Tipos em Trânsito

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CRISTIANO GONÇALO LIMA MARTINS

SÃO PAULO||||

|||||||||2015

TRÂNSITO

SENAC||||||||

A TIPOGRAFIA COMO SISTEMA DE IDENTIFICAÇÃO VEICULAR NO BRASIL.



Cristiano Gonçalo Lima Martins

TIPOS EM TRÂNSITO: a tipografia como sistema de identificação veicular no Brasil.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac para obtenção do grau de pós-graduado em tipografia. Orientador: Marcio José Freitas.

São Paulo 2015


Martins, Cristiano Gonçalo Lima Tipos em Trânsito: a tipografia como sistema de identificação veicular no Brasil. / Cristiano Gonçalo Lima Martins - São Paulo (SP), 2015. 116 f.: il. color. Orientador(a): Marcio José Freitas, Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-Graduação em Tipografia) Centro Universitário Senac, São Paulo, 2015. 1. Design 2. Tipografia 3. Placas Veiculares 4. Sinalização I. Freitas, Marcio José (Orient.)


Cristiano Gonçalo Lima Martins

TIPOS EM TRÂNSITO: a tipografia como sistema de identificação veicular no Brasil.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac para obtenção do grau de pós-graduado em tipografia. Orientador: Marcio José Freitas.

São Paulo 2015



AGRADECIMENTOS A: Meus pais, Cristiane Gonçalo e José Antonio. Minhas irmãs, Vitória e Mariana Gonçalo. Minha namorada, Patricia Nunes, pelo apoio, carinho e compreensão. Alexandre Borges, Luciana Varella, Isabel Bing e Carlos Pinto pela assistência na produção deste material. Marcio Freitas, Rafael Neder e Leopoldo Leal pelos conselhos e orientações. Keith Bates, pelas conversas esclarecedoras. Maria Helena, que motivou o tema desta pesquisa com seu amor por São Paulo.


R


RESUMO

O

presente projeto de pesquisa tem como propósito contribuir com novas referências para a seleção ou criação de uma tipografia para sistemas de identificação veicular. Identifica as características morfológicas de um sistema tipográfico para este perfil, pesquisando o processo de produção das placas veiculares no Brasil. Trata da legibilidade e do reconhecimento do caractere pelo ponto de vista humano e eletrônico. Utiliza outras tipografias como referência para estabelecer parâmetros na discussão sobre ajustes ópticos, contraformas, aberturas, espaçamento e estilo. PALAVRAS-CHAVE: DESIGN, TIPOGRAFIA, PLACAS VEICULARES E SINALIZAÇÃO.


A


ABSTRACT

T

his project aims at contributing references for the selection and design of a typeface for vehicle registration plates in Brazil. It took into account different aspects of the production process to ensure optimum morphological characteristics for this kind application. It also approaches the issues of legibility and character recognition by both the human eye and electronic devices. Other typefaces have been analysed as references for discussion on optical adjustments, counter and aperture forms, letter spacing and style. KEY-WORDS: DESIGN, TYPOGRAPHY, VEHICLE REGISTRATION PLATE AND SIGNAGE.


S


SUMÁRIO

13 14 14 15

1. INTRODUÇÃO

17 19 20 22 25 27 28 29 31 33 34 35 37

2. LINHA DO TEMPO

39

58 58 58 59 62

4.2.1 Captura de imagem 4.2.2 Extração da placa 4.2.3 Segmentação dos caracteres 4.2.4 Reconhecimento dos caracteres 4.3 A cor do suporte e do caractere

65

5. ARQUITETURA DA TIPOGRAFIA

3. PROCESSO DE PRODUÇÃO

66 67 68 69 70 71 73 74 75 78 86 92 93

5.1 Análise de tipografias 5.1.1 Univers 5.1.2 Frutiger 5.1.3 Helvetica 5.1.4 Interstate 5.1.5 DIN 1451 5.1.6 FF Info 5.1.7 Clearview 5.2 Comparação 5.3 Análise crítica da Mandatory 5.4 Compensação óptica 5.5 Estilo sans serif 5.6 Análise crítica da fe-Engschrift

40 41 44 45 46

3.1 Material 3.2 Estampagem 3.3 Monoespaçamento 3.4 Arredondamento e engrossamento 3.5 Película retrorrefletiva

99 99 100 102

6. CONCLUSÃO

49 51 56

4. LEGIBILIDADE

107 111 113

REFERÊNCIAS CRÉDITOS DE IMAGENS ANEXO

1.1 Procedimentos metodológicos 1.1.1 Sinalização como metodologia 1.2 O Brasil como recorte

2.1 Sistema pioneiro 2.2 Sistema numérico 2.3 Sistema alfanumérico - placa amarela 2.4 Sistema contran - placa cinza 2.5 Resolução 231: contran 2008 2.5.1 Formato 2.5.2 Cores 2.5.3 Tipografia 2.6 Resolução 510: mercosul 2.6.1 Formato 2.6.2 Cores 2.6.3 Tipografia

4.1 Identificação da letra: ponto de vista humano 4.2 Identificação da letra: ponto de vista eletrônico

6.1 Validação da sinalização como método 6.2 A produção da placa como interferência 6.3 A função antecede o estilo


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Introdução

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1. INTRODUÇÃO

O

propósito principal do presente projeto de pesquisa é identificar as características morfológicas e contribuir com novas referências para a aplicação da tipografia no universo das placas de veículos. Serão investigadas as estratégias necessárias para construir ou selecionar uma tipografia como parte de um sistema de identificação veicular. Será discutido até que ponto o processo de produção da placa é um limitador técnico para a construção da tipografia, do mesmo modo que se discutirá como o material do suporte também pode interferir na morfologia dos caracteres, que no Brasil apresentam um espaçamento desproporcional, desprovido de ajustes de kerning, que provavelmente são resultado do processo de gravação que contém limitações técnicas de clichês. Tratar das particularidades do sistema tipográfico atual das placas veiculares do Brasil para se entender limitações; e as escolhas feitas para a seleção do sistema atual irão auxiliar no desenvolvimento do projeto com exemplos comparados com o universo da sinalização. Foi identificada a carência de referências na área de placas de veículos, por isso, como metodologia, buscou-se associações paralelas no raciocínio da tipografia aplicada na sinalização. Para complementar este raciocínio, pesquisas de campo foram realizadas para que se possa entender o método de produção da placa e as características que influenciarão o raciocínio que se deve ter sobre a tipografia para este universo.


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1.1 Procedimentos Metodológicos

1.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ɝɝ Documentar a história das placas de identificação veicular no Brasil. ɝɝ Levantar regras legislativas que ditam o layout das placas atuais. ɝɝ Realizar pesquisa de campo para conhecer o processo de produção, entender todas as etapas e identificar quais são as limitações que influenciam a morfologia da tipografia. ɝɝ Documentar quais dos conceitos técnicos do universo da sinalização são aplicados para tornar efetivo a tipografia de um sistema de identificação veícular. ɝɝ Analisar um grupo de tipografias aplicadas em sistemas de sinalização para identificar caracaterísticas em comum que auxiliarão na construção de uma tipografia para aplicação de sistemas de identificação veícular.

1.1.1 Sinalização como metodologia Na concepção e na implantação da sinalização de trânsito, deve-se ter como princípio básico as condições de percepção dos usuários da via, garantindo a real eficácia dos sinais (contran, 2014). Além disso, os outros princípios básicos presentes no Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito (contran, 2014) são: legalidade – Obedecer ao Código de Trânsito Brasileiro – ctb e legislação complementar. padronização – Seguir um padrão legalmente estabelecido: situações iguais devem ser sinalizadas com o mesmo critério.

Introdução

suficiência – Permitir fácil percepção do que realmente é importante, com quantidade de sinalização compatível com a necessidade. clareza – Transmitir mensagens de fácil compreensão. precisão e confiabilidade – Ser precisa e confiável, correspondendo à situação existente. visibilidade e legibilidade – Ser vista à distância necessária. Ser lida em tempo hábil para a tomada de decisão. Não por coincidência, as placas de carros e motocicletas fazem parte do Código de Trânsito Brasileiro, sendo itens obrigatórios que constam nos equipamentos do veículo. Obedecer à uma lei e a um padrão são semelhanças que as placas de identificação têm em relação à sinalização. No entanto, suficiência, clareza, precisão e confiabilidade, assim como visibilidade e legibilidade, parecem ser fatores inerentes para um sistema de identificação. O código contemplado na placa do veículo deve ser transmitido com clareza para que o agente de trânsito ou as câmeras de monitoramento possam identificar, sem equívocos, as letras e números em diferentes níveis de legibilidade, como escuridão, neblina, chuva, reflexos, baixa resolução, no caso dos equipamentos de monitoramento – e até mesmo o veículo em movimento, onde as letras e números devem ser facilmente identificáveis em um curto período de exposição aos olhos de um agente da lei ou à agilidade de captação do equipamento de monitoramento, que pode ser fotográfico ou de filmagem.


Introdução

1.2 O Brasil como recorte

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Além disso, a estrutura do suporte desse código, requer resistência ao tempo, enfrentando chuvas e colisões, que resultam amassados e outros desgastes que possam comprometer a exposição de tal código. A soma de todos os fatores de legibilidade e durabilidade deposita responsabilidade no único artifício responsável por exibir o código do veículo: a tipografia. Ela deve ser robusta o suficiente para ser gravada no metal, de forma clara, legível e objetiva para ser facilmente interpretada dentro de um pequeno retângulo em constante movimento lido a diferentes distâncias e ângulos.

eram muitas e, consequentemente, a tarefa da fiscalização automática era um processo demorado. Contudo, com a padronização por lei, alguns fatores da legibilidade da tipografia foram comprometidos, caracteres sem espaçamento e contraformas apertadas não contribuem para a eficácia do sistema. Logo, o que motiva a apresentação do presente projeto de pesquisa é discorrer além da criação sobre o desenho dos caracteres do sistema tipográfico atual, mas também levantar as questões técnicas a respeito do raciocínio que deveria existir por trás do processo de construção de um sistema tipográfico para placas de identificação veicular.

Apesar de transmitir um código e não uma mensagem, se não forem rapidamente identificadas, de longas a curtas distâncias, em tempo hábil e sem dúvidas, perdem a sua principal função: identificação do veículo. Já que a tipografia deve cumprir boa parte dessa função, buscar os conceitos no tratamento tipográfico para sinalização é parte da metodologia do presente projeto. Discorrer sobre as definições sobre estilos e forma da letra, proporções, tamanho, espaçamento, reprodução, material, cor e legibilidade faz do conteúdo do projeto um manual técnico para uma tipografia funcionar como um sistema de identificação veicular.

Recortar o Brasil como palco da discussão do projeto não implica em buscar referências de outros países para fundamentar a proposta desta pesquisa e serem exemplos para alguns tópicos desta pesquisa.

1.2 O BRASIL COMO RECORTE O fato de o Brasil ser o palco da discussão é devido à situação de transição para um novo sistema unificado com o mercosul que, desde a última atualização há 8 anos, não sofreu qualquer alteração, tão pouco no layout. Entretanto, foram durante estes oito anos, contados desde 2007, que as placas receberam uma padronização de tipografia. Antes disso, as variedades de estilos

É importante ressaltar que tanto automóveis quanto motocicletas contemplam a mesma tipografia, porem este estudo está focado nas placas de automóveis, pois são a maior parte dos veículos emplacados e representam a herança histórica das placas do Brasil, com registros de automóveis do que de motocicletas. Este recorte possibilita ampliar as questões técnicas de aplicação da tipografia, assim como sugerir soluções para aprimorar a legibilidade do atual sistema de idetificação veícular. Este projeto não tem o objetivo de esgotar o tema, pelo contrário: fomentar discussões para futuros assuntos é parte dos objetivos desta pesquisa.


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Linha do Tempo

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2. LINHA DO TEMPO

N

o Brasil, existem mais de 89 milhões (denatran) de veículos emplacados. Consiredando que, aproximadamente, (reis, 2013) 55% desse número são de automóveis particulares e 22% de motocicletas, existe em média de 1 automóvel a cada 4 habitantes e uma motocicleta a cada 11. Com toda essa quantidade de veículos, que cresce a cada ano, é necessário um sistema de identificação efetivo para registrar o movimento dos carros e motocicletas no Brasil. Todo veículo contempla um código de identificação na sua estrutura principal, o chassi. Esse código é a forma de registro universal dos veículos automotivos produzidos. A combinação de letras e números torna cada veículo único, visando promover um registro individual para diversas funções, como para a identificação em acidentes, furto e transações envolvendo compra e venda. No Brasil, também é conhecido como o Número do Chassi, que fica protegido e oculto no interior do veículo. Entretanto, são as placas do lado externo que se constituem como principal item de identificação da frota de veículos no país. A placa é inerente ao carro, nasce com o registro dele e ali permanece. É basicamente uma identidade: Quando o propietário se muda ou o carro é vendido para alguém de outro estado da Federação, a combinação de letras e números continua com o veículo. Cada estado tem uma série inicial e outra final. Documentar a procedência facilita a pesquisa de possíveis impedimentos que o veículo possa ter na regularização dele. A combinação alfanumérica dada a um veículo não pode ser transferida, substituída e nem reaproveitada, mesmo após o sucateamento.


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O uso da placas no Brasil é disciplinado pelo Código de Trânsito Brasileiro – ctb, cabendo ao Conselho Nacional de Trânsito – contran estabelecer as características e normas de uso das placas veiculares no país. As placas de identificação de veículos no Brasil são emitidas pelos Departamentos Estaduais de Trânsito – detran de cada unidade da Federação, seguindo uma sequência única para todo o país, 3 letras e 4 números separados por um traço ou ponto. O sistema atual é o renavan (Registro Nacional de Veículos Automotores), criado através do Decreto-Lei N.º 237, de 28 de fevereiro de 1967 (brasil, 1967), e implantado de maneira gradativa, com o estado do Paraná sendo o primeiro a implantá-lo em 1990 (denatran, 2012). É um sistema que foi desenvolvido pelo Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) que cobre todo o Brasil, tendo como principal finalidade o registro de todos os veículos do país, efetuados pelas unidades do detran em cada estado e centralizados pela unidade central, o denatran. Mas a história não começou com um único sistema, e em 2016, irá acontecer a quinta evolução do sistema de identificação veícular.

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2.1 SISTEMA PIONEIRO O sistema pioneiro data a aplicação dele de 1901 a 1941, período em que os veículos motorizados começaram a ser emplacados e esse sistema era de competência municipal. A estética das placas apresentava fundo preto com letras em branco, constando uma letra inicial, onde “P” significava “Particular” e “A”, “Aluguel”, seguidas de um quantidade de número que variavam até cinco algarismos e algumas vezes separados por um ponto ou traço, por exemplo: P 5, P 21, A 4, A 121, P 1•543, P 13•856. O formato não era padronizado até então, tão pouco os caracteres, que variavam de acordo com a disponibilidade de tipos que a empresa responsável pela produção dispunha.

Fig.1: placas de veículos particulares de 1930

2.1 Sistema Pioneiro

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2.2 Sistema numérico

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2.2 SISTEMA NUMÉRICO Foi a partir de 1941 e até 1969 que o sistema número entrou em vigor. As placas dispunham apenas de números, sem letras, separados por pontos na altura média. Acima, era chancelado o nome do município seguido da sigla da Unidade da Federação (Município - UF). O controle das placas ainda permanecia sob jurisdição municipal. Foi nesse sistema que as cores passaram a assumir um papel importante na história das placas veiculares no Brasil. Cada cor representava uma utilização, tendo no repertório as cores laranja, vermelha e branca. As de cor laranja de caracteres em preto eram referentes aos veículos particulares. Em meados de 1960, elas passaram a ser amarelas para aumentar o contraste com as de fundo vermelho e caracteres em branco, que se referiam aos veículos de aluguel. As placas com fundo em branco com caracteres em preto pertenciam aos automóveis oficiais do Estado. Para motocicletas, as placas tinham formato oval e apresentavam apenas a sigla do estado, com o ano da expedição da placa na parte inferior.

Numerais em Didot, Adobe.

Como o controle ainda permanecia municipal, os municípios iniciaram a sequência no número 1, sendo que, quando uma combinação atingisse uma centena e um milhar, passava a ser utilizado um ponto para separar e manter as combinações por dezenas (12, 1·23 e 12·23), facilitando assim a visualização. Em alguns estados, como São Paulo, nos últomos anos deste sistema, antes da segunda atualização, passou-se a utilizar a sequência para todo o estado, resultando em registrados de veículos com a placas extensas, no formato 1·23·45·67. Com este sistema, era possível emplacar até 9.999.999 por município/estado; porém, devido à dificuldade de controlar vários veículos com a mesma placa no mesmo estado e também no país, o sistema foi aos poucos se tornando inviável, levando à adoção de um novo padrão a partir do final de 1969. Muitas das tipografias aplicadas nesse período, principalmente a partir da década de 1940, se resumiam em numerais de estilos similares às tipografias Bodoni, Didot, New Century e Walbaum com variações de espessuras, larguras e peculiaridades de desenho.


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2.2 Sistema numĂŠrico

Fig.2: placas com fundo laranjas de 1957. Detalhe para as peculiares curvas dos numerais 7 e 2.

Numerais em ITC Bodoni.

Fig.3: placas com fundo amarelo: dĂŠcada de 1960.

Numerais em New Century Schoolbook, Adobe.

Numerais em Walbaum, LinoType.

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2.3 Sistema alfanumérico - Placa Amarela

2.3 SISTEMA ALFANUMÉRICO PLACA AMARELA No terceiro sistema de placas, adotado no final 1969 e utilizado até 1999, novas mudanças foram adotadas: a combinação passa a ser alfanumérica, com duas letras e quatro números para veículos de quatro ou mais rodas; e duas letras e três números para veículos de 2 ou três rodas, que no caso, em sua maioria eram motocicletas. O que permitiu o registro de uma frota máxima de 7.434.648 veículos por estado, sendo: 675.324 motos e similares; e 6.759.324 veículos, ônibus e caminhões. Além do acréscimo de combinações, houve a mudança de transferência da responsabilidade pela gestão do trânsito para o nível estadual, até então municipal. Isso permitiu que as combinações passassem a ser distribuídas para cada município, deixando de existir veículos com a mesma combinação. Por serem vinculados aos municípios de registro, as placas eram inteiramente trocadas toda vez que o veículo fosse vendido para um cidadão que morasse em outro município, já que a origem estava chancelada acima da combinação alfanumérica. Só que nessa evolução o município e estado de registro passaram a ser exibidos no formato “UF-Município”, porém as cores do sistema anterior foram mantidas. Além disso, a maioria dos municípios adotava uma combinação diferente para cada categoria de veículo e, apenas nos anos finais do sistema, essa utilização foi abolida, devido à restrição de combinações disponíveis. Outra característica do sistema era a reutilização de combinações após os veículos originários serem transferidos para outros municípios ou quando retirados do sistema por terem se tornado sucata.

>> Fig.4: placas com fundo amarelo: a partir de 1969

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2.3 Sistema alfanumérico - Placa Amarela

Nesse período, os registros tipográficos eram variados nas placas de fundo amarelo: existem registros de tipos condensados, expandidos, de traços mais finos ou grossos e até serifados. Existiam também variações, da tiporafia din (Deutsches Institut für Normung - Normatização Industrial Alemã). Os formatos também variavam já que não existia uma regulamentação para a parte visual.

Fig.5: placa com caracteres DIN.

Depois que os sistemas de bancos de dados computadorizados começaram a ser implantados, surgiram incompatibilidades, dentre as quais: uma placa de combinação AB·0123 poderia existir em cada um dos estados do Brasil; as motocicletas usavam uma sequência paralela com apenas três números, placa AB·123 (motocicleta) que poderia ser confundida pelos computadores com a placa AB·0123.

Fig.6: caracteres oblíquos.

Além disso, o número máximo de prefixos disponíveis por estado era de apenas 676 combinações (26 X 26), não havendo disponibilidade de prefixos para todos os municípios, uma vez que, em alguns estados, o número de municípios é quase o mesmo de prefixos ou até maior, como no caso de Minas Gerais, que conta com 853 municípios (ibge, 2014).

Fig.7: caracteres serifados.

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2.4 Sistema Contran - Placa Cinza

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2.4 SISTEMA CONTRAN PLACA CINZA As limitações técnicas do sistema com duas letras e quatro números levaram à implantação, a partir de 1990, de um novo sistema de identificação dos veículos, com o acréscimo de uma letra, além de outras modificações, sendo que a mais perceptível foi a mudança da cor das placas de veículos particulares do amarelo para o cinza. A nova formatação adotada foi a “ABC·1234” com um hífen ou ponto entre as letras e os números. A quantidade máxima de combinações é de 115.316.135 – (26x26x26x9x9x9x9), visto que a sequência ”0000” não é utilizada. Acima da combinação alfanumérica há uma tarjeta metálica removível com a Unidade da Federação e o nome do município onde o veículo está registrado (UF-Município) e essa tarjeta passou a ser substituída quando o veículo era transferido de cidade, sem a necessidade de se trocar toda a placa. Tal procedimento ainda é feito rompendo-se o lacre de segurança (de plástico ou chumbo) e trocando-o por um novo lacre. As placas de veículos de representações diplomáticas não se enquadravam nesse sistema até 2012, e no Distrito Federal e Rio de Janeiro, estados com maior concentração de representações, as antigas placas foram substituídas por placas de três letras, mantendo-se a placa com fundo azul e os dígitos em branco. A modificação das cores das placas dos carros particulares motivou, posteriormente, uma certa discussão sobre a necessidade de se modificar também a cor das placas de veículos oficiais, uma vez que a semelhança entre o cinza usado nos particulares e o branco, usado nos oficiais, tornava difícil a identificação de veículos oficiais e, consequentemente, a fiscalização.

Fig.8: placas com fundo cinza: a partir de 1999.


Fig.9: ilustração da placa da Legislação 231 (CONTRAN, 2007)

Fig.10: diagrama técnico de posicionamento de caracteres e numerais.

Fig.11: diagrama técnico de posicionamento de caracteres e numerais.


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2.5 Resolução 231: Contran 2008

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2.5 RESOLUÇÃO 231: CONTRAN 2008 Foi assim que, em 15 de março de 2007, criou-se o sistema em voga até a data de hoje: a Resolução 231 do contran, que passou a ter vigor a partir de 1º de janeiro de 2008. “O Conselho Nacional de Trânsito – contran, no uso da competência que lhe confere o artigo 12, inciso I, da lei no. 9.503, de 23 de setembro de 1997, que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro e nos termos do disposto no Decreto no 4.711, de 29 de maio de 2003, que trata da Coordenação do Sistema Nacional de Trânsito. Considerando o disposto nos Artigos 115, 221 e 230 nos incisos I, IV e VI do Código de Trânsito Brasileiro – ctb que estabelece que o Contran definirá os modelos e especificações das placas de identificação dos veículos (...)” (contran, 2007)

Essa determinação legal estipulou o uso de cor para todas as placas, como o formato e tipografia-padrão, tanto para veículos, como para motocicletas. Exclui-se assim os problemas de identificação cromáticas entre veículos particulares e oficiais, como também possíveis variações de tonalidade de cor ou tipografia.


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2.5 Resolução 231: Contran 2008

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2.5.1 Formato MODELO AMERICANO 300 mm × 150 mm

MODELO EUROPEU 520 mm × 110/120 mm

MODELO OCEÂNICO 372 mm × 135 mm

MODELO BRASILEIRO 400 mm × 130 mm

Fig.12: variedades nos formatos de placas de automóveis.

As placas para os veículos brasileiros possuem formato retangular com as letras separadas dos números por um hífen ou ponto, exceto para motocicletas, pois nestas os números são posicionados abaixo das letras. As primeiras placas, inclusive em outros países, não tinham as dimensões normalizadas de país para país, ou mesmo dentro do mesmo país. Cada vez que um veículo mudava de território, novos furos tinham que ser feitos no chassis ou para-choques para se fixar uma nova placa. Isso mudou em 1957, ano em que os fabricantes de automóveis estabeleceram com os governos e organizações internacionais de normalização, um acordo de padronização dos tamanhos de placas. Foram estabelecidos três modelos básicos: o americano, o europeu e o oceânico. O modelo americano tem dimensões de 300 mm × 150 mm – usado na maioria dos países da América, porém, ainda podem ocorrer variações em outros países. O modelo europeu tem dimensões de 520 mm × 110/120 mm – usado na maior parte da Europa e nos países ou territórios de domínio europeu. E o modelo oceânico tem as dimensões de 372 mm × 135 mm – usado na maior parte dos países da Oceania e do Pacífico. No Brasil, antes da Resolução 231, de 15 de março de 2007, não existia um padrão a ser seguido: podiam ser encomendados modelos de tamanho japonês ou europeu, resultando em uma vasta variedade de modelos com tipos e tamanhos diferentes. Após a resolução, o padrão das placas do Brasil passou a ser de 400 mm x 130 mm (contran, 2008).


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CATEGORIA DO VEÍCULO

2.5 Resolução 231: Contran 2008

2.5.2 Cores

COR Placa e tarjeta Fundo

Caractere

Particular

Cinza

Preto

Aluguel

Vermelho

Branco

Experiência/Fabricante

Verde

Branco

Aprendizagem

Branco

Vermelho

Coleção

Preto

Cinza

Oficial

Branco

Preto

Missão diplomática

Azul

Branco

Corpo consular

Azul

Branco

Organismo internacional

Azul

Branco

Corpo diplomático

Azul

Branco

Consular/Internacional

Azul

Branco

Representação

Preto

Dourado

Tabela 1: variações de cores, conforme Resolução 231.

Fig.13: variações de cores na Resolução 231.

A Resolução contran 2008 estipula cores específicas para cada tipo de veículo. Com isso, não só o fundo do suporte pode variar, mas também a cor dos caracteres. Tal solução implica em particularidades na legibilidade da tipografia, que serão vistas no capítulo sobre legibilidade.

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2.5 Resolução 231: Contran 2008

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MANDATORY ABCDEFGHIJKLMN OPQRSTUVWXYZ12 34567890


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2.5 Resolução 231: Contran 2008

2.5.3 Tipografia A tipografia selecionada como padrão para a Resolução 231 é a Mandatory. Criada pelo designer britânico Keith Bates, sob a fundidora K-Type, a Mandatory foi uma revisão não oficial para o tipo de letra “Charles Wright” desde 1935, mandatória para as placas de carro do Reino Unido. Daí o nome “Mandatory”.

Fig.14: exemplo de placa do Reino Unido.

A Mandatory é aplicada com 63 mm de altura nas placas de automóveis. Como padrão estabelecido, a espessura de traço de de 10 mm e cada caractere contempla uma largura especifica de acordo com a tabela extraída da Resolução 231 (contran, 2007)

Fig.15: especificações de larguras extraídas na Resolução 231 (CONTRAN, 2008).

Coletando todas as informações extraídas da própria Resolução 231 (contran, 2007), é possível tabelar um resumo técnico com as seguintes especificações, que nos próximos capítulos serão relembradas: Medidas mandatórias

Resolução 231

Altura do caractere

63 mm

Largura do caractere

Variada

Espaço entre caractere

Não especificado

Largura do traço

10 mm

Margem mínima

8 mm

Formato da placa

400 x 130 mm

Tabela 2: medidas mandatórias da Resolução 231.

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Fig.16: modelo de placa padão MERCOSUL, Resolução 510.

Fig.17: diagrama técnico do padão MERCOSUL, Resolução 510.


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2.6 Resolução 510: Mercosul

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2.6 RESOLUÇÃO 510: MERCOSUL Em janeiro de 2016, entrará em vigor a Resolução n.º 510, de 27 de novembro de 2014, que estabelece o sistema de placas de identificação de veículos no padrão estabelecido para o mercosul.

O objetivo dessa implementação é o de efetivar a identificação e a fiscalização de veículos nos Estados Partes e contribuir para a circulação e a segurança no trânsito entre os países em questão.

Os cinco países – Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela – terão modelo de placa unificada. Essa norma atingirá a frota de quase 110 milhões de veículos nesses países e tem o objetivo de fortalecer a integração regional e a circulação de cidadãos entre membros do bloco mercosul (brasil, 2014).

A intenção de começar a implementação nos veículos de carga e passageiros é justamente pelo fato de caminhões e ônibus cruzarem as fronteiras em maior número e frequência e por já serem obrigados a circular no âmbito do mercosul com o Certificado de Inspeção Técnica Veicular, o citv. Esse documento atesta que o veículo cumpre as condições de segurança estabelecidas pelos países em questão para transitar na região (autoesporte, 2014).

A nova identificação será formada por sete caracteres: duas letras, três números e mais duas letras. Essa estrutura é capaz de gerar até 450 milhões de diferentes combinações, 275 milhões a mais comparado ao modelo atual (contran 2007); segundo o denatran, no atual sistema, o Brasil terá combinações disponíveis apenas até 2030. O que dá uma margem considerável, já que a frota total de veículos dos cinco países está estimada em aproximadamente 110 milhões de unidades.

A unificação das placas também visa, segundo o denatran, conferir mais segurança, “facilitar as informações entre os países, ajudar no combate à clonagem e a roubos de carga e a obter um maior controle de infrações” (autoesporte, 2014). Outra necessidade atendida pelo novo sistema são as combinações entre números e letras.


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2.6 Resolução 510: Mercosul

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2.6.1 Formato Os sistemas de identificação da Resolução 510 mantêm o mesmo formato da resolução (130 mm × 400 mm) anterior, porém a diagramação dos tipos, tamanhos e estilo foi alterada. Os sete caracteres que se intercalam em duas letras, três números e outras duas letras continuam monoespacaçados, mas com altura de 65 mm sobre o fundo branco, localizados abaixo de uma barra azul com extensão até ambas extremidades de 30 mm × 390 mm, ao lado direito, uma área de reserva de 30mm para o símbolo do mercosul e da bandeira do país de origem do veículo.

Fig.18: placas veiculares do modelo alemão.

As novas placas adotadas no mercosul terão 130 mm de altura por 400 mm de largura, as mesmas dimensões utilizadas hoje no Brasil. O design será semelhante ao adotado nos países da União Europeia: fundo branco com faixa azul, porém na parte superior, como a fig. 19 ao lado. Haverá ainda o símbolo do mercosul à esquerda, além do nome e da bandeira do país de origem do veículo, à direita.


Linha do Tempo

2.6 Resolução 510: Mercosul

35

2.6.2 Cores Diferente da Resolução 231, o futuro das placas veiculares do Brasil será de suporte branco com caracteres de cores diferentes para cada segmento de veículo: USO DO VEÍCULO

COR DOS CARACTERES

Particular

Preta

Comercial (aluguel e aprendizagem)

Vermelha (Pantone Fórmula Sólido Brilhante 186C)

Oficial e representação

Azul (Pantone Fórmula Sólido Brilhante 286C)

Diplomático/consular (missão diplomática, corpo consular, corpo diplomático, organismo consular e/ou internacional e acordo cooperação internacional)

Dourada (Pantone Fórmula Sólido Brilhante 130C)

Especiais (experiência / fabricantes de veículos, peças e implementos)

Verde (Pantone Fórmula Sólido Brilhante 341C)

Coleção

Cinza Prata (Swop Pantone Grey)

Tabela 3: variações de cores da Resolução 510.

Fig.19: variações de cores da Resolução 510.


36

2.6 Resolução 510: Mercosul

Linha do Tempo

FE-Engschrift ABCDEFGHIJKLM NOPQRSTUVWXYZ 1234567890


Linha do Tempo

2.6 Resolução 510: Mercosul

2.6.3 Tipografia fe-Engschrift é a fonte selecionada para a Resolução 510 (contran, 2014), que será contemplada também em todos os países que farão parte do mercosul. fe é a abreviação para as palavras em alemão que significam “difícil de falsificar” (fälschungserschwerend) e o design original dessa tipografia foi criado por Karlgeorg Hoefer (1914-2000). Por padrão, a tipografia é monoespaçada (tal termo e a sua importância serão explicados futuramente no presente projeto de pesquisa) e, com isso, diferente da Resolução 231, todas as larguras são iguais, com 46 mm.

A altura dos caracteres é 2 mm maior que anteriormente, passando a ter 65 mm. A espessura de traço perde especificação, dependendo da reprodução fiel do desenho da fe-Engschrift. Resumindo a Resolução 510 em uma tabela de características técnicas e comparando as características da Resolução 231 levantadas anteriormente, é possível perceber que a maior mudança está na maneira como os caracteres são espacejados.

MEDIDAS MANDATÓRIAS

RESOLUÇÃO 510

RESOLUÇÃO 231

Altura do caractere

65 mm

63 mm

Largura do caractere

46 mm (largura do clichê)

Variada

Espaço entre caractere

Nulo

Não especificado

Largura do traço

Proporcional à fonte

10 mm

Margem mínima

Esquerda: 30 mm Topo e Bbase: 8 mm Direita: 40 mm

8 mm

Formato da placa

400 mm x 130 mm

400 mm x 130 mm

Tabela 4: medidas mandatórias das Resoluções 510 e 231.

37


3


Processo de Produção

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3. PROCESSO DE PRODUÇÃO

P

ara prolongar a durabilidade do código na placa, este é estampado em alto-relevo. Isso garante que, mesmo com o desgaste da tinta de cobertura, que pode acontecer devido a diferentes condições como a ação do tempo, chuvas e possíveis colisões, a informação permaneça inscrita na placa. O relevo das letras e números presentes nas placas é realizado por meio do processo de estampagem, que consiste na deformação de chapas em operação de prensagem a frio. Existem clichês para cada caractere que, distribuídos dentro de um diagrama, com as dimensões da placa, são prensados contra o metal.


40

3.1 Material

3.1 MATERIAL As placas de carro são geralmente de alumínio para resistir ao tempo, clima e possíveis colisões. “I - O material utilizado na confecção das placas de identificação de veículos automotores poderá ser chapa de ferro laminado a frio, bitola 22, SAE I 008, ou em alumínio (não galvanizado) bitola 1 mm. II - O material utilizado na confecção das tarjetas, dianteiras e traseiras, poderá ser em chapa de ferro, bitola 26, SAE 1008, ou em alumínio bitola O,8”. (contran, 2007)

Por mais que na Resolução do contran exista a possibilidade do uso de chapas de ferro, essas são raramente utilizadas em função da facilidade de manuseio e resistência que o alumínio proporciona. O alumínio é um metal leve, macio e resistente. Além disso, não é tóxico como o ferro, não-magnético e não cria faíscas quando exposto a atritos; a sua densidade é aproximadamente de um terço do aço ou cobre; e é maleável e dúctil, apto para a mecanização e fundição, além de ter uma excelente resistência à corrosão e durabilidade devido à camada protetora de óxido. É o segundo metal mais maleável, sendo o primeiro o ouro (wikipedia, 2015). Portando essas características, o processo de estampagem das placas se torna eficiente, já que a qualidade da estampagem dos caracteres depende da resistência do material.

Processo de Produção


Processo de Produção

3.2 Estampagem

3.2 ESTAMPAGEM Na estampagem, existem basicamente dois tipos de processos: de punções únicas ou de clichês de encaixe. Neste último e, atualmente mais comum, a placa de metal é posicionada entre

dois clichês: um com o desenho do caractere em alto-relevo, que é posicionado na parte de cima da chapa de alumínio, e o outro em baixorelevo posicionado na parte de baixo da chapa.

Alto-relevo Baixo-relevo

Chapa de alumínio

Fig.20: o processo se inicia com dois tipos de clichês: um em alto-relevo e outro em baixorelevo, ambos com o mesmo caractere. A placa é posicionada entre esses dois clichês.

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42

3.2 Estampagem

Processo de Produção

Baixo-relevo

Alto-relevo

Chapa de alumínio

Fig.21: ilustração representando os clichês posicionados na gaveta: a segunda etapa antes da prensagem.

Uma vez a chapa de metal estando no meio das duas configurações de clichês, ela é fechada em uma espécie de gaveta e levada para a prensa onde a deformação acontece de fato. Esse tipo de produção aprimora a definição das arestas das

letras e números na placa estampada. Esse processo força ainda mais o metal a assumir determinada forma, definindo os contornos e diminuindo a incidência de arestas arredondadas para controlar a variação de espessura dos caracteres.


Processo de Produção

3.2 Estampagem

Após estampada, com todos os caracteres em alto-relevo, é iniciado o processo de pintura dos números e letras, por meio de um rolo entintado ou, nas produções modernizadas, por colagem de uma fita de estampagem a calor (hot stamping). Independente do processo, a pintura dos caracteres é orientada pela diferença de altura da base da placa e dos tipos estampados e, nesse momento percebe-se as alterações de espessura de traços entre os clichês e o produto final e também os cantos suavemente arredondados, que é uma estética comum entre os tipos nas placas de veículos do Brasil.

Fig.22: aplicação de película hot stamping.

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3.3 Monoespaçamento

Processo de Produção

3.3 MONOESPAÇAMENTO A montagem que antecede a estampagem em si relaciona-se, de certa forma, com a técnica de impressão de tipos móveis, criada no período da Renascença, onde os tipos eram alinhados dentro de uma rama e fixados por cunhas para que não se movessem durante o resto do processo (clair, 2005). A etapa de montagem de clichês de um placa de identificação veicular também depende de um gabarito (rama) que alinha e orienta as punções para serem presas nos seus lugares com barras de metal (cunhas) que pressionam e travam as suas posições em um espaço de tamanho único. Como as placas contemplam diversas combinações e o espaço é limitado, é necessário que os tipos tenham sempre a mesma largura para evitar que faltem ou sobrem espaços que possam atrapalhar o processo do relevo. Sendo assim, é preferível que os tipos sejam monoespaçados. Placas de identificação veicular são essencialmente um formulário a ser preenchido com dados variáveis. Mais de 100 milhões de combinações podem acontecer em um gabarito restrito a exatamente oito caracteres alinhados, lado a lado, pelas mãos de operários livres da obrigação do conhecimento tipográfico. Em um processo manual e descompromissado com a estética do artefato, não há espaço para as preocupações entre relações entre letras e seus desenhos. O tempo é um fator importante devido ao ritmo de produção e quantidade de placas a serem produzidas em pauta. A diagramação dos tipos na matriz deve ser objetiva e rápida. E, para que não sobrem dúvidas entre cada letra, todas devem preencher o mesmo espaço independente da sua ordem ou formato, pois a combinação pode variar, mas o espaço não. Neste momento,

é identificada a importância da modularidade da tipografia, e as letras mono-espaçadas são a melhor indicação para suprir tal necessidade. Os tipos ocidentais, também classificados como monoespace, passo-fixo (fixed-pitch), fixedwidth ou não-proporcional (non proportional) nasceram nos projetos para máquinas de escrever (strizver, 2014), onde o mecanismo só podia se mover a uma mesma distância para a frente a cada caractere digitado, exigindo que o espaço preenchido por cada tipo fosse o mesmo para evitar sobreposições ou intervalos não desejados. Apesar de o processo ser raramente automatizado, no caso da produção de placas de automóveis no Brasil, a facilidade e agilidade que os tipos monoespaçados proporcionam torna o ritmo de trabalho eficiente e evita a falta ou a sobra de espaço dentro da matriz. Entretanto, para que todos os tipos ocupem uma mesma largura, é necessário que o desenho dos caracteres tome outro curso distante das proporções clássicas ou modernas da tipografia (henestrosa; meseguer; scaglione, 2014), um ”M” por exemplo, terá uma largura próxima de um “S”. Tais características alteram o desenho do caractere e refletem não só na sua personalidade, mas também na relação entreletras. Bringhurst (2005) afirma que a quantidade de espaço é muito menos importante que o seu equilíbrio. Sequências como “LA” ou “AVA” podem não precisar de nenhum espaço, enquanto sequências “NN” e “HIH” implorarão por uma abertura generosa (bringhurst, 2005 p.38). Contudo, tal afirmação é aplicável diante de letras de proporções relativas. No caso dos tipos monoespaçados e devido à matriz de área limitada em que serão aplicados,


Processo de Produção

3.4 Arredondamento e Engrossamento

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o cálculo dos seus entre-espaços é crucial para um equilíbrio homogêneo, já que é impossível escapar das inconsistências no espacejamento entreletras, dadas as formas do alfabeto latino. Principalmente pelo fato de que o processo de tipos móveis não possibilita o ajuste de kerning que seria responsável por amenizar essas diferenças, se faz ainda mais presente a preocupação em desenhar e distribuir adequadamente cada tipo monoespaçado, a fim de garantir uma regularidade nas diferenças entreletras.

3.4 ARREDONDAMENTO E ENGROSSAMENTO

Fig.23: fator de arredondamento na letra V na placa da legislação 231: Além de tornar-se arredondada, a característica do vértice central diminui ainda mais a abertura da letra. Tal característica acontece também nas outras letras e números com encontro de vértices, como A, M, W, Y, Z, 4, etc.

Apesar de maleável, o alumínio ainda apresenta uma determinada resistência à estampagem e essa característica atribui uma estética ao resultado do caractere estampado: um imprevisível arredondamento no relevo do caractere (em alguns cantos de ângulos agudos e encontros de traços) e uma aresta abaulada que, por consequência, pode engrossar a espessura dos caracteres mais que originalmente no formato do clichê. Não é possível estabelecer um padrão para tal alteração de espessura, já que essa variação depende da procedência da matéria-prima da chapa e do fabricante, além de diferentes pressões de prensas, calor (clima) e outros fatores. Tal particularidade demonstra a importância do espaçamento entreletras, que deve ser projetado com cautela, tendo em mente a possibilidade de engrossamento do caractere e, consequentemente menor espaço entreletras. O mesmo raciocínio é valido para as contraformas e aberturas, que devem contemplar compensações para que a massa de preto não seja demasiada.


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3.5 Película Retrorrefletiva

3.5 PELÍCULA RETRORREFLETIVA A partir da Resolução 231 (contran, 2007), e também na futura Resolução 510, tornou-se obrigatório o uso de películas retrorrefletivas nas placas de identificação. Tal sistema se assemelha ás placas rodoviárias (contran, 2014 p. 25) que carregam na sua estrutura outras qualidades de películas próprias para uso em rodovias. O material consiste em milhares de lentes microesféricas, agregadas a uma resina sintética, recobertas por um plástico transparente e flexível, que lhe confere uma superfície lisa e plana, a qual permite apresentar a mesma aparência quer durante o dia quer durante a noite, quando observada à luz dos faróis de um veículo. Possui ainda um adesivo sensível à pressão e maleável para suportar elongação necessária no processo produtivo de placas estampadas (contran, 2007). Tais micropartículas refletoras na composição da película reagem a determinadas faixas de luz, aumentado a luminosidade da superfície, como focos de faróis veiculares ou flash fotográfico; e aumentando a eficácia do monitoramento pelas câmeras de segurança e radares fotográficos em situações de visibilidade comprometida. A função não carrega apenas questões de monitoramento, mas também de segurança, de acordo o Departamento Nacional de Trânsito–denatran (autoesporte, 2012): a obrigatoriedade das placas retrorrefletivas visa aumentar a segurança no trânsito. Em situações de chuva, neblina ou mesmo à noite, a película retrorrefletiva possibilita a melhor visualização da distância de um veículo em relação a outro.

Processo de Produção


Processo de Produção

3.5 Película Retrorrefletiva

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Fig.24: a mesma placa (Resolução 231) com película retrorrefletiva sem reação à luz intensa (à esquerda) e com reação à luz intensa (à direita). A reflexão aumenta o brilho da placa e torna o suporte brilhante.

A frequência de luz em torno das formas da tipografia resulta em um efeito de halo que interfere na espessura dos traços, tornando-os visualmente mais finos que a realidade. Tal fator não é uma preocupação para o sistema atual do contran (2007), já que a tipografia é robusta o suficiente para suportar tal interferência. Entretando, a perda de detalhes não deve ser ignorada. Os cantos dos encontros de retas e diagonais naturalmente se arredondam devido à estampagem, porém, o clichê de fato não é fundido dessa maneira, tornando variadas as dimensões do arredondamento. Atrelado a fundo luminoso da placa retrorrefletora, os detalhes tendem a se arredondar ainda mais principalmente nos vértices de diagonais, como acontece nos caracteres “V”, “W”, “M”, “A”, “Y” e “4”. A longas distâncias, os cantos da letras naturalmente tendem a parecer mais arredondados (kindersley, 1960 apud beier, 2012 p. 107).

Fig.25: a incidência de luz projetada em torno dos caracteres intensifica o arredondamento das contraformas.


4


Legibilidade

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4. LEGIBILIDADE

É

fato que todo veículo regulamentado deve ser emplacado e assim identificado para ser monitorado perante as leis dos órgãos responsáveis de trânsito. É essencial que tal artefato carregue a preocupação de garantir a leitura em condições de baixa legibilidade, como movimento,escuridão, reflexão, ação do tempo e interferências físicas, como amassados ou durabilidade da película, ou tinta de cobertura; além de também proporcionar boa legibilidade para os radares de trânsito, que possuem um método extremamente restrito de reconhecimento de forma. Todas essas questões, excluindo a resistência do material, depositam uma grande carga de responsabilidade na tipografia e no processo de aplicação na placa. A tipografia na placa de identificação deve contemplar tanto boa legibilidade como também leiturabilidade. É importante ressaltar que, apesar de se corresponderem, esses dois termos possuem certas diferenças. Legibilidade trata a respeito do design do caractere – proporção, forma, contraforma, espessura –, e leiturabilidade lida com as formas com que a tipografia é aplicada – espaço, contraste com o fundo, tamanho e cor. Carter (1993) resume legibilidade como a clareza com que cada signo é decifrado, representa as qualidades e atributos inerentes da tipografia que fazem do tipo legível. E leiturabilidade é tornar o material atrativo e convidativo para o leitor. Per Mollerup (2013) afirma que o leitor de uma placa de sinalização tem uma única chance para compreender o sinal transmitido, como é o caso de um motorista, por exemplo, ao parar ou reduzir a velocidade para tentar compreender a mensagem do artefato no outro veículo.


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Muitas sinalizações devem ser lidas enquanto o leitor se mantém em movimento, mesmo que alterando a distância e o ângulo de leitura. Isso significa que o profissional que planeja, sejam placas de sinalização ou de identificação, deve enfatizar a função da demanda da tipografia. Quanto mais crítica a circunstância em que um placa é aplicada, maior deve ser o cuidado da sua produção. Apesar de habitar o limiar entre leiturabilidade e legibilidade, o que distância as placas de identificação veicular de um sistema de sinalização é a sua própria função. A combinação alfanumérica contemplada no sistema deve ser identificada e não definitivamente lida. Configurar o código da placa em caixa alta significa pontuar letras e não transmitir uma mensagem. Palavras em caixa alta podem ser ruins para legibilidade, porém para identificação são efetivas, porque ignoram a função da leitura de uma palavra e impõem a identificação de um código.

Legibilidade

As letras maiúsculas compartilham de uma largura opticamente uniforme (samara, 2004). Isso significa que, quando configuradas juntas, as letras maiúsculas e números produzem um retângulo visual com diferentes detalhes. Mesmo que algumas palavras se formem com poucas combinações de letras (PUM, FUI, OCA, OLA, PIU, PUA, PAO), a leitura de uma placa de veículo é um esforço de identificação de caractere por caractere, diferente de um texto ou mensagem, onde a leitura é baseada em diferentes teorias de como o cérebro e os olhos se articulam para cumprir tal função: a do reconhecimento da palavra. Durante anos, cientistas levantaram diversas teorias para definir o que realmente acontece quando o leitor percebe uma palavra ou letra. Tais teorias emergem desde o conceito de que as palavras são percebidas como um todo até o conceito de que a leitura é um processo de percepção de letra por letra.


Legibilidade

4.1 Identificação da letra: Ponto de vista humano

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4.1 IDENTIFICAÇÃO DA LETRA: PONTO DE VISTA HUMANO Frutiger (1997) defende a ideia essencial de que para cada letra do alfabeto o cérebro tem alojado um modelo básico da forma de cada letra. Conforme o leitor percebe uma nova forma, o cérebro acessa esse repertório à procura de um modelo que combine com o que está sendo observado. “Na infância, quando começamos a aprender a ler e a escrever, é comum soletrarmos tudo que lemos. Somente mais tarde, o subconsciente deixa de se preocupar com letras isoladas para concentrar-se nas sílabas e palavras. (...) Todo leitor dispõe de um vocabulário de palavras e sílabas nos moldes de um esquema básico de tabela”. (frutiger, 1997 p. 169)

Pode-se criar uma metáfora sobre um buraco de fechadura e a sua chave (hunziquer, 1998 apud beier, 2012 p. 23), onde o leitor localiza o esqueleto da forma básica da letra que, por sua vez, se encaixa como uma chave no buraco da fechadura acessando todos os gatilhos de identificação, que são o repertório de letras na memória. A articulação desses repertórios testados em comparação com o formato da “chave” representa o trabalho que o cérebro tem até encontrar a interpretação ideal para a forma identificada.

Fig.26: painel de comparação de similaridades (BEIER, 2012): antes de reconhecer a letra, o cérebro reconhece características individuais de cada caractere que, em seguida, combina tais aspectos para eliminar as letras relacionadas e concluir qual é a letra captada.


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4.1 Identificação da letra: Ponto de vista humano

Legibilidade

No entanto, tal tarefa se torna complexa pensando na quantidade de variações de estilos e formas que uma letra pode ter e como o usuário lida em reconhecer a vasta variedade de tipografias e manuscritos. Para se ter um esquema básico de tabela, seria necessário para o cérebro recordar diferentes moldes de estilos para um “A” mais rebuscado e um “A” sem serifa, além de incontáveis variações de letras manuscritas.

Mesmo que o cérebro tenha algum tipo de processo de fitragem para formas de cada letra, no entanto, parece duvidoso que um sistema como esse seria capaz de decidir quais partes da forma de um caractere são essenciais e quais não são.

Fig.27: diferentes estilos de letra A exigem inúmeras decisões para o cérebro identificar o signo corretamente. Quanto maior a complexidade do caractere, maior o tempo da identificação dele.

Para complementar a teoria de Frutiger, Sophie Beier (2012) insere um segundo conceito de que, ao invés da percepção da letra como um todo, o cérebro codifica determinadas características dos caracteres, uma a uma. Este processo de análise é baseado na codificação das letras e números como uma variedade de diferentes características que, gradualmente, se combinam até que o estágio de identificação se dê por acabado.

Fig.28: etapas de reconhecimento (BEIER, 2012): o “B”, além de ter uma mesma relação com o “R” ou “P”, também tem com o “3”, assim como o “H” pode ser um “4” antes do reconhecimento final dele. Pequenas estruturas são responsáveis pela distinção entre as letras ou números.


Legibilidade

4.1 Identificação da letra: Ponto de vista humano

Em favor dessa teoria, apresenta-se um estudo (hubel apus beier, 2012) sobre o sistema visual dos gatos. Projetando diferentes formas de padrões geométricos em diferentes regiões da retina de um gato, a pesquisa demonstrou que as células corticais se iluminavam diferentemente de acordo com estímulos processados por linhas horizontais, verticais e curvas. É fato que o sistema dos felinos se distancia dos humanos, porém, é possível afirmar que o processo de identificação de linhas e curvas, no córtex, é similar entre as duas espécies.

ODUGQR

IVMXEW

QCDUGO

EWVMIX

CQQGRD

EXWMW

QUGCDR

EXWMIE

URDGQO

VXWEMI

GRUQDO

MXVEWI

DUZGRO

XVWMEI

UCGROD

MWXIEIV

DQRCGU

VWMIEX

CGUROQ

WVWEIV

OCDURQ

XVWMEI

Para confirmar tal opinião científica, Ulric Nesser (1967 apud beier, 2012 p. 24) propôs em 1976 uma tarefa-teste que propõem localizar a letra Z em meio a outras letras, porém separadas em dois grupos de contexto: de formas não relacionadas — redondas na sua maioria — (ODUQRC) e as que têm relação—retangulares — (IVMXWN), comprovando que a tarefa se torna mais fácil na busca no grupos de letras não relacionadas, do que nas relacionadas. Tal experimento complementa a teoria de Frutiger, já que a ocasião não é simplesmente encontrar uma forma diferente e ignorar as outras. Pelo contrário, existem interferências sobre tal atividade, encontrar com dificuldade a letra em um contexto de similaridades justifica que o cérebro e todo o sistema visual necessitam passar por um processo de reconhecimento por um plano geral, e não simplesmente ignorar as outras informações de forma. Tendo em mente as articulações que o sistema visual percorre para reconhecer um determinado caractere, é preciso cuidar do desenho de cada um deles para que a distinção seja efetiva quando eles estiverem relacionados, lado a lado, em uma placa de identificação veicular.

UOCGQD

VEWMIX

RGQCOU

IVWMEW

GRUDQO

WVZMXE

OCURDO

EXWMIE

DUCOQG

XVWMEI

GCROQG

IVMXEW

GOQUGO

MWXIEIV

URDOGO

MWXIEIV

GODRQC

WVWEIV

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Tabela 5: “Encontre o Z” O estudo de Ulric Neisser (1967 apud BEIER, 2012 p. 24) demonstra que é mais fácil encontrar o Z na coluna da esquerda, que contém caracteres com aspectos distintos da estrutura de Z, do que na coluna da direita, onde existem caracteres com aspectos similares.


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4.1 Identificação da letra: Ponto de vista humano

TIJL HNM VYWMKX FBPETH OQDCG O reconhecimento por parte do cérebro deve ser rápido diante do curto período de exposição aos olhos. Um veículo que ultrapassou um sinal vermelho, por exemplo, não pode passar despercebido aos olhos da autoridade de trânsito, e esses olhos, por sua vez, devem receber a informação de maneira efetiva, considerando o tempo de exposição e o desenho da tipografia.

Legibilidade

Fig.29: grupo de letras comumente confundidas: A estrutura em amarelo é característica em comum entre cada grupo de letras que podem ser facilmente confundidas entre si, ao olho humano.


Legibilidade

4.1 Identificação da letra: Ponto de vista humano

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Fig.30: a determinadas distâncias, a semelhança entre caracteres se agrava. Na imagem, é difícil distinguir qual caractere é a letra “O”, “D” ou “Q”.


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4.2 Identificação da letra: Ponto de vista Eletrônico

Legibilidade

4.2 IDENTIFICAÇÃO DA LETRA: PONTO DE VISTA ELETRÔNICO Além do olho humano, o recurso de reconhecimento de placas por câmeras de monitoração é amplamente utilizado na fiscalização de trânsito. Esse sistema é denominado como alpr - Sistemas de Reconhecimento Automático de Placas. A vasta distribuição de radares fotográficos em vias locais e rodoviárias, além de efetivar as autuações de infração à legislação de trânsito ajuda na pesquisa de veículos roubados ou na monitoração de estacionamentos. Dentre os radares fotográficos, existem três tipos em operação no Brasil (pogeto, 2012): fixos – Redutores e controladores de velocidade.

1. A visão computacional consiste em um processamento e análise de

estáticos – O equipamento fica em um veículo parado sobre um tripé ou qualquer outro tipo de apoio.

imagens com o intuito de interpretar as informações nelas contidas. Tal processo por submissões de diferentes imagens que são absorvidas em um banco de

móveis – O aparelho fica no veículo do agente de trânsito. Mede em movimento a velocidade dos carros que passam ao seu lado.

dados da máquina e articulados para seu aprendizado. Nos sistemas alpr, tal etapa é denominada pelos sistemas de reconhecimento de caracteres ópticos

Radares fixos, estáticos para controle de velocidade, lombada e semáforos devem fotografar, obrigatoriamente, o veículo durante a infração.

(ocr - Optical Character Recognition) e consiste em analisar um fragmento da imagem contendo a representação de uma união de caracteres e identificar

A estrutura básica de um sistema alpr pode ser dividida em quatro etapas fundamentais: aquisição de imagem; localização da placa em uma fotografia ou quadro de vídeo; segmentação dos caracteres que compõem a placa; e reconhecimento destes caracteres (ocr - Optical Character Recognition) por visão computacional1 (alvarenga, 2014).

qual letra ou número está contido nessa imagem. Tal processo, atualmente no Brasil, é repetido sete vezes, um para cada caractere. Mas, dentro de cada processo, existem diversos procedimentos a serem executados (alvarenga, 2014).


Legibilidade

4.2 Identificação da letra: Ponto de vista Eletrônico

CÂmERA Aquisição de imagem

Localização da placa

ABC1234 Segmentação dos caracteres

Fig.31: ilustração das etapas de um sistema ALPR.

Reconhecimento dos caracteres

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4.2 Identificação da letra: Ponto de vista Eletrônico

Legibilidade

4.2.1 Captura de imagem A primeira etapa de um sistema alpr é a captura da imagem e pode utilizar diferentes tipos de equipamento para essa função. Nos sistemas de controle de tráfego, são utilizadas câmeras fotográficas de alta resolução com capacidade de captura de imagens por infravermelho, que ajuda no registro de situações de baixa luminosidade. Além da fotografia, o uso de quadros de um vídeo também pode ser aplicado, nesse caso, o sistema seleciona mais de um quadro e analisa o conjunto, com o objetivo de encontrar o registro mais claro do objeto fotografado. Fig.32: captura da imagem.

4.2.2 Extração da placa

Fig.33: filtro para extração da placa.

É o momento em que a placa do veículo é isolada de toda a imagem capturada. Dependendo da estrutura do sistema, alguns filtros podem ser aplicados para agilizar os processos futuros. Um padrão de placa pela legislação de trânsito é primordial, pois determinados atributos da placa podem ser usados para identificar a região da imagem que a placa está contida. Atributos como o formato retangular, cor dos caracteres e do fundo, além da própria forma dos caracteres, aceleram o tempo de processamento da imagem.

4.2.3 Segmentação dos caracteres

Fig.34: segmentação de caracteres.

A etapa de segmentação é baseada na localização e recorte das letras e dos números da imagem da placa extraída. Nesse momento, são corrigidas distorções e rotações que podem ser apresentadas no processo anterior. O método mais comum para realizar a segmentação é o de identificação de componentes conexos. Nessa etapa a importância do espaçamento dos caracteres é fundamental.


Legibilidade

4.2 Identificação da letra: Ponto de vista Eletrônico

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Caracteres monoespaçados facilitam a binarização da imagem, evitando que mais filtros de processamento sejam executados. Resíduos físicos nas placas, como ferrugem, sujeira, desgaste ou amassados são fatores considerados nessa etapa e contribuem para a dificuldade de um processamento correto, acarretando no auxílio de um editor gráfico para processar os caracteres manualmente. Após a separação dos caracteres, eles são separados individualmente, ajustados para um tamanho padrão e arquivados separadamente. No caso das placas brasileiras atuais, a legislação exige números do lado direito e letras do lado esquerdo; no caso de motos, letras acima e números abaixo: esta padronização facilita a distinção entre os letras e números como “I” e “1”, “B” e “8” e “O” e “0”.

4.2.4 Reconhecimento dos caracteres A última etapa consiste na classificação de acordo com a letra e número correspondente. Nessa etapa, a tipografia padronizada cumpre uma importante função, pois a existência de diferentes estilos de tipografias é um fator que prolonga o tempo de processamento e aumenta as chances de confusão entre os caracteres. Alguns sistemas ocr utilizam o “Casamento de Modelos” (Template Matching), que consiste em resgatar um banco de dados e cruzar as características de determinados caracteres, a fim de identificar a imagem analisada. Tal processo se assemelha ao processo de leitura da formas dos caracteres e a legibilidade deles, anteriormente defendidos por Frutiger (1997 p.169). Entretanto tal tarefa se torna suscetível a erros se não houver um padrão tipográfico a ser seguido, e diferentes interpretações de um “O” podem levar à confusão com um “Q” ou “D”.


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4.2 Identificação da letra: Ponto de vista Eletrônico

Legibilidade

Reconhecimento crítido de caracter em condições precárias de visualização

OQDCGB698O VWMY TIJLZ Fig.35: caracteres com maiores chances de confusão por leitura OCR, de diferentes métodos, em condições de baixa visualização.

Diferentes tipos de estudos (anais do ii enia, 1999) (R.F et al., 2013) (souza; passella; groote, 2013) demonstram que são empregados variados softwares ocr nos sistemas de monitoramento, o que contribui para em diferentes resultados de interepretação de um mesmo caractere já que os filtros e algoritimos variam entre os modelos de softwares. No entanto, há um número de possíveis dificuldades que o sistema alpr deve ser capaz de lidar, sendo eles:

ɝɝ Resolução de arquivo pobre, geralmente porque a placa está muito longe, mas algumas vezes, isso é resultante do uso de uma câmera de baixa qualidade. ɝɝ Imagens borradas, especialmente borrão de movimento. ɝɝ Pouca iluminação e contraste baixo devido à superexposição, à reflexão ou à sombras. ɝɝ Um obscurecimento de parte da placa, muitas vezes uma barra de reboque ou sujeira na placa. ɝɝ Mudança de faixa no ângulo da câmera de visão durante a leitura da placa. ɝɝ Um tipo de letra diferente.

>> Fig.36: a mesma placa, com mudança de ângulo e resolução de imagem. Percebe-se que o reconhecimento dos caracteres é quase ineficaz.


Legibilidade

4.2 Identificação da letra: Ponto de vista Eletrônico

61


62

4.3 A cor do suporte e do caractere

Legibilidade

4.3 A COR DO SUPORTE E DO CARACTERE O sistema atual do contran, na Resolução 231, estabelece cores diferentes para cada classe de veículo; e as cores de fundo variam entre preta, vermelha, azul, verde, cinza e branca. E a tipografia pode variar entre as cores preta, branca ou vermelha. Isso significa que o comportamento dos caracteres varia com relação ao fundo. Segundo Frutiger (1997, p. 60), dois sinais idênticos, sendo um deles preto sobre fundo branco, e o outro, branco sobre fundo preto, não produzem o mesmo efeito. O caractere em branco sempre parecerá maior e mais espesso que o caractere em preto, pois a luz branca comparada com o fundo escuro tem um irradiação mais eficaz. Tal particularidade afeta não só a relação entreletras dos caracteres da Mandatory (resolução 231), tornando-os visualmente mais juntos que o normal, como também dificulta o processo de segmentação dos caracteres quando registrados e interpretados pelo sistema alpr.

Para Carter (2011), o contraste adequado entre o tipo e o fundo exige que o designer pondere cuidadosamente as três propriedades básicas da cor: tonalidade, valor e saturação. Por definição, tonalidade ou matiz, são simplesmente denominações mais específicas para uma cor. O valor refere-se à claridade ou à escuridão da cor. E saturação ou intensidade se refere ao brilho de uma determinada cor. De acordo com as referências de cores disponíveis na legislação (contran, 2008), o valor geral das cores da legislação tende a ser mais escuro do que claro, garantindo um bom contraste com a cor branca da letra. Na figura 37, (página 63), todas as cores contempladas na Resolução 231 foram convertidas para escalas de cinza, a fim de demonstrar o valor de cada cor. A letra branca, sobre fundos escuros, aparenta ser mais luminescente que a preta sobre fundos claros.

Fig.37: apesar e possuriem a mesma espessura estabelecida por lei, a diferença da grossura é influenciada pela qualidade da estampagem da placa e a relação de contraste de cor dos tipos com a cor de fundo dela. A placa vermelha aparenta ter caracteres mais grossos que a placa cinza.


Legibilidade

4.3 A cor do suporte e do caractere

63

Fig.38: comparação entre os valores das cores da Resolução 231. Os caracteres em branco emitem mais luz que os em preto, resultando na sensação de uma espessura mais grossa de traço em relação aos caracteres de cor preta.

Frutiger (1997) propõe que, para corrigir tal ilusão de óptica, a diferença de espessura pode variar até 10% para os caracteres. Tal raciocínio é encontrado no design da tipografia Clearview, que dispõe de duas variantes de um mesmo estilo (de contraste positivo e de contraste negativo). Com o mesmo desenho e proporções, a diferença entra cada uma está na espessura dos caracteres que, na versão negativa (W), tendem a ser sutilmente mais finos (burgoyne, 2004) (em torno de 8%), e consequentemente o espaçamento entre os caracteres é alterado para que o equilíbrio visual seja o mesmo em ambas as versões.

Fig.39: duas colunas com todas as variações da Clearview.Ambas com a mesma largura e desenho, mas a versão W se representa com espessura mais fina que a versão B.

Fig.40: em amarelo Clearview 3B e em azul Clearview 3W, a mudança sutil de espessura interfere também no espaçamento entreletras.


5


Arquitetura da Tipografia

65

5. ARQUITETURA DA TIPOGRAFIA

S

e a legibilidade, ou melhor, a fácil identificação do caractere é de primeira importância (crosby, 1970), o tipo deve ser simples em estilo e em forma, as proporções e desenhos devem ser facilmente lidas, portanto, facilmente reconhecidas, assim como o peso das linhas deve ser espesso o suficiente para ser eficaz quando visto de uma determinada distância.


66

5.1 Análise de tipografias

5.1 ANÁLISE DE TIPOGRAFIAS Para buscar a média ideal que Crosby (1970) cita, é preciso analisar o que existe de consolidado no universo das tipografias para sinalização. Após a identificação de tais tipografias é possível levantar as características principais de cada uma para que assim seja possível pautar premissas que servirão de base para a criação ou seleção de uma tipografia para uso em placas de identificação veicular. As tipografias levantas para análise, foram extraídas da consulta de bibliografias referentes à sistemas de sinalização: “A Sign Systems Manual” de Crosby, Fletcher e Forbes (1970); “Reading Letters” de Sophie Beier (2012) e “Wayshowing/ Wayfinding” de Per Mollerup (2013). As tipografias levantadas para a análise foram: Univers, Frutiger, Helvetica, Interstate, din, ff Info e Clearview. Além disso, a título de comparação, foram inseridas a Mandatory e as duas variantes da fe-Schrift (Mittelschrift –normal e Engschrift–condensada).

Arquitetura da Tipografia


Arquitetura da Tipografia

5.1 Análise de tipografias

67

5.1.1 Univers Criada por Adrian Frutiger, a Univers foi lançada no mercado gráfico em 1954 (osterer, 2008), depois do período em que as tipografias geométricas haviam ganhado popularidade, como a Futura, de Paul Renner. Sem serifas, inspirada na tipografia Akzidenz-Grotesk de 1898, a Univers teve destaque no século 20 por ser uma das primeiras tipografias a contemplar a ideia de que um tipo de letra deve formar uma família de estilos visualmente consistente entre si. Foi então comercializada com diferentes pesos e estilos em um único pacote, permitindo ao usuário a utilização de diversos estilos, porém, com a mesma linguagem gráfica. A Univers foi utilizada como sistema de identificação nos teclados da empresa Apple Inc. até 2007. Além disso a Univers é aplicada na sinalização do sistema metroviário de Montreal, Canadá, no aeroporto de Frankfurt, Alemanha e até mesmo a Disney adotou a tipografia nas placas de sinalização dos parques temáticos dela. No Brasil, a aplicação da Univers foi também difundida pelo escritório Cauduro Martino (longo, 2014), que a utilizou na sinalização do Parque Zoológico de São Paulo (1972) e nos totens de sinalização na reurbanização da Avenida Paulista, em 1973.

Fig.41: totens da Avenida Paulista, São Paulo, Brasil, projetados por Cauduro Martino em 1973.

Univers

ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTU VWXYZ1234567890


68

5.1 Análise de tipografias

Frutiger Fig.42: sinalização do metrô de Paris, França, contemplando a Frutiger como sistema principal.

Arquitetura da Tipografia

5.1.2 Frutiger Também criada por Adrian Frutiger, a tipografia sem serifa foi encomendada em 1968 pelo rentão recém-construído Aeroporto Internacional de Paris - Charles De Gaulle (ou Aeroporto Roissy), França, que precisava de um novo sistema de sinalização (ostererer, 2008). Em vez de usar uma das suas tipografias previamente concebidas como a Univers, Frutiger escolheu projetar um novo sistema. O novo tipo de letra, originalmente chamado de Roissy, foi concluído em 1975 e instalado no aeroporto naquele mesmo ano. O objetivo de Adrian Frutiger era o de criar um tipo de letra sans serif com a racionalidade e limpeza da Univers, mas com os aspectos orgânicos e proporcionais da Gill Sans (ostererer, 2008). Como resultado, Frutiger é um tipo distinto e legível. As propriedades das letras foram adaptadas às necessidades do Charles De Gaulle, a aparência moderna e legibilidade de vários ângulos, tamanhos e distâncias, ascendentes e descendentes proeminentes e largas aberturas para distinguir facilmente um caractere do outro. A família de fontes Frutiger foi lançada publicamente em 1976 tornando-se popular. Dentre as mais diversas aplicações em identidades corporativas como a do banco Bradesco, a Frutiger tem sido aplicada em toda a rede de transporte públicos de Oslo, Noruega, desde 1980, e também na sinalização de trânsito na Suíça desde 2003.

ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTU VWXYZ1234567890


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5.1 Análise de tipografias

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ABCDEFGHIJKLMNOPQ RSTUVWXYZ1234567890

5.1.3 Helvetica Uma das tipografia mais difundidas nos anos 1960 e 1970 (muller, 2002). Desenvolvida em 1957 por Max Miedinger e Eduard Hoffmann, originalmente com o nome de Neue Hass Grotesk, levou três anos para que fosse renomeada para Helvetica (uma adaptação do latim Helvetia que significa Suíça). A intenção de Miedinger e Hoffmann era a de propor uma tipografia neutra e clara, sem nenhum significado intrínseco na sua forma e que pudesse ser utilizada amplamente em diferentes sinalizações (hustwit, 2007). Além da grande quantidade de logotipos para identidades corporativas como a 3M, Jeep, Tupperware, Lufthansa, McDonald’s, Motorola, Nestlé, Panasonic, Parmalat e BMW, a Helvetica é amplamente utilizada nos sistemas de identificação do metrô de Nova York e de São Paulo. Além de ser aplicada nos sistemas de sinalização do transporte ferroviário de passageiros nos Estados Unidos.

Helvetica

Fig.43: a Helvetica aplicada como sistema principal na sinalização do metrô de Nova York, EUA.


70

5.1 Análise de tipografias

Arquitetura da Tipografia

5.1.4 Interstate Desenhada por Tobias Frere-Jones e lançada em 1999 pela Font Bureau, o projeto foi inspirado no alfabeto de sinalização das placas rodoviárias do Sistema Federal de Rodovias do Estados Unidos (fhwa) de 1949. O projeto se tornou uma superfamília, com 40 fontes, proporcionando os estilos como compressed, condensed, regular, hairline e ultra black. A superfamília pode ser encontrada em uso nas sinalizações da companhia Southwest Ailines (monotype, 2015) e também na sinalização da rede norteamericana de lojas de produtos esportivos, rei.

Fig.44: sinalização na rede de lojas esportivas REI.

Interstate ABCDEFGHIJKLMN OPQRSTUVWXYZ12 34567890


Arquitetura da Tipografia

5.1 Análise de tipografias

71

5.1.5 DIN 1451

A história da sans serif, conhecida hoje como din, remonta a 1905. Na época, a ferrovia prussiana criou um conjunto de letras com o objetivo de unificar as descrições nos vagões da empresa. Na sequência de uma fusão de todas as ferrovias estatais alemãs em 1920, os desenhos padrões das linhas ferroviárias da Prússia tornaram-se a referência para a maioria dos letterings ferroviáriarios. Com base nos desenhos, a fundição D. Stempel ag lançou a primeira versão da din em 1923. O tipo de letra tornou-se um padrão para sinais de trânsito, placas de rua, números de casas e placas de sinalização. Ao longo das décadas seguintes, o tipo de letra também tem sido utilizado em diferentes bens de consumo e produtos, tornando-se sinônimo de design alemão. Para Spiekermann (2011): “din, é a palavra mágica para tudo que pode ser medido na Alemanha, incluindo a tipografia oficial alemã, apropriadamente chamada de Din-Schrift. Desde que foi disponibilizada em formato digital, esse tipo foi escolhido por muitos designers gráficos que o admiram por suas delgadas linhas geométricas, que não o tornam uma boa escolha para projetos de sinalização mais complexos”.

DIN1451

din é a sigla alemã para Deutsches Institut für Normung (Instituto Alemão para Normalização). Com sede em Berlim, é a organização nacional na Alemanha para padronização, representante da Organização Internacional para Padronização (iso) (shalland, 2009). Em 1931, o Instituto publicou a Norma din 1451, que contém padrões de letras e números para serem usados em sistemas de sinalização, placas de trânsito, orientação e letreiramentos para desenhos técnicos.

Fig.45: sinalização rodoviária, na Alemanha, contemplando caracteres DIN.


72

5.1 Análise de tipografias

Arquitetura da Tipografia

Originalmente, a din 1451 se apresentava em dois estilos: din 1451 Mittelschrift (tipo padrão) e din 1451 Engschrift (condensado, que devia ser utilizados apenas na falta de espaço para a aplicação da Mittelschrift). Nos anos 1990 Albert Jan Pool redesenhou a tipografia e a expandiu para uma família de cincos pesos, publicando a ff din, obtendo como resultado, a propagação da tipografia no mercado (lorenz, 2011). Além de ser a tipografia padrão para os sistemas de sinalização das estradas da Alemanha, a din tem sido aplicada em sistemas de identificação veicular em diversos países, sendo que no Brasil até 2008 e na Alemanha até 2000. O seu estilo mecânico e geométrico inspirou diferentes construções de tipos para placas de identificação veicular presentes nos eua (nicholson, 2015), nos estados da Califórnia, Louisiana, Maine, Massachusetts, Missouri, New Hampshire, Dakota do Norte, Ohio, Washington e Wisconsin.

Engschrift - 1234567890 ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ Mittelschrift - 1234567890 ABCDEFGHIJKLMNOPQR STUVWXYZ


Arquitetura da Tipografia

5.1 Análise de tipografias

73

5.1.6 FF Info A família tipográfica ff Info, criada por Ole Schäfer e Erik Spiekermann, foi concebida para ser utilizada em meios de sistema de sinalização, como placas de transito, estações rodoviárias e de metrô (fontfont, 2015). As proporções dessa família são mais condensadas do que em relação à da Univers ou à da Frutiger, mas com um espaçamento entreletras maior. Em situações como placas retroiluminadas, que a luz irradia pela parte de trás, a perda de detalhes é um fator importante a ser observado nos sistemas de sinalização (beier, 2012). A luz em sinais de iluminação tem o efeito de arredondamento dos cantos das letras, perdendo a definição da forma e prejudicando o processo de reconhecimento de letras individualmente. A ff Info foi projetada com tais circunstâncias em mente: as extremidades arredondadas das letras são menos propensas a distorção e as letras permanecem fiel à forma. A tipografia pode ser encontrada aplicada nos sistemas de sinalização do Aeroporto de Düsseldorf, Alemanha e nas placas de sinalização do shopping center Endeavour Hills, em Melbourne, Austrália.

FF INFO

Fig.46: sistema de sinalização do Aeroporto de Düsseldorf, Alemanha em FF Info.

ABCDEFGHIJKLMNOPQRST UVWXYZ-1234567890


74

5.1 Análise de tipografias

5.1.7 Clearview

Arquitetura da Tipografia

Fig.47: Clearview aplicada em uma placa rodoviária em Quebec, Canadá.

A Clearview foi desenvolvida em um programa de pesquisa para aumentar a legibilidade e melhorar a facilidade de reconhecimento das placas de sinalização de estradas (yaffa, 2007), reduzindo os efeitos de halo (ou overglow) para os motoristas mais idosos e os motoristas com sensibilidade ao contraste reduzido quando as letras são exibidas em materiais retrorrefletores de alto brilho. Nos dez anos de pesquisa e desenvolvimento, Clearview evoluiu para uma família de fontes com seis proporções de largura, 1w, 2w, 3w, 4w, 5w e 6w, sendo o 1w o mais longo e o 6w o mais largo. Cada estilo tem sua versão própria para aplicações positivas (fundo claros) e negativas (fundo escuro), onde a diferença entre essas versões está na espessura do traço. O sistema foi desenvolvido por uma equipe de projeto que inclui os designers Donald Meeker e James Montalbano, com o apoio do Instituto de Transportes da Pennsylvania (pti) e do Texas (tti), nos eua (yaffa, 2005).

Fig.48: comparação morfológica entre Clearview 5-w e FHWA EM. As contraformas e aberturas são maiores, permitindo maior entrada de luz.

Fig.49: com contraformas abertas, a legibilidade da tipografia Clearview é maior.


Arquitetura da Tipografia

5.2 Comparação

75

5.2 COMPARAÇÃO Crosby (1970) afirma que deve-se observar o equilíbrio da forma e contraforma para o reconhecimento do caractere e que deve-se levar em consideração que a espessura deve ser grossa o suficiente para ser eficaz quando visto de uma determinada distância. Mas, Scaglione (2014) alerta que conforme a espessura dos traços é ampliada, as áreas em branco (contraforma), diminuem, alterando a relação com a forma da letra. Beier (2012) também credita ao valor da contra forma a capacidade de evitar os efeitos de halos, baixas condições de visão e foco. Tanto o equilíbrio da contraforma interna de uma letra como o da contraforma entre duas

AS PROPORÇÕES DE LARGURA

letras (o espaço entre as letras) dependem da relação entre largura e espessura do caractere. Frutiger (1997) traça um diagrama de proporções de largura e de espessura usando de exemplo a letra “H”, em função de sua simplicidade. “Para ilustrar essa forma e a variação dela derivada temos de nos limitar a imagem de uma única letra. Escolhemos o H, devido a simplicidade de sua estrutura. Todas as outras letras de um alfabeto são proporcionais em relação a esse formato do H e coordenadas num conjunto, conforme a lei do ‘parentesco’” (frutiger, 1997)

AS PROPORÇÕES DE ESPESSURA

ALTURA = 100%

ALTURA = 100%

35% = BOLD

25% = SEMIBOLD

15% = NORMAL

10% = LIGHT

100% = EXPANDIDO

80% = NORMAL

60% = CONDENSADO

40% = EXTRACONDENSADO

Fig.50: reprodução do diagrama de proporções de largura e espessura, descrito por Adrian Frutiger (1997).


76

5.2 Comparação

Arquitetura da Tipografia

A partir das tipografias levantadas, foi selecionada, dentre os pesos disponíveis para cada família tipográfica, a espessura de traço que melhor se adequa ao valor intermediário do Diagrama de Frutiger (1997). Como a característica condensada é um valor discutido nos sistemas de identificação veicular, foram selecionadas proporções mais estreitas para determinadas tipografias.

Espessura do Traço de H (%)

Largura de H (%)

Univers Bold Condensed

20,66

65,96

Frutiger Bold Condensed

18,32

66,2

Helvetica Medium Condensed

16

61,35

Interstate Bold

18

58,58

din 1451 Mittelschrift

15,17

70

ff Info Display Medium

15,79

63,76

Clearview 2B

16,38

59,73

fe-Mittelschrift

15,9

63,41

Média

17

63,6

Mandatory

17,72

63,28

fe-Engschrift

15,81

54

Média Total

16,9

62,6 Tabela 6: comparação de espessura de traço e largura de caracteres das tipografias analisadas.

Após extrair a média dentre alguns sistemas consolidados na sinalização, chegou-se a dois valores que serão referência para a análise crítica do sistema atual da Resolução 231, a Mandatory, e também a da futura tipografia, a fe-Engschrift. A espessura de traço irá pautar as discussões a respeito de compensações ópticas, contraformas e aberturas, enquanto a largura do caractere será a justificativa para a economia de espaço e aproveitamento de altura no espaço contemplado.

>> Gráfico 1: comparação de espessura de traço e largura de caracteres das tipografias analisadas (FONTE: Elaborado pelo Autor)


5.2 Comparação

77

ESPESSURA DO TRAÇO DE H

LARGURA DE H

Arquitetura da Tipografia

0%

14%

28%

42%

56%

70%


78

5.3 Análise crítica da Mandatory

5.3 ANÁLISE CRÍTICA DA MANDATORY

Arquitetura da Tipografia

2. Existem 3 grupos de dimensões contemplados no regulamento da DVLA, cada grupos é referente a uma data de

A Mandatory não é idêntica à Charles Wright, sistema oficial do Reino Unido. Mas ambas foram criadas conforme as diretrizes sobre dimensionamento e espaçamento no regulamento da dvla (Driver and Vehicle Licensing Agency) (2001) de 19732. Ou seja, todas as proporções e métricas foram mantidas de acordo com a dvla, mas com algumas mudanças no desenho. Enquanto o “M” e o “W” da Charles Wright apresentavam os vértices das diagonais com um acabamento reto, Bates (2015) estendeu esses encontros finalizando-os em bico e ajustando opticamente as espessuras dos traços para evitar o congestionamento de preto. A letra “Q” também teve alterações (mesmo que, por questões jurídicas, não é utilizado na legislação britânica, assim como o “I” maiúsculo também não, por ser igual ao numeral “1”), tendo reduzido a espessura da “cauda” dele, suavizando o cruzamento dos traços. O numeral “5” também foi revisitado, passando a ficar mais ereto em relação à referência, e o “G” teve a barra central elevada para evitar congestionamentos com a leitura à distância.

resolução. A Mandatory foi construída de acordo com os mandatórios a partir de 1º de janeiro de 1973.


Arquitetura da Tipografia

5.3 Análise crítica da Mandatory

79

Fig.51: tipografia Charles Wright 2001 - DVLA - Lei nº 561, 26 de fevereiro de 2001

Fig.52: tipografia Mandatory, criada por Keith Bates.

MANDATORY

CHARLES WRIGHT

Fig.53: comparação dos caracteres M,Q e W da Charles Wright e da Mandatory.


80

5.3 Análise crítica da Mandatory

Não existem registros originais da Charles Wright de 1931, apenas o registro da repaginação da tipografia em 2001, o que levou Bates (2015) a levantar um banco fotográfico para sustentar o processo, servindo de referência para a construção da Mandatory. Segundo Bates (2015), a referência mais útil para criar a tipografia foi o diagrama de especificação publicado pela dvla, destinado para empresas privadas que produzem as placas de identificação, contemplando os tamanhos legais para larguras de caracteres e espaçamento. A Mandatory foi projetada sob especificidades de proporções e espaçamento definidos pela dvla, e mesmo que o controle de tamanho das placas do Reino Unido não seja rígido3, regendo em função das variações de combinações de caracteres disponíveis naquele país, a altura dos caracteres mais o espaço de margens se aproxima dos 130 mm de altura das placas do Brasil.

Fig.54: diagrama DVLA - Orientações para veículos a partir de 1º de janeiro de 1973. Altura > 790 unidades Largura > 500 unidades (exceto I e1) Espessura > 140 unidades Espaços laterais > 2 x 55 unidades Espaços letra - 110 unidades (exceto I e1)

Arquitetura da Tipografia

3. É importante ressaltar que os formatos de placas de registro veicular no Reino Unido não seguem um padrão específico, na própria regulamentação (dvla, 2001) não existe um capítulo que contemple as dimensões da placas como faz o contran, no Brasil.


Arquitetura da Tipografia

A tipografia Mandatory tem 63% de largura em relação à sua altura que, de acordo com o Diagrama de Frutiger (1997 p. 148) é considerada condensada e com uma espessura de traço ligeiramente mais grossa que o normal, já que a proporção de espessura de um peso regular é de 15% da sua altura. Os traços geométricos carregam o espírito mecânico da DIN, porém ainda mais quadrados que a Eurostile, em função do seu monoespaçamento e condensação.

5.3 Análise crítica da Mandatory

81

Fig.55: comparação entre as tipografias DIN 1451 Mittelschrift, DIN 1451 Engschrift, Eurostile Bold Condensed e Mandatory, todas com a mesma medida tipográfica. De formas semicirculares até a Mandatory, totalmente retangular de cantos arredondados, todas apresentam traços mecânicos e industriais.

Contemplar uma tipografia condensada para placas veiculares é carregar a preocupação com o espaço limitado do artefato, mesmo que tal escolha interfira na relação de leitura, já que para Crosby (1970) pequenas diferenças das formas habituais dos caracteres a serem reconhecidos, tais como letras condensadas, podem ser aplicadas desde que se entenda que pode haver um sacrifício correspondente na clareza e reconhecimento instantâneo. As dimensões, espessura e largura dos caracteres são estabelecidas com base em uma mesma estrutura para contemplar uma uniformidade na aparência do alfabeto. Segundo Laura Meseguer (2014 p. 77), essa coesão formal se inicia na construção de uma sequência de caracteres que se assemelham em formas geométricas básicas e que servem para definir as proporções. Determinadas letras podem ser mais semelhantes entre si nas tipografias geométricas e condensadas, do que as de uma largura normal, como é o caso das letras “O” e “D”. O método para se condensar a letra “O” é tornar as suas partes centrais mais paralelas e evidentes, alongando as linhas verticais, resultando em uma forma mais oval e comprimida, do que uma elipse regular.

Fig.56: acima, Helvetica Regular e, abaixo, Mandatory editada sem serifas nas letras “D” e “B”. A condensação dos caracteres e a mesma largura tornam as partes centrais das letras mais comuns, resultando em um nível maior de parentesco entre as letras.


82

5.3 Análise crítica da Mandatory

Arquitetura da Tipografia

Mesmo que não seja idêntica, a construção do arco da letra “D” carrega uma memória do formato da letra “O” (cheng, 2005), porém, sendo este mais quadrado que redondo tranfere tal formalidade para o arco da letra “D” que deixa a responsabilidade da sua identificação, como letra, nas pequenas curvas nos canto do seu arco. Se, para Frutiger (1997 p. 145), os alfabetos de boa legibilidade têm na sua família de caracteres uma grande distinção das letras redondas para as retas, tal característica da Mandatory depende de mais um artifício para melhorar a distinção das letras do alfabeto dela. Para aprimorar a diferenciação entre as letras, o desenho da Mandatory contempla pequenas extensões das hastes horizontais, nos caracteres “B” e “D”, tornando mais fácil a distinção entre ambas e também entre “0 (zero)”, “O” e “8”. O detalhe da serifa auxilia o olhar a entender a presença da vertical e a ausência das curvas do lado esquerdo.

Fig.57: serifas do lado foram criadas na tentativa de afastar as chances de confusão entre caracteres de estrutura semelhante.

Fig.58: ao lado esquerdo, caracteres com serifa, ao lado direito, sem. A presença do detalhe ajuda a distinguir os cantos retos na esquerda dos caracteres D e B. Com a precariedade de luz, foco e até mesmo angulações podem aumentar os riscos de confusão entre as letras e numerais.


Arquitetura da Tipografia

5.3 Análise crítica da Mandatory

A espessura de aproximadamente 2% mais grossa que o normal, de acordo com o Diagrama de Frutiger citado anteriormente, visa garantir robustez na identificação da tipografia no suporte. Para Crosby (1970), a escolha do peso é extremamente importante. O olho não tem tempo suficiente para absorver um conteúdo vagaroso e deve ser capaz de registrar e distinguir a mensagem rapidamente. Ou seja, a espessura do traço em uma placa de identificação veicular deve alcançar a média ideal entre presença visual e não deve extrapolar os limites de forma e contraforma. “Se o equilíbrio de proporções entre a forma e contraforma é tão extremo chegando ao ponto de não ser familiar para os olhos, as letras se tornarão irreconhecíveis (…) O tipo deve ser simples no estilo

Contudo, tal valor de espessura somado ao seu engrossamento após o processo de estampagem, assimilado à falta de espaçamento entre os caracteres e a sua condensação, leva a aplicação da tipografia a uma discussão que margeia o universo da legibilidade e leiturabilidade. A Resolução 231 (contran, 2007) tem como norma a aplicação dos tipos na altura de 63 mm, espessura do traço de 10mm, sem especificar o espaçamento entrecaracteres e contempla diferentes larguras para cada caractere. Em contrapartida, as normas da dvla exigem altura de caractere de 79 mm, largura de 50mm, espaçamento de 11 mm entrecaracteres e margem limite de 11 mm. Ou seja, a característica é monoespaçada. Os valores são completamente distintos da Resolução de 2008 do contran.

e na forma, as proporções e desenhos devem ser facilmente lidas, portanto, facilmente reconhecidas e, depois, o peso bold o suficiente para ser eficaz quando visto de uma determinada distância”. (crosby, 1970)

83

A tabela a seguir ilustra as diferenças do tratamento da tipografia nos contextos da placas da Reino Unido e no Brasil. Lembrando que, apesar da tipografia contemplada na Resolução da dvla ser a Charles Wright, a Mandatory foi criada sob os mesmos parâmetros e proporções:

MEDIDAS MANDATÓRIAS

dvla 1978

contran 2007

Altura do caractere

79 mm

63 mm

Largura do caractere

50 mm (exceto I e 1)

Variada

Espaço entre caractere

11 mm

Não especificado

Largura do traço

14 mm

10 mm

Margem mínima

11 mm

8 mm

Formato da placa

Variado

400 mm × 130 mm Tabela 7: comparação das medidas mandatórias entre DVLA 1978 e CONTRAN 2007.


84

5.3 Análise crítica da Mandatory

Arquitetura da Tipografia

CONTRAN 2007

DVLA 1978

Fig.59: relação de diagramação entre a Resolução Contran 2007 e DVLA 1978.

A comparação de proporções entre as duas placas demonstra as particularidades de diagramação do espaço para uma mesma proporção de tipografia, dentro de praticamente uma mesma altura de placa. Enquanto a Resolução da dvla exige caracteres maiores que a do contran, também exige um espaço específico entre os caracteres. O que não é demonstrado nas placas do Brasil, onde a preocupação é a de preencher o espaço com o maior tamanho possível de caractere, devido à particularidade da tarjeta de identificação que implica na redução da altura disponível. Para Crosby (1970), o tamanho em si não garante legibilidade, uma vez que as margens também são fatores que intervêm no reconhecimento do caractere. Se o conteúdo é demasiadamente maior em relação à área de aplicação, a redução do foco da letra diminui, já que não existe área que margeie o olhar direcionando-o diretamente até a letra, se distraindo com as relações da distância da margem com a forma do caractere.

“Quando o texto é muito grande, as palavras não se encaixam confortavelmente dentro da área de foco. É como olhar para uma grande pintura com a apenas dois passos de distância. Não se pode ver o conjunto todo de uma só vez”. (highsmith, 2012)

A alteração das relações de espaço entreletras e as suas proporções alerta para o fato de que a leitura das placas seja comprometida, já que o espaço que garante a distinção e a fácil compreensão da ordem combinatória dos caracteres é restrito. Escolher a distância apropriada entre as letras é crucial para maximizar a legibilidade da mensagem. Geralmente, letras e palavras são mais espaçadas em sistemas de sinalização do que em livros, impressos ou tela de computador. Isso acontece para permitir que a mensagem seja lida em situações extremas, de baixa clareza ou em movimento (gibson, 2009).


Arquitetura da Tipografia

Percebe-se que a espessura e largura da Mandatory estão equiparadas com a média resultante da análise anterior. Apesar disso, a situação atual das placas no Brasil apresenta contraformas menores, que se agravam quando estampadas, principalmente nos caracteres com hastes diagonais, como “A”, “4”, “M” e “W”.

5.3 Análise crítica da Mandatory

85

Se tanto a proporção de espessura de traços quanto a de largura de caracteres estão na média, a única resposta para solucionar tal questão está na falta da compensação óptica. Tal problema se dá pela característica da espessura da tipografia, que se mantém igual, mesmo nos casos onde seria necessário compensar tal medida.

Fig.60: contraformas estreitas nos caracteres A, 4, 8, B, D, W, O e Q. A pouca distinção entre o “A” e “4” e “8” e “B” causaria confusão, caso tais caracteres estivessem equiparados no código.


86

5.4 Compensação ÓPtica

Arquitetura da Tipografia

5.4 COMPENSAÇÃO ÓPTICA Apesar de o estilo da Mandatory ser monolinear, sem contraste, os ajustes ópticos são necessários para se ter um melhor equilíbrio entre traços horizontais, verticais e diagonais. E consequentemente, maior contraforma. Para compensar esse efeito de espessamento, os traços horizontais devem ser mais finos.

Esse ajuste óptico também se aplica aos traços diagonais, com um valor intermediário entre aquele dos traços horizontais e dos verticais. (henestrosa; meseguer; scaglione, 2012) A Mandatory segue com as mesmas medidas de espessura dos traços para todas as letras e números.

Fig.61: a mesma espessura para todos os traços da tipografia resulta em caractere com contraforma atrofiada e áreas de preto demasiadas.

INTERSTATE MANDATORY

Fig.62: o “A” da tipografia Frutiger: a espessura das barras diagonais não é homogênea, ela se afina à medida que chega ao topo da letra. A barra horizontal também é mais fina.

Fig.63: comparação entre Mandatory e Interstate: ambas com valores de condensação próximos, mas com contraformas distintas.


Arquitetura da Tipografia

5.4 Compensação ÓPtica

87

Sobrepondo as tipografias analisadas, é possível entender a compensação das diagonais do caracetere “A”. No encontro dos dois elementos, é necessário uma compensação para que a massa de preto não seja demasiada. Tal correção se dá a uma ligeira mudança de espessura no momento de encontro das diagonais internas, abrindo a contraforma. No caso da letra “O”, as linhas horizontais deveriam ser mais finas para se equilibrarem com as verticais.

UNIVERS BOLD CONDENSED FRUTIGER BOLD CONDENSED HELVETICA MEDIUM CONDENSED INTERSTATE BOLD DIN 1451 MITTELSCHRIFT FF INFO DISPLAY MEDIUM CLEARVIEW 2B FE-MITTELSCHRIFT

MANDATORY

Fig.64: a área mais escura representa os pontos em comum entre os caracteres. Percebe-se que a área clara no interior da letra à esquerda é maior que na contraforma da letra A da Mandatory, à direita.

Fig.65: da esquerda para direita: QTypeSquare-Bold, PF Haus Square Pro-Bold e Mandatory. As horizontais devem ser mais finais a fim de alcançar um equilíbrio visual com o conjunto da forma.


88

UNIVERS

5.4 Compensação ÓPtica

HELVETICA

MANDATORY

FE MIT.

Arquitetura da Tipografia

FE ENG.

FRUTIGER

Fig.66: comparação das aberturas de C e G entre as tipografias selecionadas. A contraforma da Clearview e da Frutiger é maior devido às terminações menos fechadas das letras.

Aplicar tipografia é também entender sobre o porquê da sua criação, contexto, aplicações, função e funcionamento (spiekermann, 2011). É uma premissa que todo designer, ou o responsável por selecionar uma tipografia, deve ter. No caso das placas veículares do Brasil, a história do porquê de a Mandatory foi criada e sob quais fundamentos foi ignorada. A sua aplicação não segue as métricas originais de espaçamento entre os caracteres, largura e tamaho, resultando em uma aplicação equivocada da Mandatory.

confusão entre si. Um “8” e “B” ou um “A” e “4” ou um “I” e “1” não estão lado a lado, na situação mais próxima estariam separados pelo ponto. Entretanto, o contraste entre letras é importante para a efetividade de um sistema, principalmente entre determinados pares de caracteres similares. “O principal propósito da forma da letra convém no reconhecimento do significado dela para a mente humana. As formas das letras devem ser desenhadas com clareza, para que dentro de um alfabeto sejam distintas. O contraste entre os caracteres faz com

O “interior” também partilha da forma da letra, e o designer de fontes deve constantemente balancear a forma e a contraforma enquanto está realizando o trabalho dele. Os efeitos obtidos com a combinação das letras são determinados pela relação entre o branco das contraformas e a medida dos espaços entre os caracteres (ruder, 1967). A contraforma atua como um dos elementos principais para a identificação da letra. Quanto mais abertas forem as incidências de área branca, mais legíveis e identificáveis as letras e os números se tornam. Contraformas que são muito estreitas não dão ao leitor tempo suficiente (frações de segundo) para processar o que viu (smeijers, 2015). Separados, na Legislação 231 (contran, 2007), as letras e números não sofrem

que o leitor decifre a informação sem confusão(…) As tipografias mais legíveis são caracterizadas por três qualidades no qual a legibilidade depende: contraste, simplicidade e proporção”. (carter, 1993)

Quanto maior a distinção entre os caracteres, melhor será o reconhecimento de cada elemento separadamente porém, é preciso recorrer à simplicidade e à objetividade para evitar estilos de letras incomuns. Como já visto, recursos de estilos demasiados exigem do cérebro humano um tempo maior de identificação. Apesar das inúmeras variações de proporções e elaborações, a estrutura básica de cada caractere deve permanecer a mesma.


Arquitetura da Tipografia

UNIVERS

FRUTIGER

5.4 Compensação ÓPtica

H WM CG BR OQ OD

89

A4

H WM CG BR OQ OD A4

HELVETICA

H WM CG BR OQ OD

A4

INTERSTATE

H WM CG BR OQ OD

A4

DIN 1451

H WM CG BR OQ OD A4

H WM CG BR OQ OD

A4

MANDATORY

H WM CG BR OQ OD

A4

FE MITTELSCHRIFT

H WM CG BR OQ OD A4

FE ENGSCHRIFT

H WM CG BR OQ OD

FF INFO

CONTRAFORMA ESTREITA

A4

PONTOS SIMILARES

Fig.67: análise de distinção entre caracteres e contraformas (todos com mesma altura). A Univers e a Helvetica, por exemplo, apresentam similaridades comuns entre W/M e B/R, tal aspecto é um fator prejudicial para a agilidade do reconhecimento do caractere.


90

5.4 Compensação ÓPtica

Por exemplo, um “A” consiste em dois traços diagonais que se encontram ao topo e conectados por uma linha horizontal na região central (carter, 1993). Como a reflexão e o efeito de halo projetado na tipografia é também uma preocupação para o reconhecimento da letra e do numero, determinados ajustes podem auxiliar no fortalecimento da legibilidade dos caracteres. Sophie Beier (2012) observa duas soluções para evitar tal particularidade: junções de traços mais abertas ou cantos arredondados projetados nos encontros de traços. A junção mais aberta reserva, para a letra ou numero, maior contraforma evitando o entupimento e garantindo que a luz eminente tenha menor interferência na contra forma do caractere. Já os cantos arredondados antecipam

Arquitetura da Tipografia

o resultado arredondado pela incidência de luz, tornando possível o controle de tal efeito. Como exemplo para os acamabentos arredondados, é citada a mol de Gerard Unger. Em 1974, quando criava as placas iluminadas para o metro de Amsterdã, Gerard Unger baseou (beier, 2012) o desenho da tipografia na observação que a luz irradiante atravez dos miolos das letras–contaformas–tende a a criar formas arredondas. Sendo assim, o design antecipou o resultado dando a possibilidade de controlar tal efeito. Um outro exemplo de solução é a Skilt Gothic.

Fig.68: cantos arredondados na Amsterdam Centraal Train, em Amsterdã, Holanda.


Arquitetura da Tipografia

Baseada nos trabalhos do arquiteto e designer dinamarquês Knud V. Engelhardt (1882-1931), que criou uma série de tipos para sinalização, incluindo os sinais de rua em Gentofte, ao norte de Copenhague, Dinamarca, a tipografia Skilt Gothic criada pelo sueco Mårten Thavenius faz referência às soluções de Engelhardt para tratar as junções dos caracteres abrindo o encontrosdos traços.

Fig.70: sinalização de aeroporto aplicada em Skilt Gothic.

5.4 Compensação ÓPtica

91

Fig.69: incisões abertas nas diagonais permitem contraformas e aberturas maiores.


92

5.5 Estilo Sans Serif

Arquitetura da Tipografia

5.5 ESTILO SANS SERIF Apesar de opinões a respeito da legibilidade das tipografias serifadas no universo da sinalização (carter, 1931 apud beier, 2012 p. 107), o uso das letras sem serifa em sistemas de identificação veicular tem maior recorrência, principalmente pela simplicidade. Nos EUA, o único dos 50 estados a utilizar uma tipografia serifada é o da Virgínia. As suas placas de identificação veicular contemplam caracteres serifados mais apropriados para leitura em livros do que em sinalização. A estampagem de tal tipografia serifada atrelada à distribuição monoespaçada resulta em variações de espessuras de traço e largura de caracteres que comprometem a legibilidade, principalmente em questões precárias de visualização, subvertendo a função das serifas que passam a ser um elemento inoportuno na forma da letra, reduzindo as contraformas e interferindo nas promoções dos traços. Em leituras à distância, mesmo tipos grandes irão parecer menores, uma letra com dois metros de altura, por exemplo, quando vista a uma distância apropriada, aparenta ter o mesmo ângulo visual de um corpo de 5 pontos (beier, 2012 p. 106), até mesmo uma serifa pode vir a se tornar um ruído nessas condições.

Fig.71: recorrência de caracteres com espessuras desproporcionais (Z e T), contraformas comprimidas (4 e A), áreas de preto demasiadas e proporções irregulares são resultados da compressão dos caracteres para se encaixarem em uma mesma largura de clichê de estampagem.


Arquitetura da Tipografia

5.6 Análise crítica da fe-engschrift

93

5.6 ANÁLISE CRÍTICA DA FE-ENGSCHRIFT 1 mm mais alta e 8% menos espessa que a Mandatory, a fe- Engschrift é a fonte selecionada para a Resolução 510 do contran. Apresenta contra formas mais abertas e espaçamento mais arejado comparado à tipografia da Resolução 231. fe é a abreviação para as palavras em alemão que significam “difícil de falsificar” (fälschungserschwerend). Oseu desenho peculiar é devido à sua origem em 1970, quando à luz da Facção do Exército Vermelho, na Alemanha, que roubava carros e forjava as placas, alterando-se algumas letras com relações semelhantes, como o caso do “P” para “R”, “B” para “3” ou “L” para “E” ou vice-versa. A tipografia das placas de identificação veicular aplicada na Alemanha era a din, que devido à sua característica de grid regular e simétrico, facilitava tal atividade ilegal com o uso de fitas ou tinta para adicionar ou ocultar traços de determinados caracteres. Em resposta a tal atividade, o design original da fe foi criado por Karlgeorg Hoefer (1914-2000) que na época trabalhava para o Instituto Federal de Pesquisas Rodoviárias da Alemanha (Bundesanstalt für Strassenwesen - bast). Entre 1978 e 1980 com o Departamento de Psicologia e Psicologia Cibernéticas da Universidade de Giessen, a tipografia foi concluída.

Entrentanto, a pressão para a adoção da fe havia diminuído em função da onda de terror na Alemanha ter-se dissolvido e, então, as placas de carro do país continuaram com o sistema din. Apesar de alguns estados federados da Alemanha (Berlim e Brandenburg) que circulavam com o novo projeto entre 1994 a 1995, a implementação da fe se deu pela introdução das placas de licença da União Europeia e foi introduzida nacionalmente por lei federal. A mudança na legislação corresponde com o primeiro Acordo de Schengen em 1995 e o seu uso se propagou pela União Europeia até 1998, onde outros países adotaram esse uso. Apesar de não ser obrigatória em outros países da União, a mudança se tornou padrão oficial na Alemanha desde novembro de 2000, e o uso de placas anteriores ao sistema da União Europeia é proibido, com exceção dos veículos militares ou modelos históricos que continuam a utilizar as placas de identificação com o sistema din. A publicação final da tipografia incluía três variantes: normal (Mittelschrift), condensada (Engschrift) e pequena (Verkleinerte Mittelschrift) para uso em placas de alturas menores, porém essa utilização não é aplicada em função da legislação da União Europeia.


94

5.6 Análise crítica da fe-engschrift

Arquitetura da Tipografia

FE-Engschrift ABCDEFGHIJKLM NOPQRSTUVWXYZ 1234567890 FE MITTELSCHRIFT

ABCDEFGHIJKLMNOPQRS TUVWXYZ.....1234567890 UNIVERS

HELVETICA

MANDATORY

FE MIT.

FE ENG.

FRUTIGER

Fig.72: as semelhanças entre caracteres, como já citado anteriormente, além de ser um processo que desacelera, o reconhecimento da letra ou numero é também facilitador para a falsificação do sistema de identificação veicular.


nopqrstuvwxyz 0123456789 123456789 ABCDEfgh ABCDEfg nopqrstu nopqrst 012345678 01234567 Arquitetura da Tipografia

5.6 Análise crítica da fe-engschrift

95

Fig.73: a distinção entre caracteres, sem uniformidade, dificulta a falsificação das letras, que na tentativa de tal atividade ilegal, o resultado não é semelhante ao caractere original.

Cada letra tem uma estrutura peculiar, até mesmo os caracteres “C” e “G” apresentam arremates diferentes. Os traços superiores e medianos são de diferentes espessuras, as formas arredondadas são extremamente distintas umas das outras e os ângulos são suaves, com cantos arredondados inclusive nas contraformas. Toda essa articulação de diferentes formas tem o objetivo de dificultar a modificação das letras, já que a estrutura do “P”, por exemplo, é completamente distinta do “R”. Mas, como não há uniformidade no estilo da tipografia, a tarefa se torna complexa para um usuário notar se alguma letra foi alterada de fato, a não ser que se tenha todo o alfabeto em mãos como refêrencia (schaller, 2002). Ou seja, um agente da lei que observa uma placa, a não ser que tenha um treinamento para recordar da estrutura de cada caractere alfabético e numeral da FE, pode ser enganado por não ter intimidade com as formas da tipografia.

Fig.74: Q, O, C e 0: o padrão para as letras redondas é ausente. A letra O se destaca completamente pela peculiaridade no formato de ovo.

Fig.75: na sequência: “P” original, raciocínio de falsificação, resultado da falsificação (R), “R” original. O resultado da falsificação é um caractere diferente do original.


96

5.6 Análise crítica da fe-engschrift

O que garante a efetividade da fe como tipografia para identificação veicular está nos sistemas alpr, por dois motivos principais: a particularidade de desenho e o monoespaçamento com caracteres arejados entre si. Durante o processo de segmentação, o posicionamento rígido dos caracteres determina um padrão de espaços e evita a sobreposição de informação em casos de pouca qualidade de imagem. O intervalo entre os caracteres também torna eficaz o processo de compensação de distorção, garantindo melhor arejamento e evitando sobreposição de caracteres. É justamente a falta de uniformidade dos caracteres que os fazem ser reconhecidos pelo computador (tiven, 2012). As características particulares de cada caractere da fe evitam que os sistemas de reconhecimento automático de

Arquitetura da Tipografia

caractere (ocr) confundam formas similares. Como o caso da letra “O” (de forma oval) e o numeral “0” (de estrutura quadrada, com um corte diagonal). Durante o processo de criação da fe, Karleog, depois de ter desenhado a letra O em forma de ovo, precisava encontrar uma distinção bem definida entre o numeral “0”, e foi o seu filho, Otmar que sugeriu o uso de uma diagonal dentro da forma do numeral, de onde referenciou seus livros escolares de matemática. Contudo, durante os testes ocr, o centro escuro do traço diagonal do número “0” tornava confuso o reconhecimento com o número “8”, no entanto Hoefer, aproveitando a referência da barra que antes preenchia todo o interior do zero, simplesmente criou uma incisão no topo do canto direito do número, deixando uma linha espectral, implícita no lugar da barra.

Fig.76: diferença de espaçamento entra as placas das Resoluções 231 e 510. Enquanto os caracteres em Mandatory aparentam ainda mais apertados visualizados em ângulos laterais,o monoespaçamento da placa da Resolução 510 mantém regular o espacejamento dos caracteres.


Arquitetura da Tipografia

5.6 Análise crítica da fe-engschrift

MEDIDAS MANDATÓRIAS

RESOLUÇÃO 510

RESOLUÇÃO 231

Altura do caractere

65 mm

63 mm

Largura do caractere

46 mm (largura do clichê)

Variada

Espaço entre caractere

Nulo

Não especificado

Largura do traço

Proporcional à fonte

10 mm

Margem mínima

Esquerda: 30 mm Topo e Base: 8 mm Direita: 40 mm

8 mm

Formato da placa

400 mm x 130 mm

400 mm x 130 mm

97

Tabela 4: medidadas mandatórias das Resoluções 510 e 231.

Em relação à Mandatory, a aplicação da fe garantirá contraformas mais abertas e maior espaçamento entre os caracteres, comparando a tabela a seguir com o resumo das duas placas das Resoluções, é possível perceber que a solução do espaçamento está na própria largura dos clichês de estampagem, que contemplam espaços laterais padronizados para garantir a característica monoespaçada, de fato.

Como resultado, apesar da pouca diferença de tamanho, os caracteres parecem ser mais legíveis, provando que o tamanho em si não é recurso exclusivo da legibilidade. E as aberturas, contraformas e o espaço entreletras auxiliam na funcionalidade da tipografia.

CONTRAN 2007

MERCOSUL

Fig.77: comparação entre as placas das Resoluções 231 e 510. A placa MERCOSUL aparenta melhor legibilidade, apesar do mesmo formato de suporte e da proximidade de altura com os caracteres.


6


Conclusão

99

6. CONCLUSÃO

C

arecendo de fontes técnicas específicas sobre produção de placas de identificação veicular e, principalmente, sobre tipografias para tal aplicação, a busca por uma linha paralela sobre os conceitos que tornam a tipografia identificável foi encontrada no raciocínio técnico que se deve contemplar para a sinalização.

6.1 VALIDAÇÃO DA SINALIZAÇÃO COMO MÉTODO Entender como o reconhecimento de um caractere se articula, do ponto de vista do sistema da visão humana e do sistema alpr, é fundamental para pautar o raciocínio do designer de tipos no momento da construção de uma tipografia ou até mesmo da seleção de um conjunto existente. Não se deve tratar como igual as complexidades da visão humana com o sistema alpr, mas a função da tipografia como sistema de identificação é contemplar os dois processos. O reconhecimento e até mesmo a confusão entre os caracteres para cada sistema são diferentes. Enquanto a natureza do sistema visual articula referências coletadas ao longo da vida de um indivíduo, que se conectam com estímulos celulares no córtex visual, o sistema alpr é produto de uma série de algoritmos e cálculos baseados em um banco de referências pré-selecionadas. Apesar de as condições de visibilidade (chuva, neblina, baixa ou alta exposição de luz, condições físicas da placa e ângulo de leitura) interferirem em ambos, a visão do ser humano é baseada em arquétipos formais para determinados conjuntos de caracteres. Isso significa que o contraste entre


100

6.2 A produção da placa como interferência

duas letras pertencentes a um mesmo grupo, como o “C” e o “G”, deve ser o suficiente para torná-las distintas nas mais diversas situações de legibilidade. Já o alpr depende inicialmente da qualidade da imagem captada a ser avaliada, onde possíveis distorções podem acontecer em determinados locais dos caracteres, tornando a segmentação um processo suscetível a erros. Além disso, o banco de dados de acesso é limitado a poucas variações de estilos comparado à memória do ser humano. Fazendo com que a programação do software tenha uma limitação na interpretação dos caracteres e qualquer forma que transcenda o banco de dados do sistema, este perde efetividade. Por isso é que surge a importância de uma legislação que determine um padrão tipográfico para placas de identificação veicular. A programação do software não depende de tantas variações de estilo de letras e números, e logo a quantidade de filtros e algoritmos processados é menor, tornando o reconhecimento mais rápido e com menos incidências de erros. Mesmo que um sistema de sinalização compreenda um alfabeto maior, com maiúsculas e minúsculas, transmitindo diferentes mensagens e informações para orientar o usuário, as placas de identificação veicular são mais simples, contemplando apenas as maiúsculas dentro de um código que não possui mensagem. Entretanto, se apropria de determinadas preocupações a respeito da legibilidade e da forma da letra, para que a sua função seja completada. Ter a legibilidade como premissa no sistema é carregar a preocupação com as proporções dos caracteres, espaçamento, contraformas, aberturas, contraste, estilo e até mesmo a cor do caractere e do suporte.

Conclusão

Em primeiro lugar é preciso aceitar que a proporção da tipografia em sistemas de identificação veicular é limitada em tamanho e comprimento. No Brasil, a altura da placa de um automóvel é de 13 cm e a largura é de 40cm, significando que a longas distâncias o tamanho dos caracteres, visualmente, se reduz drasticamente. Apesar de a compreensão de um sistema tipográfico de proporções condensadas pode não ser tão efetiva para sistemas de sinalização de aeroportos ou rodoviários (crosby, 1970), a tipografia em uma placa veicular deve estar estampada de maneira que a altura dos caracteres aproveite a área disponível e que todas as variações de combinações de código se adequem a um mesmo comprimento. Com isso, uma tipografia com proporções condensadas é princípio para o raciocínio do desenho, ou seleção, de uma tipografia para placas veiculares. Mesmo compreendendo que a leitura possa acontecer de diferentes ângulos e distâncias (beier, 2012), e os espaços brancos (contra-fromas e aberturas) se tornarem menores (crosby, 1970) pelas proporções condensadas, é preciso seguir outros caminhos na construção da tipografia, extraídos do raciocínio da sinalização, para que a letra e número sejam reconhecidos.

6.2 A PRODUÇÃO DA PLACA COMO INTERFERÊNCIA Em segundo lugar, deve-se conhecer o processo de estampagem da placa, tendo em mente que o sistema é similar a um formulário, de dados variáveis, que irá contemplar diferentes combinações de um código. O monoespaçamento dos caracteres é um recurso que garante uma mesma largura de linha de código e também reduz o tempo de produção de uma placa,


Conclusão

já que a composição dos clichês é feita de maneira modular, evitando que o funcionário da empresa que produz as placas espaceje manualmente todos os tipos no gabarito do molde para a placa. Além disso, o monoespaçamento como característica de uma tipografia para identificação veicular torna eficiente o processos de segmentação e de caracteres em sistemas alpr. A distância regular entre as letras e os números evita que exista sobreposição mesmo em registros em ângulos críticos que, durante a aplicação de filtros para corrigir distorções, se adequam com facilidade. A prensagem da placa resulta em caracteres de alto-relevo e tal resultado transfere uma imprevisibilidade no aumento da espessura do traço dos caracteres e um arredondamento característico da resistência do material nos encontros de traços e cantos. Tal fator afeta a contraforma e o espaçamento entreletras, que apesar de monoespaçado, deve ser contemplado com cautela para evitar formas muito juntas, que possam dificultar a leitura tanto pela visão humana como na segmentação de caracteres nos sistemas alpr. Pensando nas particularidades de um engrossamento imprevisível dos traços das letras e dos números, determinadas compensações ópticas e até mesmo um ajuste nos próprios clichês (com caracteres mais finos para que o resultado seja controlado) articulam para uma melhora do resultado. As compensações ópticas têm a função de garantir que a contraforma esteja em equilíbrio com a espessura dos caracteres. Isso garante melhor legibilidade, segundo Crosby (1970). Beier (2012 p.108) discorre sobre tipos específicos

6.2 A produção da placa como interferência

101

de compensações – incisões abertas ou cantos arredondados – para garantir a estrutura da forma interna e o reconhecimento deles em situações onde a luz emitida provém do próprio suporte, como as películas reflexivas das placas veiculares e rodoviárias. Com isso, os efeitos de halo e arredondamento da forma do caractere, presentes também nas particularidades dos sistemas de sinalização, são controlados. A simplicidade da letra é uma balança. Beier, Crosby, Carter, Heller, Frutiger, Mollerup e Ruder defendem a questão do contraste entreformas como facilitador da legibilidade. Todavia, esse deve ser cauteloso para que não resulte em formas complexas que tornam duvidoso o significado de um determinado caractere. Ao mesmo tempo em que a letra “O” deve se diferenciar da letra “Q”, que é o par mais complexo de um sistema de identificação, pois a distinção entre ambos depende de uma barra horizontal cruzando a parte inferior da forma, eles devem permanecer claros e objetivos para que sejam reconhecidos rapidamente. A fe Engschrift, futura tipografia dos sistemas de identificação veicular do Brasil, cumprirá tal aspecto. Ignorando as suas características estéticas, a sua funcionalidade é considerável, principalmente para o futuro que tende a ter mais fiscalização eletrônica (proieti, 2015) do que humana. O grau de contraste entre os caracteres resulta em formas tão individuais que parecem não seguir uma única morfologia, porém, não há dúvidas a respeito do significado de cada letra.


102

6.3 A função antecedE o estilo

Utilizada na legislação brasileira desde 2008, a tipografia Mandatory sofreu com a transição do Brasil. Em entrevista com Keith Bathes, o autor da Mandatory reconheceu que a aplicação da tipografia no sistema brasileiro alterou as métricas originais para se encaixarem à largura do formato brasileiro de placas veiculares, inclusive com tamanho menor que o país de origem. O resultado são placas com caracteres apertados que desafiam a eficiência das câmeras de monitoramento e exigem atenção dos agentes de trânsito. Conhecer a função da tipografia, a sua história e o seu conceito,ajudam a conduzir para uma seleção apropriada à necessidade. Assim como para projetar uma tipografia para um sistema desse tipo, deve-se antes conhecer o seu suporte, como esta é aplicada no suporte e sob quais condições o sistema será submetido. Sem um raciocínio técnico, visando a funcionalidade da tipografia e a legibilidade dela, a função do sistema pode enfraquecer, deixando de cumprir a sua principal função: identificar um veículo.

Conclusão

6.3 A FUNÇÃO ANTECEDE O ESTILO Paul Mijksenaar (1997) afirma que o design envolve três elementos que se relacionam e que podem se diferir de acordo com cada aplicação: durabilidade, usabilidade e beleza. A esse respeito, o design é uma atividade que une durabilidade e utilidade e intensifica a percepção da beleza. Dito isso, Mijksenaar criou um diagrama de três pontos adaptando os conceitos acima para: confiabilidade, utilidade e satisfação. “Tentei transformar isso qualidades em uma fórmula prática de três pontos. Confiabilidade, Utilidade, Satisfação. Que tipo de combinação dentre essas qualidades produz um bom produto? Para medir isso eu projetei um diagrama simples, em forma de estrela que consiste em um termômetro com três eixos que podem ser usados para registrar a força relativa dos três critérios em qualquer produto. O comprimento desses termômetros é teoricamente ilimitado. Como nenhuma das qualidades deve sempre registar zero, na minha opinião, este valor foi excluído da discussão. (...) Este diagrama torna possível não só para indicar previamente o mix de qualidades exigidas a um dado produto, mas também para analisar os produtos existentes”. (mijksenaar, 1997)


Conclusão

6.3 A função antecedE o estilo

103

Figs.78 e 79: imagens extraídas do livro “Visual Function”, de Paul Mijksenaar. Avaliação de dois sistemas de identificação rodoviária. Acima, sistema inglês e, abaixo, alemão.


6.3 A FUNÇÃO ANTECEDE O ESTILO 6.3 A função antecedE o estilo

Conclusão

Confiabilidade

104

Relembrando as premissas de um sistema de sinalização de trânsito: legalidade; padronização; suficiência; clareza; precisão e confiabilidade; visibilidade e legibilidade; e na presente relação com um sistema de identificação veicular, a funcionalidade de ambos os sistemas torna claro que a estética sob a óptica da beleza é uma característica de última instância. E a satisfação se encontra no quão efetivo o sistema é capaz de ser. Aplicando o Diagrama de Mijksenaar em relação às placas de identificação veicular, as expectativas de um sistema se resumem no seguinte gráfico:

Uti

lid

ad

o açã

e

isf Sat Fig.80: adapatação do Diagrama de Mijkesnaar a respeito dos sistemas de identificação veicular.

Ou seja, os atributos de uma tipografia para um sistema de identificação veicular devem ser primeiramente técnicos. A preocupação com a função da tipografia deve ser pautada pela sua capacidade de comunicar o código emplacado e transmiti-lo da maneira mais clara e objetiva para que possa ser claramente identificado. Os atributos estéticos acabam por refletir esse raciocínio, e não são o primeiro plano para projetar uma tipografia nesse universo. As etapas apresentadas no presente projeto de pesquisa têm o objetivo de conduzir tecnicamente a criação de uma tipografia para identificação veicular, porém, são propostas para iniciar uma discussão ainda maior, carente de referências específicas nesta área. Esta pesquisa não visa esgotar o assunto, mas impulsionar a reflexão sobre a preocupação inerente de um sistema de identificação veicular.



R


Referências

107

REFERÊNCIAS

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Créditos de Imagens

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CRÉDITOS DE IMAGENS

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Fig. 44: Fonts in Use. Disponível em: < http:// fontsinuse.com/uses/5278/rei-stores>. Acesso em: 18 nov. 2015. Fig.45: Wiki Media Commons. Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/4/4e/Verkehrsleitsystem_Nuernberg_1. JPG>. Acesso em: 18 nov. 2015. Fig. 46: Flickr, FontFont. Disponível em: < https:// www.flickr.com/photos/fontfont/5973682309>. Acesso em: 18 nov. 2015. Fig. 47: Sign Media. Disponível em: < http://sm1. signmedia.ca/wp-content/uploads/2014/07/ InterstateSigns.jpg>. Acesso em: 18 nov. 2015. Fig. 50: (frutiger, 1997) Fig. 51: (dvla, 2001) Fig. 54: (bates, 2015) Fig. 68: Type Journal. Disponível em: < http:// typejournal.ru/en/articles/Gerard-UngerInterview> Acesso em: 18 nov. 2015. Fig. 69, 70: Mårten Thavenius. Font Bureau Fig. 78 e 79: (mikjsenaar, 1997) Tabela 1, 2, 3, 4, 7: (contran, 2007) Tabela 5: (beier, 2012) Tabela 6: Elaborado pelo Autor

Créditos de Imagens


Anexo

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ANEXO

EMAILS TROCADOS COM KEITH BATES CRISTIANO GONÇALO, 24 MAI 2015 Hello Mr. Bates, how are you? I’ve only found this email to contact you. My name is Cristiano and I’m about to accomplish my graduation course in typography here in Brazil. My final paper is about Brazilians vehicles license plates. I’m going to talk about the history, issues, aesthetic, functions and morphology in a system made to this context. Here in Brazil, the Mandatory typeface is used for all plates. During my research I’ve discovered that you’ve developed this type. As far I know this typeface came from the Charles Wright system in UK plates. But to enrich my research I would like to know if you are dispose to contribute with some answers about your typeface’s process and development. It would be very important to me to talk with you Mr. Bates. You are the artist and designer responsible by one of the most seeing typefaces in my country. Did you agree with a quickly questions to help me on my essay? Hope you’ll receive this message, Mr. Bates. Looking forward. Best! KEITH BATES, 25 MAI 2015 Hello Cristiano, Thank you for your email, I’m very well thanks. I didn’t realize Brazil had made my version of the Charles Wright font your official one. I’ll include a little background information below and I’ll try to answer any further questions you might have. K-Type MANDATORY was an unofficial response to the Charles Wright font, which is the ‘mandatory’, legally permitted font here in the UK. I see that the English Wikipedia page Vehicle registration plates of Brazil mentions ‘a unique typeface known as “Mandatory”, which is identical to the typeface used on British plates’. That’s not quite true…


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Anexo

Although I made the font conform to the guidelines regarding relative sizing and spacing, I allowed myself the freedom to change characters that I disliked. I found the M and W particularly distasteful, having vertices that looked far too bulky with heavily congested intersections. Likewise the tail of the Q, which is never used on UK registration plates, probably because the monoweight tail looked far too thick. The connecting stem of the number 5 sloped too much, so I made it more upright. I moved the crosspiece on the throat of the G upwards, again to avoid congestion. I neatened awkward looking terminals, and made numerous other subtle (and fanciful) changes.

CRISTIANO GONÇALO, 25 MAI 2015

Despite my best efforts, I found no virtually no information on the web about the origins of the the Charles Wright font, though Wikipedia suggests that it dates from 1935. Visually it has the appearance (and perhaps the coarseness) of a font drawn by a computer CAD program. I have no idea who Charles Wright is or was, and whether there was a company set up by him that was responsible for the several incarnations of the registration plate lettering. I hope you will send me any information you discover about the original Charles Wright fonts.

Let’s go:

Mandatory is a full font developed from the Charles Wright typeface used for UK vehicle registration plates. There is improved stroke separation on the M and W which are pointed at the centre, and the tail of the Q is thinner and clearer. Mandatory has been designed to conform to the required proportions – Height – 790 units Width – 500 units Stroke – 140 units Sidebearings – 2 x 55 units (Letter spaces – 110 units) Word/Group Space – 330 units Only the Upper Case letters and the numerals are used for registration plates, although the capital I, which is the same as the 1, is not used and the Q will no longer be used but may still be required for updating old plates. For designers, the font is completed with small capitals for the lower case, currency symbols, punctuation marks, printers’ symbols and accented characters. Best wishes, Keith Bates

Hello Mr. Bates, thank you very much for your feedback. Your answer was very enlightening! And few questions are left to ask to you. I’ve been on a deeply research to find out who is our mysterious Charles Wright, but, so far I haven’t found anything yet. But, if I found it, I would let you know. Well, these are the questions that I want to ask you, please feel free to say what’s up on you mind. And first of all, thank you again for your help!

What kind of references did you use to develop the typeface? Did you use some exemplars of plates or a digital copy of the Charles Wright typeface? If it was the digital typeface where did you found it? Regarding the embossing process of any font (for registrations plates) on the metal plate, do you think that the font might suffer some increase on the stroke width? Something that impairs the readability of the letter. If yes, do you believe that might be some compensation for it? Such as a thinner adjustment on the strokes and the incisions. Talking about when UK had taken the decision to abandon the letter Q. Beside the shape issues, do you think this decision is also related to the difficult to distinguish it from the letter O in situations of few legibility? Based on your experience with signage typefaces. In your opinion what are the most important characteristics a typeface for vehicle registration plates must have to show? That’s it Mr. Bates, if you might have something more that you judge interesting to tell me based on my questions, please feel free. Any word of you will be welcome on my research. By the way, do you allow me to put some parts of our conversation in my essay? It’s only for academy purposes and non commercial use. KEITH BATES, 26 MAI 2015 Hello Cristiano, Thank you, it would be nice to know about the original designer - ‘The Mysterious Charles Wright’ sounds like an Agatha Christie novel.


Anexo

The most helpful reference for making Mandatory was the specification diagram published by the DVLA (Driver and Vehicle Licensing Agency), it is meant to show the private companies making registration plates the legal sizes for character widths and spacing. Of course it also helps to create a font. I also had an image of the Charles Wright 2001 alphabet (the one I sent in my previous email). Additionally, I took a lot of photographs of registration plates to use as references for each of the letters and numbers as I drew them. The Mandatory font was drawn from scratch. I looked for a digital typeface but didn’t need or wish to use one as a source. At the time I think you could buy a Charles Wright 2001 truetype font for £30 or £40 from a website ( charleswright.com ?), but that site doesn’t exist any more. Regarding the Brazilian plates - yes, I think the embossing process itself might make the stroke width appear slightly heavier, but only a little.

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That said, I think the Brazilian plates look very smart indeed and I love the use of different colours to denote different classes of vehicle. However, if some typographic iteration were authorized, I think legibility could be better. Simply reducing the size of characters would allow the letter-spacing to be increased. Alternatively, thinner characters could be created, a Mandatory Light would allow letterspacing to be increased. Or, the current height could be maintained by making a Mandatory Condensed which would also allow the letterspacing to be increased. (If you are bold enough to suggest making such changes to the Brazilian government agency responsible, I’ll be happy to make any required alterations to the Mandatoty font.) With regard to the letter Q, yes I think there was a feeling that the letter would be confused with an O, and perhaps an unwillingness to use a letter that contains a descender, all other letters line up between the baseline and the capline.

I think a bigger factor regarding any issues around readablility is the letter-spacing between the characters. On the original UK specification, stroke width was 14mm and the space between characters was only a little less at 11mm. From what I can see, on the Brazilian plates, the space between characters has been reduced and the characters look very close together. This was probably done to make the characters as big as possible, though this may not be the wisest option where legibility is a concern.

Typefaces for signage and vehicle plates? I am reminded of something I read recently on the Design Museum website about Jock Kinneir and Margaret Calvert who designed the British road sign typeface, Transport:

In addition to issues of readability, characters also appear visually too close together, rather squashed, and unbalanced in the case of the numaral 1. Partly due to the monospacing or tabular spacing that’s apparently been used, the numeral 1 stands apart uncomfortably from the other densely packed characters. A more relaxed open spacing generally might make a tabular 1 appear less incongruous?

Personally, I’m not too sure about style never coming into it, I think that’s part of a designer’s experience and vision, though it must be a lesser consideration, ‘easy to read’ has to be uppermost. Many people have commented on the Britishness and friendly character to the Transport fonts, though I suppose you might argue that such stylistic qualities are incidental?

Personally, I would increase the right and left sidebearings on all other characters while reducing the sidebearings around the 1. You might still leave the 1 with bigger sidebearings than other characters, but I think they look too wide as they are, wider than is neccessary for reasons of legibility, regardless of aesthetic concerns.

Kinneir said that he started with the question: “What do I want to know, trying to read a sign at speed”. “Style never came into it,” recalled Calvert. “You were driving towards the absolute essence. How could we reduce the appearance to make the maximum sense and minimum cost”.

Please feel free to use any of my comments in any way you wish. Regards, Keith



Impresso pela iNove Gráfica Digital. Papéis utilizados: Offset Alta Alvura 120g/m2, 150g/m2 e 240g/m2. Cartão Triplex 250g/m2 Tipografias utilizadas: FF Info Text (por Erik Spiekermann e Ole Schäfer) Sauerkrauto Pro (por Martin Lexelius Core) Decima Mono Round (por Ramiz Guseynov)


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