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O ESTADO DE S. PAULO
DOMINGO, 28 DE OUTUBRO DE 2012
Nacional
estadão.com.br Saída repentina. Delúbio almoça em São Paulo e sai pela porta dos fundos estadão.com.br/e/delubio
Loteamento. Após comando do PTB e do PMDB, desalojados da estatal em meio a denúncias de corrupção, petistas dominam cúpula da empresa; ex-ministro José Dirceu e deputado João Paulo Cunha, condenados em ação penal no STF, influenciaram escolha de dirigentes
Estopim do escândalo do mensalão, Correios viram feudo político do PT WILSON PEDROSA/ESTADÃO–14/9/2011
MENSALÃO Eduardo Bresciani Fábio Fabrini / BRASÍLIA
Uma das fontes do escândalo do mensalão, o aparelhamento político na estatal Correios continua, sete anos depois. Após passar pelas mãos do PTB e do PMDB, desalojados do comando em meio a denúncias de corrupção, a empresa virou feudo do PT, cujos líderes indicaram nomes para os principais cargos de direção. Condenados pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão, o ex-ministro José Dirceu e o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) influenciaram a escolha dos dirigentes. O principal exemplo é o presidente da empresa, Wagner Pinheiro de Oliveira, que deve sua nomeação ao ex-ministro Luiz Gushiken, absolvido no julgamento emcurso noSupremo,eteve aindaasustentaçãodogrupo liderado por Dirceu. Sindicalista vinculado à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e filiado ao PT, Pinheiro ocupa cargos por sugestão de caciques do partido há pelo menos 20 anos. A ligação com o ex-chefeda Casa Civil, segundo a assessoria do próprio ex-ministro, vem desde a década de 1980, quando o presidente dos Correios era funcionário da legenda naAssembleia Legislativa deSão Paulo e Dirceu, deputado. Nomeado no início do governo Dilma Rousseff com a missão de “sanear” a estatal após o escândalo de lobby e tráfico de influência que derrubou a ex-ministra Erenice Guerra (Casa Civil), o presidente dos Correios recebeu elogios de Dirceu em seu blog. Em janeiro de 2011, o ex-ministroda CasaCivilse referiu a ele como exemplo de gestor público “testado e aprovado”. Outro réu com influência na administração dos Correios é João Paulo Cunha. Graças a ele, o petista Wilson Abadio de Oliveira ascendeu à diretoria regionaldaestatalnaRegiãoMetropolitana de São Paulo, a mais rentável do País. A indicação causou uma crise na bancada do PT, no início de 2011, porque Cunha não consultou os colegas sobre a nomeação.
Quase vitalício. O atual presidente dos Correios, Wagner Pinheiro de Oliveira, ocupa cargos por sugestão de caciques do PT há pelo menos 20 anos
Indicado pela ministra da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência, Maria do Rosário (PT-RS)
Postalis, fundo de pensão dos Correios
sim como o patrão, sindicalista com forte atuação na CUT. Na presidência da Postalis, Pinheiro colocou Antonio Carlos Conquista, seu ex-chefe de gabinete naPetrose filiadoao PT paulista.
Marido da ex-senadora Fátima Cleide (PT-GO)
Estatuto. O aparelhamento de-
●
Nelson Luiz Oliveira de Freitas, vice-presidente de Administração
●
Adeilson Ribeiro Telles, chefe do gabinete da Presidência
Nomeado com aval do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo (PT-PR)
Ligado a Wagner Pinheiro, é vinculado ao PT e à Central Única dos Trabalhadores (CUT)
Larry Manoel Medeiros de Almeida, vice-presidente de Gestão de Pessoas
● Ernani de Souza Coelho, assessor especial da Presidência e presidente do Conselho Deliberativo do
● Antônio Carlos Conquista, presidente da Postalis
Ex-chefe dos Correios no Rio GrandedoSul,LarryManoelMedeiros de Almeida assumiu a vice-presidênciadeGestãode Pessoas graças à indicação da ministrada Secretaria EspecialdosDireitos Humanos, Maria do Rosário (PT-RS). Ele já foi multado pelo TCU em R$ 1,5 mil por irregularidades em licitações e na execução de despesas quando
atuava na regional gaúcha. Almeida não recorreu da condenação, quitando o débito. OministrodasComunicações, Paulo Bernardo, escalou seu exauxiliar no Planejamento, Nelson Luiz Oliveira de Freitas, para a diretoria de administração. Na cúpula dos Correios os petistas encontraram espaço para alojar também,como assessorespecial,
Ernani de Souza Coelho, marido da ex-senadora Fátima Cleide (PT-GO). Ele acumula ainda a presidênciadoconselhodeliberativo da Postalis, o bilionário fundo de pensão dos funcionários. O presidente dos Correios tem ainda outros auxiliares com carteirinha do PT. Seu chefe de gabinete, Adeilson Ribeiro Telles, é militante da legenda e, as-
APADRINHADOS ● Wagner Pinheiro de Oliveira, presidente
Teve o aval dos ex-ministros petistas Luiz Gushiken e José Dirceu para ascender ao cargo ●
Wilson Abadio de Oliveira, diretor regional da na Região Metropolitana de São Paulo Indicado pelo deputado João Paulo Cunha (PT-SP) ●
Gestão de Pinheiro na Petros foi investigada pelas CPIs no Congresso Wagner Pinheiro depôs sobre aumento dos investimentos do fundo de pensão no Rural e no BMG; ele nega irregularidades BRASÍLIA
Ex-chefe da Petros, o fundo de pensões dos funcionários da Petrobrás, o presidente dos Correios, Wagner Pinheiro, teve sua gestão investigada pelas CPIs dos
Correiosedomensalão. Nestaúltima,Pinheiroprestoudepoimento. Os fundos de pensão foram apontadosnaépocacomoumdos possíveis “caixas” do esquema de compradeapoiopolíticoaogovernoLula. Emrelação àPetros, o relatório da CPI dos Correios questionava o crescimento exponencial dos investimentos do fundo nos bancos Rural e BMG, fontes dos empréstimos supostamente fictíciosaoPTeempresasdooperador do esquema, Marcos Valério Fernandes de Souza.
Réus no STF negam influência na indicação de dirigentes da estatal BRASÍLIA
Os réus do mensalão negam exercer influência sobre a atual administração dos Correios. Procura-
dopeloEstado,oex-ministroJoséDirceu,pormeiodesuaassessoria,disseconhecerWagnerPinheiro desde a década de 1980, mas ressaltou não ter mantido conta-
Ex-chefe de gabinete de Pinheiro na Petros, é filiado ao PT-SP
corre também de um rearranjo institucional, que deu margem a mais apadrinhamento em cargos-chave. Mudanças feitas no Estatuto dos Correios, no ano passado,permitiramàatualdiretorianomearfuncionáriosdeoutros órgãos públicos para funções técnicas e gerenciais, antes exclusivas de servidores de carreira, cujas remunerações variam de R$ 13,3 mil a R$ 18,7 mil. Comisso,petistasdeoutrossetores da administração puderam se abrigar na estatal. O Estado obteve a relação dos ocupantes desses cargos na administração central da empresa, em Brasília. Boapartefoipreenchidapormilitantes ou ex-militantes do PT. Na chefia da Universidade dos Correios,Pinheiroalojouaprofessora Consuelo Aparecida Sielski Santos, filiada ao PT catarinense, cedida pelo Instituto Federal de
● Contratos
WAGNER PINHEIRO
“Quanto aos investimentos em fundos dos bancos citados, obedeceram a critérios técnicos e foram aprovados por todas as instâncias decisórias da entidade”
“Os processos de contratação e os próprios contratos foram analisados pela subcomissão de fundos de pensão da CPMI dos Correios, que concluiu que não havia irregularidades. A conclusão foi de que a Petros possuía um sistema interno de controle capaz de garantir credibilidade à sua gestão”
‘Critérios técnicos’. Questionado, Pinheiro informou que com-
pareceu voluntariamente à CPI do mensalão e que as conclusões dacomissão–controladapelogoverno – não trouxeram “nada de desabonador”. Ele alega que dez fundos de pensão foram investigados pela CPI dos Correios e
queorelatóriofinalnãoapontou irregularidades. “Quanto aos investimentosemfundosdosbancoscitados, obedeceram a critérios técnicos e foram aprovados por todas as instân-
to com ele nos últimos anos. O deputado João Paulo Cunha, em nota, alegou não ter requisitadoe nem recomendado a nomeação de Wilson Abadio de Oliveira. “A prerrogativa de nomear servidores, assim como o estabelecimento dos critérios para o preenchimento decargos, são funções exclusivas do presi-
dente e da diretoria do órgão.” Os Correios informaram que seu presidente, Wagner Pinheiro, não poderia dar entrevista, por estar viajando, a trabalho. Em nota, a empresa alega que não consta, nos registros de empregados e dirigentes, informaçãosobrefiliação partidária,“por setratardeumdireitodemocráti-
co, legal e de caráter pessoal”. A estatal explicou que os cargos da alta administração são de livrenomeação,mas sedeveobedeceraalgunspré-requisitos,como formação superior ou o comprovado exercício, por três anos, docargode diretor ouconselheiro de administração de sociedades por ações.
O nome de Pinheiro é citado seis vezes no relatório final. O deputado Osmar Serraglio (PMDBPR) pediu que o Ministério Público continuasse a investigar possíveis irregularidades. Fora o incremento de aplicações em bancos do esquema, o petista também teve de explicar a contratação, pela Petros, de algumas empresas, entre elas a Globalprev, que pertenceuaoex-ministroLuizGushiken.
PRESIDENTE DOS CORREIOS, EM NOTA OFICIAL
PARA LEMBRAR Em maio de 2005, a revista Veja divulgou um vídeo em que Maurício Marinho, então diretor dos Correios e ligado ao deputado Roberto Jefferson (PTB), negocia propina com empresários interessados em uma licitação. Em junho do mesmo ano, Jefferson denuncia, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, um esquema que envolvia a compra de apoio parlamentar ao governo Lula. Após a denúncia, a A CPI dos Correios é instalada no Congresso. Educação, Ciência e Tecnologia. Para assessorar Larry na vicepresidência de Gestão de Pessoas, escalou Alexandre Vidor, militante do partido no RS. Na Comunicação Social, foi alocado Felipe de Angelis, também do PT gaúcho. A vice-presidência de Administração abriga, como assessor, Idel Profeta Ribeiro, ligado à legenda em São Paulo.
cias decisórias da entidade”, acrescentou, em nota. O presidente dos Correios sustentaqueacontrataçãodeempresas, entre elas a Globalprev, ocorreu de forma regular: “Os processos de contratação e os próprios contratos foram analisados pela subcomissão de fundos de pensão da CPMI dos Correios, que concluiu que não havia irregularidades.AconclusãofoidequeaPetros possuía um sistema interno de controle capaz de garantir credibilidade à suagestão”. / F.F. e E.B.
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O advogado de Luiz Gushiken, José Roberto Leal de Carvalho,disseque seucliente, queenfrentaumtratamentocontra um câncer, não se pronunciaria. Larry Manoel Medeiros de Almeida, vice-presidente de Gestão de Pessoas, afirmou que sua relação com Maria do Rosário é “institucional”. / F.F. e E.B.