PRÉMIO | Novembro 2019

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D I R E C T O R A E X E C U T I VA Sofia Arnaud DIRECTOR DE ARTE Miguel Mascarenhas REDACÇÃO Diogo Queiroz de Andrade COL ABORAM NESTA EDIÇÃO Alberto Ramos; Alexandre Fonseca; António Casanova; António Saraiva; Bernardo Ivo Cruz; Francisco Calheiros; Gonçalo Moura Martins; Helder Barata Pedro; Isabel Ucha; Isabel Vaz; João Bento; José Galamba de Oliveira; José Manuel Constantino; José M. García Villardefrancos; Luis Avellaneda Ulloa; Manuel Puerta da Costa; Nuno Botelho; Nuno Marques; Nuno Pinto de Magalhães; Paula Panarra; Paulo Skaf; Pedro Reis; Rui Miguel Nabeiro

SUMÁRIO

SAMCHULLY

TRADUÇÃO Outernational, Unipessoal Lda. PUBLICIDADE Telf.: 210 120 600 IMPRESSÃO Soartes Artes Gráficas, Lda. Rua A. Cavaco - Carregado Park, Fracção J Lugar da Torre, 2580-512 Carregado PROPRIETÁRIO E EDITOR Cunha Vaz & Associados – Consultores em Comunicação, SA NIF 506 567 559 CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO António Cunha Vaz (Presidente) António Estrela Ribeiro (Vice-Presidente) Francisco de Mendia (Vogal) Ricardo Salvo (Vogal) DETENTORES DE 5% OU MAIS DO CAPITAL DA EMPRESA António Cunha Vaz SEDE DO EDITOR E DE REDACÇÃO Av. dos Combatentes, n.º 43, 12.º 1600-042 Lisboa CRC LISBOA 13538-01 REGISTO ERC 124 353 DEPÓSITO LEGAL 320943/10 PERIODICIDADE Trimestral TIRAGEM 3500 Exemplares

4 EDITORIAL 6 XXII LEGISLATURA Modelo do Novo Governo 12 DOSSIÊ l O Mundo em 2020 l Previsões Portugal l A Visão dos Líderes Alberto Ramos, CEO Bankinter Portugal; Alexandre Fonseca, Presidente Executivo Altice Portugal; António Casanova, CEO Unilever Fima; António Saraiva, Presidente Confederação Empresarial de Portugal (CIP); Bernardo Ivo Cruz, Editor The London BREXIT Monthly Digest; Francisco Calheiros, Presidente Confederação do Turismo de Portugal (CTP); Gonçalo Moura Martins, Presidente da Comissão Executiva Mota Engil; Helder Barata Pedro, Secretário-Geral Associação Comércio Automóvel de Portugal (ACAP); Isabel Ucha, Presidente Euronext Lisbon; Isabel Vaz, CEO Luz Saúde; João Bento, Presidente CTT – Correios de Portugal; José Galamba de Oliveira, Presidente

Associação Portuguesa de Seguradores (APS); José Manuel Constantino, Presidente Comité Olímpico de Portugal (COP); José M. García Villardefrancos, Director Grupo Albión; Luis Avellaneda Ulloa, Director Gerente Realidades PR - Perú; Manuel Puerta da Costa, Presidente da Assoc. Portuguesa de Analistas Financeiros; Nuno Botelho, Director Essência do Vinho / Presidente Associação Comercial do Porto; Nuno Marques, CEO Grupo Visabeira; Nuno Pinto de Magalhães, Director de Comunicação e Relações Institucionais Sociedade Central de Cervejas e Bebidas (SCC); Paula Panarra, Directora-Geral Microsoft Portugal; Paulo Skaf, Presidente Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP); Pedro Reis, Head of Corporate Business Development Millennium bcp; Rui Miguel Nabeiro, Administrador Grupo Nabeiro-Delta Cafés. 82 EMPRESAS Desafios Futuros 86 REPORTAGEM Natal pelo Mundo

ESTATUTO EDITORIAL

R EV I ST A C O R P O R AT IV A D A CV & A

www.revistapremio.pt/estatuto 3


EDITORIAL

ANTÓNIO CUNHA VAZ, PRESIDENTE DA CV&A

A CAMINHO DA MAIORIDADE COMING OF AGE

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umpre-se, em 2020, o décimo sétimo ano de existência da CV&A. São 17 anos em que se cruzaram connosco muitos Clientes, Colaboradores e Parceiros de negócio. Quando olhamos para trás sentimos orgulho. Em tudo o que fizemos. Orgulho nos sucessos e orgulho ainda maior na forma como ultrapassámos dificuldades imensas - que o facilitismo da lei, feita por gente que nunca trabalhou no mercado e que esquece que Portugal tem mais de 90% de pequenas e médias empresas, permite a quem recorre aos PER e deixa credores em situação menos fácil. Mas, com trabalho e credibilidade, não deixámos nunca de construir e criar valor para os nossos Clientes e Parceiros. Juntos, sabemos o que é reconstruir, ter de lutar, não descansar, mas ter a satisfação de atingir os objectivos e o sucesso. E foram muitos os sucessos dos nossos Clientes, não destacando qualquer um para que me não esqueça de outros. Sempre com uma só marca, a CV&A, sem necessidade de ter outras, criámos e ajudámos a crescer muitas empresas em Portugal - em dezasseis anos de actividade o peso do sector público é de menos de 2% na facturação da CV&A- , as mesmas que nos ajudaram nesta caminhada para a liderança. Mas estes dezasseis anos e pouco foram, sobretudo, anos de dedicação de um grupo de colegas que fizeram da CV&A o que ela é hoje – a contas de 2018, que estão depositadas, a maior empresa do mercado: uma empresa respeitada, em Portugal e nos mercados internacionais onde trabalhamos e somos reconhecidos. Estes dezasseis anos foram uma demonstração permanente da satisfação de Clientes – alguns com mais de quinze (15) anos de casa e de muitos com mais de dez (10) anos connosco. Outros escolheram novos parceiros, novos caminhos. É uma opção. Alguns foram trabalhar com aqueles que tendo sido quadros da CV&A saíram e criaram

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n 2020, CV&A will be celebrating seventeen years and throughout these years we engaged with a number of Customers, Employees and Business Partners. We feel nothing but pride when we looking back. Pride in everything we did. Pride in the success achieved and even greater pride for having been able to overcome huge difficulties that the ways of the law - enacted by people who have never worked in the market and who forget that Portugal has more than 90% small and medium-sized businesses – have forced many to undergo restructuring plans, leaving creditors in a less easy situation. But both with work and credibility, we never stopped building and creating value for both our Customers and Partners. Together we know what it’s like to rebuild, to struggle, to be restless and ultimately to have the satisfaction of achieving both the relevant goals and success. And our Customers have achieved a great deal of success. We won’t mention any Customer in particular to avoid the risk of forgetting others. Always under a single brand, CV&A, without the need to have other brands, created and helped grow many companies in Portugal - in sixteen years of activity the weight of the public sector is less than 2% in CV&A revenues -the very same companies that helped us on this journey to leadership. But these sixteen years and a few were, above all, years of dedication from a group of colleagues who made CV&A what it is today – the 2018 accounts, which are deposited, show that this is the largest company in the market: a respected and recognised company in Portugal and in the international markets where we operate. These sixteen years have been a permanent demonstration of Customer satisfaction - some of these customers have been with us for more than fifteen (15) years and many for more than ten (10) years. Others have chosen new partners, new paths. It’s a legitimate option. Some chose to work with former CV&A employees who left us and established


as suas próprias empresas. Estão bem entregues. Por aqui já passaram membros de governo, presidentes de empresas públicas, administradores de outras, directores gerais de empresas privadas com uma dimensão gigantesca quando com a nossa comparada. Claro que o mérito de todos eles não é nosso. Mas alegramo-nos com o seu sucesso e com o que poderemos ter contribuído para o mesmo. Os escritórios de Lisboa e do Porto afirmaram-se. O Brasil, cujos primeiros três anos foram difíceis, sob a batuta do David Seromenho e, mais tarde, do Luiz Fernando Moraes, afirmou-se. As operações em Angola, paradas um tempo por questões de relacionamento e incumprimento de pagamentos, foram retomadas num clima de seriedade postura que se louva aos actuais dirigentes e clientes que connosco lidam. O escritório de Moçambique, liderado por aquele que agora é sócio e director-geral da empresa em Portugal, o José Pedro Luís, afirmou-se e tornou-se dos mais rentáveis. A Sociedade com o Grupo Albion, em Espanha, de onde nasceu a operação na Colômbia, Bogotá, solidificou-se e caminha passos largos para um novo e enorme desafio. As operações pontuais em Cabo Verde e na Guiné-Bissau têm-se revelado opções acertadas. Mas 2020 vem aí e é importante preparar o ano da maioridade. O mercado português é pequeno e, portanto, o que cá se factura é curto para constituir um balanço que permita uma internacionalização para mercados do resto da Europa e, porque não, da América do Norte. Em breve anunciaremos a forma que a CV&A encontrou para assegurar que, muito para além da existência profissional deste seu fundador e actual presidente, uma empresa portuguesa faça parte do mundo das consultoras em comunicação com dimensão internacional. É claro que isso implicará algum sacrifício profissional dos seus quadros de topo, que terão, também, funções em outros mercados. Também essa uma razão para investirmos em quadros com pós-graduações, mestrados, doutoramentos e pósdoutoramentos comparticipados pela empresa. O ano de 2020 será de mudança. Atingiremos a maturidade antes dos dezoito (18) anos de idade. Viveremos períodos difíceis, conturbados, com extremismos a renascerem, à esquerda e à direita, populismos e demagogias a campearem, explorando a fragilidade de uma larga maioria de seres humanos. Neste campo, continuaremos a contribuir para a sociedade em que vivemos, quer em Portugal, quer em Moçambique. Viveremos também grandes desafios, como a tecnologia e a velocidade vertiginosa a que se desenvolve, a continuada globalização, os ‘big brothers’ que já nos dominam, os problemas da justiça, da saúde, da produção alimentar, entre tantos outros. Empresarialmente, queremos continuar líderes. Fazer mais e cada vez melhor! Termino, uma vez mais, com um agradecimento sincero aos Clientes, aos Parceiros e aos Colaboradores (mesmo à grande maioria dos que já saiu dos nossos quadros) pelo caminho que nos ajudaram a seguir e pelo que construímos juntos. Um enorme 2020. l

their own companies. They’re in good hands. We have worked with members of the government, directors of public companies, managers of assorted companies and general managers of major private companies. The merit is theirs, not ours. But we are happy for them and for having helped them reach success. The offices of Lisbon and Porto became duly established outlets. Brazil, whose first three years were difficult, led by David Seromenho and later by Luiz Fernando Moraes, is now duly established too. Operations in Angola, which were interrupted for some time for relationship and default issues were resumed in a serious atmosphere thanks to current leaders and customers dealing with us. The Mozambican office led by José Pedro Luís, now both partner and managing director of the company in Portugal, established itself and became one of the most profitable. The Partnership with the Albion Group in Spain and the resulting Bogotá, Colombia operation solidified and is making strides towards a huge new challenge. One-off operations in Cape Verde and Guinea-Bissau have proved to be the right options. But 2020 is here and we have to prepare the year when we will come of age. The Portuguese market is small and, therefore, we lack the revenues helping us internationalise and establish in markets in the rest of Europe and, why not, North America. We will be announcing soon the manner how this Portuguese company managed to, going beyond the professional existence of its founder and current CEO, enter the world of communication consultants with international dimension. And this will entail obviously some professional sacrifice of its top management whose members will have to take up positions in other markets too. That is why we will be investing in staff with postgraduate, masters, doctoral and postdoctoral degrees sponsored by the company. The year 2020 will be one of change. We will come of age before completing eighteen (18) years of age. We will live through difficult, troubled times marked by a rebirth of let and right wing extremism, populism and demagogy, exploring the fragility of a large majority of human beings. In this respect, we will continue to contribute to the society we live in, both in Portugal and in Mozambique. We will also face major challenges, such as technology and the breakneck speed at which it is growing, the continued globalization, the big brothers that are already watching us, the problems of justice, health and food production, among many others. As regards business we want to retain the leading position. To do more and ever better! I would like to finish by expressing my sincere gratitude to our Customers, Partners and Employees (and even to the vast majority of those who have left our staff) for the path they have helped follow and for the things we have built together. I wish you a huge 2020. l

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X X I I L E G I S L AT U R A MODELO DO NOVO GOVERNO

UM GOVERNO PORTUGUÊS A PENSAR NA EUROPA A PORTUGUESE GOVERNMENT WITH THE EYES SET ON EUROPE

P E D R O S I Z A V I E I R A PA S S A A N Ú M E R O D O I S D O G O V E R N O E A N T Ó N I O C O S TA P O D E A G O R A C O N TA R C O M Q U AT R O M I N I S T R O S D E E S TA D O , S O L U Ç Ã O Q U E N Ã O E X I S T I A N O A N T E R I O R E X E C U T I V O . A T O M A D A D E P O S S E D O X X I I G O V E R N O C O N S T I T U C I O N A L D E C O R R E U N O PA S S A D O MÊS DE OUTUBRO. P E D R O S I Z A V I E I R A B E C O M E S N U M B E R T W O O F T H E G O V E R N M E N T A N D A N T Ó N I O C O S TA N O W R E L I E S O N F O U R M I N I S T E R S O F S TAT E , A S O L U T I O N T H AT D I D N ’ T E X I S T I N T H E P R E V I O U S G O V E R N M E N T. T H E I N A U G U R AT I O N O F T H E 2 2 N D C O N S T I T U T I O N A L G O V E R N M E N T T O O K P L A C E L A S T O C T O B E R .

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DIOGO QUEIROZ DE ANDRADE

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primeiro-ministro não fez a vontade à esquerda e preferiu governar em minoria, pondo o conforto executivo à frente de uma suposta estabilidade elusiva. A verdade é que esta escolha significa que António Costa não gostou dos quatro anos em que esteve “amarrado” aos seus parceiros e que quer agora provar que consegue governar de forma estável mesmo sem ter maioria. As condições, para já, são-lhe favoráveis. O governo que montou é fruto dessa circunstância e de outra, que é a presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia já em Janeiro de 2021. Foi nisto que o primeiro-ministro se focou aquando da construção da equipa que pode mesmo durar os quatro anos da legislatura, independentemente dos acertos de percurso que inevitavelmente irão ocorrer.

he prime minister didn’t do the will of the left and preferred to rule with a minority government, putting government comfort ahead of a supposed elusive stability. The truth is that this choice means that António Costa didn’t like the four years he was “tied” to his partners and now wants to prove that he can govern stably even without a majority. The conditions are favourable for him for now. The government he set up is the result of this circumstance and of another, e.g. the Portuguese Presidency of the Council of the European Union as early as January 2021. The prime minister focused on this when he set up this team that can even last the four years of the legislature, regardless of the arrangements that will inevitably occur in between.

A organização António Costa deu ao país o maior governo de sempre, com 70 elementos: 19 ministros e 50 secretários de estado. Pode ser fruto de uma tendência para a maior especialização e complexidade das questões de Estado, mas é seguramente fruto do evento que vai determinar o maior sucesso deste governo: a ocupação da presidência rotativa do Conselho da União Europeia a 1 de Janeiro de 2021. Por isso, Costa optou por um executivo com quatro ministros de Estado, figuras muito poderosas na nova orgânica que supervisionam as áreas-chave da governação nacional: Estado, Economia e Transição Digital; Negócios Estrangeiros; Presidência; Finanças. O modelo já tinha sido ensaiado por outro primeiro-ministro socialista, António Guterres, não tendo a experiência sido de boa memória. É de destacar aqui que os quatro elementos preponderantes são pessoas muito próximas de Costa, com quem será fácil articular uma coordenação efectiva. O elemento mais distante dos quatro é o que se encontra em perda e que menos probabilidades tem de chegar sequer a meio do mandado: Mário Centeno, a vedeta do anterior executivo, já nem falou na primeira sessão parlamentar e a sua descida na hierarquia coincide com o fim do trabalho no Eurogrupo. Das caras novas, vale a pena destacar Ana Abrunhosa, de quem muito se espera na Coesão Territorial – e que já deu provas de consensual competência no desenvolvimento regional da região centro, acompanhada por um conhecimento profundo dos fundos europeus. Também vale a pena referir dois secretários de estado com pastas novas: o primeiro governante com um portefólio ligado ao digital é

The organisation Antonio Costa gave the country the largest government ever, with 70 members: 19 ministers and 50 secretaries of state. This may be the result of a tendency towards greater specialization and complexity of state affairs, but it’s surely the result of an event that will play a crucial role in the success of this government: the start of rotating presidency of the Council of the European Union by Portugal on 1 January 2021. For this reason, Costa went for an executive with four ministers of state, very powerful figures in the new organization who shall oversee the key areas of national governance: State, Economy and Digital Transition; Foreign Affairs; Presidency; Finance. This model had already been tried by another socialist prime minister, Antonio Guterres, and the experience was not a good one. It is worth highlighting that the four preponderant elements are people very close to Costa, with whom it will be easy to articulate effective coordination. The most distant element of the four is someone who is loosing relevance and is less likely to reach even mid-term: Mário Centeno, the star of the previous government, has not even spoken at the first parliamentary session and his descent in the hierarchy coincides with the end of his work in the Eurogroup. Of the new faces, it is worth highlighting Ana Abrunhosa, whom much is expected in Territorial Cohesion - and who is consensually regarded as someone highly skilled in the regional development of the central region and someone with a profound knowledge of European funds. It is also worth mentioning two secretaries of state with new post: 7


X X I I L E G I S L AT U R A MODELO DO NOVO GOVERNO

F OTO D E FA M Í L I A D O N O V O G O V E R N O

André Azevedo, a quem não faltará trabalho; e quem fica com o Audiovisual e os média é Nuno Artur Silva. É um governo à medida de um António Costa com ambições europeias: com pessoas muito próximas nos lugares de topo, com equipas executivas dedicadas e bastante experientes.

the first ruler with a portfolio associated with digital is André Azevedo, who will not lack work; and the minister in charge of audiovisual and the media is Nuno Artur Silva. This a government that suits António Costa and his European ambitions: with people very close to him in top positions, with dedicated and very experienced executive teams.

A ambição europeia O dossiê europeu começa pelos Fundos, mas está longe de se esgotar nisso. A discussão sobre os fundos é recorrente cada vez que chega a hora de acertar o Quadro Financeiro da União, com os estados do Norte a querer fechar a torneira da Coesão e os do Sul a exigir mais para poder reduzir as distâncias. É a primeira consequência do Brexit a fazer-se sentir nos (des)entendimentos europeus – e embora o que esteja em questão sejam poucas centésimas, o problema é de fundo e implica com a visão de conjunto para o continente. A pressão para um acordo vai fazer-se sentir durante a presidência croata no início do ano, visto que os alemães não quererão receber este problema e a nova Presidente da Comissão vai querer mostrar serviço desde cedo. Assim sendo, o assunto ficará resolvido nos primeiros meses de 2020, o que irá condicionar a acção do governo no período que se segue. É óbvio que Portugal necessita desesperadamente dos fundos da coesão para continuar a crescer porque, sem esse motor, não há políticas que valham. Toda a estratégia para a segunda metade do calendário governativo está assim dependente do que vier da Europa – e acima de tudo quando vier. Para António Costa, a presidência portuguesa da União, que irá decorrer no primeiro semestre de 2021, é o elemento central do seu mandato. Isso justificou a sua organização e a aposta estrutural que está a fazer num

The european ambition The European file starts with the Funds, but doesn’t stop here. The discussion about funds is recurrent when it comes to Union’s Financial Framework, with the northern states wanting to close the Cohesion tap and the southern states demanding more in order to be able to reduce distances. It’s the first consequence of Brexit and its reflection on the European (mis) understandings - and although what’s at stake is just a few hundredths, this a fundamental issue and implies an overall vision on the continent. The pressure towards a deal will be felt during the Croatian presidency earlier this year, considering that the Germans will not want to have to deal with this problem during their presidency and the new Commission President will want to deliver right from the start. Hence, the matter will be solved in the early months of 2020, which will condition government action in the ensuing period. It’s obvious that Portugal desperately needs cohesion funds to grow further as without this engine policies alone won’t help. The whole strategy for the second half of the government calendar thus depends on what comes from Europe - and above all when. For António Costa the Portuguese presidency of the Union, which will take place in the first half of 2021, is the central element of his mandate. This justified the manner how he organised his government and the structural bet he is

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António Costa Primeiro-Ministro

Duarte Cordeiro Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares

Tiago Antunes Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro

André Moz Caldas Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros

Pedro Siza Vieira

Mariana Vieira da Silva

Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital

Ministra de Estado e da Presidência

Mário Centeno

Augusto Santos Silva

Ministro de Estado e das Finanças

João Gomes Cravinho Ministro da Defesa Nacional

Francisca Van Dunem Ministra da Justiça

Nelson Souza Ministro do Planeamento

Manuel Heitor Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

Ana Mendes Godinho Ministra do Trabalho, Solidariedade e Seguranca Social

João Pedro Matos Fernandes

Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros

Eduardo Cabrita Ministro da Administração Interna

Alexandra Leitão Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública

Graça Fonseca Ministra da Cultura

Tiago Brandão Rodrigues Ministro da Educação

Marta Temido Ministra da Saúde

Pedro Nuno Santos

Ministro do Ambiente e da Acção Climática

Ministro das Infra-estruturas e da Habitação

Ana Abrunhosa

Maria do Céu Albuquerque

Ministra da Coesão Territorial

Ministra da Agricultura

Ricardo Serrão Santos Ministro do Mar

governo com muitas cabeças operacionais que visa libertá-lo para organizar uma presidência em que quer brilhar alto no palco europeu. Conhecendo o primeiro-ministro, será de esperar que uma ou duas cartadas diplomáticas de alto nível estarão a ser preparadas na sombra – já é público que uma das apostas passa pela conclusão da União Económica e Monetária, mas tudo terá de ser acertado com a Alemanha (que ocupa o cargo antes) e com a Eslovénia (que ocupa a seguir). Para isso António Costa irá contar com a competentíssima equipa do MNE, que se costuma exceder nestes momentos – o que tem valido a Portugal muito respeito das capitais continentais.

making on a government with many operational heads aimed at freeing him to organize a presidency that wants to shine bright on the European stage. And considering the Prime Minister’s abilities, he is probably discretely preparing one or two high-level diplomatic cards - one of bets is conclusion of the Economic and Monetary Union, but everything has to be settled with Germany (which occupies the post before that) and with Slovenia (occupying the post next). For this António Costa will rely on the very competent team at the Ministry of Foreign Affairs, which usually goes to great lengths in such periods - and has earned Portugal a lot of respect in the continental capitals. 9


X X I I L E G I S L AT U R A MODELO DO NOVO GOVERNO

A acção política Nas questões ditas fraturantes, a eutanásia será a primeira a ir a votos, seguida da gestação de substituição e, lá mais para a frente, da despenalização das drogas leves. Com um parlamento mais receptivo a estes temas e com a oposição à direita desorganizada, há maior probabilidade de que os primeiros projetos avancem, pelo menos, até ao Tribunal Constitucional. Muito mais interessante, pelo menos no que toca à estratégia, foi a forma como o governo optou por negociar o salário mínimo. Sem perder muito tempo em procurar aliados à esquerda, foi directo para as negociações em sede concertação social, o que será um sinal importante da forma como pretende gerir o seu mandato. Costa sabe que o programa que tem passa, em princípio, à esquerda sem grande necessidade de

The political action In the so-called divisive issues, euthanasia will be the first to be voted, followed by the surrogate pregnancy and, later on, decriminalisation of light drugs. With a parliament that is more receptive to these issues and with disorganised right-wing opposition, the early projects are more likely to be taken at least to the Constitutional Court. Much more interesting, at least as regards strategy, was the way the government chose to negotiate the minimum wage. Without wasting much time looking for left-wing allies, he went straight to the social dialogue negotiations, which will be an important sign of how he intends to manage his mandate. Costa knows that his program will most certainly be approved by the left wing parties

O S Q UAT RO D E S A F I O S E S T R AT É G I C O S DO XXII GOVERNO CONSTITUCIONAL

RESP ONDER AO DESAFIO DEMOGRÁFICO

C O M BAT E R A S A LT E R AÇ Õ E S C L I M ÁT I C A S

negociação. Sabe que os seus ex-parceiros de governo estão acossados pelo resultado eleitoral e que não têm margem para recusar políticas que agradam aos seus eleitores, pelo que os socialistas esperam poder contar com o apoio tácito de Bloco e PCP. Isto permitirá a António Costa recolocar o governo um pouco mais ao centro, de forma a construir uma solução que se apresente de forma consensual - até porque o primeiro-ministro preferirá governar assim a ter de o fazer com o acordo que orientou a anterior legislatura. O programa de governo consagra como primeira prioridade a sustentabilidade a longo prazo da economia, com a consolidação das práticas do anterior executivo. A saúde é também prioridade conhecida e anunciada, até por ser o serviço que origina mais queixas por parte dos cidadãos – e aí o programa reflecte o muito que há a fazer. Já a justiça, que tem teimosamente resistido a todas as tentativas de reforma e se mantém como um sector problemático, foi desvalorizada com muitas frases genéricas e poucas medidas concretas. Os vários desafios na área ambiental estão bem reflectidos em diversos pontos do programa de governo, pelo que aqui muito irá mudar (até porque será um dos temas mais consensuais no novo Parlamento). O orçamento de estado, a apresentar nos primeiros dias de Dezembro, vai clarificar estas tendências e permitir perceber as verdadeiras 10

REDUZIR AS DESIGUALDADES

CONSTRUIR A S O C I E DA D E D I G I TA L

without much need for negotiation. He knows that his former government partners are beset by the election results and that they have no room to reject policies that appeal to their voters, hence the Socialists hope to be able to rely on the tacit support of Left Bloc and the Portuguese Communist Party. This will allow António Costa to relocate the government a little further to the centre in order to build a consensual solution - even more so because the prime minister would rather govern like this instead of having to do it with the agreement he steered in the previous legislature. The government program establishes as a first priority the long-term sustainability of the economy, with the consolidation of the former executive’s practices. Healthcare is also a well-known and heralded priority, considering also that this service has generated more complaints from citizens - and the program reflects how much needs to be done in this particular field. Justice, which has stubbornly resisted all attempts at reform and remains a troubled sector, has been devalued with many generic sentences and few concrete measures. The many environmental challenges are well reflected at various points in the government program, and hence much will change here (also because it will be one of the most consensual topics


É ÓBVIO QUE P O RT U G A L N E C E S S I TA DESESPER ADAMENTE D OS F U N D O S DA C O E S ÃO PA R A CONTINUAR A CRESCER P ORQUE, SEM ESSE MOTOR, N ÃO H Á P O L Í T I C A S Q U E VA L H A M .

prioridades para o primeiro ano de governação. E também aqui os votos das oposições serão determinantes para perceber como vai decorrer a legislatura. Os desafios e os imprevistos No contexto europeu, Portugal é uma economia de média dimensão, a meio da tabela em vários indicadores. A enorme dependência dos grandes mercados deixa o país completamente exposto a uma crise que se espera que não ocorra – mas a estagnação dos indicadores financeiros alemães e a constante crise política em Itália e Espanha permitem antever nuvens negras no horizonte da próxima legislatura. O cenário dantesco seria o de uma nova crise financeira global (ou mesmo que só europeia), como já tem sido antecipado por alguns economistas. A consolidação desejada pelo governo seria instantaneamente destruída e a gestão de danos seria a única alternativa possível, algo que poderia mesmo pôr em causa a manutenção do elenco governativo e obrigar a eleições antecipadas. Em termos internos, não se prevê grande insatisfação social – mas o aparecimento do movimento extremista no Parlamento vai certamente aumentar a tensão política. Para além dos processos internos dos partidos à direita, que darão origem a um ou dois novos líderes, há um factor que vai certamente mexer com a coesão política nacional: o processo de José Sócrates é pura e simplesmente o caso mais importante da justiça democrática nacional e está prestes a conhecer um avanço importante com a decisão de seguir ou não para julgamento. Caso Ivo Rosa, o juiz responsável, decida avançar com a acusação dos crimes de corrupção, as repercussões partidárias serão imensas; mas se por acaso optar por deixar cair a maioria das acusações será toda a estrutura do Ministério Público a ficar em causa, o que vai obrigar o Governo a fazer alguma coisa. António Costa tem sido especialmente cuidadoso ao evitar colar-se a este tema, mas é garantido que qualquer conclusão dará origem a um enorme terramoto – e a decisão do juiz Rosa terá de chegar até ao Verão. l

in the new Parliament). The state budget, to be submitted in the early days of December, will clarify these trends and will enable us to understand the real priorities for the first year of government. And here too, the votes of the opposition will be crucial to understand how the legislature will proceed. Challenges and unforeseen events In the European context, Portugal is a medium-sized economy, located mid table in many indicators. The heavy reliance on large markets leaves the country completely exposed to a crisis that hopefully will not occur - but the stagnation of German financial indicators and the constant political crisis in Italy and Spain may bring dark clouds ahead of the next legislature. The Dantesque scenario would be that of a new global (or even only European) financial crisis, as has already been anticipated by some economists. The government’s desired consolidation would be instantly destroyed and disaster management would be the only possible alternative, something that could even jeopardize the maintenance of the governing cast and force early elections. Internally, no major social unrest is predicted - but the emergence of the extremist movement in Parliament will certainly increase political tension. In addition to the internal processes in right wing parties, which will lead to the emergence of one or two new party leaders, there is one factor that will certainly interfere with national political cohesion: former prime minister José Socrates’s process is simply the most important case in national democratic justice and is about to witness a major breakthrough after the decision to submit this case or not to trial. If Ivo Rosa, the judge in charge, decides to move on and press charges of corruption crimes, repercussions in Portuguese political parties will be immense; but if he chooses to drop most of the accusations, the whole structure of the prosecution to be questioned, which will force the government to do something. Antonio Costa has been especially careful to avoid sticking to this issue, but any conclusion will certainly cause a major earthquake - and Judge Rosa’s decision has to arrive until the summer. l

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DOSSIÊ O MUNDO EM 2020

DIOGO QUEIROZ DE ANDRADE

UM ORÁCULO PARA 2020 AN ORACLE FOR 2020

A S T E N D Ê N C I A S Q U E VÃ O D E F I N I R O A N O Q U E V E M E S TÃ O A S E R D E S E N H A D A S H Á A L G U M TEMPO. E, MESMO QUE A IMAGEM SÓ AGORA COMECE A FICAR CL ARA, JÁ É POSSÍVEL ENTENDER AS LINHAS GERAIS DO QUE SE APROXIMA. T H E T R E N D S T H AT W I L L D E F I N E T H E C O M I N G Y E A R H AV E B E E N H AV E B E E N T H E R E F O R Q U I T E S O M E T I M E . A N D E V E N I F T H E P I C T U R E I S O N LY N O W B E G I N N I N G T O B E C O M E C L E A R , I T ’ S A L R E A D Y P O S S I B L E T O S E E W H AT ’ S C O M I N G .

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hilip Tetlock, o maior especialista global em previsões, diz que o objectivo da ciência é livrar-se da incerteza e que a antecipação do futuro é um passo imperfeito nesse sentido. Ainda assim, o exercício está longe de ser fútil e permite entender melhor o mundo que nos rodeia. No caso de 2020, é óbvio que muito do que se passa no mundo depende do que ocorre na Casa Branca, especialmente com personagens tão disruptivas como as que se viram neste mandado – mas isso não quer dizer que a narrativa de outras parte do planeta não seja igualmente importante e não tenha um impacto semelhante. A deriva anti-globalização continua, mas nada impede o aumento das interdependências globais.

hilip Tetlock, the leading global forecasting expert, says that the goal of science is to get rid of uncertainty and that anticipating the future is an imperfect step in that direction. Still, doing so is far from futile and allows us to better understand the world around us. In the case of 2020, it is obvious that much of what goes on in the world depends on what happens at the White House, especially with characters as disruptive as those in office during this mandate - but that doesn’t mean that the narrative from other parts of the planet is not ‘equally important and doesn’t have a similar impact. The anti-globalisation drift continues, but nothing prevents the rise of global interdependencies.

O ambiente O exemplo óbvio é o combate às alterações climáticas. Nos últimos anos tornou-se impossível negar a existência do problema, pelo que a questão passou finalmente a ser o que fazer para o combater. Se há regiões do mundo que já assumiram publicamente a meta da neutralidade carbónica em 2050, outros ainda se recusam a fazê-lo, aumentando a desigualdade na abordagem ao problema – e se até agora foi difícil negar a países em desenvolvimento o seu direito a poluir para galgar etapas no crescimento global, as acções globais necessárias para reduzir drasticamente a emissão de CO2 implicam um compromisso global. Não chega que a Nova Zelândia tenha anunciado o seu compromisso de neutralidade carbónica, nem que seja de esperar um pacto semelhante por parte do Canadá e da Austrália. A União Europeia vai anunciar

Environment An obvious example is the fight against climate change. In recent years it has become impossible to deny the existence of this problem, hence the major issue is now what to do to fight it. If there are regions of the world that have already publicly embraced the goal of carbon neutrality by 2050, others still refuse to do so, thereby increasing the inequalities in the manner how the problem is addressed - and if it’s been difficult so far to deny developing countries their right to pollute to make strides in global growth, global actions needed to drastically reduce CO2 emissions thus imply a global commitment. The fact that New Zealand has announced its commitment to carbon neutrality is not enough, nor is a similar pact expected from Canada and Australia. The European Union will quickly announce the same

O COMPROMISSO COM A REDUÇÃO DE EMISSÃO DE CO2 É U M A DA S P R I O R I DA D E S PA R A O S P R Ó X I M O S A N O S

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DOSSIÊ O MUNDO EM 2020

A T E C N O L O G I A P A S S A R Á A S E R E N C A R A D A , C A D A V E Z M A I S , C O M O U M A F E R R A M E N TA DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

rapidamente o mesmo objectivo, sendo que o esforço para lá chegar vai causar um impacto decisivo no crescimento de curto prazo. Se EUA, China, Rússia, Indonésia e Brasil não assumirem o mesmo esforço, o problema mantém-se: não só as metas necessárias não serão atingidas como o ressentimento entre blocos geográficos aumentará. Até porque os problemas climáticos influenciam directamente aspectos como migrações (essencialmente no sentido sul-norte mas também entre países no sul), conflitos regionais (por causa de bens essenciais como água e território) e o comércio global. Quem renunciar à economia do petróleo vai pagar mais para aceder a produtos, vai perder competitividade interna e externa e vai necessariamente perder qualidade de vida. É um compromisso necessário, mas difícil de aceitar no cenário internacional. Os conflitos Isso vai acentuar as tensões a nível do comércio global. Nos últimos anos os conflitos na Organização Mundial do Comércio (OMC) foram essencialmente entre americanos e chineses, com os europeus a serem chamados à baila em casos específicos (como no triste caso da Airbus). Mas a partir desta década o contexto será diferente e espera-se um cada vez maior protagonismo deste contexto ambiental a ensombrar as relações comerciais entre blocos. É algo que a OMC não está preparada para gerir, apesar de consagrar o desenvolvimento sustentável nos seus objectivos desde o início – a intransigente recusa dos gigantes económicos em fazer reflectir o peso das políticas ambientais nas relações globais continua a incentivar a economia do petróleo e a promover desigualdades geográficas. Neste ponto, 2019 terminou com uma nota muito negativa: a descoberta de um novo lençol de petróleo por parte do Irão continua a reforçar a lógica da economia extractiva e a atrasar a necessária transição. 14

goal, and the efforts to reach this will have a decisive impact on short-term growth. If the US, China, Russia, Indonesia and Brazil don’t engage in the same effort, the problem remains: not only won’t the necessary goals be met as the resentment between geographic blocks will increase. Climate problems directly influence aspects such as migration (mainly south-north but also between countries in the south), regional conflicts (over essential goods such as water and territory) and global trade. Those who renounce the oil economy will pay more to access products, lose internal and external competitiveness and necessarily lose quality of life. It’s a necessary compromise, but difficult to accept on the international scene. The conflicts This will lead to increased tensions in global trade. In recent years, conflicts in the World Trade Organization (WTO) occurred essentially between Americans and Chinese, with Europeans being called out in specific cases (as in the sad case of Airbus). But after this decade the context will be different and the expected increasing role of this environmental context is poised to overshadow trade relations between blocks. This is something the WTO is not prepared to manage, although it has enshrined sustainable development in its objectives from the outset - the uncompromising refusal of economic giants to reflect the weight of environmental policies in global relations continues to spur the oil economy and promote geographical inequalities. At this point, 2019 will end on a very negative note: Iran’s discovery of a new sea of oil continues to reinforce the logic of the extractive economy and delay the necessary transition.


Há muito para fazer no quadro da Organização, a começar pela redução dos custos para exportação de tecnologias verdes e pela criação de maior eficiência no transporte global de mercadorias. Mas é inegável que o objectivo de neutralidade carbónica obrigará a um tremendo impacto no comércio global – uma factura que terá de ser paga por todos, incluindo por aqueles que não a querem reconhecer. E basta recuar três anos para escutar a previsão de Richard Baldwin, que alertou para os riscos recessivos de uma globalização de bens e de ideias, mas não de pessoas – que é precisamente o que se vive hoje. Infelizmente, não será um qualquer retrocesso no comércio global a provocar uma quebra na violência armada a nível global. Os focos de conflito conhecidos (Afeganistão, Síria, Iemen) vão continuar e outros pontos de tensão podem agravarse no decurso de 2020. Em simultâneo, as tensões sociais vão continuar a ter expressão nas ruas – como se viu no final de 2019 em Hong-Kong, em Londres, em Santiago e em Sucre. Nas paragens mais democráticas, as tensões são outras: a bandeira das migrações continua a ser acenada pelos populistas que, de forma cada vez mais competente, se chegam ao poder pela via das urnas. E pouco importa que, em regra, sejam as regiões com menos imigrantes a ceder mais ao discurso do ódio: a mensagem populista ganha tracção em regiões deprimidas onde o poder central falhou nos últimos anos, abrindo caminho a novas fórmulas políticas.

There is much to do within the Organisation, starting with reducing the cost of exporting green technologies and creating greater efficiency in global freight transport. But it’s undeniable that the goal of carbon neutrality will have a tremendous impact on global trade - a bill that will have to be paid by all, including those who don’t want to acknowledge it. And we just have to look back three years to hear the prediction of Richard Baldwin, who warned of the recessive risks of a globalization of goods and ideas, but not of people - which is precisely what we are experiencing today. Unfortunately, a setback in global trade that will not stop global armed violence. Known conflict outbreaks (Afghanistan, Syria, Yemen) will continue and further tensions may worsen in the course of 2020. At the same time, social tensions will continue to be felt and expressed in the streets - as seen in late 2019 in Hong Kong, London, Santiago and Sucre. In the most democratic regions, tensions are different: the flag of migration continues to be waved by the populists, who are increasingly coming to power through the ballot box. And it matters little that, as a rule, it’s the regions with the least immigrants that are giving in to the hate speech: the populist message gains traction in depressed regions where central power has failed in recent years, paving the way for new political formulas.

A desigualdade Está mais do que demonstrado que o grande problema que os governos do norte têm de enfrentar não são as migrações, mas as desigualdades. O modelo económico vigente não acautelou as fragilidades de quem estava perto das franjas da sociedade – e que foi empurrado para a pobreza aquando da crise financeira, não tendo muitos ainda conseguido sair porque não se lhes foi apresentada uma alternativa. Nesse sentido, a

Inequality The major problem facing northern governments is clearly not migration but inequality. The prevailing economic model didn’t address the weaknesses of those on the fringes of society - and of those who were pushed into poverty when the financial crisis broke and many haven’t yet managed to escape this situation because no alternative has been presented to them. In this sense, the

NOS ÚLTIMOS ANOS OS CONFLITOS NA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC) FORAM ESSENCIALMENTE ENTRE AMERICANOS E CHINESES

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DOSSIÊ O MUNDO EM 2020 narrativa do fim da história que foi apresentada como a prova do triunfo do ocidente no final do século XX acabou por ser a encarnação das suas fragilidades menos de duas décadas depois. Esta ameaça ao modelo liberal ainda se vai acentuar antes de se atenuar - e 2020 vai manter a mesma linha de crescimento nativista. Como explica Cas Mudde, um dos maiores especialistas globais nos movimentos extremistas, estes tendem a só triunfar quando a ansiedade económica se associa a temas sócio-culturais como a migração ou a sensação de insegurança. É uma exploração de emoções que funciona especialmente bem junto dos mais desfavorecidos – ou dos que têm a percepção de estar a ser desfavorecidos. Do outro lado do espectro financeiro, as coisas não correm melhor. A tendência é para a diabolização da ideia do multimilionário, um tema cada vez mais discutido – a par da exigência pelo fim dos ‘offshores’ e por um imposto sobre as transações financeiras a nível global. É certo que a narrativa mudou e que deixou de ser socialmente recomendável estar associado a demasiados milhões. E mesmo na pátria do ultracapitalismo já se discute às claras a necessidade de aumentar as contribuições sociais de quem mais ganha, de forma a contribuir para o estado social – e, com as tensões sociais que por aí andam, talvez faça mesmo sentido pagarem. A tecnologia Parte da explicação para a desigualdade crescente está na última causa global disruptiva que se aborda aqui. A corrida tecnológica continua a acelerar ainda mais depressa que a lei de Moore, criando novas questões às sociedades que se têm revelado incapazes de entender o que está em causa. Estas questões colocam-se a quatro níveis: o primeiro relaciona as redes sociais e a degradação do espaço público, num movimento que deverá dar origem a legislação específica de ambos os lados do Atlântico, que se segue a ataques por parte dos novos elementos da classe política; o segundo tem a ver com o crescente impacto da geopolítica nas discussões estratégicas sobre tecnologia, de que são exemplos a questão da Huawei no 5G e a actividade de empresas americanas que condenam cidadãos inocentes a situações insustentáveis, por cegueira na utilização dos algoritmos de inteligência artificial; o terceiro aspecto é o que se relaciona com as práticas de edição genética, sobre a qual não há nem haverá qualquer espécie de consenso global sobre o assunto – porque quem domina a tecnologia dispensa o controlo por parte de potências concorrentes; por fim é fundamental destacar que o discurso sobre a inovação está finalmente a mudar: Mariana Mazzucato, a economista italiana que aconselha políticos como Carlos Moedas, Theresa May, Ocasio-Cortez e Elizabeth Warren, explica que a inovação é um processo que nasce sempre a partir do estado central e que está na altura de reavaliar as relações entre interesses públicos e privados. Tudo isto vai ajudar a começar a mudar a imagem benigna que se tem da tecnologia: de processo de reconversão inócuo deverá começar a ser gradualmente vista como aquilo que verdadeira é uma ferramenta de transformação social. Como o que está em causa é um ano inteiro de comportamento humano, há muito espaço para surpresas, emoções e dramas de intensidade variável. O balanço, esse, faz-se no final de 2020. l 16

end-of-history narrative that was presented as proof of the West’s triumph in the late twentieth century turned out to be the embodiment of its weaknesses less than two decades later. This threat to the liberal model is bound to worsen before it subsides - and 2020 will maintain the same nativist growth line. As Cas Mud, one of the world’s leading experts on extremist movements, explains, these moments tend to triumph only when economic anxiety is associated with socio-cultural issues such as migration or a sense of insecurity. And exploring these kind of emotions works especially well with the most disadvantaged - or with those who perceive themselves to be disadvantaged. Across the financial spectrum, things are not any better. The trend is toward the demonization of the multimillionaire idea, an increasingly discussed topic along with the demand towards the end to ‘offshorers’ and a tax on financial transactions globally. Admittedly, the narrative has changed and it is no longer socially recommended to be associated with too many millions. And even in the homeland of ultra-capitalism there is a clear discussion about the need to increase the social contributions of the highest earners in order to contribute to the social state – and considering the current social tensions it probably makes more sense to pay such a tax. Technology Part of the explanation for the rising inequality lies in the last disruptive global cause addressed here. The technological race continues to accelerate even faster than Moore’s law, bringing up new issues for societies that have been unable to understand what’s at stake. These issues arise at four levels: the first relates to social networks and the degradation of public space, a move that should give rise to specific legislation on both sides of the Atlantic, following attacks by new members of the political elite; The second has to do with the growing impact of geopolitics on strategic technology discussions, examples of which are Huawei’s 5G issue and the activity of US companies that condemn unsuspecting citizens to unsustainable situations, out of blindness in the use of artificial intelligence algorithms; The third aspect is related to genetic editing practices, an issue over which there is and will not be any kind of global consensus – considering that those who master technology don’t have the control over competing world powers; Finally, it’s worth highlighting that the discourse as regards innovation is finally changing: Mariana Mazzucato, the Italian economist who advises politicians like Carlos Moedas, Theresa May, Ocasio-Cortez and Elizabeth Warren, explains that innovation is a process that is always born from the central state and it’s time to reassess the relationship between public and private interests. All of this will help change the benign image of technology: thus process of innocuous reconversion should gradually be seen as what it truly is, a tool of social transformation. And given that what’s at stake is a whole year of human behaviour, there is plenty of room for surprises, emotions and dramas of different levels. The review will be made at the end of 2020. l


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DOSSIÊ O MUNDO EM 2020

EUROPA Será em 2020 que termina finalmente a desgastante novela do Brexit, abrindo caminho para o necessário novo ciclo de alinhamento geográfico no continente. Esta ideia de refrescamento político é reforçada pela tomada de posse da nova comissão europeia chefiada por Ursula Van der Leyen e pela anunciada saída de cena de Angela Merkel, que liderou efectivamente a Europa nos últimos anos. É neste quadro que a União assiste a um engrandecimento de Emmanuel Macron, que procura recolocar a França na liderança geopolítica do continente e promover a sua visão estatista da União. Grande parte do plano de Paris – e da renovação da indústria francesa – passa por recriar a defesa europeia, passando dos escombros de uma NATO desatualizada para um exército europeu regido por Bruxelas. A proposta do líder francês será recusada pelos parceiros da União, mas tem o mérito de reabrir um debate necessário sobre a mundividência de uma Europa que não tem os instrumentos nem o respeito necessário para agir de acordo com aquilo em que acredita. Por enquanto, o primeiro acto de guerra europeu vai passar pelo digital. A supercomissária Vestager vai abrir hostilidades com novas peças legislativas que vão compor o ramalhete iniciado com a directiva de direitos de autor – insistindo na regulação do ódio e da mentira nas plataformas digitais, no maior controlo de dados pessoais, na maior exigência face aos impostos devidos e no aumento das multas por abuso da concorrência. Mas mais importante que tudo isso será o sinal a dar sobre a regulação da inteligência artificial no espaço europeu, algo que vai limitar a acção dos gigantes tecnológicos que vêm da China e dos EUA e que serão essenciais para assegurar a manutenção da soberania europeia. Em simultâneo, a nova Comissão dará os primeiros passos para atingir a neutralidade carbónica em trinta anos, o que vai abrir guerras inevitáveis com os ‘lobbys’ mais poderosos de Bruxelas. A indústria e a agricultura, habituadas a mercados abertos e subsídios generosos, constituem a coluna vertebral da economia europeia e terão de se reconverter para permitir a protecção ambiental. O instrumento essencial para atingir este objectivo já está definido, visto que o novo orçamento da UE para o período 21-27 dá prioridade à economia criativa e ao digital. Internamente, o risco continua a estar na forma com que Bruxelas terá de lidar com os parceiros que cedem cada vez mais a políticas autocráticas, onde se destacam a Hungria e a Polónia. Mas garantir que o ideal da União se estende aos cidadãos implica esforço dos líderes nacionais, que continuam levianamente a usar e descartar a UE em função das conveniências internas.

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EUROPE 2020 marks the end of Brexit’s exhausting soap opera, paving the way for the necessary new geographic alignment cycle on the continent. This political refresh is reinforced by the inauguration of the new European Commission headed by Ursula Van der Leeann and the announced departure of Angela Merkel, who has effectively led Europe in recent years. Amidst this scenario Union is currently witnessing the aggrandisement of Emmanuel Macron, who seeks to restore France geopolitical leadership of the continent and promote his statesman’s vision of the Union. Much of the Paris plan - and the renewal of French industry - involves recreating European defence, moving from the rubble of an outdated NATO to a European army ruled by Brussels. The French leader’s proposal will be rejected by the Union’s partners, but it has the merit of reopening a necessary debate on the view of the world by a Europe that lacks the tools and the respect to act according to its beliefs. For now, the first European act of war will include digital. Super Commissioner Vestager will open hostilities with new pieces of legislation that will add to recently implemented copyright directive - insisting on the regulation of hatred and lies on digital platforms, greater control of personal data, greater demands as regards collection of taxes due and increasing fines in case of undue competition. But more importantly this is a clear sign of regulation of artificial intelligence in the European space, something that will limit the action of the technological giants from China and the USA and will be essential to ensure the maintenance of European sovereignty. At the same time, the new Commission will take the first steps towards carbon neutrality in thirty years, thereby opening inevitable wars with Brussels’ most powerful lobbies. Industry and agriculture, accustomed to both open markets and generous subsidies, form the backbone of the European economy and will have to be reconverted in order to allow environmental protection. The key instrument to achieve this objective has already been defined, considering that the new EU budget for the period 21-27 privileges the creative and digital economy. Internally, Brussels faces the ongoing risk of having to deal with partners increasingly giving in to autocratic policies, particularly in Hungary and Poland. But ensuring that the ideal of the Union extends to the citizens requires major efforts from national leaders, who continue lightly to use and discard the EU according to their own internal convenience.


EUA A previsão do ano americano escreve-se com uma palavra só: Presidenciais. As eleições são em Novembro, mas vão ocupar todos os meses do calendário com uma tensão crescente e uma dramatização preocupante. O ano vai começar na lógica do ‘impeachment’, processo esse que deve a sua existência à chantagem que Donald Trump terá feito sobre a Ucrânia para retirar dividendos políticos – e que se virou de forma decisiva contra ele. Ainda assim, salvo quaisquer provas demolidoras, o processo deverá esbarrar na intransigência de um Senado dominado pelo Partido Republicano e pela sua crença em Trump e na sua capacidade de conseguir uma segunda vitória eleitoral. Logo no segundo mês arrancam as primárias democratas, que ainda são uma enorme confusão que terá de se resolver nestes meses – apesar do previsível aparecimento dos novos candidatos, a escolha deverá mesmo recair num dos que estão na corrida desde o início. E não é só Trump que vai a votos: há em disputa 35 lugares no Senado, 11 Governadores estaduais e toda a câmara dos representantes. O aumento da tensão política vai crispar ainda mais o ambiente numa sociedade que tem estado dividida pelas questões sociais: tratamento a dar a migrantes, que apoios sociais distribuir, que proteção dar a minorias. E este é o reflexo da sociedade americana hoje, onde o aumento constante da riqueza total tem servido apenas o grupo dos mais ricos e criado uma cultura de desigualdade tremenda onde o populismo e o nativismo encontram terreno fácil para se infiltrar no debate político-social. Bastaria explicar que é simultaneamente a nação mais rica do mundo e uma das poucas onde não há qualquer proteção laboral para as mulheres que dão à luz; ou recordar que o país que tem muito mais patentes e prémios nobel do que o resto das outras nações todas juntas é o mesmo que detém sozinho o recorde absoluto de massacres armados graças a uma política de armas totalmente aberta. Depois da deriva à esquerda de Obama no segundo mandado e de um Trump que só teve olhos para os mais ricos, esta eleição presidencial vai discutir questões civilizacionais profundas que merecem um olhar atento do resto do mundo, até porque a escolha que for feita vai influenciar decisivamente o planeta. Nas opções de voto estarão duas formas diametralmente opostas de enfrentar o aquecimento global, de encarar relações com aliados históricos, de pensar o comércio mundial e de intervir no mundo. Razões mais que suficientes para garantir o interesse de todo o planeta num ano de tensões garantidas e emoções ao rubro.

USA The forecast for the American year is written with two single words: Presidential elections. The elections will take place in November but will fill each calendar month with increasing tension and worrying drama. The year will begin with the logic of impeachment, a process that was started after evidences of the blackmail Donald Trump exerted over Ukraine in order to draw political dividends - and which has turned decisively against him. Still, barring any overwhelming evidence, the process is likely to be stalled given the intransigence of a Republican-dominated Senate and its belief in Trump and his ability to secure a second electoral victory. The second month of the year marks the start of the Democratic primary elections, a huge mess that has to be solved in the coming months - despite the foreseeable emergence of new candidates, the choice is likely to fall on one of the candidates who have been in the race from the start. And Trump is not the only name in these elections: there are also 35 seats in the Senate, 11 state governors and the entire House of Representatives to be put to the vote. Rising political tension will further stir the atmosphere in a society that divided by social issues: treatment of migrants, the kind of social support to provide, what kind of protection for minorities. And this is the reflex of American society today, where the steady increase in total wealth has served only the richest and created a culture of tremendous inequality and where populism and nativism find easy ground to infiltrate the political-social debate. It’s worth mentioning that the USA are both the richest nation in the world and one of the few countries where there is no labor protection for women giving birth; or remember that this country with far more patents and Nobel Prize winners than the rest of the other nations all together is also the same that holds the absolute record of armed massacres thanks to a fully open weapons policy. After Obama’s left turn in the second mandate and a Trump who only had eyes for the rich, this presidential election will discuss deep civilizational issues, which deserve a closer look by the rest of the world, considering that the choice made will influence decisively the planet. Two diametrically opposed ways of facing global warming, of dealing with historical allies and if thinking about world trade and intervention in the world will be put to the vote. More than enough reasons to secure the interest of the entire planet in a year of clear tensions and hot emotions.

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DOSSIÊ O MUNDO EM 2020

ÁFRICA É sob o signo das comemorações que África entra em 2020. São 17 nações a comemorar sessenta anos de independência, da Nigéria a Madagáscar, passando pela República Democrática do Congo e pela Costa do Marfim. As antigas colónias europeias (14 francesas, 2 britânicas e 1 belga) vão aproveitar este ano para demonstrar a sua aposta no futuro, mas também para refletir sobre os desafios que têm de enfrentar. As políticas de desenvolvimento continuam em défice e as previsões apontam para que, em 2050, 83% dos pobres do mundo vivam em África – a metade deles concentrada no Congo e na Nigéria, dois dos sessentões deste ano. Há problemas em que o resto do mundo terá de ter uma participação activa, nomeadamente no que toca ao cumprimento dos objectivos do milénio nos países africanos. Várias outras questões dependem também da capacidade dos vários poderes que vão interferindo nos destinos dos africanos. A corrupção continua a ser um enorme problema que limita a eficácia do estado de direito e prejudica objectivamente a condição de vida das populações, a que acrescem os muitos problemas provocados pelas alterações climáticas – que contribuem de forma decisiva para o agigantar das metrópoles onde as condições de vida se degradam diariamente e os poucos empregos que existem são frágeis. Para compor este cenário, continuam os conflitos de média e grande intensidade, afastando populações e impedindo o progresso económico – aqui quem lidera o ‘ranking’ negativo é o Sudão do Sul, seguido de perto pelo impacto da força terrorista Boko Haram, que está fragilizado mas ainda não abatido.líderes nacionais, que continuam levianamente a usar e descartar a UE em função das conveniências internas.

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AFRICA Africa enters 2020 under the celebrations motto. 17 nations will be celebrating 60 years of independence from Nigeria to Madagascar, through to the Democratic Republic of Congo and Ivory Coast. The former European colonies (14 French, 2 British and 1 Belgian) will use this year to demonstrate their bet on the future, but also to reflect on the challenges they have to face. Development policies run short and forecasts predict that by 2050, 83% of the world’s poor will live in Africa - half of them concentrated in Congo and Nigeria, two of this year’s sixty year old independent countries. There are issues requiring active involvement from the rest of the world, particularly as regards meeting the millennium goals in African countries. And many other issues depend also on the many powers that will interfere with the fate of Africans. Corruption remains a huge problem hindering the effectiveness of the rule of law and objectively undermines the living conditions of the population, coupled with the many problems caused by climate change - thereby massively increasing the growth of metropolises where living conditions worsen every day and the few jobs that exist are fragile. To compose this scenario, medium and high intensity conflicts continue, driving populations away and hindering economic progress - the leading country in this negative ranking is South Sudan, closely followed by the impact of the terrorist force Boko Haram which is frail but not yet down.


CHINA O crescimento de confiança chinesa está a dar origem a manifestações de força política interna e de acção diplomática externa, confirmando a nova abordagem geopolítica de Pequim. Internamente, só Hong-Kong assombra a estabilidade da nação. Com uma população profundamente nacionalista e rendida às opções tomadas pelo PCC, o único foco de tensão que ainda não foi esmagado pelas forças policiais é a resistência dos jovens do enclave – que entra em 2020 depois de 30 semanas consecutivas de protestos nas ruas. Não há fim à vista, a não ser que as autoridades optem por uma solução como a que terminou com os conflitos de Tienanmen, e que teria consequências desastrosas para a imagem do império chinês no planeta. Tem sido a confiança interna que permite à China continuar a exercitar a sua influência a nível global. A estratégia Belt and Road, que consiste na criação de uma rota terrestre e outra marítima de influência económica, tem avançado graças aos milhões que Pequim entrega aos seus parceiros. É assim que vai quebrando a recusa da União Europeia em aprofundar laços com o regime chinês, pois alguns membros não se preocupam com a cor do dinheiro. 2019 acabou precisamente neste registo, com duas notas de monta: uma foi a confirmação do imenso investimento chinês no porto grego do Pireu, que é visto por Pequim como o elemento essencial para o domínio do Mediterrâneo; a outra foi o conselho do líder do Hezbollah ao governo libanês para que este aceite a oferta chinesa de investimento nas suas infraestruturas. Esta diplomacia financeiramente musculada tem dado bons resultados e é algo que promete continuar, agora alicerçada no braço digital da nação. Há duas apostas estratégicas anunciadas para 2020: a primeira é a participação da Huawei nos consórcios de desenvolvimento do 5G, algo que tem sido apresentado como exigência em várias negociações internacionais (incluindo com membros da Comissão Europeia); outra, mais subtil, passa pelo domínio do mercado das criptomoedas, intenção anunciada pelo grande líder Xi Jinping em Novembro e que poderá ter como consequência tão só a disrupção do sistema financeiro internacional. Na União Europeia estes temas têm sido muito discutidos, com alguns países a usarem em Bruxelas a ameaça de abrir portas aos chineses como forma de pressão para ganhar mais margem para a aplicação das suas políticas.

CHINA China’s growing confidence is giving rise to signs of domestic political strength and foreign diplomatic action, confirming Beijing’s new geopolitical approach. Internally, only Hong Kong haunts the stability of the nation. With a deeply nationalistic population surrendered to the CCP’s choices, the only focus of tension that has not yet been overwhelmed by police forces is the resistance by the enclave’s youth - which enters 2020 totalling 30 consecutive weeks of street protests. There is no end in sight unless the authorities choose a solution such as the one that put an end to the Tienanmen conflicts, which would have disastrous consequences for the image of the Chinese empire on the planet. Internal confidence enables China to continue to exert its influence globally. The Belt and Road strategy, which consists of creating a land and sea route of economic influence, has advanced thanks to the millions Beijing delivers to its partners. As for the European Union’s its refusal to deepen ties with the Chinese regime is now losing ground considering that some EU members don’t care about the colour of money. 2019 ended precisely this way marked by two major events: the confirmation of the huge Chinese investment in the Greek port of Piraeus, which Beijing sees as the essential element for Mediterranean rule; and the Hezbollah leader’s advice to the Lebanese government to accept the Chinese offer of investment in the country’s infrastructures. This financially muscled diplomacy has been successful and is bound to continue, now assisted by the nation’s digital arm. There are two strategic bets announced for 2020: the first is Huawei’s participation in 5G development consortia, something the country put forward as a requirement in several international negotiations (including with members of the European Commission); another, more subtle, is to play the leading role in the crypto currency market, announced by the great leader Xi Jinping in November, which could only result in the disruption of the international financial system. In the European Union these issues have been much discussed, with some countries threatening in Brussels to open their doors to the Chinese as a way of lobbying and gaining more leeway for their policies.

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DOSSIÊ O MUNDO EM 2020 ÁSIA É um ano histórico para o continente asiático: em termos comparativos no que toca ao poder de compra, as economias asiáticas vão tornar-se a região mais poderosa do mundo. É também um sinal da forma como, nos últimos anos, as economias do continente se têm reforçado e integrado de forma decisiva. Isto vem confirmar a tendência que se verifica desde o ano 2000 e que confirma este como o século da Ásia. É uma constante de crescimento simbolizada nas parcerias internacionais, algo que se começou a verificar com a Parceria Trans-Pacífico, que foi abandonada pelos Estados Unidos e foi reforçada e valorizada pela China. Mas nada representa melhor esta intensidade asiática do que o maior acordo comercial do mundo, o RCEP, que se estreia no início do ano: inclui as 15 grandes nações da Ásia e só não conta com a Índia porque esta decidiu abandonar a poucos meses do início, mas vai alterar de forma decisiva o comércio regional. As consequências deste acordo implicarão a baixa progressiva das tarifas, abrindo acesso ao mercado chinês para todas as economias da região. O outro aspecto que vai merecer em 2020 tem a ver com o aquecimento global e com as necessárias medidas de adaptação que alguns países asiáticos já estão a encetar. Os melhores exemplos vêm das economias mais poluidoras, com a China a começar a passar legislação restritiva das indústrias poluidoras e com a Indonésia a lançar o concurso para arranjar uma nova capital por causa da pressão ambiental sobre Jakarta.

AMÉRICA DO SUL Será um ano de escrutínios eleitorais, que se espera que possam por fim às crises de representatividade que muitos países sul-americanos têm enfrentado. Ora vejamos: na Bolívia, o vazio de poder deixado pela fuga de Evo Morales terá de ser rapidamente colmatado por novas presidenciais; no Chile o estado de emergência terá de ser levantado e a discussão constitucional deverá acabar por se transformar num ou dois escrutínios; no Equador, os protestos que levaram o governo a abandonar a capital estão a ameaçar o mandado do presidente Moreno; as eleições parlamentares no Perú e na Venezuela não deverão ser capazes de garantir fulgor económico a Lima, nem tranquilidade a Caracas; e resta o Brasil, onde as eleições municipais deverão voltar a expor um cenário caótico de uniões e desuniões entre as forças partidárias mais ou menos tradicionais e os candidatos mais originais – isto enquanto Lula ameaça o sono de Bolsonaro e o comportamento errático do presidente ameaça o sono de toda a população. Esta enorme dose de instabilidade política está a causar um foco recessivo que deveria ser combatido no início de 2020, de forma a permitir que os gigantes da região (Argentina e Brasil) possam recolocar o continente numa trajetória estável de crescimento. É algo extremamente necessário, até porque 2020 será ano de El Niño, uma das tempestades mais devastadoras do planeta que vai voltar a fazer das suas mais perto do final do ano.

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ASIA This is a historic year for the Asian continent: in comparative purchasing power terms, Asian economies will become the most powerful region in the world. It’s also a sign of how, in recent years, the continent’s economies have been decisively strengthened and integrated. This confirms the trend since 2000 and further confirms this as the Asia century. This constant growth is the end result of international partnerships, such something that as the Trans-Pacific Partnership, which was abandoned by the United States and was strengthened and valued by China. But this Asian intensity is no better than the world’s biggest trade deal, RCEP, which will begin at the start of the year: it includes the 15 major Asia nations except India as this country decided to abandon it a few months from the start, but will decisively change regional trade. This agreement will lead to the progressive lowering of tariffs, thereby opening access to the Chinese market for all economies in the region. Another issue worth highlighting in 2020 has to do with global warming and the necessary adaptation measures that some Asian countries are already embarking on. The best examples come from the most polluting economies, with China starting to pass restrictive legislation on polluting industries and Indonesia launching the tender to find a new capital because of environmental pressure on Jakarta.

SOUTH AMERICA This will be a year of electoral scrutiny, which is expected to end the representativeness crises that many South American countries have been facing. Let’s see: In Bolivia, the power gap left by Evo Morales’ escape will have to be quickly filled by new presidential elections; in Chile the state of emergency will have to be lifted and the constitutional discussion should eventually turn into one or two ballots; in Ecuador, protests that led the government to leave the capital are threatening President Moreno’s mandate; Parliamentary elections in Peru and Venezuela probably will not guarantee economic brilliance in Lima, nor tranquillity in Caracas; and there remains Brazil, where municipal elections are likely to once again expose a chaotic scenario of unions and divides between more or less traditional party forces and more original candidates - this while Lula threatens Bolsonaro’s slumber and the president’s erratic behaviour threatens him. This huge dose of political instability is causing a recessionary focus that should be tackled in early 2020 in order to allow the region’s giants (Argentina and Brazil) to return this continent to a stable growth path. This is extremely necessary, considering that 2020 will be the year of El Niño, one of the most devastating storms on the planet that will once again cause havoc near the end of the year.


Para sermos número 1 no mundo bastou-nos pôr o mundo em primeiro lugar

A EDP é líder mundial das utilities integradas e a única empresa portuguesa há 12 anos consecutivos nos Índices de Sustentabilidade Dow Jones.

edp.com 23


DOSSIÊ PREVISÕES PORTUGAL

OS DESAFIOS DA D É C A DA P O RT U G U E SA THE CHALLENGES OF THE PORTUGUESE D E C A D E

E M P O R T U G A L R A R A M E N T E S E P E N S A PA R A L Á D O L I M I T E A N U A L O U , N A M E L H O R D A S A B O R D A G E N S , PA R A O H O R I Z O N T E A Q U AT R O A N O S Q U E E Q U I VA L E À L E G I S L AT U R A . M A S O PA Í S E N F R E N TA U M A S É R I E D E D E S A F I O S C O M P L E X O S Q U E N Ã O S E C O M PA D E C E M C O M P R O P O S TA S S I M P L I S TA S E Q U E E X I G E M U M A A B O R D A G E M D E F U N D O . O Q U E S E S E G U E É U M A L I S TA D E P R O B L E M A S PA R A A D É C A D A S O B R E O S Q U A I S É P R E C I S O A G I R A G O R A . I N P O R T U G A L W E R A R E LY T H I N K B E Y O N D T H E A N N U A L T I M E F R A M E O R , AT B E S T, W E F O C U S O N T H E F O U R Y E A R H O R I Z O N E Q U I VA L E N T T O T H E L E G I S L AT U R E . B U T T H E C O U N T R Y FA C E S A N U M B E R O F C O M P L E X C H A L L E N G E S T H AT R E Q U I R E A S U B S TA N T I V E A P P R O A C H R AT H E R T H A N M E R E S I M P L I S T I C P R O P O S A L S . W H AT F O L L O W S I S A L I S T O F P R O B L E M S F O R T H E D E C A D E O N W H I C H W E N E E D T O A C T U P O N N O W. 24


Envelhecimento Desde Janeiro que o país está bem lá em cima na lista mundial das nações com a população mais idosa, podendo mesmo em 2050 vir a ser o segundo mais envelhecido. Há uma parte deste diagnóstico que é boa, porque se deve ao aumento da esperança média de vida. Mas isso não foi acompanhado por um aumento ou sequer uma manutenção da natalidade, que continua em queda e incapaz de acompanhar o envelhecimento populacional. Já há 160 idosos por cada 100 jovens, numa pirâmide invertida que tem consequências dramáticas para a economia, para o desenvolvimento territorial, para a competitividade e para a modernização da sociedade. Se as tendências actuais se mantiverem, no final da década Portugal deverá recuar para o limiar psicológico mínimo dos dez milhões de habitantes, continuando a recuar por mais duas décadas. E seremos, em toda a União Europeia, o país com maior quebra na percentagem de jovens na população. É uma crise anunciada para a qual não há solução à vista. Nem as poucas políticas pró-natalidade têm produzido grande efeito nem a inclusão de imigrantes poderá resolver este problema, que se irá agudizar com o tempo. Soluções criativas precisam-se, para que Portugal possa ser sustentável.

Ageing Since January, the country ranks high on the list of nations in the world with the oldest population and may even become the second most aged country by 2050. Part of it is good news as this means there is an increase in life expectancy. But this has not been encompassed by an increase or even sustained birth rate, which is still falling and unable to keep up with population ageing. There are already 160 elderly per 100 young people, in an inverted pyramid that has dramatic consequences for the economy, territorial development, competitiveness and the modernisation of society. If current trends continue, by the end of the decade Portugal should retreat to the minimum psychological threshold of ten million inhabitants, continuing to retreat for another two decades. And it will be, across the European Union, the country with the largest drop in the percentage of young people in the total population. This is an announced crisis for which there is no solution in sight. Neither the few pro-natal policies have had much effect nor may the inclusion of migrants solve this problem, which will become more acute over time. Creative solutions are needed so that Portugal can be sustainable.

Segurança Social Consequência inevitável do ponto anterior é a ruptura dos valores de assistência social. Um desequilíbrio tão grande entre o número de trabalhadores activos e o número de dependentes torna inviável manter um esquema de pensões com os mesmos princípios de hoje. As legítimas expectativas de quem descontou uma vida inteira chocam com a impossibilidade de um governo poder pagar tudo aquilo que deve, criando um choque que não tem solução por si mesmo. Os grandes partidos falharam sempre na procura de um compromisso que ultrapassasse uma legislatura, apostando em vez disso em pequenos acertos políticos que duram uma legislatura, mas ficam longe de resolver o essencial. Mesmo que se opte mais uma vez pelo alargamento do tempo de trabalho, isso não resolve tamanha discrepância entre activos e dependentes, criando um conflito intergeracional com consequências imprevisíveis. O estudo mais sério sobre o problema aponta para que em 2027 o actual sistema deixe de ser sustentável, o que torna urgentíssima a apresentação de soluções. E essas soluções não se podem limitar ao acerto de contas, pois precisam de incluir problemas como a desigualdade no tratamento das gerações, a garantia de que o mero pagamento de pensões não é um passaporte para a pobreza e procurar soluções que ultrapassem a mera limitação conjuntural.

Social Security An inevitable consequence of the previous point is the rupture of social welfare values. Such a large imbalance between the number of active workers and the number of dependents makes it impossible to maintain a pension scheme under the same principles as today. The legitimate expectations of those who have made their pension contributions for a lifetime clash with the impossibility of a government to pay everything it owes, thereby creating a shock that has no solution of its own. Large parties have always failed to reach a compromise that goes beyond a legislature, betting instead on small political compromises that last a legislature but are far from solving the essentials. Even if one chooses once again to extend working time, this doesn’t solve such a discrepancy between working population and dependents, creating an intergenerational conflict with unpredictable consequences. The most serious study of the problem points to the fact that by 2027 the current system will no longer be sustainable, thereby calling for very urgent solutions. And these solutions require more than mere settling the accounts, as they need to include issues such as unequal treatment of generations, making sure that pension payments are not a passport to poverty and seeking solutions that go beyond mere economic constraints.

Aquecimento global Este não é um problema que Portugal possa atacar sozinho, pelo que precisa de se mostrar activo na União Europeia de

Global warming Portugal cannot tackle this problem on its own and needs to be active in the European Union in order to press 25


modo a pressionar com este tema. Convém notar que, dado as suas condições geográficas, Portugal é dos que mais tem a perder no curto prazo com as alterações climáticas, o que justifica acção imediata a partir de Bruxelas A gestão da água será o aspecto com maior relevância de toda a questão ambiental. Em grande medida dependente da relação com Espanha, a gestão da água nacional está sob ameaça graças aos cada vez mais longos períodos de seca, à manutenção de caudais e barragens e ao abuso nos regadios. Passando à água salgada, e tendo em conta que Portugal tem a terceira maior zona económica exclusiva da UE (e a vigésima maior do planeta), convém que comece também a ter uma voz ainda mais activa na promoção da sua defesa – a poluição (especialmente de plásticos), o aquecimento e a sobrepesca são problemas que têm consequências graves na gestão oceânica e que mexem com aquela que o país quer que seja uma das oportunidades futuras da economia. A desertificação é outro aspecto do cenário de crise climática: a erosão das zonas costeiras e a subida do nível do mar são uma parte da questão, e o esvaziamento do interior devido à prevalência de fogos e desaparecimento da agricultura é a outra. Cada vez mais se pensa em Portugal como um agrupamento de cidades, a grande maioria dela costeiras, deixando o interior em estado de semi-abandono e em permanente desvalorização. Por fim, também é importante destacar a perda de biodiversidade. Especialmente devido à destruição de habitats devido à acção humana, há perdas preocupantes no número de representantes de muitas espécies, sendo que Portugal falha na gestão de informação e no ordenamento de áreas protegidas. Desigualdades Num país que tem a taxa de analfabetismo mais alta da Europa, é fácil perceber que as desigualdades têm várias formas de se expressar. A desigualdade entre os que têm educação e os que não têm revela-se no acesso ao emprego, à justiça, às opções relacionadas com saúde e ambiente e, naturalmente, a melhores condições económicas. Desde a crise económica que a situação se agravou, com as minorias a ficarem mais expostas. Mas há vários tipos de desigualdade. Uma das mais recentes – e das mais preocupantes – é a desigualdade digital, que deixa os analfabetos digitais à mercê de abusos de todo o género, desde manipulações ideológicas a fraudes e outros atropelos à sua dignidade. Nada disto está refletido sequer nos quadros educativos para os novos cidadãos, menos ainda mais em planos informativos para os mais velhos. A situação é ainda mais grave quando associada ao envelhecimento de uma população com poucas capacidades educativas e com conhecimentos ultrapassados, fazendo temer sobre o sentido de uma nação em que pouco está orientado para a qualidade de vida. E, se não é o senso de justiça social a forçar a acção, que seja o pragmatismo: tendo em conta que está mais que demonstrado que são as desigualdades enraizadas que fomentam movimentos extremistas, seria do mais elementar bom senso que os que estão do lado dos beneficiários aprendessem a prática da redistribuição. l 26

with this issue. It is worth highlighting that, given its geographical conditions, Portugal is the country that has more to lose in the short term as regards climate change hence the need for immediate action from Brussels Water management will be the most relevant aspect of the whole environmental issue. Largely dependent on the relationship with Spain, national water management is under threat thanks to increasingly long periods of drought, water flows and dams levels and excessive irrigation. Turning to salt water, and given that Portugal has the third largest exclusive economic zone in the EU (and the twentieth largest on the planet), it should also have as of now an even more active voice in promoting its defence - pollution (especially warming and overfishing have serious consequences for ocean management and affects an area representing major future economic opportunities. Desertification is another aspect of the climate crisis scenario: erosion of coastal areas and rising sea levels are one part of the problem and inland depletion due to the prevalence of fires and the disappearance of agriculture is another. Portugal is increasingly seen as a cluster of cities, most of them coastal, leaving the inner regions in a state of semi-abandonment and in permanent devaluation. Finally, it’s also important to highlight the loss of biodiversity, especially due to the destruction of habitats resulting from human action. We have been witnessing worrying losses in the number of species and Portugal is failing to properly manage information and protected areas. Inequality In a country that has the highest illiteracy rate in Europe, inequalities often come in many forms. Inequality between the educated and the uneducated is often there in access to employment, justice, health and environment choices and, of course, better economic conditions. Since the economic crisis the situation has worsened and minorities have become more exposed. But there are different types of inequality. One of the most recent - and most worrying - is digital inequality, which leaves digital illiterates at the mercy of all kinds of abuse, from ideological manipulation to fraud and other trampling on their dignity. None of this is reflected even in the educational frameworks for new citizens, let alone in information made available to the elderly. The situation is even worse when it is associated with the ageing of a population with low literacy levels and outdated knowledge, raising fears as to what this means for a nation with little focus on quality of life. And if the sense of justice doesn’t force action then let pragmatism do the job: given that it is clearly proven that rooted inequalities foster extremist movements, it would be of the most basic common sense that those who wishing to assist recipients learn the practice of redistribution. l


QUIMERA by

Alexandre Farto aka Vhils

A Bordallo Pinheiro apresenta o terceiro lançamento da Coleção WWB, assinada por criadores reconhecidos internacionalmente e composta por Edições Especiais Numeradas e Limitadas. 135 exemplares vendidos exclusivamente por subscrição. Diâmetro aproximado da peça: 61 cm.

bordallopinheiro.com 27


DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO

ALBERTO RAMOS, CEO BANKINTER PORTUGAL

O FACTOR HUMANO THE HUMAN FACTOR

“A a d v e r s i d a d e r e v e l a a g e n i a l i d a d e ” Horácio “A a d v e r s i t y h a s t h e e f f e c t o f e l i c i t i n g t a l e n t s ” Horacio

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ois mil e vinte será um ano desafiante, com muitas incertezas e problemas herdados de 2019, e em que muitas empresas e economias já não terão a almofada financeira criada com o crescimento sentido nos últimos anos. Um ambiente económico menos favorável, mais aversão dos investidores ao risco, incerteza política em países com quem Portugal mantém relevantes relações comerciais e o protecionismo económico são problemas concretos que irão (continuarão a) assombrar a economia nacional e o desempenho de empresas portuguesas localmente e no estrangeiro. O receio de uma crise com impactos tão significantes como a de 2008 começa a pairar no ar, mas é, do nosso ponto de vista, ainda injustificado. Contudo, é quase certa a continuação de um arrefecimento da economia mundial nos próximos anos, o que necessariamente terá efeitos em Portugal. Estas condições irão também ter fortes impactos no setor bancário, que encontrará desafios acrescidos. É necessário continuar a investir fortemente na transformação digital, de forma a poder oferecer aos clientes os seus serviços e produtos em concorrência direta muitas vezes com entidades menos reguladas. 28

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wo thousand and twenty will be a challenging year, with many uncertainties and problems inherited from 2019, and where many companies and economies will no longer enjoy the financial bumper generated with recent year’s growth. A less favourable economic environment, more investor aversion to risk, political uncertainty in countries Portugal has relevant trade relations with and economic protectionism are concrete problems that will (continue to) haunt the national economy and the performance of Portuguese companies both locally and abroad. The fear of a crisis with such significant impacts as the 2008 is back again, but it’s still unjustified from our point of view. However, the continuation of a cooling of the world economy in the coming years is almost certain, something that is bound to affect Portugal too. These conditions will also have strong impacts on the banking sector, which will face added challenges. We need to continue investing heavily in digital transformation in order to be able to offer customers services and products in direct competition, often with less regulated entities. The challenge and competitive pressure posed (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


O repto e a pressão competitiva colocadas pelas ‘fintechs’ e ‘bigtechs’ farão com que surjam mais produtos e serviços inovadores, assentes em novos paradigmas de serviço e em novos modelos de negócio cada vez mais virados para os clientes. As exigências regulatórias continuam a intensificar-se, o que não só tem custos elevados, como implica um enorme esforço para manter a liquidez e o capital nos níveis requeridos, num contexto em que cerca de 90% dos bancos europeus têm um ROE inferior ao custo de capital. Por outro lado, no sector da Banca, este contexto mais exigente deixa antever a necessidade de processos de concentração, em busca de economias de escala, menores custos operacionais e maior eficiência, produzindo impacto positivo no retorno do capital investido. Tudo isto, numa época de taxas de juro historicamente baixas que são um desafio acrescido para a Banca. Contudo, é também nos desafios que residem as oportunidades. As taxas de juro baixas, por um lado, são uma ótima janela de oportunidade para as empresas e famílias com projetos sólidos poderem concretizar as suas ambições com um custo de capital muito favorável. Assim, mesmo com um enquadramento mais difícil, acreditamos que deverá continuar a aumentar o número de casos bem-sucedidos de empresas com finanças sólidas, atividades sustentáveis e planos de expansão suportados em bons planos de negócios e em equipas de gestão e de operação cada vez mais competentes. O essencial na transformação em curso, seja da atividade dos bancos ou de qualquer outro negócio, é estar focado no Cliente, mantendo a procura de soluções inovadoras que respondam às suas necessidades de forma global, seja através da integração de diferentes produtos, seja através da integração de vários ‘providers’ das mais diferentes áreas, incluindo as tecnológicas. Os bancos que conseguirem inovar para melhor servir os seus clientes, assegurando proximidade, qualidade e flexibilidade, derrubando barreiras tecnológicas e agregando ofertas, serão os mais preparados para aproveitar as oportunidades que estão a surgir. E os melhor preparados para o fazer são os mais saudáveis, que tiveram uma criteriosa gestão e análise de risco no passado, como é o caso do Grupo Bankinter. Solidez operacional, contas e balanço incluídos, bons indicadores de solvabilidade, de robustez e de ‘rating’ são os pré-requisitos inerentes a qualquer operação bancária que se queira sustentável e com capacidade para apoiar a economia. Nunca esquecendo, na base de tudo, as pessoas, as equipas, a sua ambição e determinação em contribuir para o sucesso dos seus clientes. Porque mesmo num mundo sujeito a grandes forças globais e onde a automação é cada vez maior, a vontade dos indivíduos e a sua capacidade de se organizarem e cooperarem, serão sempre as variáveis mais importantes pois, em última análise, o fator humano será sempre o responsável por levar as organizações mais além. l

by ‘fintechs’ and ‘bigtechs’ will lead to more innovative products and services based on new service paradigms and increasingly Customer-centric business models. Regulatory requirements continue to intensify, which not only has high costs, but means also a huge effort to maintain liquidity and capital at the required levels in a scenario where about 90% of European banks have a lower ROE than the cost of capital. On the other hand, in the banking sector, this more demanding context anticipates somehow the need for concentration processes, seeking economies of scale, lower operating costs and greater efficiency, thereby generating a positive impact on the return on invested capital. All this amidst a scenario of low interest rates that mean an added challenge for the Bank. However, opportunities are also born from challenges. Low interest rates, on the one hand, are a great window of opportunity for companies and families with solid projects to materialise their ambitions at a very favourable cost of capital. Thus, even in a more difficult environment, we believe that the number of successful cases of companies with sound finances, sustainable activities and expansion plans supported by good business plans and management and operating teams should continue to grow. The key to the ongoing transformation, whether it’s banking activity or any other business, is being customer-centric, keeping up the search for innovative solutions to meet their needs globally, either through the integration of different products or through the integration of many providers from different areas, including technology. Banks that can innovate to better serve their customers, ensuring proximity, quality and flexibility, breaking down technology barriers and aggregating offers, will be best prepared to take advantage of emerging opportunities. And the best prepared to do so are the healthiest, those which engaged in a careful management and risk analysis in the past, such as Bankinter Group. Operational soundness, including accounts and balance sheet, good solvency, robustness and rating indicators are the prerequisites for any banking operation that wants to be sustainable and capable of supporting the economy. Never forgetting people, teams, their ambition and determination to contribute to the success of their customers. Because even in a world subject to great global forces and where automation is ever increasing, the will of individuals and their ability to organise and cooperate will always be the most important variables given that ultimately the human factor will always be the main engine to take organizations further. l 29


DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO

ALEXANDRE FONSECA, P R E S I D E N T E E X E C U T I VO A LT I C E P O RT U G A L

TELECOMUNICAÇÕES, INOVAÇÃO E TECNOLOGIA O QUE TRARÃO OS PRÓXIMOS 10 ANOS? T E L E C O M M U N I C AT I O N S , I N N O VAT I O N AND TECHNOLOGY W H AT W I L L T H E N E X T 1 0 Y E A R S B R I N G ?

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uando à meia-noite do ano 2000 nenhum ‘bug’ destruiu o mundo tecnológico tal como o conhecíamos, provocando o “Big Bang” tecnológico segundo as previsões de analistas de vários setores, começou a pensar-se no que seria o futuro da inovação. Mais do que uma década ou um século, começava um milénio novo em folha. 20 anos depois, somos desafiados a pensar no que trará o novo ano. É uma tradição que sempre acompanha o ano que finda, mas acredito que a ambição é parte da imagem de marca da Altice Portugal e prefiro pensar na próxima década, porque também com 2020 uma nova se inicia. O que trarão os próximos 10 anos aos portugueses e ao mundo, no que diz respeito ao setor das telecomunicações, da inovação, da tecnologia? Não há dúvida que haverá um antes e um depois do 5G. Se é verdade que se tem dito que esta é uma tecnologia que servirá sobretudo as empresas, o que é facto é que os serviços que essas mesmas empresas poderão disponibilizar ao consumidor final serão novos e inacreditáveis. Vem do tempo do Regresso ao Futuro, a ideia de um carro autónomo... ora o tempo de resposta desses veículos que dispensarão condutor depende da latência das comunicações entre outras coisas. Ou seja, evitar que se colida com o carro da frente, ou que se atropele uma pessoa na passadeira, depende da velocidade a que os sensores conseguirão transmitir a informação, pelo que essa ligação terá de ser feita em tempo real. Mas como será isto possível? A resposta é apenas uma: o futuro precisa de 5G e o 5G precisa de fibra ótica. Se no 5G Portugal 30

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hen the clock hit midnight in the year 2000 and no bug destroyed the technological world as we knew it, and didn’t trigger any technological “Big Bang”, as many analysts in many sectors had predicted we all began thinking how the future of innovation would be. More than the beginning of a decade or a century it was also the start of a new millennium. 20 years later, we are challenged to think about what the New Year will bring. This is commonplace at the end of yet another year, but ambition is part of Altice Portugal’s brand image and I prefer to think rather about the next decade considering that 2020 marks also the start of a brand new decade. What will the next 10 years bring to the Portuguese and the world in the field of telecommunications, innovation and technology? There is no doubt that there will a before and after 5G. While it is true that many see this technology as serving primarily companies, it’s also undeniable that the services these companies can offer to the end consumer will be both new and unbelievable. The idea of a autonomous car dates back to the movie Back to the Future... but the response time of these driverless vehicles depends on the latency of communications among other things. That is, the capacity to avoid colliding with the car in front or running over a person on the zebra crossing depends on the speed at which the sensors will be able to transmit the information and that is why this connection has to occur in real time. But how is this possible? The answer is just one: the future needs 5G and 5G needs fibre optics. And although 5G is already late in Portugal, with still no (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


já está atrasado, ainda sem leilão a decorrer e sem estratégia definida, na fibra ótica temos o país quase integralmente coberto. A Altice Portugal já “fibrou” até ao momento quase 5 milhões de lares e empresas portuguesas, de um parque total de 5,3 milhões e esta é uma das condições essenciais para que a tecnologia 5G venha a estar disponível em todo o país. O que nos leva a outro dos grandes desafios da década, senão mesmo o maior, e aquele em que devemos estar todos empenhados enquanto sociedade: a literacia digital, em tanto dependente da disponibilização e acesso democrático à tecnologia. Na Altice Portugal, temos sido bastante insistentes na importância da democratização das tecnologias, tornando-as acessíveis a qualquer português, de qualquer idade e em qualquer parte do país. Por isso mesmo temos investido sem olhar à dimensão da cidade ou à dimensão da sua população. No entanto, esta deve ser também uma missão e objetivo do Governo. Sendo o futuro Digital, Portugal só poderá ser um país competitivo se tiver recursos humanos com competências digitais. A formação deve começar já, no imediato, com as gerações mais jovens, garantindo acesso a tecnologia, a equipamentos e à Internet, mas não deve ficar apenas pelas novas gerações, devendo também abranger os adultos em idade ativa e os mais idosos. Não podemos ter o país a duas velocidades, a Literacia Digital deve ser um desígnio nacional, com igualdade territorial e etária. Por fim, vivemos mais. Na Altice Portugal, além de viver mais, queremos que os portugueses vivam melhor. Por isso mesmo, temos investido em inovação e, em particular, no conceito de “Smart Living”. Isto quer dizer tão simplesmente que são tecnologias novas e combinadas para uso pessoal e comercial, que pretendem melhorar a nossa vida, que garantem a possibilidade de poupar tempo, melhorando o equilíbrio entre vida profissional e trabalho. Para nós, a tecnologia deve estar ao serviço das pessoas, melhorando as suas vidas e a produtividade dos negócios. Por isso mesmo, a inovação é fundamental e, também nesta área, a Altice Portugal tem uma palavra a dizer. A “Altice Labs”, sediada em Aveiro, é o quartel geral da inovação e investigação de todo o grupo Altice, assumindo um papel de relevo neste ecossistema, uma vez que investiga, desenvolve e produz tecnologia “Made in Portugal” que chega a mais de 40 países e é usada por mais de 250 milhões de pessoas. O Grupo Altice tem vindo a aumentar o investimento em inovação no país, sendo já o maior investidor privado em I&D em Portugal, apostando também nas parcerias com a Academia, através do apoio e envolvimento em projetos colaborativos inéditos, espalhados por todo o território. Aliás, a Altice Labs tem já polos espalhados um pouco por todo o país, uma vez que acreditamos que se trata de um fator de criação de valor nacional. Os próximos 10 anos apresentam oportunidades quase infinitas. Da automação atingiremos a verdadeira digitalização. O uso de dados em tempo real possibilitará uma resposta imediata às necessidades das pessoas e das coisas. A inteligência artificial não substituirá os humanos, mas guardará para estes as tarefas mais complexas, nas quais emoções vão marcar a diferença. Estamos perante um verdadeiro processo de transformação digital e desenvolvimento tecnológico, na Altice Portugal estamos prontos para continuar a inovar, sendo certo que o nosso esforço e compromisso é no sentido de garantir sempre mais e melhores serviços a todos os portugueses. l

auction under way and no strategy defined as regards fibre optics the country is indeed almost completely covered. Altice Portugal has so far “fibrised” nearly 5 million Portuguese households and businesses out of a total of 5.3 million and this is one of the essential conditions for 5G technology to become available nationwide. Which brings us to another of the major challenges of the decade, if not the greatest, and one in which we must all be focus as a society: digital literacy, depending both on availability and democratic access to technology. At Altice Portugal, we have insisted on the importance of the democratisation of technologies, making them accessible to any Portuguese, of any age and anywhere in the country. That’s why we have invested no matter the size of the city or the size of its population. However, this must also be a mission and an objective of the Government. And considering that the future is Digital, Portugal can only be a competitive country if it does have human resources with digital skills. Training should start immediately and targeted to the younger generations, ensuring access to technology, equipment and the Internet, not just for the younger generation, but also for working-age and older adults. We cannot have a country running at two speeds, Digital Literacy must be a national design, with territorial and age equality. Finally, we live longer. At Altice Portugal, besides living longer, we want the Portuguese to live better. That’s why we have invested in innovation and in particular in the concept of “Smart Living”. This means that the new and combined technologies for personal and business use, aimed at improving our lives, allow us to save time by improving the work-life balance. For us, technology must be at the service of people, improving their lives and business productivity. For this reason, innovation is key and Altice Portugal has a say in this area too. “Altice Labs”, based in Aveiro, is the headquarters for innovation and research of the entire Altice group and plays a leading role in this ecosystem as it researches, develops and produces Made in Portugal technology reaching over 40 countries and used by over 250 million people. Grupo Altice has been increasing investment in innovation in the country and is already the largest private investor in R&D in Portugal, betting also on partnerships with the Academy, with the support and involvement in unprecedented collaborative projects throughout the whole territory. By the way, Altice Labs already has poles scattered all over the country, as we believe this is a factor of national value creation. The next 10 years present almost endless opportunities. Automation will bring true digitisation. Using realtime data will enable immediate response to the needs of people and things. Artificial intelligence will not replace humans but they will be left with the more complex tasks where emotions will make a difference. We are facing a true process of digital transformation and technological development. At Altice Portugal we are ready to continue innovating and our effort and commitment is always there to ensure more and better services for all Portuguese. l 31


DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO

ANTÓNIO CASANOVA, CEO UNILEVER FIMA

O PROPÓSITO THE PURPOSE

O

Propósito será, em 2020 e nos anos imediatos, um dos grandes temas das marcas, das organizações e crescentemente das pessoas. Enquanto gestores, ajuda-nos a entender a importância de colocar o Propósito no centro das nossas estratégias, se olharmos o mundo à luz do salto digital e da rapidez de transformação que imprime na sociedade. A globalização e o fluxo de informação aumentaram a consciência das pessoas sobre as problemáticas ambientais e sociais. As causas de uns tornaram-se as causas de todos. As novas gerações sabem a relação que existe entre os seus comportamentos e a vida do planeta e das populações. Por isso, todos querem fazer parte da mudança por um “bem maior”. E porque estão em todo o lado, em todos os momentos da vida, com uma capacidade efectiva de mudar, as marcas tornam-se protagonistas importantíssimos de uma mudança positiva. Aquelas que estão presentes no dia-a-dia das pessoas, as que entram nas suas casas, para satisfazer as necessidades mais frequentes, têm um impacto ainda maior. A sua capacidade de chegar ao mundo é proporcional à sua responsabilidade de o alertar para as grandes causas. A Unilever, que tem um Propósito - “Colocar a sustentabilidade no centro do seu negócio e torná-la uma prática comum na vida de todos” já começou este caminho como companhia. O desafio de definir um Propósito foi também lançado 32

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he Purpose will be, in 2020 and in subsequent years, one of the major issues for brands, organisations and increasingly for people. As managers, it helps us understand the importance of placing Purpose at the heart of our strategies when looking at the world in light of the digital leap and the rapid transformation it engenders in society. Globalisation and the flow of information have increased people’s awareness of environmental and social issues. The causes of some have become the causes of all. New generations know the relationship that exists between their behaviour and the life of the planet and populations. That is why everyone wants to be part of the change for a “greater good.” And because they are everywhere, at all times in their our, with an effective capacity for change, brands become very important protagonists of positive change. Those who are part of people’s daily lives, those who come into our homes to meet the most frequent needs generate an even greater impact. Their ability to reach the world is commensurate with their responsibility to warn for the need to engage in major causes. Unilever, which has a Purpose - “Putting sustainability at the heart of your business and making it a common practice in everyone’s life” has started this path as a company. The challenge of defining a Purpose has also been launched in each brand and product in every country we operate in. Teams must define socially or environmentally relevant causes and contribute directly to one or more goals of the Unilever Sustainability Plan.


a cada uma das marcas e respectivos produtos, em todos os países onde estamos presentes. As equipas devem definir uma causa social ou ambientalmente relevante e contribuir directamente, para uma ou mais metas do Plano de Sustentabilidade da Unilever. Em 2018, concluímos que as “marcas com Propósito” crescem 46% mais depressa do que as restantes e são responsáveis por mais de 70% do crescimento do nosso negócio. Para nós, estes resultados são correlação e não causalidade. Acreditamos que esta nossa visão integrada e comprometida de olhar o negócio e o planeta torna-nos mais relevantes para os consumidores, mais estimulantes para os nossos colaboradores e mais inspiradores, para todos os que estão, ou estarão no mercado de trabalho. Este último ponto é essencial, se pensarmos que as organizações orientadas pelo Propósito – com projectos sociais e ambientais de grande impacto - requerem um investimento na investigação e inovação constantes, tornando-as muito mais competitivas na atracção e retenção do talento. Resumindo, o Propósito tem que ser muito mais do que um instrumento de comunicação. As marcas têm que comprometer-se no dia-a-dia, de forma consistente e sustentada, nas várias dimensões da sua cadeia de valor. Como a Unilever já provou, se assim for, o Propósito terá impactos positivos nos resultados das empresas, iniciando um ciclo virtuoso de criação de valor social, ambiental e económico. Como se quer e a bem de todos. l

“COLOCAR A S U S T E N TA B I L I DA D E NO CENTRO DO SEU NEGÓCIO E TORNÁ-LA U M A P R ÁT I C A C O M U M N A V I D A D E T O D O S .”

In 2018, we concluded that “Purpose Brands” grow 46% faster than the rest and account for over 70% of our business growth. For us, these results are a correlation and not causality. We believe that our integrated, committed vision of looking at the business and the planet makes us more relevant to consumers, more exciting to our employees, and more inspiring, to all who are, or will be in the job market. This last point is essential, considering that Purpose-driven organizations - with high impact social and environmental projects - require constant investment in research and innovation, making them much more competitive in attracting and retaining talent. In short, Purpose has to be much more than a communication tool. Brands must commit themselves consistently and in a sustained manner to the various dimensions of their value chain on a daily basis. As Unilever has already proven, Purpose will generate positive impacts on business results, starting a virtuous cycle of creation of social, environmental and economic value. Rightly so and for the good of all. l

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DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO ANTÓNIO SAR AIVA, PRESIDENTE CONFEDERAÇÃO EMPRESARIAL DE PORTUGAL (CIP)

PERSPETIVAS PAR A 2020 AQUÉM DAS NOSSAS AMBIÇÕES PROSPECTS FOR 2020 FALLING SHORT OF OUR AMBITIONS

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pós um ano de 2019 sob o signo do abrandamento económico iniciado em meados de 2017, as perspetivas para 2020 permanecem aquém das nossas ambições. É certo que a resiliência das empresas portuguesas permitiu manter inalterada, ao longo dos últimos trimestres, uma curta vantagem relativamente ao crescimento médio da União Europeia. Noto, em algumas análises, sinais de contentamento com os resultados alcançados, que mostrariam que Portugal está a aguentar bem o impacto negativo de uma conjuntura externa mais desfavorável. Não me revejo nesta atitude de complacência. Se as perspetivas são desfavoráveis, é altura de as contrariar. De facto, as perspetivas externas estão longe de ser animadoras. Num contexto em que a elevada incerteza relacionada com as tensões comerciais e com o Brexit não diminuiu, a Comissão Europeia reviu recentemente em baixa as suas projeções económicas. A modesta recuperação esperada para o próximo ano deu lugar, agora, à afirmação de que a economia europeia entrou num período prolongado de crescimento reduzido e baixa inflação. O PIB da União Europeia, neste contexto, aumentará apenas 1,4%, tanto em 2019 como nos próximos dois anos. Será possível, neste cenário, crescer acima das previsões que apontam para uns escassos 1,7%? Na União Europeia encontramos diversos países que estão a crescer a mais do dobro desta taxa. Isto prova 34

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fter a year of 2019 marked by the economic slowdown that began in mid-2017, the prospects for 2020 fall short of our ambitions. Admittedly, the resilience of Portuguese companies has allowed for the slight advantage over the average growth of the European Union to remain unchanged in recent quarters. I see, in some analyses, signs of satisfaction as to the results achieved, which would show that Portugal is coping well with the negative impact of a more unfavourable external environment. I don’t share this attitude of complacency. If the outlook is unfavourable, it’s time to act upon it. In fact, the external perspectives are far from encouraging. The European Commission has recently revised its economic projections downwards amidst a scenario of high uncertainty related to trade tensions and Brexit. The modest recovery expected next year has now given rise to the assertion that the European economy has entered a prolonged period of low growth and low inflation. EU GDP in this context will increase by only 1.4% in both 2019 and the next two years. It’s possible, in this scenario, to grow above forecasts that point to a scant 1.7%? In the European Union we find a number of countries that growing at more than double this rate. This proves that it’s possible, even in open economies, to grow robustly in an unfavourable external scenario. The great openness to the outside implies that any attempt to focus the economic strategy on stimulating domestic demand, while forgetting about exports, will (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


que é possível, mesmo em economias abertas, crescer de forma robusta num cenário externo desfavorável. A grande abertura ao exterior implica que qualquer tentativa de centrar a estratégia económica no estímulo à procura interna, esquecendo as exportações, terá como inevitável consequência o retorno a desequilíbrios insustentáveis, que voltarão a travar o crescimento. No entanto, a dimensão da nossa economia torna possível que, mesmo num cenário de arrefecimento da procura global, pequenos aumentos de quota de mercado à escala mundial, se traduzam por acréscimos significativos dos volumes exportados pelas empresas. Para tal, seria preciso que, do lado das políticas públicas, a orientação fosse no sentido de uma verdadeira aposta na competitividade, assente em ganhos de produtividade. Lamentavelmente, no Programa do Governo, não vejo sinais que apontem para essa reorientação das políticas, desde logo em dois domínios fundamentais: na fiscalidade e na área da capitalização e financiamento das empresas. É certo que, conjugando as previsões para a produção e o emprego, podemos esperar alguma recuperação da produtividade das empresas. Temo, contudo, que, sem uma política económica mais favorável, essa recuperação não seja suficiente para inverter a atual tendência de abrandamento económico. Assim, tenho dúvidas que mesmo a pouco ambiciosa meta de crescimento de 2,0% traçada pelo Governo possa ser alcançada. Seria preciso mais e melhor, seria preciso apostar verdadeiramente nas empresas. Porque só apostando nas empresas poderemos abrir perspetivas para um futuro mais próspero para Portugal. l

“ S E A S P E R S P E T I VA S S Ã O D E S FAV O R ÁV E I S , É A LT U R A D E A S C O N T R A R I A R .”

inevitably lead to a return to unsustainable imbalances, which will stall growth again. However, the size of our economy makes it possible that even in a scenario of weakening global demand, small increases in worldwide market share will translate into significant increases in volumes exported by companies. For that, it would be necessary that, on the public policy side, the focus should be towards a true bet on competitiveness, based on productivity gains. Regrettably I see no signs in the Government program pointing to this resifting of policies from the outset in two key areas: taxation and business capitalisation and funding. Admittedly, by combining forecasts for production and employment, we can expect some recovery in business productivity. However, I fear that without a more favourable economic policy, such a recovery will not be sufficient to reverse the current trend of economic slowdown. So I have doubts that even the unambitious goal of 2.0% growth set by the Government will be achieved. It would take more and better, we would really have to bet on companies. Because only by betting on companies can we open prospects for a more prosperous future for Portugal. l 35


DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO BERNARDO IVO CRUZ, EDITOR THE LONDON BREXIT M O N T H LY D I G E S T

PORTUGAL E A DIMENSÃO ATLÂNTICA DO BREXIT* PORTUGAL AND THE ATL ANTIC DIMENSION OF BREXIT*

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pós anos de indecisão interna e de negociações com a Comissão Europeia, o Governo de Londres conseguiu chegar a um acordo de princípio que poderá permitir a discussão sobre o modelo que irá manter com Bruxelas após 31 de janeiro de 2020, data em que - se não surgirem mais surpresas num processo que tem tido a sua dose de imprevisibilidade - deixará de fazer parte da União Europeia. Embora ainda não se saiba qual será o grau de proximidade (ou de afastamento) que o BREXIT irá provocar entre o Reino Unido e a União Europeia, estudos conduzidos pela Open Society, pelo Global Council e pela CIP identificam Portugal e os outros países do Atlântico como alguns dos grandes perdedores do BREXIT. A razão não é difícil de perceber: sem a influência do Reino Unido - uma grande potência económica, militar e política de raiz e história marítima -, a presença atlântica da UE poderá ser prejudicada e Portugal corre o risco ficar ainda mais periférico dentro de uma Europa mais voltada para o continente. Assim, o nosso interesse nacional está no fortalecimento das dimensões atlânticas. Não 36

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fter years of internal indecision and negotiations with the European Commission, the London Government has been able to reach an agreement in principle that may pave the way for the discussion on the relationship model with Brussels after 32 January 2020, the date when, if there won’t be more surprises in this rather unpredictable process - the UK will cease to be part of the European Union. Although we don’t know yet the level of proximity (or separation) BREXIT will generate between the UK and the European Union, studies conducted by the Open Society, the Global Council and CIP identify Portugal and the other Atlantic countries as some of the biggest losers as a result of BREXIT. The reason is not difficult to understand: without the influence of the United Kingdom - a major economic, military and political power rooted in maritime history - the EU’s Atlantic presence could be undermined and Portugal risks becoming even more peripheral inside a Europe more focused on the continent. Thus, our national interest lies in strengthening the Atlantic dimensions. This doesn’t mean that Portugal should replace Europe with the sea, (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


quer isto dizer que Portugal deva substituir a Europa pelo mar, pois como lembrava Ernani Lopes, Portugal será maior na Europa se for grande no Atlântico, será importante no Atlântico se for relevante na Europa. Portugal é um país Europeu de carácter marítimo. Neste enquadramento, Portugal deve potenciar as suas várias dimensões Atlânticas, nomeadamente: - A Dimensão Atlântica da UE; - A Dimensão Atlântica de Defesa; - A Dimensão Económica e Comercial Atlântica; - A Dimensão Atlântica do relacionamento com a União Africana; - Na Dimensão da CPLP; - Na Dimensão Atlântica da Organização Ibero-Americana; - Na Dimensão Atlântica do relacionamento bilateral com o Reino Unido; - Na Dimensão Atlântica nacional; - Na Dimensão Atlântica da nossa diáspora; - Na Dimensão Atlântica da nossa Política Externa de defesa e promoção de um modelo multilateral de base legal, diplomática e de cooperação. Todas estas dimensões - que por vezes ultrapassam os limites da bacia do Atlântico - são complementares e contribuem para uma visão integrada do papel de Portugal no Mar e na Europa, não afastam - antes reforçam - os laços que a nossa história e a nossa diplomacia desempenham nos 5 continentes e nos 5 oceanos. Mas a história também não afasta nem nega a nossa condição de País Europeu voltado para o Atlântico. Fernando Pessoa, na sua “Mensagem”, fala do papel que Portugal desempenha na visão Europeia do Atlântico e Camões lembra que é em Portugal que a “Terra Acaba e o Mar Começa”. Nós temos um colectivo e justificado orgulho na ideia de Portugal ser “porta” da Europa para o Atlântico. Mas poderemos ser a porta da frente ou a porta da cozinha, dependendo do papel que o Atlântico vier a ter no Sec. XXI e do papel que Portugal Estado, Empresas, Universidades e Centros de Investigação e Sociedade Civil trabalhando em conjunto - saiba desempenhar no Atlântico. l

* As ideias expressas neste texto têm sido apresentadas pelo Autor em várias ocasiões e para diversos públicos e uma versão anterior do argumento foi publicada em Dezembro de 1997.

because as Ernâni Lopes once said, Portugal will be bigger in Europe if it’s big in the Atlantic, and will be important in the Atlantic if it’s relevant in Europe. Portugal is a European maritime country. In this context, Portugal should enhance its various Atlantic dimensions, namely: - The EU Atlantic Dimension; - The Atlantic Defence Dimension; - The Atlantic Economic and Commercial Dimension; - The Atlantic Dimension of the relationship with the African Union; - The CPLP (Community of Portuguese Speaking Countries) dimension; - The Atlantic Dimension of the IberoAmerican Organisation; - The Atlantic Dimension of bilateral relations with the United Kingdom; - The national Atlantic Dimension; - The Atlantic Dimension of our diaspora; - The Atlantic Dimension of our Foreign Policy in defence and promotion of a multilateral model of legal, diplomatic and cooperation basis. All these dimensions - sometimes beyond the limits of the Atlantic basin - are complementary and contribute to an integrated view of Portugal’s role in the Sea and in Europe, but don’t remove - rather reinforce - the ties established in on the 5 continents and 5 oceans thanks to our history and diplomacy. But history also doesn’t detract or deny our condition as a European country facing the Atlantic. Fernando Pessoa, in “Message”, writes about the role Portugal plays in the European vision of the Atlantic and Camões recalls that Portugal is where “Land Ends and the Sea Begins”. We have a collective and justified pride in the idea of Portugal being a Europe “gateway” to the Atlantic. But we can be the front door or the back door, depending on the role the Atlantic plays in the 21st Century and the role that Portugal - State, Companies, Universities and Research Centres and Civil Society working together - know how to play in the Atlantic. l

* The ideas expressed in this text have been put forward by the author on several occasions and before a number of audiences and an earlier version of this is was published in December 1997.

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DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO FRANCISCO CALHEIROS, PRESIDENTE CONFEDERAÇÃO DO TURISMO DE PORTUGAL (CTP)

COMPROMISSOS PARA 2020 COMMITMENTS FOR 2020

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uito se tem falado e escrito sobre o fim de ciclo de crescimento do Turismo em Portugal. Eu próprio já o fiz, com a diferença de que sempre me referi a um ciclo de “grande” crescimento. Porque os números não enganam e porque é mais prudente antecipar cenários com base em factos do que em especulações, vamos a alguns dados do INE. Entre 2015 e 2018, Portugal cresceu 45% em receitas turísticas, 32% em hóspedes, 27% em dormidas e 51% em proveitos. No total do ano de 2018, atingimos os 25 milhões de turistas. Em 2019, e até setembro, crescemos 7% nos hóspedes e 7% nos proveitos e recebemos 21 milhões de turistas (já agora, também este ano, Portugal subiu ao 12º lugar no ‘ranking’ de competitividade a nível mundial, de acordo com o Relatório de Competitividade no Turismo de 2019 do Fórum Económico Mundial que faz uma análise aprofundada do Turismo em 140 economias). Estes são os factos, que em nada indiciam o fim de um ciclo de crescimento. O que demonstram, sim, é um crescimento mais moderado. A exigir atenção, rigor, estratégia. Neste início de ciclo político e às portas de um novo ano, impõe-se do Governo uma atenção redobrada pela atividade que mais riqueza e postos de trabalho tem criado no nosso país, contribuindo de forma decisiva para 38

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uch has been said and written about the end of the tourism growth cycle in Portugal. I myself have done it too, except that I have always referred to this as a ‘big’ growth cycle. And considering that numbers are not misleading and given that it’s more prudent to anticipate fact-based scenarios than speculation, let’s look at some data from INE, the Portuguese Statistics Institute. Between 2015 and 2018, Portugal tourism revenues grew 45%, the number of guests 32%, overnight stays 27% and income 51%. In the year 2018, we reached 25 million tourists. In 2019, and until September, we grew 7% in guests and 7% in revenues and received 21 million tourists (by the way Portugal reached this year the 12th place in the global competitiveness ranking, according to the 2019 Tourism Competitiveness of the World Economic Forum (which performs indepth analysis of Tourism in 140 economies). These are the facts and they don’t to the end of this growth cycle. They point rather to a more moderate growth. This requires more attention, rigor and strategy. At the beginning of the political cycle and on the eve of a new year, the Government needs to pay extra attention to the activity that more wealth and jobs has created in our country clearly contributing to the end of the terrible economic crisis that has plagued Portugal. 2020 is set to become another successful year for (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


o fim da terrível crise económica que assolou Portugal. 2020 tem condições para se tornar mais um ano de sucesso para o Turismo. Estamos vigilantes, preparados e confiantes na nossa oferta de qualidade, no nosso serviço ímpar, nos nossos profissionais de exceção, na hospitalidade das nossas gentes. Mas o Governo tem de estar à altura das nossas ambições e, sobretudo, dos portugueses – sejam eles turistas, empresários, gestores ou simples cidadãos que sabem receber os visitantes como ninguém – cumprindo a sua parte. Não chega resolver o problema do aeroporto de Lisboa: é preciso investir em força nas infraestruturas aeroportuárias e na ferrovia em todo o território. Não é suficiente não tocar na legislação do trabalho: a atividade turística necessita de um quadro jurídico laboral que lhe permita fazer face às suas características intrínsecas. Só um Simplex é escasso: precisamos de uma verdadeira reforma de estado. E também de menos impostos, mais medidas de apoio à natalidade, mais instrumentos financeiros específicos para as empresas do turismo, mais inovação do sistema educativo que permita fazer face às novas necessidades da atividade. Do nosso lado, podem contar com o objetivo de sempre que é o de afirmar Portugal como o melhor destino turístico do mundo e contribuir para o desenvolvimento socioeconómico do nosso país. l

tourism. We are on the lookout, prepared and sure of our quality offer, our unrivalled service, our exceptional professionals and the hospitality of our people. But the Government has to live up to our ambitions and, above all, the Portuguese - whether they are tourists, business people, managers or simple citizens who know how to welcome visitors like no one other – have to do their part. It’s not enough to solve the problem of the Lisbon airport: we need to invest heavily in airport infrastructures and in railroad throughout the territory. It’s not enough to perform changes in labour legislation: tourism needs a labour legal framework that allows it to cope with its intrinsic characteristics. Simplex, the Portuguese program to simplify administrative procedures, is not enough: we need real state reform. And also less taxes, more birth support measures, more specific financial instruments for tourism companies and more education system innovation to meet the new needs of this activity. As for us the country can always rely on us and on our goal of affirming Portugal as the best tourist destination in the world and thereby contributing to the socio-economic development of our country. l

“É PRECISO INVESTIR EM FORÇA NAS INFRAESTRUTURAS AEROPORTUÁRIAS E NA FERROVIA EM TODO O T E R R I T Ó R I O .”

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DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO GONÇALO MOURA MARTINS, PRESIDENTE COMISSÃO EXECUTIVA DA MOTA-ENGIL

O FUTURO NO SETOR DAS INFRAESTRUTURAS THE FUTURE IN THE INFRASTRUCTURE SECTOR

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evolução tecnológica que temos conhecido nos últimos anos a nível global, e a uma velocidade sem precedentes, tem promovido a mudança de paradigma na atividade económica em diversas áreas, nomeadamente no setor das Infraestruturas, com exigências crescentes na maior complexidade técnica e dimensão dos projetos para que respondam aos desafios de uma sociedade cada vez mais preocupada (e bem) com o futuro, numa visão verdadeiramente sustentável do Planeta. Tem sido assim que temos procurado na Mota-Engil, e ao longo de mais de 70 anos, acompanhar a evolução do mercado, mantendo os valores fundacionais do Grupo e uma cultura de inabalável compromisso com os nossos clientes. É com esta premissa de evolução contínua e permanente que procuro corresponder ao desafio que a PRÉMIO me coloca de analisar o futuro do setor, e começando por Portugal, onde verificamos que na maioria dos setores de maior potencial para o País, estão definidos importantes investimentos públicos a ser lançados e que se perspetiva que poderão dinamizar de forma significativa o setor. O desafio está lançado, as necessidades existem e estão identificadas, e os compromissos financeiros com a União Europeia estão assegurados, pelo que temos de, definitivamente, contrariar o adiamento de um melhor futuro para Portugal. Depois de décadas de estudos e consecutivos atrasos, a possibilidade de finalmente podermos avançar com um novo aeroporto internacional em Lisboa será muito importante para elevar o potencial do País, tal como a modernização do sistema de transporte ferroviário e o reforço da capacidade de Sines como um pilar geoestratégico do transporte marítimo para a Europa, poderá permitir que 2020 seja um marco no avanço destes e outros importantes projetos. No entanto, e para que tal aconteça de forma transversal para a economia portuguesa, é necessário que as empresas 40

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he technological evolution witnessed in recent years globally and at an unprecedented speed has promoted a paradigm shift in economic activity in several areas, particularly in the Infrastructure sector, with increasing demands given the greater technical complexity and size of projects in order to respond to the challenges of a society ever more concerned (and well) with the future and sharing a truly sustainable vision of the planet. At Mota Engil we have been trying, over 70 years, to keep up with market developments, preserving the Group’s core values since its establishment and a culture of unwavering commitment to our customers. With these tenets of continuous and permanent evolution in mind I will try to meet the challenge PRÉMIO launched me to analyse the future of the sector. Starting with Portugal, in most sectors of greatest potential for the country, important public investments are about to be launched and which are expected to significantly boost the sector. The challenge is launched, the needs are there and duly identified and financial commitments with the European Union are rightly assured and so therefore we must definitely counter the postponement of a better future for Portugal. After decades of studies and consecutive delays, the possibility that we will finally move forward as regards the building a new international airport in Lisbon will be very important to raise the country’s potential, along with the modernisation of the rail transport system and the strengthening of Sines capacity as a geostrategic pillar of maritime transport to Europe, all this put together may turn 2020 into a milestone in advancing these and other major projects. However, and for this to happen across the Portuguese economy Portuguese companies have be given the opportunity to contribute to this cycle of increasing opportunities in the Industry. The qualification of companies in their domestic market is a fundamental factor for internationalisation (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


Š Pierre-Yves Riom

Converting power into performance. First-class private banking solutions; comprehensive financial and investment offering; delivered one relationship at a time.

efginternational.com 41


portuguesas possam contribuir num ciclo que se perspetiva de crescentes oportunidades na Indústria. A capacitação das empresas no seu mercado doméstico é um fator precedente fundamental para a internacionalização, sendo assim relevante que não se perca esta oportunidade para a afirmação da Engenharia Portuguesa a nível internacional. Passando à apreciação da atividade internacional que se antecipa para a Mota-Engil, as perspetivas de atuação manter-se-ão associadas às regiões de África e América Latina onde continuam a existir oportunidades para um grupo que é reconhecido como um ‘player’ regional com competência técnica e capacidade de execução. No entanto, gostaria de fazer uma referência sobre Angola e Moçambique, dois mercados fundamentais na estratégia do Grupo. Angola será sempre reconhecida e acarinhada como o País que nos deu a primeira oportunidade e onde começámos a nossa atividade em 1946, pelo que poderá contar sempre com a Mota-Engil, nos bons e maus momentos, para colaborar no seu desenvolvimento económico, tendo hoje a empresa importantes projetos no País e a que daremos continuidade em 2020, tal como reforçaremos a colaboração sempre que possível. Quanto a Moçambique, verificamos que tem hoje um projeto de desenvolvimento transformacional para como será a exploração do Gás Liquefeito no Norte do País e que terá na Mota-Engil um parceiro competente e comprometido para apoiar no que seja entendido pelos promotores privados como necessário para concretizar com qualidade e em devido tempo este projeto, a par de outros que temos em curso neste País. Uma palavra adicional sobre a América Latina, região onde o Grupo mais se desenvolveu na última década, estando progressivamente a alargar a sua atividade para novos setores como a Energia, o Ambiente e as Concessões, assumindo-nos como um operador regional que em 2020 continuará a investir na afirmação da Marca MotaEngil, sobretudo no México, Brasil, Peru e Colômbia. Para que tal aconteça continuará a ser determinante a confiança dos nossos clientes e o apoio dos nossos parceiros. Por último, deixo os votos de um Excelente Ano Novo a todos os leitores da Revista PRÉMIO. l

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“A N G O L A S E R Á SEMPRE RECONHECIDA E ACARINHADA C O M O O PA Í S Q U E NOS DEU A PRIMEIRA OP ORTUNIDADE E ONDE COMEÇÁMOS A N O S S A AT I V I DA D E E M 1 9 4 6 .”

hence the importance of not missing this opportunity to affirm Portuguese Engineering at international level. Turning to the appreciation of Mota-Engil’s anticipated international activity the company prospects will remain closely linked to the regions of Africa and Latin America where opportunities continue for this group acknowledged as a major regional player with technical expertise and the capacity to deliver. I would like to highlight however countries like Angola and Mozambique, two key markets in the Group’s strategy. Angola will always be recognised and cherished as the country that gave us the first opportunity and where we started our activity in 1946, hence the country may always rely on Mota-Engil, in good and bad times, to assist its economic development. The company has important projects in the country which we will continue in 2020 and we will work together whenever possible. As for Mozambique the country currently has a transformational development project to explore Liquefied Gas in the North of the country and which will rely on Mota-Engil as a competent and committed partner to support what private promoters deem necessary to complete with quality and in due time this project, along with others we have underway in this Country. An additional word about Latin America, the region where the Group has grown the most in the last decade, where we are progressively expanding our activity to new sectors such as Energy, Environment and Concessions, taking on the role of regional operator which in 2020 will continue to invest in the affirmation of the Mota-Engil brand, especially in Mexico, Brazil, Peru and Colombia. For this to happen, trust of our customers and the support of our partners will remain crucial. I would like to finish by wishing all readers of PRÉMIO Magazine an Excellent New Year. l


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DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO HELDER BARATA PEDRO, SECRETÁRIO-GER AL ASSOCIAÇÃO COMÉRCIO AUTOMÓVEL DE PORTUGAL (ACAP)

“A I N D Ú S T R I A I R Á C O N T I N U A R A APOSTAR NOS QUATRO ‘DRIVERS’ TECNOLÓGICOS” “THE INDUSTRY WILL CONTINUE TO BET ON THE FOUR TECHNOLOGY DRIVERS”

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m Portugal, o sector automóvel é responsável por vinte e um por cento do total das receitas fiscais, representa vinte e nove mil empresas e dá emprego a cento e setenta mil pessoas. Por outro lado, Portugal é um país com indústria automóvel e, em dois mil e dezanove, iremos ultrapassar os trezentos mil veículos produzidos o que nos coloca definitivamente entre os países considerados produtores de veículos, a nível mundial. Noventa e sete por cento desta produção, destina-se à exportação, sendo este um dos principais sectores exportadores. Em 2020, o tema da descarbonização irá continuar na ordem do dia. Portugal aprovou, este ano, o Plano Nacional de Energia e Clima 2030 assim como o Roteiro para 2050, os quais vêm colocar várias metas ao nível da redução de emissões no sector dos transportes, com a previsão de aumento de vendas de veículos com zero emissões de CO2. É de salientar, que este sector é dos que mais tem investido no sentido da descarbonização, com o lançamento no mercado, quer de veículos eléctricos, híbridos ‘plug-in’ ou de baixas emissões. Mas, por outro lado e apesar dos ambiciosos objectivos definidos naqueles Planos pelo Governo, em Portugal o parque automóvel está a envelhecer, com todas as consequências negativas quer ao nível do ambiente quer da segurança rodoviária. A idade média dos veículos ligeiros de passageiros está em 12,6 anos. Em 2010, a idade média era de 7,2 anos! Ora é, precisamente, aqui que reside um dos grandes 44

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n Portugal, the automotive sector accounts for twenty-one per cent of total tax revenues, represents twenty-nine thousand companies and employs one hundred and seventy thousand people. On the other hand, Portugal is a country with a car industry and, by two thousand and nineteen, we will cross the threshold of three hundred thousand vehicles produced thereby placing us definitely among the countries considered as car producers, worldwide. Ninety-seven per cent of this production is destined for export and this is one of the main exporting sectors. By 2020, the topic of decarbonisation will continue on the agenda. This year, Portugal approved the 2030 National Energy and Climate Plan as well as the 2050 Roadmap, which set several targets for reducing emissions in the transportation sector, with sales of zero-emission vehicles expected to increase. It’s worth mentioning that this is one of the sectors that has invested most in decarbonisation with the launch of either electric, plug-in or low emission hybrid cars. But, on the other hand, and despite the ambitious objectives set out in these plans by the Government, in Portugal the existing cars are ageing, with all the negative consequences both on the environment and on road safety. The average age of passenger cars is 12.6 years. In 2010, the average age was 7.2 years! It is precisely here that one of the major challenges for our sector for 2020 lies and that the urgent need to renew the fleet in circulation is urgent. The only measure to achieve this objective is to reintroduce the incentive to scrap end-of-life vehicles. This is a true


desafios do nosso sector para 2020 e que consiste na necessidade de renovação urgente da frota em circulação. A única medida para conseguir esse objectivo, passa pela reintrodução do incentivo ao abate de veículos em fim de vida. Esta é uma verdadeira medida de descarbonização da economia e o Governo devia rapidamente ponderar a sua reintrodução. Não podemos pretender ter um plano de redução das emissões para a próxima década sem ter em consideração que existem, em circulação, um milhão de veículos com mais de vinte anos e muitos deles no transporte público de passageiros. Como exemplo, a Roménia, que ocupa actualmente a presidência da União Europeia, introduziu um incentivo de mil e quatrocentos euros para a compra de um veículo novo, contra a entrega para abate de um veículo em fim de vida. O nosso Fundo Ambiental deveria, igualmente, apoiar este tipo de medida, fundamental para a descarbonização. Segundo revela a comunicação social, até ao final do ano, serão aplicados quinhentos milhões de euros deste Fundo, pelo que seria necessária uma pequena parte deste montante, para obter resultados efectivos na descarbonização dos transportes. Por outro lado, em 2020, o incentivo para a compra de veículos eléctricos deverá abranger um número mais alargado de veículos, pois o que está em vigor é manifestamente insuficiente. Tal como tem sido referido, a nível europeu, se os Governos querem apostar neste tipo de mobilidade terão de tomar medidas efectivas para que tal aconteça. Finalmente, e para o próximo ano, a indústria irá continuar certamente a apostar nos designados quatro “drivers” tecnológicos e que passam pelo incremento do “car sharing”, com a aposta forte dos construtores em ‘start-ups’ da mobilidade; pelo aumento da oferta de veículos eléctricos, híbridos ‘plug-in’ e de baixas emissões e pelos constantes desenvolvimentos ao nível da condução autónoma e da conectividade dos veículos automóveis. Passa por aqui o futuro do sector em 2020. l

“ É D E S A L I E N TA R , QUE ESTE SECTOR É DOS QUE MAIS TEM INVESTIDO NO SENTIDO DA DESCARBONIZAÇÃO, COM O LANÇAMENTO NO MERCADO, QUER DE VEÍCULOS ELÉCTRICOS, HÍBRIDOS ‘PLUG-IN’ OU D E B A I X A S E M I S S Õ E S .”

decarbonisation measure of the economy and the Government should quickly consider reintroducing it. We cannot claim to have an emission reduction plan for the next decade without taking into account that there are one million vehicles with more than twenty years and many of them in the area of public passenger transportation. As an example, Romania, which currently holds the presidency of the European Union, introduced an incentive of fourteen hundred euros for the purchase of a new vehicle against the delivery for scrapping of end-of-life cars. Our Environmental Fund should also support this type of measure, which is crucial for decarbonisation. As reported in the media, by the end of the year, five hundred million euros of this Fund will be spent; hence a small part of this amount would be needed to achieve effective results in the decarbonisation of transport. On the other hand, by 2020, the incentive for the purchase of electric cars should cover a larger number of vehicles, as this is clearly insufficient. As has been said at European level, if governments want to bet on this type of mobility they will have to take effective measures to make it happen. Finally, and for the coming year, the industry will certainly continue to bet on the socalled four technology drivers that comprises increased car sharing, with manufacturers’ strongly betting on mobility start-ups; increase in the supply of electric, plug-in and lowemission hybrids, and constant developments in autonomous driving and car connectivity. The future of the sector in 2020 lies here. l 45


DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO ISABEL UCHA, PRESIDENTE EURONEXT LISBON

AS FINANÇAS AO SERVIÇO DE UM PL ANETA SUSTENTÁVEL F I N A N C E AT T H E S E R V I C E O F A S U S TA I N A B L E P L A N E T

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European Green Deal” é o primeiro dos seis objetivos estratégicos da Presidente eleita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para o seu mandato dos próximos 5 anos. Este vai ser certamente também um tema dominante do mundo económico e financeiro, nos próximos anos. Até porque se espera que os mercados financeiros, e o mercado de capitais em particular, venham a dar um contributo muito mais ativo e relevante para financiar a transição para um planeta sustentável. A Euronext apresentou recentemente o seu plano estratégico “Let’s Grow Together 2022”, o qual reflete sobre o papel que a Bolsa, enquanto infraestrutura central do mercado financeiro, pode desempenhar neste grande desígnio da sustentabilidade. Uma das primeiras iniciativas, no âmbito deste plano, foi o lançamento há poucos dias de uma oferta específica dedicada a ‘Green Bonds’ (obrigações verdes). Nos vários países em que o Grupo Euronext tem presença, a Euronext conta com mais de 200 emissões cotadas de ‘Green Bonds’, que ultrapassam os 118 mil milhões de euros. Em Portugal, a EDP, emitiu a sua primeira ‘Green Bond’ em outubro de 2018, tendo já concretizado posteriormente mais duas emissões, num total de 2,2 mil milhões de euros. A Sociedade Bioelétrica do Mondego, empresa do Grupo Altri, emitiu em fevereiro de 2019, a 10 anos, 50 milhões de euros, e o Grupo Pestana emitiu, em setembro último, 60 milhões de euros com uma maturidade de 6 anos, a primeira emissão mundial de obrigações verdes no setor hoteleiro. 46

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he European Green Deal” is the first of the six strategic objectives of European Commission President-elect Ursula von der Leyen for her next five-year term. This will certainly become a major issue in the economic and financial world in the coming years. Even more so because financial markets, and capital markets in particular, are expected to make a much more active and relevant contribution to finance the transition to a sustainable planet. Euronext recently presented its strategic plan “Let’s Grow Together 2022”, which reflects on the role that the Stockmarket, as a central financial market infrastructure, can play in this major sustainability endeavour. One of the first initiatives under this plan was the launch a few days ago of a specific Green Bonds offer. In the many countries where the Euronext Group is established Euronext has over 200 listed Green Bond issues, which exceed EUR 118 billion. In Portugal, EDP issued its first Green Bond in October 2018, having already made two more issues, totalling EUR 2.2 billion. Bioelectric company Sociedade Bioelétrica do Mondego, an Altri Group company, issued in February 2019 EUR 50 million at 10 years and last September Pestana Group issued EUE 60 million with 6 year maturity, the first green bond issue in the hotel sector. The general bond issuance segment is also expected to continue to show momentum, both for institutional investors and for individual investors. Examples were this year’s SIC and TAP issues, which were very well received by retail investors. National investors show that (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


O segmento de emissões de obrigações em geral também deverá continuar a mostrar dinamismo, quer de emissões que se destinam a investidores institucionais, quer para investidores individuais. Exemplos foram este ano as emissões da SIC e da TAP, que foram muito bem recebidas pelos investidores de retalho. Os investidores nacionais mostram que estão disponíveis para financiar as empresas portuguesas, e que estão abertos a alternativas que ajudem a diversificar as suas carteiras. Até ao final de setembro de 2019, o número de emissões de obrigações na Euronext em Portugal cresceu 10% face ao período homólogo. Nos primeiros nove meses do ano que agora finda, o montante emitido em obrigações na Euronext Lisbon totalizou 18 mil milhões de euros. O novo regime das Sociedades de Investimento e Gestão Imobiliária (as designadas SIGI), foi recentemente alterado no Parlamento, tendo-se corrigido alguns elementos de incerteza na versão original do diploma, designadamente a clarificação do regime fiscal. Dada a dinâmica que o setor imobiliário em Portugal continua a demonstrar, é possível que este regime venha a enformar o financiamento e a abertura de capital em mercado de SIGI, num horizonte próximo, proporcionando também aos investidores uma opção adicional de investimento. A capitalização das empresas portuguesas deve continuar a ser um desígnio nacional, pois é com esse fortalecimento que elas poderão enfrentar os desafios de crescimento e internacionalização, e a realizar as suas ambições. Deve continuar a prosseguir-se o caminho da diversificação das fontes de financiamento das empresas, e a consolidação de estruturas de capital mais equilibradas. A Euronext continuará a apoiar todas as empresas portuguesas que se disponham a avaliar as soluções de mercado de capitais nas suas estratégias, incluindo uma oferta especializada, dedicada a empresas tecnológicas e a empresas familiares. O caminho que desejamos para o crescimento e para o desenvolvimento faz-se com empresas fortes, capitalizadas e com modelos e práticas de governo sólidos e transparentes, pilar aliás também fundamental da sustentabilidade das organizações. l

“NOS PRIMEIROS NOVE MESES DO ANO QUE AGOR A FINDA, O M O N TA N T E EMITIDO EM OBRIGAÇÕES NA EURONEXT LISBON T O TA L I Z O U 1 8 M I L M I L H Õ E S D E E U R O S .”

they are available to finance Portuguese companies, and that they are open to alternatives that help diversifying their portfolios. Until the end of September 2019, the number of bond issues on Euronext in Portugal grew by 10% over the same period last year. In the first nine months of the year now ending, the amount of bonds issued on Euronext Lisbon totalled EUR 18 billion. The new regime of Investment Companies and Real Estate Management (the so-called SIGI), was recently amended in Parliament, correcting some uncertainty contained in the original version of the law, namely the clarification of the tax regime. Given the dynamics that the Portuguese real estate industry continues to show this regime will probably shape financing and IPO in the SIGI market in the near future, also providing investors with an additional investment option. The capitalization of Portuguese companies must remain a national endeavour as this allow them grow stronger and thus meet the challenges as regards growth and internationalisation and fulfil their ambitions. The path of diversification of corporate financing sources and consolidation of more balanced capital structures is bound to continue. Euronext will continue to support all Portuguese companies willing to include capital market solutions in their strategies, including dedicated offers and bets on technology companies and family businesses. The path we wish to follow to achieve both growth and development includes strong, capitalised companies with sound and transparent governance models and practices, a fundamental pillar for the sustainability of organisations. l 47


DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO

ISABEL VAZ, CEO LUZ SAÚDE

PERSPETIVAS PAR A 2020 – SETOR DA SAÚDE OUTLOOK FOR 2020 - HEALTH SECTOR

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setor da saúde representa um dos maiores e mais complexos desafios socioeconómicos do século XXI. Fator fundamental de coesão social, o Sistema Nacional de Saúde português tem, no entanto, um peso cada vez maior nas contas públicas e, sobretudo, na despesa das famílias. As expectativas crescentes dos cidadãos, a evolução da tecnologia ao nível dos equipamentos e dispositivos médicos, a introdução de novos fármacos e técnicas terapêuticas, o envelhecimento da população, o aumento da prevalência de doenças crónicas e os estilos de vida que criam novos desafios (p. ex, a obesidade, a diabetes,…), são os principais fatores que continuarão a conduzir o setor da Saúde para um ciclo incontornável de mais procura, mais oferta, mais consumo e mais despesa, inviabilizando, a médio prazo, o atual modelo que suporta o sistema de saúde português. Assim, em 2020 o Serviço Nacional de Saúde continuará a enfrentar de forma cada vez mais agravada os problemas habituais, em particular a escassez de profissionais de saúde, fortemente penalizada pela passagem dos horários das 40 para as 35 horas, prevendo-se a continuação de alguma crispação com os sindicatos e ordens profissionais. A prestação pública, em particular os hospitais públicos, continuarão a viver contextos de sub-financiamento da sua atividade e de ausência de incentivos à boa performance de gestão com as consequências também conhecidas: a falta de aderência à realidade 48

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he health sector represents one of the largest and most complex socioeconomic challenges of the 21st century. The Portuguese National Health System is a fundamental factor in social cohesion but has however an increasing weight in public accounts and, above all, in household spending. Increasing expectations of citizens, technological evolution of medical equipment and devices, the introduction of new drugs and therapeutic techniques, the ageing of the population, the increasing prevalence of chronic diseases and lifestyles that create new challenges (e.g. obesity, diabetes, etc.) are the main factors that will continue to drive the health sector into an unavoidable cycle of more demand, more supply, more consumption and more spending, making the current model that supports the Portuguese healthcare system unfeasible in the medium term. Thus, by 2020 the National Health Service will continue to increasingly face a worsening of its usual problems, in particular the shortage of healthcare professionals, severely penalised by the shift from 40 to 35 working hours and which will continue to generate some divisions in unions and professional bars. Public provision of service, in particular public hospitals, will continue to experience underfunding and lack of incentives for good management performance with clear consequences: lack of adherence to reality will continue to hold poor management accountable and the lack of incentives for good performance, discouraging good management practices to meet defined objectives, not creating creative tension, and developing a culture of correlative assessment with consequences for organisations. (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


continuará a desresponsabilizar a má gestão e a ausência de incentivos à boa performance a desmotivar a boa gestão que cumpre os objetivos definidos, não criando tensão criativa e o desenvolvimento de uma cultura de avaliação correlativa com consequências para as organizações. Assim, é previsível que a pressão política sobre o orçamento determine, como habitual, a disponibilização de mais dinheiro para operar um sistema comprovadamente ineficiente e a continuação da aposta em soluções baseadas na restrição do acesso e liberdade de escolha dos cidadãos (i.e., manutenção de listas de espera e/ou criando barreiras administrativas ao acesso), em racionalizações da oferta definidas centralmente, em pressão administrativa sobre os preços a pagar aos prestadores ou no desvio de uma maior fatia dos custos para os cidadãos/doentes provavelmente através do aumento da carga fiscal. Ou seja, “business as usual and hope that something magic will happen”. O que é fundamental é ter consciência que, na ausência de reformas estruturais, muito difíceis em qualquer contexto político e ainda mais quando o atual governo não dispõe de maioria no parlamento, num setor fustigado por fortes enviesamentos ideológicos, a perspetiva é a de mais um ano de aplicação de medidas conjunturais visando resolver os problemas que forem surgindo e num ambiente de “casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão” e de ausência de condições para a definição de estratégias de longo prazo. Como terá dito Albert Einstein: “Insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e esperar resultados diferentes”. l

“O SETOR DA SAÚDE R E P R E S E N TA U M D O S MAIORES E MAIS COMPLEXOS DESAFIOS SOCIOECONÓMICOS DO S É C U L O X X I .”

Political pressure on the government is bound to lead, as usual, to more money being made available to operate a clearly inefficient system, continuation of the bet on solutions based on restricting citizens’ access and freedom of choice (i.e. maintaining waiting lists and / or creating administrative barriers to access), centrally defined supply restrictions, administrative pressure on the prices to be paid to providers or the shift of a larger share of costs to citizens/patients, probably through an increase of the tax burden. That is, “business as usual and hope that something will happen”. We need to be aware of the fact that, in the absence of structural reforms, which are very difficult in any political context and even more so considering that the current government has no parliamentary majority, in a sector beset by strong ideological biases all points to another year of application of cyclical measures to solve the problems that come up in an environment one could define according to the popular saying “when poverty comes in at the door love flies out the window” and marked by the failure to define long-term strategies. As Albert Einstein put it, “Insanity is doing the same thing over and over and expecting different results.” l

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DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO

JOÃO BENTO, PRESIDENTE CTT

2020: CELEBRAR 500 ANOS DE CORREIO A OLHAR PARA O FUTURO 2 0 2 0 : C E L E B R AT I N G 5 0 0 Y E A R S O F P O S TA L SERVICE LOOKING TO THE FUTURE

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020 é um ano muito especial para os CTT: assinala-se a passagem de 500 anos desde que o Rei D. Manuel I assinou a carta real que nomeou o primeiro Correio-Mor de Portugal, dando assim início à atividade postal em Portugal. Os CTT celebrarão a efeméride com a devida relevância, mas pretendem fazê-lo assegurando que tal se realiza num quadro de reinvenção da empresa e da sua missão, prosseguindo a promoção da proximidade, agora já não só entre pessoas, como há 500 anos, mas também entre pessoas e empresas, entregando tudo em todo o lado. Mas são muitas outras as razões pelas quais 2020 será um ano de especial relevo. É o ano em que termina o contrato de concessão de serviço público universal (SPU) e em que deverão ser negociados e estabelecidos os termos do novo contrato. É um ano em que se voltarão a atingir níveis máximos na área de expresso e encomendas e, nesse particular, um ano decisivo para a afirmação dos CTT como operador relevante em Espanha e como líder de mercado em Portugal. É também o ano em que o banco alcançará o ‘breakeven’ de resultado líquido. E será ainda o primeiro ano completo de vida do Dott, o ‘marketplace’ lançado em parceria com a Sonae e o mais expressivo símbolo da aposta dos CTT na inovação e no futuro. 2020 perspectiva-se também como um ano de viragem para a empresa, pois, a uma lógica de reacção à queda do correio por via, por um lado, da constante e sistemática redução de custos, combinada, por outro, com o crescimento do negócio de expresso e do banco, espera-se 50

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020 is a very special year for CTT: 500 years have elapsed since King Manuel I signed the royal letter that appointed the first Correio-Mor of Portugal, thus starting postal activity in Portugal. CTT will celebrate the event with due relevance but intends to do so by making sure this will be done within the framework of reinvention of the company and its mission, continuing to promote proximity, not only between people, just like 500 years ago, but also between people and businesses, delivering everything everywhere. But there are many other reasons why 2020 will be a year of particular relevance. This is the year in which the universal public service concession (SPU) contract ends and the terms of the new contract must be negotiated and established. This is the year when maximum levels will be reached in the area of both express mail and parcels, and in this particular field this year will be key for the affirmation of CTT as a relevant operator in Spain and as market leader in Portugal. It’s also the year when the bank will achieve breakeven of net income. It will also be Dott’s first full year of existence, a marketplace launched in partnership with Sonae and the most significant symbol of CTT’s commitment to innovation and the future. 2020 will also be a turning point year for the company marked by a reaction against the drop in postal service as a result, on the one hand, of the constant and systematic cost reduction and the growth of both express mail and banking operations on the other, a year when we expect to experience a new phase of revenue growth by expanding the supply of courier and (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


que suceda uma nova fase de crescimento dos proveitos por via da expansão da oferta de soluções empresariais conexas do correio e da logística. E espera-se, também, alcançar um significativo relançamento da operação de retalho assente na extraordinária rede de lojas próprias e de agentes (postos de correio), aliás sem paralelo no país. O crescimento inexorável e em aceleração do comércio electrónico, para o qual o papel pioneiro dos CTT tem sido assinalável – com o lançamento de novos produtos e serviços desenvolvidos internamente ou em parceria com ‘startups’ –, permitirá também induzir significativo crescimento do negócio no nosso canal digital e constituiu uma das principais fontes do optimismo com que encaramos o novo ano. Mas não esquecemos o nosso negócio tradicional. A área de correio será alvo de importante transformação, com a prossecução de investimentos na ordem dos 40 milhões de euros directamente imputáveis à modernização da rede, à automatização dos centros de produção, ao reforço de sistemas de informação, e ao redesenho da rede física, com vista a melhorar os níveis de eficiência, mas também as condições de trabalho dos nossos colaboradores, nomeadamente dos cerca de 5000 carteiros, mantendo o foco na prestação de um SPU de qualidade. A propósito da concessão do SPU, temos consciência da complexidade do enquadramento regulatório vigente, mas confiamos na capacidade de desenvolver um diálogo construtivo com o regulador. Não esquecemos, por fim, ao perspectivar o ano de 2020, a necessidade de atender activamente a um dos maiores desafios actuais da humanidade: o das alterações climáticas. Daí, a prioridade dada à minimização da nossa pegada ecológica, de que se destaca o compromisso assumido de redesenho da actividade com vista a conter o aumento da temperatura média do planeta abaixo de 1,5o C. Prosseguiremos, obviamente, num elevado nível de autoexigência no que se refere aos mais elevados padrões de práticas de governo societário e de promoção da igualdade de género e continuaremos investidos no nosso papel social, de apoio às populações, reforçando a proximidade e a capilaridade da rede. Asseguraremos, assim, um serviço postal universal de qualidade, mas de olhos postos na inovação e no futuro, para garantir que um setor tão desafiante como o postal se mantém por mais 500 anos. E fá-lo-emos seguindo com entusiasmo e determinação o nosso lema: a nossa entrega é total! l

“A S S E G U R A R E M O S , ASSIM, UM SERVIÇO P O S TA L U N I V E R S A L DE QUALIDADE, MAS DE OLHOS POSTOS N A I N O VA Ç Ã O E N O F U T U R O .”

logistics related business solutions. And we expect also to achieve a significant re-launch of the retail operation based on the extraordinary network of own stores and agents (post offices), which is unparalleled in the country. The relentless and accelerating growth of e-commerce, for which CTT’s pioneering role has been remarkable - with the launch of new in-house products and services or in partnership with startups - will also lead to a significant business growth of our business with our digital channel, one of the main sources of optimism when facing the new year. But we have not forgotten our traditional business. The postal service area will undergo a major transformation, with continued investments of around EUR 40 million directly attributable to the modernisation of the network, the automation of production centres, the reinforcement of information systems, and the redesign of the physical network in order to improve the efficiency levels, but also the working conditions of our employees, namely around 5000 postmen, keeping the focus on providing a quality SPU. Regarding the SPU concession, we are aware of the complexity of the current regulatory framework, but we trust in the ability to develop a constructive dialogue with the regulator. Finally, as we look forward to 2020, we must not forget the need to actively address one of humanity’s biggest current challenges: climate change. Hence the priority given to minimizing our ecological footprint of which it is worth highlighting the commitment to redesign the activity in order to contain the rise in the average temperature of the planet below 1.5º C. We will, of course, continue to enjoy a high level of selfesteem with regard to the highest standards of corporate governance and gender equality practices and will continue committed to our social role in supporting the population by strengthening the proximity and capillarity of the network. This will ensure a quality universal postal service, but with an eye to innovation and the future, to ensure that a sector as challenging as the postal sector will be there for another 500 years. And we will do so by following our motto with enthusiasm and determination: full delivery! l 51


DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO JOSÉ GALAMBA DE OLIVEIRA, PRESIDENTE ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE SEGURADORES (APS)

“O SETOR SEGURADOR REFORÇARÁ A JÁ ENORME IMPORTÂNCIA QUE TEM H O J E N A E C O N O M I A P O R T U G U E S A” “THE INSURANCE SECTOR WILL REINFORCE ITS ALREADY HUGE IMPORTANCE IN THE PORTUGUESE ECONOMY”

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proximamo-nos do final do ano de 2019 com os dois principais ramos da atividade seguradora com comportamentos distintos – o ramo Vida com um crescimento negativo quando comparado com os anos anteriores enquanto o ramo Não Vida, tradicionalmente mais dependente da evolução da atividade económica, mantém os crescimentos já observados nos dois últimos anos. Esta nova realidade no ramo vida a que assistimos em 2019 (que engloba a oferta de seguros financeiros com os seguros de capitalização ou até os muito conhecidos produtos para a reforma, os PPR’s) é influenciada por condições macroeconómicas adversas, nomeadamente a existência de um ambiente anormalmente longo de baixas taxas de juros de médio e longo prazo e, também, pela ausência de estímulos fiscais adequados à promoção da poupança. É também nesta altura do ano que perspetivamos o que nos pode trazer o novo ano de 2020. Em termos macroeconómicos os cenários centrais apontam para uma quebra ligeira do crescimento económico e de uma manutenção de taxas de juros a níveis historicamente baixos. Com estas premissas, no ramo Vida, o setor continuará com dificuldade em desenhar produtos que correspondam às expectativas dos clientes e consequentemente contribuir para reverter a reduzida taxa de poupança em Portugal. Por outro lado, enquanto grande investidor institucional, o setor segurador terá dificuldades acrescidas na

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e are approaching the end of the year 2019 with the two main branches of insurance activity behaving differently - the life branch with negative growth when compared to previous years while the non-life branch, traditionally more dependent on the evolution of economic activity, keeps the growth rate witnessed in the last two years. This new reality in the life branch witnessed in 2019 (covering the provision of financial insurance with capitalisation insurance or even the wellknown retirement products, the RPS) is influenced by adverse macroeconomic conditions, namely the existence of an environment of abnormally long low medium and long-term interest rates and the absence of adequate fiscal incentives to promote savings. This is also the right time of the year to look at what the New Year 2020 may bring. In macroeconomic terms the central scenarios point to a slight fall in economic growth and interest rates which are due to remain at historically low levels. In light of these assumptions in the Life business, the sector will continue to experience difficulties designing products that meet customer expectations and consequently help reversing the low savings rate in Portugal. On the other hand, as a major institutional investor, the insurance industry will have additional difficulties in obtaining financial results and thus will suffer greater pressure to obtain technical results. In the Non-life branches, we believe that we will (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


obtenção de resultados financeiros e assim terá maior pressão no sentido da obtenção de resultados técnicos. Já nos ramos Não Vida, acreditamos que continuaremos a assistir a um crescimento da produção dos principais seguros deste ramo – automóvel, saúde, acidentes de trabalho e multirriscos – não só derivado ao crescimento expectável da atividade económica, mas também pelas novas oportunidades que se abrem para o setor segurador, decorrentes de novas realidades tais como, a emergência de novos riscos (cyber, drones por exemplo), de novas responsabilidades associadas às novas tendências na nossa sociedade (novas formas de mobilidade urbana, novas formas de relação laboral ou à economia da partilha), ou de novas necessidades que as novas tecnologias induzem na população em geral relacionadas com a propensão para a compra de seguros ‘on demand’. Mas há um conjunto de desafios mais estruturais na nossa sociedade, que continuaram a ocupar a reflexão estratégica do setor segurador nos anos vindouros. Refiro-me às alterações climáticas e ao desafio demográfico. O setor segurador está muito comprometido e diretamente envolvido na luta contra as mudanças climáticas em diversas vertentes, nomeadamente através do apoio à prevenção e à adaptação/transição. A APS, em representação do setor, é uma das subscritoras da Carta de Compromisso para o Financiamento Sustentável em Portugal e a nível europeu, com um ‘endorsement’ público ao Acordo de Paris. O setor tem vindo a incorporar princípios ambientais na subscrição de seguros e tem, a nível global, uma extensa experiência e ‘know-how’ em parcerias público-privadas, inclusivamente ‘know-how’ disponível para a criação de um sistema integrado para a proteção de riscos catastróficos para o nosso País. Ainda enquanto investidor institucional, o setor terá um papel essencial no financiamento de longo prazo para a economia, investindo cada vez mais em ativos verdes e sustentáveis. Já quanto ao tema do desafio demográfico que o nosso País enfrenta, o setor continuará a trabalhar no desenvolvimento de novas ofertas na área de vida e saúde, para dar resposta à realidade da maior esperança de vida e às doenças próprias do envelhecimento. E continuará a desenvolver estratégias no sentido de sensibilizar a sociedade em geral e os seus vários intervenientes em particular (governo e cidadãos) para a necessidade de se criarem condições para a emergência de um sistema complementar de reforma. Em conclusão, o setor segurador reforçará a já enorme importância que tem hoje na economia portuguesa. É de facto um setor estruturante não só como grande investidor institucional e estabilizador da economia, mas também como parceiro das famílias e dos negócios na tomada de riscos relativos às suas atividades, preparando a oferta de proteção e soluções de mitigação destes riscos, contribuindo assim, para o desenvolvimento, progresso e inovação da nossa economia e da sociedade em geral. l

continue to witness growth in the production of the main insurances in this business - car, health, occupational accidents and multi-risk - not only due to the expected growth in economic activity, but also by the new opportunities that open up for the insurance industry as result of new realities such as the emergence of new risks (cyber, drones for example), new responsibilities associated with new trends in our society (new forms of urban mobility, new forms of employment relationship or the sharing economy), or new needs that new technologies induce in the general population related to the propensity to buy on-demand insurance. But there are a number of more structural challenges in our society that continued to occupy the strategic thinking of the insurance industry in the years to come. I refer to climate change and the demographic challenge. The insurance sector is very committed and directly involved in the fight against climate change in many ways, namely through support for prevention and adaptation / transition. APS, representing the sector, is one of the subscribers to the Letter of Commitment for Sustainable Financing in Portugal and at European level, with a public endorsement of the Paris Agreement. This sector has been incorporating environmental principles into insurance taking and has, globally, extensive experience and know-how in public-private partnerships, including knowhow available to create an integrated system for catastrophic risk protection in our country. Furthermore, as an institutional investor, the sector will play a key role in long-term financing of the economy, investing more and more in green and sustainable assets. Regarding the issue of the demographic challenge facing our country, the sector will continue to work on the development of new products in the life and health areas, in order to respond to the reality of longer life expectancy and the diseases inherent to ageing. And it will continue to develop strategies to make society in general and the different stakeholders in particular (government and citizens) aware of the need to create conditions for the emergence of a complementary reform system. “The insurance sector will reinforce its already huge importance in the Portuguese economy” It is in fact a pivotal sector not only given its role as institutional investor and stabiliser of the economy, but also as a partner of households and businesses in taking risks related to their activities, preparing the offer of protection and mitigation solutions for these risks, thus contributing, for the development, progress and innovation of our economy and society at large. l

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DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO JOSÉ MANUEL CONSTANTINO, PRESIDENTE COMITÉ OLÍMPICO DE PORTUGAL (COP)

RUMO A TÓQUIO 2020 HEADING TO TOKYO 2020

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desporto de alto rendimento (e por arrasto uma preparação olímpica) tem custos muitos elevados. Operando num contexto internacional, a competitividade atingida pelo alto rendimento é muito determinada pelas economias dos respetivos países e o que elas libertam (de forma publica e privada) para a respetiva preparação desportiva. É verdade que não existe determinismo entre o valor da competitividade desportiva das nações e a sua riqueza ou poderio económico, mas é um fator condicionante. A consulta a qualquer relatório sobre as despesas dos Estados (públicas e/ou privadas) comprova-o. E permite verificar que há países que gastam com uma modalidade o que outros gastam com toda a preparação olímpica. O que Portugal gasta é, comparativamente a uns países, pouco, a outros muito. Mesmo em Portugal, a preparação olímpica em quatro anos é cerca de metade da despesa do desporto escolar num só ano. Mas é o que as opções políticas possibilitam. Pelo que o centro da reflexão se deverá centrar mais em saber se pode ou não o desporto português progredir e alcançar um outro plano de excelência - nacional e internacional - compatível com os recursos que o país pode dispensar. Dito de outro modo: saber se as limitações existentes esgotaram o potencial de crescimento desportivo do país ou, pelo contrário, ainda é possível, com o mesmo nível de recursos, fazer melhor. Os fatores críticos de sucesso no alto rendimento desportivo, e em particular nas políticas e estratégias de preparação olímpica, configuram o núcleo essencial no diagnóstico da competitividade desportiva do país. Identificá-los, avaliar a sua preponderância e potencial de desenvolvimento; aprofundar a sua interdependência, ou como se configuram na especificidade de cada modalidade e se articulam a montante com outras políticas públicas 54

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igh performance sport (and so therefore Olympic preparation) has very high costs. We operate in an international context and the competitiveness attained by high performance is largely determined by the economies of the relevant countries and how and what they allocate (public and privately) for sports preparation. There is in fact no determinism between the value of nations’ sporting competitiveness and their wealth or economic power, but it’s a compelling factor. This can be clearly seen on the reports on States’ expenditure (public and/ or private). And we can see that there are countries that spend on one sport what others spend on the whole Olympic preparation. What Portugal spends is, compared to some countries very little, and compared to others a lot. Even in Portugal, four-year Olympic preparation is about half of school sports spending in a single year. Political options play a major role when it comes to allocate financial resources. The focus of the debate should therefore be to know whether or not Portuguese sport can make progress and achieve a further level of excellence - national and international – in line with the resources the country is ready to make available. In other words: one has to know whether the existing limitations have exhausted the country’s potential for sports to grow or, on the contrary, whether it’s still possible to do better with the same level of resources. The critical success factors as regards high sports performance, and in particular Olympic preparation policies and strategies, form the essential core when diagnosing the country’s sports competitiveness. Identify them, assess their preponderance and development potential; to deepen their interdependence, or see how they are configured in the specific nature of each sport and articulate upstream with other public and


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e associativas, constituem critérios determinantes para gizar, com rigor e eficiência, orientações programáticas e medidas corretivas para uma terapêutica eficaz. Os condicionalismos estruturais no desenvolvimento desportivo do país comprometem um rigoroso escrutínio social dos resultados dos programas de preparação olímpica pelos órgãos de comunicação social, mais ou menos especializados, mas também pela comunidade científica e pelas organizações desportivas. Estamos, por isso, mediaticamente sujeitos e condicionados à ditadura das medalhas. Avalia-se a participação olímpica quase exclusivamente pelo que é mediaticamente relevante: as posições de pódio. E o tema, como é próprio dos assuntos de elevado grau de mediatização, suscita a escrita e o debate de imensas pessoas. Umas preparadas, outras menos preparadas e outras claramente impreparadas. Em Portugal, todos quantos estão ligados ao desporto são sensíveis aos resultados que os atletas nacionais alcançam. E aos debates e polémicas suscitadas a esse propósito. É natural que sobre o ocorrido surjam várias leituras. Sabemos que uma medalha se transforma rapidamente na medalha de um país, onde todos reclamam o seu quinhão, na mesma medida em que a debandada no desaire procura inapelavelmente os mesmos bodes expiatórios. São as regras deste jogo e nós conhecemo-las. Não ousamos, sequer, suster este atavismo que a cada quatro anos nos assalta, pois respondemos pelos objetivos desportivos que, firmados com o Governo de Portugal, nos comprometem claramente com todos os portugueses desde o início deste trajeto. Ao longo deste ciclo olímpico trabalhámos para dar as melhores condições de preparação àqueles que, no próximo ano, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, terão a missão de acrescentar mais um capítulo na história desportiva de Portugal. O alcance dos nossos objetivos é conhecido, ganhou letra de lei e norteia o esforço anónimo dos nossos atletas, treinadores e federações desportivas na procura da superação, um trabalho que muitas vezes se mantém oculto no espaço público, mas não demove quem conhece o significado e a força do calendário olímpico. Os compromissos delineado de atribuições e competências entre Estado, Comité e Federações, através de um modelo colaborativo, permitiu estabilizar a preparação olímpica e capacitar o processo de desenvolvimento de atletas e técnicos, criando valor desportivo, ganhando escala e colmatando lacunas importantes. Cumpridos estes objetivos, a nossa expectativa é moderadamente otimista. Esperamos naturalmente que os resultados desportivos a alcançar nos Jogos Olímpicos de Tóquio, a realizar no próximo ano, mobilizem os portugueses e suscitem orgulho na nossa Missão Olímpica. O Comité Olímpico de Portugal tudo fará para continuar a valorizar o desporto, nos seus projetos, iniciativas e posicionamento institucional, mobilizando em torno desta causa instituições e personalidades, dentro e fora do universo desportivo, genuinamente imbuídas do mesmo propósito. Inspirando-nos nas memórias dos nossos heróis olímpicos que nos devem orgulhar, e sonhando para um futuro desportivo ainda melhor. l 56

associative policies are crucial criteria to define, with rigor and efficiency, both programmatic guidelines and corrective measures for an effective therapy. Structural constraints in the country’s sports development undermine the thorough social scrutiny of the results of Olympic preparation programs by the more or less specialised media and by the scientific community and sports organisations. We are, therefore subject to the dictatorship of medals. Olympic participation is evaluated almost exclusively for what is relevant for the media: podium positions. And the theme, as it is common in issues with a high level of media exposure elicits the writing and the debate by many people. Some have the right knowledge, some less and others are clearly unprepared to tackle these issues. In Portugal, all those linked to sports are sensitive to the results achieved by national athletes and to the debates and controversies raised in this regard. Each event is naturally interpreted in different ways. We know that a medal quickly becomes the medal of a country and everyone claims their fair share, and the same happens when we witness a true stampede in case of failure and the search for the same scapegoats. These are the rules of this game and we know them. We don’t even dare to sustain this atavism that assails us every four years. We stick to our commitment of achieving our sporting goals, which we signed with the Government of Portugal and clearly commit us before all Portuguese since the beginning of this particular journey. Throughout this Olympic cycle we have done our best to provide the best preparation conditions for those who, next year, at the Tokyo Olympics, will have the mission of adding another chapter in Portugal’s sports history. The reach of our goals is well known, is bound by the laws of the country and guides the anonymous effort of our athletes, coaches and sports federations to excel, a work that often is little known in the public sphere but does not deter those who know the meaning and the strength of the Olympic calendar. The established commitments and competencies between State, Committee and Federations, through a collaborative model, allowed us to stabilise the Olympic preparation and to help the process of development of athletes and coaches, creating sporting value, gaining scale and closing important gaps. Having met these goals, our expectation is now moderately optimistic. We naturally hope that the sporting results to be achieved at the Tokyo Olympics next year will mobilise the Portuguese and make us proud of our Olympic Mission. The Portuguese Olympic Committee will do its utmost to continue to value sport, with all its projects, initiatives and institutional positioning, mobilizing around this cause institutions and personalities, both inside and outside the sporting universe, genuinely imbued with the same purpose. Taking inspiration from the memories of our Olympic heroes that should make us proud, and dreaming of an even better sporting future. l


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DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO

JOSÉ M. GARCÍA VILLARDEFRANCOS, DIRECTOR GRUPO ALBIÓN

ESQUEÇA A FICÇÃO CIENTÍFICA LET’S FORGET SCIENCE FICTION

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o momento em que escrevo estas linhas, Espanha chega ao final de um ano de 2019 marcado por um forte protagonismo político. Por um lado, tivemos toda uma série de acontecimentos relacionados com o processo de independência da Catalunha e, por outro, tivemos duas eleições legislativas. A incapacidade das formações políticas de chegarem a acordo deu origem, após as eleições gerais de novembro, a um parlamento cada vez mais fragmentado no qual os partidos de esquerda se impuseram, precisando no entanto do apoio dos partidos nacionalistas e minoritários para formarem governo. Paralelamente, o mundo dos negócios continuou a sua atividade pouco impactada pelo bloqueio político e mais dependente do que acontece além-fronteiras. De acordo com dados do mercado de fusões dos nove primeiros meses do ano, a atividade de fusões e aquisições entre empresas espanholas cresceu 6% e as compras no exterior por parte de empresas nacionais dispararam 13,4% entre janeiro e setembro . O investimento estrangeiro em Espanha foi o que mais se ressentiu da instabilidade, tendo sofrido uma queda de 76% face aos números registados entre janeiro e setembro de 2018. 2020 será um ano chave em que a Espanha deverá regressar a uma situação política de estabilidade, mas com um possível novo governo composto por diferentes formações políticas e onde o fantasma da ingovernabilidade estará muito presente. Além disso, externamente, terá que enfrentar uma situação económica negativa em muitos países à sua volta, bem como a materialização previsível do Brexit, entre outros. Nesse contexto, a comunicação empresarial e financeira deve desempenhar um papel fundamental na sua contribuição para o sucesso do mercado e em cada uma das iniciativas levadas a cabo pelos diferentes atores. 58

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s I write these lines, Spain is reaching the end of 2019, a year marked by a strong political protagonism. On the one hand, there have been several events related to the Catalan independence process, and on the other, two general elections were held. The inability of the political parties to reach agreements has led, after the November general elections, to an increasingly fragmented parliament in which the leftist parties have imposed themselves, albeit they will need the support of the nationalist parties and minorities to form a Government. As for business operations continued little impacted by the political blockade and rather dependent on what happens beyond our borders. According to Mergermarket data for the first nine months of the year, the activity of mergers and acquisitions among Spanish companies has grown by 6% and purchases abroad by national companies skyrocketed by 13.4% between January and September. Foreign investment in Spain was the most impacted by this instability and witnessed a decrease of 76% compared to the figures pertaining to the months of January and September 2018. 2020 will be a key year in which Spain must return to a political situation of stability, but with a possible new Government formed by different political parties where the ghost of ungovernability will be even more than present. Furthermore, at the external level, it will have to face a negative economic situation in many of our surrounding countries and the foreseeable materialization of Brexit, among others. In light of this, corporate and financial communication must play a fundamental role in assisting the success of the market and the initiatives undertaken by the different stakeholders. (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


Por outro lado, a forma como as empresas comunicam está a evoluir rapidamente, marcada por um contexto empresarial e mediático que atribui demasiada importância à tecnologia ou que não ajustam essa importância aos objetivos ou à realidade. Vivemos num mundo de reflexão limitada, consumo impulsivo e marcado por notícias falsas e eventos alternativos. A forma como as empresas comunicam e com quem será cada vez mais crucial e relevantes e, pela primeira vez, a comunicação começa a estar presente nas reuniões dos Conselhos de Administração. O contexto socioeconómico, quem e como se consome informação, a aplicação da tecnologia para a geração de notícias ou o uso da inteligência artificial para determinar o que é do interesse do leitor tudo isto parece saído de um filme de ficção científica. Existem cade vez mais analistas , influenciadores e intérpretes de informação que aumentam o ruído, sem contextualizar e sem um raciocínio profundo sobre os fatos e a realidade. As empresas estão expostas a um constante julgamento social na imprensa e nas redes sociais com o consequente impacto - positivo ou negativo – na sua imagem; O risco de crise é acrescido. E são estas empresas que investem cada vez menos em comunicação, baseando suas decisões e competências nessa área por eventos e impulsos. São estas mesmas empresas que, após a crise de 2008, fundiram suas áreas de comunicação e de marketing, principalmente para economizar dinheiro, e em virtude da digitalização, em busca de eficiências a curto prazo. Tudo isto de uma forma alarmantemente semelhante à forma como se gera e consome informação. Apesar de tudo isso, a forma de abordar uma situação do ponto de vista da comunicação corporativa não mudou assim tanto. Embora tenhamos o apoio inestimável da tecnologia que nos oferece suportes e ferramentas que nos permitem maior alcance e capilaridade - as empresas apresentam resultados pelo Twitter, realizam conferências de imprensa em streaming e apps específico para viagens de imprensa - a chave está no entanto conteúdo. A diferenciação é marcada por uma comunicação honesta, real e credível, com informações comprovadas, com disciplina e consistência em termos de narrativa. Para serem credíveis, as empresas e seus líderes devem sê-lo e... e parecê-lo. A forma é importante mas o conteúdo é muito mais. Espanha tem grandes oportunidades de crescimento e investimento pela frente na área da energia, finança, imobiliário ou serviços, entre outros. Mas a concorrência é grande e a diferenciação necessária. O mercado vai querer compreender cada vez mais a forma como as empresas e as suas operações são mostradas, que a diferenciação seja evidente, que o que é importante e real seja destacado, ao contrário do crescente e nefasto ruído informativo. Em suma, as empresas devem colocar a ficção científica de lado ao comunicarem, adotar a tecnologia de uma forma sensata e envolverem-se plenamente na realidade, simplificando para serem fiáveis, constantes e credíveis. l

Additionally, the way in which companies communicate is rapidly evolving, conditioned by media and corporate contexts that give too much importance to technology, or that don’t adjust that importance to objectives or reality. We are going through a world of limited reflection, impulsive consumption, including fake news and alternative events. How companies communicate and with who will be increasingly critical and relevant, and for the first time, communication now has a place in Boards of Directors meetings. The socio-economic context, who and how the information is consumed, the application of technology for the generation of news or the use of artificial intelligence to determine what interests the reader, seem to come out of a science fiction film. More and more analysts, influencers and interpreters of information emerge and increase noise without contextualizing and without deep reasoning of facts and reality. Companies are exposed to a constant social judgment in the press and in the social media with the consequent impact - positive or negative - on their image; the risk of crisis is greater. These are the very same companies that invest less and less in communication, basing their decisions and assignments in this area on events and impulses. The very same companies that, after the 2008 crisis, merged their communication and marketing areas, mainly to save money, but also due to digitalization and the safe search for short-term efficiencies. In an alarmingly similar way to how information is generated and consumed. Despite all this, the manner how a situation is approached from the point of view of corporate communication has not changed so much. Although we have the invaluable support of technology that provides us with both support and tools that allow us greater reach and capillarity - companies present results through Twitter, host press conferences in streaming and create specific apps for a press trip the content is the key. Differentiation is marked by a real and credible, honest communication, with proven information, with discipline and a consistent narrative. In order to be trustworthy companies and their leaders must act and be transparent. The manner how things are done is almost as important as the content. Spain has great growth and investment opportunities in the energy, financial, real estate or service business sectors, among others. But competition is high and differentiation is necessary. The market will want increasingly to understand the manner how companies and their operations are shown, that differentiation is clearly there, that what is important and real is highlighted as opposed to the annoying information noise. In summary, when communicating companies leave science fiction aside, adopt technology in a sensible way and get fully involved in reality, simplifying in order to be reliable, constant and trustworthy. l 59


DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO LUIS AVELL ANEDA ULLOA, DIRECTOR-GERAL REALIDADES PR - PERU

CRESCIMENTO E EQUIDADE NA AMÉRICA LATINA G R O W T H A N D E Q UA L I T Y I N L AT I N A M E R I C A

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s oscilações sociais e as diferentes e complexas realidades de cada país em 2019 e pelas quais a América Latina tem passado permitem-nos fazer uma leitura inequívoca dos níveis de crescimento económico e das oportunidades de cada país, não obstante as novas agendas sociais que reclamam e exigem uma melhor distribuição dos gastos sociais. As demandas sociais são semelhantes e convergem na maioria das nações da América Latina. A Ipsos, numa investigação recente, indicava que entre as necessidades por satisfazer estão melhor educação, uma luta clara contra a corrupção, uma redução drástica nos níveis de criminalidade e redução progressiva das disparidades salariais. As semelhanças são grandes, sem dúvida. O caso do Peru pode ser um exemplo claro dos sérios problemas de institucionalidade política. Recentemente, o Congresso da República foi dissolvido e foram convocadas novas eleições, havendo quem defenda que os resultados do próximo mês de janeiro não gerarão um panorama muito diferente daquele a que se assiste com o parlamento dissolvido, sobretudo dadas as poucas oportunidades que os candidatos terão de comunicar as suas propostas políticas e, no que toca ao eleitorado, não é de esperar que venham a ter um conhecimento básico das propostas dos quase três mil candidatos. O Peru deverá crescer entre os 2,5 e os 3% em 2019. Trata-se de indicadores económicos positivos que revelam um crescimento constante e diferem categoricamente das crises políticas que estão a 60

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he social fluctuations and the different and complex realities of each Latin America country in 2019 may shed some unequivocal light on the economic growth levels and opportunities of each one of them, irrespective of the social agendas claiming and demanding a better distribution of social spending. Social demands are similar and converge in most of the nations in Latin America. Ipsos in a recent research pointed out that unmet needs include achieving better education, a clear fight against corruption, a drastic reduction in crime levels and a progressive reduction of wage gaps. Similarities abound, undoubtedly. The case of Peru is a clear example of the serious problems of political institutionality. Recently the Congress of the Republic was dissolved and new elections have been called, and it is argued that the next results of the month of January will not offer a very different panorama from that of a dissolved parliament, especially due to the little opportunity candidates will have in communicating its political proposals and as regards voters they will not be able to get to know in detail the proposals of the almost three thousand candidates. It is estimated that Peru will grow between 2.5 and 3% in 2019. These are positive economic indicators pointing to constant growth, a scenario differing from the current political crises, this being an inscrutable reality, pointing out to the existence of two clear paths with very different objectives that try not to affect each other. Peru is one of the countries that has experienced greater levels of development in the last two (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


acontecer, uma realidade inescrutável que aponta para dois caminhos com objetivos muito diferenciados e onde se tenta que um não afecte o outro. O Peru é um dos países que mais se desenvolveu nas últimas duas décadas e é considerado pela comunidade internacional como um dos principais mercados emergentes do mundo, graças à sua sólida base económica e recursos naturais importantes e diversificados. No entanto, dado seu estatuto de país emergente, o Peru tem pela frente o desafio de colmatar lacunas em matéria de infraestruturas tais como estradas, 4G, portos e transporte de passageiros. Reativar a indústria nacional, que não é muito variada e não é muito competitiva; e superar conflitos sociais que permanecem em algumas áreas do país e que impediram ou suspenderam a implementação de vários projetos mineiros, de hidrocarbonetos e petroquímicos, entre outros. Uma política económica correta, baseada no mercado livre, que gerou um aumento constante no consumo interno, baixas taxas de inflação e altos níveis de investimento público e privado, acompanhada por uma ampla variedade de commodities, permitiram ao Peru liderar o crescimento económico latino-americano nas últimas duas décadas e ser qualificado com grau de investimento pela Moody’s, Fitch Ratings e Standard and Poor’s. O Peru é um país que assenta grande parte da sua economia na exploração de minério e possui abundantes jazidas de cobre, prata, ouro, chumbo, zinco, gás natural, petróleo e ureia, entre outras commodities. De facto, é o segundo maior produtor mundial de cobre, prata e zinco; o terceiro produtor de chumbo, o quarto de estanho e molibdénio e o sexto de ouro. Além da exploração mineira, agricultura, pesca, bancos e serviços, hidrocarbonetos e construção são os principais sectores que impulsionam a sua economia. A agenda social exige melhores níveis de empregabilidade e o desenvolvimento económico das últimas décadas teve um impacto positivo no emprego dos peruanos. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), no final de 2018, a taxa de desemprego atingiu apenas 4,5% entre a população economicamente ativa (PEA). No entanto, a informalidade do trabalho, que agrupa trabalhadores sem benefícios sociais ou que trabalham em unidades de produção não registadas, representa 65% do total e é uma situação para a qual as autoridades peruanas ainda não encontram uma saída. Por fim, o Índice de Percepção da Corrupção 2019, da Transparency International, indica que o Peru é o terceiro país visto como o mais corrupto da América Latina. O estudo revela que os países mais afetados pelos pagamentos de subornos são a Venezuela (onde 50% afirmam ter pago subornos), o México (34%) e o Peru (30%). l

decades and is considered by the international community as one of the main emerging markets in the world thanks to a solid economic base and important and assorted natural resources. However, given its status as an emerging country, Peru has some challenges ahead, which include filling gaps in infrastructures such as roads, 4G, ports and public transportation. Reactivate the national industry, which is not very varied and is not very competitive; and overcome social conflicts that remain in some areas of the country and that have prevented or suspended the implementation of various mining, hydrocarbons and petrochemical projects, among others. A correct economic policy based on the free market, which has led to a constant increase in domestic consumption, low inflation rates, and high levels of public and private investment, together with a wide range of commodities, have made it possible for Peru to lead Latin American economic growth in the last two decades and to be qualified with investment grade by Moody’s, Fitch Ratings and Standard and Poor’s. Peru is a country where most of its revenues come from mining and has rich deposits of copper, silver, gold, lead, zinc, natural gas, oil and urea, among other commodities. In fact, it’s the world’s second largest producer of copper, silver and zinc; third lead producer, quarter tin and molybdenum, and sixth gold. In addition to mining, agriculture, fishing, banking and services, hydrocarbons and construction are the main sectors that boost its economy. The social agenda demands better levels of employment and the economic development of the last decades had a positive impact on the employment of Peruvians. According to the International Labour Organization (ILO), at the end of 2018, the unemployment rate reached only 4.5% among the economically active population (EAP). However, labour informality, which groups workers without social benefits or who work in unregistered production units, amounts to 65% of the total and this is a situation for which the Peruvian authorities haven’t been able to find a way out yet. Finally, the Corruption Perception Index 2019, of Transparency International, indicates that Peru is the third country that is perceived as the most corrupt in Latin America. The study shows that the countries most affected by bribe payments are Venezuela (where 50% say they have paid bribes), Mexico (34%) and Peru (30%). l 61


OPINIÃO MANUEL PUERTA DA COSTA, PRESIDENTE ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ANALISTAS FINANCEIROS (APAF )

VINTE ANOS DO SÉCULO XXI T W E N T Y Y E A R S I N T O T H E 2 1 ST C E N T U R Y

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a primeira década deste século, escrevi várias vezes textos, na minha qualidade de responsável de uma Equipa de Investimentos, sobre o que esperava que fosse o ano seguinte de calendário. O enfoque era sobretudo posto nos mercados financeiros, mas invariavelmente, colocava-me no papel de analista geopolítico internacional e enquadrava prospectivamente um conjunto de senso-comuns sobre o que era a “moda” ou o assunto naquele momento. Fui reler alguns desses textos e verifiquei que continham previsões muitos acertadas e muito erradas, com ideias que se concretizaram e com ideias que nem sequer saíram da minha imaginação. Perante essa experiência anterior, a minha primeira reacção quando me convidaram para dar a minha opinião acerca de 2020, foi a de não repetir o que tinha feito no passado falando de assuntos que tendiam a perder relevo ou importância na voracidade e velocidade do mundo atual poucos meses ou semanas depois de terem aparecido. Escolhi por isso 3 dimensões geográficas para este texto de enquadramento sobre o ano 2020: um tema mundial, um tema Europeu e um tema nacional. A nível mundial a única coisa que, na minha opinião, tem relevo, seja em 2020, seja nos anos seguintes, é o que a China irá fazer com o seu imenso poder com o maior PIB mundial com um PIB medido em paridade de poder de compra, acima de 25.2mil Biliões de USD (Fonte : FMI, Abril 2018), um valor 62

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n the first decade of this century I wrote several times in my capacity as head of an Investment Team about what I expected of the next calendar year. The focus was primarily on the financial markets, but placed me invariably in the role of international geopolitical analyst and I prospectively put into context a set of common senses about what was in “fashion” or about the current subject at the time. I reread some of these texts and found that they contained very correct and very wrong predictions, with ideas that materialised and others that didn’t even leave my imagination. In light of this previous experience, my first reaction when I was asked to state my opinion about 2020 was not to repeat what I had done in the past, talking about issues that tended to lose relevance or importance in the voracity and speed of today’s world months or weeks after they appeared. I have therefore chosen to cover 3 geographical dimensions as regards the year 2020: a world theme, a European theme and a national theme. At world level the only thing that, in my opinion, is truly relevant, either in 2020 or in the years to come, is what China will do with its immense power with the world’s largest GDP with a GDP measured at purchasing power parity above 25.2 billion USD (Source: IMF, April 2018), up 20% compared to the US. An economic, financial, demographic, military power but also a technological power. The alignments of the different world blocs with respect to the exercise of this power will determine their future destiny within


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20% superior ao dos USA. Um poder económico, financeiro, demográfico, militar mas também um poder tecnológico. Os alinhamentos dos diferentes blocos mundiais relativamente ao exercício deste poder irão determinar o seu destino no futuro dentro de um mundo livre ou de um mundo menos livre – as manifestações em Hong-Kong, as questões de Taiwan, ou do Tibete, as restrições tecnológicas e o jogo de póquer tarifário entre a administração americana e chinesa, são na verdade faces de um processo de ascensão e travão de uma China forte ao topo. A nível Europeu a nova comissão da UE encabeçada por Ursula Van der Leyen e as suas prioridades serão o foco da política em 2020, (re)centrada nos temas migratórios, nos temas do recrudescimento dos nacionalismos e num fraco crescimento económico, condicionado por regras fiscais alemãs que acrescem dificuldade para os países menos aforradores e com maiores necessidades de capital externo. Enquanto o BCE mantiver os juros baixos e um QE virtual a funcionar, estas dificuldades ir-se-ão apenas revelando na incapacidade do sistema financeiro para captar capital dando espaço para o crescimento de fenómenos de Shadow Banking e de mercados privados. A nível português, o mercado de capitais poderá ter um ano muito diferente dos anteriores, que foram autênticos desertos de inovação e de captação. Tenho a fundada expectativa de que tal não seja apenas uma manifestação de ‘wishful thinking’ da minha parte. As alterações legislativas já ocorridas em Portugal no post-Troika e outras que poderão vir a ocorrer ponderam no meu optimismo. A importância que a Europa dá à construção de uma União Bancária e a um Mercado Único de Capitais, junto com os diferentes incentivos dados à capitalização das empresas que poderiam aumentar, a introdução do novo regime das SIGIS-Sociedades de Investimento e Gestão Imobiliária, assim como o enorme crescimento de novas empresas tecnológicas que não chegando a ser Unicórnios precisam de um mercado que lhes abra portas a mais investidores, são sinónimos de condições para o desejado crescimento de um financiamento mais saudável da Economia portuguesa demasiado assente num modelo de endividamento bancário ao longo dos primeiros 20 anos do seculo XXI. Façamos todos um esforço para que no primeiro ano dos segundos vinte anos deste século, haja melhores notícias sobre o mercado de capitais deste Portugal que todos queremos mais próspero e mais equilibrado. l

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“A N Í V E L P O R T U G U Ê S , O M E R C A D O D E C A P I TA I S PODERÁ TER UM ANO MUITO DIFERENTE DOS ANTERIORES, QUE FORAM AUTÊNTICOS D E S E R T O S D E I N O VA Ç Ã O E D E C A P T A Ç Ã O .”

a more or less free world - the demonstrations in Hong Kong, the issues of Taiwan or Tibet, the technological constraints and the tariffs poker game between the American and Chinese administration are actually faces of a stop and go process of a strong China heading to the top. At European level, the new EU commission headed by Ursula Van der Leyen and its priorities will be the focus of policy in 2020, (re) focusing on migration issues, the themes of nationalist upsurge and weak economic growth, conditioned by tax rules along with the difficulties experienced by the countries saving less and with the biggest external capital needs. As long as the ECB keeps interest rates low and a virtual EQ in place, these difficulties will only come up only in the inability of the financial system to raise capital, leading to Shadow Banking phenomena and private market growth. At the Portuguese level, the capital market may have a very different year from the previous ones, which were real deserts of innovation and funding. I have a well-founded expectation that this is not just wishful thinking on my part. The legislative changes that have already taken place in Portugal in the post-Troika and others that may occur weigh up in my optimism. The importance that Europe attaches to the building of a Banking Union and a Single Capital Market, together with the different incentives given to the capitalisation of companies that could increase them, the introduction of the new SIGIS-Investment and Real Estate Management regime as well as the huge growth of new technology companies that are not even Unicorns needs a market that opens its doors to more investors, they are conditions for the desired growth of a healthier financing of the Portuguese economy, too much based on a bank debt model over the first 20 years of the 21st century. Let us all make an effort so that in the first year of the second twenty years of this century there will be better news about the capital markets in our country that we all want to be more prosperous and more balanced. l


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DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO NUNO BOTELHO, DIRECTOR ESSÊNCIA DO VINHO / PRESIDENTE ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO PORTO

VINHO: O MELHOR ESTÁ AINDA POR CHEGAR WINE: THE BEST IS YET TO COME

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bastante provável que o setor do vinho seja dos mais ousados da agricultura. Quem, como eu, começou a trabalhar nesta área há 20 anos facilmente se apercebe da impressionante evolução. No virar do milénio, o desafio consistia em dar a conhecer o vinho português (para lá dos Porto, dos Madeira e do Mateus Rosé) ao mundo. Os momentos de crise económica e de recessão no consumo interno precipitaram, todavia, aquele que seria o ritmo normal e em duas dezenas de anos mais parece que evoluímos duas gerações – em formas de pensar, em arrojo, em objetivos atingidos. Hoje, os vinhos portugueses não só circulam pelo mundo como andam nas bocas do mundo. Uma nova geração de enólogos foi largamente responsável pela mudança. Mas, também uma nova linhagem de produtores aportou mundividência ao vinho português. Hoje, cruzam-se pelos aeroportos do globo, trocam conversas nas principais feiras internacionais, partilham apresentações diante dos mais exigentes especialistas. A EV – Essência do Vinho nasceu com eles. Foi a responsável por implementar em Portugal uma nova forma de comunicar o vinho. “Essência do Vinho – Porto”, “Essência do Vinho – Madeira”, “Encontro com Vinhos Lisboa” são apenas alguns dos momentos do calendário anual, por entre dezenas de outros. Em mercados externos, a EV ajuda os vinhos portugueses em países como o Brasil, EUA, Canadá, China, Suíça, Dinamarca, Alemanha ou Reino Unido. Crescemos juntos, estamos juntos. 66

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he wine sector is probably among the boldest in agriculture. Who, like me, started working in this area 20 years ago realises this impressive evolution. At the turn of the millennium, the challenge was to get the world to know Portuguese wines (aside from Port, Madeira and Mateus Rosé wines). The moments of economic crisis and recession in domestic consumption, however, precipitated what would be the normal pace and in two years it’s as if we have leaped two generations - in ways of thinking, in boldness, in goals achieved. Today, Portuguese wines not only are they available in the whole world as they are also in the mouth of the world. A new generation of winemakers was largely responsible for this change. But also a new lineage of producers brought worldview to Portuguese wine. Today, they cross the globe’s airports, engage in conversations at major international trade fairs, host events before the most demanding specialists. EV - Essência do Vinho was born with them. It was in charge of implementing a new way of communicating wine in Portugal. “Essência do Vinho - Porto”, “Essência do Vinho Madeira”, “Encontro com Vinhos Lisboa” are just some of the moments in the calendar, among dozens of others. In foreign markets, EV helps Portuguese wines in countries such as Brazil, USA, Canada, China, Switzerland, Denmark, Germany or the United Kingdom. We grew together, we are together. Together with these events a new language was born. First with the magazine “Wine”, currently with the sector’s reference publication “Revista de Vinhos”, monthly on every newsstand. We don’t ignore other media and weekly we present Portuguese wine and gastronomy in programs (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


Em paralelo com os eventos, uma nova linguagem. Primeiro com a revista “Wine”, atualmente com a publicação de referência do setor, a “Revista de Vinhos”, mensalmente nas bancas. Não ignoramos outros Media e semanalmente apresentamos o vinho e a gastronomia portugueses nos programas “A Essência”, emitidos na RTP3, RTP Internacional e Renascença. No ‘online’ somos líderes destacados em Portugal e estamos no “top 4” das publicações especializadas em vinho com mais seguidores nas redes sociais. Numa sociedade de tempos tão vorazes, não basta conquistar uma posição; importa saber manter um posicionamento. Ora, aqui reside um dos grandes desafios da atualidade. A qualidade dos vinhos portugueses já não é discutida na medida em que está reconhecida internacionalmente, conforme atestam as elevadas pontuações e os inesgotáveis elogios da crítica. Estamos, sim, perante a hora decisiva de aumentar o preço médio dos vinhos portugueses, sustentando-o no nosso historial, na raridade das nossas castas, na arte do ‘blend’, na diversidade de regiões e ‘terroirs’, na singularidade dos nossos artífices. Portugal não pode ser encarado como um bom supermercado para vinhos de simpática relação qualidade/preço, tão-somente por não ter bem volume nem custos de produção que o permitam. Pelo contrário, deve afirmarse como país produtor de grandes vinhos, alargando os nichos de mercado que inevitavelmente terá e, acima de tudo, conquistando lugar nas cartas de vinho dos melhores restaurantes e garrafeiras mundiais. O vinho vive dias felizes à escala global, como percebemos pelo aumento de curiosidade e apetência pela descoberta de milhões de consumidores. Pois bem, Portugal tem as condições de base que lhe permitem ir bem mais além dos mais de 800 milhões de euros estimados em exportações (dados oficiais de 2018). A EV está apostada em contribuir para a valorização dos vinhos portugueses, acreditando convictamente que o melhor ainda está por chegar. Saibamos surfar a onda com a irreverência e a ilusão de todos os sonhos do mundo. l

“PORTUGAL TEM AS CONDIÇÕES DE BASE QUE LHE PERMITEM IR BEM MAIS ALÉM DOS MAIS DE 800 MILHÕES DE EUROS ESTIMADOS EM E X P O R TA Ç Õ E S ( DA D O S O F I C I A I S D E 2 0 1 8 ) .”

such as “A Essência”, aired on RTP3 and RTP International TV channels and Renascença radio. Online we are prominent leaders in Portugal and are in the ‘top 4’ of specialised wine publications with more followers on social media. In a society of such voracious times, it’s not enough to win a position; It’s important to know how to maintain a position. Now here lies one of the great challenges of today. The quality of Portuguese wines is no questioned and is internationally recognised, as witnessed in the high scores and the endless praise of critics. This is thus the right time to increase the average price of Portuguese wines, considering our history, the rarity of our grape varieties, the art of blending, the diversity of regions and terroirs, the uniqueness of our wine craftsmen. Portugal cannot be seen as a mere supermarket for nice value for money wines given that it doesn’t have a good volume or production costs to allow this. On the contrary, it must stand out as a producer of great wines, widening the market niches it will inevitably have and, above all, conquer the wine menus of the best restaurants and wine cellars in the world. Wine lives happy days on a global scale, as we can see from the increased curiosity and desire to discover this wine by millions of consumers. Portugal has the basic conditions to enable it to go well beyond the estimated EUR 800 million in exports (official data from 2018). EV is committed to contributing to the enhancement of Portuguese wines, firmly believing that the best is yet to come. Let us know how to ride the wave with the irreverence and illusion of every dream in the world. l 67


DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO

NUNO MARQUES, CEO GRUPO VISABEIRA

2020 – O ANO DOS MIL MILHÕES NO GRUPO VISABEIRA 2 0 2 0 - T H E B I L L I O N Y E A R AT V I S A B E I R A G R O U P

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uase a atingir as quatro décadas, o Grupo Visabeira tem construído com bases sólidas e alicerces bem estruturados o desenvolvimento das suas empresas e negócios à escala internacional. Nas principais perspetivas para 2020, começamos por sublinhar o objetivo em termos de volume de negócios de atingir os mil milhões de euros, uma meta que estamos perfeitamente conscientes que é possível alcançar se mantivermos o ritmo de crescimento que temos vindo a consolidar desde há alguns anos a esta parte. Este ano de 2019 deixa-nos bons indicadores nesse sentido, uma vez que deveremos atingir um crescimento na ordem dos 20% face a 2018, o que elevará a nossa faturação para cerca de 900 milhões de euros. O Grupo Visabeira está, atualmente, presente com empresas em 16 países e produtos e serviços em cerca de uma centena de nações, empregando cerca de 12.000 colaboradores. Mais de 70% do volume de negócios do Grupo é concretizado no mercado externo. Para os próximos anos temos em carteira, à data atual, mais de 3 mil milhões de euros de contratos nos diversos sectores de atividade onde atuamos. No setor das Telecomunicações e Energia, os negócios em carteira são de 2,4 mil milhões de euros, apenas na componente de prestação de serviços, sem incluir 68

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isabeira Group is about to complete four decades, a period during which it has laid strong and well-structured foundations for the development of its companies and businesses on an international scale. Looking ahead to 2020, we would like to start by underlining the turnover target of EUR 1 billion, a goal that we are certain to achieve if we keep witnessing the growth rate we have been consolidating for some years. The year 2019 provides a number of good indicators in this regard, considering that we should achieve growth of around 20% compared to 2018, thereby increasing our turnover to around EUR 900 million. Visabeira Group currently has established companies in 16 countries and offers products and services in around one hundred nations, employing circa 12,000 people. More than 70% of the Group’s turnover results from operations in the foreign market. For the coming years, we currently have contracts worth more than EUR 3 billion in our portfolio in the many business sectors we operate. In the Telecommunications and Energy sector, we have EUR 2.4 billion euros deals in our portfolio in the service provision component alone, not including the incorporation of material. These are transactions with major operators in Europe: in France (France Telecom / Orange, Electricité de France, Gaz de France), Belgium (Belgacom / Proximus and Voo), the United Kingdom (British Telecom / Open Reach) Germany (Deutsche Telekom), (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


incorporação de materiais. Tratam-se de operações com os principais operadores na Europa: em França (France Telecom/ Orange, Eletricité de France, Gaz de France,), na Bélgica (Belgacom/Proximus e Voo), no Reino Unido (British Telecom / Open Reach), na Alemanha, (Deutsche Telekom), na Dinamarca, (TDC) e em Itália (Enel e Enel OpenFiber). No tocante à Indústria, o volume em carteira é superior a 300 milhões de euros, com uma forte componente assente nas unidades do Grupo Vista Alegre (Vista Alegre, Bordallo Pinheiro, Ria Stone e Cerutil) que têm contratos já garantidos com os clientes como a Hennessy e Remy Martin, no cristal; Zara Home e Cervera, na faiança; Clube Med, na porcelana e IKEA no grés de mesa. No setor da Construção, o Grupo Visabeira assegura, desde já, uma carteira de negócios de 150 milhões de euros, a que se somam outros 150 milhões provenientes de negócios em África. É, contudo, nos mercados europeus que assenta o grande volume de negócio. Em termos percentuais a Europa garante 88% do total de volume de negócios. A nossa estratégia de expansão continuará a centrar-se na Europa acompanhando o massivo investimento que os países da Zona Euro estão a realizar nas redes de telecomunicações, designadamente, no desenvolvimento das redes de fibra ótica, sector de atividade onde a Visabeira Global é hoje um ‘player’ à escala internacional, com fortes capacidades distintivas, por via da sua experiência e ‘know how’. Ainda relativamente a 2020, não podemos deixar de referir o contributo da Visabeira Turismo para o crescimento do Grupo. Assinalamos as novas unidades hoteleiras Montebelo Lisbon Downtown Apartments, com abertura no último mês do ano na Rua da Prata em plena baixa Pombalina, e o Montebelo Milibangalala Resort Bay, na designada Reserva Especial de Maputo, em Moçambique, que vêm juntar-se à operação que conta, atualmente com 12 unidades hoteleiras abertas ao público. Também nesta área temos novos projetos em curso para a abertura a médio prazo, os hotéis nas Caldas da Rainha e em Alcobaça e a ampliação do Montebelo Vista Alegre Ílhavo Hotel e as obras de remodelação do Hotel Príncipe Perfeito, em Viseu. Da parte do Grupo Visabeira tudo continuaremos a fazer para nos tornarmos mais fortes, dentro e fora de Portugal, na certeza de que a expansão internacional, que encetámos há anos a esta parte, está alicerçada no ‘backlog’ de contratos e no forte investimento previsto para os próximos anos por parte dos principais operadores europeus e será ainda mais consolidada e reforçada quando a economia e conjuntura internacionais florescerem. l

“MAIS DE 70% DO VOLUME DE NEGÓCIOS DO GRUPO É CONCRETIZADO NO M E R C A D O E X T E R N O .”

Denmark (TDC) and Italy (Enel and Enel OpenFiber). As regards Industry, the portfolio volume is over EUR 300 million, with a strong component based on the Vista Alegre Group units (Vista Alegre, Bordallo Pinheiro, Ria Stone and Cerutil) which have already signed contracts with customers such as Hennessy and Remy Martin, in the crystal sector; Zara Home and Cervera, in earthenware; Club Med in porcelain and IKEA in stoneware. In the Building and Construction sector, Visabeira Group now has a EUR 150 million euros business portfolio, in addition to another 150 million related to businesses in Africa. The European markets represent however our biggest turnover. In percentage terms, Europe guarantees 88% of total turnover. Our expansion strategy will continue to focus on Europe in line with the massive investment Eurozone countries are making in telecommunications networks, particularly in the development of fibre optic networks and where Visabeira Global is currently an international player with strong distinctive capabilities given both its experience and know-how. Still in relation to 2020 it’s worth highlighting Visabeira Turismo’s contribution to the Group’s growth. It’s worth highlighting also the new Montebelo Lisbon Downtown Apartments, which opened last month on Rua da Prata, in Lisbon historical downtown, and Montebelo Milibangalala Resort Bay, in the designated Maputo Special Reserve, in Mozambique, which thus join our operations currently with 12 hotel units open to the public. Also in this area we have new projects underway in the medium term such as the opening of hotels in Caldas da Rainha and Alcobaça, the expansion of Montebelo Vista Alegre Ílhavo Hotel and the renovation works of Hotel Príncipe Perfeito in Viseu. At Visabeira Group, we will continue to do our best to become stronger, both inside and outside Portugal, certain that the international expansion we have started for years is based on the backlog of contracts and strong investment planned for the coming years by major European operators and which will be further consolidated and strengthened when the international economy and conjuncture flourish. l 69


DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO NUNO PINTO DE MAGALHÃES, DIRECTOR DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES INSTITUCIONAIS SOCIEDADE CENTRAL DE CERVEJAS E BEBIDAS (SCC)

2020: CONTINUAR A ACREDITAR NO CRESCIMENTO 2020: KEEP BELIEVING IN GROWTH

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turismo, os altos níveis confiança do consumidor na economia e as condições climatéricas têm sido, quanto a nós, as principais razões que têm permitido nos últimos dois anos ter crescimento, em volume, nas nossas vendas. Embora ainda aquém da realidade mais positiva que existia antes da crise, podemos referir alguma recuperação, a que também não podemos deixar de assinalar como causa a redução do IVA da restauração para o canal HORECA, que é o principal canal de vendas da nossa actividade, embora, e ao contrário de todas as promessas políticas, o mesmo não se tenha reflectido nas bebidas alcoólicas, onde se inclui a cerveja, e esta revisão já foi esquecida por todos os agentes decisores, não constando das respectivas agendas. Importante para assinalar também e nomeadamente com efeitos no exercício de 2019, a coragem do anterior XXI Governo Constitucional, 70

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ourism, high levels of consumer confidence in the economy and the political climate have been, for us, the main reasons that have allowed us to grow in volume over the last two years. Although it still falls short of the more positive reality that existed before the crisis, we can mention point to some recovery, which is for us also related to the reduction in VAT on catering in the HORECA channel, the main sales channel of our business, although, and contrary to all political promises, this reduction didn’t fall on alcoholic beverages, including beer, whose amendment has already been forgotten by all decision-makers and is not on their agendas. It is worth mentioning also and notably with effect on the financial year 2019, the courage of the former 21st Constitutional Government, which was the first to act on this, true to be said, as it didn’t increase JEC / IABA - the special tax on beers and spirits, contrary to what has happened in many European countries, such as Spain for several years now. Doing the maths this has clearly led

“PERCEPCIONAMOS UM ANO COM E S TA B I L I DA D E E CRESCIMENTO, REFORÇADO POR SER TA M B É M U M A N O DE EUROPEU D E F U T E B O L .”


que foi o primeiro que o fez, justiça seja feita, que não aumentou o JEC/IABA - o imposto especial das cervejas e das espirituosas, à semelhança do ocorrido em muito países europeus, como é o caso de Espanha há já vários anos e que contas feitas tem provocado acréscimo de receitas fiscais, tal como se vai verificar este ano em Portugal. O XXII Governo mantém a equipa das finanças, o que, e embora ainda não conheçamos o orçamento em detalhe, é auspicioso no sentido da manutenção da política seguida, quanto a nós com bons resultados, em matéria fiscal de imposto especial sobre consumo de bebidas alcoólicas. Se as condições atrás referidas se mantiverem em 2020, sem prejuízo da sempre imprevisibilidade do clima, percepcionamos um ano com estabilidade e crescimento, reforçado por ser também um ano de europeu de futebol o que anima sempre a actividade de consumo de bebidas, querendo acreditar que as “nuvens” apregoadas de nova crise mundial económicafinanceira que nos poderão afectar, a reflectirem-se, serão tardiamente e já muito atenuadas. Brindo ao ano 2020 com uma cerveja Sagres! l

to a increase in tax revenues, as will be the case this year in Portugal. The 22nd Government maintains the finance team, which, although we don’t know the government budget in detail yet, brings high hopes as to maintaining this policy, with good tax results in our opinion, as regards the special tax on the consumption of alcoholic beverages. Should the aforementioned conditions remain in 2020, without prejudice to the unpredictably of the political climate, we foresee a year with stability and growth, reinforced by being also a European football year which always cheer up the drinking activity and we would to believe that the touted “clouds” of a new global economic and financial crisis that may affect us, if reflected, will be belated and fairly attenuated by then. A toast to the year 2020 with a Sagres beer! l

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DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO

PAULA PANARRA, DIRECTORA GERAL MICROSOFT PORTUGAL

TALENTOS QUALIFICADOS E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL QUALIFIED TALENT AND ARTIFICIAL INTELLIGENCE

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ano de 2020 parecia um horizonte longínquo. Uma promessa de sofisticação e desenvolvimento tecnológico que tardava em chegar. Na verdade, arrancamos essa página do calendário enfrentando desafios decisivos para as próximas décadas e uma nova vaga de competitividade em que vai ser importante a diferenciação. Assistimos a duas tendências: a necessidade de talentos qualificados e a adoção de Inteligência Artificial (IA). Vários estudos apontam para o facto de que, nos próximos anos, cerca de 30% das vagas de trabalho em tecnologia ficarão por preencher e cerca de dois terços da força de trabalho será composta por ‘mobile workers’. Esta realidade exige novas táticas e engenharia criativa para que as empresas mantenham a competitividade e não caiam em ameaças existenciais. Será necessário um exame profundo e um esforço para atrair e reter talento, de forma a continuarmos a criar e aplicar tecnologias disruptivas, acelerando a transformação digital. A tónica na formação contínua e no trabalho remoto e, por consequência, nas ferramentas de trabalho colaborativo será uma constante de futuro. Cerca de 70% dos empregos atuais tornar-se-ão obsoletos e, ao mesmo tempo, muitas novas capacidades e necessidades estão a surgir no mercado. Não é demais frisar a importância do ‘reskilling’. Haverá a necessidade de criar plataformas de formação, não só em termos técnicos como noutras competências, como o pensamento crítico – ‘soft skills’ que deverão 72

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020 looked like a distant horizon. A promise of sophistication and technological development that was late to arrive. In fact, as we tear off this calendar page we face clear challenges for the coming decades marked by a new wave of competition where differentiation will be key. We have witnessed two trends: the need for skilled talent and the adoption of Artificial Intelligence.   Several studies point to the fact that in the coming years about 30% of technology posts will be unfilled and about two thirds of the workforce will be mobile workers. This reality requires new tactics and creative engineering so that companies may remain competitive and not fall into existential threats. In-depth examination and an effort to attract and retain talent will be needed to keep generating and applying disruptive technologies thus speeding up digital transformation. The emphasis on lifelong training and remote work and therefore collaborative working tools will be a constant in the future. About 70% of current jobs will become obsolete and at the same time many new skills and needs are emerging in the market. It’s not too much to stress the importance of reskilling. There will be the need to create training platforms, not only technically but also in other skills, such as critical thinking - soft skills which should also be included in the classical education system. Lifelong learning will become a cornerstone of this new reality. Particularly in our country, there will be the need for a strong investment in digital literacy and strategies allowing more women to graduate in technology - two critical indicators for Portugal and which require a major transformation of education and lifelong learning. (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


estar presentes também no sistema de educação clássico. A formação ao longo da vida passará a ser uma pedra de toque desta nova realidade. Em particular no nosso país, haverá a necessidade de um forte investimento em literacia digital e em estratégias que levem a que mais mulheres se formem nas áreas tecnológicas – dois indicadores críticos para Portugal e que passam muito pela transformação da educação e da aprendizagem ao longo da vida. Por outro lado, verificamos que a adoção de Inteligência Artificial ainda não é consistente e consciente em todas as empresas, criando um fosso digital. Em 2020 vamos enfrentar muitas questões sobre as implicações da IA – desde os problemas éticos à automação do trabalho – que levarão à necessidade de requalificação de cerca de 700 mil trabalhadores, nas próximas décadas. Na Microsoft acreditamos que desempenhamos um papel, nomeadamente no cenário atual em que há uma ausência de recomendações, a vários níveis, e em que as próprias empresas tecnológicas discutem a necessidade de uma autorregulação. Essa reflexão é tanto mais importante quando, segundo um recente estudo da IDC para a Forrester, se perspetiva uma profunda crise de confiança digital, uma outra tendência para esta década. Para responder a estes dois desafios lançamos recentemente uma Escola de Negócio de IA com conteúdos disponíveis on-line sobre a definição de uma estratégia de IA, aplicar uma cultura de IA para os responsáveis de negócio das várias indústrias https:// www.microsoft.com/pt-br/ai/ai-business-school. O ano de 2020 chega de forma mais tranquila do que a preconizada pela cultura popular mas igualmente impactante no nosso trabalho e na forma como nos relacionamos com ele e com os outros. Estamos perante a primeira revolução em que a geografia não é um fator decisivo para o sucesso. Nesse sentido, é importante sabermos reconhecer as tendências que se aproximam e tomarmos ações para nos prepararmos para o futuro. Porque esse, já chegou e espera agora para se instalar no calendário. l

“A S S I S T I M O S A D U A S TENDÊNCIAS: A NECESSIDADE D E TA L E N T O S QUALIFICADOS E A ADOÇÃO DE INTELIGÊNCIA A R T I F I C I A L ( I A ) .”

On the other hand, we find that the adoption of Artificial Intelligence is not yet consistent and clearly there in all companies thereby generating a digital divide. By 2020 we will face many questions about the implications of AI - from ethical issues to work automation - that will lead to the need for some 700,000 workers to be re-qualified in the coming decades. At Microsoft we believe we play a role, particularly in the current scenario marked by a lack of recommendations at many levels and where technology companies themselves are discussing the need for self-regulation. This reflection is all the more important when, according to a recent IDC study for Forrester, a deep crisis of digital trust is in the horizon, another trend for this decade. To address these two challenges, we recently launched an AI Business School with content available online on defining an AI strategy, applying an AI culture to business leaders across industries https://www.microsoft.com/en/ai/ai-business-school. 2020 comes more smoothly than popular culture advocates but equally impactful in our work and in the manner how we relate to each other. We are facing the first revolution in which geography is not a key factor for success. Hence the need to recognise the coming trends and take action in order to prepare for the future. Because the future is here and is only waiting to enter the calendar. l   73


DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO PAU LO S K A F, PRESIDENTE FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (FIESP)

O BRASIL ESTÁ PRONTO PARA DAR UM SALTO BRAZIL IS READY TO LEAP FORWARD

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stamos no início de um novo ciclo no Brasil. Deixamos para trás a maior crise económica da nossa história, que reduziu o Produto Interno Bruto (PIB) em 7% no biênio 2015/2016, e começamos a reconstruir a estabilidade fiscal do país, medida fundamental para a retomada do crescimento da economia. Primeiro, com a aprovação da Lei do Teto de Gastos, em 2016, que limita o aumento das despesas do governo brasileiro por 20 anos, complementada com a aprovação de uma robusta Reforma da Previdência. Agora, com o novo conjunto de propostas enviadas pelo governo ao Congresso, que dão instrumentos para uma consolidação efetiva de um novo cenário para as contas públicas nacionais. Há outras conquistas importantes de 2019 que indicam boas perspectivas para o futuro. A taxa de juros básica da economia está em 5%, o menor patamar da história. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) bate recordes. Uma série de medidas tomadas pelo governo tem melhorado o ambiente de negócios, com a redução da burocracia. A inflação está controlada e o emprego começa a reagir. Em 2020, o PIB deve avançar entre 2% e 2,5%, melhor resultado desde 2014. No âmbito internacional, após 20 anos de discussões, foi fechado o acordo comercial Mercosul-União Europeia que reunirá 730 milhões de consumidores, com um PIB agregado de US$ 21,2 trilhões. E também com os países do EFTA (a Associação Europeia de Livre Comércio), bloco formado por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein com PIB de US$ 1,1 trilhão. A abertura de novos mercados é um ponto relevante para os exportadores brasileiros. O governo federal não tem poupado esforços nesse sentido e tem investido na aproximação comercial com inúmeros países, como a China, dona de mercado consumidor de 1,4 bilhão de habitantes e que deverá atingir renda per capita de US$ 12,7 mil até 2025. Já o acordo firmado com a Arábia Saudita permitirá investimentos em infraestrutura e saneamento básico, bem como os setores de óleo e gás, inteligência artificial e defesa. Há um grande horizonte de oportunidades pela frente no Brasil. Após décadas de juros básicos de dois dígitos, 74

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e are at the beginning of a new cycle in Brazil. We left behind the biggest economic crisis in our history, which caused a reduction of 7% in Gross Domestic Product (GDP) in the 2015/2016 biennium, and we are now starting to rebuild the country’s fiscal stability, a key measure to return to economic growth. First, after the approval of the Expenditure Ceiling Act in 2016, which limits the increase of Brazilian government spending by 20 years, complemented by the approval of a robust Social Security Reform. And now with the new set of proposals sent by the government to Congress providing instruments for an effective consolidation of a new scenario as regards national public accounts. There are other important achievements in 2019 and therefore good prospects for the future. The basic interest rate of the economy is at 5%, the lowest level in history. The Sao Paulo Stock Exchange (Bovespa) is now breaking records. A number of measures taken by the government have improved the business environment by reducing bureaucracy. Inflation is under control and employment is starting to react. By 2020, GDP is expected to advance between 2% and 2.5%, the best result since 2014. At the international level, after 20 years of discussions, the MercosurEuropean Union trade agreement that will bring together 730 million consumers, with an aggregate GDP of US $ 21.2 trillion, has finally been signed and the agreement with EFTA countries (the European Free Trade Association), a bloc made up of Switzerland, Norway, Iceland and Liechtenstein with GDP of US$ 1.1 trillion. The opening of new markets is a relevant point for Brazilian exporters. The federal government has spared no effort in this regard and has invested in strengthening trade relations with number of countries, such as China, which has a consumer market of 1.4 billion and is expected to reach a per capita income of US $ 12,700 by 2025. The agreement signed with Saudi Arabia will allow investments in infrastructure and basic sanitation, in oil and gas and in artificial intelligence and defence areas. There is a great horizon of opportunities ahead in Brazil. After decades of basic double-digit interest rates, we will see some years of rates close to 5% per year, something unprecedented in the country. This allows for a sharp increase in credit to households


EUROPA, AMÉRICA DO SUL e ÁFRICA A indústria da construção é a nossa aposta desde 1962 e foi com ela que escolhemos Crescer a Fazer. Cada projeto, cada cliente, cada obra, cada colaborador, são para nós uma prioridade. Crescemos a garantir compromissos, a criar laços de confiança e relações a longo prazo.

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veremos alguns anos de taxas perto de 5% ao ano, algo inédito no país. Isso permite um forte aumento do crédito para famílias e para as pequenas empresas. Aqui, temos boas possibilidades. Possuímos um déficit de mais de 5 milhões de habitações que, com crescimento e crédito, poderão ser ofertadas por empresas brasileiras e estrangeiras que queiram vir construir o novo Brasil. Há também grande potencial no consumo das famílias nessa conjuntura de juros mais baixos e retomada da economia. Em 2018, por exemplo, apenas metade dos domicílios tinha automóveis e 65% possuíam máquina de lavar roupa. A nova demanda que virá de bens duráveis, como carros, geladeiras e fogões, entre outros, terá de ser atendida pela indústria. Este movimento resultará em mais investimentos, com novas fábricas e empresas produzindo para atender este consumidor que passou anos retraído esperando a tormenta passar. Com a aceleração da atividade econômica, que deve ocorrer em 2021 e 2022, o ciclo virtuoso de investimentos-consumo-emprego irá se propagar. Além disso, na infraestrutura, temos uma notável carteira de projetos pronta que conta com mais de cem programas em diversos segmentos. Entre todos, destaca-se a área de óleo e gás pelas inúmeras oportunidades que oferece. Mas há também, à vista, uma série de possibilidades atraentes entre renovações, novas concessões e desestatizações: 11 projetos ferroviários, 18 na malha rodoviária, 20 portuários, 22 no setor aéreo, além de inúmeras iniciativas na área de energia elétrica e de mineração. No total, esses projetos têm potencial para levantar mais de US$ 100 bilhões em investimentos. Da lista elaborada pelo governo de companhias que deverão passar para a iniciativa privada, constam empresas como Casa da Moeda, Correios, Telebras, Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores, Empresa Gestora de Ativos da União, Companhia Brasileira de Trens Urbanos, entre outras. Poucos países têm tantos bons ativos na praça como o Brasil neste momento. Esse processo privatizações e de reformas deverá se aprofundar em 2020. Uma das mais importantes é a reforma tributária, fundamental para aumentar a produtividade e a competitividade das empresas instaladas no Brasil que hoje têm de lidar com um emaranhado de normas e tributos que infernizam os empresários. O Congresso Nacional já discute duas propostas e o governo irá se juntar ao debate em breve com projetos próprios. Dessas iniciativas deverá sair o desenho de um novo sistema tributário. É preciso dar racionalidade à cobrança de impostos e ter no horizonte, uma vez alcançado o equilíbrio das contas públicas, a necessidade de reduzir a carga tributária brasileira que é uma das mais altas do mundo. O Brasil está pronto para dar um salto, superando essa agenda antiga para poder entrar de vez na quarta revolução industrial, na era da inteligência artificial e da internet das coisas. Hoje, já somos uma potência em alguns setores, como o agronegócio, com seguidos recordes de produção. Acessamos mais de 200 mercados, entre os mais exigentes do mundo, e nos tornamos os maiores exportadores líquidos de alimentos do planeta, com um valor superior ao dobro do segundo colocado. Ocupamos a primeira posição nas exportações de suco de laranja, açúcar, café, soja, carne de frango e carne bovina, para mencionar alguns destaques. Somos um país continental com mais de 8 milhões de quilômetros quadrados de área, 8,5 mil quilômetros de costa e uma população de 210 milhões de pessoas. Gente trabalhadora, ordeira e que quer prosperar, construindo este novo Brasil junto com empresas brasileiras e estrangeiras que participarem deste grande esforço de desenvolvimento e de geração de empregos. l 76

and small businesses. We have good possibilities here. We have a deficit of more than 5 million homes that, with growth and credit, may be offered by Brazilian with the help of foreign companies that want to help us build the new Brazil. There is also great potential for household consumption in this environment of lower interest rates and economic recovery. In 2018, for example, only half of the households had automobiles and 65 per cent had a washing machine. The new demand that will come from durable goods such as cars, refrigerators and stoves, among others, will have to be met by the industry. This move will result in more investment, with new factories and businesses producing to serve these consumers who have been waiting for the storm to pass. With the acceleration of economic activity, expected to take place in 2021 and 2022, the virtuous cycle of investment-consumption-employment will spread. In addition and as regards infrastructures, we have a remarkable project portfolio ready with over 100 programs in many segments. Among all, the oil and gas area stands out for the numerous opportunities it offers. But there are also a number of appealing possibilities in the horizon from renovation, new concessions and privatization: 11 rail projects, 18 in the road network, 20 ports, 22 in the air sector, as well as numerous initiatives in the area of electricity and mining. In total, these projects have the potential to raise over $ 100 billion in investments. The list prepared by the government of companies that should move to the private sector include companies such as Mint, Post Office, Telebras, Brazilian Guarantee Fund Management Agency, Union Asset Management Company, Brazilian Urban Train Company, among others. Few countries have as many good assets as Brazil at this time. This privatization and reform process is expected to increase in 2020. One of the most important is the tax reform, fundamental to increase the productivity and competitiveness of companies located in Brazil that currently have to deal with a myriad of norms and taxes that make entrepreneurs’ life very hard. The National Congress is already discussing two proposals and the government will be joining the debate soon and presenting its own projects. These initiatives should lead to the design of a new tax system. We need to bring rationality to the collection of taxes and to have on the horizon, once the public accounts are duly balanced, the need to reduce the Brazilian tax burden, which is one of the highest in the world. Brazil is ready to leap forward, giving up the old agenda in order to be able to join the fourth industrial revolution, the age of artificial intelligence and the Internet of things. Today, we are already a world power in some sectors, such as agribusiness, where production reached news heights. We have access to more than 200 markets, including the most demanding in the world and we have become the largest net food exporters on the planet with double the value of the country in the first position. We are ranked first in exports of orange juice, sugar, coffee, soy, chicken and beef, to mention a few highlights. We are a continental country with more than 8 million square kilometres, 8.5 thousand kilometres of coastline and a population of 210 million people. Working, orderly people who want to prosper, building this new Brazil together with Brazilian and foreign companies joining this great effort of development and job creation. l


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DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO PEDRO REIS, HEAD OF CORPOR ATE BUSINESS DEVELOPMENT MILLENNIUM BCP

2020: DESAFIOS E INCÓGNITAS 2020: CHALLENGES AND UNKNOWNS

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arece estar claro para (pelo menos quase) todos que o ano de 2020 a nível mundial será um ano particularmente exigente e carregado de desafios: uns mais de carácter global, outros mais de carácter local. Uns mais de carácter geopolítico ou climático ou ainda social, outros mais de carácter económico e financeiro. Para se ter presente a matriz de riscos associados a esta perspetiva geral, nada como tentar elencar os principais focos de interrogação e de pressão começando por exemplos mais sistémicos e estruturais e passando depois a alguns casos mais pontuais e conjunturais. A nível mais global, o primeiro grupo de desafios com que vamos continuar a ser confrontados em 2020 são os que se prendem com a temática do Ambiente e da Sustentabilidade: da escassez crescente de recursos à poluição espalhada pelos mais variados e recônditos ecossistemas, da falta de água às tempestades extremas, todos fatores preocupantes e em contagem descendente para a perda de controlo de forma preocupante. Quanto às questões demográficas, é também expectável que continuemos a ter de lidar a nível mundial com o drama crescente das migrações e a sua conjugação, muitas vezes abusiva, com a vertente securitária nos países de destino; face ao inverno demográfico europeu ter-se-á assim de continuar à procura do fecho equilibrado da equação intergeracional que concilie a sustentabilidade dos sistemas de segurança social com o alívio da exaustão da carga fiscal que recai sobre as classes médias. Um terceiro ponto que levanta profundas interrogações a nível mundial tem a ver com as bases do modelo social e económico a que nos habituámos nestas últimas décadas e que estão agora debaixo de escrutínio quando não mesmo de fogo: da segurança alimentar 78

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t seems clear to (almost) everyone that 2020 will be a particularly demanding and challenging year worldwide: some of these challenges are rather global, others more local in nature. Some will be more geopolitical or climatic or even social in nature, others rather economic and financial. And in order to get a clearer idea of the risk matrix associated with this general perspective, there is nothing like trying to list the main questions and pressures starting with more systemic and structural examples, moving then to more one-off and conjuncture cases. More globally, the first set of challenges we will continue to face in 2020 relates to the both the Environment and Sustainability: from the growing scarcity of resources to the pollution spread through the most varied and distant ecosystems, from the lack water to extreme storms, all this downward factors point to a worryingly loss of control. With regard to demographic issues, we will probably have to deal at world level with the growing drama of migration and its often abusive combination with the security dimension particularly in destination countries; in light if the European demographic winter, we will therefore have to seek a balance and come up with an intergenerational equation that reconciles the sustainability of social security systems with the relief of the heavy tax burden on the middle classes. A third point that raises profound questions worldwide relates to the foundations of the social and economic model we have become accustomed to in recent decades and which are now under scrutiny and often even under fire: from food security to global epidemics, from the financing model of public entities to the service levels of public providers required by citizens, from the emergence of artificial intelligence and robotisation (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


às epidemias globais, do modelo de financiamento das entidades públicas aos níveis de serviço dos prestadores públicos exigidos pelos cidadãos, da emergência da inteligência artificial e da robotização à nova configuração do modelo de trabalho, da própria matriz de formação e educação a novos trajetos de carreira que tal revolução implica. Passando a três frentes mais conjunturais de desafios com que seremos confrontados em 2020, e começando pelos focos de tensão geopolíticos, não se pode deixar de acompanhar com atenção quais serão os desenvolvimentos ou desfechos de temas como as eleições norte americanas, o Brexit, a crise na Catalunha, a situação na Venezuela, a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, as negociações entre aquele e a Coreia do Norte e o Irão, a situação na Síria e na Turquia, o caminho da estabilização no Brasil e da recuperação em África, entre múltiplos outros focos de instabilidade que urge reduzir ou esvaziar. Na frente económico financeira, de igual modo, se poderiam elencar alguns alertas mais óbvios: os sinais de abrandamento económico bastante espalhados e sincronizados, os riscos de deflação, o excesso de dívida pública e privada que amarram a recuperação pelo lado da procura condicionando por sua vez o retomar do investimento, a sustentabilidade do modelo de negócio bancário face à desregulação diferenciada dos novos agentes e a um ‘legacy’ ainda muito pesado, os desafios de complexidade crescente ao nível da cibersegurança e ainda o advento positivo e disruptivo da digitalização. Por fim será interessante de observar como se afirma a relativamente recente realidade do “impact investing” que procura assegurar a conjugação virtuosa de “profits with purpose” permitindo assim conciliar rentabilidade financeira e económica com sustentabilidade social e o bem estar das comunidades; fenómeno que, se bem conseguido, poderá fazer finalmente convergir a economia de mercado com a consciência social e a sustentabilidade ambiental. Felizmente temos, quando fazemos um certo ‘zoom out’ do próximo ano, aspetos muito importantes e positivos a considerar como sejam a consolidação de muitas democracias a nível mundial, a integração de cada vez mais economias no âmbito do comércio global, a inovação acelerada proporcionada por I&D cada vez mais abrangente e surpreendente, o aumento da luta mundial pela transparência, a globalização do investimento, o reforço das classes médias a nível planetário, a saída de milhões de pessoas do limiar da pobreza, a garantia de um Estado Social e da aplicação dos Direitos Humanos Universais para cada vez mais gente no planeta, avanços científicos que asseguram cada vez melhor nível de vida e de saúde até mais tarde, fontes de energia limpa cada vez mais disseminadas e, acima de tudo, o aumentar do nível de consciência global quanto à necessidade urgente de se agir com determinação e coragem em prol da defesa do nosso Planeta como um todo. Como sempre, estou convencido que um fator determinante para atravessar e fechar bem 2020 será mais uma vez a qualidade, a consistência e a credibilidade das lideranças: até porque o mundo está cada vez mais atento e cada vez mais exigente: face aos desafios globais está na hora de encontrar soluções globais. l

to the new configuration of the workforce model, from the training and education matrix to new career paths that such a revolution entails. Turning to three more cyclical fronts of challenges that we will face in 2020, and starting with the geopolitical hotspots of tension, one cannot help but carefully monitor the developments or outcomes of major issues such as the US elections, the Brexit, the crisis in Catalonia, the situation in Venezuela, the trade war between the United States and China, the negotiations between these and North Korea and Iran, the situation in Syria and Turkey, the road to stabilisation in Brazil and the recovery in Africa, among many other sources of instability that need to be reduced or solved. On the financial economic front, similarly we could issue more obvious warnings signs: the signs of widespread and synchronised economic slowdown, the risks of deflation, the excess of public and private debt that tie demand-side recovery, conditioning once again the resumption of investment, the sustainability of the banking business model in view of the differentiated deregulation of new agents and the still heavy legacy, the challenges of increasing complexity in cybersecurity and the positive and disruptive advent of digitisation. Finally, it’s worth mentioning the relatively recent reality of “impact investing” that seeks to ensure the virtuous combination of profits with purpose, thus allowing to reconcile financial and economic profitability with social sustainability and the wellbeing of communities; If this is successful, it can finally bring the market economy and social awareness and environmental sustainability together. Fortunately, when doing a certain ‘zoom out’ next year, we will have very important and positive aspects to consider, such as the consolidation of many democracies worldwide, the integration of ever more economies into global trade, the accelerated innovation enabled by ever more comprehensive and startling R&D, the growing global struggle for transparency, the globalisation of investment, the strengthening of the middle classes at the planetary level, the lifting of millions of people from the poverty line, the guarantee of a welfare state and application of Universal Human Rights to more and more people on the planet, scientific advances that ensure better living standards and health until a later age, increasingly widespread sources of clean energy and, above all, the rising level of consciousness as to the urgent need to act with determination and courage to defend our planet as a whole. As always, I am convinced that a key factor to cross and close 2020 well will once again be the quality, consistency and credibility of leaders: because the world is increasingly aware and increasingly demanding: in light of the global challenges it’s time to find global solutions. l 79


DOSSIÊ PREVISÕES 2020

OPINIÃO RUI MIGUEL NABEIRO, ADMINISTRADOR GRUPO N A B E I R O - D E LTA C A F É S

UM EXPRESSO CADA VEZ MAIS PERFEITO (E INOVADOR) AN EVER MORE PERFECT (AND INNOVATIVE ) ESPRESSO

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erar valor acrescentado através da disrupção aplicada a novos produtos, serviços ou processos, continua a ser uma premissa que nos ajuda a colocar e manter o Grupo Nabeiro no paradigma de inovação. Mas num sector cada vez mais dinâmico, a questão a colocar não é como, mas sim, de que forma devemos inovar? Dados recentes do International Coffee Organization mostram-nos que o consumo de café a nível global continua a aumentar. E nós portugueses não somos exceção neste “apetite” pelo café. O consumo cresce na Europa, mas também em Portugal, onde verificamos que conquista novos consumidores sendo estes cada vez mais jovens, o que nos desafia a proporcionar novos momentos de consumo. Por outro lado, não podemos esquecer a importante contribuição que o turismo tem trazido a este mercado, levando o mercado internacional a prestar maior atenção ao café produzido em Portugal. Prova disso é o contributo dado por este sector para as exportações que desde 2006, tem gradualmente conhecido uma evolução positiva, tanto em quantidade como em valor. Sabemos que temos um café de excelência, mas num mundo global e em constante mudança, 80

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enerating added value through disruption applied to new products, services or processes remains a premise that helps us place and maintain the Nabeiro Group in the innovation paradigm. But in an increasingly dynamic sector, the question is not how but rather in what way should we innovate? Recent data from the International Coffee Organization point to the fact that global coffee consumption continues on the rise. And the Portuguese are no exception as regards this “appetite” for coffee. Consumption is growing in Europe, but also in Portugal, where it’s conquering new and increasing younger consumers thereby challenging us to provide new consumption experiences. On the other hand, we must not forget the important contribution that tourism has brought to this market and as result the international market is now paying more attention to coffee produced in Portugal. Proof of this is the contribution made by this sector to exports, which since 2006 has gradually experienced positive developments, both in quantity and value. We know we have a coffee of excellence but in a changing and global world, as market players, we must promote and develop new products and ideas to help us build a sustainable future. (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


como ‘players’ do mercado, devemos promover e desenvolver novos produtos e ideias que nos ajudem a construir um futuro sustentável. As novas gerações, a influência das redes sociais, o acesso a mais informação, a crescente consciência ambiental e a constante preocupação com a saúde e o bem-estar, entre outros fatores, estão a criar tendências de consumo que influenciam a decisão de compra dos consumidores, que cada vez mais procuram produtos saudáveis, sustentáveis e exclusivos que tenham a sua própria história, interessando-se não só pelo seu preço e qualidade mas de onde vêm e de que forma são produzidos. Como empresa, temos a crescente responsabilidade de inovar e apresentar produtos com maior transparência e autenticidade, que disponham de mais informação e de mais qualidade. Trabalhando desta forma para oferecer produtos certificados, orgânicos e cada vez mais sustentáveis. Estamos por isso num momento de viragem. Há 58 que nos movemos por causas e que partilhamos este sonho: o de levar o expresso perfeito a todos os nossos consumidores. Acreditamos que o expresso perfeito lhes dará a energia para se desafiarem num mundo mais conectado e criativo. É neste caminho que continuamos a querer fazer crescer o nosso negócio, alicerçado num pilar que considero fundamental: o da inovação. A inovação não é uma atividade que possa ser vivida ou sentida apenas por parte da empresa. A inovação nasce da partilha e do confronto de ideias entre todos, cresce com os falhanços inevitáveis e com o envolvimento de cada um de nós e é por isso que criámos o nosso próprio modelo - o MIND - o Modelo de Inovação da Delta. A inovação faz parte do nosso ADN e é uma ferramenta crucial para a sobrevivência de qualquer empresa. Se não questionarmos todos os dias a nossa forma de atuação, estaremos a ceder ao conforto e à segurança, embora igualmente a contribuir para o desconforto de não conseguirmos acompanhar, ou até provocar, as mudanças que queremos no mundo. Queremos continuar a fazer a diferença e a inovar através da partilha. Como disse Peter Drucker, “a melhor maneira de criar o futuro é criá-lo”. l

“A S N O VA S G E R A Ç Õ E S , A INFLUÊNCIA DAS REDES SOCIAIS, O ACESSO A MAIS INFORMAÇÃO, A CRESCENTE C O N S C I Ê N C I A A M B I E N TA L E A C O N S TA N T E P R E O C U PA Ç Ã O C O M A S A Ú D E E O B E M - E S TA R , E N T R E O U T R O S FAT O R E S , E S TÃ O A C R I A R T E N D Ê N C I A S D E CONSUMO QUE INFLUENCIAM A DECISÃO DE COMPRA D O S C O N S U M I D O R E S .”

New generations, the influence of social media, access to more information, growing environmental awareness and constant concern for health and wellbeing, among other factors, are creating consumer trends that influence the purchasing decision of consumers who are increasingly looking for healthy, sustainable and unique products with their own history, focusing not only to price and quality but also on both the origin and the manner how they are produced. As a company, we have a growing responsibility to innovate and offer products with greater transparency and authenticity and with more information available and quality. We work this way to offer certified, organic and increasingly sustainable products. We are therefore at a turning point. We have been moved by causes for 58 years and we share this dream: to bring the perfect espresso to all our consumers. We believe that the perfect espresso will give you the energy to challenge yourself in a more connected and creative world. We want to remain on this path and keep growing our business, based on a pillar that I consider fundamental: that of innovation. Innovation is not an activity that can be experienced or felt only by the company. Innovation comes from sharing and brainstorming, grows with the inevitable failures and involvement of each other and that is why we created our own model - MIND - Delta’s Innovation Model. Innovation is part of our DNA and is a crucial tool for the survival of any company. If we don’t question the way we act every day we will be giving in to comfort and safety and contributing to the discomfort of not being able to keep up, or even bring about, the changes we want in the world. We want to continue to make a difference and innovate through sharing. As Peter Drucker once said, “The best way to create the future is to create it.” l 81


E M P R E S A S DESAFIOS FUTUROS

O QUE PRECISAM AS EMPRESAS PAR A VENCER NA NOVA DÉC ADA? W H AT D O C O M PA N I E S N E E D TO W I N IN THE NEW DECADE?

O S P R I M E I R O S S I N A I S D E A L E R TA J Á C O M E Ç A M A S O A R , M A S S E R Á Q U E A S O R G A N I Z A Ç Õ E S S E E S TÃ O A A C A U T E L A R PA R A O S D E S A F I O S Q U E A N O VA D É C A D A D E 2 0 L H E S VA I R E S E R VA R ? A B O S T O N C O N S U LT I N G G R O U P ( B C G ) D E S E N V O LV E U U M E S T U D O C O M A “ C H AV E PA R A O SUCESSO” NOS NEGÓCIOS NOS PRÓXIMOS ANOS. T H E F I R S T WA R N I N G S I G N S A R E A L R E A D Y T H E R E , B U T A R E O R G A N I Z AT I O N S G U A R D I N G T H E M S E L V E S A G A I N S T T H E C H A L L E N G E S T H AT T H E N E W D E C A D E O F 2 0 2 0 H A S I N S T O R E F O R T H E M ?

BOSTON

C O N S U LT I N G G R O U P ( B C G ) H A S D E V E L O P E D A S T U D Y W I T H T H E “ K E Y T O S U C C E S S ” I N B U S I N E S S O V E R THE NEXT FEW YEARS.

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SOFIA ARNAUD

O

s desafios e tendências das empresas mundiais prevêem-se bastante diferentes daqueles que se registaram nos últimos dez anos. Esta é uma das conclusões de um estudo realizado pela Boston Consulting Group (BCG) com a “chave para o sucesso” nos negócios nos próximos anos. No início da década de 2010, as dez empresas públicas cotadas em bolsa mais valiosas do mundo estavam sedeadas em cinco países, apenas duas delas eram do sector das tecnologias e nenhuma valia mais de US$ 400 mil milhões. Hoje, as dez primeiras estão nos EUA e na China, sendo a maioria delas empresas de tecnologia e chegam a ultrapassar um valor de US$ 1 bilião. É outra dimensão, bastante diferente de há alguns anos. As empresas têm obrigatoriamente de acompanhar a mudança para não “perderem o comboio” e vingarem no mundo dos negócios. Algumas das tendências que irão revolucionar os negócios no futuro, tornando-os cada vez mais competitivos e exigentes, já se fazem sentir hoje, como é o caso da inteligência artificial, que está a evoluir vertiginosamente e que a tendência será implementá-la em grande escala; a importância crescente da tecnologia na redefinição da natureza do trabalho, bem como no relacionamento entre a empresa e o seu capital humano; a influência da ascensão da China nas instituições e na economia global; as projecções em baixa de crescimento global de longo prazo, impulsionadas por uma desaceleração contínua no crescimento da população em idade activa nas principais economias e a ameaça do impacto social da tecnologia. Estas são apenas algumas das tendências que já são notórias e que irão exigir por parte dos líderes empresariais uma postura proactiva na preparação das suas empresas para a próxima década. De acordo com o estudo da BCG, as empresas devem estar preparadas para prosperar num cenário de rápida evolução como a que se antevê para os próximos anos, para isso os seus líderes deverão tomar as duas decisões com base em cinco pilares fundamentais: Apostar numa nova lógica de competição; Projectar a empresa do futuro; Potenciar a mudança organizacional; Abraçar a diversidade; e Optimizar valores sociais no negócio. l

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he challenges and trends of global companies are expected to be quite different from those of the last ten years. This is one of the conclusions of a study by Boston Consulting Group (BCG) with the “key to success” in business in the coming years. At the beginning of the 2010s, the world’s ten most valuable publicly traded companies were based in five countries, only two of them from the technology sector and none worth more than $ 400 billion. Today, the top ten are in the US and China, most of them are technology companies, and exceed $ 1 billion. It’s another dimension, quite different from a few years ago. Companies must keep up with the change so they don’t “miss the train” and may succeed in the business world. Some of the trends that will revolutionise business in the future, making them increasingly competitive and demanding, are already being felt today, as is the case with artificial intelligence, which is evolving dramatically and the trend will be to implement it on a large scale; the growing importance of technology in redefining the nature of work, as well as in the relationship between companies and their human capital; the influence of China’s rise in institutions and the global economy; the long-term downward projections of global growth, driven by a continued slowdown in working-age population growth in major economies and the threat of the social impact of technology. These are just some of the already noticeable trends that will require business leaders to be proactive in preparing their companies for the next decade. According to the BCG study, companies must be prepared to thrive in a rapidly evolving scenario as can be anticipated in the years to come and so therefore their leaders must make both decisions based on five fundamental pillars: Betting on a new competition logic; Design the company of the future; Enhance organisational change; Embrace diversity; and Optimize social values in the business. l 83


E M P R E S A S DESAFIOS FUTUROS

CINCO PIL ARES PARA VENCER NA DÉCADA DE 2020 FIVE PILLARS TO WIN IN THE 2020’S - Apostar numa nova lógica de competição As empresas competem na aprendizagem, na resiliência, na imaginação e na capacidade de alavancar ecossistemas e na ligação entre o mundo físico e o mundo digital. As mais recentes tecnologias, incluindo sensores, ‘Internet of Things’ e Inteligência Artificial, permitem obter um aumento exponencial de dados e melhores ferramentas para extrair ‘insights’ desses dados. - Bet on a new logic of competition Businesses compete in learning, resilience, imagination and the ability to leverage ecosystems and in linking the physical world with the digital world. The most recent technologies, including sensors, Internet of Things and Artificial Intelligence, allow for exponential data growth and better tools for extracting insights from such data.

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- Projetar a empresa do futuro Para competir nos próximos anos, as empresas requerem uma acção mais rápida para vencer a concorrência. A tecnologia é importante, mas torna-se fundamental descobrir a combinação mais eficaz entre Lorem ipsum dolore sit amet, con sectetur adip isicing elit. inteligência humana inteligência artificial. Dolorum dolorem illo mole stiae itaque iure voluptatum - Design the company of the future Ineius order to compete in the coming years companies willmole need stiae to act faster to beat the competition. Teneces sita tibus illum, ullam bae, error n illo chnology is important, but it’s critical to find the most effective combination of human intelligence and itaque iure voluptatum eius neces sita tibus illum illo mole artificial intelligence.

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- Potenciar a mudança organizacional Muitas empresas são avessas a grandes mudanças. Quando o negócio está a correr bem, para quê mudar? Este é um erro, ficar parado não é opção. As empresas precisam de ferramentas de transformação Lorem ipsum sit amet, Há conevidências secteturcrescentes adip isicing elit.funciona e do que não funciona quando que possam usardolor repetidamente. do que Dolorum mole stiae itaque iure voluptatum se trata de dolorem mudança illo organizacional. eius neces sita tibus illum, ullam bae, error n illo mole stiae - Enhance organisational change Many companies are averse to big changes. going well, why change? This is a mistake. itaque iure voluptatum eius neces sita When tibus business illum illoismole Standing still is not an option. Companies need transformation tools that they can use on an ongoing stiae itaque iure voluptatum eita tibus illumam max. basis. There is growing evidence of what works and what doesn’t when it comes to organisational change.

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- Abraçar a diversidade As empresas que aumentam a diversidade do seu capital humano potenciam novas perspectivas de negóLorem ipsum dolor sit amet, con secteture adip elit.de suportar o inesperado. cios, aumentam a sua capacidade de inovação a suaisicing capacidade

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- Embrace Diversity eius necesthat sitaincrease tibus illum, ullam of bae, error n illo molepotentiate stiae new business prospects; increase Companies the diversity their human capital itaque iure voluptatum eius neces sita tibus illum illo mole their capacity for innovation and their ability to withstand the unexpected.

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- Optimizar valores sociais no negócio Nenhum negócio é uma ilha. As organizações só podem prosperar a longo prazo se tiverem uma relação Lorem ipsum sit amet, conpolíticos secteture ambientais adip isicingonde elit.se inserem. sustentável comdolor os sistemas sociais,

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- Optimize social values in business eius neces sita tibus illum, ullam bae, error n illo mole stiae No business is an island. Organisations can only prosper in the long run only if they have a sustainable itaque iurewith voluptatum neces tibus illum systems illo molein which they operate. relationship the social,eius political andsita environmental

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R E P O R TA G E M N ATA L

SAMCHULLY

NATAL PELO MUNDO CHRISTMAS AROUND THE WORLD A S C E L E B R A Ç Õ E S D E N ATA L VA R I A M C O N S O A N T E O PA Í S . OS

COSTUMES

E

TRADIÇÕES

SÃO

DIVERSOS,

MAS

O

O B J E C T I VO É I G UA L E M TO D O O M U N D O : U N I R A FA M Í L I A E C O N F R AT E R N I Z A R . P OR T U G AL Num país maioritariamente católico como Portugal, o Natal tem fortes tradições. As famílias reúnem-se na noite de 24 de Dezembro para a missa do Galo e para a consoada, tendo o bacalhau como prato tradicional. No dia 25, a tradição é o peru recheado, embora no Norte há quem opte pelo polvo. Os doces como as filhoses e as fatias douradas são populares em todo o país. Os presépios têm forte tradição de Norte a Sul do país. No Algarve é costume montar-se um presépio em escadinha, com o menino Jesus em pé no alto, rodeado de laranjas, flores e searas. A troca de presentes é feita na noite do dia 24 ou na manhã do dia 25 de Dezembro.

ES PANHA Tal como em Portugal, também em Espanha as famílias reúnem-se para a ceia de Natal e para depois assistem à tradicional missa do Galo na véspera de Natal. No entanto, a troca de presentes só se realiza no dia 6 de Janeiro, dia de Reis. Na mesa natalícia é possível encontrar-se o presunto “pata negra”, mariscos e peixes, paella, cordeiro assado, o torrone (doce feito de amêndoas e açúcar) e o roscón de reyes (bolo tradicional de Natal com frutos secos e cristalizados).

ITÁ L IA É um Natal marcadamente religioso e a maioria das famílias assistem à missa da Meia-noite. Tal como em Espanha, é necessário esperar pelo dia 6 de Janeiro para abrir os presentes. Na mesa natalícia italiana encontram-se diversos pratos de peixes, nomeadamente enguias e bacalhau, massas, peru recheado e o panettone, um doce de Natal original de Milão que já se difundiu por todo o país.

GR Ã- BR E TANH A As crianças penduram meias junto à lareira para o Pai Natal colocar os presentes para serem abertos na manhã do dia 25. A refeição mais importante é o almoço do dia de Natal, onde reinam o peru com batatas assadas e o Christmas Pudding, para sobremesa.

S UÉ C IA Neste país da Europa, o frio é intenso no Natal e as crianças acreditam que são duendes que lhes levam as ofertas natalícias. Nos países escandinavos as comemorações iniciam-se a 13 de Dezembro, quando se celebra o dia de Santa Luzia. É tradição a filha mais velha vestir-se de branco, colocar uma coroa de velas na cabeça e acordar o país com uma canção. 86


A LEMANH A A árvore de Natal e as coroas do advento são os ‘ex-libris’ do Natal alemão, não tivesse a tradição da árvore de Natal nascido neste país, no século XVI. No entanto, existe uma particularidade, os alemães colocam um ‘pickle’ na decoração da árvore de Natal, que deve ser de vidro, segundo a tradição. As coroas do advento são típicas e as quatro velas que as compõem devem ser acesas, uma de cada vez, nos quatro domingos que antecedem o Natal. No que diz respeito a pratos típicos, o destaque vai para os pratos de carne de porco, enchidos, chouriços e, como não podia deixar de ser, para as salsichas. O bolo stollen, confecionado com uvas, amêndoas e cerejas, é muito popular, assemelhando-se a um bolo-rei mais alongado, em forma de torta.

FRANÇA Como em outros países europeus, as famílias católicas vão à missa da Meia-noite e depois juntam-se à mesa para cear. Os pratos típicos variam entre regiões. Em Paris, por exemplo, o prato mais tradicional é feito à base de ostras, enquanto na Alsácia o ganso é o prato de eleição. O peru assado acompanhado por castanhas cozidas também é muito apreciado no país. Em França é tradição fazer as pazes com o inimigo no dia de Natal. A reconciliação é brindada com vinho e, muitas vezes, acompanhada com crepes.

F I NL ÂNDI A É a terra do Pai Natal. A quadra decorre no cenário que compõe qualquer imaginário infantil, com neve na rua e a lareira de casa acesa. O abeto é a árvore do Natal. A troca de presentes decorre na noite de 24 para 25 de Dezembro, quando a família se reúne para a refeição principal. A gastronomia tradicional nesta quadra passa por purés variados, a salada de beterraba, o salmão cru salgado, o arenque e a perna de porco assada. A sobremesa inclui biscoitos de gengibre, creme de ameixas e doces com molhos de frutos. Como está muito frio, é usual os finlandeses fazerem sauna nesta data.

NOR UEGA Na Noruega escondem-se as vassouras na noite de Natal. Os noruegueses acreditam que, durante a noite de consoada, as bruxas e os espíritos endiabrados andam nas ruas a festejar. É tradição a família juntar-se à mesa e saborear smalahove, cabeça de cabra cozida acompanhada de trufas de rutabaga (produto da região) e batatas.

EUA A música alusiva à época tem um papel preponderante nos EUA. Na véspera de Natal juntam-se para cantar as “Christmas Carols”, as tradicionais músicas de Natal, tal como acontece em Inglaterra. As tradições são levadas muito a sério, nomeadamente a ceia de Natal, os presentes e o pinheiro decorado. À mesa encontram-se diversas tradições gastronómicas, uma vez que os Estados Unidos integram uma grande multiplicidade de culturas.

JAPÃO Apesar de ser um país de fraca tradição católica, no Japão o Natal tem vindo a ganhar força com a influência americana, desde a Segunda Guerra Mundial. Apenas 1% da população é cristã, porém os japoneses foram receptivos a algumas tradições, tais como ceia de natal, o pinheiro e os presentes. Quanto à gastronomia, os japoneses que festejam o Natal importaram os hábitos ocidentais, incluindo a refeição do Peru, por exemplo, mas colocam também na mesa de Natal o sushi e o sashimi. 87


R E P O R TA G E M N ATA L

NATAL PELO MUNDO CHRISTMAS AROUND THE WORLD

AU S T R ÁL IA Na Austrália esta época está associada a temperaturas elevadas e as famílias festejam a quadra com piqueniques e idas à praia. Nas celebrações junto ao mar, é habitual verem-se Pais Natal surgirem em pranchas de surf ou em barcos salva-vidas. A troca de presentes acontece no dia 25.

MÉXI C O No México existem as tradicionais “Posadas”, festas que decorrem de 16 a 24 de Dezembro, e nas quais se conta ao pormenor a história de Maria e José, os pais do Menino Jesus. Nestas festas é obrigatória a Piñata, um jogo típico no qual existe um pote de barro suspenso, cheio de guloseimas no interior, que as crianças tentam quebrar de olhos vendados com um pau.

U R U G U AI As famílias reúnem-se em casa dos avós ou parentes mais velhos. É tradição a “picadita”, que consiste na preparação e degustação de aperitivos frios, queijos, uísques, vinhos, pedaços de cordeiro ou leitão antes da ceia e ao longo da noite de Natal.

VEN E ZU E L A Na Venezuela, na semana que antecede o Natal, é costume ir à missa de patins. Entre os dias 16 e 24 de Dezembro, muitos venezuelanos têm o hábito de ir à primeira missa do dia, apelidada de Missa de Agrinalda. Na Venezuela, a hallaca, feito de massa de milho recheada com ensopado de carne e enrolado em folhas de bananeira, é um prato típico que se come todo o ano mas que ganha especial protagonismo no período natalício.

BR AS IL Mais um país onde o Natal decorre no Verão. É frequente a troca de presentes através de um amigo secreto. O peru já faz parte da mesa de Natal acompanhado por frutas tropicais.

Á FRIC A A minoria católica do continente celebra a data substituindo o tradicional pinheiro pelo cipreste. Na mesa é costume estar o cozido, no caso dos cabo verdianos, cabrito assado, no caso dos moçambicanos e pratos vegetarianos com mandioca, os preferidos dos angolanos. Muitas famílias realizam a festa de Natal ao ar livre por estar calor.

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SOFIA ARNAUD

o longo dos tempos foram criados vários costumes para tornar o Natal numa celebração mágica. A tradição do presépio teve origem no século XIII e deve-se a São Francisco de Assis. São Nicolau, no século IV, foi inspiração para a criação do Pai Natal. As músicas de Natal são uma tradição antiga e bastante difundida entre os países cristãos, tanto católicos como protestantes, e muitas delas foram escritas por compositores sem fé. Bolas e enfeites coloridos, tudo isto faz parte do Natal de hoje, tão diferente do que era celebrado há alguns anos. A história do Natal é controversa desde os seus primórdios. Antes do nascimento de Jesus, o Natal teve início com os europeus, que já celebravam a chegada dos dias mais longos. Era uma comemoração pagã do “Retorno do Sol”, vista de forma negativa pela igreja católica. No início era uma festa sem data fixa, cada país do mundo tinha o seu dia de celebração. No século IV, o Papa Júlio I muda para sempre esta condição, sendo fixada a celebração do Natal no dia 25 de Dezembro. A ideia era substituir os rituais pagãos, ocorridos no solstício, por uma festa cristã. No século XVI, os cristãos abandonaram o calendário Juliano e adoptaram o Gregoriano. Com isto, o dia 25 de Dezembro do calendário Juliano passou a corresponder ao dia 7 de Janeiro do Gregoriano. É por isso que, actualmente, ainda há alguns sectores da igreja que festejam o Natal nesta última data. As tradições à volta do Natal são muito antigas. Ao longo dos anos tem vindo a assistir-se a uma evolução destas tradições e costumes. Apesar do Natal, hoje em dia, ser celebrado em praticamente todo o mundo. Em Belém, a cidade onde Jesus nasceu, o Natal é comemorado com peregrinos e tribos árabes da região,

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ver time many various customs have been established and turned Christmas into a magical celebration. The tradition of the crib began in the thirteenth century thanks to St. Francis of Assisi. St. Nicholas, in the fourth century, was an inspiration for the creation of Santa Claus. Christmas carols are an old tradition in Christian countries, both Catholic and Protestant, and many of them were written by faithless composers. Colourful balls and ornaments are all part of today’s Christmas, very different from what was celebrated a few years ago. The history of Christmas is controversial from its earliest days. Before Jesus was born, Christmas began with the Europeans, who celebrated already the arrival of the longest days. It was a pagan celebration of the “Return of the Sun,” viewed negatively by the Catholic church. At first it was a festivity with no fixed date and every country in the world had its celebration day. In the fourth century, Pope Julius I changed this for good with the celebration of Christmas on the 25th of December. The idea was to replace pagan solstice rituals with a Christian festival. In the 16th century, Christians abandoned the Julian calendar and adopted the Gregorian calendar. The 25th of December of the Julian calendar is thus now the 7th of January of the Gregorian calendar. That’s why there are still some sections of the church celebrating Christmas on this latter date. The traditions around Christmas are very old. Over the years there has been an evolution of these traditions and customs. But Christmas today is celebrated practically all over the world. In Bethlehem, the city where Jesus was born, Christmas is celebrated with pilgrims and Arab tribes from the region who

M I S S A D O G A L O C E L E B R A D A P E L O PA PA F R A N C I S C O

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R E P O R TA G E M N ATA L que se ajoelham na cripta da capela dos franciscanos para adorarem o berço de Jesus, que, segundo a tradição, é montado na igreja na noite de 24 para 25 de Dezembro. Terminada a missa, os franciscanos oferecem uma ceia aos peregrinos: pão preto e vinho. Na Península Ibérica, as tradições são muito semelhantes entre si. Presépios e festas repletas de esplendor, alegria e imaginação, onde a família é a protagonista. A consoada, com os seus pratos e doces tradicionais, a missa do Galo, a árvore de Natal, o azevinho e os presentes fazem parte de toda esta quadra. Nos países escandinavos, as comemorações do Natal têm início a 13 de Dezembro, data em que se celebra o dia de Santa Luzia. Esta é uma data especial no calendário escolar. As crianças vestem-se de branco e caminham pela escola, asilos ou hospitais cantando os hinos de Santa Luzia. Na Suécia a tradição é muito semelhante à do resto dos países ocidentais, com a diferença de começar no dia 6 de Dezembro, dia de São Nicolau. Neste dia é feita uma troca de doces e nozes e também uma procissão na rua. Na noite de Natal, a filha mais velha da família veste-se de branco com uma faixa encarnada à cintura e uma grinalda de folhas verdes com sete velas acesas na cabeça. Na Rússia, o Natal pode também ser comemorado a 7 de Janeiro, isto porque a igreja ortodoxa russa, que acolhe 39% dos cristãos ortodoxos do mundo, usa o antigo calendário Juliano para os dias de celebração religiosa. O Natal americano, famoso em todo o mundo, é perpetuado de cor e brilho. Semanas antes do Natal, as ruas enchem-se de pessoas, luzes coloridas, bonecos de neve e velas encarnadas, que dão vida às lojas e aos centros comerciais. Na véspera de Natal juntam-se para cantar as “Christmas Carols”, as tradicionais músicas de Natal, tal como acontece em Inglaterra. As tradições são levadas muito a sério, nomeadamente a ceia de Natal, os presentes e o pinheiro decorado. A Venezuela e a Finlândia são, sem dúvida, os países com as tradições mais peculiares. A população venezuelana tem por hábito ir à missa de Agrinalda, a primeira missa do dia no período entre 16 e 24 de Dezembro. O trânsito é

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kneel in the Franciscan chapel crypt to worship the cradle of Jesus, which, according to tradition, is to be set up in this church on the night of 24 to 25 December. After Mass, the Franciscans offer pilgrims supper: black bread and wine. In the Iberian Peninsula, traditions are very similar to each other. Nativity scenes and festivities full of splendour, joy and imagination, where the family is the protagonist. Christmas Eve, with its traditional dishes and sweets, the Rooster Mass on Christmas Eve, the Christmas tree, holly and gifts are all part of this season. In Scandinavian countries, Christmas celebrations begin on the 13th of December, the date when Saint Lucy is celebrated. This is a special date on the school calendar. Children dress in white and walk through school, nursing homes or hospitals singing the hymns of Santa Lucy. In Sweden the tradition is very similar to that of the rest of the western countries, except that it begins on December 6, on St. Nicholas Day. On this day people offer sweets and nuts and also a procession takes place in the streets. On Christmas Eve, the oldest daughter in the family dresses in white with a red band around her waist and a wreath of green leaves with seven candles burning on her head. In Russia, Christmas can also be celebrated on January 7, because the Russian Orthodox Church, which gathers 39% of the world’s Orthodox Christians, uses the ancient Julian calendar as regards religious celebration days. American Christmas, famous around the world, is perpetuated in colour and brightness. Weeks before Christmas, the streets are filled with people, colourful lights, snowmen and red candles that bring stores and shopping centres to life. On Christmas Eve they get together to sing the “Christmas Carols”, the traditional Christmas songs, like they do in England. Traditions are taken very seriously, namely Christmas dinner, gifts and decorated pine tree. Venezuela and Finland are undoubtedly the countries with the most peculiar traditions. The Venezuelan population has the habit of attending the Mass of Agrinalda, the first mass of the day in there period between 16 and 24 December. Traffic is closed and children and teenagers take to the mass in rollerblades. In Finland, Christmas Eve is the day to go


F E S TA D O S R E I S M A G O S E M E S PA N H A

fechado e as crianças e adolescentes vão à missa de patins. Na Finlândia, a véspera de Natal é dia de frequentar saunas e de homenagear os falecidos com uma visita ao cemitério, duas tradições que os finlandeses fazem questão de não perder. Mais do que em outro lugar, na Alemanha o Natal é das crianças. Antes de irem para a cama colocam os sapatos à porta do quarto e no dia de Reis mascaramse de Reis Magos e escrevem as suas iniciais na porta de casa. A árvore de Natal, ao contrário de outros sítios, é enfeitada no fim do mês de Dezembro. Em França é dado especial destaque ao presépio, com figuras de barro feitas por artesãos do Sul de França, verdadeiras criações artísticas que se têm mantido com o passar de gerações desde o século VII. Já a árvore de Natal tem uma importância irrelevante no Natal francês. Em algumas regiões francesas há um Natal antecipado para as crianças. Os adultos geralmente esperam pelo Ano Novo para a troca de presentes. Em Itália são disparados os canhões do castelo Sant’Angelo na véspera de Natal, para anunciar o início das festas. A troca de presentes só é feita a 6 de Janeiro na festa da Epifania, uma celebração que recorda a visita dos Reis Magos ao Menino Jesus. No Japão, o Natal tem vindo a ganhar força com a influência americana, desde a Segunda Guerra Mundial. Apenas 1% da população é cristã, porém os japoneses foram receptivos a algumas tradições, tais como a ceia de natal, o pinheiro e os presentes. Mas nem sempre o Natal tem uma conotação com o frio. Na Austrália e na África do Sul é Verão. As temperaturas por vezes ultrapassam os 30 graus, as festividades natalícias são feitas na praia ou na rua e os presentes são dados na manhã do dia 25. Desde 1875, que o Natal no Canadá perdeu toda a sua essência religiosa. Começaram a enraizar-se novos costumes e tornou-se tudo muito mais familiar. O pinheiro é decorado, compram-se ou fazem-se presentes para oferecer, que serão abertos no dia de Natal. Na Polónia, esta época de ano é considerada excepcional. Segundo a crença popular é nesta altura que se dá a renovação das forças vitais, perdidas com o ano que passou, com um conjunto de rituais, costumes e práticas mágicas.

to saunas and to honour the deceased with a visit to the cemetery, two traditions that Finns are keen not to miss. More than anywhere else in Germany Christmas is for children. Before going to bed they put their shoes at the bedroom door and on Kings Day they dress up as Wise Men and write their initials on the door. The Christmas tree, unlike in other places, is decorated at the end of December. In France special attention is given to the crib, with clay figures made by artisans from the south of France, true artistic creations that have been kept for generations since the 7th century. As for the Christmas tree it has an irrelevant importance in French Christmas In some French regions there is an early Christmas for children. Adults usually wait for the New Year to exchange gifts. In Italy the cannons of the Sant’Angelo castle are fired on Christmas Eve to announce the beginning of the holidays. The exchange of gifts is only made on January 6 at the feast of the Epiphany, a celebration that recalls the visit of the Wise Men to the Child Jesus. In Japan, Christmas has been gaining momentum with American influence since World War II. Only 1% of the population is Christian, but the Japanese were receptive to some traditions such as Christmas dinner, the pine tree and gifts. But Christmas doesn’t always have a connotation with the cold. In Australia and South Africa it’s summer. Temperatures sometimes exceed 30 degrees, Christmas festivities are held on the beach or on the street and gifts are given on the morning of the 25th. Since 1875, Christmas in Canada has lost all its religious essence. New customs began to take root and everything became much more familiar. Pine trees are decorated, gifts are bought or made to offer and which will be open on Christmas day. In Poland, this time of year is considered exceptional. According to popular belief it’s at this time that the renewal of vital forces, lost over the past year, with a set of rituals, customs and magical practices occurs.

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R E P O R TA G E M N ATA L O Natal comemorado em países não cristãos Ao contrário do que acontece nos países onde a principal religião é o cristianismo, onde o Natal é vivido com grande intensidade, nos países onde predominam religiões não cristãs, e onde nem sequer este dia é oficialmente feriado, os cristãos celebram a data discretamente. O Natal na China tem uma particularidade, todas as decorações são feitas em papel, inclusivamente as lanternas que iluminam as casas e as árvores de Natal, conhecidas por “Árvores Luz”. As crianças penduram meias e ficam à espera do Pai Natal, a quem chamam Dum Che Lao Ren. As menções ao Natal podem ser vistas em decorações de centros comerciais e hotéis onde se hospedam ocidentais. Porém, o Partido Comunista chinês vem impedindo que os cristãos façam qualquer manifestação religiosa ao ar livre. Quem desejar comemorar a data terá do fazer em suas casas. A grande festa é, no entanto, o Ano Novo Chinês, no fim do mês de Janeiro.

Christmas celebrated in non-Christian countries Contrary to what happens in countries where the main religion is Christianity, where Christmas is lived with great intensity, in countries where non-Christian religions predominate, and where this day is not even officially a holiday, Christians discreetly celebrate this date. Christmas in China has a particular feature: all decorations are made of paper, including lanterns that illuminate the houses and Christmas trees, known as “Light Trees”. The children hang socks and wait for Santa, whom they call Dum Che Lao Ren. Mentions of Christmas can be seen in decorations of Western shopping centres and hotels. However, the Chinese Communist Party has been preventing Christians from holding any religious demonstrations outdoors. Anyone wishing to celebrate the date will have to do it in their homes. The big festivity is,

O N ATA L E M O U T R A S R E L I G I Õ E S Quando se fala de Natal, quase automaticamente remetemos à ideia do nascimento de Jesus Cristo, numa assimilação automática que se trata de uma festa tradicionalmente cristã, inclusive há a ideia equivocada de que os países não-cristãos não comemoram a data. Outras religiões também comemoram o Natal, ou pelo menos de maneira semelhante: JUDAÍSMO Os judeus não creem em Jesus como o Messias, realizando as festividades natalícias com um motivo diferente dos cristãos. A celebração dos judeus chama-se Hanuká e comemora a reconquista do templo judaico que estava em poder dos selêucidos. ISLAMISMO Para os muçulmanos (como são conhecidos os adeptos do Islamismo), o Messias é o profeta Maomé e o Deus cristão para eles é chamado de Alá, então existindo também a comemoração do Natal para celebrar o nascimento de Cristo, mas existe a prática da troca de presentes nessas datas. No caso do Islamismo há duas festas chamadas Eids: a Eid-ul-Fitr, que celebra a existência ou a chegada do livro Alcorão, que seria “a bíblia islâmica”, e o Eid-ul-Adha, conhecida como “festa do sacrifício”. BUDISMO O Natal para os budistas é o que mais se assemelha ao Cristianismo, só que ao invés de comemorarem o nascimento de Cristo, o Budismo festeja a 8 de Abril o nascimento de Sidarta Gautama, que é o nome real de Buda. A celebração é chamada de Hana Matsuri. HINDUÍSMO No hinduísmo comemora-se o Diwalli, um festival de cinco dias que tem, basicamente, o mesmo significado do Natal para os cristãos. Os hindus comemoram o Diwalli, também denominado “Festa das Luzes”, com toda a família e é uma das festividades mais importantes para essa religião. PROTESTANTISMO Embora seja uma religião cristã, é subdividida em diversas “visões” da Bíblia. Algumas comemorem o Natal como os católicos, outros comemoram fazendo uma reflexão sobre a presença de Cristo na terra, um fundamento para não comemorar a data tal como é comemorada no catolicismo. TAOÍSMO O taoísmo, religião maioritariamente seguida na China, não tem qualquer celebração no Natal. No entanto, a religião tem inúmeras datas onde se comemora o nascimento de grandes mestres ou a sua ascensão. 92


Apesar dos poucos cristãos no Iraque, para estes a principal tradição natalícia é uma leitura da bíblia feita em família e o “toque da paz”, uma bênção que as pessoas recebem de um padre. Também na Índia, o Natal é celebrado de um modo bem diferente. Os cristãos indianos usam plantas nativas do país para a decoração da casa, como folhas de bananeira. Na Tunísia apenas 1% da população é cristã. Essas pessoas costumam celebrar o Natal em comunidade e reúnem-se a partir do dia 23 de Dezembro. No dia 24 o Natal é comemorado nas igrejas. Muitas vezes existe uma ideia de que o Natal tal como o conhecemos se trata de uma celebração mundial. No entanto, é importante lembrar que existem países onde não se pode comemorar esta data, ficando muitos cristãos impedidos de fazer qualquer menção a Jesus, seja por questões religiosas ou determinações dos governos. l

however, the Chinese New Year, at the end of January. Despite few Christians in Iraq, for them the main holiday tradition is a family bible reading and the “touch of peace,” a blessing people receive from a priest. Also in India, Christmas is celebrated in a very different way. Indian Christians use native plants of the country for home decoration, such as banana leaves. In Tunisia only 1% of the population is Christian. These people usually celebrate Christmas in community and meet from December 23rd. On the 24th Christmas is celebrated in churches. There is often an idea that Christmas as we know it is a worldwide celebration. However, it’s worth remembering that there are countries where this date cannot be celebrated, and many Christians are prevented from mentioning Jesus, either for religious reasons or governmental orders. l

CHRISTMAS IN OTHER RELIGIONS When we talk about Christmas, we almost automatically refer to the idea of the birth of Jesus Christ, in an automatic assimilation that it’s a traditional Christian festivity, including the mistaken idea that non-Christian countries don’t celebrate this date. Other religions also celebrate Christmas, or at least in a similar way: JUDAISM Jews don’t believe in Jesus as the Messiah, celebrating Christmas festivities for a different reason than Christians. The celebration of the Jews is called Hanukah and commemorates the reconquest of the Jewish temple that was in the hands of the Greeks. ISLAMISM To Muslims (as the adherents of Islam are known), the Messiah is the Prophet Muhammad and the Christian God is called Allah, so there is also the celebration of Christmas to celebrate the birth of Christ, but there is the practice of exchange of gifts on those dates. In the case of Islam there are two festivals called Eids: the Eid-ul-Fitr, which celebrates the existence or arrival of the book Quran, which would be “the Islamic bible”, and the Eid-ul-Adha, known as the “festival of sacrifice”. “ BUDDHISM Christmas for Buddhists is what most closely resembles Christianity, but instead of celebrating the birth of Christ, Buddhism celebrates on 8 April the birth of Siddhartha Gautama, which is the real name of Buddha. The celebration is called Hana Matsuri. HINDUISM In Hinduism , Diwalli is celebrated, a five-day festival that basically has the same meaning as Christmas for Christians. Hindus celebrate Diwalli, also called the “Feast of Lights”, with the whole family and is one of the most important festivities for this religion. PROTESTANTISM Although a Christian religion, it is subdivided into several “visions” of the Bible. Some celebrate Christmas like Catholics, others celebrate by reflecting on the presence of Christ on earth, a foundation for not celebrating the date as celebrated in Catholicism. TAOISM Taoism, the religion mostly followed in China, has no celebration at Christmas. However, religion has numerous dates in which the birth of great teachers or their ascension is celebrated.

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R E P O R TA G E M N ATA L Cada lugar do mundo tem as suas particularidades durante as datas comemorativas, e mesmo dentro de cada país o Natal pode ser festejado de várias formas consoantes as regiões e de acordo com as comunidades existentes em cada um destes lugares. O Alentejo é um destes casos, onde a quadra festiva é comemorada como é tradição em Portugal, mas tem também alguns costumes fruto das comunidades que acomoda. Nesta região, durante a quadra do Natal, existe uma celebração que tem vindo a atrair seguidores de todo o mundo.

Um Natal único no Alentejo

Em pleno Alentejo, o ashram e centro de retiros, Monte Sahaja, celebra o Natal como uma época em que nos unimos no amor e espírito de Jesus Cristo. Nesta época do ano, o Monte Sahaja reúne-se alegremente com a população da sua aldeia local, São Martinho das Amoreiras, para desfrutar das festividades natalícias em família. Ao longo do ano, o Monte Sahaja é visitado por pessoas de contextos culturais e religiosos muito diversos. Os visitantes vêm conhecer e aprender com Mooji, professor espiritual da filosofia ancestral Advaita Vedanta mundialmente conhecido. Mooji é oriundo de um meio cristão e tem profunda reverência e amor pelos ensinamentos e espírito de Cristo. Ele vê o Natal como um momento sagrado em que se honra e celebra Cristo e a sua contribuição inestimável para a elevação da Humanidade. Da mesma forma, há no Monte Sahaja um grande respeito, devoção e amor por Jesus e pelos muitos santos e sábios que abençoaram o mundo. Nos dias que antecedem o Natal, a comunidade do Monte Sahaja junta-se à comunidade local para fazer desta altura do ano uma época especial: há presentes, o Coro do Sahaja ensaia para o concerto musical na aldeia, e alguns indivíduos talentosos preparam as suas atuações para a celebração da noite de Natal. Há até alguém do Monte Sahaja que se transforma em Pai Natal e visita o mercado de Natal local para oferecer presentes às crianças. O Monte Sahaja também é decorado com lindos elementos naturais recolhidos na região: pedaços de madeira de oliveira e de cortiça, folhas, flores, pinhas e até frutos cítricos secos. Estes objetos são pintados, combinados harmoniosamente e pendurados por toda a propriedade, ao mesmo tempo em que uma árvore de Natal é iluminada na área central. À medida que nos aproximamos do Natal, podemos ouvir as vozes do Coro do Sahaja que se estendem por todo o ashram durante os ensaios para o concerto de Natal que acontece todos os anos na igreja de São Martinho. Este concerto é inspirado em canções relacionadas com Cristo e desfrutado pela comunidade local portuguesa, por Mooji e por toda a gente do Monte Sahaja que adora fazer parte do evento. A véspera de Natal é celebrada com um espetáculo de variedades que inclui atuações das crianças, canções provenientes de várias culturas e a visita do Pai Natal que aparece acompanhado por um grande saco de prendas para distribuir por toda a gente. Na noite de Natal, amigos e famílias de várias aldeias vizinhas como a Aldeia das Amoreiras, Amoreiras-Gare, Garvão e Colos juntam-se àqueles que vivem no Monte Sahaja — uma comunidade enriquecida e unida pelo verdadeiro espírito do Natal. l 94

A unique Christmas in Alentejo

In the heart of Alentejo, the ashram and retreat centre of Monte Sahaja celebrates Christmas as a time to rejoice in the love and spirit of Jesus Christ. Monte Sahaja joyfully comes together as one family with their local village, São Martinho das Amoreiras, to join in the Christmas festivities. Monte Sahaja is visited throughout the year by people from a vast range of cultural and religious backgrounds who come to meet and learn from Mooji, a world-renowned spiritual teacher of the ancient philosophy of Advaita Vedanta. Mooji himself comes from a Christian background and has a deep reverence and love for the teachings and spirit of Christ. Christmas is held as a sacred time to honour Christ, and to celebrate his presence and invaluable contribution to the upliftment of humanity. Accordingly, in Monte Sahaja there is a great respect, devotion and love for Christ and also the many saints and sages that have blessed the world. Leading up to Christmas, Monte Sahaja joins with their local community to make Christmas a truly special time: gifts, the Sahaja Choir practices for a musical concert in the village, and talented individuals prepare performances for the Christmas Eve celebrations. Someone from Monte Sahaja even transforms into Santa Claus and visits the local Christmas market with gifts for the children. Monte Sahaja is also beautifully decorated with natural items gathered from the region: olive and cork wood, leaves, flowers, pine cones and even dried citrus fruits. These are artfully combined, painted and hung throughout the land, and a living Christmas tree is brightly decorated in the central area. As Christmas approaches, the rich voices of the Sahaja Choir drift across the land as they prepare for the annual Christmas concert held in the São Martinho church. This concert of Christ-inspired songs is widely enjoyed by the local Portuguese community, and Mooji and others from Monte Sahaja very much love to be part of this evening in the church. Christmas Eve is celebrated with a variety show that includes children’s performances, songs from many different cultural backgrounds, and Santa Claus comes to visit with a big sack of gifts for everyone. This evening is attended by those living in Monte Sahaja and friends and families from many nearby villages such as Aldeia das Amoreiras, Amoreiras-Gare, Garvão and Colos—a community enriched and united in the true spirit of Christmas. l (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


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É um dia maravilhoso quando salvamos um recém-nascido

para todas as crianças

Priscilla, 7 dias de vida

A pequena Priscilla não teria sobrevivido ao parto sem o recurso a uma cesariana. Como a sua família vive numa aldeia remota do Peru, a sua mãe, Celia, teve de permanecer na "Casa das Mães", para ficar perto da única clínica local e beneficiar de acompanhamento regular de saúde para si e para os seus bebés.

Saiba como ajudar outros recém-nascidos como a Priscilla em www.unicef.pt


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