Revista Hebron Atualidades 45

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CARTA DO PRESIDENTE //

Josimar Henrique da Silva

Pensando local, com pesquisas locais

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omo é sabido, a Hebron® é pioneira em aproveitar os recursos de universidades brasileiras para o desenvolvimento de fitomedicamentos e produtos provenientes de biotecnologia. Os melhores resultados dessa parceria podem ser vistos nos trabalhos científicos disponíveis em nossa página na Internet.

Creio que aqui começa uma nova história para a Hebron®. Aqui começa uma nova relação com os cientistas e médicos. Como é sabido, a Hebron® tem levado ao conhecimento médico os trabalhos científicos que resultam de estudos sobre nossos medicamentos. Não é um esforço qualquer.

Daqui a pouco fará uma década de existência da Lei de Inovação. Trata-se do primeiro documento confesso e oficial de reconhecimento e fortalecimento de uma cultura de patentes no país. Embora o governo federal acredite e faça por onde provar que aquilo por trás das patentes, as pesquisas e pesquisadores, não tem nenhum mérito, o Brasil tem melhorado seu desempenho na comprovação de solicitação de patentes e propriedades industriais e intelectuais. A verdade é que os governos têm de passar, mas o estado brasileiro fica, assim como as realizações científicas.

Acreditar na biodiversidade brasileira pode parecer mais aventura que sonho, mais sonho que algo concreto. Apoiar parcerias científicas com universidades pode ser mais desafio que realidade. Nem por isso deixamos de lado esse nosso jeitinho de ser, próximo da aventura e do desafio. Da aventura de nossa riqueza natural encontrar medicamentos que auxiliem no tratamento das enfermidades do povo brasileiro. Do desafio de fazer um laboratório nacional, brasileiro estar em todas as cidades do país, dentro do propósito de onde houver médico a Hebron® se fazer presente.

Apesar da lei de Inovação e de uma linha de incentivo à inovação, ufa!, é quase impossível acertar os pesos e medidas e dar continuidade a um protocolo de pesquisa em harmonia com os vínculos envolvidos. Sendo assim, depois de alguns anos na esperança de incluir-se nessas promessas, a Hebron® resolveu continuar sua linha de pesquisa independente. Não se fechará em nenhum momento aos arranjos governamentais hoje existentes e pouco funcionais, mas dará continuidade ao crescimento e maturidade de seu próprio centro de pesquisas. Só como exemplo, incorporamos em 2009 um jovem cientista com formação PhD em imunologia, e em julho de 2010, incorpora outro jovem brilhante cientista, trazido dos EUA, após conclusão de seu Doutorado em química. Ainda este ano de 2010 incorporamos um médico com doutoramento na área gástrica e importamos do estado de São Paulo uma farmacêuticapesquisadora com larga experiência na área de desenvolvimento farmacotécnico.

Outro dia alguém disse: não é muita coisa: são pouco mais que 5 mil cidades. Verdade. Das quais, 30% não têm médico local. Com residência fixa. Perto de 50% não têm recursos suficientes para gerir a saúde dos cidadãos munícipes. É pouca coisa que se torna grande demais. Seria mais fácil ficar no estado de São Paulo, representante de 40% de toda prescrição médica do país. Mas olha lá onde estamos e para onde vamos: nós acreditamos que as poucas mais de 5 mil cidades, de fato, nos interessam, pois é lá que estão os brasileiros. Estamos confiantes em nosso centro de pesquisas ampliado. Ele pesquisará local, pensando em todos nós, locais, brasileiros. Independente de quem queira pensar diferente, nós sabemos que pesquisas fazem os países crescerem. Em nosso caso, também significará novos medicamentos baseados em um novo modelo de saúde e equilíbrio natural. // Josimar Henrique da Silva é presidente da Hebron.

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CONTEÚDO // 10 MATÉRIA // Ossos de vidro

Osteogênese Imperfeita é uma patologia hereditária caracterizada pela falta de colágeno nos ossos e afeta mais de 12 mil pessoas no Brasil.

// CAPA 20

Epilepsia sem preconceito

A epilepsia, doença que acomete quase 2% da população brasileira, vem sendo estudada há um longo tempo, mas ainda predomina o preconceito devido à falta de conhecimento da sociedade.

SEÇÕES // 6 HISTÓRIA DAS ESPECIALIDADES MÉDICAS // A pele através dos séculos

A criação da verdadeira Dermatologia iniciou-se no final do século XVIII, melhorou no século XIX e chegou a estágio superior no século XX.

// BOA VIAGEM 14 Em Pernambuco e na Paraíba, o Brasil vira forró

No Nordeste, os festejos juninos se espalham em vários estados e cidades do interior, onde a cultura popular é mais forte.

8 RESPONSABILIDADE SOCIAL // O respeito que favorece a integração social A Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) é uma organização que busca o reconhecimento de crianças especiais.

17 QUALIDADE DE VIDA //

Quando o lazer vira um vício Navegar na internet ou se distrair com games eletrônicos é bom, mas é preciso cuidado para que o lazer não vire dependência.

16 EVENTOS // // PING PONG 25 Saúde na terceira idade

A geriatra Daniela Simone Oliveira explica qual a importância de visitar um médico geriatra, de praticar atividades físicas e de uma alimentação saudável.

ACONTECE //

16 NOTAS // 28 TRABALHO CIENTÍFICO // 2ª Parte

Disposição Biológica da Boldina: estudos in vitro e in vivo.

EDITORIAL //

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uase 2% da população brasileira sofre de epilepsia. O que significa dizer que quatro milhões de brasileiros são vítimas de preconceito, motivado pela falta de informação. Embora seja estudada há vários anos, a sociedade ainda desconhece as causas da doença e não compreende que indivíduos com epilepsia possuem inteligência normal. A reportagem de capa desta edição da Hebron Atualidades procura esclarecer o que é esta doença, como e porque acontecem as crises, suas implicações à vida social e como se dá o tratamento. A revista também aborda as dificuldades enfrentadas por quem sofre de osteogênese imperfeita, doença conhecida como ossos de vidro ou ossos de cristal. A seção “História das Especialidades Médicas” fala sobre a Dermatologia que, como ciência, iniciou-se no final do século XVIII, melhorou no século XIX e chegou a estágio superior no século XX. “Responsabilidade Social” conta a trajetória da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). A entrevista Ping Pong deste número é com a geriatra Daniela Simone A. Oliveira, que aborda o tema: saúde na terceira idade. A seção “Qualidade de Vida” traz a tona uma questão cada vez mais presente no nosso dia a dia: o vício no uso da internet. O problema tem causado preocupação entre psicólogos, psiquiatras e até autores de livros, que identificam diversos efeitos maléficos do hábito de “viver on-line”. E como junho é o mês do forró, nada melhor do que uma “Boa Viagem” repleta de destinos para forrozeiro nenhum colocar defeito. Caruaru, em Pernambuco, e Campina Grande e Patos, na Paraíba, estão entre as melhores pedidas para o período de São João. Quem nunca teve a oportunidade de conhecer uma dessas megafestas, com direito a quadrilhas, shows, comidas de milho, trens do forró, e tudo mais, não imagina o que está perdendo!

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TUDO A VER // 38

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HISTÓRIA DAS ESPECIALIDADES MÉDICAS // PARTE 6

A pele através dos séculos A criação da verdadeira Dermatologia iniciou-se no final do século XVIII, melhorou no século XIX e chegou a estágio superior no século XX. // Por Vivianne Santos

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ermatologia é a especialidade médica que se ocupa do diagnóstico e tratamento clínico-cirúrgico das doenças que acometem pele, unhas e cabelos. Sua história tem início nos primórdios da Antiguidade, quando temos relatos de curas com unguentos feitos de plantas, hidratação da pele com gorduras, cauterização a ferro quente etc. Desde Hipócrates (430-37 anos a.C.), já se fazia referência às doenças de pele. Entretanto, a criação da verdadeira Dermatologia iniciou-se no final do século XVIII, melhorou no século XIX e chegou a estágio superior no século XX. Três países - França, Inglaterra e Áustria - foram o berço da especialidade.

História No século XVII, Marcello Malpighi (1628 – 1694), médico, anatomista e biólogo italiano, criou o estudo microscópico da pele e Jean Riolan (1580-1657), anatomista e cirurgião

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francês, idealizou a primeira classificação morfológica das dermatoses. O médico e botânico francês François Boissier de Sauvages de Lacroix (1706-1767) classificou as doenças da pele de acordo com suas características sintomáticas externas, enquanto Antoine Charles Lorry (1726-1783), médico de Paris que classificou a pele como órgão pela primeira vez, em 1777, o fez pelas suas características morfológicas. Joseph Plenk (1732-1778), de Viena, classificou todas as moléstias cutâneas em 14 categorias e foi o autor do primeiro livro sobre Dermatologia (Doctrina de Morbis Cutaneis, 1776). No entanto, o crédito de fundador da Dermatologia é de Robert Willan (1757-1812), dermatologista inglês, que elaborou uma classificação fundamentada em pilares sólidos de morfologia, aceita universalmente, e escreveu o primeiro livro-texto de Dermatologia, em 1797. Inicialmente, a Dermatologia cuidava somente de doenças como hanseníase, sífilis, abscessos e outras infecções, e teve seu auge no tratamento destas doenças no século XX, quando apareceram os antibióticos.


HISTÓRIA DAS ESPECIALIDADES MÉDICAS // PARTE 6 Os franceses desconheciam a obra de Joseph Plenk e julgaram, durante muito tempo, que o primeiro livro sobre o tema seria o Tractatus de Morbis Cutaneis (1777), de Anne-Charles Lorry. Trata-se de um verdadeiro tratado, com 640 páginas, que visava simplificar o problema de modo a permitir que jovens médicos conhecessem, de maneira mais exata, as doenças dermatológicas. Lorry dividiu seu livro em duas partes: na primeira estudou anatomia, fisiologia e patologia da pele, e, além disso, procurou investigar a etiologia das doenças cutâneas, negando a etiologia humoral e chamando atenção para as causas externas, cáusticas e parasitárias. Nessa época, o grande médico árabe Avicena descreve a rubéola e a varíola. Vinte e um anos após a obra de Lorry, surgiu a Dermatologia em Londres, com Robert Willan, que desenvolveu um importante trabalho sobre as doenças da pele e as classificou segundo as “lesões elementares”, termo esse criado por seu discípulo Thomas Bateman. Seu trabalho, importante do ponto de vista dermatológico, foi publicado em 1798 e mais tarde em 1808. Trata-se do livro On cutaneous diseases, em que descreveu 119 doenças da pele, entre as quais a psoríase, a ictiose vulgar e o eritema nodoso, desconhecidas até então. É interessante ressaltar que, pela primeira vez, usou iconografia em cores. Seu discípulo Bateman continuou, com êxito, seu trabalho. Publicou dois livros sobre Dermatologia. Descreveu o molusco contagioso, a urticária, a sicose da barba e o eczema. Outro inglês, Daniel Turner (1667-1741), também foi um dos pioneiros em Dermatologia e, além disso, introduziu a nomenclatura greco-latina para designar as dermatoses. Merece ser citado o francês Jean-Louis Alibert, que trabalhou no Hospital Saint-Louis. Alibert, que era barão, expõe sua classificação baseada em raízes gregas, conforme o modelo botânico de Bernard de Junieu, que levou à instituição da “Árvore das Dermatoses”. Em Londres, o dermatologista Erasmus Wilson realizou uma nova classificação baseada em aspectos morfológicos, anatomopatológicos e etiológicos (metade do século XIX). Outro que merece especial atenção é Jonathan Hutchinson por suas interessantes observações sobre a sífilis congênita. Na metade do século XIX, em Viena, Ferdinando Hebra fundou a melhor escola de Dermatologia do mundo daquela época, mantendo-se durante 50 anos, durante os quais despertou a atenção de colegas de várias partes do mundo que lá estagiaram. Até o já famoso Louis A. Duhring, fundador da Dermatologia americana, foi à Viena melhorar seus conhecimentos dermatológicos. É inte-

Doctrina de Morbis Cutaneis, de Joseph Plenk (1776)

ressante ressaltar descobertas etiológicas daquela época: o agente da sarna (Simon-François Renusci), o agente do impetigo (Radcliffe Crocker) e o da gonorreia (Albert Nusier), e o cogumelo da tinha favosa (David Grubi).

A dermatologia no Brasil No Brasil, a especialidade dermatológica só surgiu em fins do século XIX, impulsionada pela criação da Cátedra de Dermatologia e Sifiligrafia nas Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro. A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) foi fundada em 1912, sob a denominação de Sociedade Brasileira de Dermatologia e Sifiligrafia, na cidade do Rio de Janeiro. O desenvolvimento de técnicas cirúrgicas dermatológicas levou à criação, em 1988, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD). Em 2003, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (AMB) reconheceram a Cirurgia Dermatológica como uma área de atuação da Dermatologia, assim como a Cosmiatria (procedimentos cosméticos). A Dermatologia, desse modo, transformou-se radicalmente, sendo, hoje, uma das áreas de especialização mais concorridas, em função de suas aplicações tanto para prevenção e tratamento do câncer de pele, quanto para tratamentos estéticos. // Bibliografia - AZULAY, R. Dermatologia. Rio de Janeiro: Koogan, 1997.___. Nascimento da Dermatologia (Birth of Dermatology). Anais Brasileiros de Dermatologia. Rio de Janeiro, v. 78 (5), 5, p.615-617, set./out. 2003. - BECHELLI, L. M., CURBAN, G. V. Compêndio de dermatologia. 5. ed. São Paulo: Atheneu, 1978. - CARNEIRO, G. História da dermatologia no Brasil: dados sobre a especialidade e a sociedade científica. Rio de Janeiro: SBD, 2002.

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RESPONSABILIDADE SOCIAL // AACD

O respeito favorece a

integração social A Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) é uma organização que busca o reconhecimento de crianças especiais // Por Karinna Nascimento

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nascimento de uma criança é motivo de festa para a família. Os meses que antecedem a vinda do filho são repletos de expectativas. Este momento, único e precioso, é marcado por uma série de mudanças e adaptações. Porém, quando o mais novo integrante da família nasce com alguma deficiência, é preciso que pais e irmãos estejam bem estruturados, com valores, regras e papéis definidos.

História

A criança deficiente deve ser respeitada como indivíduo que possui aspirações, necessidades, forças e fraquezas. É fato que, para chegar ao patamar de integração social, o indivíduo lidará com conflitos e barreiras, além de superar seus limites físicos. De acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 10% da população brasileira é portadora de limitações. Vencer o preconceito não é fácil. Como todo processo de inclusão acontece de forma gradual, é preciso contar com o apoio da família e dos amigos, além de adaptar-se ao meio de maneira participativa.

A Associação de Assistência à Criança Deficiente foi idealizada pelo médico paulista Renato da Costa Bomfim, natural da cidade de Espírito Santo do Pinhal, interior de São Paulo. Após um período de estágio no Instituto Rizzolli de Bologna, na Itália, onde foi aluno do célebre ortopedista Vitorio Putti, além de graduar-se na Clínica de Fraturas de Viena, na Áustria, Bomfim regressou ao Brasil com o intuito de criar um centro de reabilitação com a mesma qualidade dos institutos do exterior. A ideia era oferecer tratamento a crianças e adolescentes deficientes físicos e promover sua inclusão social e educacional.

Para promover a reabilitação e reintegração de pessoas portadoras de deficiência física na sociedade, especialmen-

Em 1950, Renato Bomfim reuniu um grupo de idealistas e fundou a AACD, instituição privada sem fins lucrativos, que

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te crianças e adolescentes, favorecendo sua inclusão social, a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) trabalha para que o medo da exclusão dê lugar aos sonhos e as limitações cedam espaço ao talento.


RESPONSABILIDADE SOCIAL // AACD trabalha pelo bem-estar dos portadores de necessidades especiais. “O papel social da AACD é tratar, reabilitar, educar e reintegrar na sociedade os pacientes com deficiência física”, explica Luiz Liporini Oberdan, superintendente institucional da associação.

um novo modelo de gestão das outras unidades. Através de arrecadação foi possível construir e equipar o prédio, treinar os funcionários e em parceria com a prefeitura, por meio de uma organização social, o centro deve proporcionar atendimento de alta qualidade aos pacientes.

Todo começo de grandes projetos é marcado por lutas e, principalmente, pela determinação dos idealizadores. Com a AACD não foi diferente. A entidade funcionava em dois sobrados alugados na Rua Barão de Piracicaba, na capital paulista. Porém, a colaboração dos primeiros doadores, que acreditaram na proposta de Renato Bomfim, foi suficiente para erguer o primeiro centro de reabilitação em um terreno doado pela prefeitura.

Em Uberlândia, Minas Gerais, crianças e adultos portadores de necessidades especiais recebem assistência de especialistas das áreas de paralisia cerebral, poliomielite, lesão encefálica adquirida, entre outras. Os pacientes de Pernambuco e de outros estados do Nordeste são atendidos desde o ano 2000. Em Recife, onde funciona a unidade, a média é de 600 visitas.

Em junho de 1963, a história da AACD é marcada por uma nova etapa. O primeiro centro foi inaugurado na rua Ascendino Reis, na cidade de São Paulo, intensificando os tratamentos e promovendo mais benefícios às crianças e jovens atendidos. Hoje, a AACD conta com nove unidades espelhadas em todo o Brasil, sendo duas instituições no Estado de São Paulo - São José do Rio Preto e Osasco; três na cidade de São Paulo - Ibirapuera (atual sede), Hospital Abreu Sodré e Mooca; além de Pernambuco, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Luiz Liporini Oberdan explica que a soma dos atendimentos diários é de 5.600 em todas as unidades e 73% dos pacientes atendidos são crianças.

Unidades Na AACD Ibirapuera concentra-se toda estrutura administrativa da associação. A unidade presta serviços aos outros centros, além de ter capacidade para realizar 2.430 atendimentos diários, divididos nas áreas de Centro de Reabilitação, Fábrica de Produtos Ortopédicos, Hospital e Escola, respectivamente. A unidade da Mooca foi fundada em 1972 e atuava, apenas, como sede das aulas do setor escolar. Através do Teleton, a estrutura foi ampliada e criou-se o Centro de Reabilitação da Mooca para atender os pacientes da região leste da capital paulista. O Hospital Abreu Sodré é referência nos casos relacionados à ortopedia. A unidade atende pacientes particulares e de convênios e, por ser uma casa de saúde beneficente, os custos de algumas cirurgias são revertidas aos pacientes da AACD. O centro de reabilitação de Osasco, na grande São Paulo, foi construído através dos recursos do Teleton. Na unidade são fabricados aparelhos e peças ortopédicas para as outras AACDs do país. As AACDs de São José do Rio Preto, em São Paulo, e de Joinville, em Santa Catarina, marcaram, respectivamente,

Em 2009, a unidade da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, foi credenciada e habilitada pelo Ministério da Saúde como Centro de Reabilitação de Alta Complexidade. A AACD carioca realiza 470 atendimentos por dia e trata das necessidades especiais dos pacientes promovendo interação com a música, água, terapia ocupacional e atendimentos psicológicos.

AACD Escolar Formar competências educacionais e preparar os pacientes para inserção profissional são fatores essenciais para a valorização social durante o processo de reabilitação física. Neste sentido, a AACD possui quatro escolas na cidade da São Paulo que garantem a formação acadêmica – do Jardim I à 4ª série do Ensino Fundamental – de crianças.

Teleton “O Teleton é um evento internacional e no Brasil a iniciativa partiu da AACD, que detém a marca”, conta Luiz Liporini Oberdan. O programa é a principal forma de arrecadar recursos para a entidade. Anualmente, uma série de shows e brincadeiras é transmitida pela TV divulgando as ações e o trabalho desenvolvido pela associação. Durante a maratona, os investimentos são arrecadados através da doação de telespectadores e de empresários. Os recursos são destinados à construção de novas unidades e na manutenção dos centros de reabilitação.

Doações Para ajudar as ações da AACD, a sociedade pode fazer doação como pessoa física ou jurídica, além de promover convênios ou prestação de serviços. A iniciativa pretende, cada vez mais, realizar um trabalho humanitário, com qualidade e segurança, contribuindo para a saúde física e o bem-estar de crianças, jovens e adultos.

// AACD Site: www.comunidadeaacd.ning.com

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MATÉRIA // OSSOS DE VIDRO

Ossos de vidro Osteogênese Imperfeita é uma patologia hereditária caracterizada pela falta de colágeno nos ossos e afeta mais de 12 mil pessoas no Brasil. // Por Karinna Nascimento

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ravessuras, desafios e brincadeiras fazem parte da rotina das crianças. Os pais pedem aos filhos que tomem cuidado durante a hora mais gostosa do dia, a do lazer, evitando acidentes graves, como fraturas. Só que em alguns casos, os incidentes não decorrem da traquinagem das crianças, e sim de um problema genético. Uma patologia denominada Osteogênese Imperfeita (OI), conhecida como ossos de vidro ou ossos de cristal, acomete mais de 12 mil pessoas no Brasil, o que compreende 0,005% da população mundial. Incurável, a doença é descrita pela deficiência na produção de colágeno – proteína corporal responsável pela estrutura dos tecidos conjunti-

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vos, tendões e ossos –, frouxidão das juntas, ligamentos e baixa massa muscular.

Osteogênese Imperfeita (OI) O colágeno é uma das mais importantes proteínas que constitui ossos, cartilagem fibrosa, tendões, pele e tecidos conjuntivo frouxo comum e conjuntivo denso, respectivamente. Bastante abundante no organismo, está presente na formação de feixes, fibras e tem a função de unir as células. A produção da proteína resulta de uma sequência de complexos bioquímicos ocorrido no interior das célu-


MATÉRIA // OSSOS DE VIDRO las. Quando a formação de colágeno é insuficiente para dar sustentação a ossos e tecidos, provocando sua fragilidade, o caso pode ser diagnosticado como osteogênese imperfeita. “O nome osteogênese imperfeita é dado a um grupo de doenças que têm uma característica em comum: a diminuição da densidade dos ossos, resultando em problemas de fraturas, crescimento, deformidades e até mesmo surdez”, define Carlos Eduardo Steiner, doutor na área de genética médica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O portador da OI apresenta estrutura óssea delicada e sofre fraturas constantes por motivos simples, como um esbarrão, pancada ou pequena queda, o que não seriam suficientes para provocar traumas em outros indivíduos. Os casos espontâneos acontecem sem causa aparente e as fraturas mais graves ocorrem quando o portador faz um movimento que exige esforço. Os traumas originam o encurvamento da coluna - em menor probabilidade –, dos ossos dos braços e das pernas. Apesar da fragilidade, os indivíduos apresentam estrutura óssea normalmente consolidada, exceto nos casos em que existe a deformidade intensa. “A consolidação nos ossos dos pacientes com OI é mais lenta do que nas demais pessoas”, explica Steiner, que também é professor do Departamento de Genética Médica da Unicamp.

Registro histórico O primeiro registro da osteogênese imperfeita foi detectado em uma múmia egípcia por volta do ano 1000 a.C. Em 1678, especialistas identificaram indícios da doença em países ocidentais, mas não a descreveram como OI. Por volta de 1849, o anatomista alemão Willem Vrolik observou casos de recém-nascidos cujos ossos eram frágeis e o falecimento ocorria precocemente. Ele foi o primeiro a denominar a patologia na literatura médica como “Osteogênese Imperfeita”. “No século IX, o príncipe dinamarquês Ivarr Benlos - o sobrenome significa ‘sem ossos’ - teria essa doença e comandava suas tropas sendo carregado em um escudo pelos campos de batalha”, descreve o professor.

Características Os primeiros sintomas, geralmente, são as fraturas de repetição, que tendem a acontecer com o mínimo trauma. Os portadores da OI também apresentam pele fina, deficiência no crescimento e rosto em formato triangular.

“O nome osteogênese imperfeita é dado a um grupo de doenças que têm uma característica em comum: a diminuição da densidade dos ossos, resultando em problemas de fraturas, crescimento, deformidades e até mesmo surdez” Carlos Eduardo Steiner, professor do Departamento de Genética Médica

“Pode ocorrer problemas na formação dos dentes - dentinogênese imperfeita - e um tom mais azulado ou acinzentado na esclera – parte branca do olho”, cita. Indivíduos com ossos de cristal apresentam estrutura reduzida, devido ao baixo crescimento. Atingem, no máximo, cerca de 70 centímetros. “Algumas pessoas têm cinco, dez ou vinte fraturas em um ano, outras podem ter menos, dependendo do tipo de OI. Essas fraturas podem resultar em deformidades dos ossos longos. Além disso, como o osso na OI tem uma densidade menor que o normal, é muito comum haver achatamento e colapso vertebral, dando um aspecto de tronco encurtado e envergamento dos fêmures e das tíbias”, explica Steiner. Outra característica da osteogênese imperfeita são problemas auditivos. A perda da audição está associada à fragilidade óssea da estrutura auricular e se inicia nos primeiros anos da idade adulta, entre os 20 e 30 anos. Na maioria dos casos, os ossos são frágeis e malformados, tornando ineficaz a passagem dos sons ao ouvido interno. Cerca de 50% dos indivíduos com OI sofrem grave perda auditiva, enquanto outros não apresentam complicações. A manifestação dos sintomas varia conforme a gravidade da patologia. Na forma mais crítica da OI pode haver complicações nos pulmões e no coração, devido às deformações da caixa torácica e da coluna, forçando a compressão desses órgãos. Outros sintomas desenvolvidos são: sudorese, hipotonia muscular, flacidez de ligamentos e excessiva mobilidade das juntas.

Classificação Existem quatro tipos comuns de osteogênese imperfeita (tipos I a IV). Outras formas raras foram descritas a partir da década de 1990 na literatura médica (tipos V a IX). No tipo I há poucas fraturas e deformações nos ossos mais extensos. “O tipo I é a forma mais leve e também a mais

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MATÉRIA // OSSOS DE VIDRO comum, geralmente causa pouco ou nenhum comprometimento na estatura”. No caso de osteogênese imperfeita do tipo II, considerado o mais grave, o indivíduo tende a não resistir à doença e falecer após o nascimento. Os pacientes dos tipos III e IV apresentam sintomas variados, de intensidade moderada a grave, e características heterogêneas da doença, principalmente no tipo IV. “O tipo III envolve muitas fraturas por toda vida, graves deformidades das vértebras e dos ossos longos, causando comprometimento do crescimento e da qualidade de vida. Existe, ainda, o tipo IV - intermediária entre a forma leve e a grave”, afirma.

Genética e Hereditariedade A incidência dos casos é de mesma proporção tanto para homens quanto para mulheres. Se o gene de um dos pais for dominante, a probabilidade da criança ser portadora da doença é de 50%. A porcentagem cai pela metade, 25%, se o pai ou a mãe apresentar o gene recessivo. As ocorrências chamadas esporádicas, de pequena probabilidade - 2% a 5% -, acontecem sem que haja precedentes familiares. “Osteogênese Imperfeita tem base genética. Nos tipos I a IV, o defeito está em um dos dois genes que codificam uma parte do colágeno tipo I, um dos 17 tipos de colágeno presente no nosso organismo e que está envolvido com a matriz óssea”, esclarece Steiner. O gene é transmitido de maneira autossômica dominante. Pode acometer uma família por várias gerações ou ocorrer pela primeira vez devido à nova mutação e ainda ser passada para gerações seguintes. “Nas outras formas, bem mais raras, o defeito não está no colágeno, mas em outras proteínas e enzimas que participam do seu metabolismo, sendo que em alguns casos essas proteínas não foram ainda identificadas. Nessas formas, pode haver herança autossômica dominante ou autossômica recessiva”.

Osteogênese em crianças Os primeiros sintomas são observados durante a gestação, quando o bebê apresenta ossos quebrados mesmo no útero da mãe e, muitas vezes, não sobrevive ao parto. A doença acomete uma em cada 25 mil crianças. “Existem crianças com as formas graves que podem sofrer fratura da bacia se os pais apertarem demais a fralda, outras podem quebrar a costela ao se virar à noite, na cama”, especifica Steiner. Apesar dos benefícios do diagnóstico pré-natal, as imagens podem gerar várias interpretações, exceto nos casos

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de osteogênese dos tipos II e III. Nessas incidências, os fetos já apresentam fraturas e deformidades ainda no útero, identificadas por ultrassonografia. Para diagnosticar a doença é preciso conhecer também o histórico de fraturas na genética familiar. É preciso observar as incidências e se esses casos acontecem com ou sem ausência de violência, pois a osteogênese imperfeita pode ser confundida com maus tratos sofridos na infância. “Além da avaliação clínica, existem achados radiológicos que ajudam a diferenciar a OI dos maus tratos. Muitas vezes, recebemos casos para serem investigados por ordem do Conselho Tutelar, e se em alguns deles for confirmando o diagnóstico de OI, os pais são inocentados”.

Tratamento Exercícios ortopédicos e de fisioterapia são alguns dos recursos destinados ao tratamento da osteogênese imperfeita. O objetivo é fortalecer a musculatura sem afetar os ossos, visto que o treino aumenta o nível de endorfinas no corpo - substância produzida pelo cérebro – diminuindo as dores. A sequência de exercícios varia conforme o tipo de OI. Pode ser simples, como movimentar uma junta, por exemplo, dobrar e esticar braços e pernas, ou com maior intensidade, para aumentar a tonicidade dos músculos. “A fisioterapia é importante em dois sentidos. Com relação à parte motora, para readequação postural, melhora das deformidades e recuperação após um longo período de imobilização. Além dessa, recomenda-se a fisioterapia respiratória nas formas mais graves da doença, devido às deformidades do tórax e também como forma de preparar o paciente para longos períodos de imobilização na cama (enquanto uma fratura simples se consolida em duas a três semanas na maioria das pessoas, em alguns indivíduos com OI esse processo pode se prolongar por dois meses)”, destaca. Especialistas também indicam o uso da substância pamidronato dissódico, da classe dos bifosfonatos, para os pacientes com ossos de vidro dos tipos III ou IV. Segundo Steiner, a administração do pamidronato dissódico ajuda a melhorar a densidade óssea, diminui a dor e pode minimizar os problemas da OI. “Esse tratamento foi padronizado pela portaria 2305/01 do Ministério da Saúde e está indicado para pessoas com os tipos III e IV, além de algumas situações no tipo I”. Ele ressalta que a utilização do medicamento deve ser feita em hospitais ou centros específicos cadastrados. A dosagem e o tempo de aplicação da substância varia conforme protocolo de autorização de cada país. No Brasil, o tratamento é feito pela infusão intravenosa em ciclos de três dias, a cada quatro meses. O mecanismo de ação de pamidronato dissódico atenua a perda de matéria


MATÉRIA // OSSOS DE VIDRO muscular, aumenta a consolidação do osso, a mobilidade do paciente e ajuda o seu desenvolvimento. Há também as cirurgias para inserir hastes metálicas intramedulares. O procedimento busca corrigir as deformidades dos ossos e reduzir o número de fraturas. Durante o procedimento, o osso é serrado e implanta-se uma haste dentro da medula óssea. O implante se acopla nas extremidades dos ossos mais longos, ou seja, na epífise de, principalmente, fêmur e tíbia.

Descoberta Recentemente, cientistas britânicos descobriram que um medicamento utilizado para o tratamento da osteoporose pode minimizar o índice de fraturas em crianças que sofrem de osteogênese imperfeita. De acordo com o resultado dos testes, uma dose semanal de 2mg de risedronato diminui o número de traumas e fortalece a estrutura óssea dos pacientes. Segundo os pesquisadores, a descoberta cria uma alternativa mais acessível aos medicamentos vigentes no mercado utilizados para tratar casos menos graves de OI.

Radiografias de portadores da Osteogênese Imperfeita

Diagnóstico precoce “Não há como prevenir a osteogênese imperfeita em si, mas o diagnóstico precoce melhora a qualidade de vida dos pacientes. Por outro lado, é possível prevenir as situações de risco para fraturas, tanto em casa quanto nos ambientes frequentados pelos portadores”, explica Steiner. Na escola, por exemplo, é importante orientar sobre as atividades de educação física, devendo ser evitados esportes de contato ou de impacto, com preferência para atividades dentro da água - natação ou hidroginástica de baixo impacto. Além disso, é possível oferecer aconselhamento genético às famílias que têm história de osteogênese imperfeita, orientando os pais de um paciente afetado quanto aos riscos para outros filhos ou do próprio indivíduo com OI. É importante, também, fazer com que as crianças desenvolvam habilidades físicas que promovam a autoestima e melhore a qualidade de vida, de forma que venham interagir com a sociedade sendo participativas e produtivas.

/ / Carlos Eduardo Steiner - CRM SP 75328 E-mail: steiner@fcm.unicamp.br Formado pela Universidade Federal do Paraná em 1993, fez residência médica, mestrado e doutorado na área de genética médica na Unicamp, onde atua como professor do Departamento de Genética Médica.

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BOA VIAGEM // SÃO JOÃO

Em Pernambuco e na Paraíba, o Brasil vira forró

No Nordeste, os festejos juninos se espalham em vários estados e cidades do interior, onde a cultura popular é mais forte. // Por Fernanda Araruna

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odos os anos, passada a Semana Santa, o Brasil, ou pelo menos o Nordeste do País, é invadido pelo forró. O ritmo é escutado por todos os lados, nas capitais e nas cidades do interior. Quando chega junho, é uma verdadeira “overdose” do ritmo. Duas cidades brasileiras recebem destaque, além de milhares de visitantes, nesta época do ano. Afinal, quem nunca ouviu falar em Campina Grande, na Paraíba, e Caruaru, em Pernambuco, como as capitais do forró? Juntam-se a elas outras cidades onde a festa, embora não tão gigante, também reúne um grande público, um exemplo é Patos, na Paraíba. Sem dúvida, três destinos para forrozeiro nenhum colocar defeito. Quem nunca teve a oportunidade de conhecer uma dessas megafestas, não imagina o que está perdendo. Com o passar dos anos, a festa foi se readaptando para conseguir atender a um púbico cada vez mais numeroso, mas nem de longe perdeu sua identidade. As quadrilhas, por exemplo, pontos altos da comemoração, receberam novas versões, composta só por homens ou só por mulheres.

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Caruaru No mês de junho, Caruaru se transforma num enorme arraial. Para garantir o arrasta-pé nos 30 dias de festa, a cidade conta com cerca de 10 polos oficiais de animação. A maioria dos eventos acontece no Parque de Eventos Luiz Gonzaga, ao som da sanfona, da zabumba e do triângulo. No local, que comporta mais de 150 mil pessoas, há o Museu do Barro; o palhoção para o Forró do Candeeiro, com apresentações de bandas de forró e trios pé-de-serra; a Vila do Forró, com capela, restaurantes típicos e uma rica programação cultural; e o Pátio do Forró, onde está o palco principal e acontecem os maiores shows. Enquanto no Pátio do Forró os shows acontecem à noite, durante o dia a “pedida” é o Alto do Moura. Lugar onde morava Mestre Vitalino, vivem no polo, hoje, mais de mil artesãos que trabalham com o barro. Os vários restaurantes de comidas típicas do local lotam de forrozeiros nas tardes de São João.


BOA VIAGEM // SÃO JOÃO As quadrilhas estilizadas já se tornaram referência do São João de Caruaru. Há “drilhas” para todos os gostos, dentre elas a Turisdrilha, composta por turistas, que conta com a participação de milhares de pessoas; a Trocadilha, que se caracteriza pela troca de papéis (homens se vestem de mulher e vice versa); Motodrilha, com casais de motoqueiros; e Babydrilha, só com criancinhas. E se você vai a Caruaru, não pode deixar de reservar umas horinhas para conhecer a mais popular feira livre do Brasil, que acontece no Parque 18 de Maio. Lá são encontrados produtos que vão do artesanato nordestino a utensílios eletrônicos. A Praça dos Maiores também merece uma visita. Lá ficam expostas réplicas de alguns exageros gastronômicos, como um pé-demoleque gigante, um enorme arroz doce e os maiores cuscuz, tapioca e pamonha do mundo.

Campina Grande É sempre a mesma coisa. Chega o mês de junho e Campina Grande se prepara para viver um contagiante clima de alegria. A cidade se enfeita com balões, bandeirinhas de papel colorido, além de montar sua tradicional fogueira, para receber, durante os 30 dias do mês, turistas do Brasil e do mundo. As festas acontecem na área central da cidade, o conhecido Parque do Povo, onde os forrozeiros podem dançar o mais autêntico “forró pé-de-serra”. Um dos destaques do parque é o Sítio São João, réplica perfeita de um sítio sertanejo do interior do estado. O local retrata os hábitos de uma comunidade rural. Nada fica de fora: a casa dos moradores, a bodega, a casa de farinha e a capela. No parque, é possível reviver aspectos da história de Campina Grande em uma cidade cenográfica com várias réplicas de prédios históricos. O espaço comporta, ainda, o forródromo, salão em forma de pirâmide onde se apresentam grandes nomes da música nordestina e trios regionais. Depois de tanta dança, uma ótima pedida é prestigiar a culinária local. São mais de duzentas barracas, pavilhões e quiosques onde é possível apreciar pratos típicos, como buchada de bode, cuscuz com carne guisada, pamonha, delícia de macaxeira, tapioca, curau, bolo de milho etc. Todos os anos, no meio do mês de junho, acontece na cidade um grande “casamento coletivo”. É que durante o ano, os solteiros que procuram casamento recorrem a Santo Antônio, conhecido como o santo casamenteiro. Alcançada a graça é hora de dizer o “sim”, e nada melhor do que fazer isso homenageando os santos que nasceram no mesmo período da antiga festa, Santo Antônio, São João e São Pedro.

Uma das principais atrações da festa campinense é o Trem Forroviário. Movido a forró, o trem faz o percurso entre a Estação Velha de Campina Grande e o Distrito de Galante. São oito vagões onde os passageiros podem apreciar uma bela paisagem dançando ao som de trios de forró pé-de-serra. Chegando ao distrito, acontece o arraial de Galante, com direito ao “forró no mercado”, com palhoças de forró e um palco de comidas típicas. O viajante ainda pode praticar o turismo rural, com passeios a cavalo ou em jegues ou em carroças de burro. E para completar a diversão, também no meio do mês, acontece a Corrida do Jegue, uma competição a céu aberto no Parque do Povo. Ao serem inscritos, os animais recebem números. Seus nomes são uma atração a parte. Entre os que já passaram pelo “jegódromo” estão Burrinho Massa, Pinguço, Mikael Xumaker e Ozama.

Quem nunca teve a oportunidade de conhecer uma dessas megafestas, não imagina o que está perdendo. Patos No Sertão da Paraíba, a 300 km da capital João Pessoa, está localizada a cidade de Patos. O local tem atraído, nos últimos anos, uma multidão de forrozeiros. Na programação, além de atrações renomadas, que se apresentam em praça pública, no Terreiro do Forró, quadrilhas e trios pé-de-serra fazem a alegria dos visitantes. Folguedos populares, comidas típicas e o artesanato da região dão um charme à festa, mostrando as tradições nordestinas perpetuadas por um povo alegre e bastante receptivo. Ainda sem a tradição de Caruaru e Campina Grande, Patos vem conquistando aos poucos seu público. A prefeitura tem investido pesado para engrandecer a festa. No ano passado, o São João de Patos foi orçado em mais de R$ 1,5 milhão e reuniu cerca de 1 milhão de pessoas nos nove dias de festa. No Nordeste, os festejos juninos se espalham em várias cidades do interior, onde a cultura popular é mais forte. Quem nunca dançou coladinho, se divertiu numa tradicional quadrilha junina ou se deliciou com típicas comidas de milho? Concorrência à parte, o importante é que as cidades fazem uma bonita festa, que conquista os turistas pelo que têm de melhor: o tradicional forró.

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NOTAS //

Estudo descobre como talidomida Atividade endócrina do tecido provoca má-formação de fetos adiposo tem relação com a qualidade de vida dos idosos Cientistas japoneses desvendaram como a talidomida interfere no desenvolvimento de fetos e provoca má-formação. A descoberta abre as portas para o desenvolvimento de alternativas seguras ao remédio que mantenham eficácia terapêutica, mas sem efeitos adversos. A droga foi proibida na década de 1960 depois de milhares de crianças nascerem com atrofia dos membros ou problemas cardíacos. Voltou ao mercado na década seguinte - sob rigorosa legislação -, pois constitui uma boa alternativa para tratamento de doenças como hanseníase, lúpus, câncer na medula óssea e artrite reumatoide. Hoje, a talidomida chega a ser indicada para até 60 tipos de tratamentos, que incluem alívio dos sintomas de portadores do HIV e diminuição do risco de rejeição em transplantes de medula. Contudo, o acesso é restrito a pacientes cadastrados nos programas públicos de saúde. O estudo mostrou como a talidomida liga-se a uma enzima chamada cereblon, muito importante nos dois primeiros meses do feto para o desenvolvimento dos membros. A ligação torna inativa a enzima, o que provoca a má-formação. “Agora queremos identificar os mecanismos químicos da talidomida responsáveis pelos efeitos anticâncer”, afirma o coordenador da pesquisa, Hiroshi Handa, do Instituto de Tecnologia Tóquio. Dessa forma, os cientistas esperam criar derivados da talidomida que não reajam com a enzima cereblon, mas sejam eficazes no tratamento das doenças.

O tecido adiposo não é visto por especialistas apenas como um simples reservatório energético, mas também como um órgão endócrino, uma vez que secreta um número elevado de substâncias metabolicamente importantes. Um novo estudo concluiu que a prática de exercícios físicos, mesmo que moderada, pode não só melhorar a composição corporal no processo de envelhecimento como também reduzir os efeitos negativos relacionados à ação endócrina do tecido adiposo. Coordenado pela professora Maria Cristina das Neves Borges Silva, na Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo, a pesquisa acompanhou 54 mulheres na capital paulista, entre janeiro de 2009 e janeiro de 2010. As voluntárias foram divididas em quatro grupos. Um com mulheres na faixa de 20 anos de idade e outro na faixa de pouco mais de 50 anos, todas sedentárias. Os outros dois grupos também eram formados por mulheres jovens e de meia-idade de faixas etárias similares, só que todas praticantes de atividades físicas de baixa intensidade. Por meio das diferenças em idade, a pesquisadora buscou avaliar os efeitos do tempo sobre o corpo. Ela destaca que o envelhecimento resulta em uma série de alterações hormonais, além de um aumento no volume do tecido adiposo e nas concentrações de substâncias como as citocinas, consideradas pró-inflamatórias, por mediarem processos de inflamação no organismo. “Em idosos, as inflamações são causadoras de diversas patologias crônicas”, disse Maria Cristina. Por esse motivo, a atividade endócrina do tecido adiposo tem relação com a qualidade de vida dos indivíduos idosos. “A pesquisa concluiu que o treinamento regular de baixa intensidade tem um papel regulatório importante sobre o metabolismo energético e sobre alguns marcadores inflamatórios e metabólicos”, disse Maria Cristina. O que colocaria a atividade física como um importante fator de influência sobre a saúde dos idosos, especialmente em relação às patologias e problemas ocasionados pelas secreções hormonais.

EVENTOS // CARDIOLOGIA

ONCOLOGIA

IX Congresso Brasileiro de Insuficiência Cardíaca Data: 10 a 12 de junho de 2010 Local: Curitiba - PR Info: http://departamentos.cardiol.br/geic/ congresso2010/

IV Congresso Brasileiro de Nutrição e Câncer (CBNC) Data: 16 a 19 de junho 2010 Local: São Paulo - SP Info: www.ganep.com.br/ganepao/index.php

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QUALIDADE DE VIDA // VICIADOS EM INTERNET

Quando o lazer se torna um vício Navegar na internet ou se distrair com games eletrônicos é bom, mas é preciso cuidado para que o lazer não vire dependência. // Por Dênia Sales

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rkut, Messenger, Facebook, blog, Twitter, games. Inúmeros são os instrumentos que atraem, cada vez mais, os jovens a um mundo onde não chove nem faz frio ou calor. E até chove, mas só se o dono e o programa assim permitirem. É um mundo onde os sentimentos são traduzidos por caracteres e um apelido é capaz de sintetizar a personalidade de um indivíduo ou, pelo menos, a que ele gostaria de ter. Um mundo rico de pessoas e histórias que se cruzam sem a existência dos limites do mundo real. A palavra internet é hoje uma das mais conhecidas em todo o mundo e veio para encurtar distâncias, democratizar o acesso à informação e ao conhecimento e outros vários recursos para facilitar a vida do internauta. A atração exercida por este meio de comunicação é tão forte que, para algumas pessoas, assumiu um papel polêmico. A rede passou a ser o começo e o fim do dia a dia de pessoas que não conseguem imaginar a vida longe de um computador.

Internet Por que muitos não conseguem “sobreviver” sem a internet hoje em dia? “Em princípio, poderíamos nos fazer

esta mesma pergunta sobre o uso de muitas outras coisas, como, por exemplo, um automóvel (ou outro meio de transporte). Por que muitos não conseguem ‘sobreviver’ sem um carro, sem um telefone ou uma TV? Portanto, precisamos, antes de tudo, dar à internet seu devido lugar na história do mundo. Um lugar importantíssimo, que trouxe possibilidades inúmeras no campo da educação, saúde, informação, desenvolvimento de tecnologia e, é claro, nas relações pessoais, em todos os níveis. Acho que poderíamos até dizer que é lamentável quando alguém não pode ter acesso a um computador ou à internet”, diz a psicanalista Sandra Walter, membro da Intersecção Psicanalítica do Brasil (IPB). Sandra, no entanto, alerta para os perigos de quando a pessoa começa a sofrer com esta relação e explica quais os principais impulsos que fazem alguém “substituir” o mundo real pelo virtual. “É preciso ficar atento quando uma pessoa passa a sofrer danos pessoais, principalmente emocionais, em virtude de sua relação com o chamado “mundo virtual”. Mas devemos ter o cuidado de começar essa apreciação revertendo a equação proposta. Em primeiro lugar, o mundo virtual não foi criado por um computador.

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QUALIDADE DE VIDA // VICIADOS EM INTERNET Ele pertence à dimensão humana, que reside em cada um de nós”. A questão principal é anterior. Segundo ela, trata-se de examinar o que leva uma pessoa a constituir uma relação excessiva com aquilo que denominamos mundo virtual. “Essa suposta substituição do mundo real pelo virtual, que também poderíamos chamar de um ‘excesso de imaginário’ pode se manifestar em outras experiências, como, por exemplo, no uso excessivo de uma TV, de um rádio ou mesmo de um brinquedo no caso das crianças, enfim, qualquer conduta isolacionista, através da qual a pessoa se mantém aprisionada ao seu próprio imaginário. Evidentemente, há todo um comércio que tira proveito justamente daqueles mais vulneráveis, oferecendo experiências que estimulam uma ligação nada saudável, investindo propositadamente em recursos que levam ao vício, como é o caso de muitos jogos de computador”, avisa a psicanalista.

“É preciso ficar atento quando uma pessoa passa a sofrer danos pessoais, principalmente emocionais, em virtude de sua relação com o chamado “mundo virtual”. Sandra Walter, psicanalista e membro da Intersecção Psicanalítica do Brasil.

Jogos on-line A atividade mais procurada por jovens na internet são os jogos interativos, dos quais participam milhares de pessoas simultaneamente, como é o caso do World of Warcraf, que conta com mais de 11 milhões de jogadores inscritos em todo o mundo. Alguns passam horas em frente ao computador, desligados da realidade, esquecendo, muitas vezes, de necessidades básicas, como comer e dormir. O problema tem causado preocupação entre psicólogos, psiquiatras e autores de livros. Eles identificaram diversos efeitos maléficos do hábito de “viver on-line” no mundo dos jogos e ressaltam que é preciso saber usar a rede para extrair o que ela tem de melhor, sem se deixar dominar pelo vício, uma dependência tão perigosa quanto a química. Pelo menos foi o que constataram psicólogos da Interdisciplinary Addiction Research Group, na Charité University Hospital Berlin, na Alemanha. Eles apresentaram resultados de um estudo que indica que os mecanismos de dependência dos jogos de computador no cérebro são semelhantes aos provocados pelo vício de drogas, como o álcool.

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Com base nesse princípio, por exemplo, foram abertas diversas clínicas de reabilitação na China, país que contabiliza 2 milhões de jovens com o problema, segundo pesquisa promovida pela Liga da Juventude Comunista. No Brasil, o tratamento de adolescentes dependentes de internet fica a cargo do Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo. Em 2006 e 2007, o hospital já havia aberto inscrições para o tratamento do mesmo problema em adultos. Desta vez, o foco são adolescentes entre 12 e 17 anos. A diversão com os jogos eletrônicos parece não ter limite para muitas crianças e adolescentes. O tema serviu de inspiração para o escritor André Resende. Birdboy, seu mais recente livro, traz o universo do adolescente na época da super exposição às informações via internet e das proximidades de cotidianos. Foi observando os filhos que André teve a ideia de contar a história de um garoto viciado em jogos de computador. No enredo cheio de ação, o autor mostra a rotina do menino que prefere jogar a fazer amigos ou ficar com a família. Ao escrever Birdboy, André notou alguns dos principais motivos que fazem uma pessoa “substituir” o mundo real pelo virtual. “Os personagens centrais da estória de Birdboy são adolescentes. Não parecem que estão sozinhos, solitários. Do lado brasileiro, Bird tem família. Do lado africano, Y tem amigos. Mas há evidências de que a solidão vem das relações familiares. Tal como antes, se sentiam sozinhos e solitários diante da televisão, e eram passivos, agora, são solitários e sozinhos usando a internet e se sentem ativos, integrados, próximos de outros solitários e sozinhos”, conta o autor.

Tempo/limite O cerne da questão concentra-se em saber se existe um tempo/limite para alguém ser considerado viciado em internet. “Precisamos definir a que campo da internet estamos nos referindo. Se esse longo tempo diante do computador está sendo usado para jogar, ler, conversar, fazer sexo ou trabalhar. De qualquer modo, há um aspecto que define a relação de vício em qualquer uma dessas situações. Quando uma pessoa produz sucessivos prejuízos ou danos de qualquer tipo por causa de sua relação com o computador, ela está necessariamente adoecida do ponto de vista emocional”, afirma Sandra. “No caso das crianças e adolescentes, que ainda estão se estruturando psiquicamente, essa repercussão é muito mais grave”, frisa a psicanalista. O que vai orientar nesse “diagnóstico de vício”, segundo ela, é a observação sobre os prejuízos que estão surgindo a partir da conduta de cada pessoa especificamente. “Embora tenhamos alguns parâmetros que nos orientam, cada caso deve ser visto de maneira particular”, lembra.


QUALIDADE DE VIDA // VICIADOS EM INTERNET Para André Resende, não há uma resposta apenas em relação a quando o uso da rede traz características de dependência. “Não dá para impedir que a internet exista. Seria o mesmo que, em outros tempos, pedir para desligar a televisão para sempre. Pode-se desligar a televisão por uns dias. Mas a vida cotidiana e a proximidade vem pela televisão, ou pensamos que vem. A internet fica e muda. Temos de aprender a conviver e usar a nosso favor, sem nos destruir”, alerta o escritor. Assim, André Resende trata de retirar da rede a alcunha de vilã. “A internet é um vetor energético de transformação da sociedade. Como foi a energia elétrica, o petróleo. Todas as tecnologias e atividades se comunicam ou tentam se comunicar de forma internáutica. Não pode nem se quer se pensar em vilã, é um estágio evolutivo na sociedade”, ressalta. Sandra compartilha a opinião do escritor e diz que a internet não pode ser má porque apenas os seres humanos podem sê-lo. “Temos de saber de quem estamos falando, tanto na internet como no mundo real. Na realidade do nosso cotidiano, encontramos coisas maravilhosas e coisas terríveis, pessoas de boa índole e pessoas inescrupulosas. Precisamos aprender a usufruir do bom tanto quanto a nos defender do perigo, seja no bar da esquina ou no mundo virtual de nossos computadores”, diz. “A internet é a representação ampliada, praticamente ilimitada dessa rede de ligações que nos conduz em nossas relações. A sensação de infinito que ela oferece é tão atraente quanto assustadora. Desejamos poder ter o mundo, nascemos como bebês que começam a vida acreditando que são eles mesmos o mundo. E de fato o são, ao menos para suas mães, durante um certo tempo. Mas essa posição cai por terra diante das castrações da vida”, acrescenta. A psicanalista explica que nossas articulações simbólicas nos permitem a flexibilidade de refazer caminhos, rever escolhas e, portanto, adoecer um pouco menos. “Aqueles que se estruturaram com muitas falhas em seu funcionamento mental estarão mais vulneráveis, serão mais frágeis e, por isso, serão vítimas mais prováveis de muitos males, dentre eles os vícios de todos os tipos”.

“Não dá para impedir que a internet exista. Temos de aprender a conviver e usar a nosso favor, sem nos destruir”. André Resende, escritor.

podia abandonar o computador. Essa é uma situação extrema que revela a probabilidade de que essa mãe já era bem antes uma pessoa emocionalmente comprometida”, ressalta Sandra. No caso das crianças e adolescentes, a orientação, a informação e os “acordos” entre pais e filhos, de acordo com a psicanalista, são sempre o caminho mais bem sucedido. Ela alerta que os pais não devem ter medo de intervir, determinando regras e supervisionando tudo aquilo que considerem um perigo a seus filhos, principalmente quando forem crianças pequenas. “Por outro lado, não se pode esperar que filhos não cuidados, abandonados em seu dia a dia e afetivamente distantes de seus pais, venham a ser capazes de cumprir normas”, lembra.

Tratamento Existe tratamento quando a dependência é diagnosticada. “O tratamento depende da gravidade, como em qualquer outro tipo de vício, mas sem dúvida será sempre baseado em um acompanhamento psicológico, inclusive porque não vejo como tratar do sintoma isoladamente. O tratamento é para a pessoa, no sentido de que ela se torne mais capaz de cuidar de si mesma, de dar conta de seus limites internos e, portanto, de se conduzir na vida da melhor forma possível”, conclui Sandra Walter.

Para o lazer não virar vício No caso de um adulto, alguém mais próximo deve fazer um alerta e, na maioria das vezes, espera-se que o bom senso seja suficiente para que a pessoa consiga rapidamente redimensionar esse “sintoma” que, muitas vezes, é temporário ou circunstancial. “Em casos mais graves, deve ocorrer uma intervenção familiar e, por vezes, de outro tipo, como já tivemos notícia, de uma intervenção do Estado a uma mãe que não podia mais cuidar de seus filhos porque não

/ / Sandra Walter E-mail: sandrawalter2@yahoo.com Sandra Walter atua como psicanalista e é membro da Intersecção Psicanalítica do Brasil (IPB). / / André Resende E-mail: andreresende@meios.com.br André Resende é escritor.

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CAPA // EPILEPSIA

Epilepsia sem

preconceito A epilepsia, doença que acomete quase 2% da população brasileira, vem sendo estudada há um longo tempo, mas ainda predomina o preconceito devido à falta de conhecimento da sociedade. // Por Dênia Sales

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CAPA // EPILEPSIA

A

incidência é de quatro milhões de brasileiros, e o preconceito e a falta de informação são alguns dos obstáculos enfrentados por quem sofre com uma doença que causa estranha transformação do funcionamento do cérebro: a epilepsia, um dos males neurológicos mais frequentes. Descrita há mais de cinco mil anos, a epilepsia é caracterizada por uma excitabilidade anormal de um grupo de neurônios no cérebro, ou seja, alterações nas atividades elétricas cerebrais. A epilepsia vem sendo estudada há um longo tempo, mas ainda predomina a falta de conhecimento da sociedade, que, muitas vezes, não confere às pessoas com epilepsia as mesmas oportunidades das outras. Sabe-se que a maioria dos indivíduos com a doença tem inteligência normal, mas, na prática, é difícil encontrar tratamento adequado, medicamentos e não ser discriminado socialmente.

O que é a epilepsia?

que o paciente saiba qual forma ele tem. É importante ressaltar que diferentes formas têm evolução, tratamento e prognóstico diferentes. Desta forma, ao diagnosticar o tipo de epilepsia, o paciente poderá saber o que se espera quanto ao seu seguimento”.

História A epilepsia foi notada pela primeira vez em animais. As mais remotas descrições, porém, são dos egípcios e dos sumérios. Por volta de 1.700 a.C., o principal documento que trata de neurologia no Egito Antigo, o Papiro de Smith, cita possíveis crises convulsivas nos trechos que descrevem ferimentos na cabeça. Na Suméria (Mesopotânia), nessa mesma época, vários textos, em acadiano, registram crises epilépticas. Todas as ideias relacionadas à medicina vinculavam-se a fenômenos sobrenaturais, magia e maldições.

“O principal problema também é a

“Segundo a mais recente definição falta de conhecimento da população da Liga Internacional contra a Epilepsia (ILAE), de 2005, a doença é um em relação ao tema, que faz com distúrbio cerebral duradouro causado que a pessoa com epilepsia não conpela predisposição de gerar crises epilépticas e pelas consequências neuroverse sobre o seu problema com os biológicas, cognitivas, psicossociais e seus pares”. sociais da condição. A crise epiléptica se dá quando ocorre uma descarga excessiva e síncrona de um grupo de células cerebrais (neurônios), podendo ser espontânea ou desencadeada por febre, distúrbio hidroeletrolítico, intoxicações etc.”, explica a neurologista infantil Laura Guilhoto, presiPor volta de 400 a.C., Hipócrates, considerado o pai da dente da Associação Brasileira de Epilepsia (ABE). medicina, afirmou que a causa da epilepsia estava relacionada ao cérebro, tentando desfazer mitos sobrenatuAlexandre Valotta, professor do Departamento de Biocirais. Os escritos da época foram os primeiros a atribuir ências da Universidade Federal de São Paulo e membro causas físicas para as doenças neurológicas e identifida Liga Brasileira de Epilepsia (LBE), conta que a doença caram o cérebro como o local para o entendimento do é caracterizada por alterações temporárias e reversíveis comportamento humano. Remédios, dieta e hábitos do funcionamento do cérebro, sendo caracterizada pela saudáveis – ao invés de rezas ou magias - poderiam ocorrência de crises epilépticas espontâneas e recorren- tratar os epilépticos. Na Renascença e com a Revolução tes. “Ocorre que, durante alguns segundos ou minutos, Científica, René Descartes fez vários estudos fisiológicos uma parte do cérebro emite sinais incorretos, dando ori- e anatômicos com animais, investigando exaustivamente gem às crises”. o sistema nervoso. Ele afirmava que a epilepsia originava-se no cérebro. De acordo com Kette Dualibi, diretora técnica do Laboratório de Neurofisiologia Clínica do Instituto de Psi- Na Idade Média, a epilepsia foi relacionada à doença quiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São mental e contagiosa, tabus que persistem até hoje, dePaulo, a epilepsia não é uma doença isolada, mas um vido à falta de divulgação de informações corretas. Naconjunto de doenças e síndromes que têm em comum a quela época, frequentemente tentava-se curar o mal por ocorrência de crises epilépticas recorrentes ou a possibi- meios religiosos. O neurologista John Hughlings Jackson lidade de recorrência após um primeiro evento. “Como afirmou, no século XVIII, que a disfunção era causada existem várias formas de epilepsia, é muito importante por uma descarga anormal das células nervosas. Hebron Atualidades

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CAPA // EPILEPSIA

Estimativas

não convulsiva (manifestação não motora, sensorial, alteração psíquica ou da consciência). “Também há diferentes manifestações clínicas dependendo da região cerebral em que ocorre a descarga elétrica anormal. Assim, podemos distinguir as crises epilépticas em: ‘parciais ou focais’, em que a descarga se limita a uma área cerebral, e as crises ‘generalizadas’, que envolvem todo o cérebro.

Quase 2% da população brasileira sofre com a epilepsia, segundo estudos feitos pela Universidade de Campinas (Unicamp). O dado significa um total aproximado de 4 milhões de pacientes no País. Na população mundial o número é de 1%. Segundo o Ministério da Saúde, nos cinco primeiros meses de 2009, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 17.084 internações em decorrência de epilepsia, número 11% maior “A principal manifestação da epilepem comparação ao mesmo período sia são as crises. Elas podem ser de de 2008 - esse volume de internações não contempla a rede privada diferentes tipos, dependendo da parde saúde. A incidência é 150 mil te do cérebro que está gerando os novos casos por ano.

sinais anormais”.

A doença acomete, sobretudo, pessoas de até 25 anos e com idade superior a 65 anos. É mais comum em indivíduos do gênero masculino. Em países desenvolvidos, estima-se que a patologia incida em cerca de 1% da população. Nações ainda em desenvolvimento apresentam o dobro de casos. Vale lembrar que é necessário um mínimo de duas crises para o diagnóstico de epilepsia. Por serem crises não provocadas, ficam excluídas aquelas em que a ocorrência só se dá na presença de um fator desencadeante (álcool, febre, drogas, traumatismo crânio encefálico etc.).

A epilepsia é mais comum na infância, quando aumenta a vulnerabilidade a infecções do sistema nervoso central (meningite), acidentes (traumatismos do crânio) e doenças como sarampo, varicela e caxumba, cujas complicações podem causar crises epilépticas. O problema também poderá se manifestar com o envelhecimento e suas complicações vasculares.

Tipos de crises Para compreender o que é a epilepsia, vale considerar o cérebro como uma espécie de máquina, cujas células são como fios elétricos conectados entre si e comunicando-se por impulsos elétricos. Quando esses fios (as células cerebrais) estão desencapados, causando curto-circuito, acontece a crise epiléptica. “A principal manifestação da epilepsia são as crises. Elas podem ser de diferentes tipos, dependendo da parte do cérebro que está gerando os sinais anormais”, diz Alexandre Valotta. Segundo Laura Guilhoto, existem vários tipos de crises e formas de classificação, sendo a mais simples em relação à presença ou não de movimentos anormais, chamada forma convulsiva (manifestação motora) e

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“As crises parciais são sintomas resultantes de descargas limitadas a uma área muito restrita do cérebro e que, por isto, não causam perda de consciência. As crises parciais simples apresentam preservação da consciência (sensações de formigamento abdominais, percepção de gostos e cheiros esquisitos, fenômenos psíquicos, auditivos ou visuais, designados por auras e fenômenos motores localizados). As crises parciais complexas manifestam comprometimento de consciência (confusão e podem ocorrer gestos automáticos, como de mastigação ou mesmo tarefas desempenhadas automaticamente)”, diz a neurologista. Descargas iniciadas em uma parte do cérebro (ex. lobo occipital), segundo Laura, podem se propagar rapidamente, levar à perda de consciência e manifestações motoras bilaterais pelo envolvimento de ambos os hemisférios, causando uma crise parcial secundariamente tônico-clônico-generalizada (TCG). “Neste caso, a pessoa será capaz de se recordar das manifestações clínicas iniciais”, comenta. “As crises primariamente generalizadas não apresentam evidências de início localizado. As manifestações clínicas indicam envolvimento de ambos os hemisférios cerebrais. As descargas eletrográficas são desde o início bilaterais e a consciência pode estar comprometida. As crises generalizadas mais comuns são as crises de ausência típica (desligamentos por poucos segundos, associados a piscamentos), as crises mioclônicas (pequenos choques nos membros), tônicas (enrijecimento


CAPA // EPILEPSIA do corpo), atônicas (perda do tônus e queda) e as crises primariamente TCG”, completa a presidente da ABE.

tão alta de remédio que alguns médicos aconselham aceitar um controle parcial.

Causas

Implicações à vida social

Muitas vezes, a causa é desconhecida, mas pode ter origem em ferimentos sofridos na cabeça, recentemente ou não – pode passar dias, semanas ou anos entre a ocorrência da lesão e a primeira convulsão. Traumas na hora do parto, abusos de álcool e drogas, tumores e outras doenças neurológicas também facilitam o aparecimento da epilepsia. Na maioria dos casos, porém, as causas que levam ao seu surgimento são desconhecidas. Em alguns pacientes, as crises são desencadeadas por luzes piscantes, certos tipos de ruídos, leitura prolongada, privação de sono, fadiga, uso de álcool, hipoglicemia etc. Álcool, determinados medicamentos ou ingredientes alimentares podem interagir com as drogas antiepilépticas e precipitar crises.

A maioria das pessoas com epilepsia levam uma vida normal. No entanto, é comum que essas pessoas, especialmente crianças, desenvolvam problemas emocionais e de comportamento. Assim, Alexandre Valotta explica que quem faz um tratamento adequado pode ter uma vida social normal, incluindo trabalho, esportes e lazer. “Alguns cuidados são necessários, dependendo da atividade envolvida, devido ao risco de acontecer uma crise. Entretanto, o principal fator que afeta a vida social das pessoas com epilepsia é o preconceito. Ainda existem ‘crendices’ e falta de informação, o que, muitas vezes, torna a pessoa com epilepsia alvo de discriminação”.

Diagnóstico e tratamento Para Alexandre Valotta, a principal forma de diagnóstico é a consulta médica, na qual o paciente conta sua história e descreve detalhadamente suas crises. “Exames, como o eletroencefalograma (EEG) e a ressonância magnética (RM), também podem ajudar no diagnóstico. A principal forma de tratamento são os medicamentos para o controle das crises (drogas antiepilépticas), que são escolhidos conforme o tipo de epilepsia. Em alguns casos, pode ser utilizada uma dieta especial, que ajuda a controlar as crises. Existe ainda, para alguns tipos de epilepsia, a possibilidade de tratamento cirúrgico”. Laura Guilhoto compartilha a ideia de que o diagnóstico clínico da epilepsia é o mais importante, ou seja, a história da crise relatada durante a consulta médica, bem como exames de imagem cerebral. “O tratamento clínico é realizado em todos os casos com medicações antiepilépticas. 70% dos casos controlam as crises com uma ou duas medicações; os restantes, 30%, são considerados casos refratários e recebem múltiplas medicações, sendo possível também em alguns casos a realização de cirurgia cerebral para o controle das crises, quando há uma lesão que seja a causadora das crises refratárias e que não esteja em uma área eloquente para ressecção cirúrgica”. Algumas crises desaparecem com o tempo e a medicação pode ser suspensa. Outros pacientes precisam de tratamento a vida inteira para controlar as crises, e outros não respondem bem aos medicamentos. Em geral, cerca de 50% terão seus ataques totalmente controlados, 30% terão seus ataques reduzidos em frequência e intensidade e os outros 20% ou serão resistentes à medicação ou precisarão de uma dose

“A maior consequência é decorrente do estigma da epilepsia, que gera um preconceito não explicável pela doença em si, mas sim pelo desconhecimento sobre a mesma. Pacientes com epilepsia que não têm déficit cognitivo ou déficit motor grave podem e devem ter vidas normais como a dos seus pares da mesma idade”, compartilha Kette Dualibi. Para Laura Guilhoto, o principal problema também é a falta de conhecimento da população em relação ao tema, que faz com que a pessoa com epilepsia não converse sobre o seu problema com os seus pares. “Isso a faz ficar isolada, podendo promover sentimentos de baixa estima e isolamento”, ressalta a presidente da ABE. Um dos maiores desafios dos profissionais de saúde, nesse sentido, é esclarecer à população alguns aspectos gerais sobre a doença, de forma a derrubar tabus, melhorar a qualidade de vida do epiléptico e das pessoas que com ele convivem. // Laura Ferreira Guilhoto – CREMESP 59.318 Email: lauragui@gmail.com Neurologista infantil. Mestre e Doutora em Medicina (Neurologia) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Presidente da Associação Brasileira de Epilepsia (www.epilepsiabrasil.org.br). Fellowship em Neurofisiologia Clínica - Rush Presbyterian St. Luke’s Medical Center – Chicago - USA. Pós-Doutoramento no Childrens’s Hospital Boston da Universidade de Harvard – USA. Médica responsável pelo setor de Neurofisiologia Clínica do Hospital Universitário da USP. Prof. Orientadora do Curso de Pós-Graduação do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da UNIFESP. // Alexandre Valotta Email: avsilva@unifesp.br Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo, com estágio no Instituto Neurológico de Milão (Itália), e pós-doutorado em Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo. Atualmente é professor da Latin American Summer School on Epilepsy (LASSE) e professor adjunto do Departamento de Biociências da Universidade Federal de São Paulo - Campus Baixada Santista. É membro da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC) e da Liga Brasileira de Epilepsia (www.epilepsia.org.br). // Kette Dualibi Ramos Valente Email: avsilva@unifesp.br Formação em Neuropediatria. Fellowship em Epilepsia e Neurofisiologia Clínica - Miami Children’s Hospital. Doutorado em Neurologia. Atualmente é diretora técnica do Laboratório de Neurofisiologia Clínica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

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PING PONG // DANIELA SIMONE

Saúde na terceira idade // Por Fernanda Araruna Daniela Simone Oliveira é geriatra e, desde 2001, médica responsável e sócia do Residencial Geriátrico São Paulo.

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pós os 60 anos, é comum o contato com o médico ficar mais frequente. A chamada “terceira idade”, além de trazer benefícios, como experiência, sabedoria e serenidade, traz, também, algumas doenças. Artrose e osteoporose, por exemplo, acometem com frequência o idoso, e podem se somar a outros distúrbios, como a pressão alta ou o diabetes. Um médico deve ser consultado sobre qualquer manifestação de doença, além de fazer um acompanhamento constante da saúde do idoso, fornecendo o máximo de informações possíveis também a seus familiares. É importante que a pessoa seja vista como um todo, tendo especial cuidado com a mente, pois na velhice é comum o surgimento de depressão ou outros problemas emocionais. A geriatra Daniela Simone A. Oliveira, nesta entrevista exclusiva para a revista Hebron Atualidades, explica qual a importância de visitar um médico geriatra, de praticar atividades físicas e de uma alimentação saudável; fala do cuidado necessário com medicamentos e vacinas; e também comenta algumas das principais doenças que acometem os idosos. Confira. Hebron Atualidades – Qual a idade ideal para procurar um médico geriatra e qual a importância deste profissional em nossas vidas? Daniela Oliveira – O médico geriatra é especialista em cuidar de indivíduos idosos. Pensando assim, a idade ideal para se procurar o geriatra seria após os 60, 65 anos. Mas o geriatra é também um médico clínico generalista e pode começar a fazer prevenção das doenças crônicas em pessoas mais jovens. Se você não tem um clínico geral que está te acompanhando, um geriatra pode ser uma opção para os indivíduos mais jovens. Este é um profissional que pode ajudar na prevenção das doenças crônicas e cuidados mais amplos da saúde do idoso, proporcionando mais independência, autonomia e qualidade de vida aos pacientes.

H.A. – Pessoas mais velhas, em geral, necessitam tomar vários medicamentos (para baixar o colesterol, controlar a pressão, o diabetes etc.). Qual a consequência do excesso de medicamentos ou do seu uso indevido na terceira idade? Daniela Oliveira – Muitos idosos, realmente, necessitam de várias medicações para o controle de doenças comuns nesta faixa etária. É importante, portanto, que estejam bem acompanhados por médicos atentos aos efeitos colaterais e interações medicamentosas que nestes pacientes são mais propensos. Além disso, é preciso que o médico esteja atento à automedicação, que é comum nesta faixa etária e que pode levar a vários sintomas, como tonturas, quedas e confusão mental. Muitas vezes, um médico desatento pode estar tratando um sintoma que é apenas efeito colateral de uma medicação. H.A. – A automedicação responsável, nos casos de uma simples dor de cabeça, de dente, ou cólicas abdominais, por exemplo, é recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Mas nos casos de pessoas da terceira idade ela também é recomendada? Daniela Oliveira – Os idosos são mais propensos aos efeitos colaterais de medicações e interação medicamentosa. Recomendo até em casos simples, como cólica e dores, que o geriatra oriente a medicação adequada, a fim de minimizar os danos a estes idosos e que, mesmo medicações fitoterápicas, sejam tomadas sob o conhecimento do médico. H.A. – Muitos idosos são sedentários e não dão a devida importância à alimentação. Quais as principais consequências desta atitude? Hebron Atualidades

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PING PONG // DANIELA SIMONE Daniela Oliveira – A atividade física acompanhada de uma alimentação saudável são os dois fatores mais importantes para um envelhecimento saudável e com qualidade de vida. A atividade física é essencial para a manutenção da massa muscular e do peso, que, juntamente com uma dieta rica em fibras, frutas e verduras e pobre em gorduras e sal, é importante para a diminuição e bom controle de doenças, como hipertensão e diabetes, que aumentam a mortalidade dos idosos. H.A. – Qual a importância da prática de atividade física na prevenção de problemas de saúde? Daniela Oliveira – A atividade física, talvez, seja um dos fatores mais importantes para um envelhecimento saudável e com qualidade de vida. Além de melhorar o controle das doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e dislipidemia, ajuda na manutenção do peso e melhora da massa muscular, aumentando a força, flexibilidade, equilíbrio, diminuindo quedas e mantendo o indivíduo por mais tempo independente. H.A. – O que causa nos idosos as doenças cardiovasculares, tão comuns nesta fase da vida? Daniela Oliveira – As doenças cardiovasculares são causadas, em sua maioria, pela hipertensão, diabetes, aumento de colesterol e triglicérides, obesidade e sedentarismo, que acabam por obstruir artérias importantes do organismo, levando ao infarto, derrame, insuficiência renal e amputações. Todas estas doenças temidas são a principal causa de mortalidade nos idosos. H.A. – Um problema clássico da terceira idade é a osteoporose. Como este se dá e o que deve ser feito para evitá-lo? Daniela Oliveira – A osteoporose é uma doença bastante comum nas mulheres pós-menopausa e nos homens a partir dos 70 anos. Ela não traz nenhum sintoma ao paciente, mas, pelo aumento da porosidade e da fragilidade do osso, aumenta o risco de fraturas, principalmente de vértebras, úmero e fêmur, com sérias consequências para os indivíduos idosos. Além da atividade física, é importante uma dieta rica em cálcio e exposição solar para diminuir a incidência da doença. A cada dois anos, é importante que todo idoso, mulheres e homens, realizem a densitometria óssea, já que a osteoporose é uma doença silenciosa.

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“A atividade física acompanhada de uma alimentação saudável são os dois fatores mais importantes para um envelhecimento saudável e com qualidade de vida”. H.A. – Quais são as vacinas mais importantes depois dos 60 anos? Daniela Oliveira – Após os 60 anos, devemos fazer a vacina dupla do adulto contra difteria e tétano a cada 10 anos, a vacina da gripe anualmente e, dependendo do caso, a vacinação antipneumocócica. H.A. – A pneumonia, em particular a pneumonia pneumocócica acima dos 75, 80 anos, é uma importante causa de mortalidade. Poderia comentar a importância da vacina da pneumonia e a partir de que idade deve ser tomada? Daniela Oliveira – Atualmente, a vacina antipneumocócica nos idosos é dada após os 60 anos em dose única, com um reforço após cinco anos em indivíduos institucionalizados, ou seja, que vivam em clínicas geriátricas e em indivíduos com doença pulmonar crônica, cardiopatias, diabetes insulino necessitado, insuficiência renal ou hepática, neoplasias, HIV, alcoolismo e esplenectomia. A vacina protege contra as formas mais graves da doença (pneumonia, meningite e sepse). Além disso, diminui a transmissão do Streptococcus pneumoniae de uma pessoa para outra, o que é importante em asilos para idosos (ou ambientes semelhantes). H.A. – A vacina da gripe está cercada de dúvidas sobre sua eficácia, logo muitas pessoas hesitam em tomá-la. Ela, realmente, consegue evitar a doença? Daniela Oliveira – A gripe é uma doença infecciosa, transmissível, causada pelo vírus influenza. É transmitida de uma pessoa para outra por via respiratória com extrema facilidade. As pessoas idosas e as portadoras de doenças crônicas têm maior risco de complicações, como a pneumonia, o que pode tornar necessário a internação hospitalar. A vacinação contra a gripe reduz o risco


PING PONG // DANIELA SIMONE de infecção com o vírus influenza e, portanto, o de complicações. É importante ressaltar que, por ser produzida com vírus inativado, a vacina é extremamente segura e muito importante para os idosos. H.A. – Que método ou dieta alimentar você indicaria para um idoso manter uma vida saudável? Daniela Oliveira – A dieta saudável tem de ser rica em frutas e verduras, pobre em gorduras saturadas, açúcar e sal. É importante a boa ingestão de fibras e de gorduras poli-insaturadas, vindas de fontes como o azeite e as castanhas e peixes, como o salmão. Carnes com pouca gordura, de preferência as brancas e peixes, além de cereais integrais, são boas fontes de proteínas.

minam a sexualidade. O sexo nos idosos não é melhor, nem pior, nem mais, nem menos que o dos mais jovens. É apenas diferente. Perde-se em quantidade, mas ganha-se em qualidade. Passase a valorizar mais a corporalidade, o carinho e a intimidade do que o ato sexual propriamente dito. É extremamente importante para a saúde física e emocional dos idosos.

“O sexo nos idosos não é melhor, nem pior, nem mais, nem menos que o dos mais jovens. É apenas diferente”. H.A. – Poderia falar sobre o problema da depressão na vida de pessoas idosas. Por que é tão comum nesta fase? O que ocasiona? Quais os cuidados necessários? Daniela Oliveira – A depressão é uma doença muito comum nas pessoas idosas. Os sintomas de depressão são: humor deprimido na maior parte do dia, falta de interesse nas atividades diárias, alteração de sono e apetite, falta de energia, alteração na atividade motora, sentimento de inutilidade, dificuldade para se concentrar, pensamentos ou tentativas de suicídio. Porém, nos idosos muitas vezes encontramos sintomas atípicos e mais reclamações somáticas, além da dificuldade de relatarem o humor deprimido. Nesta faixa etária, a depressão pode ser causada pelo uso de medicações inadequadas, hipotireoidismo, AVC ou demência, além de outras causas. É preciso sempre procurar ajuda médica e o tratamento, muitas vezes, inclui o uso de medicamentos. H.A. – Poderia comentar sobre a importância da atividade sexual na terceira idade para a manutenção da saúde? Daniela Oliveira – As alterações ligadas ao processo de envelhecimento modificam, mas não eli-

// Daniela Simone A. Oliveira - CRM-SP 83456 Email: geriatra@danielasimone.com.br Site: www.danielasimone.com.br Graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Fez curso de extensão em Geriatria na UNIFESP. Possui titulo de Especialista em Geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Fez estágio em geriatria no Harvard Upper New England Geriatric Education Center, em Boston (EUA). É, desde 2001, médica responsável e sócia do Residencial Geriátrico São Paulo, e, desde 2002, médica preceptora da Residência de Geriatria do Hospital do Servidor Público Estadual.

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TRABALHO CIENTÍFICO // 2ª Parte

Disposição Biológica da Boldina: estudos in vitro e in vivo Inés Jiménez e Hernán Speisky* Laboratório de Lipídeos e Antioxidantes, Instituto de Nutrição e Tecnologia de Alimentos, Universidade do Chile, Santiago, Chile.

Materiais e Métodos Após um período pré-perfusão de 10 min, foram iniciados experimentos de depuração de boldina por uma infusão de bomba contínua da boldina no perfusato da veia porta, de modo a alcançar uma concentração de 50, 100 ou 200 μM. Após um período de perfusão de 10 min, a boldina foi avaliada por HPLC em amostras tratadas com ácido e neutralizadas tiradas do perfusato da veia cava. A depuração foi estimada pelas diferenças porto-cavais médias na concentração de boldina de amostras coletadas no final de um período de perfusão de 10 min (% de fígado fresco/peso corporal foi de 3,2 + 0,2). Antes de passar para uma concentração maior de boldina, os experimentos foram seguidos pela perfusão dos fígados somente com tampão durante outro período de 10 min. Foi necessário o uso desse último para garantir que nenhuma boldina detectável fosse liberada pelos fígados perfundidos. Esse procedimento foi alternado depois disso até o teste da maior concentração de boldina. Em alguns experimentos, os fígados já avaliados quanto à sua capacidade de depurar a maior concentração de boldina continuaram a ser perfundidos a fim de se examinar sua capacidade de depurar a concentração menor ou média testada de boldina (50 e 100 μM, respectivamente). Constatamos que, no segundo exame, a capacidade de depuração da boldina dos fígados não foi significativamente alterada por nenhuma dessas concentrações de boldina. Estudos in vivo. Nos experimentos cujo objetivo era estabelecer a cinética da boldina plasmática após uma administração oral única, a boldina foi administrada a ratos em uma dose de 25, 50 e 75 mg/kg de peso corporal, correspondendo a 7,5, 15 ou 22,5 mL/kg de uma solução salina fresca contendo 3,3 mg de boldina/mL. O sangue foi colhido da cauda de cada animal (com 15, 30, 45, 60, 75, 105, 135 e 240 min) e coletado diretamente em tubos contendo heparina. Após a centrifugação (1500 x g, 10 min, 20 oC), as amostras plasmáticas foram testadas quanto à boldina por HPLC, conforme descrito abaixo. Em experimentos cujo objetivo era estabelecer as concentrações de boldina em diferentes tecidos (fígado, cérebro e coração), a boldina foi dada como uma dose oral única (50 ou 75 mg/kg de peso corporal). Trinta ou sessenta minutos depois, os animais anestesiados com éter foram sujeitos à cirurgia. Tecidos inteiros (fígado, cérebro e coração) foram lavados em salina, excisados e homogeneizados em um vidro do tipo Potter-Elvehjem usando uma mistura tamponada, resfriada em gelo, com pH 7,4, consistindo de 140

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Figura 2. Cinética do desaparecimento da boldina do meio extracelular em suspensões de hepatócitos. Cada ponto representa a média + DP de 4-5 experimentos independentes. Um experimento independente representando a incubação de, pelo menos, 3 frascos, cada um contendo uma suspensão de hepatócitos (107 células/5 mL) obtida no dia do experimento do fígado de um único animal. A inserção demonstra a representação gráfica semilogarítmica de concentrações extracelulares da boldina versus tempo (y = -0,017x + 2,3; r = 0,99).

Figura 3. Cinética do desaparecimento da boldina do meio extracelular em suspensões de hepatócitos. Cada ponto representa a média + DP de 4-5 experimentos independentes. Um experimento independente representando a incubação de, pelo menos, 3 frascos, cada um contendo uma suspensão de hepatócitos (107 células/5 mL) obtida no dia do experimento do fígado de um único animal. A inserção demonstra a representação gráfica semilogarítmica de concentrações extracelulares de boldina versus tempo (y = 0,01x + 3,1; r = 0,97).

mM de NaCl e 40 mM de fosfato de potássio. Os homogenados de tecido foram centrifugados (10.000 x g, 15 min, 4 oC) e alíquotas dos sobrenadantes desproteinizados e sujeitos a uma segunda centrifugação. Os sobrenadantes ácidos assim obtidos foram usados para testar a boldina (vide abaixo). Nos experimentos em que a cinética da boldina plasmática foi estudada após sua administração intravenosa (femoral), ratos ligeiramente anestesiados com éter receberam boldina como um bolus (10 ou 20 mg/kg de peso corporal; preparado em solução salina). Foram colhidas


TRABALHO CIENTÍFICO // amostras de sangue da cauda (com 3, 6, 12, 18, 27, 36 e 60 min), colocadas diretamente em tubos contendo heparina e, após separação plasmática, as amostras passaram por testes para boldina conforme descrito abaixo. Determinação da boldina. A boldina foi testada por detecção UV (282 nm) de eluados de HPLC, de acordo com uma metodologia previamente desenvolvida por nós (Speisky et al., 1993). A análise da boldina em amostras obtidas de estudos de suspensão de hepatócitos, ou dos experimentos com fígados perfundidos, foi conduzida diretamente em amostras desproteinizadas por ácido e neutralizadas com pH 6,0. Por outro lado, a análise da boldina em plasma (fresco) ou amostras de tecido (mantidos a -70 oC por menos de 2 semanas) requereu um procedimento adicional de extração para evitar o surgimento de picos no cromatograma de HPLC que, caso contrário, interferiria com a quantificação da boldina. A boldina foi quantitativamente extraída (as recuperações variaram entre 94-106%) de amostras de plasma ou de sobrenadantes ácidos derivados de tecido usando um procedimento de extração tamponado por fosfato (200 mM, pH 8,2) e à base de clorofórmio (200 mM, pH 8,2), já publicado (Speisky et al., 1993). Animais. Ratos Wistar machos (200-250 g; 12 + 2 semanas) foram abrigados em gaiolas individuais em uma sala com temperatura e luz controladas (22 oC; com ciclos de 12h de escuro/luz), mantidos com uma dieta de ração padrão (Alimentos Concentrados Cisternas M.R., Santiago, Chile) e água à vontade. Todos os estudos foram conduzidos usando animais que estavam há 14 h em jejum. Parâmetros estatísticos e cinéticos. Os resultados e os dados apresentados na seção “Materiais e Métodos” são expressos como valores médios + DP. A significância das diferenças entre valores médios foi avaliada pelo teste t de Student. O valor de p crítico foi definido como 0,05. Em estudos de cinética, os dados foram representados graficamente diretamente como concentrações versus tempo, ou após conversão de concentrações em formas logarítmicas, como o log das concentrações versus tempo. Nos últimos casos, foi aplicada a análise de regressão linear para obter uma estimativa do declive de cada curva (método de quadrados mínimos). As constantes de taxa de eliminação (Ke) foram estimadas pelos declives correspondentes (-Ke/2,303) e são apresentadas como valor + DP. Uma cinética de disposição de primeira ordem foi admitida quando, após a representação gráfica do log dos dados de concentrações versus tempo, uma linha reta foi obtida (equação Ct = C0.e-kt), (Rowland et al., 1973). Em alguns casos, a significância da diferença entre os declives (p < 0,05) foi estimada usando Software Estatístico Stata: Liberação 5.0 (College Station, TX).

Resultados e Discussão Disposição de boldina: estudos in vitro A Figura 2 mostra a cinética do desaparecimento da boldina de uma suspensão de hepatócitos de rato. A adição da boldina nos meios de incubação (200 μM no tempo 0) foi seguida por um declínio rápido e tempo-dependente de sua concentração do meio extracelular. O desapareci-

mento da boldina seguiu uma cinética do tipo de primeira ordem (inserção da Figura 2) com uma constante de disposição (Ke) de 0,039 + 0,008 min-1, e uma meia-vida de aproximadamente 18 min. Resultados grosseiramente idênticos foram encontrados quando a cinética de disposição foi estimada por teste das alterações na concentração de boldina em amostras coletadas de suspensões de células inteiras, que refletem as alterações gerais ocorridas dentro dos espaços intra mais extracelulares (Ke = 0,034 + 0,006 min-1). Entretanto, quando as alterações na concentração intracelular da boldina foram examinadas separadamente (Figura 3), ficou evidente a ocorrência de um acúmulo intracelular inicial da boldina. Após 2 min desde o momento da adição da boldina, sua concentração intracelular já subira para aproximadamente 1600 μM, ou seja, uma concentração quase 8 vezes maior do que aquela encontrada no mesmo tempo em amostras do meio extracelular (Figuras 2 e 3). A elevação inicial foi seguida por um rápido declínio (mínimo 2-6) na concentração intracelular da boldina. Embora a elevação possa ser explicada em termos de uma rápida captação e aparente retenção intracelular da boldina, o declínio provavelmente reflete uma combinação do início de um processo de biotransformação e uma redução do fluxo líquido de moléculas de boldina nas células (vide abaixo). Após 6 min, a concentração intracelular de boldina declinou constantemente, mas lentamente durante a incubação (Figura 3). Entretanto, conforme mostrado na Tabela 1, a concentração intracelular de boldina foi sempre substancialmente maior do que aquela presente no espaço extracelular, sendo mais de 17 vezes maior no final da incubação. A Tabela I também mostra os valores estimados para o fluxo intracelular líquido da boldina, e para as aparentes taxas de biotransformação. Nos tempos iniciais (min 0-2), o fluxo líquido foi máximo (39,5 nmol/min) e virtualmente todas as moléculas de boldina que inicialmente desapareceram poderiam ser recuperadas no interior das células. Durante os próximos 4 min. (min 2-6), enquanto a biotransformação estava começando a surgir como um fator determinante da cinética intracelular do desaparecimento da boldina, o fluxo líquido foi drasticamente diminuído (para 1,5 nmol/min). Os eventos subjacentes a uma queda repentina dessas não são evidentes. Ainda, é possível especular que, em decorrência de uma grande entrada inicial de boldina (primeiros 2 min), um acúmulo intracelular de boldina pode ter ocorrido em regiões próximas do meio de membrana plasmática, como aquela antes que uma distribuição constante tenha conseguido uma concentração intracelular transitoriamente elevada de boldina e tenha se tornado limitante para mais moléculas fluindo para dentro. Do minuto 6 em diante, entretanto, o fluxo líquido da boldina alcançou valores ligeiramente menores do que aqueles estimados para as taxas de biotransformação (Tabela 1), de modo que um fluxo líquido relativamente menor da boldina dentro das células provavelmente foi sujeito à diminuição sustentada na concentração intracelular da boldina. Não obstante, no final da incubação (minuto 60), sua concentração intracelular (344 μM) ficou ainda acima de 50% maior do que aquela inicialmente adicionada na

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suspensão. É digno de nota de que a concentração intracelular da boldina encontrada após 60 min seja suficiente para garantir proteção antioxidante já que se compara favoravelmente com a concentração 20 vezes menor de boldina necessária para proteger as membranas microssômicas de fígado de rato da peroxidação lipídica (Martínez et al., 1992; Cederbaum et al., 1992; Ubeda et al., 1993). Além disso, o uso de preparos de hepatócitos incubados sob condições idênticas àquelas empregadas aqui, recentemente mostrou que, a 200 μM, a boldina propicia proteção completa contra peroxidação lipídica induzida por tert-butil hidroperóxido e lise celular (Bannach et al., 1996). Interessantemente, a proteção foi substancial e permaneceu quase inalterada pelo menos durante os primeiros 150 min de incubação, provavelmente refletindo que, neste tempo, a concentração intracelular de boldina

Figura 4. Remoção de boldina de fígados perfundidos isolados. Fígados foram perfundidos em passagem única com boldina adicionada no perfundido portal. A remoção de boldina foi estimada das diferenças portocavais médias em concentração de boldina. Os resultados representam a média + DP de 3-4 experimentos independentes (cada um envolvendo a perfusão de 2 fígados). Uma diferença estatisticamente significante (no nível e p < 0,05) foi observada somente quando a remoção de boldina é comparada entre 50 e 200 μM.

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foi ainda suficiente para permitir efeitos citoprotetores e antioxidativos. Com base em um Ke igual a 0,023 + 0,005 min-1 (deduzido do declive da inserção da Figura 3), estimamos uma meia-vida de aproximadamente 30 min. Assim, a concentração intracelular de boldina esperada como ser presente após 150 min de incubação deve ter se aproximado a 50 μM. Além dos estudos acima, a depuração de boldina também foi examinada usando o fígado de rato perfundido isolado como um modelo experimental de complemento para entender sua disposição. A Figura 4 mostra os resultados de perfusão de passagem única de fígados com crescentes concentrações de boldina portal. Para 50, 100 e 200 μM, a boldina foi depurada em taxas de 6,6 + 1,6, 10,4 + 2,1 e 16,2 + 2,6 nmol/min/0,1 g de fígado, respectivamente.

Figura 5. Cinética de concentrações plasmáticas de boldina seguindo sua administração oral em ratos. A boldina foi administrada oralmente em animais com 14 h de jejum. As amostras de sangue da cauda foram analisadas para concentração plasmática de boldina. Cada ponto representa a média + DP de dados surgindo de um experimento conduzido com 4-6 animais. A inserção representa a representação gráfica semi-logarítmica de concentrações plasmáticas de boldina versus tempo (para 25 mg/kg, y = 0,61x + 1,1, r = 0,99; para 50 mg/kg, y = -0,56x + 1,3, r = 0,99; para 75 mg/kg, y = -0,56x + 1,5, r = 0,99). Os valores + DP de declive correspondendo a cada curva-dose são mencionados no texto. Não foi constatada nenhuma diferença significante entre os três declives (p igual a 0,243 foi estimado usando Software Estatístico Stata: Liberação 5.0). O, 25 mg/kg; 50 mg/kg; <?> 75 mg/kg.


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Figura 6. Representação semilogarítmica de concentrações plasmáticas de boldina versus tempo, após a administração intravenosa de boldina em ratos com 14 h de jejum. A boldina foi dada como um bolus único. As amostras de sangue de cauda foram analisadas para concentração plasmática de boldina. Cada ponto representa a média + DP de dados surgindo de um experimento conduzido com 3-5 animais. Equações descrevendo as curvas são: para 10 mg/kg, y = -0,71x + 1,2, r = 0,99; para 20 mg/kg, y = -0,73x + 1,4, r = 0,98). O, 10 mg/kg; , 20 mg/kg.

Portanto, mediante aumento de sua concentração portal, quantidades maiores de boldina foram extraídas pela mesma massa de fígado por tempo de unidade (as diferenças foram todas estatisticamente significantes). Presumindo que 0,1 g de fígado contém 1-15 x 107 hepatócitos (Otto e Cook, 1983), o valor de 16,2 nmol de boldina depurada por min por 0,1 g de fígado perfundido se compara bem com uma taxa média estimada de desaparecimento de 14,7 nmol de boldina/min de suspensões contendo 107 hepatócitos/5 mL (Tabela I). As estimativas de depuração de 10,5 + 2,6, 8,3 + 1,6 e 6,5 + 1,0 mL/min revelaram que a capacidade de fígados perfundidos para depurar boldina não foi constante, mas em vez disso, tenderam a diminuir nas concentrações portais maiores. Uma diferença estatisticamente significante (p <0,05) foi encontrada somente quando as depurações a 50 e 200 μM foram comparadas.

Mediante a ponderação, os três declives de curvas (0,58 + 0,03), um Ke de 0,022 + 0,001 min-1 e uma meia-vida média de aproximadamente 31 min foram obtidos. Os resultados de experimentos no qual a boldina foi administrada como um bolus intravenoso direto são mostrados na Figura 6. Das duas curvas de concentração plasmáticas log-boldina versus tempo, foi possível estimar um Ke médio de 0,027 + 0,001 min-1. Este valor é semelhante àquele obtido nos estudos orais in vivo, mas difere do Ke estimado nos estudos conduzidos in vitro. Entre vários motivos que podem delinear a constante de taxa menor encontrada in vivo, é a possibilidade de que, sob essas condições, a distribuição de órgãos de boldina compreende não somente o fígado, mas também outros órgãos, que não contribuem para sua biotransformação. Uma vez que a constante de taxa depende tanto da depuração quanto de volume de distribuição, o Ke de boldina pode ser menor in vivo como resultado de uma depuração diminuída e/ou uma distribuição de tecido extensa. Até a extensão em que a boldina é distribuída nos órgãos que não contribuem para sua biotransformação, uma redução de sua constante de disposição total deve ser esperada. Além disso, é concebível que, sob as condições in vivo, a taxa de deposição de boldina no fígado pode ser parcialmente limitado pelo sangue perfundido neste órgão; o último pode levar a estimar um Ke in vivo menor do que o determinado no modelo de suspensão de hepatócitos. Embora nenhuma informação publicada esteja disponível sobre o papel do fígado na biotransformação da boldina, estudos in vitro em andamento conduzido por nós indicam que as membranas microssômicas hepáticas são particularmente ativas na formação de glucuronidas de boldina. De modo semelhante, nossos estudos in vivo indicam que, embora as moléculas de boldina como tal sejam pouco encontradas na urina de ratos nos quais a boldina foi administrada intravenosamente, sua recuperação pode ser melhorada (por 3 a 4 vezes) por tratamento de amostras de urina com um excesso de -glucuronidase. Embora

Disposição de boldina: estudos in vivo A Figura 5 mostra a cinética de concentrações plasmáticas de boldina após sua administração oral única em ratos. A absorção de boldina foi rápida, com concentrações plasmáticas máximas sendo alcançadas entre os primeiros 15 e 30 minutos após sua administração. As observações que doses maiores de boldina são associadas com concentrações plasmáticas máximas sugere que, pelo menos dentro da faixa de variação de doses estudadas aqui, uma cinética de primeira ordem pode delinear seu processo de absorção gastrintestinal. A inserção da Figura 5 mostra uma representação logarítmica de dados compreendendo as três concentrações plasmáticas máximas de boldina (e, depois disso, declinante). Para cada dose, curvas log-lineares e declives paralelos foram obtidos (0,61 + 0,030; 0,56 + 0,024 e 0,56 + 0,024; para 25, 50 e 75 mg/kg de peso ao nascimento, respectivamente), que sugere que os processos implicados na disposição plasmática de boldina também aparecem para seguir uma do tipo de primeira ordem de cinética.

Hebron Atualidades

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TRABALHO CIENTÍFICO // a extensão na qual glucuronidação seja responsável por biotransformação de boldina in vivo permanece a ser estabelecida, o fato que os hepatócitos são especialmente ricos em atividade de glucuronil transferase sugere que o fígado constituiu in vivo um órgão de biotransformação maior da boldina. Distribuição de boldina nos tecidos A Tabela 2 mostra as concentrações de boldina no fígado, cérebro total e coração, após sua administração oral única em ratos. As maiores concentrações teciduais de boldina foram encontradas em fígado após 30 min. Esse órgão mostrou ser dependente da dose, concentrações de boldina que foram de 3 a 4 vezes maior do que aquelas detectadas em cérebro, e quase 10 vezes maior do que aqueles constatados no coração. Se a capacidade do fígado para depurar boldina da circulação é assumida como sendo substancialmente maior do que aquele de outros órgãos, as maiores concentrações de boldina vistas no fígado podem ser indicadas que a boldina é preferencialmente distribuídas em, e/ou possivelmente retido por este órgão. Por outro lado, o declínio rápido e preferencial das concentrações de boldina do fígado em relação com o cérebro e com o coração, visto entre 30 e 60 min, é consistente com a contenção que o fígado é um órgão maior contribuinte para a biotransformação de boldina in vivo. Deve ser observado que as concentrações máximas da boldina alcançadas no fígado após sua administração oral (de 72 a 88 μM) são de 4 a 5 vezes maiores do que aquelas necessárias in vitro para proteger membranas hepáticas (Cederbaum et al., 1992; Speisky et al., 1991a) contra a peroxidação. Além disso, as concentrações hepáticas máximas de boldina mencionadas acima ainda são maiores do que a concentração de 50 μM de boldina que teoricamentese calcula de ocorrer dentro dos hepatócitos quepermaneceram protegidos por boldina, mesmo após sua incubação durante 150 min na presença de tert-butil hidroperóxido (Bannach et al.. 1996). Portanto, parece tentador especular que, pelo menos, 1 h após a administração oral de boldina, em doses comparáveis àquelas usadas aqui, poderiam ocorrer concentrações antioxidativas e citoprotetoras de boldina dentro do fígado, como aquela proteção contra substâncias químicas cuja citotoxicidade é mediada por meio de geração de radicais livres poderia ser produzida.

Agradecimento Este trabalho foi financiado pela FONDECYT Grant 1950258.

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// Referências 1. Aruoma, O. I. (1998). Free radicals, oxidative stress, and antioxidants in human health and disease. J. Am. Oil Chem. Soc. 75(2), 199-212. 2. Backhouse, N., Del Porte, C., Givernau, M., Cassels, B., Valenzuela, A., and Speisky, H. (1994). Anti-inflammatory and antipyretic effects of boldine. Agents Actions 42, 114-117. 3. Bannach, R., Valenzuela, A., Cassels, B., Núñez-Vergara, L., and Speisky, H. (1996). Cytoprotective and antioxidant effects of boldine on tert-butyl-hydroperoxide-induced damage to isolated hepatocytes. Cell Biol. Toxicol. 12(2), 89-100. 4. Cederbaum, A. I., Kukielka, E., and Speisky, H. (1992). Inhibition of rat liver microsomal lipid peroxidation by boldine. Biochem. Pharmacol. 44(9), 1765-1772. 5. Genest, K., and Hughes, D.W. (1968). Natural products in Canadian pharmaceuticals. II. Peumus boldus. Can. J. Pharm. Sci. 3, 84-90. 6. González-Cabello, R., Speísky, H., Bannach, R., Valenzuela, A., Féher, J., and Gergely, P. (1984). Effects of boldine on cellular immune functions in vitro. J. Invest. Allergol. Clin. Immunol. 4(3), 139-145. 7. Gotteland, M., Jiménez, I., Brunser, O. et al. (1997). Protective effect of boldine in experimental colitis. Planta Med. 63, 311315. 8. Halliwell, B. (1994). Free radicals and antioxidants. Nutr. Rev. 1, 253-265. 9. Kreitmair, H. (1952). Pharmakologische Wirkung des Alkaloids aus Peumus boldus Molina. Die Pharmazie 7, 507-511. 10. Kringstein, P., and Cederbaum, A. I. (1995). Boldine prevents liver microsomal lipid peroxidation and inactivation of cytochrome P4502E1. Free Rad. Biol. Med. 18(3), 559-563. 11. Lanhers, M.C., Joyeux, M., Soulimani, R. et al (1991). Hepatoprotective and anti-inflammatory effects of a traditional medicinal plant of Chile, Peumus boldus. Planta Med. 57(2), 110-115 12. Martínez, L.A., Ríos, J.L., Payá, M., and Alcaraz, M. J. (1992). Inhibition of non-enzymatic lipid peroxidation by benzylisoquinoline alkaloids. Free Rad. Biol. Med. 12, 287-292. 13. Moldeus, P., Hogberg, J., and Orrenius, S. (1978). In Methods in Enzymology, pp. 60-71, Academic Press, New York. 14. Otto, D.A., and Cook, G. A. (1983). In The Isolation, Characterisation, and Use of Hepatocytes, pp 44-48, Elsevier Science, New York. 15. Rowland, M., Benet, L. Z., and Graham, G. G. (1973). Clearance concepts in pharmacokinetics. J. Pharmacokinet. Biopharm. 1, 123-136. 16. Speisky, H., Shackel, N., Varghese, G., Wade. D., and Israel, Y. (1990). Role of hepatic gamma-glutamyl transferase in the degradation of circulating GSH: Studies in the intact guinea pig perfused liver. Hepatology 11(5), 843-849. 17. Speisky, H., Cassels, B., Lissi, E., and Videla, L. (1991a). Antioxidant properties of the alkaloid boldine in systems undergoing lipid peroxidation and enzyme inactivation. Biochem. Pharmacol. 41, 1575-1581. 18. Speisky, H., Squella, J.A., and Núnez-Vergara, L.J. (1991b). Activity of boldine on rat ileum. Planta Med. 57. 519-522. 19. Speisky, H., Cassels, B. K., Nieto, S., Valenzuela, A., and Nuñez-Vergara, L. (1993). Determination of boldine in plasma by high performance liquid chromatography. J. Chromatog. 612, 315-319. 20. Speisky, H., Cassels, B. (1994). Boldo and Boldine: An emerging case of drug development. Pharmacol. Res. 29(1), 1-12. 21. Úbeda, A., Montesinos, C., Payá, M., and Alcaraz, M. J. (1993). Iron-reducing and free-radical-scavenging properties of apomorphine and some related benzylisoquinolines. Free Rad. Biol. Med. 15, 1-9. 22. Zetler, G. (1998). Anticonvulsivant and antinociceptive effects of apomorphine alkaloids: bulbocapnine, corytuberine, boldine and galucine. Arch. Int. Pharmacodyn. 296, 255-281.


ACONTECE // Alagoas

1

1 - Dr. Hiran Maia Vieira (CRM AL 001924), ginecologista e obstetra, em Maceió – AL. 2 - Dra. Adriana Gazzaneo Gomes (CRM AL 2955) e Dra. Evanir Toledo Lima da Paixão (CRM AL 2969), ginecologistas e obstetras, em Maceió - AL.

2

Pernambuco

1 - Dr. Jaime dos Santos Souto (CRM PE000318), ginecologista, em Recife – PE.

1

2

2 - Dr. Silo Holanda (CRM PE001861), pediatra, em Recife – PE. 3 - Dra. Hilana de Oliveira Melo (CRM PE007996), mastologista, em Recife – PE.

3 - Dra. Elza M. S. dos Santos (CRM AL 002149), clinica geral, em Maceió – AL.

4 - Dr. Walter Scherb (CRM PE006748), pediatra, em Recife – PE.

4 - Dra. Sayonara M. de Almeida (CRM AL 004280), ginecologista, em Maceió – AL.

3

4

3

5

6

75

4

5 - Dra. Rafaela de Lira Machado (CRM PE014428), gastroenterologista, em Recife – PE. 6 - Dra. Cyntia Brandt (CRM PE011315), pediatra, em Recife – PE. 7 - Dr. Celso Brandt (CRM PE001446), pediatra, em Recife – PE.

8

9

10

8 - Dr. Antonio Henrique Moreira (CRM PE002445), gastroenterologista, em Recife – PE. 9 - Dra. Carla Eneida Oliveira Queiroz (CRM PE013032), ginecologista e obstetra, em Recife – PE. 10 - Dra. Maricelma Chaves (CRM PE004831), pediatra, em Recife – PE.

Hebron Atualidades

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ACONTECE // 11

12

15

16

13

11 - Dra. Eva Maria Regis Spinelli (CRM PE008617), ginecologista e obstetra, em Recife – PE. 12 - Dr. Luiz Henrique Lira (CRM PE015424), clínico geral, no Hospital da Polícia Militar, em Recife – PE. 13 - Dra. Márcia Helena Barreto (CRM PE008699), pediatra, em Recife – PE.

14

14 - Dr. Carlos Alexandre Antunes Brito (CRM PE010107), clínico geral, em Recife – PE. 15 - Dra. Silvia Cristina Carvalho (CRM PE007175) e Dra. Ana Patrícia Queiroz (CRM PE013941), ginecologistas e obstetras, no Hospital da Polícia Militar, em Recife – PE. 16 - Dra. Argentina da Mota Passos (CRM PE007048), pediatra, Hospital da Polícia Militar, em Recife – PE.

18

17

19

17 - Dra. Ana Carolina Almeida (CRM PE007247), pediatra, em Recife – PE. 18 - Dra. Lizane Maria Macedo Agra (CRM PE006257), ginecologista e obstetra, em Recife – PE. 19 - Dr. Cristiano Veiga Pessoa (CRM PE008647), mastologista, em Recife – PE.

20

21

20 - Dr. Severino Barbosa, gastroenterologista, Dr. Jesus Gadara, pneumologista, Dr. Marcelo Carvalho, hepatologista, Dra. Ana Paula, gastroenterologista, Dra. Paloma Barros, residente em Clínica Médica, e João Paulo, propagandista Hebron, no Hospital Otávio de Freitas, em Recife - PE. 21 - Dra. Elizabeth Regina Fulco (CRM PE010826), ginecologista e obstetra, em Recife – PE.

22

23

22 - Residentes do Hospital Otávio de Freitas, em Recife - PE. 23 - Dra. Rogéria de Fátima Lima Catão (CRM PE 007365), ginecologista e obstetra, em Recife – PE.

34 // Hebron Atualidades


ACONTECE // Bahia

1

2

3

1

2

3

1 - Dra. Leilze Xavier Cedro (CRM 70900), ginecologista, em Porto Seguro – BA. 2 - Dra. Virgínia Helena de Castro (CRM 13038), pediatra, em Eunápolis - BA. 3 - Dr. Roberto Farina (CRM 17735), pediatra, em Teixeira de Freitas - BA, ao lado do propagandista Salomão Santos (setor 423).

Rio de Janeiro 1 - Dr. João Marcelo (CRM 52688924), pediatria, no Hospital Prontonil, em Nova Iguaçu – RJ. 2 - Dra. Léa Cristina da Silva (CRM RJ 052901), ginecologista, em Queimados – RJ. 3 - Dr. Lino Couto de Souza (CRM 52231810), pediatra, no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, no Rio de Janeiro – RJ.

4

7

6

5

4 - Dra. Magda C. S. Paradela (CRM 52062313), ginecologista e obstetra, em Nova Iguaçu – RJ. 5 - Dra. Paula M S. Gonçalves (CRM 52078839), pediatria, no Hospital Prontonil, em Nova Iguaçu – RJ. 6 - Dr. Everson Lacerda (CRM 52054346), clínico geral, em Queimados – RJ.

8

10

9

Rio Grande do Norte

7 - Dra. Noemi Campos Santos (CRM 52004703), pediatria, no Hospital Prontonil, em Nova Iguaçu – RJ.

9 - Dr. Abenor Natividade Costa Junior (CRM 52076516), pediatria, no Hospital Prontonil, em Nova Iguaçu – RJ.

8 - Dra. Flávia Baroni Ultra (CRM RJ 058738), pediatra no Hospital Prontonil, em Nova Iguaçu – RJ.

10 - Dr. Eduardo Luiz G. Marques (CRM 52075578), pediatria, no Hospital Prontonil, em Nova Iguaçu – RJ.

1

2

1 - Dr. José Genecy Monte (CRM 000837), ginecologista e obstetra, em Mossoró – RN. 2 - Dr. José Heriberto Alves Bezerra (CRM 000886), pediatra, em Mossoró – RN.

Hebron Atualidades

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ACONTECE // São Paulo

1

2

3

4

5

6

1 - Dra. Leila Maria Haber (CRM SP 034792), pediatra, em Franca – SP. 2 - Dr. Marco Aurélio Figueiredo (CRM SP 067031), ginecologista e obstetra, em Franca – SP. 3 - Dr. Cleber Rebelo Novelino (CRM 023402), pediatra, em Franca – SP. 4 - Dr. Alberto Silva Costa Filho (CRM 026801), pediatra, em Franca – SP. 5 - Dra. Regina Celi Figueiredo (CRM SP 053530), ginecologista e obstetra, em Franca – SP. 6 - Dr. Ricardo Massuo Meiwa (CRM SP 040480), ginecologista e obstetra, em Franca – SP.

8

7

7 - Dr. Mario Portela Serra (CRM SP02404), ginecologista e obstetra, em Franca – SP. 8 - Dr. Moacir Raimundini Filho (CRM SP 059600), pediatra, em Franca – SP. 9 - Dr. Roberto Salomão (CRM SP 035876), ginecologista, em Franca – SP.

9

1

1 - Dr. Bucar Amad Bucar (CRM 475 TO), ginecologista e obstetra, em Palmas – TO. 2 - Dra. Ermelinda Santana (CRM 884 TO), dermatologista, em Palmas – TO. 3 - Dr. Gustavo Alpino (CRM 2070 TO), dermatologista, em Palmas – TO.

36 // Hebron Atualidades

11 - Dr. Ronaldo P. M. Macedo (CRM 55.151), pediatra neonatalogia, em São José dos Campos – SP.

11

10

Tocantins

10 - Dra. Christiany Cavalcanti (CRM 93.061) e Dra. Maria Teresa da Silva Palha Rocha (CRM 31.738), pediatras, em São José dos Campos – SP.

2

3


ACONTECE // 4 - Dr. Raimundo Célio Pedreira (CRM 799 TO), gastroenterologista, em Palmas – TO.

4

5

6

5 - Dra. Karina Selma Mota (CRM 1850 TO), hematologista pediatra, em Palmas – TO. 6 - Dra. Maria Márcia Barcelos Costa (CRM 641 TO), dermatologista, em Palmas – TO.

7

8

7 - Dr. Evaldino da Cunha Constantino (CRM 221 TO), ginecologista e obstetra, em Palmas – TO.

9

8 - Dra. Letícia Oliveira Andrade (CRM 2318 TO), clínica geral, em Palmas – TO. 9 - Dr. Felix Tadeu Chaves (CRM 299 TO), clínica geral, em Palmas – TO.

10

10 - Dra. Larissa N. Marques (CRM 1987 TO), pediatra, em Palmas – TO.

11

12

11 - Dr. Geraldo Queiroz Pacheco (CRM 2263 TO), pediatra, em Palmas – TO. 12 - Dr. Volnei P. Aires Pimenta (CRM 930 TO), clínica geral, em Palmas – TO.

13

14

15

13 - Dra. Mery Tossa Nakamura (CRM 1609 TO), gastroenterologista, em Palmas – TO, ao lado da propagandista Joice Alencar de Sousa (Setor 245). 14 - Dr. Márcio Antonio Figueiredo (CRM 1605 TO), neurologista, em Palmas – TO. 15 - Dra. Silvana O. Peres (CRM 2122 TO), pediatra, em Palmas – TO.

16 - Dra. Ludmila Franco (CRM 1871 TO), alergologista, em Palmas – TO.

16

17

18

17 - Dr. Eduardo Henrique Vital Godinho (CRM 2000 TO), ginecologista e obstetra, em Palmas – TO. 18 - Dr. Mário Sérgio de M. Santana (CRM 1310 TO), urologista, em Palmas – TO.

19

20

19 - Dr. Pedro Cuellar (CRM 1002 TO) e Dr. Raimundo Célio Pedreira (CRM 799 TO), gastroenterologistas, em Palmas – TO.

21

20 - Dr. Alberto Messias Jr. (CRM 1372 TO), endocrinologista, em Palmas – TO. 21 - Dra. Jussara de Souza M. Oliveira (CRM 343 TO), pneumologista, em Palmas – TO.

Hebron Atualidades

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TUDO A VER //

Os peixes beijam mais

Editores // Deborah Echeverria, Wedja Henrique Pires Diretora Responsável // Vivianne Santos Editora Executiva // Fernanda Araruna Redatora // Dênia Sales Assistente de Redação // Karinna Nascimento Projeto Gráfico // Meios Comunicação Diagramação // Fellipe Câmara Revisão Técnica // Márcio Gueiros Fotografia // Stock Exchange Arquivos Fotográficos // Odisseu, Hebron Impressão // Brascolor Circulação // Quesalon Tiragem // 30.000 exemplares Cartas à Redação // cartas@hebron.com.br

Presidente // Josimar Henrique da Silva Diretor Superintendente // Joás Henrique da Silva Diretora Administrativa // Fernanda Monteiro Henrique Diretor Comercial // Josias Henrique da Silva Diretor Financeiro // Josimar Henrique Júnior Diretor Industrial // Bruno de Matos Henrique Diretora de Marketing // Wedja Henrique Pires Diretor Médico-Científico // Márcio Gueiros Diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Tecnológica // Avaniel Marinho Diretor de Recursos Humanos e Treinamento // Guilherme Pires

•Rua das Pernambucanas, nº 282/6º andar, Sala 601 Empresarial Pernambucanas Center, Graças, Recife-PE, 52.011-010 (81) 32247571 www.odisseu.com.br odisseu@odisseu.com.br Hebron Atualidades é uma revista bimestral da Hebron Farmacêutica em parceria com a Editora Odisseu com distribuição para médicos residentes no Brasil. Esta publicação não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressam apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista Hebron Atualidades, da Hebron Farmacêutica e da Editora Odisseu. A distribuição com exclusividade dos produtos Hebron®, assim como a sua divulgação e promoção em todo o território nacional estão sob a responsabilidade da: QUESALON - DISTRIBUIDORA DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA Rua Manoel César de Melo, s/n, Galpão II, 5 - Distrito Industrial, Alhandra - PB CEP 58320-000 CNPJ/MF: 04.792.134/0001-43 INSCR. ESTADUAL: 16.133.690-6.

38 // Hebron Atualidades

André Resende é escritor e ensaísta.

F

// Por André Resende

oi um espetáculo para parar e olhar. Depois de duas semanas de desentendimento, o casal de betas parecia viver um acordo de não agressão. Ele criara bolhas na superfície do aquário e ela se aproximava – na verdade, encostava-se no corpo dele, sem o medo que entornou sua vida até ali. Volto um pouco no tempo. Ele é um beta leite macho, grande. Vivia solitário. Tinha a sensação de que falava algo para mim todas as vezes que parava para olhá-lo no aquário. Talvez pedisse uma companhia. Não gosto de animais sozinhos. Casais. Encontrei uma fêmea azul, toda azul, azul profundo, escuro, linda. Me lembrava o mar das sereias, na costa amalfitana. Pensei: ele vai gostar de primeira. O solitário não gostou. Ou se sentiu invadido. Ou esnobou meu gosto, só para mostrar que não entendo nada de peixe fêmea. Mostrouse violento e quis ocupar todos os espaços. Foi preciso colocá-la em outro aquário, próximo ao dele. Porque, durante a noite, algo aconteceu e, pela manhã, ela estava com as barbatanas ratadas. O azul que chamava atenção ficou opaco, quase branco. Fungos? Apesar disso, vidro com vidro, ela não parava de olhar para o outro lado. Ele se mantinha devagar, enchendo a superfície de bolhas. Ela voltou ao aquário e tudo recomeçou. Fui consultar na internet o ritual de acasalamento dos betas. Mas, antes, me lembrei que Konrad Lorenz, em Falava com as bestas, as aves e os peixes, havia escrito sobre eles, os peixes de briga. Lorenz descrevia o balé de amor dos peixes lutadores, os betas: a fêmea se aproximando do macho, enquanto ele a enroscava amorosamente. E assim foi. Na manhã de um sábado de verão, macho e fêmea se enroscavam. Ele a abraçava com todo o corpo, soltava, e ela caía, lenta, muito lenta, desfalecida, quase morta. Como Lorenz, pensei que aquilo era êxtase. Do laço que o macho fazia, envolvendo-a, vinha um intenso que, solta, fazia seu corpo flutuar, enquanto ele se mantinha parado, rigorosamente parado, indiferente. O corpo

da fêmea descia, ela paralisada, de cabeça para baixo, como se fosse o corpo de um peixinho morto no aquário. Refeita, reaproximava-se do macho, e tudo começava, mais uma vez. Aos poucos, ele ia à superfície e minha impressão era de que estava fazendo mais bolhas. Mas um amigo que entende e conhece de gente, bestas, aves, peixes, máquinas e centenas de outras coisas vivas e inventadas neste mundo, fez um pequeno reparo, para deixar de lado qualquer comoção romântica. Não estava vendo uma cena de amor. Ao aproximar-se do macho e ao vê-lo enlaçá-la com ardor – ou melhor, com força brutal de fórceps vivo – para extrair os óvulos, a fêmea vai a nocaute, sim, de tanta dor. O desmaio pode parecer emocionante, pela suavidade como o corpo desliza para o fundo do aquário, mas, para ela, muitas vezes, é fatal. Enquanto a fêmea desce desmaiada e a depender de si para reanimar-se, o macho suga os ovos espalhados na água e os deposita nas bolhas que construiu na superfície. Lorenz e eu nos enganamos. Não era um ato erótico, uma cena sensual e delicada. Depois de colocar os futuros brigões no casulo de ar, o macho começa nova guerra com a fêmea, para que os pequeninos não sejam comidos por alguma coisa que poderia se chamar de mãe. Quando os pequenos estiverem se movendo, alguém tem de tirar o macho de lá. Do contrário, a promessa de pai moderninho pela própria natureza vai querer devorar os filhotes. Desisti do enlace amoroso e fiquei com outra tese de Lorenz (e não quero comentá-la com qualquer sabichão, para não correr o risco de alguém dizer: não é nada disso). No mesmo ensaio, Sangue frio, Lorenz sugere que nós estamos enganados ao pensar que beijamos mais que qualquer outro ser. Nada disso. Os peixes beijam mais. Em nenhum outro animal, diz, se beija tanto e com tanta intensidade como em algumas espécies de peixe. Temos muito a reparar do que vemos e achamos entender e, mais ainda, comprovar nossas badaladas perfomances.




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