"Piscinão" do Tiro de Guerra: agora vai?

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Domingo, 19 de janeiro de 2014 | GAZETA DE LIMEIRA

Local “Piscinão” do Tiro de Guerra: agora vai? Obra antienchente é prevista para iniciar neste ano, com conclusão até o final de 2015 Daíza Lacerda

O sofrimento de comerciantes do Mercado Modelo e de moradores da baixada do Centro durante as chuvas torrenciais deve começar a acabar neste ano. Está prevista para ser iniciada até junho a construção da bacia de detenção sob a pista de atletismo anexa ao Tiro de Guerra, o “piscinão”. A obra deve conter o volume de água proveniente dos bairros próximos ao Parque Cidade, armazenando o fluxo e o liberando de forma controlada, evitando que a enxurrada chegue à baixada e provoque enchentes. Prevista há anos sem que o projeto saísse do papel, a obra será viabilizada por meio do PAC 2, em convênio assinado em 2011. O custo será de R$ 27 milhões, sendo R$ 2 milhões de contrapartida da Prefeitura. Antes disso, foram tentados outros tipos de recursos, como empréstimo internacional, o que não foi efetivado. Osmar da Silva Júnior, presidente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto, e Marcelo Coghi, secretário de Obras, explicaram que a demora do processo desde que assinado o convênio deve-se a itens como a avaliação de riscos por

parte da Caixa Econômica Federal, que faz os repasses do Ministério das Cidades, além das adequações de projetos e orçamento. O projeto do reservatório, por exemplo, passou por 11 revisões. Segundo eles, a fase atual é da entrega dos projetos executivos. O próximo passo é a autorização da Caixa para iniciar a licitação, o que é esperado para fevereiro. Por meio de sua assessoria, a Caixa informou que o contrato teve início autorizado em 29 de agosto de 2013. “Além das obras, o objeto do contrato também prevê a confecção dos projetos executivos, já que, para aprovação da verba, bastam os projetos básicos”. O banco informa, ainda, que “o município iniciou a execução do contrato pelos projetos executivos e, durante a sua confecção, verificou que seriam necessárias algumas alterações nas obras, o que é normal. Desta forma, o município solicitou à Caixa a análise desta reprogramação da obra, com as alterações propostas, o que está sendo analisado com previsão de término ainda no mês de janeiro”. A partir da análise, podem ser pedidas novas alterações. Caso isso não ocorra, a licitação será liberada.

A OBRA A pista atual será desfeita, e a obra começará pela construção do reservatório, que terá a capacidade de 10 milhões de litros. A dimensão será um pouco além do atual traçado da pista. Osmar e Coghi declararam que foram feitas sondagens subterrâneas para detectar o nível de resistência do solo, entre outros dados técnicos. As minas existentes a alguns metros de profundidade terão de ser drenadas para o início dos trabalhos. Com a profundidade de 8 metros, o reservatório será construído em concreto armado, e terá acessos laterais que permitirão a entrada de caminhão basculante e retroescavadeira. As manutenções futuras ficarão a cargo do SAAE. A pista será recomposta após as obras, e ficará cerca de meio metro acima do nível atual. Parte elétrica e hidráulica também serão refeitas. A intervenção, porém, irá muito além do entorno da pista. Concluído o reservatório, a etapa seguinte será da implantação de redes de águas pluviais em vias dos bairros próximos à hípica. “O que existe hoje nessas áreas de contribuição é uma drenagem superficial. A rede para o escoamento até à bacia terá

de ser construída”, explica Osmar, sobre a ausência de estrutura subterrânea para comportar o fluxo da água. Ruas serão abertas para receber 8,5 quilômetros de redes de galerias, com as bocas de lobo, numa área de 1 km². A partir do reservatório, a demanda será direcionada para a rede aos poucos, de forma controlada. Com a estimativa do início da licitação em fevereiro, a expectativa é que a obra comece até junho. Embora o prazo de término esteja previsto no contrato entre agosto e outubro de 2015, é considerada a conclusão até dezembro

do próximo ano. ATIVIDADES DA ALA A intervenção restringirá o espaço do Tiro de Guerra, que também usa a pista, mas não deve influenciar no funcionamento. Já a Associação Limeirense de Atletismo (ALA), que desenvolve atividades no local, precisará de nova sede temporária, devido à grande dimensão das escavações. Osmar e Coghi informaram que as atividades devem ser transferidas para área ao lado da Câmara Municipal, no Jardim Piratininga, em terreno público que está com cessão de uso ao Jardim Aquarius. A área é consi-

derada ideal devido ao tamanho e proximidade do local de treino atual, de forma que não impactaria tanto no deslocamento dos usuários. São providenciados os trâmites para que a permissão de uso não oneroso seja feita à ALA, o que depende de autorização da Prefeitura. Eles estimam que os preparativos para mudança de local dos treinos devem ter início com a licitação, possivelmente em fevereiro, já que a área prevista necessitaria de adequações como a limpeza com máquinas e construção da pista. A área possui estruturas como banheiros e vestiários, que precisariam de reforma.

Sistema tem limite e pode não suportar grandes volumes em pouco tempo O reservatório é dimensionado para deter o volume de uma chuva de 65 milímetros (mm) em uma hora, sem espaço para vazão maior que essa e em tempo inferior. Por isso, a obra não é infalível a possíveis transbordamentos, dependendo do volume de chuva. Projetada para 10 milhões de litros, a bacia controla a vazão, com o armazenamento de água e liberação aos poucos. Funcionará

da mesma forma que a bacia do Parque das Nações, que passa por desassoreamento para aumentar a capacidade, que é de 11 milhões. Mais do que o volume de chuva, Osmar da Silva Júnior e Marcelo Coghi explicam que o tempo é determinante. “Em dezembro, houve chuva de 80 mm em uma hora e a bacia aguentou. Isso não ocorreu janeiro, durante a precipitação de 60 mm em 20 minutos”, citou Coghi, sobre a chuva do primeiro

dia do ano que deixou estragos no asfalto no Cecap, em via ao lado da bacia. Apesar da possibilidade de não deter toda a vazão de acordo com a intensidade da chuva, é considerado que a obra minimizará muito os impactos na baixada central. A área, que já recebe a contribuição de outros locais, como as ruas do Centro, terá aliviada a carga da região da hípica e Avenida Piracicaba. (Daíza Lacerda) JB Anthero

José Carlos da Silva, o Fumaça, coordenador da pista de atletismo desde a fundação, em 1967; ALA treina 80 atletas e local recebe ao menos 150 pessoas por dia

O professor e a pista A Pista de Atletismo Francisco José Soares recebe cuidados como se fosse uma criança. O corte frequente do gramado e limpeza, além da pintura das paredes, são realizados e acompanhados de perto por José Carlos da Silva, o Fumaça, que está no local desde sempre. Ou seja, antes mesmo da inauguração, em 15 de julho de 1967. “Vi jogarem a primeira grama no campo. Acompanhei os tratores passando, as minas d’água. Presenciei a construção dos alicerces das arquibancadas”, testemunha o coordenador do local há 46 anos, e treinador de cerca de 80 atletas entre veteranos, mirins e juvenis da Associação Limeirense de Atletismo (ALA). Embora estivesse vinculado a outros clubes anteriormente, a fundação da ALA data de 1999. Tendo uma pessoa do esporte local como patrono, a pista popularmente conhecida como “do Tiro de Guerra” recebe ao menos 150 pessoas por dia, na estimativa de Fumaça. O público é rotativo e diverso. “Aqui vem velho, novo, gordo, magro, branco, preto. Só não permitimos que fumem, joguem bola ou a presença de

cachorros e papagaios”, dita ele, sobre a ordem mantida no santuário em que passou mais da metade de seus 72 anos. Nos 300 metros da pista treinam não só os atletas da ALA, mas alunos de academias e anônimos em geral, que usam o local nas horas vagas para garantir um passo à frente do sedentarismo. “Teve uma época em que não abríamos aos finais de semana. Mas muitas pessoas só têm esses dias fora do serviço para dedicar à saúde e recreação”.

JB Anthero

O IMPACTO DA OBRA

HOJE E ONTEM Ele avalia que as pessoas acham que a corrida é difícil. Porém, percebe que o número de praticantes tem aumentado e alerta para a necessidade de orientação. “As pessoas têm de correr, pois é a base para qualquer outro esporte. Mas tem que ir com calma, senão espana logo no começo. Há fases a serem respeitadas para não terminar em lesões”. Com mais de 500 medalhas e outros 500 troféus no currículo, o nostálgico atleta lembra que a pista sediou os Jogos Regionais em sua inauguração. Uma prova que não competiu, porque estava tra-

têm de ter 400 metros, com piso de tartan, uma espécie de borracha, e não de carvão, como a pista limeirense. “Mas já vi algumas de tartan piores que a nossa de carvão”, alfineta o treinador.

Pista em construção, nos anos 60: inauguração teve diputa dos Jogos Regionais

balhando nos preparativos do evento. “Não pude disputar os jogos por Limeira, mas ganhei os Regionais em outros 10

anos. Quando não participava, colocava os meus meninos para ganhar”, emenda o competitivo professor.

A pista não é mais apta a receber jogos abertos ou regionais, devido às exigências “a nível de seleção”. As oficiais

Fumaça revela que a obra e a necessidade de deixar o local o pegou de surpresa. Ele aguarda a definição sobre a mudança para o local sugerido pela Prefeitura, de forma que a preparação seja feita o quanto antes. Muitos usuários têm questionado e ele ainda não possui informação definitiva para responder. “É muita gente usando a pista, então levará um tempo até a adaptação em outro lugar. Não podemos fazer uma mudança brusca. Tem de ser gradativa”, pondera. “Teremos que começar de novo. A Prefeitura sugeriu o lugar, e vamos cuidar. Aqui também fomos arrumando”, disse, sobre adequações durante as décadas. Nem todas as desejadas foram realizadas, como a construção do vestiário e alojamentos, em plantas que nunca saíram do papel. “Os dos centros comunitários dão de 10”, compara. (Daíza Lacerda)


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