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Lucia Sousa
from 16 Revue Cultive
by Cultive
Leni Chiarello Ziliotto é gaúcha residindo em Mato Grosso, com título de cidadã matogrossense. É bióloga, escritora, e produtora cultural, com 19 obras publicadas e mais de 40 participações em coletâneas nacionais e internacionais. Recebeu títulos e troféus e é membro de Academias, Federações e Associações Literárias. Em suas obras predomina o poema e escreve também ficção, fantasia infantojuvenil e biográficos. Organiza obras, coordena projetos de audiovisual e é curadora para exposições e eventos. Leni Zilioto é gaúcha residindo em Mato Grosso, com título de cidadã matogrossense. É bióloga, escritora, e produtora cultural, com 19 obras publicadas e mais de 40 participações em coletâneas nacionais e internacionais. Recebeu ítulos e troféus e é membro de Academias, Federações e Associações Literárias. Em suas obras predomina o poema e escreve também ficção, fantasia infantojuvenil e biográficos. Organiza obras, coordena projetos de audiovisual e é curadora para exposições e eventos. Assina suas obras com o nome Leni Zilioto e pode ser conhecida em mais dados no site www.lenizilito.com.br Sua ideologia, não ingênua Encara-me todo o dia e diz Como devo ser, como agir
E meu querer? Você inverte, inventa
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Sofisticadamente me toma Em nome de Deus Em nome do prazer Em nome de um carinho Em nome de um nome Em nome de um sonho ... sonhado ...
Com necessidades Algumas vitais Outras banais O sonho sonhado Olha para você E diz ser meu escravo Com pose de rei
Mas
Afasta-se do sensível E do obvio
Eu aqui querendo Um beijo seu Um passeio na lua Um jeito de ficar nua Minha alma na sua
Querendo... O olhar Do teu olhar Para o meu Rainha
Leni Zilioto
Lucia Sousa é Mulher Cultivadora
Ela é uma Mulher Cultivadora porque ela cultiva a escrita educação, a poesia, a motivação, o direito à cultura, a fé, Recife, as antologias..
por Lucia Sousa
“Mais do que um simples dramaturgo, ele foi um desses Dom Quixotes.” Dias Gomes
Domingo tarde de verão, o sol brilhava no nordeste brasileiro, o jovem radialista, que há pouco havia solicitado seu desligamento da emissora de rádio, acende um cigarro e caminha a passos largos em direção a sua residência. Esbarra em uma pessoa.
_Desculpe-me, por favor, machuquei o senhor? _ Não se preocupe rapaz. Está tudo bem comigo.
Ele prossegue a caminhada, fumando e jogando os braços, em alguns momentos passava as mãos nos fartos cabelos que insistiam em cair na sua testa suada, ou arrumava os óculos de grossas lentes. O sol que castigava não dava trégua, nenhuma, a brisa surgia para amenizar o calor, as folhas das árvores não se moviam. A mãe o aguardava para o almoço. Ele chega a casa atravessa o portão, cruza o jardim, olha as flores e segue em direção à porta.
_ Boa tarde, minha mãe. _ Boa tarde, meu filho. Você está molhado de suor. Veio correndo, foi? - Não, creio que são meus pensamentos. As palavras querem brotar de mim, são as flores do meu jardim. _ O que se passa com você, parece agitado, meu filho. _Senhora minha mãe tomei uma decisão. Saí do emprego. _ Isto não é novidade, você está sempre mudando de emprego. _ Agora é definitivo. Irei para o Rio de Janeiro.
A mãe que estava sentada ergue-se, passa a mão esquerda no avental e a direita leva ao rosto sem saber o que dizer, fica imóvel recosta na mesa. Ele movimenta-se em direção a ela e com voz firme diz:
_ Aqui não é lugar para mim. Busco novos horizontes, preciso realizar minhas criações artísticas, meus projetos. Construir a minha vida, dar outra forma, um rumo diferente, expandir a minha paixão: o teatro.
_ Não me venha com esta sua voz modulada de locutor de rádio, deixa-a para seus ouvintes. Sou sua _ Mãe aqui na Paraíba não terei como avançar com meus sonhos, no sudeste do país terei mais chances, outras possibilidades. Neste lugar tem muita gente capacitada, mas que não conseguem avançar e para mim não será diferente para o que pretendo realizar, maior poder da palavra, a senhora entende-me?
_ Como posso entender umas coisas destas, meu filho? O que irás fazer longe da sua casa. O que será de mim sem você?
O ar da sala é invadido por um cheiro que vem da cozinha. Dona Laís, exclama: algo está queimando! Levanta-se e corre. Ó meu Deus, não teremos arroz para o almoço, passa das quatorze horas e não iremos retardar mais a nossa refeição, esta sua conversa me tirou do prumo.
_ Não, se inquiete minha mãe, ficará tudo bem. Vou trocar esta roupa.
Ele se dirige para o quarto. Após o almoço retomam a conversa. Paulo diz a Dona Laís: Mãe, a minha intensão de viver no Rio de Janeiro é igual a uma missão, penso em nosso povo paraibano, desamparado, o Nordeste não existe para o país, sempre esquecido pelos governantes, a senhora não me deixa mentir, não é verdade?
_ Sim, meu filho há uma carência de melhores oportunidades para nós que vivemos aqui, muitos dos responsáveis por suas famílias partem em busca de esperança para conseguirem recursos mais dignos para os seus, mediante as condições precárias vividas. Muitas vezes, junto com o seu pai tivemos que mudar de cidade em cidade em busca de emprego tentando conseguir o melhor para vocês. Mas, vamos retomar ao seu assunto. Seu pai tem conhecimento desta sua ideia?
_ Não é ideia, minha mãe, é meu projeto de vida. Conversei com meu pai, ele que serviu ao Exército Brasileiro irá tentar conseguir através dos seus conhecimentos minha ida para o Rio de Janeiro, por meio da FAB.
_ Então, sou a última a saber das novidades nessa casa.
_ Não queria incomodar a senhora, precisava ter uma definição para meu intuito.
_ O que você quer dizer, meu filho? Você ainda é uma criança, nem tem vinte anos completos. Como irá viver sozinho longe de nós? Foi aqui que você nasceu e se criou. A família do seu pai, os Pontes, vivem aqui no Nordeste entre a Paraíba e Pernambuco. Não faça isto com sua mãe, não saberei como suportar a sua falta. O que mais irá me entrister será a sua ausência e quem cuidará de você meu menino?
_ Senhora, lá também conhecerei o amor. Mãe sou feio? _ Meu filho, você tem cada invenção. Sua beleza é desigual, seu cabelo preto abundante, sua altura longilínea. Você se expressa através de uma capacidade intelectual invejável na forma máxima da expressão que todos param para ti ouvir. Você apenas não encontrou a pessoa certa. Mas rogo ao nosso bom Deus que quando você encontrar alguém, que seja para toda a sua vida, uma pessoa generosa que ao descobrir a sua verdadeira essência, o que há de mais importante no ser humano, irá amar você para sempre, até seus últimos dias de vida, acredite em mim.
_ Obrigado, minha mãe. Sentirei muitas saudades de você e de todos daqui, mas estarei sempre por perto, voltarei para vê-la e aos amigos, esse povo que tanto amo e a essa terra querida. Mãe dará tudo certo, creia em mim.
Dona Laís conformada não tinha como interceder na decisão do filho, de personalidade forte, temperamento inquieto, a mesmice o fatigava, destemido, a sua posição era irrevogável. Então, com algumas economias domésticas, preparou para ele algumas roupas e objetos básicos para sua manutenção na cidade distante.
Despedem-se ao portão, ele dá uma olhada para o canteiro de flores, reflete: farei das minhas palavras um jardim, que irão ecoar para colorir os palcos deste país. Beija a mão direita da mãe e pede a sua benção, ela que não consegue conter as lágrimas, com a voz embargada diz: Deus te abençoe meu amado filho.
Na Base Área do Recife seu pai o aguardava. Apresenta-o ao piloto: este é o meu filho. _Como é seu nome, rapaz?
Ele estava com o rosto inquinado, ergue o queixo e responde: Vicente de Paula de Holanda Pontes.
_E o que você faz na vida meu rapaz? _Sou locutor de rádio, jornalista e escritor teatral. _Uhhh, rapaz de muitos atributos. O Brasil precisa de pessoas de brio iguais a você. Almejo que no Rio de Janeiro você concretize os seus sonhos, mas vamos indo que até lá teremos uma longa viajem. _ Sua bênção meu pai. _ Deus te abençoe, meu filho. Quando houver algum momento oportuno irei ter contigo e conferir de perto os teus sonhos.
Paulo abraça o pai e afasta-se seguindo o piloto. Ao longe acena para o pai e seguindo as orientações direciona-se para o local indicado. Agasalha seus pertences e senta-se.
Ao ouvir o barulho das hélices e o trepidar na pista da aeronave, fecha os olhos e começa a orar. Senhor meu Deus, estou realizando o que queres para mim? Que não seja meu querer ou vaidade da minha parte essa minha ida para o sudeste do país. Tenho um sonho, idealizo para a gente da minha terra melhores condições e oportunidades de crescimento para essa nação.
O avião decola. Paulo benze-se. Olha o céu, as nuvens e a paisagem que vai ficando para trás, uma lágrima cai em seu rosto. Adormece.
Ao chegar à capital carioca, o piloto diz:
_Rapaz, eis o Rio de Janeiro aos seus pés, boa sorte. _Obrigado, senhor, até mais.
No centro da cidade, olhando para todos os lados e tomado por uma euforia se perde no meio da multidão. Compreendendo sua nova realidade, exprime: cheguei, Rio de Janeiro, ó Cidade Maravilhosa, aqui serei, o Dramaturgo Paulo Pontes.
Texto publicado na Antologia Comemorativa dos 15 anos do Centro de Literatura do Forte de Copacabana, 2021. Revisado com alterações da autora, em 20 de fevereiro de 2022.