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Portugal: a hipocrisia é celebrada num altar

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Curiosidades

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Segundo o MAI, o total de comparticipações do Estado, na actual época desportiva, aos jogos de futebol não profissionais situa-se nos 2,48 milhões de euros, enquanto na época anterior esse valor chegou aos 2,93 milhões de euros.

V COSTA GUIMARÃES (*)

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A Câmara de Lisboa adjudicou por ajuste directo a construção do palco-altar da JMJ — Jornadas Mundiais da Juventude — por 4,24 milhões de euros e gerou queixas de “falta de transparência” por parte da oposição e a um pedido do Chega para que Carlos Moedas vá ao parlamento justificar os custos.

https://tinyurl.com/altar1111

Desculpem. Acabem com o disparate do Estado laico gastar dinheiro para ajudar a viagem do Papa. As Jornadas Mundiais são um evento gigantesco, com repercussão mundial. O Estado está a fazer algo muito simples e razoável: investir para que este evento seja um sucesso, de forma a ter o maior retorno possível. Não é um favor, é mesmo aproveitar uma oportunidade única. O título é exagerado. Alguns portugueses, com acesso fácil a tribunas da comunicação, celebram a hipocrisia num altar... desenhado para o Papa Francisco, convidado por Portugal para presidir às Jornadas Mundiais de Juventude. Juro-vos. Nunca vi tanta falta de memória e insanifdade nacional. Ao longo destes dias tenho acompanhado a nova série das televisões e jornais: “o palco das Jornadas Mundiais”. Sinceramente não sei quantas temporadas terá, mas pelo andar da carruagem ainda temos pano para mangas. Estou certo de que tal série tem lugar numa destilaria de ódio e crítica num país à beira-mar plantado – Portugal. Tão pequenino, mas com tanta gente entendida… Tenho lido as publicações e fico na dúvida se estão incomodados com o valor da obra ou por tal obra ter em vista uma celebração Mundial com os Jovens católicos (sendo que as Jornadas Mundiais da Juventude são abertas a todos, mesmo de outras religiões). O Estado é laico, mas deve procurar caminhar com todos… Tanto empenho em denegrir a imagem de um país num evento mundial… Esperem lá. Eu acho que já vi isto a acontecer há bem pouco tempo. Ah, foi no mundial de futebol… Não precisamos que ninguém nos critique nós já fazemos tudo. Pegamos na cana, atiramos o foguete e apanhamos a cana… Tanto empenho! Que pena não colocarmos o mesmo empenho quando se trata de lutarmos pelos direitos de todos, novamente de todos. Porque não colocamos o mesmo empenho contra os milhões gastos no BES, na TAP, no BPN, nos Estádios de Futebol do Euro, entre outros… Mas este é que é… Tudo o resto não importa… Somos um povo de memória muito curta, ou fazemos por isso… É que por vezes convém não lembrar…

Já agora: Estamos muito importados com os milhões que vão ser gastos. Por acaso, já se inscreveram como voluntários para as Jornadas? É que assim já podemos poupar mais uns milhões... E se encontrarem voluntários para fazer os palcos e tudo o que um invento desta natureza necessita avisem...

Os portugueses pagaram, durante a última época desportiva, quase 2,5 milhões de euros (ME) no policiamento de jogos de futebol não profissional, sendo a maior fatia nos escalões juvenis e inferiores, revelou o Ministério da Administração Interna (MAI https://tinyurl.com/futebol17112).

Algum Director de Informação de algum meio de comunicação social português se indignou? Digam-nos. As forças de segurança “só contabilizam os gastos” nos escalões dos juniores, juvenis e inferiores, distritais de seniores e seleção nacional, não existindo números quanto aos grandes jogos, uma vez que “não é feita a contabilidade financeira do policiamento dos jogos da I Liga de futebol”. E quantos jogadores de futebol existem em Portugal? Está aí a resposta oficial: https://tinyurl.com/bola7771. Os números divulgados pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF) revelam que houve mais 539 praticantes federados nos últimos dois anos (2021-2022). Esta temporada, entre futebol, futsal e futebol de praia, masculino e feminino, Portugal atingiu um recorde de 197.060 atletas (https://tinyurl.com/2p8v5w7m).

Algum Director de Informação de algum meio de comunicação social português se indignou? Digam-nos. O valor médio anual gasto pelo Estado em policiamento aos jogos da primeira liga de futebol ronda os 3,5 milhões de euros, de acordo com um relatório interno da PSP citado esta quarta-feira, 20 de Maio, 2022. Somem, se fazem favor. (https://tinyurl.com/detalhe4323).

Alguém protesta ao saber que os clubes gastam cerca de 2,5 milhões de euros, abaixo do valor que sai dos cofres públicos, uma comparação que, segundo o jornal, também é feita pelo relatório da PSP (https://tinyurl.com/publico43). (MAI)https://tinyurl.com/25milhoes).

Então, façam as contas: 125 milhões de euros (cento e vinte e cinco milhões de euros) em cinco anos para dar segurança a jogos de futebol que mobilizam, na melhora das hipóteses pouco mais de um milhão de espectadores, por ano.

Vamos a outros números. De acordo com os dados da Liga Portugal, o estádio com maior assistência tem um acumulado de época de mais de meio milhão de adeptos em 17 partidas, enquanto o último contou apenas com pouco mais de 21 mil pessoas no mesmo número de jogos. https://tinyurl.com/futebol5432

Mas há mais números. Em 2015, passada uma boa década, o Tribunal de Contas expressa preocupação pelos grandes desvios aos valores inicialmente adjudicados pelos promotores públicos dos estádios construídos para o Campeonato Europeu de Futebol de 2004 (https://tinyurl. com/futebol54).

Com a realização do Europeu de futebol de 2004 os portugueses — sim, os portugueses — pagaram mil e trinta e cinco milhões de euros, resultado apurado pelo relatório do Tribunal de Contas (TC), em comparticipações directas da Administração Central à construção/remodelação dos estádios públicos e privados, estacionamentos e acessibilidades, custos promocionais, de animação e de funcionamento das várias sociedades criadas para o efeito. Os pagantes, os portugueses podiam ter construído quase outra Ponte Vasco da Gama, para a segunda travessia do Tejo em Lisboa, orçada em 897 milhões de euros. Alguém escreveu uma letra de protesto?

Houve tanta ferocidade contra [quatro) Estádios como os do Algarve, Aveiro ou Leiria ou Coimbra, que se debatem, hoje, com elevados custos de manutenção e dívidas à banca, que, em alguns casos, equivalem a liquidações anuais de 13 milhões de euros só em juros (https://tinyurl. com/futebol67).

Vamos até Leiria, onde o estádio, nas mãos da Câmara, deixou de receber os jogos da U. Leiria em 2011 – o clube pagava 17.500 euros por jogo – e a prioridade passa, agora, por rentabilizar a estrutura. O município paga o serviço da dívida ao banco, cerca de seis milhões de euros/ano, até 2024, e isso adia projectos relacionados com o bem-estar social, como escolas, saneamento e outras obras”. Das nove Câmaras apenas duas já saldaram todas as dívidas contraídas para fazer obras ou construir de raiz estádios. Há dívidas que vão até 2030, data em que Portugal se candidatou a organizar um mundial de futebol em conjunto com Espanha. Quem protesta? É mais que um altar por cada ano.

No caso de Braga, do primeiro projecto com custos de 37 milhões passou-se para um projecto que custava 79 milhões, aprovados por PS e PSD/CDS. O custo contabilizado em 2018 pelo Tribunal de Contas atingiu 153 milhões (https:// tinyurl.com/braga543)

O Estádio Municipal de Braga custou mais que o Hospital Central de Braga e mais 1,5 vezes que o Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL), dava para intervir dez vezes na variante do Cávado e no Nó de Infias; representa 50 vezes o valor gasto na requalificação do Parque Desportivo da Rodovia.

Se quisesse ser demagogo diria... Eu, se estivesse à frente de uma Câmara Municipal, nunca pagaria essas falsas dívidas. Quem mandou construir que pague. A FPF que lida com muitos milhões, que pague. O País e as Câmaras, com tantas carências e ainda têm que pagar. Os clubes, em vez de pagar ordenados multimultimilionários aos seus jogadores, que paguem. Para elas, as dívidas não passam de cêntimos. (https://tinyurl.com/dividas465).

O nosso Cost(inh)a — ou alguém por seu intermédio ou inocência de quem manda da comunicação social portuguesa — arranjam cada manobra para distrair os portugueses!

E não é que resultou?

Antes que me esqueça: as JMJ devem acolher milhão e meio de jovens de todo o mundo. O campeonato da I Liga Portuguesa atrai, durante um ano e quase quarenta jornadas, 1,7 milhões de espectadores. As conclusões são suas, porque os números não são meus (https://tinyurl.com/numeros124).

Depois? Depois, nada. Braga tem 190 mil habitantes e 5900 pessoas em média por cada jogo de bola, Em Guimarães, o Vitória seduz 11.400 adeptos, em Barcelos, não chegam aos três mil que adoram o Gil Vicente e, em Famalicão, um poucochinho mais. E só mencionamos os quatro maiores concelhos do Distrito. Não besuntem a imensa maioria com despesas supérfluas (desnecessárias).

JMJ: ATÉ SAI BARATO!

Comparar os custos da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, centrando-se no preço do palco onde irá estar o altar na vigília de encerramento do evento, com os do altar da visita do Papa Bento XVI em 2010 é um disparate com a bênção da desonestidade: em 2010 construiu-se um altar para uma única missa que depois foi desmontado. Nas Jornadas está a construirse uma estrutura fixa, um equipamento que pode ser posteriormente utilizado para mega-eventos ao ar livre. Podemos esclarecer qualquer pessoa de boa vontade (porque aos outros, os factos são indiferentes), seguindo de perto os argumentos de José Seabra Duque:

1. Em Agosto não acontece a “visita” do Papa, mas sim a Jornada Mundial da Juventude, um dos maiores eventos do mundo e não comparável com qualquer outro evento que Lisboa tenha acolhido. Estamos a falar de 1 a 1.5 milhões de jovens que durante uma semana irão estar em Lisboa. Aos jovens, juntam-se milhares de bispos de todo o mundo, padres, jornalistas, etc. Não é por acaso que os hotéis de Lisboa e arredores estão todos esgotados para essa semana há meses. Vamos ter mais de um milhão de pessoas a dormir, a comer, a percorrer, a consumir em Lisboa. Dir-me-ão, não é a quantidade ou os euros que interessam. Vou ceder.

2. Para além dos peregrinos de todo o mundo, o evento é acompanhado pelos media em toda a parte. São centenas de milhões de católicos de olhos posto em Lisboa através da televisão, da rádio, das redes sociais, de streaming. Durante essa semana Lisboa será a cidade que todos os católicos do mundo vão ver. Não é como nos grandes jogos da Liga dos Campeões onde apenas são transmitidas imagens do estádio onde se realiza o desafio.

3. A Jornada Mundial da Juventude terá um custo até 80 milhões de euros. Uma parte é suportada pelo Estado, pelas Câmara Municipais de Lisboa e de Loures. Por que razão o Estado laico patrocina um encontro religioso? A resposta é simples e nada tem a ver com boa vontade.

4. Parte dos custos públicos decorre do facto de se receber uma multidão de centenas de milhares de pessoas: reforço do policiamento, reforço dos transportes, reforço das equipas de emergência, etc. Depois, existe o custo com o local das Jornadas: o Parque Tejo, onde terrenos baldios e pantanosos são transformados num parque junto ao Tejo, para ser utilizado por todos os cidadãos e equipado para receber mega-eventos.

5. Temos investimento naquilo que são as funções do Estado e em equipamentos que vão ser para uso público. O investimento público neste evento supera estas questões. Mas mais uma vez, é para fazer favores à Igreja...ah, ah.

6. O milhão e meio de pessoas nessa semana em Lisboa gastam dinheiro na dormida (mesmo ficando muito locais cedidos gratuitamente), comem e bebem, gastam dinheiro em recordações, ou sejam, vão consumir em Lisboa e na região durante uma semana. Entre o que é injectado directamente na economia e o que é arrecadado em impostos, é fácil verificar que o investimento feito pelo erário público nas JMJ será recuperado várias vezes. Aliás, segundo os cálculos do Governo o evento vai ter um retorno de 350 milhões de euros para Portugal.

7. Ao valor que um e milhão e meio de pessoas a consumir traz (os tais 350 milhões de euros), temos o valor publicitário de albergar um evento transmitido para todo o mundo: estamos a falar de um “mercado” de mil e trezentos milhões de pessoas, espalhados pelos quatro cantos da terra. Imaginemos qual não é o valor publicitário para Lisboa. Mas é só Lisboa, dirão. É sempre Lisboa, dirão. Aí têm alguma razão.

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