Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

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Sumário 18.

05.

especial 4 mil vezes a vida

Editorial

06 Nossa História

12 Especial 20 anos

16 Perfil

30 Entrevista

27.

“O papel da enfermagem

na reprodução assistida”

08. UNIDADES FERTILITAT

Juliana Lanziotti | Enfermeira

28. Vida Acadêmica 09. “Altas taxas de gravidez utilizando ciclo natural” João Michelon | Ginecologista

10. “Infertilidade e estilo de vida”

29. Redes Sociais 32. Fertilitat na Mídia

Ana Luiza Berwanger | Ginecologista

34. Dicas de Viagem

15. “Preservação da fertilidade em

35.

Gastronomia

pacientes com câncer ” Alice Ribeiro | Embriologista

36. Dicas de Leitura

22. Fazendo Ciência

38. Crônica


E

Arquivo

Editorial sta nova edição da Revista Fertilitat comemora não uma, mas milhares de vitórias. Desde a inauguração

efetiva do Fertilitat – Centro de Medicina Reprodutiva, mais de 4 mil bebês vieram ao mundo através do trabalho da clínica. A esse número se somam novos pais e dezenas de profissionais do Fertilitat, em um grande mosaico de incontáveis sonhos realizados. Entre os primeiros desses sonhos está o nascimento do próprio centro, em 1991, fruto da união de forças dos especialistas Alvaro Petracco e Mariangela Badalotti. Hoje, a taxa crescente dessas novas famílias traduz o compromisso com a ciência e a relação de carinho com os pacientes. Para cada casal, o Fertilitat oferece uma estrutura moderna, acolhida carinhosa e dedicação individual, começando pela primeira consulta, passando pelo acompanhamento psicológico e pela excelência de ginecologistas, urologistas, embriologistas, geneticistas e equipe de enfermagem. Afinal, tão importante quanto o melhor que a ciência e a tecnologia podem oferecer, são fundamentais o afeto e o trabalho respeitoso e ético para cada casal que busca atendimento para infertilidade. Ao longo de sua trajetória, o Fertilitat sempre perseguiu a inovação, com aperfeiçoamento profissional continuado e atualização constante, através de trabalhos científicos e da participação em congressos e encontros no Brasil e no exterior, buscando o intercâmbio de técnicas, experiências e tecnologias. Um dos capítulos mais marcantes dessa jornada acaba de completar 20 anos: em 1995, o trabalho do urologista Claudio Telöken possibilitou a primeira gravidez por espermatozoide extraído diretamente do testículo no sul do Brasil. As páginas a seguir celebram

Além disso, a revista repercute a participação da equipe Fertilitat em encontros científicos, presenças na mídia do Estado e do país e artigos produzidos pelos especialistas do centro de medicina reprodutiva. A edição também contempla notícias e dicas sobre saúde, viagem, cultura e gastronomia. Boa leitura!

também esta vitória.

EXPEDIENTE Fertilitat Centro de Medicina Reprodutiva Av. Ipiranga, 6690, conj. 801, Porto Alegre – RS | Fone: 51 3339-1142 | www.fertilitat.com.br | ISSN: 2178-3837 Conselho Editorial: Mariangela Badalotti, Alvaro Petracco, Débora Farinati | Jornalista Responsável: Soraia Hanna (Mtb 9038) Edição: Soraia Hanna | Capa: Moove Comunicação Transmídia | Projeto Gráfico e Editoração: Moove Comunicação Transmídia - (51) 3330-2200 Colaboradores: Andressa Dorneles, Antonio Felipe Purcino e Janaína Casanova | Reportagens: Demétrio Rocha Pereira Revisão: Press Revisão - (51) 3055-2115


Nossa História

Um novo Fertilitat na internet F

azer ciência de ponta exige pesquisa séria, atualização

clínica, liderada pelos médicos Alvaro Petracco e Marian-

permanente e ousadia para inovar. Essas virtudes aju-

gela Badalotti, tem como objetivo prestar um serviço qua-

daram o Fertilitat a preencher uma história de êxitos que

lificado e alinhado com as mais avançadas tecnologias da

consagrou o centro como referência de medicina reprodu-

área de reprodução humana.

tiva no meio médico. Essas mesmas virtudes acabam de ser aplicadas à renovação do site do Fertilitat, que agora expressa tanto a modernidade dos nossos laboratórios quanto o acolhimento com que recebemos os pacientes.

Dedicado à investigação e ao tratamento da infertilidade conjugal, bem como à preservação da fertilidade, o centro conta com o empenho de uma equipe de especialistas que inclui professores renomados com vasta produ-

“Os desafios específicos foram ressaltar credibilidade

ção na área da pesquisa científica. Somam-se a isso um la-

e tradição, trazendo, ao mesmo tempo, elementos inova-

boratório moderno, equipamentos de alta tecnologia e as

dores ao projeto”, explica Paulo Vogel, Diretor de Negó-

técnicas mais atuais e confiáveis, muitas vezes trazidas ao

cios da agência Ready, empresa responsável por redese-

Brasil em primeira mão pelo Fertilitat, resultado do inter-

nhar a página.

câmbio científico com instituições internacionais.

“Os conceitos que balizaram a reestruturação da pági-

Inaugurado efetivamente em 1991, o Fertilitat teve sua

na foram o design flat, site responsivo e tecnologias mo-

trajetória iniciada em 1987, quando era ainda o Grupo de

dernas que trazem melhor desempenho em diferentes dis-

Fertilização Assistida. Foi trabalho desse grupo o nasci-

positivos e telas”, afirma Vogel.

mento do primeiro bebê de reprodução assistida do Rio

Segundo Paulo Vogel, um site limpo, intuitivo e amigá-

Grande do Sul, em 1989.

vel contribui para fixar o posicionamento do centro, “tra-

No início da década de 1990, nasceram, através do tra-

zendo uma excelente experiência online para o usuário ter

balho do Fertilitat, os primeiros gêmeos de fertilização in

um impacto positivo no que, muitas vezes, é o primeiro

vitro do Estado. Quatro anos depois, a clínica foi respon-

ponto de contato com o novo paciente”.

sável pelo primeiro relato de gravidez com uso de espermatozoide retirado do epidídimo da América Latina. E, em

Pioneirismo, ética e paixão

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1995, veio a primeira gravidez com espermatozoide extraído do testículo no Sul do Brasil (leia mais na página 12). O

O Fertilitat é um centro de medicina reprodutiva que,

Fertilitat foi responsável, ainda, pelo primeiro nascimento

desde a década de 1990, une inovação científica, sensibi-

através de congelamento de óvulos por técnica lenta do

lidade e ética na realização do sonho de diversos casais. A

Brasil, em 2002.

Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva


Em 2009, a clínica foi premiada pela ADVB, na categoria Responsabilidade Social

Em 2009, a clínica foi premiada pela ADVB, na categoria Responsabilidade Social, pela criação do Instituto Assistireh, que facilita o acesso dos casais às técnicas de reprodução assistida. No ano seguinte, o projeto recebeu o prêmio Top Cidadania, da ABRH. Essas e outras conquistas do Fertilitat, você conhecerá nas próximas páginas e visitando a nossa nova casa na in-

foto rocha

ternet. Acesse www.fertilitat.com.br e seja bem-vindo!

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UNIDADES FERTILITAT

O

Fertilitat se divide em unidades altamente qualificadas para garantir os melhores resultados no âmbito da reprodução assistida. O que há de melhor na tecnologia e no apoio ao processo é empregado no atendimento aos pacientes da clínica.

Unidade focada na investigação e no tratamento da infertilidade masculina. A infertilidade por fator masculino está presente em até 50% dos casais inférteis de forma isolada ou associada a fatores femininos. O Fertilitat conta com unidade de excelência, com tecnologia de ponta e profissionais altamente qualificados para tratar estas alterações.

A criopreservação permite armazenar material biológico, incluindo óvulos, espermatozoides, embriões e tecidos ovariano e testicular, para serem utilizados futuramente, sem que percam suas propriedades. É uma técnica segura, e o material armazenado não tem prazo de validade, podendo ser utilizado muito tempo após a criopreservação.

Unidade de Pesquisa

Seguindo a evolução da ciência e o pioneirismo sempre marcante na trajetória do Fertilitat, a clínica desenvolve importantes pesquisas e produção científica em diversos segmentos da reprodução assistida.

A endometriose afeta 10% das mulheres em idade reprodutiva, e de 30 a 50% delas terão dificuldade de conceber. Por este motivo, o Fertilitat criou esta unidade específica para tratar dessa importante doença.

A fertilização in vitro é uma técnica de reprodução assistida em que a fertilização ocorre em laboratório. A inseminação do óvulo pode ser feita com a colocação de um grande número de espermatozoides (50 a 100 mil) em torno do óvulo, ou pela introdução de um único espermatozoide no interior do óvulo - técnica conhecida como ICSI. 8

Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

A unidade trabalha com técnicas endoscópicas utilizadas no diagnóstico e no tratamento da infertilidade, como a videolaparoscopia e a vídeo-histeroscopia, que possibilitam procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos.

O acompanhamento genético reprodutivo contribui para oportunizar escolhas mais adequadas a casais com risco aumentado de anormalidades para a prole. O diagnóstico pré-implantacional executado pela equipe do Fertilitat consiste na identificação de anormalidades genéticas de embriões antes de sua transferência para o útero, ou seja, antes do estabelecimento da gravidez.

A realização do sonho de ter filhos pode se tornar real até mesmo para pacientes oncológicos, cujo tratamento leva à perda da função gonadal (dos ovários ou dos testículos). Por meio do congelamento de óvulos ou espermatozoides, este sonho pode tornar-se realidade após o tratamento contra o câncer. Oncofertilidade é o termo que tem sido utilizado para designar as ações de preservação de fertilidade em pacientes oncológicos.

A infertilidade é um acontecimento que, na maioria das vezes, gera um profundo sofrimento. Por essa razão, o apoio emocional é parte integrante do tratamento de infertilidade, sendo direcionado a todos os casais em atendimento no Fertilitat, objetivando proporcionar segurança e equilíbrio emocional nas diferentes etapas do processo de reprodução assistida.

Além do espermograma, que é o estudo qualitativo e quantitativo dos espermatozoides, esta unidade se dedica também às avaliações complementares de investigação do fator masculino. Além disso, o Ferti Sperm é responsável pelo preparo do sêmen que será utilizado nos processos de inseminação artificial ou para a fertilização in vitro.


jefferson bernardes

Artigo

Altas taxas de gravidez utilizando ciclo natural João Michelon | Ginecologista

A

medicina reprodutiva vive em constantes desafios para buscar resultados cada vez melhores. Não basta, apenas, ter altas taxas de fertilização ou clivagem embrionária, queremos gravidez. Da mesma forma, não só um teste positivo, mas gravidez clínica, aquela que podemos ver embrião e batimentos cardíacos ao ultrassom. Mais que tudo isso, o “bebê em casa” é o apogeu, que interessa a todos. O bom prognóstico reprodutivo depende, na essência, de um bom embrião e da receptividade endometrial. Por vezes, a janela de implantação (pequeno período de receptividade para a nidação do embrião no útero) pode ser modificada por inúmeros fatores no processo de fertilização e comprometer as taxas de sucesso; saber identificar e manejar estes entraves é fundamental. A intensa ação hormonal durante a fertilização in vitro é uma das razões para desencadear alterações morfofuncionais que comprometem os resultados. Algumas publicações têm demonstrado que o endométrio preparado, fora do ciclo de estimulação ovariana, apresenta melhores taxas de gravidez e menos complicações materno-fetais.

quência, a transferência do(s) embrião(ões), conforme o estágio de desenvolvimento. Não há utilização de hormônios para preparo do útero. Tudo é “natural”. Nosso resultado global de gravidez clínica, com base nos primeiros 44 casos, foi de 72,7%. A taxa de implantação foi de 59,1%. A média de idade das pacientes foi de 34 anos, e o número máximo de embriões transferidos foram dois. Ao desdobrarmos os resultados com base no número de embriões transferidos, tivemos uma taxa de gravidez clínica de 52,9% quando transferimos apenas um embrião, e 85,2% quando transferimos dois embriões. Nesse caso, o índice de gemelaridade foi de 37%, considerado alto (o ideal é não ultrapassar 20%). As taxas de aborto e gravidez ectópica foram de 18,7% e 12,5% (também elevada), respectivamente.

Com base nos dados apresentados, não podemos catalogar esses resultados a todos os casais, indistintamente. A idade feminina e o histórico reprodutivo do casal são essenciais para Embrião no estágio consignar a indicação do método. Ende blastocisto. tretanto, o desempenho reprodutivo usando o ciclo natural é animador e promissor. Há que se ter ouNós, do Fertilitat, temos criado uma interessante exsadia para intervir menos, facultar a onipotência da tecnoperiência, com resultados de gravidez excelentes, transfelogia e permitir a mediação da natureza. O uso da alta tecrindo embriões em estágio de blastocisto, previamente nologia associada à simplicidade da natureza parece revecongelados, em ciclos naturais. A técnica prevê o acomlar o melhor caminho na busca do “bebê em casa”. panhamento da ovulação espontânea da mulher e, na se-

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Artigo

jefferson bernardes

Infertilidade e estilo de vida Ana Luiza Berwanger | Ginecologista

S

abe-se que a fertilidade de um casal depende da perfeita harmonia entre vários aspectos, dentre eles, hormonais e anatômicos. Um estado da saúde geral adequado, porém, também se mostra condição essencial para que a concepção ocorra, e a gestação evolua de maneira segura e adequada. O estilo de vida, envolvendo questões como tabagismo, alimentação e estresse, é apontado e questionado como um dos possíveis fatores que podem dificultar o plano de ter filhos. Alguns desses fatores são discutidos a seguir. Tabagismo: o consumo de tabaco é conhecido como causa de subfertilidade, tanto feminina quanto masculina, sendo apontado como fator principal em até 13% dos casais inférteis (1). Nas mulheres, o tabaco tem sido associado a alterações nas trompas e no muco cervical, dano aos óvulos, aborto espontâneo e gestação ectópica (2). Relacionase também a uma diminuição prematura do pool folicular dos ovários e ao seu envelhecimento precoce. Já no homem, o cigarro pode ser responsável por diminuição de até 20% na concentração e 15% na motilidade espermáticas (3). Uma preocupação em especial é o fato de que as alterações causadas pelo cigarro não podem ser anuladas por métodos de Reprodução Assistida. Acredita-se que esses efeitos deletérios possam ser revertidos após 1 ano livre do cigarro.

Peso: tanto o excesso quanto a falta de peso são associados à diminuição da fertilidade. Um IMC (índice de massa corporal) entre 17,5 e 25 kg/m2 é considerado ideal para os casais que estão tentando gestar. Em mulheres obesas a redução de peso tanto cirúrgica quanto não cirúrgica mostrase comprovadamente benéfica (4). Um IMC alto parece levar à hiperinsulinemia e ao excesso androgênico, alterando o funcionamento ovariano. Um peso insuficiente também pode dificultar na ovulação. Igualmente, no homem, o excesso de peso associa-se a um estado hormonal inadequado. Uso de álcool: a quantidade exata segura para uso de álcool no período da concepção ainda não foi estabelecida, mas acredita-se que < 2 taças/dia de bebidas não destiladas não se associe à diminuição da fertilidade (5,6). Por outro lado, a abstinência alcoólica é recomendada durante toda a gestação, incluindo as primeiras semanas.

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Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

Dieta: em casais saudáveis, não há evidências fortes de que uma dieta específica seja associada à melhora da fertilidade (6), exceto em casos de doença celíaca (intolerância total ao glúten) não diagnosticada. Por outro lado, o glúten tem sido associado a processos inflamatórios diversos, o que poderia influenciar na concepção (7). Em alguns estudos observacionais, mostrou-se que a “dieta da fertilidade” mais apropriada seria aquela livre de gordura trans, rica em proteínas (principalmente de origem vegetal), baixo índice glicêmico, rica em laticínios e ferro (8-11). Apesar da falta de estudos adequados, é altamente recomendada, por tratar-se de uma alimentação saudável, favorecendo a homeostase glicêmica e insulínica. Estresse: estudos observacionais associam altos níveis de estresse à infertilidade; por outro lado, o diagnóstico e tratamento dessa condição, por si só, constituem-se em fatores geradores de estresse (6). Não há evidências estatísticas de que o estresse possa ser causador único da dificuldade de engravidar, porém, por estar normalmente envolvido no tratamento e por influenciar de forma importante a vida conjugal, medidas como acompanhamento psicológico, e a própria atividade física são recomendadas.



Especial 20 Anos

A vida colhida na origem F oi como um parto preliminar antes do parto definitivo: o médico extraiu do pai a matéria-prima da vida, a se-

mente que, depois, juntar-se-ia ao gameta feminino e, fecundada, seria transferida para a mãe. Assim, há 20 anos, o urologista Cláudio Telöken gravou mais uma marca na

cronologia de pioneirismos do Fertilitat. Pela primeira vez no sul do país, um espermatozoide extraído diretamente do testículo produziu um embrião, a gravidez e, finalmente, um bebê. Um ano antes, em 1994, Telöken já havia se tornado o primeiro médico na América Latina a possibilitar uma gravidez por espermatozoide extraído do epidídimo (duto que coleta e armazena os espermatozoides produzidos nos testículos). Em ambos os casos, o Fertilitat seguiu de perto as inaugurações mundiais dessas técnicas, posição de vanguarda que não veio por acaso. “Eu tinha recém-voltado dos Estados Unidos e estava familiarizado com o assunto. Trabalhei na Cleveland Clinic, Wayne State University, Dallas University, sempre estudando disfunções sexuais e infertilidade. Tinha o problema de impor-

quer reverter: aí houve obstrução, então podemos revertê-la ou buscar no epidídimo. Essa é a diferença fundamental”, explica Telöken.

tar instrumental, o que era mais difícil na época, mas o pessoal

Quando o paciente tem NOA, a chance de haver es-

estava decidido a fazer para valer”, lembra o doutor, mencio-

permatozoides no testículo é de aproximadamente 60%.

nando a estrutura diferenciada que encontrou na clínica.

Em 1995, bastou puncionar com uma agulha fina o testí-

O procedimento

culo para obter espermatozoides em um procedimento chamado TESA (Testicular Sperm Aspiration). Acoplada a

A técnica adotada para extrair espermatozoides depen-

uma seringa, a agulha perfurou o escroto e aspirou o flui-

de do diagnóstico. Se o paciente tem azoospermia não

do de dentro do testículo. Todo o procedimento, que con-

obstrutiva (NOA, ausência de espermatozoides no sêmen

ta com anestesia local, demanda menos de 30 minutos.

que não é causada por obstrução dos canais pós-testiculares), significa que a “matéria-prima” parou na fase de “produção”, e não de “transporte”. Em 1994, a coleta a partir do epidídimo foi possível porque havia obstrução, mas na cirurgia de 1995 detectou-se NOA, sendo necessário aspirar espermatozoides diretamente do testículo. “O espermatozoide é produzido dentro do testículo, mas de lá não sai. É diferente do sujeito que, por exemplo,

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faz vasectomia e

Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

Os espermatozoides coletados foram, depois, injetados em laboratório nos óvulos da futura mãe, ao que se seguiu a transferência dos embriões para o útero. O sucesso do TESA relevou que o espermatozoide não precisava transitar pelo epidídimo para estar em condições de fertilizar o óvulo. Entre as vantagens dessa técnica, está a pronta recuperação do paciente, que, logo após o procedimento já pode voltar para casa.


Atualização constante Desde 1995, novas técnicas apareceram para dar conta

“A única resposta era adotar uma criança. Abriu-se uma

de casos mais graves. A TESE (Testicular Sperm Extraction)

janela para mostrar para o mundo médico que tu podes

envolve a abertura do escroto e do testículo, de cujo inte-

ajudar o casal na obtenção de prole saudável. Quebraram-

rior são retirados fragmentos onde estão localizados os ga-

se alguns paradigmas. Quem não tinha espermatozoide

metas. Mais recentemente, descobriu-se que as porções

ou tinha apenas um testículo bom entrava automaticamen-

esbranquiçadas dentro dos testículos são propensas a hos-

te na fila da adoção. Agora não. Vais ter filho. Se não tens

pedar espermatozoides, encaminhando o desenvolvimento

espermatozoide, nós vamos procurar”, diz Telöken, acres-

da MICROTESE, que, com a ajuda de um microscópio, per-

centando que, hoje em dia, poucos homens não terão pro-

mite uma operação menos invasiva e mais profícua.

le, a não ser em casos sindrômicos, retirada de ambos os

É costumeiro, para o urologista, ter de explicar que essas cirurgias não comprometem a ereção, um medo que Telöken identifica como típico dos latinos. “É um pouco

testículos ou pacientes que tiveram tumores e fizeram tratamento de quimio ou radioterapia sem antes armazenar o ejaculado.

diferente nos outros países. O homem latino, quando se

O sucesso daquelas primeiras cirurgias também mobi-

trata da genitália, logo demonstra o temor de perder libi-

lizou um aumento da demanda na área. “Também abriu

do. Então temos que explicar fisiologia, que há pessoas

portas para as pessoas se conscientizarem de que, não

que nascem sem um testículo e nem por isso têm o dese-

obstante a ausência de espermatozoides, elas podem ter

jo sexual comprometido”, conta o médico, ressaltando que

paternidade e maternidade. No passado, até separações

o importante seria se preocupar com questões relaciona-

ocorriam por conta disso. Hoje não. Vamos ver e vamos

das ao estilo de vida.

tratar”, assegura Telöken.

De acordo com Telöken, a área de reprodução assistida exige atualização constante, e todos os anos é necessário sair pelo menos três vezes do país para acompanhar as inovações mundiais mais recentes. Fazer medicina no ritmo das pesquisas de ponta, em 1995, implicou desafiar convenções sociais que mudam a passos lentos.

jefferson bernardes

As pessoas se conscientizaram de que, não obstante a ausência de espermatozoides, elas podem ter paternidade e maternidade

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Especial 20 Anos

De olho na prevenção Para produzir um espermatozoide, o testículo demora 64 dias, mais 14 dias de “viagem” até a ejaculação. Ao longo dessas duas semanas de transporte, o esperma é bastante sensível, sofrendo influência de eventual consumo de drogas e até do estado psicológico do indivíduo. Os fatores de risco de infertilidade vão desde distúrbios do

as gerações estão cada vez mais conscientes da importância dos exercícios físicos. Confira o que evitar:

sono até exposição do escroto ao calor. Telöken repara

1. Sedentarismo

que, enquanto os pacientes têm relutado em aceitar o im-

2. Obesidade

pacto dos vícios na reprodução humana, em contrapartida

3. Distúrbios do sono (apneia, ronco) 4. Drogas (cocaína, maconha, crack) 5. Hormônios 6. Cigarro 7. Álcool (para prejudicar a espermogênese, basta um aperitivo diário de destilado, como cachaça, uísque ou vodka) 8. Sauna e banhos de imersão (o calor local é nocivo: o escroto encolhe com o frio e relaxa com o calor para permanecer 1,2°C abaixo da temperatura do corpo) 9. Depressão não tratada.

A paternidade também pode ser salvaguardada para pacientes com câncer. “Um indivíduo de 14 anos, por exemplo, que teve que retirar um testículo em função de um tumor, atualmente necessitará fazer radioterapia ou quimioterapia. É de bom alvitre colher, salvar material do testículo e guardar para ele poder ser pai no futuro, ainda que não é todo mundo que faz quimio ou radioterapia que não poderá ter filhos”, afirma o médico.

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Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva


jefferson bernardes

Artigo

Preservação da fertilidade em pacientes com câncer Alice Ribeiro | Embriologista

O

congelamento de gametas tornou-se uma técnica fundamental em reprodução assistida fornecendo a oportunidade de manter a saúde reprodutiva do paciente por tempo indeterminado. A criopreservação de oócitos em pacientes que desejam postergar a maternidade, ou com risco de uma menopausa precoce, é algo rotineiro em qualquer laboratório de reprodução assistida. Assim como o congelamento de sêmen é considerado um procedimento-padrão antes do paciente se submeter a uma vasectomia. Porém, pacientes com câncer se apresentam como os maiores beneficiários das técnicas de preservação da fertilidade. O alvo principal das terapias contra o câncer é a interrupção do ciclo celular, o que provoca graves defeitos no DNA e em seus mecanismos de replicação, podendo levar à infertilidade permanente. A radioterapia e quimioterapia possuem efeitos graves sobre a fertilidade masculina. Dependendo da dose de radiação e do tipo de agente quimioterápico, a concentração espermática pode ser alterada, havendo diminuição no número de espermatozoides no ejaculado ou até mesmo a paralisação da produção dos mesmos (azoospermia). Além da alteração na concentração espermática, o DNA dos espermatozoides também pode sofrer danos. Irradiações em determinada fase do ciclo celular induzem aberrações cromossômicas, diminuindo a capacidade de fertilização desses espermatozoides. Cirurgias relacionadas ao câncer de testículo e próstata também possuem um grande impacto na saúde reprodutiva do homem, podendo resultar na infertilidade permanente (quando há a retirada dos dois testículos) ou provocar graves perturbações na ejaculação, qualidade espermática e função erétil.

canismos, como o empobrecimento folicular, dano vascular, fibrose e alteração no ciclo menstrual. Atualmente, o método estabelecido para a preservação da fertilidade em pacientes do sexo masculino é a criopreservação dos espermatozoides em adolescentes e adultos. Em pacientes pré-púberes, a criopreservação de biópsia testicular é oferecida em alguns centros, mas a forma de utilização desse tecido no futuro é incerta. Em mulheres adultas, a criopreservação de oócitos é a opção preferida, enquanto para meninas pré-púberes a criopreservação de tecido ovariano com posterior reimplante é a única possibilidade; porém, essa técnica ainda é considerada experimental na maioria dos países. Pacientes que se submetem a tratamentos oncológicos possuem muitas incertezas quanto ao futuro, e a saúde reprodutiva é uma dessas questões. Assim, a criopreservação de gametas oferece aos pacientes opções reais de preservar a fertilidade, sendo de extrema importância que informações sobre opções e técnicas para a preservação da fertilidade sejam abordadas logo que um tratamento oncológico é indicado.

Nas mulheres, os danos causados pela radioterapia e quimioterapia também dependem da dose e do campo de irradiação, do tipo de agente quimioterápico e da idade da paciente. No entanto, sabe-se que a radiação pode ter um impacto negativo direto sobre a função ovariana e no útero através da alteração da vascularização, além de produzir uma perda de 50% da reserva folicular. Os agentes quimioterápicos afetam a função ovariana por vários me-

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Perfil

Ana Maria Puperi Bratkowski Gerente Administrativa

nquanto corre, Ana Maria escuta a cidade, calcula as distâncias, projeta-se à frente. É no jogo dos

jefferson bernardes

E

sons ambientes com a voz interior que a gerente administrativa do Fertilitat consegue vencer o cansaço e se superar a cada maratona. Às terças, quintas e sábados, Ana veste uniforme laranja e se junta aos mais de 100 atletas da equipe Perfect Run. Não se trata de mero passatempo: Ana disputou maratonas em cida-

quer coisa que vai me tirar do prumo. Mas é uma

des como Berlim e Miami, participou de revezamento

característica geral aqui na clínica: a eficiência tam-

para completar uma volta na ilha de Florianópolis e já

bém vem da persistência, da tenacidade”.

percorreu 42 km sem parar para descansar.

A corrida pode ser solitária, mas o progresso

Por isso, faz todo sentido quando, ao elencar a sua

depende do time: sem a parceria do marido e

maior virtude como profissional, Ana pense um pouco no

dos amigos “laranjinhas”, diz Ana, seria fácil de-

assunto e responda: “Sou muito persistente. Não é qual-

sistir no meio do trajeto. Formada em Pedago-

Sou muito persistente. Não é qualquer coisa que vai me tirar do prumo. Mas é uma característica geral aqui na clínica: a eficiência também vem da persistência, da tenacidade

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Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva


gia e pós-graduada em Administração de Recursos

sa. Admiro profundamente as pessoas que têm a

Humanos, Ana traz essa valorização das relações

medicina como vocação. Embora, administrativa-

interpessoais também para o Fertilitat, onde traba-

mente, eu fique na retaguarda, acabo acompanhan-

lha desde 1997. “É como uma família. Desde o iní-

do muito, e me fascina interagir e crescer em con-

cio são as mesmas pessoas, todo mundo se conhe-

tato com pessoas e histórias diferentes. Dentro de

ce. É esse padrão que forma o conjunto da obra”,

um sonho, tanto a cirurgia quanto a questão finan-

conclui, exaltando a disposição permanente dos

ceira têm peso, e são ambas delicadas.”

médicos do Fertilitat em ensinar as minúcias da lida científica aos demais funcionários.

Por isso, assim como os médicos se tornam integrantes de muitas novas famílias, Ana também

Natural de Guaporé, Ana veio para Porto Ale-

percebe o reconhecimento dos pacientes. “É uma

gre fazer o Ensino Médio no Colégio Estadual Júlio

realização imensa. O investimento emocional das

de Castilhos, de onde saiu para a faculdade e a pós.

pessoas é muito grande, e é tão bom lembrarem

Depois de 15 anos no Banrisul, decidiu que era ho-

de ti com carinho! Não é o que chamam de traba-

ra de ir viajar: foi para Roma, rodou a Itália e, de

lho ‘vazio’, em que tu não te aproprias do que tu

volta ao Brasil, agarrou a oportunidade de trabalho

fazes. Aqui é ao contrário.”

na clínica. “Sempre achei a área médica maravilho-

Ana acredita que seria uma excelente mãe caso tivesse filhos. “E a vida é tão grande, tu nunca sabes o que vai te acontecer. As pessoas acham que ‘agora deu’, ‘não tem saída’, ‘passou do tempo’, e, de repente, tudo muda, a vida se abre de outra forma.” Há sempre uma rota para cada sonho. Ana ensina não apenas com conquistas próprias, mas também construindo pontes entre diversos casais e uma vitória que parecia impossível alcançar. Mesmo no escasso tempo longe da clínica e do asfalto, Ana segue a passadas largas: na cabeceira, os livros vão do maratonista Haruki Murakami até José Saramago, em que a leitura não tem atalhos e é cheia de esquinas. Mas nem sempre Ana vence o percurso. Depois de uma jornada de trabalho mais corrida, às vezes bate o sono, o olho pesa, e um filme fica assistido pela metade: porque os atletas, por mais persistentes que sejam, também merecem descansar de vez em quando.

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Especial

4 mil vezes a vida O Fertilitat em gestação: da luta para fazer ciência até as vitórias de mais de 4 mil bebês

C

omeçou modesto, equipado pela mão de obra dos doutores Alvaro Petracco e Mariangela Badalotti.

Quando não voltavam de viagens internacionais com novos conhecimentos e itens de laboratório estufando as malas, eles mesmos construíam os seus próprios instrumentos, sofisticados demais para um Brasil ainda no ocaso dos anos 80. De ousadia, engenho, suor e insônia, se fez uma clínica laureada com ciência e tecnologia de última geração. O Fertilitat já ajudou no nascimento de mais de 4 mil bebês. Na biografia do Fertilitat, os primeiros capítulos evocam paradoxos típicos desse germinal da medicina reprodutiva: de um lado, delicadeza, perícia e excelência técnica; de outro, persistência, força de vontade e paixão.

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Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

De um lado delicadeza e excelência, de outro persistência e paixão


– Segurar um óvulo e injetar um espermatozoide dentro ou retirar uma célula do embrião para que seja examinada, bem como congelar óvulos ou embriões, é tecnologia extremamente sofisticada, que utilizamos rotineiramente de um jeito especial, do nosso jeito, com carinho e atenção. É um trabalho extremamente técnico, mas envolto por muito afeto. A infertilidade sensibiliza, ela nos fisgou des-

De lá para cá O primeiro bebê de proveta nasceu em 1978, deixando a comunidade médica do mundo inteiro “estarrecida”, nas palavras do ginecologista: – Estávamos entusiasmados com a possibilidade de tratar efetivamente a infertilidade conjugal, relembra.

de a faculdade, e acho que os pacientes sentem a nossa

Naquele período, precisávamos passar por uma fase

preocupação, o nosso querer de verdade. Nessa área, a

experimental e com apoio de vários setores já estabeleci-

gente não imagina que possa ser diferente, afirma Marian-

dos do Hospital, fomos aprender a identificar óvulos, pre-

gela Badalotti, diretora do Fertilitat.

parar os espermatozoides e aprender sobre as condições

Não por acaso, mantemos alto índice de pacientes referenciados por seus médicos, ou encaminhados por amigos que já foram nossos pacientes.

de fertilização. Em 1986, convidado a ir a Sorrento (Itália), Petracco decidiu encontrar Mariangela, que usufruía de uma bolsa de

– Isso traduz uma identidade muito particular da clínica:

estudos na Europa. Ficou combinado que ela iria para Bo-

como a gente trata, como a gente cuida do casal, dos es-

logna se especializar em fertilização in vitro. De volta ao Bra-

permatozoides, dos óvulos e dos embriões. Tudo é checa-

sil, Mariangela turbinou o patrimônio científico do grupo.

do duplamente. duplamente. Se um embriologista está trabalhando, observando um óvulo, por exemplo, tem outro embriologista atrás, checando o processo. O cuidado, o controle de qualidade, tudo isso é fundamental para os nossos resultados, explica Alvaro Petracco, diretor do Centro.

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Especial

– Quando ela voltou, com suporte do hospital, a gente montou um laboratório pequeno, extremamente humilde na época. Uma pequena equipe já se articulava, ocupando o bloco cirúrgico nas madrugadas – a direção do hospital apoiava a empreitada, contanto que não alterasse a rotina

Ao se tornar referência internacional em reprodução assistida, a clínica cada vez mais atrai pacientes de todos os cantos do Brasil e do mundo

diária do hospital. A fertilização in vitro ainda estava mergulhada em brumas de desconfiança. Havia algo de misterioso, quiçá até místico, rondando o imaginário acerca do tema, recorda Petracco. – Fazíamos tudo: meio de cultura, cuidávamos da incu-

Mariangela foi aos Estados Unidos e voltou com o material

badora como se enfermo fosse, transnoitávamos cuidando

que manteve o Fertilitat na vanguarda mundial da área. A

da temperatura e controle de gases necessários para que

aquisição foi possibilitada pelo mecenato de um paciente.

a fertilização acontecesse a contento. As agulhas necessárias para injetar o espermatozoide no óvulo, por exemplo, não existiam prontas. São agulhas extremamente finas, e era a dra. Mariangela que fazia, noite adentro, como um ourives. Quebravam-se várias pipetas para obter uma mísera agulha. Hoje se importa todo este material pronto, destaca o médico. – Os meios de cultura eram feitos artesanalmente. A gente tinha que ir buscar água ultrapura. Para isso, esterilizávamos garrafões de vidro, porque não podíamos usar plástico: apenas metal ou vidro. Tudo isso era absolutamente empírico, conta o ginecologista. Isso sem falar nos infortúnios da burocracia: aqui era uma alfândega que retinha remédios; ali eram leis protecionistas que impediam a importação de eletrônicos; acolá vinham equipamentos monumentais trazidos “nas costas”, direto do exterior. – Começamos a nos desenvolver de forma mais sustentada do ponto de vista técnico e, em seguida, tivemos o primeiro resultado. A gente se atirou de cabeça nisso, lembra o diretor da clínica. O primeiro bebê de laboratório do Rio Grande do Sul, nascido em 23 de fevereiro de 1989, deu à luz a primeira grande recompensa de Alvaro Petracco, pois ali nascia, nomeado em sua homenagem, Álvaro Luis Gonçalvez Santos.

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– Havia tecnologia e havia pacientes, mas nós não tínhamos dinheiro. O valor dos equipamentos era exorbitante, uma fortuna. E nós ainda fazíamos plantão para sobreviver. Aí um paciente disse: ‘Eu pago para vocês, dou de presente o equipamento’, conta Petracco. Ao lado dessa atmosfera exploratória, tempero agridoce de todo empreendimento precursor, os tempos de agora poderiam parecer calmos, mas os sucessivos êxitos vieram lançando desafios novos na história do Fertilitat. Ao se tornar referência internacional em reprodução assistida, a clínica cada vez mais atrai pacientes de todos os cantos do Brasil e do mundo. – Acho que isso se deve, primeiro, à desmistificação do processo em si, e, segundo, ao resultado positivo da tecnologia. A desmistificação fez com que os pacientes conversassem mais entre si, o que também motiva esse aumento significativo da demanda, avalia o dr. Petracco. De acordo com Mariangela, outra questão a ser observada é comportamental: o progressivo adiamento da maternidade, que vem acompanhado pela redução aguda das chances de gravidez (16,6% para um casal jovem, entre 8% e 12% aos 40 anos, em torno de 5% aos 43). – Quando eu me formei, nos idos dos anos 80, uma gravidez depois dos 35 anos era vista com preocupação. A mulher, nesse caso, era considerada uma grávida idosa.

Na sequência, em meados de 1992, foi publicado o pri-

Hoje, esse tipo de discurso é de extremo mau gosto. As

meiro caso de gravidez com a injeção do espermatozoide

mulheres já não precisam ter aquele medo de uma gravi-

diretamente no óvulo. Em dezembro do mesmo ano, a dra.

dez aos 40 anos, observa a ginecologista.

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A educação fertilizada O diretor da clínica aponta e sublinha: nas portas do

– Chegamos a esse número de mais de 4 mil bebês, mas

Fertilitat não se apregoam os nomes de nenhum médico,

o retorno de gratificação é infinito. Quando começou a fer-

pois temos a mais absoluta certeza que essa é uma ciência

tilização in vitro, a chance de dar certo, global, era de 5%

de Equipe.

ou menos. Com o avanço da técnica, hoje a paciente com

– A gente busca sempre manter a induvidualidade da relação médico-paciente, a obrigatoriedade da atualização científica e as chamas da pesquisa e da assistência acesas em todo o grupo, sem exceção, diz Petracco. – O fato de todas as sextas-feiras nos reunirmos ao redor de uma mesa faz com que a gente se mantenha, realmente, uma equipe, acrescenta Mariangela, em menção às reuniões científicas semanais do time. A harmonia entre o todo e as partes, trazida desde o berço, permitiu ao Fertilitat se consolidar como referência e, como corolário inevitável do renome, multiplicar aos milhares as vidas sopradas. A via desse vento, entretanto, é de duas mãos.

menos de 35 anos já tem 50% de chances. Não é fantástico?, pergunta a dra. Mariangela, pouco antes de repassar um fio de memória. – Há alguns dias veio um aluno conhecer a clínica. Um aluno aqui da faculdade que veio nos visitar porque foi resultado de fertilização, do nosso trabalho. Isto é o que nos move, é a ciência aplicada à vida. Somados todos os bebês nascidos em virtude do trabalho do Fertilitat, já seria possível preencher as mais de 4 mil vagas para alunos de pós-graduação na PUCRS, incluindo cursos de especialização. Não é fantástico?

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Fazendo Ciência

Congresso na Espanha O ginecologista e diretor do Fertilitat, Alvaro Petracco, e a embriologista Lilian Okada estiveram na Espanha para troca de experiências e aprimoramento na área da reprodução assistida. Os especialistas participaram do 6º Congresso Internacional do IVI (6th IVI International Congress), em Alicante, que ocorreu entre os dias 23 e 25 de abril de 2015. O evento é uma referência na área e reúne cerca de mil profissionais que se destacam em diversos países. Arquivo

Arquivo

Rafaella Petracco é premiada em congresso mundial na França

A ginecologista do Fertilitat Rafaella Petracco foi premiada no 20º Congresso Mundial de Controvérsias em Obstetrícia, Ginecologia e Infertilidade (COGI). O evento reuniu especialistas da área em Paris (França), entre os dias 4 e 7 de dezembro de 2014. A tese de doutorado de Rafaella, “Diminuição da expressão do miRNA 135 na fase secretora do ciclo menstrual em pacientes com endometriose”, foi reconhecida pelo júri científico e agraciada com o prêmio de melhor trabalho do congresso. “O estudo evidencia novidades do ponto de vista das causas genéticas da endometriose e podem servir, no futuro, para o desenvolvimento de ferramentas terapêuticas”, explica.

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26º Congresso Brasileiro de Reprodução Humana Os profissionais do Fertilitat participaram de diversas palestras, mesas-redondas e cursos durante o 26º Congresso Brasileiro de Reprodução Humana, que ocorreu entre os dias 6 e 8 de novembro de 2014, em Porto Alegre/RS.

rência “O que há de novo em preservação da fertilidade”, ministrada pela especialista espanhola Marta Devesa Rodríguez de La Rúa, professora do Institut Universitari Dexeus, de Barcelona (Espanha). O urologista Claudio Telöken, os ginecologistas Adriana Arent, João Michelon e Rafaella Petracco, a geneticista Maria Teresa Sanseverino, a psicanalista Débora Farinati, o diretor do Laboratório de Embriologia, Ricardo Azambuja, e os embriologistas Lilian Okada, David Kvitko, Alice Tagliani Ribeiro e Virgínia Reig também representaram o Fertilitat em palestras e cursos do evento. foto rocha

A então presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana e diretora do Fertilitat, Mariangela Badalotti, foi a anfitriã do evento, que reuniu cerca de 1,5 mil profissionais do Brasil e do exterior. A extensa programação contou com 150 professores e 19 especialistas estrangeiros. O diretor da clínica, Alvaro Petracco, presidiu a confe-

Simpósio de Atualização em Ginecologia A diretora do Fertilitat, Mariangela Badalotti, participou, entre os dias 14 e 16 de maio, do XII Simpósio Franco-­ Brasileiro de Atualização em Ginecologia, realizado em Natal/RN. Mariangela ministrou uma aula sobre o tema “Mulher no século XXI: até quando retardar a maternidade?”. A ginecologista também palestrou sobre a “Avaliação da reserva ovariana: papel do AMH e outros marcadores”. O Simpósio, que contou com a coordenação científica do diretor do Fertilitat, Alvaro Petracco, foi realizado pelo Instituto Leide Morais.

Fibrose cística A geneticista Maria Teresa Sanseverino, consultora em Genética do Fertilitat, fez parte da programação científica do V Congresso Brasileiro de Fibrose Cística, em Gramado/RS. No dia 22 de abril, a médica palestrou sobre o gene CFTR, no módulo Aspectos Genéticos da Fibrose Cística Parte I. A mutação desse gene, que regula algumas funções celulares no corpo humano, é a causadora da doença. Já no dia 23, Maria Teresa coordenou a oficina interativa sobre fertilidade e aconselhamento genético em Fibrose Cística.

Diretores e embriologistas do Fertilitat

Arquivo

Especialistas apresentam trabalhos no Peru A diretora Mariangela Badalotti e a embriologista Virgínia Reig apresentaram dois trabalhos do Fertilitat durante o 12º Congresso Geral da Rede Latino-Americana de Reprodução Assistida, em Lima (Peru). Entre os dias 26 e 28 de março, as especialistas exibiram em pôster as pesquisas “Determinação da carga viral no sêmen de pacientes submetidos a ICSI” e “Experiência utilizando vitrificação de oócitos em reprodução humana assistida”.

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Fazendo Ciência

Fertilitat participa de congresso de reprodução humana na Europa jefferson bernardes

Os ginecologistas João Michelon e Fernando Badalotti e a psicanalista Débora Farinati participaram, entre os dias 14 e 17 de junho, do Congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE), em Lisboa (Portugal). O evento é o mais importante da área na Europa. No encontro, os especialistas apresentaram um trabalho científico da equipe em formato de pôster. A pesquisa “Resultados de screening genético pré-­implantacional realizados em mulheres com 40 anos ou mais” avaliou as análises genéticas dos embriões de pacientes com idade materna avançada, que se submeteram à fertilização in vitro. O estudo analisou 155 embriões, de 40 ciclos de biópsias embrionárias, de pacientes com idade média de 41,9 anos, entre junho de 2012 e novembro de 2014.

Arquivo pessoal

A taxa de gestação observada foi de 53,8%. Os dados confirmaram a alta incidência de aneuploidias em mulheres com 40 anos ou mais. Quando essas pacientes apresentaram embriões cromossomicamente normais para serem transferidos, a taxa de gestação foi similar a pacientes de 30 anos. Os resultados mostram que, embora a técnica de screening genético não melhore a taxa global de gravidez, ela pode diminuir os abortos por aneuploidias, beneficiando pacientes com idade materna avançada.

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Fertilitat expõe pesquisa em conferência nos Estados Unidos A geneticista Maria Teresa Sanseverino apresentou um trabalho científico realizado pelo Fertilitat durante a 14ª Conferência Internacional de Diagnóstico Genético Pré-Implantacional, em Chicago (Estados Unidos). A pesquisa “Triagem pré-­i mplan­­­ tacional para alterações cromossômicas (PGS) através da comparação genômica por hibridização de microarranjos” (técnica que busca identificar os embriões sem alterações cromossômicas para aumentar o sucesso das fertilizações) foi exposta em pôster durante o evento, que ocorreu entre 11 e 13 de maio.


Laboratório em sintonia com a ciência de ponta

jefferson bernardes

No mesmo prédio em que fica localizada a clínica, é no laboratório do Fertilitat que ocorre a retirada de óvulos das futuras mães e a fertilização in vitro. O material é mantido em estufas e incubadoras, com meio de cultivo adequado. O desenvolvimento dos embriões passa por cuidadosa observação. Óvulos e sêmen destinados ao congelamento são transferidos. Células são retiradas para biópsia embrionária, em uma avaliação que permite auferir a composição genética do embrião.

– É um trabalho meticuloso, que garante que o laboratório ofereça as melhores condições para o casal ter a gravidez, desde o cuidado com cada equipamento, controles e meios de cultivo, tudo o que entra em contato com esse material, esclarece Ricardo Azambuja, diretor do laboratório. Além da afinação perfeita de cada instrumento nessa orquestra tecnológica, não existe passo, por minúsculo que seja, que passe desacompanhado pela observação atenta de pelo menos um segundo profissional. O dinamismo das descobertas na área também se faz sentir no andar térreo do Fertilitat. Avanços científicos e tecnológicos tendem a redundar em aumento na demanda da clínica e, por consequência, mudanças no ambiente de trabalho de Ricardo, cujos colegas vieram crescendo em número: de zero para os atuais cinco. – Em relação ao ano anterior, sempre mais pacientes vêm fazer procedimentos. Adaptamos a estrutura com a contratação de mais pessoas e, cada vez que incorporamos uma técnica diferente, é mais um trabalho adicionado ao laboratório. Não basta se manter atualizado em leituras, em ciência. É preciso também investir em equipamentos, treinamento, pessoas. Existe um investimento em todos aqui, tanto na área médica quanto no laboratório, porque são setores que não funcionam sozinhos, observa. edição nº 9

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Fazendo Ciência

Somente nos últimos meses, os estudos em reprodução assistida alcançaram duas façanhas que ganharam manchetes em todo o mundo. Em Toronto, no Canadá, um bebê nasceu a partir de um método que promete possibilitar a gravidez de mulheres com disfunções nos óvulos. A técnica envolve a remoção das mitocôndrias de células-tronco retiradas do ovário. A premissa é de que mulheres de idade mais avançada apresentam óvulos de pior qualidade por terem pouca energia. Um experimento feito décadas atrás retirou, de uma paciente jovem, mitocôndrias (estruturas que produzem energia para as atividades da célula) que foram injetadas, em seguida, no óvulo da paciente mais velha. Deu certo, mas envolveu os DNAs de três pessoas (duas “mães” e um pai), o que não foi autorizado. A diferença é que, nesse caso recente, não existe uma terceira origem de DNA mitocondrial, explica Ricardo.

“Homens que, por alguma deficiência, não conseguem produzir nenhum espermatozoide e têm apenas as células primordiais (espermatogônias) serão, finalmente, contemplados. Poderemos abranger uma outra área de dificuldades”, comemora Ricardo. O embriologista estreou no laboratório do Fertilitat em 1999, cinco anos depois de completar um Doutorado em Fisiologia da Reprodução na Texas A&M University, Estados Unidos. Na bagagem, vinha a experiência de acompanhar de perto o desenvolvimento de novas técnicas de fertilização in vitro, o que se provaria um trunfo no laboratório de uma clínica sempre em harmonia com a vanguarda da ciência. nabor goulart

jefferson bernardes

Agora, são necessários mais informações e testes para que a descoberta seja ratificada e considerada segura. Caso o procedimento vingue, o embriologista prevê que um grande número de mulheres irá se beneficiar, especialmente aquelas com mais de 39 anos, com menor produção de óvulos.

A segunda façanha vem da França e traz boas notícias para homens que não apresentam produção de células reprodutivas: a companhia Kallistem alega ter criado espermatozoides in vitro a partir de células “imaturas”. De acordo com a empresa, a pesquisa “abre caminho para terapias inovadoras para preservar e restaurar a fertilidade masculina, um problema real na sociedade global, onde observamos há 50 anos uma diminuição de 50% na contagem de esperma”.

jefferson bernardes

Novas pesquisas

Ricardo Azambuja, diretor do laboratório de embriologia

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jefferson bernardes

Artigo

O papel da enfermagem na reprodução assistida Juliana Lanziotti | Enfermeira

G

rande parte dos casais que procuram pela investigação da infertilidade e a possibilidade de um tra-

tamento para engravidar deixou para mais tarde o sonho da realização do desejo de conceber um filho. Um dos principais fatores é a decisão de desenvolver uma carreira profissional antes de aumentar a família. Outros fatores

com a assistência prestada, diminuindo o medo e a ansiedade. O comportamento do enfermeiro e dos técnicos de enfermagem, e também de todos os outros profissionais envolvidos, com relação aos pacientes e familiares, baseiase no respeito, na compreensão do complexo e delicado momento e na preservação dos seus direitos e sigilos.

como disfunções hormonais, endometriose, SOP, seque-

Os profissionais da enfermagem têm um papel funda-

las de DSTs, os fatores genéticos, o uso de drogas, podem

mental no tratamento do casal infértil. São importantes

acometer os casais com dificuldades para engravidar.

pela sua participação em todo o processo, desde a entra-

A incerteza do tratamento gera medo, angústia e ansiedade, deixando os envolvidos com muitos questiona-

da no serviço, durante o tratamento até a alta para o obstetra iniciar o pré-natal.

mentos e incertezas. Para o sucesso do tratamento de re-

Por ser um momento muito estressante na vida do ca-

produção humana assistida, é fundamental que haja o ca-

sal, no período em que antecede o exame de B-HCG o

rinho, o respeito e a dedicação dos profissionais envolvidos

enfermeiro mantém um contato mais próximo com eles,

e que estes estejam preparados para lidar com questões

diminuindo a ansiedade e colaborando para que todo o

emocionais e sociais, peculiares de cada casal.

tratamento transcorra de maneira natural.

Segundo Badalotti, Petracco e Teloken, “a infertilidade não é um tema comum, tampouco é fácil de trabalhar. É um tema forte e mobilizador, que sacode estruturas e desperta vários tipos de ansiedade, nem sempre detectadas ou reconhecidas por parte dos profissionais”. Frente a isso, durante o processo de investigação da infertilidade, juntamente com os demais integrantes da equipe multiprofissional, é de suma importância que o enfermeiro e os técnicos de enfermagem que acompanham e participam em tempo integral do desenvolvimento desse processo com o casal estejam treinados e capacitados adequadamente para oferecer o suporte necessário do início ao fim do tratamento. Para alcançar melhores resultados, é essencial a união e a integração de toda a equipe de saúde (médicos, embriologistas, enfermeiro e técnicos de enfermagem) aliada à ciência e ao conhecimento, transmitindo ao casal em investigação e em tratamento mais segurança e confiança

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Vida Acadêmica

Tempo de amamentação aumenta inteligência e renda futura dos bebês

J

á é lugar-comum lembrar que o leite materno protege o

“A amamentação está associada ao aumento de perfor-

bebê contra diversas doenças e alergias, mas uma pes-

mance em testes de inteligência 30 anos depois, e pode ter

quisa publicada em março deste ano acaba de apontar que

um efeito importante na vida real, ao aumentar o desempe-

não só a saúde, como também a educação começam no

nho escolar e a renda na idade adulta”, conclui o time de

ato de amamentar.

pesquisadores, ressaltando os efeitos tanto individuais quan-

Em um estudo de fôlego que monitorou 3.493 indiví-

to sociais do aleitamento materno.

duos ao longo de três décadas, pesquisadores da Univer-

Para se certificar de que os resultados mantinham elo

sidade Federal de Pelotas (UFPel) identificaram que crian-

com a amamentação, os cientistas monitoraram outras dez

ças amamentadas por pelo menos um ano obtiveram, aos

variáveis com possível influência, como a renda familiar ao

30 anos de idade, quatro pontos a mais em testes de Q.I.

nascimento, o grau de escolaridade dos pais, ancestralida-

e vantagem de cerca de R$ 350 na renda mensal em rela-

de genômica, tabagismo materno durante a gravidez, idade

ção aos participantes submetidos a apenas um mês de alei-

materna, peso ao nascer e tipo de parto.

tamento materno.

Também constatou-se que os níveis de amamentação no

Os dados se destacam por sugerir que o tempo de ama-

Brasil não variavam de acordo com a classe social das mães, ou

mentação tem incidência de longo prazo sobre a constitui-

seja, quem se deu melhor na vida adulta não necessariamente

ção da inteligência e a renda futura dos recém-nascidos.

provinha de berços mais privilegiados economicamente.

Iniciado em 1982 e coordenado pelos professores Cesar

Inicialmente, quase 6 mil participantes foram distribuí-

Victora e Bernardo Horta (ambos do Centro de Epidemio-

dos em cinco grupos de acordo com a duração do aleita-

logia da UFPel), o estudo foi publicado em uma das revistas

mento. No levantamento final, dentre os 3,5 mil adultos com

científicas mais importantes do mundo, The Lancet, sendo

acompanhamento completo desde o nascimento, todos

o primeiro internacionalmente a traçar relação direta entre

aqueles nutridos por mais tempo com leite materno apre-

amamentação e renda.

sentaram inteligência, escolaridade e renda superiores. Quan-

Esse foi também o primeiro estudo no Brasil a concluir pelo impacto da amamentação no Q.I., que seria explicado pela presença, no leite materno, de ácidos-graxos saturados de cadeia longa, essenciais para o desenvolvimento do cérebro.

to maior o tempo de aleitamento, maiores os benefícios.

Pátria amamentadora De acordo com levantamento do Ministério da Saúde com quase 120 mil crianças, o tempo médio do período de aleitamento materno no país cresceu um mês e meio, passando de 296 dias (1999) para 342 dias (2008). Ainda em 2008, 41% das mães brasileiras dedicavam os seis primeiros meses de vida do bebê à amamentação exclusiva, cumprindo recomendação da Organização Mundial de Saúde. Estima-se que esse índice já tenha aumentado em 10,2%. “Os impactos positivos mostrados pela pesquisa da Universidade de Pelotas são mais um motivo para o investimento contínuo do Ministério da Saúde, pensando no desenvolvimento pleno das crianças durante a vida”, afirma o coordenador de saúde da criança e aleitamento materno do Ministério da Saúde, Paulo Bonilha.

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Fertilitat no Facebook Casal esconde gravidez de gêmeos e filma a reação de amigos e familiares ao descobrirem o segredo Sharon e Korey Rademacher guardaram um grande segredo durante 9 meses. Os dois disseram que não revelariam aos amigos qual era o sexo do bebê... mas, na verdade, estavam escondendo algo bem maior: Sharon estava grávida de gêmeos. As reações de amigos e familiares que foram conhecer o(s) bebê(s) na maternidade ou até via Skype foram impagáveis!

Redes Sociais

Dia do Obstetra Por ocasião do Dia do Obstetra, comemorado em 12 de abril, a ginecologista Adriana Arent falou sobre a importância desses profissionais. Adriana destacou que o obstetra acompanha a gestação desde a pré-concepção, garantindo assim mais segurança tanto para o bebê quanto para a mãe.

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Dicas de etiqueta na visita ao recém-nascido

Relação entre amamentação prolongada e inteligência A amamentação prolongada pode contribuir para que a criança seja mais inteligente na idade adulta, diz um estudo brasileiro publicado na revista The Lancet Global Health. Realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas e dirigido por Bernardo Lessa Horta, o estudo acompanhou o desenvolvimento de 3,5 mil crianças nascidas em 1982 e amamentadas por períodos variáveis. Trinta anos mais tarde, os pesquisadores constataram que a amamentação foi benéfica para todos. O benefício foi maior para as crianças que receberam leite materno por um período mais longo.

A chegada de uma criança ao mundo é, sim, motivo de celebração. No entanto, é preciso ter calma, porque nesse momento cria-se uma nova família, que precisa se conhecer e se adaptar às mudanças que acontecem bruscamente, mesmo que tenham sido precedidas por nove meses de preparação. Quando for visitar o recém-nascido, vale seguir algumas dicas para evitar gafes.

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Dia Mundial da Enfermagem Papel do pai na amamentação Em uma pesquisa da Universidade de Ontario (Canadá), 214 novas mães e seus parceiros foram divididos em dois grupos. Um deles recebeu suporte sobre amamentação no hospital e o outro buscou ajuda por conta própria. Mais de 95% das mães do primeiro grupo continuaram amamentando três meses depois do estudo, enquanto que 88% das outras ainda davam o próprio leite ao filho. As mães que tiveram apoio de seus parceiros relataram mais confiança para cuidar e amamentar seus bebês do que as demais mulheres.

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No dia 12 de maio foi comemorado o Dia Mundial da Enfermagem. A data, uma homenagem a Florence Nightingale, profissional conhecida como a pioneira da Enfermagem, celebra esses profissionais que atuam em todas as áreas da saúde, auxiliando na assistência e recuperação do ser humano. “Carinho e cuidado norteiam o sentido de nossa profissão”, destaca a enfermeira do Fertilitat Juliana Lanziotti, ao salientar a importância social e a contribuição dos profissionais de Enfermagem à sociedade.

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Entrevista

Os caminhos da genética na reprodução jefferson bernardes

Geneticista Maria Teresa Sanseverino explica como a medicina descobre e evita a transmissão de anomalias genéticas antes da gestação genéticas que comprometem áreas críticas do metabolismo, causando doenças graves. O trabalho prático foi desenvolvido no laboratório de Genética do Hospital de Clínicas. Durante o mestrado fui contratada como médica do Serviço de Genética Médica, onde continuo trabalhando até hoje. A gente acompanha a evolução do conhecimento nessa área, porque dependemos muito da tecnologia na parte de diagnóstico pré-natal, pré-implantacional... Isso tudo a gente vai vendo acontecer, e ainda tem muita coisa pela frente.

2. Como responsável pelo programa de Aconselhamento Genético Pré-Natal e Reprodutivo do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), quais são as dúvidas mais comuns que a Srª identifica entre os pacientes? A maioria dos casos encaminhados para avaliação genética reprodutiva envolve algum antecedente pessoal ou familiar de anormalidades. De modo geral, a principal preocupação dos casais é identificar os possíveis riscos de anormalidades para seus filhos e o que fazer para preveni-los.

3. Há como prevenir defeitos congênitos?

Dra. Maria Teresa Sanseverino Geneticista

1. Quando surgiu o seu interesse pela área da genética? Após a conclusão do curso de Medicina na PUCRS, minha formação inicial foi de Pediatria. Meu interesse definitivo pela área surgiu a partir do mestrado, iniciado dois anos após a residência. A área do mestrado era bioquímica, na UFRGS, e a dissertação foi sobre Erros Inatos do Metabolismo (EIM) em crianças agudamente doentes. Os EIM são um grupo de doenças

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Sim, algumas medidas podem ajudar a prevenir determinados defeitos congênitos. Sabe-se que o uso de ácido fólico, iniciado antes da concepção e continuado até pelo menos os três meses de gestação, reduz a probabilidade de incidência e recorrência de defeitos de fechamento do tubo neural (como anencefalia e meningomielocele), além de parecer apresentar um efeito protetor em relação às fendas orais e às cardiopatias congênitas. O álcool é a principal causa de retardo mental prevenível. Não existe dose segura de álcool na gestação. Trata-se de uma molécula que passa pela placenta e vai direto para o cérebro. E o cérebro do bebê está se desenvolvendo desde a concepção até o segundo ano de vida. Atualmente, tornou-se possível a prevenção de doenças gênicas para os casais que já tiveram um filho com doença


recessiva grave ou que, sabidamente, são portadores de mutações já identificadas em uma família. Através do Diagnóstico Genético Pré-implantacional (PGD), também é possível evitar a transmissão de uma doença gênica dominante para os filhos. O PGD pode ser oferecido para casais que apresentam rearranjos cromossômicos balanceados e com risco aumentado de anormalidades na prole.

4. A gravidez tardia representa riscos? A idade materna está relacionada, principalmente, a doenças cromossômicas, e o que mais vai aparecer, do ponto de vista epidemiológico, é a Síndrome de Down. Há uma ascendência exponencial: a chance de nascer um bebê com Síndrome de Down começa em 1 para cada mil casos. Aos 30 anos, 1 pra 900. Aos 40 anos já é de 1%, e aos 45 é 5%. As demais alterações cromossômicas estão na mesma curva. E, se olharmos a curva da fertilidade, é o espelho dessa: a fertilidade vai caindo, e, certamente, os dois fatores estão relacionados. Quanto maior a idade, menor a chance de ter um embrião normal para transferir.

5. Quais são as diferentes formas de diagnóstico genético, e quando cada uma delas deve ser indicada? O PGD é indicado para casais que tenham risco de anormalidades específicas: doenças cromossômicas, doença gênica específica. O PGS (Screening Genético Pré-implantacional, na sigla em inglês) é indicado para vermos anormalidades cromossômicas em geral, principalmente para falhas repetidas de implantação ou casais com idade avançada. Conhecida a mutação, pode-se descobrir quais embriões a herdaram. A biópsia do embrião em si é igual; o que se faz com aquele material é que difere.

6. Como a pesquisa e os congressos mais recentes permitem vislumbrar o futuro da área? Estive há pouco em um congresso sobre fibrose cística em Gramado, e, em seguida, em um congresso em Chicago sobre PGD. O de fibrose cística teve dois aspectos especialmente importantes. Primeiro: oportunizar a paternidade para homens que até pouco tempo eram considerados inférteis. O homem com fibrose cística tem ausência de espermatozoide na ejaculação, pela obstrução dos canais: era considerado infértil e ponto final. Desenvolveram-se técnicas para recuperar espermatozoides e fazer a reprodução assistida com um único espermatozoide. Segundo: evitar o nascimento de uma criança com a mesma doença dos pais, através do PGD. A disponibilidade, aqui, é recente. Nenhum convênio ou serviço de saúde pública oferece PGD ainda. O grande diferencial da clínica é ter a tecnologia, o avanço científico e os recursos. Fazemos aqui todo o tratamento da reprodução e a biópsia do embrião, um procedimento delicadíssimo, que requer grande prática e habilidade.

7. E quanto ao congresso em Chicago? Lá, apresentamos um trabalho mostrando que, embora já se soubesse que 50% dos abortos espontâneos envolve anomalia cromossômica, essas anomalias são muitíssimo mais frequentes do que se acreditava, em termos de biópsia do embrião. Dizia-se que o nascimento era a ponta de um iceberg: na verdade, o que a gente viu agora é que o iceberg é muitíssimo maior, e que essas alterações, muitas vezes, estão na raiz da infertilidade, mesmo em casais relativamente jovens.

8. O que reforça que, em biologia, o milagre da vida é questão de tentativa e erro. Exatamente. E também que há casais com maior predisposição a esse tipo de acidente. A gente pensava, teoricamente, que isso podia acontecer, e é efetivamente o que estamos vendo. Em termos da reprodução, nos ajuda porque, se conseguirmos selecionar um embrião mais normal, sabemos que terá mais potencial de dar certo.

9. Sobre essa seleção de embriões, alega-se que a medicina genética pode dar margem para a eugenia, o “melhoramento” evolutivo da espécie. Existem riscos nesse sentido? É uma boa pergunta. O aconselhamento genético é sempre não diretivo. A gente nunca recomenda “tenha” ou “não tenha” filhos, “pode” ou “não pode” engravidar. Apenas oportunizamos a informação necessária para que as pessoas tomem a melhor decisão para si próprias. Vamos dizer que o risco é 25%, e o casal toma a decisão de ter ou não a gestação. Há uma grande paranoia sobre o quanto a reprodução assistida interfere na diversidade genética. Apontam questões eugênicas, de manipulação genética. É uma fantasia de alcance muito maior do que o nosso. E é contraproducente, pois prejudica o trabalho que temos feito, todos os benefícios que trazemos.

10. Quais são os desafios cotidianos de trabalhar em uma especialidade que mobiliza grandes investimentos emocionais dos pacientes? Houve pacientes que acompanhei em duas, três gestações, e em cujas gestações iniciais ocorria má formação. Mas no diagnóstico pré-natal são esporádicas essas situações. Os casos mais agudos envolvem sofrimento, mas sempre há uma perspectiva futura de dar certo. O que faz muita diferença, no trabalho que fazemos aqui, são as equipes multidisciplinares. Tu podes contar com toda a parte técnica, das diversas áreas, e com suporte psicológico. E isso tudo faz muita diferença nos momentos mais delicados. Lidamos bastante com momentos críticos, mas com a vantagem de já termos visto muitas famílias passarem por isso, se organizarem e superarem, com a oportunidade de ter filhos e seguir adiante. Essa é a maior gratificação do trabalho.

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Fertilitat na Mídia

Fertilitat na Mídia Jornal do Comércio – 17.10.2014 O Jornal do Comércio publicou reportagem especial sobre reprodução assistida, no caderno do Dia do Médico. O Fertilitat participou com entrevista do diretor Alvaro Petracco.

Zero Hora – 16.01.2015 O trabalho do Fertilitat foi destaque na coluna Informe Especial, do jornalista Tulio Milman, na Zero Hora. A nota ressalta as mil fertilizações realizadas pela clínica em 2014.

Bom Dia – Erechim – 12.12.2014 O jornal Bom Dia, de Erechim, publicou entrevista com a diretora do Fertilitat, Mariangela Badalotti. A especialista esclareceu dúvidas sobre infertilidade.

Record – 18.12.2014 Mariangela Badalotti participou de reportagem da Record RS sobre fertilidade em casais com HIV.

Caderno Vida – Zero Hora – 20.12.2014 Na edição de 2014, o caderno Vida, da Zero Hora, destacou o prêmio recebido pela ginecologista Rafaella Petracco, do Fertilitat, em congresso mundial realizado em Paris, na França.

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TVCOM Tudo+ - 05.01.2015 e 26.01.2015 Duas especialistas do Fertilitat foram entrevistadas pelo programa TVCOM Tudo+ em 2015. No dia 5 de janeiro, a ginecologista Rafaella Petracco falou sobre a endometriose. Já no dia 26 de janeiro, a médica Adriana Arent discutiu a questão das mulheres que estão engravidando cada vez mais tarde. Rafaella Petracco

Adriana Arent

Record – 14.04.2015 A ginecologista Adriana Arent foi entrevistada pela Record RS. A reportagem foi sobre uma menina que foi concebida por fertilização in vitro para permitir o transplante de células-tronco compatíveis com a irmã, que sofria com aplasia de medula óssea.

Zero Hora online e jornal Hora de Santa Catarina – 20.12.2014 A diretora do Fertilitat, Mariangela Badalotti, participou de reportagem do site do jornal Zero Hora sobre dificuldade para engravidar. O texto também foi reproduzido no site do jornal A Hora de Santa Catarina.

Diário da Manhã – 19.12.2014 O jornal Diário da Manhã, de Pelotas, publicou o artigo da ginecologista Adriana Arent. No texto, a médica fala sobre a gravidez após o câncer.

Bom Dia Rio Grande – RBS TV – 05.03.2015 A ginecologista Ana Luiza Berwanger, do Fertilitat, participou do Bom Dia Rio Grande, na RBS TV. A especialista falou sobre a endometriose e tirou dúvidas em relação à doença. edição nº 9

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Dicas de Viagem

Lisboa, capital das conquistas

O Congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE) ocorreu neste ano em meio a um idioma familiar, embora de sotaque distante. Entre 14 e 17 de junho, os ginecologistas João Michelon e Fernando Badalotti, do Fertilitat, participaram do encontro internacional em Lisboa (leia mais na página 24), famosa por suas universidades, institutos e museus, com destaque para o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, criado ainda no século XIV. Ao porto-alegrense, convém que desembarque em Lisboa o único voo que, decolando daqui, ruma sem escalas até o velho continente. No fim de 2014, a TAP registrava 87,5 mil passageiros transportados e crescimento de 18% em três anos de rota. Com ocupação dos voos na faixa de 87%, a companhia estuda oferecer voos diários até a capital portuguesa, que avulta tanto como destino preferencial quanto como primeira parada em um giro pela Europa. São muitos os encantos da capital mais ocidental do continente europeu. Se por séculos Lisboa atraiu conquistadores, na época dos “descobrimentos” a cidade inverteu esse papel, disparando conquistadores mundo afora, ainda antes de sofrer um dos terremotos mais violentos da história. Ali onde a terra despede o rio Tejo ao oceano, uma mistura de Oriente, África e Américas descobriu a Europa pela primeira vez. Os emblemas máximos desse cruzamento de culturas são o Mosteiro dos Jerônimos (construído em 1502) e a Torre de Belém (1519), em que a arquitetura manuelina combina o romântico, o gótico e o renascentista com a arte islâmica. Caminhar por Alfama, o bairro mais antigo da cidade, é provar ainda mais desse tempero árabe, passear por uma antiga casbá feita de ruelas perpassadas pela Cerca Mou-

ra, cuja fundação ainda guarda tijolos do período romano. À noite, nesse labirinto de vias estreitas, se ouvirá o tradicional fado harmonizar cântico mouro e guitarra portuguesa, e subindo a colina pode ser que a música chegue ao Castelo de São Jorge, fortificação muçulmana rebatizada ao gosto católico do século XIV. A partir dos mirantes do bairro, a cidade se deita à vista e escorre, esplêndida e horizontal, até as águas do Tejo. Na zona do Chiado, epicentro da efervescência literária oitocentista, Fernando Pessoa cruza as pernas, petrificado em estátua. Além de ótima região para compras, o Chiado está repleto de teatros, entre eles o São Carlos, principal casa de ópera da cidade. A cidade conta com excelentes (e gratuitas) opções de walktours. É interessante planejar o passeio guiado para o primeiro dia, o que refina o olhar dos dias seguintes. Como nem sempre as subidas favorecem o pedestre, vale pegar um dos charmosos bondinhos da Carris. Com um passe diário de cerca de 6 euros, tome o bonde 28 e serpenteie pela Lisboa histórica. Para quem vai de carro, a dica é percorrer a ponte Vasco da Gama, a mais longa da Europa, com 17,2 km de comprimento; e, se houver tempo, espichar até a belíssima Serra de Sintra. Não há como sair sem provar pataniscas de bacalhau, peixinhos da horta ou sardinhas assadas. Outro prato típico é o bife à café, imortalizado pelo Marrare das Sete Portas, café inaugurado em 1804 e frequentado pelos boêmios do século XX. Para a sobremesa, é claro, pastéis de Belém, que podem ficar para o turno dedicado aos cartões-postais de Lisboa: próxima à Torre e ao Mosteiro dos Jerônimos, a Antiga Confeitaria de Belém conserva a receita tradicional do doce. Nessa freguesia, um lanche completo sai por menos de 10 euros. Lisbon, Rossio Square

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Gastronomia

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ossa receita vem de Canela, na Serra Gaúcha, apresentando uma sugestão para celebrar bons momentos com charme e aconchego. Em uma proposta que vai além da gastronomia, o Magnólia – Cine Gastrô Bar convida para uma experiência que une a beleza vintage do ambiente com o sabor dos pratos exclusivos. Um dos destaques do cardápio para os dias frios é o Caldo de Aspargos Frescos, da chef Roberta Rech. Ela comanda a cozinha do Magnólia - com foco contemporâneo - e o Empório Canela, restaurante de cozinha bistrô. O caldo de aspargos foi pensado para ser um momento de acalento. “Ele também agrada os olhos das pessoas. Não é só uma refeição, a intenção é aproximar e ter um calorzinho no inverno”, explica a chef. Roberta Rech tem sido reconhecida como um dos destaques da gastronomia gaúcha. Seu talento vai dos pratos sofisticados às receitas mais simples. Em

todas, muito sabor e harmonia nos detalhes. Ela começou o trabalho das duas casas gastronômicas: o Empório, há oito anos, e o Magnólia, há um ano. O último, um desafio na carreira. “Fazer o que se gosta é bom, é difícil porque é novidade, mas se vê a evolução do trabalho, o quanto já amadureceu.”

Cristiano Carniel

Caldo de Aspargos Frescos combina com o inverno

Ambiente que inspira A receita pode ser preparada pensando na inspiração do restaurante. O ambiente tem eletrodomésticos coloridos, como geladeira azul, fogão a gás laranja de pé palito e batedeira vermelha. O casarão teve preservados seus aspectos arquitetônicos, como as colunas jônicas e as lajotas hexagonais de cor magenta da fachada. O interior ganhou decoração vintage dos anos 50 a 70. Os papéis de parede de padrão geométrico ou psicodélico, poltronas capitonê de veludo cor cereja e toalhas rendadas de tom nude têm inspiração retrô. Chef Roberta Rech

Magnólia Cine Gastrô Bar Receita da Chef Roberta Rech

Caldo de Aspargos Frescos Rende: quatro porções

Ingredientes 2 maços de aspargos frescos 1 cebola 1 dente de alho 4 colheres de sopa de farinha de trigo 100g de manteiga 2 litros de caldo de legumes 4 pães italianos redondos Cristiano Carniel

1 gema de ovo Queijo parmesão Sal e pimenta do reino a gosto

Modo de preparo 1. Em uma panela, refogar a cebola e o alho na manteiga. 2. Acrescentar a farinha de trigo, mexendo para não formar grumos. 3. Colocar os aspargos picados. 4. Aos poucos, acrescentar o caldo de legumes. 5. Depois de ferver, desligar e bater no liquidificador. 6. Coar. 7. Voltar para panela, temperar com sal e pimenta. 8. Deixar em fogo baixo até ferver.

Preparo do pão 9. Enquanto o caldo ferve, abrir um pequeno furo no pão italiano e retirar um pouco do miolo. 10. Pincelar a gema de ovo na parte interna do pão e polvilhar com o queijo parmesão. 11. Levar ao forno pré-aquecido até aquecer. 12. Colocar o caldo no pão e servir.

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Dicas de Leitura

Crianças francesas não fazem manha:

os segredos parisienses na arte de criar filhos de Pamela Druckerman Você até tenta dormir, mas o choro que vem do berço anuncia mais uma noite insone. O bebê tem fome, mas reprova a comida, joga tudo longe, vira o prato no chão. Ele bem que avisou, por meio de um escândalo no supermercado, que preferia outra janta. E nesse calvário a maternidade segue o seu destino – ou era o que imaginava a jornalista norte-americana Pamela Druckerman antes de se casar e ir morar em Paris, onde descobriu crianças que, de tão educadas, até falavam francês. O contraste foi grande: enquanto o bebê de Pamela rebentava em choradeira dentro dos restaurantes da Cidade-Luz, os pequenos messieurs e dames, em fraldas, limpavam os cantos da boca com pinceladas de guardanapo e comenta-

vam o acervo do Louvre. Não é para tanto, mas também não fica longe disso: segundo Pamela, os parisienses têm uma receita fabulosa para a criação de filhos bem educados. Os principais ingredientes seriam o estímulo à paciência (das próprias crianças) e o cadre, espécie de “moldura” dentro da qual os pequenos têm absoluta liberdade e fora da qual não têm nenhuma. Quando um Pierrezinho chora de noite, por exemplo, o casal francês deixa a manha se estender alguns minutos antes de intervir, para dar tempo para o neném se aquietar por conta própria. A consequência, diz a jornalista, é que com dois meses de idade os parisienses já dormem sem acordar os pais. Os brasileiros estariam próximos do método “anglófono”, que envolve saltar da cama imediatamente e ir remediar todos os reclames do bebê, verdadeira recompensa para a astúcia infantil. Enquanto as nossas crianças são paparicadas a cada movimento, as francesas esperam o seu turno de comer nos restaurantes e brincam nos parques sem depender das mães, liberadas para conversar entre si. Já a “moldura” exige que se estabeleçam limites rígidos e se cultive o NÃO. Pais que aprendem a dizer “não” ensinam os filhos a contrabalancear vontade própria e vontade alheia. Limites para libertar: se a França diz não aos cardápios especiais para crianças, é para incentivar o paladar dos pequenos a provar a diversidade do menu culinário dos adultos. Qualquer livro que prometa elixir contra a histeria das mães e a tirania dos filhos está fadado a virar best-seller, e o sucesso da autoajuda de Pamela está garantido desde o título. Convém notar, entretanto, que o livro opera em deslumbramento com uma parcela restrita das classes médias de Paris, e não carece apontar o evidente recurso a estereótipos que baliza o jogo de dicotomias nessa tese. Ainda assim, o humor autodepreciativo e o tom mais confessional do que apologético embalam uma leitura agradável e esclarecedora.

Crianças francesas não fazem manha: Os segredos parisienses na arte de criar filhos Druckerman, Pamela Editora: Fontanar Edição: 1a (4 de janeiro de 2013) | 272 páginas Tradução: Regiane Winarski

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Comentário sobre o livro Ana Paula Melchiors Stahlschmidti

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livro proporciona aos leitores brasileiros uma agradável e instigante leitura, embora provoque, certamente, algum estranhamento. A começar pelo título, que desafia nossas memórias e nos faz buscar em cenas de filmes, viagens ou relatos lembranças que comprovem ou coloquem em xeque a proposição de que as “crianças francesas não fazem manha”. Não é preciso buscar muito. Elas fazem manha, como, aliás, qualquer criança. O que talvez demarque a diferença que Pamela Druckerman estabelece entre a educação francesa – com a qual se surpreende após mudar-se para Paris – e a norte-americana, sua cultura de origem, é a forma como os pais se posicionam em relação a essas manhas. Sem dúvida, proporcionar à criança uma resposta adequada pode auxiliá-la a lidar com suas frustrações e aprender que seus desejos nem sempre podem ser satisfeitos. E conhecer o “não” permite conviver com pequenas e grandes interdições que viver em grupos como o familiar ou o social exigem. Como já nos lembrava Sigmund Freud há cerca de um século, a vida em sociedade nos demanda abrir mão da satisfação de certos impulsos e a nos adaptarmos a normas. Sejam elas as que permitem que uma criança possa fazer civilizadamente uma refeição em família em um restaurante, como nos relata Druckerman, ou outras mais complexas que a vida exigirá.

acordo com seu amadurecimento, talvez esteja o segredo do “cadre” a que a autora se refere. O que é essencial, e esse é o aspecto do livro que talvez demande reflexão e nos possibilite, mesmo que eventualmente, modificar algumas das formas de intervenção que utilizamos com nossas crianças, é o respeito a elas, no que tange à sua possibilidade de apreender os efeitos da cultura em que estão inseridas. Para os aspectos bons e os ruins, as mesmas se mostram, desde o início da vida, permeáveis e capazes de adaptar-se, convivendo com diferentes estilos de educação e tornando-se, com isso, cidadãos franceses, americanos, brasileiros. Capazes ou não de fazer suas refeições em um restaurante de forma educada, mas, especialmente, capazes ou não de respeitar o direito de seus pares, abrir mão da satisfação imediata que exacerba o consumo ou cumprir as leis de seu país. Algo importante, em tempos de constatação de tantas transgressões que ocorrem no cenário social e político brasileiro.

Por outro lado, certos aspectos que a autora traz nos causam desconforto ou desacomodam, despertando a impressão de que os pais e professores franceses poderiam ser descritos, do nosso ponto de vista, como “menos afetivos” ou mesmo ríspidos. É preciso lembrar, quanto a isso, que cada cultura traz em si suas marcas, com aspectos mais ou menos sutis, que demarcam diferenças nas formas de lidar e expressar o amor. E aí está o risco de tomar a obra em questão como “manual”. Talvez, então, não sejamos tão pontuais nas refeições e permitamos um lanchinho fora de hora. Mas também não podemos permitir que a criança escolha sistematicamente almoçar bolachas recheadas, por exemplo. Da mesma forma, entre deixar o bebê chorar em completo desamparo e pular da cama imediatamente quando ouvimos o som de um simples “resmungo”, o desafio é encontrar nossa própria forma de agir. Cabe lembrar aqui o que Donald Winnicott (por sinal, britânico) ensina sobre a importância da “mãe suficientemente boa”. Pode ser importante a prontidão que dedicamos a um bebê recém-nascido. Mas é fundamental, em um segundo momento, que a criança conviva com a experiência de suportar frustrações ou não ter a imediata atenção da mãe a qualquer tempo. Nesta gradação às exigências da criança, de

i Psicóloga. Psicanalista. Doutora em Educação, com pós-doutorado na mesma área. Coordenadora e docente do curso de Psicologia da UNIFIN – Faculdade São Francisco de Assis. Membro da Enlace – Clínica e Projetos Interdisciplinares e da APPOA – Associação Psicanalítica de Porto Alegre. Email: stahls@ufrgs.br

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Pelo direito de desmaiar

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rabalhar, cuidar dos filhos, da saúde, da casa. Não é fácil ser pai. Mas é maravilhoso. Muitas vezes, é assim que me sinto. E não estou louco. Esse é um discurso masculino. Antes, só as mães diziam isso. Mudou. Pra melhor. É lógico que maternidade e paternidade são diferentes. Mas estão mais parecidos do que eram duas décadas atrás. Esse rearranjo de papéis é uma conquista. Para as mulheres, mais livres, e para os homens, aos quais eram negadas algumas das experiências mais lindas do mundo: trocar fraldas, dar banho, fazer dormir, ver crescer. Minha filha mais velha tem 12 anos. A noite em que ela nasceu foi mágica – e também estranha. Chegamos ao hospital. Minha mulher já estava em trabalho de parto. Foi tudo muito rápido. Marinheiro de primeira viagem, eu mal sabia para onde deveria ir. Perambulei pelos corredores - era madrugada, estava quase tudo vazio. Até que, no vestiário, encontrei um médico de jaleco e máscara. “Onde fica a sala de parto?”, perguntei. Ele, gentilmente, me explicou. “Obrigado, doutor”, eu disse. E ele: “Doutor? Eu não sou médico, sou o cara que vocês contrataram para filmar o parto”. Foi ele quem me orientou. Fui me dando conta que o papel do pai, nessas horas, era absolutamente subvalorizado. Outro exemplo: pais eram de-

sestimulados a assistir aos nascimentos de seus filhos porque muitos desmaiavam. O desmaio do “paizinho”, tratamento genérico e infantilizado dispensado a nós muitas vezes, era um transtorno. Jamais deveria ser. O nome disso é machismo, dos mais cretinos. Um pai tem o direito de desmaiar quando vê seu filho nascer e sua mulher se transformando em mãe. É tão legítimo quanto o grito da dor do parto, o das mulheres. Também nunca entendi por que, quando minhas filhas nasceram, a pergunta que eu mais ouvia era: “E aí? Tá babando muito?”. Por que eu haveria de babar? E por que a minha estupefação, a minha alegria, a minha emoção precisam ser ridicularizadas desse jeito? Existe uma falsa dicotomia nessa história. Todos os cuidados, carinhos e atenções do mundo às mães. Elas merecem e precisam. São divinas, mágicas, lindas. Mas, para isso, não é preciso impor aos pais um papel ridículo. O de babões. Já contei essa história. Quem já leu, desculpe. Um dia, faz alguns anos, minha filhinha olhou pra mim bem séria e perguntou: “Papai, da próxima vez que eu nascer, posso nascer de ti?”. Foi uma das coisas mais lindas que ouvi. E que jamais ouvirei. Respondi que sim. “É claro que sim, minha filha”. Foi só então que entendi o que é ser mãe. E ser pai.

Tulio Milman | jornalista e pai de duas meninas

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Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

CELSO CHITTOLINA

Crônica




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