WWW.REVISTAPREMIO.PT
A PRESIDÊNCIA PORTUGUESA DA UNIÃO EUROPEIA
THE ECONOMIST
O MUNDO EM 2021
THE PORTUGUESE PRESIDENCY OF THE EUROPEAN UNION
THE WORLD IN 2021
ENTREVISTAS AOS CANDIDATOS PRESIDENCIAIS INTERVIEWS WITH PRESIDENTIAL CANDIDATES
2021
RECUPERAÇÃO ECONÓMICA E SOCIAL EM 2021? ECONOMIC AND SOCIAL RECOVERY IN 2021?
INTERNACIONAL
SAÚDE: AS CHAVES PARA A PANDEMIA
AMÉRICAS | ÁFRICA | ÁSIA E MÉDIO ORIENTE
HEALTH: THE KEYS TO THE PANDEMIC
AMERICAS | AFRICA | ASIA AND MIDDLE EAST
A HISTÓRIA DE UMA MARCA A BRAND HISTORY
História & Tradição
LOJA ONLINE 2
PINHALDATORRE.COM/LOJA-ONLINE
S U M Á R I O
DIRECTOR António Cunha Vaz D I R E C TO R A E X E C U T I VA Sofia Arnaud DIRECTOR DE ARTE Miguel Mascarenhas COL ABORAM NESTA EDIÇÃO André Pinotes, Angus Maitland, Begoña Lucena, Belén Rodrigo, Bowen Chui, Bruno Rosa, Carlos Barroca, Cristina Ramos, Diogo Belford Henriques, Eurico Brilhante Dias, Jaime Nogueira Pinto, James Astill, João Maria Condeixa, José Galamba de Oliveira, Mariana Branquinho, Miguel Pina Martins, Paulo Sande, Pedro de Faria e Castro, Pedro Ramos, Pedro Santos Guerreiro, Rafael Diogo, Ricardo David Lopes, Ricardo Fortes da Costa, Rosália Amorim, Salim Cripton Valá, Sofia Raínho, Sónia Ito e Vítor Sereno TRADUÇÃO Outernational, Unipessoal Lda. PUBLICIDADE Telf.: 210 120 600 IMPRESSÃO Soartes Artes Gráficas, Lda. Rua A. Cavaco - Carregado Park, Fracção J Lugar da Torre, 2580-512 Carregado PROPRIETÁRIO E EDITOR Cunha Vaz & Associados – Consultores em Comunicação, SA NIF 506 567 559 CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO António Cunha Vaz (Presidente) António Estrela Ribeiro (Vice-Presidente) Francisco de Mendia (Vogal) Ricardo Salvo (Vogal) DETENTORES DE 5% OU MAIS DO CAPITAL DA EMPRESA António Cunha Vaz SEDE DO EDITOR E DE REDACÇÃO Av. dos Combatentes, n.º 43, 12º 1600-042 Lisboa CRC LISBOA 13538-01 REGISTO ERC 124 353 DEPÓSITO LEGAL 320943/10 PERIODICIDADE Trimestral TIRAGEM 3500 Exemplares
ESTATUTO EDITORIAL
6 OPINIÃO | OPINION Pedro Santos Guerreiro, jornalista | journalist 8 OPINIÃO | OPINION Rosália Amorim, jornalista | journalist SAÚDE | HEALTH 10 ENTREVISTA | INTERVIEW José Germano de Sousa, Presidente do Centro de Medicina Laboratorial Germano de Sousa | President of the Germano de Sousa Laboratory Medicine Centre 20 Johnson&Johnson João Maria Condeixa, External & Policy Affairs Manager da Janssen | João Maria Condeixa, External & Policy Affairs Manager at Janssen 22 MADEIRA Pedro Ramos, Secretário Regional de Saúde e Proteccção Civil da Região Autonóma da Madeira | Regional Secretary of Health and Civil Protection of the Autonomous Region of Madeira PREVISÕES 2021 | FORECASTS 2021 28 Recuperação Económica e Social | Economic and Social Recovery Eurico Brilhante Dias, Secretário de Estado da Internacionalização | Secretary of State for Internationalization André Pinotes, deputado Partido Socialista | Socialist Party Member of Parliament 34 Economist The World in 2021 48 Análise Bankinter Portugal | Research Rafael Diogo, Analista Financeiro e de Mercado do Bankinter Portugal | Financial and Markets Analyst at Bankinter Portugal POLÍTICA | POLITICS 50 Eleições Presidenciais Portuguesas 2021 | Portuguese Presidential Elections Entrevistas com Candidatos Presidenciais | Interview with Presidential Candidates 58 Açores | Azores Pedro de Faria e Castro, Subsecretário Regional da Presidência DIPLOMACIA | DIPLOMACY 60 Vítor Sereno, Embaixador de Portugal no Senegal | Portuguese Ambassador to Senegal 64 Pedro Comissário, Representante Permanente de Moçambique junto das Nações Unidas | Permanent Representative of Mozambique in the United Nations, in New York NEGÓCIOS | BUSINESS 68 Empresa em Destaque | Featured Company Renova 78 Mota-Engil Projectos no Mundo | Projects around the world 82 Science4you Miguel Pina Martins, Fundador e CEO da Science4you | Founder and CEO of Science4you
CONTENTS
84 BOLD Bruno Mota, Fundador e CEO da BOLD | Founder and CEO of BOLD 86 AMO Global Angus Maitland, Presidente da AMO Global | President at AMO Global 90 Korn Ferry Mariana Branquinho, Senior Client Partner Korn Ferry Portugal EUROPA | EUROPE 94 Presidência Portuguesa | Portuguese Presidency Paulo Sande, Professor Convidado do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa | Visiting Professor at the Institute for Political Studies at the Portuguese Catholic University José Galamba de Oliveira, Presidente da Associação Portuguesa de Seguradores | President as Portuguese Association of Insurers AMÉRICAS | AMERICAS 102 América do Norte | North America Jaime Nogueira Pinto 104 Economist: As Prioridades do Presidente | The President’s Priorities IBERO-AMÉRICA | IBERO-AMERICA 106 Espanha | Spain Belén Rodrigo, Periodista en Diario ABC | Journalist at Diario ABC 108 Paraguai | Paraguay Ricardo Fortes da Costa, Director da RH Magazine | Journalist at RH Magazine 112 Brasil | Brazil Bruno Rosa, Jornalista de Economia no Jornal “O Globo” | Journalist from the Business Section of Newspaper “O Globo” ÁFRICA | AFRICA 114 Moçambique | Mozambique Salim Cripton Valá, Presidente do Conselho de Administração da Bolsa de Valores de Moçambique | Chairman of the Board of Directors of the Mozambique Stock Exchange 118 Angola | Angola Ricardo David Lopes, Consultor | Consultant ÁSIA & MÉDIO ORIENTE | ASIA & MIDDLE EAST 122 China | China Begoña Lucena e Bowen Chui, Artemis Associates | Begoña Lucena and Bowen Chui, Artemis Associates 124 Japão | Japan Sónia Ito, Arqueóloga e Professora | Archaeologist and Lecturer 126 Dubai | Dubai Cristina Ramos, Consultora de Comunicação | Communication Consultant 128 NBA Ásia | NBA Asia Carlos Barroca, Associate Vice President Basketball Operations
R EV I ST A C O R P O R AT IV A D A CV & A
www.revistapremio.pt/estatuto
3
EDITORIAL
ANTÓNIO CUNHA VAZ, PRESIDENTE DA CV&A CHAIRMAN AT CV&A
LOTA R I A LOTTERY
I
nicia-se um novo ano com os costumeiros votos de paz, saúde e amor a que se juntam, para os mais materialistas, os de prosperidade. A saúde é particularmente relevante neste ano de incerteza, mas de esperança. Na CV&A, agora com a /AMO – rede de agências a que aderimos neste início do ano 21 – continuamos apostados em liderar o mercado, prestando serviços de valor acrescentado e mantendo a aposta forte nas geografias em que estamos há mais de dez anos. A propósito, a CV&A cumpre este ano o seu décimo oitavo aniversário e, tal como a Prémio, assume que a 4
T
he New Year starts with the usual best wishes of peace, health and love for everyone, and prosperity for the most materialist we should add. Health is particularly relevant in this year of uncertainty, but of hope. At CV&A, now with / AMO - the network of media relations companies we joined at the beginning of the year 21 - we remain committed to lead the market, providing value-added services and keeping a strong focus on the geographies where we have been operating for more than ten years. By the way, CV&A celebrates its
EDITORIAL
maioridade lhe traz mais responsabilidade. A Prémio, tal como os negócios da empresa, está cada vez mais internacional. Continua a privilegiar o que de bom se faz, cobrindo a actividade dos Clientes da CV&A, contendo opinião de vários quadrantes políticos, de jornalistas conceituados e de empresários/gestores de várias partes do Mundo. Estamos a dias da tomada de posse de Joe Biden, como Presidente dos Estados Unidos da América do Norte, e a pouco mais de uma semana da eleição presidencial em Portugal. E se estes temas se esgotam aqui a revista tem informação que perdurará. A Presidência portuguesa da União Europeia e a pandemia que nos flagela, os artigos sobre África – Continente em que a CV&A se afirma cada vez mais e onde trabalha com as mais altas instituições e as mais relevantes empresas -, sobre educação e ciência, as presenças de vozes da Ásia e do Médio Oriente, entre outros, são motivo para que este número da Prémio reflita na medida do possível o sentimento global sobre os trilhos da política, dos negócios e da sociedade. O Ano de 2021 é particularmente desafiante, pois é aquele em que se vai sentir mais o impacto da pandemia. A economia das pequenas e médias vai continuar a sobreviver subsidiada, o que é o mesmo que dizer que pouco existe por si mesma. Por outro lado, as moratórias vão ser prorrogadas, enquanto a banca vai atravessar mais dificuldades – o que faz adivinhar fusões e aquisições e o possível desaparecimento daqueles poucos bancos que ainda têm o seu centro de decisão em Portugal. A chegada de dinheiro europeu está adiada para o segundo semestre por força da necessidade de aprovação do “orçamento europeu” pelos parlamentos nacionais, mas há o lado positivo da história que é o aparecimento das vacinas. Pode voltar a melhorar o ambiente dos negócios, mas, uma vez mais, só no final do semestre se sentirão as diferenças. Na CV&A acreditamos no futuro. E não somos daqueles que se queixam que a lotaria não os premeia e, muito menos, temos inveja que premeie o nosso vizinho. Fazemos tudo para a ganhar todos os meses. Como alguém diria, o primeiro passo é comprá-la, isto é, trabalhar, muito e bem! Liderar custa. Mas o objectivo é em 2021 fazer melhor que em 2020. E podemos deixar aqui dito que, graças aos seus trabalhadores e à confiança dos Clientes, em 2020 a CV&A cresceu em facturação, em EBITDA e em resultados antes de impostos, face a 2019. E o que esperar de 2021? Será um ano de oportunidades, tanto para novos negócios como para os que melhor saberão renascer das cinzas. Mais do que nunca, ficou provado que preparar os negócios para o longo prazo, em detrimento de pensar apenas no amanhã, pode fazer ganhar a lotaria. Porque a sorte dá muito trabalho. l
18th birthday this year and, like Prémio, is fully aware of the fact that coming of age brings more responsibility with it. Prémio, like the company’s business, is increasingly international. It continues to privilege the good work we have been doing, reporting the activities of CV&A Customers, the opinion of various political circles, renowned journalists and businessmen / managers from different parts of the world. We are days away from the inauguration of Joe Biden as President of the United States of North America and the presidential election in Portugal. And if you think these issues are not enough this magazine has a great deal of additional information for you. The Portuguese Presidency of the European Union and the pandemic that plagues us, the articles focusing on Africa - a continent where CV&A is increasingly established and where we work with the leading institutions and the most relevant companies – on education and science, on Asia and the Middle East, among others, are the main reason behind Prémio magazine’s focus, that is, to convey, as far as possible, the global feeling as to the current and future paths in politics, business and society. The year 2021 is particularly challenging, considering that will be the year when the impact of the pandemic will be most felt. The small and medium-sized economy will continue to survive subsidized, which is to say that little exists on its own. On the other hand, the moratoriums will be extended, and the banking sector shall be faced with more difficulties - hence mergers and acquisitions along with the eventual disappearance of some of the few banks that still have their decision-making centres in Portugal are due to appear on the horizon. The arrival of European money is postponed to the second half due to the need for national parliaments to approve the “European budget”, but there is also a positive side to this story, which is the appearance of vaccines. The business environment may improve, but once again, the differences will only be felt at the end of the semester. At CV&A we believe in the future. And we are not prone to complain when we don’t win the lottery and neither do we feel jealous when our neighbour wins it. We do everything to win it every month. As someone would say, in order to win it you need to buy it, which is to say that in order to earn things we need to work, a lot and well! Leading is never easy. But the goal is to do better in 2021 than in 2020. And we can state here that, thanks to our workers and the trust of our Clients, in 2020 CV&A was able to increase its turnover, EBITDA and earnings before tax, compared to 2019. And what to expect in 2021? It will be a year of opportunities, both for new businesses and for those who will know how to rise from the ashes. Now more than ever, preparing business for the long term, instead of thinking only about tomorrow, may help us win the lottery. Because luck takes a lot of work. l 5
FOTO: TIAGO MIRANDA
OPINIÃO
PEDRO SANTOS GUERREIRO, JORNALISTA JOURNALIST
DEPOIS DA TEMPESTADE VEM A COBRANÇA AFTER THE STORM COMES THE COLLECTION
C
alma, não venho de Nostradamus. Mas só encontro fundamento para a esperança na União Europeia e no ímpeto empresarial. Mais importante que faturar não é lucrar, é desenvolver. Chavões não são chaves, mostram uma porta mas não a abrem. Falar de “esperança” na recuperação económica, de “futuro” nos fundos comunitários ou de “oportunidade” nas ameaças é muito bonito, mas sem apontar caminhos é querer acender velas dentro de água. A pandemia asfixiou uma economia já com dificuldades respiratórias. Podemos recriar o alfabeto da retoma, mas depois do U, V, W vem o X que é preciso superar. Passemos das letras para os números: 140%. Será o peso da dívida pública, mais coisa menos coisa, num PIB que descaiu vários anos para menos de 200 mil milhões de euros de novo no final de 2020. Não é uma barreira psicológica, mas patológica: o nosso crescimento sistematicamente baixo, que será ilusoriamente alto em 2021, pela recuperação parcial sobre o ano seguinte ao 19 que nomeou este Covid. No total, o endividamento da economia é um raios-parta de 740 mil milhões. Credo. Se tudo correr bem, estamos mal. Não é preciso fantasiar novos fins do mundo para percebê-lo. Mesmo sem crises adicionais, mesmo se as taxas de juro se mantiverem estupidamente baixas, se as vacinas engaiolarem o vírus, se o turismo até recuperar, continuaremos na armadilha de uma economia ultra-endividada e de baixo crescimento, sem poupança acumulada nem grande capacidade de investimento, pagando impostos altos e recebendo salários baixos. Em média. Porque a desigualdade aumentou, a pobreza aumentou, e portanto os riscos sociais e políticos aumentaram. E os bancários, à medida que os apoios se desmamem e o fim das moratórias mamem o rendimento em queda. Estas desigualdades não são só dentro do país, mas também entre 6
D
on’t worry, I am not some kind of Nostradamus. But I can only find grounds for hope in the European Union and in the business momentum. More important than billing is not to make a profit, but rather to develop. Buzzwords are not keys, they show us the door but they don’t open it. To speak of “hope” in economic recovery, of “future” in community funds or of “opportunity” in threats is very beautiful but the failure to show the way is like wanting to light candles in water. The pandemic has asphyxiated an economy that was already experiencing breathing difficulties. We can recreate the alphabet of the recovery, but after the U, V, W comes the X that needs to be overcome. Let’s move from letters to numbers: 140%. This will be the weight of public debt, more or less, in a GDP that fell several years to less than €200 billion again at the end of 2020. It is not a psychological barrier, but rather pathological: our systematically low growth, which will be deceptively high in 2021, due to the partial recovery over the year after the 19 that has lend this Covid the full name. In total, the economy’s indebtedness is 740 billion. Christ!! If all goes well, we’re in trouble. We don’t need to fantasize about new ends of the world to understand this. Even without additional crises, even if interest rates remain stupidly low, if vaccines cage the virus, if tourism recovers, we will remain in the trap of an ultra-indebted and low-growth economy, with no accumulated savings or large capacity to invest, paying high taxes and receiving low wages on average. Because inequality has increased, poverty has increased, and social and political risks have increased too. And bank risks, as support wanes and the end of moratoriums suck up the falling income. These inequalities will be felt not only in each particular country, but also between countries. Portugal is a rich poor country when (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)
OPINION
países. Portugal é um rico país pobre, quando comparado com os demais da União Europeia. E isso, que condicionou a resposta na pandemia, condiciona também o ponto para a recuperação: nos países que mais puderam apoiar a sociedade, destruiu-se menos. Bom, mas e então, enforcamos o futuro? Não. Benzemo-nos por pertencer à União Europeia e arregaçamos as mangas da camisa, mas não de um traje de fantasia. A UE reagiu como nunca tinha reagido e foi isso que salvou vários países, incluindo Portugal, da bancarrota. Não foi por súbita inspiração, mas por medo da quebra da Itália “too big to fail”, que os estados-membros abriram espaço para um discurso e ação mais coesos, liderados por Merkel, Macron, von der Leyen e Lagarde. Foi a política monetária do BCE, e o expansionismo orçamental consentido pela Comissão Europeia, que deram amparo aos que de outra forma se teriam estatelado. E, mesmo com todos os reveses, é o fundo de recuperação e o quadro comunitário que nos poderão permitir fugir do limiar da ravina. Já sabemos que o Estado desfilará empreitadas, reforçando o necessário investimento público. Mas os apoios às empresas, a sua velocidade e critérios de aprovação, serão um trampolim ou um plinto. Porque só se cresce investindo e a disputa pelo investimento estrangeiro não basta, como nunca bastou. É daqui, deste dinheiro de Bruxelas, que vem a esperança de uma retoma mais rápida ou mais lenta, o que exige também uma administração pública muito mais ágil do que aquela que conhecemos, que só não entope na Administração Tributária, a única que tem tecnologia em boas condições. O Estado investe no que lhe dá mais retorno a si, isto é, a ele: na cobrança de impostos. Depois há a vida das empresas, que padecem elas próprias também de falta de investimento, causa muitas vezes ignorada da baixa de competitividade. E isso coloca aos seus gerentes e gestores uma necessidade de imaginação, para que se vá além de formas de cortar custos e de renegociar dívidas. Não é tarefa fácil, numa economia que encontra em grande parte nos serviços (incluindo o turismo) o caminho que exige menos investimento e de que resulta menos valor acrescentado, logo lucros e salários menores, logo acumulação de capital e rendimentos mais baixos. Não, não é tarefa nada fácil, num mercado interno tão pequeno, tão desigual e tão tributado, coisa que incentiva querer crescer daqui para fora, isto é, exportar. Mas é no cruzamento entre essa imaginação, uma cultura social de combate à desigualdade e saber recorrer aos fundos comunitários (com destaque para os projetos tecnológicos ou que melhorem pela utilização de tecnologia) que está a porta de saída mais ampla. Depois da tempestade virá a cobrança. A pandemia Covid-19 destruiu a economia, agravou as fragilidades anteriores e deixou contas astronómicas por pagar, que só não são maiores porque a União Europeia acudiu acudindo-se a si própria, mas cujo perímetro está ainda longe de estar fechado, como acabaremos por ir sabendo. É costume dizer-se que o único sítio em Paris de onde não se vê a Torre Eiffel quando se olha em frente é quando se está debaixo dela. É, pois, bom que saibamos onde estamos para sabermos daí sair sem ilusões. E para não confundirmos a nossa aspiração de um futuro com um futuro que nos aspire a nós. l
compared to the rest of the European Union. And that, which conditioned the response during the pandemic, also conditions the arguments for a recovery: in the countries that were most able to support society, the level of destruction was lower. Well, now what, should we hang the future? No. Let us bless ourselves for belonging to the European Union and roll up our shirtsleeves, but not fancy dress shirts. The EU reacted as it had never reacted and that’s what saved several countries, including Portugal, from bankruptcy. It was not out of sudden inspiration, but out of fear of Italy’s “too big to fail” crash that the member states adopted a more cohesive discourse and action, led by Merkel, Macron, von der Leyen and Lagarde. It was the ECB’s monetary policy, and the budgetary expansionism with the European Commission consent that provided support to those who would otherwise have collapsed. And, even with all the setbacks, the recovery fund and the community framework will allow us to escape the edge of the cliff. We know that the State will commission a number of public works, thereby reinforcing the necessary public investment. But company support, its speed and approval criteria will be either a stepping stone or a plinth. Because we only grow by investing and disputing foreign investment is not enough, and never was. Hope lies in the moneys, in the European Union to achieve a quicker or slower recovery. And this requires also a much more agile public administration than the one we know, whereby the only that does not clog is Tax Administration, the only with good technology in place. The State invests in what provides more return, that is, in itself: in tax collection. Then there is the life of companies, which suffer also from a lack of investment, a cause often ignored as the major reason for low competitiveness. And to fight this managing directors and managers need to use their imagination, in order to go beyond the need to cut costs and renegotiate debt. It is not an easy task, in an economy that largely finds in services (including tourism) the path that requires less investment, thus resulting in less added value, therefore in lower profits and wages and so therefore in capital accumulation and lower income. No, it is not an easy task, in such a small domestic market, so unequal and so taxed, that encourages everyone to want to grow outside, that is, to export. But the best way out of this lies at the crossroads between imagination, the social culture of fighting inequality and knowing how to use community funds (with emphasis on technological projects or that improve by the use of technology). After the storm comes the collection. The Covid-19 pandemic destroyed the economy, aggravated previous weaknesses and left astronomical bills outstanding, whose amount is not bigger because the European Union came to the rescue and helped itself, but the perimeter is still far from being closed, as we will find out sooner or later. It is customary to say that the only place in Paris where we can’t see the Eiffel Tower is when we stand under it. We should therefore know where we are in order to be able to get out without illusions. And in order to not mistake aspiring for a future with a future that will suck us in. l 7
OPINIÃO
ROSÁLIA AMORIM, JORNALISTA JOURNALIST
O MELHOR DE NÓS ESTÁ PAR A CHEGAR? IS THE BEST OF US IS YET TO COME?
T
odos os anos fazemos planos e promessas e formulamos desejos e sonhos. Em 2020, ano terrivelmente marcado pela pandemia Covid-19 e pelos seus efeitos brutais na economia e na sociedade, prometemos que seríamos melhores pessoas. Quando assistimos ou participámos de ondas de solidariedade. Quando nos comovemos com as imagens do esforço notável dos profissionais de saúde a tentar salvar cidadãos infetados nos cuidados intensivos dos hospitais, num cenário quase irreal. Quando conhecemos trabalhadores e empresários da cultura, da restauração, do turismo e comércio ou da economia em geral a perder o seu negócio e emprego. Ou quando vamos assistindo, nas ruas e nas estatísticas, ao aumento de novos pobres, sobretudo da chamada pobreza envergonhada. No início da pandemia, ouvimos cânticos à varanda ou à janela por toda a Europa, batemos palmas a médicos, enfermeiros, auxiliares e a todas as pessoas que estão a dar o seu melhor para salvar vidas, nos hospitais ou nos lares de idosos. Auxiliámos familiares, procurámos respostas às perguntas das crianças e às enormes perplexidades dos jovens. Seguimos as orientações públicas que, em Portugal e em vários países, foram sendo transmitidas para prevenir uma segunda vaga. Acreditámos que, depois disto, seríamos melhores cidadãos, mais solidários, menos egoístas. Alguns de nós acreditaram até que tudo ficaria bem. Na primavera, parecia que a solidariedade, a entreajuda, o civismo tinham vencido a pandemia e o egoísmo.
8
E
very year, we make plans and promises and express wishes and dreams. In 2020, a year that terribly marked by the Covid-19 pandemic and its brutal effects on the economy and society, we promised that we would be better persons. We watched or joined waves of solidarity. When were moved by the images of the remarkable efforts of healthcare professionals in their attempt to save infected citizens in intensive care at hospitals, in an almost unreal scenario. We met workers and entrepreneurs in the fields of culture, restaurants, tourism and commerce or the economy in general who are losing their business and jobs. We watched, on the streets and in the statistics, the increase in the number of new poor, especially the so-called ashamed poverty. At the beginning of the pandemic, people sang songs on the balcony or at the window all over Europe, applauded doctors, nurses, nursing assistants and everyone doing their best to save lives in hospitals or in nursing homes. We helped family members, we sought answers to the children’s questions and to the huge perplexities of young people. We followed the public guidelines that in Portugal and in several countries were being disseminated in order to prevent a second wave. We believed that, after this, we would be better citizens, more supportive, less selfish. Some of us believed that everything would be okay. In the spring solidarity, mutual aid and it seemed to have beaten the pandemic and selfishness. But the second wave came, after the summer. And (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)
OPINION
“MUITOS DE NÓS JÁ DUVIDAMOS QUE O C O M P O R TA M E N T O SOCIAL, POR EFEITO DA PA N D E M I A , T E N H A M E L H O R A D O .”
E veio a segunda vaga, após o verão. E eis que, na viragem do ano, já se fala na terceira vaga, fruto, em grande parte do desconfinamento natalício. À beira da terceira vaga, alguns comportamentos mudaram para pior e nem todos perceberam a importância de seguir normas. Mesmo que, por vezes, não concordássemos com o conteúdo e a forma das comunicações dos governantes, da DGS e de vários especialistas sobre as ações de contenção da pandemia, o dever social e comunitário seria o de tudo fazer para reduzir o número de mortes e de pessoas atingidas por um inimigo invisível. Muitos de nós já duvidamos que o comportamento social, por efeito da pandemia, tenha melhorado. No início de 2020, prometemos ser melhores enquanto pessoas que vivem em sociedade e que respeitam o Outro. Em 2021, perante o cenário de uma pandemia que continua (apesar da descoberta e progressiva administração da vacina) e de reconstrução da economia, da sociedade e da cultura, temos a missão comunitária de fortalecer o espírito solidário e otimista para vencer. Mas devemos ter a consciência de que será difícil manter a coesão social e o combate pela meritocracia, sem egoísmos, populismos e demagogias. Devemos agir eticamente por uma sociedade mais justa e democrática - mas não cega, nem complacente. Os desafios do ano 2021 e da terceira década do século XXI, que agora começa, são demasiado importantes. Optemos por construir em vez de destruir. Optemos por fazer criar ou fazer renascer projetos e marcas, como é o caso do Diário de Notícias, o mais antigo jornal nacional de âmbito nacional que tem já 156 anos e que a 29 de dezembro regressou às bancas todos os dias, renovado, reforçado e com uma missão simples e clara: informar com verdade, independência e rigor. Também a revista Prémio está de parabéns pelos seus 18 anos. Atingiu a maioridade e soube resistir às crises dos órgãos de comunicação e às crises económicas durante estas quase duas décadas. Longa vida à Prémio! l
behold, at the turn of the year, we were already talking about the third wave thanks, to a large extent, to the Christmas lockdown easing. On the verge of the third wave, some behaviours changed for the worse and not everybody realized the importance of following the rules. Even if, at times, we didn’t agree with the content and form of communications from government officials, the General Health Directorate and many experts on the actions needed to contain the pandemic, our social and community duty should be to do everything to reduce the number of fatalities and of people hit by an invisible enemy. Many of us now doubt that social behaviour, as a result of the pandemic, has improved. In early 2020, we promised to be better while living in society and to respect our fellow citizens. In 2021, in the face of a pandemic scenario that is still there (despite the discovery and progressive administration of the vaccine) and of the revival of the economy, society and culture, we have the community mission to strengthen the spirit of solidarity and optimism in order to win. But we should bear in mind that it will be difficult to maintain social cohesion and the fight for meritocracy with selfishness, populism and demagogies. We must act ethically for a more just and democratic society - but not a blind nor complacent society. The challenges of the year 2021 and the third decade of the 21st century, which has just began, are too important. Let us choose to build rather than to destroy. Let us choose to create or revive projects and brands, as is the case of Diário de Notícias, the oldest national newspaper of national scope already 156 years old and which returned on December 29th to the newsstands, every day, renovated, stronger and with a simple and clear mission: to inform with truth, independence and rigor. I would also like to congratulate Prémio magazine on its 18th anniversary. It’s coming of age now and was able to resist the crises of the media and economic crises for almost two decades. Long live Prémio magazine! l
“MANY OF US NOW D O U B T T H AT S O C I A L B E H AV I O U R , A S A R E S U LT O F T H E PA N D E M I C , HAS IMPROVED. ”
9
SAÚDE
E N T R E V I S TA
“SEM O ESFORÇO DOS PRIVADOS, O ESTADO PORTUGUÊS NÃO TERIA CONSEGUIDO FAZER FRENTE À PA N D E M I A” “ W I T H O U T T H E P R I V A T E E F F O R T, T H E P O R T U G U E S E S TAT E W O U L D N O T H AV E B E E N A B L E TO FAC E T H E PA N D E M I C ”
JOSÉ GERMANO DE SOUSA, PRESIDENTE DO CENTRO DE MEDICINA L ABOR ATORIAL
10
FOTOS: FERNANDO PIÇARRA
GERMANO DE SOUSA
INTERVIEW
H E A LT H
SOFIA ARNAUD
E M E N T R E V I S TA À P R É M I O , J O S É G E R M A N O D E S O U S A , PAT O L O G I S TA C L Í N I C O E P R E S I D E N T E D O C E N T R O D E M E D I C I N A L A B O R AT O R I A L G E R M A N O D E S O U S A , FA L O U - N O S D O S E U P E R C U R S O E N Q U A N T O M É D I C O , PA S S A N D O P E L O C A R G O D E B A S T O N Á R I O E D O C R E S C I M E N T O D A S U A R E D E D E L A B O R AT Ó R I O S , Q U E S E P O S I C I O N A M E M T E R M O S D E A N Á L I S E S N A Á R E A D A PAT O L O G I A C L Í N I C A C O M O O P R I N C I PA L ‘ P L AY E R ’ N A C I O N A L D O S E C T O R , S E N D O A C T U A L M E N T E R E S P O N S ÁV E I S P O R C E R C A D E 1 5 A 1 6 % D O S T E S T E S C O V I D QUE SE REALIZAM EM PORTUGAL. D E F E N D E Q U E O E S TA D O S Ó T E M A G A N H A R S E T R A B A L H A R C O M O P R I VA D O N O O B J E C T I V O C O M U M D E M E L H O R A R A A S S I S T Ê N C I A À P O P U L A Ç Ã O E S E N T E - S E O R G U L H O S O P O R E S TA R A A J U D A R O S P O R T U G U E S E S N E S TA L U TA C O N T R A A PA N D E M I A . I N A N I N T E R V I E W W I T H P R É M I O , G E R M A N O D E S O U S A , C L I N I C A L PAT H O L O G I S T A N D P R E S I D E N T O F T H E J O S É G E R M A N O D E S O U S A L A B O R AT O R Y M E D I C I N E C E N T R E , S P O K E A B O U T H I S C A R E E R A S A D O C T O R , H I S F O R M E R P O S I T I O N A S P R E S I D E N T O F T H E P O R T U G U E S E D O C T O R S A S S O C I AT I O N A N D T H E G R O W T H O F H I S N E T W O R K O F L A B O R AT O R I E S , O P E R AT I N G I N T H E F I E L D O F C L I N I C A L PAT H O L O G Y L A B O R AT O R Y T R I A L S A N D T H E M A I N N AT I O N A L P L AY E R I N T H I S S E C T O R , C U R R E N T L Y P E R F O R M I N G 1 5 T O 1 6 % O F COVID TESTS IN PORTUGAL. H E A R G U E S T H AT T H E S TAT E C A N N O T D O W I T H O U T T H E P R I VAT E S E C T O R A S R E G A R D S T H E C O M M O N O B J E C T I V E O F I M P R O V I N G H E A LT H C A R E T O T H E P O P U L AT I O N A N D S AY S H E I S P R O U D T O H E L P T H E P O R T U G U E S E I N T H E I R F I G H T A G A I N S T T H E PA N D E M I C .
É natural da ilha de São Miguel, nos Açores. Entre a infância no arquipélago, os tempos de estudante em Coimbra, os desafios de ser médico durante a guerra em Angola e a ocupação de cargos de relevo na sociedade, como o de Bastonário da Ordem dos Médicos entre 1999 e 2004, quais os momentos mais marcantes da sua vida? Tenho muitos momentos marcantes na minha vida. O tempo enquanto estudante em Coimbra, que recordo com muita saudade, onde cresci enquanto Homem, aprendi a ser solidário, irreverente, a dar mais importância às pessoas do que aos galões e que a liberdade vale mais que tudo. Fui dirigente académico e por isso impedido pela PIDE de fazer estágios nos hospitais de Coimbra e de ser assistente na Universidade. Depois fui para a guerra, outro momento marcante. Enquanto médico, fui trabalhar num hospital de frente militar numa pequena cidade chamada Luso, hoje Luena. Foram tempos muito complicados, a trabalhar dia e noite em situações muito difíceis. Ao mesmo tempo foi uma grande escola de medicina, eramos onze médicos no total e fazíamos de tudo. No entanto tenho também muito boas recordações dessa época. Foi em Angola que nasceu a minha filha, Maria José, e fui eu o parteiro. Um dia que ficará para sempre na minha memória. Outros tempos marcantes se seguiram, quando regressei para Lisboa iniciei a minha carreira médica nos Hospitais Civis de Lisboa, que eram a grande escola de medicina do país. Nessa altura nasceu o meu filho José, outro dos dias mais marcantes e felizes da minha vida.
You were born in island of São Miguel, in the Azores. From your childhood days in the Azores archipelago, your student days in Coimbra, the challenges of being a doctor during the war in Angola to taking important positions in society, such as President of Portuguese Doctors Association between 1999 and 2004, what are the most important moments of your life? I have many memorable moments in my life. In particular the time as a student in Coimbra, which I long for, where I grew up as a Man and learned to be supportive, daring and to give more importance to people than to medals and where I learned also that freedom is worth more than anything. I was an academic leader and I was prevented by PIDE (the State Police during fascist rule) from doing internships in the hospitals of Coimbra and from being an assistant lecturer at the University. Then I went to war, another striking period in my life. As a doctor, I started working at a hospital in the military front in a small town called Luso, later renamed Luena. These were very complicated times and I was working day and night under very difficult situations. But it was at the same time a great medical school. We were eleven doctors in total and we took care of everything. However, I also have very good recollections of that time. My daughter Maria José was born in Angola I was the obstetrician. A day that will be forever in my mind. Other important times followed, when I returned to Lisbon and I started my medical career at the Lisbon Civil Hospitals, which were by then the big medical school in the country. My son José was born in this period, one of the most remarkable and happy days of my life too. 11
SAÚDE
E N T R E V I S TA
O ser Bastonário da Ordem dos Médicos foi também muito importante, toda a actividade desenvolvida não só como médico, mas também como dirigente dos médicos. A minha acção como Bastonário foi muito importante para dignidade da medicina.
Being President of the Portuguese Doctors Association was also very important, given all the work carried out not only as a doctor, but also as a leader of doctors. My role as President of this association was very important for the dignity of medicine.
No sector da medicina laboratorial, o Grupo Germano de Sousa é tido como uma estrutura de experiência, rigor e profissionalismo. Como chegou até aqui? A minha carreira foi feita nos hospitais civis, mas como todos os médicos era muito mal pago. Depois fui convidado para Professor Associado da Faculdade de Ciências Médicas. Quando terminei a especialidade em patologia clínica comecei a trabalhar num laboratório com um colega. Mais tarde saí deste laboratório e avancei para outro com mais dois colegas. Um dia dei por mim sozinho, com os meus dois filhos, a Maria José, já com a especialidade concluída, e o José, no último ano, e resolvemos avançar os três. E assim fomos crescendo sempre na base da qualidade. Em 2003, na altura Bastonário da Ordem dos Médicos, fui “assediado” por uns grupos estrangeiros para vender o laboratório. Nesta altura estes grupos compraram grande parte do sector da medicina em Portugal. Chamei os meus dois filhos e perguntei-lhes se estavam interessados em vender ou se fazíamos frente a estes grandes grupos. Obviamente que a decisão foi avançarmos, apertámos o cinto e caminhámos em frente. Separei-me do meu sócio e adquirimos os três um outro laboratório. Apostando sempre na qualidade, os meus colegas começaram a reconhecer que o nosso laboratório era um laboratório médico por excelência. Que tinha o doente como sua primeira preocupação e que para além de fazer exames laboratoriais com o maior rigor e qualidade
Germano de Sousa Group is seen in the laboratory medicine field as a structure of experience, rigor and professionalism. How did you get here? I made my career at the civil hospitals, but like all doctors I was underpaid. Then I was invited to become Associate Lecturer at the Faculty of Medical Sciences. When I completed my specialty in clinical pathology I started working in a laboratory with a colleague. Later I left this laboratory and moved to another lab with two colleagues. One day I spoke with my two children, Maria José, who had already completed her specialty, and José, who was in the last year of his university studies and we decided to move together. And we were able to grow always based on quality. In 2003, when I was President of the Portuguese Doctor’s Association, I was “harassed” by foreign groups to sell the laboratory. These groups were buying large chunks of the medical sector in Portugal at the time. I called my two children and asked them if we should sell or if we should stand up to these large groups. The decision was obviously to move forward, we fastened our seat belts and moved on. Me and my partner parted ways and the three of us bought another laboratory. Always betting on quality, my colleagues realised that our laboratory was indeed a rightful medical laboratory. Whose main concern was
P E R F I L Germano de Sousa nasceu em 1943, nos Açores, na Vila do Nordeste da Ilha de S. Miguel, é casado e tem dois filhos. Estudou em Coimbra, onde se formou em medicina, foi médico na guerra de África e enfrentou vários desafios e cargos importantes na sociedade portuguesa, como o de Bastonário da Ordem dos Médicos entre 1999 e 2005. Actualmente é presidente e director clínico do Centro de Medicina Laboratorial José Germano de Sousa, com uma rede de laboratórios privados com uma cobertura de todo o território nacional e Açores e que está na linha da frente na realização de testes de diagnóstico e serológicos para a Covid-19. O médico patologista é ainda Conselheiro do Conselho Nacional de Ética das Ciências da Vida, preside à Sociedade Portuguesa de Química Clínica e é sócio da New York Academy of Sciences. Foi professor associado da Faculdade de Ciências Médicas durante 20 anos, fundou e regeu o Curso de Mestrado em Patologia Química. Nos Hospitais Civis foi director dos Serviços de Patologia Clínica dos Hospitais do Desterro e dos Capuchos e Amadora Sintra. Presidiu à Sociedade Portuguesa de Patologia Clínica, à Sociedade Portuguesa de Osteoporose e Doenças Metabólicas e à Associação Nacional de Laboratórios Clínicos. É um bom contador de histórias, editou um disco de fados de Coimbra, nos tempos de estudante, escreveu um livro sobre a História da Medicina Portuguesa durante a expansão e é um dos dinamizadores do Museu da Medicina em Lisboa.
12
INTERVIEW estava, através dos nossos médicos, constantemente ao dispor dos colegas de outras especialidades, como consultores. Tudo isto permitiu que crescêssemos e nos começássemos a expandir. O espaço foi ficando pequeno e há sete anos mudámos para Telheiras, onde era o Centro Português de Design, renovámos o espaço, apetrechámo-lo com a mais recente tecnologia, fizemos um pequeno museu na entrada e, neste momento, já nos estamos a expandir para o edifício ao lado. Neste momento, em termos de análises na área da patologia clínica devemos ser o principal ‘player’ nacional do sector, com uma média diária de 7200 doentes por dia a nível nacional, antes do Covid, com uma média de nove análises cada um. Neste momento por quantos laboratórios é constituída esta rede? Temos dois laboratórios centrais, um em Lisboa e outro no Porto. Estes laboratórios centrais para além da patologia clínica, têm também um laboratório de genética e de patologia molecular, que foi uma aposta que fizemos há cinco anos e que se dedica ao estudo de alterações genéticas e ao estudo de genética e genómica do cancro. Fomos pioneiros em muitos destes diagnósticos, conseguimos identificar os marcadores que nos permitem aconselhar uma melhor terapêutica e mais eficaz. Para além destes dois laboratórios centrais, temos mais 12 laboratórios e cerca de 500 pontos de colheita de produtos biológicos espalhados pelo país. Actualmente cobrimos todas as áreas possíveis da medicina laboratorial, patologia clínica com as suas vertentes de hemato-oncologia, hematologia, patologia química, endocrinologia até à microbiologia em todos os seus aspectos, incluindo virologia, onde estamos a fazer mais de
H E A LT H
the patient and that in addition to doing laboratory trials with the utmost rigor and quality it was, through our doctors, always there all the time for our colleagues from other specialties, acting as consultants. All of this allowed us to grow and to start expanding. The space became small and seven years ago we moved to the Lisbon Telheiras neighbourhood, to the place where the Portuguese Design Centre once was, we renovated the space, equipped it with the latest technology, made a small museum at the hall and, at the moment, we are already expanding to the building next door. Right now, in terms of laboratory trials in the field of clinical pathology, I believe we are the main national player in the sector, with a daily average of 7200 patients at national level, before Covid and an average of nine laboratory trials each. How many laboratories are there currently in this network? We have two central laboratories, one in Lisbon and another in Oporto. These central laboratories, in addition to clinical pathology, also have a genetic and molecular pathology laboratory, a bet we made five years ago and focused on the study of genetic changes and the research of genetics and genomics of cancer. We were pioneers in many of these diagnoses, we were able to identify the markers that allow us to suggest a better and more effective therapy. In addition to these two central laboratories, we have 12 more laboratories and around 500 biological sample collection points spread across the country.
P R O F I L E Germano de Sousa was born in 1943, in the Azores, in Vila do Nordeste on the island of S. Miguel. He is married and has two children. He studied in Coimbra, where he graduated in medicine, he was a doctor in the war in Africa and faced several important challenges and took leading positions in Portuguese society, such as President of the Portuguese Doctor’s Association between 1999 and 2005. He is currently president and clinical director of the José Germano de Sousa Laboratory Medicine Centre with a network of private laboratories covering the entire national territory and the Azores and at the forefront carrying out diagnostic and serological tests for Covid -19. This pathologist is also an Advisor to the National Council of Ethics in Life Sciences, presides over the Portuguese Society of Clinical Chemistry and is a member of the New York Academy of Sciences. He was an associate professor at the Faculty of Medical Sciences for 20 years, founded and directed the Master Course in Chemical Pathology. In the Civil Hospitals he was director of the Clinical Pathology Services of the Hospitals of Desterro and Capuchos and Amadora Sintra. He chaired the Portuguese Society of Clinical Pathology, the Portuguese Society of Osteoporosis and Metabolic Diseases and the National Association of Clinical Laboratories. He is a good storyteller, released a Coimbra fado record and when he was a student he wrote a book on the History of Portuguese Medicine during the Portuguese expansion period and he is one of the promoters of the Museum of Medicine in Lisbon.
13
SAÚDE
E N T R E V I S TA
“O SNS FOI UMA DAS EXCELENTES OBR AS DA DEMOCR ACIA, MAS É P R E C I S O S E R J U S T O PA R A Q U E M O A J U D O U A C O N S T R U I R .”
“ T H E N H S WA S C L E A R LY O N E OF THE EXCELLENT WORKS OF D E M O C R A C Y, B U T I T M U S T B E FA I R TO T H O S E W H O H E L P E D B U I L D I N G I T.” 7000 testes Covid por dia em todo o país. Trabalhamos 24 horas por dia, não existem fins de semana ou feriados, tem sido um esforço desmedido. É preciso notar que sem o nosso esforço e o esforço dos privados convencionados, o Estado português não teria conseguido fazer frente à pandemia. Até porque como dizia o director geral da Organização Mundial da Saúde era preciso testar, testar e testar e só testando era possível rastrear e identificar os focos, sem isso não era possível controlar minimamente e, nesse sentido, temos sido fundamentais. Só o nosso Grupo representa cerca de 15 a 16% de todos os testes Covid que se fazem em Portugal. Há cerca de três anos abriu um centro nos Açores. O que esteve na origem desta decisão, ligações às suas raízes? Sim, em Ponta Delgada. Ligações às origens, obviamente, e também porque era uma zona que estava mal servida e precisava do nosso apoio. Já tínhamos uma excelente relação com um laboratório local, esse laboratório quis passar a pertencer ao nosso Grupo e actualmente conseguimos fornecer todos os cuidados que habitualmente seriam mais difíceis nos Açores. Como justifica os Laboratórios Germano de Sousa serem responsáveis por grande parte dos testes para a Covid-19 a nível nacional e com uma procura que não para de aumentar? Quer queiramos quer não, a segunda vaga chegou e receio estarmos frente ao começo de uma terceira. Isto tudo representa um esforço muito grande e a nossa inserção neste processo é fundamental. Alguns políticos não gostam de o admitir, mas a nossa colaboração não só neste problema do Covid, mas também no “abrir portas” para receber doentes vindos das mais variadas origens, através de convenções, desde o Serviço Nacional de Saúde (SNS), do sector privado, da ADSE, da PSP e de várias seguradoras, permitem que não haja uma rotura nos cuidados de saúde que se se prestem diariamente em Portugal Não só a nossa acção mas também a de outros laboratórios que tal como nós estão convencionados, isto é, que tem um acordo com o MS para receber todos os doentes do 14
We currently cover all possible areas of laboratory medicine, clinical pathology in the fields of haemato-oncology, haematology, chemical pathology, endocrinology and microbiology in all its aspects, including virology, where we are doing more than 7000 Covid tests per day all over the country. We work 24 hours a day, there are no weekends or holidays. It has been an overwhelming effort. It is worth mentioning that without our efforts and the efforts of the private companies, the Portuguese State would not have been able to face the pandemic. Especially because, as the director general of the World Health Organization said, it was necessary to test, test and test and only by testing was it possible to track and identify the outbreaks, without this it would be impossible to control it and, in this respect, we have been playing a fundamental role. Our Group alone represents about 15 to 16% of all Covid tests carried out in Portugal. About three years ago, you opened a centre in the Azores. What has led you to make this decision? Links to your roots? Yes, in Ponta Delgada. Links to the origins, obviously, and also because it was a region with little resources in this this field and needed our support. We already had an excellent relationship with a local laboratory and that laboratory wanted to become part of our Group and we are currently able to provide all the care that under normal circumstances would be more difficult in the Azores. How do you explain the fact that Germano de Sousa Laboratories are in charge of performing most of Covid-19 tests at national level and with ever greater demand? Whether we like it or not, the second wave has arrived and I’m afraid we are facing the beginning of a third. This represents a great effort and our participation in this process is fundamental. Some politicians don’t like to acknowledge it, but our collaboration has been crucial not only in this Covid problem, but also when it comes to “open doors” and to receive patients from the different provenances, through conventions, from the National Health Service (SNS), from private sector, ADSE, Police Forces and several insurers and has been paramount to prevent setbacks as to the healthcare provided daily in
INTERVIEW SNS por preços justos Relembro que foi este conceito de convenção que permitiu em 1978/79, na altura em que é aprovado o SNS, dar aos portugueses aquilo que eles não tinham. A tal saúde “tendencialmente gratuita” só foi possível porque nós, homens de laboratório, da radiologia, da cardiologia, da gastroenterologia, de todas as especialidades com consultórios privados, nos dispusemos, por nossa iniciativa, junto do Governo para que o SNS fosse uma realidade não apenas no papel. O SNS só conseguiu implementar-se porque nós médicos, através da Ordem dos Médicos, assinamos uma convenção com o Estado onde nos comprometemos a prestar serviços de saúde a preços “socialmente justos”, que nada tinham a ver com os preços praticados nos privados. Como é evidente, o SNS foi uma das excelentes obras da Democracia, mas é preciso ser justo para quem o ajudou a construir. Actualmente, o nosso Grupo de Laboratórios e outros convencionados recebemos 22 mil pessoas diariamente vindas dos centros de saúde. É uma veleidade extrema dizerem que nos podem dispensar e, saindo um bocadinho da minha área, gostava de lembrar que o SNS existe porque existem privados e também porque existem Misericórdias. Em Portugal 45% das pessoas estão cobertas por outro sistema de saúde, para além do direito ao SNS. Se estes sistemas deixassem de existir, o SNS não teria capacidade para tanta gente. Nós existimos porque precisam muito de nós! Somos extremamente úteis, e se não fossemos nós o Estado falhava. Neste sentido fico muito contente por poder ajudar o povo português.
H E A LT H
Portugal, thanks to our contribution and that of other laboratories that have signed also agreements with the Health Ministry to cater for all NHS patients at fair prices I recall that it was this concept of convention that allowed in 1978/79, when the NHS was approved, to give the Portuguese what they didn’t have. Such healthcare that “tending to become increasingly free” was only possible because we, laboratory, radiology, cardiology and gastroenterology people from all specialties and with private doctor’s offices stated our availability to work with the Government so that the NHS could become a reality and not just something that exists only on paper. The NHS only succeeded in implementing itself because we, the doctors, through the Doctor’s Association, signed a convention with the State whereby we committed to provide healthcare services at “socially fair” prices, far from the prices charged in the private sector. The NHS was clearly one of the excellent works of Democracy, but it must be fair to those who helped building it. Currently, our Group of Laboratories and others with agreements reach 22 thousand people daily from local healthcare centres. It would be unfair to say that they can do without privates and, focusing on a different area, I would like to recall that the NHS exists because there are private entities and Charities. In Portugal 45% of people are covered by another health system, in addition to the right to receive NHS care. If these systems ceased to exist, the NHS would not have the capacity for so many people. We exist because they need us so much! We are extremely useful, and without us the State would fail. From this perspective, I am very happy to be able to help the Portuguese.
Quer explicar-nos que tipo de testes existem neste momento para a Covid-19 e em que circunstâncias cada um deve ser usado? O primeiro teste diagnóstico que recomenda a DGS nas suas normas é o teste molecular (RT-PCR). Na falta deste, e apenas se existirem sintomas, pode utilizar-se o chamado teste rápido de antigénio. Este teste só tem efectividade se for realizado nos primeiros 5 ou 6 dias de sintomas. Estes testes não funcionam em casos pré-sintomáticos ou assintomáticos, podendo resultar em falsos negativos.
Could you tell us what kind of tests are currently available for Covid-19 and under what circumstances should each particular test be performed? The first diagnosis test recommended by the General Health Directorate (GHD) and its standards is the molecular test (RT-PCR). In the absence of this, and only if there are symptoms, the so-called rapid antigen test should then be performed. This test is only effective if performed in the first 5 or 6 days of symptoms. These tests don’t work in pre-symptomatic or asymptomatic cases, and may lead to false negatives.
As medidas do Governo e da Direcção Geral de Saúde (DGS) têm feito sentido ao longo da pandemia? De uma maneira geral sim. Estamos perante uma situação nova, complexa e que surgiu de um momento para o outro. O que aconteceu com Portugal, também se verificou em outros países europeus, as medidas iam sendo tomadas à medida que a DGS recomendava, com alguns recuos e avanços pelo caminho. Houve alguns erros, tomaram-se medidas tardias, mas é fácil censurar à ‘posteriori’. Na minha opinião, quando terminou a primeira vaga deveria ter havido uma acção mais atenta e de monotorização por parte das autoridades a algumas zonas problemáticas, bairros mais pobres onde estavam pessoas infectadas que não deixaram de ir trabalhar ou não cumpriam as regras de segurança básicas. Note-se que logo a seguir começaram a surgir surtos na construção civil, por exemplo. No Natal deveriam também ter existido também regras mais restritas, para evitarmos uma terceira vaga em Janeiro ou Fevereiro.
The measures adopted by the Government and the General Health Directorate (GHD) made any sense throughout the pandemic? In general terms yes. We are faced with a new, complex situation that emerged overnight. What happened in Portugal also happened in other European countries, the measures were taken recommended by the GHD, with some setbacks and advances along the way. There were some errors and some measures took too long to be adopted, but it is easy to put the blame after. In my opinion, when the first wave started, there should have been a more careful and monitoring action by the authorities in some problem areas, poorer neighbourhoods where infected people live as where some of these people could not stop going to work or did not comply with basic safety rules. It is worth remembering that right after that outbreaks started appearing in civil construction, for example. At Christmas there should also have been stricter rules, to avoid a third wave in January or February.
15
SAÚDE
E N T R E V I S TA
“O N O S S O P R I N C I PA L AC T I V O S ÃO A S PESSOAS E A SUA ESPECIALIZAÇÃO” Maria José Rego de Sousa e José Germano de Sousa são os dois filhos, ambos médicos na área de patologia clínica, que acompanham Germano de Sousa na gestão diária dos seus laboratórios. O facto de ter assistido de perto ao percurso do pai enquanto médico e à sua dedicação à profissão ao longo da vida não influenciou a decisão de Maria José Rego de Sousa, que sempre teve a certeza de que a sua intuição de seguir medicina foi pura vocação, “de tal forma que sabia que não queria seguir clínica geral ou medicina interna, eu sabia que tinha que estar atrás de um microscópio”, explica. “Uma vez feito o curso e querendo estar atrás de um microscópio tinha duas hipóteses, ou seguia patologia clínica ou Anatomia Patológica. Neste caso, claro que pesou o facto do meu pai ser um patologista clínico eminente”, confessa. Já José Germano de Sousa é de opinião que o facto de acompanharem o percurso do pai desde pequenos e irem brincar para o laboratório possa inconscientemente ter funcionado. “É uma passagem de testemunho interessante”, refere. Acrescentando que: “Existe um trajecto interessante que as pessoas não têm muito a percepção. Quando começámos a trabalhar os três no ano 2000, o laboratório recebia por dia 700 doentes, em 2019 recebemos dáriamente 7200. No entanto, ambos não escondem o orgulho que têm no pai e nos valores e educação que lhes transmitiu, defendendo que todo o Grupo Germano de Sousa é sustentado nos pilares, valores e ética que lhes foram transmitidos, dos quais nunca abriram mão. O Grupo Germano de Sousa tem tido, ao longo de duas décadas, um crescimento orgânico, tendo feito apenas aquisições estratégicas para expansão nacional, representando estas apenas 5 a 10% da sua operação. Neste momento o Centro de Medicina Laboratorial Germano de Sousa já tem todas as valências possíveis integradas, logo a tendência para o futuro será a consolidação e a especialização de algumas áreas onde querem estar na linha da frente.
Muitas pessoas não estão a cumprir algumas regras básicas para evitar a propagação do vírus, principalmente as camadas mais jovens. O Bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, defende que deve existir “uma comunicação simples, curta, clara e sempre verdadeira”. Acha que a comunicação deve ser mais assertiva? Acho que se começou a pensar na comunicação tarde. Agora começa a ser diferente, mas só agora se percebeu que era preciso comunicar de outra maneira e para diferentes públicos. Um rapaz de 25 anos não ouve diariamente as conferências de imprensa da DGS. Funcionava melhor se utilizassem ‘youtubers’ que estão em voga ou mesmo o Ronaldo ou o Ricardo Araújo Pereira a passar a mensagem. Do lado da comunicação social houve também um pânico desnecessário. Acho que foi exagerado, as pessoas já não queriam ver as notícias e viviam numa ansiedade permanente. 16
“O nosso principal activo são as pessoas e a sua especialização. Essa é a nossa grande diferenciação”, afirma José Germano de Sousa. Maria José Rego de Sousa relembra que o Grupo Germano de Sousa tem sido também um polo de ensino. Em parceria com a Universidade NOVA de Lisboa – NOVA Medicak School, com a Universidade Católica Portuguesa e a Universidade de Maastricht, o Grupo lecciona em cursos de Pós-Graduação e Mestrado Integrado. “O nosso laboratório é o primeiro laboratório privado a ter internato de patologia clínica. Lutámos bastante para ter idoneidade formativa e, neste momento, temos um interno a fazer especialidade”, refere. Quando questionados sobre este último ano, os dois patologistas clínicos dizem ter sido o mais difícil das suas carreiras: “Desde o início da pandemia fizemos mais de 800 mil testes em Portugal e, simultaneamente, tivemos que fazer uma gestão de recursos humanos muito complicada”. No que diz respeito ao plano de vacinação, os filhos de Germano de Sousa, estão expectantes relativamente à forma de como vai acontecer, não reconhecendo existir logística no SNS para distribuir a vacina pelos vários centros de saúde nacionais, nas melhores condições. “Deveríamos ter seguido o modelo alemão e concentrar os profissionais de saúde e as pessoas em grandes espaços”. Para os próximos anos, os filhos de Germano de Sousa esperam ver o grupo crescer, tal como tem acontecido nos últimos 20 anos, traçando caminhos estratégicos de diferenciação todos os dias, tentando sempre antecipar.
Many people are not following some basic rules to prevent the spread of the virus, especially the younger strata. The current President of the Portuguese Doctors Association, Miguel Guimarães, argues that there must be “a simple, short, clear and always true communication”. Do you think communication should have been more assertive? I think we started thinking about communication later in the process. Things are different now as we realised that we need to communicate differently and to different audiences. A 25-year-old boy does not listen to GHD press conferences daily. It would work better if they used Youtubers that are in vogue or even Ronaldo or the comedian Ricardo Araújo Pereira to get the message across. On the media side there was also an unnecessary panic. I think it was exaggerated, people no longer wanted to see the news and lived in permanent anxiety.
INTERVIEW
H E A LT H
“O U R MA IN A SSET IS PEOPLE AND THEIR E XPERTISE ” Maria José Rego de Sousa and José Germano de Sousa are his two children, both doctors in the field of clinical pathology and work together with Germano de Sousa in the daily management of their laboratories. The fact that she followed closely his father’s career as a doctor and her dedication to the profession throughout her life did not influence Maria José Rego de Sousa’s decision, who was always sure that her intuition to follow medicine was pure vocation, “In such a way that I knew I didn’t want to follow general practice or internal medicine, I knew I had to be behind a microscope”, she explains. “When I completed my course, and as I wanted to be behind a microscope, I had two options: to follow clinical pathology or Pathological Anatomy. And the fact that my father was an eminent clinical pathologist played a heavy role”, she confesses. As for José Germano de Sousa, on the other hand, he believes that the fact that they followed their father’s professional journey from a young age and used to play in the laboratory may unconsciously have played a major role. “It’s an interesting testimony,” he says. Adding that: “There is an interesting path that people don’t really know. When the three of us started working in 2000, the laboratory received 700 patients per day, in 2019 we received 7200 daily. However, both like to state their pride in their father and in the values and education that he passed on to them, arguing that the entire Germano de Sousa Group is sustained by the pillars, values and ethics that were passed on to them and that’s something they will always abide by. The Germano de Sousa Group has witnessed, over two decades, an organic growth and only made strategic acquisitions to expand nationwide, representing only 5 to 10% of its operations.
Numa carta aberta, publicada no jornal Público, direcionada à ministra da Saúde, Marta Temido, e respetivas autoridades, os médicos sublinham que o SNS “sozinho não poderá ajudar todos os doentes” e que vai entrar em “disrupção” se nada for feito rapidamente. Na sua opinião, considera que os privados deveriam ter mais intervenção no combate à pandemia? Há cerca de três ou quatro meses os Bastonários da Ordem Médicos, com o Dr. Miguel Guimarães à cabeça, escreveram uma carta à Senhora Ministra da Saúde recomendando que rapidamente permitisse que o sector privado e o sector social fossem também contratados, a preços “socialmente justos”, para fazer parte de toda a rede de apoio à luta contra a pandemia Covid-19. Esta carta foi altamente criticada e a Senhora Ministra pronunciou-se dizendo que o SNS não servia para dar apoio à iniciativa privada. Neste momento a realidade é outra e o SNS foi obrigado a recorrer às Misericórdias e aos privados, como o Grupo José de Mello e outros.
At the moment, the Germano de Sousa Laboratory Medicine Centre already has all the possible capacities duly integrated and future trend will be the consolidation and specialization of some areas where they want to be at the forefront. “Our main asset are people and their specialisation. This is our major differentiation”, says José Germano de Sousa. Maria José Rego de Sousa recalls that the Germano de Sousa Group has also been a teaching pole. In partnership with the NOVA University of Lisbon - NOVA Medical School, the Catholic University of Portugal and the University of Maastricht, the Group teaches Postgraduate and Integrated Master courses. “Our laboratory is the first private laboratory to have a clinical pathology internship. We struggled a lot to have professional conduct and, at the moment, we have an intern doing specialty”, she says. When asked about this past year, the two clinical pathologists say it was the most difficult of their careers: “Since the beginning of the pandemic, we have done more than 800,000 tests in Portugal and, at the same time, we had to do a very complicated human resources management”. With regard to the vaccination plan, the children of Germano de Sousa are watchful as to how things will unfold and they believe that there not enough logistics capacity in the NHS to distribute the vaccine to the various national health centres, under the best conditions. “We should have followed the German model and concentrated healthcare professionals and people in large structures and spaces”. As regards the coming years, the children of Germano de Sousa hope the group will keep growing like in the last 20 years, designing strategic differentiation paths every day, trying to anticipate things all the time.
In an open letter, published in Público newspaper, addressed to the Minister of Health, Marta Temido, and to the relevant authorities, doctors stress that the NHS “alone cannot help all patients” and that it will go into “disruption” if nothing is done quickly. In your opinion, do you think that privates should have more intervention in fighting the pandemic? About three or four months ago the Members of the Doctors Association, headed by Dr. Miguel Guimarães, wrote a letter to the Minister of Health recommending her to quickly allow the private sector and the social sector to be hired, at “socially fair” prices, in order to become part of the entire support network to fight the Covid-19 pandemic . This letter was highly criticized and the Minister said that the NHS was not there to support private initiative. At this moment, the reality is different and the NHS was forced to resort to Charities and privates, such as the José de Mello Group and others. 17
SAÚDE
E N T R E V I S TA
Desde o início houve sempre da parte dos privados e das Misericórdias toda a boa vontade para participar nesta luta, mas quem mandava era o ministério da Saúde.
From the beginning, there was always the willingness of the private sector and the Charities to participate in this struggle with the Ministry of Health at the helm.
A tão desejada vacina contra Covid-19 já chegou a Portugal. Concorda com plano de vacinação delineado? O plano delineado parece-me bem. Apenas incluiria na primeira fase, para além das pessoas com mais de 50 anos com patologias associadas, residentes e profissionais em lares e unidades de cuidados continuados, profissionais de saúde, profissionais das forças armadas, forças de segurança e serviços críticos, também todas as pessoas com mais de 65 anos. A informação ainda é um pouco confusa.
The much-desired vaccine against Covid-19 has already arrived in Portugal. Do you agree with the vaccination plan outlined? The plan outlined seems ok for me. I would include however in the first phase, in addition to people over the age of 50 with associated pathologies, residents and professionals in homes and long-term care units, health professionals, armed forces, security forces and critical services professionals and also people over 65 years of age. Information is still a bit confusing.
A vacina é gratuita, facultativa e administrada no SNS. Muitos portugueses estão com receio de a tomar e muito dizem que não a vão tomar por insegurança na sua fiabilidade. Há razões para ter medo? Não há razão para ter medo. Pelo que se sabe das vacinas não há que ter receio, quer as vacinas que utilizam RNA mensageiro , quer as vacinas que utilizam vírus atenuados. No entanto, é claro que podem existir efeitos secundários, como febre, dores no corpo, tal como acontece com a vacina da gripe ou qualquer outra vacina. O Senhor Professor vai tomar a vacina? Vou tomar com muito gosto, logo que chegue a minha vez. É possível que se erradique vírus com a vacina ou vamos ter de conviver com o vírus pelo resto da vida? Esta vacina, tal como a da gripe, não é uma vacina esterilizante. À semelhança do que acontece com a vacina da gripe esta vacina vai actuar durante um número de meses, talvez um ano, que já é muito bom. Provavelmente todos os anos vamos ter de a tomar. Julga-se que, com mais de 65% das pessoas vacinadas existirá imunidade de grupo, mas tenho receio que essa imunidade não perdure. Prova disso são os quatro coronavírus que existem desde os finais dos anos 60 do século passado, estes benignos, e que 18
The vaccine is free, optional and administered in the NHS. Many Portuguese are afraid to take it and a lot say that they will not take it out of insecurity as to its reliability. Are there reasons to be afraid? There are no reasons to be afraid. As far as we know as regards these vaccines there is no need to be afraid, either when it comes to vaccines that use messenger RNA or vaccines that use attenuated viruses. However, it is clear that there may be side effects, such as fever, body aches, just like with the flu vaccine or any other vaccine. Will you get the vaccine? I will take it with great pleasure, as soon as my turn comes. Is it possible to eradicate viruses with the vaccine or will we have to live with the virus for the rest of our lives? This vaccine, just like the flu vaccine, is not a sterilizing vaccine. As with the flu vaccine, this vaccine will work for a number of months, maybe a year, which is already very good. We will probably have to take it every year. It is believed that with more than 65% of people vaccinated there will be group immunity, but I am afraid that this immunity won’t last. Proof of this are the four coronaviruses that are there since the late 1960s of the last century, benign ones, and that come back every year causing colds, cough, etc. The benign coronaviruses that exist did not
INTERVIEW
H E A LT H
“ VA M O S T E R Q U E N O S VA C I N A R CONTRA O VÍRUS, MAS NÃO VA M O S E R R A D I C Á - L O .”
“ W E W I L L H AV E T O VA C C I N A T E AGAINST IT EVERY YEAR, BUT WE ARE NOT GOING T O E R A D I C A T E I T.”
voltam todos os anos provocando constipações, com tosse, etc. Os coronavírus benignos que existem, não criaram imunidade duradoura. Vamos ter de viver com este vírus entre nós e vamos ter que nos vacinar contra ele todos os anos, mas não vamos erradicá-lo. Na sua opinião, em 2021 as máscaras vão desaparecer? Para quando um regresso à normalidade? A partir do momento em que haja um grande número de pessoas vacinadas, é válido deixarmos as máscaras. Penso que até ao final do ano podemos deixar as máscaras, se todos nos vacinarmos. Para finalizar, sabemos que escreveu um livro sobre Medicina Portuguesa durante a expansão e que é um dos dinamizadores do Museu da Saúde em Lisboa. A Covid-19 vai ficar registada em algum livro da sua autoria? E haverá um espaço dedicado a esta doença no Museu? Um dos meus ‘hobbies’ é a história da medicina, tenho feito muita coisa nesta área, inclusive o dicionário da História da Medicina. Em relação ao Covid já escrevi, foi publicado recentemente pela Dom Quixote um livro com especialistas em várias áreas a falar no tema e eu também dei o meu testemunho sobre o que é o Covid e o que pode ser o futuro. Mas ainda é muito cedo para se fazer a história do Covid-19, não existem dados suficientes. Para ter uma ideia, há uns tempos fui convidado para apresentar um livro sobre a Pneumónica, pandemia que grassou há 100 anos atrás. Mesmo assim ainda há dados que faltam para fazer a sua história definitiva. Fui nomeado, pelo então ministro da Saúde Adalberto Fernandes, como Alto Comissário para o Museu. Consegui juntamente com a Helena Rebelo de Andrade, coordenadora do Museu, e com o apoio do presidente do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), Fernando de Almeida, inaugurar este espaço, onde actualmente está a decorrer a exposição “800 Anos de Saúde em Portugal”. No Museu Nacional da Saúde, daqui a uns tempos, existirá certamente uma área reservada ao Covid. l
create lasting immunity. We will have to live with this virus among us and we will have to vaccinate against it every year, but we are not going to eradicate it. In your opinion, will masks disappear in 2021? When will we get back to normality? From the moment when there is a large number of people vaccinated, it is worth leaving the masks. I think that by the end of the year we will be able to leave masks, if we all get vaccinated. Finally, we know that you wrote a book on Portuguese Medicine during the expansion and that you are one of the promoters of the Health Museum in Lisbon. Will Covid-19 be covered in any of your books? And will there be an area dedicated to this disease in the Museum? One of my hobbies is the history of medicine, I have done a lot in this area, including the dictionary of the History of Medicine. Regarding Covid I already wrote about it, a book was recently published by Don Quixote publishing house together with contributions from experts in many areas talking on this issue and I also gave my testimony about what Covid is and what the future has in store. But it is still too early to write the Covid-19 story, there are not enough data. To give you an idea, some time ago I was invited to present a book on Pneumonic, a pandemic that spread 100 years ago. Even so, there are still missing data to write its definitive story. I was appointed, by the Minister of Health Adalberto Fernandes at the time, as High Commissioner for the Museum. I managed, together with Helena Rebelo de Andrade, the coordinator of the Museum, and with the support of Fernando de Almeida, the president of the National Institute of Health Dr. Ricardo Jorge (INSA), to open this space, where the exhibition “800 Years of Health in Portugal” is now being shown. The National Health Museum will certainly have an area dedicated to Covid one day. l 19
SAÚDE
JOHNSON & JOHNSON
JOÃO MARIA CONDEIXA, EXTERNAL & POLICY AFFAIRS MANAGER DA JANSSEN, COMPANHIA FARMACÊUTICA DO GRUPO JOHNSON & JOHNSON EXTERNAL & POLICY AFFAIRS MANAGER AT JANSSEN, A PHARMACEUTICAL COMPANY PART OF THE JOHNSON & JOHNSON GROUP
AS CHAVES PAR A A PANDEMIA T H E K E Y S TO T H E PA N D E M I C
A
corrida pela vacina a que estamos a assistir não seria possível sem a ciência, sem anos de contínuo investimento e conhecimento adquirido e sem intensa colaboração, a um nível nunca antes visto. Mas não se trata de uma só corrida. Foram e são um conjunto de corridas e todas elas contra o tempo. Primeiro, a corrida da investigação básica, a responsável pela descodificação do genoma do vírus SARS-CoV-2. No último dia de Dezembro de 2019 as autoridades chinesas alertaram formalmente a Organização Mundial de Saúde (OMS) para o novo vírus. A 10 de janeiro de 2020, o código genético desse vírus, composto por 30.000 caracteres, estava totalmente descodificado. Até há dez anos a sequenciação genética era morosa e muitíssimo cara. Ainda em 2001, o genoma humano custava mil milhões de dólares a ser descodificado e hoje pode ser feito rapidamente por pouco mais de mil dólares. Foram os fantásticos avanços da sequenciação genética que permitiram descodificar este vírus em tempo recorde e a partir daí começar o desenvolvimento da vacina. Normalmente o desenvolvimento de uma vacina demora entre 10 a 15 anos. Nesta, como nas anteriores, nenhuns atalhos foram tomados, nem se saltaram etapas, embora tivessem sido quebrados recordes graças às seguintes razões: um gigantesco investimento de recursos financeiros e de recursos humanos, com vastas equipas dedicadas em exclusivo a este tema. Não menos importante, uma enorme colaboração entre companhias farmacêuticas e entre estas e os reguladores e decisores - o mecanismo de “Rolling review” criado pela Agência Europeia do Medicamento (EMA) é disso exemplo. Em vez da EMA esperar pela reunião e submissão de todos os dados produzidos, foram-nos avaliando à medida que os dados iam sendo conhecidos. Era importante levar este processo para futuro. Igualmente relevante foi o investimento e a experiência adquirida
20
T
he race for the vaccine we are currently witnessing would not be possible without science, without years of continuous investment and gathered knowledge and without intense collaboration, at an unprecedented level. But it’s not just a race. We witnessed and are now still witnessing a number of races against time. First, the basic research race, thanks to which we were able to decode the SARS-CoV-2 virus genome. On the last day of December 2019, Chinese authorities formally warned the World Health Organization (WHO) as to the existence of a new virus. On January 10, 2020, the genetic code of this virus, formed by 30,000 characters, was fully decoded. Until ten years ago, genetic sequencing was both time consuming and very expensive. Back in 2001, the cost to decode the human genome was $ 1 billion and today this can be done fairly quickly for just over $ 1,000. The fantastic advances in genetic sequencing have enabled decoding this virus in record time and to start the development of the vaccine from there. It usually takes 10 to 15 years to develop a vaccine. As regards this vaccine, just like the previous, no shortcuts were taken, no steps were skipped, although records were broken thanks to the following reasons: a huge investment in financial and human resources, with vast teams focused exclusively on this topic. Not least, the enormous collaboration between pharmaceutical companies and between these and regulators and decision makers - the “Rolling review” mechanism created by the European Medicines Agency (EMA) is a good example of this. Instead of waiting for the gathering and submission of all the data produced, EMA assessed us as the data were made known. It was important to take this process into the future. (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)
JOHNSON & JOHNSON
ao longo de décadas com outras pandemias, nomeadamente, o Ébola, o VIH, Zika, SARS-CoV ou MERS. No caso do Ébola, desde o início da pandemia até à entrada em ensaios clínicos de fase I, decorreram 27 anos. No Dengue 39, no Zika foram 9. No SAR-Cov 24 meses e no MERS, em 2014, já só foram precisos 22 meses. Uma melhoria contínua que tem o seu apogeu nesta pandemia com apenas 3 meses percorridos desde o ‘breakout’ até ao início da fase I dos ensaios clínicos. Em meados de fevereiro deste ano, a OMS registava 21 vacinas em ensaios pré-clínicos. E em meados de dezembro já tinha registados 214 vacinas candidatas, das quais 52 em fase de ensaios clínicos em humanos. Foi uma resposta pronta e uma colaboração intensa entre nações que permitiu este fantástico ganho. A corrida pelos ensaios clínicos foi igualmente intensa, com inúmeros países a candidatarem-se e um universo sem paralelo de voluntários interessados. Esses ensaios decorreram nas regiões com maior incidência e nos países com melhor histórico de sucesso na realização ágil de ensaios. Portugal, infelizmente, continua a não ser competitivo na atração de ensaios. Há ainda um caminho que importa trilhar para melhorarmos na atração de ensaios clínicos que tanto interessam clinica e financeiramente ao país. Precisamos de equipas hospitalares dedicadas a este tema e maior agilidade na burocracia que a eles obriga se queremos ser parte ativa no futuro, seja em que doença for. Os doentes estão à espera. Por fim, assistimos a uma corrida de solidariedade também ela digna de registo. Os países europeus foram lestos a formar um fundo para a aquisição de vacinas, prevendo inclusivamente um mecanismo e aquisição de doses para países em vias de desenvolvimento. As grandes nações juntaram-se para garantirem que as mais pobres também teriam acesso à solução. As próprias empresas farmacêuticas, à medida que iam avançando na produção da vacina a seu próprio risco, estabeleceram, na sua grande maioria, que não iriam lucrar durante o período pandémico e algumas fizeram reservas para os países mais pobres – a Johnson & Johnson, por exemplo, doou na semana em que escrevo 500 milhões de doses para os países mais desfavorecidos. E agora, assistimos à corrida pela vacinação confiantes de que será a luz ao fundo do túnel. A inovação e a colaboração são a chave desta pandemia. Sem elas, a vacina não chegaria e o impacto mundial sobre o PIB seria de 3,5 triliões de dólares, segundo estudos recentes. E mesmo havendo vacina, se o acesso ficasse apenas reservado aos países produtores ou mais ricos, o impacto económico traduzir-se-ia num decréscimo de cerca de 1,2 triliões de dólares do PIB mundial. Assim, além do valor acrescentado que a inovação traz para a sociedade, fica também a importância da colaboração na melhoria do acesso à inovação como uma das grandes aprendizagens destes tempos. Seja para esta ou outras doenças, devia ficar para futuro. l
H E A LT H
Equally relevant was the investment and experience gathered over decades with other pandemics, namely Ebola, HIV, Zika, SARS-CoV or MERS. In the case of Ebola, 27 years elapsed since the beginning of the pandemic until entering phase I clinical trials. As for Dengue it took 39 years and Zika 9. As for SAR-Cov it took 24 months and as for MERS, in 2014, only took 22 months. A continuous improvement that reached its peak in this pandemic whereby 3 months only elapsed from the breakout to the beginning of phase I of clinical trials. In mid-February this year, WHO had 21 vaccines in pre-clinical trials. And by mid-December, 214 candidate vaccines had already been registered, of which 52 were undergoing clinical trials in humans. It was both the prompt response and the intense collaboration between nations that allowed this fantastic gain. The race for clinical trials was equally intense, with countless countries applying and an unparalleled universe of interested volunteers. These trials took place in the regions with the highest incidence and in countries with the best level of success thanks to the agile performance of trials. Portugal, unfortunately, is still not competitive as regards attracting trials. There is still a road that needs to be travelled in order to improve the appeal of clinical trials that are of interest both clinically and financially to the country. We need hospital teams dedicated to this topic and greater agility in the red tape it requires if we want to become an active party in the future, whatever the disease. Patients are waiting. Finally, we are witnessing a solidarity race that is also worth looking at. European countries were quick in setting up a fund for the purchase of vaccines and also in providing for a mechanism and acquisition of doses for developing countries. The big nations came together to ensure that the poorest would also have access to this solution. The pharmaceutical companies themselves, as they moved on in producing the vaccine at their own risk, established most of them that they would not profit during the pandemic period and some established reserves to the poorest countries - Johnson & Johnson, for example, as in the week when I wrote this text had donated 500 million doses to the most disadvantaged countries. And now, we watch the race for vaccination, confident that there will be the light at the end of the tunnel. Innovation and collaboration are the key to this pandemic. Without them, the vaccine would not arrive and the global impact on the GDP would be $3.5 trillion dollars, according to recent studies. And even with a vaccine, should this access only be granted to producing or wealthier countries, the economic impact would translate into a decrease of around 1.2 trillion dollars of world GDP. Thus, in addition to the added value that innovation brings to society, there is also the importance of working together to improve access to innovation. This is one of the big lessons of these times. Whether as regards this or other diseases, this lesson should be recalled in the future. l 21
SAÚDE
MADEIRA
PEDRO RAMOS, SECRETÁRIO REGIONAL DE SAÚDE REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA R E G I O N A L S E C R E TA RY O F H E A LT H OF THE AUTONOMOUS REGION OF
E PROTECÇÃO CIVIL DA (RAM) AND CIVIL PROTECTION MADEIRA (ARM)
A RESPOSTA DA RAM À PANDEMIA COVID 19 T H E A R M S R E S P O N S E TO T H E C O V I D -1 9 PA N D E M I C
E
m primeiro lugar vou caracterizar a forma como a resposta à pandemia foi pensada, preparada, organizada, debatida e implementada numa região que por ser insular tinha e tem particularidades próprias que na nossa perspectiva ajudaram a abordar e controlar a pandemia da covid 19 na primeira onda e, também posteriormente, na segunda onda. Desde o início da pandemia desenvolvemos e implementámos uma estrutura de comando, coordenação e controlo, envolvendo a saúde e a protecção civil, articulando com todas as entidades públicas e privadas e preparando a resposta de acordo com o PREPCRAM - Plano de Resposta Emergência da Protecção Civil da Madeira. Não negligenciámos a pandemia, e por isso entendemos que esta atitude fez a diferença. Fomos pioneiros em muitas das medidas que adiante falaremos, que também contribuíram de forma positiva porque foram proactivas, de antecipação, preventivas e tendo sempre como foco a protecção da saúde pública da Região Autónoma da Madeira (RAM). Seguimos atentamente a evolução da pandemia no mundo, na Europa, no País, bem como as medidas que iam sendo adoptadas, e consequente impacto na população e no controlo da pandemia, e estivemos particularmente atentos à forma como os países asiáticos, controlavam a sua evolução, com medidas preventivas cujo resultado dependia da responsabilidade do cidadão. O direito à vida é aquele que importa preservar sempre, e não se pode falar em perda de direitos, liberdades e garantias, quando a vida das pessoas está em jogo. A Madeira sempre respeitou a sua população e por isso todos os casos onde as medidas não foram seguidas, houve sempre surtos como resultado final.
22
F
irst, I would like to explain how the response to the pandemic was thought, prepared, organised, debated and implemented in a region that, as an island, has and had its own particularities and which we believe helped addressing and controlling the Covid-19 pandemic during the first wave and also during the second wave. Since the beginning of the pandemic, we developed and implemented a command, coordination and control structure, involving healthcare and civil protection, articulating with public and private entities and preparing the response in accordance with PREPCRAM - Emergency Response Plan for Civil Protection of Madeira. We have not neglected the pandemic and we believe that this attitude has made a difference. We were pioneers in many of the measures that I will cover below and which provided also a positive contribution as they were proactive, anticipatory and preventive, focusing always on the protection of public health in the Autonomous Region of Madeira (ARM). We carefully followed the evolution of the pandemic in the world, in Europe and in the rest of Portugal, the measures that were adopted and the resulting impact on the population and on the control of the pandemic. We were particularly attentive to the manner how Asian countries managed to control its evolution, with preventive measures whose outcome relied to a great extent on the responsibility of citizens. The right to life is the most important thing to preserve, and one cannot speak of loss of rights, freedoms and guarantees when people’s lives are at stake. Madeira has always respected its population and that is why in those cases where the measures were not complied with the end-result was always new outbreaks.
MADEIRA
Tínhamos razão E em todas as decisões do Governo suportado pelas Autoridades Regionais de Saúde (ARS), a única preocupação foi a saúde pública da RAM. A Madeira seguiu a metodologia de resposta à catástrofe – o MRMI (Medical Response to Major Incidents), do qual tem sido precursora da disseminação da mesma desde 2010 na região, nos Açores e no país, tendo já realizado 20 cursos e formado e treinado mais de 1500 profissionais da área médica, enfermagem, protecção civil, PSP, GNR, forças militares, gestores, psicólogos, assistentes operacionais, técnicos de medicina legal. Nos últimos dez anos, este modelo tem sido sempre eficaz e eficiente na organização da resposta nos outros acidentes que assolaram a região, como foram as inundações, os incêndios, a queda da árvore ou a queda do autocarro. Esta calamidade tinha e tem particularidades – pode atingir os responsáveis pela resposta – os profissionais de saúde e protecção civil e depende mais do que nunca da responsabilidade do cidadão. Tivemos de ter em conta a protecção destes profissionais, bem como alertar para a responsabilidade cívica de cada um de nós. O sucesso da resposta passa em primeiro lugar pelo cidadão e pelo seu comportamento. Todos nós temos de ter consciência da calamidade que estamos a atravessar e, passado quase um ano, ainda ficamos surpreendidos com certas declarações de resistência a medidas que têm como objectivo proteger a população e permitir a renovação da nossa economia – como é e foi o exemplo das máscaras, inicialmente recomendadas em espaços fechados e depois obrigatórias em todos os espaços públicos, decisão inicial do Governo Regional em Abril de 2020, e finalmente seguida pelo país em Novembro de 2020, oito meses depois. As decisões que estão a ser tomadas são de carácter sanitário e não político, como muitos pretendem passar, e isso tem constituído um obstáculo por vezes inultrapassável para aqueles que tem de liderar a abordagem da pandemia, quando estão focados apenas na saúde pública da população. Sentimos sempre uma preocupante falta de acompanhamento e uma grande dificuldade com as nossas decisões por parte da justiça e suas leis, em contexto de pandemia. Os ‘habeas corpus’ foram um exemplo difícil de aceitar, e as mortes actuais na RAM, infelizmente a constituírem uma realidade, provam que tínhamos razão em tentar proteger os cidadãos mais vulneráveis. A Madeira iniciou a sua resposta acompanhando desde Dezembro de 2019 a evolução da pneumonia de Wuhan, seguindo as orientações que foram emanadas pela OMS e, posteriormente, pela DGS. Apresentou a linha de emergência a 27 de Janeiro, (SRS24) e posteriormente fez a apresentação do plano do qual constava a articulação entre todas as entidades da RAM público-privadas-militares-segurança-
H E A LT H
We were right And as regards Government decisions supported by the Regional Health Authorities (ARS), the only major concern was the public health of the ARM. Madeira followed the disaster methodology – MRMI (Medical Response to Major Incidents), and this region played the leading role in the dissemination of this methodology since 2010, in the Azores and in the country and hosted 20 courses and trained more 1500 professionals so far in the medical, nursing and civil protection fields, targeted also to polices forces, regional guard forces, military forces, managers, psychologists, operational assistants and forensic staff. Over the past ten years, this model has always been effective and efficient when it comes to respond to accidents that plagued the region, such as floods, fires, the fall of a tree or the fall of the bus down a cliff. This calamity is very particular – it can reach those in charge of providing a response – healthcare and civil protection professionals and depends now more than ever on the responsibility of citizens. We had to take into account the protection of these professionals and the need to call for the civic responsibility of each and every one of us. The success of the response depends primarily on the citizens and their behaviour. We all have to be aware of the calamity we are going through and, after almost a year, we are still surprised by certain refusal to comply with measures aimed at protecting the population and enabling our economy to recover – as is was the case of masks, initially recommended for closed spaces and later mandatory in all public spaces, a decision taken first by the Regional Government in April 2020 and adopted by the rest of the country in November 2020, eight months later. The decisions being made are of a sanitary and not of political nature, as many intend to makes us believe, and this has been an insurmountable obstacle for those who have to lead the fight against the pandemic and whose main concern is public health of the population. We always feel a worrying lack of follow-up and a great mismatch between our decisions and the judicial system and its laws in a pandemic context. Habeas corpus was a difficult example to accept, and the current deaths in the ARM which are a sad reality prove that we were right in trying to protect the most vulnerable citizens. Madeira started its response by monitoring the evolution of Wuhan’s pneumonia since December 2019 and followed the guidelines issued by the WHO and, later, by the Portuguese General Health Directorate. We announced our emergency line on the 27th of January, (SRS24) and later the plan which included 23
SAÚDE
MADEIRA
marítimas- enquadrando a resposta no PREPCRAM. Durante o mês de Fevereiro deu formação a todos os profissionais e ainda a toda a administração pública da Madeira para a concepção dos planos de contingência, reorganizando ao mesmo tempo o Serviço Regional de Saúde (SRS) através de mudanças na resposta ao nível dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) e Cuidados Hospitalares (CH). Foi criada uma comissão COVIDRAM que se encarregou do plano de resposta ao nível das unidades de saúde, foram encerradas urgências, ao nível dos CSP e aumentámos a resposta ao nível dos CH, criando zonas de triagem e triagem avançada de modo a filtrar a chegada dos casos suspeitos para serem testados. A 12 de Março foi declarado o “Estado de Alerta” na RAM, um dia antes da declaração de pandemia pela OMS e, seguidamente, introduzimos o controlo de temperatura e análise do inquérito epidemiológico para controlar as entradas por via aérea e marítima. Posteriormente, encerrámos portos e marinas em Março de 2020 e condicionámos os aeroportos em termos de número de voos semanais admitidos. Protegemos os nossos profissionais e os grupos vulneráveis, encerrando escolas e lares e ainda impedindo a mobilidade dos profissionais de saúde entre o sistema público, convencionado e privado e ainda social. Na fase inicial, a resposta foi articulada com as forças militares da RAM, contando com a colaboração do Comando Operacional da Madeira (COM) e Zona Militar da Madeira (ZMM) para o transporte de material e para a implementação de tendas de triagem para testagem ao nível do SESARAM. Criámos uma unidade de emergência de saúde pública chefiada pelo único medico de saúde pública e que contou com a colaboração de mais de 40 profissionais da área da Medicina Geral e Familiar (MGF), enfermeiros, Internos de Formação Geral (IFG) e Internos de Formação Específica (IFE), que colaboraram no ‘trace-traking’ e isolamento dos casos suspeitos e confirmados, acompanhando a sua evolução. Privilegiámos o digital para a comunicação com os utentes - a telesaúde, teleconsulta, teleentrevista, telemedicina, ‘webinar’, criando linhas de apoio adicional para o cidadão em geral, para o idoso, para a criança, para a grávida, na área da psicologia, nutrição, apoio a medicação, oncologia. Procuramos chegar a todos de forma diferente mantendo a ligação com os serviços de saúde da RAM. Fomos ao encontro dos utentes usando as novas tecnologias Criámos ainda plataformas de registo APP como o “Madeira Safe” para monitorizar os viajantes e ainda o “S-ALERT” para os casos positivos da RAM até o final da quarentena, e do isolamento profilático. Introduzimos o uso de máscaras na comunidade em Abril de 2020 - fomos pioneiros no país, seguindo o exemplo corrente nos países asiáticos e, mais recentemente, em alguns países europeus para os espaços fechados a fim de conferir maior protecção à população, bem como o distanciamento social, a etiqueta respiratória e a 24
the articulation between all the entities of the publicprivate-military-security-maritime actors in the ARM establishing our response framework under PREPCRAM. During the month of February, we trained all professionals and the entire public administration in Madeira on how to design contingency plans, while reorganizing the Regional Health Service (SRS) implementing changes in the response mechanisms in terms of Healthcare, Primary Healthcare (CSP) and Hospital Care (CH). A COVIDRAM commission was created to lead the response plan at the level of the healthcare units, emergency services were closed in Primary Healthcare and we increased our response at the level of Hospital Care, creating areas for both screening and advanced screening in order to sort the arrival of suspected cases to be tested. On March 12, the “State of Alert” was declared in the ARM, the day before the WHO declared the pandemic after which we introduced temperature control and did an epidemiological survey in order to control air and sea inflows of people. Subsequently, we closed ports and marinas in March 2020 and established controls in terms of the number of weekly flights arriving in Madeira. We protected our professionals and vulnerable groups, closing schools and homes and also preventing the mobility of healthcare professionals between the public system and the contractual, private and social systems. In the initial phase, the response was articulated with the ARM military forces, with the collaboration of the Madeira Operational Command (COM) and the Madeira Military Zone (ZMM) for the transportation of material and for the implementation of screening tents for testing by SESARAM, the Madeira regional healthcare system. We have created a public health emergency unit headed by the only public health physician and with the collaboration of more than 40 professionals in the field of General and Family Medicine (FGM), nurses, General Training Interns (IFG) and Specific Training Interns (IFE), who collaborated worked together in trace-tracking and isolation of suspected and confirmed cases and monitoring their evolution. We privilege the digital means as regards communication with users - telehealthcare, teleappointments, teleinterview, telemedicine, webinar and creating additional support lines for the general citizen, for the elderly, for children, for pregnant woman in the areas of psychology, nutrition, medication support and oncology. We try to reach everyone differently in close connection with the ARM healthcare services. We met users using new technologies We also created APP registration platforms such as “Madeira Safe” in order to monitor travellers and “S-ALERT” to monitor positive cases in the ARM until the end of the quarantine, and prophylactic isolation. We introduced the use of masks in the community in April 2020 - we were pioneers in the country, following the
MADEIRA desinfecção das mãos, e julgamos ter contribuído para a contenção da propagação do vírus nesta fase inicial. Com estas medidas, chegamos a 1 de Julho com 92 casos confirmados e apenas dois ainda activos, razão pela qual entendemos proceder gradualmente ao desconfinamento, como forma de proteger a população e recomeçar as actividades essenciais para recuperar a nossa economia, que sofreu bastante neste período, em que houve confinamento total. Desconfinamos, porque tínhamos condições para cumprir com as recomendações da OMS-SRS, capacidade de testagem e ainda poucos casos na RAM. Como preparámos a segunda onda? Com a mesma determinação com que enfrentámos a primeira onda, com antecipação e proactividade e com articulação perfeita entre as várias entidades. Abrimos as fronteiras gradualmente, e queríamos que os turistas fizessem teste na origem, como não fomos ouvidos, criamos um centro de rastreio à chegada aos aeroportos do Funchal e Porto Santo para teste à chegada e ainda criámos postos de colheitas no país - cerca de 33, para testagem antes de embarcar. Um investimento enorme e que custou à RAM cerca de 20 milhões de euros – trata-se de mais um investimento em prol da nossa população e da sua segurança neste contexto de pandemia. Abrimos as actividades comerciais de forma faseada com exigência de plano de contingência, durante os meses de Abril e Maio e retomámos também da mesma forma a actividade da saúde, com a exigência de testes para todos os procedimentos invasivos, cirúrgicos, imagiológicos, obstétricos, oncológicos, nefrológicos, de internamento nas unidades de saúde e ainda na área da saúde mental. Estabelecemos uma estratégia de testagem, dada a nossa capacidade, e após a primeira fase onde testavam os suspeitos, posteriormente os contactos próximos, criámos vários “momentos zero”, para as áreas da saúde, lares, educação, protecção civil, reclusos, ERPI, centros de acolhimento, sendo o resultado sempre negativo. Preparámos as áreas de resposta ao Covid e à gripe com a apresentação do plano Outono-Inverno, com antecipação da vacinação, alargamento da mesma a grupos de risco, e ainda capacitação das unidades de saúde em camas de internamento e de cuidados intensivos. Actualmente, chegados ao final de 2020, e já com o horizonte fixado nas vacinas temos cerca de 134 camas disponíveis e 108 ventiladores para estes circuitos. Reorganizámos de novo o SRS ao nível dos CSP e CH, com a criação de circuitos para doentes respiratórios e não respiratórios, Covid e não Covid, e ainda com gripe e outros. Implementámos medidas mais restritivas ao nível da prevenção com a obrigatoriedade do uso de máscara em todos os espaços públicos abertos e fechados e ao nível das escolas, abrangendo todas as crianças a partir dos 6 anos de idade. A testagem foi também alterada no que diz respeito
H E A LT H
current example in Asian countries and, more recently, in some European countries as regards closed spaces in order to provide greater protection to the population, as well as social distancing, respiratory etiquette and hand disinfection and we believe that we have contributed to curb the spread of the virus in the early stages. Thanks to these measures on July 1st we had only 92 confirmed cases and only two still active and that is why we decided back then to gradually with lockdown easing, protecting the population and restarting the essential activities in order to allow our economy to recover after the difficult lockdown period. We were able to stop lockdown because we had the right conditions to comply with the recommendations of WHOSRS, testing capacity and still few cases in the ARM. How did we prepare for the second wave? With the same resolve as in the first wave, with anticipation and proactivity and with perfect articulation between the different entities. We gradually opened the borders, and we wanted tourists to test at the origin, and as nobody heard us we decided to create a screening centre on arrival at Funchal and Porto Santo airports to test on arrival and we also created testing stations in the country - around 33, for testing before boarding. A huge investment that cost ARM around EUR 20 million euros - this is yet another investment for the benefit of our population and their safety in this pandemic context. We opened commercial activities gradually with the requirement of a contingency plan, during the months of April and May and we also resumed the healthcare activity stating the obligation to perform tests in all invasive, surgical, imaging, obstetric, oncological and nephrological procedures in hospitalization admissions in healthcare units and also in the area of mental health. We established a testing strategy, given our capacity, and after the first stage where suspects were tested and close contacts we created “zero moments” in the healthcare sector, in elderly’s homes, in schools, civil protection units, for inmates, in care homes and shelters and the test results were always negative. We prepared the Covid and flu response areas with the presentation of the Autumn-Winter plan, anticipating the vaccination, extending vaccination to risk groups, and making inpatient and intensive care beds available in healthcare units. At the end of 2020, and with the horizon set on the vaccines, we had about 134 beds available and 108 fans in these circuits. We reorganized the regional healthcare sector again at the level of Primary and Hospital Care with the creation of circuits for respiratory and non-respiratory patients, Covid and non-Covid patients with flu and others. We implemented more restrictive measures in terms of prevention, with the mandatory use of a masks 25
SAÚDE
MADEIRA
à sua estratégia inicial e nas áreas da saúde, social, protecção civil, educação com testes à chegada e repetição entre o 5-7 dia, após realização de viagens. Passámos a utilizar também os testes rápidos de antigénio, com a colaboração da Cruz Vermelha Portuguesa, onde foram disponibilizados numa fase inicial 50 000 testes que têm sido utilizados nos surtos e rastreios da RAM. Mantivemos a colaboração dos hoteleiros, com o alojamento para os casos positivos não residentes e residentes se não tivessem condições para fazer o isolamento no domicílio. Continuámos a dar formação e a preparar os nossos profissionais para a resposta à pandemia. Entretanto, a pandemia continua, com mais casos, mais internamentos, mais doentes nos cuidados intensivos e infelizmente mais mortos. Temos de continuar focados nas medidas preventivas e temos de as cumprir, escrupulosamente sob pena de sermos responsáveis pela sua perpetuação com mais morbilidade e mortalidade. Temos de ser verdadeiros agentes de saúde pública, temos de continuar a proteger-nos para podermos proteger os outros, principalmente os mais vulneráveis. A 31 de Dezembro iniciámos a campanha de vacinação anti Covid 19 na Madeira. Um processo com alguma complexidade, dada as características da vacina disponível - a da Pfeizer- que requer uma rede de frio importante. Preparámos todos os profissionais da farmácia e de enfermagem para esta operação e adquirimos duas arcas ultracongeladores para o efeito. Articulámos a nível nacional com o SUCH (Serviço de Utilização Comum dos Hospitais) de forma a estarmos em sintonia com a ‘taskforce’ nacional. O processo de vacinação é semelhante ao dos outros países, com os profissionais de saúde, dos lares, utentes das ERPI, utentes com comorbilidades e idade superior a 50 anos e ainda os profissionais da protecção civil como sendo os que estão na linha da frente dos prioritários. É um processo que está a ser conduzido com muito rigor e responsabilidade pela Comissão Regional, atenta não só à vacinação, mas também a sua monitorização e farmacovigilância. Que aprendemos? Ao fim de 10 meses -muito! e continuamos a aprender, pois este vírus e imprevisível, na sua contagiosidade. • É preciso liderança, e respeito por esta; • É possível e é preciso reorganizar a resposta dos sistemas de saúde; • É necessário proteger os profissionais e os mais vulneráveis; • É necessário termos equipamentos de proteção individual que permitam a segurança da prestação; • É necessário dar formação a todos e estabelecer planos de contingência que tem de ser cumpridos; • É possível dinamizar a actividade assistencial, com precaução acrescida e proteção dos profissionais e utentes-não se pense em recuperar 26
in all open and closed public spaces and at school level, covering all children from 6 years of age. Testing procedures were changed compared with its initial strategy and in the areas of health, social, civil protection and education, along with testing upon arrival at the island and test repetition between 5th and the 7th day after travelling. We also started using quick antigen tests, with the collaboration of the Portuguese Red Cross and on an initial stage 50 000 tests were made available which have been used in outbreaks and screening in the ARM. We continued collaboration of hoteliers, offering accommodation for positive non-resident and resident cases who were unable to self-isolate at home. We kept providing training and prepare our professionals to respond to the pandemic. But the pandemic is still there with more cases, more hospitalizations, more patients in intensive care and unfortunately more deaths. We must continue to focus on preventive measures and we must comply with them, scrupulously otherwise we will allow it to perpetuate and cause more morbidity and mortality. We must be true public healthcare agents, we must keep protecting ourselves in order to protect others, especially the most vulnerable. On December 31st we started the anti-Covid 19 vaccination campaign in Madeira. A process with some complexity, given the characteristics of the vaccine available - that of Pfeizer- which requires important cold storage facilities. We prepared all pharmacy and nursing professionals for this operation and purchased two ultra freezer cabinets for this purpose. We articulated at national level with the SUCH (Service of Common Use of Hospitals) in order stay in tune with the national taskforce. The vaccination process is similar to that in other countries privileging healthcare professionals, elderly’s homes, care home users, users with comorbidities and people over 50 years of age and also civil protection professionals as being on the front lines of priority. This process has to be conducted with great deal of rigor and responsibility by the Regional Commission and focuses not only on vaccination but also on its monitoring and on pharmacovigilance. What have we learned so far? After 10 months - a lot! And we continue to learn, as this virus is unpredictable as regards its contagion potential. • It takes leadership, and respect for those leading this fight; • This is possible and we need to reorganize the healthcare systems response; • We need to protect professionals and the most vulnerable; • We need to have personal protection equipment that allows safety in the provision of these services;
MADEIRA
“TEMOS DE CONTINUAR FOCADOS N A S M E D I DA S P R E V E N T I VA S E TEMOS DE AS CUMPRIR, ESCRUPULOSAMENTE SOB PENA DE SERMOS R E S P O N S ÁV E I S P E L A SUA PERPETUAÇÃO COM MAIS MORBILIDADE E M O R T A L I D A D E .”
a totalidade da actividade antes da pandemia; • É necessário comunicar cada vez mais com recurso a novas TIC-Telesaúde, telemedicina, teleconsulta, teleentrevista, ‘webinar’; • É necessário aumentar a capacidade de resposta dos sistemas de saúde – SRS, em internamento e UCI; • É necessário capacidade de testagem, ‘tracing’, ‘traking’ e isolamento seguro; • É necessário preparar atempadamente a resposta em situações excepção em articulação com os privados, sempre que necessário; • É necessário linhas de apoio de comunicação para com os utentes-geral, idosos, gravidas, pediatria, nutrição, psicologia e saúde mental; • É necessário investir na saúde e social, e na Madeira esse investimento foi da ordem dos 117mme, plurianual-com 85mme em 2020 e 33mme em 2021. Termino com uma mensagem final, o sucesso da resposta a pandemia agora que temos a vacina disponível, continua a depender dos cidadãos e do seu comportamento. Se antes era exigido o cumprimento das medidas não farmacêuticas, para controlar a pandemia, agora é ncessário que haja uma adesão em massa à vacinação para podermos ter mais de 60-70% de vacinados e assim adquirirmos a imunidade de grupo. Desejo a todos um bom ano 2021, que seja o ano das vacinas para todo o mundo e dos abraços entre os cidadãos. Que seja o ano do retorno a normalidade. l
H E A LT H
• We need to train everyone and to establish contingency plans that should be followed; • We can boost the assistance activity, with increased precaution and protection of professionals and users - and we have to bear in mind that we will be able to reach full capacity again before the pandemic is over; • We need to communicate more and more using new ICT-Telehealthcare, telemedicine, teleappointments, tele-interview, webinar; • We need to increase the responsiveness of healthcare systems - regional healthcare system, hospitalisation and intensive care units; • We need testing, tracing, tracking and safe isolation capability; • We need to prepare the response in a timely manner in exceptional situations in conjunction with private parties, whenever necessary; • We need communication support lines for general users, the elderly, pregnant women, paediatrics, nutrition, psychology and mental health; • We need to invest more in the healthcare and social areas, and in Madeira this investment was € 117 billion, € 85 billion multi-year in 2020 and will reach € 33 billion in 2021. I would like to conclude with a final message: the success of the response to the pandemic now that we have the vaccine available, continues to depend on citizens and their behaviour. While non-pharmaceutical measures were required to control the pandemic, now we need to have a massive adherence to vaccination so that we can have more than 60-70% vaccinated and thus acquire group immunity. I wish you all a good year 2021, the year of vaccines for all and a year of hugs between citizens. May this be the year of the return to normality. l
“WE MUST CONTINUE TO FOCUS ON PREVENTIVE MEASURES AND WE M U S T C O M P LY W I T H T H E M , S C R U P U L O U S LY OTHERWISE WE WILL ALLOW I T T O P E R P E T U AT E A N D CAUSE MORE MORBIDITY A N D M O R T A L I T Y.”
27
PREVISÕES 2021
EURICO BRILHANTE DIAS, SECRETÁRIO DE ESTADO DA INTERNACIONALIZAÇÃO SECRETARY OF STATE FOR INTERNATIONALIZATION
ESTRATÉGIA DE CAPTAÇÃO DE IDE: AS NOSSAS VANTAGENS NUM NOVO CONTEXTO DE
RECUPERAÇÃO ECONÓMICA E SOCIAL S T R AT E G Y T O C O L L E C T F D I : O U R A D VA N TA G E S IN A NEW CONTEXT OF ECONOMIC AND SOCIAL RECOVERY
P
ortugal, até março de 2020, apresentava, pela primeira vez desde o advento do Euro, uma trajetória de crescimento acima da média europeia com um aumento pronunciado das exportações, fruto de políticas públicas e empresariais ancoradas na qualidade, na diferenciação, no ‘design’, na flexibilidade produtiva e na incorporação de tecnologia nos processos de produção e comercialização. Um novo posicionamento construído durante as últimas décadas, que nos permitiu ganhar quota nos mercados internacionais. Contudo, é importante sublinhá-lo, este percurso do setor exportador não é independente dos resultados da política de atração de investimento estrangeiro. Ele é, em grande medida, resultado da captação de IDE. A capacidade de colocar Portugal no radar de investidores internacionais, dando destaque às nossas vantagens comparativas, tem sido um trabalho contínuo de atores públicos e privados, promovendo um ciclo virtuoso, onde capital estrangeiro (e não só), olha para o nosso território como uma base de investimento para satisfazer a procura regional ou inter-regional, num quadro de inserção das atividades aqui desenvolvidas
28
P
ortugal witnessed until March 2020, for the first time since the advent of the Euro, a growth trajectory above the European average marked by a sharp increase in exports, as a result of public and business policies anchored in quality, differentiation, design, productive flexibility and incorporation of technology in the production and marketing processes. A new positioning achieved during the last decades and which enabled Portugal to win market share in international markets. It is worth highlighting, however that the path followed by the export sector is the result of policies put in place to attract foreign investment. It is, to a large extent, the result of attracting FDI. The fact that Portugal is now under the radar of international investors, shedding some light on our comparative advantages comes after the ongoing work by public and private actors and the promotion of a virtuous cycle and, as a result of this, foreign capital (and not only) now looks at Portugal as an investment base that is there to meet the regional or interregional demand, within a framework of integration of activities carried out Portugal in the global value chains. This is the path followed so far; this is, to a (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)
FORCASTS 2021
“MESMO EM 2020, NESTE CONTEXTO PA N D É M I C O , PORTUGAL CONTINUOU A ANGARIAR INVESTIMENTO ESTRANGEIRO. ”
nas cadeias de valor globais. Este é o caminho que temos prosseguido; este é, em larga medida, uma opção política consensual num espectro alargado do nosso sistema partidário (e parlamentar). De forma sintética, devemos dar destaque aos valores de contratualização de investimento em 2019 (pela AICEP), ano em que voltámos a bater ‘records’, 1 172 Milhões de Euros, que, no conjunto e em atividade cruzeiro, devem levar à criação de 7 245 postos de trabalho. Estamos a captar mais IDE com menor risco, diversificando as geografias de origem do capital, bem como a tipologia de investimento (indústria e serviços). Mesmo em 2020, neste contexto pandémico, Portugal continuou a angariar investimento estrangeiro. De forma ilustrativa: 24 novos projetos de capital estrangeiro escolheram Portugal para se instalar desde janeiro, de 12 geografias diferentes, aproximadamente mais de 415 milhões de euros de investimento, com a criação de mais de 1.950 postos de trabalho. Estão neste momento em acompanhamento mais 74 projetos, em diversas fases do processo de decisão, oriundos de 23 países de 4 continentes, que no conjunto se estima que criem mais de 10.500 postos de trabalho. Continuamos no radar mesmo para aqueles – e isso é importante – que já olham para além da pandemia. O trabalho realizado durante o ano 2020 – que levou Portugal a ser considerada a segunda melhor “Country Brand” europeia – permitiu robustecer os elementos centrais da estratégia que temos vindo a prosseguir, e que levou como sabemos, no passado recente, a que fossemos escolhidos por operadores económicos de todos os continentes,
large extent, a consensual political option shared by most of our parties (and members of parliament). In a nutshell, we should highlight the figures resulting from the investment agreements signed in 2019 (by AICEP), the year when we broke once again records, e.g. € 1,172 million, which, taken together and at cruise speed, should lead to the creation of 7,245 jobs. We are collecting more FDI with less risk, diversifying the geographies of capital inflow as well as the type of investment (industry and services). In 2020, despite this pandemic, Portugal was able to keep collecting foreign investment. And to prove this point 24 new foreign capital projects have chosen Portugal to settle in since January, from 12 different geographies, approximately more than € 415 million in investment, with the creation of more than 1,950 jobs. Currently 74 further projects are being monitored, at different stages of the decision-making process, from 23 countries in 4 continents, which together are estimated to create over 10,500 jobs. We remain on the radar even for those - and this is important - that are already looking beyond the pandemic. The work carried out during the year 2020 – after which Portugal was considered the second best European ‘Country Brand’ - was there to reinforce the central elements of the strategy that we have been pursuing, and which led, as we know, to being chosen by economic operators from all continents in the recent past, totalling a stock of FDI that reached around 70% of GDP in 2019 and an export record value of € 93.5 billion (43.9% of GDP). Today, looking at the near future, the strategy to
“IN 2020, DESPITE T H I S PA N D E M I C , P O RT U G A L WA S ABLE TO KEEP COLLECTING FOREIGN I N V E S T M E N T.”
29
PREVISÕES 2021
num ‘stock’ de IDE que se aproximou dos 70% do PIB em 2019 e a um valor ‘record’ de exportações de 93,5 mil milhões de euros (43,9% do PIB). Uma estratégia de captação de IDE tem hoje, olhando para o futuro próximo, dois elementos centrais: um primeiro, de curto prazo, comunicando abertura e resiliência face à pandemia e, em grande medida, mostrando que as vantagens comparativas do território e das nossas empresas permanecem intactas; e, segundo, que as decisões que tomamos permitem colocar Portugal como um destino atrativo para o reforço das cadeias de valor que servem os mercados da União Europeia. O conjunto de elementos que nos tem levado ao êxito – o talento, a segurança de pessoas e ativos, a localização de conexão inter-regional (entre continentes), para além dos recursos físicos e imateriais do nosso território que nos permitem desenvolver de forma competitiva diferentes negócios – permanece como uma vantagem para preparar a recuperação; e, a opção política de apoiar as transições digital e energética, num quadro de reforço da autonomia estratégica (e da resiliência) da Europa, conduz-nos a um novo contexto onde disputaremos investimento. É compreendendo este contexto que a estratégia de captação de investimento para a próxima década, inserida no “Programa Internacionalizar 2030” do XXII Governo Constitucional, obrigou à análise do papel que as atividades económicas desenvolvidas no nosso território podem/devem ter no redesenho das cadeias de valor globais, na sua (possível) regionalização e de como a disputa planetária por recursos e talento, nos vai permitir construir as melhores condições para criar riqueza, gerando oportunidades de trabalho (de vida) para os portugueses. É aqui nos devemos centrar para continuar a fazer crescer o IDE, mas também as exportações nacionais. Em 2021 temos um duplo desafio – e que muito influenciará os resultados da recuperação económica: combater a pandemia e dar prioridade ao processo de vacinação, como condição para uma recuperação económica mais robusta; e, lançar os instrumentos da “bazuca” europeia, que abrirão novas oportunidades, num quadro de revisão das políticas industrial, comercial e de concorrência da União Europeia. É neste contexto que devemos continuar a colocar a atração de IDE, num país onde escasseia o capital, como um elemento central para a recuperação sustentável da economia nacional. l
30
attract FDI has two core elements: a first, short term, focused on communicating openness and resilience in the face of the pandemic and, to a large extent, focused on showing that the comparative advantages of the territory and our companies remain intact; and, second, that the decisions we make help Portugal becoming an attractive destination, reinforcing the value chains that serve the European Union markets. The list of things that led to this success - talent, the safety of people and assets, the location of interregional connection (between continents), in addition to the physical and immaterial resources of our territory that enable us to competitively develop different businesses - remains an advantage in the preparation for recovery; and, the political option of supporting the digital and energy transitions, within a framework of reinforcing Europe’s strategic autonomy (and resilience), leads to a new context where we will be able to dispute investment. Understanding this context, the strategy of attracting investment for the next decade, within the framework of the “Program Internationalise 2030” of the 22nd Constitutional Government, required a deeper analysis of the role that economic activities developed in our territory can/must play when it comes to redesigning the global supply chains in its (possible) regionalization and how the global dispute for resources and talent may enable us to build the best conditions in order to create wealth, generating job (life) opportunities for the Portuguese. We should focus precisely here in order to keep growing not only FDI but also national exports. In 2021 we are faced with a double challenge - and one that will greatly influence the results of the economic recovery: fighting the pandemic and prioritising the vaccination process, as a precondition for a more robust economic recovery; and, to launch the instruments of the European “bazooka”, which will open up new opportunities, within a framework of review of the European Union’s industrial, commercial and competition policies. The attraction of FDI should occur under this particular context, in a country where capital is scarce but a core element for the sustainable recovery of Portuguese economy. l
Caixa. Para todos e para cada um.
31
PREVISÕES 2021
ANDRÉ PINOTES BATISTA, DEPUTADO PARTIDO SOCIALISTA SOCIALIST PARTY MEMBER OF PARLIAMENT
O FIM DA HISTÓRIA E O SEU PERPÉTUO RECOMEÇO THE END OF HISTORY AND ITS PERPETUAL NEW BEGINNINGS
O
armistício de 14 de agosto de 1945, que gizou o termo da segunda grande guerra mundial, constituiu-se como pedra angular para a edificação de setenta e quatro anos de relativa estabilização da Europa ocidental. O desenvolvimento tecnológico, económico e social sustentado, que se registou desde esse, cristalizou na consciência coletiva dos povos uma ideia de prosperidade imutável, não obstante a incidência de algumas crises políticas, económicas e financeiras de vigorosa incidência, porém de célere, exceto na crise de 2008 ultrapassagem. Se os primeiros apontamentos noticiosos sobre o surgimento de um novo coronavírus, na Ásia, no final de 2019, se fizeram sentir como mera brisa vinda de Leste, no momento do anúncio por parte da Organização Mundial de Saúde, a 11 de março de 2020, de que o surto se tinha elevado à categoria de pandemia, já a humanidade começava a tomar consciência da real dimensão do fosso que o vírus escavaria nas Nações do mundo dito Ocidental. O “ano que virou o mundo ao contrário” alterou de forma súbita, drástica e irreversível o nosso modo de vida na sua esfera pessoal, familiar, social e profissional, bem como a estruturação das diversas economias do velho continente e, em última análise, de sobrevivência dos próprios regimes democráticos que, de forma igualmente infundada, nos acomodámos a dar por garantidos. Foram 366 dias feitos de longas e escuras horas que,
32
T
he armistice of August 14, 1945, which marked the end of the Second World War, was the cornerstone for the creation of seventy-four years of relative stabilization of Western Europe. The sustained technological, economic and social development that has taken place since then has retained in the collective mind of the peoples the idea of immutable prosperity, despite the incidence of some political, economic and financial crises that have hit the world hard, but which were quick nonetheless, except the 2008 crisis. The first news reports about the emergence of a new coronavirus in Asia in late 2019 felt like a mere breeze coming from the East, but when the World Health Organization announced on March 11, 2020 that the outbreak had risen to the category of a pandemic, mankind suddenly became aware of the real size of the ditch the virus would dig in the nations of the so-called Western world. The “year that turned the world upside down” suddenly changed drastically and irreversibly our way of life in the personal, family, social and professional spheres and the structures of the different economies of the old continent and, ultimately, threatened the survival of the democratic regimes themselves, which, equally unfounded, we grew used to take for granted. We had 366 days of long, dark hours that, nevertheless, will go down in history on a positive note, in light of the resilience of people and companies in the (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)
FORCASTS 2021
“A O S T I T U L A R E S DE CARGOS PÚBLICOS COUBE A ENORME RESP ONSABILIDADE DE CONSTRUIR SOLUÇÕES DE R E S P O S TA I N O VA D O R A S E E F I C A Z E S .”
não obstante, também se inscreverão positivamente na história, pela resiliência de pessoas e empresas na hercúlea batalha pelo controlo da pandemia, da proteção das pessoas e pela recuperação da economia. A forma articulada e eficaz com que se investigaram, desenvolveram, produziram e distribuíram vacinas, constituem cabal exemplo da magnitude do esforço global da humanidade. Por outro lado, em Portugal, o desempenho abnegado dos trabalhadores do Serviço Nacional de Saúde, dos agentes de autoridade e proteção civil e, muito em particular, dos milhares de empresários que nos haviam colocado como um País a crescer, sustentadamente, acima da média europeia, é merecedora de elevadíssima nota de destaque. Aos titulares de cargos públicos coube a enorme responsabilidade de construir soluções de resposta inovadoras e eficazes. Neste quadro, o Governo da República, as autarquias locais e as entidades desconcentradas do Estado, revolucionaram – eficazmente - a sua forma de intervenção, apoiando a economia em 22 mil milhões de euros, negociando pacotes financeiros de recuperação e transição no valor de 57,9 mil milhões de euros, a aplicar até 2029, acelerando a transição digital e criando novos mecanismos de proteção social e laboral. No seu conjunto, estas medidas representam uma verdadeira ponte sobre o abismo que a pandemia abriu, uma infraestrutura de políticas públicas que nos tem permitido atravessar, com tanta normalidade quanto possível, sob um mar de absoluta exceção. O otimismo realista é, neste contexto, o nosso melhor instrumento. Na vertigem do fim da história, aguarda-nos sempre um novo recomeço. Providos de conhecimento científico, humanismo e visão estratégica temos uma oportunidade ímpar de edificar novos paradigmas. Na alvorada deste novo tempo, em que a esperança se reacende, mas há ainda tanto por fazer, deixemo-nos guiar pelas palavras belas de Sebastião da Gama. “Chegamos? Partimos. Vamos. Somos.” l
Herculean battle for the control of the pandemic, protection of people and recovery of the economy. The articulated and effective manner how vaccines were researched, developed, produced and distributed are a clear example of the size of mankind’s global effort. In Portugal, the selfless performance of the workers of the National Health Service, of the law enforcement and civil protection authorities and, in particular, of the thousands of entrepreneurs who enable the country to grow in a sustained manner and above the average European, deserves a very high note too. Public officials had a huge responsibility to build innovative and effective response solutions. In this context, the Government of the Republic, the local authorities and the different entities of the State have effectively revolutionized their intervention, supporting the economy with 22 billion euros, negotiating financial recovery and transition packages worth EUR 57.9 billion to be applied until 2029, speeding up the digital transition and creating new social and labour protection mechanisms. Taken as a whole, these measures represent a true bridge over the abyss that the pandemic has opened and thanks to infrastructure of public policies that has allowed us to cross, as normally as possible, this sea of absolute exception. Realistic optimism is, in this context, our best tool. In the vertigo of the end of history, a new start always awaits us. Provided with scientific knowledge, humanism and strategic vision, we have a unique opportunity to build new paradigms. At the dawn of this new time, when hope is rekindled, but there is still so much to do, let us be guided by the beautiful words of Sebastião da Gama. “Are we there already? We leave. We go. We are.” l
“PUBLIC OFFICIALS HAD A HUGE RESPONSIBILITY TO B U I L D I N N O VA T I V E A N D EFFECTIVE RESPONSE S O L U T I O N S .”
33
Top ten fastest-growing countries
GDP
% change on a year earlier -5
0
5
10
15
20
Macau 35.4
Guyana 23.0
British Virgin Is 11.5
Libya 20.9
Sint Maarten 9.3
Peru 9.2
Albania 8.5
Antigua & Barbuda 8.0
Maldives 8.0
North America
Western Europe
Eastern Europe
3.6
5.2
3.8
Britain
St Lucia 8.0
Russia
Canada France
Venezuela
3.7
Brazil
Japan
1.7
India Vietnam
Asia
Angola Peru
S Korea
China Libya Egypt
1.7
Mexico
Latin America
Syria
Middle East & north Africa
United States
5.7
Sub-Saharan Africa
excluding Japan, Australia and New Zealand
S Africa
1.6
Indonesia
Australia
Australasia
1.6 Climbing back
GDP per person, $ at purchasing-power parity 2010 =100
China
Food for thought 200
Commodity prices, % change on a year earlier, annual average
40
Crude oil 175
20 Food, feedstuffs and beverages
India 150 Germany US Britain 125 Canada S Africa Brazil
0 Industrial raw materials
-20
100 -40
2010
34
12
14
16
18
20 21
2016
17
18
19
20
21
Winners and losers from the pandemic rescue Biggest net contributors and beneficiaries from the EU funding package % of GDP
-5
0
5
10
Croatia Bulgaria Greece Latvia Slovakia Austria Sweden Netherlands Germany Ireland
15
20
25
â‚Źbn 2.9 3.3 10.1 1.6 5.1 21.5 25.6 43.7 185.1 18.7
Contributions
Receipts 15.0 15.0 43.5 5.3 15.0 7.5 9.0 12.8 51.8 3.0
Source: European Commission
Czechs keep spending Czech Republic, private consumption per person, $’000 12 9 6 3 0 2013
15
17
19
21
35
Pandemic splurge Germany, budget balance, % of GDP 2 0 -2 -4 -6 -8 2000
36
05
10
15
21
Back under water Portugal, budget balance, % of GDP 2 0 -2 -4 -6 -8 -10 2013
15
17
19
21
Lost ground Ukraine, real GDP, $bn at 2010 prices 150 140 130 120 110
2010
15
21
37
Covid crater Real GDP 2020, % change from 2019
4 0 -4
OECD average -6.2%
Vietnam
China
Myanmar
-8
S Korea
Indonesia
Pakistan
Taiwan
Catch-up delayed Bangladesh, real GDP % increase on a year earlier 8 6 4 2 0 2013
38
15
17
19
21
Australia
Thailand
Hong Kong N Zealand
N Korea
Japan
India
Singapore
Growth interrupted Kazakhstan, real GDP % change on a year earlier
6 4 2 0 -2 -4
2013
15
17
19
21
Speed bump Philippines, real GDP, $bn at 2010 prices 500 400 300 200
2010
15
20
25
39
Back to the shops
Turning on
$bn, 2021
Retail sales, % change on a year earlier Canada
United States
4,252
Energy demand, constant 2005 $bn 6 3
348 317
0
25
40
16
17
18
19
Colombia Argentina Chile
-9
20
21
100
Mexico
-3
-12 2015
75
0
-6
Mexico
50
2020
Ecuador Peru
125
2021 150
175
200
Brazil
225
State of ships Exports, % change on previous year
2020
2021
Job line
50
Colombia, unemployment rate, % 20
0
15
-50
10 -100
5 0 2013
15
17
19
Iraq
Jordan
Ethiopia Cameroon
Egypt
Iran
Algeria Israel
Morocco
Nigeria
Kenya
S Arabia
S Africa Syria
Zimbabwe
Lebanon
21
41
Blast damage Lebanon, GDP, $bn at 2010 prices 50 45 40 35 30
2013
42
15
17
19
21
Brent crude Average $ per barrel Gross fixed investment % change on a year earlier
71.1
India
World
54.4
30
18
19
42.2
45.0
20
21
0
2017
-30 2017
64.0
20
18
19
21
World GDP and trade % change on a year earlier GDP, real terms, at PPP
Trade, $ value 10 RAIN
FAIR
SUNNY
RAIN
FAIR
SUNNY
0 -10 -20 2017
18
19
20
21
Electric-vehicle registrations m
0
0.5
1.0
1.5
China EU, EFTA & Britain North America Asia excl. China Other
43
Non-performing loans India, % of gross advances Fiscal years ending March 31st 15 10 5 0 2010
RAIN
FAIR
14
16
18
21
SUNNY
RAIN
RAIN
44
12
FAIR
SUNNY
FAIR
SUNNY
RAIN
FAIR
SUNNY
IT spending 2021, $trn
% change on a year earlier 0
0.5
FAIR
3 6
Devices
2
FAIR
7 6
SUNNY
RAIN
RAIN
1.5
IT services
Enterprise software Data-centre systems
RAIN
1.0
Communications services
FAIR
SUNNY
SUNNY
RAIN
FAIR
SUNNY
45
Retail sales
2020
% change on a year earlier -6
-4
-2
0
2
2021
4
6 US Vietnam
RAIN
FAIR
China
SUNNY
India Brazil Britain
RAIN
RAIN
RAIN
RAIN
46
FAIR
SUNNY
FAIR
SUNNY
FAIR
SUNNY
FAIR
SUNNY
47
PREVISÕES 2021
RAFAEL DIOGO, ANALISTA FINANCEIRO E DE MERCADOS DO BANKINTER PORTUGAL F I N A N C I A L A N D M A R K E T S A N A LY S T AT BANKINTER PORTUGAL
FATORES DA RETOMA ECONÓMICA MUNDIAL EM 2021 FAC TO R S F O R T H E G LO B A L E CO N O M I C RECOVERY IN 2021
D
esde o início da pandemia que a área de Research do Bankinter mantém uma postura à qual chamamos de “otimismo fundamentado”. Apesar da enorme incerteza causada pela CV-19 nos últimos meses, defendemos que a mesma gerava um “choque de impacto” e não produziria danos suficientes para que ocorresse uma recessão, para além do ano 2020. E até agora tudo parece encaminhado para que isso aconteça; tudo aquilo que podia correr bem, correu ainda melhor do que poderíamos esperar. Destacamos seis fatores-chave para o contexto económico, que tiveram, ou se encaminham para ter, um desfecho positivo: (i) as vacinas, que chegam mais rápido do que nunca, e com altos níveis de eficiência; (ii) o desfecho eleitoral americano, com presidência democrata, mas escrutínio republicano; (iii) a forte proatividade dos bancos centrais no apoio à economia; (iv) a recente assinatura do RCEP na Ásia, que passou despercebido; (v) o segundo pacote de estímulos fiscais americano, prestes a ser aprovado; (vi) o acordo formal para o Brexit. Se 2020 foi um ano em que os mercados foram protagonistas - com quedas no primeiro trimestre, inéditas desde 1987, recuperações fortes desde junho e com o S&P 500 a atingir máximos históricos – acreditamos que todos os fatores referidos antes, tornarão 2021 num ano em que o protagonismo irá para a recuperação económica. Por regra, os mercados adiantam-se sempre à economia. E foi isso que despoletou as recuperações fortes dos índices acionistas na segunda metade de 2020. Ora, nos próximos meses, o regresso que prevemos do crescimento económico irá dar razão aos mercados. Quanto aos fatores que ditarão o rumo da economia global, identificamos: (i) o sucesso da 48
S
ince the beginning of the pandemic, Bankinter’s Research arm has adopted a stance we call “grounded optimism”. Despite the huge uncertainty caused by CV-19 in recent months, we argued that it would generate an “impact shock” and would not cause enough damage for a recession to take place after 2020. And everything seems to go this way; everything that could go well, went even better than we could expect. We highlight six key factors for the economic context, which were or are on track to reach a positive outcome: (i) vaccines, which arrive faster than ever, and with high levels of efficiency; (ii) the American election results, with a Democratic presidency, but Republican scrutiny; (iii) the strong proactivity of central banks in supporting the economy; (iv) the recent signing of the Regional Comprehensive Economic Partnership in Asia, which went unnoticed; (v) the second American fiscal stimulus package, about to be approved; and (vi) the formal Brexit agreement. If 2020 was a year when markets took a leading role - with slumps in the first quarter, unprecedented since 1987, strong recoveries since June and the S&P 500 reaching historic highs - we believe that all the aforementioned factors will make 2021 a year when economic recovery will take the leading role. As a rule, markets always move ahead of the economy. And that’s what triggered the strong stock index recovery in the second half of 2020. Now, in the coming months, the anticipated return of economic growth will prove the markets right. As for the factors that will dictate the course of the global economy, we identify the following: (i) the successful distribution of the vaccine during the first half of 2021, (ii) the American policy that now seems less conflicting, specifically in relation to issues such as the relationship with China and (iii) proactivity, which should be maintained by central banks and (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)
FORCASTS 2021
“ O I M PA C T O SOFRIDO PELO VÍRUS NA CHINA OCORREU ANTES DO RESTO DO MUNDO E A E X P E R I Ê N C I A N A G E S TÃ O D E PA N D E M I A S REVELOU-SE I M P O R T A N T E .”
distribuição da vacina ao longo da primeira metade de 2021, (ii) a política americana que parece agora menos conflituosa, especificamente em relação a temas como a relação com a China e (iii) a proatividade, que deve ser mantida por parte de bancos centrais e governos no apoio à economia. Para já, no processo de reativação da atividade económica, há um país que leva um avanço em relação aos restantes – a China. O impacto sofrido pelo vírus na China ocorreu antes do resto do mundo e a experiência na gestão de pandemias revelou-se importante. Em primeiro lugar, as medidas de contenção ajudaram a diminuir os contágios, em segundo, a cobertura pública das despesas de saúde foi crucial. Além desta destreza a lidar com o vírus, o Banco Central e o governo mantêm uma capacidade de manobra importante para implementar estímulos. Por fim, celebrou-se recentemente a assinatura do RCEP (Regional Comprehensive Economic Partnership), um acordo de livre comércio ente 15 países da Ásia-Pacífico. A negociação durou 10 anos e cobre um terço da população mundial. É mais um fator que mostra que o dinamismo económico e a tomada de decisão se deslocam cada vez mais para a região da Ásia-Pacífico. Quanto à evolução da economia portuguesa, defendemos desde logo que Portugal seria mais impactado do que a média da UE pela pandemia. O elevado peso do turismo, níveis de dívida pública que se mantêm muito altos e um custo dessa dívida que é superior à dos países ‘core’ eram evidências disso. Ainda assim, vemos sinais positivos na evolução da nossa economia. Desde logo, os apoios fiscais têm mantido a taxa de desemprego em níveis controlados e o mercado imobiliário continua a mostrar resiliência. Ambos os fatores serão muito importantes no médio prazo, para garantir o poder de compra e a riqueza acumulada dos portugueses. Além disso, os fundos europeus constituem uma oportunidade enorme para a retoma da atividade e para aumentar de forma estrutural a competitividade da economia portuguesa – resta saber se esta oportunidade vai ser aproveitada. l
governments when it comes to support the economy. Currently, and in the current process of revival of the economic activity, a country in particular is making progress compared to the rest - China. The impact of the virus in China occurred before the rest of the world and its experience in managing pandemics proved very important. Firstly, lockdown containment measures helped reducing contagions, and secondly, public coverage of healthcare expenditures was crucial. In addition to this ability to deal with the virus, the Central Bank and the government has still room for maneuver to implement stimulus packages. Finally, it is worth mentioning the signing of the RCEP (Regional Comprehensive Economic Partnership), a free trade agreement between 15 countries in Asia-Pacific, was recently signed. Negotiations took 10 years and this partnership covers one third of the world population. This is yet another factor that shows that economic dynamism and decision-making are increasingly moving to the Asia-Pacific region. As for the evolution of the Portuguese economy, we argue that Portugal would be more impacted by the pandemic than the EU average. The high weight of tourism, levels of public debt that remain very high and a debt cost that is higher than in the core countries were a clear proof of this. Still, we see positive signs in the evolution of our economy. Fiscal support has kept the unemployment rate at controlled levels from the outset and the real estate market continues to show resilience. Both factors will be very important in the medium term to secure the purchasing power and the accumulated wealth of the Portuguese. In addition, European funds are a huge opportunity to resume activity and to structurally increase the competitiveness of the Portuguese economy - it remains to be seen whether this opportunity will be seized. l
“ T H E I M PA C T OF THE VIRUS IN CHINA OCCURRED BEFORE THE REST OF THE WORLD AND ITS EXPERIENCE I N M A N A G I N G PA N D E M I C S PROVED VERY I M P O R T A N T.”
49
P O L Í T I C A ELE I Ç ÕE S PRE S I DE NCIAIS PORTU G U ESAS 20 21
OS DESAFIOS DOS CANDIDATOS PRESIDENCIAIS
50
PORT UGUESE PRESIDENTIAL ELECTIONS
POLITICS
SOFIA RAINHO
NO PRÓXIMO DIA 24 DE JANEIRO REALIZAM-SE AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS EM PORTUGAL. M A R C E L O R E B E L O D E S O U S A R E C A N D I DATA - S E A U M N O V O M A N DAT O E A A C O M PA N H Á - L O N A C O R R I DA E S TÃO A S O C I A L I S TA A N A G O M E S , O L Í D E R D O C H E G A , A N D R É V E N T U R A , A E U R O D E P U TA DA D O B L O C O D E E S Q U E R DA M A R I S A M AT I A S , O E U R O D E P U TA D O D O P C P J O Ã O F E R R E I R A , O C A N D I DAT O A P O I A D O P E L A I N I C I AT I VA L I B E R A L , T I A G O M AYA N G O N Ç A LV E S , E V I T O R I N O S I LVA . A PRESIDÊNCIA PORTUGUESA DA UNIÃO EUROPEIA, A DECORRER DURANTE O PRIMEIRO S E M E S T R E D E 2 0 2 1 , M A R C A O A R R A N Q U E D E U M N O V O M A N DATO P R E S I D E N C I A L , C O M TO D O S O S D E S A F I O S Q U E A M E S M A AC A R R E TA - D E S D E L O G O A E X E C U Ç ÃO D O S AC O R D O S A L C A N Ç A D O S P E L A P R E S I D Ê N C I A A L E M Ã , M E S M O N A R E C TA F I N A L D O S E U M A N DATO , N O ÂMBITO DOS DOSSIÊS DO BREXIT E DO FUNDO DE RECUPERAÇÃO EUROPEU. C O M A PA N D E M I A DA C O V I D -1 9 E A S C O N S E Q U Ê N C I A S E C O N Ó M I C A S E S O C I A I S Q U E D E L A A D V Ê M A I N DA A E N S O M B R A R O I N Í C I O D E U M N O V O M A N DATO P R E S I D E N C I A L , A VA C I N A C O N T R A O N O V O C O R O N AV Í R U S T R A Z U M A L U Z D E E S P E R A N Ç A A O F U N D O D O T Ú N E L . M A S R E S TA S A B E R S E I S S O S E R Á S U F I C I E N T E PA R A L A N Ç A R A TÃO D E S E J A DA RECUPERAÇÃO ECONÓMICA JÁ EM 2021. M A R C E L O R E B E L O D E S O U S A , A N A G O M E S , A N D R É V E N T U R A , M A R I S A M AT I A S , J OÃO F E R R E I R A , T I A G O M AYA N G O N Ç A LV E S E V I T O R I N O S I LVA FA L A M S O B R E E S T E S T E M A S , Q U E S E R Ã O I N C O N T O R N ÁV E I S N O S P R Ó X I M O S M E S E S , E A N T E C I PA M A I N DA Q U A I S O S G R A N D E S D E S A F I O S Q U E M A R C A R ÃO O P R Ó X I M O M A N DATO P R E S I D E N C I A L .
A PRÉMIO colocou a cada um dos candidatos as seguintes questões: 1. Os acordos alcançados pela Presidência Alemã mesmo na recta final do mandato esvaziaram a Presidência Portuguesa da União Europeia? 2. Acredita que a vacina contra a Covid-19 vai permitir começar a recuperação económica já em 2021? 3. Qual o principal desafio dos próximos cinco anos do mandato presidencial?
51
FOTOS: LUSA
P O L Í T I C A ELE I Ç ÕE S PRE S I DE NCIAIS PORTU G U ESAS 20 21
> ANA GOMES 1. Não acho que a presidência portuguesa tenha ficado esvaziada. É imensa a quantidade de problemas que já se adivinham no plano europeu para resolver neste semestre. Dou alguns exemplos: a incerteza criada pelo acordo de última hora entre a União Europeia e o Reino Unido. É um acordo que vai trazer inúmeros problemas. Foi alcançado numa situação quase limite, como se viu, perante a ameaça visível de caos e violência na fronteira franco-britânica. Esse retrato, a fazer lembrar uma velha Europa, ninguém o quer. Nem os britânicos. Perderam-se anos preciosos em penosas e infrutíferas negociações, ao ritmo dos solavancos da política interna britânica e dos ziguezagues do partido conservador. O acordo do Natal foi um penso rápido para estancar uma situação que ameaçava o caos. Muito terá agora de ser trabalhado, e a sério, entre Londres e Bruxelas. Não haverá espaço, nem tempo, para mais diversões. A urgência do relançamento económico da Europa e da resposta à grave crise social e de emprego que ameaça todos os europeus irá obrigar a uma nova visão e a novos esforços de cooperação. Entre europeus e entre europeus e não europeus. Outros exemplos: o inevitável relançamento da NATO e da sua componente europeia enquanto pilar de defesa. O regresso às metas do acordo de Paris. A eleição de Joe Biden veio pôr termo a um período de retrocesso nas relações transatlânticas, que irá ser certamente revertido. Poderia dar mais exemplos: a urgência de uma regulação decente das migrações, ou os direitos humanos – ‘lato sensu’ – que estão a ser seriamente ameaçados até na Europa por movimentos xenófobos e racistas financiados por movimentos fascistas. O combate pela liberdade e pela democracia, neste momento seriamente ameaçados em alguns países do leste da Europa, inclusive dentro da UE, o combate pela diminuição das desigualdades e pela igualdade de género, por exemplo, continuarão na primeira linha da nossa atenção. Esta presidência portuguesa da UE teve início num período particularmente difícil e desafiante da nossa história e da 52
história da Europa. Portugal irá, certamente, voltar a mostrar as capacidades, a competência e o domínio das matérias que já demonstrou noutras ocasiões. 2. Este ano de 2021, será o primeiro de uma série de pelo menos cinco anos. A descoberta da vacina da Covid-19 e os primeiros resultados já conseguidos são uma luz de esperança para a humanidade. Acredito que este ano marcará o início da recuperação e da reconstrução económica de Portugal e do Mundo. Os anos seguintes do novo ciclo serão marcados pelo efeito do investimento europeu. Portugal deve aproveitar as condições de mercado, a bazuca financeira e todas as formas de apoio, para começar a construir um novo modelo económico, menos dependente do turismo e menos dependente dos baixos salários e da precariedade. As empresas portuguesas devem reforçar a aposta na inovação, na qualificação dos seus quadros e trabalhadores, na criação de produtos de maior valor acrescentado. Ao mesmo tempo, o Estado deve melhorar as respostas no Ensino Público e no Serviço Nacional de Saúde. O SNS mostrou ser o bastião da luta contra a Covid. Sêlo-á igualmente no combate e tratamento de qualquer outra pandemia ou tipo de doença, por mais sofisticada. O SNS deve, pois, ser acarinhado e reforçado e os seus profissionais devem ser acarinhados e o seu trabalho devidamente remunerado. 3. O Presidente da República não governa. É eleito para ser parte activa do sistema político, usando os poderes que a Constituição define. O PR deve usar a magistratura de influência em toda a sua extensão, com total independência de quaisquer interesses, económicos, partidários ou relacionais, para garantir que todas as instituições da República funcionam. Que existe saúde, educação, segurança, justiça, habitação, segurança social, serviços públicos para todos. E que ninguém pode ficar para trás.
PORT UGUESE PRESIDENTIAL ELECTIONS > ANDRÉ VENTURA 1 . Portugal deve ter a capacidade de o fazer, porque o discurso de cumprir objectivos não pode ser tido apenas a nível nacional. O discurso de força, empenho e união não se pode aplicar apenas ao povo português, mas deve ser tido também para com os responsáveis de todas as nações que compõem a União Europeia e a Presidência Portuguesa deve ser capaz de o aplicar. Aguardo para ver se um governo que não é capaz de fazer uma boa gestão interna o conseguirá fazer além-fronteiras. 2 . Acredito que poderá ser uma ajuda, mas as últimas notícias têm revelado que o vírus tem vindo a sofrer mutações e isso significa que a vacina poderá não fazer o efeito total pretendido. É importante olharmos para o próximo ano com alguma prudência e, especialmente, começar a desenhar um plano de retoma económica que seja aplicável com sucesso num cenário menos positivo. 3 . Creio que nunca um Presidente da República terá tido um mandato com tantos e tão difíceis desafios como terá o próximo Chefe de Estado. O novo coronavírus veio mostrar quão frágil é a economia portuguesa e quão necessário é remodelar o sistema económico nacional para que o país não esteja totalmente dependente de um único sector económico, como é o caso do turismo. Nós estamos a ver as consequências desta escolha. O Governo apostou tudo no turismo, desenvolveu políticas dirigidas a este sector, deixando outros sectores económicos para segundo plano, sectores estes que, numa fase de crime mundial como a actual, poderiam e deveriam estar mais desenvolvidos e melhor preparados.
POLITICS
Se para responder aos graves problemas sociais do País, para reforçar e ampliar a capacidade produtiva nacional e melhorar a qualidade dos serviços públicos, para garantir os privilégios e rendimentos dos grandes grupos económicos. Se decidindo Portugal sobre eles de forma soberana, se deixando que seja Bruxelas, ou seja, os interesses das principais potências europeias, a decidir o seu destino. Portugal, durante a sua presidência do Conselho da UE, pode contribuir para colocar em cima da mesa estas preocupações, com toda a centralidade que merecem, rejeitando inevitabilidades e as velhas lógicas de submissão. Pode contribuir, assim, para a defesa da soberania e do direito de cada Estado a decidir sobre o seu futuro, numa Europa de cooperação entre Estados soberanos e iguais em direitos, de progresso social e de paz. 2 . Numa fase em que existem notícias positivas quanto a várias vacinas em fase final de desenvolvimento, importa, assegurada cientificamente a sua segurança e eficácia, garantir o acesso às mesmas a todos os portugueses. Esse é um importante passo para a defesa da saúde de todos e contribuirá, por certo, para um regresso à normalidade. Porém, estou convicto de que a necessária retoma e dinamização da vida económica, social, cultural, não pode depender exclusivamente disso. Há respostas que tardam e podiam (e ainda podem) responder aos impactos da pandemia. Uma das lições que podemos tirar dos tempos que vivemos é de que foi o mercado interno a suster e impedir um tombo ainda maior da economia. Ora, a ausência de medidas de defesa e de valorização dos rendimentos dos trabalhadores e das suas famílias, dos
> JOÃO FERREIR A 1 . A Presidência Portuguesa nunca se poderia esgotar nas questões que foram alvos de acordos na Presidência Alemã. Há ainda importantes matérias a decidir, como por exemplo a Reforma da Política Agrícola Comum. Mas a questão central são as opções do Governo Português em cada uma das matérias com que vai ter de lidar, seja na defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores e dos povos, seja na defesa dos legítimos interesses nacionais. Por exemplo, nos acordos já alcançados pela Presidência Alemã, além das profundas contradições e obstáculos, mais ou menos ultrapassados, há elementos que não podem deixar de merecer alguma cautela. Alerto, por exemplo, para o corte significativo nas verbas do orçamento destinadas à “coesão económica, social e territorial” e à agricultura e pescas – áreas fundamentais para o nosso País -, assim como para o aumento da contribuição nacional para o Orçamento da UE. Além disso, o Fundo de Resolução, que disfarça temporariamente estes cortes, além de insuficiente e de natureza temporária, não corresponde exatamente a uma subvenção a fundo perdido, que se exigiria, uma vez que virá provavelmente a ser pago por via de reduções de recebimentos futuros pós-2027. Posto isto, não é indiferente a forma como serão usados os fundos.
desempregados, dos reformados, ou seja, medidas que dinamizem a procura, a par de medidas que actuem do lado da oferta, dinamizando e ampliando a capacidade produtiva nacional, desbloqueando a oferta, assegurando a solvência de milhares de MPME, compromete a recuperação do País. 3 . Os problemas estruturais do País ganharam uma dimensão reforçada com a pandemia. A resposta à pandemia, com medidas de emergência, deve integrar-se na necessidade de resposta mais ampla aos problemas estruturais que Portugal arrasta há décadas, 53
P O L Í T I C A ELE I Ç ÕE S PRE S I DE NCIAIS PORTU G U ESAS 20 21 o que certamente exige uma mudança de curso na vida nacional. O Presidente da República não pode resignar-se perante um país com o futuro comprometido e sem esperança. Pelo contrário, exercendo os poderes que a Constituição lhe atribui pode e deve contribuir para essa mudança de curso na vida do País. Como? No momento da sua tomada de posse, o Presidente da República jura defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa. Esse juramento tem de ser levado a sério. O País está confrontado, há demasiado tempo, com um conflito crescente entre o que está consagrado na Constituição e a realidade vivida pelos portugueses. Um conflito que resulta da acção de sucessivos governos, com a cumplicidade de sucessivos Presidentes da República, que se afastaram da Constituição e do projecto de desenvolvimento nela vertido. Neste conflito está a causa de muitos dos problemas que enfrentamos. Por essa razão precisamos de alinhar a acção do Estado e dos seus órgãos de soberania com a Constituição da República, como meio de a alinhar com a resposta às necessidades dos trabalhadores, do povo e do País. A valorização do trabalho e dos trabalhadores, dos seus salários, direitos, a melhoria das suas condições de vida; a melhoria dos serviços públicos, com a concretização plena do direito à saúde, reforçando o SNS, mas também do direito à habitação, ao ensino, à cultura, a um ambiente sadio e ecologicamente equilibrado; a garantia de perspectivas de autonomização e de realização pessoal e profissional aos mais jovens; a garantia de uma vivência gratificante para os mais idosos depois de uma vida de trabalho; o combate às desigualdades e discriminações; o aumento da produção nacional; o apoio aos micro e pequenos empresários, contra a dominação da vida nacional pelos grandes grupos económicos e financeiros. Tudo isto são objectivos inscritos na letra e no espírito da Constituição. Não podem ser letra morta nas suas páginas, têm de ser realidade na vida do País. Com a Constituição do nosso lado, este é o tempo de, com coragem e confiança, abrirmos um horizonte de esperança na vida deste País.
2. A vacinação pode contribuir para o começo da recuperação. Mas impõe-se que a prevenção e a resposta à pandemia não afrouxem, porque a pandemia pode ir mais rápida do que a vacinação durante tempo ainda indeterminado. Por outro lado, impõe-se que os planos de recuperação, eles próprios, vão arrancando e criando condições, tanto a nível nacional como a nível europeu, para que 2021 possa ser melhor do que as previsões conhecidas permitem conjecturar.
> MARCELO REBELO DE SOUSA
uns bons e outros maus, uns virtuosos e outros vilões, ou seja, visão nacional, respeitando o pluralismo democrático, mas indo além dos muros e barreiras dos egoísmos individuais ou de grupo.
1. A presidência alemã - nomeadamente no tocante às decisões em matéria financeira e o acordo com o Reino Unido - abriu caminho para a presidência portuguesa, mas fez aumentar, também, as suas responsabilidades e os seus trabalhos. Assim, o primeiro semestre de presidência portuguesa terá de lidar com a aplicação das aludidas decisões financeiras - implicando uma vasta regulamentação - e com a execução do acordo com os britânicos. Além disso, há vertentes essenciais que dominarão a presidência portuguesa, da pandemia - incluindo a vacinação - à prioridade ao social - que abrange a Cimeira dedicada aos efeitos sociais da crise - das alterações climáticas e da transição energética ao digital, das migrações e refugiados às relações com África, de novas perspectivas entre União Europeia e EUA à Cimeira com a Índia e ao futuro do entendimento com o Mercosul. Em suma, um semestre cheio, difícil, mas essencial para todos nós, europeus, e para a projecção da Europa no mundo.
54
3. São cinco - por fases. Primeira fase - superar a pandemia e fazer arrancar a recuperação. Segunda fase - converter a recuperação em mais do que isso - em refazer estrutural do que tem de ser refeito ou reconstruído, mesmo para além do que prevêem os planos de recuperação. Uma e outra fase -com prioridade ao social, à prioritária redução da pobreza e às desigualdades pessoais, de grupo e territoriais e com fortalecimento do sistema político. Tudo, pressupondo proximidade, estabilidade, compromisso no essencial, vitalização de área de Governo e alternativa forte na oposição e permanente ultrapassagem de uma visão de fação, de
> MARISA MATIAS 1. Espero que a União Europeia consiga dar esse passo. Temse discutido quanto é esse financiamento e sabemos que provavelmente ficará aquém do necessário. Mas é preciso discutir também para que é esse financiamento. O essencial é que estejamos prontos para realizar os investimentos de que a nossa economia precisa. Precisamos, desde logo, para responder às vítimas das consequências económicas desta crise. E precisamos de saber que não há economia sem trabalho com direitos, que é urgente criar empregos para a transição energética e que a ferrovia foi esquecida e necessita de investimento urgente. E, por fim, que tudo seja feito com transparência. Não podemos repetir os erros do passado no que toca a esta questão. Mais vale tarde que nunca. Se não foi na anterior Presidência, que seja agora.
POLITICS FOTOS: LUSA
PORT UGUESE PRESIDENTIAL ELECTIONS 2. A possibilidade de olharmos para 2021 já com uma (neste caso, várias) vacinas que responde a esta pandemia é, obviamente, um sinal muito positivo, que nos dá esperança. Mas haverá muito a fazer. Os efeitos sociais e económicos
> T I AG O M AYA N G O N Ç A LV E S
desta pandemia fizeram-se sentir desde a primeira hora. Quanto mais fraco era o vínculo laboral das pessoas, mais elas sofreram. Precários, trabalhadores em período experimental e com contrato a prazo foram os primeiros a ser despedidos. Milhares de pessoas perderam salário ou viram o seu pequeno negócio ter de encerrar. Os profissionais de saúde, que são menos hoje do que no início da pandemia, multiplicam horas extraordinárias para responder pela nossa saúde, colocando a deles em risco. Isto para dizer que a recuperação económica é também ela fruto de opções políticas de fundo. Haverá recuperação económica sem mudanças estruturais? Eu defendo que não. Que deveríamos ter já dado o passo de mudar as leis laborais para garantir segurança no trabalho, e que deveríamos ter uma estrutura de apoios sociais extraordinários que, durante toda esta fase, não deixasse ninguém para trás. 3. Candidatei-me há cinco anos porque era decisivo reforçar um caminho alternativo à política de ataque aos salários, às pensões e ao Estado Social da ‘troika’ e da direita. Hoje, e nos próximos anos, temos de responder novamente a algumas perguntas essenciais: temos de saber que futuro reservamos para o Serviço Nacional de Saúde, que leis laborais é que vigoram neste país, se mantemos a mesma subserviência ao poder económico, entre muitas outras. O papel do Presidente da República não é governar, é certo. Mas alguém ignora que as ausências de Marcelo Rebelo de Sousa nas lutas de quem pedia mais direitos laborais, bem como a sua forte presença na defesa dos hospitais privados e do poder financeiro não tiveram o condão de influenciar as decisões políticas sobre estas matérias? O meu maior desafio será este. Ser uma Presidente que promove acordos para reforçar o Estado Social, o SNS, as pensões, a escola pública, políticas de habitação pública, leis laborais sem a presença da ‘troika’.
1. Acima de tudo, o que esvazia o posicionamento de Portugal nesse contexto é o permanecermos os pedintes da Europa, mesmo após décadas de fluxo contínuo de fundos europeus, permanentemente desperdiçados. Éramos pobres quando entrámos no contexto de 12 Estados-membros, continuamos hoje pobres e a piorar no ‘ranking’, no contexto de 27 Estados-membros. Nessa posição, nunca haverá capacidade de iniciativa e liderança efectivas, independentemente dos desafios que se apresentem. Ter sido possível atingir, nesta Presidência alemã da UE, resultados definitivos nas negociações para o Brexit, para a “bazuca europeia” ou para a vacinação Covid a nível europeu são boas notícias. Durante uma vigência da Presidência da UE por António Costa seriam de esperar resultados piores, uma vez que vimos que, com o Primeiro Ministro, seriam dispensáveis critérios de respeito do Estado de Direito para atribuição de fundos europeus (tal como deixou claro na visita que fez a Viktor Orbán), ou poderia sobrepor-se uma desconfiança ideológica quanto ao papel dos privados no combate à pandemia, por exemplo. Há, no entanto, um conjunto de enormes desafios durante os próximos meses para a UE, nomeadamente quanto ao desenvolvimento do plano de vacinação e, acima de tudo, quanto a tornar efectivo, o mais rápido possível, o regresso à normalidade nos e entre os Estados-membros. 2. Acredito que poderá ajudar a mudar o paradigma da abordagem que temos visto nos últimos meses, em que os governantes se focaram quase exclusivamente na resposta à pandemia e nos indicadores Covid, esquecendo ou pior, submetendo, tudo o resto a esse paradigma. Foi o apelo ao medo que tornou possível a muitos Estados fazê-lo, nomeadamente Portugal, mesmo quando as medidas tomadas eram ilegais, desnecessárias ou desproporcionadas (tal como é alertado num recente relatório do IDEA – International Institute for Democracy 55
P O L Í T I C A ELE I Ç ÕE S PRE S I DE NCIAIS PORTU G U ESAS 20 21
> V I T O R I N O S I LVA 1 . Os acordos alcançados são a demonstração da falta de confiança na governação portuguesa. Assim, a Alemanha ficou com o trunfo do acordo alcançado, deixando a Portugal a difícil missão da concretização dos mesmos. 2 . A certeza que temos é que a vacina trouxe uma esperança necessária a colocar fim ao medo que existia na sociedade portuguesa. Sobre a recuperação económica vai depender da confiança que se consiga transmitir à população. 3 . O principal desafio será o combate à nova pobreza que deriva das medidas adoptadas no período do confinamento, a aposta na recuperação do tecido económico e empresarial e a luta por uma democracia mais transparente e com menos corrupção. l
56
continuamente encostadas ao Estado (sendo a TAP o exemplo recente mais paradigmático). 3. Contribuir para a única esperança de futuro que podemos ter, que passa por tornar Portugal mais liberal. Devolver o poder aos cidadãos, em vez de continuar a concentrá-lo no Estado. Sejamos claros, se não fizermos isso, se não mudarmos o rumo que temos tido nas últimas décadas, o nosso destino será uma nova bancarrota, já num horizonte muito próximo. As políticas estatistas e centralistas das últimas décadas, de mais poder e controlo do Estado, levaram a um País totalmente estagnado do ponto de vista social e económico, um País totalmente bloqueado e incapaz de sair “da cepa torta”. A subida contínua do esforço fiscal retirou capacidade de poupança e investimento aos Portugueses; as teias burocráticas impedem qualquer iniciativa; as cadeias de dependência de empresas encostadas ao Estado matam as oportunidades de quem quer vingar num mercado concorrencial; as derivas autoritárias põem em causa os mais básicos direitos fundamentais dos cidadãos. Em cada exemplo destes, o desafio é tomar o rumo contrário, de libertação e devolução do poder às pessoas.
FOTO: LUSA
and Electoral Assistance) ou quando o efeito dessas acções ou da viragem de foco era atentatório de outros aspectos essenciais, tais como a saúde não-Covid, a sobrevivência do tecido económico, a manutenção de níveis mínimos de conforto e rendimento para as famílias, os direitos, liberdades e garantias das pessoas. Contribuindo a vacinação para uma mitigação do medo da população quanto à pandemia, deverá então permitir um recentrar das atenções no problema do “tsunami” de destruição social e económica que já se sente e se agravará em 2021. No entanto, não será a vacinação que levará à recuperação económica; serão os Portugueses, que poderão estar vacinados, mas nada poderão fazer se não estiverem libertos do peso excessivo do Estado e capacitados para recomeçarem as suas vidas, terem iniciativa, criarem, investirem e contratarem. Por isso é essencial que a grande prioridade da “bazuca europeia” seja o de começar a devolver o poder às pessoas, nomeadamente por via do alívio fiscal e do estímulo directo ao investimento e à contratação. Infelizmente, temos ouvido prioridades trocadas nesse aspecto, com ideias megalómanas de grandes projectos e obras públicas (hidrogénio, aeroporto do Montijo, etc.), ou investimento (sempre perdido) nas empresas
E o que tem mais o Diário de Notícias?
SEXTA
O lado bom da vida
SÁBADO
Cultura e lifestyle e a economia que é útil para a sua vida
DOMINGO
Tudo sobre família e comportamento humano
O ESSENCIAL DA INFORMAÇÃO, TODOS OS DIAS EM BANCA 57
POLÍTICA
AÇORES
PEDRO DE FARIA E CASTRO, SUBSECRETÁRIO REGIONAL DA PRESIDÊNCIA REGIONAL UNDERSECRETARY OF THE PRESIDENCY
A TERCEIR A VAGA D OS AÇORES T H E T H I R D WAV E I N T H E A Z O R E S
E
m 2021 assinalamos o 45º aniversário da autonomia político-administrativa dos arquipélagos dos Açores e da Madeira. O contexto político nacional que se vivia em 1976 permitiu finalmente a concretização de uma velha aspiração das ilhas atlânticas, não só justa como essencial para o seu desenvolvimento económico e social. A criação de órgãos de governo próprio, legitimados pela vontade dos povos insulares, não foi uma conquista fácil. Os deputados constituintes que representaram os quatro distritos autónomos – três açorianos e um madeirense – viram-se confrontados com uma forte reacção centralista de vários sectores políticos continentais, porventura os que mais se arrogavam à defesa dos valores democráticos. Quarenta e cinco anos depois, a autonomia político administrativa dos Açores e da Madeira continua a ser, e será, uma realidade, consolidada pela vontade e persistência das suas gentes. A Região Autónoma dos Açores está a iniciar uma nova fase no seu processo autonómico. A terceira. Os primeiros dez anos, que corresponderam à criação da estrutura política da região autónoma, foram um período de enormes dificuldades financeiras. As exigências eram muitas, numa região onde, até então, o desenvolvimento passava ao lado, e só visitado quando as circunstâncias do interesse estratégico português ditavam a sua utilização de forma muito pontual e sem atender às reais necessidades dos Açorianos. Assim, entre 1976 e 1986, foram construídas as grandes infraestruturas de transportes marítimos e aéreos, modernizou-se uma rede viária muito frágil, dotaram-se várias ilhas de equipamentos de saúde até então inexistentes e redimensionou-se a rede de ensino. Mesmo com o forte abalo sísmico, em 1980, que afectou de forma dramática as ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa, a autonomia político-administrativa seguiu o seu rumo. A segunda fase corresponde à integração europeia. Com a 58
2
021 marks the 45th anniversary of the political and administrative autonomy of the archipelagos of the Azores and Madeira. The national political context that was experienced in 1976 finally allowed the materialisation of an old aspiration of the Atlantic islands, not only fair but essential for their economic and social development. The creation of self-governing bodies, legitimized by the will of the peoples in these islands, was not an easy achievement. The constituent deputies representing the four autonomous districts - three Azoreans and one Madeiran were confronted with a strong centralist reaction from various continental political sectors, quite oddly and maybe those who pride themselves of defending democratic values. Forty-five years later, the political and administrative autonomy of the Azores and Madeira continues to be and will be a reality, consolidated by the will and persistence of its people. The Autonomous Region of the Azores is starting a new stage in its autonomic process. The third. The first ten years, which corresponded to the creation of the political structure of the autonomous region, were a period of huge financial difficulties. The requirements were many, in a region where, until then, development circumvented the region and only visited it when the circumstances of the Portuguese strategic interest dictated its use, on occasion and without meeting the real needs of the Azoreans. Thus, between 1976 and 1986, the major infrastructures for maritime and air transport were built, a very fragile road network was modernized, several islands were allocated hitherto nonexisting health equipment and the education network was resized. Even with the strong earthquake in 1980, which dramatically affected the islands of Terceira, São Jorge and Graciosa, political and administrative autonomy followed its course. The second phase corresponded to the European integration. With the accession of Portugal in 1986, the Azores also became part of the European Communities as it was known back
AZORES
adesão de Portugal em 1986, os Açores também passaram a ser parte das então Comunidades Europeias. E as condições do processo de desenvolvimento económico e social melhoraram significativamente. A política regional europeia, vocacionada para alavancar o PIB ´per capita´ das regiões com níveis daquele indicador significativamente inferiores à média comunitária, trouxe uma nova aceleração ao desenvolvimento dos Açores. Paralelamente, depois de um notável trabalho político das lideranças regionais junto dos respectivos Estados e das instituições comunitárias, as regiões insulares mais afastadas do continente europeu viram reconhecido o estatuto da ultraperiferia. E os Açores lá estavam. Com a Madeira. A ultraperiferia é um conceito que resulta da necessidade de regiões com características específicas, que se revelam como desvantagens permanentes face à sua integração no mercado único europeu, poderem superar essas desvantagens através de políticas da União Europeia. Essas políticas podem-se traduzir pela adopção de programas específicos – o caso dos programas POSEI – ou pela adaptação do acervo legislativo da União Europeia às circunstâncias especiais das regiões ultraperiféricas. Em 1996, era esse o caminho que preparávamos. Durante vinte e cinco anos, os Açores viveram uma aparente tranquilidade, à sombra do esforço produzido no período inicial - com as infraestruturas básicas concluídas -, e do reforço significativo dos apoios financeiros da União Europeia, resultado da vontade da União em promover o desenvolvimento harmónico de todas as suas regiões. Mas a falta da adopção de políticas estruturais na Região resultou no deficiente aproveitamento dos recursos disponibilizados pela Europa, mantendo os Açores nos níveis mais baixos do ‘ranking’ de desenvolvimento das regiões europeias. Foi, portanto, um período de sobrevivência autonómica, sem que se possa ter vislumbrado verdadeiros ganhos políticos, em nome do desenvolvimento económico e social dos Açores. Temos agora a grande oportunidade para iniciar uma nova fase na vida dos açorianos, com uma nova liderança política, portadora de novas ideias e de um novo ímpeto governativo, e com a particular marca de resultar, pela primeira vez, de um programa político pluripartidário. José Manuel Bolieiro, o Presidente do Governo dos Açores, tem a missão de voltar a unir os açorianos, nas suas nove ilhas, e de construir novas vias de diálogo político, quer com os órgãos de soberania de Portugal, quer com as instituições da União Europeia, num processo fundado no princípio da subsidiariedade, reconhecido e afirmado pela Constituição portuguesa e pelos Tratados europeus. Os Açores são uma região ultraperiférica da União Europeia. Mas, para a Europa, também representamos uma centralidade. A centralidade atlântica, tão cara à dimensão geopolítica, que afirma a Europa no Mundo. Marcamos o limite ocidental do Velho Continente e esse limite é o elo essencial de ligação com as Américas e a África Atlântica. Retomamos, assim, uma missão histórica, valendo-nos dos meios que constroem o futuro. l
POLITICS
then. And the conditions of the economic and social development process have improved significantly. The European regional policy, aimed at leveraging the “per capita” GDP of regions with levels of that indicator significantly below the Community average, brought a new acceleration to the development of the Azores. At the same time, after the remarkable political work by the regional leaders with their respective States and community institutions, the island regions furthest from the European continent had their status of outermost region duly recognized. And the Azores were there. With Madeira. Outermost region is a concept that results from the need for regions with specific characteristics, which have permanent disadvantages in view of their integration into the European single market, to overcome these disadvantages through European Union policies. These policies can be translated into the adoption of specific programs - the case of POSEI - Programme of options specifically relating to remoteness and insularity - or the adaptation of the European Union’s legislative acquis to the special circumstances of outermost regions. In 1996, this was the path we were preparing. For twenty-five years, the Azores experienced an apparent tranquillity, in the shadow of the effort produced in the initial period - with the basic infrastructures completed -, and the significant reinforcement of the European Union’s financial support, the result of the Union’s desire to promote harmonious development from all its regions. However, the failure to adopt structural policies in the Region resulted in a deficient use of the resources made available by Europe, keeping the Azores at the lowest levels of the development ranking of European regions. It was, therefore, a period of autonomous survival, without real political gains being seen, in the name of the economic and social development of the Azores. We now have a major opportunity to start a new phase in the life of the Azoreans, with a new political leadership, with new ideas and a new governmental impetus, and with the particular mark of this resulting, for the first time, from a multi-party political program. José Manuel Bolieiro, the President of the Government of the Azores, has the mission to reconnect the Azoreans, with its nine islands, and to build new paths of political dialogue, both with the sovereign bodies of Portugal and with the institutions of the Union European Union, through a process based on the principle of subsidiarity, acknowledged and stated by both the Portuguese Constitution and by the European Treaties. The Azores are an outermost region of the European Union. But we may be also central for Europe. The Atlantic centrality, so dear to the geopolitical dimension, that affirms Europe in the World. We establish the western frontier of the Old Continent and that frontier is an essential link with the Americas and Atlantic Africa. We may thus resume an historical mission, using the means that are there to build the future. l 59
DIPLOMACIA
VÍTOR SERENO, EMBAIXADOR DE PORTUGAL NO SENEGAL PORTUGUESE AMBASSADOR TO SENEGAL
U M #P ORTUGALMO DER NO ECO M PETITIVO E UMA EUROPA VERDE E GLOBAL NA ÁFRICA OCIDENTAL A #MODERNANDCOMPETITIVEPORTUGAL A N D A G R E E N AND GLOBAL EUROPE IN WEST AFRICA
N
a Embaixada de Portugal em Dakar – responsável por sete países e um milhão de quilómetros quadrados de costa, deserto saheliano, numa zona económica estável onde Estados partilham uma moeda única – 2020 começou com bons augúrios: dois memoráveis meses marcados pela honra pessoal da atribuição do prémio de diplomata económico do ano, visitas de alto nível e a inauguração de nova Chancelaria. Os notáveis esforços da nossa equipa de trabalho adivinhavam um ‘annus mirabilis’… No entanto a pandemia – o primeiro ‘stress test’ global multidimensional de duradouras consequências – forçou a Embaixada a demonstrar toda a sua resiliência institucional. Medidas concretas foram, apesar disso, adotadas em tempo útil: Foi criado o teleatendimento consular, para a desmaterialização dos atos consulares, especialmente gizado para os cidadãos portugueses na Costa do Marfim, Libéria, Gâmbia, Serra Leoa, Burquina Faso e Guiné-Conacri; A realização de sessões virtuais do novo Conselho Consultivo Económico da Embaixada, em articulação com a Eurocham e a Câmara de Comércio Portugal-
60
A
t the Portuguese Embassy in Dakar - covering seven countries and one million square kilometres of coastline, the Sahelian desert and located in a stable economic region where states share a single currency - 2020 started with good omen: two memorable months marked by the personal honour of having received the economic diplomat of the year award, highlevel visits and the opening of a new Chancellery. The remarkable efforts of our work team pointed to an ‘annus mirabilis’... But the pandemic - the first global multidimensional stress test of lasting consequences - forced the Embassy to show its institutional resilience. Concrete measures were nevertheless adopted in due time: A consular call centre was created for the dematerialization of consular acts, specially designed for Portuguese citizens in the Ivory Coast, Liberia, Gambia, Sierra Leone, Burkina Faso and Guinea-Conakry; The holding of virtual sessions of the new Economic Advisory Board of the Embassy, in conjunction with (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)
DIPLOMACY
-Senegal, que permitiu igualmente reforçar o contacto com todos os empresários portugueses, presentes na nossa área de jurisdição; O valor pecuniário do prémio Diplomata Económico do Ano, foi usado no desenvolvimento (por tecnologia nacional) de uma pioneira ‘app’ dedicada a criar pontes entre empresários. A “Unio” permite um eficiente ‘matchmaking’ entre empresas portuguesas e senegalesas; No âmbito da responsabilidade social, juntámo-nos à “ColorAdd” e somos a primeira Embaixada certificada com o seu sistema de identificação de cores para daltónicos, um projeto inovador que ilumina a vida de 350 milhões de pessoas; Em matéria da diplomacia desportiva, organizámos o primeiro torneio de futebol entre Embaixadas e Organizações Internacionais em Dakar, a “Mourinho Diplomatic Cup”, generosamente apadrinhada pelo “Special One”; Como o diálogo intercultural é de extrema importância para reforçar as nossas relações de cooperação com o Senegal, foi lançado um concurso de arte digital, com participação e empenho de jovens artistas portugueses e senegaleses; neste âmbito, promovemos ainda um evento de arte urbana protagonizado pela criadora Krus (Sofia Cruz). Empenhámo-nos ainda na realização da “Cuisine de la mer”, duas inesquecíveis noites de gastronomia portuguesa, lideradas pelo prestigiado ‘Chef’ Rodrigo Madeira. Na área da cooperação para o desenvolvimento, apoiámos a realização de projetos em educação, saúde, preservação dos oceanos e migração; Impõe-se uma nota de reconhecimento ao comportamento das nossas Comunidades residentes nos sete países da jurisdição desta Embaixada que decidiram, colaborando exemplarmente com os nossos Serviços Consulares, o seu regresso à Europa, durante a primeira vaga “covidiana”: 208 concidadãos, sejamos precisos porque cada um conta! Estas medidas inscrevem-se harmoniosamente nos objetivos da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia (PPUE): promover uma recuperação europeia alavancada pelas transições climática e digital e reforçar a autonomia estratégica de uma Europa aberta ao mundo. Para 2021, a PPUE apostará em mecanismos para concretizar uma Europa Verde, dando prioridade à implementação do Pacto Ecológico Europeu e aprovando a primeira Lei Europeia do Clima, que permite acelerar a transição digital e Global – ao apostar no multilateralismo eficaz e no posicionamento geopolítico da UE como ator central. Tendo ainda em vista a Cimeira UE-União Africana e a consolidação de uma parceria mutuamente frutífera, promovendo, em paralelo, uma reflexão
Eurocham and the Portugal-Senegal Chamber of Commerce, which was also there to reinforce contact with all Portuguese entrepreneurs in our jurisdiction; The monetary value of the Economic Diplomat of the Year award was used in the development (using Portuguese technology) of a pioneer app focused on establishing bridges between entrepreneurs. “Unio” allows efficient matchmaking between Portuguese and Senegalese companies; In the area of social responsibility, we joined “ColorAdd” and we are the first Embassy certified with its colour identification system for colour blind people, an innovative project that sheds colour on the lives of 350 million people; As regards sports diplomacy, we hosted the first football tournament between Embassies and International Organizations in Dakar, the “Mourinho Diplomatic Cup”, generously sponsored by the “Special One”; Intercultural dialogue is extremely important to strengthen our cooperative relations with Senegal and to this end a digital art contest was launched, with the participation and commitment of young Portuguese and Senegalese artists; within this framework we also promoted an urban art event starring the artist Krus (Sofia Cruz). We engaged also on the hosting of “Cuisine de la mer”, two unforgettable nights of Portuguese cuisine, led by the prestigious ‘Chef ’ Rodrigo Madeira. In the area of development cooperation, we supported the implementation of projects in the fields of education, health, preservation of the oceans and migration; Please allow me to acknowledge the behaviour of our Communities residing in the seven countries covered by the jurisdiction of this Embassy who, working together in an exemplarily manner with our Consular Services, made the decision to return to Europe, during the first “covidian” wave: 208 fellow citizens, to be precise because everyone counts! These measures fall within the objectives of the Portuguese Presidency of the Council of the European Union (PPEU): promoting a European recovery leveraged by climate and digital transition and strengthening the strategic autonomy of a Europe open to the world. For 2021, the PPEU will bet on mechanisms to achieve a GreenEurope, prioritising the implementation of the European Ecological Pact and enacting the first European Climate Law allowing us to speed up the digital and global transition - betting on effective multilateralism and the geopolitical positioning of the EU as the main actor. Anticipating the EU-African Union Summit and the consolidation of a mutually fruitful partnership, we promoted in parallel a reflection on maritime security, based on a new assessment of threats in the Gulf of Guinea. In this regard, we have started negotiations with the Senegalese authorities for the eventual introduction 61
DIPLOMACIA
“NA ÁREA DA C O O P E R A Ç ÃO PA R A O D E S E N V O LV I M E N TO, APOIÁMOS A REALIZAÇÃO DE PROJETOS EM EDUCAÇÃO, SAÚDE, P R E S E R VA Ç Ã O DOS OCEANOS E M I G R A Ç Ã O .”
sobre a segurança marítima, com base na atualização da avaliação de ameaças focada no golfo da Guiné. A este propósito, estabelecemos negociações junto das Autoridades senegalesas para a possível inserção de um painel sobre o “G7+Friends of Gulf of Guinea”, aproveitando a sinergia entre a copresidência senegalesa do Grupo, em ano de PPUE. Como é nosso apanágio gostaríamos de convidar-vos para participar e/ ou criticar, o nosso programa de ação para 2021 nas plataformas digitais de que dispomos, reiterando que a estratégia, passada e futura, que aqui ousei sintetizar não é mais do que uma escolha entre múltiplas outras possíveis, algumas certamente melhores. Mas assumimos a nossa opção e, em seu nome, somos obrigados, deontologicamente, a prestar contas. Desafio-vos, igualmente, a considerar Dakar enquanto placa giratória de acesso ao conjunto da África Ocidental, como destino de negócios, intercâmbio cultural e turismo, num contexto de sólida estabilidade institucional – a quatro horas de voo direto diário TAP. Encontrarão uma Embaixada ao Vosso serviço. Articulando iniciativas concretas e úteis para os Portugueses que nos procuram, nunca descurando a dimensão Comunicação, tentamos, assim, concorrer para o desenho de um #portugalmodernoecompetitivo sincronizado com uma Europa verde, digital e global na África Ocidental. l
62
of a panel on “G7 + Friends of Gulf of Guinea”, taking advantage of the synergy between the Senegalese co-presidency of this Group during the PPEU. As is our prerogative, we would like to invite you to participate and / or criticize, our program for 2021 on our digital platforms, restating that the strategy, both past and future, that I dared synthesising here is nothing more than a choice among multiple possible choices, some certainly better that others. But we stand by our option and that is why we are deontologically obliged to be accountable. I also challenge you to consider Dakar as a hub to access to the whole of West Africa, as a destination for business, cultural exchange and tourism, in a context of solid institutional stability - just four hours away with daily direct flights with TAP Air Portugal. This Embassy is here at your service. We articulate concrete and useful initiatives for the Portuguese who come to us, never neglecting the Communication dimension and we strive to achieve a #modernandcompetitiveportugal synchronized with a green, digital and global Europe in West Africa. l
“IN THE AREA OF DEVELOPMENT C O O P E R AT I O N , W E SUPPORTED THE I M P L E M E N TAT I O N OF PROJECTS IN THE F I E L D S O F E D U C AT I O N , H E A LT H , P R E S E R VA T I O N OF THE OCEANS A N D M I G R A T I O N .”
63
DIPLOMACIA
PEDRO COMISSÁRIO, REPRESENTANTE PERMANENTE DE MOÇAMBIQUE JUNTO DAS NAÇÕES UNIDAS, EM NOVA IORQUE PERMANENT REPRESENTATIVE OF MOZAMBIQUE IN THE UNITED NATIONS, IN NEW YORK
MOÇAMBIQUE E AS NAÇÕES UNIDAS MOZAMBIQUE AND T H E U N I T E D N AT I O N S
O
mundo acaba de celebrar a passagem do ano 2020. Trata-se dum ano que vai entrar nos anais da história como um ano especial. Trouxe enorme dor e sofrimento a todos os habitantes do planeta, pela prevalência da pandemia da Covid-19. Muitos ter-se-ão lembrado do celebre poeta inglês, John Donne, que proclamava, no seu belo poema, que “nenhum homem é uma ilha”. Já no século XVII, ele cantava, com beleza mística, a dimensão global da dor e do sofrimento e o valor sagrado da solidariedade e unicidade do género humano. Moçambique também não é uma ilha. É, no dizer do poeta, uma parte do todo. À semelhança de muitos, o nosso país vive a sua quota desta tragédia de dimensão planetária. Está entre os países da linha da frente no combate e na mitigação dos efeitos nefastos deste mal terrível que assola o seu povo e o mundo, no seu todo. Mas esta tragédia, por mais gravosa e dilacerante que seja, não faz dos moçambicanos um povo sem história. 64
T
he world has just celebrated the turn of the year 2020. This year will figure in the annals of history as a special year. It brought huge pain and suffering with it to all the inhabitants of the planet due to the prevalence of the Covid-19 pandemic. Many may recall the celebrated English poet, John Donne, who proclaimed in his beautiful poem that “no man is an island”. In the 17th century, he sang, with mystical beauty, the global dimension of pain and suffering and the sacred value of solidarity and the uniqueness of mankind. Mozambique is also not an island. It is, following the poet’s words, a part of the whole. Like many, our country is experiencing its share of this planetary tragedy. It is among the countries in the frontline fighting and mitigating the harmful effects of this terrible evil that is plaguing its people and the world as a whole. But this tragedy, no matter how serious and heart-breaking, does not make Mozambicans a people without history. Treating our sick, healing our wounds and burying
DIPLOMACY
Tratando dos nossos doentes, sarando as nossas feridas e sepultando os nossos mortos, celebrámos, com solenidade, os 45 anos da nossa independência. E, mais, marcamos, com justificado orgulho, os 100 anos do nascimento do grande ícone do nacionalismo africano, o fundador da nação moçambicana e o arquitecto da unidade nacional, o Professor Doutor Eduardo Chivambo Mondlane. Colocando os eventos históricos em devida perpectiva, convém recordar que Moçambique tornou-se independente em Junho de 1975, quando as Nações Unidas completavam justamente 30 anos de existência. Assim, o nosso país marcou o seu 45º aniversário sob o signo do 75º aniversário das Nações Unidas. E aqui importa realçar que o Prof. Dr. Eduardo Chivambo Mondlane foi também um alto funcionário das Nações Unidas. Abdicou, voluntariamente, da sua carreira promissora para unir os moçambicanos, do Rovuma ao Maputo, e dirigir a luta de libertação nacional. Foi um líder visionário, um combatente destemido e um diplomata de alto calibre. Há, pois, um vínculo histórico forte entre Moçambique e as Nações Unidas, um vínculo que vai para além do véu da nossa pertença a esta organização, como estado independente e soberano. Trata-se do vínculo de valores e ideais que presidiram à criação da Organização universal e que também estiveram na base da nossa luta de libertação e da construção do estado moçambicano que é, hoje, um membro prestigiado das Nações Unidas. A este propósito, cumpre assinalar que, em Dezembro de 2020, ao receber as cartas credenciais do novo Embaixador e Representante Permanente de Moçambique junto das Nações Unidas, o Secretário Geral das Nações, Sua Excelência António Guterres, disse, em alto e bom som, que Moçambique era um pilar do multilateralismo, em África e no Mundo. São palavras amáveis, mas justas e que calaram fundo no coração dos moçambicanos. Ser pilar do multilateralismo significa, na nossa firme convicção, aderir, sem reservas, aos princípios e objectivos inscritos na Carta das Nações Unidas. Eles incluem, designadamente, respeitar o sacrossanto primado de manutenção
our dead, we solemnly celebrated the 45th anniversary of our independence. And, moreover, we mark, with rightful pride, the 100th anniversary of the birth of the great icon of African nationalism, the founder of the Mozambican nation and the architect of national unity, Professor Doctor Eduardo Chivambo Mondlane. Putting historical events in perspective, it is worth remembering that Mozambique became independent in June 1975, when the United Nations was just 30 years old. Our country thus celebrated its 45th anniversary under the sign of the 75th anniversary of the United Nations. And it is worth stating here that Prof. Dr. Eduardo Chivambo Mondlane was also a senior United Nations official. He voluntarily abdicated his promising career to unite Mozambicans, from Rovuma to Maputo, and to lead the national liberation struggle. He was a visionary leader, a fearless fighter and a high-profile diplomat. There is, therefore, a strong historical link between Mozambique and the United Nations, a link that goes beyond the veil of our allegiance to this organization, as an independent and sovereign state. The bond of values and ideals that presided over the creation of the universal Organization were also at the heart of our struggle for liberation and for the establishment of the Mozambican state, currently a prestigious member of the United Nations. In this regard, it is worth mentioning that, in December 2020, upon receiving the credential letters of new Ambassador and Permanent Representative of Mozambique in the United Nations, the Secretary General of the United Nations, His Excellency António Guterres, said, loud and clear, that Mozambique was a pillar of multilateralism, in Africa and in the world. These are kind words, but fair and touched the hearts of Mozambicans. Being a pillar of multilateralism means, in our firm belief, unreservedly adhering to the principles and objectives set out in the United Nations Charter. They include, inter alia, respecting the sacred primacy of maintaining international peace and security, developing friendly relations with other nations, based on the respect for the principle of equal rights and self-determination of peoples and the active promotion of international cooperation. Ultimately, it means recognizing that the United 65
DIPLOMACIA
“HÁ UM VÍNCULO HISTÓRICO FORTE ENTRE MOÇAMBIQUE E AS NAÇÕES UNIDAS, U M V Í N C U L O Q U E VA I PA R A A L É M D O V É U DA N O S S A P E R T E N Ç A A E S TA ORGANIZAÇÃO, COMO E S TA D O I N D E P E N D E N T E E S O B E R A N O .”
da paz e segurança internacionais, desenvolver as relações de amizade com as outras nações, na base do respeito pelo princípio de igualdade de direitos e autodeterminação dos povos e promover activamente a cooperação internacional. Significa, em última análise, reconhecer que as Nações Unidas são o centro para a promoção e materialização desses objectivos. E acreditamos que a centralidade das Nações Unidas nas relações internacionais é, hoje, certamente, mais relevante do que há 75 anos. Com a globalização, os desafios globais multiplicaram-se. A expansão dos membros das Nações Unidas, de 51 em 1945 para 193 no presente, com a admissão do Sudão do Sul, em 2011, traduz, justamente, essa sua importância vital e universal. A Carta das Nações Unidas reconhece que a Organização é um fórum em que cada um dos países membros, pequeno ou grande, é convocado a interagir e a negociar com outros estados aí presentes sobre uma miríade de questões que afectam o interesse das nações, de forma individual, regional ou global. E este é um papel de que Moçambique não pode abdicar. No período da nossa luta de libertação nacional, as Nações Unidas foram um fórum privilegiado de afirmação do nosso direito à auto-determinação e independência. Eduardo Mondlane, Marcelino dos Santos e outros dirigentes nacionalistas moçambicanos aí levantaram a sua voz no combate contra o colonialismo e em defesa da causa da libertação do nosso povo. Após a independência, a prioridade fundamental foi a afirmação de Moçambique, no concerto das nações, como estado livre e soberano, nos termos da nossa Constituição e da própria Carta das Nações Unidas. Ao mesmo tempo, Moçambique participava activamente, com outros países em desenvolvimento, na luta por uma nova ordem política internacional e pelo direito universal dos 66
Nations is the centre for the promotion and achievement of these goals. And we believe that the United Nations’ central role in international relations is certainly more relevant today than 75 years ago. With globalization, global challenges have multiplied. The increase in the number of members of the United Nations, from 51 in 1945 to 193 at present, with the entry of South Sudan in 2011, reflects precisely this vital and universal importance. The Charter of the United Nations recognizes that this Organization is a forum in which each member country, small or large, is called upon to interact and negotiate with other states represented here on a myriad of issues that affect the interests of nations on an individual, regional or global basis. And this is a role that Mozambique cannot give up. During our national liberation struggle, the United Nations was a privileged forum for affirming our right to self-determination and independence. Eduardo Mondlane, Marcelino dos Santos and other Mozambican nationalist leaders raised their voices here in the fight against colonialism and defend the cause of the liberation of our people. After independence, the fundamental priority was the affirmation of Mozambique, in the concert of nations, as a free and sovereign state, under the terms of our Constitution and the United Nations Charter. At the same time, Mozambique was an active participant, with other developing countries, in the struggle for a new international political
“THERE IS A STRONG HISTORICAL LINK BETWEEN MOZAMBIQUE AND THE U N I T E D N AT I O N S , A L I N K T H AT G O E S B E Y O N D T H E VEIL OF OUR ALLEGIANCE T O T H I S O R G A N I Z AT I O N , AS AN INDEPENDENT AND S O V E R E I G N S T A T E .”
povos à auto-determinação e ao desenvolvimento. Assim, consideramos que a presença de Moçambique nas Nações Unidas, hoje, deve consubstanciar-se nas prioridades fundamentais que sempre nortearam a nossa diplomacia e a nossa política externa, nomeadamente:
order and in the defence of the universal right of peoples to self-determination and development. Thus, we believe that Mozambique’s presence in the United Nations should rest today on the fundamental priorities that have always guided our diplomacy and our foreign policy, namely:
– A consolidação da paz no país e o combate cerrado contra o terrorismo. Este é, fundamentalmente, produto de agressão externa contra o exemplo de espaço de liberdade, de democracia e de promessa de prosperidade que Moçambique representa em Africa; – A promoção da candidatura de Moçambique como membro não-permanente do Conselho de Segurança para o biénio 2023-24; – A mobilização das Nações Unidas e da Comunidade Internacional no seu todo para a assistência humanitária no país; – Empenho acrescido na materialização da Agenda 2030 que contém os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, particularmente no domínio da resiliência e mitigação contra as mudanças climáticas; – O alargamento, cada vez maior, do círculo de amigos de Moçambique, tornando, assim, mais amplamente conhecida a imagem do seu povo e do seu Governo como amantes e obreiros históricos da paz, interna, regional e internacional.
– The consolidation of peace in the country and the close fight against terrorism. This is fundamentally the result of external assault on the example of a place of freedom, democracy and the promise of prosperity that Mozambique represents in Africa; – The promotion of Mozambique’s application as a non-permanent member of the Security Council for the 2023-24 biennium; – The mobilization of the United Nations and the International Community as a whole for humanitarian assistance in the country; – Increased commitment to the materialization of the 2030 Agenda, which contains the Sustainable Development Goals, particularly in the field of resilience and mitigation against climate change – The growing widening of the circle of friends of Mozambique, thus making the image of its people and its Government more widely known as lovers and historic keepers of peace at internal, regional and international level.
Para além das questões de paz e segurança, a humanidade enfrenta problemas de dimensão planetária. Trata-se de problemas globais que requerem soluções globais, tais como: a luta pelo desenvolvimento, as mudanças climáticas, o terrorismo, a proliferação de armas nucleares, as pandemias, as crises financeiras, só para citar alguns. Na sua intervenção, por ocasião do debate geral perante a 75a sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Setembro de 2020, Sua Excelência Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República de Moçambique, reafirmou o interesse muito especial que a política externa moçambicana tem e sempre teve pelo trabalho das Nações Unidas e pelo multilateralismo em geral. Isso, mesmo quando conscientes de que temos, como um povo, a responsabilidade primária pela defesa da nossa independência, soberania e integridade territorial do nosso estado. Neste contexto, a decisão do nosso Governo de se candidatar a membro não-permanente do Conselho de Segurança para o biénio 2023-2024, reflecte justamente esta importância fundamental que Moçambique atribui aos princípios e objectivos consagrados na Carta das Nações Unidas. l
In addition to issues of peace and security, mankind faces problems of a planetary dimension. These are global problems that require global solutions, such as: the struggle for development, against climate change, terrorism, the proliferation of nuclear weapons, pandemics, financial crises, just to name a few. In his speech address, for the occasion of the general debate before the 75th session of the General Meeting of the United Nations, in September 2020, His Excellency Filipe Jacinto Nyusi, President of the Republic of Mozambique, restated the very special interest that Mozambican foreign policy has and has always had in the work of the United Nations and multilateralism in general. This interest is there while we are fully aware at the same time that as a people we have the first and foremost responsibility for the defence of our independence, sovereignty and territorial integrity of our state. Within this context, the decision made by our Government of applying as permanent non-member of the Security Council for the biennium of 2023-2024, reflects precisely the fundamental importance attributed by Mozambique to the principles and objectives consecrated in the Charter of the United Nations. l 67
NEGÓCIOS
E M P R E S A E M D E S TA Q U E
A HISTÓRIA DE UMA MARCA A BRAND HISTORY
68
F E AT U R E D C O M P A N Y
BUSINESS
SOFIA ARNAUD
PA U L O P E R E I R A D A S I LVA , C E O D A R E N O VA , E Q U I PA R A A S U A E M P R E S A A U M A ‘ S TA R T U P ’ , P E L A F O R M A C O M E S TÃ O E S T R U T U R A D A S A S S U A S E Q U I PA S , P E L A I M P O R TÂ N C I A D A S P E S S O A S E D O S S E U S TA L E N T O S D E N T R O D A O R G A N I Z A Ç Ã O E P E L O C O M P O R TA M E N T O D A R E N O VA E M M E R C A D O S I N T E R N A C I O N A I S , C O M U M A C U R I O S I D A D E C O N S TA N T E E P R I V I L E G I A N D O S E M P R E A R E L A Ç Ã O C O M O S C I D A D Ã O S . T O D O E S T E A M B I E N T E E S TÁ R E F L E C T I D O N A D E C O R A Ç Ã O D O E S C R I T Ó R I O , O N D E E N T R E C A F É S , C O N V E R S A S B A N A I S , U M A “ V O LTA” D E B A L O I Ç O O U U N S “ M U R R O S ” N O S A C O D E B O X , S Ã O C R I A D A S A S I D E I A S I N O VA D O R A S Q U E P O S I C I O N A M A R E N O VA N O L U G A R D E D E S TA Q U E Q U E H O J E O C U PA E M PORTUGAL E NO MUNDO.
FOTO: FERNANDO PIÇARRA
PA U L O P E R E I R A D A S I L VA , R E N O VA’ S C E O , C O M PA R E S H I S C O M PA N Y W I T H A S TA R T U P, G I V E N T H E M A N N E R H O W H I S T E A M S A R E S T R U C T U R E D , T H E I M P O R TA N C E O F P E O P L E A N D T H E I R TA L E N T S W I T H I N T H E O R G A N I Z AT I O N , A N D R E N O VA’ S B E H AV I O U R I N I N T E R N AT I O N A L M A R K E T S , W I T H C O N S TA N T C U R I O S I T Y A N D A L W AY S P R I V I L E G I N G I T S R E L AT I O N S H I P W I T H C I T I Z E N S . T H I S C O M PA N Y ’ S E N V I R O N M E N T I S R E F L E C T E D I N T H E D E C O R AT I O N O F T H E O F F I C E W H E R E , B E T W E E N H AV I N G A C O F F E E , E V E R Y D AY C O N V E R S AT I O N S , A “ R I D E ” I N T H E S W I N G O R S O M E “ P U N C H E S ” I N T H E P U N C H B A G , I N N O VAT I V E I D E A S A R E C R E AT E D T H AT P L A C E R E N O VA I N T H E P R O M I N E N T P L A C E I T C U R R E N T LY H O L D S I N P O RT U G A L A N D T H E W O R L D .
P A U L O P E R E I R A D A S I L VA , C E O D A R E N O VA P A U L O P E R E I R A D A S I L VA , C E O O F R E N O VA
69
NEGÓCIOS
E M P R E S A E M D E S TA Q U E
E VO LU Ç ÃO D O S LO G ÓT I P O S DA CO M PA N H I A
1818
U
ANOS 40
ma marca global, irreverente e inovadora. Estas são algumas palavras que caracterizam hoje em dia a Renova. Uma marca 100% portuguesa que começou a sua aventura em 1818 nas anteriores instalações de uma fábrica de papel de escrita e impressão, junto à nascente do rio Almonda, em Torres Novas, onde eram feitas folhas de papel com a marca de água Renova, tendo a empresa, como hoje a conhecemos, começado em 1939, com a produção de papel de escrita e embalagem. Em 1963 foi adquirida por várias famílias, nunca tendo um dono, ou um dos seus familiares, no comando. Actualmente, Paulo Pereira da Silva está na liderança da empresa. Este engenheiro físico de formação está na Renova desde 1984, onde começou a trabalhar como engenheiro e foi escalando na hierarquia até ser nomeado para o conselho em 1991 e eleito CEO em 1995. Se lhe perguntarmos o que o motivou ao longo deste período, a resposta é imediata: “o relacionamento humano e a gestão de pessoas”. Um dos seus maiores desafios quando chegou à liderança da Renova foi, como o próprio o refere, “restruturar uma empresa que era líder em Portugal e transformá-la numa multinacional do mundo, deixar de olhar apenas para Portugal, onde tínhamos alguma robustez e transformar essa organização numa multinacional como uma ‘start-up’, porque em qualquer dos países onde estávamos eramos muito pequenos e estávamos a começar”, explica. Nesta altura, e ainda hoje, o segredo é escolher bem as pessoas, dar-lhes capacidade de trabalhar, terem a sua própria criatividade e sentirem-se parte integrante do resultado final. “O talento das pessoas é o que mais precisamos, ter pessoas muito diferentes, que se adaptem bem, ter uma organização tão fluída quanto possível, mas depois com uma estrutura clara e com um sistema de informação que seja extremamente poderoso. Mais uma vez o que acontece numa ‘start-up’”, diz.
70
E VO LU T I O N O F T H E CO M PA N Y LO G O S
ANOS 50
A
ANOS 70 / 80
global, daring and innovative brand. These are some words that define Renova today. A 100% Portuguese brand that started its adventure in 1818 in the former premises of a writing and printing paper factory, next to the source of the river Almonda, in the town Torres Novas, where sheets of paper were made with the watermark Renova. The company, as we know it today, started in 1939, with the production of writing and packaging paper. In 1963 it was bought by many families and never had an owner or relative in charge. Paulo Pereira da Silva is currently at the head of the company. This trained physics engineer has been with Renova since 1984, where he started working as an engineer and moved up the ranks until he was appointed to the board of directors in 1991 and elected CEO in 1995. If we ask him what motivated him during this period, the answer comes quickly: “human relationship and people management”. One of his biggest challenges when he reached the leadership of Renova was, as he says, “to restructure a company that was leader in Portugal and turn it in a multinational in the world, to stop looking only at Portugal, where we had some strengths and to transform this organization in a multinational, as a start-up, because in any of the countries where we were present we were very small and we were just starting”, he explains. At this time, and even today, the secret is to choose people well, give them the ability to work, develop their own creativity and allow them to feel part of the final result. “People’s talent is what we need the most, to have very different people, who adapt well, to have an organization as fluid as possible, but with a clear structure and with a very powerful information system. Once again what happens in a start-up”, he says. This environment is clearly there when we enter
F E AT U R E D C O M P A N Y
E VO LU Ç ÃO D O S LO G ÓT I P O S DA CO M PA N H I A
ANOS 90
2005
Este ambiente está reflectido logo quando se entra no escritório da fábrica de Torres Novas. À entrada encontra-se o “viveiro de ideias” instalado em ‘openspace’, com um saco de box, representando talvez a força da marca, um baloiço inspirador para novas ideias, móveis reciclados e adaptados às mais variadas funções, livros de arte e revistas de design e várias frases inspiradoras escritas nas paredes que servem também para passar mensagens chave. É aqui que toda a criatividade acontece, entre reuniões de trabalho ou uma pausa para um café a meio da manhã. No gabinete do presidente está um quadro de ardósia com vários significados da palavra Renova, escritos por quem com ele se reúne ou visita as instalações. Para o homem que revolucionou a marca Renova, “o segredo das organizações são as pessoas”. Desde o início que a Renova mostrou a sua identidade e singularidade. “A Renova antes de ser uma empresa era uma marca”, o que é um “bocadinho diferente daquilo que são as empresas habituais. A ideia não era mais vender apenas um produto industrial, era desenvolver
BUSINESS
E VO LU T I O N O F T H E CO M PA N Y LO G O S
2008
2010
the Torres Novas factory office. At the entrance is the “nursery of ideas” located in an open-space, with a punch bag, perhaps representing the strength of the brand, an inspiring swing for new ideas, recycled furniture and adapted to the most different functions, art and design magazines and several inspiring phrases written on the walls that are there also to convey key messages. This is where all the creativity takes place, between work meetings or a mid-morning coffee break. In the president’s office is a slate board with many meanings of the word Renova, written by those who meet with him or visit the premises. For the man who revolutionized the Renova brand, “the secret of organizations is people”. Renova has always showed its identity and uniqueness from the beginning. “Renova before being a company was a brand”, which is “a little different from what usual companies. The idea was no longer to sell just an industrial product, it was to develop a brand” which was not very
F Á B R I C A D A R E N O VA J U N T O À N A S C E N T E D O R I O ALMONDA R E N O VA S F A C T O R Y N E A R T H E S O U R C E O F T H E R I V E R ALMONDA
71
NEGÓCIOS
E M P R E S A E M D E S TA Q U E
O T R A B A L H O N A FÁ B R I C A N O F I N A L DA DÉCADA DE 50 D O SÉC XX P R O D U C T I O N AT T H E FA C T O R Y IN THE 50’S OF THE 20TH CENTURY
uma marca” o que não era muito habitual, à época, na indústria portuguesa”, explica Paulo Pereira da Silva. Acrescentando que: “A marca está no nosso ADN e que todo o nosso desenvolvimento como empresa é baseado na marca Renova e só assim é possível criar uma marca global. Portugal tem falta de marcas globais, que permitam trazer valor para o seu país”. Ao longo da sua história, a Renova sempre se reinventou. Para Paulo Pereira da Silva, logo nos finais dos anos 50 quando a empresa se especializou no fabrico e transformação de papel ‘tissue’, tornando-se na primeira empresa em Portugal a fabricar produtos descartáveis de papel para uso doméstico e profissional, houve uma enorme reinvenção, que se reflecte no seu próprio nome - Renova.” Existe uma ligação muito forte a Torres Novas, onde está a “fábrica mãe”. Esta ligação tem a ver com a água e com as pessoas. A indústria do papel necessita de água e a nascente do rio Almonda está dentro da fábrica. A partir dos anos 70 todos os investimentos industriais da Renova foram feitos na área do papel ‘tissue’, levando a empresa a abandonar a pouco e pouco o papel de escrita e impressão. Nos anos 80 iniciou-se o processo de internacionalização, “que tem sido um dos nossos grandes desafios nos últimos anos”, refere o engenheiro físico. “A estratégia que se seguiu para esta internacionalização, e tendo em conta a nossa pequena dimensão a nível internacional, foi um crescimento baseado na própria marca, o nosso principal activo. Por outro lado, o facto de fazer marca implica ter muita inovação, conseguir estar sempre a inovar e a fazer coisas novas. Uma marca tem que se reinventar, surpreender e penso que alguma da notoriedade do trabalho que temos feito tem muito a ver com essa capacidade de fazermos coisas diferenciadoras, de interferimos com o consumidor de forma diferente e em diversas partes do globo. Um trabalho de marca é um trabalho de médio prazo.” 72
common, at the time in the Portuguese industry”, explains Paulo Pereira da Silva. He adds that: “The brand is in our DNA and all our development as a company is based on the Renova brand and only thus is it possible to create a global brand. Portugal lacks global brands that bring value to our country”. Throughout its history, Renova has always been able to reinvent itself. For Paulo Pereira da Silva, early in the late 1950s when the company specialized in the manufacture and transformation of tissue paper, becoming the first company in Portugal to manufacture disposable paper products for home and professional use, there was a huge reinvention, which is reflected in its own name - Renova. ” There is a very strong connection to Torres Novas, where the “parent factory” is located. This connection has to do with water and people. The paper industry needs water and the source of the Almonda River is located inside the factory. From the 1970s onwards, all Renova’s industrial investments were made in the tissue paper area, leading the company to gradually abandon writing and printing paper. In the 1980s, the internationalization process began, “which has been one of our greatest challenges in recent years”, says this physics engineer. “The strategy that was followed for this internationalisation, and taking into account our small international dimension, was a growth based on the brand itself, our main asset. On the other hand, building a brand requires a lot of innovation, always being able to innovate and do new things. A brand has to reinvent itself, surprise and I think that some of the notoriety of the work we have done has a lot to do with this ability to do different things, to interfere with the consumer differently and in different parts of the globe. Developing a brand is a medium-term job.” According to Paulo Pereira da Silva: “Renova, as a
F E AT U R E D C O M P A N Y
brand, is perceived differently in different markets. In Portugal, is probably seem as a historic brand”. Currently, Renova is a European brand, with two factories in Portugal and one factory in France, present in more than 70 countries, in 20 of which in a more structured way and with well-defined strategies, which believes in the value of experience and privileges the relationship with citizens. According to Paulo Pereira da Silva: “We still have room to grow”, and mentions China, a market where Renova recently entered with online sales and which has a big potential, Central and North America, each with a different strategy. “These are not new markets, but they are markets where we entered recently and where we have room to grow”. Renova manufactures and markets innovative ranges of toilet paper, paper serviettes, kitchen towels or tissues, offering the world not only products, but also experiences that allow people to adopt a lifestyle both sustainable and different. Regarding the percentage of the company’s turnover represented by exports, Paulo Pereira da Silva says that it should exceed 50%, which is not easy to quantify due to the existence of a factory in France selling products locally and exporting also to other countries and given the increasing sales volume through major international online sales channels. Today Renova employs around 650 people and has products that meet people’s basic needs and has also more luxurious products, whose objective is no longer so much to fulfil basic needs, but may have to do much more with an experience or lifestyle, with bathroom decoration for example, like happens with luxury brands. In the last decade, Renova has become a leading European brand of disposable paper products for domestic and sanitary use. It insists on its own research and technology, risking innovative
FOTO: FERNANDO PIÇARRA
Conforme Paulo Pereira da Silva: “A Renova, como marca, é percecionada de maneira muito diferente em diferentes mercados. Em Portugal, provavelmente, é uma marca histórica”. Actualmente, a Renova é uma marca europeia, com duas fábricas em Portugal e uma unidade fabril em França, presente em mais de 70 países, em 20 dos quais de forma mais estruturada e com estratégias bem delineadas, que acredita no valor da experiência e privilegia a relação com os cidadãos. Segundo Paulo Pereira da Silva: “Ainda temos muito para crescer”, dando o exemplo da China, um mercado onde a Renova entrou recentemente com vendas ‘online’, e que tem muito potencial, a América Central e a América do Norte, cada um com uma estratégia diferente, “não são mercados novos, mas são mercados onde entrámos há pouco tempo e onde temos muito que crescer”. A Renova fabrica e comercializa gamas inovadoras de papel higiénico, guardanapos, rolos de cozinha ou lenços de papel, oferecendo ao mundo não só produtos, mas também experiências que permitam adoptar um estilo de vida tão sustentável quanto diferenciador. Relativamente à percentagem do volume de negócios da empresa representada pelas exportações, Paulo Pereira da Silva diz que deverá ultrapassar os 50%, sendo difícil quantificar pela existência de uma fábrica em França a comercializar produtos no local e a exportar também para outros países e pelo cada vez maior volume de vendas através de grandes canais internacionais de vendas ‘online’. A Renova emprega hoje cerca de 650 pessoas e tem produtos que cumprem as necessidades básicas das pessoas e depois tem produtos mais luxuosos, cujo objetivo já não é tanto o cumprir a necessidade básica, mas já pode ter que ver muito mais com uma experiência ou lifestyle, com a decoração da casa de banho, com o que acontece nas marcas de luxo. Na última década, a Renova tornou-se uma marca
BUSINESS
73
NEGÓCIOS
E M P R E S A E M D E S TA Q U E
líder europeia de produtos descartáveis de papel para utilização doméstica e sanitária. Insiste na investigação e tecnologia próprias, arriscando em produtos inovadores, destacando-se através de uma comunicação sofisticada e de um compromisso ambiental.
Innovation, Pioneer, Art and Sustainability Renova stands out given its strong innovative matrix, organizational agility and the ability to anticipate trends. Black toilet paper, in 2005, is one of Renova’s most striking product launches. Curious by nature and eager for knowledge, it was on one of Paulo Pereira da Silva’s several trips around the world, in search of inspiration and to study the different markets that he came up with this idea. “I was in Las Vegas watching a Cirque du Soleil show, when I saw the bodies of trapeze artists wrapped in black bands. I associated this image, because for me the power of images has huge power, to a controversial Renova campaign for the French market, with bodies wrapped in white toilet paper. I thought that if the paper was black it would be more elegant and differentiating”. After black, other colours followed, such as pink, orange, red, blue and green, products that stood out in the most prestigious stores in the world: Galeries Lafayette in Paris, Harrods in London or in the Walmart chain in Canada. The creation of “The Sexiest WC on Earth” in Terreiro do Paço, reinventing the bathroom concept and transforming it into a full sensorial experience, with smell and touch as protagonists, was yet another example of irreverence and the will to innovate from Renova. Renova’s association with culture and art is also part of the brand’s DNA and the company holds a strong link with artists and design, through its Art Commission program “Renova Art Commissions” (RAC), which includes graphic editions and artistic residencies linked to photography, as well as its presence in Portugal and abroad, through artistic installations using its products, celebrating creativity around the world. Much of Renova advertising is linked to
FOTO: FERNANDO PIÇARRA
Inovação, Pioneirismo, Arte e Sustentabilidade A Renova distingue-se pela forte matriz inovadora, agilidade organizacional e capacidade de antecipar tendências. O papel higiénico preto, em 2005, é um dos lançamentos da Renova mais marcantes. Curioso por natureza e ávido de conhecimento, foi numa das várias viagens que Paulo Pereira da Silva faz pelo mundo, em busca de inspiração e de estudar os diferentes mercados, que surgiu esta ideia. “Estava em Las Vegas a ver um espetáculo do Cirque du Soleil, quando vi os corpos dos trapezistas enrolados em faixas pretas. Associei esta imagem, porque para mim o poder das imagens tem um poder imenso, a uma polémica campanha da Renova para o mercado francês, com corpos enrolados em papel higiénico branco. Pensei que se fosse preto seria mais elegante e diferenciador”. Depois do preto seguiram-se outras cores, como rosa, laranja, vermelho, azul e verde, produtos estes que se destacaram nas mais prestigiadas lojas do mundo: Galerias Lafayette em Paris, no Harrods em Londres ou na cadeia Walmart no Canadá. A criação da “The Sexiest WC on Earth” no Terreiro do Paço, reinventando o conceito de casa de banho e transformando-o numa experiência sensorial plena, tendo o cheiro e o toque como protagonistas, foi mais um exemplo da irreverência e vontade de inovar da Renova. Também a associação da Renova à cultura e à arte é parte do ADN da marca, que mantém um forte vínculo com artistas e o ‘design’, através do seu programa de comissões de Arte “Renova Art Comissions” (RAC), onde se incluem edições gráficas e residências artísticas ligadas à fotografia bem como a presença em Portugal e além-fronteiras, através de instalações artísticas desenvolvidas a partir dos seus produtos, celebrando a criatividade em todo o mundo.
products, standing out through sophisticated communication and environmental commitment.
A NASCENTE D O RIO ALMONDA SOURCE OF THE RIVER ALMONDA
74
F E AT U R E D C O M P A N Y
BUSINESS
SESSÃO FOTOGRÁFICA COM B A I L A R I N O S N A F Á B R I C A R E N O VA PHOTOGRAPHIC SESSION WITH D A N C E R S A T R E N O VA S F A C T O R Y
Muita da publicidade da Renova está ligada à arte e já foi feita uma sessão fotográfica com três bailarinos a dançarem na fábrica, mostrando liberdade, alegria e dinamismo. “Os próximos espectáculos vão ser concertos em 2021. Através do movimento “Portugal Entra Em Cena”, uma iniciativa de apoio à cultura, já adjudicámos três concertos para 2021”, adianta o CEO da Renova. A sustentabilidade é uma preocupação constante na empresa. “A relação da Renova com o ambiente é um projecto muito antigo, que começou pela água, tendo a nascente do rio dentro da fábrica. Temos vindo ao longo do tempo a investir muito neste tema, desde a poupança de energia, instalação de painéis solares à reciclagem de papel e ainda dos resíduos de papel, permitindo reintegrá-los na economia”, explica o responsável. A marca tem vindo progressivamente a eliminar os
arte and a photo shoot was done with three dancers dancing on the factory grounds, a display of freedom, joy and dynamism. “The next shows are going to be concerts in 2021. Through the movement “Portugal Takes to the Stage”, an initiative that is there to support culture, we have already commissioned three concerts for 2021”, says the CEO of Renova. Sustainability is a constant concern in the company. “Renova’s relationship with the environment is a very old project, which started with water, with the river source inside the factory. We have been investing a lot in this theme over time, from saving energy, installing solar panels to recycling paper and even waste paper, allowing us to reintegrate them into the economy ”, explains this company’s official.
75
NEGÓCIOS
E M P R E S A E M D E S TA Q U E
FOTO: FERNANDO PIÇARRA
PERFIL P A U L O P E R E I R A D A S I L VA FORMADO EM ENGENHARIA FÍSICA PELA ÉCOLE POLYTECHNIQUE FÉDÉRALE DE LAUSANNE, REALIZOU PROJECTOS NA ÁREA TEÓRICA DA FÍSICA ESTATÍSTICA APLICADA À MECÂNICA QUÂNTICA. EM 1984 CHEGOU À RENOVA E EM 1991 ENTROU PARA O CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO. É PRESIDENTE DA RENOVA DESDE 1995 E É O NOME QUE SE FALA QUANDO SE FALA EM RENOVA. APAIXONADO PELA CULTURA E PELA ARTE, PAULO PEREIRA DA SILVA É UM CURIOSO POR NATUREZA. GOSTA DE VIAJAR, DE MERGULHAR, DE APRENDER, DE GERIR PESSOAS E DE TER NOVAS IDEIAS, SEM AS QUAIS FICA INFELIZ.
PROFILE P A U L O P E R E I R A D A S I L VA GRADUATED IN ENGINEERING PHYSICS FROM ÉCOLE POLYTECHNIQUE FÉDÉRALE DE LAUSANNE, HE CARRIED OUT PROJECTS IN THE THEORETICAL AREA OF STATISTICAL PHYSICS APPLIED TO QUANTUM MECHANICS. IN 1984 HE JOINED RENOVA AND IN 1991 HE JOINED THE BOARD OF DIRECTORS. HE HAS BEEN PRESIDENT OF RENOVA SINCE 1995 AND IS THE NAME THAT IS SPOKEN WHEN TALKING ABOUT RENOVA. PASSIONATE ABOUT CULTURE AND ART, PAULO PEREIRA DA SILVA IS NATURALLY CURIOUS. HE LIKES TRAVELLING, DIVING, LEARNING, MANAGING PEOPLE AND TO HAVE NEW IDEAS, WITHOUT WHICH HE FEELS UNHAPPY.
plásticos do seu portfólio. Este projecto iniciouse no final de 2018 com o lançamento de quatro referências de Papel Higiénico Paper Pack a que se seguiu o lançamento Rolos de Cozinha Paper Pack em 2019. Agora, em 2020, este objetivo ficou reforçado e patente no lançamento da gama 100% Recycled. A Renova irá continuar a consolidar o seu processo de progressiva substituição das embalagens de plástico por embalagens de papel, respondendo a uma crescente expectativa dos cidadãos por alternativas de produtos ‘eco-friendly’ e assumindo a sua responsabilidade em criar alternativas que visem a redução do plástico no consumo quotidiano. Em 2019 foi lançada uma campanha multimeios no mercado francês que teve como objectivo consolidar a comunicação destes produtos, que utilizam como material de embalagem papel reciclável e biodegradável, em alternativa ao plástico, reforçando além fronteiras a adopção de práticas mais sustentáveis e amigas do ambiente “Para além disto, os nossos escritórios são muito minimalistas, em edifícios antigos readaptados com muita criatividade, com muitas peças recicladas, parecendo mais um ‘loft’ em Nova Iorque. Esta é também uma homenagem às gerações que por aqui passaram e trabalharam na fábrica”, acrescenta. 76
The brand has been progressively eliminating plastic from its portfolio. This project started at the end of 2018 with the launch of four references of Paper Pack Toilet Paper, followed by the launch of Paper Pack Kitchen Tissues in 2019. In 2020, this objective was reinforced and more recently in the launching of the 100% Recycled range. Renova will continue to consolidate its process of gradually replacing plastic packaging with paper packaging, responding to a growing public expectation for alternatives to ‘eco-friendly’ products and assuming its responsibility to create alternatives aimed at reducing the plastic in everyday consumption. In 2019, a multi-media campaign was launched in the French market, aimed at consolidating the communication of these products, which use recyclable and biodegradable paper as an alternative to plastic, reinforcing the adoption of more sustainable and environmentally friendly practices across borders. “In addition to this, our offices are very minimalist, in old buildings readjusted with great creativity with many recycled pieces of furniture that looking more like a New York loft. This is also a tribute to the generations that have been and worked in this factory”, he adds. An innovation case study
F E AT U R E D C O M P A N Y
Um ‘case study’ de inovação Em 2012 foi desenvolvido um ‘case study’ sobre a Renova destacando a inovação dos seus produtos, processos e metodologias de trabalho. Nesta altura a Renova ganhou uma projecção muito grande e ficou conhecida como a marca que quebrou o preconceito relativamente ao papel higiénico, passando de uma ‘commodity’ para um produto ‘sexy’. A Renova foi distinguida como marca fabricante do melhor papel higiénico do mundo para o “New York Times”, o jornal espanhol “El Mundo” e a revista francesa “Les Echos”. Relativamente ao futuro, no início deste ano a Renova vai investir 40 milhões de euros em Portugal, em aumento de produção na fábrica, em logística, quer na automatização dentro da fábrica, quer na adaptação a vendas através da internet, e na área ambiental, potenciando a circularidade dos recursos. Para este ano de 2021, a Renova tem três desejos: estar tão perto dos cidadãos quanto possível, estar mais presente globalmente, num espaço geográfico o mais alargado possível, e ser reconhecida como a marca ‘premium’ da nossa indústria no mundo inteiro, mais apetecida e mais ‘sexy’. Para terminar, perguntámos a Paulo Pereira da Silva qual o significado para si da marca Renova: “É uma parte muito significativa da minha vida”, conclui. l
1939 – Inicio de actividade com a produção de papel de escrita e embalagem.
1959 - Lançamento do primeiro rolo fabricado em Portugal.
Anos 50 – Especialização em papel ‘tissue’, tornando-se na primeira empresa em Portugal a fabricar produtos descartáveis de papel para uso doméstico e profissional. 2018 - Lançamento “Paper Pack”, na área da sustentabilidade. Sevilha, Instalação Renova com 20km de rolos de papel higiénico.
2019 - Campanha mercado francês.
2015 – Abertura da loja de Fábrica, Zibreira, em Torres Novas.
2016 – Inauguração fábrica em França. 2020 – Lançamento da gama “100% Recycled”. Entrada no mercado chinês. Associação ao Portugal entra em cena.
In 2012, a ‘case study’ was developed on Renova, highlighting the innovation of its products, processes and work methodologies. Renova achieved a very large projection and became known as the brand that broke the prejudice regarding toilet paper, changing it from a commodity into a sexy product. Renova was considered the manufacturing brand of the best toilet paper in the world by the “New York Times”, the Spanish newspaper “El Mundo” and the French magazine “Les Echos”. Regarding the future, at the beginning of this year, Renova will invest €40 million in Portugal, increasing the factory output, in logistics, either in automation in the factory, or in adapting sales via the internet, and in the environmental area, enhancing the circularity of resources. As regards 2021, Renova has three wishes: to be as close to the citizens as possible, to be more present globally, in the widest possible geographical space, and to be acknowledged as the ‘premium’ brand of our industry worldwide, the hottest and sexiest brand. Finally, we asked Paulo Pereira da Silva what the Renova brand means to him: “It is a very significant part of my life”, he concludes. l
1994/1995 - Com a entrada em Espanha, a empresa passou de um universo de 10 milhões de potenciais clientes para mais de 50 milhões.
1990 – Inicio da internacionalização, entrada no mercado espanhol.
2012 – Inauguração “The Sexiest WC on Earth”, no Terreiro do Paço.
2014 – Lançamento da gama “Red Label” Distinção pelo reputado estudo de reputação “Rep Trak Pulse”. Participação Nuit Blanche, Toronto.
BUSINESS
1998 - Cinco anúncios com a assinatura de Peter Lindbergh, sendo o rosto da campanha a modelo canadiana Rachel Roberts.
2001 – Grande campanha de publicidade em Espanha. 2003 – Lançamento do papel higiénico humedecido.
2013 – Reconhecida mundialmente como “Next Generation Brand”. Entrada no Canadá. Serviço “Made by You”, personalizando maços de guardanapos.
1999 - Primeira empresa da Península Ibérica, no seu sector (tissue) a atingir a certificação ISSO 14001. 2002 – Campanha de publicidade com o modelo Jeremy Boseman. Início da actividade comercial em França.
2005 – Lançamento do papel higiénico preto. Entrada no mercado belga e dá os primeiros passos no Luxemburgo.
77
N E G Ó C I O S M O TA - E N G I L
MOTA-ENGIL REALIZA ACORDO DE PARCERIA ESTRATÉGICA E DE INVESTIMENTO
COM A CHINA COMMUNICATIONS CONSTRUCTION COMPANY M O TA - E N G I L S I G N S S T R AT E G I C A N D I N V E S T M E N T PA R T N E R S H I P AG R E E M E N T W I T H C H I N A C O M M U N I C AT I O N S C O N S T R U C T I O N C O M PA N Y
O
ano de 2020 foi um ano de grandes mudanças para a maior construtora portuguesa. A Mota-Engil informou o mercado que concluiu com a China Communications Construction Company (CCCC), um dos maiores grupos de infraestruturas do mundo, um acordo de parceria estratégica e de investimento. Este foi também um ano de crescimento para a empresa, nomeadamente nas operações internacionais, que iniciou 2021 com o seu segundo maior contrato de sempre através de um contrato de 570 milhões de dólares no Gana.
78
2
020 was a year of big changes for the largest Portuguese building and construction company. Mota-Engil informed the market that it had signed with China Communications Construction Company (ACPC), one of the largest infrastructure groups in the world, a strategic partnership and investment agreement. This was also a year of growth for the company, particularly in international operations, which started 2021 with its second largest contract, a US $570 million contract in Ghana. The building and construction company chaired by António Mota, considered by Caixa Geral de Depósitos and weekly
M O TA - E N G I L
A construtora presidida por António Mota, considerado pela Caixa Geral de Depósitos e Semanário Expresso como o empresário do ano, está representada no Top 25 europeu e 100 Mundial, com 37 mil colaboradores dispersos por mais de 25 países. O anúncio da parceria com a CCCC, cujos aspetos essenciais já tinham sido divulgados ao mercado em Agosto de 2020, implica um reforço importante na solidez da construtora nacional no ano em que vai cumprir 75 anos de atividade. No âmbito do Acordo, a Mota Gestão e Participações SGPS, acionista da Mota-Engil, aceitou vender à CCCC 55 milhões de ações ao preço de €3,08 por ação. O acordo permite ainda ao novo parceiro subscrever uma participação relevante num aumento de capital social de até 100 milhões de novas ações que foi submetido a 7 de Janeiro a deliberação em Assembleia Geral. No seguimento do aumento do capital social, a MGP passará a deter uma participação de cerca de 40% do capital social da Mota-Engil, reforçando o total empenho e alinhamento com a sua posição histórica no grupo construtor, enquanto que o novo acionista atingirá uma participação ligeiramente superior a 30%. A nova estrutura acionista e o quadro desta parceria, que se baseia na avaliação do grupo nacional de cerca de 750 milhões de euros, vai reforçar as capacidades financeiras, técnicas e comerciais da construtora nacional, a fim de aumentar as suas atividades em todos os mercados e abrir novas oportunidades para novos desenvolvimentos. Para já, a efetividade do Acordo está ainda dependente da verificação de várias condições precedentes, de índole legal e contratual, entre as quais se incluem a aprovação ou o consentimento por parte de diversas Entidade Públicas e a confirmação por parte da Comissão do Mercados de Valores Mobiliários (CMVM) de que o Acordo e as operações nele previstas não impõem para a CCCC a obrigação de lançamento de uma oferta pública de aquisição. 2020 foi um ano de sucesso comercial e diversificação geográfica dos negócios O ano de 2020 foi também um ano de forte crescimento da construtora portuguesa nas várias geografias onde está presente e que significam uma importante diversificação do risco. São vários os grandes negócios concluídos pela Mota-Engil. No mercado africano, o contrato de Oil&Gas ganho em Moçambique (o primeiro contrato relevante num projeto que será o maior Investimento em Africa nos próximos anos e que tornará Moçambique num dos maiores produtores mundiais de gás até final da década). De referir que o Governo moçambicano estima um investimento global de 50 mil milhões de dólares para este grande projecto. A construtora ganhou uma parcela que representa 350 milhões de dólares. De salientar ainda o contrato de mineração na África do Sul no valor de 240 milhões de euros. Foi também emblemático o contrato referente a um novo estádio de futebol na Costa do Marfim e a construção do maior mercado coberto da costa ocidental de África na Costa do Marfim. Estes projetos envolvem montantes de 84,4 milhões de euros e 43,8 milhões de euros.
BUSINESS
newspaper Expresso as the entrepreneur of the year, is represented in the Europe Top 25 and World Top 100 with 37 thousand employees spread over more than 25 countries. The announcement of the partnership with the ACPC, whose essential aspects had already been disclosed to the market in August 2020, implies an important reinforcement in the strength of the national construction company in the year when it will complete 75 years of activity. Under this Agreement, Mota Gestão e Participações SGPS, a shareholder of Mota-Engil, agreed to sell 55 million shares to ACPC at € 3.08 per share. The agreement also allows the new partner to secure a relevant holding in a capital increase of up to 100 million new shares, which was submitted to the General Meeting on January 7th. Following the increase in share capital, MGP will hold a 40% stake in Mota-Engil, reinforcing its total commitment and alignment with its historical position in the construction group, while the new shareholder will achieve a holding slightly above 30%. The new shareholder structure and the framework of this partnership, which is based on the national group’s value of around €750 million, shall strengthen the national construction company’s financial, technical and commercial capabilities in order to increase its activities in all markets and open up new opportunities for new developments. For now, the effectiveness of the Agreement is still dependent on the ascertainment of several precedent conditions, of a legal and contractual nature, e.g. the approval or consent by several Public Entities and confirmation by the Securities and Market Commission (CMVM) that the Agreement and the operations provided for therein do not impose on the CCCC an obligation to launch a takeover bid. 2020 was a year of commercial success and geographical diversification of businesses The year 2020 was also a year of strong growth for the Portuguese construction company in the many geographies where it holds a presence and which imply an important diversification of risk. Mota-Engil has signed a number of major deals. In the African market, the Oil & Gas contract won in Mozambique (the first relevant contract in a project that will be the largest Investment in Africa in the coming years and which will make Mozambique one of the largest world producers of gas by the end of the decade). It is worth mentioning that the Mozambican Government estimates a global investment of US $ 50 billion for this large project. The construction company will be allocated part of this project representing US $ 350 million. Also noteworthy is the mining contract in South Africa in the amount of €240 million. The contract for a new football stadium in the Ivory Coast and the construction of the largest indoor market on the west coast of Africa in the Ivory Coast were also emblematic. These projects involve amounts of €84.4 million and €43.8 million. In Latin America, Mota-Engil maintained its strong growth with some emblematic works. This was the case of e Tren Maya (the Group’s largest contract ever in Latin America in the amount of €636 million, signed in April). Also in Mexico, the construction 79
N E G Ó C I O S M O TA - E N G I L
N O V O E S TÁ D I O D E F U T E B O L N A C O S TA D O M A R F I M N O V O E S TÁ D I O D E F U T E B O L N A C O S TA D O M A R F I M
Na América Latina, a Mota-Engil manteve o seu forte crescimento com algumas obras emblemáticas. Foi o caso do e do Tren Maya (o maior contrato de sempre do Grupo na América Latina no valor de 636 milhões de euros, celebrado em Abril). Também no México a construtora garantiu um contrato de concessão por 30 anos para a construção, operação, conservação e manutenção da autoestrada Tultepec-AIFA-Piramides. Esta autoestrada, além de ser uma importante via de ligação para a Cidade do México, ligando três autoestradas principais que acedem à cidade pelo Norte, será também um dos acessos ao novo Aeroporto Internacional Felipe Angeles. Esta concessão rodoviária de 27 km em que a Mota-Engil detém 100% de participação inclui 240 milhões de euros para o contrato de conceção e construção a cargo da MEM. Na Colômbia, a construtora garantiu um contrato com um valor global de 270 milhões de euros para a construção de uma central de produção de energia para a Talasa ProjectCo SAS, sociedade veículo de capitais maioritariamente chineses, entre os quais da CCCC (China Communications Construction Company) e da CTG (China Three Gorges Corporation).
POLÓNIA PLOSKI
80
company secured a concession contract for 30 years for the construction, operation, preservation and maintenance of the Tultepec-AIFA-Pyramids motorway. This highway, in addition to being an important link to Mexico City, connecting three main highways that lead to the city from the North, will also be one of the access points to the new Felipe Angeles International Airport. This 27 km road concession in which Mota-Engil holds a 100% stake includes €240 million for the design and construction contract in charge of MEM. In Colombia, the construction company secured a contract with a global value of €270 million for the construction of an energy production plant for Talasa ProjectCo SAS, a vehicle company with mostly Chinese capitals, including the China Communications Construction Company) and CTG (China Three Gorges Corporation). Also noteworthy is the signing of a contract for the construction of a new section of 24km of road (Barranca Larga-Ventanilla) in Mexico, worth around €45 million.
M O TA - E N G I L
BUSINESS
MOÇAMBIQUE MOZAMBIQUE
Destaca-se ainda a assinatura de um contrato para a construção de um novo troço de 24km de uma estrada (Barranca LargaVentanilla) no México, no valor de cerca de 45 milhões de euros. Também na Europa foram anunciados alguns novos projetos emblemáticos, nomeadamente através da participada Mota-Engil Central Europe (MECE), que celebrou um novo contrato na Polónia no valor de 72 milhões de euros para a execução do projeto e construção da via rápida S19 no nó Białystok Południe – Ploski, num projeto a que se apresentaram algumas das maiores empresas europeias, num total de nove empresas de diversas nacionalidades que estiveram a concurso. No troço de 13 quilómetros serão construídas em 36 meses duas faixas em cada direção, incluindo uma reserva para a terceira faixa, prevendo-se em contrato o desenvolvimento do projeto e consequente construção, a finalizar em 2024. 2021 arranca com o segundo maior contrato da história da empresa O crescimento da empresa inicia em bom ritmo em 2021, com o anúncio da ajudicação do segundo maior contrato da história da Mota-Engil, que foi ganho pela subsidiária Mota-Engil Engenharia & Construção África, no Gana, no montante total de 570 milhões de dólares. Os trabalhos adjudicados correspondem à conceção e construção (reabilitação e expansão) da Autoestrada Accra-Tema e extensões, num total de 27,7 Km, e decorrerão durante um período de 48 meses. A adjudicação reforça uma vez mais a carteira de encomendas do grupo em África, em particular da região oeste do continente, através de um projeto de dimensão relevante e de prazo alargado, assegurando a estabilidade do contributo desta região para o volume de negócios da construtora. Novo recorde na carteira de encomendas No final de 2020, a Mota-Engil deverá fechar com uma carteira de encomendas de 6 mil milhões de euros, o máximo histórico do grupo. O mercado nacional, bem como os mercados internacionais onde a construtora está presente tiveram um forte crescimento ao longo do ano. Este será o melhor barómetro para assegurar o crescimento do grupo num ano de comemoração dos 75 anos. l
Also in Europe, some new emblematic projects were announced, namely through the subsidiary Mota-Engil Central Europe (MECE), which signed a new contract in Poland in the amount of €72 million pertaining to the project and construction of the S19 expressway on the node Białystok Południe - Ploski, in a project to which some of the largest European companies also submitted their tenders, in a total of nine companies of different nationalities in this tender. On the 13-kilometer stretch, two lanes will be built in 36 months in each direction, including a reserve for the third lane, with the contract for the development of the project and consequent construction, to be completed in 2024. 2021 kicks off with the second largest contract in the company’s history The company’s growth starts at a good pace in 2021, with the announcement of the help of the second largest contract in the history of Mota-Engil, which was won by the subsidiary Mota-Engil Engenharia & Construção Africa, in Ghana, in the total amount of $ 570 million. The awarded works correspond to the design and construction (renovation and expansion) of the AccraTema Highway and extensions, totalling 27.7 km, and will take place over a period of 48 months. The award once again strengthens the group’s order book in Africa, particularly in the western region of the continent, through a project with a relevant dimension and an extended term, ensuring the stability of this region’s contribution to the construction company’s turnover. New record as regards the company’s order book Mota-Engil shall close the year 2020 with an order book of €6 billion, the group’s historic maximum. The national market, as well as the international markets where the construction company is present, were the sources of strong growth for the company throughout the year. This will be the best barometer to ensure the group’s growth in the year that marks the 75th anniversary of this company. l 81
NEGÓCIOS
SCIENCE4YOU
MIGUEL PINA MARTINS, FUNDADOR E CEO DA SCIENCE4YOU FOUNDER AND CEO OF SCIENCE4YOU
O FUTURO DA EDUCAÇÃO T H E F U T U R E O F E D U C AT I O N
E
ducar está intrinsecamente associado a permitir que as crianças conheçam diferentes contextos ambientais, sociais e relacionais e que vivenciem constantes e diferentes experiências. É exatamente aqui que a Science4you se tenta focar. O objetivo é ajudar a comunidade a educar as crianças e jovens através da observação, experimentação e investigação do mundo científico. A educação por meio de experiências, a longo prazo, promove que o ser humano se torne curioso, entusiasta, criativo e que não seja um mero “fantoche” da sociedade. Num futuro próximo teremos jovens ativos que serão verdadeiros empreendedores, que farão nascer empresas e que conseguirão gerir, planear e atingir metas de forma bem-sucedida. Deste modo é extremamente relevante educar diariamente tendo em conta que o contexto familiar seja o primeiro a promover a experimentação. Inúmeras competências de sucesso em adulto estão relacionadas diretamente com a aquisição de conhecimentos e habilidades científicas atingidas ao longo da juventude. É muito importante que existam empresas e mestres que incentivem que a educação seja por meio da experimentação, pois existir uma atitude empreendedora num ser humano não é 100% nativo do mesmo, deve sim ser estimulado desde a tenra idade. Caso os educadores estejam focados e com raciocínio dedicado à inovação e à experimentação, as crianças desde o jardim de infância conseguirão surpreender com a realização de micro-projetos que denotam discernimento empreendedor. Aprender matemática desde cedo pode ser com a simples atividade de lançar dois dados e de um obter um resultado por meio da adição dos mesmos. 82
E
ducating is intrinsically bound with enabling children to know different environmental, social and relational contexts and to experience different experiences on an ongoing basis. And this is exactly where Science4you tries to focus. The aim is to help the community teaching both children and young people through observation, experimentation and research in the scientific world. Education through experiences, in the long run, leading the human being to become curious, enthusiastic, creative and not just a mere “puppet” of society. In the near future young people will reach working age and become true entrepreneurs, set up companies and will be able to successfully manage, plan and achieve goals. Hence, it is extremely relevant to educate on a daily basis taking into account that the family context is the first to promote experimentation. Many successful competencies during adult life are directly related to the acquisition of scientific knowledge and skills in the days of youth. It’s very important to have companies and masters encouraging education either through experimentation, as there is an entrepreneurial attitude in the human being that is not 100% native to him, but should be fostered from an early age. If educators focus and adopt innovation and experimentation based reasoning, children from kindergarten on will be able to surprise them by developing micro-projects that show entrepreneurial discernment. Learning mathematics from an early age may be there via the simple activity of rolling two dice (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)
SCIENCE4YOU
Ou seja, as crianças podem ser empreendedoras se sujeitas a um ambiente encorajador disto mesmo. Questionamo-nos assim como poderemos lançar a economia, as escolas, as universidades a fazer “nascer” seres humanos empreendedores e com raízes focadas em ciência. Existem inúmeras ideias, sempre tendo em conta, “o menos é mais”, nunca perder o foco na simplicidade. Alguns exemplos: • Feiras de Ciência regionais e nacionais, que promovam concursos onde grupos de crianças, mesmo desde o 1º ciclo, apresentem cartazes, realizem experiências e/ ou façam vídeos (entre outros conteúdos). A ideia é que tenham liberdade e utilizem quaisquer recursos que promovam enaltecer a experimentação. • Experimentação em Família, desde fazer um bolo (focando no conceito de levedura, p.e.), a pintar um desenho (estimulando a mistura de cores), a descer um escorrega ou mergulhar numa piscina (explicar conceitos de velocidade e de flutuabilidade), a desmontar uma máquina de café (focando na eletricidade), a perceber a anatomia de um animal de estimação. Não se quer nada de complexo, querse sim algo direcionado para a idade e que faça quase parte da conjuntura familiar e da rotina da mesma. • Grupos de ciência nas escolas: como sejam recriar o que se aprende teoricamente no livro de estudo do meio, de ciências, de físico-química, numa base posterior experimental. Como encontros onde se debatem ideias ou se realizem experiências em grupo, sempre adaptado a cada idade. Ou conseguirse criar-se grupos onde a matemática através por exemplo do jogo do xadrez seja estimulada. De forma abrangente queremos assim mostrar simples linhas mestras: • Experimentar está diretamente relacionado com observar, realizar uma atividade e concluir uma resposta. Ou seja, viver a experiência promove uma captação imediata da atividade “para sempre”. • Criar é o maior desígnio da criatividade e da inovação. Possibilitar que as crianças e jovens inventem é uma ferramenta poderosa e silenciosa para o futuro da sociedade. • Desafiar não é fácil, mas é importante que os pais e educadores partilhem com as crianças as suas ideias e as façam minuciosamente desenvolver espírito crítico sobre os seus desempenhos e realizações. • Comunicar, quer-se jovens ativistas, empreendedores, questionadores e não parasitas da sociedade. Desta forma somos fulcrais, como empresa, como educadores, como pais, a propiciar o discurso e a liberdade de partilhar ideias. Deste modo é percetível que se aliarmos a educação desde a tenra-idade à experimentação teremos jovens criativos, empreendedores e inovadores que fomentarão uma comunidade cientificamente mais estimulada. l
BUSINESS
and checking the final result adding the numbers. That is, children can be entrepreneurial if they are subjected to an environment that encourages precisely that. We ask ourselves how we can launch the economy, schools and universities to “generate” entrepreneurial human beings with science-based roots. There are countless ideas out there, always keeping in mind that “less is more” and never losing focus on simplicity. Here are some examples: • Regional and national Science Fairs, which promote contests and where groups of children, even from the primary school, present posters, conduct experiments and/or make videos (among other types of content). The idea is that they have the freedom to do so and use resources that promote experimentation. • Experimentation in the family, from baking a cake (focusing on the concept of yeast, for example), painting a drawing (stimulating the mixing of colours), going down a slide or diving into a pool (explaining concepts of speed and buoyancy), dismantling a coffee machine (focusing on electricity) through to understand the anatomy of a pet. You don’t want anything complex, you want something that is age-oriented and that is almost part of the family situation and routine. • Science groups in schools: how to recreate what is theoretically learned in the geography, science, physics and chemistry school books on an experimental basis. Like meetings where ideas are debated or group experiences are carried out, always adapted to each age. Or being able to create groups where mathematics is stimulated through, for example, chess game. We want to show some simple guidelines in a comprehensive way: • Experimenting is directly related to observation, performing an activity and completing a response. That is, living the experience promotes an immediate capture of the activity “forever”. • Creating is the greatest purpose of creativity and innovation. Enabling children and young people to invent is a powerful and silent tool for the future of society. • Challenging is not easy, but it is important that parents and educators share their ideas with children and motivate them to develop a critical spirit about their performances and achievements. • Communicating should be there if we want young activists, entrepreneurs, questioners and not parasites of society. We are thus central as a company, as educators, as parents, fostering debate and the freedom to share ideas. In light of this it becomes clear that if we combine education from an early age with experimentation we will have creative young people, entrepreneurs and innovators who will foster a more scientifically stimulated community. l 83
NEGÓCIOS
BOLD
BRUNO MOTA, FUNDADOR E CEO DA BOLD FOUNDER AND CEO OF BOLD
EDUCAÇÃO PARA A TECNOLOGIA OU TECNOLOGIA PAR A A EDUCAÇÃO? E D U C AT I O N F O R T E C H N O L O G Y O R T E C H N O L O G Y F O R E D U C AT I O N ?
O
“Manifesto para a Ciência em Portugal”, escrito pelo Professor Mariano Gago em 1990, destaca, entre outros, a importância de Renovar a Educação Científica e de Criar Cultura Científica no nosso país.Mas muito tempo antes do Manifesto, a importância da inovação tecnológica para o desenvolvimento e crescimento nacionais já havia sido demonstrada: a invenção da caravela e do astrolábio náutico foi instrumental para que Portugal se pudesse aventurar nos Descobrimentos marítimos. Estes, por sua vez, revelaramse importantíssimos para a descoberta de novas terras, de mais recursos naturais e novos povos com os quais fazer domércio, que só vieram enriquecer o nosso país financeira e culturalmente e nos permitiram crescer e criar um Império mundial.A relação simbiótica entre a educação e a tecnologia é uma das realidades mais fascinantes e evidentes dos dias de hoje. O investimento na educação leva ao desenvolvimento de mais e melhor tecnologia que, por sua vez, nos capacita com mais e melhores ferramentas para o estudo e aprendizagem. Ainda que seja essencial para o desenvolvimento das nações, este ciclo virtuoso é, muitas vezes, ignorado e preterido em função de outros ganhos mais rápidos. É que os frutos que nascem do investimento na educação, só poderão ser colhidos anos e anos depois. Como disse Malcolm X, “a educação é o passaporte para o 84
T
he “Manifesto for Science in Portugal”, written by Professor Mariano Gago in 1990, highlights, among others, the importance of Renewing in Science Education and Creating a Scientific culture in our country. But long before the Manifesto, the importance of technological innovation for the national development and growth had already been proven: the invention of the caravel and the nautical astrolabe was instrumental for Portugal to venture in the Maritime Discoveries. These, in turn, proved to be extremely important to discover new lands, more natural resources and new peoples to trade with, which would enrich our country financially and culturally and allowed it to grow and to establish a world empire. The symbiotic relationship between education and technology is one of the most fascinating and clear realities today. Investment in education leads to the development of more and better technology that, in turn, provides us with better tools to study and learn. Although it is essential for the development of nations, this virtuous cycle is often ignored and tilted in favor of quicker gains. In hindsight the fruits born from investment in education, can only be harvested years and years later. As Malcolm X once
BOLD
futuro,porque o futuro pertence aos que se preparam para ele hoje.”Ainda assim, como pode este ser um processo tão longo, quando o ritmo da evolução tecnológica a que assistimos hoje em dia é tão acelerado? Os avanços na ciência, na investigação e na tecnologia não deveriam também fazer acelerar o ritmo de crescimento e de melhoria da nossa sociedade? Se olharmos novamente para o ciclo virtuoso, vemos que é necessário que os eixos se alimentem mutuamente. De pouco servem todas estas inovações se não forem reinvestidas e aplicadas na construção de novos processos educativos - o desafio consiste em perceber como aplicar determinada novidade técnica ecriar valor em cima dela. Para além disso, é necessário um tempo de maturação eaprendizagem para que o casamento entre ambas as vertentes dê frutos.Um exemplo disto são tecnologias como a Computação Quântica, Blockchain, Realidade Aumentada e Virtual, entre outras. Qual será o impacto que terão para empresas, famílias e para a sociedade em geral? Embora existam muitas ideias sobre o assunto, ainda é difícil compreender todas as repercussões que possam vir a ter. Mas também convém recordarque há menos de uma década se falava com o mesmo tom de desconfiança e incerteza sobre Cloud, IoT, Automação, e outros, e hoje em dia desempenham um papel fundamental: trabalho remoto e ‘online’, ‘gadgets’ inteligentes que podemos controlar à distância e muitas outras comodidades que aprendemos a apreciar.É, por isso, essencial dotar a Escola e a Academia das ferramentas necessárias para que possam criar, experimentar, investigar e desenvolver soluções que possam vir a ser implementadas na sociedade civil. Ter uma estratégia educativa assente na inovação é essencial para a evolução de qualquer país. Em Portugal, nos anos 70, um quarto da população não sabia ler nem escrever e a economia dependia em larga escala da agricultura e da indústria. Ora, só através de sucessivos investimentos em melhores condições de ensino, mais oportunidades de investigação, mais apoios a empreendedores e empresas que procurem desenvolver tecnologia no nosso país, podemos dar o salto para uma nova economia digital e aproximarmo-nos de alguns dos países mais tecnologicamentedesenvolvidos. É, por isso, importante não perder de vista duas das estratégias de que o Professor Mariano Gago falou no seu Manifesto: Renovar a Educação Científica e Criar Cultura Científica. Se a educação é a porta de entrada para um futuro melhor, a tecnologia e a inovação científica são a chave que nos permitem abri-la. l
BUSINESS
said, “education is the passport to the future, because the future belongs to those who prepare for it today.” Still, why is this such a long process, when the pace of technological evolution we witnessed today is so fast? Advances in science, in research and technology should also not speed up the pace of growth and improvement of our society? If we look again at the virtuous cycle, we see that theses axes have to feed each other. All these innovations are of little use if they are not reinvested and applied in the design of new educational processes - the challenge is to understand how to apply certain technical novelties and to create value on top of it. In addition, we need maturation and learning time so that the marriage between both strands bears fruit. A good example is technologies like Quantum Computing, Blockchain, Augmented and Virtual reality, among others. What will be their impact on businesses, families and society in general? Although there are many ideas on the subject, it is still difficult to understand the repercussions they may have. But it’s also worth remembering that less than a decade ago we spoke with the same tone of distrust and uncertainty about Cloud, IoT, Automation, and others, and today they play a key role: remote and online work, smart gadgets that we can control remotely and many other amenities that we have learned to appreciate. It is, therefore, essential to provide the School and the Academy with the necessary tools so that they may create, experiment, research and develop solutions that may be implemented in civil society. Having an educational strategy based on innovation is essential for the evolution of any country. In Portugal, in the 1970s, a quarter of the population did not know how to read or write and the economy depended to a large extent on agriculture and forestry. Now, only through successive investments in better teaching conditions, more research opportunities, more support for entrepreneurs and companies trying to develop technology in our country, can we take the leap to new digital economy and get closer to some of the most technologically advanced countries. It is, therefore, important not to lose sight of two of the strategies referred to by Professor Mariano in his Manifesto: Renewing Scientific Education and Create Scientific Culture. If education is the gateway to a better future, technology and scientific innovation they are the key that allows us to open it. l 85
NEGÓCIOS
AMO GLOBAL
ANGUS MAITLAND, PRESIDENTE DA AMO GLOBAL CHAIRMAN AMO GLOBAL
A MISSÃO DO CEO E A GESTÃO DAS EXPECTATIVAS DOS ACIONISTAS C E O s – A N E VO LV I N G S TA K E H O L D E R P E R S P E C T I V E
A
caracterização da função de CEO de uma empresa cotada nunca foi fácil, mas nos loucos dias de finais do Século XX tudo era mais claro: maximizar o retorno para os detentores de participações na empresa. Sempre existiu um forte debate em torno da missão do CEO a curto, médio ou longo prazo e inclusivamente em torno dessa mesma periodicidade. E o que esperavam os acionistas? Crescimento sustentado do valor, dividendos elevados e crescentes e consequente aumento do retorno total. A única certeza era que, se o desempenho financeiro fosse mau, o mandato do CEO seria curto. Os proprietários de empresas eram geralmente um grupo misterioso. E que se escondia por vezes por trás de empresas mandatadas, empregando muitas vezes gestores para administrarem os seus fundos, conferindo-lhes geralmente liberdade total em termos de seleção de investimento e liberdade de voto. A falta de comunicação entre as empresas e os seus acionistas institucionais era histórica e alimentava uma ampla indústria de consultoria composta por bancos de investimento, firmas de gestão de ativos, votação por procuração e monitorização de ações. O conhecimento das políticas, opiniões e atitudes dos principais acionistas foi uma arma altamente persuasiva no arsenal das empresas de consultoria às empresas. O impulso no sentido de maximizar o retorno 86
T
he job specification of the public company CEO was never easy, but in the swashbuckling days of the late 20th century it was at least straightforward: maximise the return to the owners of your company. There was always a debate surrounding what exactly this meant, for instance in the short, medium or long term and what were these time periods anyway? And what were shareholders looking for? Sustained value growth, high and growing dividends, increasing total return. The only certainty was that with poor financial performance the CEO’s tenure would be short. By and large these owners were a mysterious lot. Sometimes hiding behind nominee companies; sometimes employing fund management companies to manage their funds, usually with full discretion in terms of both investment selection and voting. The lack of communication between companies and their institutional shareholders was the stuff of legend and fueled an extensive advisory industry comprising investment banks, corporate broking firms and proxy solicitation and stock surveillance. Knowledge of the policies, opinions and attitudes of key shareholders was a highly persuasive weapon in the corporate advisory industry armory. The drive for maximizing shareholder return was never without its critics; and as the problems created (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)
AMO GOLBAL
para o acionista sempre teve os seus críticos; e, à medida que os problemas gerados pelo crescimento económico desenfreado se tornavam cada vez mais aparentes, a leva de críticas aumentou. Terminado que está o tumultuoso ano de 2020, os CEOs deparam-se agora com um cenário bem diferente. A história olhará para trás, para este ano, como o ano da primeira pandemia global em mais de um século. Isso, por si só, exigiu qualidades de liderança bem diferentes, nomeadamente compaixão, e levou, perigosamente para alguns, a uma crescente participação financeira do Estado nos negócios. Colocou alguns setores contra a parede, outros houve que lucraram com isto e levou igualmente à implementação de formas radicalmente diferentes de trabalhar. Só o tempo dirá o quão duradouras serão as mudanças comportamentais provocadas por esta pandemia. Numa feliz coincidência, na mesma semana de dezembro de 2020 em que a enorme praia australiana de Byron Bay, a preferida ao que tudo indica das celebridades de Hollywood, foi praticamente destruída por ondas gigantes de 8 metros em pleno do verão (descrito pelo presidente da Câmara de Bantry Bay como “um episódio climático extremo associado às alterações climáticas ”), 30 dos maiores gestores de ativos do mundo, representando mais de $ 9 biliões de ativos sob gestão, lançaram a “Iniciativa Zero Líquido”, comprometendo-se no sentido de trabalharem em parceria com os detentores desses ativos na prossecução de metas de descarbonização com vista a atingir emissões líquidas zero até 2050 ou mesmo antes. O CEO da Fidelity International afirmou: “reconhecemos que as alterações climáticas representam um dos riscos, se não mesmo o mais significativo para a rentabilidade e sustentabilidade das empresas a longo prazo, incluindo da nossa”. E eis que temos agora gestores de ativos dispostos a arriscar e contrariar o ‘status quo’. Na mesma semana, a Unilever, o gigante do consumo que movimenta 115 mil milhões de libras, tornou-se na primeira empresa do FTSE 100 a anunciar que submeteria seus planos de redução das emissões de gases de efeito estufa a votação por parte dos seus acionistas. O cenário de evolução dos negócios representa um enorme desafio de comunicação para os CEOs à medida que o leque de acionistas de uma empresa aumenta e se torna mais articulado e numa altura em que a “sociedade de notícias falsas e pós-verdade” abre caminho de forma significativa nas democracias liberais ocidentais com a ajuda das redes sociais. A necessidade de os CEOs administrarem bem os seus negócios e proporcionarem fortes rentabilidades para os acionistas continua a ser crucial. Mas as exigências de outros acionistas interessadas têm que ser também devidamente atendidas e geridas. Esses acionistas, que exigem respostas sobre questões
BUSINESS
by unbridled economic growth became increasingly apparent, the groundswell of criticism accelerated. As we exit the tumultuous year 2020, the landscape surveyed by the CEO now looks very different. History will look back on the year as one defined by the first global pandemic for over a century. That, in itself, has called for some very different leadership qualities, particularly compassion and has led, some believe dangerously, to the increasing financial participation of big government in business. It has driven some sectors to the wall, profited others and created radically different ways of working. Only time will tell how enduring the behavioral changes wrought by the pandemic will be. In a nice coincidence, in the same week in December 2020 that the huge Australian beach Byron Bay, apparently beloved by Holywood celebrities, was all but wiped out by giant 8 metre waves in midsummer (described by the Bantry Bay mayor as “an extreme weather event coming on the back of climate change”), 30 of the world’s largest asset managers representing over $9 trillion of assets under management, launched “Net Zero Initiative”, committing them to work in partnership with asset owner clients on decarbonization goals with an aspiration to attain net zero emissions by 2050 or sooner. Fidelity International’s CEO said: “we recognize that climate change poses one of, if not the most significant, risks to the long term profitability and sustainability of companies, including our own”. So, we now have asset manager heads well above the parapet. In that same week, the £115 billion consumer giant Unilever became the first FTSE 100 company to announce that it will put its plans to cut greenhouse gas emissions to a shareholder vote. The evolving business landscape poses a huge communications challenge for CEOs as the corporate stakeholder spectrum broadens and becomes more articulate and what has been referred to as the ‘post truth, fake news society’ makes significant inroads into the western liberal democracies, enabled by social media. The need for CEOs to run their businesses well and provide good returns to shareholders remains central. But now, the demands of other stakeholders also need to be addressed and managed. These stakeholders, demanding answers on sustainability, corporate responsibility and governance, seemed in the past to be cost creating obstacles on the path to building shareholder value. No longer. They have become part of a corporation’s ‘licence to operate’ and increasingly recognized as a long-term pre- condition of preserving value rather than compromising the environment that allows it to be created. Getting to know and understand the broader stakeholder audience is now a priority for the CEO. It is not an easy task when anti-business sentiments abound. The 87
NEGÓCIOS
AMO GLOBAL
“A N E C E S S I D A D E DE OS CEOS ADMINISTRAREM BEM OS SEUS NEGÓCIOS E PROPORCIONAREM F O R T E S R E N TA B I L I DA D E S PA R A O S A C I O N I S TA S CONTINUA A SER C R U C I A L .”
como sustentabilidade, responsabilidade das empresas e governança, pareciam constituir no passado um obstáculo à criação de valor na senda da geração de valor para o acionista. Mas já não é assim. Mas têm agora também “licença para operar” nas empresa e são cada vez mais determinantes a longo prazo para preservar o valor e não como alguém que comprometer o ambiente que permite a criação desse mesmo valor. Conhecer e compreender o leque mais amplo de acionistas é agora uma prioridade para os CEOs. Não é uma tarefa fácil numa altura em que abundam sentimentos anti negócios. Os CEOs bem-sucedidos serão aqueles que conseguirem antecipar tendências sociais e incorporar iniciativas positivas nas suas estratégias empresariais para lhes darem resposta. O sucesso será sinónimo de marca empresarial mais forte, um pré-requisito para negócios mais fortes. Para tal será necessário mais do que uma mudança positiva de atitudes. A reputação das empresas constrói-se através do bom comportamento e boa comunicação empresarial; sendo que esta última se tornou mais difícil e complexa de gerir com sucesso através das redes sociais. O jornalismo de alta qualidade e formador de opinião nunca foi fácil de gerir, mas sempre teve um grau de integridade que permitiu um envolvimento e debate sérios. As redes sociais e a desinformação vieram alterar isto profundamente. Para bem da democracia, esperemos que o jornalismo livre e honesto sobreviva e prospere. Mas as empresas não podem ficar sentadas à espera. E têm de agarrar mais fortemente as oportunidades proporcionadas pelas redes sociais e lutar contra os grupos que tentam provocar danos através de ações desinformação. O crescente reconhecimento da existência de uma confluência de interesses entre empresas e grupos de acionistas é motivo de otimismo. O caminho a seguir passa por fortalecer essa confluência por meio de ações positivas e de uma boa comunicação com a chancela do CEO. l 88
CEOs who succeed will be those who are able to anticipate social trends and build positive initiatives into their corporate strategies to address them. Success will mean stronger corporate branding, a prerequisite for a stronger business. Achieving that needs more than a positive change in behavior. Corporate reputation is built by both behavior and successful corporate communication; and the latter has become a much more difficult and complex are to manage successfully through the mainstream media. Opinion forming high quality journalism has never been easy to manage but it has always had a level of integrity that allowed serious engagement and debate. Social media and disinformation have changed that quite fundamentally. It is to be hoped for the sake of democracy the free and honest journalism survives and prospers. But companies cannot sit back and hope. They too need to grasp much more firmly the social media opportunity and take the fight to those groups who seek to damage through disinformation. The cause for optimism is the growing recognition of a confluence of interest between corporations and stakeholder groups. Strengthening that confluence through positive action and good communication, led by the CEO, is the way forward. l
“THE NEED FOR CEOS TO RUN THEIR BUSINESSES WELL AND PROVIDE GOOD RETURNS TO SHAREHOLDERS REMAINS C E N T R A L . B U T N O W, T H E DEMANDS OF OTHER S TA K E H O L D E R S A L S O NEED TO BE ADDRESSED A N D M A N A G E D .”
V
CONFIANÇA RIGOR LIBERDADE SERIEDADE ISENÇÃO CONFIANÇA RIGOR LIBERDADE SERIEDADE ISENÇÃO CREDIBILIDADE INDEPENDÊNCIA CONFIANÇA RIGOR LIB CREDIBILIDADE INDEPENDÊNCIA CONFIANÇA RIGOR LIBER SERIEDADE ISENÇÃO CREDIBILIDADE QUALIDADE CONFI SERIEDADE ISENÇÃO CREDIBILIDADE QUALIDADE CONFIAN RIGOR LIBERDADESERIEDADE SERIEDADEINDEPENDÊNCIA INDEPENDÊNCIAISENÇÃO ISENÇÃO RIGOR LIBERDADE DEDE ÉÉ PRECISO PRECISO LIBERD LIDADELIDADE RIGOR RIGOR LIBERDADE SENÇÃO TER IDADE CONFIANÇA SENÇÃO TER IDADE CONFIANÇA LIBERDAD LIBERDADE INDEPENDÊNCIA ISENÇÃO CREDIBILIDADE INDEPENDÊNCIA ISENÇÃO CREDIBILIDADE QUALIDADE QUALIDADE LIBERDADE RIGOR SERIEDADE LIBERDADE LIBERDADE INDEPEND INDEPENDÊNCIA RIGOR SERIEDADE INDEPENDÊNCIA CREDIBILIDADE QUALIDADE SERIEDADE QUALIDADE SERIEDADE RIGOR INDEPENDÊNCIA CREDIBILI Ao assinar a VISÃO está a apoiar o jornalismo independente e de qualidade, essencial para a defesa dos valores democráticos em Portugal
Assuntos tratados com profundidade e clareza
Observação privilegiada sobre os temas mais relevantes da atualidade
A escrita inconfundível de Ricardo Araújo Pereira, Miguel Araújo e Capicua
Os mundos literários de Dulce Maria Cardoso, Mia Couto e José Eduardo Agualusa
PARA CONHEÇER OS PACOTES ESPECIAIS PARA ASSINANTES PREMIUM, LIGUE 21 870 50 97 Dias úteis das 9h às 18h
89
L O J A .T R U S T I N N E W S . P T
NEGÓCIOS
KORN FERRY
MARIANA BRANQUINHO, SENIOR CLIENT PARTNER FOR KORN FERRY IN PORTUGAL
O PERFIL DO NOVO LÍDER THE PROFILE OF THE NEW LEADER
V
ivemos em tempos de grande incerteza, de enorme volatilidade e onde tudo acontece a um ritmo alucinante. Quando se falava no VUCA (Volatile, Uncertain, Complex e Ambiguous), há uns anos, longe estávamos de imaginar um contexto como o que vivemos em 2020. Sim, é um facto que a mudança é cada vez mais rápida, mas a verdade é que cada um de nós, nas diferentes dimensões da nossa vida, foi confrontado com a necessidade de se adaptar a uma realidade desconhecida, criando de um dia para outro novos hábitos, rotinas e formas de estar. As organizações e respetivas lideranças passaram exatamente pelo mesmo processo, onde a adaptação a todos os níveis foi, e ainda é, uma questão de sobrevivência. A Korn Ferry sendo uma empresa que se dedica aos temas da liderança tem desenvolvido vários estudos sobre estas matérias para perceber o impacto efetivo deste novo mundo nas organizações, procurando dar resposta a questões como: Qual o estilo de liderança mais eficaz? Qual o perfil do líder de sucesso? Que características e competências são mais importantes? As respostas a estas questões não são fáceis de dar, mas é evidente e 2020 acentuou a conclusão, de que hoje é necessário um estilo de liderança diferente. A forma como a maior parte das organizações, independentemente da sua dimensão e setor de atividade, público ou privado, lidaram com a situação gerada pelo Covid evidenciou alguns dos traços desse novo estilo de liderança: mais colaborativo, mais ágil, transparente, onde a segurança de cada colaborador passou a ser um tema prioritário. A Korn Ferry chama a este novo estilo de liderança, a liderança inclusiva e / ou líder inclusivo. 90
W
e live in times of great uncertainty, of huge volatility and where everything happens at a breakneck pace. When talking about VUCA (Volatile, Uncertain, Complex and Ambiguous), a few years ago, we were far from imagining a context like the one we live in 2020.Yes, it is a fact that changes occur increasingly faster and faster, but the truth is that each one of us, and in the different aspects of our life, was faced with the need to adapt overnight to an unknown reality, creating new habits, routines and the ways we live. The organizations and their leaders went through exactly the same process, where adaptation at all levels was, and still is, a matter of survival. Korn Ferry, a company focused on the issues of leadership, developed a number of studies on these matters in order to understand the true impact of this new world on organizations, seeking to answer questions such as: What is the most effective leadership style? What is the profile of the successful leader? What are the most important characteristics and skills? The answers to these questions are not easy, but it is clear, and 2020 has accentuated the conclusion that a different leadership style is needed today. The way how most organizations, regardless of their size and sector of activity, public or private, dealt with the situation generated by Covid highlighted some of the traits of this new leadership style: more collaborative, more agile, transparent and where the security of each employee became a (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)
KORN FERRY
Um líder inclusivo é aquele que consegue estabelecer uma relação estreita com as suas equipas e com os seus colaboradores, criando um espaço de trabalho “seguro” onde o medo e a incerteza possam ser transformados em esperança e otimismo. É aquele que olha à individualidade de cada elemento da sua equipa, potenciando a contribuição de cada um, tirando partido dessa diversidade de pensamento ao mesmo tempo que promove uma abordagem muito mais colaborativa, como garante para tomar melhores decisões e assegurar a resolução dos problemas complexos. Já se tem falado muito da diversidade, infelizmente muito centrada na diversidade do género, e das vantagens que a mesma pode trazer para uma organização, mas o que está claro é que a diversidade, seja ela qual for (género, geração, experiência, cultura, etc..) só por si não basta. De que adianta ter pessoas com diferentes pontos de vista e opiniões se depois não conseguem trabalhar em equipa e chegar a consensos que permitam avançar? Um líder (uma liderança) tem de ser capaz de potenciar essas diferenças de opinião / ideias / pontos de vista e traduzilas em resultados / desempenho. Aí sim, teremos um líder inclusivo. Existem inúmeros estudos no mercado que comprovam o valor e as vantagens que este tipo de liderança pode trazer a diversos níveis, desde o processo de tomada de decisão, ao compromisso / ‘engagement’ dos colaboradores, inovação, produtividade, etc… Na minha atividade profissional fazem-me com frequência a pergunta sobre quais a competências fundamentais, ou o que distingue um líder nos dias de hoje, ou ainda o que é que o mercado procura. Pois bem, o modelo desenvolvido pela Korn Ferry dá uma resposta a estas questões ao identificar as características individuais, as competências e as experiências que definem os líderes que hoje se querem inclusivos. As características individuais estão relacionadas com a personalidade e valores de cada um, e são relevantes na medida que moldam os comportamentos, definindo a predisposição para aceitar e lidar com a diferença. Aquelas que, de acordo com o estudo da Korn Ferry, são mais comuns nos líderes inclusivos são: a autenticidade associada a uma certa humildade, sendo capaz de colocar o seu ego de lado para criar confiança; resiliência emocional, ou seja a capacidade de manter a postura quando confrontado com as dificuldades e adversidades causadas pela diferença; auto-confiança e otimismo; flexibilidade na medida em que se adapta à diferença e é capaz de tolerar a ambiguidade; e curiosidade demonstrando empatia e abertura à diferença. Estas características só por si não são suficientes para assegurar uma liderança inclusiva, é também necessário ter as competências para o fazer. Neste ponto o estudo identifica as seguintes como sendo as mais importantes: ´builds interpersonal trust´
BUSINESS
priority issue. Korn Ferry calls this new leadership style, inclusive leadership and/or inclusive leader. An inclusive leader manages to establish a close relationship with his teams and with his workers, creating a “safe” workspace where fear and uncertainty can be turned into hope and optimism. A leader who looks at the individuality of each member of his team, enhancing the contribution of each, taking advantage of this diversity of thought while promoting a much more collaborative approach, making sure better decisions are made and ensuring the resolution of complex problems. Much has been said about diversity, centred unfortunately pretty much on gender diversity, and the advantages it can bring to an organization, but what is clear is that diversity, whatever it may be (gender, generation, experience, culture, etc...) is not enough on its own. What’s the point of having people with different points of view and opinions if they are unable to work as a team and reach consensus that will allow them to move forward? A leader (a leadership) must be able to enhance these differences of opinion / ideas / points of view and translate them into results / performance. Then we will have an inclusive leader. There are countless studies on the market that prove the value and the advantages that this type of leadership may bring at different levels, from the decision-making process, to the commitment/ engagement of employees, innovation, productivity, etc... In my professional activity, I am often asked the question of what are the fundamental skills or what distinguishes a leader today, or what the market is looking for. Well, the model developed by Korn Ferry provides an answer to these questions by identifying the individual characteristics, competences and experiences that define the leaders who wish to be inclusive today. The individual characteristics are related to the personality and values of each one, and are relevant to the extent that they shape the behaviours, defining the willingness to accept and deal with the difference. Those that, according to the Korn Ferry study, are most common in inclusive leaders are: authenticity linked with a certain humbleness, being able to put your ego aside in order to generate trust; emotional resilience, that is, the ability to maintain its stance when faced with the difficulties and adversities caused by the difference; self-confidence and optimism; flexibility in that it adapts to difference and is able to tolerate ambiguity; and curiosity showing empathy and openness to difference. These characteristics alone are not enough to ensure inclusive leadership, it’s also necessary to have the skills to do so. At this point, the study identifies the following as the most important: ´builds interpersonal trust´ (honest, seeking to identify common points while valuing different perspectives), integrates diverse perspectives (considers various points of view and needs, managing conflict of interests) effectively), optimizes talent (ability to motivate and develop talent, promoting collaboration through 91
NEGÓCIOS
KORN FERRY
“UM LÍDER INCLUSIVO É AQUELE QUE CONSEGUE E S TA B E L E C E R UMA RELAÇÃO E S T R E I TA C O M A S S UA S E Q U I PA S E COM OS SEUS C O L A B O R A D O R E S .”
(honesto, procurando identificar pontos comuns ao mesmo tempo que valoriza perspetivas diferentes), integrates diverse perspectives (considera vários pontos de vista e necessidades, gerindo o conflito de forma eficaz), optimizes talent (capacidade de motivação e desenvolvimento de talento, promovendo a colaboração através das diferenças), applies an adaptive mindset (visão global, capaz de se adaptar as situações, inovando a partir das diferenças), achieves transformation (coragem para enfrentar situações difíceis, persuasão e obtém resultados). A má notícia é que os líderes inclusivos são difíceis de encontrar, pelo que criar as condições para o respetivo desenvolvimento é importante. Apesar destas características e competências estarem muito relacionadas com a identidade e forma de ser de cada um, e por isso mais difíceis de desenvolver, a verdade é que o mesmo estudo da Korn Ferry concluiu que algumas experiências podem ajudar neste processo. Essas experiências são variadas e podem realizar-se em diferentes momentos da vida, e acima de tudo estão relacionadas com a exposição a diferentes culturas, geografias, contextos e ambientes. Falamos de situações como crescer e estudar num país diferente de onde se trabalha, fazer missões de voluntariado, estar num ambiente em que representa uma minoria, ter um ‘assignment’ como expatriado, etc.. No mundo em que hoje vivemos, que é cada vez mais global, onde a disrupção é contínua e materializase a uma velocidade estonteante, saber lidar de forma eficaz com a diferença torna-se crítico! l Bibliografia (https://www.kornferry.com/insights/latest-news ) The 5 Disciplines of Inclusive Leaders, Korn Ferry The Head and Heart Inclusive Leader, Korn Ferry
92
differences), applies an adaptive mindset (global vision, able to adapt to situations, innovating from differences), achieves transformation (courage to face difficult situations, persuasion and achieves results). The bad news is that inclusive leaders are hard to find, hence the importance of creating the right conditions for their development. Although these characteristics and skills are closely related to each other’s identity and way of being, and therefore more difficult to develop, the truth is that the same study by Korn Ferry concluded that some experiences can help in this process. These experiences are varied and can take place at different times in life, and above all they are related to exposure to different cultures, geographies, contexts and environments. We talk about situations like growing up and studying in a country other than the one where you work, doing volunteer work, being in an environment where you represent a minority, having an assignment as an expatriate, etc. In the world we live in today, which is increasingly global, where disruption is continuous and materializes at a dizzying speed, knowing how to deal effectively with difference becomes critical! l
“A N I N C L U S I V E LEADER MANAGES TO E S TA B L I S H A C L O S E R E L AT I O N S H I P W I T H HIS TEAMS AND WITH H I S W O R K E R S .”
Há 3 anos a partilhar Arte & Cultura
Desde o lançamento do projeto NOVO BANCO Cultura, são já 77 as obras da Coleção de Pintura do NOVO BANCO que estão acessíveis ao público, em 33 museus de várias regiões do país e no roteiro disponível em nbcultura.pt. Castelo Branco > Guarda > Guimarães > Setúbal > Caldas da Rainha > Figueiró dos Vinhos > Lisboa > Viseu > Torres Novas > Óbidos > Faro > Beja > Évora > Portalegre > Crato > Chaves > Vila Franca de Xira > Aveiro > Lamego > Braga > Leiria > Ourique > Lousã > Viana do Castelo > Mirandela > Olhão > Barrancos > Madeira > Açores
A missão do NB Cultura não fica por aqui.
Arte & Cultura partilham-se. 93
EUROPA
PRESIDÊNCIA PORTUGUESA
PAULO SANDE, PROFESSOR CONVIDADO DO INSTITUTO DE ESTUDOS POLÍTICOS DA UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA VISITING PROFESSOR AT THE INSTITUTE FOR POLITICAL STUDIES AT THE PORTUGUESE CATHOLIC UNIVERSIT Y
A PRESIDÊNCIA PORTUGUESA DA UNIÃO EUROPEIA THE PORTUGUESE PRESIDENCY OF THE EUROPEAN UNION O que faz e para que serve Em primeiro lugar e em bom rigor, é da presidência do Conselho da União Europeia (UE), ou Conselho, que se trata. Esta é a instituição que representa os governos dos Estados-membros (EM) e tem como principais competências a adoção de atos jurídicos e a coordenação das políticas europeias. O Conselho não se confunde com o Conselho Europeu, instituição composta pelos chefes de Estado e de governo, cuja função consiste em definir as prioridades europeias e a orientação política geral. Desde o início do processo de integração, a presidência do Conselho é assumida rotativamente por um EM pelo período de seis meses (tudo começou com a Bélgica, em 1958). A presidência tem uma dupla função política e administrativa, sendo esta a organização e gestão do funcionamento das formações do Conselho. Durante o semestre, o país em causa preside às reuniões do Conselho, em todos os seus níveis e composições, com exceção da formação dos negócios estrangeiros (presidida pelo Alto Representante para os Negócios Estrangeiros, presentemente o espanhol Josep Borrell); recebe do país que o precedeu os trabalhos em curso e transmite-os ao que se segue na função; e cabe-lhe dar impulso político aos vários dossiês em discussão, conforme ao programa do trio de presidências (ver abaixo) e ao seu próprio programa. O Tratado de Lisboa estabeleceu uma nova organização baseada no trabalho conjunto de três países que consecutivamente exercem o cargo, os quais estabelecem um programa para 18 meses. Começamos por analisar o programa da responsabilidade do trio constituído por Portugal, Alemanha (presidência anterior) e Eslovénia (seguinte). 94
What it does actually and what it is there for Firstly and strictly speaking it means holding the Presidency of the Council of the European Union (EU), or of the Council. This is the institution that represents the governments of the Member States (MS) and its main competences are the adoption of legal acts and the coordination of European policies. The Council is not to be mistaken with the European Council, an institution formed by the heads of state and government, whose function is to define European priorities and the general political guidelines. Since the beginning of the integration process, the Presidency of the Council has been held on the basis of equal rotation between MS for a period of six months (it all started with Belgium, in 1958). The presidency has a dual political and administrative function, e.g. the organization and management of the workings of the relevant heads of the Council. During the semester, the relevant country chairs the Council meetings, at all levels and structures, except as regards foreign affairs (which is chaired by the High Representative for Foreign Affairs, currently the Spanish Josep Borrell); receives the work in progress from the country that preceded it and passes it on then to the next country holding this position; and is in charge of advancing the different dossiers under discussion, in line with the program of the trio of presidencies (see below) and its agenda. The Lisbon Treaty established a new organization based on the joint work of three countries that consecutively hold office and establish an 18-month program. We start by analysing the program under the responsibility of the trio formed by Portugal, Germany (previous presidency) and Slovenia (next). Strategic agenda for Europe - from 1 July 2020 to 31 December 2021 The first conclusion points to the central role the COVID-19 (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)
PORTUGUESE PRESIDENCY
Agenda estratégica para a Europa - de 1 de julho 2020 a 31 de dezembro 2021 A primeira constatação é a centralidade da pandemia de COVID-19 no programa para os três semestres iniciados a meio de 2020. O documento que o apresenta resume-o bem: “As três presidências tudo farão para reforçar a resiliência da Europa, para proteger os nossos cidadãos e para ultrapassar a crise, preservando em simultâneo os valores e o modo de via europeu”. Crise sanitária e crise económica, ambas ainda por vencer. O programa assenta nos princípios do mapa para a recuperação (“A roadmap for recovery”), de 22 de abril 2020, basado na solidariedade, coesão e convergência, para uma recuperação flexível, ágil e evolutiva, inclusiva e respeitadora dos valores europeus e do Estado de Direito. No seu âmago, modelo económico europeu para o futuro, situa-se primeiro a reparação e aprofundamento do mercado interno, danificado pela pandemia; a prossecução das transições verde e digital, o apoio às PME’s e ‘start-ups’, a construção de infraestruturas resistentes em particular na saúde e a produção de produtos estratégicos para reduzir a dependência europeia. E salienta-se a implementação de uma União da Energia focada na sustentabilidade e na transição para a neutralidade climática, ativo fundamental no esforço de recuperação. Nesse âmbito, são centrais os conceitos da soberania digital e da autonomia estratégica da União Europeia, nomeadamente assente numa política industrial dinâmica. Merece relevo a afirmação seguinte, constante do programa: “a transformação digital é algo que vai moldar o dia-a-dia na Europa, mas é também algo que a Europa pode moldar”. A recuperação, entretanto, depende de um investimento sem precedentes, baseado em objetivos comuns e focado nas necessidades. O programa refere um Fundo de Recuperação (FR) ligado ao quadro financeiro plurianual da União (QFP), fundo esse na altura apenas uma promessa – concretizada amplamente em julho. Quer o FR, sob forma de Programa de Recuperação e Resiliência, quer o QFP, só foram desbloqueados em dezembro, mas o seu volume e natureza – empréstimo solidário, assente num lançamento obrigacionista garantido pelo orçamento europeu – representam em si mesmo uma revolução de enorme impacto e significado. O programa sublinha ainda a dimensão global da UE, com responsabilidade na conceção e realização de uma resposta à pandemia através do multilateralismo e de uma ordem internacional assente no direito. Num tempo ainda de administração norte-americana hostil à ideia, o objetivo era mais esperança do que meta atingível; a expectativa, entretanto, é de uma mudança que efetive um multilateralismo profícuo e responsável. No plano interno, e na linha do estabelecido no mapa para a recuperação, prevê-se o desenvolvimento do sistema de governança da União, tornando-a mais resiliente, eficaz e eficiente, sempre no respeito dos valores fundamentais. O programa contempla a implementação do pilar europeu dos direitos sociais, para enquadrar uma Europa justa e social, incluindo a realização da Cimeira Social Europeia em maio de 2021, sob presidência portuguesa. E coloca forte expetativa na
EUROPE
pandemic plays in the program for the three semesters starting in mid-2020. The introduction document summarizes this clearly: “The three presidencies will do everything to strengthen Europe’s resilience, to protect its citizens and to overcome the crisis, while preserving European values and ways of life.” The health crisis and the economic crisis are both yet to be solved. The program is based on the principles of the roadmap for recovery of April 22, 2020, based on solidarity, cohesion and convergence in order to ensure a flexible, agile and evolutionary recovery, inclusive and respecting the European values and Rule of law. At its core, the European economic model for the future focus first and foremost in redressing and deepening the internal market, strongly affected by the pandemic; the continuation of green and digital transitions, assist SMEs and start-ups, the creation of resilient infrastructures, particularly in healthcare, and the production of strategic products to reduce European dependence. And it is worth mentioning the implementation of an Energy Union focused on sustainability and the transition to climate neutrality, a fundamental asset in the recovery efforts. In this context, the concepts of digital sovereignty and strategic autonomy of the European Union lie at the core and rest on a dynamic industrial policy. The following statement, contained in the program, is worth highlighting: “digital transformation is something that will shape day-to-day life in Europe, but it is also something that Europe can shape”. Recovery, however, depends on an unprecedented investment, based on common goals and focused on relevant needs. The program refers to a Recovery Fund (RF) linked to the Union’s multiannual financial framework (MFF), first a promise and largely achieved in July. Both the RF, in the form of a Recovery and Resilience Program, and the MFF, were only unlocked in December, but their volume and nature - a solidary loan, based on a bond launch backed by the European budget represent in itself a revolution of huge impact and meaning. The program also underlines the global size of the EU and focuses on designing and implementing a response to the pandemic through multilateralism and an international order based on the rule of law. At a time of an American administration still hostile to this idea, the goal was rather something to hope for than an attainable goal; the expectation, however, is that there will be changes which may bring about fruitful and responsible multilateralism. Internally, and in line with the provisions of the roadmap for recovery, the development of the Union’s governance system is due to materialise, making it more resilient, effective and efficient, always mindful of the fundamental values. The program covers the implementation of the European pillar of social rights, paving the way to fair and social Europe, including the hosting of a European Social Summit in May 2021, under the Portuguese presidency. Expectations are high as regards the Conference on the Future of Europe, despite the difficulties in figuring out the best way forward and so that this does become another meeting of inconsequential wills, in a time of (still) pandemic and pragmatism 95
EUROPA
PRESIDÊNCIA PORTUGUESA
Conferência sobre o Futuro da Europa, ainda que não seja fácil perceber o caminho a seguir para que não se torne mais uma reunião de vontades inconsequentes, num tempo de (ainda) pandemia e pragmatismo pouco sensíveis a proclamações de boas intenções. O programa aborda também a relação futura com o Reino Unido. À data da sua aprovação, era ainda possível a extensão do prazo para um acordo – essa possibilidade expirou no final de junho -, tendo em vista uma relação baseada no equilíbrio de direitos e obrigações e na garantia de uma plataforma de igualdade (“level playing field”). O documento aborda muitas outras matérias: a proteção das liberdades dos cidadãos europeus, incluindo um mecanismo relativo ao Estado de direito; o reforço da igualdade e diversidade cultural; um novo pacto para as migrações e um Sistema Europeu de Asilo eficaz; a proteção das fronteiras externas, fazendo funcionar de novo a área Schengen; sistemas de investigação com forte base digital, para acelerar a inovação para o crescimento, a melhoria das competências pessoais, educação e saúde; o Horizonte Europa e Erasmus+; e a promoção dos interesses e valores europeus no Mundo. Uma palavra especial para o ambiente, em linha com os objetivos do Acordo de Paris, e à relevância atribuída ao Novo Plano de Ação da Comissão para a Economia Circular. Um programa para muitos anos, como se pode compreender, impossível de concluir em 18 meses, e muito menos num semestre.
when good intentions are simply not enough. The program also addresses the future relationship with the United Kingdom. At the time of its approval, it was still possible to extend the deadline for an agreement - this possibility expired at the end of June -, in order to try to establish a relationship based on the balance of rights and obligations and the assurance of a level playing field. The document addresses many other issues: the protection of the freedoms of European citizens, including a rule of law mechanism; strengthening cultural equality and diversity; a new migration pact and an effective European Asylum System; protection of external borders, allowing the Schengen area to work again; research systems with a strong digital base in order to speed up innovation for growth and the improvement of personal skills, education and health; Horizonte Europa and Erasmus +; and the promotion of European interests and values in the world. A special word for the environment, in line with the objectives of the Paris Agreement, and the relevance attributed to the Commission’s New Plan of Action to the Circular Economy. This program stretches for many years and we all know it’s impossible to complete in 18 months, let alone in a semester.
Entre a presidência alemã e a portuguesa Uma presidência alemã é uma presidência alemã, um dos dois grandes motores tradicionais da integração europeia, da qual se espera sempre eficácia e eficiência. Este ano, contudo, tudo foi mais difícil. A pandemia impediu a concretização de muitos dos objetivos dos germânicos, como reconheceu há alguns dias a própria Ângela Merkel. Ainda assim, vários resultados ficam a assinalar este primeiro semestre do trio alemão-português-esloveno. Dois assumem particular relevância: - A aprovação, em julho, e o desbloqueamento, em dezembro, do Fundo de Recuperação, associado ao regulamento da condicionalidade do Estado de Direito. A Europa vai dispor dos recursos para ajudar os mais necessitados dos seus cidadãos, através de um modelo inédito de tomada de dívida garantida pelo orçamento da União, ilustração última e poderosa da solidariedade europeia. - A transição climática, com o objetivo da redução do gás com efeito de estufa até 2030 a subir de 40 para 55% (em relação a 1990). Uma decisão histórica, ambiciosa, pela qual, afirmou Merkel, “valeu a pena perder uma noite de sono”. Mas houve muitos dossiês inacabados, decisões por tomar, progressos por obter. É o caso das migrações/refugiados, com uma proposta da Comissão pendente. A relação com a Turquia, no seu conflito com dois Estados-membros, a Grécia e Chipre, ficou igualmente por resolver, com a tímida tomada de posição do Conselho Europeu de dezembro a constituir uma desilusão (mas não uma surpresa).
Between the German and the Portuguese presidencies A German presidency is a German presidency, one of the two main traditional drivers of European integration, which we always expect to be effective and efficient. This year, however, everything became more difficult. The pandemic prevented many of Germany’s goals from being achieved, as Angela Merkel herself acknowledged a few days ago. Even so, several results are to mark this first semester of the German-Portuguese-Slovenian trio. Two are particularly relevant: - The approval, in July, and the unlocking, in December, of the Recovery Fund, associated with the rule of law conditionality regulation. Europe will have the resources to help its most deprived citizens, through an unprecedented model of debt underwriting backed by the Union budget, the ultimate and powerful display of European solidarity. - The climate transition, with the goal of reducing greenhouse gas by 2030 and due to move from 40 to 55% (compared to 1990). A historic, ambitious decision, for which, Merkel said, “it was worth losing a night’s sleep”. But there have been many unfinished dossiers, unmade decisions and unachieved progresses. This is the case of migrations / refugees for which the Commission has a pending proposal. The relationship with Turkey, in its conflict with two Member States, Greece and Cyprus, was also unresolved, after the timid position taken by the European Council in December which proved disappointing (and which did not come as a surprise).
E agora, Portugal? Vários objetivos previstos no plano do trio tornam-se agora preocupações portuguesas. E Portugal decerto deixará dossiês por encerrar para a presidência eslovena. Qual é então o programa da presidência portuguesa e que objetivos prossegue? A resposta encontra-se no sítio Internet e no próprio programa da presidência (https://www.2021portugal.
And now, Portugal? Several objectives contained in the trio’s plan have now become Portuguese concerns. And Portugal will certainly leave unfinished dossiers for the Slovenian presidency. What is the program of the Portuguese presidency and its goals? The answer can be found on the website and in the presidency’s program (https: // www.2021portugal.eu/en/program/). There
96
PORTUGUESE PRESIDENCY eu/pt/programa/). São cinco as grandes prioridades, alinhadas com a agenda estratégica da própria União: - A resiliência europeia, pelo aumento do investimento e a recuperação da economia (incluindo implementar o QFP e o PRR), e o reforço da solidariedade e dos valores. - A Europa social, visando a melhoria do modelo social europeu e da coesão social; destaque para a Cimeira Social de maio como meio de debater a dimensão social para a retoma da economia, a transição digital e climática e a implementação do pilar europeu dos direitos sociais. - A Europa Verde, âmago da primeira grande transição, promovendo o pacto ecológico, a economia azul e as políticas energéticas e de transportes. - A Europa digital, a outra – e gémea – transição, com o ambicioso objetivo de promover a liderança europeia na economia digital, desenvolvendo ainda o conceito da democracia digital. - E por fim, mas não por menos, a Europa global. Em destaque o multilateralismo, os mecanismos de regulação da globalização, a resposta conjunta a crises e emergências humanitárias, atenção especial às relações com África e o reforço da relação com a Índia (uma Cimeira pode ter lugar durante o semestre, assim o permita a pandemia). No âmago dessa relação global, avulta o relacionamento estratégico –utilizada a palavra parceria – com o RU (assim o permita o acordo sobre as relações futuras); e ainda as relações transatlânticas com o país que é, nas palavras do Alto Representante para os Negócios Estrangeiros, o principal parceiro estratégico da Europa – os Estados Unidos. Outros assuntos, objetivos da presidência alemã mantidos em aberto por força das circunstâncias, passam também necessariamente pela presidência portuguesa: é o caso das migrações, quer na ótica dos refugiados quer dos migrantes económicos, questão por resolver de enorme importância para a Europa, de difícil solução, com atenção redobrada às fronteiras externas e ao papel de agências europeias, como o Frontex. O que restar para negociar do Brexit, será naturalmente parte da agenda do Conselho, e por isso objeto da atenção da presidência. O mesmo se diga da pandemia e da coordenação das políticas sanitárias, com a vacinação na primeira linha. No plano político, ainda, a questão da insegurança e instabilidade no mediterrâneo ocidental e, no externo, o arranque do relacionamento com a nova administração norte-americana, serão pontos altos na agenda europeia (ainda que partilhados entre a presidência e o Alto Representante para a Política Externa). E há o terrorismo, as ameaças à segurança europeia, os populismos e tantos outros temas que, por ser a agenda baseada em planos e programas preparados com antecedência, não deixarão de se impor se as circunstâncias assim o exigirem. São talvez demasiados e muito complexos os objetivos para um período de seis meses, alinhados em grande parte com a agenda europeia e o programa do trio. Mas também é certo que Portugal já por três vezes presidiu à União Europeia. Os nossos diplomatas, funcionários, peritos e responsáveis têm grande experiência na gestão de dossiês complicados e a confiança das instituições e decisores europeus. Serão decerto seis meses muito exigentes, mas que se espera concluídos com sucesso e avanços substanciais na melhoria da integração europeia e da vida dos seus cidadãos. l
EUROPE
are five major priorities, aligned with the Union’s strategic agenda: - European resilience, by increasing investment and the recovery of the economy (including implementing the MFF and RRP), and strengthening solidarity and values. - Social Europe, with a view to improving the European social model and social cohesion; it is worth mentioning the May Social Summit as a preferred means to discuss the social dimension for the recovery of the economy, the digital and climate transition and the implementation of the European pillar of social rights. - Green Europe is at the heart of the first major transition, promoting the ecological pact, the blue economy and energy and transport policies. - Digital Europe, the other - and twin - transition, with the ambitious objective of promoting European leadership in the digital economy, while further developing the concept of digital democracy. - And last but not least, global Europe. The major highlights will be multilateralism, the mechanisms for regulating globalization, the joint response to humanitarian crises and emergency situations, special attention to relations with Africa and the strengthening of relations with India (a Summit on these issues may be held this semester, if the pandemic will allow). At the heart of this global relationship lies the strategic relationship - see partnership - with the UK (if the agreement on future relationships allows it); and also transatlantic relations with the country which, according to the High Representative for Foreign Affairs, is Europe’s main strategic partner - the United States. Other issues and objectives of the German presidency still unresolved, given the recent circumstances, now fall on the Portuguese presidency: this is the case of migration, both from the perspective of refugees and economic migrants, an unresolved issue of enormous importance for Europe, difficult to solve, with increased attention to external borders and the role of European agencies, such as Frontex. The remaining negotiations as regards Brexit will naturally be part of the Council’s agenda, and thus deserve de presidency’s attention. The same goes for the pandemic and the coordination of health policies, with vaccination in the forefront. At the political level, the issue of insecurity and instability in the western Mediterranean and, at the external level, the start of the relationship with the new American administration, will be high on the European agenda (albeit shared between the presidency and the High Representative for Foreign Policy). And there is also terrorism, the threats to European security, populism and further topics that, considering that the agenda is based on plans and programs prepared in advance, will surely prevail if circumstances require. It’s perhaps too many and complex objectives for a sixmonth period, largely aligned with the European agenda and the trio’s program. But it is also a fact that Portugal has already presided over the European Union three times. Our diplomats, clerks, experts and officials have huge experience in managing complicated dossiers and the confidence of European institutions and decision-makers. These will certainly be very demanding six months, but Portugal will be able to make substantial progress when it comes to improve European integration and the lives of its citizens. l 97
EUROPA
PRESIDÊNCIA PORTUGUESA
JOSÉ GALAMBA DE OLIVEIRA, PRESIDENTE ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE SEGURADORES (APS) PRESIDENT AT PORTUGUESE ASSOCIATION OF INSURERS
A PRESIDÊNCIA DA UNIÃO EUROPEIA E OS SEGUROS THE PRESIDENCY OF THE EUROPEAN UNION AND INSURANCE
E
B
ntre 1 de janeiro e 30 de junho de 2021, Portugal assume a Presidência rotativa do Conselho da União Europeia. É a quarta vez que Portugal assume a presidência do Conselho. Mas esta será seguramente uma Presidência diferente porque acontecerá num contexto de pandemia e de crise sanitária, social e económica. Por isso, não obstante o programa da presidência portuguesa ter como principais eixos a recuperação e resiliência económicas da UE, a Europa social, a Europa verde, a Europa digital e o papel da União Europeia no mundo e defesa do multilateralismo, todo o plano de trabalhos será influenciado pelo contexto extraordinário, de enorme incerteza, em que vivemos. Se atentarmos nas prioridades da Presidência Portuguesa poderemos constatar a relevância do papel do “seguro” em muitos desses ‘dossiers’. Vejamos:
etween 1 January and 30 June 2021, Portugal takes over the rotating Presidency of the Council of the European Union. It is the fourth time that Portugal holds the presidency of the Council. But this will certainly be a different Presidency as it will take place in a context of a pandemic and health, social and economic crisis. Hence, and despite the fact that the Portuguese presidency’s program will focus mainly on the economic recovery and resilience of the EU, social Europe, green Europe, digital Europe and the role of the European Union in the world and defence of multilateralism the whole agenda will be influenced by the extraordinary context of huge uncertainty we live in. If we look at the priorities of the Portuguese Presidency we can confirm the relevance of the role of “insurance” in many of these dossiers. See, for example:
A recuperação e resiliência económicas da União Europeia: Um dos ‘dossiers’ mais relevantes neste âmbito é o da União do Mercado de Capitais. Sendo o maior investidor institucional europeu, a indústria seguradora apoiou, desde o início, os ambiciosos objetivos do projeto europeu para impulsionar o crescimento da Europa reforçando o mercado único e estimulando o desenvolvimento sustentável e a integração dos mercados de capitais, eliminando barreiras ao investimento. E neste contexto cabe destacar a necessidade de, no âmbito da revisão das regras de Solvência II, se ajustar o quadro regulamentar de modo a suprimir custos excessivos e barreiras aos investimentos de longo prazo por parte das empresas de seguros. Nesta linha de ação da Presidência Portuguesa, é também
The European Union economic recovery and resilience: One of the most relevant dossiers in this area is the Capital Market Union. As the largest European institutional investor, the insurance industry has granted its support, from the beginning, to the ambitious objectives of the European project of boosting Europe’s growth by strengthening the single market and stimulating sustainable development and integration of capital markets, removing barriers to investment. In this context, it is worth highlighting the need, within the scope of the amendment of the Solvency II rules, to adjust the regulatory framework in order to reduce excessive costs and barriers to long-term investment by insurance companies. Furthermore and along these lines the Portuguese Presidency
98
(Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)
PORTUGUESE PRESIDENCY
identificado como prioritário o reforço da capacidade de avaliação de risco e dos mecanismos europeus de proteção Civil (RescEU). Múltiplas catástrofes naturais afetaram nos últimos anos o território da União Europeia, causando centenas de vítimas e milhares de milhões de euros de prejuízos. Para melhor proteger os cidadãos, o rescEU tem por objetivo reforçar o atual Mecanismo de Proteção Civil da UE. Se há área onde a parceria entre os Estados e a indústria de seguros é manifestamente importante, como o demonstram vários exemplos europeus, é o dos mecanismos de resposta a situações de catástrofe. Em Portugal, as empresas de seguros têm alertado sistematicamente os Governos para a necessidade de se estabelecer um sistema integrado, de parceria entre o público e privado, que torne mais robusta a resposta global em cenários de catástrofe. A Europa social: Neste domínio cabe destacar quer as medidas para implementação do Pilar Europeu dos Direitos Sociais, quer o Livro Verde sobre o Envelhecimento que deverá ser publicado no primeiro trimestre de 2021. O Pilar Europeu dos Direitos Sociais baseia-se em 20 princípios fundamentais um dos quais, o 15º, tem a ver com as Prestações e Pensões de velhice determinando que “Os trabalhadores por conta de outrem e por conta própria reformados têm direito a uma pensão, proporcional às suas contribuições, que lhes garanta um rendimento adequado. Mulheres e homens devem ter oportunidades iguais em matéria de aquisição de direitos à pensão. Todas as pessoas na velhice têm direito a recursos que lhes garantam uma vida digna.” Sendo conhecidos os problemas que o envelhecimento acarreta no que diz respeita à sustentabilidade dos sistemas públicos de pensões, a Comissão Europeia já veio reconhecer o papel que as pensões privadas suplementares podem desempenhar perante os desafios colocados por esse envelhecimento. E neste domínio o setor segurador assume uma enorme relevância pela sua capacidade de captar e gerir as poupanças afetas às pensões de reforma, como o prova o dossier do Pan-European Pension Product (PEPP) que pode conhecer desenvolvimentos importantes durante a Presidência Portuguesa, uma vez que está a decorrer a fase final da sua regulamentação, antes da sua adoção em pleno, a qual ocorrerá no primeiro trimestre de 2022. A Europa verde: Os ‘dossiers’ da sustentabilidade, a Lei europeia do clima, e as adaptações às alterações climáticas vão estar em cima da mesa durante a Presidência Portuguesa. A indústria seguradora sempre apoiou os objetivos da agenda Europeia para tornar a economia da União Europeia sustentável o que, entre outras coisas, implica uma economia com zero emissões líquidas de gases com efeito de estufa até 2050. A regulamentação relacionada com sustentabilidade (ESG) assume uma particular relevância no setor segurador, sendo de destacar a área dos investimentos: Considerando que
EUROPE
identified also as priority the reinforcement of both the risk assessment capacity and of the European Civil protection mechanisms (RescEU). The territory of the European Union has been affected by a number of natural disasters in recent years, causing hundreds of victims and billions of euros in damage. In order to better protect citizens, rescEU aims at strengthening the current EU Civil Protection Mechanism. And if there is an area where the partnership between States and the insurance industry takes on a relevant role, as shown by several European examples, it’s precisely disaster response mechanisms. In Portugal, insurance companies have systematically warned Governments as to the need of establishing an integrated system of partnership between the public and private sector, which is there to ensure a more robust global response in disaster scenarios. The Social Europe: In this particular filed, it is worth mentioning both the measures towards implementation of the European Pillar of Social Rights, and the Green Paper on Aging, due to be issued on the first quarter of 2021. The European Pillar of Social Rights is based on 20 fundamental principles, one of which, the 15th, pertains to old-age Benefits and Pensions, providing for that “retired and self-employed workers are entitled to a pension, proportionate to their contributions that is there to guarantees them adequate income. Women and men should have equal opportunities in terms of acquiring pension rights. Everyone in old age is entitled to resources to provide them a decent life.” The problems that aging brings with it have been duly factored in particularly as regards the sustainability of public pension systems. To this end the European Commission has acknowledged the role that supplementary private pensions can play in the challenges posed by aging. And the insurance sector plays a clear role in this particular field due to its ability to capture and manage savings related to retirement pensions, as evidenced by the Pan-European Pension Product (PEPP) file, which may undergo important developments during the Portuguese Presidency, considering that is currently going through the final regulation stage before its full adoption, which will take place in the first quarter of 2022. Green Europe: The sustainability dossiers, the European climate law, and adaptations to climate change will be on the table during the Portuguese Presidency. The insurance industry has always supported the objectives of the European agenda to make the European Union’s economy more sustainable, which, among other things, means an economy with zero net greenhouse gas emissions by 2050. Regulation related to sustainability (ESG) takes on particular relevance in the insurance sector, with emphasis on the investment area: Considering that the overwhelming majority of the insurers’ portfolio - around 70% - is invested in public and private debt securities, the legislative and regulatory developments related to the creation of requirements for “Green 99
EUROPA
PRESIDÊNCIA PORTUGUESA
“A I N D Ú S T R I A SEGURADORA SEMPRE APOIOU OS OBJETIVOS DA AGENDA EUROPEIA PA R A T O R N A R A ECONOMIA DA UNIÃO EUROPEIA S U S T E N T ÁV E L .”
a esmagadora maioria da carteira das seguradoras – cerca de 70% - está investida em títulos de dívida pública e privada, são especialmente relevantes para o setor os desenvolvimentos legislativos e regulamentares associados à criação de requisitos para “Obrigações Verdes” (“Green Bonds”) e/ou que ajudem a identificar claramente o que são ativos ou projetos considerados sustentáveis. A Europa Digital: Promover os serviços digitais no mercado interno, garantir o acesso à educação digital, à justiça digital, e à saúde digital e promover a resiliência digital reforçando a cibersegurança são temas em destaque na agenda da Presidência portuguesa. Qualquer destes temas é da maior importância para o setor segurador. A cibersegurança é uma preocupação fundamental para o setor dos seguros uma vez que as empresas de seguros são repositórios importantes de informação sobre a vida das pessoas e das empresas suas clientes. As seguradoras congratulam-se, por isso, com os esforços para aumentar a resiliência operacional digital do setor financeiro. A Comissão Europeia apresentou em setembro uma proposta de Lei de Resiliência Operacional Digital (DORA) para o sector financeiro que deve agora ser trabalhada e que deve constituir o quadro base a observar pelas empresas de seguros para garantir a sua resiliência cibernética. Quanto à digitalização da economia ela é fundamental para um setor, como o segurador, que continua sujeito a inúmeras exigências legais em suporte papel, às quais é importante colocar termo. A desmaterialização dos comprovativos do seguro automóvel, a desmaterialização das notificações e comunicações com os tribunais, a desmaterialização das informações sobre salários seguros nos acidentes de trabalho, peritagens online, telemedicina são alguns exemplos do longo caminho que é ainda necessário percorrer. Outros ‘dossiers’ Especialmente importante para o setor segurador, é de esperar que durante a Presidência Portuguesa seja aprovada a nova diretiva do seguro automóvel que virá reforçar a proteção das vítimas de acidentes automóvel.l 100
Bonds” and/or that help to clearly identify assets or projects deemed sustainable are especially relevant to the sector. Digital Europe: Promoting digital services in the domestic market, guaranteeing access to digital education, digital justice, and digital health and promoting digital resilience by reinforcing cybersecurity are on top of the Portuguese Presidency’s agenda. Any of these issues is of the utmost importance to the insurance sector. Cybersecurity is a fundamental concern for the insurance sector given that insurance companies are important repositories of information about the lives of people and their client companies. Insurers therefore welcome efforts to increase the digital operating resilience of the financial sector. The European Commission submitted in September a proposal for a Digital Operational Resilience Law (DORA) for the financial sector that must now be worked on and which should form the basic framework to be followed by insurance companies to guarantee their cyber resilience. As for the digitalization of the economy, it plays a fundamental role for a sector, like the insurer, which is still bound to a number of legal requirements in paper format, which are important to put an end to. The dematerialization of car insurance proof, the dematerialization of notifications and communications with the courts, the dematerialization of information on insured wages in case of occupational accidents, online expert surveys, and telemedicine are just some examples of the long road that still needs to be travelled. Other dossiers Especially important for the insurance sector is the car insurance directive which should be approved during the Portuguese Presidency and which will reinforce the protection of victims of car accidents. l
“THE INSURANCE I N D U S T R Y H A S A L WAY S SUPPORTED THE OBJECTIVES OF THE EUROPEAN AGENDA TO MAKE THE EUROPEAN UNION’S ECONOMY M O R E S U S T A I N A B L E .”
As tendências do mundo da gestão
Tiragem 17.000 exemplares 10,5 Milhões de pageviews médias mensais 101
AMÉRICAS
AMÉRICA DO NORTE
JAIME NOGUEIRA PINTO
DESAFIOS AMERICANOS: DA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL À ADMINISTRAÇÃO BIDEN AMERICAN CHALLENGES: FROM THE PRESIDENTIAL ELECTION TO THE BIDEN A D M I N I S T R AT I O N
A
s eleições norte-americanas de 2020 foram das mais tensas e bipolarizadas da história dos Estados Unidos. A imagem passada pela generalidade dos Institutos de Sondagens e dos media que davam a Joe Biden uma folgada vitória – e a provável reconquista do Senado e alargamento da maioria nos Representantes – traduziu-se em resultados muito diferentes. Para além das suspeitas de fraude na eleição presidencial – que ficarão a pairar sobre o resultado, e com uma parte substancial do eleitorado republicano convencido de que a vitória lhes foi roubada –os republicanos não perderam o Senado e recuperaram lugares nos Representantes. Seja qual for a impressão que vai perdurar, ou o valor das provas apresentadas, o facto é que os tribunais não deram seguimento à maioria dos recursos e protestos apresentados pela equipa de advogados de Trump, pelo que o ‘team’ Joe Biden-Kamala Harris está a formar a nova Administração e irá ficar na Casa Branca nos próximos quatro anos. São e serão anos difíceis e também anos decisivos, não só em termos de política doméstica americana, como e sobretudo da política mundial. Um mundo de Pandemia e a braços com os efeitos político-económicos pós-pandemia: mundo em 102
T
he 2020 US elections were one of the most tense and bipartisan in the history of the United States. The projections by most Polling Institutes and the media hinted that Joe Biden would win by a large majority - a likely reconquer of the Senate and the widening of the majority held in the House of Representatives – but this translated into very different results. Amidst claims and suspicions of fraud in the presidential election - which will hover over the result given that a substantial part of the Republican voters are convinced that the victory was stolen from them the fact is that Republicans did not lose the Senate and even regained seats in the House of Representatives. Whatever the impression that will remain, or the value of the evidence submitted, the fact is that the courts did not pursue any further the appeals and protests submitted by the Trump team of lawyers and the team Joe Biden-Kamala Harris is now forming the new Administration and will sit in the White House for the next four years. These are and will be difficult and crucial years, not only as regards American’s domestic politics, but also and above all in world politics. A world of pandemic and grappling with the post-pandemic political and
NORTH AMERICA
que o medo – da praga, da crise económica, do desemprego, da mudança para o desconhecido – vai pairar sobre a América e a Humanidade. Biden está a formar a sua equipa: os nomes até agora apontados além de representantes do ‘Establishment’ costa-oriental e das administrações Obama e Clinton, e da preocupação de representação das “minorias”, não indiciam grandes alterações. Aliás, na América, os factores de continuidade prevalecem, geralmente, mesmo em tempos de crise, em relação aos factores de ruptura. Haverá sim – para gáudio e descanso de muitos – uma mudança de retórica e de forma, com mais declarações diplomaticamente correctas, mais multilateralismo, mais coisas simpáticas. Mas a realidade é a mesma e a substância política não será muito diferente: os Estados Unidos vão ter que gerir a guerra fria com Pequim, em termos em que ela não passe a quente, na competição tecnológica, na disputa de aliados, e na resposta, sobretudo em África e na América Latina, aos avanços político-económicos chineses. Tanto mais, que a China está a tentar apressar a negociação com a União Europeia, antes que uma empossada Administração Biden corresponda aos avanços de Bruxelas e haja uma ‘Entente’ anti-chinesa dos dois lados do Atlântico. Quanto ao resto das políticas – e tirando um gesto simpático à esquerda e aos bem-pensantes, como será o regresso aos Acordos de Paris sobre o clima - a realidade interna americana vai pesar, e muito, sobre o futuro. O peso do eleitorado Trump, que mesmo com uma Pandemia a matar, uma economia escavacada, toda a hostilidade dos grandes media, dos académicos, do estrelato de Hollywood, dos senhores de Silicon Valley, conseguiu 74 milhões de votos, vai contar nas decisões de Biden. Que sabe que o que lhe deu uma vitória, de curta margem, foi uma coligação anti-Trump que se dissolve no dia que Trump deixar a Casa Branca. E que os Americanos não querem mais ser os guardiões da Europa, nem os polícias do mundo, nem verem as indústrias migrar para uma China de que desconfiam. Aqui será também decisivo o comportamento de Trump; se este continuar em cena, usando a sua popularidade junto das bases do GOP para exercer pressão sobre o Partido Republicano, este poderá dividir-se. Se optar por um ‘low profile’ e um papel discreto, deixando emergir um novo líder – um Ted Cruz, um Marco Rubio – então o GOP será uma grande força no Congresso e no Supremo Tribunal, e a América nacional-conservadora terá um papel decisivo a desempenhar no país e no mundo mesmo com a Casa Branca nas mãos dos democratas. l
AMERICAS
economic effects: a world in which fear - of the plague, the economic crisis, unemployment, the move to the unknown - will loom over America and Mankind. Biden is forming his team: the names pointed out so far, besides representatives of the Eastcoast Establishment and the Obama and Clinton administrations, and the concern as to represent the “minorities”, do not seem to represent major changes. In fact, in America, continuity factors generally prevail, even in times of crisis, in relation to rupture factors. There will be - to the delight and relief of many - a change in rhetoric and form, with more diplomatically correct statements, more multilateralism and more nice things. But the reality is the same and the political substance will not be much different: the United States will have to manage the cold war with Beijing, in terms that it does not heat up, in technological competition, in the dispute of allies, and in the response, especially in Africa and Latin America, to the Chinese political and economic advances. All the more now that China is trying to speed up negotiations with the European Union before the invested Biden Administration responds to the advances of Brussels and there may be an anti-Chinese ‘Entente’ on both sides of the Atlantic. As for the rest of the policies - and aside from a nice blink to the left wing and to the dogooders, with the return to the Paris Accords on the climate - the American internal reality will play a leading role in the future. The weight of the Trump electorate who, a man who despite the killing pandemic, a shattered economy, hostility from the mainstream media, academics, Hollywood stardom and lords of Silicon Valley managed to get 74 million votes, will factor in Biden’s decisions. Who knows if what granted Biden a short-term victory was an anti-Trump coalition that may be dissolved the day Trump leaves the White House. And Americans may no longer wish to be the guardians of Europe, nor the policemen of the world, nor to see industries migrate to China, a country they are highly suspicious of. Trump’s behaviour will also be crucial here; if he remains on stage, using its popularity with the GOP bases to put pressure on the Republican Party, this party could split. If he chooses a low profile and a discreet role, allowing a new leader to emerge - a Ted Cruz, a Marco Rubio - then the GOP will be a major force in Congress and in the Supreme Court, and national-conservative America will have a clear role to play in the country and in the world even with the White House in the hands of the Democrats. l 103
AMÉRICAS
AMÉRICA DO NORTE
AS PRIORIDADES DO P R E S I D E N T E THE PRESIDENT’S PRIORITIES
JAMES ASTILL, E D I T O R D O T H E E C O N O M I S T A C R E D I TA D O E M W A S H I N G T O N E C O L U N I S TA D A S E C Ç Ã O L E X I N G T O N D E S TA R E V I S TA W A S H I N G T O N B U R E A U C H I E F A N D L E X I N G T O N C O L U M N I S T, T H E E C O N O M I S T WA S H I N G T O N , D C W
© The World In 2021, The Economist Newspaper Limited, London
O
próximo ano será um ano de grandes melhorias após o péssimo mandato do seu antecessor. O país foi afectado por uma série de escândalos e desastres tal em 2020 que, quando os eleitores afluíram às urnas, quase não se falava do julgamento de ‘impeachment’ de Donald Trump dez meses antes. Um quarto de milhão de americanos morreu de Covid-19. E perderam-se mais de 10 milhões de empregos. As feridas raciais vindas a público com os protestos do movimento Black Lives Matter – os maiores da história americana – seriam inflamados pela disputa racial alimentada pelo presidente. A recusa de Trump em aceitar o resultado das eleições pôs em causa a própria democracia do país. Muitos desses problemas transitarão para 2021. A economia continuará tremida enquanto o vírus andar desenfreado por aí. A desconfiança em relação ao processo eleitoral que Trump encorajou entre seus partidários far-se-á sentir durante muito tempo. No entanto, o simples facto de ter sido afastado da Casa Branca – tornando-se o quarto presidente num século a não conseguir assegurar um segundo mandato – alterou as perspectivas dos Estados Unidos de gerirem os seus problemas. Trump viu o Covid-19 como um problema de comunicação e irrelevante. Viu nas divisões raciais da América uma oportunidade política. Em Joe Biden, a América terá um presidente competente, que respeita o conhecimento e está empenhado em unir as pessoas. Biden assinalará isso mesmo com uma leva de acções executivas. Cancelará a retirada do Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde, voltará a aderir ao acordo climático de Paris e restabelecerá a protecção do governo Obama aos imigrantes ilegais trazidos para os Estados Unidos em criança. E porá fim à proibição de Trump a viajantes de alguns países de maioria muçulmana. Biden terminará a política do 104
T
he year ahead in America will be a big improvement on its awful predecessor. The country was wracked by such a series of scandals and disasters in 2020 that, by the time voters limped to the polls, Donald Trump’s impeachment trial ten months earlier barely warranted a mention. A quarter of a million Americans were dead of covid-19. Over 10m jobs had been lost. The racial grievances highlighted by the Black Lives Matter protests – some of the biggest in American history – had been inflamed by the president’s race-baiting on the trail. Mr Trump’s refusal to accept the election result then put even the country’s democracy in doubt. Many of those problems will carry over into 2021. The economy will be shaky as long as the virus remains rampant. The mistrust of the electoral process that Mr Trump has encouraged among his supporters will be long-lasting. Yet the simple fact of his ejection from the White House – after he became the fourth president in a century to fail to win a second term – has transformed America’s prospects of managing its troubles. Mr Trump saw covid-19 as a communications problem to be spun into irrelevance. He saw America’s racial divisions as a political opportunity. In Joe Biden, America will have a competent president who respects expertise and is committed to bringing people together. Mr Biden will signal this in an opening flurry of executive actions. He will cancel America’s withdrawal from the World Health Organisation, rejoin the Paris climate agreement and reinstate the Obama administration’s protections for illegal immigrants brought to America as children. He will scrap Mr
NORTH AMERICA seu antecessor de separar crianças migrantes ilegais de seus pais e lançará uma missão com vista a encontrar os pais desaparecidos de 545 crianças migrantes sob custódia das autoridades. E decretará obrigatório o uso de máscara a nível nacional. A sua administração tomará também medidas rápidas no sentido de reconstruir as instituições americanas seriamente afectadas por Trump. Voltará a colocar cientistas credíveis nos seus cargos na Agência de Protecção do Ambiente e reintroduzirá medidas para proteger a independência do Departamento de Justiça. A secretária de Estado de Biden terá de restaurar a confiança e repor a ordem no corpo diplomático dos Estados Unidos e no que toca às suas alianças após toda uma série de abusos. Essas medidas terão um significado acrescido perante a incapacidade dos democratas de conquistarem a maioria no Senado em Novembro. É improvável que venham a conseguir corrigir isso com uma vitória nas eleições extraordinárias para o Senado que terão lugar na Geórgia no início de Janeiro. Isso significa que Biden não conseguirá aprovar todas as políticas económicas, de saúde, climáticas e tributárias que prometeu. Uma das suas primeiras prioridades foi a aprovação de um amplo pacote de estímulo económico de 2 biliões de dólares, incluindo investimentos em infraestruturas verdes e outras. Conseguir a aprovação de um pacote de estímulo muito mais reduzido perante um Senado liderado pelo líder republicano veterano Mitch McConnell constituirá um verdadeiro desafio. McConnell tentará negar ao governo Biden quaisquer vitórias e restabelecer a reputação de conservadorismo fiscal do seu partido (um dogma que parece preocupar apenas os legisladores da oposição), com o objectivo de obter dividendos para as eleições intercalares em 2022. Bloqueado no Capitólio, Biden terá que tomar medidas executivas mais ambiciosas para conseguir progressos em casa, como aconteceu com os governos de Obama nos quais serviu. Espera-se que imponha mais restrições à poluição de centrais a carvão e gás – embora não seja claro se tais medidas sobreviverão ao escrutínio de uma maioria conservadora cada vez mais activista na bancada do Supremo Tribunal. No que toca às relações externas, o novo governo representará uma mudança dramática de tom em relação ao seu antecessor – e mais continuidade do que muitos esperam. Biden acalmará os aliados tradicionais da América e restaurará a liderança americana nos esforços multinacionais para conter as alterações climáticas, a agressão russa e o programa nuclear iraniano. Mas manterá a postura adversária do governo Trump em relação à China e algumas das suas tarifas. Vai desacelerar, mas não reverter, a retirada da América do Afeganistão. E nessa alteração crescente de foco do oeste para leste por parte da América – que Biden não interromperá – os velhos aliados podem detetar aí mais do que um indício do estilo transacional de Trump. Apesar das restrições aos seus poderes, 2021 pode ser bom para Biden. Tudo dependerá da capacidade da sua administração de disponibilizar rapidamente uma vacina para a Covid-19 para todos. Se tudo correr bem, a economia recuperará rapidamente o terreno perdido e a popularidade de Biden aumentará. Caso contrário, a esperança conquistada com o fim do desgoverno de Trump dissipar-se-á rapidamente – beneficiando assim o ex-presidente. E outra grande questão para o ano que agora começa reside em saber até que ponto Trump se afastará da vida pública. Membros do ‘establishment’ republicano temem que, ao continuar a pairar sobre o partido derrotado no Twitter e na televisão, Trump possa vir a ser um entrave a uma reforma do partido. Receios estes que podem materializar-se. l
AMERICAS
Trump’s ban on travellers from some majority-Muslim countries. Mr Biden will end his predecessor’s policy of separating illegal child migrants from their parents and launch a mission to find the missing parents of 545 migrant children in custody. He will issue a national mask mandate. His administration will also take rapid steps to rebuild America’s Trump-bruised institutions. It will restore credible scientists to the Environmental Protection Agency and reintroduce firewalls to protect the independence of the Department of Justice. Mr Biden’s secretary of state will need to restore confidence and order to America’s much-abused diplomatic corps as much as to its alliances. These measures will have added significance because of the Democrats’ failure to capture the Senate in November. They are unlikely to correct that by winning the two Senate run-off elections due to be held in Georgia in early January. That means Mr Biden will be unable to pass almost any of the economic, health-care, climate and tax policies he promised on the trail. One of his first priorities had been to pass an expansive $2trn economic stimulus package, including investments in green and other infrastructure. Getting a much skinnier stimulus package past Mitch McConnell, the veteran Republican Senate leader, will be a struggle. Mr McConnell will try to deny the Biden administration any wins and re-establish his party’s reputation for fiscal conservatism (a dogma that only seems to concern its lawmakers in opposition), with a view to making gains in the mid-term elections in 2022. Blocked on Capitol Hill, Mr Biden will have to take more ambitious executive actions to make progress at home, as did the Obama administrations in which he previously served. Expect him to institute further curbs on pollution from coal – and gas-fired power stations – though whether such measures will survive the scrutiny of an increasingly activist conservative majority on the Supreme Court bench is unclear. In foreign affairs, the new administration will represent a dramatic change in tone from its predecessor – and more continuity than many expect. Mr Biden will soothe America’s traditional allies and restore American leadership to the multinational efforts to contain climate change, Russian aggression and Iran’s nuclear programme. But he will maintain the Trump administration’s adversarial posture towards China, and some of its tariffs. He will slow, but not reverse, America’s disengagement from Afghanistan. And in America’s accelerating shift in focus from west to east – which Mr Biden will not interrupt – those same old allies may detect more than a hint of Mr Trump’s transactional style. Despite the constraints on his power, 2021 could turn out well for Mr Biden. This will rest above all on his administration’s ability to make a covid-19 vaccine quickly and widely available. If that goes smoothly, the economy will rapidly make up its lost ground and Mr Biden’s popularity will surge. If it does not, the hope stirred by the end of Mr Trump’s misrule will soon dissipate – to the former president’s advantage. The degree to which Mr Trump retreats from public life is another great question for the year ahead. Members of the Republican establishment fear that, by looming over their defeated party on Twitter and television, Mr Trump will be a barrier to reforming it. Their fears will probably be realised. l 105
IBERO-AMÉRICA
ESPANHA
BELÉN RODRIGO, PERIODISTA EN DIARIO ABC JOURNALIST AT DIARIO ABC
ESPAÑA: LA ESPERANZA DE LA RECUPERACIÓN S PA I N : H O P E F O R R E C O V E RY
P
ara un país que en 2019 recibió 83 millones de turistas, las imágenes de las calles desiertas durante el confinamiento en los meses de marzo y abril de 2020 fueron especialmente duras. Esa alegría que caracteriza al pueblo español paró de golpe y todavía no se ha recuperado. Acaba un año difícil y traumático para todos y lo ha sido de forma especial para España, cuya economía es una de las más afectadas por la crisis donde las dos olas del coronavirus han sido muy fuertes. Y todavía está por ver cómo será la tercera. De la primera nos queda grabado en la memoria aquel fatídico 2 de abril, cuando se comunicaron 950 fallecidos en 24 horas. Entre todos se logró hacer frente al virus y llevarlo hasta números realmente bajos en el mes de junio, pero tras el verano la situación se volvió a descontrolar, como en el resto de Europa. Un déjà vu, aunque esta vez la experiencia de los médicos y contar con más recursos materiales marcó la diferencia. Llevamos años escuchando maravillas del sistema sanitario español, uno de los mejores del mundo, según los rankings. Quizás por eso los primeros meses de la pandemia resultaba más difícil entender lo que estaba pasando. Pero no era algo nuevo, si buscamos las noticias de años anteriores, en los picos de la gripe, muchos hospitales se colapsaban igualmente ante la falta de camas y de personal sanitario. Este virus no ha hecho sino poner en evidencia las carencias de un sistema en el que cada vez se invierte menos dinero, aunque España sea uno de los países con mayor esperanza de vida. Los números que resumen este 2020 son desoladores. España acaba el año con 1.928.265 casos de coronavirus confirmados y 50.837 muertes a causa del Covid-19. Pero si miramos para las cifras del Instituto Nacional de Estadística estaríamos hablando de 70.000 víctimas del Covid, 20.000 más de las que reconoce el Gobierno. No menos preocupantes 106
F
or a country that received 83 million tourists in 2019, the images of deserted streets during lockdown in the months of March and April 2020 were particularly hard. The joy that characterizes the Spanish people stopped suddenly and has not come back yet. Last year was both difficult and traumatic for everyone and particularly for Spain, whose economy is one of the most affected by the crisis and where the two waves of the coronavirus have been very strong. And it remains to be seen how things will unfold during the third wave. As for the first wave, that fateful April 2 when 950 deaths were reported in 24 hours, it remains etched in our memory. Together we were able to fight the virus and bring it to really low numbers in June, but after the summer the situation got out of control again, just like in the rest of Europe. A déjà vu, although this time the doctors’ experience and the fact that we had more material resources made the difference. We have been hearing about the wonders of the Spanish health system for years, one of the best in the world, according to the rankings. Perhaps that is why it was so difficult to understand what was happening in the first months of the pandemic. But it was not something new. Looking back at the news in previous years, during the peak of the flu, many hospitals also collapsed due to the lack of beds and healthcare personnel. This virus has only highlighted the shortcomings of a system in which less and less money is invested, even though Spain is one of the countries with the longest life expectancy. The numbers that summarize 2020 are devastating. Spain ended the year with 1,928,265 confirmed coronavirus cases and 50,837 deaths from Covid-19. But the figures from the National Institute of Statistics point to 70,000 victims of Covid, 20,000 more than the Government figures. No less worrying are the numbers relative to the economy given the way it will affect people’s lives. The fall in GDP in 2020 will be around 11% according to OECD forecasts and the unemployment rate exceeds
SPAIN
son los números relativos a la economía por el efecto que van a tener en la vida de las personas. La caída del PIB en 2020 rondará el 11% según las previsiones de la OCDE y la tasa del paro supera el 16%. Además, hay casi 750.000 personas en ERTE que en muchos casos acabarán desempleados. ¿Y ahora qué? Nos preguntamos todos. ¿Qué nos espera en este 2021 coincidiendo con la llegada de la vacuna? El Gobierno espera vacunar hasta 80 millones de personas, muchas más de las que viven en España. Pero todavía faltan varios meses para que sea realidad y hasta entonces sigue aumentando el número de personas vulnerables. Según los economistas en este primer semestre del año no veremos una recuperación total. Siguen el miedo y las restricciones. De hecho, en España el año pasado se disparó la tasa de ahorro de los hogares. Pero una vez que la vacuna se generalice se espera que la economía se recupere rápidamente, como ha ocurrido en anteriores crisis. No obstante, hay demasiadas esperanzas puestas en los fondos europeos que si bien serán importantes llegarán cuando la economía ya estará funcionando y no van a evitar la caída del primer semestre. Estrenamos Presupuestos del Estado, los que finalmente ha logrado sacar Pedro Sánchez adelante con el apoyo de los independentistas. Unos presupuestos que el gobernador del Banco de España ha calificado de optimistas alertando sobre las consecuencias para la destrucción del empleo y el incremento de la deuda pública. Esta es la realidad que tiene España y probablemente saldrá de esta crisis, pero sin acometer las reformas pendientes, entre ellas las de apostar por un tejido empresarial más fuerte y resistente. Seguimos siendo un país de Pymes y microempresas. En este año se pondrá de nuevo a prueba un gobierno de coalición cuyas diferencias se han podido ver en plena gestión de la pandemia. Y queda por saber si la salida del ministro de Sanidad, Salvador Illa, da pie a una remodelación ministerial. Una salida por sorpresa al ser el candidato socialista de las elecciones catalanas del 14 de febrero. Sí, el problema catalán sigue ahí, aunque el año pasado quedase en segundo plano ante la magnitud de la pandemia. Veremos ahora si la sociedad catalana mantiene su apoyo al independentismo, y el precio que pagará Sánchez por condicionar los Presupuestos al apoyo independentista. Un comienzo de año llega siempre cargado de ilusión y buenos propósitos y más cuando el año anterior ha sido realmente difícil. Acabar con la pandemia es la prioridad para cualquiera de los gobiernos, pero al hacerlo, que se conseguirá, no se tendrían que olvidar todo aquello que se ha hecho mal. España ha dado una mala imagen ante una falta de coordinación entre Gobierno y Autonomías poniendo en causa un sistema supuestamente ventajoso para todos. En el momento de la verdad, no se ha sabido gestionar. Las diferencias partidarias han estado por delante del bienestar del país y han hecho mucho daño. Puede que el milagro de la vacuna haga olvidar muchas diferencias, pero habrá que estar atentos para la próxima batalla. Parece que los virus se sienten cómodos entre los humanos y este no será el último. l
IBERO-AMERICA
16%. Furthermore there are almost 750,000 people under lay off regime and many will end up losing their jobs. Now what? We all wonder. What awaits us in 2021, the year marked by the arrival of the vaccine? The Government hopes to vaccinate up to 80 million people, more than those who live in Spain. But there are still several months to go before it becomes a reality and until then the number of vulnerable people continues to rise. According to economists we will not witness a full recovery in this first half of the year. Fear and restrictions will ensue. In fact, in Spain the household savings rate soared last year. But once the vaccine becomes widespread, the economy is expected to recover quickly, just like in previous crises. However, there are too many hopes placed on European funds that, although they will be important, they will arrive when the economy will already be working and will not prevent the fall in economy during the first semester. We are launching State Budgets, which Pedro Sánchez has finally managed to get ahead with the support of the independentists. Budgets that the governor of the Bank of Spain has described as optimistic, warning about the consequences for the destruction of employment and the increase in public debt. This is the reality that Spain has to face and the country will probably come out of this crisis, but without undertaking the pending reforms, including betting on a stronger and stronger business fabric. We continue to be a country of SMEs and micro-enterprises. This year, a coalition government will be put to the test once again, a government whose differences could be witnessed in the midst of the pandemic. And it remains to be seen if the departure of the Minister of Health, Salvador Illa, will lead to a ministerial reshuffle. His departure from the government came as a surprise as he was the socialist candidate in the Catalan elections on February 14. Yes, the Catalan problem is still there, although last year it remained in the background given the magnitude of the pandemic. Let’s see if Catalan society will keep supporting independence and the price Sánchez will pay for having secured the independentists support as regards the state Budget. The beginning of the year always comes loaded with hope and good intentions and even more so considering that previous year has been really difficult. Ending the pandemic is the priority for any government, but in doing so, and this will be achieved, they should not forget everything that has gone wrong. Spain conveyed a bad image due to a lack of coordination between the Government and the Autonomous Communities, calling into question a system supposedly advantageous for all. At the moment of truth, they proved unable to manage things. Party differences prevailed over the welfare of the country and the damage was done. The miracle of the vaccine may make us forget many differences, but we will have to be vigilant in the next battle. Viruses seem to feel at home among humans and this virus will not be the last. l 107
IBERO-AMÉRICA
PARAGUAI
RICARDO FORTES DA COSTA, DIRECTOR DA RH MAGAZINE DIRECTOR OF RH MAGAZINE
PARAGUAI: UM PAÍS DE OPORTUNIDADES, UM PROJETO DE FUTURO PA R A G U AY: L A N D O F O P P O R T U N I T I E S A N D A PROJECT FOR THE FUTURE
T
T
eresa Almadanim, empresária e docente universitária, em 2018 foi desafiada pela Embaixadora do Paraguai em Portugal – Maria José Argaña – para liderar a Câmara de Comércio e Indústria Paraguai-Portugal (CCIPP), hoje o projeto da sua vida. Foi à Presidente da CCIPP que solicitámos uma breve descrição do País em causa e a justificação para que os empresários portugueses escolham aquele destino para os seus investimentos.
eresa Almadanim, businesswoman and university professor was challenged in 2018 by the Paraguayan Ambassador in Portugal - Maria José Argaña - to chair the Paraguay-Portugal Chamber of Commerce and Industry (CCIPP), currently the project of her life. We asked the President of CCIPP for a brief description of this country and the reasons why Portuguese businessmen should choose such consider this destination for their investments.
Paraguai: racional e emocional Uma passagem pela América do Sul, há quatro anos atrás, levou a atual Presidente da CCIPP a apaixonar-se pelo Paraguai, um país ainda tão misterioso para os portugueses. O País faz fronteira com a Argentina, o Brasil e a Bolívia, tem um pouco mais de 7 milhões de habitantes, é um exemplo de estabilidade política, tendo um enorme potencial de desenvolvimento económico e oferece um mundo de oportunidades para o tecido empresarial português. A criação da Câmara de Comércio e Indústria Paraguai-Portugal, com
Paraguay: rational and emotional After a visit to South America, four years ago, the current President of the CCIPP fell in love with Paraguay, a country that is relatively unknown to the Portuguese. The country borders Argentina, Brazil and Bolivia, has just over 7 million inhabitants, is an example of political stability, has a huge potential for economic development and offers a world of opportunities for the Portuguese business community. The creation of the Paraguay-Portugal Chamber of Commerce and Industry, with the mission
108
(Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)
PARAGUAY
a missão de dinamizar o intercâmbio económico entre os dois países foi, pois, um primeiro passo necessário. Desde então a presença da CCIPP no Paraguai tem sido constante, promovendo viagens de empresários portugueses ao país uma a duas vezes por mês, o que se traduziu numa dinâmica imparável, com a abertura de diversas empresas portuguesas no Paraguai. Deste trabalho surgem dois resultados práticos que importam destacar: a potencialidade da criação de mais de 300 postos de trabalho e a cooperação no desenvolvimento de vários parques industriais. Só a pandemia abrandou este fluxo de colaboração e investimento, que Teresa Almadanim está determinada em retomar logo que as condições o permitam. Tal como nos explicou: “O Paraguai é um país de enormes oportunidades para os empresários portugueses, seja pelos ótimos padrões de qualidade de vida e segurança, seja pelo facto de ser economicamente estável (tornando o país um excelente destino de investimento). A abundância de recursos naturais e de energia, combinada com uma população jovem e alicerçada no facto de o país ser a região fiscal mais competitiva e atrativa do Mercosul, criam condições para desenvolver negócios diversificados com um rápido retorno do investimento”. A atratividade do Paraguai para os investidores portugueses tem por base um conjunto de pilares estratégicos, que são hoje a base do desenvolvimento do país: 1. O sistema fiscal, que se destaca por ser altamente favorável ao investimento, tornando o Paraguai o destino mais atrativo da América do Sul, ao ter a menor carga tributária da região; 2. A Lei Maquila, que faz do Paraguai a principal porta de entrada para o Mercosul. As empresas constituídas ao
IBERO-AMERICA
of boosting the economic exchange between the two countries was, therefore a must-needed first step. Since then, CCIPP’s has had an ongoing presence in Paraguay, promoting trips by Portuguese businessmen to the country once or twice a month whose end-result has been an unstoppable dynamic and the opening of a number of Portuguese companies in Paraguay. From this work, two practical results emerge that should be highlighted: the potential to create more than 300 jobs and cooperation that has led to the development of assorted industrial facilities. Only the pandemic slowed down this flow of collaboration and investment, which Teresa Almadanim is committed to resume when the right conditions are there. As she told us: “Paraguay is a country of huge opportunities for Portuguese businesspeople, given its excellent quality of life and security standards or for being economically stable (making the country an excellent investment destination). The abundance of natural resources and energy, combined with a young population, along with the fact that the country is the most competitive and appealing fiscal region in Mercosur create the right conditions to develop assorted businesses with a quick return on investment”. Paraguay’s attractiveness for Portuguese investors is based on a number of strategic pillars for the country’s development: 1. The tax system stands out for being highly favourable to investment, thus making Paraguay the most appealing destination in South America as this country has the lightest tax burden in the region; 2. The Maquila Law, which makes Paraguay the main gateway to Mercosur. Companies incorporated under the Maquila Law can enjoy important benefits: i) exemption from taxation in the production process; ii) exemption
TERESA ALMADANIM, PRESIDENTE CÂMAR A DE C O M É R C I O E I N D Ú S T R I A PA R AG UA I - P O R T U G A L ( C C I P P )
T E R E S A A L M A DA N I M , P R E S I D E N T O F PA R A G UAY- P O R T U G A L CHAMBER OF COMMERCE AND INDUSTRY (CCIPP)
109
IBERO-AMÉRICA
PARAGUAI
Regime fiscal comparativo do Paraguai na América do Sul
abrigo da Lei Maquila podem usufruir de importantes benefícios: i) isenção de tributação no processo produtivo; ii) isenção de imposto sobre a exportação de produtos e bens; iii) recuperação de IVA correspondente às compras de bens ou serviços; iv) isenção de taxas sobre a remessa de dividendos para o exterior; e v) importação de maquinaria e matéria prima sem taxação fiscal; 3. Incentivos à qualificação e empregabilidade de uma grande franja de população jovem, o que se traduz numa oportunidade para as instituições portuguesas de ensino e formação; 4. Energia elétrica em abundância, de origens renováveis e de baixo custo, tornando o processo produtivo muito competitivo; 5. Força laboral jovem e abundante, tornando fácil a captação de recursos humanos para os potenciais empregadores. Sendo um dos maiores exportadores mundiais de soja e carne, com grande capacidade de produção e expansão, o Paraguai é assim também um potencial fornecedor de excelência para o tecido empresarial português. A produção de estévia (uma das melhores do mundo) é também um dos atrativos do país, uma vez que é um produto em enorme crescimento e que pode ser adquirido em condições fortemente atrativas. “O papel da Câmara do Comércio passa assim por criar oportunidades de negócio para os empresários de ambos os países, permitindo não só criar postos de trabalho como qualificar muitos dos jovens paraguaios, aproveitando a experiência de Portugal em alguns setores estratégicos, como por exemplo o turismo”, acrescentou Teresa Almadanim. Portugal, sendo um ‘case study’ no setor do turismo nos últimos 15 anos, tem no Paraguai um parceiro com potencial de desenvolvimento enorme, através de investimento direto de empresários portugueses que, podendo explorar a sua extensa experiência, serão, certamente, alavancas do desenvolvimento deste ‘cluster’ tão promissor da economia paraguaia. Os projetos que têm vindo a desenvolver-se com empresas portuguesas passam já por setores tão variados como o têxtil, o imobiliário, o turismo, a metalomecânica, os vinhos, a construção civil e saneamento básico, mas também abrangem a qualificação profissional, a formação universitária e a formação de executivos. Conhecer o Paraguai é, pois, o desafio que a Presidente da CCIPP nos deixa. Conhecer o Paraguai, país de oportunidades, é, certamente um projeto de futuro! l 110
from tax on the export of products and goods; iii) VAT recovery in the purchase of goods or services; iv) exemption from fees on remittance of dividends abroad; and v) import of machinery and raw materials without fiscal taxation; 3. Incentives for the qualification and employability of a large group of young people, which translates into opportunities for Portuguese education and training institutions; 4. Electricity in abundance, from renewable sources and at low cost, thus rendering the productive process very competitive; 5. Young and abundant workforce, making it easy to gather human resources for potential employers. As one of the world’s largest exporters of soy and meat, with a large production and expansion capacity, Paraguay is thus also a potential preferred supplier for the Portuguese business fabric. The production of stevia (one of the best in the world) is also one of the country’s appealing factors as this is a product with huge growth potential and which may be purchased under strongly appealing conditions. “The role of the Chamber of Commerce is thus to create business opportunities for entrepreneurs from both countries, enabling nor only job creation but also qualification of many young Paraguayans who may take advantage of Portugal’s experience in some strategic sectors, such as tourism”, Teresa Almadanim added. Portugal has been a case study in the tourism sector for the past 15 years and Paraguay may become a partner with huge development potential, attracting direct investment from Portuguese entrepreneurs who can put their huge experience to good service and become rightful levers in the development of this promising cluster of the Paraguayan economy. The projects under development with Portuguese companies cover a myriad of sectors such as textile, real estate, tourism, metal industry, wine, building and construction and basic sanitation, but include also professional qualification, university education and executive training. Know Paraguay! This is the challenge launched by the President of the CCIPP. Know Paraguay, a country of opportunities, and undoubtedly a project for the future! l
EXAME
A revista de economia de referência
O que seria... ... De uma sociedade que se informa apenas nas redes sociais, onde dominam as fake news e a superficialidade? É por isso que precisamos de si, do seu compromisso democrático e sentido de cidadania. Assine a Exame e ajude-nos a fazer mais e melhor jornalismo. Para conheçer os pacotes especiais para assinantes premium, ligue 21 870 50 97 Dias úteis das 9h às 19h
L O J A .T R U S T I N N E W S . P T 111
IBERO-AMÉRICA
BRASIL
BRUNO ROSA, JORNALISTA DE ECONOMIA NO JORNAL “O GLOBO” JOURNALIST FROM THE BUSINESS SECTION OF NEWSPAPER “O GLOBO”
UM NOVO CICLO DE OTIMISMO A NEW CYCLE OF OPTIMISM
A
perspectiva da vacinação em massa ao redor do mundo para frear o avanço da Covid-19 traz uma dose de otimismo às empresas e aos consumidores para o ano de 2021. No Brasil, maior economia da América Latina, a pandemia derrubou a atividade industrial, elevou o desemprego e, o mais grave, aumentou as incertezas com a instabilidade política ao longo de 2020. Mas, agora, é hora de olhar para o futuro. A expectativa é que a economia brasileira cresça 3,5% em 2021, segundo projeção do Banco Central. Ainda não vai recompor as perdas de quase 5% esperadas para 2020, mas é um alento importante se levar em conta que a força-tarefa em torno das vacinas vai aumentar a confiança do consumidor. A eleição dos Estados Unidos, com a vitória de Joe Biden, vai ajudar a trazer mais otimismo aos governos da União Europeia, apaziguar as relações com a China e dar nova cara para a geopolítica na América Latina. E esse novo ambiente de diálogo tende a impulsionar os investimentos de empresas, gerando mais empregos e elevando o consumo. Do setor de energia ao de tecnologia, novos hábitos foram acelerados por conta da pandemia do coronavírus, impulsionando novas tendências. E isso tende a gerar um novo ciclo de investimentos. Na área de petróleo e gás, a sustentabilidade entrou de vez na lista de preocupações, forçando empresas do setor a moverem seus recursos de perfuração de poços de petróleo em alto-mar para projetos de energia solar e eólica. Nessa lista, as petroleiras vêm adicionando ainda projetos de novas fontes a partir do lixo e outros rejeitos. Vale-tudo para ser verde. No campo da tecnologia, o 5G chegou de vez. Após a disputa global entre Estados Unidos e China, a quinta geração deixou de ser uma promessa e já está se tornando realidade entre empresas que passaram a destinar alguns milhões de euros para conectar suas unidades fabris ao redor do mundo. O consumidor, que passou a trabalhar em ‘home office’ em boa
112
T
he prospect of mass vaccination around the world in order to slow the progress of Covid-19 brings some optimism to companies and consumers for the year 2021. In Brazil, the largest economy in Latin America, the pandemic caused a reduction in industrial activity, raised unemployment and, what is most striking, increased uncertainties given the political instability experienced throughout the year 2020. But now it’s time to look to the future. The expectation is that the Brazilian economy will grow 3.5% in 2021, according to the Brazilian Central Bank forecasts. This will not suffice to recover from losses of almost 5% expected for 2020, but is an important encouragement if we take into account that the task force around vaccines should increase consumer confidence. The US elections, after the Joe Biden’s victory, should help bringing more optimism to the governments of the European Union, ease relations with China and give geopolitics in Latin America a new face. And this new atmosphere of dialogue tends to boost investments by companies, generating more jobs and increasing consumption. From the energy sector to the technology sector, new habits accelerated due to the coronavirus pandemic and generated new trends. This tends to lead to a new investment cycle. In the oil and gas sector, sustainability joined the list of concerns for good, forcing companies in this sector to transfer their oil drilling resources offshore to solar and wind energy projects. Oil companies have been adding projects from new sources, such as garbage and further waste, to this list. Anything goes to go green. In the technology sector, 5G is here for good. After the global dispute between the United States and China, the fifth generation is no longer a promise and is already becoming a reality among companies that started allocating a few million euros to connect their manufacturing units around the world. The consumer, who started working from home in
BRAZIL parte do mundo, com os sucessivos ‘lockdowns’, passou a exigir internet com conexão de alta qualidade e ser mais seletivo na hora de consumidor. A questão ambiental entrou de vez na agenda de todos e tende a ganhar cada vez mais espaço. No Brasil, esses temas se tornaram nevrálgicos. E, mesmo com a crise gerada pela pandemia, passaram a contar com mais investimentos, ritmo que tende a aumentar para os próximos anos. O setor de saúde, assim como ocorre no mundo, ganhou espaço, com companhias investindo em soluções de aplicativos e criando departamentos para ajudar seus colaboradores a atravessar esse momento. Empresas e consumidores passaram ainda a dar mais valor à igualdade de gênero e raça, tema que forçou sobretudo as empresas a elevarem os investimentos em quadros mais diversos dentro de suas companhias. A pressão em torno do movimento Black Lives Matter, nos Estados Unidos, e casos como o do Brasil, em que funcionários de uma rede francesa de varejo mataram um consumidor negro, tornou o tema urgente, capaz de acabar, do dia para a noite, com a reputação de marcas e trazer prejuízos bilionários. Isso significa mais investimentos na busca por profissionais diversos - desde executivos a equipes de base. No Brasil, diversas companhias estão contratando consultorias para buscar profissionais negros, transgêneros e indígenas. E isso traz mais otimismo no mundo pós-pandemia, onde a preocupação com o meio ambiente e uma sociedade mais igualitária caminham juntas e em igual equivalência com os planos de investimentos e de lançamentos de produtos e serviços. Mas há desafios econômicos. O corte de custos e racionalização de gastos fazem parte da agenda para a próxima década. Por isso, tende a ganhar força um movimento de fusões e aquisições em todo o mundo. Empresas multinacionais vão buscar unir operações, comprar rivais e ganhar escala. As ‘start-ups’ também cresceram na pandemia e passaram a ser uma opção para as gigantes empresas enfrentarem os dilemas da digitalização, um caminho sem volta para o processo produtivo. Os aplicativos de celular se multiplicaram para a área de gastronomia, transporte e agora começam a ganhar espaço nas indústrias até então tradicionais, com soluções capazes de medir o nível de oxigenação no sangue ou calcular o nível de produtividade do colaborador. Na velocidade dos ‘bytes’, a economia global conhece ainda novas formas de fazer negócios como o Bitcoin, gerando, por sua vez, uma dose extra de oportunidades. No Brasil, uma economia de tamanho continental, o movimento de fusões e digitalização já ganhou força em todos os setores. Diferente de países desenvolvidos, nações como o Brasil ainda sofrem como uma infraestrutura precária e tributação elevada, o que acelera o movimento de busca por mais eficiência. E é esse potencial de crescimento que vem atraindo capital internacional. Para aproveitar esse interesse, um programa de privatizações feito pelo governo, aliado à promessa de uma agenda de reformas, promete receber bilhões de dólares do exterior à medida que são vendidas concessões em estradas, ferrovias, aeroportos e no setor de saneamento. l
IBERO-AMERICA
most parts of the world, given the constant lockdowns, required internet with a high quality connection and became more demanding when it comes to consume. The environmental issue is now on everyone’s agenda and tends to become more and more relevant. In Brazil, these issues have become crucial. And, even with the crisis generated by the pandemic, the country relies more now on investment at a pace that is due to increase for the coming years. The healthcare sector gained prominence everywhere in the world as companies began investing in application solutions and creating departments to help their employees get through this moment. Companies and consumers also started to value gender and race equality more, an issue that forced companies, above all, to increase investment in a diversified workforce within their companies. The pressure around the Black Lives Matter movement in the United States, and events like that in Brazil, where employees of a French retail chain killed a black consumer, made the issue more pressing as events like these have the potential to tear down, overnight, the reputation of brands and cause billionaire losses. This means more investment as regards recruiting different professionals - from executives to blue collar teams. In Brazil, many companies are now hiring consultants to look for black, transgender and indigenous professionals. And this brings more optimism in the postpandemic world, where concern for the environment and a more egalitarian society go hand in hand with investment plans and product and service launchings. But there are economic challenges. Cost cutting and spending rationalization are on the agenda for the next decade. The movement as regards mergers and acquisitions around the world tends to gain momentum. Multinational companies will seek to unite operations, buy rivals and gain scale. Start-ups also grew in the pandemic and became an option for giant companies facing the dilemmas of digitisation, a point of no return in the production process. Cell phone apps have multiplied in the field of gastronomy, transport and are now established in industries hitherto traditional, with solutions capable of measuring the level of oxygenation in the blood or measuring the level of productivity of employees. At byte speed, the global economy has come up with new ways of doing business like Bitcoin, generating, in turn, additional opportunities. In Brazil, a continental-sized economy, the movement of mergers and digitalization has already gained momentum in all sectors. Unlike developed countries, nations like Brazil still suffer from a precarious infrastructure and high taxation, hence the growing need for more efficiency. And this need has been attracting international capital. In order to take advantage from such interest, a privatization program carried out by the government, coupled with the promise of a reform agenda, is due to benefit from billions of dollars from abroad as concessions are being sold on roads, railways, airports and the sanitation sector. l 113
ÁFRICA
MOÇAMBIQUE
SALIM CRIPTON VAL Á, PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA BOLSA DE VALORES DE MOÇAMBIQUE CHAIRMAN OF THE BOARD OF DIRECTORS OF THE MOZAMBIQUE STOCK EXCHANGE
FACTOR PROPULSOR DO MERCADO DE CAPITAIS MOÇAMBICANO D R I V I N G FAC TO R O F T H E M O Z A M B I C A N C A P I TA L M A R K E T
A
s Bolsas de Valores são encaradas como os barómetros das economias, que acompanham as tendências das economias, influenciando positivamente o ambiente de negócios e a competitividade das economias. Moçambique não é, nem poderia ser, uma excepção, e por isso estamos empenhados em ampliar o escopo do mercado de capitais e alargar a sua contribuição em prol do sistema financeiro e da economia do país. Nos últimos quatro anos (2017-2020), a economia moçambicana tem estado a ser afectada pelos efeitos da crise económica internacional, o congelamento do apoio dos parceiros de cooperação, prejuízos enormes causados pelos eventos climáticos extremos, focos de instabilidade na zona centro do país e acções terroristas em Cabo Delgado, bem como a redução do investimento directo estrangeiro e das exportações, a redução do preço das ‘commodities’ no mercado internacional e, em 2020, das repercussões da pandemia da COVID-19 sobre a economia e a sociedade. Não obstante o momento conturbado, muitos analistas viam o ano de 2020 com muita expectativa em decorrência dos avultados investimentos estrangeiros a serem feitos em projectos do gás natural da Bacia do Rovuma, em que alguns desses investimentos foram adiados, o que chama atenção para a inflação de expectativas baseados no “boom económico assente no Oil & Gas” e a necessidade de diversificação da economia. As dificuldades e contrariedades ocorridas durante o período
114
S
tock Exchanges are seen as the barometers of economies, following trends in economies, positively influencing the business environment and the competitiveness of economies. Mozambique is not, and could not be, an exception to this and that is why we are fully committed to extend the scope of the capital market and to increase its contribution to the country’s financial system and economy. In the last four years (2017-2020), the Mozambican economy has been affected by the effects of the international economic crisis, the freezing of aid and assistance provided by cooperation partners, the huge losses caused by extreme weather events, the outbreaks of instability in the central part of the country and the terrorist actions in the Cabo Delgado region, as well as a reduction in foreign direct investment and exports, reduction in the price of commodities in the international market and, in 2020, the effects of the COVID-19 pandemic on both the economy and society. Despite these troubled times, many analysts had high hopes as regards 2020 as a result of the large foreign investments to be made in natural gas projects in the Rovuma Basin, where some of these investments were postponed, inflated expectations based on the expected “economic boom in Oil &Gas” and the need for diversification of the economy. The difficulties and setbacks that occurred during this period did not prevent this institution from performing
MOZAMBIQUE
em referência, não foram factores que impediram que a instituição pudesse realizar as acções de relevo constantes no Plano Estratégico da BVM para o período 2017-2021, entre as quais se destacam: i) a dinamização do mercado secundário, com a admissão à cotação de mais 7 empresas; ii) a introdução de novos produtos, serviços e instrumentos financeiros; iii) o lançamento do Índice de Bolsa (IBVM); iv) a criação de um novo mercado bolsista, o Terceiro Mercado; v) a promoção da educação e literacia financeira; vi) o dimensionamento tecnológico e o aprimoramento do quadro regulamentar, e; vii) a cristalização de parcerias com outras Bolsas de Valores e com diversas instituições do panorama económico e financeiro nacional. Como corolário do trabalho realizado no quatriénio, assistiu-se ao incremento dos principais indicadores bolsistas, a saber: a) a capitalização bolsista teve um crescimento de 84,0%; b) o rácio de capitalização bolsista aumentou 25,6%; c) o volume de negociação aumentou 99,2%; d) a liquidez do mercado cresceu 8,3%; e) o número de títulos cotados na BVM subiu 55,0%; f) as empresas cotadas no mercado accionista subiram 175%; g) o nível de financiamento à economia através da BVM aumentou 491,6%, e; h) o número de títulos e de titulares registados na Central de Valores Mobiliários foi incrementado, respectivamente, em 348,8% e 258,7%. Registou-se, igualmente, uma evolução significativa do mercado obrigacionista (Obrigações do Tesouro, Obrigações Corporativas e Papel Comercial), com um crescimento de 41,7% no número de emissões e de 100,5% no valor das emissões. O grande destaque no mercado de financiamento interno vai para as Obrigações do Tesouro, com o número de emissões entre 2017 e 2020 a observar uma taxa de crescimento de 66,7%, mas com um enorme incremento no valor das respectivas emissões, que durante este período tiveram uma taxa de crescimento de 349,5%. Durante o ano 2019, duas grandes operações de bolsa foram executadas, com destaque para a Oferta Pública de Venda (OPV) de 4% das Acções da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), em Julho de 2019, marcada pelo sucesso em termos de inclusão financeira, em que mais de 19 mil investidores representando mais de 16 mil novos accionistas subscreveram 1.099 milhões de acções, no valor de MT 3.300 milhões (US$ 55 milhões) em todas as Províncias do País e em mais de 90% dos Distritos, onde os cidadãos moçambicanos tomaram 35% das acções, e onde se utilizaram novos canais de subscrição de acções - telemóveis e ‘apps’ digitais – através dos quais foram transmitidas 36% das ordens à BVM. Pelo seu carácter inovador, uso de canais remotos, alcance de cidadãos não-bancarizados e por ser um importante contributo para a inclusão e empoderamento económico e financeiro dos moçambicanos, essa operação foi por duas vezes premiada internacionalmente, em Março de 2020 pela “DealMakers Africa” (“Special Recognition
AFRICA
the relevant actions contained in the Mozambique Stock Exchange Strategic Plan for the 2017-2021 period, with particular emphasis on the following: i) revitalisation of the secondary market, with the listing of 7 more companies; ii) introduction of new products, services and financial instruments; iii) launching of the Mozambique Stock Exchange Index (IBVM); iv) creation of a new stock market, the Third Market; v) promotion of financial education and literacy; vi) technological redesign and improvement of the regulatory framework, and; vii) the implementation of partnerships with other Stock Exchanges and with a number of institutions in the national economic and financial field. As a corollary of the work carried out in the four-year period the main stock market indicators increased, e.g.: a) the market capitalization grew by 84.0%; b) the market capitalization ratio increased by 25.6%; c) the trading volume increased by 99.2%; d) market liquidity grew 8.3%; e) the number of securities listed on the MSM rose 55.0%; f) companies listed on the stock market rose 175%; g) the level of economy funding via the MSE increased by 491.6%, and; h) the number of securities and registered holders with the Securities Central increased by 348.8% and 258.7%, respectively. There was also a significant evolution in the bond market (Treasury Bonds, Corporate Bonds and Commercial Paper), with a 41.7% increase in the number of issues and 100.5% in the value of issues. The main highlights in the domestic financing market are Treasury Bonds considering that the number of issues between 2017 and 2020 witnessed a growth rate of 66.7%, and a huge increase in the amount of the relevant issues, which during this period witnessed a growth rate of 349.5%. During the year 2019, two major operations took place in this stock exchange, in particular the Open Bid for 4% of the Shares of Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), in July 2019, marked by the success in terms of financial inclusion as more than 19 thousand investors representing more than 16 thousand new shareholders subscribed 1,099 million shares, worth MT 3,300 million (US $ 55 million) in all provinces of the country and in more than 90% of the districts. Mozambican citizens bought 35% of these shares, using new share subscription channels - mobile phones and digital apps – and 36% of the orders were sent to the MSE using these channels. Given its innovative nature, the use of remote channels, the availability to citizens not holding specific bank accounts and thanks to the important contribution for the inclusion and economic and financial empowerment of Mozambicans this operation was twice awarded internationally e.g. in March 115
Award”) e em Maio de 2020 pela Revista “The Banker” (“Deal of the Year 2020 – Equity Winner Africa”). Outra operação bolsista de reconhecido impacto foi a Oferta Pública de Subscrição (OPS) de novas acções representativas de 30,19% da Cervejas de Moçambique (CDM), exclusivamente reservada para os accionistas da CDM, tendo constituído a maior operação de financiamento de uma empresa privada através do mercado bolsista, no valor de MT 7.793 milhões (US$ 124,5 milhões). De realçar que a CDM já havia recorrido ao financiamento via bolsa em 2012, num montante de MT 1.100 milhões (US$ 37,1 milhões), tendo sido a primeira empresa a ser cotada na BVM, em 2001, por via de uma OPV de 28% do seu capital social no valor de 280 milhões MT (US$ 23,4 milhões), e até recentemente era a empresa com maior contributo para a capitalização bolsista do mercado. Mesmo tendo em conta o ambiente económico adverso, as empresas moçambicanas e os investidores estão a conhecer melhor a BVM e a usar os seus serviços e instrumentos financeiros de forma crescente, expressando uma mudança de paradigma no sistema financeiro em que os agentes económicos entendem que a Bolsa é um instrumento alternativo de poupança, financiamento e investimento acessível e ao seu alcance. Vamos continuar a envidar esforços para que mais empresas de grande dimensão (operacionalizando a Lei nº 15/ 2011), as que fazem parte do sector empresarial do Estado e as PME´s possam abrir o seu capital em Bolsa, não apenas para se financiar, mas também ampliar a sua visibilidade e transmitir ao mercado a mensagem que pretendem promover a democratização do capital e a boa governação corporativa. Temos adoptado uma “estratégia de proximidade” para que as empresas localizadas em diversas geografias do país, com diferentes dimensões, operando em vários sectores económicos e com distintos estágios de desenvolvimento possam listar-se em Bolsa. Durante o ano 2020, a BVM teve de se redescobrir para contrariar o impacto negativo da COVID-19, apostando como nunca nos canais digitais para o contacto, interacção, diálogo, capacitação e consciencialização dos seus grupos-alvo prioritários, tendo aberto novas linhas de trabalho para ter Sociedades Anónimas Desportivas (SAD´s) e empresas do sector mineiro na Bolsa, abrindo novas janelas de oportunidades para o financiamento de projectos de infraestruturas e a viabilização do uso do Certificado de Depósito emitido pela Bolsa de Mercadorias de Moçambique como instrumento de financiamento à produção e comercialização agrícolas. Essas foram novas iniciativas deslanchadas durante o ano 2020, e que serão potenciadas e prosseguidas nos próximos anos. Pelos resultados alcançados num período marcadamente desfavorável e pelo seu impacto indisfarçável, não tenho relutância em dizer que “a BVM está sendo um efectivo factor propulsor do mercado de capitais e um activo dinamizador do sistema financeiro moçambicano”, e esse papel será crescente no futuro. l 116
2020 by “DealMakers Africa” (“Special Recognition Award”) and in May 2020 by “The Banker” Magazine (“Deal of the Year 2020 - Equity Winner Africa”). Another stock market operation of acknowledged impact was the Public Subscription Bid for new shares representing 30.19% of Cervejas de Moçambique (CDM), exclusively for CDM shareholders, the largest financing operation by a company via stock market, in the amount of MT 7,793 million (US $ 124.5 million). It is worth highlighting that CDM had already resorted to financing via stock market in 2012, in the amount of MT 1,100 million (US $ 37.1 million) and was the first company to be listed on the MSE in 2001, through an public bid for 28% of its share capital in the amount of MT 280 million (US $ 23.4 million), and until recently this was the company with the largest contribution to this country’s stock market capitalization. Even taking into account the adverse economic environment, Mozambican companies and investors are getting to know MSE better and increasingly using its services and financial instruments. This represents a paradigm shift in the financial system whereby economic agents understand that the Stock Exchange is an alternative savings, financing and investment tool and within reach of all. We will continue to make efforts so that more large companies (operating Law nº 15/2011), those within the State business sector and SMEs may be listed on the Stock Exchange, not only to finance themselves, but also to increase their visibility and convey the message to the market that they intend to promote democratisation of capital and good corporate governance. We have adopted a “proximity strategy” so that companies located in different geographies in the country, with different sizes, operating in different economic sectors and with different stages of development can be listed. During the year 2020, MSE had to reinvent itself to counter the negative impact of COVID-19, betting as never before on digital channels for contact, interaction, dialogue, training and awareness to reach its priority target groups and starting new strategies to attract Sports Limited Companies and companies in the mining sector to the Stock Exchange, opening new windows of opportunities for the funding of infrastructure projects and enabling the use of the Deposit Certificates issued by the Mozambican Stock Exchange as a tool to fund agricultural production and marketing. These were some of the new initiatives launched during the year 2020, which will be enhanced and continued in the coming years. In light of the results achieved, in a markedly unfavourable period and given its clear impact, I dare say that “the MSE is becoming an effective driving force in the capital market and an active driver of the Mozambican financial system”; a role that is poised to grow in the future. l
SEGURANÇA INFORMÁTICA MONITORIZAÇÃO MANAGED SERVICES
www.eurotux.com info@eurotux.com Tel. +351 253 680 300 Tel. 808 247 112
117
ANGOLA
ÁFRICA
RICARDO DAVID LOPES, CO N S U LTO R CO N S U LTA N T
O MELHOR DO QUE HÁ-DE VIR T H E B E S T O F W H AT I S Y E T T O C O M E
Q
uando, pouco tempo após ter tomado posse como Presidente de Angola, João Lourenço surgiu nas redes sociais representado, em “memes” bem-humorados, como o “Exonerador Implacável”, na sequência do verdadeiro tsunami de demissões de dirigentes públicos que pôs em marcha logo nas primeiras semanas de governação, nem os mais criativos imaginariam a revolução silenciosa que estava a adivinhar-se no horizonte. É claro que é fácil, passada que está mais de metade do mandato do general na reserva no Palácio da Cidade Alta, encontrar falhas e erros em aspectos da governação ou nos seus resultados, mudanças por fazer, demissões por assinar, “contas” por acertar. Não é difícil apontar insuficiências e defeitos, nem reparar no muito que poderia também já ter sido feito, nem no imenso que está ainda por fazer, num País onde a pobreza e os problemas ainda estão, infelizmente, em maioria. É confortável ser “Presidente de bancada” e reparar mais facilmente no que correu mal, nas contradições mais ou menos aparentes, nos erros de ‘casting’, e declarar que, se fossemos nós os treinadores, os árbitros ou os jogadores, tudo seria diferente – para melhor. Melhor e mais longe. Mas, passados que estão mais de três anos desta Angola (bem) diferente, também é fácil, se quisermos, olhar para trás e tomar nota do que mudou para melhor – e que acabará por dar frutos suculentos no futuro. E os exemplos são muitos e inspiradores. Não tapam o que está mal, nem o que está por tornar bom. Mas dão ânimo, esperança e fôlego, sentimentos que, no 118
W
hen, shortly after taking office as President of Angola, João Lourenço appeared on social media portrayed in good-natured memes as the “Relentless Exonerator”, following the real tsunami of resignations of public officials he started in his first weeks in office, not even the most creative would have imagined the silent revolution that was about to appear on the horizon. It obviously easy, now that more than half of the mandate of this retired general at the Cidade Alta Palace has elapsed, to find flaws and errors in some aspects of his administration or in the results yet to be achieved, in changes yet to take place, resignations to be signed or “accounts” to be settled. It is not difficult to point out insufficiencies and flaws, to notice how much could have already been done, or how much is yet to be done, in a country where poverty and problems unfortunately still abound. It is comfortable to be a “stands president” and to notice more easily what went wrong, the more or less easy to spot contradictions, the casting errors, and to say that if we were the coach, the referee or the player, everything would be different - for the best. Better and further. But, after more than three years in this (very) different Angola, it is also easy, if we want, to look back and take note of what has changed for the better – and which will eventually bear juicy fruits in the future. And the examples are many and inspiring. They don’t cover what is bad, nor what is to make good. But they give courage, hope and a new breath, feelings that, at the start of each year, act as anchors of our desire for things to be better.
ANGOLA
“ O C O M B AT E À CORRUPÇÃO E IMPUNIDADE É UMA “ M A R C A” Q U E V E I O P A R A F I C A R .”
arranque de cada ano, funcionam como âncoras do nosso desejo de que, agora, as coisas sejam melhores. O combate à corrupção e impunidade é uma “marca” que veio para ficar. Deixou muitos de fora? Certamente, mas ninguém pode garantir que, mais à frente, não haja novos resultados. Vai haver – como é próprio que aconteça em todos os países que se comprometem com esta cruzada. O que é certo é que aconteceram coisas que eram impensáveis até há (muito) poucos anos. Na área económica e de finanças, a lista é quase interminável: a concorrência passou a fazer parte do léxico das empresas e das pessoas. E, não sendo uma meta que se alcança por decreto, as bases estão lançadas e os efeitos vão surgir. As privatizações, tantas vezes prometidas, mas nunca concretizadas de forma escrutinável, organizada, transparente, estão em curso e, no final, vão produzir um País diferente – mais do que empresas diferentes. Das telecomunicações à agricultura, dos transportes ao turismo, da logística à indústria, da banca aos seguros, da energia às infra-estruturas, nada vai ficar como estava. Empresas como a ENSA, a TAAG, a Sonangol, a Angola Telecom, entre muitas outras, ou bancos como o BPC ou o BCI, que fazem parte do imaginário da Angola independente, infelizmente quase sempre com nota negativa, estão a ser alvo de verdadeiras revoluções internas e vão sair mais fortes de todas as mudanças (nalguns casos, dolorosas) em curso. Também na área cambial, uma das mais sensíveis, as mudanças foram muitas e no bom sentido – da liberalização e transparência na sua venda. Num contexto de escassez de divisas, agravado,
AFRICA
The fight against corruption and impunity is a “sign” that is here to stay. Did it leave many out? Certainly, but no one can guarantee that, further ahead, there will be no new results. There will be – just in all countries committed to this crusade. What is certain is that things that were unthinkable until (very) few years ago did happen. In the field of economics and finance, the list is almost endless: competition has become part of the lexicon of companies and people. And, although this is not a goal that is achieved by decree, the work has started and the effects will be there. Privatizations, so often promised, but never carried out in a scrutinized, organized and transparent manner are underway and they will ultimately create a different country – more than just different companies. From telecommunications to agriculture, from transport to tourism, from logistics to industry, from banking to insurance, from energy to infrastructure, nothing will stay the same. Companies such as ENSA, TAAG, Sonangol, Angola Telecom, among many others, or banks like BPC or BCI, which are in the minds of independent Angola, unfortunately almost always on a negative note, are being the target of real internal revolutions and will come out stronger from all the changes (in some cases, painful) that are underway. Also as regards foreign exchange, one of the most sensitive areas, changes have been many and in the right direction – from liberalization to sales transparency. In a context of scarcity of foreign exchange, aggravated in the meantime by the
“THE FIGHT AGAINST CORRUPTION AND IMPUNITY IS A “ S I G N ” T H AT I S H E R E T O S T A Y.”
119
ÁFRICA
ANGOLA
entretanto, pela pandemia de Covid-19 – que tem batido forte nas economias, Angola naturalmente incluída –, este é um tema-chave. O sistema financeiro, apesar de muitas dificuldades que permanecem, em parte herdadas de um passado onde a ética estava fora do pensamento, está hoje mais robusto e é menos “mal visto”. Investir é mais fácil agora, porque a lei com a qual o País quer atrair capital, em especial estrangeiro, foi alterada nesse sentido. A burocracia foi aligeirada. Os tribunais e a Justiça, tão importantes para um bom clima de negócios, estão longe de estar “no ponto”, mas o caminho é incontornável, ainda que longo. Já não há promiscuidade entre a Sonangol que detém a concessão das reservas petrolíferas do País e que extrai petróleo porque a outra (afinal, a mesma) lhe atribui esse direito. E sabemos agora – temos esse direito e isso é reconhecido – onde está o dinheiro do Fundo Soberano. Há ainda dezenas ou centenas de empresas a quem o Estado deve dinheiro, mas são muito menos – e a soma muito menor – do que há um ano ou dois. A dívida do País cresceu, como a de quase todos, mas a factura está a ser negociada, reduzida, e há um esforço contabilizável de canalização de mais verbas para despesas sociais, do que de segurança e defesa. Há uma imensa e pesada máquina pública, mas há menos ministérios e mais racionalização, e o peso vai baixar. Há mais moralização na forma como se gasta o dinheiro dos contribuintes: quem faz o que não deve, paga por isso, mais tarde ou mais cedo. Há um esforço de aumento da produção nacional, com instrumentos que pretendem ajudar nesse sentido. Podemos refutar as políticas do Governo e do Presidente. Ele abriu as portas do Palácio a encontros anuais com jornalistas e criou um Conselho onde ouve e dá a voz a membros da sociedade civil, incluindo alguns que criticam as suas políticas. Neste começo de ano, escolhi pensar nas coisas boas que têm estado a acontecer em Angola. Não me esqueci das más – eu também sei ser “Presidente de bancada”. Nem decidi aligeirá-las. Na verdade, devemos pensar nas coisas más todos os dias, para que não nos esqueçamos – nem deixemos esquecer – que têm de ficar melhores. Quer apostar que, daqui a um ano, muitas estarão mesmo? l
120
Covid-19 pandemic – which has hit hard the economies, and Angola naturally also –, this is a key issue. The financial system, despite many difficulties that remain, partly inherited from a past where ethics was not in everyone’s mind, is now more robust and less “frowned upon”. Investing is easier now, because the law that allows the country to attract capital, especially foreign, has been changed accordingly. Red tape has been reduced. Courts and Justice, which are so important for a good business climate, are far from being “on the right stand”, but the road is clear and unavoidable, even if it is a long one. There is no longer promiscuity between Sonangol, that holds the concession for the country’s oil reserves and extracts oil because the other (the same company, after all) grants it that right. And we now know – we have the right to know and that is recognized – where the money from the Sovereign Fund is. There are still dozens or hundreds of companies the state owes money to, but much less – and the sum is lower - than a year or two ago. The country’s debt has grown, like that of almost everyone, but the bill is being negotiated, reduced, and there is an accounting effort to channel more funds to social expenses than to security and defence. There is a huge and heavy public machinery, but there are fewer ministries and more rationalization, and its weight will be reduced. There is more moralization in the way taxpayers’ money is spent: those who do what they shouldn’t, pay for it, sooner or later. There is an effort to increase national production, with tools that are there to foster this. We may refute the policies of the Government and the President. He opened the doors of the Palace to annual meetings with journalists and created a Council where he listens and allow members of civil society to have their say, including some who criticize his policies. At the beginning of this year, I chose to focus on the good things that have been happening in Angola. I haven’t forgotten the bad ones – I also know how to be a “stands president”. I didn’t even decide to lighten them up. In fact, we must think every day about the bad, in order not to forget – or allow them to be forgotten – that things have to get better. Do you want to bet that, in a year, many will be much better? l
para quem gere pessoas
Tiragem 15.000 exemplares 1,1 Milhões de pageviews médias mensais 161.603 seguidores no LinkedIn 121
ÁSIA & MÉDIO-ORIENTE
CHINA
BEGOÑA LUCENA, ARTEMIS ASSOCIATES
BOWEN CHUI, ARTEMIS ASSOCIATES
14º PL ANO QUINQUENAL DA CHINA PAR A INVESTIDORES ESTRANGEIROS
EMPRESAS INTERNACIONAIS EM “ I N D Ú S T R I A S E M E R G E N T E S E S T R AT É G I C A S ” PODEM SER AS GRANDES BENEFICIÁRIAS I N T E R N AT I O N A L C O M PA N I E S I N “ S T R AT E G I C E M E R G I N G I N D U S T R I E S ” COULD BE BENEFICIARIES
E
m plena pandemia de COVID-19 e no rescaldo da campanha eleitoral dos EUA, a China anunciou no mês passado a proposta do país, o seu 14º Plano Quinquenal (2021-2025) para o Desenvolvimento Económico e Social do País e os seus Objetivos a Longo Prazo até 2035 que, surpreendentemente, foram manchete em poucos meios de comunicação social no mês passado. Vamos ter de esperar até à assembleia geral do Congresso Nacional do Povo, que terá lugar em março, para conhecer a versão final da proposta, uma vez que a mesma pode vir a sofrer alguns ajustamentos. Mas os ministérios terão começado já a desenvolver planos de implementação pormenorizados com base na redação atual. Não há dúvida de que o presidente Xi Jinping é o cérebro por trás dessa política que determina metas para o país, não só para
122
A
midst the COVID-19 pandemic and the aftershock of the US election campaign, China announced last month the country’s 14th FiveYear Plan (2021-2025) proposal for National Economic and Social Development and the Long-Range Objectives until 2035, which surprisingly saw only a few headlines in the international media last month. We will have to wait until the National People’s Congress meeting next March to see the final version of the proposal as there may be adjustments, but it is widely believed that all ministries have started developing detailed implementation plans based on the current text. There is no doubt that President Xi Jinping is the (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)
CHINA
os próximos cinco anos, mas até 2035. No seu discurso de 3 de novembro, Xi explicou o que estava por trás desta proposta. O chefe de governo sublinhou que “a China está a enfrentar riscos previsíveis e imprevisíveis importantes e crescentes”, “e que o Partido deve estabelecer assim um pensamento orientador, analisar profundamente as dificuldades, atentar mais profundamente nos riscos, concentrar-se em colmatar lacunas e reforçar os pontos fracos.” E acrescentou ainda: “o Partido deve manter uma mente aberta, tendo em conta que o mundo enfrenta atualmente as mais profundas mudanças do século”. Embora a China seja uma das primeiras economias que começam agora a recuperar da pandemia de COVID-19, enfrenta no entanto muitas incertezas a nível interno e externo, incluindo uma recessão global, quebra de vínculos com uma série de grandes economias e uma guerra comercial com os Estados Unidos. Para enfrentar esses desafios, o Partido traçou uma estratégia que visa assegurar uma posição vantajosa no cenário global nos próximos cinco a quinze anos. Embora o plano não avance com detalhes quanto à forma como o governo deve implementar a sua estratégia relativamente aos investidores estrangeiros, o documento inclui muitos termos familiares tais como “promover a liberalização do comércio e do investimento”, “desenvolver um sistema de pagamentos independente, moeda digital”, “liberalizar ainda mais as taxas de juros e as taxas de câmbio” e “impulsionar continuamente a internacionalização da moeda do país, o RMB”. As perspetivas de investimento estrangeiro na China continuam a ser positivas, e essas são as áreas em que os investidores e empresas estrangeiros devem concentrar-se, atentos a possíveis mudanças de políticas. Em suma, o desenvolvimento da China entrou num novo estágio, passando de uma abordagem quantitativa para uma abordagem qualitativa. Aquando da divulgação do 14º Plano Quinquenal, no início de novembro, o Partido não referiu nenhuma meta quantitativa para o crescimento do PIB da China, referindo o “desenvolvimento económico sustentável e saudável”. Rumores de mercado sugerem também que o crescimento do PIB da China no âmbito do 14º Plano Quinquenal será reduzido significativamente para cerca de 5%, face a 7- 8% anteriormente. Isso demonstra também a forma como a China está a adotar uma abordagem diferente, perseguindo agora um crescimento sustentável e de alta qualidade. Para conseguir isso, a “circulação dupla” com o mercado doméstico como o foco principal será crucial, ao mesmo tempo que continua a centrar-se em acelerar o desenvolvimento de indústrias inovadoras líderes a nível mundial, como é o caso das aplicações para a rede 5G, biotecnologia, novas tecnologias energéticas e negócios digitais criativos. As empresas internacionais de “indústrias emergentes estratégicas” serão bem-vindas para investir na China e prevemos assim rentabilidades significativas. l
ASIA & MIDDLE EAST
mastermind behind this policy, which determines goals for the country, not only for the next five years but until 2035. In his speech on November 3rd, Xi explained the rationale for the proposal. He emphasized that “China is facing significantly increased foreseeable and unforeseeable risks”, “and therefore, the Party should establish bottomline thinking, estimate the difficulties more fully, think about the risks more deeply, focus on plugging loopholes, and strengthen weaknesses.” He also added, “the Party must keep a clear mind as the world faces the most profound changes in a century.” Although China is one of the first economies to begin recovering from the COVID-19 pandemic, it is facing many uncertainties domestically and internationally, including a global recession, decoupling with various large economies, and a trade war with the United States. In order to navigate these challenges, the Party has designed a strategy aimed at maintaining an advantageous position on the global stage over the next five to fifteen years. Although the plan does not go into detail on how the government is to deploy its strategy towards foreign investors, there are many familiar terms in the document, such as “promote trade and investment liberalization”, “develop an independent payment system, digital currency”, “further liberalize interest rates and exchange rates”, and “steadily push forward the internationalization of the RMB”. The prospects for foreign investment in China remain positive, and these are the areas that foreign investors and companies should keep a close eye on possible policy changes. To summarise, China’s development has entered a new stage, changing from a quantitative to a qualitative approach. In the 14th Five-year Plan proposal release, in early November, the Party did not mention any quantitative target for China’s GDP growth, instead referring to “sustainable and healthy economic development.” Market rumours also suggest that China’s GDP growth for the 14th FiveYear Plan will be significantly reduced to around 5%, compared with 7-8% before. This also demonstrates how China is taking a different approach and is now pursuing sustainable and high quality growth. To achieve that, “dual-circulation” with the domestic market as the primary focus will be the key, while continuing to accelerate the development of worldleading innovative industries, such as 5G network applications, biotech, new energy technologies and creative digital businesses. International companies from “strategic emerging industries” will be welcome to invest in China and we anticipate be able to generate significant returns. l 123
ÁSIA & MÉDIO-ORIENTE
JAPÃO
SÓNIA ITO, ARQUEÓLOGA E PROFESSORA ARCHAEOLOGIST AND LECTURER
“HONNE TO TATEMAE”
C
hamo-me Sónia, e vivo numa pequena cidade costeira perto de Tóquio, nos 377.900km quadrados do Japão (Nippon), a terceira maior economia mundial. Os 126 milhões de japoneses vivem em 30% de área costeira habitável das quatro principais ilhas vulcânicas, cuja cultura merece ser melhor conhecida neste ano de Jogos Olímpicos no Império do Sol Nascente. Apresentar um pouco desta cultura única vista por uma cidadã de origem Portuguesa em meia dúzia de caracteres é impossível de cumprir. Sou Portuguesa e Japonesa. Com muito orgulho! Nasci e vivi 5 anos em Angola, aos 13 anos troquei Portugal pelo Japão e já lá vão mais de 30 que cá vivo. Percebem, pois, porque sou também Japonesa. Nunca me esquecerei da partida e de, com os meus amigos, termos feito o meu “funeral” de despedida. Ainda inexperientes, receávamos nunca mais nos revermos. O Japão é do ponto de vista cultural um claro antípoda do ocidente. Desde a chegada, em 1982, entendi que neste país todos os dias se aprende. Mas, graças à minha família, a minha face portuguesa permaneceu. Quem tem o percurso que tive sente-se como uma moeda: duas faces co-dependentes, que se completam, sem que percam cada uma a sua personalidade. Ou será que não? Quem vem viver para o Japão recorda sempre a aventura da sua existência. Parece que fazemos parte daquelas Naus Portuguesas que no século XVI trouxeram os primeiros ocidentais e, com eles, presentearam o povo local com novidades como as primeiras armas de fogo, e também palavras que ficaram como: abóbora, meias, pão, castela (pão de ló), confeito, piripiri, vidro, capa, carta, ombro, “Pin kara Kiri made” com possível tradução “de pinta a Cristo” e tantas outras. Os portugueses estiveram por cá apenas cinquenta anos (de 1640 a 1854 os portos fecharam para estrangeiros), mas estas raízes permanecem firmes e profundas. No Japão, ser português é sinónimo de respeito e consideração 124
M
y name is Sónia, and I live in a small coastal town near Tokyo, on the 377,900 square kilometres of Japan (Nippon), the third largest economy in the world. The 126 million Japanese population live in 30% of the inhabitable coastal area of the four main volcanic islands, whose culture we all should become more familiar with this year when the Olympic Games will be hosted in the Empire of the Rising Sun. To present a little of this unique culture through the eyes of a citizen of Portuguese origin in half a dozen characters is an impossible task. I’m both Portuguese and Japanese. And proud of it! I was born and I lived 5 years in Angola, I left Portugal for Japan at the age of 13 and I have been living here for 30 years now. Now you can see that I am also Japanese. I will never forget the departure and how I hosted my farewell “funeral” together with my friends. We were still young and inexperienced and we feared we would never see each other again. Japan is culturally a clear antipode to the West. Upon my arrival in 1982 and ever since then I realise that this is a country where you learn every day. But, thanks to my family, my Portuguese face remained. Anyone with the same path in life as me feels like a coin: two co-dependent faces, which complete each other, without losing their personality. Or not? Those who move to Japan always remember the adventure of their lives. It’s as if we were part of those Portuguese sail ships that in the 16th century brought the first westerners and brought with them new things they offered the local people such as the first firearms and also words that would remain: pumpkin, socks, bread, castile (sponge cake), confectionery, piripiri, glass, cape, letter, shoulder, “Pin kara Kiri made” with possible translation “running the whole gamut” and many others. The Portuguese stayed here for fifty years only (from 1640 to 1854 the ports were closed to foreigners), but these roots remain
JAPÃO
incondicional. Pelo menos aparentemente. Embora agora a minha carreira seja outra, sou licenciada em Antropologia e Arqueologia, actividades que me continuam a ajudar e fascinar. A grande riqueza cultural de costumes e tradições japoneses inclui duas distintas filosofias coexistentes: o xintoísmo (trad: rumo dos Deuses), derivado do animismo, e o budismo, adaptado no Séc. VI (via Coreia e China), mas que é a base da cultura nipónica. Cada passo, cada acto, às vezes, cada gesto, tem invariavelmente duplo sentido: o óbvio e uma mais discreta e profunda razão de ser. Em japonês chama-se “Honne To Tatemae” (a intenção verdadeira e a aparente)”. É incrível como são necessários anos de vida quotidiana para absorver este pormenor que é o “Honne to Tatemae”. Aprecio o enigma da vida no Japão e vivo com entusiasmo esta ausência de certezas absolutas. Diz-se com frequência que “Mai Nitchi ga Benkyou” (todos os dias se aprende). Utchi e Soto: dentro e fora, distinguem o privado e o social. Cada casa, além de ser pequena, é considerada um espaço sagrado e privado. É raro ser-se convidado a casa de alguém e quando essa ocasião surge é uma grande honra. O convidado foi aceite no núcleo “Utchi”, ultrapassa a extrema reserva e cria um laço forte e verdadeiro. É raro um japonês repetir “amo-te”. Uma vez dito é para sempre, é determinante, é verdadeiro e para toda a vida. Até no acto de descalçar os sapatos o detalhe é delicioso. Antes de entrar em casa, alguns restaurantes e, claro, nos templos e pagodes não se leva o que é impuro para dentro. Além de ser altamente higiénico, simboliza o respeito, a veneração pelo que se considera sagrado. Já li, e diz-se por cá, que no Ocidente já assim foi e que a primeira coisa que Deus diz a Moisés é: “descalça os sapatos e entra em solo sagrado”. Para dar a conhecer um pouco do Japão antes de decidirem reservar a viagem para visitar este que também é o meu País, aqui deixo a descrição de uma tradição do divino Ano Novo. Dias antes do final do Ano as preparações começam. Casa, empresas, escolas, tudo que é “dentro” (Utchi), passam pelas grandes limpezas de fim de ano: chão, janelas, paredes, cortinas, moveis, as impurezas do velho ano são limpas para o novo poder “entrar” neutro carregado de felicidade. As limpezas (no Japão não há empregada doméstica) terminam dia 30, deixar para o último dia do ano não traz sorte. Cada família cozinha Osetchi Ryori; uma variedade de mais de 20 petiscos com 2000 anos de tradição. Cada um com seu significado especial; o feijão doce: sabedoria; castanhas doces: fortuna; gambas: longevidade. Saúde, prosperidade, felicidade, sorte, paz, harmonia correspondem a outros alimentos. A mesa fica posta para os três primeiros dias do Ano, pronta para festejar e petiscar com os familiares que visitam. E este ano, sem as visitas da praxe, o valor e a mensagem desta linda tradição é ainda maior. Espero que durante os Jogos Olímpicos possam visitar-nos com mais liberdade e termino desejando a todos um Feliz Ano. l
ASIA & MIDDLE EAST
firm and deep. In Japan, being Portuguese is synonymous of respect and unconditional consideration. At least apparently. But now my career is different, I have a degree in Anthropology and Archaeology, activities that continue to help and fascinate me. The great cultural wealth of Japanese customs and traditions includes two different coexisting philosophies: Shinto (translation: course of the Gods), derived from animism, and Buddhism, adapted in the 19th century. VI (via Korea and China), but which is the basis of Japanese culture. Each step, each act, sometimes each gesture, invariably has a double meaning: an obvious and another, more discreet but with a profound raison d’être. In Japanese it is called “Honne To Tatemae” (the true and the apparent intention)”. It is amazing how many years of daily life we need to truly understand what “Honne to Tatemae” is. I appreciate the enigma of life in Japan and I live with enthusiasm this absence of absolute certainties. It is often said that “Mai Nitchi ga Benkyou” (you learn every day). Utchi and Soto: inside and outside, they tell the difference between the private and the social. Each house, aside from being small, is considered a sacred and private space. We are seldom invited to someone’s home and when that happens it’s a great honour. It means the guest was accepted in the “Utchi” nucleus, goes beyond the extreme reserve and creates a strong and true bond. It is rare for a Japanese person to repeat “I love you”. Once it’s said it’s forever, it’s decisive, it’s true and for life. Even as regards the act of taking off your shoes, the detail is fantastic. Before entering a house, some restaurants and, of course, temples and pagodas we don’t take what is impure inside. In addition to being highly hygienic, it’s a symbol of respect, veneration for what is considered sacred. I have read, and people say that here too that it was the same in the West and that the first thing that God said to Moses is: “take off your shoes and enter sacred ground”. And so that you may know a bit more of Japan before booking your trip to visit this country, which is also my country, leave you the description of a divine New Year tradition. Days before the end of the year, preparations begin. Home, companies, schools, everything that is “inside” (Utchi), goes through the great year-end cleanings: floors, windows, walls, curtains, furniture, the impurities of the old year are cleaned up for the new power to “enter” neutral loaded with happiness. Cleaning (in Japan there is no maid) ends on the 30th, leaving it for the last day of the year is not lucky. Each family cooks Osetchi Ryori, a variety of more than 20 snacks with 2000 years of tradition. Each with its special meaning; sweet beans: wisdom; sweet chestnuts: fortune; gambas: longevity. Health, prosperity, happiness, luck, peace, harmony correspond to other foods. The table is set for the first three days of the year, ready for the celebration and to snack with the visiting family. And this year, without the usual visits, the value and message of this beautiful tradition is even bigger. I hope that during the Olympic Games you will be able to visit us freely and I finish this text wishing everyone a Happy Year. l 125
ÁSIA & MÉDIO-ORIENTE
DUBAI
CRISTINA RAMOS, CO N S U LTO R A E M CO M U N I C AÇ ÃO CO M M U N I C AT I O N CO N S U LTA N T
GAME CHANGER?
C
omo Winston Churchill dizia: “A pessimist sees the difficulty in every opportunity; an optimist sees the opportunity in every difficulty.” O início de 2020 transformou o mundo! Indústrias, organizações e negócios tiveram que se reinventar e uma das indústrias que mais sentiu, e sente, o impacto é a dos Eventos. Em todos os cantos do mundo os eventos físicos pararam e cada continente, região ou país tentou (e tenta ainda) redescobrir-se, à sua maneira e seguindo os seus instintos. No Médio Oriente, num país Muçulmano em que quase todas as religiões, culturas e nacionalidades coabitam como a sincope de uma orquestra, o Dubai, adaptou-se, com a mesma sobrevivência e resiliência que tem vindo a demonstrar nas últimas décadas, e tomou medidas para garanti que o ritmo da música se mantém. No final de Março de 2020, a entrada em ‘lockdown’ surpreendeu o país criando um clima de incerteza, e o maior impacto sentiu-se quando a EXPO 2020 anunciou o adiamento para 2021. O impacto desta decisão foi estrondoso, mas a opinião de governantes, patrocinadores e todos os envolvidos foi unânime, a saúde mundial é, e deverá ser sempre, a maior preocupação e prioridade. Nessa altura, a indústria dos eventos continuou o ‘rollercoaster’ e começaram os despedimentos, redução de salários, fecho de empresas, e surgiu um grande ponto de interrogação sobre o futuro dos eventos físicos
126
A
s Winston Churchill used to say: “A pessimist sees the difficulty in every opportunity; an optimist sees the opportunity in every difficulty.” The beginning of 2020 changed the world! Industries, organizations and businesses had to reinvent themselves and one of the industries that felt and feels most this impact is Events. In all corners of the world, physical events stopped and each continent, region or country tried (and still tries) to rediscover itself, in its own way and following its own instincts. In the Middle East, in a Muslim country where almost all religions, cultures and nationalities cohabit like the syncope of an orchestra, Dubai was able to adapt, with the same survival and resilience capacity shown in recent decades, and has taken steps to keep the rhythm. At the end of March 2020, the implementation of lockdown surprised the country and generated a climate of uncertainty, and the biggest impact was felt when EXPO 2020 announced its postponement to 2021. The impact of this decision was resounding, but the opinion of governments, sponsors and everyone involved was unanimous. Global health is, and should always be, the major concern and priority. During this time, the event industry entered a true rollercoaster and redundancies, wage reduction and company closures began, and a big question mark was there as to the future of physical events
DUBAI
e a sustentabilidade de muitas empresas de eventos. A verdade é que, se por um lado, no Dubai a envolvência do Estado tem pouco impacto na sobrevivência das empresas, as linhas de crédito empresariais são bastante rigorosas e difíceis de conseguir, a concorrência é global e inumerável e as leis laborais são desafiantes. Por outro, o país posicionou-se nos últimos anos na linha da frente na criação de infraestruturas digitais que permitem às empresas uma transferência eficaz para os canais ‘online’. O sistema de saúde é robusto e rigoroso garantindo aos cidadãos, turistas e residentes uma segurança (física e psicológica) que é difícil de sentir noutro país no mundo. A título de curiosidade, actualmente, segundo fontes oficiais, o número aproximado de casos do COVID nos UAE- 9,631 milhões de habitantes, é de 218,766 e em Portugal é de 446,606). As empresas, as marcas e as pessoas podem garantir o futuro e sustentabilidade da indústria aprendendo e adaptando o exemplo do Dubai, que através das medidas que tem instaurado, está a impulsionar a retoma dos eventos mais cedo do que noutros países, nomeadamente na Europa. É claro que o facto da Expo 2021 estar à porta incentiva o Emirado a ser mais proactivo, diligente, não só em relação aos eventos, mas também em relação ao Turismo e Saúde. A actual situação é tão complexa como volátil e inesperada, mas os UAE, e em particular o Dubai, vão estar na linha da frente para garantir que a Expo 2021 seja um sucesso e um dos eventos mundiais mais marcantes de 2021. Em 2021, para a indústria dos eventos voltar a ganhar rigor é importante que os eventos físicos voltem a ser preponderantes, reganhem a relevância e importância para a economia e que as grandes multinacionais voltem a investir nos eventos, tendo a certeza, porém, que os eventos híbridos vieram para ficar. No Dubai e na região, as empresas e instituições têm feito um investimento considerável nos eventos híbridos, combinando os eventos físicos com a componente virtual, garantindo uma avaliação muito mais criteriosa e significativa, para pouco a pouco a Orquestra voltar a tocar com casa cheia na Opera do Dubai. l
ASIA & MIDDLE EAST
and the sustainability of many events companies. The truth is that, if on the one hand in Dubai the involvement of the State has little impact on the survival of companies, corporate credit lines are quite strict and difficult to obtain, competition is global and countless and labour laws are a true challenge. On the other hand, the country has positioned itself in the forefront in recent years in the creation of digital infrastructures allowing companies to transfer effectively to online channels. The healthcare system is robust and rigorous, guaranteeing citizens, tourists and residents a safety net (physical and psychological) that one can hardly see in another country in the world. Just to provide an example, currently, according to official sources, the approximate number of COVID cases in the UAE - 9.631 million inhabitants, is 218.766 and in Portugal it is 446.606). Companies, brands and people can guarantee the future and sustainability of this industry by learning and adapting the example of Dubai, which, through the measures implemented, is leading to a resumption of events earlier than in other countries, namely in Europe. The fact that Expo 2021 is around the corner encourages the Emirate to be more proactive, diligent, not only as regards events, but also in Tourism and Healthcare. The current situation is as complex as it is volatile and unexpected, but the UAE, and Dubai in particular, will take the lead and ensure that Expo 2021 will be a major success and one of the most remarkable world events of 2021. In 2021, and for the events industry to regain vitality, it is important that physical events once again become predominant, regain relevance and importance for the economy and that large multinationals invest again in events, knowing however that hybrid events are here to stay. In Dubai and in the region, companies and institutions have made sizeable investment in hybrid events, combining physical events with the virtual component, guaranteeing a more careful and meaningful assessment so that the Orchestra will be able to gradually play again before a sold out Dubai Opera. l 127
ÁSIA & MÉDIO-ORIENTE
CARLOS BARROCA, VICE-PRESIDENTE DE OPERAÇÕES DA NBA ÁSIA ASSOCIATE VICE PRESIDENT BASKETBALL OPER ATIONS, NBA ASIA
O E U O U O N Ó S E A “ H I S T Ó R I A” DO AMANHÃ ME OR US AND THE “HISTORY” OF TOMORROW
O
que é que um “especialista” em basquetebol tem a dizer sobre educação, a vida em comunidade, os valores não materiais e o futuro? o Basquetebol tem que ver com a vida? Falamos de um jogo novo (apenas com 129 anos), de educação, de ensinar e aprender. E o Basquetebol é um mero exercício do “eu” ou o realizar do “nós”? Há vida sem “nós”? Ensina-se e aprende-se, educa-se sem “nós”? A Prémio desafiou-me e vou tentar responder. O basquetebol inspirou-me e fez-me “olhar” o passado para “ver” o futuro. Defino o conceito subjacente ao objetivo, observo, faço o diagnóstico e crio o plano de ação. Depois basta implementá-lo: ensinar, inspirar e conectar. O ser humano, sempre se moveu na procura de alimento e abrigo. Sempre agiu por instinto de sobrevivência. A existência do “nós” nasce, também, como instinto de assegurar continuidade de espécie, não deixando de estar intrinsecamente ligado à questão da liderança, da decisão. Desde o início dos tempos o “eu” e o “nós” caminham, pois, lado a lado. Um salto no tempo e deixamos as grutas ou o isolamento 128
W
hat does a basketball “expert” have to say about education, community life, non-material values and the future? What does Basketball have to do with life? We are talking about a new game (only 129 years old), education, teaching and learning. And is Basketball a mere exercise of “me” or the accomplishment of “us”? Is there life without “us”? Can we teach and learn, educate without “us”? Prémio magazine challenged and I to try to come up with an answer. Basketball inspired me and made me “look” at the past in order to “see” the future. I define the concept underlying the objective, I watch, I conduct the diagnosis and I design the action plan. Then comes implementation: teach, inspire and connect. The human being has always moved in search of food and shelter. And has always acted with an innate survival instinct. The existence of “us” is also born out of the instinct to ensure continuity of the species and is intrinsically linked to the issue of leadership and decision. Since the beginning of time, “me” and “us” have always walked side by side.
ASIA & MIDDLE EAST
das florestas para a proximidade dos cursos de água. Acedemos a novas fontes de alimentação, e a ligação à água dá-nos a possibilidade de viajar. Mais população, mais recursos, mais interação e emergente socialização com diferentes tipos de liderança. Além da produção direta dos produtos de consumo, surgem múltiplas atividades, inclusive o entretenimento. Em tempo de paz as atividades básicas de gestos humanos transformam-se em competições: correr, saltar, lutar... e da associação humana, que tem por base o alimento e a segurança, nascem, inevitavelmente, os conceitos de liderança e de poder nas mais variadas formas. Das paliçadas iniciais nascem fortes cada vez mais sofisticados e maiores, protegendo os seus habitantes das invasões exteriores, com canhões voltados para fora, a maior parte das vezes para o mar, de onde vinha o invasor. Já em tempo de paz a música e o entretenimento ocupavam o tempo não dedicado à produção. Mas os canhões virados para fora não protegeram, nunca, a humanidade das doenças que associadas ou não às horríveis condições de vida das cidades acabaram por surgir. E, como já se viajava, o propagar das doenças acontecia. Morriam milhões de pessoas sem capacidade de resposta às pandemias. E tudo parava. Por isso dei a este texto o título de “O Eu ou o Nós? E A História do Amanhã”! Será que o “eu” foi substituído pelo “nós”? Será que há verdadeiramente “eu” ou só há “eu” na medida em que há egos exacerbados? Crio o conceito e defino o objetivo. Consigo pensar no “meu” jogo do Basquetebol como o “eu“..., se isolado de todo o resto? Definitivamente, não consigo! Não há basquetebol sem pessoas, não há educação sem pessoas, não há vida humana se não existirmos como espécie. Não há “eu”! E talvez seja aqui que o Basquetebol se cruza com a vida. Como sobreviver a esta nova Doença? A vacina chama-se “nós”! Observo: Somos milhares de milhões, concentrados, cada vez mais, em cidades cada vez maiores e precisamos de enormes recursos alimentares. Queremos mais espaço e consumir mais recursos naturais. Não há “eu”. Estamos todos, de uma forma ou outra, associados a “equipas”. Somos Países, raças, género, religião, clubes, estratos sociais, empresas, mas persistimos num comportamento errático que insiste muitas vezes no “eu”. Diagnostico: Estamos a acelerar a destruição dos recursos naturais, estamos a destruir o planeta. Planeio: Temos que virar os canhões dos Fortes para o lado de dentro o mais rapidamente possível, pois o perigo não vem de fora; transformar o “eu” em “nós”, utilizar os recursos de forma sustentável, parar de crescer desta forma
We jumped in time and we left the caves or the isolation of the forests to come closer to the water sources. We had access to new sources of food, and the connection to water gave us the possibility to travel. More population, more resources, more interaction and emerging socialization with different types of leadership. In addition to the direct production of consumer products, multiple activities appeared, including entertainment. In times of peace the basic activities of human gestures became true competitions: running, jumping, fighting... and human association, which is based on food and security, inevitably generated different concepts of leadership and power. From the initial palisades, more and more sophisticated and larger forts were created, protecting their inhabitants from outside invasions, with cannons pointing outwards, most of the time to the sea, where invaders usually came from. In times of peace, music and entertainment were there when we were not producing. But the cannons pointing outwards have never protected humanity from diseases that, linked or not with the terrible living conditions in cities, did appear. And, as people were already traveling, the spread of diseases occurred. Millions of people died without the capacity to respond to pandemics. And everything stopped. That is why I gave this text the title “Me and Us? And the History of Tomorrow”! Has “me” been replaced by “us”? Is there really “me” or is there only “me” insofar as there are exacerbated egos? I create the concept and define the objective Can I think of “my” game of Basketball as “me”... isolated from all the rest? I definitely can’t! There is no basketball without people, there is no education without people and there is no human life if we do not exist as a species. There is no “me”! And maybe this is where Basketball meets life. How to survive this new Disease? The vaccine is called “us”! Note: We are billions, increasingly concentrated in larger and larger cities and we need huge food resources. We want more room and consume more natural resources. There is no “me”! We are all, in one way or another, associated with “teams”. We are Countries, races, gender, religion, clubs, social strata, companies, but we persist in erratic behaviour that often insist on “me” alone. Diagnosis: We are accelerating the destruction of natural resources, we are destroying the planet. This is my plan: We have to point the cannons of the Forts to the inside as quickly as possible as the danger does not come from outside; transforming the “me” into “us”, using resources in a sustainable way. The solution lies in stopping growth focused only on results, on profit at the 129
ÁSIA & MÉDIO-ORIENTE
unicamente virada para o resultado, para o lucro à custa da destruição de tudo que nos rodeia é a solução. É hora de agir: Educar, em toda a dimensão da palavra. Educação para todos, a todos os níveis. O Basquetebol, o meu que é nosso, é também ou essencialmente educação. Como treinador o “meu” sucesso não depende de mim, treino pessoas; como dirigente trabalho com pessoas, como líder de organizações dirijo pessoas. O sucesso de todos faz o meu. A História do Amanhã constrói-se voando no tempo para saber mais, sem ter medo de usar a inteligência, a inovação, a ciência e a tecnologia. Faz-se com equipas não têm medo de errar, de sonhar, de falar ou sugerir, feitas de “muitos eus” que pensam em “nós” e por isso progridem, ajustam e conseguem os resultados, num perpétuo movimento. Temos o poder de inspirar outros, com competências e sorrisos, porque trabalhamos com crianças e com elas aprendemos cada vez mai s e nelas bebemos, diariamente, toda a energia. A solução tem de estar em cada um de nós e, para isso, só a Educação é o caminho! Mas a educação das crianças deve ser acompanhada da educação dos adultos. A Covid-19 é como uma chamada de atenção para a humanidade, sendo que nos é dado ter a vacina que ainda pode resolver o problema. Mas se continuarmos no caminho da destruição da nossa “casa” não há vacina que resulte. Não há vacina para a estupidez ou extremismo seja de que forma for. A vacina para as loucuras do “eu” chama-se “nós”! Adoro o basquetebol. Se jogarmos juntos todos os sonhos são possíveis. O jogo só é possível porque há vida humana e a defesa desta é, na nossa geração, a partida mais importante que temos pela frente. E não exagero se disser que estamos a jogar um prolongamento ou “um desconto de tempo”. Acredito na educação, na ciência e mais que tudo, na humanidade. Sou professor! l 130
expense of destroying everything around us. It’s time to act: Educate, in every dimension of the word. Education for all, at all levels. Basketball, mine which is also ours, which is also or essentially education. As a coach, “my” success does not depend on me, I train people; as a leader I work with people, as a leader of organizations I lead people. Everyone’s success helps me succeed too. The History of Tomorrow is built by flying in time in order to learn more, without being afraid of using intelligence, innovation, science and technology. This can be achieved with teams that are not afraid to make mistakes, to dream, to speak or to suggest, formed by “many us” who think as “us” and therefore progress, adjust and achieve results, in a perpetual movement. We have the power to inspire others, with skills and smiles, because we work with children and with them we are able to learn more and more and we can get all the energy we need from them. The solution has to lie in each every one of us and Education is thus the only way forward! But educating children must be go hand in hand with educating adults. Covid-19 is like a wake-up call for humanity, and we now have a vaccine that may help us solve the problem. But if we keep destroying our “home” there will be there no vaccine to help us. There is no vaccine for stupidity or extremism in whatever form. The vaccine to fight the “me” madness is called “us”! I love basketball. If we play together all dreams are possible. The game is only possible because there is human life and defending it is, in our generation, the most important game to play. And I don’t exaggerate if I say that we are playing an extension or “a time-out”. I believe in education, in science and most of all, in humanity. I am a teacher, after all! l
O que tem de novo o “novo” Diário de Notícias Mais atual e inovador Mais e melhor política e economia Dá palco às cidades Mais reportagem e novos colunistas Novas secções e novas rúbricas Grandes entrevistas Grafismo renovado Mais vídeo, infografia e podcasts
O ESSENCIAL DA INFORMAÇÃO, TODOS OS DIAS EM BANCA 131
132