem a ter maior valor de mercado, o que nos levou à seguinte hipótese: H2a: Quanto maior a proporção de lacunas estruturais (structural holes) do conselho administrativo, maior o valor de mercado da organização.
Adicionalmente, o prestígio de determinado conselheiro também pode ser evidenciado por meio de sua participação em grupos fechados, supostamente solidários, na expectativa de que a coesão entre eles leve a maior confiança, aumentando as chances de aquisição de vantagens (LIN, 2001). Com isso, se ele faz parte desses grupos fechados, é bem provável que tenha maior facilidade em acessar recursos de terceiros do que os membros fora desse agrupamento. Na premissa de que as organizações sejam seletivas em estabelecer relacionamentos, esperamos que aquelas imersas em grupos coesos, com base nos laços entre seus conselheiros (maior coeficiente de agrupamento), sejam mais bem avaliadas que as demais pelos investidores, levando-nos à seguinte hipótese: H2b: Quanto maior o coeficiente de agrupamento do conselho administrativo, maior o valor de mercado da organização.
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Legitimidade normativa A legitimidade normativa deriva das normas e valores da sociedade ou do ambiente social relevante para o negócio, apontando a organização como apropriada ou desejável perante tais normas ou valores (ALDRICH e FIOL, 1994; RUEF e SCOTT, 1998). As normas especificam como as coisas devem ser feitas, definindo quais meios são legítimos para se atingirem determinados fins; os valores concebem quais padrões são utilizados para comparar e acessar estruturas e práticas existentes (SCOTT, 1995). Sendo assim, uma organização é apropriada e desejada quando atende a tais normas e valores, obtendo uma avaliação normativa positiva da sociedade e de seus stakeholders (ALDRICH e RUEF, 2006; SUCHMAN, 1995). Como as organizações atendem variavelmente a essas normas e valores, podemos diferenciá-las em termos de sua reputação, que nada mais é que a expectativa generalizada sobre o comportamento da firma, baseada em percepções coletivas acerca de seu passado (DEEPHOUSE e SUCHMAN, 2008), refletindo o sucesso de algumas organizações em suprir as expectativas de múltiplos stakeholders. Com efeito, se a reputação envolve o julgamento da audiência acerca do que é tolerável ou não como conduta, os termos desse julgamento são dados por aquilo que é legitimamente aceito como bom ou ruim. Dessa forma, se empresas tem uma boa reputação é porque elas incorporaram elementos legitimados no ambiente (DEEPHOUSE e SUCHMAN, 2008). No caso do mercado acionário, como apontam Fombrun e Shanley (1990), a interpretação dos investidores acerca da informação dada por cada organização operante no mercado é condicionada pelos pressupostos que eles têm sobre cada firma. Por isso, no mercado de ações, alguns fatos repercutem tão mal para algumas empresas e, para outras, nem tanto. Assim, esperamos que empresas de boa reputação, por serem consideradas legítimas, tenham maior valor de mercado, logo: H3: Quanto maior a reputação da organização, maior o seu valor de mercado.
As hipóteses delineadas acima apontam para o fato de que cada uma das dimensões da legitimidade pode afetar, em maior ou menor grau, a dinâmica social. Isso é fato, por exemplo, quando analisamos o processo de modernização da sociedade: em quase todos os sistemas sociais, entre eles o mercado de capitais,
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é eminente a ênfase dada nos aspectos racionais de origem formal e regulatória do sistema, em detrimento de outras formas de vigência da legitimidade, como o tradicionalismo e o personalismo (KALBERG, 1980). Por causa disso, buscamos avaliar, neste estudo, o caráter moderador da legitimidade formal regulatória acerca da adesão das empresas no Novo Mercado nas outras origens da legitimidade. Primeiro, por causa da temporalidade do fenômeno: a adesão a mercados diferenciados de governança ocorreu posteriormente à existência de outras práticas no mercado acionário, que, por sua vez, são de origem cultural-cognitiva e normativa. Segundo, porque, diante do processo de modernização do mercado acionário brasileiro, fruto, em parte, da modernização econômica pela qual passou o Brasil nos últimos anos (RIBEIRO NETO e FAMÁ, 2002), existe uma tendência de os elementos de caráter racional utilitário e racional formal adquirirem caráter racional substantivo, ou seja, elas são sedimentadas como formas de vida, criando justificativas incorporadas como crenças, valores e normas, que suportam a ação racional pragmática dos agentes (vide KALBERG, 1980). No caso das práticas de governança, como esse sistema foi construído em mercados tidos como de referência para o mercado acionário brasileiro, seu conteúdo normativo era mais facilmente legitimado, já que a origem era vista como legítima (AGUILERA e JACKSON, 2003). Em um movimento inverso, as práticas tradicionais vigentes até momentos anteriores no mercado acionário brasileiro, e ainda vigentes, começaram a competir com esse novo padrão institucionalizado, cujo esse último tende a sobrepor o poder de explicação do primeiro. Portanto boa parte da influência existente pelas outras origens da legitimidade acaba sendo incorporada pela adoção dessas práticas diferenciadas de governança, perdendo parte de seu poder de explicação. Em termos mais específicos, propomos que o capital social do conselho, avaliado com base tanto nos laços fracos (lacunas estruturais) quanto nos laços fortes (coeficiente de agrupamento), não é tão relevante no Novo Mercado, pois a adoção das regras formais já assegura uma boa avaliação das empresas diante dos investidores. O mesmo vale para a densidade: a ubiquidade da adoção de práticas de governança pelas empresas de capital aberto tende a ter maior efeito entre aquelas que não as adotaram formalmente, ou seja, para aquelas fora do Novo Mercado. Como destacamos anteriormente, maior adoção significa que essas formas são tomadas como certas (RUEF e SCOTT, 1998), cujo efeito nos esquemas de
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avaliação dos investidores é dado pela crença na prática como algo socialmente válido, e não pela confiança na regra. Por fim, como a reputação envolve a diferenciação das organizações em relação às demais (DEEPHOUSE e SUCHMAN, 2008), caso as empresas façam parte de um mesmo status (presença no Novo Mercado), tal diferenciação tende a ter seu efeito no valor de mercado reduzido ou anulado. Perante tais afirmações, delineamos as seguintes hipóteses: H4a: A presença no Novo Mercado da BM&F Bovespa modera o efeito das lacunas estruturais (structural holes) no valor de mercado da empresa, de modo que, em sua presença, é menor o efeito das lacunas estruturais no valor de mercado. H4b: A presença no Novo Mercado da BM&F Bovespa modera o efeito do coeficiente de agrupamento no valor de mercado da empresa de maneira que, em sua presença, é menor o efeito do coeficiente de agrupamento no valor de mercado. H4c: A presença no Novo Mercado da BM&F Bovespa modera o efeito da densidade no valor de mercado da empresa de modo que, em sua presença, é menor o efeito da densidade no valor de mercado. H5: A presença no Novo Mercado da BM&F Bovespa modera o efeito da reputação no valor de mercado da empresa de maneira que, em sua presença, é menor o efeito da reputação no valor de mercado.
Em suma, afirmamos, neste artigo, que o desempenho (valor de mercado) das organizações de capital aberto listadas na BM&F Bovespa é positivamente influenciado pela legitimidade formal regulatória, cultural-cognitiva e normativa das organizações. No entanto, como há maior orientação dentro do mercado de capitais por práticas formais de governança, esperamos que a adoção de tais práticas, como elemento que aufere legitimidade formal regulatória às organizações, modere o efeito das outras origens da legitimidade no desempenho das empresas. Tais afirmações podem ser visualizadas no esquema da Figura 1.
DADOS, VARIÁVEIS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Definimos como população deste estudo as companhias listadas na BM&F Bovespa, restringindo nossa coleta a partir do ano de adesão das primeiras empresas ao Novo Mercado, que ocorreu em 2002. Considerando o total de empresas que divulgaram suas informações para o órgão regulador competente, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), obtivemos um total de 2.306 observações, que ocorreram entre os anos de 2002 e 2007 (intervalo de seis anos). Algumas dessas observações tiveram que ser remo-
Figura 1 – Esquema analítico da relação entre legitimidade e desempenho
Legitimidade formal regulatória
Legitimidade cultural-cognitiva
H4 H5
H2
H1
Desempenho
Legitimidade normativa
H3
Efeito direto Efeito moderado
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vidas, devido à ausência de informações na base de dados Economatica® ou por não apresentarem um nível mínimo de liquidez no mercado de ações. Assim, nossa amostra foi de 1.357 observações, geradas por 348 empresas. Coletamos os dados por meio do Sistema de Divulgação Externa (Divext) da CVM, da BM&F Bovespa e do aplicativo Economatica®. Entre as fontes documentais, listam-se a pesquisa anual sobre as Empresas Mais Admiradas no Brasil, realizada pela revista Carta Capital. Agregamos esses dados em planilhas, analisando-os por meio dos aplicativos UCINET e PAJEK, para a análise de redes, e STATA e GRETL, para a análise econométrica.
Variável dependente Desempenho organizacional, em que, para o mercado acionário, utilizamos o Q de Tobin, que nos aponta o valor da empresa, tomando como base a soma do valor de mercado das ações da empresa e de seus débitos em relação ao valor contábil de seu ativo (CHUNG e PRUITT, 1994). Seguindo uma série de estudos anteriores (p. ex: CARVALHAL-DA-SILVA e LEAL, 2005; MENDES-DA-SILVA e outros, 2009; SILVEIRA, 2006), utilizamos a adaptação de Chung e Pruitt (1994, p. 72), que define formalmente a medida como: Tobin’s Q = (VMO + VMP +DIVT) / AT, sendo VMO = valor de mercado das ações ordinárias; VMP = valor de mercado das ações preferenciais; DIVT = valor contábil das dívidas de curto e longo prazos da empresa, mais especificamente a soma do passivo circulante com o exigível a longo prazo, subtraído do ativo circulante menos os estoques; AT = valor contábil do ativo total da organização. Vale considerar que o desempenho organizacional é uma variável de segunda ordem, não podendo ser diretamente acessado (CARTON e HOFER, 2006). Por essas razões, para atender ao nosso objetivo, escolhemos, como medida de avaliação de desempenho no mercado acionário, o Q de Tobin, que nos indica o valor da empresa.
Variável moderadora Legitimidade formal regulatória, avaliada pela participação no Novo Mercado, no Nível 2 e no Nível 1 de governança. Consideramos como categoria de comparação o Mercado Tradicional em relação às três variáveis dummy que criamos. Cada uma delas compreende exclusivamente as empresas participantes do mercado indicado (Novo Mercado, Nível 2 ou Nível
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1), identificadas ano a ano, em que se assume valor igual a 1, se a empresa participa de um nível, e valor 0 para os outros casos (vide, p. ex, MENDES-DA-SILVA e outros, 2009; PROCIANOY e VERDI, 2009; SILVEIRA, 2006). Como avaliamos a presença nos mercados diferenciados anualmente, nossos indicadores acompanharam a migração das empresas entre níveis, no período compreendido entre 2002 e 2007. Além disso, ressaltamos que testamos a Hipótese 1 com base no Novo Mercado.
Variáveis independentes Legitimidade cultural-cognitiva, que foi operacionalizada por meio de dois tipos de indicadores. Um deles envolveu a estrutura de relações, conhecida como board interlocking. Utilizamos o método de análise de redes sociais para o compartilhamento de conselheiros e executivos entre organizações (vide, por exemplo, MENDES-DA-SILVA e outros, 2009; MENDES-DA-SILVA, 2011). Após a análise, duas medidas foram obtidas como indicadores da legitimidade originada do conselho: (1) lacunas estruturais e (2) coeficiente de agrupamento, obtidas por meio do software UCINET. O segundo tipo de indicador envolve a análise da institucionalização de formas organizacionais, (3) densidade da forma organizacional, que, em nosso caso, refere-se à adoção de níveis diferenciados de governança. (1) Lacunas estruturais (structural holes), que são os relacionamentos não redundantes entre dois contatos (BURT, 1992). Assim, quanto menor o número de laços redundantes, maior o número de lacunas estruturais, havendo menor redundância de informação. Especificamente, utilizamos a medida de eficiência dos laços (BURT, 1992, p. 53), que mensura o número de contatos não redundantes EffSize em relação ao total de contatos n de um ator i. Como trabalhamos com dados binários, utilizamos a forma simplificada de Borgatti (1997). Formalmente, considerando que um ator i apresenta n número de contatos, podemos avaliar o número de contatos redundantes por meio da equação Dalters = 2l/n , em que l é o número de laços entre n (alters). Já que Dalters indica o total de laços redundantes, consideramos como laços não redundantes EffSize como n – Dalters. Dessa forma, a proporção de laços não redundantes Efficiency é dado por EffSize/n. Utilizamos essa medida por não apresentar alta correlação com o número de contatos e por sua representatividade em relação ao engajamento nos laços fracos. Como há variação anual de
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conselheiros que fazem parte das organizações, calculamos essa medida para cada ano de participação da empresa na bolsa. (2) Coeficiente de agrupamento, que mede a densidade local da rede, em termos de seu aninhamento, indicando como os contatos de um ator estão recursivamente ligados entre si. Em outras palavras, quanto maior o número de cliques que eles formam (laços mútuos entre, no mínimo, três participantes), maior o agrupamento da rede. Formalmente, podemos definir o coeficiente de agrupamento CC como 3 x número de cliques/número de trios conectados. Ele pode variar de 0 a 1, em que redes totalmente agrupadas apresentam coeficiente 1, enquanto aquelas totalmente desagrupadas apresentam coeficiente 0. Calculamos essa medida para cada ano de participação da empresa na Bolsa. (3) Densidade populacional. Refere-se ao número de organizações que apresentam determinada forma organizacional (ALDRICH e RUEF, 2006; HANNAN e CARROL, 1992), sendo ele proxy do grau de institucionalização. Seguindo estudos anteriores (ALDRICH e RUEF, 2006; DEEDS, MANG, FRANDSEN, 2004; FOMBRUN e SHANLEY, 1990; HANNAN e CARROL, 1992), nós operacionalizamos a densidade organizacional, apontando, em cada ano, o número de organizações que participaram dos mercados diferenciados da BM&F Bovespa, somando o total de organizações de cada um dos três mercados, para gerar o escore de densidade. Legitimidade normativa, que operacionalizamos por meio da reputação organizacional, assim como fizeram Deeds, Mang e Frandsen (2004), Deephouse e Carter (2005) e Fombrun e Shanley (1990). Utilizamos o escore das Empresas Mais Admiradas no Brasil, segundo pesquisa anual desenvolvida no País pela revista Carta Capital. A pesquisa, inspirada na The Most Admired Companies da revista americana Fortune (vide DEEPHOUSE e CARTER, 2005 e FOMBRUN e SHANLEY, 1990), incorpora a percepção do empresariado em relação a critérios econômicos e financeiros de empresas que atuam no Brasil, assim como aspectos relacionados à imagem (marca, atitudes, qualidade, administração etc.), envolvendo 1.224 casos por ano. Operacionalizamos essa variável considerando a posição da empresa no ranking geral das Empresas Mais Admiradas em cada um dos seis anos avaliados (2002-2007). No entanto destacamos somente as 20 primeiras da listagem, já que, a partir desse ponto, a discriminação entre elas é menos precisa. Destacamos, também, as melhores empresas de cada setor. Após isso, verificamos quais delas faziam parte da BM&F
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Bovespa, vinculando os resultados da pesquisa aos outros indicadores. Para manter a natureza ordenada da reputação (vide DEEPHOUSE e SUCHMAN, 2008), atribuímos o maior valor para empresas que alcançaram o primeiro lugar do ranking em determinado ano, diminuindo o valor em uma unidade para cada posição inferior (valor da variável = 22 - posição no ranking). No caso das melhores do setor, quando não estavam entre as 20 primeiras da análise geral, atribuímos valor 1, e, para todas as demais empresas, valor 0.
Variáveis de controle Tamanho da empresa. Avaliamos o tamanho da empresa em relação ao valor contábil do ativo total, (vide MENDES-DA-SILVA e outros, 2008; MENDES-DA-SILVA e outros, 2009; SILVEIRA, 2006), que foi logaritmizado. Tanto essa variável como as demais variáveis de controle foram incorporadas devido a seu uso corrente nos estudos de governança quando se refere aos efeitos no valor de mercado. Idade. Definida pelo logaritmo natural dos anos de operação da empresa no mercado acionário brasileiro (vide MENDES-DA-SILVA e outros, 2009). Alavancagem financeira. Dívida financeira total da organização em relação ao ativo total (CARVALHALDA-SILVA e LEAL, 2005; SILVEIRA, BARROS, FAMÁ, 2006). Vista como medida que relata a estrutura de capital da organização (SILVEIRA, 2006), ela aponta a extensão em que a organização utiliza capital de terceiros para financiar suas operações. Setor. Seguindo estudos anteriores (PROCIANOY e VERDI, 2009; SILVEIRA, 2006), controlamos o efeito do setor, já que existe evidência de que ele é antecedente de diversas variáveis utilizadas (vide SILVEIRA, BARROS, FAMÁ, 2006). Para tanto, criamos (s - 1) variáveis dummy em que s é o número de setores identificados no Economatica®, considerando como categoria de referência o setor outros.
Procedimentos de análise Análise de dados em painel. De maneira intuitiva, os dados em painel são utilizados quando temos vários casos (N) com um número razoável de observações no tempo (T), configurando-se em NxT observações (GREENE, 2000). Três categorias de modelos econométricos de regressão podem ser empregados: o agrupamento de dados de corte com base nos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO agrupado), os efeitos
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fixos (EF) e os efeitos aleatórios (EA). Segundo Greene (2000), a escolha depende do ajuste do modelo aos pressupostos, que são avaliados por meio de três hipóteses: (a) a existência ou não de um único intercepto das unidades de corte transversal (avaliada por meio do teste de F de Chow); (b) se a variância do intercepto é igual a zero (teste Multiplicador de Lagrange modificado pela proposição de Breusch e Pagan); (c) se os estimadores são consistentes de acordo com a estimação dos Mínimos Quadrados Generalizados (teste de Hausman). Pela avaliação dessas hipóteses, escolhemos o melhor modelo para cada uma das relações entre variáveis. Também avaliamos se os modelos apresentavam problemas de heterocedasticidade, por meio do teste de White. No caso de a hipótese nula ser verdadeira, não há problema de heterocedasticidade. Repetimos tais procedimentos para cada uma das subamostras utilizadas. Análise da moderação. Para evitar problemas de colinearidade dos coeficientes gerados pela avaliação da moderação por meio da interação de variáveis, utilizamos o procedimento de Arnold (1982), que consiste em dividir a amostra em grupos, que, em nosso caso, foram três: um composto por empresas participantes do Novo Mercado; outro de empresas participantes do Nível 1 e do Nível 2 de governança; outro formado por empresas do Mercado Tradicional. Após isso, feitas as análises de dados em painel, os coeficientes das variáveis independentes para cada um dos grupos foram comparados entre si por meio do teste Qui-quadrado, cuja fórmula dispõe-se abaixo: chi2emp =
(beta2 – beta1)2 (se22 – se12)
(1)
Em que o valor do beta1 é o coeficiente da variável independente do grupo 1; o valor do beta2 é o coeficiente da variável independente do grupo 2; se1 é o erro padrão do coeficiente do grupo 1; se2 é o erro padrão do coeficiente do grupo 2. Com o valor do Qui-quadrado calculado para cada uma das comparações entre dois grupos, aceitamos o efeito moderador quando a probabilidade de erro do teste foi baixo. Para efeitos do teste das Hipóteses 4 e 5, comparamos os resultados do grupo de empresas do Novo Mercado com os do Mercado Tradicional. Adicionalmente, fizemos a comparação entre as empresas do Novo Mercado com as empresas dos níveis 1 e 2. Nenhum dos modelos apresentou problemas de multicolinearidade, o que pode ser verificado pelos
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fatores de inflação da variância (VIF) menores que 5. Robustez dos resultados, endogeneidade e causalidade. Após a especificação do modelo mais adequado para cada uma das análises, verificamos a robustez dos resultados de quatro formas. Assim como feito por Silveira e outros (2010), primeiramente, avaliamos a existência de problemas de colinearidade entre as variáveis independentes. Depois, observamos se os resultados mantinham-se consistentes quando regredimos os modelos sem as variáveis não significativas, tal como verificamos se eles apresentavam a mesma tendência sem os outliers. Quando possível, avaliamos a influência das variáveis independentes usando outros indicadores. No caso da reputação, usamos uma variável dummy para avaliar se as empresas citadas na pesquisa das mais admiradas apresentavam maior valor de mercado, sendo consistentes com os resultados que encontramos. No caso das lacunas estruturais, usamos outro indicador, a eficácia (vide BURT, 1992), e, para o coeficiente de agrupamento, a densidade local (vide BORGATTI, 1997), em que ambos foram consistentes. Por fim, para a variável densidade, fizemos a contagem considerando a presença de empresas somente no Novo Mercado e conjuntamente no Novo Mercado e no Nível 2, em que os resultados foram compatíveis. No que tange à endogeneidade, quase a totalidade da literatura sobre governança aborda algum problema envolvendo qualquer indicador relacionado a performance, índices de governança e estrutura de capital (WINTOKI, LINCK, NETTER, 2012). Isso porque esses elementos apresentam tanto características de autosseleção quanto de causalidade reversa (LI e PRABHALA, 2007), sendo normalmente tratados por modelos com variáveis instrumentais ou equações simultâneas (vide, p. ex, BLACK e KIM, 2012; SILVEIRA e outros, 2010). Mesmo na presença desses problemas, não há na literatura nem tratamento, nem relação plausível de endogeneidade que envolva listagens diferenciadas, como pode ser visto nos estudos de Carvalho e Pennacchi (2012) e de Procianoy e Verdi (2009). Sobre os indicadores relacionais utilizados para avaliar a posição do conselho na estrutura relacional, deve-se destacar que eles são bem distintos dos indicadores de estrutura do conselho, pois sua conformação é notoriamente exógena. Assim, não há evidências claras na literatura acerca de sua endogeneidade (MIZRUCHI, 1996). O mesmo vale para a reputação, que também apresenta natureza exógena, cuja avaliação vai além dos limites do mercado de capitais.
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RESULTADOS Os resultados podem ser vistos na Tabela 1, sendo que os resultados para a amostra completa estão no Modelo 1.Nele, optamos pelo modelo fixo de dados em painel com erro robusto, porque o Teste de White apontou problemas de heterocedasticidade (p < 0,001), o Teste F de Chow (p < 0,001) indicou que os coeficientes gerados por meio dos mínimos quadrados ordinários não são consistentes, e o Teste de Hausman apontou para melhor ajuste dos estimadores desenvolvidos no modelo fixo (p < 0,001). O Modelo 1 mostrou-se com excelente poder de explicação (R² = 86,7%), em que, entre as variáveis de controle, podemos verificar que a idade da empresa (ln do tempo em bolsa) afetou significativamente o valor da empresa. Em média, o incremento de um ano aumenta em 0,15 ponto (ln(1,156)) o valor de mercado da empresa. Isso significa que empresas com maior tempo de atuação no mercado tendem a ser mais valorizadas que as demais. A alavancagem financeira também tem efeito significativo no valor da empresa. Na média, para cada unidade no incremento da razão entre dívida/ativo, as empresas tendem a ter um aumento de 0,6% em seu valor. No caso desse indicador, pode soar estranho que empresas mais endividadas sejam mais valorizadas. No entanto, o grau de endividamento indica que uma organização consegue captar maior quantidade de recursos, sem que isso signifique, na percepção do mercado, risco de insolvência. Sendo assim, essa relação positiva entre os dois indicadores pode apontar para maior credibilidade dessas organizações, o que lhes aufere poder de barganha com as fontes de financiamento, assim como menor risco percebido, fato que pode ser avaliado em estudos futuros. Já entre os indicadores relacionados com a legitimidade formal regulatória, podemos verificar que aquelas organizações que fazem parte do Novo Mercado apresentam, em média, 69% a mais de valorização que as empresas que fazem parte do Mercado Tradicional, suportando a Hipótese 1. Todavia, os outros níveis de governança não se mostraram significativos, indicando que a influência desses mitos legitimadores ocorre somente no nível mais alto de exigência. No caso dos indicadores relacionados à legitimidade cultural-cognitiva, somente a proporção de laços não redundantes do conselho mostrou-se significativa, corroborando a Hipótese 2a e levando-nos a refutar a Hipótese 2b. Em média, para um aumento de 50% na proporção de laços não redundantes, há um aumento de 10,8%
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no valor de mercado da empresa. Considerando a reputação como indicador da legitimidade normativa, verificamos que o aumento em uma posição no ranking das empresas mais admiradas proporciona, em média, um aumento de 5,5% no valor de mercado (p = 0,002), corroborando a Hipótese 3. Nos Modelos 2, 3 e 4, fizemos as análises das mesmas variáveis, no entanto dividimos a amostra em grupos distintos a partir do nível de governança, fato que levou à ausência dessas variáveis nos modelos. Com base nos resultados dos testes de ajuste dos estimadores e dos erros, selecionamos aqueles mais adequados, em que todos exigiram erros padrão robustos, painéis fixos nos Modelos 2 e 4 e painel aleatório no Modelo 3. No Modelo 2, que envolve somente as empresas que fazem parte do Novo Mercado, nenhuma das variáveis mostrou-se significativa, indo ao encontro do esperado, já que acreditamos que o fato de essas empresas serem certificadas por um artefato fortemente legitimado reduz ou anula a influência das demais origens da legitimidade. Entre as empresas com níveis intermediários de governança (Modelo 3), verificamos que todas as variáveis mostraram-se significativas, com exceção das lacunas estruturais. Isso remete de maneira clara que, na ausência da legitimidade formal regulatória atribuída por meio da governança corporativa, as outras origens da legitimidade ganham valor explicativo. Por fim, no Modelo 4, podemos ver que todas variáveis que se referem às origens da legitimidade cultural-cognitiva e normativa afetam significativamente o valor de mercado das organizações, o que aponta para influência destacada dessas variáveis na ausência da adesão ao nível mais alto de governança. Tais diferenças de influência entre os diversos níveis de governança são destacadas nas comparações entre os Modelos 2, 3 e 4 (duas últimas colunas da Tabela 1). No caso das lacunas estruturais, a diferença entre os coeficientes do Modelo 2 e do Modelo 4 é de 0,202 ponto, indicando que sua influência é maior entre empresas do Mercado Tradicional do que entre empresas do Novo Mercado. Somando ao fato de ela ser significativa somente no Mercado Tradicional e não no Novo Mercado, corroboramos a Hipótese 4a. No caso do coeficiente de agrupamento, apesar de os coeficientes serem significativos nos Modelos 3 e 4, ao contrário do esperado, a influência dessa variável é negativa entre empresas que não fazem parte do Novo Mercado, levando-nos a refutar a Hipótese 4b. Sobre a densidade, verificamos que há relação significativa entre o aumento no número
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Tabela 1 – Influência da legitimidade no valor da empresa (Q de Tobin) Nível de governança:
Amostra completa
Novo Mercado
Níveis 1 e 2
Mercado Tradicional
Moderação N. Merc. x Níveis 1e2
Moderação N. Merc. x Tradicional
Modelo 1
Modelo 2
Modelo 3
Modelo 4
Modelos 2 x 3
Modelos 2 x 4
(0,129) 0,217*** (0,063) -0,046 (0,063) 0,055*** (0,018)
-0,006 (0,146 ) 0,252 (0,214 ) -0,001 (0,003 ) -0,260 (0,338 )
0,070 (0,082 ) -0,159** (0,080 ) 0,002*** (0,001 ) 0,042*** (0,0132 )
0,195*** (0,070 ) -0,144* (0,079 ) 0,005*** (0,001 ) 0,050*** (0,012 )
0,076 [0,208] -0,412* [3,235] 0,002 [0,757] 0,303 [0,799]
0,202 [1,548] -0,397* [3,017] 0,005* [3,155] 0,311 [0,844]
1,156*** (0,229) -0,236 (0,152) 0,006*** (0,002) 0,970 (1,763)
-0,292 (0,641 ) 0,817 (0,529 ) -0,055*** (0,015 ) -7,923 (6,831 )
-0,215* (0,119 ) -0,172** (0,0763 ) -0,011*** (0,003 ) 4,759*** (1,056 )
0,636** (0,270 ) -0,495*** (0,177 )*** 0,007 (0,002 ) 5,280** (2,311 )
0,077 [0,014] -0,990* [3,423] 0,043*** [7,535] 12,682* [3,366]
0,929 [1,784] -1,313** [5,523] 0,062*** [16,219] 13,203* [3,351]
886,48*** 10,099*** 327,83*** 147,02*** Fixo 1357 348 2372,476 18,233 p < 0,001 0,867 0,820
88,35*** 6,86*** 12,65*** 17,80** Fixo 148 88 305,392 10,720 p < 0,001 0,951 0,862
52,82*** 4,35*** 8,38*** 9,860 Aleatório 204 54 335,717 105,610 p < 0,001 0,520¹ -
340,75*** 9,82*** 392,52** 44,20*** Fixo 990 238 1541,112 23,092 p < 0,001 0,883 0,844
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Variáveis independentes Novo Mercado (Dummy)
0,690*** (0,210)
Nível 2 (Dummy)
0,158 (0,111)
Nível 1 (Dummy) Structural holes Coeficiente de agrupamento Densidade Reputação
0,170
Variáveis de controle Idade (ln) Tamanho (ln do ativo total) Alavancagem Constante
Ajuste dos modelos Teste de White Teste de F de Chow Teste de Breusch-Pagan Teste de Hausman Modelo Número de casos Empresas Critério de Akaike F Wald Sig. R² R² ajustado
¹ Overall Pseudo R². Erro padrão robusto entre parênteses. Dummies dos setores ocultadas. Resultado do teste Qui-quadrado de comparação dos betas entre colchetes. Obs.: Densidade omitida no Modelo 1 devido problema de colinearidade. *** p < 0,01 ** p < 0,05 * p < 0,1
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de empresas que adotaram práticas diferenciadas de governança e o valor de mercado das empresas com níveis baixos de tais práticas, corroborando a Hipótese 4c. Por fim, os resultados apontam que a reputação influencia de maneira significativa o valor de mercado das empresas com níveis mais baixos de governança, Mercado Tradicional e níveis 1 e 2, o que não ocorreu no Novo Mercado, levando-nos a corroborar a Hipótese 5. Em relação aos resultados da moderação, cabe ressaltar que o teste de Arnold (1982) foi significativo para o coeficiente de agrupamento e para a densidade, e não para as outras duas variáveis, apesar de o valor da probabilidade do teste ter apontado para uma chance inferior a 20% de erro. Todavia, como tal teste perde precisão quando os coeficientes não são
significativos, acreditamos que exista possibilidade de um erro Tipo II, o que nos levou a aceitar as hipóteses de moderação, com base na amplitude da diferença dos coeficientes, tal como pela significância nos grupos de baixa governança, em detrimento do Novo Mercado. De qualquer forma, para avaliar a robustez de tais resultados, adicionalmente fizemos o teste de moderação com base na interação entre as variáveis independentes e a variável moderadora, como propuseram Jaccard, Turrisi e Wan (1990), cujos resultados confirmaram a hipótese da moderação. Para sintetizar os resultados encontrados neste estudo, na Figura 2, apresentamos graficamente a influência de cada uma das variáveis independentes no valor de mercado. Cada uma das linhas representa a relação entre os indicadores para cada um dos
Figura 2 – Efeito das variáveis no valor de mercado, moderado pelo nível de governança
Novo Mercado
Níveis 1 e 2
Novo Mercado
Valor de Mercado (Q de Tobin)
Valor de Mercado (Q de Tobin)
Mercado Tradicional ***
Lacunas estruturais (Structural Holes)
Mercado Tradicional ***
Densidade populacional (Mercados diferenciados) Legenda: *** p < 0,01
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** p < 0,05
Valor de Mercado (Q de Tobin)
Valor de Mercado (Q de Tobin)
Novo Mercado
Níveis 1 e 2**
Coeficiente de agrupamento
Mercado Tradicional ***
Níveis 1 e 2***
Mercado Tradicional *
Níveis 1 e 2**
Novo Mercado
Reputação
* p < 0,1.
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níveis de governança. Nitidamente, a inclinação das retas demonstra que a influência das lacunas estruturais, da densidade e da reputação é maior entre as empresas do Mercado Tradicional e dos níveis 1 e 2 do que entre as empresas do Novo Mercado, em que um aumento no grau dessas variáveis leva a maior valor de mercado. Já no caso do coeficiente de agrupamento, enquanto tal indicador não é significativo entre as empresas do Novo Mercado, quanto maior a coesão do conselho em relação ao conselho de outras empresas, menor o valor de mercado.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Neste artigo, buscamos avaliar como as diferentes origens da legitimidade organizacional condicionam o desempenho das empresas listadas na BM&F Bovespa com base em seu valor de mercado. Também analisamos como a adesão ao Novo Mercado, como mecanismo formal regulatório, modera o efeito da legitimidade organizacional no valor da empresa. Antes de tecer qualquer comentário acerca dos resultados, devemos destacar que a legitimidade reside na estrutura social, e, por causa disso, os aspectos relacionados a sua investigação empírica sempre são complexos. Para tanto, por causa da dificuldade de se acessarem aspectos estruturais e simbólicos, os estudos empíricos que envolvem a legitimidade sempre tendem a relacioná-la com suas origens (DEEPHOUSE e SUCHMAN, 2008). Apesar de essas origens serem diversas, nós as enquadramos analiticamente em três dimensões: a formal regulatória; a cultural-cognitiva; e a normativa. Entretanto, pelas razões expressas no quadro teórico utilizado, entendemos que cada uma das origens tem um efeito diferenciado no desempenho das empresas de capital aberto. Os dados empíricos demonstraram que empresas que aderiram ao Novo Mercado da BM&F Bovespa apresentam maior valor de mercado, indicando que os investidores pagam um valor adicional aos ativos dessas organizações, se comparados, na média, com ativos das outras empresas. Assim, entendemos que a adesão ao Novo Mercado funciona como uma certificação de boa conduta corporativa das organizações, como uma fórmula legitimadora. Tal fórmula legitima a atuação dessas organizações, assim como de seus artefatos (entre elas as ações), porque seu elemento de origem (a adesão voluntária a um grupo que
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respeita um conjunto de regras socialmente aceitas: Novo Mercado) é legitimado. Com efeito, se o mercado compreende que a organização faz referência a algum elemento legítimo, ela é tida como legítima. Sob a ótica da teoria institucional, podemos entender que aquelas organizações que buscaram se adequar a regras formalmente estabelecidas tiveram melhor desempenho, já que atuam de acordo com mitos racionalizadores (MEYER e ROWAN, 1977). Acerca da legitimidade cultural-cognitiva, para a amostra como um todo, verificamos que somente o indicador de lacunas estruturais mostrou-se significativamente relacionado com o valor de mercado. Como apontamos na análise, por trás desse indicador de laços fracos do conselho, está o pressuposto de que o corpo de conselheiros e diretores tem importante função em prover a reputação da firma (PARSONS, 1956), que, por sua vez, também está relacionada com o fato de investidores decidirem se investem ou não em uma companhia atendo-se sempre à qualidade de seus gestores (MIZRUCHI, 1996). Como elemento normativo, a reputação mostrou-se significativamente relacionada com o valor de mercado, o que corrobora outros estudos que apontam a importância da aceitação generalizada da organização diante da sociedade (DEEPHOUSE e CARTER, 2005; FOMBRUN e SHANLEY, 1990), indo ao encontro do pressuposto de que o sentimento de aceitação da organização perante sua audiência facilita seu acesso a recursos (MEYER e SCOTT, 1983). Por fim, avaliamos se a legitimidade formal regulatória, operacionalizada pela presença no Novo Mercado, tem efeito moderador nas outras origens da legitimidade. Para tanto, separamos a amostra em três grupos: um de empresas presentes no Novo Mercado; outro com empresas dos níveis 1 e 2; e o Mercado Tradicional. Com base nos grupos formados, comparamos a influência dos indicadores da legitimidade cultural-cognitiva e da legitimidade normativa no valor de mercado. Como esperávamos, nos grupos em que o mecanismo formal relacionado a regras mais rígidas de governança corporativa estava ausente, houve influência destacada das outras origens da legitimidade no valor de mercado, enquanto no grupo de empresas do Novo Mercado não houve influência significativa. Como os resultados demostraram, quanto menor o grau de governança corporativa, maior a influência de aspectos normativos e cultural-cognitivos no desempenho dessas organizações. Olhando individualmente para os indicadores,
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verificamos que as lacunas estruturais dos conselhos exercem influência no valor de mercado somente entre as empresas que fazem parte do Mercado Tradicional. Tal resultado aponta que, na ausência de outros mecanismos formais de governança que garantam a gestão da empresa dentro de algumas normas aceitas no mercado, os investidores valorizam empresas que têm conselheiros com mais prestígio. No caso da influência da coesão por meio do coeficiente de agrupamento, o resultado foi bem diferente do esperado: enquanto a coesão do conselho não tem influência significativa entre empresas do Novo Mercado, ela afeta negativamente o valor da empresa nos dois outros mercados. Esse resultado pode ser evidência de uma resposta dos investidores acerca de tentativas de algumas organizações em serem demasiadamente oportunistas ao buscar acesso a recursos e prestígio por meio dos relacionamentos. Além disso, a proximidade exagerada pode também ser percebida como privilégio para alguns grupos, em termos de informação. No contexto brasileiro, tais achados podem ser interpretados com base em algumas características culturais, como o personalismo: no quadro atual, em que há tentativa de diminuir as influências personalistas sobre o mercado acionário, organizações que se estruturam em feudos (alto coeficiente de agrupamento) tendem a ser vistas com desconfiança, o que afeta o seu valor de mercado. Acerca da densidade organizacional, verificamos que o aumento no número de organizações com níveis mais altos de governança pode estar associado a um aumento na crença de que todas as organizações estão melhorando suas práticas de governança, o que contribuiu para o aumento do valor de mercado daquelas empresas presentes nos mercados com níveis menores de exigência. Por exemplo, como apontam Mendes-da-Silva e outros (2009) e Silveira, Barros e Famá (2006), muitas organizações vêm aprimorando seus mecanismos internos de governança, mesmo sem participar dos níveis formais do mercado da BM&F Bovespa. Por fim, verificamos que a reputação influenciou positivamente o valor de mercado das empresas que fazem parte dos níveis 1 e 2 e do Mercado Tradicional, não sendo tal influência significativa entre as empresas do Novo Mercado. Tal resultado demonstra que o consentimento a critérios socialmente legítimos está diretamente relacionado com maior valorização das organizações, principalmente entre aquelas que não apresentam garantias formais de suas práticas de
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governança, o que vai ao encontro da hipótese do efeito moderador da legitimidade formal regulatória.
Implicações teóricas e práticas A primeira delas envolve o fato de que elementos institucionais presentes no ambiente condicionam o desempenho organizacional. Organizações não respondem somente a pressões instrumentais, elas também se adequam a pressões institucionais, já que necessitam da aprovação social e de legitimidade para adquirir recursos. Mostramos, neste trabalho, que realmente tais fatores importam. Empresas cujos objetos são legitimados no ambiente são mais valorizadas. A segunda implicação teórica remete à natureza multifacetada da legitimidade. Apesar de Scott (1995) apontar que a distinção entre as diferentes dimensões da legitimidade é somente analítica, empiricamente elas se diferenciam (vide o próprio autor, em Scott e outros, 2000). Isso ocorre porque a legitimidade, como dimensão estrutural incorporada em agentes e objetos, absorve a legitimidade de sua origem. Sendo assim, se a legitimidade pode variar em cada origem, sua influência nas organizações também pode. Por fim, a última implicação teórica deste trabalho envolve a interação entre as diferentes dimensões da legitimidade: o fato de as organizações presentes no mercado acionário brasileiro terem sua atividade assegurada por um mecanismo formal de certificação levou as outras origens da legitimidade a terem papel nulo ou reduzido no valor de mercado, demonstrando que a influência de cada uma das origens nas organizações é condicionada pelas outras. Entre as implicações práticas, a fundamental delas remete à necessidade de os gestores corporativos das organizações repensarem a organização para além de sua função econômica, cujo objetivo, nas empresas de capital aberto, é a maximização do investimento do acionista. Executivos têm que atentar para o fato de que organizações legitimadas perante sua audiência tendem a ter maior facilidade de acessar recursos e, provavelmente, conseguem passar por crises com menor dificuldade, o que lhes possibilita maiores chances de valorização.
Recomendações de estudos futuros A primeira recomendação que faremos envolve a necessidade de se investigar o processo de institucionalização das práticas de governança corporativa no Brasil, já que ela surgiu em países com mercados
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estruturados de modo totalmente diferente. Seria interessante, também, investigar como as organizações interpretam tal fenômeno, assim como elas respondem à pressão por adequação de sua gestão corporativa. Não poderíamos deixar de mencionar a necessidade de se compreender melhor o efeito negativo da rede de conselheiros, pois verificamos que o comportamento oportunista das organizações em buscar acesso a recursos por meio da coesão de suas relações as pune com menor valor de mercado. Estudos futuros poderiam buscar avaliar a reputação por meio de escores multidimensionais, como fizeram Fombrun e Shanley (1990). Outras variáveis também poderiam ser inseridas, por exemplo, indicadores relacionados à mídia, à responsabilidade social e ambiental. Por fim, questões relacionadas à causalidade da relação entre board interlocking, reputação e desempenho poderiam ser discutidas, pois há sérias dúvidas na literatura a respeito de quais os mecanismos operantes na relação entre esses elementos.
NOTA DO AUTOR
Versão preliminar deste artigo foi congratulada com o 1° Lugar no Prêmio IBGC Itaú de Governança Corporativa de 2010, Categoria Academia.
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ARTÍCULOS Recibido en 01.04.2011. Aprobado en 23.10.2012 Evaluado por el sistema double blind review Editor Científico: Felipe Zambaldi
PERCEPCIÓN SOBRE EL DESARROLLO SOSTENIBLE DE LAS MYPE EN EL PERÚ PERCEPÇÃO A RESPEITO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DAS MPEs NO PERU PERCEPTION ABOUT SUSTAINABLE DEVELOPMENT OF SME IN PERU
RESUMEN
El presente artículo trata de las percepciones de futuros profesionales universitarios sobre las actividades de responsabilidad social de las micro y pequeñas empresas (MYPE) en el Perú. El artículo tiene como finalidad contribuir a un mejor entendimiento de cómo implementar programas de responsabilidad social en universidades. Para esto, se construyó una escala y se aplicó a 506 estudiantes universitarios de pregrado en cinco universidades. De los resultados del estudio se puede concluir de manera general que los estudiantes universitarios tienen una baja percepción sobre las actividades
de responsabilidad social que realizan las MYPE. Esto resalta la importancia de la incorporación de cursos sobre responsabilidad social en la malla curricular de las universidades, para que enriquezcan la enseñanza y nuevas investigaciones en esta materia. En consecuencia, se reconoce la necesidad de plantear un enfoque interdisciplinario para la enseñanza a nivel teórico y transdisciplinario a nivel de la práctica, que aseguren la generación y aplicación de nuevos conocimientos sobre la responsabilidad social con una orientación hacia el desarrollo sostenible.
PALABRAS CLAVE: Micro y pequeñas empresas, responsabilidad social, responsabilidad social universitaria, responsabilidad social empresarial, desarrollo sostenible.
Martín Nelson Hernani Merino martinhernani@usp.br Doctorando en Administración de Empresas por el Programa de Pós-graduação em Administração, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo – São Paulo, Brasil Antonieta Hamann Pastorino ahamann@esan.edu.pe Profesora de la Facultad de Economía y Ciencias Empresariales, Universidad ESAN – Lima, Perú
Resumo O presente artigo trata das percepções de futuros profissionais de nível universitário com relação às atividades de responsabilidade social das micro e pequenas empresas (MPE) no Peru. O objetivo do artigo é contribuir para um melhor entendimento de como implementar cursos de responsabilidade social em universidades. Para tanto, uma escala foi desenvolvida e aplicada a 506 estudantes de graduação em cinco universidades. A partir dos resultados do estudo pode-se concluir, de maneira geral, que os universitários têm uma percepção deficiente a respeito das atividades de responsabilidade social realizadas pelas MPE. Esse fato reforça a importância da inclusão de cursos sobre responsabilidade social na grade curricular das universidades para enriquecer o ensino e novas pesquisas nesse campo. Consequentemente, reconhece-se a necessidade de estabelecer um enfoque interdisciplinar para o ensino teórico e transdisciplinar para o ensino prático, de modo a assegurar a geração e aplicação de novos conhecimentos sobre a responsabilidade social voltada ao desenvolvimento sustentável. Palavras-chave: Micro e pequenas empresas, responsabilidade social, responsabilidade social universitária, responsabilidade social empresarial, desenvolvimento sustentável. Abstract This article assesses the perception of undergraduate students about social responsibility activities implemented by micro and small enterprises (MSEs) in Peru. This article seeks to contribute to a better understanding on how to implement programs about social responsibility in universities. To achieve this objective, a scale was built and applied to 506 college students at five universities. From the results of the study, in general terms, it can be concluded that college students have a low perception about activities of social responsibility applied by the MSES. This conclusion highlights the importance of introducing courses of social responsibility on the curricula of universities to enrich the education and new research on this topic. In consequence, it is recognized the need for an interdisciplinary approach at the theoretical level and an intradisciplinary approach at the practice level. This may ensure the creation and application of new knowledge about social responsibility towards sustainable development. Keywords: Micro and small enterprises, social responsibility, university social responsibility, corporate social responsibility, sustainable development.
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INTRODUCCIÓN El objetivo del Decenio de las Naciones Unidas de la Educación con miras al Desarrollo Sostenible (20052014) consiste en integrar los principios, valores y prácticas del desarrollo sostenible en todas las facetas de la educación y del aprendizaje (ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES UNIDAS PARA LA EDUCACIÓN, LA CIENCIA Y LA CULTURA [UNESCO], 2008). Es así que la UNESCO (2008) comenta que esta iniciativa educativa fomentará los cambios de comportamiento necesarios para preservar, en el futuro, la integridad del medio ambiente, la viabilidad de la economía y para que las generaciones actuales y venideras gocen de justicia social. Por esto, las universidades tienen que formar y orientar con una perspectiva a largo plazo; tomando conciencia del fenómeno de la globalización, de las necesidades de generar empleo, disminuir la pobreza y del componente social. El cambio es notorio, ya que esta perspectiva, décadas atrás, no fue considerada por las administraciones de ciertas universidades como fuente de información de temas relacionados con la responsabilidad social (BUZBY y FALK, 1979). De esta manera, se resalta el papel de la educación en el desarrollo sostenible, el cual ha sido objeto de discusión con un mayor interés desde hace dos décadas. De esta manera, para Dale y Newman (2005), una educación para el desarrollo sostenible involucra aspectos sociales y de sistemas ecológicos. Pero este es un campo limitado, porque su enfoque se ha dado solamente en complejas teorías de sistemas y métodos de investigación aplicada. Se debe buscar, complementan estos autores, profundizar en una comprensión de estos aspectos. De este modo, se entrenaría a los estudiantes en la aplicación de la teoría aprendida, por medio de ayudas metodológicas para desarrollar su entendimiento de cómo ellos deben implementar y usar el conocimiento de manera novedosa, y así desarrollar habilidades que la lleven a la práctica. En ese contexto, resalta Cleri (2007) que las personas dependen de las empresas más que cualquier otra organización para lograr su bienestar económico, de ahí la importancia de crear empresas sostenibles en el largo plazo. Existe, por lo tanto, una interdependencia entre empresa y sociedad. Caravedo (1996) reconoce este vínculo y comenta que cuando una sociedad está deteriorada, existen menos condiciones favorables para la estabilidad y eficacia de las empre-
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sas. El tener conciencia de esta mutua interacción lleva a pensar en la necesidad de identificar los procesos que las empresas desencadenan sobre la sociedad, ya que a partir de este reconocimiento, los empresarios podrían contribuir al bienestar de la sociedad en la que viven y trabajan. Reconocido el rol que desempeñan los empresarios en la economía de un país, según los autores Andriani y otros (2004), las micro y pequeñas empresas – MYPE – constituyen el grupo predominante de empresas que contribuyen significativamente a la creación de empleo, a la generación de ingresos y a satisfacer necesidades en ciertos mercados que son poco atractivos para las grandes empresas. Además, continúan los autores, en ellas se forman los futuros grandes empresarios y es el medio para el autodesarrollo de millones de personas. Tanto es así, que el desarrollo sostenible de cualquier país debe tener como uno de sus elementos estratégicos el desarrollo competitivo de estas empresas (ANDRIANI y otros, 2004). Esto implica, que los futuros profesionales, provenientes principalmente, de Ciencias Empresariales (carreras de contabilidad, administración, economía e ingeniería industrial) comprendan las teorías y estén dotados de herramientas prácticas con la finalidad de que sean los gestores de organizaciones sostenibles en la sociedad en la cual se desarrollen profesionalmente. Es en este contexto presentado, donde se reconoce la importancia de estudiar el desarrollo sostenible desde una perspectiva teórico–práctica, partiendo de la universidad hacia las MYPE. Así, el presente artículo busca identificar, medir y comparar las percepciones de los futuros profesionales de las Ciencias Empresariales con relación al desarrollo sostenible de las micro y pequeñas empresas – MYPE en Lima Metropolitana, en el Perú.
MARCO TEÓRICO El apartado presenta los cuatro conceptos abordados en la investigación. En primer lugar, el concepto de la responsabilidad social, enfocada como acción de la empresa hacia sus colaboradores, medio ambiente y la comunidad en general. En segundo lugar, el desarrollo sostenible en sus tres dimensiones. En tercer lugar, el entorno de las MYPE y, finalmente, la responsabilidad social universitaria.
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Responsabilidad social empresarial Las prácticas socialmente responsables no son una materia desconocida en las diversas historias nacionales latinoamericanas (CORRAL y otros, 2005). Los autores señalan que la participación de los agentes privados en iniciativas de asistencia social data desde el siglo XIX, fundamentalmente como obras de caridad. Posteriormente, mencionan que a comienzos del siglo XX tienen un enfoque filantrópico, sin estar relacionadas con la estrategia de la empresa. Para luego, durante el período que va desde los años treinta hasta mediados de los ochenta comienza a emerger el concepto de inversión social, caracterizado por una visión en la que las acciones de las empresas en materia social deben promover el desarrollo de las comunidades (CORRAL y otros, 2005). Esta tendencia da lugar a que en los años noventa, empieza a utilizarse el concepto de Responsabilidad Social Empresarial (RSE). Este término generó varias acepciones, mencionándose las más relevantes a continuación. Caravedo (1998) distingue tres formas que tienen las empresas para relacionarse con su entorno: 1) la responsabilidad empresarial: principalmente beneficios para sus trabajadores, sus familias y la comunidad en la que se asienta, con la finalidad de obtener rendimiento para la empresa en el mediano y largo plazo; 2) la filantropía: exclusivamente altruista y; 3) la inversión social: principalmente obtención de beneficios para la empresa por medio de apoyo a la comunidad. En concordancia con Caravedo, Garavito (2007) se refiere a la Responsabilidad Social Empresarial como una filosofía de acción empresarial que tiene como base la toma de responsabilidad por parte de la empresa de los efectos que su funcionamiento tiene sobre sus miembros y sobre la sociedad en general, que incluye a los accionistas, los trabajadores y proveedores. Reforzando lo puntualizado, Portocarrero y otros (2000), confirman que la Responsabilidad Social es la actitud de mirar más allá de las necesidades y los objetivos puramente monetarios de la empresa y tener una disposición proactiva hacia los agentes interesados: comunidad, trabajadores, gobierno y accionistas, es decir, el entorno interno y externo donde opera. Finalmente, sintetizando se podría proponer una apreciación integradora que incluya a las planteadas por los autores antes citados sobre la Responsabilidad Social Empresarial que, además de considerar el entorno interno y externo de la empresas, éstas deben incorporarla en su visión estratégica corporativa. Lo que
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confirma Caravedo (1996), al mencionar que la finalidad de la RSE es una toma de conciencia de lo que las empresas producen y de los impactos que estas generen en los ambientes interno y externo de la empresa. Es así, que la RSE debe estar integrada en la planificación estratégica de la empresa y asumida por su dirección.
Desarrollo sostenible El Desarrollo Sostenible aparece por primera vez en el panorama internacional en el documento elaborado por la organización conservacionista Unión Mundial para la Naturaleza. En dicha publicación se habla del Desarrollo Sostenible por medio de la denominada Estrategia Mundial para la Conservación: Para que el desarrollo sea sostenible, deben ser tomados en cuenta los factores sociales, los ecológicos así como también los económicos, sobre la base de los recursos vivos y no vivos, y las ventajas y desventajas de las acciones alternativas en el largo y corto plazo. (GALARZA y otros, 2002, p. 11)
Posteriormente, en el informe de la Comisión Mundial sobre el Medio Ambiente y el Desarrollo, llamado Nuestro Futuro Común, se define el Desarrollo Sostenible: «Como aquel que satisface las necesidades del presente sin comprometer la habilidad de las generaciones futuras de satisfacer sus propias necesidades». (GALARZA y otros, 2002, p. 11). En este sentido, se considera que los pilares del desarrollo sostenible son los factores sociales, ambientales y económicos, sobre los cuales se asientan las bases de la presente investigación. Siendo estas dimensiones unidades interdependientes que al relacionarse, se fortalecen mutuamente. Esta postura se ve reforzada por el enfoque de La Comisión Mundial sobre Medio Ambiente y Desarrollo, que reconoce que las dimensiones medioambientales, económicas y sociales están interrelacionadas y que estas se integren en la toma de decisiones sobre el desarrollo presente y futuro. (GEO – 4, 2007). Cada dimensión está comprendida por una serie de actividades, las cuales podrían ser mensurables por medio de ciertas medidas que se encuentran en la literatura y son sintetizadas de forma general por el presente trabajo (cuadro 1). Para esto, Simon (1989) propone que la sostenibilidad es el eje central que une el entorno físico a la actividad humana local y a las políticas económicas,
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lo cual sugiere, se podría dar por medio del desarrollo competitivo de las MYPE.
MYPE y Responsabilidad social empresarial Las micro y pequeñas empresas constituyen, en cualquier país, el grupo predominante de empresas y en algunos casos superan el 90%. Contribuyen significativamente a la creación de empleo, a la generación de ingresos y a satisfacer necesidades en ciertos mercados que son poco atractivos para las grandes empresas (ANDRIANI y otros, 2004; MORSING y PERRINI, 2009). Además, comentan los autores, en ellas se forman los futuros grandes empresarios y es el medio para el autodesarrollo de millones de personas. Es así, concluyen, que el desarrollo sostenible de cualquier país
debe tener como uno de sus elementos estratégicos el desarrollo competitivo de estas empresas. Para Jenkins (2009), el tamaño de las empresas no les exime de ser socialmente responsables y contribuir a la mejora del medioambiente. Corral y otros (2005) agregan que las empresas son responsables de sus acciones de gestión y del compromiso empresarial no sólo con sus dueños sino también con sus trabajadores, clientes, proveedores, Estado, medio ambiente y sociedad en general. Las asociaciones profesionales, entidades gubernamentales y universidades deben fomentar una práctica ética de las MYPE de desarrollar actividades de responsabilidad social y medioambiental en la medida de sus capacidades y contribuir al desarrollo sostenible. Asimismo, los autores antes citados mencionan que debe crearse un marco legal
Cuadro 1 – Dimensiones de la sostenibilidad y operacionalización Dimensión
Medida Ética corporativa bienestar de los empleados
Sostenibilidad social
Calidad de vida
Actividades que promuevan el fortalecimiento de la sociedad civil Creación de valor para el accionista Sostenibilidad económica
Actividades que promuevan el uso de tecnologías Desarrollo económico Protección de los recursos naturales
Sostenibilidad ambiental
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Minimización de los impactos ambientales negativos
Actividades Esta dimensión apunta a un bienestar social en todos los ámbitos, desde los trabajadores hasta las comunidades locales y la sociedad en general, pasando también por las empresas. En el ámbito social del Desarrollo Sostenible, las empresas deben trabajar en armonía con el desarrollo integral de sus entornos: internos o externos (FORO NACIONAL CIUDADES PARA LA VIDA, 2001). El mantenimiento del empleo implica la protección de los derechos fundamentales de los empleados y la promoción de éstos contribuirá a la mejora de la calidad de vida. Y esta mejoraría si las instituciones públicas o privadas invierten para conseguir un bienestar educacional y cultural que se mantenga en el tiempo (CONDE, 2003). Es necesario promover actividades que fortalezcan a la sociedad civil, haciéndole frente al desempleo y a la pobreza, mediante una descentralización del aparato productivo en búsqueda del desarrollo de las zonas rurales. La única manera de lograr una descentralización responsable, será mediante un uso sostenible de recursos naturales, el desarrollo de las pequeñas y medianas empresas, que incluyan un mejoramiento de la infraestructura vial, energética y la de telecomunicaciones, haciendo que la relación sea más estrecha con los mercados más desarrollados (GALARZA y otros, 2002). Esta dimensión busca contribuir con la creación de empresas responsables a todo nivel. Será necesaria la generación de valor para los accionistas de las empresas, porque generará nuevos empleos y competitividad entre las empresas. También será necesaria la elaboración de productos con valor agregado que generen nuevas tecnologías, que no contaminen y que ahorren materia prima y energía. (GALARZA y otros, 2002) Además, las empresas deben construir estructuras capaces de conseguir el desarrollo económico para las comunidades, regiones y países en los cuales operan (CONDE, 2003). La preservación de la biodiversidad y de los ecosistemas, son el principal objetivo de esta dimensión y tratará de conseguirlo con la disminución de la utilización de recursos no renovables y el uso adecuado y sostenible de los recursos renovables (CONDE, 2003). La minimización de los impactos medioambientales negativos, compromete a las personas y a las empresas que se hagan responsables por acciones que provoquen un impacto ambiental negativo y asuman el costo ecológico de éstas (ARTARAZ, 2002).
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y administrativo justo en lo social y favorable en lo empresarial, así como velar por su cumplimiento, condición necesaria para el desarrollo de la RSE.
Responsabilidad social universitaria Para Vallaeys (2006) la responsabilidad social es una exigencia ética y una estrategia organizacional que genera impactos en su entorno humano, social y natural; donde las organizaciones deben responder por sus acciones y consecuencias en el mundo y también responder a los grupos afectados por dichas consecuencias. En este sentido, el rol de las universidades es fundamental. Como comenta Muijen (2004), es en la universidad donde debe iniciarse la construcción de este concepto dentro del aprendizaje, siendo los valores una parte integrada de la educación superior. También, propone que debe desarrollarse la responsabilidad personal y profesional entre los profesionales universitarios y los científicos en nuestra sociedad. Asimismo, Cetindamar y Hopkins (2008), resaltan la importancia de enseñar a los estudiantes la responsabilidad social en la educación superior. Mencionan que la necesidad de cambiar los esquemas de educación ha sido especialmente aguda después de las prácticas de mala conducta, es decir, realizar actividades no éticas de negocios, como es el caso de la compañía Enron y WorldCom en la cual se dieron prácticas contables incorrectas, fallas en la auditoría, ocultamiento de pérdidas, entre otros. Lo que trajo como consecuencia un mayor cuestionamiento de las nociones básicas de la ciudadanía y la rentabilidad, además de aumentar la enseñanza de la ética en las escuelas y a la gente de negocios. Cetindamar y Hopkins (2008) también destacan el trabajo realizado por la European Foundation for Management Development y la United Nations Global Compact, organizaciones mundiales que han emprendido una iniciativa para desarrollar una nueva generación de líderes y responsables a nivel mundial; invitando a directores de escuelas de negocios y empresas de todas partes del mundo a trabajar juntos, para revisar sus planes de estudio y proponer cambios a escala mundial que serán exigibles y enseñables. En ese sentido, señalan los autores antes mencionados, que, las escuelas de negocios en Europa han comenzado cada vez más nuevos modelos y programas de RSE. Schawb (1978 citado en Dale y Newman, 2005) indica que el estudio de las estructuras institucionales es esencial para el desarrollo sostenible y
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que para explorar estas nuevas formas de pensar, las personas deben estar dispuestas a entender y desafiar las viejas costumbres. Dale y Newman (2005), mencionan que una educación del desarrollo sostenible incluye los aspectos ecológicos, sociales y económicos y que éste requiere de un enfoque interdisciplinario para la teoría y transdisciplinario para la práctica. En este sentido, Vallaeys (2006) indica que en la Universidad se dan 4 ejes de gestión socialmente responsable: 1) la organización misma: el clima laboral, la gestión de recursos humanos, los procesos democráticos internos y el cuidado del medio ambiente; 2) la formación académica y la pedagogía, tanto en sus temáticas, organización curricular como metodologías didácticas; 3) la producción y difusión del saber, la investigación, y los modelos epistemológicos promovidos desde el aula y; 4) la participación social en el Desarrollo Humano Sostenible de la comunidad. Este enfoque enfatiza que la formación académica es base para la práctica de la RSU y en la que tienen una activa y permanente participación los docentes, alumnos y todos los miembros de la comunidad universitaria. En consecuencia, Vallaeys (2006) señala que la RSU es una estrategia de gestión universitaria, con un enfoque holístico interdisciplinario y que el papel de la Universidad no es reemplazar al Estado o a las ONGs de desarrollo, sino de asumir su rol de formación superior integral con fines éticos y en pro del desarrollo sostenible de su comunidad. En este sentido, Barroso (2007) menciona que las instituciones educativas al tener como misión la formación de los alumnos que generen acciones de desarrollo en un país, se espera que sean ejemplos de responsabilidad social al procurar las mejores prácticas para todos los involucrados en el proceso educativo y formativo. Sin embargo, cuestiona si dichas instituciones lo están haciendo realmente o si al menos tienen la idea del concepto amplio de responsabilidad social, así como su posible aplicación en las instituciones educativas. También, Barroso (2007) indica que las instituciones educativas deben contribuir al mejoramiento social por medio de la correcta formación de sus estudiantes en cuanto a competencias, en lo referente a los valores éticos en su relación con los demás y al cuidado del medio ambiente. Y que además deben organizar acciones para el mejoramiento de la calidad de vida de los habitantes de la comunidad en la cual que están operando. Es así, que resalta que las instituciones educativas se comprometan
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con la solución de problemas sociales por medio de prácticas profesionales y proyectos que generen alto impacto en la sociedad, en las que alumnos y profesores estén involucrados y se desarrollen en lo académico, profesional y personal. Finalmente, señala que la RSU debe ser parte de la filosofía de acción de las instituciones educativas, que formen mejor a sus educandos, y fomentar una actitud de compromiso y de colaboración en la búsqueda del bien común, lo cual redundará en el desarrollo profesional y personal de los alumnos, formando líderes que puedan transformar a la sociedad.
MÉTODO Para alcanzar el objetivo general de este estudio que consiste en identificar, medir y comparar las percepciones por los futuros profesionales de Ciencias Empresariales con relación al desarrollo sostenible de las micro y pequeñas empresas – MYPE de Lima Metropolitana, en el Perú, el tipo más apropiado de diseño de investigación es el exploratorio-descriptivo. Al referirse al tipo exploratorio, Hernández, y otros (2006, p. 100), afirman que ese tipo de trabajos tienen como objetivo «examinar un tema o problema de investigación poco estudiado, del cual se tiene muchas dudas o no se ha abordado antes», los autores comentan también que ese tipo de estudios son usados para indagar temas o áreas desde nuevas perspectivas. Esto implica elaborar un instrumento no encontrado en la literatura que permita medir las percepciones de los futuros profesionales de las Ciencias Empresariales con relación al desarrollo sostenible de las MYPE. Con respecto al tipo descriptivo, Hernández y otros (2006, p. 103), afirman que este tipo de trabajos «busca especificar propiedades, características y rasgos importantes de cualquier fenómeno que se analice. Describe tendencias de un grupo o población», esto implica realizar las comparaciones de las percepciones mencionadas en el párrafo anterior. En razón de la escasez de investigaciones sobre el tema, tanto en Perú como en Brasil. Sin embargo, a la luz de los resultados de la investigación realizada por Silva y Chauvel (2009), en el contexto brasileño, en la que se buscó la visión de estudiantes graduados en administración sobre RSE y su enseñanza en cursos de graduación, arrojó como una de sus consideraciones relevantes el de promover la exposición a iniciativas
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reales de RSE mostrando como esta puede ser llevada de la teoría a la práctica. Por ello, es necesaria una mayor comprensión del tema tanto a nivel exploratorio como descriptivo como en el caso de esta investigación, desde la perspectiva de los estudiantes como futuros gestores éticos y socialmente responsables (MEDEIROS y otros, 2007). Siendo así, las descripciones del presente trabajo serán hechas de forma cualitativa y cuantitativa las cuales serán desarrolladas a continuación.
Instrumento de recopilación de datos Para construir el instrumento a ser utilizado, se siguieron los pasos sugeridos por Netemeyer y otros (2003). Primero, fueron listados y adaptados ítems elaborados por la Global Reporting Initiative (2008) y La ONG Perú 2021 (2008) de Perú; quienes trabajan temas sobre responsabilidad social y desarrollo sostenible en las organizaciones desde las dimensiones económica, social y ambiental. Adicionalmente, la construcción de los ítems fue realizada en base a una revisión de literatura, la cual se consolida en el Cuadro 1. Así, fueron elaborados un total de 92 ítems repartidos en las tres dimensiones antes mencionadas. Seguidamente, los 92 ítems fueron sometidos a la prueba de validez de contenido por criterio de jueces para conseguir medir la percepción del desarrollo sostenible. Esta prueba comenta Zaichkowsky (1994), consiste en solicitar la aprobación o desaprobación de la inclusión de un ítem en la prueba por parte de varios jueces. Así, diez jueces peruanos entre sociólogos, lingüistas, estadísticos y administradores evaluaron los ítems. Fue evaluado el grado de concordancia que indicaría la confiabilidad de los juicios y por ende la validez de los mismos, ya que se evalúa el consenso para la inclusión del ítem. De esta forma fueron retenidos los ítems cuya concordancia fue igual o mayor a 80% del total de jueces (Zaichkowsky, 1994), lo que resultó en la retención de 57 ítems. El instrumento con los 57 ítems validados e ítems demográficos – 1) trabajo en MYPE; 2) edad; 3) sexo; 4) carrera; 5) ciclo – fue aplicado a una muestra de 100 estudiantes de los dos últimos años de carreras de Ciencias Empresariales para validar estadísticamente la confiabilidad y validez (Hernández y otros, 2006). Para medir dichos ítems se utilizó una escala Likert de cinco puntos, la puntuación va de 1 – discrepa totalmente hasta 5 – concuerda totalmente. Así, por un lado, con relación a la validez, se esti-
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maron las correlaciones entre los ítems; se utilizó la correlación ítem-test o discriminación de ítems en donde una correlación mayor e igual a 0,30 fue considerada aceptable, por lo tanto, se decidió retirar el ítem que no cumpliese esta condición. Adicionalmente, se realizó el análisis factorial exploratorio: validez de constructo (Hernández y otros, 2006), para determinar el número de factores. Se aplicaron diversas estrategias para determinar el número de factores a retener, en donde los métodos Scree test de Cattell por medio del gráfico de segmentación y análisis paralelo de Horn arrojaron tres factores (COSTELLO y OSBORNE, 2005; HAIR y otros, 1999) según el número de dimensiones propuestas por el desarrollo sostenible. Seguidamente, se pidió factorial con tres factores mediante una rotación oblicua en donde cada ítem presentó una correlación alta con un factor. Por otro lado, con relación a la confiabilidad, se aplicó el coeficiente de Alfa de Cronbach. Esta prueba indica la consistencia interna del instrumento. Por último, se llegó a un total de 46 ítems distribuidos en tres dimensiones: ambiental, económico y social.
Así, la Tabla 1 muestra los ítems asociados a sus respectivas dimensiones del desarrollo sostenible. La varianza explicada acumulada para las tres dimensiones fue de 42.7%, lo cual Hair y otros (1999) considera como satisfactoria. Con relación a la confiabilidad, en la dimensión ambiental se obtuvo un Alfa de Crombach de 0.90, para la dimensión social fue de 0.92 y para la dimensión económica de 0.87. Esto indica que la escala elaborada en este estudio presenta una alta validez y confiabilidad. Finalmente, el instrumento fue sometido a prueba piloto. Según Malhotra (2004, p. 300) afirma que «se refiere a la aplicación del cuestionario en una pequeña muestra de encuestados para identificar y eliminar posibles problemas», de esta manera, se buscó analizar dificultades, por parte de los alumnos, en cuanto al lenguaje, a las instrucciones, al formato, a la comprensión de la escala, entre otras problemas potenciales. Así, el instrumento fue aplicado a 10 alumnos de carreras de Ciencias Empresariales, siendo el resultado de la prueba piloto satisfactorio, haciéndose apenas
Tabla 1 – Análisis factorial exploratorio de la escala de percepción del desarrollo sostenible Cargas factoriales
No
Ítems
F1
F2
F3
1
Las MYPE ahorran energía (electricidad, combustible) para la conservación del medio ambiente.
-0,08
-0,02
0,54
2
Las MYPE no desperdician el agua en sus procesos productivos.
-0,02
0,06
0,42
3
Las MYPE realizan acciones para reducir las emisiones de gases de efecto invernadero, el calentamiento global, etc.
0,05
0,00
0,61
4
Las MYPE tienen un manejo responsable de los residuos sólidos (basura).
0,07
-0,02
0,65
5
Las MYPE clasifican los residuos sólidos (basura) para reciclaje.
0,01
0,02
0,69
6
Las MYPE utilizan materiales reciclados en la elaboración de sus productos.
-0.17
0,07
0,66
7
Las MYPE fomentan el uso del reciclaje en la empresa.
-0,07
0,05
0,77
8
Las MYPE utilizan tecnologías limpias (gas natural, paneles solares)
0,06
-0,01
0,62
9
Las MYPE conocen el daño ambiental resultante de sus actividades productivas.
0,09
-0,06
0,52
10
Las MYPE se agrupan para discutir los temas ambientales conjuntamente con el gobierno y la comunidad.
0,07
0,01
0,68
11
Las MYPE controlan sus actividades que causan ruido excesivo.
0,12
-0,01
0,63
0,06
-0,03
0,75
0,13
-0,09
0,67
0,14
0,04
0,63
Las MYPE brindan capacitación sobre temas ambientales a sus empleados, con el objetivo de reforzar su conciencia ecológica. Las MYPE desarrollan campañas de educación ambiental para los familiares de su personal y la comunidad inmediata a la empresa. Las MYPE apoyan o participan en proyectos educativos en asociación con organizaciones protectoras del medio ambiente.
12 13 14
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(conclusión) 15
Las MYPE otorgan beneficios sociales completos a sus empleados.
0,67
0,08
-0,11
16
Las MYPE tienen convenios colectivos que favorecen a sus empleados.
0,73
-0,01
-0,05
17
Las MYPE comunican a sus empleados cuando realizan cambios de puestos de trabajo (rotación de empleados).
0,69
0,01
-0,12
18
Las MYPE tienen programas de salud y seguridad para sus empleados.
0,70
0,01
0,00
19
Las MYPE tienen programas de prevención de salud que se otorguen a los familiares de los empleados y a la comunidad.
0,68
-0,04
0,05
20
Las MYPE tienen programas de formación profesional para sus empleados.
0,58
-0,02
0,15
21
Las MYPE evalúan el desempeño de sus empleados.
0,63
0,09
-0,04
22
Las MYPE pagan un salario justo a los empleados de acuerdo a su nivel profesional.
0,65
0,07
-0,03
23
Las MYPE poseen códigos de ética.
0,68
-0,01
0,03
24
Las MYPE orientan y educan a su personal con relación a los principios éticos.
0,67
0,00
0,08
25
Las MYPE conocen el concepto de responsabilidad social empresarial.
0,67
-0,04
0,08
26
Las MYPE conocen y se preocupan por las necesidades de la comunidad en la cual se encuentran instaladas.
0,60
-0,02
0,17
Los empleados de las MYPE participan en actividades de voluntariado o acción social.
0,63
-0,08
0,07
0,56
0,02
0,21
0,48
0,01
0,21
27 28 29
Las MYPE respetan y promueven la propiedad intelectual (derechos de autor, software, patentes etc.) Las MYPE presentan propuestas de carácter social a las autoridades de gobierno con el objeto de su aprobación e implementación.
30
Las MYPE informan a sus clientes sobre el proceso de elaboración de sus productos y servicios.
0,55
0,09
0,07
31
Las MYPE cumplen las leyes y normas éticas relativas a la comunicación de marketing como publicidad, promoción y patrocinio.
0,70
0,09
0,00
32
Las MYPE crean valor económico para la sociedad.
-0,08
0,66
0,01
33
Las MYPE son consideradas como buenos clientes por sus proveedores.
0,15
0,54
0,05
34
Las MYPE tienen acceso al sistema financiero.
0,06
0,52
0,03
35
Las MYPE reciben suficiente ayuda del gobierno.
0,06
0,42
-0,04
36
Las MYPE generan empleo formal.
0,33
0,50
-0,04
37
Las MYPE producen un impacto positivo en la economía del país.
-0,11
0,78
-0,01
38
Las MYPE contribuyen con la formalización de la economía.
0,16
0,58
0,10
39
La legislación actual busca que las MYPE se formalicen.
-0,10
0,61
-0,04
40
Las MYPE cumplen puntualmente con los pagos de impuestos de ley.
0,13
0,50
0,12
41
Favorecer el desarrollo de las MYPE crea valor a la economía de un país.
-0,12
0,69
-0,08
42
Las MYPE son empresas con alta productividad en el Perú.
0,03
0,57
0,10
43
Las MYPE reciben ayuda de las organizaciones no gubernamentales.
-0,01
0,41
-0,03
44
Las MYPE llevan una contabilidad formal y transparente.
0,31
0,39
0,13
45
Las MYPE cumplen las leyes nacionales de su sector.
0,36
0,45
0,01
46
La legislación actual busca la creación y desarrollo de MYPE, fomenta la competitividad, el empleo sostenible, la productividad y la rentabilidad.
0,03
0,59
0,06
Nota: Alfa de Cronbach para las dimensiones: ambiental 0,90 (ítems 1 al 14), social 0,92 (ítems 15 al 31) y económica 0,87 (ítems 32 al 46). Fuente: recopilación de datos.
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pequeñas modificaciones y ajustes en las instrucciones y datos demográficos. De esta manera, fue considerado apto para su aplicación a los sujetos de la muestra. La muestra, según Malhotra (2004), es no probabilística, ya que los descubrimientos no son generalizables a la población. Además, la misma es por conveniencia, ya que se confía en el juicio del investigador para obtener elementos de la muestra. De esa forma, fue constituida por 365 estudiantes universitarios de pregrado en Ciencias Empresariales de cuatro universidades privadas de Lima Metropolitana y por 141 estudiantes universitarios de pregrado en Ciencias Empresariales de una universidad pública de Lima Metropolitana. Así, un total de 506 estudiantes universitarios de pregrado de los dos últimos años de carreras de Ciencias Empresariales, de cinco universidades, comprende la muestra. Estos estudiantes tuvieron las mismas características de aquellos que participaron en la fase de construcción del instrumento. Las universidades en las cuales se desarrolló la investigación fueron aquellas con más de 10 años de funcionamiento y que poseen facultades relacionadas a Ciencias Empresariales, además de ser instituciones sólidas y cuyos profesionales están trabajando en empresas representativas del Perú.
ANÁLISIS DE RESULTADOS El tratamiento estadístico de los datos fue hecho por medio del software SPSS 17 y EXCEL. Un análisis de valores omisos, detección de outliers univariados y multivariados indicó que la muestra total estaba apta para iniciar los análisis estadísticos. Adicionalmente, las variables que corresponden a cada dimensión son el promedio de los ítems correspondientes a su respectiva dimensión: ambiental, social y económico. Así, mediante las pruebas de
Kolmogorov-Smirnov y Shapiro-Wilk se verificó que no hubo significancia, lo que denota que las variables del presente estudio presentan una distribución normal. Además, fue realizado un diagnóstico de colinealidad, obteniéndose un índice de condición de 12.192, lo cual según Pestana y Gageiro (2008), no presenta problema de multicolinealidad.
Caracterización de la muestra La Tabla 2 muestra que hubo una muy ligera predominancia del sexo masculino (50,8%), siendo mayor en los alumnos de universidades de gestión privada (56,4%) que entre los universitarios de gestión pública (36,3%). En cambio, el sexo femenino presenta un porcentaje de (49,2%), siendo mayor en alumnas de universidad de gestión pública (63,7%) que las alumnas de universidades de gestión privada (43,6%).
Análisis comparativo La Tabla 3 muestra que hubo diferencias estadísticamente significativas a un nivel de significancia p<0,05 en las dimensiones ambiental y económica entre los tipos de universidades. Relativo a la dimensión social no se dio diferencias. Al referirse a las diferencias en la dimensión económica, se verifica que los estudiantes de gestión privada la evaluaron con un promedio de 3,35 mientras que los estudiantes de la universidad de gestión pública con un promedio de respuestas de 3,06. Es relevante indicar que esta diferencia es mediana de acuerdo a Cohen (1988). Al referirse a las diferencias en la dimensión ambiental se verifica que los estudiantes de gestión pública la evaluaron con un promedio de 2,46 mientras que los estudiantes de la universidad de gestión privada con un promedio de respuestas de 2,31. Es importante indicar que esta diferencia es pequeña de acuerdo al índice de Cohen de 0,26. Finalmente, no hubo diferencias estadísticamente significativas a
Tabla 2 – Distribución de frecuencia por sexo Universidad Sexo
Gestión privada
Gestión Pública
Total
F
%
F
%
F
%
Masculino
206
56,4
51
36,3
257
50,8
Femenino
159
43,6
90
63,7
249
49,2
Total
365
100,0
141
100,0
506
100,0
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un nivel de significancia p<0,05 en las tres dimensiones ambiental, social y económica, con relación a los estudiantes de las universidades objeto de estudio que trabajan o hayan trabajado en una MYPE. Para precisar mejor las fuentes de las diferencias observadas en las dimensiones ambiental y económica, se procedió a hacer comparaciones a nivel de ítems, aplicando un análisis de varianza ANOVA, dado que no hubo problemas severos de falta de normalidad, resultando diferencias significativas a un nivel de significancia de p<0,05 en 6 ítems dentro de la dimensión ambiental y 11 ítems dentro de la dimensión económica con relación al tipo de universidad. Cabe aún resaltar que los ítems serán nombrados a continuación de acuerdo a la numeración que presentan según la Tabla 1. En ese contexto de no normalidad, Kline (1998) sugiere algunos puntos de corte para evaluar los valores de asimetría y curtosis. Así, una asimetría «[…] menor que 3,0 y curtosis menor que 8,0 configuran como datos no normales, de modo no problemáticos (p. 28)», por lo tanto, ningún valor de los ítems de las
dimensiones ambiental y económica pasó estos límites. La Tabla 4 muestra que hubo diferencias estadísticamente significativas a un nivel de significancia p<0,05 en los ítems de la dimensión ambiental: 1, 2, 5 y 6. Cabe resaltar que el índice de Cohen señaló una diferencia pequeña entre las universidades de gestión privada y pública, siendo los índices para cada ítem de 0,44, 0,24, 0,26 y 0,36 respectivamente. Finalmente, los ítems 7 y 12, presentaron una pequeñísima diferencia, siendo los índices de Cohen de 0,03 y 0,02 respectivamente. La Tabla 5 muestra que hubo diferencias estadísticamente significativas a un nivel de significancia p<0,05 en los ítems de la dimensión económica para las universidades de gestión privada y pública en los ítems: 32, 33, 34, 35, 37, 38, 41, 45 y 46. Cabe mencionar que el índice de Cohen señaló una diferencia pequeña entre los dos tipos de universidades ya mencionados, siendo los índices para cada ítem de 0,38, 0,46, 0,38, 0,46, 0,34, 0,28, 0,30, 0,41 y 0,23 respectivamente. Adicionalmente, los ítems: 36 y 43. También presentaron diferencias estadísticamente significativas a
Tabla 3 – Comparación y magnitud de la diferencia de percepción de las dimensiones del desarrollo sostenible por el tipo de universidad Dimensiones
Universidades Privadas (N=365) Públicas (N=141) Desviación Desviación Media Media típica típica
Prueba t T
Sig. p < 0,05
d de Cohen
Ambiental
2,31
0,61
2,46
0,57
-2,542
0,011
0,26
Social
2,64
0,66
2,53
0,61
1,619
0,106
0,16
Económica
3,35
0,55
3,06
0,55
5,380
0,000
0,53
Tabla 4 – Magnitud de diferencia de percepción de la dimensión ambiental para las universidades de gestión privada y pública No. de Ítem ª 1 2 5 6 7 12
Universidad de gestión privada
Universidades de gestión pública
ANOVA
N
Media
D. t.
N
Media
D. t.
F
Significancia p < 0.05
365 365 365 365 365 365
2,45 2,50 2,27 2,62 2,49 2,12
0,888 0,857 0,913 0,911 9,51 9,12
141 141 141 141 141 141
2,85 2,71 2,52 2,94 2,82 2,32
0,911 0,922 0,975 0,872 9,66 9,21
4,904 5,732 4,749 12,400 12,107 5,014
0,027 0,017 0,030 0,000 0,001 0,026
d de Cohen 0,44 0,24 0,26 0,36 0,03 0,02
Nota: ª Se refiere a los ítems de la Tabla 1. Fuente: Recopilación de datos.
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un nivel de significancia p<0,05 con respecto a los dos tipos de universidades. Es relevante resaltar que el índice de Cohen señaló una diferencia mediana, siendo los índices de 0,59 y 0,51 respectivamente.
CONSIDERACIONES FINALES El objetivo de este estudio fue el de identificar, medir y comparar las percepciones de los futuros profesionales de las Ciencias Empresariales con relación al desarrollo sostenible de las micro y pequeñas empresas – MYPE en Lima Metropolitana, en Perú. De esa manera, fue creado un instrumento, en el contexto peruano, para medir dichas percepciones, basado en revisión de la literatura sobre sostenibilidad y en ítems utilizados por conocidas instituciones que se preocupan por el desarrollo sostenible en las organizaciones. De esa manera, la escala elaborada presentó un alto grado de validez y confiabilidad, lo cual viabilizaría su aplicación en la medición de percepciones en otras investigaciones orientadas al desarrollo sostenible y sentaría precedentes en la construcción de teorías en este campo. El instrumento posibilitó encontrar diferencias estadísticamente significativas entre los futuros profesionales de carreras de Ciencias Empresariales, al hacer comparaciones entre grupos. Mostrando que hay una
percepción general que las MYPE realizan responsabilidad social interna dado que los estudiantes de universidades de gestión privada y pública no muestran diferencias estadísticamente significativas en la dimensión social. Lo cual es corroborado por el estudio de Corral y otros (2005) que señalan que las actividades de responsabilidad social en las pequeñas y medianas empresas de Latinoamérica incluyendo a Perú, priman las actividades de desarrollo dentro de la empresa. (ej.: salud y bienestar de los trabajadores, entre otros). Referente a la dimensiones ambiental, los alumnos de universidades de gestión privada perciben una menor actividad de las MYPE en acciones medioambientales a un nivel de significancia de p<0.05, presentando un promedio de respuestas de 2,31 y en los estudiantes de gestión pública 2,46. Lo que concuerda con el estudio de Corral y otros (2005), quienes señalan que las pequeñas y medianas empresas de Latinoamérica no realizan mayormente actividades medioambientales responsables. Adicionalmente, Portocarrero y otros (2006, p. 44) afirman que «las empresas peruanas parecen estar a la zaga de las Latinoamericanas en el campo del monitoreo ambiental». Así, en los estudiantes de gestión privada se observa una menor percepción en los ítems: clasificación de residuos sólidos para reciclaje (2,27), y ahorro de energía (2,45). Respecto a la dimensión económica, los estudiantes de universidades de gestión pública perciben una menor acción de las MYPE en las actividades eco-
Tabla 5 – Magnitud de diferencia de percepción de la dimensión económica para las universidades de gestión privada y pública No. de Ítem ª 32
33 34 35 36 37 38 41 43 45 46
Universidad de gestión privada
Universidades de gestión pública
ANOVA
N
Media
D. t.
N
Media
D. t.
F
Sig. p < 0.05
d de Cohen
365 365 365 365 365 365 365 365 365 365 365
3,97 3,42 3,48 2,75 3,06 3,95 3,49 4,14 3,20 2,89 3,39
0,861 0,789 1,015 0,998 1,082 0,882 1,078 0,830 0,953 0,839 0,984
141 141 141 141 141 141 141 141 141 141 141
3,61 3,04 3,09 2,32 2,45 3,64 3,20 3,85 2,72 2,55 3,15
1,040 0,857 1,048 0,881 0,974 0,951 1,023 1,082 0,942 0,824 1,140
16,005 22,893 14,331 20,270 33,429 12,211 7,808 10,502 25,612 17,022 5,528
0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,005 0,001 0,000 0,000 0,019
0,38 0,46 0,38 0,46 0,59 0,34 0,28 0,30 0,51 0,41
0,23
Nota: ª Se refiere a los ítems de la Tabla 1. Fuente: Recopilación de datos.
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nómicas. Dentro de las diferencias halladas en esta dimensión señalan un bajo nivel de generación de empleo formal en las MYPE (2,45) en comparación con el promedio de respuestas de estudiantes de universidades de gestión privada (3,06). Complementando, se observa una mayor percepción hacia el acceso al sistema financiero por los estudiantes de gestión privada, con un promedio de respuestas de 3,48. Con relación a las diferencias de percepción sobre el desarrollo sostenible de las MYPE considerando si el estudiante ha trabajado o no en ellas, no se encontraron diferencias estadísticamente significativas a un nivel de confianza de p<0.05. Del estudio, se puede concluir de manera general que los estudiantes universitarios independientemente del tipo de gestión de universidad a la que pertenezcan tienen una baja percepción en las actividades de responsabilidad social que realizan las MYPE (Tabla 4), lo que indica que van acorde con las tendencias señaladas por los académicos de las pocas acciones que realizan las MYPE con relación a la responsabilidad social. En este contexto se sugiere que las universidades incorporen en la malla curricular cursos sobre responsabilidad social que enriquezcan la enseñanza y posibiliten nuevas investigaciones que generen producción de nuevos conocimientos; debido a que los alumnos demuestran una percepción de la RSE, pero no una formación académica sobre el tema que les permitiría sentar las bases para la aplicación de la responsabilidad social en las distintas áreas funcionales de la empresa (interdisciplinaridad). Esa situación, posibilitaría la implementación de políticas y estrategias empresariales en las MYPE, las cuales involucrarían a alumnos y gestores de MYPE. De esta forma, estas se beneficiarían del talento de los estudiantes universitarios en labores productivas (BARROSO, 2007), por medio de las prácticas profesionales (transdisciplinaridad). En consecuencia, se reconoce la necesidad de plantear un enfoque interdisciplinario para su teoría y transdisciplinario para la práctica que podría asegurar el desarrollo sostenible (DALE y NEWMAN, 2005).
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ARTÍCULOS Recibido en 26.05.2011. Aprobado en 05.09.2012 Evaluado por el sistema double blind review Editor Científico: Ricardo Ratner Rochman
ANáLISIS DEL CREDIT SCORING ANÁLISE DO CREDIT SCORING CREDIT SCORING ANaLYSIS
RESUMEN
El problema de la morosidad está cobrándose una gran importancia en los países desarrollados. En este trabajo realizamos un análisis de la capacidad predictiva de dos modelos paramétricos y uno no paramétrico abordando, en este último, el problema del sobreaprendizaje mediante la validación cruzada que, muy habitualmente, se
obvia en este tipo de estudios. Además proponemos la distinción de tres tipos de solicitudes dependiendo de su probabilidad cumplimiento: conceder, no conceder (de forma automática), y dudoso y, por consiguiente, proceder a su estudio manual por parte del personal bancario.
PALABRAS CLAVE: Clasificación crediticia, logit, análisis discriminante, árboles de clasificación, validación cruzada.
Rosa Puertas Medina rpuertas@esp.upv.es Profesora do Departamento de Economía y Ciencias Sociales, Grupo de Economía Internacional, Universidad Politécnica de Valencia – Valencia, España Maria Luisa Martí Selva mlmarti@esp.upv.es Profesora do Departamento de Economía y Ciencias Sociales, Grupo de Economía Internacional, Universidad Politécnica de Valencia – Valencia, España
Resumo O problema dos atrasos em pagamentos vem adquirindo grande importância nos países desenvolvidos. Neste trabalho, realizamos uma análise da capacidade preditiva de dois modelos paramétricos e de um não paramétrico, abordando, neste último, o problema da sobreaprendizagem mediante a validação cruzada, o qual é muito frequentemente negligenciado nesse tipo de estudo. Além disso, propomos a distinção de três tipos de pedido conforme sua probabilidade de cumprimento – conceder, não conceder (de forma automática) e duvidoso – e, por conseguinte, realizar seu estudo manual por parte do pessoal bancário. Palavras-chave: Classificação de crédito, logit, análise discriminante, árvores de classificação, validação cruzada. Abstract The problem of unpaid bank debts is becoming increasingly important in developed countries. Many empirical works are being published in an attempt to find a model capable of determining as accurately as possible whether an individual requesting a loan will be able to pay it back. This paper analyses the predicting capability of one non-parametric and two parametric models. As regards the former, the often-overlooked problem of overlearning is also tackled using the cross-validation technique. Furthermore, a three-level grading of loan applications is proposed depending on their likely performance: grant, refuse, or doubtful hence subject to manual consideration by bank staff. Keywords: Credit scoring, logit, discriminant analysis, classification trees, cross-validation.
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INTRODUCCIÓN La concesión de créditos es uno de los principales negocios de las instituciones bancarias, que a su vez puede ocasionar la quiebra de las mismas. Tal es el caso de numerosos bancos europeos que, en la actualidad, está pasando por una delicada situación debido a la creciente tasa de morosidad, obligando así a dichas entidades a incrementar la provisión por insolvencia, y eliminado cualquier posibilidad de beneficio e incluso llegando a tener que soportar importantes pérdidas. Cada vez más se reclaman sistemas automáticos de concesión de créditos que aseguren con alta probabilidad que el cliente será capaz de hacer frente a sus obligaciones crediticias. Las entidades precisan incorporar calidad a sus créditos, utilizando para ello distintos modelos que faciliten y mejoren el proceso de aprobación de los mismos. Se denomina credit scoring a todo sistema de evaluación crediticia que permite valorar de forma automática el riesgo asociado a cada solicitud de crédito. Riesgo que estará en función de la solvencia del deudor, del tipo de crédito, de los plazos, y de otras características propias del cliente y de la operación, que van a definir cada observación, es decir, cada solicitud de crédito. Únicamente no existirá riesgo en una operación de crédito cuando la entidad que los instrumenta actúe como mediadora o intermediaria, o bien cuando el crédito se conceda con la garantía del Estado. Los créditos de clientes que no se pagan a su vencimiento no sólo generan costes financieros, sino que además producen costes administrativos de gestión para su recuperación. Por este motivo, las entidades financieras están prestando, cada vez más, especial atención a estas partidas que deterioran considerablemente su cuenta de resultados. Los modelos automáticos de clasificación crediticia pretenden evitar, en la medida de lo posible, la concesión de créditos a clientes que posteriormente puedan resultar fallidos, ocasionando un cuantioso quebranto a la entidad emisora del mismo. Las principales ventajas que incorpora el credit scoring en los procesos de concesión son: el proceso de aprobación o no del crédito no va a depender de la discrecionalidad del personal, al tratase de un sistema objetivo y, además, al ser un sistema automático, no precisa de mucha dedicación de tiempo y personal, permitiendo reducir costes y tiempo de tramitación. El credit scoring constituye, por lo tanto, un problema de clasificación propiamente dicho, ya que dado un conjunto de observaciones cuya pertenencia
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a una determinada clase es conocida a priori, se busca una regla que permita clasificar nuevas observaciones en dos grupos: los que con alta probabilidad podrán hacer frente a sus obligaciones crediticias, y aquellos que, por el contrario, resultarán fallidos. Para ello se tendrá que realizar un análisis de las características personales del solicitante (profesión, edad, patrimonio...) y de las características de la operación (motivo del crédito, porcentaje financiado,...), que permitirá inducir las reglas que posteriormente se aplicarán a nuevas solicitudes, determinando así su clasificación. En este ámbito consideramos pionero el trabajo de Durand (1941) en el que se elaboró un modelo discriminatorio de clasificación de créditos personales, demostrando que la estabilidad en el trabajo seguida de la propiedad de la vivienda eran las características más determinantes en la probabilidad de devolución. Más recientemente, la utilización de nuevas metodologías ha logrado innumerables mejoras en los resultados como recogen los estudios de Greene (1992), Altman y otros (2008) y Gordy (2000), entre otros. Sin embargo los avances no se han centrado exclusivamente en la modelización del problema, así Majnoni y otros (2004), con información de Argentina, Brasil y México, demuestran la mayor capacidad predictiva de los modelos al sustituir la información negativa (incumplimientos y atrasos) por positiva y descriptiva de las deudas. En el ámbito de las PYMEs se tiende a combinar información personal del titular y del negocio, como en el trabajo de Miller y Rojas (2005) los cuales hacen credit scoring para pequeñas empresas de México y Colombia, mientras que Milena y otros (2005) lo aplican a microfinancieras de Nicaragua. Igualmente el establecimiento de un cut off o punto de corte que determina las solicitudes aceptadas por las entidades financieras ha sido objeto de estudio. En el sistema financiero argentino encontramos el trabajo de Pailhé (2006) en el que los solicitantes de créditos con un score inferior al cut off son rechazados automáticamente, mientras que aquellos con valores superiores deben superar otras etapas de análisis antes de ser aprobada la financiación solicitada. El interés del estudio aquí realizado es doble. En primer lugar, realizamos un estudio comparativo entre dos modelos paramétricos (Análisis Discriminante y Logit) y uno no paramétrico (Árboles de Clasificación) con objeto de determinar la precisión de los mismos en el problema analizado. Analizando, además, la mejora obtenida cuando se diferencia entre los tres estados que deben existir en todo proceso de aprobación de
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un crédito: conceder o rechazar de forma automática la solicitud presentada, o estudiar de forma manual. En este último caso, el programa informático no otorga un nivel de probabilidad de cumplimiento o incumplimiento que permita aceptar o rechazar la solicitud con un alto grado de certeza. Por lo que se recomienda al analista estudiar individualmente la información aportada por el cliente, con objeto de determinar la conveniencia o no de conceder dicho crédito. En segundo lugar, pensamos que muchos de los estudios realizados no abordan con suficiente cuidado el dilema del aprendizaje-generalización característico de los modelos no paramétricos, es decir, muestran los resultados en una situación particular para la cual el modelo en cuestión ofrece una buena capacidad predictiva. Como es lógico, esta no es la situación real a la que uno se enfrenta, en la que un determinado decisor debe elegir el modelo más adecuado antes de disponer de las observaciones que empleará para validarlo. En el presente trabajo acometemos tal problema mediante el empleo de la validación cruzada. La estructura seguida en el desarrollo de nuestro estudio es la siguiente: en la sección segunda se explican los fundamentos teóricos de las técnicas paramétricas y no paramétricas. En la sección tercera se presenta la metodología utilizada en un problema de credit scoring: Análisis Discriminante (AD), Logit, Árboles de Clasificación (CART) y validación cruzada. En la sección cuarta presentamos el trabajo empírico realizado, para finalizar en la sección quinta con las principales conclusiones obtenidas.
MODELOS DE CLASIFICACIÓN PARAMÉTRICOS Y NO PARAMÉTRICOS Como es sabido, los problemas de estimación y predicción pueden ser tratados por una gran variedad de técnicas estadísticas que, dependiendo del conocimiento o no de la forma funcional que explica la variable dependiente, se clasifican en paramétricos y no paramétricos. Los modelos paramétricos parten de una función de distribución conocida, y reducen el problema a estimar los parámetros que mejor ajusten las observaciones de la muestra. Dichos modelos resultan muy potentes cuando el proceso generador de datos sigue la distribución propuesta, aunque pueden llegar a ser muy sensibles frente a la violación de las
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hipótesis de partida cuando se utilizan muestras de tamaño reducido. Con objeto de salvar ésta y otras limitaciones, se emplean los denominados modelos no paramétricos, conocidos también como métodos de distribución libre, debido a que no se encuentran sujetos a ninguna forma funcional. Dichos modelos presentan pocas restricciones, por lo que en ocasiones resultan más fáciles de aplicar que los paramétricos y permiten «reconstruir» la función de distribución en todo tipo de situaciones, incluidas aquellas en las que la forma funcional sea sencilla y conocida. Así pues, la diferencia fundamental entre los modelos paramétricos y no paramétricos es la siguiente. Supongamos que la variable dependiente Y puede ser explicada mediante la expresión: Y = f(x1, x2, ..., xk) + e
(1)
Donde: xi son las variables explicativas e es la perturbación aleatoria f=(x) determina la relación existente entre las variables utilizadas Los modelos paramétricos suponen conocida la forma funcional de f(x), reduciéndose el problema a determinar los parámetros que la definen. Por su parte, los modelos no paramétricos emplean formas funcionales flexibles que permiten formular una fun, de manera, que sea una buena aproximación ción de f(x). Es decir, el problema consiste en calcular los parámetros de una función , y no los parámetros de una función conocida. En ambos casos es necesario estimar los parámetros de los que depende la forma funcional. Sin embargo, en el caso de los modelos paramétricos, la elección de dicha forma funcional se establece a priori, por lo que una elección inadecuada se traducirá en un modelo que no ajuste los datos (por ejemplo, supuesta una relación lineal entre las variables, dicha función presentará un mal ajuste cuando la respuesta es, entre otras, cuadrática). Dadas las características del problema que nos proponemos analizar, donde es difícil suponer una relación funcional clara entre las variables del problema, los modelos paramétricos podrían parecer, a priori, que no poseen la flexibilidad suficiente para ajustarse a todo tipo de situaciones. Por otra parte, y en lo que respecta a su capacidad predictiva, existen algunos estudios que demuestran su inferioridad frente a los modelos no paramétricos (TAM Y KIANG, 1992;
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ALTMAN y otros, 1994). Como modelos no paramétricos encontramos el algoritmo CART, C4.5, MARS y las redes neuronales, entre otros. En el trabajo de Bonilla y otros (2003) se realiza un análisis comparativo entre diversos modelos de clasificación crediticia, demostrando que las redes neuronales mejoran significativamente los resultados. Sin embargo, uno de los mayores inconvenientes de esta técnica es la gran cantidad de tiempo necesaria para correcto desarrollo de la aplicación, pues en caso contrario podría alcanzarse un mínimo local que desvirtuaría los resultados. En el análisis empírico hemos utilizado el AD, el Logit y el algoritmo CART, modelos que, recientemente, han sido utilizados con éxito en problemas de clasificación (CARDONA, 2004; DE SOUZA y OLIVIERA, 2009; XU y ZHANG, 2009, entre otros). En el artículo pretendemos estudiar la precisión de los mismos con objeto de determinar su potencia en la concesión o no de los créditos solicitados.
cación se centra en estimar la función que permita ajustar con la máxima exactitud las observaciones de la muestra, de manera que el error incurrido en la predicción sea mínimo. Dependiendo de que la forma funcional, f(x), sea conocida o desconocida estaremos ante modelos paramétricos o no paramétricos, como hemos indicado anteriormente. El problema que estamos analizando conlleva una decisión no estructurada, ya que no existe ningún patrón estandarizado que establezca qué variables utilizar, a lo que se añade la dificultad de tener que especificar a priori una forma funcional. A pesar de esta gran limitación, y de las inherentes a cada uno de los modelos que analizaremos a continuación, los modelos estadísticos ofrecen, generalmente, buenos resultados, por lo que estas técnicas estadísticas, tanto paramétricas como no paramétricas, son consideradas herramientas de gran utilidad para la adecuada toma de decisiones en la empresa.
Análisis discriminante
METODOLOGÍA Los modelos de credit scoring, como hemos indicado, tratan de obtener, a partir la relación existente entre diversas variables que definen tanto al solicitante como a la operación, una regla general que permita determinar, con rapidez y fiabilidad, la probabilidad de fallido de una determinada solicitud. Por tanto, resulta imprescindible estudiar las relaciones existentes entre la información recogida de cada una de los créditos concedidos en el pasado y los impagos observados. Realizado este análisis, y utilizando un sistema de puntuación establecido en función de las características del cliente, se podrá determinar la probabilidad de que éste pueda o no afrontar sus obligaciones de pago. Así, el problema al que nos enfrentamos puede especificarse mediante la siguiente expresión:
El análisis discriminante (FISHER, 1936) es una técnica estadística multivariante que permite estudiar de forma simultánea el comportamiento de un conjunto de variables independientes, con objeto de clasificar un colectivo en una serie de grupos previamente determinados y excluyentes. El método presenta la gran ventaja de poder contemplar conjuntamente las características que definen el perfil de cada grupo, así como las distintas interacciones que pudieran existir entre ellas. Las variables independientes representan las características diferenciadoras de cada individuo, siendo éstas las que permiten realizar la clasificación. Indistintamente se denominan variables clasificadoras, discriminantes, predictivas, o variables explicativas. De este modo se puede establecer que el objetivo del AD es doble: •
P = f(x1, x2,..., xk) + e
(2)
Donde: xi serán los atributos del sujeto e la perturbación aleatoria f(x) la función que determina la relación existente entre las variables utilizadas P la probabilidad de que el crédito resulte fallido.
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•
Obtener las mejores combinaciones lineales de variables independientes que maximicen la diferencia entre los grupos. Estas combinaciones lineales reciben el calificativo de funciones discriminantes, Predecir, en base a las variables independientes, la pertenencia de un individuo a uno de los grupos establecidos a priori. De este modo se evalúa la potencia discriminadora del modelo.
El objetivo principal de los modelos de clasifi-
Para el logro de estos objetivos, la muestra de observaciones se divide aleatoriamente en dos
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submuestras: una primera, conocida como muestra de entrenamiento, que se utilizará para la obtención de las funciones discriminantes, y una segunda, denominada muestra de test, que servirá para determinar la capacidad predictiva del modelo obtenido. Por tanto, el objetivo del AD consiste en encontrar las combinaciones lineales de variables independientes que mejor discriminen los grupos establecidos, de manera que el error cometido sea mínimo. Para ello será necesario maximizar la diferencia entre los grupos (variabilidad entre grupos) y minimizar las diferencias en los grupos (variabilidad intragrupos), obteniendo así el vector de coeficientes de ponderación que haga máxima la discriminación. Con objeto de asegurar la potencia discriminadora del modelo es necesario establecer fuertes hipótesis de partida que van a suponer una limitación para el análisis de cualquier problema de clasificación que se presente. Éstas son:
a sus obligaciones crediticias. Si se presentara una situación en la que el sujeto tuviera que elegir entre tres o más alternativas mutuamente excluyentes (modelos de elección múltiple), tan sólo se tendría que generalizar el proceso. El modelo Logit queda definido por la siguiente función de distribución logística obtenida a partir de la probabilidad a posteriori aplicada al AD mediante el teorema de Bayes,
•
Al igual que el modelo discriminante, el Logit es un modelo multivariante paramétrico en el que existen variables categóricas tanto en el conjunto de variables explicativas como en de las variables dependientes. Frente al AD presenta la gran ventaja de que no va a ser necesario establecer ninguna hipótesis de partida: no plantea restricciones ni con respecto a la normalidad de la distribución de variables, ni a la igualdad de matrices de varianzas-covarianzas. Ahora bien, corresponde señalar que, en caso de verificarse dichas hipótesis, el modelo discriminante obtendría mejores estimadores que el Logit, pues según afirma Efron (1975) «...bajo estas circunstancias, los estimadores logísticos resultan bastante menos eficientes que los de la función discriminante». La mayoría de los problemas financieros con los que nos enfrentamos utilizan alguna variable cualitativa, imposibilitando de este modo el cumplimiento de la hipótesis de normalidad, siendo el modelo Logit con los estimadores de máxima verosimilitud claramente preferible. En este sentido, Press y Wilson (1978) enumeran los distintos argumentos existentes en contra de la utilización de los estimadores de la función discriminante, presentando, asimismo, dos problemas de clasificación cuyas variables violan dicha restricción. Ambos problemas se resolvieron mediante el AD y el Logit quedando claramente demostrada la superioridad de este último. A pesar de estas limitaciones, la literatura sigue avalando la utilización de ambos modelos linea-
•
•
•
Las K variables independientes tiene una distribución normal multivariante. Igualdad de la matriz de varianzas-covarianzas de las variables independientes en cada uno de los grupos. El vector de medias, las matrices de covarianzas, las probabilidades a priori, y el coste de error son magnitudes todas ellas conocidas. La muestra extraída de la población es una muestra aleatoria.
Tan sólo bajo estas hipótesis la función discriminante obtenida será óptima. Las dos primeras hipótesis (la normalidad y de igualdad de la matriz de varianzas y covarianzas) difícilmente se verifican en muestras de carácter financiero, cuestión que no impide al AD obtener buenas estimaciones, aunque realmente éstas no puedan considerarse óptimas.
Modelo Logit El modelo Logit permite calcular la probabilidad de que un individuo pertenezca o no a uno de los grupos establecidos a priori. La clasificación se realizará en función del comportamiento de una serie de variables independientes que son características de cada individuo. Se trata de un modelo de elección binaria en el que la variable dependiente tomará valores 1 ó 0. En nuestro problema el valor dependerá de que el individuo haya hecho o no frente
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(3) Donde: b0 representa los desplazamientos laterales de la función logística b es el vector de coeficientes que pondera las variables independientes y del que depende la dispersión de la función X es la matriz de variables independientes.
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les (LENNOX, 1999; CALVO-FLORES y otros, 2006; BEAVER y otros, 2008).
Método de partición recursiva: árboles de clasificación y regresión (CART) Los árboles de decisión son una técnica no paramétrica que reúne las características del modelo clásico univariante y las propias de los sistemas multivariantes. Originariamente fueron propuestos para separar las observaciones que componen la muestra asignándolas a grupos establecidos a priori, de forma que se minimizara el coste esperado de los errores cometidos. Esta técnica fue presentada por Friedman en 1977, pero originariamente sus aplicaciones a las finanzas no fueron muy numerosas, si bien corresponde destacar dos estudios pioneros: Frydman y otros (1985) en el que utilizan el modelo para clasificar empresas, comparando su capacidad predictiva con el AD, y Marais y otros (1984) que, por el contrario, lo aplican a préstamos bancarios. En ambos trabajos se ha llegado a demostrar la gran potencia que presenta este algoritmo como técnica de clasificación. El modelo CART supone esencialmente que las observaciones son extraídas de una distribución f en L x X, donde L es el espacio de categorías, y X el espacio de características. Las densidades condicionales f(x|l) difieren al variar l, y las probabilidades marginales f(l) son conocidas. El proceso utiliza la muestra S como conjunto de entrenamiento para la estimación no paramétrica de una regla de clasificación que permita particionar directamente el espacio X de características. Para cada l de L, el subconjunto St del conjunto de entrenamiento S constituye una muestra aleatoria de la distribución condicional f(x|l) en X. Así pues, el proceso consiste en dividir sucesivamente la muestra original en submuestras, sirviéndose para ello de reglas univariantes que buscarán aquella variable independiente que permita discriminar mejor la división. Con ello, se pretende obtener grupos compuestos por observaciones que presenten un alto grado de homogeneidad, incluso superior a la existente en el grupo de procedencia (denominado nodo madre). Con objeto de encontrar la mejor regla de división, el algoritmo estudiará cada una de las variables explicativas, analizando los puntos de corte para, de este modo, poder elegir aquella que mayor homogeneidad aporte a los nuevos subgrupos. El proceso finaliza cuando resulte imposible realizar una nueva división que mejore la homogeneidad existente.
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El modelo, como vemos en la Figura 1, se estructura en forma de árbol compuesto de una sucesión de nodos y ramas que constituyen, respectivamente, los grupos y divisiones que se van realizando de la muestra original. Cada uno de los nodos terminales representa aquel grupo cuyo coste esperado de error sea menor, es decir, aquellos que presenten menor riesgo. El riesgo total del árbol se calcula sumando los correspondientes a cada uno de los nodos terminales. En definitiva, el algoritmo de partición recursiva puede resumirse en los siguientes cuatro pasos: 1. Estudiar todas y cada una de las variables explicativas para determinar para cuál de ellas y para qué valor es posible incrementar la homogeneidad de los subgrupos. Existen diversos criterios para seleccionar la mejor división de cada nodo, todos ellos buscan siempre aquella división que reduzca más la impureza del nodo, definida ésta mediante la siguiente expresión, i(t) = - ∑ p(j/t) . log [ p(j/t) ]
(4)
siendo p(j/t) la proporción de la clase j en el nodo t. Como medida de la homogeneidad o impureza se utiliza una extensión del índice de Gini para respuestas categóricas. El algoritmo optará por aquella división que mejore la impureza, mejora que se mide comparando la que presenta el nodo de procedencia con la correspondiente a las dos regiones obtenidas en la partición. 2. El paso anterior se repite hasta que, o bien resulte imposible mejorar la situación realizando otra división, o bien el nodo obtenido presente el tamaño mínimo. En esta fase del algoritmo se obtiene el árbol máximo en el cual cada uno de sus nodos interiores es una división del eje de características. Ahora bien, este procedimiento, tal y como ha sido expuesto, presenta un grave problema, el sobreaprendizaje: el modelo memoriza las observaciones de la muestra siendo incapaz de extraer las características más importantes, lo que le impedirá «generalizar adecuadamente», obteniendo resultados erróneos en los casos no contemplados con anterioridad. Para evitarlo Friedman (1977) propuso la siguiente solución: desarrollar el árbol al máximo, y posteriormente ir podándolo eliminando las divisiones y, por lo tanto, los nodos que presenten un mayor coste de complejidad, hasta
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tructura que, como ya hemos indicado, fácilmente puede desembocar en el sobreaprendizaje del modelo. De ahí que no sólo se persiga crear conjuntos homogéneos con bajo riesgo, sino también obtener aquella estructura que presente una complejidad óptima. Bajo este doble objetivo, resulta necesario penalizar la excesiva complejidad del árbol.
encontrar el tamaño óptimo, que será aquel que minimice el coste de complejidad. 3. Calcular la complejidad de todos y cada uno de los subárboles podando aquellos que verifiquen la siguiente expresión, (5) siendo el coste de complejidad,
Método de validación cruzada (6)
donde RK (T) es el coste de complejidad del árbol T para un determinado valor del parámetro K, R (T) es el riesgo de errar (K se denomina parámetro de complejidad que penaliza la complejidad del árbol y siempre será positivo) y |T| es el número de nodos terminales. 4. Encontrar todos los valores críticos de K, y utilizar la técnica de validación cruzada para cada uno de ellos con objeto de estimar R(T(K)), eligiendo aquella estructura que presente mejor valor estimado de R(T(K)). Por tanto, el principal problema con el que se enfrenta este modelo es la complejidad de su es-
Así pues el problema que presenta el algoritmo CART, y además común al resto los métodos no paramétricos, es el sobreaprendizaje. La aparición de este fenómeno puede atribuirse fundamentalmente a dos causas (Figura 2): 1. La sobreparametrización, el modelo presenta una estructura más compleja de la necesaria para tratar el problema en cuestión. 2. La escasez de datos que impide al modelo extraer en la fase de entrenamiento las características más relevantes de la muestra y, posteriormente, en la fase de test, verificar la capacidad predictiva del modelo con otra muestra de datos distinta a la utilizada en el entrenamiento.
Figura 1 – Árboles de decisión
T
0
xa > ta +
_ xb > tb
4
+
_
xc > tc 1
_
+
3
2
T
Max
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Supongamos que disponemos de un conjunto de observaciones y lo dividimos en dos: un conjunto de entrenamiento, que servirá para ajustar el modelo, y un conjunto de test que será empleado para validarlo. En el eje de abscisas hemos representado el número de parámetros de un determinado modelo (siendo el modelo más complejo, es decir, el de mayor número de parámetros, el más alejado del origen), y en el eje de ordenadas se cuantifica el error cometido sobre los conjuntos de aprendizaje y test. Cuando la estructura del modelo es muy simple, éste es incapaz de capturar la relación subyacente entre los atributos y la variable respuesta, por lo que cometerá un elevado porcentaje de fallos tanto sobre el conjunto de entrenamiento como sobre el de test. A medida que el número de parámetros aumenta, va adquiriendo suficiente potencia o flexibilidad, lo que le permitirá aprender la relación existente entre las variables independientes y dependiente, relación que debe verificarse sobre ambos conjuntos, por lo que el error cometido irá decreciendo. Si incrementamos sucesivamente la complejidad, el error a lo largo del conjunto de entrenamiento seguirá disminuyendo progresivamente, es decir, el modelo se irá acomodando a las características peculiares de los ejemplos propios de dicho conjunto que no tienen porque estar presentes en el de test. Por este motivo, llegados a un punto, C*, el error incurrido sobre el conjunto de test, que es el que determina la potencia predictiva del modelo, se incrementará considerable-
mente. Por consiguiente, a partir de C* la estructura es tan compleja que el modelo ha memorizado la muestra, lo que se traduce en una débil capacidad de generalización. Con objeto de evitar el sobreaprendizaje se viene utilizando, entre otros, el método de validación cruzada propuesto por Stone (1974) que, como veremos en los resultados del trabajo, hemos empleado para elegir la estructura idónea de los Árboles de Regresión, es decir, aquella que facilite la obtención de una adecuada generalización del problema que estamos analizando. El proceso se estructura en los siguientes pasos: •
• •
•
Las observaciones que componen la muestra se dividen en dos: un conjunto de entrenamiento, que sirve para ajustar el modelo, y un conjunto de test que es empleado para validarlo. El conjunto de entrenamiento se divide aleatoriamente en 10 particiones distintas. Por rotación, un conjunto de 9 particiones se utiliza para estimar el modelo con un número de parámetros determinado, y la décima partición para contrastar su capacidad predictiva. El paso 2 se repite diez veces, de forma que el algoritmo, utilizando distintas estructuras, va a ser entrenado y testeado con 10 pares distintos de conjuntos de entrenamiento y test, siendo la estructura óptima aquélla que minimice el error de predicción a lo largo de los 10 conjuntos de test
Figura 2: Proceso de sobreaprendizaje de los modelos
Error
Test
Aprendizaje C* min
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No de Parámetros
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(a este error se le denomina error de validación cruzada, EVC). Elegida la estructura óptima, se utilizará toda la muestra para reentrenar el modelo, de manera que se entrenará y testeará con los conjuntos totales para obtener el error de predicción (EP). Debido a que el EVC es un estimador insesgado del error de predicción del modelo elegido (EP), el modelo seleccionado tendrá también una capacidad de generalización óptima cuando sea empleado con observaciones no presentes en el conjunto de entrenamiento.
del algoritmo en cada uno de los sectores analizados. Este proceso de división se repitió 10 veces hasta obtener 100 pares de conjuntos de entrenamiento y test distintos, con objeto de eliminar la posible incidencia que la división de la muestra podía tener en los resultados de nuestro análisis. Además, en todos los conjuntos se mantuvo la misma proporción de morosos y no morosos existente en la muestra original.
En concreto, en nuestro análisis, la muestra formada por 1446 observaciones se ha dividido aleatoriamente en dos conjuntos de entrenamiento y test, cada uno de ellos formado por el 50% de las observaciones. La submuestra de test (723 observaciones) ha sido reservada con objeto de testear la capacidad generalizadora del modelo (EP). Las observaciones restantes se han utilizado como conjunto de entrenamiento para elegir aquel modelo cuya estructura presente el menor EVC. Lo conforman 231 individuos calificados como fallidos y 492 como no fallidos. La magnitud de tales submuestras no se corresponden con ningún criterio ad hoc·, pero están en línea con la literatura al respecto. Las 723 observaciones destinadas al entrenamiento se han dividido a su vez en conjuntos de entrenamiento y test, representando el conjunto de test el 10% de la muestra. Las observaciones de estas dos submuestras se han combinado de tal forma que disponemos de 10 pares no solapados de conjuntos de entrenamiento y test formados por 651 y 72 observaciones respectivamente, que se utilizarán en la obtención del EVC. De manera que, el modelo CART ha sido entrenado y testeado con estos 10 pares de conjuntos utilizando distintas estructuras, para, de este modo, poder determinar su estructura óptima. Dicha estructura será aquella que presente el menor EVC, calculado éste como una media de los errores cometidos a lo largo de los 10 conjuntos de test validados. El parámetro que determina la complejidad de los Árboles de Clasificación es el número de nodos, por lo que la selección de su estructura óptima consiste en determinar el número óptimo de nodos. Para finalizar, el modelo elegido será entrenado y testeado con la muestra total (723 observaciones de entrenamiento y 723 de test) con objeto de obtener el EP que nos permitirá comparar la potencia predictiva
En el desarrollo del trabajo empírico hemos utilizado una base de datos de préstamos al consumo facilitada por una de las principales entidades financieras de nuestro país (España), de la que no se aporta el nombre por motivos de confidencialidad. Dicha base de datos está formada por 1446 individuos, de los cuales 462 fueron calificados como morosos y 984 como no morosos. El individuo era calificado como moroso si se retrasaba más de dos meses en el pago del mismo, con independencia de que posteriormente hiciera o no frente a sus obligaciones con la entidad. Cada caso viene definido por 13 variables explicativas, así como por el comportamiento crediticio posterior. La variable dependiente se ha denotado con 1 si al individuo al que se le concedió el préstamo resultó moroso y 0 en caso contrario. Las variables independientes que caracterizan la solicitud de cada cliente son las siguientes: finalidad del préstamo (por ejemplo, compra de una motocicleta, de una vivienda, gastos por estudios, etc.), documentación aportada (si tan sólo se presentó el D.N.I. o se aportaron otro tipo de documentos, tales como avales, certificado del registro, etc.), estado civil, ingresos anuales, edad del solicitante, antigüedad de la cuenta en años, saldo de la cuenta, vinculación con la caja (una variable subjetiva proporcionada por la entidad, según fuera considerado el cliente), tenencia de otros préstamos, importe del préstamo solicitado, y plazo del préstamo solicitado. Para el algoritmo CART la muestra se ha dividido 10 veces en 10 pares de conjuntos de entrenamiento y test, es decir, el proceso de validación cruzada se ha repetido 10 veces con objeto de evitar que las posibles divisiones de la muestra puedan afectar a los resultados. De manera que, ha exigido un intenso esfuerzo computacional, dado que se han utilizado una gran variedad de estructuras para obtener la que realmente
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ANALISIS DE LOS RESULTADOS
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minimice el ECV, es decir aquella que permita obtener generalizaciones adecuadas. En el caso de los modelos paramétricos, la estructura del mismo viene establecida, por lo que no es necesario utilizar la validación cruzada. Sin embargo, e igualmente para evitar que la división de los conjuntos de entrenamiento y test pueda afectar a la precisión de los modelos, la muestra ha sido dividida diez veces en dos conjuntos de entrenamiento y test, cada uno de ellos formado por el 50% de las observaciones. En las Tablas 1, 2 y 3 se facilitan los resultados obtenidos a lo largo de las 10 simulaciones utilizando los algoritmos propuestos.
Resultados: fallidos y no fallidos Los modelos no paramétricos resultan mucho más flexibles que los paramétricos pues, como hemos indicado anteriormente, a priori no precisan establecer
ninguna forma funcional, sino que ajustarán aquella que mejor aproximen las variables del modelo. El problema que tratamos de analizar establece la relación entre variables muy diversas, algunas de ellas cualitativas, por lo que consideramos difícil poder determinar a priori la relación funcional entre ellas. Todo ello nos conduce a suponer que los modelos no paramétricos, en nuestro caso el CART, presentarán un mejor comportamiento que los paramétricos. Sin embargo, a la vista de los resultados obtenidos en la Tabla 4, podemos afirmar que en el problema de clasificación crediticia que nos hemos propuesto analizar, el AD, aunque levemente, ha superado la capacidad predictiva del modelo CART y del Logit, lo que, en cierta medida, contradice la literatura encontrada al respecto. El problema que surge cuando se realiza esta clasificación (conceder o no conceder) es que algunos de los individuos han sido calificados como aciertos, es
Tabla 1 – CART: Medias de los EVC y EP Porcentajes de Error CART Simulaciones
Sim 1
Sim 2
Sim 3
Sim 4
Sim 5
Sim 6
Sim 7
Sim 8
Sim 9
Sim 10
Medias
EVC Entrenamiento Test
24,95 28,18
23,11 26,7
23,94 28,64
23,55 28,6
24,65 26,42
22,26 26,42
24,26 28,21
24,52 29,73
23,52 25,7
22,36 26,84
23,71 27,54
E. Predicción Entrenamiento Test
24,48 25,59
21,16 27,25
22,54 30,71
23,24 28,91
24,76 29,05
22,54 27,66
24,76 26
23,65 29,6
23,37 26,28
22,96 27,94
23,34 27,89
Tabla 2 – Análisis discriminante: Medias de los EP Simulaciones
Sim 1
Sim2
Sim 3
Sim 4
Sim 5
Sim 6
Sim 7
Sim 8
Sim 9
Sim 10
Medias
E. Predicción Entrenamiento Test
26,69 27,80
27,38 28,49
26,95 29,46
27,80 27,93
27,38 27,80
27,10 29,18
26,55 28,07
26,55 29,46
27,93 28,07
27,80 28,63
27,21 28,48
Tabla 3 – Logit: Medias de los EP Simulaciones
Sim 1
Sim 2
Sim 3
Sim 4
Sim 5
Sim6
Sim 7
Sim 8
Sim 9
Sim 10
Medias
E. Predicción Entrenamiento Test
27,10 27,10
26,14 27,52
26,83 28,76
28,07 27,38
25,17 26,14
27,38 28,07
26,27 27,38
27,10 26,83
28,21 27,66
26,97 27,66
26,92 27,45
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decir, que dadas sus características el modelo aconseja aprobar/rechazar el crédito solicitado, simplemente porque su probabilidad de cumplimiento/incumplimiento es mayor/menor que 0,5, respectivamente. En este estudio se propone, conceder automáticamente tan sólo los que con alto grado de fiabilidad podrán atender a sus obligaciones crediticias, y rechazar, igualmente de forma automática, en caso contrario, por lo que sería necesario distinguir un tercer estado que hemos denominado como dudoso.
Resultados: fallidos, no fallidos y dudosos En el estudio que presentamos se plantea la posibilidad de dividir el intervalo de acierto en tres estados: • • •
Fallidos: todos aquellos préstamos cuya probabilidad de devolución sea menor que el 30% No Fallidos: todos aquellos préstamos cuya probabilidad de devolución sea menor que el 70% Dudosos: todos aquellos préstamos cuya probabilidad de devolución esté comprendida entre el 30% y el 70%.
Con esta clasificación se pretende conseguir una perfecta discriminación entre los que con un alto grado de probabilidad podrán hacer frente a sus obligaciones crediticias, y los que por el contrario resultarán fallidos, recomendándose de este modo la no concesión del préstamo. Todos ellos podrán ser automáticamente aceptados o rechazados dada la precisión que se le ha
exigido al modelo. Sin embargo, el grupo de los dudosos deberá ser estudiado manualmente por el personal bancario, ya que el modelo no asegura el acierto de su decisión. Después de consultar a diversos expertos en riesgos bancarios, conocedores del funcionamiento del proceso de concesión en importantes entidades financieras de nuestro país, hemos llegado a la conclusión que no sólo se debe buscar aquel modelo que minimice el error sino que, igualmente, no contenga un conjunto de dudosos elevado. Las entidades suelen tener autonomía suficiente para poder conceder o rechazar discrecionalmente los créditos considerados como dudosos, por lo que el porcentaje de fracaso de estos dudosos suele ser elevado. Aplicando nuevamente la validación cruzada diez veces, y distinguiendo entre los tres estados descritos anteriormente, hemos obtenido los siguientes resultados. En la Tabla 5 observamos que el modelo CART, aunque presenta un mayor porcentaje de error, el conjunto de los dudosos es mucho menor y el de aciertos mayor que los obtenidos mediante los modelos paramétricos. Los dudosos normalmente se convierten en fallidos, por lo que resulta interesante que dicho grupo sea lo menor posible. Así pues, apoyándonos en los resultados, podemos afirmar que el modelo CART ha resultado ser bastante más preciso que los modelos Logit y AD. Comparando estos resultados con los obtenidos en el apartado 4.1. comprobamos que, aunque el porcentaje de acierto es menor, el de error se ha reducido considerablemente, que realmente es el que
Tabla 4 – Errores de predicción del modelo CART, Logit y AD Modelo CART Créditos Aciertos Errores
Modelo Logit
Modelo AD
Entrenamiento
Test
Entrenamiento
Test
Entrenamiento
Test
76,66 23,34
72,11 27,89
72,79 27,21
71,52 28,48
73,08 26,92
72,55 27,45
Tabla 5 – Errores de predicción de los modelos CART, Logit, AD Modelo CART Créditos Dudosos Aciertos Errores
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Modelo Logit
Modelo AD
Entrenamiento
Test
Entrenamiento
Test
Entrenamiento
Test
27,61 58,29 14,11
27,01 56,85 16,14
45,47 45,21 9,21
45,42 44,53 10,04
45,41 45,17 9,40
45,86 43,80 10,33
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produce mayor quebranto a las entidades. Además los créditos concedidos presentan una mayor probabilidad de cumplir con sus obligaciones si se distinguen los tres estados que hemos considerado, ya que se le exige una mayor precisión a los algoritmos de clasificación utilizados.
Concluimos que el algoritmo CART obtiene mejores resultados que los modelos paramétricos, porque aunque el error es algo superior, el de aciertos también lo es. Además el porcentaje de calificados como dudosos no resultan excesivamente elevado, como sí ocurre con los otros métodos (AD y Logit).
CONCLUSIONES
REFERENCIAS
En el estudio que presentamos hemos realizado un análisis comparativo entre dos técnicas paramétricas y una no paramétrica aplicadas a un problema real de clasificación crediticia. De manera que, dadas unas variables descriptivas del sujeto solicitante de un crédito, el modelo determinará con la mayor precisión posible si sería capaz o no de hacer frente a sus obligaciones crediticias. Igualmente hemos abordado, con suficiente minuciosidad, el problema del sobreaprendizaje que habitualmente se obvia en muchos estudios por el excesivo esfuerzo computacional que requiere. Los modelos de clasificación crediticia, que habitualmente utilizan las entidades financieras, se alimentan de la propia información que van generando, de manera que si el modelo se equivoca muy frecuentemente, al cabo del tiempo el algoritmo deja de ser operativo porque los resultados que genera no son, en absoluto, fiables. Por ello, y aunque dicha solución en principio pueda parecer un incremento de coste para la entidad, proponemos la distinción de las solicitudes en tres estados: conceder automáticamente (porque la probabilidad de que el cliente devuelva el crédito es superior al 70%); rechazar automáticamente (dado que su probabilidad será inferior al 30%); y distinguir un tercer estado que hemos denominado como «dudosos», en el cual se aconseja su estudio manual por parte del personal bancario. Lo que genera mayor quebranto a las entidades financieras es la insolvencia, es decir, que los clientes resulten fallidos. En el estudio se demuestra que se reduce considerablemente el error si, todas las solicitudes que no tengan una gran certeza de devolución o de incumplimiento, se procede a su análisis individual para determinar la conveniencia o no de rechazar/ conceder dicho crédito. Ahora bien, sabiendo que ello eleva el coste de tramitación de las entidades, consideramos que dicho grupo no debe ser demasiado elevado.
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ESSAYS
essays THE FIVE INFORMATION TECHNOLOGY BLIND SPOTS OF ECONOMISTS
THE FIVE INFORMATION TECHNOLOGY BLIND SPOTS OF ECONOMISTS
Eric van Heck evanheck@rsm.nl Professor at Rotterdam School of Management, Erasmus University, Rotterdam, The Netherlands.
COMPLICATION On August 9, 2007, the European Central Bank (ECB) decided to organize a conference call with the twenty largest banks in Europe. The problem was that these banks were no longer lending each other money. Banks were in urgent need of money and as one of the bankers made it clear: “We need three things: we need cash, we need a lot, and we need it now” (NRC Handelsblad , 2012). The same day, the ECB started to inject 95 billion euro, followed the next day by the Federal Reserve System (FED) in the United States (US) with an injection of 24 billion US dollars.
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It was the first sign that something was going wrong. However, very few people understood the significance of it. More than a year later, on September 15, 2008, Lehman Brothers filed for bankruptcy, and it became clear that financial firms worldwide were using dubious financial products, such as sub-prime mortgages, to seduce customers to invest in housing, in credit default swaps (an agreement that a seller will compensate the buyer in the event of a loan default; the buyer makes a series of payments to the seller, and, in exchange, receives a payoff if the loan defaults) and other complicated derivatives, to mitigate risks and stimulate
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customers to invest even more. The US housing crisis was spreading and became a banking crisis in the US and later in Europe. Most banks survived due to government interventions such as expensive nationalizations of banks. The banking crisis eventually became a sovereign-debt crisis in Europe leading to financial problems for governments in Iceland, Ireland, Portugal, Greece, Italy and Spain. It may also result in breaking up the Euro zone. An important debate that I would like to discuss here is the role of economists and how they develop economic theory aimed at explaining and predicting the economy, including financial
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Eric van Heck
booms and busts. As an Information Systems (IS) researcher, my interest is in the role that Information Technology (IT) plays in economic theories. Why did most economists fail to predict the global financial crisis? My answer is simple: most economists have several blind spots with regard to IT. Therefore, they are not fully equipped to analyze and redesign complex financial digitized platforms and products. Indeed very few economists, both economists working at universities and those working in the financial industry, were able to foresee the weaknesses of the global digitized financial system and identify the consequences and impact of these weaknesses. Examples of some academic economists who did warn about systematic flaws in the financial systems, but not from an IT perspective, were professor Robert Shiller (Yale University) and professor Nouriel Roubini (New York University). Robert Shiller (together with Karl Case) wrote an article entitled Full House in the Wall Street Journal in August 2006, in which they warned that “there is significant risk of a very bad period, with slow sales, slim commissions, falling prices, rising default and foreclosures, serious trouble in financial markets, and a possible recession sooner than most of us expected.” Around that time Nouriel Roubini was interviewed by the Wall Street Journal and declared that: “As the housing sector slumps, the job and income and wage losses in housing will percolate throughout the economy,” and “Consumers also face high energy prices, higher interest rates, stagnant wages,
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negative savings and high debt levels,” and “This is the tipping point for the U.S. consumer and the effects will be ugly,” and “Expect the great recession of 2007 to be much nastier, deeper and more protracted than the 2001 recession.” The article concludes with: “He also sees many of the same warning signs in other economies, including some in Europe.” (Market Watch, 2006). So, both professors explained as early as 2006 the development of the US housing bubble and predicted the impact of the housing bubble burst on the rest of the economy. At that time not many people were listening or agreed with their analysis. “While many economists share Roubini’s concerns about imbalances in the global economy and in the U.S. housing sector, he stands nearly alone in predicting a recession next year”, indicated that same Wall Street journal article of August 23, 2006, and also “FED watcher Tim Duy called Roubini the “the current archetypical Eeyore,” responding to a comment Dallas FED President Richard Fisher made last week in referring to economic pessimists as “Eeyores,” after Winnie the Pooh’s grumpy friend”. Most economists working at universities and in the industry were taken by surprise by the global impact. For example Alan Greenspan, chairman of the FED for almost 19 years, made clear in a US congress hearing in October 2008 that the housing market meltdown had revealed a flaw in a lifetime of economic thinking and left him in a “state of shocked disbelief” (Associated Press, 2008). Greenspan’s “shocking” statement to the US congress can be seen on Youtube, where it is possible
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to hear from the main financial regulator of the biggest economy in the world that he doesn’t “fully understand why and where it happened” (see the US House Oversight Committee questioning Alan Greenspan in October 2008: http://www.youtube.com/ watch?v=txw4GvEFGWs). One could argue that economic phenomena are indeed very difficult to analyze and predict due to the fact that one cannot study these phenomena in isolation. There will always be social interaction between the economic phenomena and economists (as active players in the economy). The actions of economists will also have a second-order effect on other stakeholders in the economy. Therefore, it is difficult to theorize about and validate the economic cause-effect relationships. In the so-called beta sciences, such as engineering, chemistry, and biology, it is relatively easier. The object of study is more “under control” and the object is not talking back or taking actions. Bridges, molecules, and plants are not listening to academic research and are not following action. Another argument is that there is a lack of historical perspective by the economic field and therefore economists need to be humble with regard to the contribution of their academic economic research to society. Nowadays, the economic field in the era of neo-liberalism is dominated by econometrics, and econometric researchers and practitioners are developing very complex models. These models are validated in a very short period of time (from a historical perspective), for example, under real “bull” market (rising) conditions, and not tested under “bear” market
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(declining) conditions. Therefore the generalizability of these complex models is limited but usually quickly applied on a global scale via computerized trading platforms. Both the social interaction argument and the historical argument hold true. However, I will argue in this “pensata” that there is another and more fundamental argument that plays a role. In my opinion it has to do with the five IT blind spots of economists. Each of these blind spots will be explained and illustrated.
Usage of IT neglected The first blind spot is that econometric models usually neglect the role of IT. Here my quip is: “IT is everywhere, except in the models of the economists.” This topic has already been debated for many years and is called the “productivity paradox”. As pointed out by the Nobel laureate development economist Robert Solow in his article titled “We’d better watch out” published on the New York Times Book Review: “You can see the computer age everywhere but in the productivity statistics”. The point economists made was that, although investments in information technology were strong, the impact on output measures, such as higher labor productivity or total factor outputs at the national level, were not seen in the data. Finally, work by Erik Brynjolffson in the 1990s and beyond showed the profound impact of IT on productivity levels. Later work also showed a strong relationship with productivity at the firm level. Erik Brynjolffson and Lorin Hitt, for example, concluded that their results indicate that
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information systems have made a substantial and statistically significant contribution to firm output. The financial industry is a heavy user of IT, ranging from quantum trading to exploring new business models with the help of advanced technologies. It is not so much the technology itself (the hardware and software forming digitized trading platforms) but the way the technology is used that will create competitive advantage for firms that are able to use these advanced technologies. The use of IT might improve the efficiency, the effectiveness, or the innovativeness of firms in the financial industry. New financial products, such as credit default swaps, are digitally intensive, both in their design and in their usage. Advanced computerized trading systems are able to trade complex financial products worldwide in nanoseconds. The level of complexity and the level of interconnectedness of the global financial industry due to the usage of IT are profound. According to the Bank for International Settlements (BIS) the global overthe-counter (OTC) derivatives market (forwards and swaps, and options) is 638,928 billion in US dollars (June 2012) (see http://www.bis.org/publ/qtrpdf/r_ qt1212.htm).On an average trading day, hundreds of thousands of contracts are exchanged between sellers and buyers using advanced information technologies. More IT savvy firms, in other words firms that use IT as a strategic asset, are able to reap the benefits. They will have the organizational capabilities to design and use digitized platforms and therefore create competitive advantages
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(Weill and Aral, 2006). The empirical evidence is strong but not much evidence is incorporated in the econometric models.
Flawed measurement of variables in a digitizing world Many of the important economic variables are flawed, both in their definition and their measurement as one takes into account the advanced digitization of the economy. Two examples are presented to illustrate this blind spot. The first example deals with inflation. Inflation is a crucial variable for most governments and central banks. Inflation is defined as a rise in the level of prices of goods and services in an economy over a period of time. In most countries inflation is measured in a simple way by buying a certain “basket” of products and services every month and determining the total price level in that month. Usually countries measure a limited set of products and services with a limited frequency (for example, once per month). Recently, Massachusetts Institute of Technology (MIT) announced the Billion Prices project that is constantly measuring prices collected from thousands of online retailers around the world on a daily basis (see http://bpp. mit.edu). The first results show that the real level of inflation is rather different than most economists, politicians, and central bankers anticipated. Outlier is Argentina with a measured average inflation level of 20.1% over the period 20072011, but where the politicians and central bank of Argentina thought it was 8.4% (Cavallo, 2012). The second example relates to the measurement of the Gross Domestic Product (GDP) of a
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country. It refers to the market value of all officially recognized final goods and services produced within a country in a given period. GDP in itself is a strange indicator because it does not matter if it is a good or bad activity. A firm that is polluting the environment is making a great contribution to the GDP, according to the GDP logic (see also BRYSON, 1999). According to MIT researchers Erik Brynjolfsson and Adam Saunders digital products and services are not well accounted for in the GDP, since the information sector is about the same share of GDP it used to be more than 20 years ago, even with the explosive increase of information goods consumption in our lives in the same period. Digital products and services are not very well represented in the GDP data. In short, when one is buying a physical book in a bookshop this transaction will be taken into account in the GDP of the country where the bookshop is situated. However, if a customer orders an electronic book online, for example via Kindle, the e-reader of the online retailer Amazon, the online transaction is not taken into account in the GDP of the country where the electronic book was bought or where the electronic book was used. Therefore, parts of the economy that are heavily digitized, such as electronic books and digital music, and countries that are active in these industries are underrepresented in these GDP measurements. The ongoing digitalization, consider for example the mobile apps markets, is making the traditional GDP measurement less accurate and not a strong indicator of the final (digital) goods and services produced by a country.
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However, GDP is playing a more and more prominent role in the rules for economic and fiscal governance for, for example, the euro-area member states, e.g. the general government deficit must not exceed 3% of GDP and public debt must not exceed 60% of GDP (or at least diminish sufficiently towards the 60% threshold). There is a big need to improve the GDP measurements in a digitized world.
Not much attention to designing complex systems In many academic fields “system thinking” is a cor e activity. Architects are designing complex skyscrapers using tubular systems, e.g. designing a skyscraper to act like a hollow cylinder in order to resist lateral loads (wind, seismic). Biologists are simulating a cell as a system and are looking for enzyme interactions. Chemists use system thinking to understand the complex interactions of atoms. A complex system has interconnected parts that as a whole exhibit one or more properties not obvious from the properties of the individual parts. Complex systems are analyzed and designed by, for example, physicists, biologists, chemists and management scientists. They design complex systems that are robust and flexible. Take for example the work of the physicist Albert-László Barabási on network theory (see for example BARABÁSI, 2010; SONG and others, 2010). In his work he analyzes the structure of so-called scale-free networks that are characteristic for the functioning of systems such as the World Wide Web or the cell as the basic unit of a living organism. Scale-free networks are characterized by few central nodes
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with many linkages and a powerlaw distribution of the number of links connected to a node. Scalefree networks are usually robust to random failure of nodes, but vulnerable to failure of highly connected nodes. Recent research of the global financial network shows a high connectivity among the different financial institutions and strong interdependency, which makes the network vulnerable to instability (see SCHWEITZER and others, 2009, for a first analysis of the global financial network and its challenges). Economists are usually not at the forefront in complex systems theory and thus are not very well trained to design and validate complex systems. Systems thinking is considered as too much an “engineer” activity and, given the hierarchy of the paradigms in universities, it is not valued by some academics. However, complex global digitized trading platforms and applications require “soft systems” thinking (CHECKLAND, 1998).
Strict division between macro and micro-economics The field of economics is divided between micro-economics and macro-economics. There is not much interaction taking place between those two academic fields. Macro-economists focus on models that analyze and predict the behavior of the economy as a whole. Micro-economists work on the behavior of firms or individuals. However, in practice more macromicro interaction is needed to understand both sides of the same coin. The development and usage of advanced IT, such as social media and visualization technologies,
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will provide the opportunity to link micro behavior of individuals (consumers, employees) to macro policies and vice versa. Google, for example, is doing thousands of experiments, under the guidance of its chief economist Hal Varian, to find out how micro behavior of its clients is related to the design of its applications, such as its key word auction Google Adwords. Experiments deal with varying information strategies that might attract potential consumers to web sites that are ranked higher in Google’s key word auctions. The outcome of these experiments provides insights about how the “informedness” of customers might create opportunities both for customers and firms and generate value for the economy as a whole (see LI, 2009). Another example is the aggregation of data with regard to traffic and trade via Google’s platform, which will provide information about global trends of products and services and the flow of money that is following the opposite direction of the flow of products and services. The capabilities to process and analyze big datasets provide academics and practitioners with the possibility of linking microbehavior to macro-outcomes and of creating the knowledge for understanding these complex micro-macro interactions. It is even more complex as suggested by the social scientist Bruno Latour, who is hypothesizing that the micro-macro level is not only a very outdated concept but also incorrect: “the whole is always smaller than its parts”. Due to advanced digital technologies and databases Bruno Latour et al. (2012) illustrate that these technologies are able to trace and
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visualize social phenomena without distinguishing the micro and macro level anymore. Bruno Latour et al. are using the example of exploring the keyword “self-organization” in the Web of Science between 2006 and 2010 using digital visualization technologies. One can explore the network of this keyword that is built using as nodes all keywords, authors, references and addresses of the articles which use the keyword “selforganization”. Links between two nodes are created whenever these two entities appear in the same article and weights are attributed to these links depending on the frequency of these co-appearances. Node specialization is performed using a graph layout algorithm for network visualization (Latour and others, 2012). Due to these data representation techniques the division between the individual and the whole – in this case the keyword and its network with nodes – becomes obsolete. As Latour et al. discuss: “This is exactly what the striking extension of digital tools is doing to the very notions of ‘individual’ and ‘wholes’. The experience (more and more common nowadays) of navigating on a screen from elements to aggregates may lead researchers to grant less importance to those two provisional end points. Instead of having to choose and thus to jump from individuals to wholes, from micro to macro, you occupy all sorts of other positions, constantly rearranging the way profiles are interconnected and overlapping.” Another example illustrating the role of digital technologies and their impact on micro- and macro-economics is the discussion about the impact of e-money on the different stakeholders in
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the economy. In their research of M-PESA in Kenya, a short message service (SMS)-based money transfer system that allows individuals to deposit, send, and withdraw funds from a virtual account on their cell phones and that is separate from the banking system, William Jack, Tavneet Suri, and Robert Townsend investigated how existing models of monetary theory can be used to think about the impact of mobile banking on the operations of the financial system and the implications for monetary and regulatory policy decisions that are faced by the central bank. The M-PESA example shows how e-money becomes a part of the economy and how the traditional banking institutions (such as the central bank) are extended with mobile operators (that are handling the e-money accounts). Managing liquidity by the central bank and managing e-liquidity by the mobile operators is just one issue that needs to be carefully analyzed and designed. These examples show that due to digital technologies the boundaries between microeconomics and macro-economics are blurring and new ways of analyzing, explaining, and predicting economic phenomena are possible.
Decisions by rational man taken for granted The dominant paradigm in the field of economics is still the rational model of man. Even though it has been known for a long time that human beings process information differently and also take decisions differently. Outsiders such as the psychologist and sociologist Herbert Simon introduced the concept
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of “bounded rationality” and the psychologist Daniel Kahneman introduced concepts such as “prospect theory” (together with Amos Tversky). Herbert Simon and Daniel Kahneman were awarded the Nobel Prize in Economics in 1978 and 2002 respectively. A central element in the concept of bounded rationality is that the human brain has very limited information processing capabilities. Therefore, human decision makers show “satisficing” behavior, e.g. they are looking for solutions that satisfy the problem at hand. Human decision makers are not looking for optimal solutions given the costs of information processing and the potential future risks at hand. Humans, as prospect theory explains, are risk-taking to avoid losses and risk-averse for securing gains. A small example will illustrate this. If you ask people to choose between: A. Getting $1000 with certainty; B. Getting $2500 with 50% chance. Most pick the first option with the preference for a certain $1000, although the second option has a mathematical expectation of $1250. The decision indicates risk-averse behavior. If you ask then to choose between: A. Getting a loss of $1000 with certainty; B. Getting 50% chance of no loss or a $2500 loss. Most answer the second question with the second option although it is much more risky. This decision indicates risk-seeking behavior. As prospect theory explains: most of us find losses roughly twice as painful as we find
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gains pleasurable. Prospect theory is a good candidate for explaining trading behavior of humans in financial markets, e.g. to avoid losses, traders will trade more and incur higher losses resulting in trading more, etcetera. In his recent book, Daniel Kahneman provides an excellent overview of the different biases of human decision making. Both Nobel laureates made clear that full rational decision making is rare and that humans are taking decisions based not only on potential outcomes. Two research directions are seen. The first direction focuses on the behavioral side of decision making and dives into the human brain. Via the use of brain scanning technology (such as functional magnetic resonance imaging (fMRI)) one can detect what part of the brain is used in specific decisions and how decision making in/by the human brain system is done. New fields like neuro-economics, neuro-marketing, and neuroinformation systems are explored. The second direction focuses on the automation of human decision making. Here we enter the world of robotics and intelligent software agents. A recent New York Times article “Skilled Work, Without the Worker” compares the assembly of Apple’s iPhones by 1.2 million low-skilled workers in China with the completely robotized factory of Philips in Drachten, the Netherlands. The Philips factory has 128 robotic arms and these are assembling electric shavers. Robots work 365 days a year, 24 hours a day with no coffee breaks. “With these machines, we can make any consumer device in the world,” said Binne Visser, an electrical engineer who manages the Philips
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assembly line in Drachten. Robotics will have some implications for job markets and economies around the world (see also Andrew McAfee’s TED Palk at http://www.ted.com/ talks/andrew_mcafee_are_droids_ taking_our_jobs.html). But not all tasks will be automated immediately. Most human decision making will be supported by intelligent software agents. These agents will have the data processing power and algorithms to support and improve human decision making. These agents are able to learn and can help in complicated supply chain situations both at the tactical and strategic level of decision making (KETTER and others, 2012). However, most economists, both in academia and in practice, have not been able or have not yet been eager to adopt these concepts in their work. New concepts of human decision making with digital support are needed.
Challenges to overcome these blind spots Economists are facing several challenges in transforming the economic field both in the academic and in the business world. The five blind spots that are identified are useful to start designing more IT savvy economic paradigms. Research collaboration between economists and information system researchers is an important step forward. There are several initiatives such as the Economics and Information Systems track at the European and International Conference on Information Systems (ECIS and ICIS) and the Workshop of Information Systems and Economics (WISE) bridging insights from IT and economics
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(more on http://www.wiseconf. org/). But also in economics a new wave of researchers are positioning themselves around initiatives such as the Institute for New Economic Thinking (INET) (more on http://ineteconomics. org/). Also updating the economics curriculum of economics Master and PhD programs in universities and bringing in elements discussed in the five blind spots will improve the quality of education and provide a new generation of economists. New waves of technologies will continue to evolve and transform the behavior of individuals and societies. The next generation economic models, concepts, and systems will be able to take into account these digital technologies in a robust way. In my opinion developing economic theories is too important to be left only to economists.
NOTE OF APPRECIATION
I would like to thank Eduardo Diniz (FGV-EAESP) for his excellent comments and suggestions on a previous version of this essay. However, I alone am responsible for all errors.
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RESENHA VIDA, O REALITY SHOW
Isleide Fontenelle isleide.fontenelle@fgv.br Professora e Pesquisadora da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getulio Vargas de São Paulo – São Paulo – SP, Brasil
Rituais de sofrimento De Silvia Viana. São Paulo: Boitempo, 2013.
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O que você faria se soubesse o que fazer? É mais ou menos com essas palavras que se compõe parte da música tema de um dos reality shows mais famosos do Brasil. O que você faria? também é o título, em português, do filme espanhol El método, que se desenrola a partir de um processo seletivo para o cargo de executivo de uma grande empresa, no qual os candidatos não conhecem as regras e precisam mostrar o que, de fato, são capazes de fazer para conseguir a vaga. Até onde você chegaria se não soubesse o que fazer? Porque, nesses dois exemplos, o que está em questão é, justamente, a capacidade de vencer uma competição na qual as regras mudam ao sabor do vento, ou melhor, da necessidade de se acirrar a competição a fim de se saber o quanto cada um suporta. Um dos motes centrais do livro Rituais de sofrimento é comparar o formato dos reality shows com o dos modelos de gestão do capitalismo flexível. E, ao longo do livro, a autora não poupa exemplos que tornam, de fato, essa comparação possível. Em alguns casos, inclusive, os formatos se sobrepõem, como no reality show O Aprendiz, conduzido por um empresário, e que tem como enredo a luta dos participantes por uma vaga como
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executivo em uma grande corporação. Para isso, eles se submetem aos mais diferentes tipos de provas, rituais de sofrimento defendidos como necessários para que provem serem dignos do cargo. Luta é, de fato, o termo mais adequado para se referir a essa lógica, não o jogo, como os proponentes desse espetáculo defendem. Nesse caso, a metáfora do jogo é falsa, pois o princípio da empresa que rege os reality shows, assim como o mundo do trabalho contemporâneo, inverte a lógica do jogo, no qual as regras são levadas muito a sério. No princípio da empresa, não há regras, mas há lei: uma lei que institui a proibição da recusa ao sofrimento gratuito, para que o show não pare, ou, nas palavras da autora, “para pôr em movimento o mundo para que não se mova”. A lei da eliminação ronda constantemente quem está em um reality show, mas também todos aqueles que estão na luta real do trabalho, daí porque “eliminação”, no espetáculo televisivo, corresponde a “exclusão” na vida real, pois, mesmo àqueles mais inseridos e mais adaptados ao mundo do trabalho, resta o custo psíquico de saber que tudo pode escapar a qualquer momento. Eliminação, afirma a autora, tornou-se um ritual
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RESENHA n VIDA, O REALITY SHOW
ao qual o trabalho se vê constantemente submetido. É nesse sentido que o livro mostra como os reality shows são processos seletivos televisionados, marcados por uma seleção negativa, ou seja, as pessoas vão sendo eliminadas não porque não são boas o suficiente, mas porque há uma cota de eliminação que precisa ser respeitada. A eliminação é, portanto, o meio e o fim. A obra vai mais longe e mostra como a seleção negativa era o princípio que orientava as seleções em Auschwitz, como revelado por Primo Levi, na obra publicada em 1947, É isto um homem? “O essencial para a administração não é que sejam eliminados justamente os mais inúteis e sim que surjam logo vagas numa porcentagem prefixada.” A mórbida semelhança entre os processos revela outro aspecto perturbador: no caso da seleção negativa, nem mesmo a lógica darwinista parece contar, já que, mesmo que estivessem todos muito bem adaptados, alguém teria que sair. Tudo se passa para que, no final, fiquem apenas o sentimento do mero acaso e o agradecimento à Providência pelo saldo positivo na roleta-russa da vida. Claro que, do lado da ideologia que sustenta tal modelo, as explicações não cessam logo após os processos intermitentes de exclusão: saíram os que não souberam jogar, os que não aguentaram o tranco, o que não tiveram a capacidade de superação; restaram os que souberam ser flexíveis, resilientes, fortes. Mesmo que, na rodada seguinte, um desses vire o fraco da vez. Não é por acaso que resiliência passou a ser o mantra da administração contemporânea. Que estranha forma de vida resulta desse modo de organização social, guiado pela lógica da eliminação? Que tipos de subjetividades se forjam com base nessa lógica?
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É aqui, e somente a partir daqui, que seria possível se pensarem os reality shows como reflexos de uma sociedade voyeurista, narcisista, guiada pelo entretenimento, entre outras adjetivações. Mas enveredar por essa via seria muito pouco, diante do quadro complexo que a obra oferece. Tudo isso entra no pacote, mas a essência desse pacote é de outra natureza: em uma forma social em que o estado de alerta precisa ser permanente, só mesmo se desenvolvendo uma “capacidade de se libertar dos constrangimentos psíquicos gerados pela dor e pela compaixão”, o que seria, em outras palavras, a capacidade do distanciamento cínico que produz a indiferença para com o sofrimento próprio e alheio. Trata-se de um profundo diagnóstico de época, que está além da nossa capacidade de análise, ou melhor, das teorias de que dispomos para tentar explicar esse contexto. Nesse sentido, embora mostre, de maneira acurada, “o que” está acontecendo e o “como”, o livro deixa em aberto o “por quê”. As teorias das quais a autora lança mão para tentar explicar teoricamente esse estado do mundo já não parecem ser suficientes para tanto ou, de outro modo, não foram inteiramente depuradas. Pois se, de um lado, a análise marxiana – central na obra em questão – ainda é fundamental para o entendimento do funcionamento do capitalismo contemporâneo, em especial no que diz respeito ao fetichismo da mercadoria, não há como entender esse novo contexto apenas da perspectiva da “centralidade do trabalho”, tal qual desenvolvida por Marx. Nesse sentido, o “paradigma do gozo” que a autora menciona, mas descarta rapidamente, bem poderia ser um aliado de força para a compreensão dessa nova forma de operação ideológica, que apela
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para um comprometimento absoluto do sujeito em sua ação, embora com o devido distanciamento cínico. Pois a hipótese do gozo, em absoluto, diz respeito ao direito ao prazer. Pelo contrário, estamos na zona nebulosa de um apelo a algo que está além do prazer. Daí porque, quando a autora afirma que o imperativo mestre da lei da eliminação é o da sobrevivência em meio à concorrência, é bem no campo do gozo que estamos. E também do novo modelo de capitalismo. Mas tais digressões só são possíveis com base em uma narrativa refinada. Trata-se de um livro muito bem escrito, que, como bem disse o sociólogo Gabriel Cohn, responsável pela apresentação do livro, é digno de um Kafka. Não por acaso, é uma escrita que deixa transparecer certo sentido de urgência, como se a autora precisasse escrever na mesma aceleração da velocidadetempo que revela e critica, como se, de caso pensado ou não, quisesse colocar-se como parte desse processo narrado. Afinal, a autora deixa entrever e, por vezes, explicita o quanto o mundo acadêmico – cada vez mais conduzido sob a forma de prazos e pontos – também entra nesse cálculo do gozo de uma lei que exige os tais rituais de sofrimento, revelando como nada escapa a essa lógica que engolfa todas as esferas da vida, colonizando até os espaços aparentemente menos aderentes. E se a autora nos dá exemplos, baseada nos reality shows, de como é possível uma recusa, mesmo que passiva, à lei que põe em movimento esses rituais, no show da vida, é o seu livro, originalmente sua tese de doutorado, que se apresenta como um exemplo perfeito de como se burla a lei, pois ele também apresenta a língua do gesto deslocado daqueles que não se distanciam de sua ação.
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INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS ROTINAS ORGANIZACIONAIS Organizações de todos os tipos incorporam, em seus domínios, as forças para a sua inércia ou mudança, que operam de modo mais ou menos independente das ações e da vontade de gestores e membros. As rotinas organizacionais constituem uma dessas forças. Elas são tradicionalmente consideradas locus de conhecimento organizacional, tréguas de conflito intraorganizacionais e componente alvo de objetivos tais como sua criação, perpetuação, replicação, imitação ou extinção. Mais recentemente, as
rotinas organizacionais passaram a ser consideradas objetos em nível micro, úteis para o entendimento de questões relacionadas a vantagens competitivas, desempenho organizacional, práticas, consequências organizacionais aos seus membros e à sociedade, entre outras. Pesquisando essa temática desde 2010, o professor Eduardo Loebel (FGV-EAESP) apresenta cinco sugestões de leitura sobre rotinas organizacionais e suas implicações na pesquisa em estratégia e organizações.
AN EVOLUTIONARY THEORY OF ECONOMIC CHANGE. Richard R. Nelson e Sidney G. Winter. Cambridge; London: The Belknap Press of Harvard University, 1982. 437 p. Este livro é um ataque frontal ao núcleo central do método econômico neoclássico e sugere uma teoria evolucionária como alternativa. Os autores rejeitam o modelo maximizador ortodoxo e descartam seus componentes: a função objetivo global, o bem-definido conjunto de escolhas e a racionalização da escolha maximizadora. Defendem que rotinas organizacionais são como genes que influenciam o comportamento futuro das organizações, em que a busca de novas rotinas representa mudanças.
HANDBOOK OF ORGANIZATIONAL ROUTINES. Markus C. Becker (Ed). Cheltenham; Northampton: Edward Eldgar, 2008. 352 p. O campo de rotinas organizacionais baseia-se em várias disciplinas, incluindo psicologia, ciências sociais, inteligência artificial, economia. Enquanto as primeiras referências são de teóricos comportamentais da firma, a recente atenção é atribuída à corrente neosschumpeteriana criada por Nelson e Winter (1982). Atualmente, a noção está sendo usada como uma lente para compreender e explicar uma grande variedade de fenômenos organizacionais, incluindo a tomada de decisões, inovação, desempenho, aprendizagem e mudança organizacional.
ORGANIZATIONS EVOLVING. Howard E. Aldrich e Martin Ruef. 2nd ed. London; Thousand Oaks; New Delhi; Singapore: Sage, 2006. 344 p. Os autores apresentam seu quadro conceitual evolucionário e descrevem como se relaciona com os paradigmas na teoria organizacional. Sua estrutura subjacente decorre dos processos de variação, seleção, retenção e luta por recursos. Variações em rotinas organizacionais podem ser intencionais ou não. Algumas variações são selecionadas, reproduzidas e mantidas, enquanto outras são eliminadas. É importante considerar processos de seleção no nível das rotinas organizacionais, e não somente para organizações e populações.
PATH DEPENDENCE AND CREATION. Raghu Garud e Peter Karnoe. New York; Hove: Psychology Press, 2001. 440 p. Este livro argumenta que a dependência de trajetória, mesmo quando parece bloquear atores humanos ou organizacionais em tecnologias, práticas ou estruturas obsoletas, não se impõe sobre os atores como se fora destino ou sorte, mas é, também, criada por ações prospectivas da agência humana. Esta coletânea tem como objetivo explícito introduzir a agência humana em modelos evolucionários econômicos e organizacionais, por meio da invenção de um novo conceito: path creation.
THE POWER OF HABIT: Why we do what we do in life and business. Charles Duhigg. New York: Random House, 2012. 400 p. Este livro é dirigido aos leitores em geral e estudiosos das organizações interessados em conhecer os meandros do hábito cotidiano ou melhorar a produtividade nos negócios, por meio do entendimento do comportamento humano previsível e regular. O livro foi escrito por um jornalista, baseado em pesquisas, e se propõe a descontruir o mecanismo comportamental básico por meio de um modelo cíclico, consistindo de um sinal (“uma deixa”), uma rotina e uma recompensa. Eduardo Loebel eloebel@uol.com.br
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INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS DESASTRES E LOGÍSTICA HUMANITÁRIA Quase todas as semanas, imagens de catástrofes, naturais ou provocadas pela ação do homem, invadem os canais de televisão, os jornais e são lugar-comum nas rádios. Em consequência, as pesquisas sobre gerenciamento de operações em desastres e logística humanitária têm crescido, em termos de publicação e importância, nos últimos anos. Operações humanitárias têm recebido crescente interesse, tanto de universitários quanto de profissionais de
operações e logística, como resultado do aumento dramático nas catástrofes naturais e causadas pelo homem. O impacto sobre as populações afetadas pode ser bastante drástico, necessitando de operações de logística, em resposta a emergências, com eficiência e eficácia. Renata de Oliveira Silva, doutoranda na FGV-EAESP, professora da UMC e voluntária da ONG Médicos sem Fronteiras, apresenta cinco sugestões de leitura sobre o tema.
HUMANITARIAN LOGISTICS (INSEAD BUSINESS PRESS) Rolando Tomasini e Luk van Wassenhove. Great Britain: Macmilla Palgrave, 2009. 256 p. Imagine o planejamento de um evento como os Jogos Olímpicos. Agora, imagine o planejamento do mesmo evento, mas sem saber quando ou onde vai acontecer, ou quantas pessoas dele participarão. Esse é o desafio que os profissionais da logística humanitária encontram. Descuidos podem resultar em consequências graves para as vítimas dos desastres, portanto a operação tem que ser precisa. Este livro engloba, de maneira exaustiva, os problemas de logística humanitária.
HUMANITARIAN LOGISTICS: Cross-sector cooperation in disaster relief management. Alessandra Cozzolino. New York: Springer, 2012. 57 p. Em operação humanitária, a colaboração com diversos atores na resolução de emergências pode ajudar a reduzir custos, aumentar a velocidade e melhorar o nível de agilidade na cadeia de suprimentos. A má coordenação entre eles é citada como uma explicação para as lacunas de desempenho. Para uma melhor resposta, existe a necessidade da colaboração não só de órgãos governamentais, militares, organizações humanitárias, mas de parcerias com empresas privadas.
DEAD AID: Why aid is not working and how there is a better way for Africa. Dambisa Moyo. New York: Farrar, Straus and Giroux, 2010. 208 p. Um dos maiores mitos do nosso tempo é que os bilhões de dólares enviados por países ricos para países em desenvolvimento africanos ajudariam a reduzir a pobreza e a aumentar o crescimento. Na verdade, os níveis de pobreza continuam a aumentar, as taxas de crescimento vêm caindo e milhões continuam a sofrer. A obra desmascara o atual modelo de ajuda internacional, promovido pelas celebridades de Hollywood e políticos.
LA VOIE: Pour l’avenir de l’humanité. Edgar Morin. Paris: Fayard, 2011. 309 p. O livro apresenta-se organizado em quatro partes. Na primeira, são apresentadas as políticas da humanidade. Em seguida, são abordadas as reformas do pensamento e da educação. Na terceira parte, são discutidas as reformas da sociedade. E, por fim, abordam-se as reformas da vida. Para Morin, a multiplicidade de crises é enredada na maior crise da humanidade. O autor levanta aspectos para a compreensão dos contextos em que ocorre grande parte das operações humanitárias.
HUMANITARIAN LOGISTICS: Meeting the challenge of preparing for and responding to disasters. Martin Christopher e Peter Tatham. Great Britain: Kogan Page, 2011. 298 p. Em 2007, houve 34 conflitos armados no mundo. Naquele mesmo ano, um total de 414 desastres naturais afetou 211 milhões de pessoas. A logística humanitária examina desafios enfrentados por aqueles cujo papel é organizar e distribuir os recursos em situações difíceis. A obra contribui com insights dos principais especialistas em desastres. Examina também as questões-chave, incluindo armazenamento, aquisição e financiamento, com especial ênfase na preparação de pré-catástrofe, em vez de assistência pós-desastre. Renata de Oliveira Silva reoliveir@gmail.com
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GOVERNANÇA
Entidade de caráter técnico-científico e filantrópico, instituída em 20 de dezembro de 1944 como pessoa jurídica de direito privado, visando ao estudo dos problemas da organização racional do trabalho, especialmente nos seus aspectos administrativos e social, e à conformidade de seus métodos às condições do meio brasileiro.
Suplentes: Antonio Monteiro de Castro Filho, Cristiano Buarque Franco Neto, Eduardo Baptista Vianna, Gilberto Duarte Prado, Jacob Palis Júnior, José Ermírio de Moraes Neto, Marcelo José Basílio de Souza Marinho, Mauricio Matos Peixoto.
Primeiro Presidente e Fundador: Luiz Simões Lopes
CONSELHO CURADOR Presidente: Carlos Alberto Lenz César Protásio
Presidente: Carlos Ivan Simonsen Leal
Vice-presidente: José Alfredo Dias Lins (Klabin Irmãos & Cia.)
Vice-presidentes: Francisco Oswaldo Neves Dornelles, Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, Sergio Franklin Quintella.
Vogais: Alexandre Koch Torres de Assis, Angélica Moreira da Silva (Federação Brasileira de Bancos), Ary Oswaldo Mattos Filho, Carlos Moacyr Gomes de Almeida, Andrea Martini (Souza Cruz S/A), Eduardo M. Krieger, Estado do Rio Grande do Sul, Heitor Chagas de Oliveira, Jaques Wagner (Estado da Bahia), Luiz Chor (Chozil Engenharia Ltda), Marcelo Serfaty, Marcio João de Andrade Fortes, Pedro Henrique Mariani Bittencourt (Banco BBM S.A), Orlando dos Santos Marques (Publicis Brasil Comunicação Ltda), Raul Calfat (Votorantim Participações S.A), Leonardo André Paixão (IRB-Brasil Resseguros S.A), Ronaldo Vilela (Sindicato das Empresas de Seguros Privados, de Previdência Complementar e de Capitalização nos Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo), Sandoval Carneiro Junior.
CONSELHO DIRETOR Presidente: Carlos Ivan Simonsen Leal Vice-presidentes: Francisco Oswaldo Neves Dornelles, Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, Sergio Franklin Quintella. Vogais: Armando Klabin, Carlos Alberto Pires de Carvalho e Albuquerque, Ernane Galvêas, José Luiz Miranda, Lindolpho de Carvalho Dias, Manoel Pio Corrêa Jr., Marcílio Marques Moreira, Roberto Paulo Cezar de Andrade.
DIRETORIA Diretora: Maria Tereza Leme Fleury Vice-Diretora: Maria José Tonelli CONGREGAÇÃO Presidente: Maria Tereza Leme Fleury CONSELHO DE GESTÃO ACADÊMICA Presidente: Maria Tereza Leme Fleury DEPARTAMENTOS DE ENSINO E PESQUISA Administração da Produção e de Operações: Orlando Cattini Júnior Administração Geral e Recursos Humanos: Maria Ester de Freitas Contabilidade, Finanças e Controle: João Carlos Douat Fundamentos Sociais e Jurídicos da Administração: Isleide Arruda Fontenelle Informática e Métodos Quantitativos Aplicados à Administração: Fernando de Souza Meirelles Mercadologia: Inês Pereira Planejamento e Análise Econômica Aplicados à Administração: Domingo Zurrón Ocio Gestão Pública: Henrique Fingermann CURSOS, PROGRAMAS E SERVIÇOS Curso de Graduação em Administração: Nelson Lerner Barth Curso de Graduação em Administração Pública: Fernando Luiz Abrucio Cursos de Especialização (pós-graduação lato sensu): Renato Guimarães Ferreira
Mestrado e Doutorado em Administração de Empresas: Ely Laureano Paiva Mestrado e Doutorado em Administração Pública e Governo: Marta Ferreira Santos Farah Mestrado Profissional em Administração de Empresas (MPA): Marina de Camargo Heck Mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas: Regina Silvia Viotto Monteiro Pacheco Mestrado Profissional em Gestão Internacional: Edgard Elie Roger Barki OneMBA: Marina de Camargo Heck GVnet - Programa de Educação a Distância (em parceria com o IDE): Stavros P. Xanthopoylos GVpec - Programa de Educação Continuada (em parceria com o IDE): Carlos Osmar Bertero Núcleo de Pesquisas: Thomaz Wood Júnior RAE-publicações: Eduardo Henrique Diniz CENTROS DE ESTUDOS Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios: Tales Andreassi Centro de Estudos de Administração Pública e Governo: Marco Antonio Carvalho Teixeira Centro de Estudos de Política e Economia do Setor Público: George Avelino Filho Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde: Ana Maria Malik Centro de Estudos em Sustentabilidade: Mário Prestes Monzoni Neto Centro de Excelência em Logística e Supply Chain: Manoel de Andrade e Silva Reis
Suplentes: Aldo Floris, José Carlos Schmidt Murta Ribeiro, Luiz Ildefonso Simões Lopes (Brookfield Brasil Ltda), Luiz Roberto Nascimento Silva, Manoel Fernando Thompson Motta Filho, Nilson Teixeira (Banco de Investimentos Crédit Suisse S.A), Olavo Monteiro de Carvalho (Monteiro Aranha Participações S.A), Patrick de Larragoiti Lucas (Sul América Companhia Nacional de Seguros), Roberto Castello Branco (VALE S.A.), Rui Barreto (Café Solúvel Brasília S.A), Sergio Lins Andrade (Andrade Gutierrez S.A.), Victório Carlos De Marchi. UNIDADES DA FGV-SP Escola de Administração de Empresas de São Paulo Diretora: Maria Tereza Leme Fleury Escola de Economia de São Paulo Diretor: Yoshiaki Nakano Escola de Direito de São Paulo Diretor: Oscar Vilhena Vieira FGV Projetos Diretor Executivo: Cesar Cunha Campos Diretor Técnico: Ricardo Simonsen Diretor de Controle: Antonio Carlos Kfouri Aidar Vice-Diretor de Projetos: Francisco Eduardo Torres de Sá Vice-Diretor de Estratégia e Mercado: Sidnei Gonzalez Diretoria da FGV para assuntos da FGV-SP Diretor: Francisco S. Mazzucca Diretoria de Operações da FGV-SP: Mario Rocha Souza
Centro de Excelência em Varejo: Jacob Jacques Gelman Centro de Tecnologia de Informação Aplicada: Alberto Luiz Albertin Instituto de Finanças: João Carlos Douat Centro de Estudos de Microfinanças: Lauro Emilio Gonzalez Farias Centro de Estudos em Finanças: William Eid Jr. Centro de Estudos em Private Equity: Cláudio Vilar Furtado APOIO Centro de Desenvolvimento do Ensino e da Aprendizagem: Francisco Aranha Coordenadoria de Avaliação Institucional: Heloisa Mônaco dos Santos Coordenadoria de Estágios e Colocação Profissional: Ana Luisa Vieira Pliopas Coordenadoria de Extensão Cultural: Daniel Pereira Andrade Coordenadoria de Relações Internacionais: Julia Alice Sophia von Maltzan Pacheco Serviço de Apoio e Atendimento Psicológico e Psiquiátrico aos Alunos do Curso de Graduação em Administração: Tiago Luis Corbisier Matheus Divisão de Comunicação e Marketing: Patricia Perim Freitas Santos Alumni GV: Francisco Ilson Saraiva Jr. ASSOCIAÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS DA FGV-EAESP Presidente: José Pereira da Silva DIRETÓRIO ACADÊMICO GETULIO VARGAS Presidente: Julio D´Amore Mello
DIRETORES DA RAE Maio/1961 a jun/65: Raimar Richers; jul/65 a dez/66: Yolanda F. Balcão; jan/67 a jun/68: Carlos Osmar Bertero; jul/68 a jun/69: Ary Bouzan; jul/69 a jun/71: Orlando Figueiredo; jul/71 a dez/72: Manoel Tosta Berlinck; jan/73 a jun/75: Robert N.V.C. Nicol; jul/75 a mar/80: Luiz Antonio de Oliveira Lima, abr/80 a mar/82: Sérgio Micelli Pessoa de Barros; abr/82 a dez/83: Yoshiaki Nakano; jan/84 a set/85: Sérgio Micelli Pessoa de Barros; out/85 a set/89: Maria Cecília Spina Forjaz; out/89 a dez/89: Maria Rita Garcia L. Durand; jan/90 a set/91: Gisela Taschner Goldenstein; out/91 a nov/95: Marilson Alves Gonçalves; dez/95 a dez/00: Roberto Venosa; jan/01 a dez/04: Thomaz Wood Jr.; jan/05 a ago/07: Carlos Osmar Bertero; ago/07 a ago/08: Francisco Aranha; set/08 a jan/09: Flávio Carvalho de Vasconcelos; fev/09: Eduardo Diniz
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Linha Editorial MISSÃO
A RAE-Revista de Administração de Empresas tem como missão fomentar a produção e a disseminação de conhecimento em Administração de Empresas. FOCO
A RAE-Revista de Administração de Empresas tem interesse na publicação de artigos de desenvolvimento teórico, trabalhos empíricos e ensaios. Aceitam-se colaborações do Brasil e do exterior, nos campos da Administração de Empresas e de áreas afins. A pluralidade de abordagens e perspectivas é incentivada. Como revista generalista na área, cobre um espectro amplo de subdomínios de conhecimento, perspectivas e questões. O público primário da RAE é composto por acadêmicos – professores, pesquisadores e estudantes. SUBMISSÃO
Os trabalhos devem ser encaminhados à Redação pela internet por meio do SGP-Sistema de Gestão de Publicações, cujo acesso é feito pelo www.fgv.br/rae/sgp. Os artigos podem ser submetidos em português, inglês, ou espanhol, observando formato e normas de padronização definidos em nosso Manual da Redação. Recomendamos que os autores consultem ainda as Orientações para Autores, com considerações sobre posicionamento, estilo e estrutura antes de enviar seu trabalho para a Redação. O Manual da Redação e as Orientações para autores também podem ser acessados em www.fgv.br/rae/sgp. Veja a íntegra da linha editorial em www.fgv.br/rae
8th Iberoamerican Academy Conference
TRACKS
DATES | June 1, 2013 | August 22, 2013
A
| November 14, 2013 | December 8-10, 2013
Maria Tereza Leme Fleury
Maria José Tonelli Ely Paiva Rodrigo Bandeira de Mello