Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade - 2017

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ARTIGOS

ESPECIAL

NOTÍCIA

A família em transformação, por Adriana Arent e Débora Farinati Pág. 12

Famílias conectadas pela tecnologia: avós usam plataformas digitais para acompanhar desenvolvimentos dos netos os Pág. 22

Fertilitat tem maior número de especialistas em reprodução assistida certicados pela Febrasgo Pág. 17

Centro de Medicina Reprodutiva | Nº 11 - Julho 2017 | www.fertilitat.com.br

OS PRÓXIMOS 30 ANOS ISSN: 2178-3837

Após três décadas e mais de 4 mil bebês nascidos, o Fertilitat apresenta nesta edição as perspectivas que a ciência traz para aumentar o sucesso do tratamento da infertilidade e da preservação da fertilidade.



sumário

Editorial 4 Linha do Tempo 5 Artigo: Fernando Badalotti 9 Entrevista com Carlos Simón 10 Artigo: Adriana Arent e Débora Farinati 12

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Especial

O que o futuro reserva para a reprodução assistida?

Perfil: Rafaella Petracco 15 Vida Acadêmica 16 Fertilitat tem maior número de especialistas em reprodução assistida certificados pela Febrasgo 17 Redes Sociais 26 Artigo: João Michelon 29 Fertilitat na Mídia 30 Saiba mais: Endometriose 32 Artigo: Rafaella Petracco 33

Novidade

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Fertilitat lança aplicativo inédito para ajudar quem quer engravidar

Especial Maternidade

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Famílias conectadas pela tecnologia

Fazendo Ciência

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Unidades 34 Gastronomia 35 Conheça Genebra 36 Projeto recorre ao lúdico para abordar educação sexual 37 Quando eu sonhava ser mãe, por Amora Xavier 38

Expediente Fertilitat Centro de Medicina Reprodutiva Av. Ipiranga, 6690, conj. 801, Porto Alegre – RS | Fone: 51 3339-1142 | www.fertilitat.com.br | ISSN: 21783837 Conselho Editorial: Mariangela Badalotti e Alvaro Petracco | Jornalista Responsável: Soraia Hanna (Mtb 9038) | Edição: Cláudia Paes Projeto Gráfico e Editoração: Luciano Maciel | Redação: Antonio Felipe Purcino, Carolina Seeger, Cláudia Paes e Marcelo Flach Fotos: Divulgação e Arquivo Fertilitat Revista do Fertilitat • Centro de Medicina Reprodutiva

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editorial

Na página ao lado, o leitor vê uma linha do tempo com alguns dos episódios mais marcantes da nossa história. É um retrato dos 30 anos de Fertilitat: repleto de pioneirismo, reconhecimento, evolução, dedicação e afeto. Temos orgulho do nosso passado. Mas, ao comemorarmos três décadas de trajetória, é para o futuro que queremos apontar. Dedicamos esta edição da Revista Fertilitat – Ciência & Atualidade aos avanços na medicina reprodutiva e às descobertas que permitirão que cada vez mais mulheres e homens realizem o sonho de serem pais. Na reportagem especial da publicação, procuramos responder a uma pergunta feita com frequência no nosso meio: o que o futuro reserva para a reprodução assistida? Pesquisas em embriologia, aprimoramento do congelamento e descongelamento de gametas e embriões, além de novas medicações para estimulação folicular e ovulação são alguns dos avanços recentes. Mas a evolução não para por aí: a ginecologista Marta Ribeiro Hentschke, doutora em Medicina e integrante do Ferti Ciência, foi entrevistada para falar sobre o horizonte da preservação da fertilidade, da gravidez após os 40 anos e da elevação da taxa de sucesso das FIVs, entre muitos outros temas.

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Diversos especialistas da clínica foram convidados para escrever artigos e compartilhar conhecimento sobre técnicas e debates que permeiam a reprodução assistida. Assuntos que também são analisados em uma entrevista com o conceituado geneticista espanhol Carlos Simón, que esteve em Porto Alegre. Buscamos referências do exterior – mas também temos, aqui em casa, profissionais com trajetória de dar orgulho. É o caso da ginecologista Rafaella Petracco, tema de um perfil publicado nesta edição. E se a revista é sobre futuro, nada melhor do que anunciar uma grande novidade do Fertilitat. Mais uma vez de forma pioneira, a clínica lança um aplicativo para celular que vai ajudar quem quer engravidar. Finalizamos a revista de forma lúdica, com uma crônica de Amora Xavier. A autora das Cartinhas para a Cegonha fala sobre todas as situações que ela passou a viver, e jamais imaginava, após tornar-se mamãe do Noé. Aos 30 anos, celebramos nossa história com os olhos para o amanhã. Como sempre fizemos. Que os leitores desta Revista Fertilitat também sintam-se inspirados e continuem, ao nosso lado, participando do futuro da reprodução assistida. Boa leitura!


Fertilitat

linha do tempo

1987 Criação do laboratório de reprodução assistida

1988 Primeira gravidez de reprodução assistida do RS e sul do país

Nascimento do primeiro bebê, Álvaro Santos, dia 23 de fevereiro de 1989

1989 1990

Primeiro nascimento através de espermatozoide extraído do testículo

1996

1994 Primeira gravidez por espermatozoide extraído do epidídimo da América Latina

Nascimento dos primeiros bebês gêmeos de fertilização in vitro do RS

1997 Acreditação pela Red Latinoamericana de Reproducción Asistida

1999 Primeiro congelamento de tecido ovariano e primeiro nascimento por espermatozoide congelado por oncofertilidade

Nascimento do primeiro bebê de congelamento de óvulos por técnica lenta do Brasil

2002 2005 Primeiro caso utilizando o Diagnóstico Genético Pré-Implantacional (PGD)

2006

Criação do Instituto Assistireh, braço social do Fertilitat

Fertilitat recebe o prêmio de responsabilidade social ADVB

2009

2010 Fertilitat recebe o Prêmio Top Cidadania da ABRH, por sua atuação social junto ao Instituto Assistireh

2013 É membro fundador da Rede Brasileira de Oncofertilidade, ReBOC e entra no Oncofertility Consortium

2015 Fertilitat registra o nascimento de mais de 4 mil bebês

2007 Inauguração do novo laboratório de reprodução assistida, um dos primeiros do Brasil, totalmente adequado às normas da Anvisa

2011 Primeiro autotransplante de ovário criopreservado por câncer. O Centro de Medicina Reprodutiva comemora o nascimento de mais de 3 mil bebês ao longo de sua trajetória

2016

2017 30 anos do Fertilitat e lançamento do primeiro aplicativo de apoio à reprodução assistida

Ampliação das instalações e nova identidade visual


especial

Os próximos 30 anos: qual o futuro da reprodução humana? Quando o Fertilitat foi criado, em 1987, a possibilidade de um bebê nascer por meio de reprodução assistida ainda era uma realidade distante, um desafio de técnica, persistência e busca contínua de conhecimento. As pesquisas davam seus primeiros passos e a clínica acompanhava essa evolução, trazendo ao Sul do Brasil as novidades que surgiam nessa área. Hoje, todos os dias bebês nascem ao redor do mundo a partir de técnicas cada vez mais avançadas na assistência reprodutiva. Somente no Fertilitat, mais de 4 mil crianças já foram concebidas graças aos diversos procedimentos desenvolvidos ao longo dos anos. Além disso, os tratamentos tornaram-se muito mais acessíveis, quando comparados às primeiras técnicas. Nos seus 30 anos, o Fertilitat decidiu impulsionar sua unidade de pesquisa. Os pesquisadores Daniel Rodrigo Marinowic e Marta Ribeiro Hentschke agora fazem parte da equipe Ferti Ciência. Mas, o que virá pela frente? O que o futuro reserva para a reprodução humana? Quais avanços a ciência está obtendo para amanhã e para os próximos 30 anos? Descubra mais sobre essas questões em entrevista com a doutora em medicina Marta Hentschke, pesquisadora do Fertilitat.

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Há 30 anos, os estudos sobre reprodução assistida ainda engatinhavam. Hoje, temos milhares de pessoas nascendo todos os anos a partir dessas técnicas. Como você avalia essa evolução? É incrível. O reconhecimento para a grande inovação nessa área veio em 2010, quando o inglês Robert Geoffrey Edwards ganhou o Nobel de Medicina pelo desenvolvimento da fertilização in vitro. Ele e o dr. Patrick Steptoe foram responsáveis, após centenas de transferências de embriões, pelo nascimento de Louise Brown, o primeiro “bebê de proveta”, em 1978, na Inglaterra. Desde então, cientistas do mundo inteiro passaram a tentar aplicar e aprimorar a técnica. Na década de 80 e início de 90, os cientistas passaram a congelar embriões e iniciaram a preservação de oócitos (gametas femininos). Os homens ganharam seu espaço de estudo com o aprimoramento de técnicas de punção testicular para coleta de espermatozoides. Na sequência dos anos 90, conhecemos dois procedimentos que hoje são base para a fertilização: a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) e a biópsia préimplantacional, que permitiram aumentar consideravelmente as taxas de fertilização, implantação e gestação. Muitas dessas descobertas vieram da pura curiosidade, do desejo de entender como e por que certos mecanismos ocorrem. O quebra-cabeça da ciência é infinito.

O que podemos esperar de imediato para a reprodução assistida? Quais avanços estão sendo implementados neste momento? Atualmente, vemos muitas pesquisas na área de embriologia, visando ao aprimoramento do congelamento e descongelamento de gametas e embriões, visto que pequenos detalhes na temperatura, transporte e armazenamento podem prejudicar todo o processo de fertilização. Há também um crescimento de estudos em biópsia pré-implantacional e sobre o endométrio, ambos extremamente importantes para pacientes com abortamento de repetição e falha de implantação. Na prática clínica, têm sido desenvolvidas novas medicações para estimulação folicular e ovulação, chaves fundamentais para que a fertilização ocorra de forma satisfatória.

Quais são os principais desafios na pesquisa sobre a reprodução assistida? Creio que o grande desafio está na preservação da fertilidade materna. As mulheres têm postergado a gestação para além dos 35, podendo, conforme resolução do Conselho Federal de Medicina, serem submetidas à fertilização até os 50 anos. No entanto, com o decorrer da idade, os oócitos diminuem em quantidade e envelhecem. Tivemos uma grande descoberta recentemente, quando os cientistas Elizabeth Blackburn, Carol Greider e Jack Szostak identificaram mecanismos de proteção dos cromossomos por meio dos telômeros. A cada ciclo de divisão

celular, o comprimento do telômero se encurta progressivamente, chegando a um ponto em que a célula perde sua capacidade de divisão e morre. Esse fato parece ocorrer também com os oócitos, que com o tempo poderiam sofrer mutações mais facilmente e aumentar as chances de um embrião malformado. Mas ainda precisamos de muitos estudos a respeito.

Quais as perspectivas para elevação da taxa de sucesso das FIVs? As chances de as mulheres conceberem através da FIV só aumentarão no futuro. Desde o início dos anos 1980, a taxa de sucesso para cada ciclo de FIV cresceu de 10% para 40%. De acordo com as estimativas de 2013, mais de 5 milhões de pessoas em todo o mundo nasceram por meio desse processo. O dr. Mike Macnamee, diretor-executivo da primeira clínica de fertilização in vitro, em Cambridge (Reino Unido), espera ver taxa de êxito de 60% antes de se aposentar.

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especial

Em relação à gravidez próxima ou após os 40 anos, o que é possível esperar? Mesmo com os avanços da ciência, pacientes estão postergando as gestações para perto dos 40 ou 50 anos, o que leva à elevação de insucesso da fertilização e, para aquelas que conseguem conceber, preocupações com os riscos nessa idade, como maiores taxas de pré-eclâmpsia, diabetes gestacional e morte intrauterina. As pacientes devem ser muito bem orientadas quanto às taxas de sucesso e os riscos materno-fetais antes de se disporem a todo o processo de fertilização.

Quanto à preservação da fertilidade, o que há de novo? O congelamento de oócitos tornou-se mais procurado por volta de 2003, quando se deu início à preservação da fertilidade para pacientes com câncer. Nesses casos, temos as alternativas da criopreservação de oócitos e do tecido ovariano contendo folículos primordiais. Atualmente, vemos pacientes utilizando o congelamento de oócitos como forma de preservar a fertilidade, quando os planos de gestar ainda estão distantes e como forma de evitar os males do envelhecimento celular. Em relação à fertilidade masculina, o congelamento de espermatozoides tem sido realizado principalmente diante de casos de câncer genital.

De que forma o Fertilitat está alinhado a esses avanços? O que os pacientes da clínica podem esperar nos próximos anos? O Fertilitat tem um time multidisciplinar de grande qualidade, em que o trabalho em equipe, a busca pelo conhecimento técnico e científico atualizado e a prática comum de bom relacionamento 8

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com as pacientes têm contribuído para que a clínica esteja entre as mais conceituadas do Brasil. Buscamos, sempre que possível, aplicar à prática todo o conhecimento adquirido nos últimos anos, associados às inovações na área, oferecendo aos pacientes o que há de mais atualizado em reprodução assistida. Para os próximos anos, pretende-se investir ainda mais em pesquisa básica e clínica, bem como manter parcerias com grupos de pesquisa da PUCRS e outros grupos nacionais e internacionais.

Como você imagina o cenário da reprodução assistida daqui a 30 anos? Acredito que a reprodução assistida contará com inovações que poderão extrapolar os limites biológicos do ser humano, principalmente através da “fabricação” de gametas em laboratório. Esse tipo de estudo já foi realizado em roedores e tem sido projetado para animais em extinção de grande porte, como o rinoceronte branco africano. Os pesquisadores pretendem transformar tecido da pele em gametas. Esse avanço é possível pela descoberta das iPS (células-tronco pluripotentes induzidas). Por meio delas, é possível reprogramar células maduras para gerar células dos folhetos embrionários, primórdios de todos os tecidos e órgãos do nosso corpo. Por meio dessas células, já se conseguiu, também, desenvolver o pâncreas de um rato em um camundongo, a partir de modificações em sequências de DNA em nível embrionário. Para chegarmos a esse grau de detalhamento no ser humano, ainda há muitas etapas pela frente. Seria possível gerarmos um gameta, e consequentemente um embrião, a partir da célula da nossa própria pele? Estas perguntas talvez só poderão ser respondidas nos próximos 30 anos.


artigo

Fernando Badalotti, Ginecologista

Transferência de embriões: quando menos é mais Até hoje, cerca de 7 milhões a 8 milhões de crianças em todo o mundo nasceram a partir de técnicas de reprodução assistida. Por muito tempo, para que as chances de sucesso da gestação aumentassem, foi comum transferir diversos embriões a cada procedimento – ampliando, também, a quantidade de gestações múltiplas. Esse tipo de gravidez – quando há três ou mais fetos – tem diminuído a cada ano, mas ainda é um efeito indesejado nas técnicas de reprodução assistida, aumentando os riscos para a mãe e para o bebê. Graças à evolução da tecnologia, foi possível reduzir o total de embriões transferidos. Com o procedimento sendo realizado no estágio de blastocisto, estatísticas demonstram que a transferência de um único embrião, em pacientes selecionadas, não afeta significativamente as taxas de gestação – ao mesmo tempo em que diminuiu as gestações múltiplas. Estudo publicado ano passado por um centro internacional comparou 514 pacientes que transferiram um blastocisto e 721 mulheres que transferiram dois. Os resultados mostraram não haver diferença significativa na taxa de gestação. Por outro lado, ficou comprovada uma diminuição de gestação múltipla entre os

grupos. Outra pesquisa realizada nos Estados Unidos também mostra que a transferência de um embrião diminuiu as taxas de gestação múltipla sem diminuir as de gestação nas clínicas americanas. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina já estipulou o máximo de embriões que podem ser transferidos para cada faixa etária de paciente: dois, para mulheres com até 35 anos; três, para quem tem entre 36 e 39 anos; e quatro, para mais de 40 anos. Trata-se de uma tendência que acompanha outros países. Um estudo canadense estima que a implementação de política de transferência de um embrião evitará de 30 a 40 mortes perinatais por ano, 34 a 46 hemorragias intracranianas severas por ano e aproximadamente 46 mil internações de recém-nascidos em UTIs. No Fertilitat, realizamos um levantamento entre 2014 e 2016 que mostrou que as taxas de gestação praticamente se igualam em pacientes de até 35 anos. Quando se transferiu apenas um embrião, a taxa de gestação atingiu os 49%; quando foram transferidos dois, as taxas chegaram a 51%. Prova de que, com o avanço da ciência, muitas vezes o menos pode ser mais.

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entrevista

Pesquisa pela vida Especialista em reprodução humana, com pesquisas que se tornaram realidade e beneficiam milhares de pessoas em todo o mundo, o espanhol Carlos Simón visitou o Fertilitat no fim de maio. Ele ainda conduziu uma aula para graduandos em Medicina na qual apresentou os mais recentes estudos envolvendo células-tronco

Ginecologista, pesquisador e professor, Carlos Simón é especialista em reprodução humana. Nascido na Espanha, desde 1991 tem contribuído com seus trabalhos pioneiros na pesquisa e solução de problemas que afetam a receptividade endometrial, uma das causas de infertilidade. Responsável por muitas conquistas científicas e clínicas, Simón recebeu diferentes reconhecimentos de entidades, universidades e governos. Entre os quais, o prêmio de pesquisa da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva e o Prêmio de Pesquisa Médica Rei Jaime I. O especialista tem focado sua atuação em três áreas: implantação embrionária, receptividade endometrial e célulastronco na medicina reprodutiva. Diretor científico da Igenomix, na área acadêmica é catedrático em Obstetrícia e Ginecologia na Universidade de Valência e professor na Escola de Medicina de Stanford, na Universidade de Stanford, Califórnia, EUA. No fim de maio, Simón visitou o Fertilitat. Entre outras atividades, conduziu aula organizada pela Escola de Medicina da PUCRS e pelo Fertilitat sobre pesquisas em células-tronco em medicina reprodutiva. O especialista apresentou estudo previsto para ser divulgado no Congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, em Genebra, em julho.

Quantos projetos de pesquisa o senhor tem em andamento? Atualmente, tenho 20 projetos de pesquisa em andamento.

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Com qual está mais envolvido? O envolvimento é semelhante nos diferentes estudos, embora haja sempre um projeto emblemático em determinados momentos, por seu possível alcance. Agora, por exemplo, temos o PGS não invasivo (diagnóstico genético pré-implante que permite o estudo genético de embriões antes da transferência ao útero), o ERA não invasivo (exame que indica a janela de implantação, aumentando as chances de ter um embrião bem-sucedido) e a terapia celular no caso de síndrome de Asherman.

celular pela Agência Europeia de Medicamentos. Além disso, é o primeiro tratamento aprovado para a síndrome de Asherman desde que foi descoberta há mais de 100 anos.

Muitos bebês já nasceram graças a esse método? No primeiro ensaio, a Fase 1, realizado em 16 pacientes com síndrome de Asherman e endométrio atrófico, nasceram cinco crianças por meio desse método.

Quais são as últimas pesquisas para aumentar a taxa de sucesso no tratamento de reprodução humana?

Recente pesquisa desenvolvida pelo senhor relaciona a baixa presença de lactobacilos no útero com um prognóstico reprodutivo baixo. Como essa descoberta pode auxiliar as mulheres que buscam engravidar?

São as que nos levam a conhecer melhor as partes desse quebra-cabeça. Em primeiro lugar, um embrião cromossomicamente e geneticamente normal, com boa capacidade energética e, além disso, um endométrio receptivo livre de doenças e em ótima posição para ser implantado.

Este projeto acrescenta uma nova dimensão para a compreensão do fator endometrial mostrando como, mesmo que esteja tudo bem, uma microbiota (flora microscópica) anormal da cavidade uterina pode impedir gravidez.

Como está a pesquisa para o desenvolvimento de um útero artificial?

Este estudo sobre lactobacilos foi publicado no fim de 2016. Já é uma realidade ou mais testes ainda são necessários? Já é um diagnóstico que está se provando de maneira positiva em pacientes com receptividade normal e falha na implantação, assim como no tratamento para restaurar a flora endometrial afetada.

Embora não seja um órgão vital, é essencial para a reprodução em pacientes que não têm um útero por razões médicas ou cirúrgicas. A partir da engenharia de tecidos se está avançando tanto na criação de um órgão com biomateriais quanto descelularizando úteros e colocando as células da receptora para evitar uma rejeição imunológica.

Na área da reprogramação celular, o que indicam as pesquisas com células-tronco embrionárias? A pesquisa com células-tronco embrionárias marca o início no conhecimento da pluripotência (célula que se consegue dividir e produzir muitos tipos de células) e, portanto, a origem da reprogramação celular. Esses estudos pioneiros fizeram com que alcançássemos conhecimentos de fatores que serviram para poder reprogramar células.

Como se desenvolve a pesquisa para o uso de células-tronco com a finalidade de ajudar a engravidar mulheres com atrofia do endométrio e síndrome de Asherman? Esta investigação levou a mudar o nosso conhecimento básico de células-tronco endometriais para o tratamento de uma doença incurável que é síndrome Asherman refratária, que não se resolve mesmo depois de múltiplos histeroscopias (inspeção endoscópica do interior do útero). Pela primeira vez se conseguiu a designação de Orphaned Drug Designation (avaliação e desenvolvimento de produtos que demonstram a promessa para o diagnóstico ou tratamento de doenças raras) para essa terapia

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artigo

A família em transformação “Biológica ou não, oriunda do casamento ou não, matrilinear ou patrilinear, monogâmica ou poligâmica, monoparental ou poliparental, não importa. Nem importa o lugar que o indivíduo ocupe no seu âmago, se o de pai, se o de mãe, se o de filho. O que importa é pertencer ao seu âmago, é estar naquele idealizado lugar onde é possível integrar sentimentos, esperanças, valores e se sentir, por isso, a caminho da realização de seu projeto de felicidade pessoal.” Giselda Hironaka Membro fundador do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM)

Adriana Arent, Ginecologista

Débora Farinati, Psicóloga

A família, como instituição, está em constante transformação. Ela é absolutamente dependente do tempo histórico e da cultura em que se constitui, e por isso é, em sua essência, mutável. O termo família é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Ele foi criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu entre as tribos latinas, ao serem introduzidas à agricultura e à escravidão legalizada. Aprendemos que uma família era formada por pai, mãe e irmãos, mas essa instituição vem se modificando com o tempo. Conceituar família hoje é uma tarefa mais complexa. Françoise Héritier diz que “embora todo mundo acredite saber o que é uma família, é curioso constatar que por mais vital, essencial e aparentemente universal que a instituição família possa ser, não existe para ela, como é também o caso do casamento, uma definição rigorosa”. Historicamente, o homem, que detinha o poder econômico, também detinha o poder sobre a família. A mulher se ocupava dos afazeres domésticos. Mas, em 1943, a mulher casada conseguiu o direito de poder trabalhar fora de casa sem precisar da autorização do marido, segundo a Legislação Brasileira. E mais transformações ocorreram a partir da década de 70, quando o divórcio passou a ser aceito com mais naturalidade. Consequentemente, houve o aumento de famílias formadas por pais separados, com filhos da relação atual, e dos casamentos anteriores, assim como famílias formadas por apenas pai ou mãe. Em 1988, o casamento, que era a única forma de constituição familiar perante a lei, reconheceu outras configurações, a exemplo da união estável e das famílias monoparentais. Desde então, ao longo desse tempo, as uniões homoafetivas puderam ter seus direitos reconhecidos. A família contemporânea está em plena consonância com as revoluções do mundo moderno, tanto como produto quanto como produtora de subjetividade. É corrente nos referirmos à família de hoje como plural. Ou seja, não existe mais uma configuração familiar que possamos definir como “normal”, sendo normalidade aqui entendida como usual, comum, corrente. Falamos que a família hoje possui múltiplas formatações: é monoparental, recomposta, homossexual, formada a partir de gametas doados, de úteros de substituição etc. Essas novas configurações familiares são, muitas vezes, percebidas como uma ameaça à estabilidade da instituição

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familiar. Contudo, Ceccarelli (2007) afirma que a humanidade está sempre em crise de referências simbólicas, tendo, constantemente, que produzir o que chama de “reorganizações coletivas” para responder à nova leitura do mundo. Muitas vezes, tendemos a sentir esses períodos de reorganização como ameaçadores. A constituição das chamadas novas formatações de família, por trazerem o diferente, refere o autor, provoca um estranhamento que é muitas vezes tratado como ameaça. Durante muito tempo, a família foi guardiã do conservadorismo, do regramento do que é tido como normal, e por isso mesmo foi alvo de contestação e rejeição por ocasião do desabrochar da sexualidade. No entanto, hoje em dia, todos esses julgamentos são considerados obsoletos e temos uma redescoberta da família e de seu valor a partir de novos paradigmas. O paradigma da filiação sustentado exclusivamente na relação genética ou biológica vem igualmente sofrendo transformações – dando lugar a uma concepção de parentalidade onde a mesma é constituída a partir de bases simbólicas e afetivas, as quais podem ou não incluir a genética e a biologia. Neste sentido, cabe aqui citarmos Ceccarelli (2007): “A transformação dos genitores em pais não é atrelada ao fato físico que dá lugar ao nascimento de uma criança. Ou seja, nascer da união de um homem com uma mulher não basta para ser filho, ou filha, daquele homem e daquela mulher. Ou ainda: colocar uma criança no mundo não transforma os genitores em pais. O nascimento (fato físico) tem que ser transformado em filiação (fato social e político), para que, inserida em uma organização simbólica (fato psíquico), a criança se constitua como sujeito. Esses três fatos: físico, social e psíquico guardam cada vez menos relações de dependência entre eles. As técnicas atuais de reprodução assistida desvincularam radicalmente as relações entre nascimento e genitores. O fato social, o reconhecimento de uma linhagem, de uma filiação, não tem, necessariamente, que ser exercido pelos genitores biológicos, como é o caso, por exemplo, de uma criança adotiva.” A construção dos vínculos de filiação se dá, desta forma, através do reconhecimento por parte dos pais de que aquele ser que eles nomeiam como filho possui em seu imaginário e em seu desejo uma ligação de afeto, através da qual um lugar lhe é dado em sua família. Essa premissa nos permite pensar que mais

importante do que a formatação da família é a qualidade de suas relações intersubjetivas. As motivações que levam um sujeito ou um par a ter filhos devem levar em conta que um novo ser estará em formação e que a função dos pais é fundamental no vir a ser desse novo sujeito. As chamadas novas configurações mostram que a família não desapareceu, e sim continua se alterando e se adaptando às demandas da contemporaneidade. O que não mudou é que a família segue sendo responsável por dar segurança, afeto e limites, e por isso deve ser estruturada. Em qualquer época, situação e cultura, ela sempre foi de fundamental importância para que os indivíduos encontrassem seu ponto de equilíbrio e definissem os seus papéis dentro da sociedade. A questão é qual será o reflexo dessas novas configurações no futuro? Segundo Kehl (2001), “as novas famílias produzem sintomas sim, porém relacionados à dívida enorme que possuem em relação a um modelo de família ideal e perfeito: a família da modernidade perdida (na realidade nunca encontrada, pois nunca existiu). E a sobrecarga dessa dívida impede que os adultos atuais, homens e mulheres, pais e mães, se autorizem e se encarreguem de acolher, criar e educar as crianças que lhes cabem, que são de sua responsabilidade, seja qual for a maneira pela qual elas foram atribuídas a eles, seja qual for sua origem. A cultura atual nos obriga a uma dupla injunção impossível: proíbenos de ser e agir como nossos pais e nos diz, contraditoriamente, que o ideal era sê-lo”. A abertura de espaços como esse que nos foi oportunizado pela revista do Fertilitat possibilita a discussão e a reflexão sobre a pluralidade da família contemporânea, auxiliando a reformulação de antigos conceitos e contribuindo com a diminuição dos preconceitos ainda existentes. Referências CECCARELLI, P. R. Novas configurações familiares: mitos e verdades in Jornal de Psicanálise, São Paulo, 40(72): 89-102, jun. 2007. HÉRITIER, F. Dictionnaire de l’ethnologie et de l’anthropologie (P. Bonte, M. Izard, orgs.). Paris: PUF, 1991. HIRONAKA, G. Família e casamento em evolução. Revista Brasileira de Direito de Família, Editora Síntese. n.1, abr./maio/jun/. 1999. KEHL, M. R. (2001) “Lugares do feminino e do masculino na família”, in COMPARATO, M.C.M. & MONTEIRO, D.S.F. (org.). A criança na contemporaneidade e a psicanálise. São Paulo: Casa do Psicólogo.

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novidade

Chegou o aplicativo Fertilitat

O Fertilitat completa 30 anos em aos seus pacientes, a clínica lança reprodução assistida. A plataforma calendário de ovulação e fertilidade, para esclarecer dúvidas frequentes de engravidar.

2017. Como presente um aplicativo sobre tem funções como além de informações mulheres que buscam

monitorar o ciclo menstrual, para saber seu próximo período de ovulação. As futuras mamães ganham facilidades como uma calculadora que auxilia na contagem do período de gravidez, além de haver um acompanhamento semanal da gestação.

O app terá acesso direto ao sistema do Fertilitat. A paciente, com seu login e senha, poderá acompanhar seu tratamento quase que instantaneamente. Também terá espaço para descrever seu dia a dia visando à próxima consulta. Calendário com agendas de exames, consultas e medicações e notificações de compromissos são algumas das outras funcionalidades.

Para a diretora do Fertilitat, Mariangela Badalotti, é a inovação auxiliando mais uma vez quem busca ter filhos. “Há quase 40 anos foi a tecnologia que trouxe a possibilidade de gravidez a pais que já não tinham esperanças. Precisamos sempre inovar. O Fertilitat procura formas de aproximar os pacientes da clínica de uma maneira simples e que auxilia o tratamento”, acrescenta.

Mesmo para quem não é paciente da clínica será possível

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O aplicativo está disponível em iOS e Android.


perfil

Rafaella Petracco A ginecologista viu o sonho do Fertilitat nascer na família e há seis anos contribui para consolidar a marca de pioneirismo da clínica

Rafaella Petracco tinha seis anos quando a semente do Fertilitat foi lançada. Aos oito anos, acompanhou a comoção nas capas de jornais e na televisão com o nascimento do primeiro bebê concebido por reprodução assistida no Rio Grande do Sul. Era o resultado de anos de dedicação do seu pai e sócio-fundador da clínica, Alvaro Petracco, virando realidade. Nascia ali, também, um legado familiar de amor à Medicina e de trabalho pelo desenvolvimento da ciência com ética e responsabilidade. – Cresci vendo a construção vem muito daí. Meu pai não sabia que ele gostaria que eu Rafaella, que atualmente é Endometriose da Clínica.

do Fertilitat. Então, meu interesse dizia nada, mas, no fundo, eu seguisse esse caminho – afirma responsável pela Unidade de

– Existe uma abertura maior para falar com ele, é verdade. Mas aqui sou membro da equipe. Tem de seguir a hierarquia – afirma, falando sobre a clínica fundada por seu pai e pela ginecologista Mariangela Badalotti. A alegria de buscar soluções para a infertilidade e celebrar a geração de novas vidas, infelizmente, não é o desfecho de todos os atendimentos. Assim como as mamães que engravidam trazem seus bebês para todos na clínica conhecerem, é preciso apoiar as famílias no insucesso. – É o lado difícil dessa área. Tem de saber lidar e estar presente na vida das pacientes. A humanização deste tratamento é fundamental, não podemos ser somente técnicos – enfatiza.

A especialização, entretanto, não era um plano inicial. Na época da universidade, Rafaella pendia para a pediatria ou oncologia pediátrica. Foi no terceiro ano que se identificou com a Ginecologia.

Sempre envolvida com o assunto maternidade na clínica, Rafaella é mãe de Helena, de dois anos. Casada há cinco anos com Rodrigo, planeja engravidar novamente. Desde o nascimento da filha, quase todo o tempo livre é dedicado à pequena.

– Comecei a me dar conta de que deveria seguir por aí, na reprodução humana, então fui me especializando na área – lembra a médica.

– Agora a Helena está naquela idade de não ficar parada – diz, com alegria.

Concluída a graduação, Rafaella seguiu para dois anos de estudos e pesquisas no exterior. Na especialização nos Estados Unidos, na Universidade de Yale, estudou endometriose. Com muito conhecimento na bagagem, voltou a Porto Alegre, mas por apenas duas semanas, pois já estava matriculada na Universidade de Valência, onde fez mestrado em reprodução humana. Hoje, desenvolve no Fertilitat linhas de pesquisa em endometriose. A análise é voltada a identificar por que as pacientes com endometriose têm mais dificuldade para engravidar, seguindo o estudo iniciado em Yale que logo seria a tese de doutorado em Medicina e Ciências da Saúde na PUCRS. Rafaella também é instrutora dos ambulatórios de reprodução humana na PUCRS e na Santa Casa. No Fertilitat desde 2011, a médica diz que a relação profissional com o pai no ambiente de trabalho é tranquila.

O foco na constante atualização é um dos traços marcantes da profissional. Os estudos não pararam nem na viagem de lua de mel. Antes do destino à Escócia, parou em Londres onde ocorria o Congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE). Nos últimos anos foi convidada a participar de várias reuniões de estudo em diferentes lugares do mundo como Tessalônica, na Grécia, e Luebeck, na Alemanha. No ano passado, participou em Roma do Fertility School, imersão de três dias em uma clínica para vivenciar a experiência em um centro de reprodução. E já está com passagens compradas para o Texas, EUA, para participar de congresso da American Society for Reproductive Medicine, em outubro. – Conhecimento é tudo para oferecermos um atendimento completo de acordo com as mais recentes técnicas – afirma Rafaella. Revista do Fertilitat • Centro de Medicina Reprodutiva

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vida acadêmica

Aprendendo na prática A especialização nos diversos processos envolvendo a reprodução assistida faz do Fertilitat referência no atendimento aos pacientes e também na produção científica. E é na vocação de disseminar esse conhecimento que o centro acolhe profissionais em formação, no laboratório e na clínica, para períodos de estágio e residência. “A possibilidade de o estagiário vivenciar a rotina de um laboratório de fertilização in vitro é muito enriquecedora para a vida profissional que recém iniciará. Ter esta experiência diária, ainda que por alguns meses, somente faz consolidar as aulas teóricas que tiveram durante a vida acadêmica. Alguns dos profissionais que fazem parte do quadro tiveram a porta de entrada pelo estágio no laboratório. A parceria de sucesso entre o Fertilitat e as universidades traz benefícios não apenas aos acadêmicos; a troca de experiências, a necessidade de constante atualização e as novas contribuições dos estagiários também são valores que agregam aos profissionais do laboratório.”

Lilian Okada

Embriologista do Fertilitat

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“Já no início da graduação em Biomedicina tive certeza de que escolheria a Reprodução Humana como uma de minhas habilitações. A possibilidade de poder estagiar em uma clínica de referência como o Fertilitat tornou esta decisão ainda mais acertada, sendo de grande valia no âmbito profissional. O Fertilitat preza pela conduta ética e respeitosa com seus pacientes, e possui um conjunto de profissionais extremamente competentes. A equipe de embriologistas se mostrou muito receptiva e solícita, sempre disposta a ajudar e ensinar, agregando muita experiência e aprendizado durante meu período de estágio no laboratório. Considero o Fertilitat um ótimo local de estágio para quem tem interesse na área de Reprodução Humana. A vivência no laboratório, com a diversidade de casos atendidos, me proporcionou experiências enriquecedoras, tanto pessoais quanto profissionais. Por isso, agradeço muito pela oportunidade.”

Juliana Fank Gomes

Graduanda em Biomedicina pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)


notícias

Fertilitat doa recursos para a instalação de toldos em abrigos da Fasc Especialista em gerar vidas a partir da reprodução assistida, o Fertilitat também dedica-se a apoiar iniciativas de desenvolvimento da comunidade local, especialmente no cuidado com as crianças em vulnerabilidade. Em maio, a diretora Mariangela Badalotti e o presidente da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), Solimar Amaro, participaram da entrega dos novos toldos dos Abrigos Residenciais Sabiá 7 e 8, que acolhem crianças e adolescentes em situação de risco. Além deles, as voluntárias Christine Hackmann e Mônica Campos e a coordenadora dos abrigos, Jeanne Luz, participaram da cerimônia. O investimento foi viabilizado pela doação do valor das inscrições do IV Simpósio Internacional Fertilitat, realizado em dezembro de 2016. Os espaços no bairro Santo Antônio integram a rede da Fasc com a finalidade de atender famílias.

Clínica tem maior número de especialistas em reprodução assistida certificados pela Febrasgo Pela primeira vez, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) credenciou especialistas em reprodução assistida. O certificado assegura que esses profissionais estão aptos a trabalhar na área e que têm credibilidade nacional no assunto. “O certificado é importante tanto para o paciente quanto para os especialistas, pois comprova a séria atuação desses profissionais em reprodução assistida no país”, afirma César Eduardo Fernandes, presidente da federação. De acordo com a divulgação da entidade, na região Sul, o Fertilitat – Centro de Medicina Reprodutiva foi a clínica com maior número de certificados. Dos 60 credenciados no país em reprodução assistida, cinco atuam na clínica.

Para a diretora do Fertilitat, Mariangela Badalotti, é um orgulho contar com uma equipe tão bem preparada. “O Fertilitat há 30 anos atua como pioneiro em reprodução assistida. Esse número de certificados oficializa o compromisso dos nossos profissionais com os pacientes”, afirma a ginecologista. A aprovação no concurso, que garante um certificado emitido pela Associação Médica Brasileira, é feita por meio de análise de documentos. Contam pontos ter mestrado, doutorado, ser professor titular, ter publicado artigo ou escrito capítulo de livro (em autoria ou coautoria) relacionado à reprodução humana/assistida e participado de congressos, entre outras atividades relacionadas ao assunto.

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fazendo ciência

IV Simpósio Internacional Fertilitat O Fertilitat – Centro de Medicina Reprodutiva reuniu especialistas de destaque mundial no seu IV Simpósio Internacional. Os convidados internacionais Roberto Coco (ARG), Guido Parra (COL), Fabio de Castro Cruz e Nicolas Garrido (ESP) falaram sobre novas pesquisas e tratamentos para infertilidade. Endometriose, abortamento de repetição, investigação do casal infértil, indicações de reprodução assistida e preservação da fertilidade feminina e masculina também foram alguns dos assuntos discutidos no simpósio. A Presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), Hitomi Miura Nakagawa, o chefe do setor de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, Rui Alberto Ferriani e o professor de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG Fernando dos Reis foram os convidados nacionais recebidos na ocasião. Tendo a pesquisa como uma de suas principais características para alcançar o pioneirismo, o quadro de profissionais do Fertilitat participa frequentemente dos principais congressos da especialidade, apresentando estudos e artigos de referência na área de atuação da clínica.

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Pesquisa do Fertilitat é apresentada em Boston O fator masculino está implicado em aproximadamente 50% dos casais submetidos aos métodos de reprodução assistida. Para avançar nessa análise, a equipe do Fertilitat desenvolveu o estudo “Impacto da qualidade seminal sobre a taxa de aneuploidia embrionária”. O resultado da pesquisa foi apresentado oralmente pelo urologista Claudio Telöken, em maio, no Annual Meeting of the American Urological Association, em Boston, EUA. As alterações seminais podem ser responsáveis por anormalidades cromossômicas, desenvolvimento embrionário deficiente e abortamento de repetição. Diante dessa realidade, o objetivo principal da pesquisa foi avaliar o possível impacto da oligospermia sobre a taxa de aneuploidia embrionária, comparando pacientes oligo e normospérmicos. Foram comparados 203 casais com oligo e normospermia submetidos à fertilização in vitro através de injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI) no período de julho de 2014 a outubro de 2016. A idade feminina média foi de 38,9 anos. Foram realizadas biópsias em 741 embriões, no dia +3 ou dia +5. As técnicas utilizadas para a análise foram Array

Avaliação e preparo seminal

Os resultados apontaram que, dos 203 pacientes, 40 (19,7%) eram oligospérmicos e tiveram 160 embriões biopsiados. Desses, 42 (26,2%) foram euploides. Os pacientes normospérmicos tiveram 581 embriões biopsiados, e 151 (25,9%) foram euploides. Não houve diferença entre os grupos. Conforme as conclusões, não foi comprovada correlação entre baixa concentração seminal e taxa de aneuploidia embrionária. Embora a baixa qualidade do sêmen seja uma indicação para PGS, ainda não foi evidenciado que haja uma diminuição na taxa de euploidia durante a fertilização in vitro, como se espera que ocorra com a concepção natural. Portanto, é aconselhável que novos estudos sobre o assunto sejam realizados a fim de corroborar esses resultados. O trabalho é assinado também pelos diretores do Fertilitat Alvaro Petracco e Mariangela Badalotti, além dos embriologistas David Kvitko, Ricardo Azambuja, Virgínia Reig, Alice Tagliani Ribeiro e Lilian Okada.

ICSI

Cultura embrionária

Biópsia embrionária

40 pacientes oligospermicos

160 embriões biopsiados

26,2% euploides

163 pacientes normospermicos

581 embriões biopsiados

25,9% euploides

Punção ovariana

203 pacientes

Comparative Genomic Hybridization (aCGH) ou Next-Generation Sequencing (NGS).

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fazendo ciĂŞncia

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1 O espanhol Marcos Messenger esteve no Fertilitat, em maio,

para um bate-papo com a equipe da clínica. O embriologista conversou sobre técnicas de laboratório intermediando uma troca de experiências. 2 Em abril, o diretor do Fertilitat Alvaro Petracco e a embriologista

Lilian Okada estiveram em Buenos Aires, no 13º General Meeting, da Rede Latinoamericano de Reproducción Asistida. Na ocasião, apresentaram em pôster a pesquisa “Arte usando sêmen de lavagem em casais sorodiscordantes”. 5

3 O estudo “Diferenças nas taxas de euploidia entre as principais

indicações de PGS”, realizado no Fertilitat, foi apresentado em Valência, na Espanha. Os especialistas Maria Teresa Sanseverino e Ricardo Azambuja participaram da 16ª International Conference on Preimplantation Genetics. 4 A equipe do Fertilitat assina um capítulo em uma nova obra

internacional sobre fertilidade. O livro “Pediatric and Adolescent Oncofertility” é a primeira publicação do gênero a apresentar uma discussão abrangente sobre o tema da oncofertilidade em crianças e adolescentes.

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Os profissionais da clínica estão entre os responsáveis pelo capítulo 21, que fala sobre a “preservação da fertilidade em pacientes infantis com câncer em um cenário brasileiro”. Os diretores do Fertilitat, Alvaro Petracco e Mariangela Badalotti, e o diretor do Laboratório de Embriologia, Ricardo Azambuja, assinam o texto, ao lado de outros especialistas do país. O livro é uma publicação da Editora Springer, sendo a quinta obra realizada pelo Oncofertility Consortium, rede internacional que reúne centros de diversos países para troca de conhecimentos e pesquisas sobre a oncofertilidade. O Fertilitat é um dos integrantes do consórcio. 5 A embriologista Alice Tagliani Ribeiro participou do Embryo

Talks, no Rio de Janeiro. O evento debateu questões da reprodução assistida, como os avanços na área e o impacto do controle de qualidade laboratorial sobre os resultados. 6 Letícia Proença, embriologista, esteve no 2º Congresso

Internacional Huntington de Reprodução Humana, em São Paulo. O evento abordou diferentes estudos em reprodução assistida. 7 Os diretores do Fertilitat, Alvaro Petracco e Mariangela

Badalotti, participaram da 18ª edição do Congresso Sul-Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia (Sulbrago), em Foz do Iguaçu (PR). Os ginecologistas palestraram sobre a abordagem ao casal, tratamentos para infertilidade, endometriose em paciente fértil, e outros temas.

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especial

Famílias conectadas pela tecnologia Usando plataformas em tese dominadas pelas novas gerações, avós e até bisavós recorrem ao mundo digital para acompanhar o desenvolvimento de netos e bisnetos

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Carreiras dos filhos que levam parte da família para morar fora ou rotinas tão ocupadas que não permitem visitas frequentes. Nada disso é empecilho para que avós, bisavós e familiares acompanhem o crescimento, as “gracinhas” e a voz dos pequenos bem de perto. Pelas telas dos smartphones e dos computadores.


Londres › São José dos Campos › Jacareí › Porto Alegre Os mais de 10 mil quilômetros que envolvem a conexão da família Tosta são driblados quase diariamente pelo Whatsapp, com mensagens e fotos, e pelo Skype, nas conversas por vídeo. Marlina e Carlos dividem-se hoje entre Porto Alegre, onde mantêm um negócio, e a cidade paulista de São José dos Campos, nova moradia definida para ficar perto da filha mais velha, Melissa, que passou em concurso e mudou-se para Jacareí (SP) com a neta Catarina, de 5 anos. Os outros dois filhos, Carla e Luiz Henrique, residem em Londres com suas famílias, o que faz o casal acompanhar à distância os três netos – Nicolas (10 anos), Chloé (8) e Alice (4). “A internet ajuda muitíssimo. Usamos o Skype para manter comunicação desde que o neto mais velho, Nicolas, nasceu na Europa. Assim acalma a saudade até o próximo encontro de toda a família”, conta Marlina. Os Tosta encontram os netos que moram fora uma vez por ano, em encontros alternados entre a Inglaterra e o Brasil. O mais recente foi na Páscoa, quando a criançada toda esperou o coelhinho na casa paulista dos avós.

Winton (Nova Zelândia) › Porto Alegre Quando foi morar na Nova Zelândia, em 2004, a portoalegrense Letícia Maccarini Frew só falava com familiares e amigos pelo telefone ou por e-mail, o que limitava um pouco os contatos, considerando a comunicação online de hoje. “Era bem difícil, sofria muito mais com a distância. Hoje dá para dividir momentos que antes era complicado explicar”, afirma Letícia. As duas filhas, Luiza (5) e Emily (3), nasceram na Nova Zelândia quando as alternativas de contato já estavam muito mais avançadas. Letícia conta que muitas vezes consegue conciliar o horário de almoço das meninas com o jantar dos pais no Brasil, e acabam fazendo as refeições “juntos”. “Meus pais conseguem ser muito presentes na vida das gurias. Elas cresceram falando com os avós pela internet, e o amor entre eles é muito especial. Para quem mora longe e só pode ver a família e amigos uma vez por ano, a internet facilitou muito, porque sentimos que continuamos a fazer parte da rotina de quem amamos”, enfatiza.

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especial

Nova York › Belém › Novo Hamburgo A ponte com o exterior é a realidade também de Marlene Martins. Hilton, o filho do meio, é tecnólogo do setor de calçados em Nova York e vive em Nova Jersey com a esposa e os dois filhos – Frederico, de 13 anos, e Clara, de 10. O mais velho, Heitor Junior, é doutor em Biologia e atua em Belém, onde mora com a família. Já o caçula, Herton, analista de sistemas, reside em Novo Hamburgo, e é pai de João Pedro, de 11 anos. Com a divisão geográfica, Marlene rendeu-se à tecnologia há quase uma década para manter a família conectada. Recentemente, a avó passou dois meses no Pará para conhecer e curtir a neta mais nova, Laura, nascida em outubro, irmã de Henrique (7). Mas apesar de as visitas e os encontros de parte da família ocorrerem com certa frequência, conseguirá reunir os três filhos novamente em julho deste ano depois de sete anos. Daí o papel essencial das plataformas digitais na comunicação. “A tecnologia aproxima as pessoas. Posso vê-los, ouvir as vozes, acompanhar o crescimento dos netos e ver os registros dos eventos de escola, esporte e as diversas atividades. Por mensagem e fotos o contato é diário. E fazemos chamadas de vídeo uma ou duas vezes por semana”, detalha Marlene.

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Bisa online Aos 80 anos, Sonia Garcez prefere não ser mais chamada pelo nome entre amigos e familiares, mas pelo “cargo” que ostenta com orgulho: bisa. Morando na mesma cidade que os dois bisnetos – Joaquim, que completa 1 ano em agosto, e Olívia, de 4 anos –, vive aquela situação em que a rotina de trabalho dos netos nem sempre permite estar perto dos pequenos. Assim, exige registros diários de fotos, áudios e vídeos, que recebe e responde pelo smartphone, quando está fora de casa, ou no computador. Usuária do Facebook, curte e comenta todas as postagens da família. “Meus netos e bisnetos são a alegria dos meus dias. Entendo a falta de tempo deles, então procuro me manter presente de todas as formas que eu posso”, explica.


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redes sociais

Fertilitat no Facebook Confira os conteúdos mais visualizados em nossa página nos últimos meses

Lançamento de “Cartinhas para a Cegonha” A obra da jornalista Amora Xavier, em parceria com o Fertilitat, foi lançada em noite especial de autógrafos, em Porto Alegre.

37.193 visualizações

Homenagem ao Dia das Mães O Fertilitat fez uma campanha especial destacando todas as mães, de barriga ou de vida.

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Quais os cuidados que as gestantes devem tomar com sua alimentação no verão? A ginecologista Ana Luiza Berwanger esclarece.

29.948 visualizações


Lançamento do app A clínica divulgou campanha anunciando o lançamento do aplicativo Fertilitat.

15.091 visualizações

Em artigo, o ginecologista João Michelon fala sobre o que é possível fazer para potencializar a chance de gravidez.

8.235 visualizações

Participação em matéria de Zero Hora A ginecologista Rafaella Petracco participou de reportagem sobre o uso de aplicativos como método contraceptivo.

6.339 visualizações

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redes sociais

Websérie: Fertilitat 30 anos No dia 31 de março, o Fertilitat lançou em suas redes sociais uma websérie contando um pouco dos 30 anos da clínica. Nos vídeos, os diretores Alvaro Petracco e Mariangela Badalotti falam sobre os desafios e as conquistas dessa trajetória.

O início Mariangela e Alvaro contam sobre os desafios na criação da clínica.

29.499 visualizações

Pioneirismo Os diretores falam das marcas históricas obtidas pelo centro.

28.438 visualizações

Técnica e afeto Equipe multiprofissional e carinho unidos para realizar sonhos.

26.984 visualizações

Agora o Fertilitat também está no YouTube! Confira em nosso canal todos os vídeos da websérie, além de diversos conteúdos sobre as atividades da clínica e novidades da reprodução humana.

Inscreva-se em http://bit.ly/youtubefertilitat

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artigo

João Michelon, Ginecologista

O que vem pela frente O avanço da medicina reprodutiva é surpreendente. Desde o nascimento de Louise Brown, em 1978, a ciência impulsiona novas descobertas que beneficiam muitos casais a conquistar a gravidez desejada. Nos primórdios do Fertilitat, trabalhávamos com pouco mais do que a chance natural dos casais engravidarem. Hoje, oferecemos uma oportunidade de gravidez que pode ultrapassar 60% e com a segurança quase absoluta de que o bebê nascerá livre de alterações cromossômicas. Naquelas famílias que carregam mutações genéticas, cujos descendentes sucumbem ou padecem com alterações físicas e emocionais, podemos cessar a sequência da doença nas proles subsequentes. Podemos preservar a fertilidade para o futuro e oferecer chance de gravidez quando a idade é avançada. Mas, o que vem pela frente? Será que a fertilização in vitro (FIV) oferecerá 100% de sucesso no futuro? Poderemos livrar toda e qualquer alteração gênica ou cromossômica e criar uma criança perfeita? Será que no futuro gerar um bebê pela FIV será o normal e seguro, estando a concepção natural predestinada ao risco? Não há dúvidas de que o futuro nos reserva um progressivo domínio sobre a odisseia da infertilidade. Haverá um dia em que a medicina se embaraçará, apenas, em pequenas causas inexplicáveis, talvez por obra específica da natureza e que não compete ao homem realizá-la. Embora pareça o ideal, tentar refinar a genética fazendo o mapeamento completo dos gens do embrião vai de encontroa

dilemas éticos relacionados. Sabemos que os humanos já nascem com inúmeras mutações, e vão criando novas com o envelhecimento. Mas quando se sabe a presença desse tipo de alteração, antes mesmo da transferência dos embriões, muitos casais tendem a não querer transferir os que apresentam qualquer tipo de mutação, mesmo que nunca viessem a acontecer enquanto vivessem. Por isso, tão importante quanto a genética é o poder da natureza em avivar a condição ou amenizá-la e nunca deixar que a se manifeste. Atualmente, através de técnicas de reprogramação celular, transformando um tipo de célula em outra, podemos criar células germinativas – espermatozoides e óvulos – a partir daquelas da pele, por exemplo. Num futuro não distante, uma única pessoa ou casais homoafetivos não dependerão de células germinativas do sexo oposto para darem seguimento no projeto de ter filhos. Da mesma forma, acompanhando a tendência pela busca da gestação tardia ou naquelas mulheres com falência iminente de seus ovários, haverá possibilidade de coletar uns poucos óvulos e multiplicá-los exponencialmente e ter sua fertilidade preservada indefinidamente. Muitos dissabores que hoje os casais sofrem na constituição da prole, ao seu tempo, serão amenizados ou eliminados. Dilemas éticos serão inevitáveis, porém, o equilíbrio entre o avanço da ciência e sua aplicabilidade é fundamental para o bem-estar das pessoas.

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na mídia

29.10.2016 22.06.2017

TVE Mariangela Badalotti foi a convidada especial do programa Frente a Frente, dedicado a abordar os detalhes e as novidades da ciência médica no âmbito de reprodução assistida.

Zero Hora A revista Donna fez reportagem especial sobre o livro Cartinhas para a Cegonha, da jornalista Amora Xavier, publicação realizada em parceria com o Fertilitat.

18.10.2016

Jornal do Comércio A geneticista Maria Teresa Sanseverino foi fonte em matéria do caderno especial dedicado ao Dia do Médico. Sobre a proliferação do Aedes aegypti, destacou o pioneirismo da pesquisa brasileira em avaliar as consequências do zika vírus na saúde de bebês infectados durante a gestação.

11.05.2017

TV Bandeirantes O Programa da Regina teve quadro especial dedicado ao Dia das Mães e abordou caso de uma gestante que recorreu à inseminação artificial para realizar o sonho da maternidade. Alvaro Petracco foi o especialista convidado para abordar as técnicas de reprodução assistida.

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10.05.2017

TV Erechim O programa abordou a saúde do homem em entrevista com o urologista Cláudio Telöken.

12.05.2017

TVE O Programa Panorama especial de Dia das Mães recebeu convidadas e seus filhos no estúdio para uma abordagem plural sobre a maternidade, com a participação da ginecologista Adriana Arent.

24.02.2017

Zero Hora online A edição online repercutiu com a ginecologista Rafaella Petracco o lançamento de aplicativo que tem o objetivo ser recurso de contracepção às mulheres.

02.12.2016

TVE A emissora realizou cobertura da quarta edição do Simpósio Internacional Fertilitat, que ocorreu em Porto Alegre, destacando a reunião de especialistas para debater as inovações em reprodução assistida e fertilidade feminina e masculina.

02.03.2017

O Sepeense O jornal de São Sepé publicou o artigo da ginecologista Ana Luiza Berwanger sobre “Gravidez e alimentação: cuidados durante o verão”.

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saiba mais

Endometriose Muitas mulheres que tentam engravidar não sabem que possuem a doença Os casos de endometriose aparecem cada vez mais entre as mulheres. Nessa doença, pequenos flocos de endométrio ficam fora de seu local de origem, em geral na capa de tecido que recobre os órgãos de dentro do ventre (peritônio). Mas podem estar localizados em qualquer parte do corpo, até mesmo em órgãos fora da cavidade abdominal. Algumas mulheres não sentem os sintomas, mas a maioria apresenta dor, principalmente perto da época da menstruação. Nesse período, o estímulo hormonal para que o endométrio se desprenda também acaba estimulando esses fragmentos que se encontram fora do útero e isso causa uma irritação e sangramento, gerando a dor. Nessa situação, as cólicas menstruais podem ser fortes. Assim como outros tipos de dor associados à endometriose: incômodo ao urinar (chamada disúria), dor para evacuar e durante a relação sexual (chamada dispareunia). A ginecologista e diretora do Fertilitat Mariangela Badalotti explica que além da dor outro sintoma importante é a dificuldade para engravidar. “Um sintoma frequente da endometriose é a infertilidade. Entre 30% e 50% das mulheres com endometriose

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são inférteis, e essa incidência é o dobro da que ocorre na população em geral”, esclarece. Como os focos de endometriose têm as mesmas características do endométrio, ou seja, recebem os hormônios produzidos pelo ovário, se modificam e sangram no período menstrual, isso pode alterar o ambiente da fertilização e, quando a doença é avançada, danificam as trompas, os ovários e podem formar aderências entre os órgãos pélvicos. “O diagnóstico de endometriose só é feito de forma definitiva por meio da videolaparoscopia, uma cirurgia que objetiva visualizar os focos (e tratar) e colher amostra de material quando necessário, porém sintomas clínicos e alguns exames laboratoriais e de imagem podem auxiliar no diagnóstico”, explica a ginecologista. O tratamento depende do desejo e do sintoma do paciente. Se o objetivo é tratar a dor, muitas vezes medicações hormonais resolvem o problema. No entanto, se existe o desejo e a dificuldade de engravidar há tratamentos específicos que devem ser realizados, incluindo algumas vezes técnicas de reprodução assistida.


artigo

Preservação da fertilidade Carreira, estabilidade financeira e a busca do parceiro ideal são alguns dos motivos que levam as mulheres a adiar a maternidade. O que poucas sabem, e muitos médicos não orientam, é que a reserva ovariana não espera a realização destes objetivos para seguir oferecendo uma boa chance de gravidez com o passar dos anos. Dados do IBGE mostram que, nos últimos 15 anos, a taxa de fecundidade caiu 30%, e em mulheres com mais escolaridade e maior renda, a maternidade concentra-se após os 30 anos. Décadas passadas, a grande maioria era mãe antes dos 25 anos. Ao nascer, cada menina tem entre 6 milhões e 7 milhões de óvulos, sendo o pico dessa produção ainda intraútero. A perda de folículos se inicia antes mesmo do nascimento e se acentua com o passar dos anos. Essa perda independe do processo reprodutivo ou do uso de contraceptivos – portanto, se ilude quem pensa que está preservando sua fertilidade usando qualquer tipo de contraceptivo hormonal. O período entre 18 e 30 anos é considerado de fertilidade ótima – ou seja, com maior chance de gestação a cada ciclo menstrual. Mesmo nessa faixa etária, a chance máxima de gravidez não é maior do que 25%. Entre 36 e 37 anos, esse percentual fica próximo dos 15%. Entre as razões para isso é a redução da reserva ovariana e o envelhecimento dos óvulos. Com o passar dos anos, o risco de bebês com doenças genéticas e as taxas de abortamento aumentam – chegando a 30% para mulheres com mais de 40 anos. Existem exames que podem auxiliar na predição da reserva ovariana. Um dos mais utilizados atualmente é o hormônio antimülleriano. Produzido pelas células dos folículos antrais, ele estima o número total deles existente nos ovários. Trata-se de um exame cujo resultado não se altera nas diferentes fases do ciclo menstrual, sofrendo pouca influência do uso de contraceptivos hormonais, no entanto existe muita variabilidade nos resultados e muita controvérsia sobre sua utilização rotineira. Outra forma

Rafaella Petracco, Ginecologista

de avaliar a reserva é a contagem de folículos antrais, realizado através da visualização direta dos ovários por ultrassonografia, associado a dosagem de FSH e estradiol na fase proliferativa do ciclo menstrual. Os dados obtidos através desses exames ajudam a orientar as pacientes em relação ao seu potencial ovariano, bem como a necessidade de buscar gestação ou alguma alternativa para preservar a fertilidade. Nesse caso, para mulheres que desejam postergar a maternidade, a vitrificação de oócitos vem ganhando cada vez mais espaço. Introduzida nos anos 2000, essa técnica permite uma melhor sobrevivência dos óvulos congelados, com mais chances de gestação ao utilizar o material futuramente. No entanto, a qualidade e a quantidade destes óvulos criopreservados – que serão a base para predizer chance de gestação futura – estão somente ligadas à idade do congelamento. Portanto, para que haja chance real de gravidez através do descongelamento e posterior fertilização destes óvulos, a idade em que eles foram congelados é fundamental. Para uma chance de gravidez ao redor de 50% em mulheres que realizaram o congelamento até os 35 anos, pelos menos entre 8 e 10 oócitos maduros devem ser vitrificados. O número absoluto a ser congelado dependerá da resposta à estimulação de cada paciente, baseada nos exames realizados previamente para avaliação da reserva ovariana e do protocolo de estimulação escolhido. O número ideal e almejado deverá ser discutido e individualizado com cada paciente. Podemos concluir que o ideal seria que todas as mulheres pudessem buscar a maternidade antes dos 35 anos, para que não precisassem depender de técnicas de reprodução assistida. Mas como esse nem sempre é o cenário da vida real, devemos ter claro que a preservação da fertilidade através do congelamento de óvulos é uma alternativa possível para aquelas mulheres que desejam ou precisam postergar a maternidade.

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fique por dentro

Unidades do Fertilitat Ferti Ciência Unidade de Pesquisa

O Fertilitat valoriza a trajetória científica de seus profissionais. A sua unidade de pesquisa, o Ferti Ciência, contribui para a atualização da clínica e o aperfeiçoamento de seus especialistas. Para a coordenadora da unidade, Mariangela Badalotti, a história de pioneirismo da clínica só foi possível por conta de seu início na pesquisa. “A nossa história foi idealizada, projetada e desenvolvida conforme os estudos que aconteciam na época. A veia acadêmica de muitos dos nossos profissionais nos apoia no desenvolvimento do Fertilitat e sua continua atualização”, explica. Atualmente, a unidade de pesquisa trabalha com ideias e projetos nas mais variadas atuações da reprodução assistida. Seja na área da patologia ginecológica, com estudos relacionados a endometriose, com o uso de marcadores e aplicação de novos medicamentos, falhas de implantação e abordagens associadas ao fator masculino. No momento, o Fertilitat está iniciando um projeto envolvendo células-tronco que será promissor e estimulador de novas ideias e projetos com o qual se deve contribuir para um grande avanço na área da reprodução assistida, marcando novamente a história e reforçando a busca incessante pelo conhecimento. Nesse sentido, novos pesquisadores fazem parte da equipe da clínica para a atuação direta em estudos sobre reprodução assistida. “Precisamos estudar e entender os porquês de uma resposta fisiológica alterada. Isso faz parte do dia a dia na clínica e é o pilar para um bom atendimento”, explica Mariangela. Ao lado, saiba mais sobre as unidades do Fertilitat.

Ferti Andro Unidade de Andrologia

Ferti

Crio

Unidade de Criopreservação

Ferti Endo Unidade de Endometriose

Ferti

Fiv

Unidade de Fertilização in vitro

Ferti Scope Unidade de Endoscopia

Ferti

Gen

Unidade de Genética

Ferti Onco

Unidade de Oncofertilidade

Ferti Psico Unidade de Psicologia

Ferti Sperm Unidade de Espermiologia

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Revista do Fertilitat • Centro de Medicina Reprodutiva

Unidade dedicada à investigação e ao tratamento da infertilidade masculina, presente em até 50% dos casais inférteis de forma isolada ou associada a fatores femininos. A criopreservação é uma técnica segura que permite armazenar material biológico sem prazo de validade, incluindo óvulos, espermatozoides, embriões e tecidos ovariano e testicular. Equipe especializada no tratamento da endometriose, doença que afeta 10% das mulheres em idade reprodutiva, das quais 30% a 50% têm dificuldade de conceber.

A fertilização in vitro (FIV) é uma técnica de reprodução assistida em que a fertilização ocorre em laboratório. A unidade atua no diagnóstico e no tratamento de ocorrências no sistema reprodutor feminino que necessitam de investigação cirúrgica, como videolaparoscopia e videohisteroscopia. O diagnóstico genético anterior à implantação permite orientar escolhas mais adequadas às famílias com risco aumentado de anormalidades para os filhos. O congelamento de óvulos e espermatozoides possibilita a pacientes oncológicos realizar o sonho de ter filhos após o tratamento contra o câncer. Ciente da essencialidade do apoio emocional durante o tratamento de infertilidade, o Fertilitat oferece atendimento psicológico a todos os casais, proporcionando segurança e equilíbrio. O serviço é especializado na avaliação do fator masculino na infertilidade, sendo responsável pelo congelamento de espermatozoides e pelo preparo do sêmen para os procedimentos.


gastronomia Salmão com minibrotos ao red curry e legumes Ingredientes (uma porção): • 150ml de leite de coco • 200g de filé de salmão • 2 folhas de limoeiro • 10 folhas de manjericão fresco • 50g de cenouras cortadas em Julienne • 50g de vagem holandesa cortada ao meio • 50g de brócolis híbrido • 1 colher de sopa de pasta de curry tailandês vermelha • 1 ½ colher de sopa de molho de peixe tailandês (Nampla) • Minibrotos de rúcula e beterraba para decorar • Óleo vegetal e azeite de oliva extra virgem • Sal e pimenta-do-reino moída

Salmão com minibrotos pelo chef Rafael Jacobi A trajetória de Rafael Jacobi no mundo gastronômico teve início ainda na juventude, ajudando sua mãe, Lecy, e o irmão Marcelo na confeitaria da família. Em 2003, mudou-se para a Austrália. Em pouco tempo já estava trabalhando como aprendiz de cozinheiro no restaurante Le Kiosk, em Sydney. A dedicação, o interesse e o talento o alçaram para o cargo de sous chef. Ainda na cidade, fez especialização em comida tailandesa, no Sydney Community College.

Modo de preparo: Para o salmão: em uma frigideira antiaderente bem quente, em fogo alto, coloque um fio de azeite de oliva e, em seguida, o peixe virado com a pele para cima. Grelhe nos dois lados, acerte sal e pimenta e reserve. Para o molho: em uma panela tipo wok, fogo baixo, coloque um fio de óleo e adicione a pasta de curry, frite por dois minutos até desenvolver aroma. Adicione o leite de coco aos poucos, misturando ocasionalmente, o molho de peixe e as folhas de limoeiro. Ferva por um minuto. Adicione os legumes e cozinhe no molho até ficarem “al dente”. Modo de servir: sirva em um prato fundo, colocando o molho com os legumes e o peixe por cima. Decore com os minibrotos.

Da Austrália foi para a Indonésia, de lá para Singapura, e para terminar o tour conheceu a Tailândia, onde fez estágios em restaurantes nas ilhas de Koh Samui e Koh Phi. De volta ao Brasil, em 2006 assumiu a cozinha e a chefia dos eventos externos do restaurante Épico (eleito pela revista Veja naquele ano como o melhor restaurante “variado” de Porto Alegre). No ano seguinte, abriu o Wok Restaurante, um espaço tipicamente decorado com o clima espiritualizado e colorido da Tailândia. Em 2009, retornou ao país asiático para uma especialização no restaurante Blue Elephant, em Bangkok, de onde trouxe novas ideias e receitas. Nos dias de hoje, atualiza seu repertório com constantes viagens ao exterior e intercâmbio com chefs renomados no Brasil. Além do Wok, o chef Rafael é responsável pelo economato do Porto Alegre Country Club. Dentro dos princípios que marcam o seu trabalho desde o início estão qualidade, modernidade e requinte. Nesta edição, ele nos ensina a receita de salmão com minibrotos ao red curry e legumes. Revista do Fertilitat • Centro de Medicina Reprodutiva

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dicas de viagem

Genebra / Suíça Celebrada mundialmente pelas características de cidade humanitária e cosmopolita, Genebra recebe a edição de 2017 do congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE). Entre 2 e 5 de julho, a equipe do Fertilitat, representada pelos diretores Mariangela Badalotti e Alvaro Petracco, pelo ginecologista Fernando Badalotti e pela embriologista Alice Ribeiro, integrou-se a especialistas internacionais para acompanhar os debates sobre as inovações científicas e tecnológicas para o setor. Com cerca de 200 mil habitantes, a cidade é a segunda mais populosa da Suíça, depois de Zurique, embora a capital seja Berna. É base de importantes instituições internacionais, como a sede europeia da Organização das Nações Unidas (ONU), a Cruz Vermelha e a Organização Mundial do Comércio (OMC). Enquanto a Suíça tem quatro idiomas (alemão, francês, italiano e romanche), em Genebra a língua oficial é o francês. A economia é sustentada nos serviços financeiros, na indústria e no turismo, e mais de 40% da população é formada por estrangeiros. A experiência suíça em Genebra alia cultura, belezas naturais e gastronomia. Além das célebres marcas de chocolates suíços, disponíveis para compra nos supermercados e lojas de departamentos, as delícias podem ser apreciadas nas casas tradicionais de chocolates artesanais, as chocolateries, como a Chocolat Auer, a La Bonbonnière e a Philippe Pascoët. Para um espetáculo diurno ou à noite, é destino obrigatório o Jet d’Eau, um marco local. A fonte de água no meio do Lac Léman, com jato que atinge 140 metros, é um dos principais pontos turísticos e pode ser apreciado com vista panorâmica a partir da Catedral de São Pedro ou na área de Bains des Pâquis, que no verão se transforma em praia de moradores e turistas. 36

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As opções aos apreciadores dos roteiros nos museus também são diversificadas, com destaque para o Museu Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, proporcionando uma experiência diferenciada em exposições e mostras interativas sobre o trabalho humanitário realizado mundialmente. Na Cidade Velha, parte alta de Genebra, o belo percurso pode ser feito a pé na contemplação dos prédios históricos, cafés, restaurantes e museus. Por lá, estão localizados a catedral, a prefeitura, o Hôtel de Ville, a Praça do Bourg-de-Four e o Museu de Arte e História de Genebra, entre outras atrações. Próximo à área central, o Parque dos Bastiões é o cenário do célebre monumento Muro dos Reformadores, que traz em destaque as estátuas de João Calvino, Guillaume Farel, Théodore de Bèze e John Knox. Uma das cidades mais ricas do mundo e de alto índice de desenvolvimento humano – capital da paz, dos relógios e dos chocolates –, é confortável para quem lá vive e encantadora e sofisticada aos olhos dos visitantes. Está frequentemente no topo dos rankings entre as melhores cidades para morar e conhecer: foi definida como “O melhor destino da Europa para descansar“ no World Travel Awards (WTA) em 2015; e em 2016 ficou em 8º lugar entre as melhores cidades para se viver no mundo, pelos diferenciais de alto nível na qualidade da educação e baixíssimas taxas de criminalidade.


dica de livro

Projeto recorre ao lúdico para abordar educação sexual Com a responsabilidade de zelar pelo desenvolvimento da vida gerada, o Fertilitat traz como sugestão de leitura uma publicação que trata de tema essencial na educação infantil – a prevenção à violência sexual. O assunto precisa ser enfrentado pelas famílias e pelas escolas, e o livro Pipo e Fifi oferece uma abordagem séria, delicada e lúdica. A autora Carolina Arcari, pedagoga e especialista em educação sexual, desenvolveu uma obra para a família. Recorre a personagens em forma de simpáticos monstrinhos - Pipo e Fifi - para ganhar a atenção de crianças a partir dos 4 anos, que são representadas pela ilustradora Isabela Santos de forma plural, expressando também a característica inclusiva da publicação. E também fala diretamente com os adultos responsáveis, dando orientações sobre como acompanhar a leitura dos pequenos e retomar a pauta oportunamente. No recado aos adultos “legais e responsáveis”, Carolina reforça a importância do diálogo simples, com transparência. “Este livro é uma ferramenta de proteção que explica às crianças a partir de 4 anos conceitos básicos sobre o corpo, sentimentos, convivência e trocas afetivas. Boa comunicação é a chave de tudo. Nunca é cedo demais para a criança aprender esses conceitos”, escreveu.

O livro já teve mais de 100 mil cópias distribuídas no Brasil e foi apresentado na Inglaterra, na Espanha, em Portugal e em Cabo Verde, traduzido para inglês, espanhol e português de Portugal. O projeto tem ainda edições e materiais educativos para as demais faixas etárias, que podem ser acessados no site www.pipoefifi.org.br. O trabalho conquistou reconhecimentos como a Medalha Zilda Arns de Boas Práticas à Primeira Infância e o Prêmio Criança, concedido Fundação Abrinq - Save the Children. Revista do Fertilitat • Centro de Medicina Reprodutiva

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crônica

Quando eu sonhava em ser mãe Por Amora Xavier

Quando eu sonhava em ser mãe, quase todos os dias imaginava que esse dia chegaria e que seria o melhor e o mais brilhante de todos. Imaginava que, por um tempo, passaria as noites acordada. Mas nunca pensei que seriam tão intensas, tão iluminadas, tão cheias de mistérios e magias, tão profundas. Imaginava as noites andando pela casa com meu filho no colo, tentando fazê-lo dormir. Mas não pensei que saberia a rotina dos vizinhos, que conheceria as luzes da rua, que cantaria tantas vezes a mesma música e andaria quilômetros sem sair de dentro de casa. Imaginava que, em alguns dias, me sentiria exausta. Mas não pensei que teria alucinações noturnas, que ninaria meu travesseiro, que ficaria confusa sem saber se acabei de amamentar ou se já passaram mais de três horas – e que no meio da noite, do nada emitiria o som de shiiiiiii, shiiiii. Enquanto vivia tudo isso, imaginava que um dia essa fase iria passar. Mas não esperava que, uns meses depois, as madrugadas se transformariam em deliciosos encontros. Não imaginava que, mesmo com sono, eu amaria tanto acordar para pegar meu filho no colo, para amamentar. Aquele momento em que o silêncio é a melhor música, que estou agarradinha com meu pitoco sentindo seu cheiro, sua respiração, beijando sua bochecha. Momento que, arrisco dizer, nossos corações se encostam e batem no mesmo compasso. Aconteceu de repente, não sei dizer o dia. Acho que foi quando percebi que logo nossos encontros na calada da noite terminariam. E decidi que era o momento de aproveitá-los. Como eu amo! Só nós e as estrelas! Ou a chuva ou o vento. As luzes dos vizinhos. Aquelas que antes me viam andando pela casa, na tentativa de fazer meu filhote dormir, agora devem nos espiar para ver a mais linda das cenas de puro amor. Quando eu sonhava em ser mãe, queria muito poder amamentar. Mas nunca imaginei que fosse tão difícil e doloroso. Imaginava que era quase instintivo. Nunca imaginei que fosse necessário um kit básico, pomada de lanolina, bombinha para tirar leite, meu marido para me segurar e uma força sobrenatural de vontade. Imaginava aquela cena linda, de comercial de televisão. Mas nunca pensei que choraria de dor. E que, prenderia a respiração e apertaria meus olhos por um instante na tentativa de buscar alguma força do além para prosseguir. Enquanto vivia isso, imaginava que essa fase iria passar. Que ter leite é um presente. Descobri que amamentar é a dor mais amor que eu já conheci. Mas não esperava que, uns meses depois,

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as mamadas se transformariam em momentos deliciosos. Que, ansiosa, esperaria a hora de amamentar. Que não sentiria mais nenhuma dor. Que experimentaria amamentar de pé, andando, deitada. E que iria achar tão lindo ver aquele biquinho do meu filho se aproximando do meu peito. E as mãos? Quem faz carinho em quem? Quem dá mais amor? Difícil saber. Para quê saber? Quando eu sonhava em ser mãe imaginava passar com meu filho no carrinho, imaginava carregar ele no colo pela casa, pela rua. Mas nunca pensei que ele bateria as perninhas quando percebesse que era hora de passear, nem que fosse apertar a mãozinha no meu ombro para ficar no colo. Quando eu sonhava em ser mãe, imaginava que meu marido seria o melhor pai do mundo. Que daria os melhores banhos, que embarcaria no universo do nosso filho, que rolaria no chão e que viveria comigo cada momento. Mas nunca pensei que ele fosse arrancar as melhores risadas do nosso pitoco e que eu fosse me emocionar vendo a relação e o amor dos dois. Nunca pensei que pai também tivesse instinto. Quando eu sonhava em ser mãe, imaginava dar umas dormidinhas com meu filho na minha cama, entre meu marido e eu. Mas nunca pensei que ele seguraria minha mão, que colocaria a cabeça apoiada no meu travesseiro. Não imaginava que o veria fazendo cafuné no papai e que sorriria e falaria tanto ao acordar. Quando eu sonhava em ser mãe, imaginava que os hormônios sofreriam mutações, mas nunca pensei que levaria uma surra. Nunca pensei viver tão intensamente o puerpério, com todas as lágrimas que tinha direito e com outras que nem eram minhas de direito. Quando eu sonhava em ser mãe, imaginava que não daria chupeta, que não ia mostrar o celular, que não ligaria a televisão, que não tomaria Coca-Cola, que não iria... evito, mas confesso que já fiz tudo isso! Quando eu sonhava em ser mãe... não, não, eu nunca imaginei que todos os dias teria motivos para sorrir. Nunca minha imaginação chegou perto do encanto do olhar do filho para a mãe, para o pai. Nunca imaginei que esse amor crescesse a cada dia. Que as lágrimas caíssem tanto e por tudo. Nunca imaginei que me sentiria tão sensível, tão diferente, tão especial, tão feliz, tão completa e, ao mesmo tempo, em construção. Nunca imaginei que eu nasceria de novo, com outros sonhos e outra vida para uma mesma pessoa. Um recomeço. E que, depois de tanto sonhar com esse dia, eu nasceria, agora, mãe.




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