Revista Interdisciplinar de Desenvolvimento Humano
Síndromes ANO 1 Nº 1
Entrevista Dr. Zan Mustacchi
De mãe, pra mãe Por Quézia Bombonatto
Síndrome de Down: Conhecer para enfrentar e superar Por Elaine Rodini
Amigos leitores, DIRETORIA Ismael Robles Junior João Henrique Gonçalves Antonio Carlos Mello COORDENADOR EDITORIAL Dr. Francisco B. Assumpção Jr. EDITOR EXECUTIVO João Henrique Gonçalves jhtrilogia@gmail.com CONSULTORA EDITORIAL Drª Elaine Sbroggio de Oliveira Rodini REVISÃO Mônica Guimarães Reis JORNALISTA RESPONSÁVEL Claudio Donegati - MTB 21.640 COLABORARAM NESTA EDIÇÃO APAE –SP Elaine Sbroggio de Oliveira Rodini Maria Taís de Melo Maria Teresa Eglér Mantoan Mônica Guimarães Reis Quézia Bombonatto Simone Cucolicchio Zan Mustacchi ARTE E DIAGRAMAÇÃO artpublisher VENDAS CORPORATIVAS Antonio Octaviano FOTOS CAPA Samantha e Victor Hugo APOIO
Seis anos de estudos e pesquisas e uma vontade constante de contribuir com um mundo mais humano e justo foram precisos para a revista Síndromes ganhar sua edição de lançamento. Você é convidado especial nessa grande festa que temos o prazer em compartilhar. A revista Síndromes é uma publicação de circulação nacional e que tem como principal objetivo levar informação a pais, profissionais e a todos os interessados no assunto desenvolvimento humano, que não encontram no mercado publicações especializadas de qualidade e atualizadas nos avanços e debates desse tema. Nesta primeira edição trouxemos como tema de capa a síndrome mais conhecida no país, a síndrome de down, e para enriquecer ainda mais o assunto entrevistamos um dos maiores especialistas do mundo, o doutor Zan Mustacchi. Não posso deixar de agradecer algumas pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para que hoje pudéssemos concretizar essa vitória! Marly Almeida, Ana Lúcia Vale, Antonio Carlos Melo, Dr. Francisco Assumpção, Mônica Reis, Maria Taís de Melo, Madalena Mello, Dr. Jean- Louis Peytavin, Paloma Alves, Sidnei Dias, Alberto Souza e Inácio Loiola. Pra você que sonha, acredite! Pra você que acredita, nunca desista! Aqui nasce um sonho. Seja bem-vindo e boa leitura! João Henrique Gonçalves
www.atlanticaeditora.com.br EDITOR EXECUTIVO Dr. Jean-Louis Peytavin jeanlouis@atlanticaeditora.com.br EDITOR ASSISTENTE Guillermina Arias guillermina@atlanticaeditora.com.br DIREÇÃO DE ARTE Cristiana Ribas cristiana@atlanticaeditora.com.br ADMINISTRAÇÃO E VENDAS Antonio Carlos Mello assinaturas@atlanticaeditora.com.br ATLÂNTICA EDITORA Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo - SP ATENDIMENTO David Ricardo Gomes (0xx11) 3361-5595
A revista Síndromes é uma publicação bimestral da Atlântica Editora em parceria com Trilogia Produções e Edições, com circulação nacional. Não é permitida a reprodução total ou parcial dos artigos, reportagens e anúncios publicados sem prévia autorização, sujeitando os infratores às penalidades legais. As opiniões emitidas em artigos assinados são de total responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, a opinião da revista Síndromes. Praça Ramos de Azevedo, 206 Sl. 1910 – Centro – 01037-010 São Paulo – SP Atendimento (11) 3361-5595 - assinaturas@atlanticaeditora.com.br
SUMÁRIO
SÍNDROMES: Um problema do desenvolvimento
6 20 32 38 42 46 52 60
ENTREVISTA Um bate-papo com o Dr. Zan Mustacchi por: João Henrique Gonçalves MATÉRIA APAE-SP Maior rede de atenção com deficiência por: João Henrique Gonçalves
O desenvolvimento humano inicia-se a partir da fecundação do óvulo pelo espermatozóide. Cada um desses gametas deve conter o material genético que é constituído pelos genes e cromossomos, em perfeito estado, garantindo assim, um desenvolvimento normal. Alterações do material genético, caracterizadas pelas mutações gênicas e aberrações cromossômicas, resultam em distúrbios do desenvolvimento, levando, principalmente, às malformações congênitas, alterações do metabolismo e retardo mental. Há casos em que a perfeição do material genético contido nos gametas, não é suficiente para o
CAPA Síndrome de Down: Conhecer para enfrentar e superar por: Elaine Sbroggio de Oliveira Rodini DESENVOLVIMENTO HUMANO O desenvolvimento típico do bebê humano por: Maria Taís de Melo REABILITAÇÃO Estimulação Precoce por: Simone Cucolicchio
nascimento de uma criança perfeita. Pode acontecer, durante a gestação, a exposição da mãe a fatores extrínsecos que interferem no desenvolvimento, denominados fatores teratogênicos. Entre eles encontram-se, principalmente, determinadas drogas medicamentosas e doenças infecciosas. Quanto mais precocemente ocorrerem as perturbações do desenvolvimento, mais graves serão suas conseqüências, incluindo a morte fetal. As anomalias congênitas devidas a alterações do material genético são hereditárias porque podem recorrer em outros membros da família. Quando, por outro lado, apresentam etiologia relacionada aos fatores teratogênicos não são herdáveis, uma vez que não há alteração dos genes ou dos cromossomos. As anomalias podem, ainda, ocorrer de forma isolada, ou seja, como defeitos
APRENDIZAGEM Construir a escola das diferenças: caminhando pelas trilhas da inclusão por: Maria Teresa Eglér Mantoan AGENDA DE EVENTOS Fique por dentro de tudo o que acontece na sua área!
únicos, ou múltiplos, constituindo as síndromes. Quando uma criança nasce com anomalias do desenvolvimento há necessidade de encaminhamento para uma equipe multiprofissional que inclua a especialidade de genética, para que sejam definidas as causas etiológicas que determinaram essa condição, e fornecidas orientações sobre as estimativas de riscos de recorrência; além de esclarecimentos à família sobre prognóstico e condutas terapêuticas que focalizem reabilitação possível e melhora da qualidade de vida dessas
DE MÃE, PRA MÃE O ano letivo começou. E agora, mãe? por: Quézia Bombonatto
crianças. O enfrentamento dos pais diante da criança portadora de defeitos do desenvolvimento, bem como sua aceitação, são fundamentais para garantir o equilíbrio emocional da família. O conhecimento é a principal arma para a construção de um novo caminho a ser seguido, diferente, talvez, das expectativas iniciais, mas certamente, desafiador e repleto de possibilidades. Por: ELAINE SBROGGIO DE OLIVEIRA RODINI Profa. Livre-Docente de Genética da UNESP/Bauru
ENTREVISTA
Um bate-papo com o
de Brasília/DF e do Down Syndrome
Aprendendo Down – Itabuna/Bahia;
Medical Interest Group (DSMIG),
responsável pelos Cursos de Espe-
DR. ZAN MUSTACCHI
entre outros. Atualmente, partici-
cialização em Síndrome de Down
pa como médico consultor em ge-
e em Aconselhamento Genético e
nética do Hospital Universitário da
Genética Humana, Pós-graduação
Por: JOÃO HENRIQUE GONÇALVES
USP; esta na Presidência do Depar-
Lato-Sensu, uma parceria entre a
tamento Científico de Genética da
Faculdade Mogi das Cruzes (FMC)
Sociedade de Pediatria de São Pau-
e o Centro de Estudos e Pesquisas
lo; membro do Departamento Cien-
Clínicas de São Paulo (CEPEC-SP);
tífico da Federação Brasileira das
Diretor Clínico do CEPEC-SP.
Associações de Síndrome de Down (FBASD); responsável pelo Ambula-
Como Doutor, PhD, o senhor está
Nesta edição nosso tema de capa
nistração Hospitalar pelo Serviço
tório de Genética do Hospital Esta-
otimista em relação aos planos e
é Síndrome de Down e para falar
Militar e Pediatria pela Sociedade
dual Infantil Darcy Vargas (HEIDV);
projetos do novo governo em rela-
um pouco mais sobre esse assunto
Brasileira de Pediatria. Mestrado e
Vice-Presidente
ção à saúde no Brasil, em especial
não podíamos deixar de entrevistar
Doutorado em Farmácia (Análises
quanto aos Portadores de Necessi-
um dos grandes nomes e referência
Clínicas) pela Universidade de São
dades Especiais, portadores da Sín-
mundial na área.
Paulo. Esteve na França, no Instituto
drome de Down?
da
Associação
O Dr. Zan Mustacchi é formado pela
jeune, que foi seu grande mestre em
Eu acho muito importante excluir a
Faculdade Bandeirante de Medicina/
Síndrome de Down. Foi aos Esta-
palavra “portador”, porque o Down
SP. Fez internato na Santa Casa de
dos Unidos, e esteve no Serviço de
não é portador de Down, se você
Santos/SP. Completou residência de
Genética do Prof. Duma, na UCLA,
colocar na revista ou alguém escre-
Pediatria no Hospital Infantil Darcy
grande conhecedor das hemoglo-
ver o termo “portador da síndrome
Vargas. Fez 5 anos de acompanha-
binopatias hereditárias; e participa
de down”, vai gerar uma situação,
mento e estágio de capacitação na
de grupos de estudos e pesquisas
no mínimo, deselegante e de total
USP, no serviço de genética do Insti-
sobre a Síndrome de Down, e em
desinformação. Pois o indivíduo
tuto de Biociências; especializou-se
especial, do Grupo Brasileiro de Es-
com down não é um portador, ele
em Medicina Tropical na USP, em
tudos e Pesquisas sobre Síndrome
não carrega, ele tem a Síndrome de
Homeopatia pela Sociedade Bra-
de Down (GBEPSD), que coordena
Down.
sileira de Homeopatia, em Admi-
com o Dr. Dennis Alexander Burns,
Só para frisar!
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SÍNDROMES - 06
Progenese, com o Prof. Jerome Le-
ENTREVISTA
Nós conhecemos alguns itens cor-
A Síndrome de Down pode ser diag-
mento é um alerta para o pediatra
restrição na atividade física com re-
relacionados à deficiência, mas
nosticada na fase pré-natal. Como a
no sentido de investir e procurar
lação a sua estatura, e compará-lo
não conhecemos um programa di-
família reage à notícia e se prepara?
o que essa criança tem de diferen-
com um indivíduo da Dinamarca,
te que possa comprometê-la de
que tem uma condição nutricional e
não traduziu (até onde sei) dados
A primeira coisa que quero enfati-
uma forma maior do que de fato
geográfica diferenciada; esse nosso
determinantes e definitivos com re-
zar é que há necessidade de que a
a Síndrome de Down tem de seus
brasileiro vai ser “anãozinho” pra-
lação ao seu programa de atuação
mídia divulgue que a Síndrome de
comprometimentos claramente re-
ticamente, muito pequeno em re-
para com a deficiência, mas, dentro
Down não tem atraso de desenvol-
conhecidos. Portanto, quando a mu-
lação à estatura esperada se acom-
daquilo que já expôs, estou muito
vimento neuro-psico-motor, o que é
lher está grávida e sabe que o filho
panhar um gráfico do dinamarquês,
mais satisfeito do que no governo
uma grande fratura do que já existe
terá potencialmente um modelo de
então aí fica evidentemente claro
anterior, e posso afirmar algo muito
de informação em todo o mundo,
desenvolvimento apropriado e não
a grande diferença que existe para
claro: Hoje, no senado e na câmara
eu mesmo escrevi muitas vezes e,
vai ter um desenvolvimento neuro-
grupos diferentes.
dos deputados federais, nós temos
provavelmente, quem escreveu al-
psico-motor atrasado ou um retardo
E, considerando-se a criança com
pessoas muito envolvidas com a
gumas coisas nesta revista especi-
de desenvolvimento este paradig-
Síndrome de Down, é preciso sa-
questão da síndrome de down e a
ficamente no título da capa que é
ma emocional já fica melhor mode-
ber como se passa essa informa-
da deficiência. Nós temos senado-
Síndrome de Down, não é? (Sim)
lado o que vai fazer que a família
ção para os pais. Então o primeiro
res, deputados, governadores que
e quem escreveu muito provavel-
não fique tão assustada. Hoje, o que
grande problema é o conhecimento
compartilham as dificuldades e “o
mente deve ter escrito que essas
acontece na cabeça desse indivíduo
técnico correto da questão da Sín-
problema” (deficiência) por eles
pessoas têm atraso de desenvolvi-
é: “meu filho vai ter um retardo
drome de Down, não estou falan-
próprios ou por seus familiares.
mento neuro-psico-motor. Há um
de desenvolvimento neuro-psico-
do da “problemática”, mas sim da
Isto faz com que haja muito mais
grande engano nisso, considerando
motor”, que já não é uma verdade
questão, porque quando se usa a
envolvimento e responsabilidade
que o atraso do desenvolvimento
nos colocamos claramente e, além
palavra problemática o indivíduo já
de quem esta respondendo e tra-
neuro-psico-motor é uma tradução
disso, “meu filho vai ter um retar-
entende que já é um problema ob-
duzindo a necessidade do país para
de uma perspectiva de desenvolvi-
do mental”, quando comparado ao
viamente. Essa questão é um pro-
com essa deficiência; com certeza,
mento inapropriado, considerando-
indivíduo comum, sim! Mas eu não
blema social e eu não posso colocar
traduz melhor.
se, portanto, um modelo previa-
posso comparar um indivíduo co-
uma venda nos olhos achando que
Não só em virtude de um problema
mente apropriado e quando este
mum com outro que não é comum.
a questão de ter a informação de
de governo, mas em virtude de um
modelo apropriado não é acom-
Eu costumo dizer o seguinte: não
que a minha esposa esta gerando
envolvimento específico tanto dos
panhado por uma criança ela esta
posso pegar um indivíduo que nas-
um filho com Síndrome de Down,
senadores quanto dos deputados
atrasada no seu desenvolvimento e
ceu no interior do nosso país, onde
não vai me gerar uma grande reper-
federais.
esse dado de atraso de desenvolvi-
existe uma restrição nutricional e
cussão emocional ou todas as mi-
SÍNDROMES - 09
SÍNDROMES - 08
ferencial do próximo governo, ele
nhas cicatrizes culturais das minhas
no, anão ou gigante eu já tenho pré-
isso, prefiro chamar de indivíduo
mento. Por exemplo, o indivíduo
relações anteriores vão eclodir, vão
conceitos que são determinantes
comum.
com Down tem 50% de cardiopatia,
surgir em momentos de questiona-
intelectuais que me foram impostos
Então, as três situações que são o
o termo cardiopatia é doença cardí-
mentos “o que vai ser do meu fi-
pela sociedade ao longo da minha
tripé: fenótipo que é imagem, hipo-
aca, já está errado, porque o Down
lho?”, “o que vai ser de mim?” e a
formação e que me puseram sem
tonia que é o alicerce da condição
não tem uma doença cardíaca, ele
grande pergunta é: “o que vai ser
me permitir crítica e aprendizado...
clínica e o comprometimento inte-
tem um coração que ainda não se
dele quando ficar velho e eu não es-
então “assim eu aprendi, assim eu
lectual, eu prefiro usar comprometi-
formou em termos de desenvolvi-
tiver presente?” Isso é uma questão
acho que é”, que é um grande erro,
mento intelectual em vez do termo
mento de uma forma completa, en-
delicadíssima. Então, eu vejo que
nossa política impôs aprendizado
técnico correto que é deficiência in-
tão ele não é um coração doente, é
há uma necessidade de um prepa-
num modelo que ele quis. Mas a
telectual, mas em se tratando de de-
um coração que ainda não se de-
ro especializado dos profissionais
questão é a seguinte: no momen-
ficiência, a própria palavra já é pre-
senvolveu, ele parou o seu momen-
que atendem estes grupos e dão a
to que você pega a diferença entre
conceituosa e, quando se diz que o
to de desenvolvimento.
notícia durante a gestação. Eles tem
um indivíduo comum e não normal
cara tem um comprometimento, já
Percebe que o termo também já
que ter uma capacitação muito boa
–
porque, quem não é normal é
é menos agressivo, não é tão agres-
está incorreto, ele é traduzido como
para poder traduzir aos pais da for-
anormal, quem não é comum é in-
sivo quanto deficiente. Deficiente
um coração doente não como um
ma mais correta o diagnóstico.
comum – então, incomum é muito
quer dizer: não é eficiente, e isso me
coração imaturo, e isto pesa. Se eu
mais saudável, menos agressivo e
incomoda! A termonologia é muito
falo para o pai “olha o coração do
Além do tripé (Fenótipo, Hipotonia
menos preconceituoso. Fulano é in-
importante.
seu filho ainda é imaturo em rela-
e Comprometimento Intelectual) a
comum dentro de um determinado
Sua pergunta é pertinente e per-
ção ao seu desenvolvimento, ele
Síndrome de Down acarreta algum
padrão, o indivíduo de etnia africa-
tence ao segundo alicerce que é
não atingiu sua maturação com-
outro problema de saúde ou ten-
na, por exemplo, o negro, ele é in-
hipotonia, mas eu quero restringir
pleta, é por isso que ele tem um
dência?
comum aonde? No Rio Grande do
muito bem em relação ao grande
problema porque ele não atingiu a
Sul. Mas na África o gaúcho é que
problema do Down que não é o
maturação”, agora seu eu falar “ele
Dentro da condição que diferencia o
é incomum, o loiro de olhos azuis é
comprometimento intelectual que
é um coração doente”. Uau... Então,
indivíduo com Síndrome de Down
que é incomum, então depende do
todos acreditamos, também não
um coração doente coisa gravíssi-
de um comum, vejo que logo já en-
referencial.
é hipotonia. Hipotonia é o alicerce
ma. Eu não estou dizendo que não é
tra o pré-conceito. A grande ques-
Isso é uma coisa legal pra se discu-
que responde a sua pergunta. “Zan
grave ter um coração imaturo, mas
tão no nosso país e do mundo todo
tir quando se questiona a questão
o que é que tem mais de clínica?”
a forma como o que isso é falado é
é o pré-conceito. Por quê? Quando
“até onde o preconceito existe ou
O que tem de clínica é repercussão
que muda. É como você disse: a pa-
eu vejo um indivíduo de etnia ne-
não?”. Então, quando falo de indiví-
da hipotonia que ocorreu na vida
lavra tem um peso diferente e muda
gra, judaico, gordo, magro, peque-
duo normal isso me incomoda, por
embrionária e no seu desenvolvi-
a conduta do indivíduo com relação
SÍNDROMES - 11
SÍNDROMES - 10
ENTREVISTA
ao que ele ouve. Então, se eu ouvi
mina o que ele é, sai preconceito
duzida. Atividade mitótica significa
sim como cobra troca a pele, mas
que meu filho tem retardo mental,
atrás. Isso é um problema!
que as células vão crescendo em
ela troca num modelo único a pele
eu entendo uma coisa. Se eu ouvi
Se o indivíduo está malvestido, eu
número, elas se multiplicam, se
todinha, e nós vamos descamando
que meu filho tem deficiência men-
não acho que ele está malvestido
multiplicam a partir de mitoses. O
progressivamente se você passar
tal, eu entendo outra coisa. Se eu
porque foi roubado e não tem di-
que é atividade apoptótica? Existe
a mão e olhar sai um pozinho, isso
ouvi que meu filho tem deficiência
nheiro pra se vestir bem. Ele pode
um programa de tempo de vida e
é célula descamada mesmo. Existe
intelectual, eu entendo uma outra
estar malvestido, mas está asseado,
morte celular. Cada célula tem um
um programa de essa célula nascer
coisa. Se eu ouvi que meu filho tem
tomou banho. Em quanto que o ou-
programa de tempo de vida, porque
e morrer de 15 a 20 dias. Down tem
comprometimento intelectual, eu
tro pode estar muito bem-vestido
senão nós não cresceríamos, pois
um programa de apoptose redu-
entendo uma coisa completamente
e estar roubando. O que acontece
para você crescer a pele tem que
zida. Isso significa a morte celular
diferente do que o retardo mental. A
muito!
descamar e nascer outra pele, por
dela demora um tempo diferente, o
palavra modificou completamente
Então a questão é conceito e pré-
exemplo, o programa de vida celu-
programa de morte celular.
o meu entendimento. E aí me pre-
conceito. O grande problema do
lar da pele é de mais ou menos 15
Tudo o que depende disso, depende
ocupa sim, e o que me preocupa é
indivíduo com Down é o precon-
a 20 dias, nós descamamos o corpo
de um crescimento de uma restri-
a saúde mental do povo, da família.
ceito do fenótipo. A sua pergunta
todo em cerca de 15 a 20 dias, as-
ção, por exemplo, quando a gente
Então, quando o indivíduo nasce, o
está relacionada com a hipotonia.
é formado, a nossa mão é forma-
maior problema é o fenótipo, por-
“Zan, o que clinicamente pode re-
da e os dedos que vão crescendo
que nós temos conceitos e pré-con-
percutir? A hipotonia é o alicerce da
progressivamente grudados eles
ceitos e o maior problema do ser
questão clínica qualquer coisa clíni-
vão crescendo por atividade mitó-
humano é o pré-conceito. Tem uma
ca que o indivíduo tenha ou possa
tica, as mitoses vão aumentando
imagem ele pega fotografa aquela
desenvolver, a primeira argumen-
e os dedos vão se alongando eles
imagem e faz assim “eu tenho pré-
tação é, muito provavelmente isto
crescem grudados e depois vão se
conceito para isso”.
tem como indutor primário a ques-
separando, formando uma película
O Down tem um rosto típico, todos
tão da hipotonia, por quê? Porque
como se fosse um pé de pato, mas
nós reconhecemos um indivíduo
Down tem dois problemas que eu
com o tempo esse pé de pato vai se
com Síndrome de Down, e a po-
vou chamar de embriológicos e que
retraindo, dividindo e separando os
pulação marginaliza, pré-conceitua
se a colega (do artigo de capa) não
dedos. Essa separação dos dedos é
aquela fotografia assim como pré-
escreveu isso eu vou complementar
em virtude da atividade apoptótica.
conceitua o judeu, o negro, o árabe,
porque acho que é importante.
E se a atividade apoptótica é redu-
o chinês, o gordo, o magro e assim
O Down tem atividade mitótica re-
zida, você vai perceber que muitas
por diante. Se a fotografia já deter-
duzida e atividade apoptótica re-
vezes o indivíduo com Síndrome de
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SÍNDROMES - 12
ENTREVISTA
Down tem dedos grudados, dedos
muito bem colocada, porque, ob-
genético tem a função de reorgani-
lando de uma contratura e outra eu
curtos e grudados que não cresce-
viamente, quando a gente fala de
zação de equilíbrio e desestrutura-
to falando de uma situação que não
ram muito porque a atividade mitó-
alteração cromossômica, nós fala-
ções que vão acontecer isto é uma
permite uma adequada contratura,
tica é reduzida e tem dedos gruda-
mos do cromossomo inteiro, por-
resposta factível, porque se eu te-
conseqüentemente eu posso afir-
dos porque a atividade apoptótica
que o Down tem o cromossomo
nho um cromossomo inteiro a mais
mar que o indivíduo com Síndrome
é reduzida. Isso se traduz também
21 inteiro a mais, e nós sabemos
e não tenho tanta coisa complicada
de Down raríssimas vezes vai ter
para o tubo digestivo, muitas vezes
muito bem que a alteração de uma
por isso, então a área que eu acho
asma bronquia verdadeira, porque
o tubo digestivo que é um cilindro
única sequência de base, uma letri-
que não faz nada deve fazer algo
a asma bronquia verdadeira depen-
maciço ele tem que se perfurar, a
nha só no indivíduo pode acarretar
pra segurar esse comprometimen-
de basicamente, primariamente de
perfuração é uma morte celular no
um quadro muito importante tal
to que deveria ocorrer, talvez seja
uma constrição da sua via da arvore
meio do cilindro, esta morte celu-
qual, por exemplo, uma metabólica
uma das repostas, mais ainda não
respiratória.
lar programada, e que é normal, é
qualquer, se trocar qualquer base já
esta colocada, mas é uma ideia que
Isto é uma coisa, mas nós temos
uma atividade apoptótica, porque
pode ter um indivíduo severamente
a gente tem dessa possibilidade do
quadros de edema intra-luminar
tem que fazer o buraco da boca até
comprometido, e quando se fala em
espaço considerado como deserto
que acaba restringindo a luz e simu-
o ânus pra fazer o tubo digestivo se
cromossomo, o material genético
genético.
la asma, mas que não é asma e qual
por incrível que pareça essa ativi-
estar em excesso é alto e preocupa.
Mas uma coisa muito importante
é a importância disso? É que asma
dade pode estar alterada, eu pos-
Como é que pode uma letrinha ge-
é que a gente sabe que Down ha-
da um brônquio dilatador vai rela-
so parar, então eu tenho atresias
rar uma condição tão deletéria num
bitualmente, em virtude de ser hi-
xar o brônquio que esta contraído,
digestivas o tubo digestivo não é
cromossomo com tanta informa-
potônico, por ter material genético
relaxar significa gerar uma hipoto-
completamente formado, ele para
ção. A primeira coisa: existem áreas
em excesso, tem clinicamente os
nia, mas Down é hipotônico, você
de crescer e depois vai continuan-
que nós não conhecemos a função
seus efeitos. Por exemplo, o indi-
não pode fazer isso! E esse remé-
do, então tem atresias a ter defor-
por isso, chamada ainda como de-
víduo tem asma, o médico que co-
dio brônquio tratador atua como
midades, alterações anatômicas em
serta genético. Obviamente, não
nhece asma sabe que é o brônquio
receptores cardíacos acelerando e
virtude da apoptose e mitose alte-
são desertos genéticos, não existe
espasmo, é uma contractilidade do
fazendo o coração fazer força para
rada.
uma estrutura gênica sem função,
brônquio dos bronquílos, da via,
trabalhar mais e o coração do Down
isto simplesmente traduz-se como
da arvore traqueo-respiratória e no
50% tem problema, então não pos-
Essa alteração cromossômica traz
ignorância técnica, científica e mé-
momento que o individuo fala em
so fazer isso! Percebe?
algum benefício na melhora ou cura
dica. Nós não sabemos qual é a fun-
espasmo e na contractilidade e se
Então, preciso conhecer isso, domi-
de algum eventual problema de
ção desses segmentos motivo pelo
eu falo de hipotonia de uma forma
nar essa informação e o que acon-
saúde?
qual nós chamamos de deserto,
contralateral eu to falando de uma
tece com o individuo com Down?
Essa é uma excelente pergunta,
muito provavelmente esse deserto
situação paradoxal, uma eu to fa-
É que a luz esta inchada, é um
SÍNDROMES - 15
SÍNDROMES - 14
ENTREVISTA
processo inflamatório, tenho que
faz com que ela seja codificada, ela
câncer. Um dos caminhos, uma das
Eu ainda dou o seguinte exemplo:
dar um anti-inflamatório e não um
é codificada pelo cromossomo 21 e
investigações, um dos ramos de
as pessoas que não tomam manga
brônquio-dilatador, esta é uma coi-
curiosamente nós temos dois cro-
investigação contra ou para com o
com leite, porque aprenderam que
sa primária que todo médico que
mossomos 21, então nós dois nos
tratamento do câncer sólido partiu
manga com leite faz mal ou que
trabalha com Down tem que conhe-
defendemos desse câncer com essa
do elemento Down que tem menos
mata. Essas pessoas adoram o sor-
cer. Também não sei se a colega que
endostatina de uma forma igual,
câncer sólido, porque tem essa pro-
vete de manga, da um sorvete de
escreveu o texto enfatizou isso, mas
nós temos o risco X, porque nós
dução produzida por esse cromos-
manga ele vai chupar esse sorvete e
eu acho que isso é muito importan-
temos essa endostatina que segura
somo.
você leva esse individuo a conhecer
te ter colocado.
à barra. Só que o Down tem 3 cro-
A outra coisa, é que Down habitu-
mossomos 21, então ele tem 50% a
Gostaria que o Senhor enviasse re-
onde ele vê entrando leite e manga
almente tem o mecanismo genético
mais de endostatina do que a gente,
comendações para que os pais da
e formando o sorvete de manga e
intrínseco por excesso de material
isto faz com que ele se proteja 50%
criança com Down conseguissem
no dia seguinte você da um copo de
cromossômico na defesa de tu-
a mais do câncer sólido, ele tem
atingir uma racionalidade social e
leite e uma manga bem decorada
mores de sólidos, câncer sólido. O
menos do que a gente. Então, isto
assim levar uma vida normal.
e tal, cortada e ele não toma o lei-
Down raríssimas vezes vai ter cân-
é legal.
cer sólido. O que é câncer sólido?
Estas coisas tem que ser enfatiza-
Bom, atingir uma racionalidade nor-
você da um sorvete de manda e ele
É um câncer que não é de tecido lí-
das do individuo com Síndrome
mal é ruim, uma melhor racionali-
vai achar uma delícia. Conseqüen-
quido.
de Down, então eu vejo que esta
dade [Racionalidade Social], Isso!
temente essa é uma tradução de
O que é tecido líquido? Tecido líqui-
informação também tem que ser
Uma melhor adequação dentro da
que mantém o preconceito, mas ele
do é tecido linfático e tecido hema-
passada não só para o técnico pro-
nossa sociedade, primeira coisa vai
aceita o novo conceito. Isso signifi-
tológico. Sangue e linfa é líquido o
fissional médico que muitas vezes
depender menos dos pais, vai de-
ca, qual o novo conceito de manga
resto é sólido.
infelizmente não sabe disso, mas
pender da sociedade, vai depender
com leite? Sorvete de manga!
Então, pele, pulmão, fígado, sistema
o leigo também tem que conhecer
de nós muito mais do que dos pais,
Conseqüentemente eu não tenho
nervoso, osso... Down tem dentro
isso, o pai também tem que saber
vai depender de um aculturamento
que trabalhar muito bem com pre-
do seu conteúdo uma triplicada cro-
disso, porque ele fica muito mais
social, de um aprendizado social, de
conceitos, mas eu tenho que elabo-
mossômica, uma condição de uma
tranqüilo. A gente tem que dizer pra
um crescimento social e uma refor-
rar novos conceitos. Então a coisa
elevação de uma proteína que pro-
ele o seguinte, hoje a pesquisa te-
mulação dos nossos conceitos. Eu
mais importante que tem para tra-
tege a ele de um câncer sólido. Por-
rapêutica numa tentativa de sinte-
costumo dizer assim, não tem como
balhar e pra dar a melhor oportuni-
que, ele tem um produto que o pro-
tizar a proteína que defende o cân-
a gente acabar com o pré-conceito,
dade de sociabilização das pessoas
tege em triplicada, então nós temos
cer sólido partiu da percepção, da
mas tem como a gente fazer um
com Síndromes de Down ou das
uma endostatina e essa endostatina
observação que Down tem menos
novo conceito.
pessoas com deficiência, porque o
uma fábrica de sorvete de manga
te e não come a manga em seguida
SÍNDROMES - 17
SÍNDROMES - 16
ENTREVISTA
ENTREVISTA
deficiente também sofre repercu-
por exemplo, o elástico, você pega
ouviu “A cara vai procurar sua tur-
tenho que te respeitar, conseqüen-
ções sem duvidas nenhuma de pro-
o elástico e estica ele se deformou
ma”? O que significa isso? Signifi-
temente eu vou procurar minha tur-
blemáticas grandes com relação ao
e quando você solta ele volta a for-
ca assim, “Olha você compartilhou
ma e você vai procurar a sua turma.
seu aspecto, o preconceito é muito
ma anterior, isto é resiliência física
comigo até agora, agora você pensa
Isso não significa que nós vamos
evidente por limites de acessibili-
do elástico. Então o individuo com
de uma forma diferente do que eu.
nos separar, porque nós vamos nos
dades, enfim, o que você tem que
uma deficiência que teve uma lesão
Você gosta de futebol e eu gosto de
encontrar em alguns momentos so-
gerar? Tem que gerar novos con-
medular ele pode se reorganizar, ele
natação, você gosta de futebol eu
ciais, nós vamos conviver em ou-
ceitos tem que fazer com que esse
pode chegar sim até a driblar e fa-
gosto de tênis ou bolinha de gude,
tras turmas juntos. Então, precisa
pai acredite e poder remodelar o
zer uma série de outras coisas, nós
então, eu vou procurar minha tur-
respeitar a individualização de cada
conceito social e dar oportunidade
não podemos dizer que ele não vai
ma que joga bolinha de gude e você
um de nós. É o respeito, as oportuni-
para o filho, acreditar que esse filho
fazer isso porque ele tem uma lesão
vai procurar sua turma de futebol”,
dades, o crédito e o empoderamen-
consegue. E consegue, respeitando
medular, a nossa vivência é “a gran-
“você gosta de reave e eu gosto de
to eu acho que ai sim é que a gente
os limites dele e jamais impondo li-
de maioria das pessoas não fazem”,
jazz”, “eu gosto de Paul McCartney e
consegue uma sociedade, não só
mites, quem vai impor os seus limi-
mas a gente não pode dizer isso de
você gosta de Netinho de Paula”, só
pra Down, não só pra deficiente,
tes é o próprio individuo. Dar todas
uma forma enfática restringindo e
que você tem que me respeitar e eu
uma sociedade muito melhor.
as possibilidades possíveis e imagi-
debilitando. E o empoderamento, é
nárias não pensando e nem acredi-
permitir o empoderamento, permi-
tando que esse individuo possa não
tir o poder desse individuo de che-
conseguir fazer alguma coisa, isto
gar a atingir situações que nós não
chama-se empoderamento e tem
acreditávamos poder, mas liberar
que estar liberado.
para que o possa mostrar a sua ca-
Tem que acreditar numa resiliência
pacidade de fazer.
e no empoderamento individual. Resiliência significa ele voltar, o indivi-
Dr. Zan, diante de tudo isso: escola
duo com deficiência física adquirida
comum ou especial?
anteriores e reorganizar-se a partir
Com certeza escola comum, até um
da sua deficiência e voltar a ser o
determinado momento, e escola
que ele era. Resiliência é um termo
especial a partir deste determina-
físico que a matéria volta a forma
do momento. Eu vou traduzir essa
que ela era anteriormente, tal qual,
co-relação: Quantas vezes você já
SÍNDROMES - 19
SÍNDROMES - 18
ele poder voltar as suas atividades
REPORTAGEM
APAE
e Estatística (IBGE) em parceria com
los direitos das pessoas com defici-
o Instituto de Pesquisa Econômica
ência. Nesse esforço destacam-se
Maior rede de atenção à pessoa com deficiência
Aplicada (IPEA), Associação Brasi-
a incorporação do teste do pezinho
leira de Organizações Não Gover-
na rede pública de saúde; a prática
namentais (ABONG) e o Grupo de
de esportes e a inserção das lingua-
Institutos, Fundações e Empresas
gens artísticas como instrumentos
(GIFE), para a qual as doações po-
pedagógicos na formação das pes-
dem ser feitas, uma vez que passa
soas com deficiência, assim como
a fazer parte do ranking das ONGs
a estimulação precoce como funda-
mais confiáveis do Brasil. A APAE
mental para o seu desenvolvimen-
está entre as treze empresas mais
to.
confiáveis do Brasil.
As raízes históricas e culturais do fe-
A APAE – Associação de Pais e Ami-
em pesquisa mais recente, realiza-
São resultados expressivos e que
nômeno "deficiência" sempre foram
gos dos Excepcionais – nasceu em
da em 22 países, incluindo o Brasil,
refletem o trabalho e as conquistas
marcadas por forte rejeição, discri-
1954, no Rio de Janeiro. Caracteriza-
confirmou que as ONGs são insti-
do Movimento Apaeano na luta pe-
minação e preconceito. E, diante da
se por ser uma organização social,
tuições confiáveis, mais até do que
cujo objetivo principal é promover
empresas e governo. Com base
a atenção integral à pessoa com
nesses dados, a revista ‘Seleções
deficiência, prioritariamente aquela
– Reader’s Digest’ – perguntou a
com deficiência intelectual e múlti-
dez especialistas do Terceiro Setor
pla. A Rede APAE destaca-se por seu
para quem eles doariam o próprio
pioneirismo e capilaridade, estando
dinheiro, e pela quarta vez a revista
presente, atualmente, em mais de 2
computou as respostas e apresen-
mil municípios em todo o território
tou um painel das instituições mais
nacional.
votadas em 12 categorias.
Uma pesquisa realizada pelo Ins-
A Associação de Pais e Amigos dos
tituto Qualibest em 2006, a pedido
Excepcionais (APAE) destacou-se na
da Federação Nacional das APAEs,
categoria Portadores de Deficiência.
mostrou que a APAE é conhecida
Ela figura entre as 338 mil ONGs
por 87% dos entrevistados e tida
existentes no Brasil, segundo dados
como confiável por 93% deles. E,
do Instituto Brasileiro de Geografia
SÍNDROMES -21
SÍNDROMES - 20
Por: JOÃO HENRIQUE GONÇALVES
ineficiência do Estado em promover
Humanos, que culminou na criação
entidades congêneres, que com-
políticas públicas sociais que garan-
das APAEs e, com a expansão desta
põem a Rede APAE, tendo como
tam a inclusão dessas pessoas – que
iniciativa Brasil afora, convencio-
missão institucional promover e
hoje ainda apresenta pouca melho-
nou-se a tratá-la como o "Movimen-
articular ações de defesa dos direi-
ra – surgem famílias empenhadas
to Apaeano".
tos das pessoas com deficiência e
em quebrar paradigmas e buscar
O Movimento Apaeano é uma
representar o movimento perante
soluções alternativas para que seus
grande rede, constituída por pais,
os organismos nacionais e interna-
filhos com deficiência intelectual
amigos, pessoas com deficiência,
cionais, para a melhoria da quali-
ou múltipla alcancem condições de
cando experiências com pessoas de
voluntários, profissionais e institui-
dade dos serviços prestados pelas
serem incluídos na sociedade, com
outras nacionalidades que também
ções parceiras - públicas e privadas
APAEs, na perspectiva da inclusão
garantia de direitos como qualquer
sofriam a imposição de um sistema
– para a promoção e defesa dos di-
social de seus usuários.
outro cidadão.
capitalista que tendia a aniquilar as
reitos de cidadania da pessoa com
Nesse contexto, surgiram as pri-
pessoas "descapacitadas". Foi as-
deficiência e a sua inclusão social.
APAE de São Paulo
meiras associações de familiares e
sim que, no Brasil, essa mobilização
Atualmente o movimento congre-
A organização foi fundada no dia
amigos que se mostraram capazes
social começou a prestar serviços
ga a Fenapaes – Federação Nacio-
4 de abril de 1961, por iniciativa de
de lançar um olhar mais propositi-
de educação, saúde e assistência
nal das APAEs –, 23 Federações das
um pequeno grupo de pais de pes-
vo sobre as pessoas com este tipo
social a quem deles necessitassem,
APAEs nos Estados e mais de duas
soas com deficiência intelectual, em
de deficiência. Convivendo com um
em locais que foram denominados
mil APAEs distribuídas em todo o
um sobrado localizado na Zona Sul
Estado desapercebido das necessi-
como Associação de Pais e Amigos
País, que propiciam atenção inte-
da capital paulista. No início das ati-
dades de seus integrantes, tinham
dos Excepcionais (APAE), consti-
gral a cerca de 250 mil pessoas com
vidades, os próprios pais e voluntá-
a missão de educar, prestar atendi-
tuindo uma rede de promoção e
deficiência. É o maior movimento
rios visitavam os postos de saúde
mento médico, suprir suas neces-
defesa de direitos das pessoas com
social do Brasil e do mundo, na sua
e cadastravam pessoas que possu-
sidades básicas de sobrevivência e
deficiência intelectual e múltipla,
área de atuação.
íam familiares com deficiência in-
lutar por seus direitos, na perspecti-
que hoje conta com cerca de 250
A Fenapaes é uma organização so-
va da inclusão social.
mil pessoas com esses tipos de de-
cial sem fins lucrativos, reconhecida
Essa mobilização contou com o
ficiência, organizadas em mais de
como de utilidade pública federal
apoio de vários profissionais que,
duas mil unidades presentes em
e certificada como beneficente de
acreditando na luta dessas famílias,
todo o território nacional.
assistência social; de caráter cultu-
empreenderam estudos e pesqui-
Toda essa mobilização em torno da
ral, assistencial e educacional, que
sas, buscaram informações em en-
pessoa com deficiência, impulsio-
congrega como filiadas, atualmen-
tidades congêneres no exterior, tro-
nada pela Declaração dos Direitos
te, mais de duas mil APAEs e outras
SÍNDROMES - 23
SÍNDROMES - 22
REPORTAGEM
REPORTAGEM
telectual buscando atender o maior
da Saúde, desde 2001, com a cria-
Ambulatório
número possível de casos.
ção do Programa Nacional de Tria-
Já o serviço ambulatorial da APAE
Hoje, a APAE da cidade de São Pau-
gem Neonatal, oferecido pelo SUS
DE SÃO PAULO envolve uma equi-
lo é referência nacional em preven-
(Sistema Único de Saúde). Mais
pe multidisciplinar de profissionais
ção, pesquisa e desenvolvimento, e
conhecido como teste do pezinho,
– composta por endocrinologistas,
inclusão de pessoas com deficiência
esse serviço diagnostica doenças
psicólogos, oftalmologistas, cardio-
intelectual, do nascimento à fase de
como doença falciforme, outras he-
logistas, nutricionistas, fonoaudió-
moglobinopatias,
hipotireoidismo
logos, pediatras, assistentes sociais
congênito e fenilcetonúria, sendo
e hematologistas –, que realiza aten-
as duas últimas de importante diag-
dimento especializado e diferencia-
nóstico precoce da deficiência inte-
do no tratamento das pessoas com
lectual.
deficiência intelectual e orientação
No total, já foram realizados mais
às famílias.
de 13 milhões de testes do pezinho
Em 2009, foram realizadas 26.781
em bebês, desde 2001. Em 2009,
consultas ambulatoriais.
envelhecimento. Sua missão é "Prevenir a deficiência, facilitar o bemestar e a inclusão social da pessoa com deficiência intelectual". E, para atuar fortemente nas áreas as quais se propõe, a Organização conta com uma gama de serviços oferecidos pelos setores de Laboratório e Ambulatório e por meio do Instituto APAE DE SÃO PAULO. Atua ainda em linha com as políticas públicas para pessoas com deficiência intelectual, visando discutir e apresentar demandas junto aos governos e parlamentares em temas como assistência social, inclusão escolar e envelhecimento.
A APAE DE SÃO PAULO, alinhada às diretrizes do SUS (Sistema Unido de Saúde) e do SUAS (Sistema Único de Assistência Social), atua continuamente pela descentralização
acesso aos seus assistidos. A criação de unidades nas várias regiões de São Paulo é uma iniciativa que favorece a adesão aos tratamentos e o acompanhamento de mais pessoas com deficiência intelectual. Atualmente, existem duas unidades, uma na Vila Clementino, que é a Matriz, e a outra no Itaim Bibi. Além disso, a Organização conta com núcleos de atendimento do serviço de Estimulação e Habilitação na Freguesia do Ó, em Itaquera e no Campo Limpo. Laboratório Pioneiro em triagem neonatal no Brasil, o laboratório da APAE DE SÃO PAULO é considerado o terceiro maior do mundo especializado na área. No Brasil, é o maior laboratório especializado em triagem neonatal credenciado pelo Ministério
1.246.538 de exames de triagem realizados em 313.695 bebês esti-
Serviços de Inclusão
veram a cargo da Organização. O
Além dos serviços de laboratório e
laboratório ainda é especializado
ambulatório, a instituição oferece
em investigações, avaliações atuali-
apoio com atividades de desenvol-
zadas, terapias e orientações, capa-
vimento para estimular as habilida-
zes de diagnosticar 100% dos casos
des das pessoas com qualquer tipo
quanto à presença ou não da defici-
de deficiência intelectual, respeitan-
ência intelectual. Após introduzir o Teste do Pezinho no Brasil, há 34 anos, o laboratório da APAE DE SÃO PAULO é o único credenciado pelo Ministério da Saúde que disponibiliza à população o Super, teste que diagnostica 46 patologias.
SÍNDROMES - 25
SÍNDROMES - 24
Unidades
de seu atendimento e ampliação do
do seus limites, a fim de que sejam
senvolvimento pessoal dos partici-
sos setores, desde o início do pro-
plenamente integradas à sociedade.
pantes em âmbito social, afetivo e
jeto e nas quais estão trabalhando
Tais atividades garantem o apoio e
familiar.
capacitados do programa até hoje.
a segurança para que a pessoa com
Os jovens e adultos com deficiên-
São elas: Macron, On time, Tejofran,
deficiência intelectual tenha quali-
cia intelectual que buscam entrar
MWM International, Vocal, Libbs,
dade de vida, desde o nascimento
no mercado de trabalho encontram
Ocrim, Sachs, Stifiel, Dasa, Colgate-
até o envelhecimento.
no Serviço de Capacitação e Orien-
Palmolive, Pepsico, Ache Laborató-
Na fase inicial de vida, os bebês são
tação da APAE DE SÃO PAULO uma
rios e Nacco.
encaminhados para o serviço de Es-
parte dos pais.
oportunidade. Em 2009, tal iniciativa
A cada ano, a Organização se empe-
timulação e Habilitação constituído
Reconhecida pelo Poder Público
tornou possível capacitar 310 profis-
nha na sensibilização das empresas
de atividades com diversos profis-
como uma rede complementar de
sionais com deficiência intelectual.
para a questão. Em 2009, conseguiu
sionais como fisioterapeuta, psicó-
ensino, a APAE DE SÃO PAULO ofe-
A instituição é responsável por 13%
incluir no projeto 21 novas empre-
logo, serviço social, terapia ocupa-
rece para as crianças com deficiên-
do total de pessoas com deficiência
sas que apoiaram financeiramente
cional. O objetivo é que desde cedo
cia intelectual – que estão na escola
intelectual incluídas no mercado de
a capacitação profissional. Apoio
os bebês recebam acompanhamen-
regular – os Serviços Educacionais
trabalho no Estado de São Paulo, de
este que pode ser de duas frentes:
to especializado no processo inicial
realizados no contra turno. Os pro-
acordo com dados oficiais da Supe-
na contratação efetiva do capacita-
de intercâmbio com o meio, levando
fissionais atuam no processo de es-
rintendência Regional do Trabalho
do ou por meio de fornecimento de
em consideração os aspectos cog-
colarização como corresponsáveis
e Emprego de São Paulo, de junho
material para a formação prática,
nitivos, motores, psíquicos e sociais
no rompimento das barreiras nos
de 2010. O índice de adaptação das
ou ainda investindo no projeto de
de seu desenvolvimento. Para que
ambientes sociais, educacionais e
pessoas com deficiência intelectual
bolsas de capacitação.
surte efeito, as orientações e exercí-
familiares, promovendo a inclusão
acompanhadas pela APAE DE SÃO
Por fim, a APAE DE SÃO PAULO, por
cios ensinados precisam ser realiza-
escolar e apoiando possíveis mu-
PAULO no Estado é de 96%.
meio do Serviço de Apoio ao En-
dos em casa pela família também.
danças sistêmicas.
No ano pas-
A instituição conta com a parceria
velhecimento – Zequinha – oferece
A área ainda possui o Programa
sado, a Organização atendeu 424
de uma série de empresas de diver-
aos atendidos, que já apresentam
Momento da Notícia, quando a fa-
alunos e prestou assessoramento
um processo de diminuição em seu
mília é comunicada acerca da nova
a 1.120 educadores. Além disso,
desempenho, uma programação
realidade por meio de um contato
incentiva o contato do jovem com
com atividades voltadas à manu-
direto com outras famílias. A ideia é
deficiência intelectual com o espor-
tenção de suas habilidades.
que nestes espaços sejam trocadas
te, o lazer e a cultura. Por meio do
experiências e dúvidas a fim de pro-
Serviço de Apoio Socioeducativo,
A instituição APAE DE SÃO PAULO
ver uma aceitação mais natural por
a organização contribui para o de-
Dedica-se à pesquisa e dissemina-
SÍNDROMES - 27
SÍNDROMES - 26
REPORTAGEM
REPORTAGEM
ção dos conhecimentos voltados
uma Central de Triagem e do pro-
ros, prevenindo futuras deficiências
rior a 60 (sessenta) anos, as gestan-
para o bem-estar e inclusão das
grama Jurídico Social Familiar, que
intelectuais. A APAE DE SÃO PAULO
tes, as lactantes e as pessoas acom-
pessoas com deficiência intelectu-
as pessoas com deficiência intelec-
promove a inclusão social, a busca
panhadas por crianças de colo
al. Para isso, a organização fomen-
tual tenham direito à vida, liberda-
da participação plena das pessoas
ta pesquisas, investe em desenvol-
de, igualdade, segurança, educa-
com deficiência na sociedade, em
Lei 10.098/00
vimentos tecnológicos, produz e
ção, saúde, trabalho, moradia, lazer,
igualdade de condições, e a preven-
Estabelece normas gerais e critérios
difunde conhecimento científico,
previdência social, proteção à ma-
ção da deficiência intelectual - área
básicos para a promoção da aces-
visando à prevenção da deficiência
ternidade, infância entre outros.
em que fomenta pesquisas, investe
sibilidade das pessoas portadoras
em desenvolvimento tecnológico,
de deficiência ou com mobilidade reduzida
intelectual e o tratamento de doenças relacionadas. Tudo isso é pos-
Voluntariado
produz e difunde conhecimento
sível graças a uma forte estrutura
A organização possui um programa
científico. Em seus quase 50 anos,
composta por profissionais quali-
de voluntariado organizado, atuan-
a instituição acompanha as pessoas
Decreto 5.296/04
ficados e equipamentos de última
te e transformador, que incentiva e
com deficiência intelectual e suas
Regulamenta as Leis 10.048, de 8
geração.
valoriza as pessoas que doam o seu
famílias em todas as fases da vida,
de novembro de 2000, que dá prio-
talento em benefício da missão da
da infância ao processo de envelhe-
ridade de atendimento às pessoas
Direitos e Deveres da Pessoa com
organização. Aliando profissiona-
cimento.
que especifica, e 10.098, de 19 de
Deficiência Intelectual
lização e voluntariado, a APAE DE
A instituição atua em prol dos di-
SÃO PAULO tem como compromis-
reitos das pessoas com deficiência
so a busca constante por tornar seu
intelectual, assegurados pela Cons-
atendimento sempre mais humano.
Leis importantes
normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade
Abaixo indicamos as atuais leis que
das pessoas portadoras de deficiên-
garantem os interesses das pesso-
cia ou com mobilidade reduzida
sobre os Direitos das Pessoas com
Sobre a APAE DE SÃO PAULO
as portadoras de necessidades es-
Deficiência. Defende, por meio de
É uma organização social sem fins
peciais e que podem esclarecer e
Lei 7.853/89
lucrativos, referência na prevenção
ajudar na melhoria da qualidade de
Dispõe sobre o apoio às pessoas
e na melhora da qualidade de vida
vida e participação na sociedade de
portadoras de deficiência, sua in-
da pessoa com deficiência intelectu-
todos sem discriminação.
tegração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da
al. É credenciada pelo Ministério da Saúde como Serviço de Referência
Lei 10.048/00
Pessoa Portadora de Deficiência -
em Triagem Neonatal e, desde 2001,
Dá prioridade de atendimento às
Corde, institui a tutela jurisdicional
já realizou mais de 13 milhões de
pessoas portadoras de deficiência,
de interesses coletivos ou difusos
testes do pezinho em bebês brasilei-
os idosos com idade igual ou supe-
dessas pessoas, disciplina a atua-
SÍNDROMES - 29
SÍNDROMES - 28
tituição Federal e pela Convenção
dezembro de 2000, que estabelece
REPORTAGEM
ção do Ministério Público, define
em concurso público para provi-
adequado às pessoas portadoras de
de utilidade pública federal, que
crimes, e dá outras providências.
mento de cargo cujas atribuições
deficiência.
preste serviços gratuitos em benefício da comunidade em que atua)
sejam compatíveis com a deficiênDecreto 3.298/99
cia de que são portadoras; para tais
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Lei 10.845/04
Regulamenta a Lei 7.853, de 24 de
pessoas serão reservadas até 20%
(artigo 7º) inciso XXXI - proíbe qual-
Institui o Programa de Complemen-
outubro de 1989, dispõe sobre a Po-
(vinte por cento) das vagas ofereci-
quer discriminação no tocante a
tação ao Atendimento Educacional
lítica Nacional para a Integração da
das no concurso.
salário e critérios de admissão do
Especializado às Pessoas Portado-
trabalhador portador de deficiência;
ras de Deficiência
Pessoa Portadora de Deficiência Lei 7.752/89 Lei 8.899/94
Dispõe sobre benefícios fiscais na
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Lei 11.126/05
Concede passe livre às pessoas por-
área do imposto sobre a renda e
(artigo 40) vedada a adoção de re-
Dispõe sobre o direito do portador
tadoras de deficiência no sistema
outros tributos, concedidos ao des-
quisitos e critérios diferenciados
de deficiência visual de ingressar e
de transporte coletivo interestadual
porto amador - (desenvolvimento
para a concessão de aposentadoria
permanecer em ambientes de uso
de programas desportivos para o
aos servidores portadores de defici-
coletivo acompanhado de cão-guia.
deficiente físico).
ência;
Decreto 3.691/2000
Acreditamos que com o crescimen-
Regulamenta a Lei 8.899, de 29 de junho de 1994, que dispõe sobre o
Lei 8.160/91
Estatuto do Torcedor - Art. 13
to econômico do Brasil e a eleição
transporte de pessoas portadoras
Dispõe sobre a caracterização de
O torcedor tem direito a segurança
de políticos importantes do cenário
de deficiência no sistema de trans-
símbolo que permita a identificação
nos locais onde são realizados os
nacional – como a deputada federal
porte coletivo interestadual.
de pessoas portadoras de deficiên-
eventos esportivos antes, durante e
Mara Gabrilli, que muito contribuiu
cia auditiva.
após a realização das partidas. Será
com melhorias para a vida de pes-
assegurado acessibilidade ao torce-
soas portadoras de deficiência na
Lei 8.112/90 (artigo 5º) Assegura às pessoas portadoras de
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
dor portador de deficiência ou com
cidade de São Paulo, quando atuou
deficiência o direito de se inscrever
(Capítulo VII) Estabelece garantias
mobilidade reduzida.
como veAreadora nesse município –, o poder público consiga encon-
gramas de prevenção e atendimen-
Lei 9.249/91
trar soluções, dê apoio e emprego
to especializado para os portadores
Altera a legislação do imposto de
aos que precisam e salde sua dívida
de deficiência física, sensorial ou
renda das pessoas jurídicas - (Doa-
com esta parcela da população que
mental. Acesso a logradouros, edi-
ções dedutíveis de até 2% - destina-
durante anos viu seus direitos des-
fícios de uso público e fabricação
tário da doação seja uma entidade
respeitos por falta de leis rígidas e
de veículos de transporte coletivo
civil sem fins lucrativos, com título
fiscalização eficiente.
SÍNDROMES - 31
SÍNDROMES - 30
constitucionais para criação de pro-
CAPA
Síndrome de Down: Conhecer para enfrentar e superar
processo de formação (meiose),
apresentar dois cromossomos 21
resultando em gametas com dois
em suas células, apresenta três. Os
cromossomos 21, ao invés de um.
cromossomos são estruturas celula-
Após a fecundação desse gameta,
res que comportam em seu interior
será originado um embrião com a
os genes. Localizam-se no núcleo
trissomia do 21, ou seja, com a sín-
celular e nas pessoas normais estão
drome de Down. Todas as células
em número de 46, distribuídos em
que serão formadas apresentarão
23 pares que são numerados de 1
47 cromossomos, devido à presen-
a 23. Durante a divisão celular os
ça dos três cromossomos 21. A esse
cromossomos são visualizados ao
tipo de constituição cromossômica,
microscópio em uma etapa deno-
dá-se o nome de trissomia livre.
A síndrome de Down, também co-
facial achatado, orelhas pequenas
minada metáfase, e então, podem
A trissomia livre é a forma de sín-
nhecida como trissomia do 21, é a
e de baixa implantação, olhos com
ser contados e suas estruturas, ob-
drome de Down mais freqüente,
alteração cromossômica mais fre-
fendas palpebrais oblíquas, língua
servadas. Alterações presentes po-
ocorre em aproximadamente 92%
qüentemente observada em recém
grande, protusa e sulcada, anoma-
derão, portanto, ser visualizadas.
dos portadores. Antonarakis, 1998,
nascidos, sendo a síndrome genéti-
lias cardíacas, encurvamento dos
Assim, pessoas com a síndrome de
relatou que o cromossomo 21 extra
ca melhor conhecida. Sua primeira
quintos dígitos, prega única nas
Down apresentam na grande maio-
tem origem materna, mais especifi-
descrição clínica foi publicada por
palmas das mãos e aumento da dis-
ria dos casos 47 cromossomos, de-
camente, a partir de um defeito na
Langdon Down em 1866, originan-
tância entre o primeiro e o segundo
vido à presença de três cromosso-
separação dos cromossomos 21,
do o nome da síndrome. Estima-se
artelhos. (Figuras referentes às ca-
mos 21. (fig. do cariótipo)
denominado não disjunção, que de-
que a incidência da síndrome de
racterísticas)
A alteração genética, que resulta
veria ter ocorrido durante a meiose
Down seja de 600 a 800 nascidos vi-
A criança que apresentar caracterís-
na formação de um trio de cromos-
I.
vos, ocorrendo cerca de 8000 novos
ticas compatíveis com a síndrome
somos 21, tem início na formação
A idade materna após 35 anos é
casos no Brasil, por ano.
de Down deve ser encaminhada
dos gametas (óvulos e esperma-
um fator importante na elevação da
As características da síndrome de
para profissionais da área de gené-
tozóides) nos quais o número de
freqüência de nascimentos de indi-
Down são congênitas, ou seja, po-
tica que farão o estudo genético clí-
cromossomos corresponde à meta-
víduos com a síndrome de Down
dem ser observadas ao nascimento,
nico e a análise cromossômica para
de daquele observado nas células
do tipo trissomia livre. Segundo a
e podem variar nos diferentes por-
que seja determinado o cariótipo.
somáticas (células que formam o
ECLAMC (Estudo Colaborativo La-
tadores. Incluem: hipotonia, defici-
A causa da síndrome de Down é a
corpo), ou seja, 23. Ocorre que, às
tino Americano de Malformações
ência mental, baixa estatura, perfil
presença de um cromossomo 21 a
vezes, acontecem defeitos em seu
Congênitas), cerca de 40% de recém
SÍNDROMES - 33
SÍNDROMES - 32
Por: ELAINE SBROGGIO DE OLIVEIRA RODINI
mais, ou seja, ao invés do indivíduo
nascidos com síndrome de Down
independentes da idade materna e
ventricular foram apontados como
a idade precoce, por volta dos três
tem mães com idades acima de 40
poderiam explicar o nascimento de
os mais freqüentes, observados
meses de idade, devendo ser acom-
anos. Os outros 60%%, embora tam-
crianças com a trissomia livre, fi-
em, aproximadamente, 60% dos ca-
panhadas por equipe multiprofis-
bém sejam causados por excesso
lhas de mães jovens.
sos de cardiopatias em síndrome de
sional que inclui fisioterapeutas,
de cromossomo 21, envolvem a não
Entre as características da síndrome
Down (Mathew et al., 1990).
fonoaudiólogos, terapeutas ocupa-
disjunção cromossômica paterna
de Down, as cardiopatias congêni-
Uma outra característica que in-
cionais, entre outros. Existem pro-
(raras), as translocações maternas e
tas, embora não afetem todos os
terfere
da
gramas específicos de estimulação
paternas (3 a 4% dos casos) que são
portadores, representam um moti-
criança com a síndrome de Down,
precoce para portadores da síndro-
alterações estruturais dos cromos-
vo relevante de preocupação da fa-
de modo relevante, é a deficiência
me de Down em diversas institui-
somos, envolvendo geralmente o
mília, uma vez que podem requerer
mental. Repercute nas dificuldades
ções especializadas na educação
14 e o 21 e podem originar gametas
intervenção cirúrgica para correção.
de aprendizado, na aquisição da lin-
de crianças excepcionais, como por
alterados, entre eles com excesso
A freqüência dessas anomalias varia
guagem, nas atividades motoras,
exemplo, a APAE (Associação de
do 21e, finalmente, o mosaicismo
bastante, segundo relatos da litera-
no comportamento psico-social e na
Pais e Amigos dos Excepcionais).
(2 a 4%) que se refere à presença
tura. São descritas porcentagens de
adaptação escolar. Associada a isso
Outras entidades especializadas no
de linhagens celulares normais e
20% até números superiores a 60%
está a hipotonia que torna o desen-
atendimento e divulgação de infor-
anormais, com três cromossomos
(Hall, 2000). É possível que casos
volvimento mais lento de um modo
mações sobre síndrome de Down
21 em um mesmo embrião, cuja
muito graves sejam responsáveis
geral. De modo geral os recém
referem-se às Fundações e Organi-
causa estaria na não disjunção mi-
pela alta mortalidade de fetos com
nascidos com síndrome de Down
zações distribuídas por todo mundo
tótica após a formação do zigoto. As
a síndrome de Down. Estima-se que
apresentam microcefalia, sendo ob-
(Rodini e Souza, 1997).
translocações cromossômicas e os
cerca de 65 a 80% dos conceptos
servado decréscimo do peso total
A expectativa de vida para os por-
mosaicismos são independentes da
portadores são abortados natural-
do cérebro, além da simplificação
tadores da síndrome de Down tem
idade materna (Hassold e Sherman,
mente (Byrne e Ward, 1994).
em seu padrão giriforme. Exames
sido estimada em 35 anos e depen-
2000).
A distribuição das cardiopatias con-
neuropatológicos demonstram que
de, em muitos casos, da gravidade
A etiologia da síndrome de Down,
gênitas em crianças com a síndro-
o cerebelo é menor que o normal,
da anomalia cardíaca. Outros pro-
conforme relatam James et al.,
me de Down pode variar, também,
além disso, são documentadas de-
blemas importantes que devem ter
2004, pode envolver genes que tem
conforme a região geográfica (Lo et
ficiências específicas em áreas que
especial atenção quanto à preven-
papel importante no processo de di-
al., 1989; Vida et al. 2005; Nislik et
envolvem habilidades auditivas, vi-
ção e tratamento são a imunodefi-
visão celular que, quando alterados
al., 2008). Estudos epidemiológicos
suais, de memória e linguagem (Pe-
ciência que leva à maior suscetibi-
por mutações, podem levar à ocor-
realizados nos Estados Unidos e na
rey e Markovic, 1993).
lidade às infecções, as alterações
rência de não disjunção cromossô-
Europa informaram que a forma
As crianças com a síndrome de
sanguíneas representadas por ane-
mica. Esses casos também seriam
completa do defeito do septo átrio
Down devem ser assistidas desde
mias e leucemias e as cerebrais,
no
desenvolvimento
SÍNDROMES - 35
SÍNDROMES - 34
CAPA
mais especificamente a doença de
portadores de síndrome de Down.
reccurrent abortion. Clin. Obs. And Gyne-
syndrome: Possible relevance to mosaicism
Alzheimer que pode incidir precoce-
Certamente vão encontrar apoio
col., 1994, 37: 693-704.
and Alzheimer disease. Am. J. Med. Genet.,
mente em portadores da síndrome
psico-sócio-educativo em institui-
4. Hall, GJ. Chromosomal clinical abnorma-
1993, 45: 584-588.
de Down (Perey e Markovic, 1993;
ções especializadas, além das tradi-
lities. In: Behrman R, Kliegman, R, Jenson
11.
Roizen et al., 1993).
cionais que devem também receber
H, editors. Nelson’s Textbook of Pediatrics,
de Down: características e etiologia. Cére-
A detecção da síndrome de Down
portadores da síndrome de Down.
16th ed. Philadelphia: W.B. Saunders, 2000,
bro e Mente. [online], 1997, n 4.
pode ser feita intra-útero, através de
Alguns trabalhos tem mostrado
pp 325-333.
12.
estudos do cariótipo fetal por meio
não haver diferença significativa
5. Hassold, T, Sherman, S. Down syndrome:
logic abnormalities in children with Down’s
da coleta de material a partir da dé-
entre crianças com síndrome de
genetic recombination and the origin of ex-
syndrome. Am. J. Med. Genet., 1993, 46:
cima segunda semana de vida. Um
Down e normais na faixa etária de
tra chromosome 21. Clin. Genet, 2000, 57:
510-512.
outro exame menos invasivo, reali-
3 a 6 anos, em vários padrões de
95-100.
13.
zado de rotina na prática obstétrica,
comportamento estudados em am-
6. James, SJ. Maternal metabolic pheno-
et al. Comgenital cardiac disease in children
é a medida da translucência nucal
biente escolar (Anhão et al, 2010). A
type and risks of Down syndrome. Am. J.
with Down’s syndrome in Guatemala. Car-
do feto, na décima segunda se-
inclusão escolar é obrigatória para
Med. Genet.. 2004, 127A: 1-4.
diol. Young, 2005, 15: 286-290.
mana. Valores iguais ou maiores a
essas crianças, que tem capacidade
7. Lo, NS, Leung, PM, Lau, KC, Yeung, CY.
3mm devem ser investigados com
de alfabetização e de trabalho adap-
Congenital
mais critério, uma vez que mostram
tado, quando são bem assistidas
in chinese children with Down’s syndrome.
Elaine Sbroggio de Oliveira Ro-
um risco maior do feto ter proble-
desde a idade precoce. Conhecer
Chin. Med. J., 1989, 102: 382-386.
dini é Doutora em Ciências Bio-
mas de desenvolvimento, entre
para enfrentar é a solução para as
8. Mathew, P, Moodie, D, Sterba, R, et al.
lógicas (Genética) pela Universi-
eles, a síndrome de Down.
famílias. Elas devem ser protago-
Long term follow up of children with Down’s
dade Estadual Paulista Júlio de
Os maiores inimigos da criança com
nistas da luta contra o preconceito.
syndrome with cardiac lesions. Clin. Pedia-
Mesquita Filho – UNESP.
síndrome de Down são a desinfor-
tr., 1990, 29: 569-574.
Livre docente desde Dezembro
mação, a falta de conhecimento so-
Referências bibliográficas
9. Nisli, K, Oner, N, Candan, S, et al. Conge-
de 2004, atualmente é professor
bre suas causas e conseqüências e
1. Anhão, PPG, Pfeifer, LT, Santos, JL. Social
nital heart disease in children with Down’s
adjunto da UNESP e professora
o medo do enfrentamento. Os pais
interactions children with Down syndrome
syndrome: Turkish experience of 13 years.
e orientadora no programa de
devem ter a consciência de que há
in early childhood education. Rev. Bras.
Acta cardiol., 2008, 63: 585-589 Down’s syn-
Pós-Graduação em Ciências da
diversos profissionais habilitados
Educ. Espec. [online], 2010, 16: 31-46.
drome: possible relevance to mosaicism
Reabilitação no HRAC-USP. Co-
para dar assistência e fornecer te-
2. Antonarakis, S. 10 years of genomics,
and Alzheimer disease. Am. J. Med. Genet.,
ordena o Laboratório de Gené-
rapias que contribuem de modo
chromosome 21, and Down syndrome. Ge-
19945: 584-588.
tica da UNESP-Bauru. Tem expe-
altamente significativo para a rea-
nomics, 1998, 51: 1-16.
10.
riência nas áreas de reprodução
bilitação e a qualidade de vida dos
3. Byrne, JLB, Ward, K. Genetic factors in
associated chromosome 21 loss in Down’s
cardiovascular
Rodini, ESO, Souza, AR. Síndrome
Roizen, NJ, Amarose, AP. Hemato-
Vida, VC, Barnoya, J, Larraabal, LA,
malformation
Perey, ME, Markovic. VD. Age-
humana e sindromologia.
SÍNDROMES - 37
SÍNDROMES - 36
CAPA
O desenvolvimento
nam por si mesmos. Logo, a estes
um novo estágio quando a fonação
reflexos irão acrescentar-se adapta-
se transforma em linguagem. É nes-
típico de um bebê humano
ções adquiridas, hábitos de origem
ta fase que a consciência de si vai
fortuita, que se vão repetir e fixar: o
aparecendo. Toda a primeira infân-
bebê chupará o polegar, por exem-
cia poderia ser interpretada como
Por: MARIA TAÍS DE MELO
plo. A partir do oitavo mês não ha-
uma procura do seu eu.
verá mais simplesmente repetição
A linguagem tem papel importan-
e sim coordenação de atos entre si.
te neste processo, já que a criança
A criança adapta o comportamento
aprende que tem um nome, como
à situação, por exemplo: levanta a
todo objeto. O descobrimento da
almofada para apoderar-se de um
linguagem se constitui em um meio
objeto. O primeiro ano termina pela
de
chegada da inteligência prática.
mental com o outro. Neste processo
expressão,
de
comunicação
Ao nascer, o bebê humano experi-
ser tão desprovido e tão inacabado,
menta um estado de total depen-
em relação ao adulto, como são os
dência física e psíquica do outro.
filhotes dos mamíferos superiores.
Período de Aquisição da marcha e
do pensamento. Ela se apossa do
Nesta fase cabe bem a frase do psi-
O aparecimento da apreensão, da
da fala: de 1 ano a cerca de 3 anos
repertório lingüístico do seu grupo
cólogo russo Vygotsky: “sem o ou-
estação vertical, da marcha bípede,
A aquisição da marcha assegura
social, o que lhe permite explorar o
tro eu não me faço homem”. Sem a
da inteligência prática elementar,
à criança uma mobilidade que, no
mundo em um novo plano.
mediação de outros sujeitos, o bebê
dos primeiros rudimentos da lin-
plano motor, a liberta do parasitis-
Quanto ao quadro psíquico e so-
não teria condições de sobrevivên-
guagem e das primeiras ligações
mo inicial e lhe confere um começo
cial, este período é constituído pelo
cia e não desenvolveria as caracte-
afetivas faz do recém-nascido, apa-
de independência; e aí está, desde o
meio familiar: a mãe, para a crian-
rísticas de “filhote de homem”.
rentemente indeterminado e total-
começo do segundo ano, uma das
ça, é o centro referencial essencial
A idade bebê, entendida aqui como
mente incapaz, um incontestável
características principais desta fase.
e constante.
o período que vai do nascimento até
filhote de homem. Nesta fase se es-
Resulta desta mobilização da crian-
a aquisição da marcha e da fonação,
tabelecem os fundamentos de toda
ça, uma expansão de seu campo
Desenvolvimento intelectual
é um período de desenvolvimento
a arquitetura da personalidade.
de experiências, de seu repertório
Nesta fase há a elevação do plano
de sensações e de ações. O mundo
motor e mímico ao plano da repre-
acelerado do ponto de vista físico,
se abrem à criança as perspectivas
mental e emocional. Neste período
Desenvolvimento cognitivo
concreto se dilata ao mesmo tempo
sentação. No início o gesto vinga,
o sujeito adquire as características
Segundo PIAGET, de começo o re-
em que se torna penetrável.
depois o gesto é reproduzido inten-
especificamente humanas, cuja au-
cém-nascido não dispõe senão de
No começo do segundo ano apare-
cionalmente e, finalmente, o gesto
sência no nascimento faz dele um
reflexos hereditários que funcio-
ce o fenômeno da fonação. Começa
é esboçado ou imaginado. A transi-
SÍNDROMES - 39
SÍNDROMES - 38
DESENVOLVIMENTO
DESENVOLVIMENTO
ção entre o motor e o representativo
belecido no plano horizontal, olhan-
aparece bem nessa representação,
do a criança nos olhos, na sua altu-
pela ação que constitui a imitação.
ra, e explicando o porquê do “Não
Representa situações: por exemplo,
poder fazer aquilo”. Precisamos ser
faz da vassoura um cavalo.
firmes, sem jamais perder a ternu-
Neste estágio a palavra designa um
ra. Limites geralmente são aplica-
protótipo (o cavalo representa todos
dos na vertical, de cima para baixo,
os cavalos). O egocentrismo é uma
limitando-se a expressão “Não faça
das características desta fase. Se-
isso!” e isto pode causar na criança
gundo Wallon “o mundo não é para
um sentimento de perda de valor.
ela, mais que reposta a seus desejos.” A criança nesta idade acredita
Referências
no próprio pensamento, não tem
ANDERLE,Carmem. Psicologia do desenvol-
necessidade de confirmações. Nes-
vimento. Artes Médicas. Porto Alegre.1990.
ta fase a criança pode realizar seus
MELO, Maria Taís de. Filhote de homem:
desejos no nível simbólico. Pode
aspectos sociais, cognitivos e psicológicos.
descarregar a raiva batendo em um
São Paulo. IFCE.2005.
móvel. Neste período a criança tra-
OSTORRIOH, Paul. Introdução a psicologia
va conhecimento com uma nova
da criança. Companhia Editora Nacional.
fase, a da reprovação. À medida que cresce, a criança passa a perceber novos aspectos
SÍNDROMES - 40
no comportamento dos adultos: o
Maria Taís de Melo Pós-doutorada na área de Mídia do conhecimento no Programa
adulto tem exigências e proibições,
EGC da UFSC. Doutora
chegando até a punir. A repreensão
em Engenharia de produção – área de
e a reprovação pode se transformar
Mádia e Conhecimento – UFSC. Mes-
para ela em um momento de sofri-
tre em Psicologia – UFSC. Graduada
mento psíquico.
em Psicologia e Serviço Social – UFSC.
É importante não se perder de vista que o limite é uma prova de amor, porém este limite tem que ser esta-
Consultora Educacional. Diretora Educacional do IFCE (www.ifce.com.br) SP. E-mail: maria-tais@hotmail.com
REABILITAÇÃO
Estimulação
Precoce Por: SIMONE CUCOLICCHIO
Algumas dicas de como você pode
através de brincadeiras combina-
estimular seu filho dos 6 aos 36 me-
das com técnicas que irá beneficiar
ses:
o desenvolvimento da criança.
• Ofereça à criança chocalhos e mor-
A participação da família neste pro-
dedor e deixe-a sempre perto de
cesso é fundamental importância,
você, pois estará ouvindo os sons
tanto nas orientações fornecidas
da casa e aprendendo sobre eles.
pelos profissionais como também
• Converse com seu bebê chaman-
servindo de modelo para atuação
do-o pelo nome e repita os barulhi-
dos pais em casa, pois o vínculo
nhos que ele fizer, desse modo, ele
afetivo entre pais e criança torna a
perceberá que pode usar a “fala”
estimulação mais completa.
para chamar a sua atenção.
Os pais devem estar dispostos e
• Fale o nome dos objetos e partes
estimulações
são
Durante os primeiros anos de vida a
O tratamento por estimulação pre-
com tempo para trabalhar com a
do corpo de forma correta, de ma-
criança descobre o mundo em que
coce é possível porque pressupõe
criança. É importante que as ativi-
neira que a criança possa se acostu-
vive. Para isso é de grande impor-
a existência da plasticidade neuro-
dades de estimulação sejam agra-
mar e aprender que cada coisa tem
tância que ela receba a estimulação
nal (a possibilidade de áreas vizi-
dáveis para ambos. Assim, os pais
um nome.
adequada e suficiente, tendo assim,
nhas assumirem a função relativa à
estarão dando carinho e atenção a
• Dê brinquedos coloridos, que fa-
condições de explorar e compreen-
área lesada, mediante um processo
seus filhos e poderão também ob-
çam barulho e que ele consiga pe-
der as coisas e o mundo que a cer-
de estimulação). Este atendimento
servá-los, compreendendo melhor
gar com facilidade e possa levar à
ca.
deve ser iniciado logo que o bebê
suas dificuldades e habilidades.
boca sem riscos, pois quer provar,
Estimulação é o que todo bebê ne-
for diagnosticado com atraso no
O desenvolvimento global da crian-
balançar, escutar, jogar todos os ob-
cessita para desenvolver suas capa-
desenvolvimento
neuropsicomo-
ça depende muito do ambiente em
jetos que pega.
cidades. Já a estimulação precoce
tor, a fim de prevenir, minimizar e
que ela vive. Ele deve ser tranqüi-
• No momento do banho coloque
é uma série de exercícios para de-
tratar déficits neuropsicomotores e
lo, mas deve fornecer-lhe estímulos
brinquedos coloridos na banheira,
senvolver as capacidades da crian-
cognitivo, visando sempre a funcio-
variáveis. Qualquer coisa pode ser
diga o nome das partes do corpo.
ça, de acordo com a fase do desen-
nalidade.
estímulo conveniente para a crian-
Solicite a participação da criança
volvimento em que ela se encontra.
O trabalho de estimulação precoce
ça: brinquedos coloridos, músicas,
“vamos lavar a mão, me dê sua
Não se trata de nada complicado,
é realizado por uma equipe multi-
conversas ou o próprio movimento
mão”. Estimule a bater com as mãos
mas uma série de ações que toda
disciplinar (psicólogo, fonoaudiólo-
da casa. Porém, não é interessante
e os pés na água.
pessoa faz normalmente com os be-
go, terapeuta ocupacional e fisiote-
oferecer todos os estímulos ao mes-
• Sempre que possível coloque brin-
bês, além de outras atividades mais
rapia) com crianças de 0 a 3 anos
mo tempo porque pode confundir a
quedos fora do alcance da criança
específicas que se pode aprender
com risco ou atraso em seu desen-
criança, o ideal é oferecer um estí-
no chão e a encoraje-a a rolar, raste-
facilmente.
volvimento.
mulo de cada vez.
jar para buscar o brinquedo.
SÍNDROMES - 43
SÍNDROMES - 42
realizadas
As
• Estimule que a criança a se mo-
corpo ou de outra pessoa, para que
atender. Se posicione de frente olho
vimentar e locomover (andar ou
aos poucos aprenda a lavar-se sozi-
no olho para que ela preste atenção.
engatinhar), pois assim ela poderá
nha ou com supervisão. Escovar os
• É recomendável que a criança fre-
explorar mais seu ambiente. Nesta
dentes e pentear o cabelo requer o
qüente uma escola, pois ela se be-
fase aos poucos, a criança estará
mesmo aprendizado gradual: ver os
neficiará muito com contato com
controlando mais seus movimen-
outros, fazer em bonecos e assim,
outras crianças e a participação em
tos, fazendo com que eles fiquem
fazer em si próprio.
diferentes grupos.
cada vez mais coordenados. Você
• Utilize livrinhos infantis e revis-
pode ajudar oferecendo brinquedos
tas (coloridos com muitas figuras)
Cada criança tem seu próprio rit-
ou objetos pequenos, estimulando
onde a criança possa reconhecer e
mo e este deve ser respeitado pe-
assim a preensão digital, a coorde-
nomear espontaneamente as coi-
los pais, controlando sua ansiedade
nação das mãos e dos dedos. So-
sas que ela já conhece e sabe falar.
para fortalecer ainda mais o vínculo
mente tome cuidado para a criança
Não corrija o que ela falou errado,
afetivo entre pais e filhos.
não os coloque na boca ou ouvidos.
pois no início é natural. A criança
• O treino da higiene da criança va-
não tem total controle de sua fala,
Referências bibliográficas
ria muito quanto a idade que deve
apenas use mais vezes e adequada-
TEIXEIRA, E. - Terapia Ocupacional na Rea-
ser feita, não há uma idade fixa para
mente aquela palavra que a criança
bilitação Física – 2003: São Paulo. Roca.
ensinar a criança a controlar o xixi
apresenta dificuldade ou não con-
HERREN, H. E Herren, M.P. - Estimulação
e o cocô. Porém é importante que,
segue emitir.
Psicomotora Precoce. Artes Médicas, 1986.
este treino só se inicie quando a
• Reforce as situações em que a
VIEIRA, O.P.V.S – A importância da família
criança puder colaborar, para isso
criança pede algo através da fala,
no desenvolvimento do bebê prematuro.
ela precisa ter controle do esfíncter
aos poucos deixe de atendê-la
Revista Psicologia – Teoria e Prática, vol.4,
(músculo do ânus) e possa esperar
quando ela apenas apontar para o
n.º2 – 2002.
para evacuar. Assim, se a criança
que quer.
MIKETTA, A.T. – Estimulação Precoce Inte-
costuma evacuar após as refeições,
• Muitas crianças apresentam com-
ligência Emocional e Cognitiva – 2008. Ed.
basta a mãe observar estes períodos
portamento difícil como: agressivi-
Grupo Cultural.
e levá-la ao banheiro. Evite correr
dade, birra e teimosia conversem
com a criança para o penico quando
com sua criança e ensine o que é
perceber que ela já está evacuando,
permitido ou não (regras e limites).
pois isto pode criar uma ansiedade
Pode ser necessário repetir várias
e interromper um processo que é
vezes para que ela realmente com-
natural para ela.
preenda o que você quer dizer, fale
• Durante o banho a criança pode
de forma simples sem falar demais
ajudar passando o sabonete em seu
e corrigindo caso ela insista em não
Simone Cucolicchio é Fonoaudióloga da unidade clínica da AVAPE (Associação para valorização de pessoas com deficiência) São Bernardo do Campo-SP.
SÍNDROMES - 45
SÍNDROMES - 44
REABILITAÇÃO
APRENDIZAGEM
Construir a escola das diferenças:
Caminhando pelas trilhas da inclusão Por: MARIA TERESA MANTOAN
Os primeiros tempos
munir de argumentos para se torna-
As histórias dos que se dispuseram,
rem fortes diante da opinião pública
nos idos de 1990, a divulgar a in-
pouco esclarecida e angariar novos
clusão, como inovação alinhada a
adeptos para o movimento.
na educação, tinham em comum o
O direito à diferença na igualdade
descontentamento pelo atendimen-
de direitos
to aos alunos com deficiência nas
Em 2003, com o objetivo era encon-
escolas comuns e especiais de nos-
trar uma maneira de melhor condu-
sas redes de ensino.
zir as ações empreendidas para que
Professores, pais foram se reunindo
a escola acolhesse incondicional-
em torno da causa. As autoridades
mente a todos os alunos, formou-
educacionais, nesses tempos ini-
se um grupo de estudos do qual
ciais, mostravam-se céticas, pes-
constavam pais, juristas, professo-
simistas. Enfrentavam-se muitos
res, médicos com experiências de
confrontos, posicionamentos con-
vida e de trabalho diferentes. Essas
trários aos interesses corporativos
pessoas realizaram um laborioso
em palestras, seminários, encon-
levantamento de dados jurídicos e
tros de educadores. Os que inicia-
educacionais que lhes possibilita-
ram esse movimento precisavam se
ram articular um discurso sobre o
que propunha a inclusão parcial e
tudo resultou a cartilha “O acesso
mantinha as escolas especiais, clas-
de alunos com deficiência às esco-
ses especiais e salas de recursos,
las e classes comuns da rede regu-
nas escolas das redes regulares de
lar”, publicada em 2004 pelo Minis-
ensino.
tério Público Federal. O documento se baseia nas prescrições da Cons-
A Política de Educação Especial na
tituição Brasileira de 1988 e trata da
Perspectiva da Educação Inclusiva
igualdade de direitos à educação e
A idéia de elaborar uma Política de
do direito à diferença, que assegu-
Educação Especial, na perspectiva
ra a alguns alunos um atendimento
da Educação Inclusiva foi a estraté-
especializado nas escolas comuns.
gia encontrada para que fosse dado
Esse período inicial foi marcado por
um novo impulso à implementação
distorções e equívocos do conceito
da inclusão escolar. A intenção era
de inserção escolar de alunos com
atingir nosso alvo preferencial, a
deficiência. Debatiam-se idéias e
educação especial, e, indiretamen-
práticas de integração (inclusão
te, o ensino comum, para que tam-
parcial) versus inclusão total dos
bém se mobilizasse e assumisse a
alunos com deficiência, nas turmas
inclusão de todos os alunos, com e
de ensino comum. O debate era
sem deficiência, em suas salas de
sustentado pela interpretação da
aulas.
educação especial na LDBEN, que,
As escolas comuns, protegidas em
apesar do que preconiza a Consti-
suas cidadelas, tinham meios para
tuição Federal e documentos inter-
se contrapor à inclusão. Professo-
nacionais sobre o direito incondicio-
res, gestores e a organização pe-
nal de todos os alunos à educação,
dagógica das escolas comuns se
continuou referendando os serviços
defendiam, afirmando que os pro-
de educação especial em espaço à
fessores não estavam preparados
parte da escola comum, e, preferen-
para a inclusão; os gestores eram
cialmente, na rede regular de ensi-
pressionados por inovações que
no. A LDBEN assumiu as mesmas
lhes eram impostas e que não ca-
diretrizes integracionistas da Políti-
biam na administração das escolas
ca Nacional de Educação de 1994,
tais quais são hoje, engessadas na
SÍNDROMES - 47
SÍNDROMES - 46
princípios de justiça e de qualidade
direito de todos à educação. Do es-
burocracia; a organização pedagó-
alunos com deficiências, com trans-
deficiência” mais próxima ou mais
Demarcações de território são pró-
gica é montada para selecionar, ex-
tornos globais de desenvolvimento
distante dos parâmetros inclusivos
prias dos espaços sociais e têm ori-
cluir; há falta de equipamentos, de
e com super dotação/altas habi-
de qualidade de vida. O AEE deve
gem em processos de classificação
acessibilidade... A despeito das re-
lidades. Eliminou a possibilidade
ser oferecido obrigatoriamente pe-
pelos quais organizamos o mundo
sistências e motivos de toda ordem,
de um grande número de alunos,
los sistemas de ensino. Esse aten-
que nos cerca e os grupos que nele
os alunos com deficiência foram
que por motivos os mais diferentes
dimento tem funções próprias de
existem. Fica patente inúmeras ve-
tendo acesso às turmas de ensino
eram encaminhados aos serviços
ensino especial e não se confunde,
zes, no discurso e na ação, uma for-
comum em número cada vez mais
da educação especial, sendo exclu-
portanto, com reforço escolar para
te separação entre o “nós”, que es-
crescente, desafiando os que atua-
ídos das turmas comuns, total ou
os alunos da educação especial. O
tamos e sempre estivemos dentro
vam nas escolas, questionando os
parcialmente. No texto da Política,
Atendimento Educacional Especiali-
da escola e o “eles”, que estão che-
que não conseguiam lidar bem com
os objetivos da educação especial
zado está sendo disseminado pelas
gando. A tendência dessa demarca-
as diferenças. A cartilha orientava o
se resumem em assegurar a inclu-
escolas brasileiras, de modo que
ção é separar, agrupar os alunos e
acesso dos alunos com deficiência
são escolar: formando professores;
possa ser absorvido, e executado,
atribuir valores negativos ou positi-
nas turmas comuns, principalmente
provendo acessibilidade aos am-
segundo seus objetivos de: identi-
vos às identidades criadas, entre as
no Ensino Fundamental.
bientes escolares e ao conhecimen-
ficar, elaborar, e organizar recursos
quais os alunos comuns e os espe-
A fase de implementação da nova
to; estimulando a participação dos
pedagógicos e de acessibilidade,
ciais. O privilégio que alguns grupos
Política foi o momento da reorga-
pais e parcerias com outros servi-
que eliminem as barreiras para a
têm de classificar alunos e escolas
nização da educação especial para
ços e órgãos governamentais afins
plena participação dos alunos, con-
resultam em exclusões e hierarqui-
corresponder às exigências de uma
e oferecendo o Atendimento Educa-
siderando suas necessidades espe-
zações. A escola faz uso de seu po-
educação inclusiva. As orientações
cional Especializado / AEE. Diferen-
cíficas.
der institucional, ao estabelecer a
presentes na Política de Educação
ciando para incluir, sem restrições e
Especial de 2008 são extensivas às
limites, a educação especial propi-
A descoberta do Outro nas escolas
normal, positiva, tornando todas
ações da educação especial, que
cia, por meio do AEE, que seus alu-
Por mais que tentem fazer diferente,
as demais negativas, anormais. A
estão presentes transversalmente,
nos se tornem aptos a estudar nas
há momentos em que professores
classificação mais usual é a que se
em todas as modalidades e níveis
turmas comuns e a viver suas vidas
e gestores titubeiam e caem nas ar-
organiza a partir de oposições pola-
de ensino. A Política trouxe novas
plenamente, à medida de suas capa-
madilhas da inclusão e das novida-
rizadas, que se evidenciam quando
concepções à atuação da educação
cidades e, principalmente, segundo
des trazidas pela interpretação con-
se separam os bons e maus alunos,
especial: de substitutiva do ensino
as possibilidades que lhe são ofere-
sentânea da educação especial. O
os meninos e meninas, os normais
comum para alunos com deficiên-
cidas pelo meio. A inserção escolar
aluno da educação especial, na sala
e especiais, nas escolas. A homoge-
cia, a educação especial passou a se
e social implica uma conjunção en-
de aula comum, mesmo que “acei-
neização das turmas escolares tam-
dedicar à tarefa de complementar/
tre fatores que pertencem ao sujei-
to”, se torna o diferente, alguém que
bém decorre da identidade que se
suplementar a formação dos alunos
to e ao meio com o qual interage,
vem de fora, que ultrapassou fron-
impõe como a desejável, embora o
que constituem seu público-alvo:
resultando em uma “situação de
teiras e invadiu o território escolar.
normal só se defina pelo anormal,
identidade que é tida como natural,
SÍNDROMES - 49
SÍNDROMES - 48
APRENDIZAGEM
APRENDIZAGEM
o branco pelo preto, ao velho pelo
nos sistemas de ensino promovem
esta escola que aspiramos. Enten-
nos fazem prever, calcular a exten-
novo, o bom pelo mau e vice–versa.
essas aprendizagens no cotidiano
der quem são seus alunos e o que
são da caminhada, nosso norte é o
Estamos, neste momento de mu-
escolar.
precisam aprender dinamiza a atu-
verdadeiro sentido da educação e
ação dos professores e, ao mesmo
o nosso papel de educadores, o de
escola comum, vivendo o estranha-
A escola das diferenças
tempo, os imobiliza e os frustra,
recuperar o que foi esquecido e re-
mento pelo Outro, pelo diferente,
Precisamos nos sentir seguros e
dada a heterogeneidade das turmas
primido pela desconsideração das
nas nossas escolas. Mas reconhe-
fortalecidos para preencher, ainda
de alunos. A incapacidade de cap-
diferenças e pelo poder de excluir
cer o Outro como o diferente não
que momentaneamente, o vazio
tar essa heterogeneidade invalida
nas escolas.
basta, porque esse Outro é sem-
que sentimos diante do poder mul-
currículos, avaliações e métodos
pre “um” Outro e não “o” mesmo
tiplicador e de diferimento das di-
adaptados e demais aparatos peda-
Nota bibliográfica: Fui inspirada por Maria
– ele difere infinitamente. O nosso
ferenças. A deficiência e os proble-
gógicos que fazem os professores
Zambrano para finalizar este texto. Sua par-
entendimento do Outro está com-
mas típicos dos alunos da educação
se sentirem mais confiantes ao ga-
ticipação no capítulo “O enigma da infância
prometido pela imagem do aluno
especial estão envoltos em saberes
rantir a alguns alunos, por atalhos
ou o que vai do impossível ao verdadeiro”,
rotulado, que conseguimos conter
e práticas que a escola pensa domi-
privilegiados, a aprendizagem pre-
de autoria de Jorge Larrosa pode ser co-
em nossa cartela de categorias edu-
nar, nomear, explicar, por conhecer
tendida.
nhecido, integralmente no livro Imagens do
cacionais. O adiamento de sentido
o campo específico de conhecimen-
Maria Zambrano pensa a infância
outro, organizado por Jorge Larrosa e Núria
das diferenças dos alunos nos im-
tos que os explica e para justificar
como “o que vai do impossível ao
Pérez de Lara, editado pela Vozes, em 1998,
pede de capturá-los e essa incapaci-
a exclusão do Outro indesejado - o
verdadeiro.” Em suas palavras, o
pp.67/86.
dade incomoda, porque revela uma
aluno que não satisfaz às suas exi-
impossível é tudo o que escapa ao
falta, ou melhor, o que está incom-
gências e padrões institucionais.
possível ou, em outras palavras, ao
pleto na nossa capacidade de en-
O desequilíbrio introduzido pela
que é determinado pelo que sabe-
sinar, controlar, disciplinar alguns
cunha das diferenças nas salas de
mos e podemos. A verdade não se
alunos. A aprendizagem do que nos
aula questiona a validade e a per-
subordina a conceitos, idéias e sa-
Professora do Departamento de Metodo-
falta sobrevém aos encontros com
tinência dos saberes e práticas nas
beres existentes. Pode ser enten-
logia de Ensino da Faculdade de Educa-
o Outro, que não conseguimos des-
quais a educação especial se sus-
dida como o desmascaramento de
ção – UNICAMP. Coordenadora do LEPED
vendar; ela é essencialmente ativa e
tentou durante séculos.
um engano, de uma mentira, ou
– Laboratório de Estudos e Pesquisas em
mobilizadora, pois o confronto com
A escola das diferenças é o lugar
como a forma de se recuperar o que
Ensino e Reabilitação de Pessoas com De-
a alteridade, que nos deixa perple-
em que a inclusão escolar está pre-
se tinha esquecido ou reprimido um
xos, constitui o momento ideal de
sente e no qual os professores se
dia.
aprender o novo, impulsionado
exercitam no acolhimento incondi-
Nessa passagem do impossível ao
pela incerteza, pela dúvida, pelo de-
cional de todos os alunos, olhando-
verdadeiro estão os que caminham
Assessora pedagógica a redes de ensino
sejo de enfrentar o desconhecido.
os sempre como pessoas que lhes
para chegar à escola das diferen-
público que desenvolvem projetos de in-
As incursões da educação especial
escapam à compreensão plena. É a
ças. Destituídos de certezas, que
clusão escolar – Educação para Todos.
Maria Teresa Eglér Mantoan é Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas.
ficiências – Departamento de Educação / FE-UNICAMP. Professora Convidada e Pesquisadora do NIED - Núcleo de Informática Aplicada à Educação – UNICAMP.
SÍNDROMES - 51
SÍNDROMES - 50
danças na educação especial e na
AGENDA
MARÇO
Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade
PSICOHABANA 2011
14 a 17/04/2011
CONGRESSO INTERNACIONAL DE
Centro de Exposições Imigrantes –
PSIQUIATRIA
São Paulo – SP
07 a 11/03/2011
www.reatechvirtual.com.br
(19) 3583-7584 Havana – Cuba www.lionstours.com/psicohabana
XIV CONGRESSO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE NEUROCIRURGIA
XIII NEURÃO E II CONGRESSO DE
19 a 23/04/2011
NEUROCIRURGIA DA APM
Centro de Convenções de Natal – RN
25 a 27/03/2011
(41) 3333-0299
UNIP – São Paulo – SP
rd@eventosrd.com.br
(11) 3341-2980 neurao2011@sonesp.com
XIII CONGRESSO DA SOCIEDADE
SÍNDROMES - 52
BRASILEIRA DE COLUNA IV CONGRESSO INTERNACIONAL
28 a 30/04/2011
DE STRESS
Campos do Jordão Convention
“Pesquisa e Prática”
Center
31/03 a 02/04/2011
Campos do Jordão – SP
(19) 3234-0288 Campinas – SP
(11) 3168-1149 / 3168-3538
www.congressostress.zip.net
www.coluna2011.com.br
ABRIL
MAIO
I CONGRESSO BRASILEIRO E
VII CONGRESSO NORTE NORDESTE
II SIMPÓSIO SUL-BRASILEIRO DE
DE PSICOLOGIA
PSICOLOGIA JURÍDICA
11 a 14/05/2011
07 a 09/04/2011
Centro de Convenções da Bahia –
Hotel Continental – Porto Alegre – RS
Salvador – BA
abpjur@gmail.com
conpsi7.organiza@ufba.br www.conpsi7.ufba.br
X REATECH – 2011 Feira Internacional de Tecnologias
CONGRESSO INTERDISCIPLINAR
em
X CONGRESSO DE
AGENDA
NEUROPSICOLOGIA DE
Universidade Metodista de São
A Associação Brasileira de Psicopedagogia, ABPp, é uma entidade de caráter científico-cultural,
APRENDIZAGEM
Paulo
que congrega desde 1980, profissionais da área da Psicopedagogia e através do empenho de seu
V CONGRESSO DE
São Bernardo do Campo – SP
Conselho Nacional, Diretoria Nacional e Regionais, alcançou grande visibilidade e respeitabilidade
DESENVOLVIMENTO INFANTO-
(11) 4366-5577
JUVENIL
www.abpsa.com.br
nos meios acadêmicos e científicos, nacionais e internacionais.
IV JORNADA DO SONO
Ao longo de sua história, as questões relacionadas a regulamentação da atividade tem sido seu foco de trabalho ininterrupto e atualmente está em vias de alcançar o merecido sucesso.
III CONGRESSO DE PSICOLOGIA
VIII CONGRESSO BRASILEIRO
SOCIAL E DO TRABALHO
DE PSICANÁLISE DAS
Para isso, a colaboração de todos os profissionais é importante, dando seu apoio ao Manifesto
12 a 15/05/2011
CONFIGURAÇÕES VINCULARES
de Apoio à Aprovação do Projeto de Lei 3512/08 que Regulamenta o Exercício da Atividade em
Centro de Convenções Espaço
26 a 29/05/2011
Psicopedagogia no Brasil, disponível no site da ABPP: www.abpp.com.br
Cultural da Urca
(11) 3825-5305 Serra Negra – SP
A Abpp oferece quadrimestralmente aos seus associados uma nova revista de cunho profissional,
Poços de Caldas – MG
www.nesme.com.br
a Revista do Psicopedagogo, agora também disponível para assinaturas de não associados.
www.ribeirodovalle.com.br
JUNHO PSICODRAMA 2011
Esta nova revista vem complementar as publicações desta associação, que também continua oferecendo a todos, em caráter online, a leitura integral da revista Psicopedagogia, a qual também integra o portal de Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC) – uma fonte da Biblioteca Virtual
VIII CONGRESSO IBERO-
XIV CONGRESSO NORDESTINO DE
AMERICANO DE PSICODRAMA
NEUROCIRURGIA
em Saúde - Psicologia da União Latino-Americana de Entidades de Psicologia (BVS-Psi ULAPSI) -
14 a 19/05/2011
15 a 18/06/2011
fruto da parceria entre Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira (FENPB), Biblioteca
(11) 3017-3140
Teresina – PI
Dante Moreira Leite do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP/USP) e do Centro
Havana - Cuba
(11) 3051-6075/7157
Latino Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde - BIREME, A Psicopedagogia
sbn@sbn.com.br
pode ser acessada pelo Site da própria ABPp.
www.sbn.com.br
Também não se pode deixar de apontar o trabalho de cunho social desenvolvido pela Associação
XIV CONGRESSO BRASILEIRO DE OBESIDADE E SÍNDROME
em sua Sede Nacional, onde o trabalho voluntário de psicopedagogos associados e a Supervisão
METABÓLICA
VIII CONGRESSO PAULISTA DE
25 a 28/05/2011
NEUROLOGIA
Centro de Convenções Frei Caneca –
23 a 25/06/2011 Guarujá – SP
e científico para todos os interessados.
São Paulo – SP
(11) 3188-4281
A agenda de eventos e cursos 2011 estará disponível no nosso site a partir de março e desde já
abeso@eventos.com.br
inscrições@apm.org.br
estamos aguardando o momento de rever a todos os associados e amigos da ABPP.
XI CONGRESSO DE STRESS DA
Quezia Bombonatto
II CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO
ISMA-BR
DE PSICOLOGIA DA SAÚDE
XIII FÓRUM INTERNACIONAL DE
Presidente Nacional (gestão 2011/2013)
CONGRESSO IBERO-AMERICANO
QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
DE PSICOLOGIA DA SAÚDE
III ENCONTRO NACIONAL
26 a 28/05/2011
DE QUALIDADE DE VIDA NA
da Diretoria Nacional, construiu um modelo de atendimento prático aliado ao suporte acadêmico
SÍNDROMES - 54
www.abeso.org.br
Associação Brasileira de Psicopedagogia Rua Teodoro Sampaio, 417 conj 11 CEP 05405-000 São Paulo-SP (11) 3085-2716 ou 3085-7567 E-mail: psicoped@uol.com.br Site: www.abpp.com.br
AGENDA
SEGURANÇA PÚBLICA
SOCIOLOGIA
III ENCONTRO NACIONAL DE
26 a 29/07/2011
QUALIDADE DE VIDA NO SERVIÇO
(41) 3360-5264 UFRP – Curitiba – PR
PÚBLICO
congresso@sbsociologia.com.br
28 a 30/06/2011
www.sbsociologia.com.br
Centro de Eventos Plaza Rafael – Porto Alegre – RS
AGOSTO
(51) 3222-8598 stress@ismabrasil.com.br
IV ENCONTRO LATINO-AMERICANO
www.ismabrasil.com.br
DE TDAH E V CONGRESSO INTERNACIONAL DA
JULHO
ABDA 04 e 05/08/2011
X CONPE
Sheraton Rio Hotel e Resort – Rio de
CONGRESSO NACIONAL
Janeiro – RJ
DE PSICOLOGIA ESCOLAR E
congresso@tdah.org.br
EDUCACIONAL
www.tdah.org.br
03 a 06/07/2011 Universidade Estadual de Maringá –
CONGRESSO INTERNACIONAL
PR
SOBRE AUTISMO
(19) 3295-7112
24 a 27/08/2011
abrapee@abrapee.psc.br
Expo Unimed – Curitiba – PR
www.abrapee.psc.br
contato@congressoautismo.com www.congressoautismo.com
VIII CONGRESSO IBEROAMERICANO DE AVALIAÇÃO
SETEMBRO
SÍNDROMES - 56
PSICOLÓGICA XV CONFERÊNCIA INTERNACIONAL
XXIII CONGRESSO BRASILEIRO DE
DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
PSICANÁLISE
25 a 27/07/2011
07 a 10/09/2011
Universidade de Lisboa – Portugal
Ribeirão Preto – SP
Congresso.avaliacaopsicologica@
(21) 2235-5922
transalpino-viagens.pt
febrapsi@febrapsi.org.br www.febrapsi.org.br
XV CONGRESSO BRASILEIRO DE
XIII CONGRESSO MINEIRO DE
AGENDA
NEUROLOGIA
NOVEMBRO
I SIMPÓSIO MINEIRO DE REABILITAÇÃO NEUROLÓGICA
XVI ENCONTRO NACIONAL DA
22 a 24/09/2011
ABRAPSO
Centro de Convenções Espaço
02 a 05/11/2011
Cultural da Urca
Recife – PE
Poços de Caldas – MG
www.abrapso.org.br
www.ribeirodovalle.com.br
OUTUBRO
XXIX CONGRESSO BRASILEIRO DE PSIQUIATRIA 02 a 05/11/2011
XIII Congresso Brasileiro de
Riocentro Exhibition e Convention
Sexualidade Humana
Center
02 a 05/10/2011
Rio de Janeiro – RJ (21) 2199-7500
Hotel Sumatra – Londrina – PR
congresso@abpbrasil.org.br
(43) 3025-5223
www.cbpabp.org.br
cbsh2011@fbeventos.com www.sbrash.org.br
XXIV CONGRESSO NACIONAL DAS APAES
XVIII CONGRESSO DA SOCIEDADE
V FÓRUM NACIONAL DE
BRASILEIRA DE DIABETES
AUTOGESTÃO E AUTODEFENSORIA
19 a 22/10/2011
06 a 09/11/2011
Centro de Convenções Ulysses
Hangar Centro de Convenções e
Guimarães
Feiras da Amazônia
(61) 3322-2626 Brasília – DF
Belém – PA (61) 3224-9922
www.diabetes2011.com.br
fenapaes@apaebrasil.org.br www.apaebrasil.org.br
SÍNDROMES -58
XLI REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
CARIBBEAN REGIONAL
PSICOLOGIA
CONFERENCE OF PSYCHOLOGY 2011
26 a 29/10/2011
15 a 18/11/2011
Hangar Centro de Convenções e
Nassau – Bahamas
Feiras da Amazônia
info@crcp2011.org
Belém – PA
www.crcp2011.org
www.sbponline.org.br
DE MÃE, PRA MÃE
O ANO LETIVO COMEÇOU. E AGORA MÃE?
função pedagógica importantíssi-
nada o que fazer, e que já estudou e
ma. Favorece a construção do senso
acabou a tarefa solicitada pelo pro-
de responsabilidade e autonomia
fessor.
da criança, cria o hábito de estudo e
Cena também comum são os pais
estabelece um vínculo efetivo com
que argumentam não conseguirem
a aprendizagem. É um momento de
acompanhar o estudo do filho, ou
reflexão que possibilita a aquisição
por não terem tempo e disponibi-
e fixação do conhecimento; daí sua
lidade, ou por não terem conheci-
importância.
mento necessário, ou ainda, por não
Os ganhos advindos desta ativida-
saberem como ajudar e temer que
de não se questionam, mas para
possam até prejudicá-lo. Por parte
evitar estes momentos de tensão,
Começou o ano letivo, e com o re-
tarde, sem responsabilidades esco-
do aluno, há aquele que não se lem-
é necessário que se estabeleça um
torno às aulas, muita animação.
lares, com todo tempo disponível
bra do que foi solicitado como tarefa
bom relacionamento entre pais e
Muitas novidades a serem viven-
para descansar e fazer o que quer,
em casa, por não anotar na agenda
a escola. Apesar da lição de casa
ciadas. Material escolar novo, nova
é difícil para o aluno retornar para
ou por não ter prestado atenção nas
poder parecer, a princípio, ser res-
classe, novos colegas, professores
a rotina.
instruções apresentadas em clas-
ponsabilidade apenas do aluno e
conhecidos e outros que estão che-
O que se observa é que todo aque-
se. Mas há aquele, e não poucos,
da escola, é importante entender
gando. Alunos motivados e descan-
le entusiasmo inicial aos poucos se
que não aprendeu a estudar e por
que os pais precisam ser parceiros
sados. Pais otimistas frente à expec-
esvai, principalmente quando co-
isso mesmo precisa da supervisão
neste processo. Como? – encoraje e
tativa que este ano será diferente:
meçam as cobranças de tarefas e
de um adulto para conseguir reali-
incentive seu filho na realização de
seu filho começará a “estudar sério”
os conflitos vão se tornando, pouco
zar as tarefas solicitadas, como há
suas tarefas, disponibilize um espa-
desde o início do ano, não deixará
a pouco, parte do relacionamento
também aquele que por apresentar
ço adequado e confortável para este
acumular a matéria e não “pegará
com os pais e com os professores.
algum problema ou transtorno de
fim, ajude a criar uma rotina de es-
recuperação”.
Especialmente em relação à lição
aprendizagem precisa do acompa-
tudo, demonstre interesse pelo seu
É apenas a repetição do que já se
de casa. Se de um lado há pais que
nhamento de um especialista.
dia a dia na escola e em todas as
viu em anos anteriores e o recome-
reclamam que a escola dá muita li-
Para um desempenho escolar ade-
outras atividades que promovam
ço de uma rotina. É claro também
ção para casa, por outro, há aqueles
quado, e para que estes dilemas
seu
que depois de um longo período de
que se queixam da pouca exigência
descritos sejam minimizados, é ne-
mostre-se disponível para ajudá-lo
férias, longe das obrigações aca-
da escola, pois quando se manda o
cessário que se compreenda o obje-
quando necessário.
dêmicas, dormindo e acordando
filho estudar, este após poucos mi-
tivo da lição de casa. Esta tem uma
Quanto a este último aspecto, lem-
desenvolvimento
cognitivo,
SÍNDROMES - 61
SÍNDROMES - 60
Por: QUÉZIA BOMBONATTO
nutos, responde que não tem mais
DE MÃE, PRA MÃE
bre-se que não se deve fazer a tare-
mente dará encaminhamento ade-
fa no lugar do filho, mesmo quando
quado. Percebendo que alguma di-
se achar que a atividade proposta é
ficuldade na aprendizagem persiste,
inadequada ou ainda que não tenha
é aconselhável que se procure um
tido as explicações e sugestões do
psicopedagogo para uma avaliação
professor para a relização da mes-
profissional.
ma. Neste caso, é importante que os pais mostrem ao filho a necessidade de buscar a devida orientação junto ao professor. Caso a dificuldade de compreensão persista, é importante que os pais levem esta questão para a escola, que certa-
SÍNDROMES - 62
Assine Já
Quézia Bombonatto É, Professora de matemática, Fonoaudióloga, Psicopedagoga, Terapeuta Familiar e Presidente Nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia