Dossiê Nuclear: Irã no Centro da Polêmica Nuclear

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“Dossiê Nuclear: Irã no Centro da Polêmica Nuclear” Revista Guia do Estudante - Atualidades, 2011.

Fernanda Carramate e Pedro Dal Prá

Desde a Segunda Guerra Mundial, elas vêm sendo construídas com potencial de destruição cada vez maior: as bombas. Já faz algum tempo que o Irã – influente no Oriente Médio - vem gerando uma polêmica a respeito do assunto: no ano de 1968 foi criado o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), que entrou em vigor dois anos depois. Este é constituído por dois grupos (um deles formado pelas cinco nações que, até o início de 1967 explodiram alguma bomba atômica – EUA, URSS, a atual Rússia, China, Reino Unido e França – e o outro formado pelos demais países que, por sua vez, deveriam se comprometer a não obter armamento nuclear) e um Protocolo Adicional, que visa a visita periódica de “fiscais” da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) para conferir o percentual de urânio enriquecido do país (fundamental para a produção de bombas e armamentos nucleares). O TNP não permite o uso de urânio para fins bélicos, apenas para fins pacíficos, como medicamentos, por exemplo. O TNP proposto pelos Estados Unidos e pela ex-União Soviética tem por objetivo evitar um conflito nuclear e instaurar uma cooperação internacional para a utilização civil dessa fonte. O tratado foi ratificado em 2002 por 188 países. O Brasil assinou o TNP apenas em 1997, em grande parte devido à resistência dos setores militar e nacionalista. Um dos países que mais tem trazido preocupação ao mundo, em relação à produção de Urânio enriquecido, é o Irã. Na primeira avaliação do programa nuclear iraniano desde que o presidente Barack Obama assumiu o cargo, os inspetores atômicos descobriram que o Irã minimizou em um terço a quantidade de urânio que havia declarado ter enriquecido. Pela primeira vez, a quantia de urânio que Teerã tem acumulado - mais de uma tonelada - é suficiente, com o acréscimo de purificação, para a construção de uma bomba atômica. Recentemente, ministros de Relações Exteriores do Irã, da Turquia e do Brasil assinaram um acordo sobre o programa nuclear iraniano na reunião do G-15 (17 países em desenvolvimento), em Teerã. Ahmadinejad aceitou trocar 1.200 quilos de urânio por material nuclear (enriquecido a 20%) equivalente para seu reator de


pesquisas médicas. O processo deverá se dar em território turco. A grande polêmica sobre o enriquecimento de Urânio esbarra sempre na questão de segurança. Em 26 de Abril de 1986, na Ucrânia (até então pertencente à União Soviética), ocorreu o famoso acidente na Usina de Chernobyl, por conta de falha humana – os funcionários a desligavam à noite para, neste período, fazer experimentos. -, que é constituída de grafite (cujo ponto de fusão é aproximadamente 900°C) e não há sistema capaz de resfriá-la. Ocorreu então um superaquecimento do reator, liberando uma grande nuvem radioativa que matou seres vivos no geral, além de causar estragos ambientais e deixou seqüelas até a atualidade. Por pertencer à URSS, a mídia só divulgou o acontecido após alguns dias. Em 11 de março de 2011 o Japão foi atingido por um terremoto e em seguida por tsunamis que varreram sua costa, causando severos danos à Usina Nuclear de Fukushima. O fornecimento de energia elétrica ao complexo de Fukushima Daiichi foi interrompido após o impacto do tsunami, paralisando o sistema de refrigeração dos reatores atômicos e dando início à crise nuclear. O acidente chegou a classificação de nível 6, bem próxima à classificação do acidente de Chernobyl, nível 7. A questão nuclear ainda é pouco conhecida no Brasil. Esse assunto por muito tempo ficou restrito aos ambientes acadêmicos, aos ambientalistas, aos técnicos e militares, tendo cada um uma visão voltada para seus interesses, sem que haja uma discussão unificada e opinião comum entre eles. É certo que a energia nuclear traz muitos benefícios à humanidade, estando presente em muitos avanços da medicina como no diagnóstico e tratamento de doenças como o câncer, no combate a doenças parasitárias como leishmaniose e toxoplasmose. Há também as aplicações agrícolas (aprimoramento de espécies de plantas, controles de pragas), industriais (controle de qualidade de soldas), ambientais (controle poluição de rios e lagos e tratamento de lixo hospitalar). Estão também entre outros exemplos de aplicação das técnicas nucleares a preservação de obras de arte e livros, o beneficiamento de pedras preciosas e semipreciosas e a datação de achados arqueológicos. No setor elétrico, muitos defendem com veemência a utilização da energia nuclear, devido ao seu potencial para fornecer energia elétrica essencial ao desenvolvimento econômico do país. Angra 1 e 2 respondem por 4% do sistema elétrico nacional e 50% da energia consumida no Estado do Rio de Janeiro.


Segmentos contrários à tecnologia nuclear advogam que a utilização de fontes alternativas de energia e o aumento da produção de energia proveniente dos recursos hidroelétricos seriam suficientes para dispensar o uso da energia nuclear. Com o recente acidente nas usinas japonesas seremos forçados a questionar a segurança da população brasileira. Afinal, as usinas são seguras? O Brasil está preparado para contornar um acidente nuclear? Uma reportagem recente em Angra dos Reis mostrou que os hospitais mais próximos não possuem nenhum estoque de iodo, que seria a primeira substância que deveria ser ministrada à população imediatamente em caso de acidente. Como podemos ver, são muitas as aplicações da energia nuclear. Mas a que preço? O risco de acidentes é real. E devemos questionar se os governantes se preocuparam em estruturar um plano de emergência, que inclua evacuação das imediações e socorro imediato às vítimas. Além disso, a ameaça de construção de armas de grande poder de destruição, por países que tenham o interesse de se armar, será sempre um contraponto, que nos fará questionar se o enriquecimento de Urânio é, afinal de contas, o herói ou o grande vilão do planeta Terra.

Referências Bibliográficas: SOARES, Cláudio. Dossiê Nuclear: IRÃ NO CENTRO DA POLÊMICA NUCLEAR. Atualidades Vestibular + ENEM 2011 pp. 28 à 49. http://www.sagres.org.br/biblioteca/questaonuclear.pdf


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