Banda Arthur Giambelli relembra glórias aos 80 anos

Page 1

local@gazetadelimeira.com.br | Página 5

GAZETA DE LIMEIRA | Domingo, 3 de junho de 2012

Local Banda Arthur Giambelli relembra glórias aos 80 anos Corporação, nascida no ideal constitucionalista, coleciona prêmios e forma músicos Renato Silva

Tank e Medeiros: a banda conquistou inúmeros prêmios e tocou em outros Estados Daíza Lacerda

Não era só o idealismo que acompanhava os combatentes limeirenses até São Paulo durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Para deixar os revolucionários no seu ponto de partida, Arthur Giambelli, com outros rapazes, levava a música para acompanhar a saída dos conterrâneos rumo às trincheiras. Nascia a corporação musical Frente Única. “Mas como todo mundo se referia ao grupo como banda do Arthur Giambelli, a corporação recebeu o seu nome”, explica Gerson Bragotto Tank, presidente desde 1995. Em 6 de junho de 1932 a banda iniciaria uma trajetória que hoje, mais do que

troféus, conserva glórias em lembranças, ao completar 80 anos nesta quarta-feira. Uma delas é a conquista do troféu do evento do IV Centenário de São Paulo, em 1954. “Eu não estava lá. Mas quem viu, disse que quando a banda entrou tocando o dobrado Guarani, o povo aplaudiu de pé”, conta Tank, com o troféu ainda ostentado na sede da banda. Em suas palavras, a taça equivalia à conquista de uma Copa do Mundo, pela concorrência com muitas bandas. GERAÇÕES Além de Giambelli, que morreu em 1947, Orlando Puzone também é patro-

no da banda, tendo participado da fundação. Iniciada com poucos membros, hoje são cerca de 40, com maioria jovem. “Dos mais velhos, são só meia dúzia”, lembra Oswaldo Medeiros, de 69 anos, integrante da banda há meio século. O torneiro mecânico que trabalhou toda a vida em indústria, como muitos dos outros músicos de outrora, não deixa de se dedicar à banda. Com boa parte de operários em seus primeiros anos, mas também com empresários, a harmonia sempre foi o forte da corporação. “Naquela época, o povo trabalhava até as 17h e depois ia tocar. Hoje é diferente, há mais dificuldades, além do pouco interesse. O jovem usa o tempo

Dedicação que não conta tempo

Arquivo Corporação Arthur Giambelli

Aplaudidos de pé, desfile em São Paulo valeu taça do IV Centenário

livre para fazer inglês, informática, espanhol”, compara Tank. Para “pescar” os talentos da nova geração, o escritor Carlos Alberto Fiore, que também toca na banda, dá aulas. Das turmas, alguns alunos são preparados e levados para a banda. “É mais fácil um levar a música do que tentar trazer dez para a banda”, justifica o presidente. A banda é também escola. O integrante mais novo tem 12 anos e entrou há dois meses. O maestro, Leandro Pereira, tem 27 anos e começou na corporação aos 12. A primeira mulher da banda, Djanira Carneiro, também começou jovem na música e dá aulas de teoria e instrumentos na corporação.

DEDICAÇÃO E FUTURO Os músicos ganham para tocar, mas não podem contar com a renda, o que torna a música um hobby. “Os músicos recebem da Prefeitura pelas apresentações, e há apoio de algumas indústrias e pessoas físicas, que fazem doações”, diz Tank. A necessidade de receita, além de cobrir as despesas fixas da sede, como telefone e energia elétrica, também é aplicada em conserto de uniformes e instrumentos. A sede atual, na Rua Boa Morte, foi garantida em permuta no governo Paulo D’Andréa. Numa trajetória de inúmeras viagens, com apresentações em Estados como

Paraná e Rio de Janeiro, a estrada tornou-se algo raro na agenda, senão por algumas cidades da região. E o futuro da banda? “O desafio é grande para o sustento”, declara Tank. Quando necessário, a mobilização é feita com rifas e eventos. Tudo por amor à música. “Para os músicos, a banda não é sequer bico. Tocam porque gostam, já que o que recebem é ínfimo”, define. No entanto, o melhor retorno é o reconhecimento. O presidente comemora o Diploma de Gratidão e a Medalha de Mérito Cívico XV de Setembro - Ordem de Tatuiby, recentemente aprovado pela Câmara. “É um dos incentivos que temos para continuar”.

Estudos levaram jovem a maestro aos 16 anos Arquivo Corporação Arthur Giambelli

Com 16 anos de idade, Leandro Rodrigo Pereira passou a ocupar o cargo de maestro na banda Arthur Giambelli. Apesar da surpresa e desafio, o jovem já se preparava para isso há anos, quando havia entrado na corporação, com 12 anos. Hoje com 27 anos, Pereira conta que começou a estudar música aos 8. Recebia aulas de saxofone com o professor João Marcondes, que o ajudou a entrar na banda, e também de violoncelo, participando da Orquestra Sinfônica. Estudar regência com o maestro Rodrigo Müller, da orquestra, e tornar-se maestro da igreja foram algum passos que antecederam a sua precoce chegada ao posto de tanta responsabilidade.

“Tinha o desejo de crescer e aprender. Quando o maestro Geraldo faleceu, o regente que o sucedeu logo precisou se ausentar para tratar da saúde. Eu o substituí temporariamente, mas ele também faleceu e acabei sendo efetivado”, declara. O momento, que elege como o ápice de sua vida, pela consideração que tem pela banda e pela música, teve um começo difícil. No entanto, ao reger pessoas com muito mais idade e experiência, o respeito prevaleceu. Assim como ele no cargo, já no 11º ano. “Aconteceu no momento certo”, reflete. Em relação à rotatividade na banda, muitos entram jovens, mas os estudos ocupam mais tempo quando entram na faculdade. “Mesmo assim, há membros que estudam em ou-

tras cidades e voltam nos finais de semana para tocar”. A banda precisa de músicos, principalmente percussionistas, que podem agendar testes. Apoio financeiro e ajuda na divulgação também são bem-vindos, enfatiza. Pereira conseguiu conciliar a paixão pela música com estudo e trabalho, e garante que nada foi suprimido em sua juventude pela dedicação à banda. Pelo contrário, mais agregou. “É uma banda popular, alegre, jovem. Não é um sistema rígido”. A carreira, que já dura uma década, não deve parar por aí. “A ideia é sempre tentar inovar, trazer material novo”, diz ele, que se vê na banda mesmo quando chegar à terceira idade. (Daíza Lacerda)

Desfile da banda tocando nas ruas era comum, prática agora impedida pelo trânsito

Oswaldo Medeiros é um tanto reservado. Mas deixa escapar pelo olhar ora saudade, ora alegria ao tentar reviver pelas lembranças tudo o que passou nos últimos 50 anos, desde que faz parte da banda. “O ano era 1962 e eu fazia o Tiro de Guerra. Meu professor de música foi o maestro Mário Tintori”, conta. A ligação com a banda foi por intermédio de seu irmão, que prestava trabalhos para a corporação. “Comecei a acompanhar e gostar. Hoje é a minha segunda casa”, define. É difícil para ele eleger uma apresentação em especial, dentre tantas. Mas numa época histórica para o Brasil, eles estavam

lá. “Nas Diretas Já, a banda abriu a passeata em São Paulo, puxando o povo. A gente se emociona demais. Cada apresentação é uma história”, diz ele, sobre o grupo que teve como maestros, além de Giambelli e Puzone, Biaggio Pincelli e Valdir Salviatti. Quando os feitos dos grandes mestres ficaram no exemplo e lembrança, a banda teve continuidade com os talentos nutridos na própria escola, com aulas gratuitas. A banda gravou seis LPs (o primeiro em 1957) e um CD, e se fazia presente ainda na praça, após as sessões de cinema, quando começava a tocar. Andar e manejar os instrumentos pelas ruas tam-

bém era comum. “Hoje a TV mantém todos dentro de casa”, lamenta Medeiros. As passeatas dos músicos vestidos de papai noel também são saudosas. “Mas com o trânsito de hoje é impossível”. Aos 51 anos, Carlos Alberto Fiore está há quase três décadas na corporação. Seu contato com a música teve início aos 6 anos de idade, no Nosso Lar. “Toda criança deveria ter contato com a música, que ajuda na concentração e no desenvolvimento. Não precisa seguir carreira, mas estudar”, diz ele, em contraponto às outras atrações concorrentes para os jovens como internet, shopping e DVDs. (Daíza Lacerda)

Eventos de comemoração começam hoje A agenda de comemoração dos 80 anos da Corporação Musical Arthur Giambelli começa hoje, com apresentação no coreto da Praça Toledo Barros, às 8h. Participarão o saxofonista Sérgio Gabriel e o Coral Santa Cecília. “Também daremos um diploma de gratidão às pessoas que cola-

boraram com a banda nesses 80 anos”, lembra o presidente Gerson Tank. No próximo domingo, dia 10, no mesmo local e horário, a apresentação será com o Nosso Coral (Nosso Clube) e flautista Valdiley Francisco de Assis (Bem-Te-Vi), que foi maestro da banda. Nesse dia terá início, na galeria doTea-

tro Vitória, a exposição comemorativa com fotos da trajetória da banda. No sábado seguinte, dia 16, a apresentação será no Teatro Vitória, às 20h. No dia 24, domingo, haverá missa de Ação de Graças aos 80 anos, na igreja São Benedito. (Daíza Lacerda)


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.