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ENTREVISTA COM DAUÁ PURI
from Revue Cultive n° 14
by Cultive
Métl’on Puky Eu sou Dauá Puri, daqui do Rio de Janeiro, meu povo e minha família vem dessa região da zona da mata, de Paraíba do Sul, Paty do Alferes, Avelar né, essa é a região da minha origem Puri e com a minha avó que a gente aprendeu bons ensinamentos sobre a vida.
*O Povo da etnia Puri pertence ao tronco linguístico Macro-Jê, e segundo o último censo do IBGE (2010), foram registrados 675 autodeclarados Puri, com a maior parte no Estado de Minas Gerais. Como era a relação com a natureza? Sempre foi muito de respeito, cultuando as árvores e as ervas medicinais para tratamento do corpo, das doenças, e também como abrigo do sol no período de calor, o nosso povo geralmente não andava depois das 11 horas, ele ia para debaixo de uma árvore e procurava conversar e esperar o sol baixar. Então as árvores sempre estavam muito ligadas ao dia a dia do Puri, e mais próximo da água possível, vivendo à beira dos rios e se alimentando ali também, dormindo perto dos Córregos, dentro das cavernas, das locas de pedras como se dizia. Um respeito muito grande que nós temos, nos chega até uma história que diz que nosso povo não andava de noite na floresta, pois ele entendia que naquele momento a meia-noite a floresta dormia e as árvores precisavam descansar. Então um cultuar sempre muito intenso dessa convivência direta com a natureza que alimenta, que abriga, que cura, que acalenta, a saudação ao sol, a saudação à Lua, ao fogo, aos elementos, nos cantos ao redor das fogueiras e celebrações, de vitórias, de funeral, de nascimento e de conquistas.
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Como utilizavam o conhecimento empírico e a leitura do céu em suas atividades produtivas (plantio, colheita)? Com relação a esse ritual de recolhimento logo que o sol baixava, alguns rituais a beira do fogo, aonde se observava as estrelas nós temos algumas indicações que falam que os Puris acreditavam que vinham das estrelas e também vamos ter no nosso dicionário a nomeação de diferentes estrelas e das diferentes luas, lua cheia, a lua minguante, dessa forma eles procuravam observar as plantas medicinais que podiam ser colhidas nesse período, esse contato com o conhecimento da posição das estrelas sempre vão estar muito presente na construção da relação com a natureza e com os tratamentos de cura. Já o processo de plantio, tecnologia que vem sendo desenvolvida já na atualidade com os Puris que mantém essa cultura lá na Serra do brigadeiro e algumas regiões, eles voltam afirmar que mantém a tradição dos conhecimentos dos antepassados, o que plantar, como plantar, aonde plantar né, sempre procurando compreender as melhores opções de plantio tanto para alimentação quanto para os tratamentos.
Como era a divisão do trabalho entre homens, mulheres, crianças e idosos? A divisão do trabalho era sempre o homem na caça, as mulheres cuidando das Crianças, alimentação, vestuário e algum artesanato, e os idosos contando histórias para as crianças eles sempre ficavam em alguma pedra esperando que o grupo passasse, que na realidade o povo sempre estava em deslocamento com isso os idosos não acompanhavam, ficavam em alguma região e quando os outros retornaram Eles podiam manter o contato com aqueles mais velhos que Ficaram para trás
Como o grupo se comportou na chegada do conquistador europeu no início da colonização do Brasil? A princípio era um despertar de interesse, de conhecer aquelas coisas diferentes que eram os europeus que chegaram aqui a curiosidade de entender, de saber como é que era aquelas pessoas brancas, daquela cor, aquelas roupas todas mas depois, com o passar dos contatos vem a grande decepção né, em função da exploração que os colonizadores tentaram impor, que na realidade tinha um contato com as ervas medicinais e cabe nos citarmos aqui a questão da poaia que é uma erva medicinal que o Puri usava e que ele colhia para trocar com os europeus e ela se tornou o primeiro produto de exportaçao aqui na nossa região Sudeste. Na realidade em todos os tratos que ele vai encontrar no seu contato ele vai se decepcionar tanto que existem várias histórias com relação a revolta dos Puris em que nunca foi respeitado os tratos que fizeram com os nossos antepassados.
Nós vamos ter a revolta de Ouro Preto, do Rio de Janeiro na construção dos Arcos da Lapa e outras tantas revoltas que aconteceram, o objetivo das expedições era fazer o contato para aprisionar os indígenas e com isso o Puri não aceitava, e quando eles conseguiam persuadir um grupo eles chegavam nesses locais que eles chamavam de Aldeia ou aldeamento prisional eles dividiam as famílias, o marido da mulher, das crianças e com isso causavam uma grande revolta do povo.
Como está a situação social, econômica, de saúde e cultura desse grupo nos dias de hoje? Quando nós conseguimos realizar esse trabalho de pesquisa indo à Juiz de Fora, Araponga, Viçosa passando por Ubá também nós vamos encontrar o registro dos puris trabalhando lá no meio do campo, lá eles criaram uma sobrevida muito interessante, criaram um sindicato conseguindo desenvolver uma condição social bem mais interessante para esses remanescentes dos Puris da região e também criaram uma escola sendo que essa região vem ser um dos últimos redutos né que o povo é imigrou para poder fugir das explorações dos Bandeirantes, com relação à saúde é um povo bem cuidadoso né mantém uma tradição de uma alimentação bem ligado às raízes, as frutas, mel e caça, então tem uma saúde boa, nós vamos ter algumas deficiências com relação à saúde mental em função desse massacre e perseguição que foi imposta ao nosso povo desde 1808 até o início de 1900 mais de 100, quase duzentos anos o povo fugindo dentro das matas, em 1808 o Governador Augusto de Vasconcelos decretou a caça aos Puris e botocudos. A situação cultural manteve-se ao longo do tempo uma tradição que foi a dança de caboclo aonde vamos encontrar essa manifestação nos grupos da Cidade de Araponga, Jurandir Puri desenvolve lá relembrando os seus pais e também os mais velhos dos tempos antigos e nós então a partir desse contato que tivemos saindo do Rio de Janeiro e indo pesquisar em Araponga podemos trazer essa língua Puri o canto para região Sudeste E aí então nos dias de hoje nós estamos produzindo arte cultura literatura canto dança histórias em já temos mais de de 500 ou mil Puris contactados tanto aqui quanto fora do Brasil e aí então nós vamos ter a página do grupo no Facebook a criação do grupo movimento de ressurgência Puri e atualmente também estamos participando do Conselho Estadual dos direitos indígenas do Rio de Janeiro.
Artplus n°2
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