Caderno Especial Gazeta 80 Anos

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Terça-feira, 17 de maio de 2011

Dedicação e vocação em 80 anos de história

Daíza Lacerda

O que é melhor: ouvir histórias ou contá-las? No jornalismo, as duas coisas são necessárias. Diariamente. E hoje não seria diferente quando trazemos a trajetória dos 80 anos da Gazeta de Limeira, contada por quem testemunhou fases pelas quais o jornal passou. Fases, estas, que a geração atual pode nem imaginar. Mas que outros poderão se recordar ou familiarizar-se com um detalhe ou outro. Queremos convidá-lo hoje, caro leitor, a viajar conosco e percorrer um caminho na contramão do tempo. Para você, que todos os dias recebe por nossas páginas os acontecimentos de Limeira, do Brasil e do mundo, queremos contar como

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esta história começou há 80 anos. O desenvolvimento de Limeira e da própria Gazeta estão registrados em décadas de arquivo, nos retratos e relatos de épocas que no início eram pouco ilustrados, até serem publicados em fotos coloridas. Mas, melhor do que o papel que resiste ao tempo, mais valiosas são as memórias de quem esteve lá, “por trás das páginas”. E foram essas pessoas com suas histórias que fomos buscar nos últimos três meses, para resgatar com todos os detalhes possíveis o cotidiano de Limeira e da Gazeta de outros tempos, para ouvir sobre as raízes cuja continuidade podemos comemorar hoje, década a década, 80 anos depois. O resgate da história é

tão difícil quanto fascinante. Desde a insistência para encontrar peças-chave da trajetória da Gazeta ao prêmio do riso fácil na lembrança dessas pessoas em diversas passagens. Muitos foram unânimes ao afirmar o quanto é difícil a sobrevivência de um jornal no interior. De fato, é. Mas foi possível constatar, por meio das histórias trazidas à tona, que a Gazeta sempre teve pessoas movidas por um aliado em qualquer área da vida: a vocação. E, quem faz o que gosta, faz muito melhor. E isso não mudou nos últimos 80 anos. Para entregar hoje um material de qualidade, buscando sempre o aperfeiçoamento, a Gazeta de Limeira passou por diversas fases e dificuldades, que foram levadas adiante

por pessoas que não tinham apenas uma profissão, mas vocação. E para os que atuam empenhados num objetivo, não há hora [imprópria], [falta de] dinheiro ou imprevisto que tenham o poder de acabar com um bom trabalho. E pela Gazeta passaram (e ficaram) muitas pessoas com esta característica em comum. Fosse pelos esforços para a impressão do jornal da melhor maneira, que fosse entregue a tempo e para que a informação fosse melhor apurada e a reflexão mais interessante. Isso tudo foi feito por pessoas que você, leitor, conhecerá nas próximas páginas. Elas se doaram mais do que a uma profissão, mas ao trabalho de “fazer jornal”. Todos os dias nossas páginas trazem fatos, ou desdobramentos deles, informa-

ções que serão úteis para a rotina de diversos públicos, artigos com diferentes abordagens sobre várias situações, registros cotidianos e algumas histórias. Alegres, outras peculiares, e também as trágicas. Para que toda essa informação chegue a você, do momento do acontecimento até a sua leitura, a vocação move centenas de pessoas que fazem parte hoje do corpo de colaboradores da Gazeta de Limeira. Isso passa longe de se aplicar apenas àquele que escreve. Alguém entregou o jornal, mas, antes, alguém distribuiu depois de uma equipe ter cuidado da impressão. Isso foi feito assim que o material havia acabado de ser diagramado e impresso, depois de editadas as matérias escritas pelos repórte-

res, que estiveram no local dos fatos colhendo depoimentos, enquanto os fotógrafos registravam em imagens. A engrenagem do jornal conta ainda com equipes administrativas, de atendimento e organização, tudo para levar ao leitor o melhor produto com o melhor conteúdo. Ouvimos nos últimos meses histórias de pessoas que foram testemunhas oculares do desenvolvimento de Limeira, registrado pela Gazeta. É com satisfação que hoje as contamos a você. Se forem novidade, esperamos que sejam boas surpresas. Se algumas passagens forem familiares, esperamos que a recordação seja tão boa quanto foi aos entrevistados em seus relatos, ao relembrá-las. Boa viagem!


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Terça-feira, 17 de maio de 2011 | GAZETA DE LIMEIRA

Memória

Gazeta de Limeira, 80 anos: a informação faz história

Primeiro exemplar da Gazeta trouxe matéria sobre a visita a Limeira do General Izidoro Dias Lopes e dos tenentes João Alberto e Miguel Costa

Ao noticiar o desenvolvimento de Limeira, jornal mantém credibilidade em décadas de tradição “O programa que as boas práticas jornalísticas exigem desta folha em começo de sua existência, bem se pode resumir no mais ardente e sincero voto pelo engradencimento e pela prosperidade desta terra”. Assim J. Victorino definia, no início de sua apresentação, na primeira edição da Gazeta de Limeira que circulava há exatos 80 anos, o propósito do jornal que acabava de nascer. O final do artigo trazia uma passagem, que constava ainda no cabeçalho das primeiras edições, semanais: “Per asperas ad astra”. Pelos caminhos ásperos, aos astros, iniciava-se uma trajetória de lutas e sucesso da Gazeta de Limeira, que se desenvolve junto com a história de Limeira. Na defesa dos ideais do Partido Constitucionalista (PC) e Revolução de 32, aparecem ainda na história da fundação os nomes Mário Sampaio Martins e Álvaro Corrêa, que foi o primeiro diretor, função que exerceu até 1938. Consta que o maquinário e materiais do jornal foram comprados por Maria Thereza Silveira de Barros Camargo, que foi prefeita de Limeira e deputada estadual, e pelo advogado Octavio Lopes Castello Branco, redator, ambos pertencentes ao então Partido Constitucionalista. Mudanças de prédio e também administrativas marcaram as primeiras décadas do jornal, que foi bissemanário e trissemanário.

Nos anos 50, circulou diariamente durante quatro anos. Na época, concorria com o extinto jornal “O Limeirense”, representado pelo major José Levy Sobrinho. Da Rua Senador Vergueiro, 40, ao prédio número 572 da Dr. Trajano (onde funcionou uma papelaria), à atuação na oficina da Praça Dr. Luciano Esteves, 90, esquina das ruas Alferes Franco e Barão de Cascalho (atualmente um restaurante), gestores de várias épocas se adaptaram ao seu tempo e necessidades, sem nunca interromper o trabalho do jornal que é líder.

PRIMEIROS 40 ANOS Na primeira década de funcionamento, o professor João de Sousa Ferraz, hoje patrono da Biblioteca Municipal, foi, além de redator da Gazeta, idealizador do “Suplemento Literário da Gazeta de Limeira”, que precedeu a criação do “Letras da Província”, jornal literário mais antigo do Brasil. A sociedade anônima Gazeta de Limeira S/A, tinha o capital inicial constituído por três partes: João de Sousa Ferraz ingressa com o valor de sua tipografia, Álvaro Correia com as oficinas do jornal, e outra parte do capital em dinheiro era dos sócios Octavio Lopes Castello Branco, Hipólito Pinto Ribeiro, Ricardo Rodrigues, José Zaccaria, Sérgio Leopoldino Alves, Olindo De Luca, Maria Thereza Silveira de Barros Camargo, Breno Machado Gomes, Américo Francisco, Antônio Cláudio Parronchi, Manoel Francisco, Renato Pereira Guimarães, Olindo Menezes,

Expediente Editora Chefe: Fabiana Lucato MTB 23.378 Pesquisa Histórica e redação: Daíza Lacerda - MTB 56.157 Diagramação: Patrícia Soares Fotos: Fernando Carvalho, Flaviana Fernandes, Renato Silva

Victório Lucato e José Fabri. Numa posterior divisão da sociedade, metade dos acionistas forma a Empresa Gráfica Editorial Paulista S/A, com João de Sousa Ferraz, diretor-presidente, professor Octavio Pimenta Reis, diretor de imprensa, e Luis Rossi Filho, diretor-gerente. Outra parte dos acionistas organizou a nova sociedade Gazeta de Limeira Ltda. Antônio Campos, que em 1º de setembro de 1950 já havia assumido a presidência do jornal, se mantém no comando da Gazeta após a divisão das empresas, junto com Breno Machado Gomes, diretor de imprensa e redator, e Ricardo Rodrigues, diretor tesoureiro. Irineu Souza Francisco também exerceu a função de redator da Gazeta no início da década de 50, sendo substituído em seguida pelo jornalista Florêncio Tejeda. Em 1955, assume como redator o professor João Francisco Duarte, que ficou no cargo até julho de 1961, período de grande avanço editorial, com colaboradores de prestígio. Ocuparam ainda o cargo de redator, por pouco tempo, Anchizes Cantanhede, que foi assistente social da rede Sesi, e o advogado Ezio José de Campos, na fase em que o gerente comercial passou a ser Pretestato Rodrigues Alves. O advogado Irineu José Lucato assume a redação no período de 1962 a 1965. Ano em que, em outubro, Roberto Paulino de Araújo passa a redator da Gazeta de Limeira, cargo que exerceu até fevereiro de 1989.

ÚLTIMOS 40 ANOS Com a base solidificada por essas pessoas e consagrada pelo leitor limeirense e também da região, a partir dos anos 70 a Gazeta de Limeira deu início a um novo ritmo de desenvolvimento, não só em sua estrutura física, como profissional, sob o comando de Waldemar Lucato, advogado que começou como colaborador da coluna “Direito e Justiça”, ainda na década de 50, até assumir a direção do jornal na década de 70. A vocação para o jornalismo, herdada pelos filhos Roberto Lucato, Eduardo Lucato Neto e Fabiana Lucato, que então crianças acompanhavam o pai na redação e oficinas, revolucionou a arte de fazer jornal em Limeira. Uma das primeiras mudanças foi a gráfica. O jornal era montado manualmente. As letras, cunhadas em chumbo, eram agrupadas uma a uma sobre uma forma antes de uma prensa bastante antiga imprimir duas páginas por vez, em papéis já cortados. Somente em 1972 é que chegou a linotipo, instalada no novo prédio da empresa, na Rua Senador Vergueiro, 319, imóvel onde atualmente funciona a matriz da Gazeta de Limeira. Com 90 teclas, a linotipo permitia a “digitação” das linhas e fundição em chumbo. Depois de montadas, permitiam a colocação de fotos ou ilustrações, os “clichês”. A confecção do jornal ainda era artesanal, mas na presidência de Waldemar Lucato foi adquirida uma rotoplana, que permitia a impressão de oito páginas de uma vez, que saíam da máquina já dobradas. A evolução gráfica teve continuidade na gestão de

Waldemar Lucato, de forma a atender à demanda de leitor que o jornal mantinha e conquistava, proporcionando qualidade cada vez maior não só nos processos de impressão do jornal. O conteúdo editorial acompanhou o crescimento, com colaboradores de renome pelos seus trabalhos com as letras ou em outras áreas, além dos melhores jornalistas já conhecidos em Limeira. Assim, a Gazeta de Limeira volta a circular diariamente, definitivamente, a partir de 2 de fevereiro de 1980, aderindo, posteriormente, à era da informática, quando a linotipo foi substituída pela Nylon Print no início dos anos 90, usada até a chegada da off-set, em 1995. Naquele ano, o jornal de maior circulação de Limeira passa a ser publicado com páginas coloridas, num ritmo de modernização que não pararia por ali. Além de proporcionar atualização diária dos acontecimentos, incluindo os suplementos semanais Caderno de Lazer e Jornal da Mulher, a cobertura e incentivo ao esporte e cultura sempre estiveram nas páginas da Gazeta, chegando aos campos e salas de aula, em eventos como a Copa Gazeta Ouro e Prêmio Gazeta de Literatura, criados em 1988 e 1991, respectivamente. Com a morte de Waldemar Lucato, nunca esquecido como o grande timoneiro da Gazeta de Limeira, seu filho Roberto Lucato assume a presidência do jornal, em continuidade aos investimentos e aperfeiçoamentos. Assim, a Gazeta de Limeira começa a circular também às segundas-feiras a partir de 19 de maio de 1997.

ATUALIDADE E FUTURO Nos últimos anos, além de acompanhar a evolução tecnólogica com a presença do mesmo jornalismo sério do material impresso também na internet, sempre aumentando a interação com seu público, a Gazeta de Limeira é referência também entre leitores de Iracemápolis e Cordeirópolis, onde possui filiais, além de Engenheiro Coelho. Dos locais modestos que ocupou nas primeiras décadas até o imóvel próprio atual, a necessidade de ampliação e de mais departamentos levou a Gazeta a ocupar novos prédios, como o departamento de assinaturas na Rua Dr. Trajano, 466, a parte gráfica na Rua Sete de Setembro e demais escritórios, além das filiais nas duas cidades vizinhas. Porém, para comportar o crescimento dos próximos anos, já segue em construção uma nova sede, às margens da Rodovia Anhangüera, de onde continuará, nos próximos anos, o trabalho ininterrupto de compromisso com o leitor. Com diversos departamentos como publicidade, assinaturas, classificados e teleatendimento, além do trabalho interno de finalização, com diagramadores, gráficos e impressores, a Gazeta de Limeira conta hoje com cerca de 160 funcionários. O quadro de colaboradores cresceu para otimização do trabalho que acompanha a confiança da população de Limeira e região, que formam cerca de 100 mil leitores diários, a partir de mais de 10 mil assinantes e tiragem de 15 mil exemplares por dia. A credibilidade é atestada ainda pe-

los leitores do www.gazetadelimeira.com.br e seguidores do www.twitter.com/GazetadeLimeira. A equipe de jornalismo e de esportes também levam programação de qualidade no rádio e TV, em parcerias com TV Jornal na exibição do programa Segunda Esportiva, além da Hora da Notícia e Painel Esportivo, diários, na Educadora 1020 AM. Em todas as mudanças, entre caminhos ásperos e chegada aos astros, das quais a Gazeta de Limeira trilhou nessas décadas, as boas práticas do jornalismo idealizadas por J. Vitorino há 80 anos são um princípio que norteia hoje o atual corpo de colaboradores, para oferecer todos os dias informação imparcial e com a melhor apuração de uma equipe de reportagem e edição de primeira. Das primeiras letras montadas uma a uma no chumbo à informação em primeira mão também na velocidade da internet, acessadas por um clique, você confere nas próximas páginas o desenvolvimento da Gazeta de Limeira nestes 80 anos, a partir da experiência de quem viveu o dia a dia da redação e da gráfica em décadas passadas, além de descobrir como é preparado o jornal por aqueles que continuam escrevendo esta história, e a de Limeira, todos os dias. Mesmo as pessoas já falecidas, que contribuíram nessa trajetória, têm sua dedicação lembrada por familiares, que foram testemunhas de uma devoção que levou a Gazeta não só a completar a oitava década, mas fazê-lo buscando e garantindo sempre o melhor trabalho para a satisfação de quem é o mais importante de toda esta história: você, leitor!

Equipe de administração e RH

Departamento de assinaturas e circulação

Atendimento no balcão e classifone

Departamento de publicidade

Departamento de Informática

Repórteres e fotógrafos

Fechamento: diagramadores, editores e revisores

Impressores da gráfica


GAZETA DE LIMEIRA | Terça-feira, 17 de maio de 2011

Caderno Especial Gazeta 80 anos | Página 3

Primeiras Décadas JOÃO FRANCISCO DUARTE

Fernando Carvalho

Jornal diário e curso superior eram os seus sonhos para Limeira Redator-chefe nos anos 50, geriu situação financeira crítica e visava à compra de prédio próprio Reconhecido advogado, atuante em perícia criminal, o também professor João Francisco Duarte detém o que é provavelmente o mais antigo registro de jornalista em carteira profissional da cidade, datado de 1958. “Sou um decano do jornalismo em Limeira”, orgulha-se. Formalidades à parte, aos 82 anos ele é um dos que não só testemunharam importantes mudanças na Gazeta de Limeira, como foi o responsável por muitas delas, como convidar Waldemar Lucato para escrever no jornal. Começou na Gazeta de Limeira como redator auxiliar e repórter, em 1953. Lecionava no Colégio Santo Antônio, quando Antônio de Campos, diretor do jornal junto de Ricardo Rodrigues, procurava alguém para substituição de Florêncio Tejeda, que era o redator e se mudaria para

Campinas. “Apenas no fim de 1954 assumi como chefe, com a saída de Tejeda”, recorda-se. Quando chegou à Gazeta, a tiragem era de 1,2 mil exemplares. Ao deixar a redação, em 1961, a impressão chegava a 2,8 mil. Como ele fez isso? Com jornalismo combativo, enquanto “o redator era chefe de si mesmo”, juntou um time de colaboradores de prestígio. Além do “amigo com A maiúsculo”, como ele mesmo defina o dr. Waldemar Lucato, que assinava a coluna de Direito e Justiça, outras áreas eram contempladas pelo professor Lázaro Duarte do Páteo, Ary Apparecido Salibe (agricultura), Natanael de Leitão e Cônego Rossi (religiosos), João Batista Pileggi (esportes), Olindo De Luca (Cantinho), Paulo Mário (Teixeira da Mata, noticiário social), enquanto Duarte se responsabilizava por demais reportagens, no tempo dividido entre a redação e as aulas. Numa época em que o clichês precisavam ser encomendados para que saíssem fotos no jornal, o que era caro, garantia fotos

através de seus contatos em outras cidades. “Precisava ser inventivo. Conseguia pelo menos um por semana, em troca de publicidade. Eu também escrevia para jornais de Campinas, então fazia intercâmbios de forma que nos despachavam fotos de interesse, enquanto eu escrevia artigos. Muitas ilustrações nada custaram”. REPERCUSSÕES Entre as reportagens inesquecíveis, lembra de uma época em que o prefeito pretendia dar um aumento exagerado aos impostos. Quando foi à votação na Câmara Municipal, que funcionava onde hoje é o Banco do Brasil da Praça Toledo Barros, havia PMs com fuzis na porta da Casa, cena publicada no dia seguinte com o título “Galeria da Vergonha”. “Teve uma repercussão boa, porque ia ao encontro dos anseios do povo. Isso também aumentava a circulação”. Como jornalista que se preza tem boas fontes, Duarte também tinha essa garantia. Certa vez iniciou campanha para vistoReprodução

No aniversário de 1958, aqueles que faziam a Gazeta de Limeira foram homenageados com o traço de Lune

ria dos cinemas da cidade (eram seis) para atestado de segurança, após a tragédia da queda do teto em um cinema de Campinas. E, como conta, havia um cidadão do jornal concorrente que não parava de atacá-lo nesta questão. “Até que u m dia soub e q u e Sem medo de temas polêmicos, em sua época como redator-chefe o jornal “saiu do vermelho” sairia um novo artigo, então nhou cadeiras, a Câmara um jornal diário e nem cura Gazeta já saiu no mes- Municipal, e ao lado do ve- so superior”, justifica. mo dia com a resposta. Ti- reador uma senhora choA ideia era a tranferênnha um bom informante e rando. Nela estava escrito cia da sede da Praça Dr. Luna época acusaram vários ‘Gramática’”, diverte-se ao ciano Esteves e ampliação inocentes. É o tipo de coi- lembrar. para fazer o jornal diário. sa que deu impulso ao jorNuma época em que Os sócios majoritários gosnal”. opinava-se livremente fer- taram da ideia. Antônio de O caso da segurança via “O caldeirão”, seção Campos achou um imóvel nos cinemas também foi humorística que trazia as modesto no qual era posilustrado, em outra inova- mais ácidas passagens de sível dar uma entrada e fição trazida à Gazeta por conversas que saíam no ca- nanciar o restante, o que Duarte: a publicação de fé que ficava onde hoje é a agradou a Rodrigues e Ducharges sobre o cotidiano loja Passarela, sobre figu- arte. Mas a decepção dos limeirense, que eram as- ras de Limeira. “Alguns ti- três veio na assembleia sinadas pelo então profes- nham até medo de passar com os cotistas. “O jornal sor de desenho do Castello por ali. Saía conversa sobre nunca havia dado dividenBranco, Nelson Luiz Fer- futebol e política. Políticos dos, então preferiram rereira, o Lune, e, posterior- em época de eleição procu- partir o dinheiro. Foi o momente, por Thyrso Brizola, ravam para que falassem tivo pelo qual deixei a Gaque alcançou grande des- deles no Caldeirão, já que zeta. Foi uma mágoa. Mas, taque. A Secretaria de Se- era muito lido. Às vezes vi- felizmente, Waldemar Lugurança havia feito levan- nham pedidos para não pu- cato entendeu aquela netamento técnico sobre os blicar. Quando eram fatos cessidade e a executou fucinemas, mas o perito não a esclarecer, segurávamos, turamente”, comemora. emitia o laudo, passados por prudência”, explica. Quanto ao curso supequase nove meses da visrior, os jovens terminavam toria. “Publicamos a charo ensino secundário e preREALIZAÇÕES ge com a plateia no circo cisavam estudar na região, e, no meio, o governador Quando assumiu, o jor- pagando transporte, além Jânio Quadros engolindo nal vinha de uma situação de materiais. “Com uma Liuma espada onde estava difícil de dívidas e débitos. meira já próspera, os hoescrito ‘laudo’. Mandamos Era necessário aumentar a mens públicos ainda não alguns exemplares para o circulação e anúncios, que haviam se importado com governo. Não sabemos se foram capitalizados com isso. Foi quando levantaviram, mas o laudo final- uma agência de propagan- mos a bandeira para a criamente veio e atestava que da de São Paulo. Ao deixar ção do curso de Direito, o as casas estavam sem con- o jornal, a empresa já não mais barato, já que não exidições seguras, exceto pelo devia mais nada e tinha gia laboratórios, mas uma Cine Boa Vista”, conta. saldo em caixa. Foi quando boa biblioteca. Desse moviEm outro desenho, ha- sugeriu a Antônio de Cam- mento é que surgiu a Assovia um vereador que fala- pos e Ricardo Rodrigues a ciação Limeirense de Eduva muitos termos errados, compra de uma sede pró- cação (Alie). Conseguimos na época do calçamento pria. “Limeira prosperava outros cursos como Admida São Benedito. “’Haja o financeiramente nos ramos nistração, Economia, Cique hajar, vamos apedrejar comercial, de agricultura e ências Sociais e Geografia. São Benedito’, dizia ele, em industrial, mas tinha duas Mas, Direito, só depois de discurso. Então Lune dese- falhas grandes: não tinha 30 anos”.

CELSO JOSÉ PALERMO

Acompanhou o entusiasmo de Waldemar Lucato com o jornal Fernando Carvalho

O advogado Celso José Palermo acompanhou a Gazeta de Limeira de outras décadas. Parceiro de profissão e escritório do dr. Waldemar Lucato, ele viu no amigo o entusiasmo crescente com a Gazeta. “O nosso escritório era ao lado da redação, na esquina da Barão de Cascalho com Alferes Franco. Ele saía da sala para observar o trabalho da redação e oficina, na época capitaneado por Moacir de

Celso Palermo assinou a coluna “Temas de Direito”, mas porta de entrada à Gazeta foi a literatura

Campos. O jornal era montado ‘na unha’, linha por linha, num trabalho de arte maravilhoso. Waldemar era excelente e ético advogado, e tinha uma dedicação cada vez maior ao jornal. Era um administrador e também empresário do jornalismo. Se interessou de forma atuante e fez remodelações, com máquinas novas”, recorda. Uma lembrança marcante de Palermo é a comemoração dos 50 anos da Gazeta de Limeira. “Em 1981 eu era advogado do sindicato patronal do comércio, quando promovi a homenagem dos 50 anos da Gazeta. Foi um momento muito especial, na sede do Nosso Clube, quando tive a honra de ser o mestre de cerimônia. É uma vitória um jornal

do interior sobreviver por tanto tempo e isso precisava ser reconhecido”, relembra o responsável jurídico do Isca Faculdades, que nos anos 80 escrevia a coluna “Temas de Direito”. No entanto, o seu vínculo com a Gazeta teve início não pelas leis, mas pela literatura, quando foi premiado com o primeiro lugar em um concurso promovido pelo jornal, em 1952. Na época foi publicada a íntegra do trabalho feito sobre Machado de Assis. No âmbito literário, Palermo também teve participação na Gazeta com Irineu de Souza Francisco, que posteriormente mudou-se para São Paulo e se casou com a atriz Nair Belo. Escrevia também editorias “a quatro mãos”, com Waldemar Lucato.

Em sua coluna abordava a Constituição de 1946, entre outros temas. “Não havia tanta informação e as pessoas queriam saber como funcionava, telefonavam para tirar dúvidas”. Em 1991, por sugestão de Waldemar Lucato, com as modificação das relações de consumo, passou a escrever também sobre o Código de Defesa do Consumidor, assunto que gerava muitos comentários. Aos sábados, reunia-se e conversavam sobre o jornal. Planos em uma época que a cidade tinha 80 mil habitantes e o prédio da praça “tornou-se acanhado e a mudança era importante”, como pontua. “Esteja onde estiver, Waldemar estará orgulhoso dos filhos pela continuidade”.


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Terça-feira, 17 de maio de 2011 | GAZETA DE LIMEIRA

Memória IRINEU JOSÉ LUCATO

Construção do fórum foi uma das lutas de sua época

Entre os anos de 1962 e 1965, Irineu José Lucato, 80, esteve à frente da redação da Gazeta de Limeira. Na época, recém-formado em Direito, dividia escritório com dr. Waldemar Lucato e Breno Machado Gomes, indicado pelo primeiro a iniciar na carreira jornalística. Ele relembra a época com a rotina de uma verdadeira família, no modo artesanal de se fazer jornal. “Era um trabalho de montagem manual, letra por letra, sem linotipo ou computador”, pontua ele sobre o período em que o jornal não era diário. No entanto, as passagens mais marcantes foram

quando a Gazeta estava en- Lucato, que foi vereador en- para resolver problemas ção do clube Estudantes, gajada na defesa da cons- tre os anos da cidade, como os de água no Jardim Esmeralda, cuja trução do novo fórum. “A 40 e 50, e esgoto. “Havia esforços comissão de obras, da qual Gazeta foi uma trincheira lembraconjuntos da sociedade ci- participava dr. Waldemar nesta batalha pois, na épo- -se de vil e também de entidades Lucato, previa fazer mais ca, a parte forense funcio- o u para a construção de uma do que um campo próprio nava no mesmo prédio da t r a s estação de tratamento de para o time amador, mas cadeia, na parte superior”, h i s água e o jornal atuava tam- um local com estrutura parecorda. O juiz da época, t ó r i a s bém nessas questões de ra concentração de outros Francisco Inácio Quartim necessidades”, diz. times que viessem à cidaBarbosa, chegou a ter diOutro fato que testevergências no Tribunal munhou foi a construde Justiça diante da situação, que culminou com a vinda da corregedoria para avaliar e finalmente atender ao pedido de construção, conta. Na Gazeta, Quartim fazia manifestações em prol do novo fórum. “A Gazeta sempre lutou pelo bem-estar da população e conquistas do município. Por isso abria as portas para colaboradores na busca pelo progresso”, salienta. Durante sua passagem pela Gazeta de Limeira, novo fórum era necessidade da cidade, lembra Irineu Lucato Filho de Vitório Fernando Carvalho

Jornal militava na busca de melhorias para a cidade, como sistemas de tratamento de água e esgoto

ROBERTO PAULINO DE ARAÚJO

de. “No início dos anos 60, em Limeira, só havia o estádio da Vila Levy e a acomodação dos clubes era Piracicaba, no estádio do XV. Foram construídas a parte social e o campo. Faltaram as arquibancadas e alojamento”, explica, sobre o projeto que não se cumpriu. “Depois disso, o Limeirão foi construído, sob o espírito de que Limeira comportava um estádio à altura do progresso”. Nos anos em que esteve na redação não havia muitos repórteres, mas o trabalho sempre foi pautado pelo respeito e ética jornalística. “Valdir Salviatti escrevia. Não havia tanta variedade de notícias como há hoje, mas abordávamos quase tudo. Quando saí, indiquei Roberto Paulino de Araújo, que ficou lá por muitos anos. Havia a ideia de expansão da Gazeta de Limeira, o que se concretizou quando Waldemar assumiu”.

RENATO P. GUIMARÃES

Criava personagens para Comandava programa ilustrar fatos do dia a dia de auditório transmitido Arquivo Família

Roberto Paulino esteve à frente da redação por mais de 23 anos

“Escrevia de mensagens para namorados a ofícios, além de poemas, ficção e reportagens. Era um jornalista completo”. Assim Myrian Arcaro de Araújo define Roberto Paulino de Araújo, falecido em 28 de outubro de 2009, aos 85 anos, com quem foi casada durante 51 anos, até a sua morte. Embora tenha substituído Irineu Lucato como redator-chefe em 1965, Ro-

berto Paulino já participava com artigos desde 1948, com notícias do Nosso Clube. Assinava a coluna “Em órbita” foi redator-chefe até 1989. Saudade e lembranças preenchem o semblante de Myrian, ao falar do marido. “Abordava diversos assuntos em tópicos, no espaço que usava também para criar personagens em fatos do dia a dia. Tinha a dona

Piturinha e tio do Boituva, que ilustravam casos da cidade. Até hoje perguntam se eram de verdade. Às vezes reclamavam da cidade de forma jocosa, em outras, mais sérias”, revela ela sobre as criações do literato. Mineiro de Muzambinho, recebeu título de Cidadão Limeirense e na rotina da redação ajudava a compor na linotipo, além de revisar as matérias. Chegou a ser secretário de Cultura, o que não conflitou com sua atuação no jornal, garante Myrian. “Ele não misturava as coisas, sabia contornar”. Na época em que atuou na Gazeta, o jornal circulava aos domingos, com assuntos de política, economia e vida social dos clubes, além da valorização da parte literária. Ele acompanhou mudanças na Gazeta como a do novo prédio e renovação das máquinas. Como redator, registrou a chegada do homem à lua, em 1969, além de acompanhar a construção da Rodovia dos Imigrantes, tida na época como a obra do século. Relatou ainda notícias trágicas como o assalto à loja Cleide Joalheira, com tiroteio e mortes, e a primeira apreensão de maconha no município, logo 600 quilos da droga, mostrando que Limeira passava a vivenciar os problemas das cidades grandes. Fernando Carvalho

Myrian Arcaro lembra que o marido era muito procurado, para escrever desde cartas a ofícios

pelo rádio

Fernando Carvalho

Renato Guimarães Júnior na biblioteca do pai, cuja caricatura é ilustrada ao fundo: charadas e paródias eram fruto de inteligência fulminante do pai

Das portas e janelas para dentro, a casa na Rua Carlos Gomes parece outro mundo, paralelo ao comércio e vai-e-vem de veículos na movimentada via. O lugar proporciona uma viagem no tempo, com mobiliário antigo, sobretudo o da Biblioteca Renato P. Guimarães. Apesar do semblante sério do retrato do antigo dono, a biblioteca tem também uma caricatura do próprio. “Como vocês podem ver, no desenho foi acentuado o seu nariz, que eu suavemente herdei”, observa Renato Guimarães Júnior, 72, o filho primogênito do Renato pai com Maria Francisca Amaral Soares Guimarães, mais conhecida como Didi Guimarães. Com os pais vivos apenas na memória, além da casa que abrigou a família, incluindo a sua irmã Alzira Helena Guimarães Batistella, Guimarães, procurador aposentado, lembra dos cuidados do pai autodidata. O pai, que foi escrivão do júri, casava o dever da Justiça e prazer da literatura, com o capricho de quem reencadernava seus livros com novas capas que traziam fotos. “Era muito pobre e precisou trabalhar para pagar um professor e ser alfabetizado”, declara. O pai já era acionista da

Gazeta antes de Guimarães nascer, mas tinha uma participação à distância. “Comungava com as decisões da diretoria. Tinha um relacionamento intenso, mas não exercia atividades administrativas no jornal. Para ele, o jornal era instrumento de difusão. Nasci ouvindo sobre a Gazeta, que sempre foi uma referência para nós”. O forte de Renato P. Guimarães era o entretenimento inteligente, numa época anterior à existência da TV. Ainda assim, Guimarães ilustra o pai como uma espécie de “Faustão”, com o seu programa de auditório na rádio Educadora com charadas, enigmas, e apresentação de talentos. Era a “Hora Renatada”. “Pioneiro, se interessava em participar de atividades culturais e tinha inteligência fulminante. Mas era contido. Não bajulava, era imparcial e restrito”. Na época, jornal era o meio mais forte de informação, conta Guimarães. “Fora isso, era bate-boca de esquina ou telegrama, numa época em que as pessoas tinham contato mais íntimo, senso comunitário, algo que caiu hoje com o aparecimento da internet”, opina. “TV era algo estranho para meu pai. Assistiu à chegada do homem à lua. Entendeu, mas

não vibrava”, acrescenta. Natural de Monte Mor, o pai era popular e a mãe, Didi Guimarães, foi sua inspiradora, embora mais rígida do que o marido. “Para ele, fazia parte ter uma gota de humor na vida. Ela leu a Gazeta até o fim da vida, já que acreditava que a atividade intelectual não podia parar nunca”. Concentração e imaginação foram os dotes transportados por ele aos órgãos de imprensa que passou. Renato P. Guimarães (o P. é de Pereira, que o pai não gostava, como ressalta Guimarães), morreu no dia 6 de agosto de 1969. Havia parado com suas atividades 10 anos antes. A família ainda conserva participação em ações da Gazeta. Coerência foi o maior ensinamento do homem que não se curvava, ainda que fosse em entraves com juízes, reflete o filho, que destaca ainda o lado músico do pai, que fez o hino da Internacional, entre outras composições. “Havia uma música comovente, ‘As três Lágrimas’, que falava da beleza da mulher. Pois ele fez a sátira ‘As três gargalhadas’, paródia irônica sobre a mulher feia, com sadismo ferrenho”, descreve, sobre o homem que não perdia a piada.


cmyk GAZETA DE LIMEIRA | Terça-feira, 17 de maio de 2011

Caderno Especial Gazeta 80 anos | Página 5

Memória NIVALDO NAVARRO

Arquivo Gazeta

Marcou época na cobertura policial Perfeccionista, mantinha precisão na hora de apurar e era responsável também pelas fotografias O repórter Nivaldo Navarro era reconhecido pelo seu temperamento, além das reportagens policiais e fotografias na decáda em que atuou na Gazeta, cobrindo, ainda, outros assuntos como as necessidades da cidade no espaço “Quem resolve?”. Ele, que trabalhava com tipografia, começou a fazer reportagens por curiosidade, tendo registrado fatos da década de 70 e 80 na Gazeta de Limeira.

A lembrança de Rita de Cássia Navarro Del Pietro, 48, remete ao pai que era uma mistura de brincadeira e seriedade, com uma rotina bem diferente com as ocorrências policiais. “Na infância, os carros de polícia paravam em frente de casa, sempre com novas coberturas para ele cobrir. Os vizinhos ficavam assustados, não tínhamos sossego de madrugada. Eu não dormia enquanto meu pai não chegava”. Era procurado em casos como o do chinês Chan, quando veio à tona. Ela, que acompanhava o pai sempre que podia, cresceu vendo a sua atuação, chegando a ajudá-lo a fazer os clichês. “Ele sempre pedia opinião do que escrevia. Teve saudosas crô-

nicas. Mas ninguém podia tirá-lo do sério, tudo tinha que ser certo como ele queria. Redigia e ai se saísse algo errado. Mesmo depois de aposentado, ele continuava reclamando”, descreve. Navarro também ensinou o trabalho a muitos novatos, como na época eram os fotógrafos Mário Roberto e João Batista Anthero, além da jornalista Márcia Guerreiro, hoje editorialista de O Estado de S. Paulo. “Achava muito gratificante dar suporte”. Mas, quando a Gazeta se tornou diária, as notícias eram mais atualizadas, e a correria, maior. O que não atrapalhava a dedicação à família. “Minha mãe sempre conviveu bem com a rotina dele. Eu é que era mais ciumenta, ligaFernando Carvalho

Rita, que cresceu vendo o pai acompanhar ocorrências policiais, guarda homenagens a ele publicadas

VALDIR SALVIATTI

Redação e música eram suas paixões “É muito fácil falar dele. crever. Criticava o que não Não havia quem não o gosestava bom, mas sem ofentasse. Era uma pessoa muider”, observa. Atuava tamto humilde e competente no bém na parte administratique fazia. Em sua vida, hava, além de fazer fotogravia duas paixões: a Gazeta fias, inclusive de bandidos e a banda”, descreve Aparena cadeia. “Eu ficava preocida de Lourdes Diotto Salcupada que um desses puviatti, 56, sobre o marido dessem marcá-lo, afinal, Valdir Salviatti, falecido em ele tinha dois filhos para 1991. cuidar!”. Redator da Gazeta na Na vida dedicada às leépoca em que o jortras e à música, trabalhava nal circulava às de manhã até o início terças, quintas e da noite, e voltasábados, Salviatti va à redação participou do iníquando era cio da circulação necessário, diária. A informaconta Aparecitização começou da. “A Gazeta pouco antes de era a segunda Coluna “Do Cotidiano”, assinada por Salviatti, seu falecimento, ressaltava necessidades da população casa, da qual mas ele não chegou se sentia um a se desfazer da máquina de fotos em clichê. “Era uma pedaço, uma extensão do escrever como material de pessoa simples, que não jornal. Quando se faz o que trabalho, além da observa- gostava de bajulação. Ape- gosta, nada é trabalho deção e considerações na co- sar disso, foi muito home- mais. Um padre sempre diluna “Do cotidiano”, princi- nageado em vida, inclusive zia que as pessoas nascem palmente pela ótica dos que com troféus Fumagalli de Li- com um talento. Ele nasceu mais precisavam de aten- teratura. Todo ano o prêmio com dois”, diz ela sobre o ção. “Greves em bancos são era dele”. autodidata, que nunca escomuns até hoje, mas, naQuando Aparecida o co- tudou especificamente paquela época, duravam mui- nheceu, em 1972, Salviatti ra as artes que dominava, de tos dias e ele defendia que já trabalhava na Gazeta. Na escrever e tocar. os bancos precisavam abrir época, ele morava no sítio, Apesar de ter morrido pelo menos para os aposen- no Lagoa Nova, onde o pai com 45 anos, todos o chatados, que dependiam da- tinha um armazém. Já es- mavam de senhor. Tocou quele pagamento mensal. crevia e tocava clarinete na com a banda no sábado duEra ele escrever num dia e Corporação Musical Artur rante toda a tarde, na fesos bancos abrirem no outro. Giambelli, até o falecimento ta do dia das Crianças proTudo o que ele dizia surtia do maestro, quando o subs- movida pela antiga Varga. efeito. Sua palavra tinha for- tituiu. Ele tinha 26 anos e Na manhã de 13 de outubro ça, e ele usava para ajudar”, ela, 17, além da preocupa- de 1991 foi levado por um lembra Aparecida. ção de namorar alguém tão enfarte fulminante. HouAlém da apuração e re- popular. “Mas ele era muito ve tentativa de socorro, em dação, Salviatti acompanha- simples, tinha amizade com vão. “Limeira perdeu uma va todas as fases do proces- todos”. voz, com certeza, porque so de confecção do jornal, Além de poesias, escre- todos escutavam atentos o desde a leitura e revisão das via a coluna durante a se- que ele falava. Hoje há muimatérias até o processo ti- mana. “Ele amava aquilo e ta saudade, mas boas lempográfico e a montagem das tinha um jeito único de es- branças”.

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va para saber dele na redação”, admite Rita. Quando havia fuga na cadeia, saía correndo junto com bandido, embora, ao contrário da polícia, não tivesse aparatos para se defender. Tinha bons contatos, era bem visto no meio policial, que usava fotos que ele fazia. “Conversava com bandidos, recebia ameaças, mas sentia-se protegido também. Ia nas delegacias toda manhã e também recebia reclamações, como buracos em calçadas, na época em que Limeira era outra”. Nunca saía para viajar. Mesmo bravo, era tanto racional quanto emocional. “Já estava aposentado quando Roberto Lucato escreveu que era um ícone, na época uma palavra não tão usada. Isso levantou a autoestima dele, e gabava-se a todos que era um ícone”. A precisão na hora de apurar o mantinha à prova de processos. Embora a cidade fosse mais tranquila, havia crimes bárbaros, a exemplo do caso Iquita. Neste último, além da filha, Navarro fez a cobertura acompanhado do genro, que até então não estava condicionado à rotina do sogro. “Meu pai estava acostumado a ver de tudo, mas naquele dia meu marido não conseguiu almoçar”, diverte-se Rita, ao lembrar. Mas também tinha o lado sensível, quando chega-

Nivaldo Navarro fez a cobertura de casos célebres e também era responsável pelos “clichês”, as fotos que saíam no jornal

va a chorar ao contar os fatos em casa. O envolvimento e nervosismo acabou afetando a sua saúde. Teve úlcera, além de problemas cardíacos, tendo passado por cirurgias. Convalescente, Rita avalia que ele sofreu muito pela honestidade. “Era pautado pela dignidade. Não suportava sequer ouvir falar em ‘jabá’”. Parou de trabalhar no início dos anos 90, após uma cirurgia. Tentou voltar, mas aposentou-se. Chegou a citar que sentia falta “da maravilhosa correria necessária para se colocar os acontecimentos da

cidade ao alcance do leitor”. Morreu na madrugada de 31 de julho 2006, aos 65 anos. “Teve uma vivência fantástica. Vejo o trabalho dele e dou valor. Tudo o que assisto, é com os olhos do meu pai”, define Rita, cujo filho, inspirado pelo avô, escolheu o Jornalismo como carreira. E como Nivaldo Navarro avaliaria a mídia hoje? “Acho que ele elogiaria, mas também faria críticas. Era muito crítico e o seu próprio editor. Autoconfiante, não deixava passar nada”.

JOSÉ MANOEL DE ALMEIDA

Vendo a dedicação do amigo, vendeu ações a Waldemar Lucato Fernando Carvalho

Amigos de longa data, Almeida testemunhou avanços da Gazeta sob direção do dr. Waldemar Lucato

Nos anos 70, o advogado José Manoel de Almeida, 73, dividia escritório com o dr. Waldemar Lucato e Breno Machado Gomes, quando este era sócio da Gazeta de Limeira junto com Antônio de Campos e Ricardo Rodrigues. Quando Antonio de Campos faleceu, a família ofereceu as cotas do jornal a Gomes, que foi redator-chefe por muito tempo. Mas Gomes indicou o negócio ao dr. Waldemar Lucato e Almeida, que assumiram a parte em 1977. “Conhecia Waldemar desde o sete anos de idade, quando ele jogava futebol com meu irmão. Junto ao trabalho na advocacia, também dirigia

o jornal”, diz. Almeida acompanhava os negócios do jornal a distância, além da leitura. Lembra-se das abordagens nas edições acerca dos problemas da cidade, como a construção do fórum e falta de água devido à rede precária, que antecedeu a construção do SAAE, também problemas com energia elétrica. “Era capital da laranja e não conseguia produzir energia. Como podia?”. Telefonia era outra questão que merecia atenção, quando a central telefônica funcionava na esquina da Dr. Trajano com Alferes Franco, onde hoje é a Esportes Avenida. “Levava-se

horas para conseguir uma ligação a São Paulo. Era mais fácil ir do que ligar!”. Como acionista, testemunhou os avanços da Gazeta. “Waldemar deu dinâmica ao jornal, que passou por tranformações para se adaptar às mudanças da sociedade. Era cada vez mais lido e aceito”. Ele avalia a dificuldade de se fazer jornal no interior, principalmente naquela época em que não havia tantos acontecimentos assim, por isso a parte literária era forte. As sugestões de pauta vinham por telefone ou na própria redação, recebidas por Roberto Paulino, na época, que escrevia artigos, poemas e matérias. A parte de esportes passava a ser mais abrangente, com cobertura nacional, além da cidade. Os torneios eram disputadíssimos. “Os jogos de amadores antecediam a partida dos profissionais. As bandas Henrique Marques e Artur Giambelli saíam das sedes e iam aos campos tocando, numa época em que era possível fazer isso na rua”, recorda. Como já se dedicava ao escritório de advocacia, o que continua fazendo até hoje, em 1987 passou suas cotas ao dr. Waldemar Lucato. “Ele se dedicava de corpo e alma, era justo que ficasse. Fomos amigos até o fim e me orgulho de ter acompanhado o progresso da Gazeta de Limeira”.




cmyk Página 8 | Caderno Especial Gazeta 80 anos

Terça-feira, 17 de maio de 2011 | GAZETA DE LIMEIRA

Fazem parte da história

Em artigos, eles contribuem com visões diferenciadas do cotidiano AUGUSTA MARINO GALZERANO

A maioria das donas de casa é prendada, e, vez ou outra, deparam-se com situações que exigem soluções também domésticas. Mas, quais? Na dúvida, pergunte a Augusta Marino Galzerano, 86. Ela é detentora dos “segredinhos”, e procurada para ajuda em situações como eliminar traças do armá-

rio, tirar o cheiro do café da garrafa ou limpar de forma eficiente o xixi que o cachorro fez no sofá. E isso é só um pouco de tudo que ela escreve em sua coluna na Gazeta de Limeira, há décadas. A antiga “De tudo um pouco” se tornou hoje a “Melhor idade” do Jornal da Mulher. “Mas ainda tem um pouco de tudo”, atenta ela, que foi incentivada por dr. Waldemar Lucato a escrever. “O espaço traz ainda piadas, para que as pessoas riam um pouco, e perguntas, para ativar os neurônios. Não tenho a pretensão de ensinar, mas se a pessoa é obrigada a pensar, o cérebro será estimulado”, declara. O repertó-

rio vem de muitos livros, assim como os poemas que são pedidos ou publicados como homenagens. Entre os autores, Eudoxia Quitério e Fernando Pessoa, um de seus preferidos. “São poesias lindíssimas, que tocam a sensibilidade, coisas das quais o humano precisa, de calor”. A repercussão e carinho são grandes, já que recebe muitos telefonemas e cartões. “A coluna é amena, mas agrada também aos homens, que comentam que acertaram todas as perguntas, que esperam o domingo para rir, ou que a mãe lê antes de todo mundo para fazer perguntas. As pessoas ficam satisfeitas, e eu mais ainda em dar alegria, estímulo e receitas”, declara.

REYNALDO JOSÉ GATTI BUSCH Quando se formou em Direito, Reynaldo José Gatti Busch, 74, já gostava de escrever para a imprensa, na época em que a Gazeta de Limeira era na Praça Dr. Luciano Esteves. “Escrevia à máquina, e entregava o texto para o Moacir de Campos. Ficava ansioso para a edição sair. O jornal ainda era bissemanário e entregue pelo José Ambrósio. A tiragem era bem menor, assim como Limeira, que devia ter uns 70 mil habitantes”. Da colaboração esporádica, passou para a fixa em 1995, com publicação da coluna de Direito todas as quartas-feiras. O convite foi feito na Praça Toledo Barros. “Próximo do ‘ponto de automóveis’, na Rua Carlos Gomes,

MARIA RITA LEMOS Há 21 anos ininterruptos Maria Rita Lemos escreve para a Gazeta de Limeira. “No início eu vinha até a redação buscar as cartas pedindo matéria, antes do e-mail. Mesmo com o computador havia este hábito das cartas, foi uma transição demorada.

Relacionamento afetivo, ciúme, divórcio, novo casamento, relacionamento com os filhos, lidar com madrasta, todos assuntos femininos abordados para um público fiel. “Mulher, lar e família são frequentes, mas às vezes opto por humor ou comentários, para também rir com as pessoas”, diz ela, que aborda ainda tragédias e diversidade. Ela avalia que as pessoas têm na coluna um refúgio. “Certa vez uma pessoa pediu que eu escrevesse sobre ingratidão. A situação era de uma

sável pelo figurino”, declara Ruben, que elege o casamento como um dos eventos mais importantes. “Reúne famílias, é o relato da história de duas vidas e famílias se unindo”. Outro ponto importante da carreira são os prêmios que a dupla conquis-

cador, locatário, união, divórcio, guarda dos filhos. “São informações que ajudam pessoas que não sabiam que tinham direitos. As pessoas comentam”. E, assim como os costumes mudam, a legislação também. “É preciso acompanhar. Isso requer estudo para não ser superado”.

OSVALDO DAVOLI

amizade rompida há muitos anos e o texto foi quase como um recado, que surtiu efeito para restabelecer os laços”, revela. Em tantos anos de colaboração, a Gazeta é o seu primeiro contato de manhã. “Enquanto o jornal não chega, a sensação é de que estou esperando um amigo. Certa vez atrasou num dia de chuva e foi esse o sentimento que tive. De que espero um amigo”. Muita gente a para na rua para comentar o que leu, ou dizer que coleciona as colunas. “Fico muito comovida e peço que me parem sim e conversem comigo. Isso sempre será uma honra para quem escreve”, garante.

RUBEN VIDELA & AMAURI HONORATO Ruben Videla e Amauri Honorato receberam de dr. Waldemar Lucato o convite para escrever na Gazeta de Limeira em uma festa da imprensa no Instituto Ítalo-Brasileiro. “Este já era um sonho nosso”, lembra Amauri. O nome da coluna, “Entrelinhas”, foi escolhido com Roberto Lucato e o espaço já conta duas décadas. Eles não deixam nenhum detalhe da cobertura de fora. “A pessoa lê e sente como se estivesse no evento. Quem não foi, lê e sabe como foi, quem fez a maquiagem, quem é respon-

era o ponto de encontro de comerciantes, citricultores e políticos. O local era uma caixa de ressonância do que acontecia. E num domingo fui chamado pelo dr. Waldemar Lucato para colaborar”, descreve. Ele explica que procura escrever para leitores comuns, não para advogados, pois há muitas coisas técnicas. “Se é muito complexo, não há interação. Dá trabalho, mas procuro atender ao povo, ao leitor comum. Gosto de abordar inovações, o que exige pesquisa, estudo. O leitor está mais preocupado com o que acontece na esquina do que no mundo”. Repercute mais temas sobre família e inquilinato. Lo-

tou nessas décadas. São mais de 50 diplomas e troféus, que vão de destaque empresarial ao prêmio considerado o oscar brasileiro do ramo, o Troféu Super Cap Ouro, recebido. Conquistaram ainda o Sunday News, que os consagrou na marca de 25 anos de colunismo. “Estamos extremamente felizes e orgulhosos pelo destaque em todo o País. Esses troféus não são só nossos, mas é um destaque para a cidade pelo trabalho em eventos”, declaram.

Alguns o adoram e outros não fazem questão de esconder o quanto ele desagrada. O fato é reconhecido pelo próprio, já que os seus comentários, na Gazeta de Limeira ou no programa de rádio, frequentemente terminam em polêmica. Assim é Osvaldo Davoli, 62, que assina a coluna Panorama há mais de 20 anos. “Trocava ideias com dr. Waldemar Lucato para a coluna. Ele foi um professor e gostava muito de futebol”. Com atuação no rádio desde 1969, ele e dr. Waldemar faziam comentários que eram transmitidos da arquibancada, enquanto ficavam rodeados de torcedores. São muitas as fontes. “Às vezes sabemos coisas pela própria

empregada ou funcionários da Prefeitura. A informação vem de tudo quanto é lado. Todos são fontes”, diz ele, que divide os comentários na coluna com as cutucadas ao “indivíduo” corintiano da Gazeta. O destinatário, da coluna esportiva Dois Toques, retruca ao palmeirense, em resposta ao “elemento”. A picuinha faz o maior sucesso entre os leitores. Amenidades à parte, assume que gosta de perguntar o que não deve. “Já passei aperto, mas não adianta enrolar. Há os que gostam e os que detestam. Sou polêmico na vida privada e profissio-

Fotos: Fernando Carvalho

nal. Já sofri processos, multas em eleições e micos homéricos”, confessa. “Há quem lê para criticar, mas também tem o leitor que adora ironias. É a vida de jornalista. Mas a crítica pela crítica não se sustenta”, encerra.

LUIZ CHAINE NETO Pela revisão, dedicação diária ao português correto Professor de escola pública, Luiz Chaine Neto, 68, buscava outra atividade para complementar a renda. Começou o trabalho na Gazeta de Limeira por intermédio do professor João Duarte, que o indicou a dr. Waldemar Lu-

cato, já tendo acompanhado o jornal e observado erros. “Na época, não havia alguém específico só para isso”. Então, começou imediatamente. Era início de 1989. A revisão passou a ser mais completa, não só atentando-se aos erros de digitação, mas aos termos gramaticais. “A mudança teve impacto, mas devagar

incutimos a necessidade de correção mais detalhada”, relata. Além do dicionário, o manual de redação é outro companheiro, uma verdadeira “bíblia”. Realizou muita pesquisa nos manuais de redação dos grandes jornais. “A profissão proporcionou consulta e investigação para melhorar a revisão”. Aconselha as pessoas a lerem bastante, para maior desenvoltura na redação e conhecimento de assuntos. “São exercícios importantes”, aconselha ele, que trabalha para manter a cabeça em atividade.

Deixaram saudades TININHA DE SALVO Deixou sua marca na vida social limeirense Maria Christina Paolillo de Salvo, a Tininha de Salvo, assinou a coluna social da Gazeta de Limeira durante 17 anos, repleta de informações sobre a sociedade limeirense, após convite do então redator do jornal, Roberto Paulino de Araújo, em 1969. No espaço, fazia descrição única dos acontecimentos sociais, dos quais muitos se recordam agora com saudade, após sua morte, ocorrida em março. Ganhou vários prêmios e homenagens, além de ser membro da Academia Limeirense de Letras. Não

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gostava de passar batido e ficava muito alegre quando a reconheciam. O marido, Arlindo de Salvo, a acompanhava nos eventos, presença vaga com sua morte. Seus filhos, Ana Cristina de Salvo Musa, Arlindo de Salvo Filho, e Sérgio de Salvo, acompanharam a personalidade da mãe, que não deixava de falar nada do que pensava, para quem quer que fosse. Condicionada à vida social que tanto gostava, Tininha

continuou a escrever até 2003, em mais de três décadas dedicadas aos ilustres acontecimentos de sua terra.

PINHEIRO ALVES O “Homem da Verdade”, combativo na Câmara Pinheiro Alves fez carreira na imprensa a partir do trabalho em rádio, no qual acordava os ouvintes todas as manhãs com as ocorrências policiais narradas pelo “Homem da Verdade”. O rádio veio depois do ciclismo e, a Câmara Municipal, após iniciada a sua carreira de radialista. Foi o vereador mais votado de Limeira em 1982 e até a sua última semana de vida, em março, enviou seus textos da coluna “Câmara Ação” à Gazeta de Limeira, espaço assinado por ele durante mais de uma década.

As observações do “pai dos pobres”, como marcou sua legislatura, chegavam semanalmente à redação, datilografadas. Comentava decisões e atitudes dos parlamentares da cidade sem nunca, porém, desrespeitá-los. Muito lembrado pelas festas do Dia das Mães, promovidas por ele e a também falecida esposa, Ditinha, em que arrecadavam alimentos e levava alegria aos menos favorecidos, a família lembra que ele jamais usou a política para ascensão material.

Seu estilo de narrar teria sido copiado por Gil Gomes. Garantia que o apresentador havia se apropriado de seu estilo de locução e o levou para a cidade grande, “fazendo sucesso à custa do P inheirinho”.


GAZETA DE LIMEIRA | Terça-feira, 17 de maio de 2011

Caderno Especial Gazeta 80 anos | Página 9

Fazem parte da história JOSÉ ANTÔNIO ENCINAS

De “foca” a editor, muitas histórias e aprendizado Quando formou-se em jornalismo, em 1990, José Antônio Encinas, 44, tinha preferência pela área esportiva, sobre a qual lia muito. Atuava como bancário até a oportunidade na Gazeta de Limeira. Em sua primeira missão como “foca”, jargão jornalístico para definir os novatos de profissão, foi escalado para cobrir um jogo num domingo entre a Inter e Mogi Mirim, no Limeirão. A Inter perdeu, mas fez o texto sobre o jogo e entregou na segunda-feira, já que naquela época não havia edição nesse dia. A experiência rendeu cartão verde, mas o lance foi rápido. “Consegui cobrir esportes durante só três semanas, porque o repórter da época, Gil Vieira, deixou a redação e assumi também

matérias de outras áreas, como Justiça e Economia”. Passou a fazer de tudo um pouco, numa época em que não havia celular. Mas havia o “bip”. “O bip foi uma maravilha porque recebíamos a mensagem quando acontecia algo do outro lado da cidade. Então corríamos para o orelhão mais próximo para ligar e saber o local da ocorrência”. Já dentro da redação, uma enciclopédia Barsa era o Google da época. Quando começou a cobrir casos do Fórum, não tinha muito conhecimento jurídico e nem tantas referências para “traduzir” o “juridiquês”. “Tive muito apoio de Roberto e dr. Waldemar Lucato para deixar em português mais claro os termos jurídicos, para que os leitores entendessem. Foram coisas que me fizeram crescer como jornalista”, diz ele, que se orgulha da profissão e de trabalhar no melhor meio de comunicação impresso de Limeira .

CASOS E CAUSOS

diretor de imprensa da Prefeitura, até voltar à redaHouve coberturas marção em 1997. Naquela fase cantes, embora nem semfoi criado o Caderno G, que pre por motivo feliz. “Matrazia conteúdo diferenciatérias de polícia causavam do, como entrevistas espemuito sofrimento, com traciais. Nele foram desenvolgédias, coisas que marcam vidas pautas sobre pescaa vida do jornalista. Lemria, em que os praticantes bro-me de um acidente na contavam suas histórias. Anhangüera, Numa dessas coberturas com um cafoi um dos convidados da minhão imprensa do Estado para a incendiadivulgação de um hotel em do. Outro Cáceres, no Mato Grosso. A caso foi tripulação do avião foi suro da conpreendida ao chegar no aecessioroporto. “Parecíamos celen á bridades. Vários repórteres vieram nos entrevistar, estava cheio de gente, uma verdadeira festa. Era o primeiro desembarque do aeroporto da cidade, que acabava de ser inaugurado, e nenhum de nós sabia”. Ele lembra que é no dia a dia que o estudante transforma-se num jornalista de verdade. “Por isso é muito importante passar pela cobertura de todo tipo de asEncinas: dia a dia do repórter tem de passagens trágicas a inusitadas sunto. Aprende-se na prá-

Renato Silva

Começou como repórter esportivo e evoluiu na prática jornalística com passagem por várias editorias

ria Lua, que lesou quase mil pessoas em consórcios que eram trambiques”. Entrevistou uma pessoa que estava prestes a pegar o carro, faltando dois meses para a quitação. Anos depois voltou a conversar com a pessoa, que estava com o mesmo Fusca que teria trocado, não fosse o golpe. “Foi um acontecimento triste, que destruiu os sonhos de muita gente que juntou dinheiro por muito tempo para aquilo. E foram passadas para trás. O jornalista não tem como não sentir”. Em 1994, Encinas foi

tica, atuando”, diz ele, que hoje é um dos editores noturnos, responsável pelo fechamento da edição. A atuação exige menos rua e mais decisão. Como quando uma fábrica de joias foi assaltada. “Ficamos na indecisão, pois queríamos dar a notícia exata, mas havia o medo de atrasar a impressão do jornal. Era a pressão dos acontecimentos e do horário, mas precisava priorizar o leitor com a informação correta. O fato levou a uma morte e prisão dos envolvidos. Às vezes faz-se previsões, mas vai tudo por água abaixo”. Ele salienta que todas as etapas foram importantes para a Gazeta chegar ao que é hoje. “A Gazeta é um jornal tradicional e estamos sempre buscando melhorar. Fico muito feliz em participar desse desenvolvimento. É muito trabalho para levar informação precisa, transparente e confiável. Por isso é o mais lido de Limeira”.

ARY APPARECIDO SALIBE*

RICARDO MARINO GALZERANO

Cria crônicas a partir de conversas As duas pirâmides Fernando Carvalho

colunista social Tininha de Salvo, em 1982. “Era um jovem recém-formado e achei que na primeira matéria iria perder o emprego. Fiz um artigo criticando o Rio de Janeiro, já que havia acabado de voltar de viagem de lá. E soube que o dr. Waldemar adorava o lugar. Mas ele foi um grande mentor para mim, tinha muito carinho por ele”, lembra-se, aliviado pelo escrito não ter tido consequências. Ele, que assina a Galzerano: contato com as pessoas dá origem a colucrônicas e comentários para a coluna na BaRicardo Marino Galze- te Pronto durante a semarano, 58, foi apresentado ao na, além do espaço nas edidr. Waldemar Lucato pela ções de domingo, em que es-

tão incluídas suas crônicas, esclarece que o seu negócio é o contato com as pessoas. “Ouvir, observar, criar e manter contatos. É o que garante o meu repertório nas colunas”. Participou da criação dos cadernos Gazeta Suplemento e Caderno G, com colunas e tendências, além do “Gente de nossa terra”, com pessoas que fizeram história em Limeira, como desportistas e empresários. “A Gazeta se modernizou e cresceu, sempre com boa repercussão. Não é um jornal que leva ranço para a casa das pessoas, e é sempre atento”, diz. Recorre a dois tipos de fontes: acompanhamento dos meios de comunicação (jornais, revistas e TV) e principalmente contatos, que são fundamentos para informações. Garante que

99% das crônicas são baseadas em fatos reais, de relatos pessoais, de terceiros. “No contato com pessoas, na rua, muitas vezes recebo informação em primeira mão. Há fatos que tranformo em ficcionais e viram crônicas. Já para a coluna recebo sugestões de vários pontos da cidade. O importante é a troca com o leitor. Não quero que ele aceite o que escrevo, mas que gere reflexões, concordâncias e discordâncias. Só sei que nada sei, estamos em constante aprendizado. Não podemos estagnar ou estacionar, mas nos aprimorar”, declara ele, que é informado por professores quando usam suas crônicas em sala de aula. Reconhecido na rua, as pessoas aproveitam ainda para fazer cobranças, críticas e elogios.

MILTON PEREIRA DE ALMEIDA

A semana em treze pontos, há 30 anos “Quando foi instituída a Loteria Esportiva na década de 70, eu era comentarista esportivo e diretor de esportes da Rádio Educadora de Limeira. Os clubes profissionais de nossa cidade, Internacional e Independente, estavam em evidência pelas suas campanhas e, principalmente, pela grande rivalidade existente entre as torcidas dos dois clubes. A equipe esportiva por mim comandada era de primeiríssima qualidade. Fazíamos as transmissões dos jogos do Leão e Galo, além de um programa esportivo diário. Todas as segundas-feiras, após a rodada da semana, tínhamos um convidado permanente: o saudoso Waldemar Lucato. Foi num desses programas que Dema Lucato me convidou para escrever na Gazeta de Limeira. Eu estava entusiasmado com a Loteria Esportiva que premiava o apostador que acertasse os 13 jogos por ela determinados. Como não se tratava de sorteios simples e sim

de acertar os vencedotados geravam discussão, res dos jogos (sem inpor serem polêmicos. No dicar o placar) ou o entanto, eu sempre puempate, tive a ideia blicava a opinião dos de criar uma coluna, que não concordavam na Gazeta de Limeira, comigo, com aproveitando a “deisuas justixa” da Loteria Esficativas. portiva com o Isso era e nome “Os Treze ainda é poPontos da Sesitivo, pois mana”, aproeu sentia, e vado, desde ainda sino início, pelo to, que a Dema Lucato. coluna era, Nessa coe ainda é, Almeida: Loteria esportiva deu luna, como é bem lida. até hoje, eu ideia para nome da coluna dominical Quando tiescolhia os 13 ro minhas fatos em destaque, aceitan- férias é muito agradável oudo também sugestões dos vir dos leitores: “Quando voleitores. Sinceramente não cê volta a escrever?”. esperava uma repercussão Também recebi muitos tão grande, pois a Gazeta de elogios pela maneira como Limeira já contava naquela trato os diversos assuntos. época com nomes de respei- Quando cometo um erro e to do jornalismo limeirense. sou advertido pelos leitores, Dema Lucato me incentiva- publico o correto e, quanva sempre, o que aumentou do autorizado, com o nome a minha responsabilidade. do leitor que fez a advertênFui aprimorando os tex- cia. O jornalismo é bom e eu tos, contando com o apoio sou um apaixonado por ele. do pessoal da Gazeta de Li- Quando se gosta do que se meira. Alguns assuntos tra- faz, é difícil parar.

imaginem que, quando comecei a escrever na Gazeta de Limeira, seu diretor era Waldemar Lucato e, hoje, o dr. Roberto Lucato, seu sucessor, era meu aluno no Castelo Branco. Achei muita coincidência um fato: dr. Waldemar Lucato era advogado, gostava de esportes, em particular o futebol. Foi comentarista esportivo na Educadora e, todas as segundas-feiras, analisava no programa de estúdio os jogos da rodada. Era o Dema Lucato. Hoje, seu filho, dr. Roberto Lucato, também advogado, amante dos esportes, principalmente do futebol, âncora do programa Segunda Esportiva na TV Jornal, com sua equipe, analisa a rodada da semana. E o Beto Lucato, também comentarista esportivo da rádio Educadora de Limeira e diretor da equipe esportiva, com seus excelentes narradores, comentaristas e repórteres esportivos recebem o carinho dos ouvintes, através dos índices elevados de audiência”.

“Quéops, Quéfren e Miquerinos são as três colossais pirâmides do Egito, construídas no deserto do Saara com idade estimada em cinco mil anos. Fui ao Egito como consultor da FAO Nações Unidas, para assessoria ao governo do então presidente Hosni Mubarak na área de melhoramento e sanidade das suas laranjeiras. Toda a citricultura do Egito está no delta do rio Nilo entre o Cairo e Alexandria e é baseada na brasileiríssima laranja Bahia. Ary Salibe assinou por várias Um belo dia, o dire- décadas a coluna sobre Citricultura tor do centro de citricultura deciciu me levar para vessar a Avenida São João, visitar as pirâmides. Tanto na cidade de São Paulo. insistiu, que acabei entranPirâmide normal sedo em uma delas, subindo ria assim: uma sexagenária até a câmara de Tutanka- vestida de amarelo descuimon. A temperatura lá den- dou-se ao atravessar a avetro beirava os 50 graus e a nida e foi atropelada por um câmara mortuária estava carro, também amarelo. Pirâvazia. A múmia, a máscara mide invertida: o sangue jorde ouro e outros tesouros rou na Avenida São João, de haviam sido todos levados uma idosa senhora esmagada para os museus do Cairo e por veículo desenfreado. Louvre, de Paris. Saí da piA semente plantada perâmide dessecado por den- lo curso de jornalismo patro e molhado de suor por trocinado pela Gazeta, esfora. É uma aventura que tou certo, germinou em não recomendo para nin- muitas almas e corações liguém. Valeu a pena ver a meirenses. Tomei gosto pefabulosa esfinge ao lado la redação de artigos. Indo a das pirâmides. Piracicaba estudar agronoDevo dizer que ao re- mia, logo tornei-me redator digir este texto, a intenção do Suplemento Agrícola do não foi falar das pirâmides Jornal da Cidade. do Egito, túmulos dos faraNestes 60 anos rediós e nem da esfinge. As duas gi mais de mil artigos, dos pirâmides mencionadas no quais 400 científicos, putítulo são aquelas enfoca- blicados aqui e acolá, lemdas pela Gazeta de Limei- brando que a ciência tem ra. A ela “Honra ao Mérito” mais ressonância no alémpelos seus 80 anos a serviço -mar. Artigos de divulgação da informação e da cultura foram várias centenas, pude todos os limeirenses. blicados em revistas espeConheci este jornal há 60 cializadas e jornais. Finaanos, quando tinha 17 anos. lizo aformando que ‘Todo Escrevi meu primeiro artigo progresso no futuro se alique foi publicado. Na época, cerça na pesquisa e na ina Gazeta promoveu um cur- formação bem orientada no so de jornalismo para prin- presente’. cipiantes. Lembro-me bem Parabéns à Gazeta de Lida primeira aula ministrada meira e a todos os seus redapor Roberto Paulino e suas tores e colaboradores nestes duas pirâmides, a normal e 80 anos”. a invertida. Pirâmide normal é para todos os textos * É limeirense, professor científicos e relatórios, dizia titular de Agronomia apoele. Deu como exemplo des- sentado da Unesp Botucatu. crever um acidente: senho- Consultor FAO Nações Unira idosa atropelada ao atra- das (1965-1990).


Página 10 | Caderno Especial Gazeta 80 anos

Terça-feira, 17 de maio de 2011 | GAZETA DE LIMEIRA

Imagem em Pauta Sem imaginar trabalhar com fotografia, seus olhares e lentes registraram o cotidiano de Limeira Do clichê às digitais, se adaptaram aos novos tempos para aprimorar a forma de captar os fatos

Futebol e música. Esses foram os gostos em comum com pessoas ligadas à Gazeta de Limeira que

trouxeram ao jornal os fotógrafos Mário Roberto dos Santos e João Batista Anthero, respectivamen-

MÁRIO ROBERTO DOS SANTOS

te, nos anos 80. Aprendizes de Nivaldo Navarro, que dividia-se entre as fotos e reporta-

gens, aprenderam no cotidiano da redação o trabalho de fotografia, no qual se aprimoraram e execu-

tam atualmente. Veja como essas oportunidades mudaram as suas vidas.

JOÃO BATISTA ANTHERO

Dos campos ao laboratório Oportunidade que deu samba Fernando Carvalho

Mário Roberto desistiu da carreira de jogador de futebol para atuar com fotografia

O paranaense Mário Roberto dos Santos, 49, mais conhecido como Lemão, chegou a Limeira em 1979, quando era jogador de futebol. Estava numa situação difícil para se fixar num clube grande, até que num dia estava no clube Estudantes para uma partida. Foi para assitir, e não para jogar, mas acabou assumindo o papel de goleiro do time da casa, convidado pelo dr. Waldemar Lucato, já que o jogador do clube havia se ausentado. O adversário era um time formado por jogadores que haviam passado por times profissionais. Hoje, alivia-se pela boa defesa do Estudantes, que terminou numa ótima partida. Com dificuldades na carreira em campo, foi convidado pelo dr. Waldemar Lucato a iniciar o trabalho com fotografia na Gazeta de Limeira, em 1982. “A primeira foto foi em um treino da Inter, com a máquina Minolta. Depois passei a fotografar jogos oficiais”, conta. Recebia instruções e fazia também a revelação dos clichês, além do material fotográfico adquirido de agências como France Presse, que completava as opções de imagem oferecidas ao leitor. Posteriormente veio a Nylon Print e as fotos coloridas, nos anos 90, ainda sem equipamento di-

gital. “Eram filmes que precisavam ser rebobinados na máquina. Gastava até dois filmes por dia. Papel e processo eram muito caros”, contabiliza ele, que mexia ainda com os químicos para revelação. Além de Nivaldo Navarro, outros companheiros de redação eram Roberto Paulino de Araújo, Valdir Salviatti e Márcia Guerreiro. Entre as reportagens que fotografou, uma marcante foi um acidente em Araras, na década de 90, que terminou com dezenas de pessoas carbonizadas. Já numa lembrança alegre, a conquista do Campeonato Paulista de 1986 pela Internacional foi outro marco. Ele ressalta a contribuição da Gazeta com veículos nacionais, como no caso Chan. “Foi um crime bárbaro em que demos o furo, eu e Nivaldo Navarro. O chinês continua foragido e procurado pela Interpol, e na época do programa Linha Direta, da TV Globo, a Gazeta deu todo o suporte e fotos para a matéria. Isso nos deu projeção internacional, por meio da transmissão da emissora no exterior”, orgulha-se. Cobertura corriqueira, e triste, eram as enchentes na área do Mercado Modelo. Umas das enxurradas pegou pedestres de surpre-

Arquivo Gazeta

sa, quando fez uma foto que captou o desespero de pessoas para sair do lugar. A adaptação ao método digital foi natural, embora exigisse especialização. A primeira máquina digital, uma Kodak, tinha baixa resolução, mas o jornal foi pioneiro ao começar os testes com o modelo. “Ainda era um investimento alto para poucas fotos, porque a velocidade era baixa e o resultado era de pouca qualidade”. Depois, usou uma Mavica, com disquete, até a sofisticação para amadoras mais refinadas, como uma Canon com memória de 28 MB. A partir de catálogos de modelos vendidos no exterior, as digitais semiprofissionais começaram a ser adquiridas, até que em meados dos anos 90 foi decretado o fim do filme com a evolução das Nikon D100 em diante. “São 30 anos aprendendo e mudei meu sobrenome. Sou o Lemão da Gazeta!”. Aquele jogo definiu o rumo de sua vida. “Não sabia sequer falar direito quando passei a conviver com repórteres. Tive muito carinho e ajuda na parte técnica e até hoje tenho dr. Waldemar Lucato como exemplo, sobretudo em situações difíceis. Não existe impossível”.

Com um cavaquinho em mãos, João Batista Anthero, 53, o JB, simboliza o início de sua história na Gazeta. “Era motorista de caminhão, e também tocava às sextas-feiras à noite no Limeira Clube. Na época, Roberto Lucato era da diretoria do Nosso Clube e se interessou em levar o projeto para lá, aos domingos”. A partir daí surgiu o convite para trabalhar na Gazeta, como motorista. Era início de 1987 e seu expediente começava as 5h, quando deixava a oficina em ordem, varria e fazia o café, até a chegada do pessoal, as 8h. Nivaldo Navarro era o repórter da época, que também fotografava. Enquanto dirigia carros como Fiat Uno ou um Fiat 147 verde, JB começou a ter os primeiros contatos com fotos, na Gazeta, sob orientações de Navarro. Tarefa até então de curiosidade, mexia com os filmes e máquinas no laboratório, quando sobrava tempo. Fazia revelações, que eram artesanais, com os reagentes químicos, que precisavam ter tempo e temperatura corretos. Como chegava no jornal antes de todo mundo, pegava a máquina escondido e praticava no fim de semana. Para se aprimorar, comprava livros e revistas. Em 1998, Mário Roberto, que havia chegado antes dele, entra em férias e JB passa a cobri-lo. Foi quando assumiu e não parou mais. Hoje ele comemora a evolução tecnológica na fotografia, que só ajudou em seu trabalho. “Passamos do laboratório molhado para o seco, com edição no computador”, diz ele, relembrando a época das fotos em preto e branco. Hoje discute-se a melhora de imagem, mas de certa forma isso sempre existiu. Quando não havia filme próprio para a situação a ser registrada, fotógrafo e laboratorista deviam ser mais ver-

sáteis do que o filme. “Nisso o Lemão era imbatível, aprendeu bem com o Nivaldo. Em locais em que não podia usar flash, era preciso fazer uma compensação no tempo de revelação, diante de condições de luz precárias. Era controlado o contraste. Por isso a digital é uma maravilha. Tem tudo, mas a facilidade exige maior conhecimento técnico, reaprendizado”. Mas, na hora de tratar as fotos, faz uma ressalva. “Cada profissional deve saber até onde pode ir”. Entre as coberturas inesquecíveis, está, como define, a foto da fome. “Muitas vezes a lente mostra coisas que os olhos não veem. Nunca tinha reparado como era o olho da fome”, diz ele, sobre a criança faminta fotografada. “Fiz a foto segurando o choro, muito triste pela situação. Saiu a reportagem com a família passando necessidades e muitos leitores se sensibilizaram e ajudaram. Isso é gratificante. Jornal tem muito disso”. Outro caso ilustra a importância das fontes. Lembra a época em que um político, que estava envolvido em denúncias, ia de Campinas a Brasília, mas se acidentou na Anhangüera e foi internado em Limeira, na Santa Casa. “Todo mundo estava caçando um político de envergadura como aquele, mas não deixariam entrar com a câmera no hospi-

tal. Conhecia uma pessoa na Santa Casa, que confirmou a impossibilidade disso. Mas disse que, se eu ficasse em determinado ponto da rua, o cara podia aparecer na janela. E ele passou uma vez, passou duas, até se debruçar na janela para fumar um cigarro, e eu fiz a foto. Depois disso, o político precisou ir para um hotel, dar coletiva. Mas se não há fonte, não conseguimos. Damos a informação e mesmo o ‘off’ sente-se parte da reportagem”. “Depois que entrei na Gazeta é que passei a buscar minha identidade como homem, profissional e negro”, conta. Mas uma simples pergunta mudou a sua visão das coisas e o incentivou a procurar saber mais de si mesmo. “Em um ano, no dia da abolição, fiz um comentário com o dr. Roberto Lucato abordando a data. Foi quando ele perguntou o que o negro tinha a comemorar. Foi fundamental. Talvez se ele não tivesse feito aquele questionamento, não teria aberto os olhos para o quanto eu não sabia de mim mesmo. A partir disso tive a felicidade de poder aprender o que significa ser negro, a contribuição dos meus antepassados”, revela ele, que estudou da 1ª à 4ª série e nunca passou pela sua cabeça que manejaria uma câmera digital ou laptop, ou que veria tantas inovações, pessoalmente e na carreira. “Se não há foto, não há história para contar. E sem história, não há memória”.

Para João Batista, evolução tecnológica facilita o trabalho, mas é preciso aprimoramento técnico

JOSÉ ADRIANO LOPES CASTELLO BRANCO

Prefeito que construiu o Mercadão; seu pai participou da fundação da Gazeta nicípio nos anos 50, seguiu carreira política a exemplo do pai, Otávio Lopes Castello Branco, que foi também prefeito, além de deputado - e esteve entre os fundadoJosé Adriano Lopes Castello Branco foi prefeito res da Gazede Limeira entre 1956 e 1958 ta de Limeira. Nascido e criado em LiAssim, José Adriano, meira, José Adriano Lopes Castello Branco tem a mes- que hoje vive em São Pauma idade que a Gazeta ago- lo, teve contato com a rera completa, além da baga- dação nos primeiros anos. gem histórica de atuação Dele e do jornal. “Acompana cidade. Prefeito do mu- nhei de perto a Gazeta, que

já era também presente no cotidiano limeirense.Lembro de vários que atuaram, como o Breno Machado Gomes e Olindo De Luca, com a coluna Cantinho. Depois, segui carreira política, e a Gazeta registrou todos os passos”. Célebre pela construção do Mercado Municipal, inaugurado em sua gestão, em 1955, faz uma observação. “Foi erguido com o esforço dos limeirenses. Houve grande entusiasmo e todos participaram de alguma forma”, ressalta. Lembra de outras intervenções da Prefeitura, registradas na Gazeta, como asfaltamento, calçamentos, estrutura de água e esgoto,

construção do prédio dos Correios. Pontua o quanto a Gazeta era querida pelo pai, que, cearense, foi para o Rio de Janeiro e, de lá, para São Paulo. Até ser convidado para dar aula no Colégio Santo Antônio, em Limeira, onde firmou raízes profissionais no ensino e Direito, além de constituir família. “Adorava Limeira e fez toda a sua vida na cidade, e junto com a Gazeta, em momentos de muita atividade, em que vários amigos o acompanhavam. Me acostumei a ver Limeira através dos olhos da Gazeta”. Lembra-se da construção do viatudo Jânio Quadros, que desafogou o trân-

sito, algo que repercutiu muito na cidade, além do asfaltamento da Boa Vista, que tinha muitos moradores que trabalhavam na parte central. Havia ainda o cenário esportivo. “Não posso falar de esporte sem citar a Internacional, que é a grande paixão de Limeira, além do Estudantes, onde o Waldemar Lucato jogava. Acompanho o time, com muito carinho, sempre que possível”. Advogado, também atuou com o dr. Waldemar Lucato no escritório de Breno Machado, antes de “se eleger com a confiança do povo de Limeira, o que foi uma honra e um privilégio”. Posteriormente, assu-

miu mandato de deputado estadual. Ele, que visitou a redação da Gazeta na ocasião em que esteve na cidade para as comemorações do 50 anos do Mercado Municipal, argumenta que jornal sempre acompanhou o cotidiano de Limeira, não só o social, mas esportivo e cívicos, nas reivindicações e problemas da cidade. “A Gazeta me acompanhou muito de perto. Sempre me elogiou e criticou nos momentos que devia ser criticado, e eu sempre respeitei muito. Participou integralmente da vida de Limeira. A história da Gazeta de Limeira é a história da própria cidade”.


GAZETA DE LIMEIRA | Terça-feira, 17 de maio de 2011

Caderno Especial Gazeta 80 anos | Página 11

Apoio Diário

Na parte administrativa e operacional, talentos que evoluíram com a Gazeta Do atendimento à gerência

Do controle de assinaturas à entrega, conheça um pouco do trabalho de “bastidores” que movimenta o jornal

No jornal que chega diariamente à casa do leitor estão contidos o trabalho e

dedicação de pessoas que atuam em departamentos distintos, mas de igual im-

portância, cujos processos somados garantem a qualidade do jornal.

Fotos: Fernando Carvalho

Décadas de dedicação

Cecília coordenou o processo que levou a Gazeta a ser o único veículo em Limeira auditado pelo Índice Verificador de Circulação

Cecília Ferreira da Silva Santos era bem jovem quando chegou à Gazeta, em 1990, a partir de um anúncio da vaga de recepcionista e telefonista. Foi contratada para o primeiro trabalho, após entrevista, no auxílio aos publicitários. O trabalho durou quatro anos, com a mudança de um prédio da Rua Cunha Bastos para a Dr. Trajano, que comportava ainda, além da publicidade, os departamentos de circulação, assinaturas e classificados no balcão. Depois de um tempo afastada, quando se casou, voltou para o departamento de circulação em 1997, onde ficou três anos como atendente, até ser promovida como gerente de circulação em 2000, atividade que exerce até hoje, aos 37 anos. Ela acompanhou o aumento de assinaturas, que subiram de 7 mil para 13 mil só em Limeira, o que exigiu adaptação dos programas, aumento do número de entregadores, que hoje são cerca de 50, divididos em todos os bairros para garantir entrega com

qualidade. Há ainda a distribuição em bancas e pontos como padarias, que hoje totalizam 130, garantindo a disponibilidade do jornal também em locais com pouco acesso, que não contam com bancas, por exemplo. Há 10 anos, eram apenas dois desses pontos. Hoje, além das filiais em Iracemápolis e Cordeirópolis, a circulação abrange Engenheiro Coelho. Cecília coordenou o processo que levou a Gazeta a ser o único veículo em Limeira auditado pelo Índice Verificador de Circulação (IVC), que agrega jornais de todo o Brasil. Foi um ano de preparação, com muitas normas e orientações para fazer parte. Tudo é analisado: assinaturas, vendas avulsas, renovações, tiragem. A auditoria é feita duas vezes por ano”, explica. Hoje, ela comemora o sucesso. “Procuro fazer o trabalho da melhor forma e sou muito grata à empresa, que acreditou em mim como iniciante. Passei por vários departamentos até chegar à oportunidade que não imaginava”.

Ela era o braço direito do dr. Waldemar Lucato em seu escritório de advocacia, onde começou o trabalho de secretária sem maiores pretensões. O ano era 1974, e o advogado já colaborava com artigos para a Gazeta de Limeira, muitos deles que Leila Maria Reami Guarda, 60, levava à redação, que ficava praticamente encostada no escritório, na Rua Barão de Campinas. Embora ainda não fosse acionista, dr. Waldemar Lucato já escrevia o “Ponto Um”. “Era um patrão muito bom, humano, de muita consideração. Senti muito a sua morte”, lamenta. “Além de escrever, dr. Waldemar ia toda tarde para a redação, onde ficava horas. Tinha uma janela da redação que fazia fundos com o escritório, na

época em que nada era informatizado, mas o jornal montado peça por peça. Trabalho que víamos pelos vitrôs”, recorda. E m 1996, com falecimento do dr. Waldemar Lucato,

Roberto Lucato assumiu a direção e a convidou para fazer parte da Gazeta de Limeira, para que continuasse na administração, o que foi prontamente aceito. Hoje, secretária da diretoria, acompanha os avanços e dinamismo do trabalho. “Na época eram duas pessoas na administração. H o j e s ã o

Nos anos 70 Leila trabalhava com dr. Waldemar, cujo escritório ficava próximo à redação da Gazeta de Limeira na época

cinco, além do crescimento do número de cobradores e setor de jornalismo, que não era tão numeroso. Não tinha classifone ou filiais em Cordeirópolis e Iracemápolis. Os setores de entrega também cresceram muito”, avalia. A eficiência que a manteve no trabalho foi demonstrada aos poucos. Atendia ao telefone, ia ao fórum, e fazia serviços de banco. Depois, pegou o jeito e não saiu mais. “Eram sempre duas secretárias. Uma havia saído e precisava de outra para ajudar. Aceitei o emprego no escritório e não imaginava que ficaria tanto tempo. Gosto muito do trabalho, tenho amizade e carinho muito grande por todos. Logo devo me aposentar, mas quero continuar aqui”.

Presença na região A Gazeta de Limeira já contava com assinantes em Iracemápolis antes mesmo de existir uma filial na cidade, que chegou em 1992. Foi quando Kátia Conceição Calixto de Freitas, 36, começou a trabalhar no local. “Na época, eram

10 assinantes e um entregador. Agora são quatro, e mais de mil assinantes”. Além do balcão de anúncios, a filial é para onde os leitores recorrem quando acaba o jornal da única banca da cidade. Além disso, as matérias do município são fixadas em um mural, q u e tem inte-

Em Cordeirópolis, Giseli atesta que a filial aproximou o leitor da Gazeta, que comenta as matérias do município

resse garantido. Além dos suplementos e classificados, a coluna de aniversariantes também é outro item procurado no município em que praticamente todos se conhecem. E m C o rd e i ró polis, o cenário é parecido, como conta Giseli Cristina Privati Cruz, 32, Quando Kátia começou na filial de Iracemápolis, à frente havia 10 assinantes na cidade da filial desde 1995. “A filial apro- cionam grande procura ximou muito o leitor, que para os anúncios classificomenta as matérias. As cados”, diz. Na cidade são empresas também propor- três entregadores.

Entrega garantida

Quando começou a fazer entregas, Lima usava bicicleta, mas já aderiu à moto

Em 1981, Roberto Sebastião Pereira, 58, tinha na Gazeta de Limeira um serviço extra, de entregas, paralelo às suas atividades na antiga União. O “bico”era feito de bicicleta e se tornou emprego número um depois que saiu da indústria, inclusive com o mesmo

transporte até hoje. A rotina para garantir a leitura do assinante começa às 4h e se estende até as 6h30. Faça chuva ou sol. Depois, continua o trabalho de cobrança, que faz até o fim do dia. “Há pessoas para as quais entrego o jornal há 20 anos, que me recebem muito bem. Pa-

ra a cobrança, já sabem o dia certo e nunca imponho horário”, relata. Os entregadores estão entre os primeiros a ver a edição do dia, mas a leitura atenta fica para mais tarde, depois do trabalho. Ele conta que vê muita coisa nas madrugadas: de pessoas dormindo a estranhos que pedem jornal, além de imprudência no trânsito. Fator, este, que complica bastante o trabalho do entregador após as 6h30, quando começa a “hora do rush” e os exemplares já devem estar em seus destinos. “Todos estão acostumados com a Gazeta. Alguns interrompem a assinatura, mas depois sentem falta, porque o que a Gazeta tem, nenhum outro tem: conteúdo”. O entregador e cobrador Vinícius Luís de Lima, 36, também usava a bicicleta quando chegou à Gaze-

ta, em 1989. Mas já aderiu à moto, para agilizar o serviço embora em dias de chuva um certo atraso seja inevitável, devido à necessidade de ensacar os exemplares. “Na época eu conhecia pouco a cidade, e hoje sei dos problemas, como o trânsito depois das 6h”, frisa, lembrando as diferenças gráficas de antes e de hoje, do chumbo ao computador. Entre o compromisso de cumprir o trabalho e a ansiedade de pai de primeira viagem, um caso inesquecível foi quando a filha Maria Eduarda nasceu, em 2007. A esposa estava para dar à luz em uma manhã, e ele ficou na torcida para a filha demorar a nascer, para que desse tempo de fazer as entregas e ir para o hospital. Depois de ter feito curso para acompanhar o parto, Maria Eduarda “esperou” e só

Há mais de 20 anos diversos assinantes recebem o jornal pelas mãos de Pereira

nasceu quando o pai pode presenciar. Outro fato marcante foi quando chegou de madrugada para pegar o jornal e o viu colorido. “Foi um impacto, pois era coisa vista só nos grandes jornais de circulação nacional”, diz ele, que tem diariamente

cerca de 400 pessoas em seu setor aguardando a entrega do jornal. E também repercutem os fatos. “Na época do caso do chinês, que teve desdobramentos o mês inteiro, os leitores esperavam o jornal na porta. Hoje comentam muito as colunas”.


cmyk Página 12 | Caderno Especial Gazeta 80 anos

Terça-feira, 17 de maio de 2011 | GAZETA DE LIMEIRA

Dia a Dia no Esporte

Nas páginas, ondas do rádio ou imagens de TV, a emoção das competições Para eles, seja qual for a época ou o esporte, a competição e torcida são sempre pauta

A emoção do esporte sempre esteve presente na Gazeta de Limeira em espaço generoso. Mas, não

o bastante, o dia a dia das equipes, resultados dos campeonatos, análises e palpites sobre a rodada da

vez extrapolaram o papel e conquistaram lugar cativo também com ouvintes e telespectadores, além dos

leitores. Conheça a rotina de pessoas que chegaram à Gazeta movidas pelo entu-

JOÃO BATISTA PILEGGI

siasmo das emoções do esporte, muito longe do simplório “ganhou, perdeu ou empatou”. Fernando Carvalho

O correspondente esportivo dos anos 50 90, até ser chamado para fazer a cobertura esportiva com a coluna “O que vai pelos esportes”. O trabalho começou em 1953, aos 22 anos de idade, quando a Gazeta circulava três vezes por semana. “Ia aos campos, aos clubes. A notícia não vinha até nós como é hoje, pela internet e televisão”, reflete. “Mas era muito bom, porque eu gostava”, acrescenta. Para ele, os meios tecnológicos e digitais também afastaram o público dos estádios. “Antes o pessoal participava mais, ia até os jogos, até porque não tinha outra alternativa”, diz ele, de uma época em que a TV ainda era novidade e nem

“JEITINHO”

todas as partidas eram narradas nas rádios. A maioria dos jogos era gratuita, ou com preços razoáveis, lembra Jotista, como assinava seus escritos e era reconhecido. “Até hoje há quem me chame assim”. Trabalhou num período em que o repórter não era identificado por crachá, mas com um broche contendo um número. Pileggi era o 8. Mas tampouco isso era necessário já que, dado o tamanho da cidade nos idos de 50, praticamente todos se conheciam. Naquela época a Gazeta já promovia torneios, como o Troféu Gazeta de Basquete, que era transitório. Era preciso vencer três vezes para ganhá-lo definitivamente. Era disputado por clubes da cidade, mas também recebia concorrência de equipes de São Paulo. “Gilim e Libiano, de São Paulo, davam mais entusiasmo para a competição”.

Embora o forte dos campeonatos fosse futebol, havia ainda a São Silvestrinha e ciclismo, em que uma das provas era preciso pedalar de Limeira a Cordeirópolis, quando não havia asfalto. No atletismo, Pileggi lembra que o hoje treinador Fumaça já era lenda, além dos irmãos Bertolini. No campeonato amador, a dificuldade era quando o jogador estava no Tiro de Guerra e era preciso pedir dispensa ao sargento, se a disputa fosse na hora em que o jovem fosse servir. “Era tudo na base do presentinho. Mas a turma colaborava”, revela. Profissionais, clássicos da Inter e Independente movimentavam a cidade, com passeatas antes e depois do jogo, além da energia durante a partida. A rivalidade se limitava a simbolismos infensivos. “Quando o Galo perdia,

Pileggi era o repórter número 8 quando as torcidas prestigiavam mais os jogos

jogavam penas de galinha nas ruas. Quando o perdedor era o Leão, a torcida adversária levava réplicas de ossos de leão”. Palmeirense, não ficava nervoso durante as partidas. Nas perdas, geralmente elegia prontamente um culpado. “O juiz. Ele era

Estádio do Limeirão recebeu público de até 40 mil pessoas em eventos pós-inauguração

Corinthians jogou contra a Inter na inauguração do Limeirão

JOÃO VALDIR DE MORAES

Resgate da memória esportiva João Valdir de Moraes, 57, conta a história esportiva há 13 anos em seu espaço na Gazeta, com a “Janela do João”. Mas a atuação na imprensa passa dos 40 anos, com o trabalho no rádio. “Conhecia Waldemar Lucato e família, que me convidou para escrever algo na Gazeta. Como o meu negócio era rádio, me pediram sugestões do que podia fazer. Entre elas, lancei a ideia da Janela do João, com o resgate de histórias de quem faz história em Limeira, para que saíssem do ostracismo”, conta. Sentia-se realizado com os momentos bem revividos. “Alguns entrevistados chegam a chorar com as imagem e memórias. Limeira ainda é muito pobre na história do cenário esportivo. Ainda há muito pouca coisa escrita”, avalia. Ele conta com um companheiro para a seção “Você sabia”, que pontua as datas memoráveis do futebol: um livro que registra acontecimentos todos os dias, em vários anos. Muitas pessoas passa-

cmyk

ram pela “Janela”, não só de Limeira. “Paulo César, que foi zagueiro da seleção brasileira era uma das pessoas que já estavam esquecidas e que se alegram com a possibilidade e participar da coluna. O espaço é reconhecido, o que é muito bom, pela credibilidade”. A coluna sofreu adaptações. Pedia uma biografia e, ao final de cada entrevista, havia a “Janela Indiscreta”, com perguntas “não maldosas, mas picantes”, que foi abolida. “Surgiam declarações de entrevistado afirmando que jamais casaria com a própria mulher, o que se tornava uma situação complicada”, justifica. Um registro marcante foi a inauguração do Limeirão, em 1976. “Foi num jogo contra o Corinthians e teve mais de 40 mil pessoas. Somente muito mais partidas depois é que a Inter subiu de divisão, para a A1, até conquistar o Campeonato Paulista em 1986, que foi uma passagem inesquecível”. A vitória trouxe projeção à cidade natal do ti-

Fernando Carvalho

me. “Quando se falava em Limeira, a Inter era uma referência”. Ele destaca a cidade como um celeiro de grandes esportistas como Fumaça, que divulgou o município em nível nacional e continua em atuação, no Tiro de Guerra. “Há ainda muita gente de Limeira que atua fora”. RÁDIO Ele, que já tinha raízes no rádio, continuou com os microfones para a cobertura esportiva da Gazeta, no início da parceria da equipe do jornal com a Educadora 1020 AM, que deu origem ao Painel Esportivo. “Quem quer saber de esporte já sabe que é só ligar na Educadora às 18h. Agora intercalando músicas e comentários diversos, o que também atraiu mulheres. As pessoas nos encontram e comentam sobre o programa”. Depois foi criado o programa Segunda Esportiva, na TV Jornal, com membros em sintonia com o espor-

constantemente responsabilizado pela derrota”. Ele garante que separava o lado repórter do de torcedor. “Mas isso era um pouco abalado quando o meu time perdia”, diz ele, que acredita que hoje o esporte está desprestigiado e que tudo virou comércio.

WALFRIDO FERREIRA DE SALVI

Arquivo João Valdir de Moraes

“Aqui está bem diferente da minha época”. Esta foi a primeira constatação de , ao chegar à redação da Gazeta de Limeira para relembrar as histórias de quando escrevia sobre esportes para o jornal, dos anos 50 aos 70. “Nasci quase junto com a Gazeta”, declara ele, que fez em março a idade que o jornal completa agora, tendo começado A porta de entrada de João Batista Pileggi, 80, para a redação foram algumas notinhas esportivas que escrevia e levava aos redatores na sede jornal, então na Praça Dr. Luciano Esteves,

João Valdir: para a transmissão ao vivo é preciso estar preparado para imprevistos

te. “É gratificante fazer parte dessa equipe, que depois recebeu o Edmar Ferreira. Todos nos damos muito bem e não medimos esforços ou distâncias para uma boa cobertura”, enfatiza ele, que é ainda responsável pelas entrevistas especiais da Hora da Notícia, criado posteriormente. E, no trabalho ao vivo, sempre há imprevistos. “Quando erramos, temos que tocar o barco”, conforma-se. “Lembro do Almir, centroavante do Indepen-

dente, que depois jogou na Inter também. Numa partida amistosa em Poços de Caldas, tanto bateram nele, que ele começou a bater também, e foi expulso. Na hora do nervoso, quando saiu do campo, fui pedir entrevista e ele xingou o juiz. Isso foi em 1975, quando simples esboço de um palavrão no rádio era censurado. O chefe da época chamou atenção. Mas hoje tem muita gente falando asneira, virou moda a linguagem chula”, lamenta.

Copa Gazeta revelou talentos Walfrido Salvi conta que a Copa Gazeta nasceu num sábado, no Estudantes, em 1988. “Era um jogo tradicional entre veteranos. Foi quando surgiu a ideia de fazer um campeonato com os melhores do amador. Foi crescendo e chegou a um nível alto, com várias categorias. Todos os anos revelamos talentos. Técnicos da Inter e Independente mandavam auxiliares para assistir e identificá-los. João do Sítio foi um dos primeiros a ser revelados, além do Quiqui”, lista, incluindo ainda o fotógrafo Mário Roberto, da Gazeta, que também foi uma revelação. “Vários clubes tentaram levá-lo, mas ele estava aberto para outros caminhos. Muitos jogadores foram para equipes grandes. No Sub-15 havia quatro jogadores de base, que eram de Limeira e foram para o Santos”. No futebol, a grande rivalidade entre Inter e Independente praticamente dividia a cidade. “Quando havia jogo, não se falava em outra coisa. Era um clima gostoso, mas infelizmente as quipes capengaram”, lamenta. Era ainda uma época de mobilização pacífica, sem brigas. “Limeira teve grande crescimento e quando os times de futebol começaram a cair, o basquete é que ganhou espaço”.


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