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Sexta-feira, 8 de Novembro de 2013
Fó ru m d e ba te es t r at é g ia s pa ra con te r o a q u ec i m en to g l ob a l
• Pá g. 3
O papel dos subsídios no aquecimento global
• P ág . 4
Equilíbrio das emissões depende dos emergentes
• Pá g. 5
Em xeque, a função do PIB como indicador principal
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Rio Clima 2013
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Rio Clima: uma reflexão sobre mudanças climáticas
O
Rio de Janeiro sediou na semana passada a Conferência Rio Clima 2013, organizada pelo Instituto OndAzul, que promoveu uma reflexão sobre mudanças climáticas, discutindo aspectos políticos e estratégias para conter a concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera, responsável pelo aquecimento global. A segunda edição do evento – que já entrou para o calendário oficial da cidade – aconteceu em 28 e 29 de outubro, na sede da Firjan, e
Debates sobre o clima: as propostas serão condensadas em documento que representará o Brasil na COP 19, em Varsóvia. reuniu academia, economistas, parlamentares, setores público e privado, além de representantes de organismos internacionais, para discutir propostas que serão condensadas em documento que representará o Brasil na Conferência das Partes da Convenção-Quadro (COP 19), da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças do Clima, em Varsóvia, na Polônia, de 11 a 22 de novembro. A Rio Clima 2013 abordou três temas principais: a adaptação frente às mudanças do clima, a mitigação climática e as formas de financiamento para economia de baixo carbono. O encontro abriu caminho para a discussão de novas formas de negociação e para implementação de
A mesa de debates reuniu cerca de 30 especialistas em questões ambientais políticas públicas nacionais e internacionais, ou novos acordos bilaterais entre os países, para conter o avanço do aquecimento global e das emissões de gases de efeito estufa. O ambientalista e deputado federal Alfredo Sirkis (PSB-RJ), idealizador e um dos organizadores do evento, que reuniu mais de 500 pessoas, foi enfático: "Só vamos conseguir uma economia de baixo carbono se houver um pano de fundo econômico para isso", afirmou, defendendo a adoção de uma estrutura tributária que privilegie a economia de baixo carbono, além dos subsídios. “Tudo o que discutimos aqui tem, essencialmente, natureza po lítica e não tenho dúvida de que são debates que podem influenciar, inclusive, a campanha presidencial em 2014”, afirmou.
Pluralidade de ideias levou a um debate riquíssimo A pluralidade de ideias proporcionou um debate riquíssimo, de relevância fundamental para as discussões sobre a questão do clima, pois, embora haja consenso quanto à urgência na adoção de medidas para estancar o aquecimento global, especialistas e autoridades divergem quanto às soluções e os métodos propostos. O Rio Clima 2013 foi dividido em sessões fechadas no primeiro dia e em debates aberto ao público, no segundo. As sessões fechadas discutiram as cinco principais recomendações da primeira edição do evento, que aconteceu em junho de 2012, com exposições do economista sênior do Departamento de Assuntos Fiscais do Fundo Monetário Internacional (FMI),
Masahiro Nazaki; do coordenador da Agenda para Mudanças Climáticas do Banco Mundial para o Brasil, Christophe de Gouvello; e do professor dos programas de pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da USP e do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), José Eli da Veiga. As mesas de debates reuniram mais de 30 especialistas em questões ambientais, inclusive o representante da bancada verde no parlamento europeu, Daniel Cohn-Bendit. No segundo dia, autoridades governamentais e municipais, além de vários especialistas no tema, participaram dos debates transmitidos ao vivo pelo ambiente online do jornal O Globo.
Produção: VIA TEXTO / Edição: VANIA MEZZONATO / Fotos: EDUARDO UZAL / Projeto gráfico: DPTO. CRIATIVO/O GLOBO.
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Rio Clima 2013
Fim de subsídios para energia reduziria em 15% as emissões globais
U
m estudo de caso envolvendo 22 países do mundo, apresentado pelo economista sênior do Departamento de Assuntos Fiscais do Fundo Monetário Internacional (FMI), Masahiro Nozaki, mostra que os subsídios mundiais para energia alcançaram cerca de US$ 492 bilhões, em 2011. Segundo o trabalho, os países que concedem mais subsídios para o setor são Estados Unidos, China e Rússia. Na avaliação do econo-
Masahiro Nozaki O representante do FMI defendeu a despolitização dos preços da energia e ações de mitigação para proteger os mais pobres
Estudo propõe imposto para as emissões
O
professor de Planejamento Energético da Coppe/ UFRJ, Emilio La Rovere, apresentou sugestões para a taxação das emissões de carbono. O trabalho apresentado por ele mostrou projeções dos efeitos na economia brasileira com a criação de um
Emilio La Rovere: "A proposta é taxar as emissões de carbono e reinjetar os recursos arrecadados na economia"
imposto de até R$ 200 por tonelada de carbono emitida na atmosfera. "Não se trata de aumentar a carga tributária ou de criar um novo imposto. A proposta é taxar as emissões de carbono e reinjetar os recursos arrecadados na economia", explicou. Esses recursos poderiam ser direcionados ao abatimento da dívida pública, à redução dos encargos sociais na contratação de mão de obra e à criação de um ‘cheque verde’ para famílias de baixa renda, sugeriu o professor. As simulações com efeitos projetados até 2030 mostram que o uso de um fundo com a taxação do carbono para substituir os encargos trabalhistas teriam um impacto positivo na geração de empregos, substituindo o efeito recessivo que o novo tributo provocaria ao tributar as emissões das indústrias. O estudo também estima que o ‘cheque verde’ reduziria as desigualdades sociais. “A criação de um 'Bolsa Carbono', nos moldes do ‘Bolsa Família’ seria uma saída. Temos que avançar nessas discussões", afirmou.
mista do FMI, os subsídios contribuem para que os preços fiquem artificialmente mais baixos e estimulam o consumo excessivo de energia, contribuindo para o aquecimento global. “O fim desses subsídios poderia representar uma redução global de 15% nas emissões de gases do efeito estufa”, afirmou. Nozaki ressaltou ainda que os subsídios são medidas "regressivas" – destinam mais recursos aos mais ricos e aumentam a desigualdade. Segundo o estudo, os 20%
mais ricos do mundo ficam com 40% dos recursos dos subsídios da energia, enquanto os 20% mais pobres recebem apenas 7%. O pesquisador sugeriu também medidas para se promover uma reforma dos subsídios, observadas nos países que foram alvo do estudo: a despolitização dos preços da energia e ações de mitigação para proteger os mais pobres. Ele citou o Brasil e a Turquia como bons exem plos de reforma.
Brasil é bem-sucedido nas políticas de subsídios de energia
O
estudo apresentado por Masahiro Nozaki, que criticou os subsídios públicos para energia, foi rebatido pelo se-
Sergio Margulis “É muito diferente subsidiar querosene de aviação, que vai beneficiar a classe A, e subsidiar gasolina, diesel ou GLP”
cretário de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Sérgio Margulis. Segundo ele, o estudo ignorou o grande sucesso das políticas de subsídios energéticos do Brasil. "O estudo considera dados agregados e gerais que não mostram os efeitos marginais desses incentivos, como o subsídio ao gás de cozinha para a população de baixa renda. É muito diferente subsidiar querosene de aviação, que vai beneficiar a classe A, e subsidiar gasolina, diesel ou GLP", afirmou. O secretário Margulis também defendeu a produção de biocombustíveis no terceiro mundo, provocando outro debate, desta vez com o deputado europeu Daniel Cohn-Bendit. "O caso do Brasil é diferente do resto do mundo. Na África, a produção de biocombustível seria um drama. Um país como Moçambique tem que pensar primeiro em produzir comida para a população", defendeu o parlamentar.
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Rio Clima 2013
Equilíbrio das emissões depende dos países em desenvolvimento
O
controle das emissões globais de gases de efeito estufa depende de projetos que
promovam um crescimento econômico limpo nos países em desenvolvimento. A tese foi defendida pelo coorde-
Christophe de Gouvello "Mesmo que todos os países desenvolvidos fossem varridos do mapa, a questão das emissões de carbono não seriam resolvidas”
nador da Agenda para Mudanças Climáticas do Banco Mundial para o Brasil, o engenheiro Christophe de Gouvello, que faz palestra sobre a promoção do investimento público em energias limpas e recuperação ambiental. Para ele, somente os projetos de redução de emissões nos países desenvolvidos e o mercado de créditos de carbono não são suficientes. "Mesmo que todos os países desenvolvidos fossem varridos do mapa, a questão das emissões de carbono não seria resolvida, e o mercado de créditos de carbono também não vai resolver, pois quem não consegue
Somente a economia de baixo carbono nos países em desenvolvimento poderia estabilizar as emissões globais. reduzir suas emissões compra créditos de outros. Então, isso não é suficiente", disse Gouvello. Na avaliação do representante do Banco Mundial,
somente a economia de baixo carbono nos países em desenvolvimento poderia estabilizar as emissões globais. "Só a China constrói o equivalente a um Brasil inteiro de capacidade de geração de energia a cada ano", exemplificou. Segundo o especialista, 88% das metodologias do mecanismo de desenvol vimento limpo disponíveis no mundo não são uti lizadas no Brasil. “É pre ciso que se apliquem essas metodologias para que os projetos de desen volvimento limpo se jam financiados pelo mer cado financeiro internacional”.
‘É possível cumprir a meta dos 2 graus Celsius até 2020’
Suzana Kahn A presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudança Climática e vice-presidente do Grupo de Mitigação do IPCC, Suzana Kahn, acredita que a meta de aumento da temperatura média global abaixo de 2 graus Celsius até 2020 ainda pode ser alcançada, se houver mudança na mentalidade de governos e empresas. Para isso, as emissões anuais devem estar em 44 bilhões de toneladas em 2020. Mas, segundo o
PNUMA, mesmo que todos os países cumprissem as metas acordadas pela ONU, as emissões ainda estariam, até lá, acima do limite em 8 bilhões de toneladas. "É possível atingir a meta, com custo de abatimento de até US$ 100 por tonelada equivalente de carbono, se houver interesse dos governos. Dinheiro tem, só com a crise financeira foram gastos US$ 7 trilhões”, afirmou ela, que defende uma mudança no modelo atual de consumo mundial.
De onde tirar recursos para financiar a economia de baixo carbono? Os recursos já existem e são usados na reconstrução de cidades atingidas por catástrofes naturais, que têm relação direta com as emissões de carbono. Mais de 2% do PIB fluminense é gasto na recuperação de áreas afetadas. Não seria razoável aplicar esse dinheiro na mitigação e na redução das emissões? Isso precisa ser levado em conta.
É possível mudar o padrão de consumo da sociedade? Com projeto de divulgação de bons exemplos e de políticas públicas voltadas para esse propósito, acredito que possamos amenizar o consumismo, o uso de recursos naturais e as emissões de carbono. Não é simples, mas as pessoas têm que perceber o trivial.
O que te chamou mais atenção durante o Rio Clima 2013? O que me deixa feliz é ver tantas pessoas envolvidas num tema tão importante. É impressionante a qualidade e o conhecimento dos palestrantes e o interesse em debater e divulgar ideias. Isso não pode ser desperdiçado, precisa ser canalizado para alguma ação.
O que pensam os debatedores O co-fundador e presidente da Bolsa de Valores Ambientais do Rio, Pedro Moura Costa, disse que há uma certa tendência em jogar tudo fora e começar de novo, em vez de aprender com as experiências do passado. "O
Brasil está tomando uma série de iniciativas e políticas públicas que levam às reduções das emissões de carbono." Chefe da Divisão de Clima do Ministério das Relações Exteriores, Everton Lucero,
defendeu a premiação em dinheiro para a atividade econômica que contribuir para manter o nível de emissões no patamar desejado. “Tenho certeza que encontraremos, via multilateral, a solução
para o problema das emissões de gases estufa.” Para Sérgio Besserman, presidente da Câmara Temática de Desenvolvimento Sustentável e de Governança Metropolitana, não há engenharia
financeira que resolva o problema das emissões sem que os governos assumam que há um custo. "Feitas as contas, não fizemos nada a não ser gerar massa crítica para discutir lá na frente.”
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Sexta-feira, 8 de Novembro de 2013
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'É preciso se livrar do PIB como indicador principal'
A
sustentabilidade deveria ser levada em conta nos indicadores que medem o desempenho econômico dos países, na avaliação do professor dos programas de pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da USP, José Eli da Veiga, que, no entanto, reconhece a impossibilidade de que isso aconteça no curto prazo, pois o tema não é discutido ainda nem pelos organismos internacionais. "Para se ter um indicador sustentável, seria importante ter a pegada de carbono, as emissões per capita”. Eli da Veiga defendeu o
fim da utilização do Produto Interno Bruto como principal indicador do desempenho dos países para governos e organismos internacionais. "Não adianta ter a correção do PIB ou falar no PIB Verde. É pre ciso se livrar do PIB como o indicador principal", afirmou. O economista entende que, no futuro, o crescimento econômico não será mais medido pela produção de bens e serviços. "Com o tempo vai acabar esta mística de que tudo se resume ao PIB. Vamos avançar para indicadores de sustentabilidade físicos e não mais monetários", disse.
EMISSÕES PER CAPITA Entre os debatedores que defenderam um novo indicador que leve em conta as emissões de gases do efeito estufa, estavam Eduardo Viola, professor titular de Relações Internacionais da UnB, que considera um bom parâmetro a utilização das emissões per capita. A consultora da Secretaria de Assuntos Econômicos, Sandra Paulsen, no entanto, lembrou que os organismos internacionais já têm as metodologias para as medições ambientais e que o Brasil segue conceitos adotados pela ONU. "O IBGE já está
José Eli da Veiga “Nós temos que avançar para indicadores de sustentabilidade físicos e não mais monetários" devidamente envolvido nas contas ambientais", informou. Para Paulo Mibielli, da Sociedade de Economia Ecológica, a questão não está na metodologia para
as medições das mudanças climáticas, mas sim na decisão política de usar os indicadores que medem esses fatores.
Rio perdeu R$ 50 bi com desastres naturais Catástrofe na serra: custo da tragédia ocorrida com as chuvas de janeiro de 2011 ainda não está contabilizado O economista Carlos Eduardo Young, do Instituto de Economia da UFRJ, é contrário à inclusão de metodologias que considerem as emissões de carbono nos
indicadores de desempenho econômico dos países. "Temos que adotar indicadores de qualidade de vida, como tempo de deslocamento urbano, qualidade do ar etc., e
aí veremos qual o impacto das mudanças climáticas nesse indicador", afirmou ele. Pelas suas contas, o estado do Rio de Janeiro perdeu cerca de R$ 50 bilhões com desastres
ambientais de 2001 a 2010. As estimativas não incluem as perdas com a tragédia na Serra Fluminense, em 2011, e no Morro do Bumba, em Niterói, em 2010.
“As decisões devem ser tomadas hoje” não sofra com o aumento das catástrofes naturais.
Daniel Cohn-Bendit O deputado do Parlamento Europeu, Daniel Cohn-Bendit, foi enfático ao afirmar que os políticos devem se empenhar na tomada de decisões que garantam o futuro do planeta. E as ações precisam ser colocadas em prática hoje para que, daqui a 30 anos, a população mundial
Qual o maior desafio no enfrentamento das mudanças climáticas? Uma das grandes questões é balancear desenvolvimento econômico e políticas ecológicas. Muitas coisas não podem ser traduzidas como certas ou erradas, mas canalizar energias para a criação de políticas que garantam um equilíbrio de forças. A democracia nesse sentido é fundamental, pois possibilita tomar decisões que vão influenciar nosso modo de vida nos próximos anos. A sociedade deve estar envolvida nesse processo? É preciso transformar o estilo de vida da população mundial, um dos grandes responsáveis pelos
problemas do clima no planeta. Mas é muito difícil exigir que as pessoas mudem repentinamente o jeito de pensar e agir. Estamos numa encruzilhada. E os cientistas estão cada vez mais certos de que nós, seres humanos, estamos mudando as condições do planeta. A Rio Clima ajuda nessas questões? Essa conferência é um momento único para a cidade. Podemos usar esses dois dias de discussão para mudar políticas, convergir ideias e começar a agir de maneira concreta. Dessa forma, abre-se um caminho importante para maior consciência das pessoas e da necessidade de buscar novas soluções para o enfrentamento do aquecimento global.
6 Sexta-feira, 8 de Novembro de 2013
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Indústria quer reduzir emissões e manter competitividade
A
nfitriã do evento, a Firjan foi representada na abertura do segundo dia da Conferência pelo vice-presidente Carlos Fernando Gross, que falou sobre o Plano-Indústria, metas que vêm sendo implementadas no estado para colaborar com a mitigação dos gases de efeito estufa. "Este plano vai articular todas as ações do setor, permitindo que a indústria de transformação reduza suas emissões em 5% em relação às projeções para 2020", disse ele, ressaltando a importância das medidas
para manter a competividade da indústria fluminense. "Queremos que o Rio Clima se transforme num centro de reflexão, um “Think Tanks” sobre as perspectivas do desenvolvimento sustentável”, disse Alfredo Sirkis. “O ideal é que essas discussões deem suporte aos fóruns sobre as mudanças climáticas, como a COP 19, mas trabalhe também paralelamente, em outras negociações relacionadas", propôs. O chefe da Divisão do Clima do Itamaraty também falou sobre o aspecto simbólico de o fórum se consolidar
na cidade que deu origem ao protocolo mundial adotado em 1992. "O Rio de Janeiro mais uma vez está na vanguarda de um debate mundial e tem todas as condições de propor soluções inovadoras", disse Everton Lucero. O secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Luis Pingelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ, comemorou a redução das emissões atribuídas ao desmatamento, mas alertou para o aumento relacionado ao setor de energia. "Houve um aumento importante das emissões proveniente de combustíveis
Everton Lucero, do Min. das Relações Exteriores, discursa na abertura do segundo dia do evento, observado por Luiz Pinguelli Rosa, Carlos Alberto Muniz, Carlos Gross, Alfredo Sirkis e Daniel Cohn-Bendit fósseis. E há o problema das termelétricas brasileiras, que estão entre as piores do
mundo, pois eram feitas para uso apenas em períodos de muita escassez", avaliou.
Prefeitura incluiu a Rio Clima no calendário oficial
A
riqueza dos debates promovidos pela Conferência Rio Clima levou a Prefeitura a incluir o evento no calendário oficial da cidade do Rio de Janeiro. A informação é do secretário do Meio Ambiente, Carlos Alberto Muniz, que ressaltou a importância de se manter atualizado o inventário de emissões de gases de efeito estufa
para implementar um plano de ação que ajude a cidade a se tornar mais sustentável. "Esses dados nos permitem manter um plano de ação para enfrentar tanto as emissões provenientes do transporte quanto a destinação cor reta dos resíduos sólidos, que conta com o trabalho da Comlurb na coleta seletiva e na conscientização da
população em relação ao lixo", disse. Muniz afirmou que a cidade passa por uma verdadeira transformação urbana, com o objetivo de mudar sua face. Retiramos 1.450 de estacionamentos do centro e estamos colocando o transporte coletivo na ordem do dia. “Queremos que a cidade se humanize”.
Subsidiar combustíveis fósseis não resolve o problema
Emílio La Rovere Nos últimos anos, o Brasil teve êxito na redução do desmatamento, mas precisa colocar em prática outras ações contra as emissões de GEE. Emílio La Rovere, da Coppe/UFRJ, diz que é preciso prestar mais atenção aos impactos causados pela queima de derivados de petróleo e defende o fim do subsídio ao preço da gasolina.
Como conciliar desenvolvimento econômico e redução nas emissões? Há custos e benefícios, vantagens e desvantagens e visões subjetivas sobre o assunto. As ações para reduzir emissões não dependem apenas de um país, precisam ser feitas, por acordos entre nações, principalmente EUA e China, e com a ajuda de comunidades científicas, empresarial e ONGs. Qual o papel do Brasil neste contexto? O Brasil teve sucesso estrondoso nas ações contra o desmatamento. Entre 2005 e 2010, as emissões caíram de 2 bilhões de ton. de CO2 para 1,2 bilhão. Mas, no futuro, não teremos como reduzir
tanto, por conta da expansão da fronteira agrícola, e a queima de combustíveis fósseis é outro motivo de preocupação. O sr. é a favor do subsídio à gasolina? Por subsidiar a gasolina, a Petrobras acumula grandes prejuízos na venda e, muitas vezes, depende da importação. Isso impacta em projetos do pré-sal. O fim do subsídio deve ser feito aos poucos e com investimentos na melhoria do transporte coletivo, na maior eficiência energética da indústria, na produção de veículos mais econômicos etc. Subsidiar combustíveis fósseis não resolve o problema da inflação.
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Sexta-feira, 8 de Novembro de 2013 7
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É preciso mensurar os efeitos externos de bens e serviços
O
atual modelo das Conferências das Nações Unidas (ONU) não é suficiente para estancar o avanço do aquecimento global. A opinião é do consultor na área de sustentabilidade e ex-secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Fábio Feldman, que
defende mudanças no modelo das Conferências das Partes da Convenção-Quadro (COP). “Do ponto de vista político, é preciso outras iniciativas complementares, como acontece nas conferências das cidades. O C-27, por exemplo, é uma ótima iniciativa, porque reúne as capitais brasileiras para
discutir a estratégia de sustentabilidade das cidades", afirmou. Segundo Feldman, não atribuir ao preço de bens e serviços o impacto da produção para o planeta significa conceder subsídios. “Mensurar as externalidades seria um ponto essencial para virar o jogo das mudanças climáticas”, avaliou.
Fábio Feldman “Mensurar as externalidades seria um ponto essencial para virar o jogo das mudanças climáticas”
“Estamos perdendo a guerra contra o aquecimento global”
Sérgio Besserman Para o presidente do Comitê Técnico para o Desenvolvimento da Cidade do Rio de Janeiro, há muitas pessoas engajadas no propósito climático, mas a teoria tem se sobreposto à prática. Em sua opinião, o que foi feito até hoje em relação às emissões é irrisório. “A sensação é que ainda não começamos nada. Daqui até a metade deste século, as gerações futuras vão olhar para trás e perguntar por que deixamos de fazer tanto por eles”, prevê Besserman.
O que é preciso ser feito para enfrentar o atual cenário climático mundial? Política, palavra que em grego significa agregar em torno de ideias. A única chance que temos de evitar os piores cenários é fazer política e pressionar as autoridades e o Estado. A Rio Clima se propõe e consegue mais do que isso: além de mobilizar uma rede de especialistas qualificada e expansiva, procura debater temas de negociação, tecnológicos e políticos, a relação entre a macropolítica global e as mudanças climáticas, as formas de mensuração e as fontes de energias renováveis existentes. Há espaço para todos neste contexto? Pessoas de todas as classes podem e devem se engajar nos debates, não apenas por meio de atitudes, como utilizar menos o automóvel, mas
de outras medidas que contribuam para a causa. É preciso discutir em casa, no trabalho, nas manifestações, e exigir que os governantes prestem atenção ao tema e ajam. Isso é muito expressivo. Avançamos pouco nas medidas contra o aquecimento global? Estamos perdendo a guerra. Enfrentamos uma batalha aqui outra acolá, mas a guerra ainda está perdida e caminhamos para os piores cenários do clima global. No entanto, a intensificação dos debates me deixa esperançoso, principalmente no Brasil, um país que normalmente não discute questões e concorda com tudo. O fato de existirem opiniões distintas sobre o mesmo assunto contribui para a construção de ideias mais produtivas, criativas e eficientes.
UPP Social: em defesa da sustentabilidade da paz
O
projeto UPP Social, desenvolvido pelo Instituto Pereira Passos (IPP) nas comunidades pacificadas, com o apoio de um fundo para promover a sustentabilidade da paz no Rio de Janeiro, foi citado por Eduarda La Rocque, presidente do IPP, como um exemplo de iniciativa que ajuda a tornar sustentável a revitalização da cidade.
Além de melhorar a oferta de serviços públicos nas comunidades, o UPP Social busca gerar alternativa de emprego e renda para as pessoas que moram nas favelas. “Os estudos mostram que 16,2% dos jovens da cidade do Rio não estudam, não trabalham e nem procuram emprego. Quase metade deles está entre os mais pobres" explicou. Eduarda defendeu inves-
timentos em serviços públicos e em oportunidades para os trabalhos em prol da paz. "Eu acredito nas par cerias público-privadas com o terceiro setor, a academia e a população. As manifestações já mostraram uma crise desse modelo capi talista concentrador de renda, que não redistribui opor tunidades. Esse modelo está falido", disse.
Eduarda La Rocque “Os estudos mostram que 16,2% dos jovens da cidade do Rio não estudam, não trabalham e nem procuram emprego”
8 Sexta-feira, 8 de Novembro de 2013
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A experiência turca em energia solar País tem capacidade instalada suficiente para atender toda a demanda
M
Serhan Suzer "A Turquia tem capacidade instalada de 15 megawatts, mas pode chegar a 380 bilhões de quilowatts por ano, o suficiente para abastecer todo o país”
embro do Greenpeace e fundador da EKo Renewable Energy (empresa de energia solar), Serhan Suzer, falou sobre a experiência de energia solar que vem sendo desenvolvida na Turquia, a partir de uma nova lei que estimula o setor, e mos trou um panorama mun dial promissor.
Opção sustentável para levar luz às comunidades afastadas
A
energia solar é a opção mais sustentável para o programa federal ‘Luz para Todos’abastecer a região Norte do país, na avaliação do diretor da PSR Soluções e Consultoria em Energia, Rafael Kelman. “Cerca de 1,6 bilhão de pessoas no mundo não têm energia elétrica em casa e as experiências têm demonstrado que a energia solar é uma opção para levar o serviço às comunidades afastadas”, afirmou Kelman.
Para ele, se houvesse financiamento, haveria mais apetite para instalar sistemas solares nas casas. "Um sistema domiciliar pequeno custa em torno de R$ 20 mil”. Uma opção interessante é o modelo de leasing, em que o consumidor paga uma tarifa mensal, similar à cobrada para a energia elétrica, pela instalação e uso do serviço. MATRIZ ENERGÉTICA O Plano Energético Nacional não prevê participação
A consultora Ivonice Campos fala sobre os leilões de energia, observada por Serhan Suzer, Beatriz Carneiro, Claudio Loureiro e Rafael Kelman.
significativa da energia solar até 2030. A afirmação foi feita pela coordenadora geral de Análise de Competitividade e Desenvolvimento Sustentável do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Beatriz Carneiro. "A previsão é que todas as fontes renováveis, inclusive a energia solar, atinjam 3,7% da matriz energética brasileira em 2019. Em 2030, esse total passa para 6%", disse. Segundo ela, o preço seria um grande impeditivo e pode ser impactado no futuro por novas linhas de investimento. Mas merece destaque a resolução 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que obriga a concessionária a ligar na rede quem produz energia a partir de painéis solares. “Esse é um avanço importante, pois oferece a possibilidade de disponibilizar o excedente no sistema e receber desconto no futuro", lembrou Beatriz.
"A Turquia tem capacidade instalada de 15 megawatts, mas pode chegar a 380 bilhões de quilowatts por ano, o suficiente para abastecer todo o país", afirmou ele, acrescentando que a geração de energia solar na Arábia Saudita é quatro vezes superior à necessidade mundial de energia. Suzer destacou como exemplo a iniciativa da Ale-
manha em promover a energia solar no país, desde 1999, oferecendo um preço alto por esse tipo de fonte energética, apesar de não ter um potencial tão grande de exposição solar quanto ao da Turquia. "O sol é um recurso natural que pertence a todos e não gera disputas, como acontece com o petróleo e o carvão", comparou.
Leilão vai ofertar energia renovável em todos os estados
A
crescente participação da energia renovável na matriz brasileira ficará evidente no próximo leilão do setor, previsto para novembro e dezembro, segundo Ivonice Campos, da IR Consultores Associados. "Serão ofertados 35 megawatts em projetos de todos os estados, com destaque para a Bahia. Participam 60 parques eólicos e 152 parques de energia fotovoltaica", adiantou. Ela disse que há uma medida provisória em votação que pode beneficiar ainda mais o setor, além de negociações no âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) para estimular a produção de energias renováveis. “Desde 2009 o Brasil tem tido sucesso nos leilões de energia e os renováveis estão na liderança”, afirmou. Para o gerente-geral da Canadian Solar para a América Latina, Claudio Loureiro, o preço ainda é a maior dificul-
“Desde 2009 o Brasil tem tido sucesso nos leilões de energia e os renováveis estão na liderança” Ivonice Campos dade para a popularização dos painéis solares no Brasil. "Ainda é necessário importar parte dos equipamentos, o que onera o serviço, e a carga tributária também é um complicador", afirmou. Na opinião de Loureiro, as tarifas reduzidas no setor elétrico são um desestímulo ao uso da energia solar. "O Brasil está travado com a eletricidade. O consumidor não vai investir R$ 25 mil para instalar um painel solar, se não houver estímulo. Vai preferir comprar um carro", disse.