Revista do Museu Correios
POSTAIS
Presidente da Republica Michel Temer Ministro da da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações Gilbero Kassab
A Revista Postais é uma publicação semestral do Museu Correios. As opiniões expressas nos artigos são de responsabilidade exclusiva de seus autores.
Presidente dos Correios Guilherme Campos Júnior Editor Andre Henrique Quintanilha Ronzani Conselho editorial Alexandre Case Fausto Weiler Romulo Valle Salvino
Museu Correios Setor Comercial Sul, Quadra 04, número 256
Projeto gráfico Juliane Marie Tadaieski Arruda Virgínia de Campos Moreira
70304-915 Brasília - DF
Diagramação e arte Juliane Marie Tadaieski Arruda Virgínia de Campos Moreira
e-mail: museu@correios.com.br
Capa Juliane Marie Tadaieski Arruda Núcleo de pesquisa e documentação Bernardo de Barros Arribada Anna Priscilla Martins da Silva Campos Camila Alves Sena Jomanuela Nascimento Santos Maria do Socorro Nobre da Silva Miguel Angelo de Oliveira Santiago Renata Assiz dos Santos Roberto Rocha Neto Núcleo administrativo Luciléia Gomes Silva Belchior Paulo Ernandes Pereira da Silva Agradecimentos Douglas Teixeira Nunes Santos Museu da Força Expedicionária Brasileira de Belo Horizonte-MG SIlmara Küster de Paula Carvalho Universidade de Brasília - UnB
Telefone: (61) 2141 9276
P857 Postais : Revista do Museu Nacional dos Correios. − N.1
([jul./dez. 2013 ])- . − Brasília : Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Departamento de Relações Institucionais e Comunicação. 2013-v. : il. ; 18cm. Semestral A partir do N.3, o subtítulo da publicação passou a ser Revista do Museu Correios. A partir do n.6, a revista passou a ser editada pelo Departamento de Relações Institucionais e Comunicação, anterior ao n.6 a esta era produzida pelo Departamento de Gestão Cultural ISSN 2317 - 5699
1. História Postal Brasileira. 2. Telegrafia. 3. Museologia. Patrimônio Histórico e Cultural. 4. Ação Cultural. 5. Artes. I. Empresa Brasileira de Correios eTelégrafos, Departamento de Gestão Cultural. CDD 656.81 CDU 656.8(09)(081)
POSTAIS Revista do Museu Correios
Ano 5 Número 08 Brasília 2017
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Carta Editorial
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O Serviço Meterológico dos Telégrafos
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O Selo Postal: entre o Documento e o Monumento
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Miguel Angelo de Oliveira Santiago
Wilson de Oliveira Neto
Marcos Moretzsohn Renault Coelho Maria Vitória Lima Honzák Silmara Küster de Paula Carvalho
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Transcrição de manuscritos Cartas da FEB Segunda Guerra Mundial (1939-1945) - Museu da Força Expedicionária Brasileira
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Biografias - Aydo Martins de Souza / Isabel Novaes Feitosa Celestino Nunes de Oliveira/ Flávio da Mata Moreira/ João Batista moreira
Inicialmente o artigo do Museólogo Miguel Angelo de Oliveira Santiago se debruça sobre o acervo documental existente no Museu Correios e inicia a pesquisa do tema dos Serviços Meteorológicos implantadas em 1867 pela Repartição Geral dos Telégrafos. O pesquisador vincula a figura do Barão de Capanema na iniciativa da aplicação tecnológica para o serviço meteorológico que ora se iniciava e apresenta pinceladas do assunto instigando futuras pesquisas sobre o tema. Em seu artigo sobre o selo postal, Wilson de Oliveira Neto, professor e pesquisador no Departamento de História da UNIVILLE, trabalha os conceitos de memória e documentomonumento quando reverencia os selos postais como instrumento do desenvolvimento destes conceitos. O caminho traçado pelo artigo nos leva a saborear os sentidos dos temas dos selos, seus conteúdos e suas representatividades temporais para a sociedade para a qual foram produzidos, além de deixarem pistas para a sua caracterização futura. Dando continuidade ao tema da Força Expedicionária Brasileira – FEB, o artigo Cartas da FEB: Entre a saudade e a guerra, de Marcos Coelho, curador do Museu da FEB e Silmara Carvalho, professora do Curso de Museologia da UNB, apresenta cartas, telegramas, fotografias, envelopes e cartões postais são apresentados em fac-símile e transcrições, transpassando o leitor com as experiências e sentimentos daqueles que em meio aos temores da Segunda Grande Guerra podiam ainda se comunicar ou lançar em papéis suas esperanças, pensamentos e saudades. Manuscritos que visualmente impactam com a delicadeza da grafia ou com a força das palavras escolhidas.
Carta Editorial
Seguindo a proposta de interdisciplinaridade desta publicação, apresentamos na Revista Postais nº8 temáticas relacionadas às comunicações e à memória dos Correios e Telégrafos.
O Serviço Meteorológico dos Telégrafos Miguel Angelo de Oliveira Santiago
Resumo/Abstract
The Telegraph Meteorological Service
Este artigo cujo assunto está fase inicial de pesquisa, visa destacar a contribuição pessoal do Engenheiro Guilherme Schüch de Capanema para a construção de uma rede meteorológica científica no Brasil, a partir dos relatórios da RGT encontrados na biblioteca do Museu Correios, em Brasília. Capanema foi Diretor da Repartição Geral dos Telégrafos desde a sua criação em 1854 até o final do Império em 1889. Em seus relatórios, Capanema registra a criação das estações meteorológicas, a origem e aquisição dos instrumentos científicos, os acordos para publicar dos dados meteorológicos para a população, e as dificuldades encontradas de 1867 a 1889 para a montagem do Serviço Meteorológico dos Telégrafos.
Palavras-chave: Capanema. Telégrafo. Meterologia. RGT. This article, whose subject is an early stage of research, seeks to highlight the personal contribution of the Engineer Guilherme Schüch de Capanema for the construction of a scientific meteorological network in Brazil, based on the reports of the RGT found in Correios Museum´s library in Brasilia. Capanema was Director of the General Bureau of Telegraphs since its inception in 1854, until the end of the Empire in 1889. In his reports, Capanema records the creation of meteorological stations, the origin and acquisition of scientific instruments, agreements to publish meteorological data for the population, and the difficulties encountered from 1867 to 1889 for the setting up of the Telegraph Meteorological Service.
Keywords: Capanema. Telegraphy. Meteorology. RGT
Miguel Angelo de Oliveira Santiago
A Repartição Geral dos Telégrafos Ao ser criada em 1854 a Repartição Geral dos Telégrafos foi vinculada ao Ministério dos Negócios da Agricultura, Comercio e Obras Públicas cuja pasta do império era tornar o Brasil uma nação civilizada de acordo com as nações europeias. Coube ao então Guilherme Schüch de Capanema dirigir a RGT. Capanema foi Diretor dos serviços telegráficos até 1889 quando foi Proclamada a Republica. Além dos serviços telegráficos, a RGT era responsável pelo Telegrafo Semafórico, pelo Serviço de Telefonia e a partir de 1867 do Serviço de Meteorologia cujo objetivo era criar uma rede meteorológica semelhante as que existiam nos países europeus. O Serviço de Meteorologia dos Telégrafos de 1867 a 1888 O Serviço de Meteorologia da Repartição Geral de Telégrafos tem início no ano de 1867, quando o Barão de Capanema recebeu autorização do ministério da agricultura para desenvolver uma série de atividades científicas ao longo das construções das linhas telegráficas. Além das observações meteorológicas e magnéticas, constava também o serviço de topografia. Esses trabalhos seriam incluídos na carta geral do império: “Fui neste ano autorizado a plantar as linhas telegráficas de modo que pudessem ser incluídas na carta geral do império [...]” (RGT, 1890a, p.45) 84
O Serviço Meteorológico dos Telégrafos
Diante das novas atividades o Diretor da RGT, preocupase com a pouca importância que seus engenheiros tem dados aos serviços topográficos para realização das plantas e relata: Como nem sempre posso contar nas províncias com engenheiros de boa vontade para o trabalho e sendo indispensáveis as explorações tenho necessidade de providenciar sobre os meios de poder plantas topográficas gente que não tenha aspirações muito guindadas e tenho esperança de com isso prestar as país um serviço muito importante. (RGT, 1890a, p.45)
Em seguida, Capanema destaca a importância das observações magnéticas para a correção dos trabalhos topográficos realizados com bússola evitando desvios das linhas telegráficas por meio da variação da agulha magnética. E sobre as observações meteorológicas Capanema informa que para prestarem serviços reais é necessário um tempo para que se possa salvar propriedades e vidas. Enfatiza que as observações meteorológicas não são mera especulação de mero interesse científico e sim prático e de incalculável utilidade. E, lembra: “[...] só a antecedência com que se pode prevenir a aproximação de temporais: Na laguna os navios presos por falta de vento para sair são avisados de Porto Alegre com seis horas de antecedência que o terão”. (RGT, 1890a, p.45)
Busto de Capanema. Acervo - Museu Correios
Os relatórios de 1868, 1869, 1870, 1871 e 1872 não mencionam o Serviço Meteorológico, 85
Miguel Angelo de Oliveira Santiago
É ensaiado hoje nas estações de Porto Alegre, Desterro, Paranaguá e Santos, e na província do Espírito Santo tomamse os apontamentos do estado do tempo, até que se possam guarnecer as estações com os necessários instrumentos.” Os empregados em geral ainda não se habituaram a fazer as observações de modo que se possam aceitar como perfeitas. No entanto, é serviço que está se organizando e que pode vir a ser muito útil. (RGT, 1890a, p.45)
Relatório dos Telégrafos de 1861 a 1880. RGT, 1890. Acervo - Museu Correios
Novamente, nos anos de 1874, 1875, 1876,1877, não são abordados os serviços de meteorologia, embora o Eng.º Dr. Luiz Vieira Ferreira responsável pelo Distrito Telegráfico de Mambucaba a Santos e destituído por Capanema em 1875, informa que no ano de 1874 “[...]vários acontecimentos meteorológicos notáveis foram registrados durante o ano, os quais como temporais, grandes chuvas, tufões ou ventanias, podiam produzir estragos nas linhas e embaraçavam o trabalho de campo” (RGT, 1890a, p.45) A montagem dessa rede aconteceu muito lentamente, pois no seu relatório de 1882, Capanema informa: N’algumas estações efetuam-se observações meteorológicas cujos resultados comunicados à estação central, poderão ser eminentemente úteis, quando esse serviço se achar organizado na conveniente escala[...] (RGT, 1890b, p.55)
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Ainda informa que a fim de iniciar uma rede meteorológica, a Diretoria dos Telégrafos está aguardando a chegada de alguns instrumentos científicos encomendados em Estocolmo.“[...]
O Serviço Meteorológico dos Telégrafos
aguarda a Diretoria a chegada de quatro aparelhos do sistema Theorell, encomendados em Estocolmo [...]” (RGT, 1883b, p.44) A fim de garantir que os 04 aparelhos do Sistema de Theorelli seja devidamente calibrado e pronto para uso, Capanema consegue que o Dr. Hildebrandson, lente da universidade de Upsala e Diretor do Observatório realize gratuitamente o serviço de inspeção dos aparelhos que seriam destinados a Porto Alegre no Rio Grande do Sul, Paranaguá, Curitiba e imediações da cidade do Rio de Janeiro. (RGT, 1890b, p.55) Em 1884, a Diretoria da RGT recebe a informação de que os 04 Meteorógrafos Automáticos de Theorele ficaram prontos com a inspeção do Dr. Hildebrandson e que na opinião dos membros da Academia de Ciências de Estocolmo o Brasil vai receber os mais perfeitos meteorógrafos até o momento construídos. (RGT, 1890b, p.44) Preocupado com a montagem dos aparelhos no Brasil, o Dr. Hildebrandson alerta a necessidade de acompanhamento do construtor no “assentamento” do primeiro aparelho bem como dar as necessárias instruções de funcionamento. Nesse mesmo ano de 1884, Capanema realiza uma viagem de inspeção às províncias do norte com sua equipe técnica e aproveita para realizar diversos trabalhos científicos como Observações Astronômicas, Topográficas, Meteorológicas, etc. a fim de entender melhor o clima do nordeste brasileiro, principalmente no Ceará. [...]levei comigo o engenheiro chefe do Distrito Telegráfico Dr. Gustavo Luiz Guilherme Dodt que me auxiliava nas observações astronômicas, fazia as meteorológicas e ajudava nos cálculos; E o chefe de serviço João Hermógenes Pimentel que nas estações fiscalizava o serviços telegráfico. (RGT, 1890b, p.48)
Preocupado em prever os período de grande secas e tomar medidas preventivas, Capanema propõem que após a instalação desses 04 aparelhos destinados às províncias do Sul, os próximos aparelhos sejam instalados nas províncias do norte:
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Miguel Angelo de Oliveira Santiago
[...] será conveniente encomendar novo terno, para diversos pontos das províncias do norte, flageladas pelas secas periódicas; é óbvia a necessidade de estudar a climatologia da zona inteira exposta às calamidades provenientes da falta chuva, porque talvez seja possível prever a aproximação das secas, com antecedência suficiente para tomar medias preventivas. (RGT, 1890b, p.44)
Por oportunidade da Conferência Telegráfica de Berlim realizada entre os dias 15 de novembro de 1884 e 26 de fevereiro de 1885, Capanema mandou sustar a remessa da encomenda o foi a Estocolmo examinar e receber pessoalmente os aparelhos junto com o Diretor do Observatório Meteorológico de Upsala, que no momento prestou todos os esclarecimentos sobre o funcionamento do mesmo. Examinei em todos os detalhes um dos aparelhos que estava montado e o modo de funcionar. (RGT, 1890b, p.33)
Após examinar o aparelho não somente a parte mecânica, Capanema verifica a exatidão com que combinam entre se todos os elementos que o fazem funcionar na mais perfeita harmonia. Em seguida Capanema relata sobre o aparelho: Dão automaticamente, impressos em algarismos de quarto em quarto de hora, dia e noite, direção e velocidade do vento, pressão barométrica até 1/20 de milímetro, temperatura do ar, e do termômetro úmido de 1/20 de grau centígrado; uma vez dada corda ao relógio, o qual nos intervalos marcados fecha o circuito de uma bateria que faz funcionar todo o aparelho e inscrever as observações, o movimento é contínuo enquanto não enfraquece a corrente elétrica da bateria, pois o próprio aparelho a cabo de cada observação da corda ao relógio. (RGT, 1890b, p.33)
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Ainda em 1885 e após grande preocupação com encaixotamento, deslocamento e evitando grande baldeações. Havia ainda o cuidado para que o mercúrio do barômetro não dilatasse com a mudança climática pois era inverno na Europa em quanto que no Brasil era verão. Esses cuidados foram fundamentais para a chegada intacta dos equipamentos no Rio de Janeiro.
O Serviço Meteorológico dos Telégrafos
O primeiro equipamento foi instalado em meados de Fevereiro de 1885, num terreno doado por Capanema na Ilha do Governador, onde foi construído o edifício destinado ao observatório meteorológico, durante a viagem de Capanema. Esse terreno era próximo a residência do Diretor da RGT que o escolheu com a seguinte justificativa: Escolhi o lugar para estabelecer os aparelhos longe da cidade para não serem influenciados pelo aquecimento das grandes superfície dos telhados e calçadas exposta ao sol e alterando a temperatura, e porque próximo passa a linha telegráfica de Petrópolis. Além disso está afastado das montanhas que podem influir sobre a direção e intensidade dos ventos (RGT, 1890b, p.34)
Ilustração de anemômetro
Capanema informa que ao receber os 04 equipamentos comprados em 1880, tratou de adquirir mais aparelhos para as províncias do norte. Encomendou também “um terno de aparelhos de Mascart para as observações de magnetismo terrestre, e outro para a eletricidade atmosférica. Esses aparelhos automáticos seriam montados próximo ao Meteorógrafo. Outro equipamento foi adquirido por Capanema na Exposição de Invenções de Londres: o Pluviômetro registrador do Capitão Runze de Copenhague. Adquiri-o e acha-se montado: mandei fazer algumas modificações e parece que dá resultados satisfatórios, porque para fins práticos conhecer o espaço de tempo em que uma determinada quantidade de água cai, é mais útil do que consegui-la integralmente em longos intervalos (RGT, 1890b, p.34)
Por mais cuidado com a conservação dos aparelhos que se tivesse as condições climáticas logo exigiam que o material isolante como marfim e ou papel parafinado fosse substituído por ebanito. 89
Miguel Angelo de Oliveira Santiago
Capanema atribui ao calor a frequência com uma mola se rompia interrompendo o funcionamento do aparelho. Coube ao chefe da oficina dos telégrafos desenvolver uma peça inteiriça para o local resolvendo o problema. Se em 1873 eram quatro estações meteorológicas dos telégrafos: Porto Alegre, Desterro (Florianópolis), Paranaguá e Curitiba. Em 1885 esse número saltou para 7 com Morretes, Ponta Grossa e Guarapuava desenvolvendo trabalhos regulares de meteorologia.
Relatório realizado pela Reparticação Geral dos Telégrafos, em 1884, em Antonina - PR.
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As dificuldades financeiras encontradas na RGT em 1886, não permitiram que os três outros aparelhos fossem montados em Porto Alegre, Paranaguá e Curitiba. E pelo mesmo motivo os resultados obtidos pelas estações meteorológicas não eram impressos, conforme citado em Relatórios do Telégrafos, RGT (1890b). Diante dessa situação, Capanema reuniu-se com os Srs. Dr. Cruls, diretor do observatório; Dr. Ewbank da Camara, que tem instrumentos funcionando em diversas estações da estrada de ferro D. Pedro II e o Sr. Dr. Orville Derby, incumbido de realizar a Carta Geodésica de São Paulo. Como resultado dessa reunião todas as estações meteorológicas deveriam realizar uma observação diária às 09:00 horas da manhã do Rio de Janeiro, para em seguida reuni-las e publicá-las em uma folha da corte. Desse modo, o Jornal do Comércio passou a publicar diariamente as observações meteorológicas em 1887 com regularidade.
O Serviço Meteorológico dos Telégrafos
Em 1888 último ano de Capanema à frente da Repartição dos Telégrafos o seu relatório faz uma crítica ao Governo diante das dificuldade encontrada para a montagem da Rede de Estações Meteorológicas no Brasil: Até hoje o Governo não tem ligado a esse serviço a devida importância, a sua utilidade torna-se cada vez mais saliente pelos resultados que se colhem em outros países, onde não só podem prevenir desastres que os observatórios meteorológicos fazem prever, mas ainda se poderá predizer perturbações no estados da atmosfera, que muito prejudicam a lavoura de províncias inteiras, e logo que número suficiente de dados estejam reunidos se podem conhecer as leis que regem essas perturbações e o telégrafo é um poderoso auxiliar para dar tempo a conhecer a sua aproximação (RGT, 1890b, p.31)
Capanema conclui sobre essa atividade na Repartição Geral dos Telégrafos: Tentou-se formar entre nós um centro meteorológico para o qual convergissem os trabalhos de todos aqueles que se interessam pelo progresso da ciência. Infelizmente aparecem nessa ocasiões entusiastas que tudo querem criar em um dia. Julgam-se para tudo habilitados, entendem que com muita palavra se consegue construir edifícios, sem possuir material indispensável. Os poucos indivíduos que sinceramente contribuem pelo seu trabalho não procuram apregoar-se na praça pública: Tendem apresentar oportunamente os resultados de sua atividade, e só então começarão a aglomerar-se os elementos esparsos e revelar a sua grande utilidade prática. (RGT, 1890b, p.32)
Após a Proclamação da República e a consequente saída do Capanema da direção da Repartição Geral dos Telégrafos, o Serviço de 91
Miguel Angelo de Oliveira Santiago
Meteorologia dos Telégrafos seguiu adiante, expandiu para as províncias do norte, onde foi montada uma estação meteorológica em Quixeramobim – CE. Em 1908, durante a Exposição Comemorativa dos 100 anos de abertura dos Portos do Brasil às Nações Amigas, o prédio construído para os Correios e Telégrafos não deixou de homenagear o seu serviço meteorológico colocando no alto dois instrumentos científicos: um anemômetro e um catavento. O Serviço de Meteorologia criado por Capanema Em tempos de grandes variações de temperatura e umidade onde as medições realizadas pelo Instituto Nacional de Meteorologia - INMET são cada vez mais esperadas pelas pessoas para saber como será o seu final de semana e até mesmo decidir o que levar ao sair casa a fim de ser surpreendido com fortes chuvas ou o dia de calor intenso. Esse serviço é cada vez fundamental para o nosso dia a Mas será que sempre foi o INMET que realizava esse serviço no Brasil? Recentemente, dois relatórios da Repartição Geral de Telégrafos pertencentes a biblioteca do Museu Correios revelam que anteriormente a criação do centenário Instituto Nacional Meteorologia em havia no Brasil uma preocupação de criar uma rede meteorológica cientifica. O presente artigo destaca a contribuição do Barão de Capanema para a introdução da meteorologia científica no Brasil, a partir dos Relatórios da Repartição Geral dos Telégrafos por ele encaminhados ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas nos anos de 1881 a 1889 localizados na biblioteca do Museu Correios em Brasília. 92
O Serviço Meteorológico dos Telégrafos
Um pouco de história A meteorologia é um dos ramos do conhecimento mais antigos estudados pelo homem. Segundo Price, os povos da antiguidade deixaram registradas as suas observações acerca das mudanças climáticas em placas de barro realizados pelos Babilônios datados de 4.000 a.C. que se encontram no Museu de Londres. Na antiga Grécia essa disciplina não passou desapercebida e o Filósofo Grego Aristóteles publicou sua obra Meteorológica. Os Gregos levaram tão a sério as questões da meteorologia e astronomia que chegaram a construir uma rede de edifícios destinados a controlar o clima. A Torre dos Ventos construída na Ágora de Atenas em 50 a.C. por Andranicus de Cirro é a única estrutura que ainda resta daquela rede. Price a partir de um relato escrito por um peregrino turco de 1668 e das escavações arqueológicas realizadas pessoalmente concluiu que a torre dos ventos era um projeto ambicioso, pois os gregos tentavam encadear “teorias que abrangem, virtualmente, toda a criação e incluem a Cosmologia, a Química, a Física, a Meteorologia e a Medicina”. A Torre dos Ventos é uma estrutura de mármore, de formato octogonal, que sustentava no topo um catavento em forma de um Tritão que ao girar apontava um bastão na direção do vento dominante. Em cada uma das oito fachadas havia a representação dos oito ventos, Notus (norte), Zéfiro (sul), Apeliotes etc. No seu interior uma clepsidra informava ao público as horas do dia.
Exemplo de “Torre dos Ventos, da antiga Grécia.
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Miguel Angelo de Oliveira Santiago
Os romanos também se ocuparam sobre a meteorologia, e o arquiteto romano Vitrúvius no Livro I do seu Tratado de Arquitetura entre outros assuntos informa sobre a natureza dos ventos, a influência dos ventos na saúde e orienta a distribuição das ruas das cidades a partir das direções dos ventos afim de evitar a sua força nociva. Esse acúmulo de conhecimento gerado pelos antigos Relógios de Sol, Cataventos, Clepsidras, aliados aos novos inventos na Idade Média como os astrolábios e mais tarde, a partir do Renascimento os anemômetro, Barômetro, Termômetro, Higrômetro, entre outros, permitiu o surgimento de uma meteorologia científica. A Meteorologia no Brasil
Boletim de Astronomia e Metereologia, publicado pelo Imperial Observatório do Rio de Janeiro, desembro de 1883. Acervo - Observatório Nacional
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Todo o conhecimento de mais de dois mil anos sobre os fenômenos meteorológicos no Mundo Ocidental tiveram que ser revistos com a descoberta de novas terras abaixo da Linha do Equador como é o caso do Brasil. Os Portugueses tiveram que reaprender a partir dos seus conceitos sobre estações do ano, equinócios, direção dos ventos, etc. Pois o verão europeu correspondia ao inverno no Brasil e assim por diante. Isso não significa que as populações existentes no Brasil antes da chegada do europeu não conhecesse os fenômenos meteorológicos. Pesquisas realizadas por arqueólogos no município de Calçoene norte do Brasil, revela uma estrutura megalítica cujo objetivo era registrar os fenômenos astronômicos e meteorológicos. A fim de entender os sinais do tempo, os portugueses utilizaram instrumentos como os Relógio de Sol e talvez um dos instrumentos mais antigos de medição do tempo: O Catavento.
O Serviço Meteorológico dos Telégrafos
Instalados no alto das torres das igrejas de norte a sul do Brasil os cataventos era referência na indicação da direção dos ventos e isso era de grande ajuda para os trabalhadores cujas atividades dependiam do tempo como marinheiros, agricultores e mineradores entre outros tantos. Em Salvador, é comum encontrar cataventos no alto das torres das igrejas localizadas ao longo do porto. A direção do vento era essencial para saber qual o melhor momento para partir em direção ao sul ou ao norte da Baia de Todos os Santos. Em Diamantina, os mineradores se baseavam pelo Galo da torre da igreja do Amparo ou pela Bandeirola da igreja do Senhor do Bonfim se haveria chuva ou não para se orientarem nas atividades das minas. Esse conhecimento construído dia a dia deu origem a um conhecimento popular amplamente utilizado até meados do século XIX no Brasil. Quando nesse mesmo período, alguns países já haviam formado uma rede meteorológica sustentada por instrumentos científicos. Referências:
Exemplo de catavento em igreja. Fonte:
BRASIL. Decreto nº 8354, de 24 dezembro de 1881. Rio de Janeiro, DF. 1881. Disponível em: <http:// www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-8354-24-dezembro-1881-546636publicacaooriginal-60976-pe.htm>. Acesso em: 13 jan. 2017 Repartição Geral de Telégrafos. Relatórios dos Telégrafos de 1861 a 1880. Rio de Janeiro: RGT. 1890a. Repartição Geral de Telégrafos. Relatórios dos Telégrafos de 1881 a 1889. Rio de Janeiro: RGT. 1890b.
Miguel de Oliveira Santiago Museólogo graduado pela UFBA em 1995. Trabalhou no Parque Histórico Castro Alves ligado à Fundação Cultural do Estado da Bahia, de 1995 a 1999, e na Universidade Estadual de Feira de Santana (BA) de 1999 a 2002. É museólogo dos Correios, atualmente lotado no Departamento Relações Institucionais e Comunicação onde desenvolve trabalhos de documentação do acervo do Museu Correios e de requalificação das reservas técnicas.
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O Selo Postal: entre o Documento e o Monumento1 The Postal Stamp: between the document and monument
Wilson de Oliveira Neto
Resumo/Abstract O objetivo deste artigo é analisar os selos e demais documentos postais através do conceito de “documentomonumento”, elaborado pelo historiador francês Jacques Le Goff (1996). Os documentos históricos são fontes sobre o passado que possuem uma intencionalidade, um sentido de memória que é atribuído a eles no momento em que perdem suas funções originais e se tornam documentos históricos. Particularmente, os selos postais são documentos-monumentos, pois têm um duplo-sentido: são fontes acerca do contexto em que foram emitidos, ao mesmo tempo em que seus conteúdos e características possuem uma função memorialística a respeito do próprio contexto em que foram lançados, assim como do tema que eles abordam.
Palavras-chave: selo postal; documento-monumento; memória. The goal of this article is to analyze the stamps and other postal documents through the concept of “document-monument” (LE GOFF, 1996). The historical documents are sources about the past that have intentionality, a sense of memory that is attributed to them at the moment they lose their original functions and become historical documents. Postage stamps are documents - monuments as they have a double meaning: they are sources about the approached theme, at the same time they have a memory function regarding to the proper context in which they were launched, as well as the very subject they treat.
Keywords: : stamps; document – monument; memory. 1. Este artigo surgiu a partir das atividades do grupo de estudos “Documento e Ensino de História”, formado pelos integrantes do Programa de Iniciação à Docência da Universidade da Região de Joinville – PIBID/UNIVILLE/CAPES, Subprojeto História, sob a coordenação do professor MSc. Wilson de Oliveira Neto.
Wilson de Oliveira Neto
O objetivo deste artigo é estudar os selos e os demais documentos postais (aerogramas, blocos, carimbos, folhinhas, inteiros, entre outros), através do conceito de “documentomonumento”, discutido pelo historiador francês Jacques Le Goff (1996). Durante o final da década de 1970, principalmente na França, foi iniciado um processo de renovação da escrita da história, conhecido como História Nova. Entre outros desdobramentos, a História Nova promoveu a revisão do conceito de documento histórico, fato este conhecido como “revolução documental”. Paralelamente ao surgimento de novos problemas e novos objetos de estudos pela história, também passaram a ser considerados documentos históricos vários outros tipos de fontes, além dos tradicionais documentos escritos, em particular, aqueles produzidos pelo Estado (LE GOFF, 1998; TÉTART, 2000). Contudo, a revolução documental da década de 1970 não foi resumida somente à revisão e ampliação do conceito de documento histórico. Através de autores, tais como Le Goff (1996), os documentos passaram a ser interpretados como uma fonte que não surge naturalmente ou desinteressadamente. Tal como a história que eles ajudam a narrar, os documentos históricos têm intencionalidade e historicidade, que acabam revelando muito sobre o contexto em que eles deixaram suas funções originais para se tornarem documentos, assim como o próprio passado estudado, através deles, pelos historiadores. 24
O Selo Postal: Entre o Documento e o Monumento
O documento é uma coisa que fica, que dura, e o testemunho, o ensinamento [...] que ele traz devem ser em primeiro lugar analisados desmistificando-lhe o seu significado aparente. O documento é monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro – voluntária ou involuntariamente – determinada imagem de si próprias (LE GOFF, 1996, p. 547 – 548).
Diante do exposto, é pertinente indagar sobre qual é o “lugar” que os documentos postais, principalmente, os selos, ocupam nesta discussão? Inventado na Inglaterra, em 1840, o selo postal tem funções práticas e simbólicas que já são evidenciadas há muito tempo pela historiografia, assim como por outras formas de saberes científicos, tanto no campo das Ciências Humanas quanto das Comunicações Sociais (LE GOFF, 1996; HOBSBAWM, 1997; PEREIRA, 2014; SALCEDO, 2014). Este artigo discutirá a ideia que os selos postais (principalmente) são “documentosmonumentos”. A emissão de um selo postal, isolado ou em uma série, é um fato permeado por intencionalidade, principalmente quando se trata de uma emissão comemorativa, na qual a memória e o simbólico são fundamentais. Contudo, mais que o evento, o fato ou a pessoa tematizados, os selos postais auxiliam os historiadores a também a compreender as circunstâncias em que eles foram emitidos, bem como as representações existentes acerca dos temas abordados pelas próprias emissões. Para esta discussão, foi adotada uma metodologia que privilegia uma abordagem qualitativa, baseada em um debate conceitual e historiográfico, seguido da apresentação e análise de um exemplo de documento postal, um bilhete postal pré-selado alemão comemorativo de 1934. Os resultados obtidos serão expostos e analisados ao longo dos tópicos a seguir.
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Fundamentação teórica. Desde que os primeiros textos historiográficos foram escritos e publicados, há mais de dois mil anos, os historiadores discutem o que é história. Para os gregos, ela era uma forma de investigação acerca do que diz respeito ao homem. Já para os romanos, a história era a “mestra da vida”. Durante a primeira metade do século passado, outro historiador francês, Marc Bloch (2001) afirmou que a História é a ciência dos homens no tempo. Independente do debate entre os historiadores, duas coisas são certa a respeito da História: ela não é a única forma de representação do passado humano, ao mesmo tempo em que a História é um tipo de memória social (CHARTIER, 2009; GUARINELLO, 2014). Segundo Le Goff (1996), a memória é a capacidade que o cérebro humano tem para reter e atualizar impressões e informações representadas como passadas. A formação e a preservação de memórias envolvem fenômenos biológicos, psíquicos e socioculturais. A memória é importante tanto para o indivíduo quanto para a sociedade em que ele está inserido, pois é através dela que saberes são preservados e ensinados, assim como identidades são constituídas e relações de poder são estabelecidas. Tornarem-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva (LE GOFF, 1996, p. 426).
Os documentos e os monumentos. A memória social, através da história e de outras formas de saberes que lidam com o passado, possui diversos “suportes”, meios pelos quais ela é formada, preservada e 26
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recordada. Pierre Nora (1993), em um antigo e clássico artigo, os chama de “lugares de memórias”, tais como os arquivos, os cemitérios, as coleções, os museus, os santuários e muitos outros “lugares”. Os lugares de memória são marcos testemunhais de outra era, vestígios do passado e evidências de que a memória não é espontânea, mas uma construção sociocultural, em torno da qual giram os mais variados interesses de classes e de instituições sociais. Os documentos e os monumentos são dois outros exemplos de suportes da memória social. Mas, o que são os documentos e os monumentos? Inicialmente, pode-se afirmar que os monumentos são todas as referências ao passado que surgiram para este fim, isto é, quando criados, têm a intenção de registrar um evento, um fato ou um personagem do passado. Já os documentos, são fontes com as quais o passado é estudado e que originalmente foram produzidas para outros fins, sejam eles práticos ou simbólicos. Esgotados os seus usos e por meio de um processo consciente de seleção, eles são transformados em documentos e empregados no estudo e na narração de um recorte no tempo e no espaço próximo ou distante do pesquisador (LE GOFF, 1996). A palavra latina monumentum remete para a raiz indo-europeia men, que exprime uma das funções essenciais do espírito (mens), a memória (memini). O verbo monere significa ‘fazer recordar’, de onde ‘avisar’, ‘iluminar’, ‘instruir’. O monumentum é um sinal do passado. Atendendo às suas origens filológicas, o monumento é tudo aquilo que pode evocar o passado, perpetuar a recordação [...] (LE GOFF, 1996, p. 535).
Já o documento: O termo latino documentum, derivado de docere (ensinar), evoluiu para o significado de ‘prova’ e é amplamente usado no vocabulário legislativo. É no século XVII que se difunde, na linguagem jurídica francesa, a expressão titres et documents e o sentido moderno de testemunho histórico data apenas do início do século XIX. O significado de ‘papel justificado’, especialmente no domínio policial, na língua italiana, por exemplo, demonstra a origem e a evolução do termo. O documento que, para a escola positivista do fim do século XIX e do início do século XX, será o fundamento do fato histórico, ainda que resulte da escolha,
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de uma decisão do historiador, parece apresentar-se por si mesmo como prova histórica. A sua objetividade parece opor-se à intencionalidade do monumento. Além do mais, afirma-se essencialmente como um testemunho escrito (LE GOFF, 1996, p. 536).
Entre o século XIX e o começo da década de 1960, predominou, em particular na França, um conceito de documento histórico que privilegiou os textos escritos, com destaque para aqueles ligados ao Estado. Junto com isso, partia-se da ideia que eles não possuíam uma intencionalidade e que sua existência como documento não era o resultado de escolhas e seleções feitas pelos indivíduos e pelas instituições públicas e privadas responsáveis pela memória social. Porém, com o movimento dos Annales, iniciado na França, durante a primeira metade dos novecentos, e os diversos avanços ocorridos na escrita da história durante o século passado, o conceito de documento foi criticado, revisto e ampliado, em um processo conhecido como “revolução documental” (BURKE, 1992; LE GOFF, 1996; TÉTART, 2000). Da “revolução documental” ao documento-monumento. A partir do final da década de 1970, ocorreu, principalmente, na França, um amplo movimento de renovação da historiografia denominado História Nova. Ele não foi um fenômeno isolado entre as Ciências Humanas, pois muitas delas, tais como a Linguística, por exemplo, também sofreram um processo de revisão dos seus conceitos, métodos e objetos de estudo (LE GOFF, 1998). As origens da História Nova, segundo seus autores, estão situadas no final da década de 1920, também na França, quando, em 1929, os historiadores e professores da Universidade de Estrasburgo Lucien Febvre e Marc Bloch lançaram um periódico acadêmico denominado “Annales d’histoire économique et sociale”. Os “Annales”, como são tradicionalmente conhecidos, introduziram novos objetos de estudos pela história, 28
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assim como novos métodos para pesquisá-los. Em consequência, foi revisto e ampliado o conceito de documento histórico. O que até então era desprezado pelos historiadores, tornou-se fontes para novos e originais estudos históricos. A “revolução documental” anunciada pela História Nova faz parte deste processo (LE GOFF, 1998). A história nova ampliou o campo do documento histórico; ela substituiu a história de Langlois e Seignobos, fundada essencialmente nos textos, no documento escrito, por uma história baseada numa multiplicidade de documentos: escritos de todos os tipos, documentos figurados, produtos de escavações arqueológicas, documentos orais, etc. Uma estatística, uma curva de preços, uma fotografia, um filme, ou, para um passado mais distante, um pólen fóssil, uma ferramenta, um ex-voto são, para a história nova, documentos de primeira ordem (LE GOFF, 1998, p. 28 – 29). Paralelamente à ampliação da tipologia de documentos históricos, também foram desenvolvidas novas técnicas de crítica documental. Para a História Nova, o documento não existe “naturalmente”. Ele é o resultado de uma ação concreta, de uma escolha, de uma seleção. Ou seja, tal como o assunto tratado pelo documento tem sua história, o próprio documento usado para narrar esta história também tem história. É, portanto, um documentomonumento (LE GOFF, 1996).
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Figura 1: One Penny Black. Fonte: Wikimedia Commons. Figura 2: Sir Rowland Hill. Acervo do autor.
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O selo postal: entre o documento e o monumento. Filatelia é o nome dado à coleção e ao estudo de selos e demais documentos postais, tais como aerogramas, blocos comemorativos, carimbos, inteiros, entre outros materiais destinados às comunicações postais, emitidos pelos serviços de correios existentes entre os países. As primeiras manifestações do colecionismo filatélico apareceram no hemisfério norte, ao mesmo tempo em que as primeiras emissões de selos postais eram colocadas em circulação. Ou seja, a partir do final da primeira metade do século XIX (QUEIROZ, 1984). Os filatelistas entendem os selos postais como estampilhas impressas e autoadesivas, com diversos valores monetários, usadas para comprovar o pagamento do porte de uma correspondência circulada dentro ou fora de um país. Segundo ensina o filatelista e autor Raymundo Galvão de Queiroz (1984), a palavra selo é derivada do latim sigilu, uma peça, geralmente confeccionada em metal e usada para autenticar documentos oficiais. A partir do surgimento do Penny Black, visto que a etiqueta com a efígie da rainha tinha por fim validar a correspondência, isto é, autenticar o pagamento antecipado do porte, por simples analogia deu-se à etiqueta o nome de selo (QUEIROZ, 1984, p. 25).
Nota-se aí, uma precoce importância simbólica atribuída ao selo postal, representando a garantia do Estado que o valor para o envio de uma correspondência foi pago. O primeiro selo postal foi emitido na Inglaterra, em 6 de maio, de 1840. Trata-se, do “Penny Black” (figura 1). Ele faz parte da reforma das comunicações postais inglesas, inspirada pelo projeto escrito por Sir Rowland Hill (figura 2) e apresentado ao governo inglês, em 1837 (QUEIROZ, 1984; SILVA, 1995). A emissão inglesa foi seguida pelas emissões do Cantão de Zurique (Suíça, março de 1843) e do Brasil que, em 1º de agosto, de 1843, emitiu sua primeira série de selos postais, conhecida como “Olhos de Boi”, nos valores de 30, 60 e 90 Réis. Todas estas emissões iniciais eram monocromáticas e possuíam poucos elementos visuais, limitando-se, basicamente às
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cifras e efígies. Em 1871, apareceu uma importante novidade, que foi fundamental para a aproximação do selo postal junto ao conceito de documento-monumento: a emissão do primeiro selo comemorativo, lançado pelos Correios do Peru, em comemoração a inauguração da linha férrea entre as cidades de Lima e Gallao (SILVA, 1995). Os filatelistas A. C. Pereira e C. D. César (s.n.t.) explicam que, os selos comemorativos são emissões destinadas a celebrar, registrar ou recordar algum fato, fenômeno ou personagem histórico ou contemporâneo, cuja relevância pode ser nacional ou internacional. Ainda nestes autores, as emissões comemorativas têm tiragens limitadas e podem ser acompanhadas de outros documentos postais complementares, tais como carimbos comemorativos, carimbos de primeiro dia, cartões postais, folhinhas filatélicas, entre outros. No Brasil, a primeira série de selos postais comemorativa foi lançada em 1º de janeiro, de 1900, em alusão ao quarto centenário do descobrimento do Brasil. O colecionador e estudioso da história postal brasileira Peter Meyer (2012) esclarece que, a série foi emitida por ordem da “Comissão da Comemoração do 4º Centenário”, com o objetivo de levantar fundos necessários às celebrações. A série foi comercializada pelos Correios e pela empresa Laemmert & Cia., sediada na cidade do Rio de Janeiro (RJ), na época Distrito Federal. A série era formada por quatro valores, 100, 200, 500 e 700 Réis e uma tiragem total de 1.600.000 selos. Em 11 de maio, de 1901, as séries que não foram vendidas acabaram recolhidas e incineradas no forno da Alfândega, também na cidade do Rio de Janeiro. Figura 3 - Selos Oficiais de 1913 Hermes da fonseca. Acervo - Museu Correios
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Junto com os selos comemorativos há também os selos regulares e oficiais. Os selos regulares também são chamados de “ordinários”, não possuem limite de tiragem e são concebidos basicamente para o porte de correspondências, sem necessariamente estarem vinculados à celebração de uma efeméride ou de um personagem. Os selos oficiais surgiram com o objetivo de comprovar o pagamento do porte de correspondências oficiais, ou seja, correspondências cujos remetentes eram órgãos públicos. No Brasil, as emissões oficiais foram usadas somente entre 1906 e 1930 (PEREIRA e CÉSAR, s.n.t.).
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As características das emissões comemorativas, descritas anteriormente, reforçam a intencionalidade dos selos e demais documentos postais, cujas emissões são resultados de escolhas e seleções entre seus responsáveis. A análise desta intencionalidade ajuda a compreender o contexto em que eles foram emitidos, bem como as representações existentes em torno dele e do tema por ele abordado. Tal como qualquer outro tipo de documento histórico, o selo postal não é inócuo. Parafraseando Le Goff (1996, p. 547): “É antes de mais nada o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente, da história, da época, da sociedade que o produziram [...]”. “Deutschland, Deutschland über alles!”. Bilhete postal (Postkarte) pré-selado alemão circulado dentro da Alemanha, entre as cidades de Nuremberg (30/01/1934) e Bremen – sem data de chegada registrada (figura 3). Correspondência simples, obliterada com um carimbo datador manual comum na época. O selo postal impresso sobre o bilhete tem o valor facial de 6 Centavos de Marcos, coerente com o porte vigente entre 1º de dezembro de 1933 e 1946 para bilhetes e cartões postais circulados dentro do território alemão (MICHEL, 2014) Trata-se, de um bilhete postal comemorativo, emitido pelos Correios da Alemanha em comemoração ao primeiro aniversário da nomeação de Adolf Hitler (1889 – 1945) para o cargo de Chanceler da República de Weimar, na época governada pelo presidentemarechal Paul von Hindenburg (1847 – 1934). Há no bilhete postal diversos elementos visuais que remetem ao fato comemorado e celebrado, ocorrido no dia 30 de janeiro, de 1933. São eles, da esquerda para a direita, em sentido horário: as efígies de Hitler e Hindenburg impressas sobre o selo, que indicam a importância de Adolf Hitler no
Figura 4: bilhete postal pré-selado alemão de 1934. Acervo do autor.
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cenário político alemão, porém ainda dominado pelo presidente Hindenburg, cuja efígie está à direita de Hitler e com maior destaque. Ou seja, embora Primeiro-Ministro, Adolf Hitler ainda não é o Führer, líder autocrata que governará a Alemanha entre 1934 e 1945. A liderança política absoluta dele só foi obtida após a morte de Hindenburg, em 2 de agosto, de 1934, mediante um acordo tácito com as Forças Armadas e a eliminação de seus rivais dentro do próprio movimento nacional-socialista, durante um expurgo de sangue conhecido como “a noite das longas facas” (EVANS, 2010; TOLSTOY, 1976). Em seguida, ocupando todo o lado esquerdo da frente do bilhete postal, foi impressa a reprodução colorida de uma fotografia feita um ano antes, durante o desfile noturno com archotes de integrantes do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) pelas ruas de Berlim em celebração à nomeação de Hitler para o cargo de Chanceler. A figura é impactante e destaca a força simbólica dos nazistas, marchando sob o Portal de Brandenburgo, ovacionados pelo público, que os saúda à moda nacionalsocialista, isto é, com o braço direito erguido em riste, pronunciando a frase “Sieg Heil!”, algo como “Salve a Vitória!”, em uma tradução livre para o português. Abaixo da imagem, a frase “Deutschland, Deutschland über alles!” reforça o caráter nacionalista do Nazismo e seu compromisso com a Alemanha, típicos dos grupos políticos de direita existentes na própria Alemanha, entre o final dos oitocentos e a primeira metade do século 20 (EVANS, 2010).
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Ou seja, ao citar uma frase com tanta força política, Hitler e seus aliados procuraram reforçar a imagem do Nazismo como algo muito próximo do imaginário político alemão da época, permeado por representações nacionalistas, conforme estudou o sociólogo alemão Norbert Elias (1997). Finalizando, abaixo da frase, a data a ser comemorada e celebrada, 30 de janeiro de 1933, e uma moldura que envolve a frente do bilhete postal, cujas pontas são suásticas. A cruz gamada ou suástica (Hakenkreuz) é um símbolo antigo e presente em diversos povos orientais, cujos patrimônios culturais serviram de inspiração para diversos grupos ocultistas e políticos existentes na Alemanha, desde
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o século 19. Influenciado por este contexto, Adolf Hitler a adotou como símbolo do movimento nacional-socialista em 1920 (SHIRER, 1963).
Considerações finais. Em um artigo, a historiadora Edithe Pereira (2014, p. 32) afirmou que, os “selos são, efetivamente, um documento e como tal refletem o momento histórico de um país”. A autora desenvolve esta ideia ao longo de um estudo sobre as representações acerca da arqueologia brasileira presentes nas emissões de selos postais no Brasil desde 1966, quando foi lançada uma série comemorativa alusiva ao centenário do Museu Emílio Goeldi, no Pará. O selo postal como documento histórico remete ao processo de revisão e ampliação do conceito e da tipologia próprios documentos históricos, iniciado pioneiramente com o movimento dos “Annales”, na França, durante o final da década de 1920. Tratou-se da “revolução documental” da qual a História Nova (final da década de 1970) é herdeira. Para seus autores, em particular, Jacques Le Goff (1996), o documento deixou de ser um mero vestígio do passado, para se tornar uma representação do passado, algo que possui intencionalidade. Ou seja, corroborando com Pereira (2014), os selos refletem o momento histórico do país e estabelecem uma forma de memória acerca deste próprio momento.
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NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História, São Paulo, n. 10, p. 7 – 28, dez. 1993. PEREIRA, A. C.; CÉSAR, C. D. Manual de Filatelia. s.n.t. PEREIRA, Edithe. A arqueologia brasileira representada nos selos. Postais: revista do Museu Correios. Brasília, v. 2, n. 3, p. 31 – 49, jul./dez. 2014. QUEIROZ, Raymundo Galvão de. O que é Filatelia. São Paulo: Brasiliense, 1984 (Coleção Primeiros Passos; v. 132). SALCEDO, Diego. Estudos dos tipos de documentos filatélicos. Santa Catarina filatélica. Florianópolis, n. 68, p. 26 – 29, ago. 2014. SHIRER, William L. Ascensão e queda do III Reich: volume 1. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963 (Coleção Documentos da História Contemporânea; v. 1). SILVA, Sergio Marques da. Selos postais no mundo. Filatelia: sua história, hobby, cultura e investimento. São Paulo: João Scortecci Editora, 1995. TÉTART, Philippe. Pequena história dos historiadores. Bauru: EDUSC, 2000 (Coleção História). TOLSTOY, Nikolai. A noite das longas facas: o extermínio das SA. Rio de Janeiro: Renes, 1976 (História Ilustrada da 2ª Guerra Mundial: Política em Ação; v. 7).
Wilson de Oliveira Neto Doutorando em Comunicação e Cultura na ECO/UFRJ. Professor e pesquisador no Departamento de História da UNIVILLE (Joinville, SC). E-mail: wilhist@gmail.com.
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra BEF Letters: Homesickness and the war
Resumo/Abstract Cartas, telegramas, cartões postais... pensamentos – a ponte entre o aqui e o longínquo, o ontem e o hoje, o sonho e a realidade. Portadoras de esperança e saudade, as correspondências muitas vezes também foram mensageiras de tristeza e dor. Diante da incerteza que a guerra é capaz de cravar, os manuscritos podem ter contribuído para instantes de paz dos expedicionários durante a campanha contra o nazi-fascismo nos anos de 1944 a 1945. O Serviço Postal da Força Expedicionária Brasileira foi de suma importância para manter a ligação entre o expedicionário e seus familiares. O presente artigo apresenta correspondências oriundas de coleções públicas e privadas com o objetivo de tornar conhecidos alguns dos momentos íntimos vividos pelos jovens soldados brasileiros, tais como a saudade dos familiares e os amores revelados. Palavras-chave: II Guerra Mundial. Serviço Postal da FEB. Força Expedicionária Brasileira. Cartas da FEB.
Marcos Moretzsohn Renault Coelho Maria Vitória Lima Honzák Silmara Küster de Paula Carvalho
Letters, telegrams, postcards... thoughts – the bridge between here and afar, yesterday and the present, dream and reality. Bearing hope and longing, homesickness, correspondence often also bore/expressed sadness and pain. In the uncertainty war is capable of inflicting, these manuscripts might have brought moments of peace to expeditionary force members during the campaign from 1944 to 1945 against Nazi-fascism. The Brazilian Expeditionary Force Postal Service was of prime importance in maintaining the connection between the expeditionary forces and their relatives. The present article presents correspondence originating from both private and public collections, intending to make some of the personal moments lived by the young soldiers in that period public, such as their longing to see family, homesickness and revelations of sweethearts. Key words: World War II. BEF Postal Service. Brazilian Expeditionary Force. BEF Letters.
Marcos Moretzsohn Renault Coelho Maria Vitória Lima Honzák Silmara Küster de Paula Carvalho
Introdução
Revelar o passado por meio de cartas, telegramas e cartões postais nos permitiu alongar o olhar às emoções de alguns dos expedicionários que participaram da campanha contra o nazi-fascismo nos anos de 1944 a 1945. Da mesma forma, foi impactante observar nos escritos o drama dos que ficaram e da expectativa por notícias de seus amados. As cartas serviram como intermediarias entre a saudade, o aconchego dos familiares, e a esperança daquele até breve.
1. Trecho de carta enviada por Aydo Martins de Souza à sua amada Abgail Baptista de Souza em 01/09/1944. Acervo Particular Ernesto Adolfo Elias Paiva.
2. Trecho de carta enviada por Flavio da Mata Moreira à sua mãe em 08/08/1939. Acervo Museu da FEB /BH
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Portanto despeço-me com um até breve, pedindo-te para não se esquecer de mim, porque eu nunca jamais esquecerei de você, estarás sempre presente em meu coração, abraço-te com todo respeito e amôr, Adeus Querida! Adeus Amor! Adeus Minha Vida!1
Não há dúvida da importância das cartas para o equilíbrio emocional dos expedicionários, conforme o exemplar escrito por Flávio da Mata Moreira2 à sua mãe, evidenciando que sentia muita falta da família e que eram as correspondências que lhe traziam alguma alegria. Rubem Braga (1964) em Crônicas da Guerra na Itália, no capítulo intitulado ‘Cartas’, relata que Francis Hallawell, o Chico da BBC, fez uma estatística sobre as correspondências remetidas pelos expedicionários e constatou que o número de cartas por eles enviadas era superior àquelas que recebiam no front. Braga também menciona que os telegramas tinham 124 frases fixas que versavam sobre vários temas e a cada qual correspondia um número. A palavra saudade, por exemplo, correspondia ao número 29. Narra em sua crônica o caso de um sargento da artilharia que “em crise de saudades, gastou 180 liras e mandou três telegramas iguais: 29-29-29;29-29-29; 29-29-29” . (BRAGA, 1964, p.55). O autor também descreve a alegria dos que recebiam cartas e a tristeza daqueles que não as recebiam:
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Era preciso que a gente aí do Brasil assistisse a uma distribuição de correspondência aqui para ver o quanto vale uma carta. ‘Chegou correio’ é uma frase que mobiliza mais gente que qualquer ordem de general aliado ou inimigo. A cara do sujeito que não recebe carta nesse dia é uma cara de náufrago. O sujeito se sente abandonado numa ilha deserta – e nunca faltam outros sujeitos que, sem ligar para a sua amargura, ainda vêm lhe mostrar fotografias que receberam ou ler trechos de cartas que acham muito engraçadas ou comoventes – e que não comovem nem fazem rir de modo nenhum o pobre esquecido. (BRAGA, 1964, p.55)
Foram inúmeras as situações vivenciadas e os locais percorridos que só foram relatados pelos expedicionários posteriormente, pois situações do cotidiano não podiam ser descritas nas cartas por motivo de segurança. A censura foi necessária para garantir que não fossem citados conteúdos que pudessem comprometer as operações militares. Trechos como “tropas do país e de outras nações aliadas; navios e informações sobre navegação; operações militares; aeronáutica; fortificações e defesa da costa; condições meteorológicas” eram sumariamente suprimidos pela censura (ZARY, 2016, p. 203). Há cartas que denotam o medo do desconhecido. Muitas delas favorecendo a idéia de deserção a alguns soldados, mas que no desabafo escrito, testemunham os ensinamentos recebidos, o apoio dos oficiais e da tropa em um avante de coragem para que com determinação e fé prosseguissem na nobre missão recebida. Em outras cartas ficou clara a preocupação dos soldados com a tristeza de seus pais diante do contexto e do limiar entre a vida e a morte em que se encontravam. Para além da tristeza muitos caminhos também foram traçados pela distância. Casais enamorados aguardavam ansiosamente correspondências que poderiam conter juras de amor traduzidas na esperança do retorno ou em ciúmes inspirados pela ausência.
3. Trecho de carta enviada por Abgail Baptista de Souza ao soldado Aydo Martins de Souza em 23/05/1945. Acervo Particular Ernesto Adolfo Elias Paiva.
Com o coração transbordando de saudades escrevo-te mais estas linhas, para vêr se consigo suavisar a minha grande dôr. Como tens sido mau, procurando maguar - me com teus ciumes imperdoaveis. Não vês que é a ti que dedico toda a minha vida?3 41
Marcos Moretzsohn Renault Coelho Maria Vitória Lima Honzák Silmara Küster de Paula Carvalho
Figura 1: Telegrama a Etelvina Wolff Acervo - Espaço Cultural Sala de Exposições Sargento Max Wolf Filho - 20º Batalhão de Infantaria Blindado Figura 2: Telegrama a Etelvina Wolff Acervo - Espaço Cultural Sala de Exposições Sargento Max Wolf Filho - 20º Batalhão de Infantaria Blindado Figura 3: Telegrama a Ivan Amaral Acervo - Espaço Cultural Sala de Exposições Sargento Max Wolf Filho - 20º Batalhão de Infantaria Blindado
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Sentimentos, experiências, sínteses escritas diante da incerteza. É Exatamente isso que sentimos ao ler os telegramas recebidos pela Senhora Etelvina Wolff a respeito do seu filho. No primeiro telegrama não há informações sobre o Sargento Max Wolff Filho4 (Figura 1); o segundo discorre sobre ferimento sofrido por ele (Figura 2); o terceiro telegrama endereçado a Ivan Amaral, o Ministério da Guerra informa o desaparecimento do sargento ainda sem a certeza dele estar vivo ou morto. (Figura 3).
4. Na certidão de nascimento está suprimida uma letra “f” do sobrenome Wolff. No presente artigo optamos em manter as duas letras “f” do sobrenome em virtude da forma em que o nome foi apresentado nas várias fontes de consulta.
A Senhora Etelvina enviou telegrama na expectativa de obter informações mais precisas sobre seu filho, e em 26 de maio de 1945, recebeu uma carta em resposta do General Euclídes Zenóbio da Costa, confirmando a morte do Sargento Wolff: Alessandria, Itália, 26 de maio de 1945. Ilma Sra. Etelvina Wolff Respeitosos cumprimentos. Acabo de receber o vosso telegrama em que me solicita informações sobre vosso filho, Segundo Sargento Max Wolff Filho. É verdadeiramente contristado, que vos participo que o vosso filho, quase ao terminar a guerra, tombou como um verdadeiro bravo em defesa do nosso querido Brasil. Podeis dele, vos orgulhar. Ninguém o ultrapassou em lealdade, desprendimento, destemor e espírito de sacrifício. Pedia, à miude, para ser incluído nas patrulhas que, altas horas da noite, iam em busca de contato com o inimigo. Portou-se, sempre, como um verdadeiro soldado. Nada o demovia do cumprimento do dever: nem o frio inclemente, nem o inimigo rancoroso e destemido. Dentre as citações de combate, conferidas a vários oficiais e praças, a sua se projetará na história de nossa pátria. Apresento-vos, pois, em meu nome e da Infantaria Expedicionária as nossas sinceras condolência e eu vos afirmo que o vosso pranteado filho, à semelhança dos pinheiros de vossa terra natal, viveu, pelas suas qualidades morais, sempre na vertical e caiu deixando um vazio
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Marcos Moretzsohn Renault Coelho Maria Vitória Lima Honzák Silmara Küster de Paula Carvalho 5. Carta transcrita - Acervo Memorial Max Wolf Filho - 20BIB
cheio de saudades entre os componentes da Força expedicionária Brasileira5. Gen Euclídes Zenóbio da Costa – Acervo Memorial Max Wolf Filho - 20 BIB
Em 2 de dezembro de 1946 o Ministério da Guerra publicou uma Homenagem aos mortos da Força Expedicionária Brasileira no Boletim Especial do Exército em que constava o nome de todos os heróis que tombaram em defesa da pátria. Cabe destacar que o Sargento Max Wolff Filho é considerado um dos maiores heróis da Força Expedicionária Brasileira. A ele com freqüência eram confiadas as missões de maior risco durante a campanha na Itália. Nascido em 1911 no Paraná, sua trajetória militar no exército teve início no ano de 1930 quando ingressou no 15º Batalhão de Caçadores, em Curitiba-PR. Ao servir no 3º Regimento de Infantaria na cidade do Rio de Janeiro, sob o comando do então Capitão Euclídes Zenóbio da Costa, em 1932, participou da Revolução Constitucionalista, ocasião em que foi gravemente ferido. Em 1934 já como Major, Euclídes Zenóbio da Costa foi convidado pelo prefeito da cidade do Rio de Janeiro para organizar e dirigir a Polícia Municipal do Distrito Federal. À época, Max Wolff e outros militares foram selecionados para integrar a Polícia que estava sendo constituída, afastando-se temporariamente de suas atividades no exército. Também lutou contra Intentona Integralista no ano de 1938. Já no posto de General, Euclídes Zenóbio da Costa foi designado para comandar a Infantaria Divisionária da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária. Em 1944, seguindo os passos de seu líder, o Sargento Max Wolff se apresentou como voluntário da FEB, no 11º Regimento de Infantaria em São João Del Rei. (ALMEIDA, 2002).. A primeira missão de Max Wolff foi no momento de Monte Castelo em que uma companhia estava necessitando ser remuniciada e ele se apresenta voluntariamente para levar munição a essa companhia, e de retorno trazia feridos, ou seja, a maior parte das patrulhas que ele realizava, ele sempre estava trazendo feridos no retorno da missão. (ROSTY, 2012) 44
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Segundo a Sra. Hilda, filha de Max Wolff em entrevista concedida ao Coronel Cláudio Skora Rosty (Pesquisador militar do CEPHIMEx, em 2012), relata que seu pai escrevia cartas sempre de forma carinhosa e sem transparecer a real situação do conflito armado. Na última carta recebida em 31 de março de 1945 ele assim discorreu:: À minha idolatrada filhinha. Beijo-te e abraço-te minha adorável belezinha. As saudades são imensas. Quanta vontade de te escrever, e de te ver, e de sentir os teus carinhos. De ver a sua boquinha aberta (ou não fica mais aberta?) (...) gostou do banho de mar? Aprendeu a nadar? O Amaral (...) disse que o Dr. Sérgio extraiu um dentinho teu. Doeu muito? Você ainda gosta de feijão? E o vira-lata, ainda faz muito tumulto? (ROSTY, 2012, p. 43)
Figura 4: Fragmento de carta de Max Wolff a sua irmã Isabel Acervo - Espaço Cultural Sala de Exposições Sargento Max Wolf Filho - 20º Batalhão de Infantaria Blindado
Ainda conforme Hilda, em uma das cartas escritas por Max à sua irmã Isabel, ele dizia que caso não voltasse, era de sua vontade que a guarda de Hilda ficasse com ela. Em caso de sua morte ele dizia que morreria com satisfação (Figura 4). (ROSTY, 2012, p.40). No ano de 2011 foi lançado o selo comemorativo do centenário de nascimento do Sargento Max Wolff Filho. (Figura 5) Histórias de vida que se entrelaçaram por meio da palavra escrita num período de incertezas de voltar ou não. Na maioria
Figura 5: Selo Comemorativo Centenário de Max Wolff Filho Acervo - Espaço Cultural Sala de Exposições Sargento Max Wolf Filho - 20º Batalhão de Infantaria Blindado
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das vezes as cartas ficam impregnadas do pertencimento ao tempo, ao outro, a algum lugar comum entre as pessoas que se comunicam. É o desejo de se fazer presente sem estar, pois para o homem não há distância que o impeça de expressar a sua dimensão. Na ausência, não há força maior do que o amor a sinalizar a esperança do amanhã. Foi de suma importância o Serviço Postal da FEB, uma vez que propiciou aos soldados a comunicação com os seus familiares. Zary (2016) expõe que a organização do Serviço Postal da FEB teve início antes do embarque do 1º Escalão para a Itália, e isto se deve ao reconhecimento da importância deste serviço por parte do Exército Brasileiro, além do estímulo extremamente positivo e necessário para os soldados. As cartas que seguem foram remetidas no período entre 1939 a 1946, digitalizadas e transcritas pela Historiadora Maria Vitória Lima Honzák, mantendo a transcrição fidedigna para estudo e deleite público.
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Referência ALMEIDA. Adhemar R. Relato sobre o destacado integrante do 11º Regimento de Infantaria Max Wolff Filho. Rio de Janeiro, 2002, 41 f. (texto manuscrito), BRAGA, R. Crônicas de Guerra na Itália. Rio de Janeiro: Editora Record, 1964. WOLFF, Hilda. Fonte Inédita: entrevista com a Sra. Hilda, filha do Sargento Max Wolff Filho, Herói da FEB na II Guerra Mundial. Rio de Janeiro, 2012. Memória, Museu e História: Centenário de Max Wolff Filho e o Museu do Expedicionário. Org. Dennison de Oliveira. Entrevista concedida a Cláudio Skora Rosty. ZARY, J.C.F. Serviço Postal da Força Expedicionária Brasileira. Postais: Revista do Museu Nacional dos Correios, Brasília, vol n. 6, p. 187 – 220, jan/jun 2016.
Marcos Moretzsohn Renault Coelho Presidente da Regional ANVFEB BH, Curador do Museu da FEB de Belo Horizonte e Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil. Silmara Küster de Paula Carvalho Professora do Curso de Museologia da UnB e Doutoranda em Museologia Social pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa. Coordenadora do Projeto de Implantação do Museu Virtual da FEB (2014/2016). Maria Vitória Lima Honzak Historiadora e Colaboradora do Museu da FEB de Belo Horizonte
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TRANSCRIÇÃO DE MANUSCRITOS CARTAS DA FEB Segunda Guerra Mundial (1939 -1945) - Museu da Força Expedicionária Brasileira Digitalização: Superintendência Federal de Agricultura em Minas Gerais - MAPA
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 14 Série: Correspondência original Data de produção: 20/07/1945 (Data Certa) Quantidade de documento: 1 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Envelope avulso. Carta endereçada ao Brasil para a Capitã Isabel N. Feitosa. Local: Estados Unidos da América 48
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Sobrescrito Destinatário < à margem esquerda: 1 Sgt [?] Le Roy De Remer 131 Malwria [?] Cont OPo 182 New York N.Y.> Capt Isabel N. Feitosa (Brazilian Nurse) Rua-Luiz Guimarães – 89 Grajair [sic] - GRAJAÚ Rio de Janeirs [sic] Selo [UNITED STATES POSTAGE JAMES A. CARFIELD ‘88’ 20 CENTS 20] Carimbo [A.P.O. U.S. ARMY POSTAL SERVICE. JUL 20 1945 790] [F.E.B. CORREIO REGULADOR [ilegível] ] [BRASIL - CORREIO COLETOR SUL – [ilegível] 3 ago. 45]
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 15 Série: Correspondência original Data de produção: (Sem Data) Quantidade de documento:1 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: O autor escreve uma carta à Izabel Novaes Feitosa, descreve o seu dia-a-dia; fala da impossibilidade de visitá-la no Brasil após o termino da guerra; se declara apaixonado e com saudades. Local:Estados Unidos da América Sobrescrito Destinatário < à margem esquerda: Box 5175 Miami – Florida 50
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
USA> Miss Isabel N. Feitosa Rua – Luiz Guimarães # 89 Grajau [sic] Rio de Janeiro Brazil Selo [AIR 10 CENTS MAIL UNITED STATES OF AMERICA] Carimbo [CENSURADA 27.69455 OFICIAL] [MIAMI . FLA. 4 1946 NOV. 4 930 AM] [CENSURADA]
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Texto6 [fl. 1] Dear Baby; I think about you every day. What are you doing? Are you married yet? I still remember the good times we had in Italy, and I am still in love with you. I am in Florida now, working. I am very sad because I couldnt come to Brazil after the war. Baby darling do you still want me to come to you? I want you. And will always love youLove * Kisses – Roy LeRoy De Remer Box 5175 Miami – (29) – Florida 52
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
6. Querida Baby, Eu penso em você todos os dias. O que você anda fazendo? Você já esta casada? Eu ainda lembro os bons tempos que tivemos na Itália, e eu ainda te amo. Eu estou na Flórida agora, trabalhando. Estou muito triste porque eu não pude ir ao Brasil depois da guerra. Baby querida você ainda que que nos encontremos? Eu quero você. Eu vou sempre te amar. Amor + beijos – Roy. (tradução nossa)
Contexto: II Guerra Mundial Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família, pós-guerra Sociologia: Família, relacionamentos
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 16 Série: Correspondência original Data de produção: (Sem Data) Quantidade de documento:3 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Cartão de Natal endereçado à Isabel N. Feitosa. Local: Estados Unidos da América Sobrescrito Destinatário Miss Isabell [sic] N. Feitosa Rua Luiz Guimarães #89 Grajau Rio de Janeiro/Brazil. 54
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Selo [MIAMI. FLA. 2 1946] [UNITED STATES POSTAGE MARTHA WASHINGTON 1 1/2 CENTS 11/2] [CENSURADA 27.69455 OFICIAL]
Texto [fl. 1] A Message FOR Christmas7 [fl. 2] “Candles are symbols of Christmas – For their cheering glow Reveals the hidden theasures. In each heart we know.”8 MARY Y. JOHNSTON [fl. 3] Candles – to wish you9 Christmas gladness 55
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And when the Day is over Its memories tucked away. Gone but not forgotten – They ‘ll brighten up each day Bon Natale Roy 7. [fl1] Uma mensagem para o Natal 8. [fl2] “Velas são simples símbolos de Natal – Para seu alegre brilho revelar o tesouro escondido em cada coração que conhecemos”. MARY Y. JOHNSTON 9. [fl3] Velas- para desejar a alegria do Natal e quando o dia termina são lembranças escondidas. Passadas mas não esquecidas – elas serão iluminadas cada dia. Bom Natal Roy. (tradução nossa)
Palavras-Chave: Tipo: Felicitações História: II Guerra Mundial, família, pós-guerra Sociologia: Família, relacionamentos
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 17 Série: Correspondência original Data de produção: 04/10/1944 (Data certa) Quantidade de documento: 6 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo Carta do Capitão Celestino Nunes Oliveira10 à esposa, relatando a viagem para a Itália; descrevendo a travessia pelo Estreito de Gibraltar; a convivência com os soldados americanos; dando instruções á esposa de como receber os vencimentos; expressando as saudades que sene de todos.
10 - Acervo Particular Regina Maria de Oliveira Cezar
Local: Mar Mediterrâneo 57
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Texto [fl. 1] Mar Mediterrâneo – 4 de Outubro de 1944. Meu Amôr – Beijo-te Abençôu os nossos queridos filhos. É esta a vez segunda que a bórdo deste imponente e seguríssimo transporte de tropas pego da pena para enviar-te algumas noticias. Esta tem uma dupla finalidade; primeiro esclarecer-te sobre uns pontos de importancia capital que dizem respeito à tua conduta quanto aos vencimentos que deves receber ai e, em segundo logar, mandar-te mais alguns detalhes desta longíncua viagem. Presentemente ja estou mais ambientado com a vida 58
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
de bórdo e sinto-me mais disposto. Apenas as distrações é que são bastante reduzidas pois nos limitamos a trocarmos idéias sobre o desenrolar da guerra, ou a assistir jógos; assim, o âmbito de ação é demasiado restrito bem como os divertimentos. [fl. 2]
(2) Tenho assistido a algumas sessões de cinema mas o peior e que todo o filme é falado em inglês e não tem legendas em português, o que torna o filme uma verdadeira charada de difícil solução mas, no entanto, sempre é motivo para o tempo passar. Diariamente fazemos exercicios de abandono do navio e postos de combate, o que é feito com grande eficiencia 59
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e presteza. Os americanos têm se mostrado solícitos e amigos nossos e seu entusiasmo pela conduta da nossa tropa é excepcional. Um detalhe interessante da vida diaria de bórdo é a solicitude de uma companheira nossa que em situação nenhuma nos larga. Não te assustes por isso pois não ha perigo. Essa companheira é a salva vidas que somos obrigados a leva-la para toda a parte, a bordo [ilegível] de cada uma, e foi [fl.3] (3) Tratada por mi no feminino porque os americanos denominam-os de “Maè[?] West”. Ontem foi realizado a bordo uma cerimônia belíssima e imponente. Foi feita a substituição da escolta que nos 60
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
comboiam desde o Brasil por uma nova escolta que nos alcançou na altura de Gibraltar. Foi uma cerimonia simples mas emocionante; o comandante do navio saudou a tropa brasileira desejando-lhe felicidades na missão gloriosa que coube ao Exercito Brasileiro na luta contra o tirano “boche”. O Gen. Cordeiro de Farias respondeu com um breve discurso agradecendo e elogiando a eficiencia do serviço do transporte da nossa tropa. Ontem à noite entramos no Mediterrâneo e assisti emocionado à passagem de Gibraltar; a nossa esquerda erguendo-se altaneiro, imponente e ameaçador surgiu o histórico penhasco que desde a [ilegível] tem sido motivo
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[fl. 4] (4) de grandes lutas e tem assistido ao desenrolar dos fatos historicos de marcante significação na historia da civilização. Á nossa direita vimos as cidades africanas de Tanger e Cêuta. Estas são as novidades mais interessantes até hoje passadas a bórdo. Breve te enviarei um papel muito interessante que deve ser colocado em um quadro; trata-se de um diploma comemorativo da passagem do Equador. Passando à outra parte, que é de vital importância e deve ser cumprida obrigatoriamente, passo-te a esclarecer a tua conduta quanto aos meus vemcimentos: a) Deves receber um mês de 62
vencimentos, isto é, 2.600,00 ( dois mil
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
e seiscentos cruzeiros), todos os mêses; b) esse pagamento deve ser feito por intermédio do Banco do Brasil ou da Região dai (10ª R.M.); não deves esperar aviso mas, sim, provoca-lo[?]; [fl. 5] (5) c) uma outra parte dos meus vencimentos e a mais importante, descontada fundo de previdencia, deve ser retirada da Casa Bancaria onde esteve depositada. Em hipotese alguma deves deixa-lo na casa Bancaria em que for depositado pelo Serviço de Fundos da F.E.B. Deves entrar em ligação com o Banco do Brasil do Ceará e com a procuração que tens em teu poder podes tornar o Banco o 63
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teu legal procurador. Este possuidor de tua procuração está legalmente autorizado a movimentar o “Fundo de Previdência”. Procedendo assim tudo correrá normalmente. caso contrario estaremos sujeitos a futuras encrencas e dificuldades. Nada de moleza, procura todas as informações e age da maneira que te expliquei. Hoje navegamos em pleno Mediterrâneo [ilegível] [corroído ± 8 linhas]. [fl. 6] (6) Vou ficar por aqui, se não esgota o noticiário para a proxima carta. Peço-te para me escreveres sempre; será o mais reconfortante para o meu coração bastante magoado 64
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
por esta longa separação. Mas peço a Deus que termine imediatamente esta guerra para poder abraçar-te e nunca mais nos separar-mos. Podes fazer qualquer promessa que estarei disposto a cumpri-la a teu lado, se Deus quizer. Até muito breve. Abraços a todos. Lembranças a todos os parentes, com especialidade aos meus irmãos. Dá um forte abraço nos teus estimados pais. Envio a benção ao nossos amados filhos. Deste teu esposo fiel, amigo recebe um beijo de fé e esperança. CNOliveira Cap. N.B. Além dos vencimentos mensais deves receber dois meses de vencimentos como ajuda de custo. 65
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Contexto: II Guerra Mundial Palavras Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: Família, comunicação
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 18 Série: Correspondência original Data de produção: 07/10/1944 (Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Local: Itália Resumo: O autor envia noticias à esposa acerca da chega na Itália; reitera o amor que sente por ela e também recomenda que ela cuide dos seus vencimentos.
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Texto [fl. 1] <à margem esquerda: 3ª carta> Napoles, 7 de outubro de 1944. Minha muito amada espôsa Meus adorados filhos. Após uma longa viagem cheguei são e salvo a esta parte da Europa, que denominamos de Itália. Durante a viagem propriamente dita não tivemos a sensação da guerra, bem como não sentimos diretamente as suas sanções. Naturalmente algumas medidas de segurança foram tomadas e, talvez a isso, devemos a noção de segurança que nunca nos separou 68
desde que zarpamos desse imenso,
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
pródigo e feliz paíz, o nosso amado Brasil. Confôrto, segurança, higiêne, disciplina e camaradagem foram os fatos marcantes desta primeira etapa da guerra. Espero e confio no “Todo Poderoso” que breve estarei a teu lado e dos nossos filhos que são parte de nós, são a continuação da nossa vida. [fl. 2] (2) A minha maior confiança repousa na tua fé em Deus e no teu amôr por mim. Amo-te e agóra, mais do que nunca, percêbo quanto o nosso amôr é forte e inquebrantavel. Esta é a terceira carta que te escrevo. As duas 1as esqueci-me de numera-las, mas a partir desta numerarei todas; deves proceder da mesma maneira 69
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para que eu póssa controlar a correspondência. Mais uma vez vou esclarer[sic]-te como deves proceder quanto ao meu dinheiro que deverá ser recebido por ti. Deves entrar em ligação com o Serviço de Fundos da 10ª R.M., por intermédio do qual receberás os meus vencimentos ou, então, os esclarecimentos necessarios para isso. Deves receber mensalmente um mês de vencimentos que corresponde a Cr. 2.600,00 ( dois mil e seiscentos cruzeiros). Não deves em hipótese alguma deixar de receber os vencimentos, Contexto: II Guerra Mundial Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial Sociologia: comunicação, família, relacionamento 70
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 19 Série: Correspondência original Data de produção: 17/10/1944 (Data Certa) Quantidade de documento: 3 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: O autor descreve a sua viagem à Itália, onde iria lutar na guerra. Menciona a devastação causada pela guerra; comenta o momento conturbado que se vive em Itália; relata emocionado a visita que fez a diversos monumentos ainda intactos, mesmo no meio de tanta destruição. Termina dizendo sentir saudades de todos. Local:Itália
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Texto [fl. 1] Italia, 17 de outubro de 1944 Minha inesquecivel esposa. Meus adorados filhos. Finalmente após uma longa e inesquecível viagem, feita através do Atlântico, o mar Mediterrâneo e, por fim, no Mar Tireno puz os meus pés em território italiano. Esta é a vez primeira que do sólo do Velho Mundo dou-te noticias minhas. A viagem para mim foi intolerável pelos motivos que ja sabes mas, presentemente, encontro-me perfeitamente restabelecido fisicamente e moralmente confortado por ter sido escolhido para representar o nosso paiz nesta guerra, da qual ha de vir um mundo melhor, mais humano e menos hipócrita. As primeiras impressões dos efeitos da guerra fôram bastante contristadôras; ruinas sobre ruinas, fome sobre fome, peste e todos os males que acompanham 72
todas as guerras são o quadro que constantemente se
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
oferece à minha vista. Pelas ruas e estradas [?] por ônde passei um fáto me impressionou mais profundamente que os demais, foi o estender a mão em sinal de esmola feito principalmente pelas crianças. Isto para nós tem sido motivo para observação e ensinamentos preciosos. Jamais devemos permitir que a guerra chegue às nossas fronteiras; o nosso Brasil deve se sentir satisfeito e feliz por estar longe dos efeitos diretos desta guerra. Meu amor, até à presente data nada nos tem faltado, quer moral ou materialmente. Os nossos Aliados, principalmente os americanos não medem esforços para que tudo nos seja dado em tempo e espaço. [fl.2] Ontem fiz uma rapida visita à cidade de Piza e Luca. Como pódes fazer um juízo pelo que já disse sobre os efeitos da guerra as cidades apresentam o aspecto de dia de Finados; casas, pontes, estradas, enfim, quasi tudo em ruinas. Mas, de toda essa devastação semeada pelos vândalos 73
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alemães, foi respeitada a Catedral, o Batistério e a Tôrre Inclinada de Piza. Talvêz num momento de lucidêz e razão os “boches” respeitaram os monumentos da civilização passada. Seria um crime imperdoável para o qual não haveria punição, se os alemães tivessem destruido esses monumentos. Visitei e examinei, tanto quanto possível em detalhe, esses três soberbos monumentos que dignamente representam uma civilização e pelos quais se póde ajuizar do valor da raça italiana de séculos atráz. Fiquei deslumbrado e estarrecido ante a grandeza e magnificência dessas obras d’artes. Senti-me minúsculo e, vamos dizer, insignificante ante a extraordinária capacidade de trabalho e saber que se estampam no mármore e bronse desses monumentos. Não tenho educação artistica para melhor exprimir o que meus olhos tiveram a felicidade de vêr e contemplar e, melhor direi, é necessario ter uma grande capacidade de imaginação e crítica para melhor sentir e interpretar esses documentos da civilização passada. Escreverei mais em detalhe em novas 74
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
cartas. Peço-te que me escravas sempre porque será o maior confôrto que me poderás dar. Lembra-te de mim como sempre e constantemente me lembro de ti e de nossos amados filhinhos. [fl.3] Caso desejes mandar-me alguma encomenda peço-te para dares preferencia a roupas de lã; aqui faz frio e os agasalhos que trouxe são insuficientes. Esta é a quarta carta que te escrevo. Recomendo-te mais uma vêz a questão dos meus vencimentos; deves recebe-los no S.F. da 10° R. M. e quanto ao destino fica a seu critério. Parte dos meus vencimentos que se denomina “Fundo de Previdencia” deve ser retirado da Casa Bancaria Andrade Arroud – Rua Buenos Aires – Rio de Janeiro – por intermédio do Banco do Brasil, que para isso deve estar devidamente legalizado. Por hoje fico por aqui. Envio abraço a todos e, especialmente ao Pelagio, Manoel, Tio Abilio, 75
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Quincas, Josué, Sgt. Mozart, enfim, a todos aqueles que se lembrarem de mim. Aos teus manos e estimados pais envio o meu sincero abraço e os meus votos de felicidades. Aos nossos filhinhos envio a minha [?] benção. Para ti envio-te o meu coração e a sinceridade do meu amôr. Até muito breve, se Deus quizer! CNOliveiveira. cap.
Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família, guerra Sociologia: Família, relacionamentos. História: II Guerra Mundial, família, guerra Sociologia: Família, relacionamentos
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 20 Série: Correspondência original Data de produção: 26/10/1944 (Data Certa) Quantidade de documento: 4 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo:Carta do Capitão Celestino Nunes Oliveira à esposa,enviando notícias sobre sua chegada à Itália; relatando a destruição que a guerra causou às cidades italianas, do passeio que fez a Florença; pede que a esposa lhe mande roupasde lã e termina dando conselhos à esposa de como proceder em relação aos vencimentos. Local: Itália
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Texto [fl. 1] Italia, 26 de Outubro de 1944 Minha amada espôsa. Meus adorados filhos. Pela segunda vêz, depois de pisar o sólo desta Italia em ruinas e miseravelmente corrompido pela guerra, dou-te algumas noticias a meu respeito. Já estou ha varios dias no paiz da musica e da pintura e graças ao bom e divino Deus vou me adaptando bem às agruras do clima e as peripécias da guerra. Tudo tem corrido normalmente, desde o dia que partimos do Rio de Janeiro até à presente data. Já fiz algumas visitas e passeios pelas cidades italianas, e, como sempre, sentimos os efeitos 78
da guerra sôbre essas cidades. A ulti-
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
ma cidade que visitei foi a celebre e histórica cidade de Florênça, terra dos pintôres, arquitetos, músicos, etc. [fl. 2] A viagem para Florênça foi muito bôa graças, principalmente, às estradas da Italia que, apesar da destruição feita pela guerra, ainda servem otimamente as comunicações do paiz. Chegamos a Florênça num sabado e graças a esse fáto podemos melhor analisar e contemplar a cidade. O comercio estava funcionando e olhando as “vitrines” das lojas tive vontade adquirir alguns presentes para te enviar. Encontrei cousas bem interessantes e originais mas deixei de adquirir algumas pela dificuldade que ha em enviar encomendas 79
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para o Brasil, bem como a minha situação não permitir andar com cousas valiosas na bagagem. A nossa situação quanto ao [estacionamento] é instável; continuamente nos mudamos e por esse fáto a nossa bagagem tem que ser reduzida ao estritamente necessário e util. [fl. 3] 3 Visitamos alguns monumentos e entre esses se destacam pela imponência e sentido historico a Catedral de Florênça e o musêu. A Catedral é suntuosa e o que a caracteriza em particular é ter sido iniciada no coração do seculo 13 e ainda não estar concluída. Tôda ela é construída e revestida de marmore; 80
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
os trabalhos de esculturas que [ornam] a Catedral são extraordinarios. A fachada da igreja foi construida no seculo 14. Todas as Igrejas que tenho visitado têm me chamado a atenção o fato de serem construídas em forma de cruz. Adquiri alguns cartões postais de vistas das cidades que visitei e já enviei alguns. Passando a outro assunto peço-te que me escrevas sempre e maior numero de vezes possivel. [fl. 4] 4 Mande-me dizer todas as novidades do Ceará e do Brasil; as cartas para mim servirão sempre de lenitível as saudades que sinto de ti. e de nossos adorados filhos. Peço-te 81
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tambem para me enviares roupa de lã, principalmente meias; o frio está aumentando e a reserva de lã que trouxe é insignificante. Mais uma vez lembro-te a necessidade de receberes os meus vencimentos e retirares o “Fundo de Previdência” do “Banco Andrade Arroud”, com séde no Rio – Rua Buenos Aires; para isso é bastante passares uma procuração ao Banco do Brasil. Não te esqueças do pagamento do Seguro de Vida e da Apólice da Sul América Capitalização. Por hoje é só. Abraços e lembranças aos teus amados pais. Deste teu espôso que não te esquece recebe um beijo. Aos nossos filhos envio a benção. CNOliveira, cap. 82
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Contexto: II Guerra Mundial Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: Família, comunicação, relacionamento
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 21 Série: Correspondência original Data de produção: 05/11/1944 (Data Certa) Quantidade de documento: 4 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta do Capitão Celestino Nunes Oliveira à esposa, dizendo sentir saudades; comentando a visita que fez a cidade italiana de Montecatini; a confessar como deseja o fim da guerra e também sobre a impressão que teve ao visitar a linha de frente do combate.
Texto [fl.1] Italia, 5 – XI – 1944 Minha amada espôsa. 84
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Meus adorados filhos. Hoje, domingo, 5 de Novembro de 1944, escrevo-te esta carta, a 6ª, após a minha saída do Brasil. Quanto maior é o tempo que nos [estamos] separados mais saudades sinto de ti e dos nossos queridos filhos. Ainda hoje recordei com um camarada as horas que muitas vezes passei nas Avenidas, ruas, etc, em conversas fúteis, em detrimento do nosso amôr e convívio. Agóra, mais do que nunca, é que sei o verdadeiro valor do aconchego e da felicidade do lar. Esses momentos preciosos me fazem uma falta extraordinária e agóra faço um compromisso comigo mesmo para não disperdiçar esses momentos preciosos quando voltar para junto de ti... 85
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[fl.2] (2) Felismente de quando em vez damos uns passeios e assim conseguimos matar um pouco as saudades. Outro dia visitei a cidade termal de Montecatini; cidade muito interessante e importante sob o ponto de vista de veraneio e como estação d’aguas. Sob o aspecto topografico e pelo traçado das ruas dá uns traços das nossas cidades. Visitei uma capela antiguissima e situada no ponto mais alto da cidade; por fóra é toda construída em pedra e da a impressão de abandono mas, ao penetrarmos no seu interior, nos deslumbramos com a sua beleza religiosa. Ajoelhei e pedi a Deus felicidade para todos nós através numa 86
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
prece curta mas ditada do mais recôndito d’alma. Outro dia fui à linha de frente tomar contato com os nossos irmãos [fl.3] (3) que ha varios meses combatem pela liberdade dos povos e a minha impressão é que a guerra não durará muito. O inimigo luta apenas para conseguir uma paz menos humilhante. Durante a viagem de regresso vi pela primeira vez, depois que cheguei à Italia, uma chuva de gêlo, o que me causou profunda emoção. Diz ao teu pai que aqui na Italia castanha é mato. Po todo os cantos ha castanhaiz e por onde 87
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se anda pisamos em castanhas. Passando a outro assunto aviso-te que te enviei por intermédio do Banco do Brasil a quantia de 22.000 ( vinte e duas mil liras). Além deste dinheiro seus direito dos vencimentos mensais que recebes normalmente e ao Fundo de Previdência. Retira todo esse dinheiro [fl. 4] (4) e pôe-no teu nome. Ja te escrevi alguns cartões postais e agora envio mais alguns, inclusive par o Senhor. José, [ilegível] Nenem, e Cel. Quincas. Estando com a minha verve esgotada fico por aqui. Envio abraços a todos os amigos e parentes, especialmente aos teus 88
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
amados pais e irmãos. Envio aos nossos amados e queridos filhos a minha benção. Para ti envio-te o meu coração e todo o meu grande e inesgotavel amôr. Beijo-te C.N.Oliveira, cap. N.B. Envia-me “noticias” e “meias de lã”. Cnol_____ cap.
Contexto: II Guerra Mundial Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: Família, comunicação
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 22 Série: Correspondência original Data de produção: 07/11/1944 (Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta de um militar à esposa, criticando a censura, que não permite que escreva sobre os acontecimentos da guerra; recomenda à esposa que cuide da educação dos filhos; demonstra pessimismo em relação a guerra. Local: Itália
Texto [fl. 1] Italia, 7 de Novembro de 1944 Minha amada esposa Meus estimados filhos 90
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Depois de um dia de intensivo trabalho e de uma serie enorme de surpresas de natureza diversa, resolvi afastar-me deste ambiente de caserna e dedicar alguns momentos a uma conversa contigo. Há uma grande necessidade de transmiti-te alguns fatos que têm uma estreita e profunda ligação com o nosso futuro, mas, por motivo desta censura infame, vejo-me obrigado a silenciar em determinados pontos que seriam de grande utilidade para orientar a sua conduta no caso de um insucesso. Mas já que não me deixam escrever o que vai n’alma praza[?] aos céus que volte ao Brasil para de viva vóz dizer as injustiças e erros cometidos aqui. Tenho que me deter por aqui pois tenho a certeza que difícilmente tomarás conhecimento do que acabo de escrever. Meu amôr! Estando na proximidade de entrar em ação peço-te que rezes pela minha felicidade e pelo sucesso das armas do Brasil nesta maldito e interminavel sorvedouro de vidas. Vou convicto que saberei cumprir condignamente o meu dever; não 91
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tenho desejos de conquistar medalhas por façanhas guerreiras, porém não desmerecerei as nossas tradições nem hei de manchar a minha honra por inação ou falta de responsabilidade pelos meus atos. Peço-te que penses sempre em mim e nossos queridos filhos, pois eles são o nosso próprio eu, a nossa vida, [fl.2] e o bem deles será o nosso. Educa-os sem excessos; segue sempre os conselhos que eu dava, nada de fazer vontades mas tambem nada de mesquinharias. O bom exemplo será a melhor escola a seguir. O meu grande desejo é tornar os meus filhos bons homens e bons cidadãos; para isso precisamos orientar os seus passos pelo caminho da honra, do dever e da lealdade. Muito cuidado com os primeiros ensinamentos; os máus habitos são os que criam raízes e por isso é preciso vigiar e orientar os primeiros passos dos nossos filhos. Sei que és uma esposa amantíssima e uma mãe excessivamente carinhosa e cuidadosa, mas 92
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
nunca é demais lembrar esses pontos que são de capital importancia. Tenho a certeza que muito breve estarei de volta ao Brasil e nesse dia a minha satisfação sera tão grande que não sei se terei fôrças para resistir a tão grande emoção. Quando penso na possibilidade de se tornar real esse quadro tenho a impressão de um sonho; sônho esse que peço a Deus para transformá-lo num quadro real e material. Vou dar por finda esta minha conversa que hoje foi demasiado pessimista. Peço-te para seres intermediaria nas recomendações aos amigos e parentes. Envio as minhas felicitações sinceras aos teus manos [?] e amados pais. Aos nossos envio a minha benção. A ti dou-te o meu coração e todo o meu amôr. Até breve; CNOliveiveira. cap. Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família, guerra Sociologia: Família, relacionamentos
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 23 Série: Correspondência original Data de produção: 15/12/1944 (Data Certa) Quantidade de documento: 5 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Local: Itália Resumo: Carta do Capitão Celestino Nunes de Oliveira à esposa contando pormenores do seu quotidiano, bem como do frio que vem fazendo na Itália e como este ( o frio) é o pior inimigo dos soldados brasileiros. Pede que a esposa reze por ele e pelos soldados da sua companhia. Texto [fl. 1] Italia, 15 – XII – 44 Minha muito amada espôsa Meus queridos filhos. Após varias jornadas de intenso labôr, 94
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
debaixo de frio, chuva e lama, pego da pena para durante alguns momentos manter uma ligeira conversação com vocês. Ontem recebi duas cartas tuas, em uma delas encontrei os dois retratos do nosso “Firuinho”[?]. Fiquei bastante surpreso com o desenvolvimento dele; está bonito, gôrdo e bastante risonho. Tambem recebi duas cartas do Manoel e um do Pelagio. Fiquei contentíssimo com as noticias recebidas, pois as cartas para nós combatentes são o maior conforto que podemos receber da nossa Patria e familia. Uma linha que seja serve de extravasamento ao nosso mau humôr e calmante para nós todos, que vivemos completamente esgotados pelo trabalho intenso a que temos sido submetidos. [fl. 2]
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II Há três mezes que estamos nesta luta e para mim parece que são três séculos, tal as decepções e os erros a que tenho assistido. A nossa tropa é a melhor do mundo; os nossos soldados têm se revelado amigos dos chefes e sempre estão dispostos a acompanha-los em qualquer situação. A minha Cia., graças ao bom Deus, é uma verdadeira família, parece que todos são irmãos. Uns ajudam aos outros e sempre encaram com um sorriso os insucessos que se nos deparam no percurso desta longa e espinhosa jornada. Felismente, até o presente instante, tenho gozado perfeita saude e este fato é que tem me mantido de pé deante das intemperies e canceiras porque tenho passado. O meu grande 96
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desejo, a minha maior aspiração é que esta guerra termine o mais cêdo possivel. [fl. 3] III Pede a Deus por mim e por todos os meus bons sds [soldados?] para que esta guerra finde ainda neste ano de 44. A minha fé é grande mas a tua é capaz de remover montanhas e por isso é que te peço para rezares por mim e pelos meus sds [soldados?]; podes fazer uma promessa para cumpri-la ao teu lado, que estarei disposto a executa-la. Prometi mandar celebrar 10 Missas na Igreja do Carmo, deante da imagem da Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, caso voltasse com vida ao Brasil. Quan97
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do ai chegar será a minha primeira preocupação a pagamento da promessa. A nossa vida aqui na Italia têm sido um continuo e permanente deslocamento, de um lado para outro, sem um descanso. O nosso maior inimigo continua sendo o frio; a neve ja começou a cair e dentro de mais um mês nenhum soldado [fl. 4] IV brasileiro resistirá aos efeitos do frio. Fiz alguns pedidos de roupas de lã mas é ate dispensavel enviares, porque nem a lã resolverá o nosso problema. As suas cartas tenho-as recebido regularmente; quanto as encomendas ainda não rece98
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bi nenhuma. Aconselho-te a não mandares encomendas porque em geral se extraviariam; basta que me escrevas sempre, diariamente, até, se fôr possível. Meu grande e único amôr até breve e muito breve. Tenho sentido falta imensa do calôr dos teus amantissimos beijos e carinhos. O amôr dos nossos filhos tambem têm sido a maior falta destas arduas jornadas. Até breve. Abraços a todos os amigos e parentes. Aos teus amantissimos pais os meus abraços e aos meus manos as minhas lembranças. Abençôa os nossos filhos e desse esposo que te ama recebe um beijo. CNOliveira, cap.
[fl. 5] 99
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N.B. Enviei cartões postais de Natal para a totalidade dos amigos. CNOL, cap.
Contexto: II Guerra Mundial Palavras Chave Tipo: notícias, guerra História: II Guerra Mundial Sociologia: comunicação, família, relacionamento
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 24 Série: Correspondência original Data de produção: 18/12/1944 (Data Certa) Quantidade de documento: 3 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta do Capitão Celestino Nunes Oliveira à esposa, dando-lhe notícias de tudo quanto tem passado na Itália desde que foi mandado para a guerra; dizendo sentir muito de não poder passar o aniversário e as Festas de fim de ano com a família. Local: Itália
Texto [fl. 1] Italia, 18-XII-1944 Minha muito amada espôsa 101
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Meus adorados filhos. Após um periodo de intensivo trabalho, durante o qual não havia tempo para nada, estamos presentemente num periodo de relativa calma e repouso. Não posso chamar repouso própriamente dito, pois a qualquer momento devemos estar em condições de cumprir missões as mais diversas e arduas. Assim sendo a minha preocupação de espirito é constante e de tal ordem que o descanso é relativo. A minha vida aqui na Italia tem sido uma verdadeira odisseia de sofrimentos, preocupações e canceiras. Tenho muita fé em Deus que esta guerra findará num futuro muito proximo, porque do contrario, talvez não tenha forças para resistir por 102
mais algum tempo.
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
[fl. 2] II Os meus pensamentos estão continuamente voltados para vocês a quem amo tanto ou mais que a minha propria vida. Ainda ontem, domingo, recordei todo o quadro que normalmente se repete ao no Ceará: o levantar às 8hrs; o café; as reclamações minhas; a expressão de tua bôa mãe dizendo “o café está esfriando”; e os preparativos para a missa, etc. Todo esse lindíssimo e feliz quadro se desenrolou claramente em meus pensamentos; tinha a sensação perfeita que estava vendo a vocês todos, nesse ambiente de cordialidade, fé cristã e amôr familiar. Quando essas recordações vêm a minha mente só uma vontade e só um pensamento
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se voltam para Deus, implorando e resando para que esta guerra termine imediatamente, para o bem da humanidade e liberdade dos povos oprimidos. [fl. 3] IV Meu único e grande amôr desejo-te um Natal feliz e um Ano Novo repleto de prosperidades, juntamente com os nossos amados filhos e parentes. Lamento de todo o coração não poder estar ao lado de vocês na maior festa da humanidade e, tambem, não poder comemorar contigo o teu aniversário. Desejava imensamente enviar-te um “recuerdo” mas aqui aonde estamos nada ha que possa mandar-te. Meu 104
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amôr por hoje é só. Abraços a todos os amigos e parentes. Abençôa os nossos mimosos a amados filhos. Deste teu espôso fiel e amantissimo recebe mil beijos de Natal e aniversario. CNOliveira, cap.
Contexto: II Guerra Mundial Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: Família, comunicação
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 25 Série: Correspondência original Data de produção: 20/12/1944 (Data Certa) Quantidade de documento: 4 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta do Capitão Celestino Nunes Oliveira à esposa, contando alguns pormenores da vida no front; descreve a visita que fez a uma família italiana; também comenta sobre o frio que faz na Itália. Diz ter enviado telegramas e cartas para o Brasil e termina fazendo votos de Feliz Natal e Ano Novo a todos. Local: Itália
Texto [fl. 1] Italia, 20-XII- 1944 106
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Minha amantíssima esposa Meus queridos filhos. Mais uma vez aproveito esta providencial parada nas muitas atividades de guerra para esvrever-te mais uma carta. Presentemente tudo corre muito bem; ha calma em todas as atividades e, às vezes, fico matutando comigo mesmo:” Será possivel , será realidade isto que presentemente se desenrola á minha vista, ou será que por tras desta calma virá uma grande tempestade?! Nesta duvida aproveito os momentos de folga para conversar um pouco contigo e mandar dizer algumas novidades. Estamos ha alguns dias numa região da Italia que é bem pitoresca e muito fria, aguardando uma nova missão e o grande dia de Natal. 107
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[fl. 2] II A minha grande tristeza é não poder estar junto a ti e a todos os nossos entes queridos na passagem da grande festa do Natal deste ano de 1944. No entanto, como a esperança é a grande força que anima a todos aqueles que tem fé em Deus e na bondade divina da Virgem Maria, espero poder abraçar-te num futuro muito proximo. Sempre, constantemente, penso no fim desta guerra o mais breve possível; não tenho forças para resistir tanto e a minha paciência ja está esgotada. Penso em voltar breve ao nosso amado Brasil para educar e criar os nossos benditos rebentos, que são a nossa propria vida e o meu grande alento para resisti aos embates rusticos 108
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e árduos desta cruenta guerra. Ontem, para distrair um pouco as muitas ideias, fiz uma vizita [fl.3] III a duas famílias italianas que conheci aqui na Italia. Fui muito bem tratado e as gentilezas com que me cumularam são a demonstração mais sincera e real da grande hospitalidade do povo italiano Ouvi algumas canções italianas, muito bem cantadas por uma menina de 12 anos, e tomamos um chávena de chá com biscoitos brasileiros recebidos nas encomendas enviadas do Brasil. Agora mesmo estou rabiscando estas rapidas noticias junto a uma lareira italiana; estou “escaldando” o frio que é muito intenso. Ainda ontem o termometro desceu a zero gráos e
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não sei mesmo explicar como a gente resiste a tanto. Mas, como o “habito faz o monge”, a gente se acostuma a tudo e, assim, vamos atravessando com sucesso esta grande e tempestuosa jornada. [fl. 4] IV Mandei vários telegramas, carta e cartões aos amigos e parentes e se por acaso fôr esquecido algum apresse-te a desculpar-me, pois fiz tudo para lembrar-me de todos. Por hoje vou terminar por aqui. Até muito breve. Abraços e recomendações a todos. Feliz Natal e Ano Novo de paz para o mundo são os meus mais sinceros votos. Aos nossos bons filhos envio 110
a minha benção. Deste seu espôso
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
que te ama imensamente e nunca te esquece, recebe um grande beijo. CNOliveira, cap. N.B. Escre-me sempre. CNO cap.
Contexto: II Guerra Mundial Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: Família, comunicação
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 26 Série: Correspondência original Data de produção: 08/08/1939 (Data certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta de Flavio da Mata Moreira. O autor escreve à sua mãe dando notícias, dizendo que tem recebido a sua correspondência e lamentando ainda não lhe terem chegado notícias da família. Local: Brasil Texto [fl. 1] Saudosa mamãe, Pesso abençoar-me juntamente ao Papae desejando lhes mil felicidades. Eu vou bem graças a Deus, so 112
estou estranhando muito porque hoje faz maes de 15 dias
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
que escrevi para casa e até hoje não obtive resposta, e não sei qual o motivo, eu sinto muita falta porque aqui eu longe de todo da família o que me alegra um pouco são as cartas portadoras de boas noticias; e ao passo que hai todos estão juntos tem muito com quem distrair. Mamãe, lembrei muito do aniverssario da Verinha. Sabado se Deus quizer vou mandar os retratos e breve se Deus quizer, eu é quem vou, já tenho a licensa é em Setembro não digo o dia porque quero chegar de surpreza. Mamãe e Dulce como vae com a filhinha? José com os dele? E o pessoal de Bonsussesso e Vargem Grande? E Sylvio com o noivado? Sô Capim com o casamento, ficou como Antonio? E Antonio Nanão [?] Verinha Ulyssis, João Alberto as meninas e meninos e todos dahi como vão? não pergunto o nome de todos descriminadamente não é porque esqueci de alguem não, é porque tem tanta gente que [fl.2] que se eu for sitar levo meio dia so a escrever. Mamãe o time do botafogo do Rio esta aqui,
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estou preparando para daqui a pouco ir para o campo; hoje ouve só um ispediente aqui para quem quizer acistir o jogo poder hir. Diz a Heitor que a capa < e os oculos> que Martins uzou quando foi o assombro na disputa da copa Roca que eu peguei nela hontem. Mamãe, pesso dar umbraço e lembranças a todos que eu mando. Na Verinha um beijinho; E a Senhonha [sic] e o Papae queiram aceitar um abraço do filho saudoso. Flavio. São/João/ 8 de 8/ 939/. Não repare os erros e a letra não porque estou escrevendo com muita pressa. Contexto: II Guerra Mundial Palavras Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: Família, comunicação 114
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 27 Série: Correspondência original Data de produção: 05/03/1944 (Data certa) Quantidade de documento: 3 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta familiar de Flavio da Mata Moreira à mãe dando instruções a respeito do envio de cartas ao front e também orienta o pai sobre como receber o dinheiro enviado por ele. Local: Brasil Texto [fl.1] São João – 5- 3- 44 – Saudosa mamãe. A Senhora e papae peço abençoar-me
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A Senhora como vai? E todos os outros? Eu graças a Deus vou indo sem novidades. Vou seguir para o Rio dia 10, muito contrariado sim, mas desta vez vou mesmo, não e conversa não. Queria conhecer os cariocas, mas de minha livre e espontanea vontade, e não como vou agora, ou rindo ou chorando. [fl.2] Quanto as minha troca ainda não deu rezultado. Depois que chegar no Rio vou tentar, talvez sege mais facil. A Senhora Diz a João Alberto, para ele fazer um sacrifício, e arranjar uma cabrita para ele mandar 116
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para o capitão. Ele esta com muita bôa vontade commigo, já me levou para a companhia dele. E ele me pedio para arranjar a cabrita para fazer criação. O endereço é Sebastião Ventura Pinto. Avenida Benedito Valadares 133 São João Del. Rei Minas (R: M.V. [fl.3] Logo que chegar no Rio dou noticias. A Senhora da por mim um abraço em todos ai, e da Vargem Grande. A Senhora e Papae queiram aceitar um abraço do filho que vos pede a benção. Flavio. 117
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 28 Série: Correspondência original Data de produção: 29/04/1944 (Data certa) Quantidade de documento: 1 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta de Flavio da Mata Moreira ao pai para cumprimentar a todos e dizer que está bem; notificando sobre possível embarque para a Europa. Local: Brasil Texto [fl.1] Rio – 29, de 4. 1944. Saudoso Papae. Ao, Senhor . Mamãe e todos dahi envio meu abraço e meos [votos] de felicidades. Eu graças à Deos vou indo sem 119
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novidades. Aqui infelismente vai tudo bem. Ja tem e uns boatos que vamos seguir breve para a Europa, mas não e coisa serta, porque isto e segredo de guerra e a gente não sabe quando, ou não que segue, o serto e que os proprios oficiaes estão soltando este boato. Mas não estou ligando porque já estou farto de ouvir boatos. E pesso a Deos que sege mesmo boato. Se houver alguma anormalidade eu comunico. Quanto a minha volta para B. Horizonte não rezolveu nada. O Senhor procure entender porque estou com muita pressa o portador já esta saindo. O Senhor dê por mim um abraço em todos ahi. O Senhor e Mamãe queiram aceitar um separadamente do filho que vos pede a benção. Flavio. 120
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 29 Série: Correspondência original Data de produção: 16/06/1944 (Data certa) Quantidade de documento: 3 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta familiar de Flavio da Mata Moreira à mãe, dando-lhe notícias de tudo quanto tem acontecido, enquanto aguarda a sua convocação. Não poupa pormenores na descrição das angustias e do medo da guerra. Local: Brasil Texto [fl.1] Rio 16/VI/ 944. Saudosa Mamãe. Envio-vos meu abraço 122
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
desejando-lhes muitas felicidades Recebi a carta da Senhora, qual foi portadora de bôas noticias. Eu graças a Deus vou indo bem. Aqui vai indo tudo sem novidades. Corre é muito bôato, o que para mim não traz surpreza. Minha passarinha não bate muito mais por essas coisas. O que mais esta me preocupando e convocação que anda por ahi. Tenho medo de João Alberto ser chamado. E agora [fl.2] pelo novo decreto; saindo convocado dois, irmãos e sendo um graduado, o outro não tem izenção. Quanto a mim não estou me encomodando com a sorte, 123
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seje o que Deus quizer. So quero e ficar livre dessa agonia. Antes me passava pela memoria, desertar; mas mudei de ideia, desertor sempre e um homem morto. Um dizer de um oficial; nem todas as balas que vão atiradas que matam Assim tambem nem todos que vão a guerra que morrem. E graças a Deus as coisas tem milhorado muito para nós. Deus pode ajudar, e de um dia [fl.3] para outro pode acabar esse barulho tôdo. O Pacifico esta aqui e o dia que ele for vou mandar um par de perneiras para Papae e um capacete para João Alberto. Vou mandar 124
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
tambem uma roupas velhas, que não preciso, porque o nosso uniforme mudou, e a Senhora da para alguem ahi, porque brim esta muito caro. Faço votos que José arrange bastante cristal. A Senhora dê por mim um abraço nos da Vargem. Grande, Bom Sucesso e Riacho Fundo. e todos dahi. A Senhora e Papae queiram aceitar um separadamente do filho que vos pede a benção. Flavio. Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: Família, comunicação
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 30 Série: Correspondência original Data de produção: 21/06/1944 (Data certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta familiar de Flavio da Mata Moreira ao pai dando instruções a respeito do envio de cartas ao front e também orienta o pai sobre como receber o dinheiro enviado por ele. Local: Brasil
Texto [fl.1] Rio 21 de junho de 1944. Querido Papae. 126
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Ao Senhor Mamãe e todos os dai, evio [sic]-vos meu abraço, dezejando-vos- muitas felicidades. Eu graças a Deus, de saude vou indo bem. Papae, estando no caminho do destino a que Deus me confiou, e chegando o momento, como o Senhor sabe, em que vamos combater em outras terras, vou dar-vos por meio desta algumas instruções. que o Senhor deve seguir logo que [eu] sair do Brasil. Em primeiro lugar, qualquer pessoa que for me escrever, deverá subscritar o envelope da seguinte maneira: Força Expedicinaria [sic] Brasileira: Nome, por exemplo: cabo 33.50, 11° Regimento de Infantaria, Cia de Obuzes. Não esquecer que no envelope seja escrito Força Expedicionaria Brasileira, porque sem isso não receberei a carta. Quanto ao dinheiro que eu vou receber quando sair do Brasil, é 1.650$000, sendo que 875$000 fica depositado na caixa economica em meu nome, 450$000 o Senhor recebe conforme declaração que fiz, e 325$ eu recebo para minhas despesas onde eu estiver. Assim todos os mêses o 127
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< à margem esquerda: o governo pagara> ao Senhor 540$000, por intermedio da Coletoria Federal, correspondente a declaração de erdeiros que fiz. [fl.2] Para os que moram em lugares em que tem quartel do Exercito, o pagamento é efetuado ao procurador nos quarteis. Para os das cidades do interior, <como eu>, o governo mandara todos os meses, < por intermedio da coletoria> um vale ou cheque em nome do Senhor, correspondente a <importancia> pagamento; devendo o Senhor estar munido de carteira de identidade, ou passaporte. Portanto só o Senhor poderá receber esse dinheiro. Se o Senhor quizer pode passar procuração para outro receber todos os meses. Para isso e preciso procurar a Legião Brasileira de acistencia ou o escrivão que lhe orientara a respeito. Essa quantia que fica depositada na caixa economica em meu nome, que são 875$00 mensaes, em caso de minha morte, sera o Senhor recebedor da importância, sem qualquer pagamento de imposto ou sem ser preciso inventario ou adivogado. Assim acho que deichei explicado toda a situação. 128
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Em caso de dificuldade a respeito, [ilegível] Senhor procurar a Legião que explicara ao Senhor. O Senhor Mamãe e todos os meninos tenhão fé em Deus e procure conformar com a sorte, porque eu tenho muita fé em Deus e acho que breve estaremos de volta a nossa terra natal e nossos querido lares. O Senhor dê por mim um abraço em todos ahi por mim. O Senhor e Mamãe queiram aceitar um abraço do filho saudoso que vos pede a bençaõ. Flavio. <à margem esquerda: Darei outras noticias>
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 31 Série: Correspondência original Data de produção: 21/06/1944 (Data certa) Quantidade de documento: 1(folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta de Flavio da Mata Moreira ao irmão, desejando-lhe felicidades; pedindo para que cuide dos pais e resolva negócios pendentes. Local: Não identificado Texto [fl.1] Saudoso Mano João Alberto. Chegando o momento em que eu comesso a pizar no caminho que Deus traçou para 130
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mim, escrevo-te transmitindo-te meos abraço <à margem esquerda: e meus> votos de felicidades. João, não se preocupe muito comigo, cuide da felicidade de nossos paes e manos, porque tenho muita fé em Deus que vou ser muito feliz. João, quanto ao meu negocio com Tio Zarenga [?], você rezolve com ele como achar melhor. Ou entrega a o retiro, ou toque para você o negocio. As bestas você tira uma, e da a outra para o Senhor Rubens, que acho deve ser da egua queimada, porque a outra ganhei tambem. João todos aqueles endereços que mandei quando escreverem para mim não valem. Só vale esse: Flávio da Mata Moreira... F.E.B. 315. e é preciso ser carta aérea. <e é isento de celo>. João dê por mim um abraço em todos. Queira aceitar um abraço do mano Flávio. E preciso por remetente no envelope 131
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 32 Série: Correspondência original Data de produção: 25/08/1944 ( Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Canção do 9º Batalhão de Engenharia. Local: Brasil
Texto [fl. 1] Canção do 9º Batalhão de Engenharia. – (Letra e musica do Major Sády M. Monteiro Nós seremos dos primeiros Engenheiros em [alen’mar] 133
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Brasil! por ti a lutar Nosso ardor da mocidade, Nosso amor, nossa vontade, Tua envencilidade [?] vão mostrar; tu terás tambem a gloria de a victoria concorrer Brasil orgulho has de ter. (côro) Salve o nono batalhão de engenharia Da primeira divisão de Infantaria, Que há de marchar, combater, pontes Minas, construir ou destruir E a Victoria há de ver sorri. Lá na Europa nossa tropa varonil vai defender a honra do Brasil. [fl. 2] A bandeira idolatrada Bem vingada há de voltar Brasil! Nos vamos lutar 134
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Nosso amor a liberdade aos tiranos vencer hade a tua grandiosidade conservar! verde, azul, e amarella É a bandeira do Brasil, sem par Mais bella entre mil! Todos vamos na verdade Ter saudades a nosso lar Mas eis a patria a chamar Entre infantes e artilheiros destemidos brasileiros eis-nos Guapos engenheiros a marchar! O brasil de nós precisa e a divisa e combater! Lutar! Lutar! E vencer Rio 25 de Agosto de 1944 H Baptista Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: comunicação
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 33 Série: Correspondência original Data de produção: 16/07/1944 (Data certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta de amizade trocada entre uma mulher e um expedicionário. Local: Brasil Texto [fl.1] Rio – 16-7-1944 Amigo Aydo Saudações cristãs Hontem a noite recebi a tua segunda carta. Eu de saúde vou mais ou menos, estou um pouco rôuca 136
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
mas não é nada. Fiquei contente por ter bôas noticias, mas fiquei triste porque quasi dissestes que não somos mais amigos, e eu, que sempre te considerei um amigo e muitas vezes meu confidente, você dizer isto só porque demorei em responder-te! Mas, agora aproveitando a tarde deste domingo que não saí, vou dar-te algumas novidades. Houve hontem uma social aqui em casa, brincámos até quasi meia noite; vieram 56 pessôas. Desta vez quem comeu mais dôces foi o “Loubeiro”. Já ia me esquecendo, vieram 57 pessôas com você, porque estavas em nosso pensamento. Até cantámos o hino 184 “Ai do amor”. Agradecida pelo retrato, quase fiquei sem ele pois as pequenas te acharam um amôrsinho. Hoje a tua irmã me disse que o marido dela esteve com você. Se quizessemos ver-lo para matar as saudades como teríamos que fazer chegando ai? O quartel é perto da estação? vocês podem sair. qualquer hora? perdão pela indiscreção de tantas perguntas. O meu irmão ficou de escrever-te, talvez ainda esta semana ele o fará. 137
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Aydo não tenho retrato [ilegível] já disse, mesmo não sou [fotogênica], só se fôr paraspantar as baratas.... [corroída] sentes a orelha [queimar] demais, pois fala[fl.2] mos tanto em você! Aydo a Lourdes contou-me uma história tão complicada que eu não pude entende-la. Disse que você mandou que ela me investigasse, e, que conforme a resposta ela ganharia na comissão, quero saber que história é essa.... não quiz explicar porque você não quer que ela fale diretamente, é uma atrapalhada tão grande que eu quero saber o que é, e preciso, não achas? Como foi você quem mandou deve saber melhor que ela. Sei que o Jovino e a Déa já escreveram e a Lourdes breve escreverá, por isso espero que estejas mais alegre e menos zangado comigo. Continúo a orar por você, não desanime. “Se Deus é por nós, que será contra nós?”, [ilegível] [recomendações] de todos. Vou terminar pois já estou me tornando K.C.T. Sê corajoso e forte. 138
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Felicidades e que Deus esteja contigo é o que deseja esta amiguinha e irmã na fé Biga “O Senhor é a minha força e o meu cantico, e ele se tem tornado a minha [salvação]” [corroída] :15:2 “Todas as coissas contribuem para bem [daqueles] que buscam a Deus. Rom: 8:28.
Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, relacionamentos
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 34 Série: Correspondência original Data de produção: 01/09/1944 (Data certa) Quantidade de documento: 1 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta de amor de um militar à sua amada, se despedindo; declarando seu amor e fidelidade. Local: Brasil Texto [fl.1] Vila Militar 1/IX/ 944 Longe dos olhos mas perto do coração Querida Biga, escrevo-te esta poucas linhas, linhas estas que talvez tão cêdo não as receberão de mim. 140
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Portanto nestas poucas linhas quero lhe dizer tudo o que sinto a seu respeito, e quero que quando leres estas leia-as com a máxima sinceridade, porque nestas linhas deposito o meu coração e todo o amôr que a ti dedico. Como sabes dentro em breve partirei, e quero partir com a certeza de que aqui ficará alguém velando por mim, e a este alguém que é você entreguei meu coração e todo o meu amor. Biga quero [ilegível] dizer-te que em qualquer parte do mundo em que eu estiver, o meu pensamento estará voltado para você, e onde eu fôr irei sentir os teus passos junto a mim, a luz que brilha em teu olhar, a certeza me deu, de que ninguem póde afastar o meu coração do teu. Querida espere por mim, porque se Deus quiser dentro em breve aqui estarei novamente para nossa felicidade. Portanto despeço-me com um até breve, pedindo-te para não se esquecer de mim, porque eu nunca jamais esquecerei de você, estarás sempre presente em meu coração, abraço-te com todo respeito e amôr, Adeus Querida! Adeus Amor! Adeus Minha Vida! Aydo 141
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[fl.2] Ladeira do Barroso 94 Meu endereço é Sold. 1142 Aydo Martins de Souza F.E.B. 259-61º C
Palavras-Chave Tipo: declaração, despedida História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, relacionamentos
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 35 Série: Correspondência original Data de produção: (Sem Data) Quantidade de documento: 2 (folha)
Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB)
Resumo: O autor escreve à namorada a se desculpar por não ter se despedido e como foi tranquila a viagem de navio para a Europa. Pede-lhe também que responda às suas cartas. Local: Europa Texto Querida Biga É com muitas saudades que escrevo-te esta afin de dar-te minhas historias. Espero que ao chegar esta em suas mãos, estejas gosando saúde e felicidade, juntamente com os entes que lhe são caros. Quanto a mim de saúde vou bem graças a Deus, fiz otima viagem, cheguei fórte e bem disposto e não
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sofri o menor enjôo como eu supunha, porquanto a maior parte da [corroídas] Biga a primeira coisa que fiz ao chegar aqui fôi escrever para você, sabendo eu que você devia estar anciosa, porquê antes de partir para aqui, eu lhe escrevi uma carta semianonima, digo semi-anonima porque quasi no termino da mesma fiz umas perguntas com refencia ao [ilegível], e creio que você deva ter desconfiado que o autor da mesma é o dégas [?], não? Queo saber se você recebeu algun recado meu pelo
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[fl.2] telefone, e se o transmitio. Senti muito não ter podido desperdi-me, porquanto o quartel ficou impedido, mesmo parece que fôi melhor assim, porque a despedida e bastante triste, e conformamo-nos mais com a sorte, vindo sem nos despedir. Quando me escreveres, responda-me as perguntas que fiz em ambas cartas, pois ainda me encontro em uma duvida cruel. No entanto o que tenho a afirmar, é que meu coração ai ficou, ê espero que cuides bem dele porque só tenho este. No navio em que vim encontreime com diversos crentes de varias Igrejas ai do Rio, fizemos uma reunião e fomos dirigi-
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
dos pelo Tenente Walter Ribeiro “irmão do [ilegível] e fôi uma ótima reunião, pois contei mais [de] umas 50 pessoas crentes. Quando voltar terei tantas novidades a lhe contar! Vou terminar pedindo a você para dar
Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, relacionamento
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 36 Série: Correspondência original Data de produção: 15/10/1944(Data certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: o autor escreve à namorada dando noticias, Dizendo como há semelhanças entre as paisagens italiana e brasileira. Trecho da carta censurado pela F.E.B. Local: Italia Sobrescrito Destinatário < Remetente Aydo Martins 259 610c F.E.B> À margem direita: 146
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Senhorita Abigail Dias Baptista Rua Jardin Botanico nº 648 Rio de Janeiro Brasil Selo [Isento de selo] Carimbo [CORREIO REGULADOR – F.E.B. 25OUT44] [ESTAÇÃO POSTAL [ilegível] OUT44 ] [F.E.B. (49) CENSURADA]
Texto [fl.1] < à margem direita: ( ITLIA) 15/10/944 ITALIA> Saudades Querida Biga Escrevo-te estas simples linhas desejando que 147
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as mesmas a encontre no gôso da mais perfeita saúde, juntamente com todos aqueles que lhe são caros. Eu graças a Deus vou gosando a mais perfeita saúde, [corroída]11 em um lugar bastante pitoresco e de um clima bem agradavel, o frio que é de matar! Mas recebemos roupas bastante quentes e ele é suportavel. E ai já começou o calôr? Tens trabalhado muito? E o côro continua firme? Deixa minha vaga que quando eu voltar você vai vêr que tenôr! Estou na terra dos grandes cantores!.. Não pôsso me esquecêr é de nossos passeios, e então aqui na Italia tem logares tão parecidos com os daí, que as vezes tenho a impresão de estar no Brasil e não na Italia, se Deus quiser em breve estaremos dando novamente os nossos passeios O.K? Vou terminar pois já estou me tornando muito perguntador, aceite abraços e....de quem lhe quer de todo o coração 148
11 -Trecho censurado pela F.E.B.
-Vire- Aydo
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
[fl.2] O amor quando não fingido é a chave de ouro que abre todos os corações. Amartins N.B. Recomendações a todos os jovens e diga a eles para desculparem eu não escrever para todos, um abraço ao Nilo e a todos os irmãos na fé, pois não posso dizer o nome de todos , [corroída]12 tenho certeza, é de que todos [tem] um lugar em meu coração. Um forte abraço em mamãe Valentina e papae [ilegível], será que eu serei digno de trata-los assim? Recebeste minha carta? Responda-me com urgência sim? -Até brevePalavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, relacionamentos
12- Trecho censurado pela F.E.B.
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 37 Série: Correspondência original Data de produção: 15/10/1944 (Data certa) Quantidade de documento: 1 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: O autor envia um postal para sua futura esposa desejando lhe saúde e felicidade. Local: Itália Texto [fl.1] Italia 15/10/ 944 Abigail Dias Batista Saúde e felicidade é o que deseja o..... Aydo Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: Comunicação 150
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 38 Série: Correspondência original Data de produção: 16/11/1944 (Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Envelope avulso endereçado à Aydo Martins de Souza, lotado em Itália, por Abigail Baptista. Local:Brasil Sobrescrito Destinatário Aydo Martins de Souza 259 610 c Força Expedicionária Brasileira Selo [Isento de Selo] Carimbo [Brasil [ilegível] 16NOV] [C.C.B.S. 38] [ABERTO PELA CENSURA] 151
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 39 Série: Correspondência original Data de produção: 19/11/1944 (Data certa) Quantidade de documento: 1 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta de uma mulher para o seu amado, declarando as saudades que sente dele e desejando o seu rápido regresso. Local: Brasil Texto [fl.1] Rio de Janeiro, 19-11-1944. Aydo querido: Amo-te. Envio-te esta, afim de matar a infinidade de 152
saudades que sinto por ti. Meu amôr, os dias se tem torna-
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
do tristes, e as noites sem luar. Tudo isso meu amôr porque não estais junto de mim. Porém mesmo estando longe quero-te muito. Ao deitar-me rézo por ti, e, dormindo sonho contigo. Quando voltarás? diga-me que breve sentirei o teu beijo, que terei o teu carinho, que ouvirei a tua vóz e que também serei feliz.... muito feliz meu amôr. Meu querido, bem sabes que te amo e que sempre acreditei no teu amôr. Por isso sofro ao lembrame que estaes longe de mim. Cada recordação de prazer torna-se uma tortura. Resta-me somente a certeza que ainda és meu e será unicamente meu. Só com esta certeza é que poderei suportar o golpe cruel que a sorte preparou roubando o meu amôr por algum tempo. Sei que a guerra é triste e horrenda, porém precisas lutar confiante na vitoria. E depois longe do canhão e da metralha gozaremos uma vida cheia de sonhos e venturas. Queira-me sempre, pois eu te quero muito. Sê corajoso para sêres um herói meu querido. 153
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Um abraço e um longo ....., envia esta que vive somente por ti, a tua e sempre querida Biga [corroída]
Palavras-Chave Tipo: declaração História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, relacionamentos
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 40 Série: Correspondência original Data de produção: 14/12/1944 (Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Local: Itália Resumo: Carta de amor de um militar à namorada, em que declara sentir saudades; fala dos motivos de estar longe de sua terra natal.
Texto [fl. 1] Italia 14 de Dezembro de 1944 Sempre querida Biga Assim como as flôres se desabrocham em lindas manhãs para receber o orvalho que a naturesa lhe envia 155
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assim quero que recebas esta, que sai de um coração que muito te ama. Biga, fôi com grande satisfação que recebi a tua gentil cartinha datada em 19-11-944, isto aconteceu justamente no momento que eu estava mais ancioso pôr tuas noticias. Desêjo que esta a econtre gosando saúde juntamente com todos aqueles que lhe são mais queridos. Estou gosando bastante saúde, a única coisa que sinto são muitas saudades tuas. Aqui estou minha querida, neste longinquo paiz colaborando em defesa dos nossos ideais assim como em defesa do nósso querido querido Brasil, paiz do amôr e da liberdade. Querida não é possivel explicar o meu sentimento pôr ti neste papel, pois tudo o que sinto só é possivel falar pessoalmente: Francamente não sei que fasêr sem ti ao meu lado, pois neste momento eu me lembro daqueles lindos passeios que contigo gosei, e então agora que está se aproximando o natal e fim de ano, é que mais aumenta as minhas saudades, mas espéro que (vire) 156
[fl. 2]
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
dentro em breve estejamos matando as saudades e recordando o passado, e confiantes no futuro que nos será cheio de sonhos e venturas. Querida sabes que eu te amo com todas as veras[?] de um coração puro. Breve sentirás o meu beijo, ouvirás a minha vóz, e seremos os dois felizes... muito felizes meu amôr. Querida termino esta pois a hora já vai um pouco avançada, creia-me sempre teu, aceite um abraço e um longo beijo deste que te ama com toda sinceridade Aydo N.B. Escreva-me sempre e não demores muito a reponder-me, pois ficarei esperando com ansiedade. Recomenda-me a todos. Vais em paquetá no dia 1º? Conte-me as novidades que houver sim? Tens ido ao cinema? Qual é o melhor filme do ano? Abraços em mamãe Valentina e papae Xindonga, recomende-me ao Natanael e familia.
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Palavras-Chave: Tipo: declaração História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, relacionamento, conflito armado
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 41 Série: Correspondência original Data de produção: 17/12/1944 (Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Local:Itália Resumo: O autor escreve a namorada relatando o seu dia a dia, se dizendo confiante com a vitória dos aliados, declarando esperançoso com o término da guerra.
Texto [fl. 1] Italia 17/12/944 Saudades <à margem esquerda: [ilegível]> 159
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Min querida Biga É como muita saudades que pego na pena para responder tua tão querida cartinha datada de 06/11944, apesar de já têr recebido cartas com datas mais recentes que esta, e de já têr dito tudo o que sinto a teu respeito, fasso mais esta afim de ficares ciente de que recebi a mesma. Desejo que a mesma (a) encontre gosando bastante saúde, juntamente com a mamãe Valentina, e faço mil vótos a Deus para que esta já encontre o papae Xindonga completamente restabelecido. Quanto a mim no momento que escrevo esta, vou gosando ótima saude, tanto fisica, moral, como espiritual. Querida encontro-me com bastante disposição e tambem muito satisfeito, pois vêjo aproximar-se o dia da Vitoria e consequentemente o meu regrésso ao nósso querido Brasil afim de realisar os nóssos sonhos, e de estar eternamente juntinho de ti meu amôr... Mudando de assunto, fiquei bastante satisfeito com o cartão, pois o mesmo trouxe-me indeleveis recordações, ainda mais agora que estamos aproximando do fim deste 160
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
(vire) [fl. 2] ano. Tenho fé no onipotente que outro ano nós já estaremos ai, afim de darmos nóssos passeios, e isto se você manter a promessa. Quanto ao seu Inglez, tenho a diser que ouve uma enorme coicidencia, porquanto logo assim que aqui cheguei, comprei uma pulseira para levar como recordação e dar-te de presente, esta dita pulseira é feita de umas barrinhas de metal e em cada pedacinho traz gravado o nome das primeiras cidades , que caío em podêr dos aliados, sendo que a do centro é maior e traz estes frases escritas em Inglez, forget mi not, e em meu fraco Inglez quer diser, não me esqueças, agora quanto ao By By vou estudar mais um pouco e depois lhe direi sim? Biga recebi agora mesmo uma carta de meu cunhado e tambem um embrulho de mamãe quanto a você mandar-me alguma coisa, satisfaço-me com suas cartas e tambem com seus abraços e .... Termino esta envia(n)do –te inúmeros abraços e um longo ..... do sempre teu
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Aydo N.B. Dize a Belinha que o afilhado ficou bastante alegre brevemente ela terá resposta. Recomendações a todos abraços em Graciena Belinha e Lourdes, e Graciena gostou ou não gostou do que eu disse em outra carta que escrevi a dias?
Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, relacionamento, conflito armado
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 42 Série: Correspondência original Data de produção: 14/01/1945(Data certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: O autor declara-se com saudades da amada; descreve o lugar onde esta. Desculpa-se de ainda não ter dado notícias a alguns amigos. Local: Itália
Texto [fl.1] Querida Biga Amo-te É com o coração cheio de saudades que pego na pena
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para escrever-lhe esta, com o fim de vêr se consigo expressar pôr meio da mesma o grande amôr que a ti dedico e que dia para dia tem-se tornado cada vez mais forte. Querida hôje as saudades me atormentaram tanto, que peguei em suas cartas e reli-as todas, mas me enganei, pois ao terminar de lê-las, as saudades eram dobradas. Meu amôr tu es minha santa e meu altar, o teu retrato fito-o demoradamente com ternura vendo que só pôr meio dele é que consigo suavisar as saudades e recordar os momentos tão felizes que juntos passamos. Recordar é viver, é ter fé no Onipotente de que em breve estaremos de volta, e quanto mais saudades temos (com mais) força lutamos, e a não sêr isto, encontramo-nos com saúde fortes e bem dispostos para a luta. Sem mais aceite um forte abraço e muitos beijos do sempre teu. Aydo [fl.2] P.S O José manda muitas recomendações para todos. 164
O Oziel abraços para a madrinha.
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Vocês podem dar-me noticias da minha? Abraços em mamãe Valentina papae Hemilio, recomendações a Belinha, Lourdes e Graciema, diga a ela que está de parabens porquanto o afilhado se parece muito com o R. Taylor! O da Belinha é um bom rapaz, tem 21 anos e é muito simpatico, só tem um defeito é muito acanhado, mais se ele cair no meio da nossa turma, ele só tem que se aprumar, eu que o diga! Lembranças para o Naltanael e dona Ruthe. Recomendações ao João Q[?]. C. diga a ele que não me esqueço dele. A toda sociedade de jovens envio o meu abraço fraternal (o mesmo)
Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, relacionamentos
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 43 Série: Correspondência original Data de produção: 28/01/1945(Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: O autor escreve à amada, dando noticias sobre sua saúde, declarando seu amor e dizendo sentir saudades. Local: Itália Texto [fl. 1] Italia 28/1/945 Biga amo-te muito É mui saudoso que uma vez mais escrevo-te estas poucas linhas, desejando que as mesmas 166
a encontre juntamente com teus queridos
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
paes, gosando saúde , e que a páz do onipotente permaneça sobre todos. Quanto a mim estou com bôa saúde forte e bem disposto, tenho até engordado. Querida recebi hontem uma carta sua e tambem do Maninho, você disse que está triste a pôr não ter recebido resposta de suas cartas, creio que não há motivo, pois logo assim que as recebi, respondi-as, a demora é muito natural, pois a carta que você me escreveu estava datada de 7/12/944 e só vim a recebe-la hontem. Como foi de congresso? Esteve muito animado? E você passeiou [?] muito? Desculpe as imenscidades de perguntas que lhe faço, o motivo é que estou bastante curioso, e se eu estivese ai, talvez fosse junto. Tenho sonhado tanto contigo! O primeiro sonho a principio era bem triste, mais o final era igual a estes filmes de amôr, tenho-no copiado em meu caderninho (vire)
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[fl. 2] quando eu voltar verás. Querida agradeço o interese que tens pôr mim em faser meias, creio que não sou merecedor de tanto aféto. Apreciei muito os versos que me mandastes, fez um grande sucésso, porquanto os colegas copiaram-no para enviar para suas pequenas. Junto desta envio-te uns versos, pesso desculpar se não estiverem bons, o que o meu coração ditou, escrevi, e mesmo não sou romantico e nem poéta, são só para você, leia-os e guarde-os. Sem mais recomende-me a todos, e queira aceitar um saudoso abraço e um longo .... deste que nunca de te esquecerá e que é teu para toda vida Aydo P.S. Abraços em mamãe Valentine papai Hemilio Graciema Belinha e Lourdes. Saudações para todos de nóssa muito amada Igreja. Desculpe-me mais uma vêz os borrões e os êrros. Até Breve O mesmo 168
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Palavras-Chave Tipo: notícias, declaração História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, relacionamento, conflito armado
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 44 Série: Correspondência original Data de produção: 07/02/1945 (Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta de uma mulher para o seu amado, já destacado como militar para a Segunda Guerra, declarando as saudades que tem e a falta que sente dele. No final da carta a autora pede para que o namorado repense o caso deles. Local: Brasil Sobrescrito Destinatário Soldado 1142 Aydo Martins de Souza 259 F.E.B. Selo [Isento de selo] 170
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Carimbo [CORREIOS COLETOR SUL – BRASIL] [12FEV45] [ABERTA PELA CENSURA] [C.C.B.S. 46] Texto [fl.1] Rio de Janeiro, 7-2-1945 Querido Aydo Amo-te muito Hoje mais, uma vez com tantas saudades que não sei como aguentala, escrevo-te esta daqui de Maria da Graça, onde estou passando uns dias. Todos aqui vão bem, graças a Deus. A Náninha, cada vez mais levada, mas não se esquece de você, pois sempre pergunta porque você não vem mais passear aqui etc vês como as crianças são felizes?
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não sabem o que é a guerra! As outras também não se esquecem de você. Que tal já melhorou o clima? Aqui temos tido dias quentes terminando sempre com chuva. Aydo ultimamente tem se apossado de mim uma saudade tal, que eu só me conformo, escreven[fl.2] do-te, porque se eu relêr as tuas cartas, mais aumenta a minha agonia. Aydo já pensastes bem no nosso caso? olha que é bem dificil a escolha da companheira; me responda com toda sinceridade, pois entre nós não deve haver segredos. Ultimamente não tenho recebido noticias tua, e isto muito me 172
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
impressiona. Vou terminar pois já te amolei bastante com minhas perguntas. Desejo-te felicidades e breve regresso. Com muitas saudades desta que jamais te esquecerá. Biga E.T. Recomendações de Maninho e Ruth, e as meninas mandam um abraço bem apertado, mas é que eu não posso abraçar-te. Um longo beijo envia a tua e sempre Biga
Palavras- Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, relacionamento, conflito armado
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 45 Série: Correspondência original Data de produção: 07/02/1945 (Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta de um militar à amada, dando noticias, pedindo para que ela pense a respeito, provavelmente, do pedido de casamento feito por ele. Local: Itália Sobrescrito Destinatário Senhorita Abigail Dias Batista Rua Jardim Botanico 64[8] Rio de Janeiro 174
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
(Gavêa) Brasil16 Selo [Isento de selo] Carimbo [ESTAÇÃO POSTAL – F.E.B – Nº1 ] [3ABR45] [F.EB. (49) CENSURADA] [C.R.B.1 40]
Texto [fl.1] Italia 30 de Março de 1945 Biga meu amôr Acabando de receber a tua 8ª carta, apezar de já ter escrito fazendo-a ciente do recebimento das mesmas, é com o coração transbordante de saudades que passo a responder a tua cartinha datada de 14/3/945, sendo que esta chegou em minhas mãos juntamente com um te-
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legrama. As tuas cartas querida, trazem-me alegria e conforto, e dão-me a certeza que quando eu voltar encontrarei alguém, a quem muito amo me esperando, e só em pensar isto sinto me 16 Abril alegre e bastante feliz. Hontem recebi uma cartinha tua, já respondi, e mandei junto a minha caricatura, que tal? Ainda continuo a esperar com anciedade a resposta de uma carta, e em cuja carta fiz ate uma proposta, que tal? Serei ou não o teu companheiro? Querida é com muito pezar que vou pôr ponto final nesta, porquanto a pena está horrível! E a tinta parece agua, não sei se você vai conseguir ler esta, se não conseguir, aguarde o meu regresso (vire) [fl.2] porquê eu tambem não sei lêr. Sem mais 176
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
aceite um saudoso abraço e muitos beijos do sempre teu Aydo P.S. Junto envio-te mais um espanta ratos, baratas, e outros bichos semelhantes. Dê por mim um saudoso abraço em mamãe e papae, e tambem em Graciema, Belinha e Lourdes. Diz a Lourdes que recebi hontem sua cartinha e que fiquei bastantante triste com a lição de moral que a mesma me passou, porquanto tenho respondido todas as cartas que ela tem me escrito. Recomendações ao Nathanael e familia. Mais uma vez peço desculpar os erros os garranchos etc, etc. O mesmo Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, relacionamento, conflito armado 177
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 46 Série: Correspondência original Data de produção: 05/03/1945 (Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Envelope avulso endereçado ao Soldado Aydo Martins de Souza, por Abigail Baptista. Local:Brasil Sobrescrito Destinatário Aydo Martins de Souza 259 F.E.B. 178
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Selo [Isento de Selo] Carimbo [CORREIO COLETOR SUL- BRASIL- 5ABR.45] [03135] [C.C.B.S. [corroido]]
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 47 Série: Correspondência original Data de produção: [ilegível]/03/1945(Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB)
13- à margem esquerda: janeiro
Resumo: Envelope avulso endereçado à Abgail Baptista. Enviado pelo soldado da Força Expedicionária Brasileira, Aydo Martins de Souza. Local:[ Não identificado] Sobrescrito Destinatário Srta. Abigail Dias Baptista Rua Jardim Botanico 648 (Gavêa) Rio de Janeiro
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Brasil13
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Selo [Isento de Selo] Carimbo [F.E.B. (49) CENSURADA] [ F.E.B. – Nº1 POSTAL [ilegível] ABR.45]
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 48 Série: Correspondência original Data de produção: 08/03/1945 (Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Local: Itália Resumo: Carta de um militar à sua namorada, com queixas por ela estar se correspondendo com outro, pedindo-lhe para que lhe explique o motivo, caso contrário romperá o relacionamento Texto [fl. 1] Frente Italiana 8 de Abril de 1945 Querida Biga, Aproveitando a carta do José, mais uma vêz pego na pena para escrevêr-te estas poucas linhas 182
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
com a finalidade de desfazer uma duvida. Meditei bastante e cheguei a seguinte conclusão. Como podía o Nicolau escrevêr para você dando – lhe minhas noticias, sem conhecer-me? E se ele assim-o fêz é porquê tem intimidade contigo, do contrario não o teria feito, e mesmo pelos dados que me destes, já o conheces bastante! Quéro crêr que já não sou digno, e que já encontrastes alguem que preenchesse o meu logar em teu coração. Quéro que fiques sabendo que eu não sou bôbo, e que sei compreender perfeitamente as couzas. Se você achar que ele é mais digno do que eu, espéro que você me responda com sinceridade, porquanto eu nunca te tapeei, e mesmo não gosto de tapeações, comigo é sim, sim, e não, não. Tenho a certeza de que em breve estaremos de volta, e se eu regressar, e aos meus ouvidos chegarem boatos desinteressantes a teu respeito, e eu constatando que são verdadeiros, assim estará finito o (vire) 183
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[fl. 2] nósso amôr. Assim termino esta, pedindo desculpar-me as expressões que usei nesta, a culpa cabe a voce, pois deste-me motivos para assim proceder. Sem mais, aceite um fórte e saudozo abraço, do sempre teu. Aydo P.S Hontem escrevi para você, espero resposta com urgencia. Finito em Italiano, quer dizêr terminado. O.K? Mais uma vêz peço perdoar-me, pois fiz mil e um pensamento e nenhum deu cérto, só você poderá me tirar desta duvida O mesmo Palavras-Chave Tipo: relacionamento História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, conflito armado
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 49 Série: Correspondência original Data de produção: 17/04/1945 (Data Certa) Quantidade de documento:1 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: A autora escreve ao namorado militar, dizendo estar pensando em sua proposta. Fala-lhe da surpresa ao ler uma carta escrita por ele à mãe em que demonstra a intenção de casar-se com ela. Local: Brasil Texto [fl.1] Rio de Janeiro, 17.4.1945 Mui saudoso Aydo Sabado recebi uma cartinha tua datada do 1.3.45 e domingo recebi outra, datada do 29.3, sendo que hoje passo a respondelas. Com a graça de Deus, vamos indo regular.
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Ha dias respondi uma carta dizendo-te que não sabia ainda da proposta que havias feito, mas é que ainda não havia recebido a carta que fala na proposta, porem já a tenho em meu poder. Agradeço-te primeiramente o lindo cartão, e acredito no que nele está escrito. Quanto a proposta acho que deves esperar mais um pouco, e mesmo ela exige que pensemos bem antes. Recebi essa carta justamente quando jogava uma bôa partida de pingue-pongue. Domingo recebi a carta que [trouxe] junto o retrato. Francamente como estaes gordo, e porque saístes com a de zangado? o fotografo estava impaciente? não gostei do meu e sim do que mandastes para D. Georgina. Perdão pela reclamação, mesmo vindo com a cara zangada, fico-te muito agradecida. Agora vou tentar explicar-te o que se deu comigo no domingo após a E.D. Sua mãe pediu que eu lesse a carta dela. porem enquanto ela via os retratos eu li baixinho para mim (depois ia ler para ela). e quando chegou no trecho em que se lê: mamãe assim que eu chegar aí irei me casar com a Biga, fiquei surprêsa. Então D. Loide chegou e pediu para ver o retrato, nesse momento D. Georgina pedia a D. Loide para ler a carta. Então eu aproveitei e saí depressa, por isso não sei o que houve quando chegou no 186
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
tal pedaço da carta. Mas, o Pindoba e o Paulo B. já me esperavam. Então um disse-me Vae sair no “Escorpião” um trecho da carta da mãe do Aydo, enquanto o outro comprimentava-me dizendo gracejos. Fiquei bolando; como é que eles sabem disso? Depois tive a resposta. A D. Georgina deu para eles lerem antes dela mesma ler. E você sabe como é a turma, e deves calcular como tem saído piadas! E o que é que a D. Georgina disse? Porque dissestes que tendo uma garota como tens, não precisas de nada? Eu somente envio-te cartas!!! Já te amolei bastante. Aqui termino enviando vótos de feliz aniversário e que breve estejas de novo em nósso meio. Com muitas saudades, um fórte abraço para você da tua e sempre Biga
Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, relacionamento, conflito armado 187
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 50 Série: Correspondência original Data de produção: 11/05/1945(Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Envelope avulso endereçado à Aydo Martins de Souza, lotado em Itália. Local: Brasil Sobrescrito Destinatário Aydo Martins de Souza 259 F.E.B Selo 188
[Isento de selo]
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Carimbo [CORREIO COLETOR SUL – BRASIL – 11MAI.45] [C.C.B. [Ilegivel]]
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 51 Série: Correspondência original Data de produção: 14/05/1945 (Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta de uma mulher ao seu amado a dar notícias, elogiando o desempenho da FEB; revelando algumas novidades da terra e expressando saudades. Local: Brasil Texto [fl.1] Maio, 14 de 1945 Saudoso Aydo Com muitas saudades de receber tuas cartas é que escrevo-te esta. De saúde vamos indo bem, graças a Deus. Como vaes? porque não tens escrito? ainda estaes 190
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
zangado comigo? espero que não. Aqui todos se encontram contentes pela vitória das nações unidas, e muito mais com a vitória da F.E.B. A igreja está preparando uma fésta para os nóssos bravos pracinhas. D. Georgina manda avisar que recebeu um telegrama, ela manda a bençam para você e abraça-te mui saudósa. Hontém falei tanto em você, sim, porque fui pérto da Vista Chinêsa, então me lembrei do ultimo passeio que fisemos alí. Aydo, ultimamente tenho me preocupado muitíssimo com o nosso cáso. Sim, não pósso me conformar, porque não queres me escrever enquanto não receber resposta daquela carta. Por favor escreva-me para que eu fique socegada. sim? Hontém comemoramos o “dia das mães”. A escola dominical esteve repléta, houve um programa especial, organizado pelo Departamento Primário. Via-se nos rostos das crianças, alegria pois todas sorriam, e nos ólhos das nóssas mães uma lagrima e em cada labio uma préce. Na reunião devocional 191
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[também] comemorou-se a [grande] data. Á noite durante [corroído] tivemos momentos de [saudades], sim porque o rev. [fl.2] falou sobre os nóssos quatro rapazes que estão [incorporados] na F.E.B. Orou por todos e pela patria, e com o hino 200 foi terminado o culto de ação de graças. Recebi carta do compadre Pôrto, manda lembranças e um saudoso québra-óssos para você. Aydo quéro que avises-me dizendo quando devo parar a correspondência. Qualquér dia irei à Maria da Graça com D. Georgina, pois tens uma tia morando mesmo na Congregação. E por falar em Maria da Graça, Maninha Ruth e as crianças sempre falam em você e dizem que estão saudósos. Ainda hoje a mamãe olhando para você, sim, pois estaes mesmo na sala, ela disse: tenho a impressão que o Aydo tirou esses retratos muito aborrecido, contra a vontade mesmo, acho-o com a cara feia e a testa franzida, o que será que aconteceu com ele na hora de tirar o retrato? 192
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Vou terminar pois estou muito K.C.T. Todos mandam um abraço e deseja-te breve e feliz regreso. Com muitas saudades aceita todo carinho desta que anciósa te espéra Biga N.B Recomendaçóes ao José. Oziél e Gediél. [Pergunta-] os se não sentem as orelhas arder. [ilegível] pela letra e os êrros, pois escrevi muito apressada. Biga.
Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, relacionamento, conflito armado
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 52 Série: Correspondência original Data de produção: 21/05/1945 (Data certa) Quantidade de documento: 3 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: A autora escreve para um militar da F.E.B., transmitindo-lhe noticias de amigos e desejando-lhe breve regresso. Local: Brasil Sobrescrito Destinatário Aydo Martins de Souza 14- 24
259 14 F.E.B. Selo
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Carimbo [BOTAFOGO – DF – BRASIL- 24 MAI 45] [C.C.B.[S]. 59]
[Isento de selo] Texto [fl.1] Maio – 21- 1945 Presado e saudoso Aydo Tudo por Cristo Recebi dia 20 uma cartinha tua em resposta da carta enviada pela S.M.J. Passando a responde-la dou-te algumas noticias da nossa bôa turma. espero que esta vá te encontrar gosando bôa saúde e cada vez . mais firme na fé e confiante em Cristo Jesus. A S.M.J. comprimenta-te 195
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pelos grandes feitos da F.E.B. orgulhando-se de ti por sêres um bravo soldado 18 24 do Brasil e por representares a valorosa mocidade cristã. Esperamos-te mui saudosos. Aydo a mocidade está cada vez mais unida e firme na grande tarefa a que nos foi confiada. No próximo mês de Junho, [fl.2] será realizado em Cascadura o XIII Congresso distrital, na próxima reunião de negócios serão eleitos os delegados. No ano passado fostes um dos delegados não? Aydo, já disseram que nós temos um micróbio muito perigoso, pois quem vem aqui pela primeira vês não quer mais sair. A tua carta foi 196
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
lida pelo Jairo em plena reunião devocional provocando gargalhadas.(perdão pelo borrão) Quanto a tua gordura as pequenas acham que deves estar redondinho. Tens visto o rev. Juvenal e tente Walter Ribeiro? e o capitão Celso Daltro dos Santos? Aqui termino enviando um abraço saudoso e um voto de feliz regresso de cada jovem da S.M.J. do Jardim Botânico, e também dos amigos da igreja que constatemente oram por vocês. [fl.3] Esperamos em Deus que muito breve estejas de volta juntamente com toda F.E.B. e que Deus te guarde e livre de perigos e tentações até que chegues aqui. 197
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Até breve Aydo Abigail Baptista Secretária Correspondente da S.M.J. Jardim Botânico. N.B. Junto envio-te algumas linhas. Não recebestes um cartão da sociedade, comprimentando-te pela passagem do teu aniversário? Recomendações da S.M.J. para o José. A mesma. Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, relacionamentos
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 53 Série: Correspondência original Data de produção: 23/05/1945 (Data Certa) Quantidade de documento:1 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta de uma mulher ao namorado militar, demonstrando indignação pelo ciúme do mesmo. Local:Brasil Texto [fl.1] Maio – 23-1945 Aydo Com o coração transbordando de saudades escrevo-te mais estas linhas, para vêr se consigo suavisar a minha grande dôr. Como tens sido mau, procurando
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maguar-me com teus ciumes imperdoaveis. Não vês que é a ti que dedico toda a minha vida? já te confessei várias vezes. Não tens razão para tal procedimento, pois tudo tenho feito para merecer teu amôr! Por favôr diga-me quem tem procurado destruir a nóssa felicidade? Peço-te, não te entregues a tais pensamentos. As vezes penso em deixar de esvrever-te porem não pósso, o coração não deixa. Porém aviso-te para não continuares assim, vejo-me forçada a agir de outra maneira. Para tudo deve haver limites. Com muitas saudades aceita todo amôr desta que sófre pôr ti Biga Palavras-Chave Tipo: notícias, declaração História: II Guerra Mundial, família 200
Sociologia: família, relacionamento, conflito armado
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 54 Série: Correspondência original Data de produção: 28/05/1945(Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Envelope avulso endereçado à Aydo Martins de Souza, lotado em Itália. Local: Brasil Sobrescrito Destinatário Aydo Martins de Souza 259 F.E.B Selo [Isento de selo] 201
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Carimbo [06134] [CORREIO COLETOR SUL – BRASIL – 28[ilegível].45] [C.C.[corroída] 29]
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 55 Série: Correspondência original Data de produção: 28/09/1945 (Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Envelope avulso endereçado à Abgail Baptista. Local: Estados Unidos da América. Sobrescrito Destinatário <à margem esquerda: [ilegível]> Srta. Abigail Baptista Rua Jardim Botanico 648 Rio de Janeiro Brasil
15- Lewisburg é um distrito localizado no estado norte-americano de Pensilvânia, no Condado de Union.
Selo [Isento de selo] Carimbo [LEWISBURG15 SEP 28 4.PM 1945 PA.]
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 56 Série: Correspondência original Data de produção: 27/11/- (Data certa) Quantidade de documento: 1 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Telegrama de Aydo Martins a Abigail Batista solicitando que a mesma lhe escreva ou telegrafe. Local: Itália Sobrescrito Destinatário IOFN273C 27NOV 18 27 61 EFM ABIGAIL BATISTA RUA. JARDIM BOTANICO 648 JARDIM BOTANICO D FEDERAL BRASIL 204
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Carimbo DEZ 2 [ilegível]
Texto [fl.1] Favor escrever ou telegrafar. Afetuosas saudações. Mais do que nunca estas agora em meu pensamento. Aydo Martins
Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, relacionamento
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 57 Série: Correspondência original Data de produção: [ilegível] Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Telegrama de Abigail Dias Baptista para Aydo Martins por ocasião das festas de Natal e Ano Novo. Local: Itália Sobrescrito Destinatário WENV RMF 444 RIO DE JANEIRO 1 48 43 AYDO MARTINS 259 FEBSEL ABIGAIL DIAS BAPTISTA Carimbo 206
[ilegível]
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Texto [fl. 1] Carta recebida mitos agradecimentos. Melhores votos para o [Natal] e Ano Novo. Beijos e abraços. ABIGAIL DIAS BPTISTA
Palavras-Chave Tipo: comunicação História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, relacionamento
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 58 Série: Correspondência original Data de produção: 08/12/[corroído] (Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Local: Itália Resumo: O autor escreve à sua namorada contando sobre o clima na Itália, a desejar felicitações por ocasião do Natal e Ano Novo. Texto [fl. 1] Italia 8 de Dezembro [corroído] Presada Biga É com o coração transbordante de saudades, que pego na pena para escrever-te mais esta. Desejo que a mesma a encontre 208
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
gosando saúde e felicidade juntamente com teus queridos. Quanto a mim ao faser esta, graças ao bondoso Deus vou gosando a mais perfeita saúde. Esta tem por fim sabêr se recebestes minhas cartas, pois já fasem dois meses que as enviei, e até hoje não obtive resposta, será que as recesbestes? A dias enviei-te tambem um telegrama, recebeste-o? Talves esta vá chegar em suas mãos um pouco antes do natal, ou depois, mais não fas mal, junto envio-te um cartão. E pôr falar em natal, o côro de natal está muito animado? Envie-me noticias, e se possivel fotografias sim? Quando me escreveres envie-me dentro da carta uma tonelada de calôr e outra de sól, pois desde que chegamos aqui tem chovido constantementi e feito um frio de rachar. Vou terminar desejando que ao entrares no novo ano que se aproxima, seja este mui prospero para (vire) [fl. 2] si e para todos os seus, e que este seja o ano dos sonhos se realisaren. Bôas festas, felis natal e entradas de ano novo, é o que 209
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desejo de todo o coração. Sê felis porque o horisonte se desanuvia e, em breve, voltaremos a ver-nos, são os meus mais ardentes vótos. Crê na minha inalteravel afeição, e aceite um saudoso abraço do Aydo N.B. Recomende-me a todos da sociedade de Jovens. Um fôrte abarço em Dona Valentina e Senhor Hermilio, Recomendações a Graciema, Belinha e Maria de Lourdes. Diga a Lourdes que escrevi para ela logo assim que aqui cheguei, estou esperando resposta. E a Belinha vai escrever para o afilhado, ou não vai? Escrevi tambem para minha [ilegível] há [?] não sei se ela recebeu. Diga ao Jairo que me encontrei com o primo dele aqui, ele pedio-me o endereço, e disse que irá esvrever-lhe. Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, relacionamento, conflito armado 210
Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 59 Série: Correspondência original Data de produção: [ilegível] Quantidade de documento:2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Envelope avulso. Carta endereçada à Itália para Diogo Gualberto de Souza Filho Local:Brasil Sobrescrito Destinatário < à margem esquerda: Ao 3º Sargento > Diogo Gualberto de Souza 313 F.E.B. Alessandria (Italia) 211
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Selo [Isento de Selo] Carimbo [05861] [ ilegível ] Contexto: II Guerra Mundial Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: Família, guerra
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 60 Série: Correspondência original Data de produção: 12/002/1945 Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Envelope avulso. Carta endereçada à Itália para Diogo Gualberto de Souza Filho Local: Brasil Sobrescrito Destinatário Sargento - 4411 Diogo Gualberto de Souza Filho (Riola (ataque a Castelo) 313 novo 8429 F.E.B. 213
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Selo [Isento de Selo] Carimbo [? CENSURA] [OR 5 A SEÇÃO – REGISTRADO MG-BRASIL 12 FEV. 45] [[ilegível] 24] Contexto: II Guerra Mundial Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: Família, guerra
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 61 Série: Correspondência original Data de produção: (Sem Data) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Envelope avulso. Carta endereçada à Itália para Diogo Gualberto de Souza Filho Local: Brasil Sobrescrito Destinatário Sargento - 4411 Diogo Gualberto de Souza Filho 313 F.E.B. Riola (ataque) 215
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Selo [Isento de Selo] Carimbo [F.E.B.] [ABERTA PELA CENSURA] [2535] [C.C.B.S. 62] Contexto: II Guerra Mundial Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial Sociologia: Família, guerra
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 62 Série: Correspondência original Data de produção: [ilegível] Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Envelope avulso. Carta endereçada à Itália para Diogo Gualberto de Souza Filho Local:Brasil Sobrescrito Destinatário 3º Sargento - 4411 Diogo Gualberto de Souza Filho Front em Morro de La Torracia Belvedere 217
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Italia 313 F.E.B. Selo [Isento de Selo] Carimbo [F.E.B.] [ABERTA PELA CENSURA] [03859] [C.C.B.S. 17] [BRASIL [ilegível]] Contexto: II Guerra Mundial Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial Sociologia: guerra
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 63 Série: Correspondência original Data de produção: (Sem Data) Quantidade de documento:2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Envelope avulso. Carta endereçada à Itália para Diogo Gualberto de Souza Filho Local:Brasil Sobrescrito Destinatário Ao 3º Sargento 4.411 Front Ca’ de Tosqui Italia Diogo Gualberto de Souza Filho 313 F.E.B. RI 219
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Selo [Isento de Selo] Carimbo [ABERTA PELA CENSURA] [C.C.B.S. 13] Contexto: II Guerra Mundial Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial Sociologia: guerra
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 64 Série: Correspondência original Data de produção: 15/12/44 (Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Envelope avulso. Carta endereçada à Itália para Diogo Gualberto de Souza Filho Local:Brasil Sobrescrito Destinatário Ao 3º Sargento 4411 SILA (descanso) Diogo Gualberto de Souza Filho 313 F.E.B. 1137 221
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Selo [Isento de Selo] Carimbo [S.P] [ ABERTA PELA CENSURA] [4º [ilegível]] [SEÇÃO-REGISTRADO .BRASIL [ilegível] 15DEZ44] Contexto: II Guerra Mundial Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial Sociologia: guerra
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 65 Série: Correspondência original Data de produção: 06/11/[ilegível] (Data Certa) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Envelope avulso. Carta endereçada à Itália para Diogo Gualberto de Souza Filho Local: Brasil Sobrescrito Destinatário 3º Sargento 4411 Ca’de Tosqui Diogo Gualberto de Souza Filho Front Morro do Castelo 313 F.E.B.
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Selo [Isento de Selo] Carimbo [F.E.B.] [ABERTA PELA CENSURA] [[ilegível] 6] [2338] [5 A SEÇÃO [ilegível] .BRASIL 6NOV [ilegível]] Contexto: II Guerra Mundial Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial Sociologia: guerra
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 66 Série: Correspondência original Data de produção:30/05/1944 (Data Certa) Quantidade de documento: 3 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta familiar de João Batista Moreira, expedicionário, ao pai, descrevendo o dia a dia no Rio de Janeiro, enquanto aguarda o embarque para a guerra. Local: Brasil Texto [fl.1] Rio de Janeiro 30 de Maio de 1944 Querido papae Com muita satisfação que recebi a carta de sr na qual deu 225
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bôas noticias. Eu graças a Deus estou bom de saude e dinheiro, mas aflito para resolver este caso, ou ir para casa ou si estiver que ir que vamos uma vez pois está vida fora de casa não me serve, pois as saudades aumenta dia a dia. A trêz dias mais ou menos seguio carta minha dando as velhas noticias, Que é sempre as mesmas. Pae o sr pedio que desse as noticias certa sobre o embarque; aqui como ahi à muitos boatos, certo mesmo ninguém sabe. Eu conversando com o capitão comandante de minha companhia, ele me disse que acha que embarqamos mas ainda demora, e me afirmou [fl. 2]
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Cartas da FEB: entre a saudade e a guerra
Que indo iremos para dacar [?] e treinaremos[?] uns seis meses, e depois iremos apenas guarnecer as cidades conquistada pelos aliados, poi se formos iremos poucos, só 20.000 é uma prova bastante que não vamos para a linha de frente, pois só com estes homens não vale nada, e sendo assim sera até um passeio, principalmente para mim pois [ilegível] é muito menos perigoso como mais folgado porque os carros vam atraz da tropa e assim irei todo folgado. Eu aqui não tenho feito nada, é só dar umas voltinhas com meu giep[sic] e limpa-lo, instrução mesmo necas. Eu escrevi na outra carta como foi o desfile. Pae quer dizer que a grana por ai corre bem não é, pois vamos dar um conserto na nossa cozinha, 227
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eu achei muito bem empregado e muito bom, mas sinto não poder ajudar, mas esta migalha que vire 2 [fl. 3] mandei fasso questão que seja empregado ai na casa. Pae diga a mamãe que se eu for ela não ficar triste, pois tenho certeza que volto, e voltando será cheio do dinheiro, pois só o ordenado é cr$1,800,00 como soldado. isto é lá só recebo 200,00 para minhas despesas, e o outro sera pago ai. [corroídas ± 2 linhas] Paesem mais o sr explica ahi [corroída] mamãe como são as cousas porque ela é muito nervosa e fica triste sem razão, porque se 228
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for irei com muito praser porque vou defender é apenas o sr a mamãe e os irmão, portanto não é nada demaes se for pressizo morrer defendo a minha tão querida familia, porque posso morrer mas minha familia continua <à margem direita: 3 vire outra vez> Contexto: II Guerra Mundial Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: família, instrução
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 67 Série: Correspondência original Data de produção:06/10/1944 (Data Certa) Quantidade de documento: 3 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta familiar de João Batista Moreira, expedicionário, à mãe,relatando a viagem para a Itália; pedindo que lhe envie doces e jornais. Local: Itália Texto [fl. 1] Italia6 d[e] Outubro de 1944 Carissima Mamãe Pesso a vossa benção e 230
do Papae.
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Espero que ao receber esta esteja em completo gozo de saude e felicidades juntamente com todos ahi de casa. Mamãe podendo comu[-] nicar que vamos embarcar, passo agora a comunicar que depois de 14 dias de viagem chegamos hoje. A viagem nã[o] tenho expressões para dizer pois [f]oi uma maravilha, tudo na melhor armonia e conforto. Estou pasando muito bem e muito satisfeito por estar cumprindo o sagrado dever de defender a nossa : [fl. 2] causa que é [ a c]ausa da liberdade. Mãe pesso que me responda com a maxima urgencia pois estou ansioso por noticias ahi de casa e de tudo dahi. Mãe não posso dizer a cidade que estamos, mas os jornaes 231
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dahi devem publicar, se for possível m[e] mandar uma lata de doce [alguns] cigarros e se possível de vez enqu[ando] um jornal. A Did[ilegível] pode mandar o objeto que pedi. Mãe não precisa de ficar com medo, pois maes hoje maes amanhã tenho fé em Deus que voltarei. Mãe queira aceita um forte abraço, e beijos e a todos um forte abraços aos irmãos e o papae. do filho que muito ama – João Batista Moreira oinderece e só – cabo [ilegível] 063- João Batista Moreira 313 – F.E.B. Contexto: II Guerra Mundial Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: Família 232
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 68 Série: Correspondência original Data de produção:06/02/1945 (Data Certa) Quantidade de documento: 3 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: Carta familiar de João Batista Moreira, expedicionário, ao pai,a dar noticias sobre a vida no front. Local: Itália Texto [fl. 1] Italia 6 Fevereiro de 1945 - Bondoso Papae - Pesso a vossa benção – Espero que ao receber esta esteja 233
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em perfeito goso de saude e felicidades Juntamente com todos ahi de casa Papae aproveitando a bôa oportunida de de um bom portador de uns colegas que não se dando com o clima e tendo que regressar ao nosso tão querido Brasil aproveito-o para levar até o Rio esta carta que posso contar alguma cousa. Eu graças a Deuz estou em optimo estado de saude pois estou com 66 Kilos e com optima disposição para enfrentar os trabalhos da guerra. Por aqui é assim, frio já esta quase acabado, mas chegou a 18 graus abaixo de 0, mas agora está a 5 abaixo de 0, comida [fl. 2] como eu menos espera[va] é opitima, pois aqui no fron[t] 234
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até perú, galinha, salada de fru[ta] e outras cousas identicas. Pae os americanos estão absma dos de vêr os brasileiros [lutar], pois os proprios alemães já nos classificaram em 2º lugar do mundo, pois antes da neve, eles distribuíram boletus para nós, nos quaes diziam que só o frio nos matariam, mas foi pelo contrario, apesar de estarmos lutando com neve até a cintura sem nenhum exagero ainda vai nas posições deles, subterranear, matam e trazem prizioneiros, eles estavam com pavor dos brasileiros, pois dizem que o brasileiro só briga cara a cara e mata alemão até a faca. Eu estou trabalhando com jiepe [sic], durmo dentro de casa e como mais que um porco brasileiro dos bons. 235
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Pai os italianos não vale nada, a italia reina verdadeira fome [fl. 3] <à margem direita: 3> um kilo de café em Roma custa 15 mil liras, ou seje 3000 [cro] um par de botinas 1.000.000 e tudo assim, mas os italianos merecem mais do que isto. Pai aqui estamos confiantes em Deuz que dentro de poucos mezes estaremos novamente em nossas casas se Deuz quizer. Pai o front é um pouco feio, mas para nós já tudo é natural, cadaveres, feridos, prizioneiros, famintos, crianças chorando de fome, moças lindas apanhando resto de comida que agente joga fora, para nós tudo a mesma cousa os nossos corações estão endurecidos de ver sofrimento nós dizemos a 236
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eles, venderam a guerra? agora aguenta as consequencias, a cobra está fumando. Pae o brasileiro é assim vai para o combate com a mesma cara que vai para o trabalho civel ou melhor, para festa , em minha companhia tem soldados que sem ordem vai a 50 metros dos alemães e o brasileiro não liga para a bagunça tudo bom. Contexto: II Guerra Mundial Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: Família
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MANUSCRITO Identificação: Classificação: FEB 69 Série: Correspondência original Data de produção:(Sem data) Quantidade de documento: 2 (folha) Referência Arquivística: Força Expedicionária Brasileira (FEB) Resumo: O militar, João Batista Moreira,partilha com a família, provavelmente, uma canção ou poema em italiano. Local:Itália Texto [fl.1] [corroídas ± 8 linhas] Tu ti ricordiqua [corroído] [ilegível] [corroído] Traqueibacetti scherzi originali 238
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Tu ti fumavile mie nazionale Ora chesongiontiglialléato Le nazionale non lefumi [ilegível] Ritornello. Vento, vento oggi e luhitreah [?]. conosciamericani a cento a cento Tutti i momenti ai unappuntamento E senzaalcunrimpianto Ti sei formato un regimento. Vento, vento lavita é bella – Hocquet II La scatobelladi carne conservata La caramellalacioccolata, Ti sei jettataproprio a [ilegível] [fl.2] [corroídas ± 5 linhas] Ritornello Ti griderail bebe Para unchin[ilegível]se giallo canarino O pureun brasiliano, uninglesino 239
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O ancheun francesinho O meglio ancora un [ilegível] Mamma, mamma Dimmi chi e il papa?????? Fine copia de una amiginafrancese <à margem esquerda: DorinnaDossini Gaggio Montano Bologna> Sfollata in Italia. Ti auguro unprossimoritorno in Bresile con tanta felicita e un bel sposializio ala fine dell’anno Speroche tu mi ricorderai sempre Palavras-Chave Tipo: notícias História: II Guerra Mundial, família Sociologia: Comunicação
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BIOGRAFIAS Aydo Martins de Souza Nasceu no Rio de Janeiro RJ em 20 de abril de 1918. Filho e José Martins de Souza Filho e Georgina do Amaral Martins. Voluntário da Força Expedicionária Brasileira e foi incorporado no Rio de Janeiro pelo 9º Batalhão de Engenharia que vinha de Aquidauana Mato Grosso de Sul. Anterior ao seu ingresso na FEB, Aydo trabalhou no Jardim Botânico com a função de guarda da casa do ministro. Em frente a este local situava a Igreja Metodista que à época era frequentada pela pianista Abgail Baptista de Souza. Aydo começou a frequentar os cultos e se apaixonou por Abgail. Começaram a namorar por meio de correspondências, ao retornar da Guerra Aydo e Abgail noivaram e se casaram em 28 de março de 1946. Tiveram cinco filhos. Após a Guerra Aydo continuou suas atividades profissionais no Loyd Brasileiro e no colégio Bennett. Faleceu em 19 de março de 2011.
Documento de identidade original de Aydo Martins de Souza. Contém a cardeneta de reservista. Acervo particular Ernesto Adolfo Elias Paiva
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Documento de identidade original de Aydo Martins de Souza. Contém a cardeneta de reservista. Acervo Particular Ernesto Adolfo Elias Paiva
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Celestino Nunes de Oliveira Nasceu em 13 de agosto de 1915 em Fortaleza. Após cursar o Colégio Militar no ano de 1933 ingressou na Escola Militar de Realengo, aspirante a Oficial foi promovido a Tenente de Infantaria em 1938. Casou-se com Maria Regina Teixeira de Oliveira em 1941, e com ela teve dois filhos, Sergio e Celestino. Foi integrante da Força Expedicionária Brasileira FEB em 1944, participando da Segunda Guerra Mundial com o posto de Capitão. No final da Guerra em 1945, voltou condecorado, pois se destacou pela sua conduta exemplar e atuação na vitoriosa Operação de Monte Castelo na Itália. Recebeu posteriormente a Medalha Comemorativa da Conquista de Monte Castelo, a Medalha de Campanha e a Medalha da Cruz de Combate, entre outras. Concluiu todos os cursos de oficiais do Exército Brasileiro, inclusive o Curso de Estado Maior das Forças Armadas. Com sua amada esposa, Maria Regina, teve mais três filhos, Rosa , José e Regina. Em Maio de 1972 saiu para reserva, nos seus 57 anos, como Coronel de Infantaria e foi admitido na Ordem do Mérito Militar com diversos elogios. Foi convidado pelo Ministro Jarbas Passarinho para atuar na DSI do Ministério da Educação, onde ficou de 1972 a 1983. Em 2010, faleceu nos seus 95 anos, ainda lúcido, deixando uma família saudosa, constituída de sua esposa, quatro filhos (um faleceu), 12 netos, e 15 bisnetos. Foto do Capitão Celestino Nunes de Oliveira Acervo particular Regina Maria de Oliveira Cezar
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Foto do Capitão Celestino Nunes de Oliveira. No verso está escrito “ À Maria Regina, Sérgio E ? Uma lembrança do espôso e papai amigo no volante de sua máquina, a companheira de sempre no “front“ italiano. Em 26 v 1945.Oliveira, Cap. Acervo particular Regina Maria de Oliveira Cezar
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Da direita para a esquerda está escrito: Sérgio T de Oliveira A você meu filho para guardar carinhosamente este cartão, como expressão e a lembrança mais concludente da cooperação de teu amigo e bom pai pelo aniquilamento total das forças do “mal”. No alto à esquerda está o distintivo das forças do Brasil que combatem na Europa e em baixo, à direita, o distintivo do 5º Ex. Americano ao lado de quem combatemos. O nosso distintivo é a materialização da expressão humorística de nossos soldados: “A cobra está fumando”. Isto quer dizer em poucas palavras que a cousa está “preta”, a luta está acesa, cruenta, o tedesco está ativo. Guarda-o, porque será a melhor lembrança para o futuro, de que o teu ‘pai’ deu um pouco de seu esforço para o aniquilamento e derrota total dos inimigos da liberdade dos povos. Em 30-XII-44. COliveira, Cap.
Cartão de Natal enviado por Celestino a seu filho Sérgio Oliveira Fonte: Acervo Particular Acervo Particular Regina Maria de Oliveira Cezar.
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Isabel Novaes Feitosa Nasceu em Propriá – SE, em 17 de agosto de 1922. Filha de Manoel Joaquim Aragão Feitosa e Maria Isaura Novaes Feitosa. Fez o Curso de Enfermagem: SAMARITANA da Cruz Vermelha Brasileira em Sergipe e o Curso de Emergência de Enfermeiras da Reserva do Exército (CEERE) da 6ª Região Militar. 2º Tenente Enfermeira em 29 de outubro de 1944 cruzou o oceano rumo a Nápoles com 15º Grupo onde iniciou sua missão como Enfermeira da FEB. “Viu a morte entrar nos hospitais para buscar suas vítimas e lutou incansavelmente para impedi-la. 15. Disponível online em http://www. portalfeb.com.br/anjos-de-branco-2otenente-enfermeira-isabel-novaes-feitosa/
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No final do dia chorava com as perdas”. Anjos de Branco15. Retorna ao Brasil em 07 de julho de 1945, sendo licenciada da Força Expedicionária Brasileira por meio da Portaria nº 8.678 de 06 de outubro de 1945. Serviu o Exército Brasileiro na Policlínica Militar em Salvador – Bahia, na Praia Vermelha até 1975, falecendo em 2003.
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Isabel Novaes Feitosa Embaixatriz do Togo com as Enfermeiras da FEB da esquerda para a direita: Zilda, Isabel, Aracy, Maria Luiza
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Flávio da Mata Moreira
Nascido em 22 de fevereiro de 1918 na Fazenda da Tumba, município de Inhaúma, Minas Gerais, Flávio da Mata Moreira, já havia cumprido com o Serviço Militar no antigo 10º RI, onde deu baixa em 1940. Em 1943, após o Brasil ter declarado guerra aos países do Eixo, foi convocado para integrar o 11º RI, em São João Del Rei, MG. Foi lá que encontrou novamente o Capitão Ventura, antigo comandante, que o convidou para integrar uma Cia de Obuses em formação no 6º RI. Foi então transferido para Caçapava e já no posto de cabo seguiu para a Itália no 1º Escalão expedicionário a bordo do navio de transporte de tropas norte-americano, USS General W. A. Mann. Como Cabo artilheiro participou de toda a campanha da FEB, lutando inclusive, pela tomada do famigerado Monte Castelo. Homem de caráter exemplar, firmeza de propósitos, hábitos simples e sempre ligado ao cultivo da terra e à criação de gado, após o seu retorno à Pátria continuou por toda vida ligado à atividade rural. Foi casado com a Sra. Maria José Lara, conhecida com Zeca, com quem teve quatro filhos. Reside atualmente em Sete Lagoas, Minas Gerais.
Flávio da Mata posa para fotografia com suas divisas de cabo e o símbolo do Coração do Brasil que identificava a tropa brasileira antes de ser adotada a “Cobra Fumando”.
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“A guerra não é fácil. É cada coisa que agente vê que só deixa sofrimento. Principalmente para a população civil que para todo lado que corre, leva chumbo ...”
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Cabo Flávio da Mata e um companheiro de farda. Cabo Flávio da Mata (1º à direita) e amigos em restaurante após o término das hostilidades na Itália. Cabo Flávio da Mata (1º da esquerda) e companheiros de farda na cidade de Porreta Terme. A edificação ao fundo funcionou como Quartel General do Gen. Mascarenhas de Moraes.
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João Batista Moreira
João Batista Moreira nasceu em Contagem, Minas Gerais em 24 de junho de 1922. Aos 21 anos de idade foi convocado para integrar a Força Expedicionária Brasileira. Embarcou para a Itália no segundo escalão como Cabo, foi integrante da 5ª Cia do 11 RI. Atuou como motorista de Jeep, sendo responsável pelo transporte de munição e suprimentos para a linha de frente. Na vida civil, foi funcionário público e se aposentou como servidor da Justiça Federal. Em 1947, casou –se com Stela Camargos Moreira e tiveram 4 filhos, 6 netos e 1 bisneto. Faleceu em Belo Horizonte, em dezembro de 2015. Publicou o livro: “Um mineiro na Itália”, onde narra passagens de sua vida como Pracinha. Nos últimos anos estava sempre presente ao Museu da FEB em Belo Horizonte, onde narrou a participação do Brasil na guerra e os feitos dos Pracinhas, principalmente a grupos de jovens, e ainda afirmava ser essa a sua última grande missão: levar o conhecimento sobre os horrores da guerra. As suas narrativas eram sempre recheadas de enorme riqueza de detalhes, principalmente no que diz respeito ao sofrimento que a guerra levava à população civil.
Foto de 1943 ou 1944, com 21 anos, antes da partida para a Itália. Acervo particular de Heloiza Camargo
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Dentre as várias passagens como integrante da FEB costumava contar que ao final da guerra, o Capitão Henrique Cardoso, comandante de sua Cia e com o qual desenvolveu fortes laços de amizade, em certa ocasião o perguntou, porque ele deixaria o exército se havia sido um soldado exemplar, sua resposta foi a seguinte: “Capitão, fomos para essa guerra lutar pela Liberdade! Fomos, vencemos e conquistamos nosso objetivo Agora vou em busca da minha Liberdade!” Cumpriu assim sua missão.
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Ă&#x20AC; direita Cabo Moreira Cabo Moreira no volante Cabo Moreira - foto recente Acervo particular de Heloiza Camargo
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Militares Brasileiros do 11 RI, no morro do Capistrano, Rio de Janeiro, 27/04/1944. Acervo - Museu da FEB/BH.
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Foto posada com sub-metralhadora M3 (Grease Gun). Acervo - Museu da FEB/BH.
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Grupamento aguarda transporte em Alessandria, Junho de 1945. Acervo - Museu da FEB/BH.
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Sargento Diogo Gualberto (11 RI) no Monte Belvedere, inverno de 1944. Acervo - Museu da FEB/BH.
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Militares da FEB durante o transporte da Itália para o Brasil, em 15/07/1945. Acervo - Museu da FEB/BH.
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Um dos desfiles da vitรณria da FEB em julho de 1945 na Itรกlia. Mesmo uniforme usado nos desfiles de regresso ao Brasil. Acervo - Museu da FEB/BH.
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Soldados desconstraídos na hora do rancho, em Alessandria, 04/06/1945. Acervo - Museu da FEB/BH.
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Corpos de soldados brasileiros sacrificados na batalha pelo Monte Castelo. Acervo - Museu da FEB/BH.
Foto posada com bar (Browning automatic Rifle), il Cristo, Alessandria, junho de 1945. Acervo - Museu da FEB/BH.
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Foto de estúdio tirada na cidade de Alessandria, em junho de 1945. Acervo - Museu da FEB/BH.
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Fotografia de soldado da FEB em Montecatini, Cidade termal, prรณxima de Pistรณia, na Itรกlia. Acervo - Museu da FEB/BH.
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