sustentabilidade relatório

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AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DE UM PROJECTO

Construção Sustentável

O destino do Homem era conquistar e governar o mundo, e foi isso que ele fez... quase. Não o conquistou de todo, e parece que isto poderá ser a sua ruína. O problema é que a conquista do mundo pelo Homem causou em si mesma a devastação do mundo. E, apesar de toda a mestria que adquirimos, não temos ainda mestria suficiente para reparar a devastação

que já causamos.

DANIEL QUINN

Arquitectura 2011/2012 Universidade da Beira Interior Discente: Diana Isabel Sanches Martins da Cruz | Docente: Prof. Doutor Luiz Oliveira 5º Ano 1º Semestre | 13 de Janeiro


Avaliação da Sustentabilidade de um Projecto

Índice 1.Introdução 1.1.Objectivos 1.2.Metodologia 1.3.Estrutura Capítulo I 1.Memória Descritiva 2.Localização | Covilhã 2.1.Implantação| Projecto 2.2.Clima Capítulo II 2. Projecto de execução 2.1. Movimento de Terras 2.2. Sistema Construtivo 2.3. Coberturas 2.4. Constituição das Paredes 2.5. Pavimentos 2.6. Caixilharias 2.7. Projecto de Redes de águas e Ventilação Capítulo III 3. Diagnóstico 3.1. Check List Capítulo IV 4. Medidas Sustentáveis 4.1. Sistema Construtivo – Betão Usado: 4.2. Coberturas 4.3. Fachadas Verdes 4.4. Ventilação 4.5. Zonas verdes e Arborizadas 4.6. Caixilharias e Carpintarias 4.6. Aproveitamento de Águas 4.7. Aproveitamento de Águas Cinzentas 4.8.Energia Solar 4.9. Sistemas de Climatização 4.10. Iluminação Artificial e Electrodomésticos Capítulo V 5. Análises de Sustentabilidade | Eco Tect 5.1. Análise dos Ventos Predominantes 5.2. Análise das Sombras (Verão|Inverno) 5.3. Análise da Luz 5.4. Análise da Insolação 5.5. Análise das Sombras 6. Conclusão 7. Bibliografia

4 4 5 6 7 7 8 9 9 9 9 10 10 10 10 12 13 14 14 15 16 17 19 20 22 23 25 27 28 31 31 32 32 33 33 34 36

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Índice de Imagens Imagem 1: Imagens 3D Imagem 2: Vista Aérea da Covilhã Imagem 3: Mapa Nacional – Destaque da Covilhã Imagem 4: Médias Mensais em Graus na Covilhã Imagem 5: Níveis de Precipitação na Covilhã Imagem 6: Cobertura verde – ecotelhado Imagem 7: Paredes verdes – modelo Wallflore Imagem 8: Ventilação cruzada (Piso 0 e 1) Imagem 9: Ventilação por efeito chaminé (Piso 2) Imagem 10: caixilharia JEE Imagem 11: sistema de funcionamento da caixilharia JEE Imagem 12: reservatório de águas pluviais subterrâneo Imagem 13: reservatório de águas pluviais no exterior Imagem 14: Curvas de Intensidade de precipitação Imagem 15: Regiões pluviométricas Imagem 16: Planta de cobertura com identificação dos colectores de águas residuais Imagem 17: Funcionamento dos Painéis Solares. Imagem 18: Funcionamento dos Painéis Fotovoltaicos. Imagem 19: Etiqueta energética Imagem 20: Análise dos Ventos Imagem 21: Análise das sombras Imagem 22: Análise da luz natural no piso 0 Imagem 23: Análise da luz natural no piso 1 e 2 Imagem 24: Alçado Este - Vertical Sky Components Imagem 25: Alçado Oeste - Vertical Sky Components Imagem 26: Análise da Insolação no piso 0 Imagem 27: Análise da Insolação no piso 1 e 2 Imagem 28: Sombras – Solstício de Verão 21 Junho Imagem 29: Sombras – Solstício de Inverno 21 Dezembro

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Anexos Anexo 1: Plantas Anexo 2: Planta de Cobertura e Corte C-D Anexo 3: Constituição das Paredes e Lajes Anexo 4: Caixilharias e Carpintarias Anexo 5: Cobertura de Gravilha | Cobertura Vegetal Anexo 6: Ventilação Natural

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1.Introdução O presente relatório, realizado no âmbito na cadeira de Construção Sustentável, apresenta o estudo de um projecto partindo do patamar da sustentabilidade. O projecto situase na Cidade da Covilhã na Zona Suburbana, junto à reitoria da Universidade da Beira Interior. No campo da ecologia, a palavra sustentabilidade descreve a diversidade e produtividade dos sistemas biológicos. Na ecologia humana refere-se ao estudo da relação entre o Homem e o Habitat na busca de soluções que possibilitem uma permanência harmoniosa desta geração e das próximas. O bem-estar da espécie humana terá então uma relação directa com o bem-estar do mundo natural e com o uso responsável dos recursos naturais. À medida que a população mundial aumenta, os ecossistemas naturais declinam e as mudanças no balanço dos ciclos naturais têm mostrado um impacte negativo tanto nos humanos como nos outros seres vivos. Em Portugal a energia consumida pela construção ronda os 20% e são produzidas cerca de 30% de emissões de dióxido de carbono (CO2). 1.1.Objectivos Referente ao nome da cadeira, o principal objectivo deste trabalho é a análise construtiva e sustentável de um projecto, e consequentemente de projectos futuros. São usadas ferramentas informáticas para avaliar o nível de sustentabilidade do mesmo projecto e, a par deste processo, apresentam-se também métodos e sistemas que podemos adquirir na nossa habitação e no nosso dia-a-dia e que podem melhorar financeiramente a nossa vida, e ao mesmo tempo, a “vida” do ambiente. Pretende-se ter consciência dos riscos que as nossas decisões a nível arquitectónico e construtivo causam, não só na nossa forma de viver, mas também no meio ambiente. 1.2.Metodologia Inicialmente procurou-se um projecto, realizado no decorrer do curso de Arquitectura, assim, aptou-se por um projecto de uma residência para professores de apartamentos flexíveis. A primeira fase do trabalho resulta de um estudo superficial do projecto e das suas características construtivas. É feito então um diagnóstico, referenciando os pontos fortes e os pontos fracos relativamente ao nível de sustentabilidade do projecto. Em seguida, as conclusões tiradas do diagnóstico são postas à prova num programa informático (Ecotect) que avalia mais sucintamente o projecto, quanto à sua posição em relação ao sol, quanto ao ganhos e perdas solares… Finalmente, são adoptadas as conclusões retidas do programa

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informático, e ao mesmo tempo, são mencionadas as características que o projecto deve assumir, a nível construtivo e a nível de elementos, para que tenha um maior grau possível de auto-suficiência. 1.3.Estrutura Inicialmente é apresentado o projecto e a sua caracterização. De seguida, é feita uma breve apresentação da cidade onde se situa, Covilhã, assim como da sua temperatura e níveis de precipitação. O estudo desenvolve-se segundo cinco capítulos. O primeiro apresenta o objecto arquitectónico e a sua localização. O segundo capítulo é referente ao projecto de execução inicial, onde são enumeradas a diversas opções tomadas ao longo da execução do projecto. O terceiro capítulo refere-se ao diagnóstico superficial, onde são enumerados os pontos fortes e os pontos fracos, que são imediatamente perceptíveis. No quarto capítulo são enumeradas as melhores opções para que a estrutura cumpra, da melhor forma possível, a sua função, aliada à sustentabilidade assim como elementos e sistemas, que podem ser adoptados depois de a construção estar concluída, e que, em conjunto com o tipo de construção adoptada, contribuem para uma maior redução nos custos que um edifício implica. Por fim, o quinto capítulo apresenta um conjunto de análises feitas ao projecto, tendo como base um programa informático. Programa este, que se caracteriza pelo grau de pormenorização nos resultados, e pela forma como os apresenta (valores e gráficos). Em anexo, são apresentados os desenhos técnicos relevantes para a compreensão das medidas adoptadas.

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Capítulo I 1.Memória Descritiva O projecto em análise é uma residência para professores situada na cidade da Covilhã. O programa exigia que a residência fosse constituída por apartamentos flexíveis, de pequenas áreas, e uma zona de estar e de serviços, comum a todos os apartamentos. As tipologias usadas são o T0 (seis apartamentos), o T1 (seis apartamentos), o T2 (quatro apartamentos) e dois apartamentos adaptados para pessoas de deficiência motora. As áreas comuns são uma sala de estar e um bar com cafetaria, uma sala de estudo e de informática, um ginásio e uma lavandaria. O projecto foi desenvolvido segundo uma linha horizontal, de forma a privilegiar a envolvente e a criar uma escala apropriada à função do edifício. Este desenvolve-se em três pisos, sendo o piso 0 destinado às zonas comuns e apartamentos adaptados e os restantes às habitações. Em todos os pisos a distribuição é feita segundo um corredor amplo. No rés-do-chão, este é aberto, e somente reforçado pelo material do pavimento e do pé direito mais alto. Nos restantes dois pisos a distribuição é feita por corredores ao ar livre. O acesso das habitações faz-se pelo exterior. São esses acessos que criam um jardim privado atrás da residência, em consequência do afastamento desses acessos aos vão dos apartamentos. Todos os apartamentos seguem a mesma tipologia e a mesma distribuição, há uma preocupação em privilegiar a luz natural, e por isso as zonas de águas, encontram-se no centro dos apartamentos, e reservam-se os vãos para os espaços mais amplos, como a sala e os quartos. Os alçados foram projectados para que não se percepcionasse, do exterior, a diferença de funções no edifício, o objectivo foi unificar o projecto fazendo dele um espaço mais acolhedor e familiar. Isto é perceptível na similaridade dos vãos e da sua distribuição.

Imagem 1: Imagens 3D Construção Sustentável | 6


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2.Localização | Covilhã A cidade da Covilhã pertence ao Distrito de Castelo Branco, situa-se no eixo Norte-Sul entre esta e outra capital de distrito a Norte (Cidade da Guarda). A Covilhã está situada na parte sudoeste da Serra da Estrela, a cerca de 20 km da Torre (1993m), ponto mais alto de Portugal Continental, situando-se entre os 450 e os 800 metros de altitude. A latitude é de 40.28246 e a longitude é -7.50224.

Imagem 2: Vista Aérea da Covilhã Imagem 3: Mapa Nacional – Destaque da Covilhã

2.1.Implantação| Projecto O projecto em análise situa-se na zona suburbana da cidade, caracterizada por uma topografia irregular, vegetação abundante, e ausência de bons acessos viários. É uma área privilegiada pelo ar puro, boa exposição solar e inexistência de poluição sonora. Desta forma, posicionou-se o edifício para que as fachadas com maiores vão se voltassem para este/oeste, e a fachada norte sem aberturas. A forma rectangular é a mais eficiente para minimizar as necessidades auxiliares de aquecimento no Inverno, mas também as necessidades de arrefecimento no Verão. Localização do projecto

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2.2.Clima O clima da Covilhã é mediterrâneo continental. Nos Verões as temperaturas são moderadamente altas, enquanto nos Invernos são baixas. A temperatura baixa conforme a altitude, podendo variar entre temperaturas amenas e negativas, por vezes ocorrendo quedas de neve. Na área urbana da Covilhã, a neve é pouco regular e geralmente não existe acumulação desta no solo. As condições climáticas são as necessárias para uma vegetação predominante.

Imagem 4: Médias Mensais em Graus na Covilhã

Imagem 5: Níveis de Precipitação na Covilhã

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Capítulo II 2. Projecto de execução O projecto de execução sintetiza informações essenciais relativas à construção, desde à constituição da estrutura, à escolha dos materiais interiores assim como à reflexão acerca de elementos cruciais para tornar um edifício o mais auto-sustentável possível. 2.1. Movimento de Terras Esta proposta prevê movimentos de terras na zona Oeste do terreno, visto tratar-se de um terreno com dimensões muito reduzidas. Assim, para a criação de melhores acessos pedonais e consequentemente pequenos jardins nessa zona, prevê-se a escavação de terras em toda o comprimento do edifício, e com uma altura de cerca de 3 metros. Quanto à construção em si, não foram necessárias nenhumas demolições, visto que o edifício se encontra numa zona isolada. 2.2. Sistema Construtivo (ver Anexo 1) A estrutura é o primeiro elemento a ter em consideração aquando da elaboração do projecto de execução. Há que ter em conta diversos factores, como o número de pisos, a sobrecarga, ou seja, a função a que se destina cada piso, a localização do edifício, o número de vão e possíveis espaços amplos, como mezanines ou varandas. É a tipologia que, normalmente, define o tipo de estrutura utilizada. No caso deste projecto, é utilizada uma estrutura de alvenaria, ou seja o pórtico é o sistema utilizado. A distribuição é feita segundo uma malha regular e não muito dispersa, de forma a coincidir com todas as paredes não estruturais do edifício. Como os acessos aos apartamentos são exteriores, não houve a necessidade de criar uma caixa de escadas reforçada a betão, e como se prevê acesso pelo exterior a dois pisos, não foi necessária a colocação de um elevador. Desta forma, para criar uma estrutura reforçada e mais resistente a acções externas, essas paredes reforçadas de betão foram distribuídas ao longo da planta com o objectivo de criar uma organização proporcional. Estas paredes são usadas também para suportar as escadas encastradas de betão. 2.3. Coberturas (ver anexo 2) A cobertura classifica-se como cobertura não transitável com acabamento em gravilha. Esta assume uma inclinação de 2%, tendo em conta a área da cobertura e a distribuição dos tubos de queda. A cobertura é constituída por uma laje de betão de Construção Sustentável | 9


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20cm, uma camada de betão leve que permite regular a inclinação da cobertura, telas de impermeabilização que impedem a penetração da água e de humidade no interior do edifício e uma placa de isolamento XPS de 6m. 2.4. Constituição das Paredes (Ver Anexo 3) Na concepção da estrutura teve-se em atenção a escolha dos materiais, como o isolamento acústico (cortiça) entre pisos, e em paredes meeiras e o isolamento térmico (poliestireno extrudido) nas paredes exteriores. As paredes exteriores são constituídas por tijolo Artbel de 22cm e isolamento térmico de 6cm pelo exterior, as paredes interiores são constituídas por tijolo cerâmico de 15 cm, e as paredes meeiras (paredes divisórias de apartamentos) são constituídas por tijolos duplo de 11cm, caixa-de-ar de 5cm e isolamento acústico de 4 cm. As vigas e os pilares foram pré dimensionados segundo a grelha definida, resultando assim pilares de betão, rectangulares (20cmx40cm). 2.5. Pavimentos No rés-do-chão, é o pavimento que faz a separação entre dois espaços distintos (as salas comuns e o corredor de acesso). Assim, a madeira é aplicada como pavimento nas zonas comuns, para criar um ambiente mais quente e familiar, e no corredor é usado autonivelante. Nos pisos de habitação, é usada a madeira no pavimento e nas zonas de águas foi escolhido o viroc branco, um material de baixos custos e de fácil aplicação. 2.6. Caixilharias (Ver Anexo 4) O caixilho apresentado neste projecto corresponde ao vão das varandas dos apartamentos. É constituído por quatro folhas de vidro duplo que se encaixa numa moldura de alumínio de apenas 52 mm à vista. As quatro folhas de correr encontramse encaixadas numa armação de alumínio que proporciona uma alçado leve e simplificado. 2.7. Projecto de Redes de águas e Ventilação O encaminhamento das tubulações dos esgotos e das águas pluviais, assim como as águas frias e quentes, deve estar bem definido para assim se antever o espaço necessário para que isso ocorra sem conflitos com a planta, a estrutura e as alvenarias. Desta forma, no projecto teve-se em atenção a distribuição das instalações sanitárias, procurou-se distribuí-las de forma uniforme e alinhadas. Tanto as casas de banho como as cozinhas estão alinhadas ao centro dos apartamentos, não necessitam, obrigatoriamente, de

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ventilação natural visto que possuem uma ventilação própria vertical. Ao mesmo tempo, as coretes por onde passa a canalização estão localizadas de forma a não interferir com os elementos estruturais nem obstruir a organização da planta. É necessário especial cuidado ainda na localização das tubagens verticais do edifício, no caso de reformas, pois desviá-la não é aconselhável e a parede onde ela se encontra embutida deve ser mantida. Por isso, no projecto, estas tubagens estão localizadas nas paredes estruturais. O pré dimensionamento das coretes foi pensado também para a colocação de painéis solares.

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Capítulo III 3. Diagnóstico O projecto em análise localiza-se na cidade da Covilhã, junto ao edifício da reitoria da Universidade da Beira Interior. Assume, como função, residência para professores, desenvolvendo-se ao longo de três pisos, com uma área de, aproximadamente 557 m2 cada piso. O alçado principal encontra-se voltado para este, a e entrada secundária encontra-se voltada para oeste, ao contrário dos alçados sul e nortes, somente estes é que possuem aberturas e entradas de luz, para um aproveitamento consciente das faculdades da luz solar. Caracteriza-se, materialmente, pelo uso de madeira, na protecção das janelas, e argamassa no revestimento exterior. Dentro das possibilidades sustentáveis, as mais relevantes são: - Recolha de águas da chuva para uso doméstico; - Reutilização de águas cinzentas para reutilização doméstica (provenientes das cozinhas e banhos); - Utilização de painéis para aquecimento de águas; - Utilização de painéis fotovoltaicos para produção de energia; - Utilização de electrodomésticos de classe A (poupança de energia) Para um conforto térmico (aquecimento, água quente, arrefecimento), conforto aos odores e sabores, conforto acústico e conforto visual (iluminação natural e artificial), tem que existir medidas par um controle das necessidades energéticas, destacando: orientação das fachadas principais e dos espaços de permanência, proporção adequada das áreas envidraçadas, tendo em conta a orientação solar, as características dos vidros e caixilharias.

PONTOS FORTES 

Não possui elevador, no entanto é garantida a segura acessibilidades para todos os utilizadores, incluindo pessoas com incapacidades motoras;

Não possui estacionamento fechado/subterrâneo, portanto não se recorre a escavações nem a poluição do ar;

As aberturas permitem tirar o máximo aproveitamento da luz do sol;

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Considera-se um bom vizinho, na medida em que, para além de se encontrar praticamente isolado, é composto somente por 3 pisos;

Possui pequenos jardins nas traseiras do edifício, permitindo a produção de solo fértil e de alimentação; 3.1. Check List

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Capítulo IV 4. Medidas Sustentáveis Na criação de novos assentamentos, a sustentabilidade na construção passa por três medidas essenciais: 

a concretização de projectos de planeamento urbano e de arquitectura em que seja claro o desejo de obter eficiência energética, diminuindo a necessidade de iluminação, ventilação e climatização artificiais;

uso de energias renováveis, não poluentes e gratuitas que possam ser produzidas localmente;

sistemas de captação e tratamento da água;

sistemas de tratamento de resíduos sólidos;

uso de materiais e técnicas de construção que dependam apenas de recursos locais, provenientes de fontes renováveis e que minimizem o impacte ambiental, extracção, gastos de energia, consumo de água na sua extracção, aspectos de saúde, emissões poluentes, etc.

Estes princípios têm como objectivo encontrar soluções para a integração dos humanos civilizados no ambiente natural, causando o mínimo impacte. Outro objectivo bastante importante é a economia dos recursos disponíveis no núcleo de cada comunidade. 4.1. Sistema Construtivo – Betão Usado: Aproximadamente 60% do peso de um edifício com estrutura de betão armado é composto por granulados pétreos naturais, que se encontram contidos principalmente nesse material. Tratam-se de fragmentos de pedras naturais que se extraem de pedreiras, cujas características técnicas são muito semelhantes ao produto que se obtém da trituração do próprio betão. Sob determinadas condições técnicas e normativas, é possível substituir uma boa parte dos granulados pétreos naturais por este novo material, que até há pouco tempo era visto como resíduo. O betão usado, uma vez separado o aço das suas armações e todos os materiais colados que poderiam alterá-lo, é triturado e separado em diferentes granulometrias, convertendo-se desta forma num componente apto para o fabrico de novo betão cujo comportamento mecânico é semelhante ao dos compostos baseados exclusivamente em granulados pétreos naturais (a resistência estrutural pode chegar a 80 ou 90%). Por cada metro cúbico de betão novo que consumimos, é necessário quase outro metro cúbico de pedra natural de distinta granulometria, podendo-se substituir, como vimos, boa Construção Sustentável | 14


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parte dela reciclando o betão usado, que muitas vezes se encontra no mesmo local da obra, ou obter-se em unidades de reciclagem. Reciclando o betão diminuímos ao mesmo tempo três impactos ambientais: A extracção de rochas naturais da pedreira, o derrame contaminante do betão usado e o transporte de todo esse material. 4.2. Coberturas (ver Anexo 5) As coberturas verdes contribuem para a sustentabilidade ecológica do ambiente urbano. São constituídas por um sistema de engenharia ligeiro que permite a plantação e crescimento de plantas e flores sobre uma laje convencional. As coberturas verdes reduzem também os efeitos danosos dos raios ultravioletas, os extremos de temperatura e os efeitos do vento. Eco – Telhado O Eco-telhado é um jardim suspenso, também conhecido como telhado verde. Este tipo de cobertura vegetal pode ser instalada tanto em cobertura de prédios (laje) ou sobre telhados convencionais, como o de telha cerâmica, fibrocimento, dentre outros. É possível fazer um telhado com grama ou com plantas. Sistema Modular: É um sistema patenteado de telhado verde composto por módulos já vegetados colocados lado a lado sobre uma membrana anti-raízes e uma membrana para a retenção de nutrientes. Método de rápida instalação e excelente conforto térmico. Este sistema pesa cerca de 50kg/m² já saturado e pode ser colocado sobre praticamente qualquer tipo de telhado ou laje. O telhado vivo (telhado verde, cobertura verde)é constituído preferencialmente por plantas adaptadas a solos rasos, resistentes a estiagem, de baixa manutenção como os seduns e outras suculentas. É vantajoso na medida em que, pode ser colocado sobre qualquer tipo de cobertura, já vem com vegetação, evita a erosão do substrato nutritivo, possui baixo peso, de baixa manutenção, facilidade e rapidez na colocação, excelente retenção de água.

Imagem 6: Cobertura verde - ecotelhado

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Este tipo de cobertura oferece inúmeros benefícios aos mais variados níveis. Ao nível térmico, devido a concentração de concreto e pavimentação (asfalto) nos centros urbanos e o calor irradiado por eles devido à incidência de raios solares causam um aumento da temperatura, que é atenuado pela utilização do tecto jardim, já que a camada de vegetação intercepta a luz natural e reduz o calor. Dessa forma, o interior do edifício está protegido contra as altas temperaturas do Verão e no, Inverno, a temperatura interna será mantida porque a camada de terra e vegetação funcionam como isolantes. Ao nível acústico, o solo, a vegetação e a camada de ar presa entre as plantas e as superfícies construídas podem funcionar como isolantes Acústicos. O solo tende a bloquear as frequências de som mais baixas e as plantas, as frequências mais altas. Do ponto de vista ecológico, a cobertura vegetal contribui para renovação do ar, através da fotossíntese e, quando feito em larga escala, armazena água de precipitação, diminuindo a necessidade de sistemas extras de despejo de águas pluviais e o risco de inundações, além de filtrar a poluição dessas águas. Ao nível económico, como a temperatura se mantém razoavelmente estável no interior da edificação, há uma economia de energia no que diz respeito a sistemas de refrigeração e também de isolamentos. E como a vegetação protege o edifício, isso aumenta a vida útil da estrutura. O efeito isolante da cobertura, induz uma redução no aquecimento e/ou arrefecimento da construção. Estima-se que a temperatura no interior pode sofrer uma redução de 4-5ºC, para uma temperatura exterior de 25º C a 30ºC. A uma redução das temperaturas interiores de 0.5ºC, corresponde uma redução da factura energética em cerca de 8%.

4.3. Fachadas Verdes “São sistemas vivos, com circulação de água e transpiração das espécies, o que refresca o ambiente quando bate muito sol”-segundo o francês Arnold Julia, criador deste sistema inovador, destinado a fachadas. A Wallflore Per, da Wallflore, é um painel préfabricado de revestimento para ambientes internos e externos composto por uma cobertura vegetal natural. Estruturado com blocos de lã-de-rocha de alta densidade e perfis de alumínio, o painel possui a sua área preenchida com folhas e vegetais pré-plantados, prontos para a montagem na obra.

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Blocos de lã-de-rocha

Estrutura em alumínio

Painel de revestimento vegetal

As águas das chuvas não penetram nestes painéis como no solo vegetal. As águas são captadas por um colector colocado horizontalmente sob os painéis do alinhamento inferior. Estas águas são conduzidas para uma rede em circuito fechado do sistema “EASYDRAT”, via um tanque de armazenamento que pode ser alimentado pelas águas pluviais captadas por um telhado ou terraço situado na proximidade. O sistema “EASYDRAT” gere a hidratação do conjunto dos painéis, cujo princípio de funcionamento é constituído por uma rede de bainhas de rega gota a gota, integrada entre os painéis, via um dispositivo específico que permite uma distribuição precisa dos contributos de água e nutrimentos directamente na camada de substrato. A rede de bainhas liga a uma Estação de Controlo Automática da Hidratação (SCAH) que agrupa equipamentos (bomba doseadora, programador, filtro, etc.) dimensionados em função das superfícies a hidratar.

Imagem 7: Paredes verdes – modelo Wallflore

4.4. Ventilação (ver anexo 6) A ventilação natural pode ser definida como o fornecimento passivo (ou seja, sem a ajuda de máquinas) de ar proveniente do exterior para o interior de um edifício para ventilação e arrefecimento. Quando bem desenhado e o sistema bem adaptado à localização Construção Sustentável | 17


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do edifício e ao seu uso, a ventilação natural pode substituir em parte ou integralmente um sistema mecânico, e assim reduzir custos relativos à construção, energia, assim como de operação do próprio edifício. A ventilação natural é um factor vital à criação de condições de higiene e conforto, sendo um meio não só adequado à conservação de energia, como também um modo de melhorar as condições de salubridade, sobretudo no que diz respeito à remoção de humidades e, consequentemente, aumentando a durabilidade da própria construção. No entanto, uma ventilação natural desadequada implicará maiores gastos energéticos pela necessidade de aquecimento durante o Inverno, ou pelo contrário, uma ventilação insuficiente conduzirá a níveis de humidade relativa maiores durante o Inverno e ao sobreaquecimento no Verão, provocando um desconforto ambiental nos utentes resultantes dos fenómenos de condensação e da nociva qualidade do ar interior. Assim, os benefícios da ventilação natural deverão ser controlados através da localização (ventilação cruzada) e da constituição optimizada (caixilharia com corte térmico e vidros isolantes) de vãos no paramento exterior. No projecto em análise considera-se a ventilação cruzada nos pisos 0 e 1, e no segundo piso verifica-se uma ventilação em chaminé, com a criação de uma clarabóia mais elevada, para permitir este tipo de circulação do ar.

Ventilação cruzada (varrimento): A ventilação cruzada é obtida com janelas em dois lados de uma sala, causando um fluxo de ar através do espaço - varrimento. Uma pressão positiva do lado do vento e/ou uma depressão do lado oposto do edifício provoca um movimento de ar através da sala, no sentido de onde sopra o vento para o lado oposto, desde que as janelas de ambos os lados estejam abertas.

Imagem 8: Ventilação cruzada (Piso 0 e 1)

Ventilação por efeito chaminé: Este tipo de ventilação tira partido de fenómenos naturais como o vento, a humidade e os diferenciais de pressão causados por diferentes temperaturas, através do desenho da forma do edifício, de forma a trazer ar que se encontra no exterior para dentro do edifício.

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Quando a temperatura interna é maior que a externa, o ar externo, mais frio, ingressa na edificação através das aberturas mais baixas e o ar interno, mais quente, sai pelas aberturas mais elevadas.

Imagem 9: Ventilação por efeito chaminé (Piso 2)

Num edifício onde se considera a ventilação natural, duas estratégias distintas devem ser consideradas - uma para o Inverno e outra para o Verão. Durante o Inverno, apenas pequenos fluxos de ar são necessários, mas existe o risco de correntes de ar indesejadas. Durante o Verão, o principal desafio é providenciar o necessário fluxo de ar para o arrefecimento efectivo. É necessário ter em atenção aspectos como a dificuldade em controlar entradas de ar imprevisíveis devido a variações de velocidade e direcções. Para tal, tento em conta a implantação do projecto e as características dos vãos, previram-se a colocação de plantas capazes de minimizar imprevistos, assim como venezianas/persianas e protecção de vãos, par ao mesmo efeito. 4.5. Zonas verdes e Arborizadas No percurso de acesso pedonal à entrada principal do edifício, é substituído o asfalto, inicialmente projectado, por um trajecto em calçada de pedra e zonas verdes. Tanto na área em frente ao edifício, como nas traseiras são criados jardim tendo e consideração plantas características da zona da Covilhã. Como a ventilação através de aberturas das janelas pode comprometer tanto a qualidade do ar como o ruido no interior, optaram-se por plantas de folha persistente na zona frontal do edifício, como o sobreiro, visto que o alçado possui vãos de maiores dimensões, e por plantas de folha caduca, como o carvalho e o castanheiro, com a capacidade de criar sombreamento optimizando o meio ambiente ao tornar os espaços mais frescos ou mais quentes consoante a época do ano, visto que no lado oeste se encontra um talude de 3 metros a 5 metros distantes do edifício. Sobreiro: Árvore de porte médio (15 a 20 metros), de folha persistente e copa arredondada. A casca do tronco do sobreiro é a cortiça. De sete em sete anos, retira-se a

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cortiça ao sobreiro. A cortiça dá ao sobreiro protecção contra o fogo, permitindo-lhe sobreviver a incêndios que matam outras árvores. Carvalho: Tem uma copa arredondada e a folhagem é abundante. É de folha caduca e gosta de climas suaves e quentes. O fruto é uma bolota que se desenvolve de forma solitária ou agrupada em duas ou três e a sua madeira é utilizada na construção de mobiliário.

As árvores situadas junto às fachadas funcionam como faixas protectoras que actuam como barreira sonora, absorvem o CO2 e retêm até 75% do pó, chumbo e outras partículas do ar. 4.6. Caixilharias e Carpintarias Caixilharias - JEE, Janela Eco-Eficiente: A janela eco eficiente aponta directamente para os vãos exteriores, como elementos fundamentais nas transferências térmicas, ventilação e acústica, que ocorrem entre o interior e o exterior das habitações. A JEE é um objecto de design, standard, ergonómico, que optimiza a prestação funcional dos vãos exteriores, melhorando a sua eficiência energética e o desempenho ambiental dos sistemas construtivos, utilizando materiais recicláveis e transformando resíduos em recursos. Passível de ser produzida em série, a JEE, é uma tecnologia de fácil aplicação em edifícios novos e a reabilitar, conseguindo em condições ideais de exposição solar e tratamento da envolvente, contribuir para o conforto dos espaços, poupando entre 30 a 40% de energia. Sendo um objecto integrado, a JEE, é composta por dois sistemas complementares que dão resposta a diferentes fenómenos, contribuindo no final para a eficiência do conjunto: - O Vão: em caixilharia de alumínio com ruptura térmica, desenvolvida para o efeito; vidro transparente, garantindo a vista para o exterior, com factor solar e condutibilidade térmica variáveis com a localização; um estore côncavo exterior, reflector da luz natural para o interior que garante também a ocultação. - O Sistema Térmico: disposto na vertical ao longo da ombreira do vão, constituído por uma estufa semicilíndrica em acrílico transparente; uma portada automatizada em cortiça, com espelho concentrador em alumínio polido aplicado numa das faces; acumulador térmico, desenvolvido e dimensionado de forma a armazenar o máximo de energia possível, com uma Construção Sustentável | 20


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inércia térmica adequada; um sistema activo de aquecimento garantindo o funcionamento nocturno do objecto em dias de fraca radiação solar. Modos de funcionamento: Dia frio e solarengo, com o Sol, a portada isoladora automatizada abre, deixando a radiação penetrar atravessando a estufa. Incidindo no acumulador térmico, inicia-se o processo de armazenamento de calor que ocorrerá durante o dia a uma média de 400Wh/m2; Dia quente de Verão, a portada isoladora encontra-se fechada, ocultando o acumulador da radiação solar. No entanto a estufa está quente e assim, o ar exterior circula por convecção natural através dumas grelhas de ventilação pela estufa dissipando os ganhos excessivos, evitando o seu sobreaquecimento.

Imagem 10: caixilharia JEE

Imagem 11: sistema de funcionamento da caixilharia JEE

Madeira: Tanto para as portas de entrada dos apartamentos, portas interiores e pavimento dos apartamentos, optaram-se por madeiras duras ou rijas (carvalho), as mais empregues na construção. Caracterizam-se como duras, leves, fáceis de trabalhar e muito duráveis, não são alacadas por parasitas e conservam-se bem.

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O facto de a madeira ser um material orgânico, celular, com elevada performance energética, é um dos factores de conforto. Mas, não só como material orgânico e celular, a absorção e libertação de humidade realiza-se para que os graus de humidade interior de uma habitação sejam sempre adequados. (Lira, Jorge, jornadas Quercus 2008) 4.6. Aproveitamento de Águas A água é um recurso muito escasso e precioso que deve ser gerido de forma eficiente para as gerações actuais e vindouras. Duas perspectivas distintas para optimizar o consumo de água ressaltam no contexto da construção sustentável: a primeira demonstra os cuidados a ter no processo de concepção, de construção e de operação de um edifício para que a água potável seja optimizada, sem reduzir o grau de conforto e de salubridade que o seu uso proporciona; a segunda descreve como se torna hoje exequível e desejável produzir e fornecer “água secundária” para satisfazer os usos que não necessitam de água potável. Medidas que possibilitam a redução de até 50% do uso de água potável na habitação: 

Torneiras: devem ser mudadas de modo a terem disponíveis dispositivos de redução do fluxo de água (torneiras dos lava-loiças, lavatório e do bidé);

Sanitas: devem ser equipadas com descarga selectiva (pelo menos 2 botões); a descarga mais reduzida deve debitar menos de 6 litros de água;

Máquinas de lavar a loiça: apesar de sair do âmbito da arquitectura, convém referir que há modelos no mercado com eficiência, evitando os habituais 15 litros/ lavagem.

Máquinas de lavar a roupa: existem modelos no mercado com eficiência superior aos habituais 60 litros/ lavagem.

Chuveiros: Deve-se ter em conta a eficiência do chuveiro através do caudal. Em vez dos tradicionais 13litros/minuto optar por 7litros/minuto disponíveis no mercado. É muito importante e economicamente viável substituir todos os dispositivos

existentes por dispositivos que reduzam o consumo de água. É muito importante a utilização de chuveiros eficientes, porque (segundo o estudo sobre a desagregação do consumo doméstico de água potável em Lisboa, desenvolvido pela EPAL) é no duche que se consome quase 50% da água potável. Outra das situações relevantes segundo este estudo são as descargas nas sanitas que devem ser selectivas, porque estas são responsáveis por 22% do consumo de água potável.

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4.7. Aproveitamento de Águas Cinzentas Hoje em dia, a água potável é utilizada para usos que podem ser satisfeitos por uma água que pode ter uma qualidade inferior. A água potável utilizada deve ser reciclada e reutilizada, assim como toda a água da chuva que cai na cobertura plana do edifício, deve ser recolhida em depósitos, com o devido tratamento, deve, então, ser reutilizada para as funções que não carecem de água potável. Portugal é um país rico no recurso chuva que, para além de restabelecer os níveis de água nas reservas, enche as barragens e é também utilizada para a produção de electricidade. Existem no mercado tecnologias para produzir água reciclada a partir de águas cinzentas e da chuva, água esta que pode satisfazer os usos que não necessitam de água potável. Os usos que não carecem de ser fornecidos como água potável são neste caso os seguintes: -Lavagem de espaços exteriores; -Descarga em sanitas; Esta água reciclada na sua última fase de tratamento deve garantir a eliminação de bactérias não sendo nociva à saúde humana. Assim sendo, deverá haver dois abastecimentos de água distintos, com contadores individuais. Um será para a água potável e o outro para a água reciclada. As redes nunca se deverão cruzar, para evitar a contaminação da rede de água potável. Neste projecto optou-se pelo aproveitamento de águas da chuva (com recolha nas coberturas), através da instalação de um sistema de reciclagem; e o aproveitamento de águas cinzentas (usadas, provenientes dos lava-loiças, lavatórios, duches, banheiras e bidés), através da instalação de um sistema de reciclagem. A implicação principal de qualquer sistema de reciclagem de águas da chuva e de águas cinzentas é a construção de reservatórios, capazes de armazenar a quantidade de água a reciclar, deste modo na zona que deverá ser construída auxiliar à habitação deverão estar os mecanismos de observação destes. Aproveitamento de Águas Pluviais De um modo generalizado, a captação da água da chuva é efectuada ca cobertura dos edifícios, a qualidade da água recolhida depende dos materiais utilizados na construção do telhado e dos resíduos que nele se depositam. A água da chuva (juntamente com sedimentos, folhas e detritos) é recolhida nas caleiras onde são colocadas malhas de plástico ou metal para uma primeira filtragem. Em seguida, é canalizada através dos tubos de queda, passando por um outro sistema de Construção Sustentável | 23


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filtragem que lhe retira os restantes sedimentos e impurezas antes de ser recolhida no reservatório de armazenamento. O reservatório para o armazenamento da água da chuva é o componente mais caro deste sistema de recolha. Para maximizar o retorno financeiro do investimento a escolha, dimensionamento e adequação do reservatório devem ser projectadas cuidadosamente tendo sempre em conta a capacidade, o material e o local de colocação deste. No reservatório ocorre uma última limpeza e filtragem da água recolhida antes de esta estar pronta para ser utilizada para fins não potáveis (sistemas de rega, águas sanitárias, etc.). Estes equipamentos podem ser projectados, desenvolvidos e montados de raiz paralelamente à construção do edifício em questão, podendo também ser instalados em habitações e/ou edifícios já construídos, havendo diversas soluções técnicas para a instalação.

Imagem 12: reservatório de águas pluviais subterrâneo

Imagem 13: reservatório de águas pluviais no exterior

Os caudais de cálculo são obtidos através da curva de intensidade – duração – frequência (imagem 1), que fornecem os valores das médias das intensidades máximas de precipitação, para as diferentes regiões pluviométricas (imagem 2). Os valores obtidos através das curvas nas condições referidas são: 

Região A: 1.75 l/min.

Região B: 1,40 l/min.

Região C: 2.10 l/min. Como o projecto se situa na Covilhã, a intensidade de precipitação é 2.10 l/min.

.

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Imagem 14: Curvas de Intensidade de precipitação para um período de retorno de 5 anos

A

Imagem 15: Regiões pluviométricas

B

Imagem 16: Planta de cobertura com identificação dos colectores de águas residuais

Tendo em consideração o nível de precipitação na região da Covilhã, em parceria com a área de cobertura, conclui-se que: A – área= 138,6m2, então segundo os dados referidos anteriormente, pressupõe 291,06 litros em toda a cobertura. B – área= 118,7m2, o que pressupõe 249,27 litros em tida a cobertura. Considerando que a água das chuvas reutilizada serve apenas para a rega e manutenção dos jardins, apenas serão necessários dois colectores, nas coberturas de maiores áreas, para assim conseguir reunir cerca de 540 litros, nas alturas de maior pluviosidade. Localização dos colectores de águas pluviais.

4.8.Energia Solar Qualquer género de captação de energia luminosa posteriormente transformada em matéria utilizável para as necessidades do Homem define-se como energia solar.

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A Terra recebe 1410W/m2 de energia no seu movimento de translação ao redor do Sol. A atmosfera terrestre absorve 19% de energia enquanto as nuvens reflectem 35%. Na sua maioria a energia solar aquando da passagem pela atmosfera terrestre encontra-se sob a forma de luz visível e luz ultravioleta. Existem dois tipos de procedimentos de energia solar, directos e indirectos. O tipo de reacção solar directa consiste na singular transformação com vista à formação de um género de energia utilizável pelo homem. O método de captura de energia solar indirecta necessita da sujeição a mais que uma transformação de modo a ser fornecida energia utilizável. Dispositivos eléctricos, mecânicos e químicos auxiliam sistemas activos, que na sua maioria são considerados indirectos. Painéis Solares Os painéis solares têm como fundamento o aquecimento da água da rede destinada a práticas diárias. Uma placa reflectora, formada por metais de cobre ou alumínio, permite a transferência de energia térmica para o fluido utilizado para aquecer a água da rede. Tratandose do referido fluído ser água misturada com anticongelante, este permite o aquecimento da água, para que não haja o seu congelamento. De modo a suprimir perdas, a parte exterior do painel é isolada termicamente. Através de um dispositivo idêntico a uma estufa de vidro, cuja transparência permite a passagem da radiação solar, que atingindo uma chapa de alumínio pintada de preto situada no seu interior, capacita o aumento da absorção da energia incidente. Sendo transmitido porção do aquecimento da chapa para a água através da sua condução por tubulação, quando aquecida, sobe, deslocando-se para o reservatório devido à perda de densidade. Por sua vez, a parte inferior do reservatório é ocupada por água fria, funcionando assim este sistema através do retiro de água quente da zona superior e simultaneamente da reposição de nova quantidade na zona inferior.

Imagem 17: Funcionamento dos Painéis Solares. Construção Sustentável | 26


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Painéis Fotovoltaicos A luz proveniente do Sol implica a transformação de energia luminosa em energia eléctrica por meio da capacidade de dispositivos denominados por células fotovoltaicas. A colisão entre fotões, partículas de energia luminosa, e células, proporciona a transmissão da sua força aos constituintes da matéria formadora da célula fotovoltaica. Esta manifestação estabelece uma corrente, permitindo a criação de voltagem através do campo eléctrico da célula. Deste modo constituem-se os painéis solares fotovoltaicos que produzem corrente eléctrica proveniente da absorção de energia solar convertida em corrente eléctrica. Esquema de instalação de energia fotovoltaica: 

Painéis solares fotovoltaicos: corrente eléctrica é produzida através de várias células fotovoltaicas conectadas entre si;

Regulador de carga: impedem que as baterias se sobrecarreguem;

Baterias: permite a acumulação de energia produzida pelos painéis;

Inversor de corrente continua ou alterna: adapta a corrente contínua gerada pelos painéis, sendo esta utilizada para os electrodomésticos;

Iluminação: é possível haver iluminação eléctrica porque certas lâmpadas funcionam através de corrente contínua.

Imagem 18: Funcionamento dos Painéis Fotovoltaicos.

4.9. Sistemas de Climatização A utilização de energias renováveis pode ser um modo alternativo de contornar a climatização de uma casa quando, em termos construtivos, é impossível responder a todas as exigências necessárias.

Biomassa À totalidade da existência de matéria viva, desde seres vivos numa determinada superfície terrestre ou volume de água oceânica, animal ou vegetal, dá-se o nome de Construção Sustentável | 27


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biomassa. Organismos vivos são empregados como combustíveis na geração de energia. A regeneração pelo meio de processos naturais da qual resulta a reposição de recursos indispensáveis ao meio natural é um bem da qual a biomassa determina. Através do processo de combustão de material orgânico, concernente a um ecossistema, é produzida energia na utilização de biomassa. O ecossistema aplica parte dessa energia acumulada e contrariamente às formas de energia obtidas através de combustíveis fosseis, são energias de baixo custo, renováveis, menos poluentes e pelas quais existe a possibilidade e reaproveitamento de resíduos. Como forma de aquecimento a biomassa pode ser utilizada em lareira como recuperador de calor assim como sistema de pallets. Recuperador de calor Um recuperador de calor numa lareira permite a queima da madeira de modo controlada e permitindo economizar a matéria enquanto uma queima aberta a irradiação do calor é inferior. Bomba de calor geométrica Para aquecer ou arrefecer um edifício, este tipo de sistemas fornecidos por electricidade, usam a temperatura dos lençóis de água subterrâneos ou do subsolo. As bombas de calor de subsolo, através do processo de refrigeração fazem o aproveitamento da energia térmica armazenada nos lençóis de água subterrâneos ou no subsolo transportando-a para a habitação Acumulador de calor Os acumuladores de calor consistem em sistemas de aquecimento eléctrico, constituídos por blocos de cerâmica, dentro dos quais se encontram as resistências eléctricas. Os aquecedores de cerâmica com acumulação dividem-se em aquecedores de cerâmica com acumulação dinâmicos e aquecedores de cerâmica com acumulação estáticos. Os acumuladores de calor conservam uma determinada temperatura constante, por 24 horas, estando em carga durante o período nocturno. Um dos benefícios da utilização deste sistema é a redução dos encargos energéticos anuais e a limitação do consumo, que leva à diminuição da potência contratada com poupanças adicionais. 4.10. Iluminação Artificial e Electrodomésticos A iluminação e os electrodomésticos são responsáveis em média por 25% do consumo energético nos edifícios, sendo por isso necessário ter em consideração uma série de aspectos de modo a diminuir os consumos a este nível.

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 Tipos de lâmpadas e respectiva eficácia energético. Tipos de lâmpadas mais correntes: Lâmpadas incandescentes – da energia que consomem apenas 5% a 10% se transforma em energia luminosa. O seu rendimento luminoso é na ordem dos 12lm/W. Lâmpadas de halogéneo são também um tipo de lâmpadas incandescentes. Possuem maior durabilidade (cerca de 2000 horas). Lâmpadas fluorescentes compactas - podem possuir balastro electrónico ou balastro magnético (convencional). As que possuem balastro electrónico são mais eficientes do que as que possuem balastro convencional. Podem ter uma eficácia da ordem de 60 lm/W. Lâmpadas fluorescentes tubulares - precisam dum arrancador para funcionar. A maioria destas lâmpadas pode ser usada com balastro convencional ou electrónico. As que usam balastro electrónico são mais eficientes. A sua eficácia situa-se na gama de valores de 20 a 80 lm/W.  Privilegiar sempre a iluminação natural. A luz natural não passa apenas pela questão de caracterizar e valorizar os ambientes interiores, mas sobretudo por uma questão psicológica e de saúde. O homem necessita da luz directa ou difusa, precisa de sentir as variações de luminosidade, precisa de ter a noção da hora solar, e esta é uma preocupação primeira da arquitectura. 

Preferir acabamentos de cor clara nas superfícies interiores reflectoras.

Os acabamentos de cor clara reflectem melhor a luz, o que reduz a quantidade de iluminação necessária. A utilização de cores claras e escuras poderá ser pensada neste sentido de colaborar na iluminação dos espaços. As paredes onde se inserem os vãos do compartimento poderão suportar melhor as cores escuras pelo interior, enquanto que as superfícies nos lados opostos à colocação dos vãos e pavimentos, por possuírem um efeito essencialmente reflector, deverão possuir cor claras.

Criar os dois tipos independentes de iluminação em cada espaço: geral e pontual.

A existência destes dois tipos de iluminação reduz, em muito, os consumos, na medida em que certas actividades feitas nos espaços não necessitam de iluminação específica, mas apenas uma intensidade mínima para primeiro reconhecimento do espaço. Seguidamente, poderão então ser usados dispositivos de iluminação pontual com mais intensidade para as actividades mais prolongadas e específicas. Construção Sustentável | 29


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Adequar o tipo e a potência das lâmpadas à utilização do espaço.

As lâmpadas fluorescentes devem ser aplicadas quando se necessite de iluminação artificial por longos períodos de tempo, não são adequadas para espaços onde se necessite de luz de imediato. Em compartimentos pouco utilizados ou utilizados por períodos curtos, como por exemplo, instalações sanitárias, despensas, lavandarias, as lâmpadas mais adequadas são as incandescentes. 

Electrodomésticos – Eficiência

Optando por equipamentos energeticamente mais eficientes é também uma forma de reduzir custos financeiros e sem prejudicar o ambiente. Existem enumeras opções de equipamentos, podendo haver assim opção de escolha daqueles com menores consumos energéticos. A etiqueta energética é obrigatória para electrodomésticos como máquinas de lavar ou secar roupa, máquinas de lavar loiça, frigoríficos, fornos eléctricos, aparelhos de ar condicionado, iluminação. Esta permite a comparação entre a eficiência energética dos equipamentos, os consumos de energia, os rendimentos, a capacidade, o ruído, entre outros equipamentos semelhantes, ajudando assim na escolha de equipamentos mais eficientes. A classe mais eficiente é a classe A indo até à classe G (menos eficiente).

Imagem 19: Etiqueta energética.

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Capítulo V

5. Análises de Sustentabilidade | Eco Tect O Autodesk Ecotect Analysis é uma ferramenta de análise do desempenho e comportamento dos edifícios, podendo funcionar como instrumento de verificação. Tem como objectivo facilitar o projecto sustentável, permitindo uma compreensão fácil dos efeitos dos factores climáticos, como o sol/ sombra, temperatura, luminosidade, ventilação e ainda os efeitos da volumetria, características da envolvente construtiva e sistemas aplicados. 5.1. Análise dos Ventos Predominantes

Imagem 20: Análise dos Ventos

A análise dos ventos predominantes, através dos dados introduzidos no computador, calcula, tendo em conta o edifício e a sua localização, o vento quanto à velocidade (em horas), temperatura em ºC) e percentagem de humidade (em %).

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5.2. Análise das Sombras (Verão|Inverno)

Imagem 21: Análise das Sombras

5.3. Análise da Luz

Imagem 22: Análise da luz natural no piso 0

Imagem 24: Alçado Este - Vertical Sky Components

Imagem 23: Análise da luz natural no piso 1 e 2

Imagem 25: Alçado Oeste - Vertical Sky Components

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Ao contrário do confirmado no piso 0, nos pisos 1 e 2, os vãos recebem a luz directa, é para estes casos que se projectam a caixilharia JEE, porque recebe o calor em excesso nos dias quentes, e preserva-o, libertando-o durante a noite, para o interior do edifício. A vegetação e arborização também são importantes para controlar a ventilação natural e a entrada de luz natural.

5.4. Análise da Insolação

Imagem 26: Análise da Insolação no piso 0

Imagem 27: Análise da Insolação no piso 1 e 2

5.5. Análise das Sombras

Imagem 28: Sombras – Solstício de Verão 21 Junho

Imagem 29: Sombras – Solstício de Inverno 21 Dezembro Construção Sustentável | 33


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6. Conclusão

Com o desenvolvimento do trabalho criou-se a noção do quão brutal algumas escolhas podem ser feitas a nível ambiental numa construção e que pequenas escolhas podem fazer a diferença. Caminhando cada vez mais para um mundo cuja área impermeável é cada vez maior, torna-se absolutamente necessário a renovação do impacto ambiental dos edifícios já existentes. Uma atitude consciente desde o início pode melhorar a eficiência do projecto, desde a maneira como os materiais chegam, até à instalação feita por empresas da área diminuindo as emissões de gases prejudiciais com a deslocação, ou a necessidade de preparar um estaleiro que leva tempo e combustível a construir, e que não se justifica em obras de pequena escala. Repensar um projecto não nos custará tanto no futuro como não o renovar, trata-se de diminuir o seu impacto ambiental e minimizar os seus efeitos nocivos. Pelas escolhas feitas para este projecto o consumo de energia é praticamente auto-suficiente e desejado a uma qualquer cidade, onde o ser Humano cada vez mais necessita de perceber que o que a Natureza precisa de ser respeitada, e que ela todos os dias nos fornece algo que podemos

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usar, tal como se fossemos a terra fóssil que a aceita e a transforma – “Do pó vieste e ao pó voltarás.” O futuro da construção bem como da vida doméstica e a sua relação com o meio ambiente apenas dependerá da conjugação acertada de estratégias sustentáveis. Para que as gerações futuras não tenham a sua existência hipotecada, o tempo de acção urge para que as operações de recuperação e de reabilitação equilibradas sejam a partir de agora uma realidade assumida.

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7. Bibliografia www.meteorologia.pt.msn.com

(27 Dezembro 2011)

www.energias-renovavei.info

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www.csustentavel.com

(29 Dezembro 2011)

www.construcaosusentavel.pt

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www.dodouro.com

(29 Dezembro 2011)

http://www.ecoagua.pt/sbo/files/CATALOGO3PTECHNIK.pdf

(3 Janeiro 2012)

http://www.ecocasa.org

(3 Janeiro 2012)

http://casa-e-energia.blogspot.com

(3 Janeiro 2012)

http://www.ambietel.com

(3 Janeiro 2012)

http://www.casadavizinha.eu

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http://www.arquitecturaesustentabilidade.com

(5 Janeiro 2012)

http://terrapalha.blogspot.com

(5 Janeiro 2012)

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