Fanzine filhosathena

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Filhos de Athena Fanzine

Edição I – Março 2005

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Fanzine da Coruja

Edição 1

Fanzine Filhos de Athena

1ª Edição – Março de 2005 Editores: Bruno Jacinto Filipa Epifânio Gomes Safaa Dib Pedro Augusto Ilustração da Capa: Mafalda Gamboa

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Índice Editorial ................................................................................................ 4 Livro de Excepção – Ilíada..................................................................... 6 Gentes e Lugares – Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra ...... 8 Gostos, por TurinTurambar .............................................................. 10 A minha Nau zarpou... a tua afundou, por Anna Lee .................. 11 Vida, por Hen ....................................................................................... 12 Mas que sabes tu sobre a morte?, por AnCaLaGoN .................... 13 Queda, por Chaney ............................................................................... 17 Red Off, por Starita ............................................................................. 18 “Magoando”, por DeadRose ...............................................................20 Poesia Psicopata, por Darklord ........................................................ 21 Paula Bobone em Barad-dûr, por Freawine ..................................22

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Editorial Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria. Deve haver certamente outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estarei perdido. Almada Negreiros, A Invenção do Dia Claro ( 1921 ) Desde os primórdios da Imprensa fundada por Gutenberg, passando pelo recurso à técnica de folhetins, onde romances inteiros eram vividos e saboreados periodicamente, até ao culminar da grande expansão editorial que se viveu no séc. XX, resultado do maior acesso à educação, os livros foram fonte de conhecimento, vítimas de tirania, propagandistas, alvo do mais alto desprezo ou a mais elevada admiração. O que nos poderá levar a afirmar que os livros são, no fundo, como as pessoas. Reflectem a nossa condição humana intemporal em múltiplas maneiras, dependendo do génio de um escritor ou poeta, mas também não esquecem as constantes mudanças e convulsões que atravessam as sociedades ao longo dos tempos. Por tudo isto, e muito mais, os livros foram sempre homenageados como fonte de erudição, registos de uma literatura que começou, essencialmente, por ser oral. E agora, muito depois da passagem da fala para o manuscrito, vivemos o tempo do espaço virtual. Em Novembro de 2003, o fórum Filhos de Athena abriu as suas portas a todos os que procuravam por um espaço de interacção onde fossem abordadas várias facetas culturais, em especial, a literatura. Procurámos, acima de tudo, cultivar um espaço de abordagem à cultura literária, cinematográfica, musical e teatral, onde pudessem ser trocadas opiniões e conhecimentos que não se pautassem por uma única visão, mas por uma diversidade de visões. A categoria das criações, criada durante este processo, veio a crescer gradualmente até se revelar como o espaço favorito de partilha, onde cada texto, poético ou narrativo, procurou brilhar, com maior ou menor intensidade. Como forma de recompensar essa partilha, a equipa Filhos de Athena optou por uma selecção dos textos mais representativos que, durante os primeiros oito meses de vida, povoaram o fórum. A selecção a integrar o Fanzine Filhos de Athena sustém-se por certos critérios, a saber, originalidade, organização textual e linguagem. O Fanzine Filhos de Athena, para além da selecção de contos e poemas, inclui a Crónica Gentes e Lugares e a Crónica do Livro de Excepção. A primeira crónica procurará expor novas perspectivas de locais e gentes, representantes de um peso histórico e literário e que, de alguma forma, marcaram a arte e cultura. Na 1ª edição, temos uma crónica da autoria de Bruno Jacinto, conhecido por Sturm, dedicada à Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra. A segunda crónica dedica-se, em especial, à avaliação de certas obras cujo impacto e influência se fizeram notar no mundo literário, permitindo assim o ressurgir de novas mentalidades e o traçar de novos caminhos no universo da literatura. Na presente edição, Hen, de nome Filipa Epifânio Gomes, escolhe a Ilíada de Homero e

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apresenta-nos a sua perspectiva, como obra mais marcante no panorama literário ocidental. Esperemos que os Filhos de Athena apreciem a nossa modesta contribuição como forma de compensar todas as participações que nos têm acompanhado ao longo dos meses e aquelas que se continuam a juntar a nós, nesta odisseia pelos mundos da Arte. Prometemos não ficar por aqui no nosso contributo.

Zeladores de Athena

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Livro de Excepção A Grécia tem sido exaltada, ao longo dos tempos, como um dos berços da civilização ocidental. Aos Gregos são atribuídos grandes feitos em diversas áreas, como a filosofia, as artes plásticas, o teatro, a política e a organização das cidades, entre outras. Alguns dos maiores nomes da história clássica grega como Sócrates, Aristóteles, Platão, Sólon, entre muitos, integram não só a história grega, mas, em última estancia, a história universal, tal é o impacto das suas obras. Mas se há alguém que contribuiu de sobremaneira para o conhecimento que temos hoje da Grécia antiga, foi Homero. Segundo a tradição, era cego e natural de Quios, a quem são atribuídos os poemas épicos, Ilíada e Odisseia. Os poemas homéricos são, de facto, o mais importante testemunho daquilo que foram a sociedade e pensamento antigos. A Guerra de Tróia alcançou a imortalidade através daquela que foi das mais marcantes obras do panorama literário ocidental, a Ilíada, título que deriva de Ílion, nome grego da lendária cidade de Tróia. Nesta obra, chamada Bíblia da antiga Grécia, Homero relata o final da Guerra de Tróia, quando já se passaram nove anos de batalhas. Homero não centrou a sua narrativa nos primórdios da guerra, nem contou sobre os amores de Páris e da “mulher com o rosto que lançou ao mar mil navios”, o que nos é, na verdade, narrado é a cólera funesta de Aquiles, são as características do herói e, num sentido mais lato, do Homem. De entre os inúmeros temas, contidos na obra, que podem ser analisados, os alvos de eleição deste pequeno texto são, então, o conceito de areté e o papel dos deuses, no épico. Desta forma, o destaque centrar-se-á quer nas características humanas, quer nas divinas, que são, no fundo, os elementos mais significativos. Ao considerar a concepção do homem, remetemos grande parte da nossa atenção para o conceito de areté, ao qual encontramos também referência em Aristóteles e Platão. Areté aponta, pois, para o conceito de virtude e excelência heróica. Existem, na Ilíada, muitas personagens heróicas. Do lado grego: Agamémnon, Pátroclo, Diomedes, Menelau, Nestor, Ájax, Ulisses. Do lado troiano: Príamo, Andrómaca, Heitor, este último, o melhor guerreiro dos troianos, é visto como grande exemplo dessa virtude, dedicado à família mas consciente do seu dever para com a pátria e companheiros guerreiros. Contudo, de entre todas as personagens, é Aquiles que tem mais realce, ele é o herói modelo, nobre e corajoso. É Aquiles que encarna a areté e na sua figura que esse ideal se concretiza. Aquiles é o aristós, o melhor entre todos, o mais perfeito. A areté é uma excelência própria da nobreza, um conjunto de qualidades físicas, espirituais e morais tais como a bravura, a força, a destreza do guerreiro, a eloquência e a persuasão e, acima de tudo, a heroicidade, entendida como a aliança entre a força física e o moral. Assim, o ideal heróico grego não era marcado, apenas, pela bravura, mas por qualidades morais, como a compaixão, que Aquiles sente por Príamo, quando este numa atitude humilde e suplicante, implora pelo corpo de seu filho Heitor. Mas o poema mostra, também, as fraquezas desses heróis, como o orgulho, o egoísmo e o ódio desmedido. Homero dá, desta forma, a conhecer os comportamentos que são ou não próprios da nobreza, do herói, da excelência. Será, nesta acepção, legítimo atribuir a Homero o epíteto “educador da Grécia”, como o fez Platão. Também os deuses, a par dos heróis, assumem um papel preponderante na epopeia. A mitologia constitui, pois, uma das mais significativas contribuições dos gregos e encontra, nos poemas homéricos, a mais notória realização. Os deuses, que mostram vícios e virtudes humanas, não são meros espectadores da guerra, mas intervenientes activos, alterando o rumo dos acontecimentos. Veja-se, por exemplo, a luta de Menelau e Páris, na qual este sairia derrotado não fosse a intervenção de

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Afrodite, resgatando-o da batalha, ou mesmo a intervenção decisiva de Apólo nas mortes de Pátroclo e Aquiles. Muitos são os aspectos a analisar neste poema épico e daí poderão surgir várias interpretações e ligações, mas inegável é a qualidade da narrativa e o legado deixado por Homero: epopeias que são fontes de prazer estético e ensinamento moral.

Filipa Epifânio Gomes

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Gentes e Lugares Os livros são apreciados desde há muitos séculos. Começaram por ser raros, e o seu preço proibitivo para a maioria das pessoas, depois passaram a ser mais baratos e acessíveis, mas uma coisa sempre se manteve, o gosto pelas grandes colecções literárias. Ao longo dos séculos foram criados magníficos edifícios para albergar algumas das maiores colecções literárias, as bibliotecas. Talvez a mais famosa biblioteca de sempre tenha sido a Biblioteca de Alexandria, tanto pela sua lendária beleza arquitectónica, como pelo seu conteúdo literário e científico. Em Mafra, por ordem de D. João V, foi construído o que deveria ser o maior monumento em Portugal, como agradecimento pelo nascimento do seu filho D. José. Dinheiro a jorros fluiu do Brasil para a vila saloia, milhares de homens encheram uma pequena vila para construírem em pleno Monte da Vela, um palácio que seria de meter inveja ao Rei Sol de França. Mas o que se viria a tornar o ex-líbris desta monumental obra? A sua Biblioteca. Inicialmente doada aos Franciscanos, foi durante a estadia dos Cónegos Regrantes que atingiu o seu auge. Apesar de a grande maioria dos seus livros ter sido encomendada ainda por D. João V aos grandes mestres livreiros de toda a Europa, a grande organização da Biblioteca foi feita sob tutela dos Cónegos Regrantes. Os oitenta e três metros de biblioteca ganharam um novo embelezamento externo também neste período, com a chegada de estantes Rocaille, da autoria de Manuel Caetano de Sousa. Existem nesta colecção cerca de trinta e oito mil livros, e a sua importância é de tal forma reconhecida, que, em 1754, uma Bula do Papa Bento XIV, decretou a proibição de empréstimo ou desvio de obras desta, sem autorização régia. Os seus volumes ocupam toda a gama do saber, desde a literatura ao saber científico mais avançado da época. Todos os volumes estão criteriosamente organizados, segundo uma ordenação cristã, tendo sido compilados num catálogo manuscrito em 1807, pelo bibliotecário frei João de Santana, contendo oito volumes. Neste é curioso a inclusão de um conjunto, já celebre, de três estantes. A “Miscelânea Varia”. Este nome oculta um conjunto de livros considerados perigosos e proibidos pela própria Igreja Católica; a “Miscelânea Varia” não era mais do que o sítio onde eram colocados os livros que não deviam ser reconhecidos. Quando foram extintas as ordens religiosas em Portugal, as obras de embelezamento da Biblioteca ainda decorriam, tendo ficado em suspenso para sempre. Com esta suspensão nunca chegaram a ser colocadas as imagens dos grandes autores da história nos grandes medalhões de pedra, no topo das estantes. As estantes em si também nunca foram acabadas, faltando todo o acabamento em talha dourada que lhes estava destinado. Muitas pessoas agradecem este facto, usando o argumento de que com uma Biblioteca, já de si monumental e com toda a decoração que lhe estava destinada, os livros passariam para segundo plano definitivamente. Os livros encontram-se num estado de conservação admirável, e por incrível que pareça, e ao contrário de outras bibliotecas modernas, este facto não se deve à utilização de grande tecnologia. As traças, praga tão conhecida para os livros, e outros animais que deterioram os livros, são combatidos por alguns morcegos que habitam na Biblioteca. Um grande exemplo de “biblioteca biológica”. A magnificência da biblioteca a nível arquitectónico já lhe valeu a escolha de ser cenário de várias produções cinematográficas, inclusive estrangeiras. A destacar "A

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Rainha Margot", "A Filha de D'Artagnan" e "As Viagens de Gulliver", sendo esta última uma mini série televisiva, e não uma produção cinematográfica. A prova viva de que em Portugal a literatura tem belos espaços onde pode ser apreciada, e conteúdos literários ao nível das melhores colecções da época. Um espaço a visitar por qualquer apaixonado das artes e das letras.

Bruno Jacinto

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Gostos Gosto do mar, da suas cores, cheiros e histórias. TurinTurambar Não gosto de estar muito tempo longe do ruído das ondas. Gosto de acreditar, de ter fé nas pessoas e de Nome: Miguel Teixeira pensar que será possível. Não gosto de pensar que às Idade: 26 anos vezes ela fraqueja. Gosto das cores douradas do Localidade: Tavira entardecer no Verão, dos sussurros do vento quente e das Profissão: Engenheiro memórias que trás. Não gosto quando as noites se Agrónomo seguem são solitárias. Gosto de imaginar, de sonhar e dar Adora escrever e praticar desporto. forma ao que não existe. Não gosto de viver unicamente Apaixonado pela agarrado à realidade. Gosto de escrever, de brincar com natureza, música, as palavras e de criar histórias. Não gosto que sejam vãs mitologias, por viajar e e desacompanhadas de actos. Gosto de pensar que imaginar. amanhã serei melhor pessoa do que sou hoje, que ajudarei mais quem necessita e que continuarei a lutar pelo que acredito. Não gosto quando me faltam as forças para isso. Gosto de saber que tenho amigos verdadeiros, que não falham e que não fogem. Não gosto de pensar que um dia poderão não estar cá. Gosto de olhos claros, sorrisos misteriosos e que me façam rir. Não gosto quando tudo se resume unicamente a isso. Gosto de acreditar que somos nós que fazemos o mundo, que pode ser mais justo e menos desigual. Não gosto de saber que, às vezes, fui injusto para quem não mereceu. Gosto de pianos, do seu som e da serenidade que transmitem. Não gosto de me lembrar que não sei tocar. Gosto das cores das folhas no Outono, do cheiro a castanhas assadas no ar e da melancolia que nele parece pairar. Não gosto que os dias encurtem. Gosto dos meus sobrinhos, das suas brincadeiras e respostas. Não gosto de pensar que se calhar, nunca serei pai. Gosto de Guiness, Superbock e Tuborg. Não gosto de Cristal. Gosto de tudo em ti, o que se vê e o que não se vê. Não gosto de não te ver. Gosto da Escócia, Irlanda e País Basco. Não gosto de ir lá tão poucas vezes. Gosto de Tavira, das águas espelhadas do rio e do encanto que a envolve. Não gosto de me ausentar por muito tempo. Gosto de ser surpreendido, do inesperado e do inusual. Não gosto de certas banalidades. Gosto de sonhos, da capacidade que têm de nos fazer avançar e da sua magia. Não gosto de pensar que alguns são impossíveis de alcançar. Gostava que gostasses realmente de mim, num amor que transcendesse tudo e todos. Não gosto saber que este é um deles. 11/05/2004

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A minha Nau zarpou... a tua afundou Talvez hoje não devesse acordar, para uma crueldade que ainda dura! pudesse eu conseguir agora, sarar as feridas que o tempo não cura. Mais uma vez que senti o peso, do mundo todo cair em mim! E mais uma vez furei o medo, Para voltar a ficar assim. Agarrei as muralhas e as pontes, Agarrei as torres de vigilância! Agarrei as velas do meu navio, e esperei pela tão falada bonança! Murmurei dias e dias sem fim, aos ouvidos de uma flor surda! Amarrei os braços do meu mastro, pedi respostas a uma alma muda! Fiz da noite a minha companhia, Fiz do sol, a minha nau vingança. Segui o pontinho lá no alto, e perdi-me Sem bússola, sem vela e esperança! Afundei-me nos teus olhos, envoltos por um aquário! orgulhoso dos teus troféus já sem ar Matavas uma a uma, cada pessoa que disseste amar! Por isso, agarrei os cascos e os destroços. enterrei a dor por entre o que restava de mim, Fiz-me forte e aguentei A tempestade até ao fim! Agora agarra o barco, Agora fica no caminho! pois nenhum capitão deixa o seu barco afundar sozinho! 25/06/2004

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AnnA_Lee Nome: Ana Filipa Pereira Idade: 18 anos Localidade: Porto Profissão: Estudante de artes visuais Nos tempos livres, lê, escreve e toca guitarra.


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Vida Corro e abraço o mundo Conhecê-lo é o desejo Viver sem medo e fundo Sempre que a vida vejo.

Hen Nome: Filipa Epifânio Gomes Idade: 23 anos Localidade: Alcochete Profissão: Licenciada na FL, 5º ano – Ramo de formação educacional Interesses são mais que muitos, mas destaca a literatura, cinema, música, dança, mitologias, escritas, línguas e outras artes.

Pudesse eu sentir cada fio Deste mar de liberdade Afogar-me em cada rio E partir sem saudade. Esta força que me vai na alma Por nada esquecida, Com nada se acalma Esta ânsia de viver, este frenesim Moro dentro da vida E ela dentro de mim. 17/06/2004

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Mas que sabes tu sobre a morte? Eram 2:36 da manhã. A chuva, impulsionada pelo Ancalagon vento forte que se fazia sentir, magoava a pele dos médicos e agentes da polícia que estavam de volta do carro. Nome: Carlos Almeida – Não sei como é que o carro não caiu da ponte… – Rodrigues Cardoso Exclamava um polícia. Entre o barulho das máquinas que Idade: 23 anos Localidade: Ílhavo destruíam a carroçaria do carro, poucos sons se Profissão: Estudante de distinguiam, mas o homem preso lá dentro ouvia algumas Línguas e vozes, de bombeiros, da polícia, de médicos. Administração Editorial – Demora muito a abrir a carroçaria? – perguntava Gosta de ler e escrever, insistentemente um paramédico. ouvir música e ver - Não, mais três minutos e isto já fica aberto para cinema. vocês poderem fazer o vosso trabalho. – respondeu o bombeiro de voz descontraída. A confusão instalou-se na mente do homem. Ele sabia que tinha tido um acidente, sentia dores horríveis nas pernas, no peito e no pescoço, mas não se conseguia mexer, não se conseguia levantar, o corpo parecia-lhe uma massa disforme de dor, sangue e entranhas. Quando abriram a carroçaria, viu imediatamente um médico a olhar para ele e a observá-lo sem sequer lhe tocar. Coitado, não teve a mínima hipótese. As duas horas ali dentro tiraram-lhe qualquer hipótese de vida... ESTÁ DESFEITO!!! VAMOS TIRÁ-LO DAQUI!! O paramédico gritava e já nem olhava para ele. O homem ficava cada vez mais confuso, que estava ele a dizer?! Morto não podia estar, ele ouvia-o, sentia as dores, sentia frio, sentia as mãos no corpo dele enquanto era retirado sem cuidado nenhum do carro desfeito. – Morto. – dizia o bombeiro – Pobre homem… Nesse momento o homem apercebeu-se, julgavam-no morto… Com dificuldade, gritou com a voz rouca: – EU NÃO ESTOU MORTO, OUÇAM-ME, EU NÃO ESTOU MORTO, VEJAM!!!! QUE RAIO DE MÉDICOS SÃO VOCÊS?! OLHEM PARA MIM, ESTOU A GRITAR, PORQUE NÃO OLHAM PARA MIM?! OLHEM PARA MIM... As forças faltaram-lhe e, enquanto era enfiado num saco preto, chorava e pedia que olhassem para ele, que o examinassem… Enquanto era transportado na ambulância, ouviu os paramédicos a falar, dizendo que tinha sido um acidente incrível, ouviu a descrição do seu próprio acidente, de como a chuva talvez teria feito o carro derrapar na ponte e bater num dos postes laterais, de como a frente do carro tinha desaparecido completamente quando bateu de frente. Já não se perguntava porque sentia tantas dores, quase desumanas, nas pernas. Já não tinha pernas, tinham ficado esmagadas, completamente desfeitas até aos joelhos no acidente. Chorou para que o ouvissem, mas os paramédicos não o ouviam. Pensou no que faria agora sem pernas, como raio é que se vive sem pernas?! Foi poisado em cima de uma mesa fria, como se fosse apenas um pedaço de carne, abriram o saco e viu um homem de bata branca. Pensou que finalmente iriam tratar dele, estava no hospital finalmente, com médicos que sabiam o que faziam. – Ora vamos cá ver este… – dizia o homem da bata branca – Xiiiiiii… sem pernas, peito esmagado, cabeça quase praticamente desfeita…. Teve morte instantânea! O homem sentiu-se estremecer com aquelas palavras, como é que podia estar morto? Ele via, sentia as dores que lhe percorriam o que restava do seu corpo, cheirava, sentia o sabor do seu próprio sangue na boca, era impossível estar morto, eles tinham de estar enganados, tinham de estar enganados…

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O homem da bata branca começou então a mexer no seu corpo, endireitando-o, mexendo nas suas costelas, explorando a sua caixa torácica. As dores eram tantas que, entre berros de agonia, ele implorava que parasse, porque é que ele não parava, porque é que o torturava assim, o homem não conseguia compreender, estaria ele a tentar salvá-lo?! A tentar matá-lo?! Porque não ouvia ele os seus berros?! Implorou durante o que lhe pareceram horas e horas, e ele não o ouvia. Pensou que a sua voz só lhe chegava a ele, tal como só ele parecia sentir o seu corpo, tal como só ele parecia ver que respirava e ainda estava vivo. Quando o homem da bata branca terminou a sua bárbara tortura, sentiu o seu corpo a ser enfiado para dentro de um quadrado, frio, gelado e escuro. Quando se apercebeu já tinham fechado a pequena porta do cubículo, gritou, chorou durante horas e horas para que o tirassem dali, mas ninguém lhe ligou. Por esta hora, já as dores lhe pareciam menores, mas não eram... ele é que se tinha habituado a elas, e ainda continuavam a ser horríveis. Ficou dentro daquele buraco o que pensou ser quase um dia inteiro, mas não tinha a certeza. Quando o puxaram dali para fora ouviu os comentários de que não tinha família, iria ser enterrado sem ninguém. Era verdade, não era casado, não tinha irmãos e os pais estavam mortos, amigos eram poucos e muito longe para se importarem com ele. Na verdade, era uma pessoa extremamente solitária, nunca fora muito de manter amigos. Amaldiçoou-se por não ter amigos, eles poderiam talvez ouvilo e dizerem aos médicos que estava vivo. Mas depressa se lembrou que mesmo que tivesse amigos, provavelmente nunca o ouviriam. Horas passaram, de vez em quando uma ou outra pessoa passava por ele, e ele começou a imaginar que talvez estivesse numa forma estranha de cancro, mas era estranho, tinha agora frio, as dores permaneciam, mas tinha frio. – Como fica para o enterro?! – Lá sei, o gajo não tinha ninguém, parecia que não tinha mesmo amigos, conhecidos ou ninguém. 37 anos e nem uma namorada ou amigo para vir reclamar algo. A família mais próxima são uns primos que nunca o viram nem nunca ouviram falar dele e não querem saber de nada. – Pena, bem… vai ter que ser um enterro aqui fornecido pelo Estado num caixão ranhoso. Siga. Com isto o terror instalou-se nele, enterrá-lo?! Mas porquê?! Ele estava vivo, sentia tudo, ouvia tudo, nunca lhe tinham fechado os olhos, por isso também via tudo, só não conseguia mexer-se nem falar. Desde o primeiro momento que toda a gente o julgara morto, ele iria mesmo ser enterrado. Tentou gritar com todas as forças mas a voz só soava na cabeça dele, só ele a ouvia. Entre choro e gritos de dor e desespero, sentiu o seu corpo ser preparado para ser enterrado. Enfiaram-no num caixão, e lá ficou mais um dia, no escuro, a chorar, a gritar para que o ouvissem, mas nada… só silêncio. Quando ficou sozinho no silêncio, notou que não conseguia dormir, não se sentia cansado, não tinha vontade de fechar os olhos, não havia necessidade de descansar. Era confuso, tinha tido um acidente e quase nem tinha desmaiado. Depois do acidente, apenas ficara inconsciente durante o que lhe pareceu uns minutos, depois tinha acordado e ficado desperto durante horas e horas e horas, dentro do saco escuro, dentro do cubículo negro e frio ou dentro deste caixão, não tinha necessidade de dormir. Não lhe atribuiu grande importância pois achava que não estava morto. Claro que de vez em quando lhe passava mesmo pela cabeça estar morto, mas era impossível, isto não era nem céu, nem inferno, e não era obviamente o purgatório, mas então o que seria? Deixou de pensar nisso quando sentiu pegarem no caixão. – Para onde é este?! – O cemitério para onde levamos os que ninguém reclama. – Vamos, pega mete aí no carro e vamos. O que se ouviu da boca do homem era até para ele incompreensível: um misto de grito de desespero, suplício, dor e simples choro…

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À chegada ao cemitério, ouviu gritos, gemidos, risos insanos, conversas normais, será que eram para ele, pensou? Será que tinha assim tanta gente no cemitério para o seu funeral? Não era possível, ele não tinha assim tantos amigos. Era estranho, parecia uma multidão mesmo enquanto o Padre fazia o ritual do enterro, ninguém se calou… ele entretanto já não gritava, já não desesperava, já não chorava, havia apenas um leve gemido, um leve choro. Era o som de uma súplica sem fé, o homem já não acreditava em ser salvo. Quando a terra começou a cair no caixão. gritou, apenas gritou, durante os largos minutos em que a terra caiu ele apenas gritou. Depois a terra parou de cair, e o homem chorava sem parar, gritava, dizia que estava vivo. Horas e horas passaram-se, até que … – Já chega, caralho!!!! Já se ouviu, não ‘tás morto, pronto não ‘tás!!!! – Quem falou?! – perguntou o homem num misto de desespero e felicidade. – Eu, mas não vale a pena perguntares o nome que eu não me lembro. – Não compreendo, mas também não quero compreender, tira-me daqui, finalmente alguém me ouve, pensava que estava enterrado mas não estou, tira-me daqui por favor. – Como queres que faça isso?! Já nem ossos tenho, à excepção da caveira... essa ainda está em bom estado, e bem linda, pelo menos os vermes gostam dela. – Ahh?! – É UM NOVO, É UM NOVO, É UM NOVO, E PENSA QUE ESTÁ VIVO, PENSA QUE ESTÁ VIVO, AHHHHHHHHHHH ELE PENSA QUE ESTÁ VIVO!!!!! – Cala-te estúpido. Não lhe ligues, ele caiu de um 17º andar, já todos apostamos que foi de cabeça, ou isso ou enlouqueceu. – Mas... o que é que se está a passar aqui?! – Aiiiiii meu Deus, ainda não te apercebeste?! ‘Tas morto, dead, mais nada. – Mas não posso estar… isto não é… – O céu?! O inferno?! Sim… nós já nos apercebemos disso. Já agora, prepara-te para desafiares a loucura, os mais velhos daqui gostam de testar os novos gritando-lhes coisas durante o tempo todo, mas não te preocupes, é só durante as primeiras décadas. – MAS EU ESTOU VIVO, EU SINTO TUDO!!! – Isso passa, não te preocupes. Assim que os vermes te comerem o corpo, deixas de sentir alguma coisa. – Mas eu não estou morto, eu não estou morto… eu não devia ter morrido, como é que vim parar aqui?! – Amigo, provavelmente deixaste algo por fazer em vida, e a tua alma na ânsia de não morrer inconscientemente agarrou-se ao corpo. Agora ‘tás feito, a eternidade aqui… não sei como será, eu sou ‘tou cá há coisa de setenta anos, mais década menos década. – Mas eu não tinha nada para fazer, nem amigos nem mulher nem nada, não devia nada a ninguém… – Pronto, mais um que pensa que a vida é completa sem amigos e amor... Ainda pensas que ‘tás aqui porque não plantaste uma árvore e não escreveste um livro?! Muito provavelmente ‘tás aqui porque não tiveste foi um filho, é um desejo humano inconsciente. – Mas eu não estou morto, não estou morto, não estou morto, não estou morto, não estou morto, não estou morto, não estou morto, não estou morto… – Pena... Este vai enlouquecer, é pena quando não querem enfrentar a realidade. – ELE VEM AÍ, ELE VEM AÍ, ELE VEM AÍ, ELE VEM AÍ, ELE VEM AÍ, ELE VEM AÍ, ELE VEM AÍ, ELE VEM AÍ … – Cala-te, estúpido… O coveiro aproxima-se da campa e diz… – ‘Tás morto sim. Agora cala-te lá, para lunáticos já chegam os que cá ‘tão, já ‘tou farto de ouvir mortos… Nunca ninguém me disse que quarenta anos a enterrar pessoal me trazia disto, devia ter sido maquinista como a minha mãe me disse…

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E o morto continuou a chorar, a gemer baixinho... – Eu não estou morto, eu não estou morto... – EHHHHHHHH boa avô, essa foi fiiixeee, conta lá mais uma. – Não, João, ainda tens pesadelos. Para histórias de fantasmas, já esta chega, não te quero ver a acordar a meio da noite a chorar. Vá ‘tá na hora de te ires deitar senão a tua mãe chateia-me. – Boa noite, avô, até amanhã. – Boa noite. O coveiro saiu da casa do neto, passou pela tasca e dá lá de dentro, o Zé perguntou-lhe: – Onde vais? – Fechar o cemitério que me esqueci da porta. – Depois vem beber um copo… – ‘Tá bem... E lá se afastou lentamente, em direcção ao portão do cemitério. Enquanto se dirigia ao portão, ouviu um leve choro e alguém a dizer… – Eu não estou morto, eu não estou morto… Ao que o coveiro respondeu: – Cala-te, caralho, porra! Mas que sabes tu sobre a morte?! TÁS MORTO HÁ DOIS ANOS E ISSO NÃO VAI MUDAR, FIZESTE MERDA EM VIDA AGORA AMANHA-TE!!! Chatos… morreram morreram, mas que raio nunca se calam, odeio os mortos. O velho fechou o portão e dirigiu-se à tasca, pedindo um espírito para beber, com força no bagaço…

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Queda Outrora ave orgulhosa voando sozinha falcão caçando emoções, cores. Encontrei-te um dia.

Chaney Nome: Regina Silva Idade: 36 anos Localidade: arredores de Sintra Profissão: Contabilista e mãe a tempo inteiro Adora navegar pela net, jogar quizzes pelo Excel, ouvir música, dançar, e claro, escrever.

Por ti enfrentei meus medos, meus segredos. Guardei as asas, criei perante os outros a imagem de uma torre de força fundações de pedra reforçadas de confiança. E num momento tudo se foi. Caiu a ponte que nos ligava alicerçada onde julgava para sempre estarem os esteios indestrutíveis do nosso amor. Caiu a máscara Caiu a torre qual castelo de areia arrastado por uma onda maré viva de Agosto. E dei comigo caída no árido deserto da desilusão. Ergui-me, cega tropeçando em sonhos quebrados e caminhei no escuro pisando poças de lágrimas. Caminhando, encontrei no fim do deserto o espelho de mim. Peguei nas asas agora quebradas suportei as dores e busquei de novo a liberdade. Reaprendi a voar.

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Red Off As mortes iam-se sucedendo. A cada dia, a notícia Starita de um novo assassinato invadia os noticiários, alarmando a pequena vila. Era raro haver um crime na região, e agora, Nome: Sara Nome: todos temiam sair das próprias casas. Todos temiam que Sara Guerreiro nem fosse preciso tal para se tornarem na próxima vítima. Idade: 21 anos Assassino em série... que monstro esse! Como seria alguém Localidade: Mafra capaz de tais actos? Louco talvez... ou talvez não... Nada Ocupação: Estudante indiciava nada, nada trazia qualquer pista. do 4º ano de Psicologia O único contacto que todas as pessoas da vila Interessa-se pela tinham tido com coisas semelhantes, não passava apenas escrita, cinema, (ficção de um mero contacto cinéfilo. Realmente, os filmes são um cientifica, fantasia), música, entre muitos bom veículo de transmissão de situações que felizmente outros… não acontecem diariamente. (Pelo menos teoricamente, é claro). O que importa é que, para que um filme faça sentido, o assassino tenha inevitavelmente de deixar pistas que nos levem até ele...Mas será que essas pistas não servem somente no mundo da ficção?! Neste caso, elas não eram, pelo menos, explícitas, como seria o mais adequado. Uma simples mensagem era deixada ao lado de cada corpo morto: "Red Off". Nada mais. A morte não era seguida por um mesmo padrão... Esfaqueados, estrangulados, envenenados. Nos últimos sete dias, sete mortes se haviam sucedido e nenhuma delas ocorrera de forma semelhante. — O assassino realmente tinha pelo menos criatividade, lá isso é verdade! — Tentava Xavier, o detective, desabafar. Xavier, apesar de tudo, não deixava nunca que lhe fizessem perder o seu apurado sentido de humor. — “Red Off”... “Red Off”... só o “Red Off” era comum entre os crimes. Sempre escrito a sangue na parede, assustando qualquer um. Hum... mas afinal não é assim tão criativo, letras a sangue, era o padrão típico dos "Serial Killer" americanos. Lá se foi a hipótese da originalidade dos assassinos portugueses! — Emendava, enquanto pensava em como resolver o caso. — Era nisto que eu pensava quando escolhi ser detective... mas, realmente, depois de tantos anos a fingir-me de paparazzi de mulheres e homens, resolvendo traições com os seus respectivos, uma pessoa até se esquece de assuntos mais sérios. Hei-de ser capaz de resolver isto, não sei é como! “Red Off”... “Red Off”… mais nenhum padrão. — Continuava ele a pensar alto. Não queria pensar mais no assunto naquele dia. Precisava de espairecer, para que tudo lhe saísse da memória. Jantou, e dirigiu-se ao café a que habitualmente ia todas as noites. Sentou-se num dos bancos altos em frente ao balcão, e pediu um café e um whisky. E mais outro, e mais um, e mais outro... Esqueceu-se das horas, e ali continuou pela noite fora a embriagar-se. Passavam já das três da manhã, quando o dono do café o convidou a sair. Tinha de fechar o estabelecimento e não lhe venderia mais nada. Saiu pela porta fora, cambaleante e a resmungar, tentando pensar para onde poderia ir a seguir. Seguindo pelo caminho que o levava até casa, ia olhando à sua volta, na esperança de encontrar algum outro café aberto. — Ohh, amigo! Ainda bem que o encontro! Parece que anda tudo a fugir do assassino, e depois fica tudo assim deserto, já viste! Tudo fechado, não há ninguém! Tu não tens medo? Ainda podes levar com uma facada no focinho, já viste! — Dizia bem alto, para um pequenito cão que passava na rua. — Red Offffffffff — acrescentava ele, com voz assustadora, fazendo o pequeno animal fugir para bem longe. Passadas umas horas, acabou por regressar a casa. Deitou-se e ali ficou, até o telefone o acordar pela manhã. A notícia de mais um assassinato despertava-o da ressaca que sentia. Teria mais um dia de trabalho pela frente.

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Edição 1

Os dias passavam-se, e a rotina repetia-se. Nenhuma descoberta e contavam-se já treze mortes... treze dias... treze corpos... O último electrocutado com um secador de cabelo, enquanto tomava banho. Era, tal como dizia o detective, uma coisa "bonita" de se ver. Como se a electrocussão não fosse por si só mais do que suficiente, o assassino ainda se tinha dado ao trabalho de fazer variadíssimas incisões em todo o corpo queimado da vítima, com um pequeno instrumento cortante. Objecto esse que o medico legista calculou tratar-se de uma simples navalha... — Para quê?! — Questionava-se Xavier. — Que inexplicáveis eram tais mórbidas tendências! Nada se podia concluir a partir daquele cenário. Nada de impressões digitais, nada de cabelos ou objectos perdidos. Nada de nada... se o crime perfeito existisse, diria estar diante dele. Xavier teria, desta vez, de levar o trabalho a sério, dando umas pequenas férias à vida boémia que levava. Naquela noite ficaria em casa, a estudar todos os pormenores daquele caso, a pesquisar na Internet notícias anteriores de possíveis situações semelhantes. Passou a noite em claro. A chávena de café arrefecia ao lado do ecrã, enquanto fazia um enorme esforço para manter os olhos abertos. Sentia-se numa espécie de apatia geral, em que a concentração conseguia, miraculosamente, ser maior do que o sono que o tentava dominar. Por azar, o seu computador teve um qualquer problema que não conseguira resolver, e teve de recorrer ao portátil do seu irmão. Continuava com uma única expressão na mente. — “Red Off"... Seria off no sentido de morto... red no sentido de sangue... sangue morto.... sim, e onde nos levava isso?! Sangue morto era o que eram as vítimas! Ok, e em que é que isso me poderia levar ao assassino!? Ligava o computador, conectava-o à net, e continuava a pensar. — Sangue morto.... Irra, isto não me leva a nada! De repente, e como que por milagre, surgiu-lhe na mente uma possível solução para o tão grande mistério do "Red Off"! Vermelho... desligado... Desligado da net... Messenger! O boneco vermelho do Messenger assim que os contactos estão off! Terá isto algo a ver com o "Red Off"? Rapidamente olhou para o Messenger do computador do irmão, e confirmou a sua possível suspeita. Pelo menos, era um raciocínio com lógica… Poderia não ter absolutamente nada a ver com o que tinha passado pela mente do assassino, mas por outro lado, poderia ser essa a chave de todo o mistério do "Red Off". Sem pensar em mais pormenores, reparou na lista de contactos do seu irmão... treze contactos offline... e um único bonequinho verde, representando o seu próprio computador que, entretanto, como num acto de magia, resolvera a sua "paralisia". Não entendeu de imediato a situação, ou pelo menos, a sua consciência não lhe permitiu acreditar na verdade que estava diante dos seus olhos. Só acreditou nela quando ouviu passos atrás de si, e percebeu o que se passaria nos minutos seguintes... Ninguém mais conseguira decifrar o mistério do “Red Off”, mas a verdade é que os homicídios acabaram por ali. No dia seguinte, ao lado da campa, o assassino chorava a perda do seu irmão, enquanto sorria por dentro, por não ter mais um único contacto online.

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Edição 1 "Magoando"

Pela noite dentro, acendo rastilhos de pólvora incendeio caminhos, mundos, turbilhões termino começos, mato o tempo, estrangulo a hora rasgo ventos, enforco vidas, corações. Pela noite fora, queimo lamentos, perdições estalo tormentos, avivo tristezas afogo lágrimas, piso recordações magoo consciências, destruo belezas. Pela noite dentro, abro feridas derramo sangue até veia cessar dispo peles até às carnes mais sentidas faço sofrer, desfalecer, desmaiar. Pela noite fora, activo chamas perdidas junto-as numa só, para matar tentações flamejantes, diabólicas mas contidas atacam na calada, provocam explosões. É pela noite dentro, que me tento magoar esconder por um véu de maldição Procuro fingir que não sei amar esqueço que tenho vida, um coração. É pela noite fora, que me confundo visto uma capa de maléfica serpente para afugentar, culpar o mundo por ter perdido o teu amor para sempre.

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DeadRose

Nome: Cristiana Guerreiro Gomes Idade: 21 anos Localidade: Natural de Loulé, estudante em Lisboa Profissão: 3º ano de Comunicação social e cultural na Universidade Católica Apaixonada pela música, amante da natureza, muito interessada pelo mistério e oculto mas também por histórias dramáticas e cinema.


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Edição 1

Poesia Psicopata Aquele sabor...

Darklord

Um grito ecoou, Música para os meus ouvidos, Na sala escura, O terror tornado sinfonia, Cura da minha melancolia Do corpo nu dela Evolava-se uma miscelânea de aromas Pêssegos maduros... Suor... E o cheiro do medo... Tão intenso... Cada vez mais sobreposto A todos os outros. Aproximei-me... Degustei o odor no ar... Degluti o medo... E sorri... Nas trevas da minha alma Nasceu uma gargalhada Inumana, ribombante E ela... Impotente... Um revérbero surgiu na minha mão E rapidamente fendeu, Uma e outra vez, O rosto daquele cordeiro, E o pescoço... Os seios... Refulgências rubras cruzaram o ar Invadido por um novo aroma... Metálico... Inebriante... Extasiado, voltei a rir! 02/03/04 - A.C. Vieira (todos os direitos reservados)

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Nome: António C. Vieira Idade: 24 Localidade: Rio Tinto Profissão: Estudante Aprecia a leitura, música, navegar pela net e cinema.


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Edição 1 Paula Bobone em Barad-dûr

Parte I

Freawine

Paula Bobone seguia pelos longos corredores de Barad-dûr Nome: Hélio Pires ao som dos instrumentos de tortura e dos gritos vindos das Idade: 24 masmorras. Crescia em si um enorme desejo de repreensão Localidade: Alcobaça / daquele péssimo hábito de levantar a voz por tudo e por Lisboa nada, dos péssimos gostos musicais e de um estilo de vida Profissão: Estudante que, obviamente, todos eles seguiam simplesmente porque Destaca como interesses queriam. História, religiões e - Que horror! Credo! – disse ela para si mesma. mitologias, folclore, E, no meio daquele sentimento de raiva com compostura e línguas, literatura, ambiente, filosofia. classe que a caracterizava, não deixou de respirar fundo (tanto quanto o cheiro lhe permitia, isto é) e de rasgar um leve sorriso: esperava-lhe muito trabalho, uma cruzada pela etiqueta e boas maneiras que ela iria abraçar com todas as suas forças. Infelizmente para ela, o estado de espírito não durou muito tempo: em poucos minutos Paula estava perdida e, por muitas voltas que desse ao mapa – adquirido na recepção, juntamente com uns lindos panfletos com fotografias panorâmicas do pôr do sol visto de Orodruin -, o facto era que nada mais havia a fazer do que pedir indicações. Primeiro problema: ninguém falava português e, como tal, o primeiro contacto com os nativos não correu lá muito bem: Olhe, desculpe...podia-me dizer onde fica a sal.... Paula viu-se subitamente com a cara do orc a poucos centímetros da sua. Ele cheirou-a, ela conteve-se. - Dug! – disse o orc com um ar de rejeição. - Mmm, sim, pois...como eu ia a dizer, sabe onde fica a sala 942/b Esquerdo? - Dug! - Desculpe, podia repetir? - Pushdug! - Puxo o quê? – perguntou Paula com um ar amigável, tentando mostrar-se sociável. Olhou em volta em busca de uma porta com a indicação “Puxe”, mas não a conseguiu encontrar. Voltou a olhar para o orc, com um ar de quem está claramente perdida. - Arrrggg arrrggg! Paula vasculhou dentro das suas malas, fingindo estar à procura de algo em resposta às indicações do orc. Após tal triste tentativa de dar desenvolvimento à conversa voltou a olhar para a criatura, agora com um ar mais desesperado. - Aaaarrrrggg! (grunhidos) Grrrrrr! (mais grunhidos) Arrrggg! Pushdug, búbhosh! - Não, não, é Bobone mesmo! – disse Paula plena de contentamento. Parecia-lhe óbvio que a conversa estava a evoluir, a julgar pelo facto de que ele tinha referido o nome dela pela primeira vez...ou, pelo menos, assim lhe pareceu. - No-ve-centos qua-ren-ta e –do-iiiiis? - (grunhidos e mais cheirar da Paula, desta vez mais perto do pescoço) Bagronk! – disse o orc, novamente com um ar de rejeição. - Ah! O meu perfume! Não, querido, nada disso, é mesmo Basi Femme de Armand Basi. Chiquérrimo, olhe! Mas, não julgo que conheça a marca do seu, esse nome que você disse. - Ghâsh... – disse o orc, olhando fixamente para Paula enquanto esboçava um sorriso por entre a sua cara disforme. - Gás? Onde? Não me cheira a nada. Paula fez uso do seu olfacto o melhor que sabia, tentando captar algum odor que indicasse fuga de combustível. A experiência não lhe fez bem, devido ao ambiente pesado da Torre. Tentando corrigir o aroma desagradável, abriu uma das suas malas e retirou um pequeno frasco de Lacoste for Woman. O orc olhou, curioso; Paula espargiu

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o perfume, para grande desagrado da criatura que se encontrava à sua frente a qual, de imediato, em sinal de repúdio, cuspiu para os pés de Paula. Ela não se conteve mais. - Seu malcriado! – exclamou ela enquanto agarrava a orelha esquerda do orc – Mas que falta de nível! Isso não se faz, seu desnaturado! Paula deu duas estaladas no orc e de seguida olhou-o nos olhos: - Onde é que fica a sala 942/b Esquerdo? - Ghâsh! Ghâsh! Búbhosh ghâsh! - Fale português como deve ser que você já tem idade para ser um menino bem comportado. Paula sentiu que era altura de mostrar o que vale e, sem pensar duas vezes, encostou o orc à parede e disse-lhe, em alto e bom som: - Olhe para isto! Isto são roupas que use? Todas sujas, todas rasgadas, sem cor, você está tudo menos apresentável! E para que é que você quer este metal todo, ein? Quer ser mais um daqueles metaleiros sem classe, é? - Arr... - Cale-se, que você já me pôs com pipas de nervos! – disse ela, interrompendo o orc – Os desgostos que você deve causar à sua mãe nessa figura! Não sabia ao menos lavar os dentes? Fazer a barba? Pentear-se? Usar roup... Paula foi subitamente assaltada por um terrível pensamento. A sua face ficou vermelha, tal era a raiva que estava a acumular dentro de si: - Eu espero que você não se sente à mesa nesse estado!!! O orc nada disse, de tão confuso que se encontrava. Ao fim de alguns minutos, Paula empurrou-o para a divisão vazia mais próxima (por acaso era logo ao lado). Passada duas horas, a (pobre) criatura saiu de lá irreconhecível: perfumado, base na cara, eyeliner, pernas depiladas, unhas pintadas e uma camisa laranja. Ele começou a fugir corredor fora, em busca do banho de lama mais próximo; ela saiu da sala com um sorriso de contentamento de orelha a orelha, com o sentimento de missão cumprida. - Primeiro passo! – exclamou orgulhosamente. Agarrando nas suas malas, fez-se para o quatro corredor à direita após o sexto lance de escadas. Enquanto acabava de “tratar” do orc, tinha-lhe mostrado um papel com o número da sala e ele, julgando que com isso se veria livre dela, logo lhe fez um desenho para dizer onde era a sala. Por isso, ele viu os seu lábios pintados com um baton rosachoque; por isso, ele pediu transferência para o regimento de Isengard onde, segundo ouviu dizer, também há um senhor com estilo a vestir-se, um tal de Sharkû, mas que ao menos não pede que os outros sejam como ele; pelo contrário, ele até quer que se conspurque o seu jardim o melhor possível.

Léxico da Língua de Mordor: dug - esterco pushdug - poça de esterco arrrrgggg - sem tradução búbhosh - grande bagronk - fossa ghâsh – fogo Parte II A sala 948/b Esquerdo era uma divisão consideravelmente grande, com enormes janelas com vista privilegiada para Oroduin: Sauron sempre achara o vislumbre daquele local algo de muito...pedagógico. A cor dominante, ou melhor, exclusiva, era, muito naturalmente, o preto. Para além de umas quantas correntes nada mais decorava as paredes e de mobília pouco havia para além de umas mesas e umas pequenas cadeiras com bicos. Paula achou aquilo muito estranho; aliás, ela achou tudo muito

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estranho e de um incrível mau gosto. Adivinhava-se muito trabalho antes da aula. No fundo da sala colocou as três malas que trazia consigo, em cima de uma mesa no ponto mais elevado da divisão: obviamente, o local do professor. Atrás da parede tinha como que uma moldura escavada na pedra: - Que rústico! – exclamou Paula. Ela já tinha visto lareiras rústicas, coisa que até que nem fica mal de todo numa casa com a dimensão, arquitectura e decoração apropriadas; mas num sítio já por si com um aspecto tão suburbano, enfim, aquilo não lhe parecia nada bem. Abriu as malas, calçou as luvas (pessoas de bem não arregaçam as mangas!!!) e pôs mãos à obra. Algumas horas depois um enorme ruído ecoava pelo corredor: obviamente, os seus alunos aproximavam-se. Não querendo facilitar logo no começo, Paula vestiu a sua batina de professora, colocou os óculos com a bela corrente de ouro ao pescoço e, sem se deixar intimidar, escondeu-se atrás da porta. Ao chegarem à entrada os orcs pararam subitamente e olharam espantados: a sala que bem conheciam – não porque lá estivessem estado, mas porque era igual a quase todas as outras – estava repleta de objectos coloridos, desde as longas cortinas em amarelo imperial até ao tapete em rosachoque que dizia “Bem vindo!”, passando pelo lenço azul e branco em cada cadeira e a flor (plástica, é certo) em cima de cada mesa. Após alguns minutos de espera, Paula decidiu espreitar e pôs a cabeça para fora do seu esconderijo: sem hesitar, agarrou nos orcs e, um a um, empurrou-os para dentro da sala, fechando a porta atrás de si com um tal convicção que uma das criaturas não se conteve e gritou um “búbhosh gûl” enquanto tentava desesperadamente abrir uma das grandes janelas. Paula não se deixou intimidar e sabia, do fundo da sua experiência de tia, que aquilo nada mais era do que o nervosismo da primeira aula, pelo que se dirigiu à sua mesa para pôr um pequeno rádio a pilhas a tocar uma daquelas canções do Avô Cantigas. A musicalidade infantil depressa tomou toda a sala, de tal modo que de um orc depressa se passou para dezenas de orcs em pânico a gritar de desespero e a arranhar tudo o que era paredes e janelas numa busca desenfreada por uma saída. Como o plano não parecia estar a resultar, Paula decidiu retirar em frente e, ainda ao som de Anacleto Esqueleto, tomou as mãos do orc mais perto de si e começou a conduzi-las num tradicional jogo de palmas. A criatura chorava desalmadamente ante a tortura de que era alvo; quando todos os outros repararam no que se estava a passar, calaram-se e olharam: aquela mulher era capaz de arranjar um castigo pior que o outro! Quando Paula percebeu que tinha a sua atenção, virou-se e começou a fazer os movimentos de mãos para todos de modo a que a imitassem. A princípio limitaram-se a olhar uns para os outros, mas, quando ela deu dois passos em frente, logo começaram a imitá-la (pelo menos os que não desmaiaram), tal era o medo do que poderia vir a seguir. Quando a música chegou ao fim, Paula recuou para a junto da sua mesa e sentou-se: sem que ela tivesse que dizer o que quer que fosse, os orcs imitaram-na logo e sentaram-se nas suas cadeiras. Paula sorriu: a sua aproximação jovial e com classe dava os primeiros frutos. A primeira coisa a fazer numa primeira aula daquelas era tratar do aspecto dos seus alunos: nenhuma pessoa de bem alguma vez pensaria em apresentar-se ao professor no estado sujo e inestético em que eles se encontravam. Então, Paula abriu uma pequena bolsa e tirou uma lima, verniz, tesoura e cera. O vislumbre de objectos metálicos empolgou os orcs: - Sha! Sha! Sha! Sha! – gritavam eles. Paula achou aquilo muito inapropriado e bateu na mesa com força. Os orcs remeteram-se ao silêncio. - Não quero faltas de respeito na minha aula! – disse ela, enquanto eles olhavam com um ar de ignorantes – E escusam de fazer essa cara de desentendidos que isso não engana ninguém! O que se seguiu foi uma sessão aterrorizante em que Paula cortava e pintava unhas, arranjava cabelo e depilava pernas e braços. Os que não desmaiaram durante o processo tiveram ainda que passar pelo creme hidratante, acompanhado por uma explicação da senhora professora, é claro:

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- Olhe, este é o Vasenol. Não é gorduroso e tem um cheiro mais agradável, além de que vem em embalagens de maior quantidade. Devo-lhe dizer que é caro, mas a qualidade paga-se, 'tá a ver!? Este aqui, o Nivea Body Milk é, por outro lado, mais líquido e tem um cheiro mais tradicional, digamos – acrescentou Paula enquanto mandava uma leve gargalhada. O pobre do orc tentava sorrir, mas por muito que se esforçasse só conseguia chorar. De seguida veio a indumentária: de um saco colorido Paula tirou umas quantas toucas azuis e brancas e tratou de pô-las uma a uma a cada um dos orcs que ainda não tinham desmaiado de pavor; depois agarrou nos lenços das mesmas cores que se encontravam nas cadeiras e atou-os ao pescoço dos seus alunos. Subitamente, Paula deu um grito de espanto e tocou levemente com a mão na testa: - Os nomes! – exclamou ela – Meu Deus, esqueci-me dos nomes! Nunca nos chegámos a apresentar uns aos outros! – Entretanto, um dos orcs desmaiou: não aguentou a pressão do pensamento do que é que estava ainda para vir! Paula vasculho as suas malas com um ar de aflita até que, finalmente, abriu a última das bolsas e respirou de alívio: - Aqui estão elas! – disse ela alegremente. Nas mãos de Bobone encontrava-se um conjunto de placas. Paula nunca tinha conseguido perceber os nomes daquela gente e, mesmo que percebesse, achava-os tão desagradáveis ao ouvido que desde cedo formou a convicção de que, a ser bem sucedida, teria que tentar implementar novos nomes; e que melhor ponto de partida do que os dos seus alunos? Assim, distribuiu pequenas placas metálicas pelas mesas dos orcs ainda conscientes: André João, Rita Maria, Bernardo Manuel, Pedro António, Joana Alexandra, Ana Paula, etc. Uma das criaturas ainda teve a infeliz ideia de tentar levar uma das placas à boca, mas não antes de Bobone se aperceber disso e lhe dar uma estalada e um raspanete: - Menino José João, ponha isso onde estava e já! Não me enerve que eu fervo em pouco chá e fico logo com pipas de nervos! O orc lá largou a placa, pensando porque carga d’água ele havia de ter uma chapa metálica à sua frente se não a pode usar para um belo esquartejamento de final de tarde, como a sua mãe lhe havia ensinado. Quando Paula voltou para junto da sua mesa olhou para a turma e sentiu-se orgulhosa. Agitou o sino que tinha junto de si e deu por terminada a primeira aula. Já depois de os orcs terem saído, Bobone fechou a porta da sala e, quando se preparava para seguir o seu caminho, ouviu passos atrás de si. Olhou e viu uma estranha e esguia criatura de olhos grandes; os seus pés era achatados, como se de remos se tratassem. Em vez de o ignorar, Paula decidiu esperar: afinal, já era altura de começar a conviver com os residentes da Torre. Quando Aragorn encontrou o Gollum, julgou que as feridas eram todas elas resultado de tortura às mãos dos orcs...pois, pois! Léxico da Língua de Mordor búbhosh - grande gûl - termo para qual um dos grandes servos invisiveis do Sauron (Cfr. Naz(g)gûl) sha - interjeição de contentamento

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