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Conceição Evaristo
from 16 Revue Cultive
by Cultive
Conceição Evaristo é negra, nasceu pobre e viveu na favela.
Conceição nasceu em 29 de novembro de 1946 na Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Filha de Joana Josefina Evaristo. Aníbal Vitorino era o seu padrasto. Viveu seus primeiros anos na favela do Pindura Saia, uma comunidade extinta na década de 1970, localizada da zona sul de Belo Horizonte. Sua família era muito pobre e numerosa. Ela era a segunda dos nove irmãos.
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Sua mãe considerava que as escolas da favela limitariam o aprendizado dela, então a incentivou a estudar o primário e o ginásio em outra região da cidade. Conciliou os estudos do curso normal enquanto trabalhava como empregada doméstica. Concluiu o curso normal em 1971, aos 25 anos.
Mudou-se então para a cidade do Rio de Janeiro, em 1973. Prestou concurso público para o magistério, e permaneceu ligada aos quadros do município até o ano de 2006. Nas décadas de 1970 e 1980, foi professora da rede municipal de Niterói. Prestou vestibular em 1987 para o curso de letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), obteve uma bolsa de pesquisas durante o período. Formou-se em 1990. Estreou na literatura em 1990 com obras publicadas na série Cadernos Negros, publicada pela organização Quilombhoje, que a incentivou a escrever. Entre 1992 e 1996 cursou mestrado em letras-literatura brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). A partir de 1999 licenciou-se da prefeitura do Rio de Janeiro e passou a lecionar na Universidade Federal Fluminense (UFF). Fez Doutorado em letras-literatura comparada da Universidade Federal Fluminense, concluindo os estudos em 2011.
Disputou a cadeira n°7 na Acadmia Brasielira de Letras em 2020, mas perdeu para Cacá Diegues. Sua derrota era esperada: Conceição Evaristo entrou na disputa para expor a falta de representatividade negra e feminina na centenária academia. Ela recebeu apenas um voto. Cacá, 22, e Pedro Corrêa do Lago, neto de Oswaldo Aranha, os outros 11 votos.
Vozes-mulheres
A voz de minha bisavó ecoou criança nos porões do navio. ecoou lamentos de uma infância perdida. A voz de minha avó ecoou obediência aos brancos-donos de tudo. A voz de minha mãe ecoou baixinho revolta no fundo das cozinhas alheias debaixo das trouxas roupagens sujas dos brancos pelo caminho empoeirado rumo à favela. A minha voz ainda ecoa versos perplexos com rimas de sangue e fome. A voz de minha filha recolhe todas as nossas vozes recolhe em si as vozes mudas caladas engasgadas nas gargantas. A voz de minha filha recolhe em si a fala e o ato. O ontem – o hoje – o agora. Na voz de minha filha se fará ouvir a ressonância o eco da vida-liberdade.