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O PORTUGUÊS E O ESPANHOL: FALSOS AMIGOS
from Lusitano de Zurique
V AMELIA BRAVO VADILLO
Não, não se assuste. Não vou falar aqui dos bem sabidos desencontros históricos entre Portugal e Espanha, nem de maus ventos e piores casamentos. Não se trata aqui de falar dos amigos de Peniche nem dos amigos de onça, dos que ninguém, infelizmente, está livre em nenhum lugar do mundo.
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Já passaram os tempos das desconfianças entre os dois povos e são muitos os bons casamentos luso-espanhóis, sobre tudo em zonas de fronteira.
Afinal não somos assim tão diferentes e é mais aquilo que temos em comum do que aquilo que nos diferencia. São precisamente algumas dessas semelhanças as que podem representar um verdadeiro problema de comunicação.
Pois é, os falsos amigos!
Um “falso amigo”, em relação à Linguística, é cada uma das palavras que, pertencendo a línguas diferentes, são muito parecidas na forma (ou até iguais), mas diferentes no significado.
Ora bem, se um espanhol de férias em Lisboa perguntasse por um “taller”, correria muito bem o risco de levar com uma faca, um garfo ou uma colher, quando em realidade estaria a precisar de uma oficina para levar o carro.
Já se um português dissesse a um espanhol que trabalha numa oficina, o espanhol entenderia que o português trabalha num escritório.
Presenciei há um par de anos, num restaurante ao pé da fronteira, uma cena do mais hilariante. Entraram uns espanhóis e ocuparam uma das mesas. Um deles disse para o grupo:
- Não se preocupem que eu falo, como sabem tenho uma grande “soltura”.
É claro que o empregado, que estava à espera para anotar os pratos escolhidos, indicou-lhe, com toda a amabilidade, onde se encontrava a casa de banho.
O significado da palavra “soltura” em espanhol é habilidade. Fica assim demonstrado que não por se tratar de línguas parecidas é assim tão fácil dominar outra língua ou ter a suficiente habilidade.
O mais baixinho pediu frango. Gostou do aspecto do prato na fotografia da ementa e apontou na imagem com o dedo para informar do pedido. O frango chegou à mesa. Passado um bocadinho, o comensal chamou o empregado:
- Poderia colocar no frango um pouco mais de “salsa”?
– Com certeza – respondeu o rapaz, enquanto levava o prato de volta para a cozinha.
O frango voltou à mesa com mais “salsa”, mas o espanhol não ficou muito satisfeito e insistiu:
- Desculpe, gosto mesmo muito de “salsa”. Deite mais, muita mais, por favor!
Depois de várias idas e vindas da mesa à cozinha e da cozinha à mesa, o frango mais parecia uma alface, tão verdinho como um campo de futebol da primeira liga.
O espanhol queria molho!!! Mas acabou por esgotar o “perejil”, ou seja, a “salsa” da cozinha…
Os “falsos amigos” podem, como vemos, criar grandes confusões.
Desta forma, um português deve evitar dizer a uma espanhola linda coisas como que ela é “espantosa”, especial- mente num primeiro encontro. Isto se quer voltar a desfrutar da sua companhia. “Espantosa” só significa uma coisa em espanhol: “horrível, tão feia que mete medo!”
Já uma portuguesa deve evitar dizer a um espanhol bonito coisas como que ele é um “borracho”, sobre tudo num primeiro encontro. Isto também se quer voltar a desfrutar da sua companhia. “Borracho” só significa uma coisa em espanhol: “bêbado”.
Temos a família que nos toca em sorte, mas podemos escolher as amizades. Escolham-nas com sabedoria. Não há nada pior do que um falso amigo e há dezenas, centenas deles, dispostos a deixar-nos em dificuldades insuspeitadas.
As línguas têm estas coisas “esquisitas” e também “exquisitas”. Coisas estranhas, raras e extravagantes, no significado da palavra portuguesa. Coisas singulares, extraordinárias e primorosas, no significado da palavra espanhola. Desta vez, longe de criar confusão, estes falsos amigos enriquecem o contexto.
Mas cuidado, nem sempre é assim… Perguntem ao meu irmão como acabou uma das suas estadias no Porto, quando interrogado pela mãe do colega que o convidou, respondeu que o jantar estava “exquisito”. A cara da senhora ficou da cor do frango com salsa da outra história e o meu irmão, que se defendia do outro lado da fronteira com um sorridente bom dia e o socorrido muito obrigado, ficou tão “embaraçado” (atenção, um espanhol entenderia “grávido”) que só teve uma maneira de escapar à situação: perguntar pela casa de banho. Problemas com a “soltura”, certeza absoluta. A boa notícia é que o meu irmão, espanhol, e o seu colega, português, continuam a ser verdadeiros amigos. Qualquer dia aparece por estas bandas a jantar. Só espero que a minha cunhada não cozinhe “pulpo”, ou seja, “polvo”, palavra que em espanhol significa “pó”… Que confusão!
Abra O De Palavras
V Gra A Foles Amiguinho O
Entrudo é uma palavra em desuso, nos tempos que correm. No entanto, talvez seja interessante sabermos um pouco mais sobre esta folia.
Na era pré-cristã já era um tempo de folguedos populares. A tradição manteve-se nos tempos Cristãos, então ligada à Quaresma, que põe fim aos dias carnavalescos!
Entrudo deriva da palavra latina “Introitus” que significa «Entrada, Acesso» na Quaresma que, como todos sabemos, se inicia no dia a seguir ao Entrudo, na quarta-feira de Cinzas.
Carnaval vem da expressão latina «carne vale» que significa “adeus carne”, anunciando a abstinência quaresmal! Este costume de brincar no período do Carnaval foi introduzido pelos portugueses no Brasil, no século XVI, com o nome de Entrudo!
Já na Idade Média se comemorava este período, com toda a espécie de brincadeiras que variavam de aldeia para aldeia! O Entrudo tomou novas formas de brincadeiras, a partir do século XVIII, no Rio de Janeiro.
Havia o Entrudo Familiar e o Entrudo Popular! No Entrudo Familiar as brincadeiras eram delicadas! Os jovens atiravam uns aos outros “limões de cheiro” para estabelecerem laços de amizade mais intensos entre as famílias e as brincadeiras eram em casa! O Entrudo Popular era mais violento e grosseiro e fazia-se nas ruas. As pessoas lançavam toda a espécie de líquidos mal-cheirosos e pós, umas às outras. Em 1830 tentaram acabar com esta tradição, mas sem sucesso. Apenas algumas brincadeiras