Prémio, maio de 2014

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PRIMAVER A DE 2014 • ANO XI

PRIMAVER A DE 2014 • ANO XI • 0,01 EUROS • TRIMESTR AL • DIRECTOR ÁLVARO DE MEND ONÇA

PRÉMIO

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R E V I S T A

DE

N E G Ó C I O S, E C O N O M I A, M A R K E T I N G

E

L I F E S T Y L E

1974 - 2014 40 ANOS DE DEMO CR ACIA EM P ORTUGAL OPINIÃO

RUI NABEIRO

Alberto da Ponte Fernando Seara João Proença Luís Osório Mário Assis Ferreira

JOÃO PROENÇA

ENTREVISTAS

António Saraiva Rui Nabeiro

ALBERTO DA PONTE

ABRIL

FERNANDO SEARA

BULLIPÉDIA A REVOLUÇÃO DE FERRAN ADRIÀ

PAULO MORGAD O A GESTÃO EM P ORTUGAL

MUNDIAL O PAÍS DO FUTEBOL 14/05/09 17:42


MAIS UM DESTINO NA INTERNACIONALIZAÇÃO

A Inapa continua a desenvolver e implementar a sua estratégia de internacionalização. A entrada no mercado Turco com a aquisição da Korda corresponde a uma nova etapa para uma presença cada vez mais global. Atualmente presente em 9 países a Inapa centra as suas operações em três áreas de negócio.

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SUMÁRIO DIRECTOR Álvaro de Mendonça EDITORA Sofia Arnaud DIRECTOR DE ARTE Pedro Góis DESIGNER Joana Cruz Martins REDACÇÃO Catarina da Ponte, João Bénard Garcia e Miguel Morgado COLABORAM NESTA EDIÇÃO Alberto da Ponte, Fernando Seara, João Proença, Luís Osório, Mário Assis Ferreira, Pedro Pintassilgo PUBLICIDADE Tel.:+351 21 012 06 00 IMPRESSÃO SOARTES - Artes Gráficas PROPRIEDADE Cunha Vaz & Associados – Consultores em Comunicação, SA SEDE Av. Duque de Loulé, n.º 123, 7.º 1050-089 Lisboa CRC LISBOA 13538-01 REGISTO ERC 124 353 DEPÓSITO LEGAL 320943/10 TIRAGEM 5 000 Exemplares

R EV I ST A C O R P O R AT IV A D A CV & A

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EDITORIAL A ABRIR ESPECIAL O Brasil e o Mundial 2014 A final dos Campeões A marca Ronaldo NEGÓCIOS Entrevista a Paulo Morgado, Administrador-Delegado da Capgemini Portugal CHINA 2014: O ano de todos os negócios NEGÓCIOS SOFID, uma porta para milhões de euros

42 OPINIÃO Pedro Pintassilgo: O dilema diplomático da Crimeia 44 CAFÉ O novo Centro de Ciência do Café de Campo Maior 46 LAZER A nova identidade do Dolce CampoReal Lisboa 50 SAÚDE A aposta da Visabeira no segmento sénior 54 GASTRONOMIA Bullipédia, a enciclopédia culinária de luxo de Ferran Adrià

60 64 66 72 74

ARTE 50 Anos da Galeria 111 SHOPPING As tendências mais apetecíveis da estação AUTOMÓVEIS A moda dos híbridos de luxo LIVROS Sugestões de leitura Prémio DOSSIÊ 40 Anos da Democracia em Portugal: opiniões de Alberto da Ponte, Fernando Seara, João Proença, Luís Osório, Mário Assis Ferreira e entrevistas a António Saraiva e Rui Nabeiro

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EDITORIAL

ÁLVARO DE MENDONÇA

O QUE SABEM OS CHINESES (QUE OS PORTUGUESES NÃO SABEM)!

HÁ NO MUNDO QUASE 200 PA Í S E S E P O RT U G A L E S TÁ , NORMALMENTE, ENTRE A 25ª E A 35ª P OSIÇÃO DOS RANKINGS.

O

que a maioria das pessoas ambiciona de um Governo, é que lhes assegure o bom funcionamento do País e uma vida boa e confortável. É isso que está, aliás, escrito na bandeira do Brasil: Ordem e Progresso. Ordem, entendida como a garantia de bons níveis de segurança, justiça, educação, saúde... Progresso, a significar uma boa gestão das contas públicas, uma economia que cresce e cria emprego, um mercado livre e onde todos têm oportunidades iguais. Foi isso que nos prometeram no dia 25 de Abril de 1974. 40 anos depois, há um certo desânimo em Portugal, patente no afastamento crescente entre eleitores e eleitos. A corrupção, a lentidão da justiça, a insegurança nas ruas, os níveis cada vez mais baixos da educação e da saúde públicos, o desemprego, a carga fiscal, o favorecimento de alguns nos negócios com o Estado e nas nomeações para cargos públicos, justificam esse desapontamento. Ora é nestes momentos que vale a pena exaltar o que há de bom

no País. Porque razão Portugal, um pequeno país e o mais ocidental da Europa, está a despertar tanto interesse da China, um gigante do outro lado do mundo? Como conseguimos fabricar os melhores sapatos, os melhores azeites, os melhores caiaques e os melhores jogadores do mundo? O que tem Portugal, que os outros países conseguem ver, e os portugueses não? Há no mundo quase 200 países e Portugal está, normalmente, entre a 25ª e a 35ª posição dos rankings, sejam eles de economia ou de desenvolvimento humano. Somos um País do primeiro mundo, integramos a maior zona económica do mundo, temos índices de natalidade, mortalidade, escolaridade, ao nível dos melhores do mundo. Somos um País simpático de que toda a gente gosta. Não somos uma potência mundial, mas temos potencial. Há 500 anos, ligámos a Europa ao resto do mundo. Hoje, temos a capacidade para conquistar alguns mercados do mundo. É por isso que os chineses investem em Portugal. Eles sabem disso. Nós temos de o redescobrir. l

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Hoje, os CTT são presença constante na vida das nossas empresas. E estão agora mais próximos dos seus clientes, preparados para responder de forma adequada às necessidades específicas do seu negócio. Do correio publicitário até às entregas urgentes. Do Marketing Direto até às mais avançadas soluções de comércio eletrónico. Por tudo isto, estamos cada vez mais presentes na vida das empresas.

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A ABRIR

“THE BANKER” ELEGE OPV DOS CTT COMO MELHOR NEGÓCIO DO ANO A Oferta Pública de Venda (OPV) dos CTT foi premiada pela prestigiada revista financeira “The Banker”, como “Negócio Europeu do Ano 2014”. Os analistas da publicação do grupo Financial Times destacam o sucesso desta operação, dado que as acções foram alienadas no topo do intervalo prédefinido, valorizando os CTT em 828 milhões de euros e “dando aos contribuintes portugueses um bom retorno”. Um quinto das 105 milhões de acções da oferta foi vendido a investidores do retalho, sendo o restante tomado por institucionais dos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Suíça, Espanha, Itália e Dinamarca. A revista destaca também o comportamento em Bolsa das acções, que tem sido de persistente valorização, o que “testemunha quer a solidez da companhia, quer a melhoria do estado da economia em Portugal”. A operação de dispersão de 70% do capital dos CTT ficou concluída em Dezembro do ano passado, integrada no calendário de privatizações do Governo Português. O banco de investimento da Caixa Geral de Depósitos, o CaixaBI, foi o coordenador global e bookrunner da operação. Desde a estreia em Bolsa, a 5 de Dezembro, as acções da empresa liderada por Francisco Lacerda já valorizaram 47%, tendo ultrapassado a fasquia dos 8 euros. l

CAMPANHA

PORTUGAL APOSTA NO TURISMO RESIDENCIAL “Living in Portugal” é o nome do projecto de promoção do turismo residencial de Portugal, que está a ser desenvolvido pela Associação Portuguesa de Resorts (APR), e que incluirá roadshows de apresentação da oferta portuguesa em várias cidades europeias. Paris, Londres e Estocolmo foram os primeiros mercados-alvo. No âmbito da campanha, um stand institucional da associação, reforçará a presença nas apresentações comerciais e acções de relações públicas em mercados internacionais. Até ao final do ano, está previsto que o programa se alargue, com mais apresentações e acções, na Rússia, Alemanha, França, Reino Unido e Suécia. O projecto “Living in Portugal” dirige-se às empresas do sector turístico e hoteleiro e, em particular, às vocacionadas para o turismo residencial nas regiões Norte, Centro e Alentejo. É apoiado pelo Compete - Programa Operacional Factores de Competitividade, inserido no Sistema de Apoio a Acções Colectivas (SIAC) e no Pólo de Competitividade e Tecnologia PCT Turismo 2015. Segundo Pedro Fontainhas, director executivo da APR: “A associação está com uma excelente relação de trabalho com o Turismo de Portugal e com as embaixadas portuguesas em cada um dos países envolvidos no projecto”. l

TURISMO E VINHO DE MÃOS DADAS O Turismo de Portugal e a ViniPortugal estabeleceram uma parceria para potenciar a promoção internacional e a comercialização de Portugal, enquanto destino turístico e produtor de vinhos. O protocolo prevê a concertação de estratégias de actuação e o desenvolvimento de acções conjuntas das marcas VisitPortugal e Vinhos de Portugal. Está também prevista a integração dos Vinhos de Portugal em mostras e iniciativas de formação para jovens e profissionais do sector, bem como a estruturação da

oferta enoturística nacional, identificando quais os centros de Turismo de Vinho de excelência. “A gastronomia e vinhos são uma das razões para a escolha de Portugal enquanto destino de lazer, com 88% dos turistas a ficarem muito satisfeitos com o contacto com experiências nesta área”, garante João Cotrim de Figueiredo, presidente do Turismo de Portugal. “Esta união de esforços contribui para a diferenciação e qualificação da oferta turística nacional. Ganha o Turismo e ganha o Vinho”, afirma Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal. l

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m u n dia l

Seg u r o s

Sagres à conquista do Brasil

Walk’in Clinics lança plano de saúde low cost

Paulo Bento é um homem de poucas e certeiras palavras. Palavras sempre motivacionais para os jogadores que comanda. Depois da mensagem que fica no segredo do balneário, o seleccionador português “dá” publicamente a táctica aos adeptos lusitanos, mobilizando-os para o Mundial 2014, prova que decorrerá em Junho, no Brasil. “Onde quer que estejam, puxem por nós”, “nunca duvidem do 11 inicial” e “cantem com a mão sobre o peito” são apenas algumas das “diagonais” e de “movimentos de pressão alta” apresentados pelo seleccionador Paulo Bento. A estratégia insere-se na campanha publicitária deste ano da Cerveja Sagres, que apoia a Selecção Nacional há 20 anos. Este ano, sob o mote “Somos Selecção, Somos Portugal”, a campanha procura reforçar o orgulho de ser português e a portugalidade. E inspira-se no espírito dos Descobrimentos, bem expressos na imagem de Paulo Bento, na falésia escarpada de Sagres, a mirar o imenso Oceano Atlântico. A campanha está presente em televisão, rádio, outdoor e internet até ao mês de Junho. l

A Walk’in Clinics, da Sociedade Francisco Manuel dos Santos, lançou um plano de saúde low cost sem limite de consultas, incluindo as de urgência, nas clínicas da rede, de forma a cativar os utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS). O plano inclui ainda os serviços de um enfermeiro diplomado, que funcionará como Care Manager e ficará encarregue da gestão do processo do utente. O plano de saúde pode ser alargado a todos os elementos do agregado

“Onde quer que estejam, puxem por nós”.

IDEIA hub caça talentos O IDEIA hub – Instituto para o Desenvolvimento de Empresas, Indivíduos e Ambições, é uma nova start up, com capital 100% português e que se apresenta no mercado como a primeira empresa em Portugal a oferecer uma proposta de valorização do capital humano, num ambiente

de incubação de talentos. O conceito partiu da iniciativa do CEO João Simões, da Chief Talent Officer Sónia Freches e do Chief Community Officer Paulo Tavares. Juntos, combinam diferentes backgrounds educacionais e profissionais, oferecendo a empresa serviços

familiar, com um desconto até 20%. O pacote de serviços de saúde proposto prevê ainda a opção de o cliente pagar mais e ter acesso, a preços especiais, a consultas ao domicílio e de especialidade numa rede de 12 mil prestadores. A rede Walk’in Clinics é composta actualmente por quatro clínicas e prevê duplicar a oferta a curto prazo. l

G E ST Ã O

Beatriz Rubio explica o seu sucesso Beatriz Rubio, CEO da REMAX em Portugal e fundadora da empresa Motiva-te, entidade especializada em motivação e mudança comportamental empresarial, lançou o livro “Conquistando a vitória”, da editora Topbooks, onde descreve o seu percurso profissional e relata como venceu todos os obstáculos, até chegar à liderança da principal marca imobiliária em Portugal. Nuno Amado, presidente do Millenium/bcp, assina o prólogo e destaca o facto de este ser “um livro sobre mudança, a nível pessoal e profissional e sobre a capacidade de superar os desafios, de encontrar novos caminhos de ter um espírito sempre empreendedor, mas pragmático e orientado para o resultado”. A autora, que apresentou a obra na embaixada de Espanha em Lisboa, com o apoio do embaixador D. Eduardo Junco, reconheceu que escrever este livro significou sair da sua “zona de conforto”. l

de diagnóstico de competências, formação e coaching. Dispondo de cerca de seis mil referências formativas em diferentes áreas, baseia as suas actividades numa filosofia de network, para incentivar o pensamento criativo. O IDEIA hub pretende assegurar que

indivíduos criativos e empreendedores evoluam no mercado de trabalho, tornando-se agentes activos e capacitados para criarem a própria start up. O Instituto já firmou parcerias com três empresas internacionais: Microsoft, Thalento e Skillsoft. l 7


A ABRIR

DESIGN

SARAMAGO INSPIRA NOVA PEÇA VISTA ALEGRE

CASACO DE CORTIÇA APRESENTADO NO SALÃO DE MILÃO Resultado de uma parceria com a Corticeira Amorim, a revista Wallpaper e o estúdio de design norte-americano Todd Bracher, foi apresentado, no Salão de Design e Mobiliário de Milão, um casaco integralmente produzido em cortiça. Publicação de referência nas áreas do design e da arquitectura, a Wallpaper criou há quatro anos o projecto Handmade, uma iniciativa que visa apresentar todos os anos no Salão de Milão cerca de 100 objectos “inovadores e únicos” e que “desafiem os limites do design”. Na edição 2014, a Wallpaper lançou desafios a várias entidades, nomeadamente à portuguesa Corticeira Amorim, alertando para “o imenso potencial da cortiça, um material que reúne todos os atributos para integrar o projecto Handmade”, segundo revelou Ellie Stathaki, editora de arquitectura da Wallpaper. l

A Vista Alegre lançou a quinta peça da sua colecção ‘1+1=1’ (‘1 Autor + 1 Artista = 1 peça Vista Alegre), homenageando o escritor José Saramago, com a edição limitada de “A Viagem do Elefante”, desenhada pelo artista plástico português David de Almeida, amigo pessoal e colaborador do Nobel da Literatura português em diversos projectos. Inspirada na obra literária homónima, que relata a insólita, mas verídica, viagem do paquiderme Salomão, que no século XVI foi de Lisboa a Viena, por extravagância de um rei português e de um arquiduque austríaco.

A colecção ‘1+1=1’ da Vista Alegre foi criada com o objectivo de divulgar e premiar a excelência na produção artística a nível internacional. Com uma edição limitada de mil exemplares, a peça “A Viagem do Elefante”, custa 200 euros. l

PORTOS

NAVIO Q-FLEX EM SINES

GOURMET

SCC LANÇA CERVEJA PREMIUM AFFLIGEM A Sociedade Central de Cervejas e Bebidas (SCC) lançou no mercado português a marca belga de cerveja premium Affligem. Fabricada num mosteiro há mais de mil anos, mantém ainda hoje a receita original. “ É uma cerveja de abadia que, apesar da sua tradição, não deixa de ser relevante para os gostos e estilos de vida actuais”, refere a SCC em comunicado. Para o lançamento desta cerveja, a SCC abriu a pop-up-store “O Purista – Barbiére”, no trendy

bairro lisboeta do Chiado, que funcionou durante o mês de Abril como uma cervejaria-barbearia temporária, onde era possível cortar o cabelo, aparar a barba, jogar uma partida de snooker, ler um livro e, obviamente, saborear a nova cerveja, uma tendência que valoriza o que é tradicional e autêntico. O investimento do lançamento da marca em Portugal rondou meio milhão de euros e os objectivos de vendas para o primeiro ano rondam os 250 mil litros. l

A REN recebeu no Terminal de Gás Natural Liquefeito (GNL) de Sines, o primeiro navio Q-Flex a acostar em Portugal. Os navios deste tipo têm uma capacidade de transporte até 216 mil metros cúbicos de GNL, mais 50% do que a capacidade média dos metaneiros, os navios adequados ao transporte de gás natural liquefeito. Com uma localização estratégica, enquanto porta de entrada na Europa, o Terminal de Sines tem capacidade para armazenar até 390 mil metros cúbicos de GNL e de fazer a sua trasfega para outros navios. Estes factores, a par dos ganhos de eficiência e de escala resultantes da ampliação do porto, fazem desta infraestrutura da REN um dos terminais mais competitivos da Europa e uma referência a nível mundial. l

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ESPECIAL

MIGUEL MORGADO

MUNDIAL 2014

O PAÍS DO FUTEBOL

O B R A S I L É O PA L C O D A C O PA D O M U N D O , P E L A S E G U N D A V E Z N A H I S T Ó R I A . E M 1 9 5 0 A E Q U I PA E O P OVO VIVER AM A TR AGÉDIA DA FINAL PERDIDA CONTR A O VIZINHO URUGUAI. EM 2014, N I N G U É M Q U E R E R Á E X P E R I M E N TA R N O VA D E S I L U S Ã O . O M A R A C A N Ã S E R Á O PA L C O D E T O D O S O S S O N H O S . O PA Í S D O F U T E B O L E S P E R A Q U E T O D A A E S Q U I N A D O PA Í S S E T R A N S F O R M E N U M C A R N AVA L D U R A N T E U M M Ê S . E Q U E O B R A S I L S E J A C O R O A D O R E I . A L E M A N H A , A R G E N T I N A E E S PA N H A P O D E M , N O E N TA N T O , E S T R A G A R A F E S TA . 10

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FOTOGRAFIAS UEFA/SPORTS FILE, FIFA.COM E EMBRATUR

Q

uando ia ao Maracanã, Nélson Rodrigues, que escreveu algumas das mais belas crónicas da história do futebol brasileiro, garantia que o que acontecida em campo era um “reles e ridículo detalhe”. O escritor e dramaturgo não via nem a bola nem tão pouco o que se passava no “gramado”. O foco era o drama, a tragédia e a paixão que o futebol provocava nas massas. Ora foi essa mesma paixão por um futebol impregnado de samba que levou mais de 200 mil pessoas a galgarem as costuras do cimento do Coliseu carioca. O Maracanã, estádio cujo nome oficial é Mário Rodrigues Filho, jornalista e irmão de Nélson Rodrigues, fora

construído, debaixo de críticas de despesismo, para albergar o quarto Campeonato do Mundo de futebol e o primeiro do pós-guerra. O futebol era o maior símbolo do Brasil. O fantasioso estilo de jogo servia de anúncio global de promoção do País. Para além do lado desportivo, vencer a Copa afirmava o Brasil, presidido pelo militar Eurico Gaspar Dutra, no mundo moderno. O maior estádio do Mundo acolheu a fatídica final de 1950, frente ao Uruguai, no dia 16 de Julho. Um empate bastava para a Copa ficar em casa, mas a onze minutos do apito final um golo do uruguaio Alcides Ghiggia fixou o placar em 1-2 e acabou com o sonho, roubando o que seria o primeiro título mundial ao Brasil. A derrota baptizada como “Maracanazo” ganhou contornos de drama nacional. 11

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ESPECIAL

E de tragédia. Com a derrota de 50 nasce o “Complexo de vira-lata”, expressão de Nélson Rodrigues, a qual originalmente se referia ao trauma então sofrido pelos brasileiros, mas que é pelo próprio interpretado como a “inferioridade como que o brasileiro se coloca voluntariamente em face do resto do mundo”. Há derrotas que mudam a história. E esta mudaria drasticamente o rumo do futebol brasileiro. A começar pela cor da camisola. Deixa de ser branca e passou a verde e amarela. A “canarinha” aprendeu com o trauma. Começou a ser dominante e admirada. Ganha respeito na cena internacional. Embarca para o título na Suécia, em 1958, com um médico, um psicólogo e até um dentista na equipa técnica de Paulo Machado de Carvalho. Nascem os super-heróis. O menino Pelé e Garrincha. Mas também Didi, Zagallo, Vavá, Gilmar e Nilton Santos, que fora vilão oito anos antes e que conseguiu a proeza de se tornar bi-campeão com os título de 58 e 62. Tornam-se ídolos do povo. E alvo dos media nacionais. Que face à vigilância exercida ditam o fim do futebol romântico e do jogador que bebia e dançava à noite e “comia” a bola durante as tardes de futebol. De 1958 a 1970, o Brasil conquistou três em quatro edições da Copa do Mundo (1958, 1962 e 1970). A Taça Jules Rimet, assim se chamava até então, é atribuída, após a terceira conquista, a título definitivo, à Confederação Brasileira de Futebol. Símbolo da afirmação e orgulho de uma nação, viria a ser roubada 13 anos depois (20 Dezembro de 1983). Derretida e transformada em ouro, o rocambolesco episódio virou vergonha nacional. Castigo, ou talvez não, seguiu-se uma “seca” de 24 anos. Pelo meio, em 1982, a equipa de Sócrates, Falcão e Zico que encantou a Espanha e o mundo, talvez merecesse algo mais, mas o título internacional ficou longe até 1994. Ano em que todo o Brasil gritou: É tetra! Um grito embalado pela celebração de Bebeto e dos golos de Romário, dupla que colocou, de novo, o “Escrete” no topo do mundo. Depois da decepção de 1998, o Brasil virou o único pentacampeão mundial em 2002, na Ásia, sob o comando do “Sargentão” Luís Filipe Scolari, o tal que está de volta. E que tem dois desafios para ganhar pela frente. Dentro e fora de campo. No jogo-jogado. Mas também no mind games, com os adeptos e não só. Porque cabe a ele ter de revisitar a tal Copa que o Brasil perdeu em casa. Pátria do calção e da chuteira Agora, 64 anos depois, o Brasil volta a acolher uma fase final do Campeonato do Mundo. Um evento único, com heróis e vilões, glória e drama. Dizem os entendidos que o Brasil é a pátria do futebol. Gilberto Freyre, sociólogo e antropólogo pernambucano, defendia, nos anos 30 do século XX, a tese de que o talento do brasileiro resultava da miscigenação entre

AS ANTIGAS GLÓRIAS DO FUTEBOL BRASILEIRO

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O E S TÁ D I O D O M A R AC A N Ã S E R Á O PA L C O D E T O D O S OS SONHOS

negros, europeus e índios. Outras e diferentes teorias defendem a superioridade do jogador brasileiro. Uma razão estatística dá suporte. Ganhou 5 Copas do Mundo em quatro continentes. Kaká, Ronaldo (três vezes), Ronaldinho Gaúcho (duas), Rivaldo e Romário foram eleitos melhores jogadores do mundo. Outras razões há, sejam físicas ou metafísicas. Entre elas, surge a de um autêntico filósofo do mundo da bola. Neném Prancha, roupeiro do Botafogo, técnico de futebol de quem dizem ter cunhado uma frase para a eternidade. “Se Deus é brasileiro e os nossos times rezam antes de entrar em campo, é natural que o Brasil seja o País do futebol”. Em 2014, todo o brasileiro espera que a Selecção, a tal “pátria de calção e chuteiras”, nas palavras de Nélson Rodrigues, consiga provar no campo essa supremacia. Para depois dançar o samba. Favoritos e surpresas A “Canarinha”, joga em casa e é sempre favorita. A “Laranja Mecânica” holandesa, a “Roja Espanhola”, a “Alvi Celeste” argentina, a “Mannschaft” alemã podem e querem bater o pé. A “Squadra

SEGUNDO OS ENTENDIDOS NA MATÉRIA, BRASIL, ESPANHA, ARGENTINA E ALEMANHA SÃO AS FAVORITAS PARA VENCER A 20º EDIÇÃO DO EVENTO.

Azzura” italiana, os “Diabos Vermelhos” belgas, os galos franceses e a portuguesa “Selecção das Quinas” podem surpreender os mais fortes. Sem esquecer, claro está, a Inglaterra, país berço do football. Um Mundial acarreta sempre um bom número de interrogações. Este não foge à regra: conseguirá o Brasil ganhar em casa? A Espanha entrará definitivamente na história, bisando no Mundial depois de ter bisado na Europa? Conseguirá uma selecção europeia quebrar a maldição de não vencer no continente americano? Argentina e Alemanha serão capazes que confirmar o seu estatuto em campo com títulos? Questões à parte, uma certeza há. Até à data, nenhuma selecção europeia se impôs num Mundial disputado no continente americano. Uruguai (1930 e 1950), Brasil (1962, 1970 e 1994) e Argentina (1978 e 1986) não o permitiram. As temperaturas altas, os relvados mais duros e secos e, por vezes, a altitude podem explicar o falhanço das selecções europeias. Dizem os entendidos que o Brasil, Espanha, Argentina e Alemanha são favoritas a vencer a 20.º edição do evento. Depois surge num segundo nível, Itália, Inglaterra, Bélgica e...feito já conseguido pelo Uruguai, Itália, Inglaterra, Alemanha, Argentina e França. O pentacampeão mundial é favorito, com Thiago Silva, Neymar, David Luiz, Lucas Moura e Óscar, sob o comando de Luís Filipe Scolari, que deu ao Brasil o seu último campeonato, há 12 anos. A selecção brasileira não vive momentos de exaltação. Ocupa o 6.º lugar do ranking da FIFA e os resultados amigáveis não entusiasmam. Nota-se um afastamento dos torcedores brasileiros em relação à selecção. De um lado, problemas internos e de gestão de imagem da Confederação Brasileira de Futebol. Do outro, uma política de expatriação de jogadores, que levou à ausência de ídolos locais a vestir de verde e amarelo, originando uma quebra de afectos entre adeptos e astros da bola. Há mais de 60 anos, a Selecção Brasileira ficou concentrada na então isolada região da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Nas vésperas da final mudaram para o estádio de São Januário e, no meio de uma campanha eleitoral, o quartel-general da equipa virou 13

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ESPECIAL

centro da política nacional. Hoje, a selecção brasileira terá menos privacidade e isolamento que a de 1950. Os jogadores vão passar o mês da Copa num autêntico aquário ao estilo realty show Big Brother, com treinos, estágios, conferências de imprensa, pausas, folgas e tudo o mais, transmitido pela televisão e analisados pela imprensa 24 horas por dia. E se Zizinho e Barbosa tinham, em 1950, uma nação de cerca de 50 milhões exigindo a vitória, em 2014, o número multiplica-se por quatro. Considerando a velocidade e a crueldade com que os adeptos brasileiros podem “mudar a agulha”, poucas selecções, na história da competição mundial, enfrentam o tipo de pressão que os anfitriões vão encarar. Uma pressão a que se soma a qualidade dos seus principais adversários, com a Espanha à cabeça. A “Roja” é a detentora do título mundial e vem de duas vitórias seguidas no Europeu. Lideram o ranking FIFA. À escala internacional, a Espanha parece intocável. Mistura veteranos “papa-títulos”, como Casillas, Xavi, Iniesta, Alonso, com os jovens naturalizados Thiago Alcântara e Diego Costa. Fim de ciclo ou entrada para a história, eis os cenários que se colocam aos homens do treinador Vicente Del Bosque. Mesmo sem os argumentos do “Escrete” e da “Roja”, há outros dois crónicos candidatos: Alemanha e Argentina. Depois de uma fase de apuramento sem qualquer derrota e com as equipas alemães (Bayern de Munique) a dominarem a cena europeia, a Alemanha aterra no Brasil com uma geração de ouro assente na equipa bávara, como Manuel Neuer, Boateng, Gotze, Kross, Muller, ladeado por estrelas

SOB O COMANDO DO S E L E C C I O N A D O R PAU L O B E N T O , A S E L E C Ç ÃO P O R T U G U E S A A M B I C I O N A C H E G A R AO S O I TAV O S - D E - F I N A L

COPA COM RITMO “One Love, One Rhythm” é o nome do álbum do Campeonato do Mundo FIFA Brasil 2014. A brasileira Claudia Leitte, um dos nomes da axé music baiana, o rapper americano Pitbull e Jennifer Lopez serão os intérpretes da música oficial intitulada “We Are One (Olé, Olá!)”, e cuja letra

faz referência à união proposta no tema da actual edição da competição “Juntos Num Só Ritmo”. Vão estar na cerimónia de abertura, em São Paulo. O hino oficial “Dar um Jeito (We Will Find A Way)”, com Carlos Santana, Avicii e Alexandre Pires, fecham a competição, no Rio de

Janeiro. No álbum oficial podemos ainda escutar Carlinhos Brown, que divide com a colombiana Shakira a canção “La La La (Brasil 2014)”. Depois do sucesso, em 2010, na África do Sul, com o “Waka Waka“, a bela colombiana regressa, em terras de Vera Cruz.

O hit do carnaval baiano, “Lixo”, da banda de pagode Preço, abraçada por Neymar, promete embalar espectadores nos estádios com a coreografia que já virou mania nacional. A Mascote do Torneio também tem direito a música Taut Boom De Bola, cantada por Arlindo Cruz. l

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como Hummels e Ozil. Apesar de todo o poderio e favoritismo, a Mannschaft há muito que não conquista qualquer título internacional no campo. Cabe ao treinador Joachim Low inverter essa “maldição”. A jogar no Continente americano, a Argentina de Sabella procura reencontrar-se com a glória do passado. Messi, depois de uma época em que não foi o melhor jogador do mundo, surge em grande na selecção das Pampas. A equipa, onde pontificam Aguero, e os conhecidos Di Maria, Otamendi, Rojo e Garay parece ter reencontrado o seu sistema e o seu estilo, pelo que tem lugar de destaque na casa de apostas. Num segundo nível, surgem os outsiders, Itália (9.º do ranking), Inglaterra (11.º), Bélgica (13.º) e Portugal (3.º). Finalista derrotada no último Europeu, a “Squadra Azzura”, de Cesare Prandelli, é a selecção mais titulada da história do Mundial a seguir ao Brasil, com um total de quatro títulos. A geração actual da equipa transalpina mistura jovens talentos com futebolistas experimentados ao mais alto nível, como El Shaaraway, Balotelli, De Sciglio, Montolivo, Chiellini, Barzagli, Bufon e Gilardino. A pressão não entra à porta da Inglaterra, que não sendo apontada como vencedora antecipada, poderá dar que falar no Brasil. Poderio ofensivo não falta à selecção da Rosa: Rooney, Ashley Young e Walcott. Mas se a melhor defesa é o ataque, o inverso também é verdadeiro. E para impedir golos, a equipa de Sua Majestade tem em Joe Hart um guarda-redes de dimensão internacional. Ausente das grandes competições na última década, a Bélgica apresenta-se com uma geração de ouro (Witsel, Fellaini, Aldeweireld, Benteke, Hazard, Vertonghen, Lukaku e De Bruyne). Para os “Diabos

Vermelhos”, o Mundial é uma grande oportunidade. Comandados pelo antigo futebolista internacional belga Marc Wilmots podem mesmo ser a grande surpresa da prova, dependendo o seu trajecto da influência que a falta de experiência vier a ter em campo. Com Ronaldo à cabeça, Portugal, sob o comando do seleccionador Paulo Bento, ambiciona chegar aos oitavos-de-final. Depois, quem sabe, ir o mais longe possível. O que pode passar por um lugar no pódio. Mas a equipa das “Quinas” não é só Ronaldo, o melhor jogador do Mundo. Pepe, Moutinho, Veloso e Patrício, entre outros, explicam o actual 3º lugar no ranking da FIFA. Depois de defrontar Camarões e Grécia em solo nacional, Portugal ganhou forças nos Estados Unidos da América, defrontando México (em Boston) e República da Irlanda (Nova Jérsia) antes de aterrar no país irmão, a 10 de Junho. O Hotel the Palms, em Campinas, será o quartel-general. É um hotel boutique de 5 estrelas, com todos os luxos e tecnologia, além do campo de treinos, ginásio, campos de ténis e piscina. Selecções à parte, Mundial que é Mundial revela sempre ao mundo futuros craques da bola. Neymar, Isco, ou Pogba, viajam para o Brasil com o estatuto de jovens prodígios já confirmados pelos minutos jogados nos clubes e respectivas selecções. Entre os que prometem dar que falar surgem dois jogadores que actuam no futebol português: Diego Reyes, 21 anos, central do FC Porto e titular da selecção do México e Willian Carvalho, 21 anos, médio-defensivo do Sporting Clube de Portugal. A lista pode ser engrossada por Heung-Min Son (Coreia do Sul), Bernard (Brasil), Tonny Vilhena (Holanda), Juan Fenando Quintero (Colômbia) ou Wilfried Zaha (Inglaterra).l

A BRAZUCA Mundial que é Mundial tem que centrar as atenções na bola que vai “rolar no gramado”. Foi assim com a Teamgeist (2006) e a Jabulani (2010). A Brazuca, assim se chama o esférico da Copa 2014, tem a inscrição de “love me or lose me”. Tal como todas as suas antecessoras, desde 1970, a bola da Fase Final é fabricada pela Adidas. l 15

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ESPECIAL

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BELO HORIZONTE(1) Bélgica, Argentina e Inglaterra passam pelo Estádio Mineirão, que recebe uma partida dos oitavos-de-final e uma meia-final. Colômbia, Grécia, Argélia, Irão e Costa Rica são outras selecções que também jogam em Belo Horizonte.

AS CIDADES E OS JOGOS

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SÃO PAULO(3) Brasil, Inglaterra e Holanda querem mostrar trabalho na Arena de São Paulo, que receberá uma partida dos oitavos-de-final e uma meia-final. Ainda na fase de grupos, os paulistanos poderão ver as selecções da Croácia, Uruguai, Bélgica e Coreia do Sul.

D OZE CIDADES ACOLHEM O MUNDIAL 2014. D A S E L VA D A A M A Z Ó N I A À C O S M O P O L I TA C U R I T I B A , N O S U L . D A C A P I TA L F E D E R A L À C I D A D E M A R AV I L H O S A , PA S S A N D O P E L A F R E N É T I C A S Ã O PA U L O , V E J A O N D E J O G A M A S E Q U I PA S F AV O R I TA S .

CURITIBA(2)

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A Espanha quer gritar ”Olé!” na Arena da Baixada, por onde passarão também as selecções do Irão, Nigéria, Honduras, Equador, Austrália, Argélia e Rússia. CUIABÁ(4) Chile, Austrália, Rússia, Coreia do Sul, Nigéria, Bósnia Herzegovina, Japão e Colômbia são as selecções que, na fase de grupos, jogarão na Arena Patanal.

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NATAL(5) A Itália quer ter sucesso no Estádio das Dunas, por onde passarão também México, Camarões, Gana, EUA, Japão, Grécia, Itália e Uruguai. RECIFE (6) Itália e Alemanha querem dançar o Carnaval na Arena Pernambuco, estádio que recebe um jogo dos oitavos-de-final. Costa do Marfim, Japão, Costa Rica, Croácia, México e EUA também passarão por aqui.

MANAUS (7) A selva testemunhará um Inglaterra-Itália e um Portugal-EUA. A Arena Amazónia receberá ainda as selecções dos Camarões, Croácia, Honduras e Suíça.

PORTO ALEGRE A vizinha Argentina contará decerto com bastante apoio no confronto contra a Nigéria, no Estádio Beira-Rio, que também acolherá um jogo dos oitavos de final. Na fase inicial de grupos, por aqui vão passar também França, Honduras, Austrália e Holanda.

9.

BRASÍLIA (9) Portugal e Brasil procuram inspiração no Estádio Nacional de Brasília, por onde passam jogos dos oitavos e quartos de final e o jogo de apuramento para o 3.º lugar. Suíça, Equador, Colômbia, Costa do Marfim, Camarões e Gana, são outros países que jogam na capital brasileira.

(8)

FORTALEZA(10) Brasil e Alemanha sobem ao gramado do Estádio Castelão, que serve de palco aos oitavos e quartos-de-final. Uruguai, Costa Rica, México, Gana, Grécia e Costa do Marfim são outros países que por aqui passam, na fase de grupos.

RIO DE JANEIRO (11) O Estádio de Maracanã é o palco da final. Espanha, Argentina e França utilizam-no, na fase de grupos, em jeito de aquecimento. Bósnia, Chile, Bélgica, Rússia, Equador e Bélgica também aqui jogarão, ao ritmo do samba carioca.

SALVADOR (12) Espanha-Holanda e Portugal-Alemanha são partidas de resultado que nem as Mães de Santo conseguem adivinhar. Assim como quem serão as equipas dos oitavos e quartos-de-final. Pela Arena Fonte Nova, ainda em fase de grupos, também passarão Suiça, França, Bósnia e Irão.

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ESPECIAL

A FINAL DOS CAMPEÕES A FINAL DA LIGA DOS CAMPEÕES, N O E S TÁ D I O DA L U Z , E M L I S B OA , A 2 4 D E M A I O , É O P O N T O A LT O D O S 1 0 0 A N O S DA FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE FUTEBOL ( F P F ) . “ U M D E S A F I O O R G A N I Z AT I V O S E M P R E C E D E N T E S PA R A U M S Ó J O G O ”, R E S U M E F E R N A N D O G O M E S , P R E S I D E N T E D A F P F.

R

eal Madrid e Atlético de Madrid são as equipas que vão disputar a Final da UEFA Champions League no próximo dia 24 de Maio, no Estádio da Luz, em Lisboa. Uma final que se adivinha acesa, com ambas as equipas a lutarem em campo para levarem para casa o almejado troféu. Mas a final da Champions não se irá esgotar nos 90 minutos que irão decidir quem é o melhor dos melhores. Lisboa acordou para este mega evento desportivo no passado dia 17 de Abril, quando a NRP Sagres, o mais emblemático navio da Marinha Portuguesa, chegou a Belém transportando os troféus de ambas as finais (a masculina, mas também a feminina, cujo jogo decisivo ocorre dia 22 de Maio, dois dias antes da final masculina, no Estádio do Restelo). Os troféus desembarcaram em Belém, local de onde os Navegadores portugueses partiram para a Epopeia dos Descobrimentos. O antigo internacional de futebol Vítor Baía e a directora para o Futebol Feminino da FPF,

Mónica Jorge, tiveram a honra de transportar os troféus, durante o percurso que os levou de Belém até aos Paços do Concelho. Durante o trajecto, os Troféus viajaram no tradicional eléctrico lisboeta, deslocaram-se pelo Metropolitano e andaram de GoCar, surpreendendo os lisboetas em cada etapa do percurso. Em paralelo com ambas as finais e entre os dias 22 e 25 de Maio, os lisboetas e quem visita a capital portuguesa poderão visitar o UEFA Champions Festival, a decorrer na Praça do Comércio. Um espaço escolhido para trazer para a Baixa de Lisboa todas as emoções da Final da UEFA Champions League, com mini-campos de futebol, workshops de habilidades, bem como a possibilidade de estar bem perto deste icónico troféu do futebol europeu de clubes e conhecer algumas das estrelas da modalidade. O espaço vai contar ainda, de 6 a 25 de Maio, com a abertura de um Museu e de uma exposição de fotografias, algumas inéditas, de alguns momentos marcantes desta competição da UEFA. l

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M I C H E L P L AT I N I , FERNANDO GOMES E LUÍS F I G O N A R E C E P Ç ÃO À TAÇ A

O TROFÉU DA TAÇA UEFA PERCORREU AS RUAS DA CIDADE DE LISBOA ANTES DE CHEGAR AO ESTÁDIO DA LUZ ONDE SERÁ ENTREGUE AO NOVO CAMPEÃO EUROPEU 2014.

VÍTOR BAÍA E R G U E N D O A TA Ç A COM UM JOVEM ADEPTO

E S TÁ D I O DA L U Z , S P O R T L I S B OA E B E N F I C A

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ESPECIAL

1. O HINO “LIGA DOS CAMPEÕES” É uma das músicas mais conhecidas e escutadas no mundo. No estádio, na televisão, na rádio, nos computadores, tablets ou smartphones. Apesar de mundialmente famosa, não entra, no entanto, nos hits nacionais porque não tem versão comercial nem pode ser descarregada via internet. Oficialmente intitulada como “Liga dos Campeões”, com letra de Tony Britten, é uma adaptação de Zadoque (O Sacerdote), um dos hinos de coroação de George Frideric Handel. A UEFA encomendou-o a Britten em 1992 e a peça foi estreada pela Royal Philarmonic Orchestra de Londres e cantada pela Academy of St. Martin in the Fields. O refrão tem as três línguas oficiais utilizadas pela UEFA: inglês, alemão e francês. O hino completo dura três minutos e o refrão é executado antes de cada jogo da Liga dos Campeões da UEFA, bem como no início e no fim das transmissões televisivas dos jogos. No dia 24 de Maio, no Estádio da Luz, em Lisboa, a banda da GNR subirá ao palco para a interpretar.

2. O TROFÉU O actual Troféu mede 73,5 centímetros de altura e pesa 8,5 quilos. Remonta a 2006. Uma norma, introduzida em 1968/69, permitiu que a Taça se torne propriedade de qualquer clube que vença a competição cinco vezes ou por três ocasiões seguidas. Isso significa que o Real Madrid, o Ajax, o Bayern, o Milan e o Liverpool, têm um exemplar original na sua sala de troféus. A Taça que será entregue na Luz é a quinta versão e foi redesenhada para a final de Wembley, em Londres, em 2013. Depois do original ter sido entregue ao Real de Madrid, em 1966, o secretário-geral da UEFA, Hans Bangerter, decidiu criar uma nova imagem e pediu ao designer Jürg Stadelmann para conceber um novo troféu.

4. O PALCO O Estádio da Luz recebe a sua primeira final da Liga dos Campeões em 2014. Será a segunda final da principal prova europeia de clubes realizada em Portugal, depois dos escoceses do Celtic terem ganho, em 1966/1967, ao Inter de Milão (2-1), no Estádio Nacional, no Jamor, ainda no formato de Taça dos Campeões Europeus. O Estádio do Sport Lisboa e Benfica recebe a segun-

da grande final, depois da final do Euro 2004. Também o antigo estádio da Luz recebeu a final da extinta Taça das Taças, na temporada de 1991/1992, num jogo em que o Werder Bremen derrotou o Mónaco por 2-0, e a segunda mão da final da Taça UEFA, em 1982/1983, com os belgas do Anderlecht a vencer a prova, depois de empatarem 1-1 com o Benfica, após

3. OS BILHETES No Estádio da Luz, os bilhetes mais caros, para os camarotes Super Platina, custam 4450 euros. Super centrais, têm capacidade para 15 pessoas e dão direito a receber uma recordação exclusiva comemorativa da final, acompanhada in loco pelos mimos gastronómicos servidos pelo catering da UEFA, incluindo uma recepção de boas-vindas com champanhe. Os camarotes Platina Deluxe, ao longo da linha lateral, com capacidade entre 15 e 21 pessoas dão direito a buffet e custam 3950 euros. Os bilhetes Platina, nas bancadas Norte/Sul, pagam-se a 2950 euros. E à medida que o metal precioso vai diminuindo de “peso”, também o preço do camarote desce, bem como as mordomias: ouro e prata a 2450 e 1950 euros respectivamente, fecham o caderno de encargos no acesso à passadeira

vermelha. O estádio tem capacidade para 61 500 espectadores. Num leilão que decorreu no site da UEFA foram colocados à venda três mil ingressos. Para os adeptos de cada um dos finalistas há 17 mil bilhetes. Somados, significa que 60% da bilheteira está destinada aos adeptos e público em geral. O restante será distribuído por camarotes, parceiros comerciais, UEFA, associações nacionais, organização local, promoções e os habituais VIP’s. Quanto a preços, tal como em anos anteriores, a UEFA consultou a associação de adeptos europeus. E estabeleceu: 390€ (categoria 1), 280€ (categoria 2), 160€ (categoria 3), 70€ (categoria 4) e pack pai e filho (140€), dois bilhetes categoria 2). Pessoas com mobilidade reduzida pagam 70€ e os acompanhante têm entrada gratuita.

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rão ainda os gigantes japoneses da electrónica (PlayStation) e do entretenimento (Pro Evolution Soccer da Konami), com este último a ser responsável pelo videojogo oficial da Liga dos Campeões, disponível em consolas. As marcas patrocinadoras desta competição desde o início, em 1992, recebem quatro placas de publicidade ao redor do perímetro do campo e têm direito ao logótipo nas entrevistas.

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6. A BOLA A marca da bola oficial é Adidas. É branca, com estrelas de cor azul e detalhes laranjas. Tem a inscrição Final Lisbon 2014. Os diferentes tons de azul reflectem a importância que tanto o céu, como o mar, têm desempenhado na história náutica de Lisboa e de Portugal. A cor laranja é uma inspiração retirada dos telhados das casas da capital portuguesa. O vídeo de apresentação da nova bola contou com a participação de grandes nomes da marca das três listras que actuam em clubes europeus, como o inglês Frank Lampard (Chelsea), o português Nani (Manchester United) e o alemão Lukas Podolski (Arsenal). A bola foi apresentada ao lado da Taça e da tradicional águia do clube português.

9. A CERIMÓNIA DE ABERTURA A organização da Cerimónia está a cabo da agência criativa canadiana Circo de Bazuka. A coreografia da abertura vai ser dirigida pela inglesa Wanda Rokicki, coreógrafa das cerimónias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos de Atenas e do Mundial 2010, na África do Sul. A organização promete “um espectáculo de

7. A RECEITA Para a época 2013-2014, a UEFA estimou, para a Liga dos Campeões e para a final da Supertaça Europeia, 1,3 mil milhões de euros de receita comercial bruta, entre direitos de transmissão e contratos comerciais. O vencedor do título mais ambicionado recebe 10, 5 milhões de euros. O finalista vencido fica-se pelos 6,5 milhões. Isso só num jogo. O campeão poderá arrecadar 37,4 milhões de euros. Fazendo as contas das receitas fixas: antes do prémio da final, a passagem pelos oitavos-de-final valeu 3,5 milhões de euros, enquanto os quartos-de-final deram 3,9 milhões e a meia-final contribuiu com 4,9 milhões. Para além dos 8,6 milhões de euros de entrada na fase

grande dimensão, cheio de referências à cultura portuguesa, com grande repercussão para a imagem da cidade no mundo. 350 voluntários farão parte da equipa artística da Cerimónia de Abertura. Os ensaios decorrem no Estádio Universitário de Lisboa, desde o passado 27 de Abril até ao dia da Final da Liga dos Campeões.

de Grupos. E aí, as equipas, a cada vitória somaram à contabilidade, para além dos 3 pontos, 1 milhão de euros, enquanto o empate vale 500 mil euros e um ponto. A estes valores acrescem o dinheiro proveniente das transmissões televisivas, que no caso dos clubes de países no topo do ranking pode chegar perto das receitas fixas.

8. OS MEDIA A final da mais importante prova de clubes europeus arrasta atenções dos media a nível mundial. São esperados na Luz 450 jornalistas e 150 fotógrafos. Via televisão, a final chegará a 150 milhões de pessoas. Na Europa mais de 40 países asseguram a transmissão. Fora da Europa, contam-se o Brasil e outros países da América Latina, EUA, Caraíbas, Canadá, Tailândia, Laos, Camboja, Vietname, Coreia do Sul, Macau,Taiwan, China, Hong-Kong, Japão, Mongólia, Birmânia, Singapura, Indonésia, Malásia e Brunei, África Sub-Sahariana, Índia, África do Sul, Nigéria, Médio-Oriente ou Oceania.

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milhões de euros É quanto o campeão poderá arrecadar.

10. O EMBAIXADOR Luís Figo, ex-jogador do Sporting Clube de Portugal, Barcelona, Real de Madrid, Inter de Milão e vencedor da Liga dos Campeões pelo Real Madrid, em 2002, foi nomeado pela UEFA embaixador da final no Estádio da Luz.

11. A APP Para quem não prescinde do seu smartphone, a UEFA desenvolveu aplicações para descarregar e acompanhar a Liga dos Campeões para os sistemas operativos Andróid e iOS, assim como para Blackberry. Nas Apps poderá encontrar entrevistas a jogadores, análise aos jogos, estatísticas e informações sobre a final.

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ESPECIAL

JOÃO BÉNARD GARCIA

CR7, UM ÍCONE DO MARKETING P O R Q U E M M A R C A R O N A L D O ? M A R C A P O R M U I TA S M A R C A S , M A S D E F O R M A A LTA M E N T E S E L E C T I VA . R O N A L D O É U M A S T R O N O S R E LVA D O S E U M Í C O N E N O U N I V E R S O DA P U B L I C I DA D E . S E G U N D O A R E V I S TA F O R B E S , FAC T U R O U EM 2013 MAIS DE 33 MILHÕES DE EUROS SÓ POR DAR CARA E CORPO A M A R C A S C O M P R O J E C Ç ÃO M U N D I A L . É U M N E G Ó C I O Q U E VA L E , N O M Í N I M O , 50 MILHÕES DE EUROS, ENTRE ORDENADOS, PRÉMIOS E PUBLICIDADE.

O

s adeptos de futebol ficaram estupefactos quando, em 2009, o Real de Madrid pagou ao Manchester United um valor estratosférico pela compra do passe do avançado Cristiano Ronaldo: foram 93,8 milhões de euros, à época a transferência mais cara de sempre na história do futebol profissional. Mais, no contrato havia uma cláusula de rescisão no valor de mil milhões de euros e um seguro de 103 milhões para as pernas do jogador. Caras, mas muito bem calculadas. O Real sabia que, além de ter conquistado um jogador genial dentro das quatro linhas, estava a contratar uma das mais talentosas estrelas do marketing mundial. O que a maioria dos fãs do Desporto Rei

estava longe de imaginar era que, cinco temporadas depois, o clube madrileno estaria a facturar, só com a venda de camisolas com o N.º7 nas costas, um valor estimado em mais de 450 milhões de euros. Um recorde mundial, a um ritmo anual variável entre um milhão e um milhão e duzentas mil camisolas oficiais de Ronaldo vendidas. Uma febre sem sinais de abrandar. Uma fantástica jogada de merchandising da equipa liderada por Florentino Pérez, o presidente do clube merengue. Só a venda das camisolas, sem custos extra, daria para comprar cinco jogadores da categoria de Cristiano Ronaldo ou ainda para lhe pagar vencimentos, tendo por base os actuais 18 milhões de euros de ordenado líquido anual, até completar os 49 anos de idade.

Para efeitos de marketing, importa menos saber que Cristiano Ronaldo ganha de ordenado 18 milhões de euros por ano, 1,5 milhões por mês, 49 mil por dia (o equivalente a 101 ordenados mínimos nacionais), 2 mil por hora ou 34 euros por minuto, do que descobrir o universo bilionário que as marcas exploram, a reboque da sua icónica imagem e dos seus feitos desportivos. Segundo cálculos da revista Forbes, publicação que o coloca em 9.º lugar no ranking das 100 principais figuras mundiais, só em prémios, direitos de imagem e em publicidade a marcas, próprios e por conta do Real de Madrid, Cristiano Ronaldo terá rendido mais de 33 milhões de euros, em 2013, tendo ficado o craque na sua conta pessoal com um total de 14 milhões. l

OS NEGÓCIOS

OS LUXOS

Um íman para as marcas e um empreendedor em negócios próprios, sempre com a orientação da equipa da Gestifute, empresa do seu empresário, amigo e compadre Jorge Mendes. Cristiano Ronaldo apostou recentemente na aplicação Mobitto para smartphones; criou a aplicação “The Game By Ronaldo”; a revista CR7 e-Magazine; e a marca de roupa interior CR7 Underwear, que apresentou nos claustros do Palácio Cibeles, em Madrid. Só a sua presença dá visibilidade e credibiliza negócios, potenciando-os... Ou não fosse o futebolista com maior impacto nas redes sociais, com 72 milhões de fãs no Facebook e 23 milhões de seguidores no Twitter. l

Casas milionárias, jóias valiosas e roupas de marca, viagens paradisíacas e bólides de alta cilindrada, estão entre os luxos com que Cristiano Ronaldo se vai mimando. Dois dos mais badalados são a sua moradia de luxo em Terras de Bouro, no Parque Nacional Peneda-Gerês, Portugal, avaliada em 4 milhões de euros, e a mansão onde reside, em Madrid, que custou 7 milhões de euros e é uma fortaleza. A outra grande paixão do avançado português são os automóveis de alta cilindrada: terá tido 16 superdesportivos avaliados em 4,5 milhões de euros. Símbolos de poder que são marcas tangíveis e distintivas da sua imagem de sucesso a nível global. l

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NIKE 6,5 MILHÕES/ANO A marca americana de roupa desportiva Nike conseguiu, numa campanha em 2012, mostrar ao mundo uma imagem inusitada, divertida até, de Cristiano Ronaldo. Baseado no seu lema de vida: “Adoro ganhar, odeio perder”, combinou na perfeição o seu amor pela música e a sua irreverência brincalhona fora do campo com a sua intransigência profissional quando pisa os relvados. Mais, a marca que carrega Cristiano ao colo criou um logótipo especial para o craque com um coração que simboliza o amor por ganhar e um X representando o ódio de perder. A Nike soube agarrar de forma inteligente a oportunidade mediática Ronaldo: começou por lhe pagar 4,5 milhões de euros/ano, quando jogava no Manchester United, mas viu-se forçada, em 2009, a subir a fasquia para 6,5 milhões, por força do assédio da rival Adidas. BES 4 MILHÕES/ANO Em 2003, o Banco Espírito Santo (BES) assinou, por 250 mil euros anuais, um contrato de exclusividade para usar a imagem de Cristiano Ronaldo e renovou o contrato, em 2010, por uns nunca confirmados quatro milhões de euros anuais, uma parte deles pagos em acções da instituição, mantendo a exclusividade dos direitos sobre a sua imagem para todas as marcas e serviços financeiros em Portugal e Espanha. GIORGIO ARMANI Quando já tinha assentado arraiais no Real de Madrid, Ronaldo assinou, em Outubro de 2009, um contrato milionário com o estilista italiano Giorgio Armani, para ser o novo rosto na colecção Primavera/Verão de 2010 da marca de luxo Emporio Armani. Em roupa interior, deu cara e corpo pela Armani Sports. LINIC Dar o couro cabeludo desde 2009 pela marca de champôs Linic/Clear já valeu ao artilheiro do Real de Madrid as piores críticas e fê-lo ser alvo das mais variadas piadas. No segredo dos deuses está o valor milionário que a Linic/Clear pagou para ter Ronaldo no seu portefólio de estrelas mundiais.

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milhões de euros É quanto vale a marca Ronaldo

CASTROL 3 MILHÕES/ANO Ronaldo é, desde 2009, embaixador global da marca de lubrificantes Castrol, da British Petroleum (BP). Com esta multinacional assinou um contrato por três anos no valor total de 9 milhões de euros e foi o rosto da marca no Mundial da África do Sul, em 2010. A Castrol aproveitou as capacidades físicas do atacante, associando a imagem dos seus produtos à sua “força e agilidade”. BIMBO O “Senhor Bimbo” começou por ser Lionel Messi, o arqui-rival de CR7, mas a marca de produtos alimentares criada no México em 1945 deu a volta e contratou Cristiano Ronaldo para ser o rosto das suas campanhas. Um volte-face publicitário que espantou o mundo. HERBALIFE A empresa de nutrição Herbalife anunciou em 2013 que será a patrocinadora oficial de nutrição de Cristiano Ronaldo no Real Madrid até 2018. O acordo de cinco anos inclui direitos globais de publicidade, actividades promocionais, um programa personalizado de nutrição e de uma gama de oferta conjunta de produtos de nutrição desportiva. EMIRATES Ronaldo já era embaixador global da companhia aérea que opera a partir do Dubai, mas agora assinou contrato para fazer uma série de filmes, publicitando a companhia, onde contracena com o lendário Pelé.

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P O D I A T E R S I D O G E S T O R , J U R I S TA O U F I L Ó S O F O . O P T O U P E L A C O N S U LT O R I A . PA U L O M O R G A D O , 5 0 A N O S , A D M I N I S T R A D O R DA C A P G E M I N I P O R T U G A L , É U M E S P E C TA D O R AT E N T O D O PA Í S E DA S E M P R E S A S . A U T O R D E VÁ R I O S L I V R O S S O B R E G E S TÃ O , C R I M E S D E C O L A R I N H O B R A N C O E C O R R U P Ç Ã O , E N T E N D E S E R N E C E S S Á R I O C O N F R O N TA R O S G E S T O R E S P O R T U G U E S E S C O M C O N D I Ç Õ E S D E L I V R E M E R C A D O , C O M B AT E R A B U R O C R A C I A E D E S M O N TA R O S C LU S T E R S D E I N T E R E S S E S E N T R E E M P R E S A S E E S TA D O .

ÁLVARO DE MENDONÇA

Qual o estilo de gestão que tem imperado em Portugal?

O estilo de gestão que tem imperado tem sido o de fazer crescer as empresas muito por aquisições e investimento. Todo o País esteve a crescer. Ou seja, não estivemos a usar recursos escassos para vender mais, mas sim a abrir mais lojas para vender mais. A comprar mais empresas para vender mais, a obter mais fundo de maneio para vender mais. Há sempre uma coisa que é mais discricionária, e que é aquilo que o dinheiro pode comprar. Ora com dinheiro podemos comprar fundo de maneio, e o gestor não sente o espartilho dos recursos escassos, o que resulta numa ineficiência. Temos portanto uma gestão muito ineficiente, sobretudo no processo de tomada de decisão, que é lentíssimo. É quase como se precisassem de dez horas para resolver um exame que se faz em duas (e alguém lhas desse). Em vez de ver decisões tomadas em paralelo e em multiprocessamento, as coisas parece que funcionam (e aqui vou usar terminologia

informática): em “batch” não há redes “Pert’”Há um caminho único: primeiro faço isto, depois quando isso estiver pronto faço aquilo, e assim por diante. Ou, agora não faço isto, porque tenho de fazer aquilo. Muito raramente há coisas que as empresas consigam desenvolver em paralelo. Isto é típico de um organização que não consegue assimilar uma forma de estar no mercado e responder mais rapidamente.

Pública. Toda a gente quer consensos, toda a gente empurra para o outro, toda a gente aprova se os outros também aprovarem, e todos estes circuitos demoram muito tempo e tornam as organizações muito centradas sobre si próprias e pouco viradas para o exterior, para o mercado, para a venda. Ora a função principal de qualquer organização é precisamente vender. A cultura comercial devia ser a cultura vigente.

Como explica essa realidade?

Tem a ver com a implementação e a execução. A velocidade de implementação é muito lenta, porque a decisão tem de ser repartida. E sendo repartida tem de ser quase consensual, sem discussão. As nossas empresas ainda têm uma matriz muito “weberiana”, no sentido de que é tudo muito hierarquizado. E esse facto é muitas vezes utilizado no sentido da desresponsabilização da decisão. “Weberiana” no sentido de organização bem estruturada, quase de anonimato, com prevalência da função sobre a pessoa, e que hoje vemos espelhado na Função

Isso não resulta também do facto de a maioria das empresas serem familiares, com uma gestão pouco profissionalizada?

Normalmente, nos pequenos negócios familiares, os filhos ou os herdeiros tomam conta das funções financeiras. Há ali uma relação de confiança e a família posiciona-se mais na vertente financeira, e não tanto de vendas ou de marketing. Há empresas que conseguem profissionalizar a sua gestão. Estarem lá os sucessores familiares é um mero acaso. Mas há outras que não o conseguem, em que os filhos

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FOTOS FERNANDO PIÇARRA

PA U L O M O R G A D O , ADMINISTRADOR-DELEGADO DA CAP GEMINI PORTUGAL

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chegam ao poder mesmo sem competências. Os sucessores familiares são impostos e depois faz-se um acting de que houve profissionalização da gestão. É uma coisa diferente. Até podem escolher um CEO, para tomar conta dos aspectos operacionais, mas mesmo assim as grandes decisões acabam sempre por ser tomadas pela família. O CEO tem muito pouca capacidade de influência e, sobretudo, nunca ousará abrir conflitos com a família. Para mim, a probabilidade de haver sucesso no primeiro caso é bastante superior, sobretudo porque não me parece que algumas das qualidade de liderança se transmitam por via hereditária. A liderança pode-se transmitir, mas o ser visionário não.

O administrador-delegado da Capgemini Portugal poderia ter tido uma carreira de industrial no negócio de rações da sua família em Leiria, mas o destino levou-o à gestão e consultoria. Paulo Morgado, que em Outubro completará 51 anos, pertence à geração dos “golden boys” saída do curso de Gestão da Universidade Católica Portuguesa na década de 80. A esta licenciatura acrescentou depois um mestrado em Finanças pela Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica, um mestrado em Filosofia pela Católica de Lisboa, e uma segunda licenciatura, em Direito, pela Universidade Lusíada de Lisboa - sempre como o melhor ou um

Mas também há situações em que os pais prepararam bem os filhos para lhes suceder.

Muitos empresários tiveram a visão de envolver e motivar os filhos para desenvolverem projectos e negócios a partir do zero. É claro que nunca nada é 100% meritocrático. Onde se sente mais o papel dos resultados – e onde meritocracia é um factor mais preponderante – é, sobretudo, em multinacionais cotadas. Cotadas, porque têm um ritmo de produção de resultados trimestral e sempre a crescer. Multinacionais, porque não estão tanto aqui no círculo de relações do País e portanto as pessoas são mais distantes, mas que ainda assim têm de ser merecedores da confiança que neles se deposita. Aí, verdadeiramente, a meritocracia é mais relevante. Nas restantes empresas, a escolha é mais por confiança do accionista, que se conquista muitas vezes por não o afrontar, e acaba por ser uma continuação na gestão daquilo que são as ideias dele. O accionista, na maior parte dos casos, não é analítico, não estuda a documentação e decide pelo que ouve e pelas ideias e impressões com que fica. Retornando à qualidade genérica da gestão em Portugal, onde é que as falhas são mais notórias?

Eu acho que está tudo muito atrás disso. O que temos é um conjunto de empresas sujeitas a regulação e que têm uma inércia própria para facturar e vender. Toda a gente consome electricidade, combustíveis e telecomunicações. E temos empresas que se criaram em torno do Estado e da banca. Nas empresas dos sectores que já captaram um posicionamento estrutural de vantagem negocial, as reguladas e as que dependem do Estado e da Banca, os

Q U E M É PAU LO M O RG A D O ? dos melhores alunos do seu curso. Concluiu também o “Executive Leadership Program”, da London Business School. É, desde 2010, Professor no programa executivo de “Strategic

gestores, apesar de geralmente muito bem pagos (porque as rendas são altas) não têm de se confrontar com um dia-a-dia extremamente competitivo que lhes aguce a capacidade de gerir. A excepção é o sector da Grande Distribuição, onde a competitividade é constante. Onde se exige mais esforço, porque não se captaram posições de vantagem negocial estruturantes de mercado, é nas pequenas e médias empresas, que estão mais sujeitas às condições de livre mercado e que têm de exportar. Temos três escolas de gestão no top das melhores da Europa. Por que é que essa qualidade do ensino não se reflecte mais directamente na qualidade da gestão?

Não se reflecte porque as pessoas são capturadas pelo funcionamento burocrático das organizações. Quando um gestor vai para uma grande organização, a vertente burocrá-

Execution” da Porto Business School e está, neste momento, a completar um Doutoramento em Gestão de Empresas, na Nottigham Trent University, Reino Unido, com uma tese sobre Execução (implementação) Estratégica (ou como transformar decisões tomadas pela Alta Direcção em eficazes acções no terreno). Iniciou a sua vida profissional como consultor na Roland Berger, em 1990, de onde saiu dois anos depois, para integrar o Banco Financia, como subdiretor para a área do Corporate Finance. Em 1995, troca a consultoria pela indústria, assumindo o cardo de CEO da Vidago, Melgaço & Pedras Salgadas, de onde saiu, três anos depois, para regressar à Roland Berger, como Sénior Manager. Está na Capgemini desde 2001, onde é hoje o CEO em Portugal e sénior vice-presidente internacional. É, também, desde 2010 Membro do Conselho Geral da Associação Industrial Portuguesa, do Instituto Português de Corporate Governance e da direcção da Ordem dos Economistas. Autor de sete livros, em áreas tão diversas como a gestão, negociação, argumentação, combate à criminalidade financeira e lógica da linguagem, e ainda de contos de ficção em que os temas centrais são a corrupção e os crimes de colarinho branco.

tica e política condiciona completamente a utilização de uma série de competências. Ele tem de focar-se muito numa determinada especialidade e tende a acreditar que aquilo é uma inevitabilidade, que esse funcionamento burocrático é inevitável. Há também um aspecto que tem a ver com uma característica muito portuguesa: as pessoas deixam-se encantar pelos cargos. Uma vez investidas num cargo impõem um certo distanciamento, uma certa inacessibilidade…. Somos um País onde a raíz principal não foi empreendedora. A nossa raíz principal foi sempre a do Estado. Não há empreendedorismo em Portugal?

Há, mas não é esse o modelo vigente em Portugal. O tecido económico português não é feito desses casos. Não é isso que conta muito no PIB. O que conta são as empresas que fun-

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não saem desses lugares e não dão oportunidade aos que têm uma matriz de pensamento completamente diferente, mais baseada na competitividade. O que resulta na tal lentidão de decisão. Como podemos então melhorar a gestão?

cionam nos tais mercados regulados, ou que vivem do Estado. É em Lisboa que está o Poder, devido ao peso que o Estado e a banca têm na economia. São estes os dois grandes centros de Poder. A maior parte das empresas viveu à custa, directa ou indirectamente, de trabalhos para o Estado e de financiamentos da banca. O Norte é muito aberto para o exterior, mas pouco aberto ao próprio País, e não estende o seu poder a Sul, nomeadamente a Lisboa. Estar perto do Poder é assim tão importante?

O que temos visto é que o lobby é muito mais preponderante na manutenção de pessoas em cargos de alta direcção, do que a competência. Temos uma sociedade em que os cargos de maior poder continuam a ser ocupados por pessoas antigas, porque o lobby é uma coisa que se faz por antiguidade. A criação de uma rede de contactos demora tempo. As pessoas

Para já tínhamos de ter uma legislação laboral que permitisse despedir pessoas que ocupam altos cargos de direcção, sem termos de lhes pagar grandes indemnizações. Que protegesse menos quem ganha mais dinheiro. Legislação que protege de igual forma quem ganha 7000 euros por mês e quem ganha 700 euros, não faz sentido. Precisamos de uma maior capacidade para substituir pessoas instaladas. Temos de criar ambientes propícios para que os gestores actuem melhor. Por exemplo, fixando-lhes objectivos ambiciosos, para lhe colocar alguma pressão. Quantas empresas em Portugal fixam objectivos ambiciosos e pagam verdadeiramente em função do seu cumprimento (e não de uma distribuição paternalista, baseada na amizade)? É preciso remunerar o gestor com uma percentagem variável, em função dos objectivos. Sem dó, nem piedade. Se não os atingir não recebe a componente variável. Também é preciso melhorar as cobranças. Se faço projectos, tenho de os cobrar. Para a maior parte dos gestores portugueses, a única coisa que lhe tira o sono é se cometem erros de palmatória, se aparecem envolvidos num processo menos claro, ou se o accionista perdeu a confiança nele. Raramente as dores de cabeça dos nossos gestores são provocadas por falta de performance. Querem melhores gestores? Exponham-nos às condições de mercado.

cia no mercado é que conseguiremos preparar gestores para enfrentar um nível de aridez e de acutilância muito superior ao que existe. Muitas vezes, enquanto consultor, sou confrontado com aquele género de conversas: “Temos de ter calma, estas coisas fazem-se devagar, estas mudanças organizacionais não se fazem de um dia para o outro...”. Pudera! Como eles não estão em mercado não tem qualquer sentido de urgência. Há uma falta de sentido de urgência em todo o lado. O que é que a crise alterou na matriz de negócios da Capgemini?

Uma das nossas componentes do negócio não variou muito: toda a componente de manutenção, ou seja de outsourcing, quer de aplicações, quer de infraestruturas. Essa componente mantém-se, apesar de crise, pois os nossos clientes, e entre eles há uma predominância grande da banca, têm de continuar a funcionar e porque o outsourcing faz parte das operações correntes dos bancos e dos clientes de outras áreas. O que a crise mudou foi que nos obrigou a ter propostas de valor cada vez mais interessantes para clientes em termos de redução de custos e aumento de vendas. De facto, uma área em que temos estado muito activos tem sido na dos projectos de consultadoria com tecnologias, sobretudo nas partes que chamamos eficácia comercial ou CRM de força de vendas. O nível de competitividade aumentou significativamente em Portugal e portanto tudo o que sejam ferramentas que permitam enquadrar processos de gestão e medir a eficácia da força de vendas são muito valorizadas pelos clientes.

Mas basta mudar o estilo dos gestores?

Não, também precisamos de um tecido empresarial em que as empresas façam menos negócios com elas próprias. Quando os bancos começam a financiar, têm necessidade de financiar em cluster. Crio esta empresa e vou financiar aquela outra, que será cliente desta, e mais uma que será fornecedora... Se eu souber que uma percentagem das minhas vendas está à partida garantida por outras empresas parceiras ou do grupo, não me desenvolvo enquanto gestor, porque não tenho de lutar no mercado. Isso tanto acontece com as empresas que compram habitualmente ao Estado, como com as que estão dentro destes clusters financeiros, e em que as coisas estão mais ou menos reguladas. Só quando aumentarmos o nível de concorrên-

Houve uma quebra do peso do Estado no volume de negócios da companhia?

Claramente, o Estado chegou a representar 22% do volume de negócios até 2010. Desde então, consoante os anos, representa entre 2 a 4%. Como compensou essa quebra?

Com outros sectores de actividade, que vieram exactamente do lado do outsourcing, como, por exemplo, a construção. É um sector que, apesar da crise, cresceu devido à necessidade de internacionalização. Está a ser uma área muito receptiva a estes contratos de outsourcing, porque em vez de deslocalizarem uma equipa inteira, têm o apoio local da Capgemini.l 29

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“O Estado não se reestruturou” Um pouco por toda a Europa, fala-se da falência da Democracia. Onde é que esta falhou? As nossas instituições têm de ter representantes que as dignifiquem, não o contrário. Sejam quais forem. Mas se estivermos a falar naqueles elementos típicos de um poder, que é o poder Presidencial, o poder da Assembleia da República, o poder Executivo e o poder Judicial, têm de ser credíveis. A qualidade das pessoas que têm ocupado esses cargos, ao longo do tempo e de uma maneira em geral, tem caído, e caído muito. Essa é uma das razões porque há dez anos escrevo que há muita tendência para mercadejar com o cargo, porque a dignidade deste, o adjectivo, é cada vez mais superior ao substantivo. Acho que hoje a própria dignidade do cargo começa a sofrer, com tantos anos de ocupação por pessoas que não estavam a aportar nada de novo ao mesmo. A democracia falhou. E o que é que falhou mais? Há uma questão da quantidade do voto que elege um determinado partido, sem um reflexo da vontade informada nacional. E há uma escassez de alternativas neste momento em Portugal. Com escassez de alternativas e com alguém que vai para um Governo sem ser o mais bem preparado para resolver os problemas, com ciclos eleitorais e uma grande dificuldade em fazer coligações, não acredito que haja a possibilidade de que a nossa matriz de fazer negócios uns com os outros se altere. Para mim uma coligação significa que há dois grupos que vão ser favorecidos pelo facto de os dois partidos estarem no Governo ao mesmo tempo. E eu acho hoje - que não há dinheiro no País -, para conseguir proteger dois grupos, dificilmente haverá novas coligações. As coligações acontecem em outros países com maior facilidade. Tudo porque existe um entendimento sobre o que é uma estratégia para o País, seja ela para sair da crise, ou para o desenvolvimento. Lá, as pessoas conseguem, genuinamente, chegar a acordos para alcançarem esses objectivos.

quantias anormais, de um lado para o outro, a preços que não reflectem o valor de mercado, como formas de pagamento de uma série de coisas. O tecido empresarial foi impregnado dessa economia de interesses. Porque é que os tribunais não os conseguem condenar? Os nossos códigos penais e de processo penal não foram feitos para apanhar este tipo de criminalidade. Imagine o caso de múltiplas transacções entre empresas, em que há overpricing ou uma renda excessiva paga a alguém. É ainda mais impossível. Qual é a única forma de combater estes fenómenos de “não mercados’’? É a transparência. Lista das pessoas do Top 10 que tinham processos com o fisco e que prescreveram. Publique-se nos jornais de grande tiragem, como se faz com as contas das empresas. Mandar coisas que se quer combater para o penal é uma hipocrisia. É fazer um acting, uma encenação, de que se quer combater essas coisas, mesmo sabendo que não se vai resolver coisa nenhuma. O âmbito penal é, aliás, o sítio mais protegido por um código de processo penal que dá excesso de garantias a quem prevarica.

HOJE, EM PORTUGAL, DIFICILMENTE HAVERÁ NOVAS COLIGAÇÕES PARTIDÁRIAS.

Esse falhanço da democracia tem o mesmo nível a Norte e a Sul da Europa? O povo preocupa-se muito pouco com estas questões, desde que vá vivendo o seu dia-a-dia, vendo a sua telenovela, etc. Nós apostámos em criar um tipo de sociedade mais ao estilo das sul-americanas, em que há uma pseudo-elite, que se apropria dos recursos, e há depois uma grande massa indiferenciada de pessoas disponíveis para aceitarem uma série de coisas, como se fossem uma fatalidade. A democracia tem as suas limitações em países onde o voto é pouco informado, o que cria uma tendência para o partido que quiser ser eleito estar muito predisposto a vender ideias e a cumprir o ciclo eleitoral. E isso é, num país que está em crise, ainda mais grave, porque não se fazem turnarounds com muita democracia, ou com excesso dela. No Norte da Europa o cidadão é mais exigente em relação a uma série de coisas, porque está mais bem informado. Há uma educação diferente, melhor. Em Portugal, o problema resulta de herança do fascismo. Se vivessemos há mais tempo em democracia as coisas poderiam ser diferentes. E ao nível da corrupção? A pequena corrupção é um resíduo da burocracia e, por isso, não é de uma extrema censurabilidade. O que me preocupa mais é que o tecido económico hoje não funciona em mercado. Funciona com cartas marcadas e com negócios entre empresas e o problema surge quando se estabelece um complexo de interesses, uma espécie de cluster, de empresas que trabalham umas com as outras e que movimentam

A crise não mudou isso? Mais ou menos. Já viu alguma das grandes empresas falir? Eu não. Não me lembro de uma grande empresa portuguesa falir e mandar mil pessoas para o desemprego. São raras...

Neste últimos anos, houve muitas falências... O que pode ser um sintoma de que estamos a fazer uma reestruturação à custa dos impostos, à custa da miséria do povo em geral e dos micro-negócios. Não reestruturámos os tais clusters de poderes que surgiram em torno da Administração Pública e da banca e, no caso da banca, não pudemos reestruturar, porque senão iríamos incorrer num risco sistémico gravíssimo. A solução foi ir fazendo a reestruturação da banca à medida que vão sendo reconhecidas as imparidades, ao longo de muitos anos. A banca, se não fosse uma entidade de risco sistémico, deveria ter sofrido um ajustamento muito maior. O contribuinte não deveria ter tido tanta responsabilidade e ter pago tanto para a sua reestruturação. Compreendo que era necessário salvaguardar a confiança na banca, mas era um sector que deveria ter tido uma maior reestruturação. Por outro lado, como somos lentos a identificar problemas, adiamos as decisões até à última hora sempre que temos de resolver um problema. E isto não é apenas um problema de lentidão dos reguladores. A nossa Justiça é lenta e deixa que quem se anda a apropriar indevidamente de dinheiro o ponha em lugar seguro e o faça desaparecer do sistema. Só atacam quando já não existe nada para se recuperar. A minha ideia é de que devíamos ir buscar o dinheiro onde ele foi parar em maior quantidade. Numa sociedade sul-americanizada, como a nossa, com uma curva de rendimento muito concentrada no topo, não faz sentido que tenha sido a base que tenha sido atacada. O Estado não se reestruturou. l

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oi no final de 2011 que os grandes investidores chineses, de olhos postos numa Europa em crise e onde as oportunidades de bons negócios saltavam à vista, descobriram Portugal. No último mês desse ano, o Governo português anunciava os resultados da última fase de privatização da EDP, trazendo a China Three Gorges (CTG) para as primeiras páginas dos jornais. Com a compra dos 21,35% do capital da EDP que ainda se encontravam nas mãos do Estado, a CTG tornava-se a maior accionista da empresa. Era o tiro de partida para os investimentos chineses em Portugal, com a tomada de participações relevantes em algumas das maiores empresas do País e muitos novos projectos anunciados para os próximos tempos. Os senhores das privatizações Até 2011, a posição da China como investidor em Portugal era modesta. Nesse ano, segundo os dados do Banco de Portugal, a China era apenas o 41º investidor estrangeiro. Mas o interesse dos chineses pela última vaga de privatizações de empresas estatais portuguesas iria alterar profundamente o panorama. Nos últimos cinco anos, as privatizações renderam 8,1 mil milhões de euros aos cofres do governo português. Metade desse valor foi pago por investidores chineses, que entraram na EDP, na REN e na Caixa Seguros. A chegada da China Three Gorges à EDP mais não fez do que despertar a atenção dos grandes investidores chineses. Três meses depois, em Fevereiro de 2012, a estatal State Grid tornava-se a maior accionista da REN, pagando 387,15 milhões de euros por 25% do capital da companhia, que detém e explora as redes de distribuição de energia em Portugal. A mais recente operação, fechada em 2013, foi a venda de 80% da área seguradora do banco estatal Caixa Geral de Depósitos (CGD) à Fosun International, por mil milhões de euros. Com esta operação, o grupo chinês ganhou o controlo de 30% do mercado segurador português, com as marcas Fidelidade, Multicare e Cares. Em apenas três anos, os investidores chineses conquistavam posições dominantes nos sectores da produção e distribuição de energia, das infraestruturas e dos seguros.

O PARCEIRO CHINÊS

ÁLVARO DE MENDONÇA

E M Q U AT R O A N O S , A P R O V E I TA N D O A O P O R T U N I D A D E D A S P R I VAT I Z A Ç Õ E S , A C H I N A T O R N O U - S E U M D O S M A I O R E S INVESTIDORES ESTRANGEIROS EM PORTUGAL. HOJE, OS GRUPOS CHINESES TÊM POSIÇÕES DE LIDERANÇA NA ENERGIA, INFRAESTRUTURAS E SEGUROS. COM OUTROS NEGÓCIOS NA MIRA, O S C H I N E S E S Q U E R E M TA M B É M U T I L I Z A R P O R T U G A L C O M O B A S E D E PA R C E R I A S E S T R AT É G I C A S PA R A O S PA Í S E S O N D E S E FA L A PORTUGUÊS, INCLUINDO O BRASIL.

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A próxima privatização anunciada é a venda da totalidade do capital da EGF, a subholding do grupo Águas de Portugal para o tratamento de resíduos sólidos urbanos, através de um concurso público internacional. A EGF gere o lixo de cerca de 64% da população portuguesa, em 174 concelhos, através de 11 sistemas intermunicipais. As chinesas Beijing Waters e Sound Global são alguns dos nomes avançados como potenciais interessados. O Diário Económico noticiou recentemente que a portuguesa Teixeira Duarte será parceiro da Sound Global e que a Beijing Waters, que já está em Portugal através da Veolia Water, terá desistido do processo para concentrar-se em concessões futuras no sector das águas. l Negócios que vão das águas ao imobiliário À margem das privatizações, o capital chinês tem estado atento às oportunidades que vão surgindo. Em Março de 2013, a Beijing Enterprises Water Group comprou, por 95 milhões de euros, a Veolia Water Portugal que assegura o abastecimento de água aos concelhos de Valongo, Paredes, Mafra e Ourém. Pela mesma altura, uma empresa chinesa comprou 35% da EDC Mármores do Alentejo, por 24 milhões de euros, que transforma em marmorite os desperdícios das pedreiras de mármore da região. Cerca de 80% da produção será exportada para a China. No sector imobiliário, e aproveitando as vantagens oferecidas pelos Golden Visa, têm-se multiplicado os negócios com capitais chineses. Diz quem normalmente está bem informado sobre estas coisas, que 2014 não fechará sem o anúncio de um grande investimento chinês na área do imobiliário e do turismo. De forma indirecta, através de participações no capital em empresas estrangeiras com presença em Portugal, ou de investimentos registados a partir de Hong Kong ou Macau, a China tem também posições relevantes nalguns sectores, como o turismo ou os combustíveis. A Sinopec, maior grupo petrolífero chinês e o segundo maior do mundo, é um dos accionistas da Repsol, a segunda maior distribuidora de combustíveis a operar em Portugal. A Jin Jiang, maior grupo hoteleiro da China fez uma parceira para a área das vendas e do marketing e que passará tam-

Quem é quem? CHINA THREE GORGES A CTG foi constituída em 1993 para desenvolver o projecto da barragem das Três Gargantas (Three Gorges, em inglês), o maior complexo hidroeléctrico do mundo. A parceira chinesa da EDP, tem vários outros investimentos em operação ou em projecto na China, a juzante da barragem ao longo do rio Yangtzé, tendo também os investimentos hidroeléctricos e eólicos em vários países da Ásia, África, Médio Oriente, EUA e Canadá, Austrália, Peru, Colômbia, Brasil, Portugal, Macedónia, Grécia e alguns mercados da Europa de leste. A CTC fez uma parceria com o China Development Bank, para o desenvolvimento conjunto de projectos de produção de energia na região Sul de África.

STATE GRID A estatal State Grid é a 7ª maior companhia do mundo, segundo o ranking Global 500 da revista Fortune, com vendas anuais de 298 mil milhões de dólares e 850 mil empregados. Com sede em Pequim, é o maior grupo de energia chinês, fornecendo electricidade a cerca de 80% das casas do País. Apesar deste quase monopólio no país de origem, a State Grid tem ambições globais e, além de ser o maior accionista da portuguesa REN, tem investimentos no Brasil e Filipinas. Em Maio do ano passado anunciou um investimento de 3000 milhões de dólares com a Singapore Power para se tornar o maior distribuidor de energia na Austrália.

FOSUN GROUP Fundados em 1992, o Fosun Group é uma holding com interesses diversificados pelos seguros e serviços financeiros, indústria, recursos e energia, fundos de investimento e gestão de activos. O seu portefólio de negócios integra os sectores do imobiliário, indústria farmacêutica, siderurgia, tecnologias, media digital, turismo, joalharia, comércio a retalho, minas e banca (Minsheng Bank), ocupando posições entre as maiores players chineses em cada uma destas áreas. Na área da gestão de activos tem uma série de fundos, alguns deles em associação com a gestora Carlyle e o grupo segurador Prudential. Na área dos seguros, detém na China a Yong’an P&C Insurance, a Pramerica Fosun Life (ramos vida e seguros de saúde) e resseguradora Peak Reinsurance. É, desde Junho de 2012, o maior accionista do Clube Med, com 10% do capital e com que tem planos para a abertura de uma série de resorts na China. Já em 2014, entrou no BHF-Bank, o maior private bank privado alemão.

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bém pelo cruzamento de participações, com o grupo espanhol Meliá, que tem 11 hotéis das cadeias Meilá e Tryp a operar em Portugal. A Estoril Sol, concessionária dos casinos e das zonas de jogo de Lisboa e de Cascais, é desde há mais de 20 anos controlada por capitais de Macau e Hong Kong ligados à família do empresário Stanley Ho, que também controlam o empreendimento Alta de Lisboa, o maior projecto de desenvolvimento urbanístico da capital portuguesa.

QUEM É QUEM?

Parcerias para os países lusófonos O interesse da China pelas empresas portuguesas está também a ter impacto noutras geografias, onde começam a surgir projectos com capitais mistos luso-chineses. Na EDP, a estratégia da Three Gorges será utilizar a eléctrica portuguesa para aceder aos mercados europeu e norte-americano, onde o grupo português já está presente na produção de energias renováveis. Em contrapartida, o grupo chinês, detido a 100% pelo Estado, ajudará a EDP a implantar-se na Ásia e financiará as actividades de expansão da empresa. Para já, a CWEI Brasil, participada local da China Three Gorges, tomou 50% da posição que a EDP Brasil tinha no consórcio para a construção e exploração de uma central hidroeléctrica no Rio Teles Pires, entre os Estados de Mato Grosso e do Pará. Depois desta operação, o capital do consórcio ficou repartido entre EDP Brasil e CWEI Brasil, com 33,3% cada, e os brasileiros do grupo Furnas, com os restantes 33,4%. A hidroeléctrica brasileira terá uma capa-

HUAWEI O gigante chinês das telecomunicações e das tecnologias é a 351ª maior companhia do mundo, com um volume de negócios a rondar os 35 mil milhões de dólares e mais de 150 empregados espalhados 140 países, onde conta como clientes com 45 das 50 maiores operadoras móveis mundiais

BEIJING ENTERPRISES WATER GROUP Maior operador do sector da água na China, tem sede em Pequim e está cotada na Bolsa de Hong Kong. Faz parte do grupo Beijing Enterprises Holdings Limited, que também opera na distribuição de gás e gestão de infraestruturas urbanas. A Beijing Waters, além da água tem negócios na área do ambiente e da recolha e tratamento de lixos. Iniciou recentemente uma estratégia de internacionalização, com a entrada na Malásia e em Portugal, que funcionará como porta de entrada nos mercados europeus.

A PRIMEIRA POTÊNCIA ECONÓMICA DO MUNDO? Que a China suplantaria os EUA como primeira potência económica mundial, a médio prazo, ninguém tinha dúvidas. Bastava olhar para os ritmos de crescimentos anuais dos dois países, para antecipar a mudança. No entanto, segundo um estudo do FMI publicado no final do mês de Abril, os chineses passarão para o primeiro lugar ainda este ano, se levarmos em conta o Produto Interno Bruto (PIB), ajustado pelas paridades de poder de compra,

cinco anos antes do previsto, devido a um crescimento da economia mais forte do que o inicialmente estimado. No final de 2011, o PIB chinês equivalia já a 87% do americano, tendo ganho nove ponto em apenas seis anos. Em Dezembro, segundo as novas estimativas, a China subirá para a primeira posição, pondo termo a um reinado absoluto dos EUA, que durava desde 1872, quando os americanos ultrapassaram o Reino Unido.

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CHUVA DE YUANS Desde a compra de 21,35% da EDP pela China Three Gorges, foram vários os grandes investimentos de chineses em Portugal.

2011

Em Dezembro, no âmbito da última fase de privatização da EDP-Energias de Portugal, o Governo anuncia que a China Three Gorges foi a vencedora do concurso para a compra de 21,35% do grupo português, por 2,69 mil milhões de euros. State Grid compra 25,0% da REN, por 387 milhões de euros.

2012

ICBC - Industrial and Commercial Bank of China ICBC abre, em Lisboa, perto do Marquês de Pombal, o primeiro escritório em Portugal. A chinesa Huawei inaugura um novo centro tecnológico em Lisboa, um projecto de 10 milhões de euros, para suporte aos projectos no mercado português, e que se somam aos 40 milhões investidos pela companhia chinesa desde a entrada no mercado português, em 2004.

cidade instalada de 700 mW (mega Watts) e integra-se no Acordo de Parceria Estratégica entre a EDP e a CTG, que prevê investimentos totais de 2 mil milhões de euros a efectuar, pelo grupo chinês, em projectos de produção de energia renovável já operacionais ou a construir. A entrada da State Grid na REN irá conduzir à criação de duas parcerias em Angola e em Moçambique, detidas em partes iguais pela empresa portuguesa e pelo grupo chinês, anunciou a secretária de Estado do Tesouro e Finanças à data da privatização, Maria Luís Albuquerque, que entretanto foi nomeada ministra das Finanças do Governo português.

China Three Gorges compra 49% dos activos eólicos da EDP Renováveis em Portugal, por 359 milhões de euros. Bank of China abre em Lisboa um escritórios e um balcão de atendimento a clientes.

2013

Beijing Enterprises Water Group, maior operador do sector da água na China, anuncia a compra, por 95 milhões de euros, da Veolia Water Portugal, empresa francesa concessionária do abastecimento de água em Valongo, Paredes, Mafra e Ourém. A Hanergy Solar anuncia negociações para a compra de dois projectos fotovoltaicos em Portugal, com potência de 4,4 megawatts. As conversações, no entanto, acabariam por falhar. Aquisição de 35% da empresa EDC Mármores, do Alentejo, por parte de uma empresa chinesa, que investirá 24 milhões de euros em Portugal.

2014

A Fosun International compra, por 1000 milhões de euros, 80% da área seguradora da Caixa Geral de Depósitos, que inclui a Fidelidade, a Multicare e a Cares. Chineses interessados na privatização da Empresa Geral de Fomento (EGF), sub-holding da Águas de Portugal (AdP) para o tratamento de resíduos sólidos urbanos e que gere a recolha e o processamento do lixo em 174 concelhos, através de 11 sistemas intermunicipais, cobrindo cerca de 64% da população do País. O Diário Económico noticia que a portuguesa Teixeira Duarte irá aliar-se aos chineses da Sound Global e que a Beijing Waters, já presente em Portugal através da Veolia Water, terá desistido para concentrar-se em concessões futuras no sector das águas. China Development Bank anuncia interesse em comprar participações em bancos portugueses, nomeadamente no BCP, mas até agora nada se concretizou. l

O INTERESSE DA CHINA PELAS EMPRESAS PORTUGUESAS ESTÁ TAMBÉM A TER IMPACTO NOUTRAS GEOGRAFIAS. No final da reunião do Conselho de Ministros em que foi aprovada a venda de 40% da participação do Estado português na REN ao grupo chinês e à empresa Oman Oil (15%), Maria Luís Albuquerque disse que a constituição daquelas duas parcerias, bem como a identificação de três projectos para investimento conjunto com a REN em linhas de transmissão de electricidade no Brasil, é um dos compromissos assumidos pela State Grid Corp. no âmbito da sua proposta de compra. Além daqueles três projectos, a State Grid assumiu ainda o compromisso de contratar a assessoria técnica da REN no Brasil, país onde o grupo chinês já está presente. O mercado chinês poderá também vir a ser explorado pela REN, embora não sejam ainda 35

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conhecidas decisões quanto a essa opção de parceria luso-chinesa. A entrada de chineses na Caixa Seguros concretiza uma cooperação entre Portugal e a China, que será “o primeiro passo significativo para a internacionalização da actividade seguradora da Fosun”, explicou recentemente Guo Guangchang, administrador do grupo. José de Matos, presidente da Caixa Geral de Depósitos, garante até que esta parceria “tem potencialidade para ser estendida a outras áreas de actividade, dentro e fora de Portugal”. Uma ideia partilhada por Guo Guangchang, que pretende criar sinergias entre as seguradoras portuguesas, a Peak Reinsurance e a Yong’na P&C Insurance, duas das participadas da Fosun para a área seguradora, com o objectivo de “alcançar um rápido desenvolvimento do negócio pelo mundo, especialmente na comunidade de países de língua portuguesa”.

DIPLOMACIA ECONÓMICA A importância da China como parceiro português ficou bem reflectida na missão empresarial que acompanhou o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, na sua visita oficial, em Maio, a Pequim, Xangai, a capital económica do país, e Macau, a região administrativa especial, que até ao final do século passado esteve sob administração portuguesa. O presidente português viajou a convite do seu homólogo chinês, Xi Jinping, e fez-se acompanhar de vários elementos das pastas económicas do Governo e de representantes de oito dezenas de empresas portuguesas, abrangendo vários sectores considerados estratégicos nas relações bilaterais, como a energia, seguros, banca, telecomunica-

Que surpresas trará o Ano do Cavalo? No início do ano, durante a cerimónia de assinatura do contrato de venda da Caixa Seguros à Fosun International, em Lisboa, o embaixador da China em Portugal, Huang Songfu, destacou o papel que as empresas chinesas desempenharam no programa de privatizações do Governo português, anunciando que ele será reforçado nos próximos tempos. O diplomata chinês assinalou ainda que 2014, segundo o calendário chinês, é o Ano do Cavalo, mitologicamente associado ao vigor, ao progresso e ao sucesso. A atender no que se passou nestes quatro anos, 2014 poderá ser um ano recheado de boas surpresas com origem no oriente. l

ções, turismo, indústria do luxo, comunicação e relações públicas. Cavaco Silva encontrou-se com o primeiro-ministro e com o presidente da Assembleia Nacional Popular, Li Keqiang e Zhang Dejiang, números dois e três da hierarquia chinesa, respectivamente, a seguir a Xi Jinping, que é também secretário-geral do Partido Comunista Chinês, o cargo mais importante do País. Além da agenda política, a visita oficial incluiu fortes componentes económica, cultural e académica, Na vertente económica, realizaram-se dois seminário em Xangai e Pequim e diversas reuniões de trabalho com empresários dos dois países. l

A V I S I TA P R E S I D E N C I A L À C H I N A T E V E UMA COMPONENTE ECONÓMICA, C U LT U R A L E A C A D É M I C A .

A IMPORTÂNCIA DA ÁFRICA LUSÓFONA Os países de língua portuguesa representam cerca de um quinto das trocas comerciais da China com África, com um peso crescente no total e um excedente comercial em relação a Pequim, de acordo com os dados da Câmara de Comércio Internacional da China, referentes a 2013. As trocas comerciais com os países africanos aumentaram 5,9%, para 210,2

mil milhões de dólares, com as importações chinesas de África a somarem 117,4 mil milhões de dólares e as exportações chinesas para África a atingirem os 93,8 mil milhões. No final de 2013 havia mais de 2000 empresas chinesas a operar em África, nos sectores da agricultura, infraestruturas, indústria, extracção de recursos, finanças, comércio e

logística, entre outros. Angola é o segundo parceiro chinês de língua portuguesa no mundo, a seguir ao Brasil, 37 502 milhões de dólares de trocas comerciais. As vendas angolanas à China cifraramse em 33 458 milhões e as compras em 4044 milhões de dólares. Com Moçambique, as trocas comerciais aumentaram 22,6% para 1,64 mil milhões de dólares. l

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JOÃO BÉNARD GARCIA

N

uma economia cada vez mais globalizada, a tendência natural é a de que as empresas cresçam apostando na internacionalização. Todos os países europeus possuem instituições que apoiam os seus empreendedores nos processos de saída além-fronteiras. Em Portugal, os empresários que arriscam a sua vocação global contam com a experiência da Sociedade para o Financiamento do Desenvolvimento (SOFID) para os aconselhar, incentivar nos planos de expansão e financiar em sectores-estratégicos. Actualmente, poucos são os empresários que partem para novas geografias sem uma rede de apoio. Em Portugal, uma das redes que aposta na internacionalização dos negócios, muito especificamente nos países da lusofonia e no âmbito da cooperação financeira, chama-se SOFID, uma entidade especializada em banca de retalho e gestão de fundos, cujo apoio pode significar a diferença entre ganhar e perder em mercados de difícil penetração.

UM PIPELINE DE PROJECTOS AMBICIOSOS A MAIORIA DOS EMPRESÁRIOS PORTUGUESES SONHA ALARGAR OS SEUS NEGÓCIOS ALÉM-FRONTEIRAS, MAS IGNORA COMO PODE O B T E R A P O I O S PA R A I N V E S T I R . D E S D E 2 0 0 7, E X I S T E E M P O R T U G A L U M A P O R TA PA R A M I L H Õ E S D E E U R O S Q U E N Ã O E S TA M O S A U T I L I Z A R … U M P L ATA F O R M A PA R A U M M U N D O D E F U N D O S I N T E R N A C I O N A I S Q U E A C O N S E L H A M , O R I E N TA M E E M P R E S TA M DINHEIRO DESTINADO A BONS PROJECTOS.

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PLAN PROJE TOTA

PLANETA SOFID

MOÇ

Com projectos de raiz, modernização ou expansão, a SOFID tem investimentos já concretizados no montante global de 49,54 milhões de euros, distribuídos por países de África e América Latina. Desde que a nova administração entrou em funções, em Novembro último, estão em análise projectos no valor global de 106,41 milhões de euros. Entretanto, foi graças ao apoio desta entidade que a TV Cabo Angola se instalou neste país lusófono e teve também a assinatura da SOFID o projecto de instalação, com sucesso, do sistema informático eleitoral angolano.

MOÇAMBIQUE

ANGOLA

Projectos contratados 24 MILHÕES Projectos em análise 29,64 MILHÕES (Dos quais 6 MILHÕES já aprovados e em fase de contratação)

Projectos contratados 14 MILHÕES Projectos em análise 23,7 MILHÕES

MARROCOS Projectos contratados 0,84 MILHÕES MÉXICO Francisco Almeida Leite, administrador da Comissão Executiva da SOFID e ex-Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, explica à Prémio como a instituição bancária cumpre uma dupla função: “Não só apoiamos a internacionalização da economia nacional como estamos em linha com aquilo que são os objectivos da política externa e da acção da cooperação portuguesa”. Nesse contexto, “a SOFID acompanha as prioridades estratégicas do Estado português em matéria de internacionalização da economia”, seguindo a política de “não ir para países onde naturalmente Portugal não se sai bem ou onde os empresários portugueses não querem estar”, sublinha. No fundo, a sociedade bancária funciona como “um apoio financeiro a vários níveis” para quem quer globalizar o seu negócio. Francisco Almeida Leite esclarece os procedimentos institucionais mais comuns: “Analisamos processos e podemos abrir portas aos empresários. Temos concretizado esse papel com sucesso porque possuímos profissionais tecnicamente muito dotados. Temos na

Projectos contratados 2,5 MILHÕES Projectos em análise 3,8 MILHÕES CABO VERDE Projectos em análise 20,56 MILHÕES (Dos quais 7,1 MILHÕES já aprovados e em fase de contratação)

BULGÁRIA Projectos em análise 2,85 MILHÕES BRASIL Projectos em análise 13, 66 MILHÕES (Dos quais 8 MILHÕES já aprovados e em fase de contratação) SENEGAL Projectos em análise 1,2 MILHÕES GUINÉ CONACRI Projectos em análise 7 MILHÕES

ÁFRICA DO SUL Projectos contratados 8,2 MILHÕES Projectos em análise 4 MILHÕES

PROJECTOS CONTRATADOS

49,54 MILHÕES PROJECTOS EM ANÁLISE/EM FASE DE CONTRATAÇÃO

106,41 MILHÕES

(DOS QUAIS 21,1 MILHÕES JÁ APROVADOS E EM FASE DE CONTRATAÇÃO)

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SENEG GUIN


NEGÓCIOS

necessidade. Muitos precisam de garantias bancárias e outros questionam como podem levar a sua empresa para países onde o risco é elevado e há pouco apoio dos bancos comerciais. Colocam-nos essencialmente perguntas sobre as condições desses mercados. Mas também nos pedem “ P O D E M O S FAC I L I TA R A AC Ç Ã O D O S financiamentos superiores a 2,5 E M P R E S Á R I O S Q UA N D O N Ã O C O N S E G U E M R E C O R R E R AO C R É D I TO ” . milhões de euros, tecto máximo que podemos disponibilizar por projecto. Nesses casos, cumprindo a nossa de função de facilitadores, Mas o que procuram afinal os investiorientamo-los para quem os pode co-finandores junto da SOFID? “Nem sempre os ciar”, adianta o administrador. empresários vêm ter connosco à procura de Além da missão de apoiar projectos financiamento, embora seja essa a maior equipa da SOFID quadros oriundos do antigo Banco de Fomento e profissionais jovens que vêm de instituições privadas, facto que nos permite dar respostas a todas as questões que os empresários nos colocam”.

sólidos de internacionalização em países emergentes e de risco elevado, a SOFID desempenha uma função suplementar em relação à banca comercial. “Podemos facilitar a acção dos empresários quando eles não conseguem recorrer ao crédito. Como detemos uma estrutura accionista que integra o Estado e alguns dos grandes bancos comerciais, temos contactos privilegiados e isso é importante. Muitas vezes os empresários não nos procuram só pela necessidade de financiamento, mas pelo imperativo de dialogar e abrir portas. E aí a SOFID está no seu ambiente natural”, remata Francisco Almeida Leite. l

ONDE ESTÁ O DINHEIRO “Quero que considerem a SOFID como uma porta de entrada em fundos internacionais, como instrumento capaz de mobilizar recursos e competências técnicas para os vossos projectos”. Este é o desafio que o administrador Francisco Almeida Leite lança aos empresários portugueses que desconhecem a existência de fundos a que podem aceder via SOFID. Conheça os principais.

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INVESTIMOZ É o fundo com ADN 100% SOFID. Possui em carteira 94 milhões de euros, resultantes das compensações atribuídas ao Estado português pela entrega da Central Hidroeléctrica de Cahora Bassa ao Estado moçambicano. A verba está pronta a ser investida em projectos de iniciativa pública ou privada em Moçambique. O objectivo é o de encontrar parcerias luso-moçambicanas de investimento, potenciar a internacionalização de empresas portuguesas, criar emprego em Moçambique e desenvolver energias renováveis, indústria e energia, ambiente, pescas e agricultura. O fundo, que oferece taxas de juros reduzidas face ao custo médio ponderado das linhas de crédito comercial, e prazos de carência entre 3 e 9 anos, tem neste momento, um investimento em curso e três projectos em vias de o serem. A aprovação final dos projectos obriga a uma análise conjunta na comissão mista composta pelo Governo português e moçambicano, sendo a SOFID a entidade gestora do fundo e a instituição responsável por encontrar os parceiros adequados para cada investimento. No caso das startups, a SOFID pode participar no capital social das empresas, definindo logo à partida como e quando deixará os empresários caminharem pelo seu próprio pé. l www.sofid.pt

FACILIDADE DE INVESTIMENTO PARA A VIZINHANÇA (NIF) A NIF (The Neighbourhood Investment Facility) é um fundo europeu que combina empréstimos concedidos pelas instituições financeiras europeias, como o Banco Europeu de Investimento (BEI) com doações da Comissão Europeia e contribuições dos Estados-Membros para projectos de desenvolvimento nos países da vizinhança da União Europeia (UE). Modalidades de co-financiamento, subvenções de assistência técnica e operações de capital de risco estão entre as várias formas de intervenção do fundo. A SOFID, enquanto instituição-membro do Financiers Group, está encarregue de identificar projectos, interagir com os promotores, apresentar propostas para apoio e acompanhar os investimentos aprovados. Países do norte de África como Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egipto, e do Médio Oriente, como a Palestina, Israel, Líbano e Jordânia, estão entre as nações elegíveis ou passíveis de se candidatarem aos apoios da UE. Também os estados da ponta leste da Europa podem recorrer ao NIF, candidatando-se com projectos sólidos em países como a Arménia, Azerbeijão, Geórgia, Moldávia, Ucrânia ou Bielorrússia. Sejam os projectos da iniciativa de privados, ou contem com o patrocínio dos governos locais, os sectores elegíveis são os transportes, infraestruturas, energia e ambiente, contando para a sua concretização com taxas de juro atractivas para financiar o estudo e a assistência técnica. l http://ec.europa.eu/europeaid/where/neighbourhood/regionalcooperation/irc/investment_en.htm

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O QUE É A SOFID? A SOFID é uma sociedade financeira, de apoio ao desenvolvimento, que o Governo criou em 2007. Tem como accionista maioritário o Estado, através do Tesouro, com 59,9% do capital social, mas inclui a CGD, BES, BCP e BPI, cada um com 10%, e a ELO, com 0,01% do capital. Integra a rede da EDFI, a Associação de Instituições Financeiras

de Desenvolvimento Europeu, entidade que promove o desenvolvimento e define onde o dinheiro deve ser aplicado com eficácia. Em Portugal, a SOFID depende directamente do primeiro-ministro, estando a sua tutela atribuída ao Ministério das Finanças. A SOFID inclui no seu Conselho Estratégico a AICEP e o Camões – Instituto

da Cooperação e da Língua, sendo a sua Comissão Executiva composta por, além de Francisco Almeida Leite, Paulo Lopes (CEO), António Azevedo Gomes e os administradores não-executivos António Rebelo de Sousa (Chairman) e Pedro Cudell. l

FUNDO UE-ÁFRICA PARA AS INFRAESTRUTURAS (ITF)

FACILIDADE DE INVESTIMENTO NA AMÉRICA LATINA (LAIF)

A SOFID é também em Portugal a porta de entrada dos empresários no ITF, o fundo que gere o financiamento de projectos para infraestruturas em África. “Infelizmente nunca houve projectos apresentados por Portugal, ou por empresas portuguesas, e pessoalmente gostava de os ver a surgir agora. O que tenho constatado em Bruxelas, em relação a este fundo, é que, em quinze projectos discutidos, apenas um foi para a África de língua portuguesa, para Moçambique, mas apenas porque este país concorreu directamente ao BEI”, avança Francisco Almeida Leite. Os candidatos a estes apoios de co-financiamento e cooperação técnica podem contar com apoios monetários facilitado em áreas como os transportes, comunicações, água e energia, tecnologias de informação e comunicação (TIC), em acções que visam combater a pobreza e promover o crescimento económico de forma sustentada. O ITF combina subvenções da Comissão Europeia e dos Estados membros doadores, com empréstimos de longo prazo concedidos por instituições financeiras a 47 países da África Subsariana, onde se incluem todos os PALOP. A SOFID integra o PGF (Project Financiers Group), a entidade que analisa e avalia os projectos e verifica a sua elegibilidade, encaminhando-os para os órgãos de decisão final. l

O LAIF, acrónimo de Latin American Investment Facility, é um fundo específico para a América Latina que financia projectos de infraestruturas na região. Francisco Almeida Leite não tem dúvidas de que “Portugal e os nossos empresários precisam de aceder a estes projectos. Esta administração gostaria de participar no capital social de empresas que se mostrem absolutamente ambiciosas com projectos que têm a ver com a nossa missão nos PALOP, mas também em projectos na América Latina, que tenham a ver com as tecnologias de informação e da comunicação, indústria, construção, agricultura, projectos de segurança e com a língua portuguesa”. Francisco Almeida Leite aspira a que a SOFID possa ser “o pipeline de projectos a apresentar aos parceiros europeus que gerem estes fundos internacionais”, e que estes apoios sejam procurados “por empresários portugueses que busquem instrumentos de internacionalização. Confrange-me que nas reuniões europeias surjam projectos de empresários de todos os países, excepto de Portugal. E apenas porque há falta de informação”, remata.l

http://www.eu-africa-infrastructure-tf.net/

http://ec.europa.eu/europeaid/where/latin-america/regional-cooperation/laif/index_en.htm 41

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ANÁLISE

PEDRO PINTASSILGO Director de gestão de carteiras de retalho da F&C

O DILEMA DIPLOMÁTICO DA CRIMEIA UM CONFRONTO COMERCIAL ENTRE O OCIDENTE E A RÚSSIA NÃO SERÁ P R O V E I T O S O PA R A N I N G U É M . E A E U R O PA S A B E D I S S O .

A

Ucrânia, ex-república socialista soviética, com 45 milhões de habitantes, uma economia em situação recessiva (o PIB terá caído 1,25% em 2013) e crescentemente endividada (défice orçamental de 8,4%, em 2013, e uma dívida pública de 86% do PIB), tornou-se palco de uma ameaça geopolítica e económica, nestes tempos de relançamento débil do crescimento económico europeu. A ruptura dos novos poderes de Kiev, a capital ucraniana, com a liderança russa, agudizou uma crise que já se desenhava há alguns anos. Com uma recém liderança política pró-ocidental, a Ucrânia reposiciona-se no mosaico europeu, aproximando-se do Ocidente e afastando-se da Rússia (que representa 60% das suas trocas comerciais), que acusa de trair os acordos de 1994 onde, a troco da entrega do material nuclear instalado no seu território, obteve garantia de respeito pela sua integridade territorial. Com as reservas cambiais a escoarem-se, Kiev acaba de garantir um acordo de associação com a União Europeia e um cheque de 27 mil milhões de dólares da Europa e do FMI, para obviar à bancarrota iminente. O Ocidente olha a anexação da Crimeia pela Rússia não só como uma violação da integridade territorial da Ucrânia e das leis do Direito internacional, mas também como um sinal de regresso à Guerra Fria. O Presidente russo Vladimir Putin responde, afirmando a inconstitucionalidade da decisão de Khrushchev, tomada em 1954, quando este antigo presidente da União Soviética cedeu a península da Crimeia à Ucrânia. Além disso Putin legitima a declaração de independência da Crimeia com o precedente da secessão do Kosovo da Sérvia, prontamente reconhecida pelo Ocidente. A reação politica e diplomática europeia e norte-americana foi muito crítica. Não havendo a mínima simpatia europeia pelo avanço para uma terceira fase de sanções no plano económico, elas não poderão no entanto ser excluídas, perante uma eventual escalada da crise com novas secessões de territórios de maioria de população russófona, a sul e leste da Ucrânia. É evidente que não aproveitaria a ninguém abrir um confronto comercial entre o Ocidente e a Federação Russa, e a Europa sabe-o. Daí

pesar bem as consequência futuras, sabendo que o prejuízo económico poderá afectar tanto ou mais quem o anuncia do que a destinatária. A Europa importa da Rússia bens no valor de 115 mil milhões de dólares e arrecada das exportações 66 mil milhões por ano. A sua dependência energética da Rússia é elevada, não só no gás mas especialmente no petróleo, que em média representa 35% das suas importações totais de crude (6 milhões de barris de petróleo/dia). As alternativas escasseiam (Magreb, Estados Unidos e Mar Cáspio/Próximo Oriente), não são imediatas e têm um custo incerto. Por outro lado, a exposição dos bancos da Zona Euro a créditos à Rússia ascendia, em 2012, a 154 mil milhões de dólares, segundo o Banco Internacional de Pagamentos, com os bancos franceses, italianos e alemães à cabeça. Para a Rússia, a Europa representa 35% das receitas totais de exportações e por isso dificilmente substituíveis no imediato, apesar da tentativa de estreitamento dos laços comerciais energéticos com a China. Com pleno emprego, forte dependência do comércio de bens energéticos e num contexto expectável de redução progressiva do preço do crude nos próximos anos, não interessa à Rússia perder o cliente europeu. Além do condicionamento das trocas comerciais, o investimento cruzado de empresas russas no Ocidente e de empresas ocidentais na Rússia estaria em risco, penalizando todas as economias envolvidas. Se a escalada acontecer e as sanções económicas de parte a parte avançarem, as perspectivas de crescimento económico na Europa degradar-se-ão e, por isso, quer os instrumentos de dívida, quer as acções, poderão sofrer uma queda, tanto mais duradoura quanto a extensão no tempo e dimensão monetária das sanções. Num planeta globalizado e interdependente, todas as razões, incluindo as económicas, convidam ao bom senso das partes envolvidas, em prol de um diálogo aberto, franco e construtivo. A afirmação do projecto europeu passa também por um papel de vanguarda de iniciativa e liderança na gestão desta crise.

A F&C é uma gestora de activos independentes, com uma herança de mais de 140 anos de actividade, cobrindo múltiplas classes de activos para um vasto conjunto de carteiras de seguradoras, fundos de pensões, entidades públicas e instituições de beneficência, bem como para particulares através de planos de poupança e fundos de investimento. A F&C opera em Portugal desde 2001, detendo uma posição de liderança na gestão de activos para clientes institucionais.

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CIÊNCIA COM AROMA A CAFÉ A VILA ALENTEJANA DE CAMPO MAIOR JÁ TINHA O MUSEU D O C A F É E A FÁ B R I C A D A D E LTA . D I S P Õ E A G O R A D E U M CENTRO DE CIÊNCIA DEDICADO A ESTE FRUTO. O NOVO C E N T R O D E C I Ê N C I A D O C A F É É O P R I M E I R O E Q U I PA M E N T O D O G É N E R O N A E U R O PA E T E M C O M O M I S S Ã O D I S S E M I N A R D E F O R M A I N O VA D O R A E I N T E R A C T I VA A C U LT U R A D O C A F É .

CATARINA DA PONTE

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edifício de quase 3500 metros quadrados localiza--se junto às instalações da fábrica da Delta, na Herdade das Argamassas, veio substituir o Museu do Café, inaugurado há vinte anos. O espaço é um sonho antigo do Comendador Rui Nabeiro, fundador da Delta Cafés, que explica a origem desta ideia: “Há trinta anos que adquiro coisas para o Museu do Café e era tempo de haver uma evolução: Ou havia uma evolução na colecção, ou uma evolução científica”. E assim aconteceu. A 28 de Março nasceu o Centro de Ciência do Café (CCC), que veio ultrapassar a tradicional concepção

de museu. Um investimento de três milhões de euros por parte da Delta Ciência e Desenvolvimento, co-financiado por verbas comunitárias. Cecília Oliveira, directora do CCC, foi chamada para concretizar este sonho do Comendador Rui Nabeiro. Quando lhe passaram as premissas do projecto, foi-lhe transmitido que o “centro não devia ser estático. As pessoas deveriam ter a oportunidade de sentir, cheirar e estar muito perto do mundo do café, através de momentos e equipamentos museográficos lúdicos”. O CCC respira café e desafia o visitante para a interacção com

vídeos, fotografias e outros dispositivos interactivos. A componente multimédia é uma das apostas do espaço, cujos conteúdos museográficos e museológicos foram produzidos e desenvolvidos por três empresas espanholas: La Atalaya Cultural, Tecnologia Creativa e Reina de Corazones. O projecto do edifício esteve a cargo do arquitecto João Simão, do ateliê Díade, Arquitectura e Design. O Centro possui vários espaços que cumprem fins específicos: uma exposição permanente sobre a cultura do café, uma sala vocacionada para exposições

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O C E N T R O D E C I Ê N C I A D O C A F É T R A N S P O R TA O V I S I TA N T E PA R A O M U N D O D O C A F É AT R AV É S D E R E C R I A Ç Õ E S H I S T Ó R I C A S E D E E L E M E N T O S M U LT I M É D I A

A EXP OSIÇ ÃO PERMANENTE ESTÁ ORGANIZADA EM CINCO NÚCLEOS TEMÁTICOS DIVIDID OS P OR TRÊS PISOS.

A N Í B A L C AVA C O S I L VA , PRESIDENTE DA REPÚBLICA, COM O COMENDAD OR RUI NABEIRO NA INAUGURAÇÃO DO CENTRO DE CIÊNCIA DO CAFÉ

temporárias, uma área de acervo museológico, uma biblioteca temática, um auditório polivalente com agenda própria e uma cafetaria com esplanada. É no percurso da exposição permanente, que ocupa os três pisos do edifício, onde o visitante pode fazer uma viagem pelo mundo do café, marcada por várias experiências sensoriais. Através de cinco núcleos temáticos, o visitante fica a conhecer todo o processo de produção, desde o cultivo e torra à preparação e ao cheiro de um bom café. O ponto de partida é uma estufa onde se recria a plantação do café, simulando o clima húmido onde crescem as espécies Arábica e Robusta. Segue-se um área expositiva dedicada à origem etimológica da palavra

café, bem como às lendas e provérbios a ela associados e uma paragem pelos quatro cantos do mundo onde o café faz história. É, aliás, nesta área expositiva que os visitantes são convidados a entrar nas cafetarias mais emblemáticas de Portugal, como o Majestic Café, no Porto, ou o Martinho da Arcada, em Lisboa, sentando-se numa mesa que, através de uma fotografia encenada, nos transporta virtualmente para aqueles locais e que pode ser imediatamente partilhada nas redes sociais. O quarto núcleo, dedicado à transformação do café, possui umas das peças mais curiosas do Centro, uma bola antiga de torrefacção de grandes dimensões, que funciona como um simulador, na qual o visitante pode entrar e experienciar, através

da emissão de sons e calor, o processo de torrefacção, tal como um grão de café dentro de um torrador. No final, são abordados os hábitos do consumo do café no mundo, bem como a sua representação em várias expressões artísticas, designadamente na pintura, literatura e cinema. São também lembradas as propriedades terapêuticas do café. Existe ainda uma parte dedicada à colecção do espólio pessoal do Comendador Rui Nabeiro, constituído por mais de mil peças, entre moinhos, cafeteiras, chávenas e até o primeiro automóvel que o comendador utilizou para ir trabalhar – um Ford verde e amarelo dos anos 50. O espaço para exposições temporárias tem mais de 200 metros quadrados e inaugurou com uma mostra de obras de Arte Contemporânea, pertencentes à colecção António Cachola. O espaço pode ser alugado para exposições ou eventos. l 45

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LN IEFGE Ó S TC YI O L ES

DOLCE CAMPOREAL

LUXO COM PERSONALIDADE PRÓPRIA

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CATARINA DA PONTE

PISCAR O OLHO ÀS EMPRESAS E CONTINUAR DE MÃOS DADAS COM O SEGMENTO DE L AZER. ESTE É O COMPROMISSO D O RESORT D OLCE CAMPOREAL LISBOA, EM TORRES VEDRAS, QUE HÁ UM ANO ABRIU P O R TA S C O M N O VA G E S TÃ O , N O V O P O S I C I O N A M E N T O E N O VA IDENTIDADE.

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Dolce CampoReal Lisboa representa a estreia do grupo de hotelaria americano Dolce Hotels and Resorts em Portugal e a sua sétima unidade gerida na Europa. Situado em Torres Vedras, a meia hora a norte de Lisboa e a 20 minutos das praias do Oeste, o empreendimento reabriu, há cerca de um ano, pelas mãos do fundo de reestruturação do sector turístico, o Discovery, que por sua vez entregou a gestão ao grupo norte-americano, sedeado em Rockleigh, Nova Jérsia, e que detém um total de 27 hotéis, resorts e centros de conferências nos Estados Unidos e na Europa. Enquadrado num cenário de vinhas, campos de golfe, zonas históricas e praia, o Dolce CampoReal Lisboa possui um total de 151 quartos e suites, todos eles com uma

deslumbrante vista sobre o campo de golfe e as paisagens da Serra do Socorro e Archeira. O hotel dispõe de duas magníficas piscinas. Se a ideia for relaxar, o DiVine Spa é o refúgio ideal para descansar corpo e mente. Com uma área de 700 metros quadrados e uma vista panorâmica que, por si só, inspira tranquilidade, o spa disponibiliza, além do menu de massagens e tratamentos específicos para o corpo, uma elegante sala de chá e uma zona de relaxamento onde se pode permanecer após o tratamento. O Dolce CampoReal possui também um Centro de Fitness, um Centro Equestre e Campos de Ténis e de Golfe. Este último, projectado pelo arquitecto Donald Steel, foi outrora a jóia da coroa do resort pelas características singulares do seu campo com vários blind spots, inclinações íngremes e vales arborizados. 47

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O campo apresenta um desafiante percurso de par 72, em 18 buracos. Além destas infraestruturas, o Dolce CampoReal promove diversas actividades e eventos, aproveitando não só as potencialidades da sua privilegiada localização, mas também o savoir faire do grupo Dolce. Do cardápio de actividades, muitas delas desenvolvidas em parceria com empresas locais, fazem parte workshops de culinária, provas de vinhos, passeios de todo-o-terreno, visitas guiadas, aulas de equitação, oficinas de folclore, exposições de artesões e produtores locais, entre outras. Monotonia e falta de actividades para realizar são, seguramente, dois items que não integram o cardápio deste luxuoso hotel. Aposta nos negócios e eventos O segmento de negócios e eventos é o principal pilar da estratégia do Dolce CampoReal, herdeiro da cultura empresarial e do expertise da casa-mãe, que conta com mais de 30 anos de experiência no turismo de negócio e eventos e que integra a Associação Internacional de Centros de Conferência. A localização privilegiada a apenas 30 minutos de Lisboa e a tranquilidade do resort representam, apenas por si, características convidativas para a realização de um encon-

DOLCE CAMPOREAL LISBOA RUA DO CAMPO, 2565-770 TURCIFAL, TORRES VEDRAS (+351) 261 960 900 WWW.DOLCECAMPOREAL.PT

tro empresarial. Possui 23 salas de reuniões e um espaço útil de 2150 metros quadrados onde tudo é possível. As salas estão equipadas com audiovisuais e têm um formato flexível e ajustável às necessidades de cada empresa e evento. O chef Rui Fernandes comanda a equipa dos três restaurantes do Dolce Campo Real Lisboa, nos quais se dá privilégio aos produtos regionais. O restaurante Grande Escolha é o local onde o chef dá asas à sua criatividade e onde os clientes têm a possibilidade de assistir ao vivo às suas criações. O restaurante Manjapão serve o buffet de pequeno-almoço, com uma vasta selecção de produtos regionais e caseiros. Por fim, o Sports Club, é ideal para refeições mais ligeiras em ambiente informal. l

E N T R E V I STA M I G U E L D E A N D R A D E DIRECTOR-GERAL DO DOLCE CAMPOREAL LISBOA

“PROPORCIONAMOS UMA ENORME DIVERSIDADE DE EXPERIÊNCIAS”

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om uma bagagem cheia de desafios bem-sucedidos na indústria hoteleira, Miguel de Andrade ocupa, desde Janeiro de 2014, o cargo de director-geral do Dolce CampoReal Lisboa. Nasceu na Madeira e desde cedo se tornou um cidadão do mundo. Fez a sua formação académica entre Lisboa, Porto, Reino Unido e Nova Iorque. Trabalhou durante 11 anos no grupo Intercontinental, tendo passado pelo Ritz, em Lisboa, e pelo Grand Hôtel de Paris. Aos 25 anos foi para Nicarágua trabalhar num hotel em cenário de guerra. Passou pelo México, Cancun, onde teve a sua primeira experiência num resort, como director de comidas e bebidas. De volta à Europa, trabalhou em Madrid, Madeira e, por último, em Tróia. Com um novo desafio hoteleiro pela frente, que considera “um projecto ganhador”, Miguel de Andrade explica como se reposiciona um resort de luxo. Como têm reagido os clientes ao novo posicionamento do Dolce CampoReal? Os visitantes que têm redescoberto o Campo-Real percebem que o casamento com o grupo Dolce Hotels and Resorts é uma aliança de sucesso que acrescenta valor à experiência. O nosso grande objectivo foi pegar numa

infraestrutura com uma personalidade própria, uma localização ímpar e uma equipa de excelência, de forma a proporcionar uma experiência memorável ao cliente. Que medidas implementaram a nível de oferta de produto? Fizemos uma grande aposta no segmento de negócio e de eventos. Aumentámos a área das salas de reuniões e melhorámos as condições tecnológicas das salas, equipando-as com mobiliário de topo, sofisticado equipamento audiovisual e uma velocidade de internet de 50MB e até com um concierge digital. Criámos o conceito de Dolce Break Lounge, um espaço para coffee break que se caracteriza por uma oferta com produtos provenientes da Região Oeste. Isto permite que os produtos cheguem ao hotel mais frescos, sendo também uma maneira de contribuirmos para o negócio das comunidades locais. A oferta dos produtos é desenhada para se adaptar à hora do dia, de manhã encontram-se, por exemplo, ingredientes energizantes e ricos em omega. Qual a estratégia de divulgação desta nova oferta de produto?

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FOTOS FERNANDO PIÇARRA

A materialização do negócio far-se-á primeiramente dentro do mercado nacional. O nosso esforço de comunicação tem sido feito nesse sentido. O mercado internacional vai, obrigatoriamente, levar mais tempo. Para conquistar este último público vamos recorrer à parceria que temos com a Dolce para organizar Fam Trips e Press Trips, com vista a promover o Dolce CampoReal Lisboa e dar a conhecer quer a qualidade do produto, quer o destino em si. O facto de fazer farte de uma cadeia internacional ajuda igualmente a aumentar a nossa exposição nas key accounts Dolce na Europa e E.U.A. Além do reforço no segmento MICE (Meetings, Incentives, Conferences and Exhibitions) a que outros públicos pretendem chegar? Apostamos também no turismo de lazer, familiar e de bem-estar. Temos uma estratégia desenvolvida para ir ao encontro das necessidades dos vários tipos de clientes. O ano tem procuras distintas e nós temos que estar preparados para responder com qualidade, tanto a uma empresa de eventos, como às necessidades de uma família, de um casal ou de um grupo de amigos que vem procurar diversão, lazer e descanso.

Uma das jóias da coroa do resort é o campo de golfe concebido por Donald Steel. Este produto turístico será também uma das apostas? As zonas Centro e Oeste têm vindo nos últimos 15 anos a afirmar-se como um destino de golfe privilegiado. Temos cerca de cinco campos de golfe na região e o Dolce CampoReal quer desempenhar um papel mais activo neste produto. O nosso campo de golfe é fantástico, possui características muito próprias e um grau de dificuldade interessante, já foi inclusivé cenário de dois PGA Open. A nossa estratégia para este produto passará por enriquecer a experiência dos golfistas alojados no Dolce, complementando-a com os outros campos da região. Que outras sinergias desenvolvem com a Região Oeste? Na área de recursos humanos e formação temos parcerias com escolas profissionais de hotelaria do Oeste em que privilegiamos a realização de estágios que provenham destas entidades. A nível de entretenimento e animação realizámos parcerias com artesões e produtores locais que podem expor os seus produtos no hotel. Por outro lado, promovemos também eventos como o Dolce Wedding, no qual

convidámos fornecedores locais (fotógrafos, designers de moda, floristas) a participarem num open day dedicado à temática do casamento. Neste encontro apresentámos um produto chave-na-mão, com fornecedores da região. Uma das características transversais às unidades hoteleiras da Dolce Hotels and Resorts é a localização estratégica das mesmas. O Dolce CampoReal cumpre esse requisito? Sim, todos os hotéis do grupo se localizam longe do rebuliço das grandes cidades e em locais, que pela sua envolvência com a natureza, favorecam a concentração e o combate ao stress. O Dolce CampoReal usufrui também desta localização privilegiada, próximo de equipamentos fundamentais para a indústria de lazer como o aeroporto de Lisboa, do qual fica a apenas 25 minutos. Estamos também a uma distância de 25 minutos do centro de Lisboa, a 20 minutos de praias fantásticas da Região Oeste com oportunidades de surf ou pesca no Atlântico. Somos vizinhos de Óbidos, uma vila medieval única e com uma programação muito própria de animação, no coração de uma região vinícula e gastronómica riquíssima! Temos por isso a capacidade de proporcionar aos visitantes uma enorme diversidade de experiências. l 49

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SOFIA ARNAUD

COMPLEXO “PORTO SALUS”

A APOSTA DA VISABEIRA NO SEGMENTO SÉNIOR E DA SAÚDE

N U M I N V E S T I M E N T O D E 2 3 M I L H Õ E S D E E U R O S , A V I S A B E I R A L A N Ç O U E M A Z E I TÃ O O COMPLE XO P ORTO SALUS, UM PROJECTO INTEGR AD O NAS ÁREAS DA SAÚDE E ASSISTÊNCIA À POPUL AÇÃO SÉNIOR.

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Grupo Visabeira acrescentou mais uma área à sua oferta de serviços. A nova aposta recai no segmento Sénior e da Saúde, em parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Azeitão, e aproveitando o know-how do grupo de Viseu na realização de projectos e na

exploração de estabelecimentos hoteleiros. O complexo de Saúde e Bem-Estar Porto Salus, localizado na Herdade de Negreiros, envolveu um investimento de 23 milhões de euros e criou 150 postos de trabalho. Com o objectivo de oferecer uma resposta única e integrada em Saúde e na assistência à população sénior,

o complexo integra duas valências distintas: uma unidade de Residências assistidas, equivalente a uma unidade hoteleira de categoria superior, e uma unidade de Cuidados de Saúde, cuja principal vocação será o internamento em cuidados continuados e paliativos, prestando simultaneamente assistência à população em geral e servindo também de

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retaguarda aos utentes do complexo. Estendendo-se por uma área de 31.500 metros quadrados, a unidade residencial Porto Salus tem capacidade para 120 utentes, disponibilizando 91 unidades de alojamento (53 quartos e 38 suites). “Trata-se de um projecto integrado único vocacionado para a população sénior, proporcionando actividade física e intelectual activa, e a cujos residentes é assegurado o necessário acompanhamento médico e de enfermagem permanente”, explica Jorge Costa, administrador do complexo. A prestação de cuidados de saúde será assegurada pelo Hospital de Nossa Senhora da Arrábida, que entrou em funcionamento no início do ano, disponibilizando 102 camas. A unidade de Saúde integra ainda uma clínica que disponibiliza consultas externas de várias especialidades em ambulatório, um centro de fisioterapia e um health club, com piscina aquecida, ginásio, sauna e banho turco de utilização comum pelas duas unidades. “Pretendemos que as pessoas se sintam integradas na sociedade e esta unidade tem todas as condições para que tal aconteça. Além das actividades que

P P RO J E C TO B E N E F I C I O U D O K N OW- H OW D O G RU P O N A E X P L O R A Ç Ã O D E E S TA B E L E C I M E N TO S H OT E L E I RO S .

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desenvolvemos no interior da unidade, promovemos excursões, iniciativas em conjunto com as famílias, aulas de pintura e de música, aulas de ginástica e hidroginástica e outro tipo de animações”, sublinha Jorge Costa. O Porto Salus foi projectado pelo gabinete de arquitectura do Grupo Visabeira. O complexo contempla dois edifícios independentes e com acessos distintos, mas funcionalmente ligados por um passadiço ao nível do piso térreo e que partilham, ao nível do subsolo, infraestruturas comuns. A criação de um espaço ajardinado e de um espelho de água interior ao

edificado permite que todos os quartos disponham de vista e assegura aos utentes uma área de fruição tranquila e segura sem necessidade de se deslocarem para o exterior. O complexo dispõe ainda uma ampla área verde circundante, com predominância de pinhal.

O OBJECTIVO DA VISABEIRA PASSA TAMBÉM POR CAPTAR CLIENTES INTERNACIONAIS.

Captação de residentes estrangeiros Portugal integra actualmente o Top 10 dos destinos mundiais mais procurados por estrangeiros para viver. As condições climáticas amenas, os abundantes recursos termais e de grande riqueza hidro-geológica, a extensa linha de costas com águas do oceano Atlântico, que são das mais ricas para a prática de talassoterapia, e um Sistema Nacional de Saúde de qualidade reconhecida internacionalmente, são alguns dos factores que fazem de Portugal um destino de excelência e muito popular entre a população sénior internacional. Segundo Jorge Costa, o objectivo da Visabeira passa também “por cativar esses clientes internacionais, os reformados europeus que têm cá as suas famílias a trabalhar são um dos nossos alvos”. Neste sentido, a Visabeira está a preparar uma estratégia de comunicação a nível europeu e “já estabeleceu contactos com a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) no sentido de identificar parcerias para o novo projecto Porto Salus”. No futuro, “o nosso objectivo é desenvolver uma rede de espaços similares de norte a sul do país”, conclui. l

J O R G E C O S TA ADMINISTRADOR DO COMPLEXO PORTO SALUS

A S VA L Ê N C I A S DISPONÍVEIS NO COMPLEXO P E R M I T E M AO S H Ó S P E D E S A M Á X I M A C O M O D I DA D E .

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Loja Hästens | Rua de S. Bernardo 43B Lisboa | +351 213 975 106 | 2ª. a Sáb. 10:30-19:30h | lisboa@hastens.rroudes.com | www.facebook.com/hastensemportugal | www.melhorcamadomundo.com

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ELBULLI FOUNDATION

A DEMOCRATIZAÇÃO DA GASTRONOMIA GOURMET C O M E Ç O U A C O N TA G E M D E C R E S C E N T E PA R A A M A I O R R E V O L U Ç Ã O G A S T R O N Ó M I C A D O P L A N E TA . O S E U A U T O R , F E R R A N A D R I À , I R Á P R E M I R O B O TÃ O N O I N Í C I O D E 2 0 1 6 . N A H I S T Ó R I A D A C U L I N Á R I A VA N G U A R D I S TA G O U R M E T H AV E R Á U M A N T E S D A B U L L I P É D I A E U M D E P O I S D A B U L L I P É D I A …

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stá prestes a acontecer a maior revolução na gastronomia mundial. Se nada falhar, será no início de 2016 o momento em que o visionário chef Ferran Adrià, a sua multidisciplinar equipa da elBulli Foundation e os parceiros tecnológicos farão enter naquele que será o lançamento da mais ambiciosa plataforma digital de cozinha vanguardista do mundo e o maior veículo de partilha do saber culinário: a Bullipédia. A inovadora ferramenta online é aguar-

JOÃO BÉNARD GARCIA

dada com imensa expectativa no universo culinário gourmet, na crítica gastronómica e também da imprensa mundial, e não chegará sozinha. A par dos seus disruptivos e úteis conteúdos digitais, a equipa de Ferran Adrià prepara-se para abrir em Março de 2016 um moderno espaço físico de interpretação baptizado Centro elBulli 1846, número icónico total das receitas que criou, recriou e deu a conhecer ao mundo desde 1987, ano em que, com 25 anos, assumiu a chefia da cozinha do mítico restaurante catalão elBulli

(várias vezes distinguido como o melhor do mundo) e a missão de só criar e nunca copiar os pratos de outros chefs. Um rasgo que lhe valeu o reconhecimento planetário e a aclamação como melhor chef do mundo. O megaprojecto do centro interpretativo – que terá cerca de cinco mil metros quadrados, custará nove milhões de euros, e terá a cozinha como veículo condutor – será uma recriação optimizada e ambientalmente correcta do antigo restaurante, no idílico cenário da mesma simpática baía onde

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FERRAN ADRIÀ, MENTOR DA ELBULLI F O U N D AT I O N

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este se instalou em 1963, na Costa Brava, Catalunha,150 quilómetros a norte da cidade de Barcelona. O desenho do “não-museu”, como lhe chama Adrià, nasceu no estirador do audaz arquitecto catalão Enric Ruiz-Geli, o cenógrafo da arquitectura futurista, orgânica e surreal. O espaço expositivo e de criatividade, cuja configuração o arquitecto já mudou três vezes em três anos, será ousado e promete deixar os visitantes estupefactos. O culminar de quase três anos intensos de trabalho e observação estará ainda reflectido na criação de um laboratório experimental de alta cozinha baptizado como elBulli DNA, o terceiro e último projecto anunciado, que abriu portas em Abril de 2014 no espaço de uma fábrica em Barcelona. Será neste BullipédiaLab que, em articulação constante com universida-

des, escolas de negócios e centros tecnológicos de todo o mundo, se dará início ao processo de estudo, criação e elaboração de novos pratos, avaliação e definição de conceitos e aplicação de novas práticas na cozinha, dados que serão posteriormente plasmados nas entradas da futura plataforma Bullipédia. Mestre do experimentalismo na cozinha gourmet, o chef Ferran Adrià, 52 anos celebrados a 14 de Maio, está a preparar as bases de um gigantesco think tank culinário que, há muito, transcendeu as fronteiras da Catalunha e de Espanha. Nomeado pelos peritos na sua área como o melhor cozinheiro do mundo e mentor de quase dois mil chefs em todo o mundo, Adrià recusa-se a aceitar o epíteto de génio, mas não se livra da fama de ser genial e de ter um humor refinado, malandro até.

Alta cozinha para todos Desde que o restaurante elBulli encerrou portas, a 30 de Julho de 2011, Ferran Adrià e a sua equipa iniciaram uma demanda que culminará na implementação destes três ousados projectos. O maior e mais admirável de todos será, sem dúvida, a Bullipédia. Em Abril último deu mais um passo na concretização do megaprojecto online ao inaugurar o BullipédiaLab, num hangar em Barcelona. O espaço será doravante o laboratório onde Adrià e equipa buscarão, durante oito meses por ano, explicação para o que é cozinhar e onde milhares de cozinheiros e aspirantes a cozinheiros poderão por em prática as suas ideias, sempre apoiados pelos mais avançados centros de investigação mundial. A futura enciclopédia 100% dedicada à evolução da culinária - desde os primórdios até à cozinha de vanguarda gourmet - guarda-

MAIS DE DOIS MIL CHEFS DE T O D O O M U N D O PA S S A R A M P E L A OUSADA COZINHA D O ELBULLI. AQUEL A QUE FOI CONSIDER ADA O M A I O R L A B O R AT Ó R I O D E C U L I N Á R I A E X P E R I M E N TA L

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rá na sua base digital todo o saber gastronómico e a compilação de todo o conhecimento da alta cozinha moderna ocidental. Depois de trabalhadas e avaliadas, as técnicas e ideias criativas serão colocadas, através de uma rede digital mundial, ao dispor de todos os apaixonados por tachos, fogões e boa mesa: desde os mais reputados chefs do planeta aos mais simples amantes caseiros da gastronomia, operando uma verdadeira democratização na forma de cozinhar. Enquanto os pormenores estão no segredo dos deuses, Ferran Adrià vai dando pequenas pistas, guardando os detalhes fundamentais para o dia de estreia. Ele é, aliás, um excelente gestor de expectativas. Prova disso, foi a decisão anunciada, de forma abrupta, em 2010, de encerrar o restaurante, quando as listas de espera para uma refeição no elBulli somavam… quase dois milhões

ADRIÀ E A SUA E Q U I PA VÃO GERAR UMA P L AT A F O R M A QUE AJUDARÁ Q UA LQ U E R PESSOA A C R I A R R E C E I TA S I N O VA D O R A S .

de candidatos, face a uma capacidade de resposta que rondava os 6 a 8 mil comensais por cada temporada anual. Cansado por não conseguir ter vida própria, Ferran decidiu parar depois do irmão, Albert, um dia lhe ter dito: “Criámos um monstro que nos vai devorar”. Apercebendo-se que, além de não se sentir feliz, todos copiavam online as suas criações na internet, decidiu virar a mesa. Mais do que encarar a internet como um inimigo, seria generoso e partilharia tudo o que sabe, todas as técnicas, tudo o que criou... no ciberespaço. Esse seria, doravante, o seu legado. Toma a decisão corajosa de parar e encerrar no auge do sucesso. Angaria seis milhões de euros com leilões e jantares em duas temporadas do restaurante, conquista patrocinadores, o apoio tecnológico da espanhola Telefónica, faz conferências e lança-se

PERFIL O RAPAZ QUE QUERIA IR A IBIZA E ACABOU GÉNIO CULINÁRIO NA CATALUNHA

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erran Adrià tinha 17 anos e um sonho: ir a Ibiza. Tinha 18 anos quando começou a sua aventura gastronómica, a lavar pratos no restaurante de cozinha francesa do Hotel Playafels, na estância balnear desejada. Dois anos mais tarde era dele, como chef principal, a cozinha do Almirante da Base Naval de Cartagena, no Mediterrânio. Da tropa trouxe a experiência de gerir uma equipa numa cozinha exigente. Da passagem por Ibiza somou a leitura forçada de livros de culinária francesa com ensaios no fogão. Na marinha também conhece o chef Fermí Puig e este consegue-lhe, no Verão de 1983, uma “excursão ao elBulli”, como Adrià adora chamar-lhe. Gostou tanto que, em Março de 1984, o boémio rapaz nascido no bairro operário de L’Hospitalet de Llobregat, nos arredores de Barcelona, começa em definitivo as suas alquimias culinárias no elBulli, o restaurante de alta cozinha que ostentava, desde 1976, uma estrela Michelin e já era um clássico da nouvelle cuisine francesa.

Em 1987, com 25 anos, assume o comando da cozinha e três anos mais tarde compra o restaurante aos patrões, a meias com Juli Soler, sócio e melhor amigo. Em 1997 conquista três estrelas Michelin. Em pouco tempo soma prémios, notoriedade e transforma o elBulli num dos maiores templos da gastronomia mundial. Em 2002 alcança o posto de melhor restaurante do Mundo, lugar a que regressa em 2006 e onde fica até 2009. A inovadora arte de desconstrução da comida que Ferran Adrià pratica, fê-lo catapultar a culinária para um patamar tão alto que poucos são os que lá conseguem chegar. Com os seus elevados graus de ousadia chegaram os epítetos de “Dalí da Culinária”, de “Génio” e de “Pai da Gastronomia Molecular”, título último que rejeita a pés juntos. l

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na maior aventura da sua vida. Ferran Adrià, que desde o início dos anos 90 do século passado implementara uma política de cozinha experimentalista, com workshops de culinária, mas também, por exemplo, com programas de estudos sobre arte aplicada ao desenho final dos pratos, sentiu o impulso natural de arriscar e apostar em projectos mais ousados. Agarrou bem a fama internacional granjeada com o título conquistado de cinco vezes eleito “Melhor Restaurante do Mundo” e usou-a como rampa de lançamento para a criação da elBulli Foundation, uma instituição privada formalizada em Janeiro de 2013. Espaço de arquivo e criação No vídeo de apresentação da Bullipédia, a equipa da elBulli Foundation anuncia que “numa disciplina em que há pouco tempo e poucos meios para inovar, mas também num mundo em que temos que partilhar”,

A MAIOR REVOLUÇÃO GASTRONÓMICA PASSA POR CRIAR UM LABORATÓRIO, UM CENTRO INTERPRETATIVO E UMA ENCICLOPÉDIA DIGITAL.

está a preparar “uma ferramenta para cozinheiros profissionais que consiste em dois espaços com o mesmo objectivo: criatividade hoje e arquivo criativo”. Quando no início de 2016 a Bullipédia puder ser consultada por chefs, aspirantes a chefs, meros curiosos ou comuns amantes da culinária, estes poderão encontrar, de forma ordenada e eficaz, um universo conceptualizado e uniformizado de informação sobre produtos, técnicas, receitas e conceitos que inevitavelmente fornecerão ideias e pistas para a criatividade individual. No final do mesmo vídeo, Adrià e a sua equipa de 50 especialistas mundiais, em áreas tão distintas quanto a biologia, gestão ou o design gráfico, prometem criar uma plataforma que, articulada com universidades em todo o mundo a partir da Universidade de Barcelona, garantirá que cada pessoa possa ficar “inspirada para criar e interagir criando novas receitas próprias”. l

E N T R E V I STA F E R R A N A D R I À ACL AMADO MELHOR CHEF DO MUNDO

“TODOS OS COZINHEIROS FALAM LINGUAGENS BASTANTE DIFERENTES”

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omo pensa financiar e garantir a sustentabilidade dos futuros projectos da elBulli Foundation? Venderá parte do legado do restaurante elBulli, que está encerrado desde Agosto de 2011? Não, as pessoas que nos seguem podem ficar tranquilas porque não venderemos nem uma pitada da memória do nosso legado. A elBulli Foundation é uma instituição totalmente privada que, neste momento, está a desenvolver três projectos principais: o Centro elBulli 1846, o elBulli DNA e a Bullipédia, porventura o mais badalado de todos. Posso assegurar que um dos grandes objectivos do futuro Centro elBulli 1846 será mesmo o de salvaguardar o legado dos quase 40 mil documentos e objectos que pertencem ao restaurante elBulli. Estamos a criar um centro expositivo dinâmico onde todas as pessoas, que se interessam pela história do nosso restaurante, poderão fazer uma visita muito interactiva, descobrir a nossa história e compreender o nosso percurso. O nosso legado será obviamente usado como ferramenta para esse fim.

Como vai pagar todos estes projectos? Terá o apoio de patrocinadores? Vai criar programas de experiências exclusivas para clientes VIP? Apostará forte no merchandising ou já equacionou outras formas criativas de financiamento? As formas de financiamento serão muito variadas. Contamos receber contribuições provenientes de pessoas, instituições e empresas que, em todo o mundo, acreditam nos nossos projectos e que nos queiram ajudar financeiramente. Contamos depois cozinhar refeições únicas para os nossos patrocinadores, durante um mês especial por nós definido durante cada ano, oferecendo-lhes experiências culinárias verdadeiramente exclusivas. Todas essas iniciativas servirão para nos financiarmos, tornando possível e viável que a elBulli Foundation perdure no tempo, como desejamos. Simultaneamente, iremos pôr em marcha outros meios de financiamento, com contornos finais que ainda estamos a definir internamente. Todas as iniciativas servirão para dar a conhecer mundialmente a elBulli Foundation e as particu-

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laridades dos nossos projectos. Em todas as nossas iniciativas a questão da sustentabilidade financeira estará acautelada. O vosso projecto que mais curiosidade tem suscitado é a Bullipédia. Como funcionará e para que servirá esta ferramenta? A Bullipédia é verdadeiramente um projecto de grandes dimensões em que estamos a trabalhar com muito entusiasmo. Contamos, através dela, descodificar todo o processo culinário físico e criativo, classificando e ordenando toda a informação

para a definição de novos códigos e de uma nova linguagem para a gastronomia mundial? Ao iniciarmos o projecto, demos conta que afinal quase todos os cozinheiros falam linguagens bastante diferentes. É muito difícil encontrar, por exemplo, dois livros de culinária que tenham o mesmo tipo de índice, igual critério de ordenação ou mesmo de classificação. O nosso primeiro objectivo será o de sermos capazes de fazer uma codificação universal do conceito de cozinha. Queremos possibilitar que tanto os cozinheiros como outros especialistas

O MELHOR CHEF DO MUNDO SÓ P O D I A E S TA R C O N C E N T R A D O N O M A I S AMBICIOSO PROJECTO CULINÁRIO DO P L A N E TA , A B U L L I P É D I A . N U N C A L H E CHAMA REVOLUCIONÁRIO, MAS É -O. E M E N T R E V I S TA À P R É M I O , FA L A DA S U S T E N TA B I L I DA D E D O S S E U S P L A N O S E D E C O M O V A I M I M A R P AT R O C I N A D O R E S . existente até ao momento sobre a alta cozinha ocidental. De seguida, vamos colocá-lo em formato digital e pô-lo à disposição dos especialistas, estudantes de culinária e de todos os interessados por estas temáticas. Este projecto visa transformar-se na ferramenta que permitirá reclassificar a terminologia da cozinha moderna, definir novos conceitos e ajudar no processo formativo de actuais e futuros cozinheiros em todo o mundo. A Bullipédia permitirá acumular e divulgar conhecimento, ao mesmo tempo que promoverá a criatividade. Como funcionará, na prática, esta nova ferramenta? Com a Bullipédia, teremos à mão um imenso banco de dados online, bem organizado, que permitirá localizar rapidamente todos os assuntos relativos à culinária e gastronomia. Mais, a Bullipédia vai-nos permitir descobrir tudo o que ainda não se fez em cozinha e ainda compreender claramente quais serão as vias mais rápidas para criar novos pratos. Mas como pretende ser a Bullipédia realmente revolucionária, contribuindo

em culinária possam estar de acordo, em cada uma das fases em que intervêm. Queremos, com a Bullipédia, assegurar um consenso geral. Acredito que se for possível falarmos todos o mesmo idioma culinário teremos conseguido dar um passo de gigante na hora de gerar e partilhar novos conhecimentos. O que poderão então os destinatários aprender e ganhar com a utilização da Bullipédia? Os destinatários mais directos passarão a dispor de uma informação culinária de grandes proporções, ordenada e classificada de forma totalmente lógica. Esta nova ferramenta agilizará as buscas e permitirá criar um sem fim de sinergias criativas. Com a Bullipédia poderemos ampliar o nosso conhecimento, ordenar rapidamente o nosso trabalho e utilizá-la sempre que necessário como ferramenta criativa. A equipa principal da Bullipédia é composta por peritos oriundos de várias áreas. Quais foram os critérios de escolha das disciplinas?

Em cada uma das famílias da Bullipédia (produtos, ferramentas, técnicas, organização e etc) encontra-se um grupo de cozinheiros a que se juntam peritos de cada área. Na secção de produtos, por exemplo, contamos com a colaboração de biólogos que nos estão a ajudar a fazer a descrição e reclassificação de produtos por categorias. Na secção de ferramentas de apresentação dos pratos contamos com a colaboração de especialistas em desenho, grafismo e até em utensílios de cozinha. Dentro de cada família da Bullipédia temos sempre equipas multidisciplinares para que, desta forma, cheguemos a um consenso sólido e, tanto quanto possível, universal sobre os critérios dos conteúdos finais. Como será o conceito visual final da plataforma digital da Bullipédia? Terá vídeos educativos? Demonstrativos? Permitirá a interacção com os destinatários? Pode ser enriquecida pelos utilizadores, como acontece com a Wikipédia? Bem, de uma coisa tenho a certeza: a Bullipédia será uma ferramenta viva. Sobre isso não tenho quaisquer dúvidas. Estamos neste exacto momento a desenvolver os conteúdos da plataforma com a Telefónica e temos consciência de que uma excelente visualização joga um papel fundamental em todo este processo. Sim, haverá muitos vídeos explicativos, mapas visuais, etc. Queremos que, para os nossos futuros utilizadores, navegar pela Bullipédia seja uma experiência muito versátil, dinâmica e também divertida. E, acima de tudo, que as pessoas obtenham a informação que desejam de forma intuitiva, rápida e fácil. Agora que está mais perto de concretizar todos estes projectos, já descobriu realmente o que é a cozinha? Sim e não. Um dado adquirido é que demorámos mais de um ano a descodificar o genoma do processo culinário. Todavia, continuamos a reflectir internamente, dia após dia, sobre todas estas matérias. Com o trabalho que estamos a desenvolver para a Bullipédia, eu e a minha equipa consideramos, cada vez mais e sem sombra de dúvidas, que a cozinha é um lugar apaixonante. l AGRADECIMENTOS: D. André de Quiroga e D. Juan Rico Flores FOTOGRAFIAS: Francesc Guillamet e Maribel Ruíz de Erenchun 59

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ARTE

GALERIA 111

MEIO SÉCULO DEDICADO À ARTE

F O I N A G A L E R I A 1 1 1 Q U E E X P U S E R A M P E L A P R I M E I R A V E Z O S E N TÃ O J O V E N S A R T I S TA S J O A Q U I M B R AV O , Á L VA R O L A PA , A N T Ó N I O PA L O L O , A N T Ó N I O S E N A , M A S TA M B É M J Ú L I O P O M A R O U PA U L A R E G O . J Á L Á VA I M E I O S É C U L O E , E S T E S N O M E S , M A I S D O Q U E C O N S A G R A D O S N A H I S T Ó R I A D A A R T E P O R T U G U E S A DO SÉCULO XX, TESTEMUNHAM O OLHAR VISIONÁRIO E O CARÁCTER ÍNTEGRO DE UM HOMEM – M A N U E L D E B R I T O – Q U E , E M C O N J U N T O C O M A M U L H E R E , M A I S TA R D E , O F I L H O , A R L E T E A LV E S D A S I L VA E R U I B R I T O , C O N S T R U Í R A M U M A D A S M A I S R E S P E I TA D A S G A L E R I A S D E A R T E P O R T U G U E S A S .

CATARINA DA PONTE

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Viera da Silva, de Sonia Delaunay e de Paula Rego. Há 33 anos, foi à porta do n. 113 da Rua do Campo Grande que a Fundação Calouste Gulbenkian veio bater para mostrar arte portuguesa ao cineasta francês François Truffaut que se encontrava em Portugal. O mesmo aconteceu quando veio a Portugal um presidente do SPD alemão. Haverá poucas galerias de arte que tenham como amigos e habitués três Presidentes da República – Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio. Por aqui passaram Amália Rodrigues, Natália Correia, José Cardoso Pires, David Mourão Ferreira. A Galeria 111 tem hoje um património incalculável com mais de duas mil obras em acervo e obras emprestadas em museus e várias instituições.

o médico José Pinto Carmona, que ilustra bem a importância da qualidade das relações humanas, culturais e sociais que, ao longo de mais de meio século, têm sido praticadas nos números 111 e 113 da Rua do Campo Grande, onde se desenvolve o projecto da Galeria 111-Lisboa. Nascida a partir de um cantinho de uma livraria especializada em livros universitários, a Galeria 111 possuiu actualmente dois espaços de galeria em Lisboa, outro no Porto, dois armazéns de acervo (uma deles com 600 metros quadrados), um arquivo ímpar da história da arte portuguesa e um património imaterial, constituído por memórias, amigos e coleccionadores espalhados pelo mundo. Aqui se fizeram as mais importantes exposições de

escíamos as escadas estreitas, como se fosse um alçapão e lá estavam, naquela cave de livros e histórias, o Manuel e a Arlete. Ali, na Livraria 111, encontrávamos amigos de várias Faculdades, tertúlias de fim de tarde, que eram a luz daqueles tempos escuros de silêncio. Em meados dos anos 60, as guerras preenchiam todos os horizontes, a censura era feroz. Naquele pequeno espaço íntimo, corriam livros “fora do mercado”, passavam informações e cumplicidades. Sentados degraus abaixo, ouvíamos, pela primeira vez, dizer a poesia pelos próprios - Luísa Neto Jorge, Ruy Belo, Fiama e Gastão Cruz”. Esta é apenas uma das muitas memórias partilhadas por um dos clientes mais antigos da Galeria 111, 2

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1. Manuel de Brito em 1969 2. Francisco Sousa Tavares, Sophia de Mello Breyner Andresen, Lourdes Castro e José Escada na exposição de Lourdes Castro em 1970 3. Livraria Escolar Editora em 1964

ENTRE LIVROS E QUADROS

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udo começou em 1959. Manuel de Brito (1928-2005), o grande protagonista desta história, era na altura funcionário da Livraria Escolar Editora, uma livraria especializada em publicações universitárias, situada na Rua da Escola Politécnica, em Lisboa. Nesse mesmo ano, foi convidado, já como sócio, a abrir uma sucursal no número 111 do Campo Grande, junto à Cidade Universitária. À semelhança do que já acontecera na livraria-mãe durante a década de 50, onde Almada Negreiros, Abel Manta, Eduardo Viana, Luís Dourdil, entre outros,

animavam o espaço com veementes tertúlias, também a nova Livraria Escolar Editora do Campo Grande, rapidamente se transformou em ponto de encontro de artistas, alunos e professores universitários. Corria o início dos anos 60 e no Campo Grande ouvia-se Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira e Amália Rodrigues. Estava lançado talvez o maior movimento e foco cultural da cidade de Lisboa. Arlete Alves da Silva, companheira e braço-direito de Manuel de Brito, começou a trabalhar na Livraria em Setembro de 1963. “A livraria

funcionava muito bem, tínhamos contratos com editoras francesas e inglesas, as nossas montras estavam sempre cheias de professores e estudantes a ver as novidades”, explica. Foi neste contexto de fervilhar cultural que, em 1964, nasceu a galeria da Livraria Escolar Editora, com o propósito de mostrar os trabalhos de novos artistas que nunca tinham exposto. Neste ano expuseram, pela primeira vez, Joaquim Bravo, Álvaro Lapa, António Palolo, Santa Bárbara e António Sena. No final dos anos 60 e início dos 70 a galeria atingiu, “um

estatuto profissional, quando Jorge de Brito, amigo e cliente de Manuel, se torna o maior coleccionador português”, relembra Arlete Alves da Silva. O banqueiro e ex-presidente do Benfica contribuiu em grande parte para a afirmação da galeria. A primeira transacção importante foi a venda dos quadros do chamado Grupo do Leão, pertencentes a Francisco Ramos da Costa, então exilado em Paris. A partir daí realizaram-se inúmeras aquisições de obras de arte portuguesa e estrangeira em todo o mundo que abriram para a galeria as portas do mercado internacional. Além 61

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do apelido e de uma grande amizade, Jorge e Manuel partilhavam a paixão por um mesmo clube de futebol, o Benfica, o ano de nascimento e o amor pela arte. Rui Brito, o filho mais novo de Manuel, cresceu neste meio, a brincar com Lourdes de Castro e Paula Rego, as suas duas artistas preferidas em criança “por serem muito alegres”, conta Arlete. Aos 15 anos começou a trabalhar aos sábados à tarde na galeria. Foi com esta idade que fez a sua primeira venda a um médico, uma Paula Rego.

“Não comecei mal”, refere Rui de Brito. Depois de passar por quatro cursos diferentes, acabou por se licenciar em História da Arte e por se envolver mais no projecto da galeria, assumindo, em 2004, a direcção conjunta com os pais. “O meu pai era a imagem da história, a minha mãe era a retaguarda e eu era o sangue novo que introduzia novas ideias, novos artistas, novas programações e a parte da informatização”, recorda. Com ele houve uma renovação de artistas: Joana Vasconcelos, João Pedro Vaz,

João Francisco, Francisco Vidal e Gabriel Abrantes, são alguns dos nomes que Rui de Brito introduziu na galeria. A preocupação em aceitar artistas novos sempre foi, desde o princípio, uma constante da 111 que, apesar de há mais de 40 anos trabalhar com a Paula Rego, Lourdes de Castro ou Eduardo Batarda, recebeu sempre novos criadores. Além da missão de divulgação de artistas, Manuel de Brito foi durante nove anos, entre 1994 e 2003, consultor de Artes Plásticas no primeiro telejornal

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cultural diário da Europa, o “Acontece” que passava na RTP, onde deu a conhecer centenas de exposições e artistas. Em Novembro de 2005, o grande protagonista deste projecto morre. Arlete Alves da Silva e Rui Brito prosseguem, com olhos postos no futuro, o desígnio do marido e pai, Manuel de Brito. Um ano após a morte de Manuel de Brito foi inaugurado, em Algés, no Palácio Anjos, o Centro de Arte Manuel de Brito, coroando uma carreira de sucesso e um percurso sólido da Galeria 111. l

2 1. Estudo para o Declínio da Idade Média, 1973, acrílico e colagem sobre tela, 51x40 cm 2. Rodrigo Freitas (o arquitecto que fez a primeira galeria e continua amigo e cliente da galeria até hoje), a filha Cláudia, Manuel de Brito, Arlete Alves da Silva e Rui Brito (1988) 3. Paula Rego e João César Monteiro (1998) 4 . General Ramalho Eanes, Manuela Eanes, Arlete Alves da Silva e Rui Brito

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O QUE MUDOU NA ARTE EM MEIO SÉCULO

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uando perguntamos a Arlete Alves da Silva o que mudou nestes últimos 50 anos, a resposta é peremptória: Tudo! Antigamente quem abria uma galeria de arte fazia-o por paixão, hoje em dia as pessoas estão mais ligadas ao lado mercantil. Por outro lado, quando acreditávamos no projecto de um artista, levávamo-lo até ao fim, actualmente vejo galerias que se não vendem na primeira exposição deixam de representar os artistas.

Por sua vez, alguns artistas também se tornaram mais materialistas”. Arlete critica, ainda, o excesso de dirigismo de alguns curadores “que tentam dominar o gosto e acabam por se impor à liberdade criadora dos artistas, porque estes acabam por fazer a sua obra de acordo com o que o curador quer”. Quanto à sobrevivência do negócio, Rui Brito explica que, “a 111 tem algumas vantagens em tempos de crise. Sempre demos passos

bem firmes, temos zero euros de dívida, todos os espaços que temos são comprados, temos uma imagem sólida construída ao longo de 50 anos, nunca vendemos uma obra falsa. Somos vistos como pessoas sérias e que praticam preços adequados”. Ainda este ano está previsto o lançamento de uma fotobiografia da Galeria 111 que contará, ao pormenor, o percurso ímpar de livros, quadros, artistas, escritores e amigos que construíram a Galeria 111. l

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N OVO LU XO AU TO M ÓV E L

ÁLVARO DE MENDONÇA

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híbrido é a nova moda do luxo automóvel. Da Fórmula 1 às 24 heures de Le Mans, passando pela última geração de super carros desportivos, como o Porsche 918 ou o La Ferrari, a combinação de motores convencionais com eléctricos é a mais recente aposta de uma indústria cada vez mais apostada em passar uma imagem de eficiência e respeito pelo ambiente. Os grandes SUV e limusinas de luxo, alimentados por motores gulosos e de alta cilindrada, estão definitivamente out.

Todas as marcas de luxo têm hoje nas suas gamas modelos híbridos. Conciliar altas performances e eficiência, para cumprir os limites de emissões cada vez mais apertados da União Europeia, faz hoje parte de uma boa imagem de marca. É neste clube restrito e exclusivo que se alinham alguns dos mais luxuosos automóveis e SUV do mundo. Fica uma selecção, a que poderíamos ainda acrescentar o Infiniti Q70 Hybrid, o Porsche Cayenne Hybrid ou o VW Touareg Hybrid, entre outros nomes do luxo que prometem os seus híbridos para breve.

Bentley Mulsanne Hybrid A Bentley revelou em Abril, no Salão Automóvel de Pequim, uma variante híbrida da sua limusina de luxo Mulsanne, que se distinguirá das versões convencionais por elementos decorativos em cor cobre. O sistema hybrido plug-in aumentará a potência em 25% e reduzirá as emissões em 70%, garantindo 50 quilómetros de autonomia em modo 100% eléctrico. Embora não tenham sido revelados detalhes técnicos, é provável que a Bentley importe o sistema de propulsão dos modelos de luxo de outras marcas do grupo Volkswagen, já usado pela Porsche, Audi e no VW Touareg. A Bentley anunciou também o lançamento de um SUV híbrido plug-in para 2017 e prometeu que, no final da década, 90% dos modelos da sua gama usarão sistemas híbridos de propulsão.

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Porsche Panamera S E-Hybrid A segunda geração do Panamera resulta do ligeiro facelift que a Porsche fez há cerca de um ano e que introduziu na gama o primeiro Plug-in híbrido de luxo, com ganhos de potência e de consumo face ao híbrido da primeira geração. Este Panamera S E-Hybrid pode recarregar baterias em duas horas e meia numa tomada de alto débito e em menos de 4 horas numa normal tomada doméstica. Em modo 100% eléctrico a autonomia pode ir até aos 36 quilómetros e a velocidade máxima até 135 Km/h. Com a segunda geração nasceu também uma versão Executive, alongada em 15 centímetros face ao Panamera normal.

_____________________________________________ Ficha Técnica Dimensões (mm) Comprimento: 5015 / Largura: 1931 / Altura: 1418 / Entre-eixos: 2920 Propulsão Híbrida Motor V6 3,0 litros biturbo de 333 Cv entre 5500 a 6500 rpm e motor eléctrico de 70 kW (95 Cv) Potência máxima 416 Cv a 5500 rpm Binário máximo 590 Nm entre 1250 e 4000 rpm Tracção Traseira Caixa Automática Tiptronic S de 8 velocidades Velocidade máxima 270Km/h Aceleração 0-100 Km/h 5,5 segundos Consumos (l/100Km) Misto: 3,1 Emissões CO2 71g/KM

Mercedes Benz S 500 Plug-In Hybrid O S 500 Plug-In Hybrid é o terceiro e o mais sofisticado modelo híbrido da nova geração Classe S, depois do S 400 Hybrid e do S 300 BlueTec Hybrid. É também o primeiro Plug-in, ou seja, o primeiro em que as baterias podem ser recarregadas numa tomada eléctrica. Graças à segunda geração do sistema híbrido da Mercedes-Benz, este S 500 Plug-in Hybrid estabelece novos recordes de eficiência entre as grandes berlinas de luxo, com emissões abaixo de 70 gramas por quilómetro e um impressionante consumo de 3 litros por 100 quilómetros. Em modo 100% eléctrico, consegue percorrer 30 quilómetros. Uma versão longa limusina oferece mais 13 centímetros de comprimento. ________________________________________ Ficha Técnica Dimensões (mm) Comprimento: 5115/ Largura: 1900 / Altura: 1495 / Entre-eixos: 3035 Propulsão Híbrida Motor turbodiesel V6 3.0 litros de 245 Cv e 480 Nm e motor eléctrico de 80kW e 340 Nm Tracção Traseira Caixa Automática de 7 velocidades Velocidade máxima 250Km/h Aceleração 0-100Km/h 5,5 segundos Consumos (l/100Km) Misto: 3,0 Emissões CO2 69g/KM 68

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Lexus RX 450h 2WD Com o lançamento do RX 450h, em 2005, a Lexus tornou-se o primeiro fabricante de SUV de luxo a estrear uma motorização híbrida. Com o facelift de 2012, o 450h sofisticou-se ainda mais, elevando a qualidade e o luxo interior a novos patamares. O sistema Lexus Hybrid Drive também foi aprimorado, tornando-se ainda mais eficiente e passando a dispor de um modo Sport, a juntar aos modos Normal, Eco e EV (de Electric Drive ou 100% eléctrico). A tracção integral é garantida automaticamente, sempre que necessário, por um motor eléctrico suplementar de 50 kW (86 Cv), instalado directamente no eixo traseiro.

_____________________________________________ Ficha Técnica Dimensões (mm) Comprimento: 4770 / Largura: 1885 / Altura: 1720 / Entre-eixos: 2740 Propulsão Híbrida Motor V6 3.5 litros de 249 Cv, motor eléctrico de 123 kW (176 Cv) e motor no eixo traseiro de 50 kW (86 Cv). Potência máxima 299 Cv Tracção Integral Caixa Automática Velocidade máxima 200Km/h Aceleração 0-100Km/h 7,8 segundos Consumos (l/100Km) Estrada: 6,0 / Cidade: 6,5 / Misto: 6,3 Emissões CO2 145g/KM

Range Rover Hybrid Também o pioneiro dos SUV de luxo se converteu à propulsão híbrida, que está agora disponível nos modelos Range Rover e Range Rover Sport, garantindo uma redução de 26% nos níveis de emissões e poupanças ainda maiores nos consumos. Com carroçaria em alumínio e um chassis ultraleve, as versões híbridas do Range reclamam a originalidade de terem a primeira combinação electricidade-diesel entre os grandes SUV de luxo. O sistema combina o motor SDV6 3.0 litros diesel com um motor eléctrico de 35 kW de potência e 170 Nm de binário. Em modo 100% eléctrico, o Range Riover Hybrid pode atingir os 48 km/h. _____________________________________________ Ficha Técnica Dimensões (mm) Comprimento: 4999 / Largura: 1983 / Altura: 1835 / Entreeixos: 2922 Propulsão Híbrida Motor turbodiesel V6 3.0 litros de 356 Cv e motor eléctrico de 35 kW Potência máxima 340 Cv a 4000 rpm Binário máximo 700 Nm entre 1500 e 3000 rpm Tracção Integral permanente Caixa Automática ZF de 8 velocidades Velocidade máxima 218Km/h Aceleração 0-100Km/h 6,9 segundos Consumos (l/100Km) Estrada: 6,3 / Cidade: 6,7 / Misto: 6,4 Emissões CO2 169g/KM 12369

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BMW Activehybrid 7 Lançado inicialmente em Outubro de 2008, a segunda geração do luxuoso Activehybrid 7, derivado da limusina série 7, chegou ao mercado em 2012. Combina o bloco 3.0 de seis cilindros biturbo gasolina que equipa o 740i com um motor eléctrico de 40 kW (55 Cv). Em conjunto, o sistema híbrido liberta 354 Cv e um binário de 500 Nm. A caixa é automática de oito velocidades. A limusina tem mais 14 centímetros de comprimento. _____________________________________________ Ficha Técnica Dimensões (mm) Comprimento: 5079 / Largura: 1902 / Altura: 1471 / Entre-eixos: 3070 Propulsão Híbrida Bloco 3.0 gasolina biturbo de 320 Cv a 5800 rpm e 450 Nm de binário e motor eléctrico de 40 kW (55 Cv). Potência máxima 354 Cv Binário máximo 500 Nm a 1300 rpm Tracção Traseira Caixa Automática de 8 velocidades Velocidade máxima 250Km/h Aceleração 0-100Km/h 5,7 segundos Consumos (l/100 Km) Estrada: 6,0 / Cidade: 7,2 / Misto: 6,8 Emissões CO2 158g/KM

Audi A8 2.0 TFSI Hybrid

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A carroçaria em alumínio reflecte-se no peso e tem correspondência directa nas performances, consumos e emissões. O A8 Hybrid faz 100 quilómetros com apenas 6,3 litros e as emissões de 147 g de CO2 por quilómetro. O motor térmico turbo 2.0 TFSI liberta 211 Cv, a que se somam os 40 kW (55 Cv) do motor eléctrico. Em modo 100% eléctrico o A8 Hybrid é capaz de atingir os 100 Km/h. Para quem não dispensa chauffeur, a limusina longa tem mais 13 centímetros que um A8 normal. _____________________________________________ Ficha Técnica Dimensões (mm) Comprimento: 5135 / Largura: 1949 / Altura: 1460 / Entreeixos: 2992 Propulsão Híbrida Combina um motor 2.0 TFSI turbo gasolina de 211 Cv, com um motor eléctrico de 40 kW (55Cv) Potência máxima 245 Cv a 4300 rpm Binário máximo 480 Nm a 1500 rpm Tracção Dianteira Caixa Automática Tiptronic 8 velocidades Velocidade máxima 237 Km/h Aceleração 0-100 Km/h 7,7 segundos Consumos (l/100 Km) Extraurbano: 6,2 / Urbano: 6,4 / Misto: 6,3 Emissões CO2 147 g/Km

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LIVROS

1937 - O ATENTADO A SALAZAR JOÃO MADEIRA 1ª EDIÇÃO: Maio de 2014 Editor: Esfera dos Livros

“Domingo, 4 de julho de 1937, 10h20. Rua Barbosa du Bocage. O Presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar, preparava-se para sair da sua viatura oficial, um Buick, frente à casa do seu amigo pessoal Josué Trocado, em cuja capela privativa costumava assistir à missa dominical. De repente, uma enorme explosão atroa os ares e esventra a rua. Fumo, pedras, lajes e placas voam pelos ares. Abre-se uma cratera larga e funda na rua. A perplexidade é total. Ouve-se gritos, gente que foge, pessoas que acorrem a ver o sucedido”. Esta é uma história quase cinematográfica do atentado a Salazar. l

CAPITÃS DE ABRIL ANA SOFIA FONSECA 1ª EDIÇÃO: Fevereiro 2014 Editor: Esfera dos Livros

Esta obra revisita a Revolução de Abril numa perspectiva feminina. As protagonistas são as mulheres dos capitães de Abril. A jornalista e escritora Ana Sofia Fonseca percorreu estas vivências, recordações na primeira pessoa como se de uma grande reportagem se tratasse. O amor colocou-as no centro da revolução que derrubou o Estado Novo. “E elas cumpriram o seu papel. Em casa, para que a liberdade chegasse à rua”.l

25 DE ABRIL, 40 ANOS

ANTÓNIO COSTA PINTO 1ª EDIÇÃO: Abril 2014 Editor: CTT - Correios de Portugal

Os CTT - Correios de Portugal assinalam os 40 anos do 25 de Abril com o lançamento de um livro e de uma emissão de selos comemorativos que constituem uma radiografia multifacetada dos anos posteriores à também chamada “Revolução dos Cravos”. O livro, da autoria de António Costa Pinto, acompanha os acontecimentos mais relevantes que marcaram a fase de transição para a Democracia, sobretudo os anos que vão de 1974 a 1976, período de tensões político-sociais, durante o qual ocorreu o processo de independência das ex-colónias portuguesas. A obra contém dois selos e um bloco da emissão filatélica de 2014 alusiva ao tema. l

HISTÓRIA DO POVO NA REVOLUÇÃO PORTUGUESA 1974-75 RAQUEL VARELA 1ª EDIÇÃO: Março 2014 Editor: Bertrand Editora

A historiadora Raquel Varela apresenta-nos um retrato da participação popular na Revolução do 25 de Abril. “Nos livros de história eles são, não poucas vezes, invisíveis. Mas são os rostos comoventes destas grandes massas populares que oferecem sentido àquelas maravilhosas fotografias da revolução portuguesa”. l

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O ATAQUE AOS MILIONÁRIOS

PEDRO JORGE DE CASTRO 1ª EDIÇÃO: Março 2014 Editor: Esfera dos Livros

O livro do jornalista e historiador Pedro Jorge Castro destaca a acção do militar Rosário Dias, adjunto do então primeiro-ministro Vasco Gonçalves, na detenção dos líderes de grandes grupos económicos, em 1975. Em pleno Processo Revolucionário em Curso (PREC), a esquerda e os militares prendem vários empresários e gestores, sem culpa formada e com mandatos em branco, entre os quais membros das famílias Espírito Santo, Mello e Champalimaud. l

OS RAPAZES DOS TANQUES

ALFREDO CUNHA E ADELINO GOMES 1ª EDIÇÃO: Março 2014 Editor: Porto Editora

Compilação de imagens e testemunhos exclusivos dos homens que estiveram frente a frente no Terreiro do Paço e no Carmo, no dia 25 de Abril de 1974. As fotografias de Alfredo Cunha e as entrevistas conduzidas por Adelino Gomes levam a reviver aquelas horas e a percebermos as dúvidas, os receios, a ansiedade, a tensão, a esperança, as alegrias vividas por cidadãos que, depois desse dia, regressaram, na maior parte dos casos, ao anonimato. A obra dá a conhecer, também, o olhar que esses homens têm sobre o país, quarenta anos depois. l

PAÍS DE ABRIL, UMA ANTOLOGIA

PORTUGAL, A FLOR E A FOICE

Esta antologia reúne 29 poemas de Manuel de Alegre escritos pelo histórico socialista ao longo dos últimos 50 anos e reúne poemas originalmente publicados em “A Praça da Canção” (1964), “O Canto e As Armas” (1967), “Atlântico” (1981), “Chegar Aqui” (1984) e “Livro do Português Errante” (2001). Compreende ainda um poema dedicado a Salgueiro Maia, quase inédito, que só fora publicado uma vez no Jornal de Letras em 1992. “Nesta antologia há poemas que falam de Abril antes de Abril e de Maio antes de Maio”. l

Escrito em 1975, em cima dos acontecimentos que então convulsionavam Portugal, o livro “Portugal, a Flor e a Foice” resulta de uma observação pessoal que um português a viver no estrangeiro faz do seu país em mudança. Trinta e nove anos depois da primeira edição na Holanda, o livro, que será também reeditado naquele país, é editado em Portugal. Com acesso a círculos restritos nos anos que antecederam e sucederam a Abril de 1974, e a documentos ainda hoje classificados, J. Rentes de Carvalho faz uma história alternativa da Revolução dos Cravos. l

MANUEL ALEGRE 1ª EDIÇÃO: Março 2014 Editor: Dom Quixote

J. RENTES DE CARVALHO 1ª EDIÇÃO: Março 2014 Editor: Quetzal

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DOSSIÊ

ÁLVARO DE MENDONÇA

B

asta que esta revista possa ser publicada, com a sua diversidade de temas e opiniões, para dizer que o 25 de Abril valeu a pena. A revolução portuguesa de 1974 teve o mérito de apressar a queda de um regime à beira da exaustão e de pôr um ponto final numa guerra colonial que, mesmo à época, já não fazia sentido. Teve o mérito de colocar Portugal em rota de aproximação com as democracias europeia e de liberalizar mercados até então condicionados pela vontade do Estado. Abriu as portas de Portugal à Comunidade Económica Europeia, a percursora da

40 ANOS DE DEMOCRACIA EM PORTUGAL

1974 Às 18h40 do dia 25 de Abril de 1974, as primeiras imagens televisivas dão conta de uma mudança política que trouxe profundas consequências para Portugal.

A DEMOCRACIA COMEÇA AQUI...

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DOSSIÊ

A 2 5 D E N O V E M B R O D E 1 9 7 5 , O S O N H O D A D E M O C R A I A V O LT O U . U M G O L P E M I L I TA R C O M A N DA D O P O R R A M A L H O E A N E S E J A I M E N E V E S T E R M I N O U C O M A FA N TA S I A D E T R A N S F O R M A R P O RT U G A L N U M A E S P É C I E D E C U B A DA E U R O PA .

actual União Europeia, serviu de estudo de caso a outras revoluções posteriores, plantou as sementes de novas democracias em países africanos. Este foi o lado bom. Depois veio o lado mau: o PREC, o Período Revolucionário em Curso. Um ano e meio de furor revolucionário, que durou até 25 de Novembro de 1975, com greves e manifestações diárias, ocupações selvagens de casas e propriedades, nacionalizações e expropriações de empresas e negócios, prisões de pessoas sem culpa formada e com mandados de captura assinados em branco, ameaças de fuzilamento que levaram milhares de pessoas a fugir para o estrangeiro e um País dividido ao meio, entre o norte democrata e o sul comunista. Ano e meio de loucura perpetrada por nomes que a história se encarregará de julgar, como Otelo Saraiva de Carvalho e Vasco Gonçalves. A 25 de Novembro, o sonho da democracia voltou. Um golpe militar comandado por Ramalho Eanes e Jaime Neves terminou com a fantasia de transformar Portugal numa espécie de Cuba da Europa e deu voz a uma imensa maioria silenciosa que não se revia nessa ambição revolucionária. A mesma maioria silenciosa que, no Verão Quente de 75, encheu praças de todo o País para ouvir Mário Soares, Francisco Sá Carneiro e Pinheiro de Azevedo garantirem que a democracia era

possível e que valia a pena lutar pela liberdade. Depois do 25 de Novembro, o país normalizou. A constituição enterrou a “via para o socialismo” e a economia seguiu a via para o mercado, o estado de excepção deu lugar ao Estado de Direito, o Conselho da Revolução acabou e os líderes do país passaram a ser democraticamente eleitos. Com grande esforço, e com a ajuda do FMI, Portugal conseguiu sair da bancarrota, para onde dois choques petrolíferos e os desvarios revolucionários tinham atirado o País. As privatizações corrigiram alguns males das nacionalizações e as portas da integração europeia abriram-se. Chegaram torrentes de fundos comunitários, o país cresceu e desenvolveu-se, chegando a ser apresentado como o “bom aluno da Europa”. O virar do século trouxe uma década de desânimo. A corrupção, a má gestão das contas públicas e uma sucessão de lideranças políticas sem competência para governar o País, afastaram os eleitores dos eleitos. A crise financeira internacional, a maior desde 1929, voltou a atolar Portugal na bancarrota e obrigou a um Programa de Ajustamento da economia, com o apoio do FMI, da União Europeia e do Banco Central Europeu. O que se espera agora é que os políticos saibam recuperar a confiança do País. Todos nós acreditamos que o 25 de Abril valeu a pena. Todos nós queremos continuar a acreditar que valeu. l

1975 O 25 de Novembro de 1975 foi o golpe militar que pôs fim à influência da esquerda radical iniciada em Portugal com o 25 de Abril de 1974

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NO D EG SÓ S ICÊI O S

economia

JOÃO BÉNARD GARCIA

OS CUSTOS DO PROGRESSO ECONÓMICO AS NACIONALIZAÇÕES E OUTROS EXCESSOS REVOLUCIONÁRIOS, DOIS CHOQUES PETROLÍFEROS E A M A I O R C R I S E F I N A N C E I R A M U N D I A L D E S D E 1 9 2 9 , L E VA R A M P O R T R Ê S V E Z E S O PA Í S À B A N C A R R O TA . A ADESÃO À UNIÃO EUROPEIA, OS GRANDES INVESTIMENTOS PÚBLICOS E A EVOLUÇÃO PRÓPRIA D O S T E M P O S P E R M I T I R A M U M A M E L H O R I A G E R A L D A R I Q U E Z A E D O B E M - E S TA R .

1976

14 DE JULHO - Ramalho Eanes torna-se no 16º Presidente da República.

E

m 1974, quando a revolução rebentou em Portugal, os maiores encargos orçamentais do Estado eram a Guerra Colonial e os custos com a energia, agravados pelo choque petrolífero mundial de 1973. Quarenta anos depois, o maior peso da despesa pública está do lado das reformas e dos subsídios de desemprego. Os dados nesses itens são impressionantes, quando comparados: em 1974 havia oficialmente registados 2,1% de desempregados e hoje a taxa estará estabilizada nuns elevados 16%. Doze vezes superior. Se formos escalpelizar os números de reformados e pensionistas ficamos ainda mais estupefactos: havia 780 mil aposentados em 1974, hoje saltaram para 3,6 milhões. Esses factos, associados ao endividamento das empresas e das famílias

e às políticas de obras e investimentos públicos intensivos, explicam em parte a escalada da dívida pública, medida em termos de Produto Interno Bruto (PIB) e a reboque de crescimentos económicos anémicos, que a fizeram saltar de 14% do PIB, na alvorada de Abril de 74, para 129% no entardecer de 2014. Pouco antes de Marcelo Caetano, o Chefe do Governo, se render no Quartel do Carmo, reinavam na economia nacional as actividades de comércio por grosso e retalho, o fabrico de maquinaria, a construção e as indústrias químicas e de petróleo, seguidas dos têxteis, da confecção e do calçado. Alguns destes sectores estavam bastante obsoletos e viviam da prática de salários baixos e da constante desvalorização da moeda, o escudo, medidas proteccionistas que

economia DÍVIDA PÚBLICA(% DO PIB)

EXPORTAÇÕES (MILHÕES)

QUANTO VALE O DINHEIRO?

1991 55,6%

1977 539,2€

1974 50 Escudos

2013 129,0%

2011 54 355,7€

2014 6,94 Euros

$

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NEGÓCIOS

mantiveram o país à tona, muito à custa da crónica redução do poder de compra dos trabalhadores. Com valores de PIB per capita a roçar os 56% da média europeia em 1974, a economia fez um esforço tremendo para absorver cerca de um milhão de portugueses que abandonaram as colónias e regressaram à pátria. Aguentou-se a riqueza, mas, mesmo assim, nunca ultrapassou os 62% da média do PIB dos seus congéneres mais ricos europeus. Nem os nove milhões de euros diários de fundos estruturais e de coesão comunitários que Portugal recebeu entre

1977 19 DE NOVEMBRO - Foi o mais grave acidente aéreo registado em Portugal. O voo TAP Portugal 425 despenhou-se às 21h48m, no aeroporto do Funchal, na Madeira.

1986 e 2010, por força da adesão à União Europeia e com a mudança da moeda do escudo para o Euro, foram suficientes para tirar o país, e os portugueses, do rotineiro ciclo de empobrecimento, especialmente na década de 2000-2010, período em que o País viu a sua riqueza crescer no total uns parcos 4% - com políticas de crescimento sustentadas, ano após ano, em elevados défices públicos e numa política de investimento em autoestradas, vias que passaram de 42 km em 1974 para 3100 km em 2013, em parte graças às polémicas parcerias público privadas (PPP’s). Apesar das fragilidades da economia portuguesa, o que se observa, ao longo destes quarenta anos, é que os empresários fizeram um esforço notável de investimento (muito por via do crédito bancário e do endividamento), de inovação e de apostas verdadeiramente estratégicas, que passaram pela internacionalização, incremento da qualidade e pela renovação em sectores como o turismo, por muitos classificado como o “petróleo” de Portugal, mas também na cerâmica, mobiliário, têxteis e calçado,

moldes, papel, cortiça, vinho, automóveis, serviços (banca e telecomunicações) e tecnologia de ponta, a maioria deles plasmados como “estratégicos” no célebre (e controverso) “Relatório Porter” sobre a competitividade da economia portuguesa, documento elaborado em 1994 pelo conceituado economista norte-americano Michael Porter. Sem querer concluir este texto com o lado mais negro da vida económica nacional, é inevitável ter que falar de três momentos marcantes na vida – e especialmente na carteira dos portugueses: por três vezes (1977, 1983 e 2011) estivemos à beira da bancarrota e por três vezes fomos salvos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), acrescido na última vez pelos nossos parceiros europeus, apesar de todos os esforços dos especuladores e das agências de rating para forçar o país a um default. Não obstante de estas dificuldades, no índice geral de competitividade das nações, Portugal, com todos os constrangimentos da sua economia, pontua agora em 51º lugar no ranking que classifica a riqueza de 148 nações. l

O LO N G O D E S T E S Q UA R E N TA A N O S , OS EMPRESÁRIOS FIZERAM UM E S F O R Ç O N O T ÁV E L D E I N V E S T I M E N T O , D E I N O VAÇ ÃO E D E A P O S TA S V E R D A D E I R A M E N T E E S T R AT É G I C A S .

INFLAÇÃO

PIB PER CAPITA (PREÇOS CONSTANTES 2006 MILHARES)

REMUNERAÇÃO MÉDIA DE HOMENS E MULHERES

1978 21,04%

1974 7 332,9€

Homens 160,9€

2013 0,27%

2012 14 809,3€

Homens 999€

1985 2012

Mulheres 125,4€ Mulheres 813,7€

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DOSSIÊ

ENTREV I STA COMEN DA D O R

RU I

N A B E I RO

, P R E S I D E N T E D A D E LTA C A F É S

“O 25 DE ABRIL FOI MUITO POSITIVO PARA OS PORTUGUESES” ESTAVA A TORR AR CAFÉ NA TORREFACÇÃO CAMELO QUANDO, AOS 43 ANOS, RECEBEU A NOTÍCIA DE QUE O REGIME TINHA CAÍDO. ESTA EFEMÉRIDE REPRESENTOU PAR A RUI NABEIRO, FUNDADOR DA DELTA CAFÉS, UMA OPORTUNIDADE DE NEGÓCIO CATARINA DA PONTE

RESULTANTE DE UMA SÓLIDA REL AÇÃO COM ANGOL A PRÉ 25 DE ABRIL DE 1974.

SOFIA ARNAUD

“O País precisa neste momento de uma doutrina de amizade. É essa a mensagem e atitude que tento passar para todos”, refere o comendador Rui Nabeiro. O fundador e presidente da Delta Cafés, uma das referências portuguesas na área da responsabilidade social, não tem dúvidas de que muito mudou, para melhor, no pós-25 de Abril de 1974. “Veio a liberdade, o direito à expressão, criou-se o sindicato para defender o trabalhador, o tribunal de trabalho e outras coisas que melhoraram a vida das pessoas”, garante..

página número

1978

O ano em que Portugal teve quatro governos: o primeiro durou 29 dias; o segundo sete meses; o terceiro três meses, sempre em gestão e sem tomar posse; e o quarto durou os restantes 40 dias.

Estamos a comemorar os 40 anos do 25 de Abril de 1974.. O que é que a data representou na sua vida? Nasci em 1931, no interior do País, numa altura em que tudo era muito longe, os meios eram

escassos e as condições de vida extremamente difíceis. Nessa época, a vida era muito árdua para quem vivia do trabalho. O 25 de Abril de 1974 apanhou-me com 43 anos, quando já trabalhava por conta própria. Na altura, a semana tinha sete dias de trabalho e era eu quem abria a porta da fábrica. Considero que o 25 de Abril foi um momento muito positivo para os portugueses. Enquanto empresário e como homem dei passos profissionais muito importantes nesta altura, o que me fez crescer. Estou muito feliz com esse 25 de Abril que resolveu problemas de muita gente. Onde estava no 25 de Abril de 1974? Estava a torrar café na Torrefacção Camelo, mas

economia CONSUMO PÚBLICO (% PIB)

1970

12,0%

2013 19%

PIB (PREÇOS CONSTANTES 2006 – MILHARES)

RENDIMENTO NACIONAL DISPONÍVEL (% DO PIB)

1974 64 494 792,1€

1974 106,3%

2013 153 590 199,9€

2013 99,3%

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1979 19 DE JULHO - Primeira mulher portuguesa a assumir o cargo de Chefe do Governo, Maria de Lourdes Pintasilgo, foi indigitada pelo Presidente da República, General Ramalho Eanes, para chefiar o V Governo Constitucional (01.08.1979 – 03.01.1980).

DESPESAS DO ESTADO (% DO PIB)

TAXA DE DESEMPREGO TOTAL

TOTAL DE EMPRESAS NÃO FINANCEIRAS

1977 19,2%

1974 2,1%

1991 392 516

2013 38,4%

2014 16%

hire me

2012 1 062 782 79

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ENTREVISTA COMENDADOR RUI NABEIRO

1980 7 DE MARÇO - Primeira transmissão regular a cores (da televisão) em Portugal

era já um homem metido na política, tinha passado pela Câmara Municipal de Campo Maior, nos anos 60, de onde saí porque me incompatibilizei com um elemento do Governo Civil. Em 72 fui nomeado Presidente da Câmara. Entrei em Fevereiro e saí em Setembro, porque o governador civil também se zangou comigo. Por isso quando veio o 25 de Abril manifesteime com as outras pessoas da terra. Não fui das primeiras pessoas a saber da revolução, porque me levantava muito cedo para ir trabalhar, mas quando recebi a notícia foi uma enorme alegria. Toda a gente gritou e ficou feliz. Na nossa terra haviapessoas ligadas ao PCP e isto incendiou.

Muita gente diz que o País mudou. Que diferenças notou? Em 1974 muito pouca gente conhecia o mundo, havia uma vida totalmente diferente, o empresário que vivia da agricultura tinha uma vida muito próxima da escravidão, algumas pessoas caminhavam cerca de 7 ou 8 quilómetros para irem trabalhar nos campos. Hoje, os tempos são, de facto, outros. Quase toda a gente tem carro e habitação própria. Além disso, com o 25 de Abril veio a liberdade, o direito à expressão, criou-se o sindicato para defender o trabalhador, o tribunal de trabalho e outras coisas que melhoraram a vida das pessoas.

economia VALOR DA PORTAGEM NA PONTE 25 DE ABRIL

NÚMERO DE VEÍCULOS A ATRAVESSAR A PONTE 25 ABRIL

TAXA POUPANÇA DAS FAMÍLIAS (% DO PIB)

0,20$ (classe 1 - ex. Mini) 0,40$ (classe 3 - ex. Carocha)

1974 11,6 milhões

1974 25%

2014

2013 50 milhões

2013 9,3%

1974

1,65€ (classe 1 - Integra classe 1 e 3 de 1974) 80

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Começou a trabalhar aos 13 anos, com o seu tio Joaquim, na Torrefacção Camelo e, pouco tempo depois ,assumiu a direcção da sociedade. Nos anos 60 fundou a Delta Cafés, com apenas três funcionários. Como é que a tornou na empresa portuguesa mais reputada? Aprendi muito com o meu tio Joaquim e, por outro lado, ele viu em mim uma pessoa com atitude e, portanto, sempre me apoiou, sobretudo nos primeiros passos. Apesar de trabalhar com ele e com outros familiares, sonhei sempre fazer a minha empresa. Na altura tinha um pequeno mealheiro e uma dezena de milhares de escudos, numa conta a prazo no banco. Vi um terreno com uma fábrica de azeitonas e decidi comprá-lo. Fi-lo em 1961, não tinha o dinheiro todo, mas na altura já confiavam em mim, o que me permitiu começar a realizar o meu sonho. Comprei um pequeno torrador, uma pequena máquina para cortar e arranjei três pessoas reformadas (dois homens da GNR e um da Guarda Fiscal), para as coisas estarem também mais ou menos protegidas (risos...). Mas não deixei o meu trabalho, continuei as minhas funções na Torrefacção Camelo. Teimosamente fui caminhado e a minha empresa foi crescendo. Apostei num café mais popular – a cevada pura –, e ganhei alguma liderança desse mercado. Em meados dos anos 70 já vendia alguma coisa, a concorrência foi-se distraindo e quando deram por mim, já estava muito perto deles!. Que concorrência era essa? Uma série de marcas regionais que existiam na altura como por exemplo a Sical, Nicola, Caféeira, Cafés Christina, Luso-Brasileiro, entre outras. Não

era muito difícil vender, mas eu comecei a caminhar para onde se produzia o café: Angola. Trabalhei bastante lá, consegui comprar bem e consegui trazer para Portugal muito café, e em boas condições. Como era a sua relação com Angola após o 25 de Abril? Quando se deu o 25 de Abril eu tinha já uma ligação bastante forte com Angola. Comecei a ir para lá no início dos anos 70, para combater os meus adversários com melhores preços. Ganhei estatuto, condições e trouxe café verde. Quando se deu o 25 de Abril tinha um bocado de café em Angola, algo que os meus concorrentes não tinham. Conhecia aquilo tudo, consegui arranjar um barco para ir lá buscar o café e, num momento difícil em que toda a gente estava em crise e havia o condicionamento comercial (em que cada um só tinha direito a comercializar aquilo que tinha importado no ano anterior), eu consegui trazer centenas de toneladas de café. A concorrência ofereceu-me milhões por aquilo, mas eu não vendi! No entanto, dispensei café a muita gente, sobretudo aos comerciantes que eram meus amigos. Esse barquinho deu-me muita dor de cabeça, porque era alugado à Companhia Nacional de Navegação, que já não tinha barcos disponíveis, pois tinham ido todos para o Ultramar. Consegui que me subalugassem um barco grego.Já nessa altura diziam que os gregos eram capazes de muita coisa, mas eu tratei-os bem para eles me tratarem bem a mim. Foi uma jornada extraordinária!

1981 Foi um ano muito activo para os terroristas das Brigadas das Forças Populares 25 de Abril, mais conhecidas como Brigadas FP 25 de Abril. Bombas e assaltos a bancos, explosões em quartéis da GNR e numa esquadra da PSP, e atentados contra empresários, estiveram no rol das acções.

Mas não se ficou só por Angola.. Caminhei também para a Europa, onde havia muito café. Fui a Trieste, no sul de Itália, a Amesterdão

SALDO MIGRATÓRIO (MILHARES DE PESSOAS)

SALÁRIO MÍNIMO MENSAL

SALDO DA BALANÇA COMERCIAL (MILHÕES)

1973 -83,9

1974 17,8€

1996 - 310,74€

2012 -37,3

2014 565,8€

2013 + 2,85€ 81

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ENTREVISTA COMENDADOR RUI NABEIRO

“EU E OS MEUS CLIENTES SOMOS UMA FAMÍLIA, NÃO É P OSSÍVEL DESCREVER E M P A L AV R A S A A M I Z A D E Q U E T E N H O P E L O S M E U S C L I E N T E S ”.

1982 MAIO DE 1982 Visita de João Paulo II a Portugal.

e Roterdão, na Holanda, e a Hamburgo, na Alemanha. Fui com a minha língua (tenho a 4.ª classe) e valia-me de algum amigo que me pudesse ajudar no local para fazer negócio. No Alentejo dos anos 30 terminou a 4.ª classe com distinção, num período em que o analfabetismo era quase total. Com o empurrão do seu tio entrou no mundo do café e nunca mais de lá saiu. Pode dizer-se que foi na Torrefacção Camelo que tirou a sua licenciatura empresarial? Sim, sem dúvida nenhuma! A Torrefacção Camelo era uma empresa voltada para o mercado espanhol. No mercado português não vendíamos

absolutamente nada. Comecei a caminhar para Espanha para ver como se criava a marca. Sempre segui os caminhos do meu tio, sobretudo na sua relação com os clientes. Aprendi com ele como caminhar e como vencer, e isso deu-me uma formação, uma visão e uma abertura de horizontes. O meu curso foi, de facto, saber trabalhar e saber onde e como procurar o cliente. Fazendo uma retrospectiva do seu percurso empresarial, qual foi o maior desafio de todos? A minha vida foi e continua a ser um desafio. Hoje já tenho alguns familiares junto de mim, com quem divido forças e objectivos. Mas penso que a minha maior audácia foi o contacto com os espanhóis. Outro desafio igualmente importante foi conhecer África antes do 25 de Abril. Quando as pessoas vieram de África eu caminhei para lá e foi isso que me deu sustentabilidade e crescimento. O factor sorte também foi sempre muito importante. O que representam para si os seus clientes? Um cliente é mais do que um amigo. A minha mulher fica muitas vezes aborrecida comigo (mas depois passa-lhe logo a seguir), porque às vezes temos previsto ir a determinado local e eu aproveito para me encontrar com o cliente nesse mesmo local. Não me esqueço da família e, muito menos, com quem vivo há quase 70 anos, mas o cliente é a nossa razão de ser. Sem clientes não vivo, dou tudo por um cliente. Eu e os meus clientes somos uma família, não é possível descrever em palavras a amizade que tenho pelos meus clientes. Refere várias vezes que vive para o trabalho, para a causa humana e para o bem da sociedade. Estas são algumas das razões

economia SALDO DE TRANSACÇÕES TECNOLÓGICAS (MILHÕES)

TRANSFERÊNCIAS FINANCEIRAS UE-PORTUGAL (MILHÕES)

REMESSAS DE EMIGRANTES (MILHÕES)

1996 - 328,3€

1986 + 329,7€

1975 104,6€

2013 - 381,75€

2013 + 6 124,6€

2013 3 015,7€

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pelas quais já foi distinguido pela sociedade portuguesa nas mais diversas formas. São esses exemplos e valores que transmite aos seus filhos e netos? Estou nesta terra e no mundo por uma causa social e pela causa do bem servir. Em criança estava sempre disponível para qualquer serviço que uma vizinha me solicitasse e gostava de partilhar. Todos temos obrigação de lutar por uma causa comum. Foi por isso que criámos na Delta a Associação Coração Delta, ou o projecto “Tempo para Dar”. O País precisa neste momento de uma doutrina de amizade. É essa a mensagem e atitude que tento passar para todos.

fábricas, deixaram os campos e o vinho acabou por desaparecer de Campo Maior. Mas sempre fiquei com “a pulga atrás da orelha” e com o sonho de fazer uma adega. Começámos a pensar quem poderia desenhar a adega e acabámos por escolher o Álvaro Siza Vieira para o fazer. Hoje a minha neta Rita Nabeiro também está ligada a este projecto. Estamos a vender bem, vamos inclusivamente aumentar a nossa capacidade de produção e acabámos de lançar o Vinho Siza.

É uma pessoa particularmente sensível aos problemas sociais, e a Delta é um exemplo de responsabilidade social. Qual a qualidade que mais aprecia nos seus colaboradores? Começo cedo a trabalhar, inicio o dia na Torrefacção Camelo, onde chego, vejo sorrisos, distribuo apertos de mão e recebo os beijos das funcionárias. Nada me dá mais prazer que ver os colaboradores a gostarem do que estão a fazer e da casa onde trabalham.

O Grupo Nabeiro está actualmente ligado às mais diversas áreas de actividade. A sua obra mais recente é o Centro de Ciência do Café (CCC), que inaugurou dia 28 Março. Depois desta obra, o que lhe falta ainda inaugurar? O sonho concretizado este ano, no dia do meu aniversário, foi mais uma prova do gosto por aquilo que faço. Apesar de estarmos a trabalhar em 23 cidades do País, está em estudo uma afirmação a sério fora do País, que nos possa dar sustentabilidade. Mas também quero deixar sonhos para os mais jovens, para os filhos e para os mais novos.

Os primeiros passos rumo à concretização do projecto de vinho em Campo Maior são dados em 2002. A aposta nos vinhos é um sonho antigo? A nossa terra (Campo Maior) é muito sui generis. Há cerca de 300/400 anos todos os seus habitantes tinham uns terrenos baldios (do município e da população), nos quais havia plantações de trigo ou cevada para o pão, vinhas e olivais. Nos anos 50/60 foi inaugurada a Barragem do Caia, que absorveu grande parte da vinha e do olival. As pessoas começaram a ir trabalhar para

São seis os elementos da família Nabeiro ligados aos mesmos negócios, todos eles em redor da Delta. Que mensagem quer deixar às novas gerações que amanhã tomarão conta do negócio? Não pedi a nenhum deles que viesse trabalhar comigo. Os meus netos vieram porque gostavam do que o avô fazia e decidiram abraçar a sério o projecto. Nesta casa pratica-se o sonho com trabalho. A nossa grande ambição é o trabalho, apesar de queremos viver bem e ter os nossos bens. Portanto, tenho a certeza absoluta de que se fará sempre melhor nesta casa. l

1983 AJUDA EXTERNA Foi o ano em que, pela segunda vez e em força, o FMI entrou em Portugal. O País estava em recessão, o Governo era de Bloco Central liderado por Mário Soares (PS) e Mota Pinto (PSD), a inflação era de 30% e o empréstimo foi de 750 milhões de dólares. O descontentamento imperava nas ruas. O programa foi um sucesso.

CONSUMO DAS FAMÍLIAS NO TERRITÓRIO ECONÓMICO (% DO PIB )

IMPORTAÇÕES DE BENS E SERVIÇOS (MILHÕES)

TAXA DE INVESTIMENTO TOTAL

1970 66,1%

1977 1 073€

1977 26,2%

2013 66,2%

2011 67 110,7€

2011 20,6% 83

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DOSSIÊ

OPINIÃO

MÁRIO ASSIS FERREIRA Presidente Não Executivo da Sociedade Estoril Sol

REVOLUCIONAR

N

1984 O Governo liderado por Mário Soares dá ordens à GNR para dispersar, à bastonada e com gases lacrimogéneos, uma manifestação de trabalhadores da Lisnave que tinha cortado o trânsito na Ponte 25 de Abril, em Almada.

ão sei se foi uma Revolução, um Golpe de Estado, ou uma Insurreição Militar. Nem sei se, tão apenas, foi um regime moribundo, exausto de si próprio, em expiação de cair à simples visão de uma “Chaimite”… Mas, volvidas quatro décadas, pouco importa essa catalogação. Porque na História sempre existem três leituras para cada episódio relevante: quando acontece, quando é escrito e quando são compreendidas as suas consequências. Fosse o que fosse, a dita Revolução – mais de flores que de baionetas – foi feita por homens e nada altera os genes que regem a Humanidade: face à opressão, os inferiores rebelam-se para serem iguais; e os iguais rebelam-se para serem superiores. É esse o berço que embala as revoluções; é esse o instinto que legitima a volubilidade de ser-se humano. Talvez por isso, reza a História que as revoluções nunca aproveitam a quem as faz. Ou, numa visão mais prosaica, todas as revoluções começam na rua para acabarem à mesa… Nem todas, felizmente: a nossa, a de 25 de Abril,

alimentou muitas mesas, mas também nutriu alguns espíritos: na amálgama dessa anónima massa humana que uma revolução exacerba, sempre emergem protagonistas inspirados por Ideais. Porque não são apenas os homens que fazem as revoluções; as revoluções também fazem os homens – ou, ao menos, alguns Homens. E é no transe desse paroxismo revolucionário que os seus carácteres se revelam e são, política e eticamente, postos à prova. Pois que o mesmo útero revolucionário, que gera a virulência anímica de uma turba desregrada, também gera, em alguns Homens, límpidos desígnios traçados na pureza dos seus Ideais. Uns melhores, outros nem tanto, mas todos eles credores de mérito pela coerência das causas por que lutaram, em prol dos princípios em que acreditavam e sempre defenderam. Uns, em nome da Democracia, no intuito de reinstalar o modelo de uma antagónica Ditadura; outros, em nome da Liberdade, no anseio de preservar os valores da Democracia. Venceu, em Portugal, a Democracia: uma Democracia mais realista e cautelarmente pragmática do que

economia GRAU DE EXPOSIÇÃO AO COMÉRCIO INTERNACIONAL

RENDIMENTO MÉDIO DISPONÍVEL DAS FAMÍLIAS

RECEITAS FISCAIS DO ESTADO (MILHÕES)

1977 16,79%

1992 17 099,8€

1980 962,0€

2011 33,57%

2013 30 459,7€

2012 32 040,6€

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DOSSIÊ

1985 essa outra que, nos idos de 1789, inspirou, nos seus Ideais, a Revolução Francesa. Uma Democracia prudente nos seus desígnios, ciente de que “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” sempre seria, em Portugal, uma trilogia utópica. Porque a Natureza é mãe e madrasta: pode nascerse Igual, mas a matriz biológica, a maré das circunstâncias, sempre nos faz desiguais. E pode apregoar-se a Fraternidade, reforçar-se a praxis agregadora de um espírito de Nação: mas a ambição sempre espreita em cada esquina da vida, a inveja nunca resiste ao enleio da oportunidade. Sobrou-nos a Liberdade, herdeira dessa Revolução. E, porque intacta e perene, convertemos a Liberdade em sinónimo da Democracia. O que, por definição, inculca o princípio de uma Liberdade Responsável. Pois que a Liberdade, enquanto emanação da Democracia, só permanecerá intacta se for um direito ao cumprimento do próprio dever. E só continuará perene se for um dever ao respeito do direito à Liberdade do próximo. É nessa responsável simbiose de limites e capacidades que habita, em Democracia, a autêntica

Liberdade. A de chegar até ao fim do pensamento. A de gritar a própria insatisfação. A de acusar a injustiça sofrida. A de aceitar dificuldades inevitáveis, superando frustrações desmobilizadoras. A de mudar o que carece ser mudado − o próprio mundo talvez… A de “Revolucionar” ideias pré-concebidas, preconceitos anquilosados, ideologias bafientas. A de escolher, em Liberdade, as nossas próprias prisões… Foi esse o precioso dote que o 25 de Abril nos legou. Volvidos 40 anos, é tempo de agradecer esse sopro de Liberdade que, de início, nos embriagou, mas que o tempo soube sazonar em maturidade responsável. Uma Liberdade que, sem nos mudar, nos transformou. Porque o que somos não muda. O que muda é a Liberdade do que escolhermos ser! l

12 DE JUNHO - Portugal assina o tratado de adesão à CEE, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, com efeitos a partir de 1 de Janeiro 1986. Espanha assina no mesmo dia, em Madrid.

NOTA: Texto gentilmente cedido pela revista Egoísta

DÍVIDA DIRECTA DO ESTADO (MILHÕES)

NÚMERO DE EXPLORAÇÕES AGRÍCOLAS

PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉCTRICA A PARTIR DE FONTES RENOVÁVEIS

1980 2 367,6€

1968 811 656

1995 9 501 GWh

2013 204 252,3€

2007 275 083

2012 20 654GWh 85

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NO D EG SÓ S ICÊI O S

política

JOÃO BÉNARD GARCIA

DA REVOLUÇÃO À DEMOCRACIA H O U V E U M A R E V O L U Ç Ã O E M L I S B O A . F O I F E I TA C O M C A N Ç Õ E S N A R Á D I O E C R AV O S N A P O N TA D A S E S P I N G A R D A S . U M P U N H A D O D E C A P I TÃ E S D O E X É R C I T O E P O V O E U F Ó R I C O NA RUA A CELEBR AR A LIBERDADE. TROCAR AM-SE UMA DÚZIA DE TIROS E UM CHEFE DE GOVERNO RENDEU-SE PER ANTE O GENER AL ANTÓNIO SPÍNOL A, NUM QUARTEL DA GNR. D E I X O U A C A P I TA L , A C O S S A D O , D E N T R O D E U M A C H A I M I T E .

1986

9 DE MARÇO Mário Soares vence as eleições presidenciais com 51,2% dos votos contra 48,8% de Freitas do Amaral, naquelas que foram consideradas as Eleições Presidenciais mais renhidas de sempre na história da democracia em Portugal.

D

epois vieram os políticos da nova geração: o socialista Mário Soares chegou de comboio e foi recebido em euforia; o comunista Álvaro Cunhal aterrou no aeroporto da Portela e foi saudado com entusiasmo. Mais comedido, o socialdemocrata Francisco Sá Carneiro anunciou na televisão a formação de um partido, o PPD, ao lado de Francisco Pinto Balsemão, António de Sousa Franco e Magalhães Mota. O CDS, mais à direita, juntava Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa. Estavam lançados os primeiros protagonistas políticos do período pós-revolução. Todavia, caberia a outros aguentarem o barco até as águas serenarem: pela Junta de Salvação Nacional passaram Adelino da Palma Carlos, Vasco Gonçalves e Pinheiro de Azevedo.

E que águas! O País vivia a ressaca do primeiro choque petrolífero mundial e da profunda crise para que ele atirara a Europa. As estruturas políticas eram frágeis. Os militares tinham poder, armas e agitação nos quartéis. Os comunistas tentavam espetar uma lança ideológica na ponta mais ocidental da Europa. Portugal era, em 1974 e 75, um explosivo caldeirão político-ideológico e socioeconómico. Reinava a barafunda, o poder esteve na rua, nas ocupações de casas, campos e empresas. Quase 80% da economia foi nacionalizada em 1975. As ameaças de morte e as prisões revolucionárias, sem culpa formada, forçaram ao exílio toda uma geração de quadros, banqueiros, engenheiros, advogados e gestores qualificados. A 25 de Novembro de 1975 apareceu um tenente-coronel, chamado António Ramalho

política ABSTENÇÃO NAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS

MULHERES DEPUTADAS NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

A PRINCIPAL PROFISSÃO DOS DEPUTADOS

1975 8,5%

1975 15 (em 250)

1975 108 juristas (em 250)

2011 41,9%

2014 62 (em 230)

2013 71 juristas (em 230)

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NEGÓCIOS

Eanes, que deu um golpe de Estado e pôs ordem na confusão. A Constituição foi aprovada e sem sobressaltos. A serenidade e seriedade de Ramalho Eanes valeram-lhe apoios suficientes para ser escolhido, com 61% dos votos, como primeiro Presidente da República eleito no período pós-25 de Abril. Antes dele, o Presidente-interino Francisco Costa Gomes, desdobrara-se para controlar os excessos do primeiro-ministro Vasco Gonçalves e do operacional da revolução Otelo Saraiva de Carvalho. Os cofres estavam vazios, por força da euforia da revolução e das nacionalizações. A economia, as empresas e o investimento

1987 27 DE MAIO O Futebol Clube do Porto (FCP) conquista a Taça Intercontinental de Futebol (vencendo o Peñarol por 2-1), um dos maiores êxitos de sempre o futebol português em competições internacionais.

congelados. O País entra em bancarrota e o FMI teve que o socorrer. Estávamos em 1977. O segundo choque petrolífero, em 1978, veio agravar ainda mais a situação. Os políticos não se entendiam. A instabilidade era rotina: Mário Soares, Alfredo Nobre da Costa, Carlos Mota Pinto, Maria de Lourdes Pintasilgo, a primeira e única mulher a chefiar um Governo em Portugal, rodaram na chefia de governos instáveis. Francisco Sá Carneiro (PPD) liderou um Executivo de Aliança Democrática (AD) mas acabaria morto ao lado de Adelino Amaro da Costa no desastre aéreo de Camarate, a 4 de Dezembro de 1980, pondo fim às imensas expectativas neles depositadas. Sucedeu-lhe Francisco Pinto Balsemão, que governou sobre a sombra das bombas, assaltos e sequestros das Brigadas Revolucionárias FP25 de Abril. As eleições de 1983 abriram portas a um Governo de Bloco Central liderado por Mário Soares (PS) e apoiado por Carlos Mota Pinto (PSD). Durou dois anos. O tempo do FMI voltar a salvar o país de nova bancarrota e de Portugal começar a preparar a sua entrada na então Comunidade Económica Europeia (CEE), o embrião

da actual União Europeia (UE), facto que viria a acontecer oficialmente em 1986. O período que se segue, de 1985 a 2014, são tempos que oscilam entre a euforia dos Fundos Comunitários da “década de ouro” de Aníbal Cavaco Silva (1985-1995), com Mário Soares Presidente em diatribes políticas de bastidores; os anos serenos do socialista António Guterres (1995-2002) com o também socialista e Presidente Jorge Sampaio mais beneplácito; a ascensão ao poder de José Manuel Durão Barroso (o delfim de Cavaco Silva); o seu abandono para rumar à Presidência da Comissão Europeia, em 2004, e a entrega fugaz de poder a Pedro Santana Lopes; a subida do socialista José Sócrates ao poder e a sua queda por força da crise financeira e económica internacional, com Cavaco Silva já instalado na cadeira de Belém (2006-2011 e reeleito nesse ano para mais um mandato); e a ascensão do social-democrata Pedro Passos Coelho à liderança de um Governo de coligação que governa espartilhado pela austeridade de um Memorando de Entendimento assinado com uma “troika” de credores internacionais. l

P O RT U G A L E R A , E M 1 97 5 , U M E X P LO S I V O C A L D E I R ÃO P O L Í T I CO - I D E O LÓ G I CO.

CUSTOS COM A CAMPANHA ELEITORAL

NÚMERO DE MUNICÍPIOS

NÚMERO DE FREGUESIAS

1975 31 mil contos (155 mil euros ao câmbio actual)

1976 304

1976 4 092

2012 10,7 milhões de €

2013 308

2013 4 259 87

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DOSSIÊ

OPINIÃO

LUÍS OSÓRIO Jornalista e colunista

UM NOVO 25 DE ABRIL DERRUBARÁ O 25 DE ABRIL

1988 25 DE AGOSTO Ocorrência de um violento incêndio no bairro do Chiado, em Lisboa. Durante uma madrugada de Agosto, o fogo destruiu dezoito edifícios no coração da capital, nomeadamente os históricos Armazéns do Chiado e o Armazéns do Grandella.

P

recisamos do que não temos e raramente nos basta o que damos por garantido. É um lugar comum, dos mais óbvios – se formamos uma família perdemos a paixão por entre as curvas; se vivemos apaixonados sentimos uma sede de família que nos obriga a parar na primeira fonte. A vida é feita disto. Das rotinas de que depende uma relação com filhos, árvores de Natal e cabrito ao domingo; da quebra de rotinas de que precisam os apaixonados. Dois mundos inconciliáveis e sempre presentes no que fomos: nesta batalha, o exército ruidoso, que nos provoca dores de barriga e enxaquecas, é formado pelo que nos falta. Mais tarde ou mais cedo dá de si e nada podemos fazer para o evitar. Ao mesmo tempo, cada fase que vivemos, cada passo, sabe ao irrepetível – o golo da infância, a entrega dos testes no liceu, o primeiro dia no primeiro emprego, a descoberta de um poeta na juventude, de uma utopia, de um amor impossível,

o dia em que nos despimos a alguém. Quando repetimos o irrepetível, quando o tentamos, sabe-nos a fruta passada, uma embalagem fora do prazo. Mas há dias em que penso: que estupidez de pensamento. Que estupidez pensar em impossíveis no jogo de todos os possíveis, o que jogamos desde que nascemos. Um dia voltarei a embaciar os vidros do carro. Um dia voltarei a fazer as coisas que já fiz como se fosse a primeira vez que as faço. Um dia serei dono de uma utopia e voltarei a celebrar um golo ajoelhado e fora de mim. E um dia chegarei à conclusão de que existe um tempo para tudo, que quem prova o Absoluto, o verdadeiramente Absoluto, sabe que o caminho a partir dali é sempre a descer. Pedem-me pelo meu 25 de Abril. Mas o que sei do 25 de Abril é o que sei da juventude dos meus pais. É da fotografia da minha mãe, mesmo em frente ao lugar onde escrevo, tão bonita

política ORGANIZAÇÕES CANDIDATAS ÀS ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS

1976 13 partidos 2013 69 partidos, coligações e movimentos de independentes

ORDENADO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

ABSTENÇÃO NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

1976 60,2 contos (301 euros)

1976 24,6%

2013 6897 euros + 3000 euros de despesas de representação

2011 52,5%

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DOSSIÊ

1989

que era, olhos vivos, sorriso largo, uma fome de mundo e liberdade fosse isso o que fosse. O meu 25 de Abril não é feito de cravos, mas de promessas de uma paixão proibida. Recordo-a como se fosse hoje, de mão na minha mão, a contar-me o quanto gostou do meu pai, o quanto o amou em Paris durante o seu “exílio”. O meu 25 de Abril é a avô Alice e o piano onde a família escondia os livros proibidos antes das visitas nocturnas da PIDE, são as tias Cristina e Teresa a contarem das reuniões gerais de alunos na Faculdade de Letras ou na maneira como, com a revolução na rua, saíram de casa para construir uma vida com pressupostos inimagináveis. É um tio contar-me das filas intermináveis para ver a Garganta Funda ou de uma noite em que assisti a uma sessão do Homem que Matou Liberty Valence seguida de um debate sobre a liberdade de imprensa. Encontrei o meu 25 de Abril quando no final da década de 1970, um director de escola primária

entrou na sala de aula e proibiu a velha professora de partir a régua nas nossas mãos. Fomos para o recreio e eu, politizado dos desenhos animados de Vasco Granja, desenhei um bigode revolucionário e cantei o “Somos Livres”. O meu 25 de Abril não é mais do que isto. É a memória dos Capitães de Abril em jovens. A viverem a sua revolução sem que antes tenham dito uma única palavra. Lembro-me deles em jovens, da idade de Salgueiro Maia, mais novos do que eu sou agora, a caminharem para os seus objectivos e dispostos a morrer pelo ideal de pôr fim à Guerra Colonial e à Ditadura. O resto não me interessa. Porque como escrevi numa crónica por estes dias, os heróis que estiveram na primeira linha puderam viver o Absoluto (que é uma forma de alucinação benigna) e depois dessa ideia de Felicidade que se julga para sempre, veio o choque com a realidade que atropela, deforma e relativiza. O meu 25 de Abril é uma homenagem à memó-

16 DE FEV. A 6 DE MAR. Consagração de Portugal como Campeão Mundial de Futebol de Juniores, em Riade, Arábia Saudita. A equipa que ficou conhecida como “a geração de ouro” do futebol nacional tinha como seleccionador Carlos Queirós.

RESGATES FINANCEIROS

1977

1983

2011

Vendemos 111 toneladas de ouro como aval de empréstimo do FMI; escudo desvalorizado; salários reduzidos

Empréstimo de 750 milhões de dólares; escudo desvalorizado em 12% num mês; subsídio de Natal congelado

Empréstimo de 78 mil milhões de euros; cortes em salários e pensões e “brutal” aumento de impostos

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DOSSIÊ

OPINIÃO

LUÍS OSÓRIO

1990

Q U E N O V O 2 5 D E A B R I L S E R Á E S S E ? Q U E N O VA G LO B A L I Z AÇ ÃO P O D E R Á N A S C E R ? Q U E R E S P O S TA S P O D E R ÃO S E R DA DA S PA R A R E S P E I TA R U M A I D E I A DE PROGRESSO E DE LIBERDADE?

16 DE DEZEMBRO O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa é um tratado internacional com o objetivo de criar uma ortografia unificada para o português, a ser usada por todos os países de língua oficial portuguesa. Foi assinado por representantes oficiais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe em Lisboa.

política PARTIDOS COM DEPUTADOS NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA 1975 - ADIM (1), CDS (16), MDP/CDE (5), PCP (30), PPD (81), PS (116), UDP (1) 2011 - BE (8), CDS/PP (24), PCP (14), PEV (2), PPD/PSD (108), PS (74)

GREVES, CONFLITOS E PARALISAÇÕES

MULHERES PRESIDENTES DE CÂMARA MUNICIPAL

1974 1158

1979 4

2012 127

2013 23

90

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DOSSIÊ

1991 ria. A esse fio de horizonte, feito sem palavras, que nos faz ser o que somos. Que nos faz ser portugueses. Arrogantes na ditadura da dúvida permanente. Orgulhosos e temerosos. Umas vezes tudo, outras nada. Temos o Sol mas inventámos o fado. Falamos de medo mas partimos à conquista do mundo. Temos inveja e somos generosos. Somos uma coisa e o seu contrário. Gostamos de dar voltas no mesmo sítio como se farejássemos uma cauda imaginária. Aguardamos por uma outra revolução. Uma revolução de ideias, tecnológica e civilizacional. Talvez com sangue, suor e lágrimas. Uma revolução que colocará em causa a própria ideia de democracia que, no seu interior, traz as sementes da sua própria destruição, como todos os sistemas humanos antes e depois. Que novo 25 de Abril será esse? Que nova globalização poderá nascer? Que respostas poderão ser dadas para respeitar uma ideia de progresso e de liberdade? Questões para os nossos filhos. Serão eles, ou os filhos deles, a colocar fim aos poderes que, como sempre, se julgam eternos. Os Capitães de Abril também “morrerão” com essa nova revolução. Porque ao contrário do que pensam são parte do mundo que criticam. Não tem mal nenhum, é o que é. Ainda bem que muitos estão vivos e são testemunhas

da história, mas infelizmente a heroicidade não é compatível com o ruído das opiniões e da espuma dos dias. E cada opinião, por mais legítima e respeitável que seja, soa a uma aula de arqueologia sem qualquer ligação à realidade. É como ver os Heróis do Mar ao vivo a cantar o Amor e a Paixão com Pedro Ayres Magalhães a liderar os saltos no palco. Não cola. E aconteça o que acontecer, tudo continuará enquanto dormirmos. Ainda esta noite, tudo continuou: promessas de amor para sempre, corpos molhados de desejo, suicidas enforcados ou envenenados com comprimidos, punhais nas vielas, o primeiro “chuto” de alguém que se começou a perder, festas de aniversário, insónias de quem soube que um cancro é seu inquilino ou que a pessoa ao lado tem uma vida dupla. Enquanto durmo, pais perderam os seus filhos. Bebés nasceram de cesarianas, fórceps e partos naturais. Homens e mulheres estenderam as suas mãos e pediram pela primeira vez. Casas foram assaltadas, apaixonados despiram-se em luas-de-mel, sonhadores não pregaram olho, dementes fizeram telefonemas anónimos, doentes e feridos entraram nas urgências, outros entraram na lista dos que enlouqueceram. Enquanto dormi esta noite tudo isso aconteceu. E tudo o resto. Tudo o resto que aqui não cabe. Uma ideia de liberdade também. De futuro. l

Inaugurado a 13 de Setembro o último troço da autoestrada Porto-Lisboa, concretizando um sonho de décadas de inúmeros governantes.

ABSTENÇÃO NAS ELEIÇÕES EUROPEIAS

MILITANTES INSCRITOS EM PARTIDOS POLÍTICOS

NÚMERO DE PARTIDOS CONCORRENTES ÀS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS

1987 27,4%

1983 580 000

1975 14

2009 63%

2014 376 000

2011 17 91

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NO D EG SÓ S ICÊI O S

sociedade

SOFIA ARNAUD

A REVOLUÇÃO SOCIAL A S A Ú D E , O E N S I N O E O S T R A N S P O R T E S S O F R E R A M G R A N D E S T R A N S F O R M A Ç Õ E S N O S Ú LT I M O S 4 0 A N O S . U M A D A S P R I N C I PA I S M U D A N Ç A S T R A Z I D A S P E L O 2 5 D E A B R I L D E 1 9 74 F O I A C R I A Ç Ã O DO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE (SNS).

1992 6 DE OUTUBRO Nasce a primeira televisão privada em Portugal com a emissão da SIC (Sociedade Independente de Comunicação) a ser apresentada pela jornalista Alberta Marques Fernandes a partir de Carnaxide, em Oeiras.

A

ntes da revolução, a assistência médica em Portugal não estava assegurada para todos. Os funcionários públicos tinham a ADSE, algumas categorias profissionais, como os bancários, tinham os seus próprios subsistemas, mas não havia um serviço universal, público e de acesso gratuito para todos. Isso mudou com a chegada da democracia. Em 1979 foi criado o Serviço Nacional de Saúde. Outra grande mudança registou-se no ensino. A democracia terminou com os cursos técnicos, das escolas industriais e comerciais, e povoou universidades públicas e privadas por todo o país. Multiplicaram-se os doutores e engenheiros. A escolaridade mínima obrigatória aumentou, a iliteracia também, o analfabetismo diminuiu. A educação especial destinada à recuperação e integração de indivíduos com necessidades educativas especiais integrouse na educação escolar. As escolas públicas

e privadas passaram a ser mistas e as fardas deixaram de ser obrigatórias, embora muitos colégios ainda hoje mantenham essa tradição. Novas universidades surgiram neste últimos 40 anos, muitas delas privadas. Algumas, como a Livre, a Moderna ou a Independente, acabaram por fechar. Outras, como a Autónoma, a Lusófona ou a Portucalense, acabaram por vingar. Foram criados mais cursos e novas disciplinas mais especializadas. Hoje, o ensino superior serve os princípios de Bolonha, à semelhança dos outros países da União Europeia, com licenciaturas mais curtas, de três ou quatro anos, seguidas de mestrados curriculares de dois anos. A Europa trouxe também os programas Erasmus, de intercâmbio de estudantes universitários de vários países, por períodos de seis meses a um ano. O francês, como segunda língua, foi ultrapassado pelo inglês e, mais recentemente, até pelo espanhol e alemão.

sociedade POPULAÇÃO RESIDENTE (MILHARES)

ÍNDICE DE ENVELHECIMENTO (IDOSOS POR CADA 100 JOVENS)

DIVÓRCIOS POR 100 CASAMENTOS

1970 8 680,6

1970 32,9

1970 0,6%

2012 10 514,8

2012 129,4

2012 73,7%

92

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NEGÓCIOS

A revolução chegou também aos transportes. A mobilização deixou de ser um problema, graças ao desenvolvimento da rede de infraestruturas e à evolução dos meios de transporte. No início dos anos 70, os condutores demoravam meio-dia para ir de Lisboa ao Porto e mais de 12 horas para ligar o Algarve a Trás-os-Montes. Havia três troços de auto-estradas, todos curtos. Um, ligava Lisboa à marginal da linha, via Estádio Nacional. Outro, saía de Sacavém e

1993 1 DE NOVEMBRO O Tratado de Maastricht instituiu a União Europeia com o nome actual.

acabava em Vila Franca de Xira. No Porto, um troço ligava a cidade aos Carvalhos. Só no final dos anos oitenta a ligação LisboaPorto ficaria concluída, reduzindo a viagem a pouco mais de três horas e dando início a uma vaga de investimentos que expandiram a rede. Hoje, de norte a sul e de este a oeste, todo o país é cruzado por vias rápidas e auto-estradas. O metropolitano quadruplicou a rede, em Lisboa, e foi criado de raíz no Porto. Em Coimbra e no Porto, os tróleis foram substituídos por autocarros. Em Lisboa, o eléctrico transformou-se num meio de transporte marginal e numa atracção para turistas. Os autocarros de dois pisos verdes dos anos 40, semelhantes aos que ainda hoje circulam pelas ruas de Londres, derem lugar aos de cor de laranja, de um só piso, com ar condicionado e muito menos poluentes. Os automóveis também evoluíram muito. Nos anos 60/70 eram todos diferentes. Cada marca tinha uma personalidade e um

estilo muito próprio. Os Mini originais, o Citroën 2 cavalos, os Renault 4 e 16, o Volkswagen Carocha, o Opel Kadett e o Ford Escort eram dos mais populares. Não havia marcas coreanas e os chineses acabavam de chegar ao mercado europeu, com os seus Toyota Corolla e Datsun 1200, garantindo boa qualidade por baixo preço e subindo rapidamente nas tabelas de vendas. Algumas marcas desapareceram, como a Vauxhall (hoje limitada ao Reino Unido), a Austin, a MG e a Morris, a Talbot, a Sunbean, a Hilmman ou a Simca. Os carros não tinham vidros eléctricos, nem ar condicionado, nem cintos de segurança e muitos nem sequer tinham um rádio. Hoje os carros são muito idênticos uns aos outros, mas com uma comodidade muito superior e com consumos mais baixos. Com a passagem ao século XXI muitas marcas apostaram em modelos híbridos e eléctricos. Quem diria, nos anos 70, que hoje seria possível carregar um automóvel numa normalíssima ficha eléctrica doméstica. l

HOJE, DE NORTE A SUL E DE ESTE A O E S T E , TO D O O PA Í S É C R U Z A D O POR VIAS RÁPIDAS E AUTOESTRADAS.

NASCIMENTOS

ESPERANÇA DE VIDA À NASCENÇA DO SEXO MASCULINO

TAXA DE ANALFABETISMO

1970 180 690

1970 64

1970 25,7%

2012 89 841

2012 76,7

2011 5,2% 93

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DOSSIÊ

OPINIÃO

JOÃO PROENÇA Assessor da AICEP/Ex-Secretário-Geral da UGT

CONTINUAR ABRIL

Q 1994 25 DE ABR. A 24 DE JUN Bloqueio da Ponte 25 de Abril, devido ao aumento galopante dos preços da portagem da travessia.

uarenta anos após Abril, é importante lembrar aquilo que a Revolução dos Cravos significa hoje para a nossa vida, tanto mais que a maior parte dos portugueses nasceram depois dessa data ou eram demasiado jovens para ter vivido o antes e o depois. O nosso País sofreu uma longa Ditadura, que significou opressão e subdesenvolvimento. As perseguições políticas, a ausência das liberdades fundamentais conduziram à pobreza, à guerra colonial, ao “orgulhosamente sós”, à exploração e à emigração clandestina. A chamada Primavera marcelista rapidamente se esgotou, com a manutenção da polícia política, o não encontro de saídas para a Guerra Colonial e o sacrifício crescente das jovens gerações. Muitos lutaram contra esta situação. Muitos sofreram as prisões, o exílio, a expulsão do serviço público, o despedimento das empresas. Os Capitães de Abril puseram fim a esta situação. Com Coragem, de forma desinteressada, devolveram-nos a Liberdade e permitiram a construção da Democracia.

O caminho teve os seus sobressaltos, mas recordo o 1º de Maio de 1974, a explosão da participação nas empresas e nos Organismos da Administração Pública, as primeiras Eleições Democráticas, a luta pela Liberdade Sindical e a afirmação dos Partidos Políticos. Nas figuras de Salgueiro Maia, de Melo Antunes e do Grupo dos Nove, lembro os militares que sempre tiveram bem presentes os valores de Abril, simbolizados pelos 3 D’s – Democracia, Descolonização e Desenvolvimento. Na figura de Mário Soares, homenageio todos os portugueses que antes e depois do 25 de Abril se bateram pelos mesmos princípios e valores. A Democracia está hoje consolidada em Portugal. A nossa Constituição consagra o necessário equilíbrio de poderes. E quero destacar aqui o papel fundamental da Administração Local democrática na satisfação de necessidades básicas das populações e a sua proximidade com os eleitores. A Democracia não se esgota no voto de 4 em 4 ou de 5 em 5 anos. Podemos questionar a nível geral, a necessidade de reforçar os mecanismos de participação das populações nas matérias que directamente lhes dizem respeito. É necessário reforçar a responsabilidade dos eleitos perante os eleitores e o respeito pelo cumprimento dos Programas eleitorais. É fundamental combater a corrupção, aumentar a transparência e credibilizar os agentes políticos, económicos e sociais. Uma democracia política é também uma democracia de participação, em que os agentes económicos e sociais têm que assumir as suas responsabilidades, no respeito pela sua representatividade.

sociedade DOUTORAMENTOS POR ANO

PESO DAS MULHERES NO TOTAL DE DOUTORAMENTOS

MÉDICOS POR 100 MIL HABITANTES

1974 87

1974 12,6%

1975 122,1

2012 2 209

2012 54,1%

2012 417,2

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DOSSIÊ

A Descolonização, foi feita num quadro difícil, face à cegueira com que os governantes conduziram a Guerra Colonial e levaram o País a um beco sem saída. Podemos hoje registar dois factos extremamente importantes: - O nosso País foi capaz de integrar com sucesso as centenas de milhares de portugueses regressados num curto período em condições difíceis, ao contrário do que aconteceu em outros Países confrontados com os problemas de muito menor dimensão; - Foi possível preservar uma boa relação com as nossas ex-colónias, que teve presente que todos fomos vítimas da mesma ditadura. A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa é hoje uma das grandes Comunidades de Povos com laços históricos e culturais e, sobretudo, com uma língua comum. Para o nosso País, traduz uma grande oportunidade de afirmação no Mundo, tendo em conta o facto de Portugal integrar a União Europeia, único espaço de integração regional com dimensão política, económica, social e cultural e primeiro importador e exportador a nível mundial. A nível do Desenvolvimento muito foi feito nestes 40 anos. Uma marca fundamental assenta no Estado Social, com a construção do Serviço Nacional de Saúde e de uma Segurança Social de base pública e universal. E outra marca assenta na Educação, base fundamental para a promoção da igualdade de oportunidades, para a cidadania e para o desenvolvimento económico e social. Os portugueses melhoraram o seu nível de vida. Houve progresso económico e social.

E para tal muito contribuiu a nossa adesão à União Europeia, integrando-nos no nosso espaço natural, do qual estávamos afastados por não sermos uma Nação Democrática. O nosso tecido económico deixou de ser baseado em sectores de baixos salários, desenvolvendo novos sectores de actividade com competitividade sustentada na qualificação dos recursos humanos, na inovação e no desenvolvimento tecnológico. É evidente que persistem muitos problemas, nomeadamente a insuficiente aposta no sector produtivo, a protecção excessiva dada aos sectores financeiro e de bens não transacionáveis, a incapacidade revelada na utilização dos nossos quadros e na qualificação e requalificação dos nossos trabalhadores, a não definição de políticas de modernização de sectores importantes, etc, … A crise dos últimos anos, com o aumento insustentável do desemprego, das desigualdades e da pobreza, os cortes nos salários e nas pensões, a insegurança relativa ao emprego e à Segurança Social, a redução do Estado Social e a transformação do défice no único objectivo das políticas, acentuou a desconfiança na política, nos políticos e a preocupação dos portugueses com o futuro individual e colectivo. Precisamos de uma Reforma da Administração Pública que melhor sirva o País e mobilize os seus trabalhadores. Precisamos de novas politicas preocupadas com as pessoas e com o crescimento e o emprego. Demasiadas vezes olhamos demasiado para o copo meio vazio e gritamos contra a destruição dos direitos. Acreditamos que vamos continuar Abril, construindo um Portugal mais desenvolvido, justo e solidário. l

1995 2 DE OUTUBRO Entra em vigor em Portugal, Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Luxemburgo e Holanda o Acordo de Schengen, um tratado europeu que acaba com as fronteiras internas da Europa.

HOSPITAIS

TRIBUNAIS JUDICIAIS

CAMAS NOS HOSPITAIS POR 100 MIL HABITANTES

1975 548

1974 217

1975 574,8

2012 207

2012 329

2011 337,2 95

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DOSSIÊ

OPINIÃO

FERNANDO SEARA VEREADOR DA CÀMARA MUNICIPAL DE LISBOA

O MEU OLHAR

S

1996 Foi lançado o Programa Rede de Bibliotecas Escolares.

ou de uma geração que sentiu a alegria daquele dia, a exaltação nos “dias seguintes”, e a fúria, bem contraditória, que Portugal viveu em muitas das semanas seguintes. Permitam-me, assim, o meu olhar acerca de um tempo vivido da minha vida. De um tempo em que jovem e adolescente fui “capturado”, quase que em exclusivo, por tempos de mudança que marcaram a história de Portugal, e também, a história do Mundo. Neste período, para alguns distraídos, recordo sempre a frase que ostentavam as milhares de bandeiras que, em Janeiro de 1924, no enterro de Lenine clamavam: “O túmulo de Lenine é o berço da Revolução”. E eu que, em razão da fúria de alguns no pós 25 de Abril, fui obrigado a ler e a comprar determinadas e concretas edições, sob pena de “reprovação por falta de material”, muitas obras de Marx e de Lenine, e outras de Mao, nunca esqueci, até para a minha empírica e pessoal análise política, uma frase de Henri Weber: “Mao, Lenine de nossa época?” Basta voltar a folhear numa obra colectiva de Abril de 1974 com

o sugestivo título “A Revolução Cultural Chinesa”, para me recordar de todos estes grandes nomes do século XX, e da história do socialismo e, também, de Alexander Kerensky, não só primeiro-ministro de uma coligação fraca entre socialistas e liberais no Verão e princípios do Outono de 1917, mas, acima de tudo, o “revisionista” e “traidor” que perturbou, e muito, o radicalismo que tomou conta da Revolução na Rússia e que determinou que Lenine boicotasse o seu governo e convocasse o Congresso dos Sovietes de toda a Rússia sob o lema: “Todo o poder para os sovietes”. Vivi, assim, o 25 de Abril, vendo-o por uma “porta meio aberta”. Percebi que era uma revolta militar. Dos militares do quadro permanente frente aos milicianos que, em razão de uma nova lei, lhes punham em causa as promoções. Entendi, de imediato, que o quadro internacionalmente dominante assumira, num instante, a independência das colónias portuguesas como realidade prioritária. E independência plena e não

sociedade CONDENADOS POR CRIME

ALUNOS DO ENSINO (% DA POPULAÇÃO)

1974 9 788

1974 16,5%

2012 78 214

2012 11,01%

RESIDENTES EM PORTUGAL

1974

8 754 365

2012

10 514 844

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DOSSIÊ

1997 soluções intermédias, o que ajuda, por exemplo, a entender a ascensão e queda do marechal António de Spínola. Como bem me explicou, na altura, o meu tio-avô, o almirante Roboredo e Silva, que havia sido Chefe de Estado-Maior da Armada e o criador dos Fuzileiros Navais. Compreendi, ainda, em razão da minha profunda vivência no Colégio Universitário Pio XII, e das suas salas sempre frequentadas por diferentes opiniões – na altura com a sábia direcção do padre Joaquim António de Aguiar –, o frágil equilíbrio entre as forças políticas emergentes e os novos actores políticos, principalmente a diferença de opinião e da estratégia entre os militares que ocuparam as sedes do poder, seja a do poder executivo, seja a dos novos poderes de controlo que as novas leis, a partir dos Pactos MFA- Partidos, criaram. E onde se situavam o Conselho da Revolução e a sua Comissão Constitucional, antecessora do Tribunal Constitucional. Interiorizei, ainda, a partir daquelas salas da nova avenida das Forças Armadas – por sinal, antiga avenida 28 de Maio, até em 25 de Abril de

1974 – o papel relevante que a Igreja Católica iria assumir na resistência a um desvio revolucionário radical e que quase determinou uma divisão de Portugal, com a fronteira simbólica situada em Rio Maior. E com uma forma de educação popular em que alguns dos nossos actuais “senadores”, em áreas bem diferentes, incluindo na medicina, foram activos participantes. Foi o Serviço Cívico Estudantil (SCE) e os denominados cursos propedêuticos. O primeiro tinha a intenção de “levar os alunos a criar hábitos de trabalho “socialmente produtivos”. Era “a construção” da dita “educação popular”, com burgueses da avenida de Roma a aprenderem, num instante, as obras de Marx, Lenine e Mao, e a relerem-nas a agricultores sem formação. Singularidades de um Verão em Portugal. Senti, depois, e cumprindo o serviço militar obrigatório em situação bem especial (integrado num pelotão especial e com uma recruta excepcional), a singularidade da construção do Estado de Direito democrático, a partir da nova Polícia Judiciária Militar, e das relações bem próximas do

Projecto sobre a despenalização do aborto é derrotado na Assembleia da República (AR) por um voto. Esta polémica foi tão grande que os deputados decidiram referendar.

NASCIMENTOS FORA DO CASAMENTO (% DO TOTAL)

ESPERANÇA MÉDIA DE VIDA (ANOS)

MORTALIDADE INFANTIL (MIL NASCIMENTOS)

1974 7,2%

1974 68,2

Homens 64,8 Mulheres 71,2

1974 37,9

2012 45,6%

2011 79,8

Homens 76,7 Mulheres 82,6

2013 2,9 97

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DOSSIÊ

OPINIÃO

FERNANDO SEARA

O S Q UA R E N TA A N O S D O 2 5 D E A B R I L S U S C I TA M M Ú LT I P L A S A N Á L I S E S , V Á R I A S I N T E R P R E T A Ç Õ E S , R E N O VA D A S R E V I S I TAÇ Õ E S , J U S TA S R E C O R D AÇ Õ E S , LEGÍTIMAS INVOC AÇÕES.

1998 22 DE MAIO Abriu a Expo’98 (Exposição Mundial de Lisboa de 1998), a qual foi dedicada aos Oceanos e integrada nas Comemorações dos 500 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia. A exposição encerrou a 30 de Setembro, tendo atraído 10.128.204 visitantes.

seu vizinho, e tutela efectiva, que era o Conselho da Revolução. Naquele edifício que é hoje o Ministério da Defesa Nacional, percebi, em definitivo, que a perspectiva tridimensional do poder envolve, como o Professor Adriano Moreira brilhantemente desenvolveu na sua “Ciência Política”, o poder, a autoridade e a influência. E, assim, fui amadurecendo. Ao mesmo tempo que integrava, após um tempo de imensa turbulência, a primeira Comissão de Reestruturação da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que lutou, com sucesso, pelo regresso do conjunto de Professores saneados em razão das “fúrias revolucionárias” de finais de 74 e princípios de 75. Este conjunto de vivências, incluindo as “gargantas fundas” que, a partir de alguns militares de Abril, permitiram a “salvaguarda pessoal” de alguns portugueses e a saída, bem controlada, de alguns dos seus bens – alguns dos quais bem importantes para a elaboração de documentos de memórias e outros de carácter científico –

ajudam-nos a perceber como um golpe militar evoluíra para “momentos revolucionários” e com instantes de desprezo pela vontade popular como aconteceu, nas vésperas das primeiras eleições livres após o 25 de Abril, quando o tenente Ramiro Correia, um dos membros da “linha revolucionária”, comparou as eleições “à lotaria ou ao totobola” e o almirante Rosa Coutinho, uma das mais relevantes expressões desta linha militar, ter sugerido o “voto em branco, de forma a desprestigiar os partidos políticos. E ainda me lembro – o que se lê, por exemplo, em Kenneth Maxewll, na sua “A Construção da Democracia em Portugal” –, que “as sondagens de voto encomendadas pelo MFA mostravam que cerca de 50% do eleitorado no princípio de Abril estava ainda indeciso sobre quem iria apoiar”. Golpe militar, seus conflitos, convulsões e confusões, revolução, contra revolução e a “revolução dominada” são etapas determinantes para compreendermos os primeiros quatro anos após o 25 de Abril. E que, em 1978, fomos forçados pelo

sociedade PARTOS EM CASA (% DO TOTAL)

IDADE MÉDIA DA MÃE NO NASCIMENTODO PRIMEIRO FILHO

POPULAÇÃO COM CASA PRÓPRIA (% DO TOTAL)

1974 66%

1974 24,1

1974 50,4%

2012 0,7%

2013 29,7

2012 73%

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DOSSIÊ

FMI a um primeiro resgate que determinou um “pacote de austeridade”. Pacote de austeridade que motivou, para a sua viabilização, o primeiro Governo de coligação, entre PS e CDS. Em 1982 terminou o “tempo de transição”. Com a primeira revisão constitucional, com a eliminação do órgão de soberania Conselho da Revolução e a redistribuição dos seus originários poderes, com o acordo entre a Aliança Democrática (já em ruptura interna) e o Partido Socialista – em rigor um acordo entre Francisco Pinto Balsemão, Diogo Feitas do Amaral e Mário Soares -, e com a construção das leis do Tribunal Constitucional e da Defesa Nacional. E com a constituição da primeira Comissão de Inquérito a Camarate. Recordo, com imensa saudade, estes tempos. Coordenei, sob a tutela de Amilcar Rocheta, e no quadro da Assembleia da República, um conjunto de jovens, todos recém-licenciados, que elaborou as actas da primeira revisão constitucional, daquelas duas

Leis estruturantes de um verdadeiro Estado de Direito democrático e daquela primeira Comissão de Inquérito. Guardo os “documentos base” dessa revisão histórica como, aqui, divulgo. Lembro-me, entre outros, alguns que me acompanharam nessa tarefa, como o José Luís Seixas e o Nuno Gonçalves. E, mais tarde, a equipa alargou-se com nomes que são, hoje em dia, ilustres políticos no activo, altos quadros da administração pública central e local, ou gestores de grandes empresas. De tudo fica o abraço da liberdade. De, sem receios, dizermos que sim ou que não. De não termos que justificar o “folheto clandestino” guardado no meio do Código Civil ou de escutarmos, em silêncio cúmplice, a BBC ou a Voz da Alemanha para, no Verão de 75, “sabermos a verdade “acerca da nossa Pátria. De nos “rirmos” sem angústias ou de “destruirmos” o papel de fiscalização das presenças no anfiteatro da Faculdade de Direito de Lisboa. Este é um “pequeno passo” da minha visão. Do meu sentir. Do Abril vivido e partilhado. Do Abril respirado e absorvido. Do Abril capturado e recuperado. De Abril de que deu voz a todos e que não pode ser a voz de alguns. De um Abril sem donos e sem “mestres”. De um Abril que é feito de diferenças, mas com o abraço de semelhança que é a liberdade. Sabemos, com Miguel Cervantes, no seu Dom Quixote, que “a história é a émula do tempo, repositório dos factos, testemunho do passado, exemplo do presente, advertência do futuro”. Mas também temos presente os ensinamentos de Moisés quando nos avisa “que o homem é livre. Só não é livre para renunciar a própria liberdade”! l

CASAMENTOS NÃO CATÓLICOS

RESÍDUOS URBANOS RECOLHIDOS SELECTIVAMENTE

CASAMENTOS

1974 19,1%

1991 0,3%

1974 81 724

2012 63,5%

2011 15,1%

2013 31 998

1999 20 DE DEZEMBRO Data da cerimónia de transferência da soberania sobre Macau para a China, colocando um ponto final à administração portuguesa do território que durou mais de 400 anos.

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DOSSIÊ

vida

SOFIA ARNAUD

A VIDA MUDOU O D I A - A - D I A D O S P O R T U G U E S E S M U D O U M U I T O N O S Ú LT I M O S 4 0 A N O S . O S H Á B I T O S D E C O N S U M O A LT E R A R A M - S E , N O S S O S P R O D U T O S E S E R V I Ç O S T O R N A R A M - S E PA R T E D O N O S S O Q U O T I D I A N O , N O VA S M A R C A S O C U PA R A M O L U G A R D A S M A I S A N T I G A S .

I

2000 9 DE MAIO Um apagão eléctrico deixou metade do País sem energia electrica durante mais de duas horas. Supostamente por culpa de uma cegonha.

magine um mundo sem Zara, sem McDonalds e sem Coca Cola. Sem Shoppings Centers ou hipermercados e sem multibanco ou cartões de crédito para pagar as suas compras. Onde os telefones tinham fios e os números eram discados, a televisão tinha apenas dois canais a preto e branco e, pior que tudo, não havia computadores pessoais, nem internet. Onde os cinemas eram edifícios de prestígio de portas abertas para a rua e a música se ouvia em discos de vinil ou gravada em cassetes. Sem festivais de Verão, sem CCB e sem Casa da Música. Sem euros e sem cartões. Sem vidros eléctricos, ar condicionado ou cintos de segurança nos carros, que tinham pouco mais de 20 quilómetros de auto-estradas para rodar. Onde se podia fumar nos restaurantes, nos cinemas e até nos aviões. Um mundo com passaportes e fronteiras na Europa e onde era preciso trocar de moeda sempre que mudávamos de país. Era assim o Portugal de há 40 anos atrás. Não por causa do antigo regime ou da revolução, mas simplesmente porque os tempos eram outros.

A dependência tecnológica é um dos sinais destes últimos 40 anos. Nos dias que correm são raras as pessoas que não têm um computador, um telemóvel ou um tablet. Acessórios que antigamente não existiam e sem os quais as pessoas viviam. Com muitas vantagens, mas também algumas desvantagens. A magia de receber um postal ou uma carta de correio, o convívio entre as pessoas, o prazer de ir comprar o jornal, tem vindo a desaparecer. Hoje, temos tudo isto à beira de um clique. As formas de comunicar sofreram alterações profundas. As cartas manuscritas deram lugar aos telex e aos faxes e pagers, entretanto eles próprios tornados obsoletos pela vertigem das novas tecnologias, seguindo-se os sms, mails e as redes sociais. As máquinas de escrever e as calculadoras claudicaram perante os computadores pessoais, os portáteis e, mais recentemente, os smartphones e tablets. As disquetes deram lugares aos CD, DVD e a pens e a discos rígidos portáteis, que têm hoje mais capacidade que o maior computador do mundo de há 40 anos atrás. Os telefones analógicos passaram a digitais

vida NÚMERO DE CAIXAS MULTIBANCO

CONSUMO DE ENERGIA ELÉCTRICA POR HABITANTE

RESÍDUOS URBANOS RECOLHIDOS SELECTIVAMENTE POR HABITANTE

1991 1 249

2001 3 912,2KWH

1991 1,5Kg

2012 13 400

2012 4 482,3KWH

2011 73,7Kg

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NEGÓCIOS

e a telemóveis, os cheques a cartões bancários, os filmes VHS aos DVD e ao vídeo digital, e por aí em diante. Hoje, ninguém passa despercebido e está contactável com a maior das facilidades. É a Era Digital. Com o passar dos anos também algumas profissões têm vindo a desaparecer. Os polícias sinaleiros, as modistas, os tipógrafos por exemplo. Os pronto-a-vestir multiplicaram-se, começando pela primeiras lojas de rua, nas zonas centrais das cidades, dando depois lugar aos pequenos centros comerciais e acabando nos grandes shoppings e outlets dos dias de hoje. Em Lisboa, aos Porfírios, Casa Africana, Tito Cunha, Armazéns do Chiado ou do Grandella, sucederam o Imaviz, o Apolo 70 e o Tuti Mundi. E a estes as grandes superfícies comerciais, como os Centros Comerciais Colombo ou Vasco da Gama, por exemplo. Mesmo nas cidades mais pequenas, há hoje uma profusão de hipers e shoppings centers. O mesmo aconteceu com as mercearias de rua, onde os clientes tinham conta e pagavam ao final do mês. Foram sendo substituídas por hipermercados pertencentes a grandes grupos de distribuição, numa vaga iniciada pelo primeiro supermercado Pão de Açúcar, em Alcântara, ao qual sucederam, quase vinte anos mais tarde, os primeiros Continente, em Matosinhos e na Amadora. As marcas e os seus produtos também têm vindo

a tomar uma nova atitude no mercado ao longo das últimas décadas. Se há uns anos atrás algumas marcas tinham o monopólio de determinados produtos, hoje isso não acontece. A concorrência é grande e feroz, e as marcas têm que acompanhar a evolução dos tempos e ir ao encontro das necessidades, cada vez mais exigentes, dos seus consumidores para que possam vingar e manter o seu “lugar ao sol”. Neste campo, o marketing e a comunicação têm actualmente um papel fundamental. Marketing e Comunicação? Uma modernice dos últimos anos, pois há 40 anos atrás pouca gente sabia o que isto era e como podia ser potenciado. Muitas marcas, não só de produtos mas também de serviços, já desapareceram e outras evoluíram. Muitas instituições bancárias, companhias de seguros ou telecomunicações alteraram os seus nomes ao longo do tempo. A nível de produtos, muitos deles desapareceram. Quem se lembra do achocolatado Toddy, dos gelados Rajá, da Spur Cola Canada Dry ou da Larangina C? O dinheiro também sofreu alterações. Eram escudos, centavos, coroas e tostões. Hoje são euros e cêntimos. E se há 40 anos era preciso um cheque para levantar dinheiro ao balcão do banco, ou para pagar uma compra, hoje existem os cartões, os terminais de pagamentos e as transferências electrónicas, e podemos levantar dinheiro em qualquer uma das caixas Multibanco espalhadas pelo país. l

2001 4 DE MARÇO Colapso da ponte Hintze Ribeiro em Entre-os-Rios em Castelo de Paiva arrastando para o Rio Douro um autocarro com 53 ocupantes, e três automóveis ligeiros, com um total de seis pessoas. Várias operações de buscas permitiram recuperar apenas 23 dos 59 cadáveres.

Q U E M S E L E M B R A D O A C H O C O L AT A D O T O D D Y, DOS GELADOS RAJÁ, DA SPUR COLA OU DA LARANJINA C?

PREÇO MÉDIO DOS COMBUSTÍVEIS (EUROS/LITRO)

POPULAÇÃO EMPREGADA NO SECTOR PRIMÁRIO

TEMPERATURA MÉDIA ANUAL EM LISBOA

1974

1974 26,7%

1974 16,5o

2013

2014 10,5%

2013 17,3o

0,05€ (gasolina 95)0,02€ (gasóleo) 1,58€ (gasolina 95) 1,39€ (gasóleo)

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DOSSIÊ

OPINIÃO

ALBERTO DA PONTE Presidente da RTP

UM JOVEM GESTOR NO 25 DE ABRIL DE 1974

2002

O euro entra em vigor, substituindo as moedas de doze países da União Europeia.

C

omecei a minha carreira de Gestor em 3 de Setembro de 1973. Franqueei nesse dia pela primeira vez as portas da Fima Lever Iglo, no Largo Monterroio de Mascarenhas, para iniciar a actividade de management trainee naquela que era, à época, considerada a melhor escola prática de Gestão do País, de par com a Nestlé. Tempos difíceis e, ao mesmo tempo, variados! Nesse dia de Setembro passei a trabalhador-estudante, já que me encontrava ainda a iniciar o quinto ano de Finanças do então ISCEF (o actual ISEG). Preparava também, em conjunto com a Fátima, o nosso casamento que se veio a concretizar em 20 de Abril de 1974, faz agora 40 anos. E acompanhava, ao mesmo tempo, com atenção as venturas e desventuras da Ala Liberal, sobretudo a liderança incisiva e corajosa de Francisco Sá Carneiro . O regime, exangue, vivia os seus últimos dias. E pressentia-se. Na escola, mais avidamente, mais

(EM POUCAS PAL AVR AS)

claramente. Mas também na empresa, onde as forças se começavam, ainda veladamente, a organizar. Lembro-me, a propósito, de uma colega minha, do Departamento de Estudos de Mercado, me ter perguntado se eu queria alinhar com o MDP/ CDE. “ Está connosco, Alberto? “. “ Não G..., Sou profundamente contra este regime, mas situo-me politicamente na área de Francisco Sá Carneiro e será com ele que vou estar quando a hora chegar”, respondi-lhe: “Ainda bem que o diz, está para breve o tempo das definições e das contagens...”, rematou, meio agastada. Demonstrar-se-ia que as contagens eram mesmo para valer um ano e alguns meses mais tarde. No dia 25 de Abril, a Fátima e eu estávamos na ilha Terceira a passar a nossa lua de mel. Tinha-me casado no dia 20, como já confidenciei, e às 6 horas da manhã recebo um telefonema do meu pai a dizer-me que tinha havido um golpe de Estado, mas que tudo parecia controlado. O Regime não

vida MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO

DESPESAS COM BOLSAS NO ENSINO SUPERIOR

REDE DE AUTOESTRADAS

1974 1 540 500

1990 6 814 826€

1974 42Km

2013 2 565 100

2011 130 657 929€

2014 3097,7Km

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DOSSIÊ

2003

tinha oferecido resistência e os revoltosos eram da ala democrática, provavelmente Spinolista. Devo ter sido dos primeiros civis a saber da Revolução, nos Açores. E a transmitir a novidade aos locais. Até ao fim de 1974, apesar das dúvidas sobre o 28 de Setembro e o que na realidade acontecera (hoje sabe-se, na altura não), alguns como eu mantínhamos a esperança de que evoluiríamos para uma democracia parlamentar, economicamente assente na iniciativa privada e, no meu caso pessoal, militante que era da JSD, desde Maio de 74, almejando uma política de Estado baseada na Social Democracia. Na escola estudava-se menos do que se militava, mas ainda asssim estudava-se. Na empresa já tinha sido promovido a assistant product manager e, como tal, estava a iniciar-me denodadamente na função marketing. O 11 de Março de 1975 dissipou todas as dúvidas. Íamos para um nova ditadura, íamos ser vacina para uma Europa em exaltação social e política, dizia-se que era assim a orientação estratégica dos EUA. Era tempo de, como curso acabado, entrar mais activamente na política. Foi o que fiz, não deixando de continuar a trabalhar na convicção de que voltaríamos à democracia. Os exemplos de Francisco Sá Carneiro, Mário Soares e Amaro

Rebenta o escândalo de pedofilia da Casa Pia de Lisboa envolvendo várias figuras públicas, entre os quais o conhecido apresentador de televisão Carlos Cruz, detido a 1 de Fevereiro de 2003.

NÚMERO DE TELEFONES FIXOS

HABITAÇÕES COM ÁGUA CANALIZADA

PREÇO DE UMA VIAGEM DE AVIÃO PARA LONDRES

1976 797 794

1970 47,4%

1974 74€

2012 4 558 200

2011 99,4%

2014 160€ 103

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DOSSIÊ

2004

S E O 2 5 D E A B R I L D E 1 974 T R O U X E O F I M DA D I TA D U R A E A E S P E R A N Ç A D E U M A DEMOCR ACIA, F OI O 25 DE NOVEMBRO DE 1975 QUE PÔS O CARIMBO DEFINITIVO N U M F U T U R O D E M O C R ÁT I C O , N U M E S T A D O SOCIAL, EUROPEU, LIVRE E ABERTO AO EMPREENDORISMO.

Portugal foi anfitrião do Campeonato Europeu de Futebol. A final ocorreu entre as equipas de Portugal e da Grécia, sagrando-se a última campeã. Poucos dias antes, o primeiro-ministro Durão Barroso demite-se do cargo para ocupar o lugar de presidente da Comissão Europeia.

vida NÚMERO DE ALUNOS NO ENSINO SECUNDÁRIO

PROFESSORES ENSINO PRÉ-ESCOLAR, BÁSICO E SECUNDÁRIO

POPULAÇÃO COM FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA

1974 43 653

1974 70 123

1970

2013 411 238

2012 163 175

2011

49 375 (0,9%) 1 244 742 (14,8%)

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DOSSIÊ

da Costa eram um estímulo para prosseguir activamente com a afirmação das minhas crenças, num País em que quem não era vermelho, era considerado fascista. Mas não só da área política vinham esses exemplos de convicção, vontade e resiliência. Vale a pena contar uma pequena história. Poucos dias depois do 11 de Março, ao entrar na Lever, cerca das 9 da manhã, saía já para uma reunião o Sr. Alexandre Soares dos Santos, o accionista português da empresa. Olhei para ele, ar preocupado e interrogante. E ele, abrindo a janela do carro sorriu e esticou a cabeça, como que a dizer-me: “Para a frente, para o futuro”. E, de facto a Unilever, contrariamente a outras multinacionais, nunca desistiu de Portugal. Terá sido essencial para essa fé em Portugal, a sociedade com a Jerónimo Martins e a incontornável figura de líder que já era então Alexandre Soares dos Santos. Outra experiência curiosa ocorreu quando, num acesso de curiosidade mórbida, me dirigi à embaixada da Polónia e pedi a uma funcionária um catálogo de Marketing de algum produto de grande consumo polaco. Lembro- me de ela me ter olhado para de um modo abertamente inquisidor. Ao que eu diligentemente correspondi, com uma explicação detalhada do que considerava ser uma expressão, podia ser impressa, de comunicação publicitária. Entre suores e o que me pareceram alguns desabafos menos lisonjeiros, lá acabou por

me dar um catálogo de brinquedos com todo o ar dos anos 50. Era o marketing soviético no que provavelmente de melhor conseguia fazer. Recuei nesse dia 20 ou 30 anos no tempo, sensação que só voltaria a ter onze anos mais tarde, quando visitei pela primeira vez Berlim Leste. Mas a verdade é que a normalidade democrática, a esperança de uma inclusão na Europa Ocidental e até a de um Estado verdadeiramente social só surgiria em 25 de Novembro de 1975. É que, numa modesta e talvez polémica opinião, se o 25 de Abril trouxe o fim da ditadura e a esperança de uma democracia, foi o 25 de Novembro que pôs o carimbo definitivo num futuro democrático, num Estado social, europeu, livre e aberto ao empreendorismo. Nesse dia ganhámos a certeza de um futuro desenvolvimento económico, de um lugar na Europa, de uma esperança perene. Até 2008, pelo menos. Depois... Depois já é outra história! l

2005 Morreu Álvaro Cunhal, o histórico líder do Partido Comunista Português (PCP) e um dos mais importantes e influentes militantes anti-fascistas.

VIAGENS DE CARRO (PASSAGEIROS POR KM PERCORRIDO)

PASSAGEIROS POR COMBOIO (POR KM PERCORRIDO)

ASSINANTES DO ACESSO À INTERNET

1973 2 4967

1973 4 106

1997 88 670

2008 96 756

2008 4 213

2012 2 310 611 105

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NO D EG SÓ S ICÊI O S

lazer

CATARINA DA PONTE

O CAMINHO PARA A ERA DIGITAL

N O S Ú LT I M O S 4 0 A N O S , O L A Z E R PA S S O U , C O M O T U D O O R E S T O , P O R U M A R E V O L U Ç Ã O D I G I TA L . O S T E M P O S C A L M O S D A D É C A D A D E S E T E N TA D E R A M L U G A R À C O R R E R I A D O S P R I M E I R O S A N O S D E U M N O V O S É C U L O . D E “ FÁT I M A , F U T E B O L E FA D O ” D O R E G I M E A N T E R I O R , M A N T I V E M O S O S D O I S P R I M E I R O S E T R O C Á M O S O FA D O P O R O U T R O “ F ” : O D O S F E S T I VA I S D E V E R Ã O .

F

2006 Pela primeira vez na história de Portugal, a maior prova de automobilismo do mundo começa em Lisboa. Milhões de telespectadores assistiram ao arranque do Rally Lisboa/Dakar que partiu da capital portuguesa.

ado, futebol e Fátima. Os três Efes do regime deposto com o 25 de Abril, a que se podiam juntar as “boîtes” (como então eram conhecidas as discotecas), os cabarés, o Casino Estoril, as revistas e os grandes cinemas, como o Condes, o Império, o Monumental ou o Roma, em Lisboa, o Avenida de Coimbra, ou o Carlos Alberto do Porto. Era assim o entretenimento nos anos 70. Nos primeiros anos da década, ir de férias representava para os portugueses fazer praia ou campo, na época estival, que se prolongava por três meses. As pessoas de Lisboa iam passar férias a Cascais, Ericeira ou à Praia das Maçãs. A Figueira da Foz reunia gente do Porto, de Viseu e Coimbra. A Granja, Espinho, a Póvoa e as praias da Costa Verde do Minho, eram o destino da classe média do Norte. O Algarve estava a nascer para o turismo e Tróia ainda era um projeto da

Torralta em construção O tradicional passeio de domingo, as excursões a Badajoz, a Salamanca ou a Vigo, para comprar caramelos e fazer compras, aproveitando os preços baixos de uma peseta que valia metade do escudo e os piqueniques com a família, ocupavam fins-de-semana. O garrafão de vinho em vime, as panelas embrulhadas em jornais, a cesta de verga e a toalha aos quadrados eram apetrechos indispensáveis neste encontro ao ar livre. A Feira Popular de Lisboa era um centro de entretenimento no coração da cidade. No Parque Mayer reinava o teatro de revista. No Apolo 70, um dos novos centros comerciais da capital, podia jogar-se bowling. Nas últimas quatro décadas a indústria do lazer proliferou e diversificou-se. A prática do exercício físico e de actividades radicais tornaram-se hábitos dos portugueses. A indústria do cinema viu abrir e fechar

lazer CINEMA: ESPECTADORES POR MIL HABITANTES

CINEMA: RECEITAS DE BILHETEIRA

MUSEUS (VISITANTES)

1974 4 076,1

1974 2 663,6€

1974 2 546 000

2012 1 313,4

2012 73 954,7€

2012 10 067 000

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NEGÓCIOS

ao longo destes 40 anos várias salas de cinema. Já a “Caixa que mudou o mundo” só passou a ser vista a cores na década de 80, tendo transmitido a primeira telenovela portuguesa “Vila Faia” em 1982. Nos anos 90 apareceram os dois canais de televisão privados em Portugal, a Sociedade Independente de Comunicação (SIC) e a Televisão Independente (TVI), e destes até à televisão por cabo, com a multiplicação de canais foi um pulo. Hoje, estamos na Era do mobile e do streaming online. Na prateleira da música, entoavam-se à data canções revolucionárias de Adriano Correia de Oliveira, Fausto, Francisco Fanhais, Vitorino, José Niza, José Jorge Letria, José Mário Branco, Sérgio Godinho e, claro, a “Grândola Vila Morena” de Zeca Afonso. Os mais conservadores ouviam fado e música importada para evitar confusões. Os cantores franceses, como Michele Mathieu ou Adamo, perdiam progressivamente terreno para o Pop e o Rock e para as novas estrelas, como os Rolling Stones, os The Who, os Pink Floyd ou Elton John, cujos sucessos se mediam pelas vendas de discos de vinil de 45 rotações com duas ou quatro faixas (os singles) ou os grandes de 33 rotações, com álbuns inteiros (os LP), que se ouviam nos chamados gira-discos ou pick-ups. A música era gravada em disquetes e os CD’s e DVD’s eram ainda uma tecnologia distante. Quem queria mobilidade, ouvia as cassetes no seu walkman da Sony. Hoje, as músicas são outras e já não tocam no gira-discos. Os vinis foram substituídos pelos CD’s, primeiro, e pela música em formatos

digitais, como o MP3, que se ouve no iPod ou em qualquer smartphone, depois de descarregadas ou comprada na internet. A queda do antigo regime trouxe consigo uma enorme sede de leitura e informação política. Os jornais matutinos e vespertinos multiplicavam-se em títulos alinhados com as cores partidárias e em tiragens, com vendas que se contavam por dezenas de milhar, ao dia. Os jornais compravam-se aos ardinas, nas esquinas, ou nas tabacarias e papelarias. Os quiosques actuais não existiam. Os livros compravam-se em livrarias com dezenas de anos de vida e de histórias para contar, e os discos em discotecas. As pessoas almoçavam em casa e a seguir iam tomar um café, sentado, nas tertúlias do Monumental, do Monte Carlo, do Café Roma, da Mexicana, só para citar alguns das mais importantes. O lanche era da Ferrari, na Colombo, na Suprema ou na Versailles. Os livros “Portugal e o Futuro”, de António de Spínola e “Estamos ao Vento”, de Fernando Namora encabeçavam, em Maio de 74 a lista dos mais vendidos. Hoje, muitas das mais emblemáticas pastelarias e livrarias de Portugal fecharam. Os livros e os CD’s vendem-se nos hipermercados, na FNAC, mandamse vir pela Amazon ou descarregam-se na internet. Porque “recordar é viver” e os momentos de lazer são talvez os mais susceptíveis de serem fotografados, há que relembrar as fotografias de rolo, que precisavam de ser reveladas nas casas da especialidade. Hoje é tudo digital. Que a tecnologia não nos falte, já que a memória é, 40 anos depois, uma “e-memória.” l

2007 Foi o ano em que Madeleine McCann, uma menina inglesa de quatro anos desapareceu a 3 de Maio na Praia da Luz, no Algarve, sem deixar rasto, colocando Portugal, nos escaparates de toda a imprensa internacional… e pelas piores razões.

SESSÕES DE ESPECTÁCULOS DE MÚSICA, DANÇA E VARIEDADES

PREÇO DA SARDINHA

PREÇO DO LEITE

1979 94 000

1974 0,08€/Kg

1974 0,02€/l

2012 5 662 000

2014 4,997€/Kg

2014 0,72€/l 107

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DOSSIÊ

ENTREV I STA ANTÓN I O

SA R A I VA

,

PRESIDENTE REELEITO DO CONSELHO GERAL E DA DIRECÇÃO DA CONFEDERAÇÃO EMPRESARIAL DE PORTUGAL (CIP)

“A FORMA COMO O ESTADO GERIU AS EMPRESAS NACIONALIZADAS LEVOU ÀS DUAS PRIMEIRAS INTERVENÇÕES DO FMI”

2008

A UNIÃO A QUE ADERIMOS É MUITO DIFERENTE DA QUE TEMOS HOJE. C AVA R A M - S E D E S E Q U I L Í B R I O S I N S U S T E N TÁV E I S . S E A U N I Ã O E U R O P E I A N Ã O S E RECONSTRÓI, ASSISTIREMOS A FENÓMENOS SOCIAIS QUE PODEM, NO LIMITE, L E VA R À S U A D E S A G R E G A Ç Ã O . A S E L E I Ç Õ E S Q U E S E A P R O X I M A M D E V E R I A M C O N S T I T U I R - S E C O M O O I N Í C I O D E U M A N O VA E R A E U R O P E I A .

O ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, declara a nacionalização do Banco Português de Negócios, aquele que se viria a revelar o maior escândalo de burla da história financeira nacional.

A

crise obrigou-nos a tomar consciência de que temos de inverter as tendências do passado, que nos conduziram a uma situação de quase ruptura, refere António Saraiva. A competitividade dos sectores abertos à concorrência internacional foi fortemente penalizada por aumentos excessivos de custos salariais, fiscais e das diversas utilities, face aos respectivos ganhos de produtividade, adianta o recém-reeleito presidente do Conselho Geral e da Direcção da CIP, a Confederação Empresarial de Portugal, numa entrevista onde revisita os últimos 40 anos da economia portuguesa: das nacionalizações de 1975 à crise económica actual.

Qual o impacto na economia das nacionalizações de 1975? As nacionalizações de 1975 destruíram os principais grupos económicos que então existiam em Portugal. Colocaram na mão do Estado uma parcela muito grande do tecido empresarial, subtraindo-a à lógica do mercado e atrasando a modernização da economia e a sua adaptação às mudanças que entretanto marcavam a evolução da economia mundial. A forma como o Estado geriu as empresas nacionalizadas contribuiu para os desequilíbrios que se vieram a desenvolver, conduzindo às duas primeiras intervenções do FMI em Portugal, em 1977/78 e 1983/85.

lazer JOGADORES ESTRANGEIROS NOS PLANTÉIS SPORTING BENFICA

FC PORTO

1974 15%

1974 30%

1974 30%

2014 60%

2014 70%

2014 80%

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DOSSIÊ

2009 Seis doentes perderam a visão depois de terem sido submetidos a uma intervenção cirúrgica oftalmológica no Hospital de Santa Maria. Os relatórios indiciaram negligência médica.

BIBLIOTECA NACIONAL LIVROS E OUTROS DOCUMENTOS

NÚMERO DE LEITORES PRESENCIAIS

NÚMERO MÉDIO DE ESPECTADORES POR SESSÃO

1974 628 479

1974 34 838

1974 295,6

2012 2 073 624

2012 42 685

2012 21,7 109

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DOSSIÊ

ENTREVISTA ANTÓNIO SAR AIVA

2010 Um violento temporal na Madeira causou derrocadas de pedras e lama que mataram 42 pessoas, deixaram centenas de desalojados e um rasto de destruição em toda a ilha.

O que mudou na estrutura do capitalismo português com essas nacionalizações? É por essa razão que os novos grupos económicos, incluindo os bancos privados, nasceram com raízes no Norte e capitais realizados na indústria, casos de Amorim, Ilídio Pinho/Colep, Violas, Quintas, Macedo Silva/RAR e outros? Os grupos económicos que surgiram em Portugal nos anos 80 do século passado não nasceram à sombra das nacionalizações. São resultado da iniciativa de muito empresários, da vitalidade do sector privado, do dinamismo de que soube dar provas num período difícil mas em que as oportunidades da abertura ao exterior foram aproveitadas. Aliás, é interessante verificar que os períodos de maior dinamismo da nossa economia coincidem com uma maior abertura da economia ao exterior. Quando nos voltamos para fora, crescemos. Foi assim nos anos 60, foi assim nos anos 80. Esperamos que se volte agora a repetir no quadro de um modelo de desenvolvimento assente na competitividade internacional da economia. As reprivatizações voltaram a reequilibrar o mapa do capitalismo português, devolvendo poder a Lisboa e à Finança? O que as privatizações significaram foi o regresso pleno a um sistema de economia de mercado, do qual nos tínhamos distanciado durante anos e em que o Estado assumiu (deficientemente, digase) um papel que cabe aos privados.Os grupos económicos de que estamos a falar, surgidos nos anos 80 e na sequência das privatizações, ultrapassam largamente uma escala local ou regional. São grupos de dimensão nacional ou mesmo internacional.

Na sequência do “Verão Quente de 75” assistimos a uma fuga de quadros portugueses para o estrangeiro, sobretudo para o Brasil e Espanha. Que impacto teve essa fuga de quadros na qualidade da gestão em Portugal? Não creio que a qualidade da gestão em Portugal tenha sido muito afectada por esse fenómeno, que embora se tenha verificado em sectores importantes, não foi generalizado. Em compensação, muitos jovens optaram nessa altura por se formar no estrangeiro e trouxeram depois para Portugal novas qualificações e uma mentalidade mais aberta. Foi essa fuga de quadros que abriu as portas à nova geração de jovens gestores, que rapidamente atingiram lugares de topo normalmente alcançáveis apenas depois dos 50 anos? A maior rapidez na ascensão na carreira dessa nova geração tem causas bem mais profundas. Deve-se sobretudo à aceleração da mudança e a uma maior mobilidade profissional, que reflecte uma nova forma de estar, nas empresas e no mundo. Essa maior mobilidade favorece o aproveitamento das capacidades dos jovens mais talentosos. Porque razão assistimos à desindustrialização da economia portuguesa? É o resultado da globalização, uma questão de competitividade do País, ou uma conjugação de ambos? Diria que foi uma questão de competitividade, comprometida por políticas erradas, sob o impacto de uma globalização deficientemente regulada. Quais as razões da perda de competitividade da economia portuguesa? Tem a ver com uma

lazer SESSÕES DE ÓPERA POR ANO

SESSÕES NO TEATRO NACIONAL D. MARIA II

TEATRO (ESPECTADORES POR SESSÃO)

1979 32

1979 265

1979 299,4

2012 128

2013 582

2012 130,1

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2011 O Governo pede ajuda financeira a uma “troika” de credores. O primeiro-ministro José Sócrates pede a demissão e é substituído em eleições por um Governo de coligação partidária que governará sob a alçada de um Memorando de Entendimento com os credores internacionais.

O Q U E A S P R I V AT I Z A Ç Õ E S S I G N I F I C A R A M F O I O REGRESSO PLENO A UM SISTEMA DE ECONOMIA DE MERCADO, DO QUAL NOS TINHAMOS D I S TA N C I A D O D U R A N T E L A R G O S A N O S . aposta demasiado forte em sectores não abertos à concorrência externa, como a banca, imobiliário, construção e infra-estruturas, utilities? Os sectores abertos à concorrência internacional foram significativamente penalizados face a outros sectores que, embora muitas vezes com menores ganhos de produtividade, aumentaram o seu peso na economia nacional. Foram esses outros sectores

(onde se destaca a Administração Pública) que determinaram, por efeito de contágio, aumentos salariais desajustados à realidade concorrencial dos sectores extrovertidos da economia nacional. Entre 1995 e 2010, os custos laborais por unidade produzida aumentaram 47% em Portugal, em termos nominais, enquanto na União Europeia, em média, o aumento foi de 30%, e na zona do euro de 24%. O diferencial dá

VISITANTES JARDINS ZOOLÓGICOS, BOTÂNICOS E AQUÁRIOS (MÉDIA DIA)

O MELHOR LIVRO INFANTIL DO ANO

DIMENSÃO MÉDIA DE FAMÍLIAS

1960 468

1974

1970 3,7

2012 1 399

2006

2011 2,6

“O rei de quase tudo” Eliardo França

“O menino, o cachorro “ Simone Bibian

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ENTREVISTA ANTÓNIO SAR AIVA

2012 Foi o ano em que o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, anunciou “um enorme aumento de impostos” aquando da apresentação do Orçamento Geral do Estado. O ano mais grave em toda a crise económica e financeira.

lazer RESTAURANTES COM ESTRELAS MICHELIN EM PORTUGAL

RESTAURANTES MCDONALDS EM PORTUGAL

BANDEIRA AZUL EM PORTUGAL

1974 4

1991 1

1987 71 praias

2014 12

2014 138

2014 316 praias

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uma imagem dessa perda de competitividade da economia portuguesa neste período de 15 anos. Por outro lado, foram também os sectores protegidos que puderam facilmente repercutir os aumentos dos custos nos respetivos preços (ou na carga fiscal, no caso da Administração Pública), afectando negativamente, por essa via, os sectores expostos à concorrência. Acresce ainda o efeito de políticas que favoreceram a rentabilidade dos sectores regulados e contribuíram directamente para o aumento dos custos de produção suportados pelos restantes sectores. Deste modo, a competitividade dos sectores abertos à concorrência internacional foi fortemente penalizada por aumentos excessivos de custos (salariais, fiscais e das diversas utilities), face aos respectivos ganhos de produtividade. O que mudou desde o início da actual crise, em 2008, e o que levou a economia a recuperar competitividade externa? Foi só a baixa dos custos laborais, ou há outros factores, como a aposta em marcas e na qualidade dos produtos? A crise obrigou-nos a tomar consciência de que temos de inverter as tendências do passado, que nos conduziram a uma situação de quase ruptura. O ajustamento dos custos laborais unitários relativos, que se verificou nos últimos anos e que favoreceu a competitividade externa, não se processou só pela via salarial, mas também pelo aumento da produtividade. O desempenho das exportações é, antes de mais, mérito das empresas. É prova da sua resiliência e mostra

que fizeram um esforço notável, na aposta em marcas, na qualidade e também no que respeita a diversificação de mercados. Em resposta a maiores dificuldades no mercado doméstico e em mercados tradicionais, procuraram novos clientes, novas parcerias e exploraram destinos que até aí lhes eram desconhecidos. Tudo isto, apesar da conjuntura externa desfavorável, da enorme escassez de financiamento, dos problemas com os seguros de crédito à exportação, do peso de factores não salariais que ainda continuam a afectar a competitividade das empresas.

2013 O ciclista português Rui Costa sagrou-se campeão do Mundo de ciclismo, em Florença.

Há de facto um retrocesso, um pouco por toda a Europa, do modelo social europeu? O modelo social europeu está a reformar-se com vista à sua sustentabilidade. Essa reforma poderá torná-lo menos magnânimo, mas, sem ela, as pressões económicas e demográficas a que está sujeito conduziriam inevitavelmente ao seu desaparecimento. Por isso, não falaria em retrocesso, mas em reforma. Há uma relação forte entre os interesses económicos e políticos? As más decisões de investimento público e os casos recorrentes de corrupção derivam dessa relação? Parece-me existir hoje na sociedade portuguesa a consciência de que é importante reforçar os mecanismos de transparência e de regulação que evitem uma eventual promiscuidade desses interesses e previnam casos de corrupção e de tráfico de influências. É este o caminho que devemos trilhar.

PREÇO DE GELADOS

COMÉRCIO: CONCESSÕES DE MARCAS

CAMPEÕES DO MUNDO EM FÓRMULA 1

1976

1970 793

1974

2013 14 781

2013

Epá custava 5$50

2014 Epá custa 0,90€

Emerson Fittipaldi Sebastian Vettel 113

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ENTREVISTA ANTÓNIO SAR AIVA

mim, é claro que não podemos imputar a falta de resposta das instituições ao falhanço da democracia. Infelizmente, esta distinção não é evidente para muitos, o que representa um enorme risco que todos temos de acautelar. Porque, como dizia Churchill, “a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos a tempos”.

A UNIÃO EUROPEIA A QUE ADERIMOS É MUITO DIFERENTE DA QUE TEMOS HOJE.

2014 Com pouco mais de um mês e vinte e um dias de diferença o Sport Lisboa e Benfica (SLB) e a Selecção Nacional perderam dois dos seus maiores ícones: a 5 de Janeiro morre o emblemático Eusébio da Silva Ferreira e a 25 de Fevereiro desaparece em Moçambique o mítico Mário Coluna.

Por que razão a corrupção é mais forte no Sul do que no Norte da Europa? É certo que a cultura dos países do sul da Europa é marcada por uma maior permissividade e um sentido de cidadania menos enraizado, mas não sei até que ponto a visão que transparece da sua pergunta é resultado de um preconceito instalado que temos de contrapor com factos objectivos. Porque acha que as pessoas na Europa estão hoje, como dizia há um mês a revista The Economist, com a sensação de que a democracia falhou? Num ambiente de crise, em que as expectativas das pessoas não foram cumpridas, é difícil separar o que é o eventual falhanço de instituições democráticas, que é preciso reformar, do falhanço da democracia como sistema. Para

Há uma ruptura entre os países da periferia europeia, mais afectados pela crise da dívida pública, e os países do centro. Acha que é preciso reconstruir a União Europeia? Não podia estar mais de acordo. A União Europeia a que aderimos é muito diferente da que temos hoje. Cavaram-se desequilíbrios insustentáveis. Como disse o Presidente da República, assistimos à “perda da noção de pertença a uma União firmemente solidária”. Se a União Europeia não se reconstrói, assistiremos a fenómenos sociais que podem, no limite, levar à sua desagregação. Acredito que os efeitos dessa desagregação são suficientemente desastrosos, em todos e cada um dos Estados-membros, para que os responsáveis políticos não permitam a concretização de tal cenário e que, como ao longo dos últimos 60 anos, a Europa seja capaz de se reconstruir sob o peso das suas próprias contradições. As eleições que se aproximam deveriam constituir-se como o início de uma nova era europeia: uma Europa solidária que age em prol dos seus cidadãos, do crescimento da sua economia. l

lazer RECORDE NACIONAL DE TRIPLO SALTO

MARCAS DE SUPERMERCADO

NÚMERO DE CANAIS GENERALISTAS

1974

1 563m - Alfredo Melão

1971 1

1971 2

2007

2014 15

2014 4

1 774m - Nelson Évora 114

FONTES: PORDATA; INE; BANCO DE PORTUGAL; CNE

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1

4/23/14

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