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Botas de Elástico
from Lusitano de Zurique
Querida avó, Vou aproveitar os saldos para comprar umas botas. Como este ano choveu mais do que tem chovido em invernos anteriores preciso renovar o stock.
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Estou a ver umas (curtas com elásticos laterais dos canos que facilitam o calçar e descalçar) que me fazem lembrar as que usavam os meus avós.
Por falar nos meus avós (de sangue), que eram bastante dados ao progresso, recordo-me que usavam expressão “bota-de-elástico” sempre que se referiam a alguém conservador e resistente a mudanças.
Os mais novos devem usar algum estrangeirismo quando se referem a alguém desatualizado e ultrapassado.
Os meus avós diziam: “O Botas” sempre que se referiam ao Salazar, que usava, com frequência, este tipo de calçado e por isso ganhou esta alcunha.
Na minha adolescência havia outra bota muito famosa que te deves certamente recordar: A Bota Botilde. Quem não andou com a Bota Botilde no tornozelo? Dei tanto uso à minha que ficou toda gasta de rodopiar na calçada horas a fio. Também tive um porta-chaves com a bendita bota.
Era a mascote do concurso “Um, dois, Três” que deu na RTP há prati- www.retratoscontados.pt
Querido neto, Realmente … lembras-te de cada uma.
Efetivamente, já só os da tua (e da minha) idade é que se lembram da famosa ”Bota Botilde”.
Que saudades de programas como o “Um, Dois, Três”… se fechar os olhos ainda oiço o Carlos Cruz a dizer “Um, dois, Três … Diga lá oura vez”.
Os teus avós ensinaram-te muitas coisas! Mas, porventura, alguma vez te levaram ao Cabo da Roca?
Todos deviam ir. Dão-vos um diploma, a comprovar que estiveram no cabo mais ocidental da Europa, e tiram-vos uma fotografia onde isso está assinalado. Por acaso ainda lá não levei os meus netos, mas tenho de os levar. Uma coisa de que nenhum país onde eles estudam se pode gabar...
Sei que foste, recentemente, visitar o Palácio da Cidadela de Cascais e que gostaste muito.
Pena não teres encontrado por lá o Presidente Marcelo.
Certamente que na visita guiada que fizeste ao Palácio ficaste a saber que quem o mandou construir, para ser uma casa de férias, em Cascais, foi o rei D. Luís. Tinha o Cabo da Roca mesmo em frente.
D. Luís era um rei muito culto, falava várias línguas, traduziu Shakespeare, adorava pintura.
Mas não se pode saber tudo, não é? O Rei D. Luís — o “Sr Tavares,” quando ia às meninas… -- tinha a mania que tocava muito bem violino — mas era uma desgraça completa.
E todas as semanas organizava um quarteto, com alguns dos seus ministros, que tocavam tão bem como ele. Uma alegria.
Uma tarde, já tinha acabado o concerto, lembrou-se de perguntar ao seu Primeiro-ministro:
-- Que acha deste quarteto? O Primeiro-ministro meteu os pés pelas mãos, gaguejou, mas de repente, teve uma ideia de génio:
-- Majestade, este é o quarteto mais ocidental da Europa!
Agora calça as botas que compraste e vai visitar o Cabo da Roca.
Este mês celebra-se o Dia dos Namorados, a 14, e o Carnaval a 21. Datas que, quem nos conhece sabe que, não celebramos.
No entanto, desejamos que todos festejam muito e se divirtam.
Fica bem
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AVJOAQUIM GALANTE (*)